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1
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO – UMESP
FACULDADE DE HUMANIDADE E DIREITO PROGRAMADE
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA RELIGIÃO
EMANUEL RUBENS DE CARVALHO
DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO
INTEGRAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA PRESENÇA
DA TEOLOGIA E PRÁXIS DA MISSÃO INTEGRAL NO
SOLO PAULISTANO - Estudo da PIBSP.
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2015
2
EMANUEL RUBENS DE CARVALHO
DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO
INTEGRAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA PRESENÇA
DA TEOLOGIA E PRÁXIS DA MISSÃO INTEGRAL NO
SOLO PAULISTANO - Estudo da PIBSP.
Dissertação apresentada à Universidade
Metodista de São Paulo, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre
em Ciências da Religião, sob a
orientação do Prof. Dr. Nicanor Lopes
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2015
3
FICHA CATALOGRÁFICA
C253d
Carvalho, Emanuel Rubens de
Desenvolvimento e justiça na missão integral: uma análise crítica da presença
da teologia e práxis da missão integral no solo paulistano-Estudo da PIBSP./
São Bernardo do Campo, 2015.
235fl.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) –Faculdade de Humanidades
e Direito, Programa de Pós Ciências da Religião da Universidade Metodista
de São Paulo, São Bernardo do Campo.
Bibliografia
Orientação de: Nicanor Lopes
1.Igreja e problemas sociais2.Missão integral3. Justiça social – Aspectos
religiosos4. Igreja Batista - Missões I. Título
CDD 261.8
4
A dissertação de mestrado sob o título “DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA
MISSÃO INTEGRAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA PRESENÇA DA TEOLOGIA
E PRÁXIS DA MISSÃO INTEGRAL NO SOLO PAULISTANO – Estudo da PIBSP.”,
elaborada por Emanuel Rubens de Carvalho foi apresentada e aprovada em 17 de
setembro de 2015, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. Nicanor Lopes
(Presidente/UMESP), Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera (Totular/UMESP) e Prof.
Dr. Lourenço Stélio Rega (Titular/ FTBSP).
___________________________________________________________
Professor Dr. Nicanor Lopes
Orientador e Presidente da Banca Examinadora
___________________________________________________________
Professor Dr. Helmut Rendres
Coordenador do Programa de Pós-Graduação
Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião
Área de Concentração: Religião Sociedade e Cultura
Linha de Pesquisa: Religião e Dinâmicas Sócio culturais
5
Ao Deus, Senhor e sustentador da minha vida.
À minha amada esposa Jéssica Evelyn Papi Silva, motivadora e
fiel companheira.
À Igreja de Cristo.
6
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; bem-
aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; bem-aventurados
os limpos de coração, porque eles verão a Deus; bem-aventurados os pacificadores,
porque eles serão chamados filhos de Deus; bem-aventurados os que sofrem
perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.”
Mateus 5. 6.-10
7
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por não ter desistido de mim, por me sustentar e capacitar, não
só na realização deste trabalho, mas em toda a minha vida. Até aqui me ajudou o
Senhor.
À minha esposa, Jéssica Evelyn Papi Silva, por todo amor, compreensão, apoio e
incentivo.
Aos meus pais e irmãos, José Rubens de Carvalho, Maria Aparecida de Carvalho
(pais), Juliana Rúbia de Carvalho e Mateus Alexandre de Carvalho (irmãos), por todo
amor e cuidado que sempre tiveram comigo.
À Igreja Batista do Ipiranga, na pessoa de seu pastor titular Nelson Pacheco, e
todos os seus membros, por toda compreensão e incentivo durante todo o curso.
À Primeira Igreja Batista de São Paulo, na pessoa de seu pastor titular Paulo
Eduardo G. Vieira, e a todos os seus membros, por abrirem as portas da igreja para mim
e por me receberem de uma forma extremamente fraterna e calorosa.
Ao Prof. Nicanor Lopes por sua dedicação e excelência no processo de
orientação.
Ao Prof. Lourenço Stélio Rega, por aceitar meu convite.
Ao pastor Irland P. Azevedo, pela amizade e pelas inúmeras horas de conversa.
Agradeço-o por ser um referencial para mim, de amor e labor ao Senhor, à família, ao
ministério e aos estudos.
Ao meu sogro, Enéas Papi, e à minha sogra Márcia Papi, por todo apoio e
compreensão.
A todos que oraram por mim, e com palavras de motivação, abraços e gestos de
cuidado, foram instrumentos de Deus para abençoar minha vida durante todo esse curso.
A todos vocês minha eterna gratidão e reconhecimento. Obrigado!
8
CARVALHO, Emanuel Rubens. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO INTEGRAL: uma análise crítica da presença da teologia e práxis da Missão Integral no solo paulistano - Estudo da PIBSP. 233p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião – Religião, Sociedade e Cultura) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2015
RESUMO
No presente estudo sobre o tema: “Desenvolvimento e Justiça na Missão Integral: Uma
análise crítica da presença da Teologia e Práxis da Missão Integral no Solo Paulistano”
procura-se analisar a presença do conceito de desenvolvimento e justiça da Missão
Integral no solo paulistano. Para tal análise tomou-se como sujeito de pesquisa a
Primeira Igreja Batista de São Paulo. Esta dissertação foi desenvolvida no Programa de
Pós- Graduação em Ciências da Religião, e pertence à linha de pesquisa “Religião,
Sociedade e Cultura”. A metodologia adotada na coleta de dados foi de uma revisão
bibliográfica e pesquisa de campo por meio de um roteiro de entrevista. Os
questionamentos que nortearam a pesquisa foram: O que é desenvolvimento e Justiça na
Missão Integral? É possível notar a presença desses conceitos na práxis e na teologia da
Primeira Igreja Batista de São Paulo? Após uma análise da Missão Integral e da Igreja
pesquisada, foi possível verificar as aproximações e distanciamentos, assim como
hipóteses que justificassem esses fatos. No primeiro capítulo foi apresentada a Missão
Integral, sua história, teologia e método. No segundo capítulo os conceitos de
desenvolvimento e justiça foram trabalhados. O último capítulo apresentou a Primeira
Igreja Batista de São Paulo; buscou estabelecer diálogo entre o conceito de
Desenvolvimento e Justiça da Missão Integral e a teologia e práxis da Primeira Igreja
Batista de São Paulo.
Palavras-chave: Desenvolvimento, Justiça, Missão Integral, Contexto, PIBSP.
9
CARVALHO. Emanuel Rubens. Development and Justice in Integral Mission: A critical analysis of the presence of Theology and Praxis of Integral Mission on Paulistano Soil- Study about PIBSP. 233p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião – Religião, Sociedade e Cultura) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2015
ABSTRACT
In the present study on the theme: "Development and Justice in Integral Mission: A
critical analysis of the presence of Theology and Praxis of Integral Mission on
PaulistanoSoil". I tried to analyze the presence of the concept of development and
justice of Integral Mission on São Paulo soil, and for such analysis was taken as a
research subject the First Baptist Church of São Paulo. This work was developed in the
Post-Graduation Program in Religious Studies, and belongs to the line of research
"Religion, Society and Culture".
The methodology used in data collection was a bibliography review and field research
through interviews. The questions that guided the research were: What is development
and justice in Integral Mission? Is it posible to notice the presence of these concepts in
the practice and theology of the First Baptist Church of São Paulo?After an analysis of
Integral Mission and the researched church, we found the similarities and differences, as
well as assumptions that justify these facts. In the first chapter it was presented the
Integral Mission, History, Theology, and Method. In the second chapter the concepts of
development and justice were developed. The last chapter presented the First Baptist
Church of Paulo, and sought to establish a dialogue between the concept of
Development and Justice of Integral Mission and theology and praxis of First Baptist
Church of São Paulo.
Key words: Development, Justice, Integral Mission, context. PIBSP
10
Sumário
Lista de Mapas ................................................................................................................ 12
Lista de Desenhos ........................................................................................................... 12
Listas de Tabelas ............................................................................................................ 12
Lista de Gráficos ............................................................................................................. 12
Lista de Quadros ............................................................................................................. 12
Abreviações .................................................................................................................... 14
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 15
1. MISSÃO INTEGRAL ................................................................................................ 19
1.1. Sua trajetória histórica via suas vertentes formadoras ..................................... 19
1.1.1. As vertentes formadoras do protestantismo Norte-Americano ................ 19
1.1.2. A cisão do protestantismo norte-americano ............................................. 24
1.1.3. O movimento evangélico .......................................................................... 28
1.1.4. Evangélicos e evangelicais no Brasil ....................................................... 29
1.2. Sua trajetória histórica via Congressos ............................................................ 33
1.2.1. A origem dos CLADEse da Fraternidade Teológica Latino-Americana, e o
CLADE I ................................................................................................................. 33
1.2.2. Segundo Congresso de Evangelização Mundial, em Lausanne .................... 34
1.2.3. CLADE II ...................................................................................................... 37
1.2.4. CLADE III..................................................................................................... 48
1.2.5. CLADE IV .................................................................................................... 51
1.2.6. CLADE V ...................................................................................................... 52
1.2.7. CLADEs: Continuidades e Novidades .......................................................... 55
1.3. Seu Método: O Círculo hermenêutico ................................................................. 59
1.4.Sua Máxima: As três totalidades .......................................................................... 62
2. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO INTEGRAL ......................... 65
2.1. Desenvolvimento e Justiça ................................................................................... 65
2.1.1. A Justiça ........................................................................................................ 66
2.1.2. O Desenvolvimento ....................................................................................... 72
2.1.3. De quem é a responsabilidade de promover a justiça e o desenvolvimento?
E como promovê-los?.............................................................................................. 77
2.2. Evangelização e Discipulado &Desenvolvimento e Justiça ............................ 82
2.2.1. Evangelização & Desenvolvimento e Justiça................................................ 83
2.2.2. Discipulado & Desenvolvimento e Justiça ................................................... 94
11
2.3. Colaboração e Unidade & Desenvolvimento e Justiça. ................................... 99
3. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NOS SOLOS PAULISTANOS: ENTRE
CLAMORES E RESPOSTAS ...................................................................................... 105
3.1. O Contexto que clama por desenvolvimento e Justiça ...................................... 106
3.2. A Primeira Igreja Batista de São Paulo ............................................................. 114
3.2.1 O Passado ..................................................................................................... 115
3.2.2 O Presente da PIBSP .................................................................................... 117
3.3.A origem da Missão na PIBSP ........................................................................... 142
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 151
ANEXOS ...................................................................................................................... 160
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 231
12
Lista de Mapas
MAPA 1 – MAPA HISTÓRICO VIA VERTENTES FORMADORAS DA
M.I. ........................................................................................................ 32
MAPA 2- MAPA HISTÓRICO DA MISSÃO INTEGRAL VIA
CONGRESSOS ..................................................................................... 58
Lista de Desenhos
DESENHO 1 - CÍRCULO HERMENÊUTICO ............................................................. 61
DESENHO 2- ESTRUTURA DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO DA M.I. 77
Listas de Tabelas
TABELA 1- TABELA DE DADOS DEMOGRÁFICOS DOS DISTRITOS
PERTENCENTES À SUBPREFEITURA DO CENTRO (SÉ) ............................ 107
TABELA 2- QUANTIDADE E PORCENTAGEM DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE
RUA POR DISTRITO DA ÁREA CENTRAL ................................................... 112
Lista de Gráficos
GRÁFICO 1 - PERCENTUAL DE INDIVÍDUOS EM SITUAÇÃO DE RUA NA
CIDADE DE SÃO PAULO EM 2011 POR REGIÃO ........................................ 112
GRÁFICO 2- O QUE É MISSÃO DA IGREJA PARA OS MEMBROS DA PIBSP? 120
GRÁFICO 3- O QUE É AÇÃO MISSIONÁRIA PARA OS MEMBROS DA PIBSP?
............................................................................................................................... 121
GRÁFICO 4- AS 4 AÇÕES MISSIONÁRIAS DA PIBSP MAIS CITADAS PELOS
ENTREVISTADOS .............................................................................................. 127
GRÁFICO 5- AÇÕES MISSIONÁRIAS COM NÚMERO DE PARTICIPAÇÃO DOS
ENTREVISTADOS .............................................................................................. 139
GRÁFICO 6- PARTICIPANTES QUE CONHECEM A M.I. .................................... 143
Lista de Quadros
QUADRO 1- TEMPO DE MEMBRESIA DOS ENTREVISTADOS ....................... 118
QUADRO 2- AÇÕES DA PIBSP FRENTE AO CONCEITO DE LESSA ................ 125
QUADRO 3- PROBLEMAS SOCIAIS DA REGIÃO CENTRAL VISTOS PELOS
PARTICIPANTES ................................................................................................ 130
QUADRO 4- ANÁLISE DOS AVISOS PUBLICADOS NOS BOLETINS ............... 135
13
QUADRO 5- RESPOSTAS SOBRE QUAIS AS AÇÕES MISSIONÁRIAS DE QUE
PARTICIPARAM ................................................................................................. 137
QUADRO 6- CONHECIMENTO DOS PARTICIPANTES DA M.I. POR ANOS DE
IDADE .................................................................................................................. 143
QUADRO 7- COMPARAÇÃO ENTRE A METODOLOGIA DA M.I. E A DA TDL
............................................................................................................................... 149
14
Abreviações
PIBSP Primeira Igreja Batista de São Paulo
M.E. Movimento Evangélico
M.I. Missão Integral
TdL Teologia da Libertação
CLADE Congresso Latino-Americano de Evangelização
COMIN
PL
Conselho Missionário Internacional
Pacto de Lausanne
15
INTRODUÇÃO
Em uma das maiores cidades do mundo, possuidora do maior mercado
financeiro do Brasil, encontram-se também os maiores contrastes e problemas sociais
do país. Estes fatos dão à Cidade de São Paulo o título de “a cidade que não dorme”,
quando os assuntos são trabalho, lazer e consumo. E de “a cidade que ainda desperta”
em se tratando de justiça aos injustiçados, e de desenvolvimento dos oprimidos.
Frente a esse contexto, pergunta-se se a Igreja teria alguma contribuição para
transformar essa realidade, se frente a essa convulsão social a sua melhor postura seria
ouvir os clamores desse contexto, ou continuar abafando com cânticos ensurdecedores
os gritos por justiça vindos das ruas. Não seria chegada a hora de abrir o leque de visão
da Igreja, para que os olhos que, antes fitados no céu, apenas contemplavam o eterno e
glorioso “porvir”, passem também a olhar para a terra e enxergar o não tão glorioso
“aqui e agora”? Enfim, pergunta-se se a igreja teria a Missão de trabalhar por
sociedades mais justas e desenvolvidas.
A Missão Integral (leia-se M.I.) nasce dessa efervescência de perguntas vindas
do contexto latino-americano; de um incômodo com as teologias importadas, norte-
americanas, européias, que não respondiam às perguntas e dores de seu povo. A M.I.
emerge desse diálogo, que fora silenciado nos solos latino-americanos durante muito
tempo, entre texto (Bíblia) e contexto (realidade sociocultural).
Referenciais como René Padilla, Samuel Scobar, Juan Stam, Valdir R.
Stuernagel, entre outros membros que compõem a formação do quadro teórico da M.I.,
se lançam a refletir sobre a missão da igreja latino-americana frente ao seu contexto,
dando origem assim à M.I.
Padilla (1994) conclui que a M.I. da igreja é composta por três enfoques, a saber:
Evangelização e discipulado; Colaboração e unidade; e Desenvolvimento e Justiça.
Frente a esse conceito, que é basilar dentro da M.I., o enfoque que possui maior
escassez de material produzido é o terceiro (desenvolvimento e Justiça). E a partir daí
questiona-se: uma vez que desenvolvimento e justiça são parte da missão da igreja, de
qual justiça e de qual desenvolvimento a M.I. está falando? Será que é aquela justiça
que seleciona por cor, sexo e classe social suas vítimas, ou uma que se baseia em
princípios que enxergam a todos como possuidores da imago Dei? Quando se fala de
16
desenvolvimento, a qual se refere? Àquele desenvolvimento capitalista, consumista,
egocêntrico que se resume a bens financeiros? Ou fala-se de uma valorização daquilo
que é vital ao ser humano e à sua existência como um ser social? O que é
desenvolvimento e Justiça na M.I? E qual é a sua relação com os outros aspectos que
compõem a missão da igreja?
Visando responder a esses questionamentos, o presente trabalho se dedicará em
seu primeiro capítulo a traçar a trajetória histórica da M.I., via suas vertentes
formadoras e congressos. Feito isso será esboçada a metodologia do fazer teológico da
M.I., e posteriormente uma análise de sua máxima, que se origina desta forma de
aprender a missão. Esse trajeto será percorrido para a compreensão da matriz histórica,
metodológica e conceitual da M.I., de onde emerge o conceito de desenvolvimento e
justiça.
O segundo capítulo se prestará de maneira específica a responder às perguntas:
O que é justiça? O que é desenvolvimento? Qual é a relação de ambos com os demais
aspectos da teologia da M.I.? Dentro desse capítulo não serão apresentados e
desenvolvidos apenas esses conceitos, mas também caminhos que respondem ao “como
cumprir essa missão”.
Para a elaboração desses dois primeiros capítulos foi adotada a metodologia de
pesquisa bibliográfica. Entre as principais obras utilizadas para essa parte do trabalho
destacam-se como essenciais: “Pacto de Lausanne” (STOTT, 2003); “Missão Integral:
Ensaios sobre o Reino” (Padilla, 1992), “Missão Integral: em busca de uma identidade
evangélica” (GONDIM, 2010); “Teologia da Missão Integral: História da Teologia
evangélica Latino-Americana” (SANCHES, 2009); ‘O novo rosto da Missão: Os
movimentos ecumênicos evangelicais no protestantismolatino-americano
“(LONGUINI, 2002) “Jardim da Cooperação: Evangelho, redes sociais e Economia
Solidária” (BRITO, 2008) “Missão como Com-paixão” (ZWETSCH, 2008); “Missão
Transformadora: Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão” (BOSCH, 2009);
entre outros.
A Missão Integral tem como seu marco inicial o Segundo Congresso de
Evangelização Mundial, ocorrido na cidade de Lausanne, em 1974. A partir desse
congresso, muitos livros, artigos e encontros foram organizados tratando o tema da M.I.
Passados seus 40 anos de existência pergunta-se o que desta teologia chegou ao solo
paulistano nas igrejas batistas. Ao olhar para o contexto paulistano é possível ver ações
de desenvolvimento e justiça promovidas pela Igreja?
17
Por se tratar de um universo muito amplo, o presente trabalho tomará como
sujeito de sua pesquisa a Primeira Igreja Batista de São Paulo (leia-se PIBSP) e o
contexto no qual ela está inserida; a saber, o bairro de Campos Elíseos, localizado na
região central de São Paulo.
Esse campo de pesquisa foi escolhido devido à sua localização histórica e
sociogeográfica. Sendo a PIBSP uma instituição de cento e dezesseis anos, temos a
possibilidade de analisar uma igreja que já existia antes da realização dos congressos
que se configuraram como fundadores da M.I., possibilitando inclusive registrar
participações desta igreja nesses congressos. Sua relevância histórica pode ser
observada também pelo fato de a PIBSP ser a primeira igreja batista formada nos solos
paulistanos e por ter ela trabalhado de maneira significativa para a implantação de novas
igrejas em São Paulo e em outras cidades, o que lhe confere o status de “mãe” e “avó”
de muitas outras igrejas.
Quanto à sua relevância sociogeográfica, afirma-se esse fato por estar a PIBSP
localizada em uma região que possui muitos desafios sociais; um local onde os
extremos se tocam e se chocam diariamente. Uma localidade que grita nas calçadas,
marquises e cracolândias, por meio das vozes de mendigos, dependentes químicos e
crianças pedindo justiça e desenvolvimento.
E é nesse contexto que se pergunta: Qual tem sido a resposta da Igreja a esse
grito desesperado por justiça e desenvolvimento? Ela tem ouvido esse clamor? Tem
respondido a ele? E, se sim, seria essa uma herança da M.I.?
Perguntas como essas nortearam o último capítulo deste trabalho intitulado
“Desenvolvimento e Justiça nos solos paulistanos: entre clamores e respostas”, que será
dividido em três partes, a saber: “O contexto que clama por desenvolvimento e justiça”,
“A PIBSP”, e “A origem da Missão na PIBSP”.
Para fazer essa análise será utilizada a metodologia de pesquisa bibliográfica, e
pesquisa de campo, que foi realizada na PIBSP, por meio de roteiro de entrevista, com
seus membros e pastor. Essa pesquisa teve como participantes 12 pessoas, que foram
qualificadas em 3 grupos, e o pastor titular. Estes grupos foram organizados por faixa
etária. O primeiro grupo foi formado por jovens entre 18 a 34 anos de idade, o segundo,
por adultos de 35 a 58 anos, e o último grupo por pessoas de 64 a 76 anos de idade.
Cada grupo foi formado por quatro pessoas (duas mulheres e dois homens). Também foi
realizada a análise dos boletins e das publicações no Jornal Comunhão.
18
Sendo o pesquisador um pastor, essa dissertação possui um viés que toca na
práxis pastoral; ela nasce tendo como alvo a profundidade acadêmica sem se esquecer
das questões que estão na superfície dos solos clamantes nos quais as igrejas atuam.
Assim sendo, essa dissertação objetiva também servir a teólogos e pastores como uma
ferramenta que desperte os olhares e os ouvidos para a importância da igreja no
processo de desenvolvimento e justiça na sociedade, para que ela possa cada vez mais
exercer sua Missão Integral em seu contexto.
19
1. MISSÃO INTEGRAL
Neste primeiro capítulo será apresentada a Missão Integral a partir de um recorte
histórico que trilhará o caminho das vertentes formadoras da M.I. e dos congressos que
fizeram parte de sua origem. Também será apresentado o método e um breve esboço da
teologia da M.I. a partir de sua máxima.
Deve-se destacar que este capítulo serve ao trabalho como uma plataforma de
contextualização e aproximação do objeto principal, a saber, “Desenvolvimento e
Justiça”; por essa razão seus subtópicos não objetivam esgotar os temas neles
abordados, mas apenas apresentar esboços e linhas gerais, mas que se configuram como
fundamentais para a compreensão do objeto principal.
1.1. Sua trajetória histórica via suas vertentes formadoras
A M.I. não nasce em um vácuo histórico, mas surge em meio a um
desenvolvimento contextual da igreja protestante. Por isso, entender a história ajuda a
compreender a M.I. Sanches (2009) acredita que a Teologia da M.I. nasceu a partir de
uma revisão da história e de uma percepção da situação concreta da América Latina.
Portanto, conhecer a história da M.I ajuda a entendê-la melhor.
Porém, como o objetivo deste trabalho não é oferecer um estudo aprofundado
da história do protestantismo, este ponto do trabalho se limitará a esboçar desde as
influências recebidas pelo Protestantismo norte-americano do séc. XIX até o movimento
evangelical latino-americano, onde a M.I. é apresentada ao universo protestante.
1.1.1. As vertentes formadoras do protestantismo Norte-Americano
O protestantismo norte-americano é tido como uma figura multifacetada que
pode ser compreendida a partir de sua formação e influências recebidas. Ao voltar os
olhos para as raízes desse protestantismo, Gondim (2010) e Sanches (2009) apresentam
as três principais vertentes que compuseram a base desse movimento. São eles:
Puritanismo Inglês, Pietismo Moraviano e Avivamentos (despertamentos religiosos).
Para melhor compreender este protestantismo será apresentado cada um desses
movimentos influenciadores, buscando esboçar suas principais características, que
contribuíram para a formação da identidade protestante norte-americana.
20
O Puritanismo Inglês
O Puritanismo Inglês chegou à América em 1620, com os separatistas ingleses,
que tinham como objetivo formar em Massachusetts um Estado em que as leis
refletissem suas crenças religiosas, ligando assim a religião ao Estado. Segundo Bosch:
As colônias puritanas pretendiam ser manifestações do reino de Deus
sobre a terra e que o governo de Cristo deveria tornar-se visível tanto
na sociedade quanto na igreja. O Estado tinha a incumbência divina de
funcionar como um agente auxiliar. Almejava-se uma harmonia
perfeita entre igreja e Estado (BOSCH, 2002, p.316).
Essa cosmovisão desencadeou uma rigidez disciplinar, uma espiritualidade
profunda, zelosa e severa, que permeava todos os setores da vida, tanto da social como
da individual. Essa postura era essencial para eles, pois se entendiam como a
manifestação do Reino de Deus sobre a terra.
Esse movimento era calvinista, e possuía dentro de sua teologia a doutrina da
predestinação, que, por sua vez, era em alguns momentos compreendida em termos
muito radicais e rígidos. Este fato pode ser visto na ideia da dupla predestinação, que
acredita que Deus predestina alguns para o céu e outros para o inferno. Esta
compreensão paralisou os impulsos missionários, pois acreditava-se que Deus salvaria
conforme a vontade própria; por isso, seriam desnecessárias ações humanas. Bosch
comentando este fato afirma que:
Essa concepção foi efetivamente sustentada por alguns puritanos, que
se consideravam eleitos de Deus, enviados para plantar e cultivar um
jardim nos ermos da América do Norte, onde deveriam fomentar o
Reino de Deus expulsando a população nativa. De quando em quando
o Pastor puritano chegava a agradecer a Deus por ter enviado uma
doença mortífera aos índios, que destruiu multidões deles e abriu
espaço para nossos Pais. (BOSCH, 2002, p. 315).
Porém, houve alguns puritanos que decidiram começar um trabalho missionário
entre esses mesmos índios, e receberam o apoio dos colonos. Esse fato gerou uma
mudança na forma de os puritanos entenderem sua relação com os povos nativos, pois
passaram a acreditar que o reinado de Deus deveria ser propagado por meio de
conversão, e não de extermínio da população nativa.
Bosch diz que: “é possível detectar-se, repetidas vezes, essa “mudança de curso”
1 em grupos calvinistas. A ênfase na predestinação leva a um envolvimento ativo na
1A mudança no curso a qual Bosch se refere diz respeito a essa transformação da postura de grupos CALVINISTAS com relação à propagação do evangelho.
21
missão; os eleitos de Deus não podem permanecer de braços cruzados.” (BOSCH, 2002,
p.315). Gondim fala sobre essa mudança ocorrida no calvinismo usando as seguintes
palavras:
Os calvinistas, para não emperrar o avanço missionário, necessitaram
abrir mão do rigor puritano que acredita que Deus não só conduz a
história como determina a priori os que vão para o céu bem como os
que vão para o inferno, como explica a doutrina da dupla
predestinação, apregoada pelos puritanos. Desse modo, a marca
distintiva dos que evangelizavam era procurar “fazer valer a vontade
de Deus na história” e “reverter o avanço da maldade”, mas tudo para
aumentar o número dos salvos. (GONDIM, 2010, p.34).
Outra marca do Puritanismo foi a renovação da liturgia. Sanches afirma que:
Outro elemento próprio deles foi a ênfase na renovação da liturgia [...]
eles não aceitavam o uso da cruz no culto, de certos tipos de roupas
dos sacerdotes, do serviço da ceia em altares ou de qualquer tipo de
ostentação (SANCHES, 2009, p.74).
A influência exercida pelo Puritanismo no Protestantismo norte-americano foi
extremamente profunda. Resultou em muito mais do que algumas impressões no
pensamento teológico protestante. Este movimento se configurou como gerador de um
espírito caracteristicamente legalista que evidenciava o lado moral da fé. Segundo
Sanches, o puritanismo “serviu de alicerce para a construção da nação norte-americana
e configuração do seu protestantismo de base”.(SANCHES, 2009, p.75).
O Pietismo Moraviano
O Pietismo que chegou à America foi o Pietismo Moraviano. Ele se diferenciava
dos demais por incentivar uma profunda devoção por Jesus Cristo, entrega e
consagração totais à vontade d’Ele, e por seu empenho na evangelização dos povos em
missões transculturais. Neil, comentando sobre essa característica missionária, diz que:
Os moravianos tenderam a partir para os pontos mais remotos,
desfavoráveis e abandonados da Terra. Muitos destes missionários
foram pessoas bastante simples, camponeses e artesãos. O seu
objetivo era viver o Evangelho e mostrá-lo àqueles que nunca ouviram
falar dele. (NEIL, 1989, p.242).
Outra marca deste pietismo era sua ênfase na experiência de fé. A conversão era
mais que uma adesão às doutrinas; era uma experiência pessoal da totalidade do
convertido. Segundo Bosch:
22
No pietismo, a fé formalmente correta, fria e cerebral da ortodoxia deu
lugar a uma união cálida e devota com Cristo. Conceitos como
arrependimento, conversão, renascimento e santificação receberam
significados novos. Uma vida disciplinada, e não a autoridade
eclesiástica, a prática, e não a teoria – essas eram as marcas distintivas
do novo movimento. (BOSCH, 2002, p.309).
Outra característica distintiva deles era a sua obra missionário-social. Esta era
marcada por sua prática solidária na evangelização. Sanches afirma que: “Os
moravianos eram pobres. Por isso desenvolveram um modelo de missão não somente
para os pobres, mas a partir da pobreza.” (SANCHES, 2009, p.73).
Gondim pontua a influência que o Pietismo teve sobre o Protestantismo norte-
americano chegando até o Movimento Evangélico (leia-se M.E.), na seguinte afirmação:
O notório encontro de João Wesley, com um segmento religioso que
se difundiu pela Europa, conhecido como os Irmãos Morávios, no dia
13 de agosto de 1727, não é apenas importante para a história da
Igreja Metodista, como pode servir de marco para a influência que o
metodismo vai exercer na formação do M.E. norte-americano
(GONDIM, 2010, p. 31).
Os Avivamentos
O terceiro movimento que compõe o Protestantismo Norte-americano são os
Avivamentos. Latourette (2006) acredita que a origem dos evangélicos está entrelaçada
com o que ele chama de “reavivamento britânico” que ocorreu no século XVIII dentro
da Igreja da Inglaterra:
Na Igreja da Inglaterra, o reavivamento fortaleceu o elemento
protestante que estivera ali desde a Reforma. Aqueles que eram
comprometidos com ele ficaram conhecidos como evangélicos. Em
geral, eles eram calvinistas em sua teologia. Eles enfatizavam a
conversão, a moral estrita, uma vida de serviço ativo a outros, e
simplicidade na adoração. (LATOURETTE, 2006, p.194).
Este avivamento teve como seus principais líderes João e Carlos Wesley.
Sanches (2009) considera este movimento como um “fenômeno moderno”, pois eles
inauguraram a forma moderna de evangelização, o que ficou conhecido como
“conversionismo”. Sobre este fato, Wilton M. Nelson afirma:
Pregaram para as massas com fervor intenso sobre os temas do pecado
e suas consequências, a obra expiatória de Cristo, a necessidade do
arrependimento e a confiança em Cristo, e que esta fé deve ser uma
experiência pessoal do coração e não uma mera aceitação do credo
ortodoxo. (NELSON, 1973, p.166).
23
Os integrantes desses avivamentos davam uma grande ênfase na experiência
individual da fé, no arrependimento e conversão, mas as características mais distintivas
deles eram “necessidade da disciplina religiosa, experiência característica, envolvimento
dos cristãos na sociedade e de pregadores leigos na tarefa missionária e pastoral”
(SANCHES, 2009, p.77).
Eles desenvolveram uma compreensão sobre missão na qual estava inserida
tanto a evangelização e conversão pessoal como a responsabilidade social, na qual cada
indivíduo tinha o dever de trabalhar para a transformação da sociedade. Desta visão
resultaram ações de melhoria das condições sociais da época. Dentre seus feitos pode-
se citar: a redução da jornada de trabalho de doze para dez horas; a criação de agências
de empregos; a constituição dos primeiros sindicatos de trabalhadores e a luta contra a
escravidão. Lopes afirma que: “Para a tradição wesleyana, responsabilidade social,
pregação e educação são ações essenciais no desenvolvimento do projeto missionário e
elementos indissociáveis.” (LOPES, 2013. p.31).
Os avivamentos foram além da Grã-Bretanha; estenderam-se para a América do
Norte chegando até treze colônias, que experimentaram uma série de avivamentos.
Jonathan Edwards, George Whitefield e Charles Finney se configuram como
personagens de grande destaque dentro desse período.
Edwards era um excelente pregador, com um forte embasamento filosófico e
científico, e por meio de suas pregações arrebanhava multidões. Seu contemporâneo
Whitefield também atraiu multidões com seus sermões. Em suas inúmeras viagens pelos
Estados Unidos ele produziu um “fenômeno de massa que já no final do século
desencadeou o que ficou conhecido como o “Segundo Grande Despertamento”.
(GONDIM, 2010, p.36)
Na mesma época Finney surge como uma figura importante para a identidade
protestante. Vindo da igreja presbiteriana, advogado e um pregador itinerante, Finney
escreveu uma teologia sistemática, mas teve como sua obra principal o livro
“Lectureson Revival”. Nesta obra ele propunha novas práticas para o culto protestante.
Segundo Gondim:
Finney foi inovador para a época. Criou o “banco dos ansiosos”, um
lugar reservado para as pessoas que, à medida que pregava, sentissem
o coração “ansioso”. Obviamente trazia o conceito de Wesley que
falava no coração ardente quando exposto à verdade do Evangelho.
Depois que terminava de pregar, Finney conduzia as pessoas que se
sentavam no “banco dos ansiosos” para mais instruções, conduzindo-
24
as assim à salvação. Finney foi copiado ferozmente por evangélicos e
pentecostais ao redor da terra e seu “banco de ansiosos” tornou-se o
precursor do “apelo” (GONDIM, 2010, p.39).
Foi dentro desses avivamentos que se desenvolveu o protestantismo de missão,
que foi responsável por implantar várias “representações das denominações na América
Latina, África, Ásia e Caribe” (SANCHES, 2009, p.78). Este Protestantismo de Missão
mobilizou centenas de estudantes para a dedicação da vida às missões que aconteciam
principalmente em países subdesenvolvidos.
Sanches afirma que: “de todos os movimentos que nasceram dentro do
protestantismo, os avivamentos foram os mais significativos para o surgimento e
desenvolvimento do evangelicalismo, especialmente o latino-americano.” (SANCHES,
2009, p.76).
Essas três vertentes influenciadoras (puritanismo/ pietismo/ avivamentos)
possuíam em comum o rigor dogmático, o ascetismo, uma teologia elaborada a partir do
milenarismo, o reconhecimento da importância da experiência pessoal, e um vigoroso
movimento missionário. Esses fatores se tornaram marca distintiva do protestantismo
norte-americano.
O protestantismo norte-americano é, usando as palavras de Gondim, “uma
colcha de retalhos” e pode ser comparado a um “guarda-chuva onde se abrigaram
tendências teológicas díspares e muitas vezes conflitantes.” (GONDIM, 2010, p.39).
1.1.2. A cisão do protestantismo norte-americano
O protestantismo que se espalhou pelas treze colônias tinha como diferencial as
Igrejas filiadas às diversas denominações, no lugar das igrejas do Estado. Este fato ficou
conhecido como denominacionalismo. Sanches explica esse fenômeno da seguinte
forma:
Os grupos ou ‘igrejas’ não pretendiam ser ‘a igreja’, mas somente
‘denominações’ que os cristãos davam a si mesmos. A Igreja era, de
fato, conforme orientação da própria reforma, uma entidade invisível
acima das organizações denominacionais e institucionais, composta
por cristãos verdadeiros. As denominações na realidade eram vistas
como instituições humanas, para fins de vivência comunitária da fé
cristã protestante no mundo em sua organização social. (SANCHES,
2009, p.79).
25
Ao denominacionalismo pode-se vincular uma característica do protestantismo
norte-americano, o Voluntarismo. Esta é a prática de, por meio de contribuições
voluntárias, manter o sustento das igrejas, pois uma vez que elas não recebiam os
recursos do estado precisavam, portanto, se sustentar por meio da contribuição direta
dos seus membros.
O protestantismo norte-americano caracterizou-se também pelo impulso
vigoroso do avivamento e do esforço abnegado dos voluntários na obra missionária,
como já expresso nas páginas anteriores. Porém, juntamente com esse labor missionário
nasceu o espírito do chamado “Destino manifesto” que acompanhou as empreitadas
desses movimentos missionários. Juntamente com o evangelho e as denominações, as
ações missionárias buscavam levar aos países não alcançados e não desenvolvidos, o
progresso experimentado pelo povo norte-americano, que entendiam como a
manifestação do destino desejado por Deus a todos os convertidos (daí o nome Destino
manifesto).
Entre os séculos XVIII e XIX, quando se falava em protestantes norte-
americanos, a imagem que se tinha era de um grupo com características puritanas,
pietistas e avivalistas, mas que não possuía uma divisão e embates institucionalizados.
Não se fazia diferenciação entre protestantes e evangélicos; todos eram
concomitantemente evangélicos e protestantes.
Porém, a ruptura começou a acontecer logo no início do século XX, quando a
teologia alemã começou a crescer e um grupo expressivo de protestantes começou a se
posicionar como contrário a essas tendências liberais. A partir disso o protestantismo foi
aos poucos se polarizando em fundamentalistas e liberais. Segundo Gondin:
A identidade do movimento evangélico é complexa e a tarefa de
defini-lo, colocá-lo em “seus justos limites”, por demais complicada.
O movimento não possui uma fronteira institucional, marcos
teológicos claros e sequer uma experiência, um rito de passagem
comum. O historiador norte-americano, Mark A. Noll percebeu a
fluidez do movimento que se reconfigurou várias vezes durante o
século XX, desde o famoso litígio jurídico chamado de Scopes Trial
(Julgamento de Scopes) 2 . Devido ao conflito entre o ensino da
Evolução e da Criação nas escolas públicas de um estado sulista,
aconteceu o julgamento que estigmatizou os crentes que se alinhavam
2 ScopesTrial (Julgamento de Scopes) aconteceu por ter sido aprovada no Tennessee uma lei que proibia o ensino da teoria de Darwin nas escolas. Grupos de defesa dos direitos civis protestaram. John T. Scopes, professor na pequena cidade de Dayton, no Estado do Tennessee, não concordando com a decisão, ensinou para seus alunos a teoria da evolução. Como consequência ele foi levado a julgamento. O tribunal o condenou a pagar uma multa simbólica e o proibiu de voltar a ensinar as teorias de Darwin.
26
com o movimento fundamentalista. Alguns protestante que não
concordavam com a teologia liberal, buscaram distanciar-se dos
fundamentalistas e procuraram se identificar como “neo-evangelicos”
ou apenas evangélicos. Esse grupo deu nova identidade ao
fundamentalismo, depois se tornou mais ecumênico, com alianças
pontuais e esporádicas com católicos e pentecostais. (GONDIM, 2010,
p.25).
A face menos simpática do fundamentalismo apareceu para a sociedade
americana, pois este caso ganhou uma notoriedade nacional. Segundo Gondim:
Depois do julgamento de Scopes, ser fundamentalista passou a ser
sinônimo não apenas de dogmático, conservador ou milenarista,
acreditando em um retorno triunfal de Cristo para resgatar a sua igreja
de um mundo condenado ao fogo, mas também de anti-intelectual e
intolerante. (GONDIM, 2010, p.51).
Dentro dessas reconfigurações o protestantismo chegou ao ponto da cisão,
polarizando-se em dois grupos extremos: o dos protestantes (liberais) e o dos
fundamentalistas. Os protestantes passaram a ser identificados como o grupo que
simpatizava com o ecumenismo, com o evangelho social e com o liberalismo; que
colocava em dúvida a autoria dos livros sagrados, e trazia suspeita sobre a pregação do
retorno de Cristo para implementar o seu reino milenar dentro da história.
Os fundamentalistas, por sua vez, eram o grupo que não concordava com as
posições do liberalismo e se colocava como o opositor a esta corrente. Uma das formas
de oposição e reação foi a elaboração do documento chamado “Os Fundamentos da fé
cristã”. Neste eram apresentados cinco pressupostos do evangelho que eram entendidos
pelos fundamentalistas como inegociáveis. São eles: “a inspiração, infalibilidade e
inerrância das Escrituras, a divindade de Cristo, o sacrifício propiciatório de Cristo e sua
ressurreição literal e física, bem como o seu retorno.” (SANCHES, 2009, p.84).
A cisão foi tomando proporções maiores, a ponto de no final do século XX o
fundamentalismo ter ganhado uma conotação pejorativa. A ele eram associadas as ideias
de obscurantismo e intolerância. Essa adjetivação negativa do movimento não se deu
por ele possuir uma reação anti-intelectual à modernidade, ou por um retrocesso
acadêmico, mas, segundo Gondim, esse fato se deu porque o fundamentalismo tinha:
Suas raízes nos despertamentos de Whitefield e Finney [...] e para
continuar a se expandir e manter grandes multidões, os evangélicos
precisaram manter o discurso simplificado. Assim as hermenêuticas
foram gradativamente perdendo conexão literária e as fundamentações
acadêmicas, substituídas por aplicações práticas. (GONDIM, 2010,
p.41).
27
O pós-tribulacionismo era uma das principais visões escatológicas do
fundamentalismo; devido a este fato acreditavam no avanço gradual do Reino de Deus
até que o mundo inteiro fosse transformado por meio das ações da igreja.Porém,
segundo Gondim:
O fundamentalismo deu uma guinada nesse milenarismo; guinada que
passou a conceber o mundo transformado não como o resultado de
ações da igreja, mas por meio de Cristo. Portanto, finalmente
aconteceria a justiça sem haver necessidade de práxis. Ela viria de
cima para baixo, com a chegada do messias que retornaria para vingar
sua própria morte, julgar os pecados do mundo e impor a nova ordem
(GONDIM, 2010, p.42).
Sendo assim a igreja via-se na posição de apenas espectadora de toda a ação
transformadora de Cristo, despreocupando-se das ações de transformação social, e livre
para centrar todos os seus esforços na salvação de almas. Com isso, questões que
estavam relacionadas com os problemas sociais eram entendidas apenas como sinais do
fim, e à igreja cabia apenas alertar a humanidade para esse fato.
Para exemplificar essa postura dos fundamentalistas, pode-se citar o
posicionamento dos mesmos com referência à escravidão. Gondim afirma que: “A
escravidão para eles só revelava a degeneração do mundo, cuja redenção aconteceria
com o arrebatamento da igreja”. (GONDIM, 2010, p.49)
A cosmovisão dos fundamentalistas fez com que eles se distanciassem cada vez
mais dos protestantes (liberais). Enquanto, para os fundamentalistas, responsabilidade
social não era assunto para a igreja, cuja tarefa era ganhar almas e prepará-las para o
arrebatamento, os Protestantes trabalhavam à luz do evangelho social, que entendia as
demandas da sociedade como uma responsabilidade da igreja. Enquanto para os
fundamentalistas a modernidade era vista com maus olhos, para o protestantismo a
modernidade era bem-vinda, assim como seus métodos e análise crítica bíblica.
Enquanto para o primeiro grupo, a Bíblia devia ser interpretada de maneira literal, e ela
mapeava com detalhes a cronologia do fim, de forma milenarista, dispensacionalista, o
segundo grupo questionava a literalidade e a autoria da Bíblia. Com todo esse
distanciamento, a cisão entre protestantes e fundamentalistas se institucionalizou e
solidificou.
28
1.1.3. O movimento evangélico
No meio dessa cisão surge um terceiro grupo, que tinha como anseio
desvincular-se do fundamentalismo, e encontrar uma síntese entre o sufocante rigor
fundamentalista e a relativização dos liberais; este grupo era o dos evangélicos. Ele se
formou para sobreviver ao desgaste do fundamentalismo versus o protestantismo.
Segundo Longuini Neto,“A expressão evangélicos 3 passou a ser usada abertamente
como uma diferenciação entre o novo grupo que buscava distanciar-se dos
fundamentalistas no final da década de 1940” (LONGUINI, 2002,p.53).
Embora este grupo buscasse um distanciamento do fundamentalismo, isso
aconteceu apenas no âmbito da práxis isolacionista que os fundamentalistas possuíam,
pois quanto à sua teologia e cosmovisão os evangélicos a mantiveram.
Pode-se notar esse fato a partir do escrito de Karl Henry e Harold John Ockenga,
homens que trabalhavam a favor do movimento evangélico, que denunciavam que as
forças motivadoras do fundamentalismo eram fragmentação, segregação, separação,
crítica, censura, suspeita, solecismo (GONDIM,2010, p.54). Porém, toda a crítica de
Henry e Ockengaao ao fundamentalismo se limitava às atitudes do movimento, não às
suas doutrinas e missiologia. Este fato se evidencia na afirmação de Ockenga sobre os
evangélicos, a qual diz que: “são conservadores, só não requerem o isolacionismo dos
fundamentalistas” (apud GONDIM,2010, 54).
Dentro dessa perspectiva, pode-se chamar os evangélicos norte-americanos de
fundamentalistas, uma vez que as doutrinas constituídas como inegociáveis eram o
pressuposto teológico desse novo movimento. Os pressupostos “fundamentais”
permaneciam até mesmo nos que se opunham à intolerância que os fundamentalistas
mostravam em relação à sociedade, ao exclusivismo denominacional e à piedade
moralista.
Para ganhar espaço no universo religioso, Gondim (2010) acredita que o
movimento precisava de uma pessoa que fosse seu porta-voz e que repetisse o sucesso
dos antigos avivalistas, Como Jonathan Edwards, Charles Finney, DwightMoody e Billy
Sunday.
3 No texto original de Longuini Neto, a palavra “evangélico” aparece como “evangelical”. Esta é uma transliteração do inglês; foi feita a tradução para que este fosse diferenciado do movimento evangelical que iniciou no Brasil posteriormente, sobre o qual será falado mais adiante.
29
Nessa busca, encontraram um garoto prodígio com um grande potencial no
Wheaton College, e seu nome era Billy Graham. Dotado de uma boa aparência, um
casamento exemplar e com uma eloquência invejável, este jovem tornou-se o porta-voz
ideal para o movimento.
A escolha por Billy Graham considerou sua formação no Wheaton, pois isso
garantia ao movimento que a ortodoxia desejada seria mantida, por ter esta faculdade
fortes marcas do fundamentalismo. Graham comentando esta instituição afirma que:
Embora não incluísse a palavra fundamentalismo no nome, aquela
respeitável instituição de ensino exigia rígido cumprimento a um
código de conduta que proibia funcionários e alunos de fumar, ingerir
bebida alcoólica de qualquer natureza, dançar, jogar baralho e
participar de sociedades secretas. A faculdade também se
fundamentava nas doutrinas bíblicas, adotando uma declaração de fé
teológica e conservadora dos meados da década de 1920. Com todas
essas exigências, a faculdade Wheaton passou a ser conhecida no
mundo acadêmico como retrógrada e puritana, mas a integridade do
ensino em todas as disciplinas tornou-se respeitada (GRAHAM,1998,
p.54e55).
Graham ganhou visibilidade mundial. Organizou a Associação Evangelística
Billy Graham, que recolhia grande valor financeiro e possuía uma administração
admirável. Ele também participou de forma ativa da fundação da revista
ChristianityToday, e foi responsável por inúmeras cruzadas evangelísticas ao redor de
todo o mundo.
Dessa forma, possuindo um grande financiamento de empresários, e com forte
articulação das bases missionárias em outros países ao redor do mundo, os evangélicos,
segundo Gondim: “se fortaleceram como a mais visível e mais crescente expressão do
cristianismo protestante do Ocidente. Billy Graham tornou-se uma espécie de
embaixador, o ícone mais copiado e mais admirado dos evangélicos que se firmavam
por todo o globo.” (GONDIM,2010,p.56).
1.1.4. Evangélicos e evangelicais no Brasil
O protestantismo evangélico chega na América Latina como fruto do projeto
missionário norte-americano. Este trouxe consigo, além do espírito evangélico, as
grandes denominações. Latourette afirma que chegaram nos solos latino-americanos:
30
Metodistas, batistas, presbiterianos, episcopais, congregacionais e
discípulos de Cristo – as também de alguns movimentos entusiásticos
jovens, notadamente os adventistas do sétimo dia, os cristãos da
Aliança Missionária, a igreja do Nazareno e a Missão da América
Central. (LATOURETTE, 2006,p.1747).
Porém este projeto missionário implantou na América Latina, segundo Sanches
(2009), representações afiliadas de várias Igrejas norte-americanas e europeias. Neste
projeto os aspectos formais e teológicos das igrejas de origem eram mantidos, tais
como:
Arquitetura dos templos, liturgia, sistema educacional, organização
eclesiástica e ministerial. Acrescenta-se a isso a literatura teológica
importada e traduzida tanto para servir ao ministério das
denominações e igrejas locais, quanto às de caráter propriamente
teológico para servir aos seminários. Também restringiam a liderança
das denominações e organizações a elas vinculadas, aos missionários
estrangeiros representantes das instituições enviadoras. (Sanches,
2009,p.87).
Os evangélicos norte-americanos trouxeram juntamente com sua teologia um
repúdio quanto à responsabilidade da igreja para com as questões sociais, e um
evangelho cultural que era embasado na crença do destino manifesto.
Como reação a este fato, alguns teólogos e pastores viram a necessidade de se
fazer uma conversão deste protestantismo evangélico que chegou à América Latina,
entendendo como necessário que esta mudança fosse feita a partir da realidade
sociocultural latino-americana e respondesse a esta realidade. Segundo Sanches: “Esta
árdua tarefa foi assumida principalmente pela teologia da missão em sua luta pela
autonomia e identidade da igreja evangélica latino-americana.” (Sanches, 2009,p.87).
Com isso inicia-se no Brasil uma nova divisão, que naquele momento estava
acontecendo entre os evangélicos, dando origem a um novo grupo chamado
evangelicais. Gondim comentando sobre a origem do termo “evangelical” diz:
Teólogos brasileiros que se identificaram com as propostas do
Congresso de Lausanne tentaram cunhar o neologismo “evangelicais”,
porque viram a necessidade de se distinguirem dentro do contexto
evangélico. (GONDIM,2010,p.58).
Na busca por essa diferenciação, os evangelicais tiveram uma atitude semelhante
à que os evangélicos norte-americanos tiveram com relação ao fundamentalismo, em
sua autointitulação. Como objetivavam conquistar espaço na sociedade, e liberdade para
produzirem uma teologia que se distinguisse da feita pelos evangélicos, se nomearam
evangelicais; dessa forma, eles se diferenciariam dos que seguiam a teologia norte-
31
americana evangélica fundamentalista e manteriam a identidade latina. Segundo
Gondim:
A palavra “evangelical” no contexto norte-americano apenas descreve
o movimento que procurou distanciar-se do fundamentalismo, com
teólogos que buscavam um meio termo entre o liberalismo teológico
alemão e o fundamentalismo que se isolara culturalmente nos Estados
Unidos. Já no contexto da América Latina, alguns procuraram a
expressão como forma de evidenciar que os teólogos que propunham a
Missão Integral não poderiam alinhar-se aos notórios evangélicos
norte-americanos, que embora mostrassem disposição para ser mais
receptivos culturalmente, permaneciam com o dogmatismo dos
fundamentalistas. (GONDIM, 2010,p.59).
Os evangelicais se configuraram como um novo meio termo, porém agora entre
os evangélicos e a teologia da libertação. Eles formaram um grupo alinhado que possuía
um olhar holístico para a Bíblia, para o ser humano e a humanidade; a este olhar deram
o nome de Missão Integral.
Os evangelicais se opuseram, de forma veemente, em congressos e publicação,
contra o posicionamento dos evangélicos que desconsideravam questões de cunho social
como parte da missão da igreja. Este fato foi objeto das principais divergências entre
estes dois grupos. Para os evangelicais, tanto as questões “espirituais” com as físico-
sociais devem ser contempladas no agir missional da igreja, pois as duas realidades são
entendidas por eles com igual importância, configurando-se como as duas asas de um
pássaro, que possuem igual valor para que o voo seja realizado; a ausência de uma asa
resultaria na impossibilidade de voar. Aplicando essa lógica à realização da missão da
Igreja, a desvalorização de um dos aspectos, seja o espiritual ou físico-social, resultaria
na impossibilidade de a Igreja realizar sua missão de maneira integral. Sobre essa
questão Padilla faz a seguinte afirmação, de que:
Tanto a ação social como a evangelização são aspectos essenciais da
missão da igreja; que a proclamação do evangelho é inseparável da
manifestação concreta do amor de Deus. O reconhecimento de que os
cristãos devem partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação
em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo
tipo de opressão; de que “a evangelização e o envolvimento
sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão e de que a
mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre
toda forma de alienação, de opressão e de discriminação. (PADILLA,
2009,p. 37e38).
O evangelicalismo é tido como o berço da M.I., pois ela é gerada e nutrida
dentro desse movimento. Evangelicais como José Míguez Bonino, Orlando Costa, Justo
32
González, Pedro Arana, Samuel Escobar, René Padilla, entre outros, serviram e servem
à M.I. como porta-vozes dessa teologia e das lutas que esta tem enfrentado.
A partir do que foi aqui apresentado pode-se visualizar essa trajetória histórica4
no seguinte quadro:
Quadro de autoria própria
Com base nesse panorama da trajetória histórica, pode-se constatar que a M.I.
em nenhum momento desse percurso, via vertentes, formadoras está relacionada a uma
postura que pretendesse abrir mão dos princípios cristãos protestantes. Há, entretanto,
uma constante busca por um diálogo dos princípios bíblicos com as realidades
contextuais, que em muitos momentos foram ignoradas por uma teologia conversionista,
4 Deve-se destacar que no mesmo período outras propostas teológicas surgiram no solo latino americano, como por exemplo a Teologia de libertação. Para aprofundar nesse tema veja: GUTIÉRREZ,G.A.Teologia da Libertação: Perspectivas . São Paulo: Loyola.2000. e LONGUINI NETO, Luiz: O Novo Rosto da Missão- Os movimentos ecumênico e evangelical no protestantismo latino-americano. Viçosa: Ultimato, 2002.
Mapa 1 – Mapa histórico via vertentes formadoras da M.I.
33
espiritualizada e desencarnada. Por esse motivo, a M.I. deve ser considerada uma
teologia evangélica protestante latino-americana.
1.2. Sua trajetória histórica via Congressos
A trajetória da formação da teologia da M.I. passa pelos Congressos Latino-
Americanos de Evangelização (leia-se CLADEs) e pelo Segundo Congresso mundial de
evangelização em Lausanne. Estes possuem uma grande importância no processo de
formação dessa teologia. E à investigação do desenvolvimento da M.I. dentro desses
congressos é que este subtópico do trabalho se dedicará.
1.2.1. A origem dos CLADEs e da Fraternidade Teológica Latino-
Americana, e o CLADE I
Em 1966 aconteceu em Berlim o Congresso mundial de Evangelização, que é
tido como “fundamental para o desenvolvimento do movimento de missão evangelical”
(SANCHES, 2009,p.96) porque neste evento foi decidido que seriam realizados
congressos continentais de evangelização na África, na Ásia e na América Latina.
Como consequência dessa decisão,foram organizados, na América Latina, os
CLADEs. O CLADE I foi realizado em novembro de 1969, em Bogotá, Colômbia,
organizado e dirigido pela Associação Evangelística Billy Graham. O tema deste
primeiro encontro foi: “Ação em Cristo para um continente em crise”. Em sua plenária,
estavam presentes representantes fundamentalistas norte-americanos e teólogos latino-
americanos que buscavam desenvolver uma teologia nativa que conciliasse a reflexão
teológica e a evangelização com as demandas sociais da América Latina e com os
anseios de liberdade do povo. Essa característica mista e contextual do CLADE I é
explicitada em seu relatório final com a seguinte afirmação:
Os aqui reunidos, crentes em Cristo, membros das diferentes
comunidades denominacionais que trabalham em nosso continente
entre o povo latino-americano, congregamo-nos neste Primeiro
Congresso Latino-Americano de Evangelização no nome de Deus Pai,
Deus Filho, Deus Espírito Santo. Cremos que o próprio Espírito Santo
tem nos guiado a este encontro, com a finalidade de examinar de novo
nossa missão evangelizadora à luz do ensino bíblico e da atual
situação latino-americana. Nossa presença neste congresso tem sido
manifestação de nossa unidade em Cristo, cuja natureza espiritual e
não organizacional aprofunda suas raízes em nossa comum herança
evangélica, fundamentada na verdade da Bíblia, cuja autoridade como
34
Palavra de Deus iluminada pelo Espírito Santo afirmamos
categoricamente.
Como consequência, esta declaração que apresentamos ao povo
evangélico latino-americano é expressão de um consenso no qual
existe acordo no fundamental; porém, existe também lugar para a
diversidade que provém da multiforme graça de Deus ao dar seus dons
ao seu povo: diversidade dentro da unidade. (LONGUINI,
2002,p.165e166).
Neste primeiro congresso surgiu o anseio por um grupo latino-americano que
representasse a América Latina teologicamente, e como resposta a esse anseio, em
dezembro de 1970, em uma consulta realizada em Cochabamba, Bolívia, foi criada a
Fraternidade Teológica Latino-Americana (leia-se FTL).Segundo Longuini, falando
sobre a importância do CLADE I, este “foi um marco porque serviu como ‘útero’ para
gestão de uma Fraternidade de teólogos latino-americanos” (LONGUINI, 2002, p.158).
A FTL surgiu de forma embrionária liderada por Pedro Savage, um descendente
inglês com formação em teologia na Inglaterra, e foi composta inicialmente por vinte e
cinco evangélicos latino-americanos.Este grupo era composto por pastores,
missionários, professores de seminários e institutos bíblicos e líderes leigos, porém com
uma característica comum: todos tinham um envolvimento prático e vivencial com a
igreja; não eram apenas teóricos.Segundo Longuini,“A FTL nasce militante, crítica,
polêmica e apologética”(2002,p.169).A formação da FTL se configurou como um
grande passo rumo à formação da identidade da igreja, e da teologia evangélica latino-
americana.
1.2.2. Segundo Congresso de Evangelização Mundial, em Lausanne
Outro encontro que marcou profundamente a formação da M.I. foi o Congresso
Mundial de Evangelização, em Lausanne.Realizado em 1974, em Lausanne, na Suíça,
teve a participação de 2.700 congressistas, de mais de 150 nações,com o objetivo de
orar, estudar, debater e planejar a respeito da evangelização mundial. (STOTT, 2003,
p.25) O tema deste congresso foi: “Para que o mundo ouça a voz de Deus”. O grande
questionamento que se tentou responder ali, segundo Stott, foi: “como anunciar a
Palavra de Deus num mundo tão injusto” (2003, p.94).
Quanto aos participantes desse congresso, pode-se dizer que Lausanne possuiu
duas faces. A primeira era conservadora; para esta, a evangelização era entendida dentro
do aspecto conversionista, que considera e busca apenas o fator individual escatológico
35
espiritual da conversão, ignorando os fatores físico-sociais. Esta face foi expressa pelas
inúmeras agências de missão norte-americana de cunho fundamentalista, e pelos
participantes que comungavam desta visão.
A segunda face foi expressa por participantes do Terceiro Mundo5, que, segundo
Longuini (2002), representavam a metade do número total dos que ali estavam. E entre
estes foram alguns latino-americanos os responsáveis, segundo Rocha, por uma
“guinada na matriz teológica orientadora do congresso” (2002, p.93), pois estes
colocaram na pauta a necessidade de uma reflexão sobre as estruturas sociais e os
contextos culturais dos povos onde a missão se realiza. Essa influência pode ser
constatada em diversos momentos do congresso, mas destacam-se aqui as principais,
que são as duas palestras proferidas por latino-americanos; a saber: “A evangelização e
o mundo” de René Padilla e “A evangelização e a busca de liberdade, justiça e de
realização pelo homem” de Samuel Escobar.
A questão da Integralidade da missão da igreja se tornou a característica mais
marcante desse congresso. Não é sem motivos que a teologia de Lausanne, segundo
Rocha, “é tão conhecida como teologia da Missão Integral” (2002, p.95), a qual tem
como principal lema “o evangelho todo, para todo homem e o homem todo”.Grellert
apresenta esse rosto da M.I.com a seguinte afirmação:
Holismo cristão ocorre quando a Igreja toda, totalmente
comprometida com toda a vontade de Deus, leva o evangelho todo ao
homem todo e a todos os homens, por todos os métodos éticos
possíveis, através de homens e mulheres totalmente engajados na
missão integral. (1987, p.61)
O mesmo autor, ao comentar sobre o Congresso de Lausanne e sua influência,
afirma:
O magno e frutescente Congresso Internacional de Evangelização
Mundial, realizado em 1974 em Lausanne, Suíça, não foi somente um
evento marcante (...) Ele desencadeou um movimento de
evangelização de grupos humanos concretos, que antes não contavam
com a presença cristã significativa, como também deu impulso a uma
reflexão teológica sobre os assuntos relacionados com a evangelização
do mundo. Na verdade, o movimento de Lausanne é um interessante
experimento de convívio entre peritos em estratégia missionária (os
práticos) e peritos em teologia (os teóricos) convívio; aliás, por vezes
tenso, mas frutífero e criativo. (apud LONGUINI, 2002, p.77)
5Quanto ao termo terceiro mundo ver BUARQUE, Cristóvam. O pensamento em um mundo Terceiro Mundo, pg. 57-
82. In BURSZTYN, Marcel. Para pensar o desenvolvimento sustentável. São Paulo; Brasiliense. 1993
36
Como fruto do congresso, foi redigido o Pacto de Lausanne (leia-se PL)6, que foi
aceito e assinado por todos os 2.700 participantes e teve como relator o líder anglicano,
John Stott.
A palavra “pacto” é usada aqui não em um sentido técnico ou bíblico, mas sim
com um significado ordinário de um contrato, onde são colocadas as obrigações. Stott
ressalta esse aspecto ao dizer:
A razão pela qual se escolheu a expressão “Pacto de Lausanne”, ao
invés de “Declaração de Lausanne”, é que desejávamos fazer mais do
que simplesmente encontrar uma fórmula verbal que fosse objeto de
um acordo. Havíamos decidido que não nos limitaríamos a declarar
alguma coisa, mas fazer alguma coisa, a saber, comprometer-mo-nos
com a tarefa de evangelização mundial. (2003, p.20).
O PL aborda os seguintes temas: o propósito de Deus; a autoridade e o poder da
Bíblia; a unicidade e a universalidade de Cristo; a natureza da evangelização; a
responsabilidade social cristã; a igreja e a evangelização; a cooperação na
evangelização; o esforço conjugado de igrejas na evangelização; a urgência da tarefa
evangelística; evangelização e cultura; educação e liderança; conflito espiritual;
liberdade e perseguição; o poder do Espírito Santo; e o retorno de Cristo.
Na apresentação do livro Pacto de Lausanne, o PL é exposto da seguinte forma:
Referência para iniciativas que representam importantes contribuições
na construção de sociedades mais justas e igualitárias, contextos em
que a presença e a atuação das igrejas evangélicas se singularizavam
pela busca em atender efetivamente ao chamado que o Pai nos faz, na
esperança de que o nosso clamor pela vinda do Reino de Deus seja
ouvido [...] O Pacto de Lausanne é um documento fruto da reflexão de
diversos líderes evangélicos de todo o mundo, guiados pela Palavra, a
fim de relembrar a Igreja quanto ao seu chamado de viver a plenitude
do Evangelho com “todos os santos” nestes “dias maus””
(STOTT.2003.p.5-6)
Em síntese,pode-se dizer que o Congresso de Lausanne se configura como uma
mola propulsora da teologia da M.I., pois foi neste congresso que seus questionamentos
foram expostos para o mundo protestante evangélico; nele foi vivenciado, com
intensidade, o conflito existente entre as compreensões sobre a missão da igreja frente a
um mundo injusto.
E quanto ao PL, este serviu como parte do alimento que nutria as reflexões em
torno do tema. Segundo Sanches (2009) ele se tornou um referencial para o
evangelicalismo histórico mundial. Por apresentar também as questões do compromisso
6 Ver anexo 1: Pacto de Lausanne
37
sociopolítico e cultural que a igreja deve ter, o Pacto proveu a abertura da discussão de
forma mais abrangente. Gondim(2010) apresenta o PL como o marco da Missão
Integral.Ele explicita este pensamento na seguinte afirmação: “No final do congresso foi
escrito o Pacto de Lausanne, que se firmou como marco da Missão integral [...] O Pacto
de Lausanne (PL) tornou-se, portanto, uma das principais marcas para diferenciar
evangelicais de evangélicos.”(GONDIM, 2010,p.83).
Almeida resume a importância deste momento com as seguintes palavras:
No que me concerne, a maior relevância do movimento de Lausanne
foi o aprofundamento da discussão teológica sobre a instaurada
dicotomia entre evangelização e ação social. [...] naquele tempo ela (a
discussão) foi de extrema importância para o ramo evangélico que
exercia seu ministério em países pobres do então Terceiro
Mundo.Importantes representantes de países latino-americanos
ofereceram sua contribuição para o debate demonstrando a
integralidade do evangelho tanto como salvação do pecado espiritual
como do pecado estrutural. O evento promoveu o surgimento de uma
geração de pastores e teólogos defensores da missão integral ou do
evangelho holístico que se fizeram representar por grupos como a
Fraternidade Teológica Latino-Americana.(ALMEIDA,2005, p.203)
Um fator que deve ser destacado sobre o Congresso de Lausanne é que ele
influenciou de maneira significativa o evangelicalismo latino-americano e seus ecos
foram escutados nos CLADEs posteriores.
1.2.3. CLADE II
Após a realização do Congresso de Lausanne,os membros da FTL organizaram o
CLADE II, que foi realizado em Huampani, um bairro da cidade de Lima, no Peru, de
31 de outubro a 9 de novembro de 1979. O evento teve como tema: “Para que a
América Latina ouça a voz de Deus.”
Este congresso foi convocado pela FTL, esta que,ao longo de dez anos de
trabalho,conseguiu estabelecer um ambiente propício para o diálogo, por haver tratado
com idoneidade a tensão existente entre evangelicais e evangélicos fundamentalistas.
Essa convocação feita por parte da FTL foi um diferencial, pois o CLADE I, como se
pode constatar, foi convocado e dirigido por missionários norte-americanos; já no
CLADE II a iniciativa por uma reflexão autóctone começa a ganhar força.
O auditório deste congresso foi composto por delegações de 21 países da
América Latina e Caribe. Do total de 220 participantes, 22 eram mulheres.As palavras
38
de abertura proferidas por Samuel Escobar revelavam os objetivos visados para o
evento:
1.Estimular a mobilização dos evangélicos do continente para uma
evangelização autêntica e eficaz. 2. Considerar os desafios e
oportunidades que a América planeja para a missão evangelizadora da
igreja às vésperas de uma nova década. 3. Tomar consciência dos
recursos humanos e espirituais com que conta o povo evangélico
latino-americano para a realização de sua missão evangelizadora. 4.
Traçar linhas diretrizes para uma comunicação profunda e eficaz do
evangelho no contexto latino-americano. 5. Servir de agente
catalisador para uma melhor cooperação entre os cristãos evangélicos
na comunicação e vivência do evangelho nos diferentes setores do
continente. (apudLONGUINI, 2002, p.185)
O CLADE II adotou um método para a participação dos congressistas que
possibilitou uma maior relevância do conteúdo elaborado no congresso. Inicialmente
houve um período preparatório, no qual os participantes tiveram um tempo de leitura e
análise detalhada da realidade latino-americana de cada região, observando aspectos
políticos, socioeconômicos, culturais, religiosos, morais e espirituais da evangelização.
Cada região teve liberdade para apresentar e organizar seu relatório, trabalhando
assim a multifacetada realidade de cada contexto. O material que foi preparado por
esses grupos serviu de base para a reflexão teológica, de amostragem da situação da
América Latina e do papel das Igrejas nesses contextos. O objetivo dos organizadores
com isso era refletir sobre algo concreto; tomar a realidade como ponto de partida.
Segundo Longuini,“O tema da evangelização foi tratado procurando abranger o trabalho
já realizado das igrejas ou instituições paraeclesiásticas, buscando, também, apontar os
desafios para o futuro.” (2002, p.186).
Ao olhar para a metodologia que o congresso adotou para a reflexão dos temas,
pode-se dizer que é eminente o fato de que o caminho escolhido não visava a imposição
de uma teologia estranha ao terreno que a receberia, mas buscava promover a
participação e reflexão de todos. Esta forma como foi realizado o congresso contribuiu
muito para a notável produção dos grupos de trabalho.
Outro fator digno de nota sobre o CLADE II é que este não produziu um:
“Superdocumento” como pacto, compromisso ou declaração; firmou-
se uma pequena carta, simples, porém rica em conteúdo. A atenção
voltou-se para os Documentos de Projeção e Estratégia, que registram
a visão teológica, a teologia da missão, as propostas para o movimento
evangelical em particular, e para o protestantismo em geral na
América Latina. (LONGUINI, 2002, p.186).
39
Ao analisar o CLADE II, pode-se encontrar fatores que denominamos pontos de
contato e ecos Lausanne. Denominam-se pontos de contato elementos que aparecem de
maneira convergente nos congressos sem ter havido necessariamente influência de um
sobre outro. Por se tratar de congressos cristãos protestantes, sobre a temática da
evangelização, possuem conceitos comuns a ambos, por isso denominados pontos de
contato. Os Ecos7 de Lausanne são os elementos, características e abordagens que foram
tratados no Congresso Mundial de Evangelização, em Lausanne, e que por influência
deste nos participantes que tiveram acesso a esse conteúdo, foram levados à pauta do
CLADE II.
Ao encontrar esses pontos de contato e esses ecos se poderá mensurar, mesmo
que de maneira introdutória, a proximidade conceitual entre esses dois congressos e a
influência de Lausanne sobre o CLADE II. Para fazer essa análise serão comparados o
PL e a carta final elaborada pelo CLADE II, pois estes documentos resumem as
resoluções e conteúdos de ambos os congressos.
O primeiro ponto de contato que se destaca entre ambos os congressos é o
objetivo deles, que era trabalhar a questão da evangelização. No ponto intitulado
Antecedentes da carta do CLADES II vê-se a seguinte afirmação: “nosso propósito tem
sido considerar juntos a tarefa evangelizadora que somos chamados a cumprir nas
próximas décadas” (LONGUINI,2002, p.192). Em consonância a esta afirmação pode-
se ver as palavras introdutórias do PL ao dizer: “Acreditamos que o evangelho são boas
novas de Deus para todo o mundo e, por sua graça, decidimos obedecer aos
mandamentos de Cristo e proclamá-lo a toda a humanidade e fazer discípulos em todas
as nações.” (STOTT, 2003, p.24).
Deve-se, porém, ressaltar que ao se referirem à evangelização e à proclamação,
ambos partem de uma perspectiva que rompe com a visão conversionista, mas que
baseia-se em um paradigma holístico do ser humano, que enxerga a necessidade de sua
conversão não apenas nos aspectos espirituais e religiosos, mas também sociais,
culturais, políticos e socioeconômicos.
Um segundo ponto de contato que se pode notar entre os dois congressos é a
compreensão que o PL e o CLADE II apresentam sobre a Bíblia, sua autoridade e
poder. A visão de ambos sobre este tema é totalmente convergente. No PL está escrito:
7Utiliza-se aqui uma figura da física que expressa a reverberação das ondas sonoras emitidas em um local, mas que são “ecoadas” em lugares mais distantes, e o lugar distante que aqui nos referimos é o CLADE II
40
Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das
Escrituras tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua
totalidade, como única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o
que ela afirma; é a única regra infalível de fé e prática. Também
afirmamos o poder da Palavra de Deus para cumprir o seu propósito
de salvação. A mensagem da Bíblia destina-se a toda a humanidade,
pois a revelação de Deus em Cristo e na Escritura é imutável. Através
dela o Espírito Santo fala ainda hoje.(STOTT, 2003.p.89e90)
Em uma porção menor, o CLADE II reafirma os mesmos valores presentes na
citação anterior, dizendo: “Procuramos deliberar sobre nossa missão submetendo-nos à
autoridade suprema da Bíblia, a Palavra de Deus, à direção soberana do Espírito
Santo”(LONGUINI, 2002, p.192). O entendimento expresso em ambos sobre a origem
divina da Bíblia baseia-se na compreensão de que ela é inspirada; isso significa que
Deus foi aquele que soprou aos homens o conteúdo que nela consta. Por acreditar que
ela é a Palavra de um Deus verdadeiro que não mente, e consequentemente verdadeira, é
autoridade, regra de fé e prática, tendo assim autoridade sobre o pensar e agir dos que
nela creem.
Stott, em seus comentários sobre o PL, ao abordar o tema referente à Bíblia,
afirma: “trata-se de sua única Palavra escrita, porque não podemos aceitar as escrituras
supostamente sagradas de outras religiões (por exemplo, o Corão ou o Livro Mórmon)
como se tivessem sido ditadas pelo Espírito e proferidas pela boca de Deus.” (STOTT,
2003, p.32).
Nos dois documentos nota-se um fator de exclusividade e generalidade sobre a
Bíblia. São exclusivistas ao afirmarem que a Bíblia é a única Palavra de Deus, e sua
generalidade está presente na sua propagação, pois nota-se, em ambos os congressos,
que a mensagem bíblica é destinada a todos os povos. O PL afirma: “A mensagem da
Bíblia destina-se a toda a humanidade”. (STOTT, 2003, p.89) O CLADE II afirma:
“Sentimos que devemos responder ao desafio missionário que em nível mundial
representam as milhões de pessoas que não conhecem a Jesus Cristo com Senhor e
Salvador”. (apud LONGUINI, 2002, p.192).
Outro ponto de contato que podemos notar nos documentos é a cristologia. Os
dois apresentam Cristo como o caminho para a salvação, aquele sobre o qual toda a
missão evangelizadora se fundamenta. O CLADE II afirma: “Ao mesmo tempo
sentimos que devemos responder ao desafio missionário que, em nível mundial,
representa as milhões de pessoas que não conhecem a Jesus Cristo como Senhor e
41
Salvador.” (LONGUINI, 2002, p.192). O PL apresenta essa mesma compreensão,
porém de forma mais clara e detalhada:
Jesus Cristo, sendo ele próprio o único Deus-homem, que se ofereceu
a si mesmo como único resgate pelos pecadores, é o único mediador
entre Deus e os homens. Não existe nenhum outro nome pelo qual
importa que sejamos salvos. Todos os homens estão perecendo por
causa do pecado, mas Deus ama todos os homens, desejando que
nenhum pereça, mas que todos se arrependam. Entretanto, os que
rejeitam Cristo repudiam o gozo da salvação e condenam-se à
separação eterna de Deus. Proclamar Jesus como "o Salvador do
mundo" não é afirmar que todos os homens, automaticamente, ou ao
final de tudo, serão salvos; e muito menos que todas as religiões
ofereçam salvação em Cristo. Trata-se antes de proclamar o amor de
Deus por um mundo de pecadores e convidar todos os homens a se
entregarem a ele como Salvador e Senhor no sincero compromisso
pessoal de arrependimento e fé. Jesus Cristo foi exaltado sobre todo e
qualquer nome. Anelamos pelo dia em que todo joelho se dobrará
diante dele e toda língua o confessará como Senhor. (STOTT, 2003,
p.90).
Em ambos, nota-se a unicidade de Cristo, que é tido como único salvador,
mediador entre Deus e os homens. E há também o aspecto universal, pois Cristo é
apresentado como salvador do mundo. Stott apresenta esse entendimento da seguinte
forma: “É porque Jesus Cristo é o único Salvador que ele deve ser universalmente
proclamado” (STOTT, 2003, p.39).
Na palestra de abertura do Congresso de Lausanne, Billy Graham esboça o
pressuposto cristológico que permearia esses dois congressos; nesta ocasião ele afirma a
questão da unicidade de Cristo na salvação e repudia, veementemente, todos os que
“afirmam abertamente serem muitos os caminhos que conduzem a Deus, e que no final,
ninguém será condenado” (GONDIM,2010, p.21).
Depois de analisar os pontos de contato, segue a análise dos ecos de Lausanne
no CLADE II. O primeiro eco que se pode encontrar está logo no início da carta deste (o
CLADE II), onde no segundo ponto, intitulado “Reafirmações”, é declarada a adesão ao
PL. Segundo Longuini: “exigiu-se que os participantes de CLADE II aceitassem, como
pré-requisito para participação no congresso, os termos dele (PL)” (LONGUINI, 2002,
p.187). Na carta do CLADE II a adesão ao PL é apresentada da seguinte forma:
Nesta atitude, reafirmamos nossa adesão à declaração do Primeiro
Congresso Latino-Americano de Evangelização e ao pacto do
Congresso Mundial de Evangelização. Realizado em Lausanne, Suíça,
em julho de 1974. (LONGUINI, 2002.p.192)
42
Outro eco que pode ser visto no CLADE II é a escolha do tema do congresso,
este faz quase uma transcrição do tema do Congresso Mundial de Evangelização em
Lausanne, este que teve como seu tema “Para que o mundo ouça a voz de
Deus”(STOTT,2003, p.25) e o CLADE II adotou o seguinte tema: “Para que a América
Latina ouça a voz de Deus”(LONGUINI, 2002, 187). Além desses ecos que podem ser
constatados à primeira vista, existem outros que tocaram as estruturas do CLADE II de
maneira significativa, e são a esses que nos dedicaremos agora.
O contexto no qual o PL é originado e ao qual se remete é marcado por um forte
individualismo e capitalismo. Como dito anteriormente, o congresso Mundial de
Evangelização em Lausanne tinha em sua convocação uma face conservadora e
conversionista, mas os participantes, vindos do terceiro mundo, e principalmente da
América Latina, contribuíram de forma significativa para uma mudança no rumo do
congresso, pois estes colocaram na pauta a reflexão sobre as estruturas sociais e os
contextos culturais dos povos onde a missão se realizava.
Uma das contribuições mais marcantes foram as palestras feitas pelos latino-
americanos. Destaca-se, entre essas, a de Samuel Escobar, um missiólogo batista,
peruano, membro fundador da FTL e membro ativo do congresso de Lausanne. Em sua
palestra “A Evangelização e a Busca de liberdade, de justiça e de realização do homem”
ele faz o seguinte pronunciamento:
Imaginem toda a população do mundo condensada numa aldeia de 100
habitantes. Desse número, 67 seriam pobres. Os 33 restantes, em grau
variado, seriam ricos. De toda população, somente 7 seriam norte
americanos. Os outros 93 ficariam vendo os 7 norte-americanos
gastarem a metade de todo dinheiro do mundo, comerem um sétimo
de todo o alimento e usarem metade de todas as banheiras existentes.
Esses 7 teriam dez vezes mais médicos do que os outros 93. Nesse
império, continuariam enriquecendo cada vez mais, enquanto os 93
continuariam empobrecendo.(...) Como parte dos 7 ricos, estamos
procurando alcançar para Cristo o maior número possível dentre os
93. Falamos acerca de Jesus e eles nos veem jogar fora mais comida
do que jamais esperariam consumir. Estamos ocupados construindo
belas igrejas, enquanto eles pedincham à procura de abrigo para suas
famílias. Guardamos dinheiro no banco, mas eles não têm o necessário
nem para comprar comida para os seus filhos. Dizemos que o Mestre
era servo de homens, o salvador se dispôs de tudo o que era seu em
nosso favor, e agora ordena que façamos o mesmo por ele (...) Somos
a maioria rica do mundo. Podemos até esquecer isso, ou achar que o
assunto não tem importância. Mas fica a pergunta: e os 93? Poderão
esquecê-lo também? (apud ROCHA,2002.p.93e94)
43
Tais contribuições marcaram o congresso de forma significativa, trazendo à tona
a questão que até então estava sublimada, a saber: “Como anunciar a Palavra e Deus
num mundo tão injusto?” (ROCHA, 2002, p.94). Com isso o congresso ganhou uma
tônica que passou a ser identificada, segundo Rocha, como “espírito de Lausanne”. O
mesmo autor o explica como sendo “a visão integral acerca da missão da igreja. A
teologia de Lausanne é então conhecida como teologia da Missão Integral. O principal
lema desta teologia é o evangelho todo, para todo homem e o homem todo.”
(ROCHA,2002,p.95). E é exatamente este espírito de Lausanne que podemos ver como
um eco que soa no Clade II.
O PL, ao olhar a integralidade do homem e da mulher, depara-se com o
sofrimento e a injustiça social, e passa a partir de então a entender que questões de
cunho social também são responsabilidade da igreja.Nota-se este fato no seguinte
trecho:
Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto,
devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a
sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão.
Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção
de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma
dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não
explorada (STOTT, 2003.p.91)
Neste ponto, colocam-se os fundamentos contra a visão que tinha apenas o
anúncio verbal do evangelho como missão da igreja, pois aqui se torna parte da missão
da igreja o partilhar do interesse pela justiça, pela conciliação da sociedade humana, e
pela libertação dos homens de todo tipo de opressão; com isso estabelece-se um olhar
holístico, e não simplesmente conversionista.
Essa visão era até então ignorada, como se pode notar ao analisar o PL, pelo
arrependimento expresso claramente através da afirmação: “Aqui também nos
arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a
evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas.” (STOTT, 2003, p.91).
Nessa perspectiva a ação social assume um caráter soteriológico, no qual a
transformação do pessoal e social passa a ser consequência da salvação experimentada
por cada cristão. “A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na
totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.”
(STOTT, 2003, p.91)
Estas palavras são ecoadas no CLADE II, e pode-se ouvi-las na seguinte
afirmação:
44
Temos ouvido a Palavra de Deus que nos fala e que também escuta o
clamor dos que sofrem. Temos levantado os olhos para o nosso
continente e contemplado o drama e a tragédia em que vivem nossos
povos nesta hora de inquietação espiritual, confusão religiosa,
decadência moral e convulsões sociais e políticas. Temos ouvido o
clamor dos que têm fome e sede de justiça, dos que se encontram
desprovidos do que é básico para sua subsistência, dos grupos étnicos
marginalizados, das famílias destruídas, das mulheres despojadas do
uso de seus direitos, dos jovens entregues aos vícios ou impulsionados
à violência, das crianças que sofrem fome, abandono, ignorância e
exploração. (LONGUINI,2002, p.192)
O CLADE II recebe não apenas o eco que o estimula para um olhar da totalidade
humana, mas também o exemplo de arrependimento.No sétimo ponto,intitulado de
“Confissões”, são reconhecidas as falhas cometidas pela igreja que até então pecara em
sua missão:
Confessamos que como povo de Deus nem sempre temos atendido às
demandas do evangelho que pregamos como demonstra nossa falta de
unidade e nossa indiferença frente às necessidades materiais e
espirituais de nosso próximo. Reconhecemos que não temos feito tudo
o que com a ajuda do Senhor deveríamos realizar em benefício de
nosso povo. (LONGUINI,2002, p.193).
O mais notável deste eco é o seu comprometimento com uma mudança de
paradigma.Nos dois congressos, nota-se uma postura que se compromete com a
mudança. Não há apenas o olhar para a realidade social e a confissão, o arrependimento,
ou o remorso; há também uma tomada de decisão por mudança de posturas, e
abordagens. E isso é claramente expressado nos dois documentos, No PL vemos a
seguinte afirmação:
A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo
sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não
devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que
existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu
reino e devem procurar não só evidenciar, mas também divulgar a
retidão do reino em meio a um mundo injusto. (STOTT,2003,p.91).
Juntamente a essa afirmação que desafia para uma mudança, pode-se somar a
seguinte:
Todos nós estamos chocados com a pobreza de milhões de pessoas, e
conturbados pelas injustiças que a provoca. Aqueles dentre nós que
vivem em meio à opulência aceitam como obrigação sua desenvolver
um estilo de vida simples a fim de contribuir mais generosamente
tanto para aliviar os necessitados como para a evangelização deles.
(STOTT, 2003,p.93).
45
Esta chamada a um estilo de vida simples é tido por Stott como a expressão do
PL que talvez tenha causado maior impacto em seus signatários, pois esta os desafia a
contentar-se com o necessário e romper com os luxos e extravagâncias. Porém, este
estilo de vida simples não é apresentado como um fim em si mesmo, mas visa o
disponibilizar-se em sua integralidade para “contribuir mais generosamente tanto para
aliviar os necessitados como para a evangelização deles”. (STOTT, 2003, p.93).
Na carta do CLADEII nota-se a mesma preocupação em não deixar o documento
limitar-se à análise do presente e às confissões sobre o passado. Após abordar a questão
das demandas sociais e das falhas da igreja nesse aspecto, faz-se a seguinte proposta de
ação:
Propomo-nos a depender do poder transformador do Espírito Santo
para o fiel cumprimento da tarefa que está diante de nós. Cremos que
na próxima década o Senhor poderá abençoar de maneira singular o
seu povo, salvar integralmente a muitíssimas pessoas, consolidar ou
restaurar nossas famílias e levantar uma grande comunidade de fé, que
seja uma antecipação, em palavra e ato, do que será o reino em sua
manifestação final. (LONGUINI, 2002.p.193)
Nota-se, portanto, que o eco da responsabilidade social que a igreja tem para
com o seu contexto foi ouvido pelo CLADE II em sua totalidade. Isso se evidencia em
sua carta final, em que há um olhar para a realidade, o reconhecimento do erro e o
comprometimento com novas resoluções e ação frente ao futuro.
Outro eco que se destaca na carta do CLADE II é a abordagem e o enfoque
dados à cultura. Stott afirma que a “cultura foi um dos principais temas de meditação e
debate em Lausanne” (STOTT, 2003, p.66). No PL a cultura é apresentada como
possuidora de elementos bons e belos, por compreender que ela vem do homem e da
mulher que foram criados por Deus à sua imagem e semelhança. A cultura, por sua vez,
é portadora de elementos divinos, mas, apesar disso, ela precisa ser analisada e julgada a
partir dos preceitos bíblicos, pois esta, por ter o homem cometido pecado, carrega a
contaminação causada por esse ato. O PL expõe esses elementos da seguinte forma:
A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque
o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e
em bondade; porque ele experimentou a queda, toda a sua cultura está
manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O evangelho não
pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia
todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste
na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas.
(STOTT,2003,p.93-94).
46
O PL coloca todas as culturas no mesmo nível, reconhecendo que não há a
supremacia de uma em detrimento da outra; há apenas diferenças e não superioridades.
Na esteira dessa compreensão vem uma crítica às missões8 que em alguns momentos
importam a cultura do seu país de origem e buscam sobrepô-la à cultura para a qual
estão levando o evangelho. Padilla refere-se a esse acontecimento como “cristianismo
etnocêntrico”. (STOTT, 2003, p.68). Este é assim denominado por identificar o
Cristianismo com uma determinada cultura ou expressão cultural, ignorando e
subjugando assim as culturas dos países que recebem o evangelho9. No PL vê-se essa
crítica no seguinte trecho:
As missões muitas vezes têm exportado, juntamente com o evangelho,
uma cultura estranha, e as igrejas, por vezes, têm ficado submissas aos
ditames de uma determinada cultura, em vez de às Escrituras. Os
evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de
tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos
dos outros. (STOTT,2003.p.94)
A partir desse reconhecimento do valor e da importância da cultura, e após a
crítica ao “cristianismo etnocêntrico”, o PL apresenta sua visão e proposta destacando
que o ideal é que todas as igrejas sejam “profundamente enraizadas em Cristo e
estreitamente relacionadas com a cultura local.” (STOTT, 2003, p.93). Neste ponto é
considerada a dupla orientação da igreja, composta por uma raiz cristã e por um
relacionamento com a cultura. Em consonância com essas palavras vê-se no primeiro
ponto do PL, “O propósito de Deus”, a seguinte confissão: “Confessamos,
envergonhados, que muitas vezes negamos o nosso chamado e falhamos em nossa
missão, em razão de nos termos conformado ao mundo ou nos termos isolado
demasiadamente” (STOTT, 2003, p.89). Com isso, pode-se afirmar que esse tema foi
abordado no PL de maneira a dignificá-lo dentro da ótica missiológica e eclesiástica;
reconhecendo as falhas cometidas ao longo do tempo contra as culturas, e apresentando
um novo horizonte que busca um caminhar de mãos dadas, dialógico, entre igrejas e
culturas.
No CLADE II esse eco foi ouvido, o que se pode constatar na aparição deste
tema na carta final do congresso, embora de forma muito discreta. Também pode ser
8 Refere-se às ações de evangelização realizadas pelas as agências missionárias e seus missionários. 9Stott, após sua citação de Padilla, comenta que este ao fazer a crítica sobre o “cristianismo etnocêntrico” estava referindo-se tanto ao colonialismo europeu como à maneira de viver americana, mas que ele ao mesmo tempo teve o cuidado de abordar a questão a partir de uma perspectiva que, não apenas esses, mas outros exemplos poderiam ser dados.
47
visto na palestra de abertura, na qual foram apresentados os objetivos do encontro, e na
própria metodologia de trabalho adotada, e, neste, pode-se notar de forma mais clara e
direta.
Em uma análise da carta final do CLADE II pode-se ver duas referências
indiretas à cultura. São estas: “Decidimos renovar nosso compromisso de lealdade ao
evangelho e de fidelidade à tarefa de evangelizar no contexto de nossa América Latina”.
(LONGUINI, 2002, p.192) E uma segunda referência se encontra nessa afirmação:
Temos visto que muitos latino-americanos estão se entregando à
idolatria do materialismo, submetendo os valores do espírito aos
valores impostos pela sociedade de consumo, segundo a qual o ser
humano vale não pelo que é em si mesmo, mas pela abundância dos
bens que possui. Há também os que, em seu desejo legítimo de
reivindicar o direito à vida e à liberdade ou de manter o estado de
coisas vigente, seguem ideologias que oferecem uma análise parcial
da realidade latino-americana e conduzem a formas diversas de
totalitarismo e à violação dos direitos humanos. (LONGUINI, 2002,
p.192e193).
Na primeira citação, pode-se interpretar o “no contexto Latino-Americano”,
como um eco do PL sobre a cultura, pois a evangelização aqui é colocada para inserir-
se, estar dentro de, no contexto, na realidade, no dia a dia, nas necessidades e
festividades, ou seja, na cultura da América latina. A decisão não é por uma
evangelização que acontece fora da cultura, mas sim dentro desta.
Na segunda citação ouve-se um eco mais nítido do PL, pois a crítica feita neste
sobre as culturas que se impõem às outras é apresentada desta forma: “ideologias que
oferecem uma análise parcial da realidade latino-americana” denunciando o
distanciamento da cultura.
A questão da cultura pode ser percebida de forma mais clara nas palavras de
abertura do CLADE II. Samuel Scobar salientou os objetivos do congresso conforme a
carta convocatória e na metodologia de trabalho adotada. Ele afirma que o objetivo do
congresso era: “Traçar linhas diretrizes para uma comunicação profunda e eficaz do
evangelho no contexto latino-americano.”(apud LONGUINI,2002, p.18). Esta
afirmação traz à tona a responsabilidade do congresso em conseguir descobrir meios
para que se estabeleça uma comunicação profunda e eficaz do evangelho no contexto
latino-americano, fazendo assim, coro com o PL que apresenta como seu objetivo
48
“igrejas profundamente enraizadas em cristo e estreitamente relacionadas com a
cultura local.10” (STOTT, 2003, p.93).
Essa visão foi também implantada na metodologia de trabalho do CLADE II.
Cada congressista participou inicialmente de um período preparatório, no qual foram
realizadas leituras e análises da realidade latino-americana de cada região. Neste
momento muitos aspectos da cultura foram trazidos à luz e consequentemente inseridos
na pauta do congresso.
Os relatórios de cada região foram igualmente organizados e apresentados,
podendo assim ser conhecida a face multicultural latino-americana. Todo o material
que neste momento foi elaborado pelos grupos serviu de base para o fazer teológico,
para a leitura da cultura e do contexto latino-americano, e também para a reflexão da
eclesiologia. O objetivo dos organizadores com isso era refletir sobre algo concreto,
tomar a realidade e a cultura local como ponto de partida. Segundo Longuini:
CLADE II deixou marcado na vida dos participantes e registrado para
a história que o objetivo principal, no que tange ao método de
trabalho, não era impor “um pacote concebido em terra estranha”; ao
contrário, incentivou a participação e a reflexão de todos. Esse
processo corajoso, criativo, dialógico e testemunhal ficou claro na
variada, riquíssima e relevante produção de todos os grupos de
trabalho. (LONGUINI, 2002,186).
Pode-se averiguar que o eco do PL sobre a cultura foi ouvido no CLADE II,
desde suas críticas quanto ao passado e ao presente, quanto a seus objetivos para o
futuro, apresentando princípios e fundamentos para que as culturas sejam respeitadas,
admiradas, mas que sejam biblicamente avaliadas.
Após essa análise do CLADE II à luz do Congresso de Lausanne, pode-se dizer
que este foi para o CLADE II mais que apenas um evento antecessor; foi sim um objeto
inspirador, instigador de novos debates e também grande agente influenciador em sua
matriz.
1.2.4. CLADE III
Logo após o término do CLADE II a FTL iniciou a organização do CLADE III,
que aconteceu de 24 de agosto a 04 de setembro de1992, na cidade de Quito, Equador.
Participaram deste evento 1080 pessoas, que expressaram a multifacetada imagem do
10 Grifo nosso
49
universo evangelical latino-americano. Longuini apresenta um breve relatório que
consegue mostrar a riqueza da diversidade do grupo que participou do CLADE III:
A presença foi representativa: Mulheres, 30%; pastores, 35%; leigos,
35%; representantes da hierarquia eclesiástica, 5%; acadêmicos, 5%;
observadores e jornalistas 5%. Devemos destacar, além disso, a
participação feminina e de uma expressiva delegação de indígenas
cristãos de alguns países do continente.Os congressistas do Clade III
vieram de 26 países da América Latina: Peru (124); Brasil (115);
Equador (95); Argentina (60); México (49); Chile (41); Guatemala
(34); Venezuela (3); Costa Rica (29); Colômbia (26); Bolivia (20);
Nicarágua (20); Cuba (170; Honduras (15); Uruguai (11); El Salvador
(9); Paraguai (8) Panamá (7); República Dominicana (5); Haiti (1);
Belize (1); além disso, Ásia, África e Europa (17) e Estados Unidos
(17). (LONGUINI,2002, p.197e198)
O tema do congresso foi: “Todo o Evangelho para todos os povos a partir da
América Latina”. Este tema foi dividido em três partes, as quais foram trabalhadas de
maneira específica. Como resultado do congresso, foi produzido um documento
chamado “Declaração de Quito”.Esta declaração apresenta um resumo de cada
resolução que o CLADE III tomou acerca destes temas.
Sobre a primeira parte, “Todo o evangelho”, a Declaração divide-o nos seguintes
subtemas: o evangelho e a Palavra de Deus; o evangelho e a criação; o evangelho do
perdão e da reconciliação; o evangelho e a comunidade do Espírito; o evangelho e o
reino de Deus; o evangelho de justiça e poder.
A segunda parte, “Para todos os povos”, a declaração apresenta que esta foi
trabalhada nos seguintes aspectos: a universalidade da missão; toda igreja é missionária;
missão integral; a nova consciência missionária na América Latina.
Na terceira e última parte “A partir da América Latina” apresenta os seguintes
enfoques: evangelho e política; o evangelho de justiça; o evangelho da nova criação.
A partir de um olhar à luz da Declaração de Quito, mesmo que superficial, sobre
o que foi o CLADE III, pode-se notar a presença do espírito de Lausanne em cada tema
abordado, pois em todos eles está contida uma visão integral sobre missão, proclamação
e reino de Deus. Aspectos como ação social, cultura, justiça, política, evangelização,
dentre outros que compõem as inquietações presentes no PL, aparecem na declaração de
forma muito marcante.
Ao analisar a Declaração de Quito pode-se notar que esta traz as seguintes
afirmações que expressam o espírito de Lausanne:
Em Cristo, Deus está restaurando a dignidade humana, transformando
as culturas e conduzindo sua criação até a redenção final[...] Deus em
50
Cristo cria uma comunidade perdoada e reconciliada chamada a ser
agente de perdão e reconciliação em um contexto de ódio e
discriminação. [...] Nela se opera uma transformação radical que
mostra o propósito divino de eliminar toda injustiça, opressão e sinais
de morte. Como comunidade do Espírito, a igreja deve proclamar
liberdade a todos os oprimidos pelo diabo e impulsionar uma pastoral
de restauração que traga consolo aos que sofrem discriminação,
marginalização e desumanidade. [...] Durante esses 500 anos nosso
continente tem testemunhado desprezo e destruição sistemática das
culturas autóctones em nome da evangelização. Torna-se, então,
condenável a submissão e o ultraje da qual foram vítima os povos
indígenas. Por isso, é imprescindível buscar a reconciliação entre
nossos povos. Por sua vez, temos que reconhecer que toda cultura
pode ser veículo adequado para comunicar fielmente o evangelho. A
partir da perspectiva deste, toda cultura deve ser entendida, respeitada
e promovida, sem pressupor a superioridade de uma cultura sobre
outras. [...] A igreja deve afirmar e promover a vida negada por todo
pecado, pelas estruturas injustas e por grupos de interesse mesquinho.
Em seu seio, deve-se pôr fim às diferentes formas de descriminação
predominantes na sociedade por motivos de sexo, classe social,
condição econômica, nível educacional, idade, nacionalidade e raça
[...] Nosso compromisso com Jesus Cristo como o único mediador da
paz de Deus fundamenta a convicção de que sua obra redentora é
pertinente a todo conflito e sofrimento humano [...] A igreja deverá
afirmar que todo aspecto da vida nacional é um campo de ação
legítimo para o serviço cristão [...] A visão, a ação e a reflexão da
igreja devem fundamentar-se no evangelho que, quando é
compreendido em sua integridade, proclama-se em palavra e obra e
dirige-se a todo o ser humano. (LONGUINI, 2002, p. 205-210)
Nesta citação consegue-se ver muitos ecos de Lausanne de forma clara e
desenvolvida, porém, não só nesta citação mas em toda a Declaração de Quito11os
elementos do espírito de Lausanne podem ser vistos em sua totalidade.
Não apenas o conteúdo apresentado na declaração aponta para uma forte
influência recebida de Lausanne, mas, os dois documentos (PL e Declaração de Quito)
possuem duas características em comum em seu corpo, a saber: “Confissão” e
“Comprometimento com a mudança”.
Na Declaração de Quito essas duas características aparecem nas seguintes
afirmações12:
Como igreja latino-americana confessamos que temo-nos identificado
mais com os valores culturais estrangeiros que com os autenticamente
11 Muitas outras afirmações poderiam ser citadas e colocadas em paralelo ao seu correspondente no PL, porém limita-se a apenas esta por conseguirem expressar a influência do Congresso de Laussanne no CLADE III. 12 Por já ter sido discorrido, no presente trabalho, sobre a presença dessas duas características no PL, apresentam-se nesta parte da pesquisa apenas as citações que mostram a presença da “confissão” e “comprometimento com a mudança” na Declaração de Quito.
51
nossos [...] Louvamos a Deus pelo privilégio que nos tem concedido
de participar do Terceiro Congresso Latino-Americano de
Evangelização neste momento crítico da história de nossos povos. Tal
privilégio nos move a renovar nosso compromisso com o Senhor Jesus
Cristo e com sua Igreja como portadora da boa-nova do reino de amor
e justiça que Ele veio estabelecer. Humildemente nos encomendamos
a Deus para que Ele, por meio de seu Santo Espírito, ponha em nós o
propósito de agradar-lhe em tudo, segundo sua boa
vontade.(LONGUINI,2002,p. 207-211)
A partir dessa abordagem desse congresso pode-se afirmar que o “espírito de
Lausanne” foi transmitido ao CLADE III, e, em seu conteúdo, reflexões e metodologia,
a teologia da M.I. foi contemplada de maneira a expandir e aprofundar os conceitos
anteriormente obtidos.
1.2.5. CLADE IV
Oito anos após o CLADE III foi realizado na mesma cidade, Quito, Equador, o
CLADE IV. Este congresso, assim como o anterior, foi organizado pela FTL. Do dia 02
ao dia 08 de setembro de 2000, 1.300 pessoas se reuniram para participar do CLADE
IV, que tinha os seguintes objetivos, expressados na carta convocatória:
Reafirmar o lugar essencial das Escrituras na formação do
pensamento, vivência e missão da comunidade cristã; destacar o
papel, a presença e o poder do Espírito Santo na missão da igreja
latino-americana; refletir sobre as distintas expressões teológicas,
missiológicas e litúrgicas da igreja evangélica no continente; desafiar
a igreja evangélica a ser um agente de mudança na sociedade atual,
que se caracteriza por violência, corrupção, pobreza e injustiça; dar
testemunho público do poder de Deus no crescimento da igreja
evangélica na América Latina durante o século que se finda.
(LONGUINI,2002,p. 214e215).
Este evento deu continuidade às reflexões dos congressos anteriores organizados
pela FTL, abordando temas e questões a partir do olhar holístico da M.I. É notória a
forma como se podem encontrar ecos do PL e um comprometimento com a teologia da
M.I. neste CLADE. Estes ecos estão presentes nos temas das palestras e consultas, tais
como: estruturas de poder; juventude e sociedade; missão transcultural; missão integral;
política e direitos humanos; pastoral e missão; e fé e economia. Todos estes temas
foram abordados a partir de uma leitura integral.
Além dos temas, o documento final apresenta muitos sinais de uma forte
influência do PL, que logo no início apresenta um comprometimento com o processo de
52
continuidade dos CLADEs anteriores e com a M.I., o que se pode notar na seguinte
afirmação:
O quarto Congresso Latino-Americano de Evangelização (CLADE
IV), como continuidade de seus trinta anos de peregrinação, como o
propósito de refletir, à luz das Escrituras, e discernir os desafios das
igrejas evangélicas no nosso contexto para levar a cabo a missão
integral.(LONGUINI,2002.p. 214)
Outro ponto que pode ser entendido como eco de Lausanne está na estrutura da
Declaração de Quito, pois ela traz a “Confissão” e o “Comprometimento com a
mudança” dentro de sua resolução, conforme o PL. Deve-se salientar que,
diferentemente do texto produzido no final do CLADE III, e até do próprio PL, que
apresentam essas características em seus textos finais, porém não destinam um
subtópico exclusivo para estes dois enfoques (confissão e comprometimento), a
Declaração de Quito, por sua vez, traz esses dois temas de maneira explícita em sua
estrutura, subdividindo sua declaração em cinco partes e destinando uma para confissão
e outra para o comprometimento com a mudança. As divisões que compõem a
declaração de Quito são as seguintes: “Concordamos que” (neste ponto é apresentado o
contexto da América Latina e os problemas vivenciados nela); “Diante do exposto,
agradecemos a” (aqui é feito um agradecimento a Deus pelo CLADE IV);
“Confessamos que, muitas vezes” (neste momento são feitas as confissões dos erros
cometidos pela igreja frente a todas as demandas e responsabilidades não respondidas);
“Reconhecemos que” (nesta parte a Bíblia é apresentada como base do pensar e agir
integralmente da igreja); e “Nos comprometemos a” (aqui são feitas afirmações de
comprometimento com a mudança). (LONGUINI, 2002, p. 214-217)
O CLADE IV ocupa uma função de reafirmação dos conceitos desenvolvidos
nos CLADEs anteriores. Seus pontos de contato e seus ecos ouvidos dos congressos
anteriores podem ser encontrados desde sua estrutura até os temas tratados nesse
encontro, e também em seu documento final.
1.2.6. CLADE V
Doze anos após esse congresso aconteceu o CLADE V13, dos dias 09 a 13 de
julho de 2012, em San José, Costa rica, e, assim como os encontros anteriores,também
13 Ver anexo 6 texto final do CLADE V
53
organizado pela FTL. Pouco mais de 800 participantes se reuniram sob o tema “Seguir
Jesus e seu Reino de vida. Guia-nos Espírito Santo”.14
Embora o evento tenha acontecido apenas em 2012, sua organização teve início
em 2009, segundo Ruth Padilla, que afirma que o CLADE V foi concebido não dentro
de uma lógica de um simples evento, mas como um “Processo” composto pelas
seguintes etapas: “Movimento de participação CLADE V” (de agosto de 2009 até
meados de 2012),“Encontro CLADE V” (meados de 2012 na Costa Rica), “Movimento
de transformação CLADE V”(meados de 2012 em diante)”. (Padilla, Ruth. Congressos
Latino-Americanos de Evangelização (CLADEs) - 1969-2012.
Em:<http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=255>. Acesso em:27 maio 2015)
Assim como os demais CLADEs, como resultado desse encontro foi redigido
um documento que apresenta de forma resumida a compreensão obtida sobre o tema
central, este que fora dividido e trabalhado em quatro partes: “Sigamos a Jesus no
caminho da vida”, “Reino da Vida”, “O Espírito de Vida” e “Comunidade trinitária”.
Ao analisar esse documento, podem-se constatar pontos que se apresentam como
continuidade dos congressos anteriores, mas também eixos que surgem como elementos
novos.
Olhando para a estrutura do documento vê-se uma nova formatação. Ele é
dividido em quatro temas, subdivididos em duas partes: “declaração” e
“recomendação”. Embora a primeira parte dessa subdivisão não receba o título de
declaração, é exatamente o que se faz no início de cada subtópico, seguido por uma
recomendação, nesse caso, é intitulada expressamente dessa forma. Todas as quatro
recomendações iniciam da seguinte forma: “À luz do CLADE V, recomenda-se que os
núcleos da FTL, em cada uma de suas regiões, promovam e fomentem o diálogo, a
reflexão bíblico-teológica e contextual, bem como as publicações dos significados e
práticas” (Carta Pastoral Do Quinto Congresso Latino-Americano De Evangelização -
CLADE V. Em: <http://ftl.org.br/new/index.php/41-clade-v/informacoes/209-carta-
pastoral-do-quinto-congresso-latino-americano-de-evangelizacao-clade-v> Acesso em:
25 junho 2015)
Esta “Recomendação” é um elemento que se configura como algo novo se
comparado aos documentos finais dos CLADEs anteriores, que não apresentam este
14 Pelo fato de o CLADE V ser um congresso relativamente recente, poucas publicações foram feitas sobre o mesmo. Desta forma, a construção do panorama do congresso será feita a partir do documento final de relatos dos participantes, divulgados na internet.
54
subtópico no corpo de seu texto. Deve-se salientar que apenas o início dessa
recomendação é repetido nas quatro partes; cada uma delas possui uma continuação
diferente que remete o leitor a um comprometimento com a declaração específica na
qual ela está inserida.
Outro ponto estrutural do corpo do texto que pode ser destacado, porém, como
uma continuidade dos congressos anteriores é o elemento “confissão” e
“comprometimento/engajamento com a mudança”. Embora esses não apareçam como
em alguns dos documentos finais dos CLADEs anteriores como um tópico, no
documento final do CLADE V esses dois enfoques aparecem no corpo do texto da
seguinte forma:
Frente aos conceitos reducionistas, mercantilistas e místicos do Reino
de Deus, reconhecemos a falta de coerência entre o nosso
compromisso verbal com a missão desse reino e nossa práxis.
Promovemos uma abertura para exploração desse reino, mas que leve
em consideração a diversidade, a ideia de comunidade, a
solidariedade, e que finalmente, seja parte da agenda de reflexão para
todos e todas. [...]Precisamos assumir nossa responsabilidade como
agentes de esperança em todos os âmbitos de morte da sociedade [...]
Reconhecemos que, com frequência, nos vemos seduzidos pelo poder
egoísta que limita a possibilidade de vida para os outros e promove
comunidades fechadas e apáticas. Reafirmamos a promoção de um
modelo de comunidade trinitária que celebra o diálogo, o encontro, a
interculturalidade e a missão de Deus. [...] Convidamos os seguidores
e seguidoras de Jesus Cristo a formar comunidades de iguais, onde a
equidade, a justiça, a celebração, a liberdade e a responsabilidade
floresçam como evidências concretas de vidas transformadas.15(Carta
Pastoral Do Quinto Congresso Latino-Americano De Evangelização -
CLADE V. Em: <http://ftl.org.br/new/index.php/41-clade-
v/informacoes/209-carta-pastoral-do-quinto-congresso-latino-
americano-de-evangelizacao-clade-v> Acesso em: 25 junho 2015)
Somam-se a essas afirmações de confissão e engajamento todos os subtópicos
“Recomendações”, pois nesses estão contidas propostas que visam mudanças. Sendo
assim, o CLADE V dá continuidade à postura também presente nos CLADEs anteriores
de reconhecer os erros da igreja Latino-Americana e de se comprometer com as
mudanças necessárias.
Outros elementos que surgem nesse congresso como continuidade dos anteriores
são: as integralidades (bíblica, humana e da humanidade); a valorização do contexto;
questões de gênero e etnias; Reino de Deus; responsabilidade social; e meio ambiente.
Porém, existe uma temática que surge no congresso que até então não havia sido
colocada nos CLADEs anteriores, que é a abertura para o caminho de cooperação com
15 Negrito nosso
55
movimentos que se configuram como manifestações do reino de Deus, independentes de
uma confissão religiosa. Esse fato pode ser visto na seguinte afirmação:
Reconhecemos que o reino de Deus também se manifesta nos
movimentos que lutam em favor da vida, do cuidado com a criação, da
igualdade no tratamento entre homens e mulheres de todas as idades e
da justiça social. Portanto, como agentes ativos do reino, devemos nos
unir a essas lutas, assumindo ao mesmo tempo uma voz profética que
promova os valores desse reino. (Carta Pastoral Do Quinto
Congresso Latino-Americano De Evangelização - CLADE V. Em:
<http://ftl.org.br/new/index.php/41-clade-v/informacoes/209-carta-
pastoral-do-quinto-congresso-latino-americano-de-evangelizacao-
clade-v> Acesso em: 25 junho 2015)
É interessante notar que nessa afirmação a igreja aceita também a posição de
cooperadora e não apenas protagonista na luta em favor da vida. Nos outros CLADEs,
vê-se uma forte ênfase na responsabilidade da igreja frente às demandas sociais, porém
em todos eles a possibilidade de uma participação com outros movimentos não é citada;
já neste congresso vê-se uma abertura para um diálogo missional com outros agentes
além da igreja.
Neste ponto pode-se afirmar que além de todas as aproximações comuns entre os
CLADEs esse, em especial, apresentou desdobramentos e questões que anteriormente
não haviam sido trabalhadas nos congressos.
1.2.7. CLADEs: Continuidades e Novidades
Ao esboçar a trajetória da Missão Integral pelos congressos (Lausanne e
CLADEs), pode-se notar que estes serviram de berço para seu nascimento e também
nutriram sua teologia com reflexões que permearam todos os congressos em uma
relação de continuidade. O resultado desses eventos na America Latina foi o surgimento
da teologia evangélica latino-americana, a Teologia da M.I.,e pôde-se constatar isso no
desenrolar de cada congresso, ao abordar, mesmo que de maneira superficial, os temas e
visões principais de cada um deles. Porém, esse processo de continuidade, que se pode
notar desde o primeiro até o último CLADE, possui alguns elementos que passam por
evoluções significativas e outros que são acrescentados na pauta do fazer teológico dos
congressos.
56
Destaca-se, em meio às evoluções ocorridas nesses congressos, o olhar atencioso
para as questões indígenas e de gênero. Ao analisar esses dois elementos pode-se
constatar uma grande evolução desde o primeiro congresso até o CLADE V.
Nos congressos CLADE I, Lausanne, e CLADE II há um silêncio nos
documentos finais quanto aos indígenas e às mulheres, porém a partir do CLADE III
afirmações específicas e significativas aparecem nos textos finais dos CLADEs III e IV.
Na Declaração de Quito (documento final do CLADE III) vê-se as seguintes afirmações
que sinalizam essa evolução:
Durante esses 500 anos nosso continente tem testemunhado desprezo
e destruição sistemática das culturas autóctones em nome da
evangelização. Torna-se, então, condenável a submissão e ultraje do
qual foram vítima os povos indígenas.[...] A persistência do machismo
em nossa cultura tem tornado mulheres vítimas de formas diversas de
discriminação, que impedem sua plena participação no papel social e
de cidadania. [...] ante essa situação, nossa consciência cristã não pode
fechar os olhos.[...]A igreja deve afirmar e promover a vida negada
por todo pecado, pelas estruturas injustas e por grupos de interesses
mesquinhos. Em seu seio, deve-se pôr fim às diferentes formas de
discriminação predominantes na sociedade por motivos de sexo,
classe social, condição econômica, nível educacional, idade,
nacionalidade e raça. (LONGUINI,2002 ,p.207e208).
No CLADE IV as afirmações que apresentam essas questões são as seguintes:
Confessamos que, muitas vezes [...] temos discriminado e
marginalizado a mulher, os indígenas, os negros, as crianças, os
jovens, os velhos, os incapacitados, os imigrantes e outros grupos
dentro da igreja. Temos negado, dessa maneira, que eles são imagem e
semelhança de Deus e desconhecido seu enorme potencial humano e
missionário.[...]Nos comprometemos a [...] valorizar e incluir todos os
grupos sociais e culturais excluídos (crianças, jovens, mulheres,
negros, indígenas, incapacitados, imigrantes etc.) como sujeitos a
quem também é dirigido o evangelho do reino de Deus.[...] (Nos
comprometemos a) participar na missão de Deus, dando testemunho
integral do evangelho, vivendo uma espiritualidade cristã inclusiva,
exercendo uma mordomia da criação que coloque o material a serviço
do espiritual e o poder em benefício dos demais e para a glória de
Deus, e promovendo reconciliação entre raças, classes sociais, sexo,
gerações e do homem com o meio ambiente. (LONGUINI, 2002,
p.216 e 217).
Um fato que pode ser tido como desencadeador dessa evolução é a presença dos
indígenas e das mulheres de maneira mais expressiva desde o CLADE III. Scobar,
comentando este congresso, afirma: “a presença indígena foi massiva e participativa.”
(SCOBAR, 1994, p.9). Longuini registra o mesmo fato em sua introdução, ao tratar
deste congresso, dizendo: “Devemos destacar, além disso, a participação feminina e de
57
uma expressiva delegação indígena” (2002, p.197). Digno de nota é o fato de as
mulheres terem sido 30% da presença representativa do evento. Esta presença tão
marcante e participativa dos dois grupos trouxe essa evolução na ótica da M.I.
Scobar afirma que:
Houve também um esforço intencional por parte dos organizadores
por corrigir o clássico machismo latino-americano que tem tido
influência implícita e explícita sobre a comunidade evangélica. A
comissão organizadora contou com a presença de Nancy Olson da
Venezuela e Neuza Itioka do Brasil. Itioka organizou e dirigiu um
programa de oração que precedeu o CLADE III por mais de um ano.
Como expositoras bíblicas pela manhã participaram Felicity
Houghton, da Bolívia, Rosane, do Brasil, e Consuel Ron, da América
Central. Nas palestras teológicas se contou com o aporte de Sileda
Steuernagel, do Brasil, e Carmem Pérez, de Cartago, presidente na
nova diretoria da FTL. Dorothy de Qhuijada, do Peru,foi eleita
tesoureira da dita diretoria. Tudo fez prever que de maneira explícita a
FTL abre suas portas a uma participação mais ativa das mulheres no
ministério de fazer teológico evangélico. (SCOBAR, 1994, p.9-11)
Quanto à participação indígena deve-se considerar que o local da realização
desse congresso favoreceu a participação desse grupo, pois no Equador, o país anfitrião,
as igrejas evangélicas vivenciavam um crescimento exponencial entre as comunidades
indígenas de fala quechua, e sua participação favoreceu essa evolução, pois trouxe à
pauta alguns questionamentos missilógicos importantes, principalmente sobre o tema
evangelho e cultura.
Um fator que se configura como novidade entre os CLADEs surgiu no último
congresso realizado, no qual a possibilidade de participação em ações com órgãos para-
eclesiásticos, foi aberta. Nesse novo enfoque a igreja passou a aceitar a possibilidade de
ser cooperadora na luta em favor da vida. Nos outros CLADEs, vê-se a ênfase na igreja
como a grande responsável por oferecer esses sinais de manifestação do Reino frente
aos problemas sociais, porém em todos eles essa relação de cooperação com outros
movimentos não é citada. Entretanto, no CLADE V dá-se um passo em direção a um
diálogo missional extra-membresia e extra-eclesiástico.
Deve-se destacar que a FTL foi a grande responsável por articular todas as
demandas dessa teologia por meio de redação de artigos e livros, realização de eventos
como os CLADEs e elaboração de disciplinas acadêmicas para cursos teológicos.
Podemos concluir este esboço histórico com as palavras de Sanches, que
resumem esta trilha histórica com a seguinte afirmação:
A teologia da Missão Integral é uma forma de Teologia Latino-
Americana. Ela parte de uma tradição cristã definida: o protestantismo
58
evangélico latino-americano. Seu surgimento está diretamente
relacionado à luta pela autonomia e identidade deste segmento
religioso cristão, em relação aos esforços missionários estrangeiros
que trouxeram a fé evangélica para a América Latina. Porém, seu
contexto de surgimento também é a turbulenta situação concreta da
América Latina, com seus problemas sociais, econômicos e culturais.
O esforço da missão integral é não desconsiderar nenhum destes
aspectos na análise da realidade na qual a Igreja é chamada a
missionar. Ela parte do pressuposto de que a realidade é complexa e
envolve um emaranhado de estruturas e situações que afetam a missão
da igreja. A vida no mundo é envolvente e necessita ser tratada
teologicamente nesta perspectiva. Tal compreensão impõe à Teologia
da Missão uma responsabilidade contextualizadora e holística que
dará a ela o caráter de Missão Integral. (SANCHES, 2009, p.103).
Frente ao que foi exposto pode-se esquematizar a trajetória da M.I.via
CLADEs da seguinte forma:
Mapa 2- Mapa Histórico da Missão Integral via congressos
59
1.3. Seu Método: O Círculo hermenêutico
A M.I. surge a partir de uma hermenêutica contextual; toda a sua fundamentação
teórica e sua práxis missiológica partem dessa forma de leitura. Sanches (2009) sinaliza
esse fato ao dizer que a teologia da M.I. nasce de uma leitura integral de dois elementos,
a saber: contexto e Palavra de Deus.Sanches (2009) deixa isso claro em sua afirmação
que diz que a teologia da M.I.:
Se faz a partir de um círculo hermenêutico, que contempla o contexto:
a realidade sócio-histórica da América Latina e a situação eclesial-
cultural do evangelicalismo latino-americano e sua necessidade de
transformação em função da vida; outro eixo, a palavra de Deus, que
também deve ser lida contextualmente em vista da vida e da vontade
de Deus para ela no mundo. Contexto e palavra pedem para ser lidos
de modo integral, a fim de que gerem uma missão também integral. O
círculo que contorna esses pontos, integra-os e dá sentido a eles, é o
Reino de Deus como chave hermenêutica. (SANCHES,2009, p.112).
O círculo hermenêutico foi objeto central de discussão no terceiro volume das
publicações dos boletins da FTL. Neste volume, Enio R. Mueller, em seu artigo
intitulado “Evangelização e hermenêutica”, apresenta de forma didática esta maneira de
se relacionar texto e contexto. Neste artigo ele conceitua a hermenêutica da seguinte
forma: “processo de interpretação, sendo, a rigor, parte integrante do dia a dia de todos.”
(MUELLER, 1984, p.9). Dentro dessa lógica, o ato de ouvir e tentar entender se
configura como um exercício hermenêutico. Porém, a tarefa enfrentada pelo círculo
hermenêutico não se limita a uma compreensão textual, mas se estende à contextual (a
realidade contemporânea).Portanto estão envolvidos nesse processo dois horizontes, a
saber: o bíblico e o contemporâneo, o universo daquele que falou/escreveu e o universo
daquele que ouve/lê. Sendo assim o processo hermenêutico é tido como a comunicação
entre esses dois horizontes.
Para que ambos sejam compreendidos, deve-se considerar cinco elementos que
Mueller (1984) conceitua como aspectos importantes da proposta hermenêutica. São
eles: autocompreensão dos escritos bíblicos; questão cultural; papel do Espírito Santo;
chave hermenêutica; círculo hermenêutico.
Sobre o primeiro aspecto, a autocompreensão dos escritos bíblicos, a M.I. em
seu círculo hermenêutico parte da compreensão de que a Bíblia é a palavra de Deus,
fonte de autoridade, lente que interpreta a realidade e oferece respostas da parte de Deus
a esta que a questiona com suas demandas e realidade. Mueller afirma que:
60
Por arrogante que pareça ser,as Escrituras se apresentam como palavra
de Deus revelada aos homens, e até que haja provas em contrário
devem ser tratadas da forma como elas mesmas pedem para ser
tratadas. Este é um dos primeiros princípios de uma boa hermenêutica.
(MUELLER, 1984, p.17)
A questão cultural é tida como um aspecto importante pelo fato de estarem
inseridos em culturas tanto a mensagem bíblica, como os seus intérpretes. Considerar
esse ponto é se comprometer em fazer uma leitura integral das duas esferas culturais que
envolvem esses dois horizontes.E de maneira mais específica do contexto brasileiro,
põe-se o desafio de se fazer uma leitura que faça uma diferenciação entre a mensagem
bíblica e o cristianismo-cultura16.
O terceiro aspecto a ser considerado é o papel do Espírito Santo.Este possui,
dentro da compreensão da M.I., a função de facilitador no processo de fusão dos
horizontes. Segundo Mueller, o papel do Espírito Santo no processo hermenêutico
É de grande importância. Poderíamos dizer que o Espírito atua como
uma espécie de catalisador no processo, um “facilitador de fusão”. O
Espírito é o elemento comum, tanto na Palavra como no intérprete,
possibilitando uma comunicação a um nível único (MUELLER, 1984,
p.19)
Esta fusão entre os dois horizontes é o elemento fundamental e dinamizador do
círculo hermenêutico, que será apresentado mais abaixo.
Quanto ao aspecto “chave hermenêutica” a M.I. apresenta o Reino de
Deus 17 como sendo esse eixo central para a interpretação texto-contextual: “a
perspectiva do Reino de Deus e do seu cumprimento é central para a autocompreensão
bíblica, sendo uma chave para se ver os textos à luz do todo”(MUELLER,1984, p18).
Não apenas Mueller vai nessa direção, mas Sanches também entende o Reino como a
chave desse círculo hermenêutico, ao dizer que:
O Reino de Deus como chave hermenêutica, que é apreendido pela fé,
procede de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo nos remete a Ele. Esse
Reino é dinâmico e transformador. É ele que, por meio do Espírito,
possibilita a compreensão integral do contexto, da Palavra, gera a
missão e mantém um movimento sempre contínuo de atualização.
(SANCHES, 2009, p.112)
E é a este movimento contínuo de atualização que chamamos de círculo
hermenêutico. Neste círculo o leitor de hoje vai ao texto bíblico com suas demandas e
16 A expressão cristianismo-cultura é usada por Padilla em seu livro “Missão Integral: Ensaios do Reino” para se referir ao evangelho que é misturado aos elementos da filosofia grega e da herança cultural europeu-americana. (Padilla, 1992, p.106) 17 O conceito de Reino de Deus é apresentado de forma mais detalha no subtópico “2.1 A justiça”
61
seus questionamentos, busca encontrar as respostas que norteiem sua práxis para e no
seu contexto. Porém este círculo hermenêutico também acontece no sentido oposto, no
qual a realidade atual é lida a partir do texto, e este assume uma função profética
quando o contexto diverge da realidade do Reino. Segundo Juan Stan:
A tarefa hermenêutica é ler a Palavra de Deus a partir do contexto de
nossa missão cristã para que a obediência cristã se faça dentro da
história, frente ao “campo missionário” que é realidade humana (“o
mundo”). O “problema hermenêutico” deixa, assim, de ser uma
questão meramente teórica ou cognoscitiva para tornar-se uma questão
a nível de missão e de ação. Não é apenas um assunto de interpretação
de palavras e textos, mas também a interpretação de uma tarefa, de
uma missão. A hermenêutica passa a ser, então, o diálogo entre o texto
bíblico e o contexto missio-histórico (STAN,1984, p.106)
Essa circularidade no processo interpretativo produz uma mudança contínua em
nossas interpretações bíblicas, pois as realidades contextuais do presente estão em
constante mudança, pondo sempre novos questionamentos e demandas, estes que por
sua vez, fazem com que se volte ao texto e se busque novas interpretações que deem
conta de equacionar as relações entre o ser humano e Deus, e do ser humano com os
seus semelhantes.
Desta forma pode-se ver este processo, do círculo hermenêutico, que foi adotado
pela M.I. como sua metodologia, da qual se origina sua teologia e missiologia, da
seguinte forma:
Círculo hermenêutico
Desenho de autoria própria
Desenho 1 - Círculo hermenêutico
62
Juan Luis Segundo possui uma afirmação que consegue expressar a dinâmica do
círculo hermenêutico de forma clara:
Que as perguntas que surgem do presente sejam tão ricas gerais e
básicas, que nos obriguem a mudar nossas concepções, com as quais
nos acostumamos, sobre a vida, a morte, o conhecimento, a sociedade,
a política e o mundo em geral. Somente uma mudança tal ou pelo
menos a suspeita geral acerca de nossas ideias e juízo de valor (...) nos
permitirá alcançar o nível teológico e obrigar a teologia a descer à
realidade, fazendo a si mesma novas, e decisivas perguntas (...) (que) a
interpretação da Escritura (...) mude junto com os problemas em vez
de meramente repetir respostas velhas conservadoras e que não
servem mais. (LUIS, 1974, p.13.).
Ao observar esse círculo hermenêutico pode-se notar que ele é contínuo e não
possui um ponto de partida fixo. Dessa forma,é possível iniciar seu processo
interpretativo tanto do contexto para a Palavra de Deus, como da Palavra de Deus para o
contexto. Deve-se destacar que essas direções diversas da interpretação não representam
uma infidelidade, ou menosprezo às Escrituras; antes se configuram como uma maneira
de ser fiel ao texto e relevante ao contexto, e como uma maneira de questionar
biblicamente, com novas releituras da Palavra, as tradições e interpretações humanas,
que estão sociologicamente condicionadas. E é da leitura integral desses dois horizontes
(Palavra de Deus e Contexto) que emerge a Missão Integral.
1.4.Sua Máxima: As três totalidades
Neste subtópico será apresentada a máxima da M.I. de forma sucinta. Entretanto,
suas implicações e desdobramentos serão trabalhados de forma mais detalhada no
capítulo seguinte.
O conceito de missão da M.I. pode ser resumido na máxima: “Evangelho todo,
para todo o homem e para todos os homens”. Esta aparece em vários escritos de autores
da M.I., como, por exemplo, Padilla, que faz a seguinte afirmação: “a maior necessidade
da igreja é de recuperar o evangelho completo de nosso Senhor Jesus Cristo: todo o
evangelho, para todo o homem, para todo o mundo” (2014, p.80) e Manfred Grellert,
que apresenta a M.I. como uma teologia que tem seu olhar voltado tanto para as
questões transcendentes como para as imanentes, possuindo assim um holismo
missionário que responde à integralidade tanto do evangelho como da humanidade.
Grellert afirma: “Holismo cristão ocorre quando a Igreja toda, totalmente comprometida
63
com toda a vontade de Deus, leva o evangelho todo ao homem todo e a todos os
homens, por todos os métodos éticos possíveis, através de homens e mulheres
totalmente engajados na missão integral” (1987, p.61). Sendo assim, pode-se dizer que a
M.I.é composta por três totalidades: a totalidade do evangelho, a do homem e a da
humanidade.
A primeira totalidade é a do evangelho. Esta surge como uma leitura mais
abrangente da Bíblia, que enxerga nos textos bíblicos não apenas uma mensagem para a
alma e o espírito humano, mas também para o físico e social, não apenas para um futuro
pós-morte, mas também para o presente na vida.
A segunda totalidade se refere ao olhar para a integralidade do homem,
entendendo ser a missão da igreja não apenas cuidar de questões espirituais, mas
também de tudo aquilo que se refere a sua existência; suas questões transcendentes e
imanentes, as opressões espirituais e as estruturas opressoras, os problemas de ordem
individual e social, tendo assim um olhar holístico para a realidade humana.
Na última totalidade, todos os homens/humanidade, é compreendido que o
evangelho e a missão da igreja não estão limitados e direcionados a apenas uma cultura
ou povo, mas sim destinam-se a toda a humanidade, e sua mensagem deve transformar a
relação dessa humanidade com Deus, entre si, e com toda a criação. Em síntese é isso
que significa o evangelho todo, para todo homem e para todos os homens.
Embora a máxima da M.I. seja sucinta e objetiva, ela carrega desdobramentos
teológicos e missionais, os quais poderão ser vistos de maneira mais clara no próximo
capítulo. Porém, a partir dessa máxima pode-se ter um vislumbre sobre o que é a Missão
Integral, somando vozes com Gouvêa(2011), a partir da teologia expressada nessa
máxima, a M.I. pode ser definida por quatro afirmações, as quais serão apresentadas
abaixo.
Gouvêa, em seu capítulo “Missão Integral: Um convite à reflexão” responde à
pergunta “o que é Missão Integral?” com quatro afirmações que nos servem como
norteadoras para conceituação da M.I. Em primeiro lugar ele afirma que “Missão
Integral é uma teologia bíblica do evangelho” (GOUVÊA, 2011, p.138). Ele
compreende a M.I. como uma teologia que se configura estruturalmente a partir da
própria Bíblia, que desenvolve toda a sua reflexão teológica a partir da natureza
intrínseca do próprio evangelho, e que ela o vê como “a realização da grande comissão
de Cristo, à luz do Mandato sociocultural de Gênesis.” (GOUVÊA, 2011, p.138).
64
O conceito deste mandato sociocultural é melhor desenvolvido pelo autor em sua
segunda afirmação, que diz que “Missão Integral é uma interpretação da grande
comissão à luz do mandato sociocultural” (GOUVÊA, 2011, p.138). Segundo Gouvêa
(2011) o mandato sociocultural aparece já nos primeiros versículos da bíblia, quando,
no diálogo entre Deus e o homem, antes deste ter cometido o pecado (queda), o Senhor
diz a ele todas as suas responsabilidades socioculturais. Gouvêa (2011) acredita que
esse mandato sociocultural de Gênesis sinaliza o ideal de Deus para a humanidade.
Segundo ele:
O projeto não está explicitamente descrito, mas implícito naquilo que
a narrativa bíblica apresenta na forma de comando divino. Ele inclui:
(i) apoio à família e à educação; (II) apoio à pesquisa científica e
tecnologia; (III) promoção da nutrição alimentar e, por inferência, de
todas as necessidades básicas para a sobrevivência e saúde de todos,
sem exceção de ninguém; (IV) descanso e lazer para todos, e, por
inferência, trabalhos para todos. (GOUVÊA, 2011, p.138).
A grande comissão de Mateus 28 é lida a partir deste mandato. Dentro dessa
lógica, a igreja entende-se como comissionada a ser um agente que olha para a
humanidade que, pós-queda, abandonou esse mandato sociocultural, e coloca-se como
propagadora dessa verdade reconciliadora que oferece ao ser humano a possibilidade de
restabelecer essa relação com Deus, e lhe atribui responsabilidades com o todo criado.
A igreja não apenas propaga essa mensagem, mas se vê dentro dessa nova posição que
lhe confere este mandato sociocultural.
A terceira afirmação definidora da M.I. de Gouvêa diz que “Missão integral é a
Missão da Igreja e a teologia que serve à Igreja.” (GOUVÊA, 2011, p.139). Para o
autor, a missão da igreja é a razão de seu existir e o fundamento de sua teologia. A
teologia da igreja só é relevante quando se configura como uma auxiliadora de sua
missão. Segundo Gouvêa “Toda teologia que se preze, [...] deve ser feita a partir de dois
motores: o estudo da bíblia e a missão da igreja” (2011, p. 139).
Sendo assim, a M.I. é a missão da igreja, e esta é compreendida de maneira
holística. A M.I. é também a lente pela qual se faz a leitura bíblica e contextual de onde
emergem a teologia eclesiástica, que busca a propagação do Reino de Deus, e a infusão
dos valores do reino na cultura e na sociedade.
A quarta e última afirmação de Gouvêa diz que “Missão integral é o próprio
evangelho”.(2011, p.140). A M.I. é apresentada apenas como um outro nome para o
próprio evangelho, sendo um sinônimo para o evangelho de Cristo; desta forma, não
65
pretende ser nada além ou aquém do próprio evangelho.Porém, esse acréscimo da
palavra “integral” aconteceu não como uma tentativa de expandir o conceito de
evangelho de Cristo, e sim como uma reação a alguns conceitos limitados do evangelho.
Segundo o próprio Gouvêa, “Na verdade só há uma missão em Cristo; aquela que inclui
a integralidade daquilo que o Evangelho representa”. (2011, p.141). Aquela cujos
conceitos não contemplam a integralidade da missão, a “Missão Parcial”, segundo
Gouvêa (2011) simplesmente não é missão cristã; é, porém, uma deformação perigosa,
uma distorção alienante e opressora. Não é evangelho porque não é integral, e se não é
integral é porque não é evangelho, uma vez que se sabe que para ser evangelho tem de
ser integral.
2. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO
INTEGRAL
O conceito de Desenvolvimento e Justiça aparece de forma explícita na
conceituação de Padilla (1992) sobre a Missão Integral da igreja. Ele afirma que esta é
composta por três enfoques, a saber: 1) Evangelização e Discipulado, 2) Colaboração e
Unidade e 3) Desenvolvimento e Justiça. O presente capítulo apresentará cada um
desses conceitos relacionando-os com o tema central da pesquisa (Desenvolvimento e
Justiça) de maneira a compreender a relação que existe entre eles e trabalhar as tensões
presentes nessas relações.
2.1. Desenvolvimento e Justiça
Desenvolvimento e Justiça são tidos como parte da missão da igreja pelo fato de
a M.I. entender que o evangelho de Jesus Cristo é “uma mensagem pessoal que
redimensiona totalmente a vida da pessoa que nele crê, mas, ao mesmo tempo, é uma
mensagem cósmica; isto é, o evangelho revela um Deus cujo propósito abarca o mundo
inteiro” (ZWETSCH, 2008, p. 157).
Esses dois pontos (Desenvolvimento e Justiça)são articulados dentro da M.I.
juntamente com a questão da Responsabilidade social, entendendo-os muitas vezes
66
como termos similares. Portanto, o objetivo deste subtópico do trabalho é discorrer
sobre isso de maneira específica, tratando cada um dos conceitos de maneira separada,
mas analisando também suas correlações. Em síntese, pode-se afirmar que o objetivo
neste momento é trazer luz sobre a questão: “o que de fato é Justiça dentro da M.I.?” e
“O que é Desenvolvimento?”.18
2.1.1. A Justiça
A fé bíblica, segundo Zwetsch, “diz respeito ao mundo das realidades históricas
e das lutas por justiça social, direitos humanos e preservação da natureza como criação
de Deus.” (2008, p.157). Dentro dessa visão o evangelho é compreendido como um
elemento que carrega uma mensagem tanto para o indivíduo todo, como também para
toda a humanidade. A humanidade caída, marcada por pecados individuais e sociais, é
chamada para integrar-se à nova humanidade iniciada por Jesus Cristo; para integrar-se
ao Reino de Deus, que possui como uma de suas marcas a justiça.
Note que a Justiça é colocada como uma das marcas do Reino de Deus, o que
fundamenta todo o agir da igreja que busca esta Justiça. É a partir deste que a missão da
igreja é compreendida e vivida, por isso se faz necessário entender qual o significado e a
origem do conceito Reino de Deus.
Este conceito tem suas raízes fincadas na história do povo de Israel, que se
estabeleceu inicialmente dentro de uma Teocracia Tribal, na qual Deus era aquele que
governava sobre as tribos. Apesar de a ideia de reinado ter começado cedo em Israel
(Gn 36.31 e Êx19.6), a instituição de um reino foi acontecer apenas duzentos anos
depois do início do período dos juízes, se concretizando com o rei Saul.
Segundo Carriker, o regime Teocrático tribal foi alterado, como
reação/consequência aos ataques dos filisteus. Carriker afirma que:
O golpe decisivo aconteceu quando os filisteus cortaram Israel pela
metade, capturaram a arca, mataram os sacerdotes da arca e
extirparam Silo junto com seu santuário (1Samuel 4). Era uma derrota
total, a mais profunda humilhação militar e espiritual. O povo de Deus
foi esmagado (1 Samuel 13.19-23) e ficou em desespero, procurou
união sob um rei que deveria ser apontado “por uma duração”. O
18 Para maior aprofundamento das ampliações dos conceitos de Padilla sobre a M.I. ver: Padilla, René C.: O que é missão integral? Viçosa: Ultimato, 2009. E Padilla, René C. Deus e Mamon: Economia do reino na era da globalização, São Paulo: Novos Diálogos, 2011.
67
carisma falhou e o povo, angustiado, se voltou para a monarquia
(1992, p. 85).
A atitude do Antigo Testamento para com a ideia de Reino é ambígua. Por um
lado, era entendida como uma apostasia contra Deus, pois Ele era o Senhor que
governava. Sendo assim, não haveria a necessidade de um rei humano. Em
contrapartida, esse olhar negativo sobre o reinado é contrabalanceado com uma
perspectiva que coloca o rei sob a orientação divina, passando assim a assumir um papel
de embaixador, representante e cumpridor das vontades divinas. Nessa ótica, o rei tinha
a responsabilidade perante Deus de: “governar Israel com justiça, proteger os fracos e
dirigir o povo para a verdadeira adoração a Deus” (CARRIKER,1992, p.85).
Essa perspectiva positiva da monarquia é atribuída, no Antigo Testamento,
principalmente ao rei Davi. Seu reinado se tornou o padrão para a avaliação dos reis
posteriores, pois conseguiu submeter o rei humano ao senhorio divino. Por conta dessa
característica, esse reinado e rei são descritos nos seguintes termos: “filho de Deus”
(Salmo 2.7), sacerdote de uma ordem única (Salmo 110.4) e até o próprio fôlego que
dava vida ao seu povo (Lamentações 4.20). O rei, se permanecesse obediente à vontade
divina, poderia ser uma fonte de vida, salvação e benção para o povo de Yahweh (1
Samuel 12.14; Salmo 132.12) (CARRIKER, 1992, p.86). Dentro da perspectiva de
monarquia israelita, o conceito de Reino de Deus possuía implicação tanto religiosa
quanto política, sendo ambas inseparáveis.
O reinado de Davi se tornou inesquecível por sua prosperidade e avanço
territorial. Não é sem motivo que este período é conhecido como a idade do ouro.
Porém, já no final do reinado de Salomão, Israel começou a vivenciar um declínio,
passando por uma divisão e por um cativeiro. Depois desses dois fatos a nação começou
a ansiar pelo Reino de Deus, sendo este, a sua esperança escatológica19.
Carriker afirma que:
A esperança de Israel pelo reino de Deus, depois de sua divisão e
ainda mais tarde, em seu cativeiro, só poderia assumir a analogia do
reino de Davi redivivo, um novo Davi. O tema do reino davídico
olhava para um futuro no qual um filho de Davi reinaria sobre Israel,
até sobre as nações, trazendo a maravilhosa idade de prosperidade,
justiça e paz. (CARRIKER,1992, p.88).
19Carriker explica essas esperanças escatológicas da seguinte forma: “Por “escatológico” nos referimos ao sentido mais amplo (e não mais restrito das “últimas coisas”, que só aparece no fim do período veterotestamentário) de ter Israel uma orientação para o futuro, uma esperança futura que expressava em referência ao reino. (1992, p.89).
68
Esta esperança foi desenvolvida de forma mais clara pelos profetas pré-exílicos
que anunciaram o Messias, um rei da linhagem de Davi, que seria um vice-rei de Deus,
que instalaria a paz e a justiça na terra.
Os apóstolos identificaram Jesus como sendo esse ungido esperado, filho de
Davi, aquele que veio inaugurar o reino de Deus (Atos 13.20-23). Carriker resume esse
aspecto do reino de Deus com as seguintes palavras:
O conceito do reino, através da sua ligação à dinastia davídica, à
Jerusalém e ao templo, adquiriu características religiosas e
escatológicas. Ele se referia à fé de Israel e à sua esperança orientada
para o futuro pela vinda do messias que inauguraria o reino de Deus.
Tanto seu aspecto religioso quanto sua orientação futura teriam
grandes significâncias missiológicas por todo o resto da Bíblia,
culminando na vinda de Jesus e o registro do Novo Testamento.
(CARRIKER,1992, p.90).
Na teologia do Novo Testamento o Reino de Deus se faz presente no mundo
através de Jesus Cristo.Com ele foi introduzida na história humana a ordem
escatológica, que manifesta-se em salvação, restauração da criação, justiça, paz, e com
todas as outras características que sinalizam o aspecto da realização completa na
parúsia.
Costas (1973) define o Reino de Deus como uma ordem de vida de natureza
escatológica, mas que emite seus feixes de luz sobre a história presente. Ele assim
afirma: “Há que se admitir que essa ordem de vida é algo todavia para o futuro,
pertencente ao eschaton. Sem dúvida, sua vinda se vislumbra já, na vida e missão da
igreja” (COSTA, 1973, p.14). Esse fato apresenta a característica do já e ainda não do
Reino de Deus, no qual ele já se faz presente na pessoa de Jesus e nas manifestações de
seu reinado por meio da vida e missão da igreja, mas, ainda não de forma plena, pois
virá de forma total apenas na segunda vinda de Cristo, a parúsia.
A partir desse pano de fundo, pode-se compreender de forma mais clara o
significado do conceito de Reino de Deus; em síntese pode-se dizer que ele se refere ao
governo justo de Deus sobre toda criação, organização humana e social. A Igreja deve
ser, dentro desse reinado, manifestação ao mundo do reino por meio de seu viver e agir
missional. Este conceito parte de uma compreensão de que este reinado não é deste
mundo (Jo18.36) e, por consequência, reage às políticas injustas dos reinos da terra
como voz profética do Reino de Deus, não esquecendo que Ele é aquele que gera e gere
seu reinado na justiça e amor. Sanches, tratando a questão das implicações e significado
do Reino de Deus, afirma:
69
O Reino de Deus se refere ao amplo e justo governo de Deus sobre
toda a criação e, de forma restrita, refere-se à organização de vida e de
mundo que se realiza diante Dele e em correspondência à sua vontade,
que é sempre boa e perfeita para toda a criação[...] O Reino de Deus
deve, portanto, também ser compreendido na perspectiva escatológica
que ele representa e na perspectiva histórica da sua manifestação em
Jesus Cristo.[...] A principal descrição do Reino de Deus em sua
presença no mundo é da restauração da vida e da criação. Esta é a
característica da nova ordem estabelecida por Deus em Jesus Cristo.
Onde Deus reina a vida se harmoniza. Mas a mensagem do reino é
também juízo, onde todos são chamados a participar dele por meio de
Jesus Cristo[...] onde não há sujeição ao Reino de Deus, impera a
injustiça que é contraria à justiça, o egoísmo que é contrario a o amor
e a morte que contrapõe a vida que ele oferece. O Reino é anunciado
pela palavra de Deus e tanto quanto a palavra, ele é acolhido pela fé.
A igreja não é Reino, mas ela o expressa em sua vida no
mundo20(SANCHES, 2009, p.143).
O fato de a igreja ter a responsabilidade de expressar ao mundo o Reino de Deus
determina o conteúdo da mensagem que será anunciada. Desde o início da história da
igreja no Novo Testamento pode-se ver que o Reino de Deus é o centro de sua
pregação, iniciando com João Batista (Mt 3.2) depois com Jesus. Essa mensagem esteve
presente do início de seu ministério (Mc 1.15) até o fim (At 1.3).
Quanto à igreja é interessante notar que, além dos outros registros dos momentos
em que o Reino é proclamado por ela, o último relato da história da igreja em Atos
descreve o conteúdo da pregação missionária de Paulo, e esse era “o Reino de Deus”
(28.31). Além desses relatos soma-se o texto que apresenta de forma clara o conteúdo
da mensagem missionária até o fim da história humana. “E este evangelho do Reino
será pregado em todo mundo como testemunho a todas as nações, então virá o fim”
(Mt24.14).
Esta proclamação carrega uma mensagem de transformação não apenas
espiritual, mas também na realidade histórica e social, pois assim como os reinos do
Antigo Testamento foram acontecimentos históricos, onde o Reino de Deus abrangia a
vida concreta do povo, da mesma forma o reino inaugurado por Jesus possui
implicações históricas. Sendo assim, seu reinado é mais que uma filosofia, ou um
conteúdo apenas para a intelectualidade, sem valor algum para as demandas e injustiças
do presente. Segundo Carriker, “O anúncio missionário do reino é a proclamação de um
evento, de um acontecimento acerca da vida, morte e ressurreição de Jesus. Existe não
20 Grifo nosso
70
só afirmação intelectual, com uma doutrina, mas aceitação, transformação e sujeição,
com um relacionamento.” (1992, p.95).
Fato é que, por ter havido a associação do reino com a arca e depois com o
templo, houve uma forte ligação entre o culto e a fé israelita com o conceito de Reino de
Deus, mas somente por esse fato não se pode concluir que o conceito era apolítico, e
então a-histórico, restringindo-se, assim, à religiosidade. Ao olharmos para o início da
monarquia de Israel, o conceito é também político. Carriker, comentando essas duas
esferas, política e religiosa, dentro do conceito de reino, afirma: “era impossível separar
totalmente estas duas esferas de ação”. (CARRIKER, 1992, p.96).
A ideia de reino foi se desenvolvendo e assumindo uma característica
estritamente espiritual, e aqui talvez resida o grande impasse da discussão sobre a
missão da Igreja, pois se o reino de Deus for interpretado apenas com algo que possui
implicações exclusivamente espirituais, as questões vigentes ao drama físico-psíquico-
social-humano são vistas como assuntos paraeclesiásticos, ao quais a igreja não tem a
responsabilidade de responder. Embora essa discussão seja tratada mais adiante neste
trabalho, apenas de maneira introdutória, abordando essa questão dentro do conceito de
Reino,pode-se dizer que embora o reino de Deus tenha uma face espiritualizada, ele
inclui também a política; possui uma tarefa histórica, uma responsabilidade para com a
Justiça. Carriker afirma que:
O reino de Deus é sua administração soberana sobre toda criação que,
por sua vez, demanda a resposta de adoração e compromisso, uma
obrigação que tem ramificações na vida pessoal e social, que atinge
fundamentalmente as pessoas e, através delas, todos os seus
relacionamentos familiares, comunitários econômicos, etc. O convite
para entrar no reino implica numa aliança com Deus. (CARRIKER,
1992, p.96).
É valido ressaltar que o chamado ao Reino de Deus não é uma convocação para
uma simples aceitação de conteúdos mentais, mas um convite à obediência, à submissão
ao reinado, à ética do Reino. A salvação a partir dessa visão é o voltar-se do homem
para Deus, mas também para o seu próximo, ao qual ele expressará os sinais de justiça
do reino. Com isso, pode-se concluir que a mensagem do Reino de Deus “não é um
chamado ao quietismo social. Não está para tirar o homem do mundo, mas para inseri-lo
nele, não mais como escravo, mas como filho de Deus e membro do corpo de Cristo”
(PADILLA, 1992, p.33).
É pelo fato de a igreja ser expressão do reino de Deus que ela deve buscar a
justiça, deve encarar de maneira profética as realidades injustas instauradas nas relações
71
humanas. Segundo Zwetsch, “O propósito da Igreja é encarnar os valores do reino de
Deus e testemunhar do amor e da justiça revelados em Jesus Cristo, no poder do
Espírito para a transformação da vida humana em todas as suas dimensões.”
(2008,p.179).
A justiça se direciona às relações entre pessoas; ela busca o ajustamento aos
padrões do Reino de Deus em todas as formas de relação, condenando todo tipo de
opressão e injustiça. Padilla (1992) entende que nessa busca por justiça o testemunho
bíblico apresenta um Deus que assume o lado do enfraquecido. Zwetsch apresenta essa
compreensão de Padilla dizendo que este entende que Deus “se coloca a favor do
oprimido e contra o opressor, a favor do explorado e contra o explorador, a favor da
vítima e contra o agressor” (2008, p.197).
Essa visão é interpretada por muitos como uma compreensão errônea da pessoa
de Deus, pois entendem essa ação como uma postura na qual Deus assume um lado
específico nas relações humanas. Sendo assim, Deus se torna parcial e injusto em seu
relacionamento com a humanidade. Porém, dentro da teologia de Padilla, este fato diz
exatamente o contrário; é entendido como a expressão da imparcialidade e justiça de
Deus, pois compreende que é pelo fato de Deus ser Deus dos deuses e Senhor dos
senhores que Ele se coloca em uma posição de fazer justiça ao órfão e à viúva, de amar
o imigrante, e lhe dar pão e roupa (Dt 10.17-19) buscando assim justificar, tornar justas
as relações.
A justiça pode ser compreendida a partir do conceito de shalom(paz); este traz a
ideia de abundância de vida para a totalidade humana,configurando-se como base para a
redistribuição do poder social, político e econômico. Sendo assim esta paz deve ser
estendida às pessoas e às comunidades, atingindo os povos e nações. Zwetsch afirma
que: “Padilla anota que a luta dos cristãos pela paz mundial é fundamental para a
cidadania global, sobretudo no que tange à prioridade da justiça em relação aos pobres e
oprimidos.” (2008.203).
É fundamental, portanto, que a igreja compreenda e responda a este chamado à
justiça que promove a paz, e torna justas as relações humanas, se quiser possuir
relevância em seus dias. As igrejas da Ásia, África e América Latina despertaram para
esse fato e entenderam que “em meio à pobreza e opressão, a relevância do evangelho
se dá a partir das questões da justiça e da paz”(ZWETSCH, 2008, p.203). A partir desse
fato pode-se compreender a razão pela qual as teologias originadas nesses lugares
72
demonstraram uma aproximação maior com as realidades socioeconômicas e políticas,
já que neles há um alto índice de pobreza e estruturas opressoras que vitimam milhares.
Dentro dessa teologia dos países de terceiro mundo, as igrejas são desafiadas a
romper com a barreira limitadora que entende que sua missão é apenas cultivar uma
experiência religiosa individual. Nessa teologia as igrejas se veem com um chamado a
se lançar na luta por justiça e paz em seus próprios contextos e em todo o mundo.
Realizar esse rompimento com a antiga compreensão, individualista e egoísta, é
indispensável para viver a fé cristã. Essa é uma das questões mais desafiadoras à igreja,
porque neste ponto as igrejas passam a se compreender como a comunidade global de
Jesus Cristo, que segundo Zwetsch é “chamada por Ele para ser sua testemunha num
mundo marcado pela globalização imperial, por injustiça e pobreza, guerra e violência,
materialismo e a destruição da criação de Deus”. (2008, p.198).
A M.I. entende que o desafio que é colocado a todos os cristãos é o de
“redescobrir o poder transformador do reino e da justiça de Deus no meio dos reinos
deste mundo.”(ZWETSCH, 2008, p.204). Este ato fará a igreja se levantar em uma
atitude profética contra a centralização de poder global, e confessando Jesus como
Senhor dos senhores; também fará com que ela se posicione para denunciar todos os
males sociais causados pelo pecado e proclamará, a partir de seu estilo de vida, a
centralidade do reino de Deus numa comunidade restaurada por justiça, e que busca a
paz para todos os seres humanos.
No conceito de Padilla, a Igreja deve não somente buscar a justiça para os
outros, mas antes praticá-la, e esta deve abranger não somente o indivíduo, mas deve
também alcançar estruturas sociais, tais como: sistema penitenciário, econômico,
político, dentre outros, sabendo que o meio para se alcançar essas estruturas muitas
vezes requer ações políticas, e estas por sua vez, devem ser compatíveis com os
princípios bíblicos. Na compreensão da Missão Integral essas ações são indispensáveis
para que possa haver uma facilitação para a libertação humana da pobreza e da
opressão, e para instaurar a justiça.
2.1.2. O Desenvolvimento
Parte do terceiro aspecto da missão da igreja apresentado por Padilla (1992) é o
desenvolvimento, que se refere à responsabilidade que a igreja possui de ser um agente
73
que trabalha para o desenvolvimento integral do indivíduo e da sociedade na qual ele
está inserido. Discorrendo sobre esse ponto, Padilla assevera que “a missão cristã se
orienta para o desenvolvimento de toda a pessoa e de todas as pessoas” (PADILLA,
2005, p.152). Sobre esse aspecto da M.I. se instauram as maiores tensões e discussões,
pois aqui de maneira mais clara e objetiva é colocada a questão da responsabilidade
social da igreja, conferindo a ela a missão de agir não apenas nos “campos espirituais”,
mas também no mundo físico-social.
O desenvolvimento dentro da M.I. é muito mais que a realização de atividades
caritativas e programas de ajuda;ele carrega uma mensagem que toca nas estruturas
sociais e propõe uma reformulação de valores. Embora este seja um dos elementos
fundamentais da M.I., existe pouco material escrito que trabalhe esse conceito de forma
específica. Padilla, em seu livro “Missão Integral: O Reino de Deus e a Igreja” (2014),
dedica apenas uma parte do capítulo “Missão Integral” para tratar o Desenvolvimento, e
ainda trata-o em conjunto com o tema Justiça. Entretanto, o presente subtópico objetiva
tratar esse tema de maneira a expandir a compreensão do conteúdo do conceito do
desenvolvimento.
Juarez de Paula, em seu capítulo “Desenvolvimento local Integrado e gestão
compartilhada” (2008, p.190-206), apresenta uma compreensão de Desenvolvimento
que muito tem a contribuir com a Missão Integral. 21 Esse autor compreende que,
embora atualmente o desenvolvimento seja pregado a partir do pressuposto econômico,
que tem se limitado quase que exclusivamente ao “fenômeno da dinamização do
crescimento econômico”, para ele o “crescimento econômico é necessário, mas não é
suficiente para gerar desenvolvimento.” (PAULA, 2008, p.190).
Em sua visão, desenvolvimento é muito mais que acúmulo de bens e rendas, pois
embora o crescimento econômico tenha a sua importância, é necessário compreender o
desenvolvimento de forma integral, entendendo que este tem como responsabilidade
buscar “a melhora da vida que levamos e das liberdades que desfrutamos” (PAULA,
2008, p.190).
21 Deve-se destacar que este artigo de Juarez de Paula se encontra no livro “Jardim da cooperação: Evangelho, redes sociais e economias”. Este livro surgiu como fruto do trabalho do movimento Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS) que tem como sua razão de ser o fortalecimento da base evangélica da ação social; o compartilhamento de boas práticas, reflexões bíblicas e experiências históricas; e o encorajar e capacitar organizações, igrejas e pessoas para promoverem uma transformação Integral. Desta forma a utilização dos conceitos deste autor para trabalhar o tema dentro da MI é coerente e possível.
74
Este ato de buscar a “melhora da vida”, dentro da compreensão de Paula,
significa buscar um desenvolvimento humano,social e sustentável. Buscar essa melhoria
é o ato de comprometer-se com: a pessoa em sua totalidade (desenvolvimento humano),
todas as pessoas (desenvolvimento social) e com as pessoas que vivem no presente e
com as que viverão no futuro, (desenvolvimento sustentável).
Esta visão de Paula está estreitamente relacionada com o conceito de Padilla
sobre Desenvolvimento, este que afirma que:
Nenhum desenvolvimento é verdadeiro se estiver concentrado no
econômico e não der atenção adequada às questões mais profundas
que afetam a humanidade e que têm a ver com o significado último da
vida – “um estilo de vida feito para permanecer” – baseado em novos
métodos de produção e novos padrões de consumo. Inclui também a
criação de uma nova tecnologia subordinada ao ser humano e que
respeite a natureza. [...] O desafio tanto para os cristãos no ocidente
como para os cristãos nos países subdesenvolvidos é criar modelos de
missão centrados num estilo de vida profético, modelos que apontem
para Jesus Cristo como o Senhor da totalidade da vida, à
universalidade da igreja e à interdependência dos seres humanos no
mundo. (PADILLA, 1992, p.149-150).
Desfragmentando essa afirmação de Padilla, vemos que ele também trata de
desenvolvimento humano, social, e sustentável. Ao falar sobre “novos métodos de
produção e novos padrões de consumo” e “criação de uma tecnologia subordinada ao
ser humano que respeite a natureza” ele está falando sobre o que Paula vai chamar de
“Desenvolvimento Sustentável”. Ao falar sobre “criar modelos que apontem para Jesus
como Senhor da totalidade da vida” ele está falando daquilo que Paula vai chamar de
“Desenvolvimento Humano”. E ao tocar na questão da “interdependência dos seres
humanos” ele está falando daquilo que Paula vai chamar de “Desenvolvimento Social”.
Ao colocar esse desenvolvimento Integral com parte da Missão da Igreja,
questiona-se se ela não estaria fazendo uma confusão entre os reinos (o de Deus e o dos
homens), se é correto atribuir à Igreja uma responsabilidade para com as estruturas
sociais nesses processos de desenvolvimento. Padilla responde a essa questão com a
seguinte afirmação: “Não estou confundindo os dois reinos: não espero que a salvação
última do homem ou da sociedade resulte das boas obras ou da ação política. A única
coisa que peço é que se tome a sério a pertinência do evangelho à totalidade da vida do
homem no mundo”. (1992, p.53)
É devido ao fato de se entender a pertinência do evangelho para a totalidade do
homem e do mundo que emerge a compreensão de que a igreja possui a missão de
75
buscar o desenvolvimento. Desconsiderar essa pertinência “é o mesmo que afirmar que
Deus tem interesse em que o chamemos de “Senhor, Senhor”, mas não em que
obedeçamos à sua vontade em relação a assuntos tão críticos como a injustiça social e a
opressão, a fome, a guerra, o racismo, o analfabetismo e problemas similares”.
(PADILLA,1992, p.53).
A M.I. entende o ser humano como um ser social, que mesmo convertido a
Cristo, não pode abstrair-se das questões sociais; porém, sua relação com o mundo deve
ser alterada, já que recebe de Cristo um modelo diferente de vida no mundo, e sua vida
na polis passa a refletir o Reino de Deus no mundo.O convertido a Cristo sempre se
converte numa situação social específica e nela testemunha sua conversão.
Portanto, falar em Desenvolvimento na M.I., é falar de desenvolvimento
humano, social e sustentável. Segundo Paula, pensar a partir desse pressuposto sobre o
desenvolvimento significa: “pensar um novo conceito de desenvolvimento que articula a
dinamização do crescimento econômico com outros fatores, como o crescimento do
capital humano, o crescimento do capital social, a conquista da boa governança e o uso
sustentável do capital natural” (PAULA, 2008, p.191). Sobre cada um desses fatores o
autor Juarez de Paula apresenta uma breve síntese que os relaciona ao desenvolvimento.
Sobre o Desenvolvimento do capital humano é dito que este busca “o
crescimento das habilidades, conhecimentos e competências das populações” (PAULA,
2008, P.191). Este capital é tido como um dinamizador do desenvolvimento por criar
melhores condições para este aconteça.
O desenvolvimento do capital humano ocorre por meio de investimentos nas
áreas de educação e também nas estruturas que se relacionam coma qualidade de vida,
tais como: saúde, alimentação, habitação, saneamento, transporte, segurança etc. Essas
áreas servem como parceiras da educação para que esta possa alcançar seus objetivos.
Outro elemento dinamizador do desenvolvimento apresentado por Paula (2008)
é o capital social. Este é definido por Fukuyama como “essencial para criação de uma
sociedade civil saudável.” (apud Paula, 2008, p.192) A definição que este autor traz
sobre o capital social é a seguinte:“O capital social pode ser definido como um conjunto
de valores ou normas informais, comuns aos membros de um grupo, que permitem a
cooperação entre eles” (apud PAULA,2008, p.192).
Buscar esse desenvolvimento no capital social é tratar a questão da confiança,
cooperação,ajuda mútua e organização social, pois na medida em que se aumentar a
capacidade de as pessoas convergirem em torno de interesses comuns, indicando assim
76
uma melhor organização social, melhores serão as condições de desenvolvimento, pois,
segundo Paula: “Baixos índices de capital social também refletem em menores
condições de competitividade, pois competitividade exige algum nível de cooperação.”
(2008, p.192).
A boa governança é tida como fundamental dinamizador do desenvolvimento,
porque o crescimento da capacidade de governar se configura como uma das bases para
o desenvolvimento. Dentro da compreensão de Paula (2000) entende-se como boa
governança aquela que desfruta de canais que viabilizam a participação da sociedade na
gestão estatal, que possui uma política que tem em seu eixo existencial a
representatividade, legitimidade e confiança dos governos. Boa governança é também
estabelecer um modo de governar em que a prestação de contas, a transparência e a
permeabilidade do Estado em relação ao controle social são reais e comuns.Paula
entende que trabalhar para o desenvolvimento é “investir na boa governança, é buscar
construir um governo catalisador, participativo, competitivo, orientado por missões e
resultados, empreendedor e direcionado para as necessidades da população” (PAULA,
2008, p.193).
A boa governança se relaciona diretamente com o capital humano e social para
dinamizar o desenvolvimento:
O bom governo depende em grande medida das qualidades e
compromisso dos governantes, mas depende sobretudo da capacidade
de escolha, participação e controle da sociedade civil. Isto,
obviamente, está diretamente relacionado com os níveis de
‘empoderamento’ (empowerment) de uma dada sociedade, o que, por
sua vez, depende dos níveis de capital humano e capital social
(PAULA, 2008, p.193).
O quarto e último elemento dinamizador do desenvolvimento apresentado por
Paula é “Capital natural”. Este se refere a um estilo de vida e economia que usa, de
maneira sustentável, os recursos naturais. Buscar o desenvolvimento considerando esse
enfoque não é assumir uma postura “conservacionista”, que faz da natureza uma
divindade intocável que desconsidera as necessidades humanas, mas é, antes, atribuir o
devido valor a estes recursos, dos quais dependem tanto a existência presente quanto a
futura da humanidade, e estabelecer uma relação entre raça humana e meio ambiente na
qual os ciclos naturais sejam respeitados, e se assuma uma dinâmica de produção na
qual se faça mais com menos, e os desperdícios sejam eliminados.
Segundo Paula, “Precisamos pensar em como satisfazer nossos carecimentos
de hoje sem prejudicar a possibilidade de satisfazê-los no futuro.” (2008, p.193). Esta
77
preocupação com o futuro implica em um desejo por mudanças nos padrões de
produção e consumo, porém tal mudança só será possível “com elevados níveis de
capital humano, capital social e boa governança” (PAULA, 2008, p.194).
Em síntese, pode-se dizer que para se obter um desenvolvimento que seja
humano, social e sustentável, nos moldes propostos pela M.I., deve-se buscar o
desenvolvimento desses quatro aspectos, aqui apresentados como basilares e
dinamizadores do desenvolvimento, a saber: capital humano, social, boa governança e
capital natural.
Essa estrutura pode ser melhor compreendida a partir do quadro abaixo, que
relaciona todos os elementos envolvidos no conceito de desenvolvimento da M.I.
Desenho 2- Estrutura do conceito de Desenvolvimento da M.I.22
2.1.3. De quem é a responsabilidade de promover a justiça e o
desenvolvimento? E como promovê-los?
Muitos respondem a essa pergunta atribuindo única e exclusivamente ao Estado
a responsabilidade de buscar e promover o desenvolvimento e a justiça, porém segundo
Paula (2008)se observarmos as sociedades e comunidades que obtiveram um
desenvolvimento significativo, descobriremos que é imprescindível a “cooperação e
parceria entre Estado, Mercado (entendido aqui como o conjunto dos agentes
22 Desenho de autoria própria
78
econômicos)e Sociedade (entendida aqui como o conjunto das organizações sociais, de
todo tipo)” (PAULA, 2008, p.194).
O papel que a comunidade local exerce no desenvolvimento é indispensável,
pois são as pessoas que fazem parte daquela sociedade as que possuem melhores
condições para lutar e combater a falta de desenvolvimento e a injustiça sentida por
elas.Portanto, a igreja, como uma organização local possui sim uma contribuição a ser
feita para o desenvolvimento e a justiça.
No âmbito teológico, a M.I. entende que os problemas sociais têm suas raízes na
pecaminosidade da raça humana; e isso resulta tanto em pecados individuais como em
pecados sociais e estruturais. A partir dessa compreensão a igreja possui a
responsabilidade de oferecer uma resposta a essa realidade. Stott, frente essa questão,
afirma que:
Somente o evangelho pode transformar o coração do homem. Nada
pode tornar um povo mais humano do que a influência do evangelho.
Mas não podemos nos limitar à proclamação verbal. Além da
evangelização mundial, o povo de Deus deve se comprometer
profundamente com a assistência social, o auxílio, o desenvolvimento
e a busca da justiça social e da paz. (STOTT,2004, p.48).
Deve-se notar que a resposta que Stott propõe transcende a proclamação verbal
chegando ao comprometimento com as demandas sociais. Com isso, e considerando o
que já fora dito até aqui, quanto à responsabilidade pelo desenvolvimento e a justiça,
pode-se dizer que a Igreja possui a missão de se engajar como expressão do reino em
todas as formas de relações humanas, sejam estas sociais, ambientais ou religiosas.
Uma vez reconhecido que a igreja possui a responsabilidade de promover
desenvolvimento e justiça, questiona-se “como promovê-los?” pois pode-se dizer que
todas as vezes em que se fala de “responsabilidade social”,em geral, o que vem à mente
é a ideia de projetos sociais de cunho assistencialista (desenvolver um projeto para
criação de uma sala de aula para oferecer reforço escolar para crianças, distribuir cestas
básicas, etc). Estes atos possuem seu valor, porém, sabe-se que, no que se refere a
pecados sociais e a estruturas opressoras, estas ações da igreja, se quiserem ser efetivas
em sua busca por desenvolvimento e justiça, precisam ser acompanhadas de
intervenções que toquem nas estruturas sociais.
Para compreender as possibilidades de ação que se abrem para a igreja frente a
essa tarefa, usaremos o conceito de Hélcio da Silva Lessa, extraído do livro “Ação
Social Cristã”.Esse autor dividiu a responsabilidade social em três tipos de categorias:
79
a) Assistência Social, b) Serviço Social c) Ação Social. Ao analisar cada uma dessas
categorias, vê-se que quando conciliadas,elas se configuram como formas de promover
o desenvolvimento e a Justiça.Para tornar mais claro este conceito, Lessa usa, como
exemplo, o caso da escravidão e as possibilidades de ação da igreja frente a essa
situação específica, lançando mão dos três tipos de categorias possíveis de ação da
Igreja, para tornar seu conceito mais claro.
No tempo da escravatura era algo comum ver escravos sendo castigados e
surrados no pelourinho por seus donos. Frente a esse fato vê-se três possibilidades de
ação da igreja se abrindo. A primeira se dá por meio do ato de levar água e comida a
estes escravos feridos e cuidar de seus ferimentos. Porém, deve-se destacar que esta
atitude não toca na raiz do problema da escravatura, mesmo sendo um ato de compaixão
e demonstração de sinais do reino de Deus. Esse tipo de resposta ao problema é o que
Lessa denomina de “Assistência Social”.
Frente a esse mesmo fato surge a possibilidade do “Serviço Social”, no qual
outros cristãos, com o objetivo de libertar os escravos daquela situação de injustiça e
opressão, compram alguns escravos, oferecendo a estes liberdade e oportunidade de
trabalho para que possam sobreviver. Porém deve-se considerar que apesar de ser uma
atitude, assim como a anterior, que se configurava como um ato de compaixão e
expressão dos sinais do Reino de Deus, esta atitude não colocava fim na instituição da
comercialização dos escravos.
A terceira e última possibilidade que se abre frente a essa situação é aquela que
Lessa chama de “Ação Social”. Esta pode ser vista na luta daqueles que se levantaram
contra a instituição da escravatura, buscando transformação da estrutura social, para que
não mais houvesse escravos pendurados no pelourinho, nem fosse mais necessário
realizar a compra da liberdade deles. Esta ação, portanto, tinha como objetivo acabar
com o regime escravocrata, tirando o mal pela raiz. A esse tipo de atitude Lessa atribui
o nome de “Ação Social”.
Outra forma como a Igreja pode agir para o Desenvolvimento e a justiça é
apresentado por José Comblin, em seu conceito de “diakonia política”. Comblin afirma
que essa diakonia:
Está ali para restabelecer uma certa igualdade acrescentando a sua
força à fraqueza das vítimas da injustiça institucionalizada. (...). Essa
diakonia toma diversas formas: assistência jurídica às vitimas de
situações injustas; por exemplo, a situação de camponeses sem terra
80
que querem a expropriação de uma terra não-produtiva. Assistência
jurídica a camponeses presos arbitrariamente por ordem dos
proprietários. Assistência jurídica a posseiros expulsos da terra em que
trabalhavam desde tempos imemoriais. Assistência jurídica a
desempregados expulsos do seu trabalho sem atender às leis sociais.
Assistência jurídica a grevistas. Assistência jurídica a presos
torturados nas delegacias ou nos presídios. (...) Numa palavra, a
diakonia será aqui a educação para a cidadania. (COMBLIN, 2003,
p.82).
Comblin (2003) entende que a diakonia do trabalho consiste no serviço de apoio
aos trabalhadores buscando encontrar forças e mecanismos em comunidade para que as
empresas funcionem como agência de serviço e não de destruição da humanidade. Essa
forma de agir se configura como uma busca por desenvolvimento e justiça por assumir
uma postura que busca tornar justas as relações, e isto é, dentro do conceito da M.I.,
uma manifestação do Reino de Deus.
Segue abaixo um breve esboço dos conceitos de autores que compreendem essa
forma multifacetada de agir da igreja para realização de sua missão, ações que podem
ser interpretadas como convergentes a essa compreensão de Lessa, e, acima de tudo,
como formas de um agir que visa o Desenvolvimento e a Justiça.
O primeiro que se pode citar é Manfred Grellert (1987). Este autor, ao falar
sobre “projetos sociais”, apresenta três aspectos que podem estar presentes nesse agir da
igreja: O assistencialismo paternalista; O instrutivo ou educativo; e O participativo.
Robinson Cavalcanti (1987) apresenta três intervenções possíveis que a igreja
pode ter para gerar as transformações sociais, as quais são: Projetos de Filantropia,
Projetos de Desenvolvimento e Projetos de Ação Política.
Pelo fato de a Igreja possuir essa responsabilidade de ser uma promotora da
justiça e de desenvolvimento, e de alcançar não somente o indivíduo, mas também as
estruturas, esses projetos de ação política se tornam essenciais, pois para alcançar o
objetivo de transformar as estruturas como sistema penitenciário, econômico, político,
judiciário, dentre outros, são necessárias as ações políticas, pois, sabe-se que mudanças
sociais requerem, também, ações que toquem na política. Porém, quando se trata de
ações políticas promovidas e buscadas pela igreja,dentro dos conceitos da M.I., estas
devem ser compatíveis com os princípios bíblicos, pois estes são para ela seu referencial
maior, sua regra de fé e prática.
O`Gorman (1982) apresenta quatro formas de se trabalhar para o
desenvolvimento e a justiça, que ele vai chamar de “promoção humana”. Para este autor
81
esse objetivo pode ser alcançado por meio de assistência, ensino, participação e
transformação.
Ele compreende que este ato de Promoção Humana pela Assistência se dá
quando ocorre uma ajuda financeira e material direta para uma necessidade imediata
(exemplo: fome, frio, enfermidade). O autor reconhece esse ato como uma caridade,
porém, alerta para o perigo de restringir a missão ao assistencialismo, que gera uma
dependência desumanizante e uma situação de não desenvolvimento e conivência com a
injustiça social.
A Promoção Humana por meio do Ensino é vista como uma forma de
desenvolver as capacidades dos indivíduos em situações opressoras injustas,
oferecendo-lhes a formação para ter acesso aos bens que a sociedade possui. De maneira
mais simples, pode-se dizer que é o ato de ensinar a pescar e não apenas oferecer o
peixe.
Na Promoção Humana Pela Participação, O`Gorman entende que o indivíduo,
neste aspecto, recebe e oferece o apoio para seu desenvolvimento numa relação de
cooperação. Usando a imagem da pesca como exemplo, é quando os pescadores se
juntam e criam uma cooperativa, para ajudar e serem ajudados.
E a quarta e última forma de Promoção Humana apresentada por este autor é por
meio da Transformação. Nesta, as estruturas opressoras são tocadas, resultando em uma
transformação estrutural significativa que faz com que, aquele que um dia precisou
ganhar o peixe, aprendeu a pescar e se juntou a outros pescadores para se ajudarem; na
transformação lhes é oferecida a oportunidade de vender seus peixes. Desta forma o
individuo é liberto da opressão, lhe é oferecido o direito de ser um sujeito na sociedade,
pois as estruturas injustas e opressoras foram transformadas.
A partir desse breve esboço de abordagens que fala sobre a responsabilidade
social da igreja, fica claro que esta contempla tanto ações de misericórdia quanto de
filantropia, por meio das ações assistencialistas, e vai até a prática da justiça e do
desenvolvimento, gerando mudanças estruturais.
Respondendo à pergunta “como promover o desenvolvimento e a justiça?” pode-
se dizer que a igreja, como expressão do reino de Deus, deve buscar o desenvolvimento
e a justiça como forma de manifestar o reinado de Deus no reino dos homens. E ela faz
isso por meio de um engajamento nas questões locais e também ao se comprometer em
um agir que,para alcançar seu objetivo, se dá por meio de todas as ações citadas acima
82
como formas possíveis de atuação da Igreja, as quais podem ser resumidas, dentro do
conceito de Lessa, como Assistência Social, Serviço Social e Ações Sociais.
Porém deve-se salientar que cada etapa/enfoque dessa responsabilidade social
não deve ser considerada como etapa estanque e alienada das outras, pois deve existir
entre elas uma forte conexão para que possam acontecer simultaneamente, ou em uma
relação de continuidade. Deve-se considerar que indivíduos possuem necessidades
imediatas que carecem de ações assistenciais, mas elas devem ser realizadas visando o
desenvolvimento e não a dependência desumanizadora. Por isso, é necessário julgar
qual a ação que melhor cumprirá o objetivo de desenvolvimento e justiça em cada
contexto e situação.
As palavras de Zwestsch soam como conclusivas nesse ponto do trabalho ao
dizer:
Uma das questões mais desafiadoras, nos dias atuais, é as igrejas
reconhecerem-se a si mesmas como a comunidade global de Jesus
Cristo, chamada por ele para ser sua testemunha num mundo marcado
pela globalização imperial, por injustiça e pobreza, guerra e violência,
materialismos e a destruição da criação de Deus (ZWESTSCH, 2008,
p. 197e198).
Portanto, cabe à Igreja usar todos os meios cristãos, éticos e sociais, para
promover o desenvolvimento e lutar pela justiça, pois, como comunidade incumbida de
sinalizar e manifestar o Reino de Deus em meio ao reino dos homens, esta não pode
negligenciar sua responsabilidade no que se refere às relações humanas. Onde quer que
estas relações injustas e opressoras aconteçam, a Igreja sempre terá algo a dizer e a
fazer, e uma forma correta para dizer e fazer o que for necessário.
2.2. Evangelização e Discipulado &Desenvolvimento e Justiça
Padilla entende que Evangelização e Discipulado são fatores necessários a ser
desenvolvidos pela igreja por existirem muitos lugares que não foram evangelizados.
Para este autor, a necessidade de alcançar os povos que ainda não receberam este
evangelho, e os que o abandonaram, é latente e de suma importância na missão da
igreja. Ele afirma que “não há maior contribuição que a igreja possa dar para a
humanidade que o evangelho de Jesus Cristo e seu poder libertador” (PADILLA, 2005,
p.144). Porém o grande questionamento que se faz frente a este enfoque é:“o que é
evangelização dentro da M.I.?” e “O que é Discipulado?” e “como essas duas ações se
83
relacionam como o Desenvolvimento e a Justiça?”.As próximas linhas desse trabalho se
dedicam a buscar respostas para estes questionamentos.
2.2.1. Evangelização & Desenvolvimento e Justiça
A Missão Integral é uma Teologia evangelical, que possui suas raízes no
protestantismo e em uma relação de continuidade a essa raiz, o conceito de evangelizar
carrega o aspecto de “testemunhar acerca de um Cristo transcendente, ultramundano,
por meio de cujo sacrifício temos recebido o perdão dos pecados e a reconciliação com
Deus.” (PADILLA,1992, p.51) A evangelização busca promover um encontro pessoal
do homem com Deus em Cristo, pela ação do Espírito Santo, através do anúncio da
Palavra de Deus.
Dentro dessa visão, a regeneração espiritual é tida como o elemento principal
para gerar homens novos, que resultará em transformações sociais. Neste ponto, a M.I.
finca as suas raízes de maneira bem firme em sua identidade protestante evangélica,
pois compreende que a salvação não pode ser entendida como a satisfação das
necessidades corporais, ou então confundida com melhorias sociais ou com libertação
política. (PADILLA, 1992, p.51).
Porém o conceito de evangelização na M.I. é muito mais que transmitir uma
mensagem de libertação dos sentimentos de culpa, e fazer do evangelho um agente
aliviador de consciência que desvincule a salvação do senhorio de Deus. Segundo
Padilla: “Evangelizar é proclamar Jesus Cristo como Senhor e Salvador, por cuja obra o
homem é liberto tanto da culpa como do poder do pecado, integrando-se ao propósito de
Deus de colocar todas as coisas sob o mando de Cristo. (1992, p.25).
Dentro dessa visão, evangelizar é proclamar o reinado de Jesus Cristo, e isso
carrega consigo um chamado ao arrependimento. A relação entre o evangelho e o
arrependimento é tão estreita que evangelizar pode ser tido como proclamar
arrependimento para remissão de pecados (Lc 24.47).Essa relação entre ambos é tão
forte que Padilla afirma que “Sem o chamado ao arrependimento não há evangelho”
(1992, p.31). A mensagem de arrependimento é diferente do remorso de consciência,
pois implica em mudança de atitude, uma reformulação, transformação de valores, uma
mudança de mente (Rm12.2). Padilla, tratando a esta questão, afirma:
84
Não é o abandono de hábitos condenados por uma ética moralista, mas
a renúncia a um estado de rebelião contra Deus para voltar-se para ele.
Não é o mero reconhecimento de uma necessidade psicológica, mas a
aceitação da cruz de Cristo como uma morte ao mundo a fim de viver
para Deus. O chamado ao arrependimento aponta para a dimensão
social do evangelho. Ele chega ao homem escravizado pelo pecado
numa situação social específica, não ao “pecador” em abstrato. É uma
mudança de mentalidade que se “concretiza” na história. É um voltar-
se do pecado a Deus, não meramente na subjetividade do indivíduo,
mas no mundo. (PADILLA, 1992, p.31).
A partir disso pode-se compreender que o objetivo da evangelização dentro da
M.I. está extremamente relacionado ao desenvolvimento e à justiça, pois esse ato não
busca apenas levar o ser humano a vivenciar uma experiência de fé subjetiva, na qual a
salvação se configura como algo que possui apenas consequências para alma e para o
futuro pós-morte, mas o propósito do evangelizar é, segundo Padilla, uma:
Reorientação radical de sua vida, reorientação esta que inclui sua
libertação da escravização ao mundo e seus poderes, por um lado, e
sua integração ao propósito de Deus de colocar todas as coisas sob o
governo de Cristo, por outro. (PADILLA, 1992, p.39).
O ato de evangelizar não se direciona a um homem em um vácuo social e
cultural, mas remete a um ser que está inserido em uma sociedade e cultura, por isso a
evangelização deve tocar na realidade presente na qual o ser humano está inserido,
responder às inquietações e clamores que lhes são comuns, reconhecendo que o
problema humano não se limita aos pecados isolados particulares, mas se estende aos
sistemas pecaminosos injustos e opressores. Padilla elucida essa questão da seguinte
forma:
O problema do homem no mundo não é simplesmente que ele cometa
pecados isolados ou ceda à tentação de vícios particulares. É , antes,
que está aprisionado dentro de um sistema que o condiciona para que
absolutize o relativo e relativize o absoluto, um sistema cujo
mecanismo de auto-suficiência o priva da vida eterna e o submete ao
juízo de Deus. Esta é uma das razões porque a evangelização não pode
ser reduzida à comunicação verbal de conteúdos doutrinais, nem a
confiança do evangelista pode ser depositada na eficácia de seus
métodos,“(...) porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e,
sim contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef. 6.12)
A proclamação do evangelho que não toma a sério o poder do inimigo
tampouco poderá tomar a sério a necessidade dos recursos de Deus
para a luta (PADILLA,1992, p.21).
85
Deve-se considerar, portanto que embora o evangelho não deva ser limitado às
categorias políticas, sociais e econômicas, e que a igreja não deva se transformar em um
partido político usando o evangelho como uma ideologia, deve-se salientar que a
evangelização tem como objetivo submeter a totalidade da vida ao senhorio de Deus, e
ao direcionar essa mensagem à totalidade da vida humana, as questões políticas, sociais
e econômicas se configuram como ambientes aos quais deve-se proclamar o Reino de
Deus.
Dentro dessa compreensão a evangelização é apresentada como um dos agentes
geradores do Desenvolvimento e da Justiça, por ser ela agente gerador de
transformações. O fato de muitas vezes uma “evangelização” não resultar em
transformações humanas e sociais, não significa que ela não seja um elemento de
desenvolvimento e Justiça, mas nos diz que naqueles determinados casos (em que não
ocorreram transformações) a evangelização não aconteceu. O evangelho não foi
proclamado de maneira integral, pois, segundo Padilla: “um evangelho que deixa
intocada nossa vida no mundo – a vida em relação com o mundo dos homens e a vida
em relação com o mundo da criação – não é um evangelho cristão, mas um
cristianismo-cultura acomodado ao espírito da época. (Padilla,1992, p.43).
2.2.1.1. O equilíbrio entre Evangelização& Desenvolvimento e Justiça
A partir do que até aqui foi descrito pode-se ver que a M.I. compreende as
implicações sociais da evangelização; entende que essa possui uma responsabilidade de
promover o Desenvolvimento e a Justiça. Porém pode-se notar que ainda existem
muitos questionamentos quando evangelização e responsabilidade social 23 são
conjugadas na mesma frase.
Voltando um pouco na história, pode-se lembrar que o movimento evangélico
surge como ponto intermediário entre os fundamentalistas e os liberais. O chamado
“evangelho social”, segundo Stott, “foi desenvolvido pelos teólogos liberais. Alguns
deles confundiram o reino de Deus com a civilização cristã em geral, e com a
democracia social em particular, e começaram a pensar que, através de seus programas
sociais, poderiam construir o Reino de Deus na terra.” (2004, p.50). Os evangélicos e os
23 Deve-se considerar o que fora dito nas páginas iniciais deste capítulo, que na M.I. o Desenvolvimento e a Justiça, muitas vezes, são articulados juntamente com responsabilidade social, e em alguns escritos como termos similares.
86
fundamentalistas, por sua vez, como uma reação a essa compreensão do evangelho e de
Reino de Deus, migraram para o extremo oposto, criando um bloqueio a toda forma de
envolvimento social.
Porém, no congresso de Lausanne, essa cisão foi trabalhada visando encontrar
um ponto de equilíbrio entre os dois extremos, e neste encontro foi apresentado de
forma clara que tanto a ação social como a evangelização compõem a missão da igreja,
e ambas são inseparáveis, pois se configuram como manifestações do amor de Deus.
Neste congresso restabeleceu-se o conceito integral da missão cristã, e por isso
Lausannese tornou “um verdadeiro marco histórico para o movimento evangélico”
(PADILLA, 2009, p.38). Em seu documento final, o PL, foi destinado um capítulo para
tratar a questão da “Responsabilidade Social Cristã, no qual, o equilíbrio entre
evangelização e a ação social é apresentados da seguinte forma:
Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens.
Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela
conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens
de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de
Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe
social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da
qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos
arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes
considerado a evangelização e a atividade social mutuamente
exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja
reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a
libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o
envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever
cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas
acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e
de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação
implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de
alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de
denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as
pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem
procurar não só evidenciar mas também divulgar a retidão do reino em
meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar
nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais
e sociais. A fé sem obras é morta.24 (STOTT, 2003, p.91)
Pode-se dizer que Lausanne deixou claro que ação social e evangelização são,
ambas, aspectos fundamentais e indispensáveis na missão da igreja; que a missão de
proclamar o evangelho não pode ser ignorada, assim como a de manifestar o amor de
Deus de forma concreta. De maneira muito explícita esse congresso apresentou o dever
24 Negrito nosso
87
dos cristãos de buscar a justiça, o desenvolvimento, a conciliação de toda a humanidade,
a libertação dos seres humanos de todo tipo de opressão.
A mensagem que ficou clara nesse congresso para todos os participantes que
assinaram o PL foi que “a evangelização e o envolvimento sociopolítico são ambos
parte do nosso dever cristão” e que “a mensagem da salvação implica também uma
mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação”.
(PADILLA, 2009, p.37e38).
Entretanto a separação entre evangelização e responsabilidade social, além de ter
suas raízes nos conflitos históricos, possui também origens teológicas. Muitos fazem
uma separação entre ambas por conta de possuírem uma teologia dicotômica, que faz
uma contraposição entre corpo e alma, fé e obras, indivíduo e sociedade, e redenção e
justiça/desenvolvimento.
Embora exista uma diferenciação entre essas realidades que são postas como
polos opostos, a teologia da M.I., mesmo reconhecendo essa distinção entre elas, faz
uma leitura bíblica na qual essas ideias são entendidas como “pares em equilíbrio
dinâmico e criativo” (STOTT, 2004, p.51). Dentro dessa compreensão, tanto a
separação quanto a confusão desses dois aspectos são tidas com erros; mas a junção de
ambos, entendendo-os como responsabilidades da igreja, é o equilíbrio que a
comunidade eclesiástica, como representante do Reino de Deus, deve buscar.
Porém nesse ponto deve-se salientar que ao afirmar que evangelização e a ação
social precisam estar juntas, não se quer dizer que elas não podem ser manifestadas, em
momentos específicos, de maneira independente. Stott (2004) exemplifica essa
possibilidade com os relatos bíblicos do “bom samaritano” (Lc 10 25-37) e com o
episódio onde Felipe prega o evangelho ao eunuco (At8. 26-40). Na primeira história
mesmo que o bom samaritano fosse um dos discípulos de Jesus, sua atitude de cuidar
“apenas” do físico, deixando de pregar o evangelho não poderia ser julgada como
errada. O mesmo pode-se dizer sobre a ação de Felipe que, ao abordar o eunuco etíope
na sua carruagem, não demonstrou preocupação com suas necessidades sociais.
A partir dessa compreensão, a M.I. entende que existem momentos em que é
necessária uma abordagem que utilize apenas um dos enfoques; por isso pode-se dizer
que “Não é necessário que todas as campanhas evangelísticas sejam acompanhadas por
um programa de serviço social simultâneo. De igual modo, não é necessário que ao
alimentar as pessoas numa região assolada pela seca, primeiro se pregue para elas, pois
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segundo o provérbio africano, “uma barriga vazia não tem ouvidos”.(STOTT,2004, p.
51).
Após ter sido mostrado que evangelização e ação social devem estar unidas
dentro de nossa compreensão sobre missão da Igreja, porém, podendo em alguns
momentos específicos, ser exercidas separadamente, faz-se necessário compreender a
forma como ambas podem se relacionar de forma geral. Stott (2004) discorre sobre a
questão do relacionamento entre ação social e evangelização, apontando para a
existência de três tipos de relacionamentos possíveis entre ambas.
O primeiro tipo de relacionamento apresentado por ele é a ação social como uma
consequência da evangelização. Nesta forma de se relacionar, a evangelização é
entendida como a causa geradora do “novo nascimento”, que resulta em uma nova vida,
que se manifesta em um agir novo no mundo, um agir que expressa o amor e reino de
Deus ao próximo e ao mundo todo. Para um embasamento teológico dessa compreensão
pode-se citar os textos de Gnl5.6 “a fé atua pelo amor”; Tg 2.18 “Eu lhes mostrarei a
minha fé pelas minhas obras” e 1Jo 3.18e19 “Filhinhos, não amemos de palavras nem
de boca, mas em ação e em verdade. Assim Saberemos que somos da verdade; e
tranquilizaremos o nosso coração diante dele”
Olhando para outros textos bíblicos, a M.I. entende que esta ação social da igreja
não é apenas uma consequência, mas uma ação desejada, se configurando assim como
um dos objetivos principais do evangelho. Os seguintes textos são interpretados dentro
dessa ótica: Tt.2.14 que diz: “Ele (Cristo) se entregou por nós a fim de nos redimir de
toda maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática
de boas obras”, e Ef.2.10 “Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para
fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos”.
Deve-se ponderar que o serviço ao próximo, o atuar como seres transformados
por Deus, como agentes de transformação social, não são fatos que acontecem de forma
automática após a evangelização e conversão. Os cristãos podem escolher negligenciar a
responsabilidade social, assim como a evangelização, pois os seres humanos são
dotados de incoerência e por conta disso às vezes os cristãos erram em ignorar parte ou
a totalidade de sua missão. Mas ao olhar para o conteúdo da mensagem do evangelho
todo a M.I. entende que a Palavra de Deus deve transformar “todas as áreas de nossa
vida pessoal e social” (STOTT, 2004, 53).
O segundo tipo de relacionamento possível entre evangelização e
responsabilidade social é aquele no qual a ação social serve como ponte para a
89
evangelização. Esta segunda forma pode ser vista nos muitos casos em que ação social
resulta em uma quebra das barreiras que a “evangelização” não conseguia transpor. É
utilizado para fundamentar essa relação o próprio ministério de Jesus, que em muitos
momentos realizou ações de misericórdia antes de proferir uma mensagem oral a
respeito do evangelho.
Dentro dessa lógica, a proclamação do evangelho busca partir das necessidades
presentes e sentidas pelas pessoas e sociedades, para então responder à sua necessidade
de um relacionamento pessoal com Deus. Essa forma de entender a relação entre ambos
os aspectos compreende que “se nós fecharmos os olhos para o sofrimento, a opressão
social, a alienação e a solidão das pessoas, não podemos nos surpreender quando elas
fecharem os ouvidos à nossa mensagem de salvação eterna” (STOTT, 2004, P.53).
Neste ponto deve-se tomar o cuidado para não se confundir a ação social, que
cria pontes de maneira natural, com a ação social de barganha, que é usada como uma
estratégia de evangelização, na qual se faz o bem pensando em comprar a adesão do
indivíduo, ou sociedade, à fé, criando assim as chamadas conversões interesseiras, que
se dão a partir da troca dos benefícios materiais.
Discorrendo sobre esse cuidado que se deve tomar para não confundir M.I.com
barganha da fé, pode-se citar Ricardo Quadros Gouveia, que no capítulo intitulado
“Missão Integral: um convite à reflexão”, diz que:
Não há equívoco mais contrário ao espírito da teologia da missão
integral, em minha opinião, do que pensá-la como uma estratégia para
evangelização. É evidente que os adeptos da teologia de missão
integral logo dirão que o próprio conceito de evangelização ganha
novas cores a partir da doação da noção de missão integral, que deixa
de ser mera conquista de almas para Cristo, etc. Porém, por outro lado,
quem comete esse equívoco ainda não está em geral, sob o impacto de
uma nova compreensão do evangelho e da missão da igreja que a
teologia de missão integral impõe. De qualquer forma, os evangélicos
em geral tendem a cair ou recair em fórmulas gnósticas que separam e
distinguem o material e o espiritual, o corpo e a alma, num espírito
contrário ao do ensino neotestamentário. Vale a pena, portanto,
lembrar e alertar que, acima de tudo, missão integral não é uma
estratégia ou técnica de evangelização (GOUVÊA, 2011,p. 134-135)
Mas, essa relação de evangelização e ação social como ponte, deve acontecer
dentro da compreensão de que os atos que visam o desenvolvimento e a justiça são
expressões do amor de Deus para com sua criação, e de seu reinado sobre a vida de seus
discípulos. Dessa forma as ações se livram de ser tentativas interesseiras proselitistas,
90
estratégias de evangelização, e se configuram como expressões do reino de Deus que
podem estabelecer pontes entre a mensagem do evangelho e o mundo.
A terceira forma de relacionamento possível entre evangelização e
responsabilidade social é aquela em que ambas são vistas como parceiras. Dessa
compreensão advêm uma das frases mais conhecidas da M.I. sobre esse tema, que é “A
ação social e a evangelização são como as duas lâminas de uma tesoura, ou como as
duas asas de um pássaro”(STOTT.2004.p.54). Essa visão de relação é também, assim
como as outras, fundamentada no ministério público de Jesus, pois ele pregou o
evangelho, alimentou os famintos e curou os enfermos, conciliando assim, o
kerygma(proclamação), a Diakonia(serviço) e o Didaqué(ensino).
Para compreender melhor esse conceito, pode-se ver a interpretação que a M.I.
faz do texto de Mt 4.23 no qual está escrito: “Jesus foi por toda Galileia, ensinando nas
sinagogas deles, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e
doenças entre o povo”. Neste versículo é apresentado de forma resumida o ministério de
Jesus, e nele vemos a parceria existente entre ensino e proclamação com o serviço.
Padilla, ao analisar esse texto, afirma que o fato de ambas as ações serem colocadas
como parceiras no ministério de Jesus:
Pressupõe um conceito de salvação que abarca a totalidade do homem
e não pode ser reduzido ao perdão de pecados e à segurança de uma
vida interminável com Deus no céu. A uma visão integral da salvação
corresponde uma missão integral. Salvação é saúde. Salvação é
humanização total. Salvação é vida eterna, vida do Reino de Deus,
vida que começa aqui e agora e atinge todos os aspectos do ser do
homem (PADILLA,1992, p.34).
Dentro dessa lógica relacional de parceria, expressa no versículo citado, pode-se
ver que, por conjugá-las como parceiras, as palavras de Jesus expunham suas obras, e
suas obras testificavam suas palavras. Como parceiras, ambas as ações expressavam o
amor de Deus pelas pessoas. A partir desse exemplo, a MI entende que o agir da igreja
no mundo deve seguir os mesmos passos. Suas palavras e ações devem ser parceiras na
missão de proclamar o Reino de Deus à terra.
É valido fechar esta parte que trata a relação de parceria entre ação social e
evangelização com a citação de Stott, que comentando sobre esse relacionamento, diz:
“Isso não significa que sejam idênticos um ao outro, pois a evangelização não é, em si,
responsabilidade social, tampouco responsabilidade social é evangelização. No entanto
uma engloba a outra”. (2004, p.50-54).
91
Pode-se concluir esse tópico dizendo que na compreensão da M.I. ambas as
ações, evangelização e responsabilidade social, são embasadas no caráter de Deus, pois
Ele é o Deus justo, que repudia todo tipo de maldade, mas ama a justiça. Sua face de
juiz é apresentada também com a de misericórdia, como consequência dessa justiça
misericordiosa se crê em um Deus que criou o universo e se põe a cuidar dos
necessitados, fazer justiça aos oprimidos, dar pão aos famintos, libertar os encarcerados,
dar vista aos cegos, guardar o peregrino, amparar os órfãos e as viúvas, e se apresentar
como aquele que ama os justos e que muda o caminho dos ímpios (Sl 146.7-9). Stott,
refletindo sobre a repercussão do caráter de Deus no ser e agir na igreja, à luz do Salmo
146, afirma que:
Reconhecemos que não temos a autoridade nem o poder para fazer
tudo o que o Senhor faz. No entanto, uma vez que esse texto nos
mostra o tipo de Deus que ele é, e vendo a demonstração continua dos
cuidados dele através das exigências de sua lei e nos profetas, torna-se
patente o tipo de pessoas que nós devemos ser, sedentas de justiça,
liberdade e dignidade para todos, especialmente para os impotentes,
que não têm como alcançar sozinhos esses ideais. (STOTT, 2004,
p.49).
Assim como Jesus Cristo refletiu a compaixão de Deus ao mundo, tendo
compaixão para com os famintos, doentes, cativos e oprimidos, olhando para as pessoas
e sentindo por ela se compaixão, por vê-las aflitas e exaustas, como ovelhas sem pastor,
e essa compaixão resultou na ação adequada, da mesma forma a igreja tem como
responsabilidade conjugar suas palavras com suas ações, entendendo o amor como o
primeiro fruto do Espírito Santo (Gl5.22). Este é, portanto, o elemento que traz à igreja
uma consciência social sensível, a qual compele a comunidade eclesiástica a um
engajamento social, no qual milita pelo desenvolvimento e a busca da justiça social.
Dentro da visão da M.I., proclamar Jesus como Senhor e Salvador, por meio da
evangelização, possui implicações sociais, pois traz as pessoas à consciência dos
pecados pessoais e sociais; não apenas essa consciência de pecados é gerada mas se
inicia uma nova forma de viver em sociedade, viver este que expressa justiça, paz e
amor. Da mesma forma, o agir e reagir na sociedade (responsabilidade social), possui
implicações evangelísticas, pois estas partem do princípio de que são expressões do
amor de Deus e de seu Reino. Sendo assim todas as ações realizadas em nome de Cristo
se configuram como uma demonstração e uma proclamação do evangelho.
Com isso pode-se concluir que a evangelização possui um aspecto social,
mesmo sem possuir uma intenção primordialmente social. E o mesmo pode-se dizer
92
sobre a responsabilidade social esta possui implicações evangelísticas até quando não
tem isto como objetivo primeiro. “Portanto, evangelização e responsabilidade social,
enquanto distintas uma da outra, estão integralmente ligadas em nossa proclamação e
em nossa obediência ao evangelho. Trata-se de um verdadeiro casamento. (STOTT,
2004, p.54).
2.2.1.2. A hierarquização entre Evangelização e Desenvolvimento e
Justiça.
Frente ao conteúdo apresentado surge a questão da hierarquização entre esses
dois aspectos. Embora eles estejam unidos questiona-se se: “Na relação entre
Evangelização e responsabilidade social existe a prioridade de um em detrimento do
outro na missão da Igreja? Qual deles tem proeminência na missão, a evangelização ou
a ação social?”.
Marcos Aurélio da Silva, em sua dissertação intitulada “Conceito de Missão em
John Stott e René Padilla: Relação entre proclamação da palavra e ação social”,aborda
essa questão apresentando duas posições vistas por ele como diferentes. Uma é
representada por Stott e outra por Padilla. Na compreensão de Silva (2012), Stott
hierarquiza colocando a evangelização em primeiro lugar e responsabilidade em
segundo plano. Silva destaca este fato com a seguinte afirmação:
Stott apresenta à humanidade uma teologia da missão na qual vem em
primeiro lugar a proclamação da palavra para com isso se salvar
almas, porque a evangelização pela pregação da palavra tem relação
com o destino eterno das pessoas. Em segundo lugar vem, caso seja
possível (se sobrar tempo e recurso), a realização da prestação do
serviço pelas ações sociais. Note-se que ele não exclui o serviço de
sua teologia da missão. O que ele faz é uma escala de prioridades, que
quase chega a eliminar a preocupação com o serviço social da missão.
(SILVA, 2012.p.126).
No outro extremo, Silva coloca Padilla, que é tido como um representante da
missão integral que não faz essa hierarquização, por este ter de maneira muito forte em
sua teologia de M.I.a “proclamação da palavra da salvação e da ação pelo serviço social
concretizado pelas boas obras de maneira conjunta e indissociável” (2012.p.129)
Porém ao analisar essa questão da hierarquização nesses dois autores
apresentados por Silva, faz-se necessária uma palavra de contraposição as conclusões
deste autor. Pois no que diz respeito à afirmação de que Stott faz “uma escala de
93
prioridades, que quase chega a eliminar a preocupação com o serviço social da missão,
(SILVA, 2012.p.126) esta carece de fundamentação de teoria, uma vez que é do próprio
Stott a afirmação que diz que: “A ação social e a evangelização são como as duas
lâminas de uma tesoura, ou como as duas asas de um pássaro” (STOTT, 2004, p.54). Ao
olhar para a teologia de missão da Igreja a partir de Stott nota-se, como mostrado acima,
uma enorme preocupação e atenção para as questões de responsabilidade social.
Stott faz sim uma hierarquização entre esses aspectos da missão da igreja, porém
afirmar que “quase chega ao ponto de eliminar a preocupação com o serviço social” não
é legítimo, porque ao fazê-la Stott deixa bem claro que esta acontece apenas no campo
da intelectualidade, porque na prática: “essas duas realidades são inseparáveis, pelo
menos nas sociedades livres, e raramente teremos de optar entre uma e outra. Em lugar
de estar em competição, elas se sustentam e se fortalecem mutuamente, numa espiral
ascendente de preocupação crescente.” (STOTT,2004, p. 55)
Da mesma forma que o entendimento de Silva sobre Stott carece de
ponderações, o mesmo se pode dizer sobre seu entendimento sobre a teologia da M.I. de
Padilla, pois ao afirmar que Padilla entende a “questão da proclamação da palavra da
salvação e da ação pelo serviço social concretizado pelas boas obras de maneira
conjunta e indissociável” (SILVA,2012.p.129) Silva não traz um argumento que trate a
questão hierarquização, mas apenas da relação; ao afirmar que são indissociáveis, não
elimina-se a possibilidade de essa associação existir dentro de uma relação
hierárquica25, esse fato pode ser visto em Stott que possui uma visão onde ação social e
evangelização se configuram como parceiras e inseparáveis, mas mesmo assim
hierarquiza esses aspectos.
Ao olhar para os escritos de Padilha, embora ele não chegue a redigir um texto
exclusivo sobre a hierarquização, como fez Stott em seu livro “Evangelização e
responsabilidade social” no qual dedicou um capítulo intitulado “a questão da primazia”
onde ele esclarece sua compreensão sobre a questão, Padilla faz algumas afirmações
que podem ser interpretadas como muito próximas da visão de Stott. Destaca-se a
seguinte:
O evangelho não pode ser reduzido a categorias políticas, sociais e
econômicas, nem a igreja a uma agência de promoção humana. Menos
25 Apenas a título de ilustração desse conceito pode-se citar as fases de transformação de uma borboleta. Cada fase pela qual a borboleta passa é indispensável, porém as fases se dão dentro de uma ordem, hierarquia, primeiro ovo, depois lagarta, depois casulo e por último vira borboleta. As fases são indissociáveis, porém, acontecem dentro de uma hierarquia.
94
ainda confundir o evangelho com uma ideologia ou a igreja com um
partido político. Como cristãos estamos chamados a testemunhar a
cerca de um Cristo transcendente, ultramundano, por meio de cujo
sacrifício temos recebido o perdão dos pecados e a reconciliação com
Deus. Cremos na necessidade que o homem tem de um encontro
pessoal com Deus em Cristo, pela ação do Espírito Santo, por meio da
proclamação da Palavra de Deus. E mantemos que nada pode tomar
o lugar da regeneração espiritual para fazer homens novos. Esta é a
soteriologia bíblica e é parte integral de nossa fé. Não podemos
aceitar a equação da salvação com a satisfação das necessidades
corporais, com melhorias sociais ou com libertação
política.26(PADILLA,1992.p.51).
Nota-se que Padilla fala que não se pode “reduzir” o evangelho a categorias
políticas, e que “nada pode tomar o lugar da regeneração espiritual” essas afirmações de
Padilla coloca sua teologia muito próxima da teologia de Stott, desmontando assim a
hipótese que eles ocupam extremos opostos na Teologia da MI quanto a hierarquização
entre evangelização e ação social, talvez o que se pode constatar é que existem
diferenças, porém polarizá-los como opostos é uma atitude que carece de
fundamentação, pois ambos valorizam evangelização e responsabilidades sociais com
elementos fundamentais da missão da Igreja, e ouso dizer que, os dois apresentam, de
forma distinta, uma hierarquização entre evangelização e ações sociais, colocando
Evangelização como a responsabilidade primeira da igreja , porém apenas no âmbito
conceitual.
2.2.2. Discipulado & Desenvolvimento e Justiça
O discipulado é apresentado por Padilla como a outra face que complementa o
primeiro aspecto da M.I. O Pacto de Lausanne apresenta essa mesma visão sobre o
discipulado como um elemento indispensável que está contido na evangelização. Pode-
se constatar esse fato na seguinte afirmação:
Ao fazermos o convite ao evangelho, não temos o direito de esconder
o custo do discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram
segui-lo a negar-se a si mesmos, tomar a sua cruz e identificar-se com
a sua nova comunidade. Os resultados da evangelização incluem a
obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço responsável
no mundo (STOTT, 2003, p.41).
26 Negrito nosso
95
Esta face, o discipulado, tem a sua importância e destaque dentro do primeiro
tópico na definição de Padilla, também pelo fato de a M.I. compreender que embora
ainda existam desafios no campo da evangelização, após a Segunda Guerra Mundial
houve um crescimento considerável do cristianismo, que ocorreu também em outras
religiões. Para Padilla o ser humano tem migrado de forma massiva para as religiões,
por vivenciar um vazio metafísico que a tecnologia não pode preencher; mesmo com
todo avanço tecnológico experimentado nas últimas décadas. (2014, p.158).
Na compreensão do autor (PADILLA, 2014) este aumento considerável que
ocorreu no número de cristãos e também em outros movimentos religiosos no terceiro
mundo pode ser entendido como um resultado do impacto da civilização ocidental e
uma reação a ela. Este aumento, porém, aos olhos de Padilla tem trazido um sincretismo
religioso nesse movimento massivo do homem rumo à espiritualidade.Por esta razão ele
afirma: “talvez a necessidade mais urgente relacionada com o rápido crescimento da
igreja seja uma nova ênfase num discipulado cristão que inclua a submissão de toda a
vida ao senhorio de Jesus Cristo” (PADILLA, 2005, p.143).
Embora esse crescimento da igreja tenha um papel importante para o
aparecimento do discipulado dentro do primeiro enfoque, pode-se dizer que o principal
motivo para o discipulado aparecer como missão da igreja advém do texto bíblico sobre
a “Grande Comissão” no qual está escrito: “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes: Toda
autoridade me foi concedida no céu e na terra. Portanto, ide, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinado-lhes a
obedecer a todas as coisas que vos ordenei; e eu estou convosco todos os dias, até o
final dos tempos” (Mt.28.18-20).
Este texto, que é tido como a Grande comissão, tem norteado o agir missionário
da igreja ao longo dos anos de sua existência. Uma compreensão vigente deste texto é
que ele tem como seu eixo central o “Ide”. Nessa perspectiva a missão é associada
exclusivamente ao ato de cruzar fronteiras geográficas; porém, segundo Steuernagel: “a
pergunta que se faz é se é possível isolar o “ide” do seu contexto e construir sobre ele,
por exemplo, uma teoria de evangelização que tenha uma forte ênfase na locomoção
geográfica” (1994, p.81).
A M.I. entende a Grande Comissão como um mandato ao discipulado
universal. Ela parte da compreensão de que o centro da Grande Comissão é o “fazei
discípulos”.Dentro dessa ótica o “ide”, o “batizando” e o “ensinando” se referem ao
“como”; o modo pelo qual se faz discípulos.Deve-se salientar que no original grego os
96
três verbos citados acima estão no particípio.Sendo assim, uma possível tradução do
“ide” seria “indo”, dessa forma o “ide” se configura como um imperativo que está
conjugado às outras duas ordenanças, não podendo assumir um sentido central
isolado.Dessa forma, a Grande Comissão traz o discipulado como seu centro, e tem
como objetivo levar Jesus, o Senhor, para todas as pessoas, em todos os lugares.
Considerando ainda os outros verbos dessa comissão, “batizando” e
“ensinando”, deve-se destacar que estes não podem ser entendidos como elementos
separados do processo do discipulado, pois eles são, segundo Steuernagel: “parte
integral do mesmo e constituem o todo do nosso envio missionário ao mundo”
(1994.p.81). Como resultado desta análise, qualquer segmentação entre evangelização,
discipulado e serviço perde o sentido, pois a tarefa de “fazer discípulos” engloba a
totalidade da fé e da vida, colocando os discípulos em um relacionamento constante e
permanente aprendizado, e de confiança e dependência de Jesus. Bonhoeffer define esse
processo e discipulado da seguinte forma:
O discipulado é comprometimento com Cristo; por Cristo existir, tem
que haver discipulado. Uma concepção de Cristo, um sistema
doutrinário, um conhecimento religioso geral da graça ou do perdão
não implicam necessariamente o discipulado; na realidade, excluem-
no, são hostis a ele. Com a ideia pode-se ter uma relação de
conhecimento, de admiração – talvez até mesmo de realização -, mas
nunca a relação de discipulado pessoal e obediente. Cristianismo sem
Jesus Cristo vivo permanece necessariamente um cristianismo sem
discipulado; e cristianismo sem discipulado é sempre cristianismo sem
Jesus Cristo; é uma ideia, um mito. (BONHOEFFER, 2011.p.22).
Ao analisar o texto de Mt 28.18-20 nota-se que ele inicia afirmando a autoridade
de Jesus e é seguido por um “portanto” que constrói uma de ponte entre os versos 18 e
19.Essa estrutura apresenta o fato de que a igreja é comissionada por Jesus a partir da
autoridade dEle.Sua missão parte da autoridade de Jesus, e caminha com a promessa de
presença constante até o fim; inicia-se em Jesus e termina com Ele.
Esse aspecto de serem a missão e o discipulado frutos da divindade é um
elemento fundamental na M.I., que encontra suas bases tanto no texto bíblico citado
acima com em toda a teologia bíblica. A partir daí a M.I.entende o início de suas ações
missionais. A origem de sua missão está na Missio Dei (Missão de Deus). Timóteo
Carriker, em seu livro “Missão Integral: Uma teologia Bíblica” no qual discorre sobre
os fundamentos da teologia da M.I., apresenta a missão tendo como fundamento Deus,
sendo ela, antes de tudo, fruto da Missio Dei. Carriker faz a seguinte afirmação:
97
Através de toda a revelação veterotestamentária, se torna patente que o
principal ator no drama é Deus. “No princípio criou Deus ...” É Deus
quem cria, quem julga, quem age, quem escolhe, e quem se revela. Ele
é ativo não só na criação, mas também nos julgamentos, na libertação
do seu povo do Egito, nas exortações dos seus profetas e na promessa
de restauração vindoura. Ele é o único e verdadeiro Deus que deseja
que sua glória seja conhecida nos céus (Salmo 19) e nas extremidades
da terra(Isaias 11.9). Portanto, antes de ter uma conotação humana que
fala da tarefa da igreja, “missão” é uma categoria que pertence a Deus.
A missão, antes de ser da igreja, é missio Dei. Esta perspectiva nos
guarda contra toda atitude de auto-suficiência e independência na
tarefa missionária. (CARRIKER.1992, p.162e163).
Este conceito de missio Dei teve sua primeira articulação com Karl Barth. Ele se
tornou um dos primeiros teólogos a trabalhar o tema missão como uma atividade de
Deus. Ele pode ser considerado o primeiro pensador a desenvolver “um novo paradigma
teológico que rompeu radicalmente com uma abordagem iluminista da
teologia”(BOSCH,2002.p.467). A compreensão da missão como missio Dei,
desenvolvida por Barth, foi aderida por quase todas as ramificações cristãs, incluindo
também os evangelicais da Missão Integral.
Segundo Bosch, falando sobre a importância de Barth no conceito de missio Dei:
“Sua influência no pensamento missionário atingiu o auge na conferência do CoMIn
ocorrida em Willingen (1952). Foi lá que a ideia (não o termo) da missio Dei emergiu
pela primeira vez de maneira clara. Compreendeu-se a missão como derivada da própria
natureza de Deus.” (2002.467).
Missão passou a ser compreendida a partir da Trindade, e não da igreja ou da
salvação. Na missio Dei a compreensão do Deus Pai, que enviou o Filho, e o Deus Pai
junto com o Filho, que enviou o Espírito, deu continuidade apresentando mais um
movimento, que é: o Deus Pai, juntamente com o Filho e o Espírito Santo enviando a
igreja ao mundo. Sendo assim a existência e sobrevivência da missão advêm do Deus
Triuno.
O elemento distintivo que essa compreensão traz é que a missão é apresentada
como um atributo de Deus. Ele é O missionário, e a igreja por sua vez é entendida como
um instrumento para realização dessa missão. Bosch corrobora com essa visão dizendo:
“Participar da missão é participar do movimento de amor de Deus para com as pessoas,
visto que Deus é uma fonte de amor que envia” (2002, p.468).
Nessa visão, o propósito primeiro da igreja deixa de ser exclusivamente a
implantação de igrejas e a salvação de almas, e passa a ser fazer discípulos que
representam o Deus Trino frente ao caos humano. Essa visão segundo Bosch “Poderá,
98
pela graça de Deus, resultar em um mundo mais humano, que jamais, contudo, pode ser
compreendido como um produto meramente humano – o autor efetivo dessa história
humanizada é o Espírito Santo.” (2002, p.469).
A compreensão sobre missio Dei colaborou para que a igreja entendesse que
nem ela nem qualquer outro agente humano pode se imaginar como dono da missão.
Pois ela (a missão) é, antes de tudo, a ação de Deus Triúno, que é o Criador, mas
também aquele que redime e santifica por amor ao mundo, e a cada membro da igreja
de Cristo está reservado o privilégio de ser um coparticipante dessa missão ao se colocar
como discípulo.
Sobre a implicação da missio Dei nas questões de Desenvolvimento e Justiça,
Bosch traz a seguinte afirmação:
Quando se refere à ordem social e ao seu desenvolvimento no sentido
de servir o bem comum, que “o Espírito de Deus”, que dirige o curso
da história com providência admirável e renova a face da terra, está
presente a esta evolução. [...] esse progresso é de grande interesse para
o reino de Deus, na medida em que contribui para organizar a
sociedade humana. (2002.p.469).
Sendo assim, pode-se dizer que na compreensão da missio Dei as “evoluções” e
“desenvolvimentos sociais”, que promovem o bem comum, são do interesse divino, pois
entende seu valor por expressar o Reino de Deus ao colocar em ordem o caos instaurado
pelo pecado na humanidade, agindo assim para uma reorganização social e individual,
pois reconhece que o pecado afetou não apenas esferas individuais e internas dos seres
humanos, mas também sociais e externas a ele, criando estruturas injustas e opressoras.
Neste ponto vê-se o discipulado assim como a evangelização possuindo implicações de
desenvolvimento e justiça.
Voltando o olhar para o texto da “Grande comissão” novamente pode-se ver que
ele apresenta uma mensagem de “totalidade” quanto à tarefa evangelizadora. É
interessante notar que a palavra “todo” aparece quatro vezes na passagem bíblica: “Toda
a autoridade”, “todas as nações”, “todas as coisas que vos ordenei” e “estou convosco
todos os dias”. Duas totalidades se referem a Jesus e as outras duas à missão da igreja.
Ela recebe a missão de fazer discípulos em todas as nações, batizando em nome da
trindade, e de ensinar-lhes a obedecer a todas as coisas, mas tudo isso debaixo de toda
autoridade recebida por Jesus e da promessa de sua presença em todos os dias. Segundo
Steuenegel: “Não é pouca coisa que se promete, mas também não é pouca coisa que se
espera daqueles a quem se diz “Ide, portanto”” (1994.p.81).
99
A grande comissão reforça a máxima da M.I. de levar o evangelho todo, ao
homem todo e a todo o mundo, pois apresenta uma evangelização que busca um
discipulado e isto afeta a totalidade da vida humana, indo das esferas individuais e
íntimas até as coletivas e comuns. Nessa interpretação da Grande Comissão é
apresentada uma evangelização que é pessoal, mas que possui implicações no coletivo;
é individual, mas que reflete e toca na vida social; e é uma mensagem que traz um
desafio de comprometimento com a justiça e desenvolvimento humano e social.
Bonhoeffer afirma que: “A resposta ao discipulado não é uma confissão oral da fé em
Jesus, mas sim um ato de obediência (2011.p.20) .
Nesta compreensão do texto esse discipulado resulta em uma igreja enraizada na
comunidade global dos seres humanos que dialoga com sua realidade e trabalha para
que os seres humanos possam ter uma vida justa e digna. A relação entre discipulado e a
formação de igreja é muito estreita e fundamental. Deve-se reconhecer que muitas vezes
a evangelização se tornou uma mensagem muito individual e transcendente,
esquecendo-se assim do social/coletivo e imanente, deixando de lado o valor da
comunidade dos discípulos, batizados e, consequentemente, o serviço desta comunidade
aos propósitos de Deus também foram deixados. Porém, quando a grande comissão é
interpretada de forma a conectar todos os imperativos ao discipulado, a evangelização
cumpre seu papel tanto pessoal como coletivo, tanto individual quanto social sendo
assim um elemento gerador de uma busca por desenvolvimento e justiça. Steuernagel
afirma que: “A descoberta de que a evangelização, a comunidade dos batizados e os
serviços desta comunidade aos propósitos do Deus Trino estão inter-relacionados tem
enriquecido a nossa caminhada evangelizadora nestas últimas décadas. (1994.p.80-82)
2.3. Colaboração e Unidade & Desenvolvimento e Justiça.
O segundo ponto que compõe a missão da igreja dentro da M.I., a partir do
conceito de Padilla, é Colaboração e Unidade. Ele afirma que “as igrejas antigas e as
igrejas novas [...] devem ser vistas como colaboradoras não meramente num sentido
contratual, mas como colocadas por Deus nesta relação. Elas unem-se pela vontade de
Deus, para fazer a vontade de Deus” (PADILLA, 2005, p.145). Este enfoque consiste
em criar entre as igrejas que enviam missionários, e outros tipos de ajuda, e as igrejas
que recebem este apoio, uma relação em que ambas possam ser mutuamente ajudadas e
100
obedientes no ato de colaborar. Este fato é tido como um elemento necessário para que a
Igreja realize sua missão.
Para Padilla, as instituições e movimentos cristãos do terceiro mundo continuam
dependendo dos estrangeiros, e isso criou uma relação unilateral, na qual igrejas jovens
só desempenham o papel de receber, e igrejas antigas o de enviar. A proposta desse
enfoque é mudar esta relação, fazendo com que as “igrejas novas” possam ver-se cada
vez mais como colaboradoras do reino. Padilla acredita que só assim haverá uma igreja
universal, na qual os cristãos participarão efetivamente como integrantes da missão
mundial.
Ele afirma que “a colaboração na missão não é meramente uma questão de
conveniência prática, mas a consequência necessária do propósito de Deus para a igreja
e para toda a humanidade, revelada em Cristo Jesus” (PADILLA, 2005, 147). Quando a
igreja falha como colaboradora na missão ela falha também na manifestação da
mensagem do evangelho, porque a missão não pode ser realizada de outra maneira que
não seja a colaboração mútua, e essa é inseparável da unidade.
A ideia de unidade, citada logo acima, está relacionada não só com o
compartilhar alegrias e tristezas, mas também em compartilhar os bens, não a fim de
todos terem o mesmo, na mesma quantia, ou de alguns terem em abundância e outros
em escassez, mas sim que aqueles que têm em fartura possam suprir as necessidades
daqueles que têm menos, tendo em mente que deve haver uma situação em que todos os
cristãos estejam dispostos a compartilhar aquilo que têm com os outros, criando assim a
possibilidade de partilha recíproca. Padilla afirma que: “a possibilidade de partilha
recíproca entre as igrejas é uma premissa básica sem a qual não será possível uma
relação saudável entre as igrejas ricas e as pobres” (PADILLA, 2005, p.148).
No congresso de Lausanne essa questão sobre cooperação e unidade entre as
igrejas também foi discutida, e o PL tratou-a da seguinte forma:
Afirmamos que é propósito de Deus haver na igreja uma unidade
visível de pensamento quanto à verdade. A evangelização também nos
convoca à unidade, porque o ser um só corpo reforça o nosso
testemunho, assim como a nossa desunião enfraquece o nosso
evangelho de reconciliação. Reconhecemos, entretanto, que a unidade
organizacional pode tomar muitas formas e não ativa necessariamente
a evangelização. Contudo, nós, que partilhamos a mesma fé bíblica,
devemos estar intimamente unidos na comunhão uns com os outros,
nas obras e no testemunho. Confessamos que o nosso testemunho,
algumas vezes, tem sido manchado por pecaminoso individualismo e
desnecessária duplicação de esforço. Empenhamo-nos por encontrar
101
uma unidade mais profunda na verdade, na adoração, na santidade e
na missão. Instamos para que se apresse o desenvolvimento de uma
cooperação regional e funcional para maior amplitude da missão da
igreja, para o planejamento estratégico, para o encorajamento mútuo, e
para o compartilhamento de recursos e de experiências. (STOTT,
2003,p.92).
Neste capítulo do PL é tratado, de forma clara e objetiva, o tema da unidade e
cooperação. Essa abordagem parte do princípio de que a unidade desejada por Deus à
sua igreja se dá debaixo da verdade.Esta união diz a respeito a uma compreensão de ser
a igreja um corpo, no qual se respeitam as diferenças,e por ser um mesmo organismo,
por acreditar e servir a mesma verdade, possui a responsabilidade de trabalhar para o
cultivo da união e da cooperação de forma orgânica. Mesmo existindo discordância em
alguns pontos triviais, essa união é possível, pois quanto aos elementos essenciais e
fundamentais da fé bíblica existe essa união na verdade.
Porém, o PL denuncia que, embora essa seja uma característica necessária para a
igreja, por ser este um propósito de Deus, “nosso testemunho, algumas vezes, tem sido
manchado por pecaminoso individualismo e desnecessária duplicação de esforço.
(STOTT, 2003.p. 92) Nesse ponto o PL traz luz sobre o espírito individualista que paira
sobre as igrejas, que muitas vezes se lançam em uma caminhada para estabelecer seus
próprios guetos ignorando o chamado para servir em comunhão ao bem comum.
Um elemento distintivo do PL é que após essa confissão do que a igreja deveria
ser (unida) e do que ela tem sido (individualista), o parágrafo é encerrado com um
engajamento à mudança, ao afirmar: “empenhamo-nos por encontrar uma unidade mais
profunda na verdade, na adoração, na santidade e na missão” (STOTT, 2003, p. 92). O
PL se compromete em lutar contra este espírito individualista e buscar uma unidade
integral, que toca em todas as esferas eclesiásticas; na adoração, santidade e missão.
Este parágrafo do PL termina com uma súplica para que essa unidade e
cooperação sejam apressadas entre as igrejas, porque entende ser esse um fator
necessário para a expansão da missão da igreja, para o planejamento estratégico, para o
encorajamento mútuo, e para o compartilhamento de recursos e de experiências. Stott
comentando sobre a cooperação afirma que: “precisamos aprender a planejar e trabalhar
juntos e também a dar uns aos outros, receber uns dos outros, os dons benéficos que
Deus nos concedeu, sejam quais forem. (STOTT, 2003,p.56). Neste ponto vemos
colaboração e unidade tendo com um de seus objetivos o ato de servir ao bem comum,
102
utilizando-se até da partilha dos bens.Isso faz com que essa característica da M.I. se
aproxime do Desenvolvimento e da Justiça.
Digno de nota é que esse aspecto da cooperação e unidade aparece na teologia da
M.I. como um elemento fundamental, por ela fazer uma leitura bíblica a partir de seu
contexto, pois a M.I. notou que a Igreja Latino-Americana em seu início vivenciava o
drama da unilateralidade missional, na qual essa igreja se via cada vez mais subjugada à
posição de dependente e passiva na realização da missão e em sua relação com as
agências missionárias estrangeiras. Padilla apresenta esse contexto que estava sendo
vivenciado pela igreja com as seguintes palavras:
Basta ver o crescente poderio numérico das missões protestantes
norte-americanas (quase totalmente dependente de pessoal, liderança e
finanças provenientes dos Estados unidos) depois da Segunda Guerra
Mundial e a persistente separação dentre as “missões estrangeiras” e
as “igrejas locais” ao redor do mundo. Basta ver a prevalência de
políticas e padrões da obra missionária que pressupõem que a
liderança da missão cristã está nas mãos de estrategistas e especialistas
ocidentais. Basta ver as escolas de “missão mundial” sediadas no
Ocidente, sem participação de professores do terceiro mundo. Basta
ver, finalmente, a frequência com que uma igreja estabelecida (ou,
mais frequentemente, uma sociedade missionária) no ocidente mantém
uma relação unilateral com uma igreja jovem (independente ou não).
Enquanto esta situação prevalecer, a colaboração não passa de um
mito. (PADILLA,1994, p.143)
Esta citação denuncia a realidade vivenciada na igreja latino-americana, onde a
ação missionária se realizava a partir de uma lógica que tinha como pressuposto a
superioridade do mundo ocidental em assuntos de cultura e raça, por esse possuir um
poder político e econômico mais elevado. Com isso o resultado é uma relação
“colonial” entre as igrejas, instituições, e movimentos cristãos do Terceiro Mundo,e as
agências missionárias e organizações estrangeiras. Como consequência, as igrejas dos
“países em desenvolvimento” estão debaixo de uma relação na qual o imperialismo
econômico e cultural é mantido.
Deve-se destacar que essa relação tem dado passos muito lentos rumo a uma
mudança que vise transformar essa lógica sob a qual se dá o relacionamentos entre essas
igrejas.O Congresso de Lausanne, por sua vez, trouxe luz a esse tema trazendo uma
discussão importante para a quebra dessa relação unilateral tão prejudicial à
compreensão e vivência da missão nas igrejas novas, ao sugerir que: “a redução do
número de missionários e de recursos procedentes do exterior para um país já
103
evangelizado pode às vezes ser necessária para facilitar o crescimento da igreja nacional
em autoconfiança e para liberar recursos para outras áreas não-evangelizadas”
(STOTT.2003.p.93).
Essa consideração do PL entende que essa postura deve ser assumida para com
os países evangelizados, nos quais já se tenha realizado a tarefa inicial de proclamar o
evangelho tornando-o conhecido e formando ali uma igreja e liderança local. Porém esta
sugestão, longe de ser uma atitude egoísta e de retenção de custo, é um passo que visa o
desenvolvimento e crescimento da igreja local, pois reconhece que em alguns momentos
e lugares os missionários estrangeiros permaneceram por um longo período na liderança
dessas igrejas jovens, e isso resultou em um empecilho para o desenvolvimento da
liderança.
Quanto à suspensão do fornecimento dos recursos financeiros, dos fundos
estrangeiros, essa ação visa quebrar essa relação de dependência desnecessária e assim
poder redirecionar estes recursos para áreas ainda não evangelizadas, viabilizando uma
disponibilidade e mobilidade maior de missionários para outras áreas ainda não
alcançadas pelo evangelho, porém, agora, em unidade com as igrejas que anteriormente
se viam apenas como agentes passivos na missão. Segundo Padilla:
Depois do congresso de Lausanne, no qual vários oradores do
Terceiro Mundo colocaram sobre a mesa um conjunto de assuntos
críticos, é cada vez mais óbvio que mesmo as agências missionárias
mais tradicionais já não podem evadir o tema de uma colaboração na
missão em nível mundial. Lentamente a convicção expressa de que se
iniciou “uma nova era missionária” e de que na medida em que cresça
a colaboração entre as igrejas “manifestar-se-á com maior claridade o
caráter universal da igreja de Cristo” (Pacto de Lausanne, seção 8),
está ganhando terreno. (PADILLA, 1994,p.143 e 144).
Em síntese pode-se dizer que a unidade e a cooperação visam criar entre as
igrejas uma relação em que todas se entendam como coparticipantes na missão de
proclamar o reino, pois todas possuem um chamado ao agir missional, e dentro dessa
compreensão deve-se cultivar e desenvolver os recursos humanos, históricos e culturais
que cada igreja possui para que todas as igrejas sejam incluídas como agentes
missionários. Esse ponto busca destruir toda hierarquização de igrejas,vendo-as a partir
de uma ótica de justiça na qual apesar das diferenças de idade, recursos e localidade,
todas são vistas igualmente, como irmãs coparticipantes na missão de buscar o
desenvolvimento e justiça, e trabalhar para o bem comum.
104
Dentro desse enfoque a mensagem pregada é que todas as igrejas têm algo a
aprender e algo a ensinar;todas têm suas carências e farturas.A partir disso, elas devem
dar as mãos para que sejam uma única Igreja. Padilla expressa essa compreensão com as
seguintes palavras:
Um evangelho universal exige uma igreja universal, na qual todos os
cristãos participem efetivamente na missão mundial como membros
iguais do corpo de Cristo. A colaboração na missão não é meramente
uma questão de convivência prática, mas consequência necessária do
propósito de Deus para a igreja e para toda a humanidade, revelado em
Cristo Jesus. Quando os cristãos fracassam como colaboradores na
missão, também fracassam na manifestação concreta da nova
realidade que o evangelho proclama. Porque há um mundo, uma igreja
e um evangelho, a missão cristã não pode ser outra coisa que missão
realizada em colaboração mútua. O cumprimento da oração de Jesus
de que seus seguidores sejam um a fim de que o mundo creia requer
hoje uma comunidade cristã supranacional que leve, ao mundo
unificado pela tecnologia, um evangelho centrado em Jesus Cristo, O
Senhor de todos. A missão é inseparável da unidade. (PADILLA,
1994, p.145).
Dentro dessa perspectiva, quando se lê a afirmação que diz: “Missão é
inseparável da unidade” ou então; “A colaboração na missão não é meramente uma
questão de convivência prática, mas consequência necessária do propósito de Deus para
a igreja e para toda a humanidade” é correto afirmar que a cooperação e a unidade são
elementos indispensáveis para a Igreja cumprir sua missão e expressar o propósito de
Deus. Cooperação e unidade são elementos indispensáveis para a realização do
desenvolvimento e da justiça.
A compreensão que se obteve até aqui, por meio dos subtópicos anteriores, nos
diz que a missão da Igreja não se limita a uma tarefa de proclamação verbal, mas se
estende a um agir na sociedade que expressa o reinado de Deus. Portanto se a missão da
Igreja é ser expressão deste reinado na terra, a cooperação e a unidade são elementos
indispensáveis para essa sinalização, pois é dentro dessa lógica que é composta por
princípios de partilha recíproca e igualdade nas relações intraeclesiásticas, que a igreja
vivencia e manifesta ao mundo os princípios cristãos de justiça e desenvolvimento.
Por meio desses princípios a igreja sinaliza ao mundo que no Reino de Deus as
relações são justas e o desenvolvimento é obtido porque unidos e em cooperação se
enxergam partes do mesmo corpo, com a responsabilidade de, por meio de suas farturas,
suprir as necessidades das partes carentes.
105
A cooperação e a unidade se relacionam com a Justiça e o desenvolvimento não
apenas por estes serem sinais de manifestações do Reino de Deus, mas também por
serem necessários para que a igreja cumpra sua missão de proclamar o evangelho todo,
para todo homem, e para todos os homens. Uma vez compreendida que essa é a missão
da igreja, deve-se considerar a impossibilidade de cumprimento de tal missão a partir de
uma eclesiologia isolacionista e individualista.
Para proclamar o evangelho todo, faz-se necessário que os múltiplos olhares das
igrejas sobre evangelho, a partir de seu contexto, sejam unidos e partilhados. Para o
alcance de todo o ser humano e de toda a humanidade, torna-se indispensável que as
inúmeras igrejas locais ajam a partir da cooperação como igreja universal visando à
proclamação do Reino de Deus. Dessa forma compreende-se a cooperação e a unidade
como elementos necessários, basilares para que a igreja proclame e busque a justiça e o
desenvolvimento presentes na missão da Igreja.
3. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NOS SOLOS
PAULISTANOS: ENTRE CLAMORES E RESPOSTAS
Neste capítulo será analisada a presença e vivência dos conceitos de
desenvolvimento e justiça no solo paulistano no meio dos batistas. Para fazer esta
análise será tomado como sujeito de pesquisa a Primeira Igreja Batista de São Paulo
(leia-se PIBSP). Esta igreja foi escolhida devido a sua relevância e representatividade,
histórica e no contexto Batista Paulistano, e também por estar localizada em uma região
com grandes demandas sociais.
Embora existam igrejas que tenham semelhanças quanto a importância e
relevância no meio batista, a escolha por essa igreja se deu pelo fato de estar histórica e
sócio-geograficamente bem situada para estabelecer um diálogo com o objeto maior
dessa pesquisa, a saber: “Missão Integral: Desenvolvimento e Justiça”.
Para análise das aproximações e presença dos conceitos supracitados da M.I. na
PIBSP,o presente capítulo se dividirá em 4subtópicos: “O contexto que clama por
Desenvolvimento e Justiça”, "A PIBSP”,“A missão: Respostas de desenvolvimento e
Justiça” e “A origem da missão”. Estes subtópicos terão como objetivo apresentar o
contexto no qual a igreja está inserida, a visão e as ações da PIBSP frente a este
contexto. A partir deste ponto será buscado o estabelecimento de diálogo entre a PIBSP
106
e o conceito de desenvolvimento e Justiça da M.I. Também se buscará encontrar as
origens das possíveis aproximações entre PIBSP e o conceito de desenvolvimento e
Justiça da M.I..
A análise do contexto se dará por meio de uma pesquisa bibliográfica composta
por livros, artigos e pesquisas publicadas sobre a região central de São Paulo. Para a
análise da PIBSP foi realizada uma pesquisa de campo por meio de roteiro de
entrevistas com o pastor titular e com doze membros de diferentes faixas etárias e
gênero. Também foram analisados: boletins publicados e arquivados pela igreja desde o
início do ministério de seu atual pastor 27 ; atas de assembleias; matérias no Jornal
Comunhão que possuem alguma relação com a igreja ou com seu pastor; site da igreja;
e outros materiais que estão relacionados com as ações da igreja.
A partir desses dois horizontes (contexto e PIBSP) será analisada a práxis
vivenciada nessa relação, buscando encontrar as possíveis aproximações e
distanciamentos entre a prática missional da PIBSP e os conceitos de desenvolvimento e
Justiça da M.I. E em um segundo momento, havendo aproximações, se buscará
encontrar uma hipótese que as justifique, que represente a causa pela qual o
Desenvolvimento e a Justiça podem ser vistos na práxis da PIBSP.
3.1. O Contexto que clama por desenvolvimento e Justiça
A PIBSP está localizada no bairro Campos Elíseos, que é parte do distrito de
Santa Cecília, e este compõe parte do centro de São Paulo. Na tabela abaixo, elaborada
pela prefeitura de São Paulo, que mostra alguns dados sobre a região central da cidade,
pode-se visualizar melhor aquilo que é denominado como centro de São Paulo.
27 O arquivo de boletins da igreja, desde o início do ministério do pastor Paulo Eduardo até a data de 11/06/2015 conta com 69 boletins, publicados a partir de 04/11/12 até 07/06/15, registra-se aqui a ausência de alguns boletins publicados nesse intervalo também. Os demais boletins não foram arquivados.
107
Tabela 1- Tabela de dados demográficos dos distritos pertencentes à Subprefeitura
do Centro (Sé)28
Subprefeitura Distrítos Área
(km²)
População
2010
Densidade Demográfica
(Hab/km²)
Sé
Bela Vista 2,60 69.460 26.715
Bom Retiro 4,00 33.892 8,473
Cambuci 3,90 36.948 9.474
Consolação 3,70 57.365 15.504
Liberdade 3,70 69.092 18.674
República 2,30 56.981 24.774
Santa Cecília 3,90 83.717 21,466
Sé 2,10 23.651 11,262
TOTAL 26,20 431.106 16,454
Como afirmado logo acima, Campos Elíseos é parte do distrito de Santa Cecília,
a Emplasageo em seu documento “Santa Cecília – Segundo Unidades de Informações
territoriais (UITs)” afirma que:
Santa Cecília é um distrito da região central da cidade de São Paulo,
considerado um grande centro comercial. Abrange os seguintes
bairros: Campos Elíseos, Santa Cecília, Várzea da Barra Funda
(triângulo formado entre as vias férreas da CPTM e das Avenidas
Abraão Ribeiro e Rudge) e parte da Vila Buarque, onde está
localizado o Largo de Santa Cecília e a estação do metrô Santa
Cecília. Em seus domínios encontra-se a maior parte do Elevado
Presidente Costa e Silva (conhecido popularmente como Minhocão),
as Praças Marechal Deodoro, Princesa Isabel e Júlio Prestes e o Largo
Coração de Jesus. (SANTA CECÍLIA – Segundo Unidades de
Informações Territorializadas (UITs). p. 4. Disponível em:
<http://www.emplasageo.sp.gov.br/uits/municipioSP/distritos/PDFs/p
dfs/SANTACEC%C3%8DLIA.pdf> Acesso em: 06 mai.2015).
Em síntese, pode-se dizer que a PIBSP está localizada no centro de São Paulo.
Ao analisar essa região nota-se que ela passou por fortes transformações desde seu
surgimento até os dias de hoje. Heitor Frúgoli Jr. em seu livro “Centralidade em São
Paulo: Trajetórias, conflitos e negociações na metrópole” faz uma análise dessas
mudanças que ocorreram na região central. O autor afirma que:
28 Dados Demográficos dos Distritos pertencentes às Subprefeituras. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/dados_demograficos/index.php?p=12758> Acesso em: 06 mai. 2015.
108
O centro tradicional paulistano, que no início do século fora um
espaço das elites, passou por um crescimento com a criação de áreas
mais valorizadas, ao passo que as anteriores foram sendo
gradativamente abandonadas e entregues à deterioração de seus
equipamentos. A partir de então, o centro tradicional passou a ser cada
vez mais identificado como espaço das classes populares, incluindo aí
uma grande porcentagem de migrantes nordestinos (FRÚGOLI,
2000.p. 38).
Esse processo de transformação segundo Frúgoli (2000) é notório, pois até os
anos de 1960, São Paulo possuía um único centro, que pode ser dividido em duas partes:
o “Centro tradicional” (da Praça da Sé à Praça do Patriarca, com eixo na Rua Direita) e
o “Centro Novo” (da Praça Ramos de Azevedo à Praça da Republica, com eixo na Rua
Barão de Itapetininga); nesta parte do centro estava localizada a maior concentração de
empresas. Essas duas áreas representavam o desenvolvimento paulistano entre 1910-
1960.
Aos poucos o centro passou a receber um número cada vez maior de pessoas de
menos poder aquisitivo, e muitos migrantes nordestinos, que começaram a vir para São
Paulo de maneira mais expressiva nos anos 30, e passaram a ocupar cada vez mais as
áreas centrais da cidade. Frúgoli descrevendo esse processo de “popularização” do
centro faz a seguinte afirmação:
Nos espaços públicos da área central da cidade [...] distintos grupos
sociais formaram variadas redes de relações voltadas à sobrevivência -
como camelôs, engraxates, desempregados, aposentados “plaqueiros”,
vendedores de ervas, de bilhetes de loteria, de churrasquinho,
pregadores religiosos, videntes, prostitutas, travestis, homens e
menores de rua, artistas de rua, “rolistas”, batedores de carteira,
trapaceiros e muito outros – com uma diversidade quanto ao tipo de
uso do espaço embora com certas semelhanças entre si, em particular
quanto à origem popular e muitas vezes nordestina, além de uma certa
forma de organização interna, que combina princípios de
solidariedade com outros de hierarquia, do tipo clientelista e
personalista. É óbvio que há desde grupos mais inseridos na esfera do
trabalho, com pequenas práticas transgressivas, até outros mais
imersos na marginalidade. (FRÚGOLI, 2000, p.59).
Esse processo de popularização do Centro, que se inicia de forma mais
expressiva a partir dos anos 60, “foi concomitante ao início da evasão de empresas e
bancos para outros subcentros, à deterioração de parte de seus equipamentos urbanos e
ao declínio de seu valor imobiliário” (FRÚGOLI,2000, p.61). O autor destaca que a
popularização aconteceu de forma “concomitante” à evasão das empresas;essa
afirmação rebate de forma direta a tese que sustenta que foi devido à inserção maciça
das classes populares na região que se deu a deterioração do centro.
109
O autor faz essa afirmação por compreender que a lógica do desenvolvimento
urbano foi acontecendo rumo a outras regiões da cidade, onde novos centros começaram
a surgir e o antigo, que se via com limitações de comportar o crescimento, aos poucos,
foi sendo abandonado por empresas. Em entrevista a Frúgoli, Marco Antonio Ramos de
Almeida, comentando o início dessa transformação, afirma que:
O centro tem problemas mais complexos. Diferentemente de todos os
outros bairros, é a região mais bem servida da cidade. Não tem
problemas de água, luz, esgoto, telefone, transporte público, metrô,
gás, iluminação, não falta um metro de asfalto... afinal, o centro é a
região mais bem provida da cidade, e no entanto estava perdendo
moradores e empresas para outras regiões desprovidas muitas até de
infraestrutura elementar. (FRÚGOLI,2000.p. 74).
Nesse processo complexo e dinâmico desenvolveu-se uma diversidade
socioeconômica-cultural na região onde o contraste dos extremos é sentido de forma
muito presente;pessoas das classes média e alta trabalham na região, ao mesmo tempo
em que as classes economicamente mais baixas também trabalham e até moram no
centro. Outro elemento que torna ainda mais forte esse contraste é a expressiva
contingência de pessoas em situação de rua e de dependência química (as cracolândias).
Em um artigo publicado no Jornal Comunhão29 o atual pastor da PIBS, Paulo
Eduardo Gomes Vieira, comenta esse fato da proximidade e contato dos extremos
vivenciado pela igreja em seu contexto, da seguinte forma:
Os contrastes. Próximo à Primeira de São Paulo está um dos maiores
e mais conhecidos problemas sociais do país, a Cracolândia. Mas
também, bem perto da igreja estão alguns bairros muito tradicionais e
nobres da cidade, como o Pacaembu e Higienópolis, onde moram
famílias típicas de classe média e grandes personalidades do mundo
cultural, artístico e político, que optam por viver nestes lugares por
serem residenciais e por estarem bem próximos ao principal endereço
comercial do Brasil, a avenida paulista (VIEIRA, Paulo E. G., O
perigo do púlpito irrelevante na pregação urbana. Jornal Comunhão,
p. 3, 12. Dez. 2013).
O pastor menciona esse fato como uma das questões que precisa ser
cuidadosamente considerada pela PIBSP, por ela vivenciar essa realidade em seu dia a
dia.
29 Este jornal é publicado pela Convenção Batista do Estado de São Paulo (leia-se CBESP) e é distribuído gratuitamente em todas as Igrejas Batistas do estado de São Paulo filiadas à CBESP.
110
As transformações ocorridas no centro foram sentidas e vivenciadas pela PIBSP.
O pastor Irland Pereira de Azevedo30, quando ainda era pastor titular da PIBSP, em sua
“Carta pastoral à Primeira Igreja Batista em São Paulo”31,escrita em 16 de junho de
1996, faz a seguinte afirmação:
Se faz mister a implementação de programas e reavaliação e quiçá
reformulação da visão, da missão e dos objetivos da igreja, em face
das mudanças socioeconômicas por que passam a Cidade, São Paulo,
o Brasil e o mundo [...] ANTEVEJO um futuro de bênçãos para esta
igreja, não obstante sua localização no centro comercial da cidade,
inserida numa realidade socioeconômica desfavorável. Reconheço que
ela é, como muitas outras em grandes cidades do mundo, uma
“downtownChurch”32, com seus problemas peculiares.” (AZEVEDO,
Irland P. Carta pastoral à Primeira Igreja Batista em São Paulo.
1996).
Todas essas transformações que ocorreram no centro foram percebidas pela
igreja a ponto de citá-las como um fator que exige da igreja a adoção de novas
estratégias.
Com o crescimento da cidade para a periferia e para condomínios
distantes do centro, muitos crentes transferiram-se para igrejas mais
próximas ou passaram a integrar igrejas filhas, organizadas mais perto
de sua residência. Por outro lado, o perfil sócioeconômico dos
moradores de Campos Elíseos e bairros vizinhos sofreu bastante
alteração. Isso tem exigido e continuará a exigir a adoção de
estratégias e programas que permitam alcançar eficazmente toda a
população-alvo com a mensagem integral do evangelho de Jesus
Cristo. (Primeira Igreja Batista: Breve histórico. Disponível em:
<http://www.pib.org.br/>Acesso em:01 mai.2015.).
Com relação à questão de empregos e moradores da região central, Frúgoli
apresenta o seguinte quadro socioeconômico:
A área central da cidade oferece cerca de 38,5% do total da oferta de
empregos no município, seguida pela Paulista (29,5%), Faria Lima
(17,2%) e Marginal Pinheiros (11,3%). A área central é também a
maior empregadora: a) na administração pública, onde responde por
30 Pr. Irland Pereira de Azevedo pastoreou a PIBSP como pastor titular e presidente de 1971 a 1996. Depois, em 30/05/2005, ele assumiu o pastorado interinamente, para conduzir o processo de sucessão pastoral, e depois de concluir esse processo deixou o pastorado em 08/07/2005. Atualmente ele é pastor emérito da PIBSP e presta apoio a igrejas e instituições de ensino Batista. 31 Carta na íntegra, ver anexo 7. 32 “DowntownChurch” se refere a igrejas localizadas no centro das grandes cidades, que vivenciaram esse fenômeno urbano, no qual o centro antigo passou por transformações sociais que resultaram em seu abandono e deterioração. Nesse processo as “DowntownChurch” veem seus membros mudando da região central da cidade para outros bairros da cidade, e seu contexto sendo alterado de forma significativa.
111
79,2% do total, seguida pela Paulista, com apenas 16,6%; b) no setor
financeiro, no qual abarca 53,9% do total, seguida pela Paulista
(29,1%) e pela Faria Lima (10,7%); c) finalmente também no
comércio, cobrindo 41,5% do total, seguida pela Paulista (24,5%)
Faria Lima (20,8%). No setor de serviços, a área central ocupa o
segundo lugar(32,5%), superada por pequena diferença pela Paulista
(33,8%) e a Faria Lima (22%). Já em termos de empregos no setor
industrial, responde por somente 19,4% do total, atrás da Marginal
Pinheiros (33,8%), da Paulista (22,3%) e da Faria Lima (21,1%).
Quanto à participação relativa do emprego por setor na própria área
central, os dados são os seguintes: Administração pública, 26,9%;
serviços, 21,8%;comércio, 13,7%; entidades financeiras, 13,6%;
indústrias, 10,3%; e outros, 13,4%.
Com relação aos moradores da região central, o levantamento da Fipe
mostra que a faixa salarial de chefes de família com maior
participação relativa (24,7%) é a de 5 a 10 salários mínimos, o que
contrasta com as regiões da Paulista, onde 29,3% destes ganham mais
de 20 salários mínimos, e da Faria Lima, com 29,5%, em situação
idêntica à da Paulista.
Já segundo a pesquisa de Aldaíza Sposati (1995), pode-se ressaltar
que as moradias da região central, abrangendo 5% do total da
metrópole, com uma densidade demográfica bastante elevada (três
vezes maior que o resto da cidade), estariam numa situação
intermediária entre as situações de extrema riqueza ou pobreza,
embora as fontes oficiais (como por exemplo, o IBGE) não tenham
interesse em verificar o número preciso de favelados, encortiçados,
população de rua, doentes mentais, portadores de HIV, viciados em
drogas e outros grupos.
Outro lado da realidade recente da área central, quanto ao tema da
moradia, tem sido a invasão organizada de prédios e terrenos por
grupos de sem-teto, sobretudo a partir de 1997, com cálculos que
apontam ao menos 15 locais invadidos, com 9 mil invasores, dos quais
6 mil deles organizados. (FRÚGOLI, 2000, p. 59-61).
Um aspecto muito significativo da região central, e que possui uma presença
extremamente expressiva no contexto da PIBSP, são as pessoas em situação de rua. No
último senso divulgado pela prefeitura de São Paulo, que foi realizado pela Fundação
Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), mediante a Secretaria
Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, recenseou-se, no ano de 2011 um
total de 14.478 (quatorze mil quatrocentos e setenta e oito) indivíduos em situação de
rua. Destes 6.765 (seis mil setecentos e sessenta e cinco) vivendo nas ruas e 7.713 (sete
mil setecentos e treze) em centros de acolhida da capital (CENSO DA POPULAÇÃO EM
SITUAÇÃO DE RUA NA MUNICIPALIDADE DE SÃO PAULO. São Paulo: FESPSP. 2011, Disponível
em: <file:///C:/Users/Emanuel/Desktop/disserta%C3%A7%C3%A3o/artigos%20e%20
docs/censo_1338734359.pdf.> Acesso em: 08 maio. 2015).
Essa realidade social é mais presente no centro que em qualquer outra região de
São Paulo, segundo a mesma pesquisa. Ao analisar o percentual de indivíduos em
112
situação de rua na cidade de São Paulo em 2011, por região, a pesquisa constatou o fato,
expresso no gráfico abaixo:
Gráfico 1 - Percentual de indivíduos em situação de rua na cidade de São Paulo em
2011 por região
(CENSO DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NA MUNICIPALIDADE DE SÃO PAULO.
p.6. São Paulo: FESPSP. 2011, Disponível em: <file:///C:/Users/Emanuel/Desktop/disserta%
C3%A7%C3%A3o/artigos%20e%20docs/censo_1338734359.pdf.> Acesso em: 08 maio. 2015.)
Ao olhar para a região central para analisar a distribuição dessa população de
rua, nota-se que a maior concentração está no distrito onde a PIBSP está localizada, a
saber: Santa Cecília. Nessa região, segundo a pesquisa anteriormente citada, se
encontram cerca de 27,7% do total dos indivíduos em situação de rua presentes da
região central, conforme a tabela abaixo.
Tabela 2- Quantidade e porcentagem de pessoas em situação de rua por distrito da
área central33
Distrito Indivíduos %
Santa Cecília 1.197 27,7%
33 Tabela extraída de:CENSO DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NA MUNICIPALIDADE DE SÃO PAULO. p.10. São Paulo: FESPSP. 2011,Disponível em: <file:///C:/Users/Emanuel/Desktop/disserta%C3%A7%C3%A3o/artigos%20e%20docs/censo_1338734359.pdf.> Acesso em: 08 mai. 2015.
7,1%10,7%
22,3%
4,7%
55,3%
Norte Sul Leste Oeste Centro
113
Sé 1.171 27,1%
República 719 16,6%
Brás 495 11,5%
Bom Retiro 197 4,6%
Consolação 159 3,7%
Bela Vista 135 3,1%
Liberdade 92 2,1%
Cambuci 77 1,8%
Parí 77 1,8%
Total 4.319 100%
Outra realidade que a PIBSP vivencia em seu contexto são as “Cracolândias”,
são ruas onde há uma grande concentração de pessoas dependentes químicas, em sua
maioria do crack, que se ajuntam para a venda e o consumo de drogas. Segundo a
pesquisa publicada pela prefeitura, na região central as “cracolândias” estão localizadas
em dois locais:Alameda Dino Bueno, CEP 01217- 000, e a Rua Helvétia, CEP 01215-
010. Quando toma-se os CEPS dessas localidades vemos que as duas pertencem ao
bairro Campos Elíseos.
Deve-se destacar a proximidade que há entre a PIBSP e as Cracolândias. A
igreja está a apenas 650 metros da Alameda Dino Bueno, e a 500 metros da rua
Helvétia. Esta proximidade foi relatada pelo atual pastor da PIBSP no Jornal comunhão
da seguinte forma:
Temos um templo confortável, com cultos dominicais muito
abençoadores, e devo reconhecer que isto nos tem feito experimentar
um pouco do céu aqui na terra a cada domingo. Mas, a quatro quadras
da igreja está a Cracolândia, que é uma das mais contundentes
manifestações do inferno. (VIEIRA, Paulo E. G. PIBSP, trabalhando
para fazer a diferença no centro de São Paulo. Jornal Comunhão,
p.22. 01 Jan. 2014.).
Segundo o Senso 2011 o grupo de pessoas que estão nessas duas Cracolândias é
de 743, sendo que 167 estão na Alameda Dino Bueno e 576 na Rua Helvétia. Deve-se
destacarque as pessoas recenseadas nessa localidade, fazem parte dos 1.197 casos do
Distrito de Santa Cecília.34
34 Um fato que deve ser registrado sobre essas cracolândias é que elas não são comunidades fixas, pois a cada intervenção dos poderes públicos com ações da guarda metropolitana e da policia militar, essas
114
A partir desse quadro aqui apresentado pode-se concluir que a região central
passou por uma grande transformação socioeconômica-cultural, fato este que tem
refletido na realidade presente da PIBSP. Quanto aos desafios e clamores que o contexto
do Centro apresenta para a igreja, é possível afirmar que estes não estão relacionados a
questões de infraestrutura (saneamento básico, transporte, etc) mas, sim às pessoas em
situação de rua e dependentes químicos, pessoas que vivem debaixo de uma opressão
social e/ou espiritual e que se deparam com o seu extremo oposto (as pessoas de classes
sociais mais privilegiadas e a igreja35), diariamente. Frente a isso surge a pergunta:
Quais têm sido as ações da PIBSP frente a esse contexto que clama por ações de
Desenvolvimento e de Justiça? É possível estabelecer um diálogo dessas ações com a
M.I.? São estes os questionamentos que nortearão os próximos subtópicos.
3.2. A Primeira Igreja Batista de São Paulo
Esta parte do trabalho se concentrará em apresentar a PIBSP, sua história e suas
ações no presente. Para tal tarefa serão utilizadas informações históricas contidas no site
da igreja, atas de assembleias, pesquisa de campo, por meio de roteiro de entrevista
entregue aos membros e pastor, análise de boletins da igreja, leitura de matérias
publicadas no jornal Comunhão que possuem relação com a PIBSP ou com seu atual
pastor, dentre outros materiais que estejam relacionados com a PIBSP e suas ações.
No primeiro momento será apresentado “O Passado” da PIBSP por meio de sua
história. Neste ponto serão destacados momentos e fatos que sirvam como elementos
que apresentem a PIBSP e se relacionam com a M.I. No segundo momento será
apresentado “O Presente” da igreja, neste serão destacadas a visão (aquilo em que crê) e
práxis da PIBSP na atualidade. Em todo o discorrer dessa análise será buscado o
estabelecimento de diálogo das ações e visão com o conceito de desenvolvimento e
justiça da M.I..
comunidades se deslocam para outras ruas, porém essa realocação sempre acontece na região, não saindo assim desse raio de proximidade com a PIBSP. Outro elemento que deve se considerado é que embora esse seja um senso relativamente recente, 2011, o tamanho dessa comunidade possui variações. 35 Coloco a Igreja como parte dos extremos oposto dessas pessoas, fundamentado na fala do Pr. Paulo Eduardo no jornal comunhão que apresenta a igreja como “pedaço do céu” e a Cracolândia como “uma das mais contundentes manifestações do inferno”.
115
3.2.1 O Passado
Ao afirmar sua localização histórica como propícia para estabelecer diálogo com
o trabalho, se faz referência ao fato de a PIBSP ser a Primeira igreja instituída pelos
batistas no solo paulistano, e de ter desempenhado um papel de “mãe” (auxiliadora no
surgimento de outras) para muitas igrejas em São Paulo como também em outras
cidades. Embora as igrejas Batistas estejam debaixo de uma compreensão que entende
cada igreja como sendo autônoma 36 , elas relacionam-se em uma dinâmica de
cooperação. Ao analisarmos a importância histórica da PIBSP podemos aferir que ela
representa boa parte do gene da identidade batista paulistana, por ter sido a genitora de
muitas igrejas.
O fato de essa igreja possuir cento e dezesseis anos de existência, nos possibilita
observar uma comunidade que antecede-os congressos que se configuram como berço
da M.I., trazendo assim a possibilidade de analisar uma comunidade que possui uma
história que perpassa todos esses encontros.
Lançando o olhar para a história da PIBSP pode-se ver que ela inicia-se em de
maio de 1899, quando os primeiros missionários batistas,J.J.Taylor e J.L. Downing e
suas famílias, chegaram em São Paulo, enviados pela Junta de Missões Estrangeiras da
Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, para iniciarem o trabalho batista na
cidade.
Em junho do mesmo ano, os missionários conseguiram uma casa para reunião do
pequeno grupo, que se localizava na Rua Santa Efigênia, 90 A. Neste local, no terceiro
domingo desse mês, foi inaugurado um "ponto de pregação" do trabalho batista. Porém
já em 06 de julho de 1899, foi realizada a organização da PIBSP; naquela ocasião a
igreja contava com 18 membros, oriundos do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte, e de
Santa Bárbara d'Oeste. A PIBSP foi constituída igreja, tendo como líderes os
missionários Dr. J. L. Downing, que era médico e pregador, e J.J. Taylor, que era um
professor muito prestigiado.
Com o crescimento da igreja houve a necessidade de várias mudanças de locais
para que os novos membros e visitantes pudessem ser acolhidos. No final de 1900 a
Igreja transferiu-se para o prédio na Rua dos Guayanazes, 45. Em 1905,mudou-se para
um salão alugado na Rua General Osório, 9ª. Em agosto do mesmo ano, mudou-se para
36 O sistema batista é CONGREGACIONAL e teve suas origens no movimento congregacionalista que em 1658 estabeleceu a Declaração de Fé e Ordem de Savoy.
116
a Rua Timbiras, 37, ali permanecendo até 1910. Depois se transferiu para a Travessa
São João, 2,neste local ficou até1915. Posteriormente ocupou provisoriamente O Salão
Nobre da Associação Cristã de Moços, localizado na Praça da República, ficando neste
local entre 1916 e 1917. Depois de todas essas mudanças adquiriu um terreno situado no
Largo dos Guayanazes (hoje Praça Princesa Isabel). Em 06 de julho de 1917a Igreja
tinha em seu rol de membros 108 pessoas.
Esta propriedade,em 1921, sob o pastorado do missionário F. M. Edwards, foi
expandida com a compra de uma velha casa e terreno vizinhos ao templo. Cinco anos
depois, em 1926,a igreja comprou o prédio da Rua General Rondon, nº 01, que ficava
aos fundos do próprio templo.
Em 1957, após 8 anos de projetos e estudos para expansão do templo,inicia-se a
demolição da antiga construção para a edificação do atual santuário e edifício de
educação religiosa. E foi no pastorado do Pr. Irland Pereira de Azevedo que foram
inauguradas as dependências do atual Edifício de Educação Religiosa.
Quanto ao pastor citado logo acima, faz-se destaque a sua participação no 2º
Congresso de Evangelização Mundial em Lausanne. Na assembléia de13 de março de
1974, foi registrada na ata de nº 05/74, a seguinte afirmação:
2º Congresso de Evangelização Mundial - O Sr. Presidente faz
minuciosa exposição a respeito das finalidades e programa do referido
congresso a ser realizado em Lausanne – Suíça, de 16 a 26 de julho
último. Falando do convite recebido pelo pastor da Igreja para
comparecer àquele conclave, passa a direção dos trabalhos ao 2º vice-
presidente, para que este submeta o assunto ao plenário, por
unanimidade o plenário concede autorização ao Pastor para essa
viagem. (Primeira Igreja Batista de São Paulo. Ata nº5/74.13 março
1974)
Na carta desse pastor a PIBSP, ao relatar as realizações que aconteceram em
seu tempo de pastorado, faz-se destaque às ações de resposta à realidade contextual na
qual a igreja estava inserida. O seguinte trecho apresenta essas ações:
Houve incentivo e apoio à criação do Ministério Jeame, para
assistência a meninos e adolescentes de rua e de conduta infracional; à
criação do Desafio Jovem Peniel, em São Paulo, para recuperação de
viciados em drogas; à criação do Centro Social Dr. Manoel Tertuliano
Cerqueira, para atendimento social à população carente, de Campos
Elísios e adjacências (AZEVEDO, Irland P. Carta pastoral à Primeira
IgrejaBatista em São Paulo. 1996)
A história da PIBSP não é marcada apenas por um crescimento interno, segundo
o relato histórico: “Desde cedo a igreja sentiu serem missões urbanas a sua principal
117
vocação, conquanto não limitasse sua visão apenas à cidade de São Paulo. E, desde o
início de sua existência, cuidou da evangelização pessoal e da abertura de "pontos de
pregação", mobilizando os lares de seus membros.” (Primeira Igreja Batista: Breve
histórico. Disponível em: <http://www.pib.org.br/>Acesso em:01 mai.2015.)
Como consequência dessa visão pode-se verificar um grande empenho da PIBSP
na implantação de novas igrejas em São Paulo e também em outras cidades. Ao longo
de seus 116 anos registra-se a organização de 31 igrejas.
A partir desse breve panorama histórico destaca-se a forte participação da PIBSP
na realidade batista da cidade e estado de São Paulo, devido a sua ação de implantação e
apoio de igrejas na região.
Nota-se também que a PIBSP nasceu e cresceu na região central de São Paulo,
experimentando assim todas as transformações ocorridas no centro. A relação da igreja
com seu contexto foi dialógica, pois vê-se já no ministério do pastor Irland P. Azevedo
ações que respondiam aos clamores específicos da região,leituras das mudanças que
ocorreram,e sinalizações para uma “implementação de programas e reavaliação e quiçá
reformulação da visão, da missão e dos objetivos da igreja, em face das mudanças
socioeconômicas por que passam a Cidade” (AZEVEDO, Irland P. Carta pastoral à
Primeira Igreja Batista em São Paulo. 1996.).
Pode-se afirmar que por meio do pastor Irland Pereira de Azevedo a PIBSP teve
contato com os princípios da M.I., uma vez que compreende-se o 2º Congresso Mundial
de Evangelização de Lausanne como a mola propulsora da M.I., e seu pacto, o PL,
como o “marco da Missão Integral”(GONDIM, 2010, p.83).Tendo sido este pastor um
dos participantes desse congresso, pode-se ver essa aproximação entre a PIBSP e a
Missão Integral. E deve-se destacar que as ações da igreja nesse período, mesmo que a
partir de um breve esboço, respondiam à integralidade humana físico-sócio-espiritual.
Faz-se menção aos programas citados no pastorado de Irland Pereira de Azevedo.
3.2.2 O Presente da PIBSP
Neste ponto do trabalho será realizada uma análise da realidade presente da
PIBSP a partir da análise dos boletins, publicações no Jornal Comunhão, e dos
resultados da pesquisa de campo, que foi realizada na PIBSP nos dias 26 e 28 de abril
de 2015 com seus membros e pastor. Essa pesquisa teve como participantes 12 pessoas
118
que foram qualificadas em 3 grupos e o pastor titular. Estes grupos foram organizados
por faixa etária. O primeiro grupo foi formado por jovens entre 18 a 34 anos de idade, o
segundo, por adultos de 35 a 58 anos, e o último grupo por pessoas que possuem entre
64 e 76 anos de idade. Cada grupo foi formado por quatro pessoas (duas mulheres e dois
homens).37
Quanto à relação destes com a igreja, todos são membros da PIBSP, e o tempo
de membresia de cada um deles compõe o seguinte quadro:
Quadro 1-Tempo de membresia dos entrevistados
Tempo de membresia Números de pessoas
Até 09 anos 6
De 10 a 19 anos 2
20 a 30 anos 4
Deve-se ressaltar que de todos os entrevistados apenas um é membro da igreja a
menos de um ano. Todos os outros têm a partir de quatro anos de membresia.38
A PIBSP continua situada na Praça Princesa Isabel, 233, Campos Elíseos, e tem
como seu pastor titular e presidente Paulo Eduardo Gomes Vieira39. Atualmente a igreja
possui em seu rol de membros 1081 pessoas. Sua visão e missão são apresentadas em
todos os boletins analisados, e site da igreja da seguinte forma:“Visão: Ser uma Igreja
contextualizada que vive a mensagem de Cristo”, “Missão: Adorar a Deus, promover o
seu Reino na terra”.
Ao analisar a relação que a PIBSP tem hoje com seu contexto, nota-se que ela o
entende como um de seus desafios. E considerando a realidade na qual está inserida faz
a seguinte afirmação:
Isso tem exigido e continuará a exigir a adoção de estratégias e
programas que permitam alcançar eficazmente toda a população-alvo
com a mensagem integral do evangelho de Jesus Cristo.[...]Nosso
Ministério de Ação Social tem se destacado na assistência aos carentes
37 Os roteiros de entrevistas para membros estão no anexo 8 e o roteiro de entrevista para o pastor no anexo 9, Para preservação da identidade dos participantes o pesquisador realizou a seguinte alteração: o campo “nome” foi substituído pelo campo “sexo” 38Todas as respostas dos roteiros de entrevistas serão validadas desde que as mesmas sejam inteligíveis e coerentes ao enunciado. 39Paulo Eduardo Gomes Vieira é pastor há 28 anos, e no dia 06 de julho de 2005 assumiu o pastorado e presidência da PIBSP. Em 2013, foi eleito presidente da Convenção Batista do Estado de São Paulo, exercendo seu mandato de julho de 2013 a Julho de 2014.
119
não só da Igreja mas da comunidade onde estamos inseridos; no
treinamento e capacitação através da ministração de cursos gratuitos;
no atendimento das pessoas como um todo através de orientação
espiritual, psicológica, material, familiar e etc.[...]A Primeira Igreja
Batista em São Paulo tem diante de si grandes desafios, entre os quais
alcançar toda a comunidade do bairro de Campos Elíseos e
adjacências.40 (Primeira Igreja Batista: Breve histórico. Disponível
em: <http://www.pib.org.br/> Acesso em: 01 mai.2015.).
Essas afirmações apresentam uma grande proximidade entre a PIBSP com os
conceitos da M.I., pois nelas estão contidas as três totalidades presentes da máxima da
M.I. (o evangelho todo, para o homem todo e para todos os homens/mundo todo). Junto
à última totalidade citada (toda a comunidade do bairro de Campos Elíseos) deve-se
adicionar a trajetória histórica de cooperação na implantação de igrejas da PIBSP em
outras regiões da cidade de São Paulo e em outras cidades, e também a afirmação que
consta no site no campo “Em que cremos”, a qual diz o seguinte:
A missão primordial do povo de Deus é a evangelização do mundo,
visando a reconciliação do homem com Deus. É dever de todo
discípulo de Jesus Cristo e de todas as igrejas proclamar, pelo
exemplo e pelas palavras, a realidade do evangelho, procurando fazer
novos discípulos de Jesus Cristo em todas as nações, cabendo às
igrejas batizá-los e ensiná-los a observar todas as coisas que Jesus
ordenou. A responsabilidade da evangelização estende-se até aos
confins da terra e por isso as igrejas devem promover a obra de
missões, rogando sempre ao Senhor que envie obreiros para a sua
seara.[...]o maior benefício que pode prestar é anunciar a mensagem
do evangelho41.(Primeira Igreja Batista: Breve histórico. Disponível
em: <http://www.pib.org.br/>Acesso em: 01 mai.2015.).
Nessas afirmações,nota-se de maneira clara que a PIBSP em sua teologia possui
uma grande proximidade com as três totalidades que compõem a M.I..
Deve-se destacar que a igreja,na citação acima, lança mão da Declaração
Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, apresentando-a como aquilo em que a
PIBSP crê. Nesta declaração a igreja explicita uma hierarquização entre Evangelização
e responsabilidade social. Ao analisar os questionários, as posições dos participantes
frente ao questionamento que se refere à Missão da Igreja, pode-se ver que há uma
divergência entre aquilo que é declarado como crença da igreja quanto à hierarquização
e aquilo que é crido por boa parte dos membros entrevistados.
As respostas ao questionamento “O que é Missão da Igreja?” montam o gráfico a
baixo:
40 Negrito nosso 41Negrito nosso
120
Gráfico 2- O que é Missão da Igreja para os membros da PIBSP?
O pastor da PIBSP respondeu a esses mesmos questionamentos dizendo que sim,
é missão da igreja falar de Jesus, e quanto às duas questões seguintes, ele afirmou
também que sim, porém colocou-as como ações secundárias na missão da Igreja.
Nota-se que há uma unanimidade, desde o pastor até os membros, que concorda
que o falar de Jesus é missão da Igreja, porém esse consenso sofre uma baixa na
pergunta seguinte, que questiona sobre a assistência aos necessitados. Nesse ponto 75%
dos participantes dizem que esta ação é missão da igreja e não fazem uma
hierarquização entre ela e a evangelização, 8,33% juntamente com o pastor concordam
que essa ação faz parte da missão da igreja, porém é secundária. E quando perguntados
sobre se é missão da igreja intervir em situações onde a dignidade humana é violada
(podendo estabelecer ações políticas e públicas), 50% respondeu que sim, sem fazer
uma escala de prioridade frente às outras ações supracitadas, 41,66% dos membros,
juntamente com o pastor, afirmaram que sim, porém, é secundaria, e apenas 8,33% disse
que esta ação não é missão da igreja.
Esses números trazem à tona duas realidades: a primeira é que mesmo a igreja
tendo uma posição clara e assimilada pelo pastor sobre a relação da evangelização e da
responsabilidade social, seus membros em sua grande maioria divergem dessa posição.
A segunda realidade é que, mesmo havendo essa discordância, há um consenso quanto
ao fato de ter a igreja uma responsabilidade social, embora para alguns seja secundária,
91,66%
75%
50%
0%8,33%
41,66%
0% 0%8,33%
0%8,33%
0%8,33% 8,33%
0%
A missão da igreja é evangelizar? A missão da igreja é dar assistenciaaos necessitados?
A missão da igreja é intervir emsituações onde a dignidade humana
é violada (podendo estabelecerações políticas e públicas)?
Sim Sim, porém secundária não Anuladas Em branco
121
e para outros tão primordial quanto a evangelização. A grande maioria consente em
reconhecer a responsabilidade da Igreja frente às questões sociais.
O fato de haver uma discordância com relação à hierarquização entre
evangelização e ação social não se pode configurar como um distanciamento, pois como
já foi citado anteriormente, existem posições diferentes entre os referenciais teóricos da
M.I. quanto à questão da primazia. Porém, deve-se destacar que todos os entrevistados,
incluindo o pastor, ao responderem à pergunta “em sua compreensão a igreja possui
uma responsabilidade social?” afirmaram que “Sim” a igreja possui uma
responsabilidade social.
Esse fato ficou ainda mais evidente quando os participantes da entrevista foram
questionados sobre “o que é ação missionária?” Com as respostas monta-se o seguinte
gráfico:
Gráfico 3- O que é ação missionária para os membros da PIBSP?
O pastor respondeu a esses questionamentos dizendo que todas essas ações se
configuram como ações missionárias da Igreja.
Ao analisar esse segundo conjunto de perguntas, que trata a visão da igreja sobre
ação missionária, nota-se que 91,66% e o pastor concordam que viagens e eventos onde
acontece evangelização são ações missionárias; apenas um entrevistado deixou essa
questão em branco, porém não houve nenhuma resposta que dissesse o contrário do que
a maioria afirmou. Quanto às ações de assistência social, 83,33% mais o pastor
afirmaram que estas ações eram sim ações missionárias; uma resposta foi anulada e
91,66%83,33%
91,66%
0% 0%8,33%
0,%8,33%
0%8,33% 8,33%
0%
Viagens ou eventos ondeacontecem evangelização são
ações missionárias?
Ações de assistêncial social sãoações missionárias?
É ação missionária trabalhar para odesenvolvimento e justiça dos
seres humanos?
Sim não Anuladas Em branco
122
outro participante deixou em branco, da mesma forma que a anterior não houve pessoas
que dissessem o contrário da maioria. No último questionamento desse grupo de
perguntas, 91,66% dos participantes, mais o pastor, afirmam que trabalhar para o
desenvolvimento e a justiça dos seres humanos é uma ação missionária, porém apenas
um, que representa 8,33% diz que esse ato não se configura como ação missionária.
Nesse grupo de perguntas a aproximação com a M.I. é igualmente nítida, pois a
PIBSP por meio de seus participantes da pesquisa apresentou uma visão que foge da
visão “conversionista” que entende que a ação missionária é unicamente a
evangelização por meio de uma comunicação verbal. A igreja apresentou uma visão
mais integral sobre a sua ação missionária colocando em seu escopo tanto a
evangelização como a responsabilidade com o desenvolvimento e a justiça.
Nesses dois grupos de perguntas, de maneira geral, há uma uniformidade nas
respostas dos participantes, entre as diferentes faixas etárias, e tempo de membresia, e
em ambos os sexos. Esse fato expressa que existe uma coesão considerável quanto à
teologia de missão da igreja na PIBSP.
Essa visão expressada pela PIBSP e por seu pastor expõe uma abertura para que
a igreja vivencie em sua práxis uma busca pela justiça e pelo estabelecimento de todos
os aspectos que se configuram como características de um desenvolvimento integral, a
saber, desenvolvimento humano, social e sustentável.
Uma vez citado que a justiça buscada pela igreja se direciona às relações entre
pessoas, e busca praticar os padrões do Reino de Deus em todas as formas de relação,
condenando todo tipo de opressão e injustiça,a PIBSP, ao apresentar essa compreensão
e missão da igreja que abrange evangelização, assistências e ações sociais, abre-se para
uma prática de justiça e desenvolvimento que toca não somente o indivíduo e a igreja
local, mas também alcança as estruturas sociais, tais como sistema penitenciário,
econômico, político, dentre outros, abrindo a possibilidade de trilhar caminhos de ações
políticas e públicas compatíveis com os princípios bíblicos do Reino de Deus.
Ao voltar os olhos para o credo da PIBSP pode-se constatar que por mais que a
igreja coloque a evangelização no topo de sua missiologia, a responsabilidade social não
é negligenciada dentro de sua visão e práxis. A seguinte afirmação esclarece a forma
como ambas as responsabilidades se relacionam. Ainda dentro de sua declaração de
crença a PIBSP afirma que:
Como o sal da terra e a luz do mundo, o cristão tem o dever de
participar em todo esforço que tende ao bem comum da sociedade em
123
que vive. Entretanto, o maior benefício que pode prestar é anunciar a
mensagem do evangelho; o bem-estar social e o estabelecimento da
justiça entre os homens dependem basicamente da regeneração de
cada pessoa e da prática dos princípios do evangelho na vida
individual e coletiva. Todavia, como cristãos, devemos estender a
mão de ajuda aos órfãos, às viúvas, aos anciãos, aos enfermos e a
outros necessitados, bem como a todos aqueles que forem vítimas de
quaisquer injustiças e opressões. Isso faremos no espírito de amor,
jamais apelando para quaisquer meios de violência ou discordantes
das normas de vida expostas no Novo Testamento. 42 (EM QUE
CREMOS: Declaração Doutrinária Da Convenção Batista Brasileira.
Disponível em: <http://www.pib.org.br/> Acesso em: 01 mai.2015.)
Fazendo uma leitura desta última citação à luz da MI, pode-se identificar uma
atribuição à igreja da responsabilidade de buscar o desenvolvimento e a justiça pelos
meios que Lessa (2012) vai chamar de “assistência social”, “serviço social” e também
de “ação social” 43. Essas ênfases podem ser identificadas nos seguintes trechos:
Assistência Social e Serviço Social: “devemos estender a mão de ajuda
aos órfãos, às viúvas, aos anciãos, aos enfermos e a outros
necessitados, bem como a todos aqueles que forem vítimas de
quaisquer injustiças e opressões” (EM QUE CREMOS: Declaração
Doutrinária Da Convenção Batista Brasileira. Disponível em:
<http://www.pib.org.br/> Acesso em: 01 mai.2015.)
Ação Social: “Como o sal da terra e a luz do mundo, o cristão tem o
dever de participar em todo esforço que tende ao bem comum da
sociedade em que vive.” (EM QUE CREMOS: Declaração Doutrinária Da
Convenção Batista Brasileira. Disponível em: <http://www.pib.org.br/>
Acesso em: 01 mai.2015.)
Quanto ao enfoque na questão do serviço social, que pode ser entendido como
sublimado na primeira afirmação acima, entendendo que esta faz menção apenas à
assistência social, deve-se somar a seguinte citação que diz respeito a elementos que são
tidos como destaque da PIBSP, que diz: “A Primeira Igreja Batista em São Paulo
destaca-se hoje: [...] pela obra social que desenvolve entre seus membros e a
comunidade de Campos Elíseos através do atendimento aos carentes e da ministração
de cursos de capacitação para jovens e adultos” 44 (Breve histórico. Disponível em:
42 Grifo nosso 43 Para explanação desses conceitos de o subtópico “2.1.3De quem é a responsabilidade de promover a justiça e o desenvolvimento? E como promovê-los?” 44 Negrito nosso
124
<http://www.pib.org.br/> Acesso em: 01 mai.2015.) Esta afirmação deixa claro que o
serviço social (essa ação que visa um desenvolvimento do potencial humano), está
dentro da compreensão de missão da PIBSP.
A partir dessa teologia da Igreja surge o questionamento sobre a práxis dela
hoje, uma vez que pode-se notar uma aproximação teórica entre a PIBSP e o
Desenvolvimento e a Justiça da M.I. Questiona-se então sobre a práxis desta igreja a
partir de sua teologia frente ao seu contexto.
3.2.2.1. A Práxis: respostas de desenvolvimento e Justiça ao contexto
Analisando a práxis de hoje da PIBSP vê-se que as ações que a igreja tem
realizado estão direcionadas às seguintes áreas: Intercessão, Evangelismo, Missões,
Ação Social, Arte, cultura e História da Igreja, Administração Eclesiástica, Jovens,
Adolescentes, Educação Cristã, Escola Bíblica Dominical, Aconselhamento Cristão,
Casais, Mulheres, Infanto Juvenil, Educação Ministerial, Comunicação e Marketing,
Recreação e Esportes, Melhor Idade, Surdos, Capelania Prisional, Capelania Hospitalar
e Evangelização de Empresários.
Quanto à Ação social, a PIBSP faz a seguinte afirmação:
Nosso Ministério de Ação Social tem se destacado na assistência aos
carentes não só da Igreja mas da comunidade onde estamos inseridos;
no treinamento e capacitação através da ministração de cursos
gratuitos; no atendimento das pessoas como um todo através de
orientação espiritual, psicológica, material, familiar e etc. (Breve
histórico. Disponível em: <http://www.pib.org.br/> Acesso em: 01
mai.2015.)
A partir de uma análise dos boletins arquivados pela igreja no período do ministério
do seu atual pastor e de informações disponibilizadas no site da PIBSP vê-se que a
igreja tem realizado essa ação social pelos seguintes projetos e meios:
Gerenciando o futuro – curso de inglês gratuito para pessoas de todas as faixas
etárias, que tem atendido especialmente jovens adultos moradores e
trabalhadores da região.
Bazar Dorcas – bazar social com funcionamento diário, no qual a igreja recebe
doações dos membros e frequentadores, e depois vende esses produtos doados
por valores muito baixos. Este bazar atende especialmente aos moradores de
125
baixa renda e também realiza doações de roupas para moradores em situação de
rua.Toda a renda arrecadada nesse bazar é revertida para o ministério de ação
social da igreja.
Distribuição de cestas básicas - mediante cadastro e acompanhamento das
famílias carentes.
Apoio financeiro, institucional e pastoral à Cristolândia – trabalho que visa o
resgate e a recuperação de dependentes químicos na região da Cracolândia e do
centro.
Apoio financeiro à Junta de Missões Nacionais (leia-se JMN) e Junta de Missões
Mundiais (leia-se JMM) da Convenção Batista Brasileira.
Apoio financeiro, institucional e pastoral ao Projeto Novos Sonhos – trabalho
desenvolvido com crianças da região da Cracolândia.
Representação da PIBSP na Rede Social do Centro – este é um movimento laico
que reúne organizações cristãs, ONGs, poder público, poder judiciário e
empresas privadas e visa articular ações e projetos em rede para buscar soluções
para os problemas sociais, e ser caminho de transformação social para o
desenvolvimento local de maneira sustentável e participativa.
Ponto de arrecadação do projeto Viva Leite – programa da prefeitura de
distribuição de leite à população de baixa renda.
Todas essas ações são fundamentadas nos conceitos supracitados da igreja e se
configuram como uma tentativa de responder às demandas contextuais presentes na
região central de São Paulo. Ao analisar essas ações, pode-se distribuí-las dentro do
conceito de Lessa (2012) da seguinte forma:
Quadro 2- Ações da PIBSP frente ao conceito de Lessa
Conceito de Lessa (2012) Ações da PIBSP
Assistência social Bazar Dorcas
Distribuição de cestas básicas
Ponto de arrecadação do projeto Viva Leite
Apoio financeiro à JMN e à JMM
Serviço social Gerenciando o futuro
Apoio financeiro, institucional e pastoral aos Projetos
126
Cristolândia e Novos Sonhos
Apoio financeiro à JMN e à JMM
Ação Social Anunciando o evangelho - Pois entende que o bem-
estar social e o estabelecimento da justiça entre os
homens dependem basicamente da regeneração de
cada pessoa e da prática dos princípios do evangelho
na vida individual e coletiva.
Representação da PIBSP na Rede Social do Centro.
Apoio financeiro à JMN e à JMM
Frente a todas essas ações realizadas pela PIBSP, com o objetivo de aferir a
percepção dos membros da igreja sobre essas ações perguntou-se a seus membros e
pastor “quais são as ações missionárias que a igreja tem realizado? (enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão)”. O pastor respondeu a esse questionamento
da seguinte forma:
1- Cristolândia
2- Novos Sonhos45
3- Parceria com a Rede social do Centro
4- Lar Batista
Quanto aos membros, as respostas obtidas montam o seguinte gráfico a baixo
que apresenta as quatro ações missionárias da PIBSP mais citadas pelos membros
participantes da pesquisa.
45 Novos Sonhos é uma frente de ação da Cristolândia que se dedica ao trabalho com as crianças da região central de São Paulo. Atualmente ocorrem nesse projeto aulas de balé, jiu-jítsu, violão e futebol.
127
Gráfico 4- As 4 ações missionárias da PIBSP mais citadas pelos entrevistados
Vejamos abaixo cada uma dessas quatro ações mais citadas pelos participantes.
A ação missionária mais mencionada foi a Cristolândia, com doze referências
diretas, (contando a resposta do pastor), e uma que não foi contabilizada nesse gráfico
por não citar diretamente o projeto, mas que apresenta ações que se aproximam muito
do trabalho realizado na Cristolândia.Ou seja,essa ação missionária apareceu quase que
em 100% dos roteiros de entrevistas.
Apenas a título de contextualização, para compreender o que é a Cristolândia46 e
qual é a sua relação com a PIBSP e o conceito de desenvolvimento e justiça da MI, faz-
se necessário apresentar um breve esboço histórico e um panorama da ação desse
projeto.
A Cristolândia se define da seguinte forma: “um programa permanente de
prevenção, recuperação e assistência a dependentes químicos e codependentes, que
busca a transformação destas vidas por meio do Evangelho de Jesus Cristo, para que
sejam livres do vício e aptas à reinserção social e familiar.” (Disponível
em:<http://www.cristolandia.org/#!quemsomos/c21kz> Acesso em: 06 mai. 2015).
A visão desse projeto é “Ser um lugar de esperança para os que vivem em locais
de grande concentração de uso de drogas – as cracolândias, prestando assistência social
46 Os dados contidos nesse esboço histórico e panorama de ação da Cristolândia foram extraídos do site www.cristolandia.org , de observações dos relatos realizados por meio de seus representantes, e por matérias escritas no Jornal Comunhão que faziam menção a esse projeto.
12
76
3
Cristolândia Ajuda financeira(JMN/JMM/Sustento de
missionários eseminaristas)
Capelanias Hospitalar eprisional
Projetos de Ação Social
Quantidade de participantes que citaram a ação no roteiro de entrevista
128
aos dependentes químicos e codependentes e levando a mensagem transformadora do
Evangelho de Jesus Cristo.” (Disponível em:
<http://www.cristolandia.org/#!quemsomos/c21kz> Acesso em: 06 mai. 2015) e sua
missão é “Transformar as Cracolândias em Cristolândias, prevenindo e combatendo o
uso indevido de drogas e substâncias psicoativas, buscando a transformação dos
dependentes químico pelo Evangelho de Jesus Cristo, reinserindo-os ao convívio social
e familiar” (Disponível em: <http://www.cristolandia.org/#!quemsomos/c21kz> Acesso
em: 06 mai. 2015).
A seguinte afirmação, apresentada na metodologia utilizada na Cristolândia para
a recuperação dos dependentes químicos, se configura como uma grande aproximação
com a M.I.:
Baseada em seus princípios cristãos e em consonância com as
garantias que a lei propõe, Missões Nacionais trabalha na perspectiva
da recuperação total do indivíduo, sem descuidar de nenhuma
esfera que perpassa a sua existência, considerando a reinserção
social, como parte de um processo terapêutico que se preocupa,
ainda, com a vida espiritual e a saúde física e emocional. Desta
forma, projeta-se uma intervenção organizada e planejada e em
consonância com a missão, visão e valores de Missões Nacionais.
A Cristolândia se propõe a atuar com um ser biopsicossocial e
espiritual, operando assim, além do social, em três áreas da vida do
indivíduo: espiritual, emocional e física. A fim de proporcionar,
priorizar e orientar o cumprimento dos valores que impulsionam o
projeto.” 47 (Disponível em: <http://www.cristolandia.org/#!quem
somos/c21kz> Acesso em: 06 mai. 2015).
A partir dessa metodologia de trabalho, e do que foi exposto, pode-se dizer que a
Cristolândia possui princípios e uma metodologia de trabalho que dialogam com a M.I..
Quando este projeto apresenta esse olhar e abordagem holística do ser humano nota-se
um alinhamento com a visão de desenvolvimento e justiça da M.I., pois esse projeto tem
se baseado na Bíblia, para proclamar o reino de Deus por meio de ações que lutam
contra a opressão e a injustiça, olhando para os moradores da cracolândia como seres
que possuem a imagem de Deus e carecem de uma ação de justiça e libertação.
Este projeto tem desempenhado um trabalho de assistência social (com os cafés
da manhã, almoços, banhos e roupas) serviço social (por meio de seus “Centros de
formação Cristã”) e ação social (na reinserção social desses indivíduos que começam a
construir uma nova sociedade, gerindo transformações sociais).
47 Grifo nosso
129
A relação que a Cristolândia possui com a PIBSP é muito forte, porque além do
vínculo denominacional (por este projeto pertencer à Convenção Batista Brasileira, por
meio da JMN),a PIBSP foi para esse projeto o berço, lugar onde ele nasceu e tomou
forma.
O registro histórico do início da Missão Cristolândia possui uma divergência
dentro da denominação, pois segundo as informações contidas no site do projeto
Cristolândia o início se dá em 2008 quando o pastor Fernando Brandão, diretor
executivo da JMN,atendendo ao convite para pregar na PIBSP e estando, naquela
ocasião,hospedado em um hotel que ficava perto da igreja, decide ir para o culto a pé,
porém no trajeto ele errou o caminho e foi parar no meio da Cracolândia de Campos
Elíseos. Ele entendeu que era propósito de Deus ter se perdido naquela região, pois foi a
partir deste momento que ele sentiu no coração o desejo de começar um projeto Batista
no centro de São Paulo que tratasse de dependentes químicos.
Porém Em entrevista ao Jornal Comunhão o atual pastor da PIBSP, Paulo
Eduardo Gomes Vieira, respondendo a pergunta “Como nasceu o Projeto Cristolândia?”
afirma que:
O Projeto Cristolândia nasceu a partir de um incômodo profundo que
senti acerca da Cracolândia. Temos um templo confortável, com
cultos dominicais muito abençoadores, e devo reconhecer que isto nos
tem feito experimentar um pouco do céu aqui na terra a cada domingo.
Mas, a quatro quadras da Igreja está a Cracolândia, que é uma das
mais contundentes manifestações do inferno na terra. Não podíamos
permanecer inertes, desfrutando do céu aqui na terra, e, ali bem
próximo de nós, pessoas vivendo o inferno, sem que fizéssemos algo
mais efetivo em favor daquela realidade.
Comecei, então a desafiar a igreja a orar pela Cracolândia, crendo que
Deus nos usaria para que algo especial acontecesse naquele lugar. Foi
assim que, em um dos cultos, eu disse para a minha igreja:
“Irmãos, a Cracolândia será transformada em ...Cristolândia” E
assim surgiu esse nome, sem nenhuma elaboração prévia, sem que
alguém tivesse pensado sobre que nome daríamos ao futuro projeto.
Não tenho dúvidas de que foi uma providência do Espírito Santo.
Hoje, a Cristolândia é um projeto da Junta de Missões Nacionais, e,
portanto, dos Batistas Brasileiros, e nós da PIB de São Paulo, nos
alegramos muito com isso. 48 (PIBSP: Trabalhando para fazer a
diferença em São Paulo. Jornal Comunhão, p.22, 01. Jan. 2014).
Esse relato do Pastor Paulo Eduardo encontra uma ressonância em um dos
roteiros de entrevista para os membros, respondido por uma participante que quando
questionada sobre se a igreja possui uma responsabilidade social, ela afirma: “Sim. O
Pastor, Paulo Eduardo, desde que chegou a esta igreja, há 10 anos mais ou menos,
48 Grifo nosso
130
andou pelas redondezas do templo e viu seres humanos sendo tripudiados pelas drogas.
Ele sentiu em seu coração e, num certo dia, disse: A Cracolândia vai se tornar
Cristolândia.” (Roteiro de entrevista)
Quanto ao nascimento da Cristôlandia pode-se ver que apesar das divergências,
existe um elemento comum nas duas versões, a saber: a leitura do contexto como
elemento matricial do surgimento da Cristolândia. Em ambas as versões o projeto se
origina não de uma estratégia e discurso bem-elaborados, mas nasce de um confronto
com o contexto; foi quando o Pr. Fernando Brandão e o Pr. Paulo Eduardo, fizeram a
leitura daquele contexto da Cracolândia que surgiu uma nova leitura sobre a missão da
igreja naquela comunidade.
Ao levar esse desafio do contexto para a PIBSP, ela aderiu, porque ela se via em
meio a esse contexto e conhecia-o. Esse conhecimento da PIBSP pôde ser constatado
por meio das pesquisas realizadas. Quando os participantes foram questionados sobre
“quais os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?” as drogas
ocuparam o topo da lista dos problemas mais citados, aparecendo em 9 dos 13 roteiros
de pesquisa entregues (contando o do pastor). Abaixo desse problema estão prostituição
(ocupando o segundo lugar da lista), com aparição em três roteiros,e em terceiro lugar
crime, educação, saúde e segurança, todos com aparições em apenas duas entrevistas.
Quadro 3- Problemas sociais da região central vistos pelos participantes
Problemas sociais da comunidade Número de participantes que
citaram esse problemas
Drogas 9
Prostituição 3
Crime, educação, saúde, segurança 2
Essa leitura do contexto realizada também pelos membros da igreja
proporcionou um engajamento com o projeto que deu à PIBSP não apenas o status de
genitora mas também de berço, no qual o projeto iniciou, tomou forma e cresceu.
Inicialmente o projeto se limitava a realizar as seguintes ações na Cracolândia:
entregar folhetos evangelísticos, oração, cultos, entrega de pães no café da manhã e
internação de alguns dependentes químicos em casas de recuperação.Logo no início o
projeto conseguiu a autorização para a instalação de uma tenda na praça Júlio
131
Prestes,onde eram realizadas essas ações, porém no final de 2009 a PIBSP abriu suas
portas para que o projeto realizasse suas ações dentro da igreja.
Nesse período a Cristolândia usava o espaço da PIBSP durante a semana. No
salão social da igreja eram realizados os cultos com os moradores de rua, e era servido o
café da manhã. No nono andar os moradores de rua tomavam banho e trocavam suas
roupas. O décimo andar da igreja era usado como depósito das doações de roupas que o
projeto recebia. Nesta época a Cristolândia atendia cerca de 70 pessoas por dia; todos
eles eram pessoas em situação de rua ou dependentes químicos.
A Cristolândia ficou na PIBSP por volta de três meses. Após esse período ela se
mudou para um galpão localizado na Rua Barão de Piracicaba, 509, Campos Elíseos, no
qual realizaram toda a reforma e no dia 27 de março de 2010 aconteceu a inauguração
da Missão Cristolândia. Neste local começou-se a oferecer, para os moradores da
Cracolândia, banho, café da manhã, almoço, jantar, quatro cultos por dia e depois
pernoite.
Nesta fase inicial a Cristolândia não tinha um local próprio para que pudessem
enviar o dependente químico para serem tratados, por isso enviavam para casas de
recuperação de outras instituições, e conseguiam, junto às igrejas, recursos para o
custeio das internações. Porém em 2011 a missão ganhou um sítio em Bauru, onde
implantaram o primeiro “Centro de formação Cristã”, local para onde enviavam os
dependentes químicos resgatados da Cracolândia para se libertarem do vício e se
reestruturarem psíquico-físico-espiritualmente. Logo de início foram internados 300
homens. Desde então o projeto foi crescendo e hoje possui 34 bases espalhadas por São
Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Distrito Federal, Pernambuco e
Bahia. Hoje a Cristolândia tem desenvolvido trabalhos com pessoas do sexo masculino
e feminino de todas as faixas etárias, desde crianças até idosos.
Esse breve esboço histórico da Cristolândia salienta dois fatos: o primeiro, a
importância da leitura do contexto para o surgimento da Cristolândia; o segundo, o
papel fundamental da PIBSP para o surgimento desse projeto.
Analisando esse primeiro fato (a importância da leitura do contexto para o
surgimento da Cristolândia) ao reler a história vê-se que esse projeto nasce dentro da
lógica do círculo hermenêutico. A igreja, (seja por meio de seus membros, de seu
pastor, ou de seu executivo da JMN) faz uma leitura de seu contexto, a partir dos
princípios bíblicos, e identifica naquele local a necessidade da manifestação do Reino
de Deus, agindo a favor do desenvolvimento e da justiça. E a partir da leitura desses
132
dois horizontes(contexto e Bíblia), nasce a missão, nasce a Cristolândia. Dessa forma,
além de todos os aspectos até aqui citados de aproximação, nota-se uma coesão desse
projeto com a M.I.pelo fato de sua matriz genitora trilhar o mesmo caminho que a M.I.
adota como seu método de seu agir missiológico, o círculo hermenêutico.
A segunda ação missionária mais citada pelos participantes da pesquisa foi
“Ajuda financeira”.Nessa ação estão contidos envio de recursos financeiros para a
JMN,para JMM, e sustento de missionários e seminaristas.
A JMN e a JMM datam seu início no dia 25 de junho de 1907, durante a
primeira assembleia da Convenção Batista Brasileira na cidade de Salvador na Bahia. O
trecho da Constituição Provisória da nova Convenção, extraído do site da JMN relata o
objetivo da criação dessas duas organizações:
"Unir todas as forças batistas do Brasil, em uma organização nacional
maior, para o desenvolvimento e eficácia da pregação do Evangelho
de Jesus Cristo segundo a nossa crença [...]o fim desta organização é
promover missões domésticas e estrangeiras, e tudo mais que direta ou
indiretamente tenha relação com o reino de nosso Senhor Jesus
Cristo".(Disponível em: http://www.missoesnacionais.com.br/#!quem-
somos/cle3 Acesso em: 20 mai. 2015).
A JMM define sua atuação dizendo que “consiste na expansão do trabalho
missionário além das fronteiras do Brasil, no despertamento e preparo de vocacionados
para missões, dentre muitas outras ações que contribuem para a proclamação do
evangelho no mundo.”(Disponível em: <http://www.jmm.org.br/index.php?option
=com_content&task=view&id=127&Itemid=150> Acesso em: 15. mai. 2015).
Atualmente a JMM possui em sua equipe cerca de 700 missionários espalhados
em 64 países nas Américas, Europa, África e Ásia. Esses missionários atuam na
evangelização, plantação de igrejas e desenvolvimento de diversos projetos
sociais.Sobre estesprojetos vê-se a seguinte descrição:
Em muitos lugares, anunciar Jesus Cristo abertamente pode criar
enormes barreiras para o avanço da obra missionária. Para conseguir
transmitir efetivamente a mensagem de salvação nessas sociedades, os
missionários da Junta de Missões Mundiais desenvolvem diversos
projetos na área social e até esportiva. Todos têm perfil evangelístico e
visam auxiliar as populações locais, possibilitar a proclamação do
evangelho. É assim através do PEM (Programa Esportivo
Missionário); do PEPE, programa socioeducativo promovido pela
JMM; do POPE (Programa de Odontologia Preventiva e Educativa) e
da Fábrica de Esperança (Senegal), entre tantos outros desenvolvidos
com excelência nos campos. 49 (Disponível em:
49 Para maiores informações sobre esses programas veja o site:www.jmm.org.br
133
http://www.jmm.org.br/index.php?option=com_content&task=view&i
d=124&Itemid=147&limit=1&limitstart=1. Acesso em: 20.
mai.2015).
Atualmente, a JMM visa atender cerca de 12 mil igrejas e congregações batistas
de todo o Brasil, no sentido de ajudá-las a estabelecer a cooperação entre si, para que
possam cumprir os desafios missionários em nível mundial. Uma das formas utilizadas
para essa missão é a Campanha anual de Missões Mundiais, que mobiliza as igrejas para
um apoio financeiro e espiritual por meio de oração a favor da evangelização mundial.
Juntamente com essa mobilização anual, a JMM mantém o Programa de Adoção
Missionária (PAM). Este é um meio criado para que pudesse haver uma “participação
dos cristãos de maneira constante e efetiva na obra de evangelização mundial com
ofertas sistemáticas” (Disponível em http://www.jmm.org.br/index.php?option=
com_content&task=view&id=124&Itemid=147&limit=1&limitstart=1 Acesso em 20
mai. 2015).
A JMM está presente com seus missionários e projetos, como expressa da
cooperação das Igrejas Batistas brasileiras, nos seguintes continentes e países:
África: África do Sul, Angola, Botsuana, Burkina Faso, Cabo Verde, Gâmbia,
Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Mali, Moçambique, Níger, São Tomé e
Príncipe, Senegal e República Centro-Africana.
Américas: Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Haiti, Paraguai,
Peru, República Dominicana e Uruguai.
Norte da África, Ásia e Oriente Médio – 16 países.50
Europa:Açores (Portugal), Albânia, Armênia, Azerbaijão, Bielorússia,
Cazaquistão, Espanha, Estônia, Geórgia, Itália, Letônia, Lituânia, Modávia,
Polônia, Portugal, Romênia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e
Uzbequistão(Disponível em: <http://www.jmm.org.br/index.php?option=com
_content&task=view&id=124&Itemid=147&limit=1&limitstart=1> Acesso em:
21 mai.2015).
A JMM resume o objetivo de seu trabalho missionário dizendo que seu alvo é:
“que todos os povos sejam alcançados e transformados pela mensagem do amor de
50 Quanto aos países dessa região pelo fato de alguns deles apresentarem uma forte resistência ao Evangelho, seus nomes não são divulgados como uma medida de cuidado para não colocar em risco a vida de nossos missionários.
134
Deus.” (Disponível em: <http://www.jmm.org.br/index.php?option=com_content&task
=view&id=124&Itemid=147&limit=1&limitstart=1> Acesso em 21 mai. 2015)
A JMN por sua vez possui fortes semelhanças com a JMM, diferenciando-se,
porém, na área de atuação. Enquanto a primeira (JMN) tem como área de trabalho o
Brasil, a segunda (JMM) volta seu olhar para os outros países. Essa delimitação de
atuação é exposta de forma clara na missão da JMN que afirma ser sua missão:
“Conquistar a pátria para Cristo. A conquista da Pátria significa que cada brasileiro será
um discípulo do Senhor Jesus. Portanto, nossa missão nos impõe um grande desafio:
evangelizar e discipular cada pessoa em solo brasileiro.” (Disponível em:
<http://www.missoesnacionais.org.br/publicacao.asp?codCanal=7&codigo=33&codigo
_pai=9> Acesso em 20 maio. 2015).
A visão institucional da JMN traz, dentre outras afirmações, as seguintes que se
atrelam à questão do desenvolvimento e da justiça da M.I.:
A igreja é uma agência local do Reino de Deus.
Priorização do ser humano e sua dignidade.
Discípulos comprometidos com Cristo e o seu Reino.
Cooperação com a denominação Batista em todos os níveis.
Responsabilidade social.
Responsabilidade ecológica.
E ao resumir seu desafio a JMN, de forma sucinta, esboça-o da seguinte forma:
“É nosso desafio: Evangelizar e discipular cada pessoa em solo brasileiro.” (Disponível
em <http://www.missoesnacionais.org.br/publicacao.asp?codCanal=7&codigo=34&
codigo_pai=9> Acesso em 20. mai. 2015).
Dentro da ação “Ajuda financeira”, além do apoio à JMM e à JMN está incluso
o sustento de missionários e seminaristas, esta ação se dá por meio de ajuda financeira
para custear cursos teológicos e suprimento das necessidades básicas pessoais e
ministeriais.
Analisando essas ações para identificar aproximações e distanciamentos ao
conceito de desenvolvimento e justiça da M.I., nota-se que a JMM e a JMN possuem na
compreensão do seu ser e agir pontos de muita aproximação com esses conceitos da
M.I., pois têm em seu escopo de ação o levar o evangelho ao mundo todo, e
contemplando não só aspectos espirituais, mas também biopsicossociais.
135
Porém ao analisar essa ação missionária da PIBSP como contribuinte, abre-se
dois caminhos de interpretação, o primeiro é uma leitura que entende esse ato como
uma terceirização da missão, e a outra forma é entendê-la como uma expressão de
“colaboração e unidade”.
A primeira forma de interpretar essa “Ajuda financeira” é entendê-la como uma
terceirização da missão que a igreja possui de proclamar o reino de Deus. Nessa forma
de ver a ação missionária de “ajuda financeira”, as agências, ou de forma específica
aqui, a JMN e a JMM, os seminaristas e missionários são pagos para cumprirem a
responsabilidade que foi designada a igreja toda, gerando assim uma postura de inércia
na participação da missão, na qual o agir missionário se limita ao patrocínio financeiro.
Pode-se somar a essa forma de interpretar, o fato de, em todos os boletins
analisados, todos os avisos que se relacionam à ação missionária e social da igreja se
limitam a pedidos de doações e ofertas. Não foram encontrados, nestes boletins, avisos
ou chamadas para uma participação e engajamento que fosse além do financeiro e
material.
Quadro 4- Análise dos avisos publicados nos boletins
Atividades Quantidade de boletins em que o aviso
apareceu
Programa Viva leite 6
Doações para os bebês das detentas
atendidas pela Capelania Prisional
4
Gerenciando o futuro 12
Doações para cestas básicas 24
Bazar Dorcas 47
Encontros terapêuticos 6
Lar batista 9
Plantão social 32
Cristolândia 1
Plantão de orientação profissional 4
Esses avisos podem ser divididos em dois grupos; o primeiro formado por
aqueles que se configuram como pedidos de recursos materiais, e o segundo composto
por avisos que se direcionam a pessoas que quiserem se beneficiar das ações já
realizadas pela igreja.
136
O primeiro grupo é composto por: Programa Viva leite, Doações para os bebês
das detentas atendidas pela Capelania Prisional, Doações para cestas básicas, Bazar
Dorcas, Lar batista, e Cristolândia. Estes se restringem ao pedido de doações.
No segundo grupo podem ser alocados os seguintes avisos: Gerenciando o
futuro, Encontros terapêuticos, Plantão social, e Plantão de orientação profissional.
Nestes avisos eram informados os locais e horários,em que essas ações aconteceriam
para que aqueles que quisessem ser atendidos por essas ações obtivessem as
informações necessárias.
A partir desse fato pode-se constatar que pelo veículo de informação boletim há
apenas convites para uma participação por meio do custeio da realização das ações.Este
fato pode justificar o motivo pelo qual a “Ajuda financeira” aparece em segundo lugar
na lista de ações missionárias.
Se essa ação for lida por meio do viés de terceirização tem-se aqui um elemento
que distancia a PIBSP da M.I., pois a visão que a M.I. possui diz que:
Todos os membros da igreja, sem exceção, simplesmente por haverem
sido integrados ao corpo de Cristo, recebem dons e ministérios para o
exercício de seu sacerdócio, ao qual foram “ordenados” mediante o
batismo. A missão não é responsabilidade de um pequeno grupo de
fiéis que se sentem chamados ao campo missionário (geralmente no
exterior), mas sim de todos os membros, já que todos são membros do
sacerdócio real e, como tais, foram chamados por Deus “a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para sua
maravilhosa luz” (1Pe2.9) onde quer que se encontrem.
(PADILLA,2009, p.18e19)
Porém essa “Ajuda financeira” pode ser interpretada de uma segunda forma,
como uma ação missionária fruto da “Colaboração e Unidade”, nessa perspectiva tem-se
então uma grande aproximação da PIBSP com o conceito de desenvolvimento e justiça
da M.I..
Esse tipo de interpretação é possível, pois no conceito de “Colaboração e
Unidade” compreende-se que a responsabilidade da igreja está relacionada não só com o
compartilhar sentimentos, emoções, teologia e orações, mas também em compartilhar os
bens e recursos financeiros, não a fim de alcançarmos uma igualdade social, onde todos
tenham as mesmas coisas na mesma quantidade, mas sim que,por meio dessa partilha as
necessidades daqueles que têm menos sejam supridas com os recursos dos irmãos que
tem mais.
Dentro dessa ótica, essa “ajuda financeira” cultiva uma relação onde seus
participantes se veem como chamados a vivenciar a realidade da partilha recíproca.
137
Padilla afirma que: “a possibilidade de partilha recíproca entre as igrejas é uma
premissa básica” (PADILLA, 2005, p.148).
Sendo assim interpretada essa ação missionária, vê-se uma grande aproximação
da práxis da PIBSP com o conceito da M.I., que apresenta a colaboração e unidade
como uma missão da igreja, e que, como mostrado anteriormente, se relaciona
diretamente com o conceito de Justiça, pois olha para as relações intra-humanas na
perspectiva do Reino e coloca-se como um agente de expressão e sinalização do reinado
de Deus.
Para verificar se há uma tendência à terceirização ou um engajamento somado a
uma iniciativa de partilha recíproca na PIBSP deve-se analisar a participação dos
membros da igreja nas ações missionárias. Esse fato mostrará se na prática os membros
estão limitando sua práxis missional à terceirização, ou se esta ação faz parte de uma
vivência mais abrangente que não apenas financia, mas também participa efetivamente.
Olhando para o engajamento dos membros entrevistados nas ações da igreja, ao
serem questionados sobre quais as ações missionárias de que já tinham participado, as
respostas obtidas compõem o seguinte quadro:
Quadro 5- Respostas sobre quais as ações missionárias de que participaram
Sexo Idade Respostas à pergunta: De quais ações missionárias você já
participou com esta igreja?
Masculino 33 Visita em orfanatos e asilos com intuito de dar carinho a estas
pessoas e falar de Jesus Cristo
Feminino 18 Visita à Cristolândia, auxílio com as crianças
Masculino 21 Ofertas
Feminino 32 Na adolescência viajava às cidades do interior falando de Jesus de
porta em porta, depois trabalhei na favela do Moinho no ministério
DAT, em seguida, por 6 meses integrei a capelania prisional na
Penitenciária Carandiru, fiz parte da Cristolândia e agora faço
visitas regulares ao Lar Batista de Crianças
Masculino 71 Evangelismo, estudos bíblicos e transformação da cracolândia em
cristolândia, entrega de literatura e educação
Feminino 76 Várias, não só presente mais contribuindo e levando a mensagem
através de folhetos, bíblias e cheguei a ser presidente da união
138
feminina dessa igreja e membro da união estadual atuando na casa
batista da Amizade
Feminino 64 Eu sou cooperadora da junta de missões nacionais e mundiais,
estou viúva há menos de 2 anos e não pude participar indo ao
campo; praças, bairros, instituições, etc. Mas sou professora na
rede pública e tenho falado aos meus alunos
Masculino 72 Como líder comunitário procurando auxiliar, orientar na busca do
conhecimento da palavra de Deus, adolescentes jovens, adultos
Masculino 56 Diretamente com a igreja nenhuma, mas em meu trabalho sim e
também onde moro
Masculino 48 Ações evangelísticas
Feminino 40 Preciso me empenhar mais
Feminino 35 Capelania prisional, capelania hospitalar, visita ao orfanato, ação
na praça.
A partir dessas respostas constata-se que ações relacionadas à evangelização
aparecem como as mais citadas entre aquelas de que os entrevistados participaram,
tendo 7 registros entre os participantes. As duas ações que ocupam o segundo lugar,
contendo 4 registros, são “Ação Social(assistência/serviço/ação)” e “ofertas (ajuda
financeira)”,e em terceiro lugar, as capelanias, com 2 registros.
A partir dessas informações pode-se compor o seguinte gráfico que mostra as
ações missionárias que tiveram o maior número de participantes entre os
entrevistados.51
51 Na coluna “não tabulados nas categorias” foram contabilizadas as respostas que não se enquadram em nenhuma das categorias supra citadas por incompatibilidade ou por ausência de informações. As respostas que formam esta coluna são: “Ação na praça”, “Visita ao orfanato”,“Preciso empenhar mais”, “Presidente da União Feminina”, “Membro da União Estadual atuando na casa batista da Amizade”e “Visitas regulares ao lar batista de criança”.
139
Gráfico 5- Ações missionárias com número de participação dos entrevistados
Ao analisar esse gráfico e o quadro anterior nota-se que, de maneira geral, existe
um forte engajamento dos membros da PIBSP nas ações missionárias, havendo apenas
uma exceção, pois o entrevistado disse não ter participado de nenhuma ação, mas afirma
que a realiza em seu trabalho e no lugar onde mora, e apenas um registro que restringe a
sua participação nas ações missionária ao ato de ofertar.
Fazendo uma análise de gênero e de idade, nota-se que a participação nessas
ações missionárias ocorre em todas as faixas etárias e em ambos os sexos. Fica
registrado que a única exceção presente na pesquisa, de não participação nas ações, é de
um participante do sexo masculino que possui 56 anos. E o único registro de
participação nas ações de missões única e exclusivamente por meio de ofertas é de um
participante de 21 anos do sexo masculino.
Pode-se destacar o fato de que as ações de cunho evangelístico possuem um
maior engajamento, e embora as ações sociais sejam citadas pela maioria como missão
da igreja, apenas quatro dos doze entrevistados já participaram dessas ações. Neste
ponto do trabalho constata-se a distância, não apenas entre o agir dos outros 8
entrevistados,(que representam 66,66% dos membros participantes da pesquisa)e a M.I,
mas da distância entre a compreensão missiológica destes e a sua práxis missionária.
Embora acreditem que é missão da igreja a ação social, estes até então não participaram
efetivamente de uma ação social.
A partir dessa realidade de engajamento vivencial na prática missionária da
PIBSP,apresentada pelos membros participantes da pesquisa,na qual 11 dos 12
entrevistados realizam ações missionárias, sendo que destes 11 apenas um não
participou com a igreja dessas ações, pode-se aferir que a “ajuda financeira” está mais
relacionada a uma crença de cooperação, unidade e partilha recíproca, do que a uma
terceirização da responsabilidade missionária da igreja, pois, segundo os dados
mostrados acima, todos, com apenas uma exceção, participaram ou realizam práticas
6
2
4
4
7
Não tabulados nas categorias
Capelanias (Hospitalar e Prisional)
Ofertas (ajuda financeira)
Ação social (assistência, serviço, ação)
Evangelização (falar de Jesus)
Número de Participantes
140
missionárias além da ajuda financeira.Mesmo fazendo destaque à diferença existente
entre a participação dos membros nas ações de evangelização e ações sociais, não é
possível afirmar que existe uma postura de terceirização. Baseado em nossos resultados
obtidos pode-se ver que essa ajuda financeira é realizada por pessoas que cooperam com
a missão financeira e vivencialmente.
A terceira e quarta ações missionárias mais citadas nos roteiros foram: Capelania
em Hospitais e Presídios, e projetos de Ação Social. A primeira ação aqui citada
(Capelania Hospitalar e Prisional) acontece na PIBSP por meio de membros da igreja
que são capacitados para irem aos hospitais e presídios para evangelizar, aconselhar e
oferecer assistência aos internos.
A segunda ação (Projetos de Ação Social) acontece por meio de projetos como o
“Gerenciando o futuro” 52 , “Bazar Dorcas” 53 , “Distribuição de cestas básicas” 54 e
“Ponto de arrecadação do projeto Viva Leite”55.
Ao analisar esses dois grupos de ações pode-se notar uma grande aproximação
da práxis da PIBSP com a M.I. Embora ambas as ações se configurem como assistência
social e serviço social, deve-se considerar que estes são meios válidos e necessários no
processo de desenvolvimento e justiça, pois toca, em pelo menos, duas das bases do
desenvolvimento, a saber: o capital humano e social.
Uma ação missionária realizada pela PIBSP que não apareceu nos roteiros de
entrevistas dos membros, mas foi citada pelo pastor, é a parceria da igreja com a Rede
Social do Centro, esta organização surgiu da articulação da sociedade civil, composta
por diversos bairros da região central da cidade de São Paulo.
Este grupo parte do pré-suposto que “problemática do centro da cidade só
poderá ser resolvida a partir de ações integrais em rede” (Disponível em:
http://redesocialdocentro.com.br/quem-somos/Acesso em 28 mai. 2015). O grupo é
composto por representantes do poder público em seus diferentes níveis federal,
estadual e municipal, ONGs, empresas e igrejas atuavam na região.
52 Curso de inglês gratuito para pessoas de todas as faixas etárias, que tem atendido especialmente jovens adultos moradores e trabalhadores da região 53 Funciona diariamente, com recebimento de doações dos membros e frequentadores. As arrecadações são vendidas por valores muito baixos, ou doadas para aqueles que necessitam e não possuem condições para comprá-las. O valor arrecadado nesse bazar é revertido para o ministério de ação social da igreja. 54As cestas básicas são distribuídas mediante cadastro e acompanhamento das famílias carentes 55 Este é um programa da prefeitura de distribuição de leite à população de baixa renda, ao qual a PIBSP serve como um ponto de arrecadação e seus membros participam ativamente por meio de doações.
141
Essa Rede realiza reuniões mensais, desde agosto de 2010, e seu objetivo é
“Despertar a cidadania para um futuro melhor [...] Articular ações e projetos integrados
em rede para buscar soluções para os problemas sociais da cidade de São Paulo.”
(Disponível em: <http://redesocialdocentro.com.br/quem-somos/> Acesso em: 28 mai.
2015). E em seu site a Rede Social do Centro faz a seguinte afirmação: “Que este
esforço em rede, unindo todos os setores da sociedade, seja mais um caminho para uma
transformação social e um dos meios para o desenvolvimento local de maneira
sustentável e participativa.” (Disponível em: <http://redesocialdocentro.com.br/quem-
somos/> Acesso em: 28. Mai. 2015).
A PIBSP ao se engajar nesse projeto, mesmo que seja apenas por meio de sua
liderança, inicia uma aproximação daquilo que Lessa vai chamar de ação social, uma
ação que toca nas estruturas sociais. Pois uma vez que esta Rede tem como objetivo ser
“mais um caminho para uma transformação social e um dos meios para o
desenvolvimento local de maneira sustentável e participativa” e faz isso por meio da
união dos diversos setores da sociedade, pode-se dizer que, por meio dessa ação, passos,
mesmo que iniciais, são dados rumo a uma transformação estrutural da sociedade.
A partir do que foi apresentado até aqui, pode-se ver que existe uma forte
aproximação da PIBSP com o conceito de Desenvolvimento e Justiça da M.I. Ao
constatar essa aproximação não está sendo dito que a igreja realiza de forma plena e
perfeita sua missão, nem que todos da igreja compreendam e vivenciem um
engajamento na missão de buscar, e manifestar, o desenvolvimento e justiça. Para tal
afirmação seria necessário um estudo mais abrangente e profundo.
Porém o que se pode afirmar, a partir dos dados e resultados obtidos, é que a
PIBSP em sua teologia, sobre a missão da igreja (missiologia), e em sua práxis, possui
muita proximidade com a M.I., contemplando todos os aspectos apresentados nesta
teologia. Reconhece-se que existe uma diferença entre os entrevistados quanto à
participação e compreensão de alguns pontos em detrimento de outros, como se pôde
constatar ao se comparar questões relacionadas à evangelização e à assistência social,
com serviço e ação social. Nota-se que quanto às duas primeiras existe uma assimilação
e engajamento maior do que o visto nos aspectos posteriores.
Algo que se deve considerar é a participação dos membros nas ações
missionárias. Embora não exista uma uniformidade quanto às áreas de atuação, de
maneira geral, salva uma exceção, todos participam de alguma forma das ações
missionárias da igreja.
142
Outro ponto que se destaca é a compreensão que a igreja possui sobre sua
responsabilidade social. Esta visão pode ser constatada nos materiais disponibilizados
no site da igreja, nos boletins, e nos roteiros de entrevistas dos membros e pastor. Em
todas estas esferas vê-se o consenso quanto ao dever que a PIBSP possui de trabalhar
para o desenvolvimento e justiça por meio de ações sociais que sinalizem o Reino de
Deus no contexto onde está inserida.
Em síntese pode-se dizer que ao analisar os conceitos presentes na estrutura da
PIBSP e suas práxis (por meio das ações identificadas na igreja e citadas pelos
participantes da pesquisa), identifica-se uma grande aproximação entre a igreja e os
conceitos de desenvolvimento e justiça da M.I. Na PIBSP pode-se identificar um olhar
holístico tanto para o evangelho (Bíblia), com também para o ser humano e
humanidade.
A partir desse fato questiona-se a origem dessa aproximação. Teria a M.I.
influenciado a PIBSP a ponto de moldar sua visão e práxis de maneira tão significativa?
Qual seria a hipótese mais plausível para justificar essa aproximação? O próximo
subtópico se dedicará a essa tentativa de responder a esses questionamentos que buscam
descobrir a raiz da práxis da PIBSP.
3.3.A origem da Missão na PIBSP
Ao constatar essa grande proximidade entre a PIBSP e o conceito de
desenvolvimento e justiça da M.I., os primeiros questionamentos lógicos que se
levantam são: “A PIBSP conhece a M.I.?” “teria ocorrido no tempo de pastorado, do
atual pastor, alguma ação ou evento que fosse capaz de incutir de forma tão expressiva,
como constatado, os princípios de desenvolvimento e justiça da M.I. na práxis da
igreja?” e “a que se pode atribuir a causa de tamanha proximidade?”. Não se pretende
aqui dar uma resposta que seja tomada como a verdade absoluta para essas questões,
mas tem-se o objetivo de sinalizar caminhos possíveis que justifiquem essa
aproximação.
Quando os participantes foram questionados sobre “se conheciam a M.I.”, “o
que conheciam da M.I.”, “e qual era o impacto dessa teologia na vida deles”, dos 12
membros entrevistados, 7 responderam que não conheciam, 4 afirmaram que sim, e 1
disse que já tinha ouvido falar.Essas respostas formam o seguinte gráfico:
143
Gráfico 6- Participantes que conhecem a MI
Nota-se que, dos 4 que responderam que conhecem a M.I., que representam 33%
dos membros entrevistados, ao comentarem as próprias respostas apresentaram
compreensões diferentes entre si sobre essa teologia, conforme mostra o quadro abaixo:
Quadro 6- Conhecimento dos participantes da MI por anos de idade
Idade Conhece a
MI
Definições
33 Sim É um mecanismo de levar a palavra de Deus através de ajuda humana, não somente fora do município, estado ou país e sim no local em que estamos. Colocar em prol das pessoas, nossas habilidades e aproveitar para falar de Jesus Cristo.
18 Sim
O objetivo principal é resgatar vidas para Cristo e quando se trata de ser
humano isso já me deixa impactada e nós como filhos de Deus
precisamos ajudar servir aqueles que necessitam de nós. E a missão é
isso, não ajudar com aquilo que nos sobra e sim com aquilo que eles
necessitam.
Sejam elas físicas ou econômicas, é conseguir suprir essas necessidades.
21 Não
32 Ouvi falar Confesso que não tenho tantas informações a ponto de ter uma opinião
56 Não
48 Não
40 Não
59%33%
8%
Não Sim Ouviu falar
144
35 Não
71 Sim Trabalho com drogados, que tem no mundo inteiro.
76 Não
64 Sim
Missão Integral é o trabalho de todos os membros levando o evangelho
aos perdidos onde quer que atuarem na vida particular e pública
72 Não
A maioria dos que conhecem a M.I., e possuem uma compreensão que mais se
aproxima do conceito real, estão entre os jovens, nas demais faixas etárias apenas uma
participante de 64 anos de idade expressou um conhecimento mais abrangente da M.I..
A resposta dada pelo pastor a essa mesma pergunta, foi a seguinte: “Sim
conheço, não li muito dos autores da missão Integral. Li muito do pessoal da teologia da
libertação nos anos 80 e 90”.
A partir desses dados apresentados pode-se dizer que os participantes da
pesquisa em sua grande maioria não conhecem os conceitos teóricos da M.I., e entre a
pequena parte que conhece, alguns esboçam uma compreensão diferente do conceito
real, outros expressam suas limitações quanto ao próprio conhecimento sobre o tema, e
apenas três apresentam uma definição mais próxima da Missão Integral.
Esse desconhecimento e superficialidade na compreensão da M.I. revela o fato
de que, por maior que seja a proximidade já constatada entre a PIBSP e o conceito de
desenvolvimento e justiça da M.I., a aproximação não é resultado de um conhecimento
teórico, conceitual da mesma; é fruto de outros fatores a serem investigados.
Na resposta do Pastor Paulo Eduardo, ele afirma que conhece a Missão Integral,
porém,que não leu muito de seus autores; em contrapartida afirma que nos anos de 80 e
90 realizou muitas leituras do “pessoal da teologia da libertação”.Nessa reposta além de
reforçar a hipótese que a aproximação,já constatada,não se deu por conta de um
conhecimento teórico da M.I., apresenta a Teologia da Libertação (leia-se TdL) como
uma possível porta pela qual o conceito de desenvolvimento e justiça, e essa atenção
para questões de cunho social, entraram na práxis da PIBSP.
Ao analisar todas as pastorais, arquivadas pela PIBSP, escritas pelo pastor
Paulo,com o objetivo de conhecer as ênfases ministeriais do pastor e sua correlação com
a TdL ou com a M.I.,constatou-se que não houve em nenhuma delas um enfoque que
145
trabalhasse questões de desenvolvimento, justiça, e responsabilidade social que
pudessem será atribuídas à M.I. ou à Teologia da Libertação.
É possível notar que as pastorais de maneira geral, estão vinculadas a três
grandes temáticas, a saber: Família, Avivamento (espiritualidade), e Pequenos
Grupos.56.Temas como: responsabilidade social, desenvolvimento e justiça, libertação
(no âmbito social), pobres, entre outros que podem ser relacionados ao aspecto social da
Teologia da Libertação e da M.I., não foram apresentados nas pastorais.
Ainda analisando os boletins, nota-se que nos quatro últimos anos (tempo que a
igreja possui arquivo de boletins no período do pastorado do Pr. Paulo Eduardo) quatro
congressos foram realizados na PIBSP. Estes tiveram os seguintes temas “Uma bênção
para sua família”(realizado em 25 a 26 de maio de 2013); “Avivamento” (realizado de
21 a 24 de julho de 2013); “Congresso da Família” (realizado em 7 a 8 de junho de
2014); e “Avivamento: Ouça o Espírito” (realizado em 27 a 30 de julho de 2014).
Esses quatro congressos oficiais da igreja se relacionam de forma direta com
dois dos enfoques centrais das pastorais. Se a análise se restringisse à pesquisa dos
boletins e congressos seria possível dizer que por mais que o pastor tenha um
conhecimento superficial da M.I. e uma leitura mais extensa da Teologia da Libertação,
ambos os fatos não influenciaram em sua compreensão ministerial, pois em nenhum
desses dois elementos (boletins e congressos) apresentam uma preocupação com as
demandas sociais.
Porém ao estender a pesquisa aos artigos escritos pelo pastor da PIBSP ao Jornal
Comunhão57, durante o tempo em que ele foi presidente da Convenção Batista do
Estado de São Paulo (leia-se CBESP), é possível constatar um aspecto ministerial que
pode ser entendido como uma herança da TdL, a saber: postura de valorização do
contexto e da práxis eclesiástica frente a este.
Em seu primeiro artigo como presidente da CBESP, intitulado “Qual é a razão
da nossa existência como Convenção?”, no qual relata elementos necessários para que a
estrutura denominacional seja relevante, ele faz a seguinte afirmação:
A estrutura denominacional é relevante na medida em que servir bem
às igrejas, na medida em que estiver promovendo missões com vigor;
será relevante enquanto estiver realizando projetos sociais que
beneficiem vidas e gerem impacto na sociedade; terá valor
reconhecido se suas ações redundarem em vidas sendo abençoadas,
56 Para visualizar os títulos das pastorais e assuntos abordados nelas ver anexo 10 57 Jornal denominacional dos batistas do Estado de São Paulo, este jornal é distribuído gratuitamente a todas as igrejas batistas do estado de São Paulo, uma pagina é dedicada a “Palavra do Presidente”.
146
salvas e transformadas pela graça e pelo amor do Senhor Jesus.58
(VIEIRA, Paulo E. G., Qual é a razão da nossa existência como
Convenção?Jornal Comunhão, p.3. 08 agos.13).
Logo no início de seu mandato ele apresenta um olhar que se projeta para fora
dos intramuros eclesiásticos e denominacionais. Em um outro artigo ele afirma sua
admiração por ministérios que possuem esse olhar voltado para aquilo que chama de
“realidades extra-eclesiásticas”, e apresenta esse fato na seguinte afirmação:
Confesso que me sinto fascinado por essa versão ministerial, que
mantém os olhos voltados para as realidades extra-eclesiásticas.
Ministério que dispense maior parte das energias na busca por uma
ação transformadora do mundo decaído no qual nós estamos inseridos.
(VIEIRA, Paulo E. G., Um ministério profético. Jornal Comunhão,
p.3. 03.mar. 2014).
Ao analisar seus artigos no Jornal Comunhão, embora seja possível identificar
uma retomada, em alguns momentos, aos temas, família e avivamento, boa parte dos
seus escritos tem como objetivo apresentar a necessidade de a igreja olhar para o seu
contexto e ser manifestação do Reino de Deus a este de forma prática. Ele discorre
sobre essa ideia de maneira mais clara no artigo: “O perigo do púlpito irrelevante na
pregação urbana”, e neste artigo ele faz as seguintes afirmações:
Homilética, como bem sabemos, é a arte de pregar sermões. O termo
grego homilia deriva do verbo omileu, que significa conversar,
dialogar. Parto desta compreensão para postular a necessidade de o
púlpito de uma igreja ser interativo, ou seja, que seja resultado de um
diálogo que o pregador desenvolve com a realidade onde a sua
igreja está inserida, e daqueles a quem ele prega.
É imprescindível que o pregador tenha a Bíblia como fonte
fundamental de inspiração para os seus sermões. Isto é inegociável.
A sua vida pessoal com Deus, o seu constante “debruçar” sobre as
Escrituras, a sua permanente atitude de recepção em relação à voz do
Espírito Santo são fatores que jamais podem ser negligenciados. No
entanto, perceber o mundo concreto e visível ao seu redor também
é importantíssimo. Caso contrário, haverá o grande risco de ele, o
pregador, assim como a sua igreja, se tornarem irrelevantes(VIEIRA,
Paulo E. G., O perigo do púlpito irrelevante na pregação urbana.
Jornal Comunhão, p.3. 12 dez.13).
Nesse trecho o pastor apresenta a necessidade de se estabelecer um diálogo entre
texto e contexto, Bíblia e realidade na qual a igreja está inserida. Embora seja possível
argumentar que essa fala não diz nada sobre a compreensão do pastor sobre a missão da
igreja, e que ela se limita a uma orientação sobre a forma de se fazer um sermão, deve-
58 Negrito nosso
147
se destacar que ele aplica essa lógica não apenas ao púlpito, mas estende-a à relação que
a igreja deve buscar com seu contexto. Ele segue o artigo dizendo:
A necessidade de contextualização não se resume ao púlpito. As ações
da igreja também devem ser contextualizadas. Igreja que não
restringe seu olhar à vida intraeclesiástica, mas que estende para a
realidade extraeclesiástica. Igreja atenta ao que acontece ao seu redor,
e desenvolve estratégias que possibilitem que ela alcance e transforme
vidas e situações 59 (VIEIRA, Paulo E. G., O perigo do púlpito
irrelevante na pregação urbana. Jornal Comunhão, p.3. 12 dez.13).
Uma forma de analisar a relação dessa fala com as ações missionárias da igreja é
voltar à origem do projeto Cristolândia. Como já dito, este projeto nasce a partir dessa
visão ministerial que busca ouvir os clamores dos contextos e oferecer-lhes respostas.
Esse fato é evidenciado na seguinte afirmação do pastor Paulo Eduardo sobre a origem
da Cristolândia:
O Projeto Cristolândia, que teve início na PIB em SP, e que hoje
pertence aos batistas brasileiros (digo isso com muita alegria), é fruto
desta compreensão. Não poderíamos, em hipótese alguma, permanecer
concentrados em nossas dependências eclesiásticas, desfrutando do
deleite da vida com Deus e com os irmãos, porém com os nossos
olhos vendados para aquela realidade cruel e infernal tão próxima à
nossa igreja. As mensagens e as estratégias da igreja, durante um bom
tempo, tiveram como grande objetivo transformar a Cracolândia.
(VIEIRA, Paulo E. G., O perigo do púlpito irrelevante na pregação
urbana. Jornal Comunhão, p.3. 12 dez.13).
É possível identificar nessas falas do pastor uma postura de valorização do
contexto onde a igreja está inserida e da práxis eclesiástica respondendo a ele.Dentro da
visão ministerial do Pastor Paulo Eduardo, a partir do que até aqui foi apresentado, a
missão da igreja surge da leitura do texto Bíblico e do contexto, isso é dito maneira
muito explícita no artigo intitulado “Para além dos muros” no qual o pastor baseado no
texto do evangelho de Marcos 6.34, que diz: “E Jesus saindo viu uma grande multidão e
teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor, e começou a
ensiná-las” faz a interpretação do texto e aplica-o da seguinte forma:
Precisamos que os nossos corações sejam tomados de compaixão
diante da realidade de miséria à qual milhões estão submetidos,
fruto da desigualdade, da injustiça e da corrupção que
predominam em nosso Brasil. É necessário que nos sintamos
irreversivelmente incomodados [...]E porque é importante que nos
sintamos assim? Porque esse sentimento nos mobilizará de modo
incontido para missões. Esse incômodo, essa perturbação interior que
59 Negrito nosso
148
eu chamo de santo incômodo, de santa perturbação, nos mobilizarão
em direção aos que estão para além muros, conferindo razão de ser à
nossa existência. (VIEIRA, Paulo E. G., Para além dos muros. Jornal
Comunhão, p.3. 07. jul.14).
No entendimento do pastor o ato de sentir o contexto, de ser incomodado pela
realidade contextual na qual estamos inseridos, se configura como o fato que impulsiona
a igreja para sua missão.
A partir do conteúdo presente nos artigos escritos ao Jornal Comunhão, e das
ações missionárias da PIBSP, constata-se que a práxis ministerial do pastor Paulo
Eduardo acontece dentro da lógica da hermenêutica contextual, pois é possível notar a
valorização do Texto (Bíblia) e do contexto, e a missão surgindo como uma resposta a
esses dois horizontes.
Ao entender a TdL como uma possível porta pela qual os conceitos de
desenvolvimento e justiça da M.I. entraram na PIBSP, faz-se isso baseado na
identificação de um ponto comum entre as duas teologias (TdL e MI), a saber: a
hermenêutica contextual e o círculo hermenêutico.
Segundo Sanches (2009), falando sobre as aproximações do método da TdLcom
a MI, ao se referir de maneira específica à TdL, a autora afirma que:
Ela se constrói na forma do círculo hermenêutico e se organiza de
modo a ser pensamento sempre crítico tanto da realidade social,
quanto do pensamento e da práxis da fé, ou seja, dela mesma. É nestes
aspectos que a TdL destaca sua natureza autóctone. O método pelo
qual ela se faz é o seu maior diferencial em relação às outras formas
de teologia (SANCHES, 2009.p. 46).
Esse diferencial a que Sanches faz menção é este ato de fazer missão a partir da
hermenêutica contextual, do círculo hermenêutico; é a lógica sob a qual a TdL acontece
que faz com que ela olhe para os dois horizontes (contexto e Texto) visando a
práxis.Libânio apresenta este fato da seguinte forma:
A novidade específica da TdL está no único ato produtivo teológico
de uma dupla percepção: nova compreensão da Palavra (que não teria
sido possível sem o impacto da realidade científica analisada) e nova
percepçãoda realidade (que não seria possível sem a Palavra
iluminadora de Deus) [...] o específico da TdL consiste na articulação
de três elementos: realidade analisada por instrumentos sociais, a
Revelação e a práxis (LIBÂNIO.1987.p. 219).
Esses três elementos: realidade analisada, Revelação e a práxis, se configuram
como elementos basilares para o método da TdL. Este é formado pelo conhecido tripé:
Ver, Julgar e Agir. Essa teologia entende o Ver como a busca por compreender o
149
contexto, sua estrutura social, seus sistemas políticos, “este primeiro momento refere-se
ao olhar interpretativo da realidade social, não somente a partir dela, mas de dentro
dela” (SANCHES, 2009.p. 47).
O Julgar é o processo no qual a realidade social e suas demandas são
interpretadas, lidas, julgadas pela Revelação. Este ato se faz visando compreender o que
se deve fazer e como se deve agir, o conceito que Murad(1994) nomeia de “Revelação
inter-ativa”, ajuda-nos a compreender o significado do julgar; para esse autor a
Revelação é apresentada como tendo o objetivo de transformar as pessoas e orientar a
vida delas no mundo, sua compreensão fundamenta-se no fato de ter sido, ela (a
Revelação), encarnada na história da humanidade e ter manifestado a vontade e Reino
de Deus na realidade humana, por isso sua relação com a realidade atual não pode ser
diferente, deve ser igualmente encarnada e “inter-ativa”.
O Agir é o resultado obtido dos dois primeiros pontos basilares do método da
TdL, segundo Gutiérrez: “A sensibilidade aos novos desafios implica mudanças em
nosso enfoque sobre caminhos a seguir para superar autenticamente os conflitos sociais
[...] e construir – como exige a mensagem cristã – um mundo justo e fraterno.”
(2000.p.22)Nota-se que esse agir visa construir um mundo “justo e fraterno”, e faz isso
a partir da leitura do contexto, “sensibilidade aos novos desafios”, e do texto “como
exige a mensagem cristã”.
Deve-se destacar que o método da TdL acontece em uma dinâmica circular; ao
chegar no Agir, a TdL remete essa ação a novos Veres e Julgamentos, que resultam em
novas ações. Sanches destaca esse fato afirmando que o resultado desse processo
teológico, o Agir: “Não é o momento derradeiro, pois a teologia da libertação é teologia
sempre aberta a se refazer. Este ponto remeterá novamente para o primeiro, onde o
processo se renova.” (SANCHES, 2009.p.51).
A partir do que foi até aqui esboçado pode-se montar um quadro de comparação
da metodologia da MI e da TdL que se apresenta da seguinte forma:
Quadro 7- Comparação entre a metodologia da MI e TdL
Metodologia da MI Metodologia da TdL
Contexto Ver
Palavra de Deus Julgar
Missão Agir
150
Quanto ao método, a TdL e a M.I. estão muito próximas. Embora existam
diferenças entre as duas teologias, constata-se que ambos os métodos possuem a mesma
estrutura e dinâmica (círculo hermenêutico), e consideram os mesmos elementos em seu
fazer teológico (texto, contexto, e práxis) configurando-se assim como hermenêuticas
contextuais.
A partir desse fato, a hipótese que se apresenta, com um caminho que explica a
aproximação e vivência da pela PIBSP dos conceitos de desenvolvimento e Justiça da
M.I., é que por mais que a igreja e o pastor não tenham um conhecimento teórico da
M.I., a dinâmica da metodologia desta foi vivenciada pela igreja. A PIBSP ouviu os
clamores de seu contexto, e baseada na Bíblia, ofereceu respostas a este.
E, ao que tudo indica, este fato aconteceu por ter o pastor Paulo Eduardo, em seu
ministério,fortes traços da metodologia da TdL, no que se refere à sua postura de
valorização do contexto e da práxis eclesiástica frente a essa realidade. E também por
ter a PIBSP ouvido os clamores de seu contexto e ter tido a mesma postura
hermenêutica contextual presente na TdL e consequentemente da M.I..
Outra hipótese que pode ser levantada para justificar tal aproximação é que a
PIBSP vivencia o evangelho de Cristo, pois segundo Gouvêa:“Missão integral é o
próprio evangelho” (2011.p.140) configurando-se assim apenas como um outro nome
para o próprio evangelho, não pretendendo ser nada além, ou aquém do próprio
evangelho,mas uma forma de reação aos conceitos que fracionam o evangelho limitando
sua relevância e eficácia para os dias atuais.
Gouvêa ainda afirma que “Na verdade só há uma missão em Cristo; aquela que
inclui a integralidade daquilo que o Evangelho representa” (2011.p.141) Portanto, os
conceitos que não contemplam a integralidade da missão, a “Missão Parcial”, segundo
Gouvêa (2011) simplesmente não são missão cristã, mas uma deformação perigosa da
missão, uma distorção alienante e opressora. Não é evangelho porque não é integral, e
se não é integral é porque não é evangelho, uma vez que se sabe que para ser evangelho
tem de ser Integral.
Dentro dessa hipótese todas as aproximações entre a PIBSP e o conceito de
desenvolvimento e justiça aconteceram pelo fato de esta igreja fundamentar sua práxis
no evangelho, que é integral, e que impulsiona a Igreja para uma Missão Integral.
151
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta dissertação buscou pesquisar o conceito de desenvolvimento e justiça à luz
da M.I. e estabelecer uma análise crítica da presença desta teologia e de sua práxis no
solo paulistano. Fez-se isto tomando como sujeito de pesquisa a PIBSP e o bairro
Campos Elíseos, localizado na região central da cidade de São Paulo.
O primeiro capítulo se dedicou inicialmente a apresentar a história de como
surgiu a M.I. Este percurso foi traçado via vertentes formadoras e congressos. Na
primeira parte pôde-se ver que, ao buscar as origens da M.I. no Protestantismo norte-
americano do séc. XIX. É possível ver que ele era composto por três vertentes
principais, a saber: puritanismo inglês, pietismo moraviano e os avivamentos;a estes era
dado o título de protestantes.
Depois do caso Scopes, esse grupo passou por uma cisão, que resultou na
polarização de dois movimentos, de um lado estavam os fundamentalistas e do outro os
protestantes/liberais. Um terceiro grupo surgiu como uma proposta de ser um meio
termo entre os dois extremos, estes eram os evangélicos. Eles não abandonaram a
teologia dos fundamentalistas, porém buscaram uma postura mais aberta para o diálogo
com o seu tempo.
Os evangélicos vieram para a América Latina e iniciaram o processo de
evangelização, porém, como mantiveram a postura dos fundamentalistas quanto às
questões sobre responsabilidade da Igreja frente às questões sociais, um grupo de latino-
americanos, ouvindo os clamores de seu contexto, e não encontrando um diálogo entre a
teologia que lhes fora ensinada e suas realidades socioculturais, e tendo como um outro
extremo, a essa teologia a TdL, esse grupo de pastores deu origem a um movimento que
inicialmente foi chamado de evangelical. E foi neste grupo que começou a se pensar em
uma M.I..
A partir desta análise pode-se afirmar que a M.I. é uma teologia evangélica
protestante latino-americana, pois em nenhum momento de sua trajetória histórica, via
vertentes formadoras, é possível identificar raízes que se fincam em grupos que
abandonaram os princípios protestantes evangélicos. Porém nota-se a vinculação da
M.I. com os movimentos que buscam o equilíbrio entre os extremos. No caso dos
evangélicos, o meio termo entre fundamentalistas e liberais, e no caso dos evangelicais,
um equilíbrio entre evangélicos e TdL. Com isso a M.I. se configura como uma teologia
que é evangélica, mas que contempla o contexto no seu fazer teológico e missional.
152
A linha histórica foi também traçada via congressos, partindo do primeiro
Congresso mundial de Evangelização, em Berlim até o CLADE V. Ao observá-los foi
possível notar a forma como a teologia da M.I. foi surgindo, e também a forma como
esses congressos desenvolveram o conteúdo dessa teologia, seus desdobramentos e as
aberturas para novos temas e questões.
Constatou-se a importância da FTL dentro da história da M.I., pois esta não foi
apenas organizadora dos congressos, mas o agente responsável por fazer com que as
questões sociais e contextuais latino-americanas fossem ouvidas e tratadas nos
encontros (iniciando em Lausanne e até o CLADE V) e no conteúdo publicado por seus
membros.
Foi aferido o motivo pelo qual o Congresso de Lausanne é tido como o marco da
M.I. O congresso recebeu este título por ter sido uma mola propulsora que apresentou a
nível mundial as questões que os teólogos da M.I. levantaram. Este título também foi
dado ao encontro de Lausanne por ele ter produzido, por meio do congresso e do
documento final, ecos que influenciaram em todos os CLADEs seguintes.
Algo que se pôde verificar nos congressos, foi que a teologia da M.I. não é
engessada; ela sempre está a refazer-se e a responder a novos questionamentos
apresentados pelas vozes daqueles que falam no, e a partir de seu, contexto.
Ainda no primeiro capítulo, foi trabalhado o método da M.I., o círculo
hermenêutico, que apresenta a estrutura da reflexão e da práxisda M.I.. Este círculo é
composto por três elementos principais, a saber: texto, contexto e missão. O texto é lido
a partir do contexto, e o contexto é lido a partir do texto; do diálogo entre esses dois
horizontes surge a missão da igreja. Quando texto e contexto são lidos de maneira
integral, nasce uma missão igualmente integral.
Ao observar este círculo hermenêutico constatou-se que ele é contínuo e está
sempre a refazer a missão. Este fato traz luz sobre a realidade vista nos congressos, nos
quais é possível notar uma abrangência cada vez maior de temas levantados pelo
contexto; é este círculo contínuo que não permite que a teologia e a práxis da M.I. se
engesse.
E como última parte do primeiro capítulo foi apresentada a máxima da M.I. (“o
evangelho todo, para todo homem, e para todos os homens”) e seus significados. A
partir dessa exposição pode-se obter uma compreensão sobre o que de fato é M.I.: “uma
teologia bíblica do evangelho”; “uma interpretação da grande comissão a luz do
153
mandato sociocultural”; “a Missão da Igreja e a teologia que serve à Igreja”; e “o
próprio evangelho”.
O segundo capítulo ocupou-se em tratar as questões “o que é desenvolvimento e
justiça?” e “qual é a relação desse enfoque da M.I. com os demais apresentados por
René Padilha?”. Padilla(1994) apresenta a M.I. composta de três enfoques:
Evangelização e Discipulado; Colaboração e unidade, desenvolvimento e justiça.
Ao abordar o tema “justiça” foi tomada como sua matriz conceitual o Reino de
Deus, e a partir dele é possível afirmar que esse conceito (justiça) carrega o significado
de promoção de paz e justas relações. Ao apresentá-la como parte da missão da igreja
esse fato traz a implicação de ser a igreja a responsável por responder às realidades
socioeconômicas e políticas de seu contexto.
A M.I. entende que o desafio colocado a todos os cristãos é o de “redescobrir o
poder transformador do Reino e da justiça de Deus no meio dos reinos deste
mundo.”(ZWETSCH,2008.p.204), A justiça portanto é este ato com o qual a igreja se
levanta em uma atitude profética contra as relações injustas, e confessa Jesus como
Senhor dos senhores, denunciando os males sociais causados pelo pecado, proclamando
a partir de seu estilo de vida a centralidade do reino de Deus, como uma comunidade
marcada pela justiça, e que busca a paz para todos os seres humanos.
Como dito anteriormente, no conceito de Padilla sobre justiça, a Igreja deve não
somente buscar a justiça para os outros, mas antes, praticá-la, e esta deve abranger não
somente o indivíduo, mas deve também alcançar estruturas sociais, tais como: sistema
penitenciário, econômico, político, dentre outros, sabendo que o meio para se alcançar
essas estruturas muitas vezes requer ações políticas, que devem ser coerentes com os
princípios bíblicos. Na compreensão da M.I. essas ações são indispensáveis para que
possa haver uma facilitação para a libertação humana da pobreza e da opressão, para
que se possa instaurar a justiça.
Ao tratar o desenvolvimento, o presente trabalho destacou que este conceito
dentro a M.I. é diferente da ideia de simplesmente acúmulo de bens materiais, e muito
mais abrangente que o resultado obtido por projetos assistencialistas. A hipótese
levantada é que, dentro da M.I., esse conceito se refere a um desenvolvimento humano,
social e sustentável, e possui como sua base o capital humano, social, natural e a boa
governança, estes são elementos basilares, sem os quais o desenvolvimento não é
possível. Ou seja, falar sobre desenvolvimento na M.I. é falar de um desenvolvimento
integral.
154
Tendo sido compreendidos os conceitos de justiça e desenvolvimento, buscou-se
responder às perguntas “de quem é a responsabilidade de promover a justiça e o
desenvolvimento? E como promovê-los?”.
Embora existam aqueles que atribuam apenas ao Estado a responsabilidade de
buscar e promover o desenvolvimento e a justiça, ao trabalhar esses conceitos dentro da
visão de Paula (2008) observa-se que as sociedades e comunidades que obtiveram um
desenvolvimento significativo tiveram a cooperação e parceria entre Estado, Mercado
(entendido aqui como o conjunto dos agentes econômicos) e Sociedade (entendida aqui
como o conjunto das organizações sociais, de todo tipo) (PAULA,2008.p.194).
Sendo a Igreja uma organização social, seu papel como comunidade local é
indispensável no processo de desenvolvimento, pois ela sendo composta por pessoas
que vivenciam os dramas sociais, possui os elementos fundamentais para lutar e
combater a falta de desenvolvimento e injustiça sentida por seus membros e em seu
contexto. Portanto a igreja como uma organização local possui sim uma contribuição a
ser feita para o desenvolvimento e a justiça.
No âmbito teológico, a M.I. entende que os problemas sociais têm suas raízes na
pecaminosidade da raça humana, que resulta tanto em pecados individuais como em
pecados sociais e estruturais. A partir dessa compreensão a igreja possui a
responsabilidade de oferecer uma resposta a essa realidade; esta deve transcender a
proclamação verbal e chegar ao comprometimento com as demandas sociais. Dessa
forma conclui-se que a Igreja possui a missão de se engajar como expressão do reino em
todas as relações humanas, sejam estas sociais, ambientais ou religiosas, tendo como
parte de sua missão o desenvolvimento e a justiça.
O caminho apresentado para que a igreja realize essa parte de sua missão possui
três faces, e são elas: assistência social, serviço social e ação social, sendo que cada uma
dessas é tida como dotada de valor e importância dentro do processo de busca por
desenvolvimento e justiça, podendo acontecer de forma independente ou conjugada,
sequencial ou alternada.
Ao relacionar esse enfoque da missão (desenvolvimento e justiça) com os
demais, pode-se notar que todos eles possuem uma forte ligação e dão sustentação um
ao outro. Esse fato pode ser constatado desde os conceitos de evangelização e
discipulado, ao enfoque de colaboração e unidade, destacando assim a necessidade de
uma missão que seja integral.
155
Tratando a questão da evangelização frente ao Desenvolvimento e a justiça,
constatou-se que é possível afirmar três tipos de relacionamento existentes entre eles, a
saber:“consequência” (no qual o desenvolvimento e a justiça são tidos como
consequências da evangelização); “ponte”(no qual desenvolvimento e justiça são vistos
como ponte para que o evangelho chegue as pessoas): e “parceria” ( no qual ambos são
vistas como parceiros na obra missionária).
A partir desse fato a hipótese levantada é que a evangelização dentro da M.I.
possui um aspecto social, mesmo sem possuir uma intenção primordialmente social. E o
mesmo pode-se dizer sobre a responsabilidade social; esta possui implicações
evangelísticas até quando não tem isto como objetivo primeiro.
O discipulado, por sua vez, se configura como um elemento fundamental pelo
qual a igreja busca o desenvolvimento e a justiça. A partir de uma releitura da “grande
comissão” apresenta-se o discipulado como a causa de uma igreja enraizada na
comunidade global dos seres humanos que dialoga com sua realidade e trabalha para
que os seres humanos possam ter uma vida justa e digna. Fazer discípulos é expandir o
reinado de Deus, é ter mais pessoas vivendo debaixo de princípios de justiça e também
buscando o desenvolvimento.
Quanto à colaboração e à unidade frente à sua relação com o desenvolvimento e
justiça, constatou-se que eles (colaboração e unidade) estão para estes, como elementos
necessários para que a igreja cumpra sua missão de proclamar do evangelho todo, para
todo homem, e para todos os homens. Uma vez compreendida que essa é a missão da
igreja, deve-se considerar a impossibilidade do cumprimento de tal missão a partir de
uma eclesiologia isolacionista individualista.
Para proclamar o evangelho todo faz-se necessário que os múltiplos olhares das
igrejas sobre o evangelho, a partir de seus contextos, sejam unidos e partilhados. Para o
alcance de todo o ser humano e de toda a humanidade, torna-se indispensável que as
inúmeras igrejas locais ajam a partir da cooperação como igreja universal visando a
proclamação do Reino de Deus. Dessa forma, se compreende a cooperação e a unidade
como elementos necessários, basilares para que a igreja proclame e busque a justiça e o
desenvolvimento presentes na missão da Igreja.
Portanto ao analisar cada um dos enfoques da M.I. foi possível notar que a sua
teologia se configura com integral e ampla, pois sua abrangência visa alcançar a
totalidade da realidade humana.
156
Após terem sido apresentados a M.I. e o conceito de desenvolvimento e justiça,
o terceiro capítulo dedicou-se a analisar a presença de ambos nos solos paulistanos. Para
tal análise tomou-se como sujeito de pesquisa a PIBSP e o contexto no qual está
inserida, em Campos Elíseos, região central de São Paulo.
Após um esboço do processo de transformação social do centro, fez-se ouvir os
clamores que aquele contexto faz à igreja. É possível afirmar que estes não estão
relacionados a questões de infraestrutura (saneamento básico, transporte, etc), mas às
pessoas em situação de rua e dependentes químicos, pessoas que vivem debaixo de uma
opressão social e/ou espiritual, e que se deparam com o seu extremo oposto diariamente.
Estes se apresentam como desafios, clamores, e por que não dizer, missão da PIBSP.
Tendo sido apresentado esse contexto, realizou-se uma análise da PIBSP
buscando encontrar aproximação da práxis e da teologia dessa igreja com o conceito de
desenvolvimento e a Justiça da MI. Essa análise se deu por meio de um roteiro de
entrevistas preenchidos por doze membros e o seu pastor titular. Também foram
utilizados boletins, artigos publicados no Jornal Comunhão, atas de assembleia, site da
igreja e outros que se relacionavam de forma direta com as ações missionárias com as
quais a igreja esteve, ou está envolvida,
A primeira parte dessa análise se empenhou em apresentar o passado da igreja e
a partir de um panorama histórico, destacou-se uma forte participação da PIBSP na
realidade batista da Cidade e do Estado de São Paulo, devido à sua ação de implantação
e apoio de igrejas na região. Pode-se perceber também que a PIBSP nasceu e cresceu
na região central de São Paulo, experimentando assim todas as transformações ocorridas
no centro.
A relação da igreja com seu contexto foi dialógica, pois é possível ver já no
ministério do pastor Irland P. Azevedo ações que respondiam aos clamores específicos
da região, leituras das mudanças que ocorriam, e sinalizações para uma implantação de
programas de reavaliação da visão, da missão e dos objetivos da igreja que
considerassem as mudanças socioeconômicas pelas quais a cidade de São Paulo estava
passando.
Pode-se afirmar que por meio do pastor Irland Pereira de Azevedo a PIBSP teve
contato com os princípios da M.I., uma vez que compreende-se o 2º Congresso Mundial
de Evangelização de Lausanne como a mola propulsora da M.I., e seu pacto, o PL,
como o “marco da Missão Integral” (GONDIM, 2010, p.83).Tendo sido este pastor um
dos participantes desse congresso, pode-se ver essa aproximação entre a PIBSP e a M.I..
157
E deve-se destacar, mesmo que a partir de um breve esboço das ações, que a igreja
possuía atividades que respondiam à integralidade humana físico-sócio-espiritual.
Ao analisar o presente da PIBSP contatou-se que, quanto à sua teologia, esta
possui uma grande aproximação da M.I., o que pode ser notado desde as posições
apresentadas nos veículos de comunicação da igreja, como também através das
entrevistas dos membros e do pastor; em todas essas instâncias nota-se que questões
relacionadas à responsabilidade social, ao desenvolvimento e à justiça são
compreendidas como parte da missão da igreja.
Deve-se destacar que existem diferenças quanto à questão da primazia, ou não,
da evangelização frente às ações sociais, porém, apesar da diferença, que não pode ser
tida como um distanciamento da M.I., nota-se que a igreja contempla todos os
elementos apresentados pela M.I. em sua teologia. Quanto a sua visão sobre a
responsabilidade social, vê-se um consenso que compreende a PIBSP com a
responsabilidade de trabalhar para o desenvolvimento e a justiça por meio de ações
sociais que sinalizem o Reino de Deus no contexto onde está inserida.
Ao analisar a práxis presente da PIBSP pode-se ver que existe também uma
aproximação da M.I.. Ações como Cristolândia, Ajuda financeira, Capelania hospitalar
e prisional, gerenciando o futuro, programa viva leite e participação da rede centro,
trazem uma práxis de assistência social, serviço social e ação social. Sendo elas, formas
de gerir e gerar o desenvolvimento e a justiça pode-se dizer que a prática missionária da
PIBSP possui uma grande proximidade dos conceitos da M.I.
Portanto, respondendo a pergunta central deste trabalho, que busca encontrar o
Desenvolvimento e Justiça na M.I. no solo paulistano, a partir da PIBSP, o que se pode
afirmar, com base nos dados e resultados obtidos, é que a igreja pesquisada em sua
teologia, sobre a missão da igreja (missiologia), e em sua práxis, possui muita
proximidade com a M.I., contemplando todos os aspectos apresentados nesta teologia.
Reconhece-se que existe uma diferença entre os entrevistados quanto a participação e
compreensão de alguns pontos em detrimento de outros, como se pôde constatar ao se
comparar questões relacionadas à “evangelização e assistência social” com “serviço e
ação social”, nota-se que quanto às duas primeiras existe uma assimilação e um
engajamento maior do que os vistos nos aspectos posteriores.
Em síntese pode-se dizer que ao analisar os conceitos presentes na estrutura da
PIBSP e sua práxis (por meio das ações identificadas na igreja e citadas pelos
participantes da pesquisa), identifica-se uma grande aproximação entre a igreja e os
158
conceitos de desenvolvimento e justiça da M.I.. Na PIBSP pode-se identificar um olhar
holístico tanto para o evangelho (Bíblia), com também para o ser humano e a
humanidade.
Ao constatar essa aproximação não está sendo dito que a igreja realiza de forma
plena e perfeita sua missão, nem que todos da igreja compreendam e vivenciem um
engajamento na missão de buscar, e manifestar, o desenvolvimento e justiça. Para tal
afirmação seria necessário um estudo mais abrangente e profundo.
A partir desse fato questiona-se a origem dessa aproximação. Teria a MI
influenciado a PIBSP a ponto de moldar sua visão e práxis de maneira tão significativa?
Qual seria a hipótese mais plausível para justificar essa aproximação? O último
subtópico desse capítulo se dedicou a responder esses questionamentos sobre a raiz da
missão da PIBSP.
A hipótese que se apresentou, como um caminho para justificar a aproximação e
vivência pela PIBSP dos conceitos de desenvolvimento e Justiça da M.I. é que embora a
igreja e o pastor não tenham um conhecimento teórico da M.I., a dinâmica da
metodologia desta foi vivenciada pela igreja.A PIBSP ouviu os clamores de seu
contexto, e baseada na Bíblia, ofereceu respostas a este. Quanto à origem dessa práxis
da metodologia na missão a hipótese que se sugeriu é que este fato aconteceu por ter, o
pastor Paulo Eduardo, em seu ministério fortes traços da metodologia da TdL, no que se
refere à sua postura de valorização do contexto e da práxis eclesiástica frente a essa
realidade.
Dessa forma a PIBSP, sendo pastoreada pelo Pr. Paulo, desenvolveu uma práxis
ministerial que acontece dentro da lógica da hermenêutica contextual presente na TdL, e
uma vez que essa possui muitos pontos em comum com a M.I., no que diz respeito ao
método, é possível identificar um resultado, uma práxis, uma missão, muito próxima, da
TdL e da MI, e consequentemente da PIBSP.
Outra hipótese que pode ser levantada para justificar tal aproximação é que a
PIBSP vivencia o evangelho de Cristo pois segundo Gouvêa: “Missão integral é o
próprio evangelho” (2011.p.140) configurando-se assim apenas como um outro nome
para o próprio evangelho, não pretendendo ser nada além, ou aquém do próprio
evangelho,mas uma forma de reação aos conceitos que fracionam o evangelho limitando
sua relevância e eficácia para os dias atuais.
Gouvêa ainda afirma que “Na verdade só há uma missão em Cristo; aquela que
inclui a integralidade daquilo que o Evangelho representa” (2011.p.141) Portanto, como
159
já foi dito, os conceitos que não contemplam a integralidade da missão, a “Missão
Parcial”, segundo Gouvêa (2011) simplesmente não são missão cristã, mas uma
deformação perigosa da missão, uma distorção alienante e opressora. Não é evangelho
porque não é integral, e se não é integral é porque não é evangelho, uma vez que sabe-se
que para ser evangelho tem de ser integral.
Dentro dessa hipótese todas as aproximações entre a PIBSP e os conceitos de
desenvolvimento e justiça da M.I. aconteceram pelo fato de essa igreja fundamentar sua
práxis no evangelho, que é integral e que impulsiona a Igreja para uma Missão também
Integral.
Porém após esse estudo novos horizontes repletos de novos questionamentos se
abrem. Embora tenha sido apresentada a questão do método da M.I., de forma resumida
e introdutória, faz-se necessário um estudo mais aprofundado que investigue e delimite
suas extensões e encontre suas raízes. Também questiona-se qual seria a real distância
entre a TdL e a M.I..
Olhando para a PIBSP e analisando sua teologia e práxis, e o alinhamento dessa
com a visão do pastor, surge uma indagação sobre a importância da filosofia ministerial
do pastor na vivência da M.I. dentro de uma igreja.Seria esse o único elemento
determinante para a igreja implementar práticas de desenvolvimento e justiça? Ou
outros elementos seriam necessários para que isso acontecesse?
De maneira mais específica, pode-se pesquisar a influência que o Congresso
Mundial de Evangelização causou no ministério do Pr. Irland Pereira de Azevedo e na
PIBSP, fazendo um paralelo entre os enfoques ministeriais da Igreja e do pastor antes e
depois de Lausanne, para que com isso seja possível ver quais são os ecos que ainda
podem ser ouvidos na práxis e na teologia da PIBSP.
Portanto termino essa dissertação não com um ponto final, mas sim com uma
vírgula, pois no que se refere a responsabilidade da igreja frente ao desenvolvimento e a
justiça, pode-se dizer que ela está sempre a se refazer, já que o contexto sempre
apresentará novos desafios e fará novos clamores. Frente a essa realidade apreendida
nessa pesquisa, o desafio que se apresenta é que todos nós, pesquisadores ou pastores,
ao refletirmos sobre missão da igreja, possamos desenvolver uma teologia não no
silêncio dos gabinetes e salas, mas em meio aos clamores das ruas, pois estes sempre
nos desafiam a repensar e a reagir, pois clamam por uma Missão Integral.
160
ANEXOS
Anexo 1
PACTO DE LAUSANNE
INTRODUÇÃO
Nós, membros da Igreja de Jesus Cristo, procedentes de mais de 150 nações,
participantes do Congresso Internacional de Evangelização Mundial, em Lausanne,
louvamos a Deus por sua grande salvação, e regozijamo-nos com a comunhão que, por
graça dele mesmo, podemos ter com ele e uns com os outros. Estamos profundamente
tocados pelo que Deus vem fazendo em nossos dias, movidos ao arrependimento por
nossos fracassos e desafiados pela tarefa inacabada da evangelização. Acreditamos que
o evangelho são as boas novas de Deus para todo o mundo, e por sua graça, decidimo-
nos a obedecer ao mandamento de Cristo de proclamá-lo a toda a humanidade e fazer
discípulos de todas as nações. Desejamos, portanto, reafirmar a nossa fé e a nossa
resolução, e tornar público o nosso pacto.
1. O Propósito de Deus
Afirmamos a nossa crença no único Deus eterno, Criador e Senhor do Mundo,
Pai, Filho e Espírito Santo, que governa todas as coisas segundo o propósito da sua
vontade. Ele tem chamado do mundo um povo para si, enviando-o novamente ao mundo
como seus servos e testemunhas, para estender o seu reino, edificar o corpo de Cristo, e
também para a glória do seu nome. Confessamos, envergonhados, que muitas vezes
negamos o nosso chamado e falhamos em nossa missão, em razão de nos termos
conformado ao mundo ou nos termos isolado demasiadamente. Contudo, regozijamo-
nos com o fato de que, mesmo transportado em vasos de barro, o evangelho continua
sendo um tesouro precioso. À tarefa de tornar esse tesouro conhecido, no poder do
Espírito Santo, desejamos dedicar-nos novamente.
2. A Autoridade e o Poder da Bíblia
Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das Escrituras tanto do
Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, como única Palavra de Deus
escrita, sem erro em tudo o que ela afirma, e a única regra infalível de fé e prática.
Também afirmamos o poder da Palavra de Deus para cumprir o seu propósito de
salvação. A mensagem da Bíblia destina-se a toda a humanidade, pois a revelação de
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Deus em Cristo e na Escritura é imutável. Através dela o Espírito Santo fala ainda hoje.
Ele ilumina as mentes do povo de Deus em toda cultura, de modo a perceberem a sua
verdade, de maneira sempre nova, com os próprios olhos, e assim revela a toda a igreja
uma porção cada vez maior da multiforme sabedoria de Deus.
3. A Unicidade e a Universalidade de Cristo
Afirmamos que há um só Salvador e um só evangelho, embora exista uma ampla
variedade de maneiras de se realizar a obra de evangelização. Reconhecemos que todos
os homens têm algum conhecimento de Deus através da revelação geral de Deus na
natureza. Mas negamos que tal conhecimento possa salvar, pois os homens, por sua
injustiça, suprimem a verdade. Também rejeitamos, como depreciativo de Cristo e do
evangelho, todo e qualquer tipo de sincretismo ou de diálogo cujo pressuposto seja o de
que Cristo fala igualmente através de todas as religiões e ideologias. Jesus Cristo, sendo
ele próprio o único Deus-homem, que se ofereceu a si mesmo como único resgate pelos
pecadores, é o único mediador entre Deus e os homens. Não existe nenhum outro nome
pelo qual importa que sejamos salvos. Todos os homens estão perecendo por causa do
pecado, mas Deus ama todos os homens, desejando que nenhum pereça, mas que todos
se arrependam. Entretanto, os que rejeitam Cristo repudiam o gozo da salvação e
condenam-se à separação eterna de Deus. Proclamar Jesus como "o Salvador do
mundo" não é afirmar que todos os homens, automaticamente, ou ao final de tudo, serão
salvos; e muito menos que todas as religiões ofereçam salvação em Cristo. Trata-se
antes de proclamar o amor de Deus por um mundo de pecadores e convidar todos os
homens a se entregarem a ele como Salvador e Senhor no sincero compromisso pessoal
de arrependimento e fé. Jesus Cristo foi exaltado sobre todo e qualquer nome. Anelamos
pelo dia em que todo joelho se dobrará diante dele e toda língua o confessará como
Senhor.
4. A Natureza da Evangelização
Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos
pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e Rei, ele agora
oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todos os que se
arrependem e creem. A nossa presença cristã no mundo é indispensável à
evangelização, e o mesmo se dá com aquele tipo de diálogo cujo propósito é ouvir com
sensibilidade, a fim de compreender. Mas a evangelização propriamente dita é a
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proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com o intuito de
persuadir as pessoas a vir a ele pessoalmente e, assim, se reconciliarem com Deus. Ao
fazermos o convite do evangelho, não temos o direito de esconder o custo do
discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram segui-lo e negarem-se a si
mesmos, tomarem a cruz e identificarem-se com a sua nova comunidade. Os resultados
da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço
responsável no mundo.
5. A Responsabilidade Social Cristã
Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto,
devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade
humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade
foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura,
classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser
respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa
negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social
mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação
com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação,
afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do
nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca
de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus
Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda
forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de
denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo,
nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar, mas também
divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos
possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais
e sociais. A fé sem obras é morta.
6. A Igreja e a Evangelização
Afirmamos que Cristo envia o seu povo redimido ao mundo assim como o Pai
o enviou, e que isso requer uma penetração de igual modo profunda e sacrificial.
Precisamos deixar os nossos guetos eclesiásticos e penetrar na sociedade não-cristã. Na
missão de serviço sacrificial da igreja a evangelização é primordial. A evangelização
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mundial requer que a igreja inteira leve o evangelho integral ao mundo todo. A igreja
ocupa o ponto central do propósito divino para com o mundo, e é o agente que ele
promoveu para difundir o evangelho. Mas uma igreja que pregue a Cruz deve, ela
própria, ser marcada pela Cruz. Ela torna-se uma pedra de tropeço para a evangelização
quando trai o evangelho ou quando lhe falta uma fé viva em Deus, um amor genuíno
pelas pessoas, ou uma honestidade escrupulosa em todas as coisas, inclusive em
promoção e finanças. A igreja é antes a comunidade do povo de Deus do que uma
instituição, e não pode ser identificada com qualquer cultura em particular, nem com
qualquer sistema social ou político, nem com ideologias humanas.
7. Cooperação na Evangelização
Afirmamos que é propósito de Deus haver na igreja uma unidade visível de
pensamento quanto à verdade. A evangelização também nos convoca à unidade, porque
o ser um só corpo reforça o nosso testemunho, assim como a nossa desunião enfraquece
o nosso evangelho de reconciliação. Reconhecemos, entretanto, que a unidade
organizacional pode tomar muitas formas e não ativa necessariamente a evangelização.
Contudo, nós, que partilhamos a mesma fé bíblica, devemos estar intimamente unidos
na comunhão uns com os outros, nas obras e no testemunho. Confessamos que o nosso
testemunho, algumas vezes, tem sido manchado por pecaminoso individualismo e
desnecessária duplicação de esforço. Empenhamo-nos por encontrar uma unidade mais
profunda na verdade, na adoração, na santidade e na missão. Instamos para que se
apresse o desenvolvimento de uma cooperação regional e funcional para maior
amplitude da missão da igreja, para o planejamento estratégico, para o encorajamento
mútuo, e para o compartilhamento de recursos e de experiências.
8. Esforço Conjugado de Igrejas na Evangelização
Regozijamo-nos com o alvorecer de uma nova era missionária. O papel
dominante das missões ocidentais está desaparecendo rapidamente. Deus está
levantando das igrejas mais jovens um grande e novo recurso para a evangelização
mundial, demonstrando assim que a responsabilidade de evangelizar pertence a todo o
corpo de Cristo. Todas as igrejas, portando, devem perguntar a Deus, e a si próprias, o
que deveriam estar fazendo tanto para alcançar suas próprias áreas como para enviar
missionários a outras partes do mundo. Deve ser permanente o processo de reavaliação
da nossa responsabilidade e atuação missionária. Assim, haverá um crescente esforço
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conjugado pelas igrejas, o que revelará com maior clareza o caráter universal da igreja
de Cristo. Também agradecemos a Deus pela existência de instituições que laboram na
tradução da Bíblia, na educação teológica, no uso dos meios de comunicação de massa,
na literatura cristã, na evangelização, em missões, no avivamento de igrejas e em outros
campos especializados. Elas também devem empenhar-se em constante auto-exame que
as levem a uma avaliação correta de sua efetividade como parte da missão da igreja.
9. Urgência da Tarefa Evangelística
Mais de dois bilhões e setecentos milhões de pessoas, ou seja, mais de dois
terços da humanidade, ainda estão por serem evangelizadas. Causa-nos vergonha ver
tanta gente esquecida; continua sendo uma reprimenda para nós e para toda a igreja.
Existe agora, entretanto, em muitas partes do mundo, uma receptividade sem
precedentes ao Senhor Jesus Cristo. Estamos convencidos de que esta é a ocasião para
que as igrejas e as instituições para-eclesiásticas orem com seriedade pela salvação dos
não-alcançados e se lancem em novos esforços para realizarem a evangelização
mundial. A redução de missionários estrangeiros e de dinheiro num país evangelizado
algumas vezes talvez seja necessária para facilitar o crescimento da igreja nacional em
autonomia, e para liberar recursos para áreas ainda não evangelizadas. Deve haver um
fluxo cada vez mais livre de missionários entre os seis continentes num espírito de
abnegação e prontidão em servir. O alvo deve ser o de conseguir por todos os meios
possíveis e no menor espaço de tempo, que toda pessoa tenha a oportunidade de ouvir,
de compreender e de receber as boas novas. Não podemos esperar atingir esse alvo sem
sacrifício. Todos nós estamos chocados com a pobreza de milhões de pessoas, e
conturbados pelas injustiças que a provocam. Aqueles dentre nós que vivem em meio à
opulência aceitam como obrigação sua desenvolver um estilo de vida simples a fim de
contribuir mais generosamente tanto para aliviar os necessitados como para a
evangelização deles.
10. Evangelização e Cultura
O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer
metodologia nova e criativa. Com a bênção de Deus, o resultado será o surgimento de
igrejas profundamente enraizadas em Cristo e estreitamente relacionadas com a cultura
local. A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é
criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele
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experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é
demoníaca. O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra,
mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na
aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas. As missões muitas vezes
têm exportado, juntamente com o evangelho, uma cultura estranha, e as igrejas, por
vezes, têm ficado submissas aos ditames de uma determinada cultura, em vez de às
Escrituras. Os evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de
tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos dos outros, e as
igrejas têm de procurar transformar e enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus.
11. Educação e Liderança
Confessamos que às vezes temos nos empenhado em conseguir o crescimento
numérico da igreja em detrimento do espiritual, divorciando a evangelização da
edificação dos crentes. Também reconhecemos que algumas de nossas missões têm sido
muito remissas em treinar e incentivar líderes nacionais a assumirem suas justas
responsabilidades. Contudo, apoiamos integralmente os princípios que regem a
formação de uma igreja de fato nacional, e ardentemente desejamos que toda a igreja
tenha líderes nacionais que manifestem um estilo cristão de liderança não em termos de
domínio, mas de serviço. Reconhecemos que há uma grande necessidade de
desenvolver a educação teológica, especialmente para líderes eclesiásticos. Em toda
nação e em toda cultura deve haver um eficiente programa de treinamento para pastores
e leigos em doutrina, em discipulado, em evangelização, em edificação e em serviço.
Este treinamento não deve depender de uma metodologia estereotipada, mas deve se
desenvolver a partir de iniciativas locais criativas, de acordo com os padrões bíblicos.
12. Conflito Espiritual
Cremos que estamos empenhados num permanente conflito espiritual com os
principados e potestades do mal, que querem destruir a igreja e frustrar sua tarefa de
evangelização mundial. Sabemos da necessidade de nos revestirmos da armadura de
Deus e combater esta batalha com as armas espirituais da verdade e da oração. Pois
percebemos a atividade no nosso inimigo, não somente nas falsas ideologias fora da
igreja, mas também dentro dela em falsos evangelhos que torcem as Escrituras e
colocam o homem no lugar de Deus. Precisamos tanto de vigilância como de
discernimento para salvaguardar o evangelho bíblico. Reconhecemos que nós mesmos
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não somos imunes à aceitação do mundanismo em nossos atos e ações, ou seja, ao
perigo de capitularmos ao secularismo. Por exemplo, embora tendo à nossa disposição
pesquisas bem preparadas, valiosas, sobre o crescimento da igreja, tanto no sentido
numérico como espiritual, às vezes não as temos utilizado. Por outro lado, por vezes
tem acontecido que, na ânsia de conseguir resultados para o evangelho, temos
comprometido a nossa mensagem, temos manipulado os nossos ouvintes com técnicas
de pressão, e temos estado excessivamente preocupados com as estatísticas, e até
mesmo utilizando-as de forma desonesta. Tudo isto é mundano. A igreja deve estar no
mundo; o mundo não deve estar na igreja.
13. Liberdade e Perseguição
É dever de toda nação, dever que foi estabelecido por Deus, assegurar
condições de paz, de justiça e de liberdade em que a igreja possa obedecer a Deus,
servir a Cristo Senhor e pregar o evangelho sem quaisquer interferências. Portanto,
oramos pelos líderes das nações e com eles instamos para que garantam a liberdade de
pensamento e de consciência, e a liberdade de praticar e propagar a religião, de acordo
com a vontade de Deus, e com o que vem expresso na Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Também expressamos nossa profunda preocupação com todos os
que têm sido injustamente encarcerados, especialmente com nossos irmãos que estão
sofrendo por causa do seu testemunho do Senhor Jesus. Prometemos orar e trabalhar
pela libertação deles. Ao mesmo tempo, recusamo-nos a ser intimidados por sua
situação. Com a ajuda de Deus, nós também procuraremos nos opor a toda injustiça e
permanecer fiéis ao evangelho, seja a que custo for. Nós não nos esquecemos de que
Jesus nos preveniu de que a perseguição é inevitável.
14. O Poder do Espírito Santo
Cremos no poder do Espírito Santo. O pai enviou o seu Espírito para dar
testemunho do seu Filho. Sem o testemunho dele o nosso seria em vão. Convicção de
pecado, fé em Cristo, novo nascimento cristão, é tudo obra dele. De mais a mais, o
Espírito Santo é um Espírito missionário, de maneira que a evangelização deve surgir
espontaneamente numa igreja cheia do Espírito. A igreja que não é missionária
contradiz a si mesma e debela o Espírito. A evangelização mundial só se tornará
realidade quando o Espírito renovar a igreja na verdade, na sabedoria, na fé, na
santidade, no amor e no poder. Portanto, instamos com todos os cristãos para que orem
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pedindo pela visita do soberano Espírito de Deus, a fim de que o seu fruto todo apareça
em todo o seu povo, e que todos os seus dons enriqueçam o corpo de Cristo. Só então a
igreja inteira se tornará um instrumento adequado em Suas mãos, para que toda a terra
ouça a Sua voz.
15. O Retorno de Cristo
Cremos que Jesus Cristo voltará pessoal e visivelmente, em poder e glória, para
consumar a salvação e o juízo. Esta promessa de sua vinda é um estímulo ainda maior à
evangelização, pois lembramo-nos de que ele disse que o evangelho deve ser
primeiramente pregado a todas as nações. Acreditamos que o período que vai desde a
ascensão de Cristo até o seu retorno será preenchido com a missão do povo de Deus,
que não pode parar esta obra antes do Fim. Também nos lembramos da sua advertência
de que falsos cristos e falsos profetas apareceriam como precursores do Anticristo.
Portanto, rejeitamos como sendo apenas um sonho da vaidade humana a idéia de que o
homem possa algum dia construir uma utopia na terra. A nossa confiança cristã é a de
que Deus aperfeiçoará o seu reino, e aguardamos ansiosamente esse dia, e o novo céu e
a nova terra em que a justiça habitará e Deus reinará para sempre. Enquanto isso,
rededicamo-nos ao serviço de Cristo e dos homens em alegre submissão à sua
autoridade sobre a totalidade de nossas vidas.
CONCLUSÃO
Portanto, à luz desta nossa fé e resolução, firmamos um pacto solene com Deus, bem
como uns com os outros, de orar, planejar e trabalhar juntos pela evangelização de todo
o mundo. Instamos com outros para que se juntem a nós. Que Deus nos ajude por sua
graça e para a sua glória a sermos fiéis a este Pacto! Amém. Aleluia!
[Lausanne, Suíça, 1974]
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Anexo 2
CLADE I
Declaração evangélica de Bogotá
Os aqui reunidos, os crentes em Cristo, membros da diferentes comunidades
denominacionais que trabalham em nosso continente latino-americano, congregamo-nos
neste primeiro congresso latino-americano de evangelização no nome de Deus Pai, Deus
Filho e Deus Espírito Santo. Cremos que o próprio Espírito Santo tem nos guiado neste
encontro, com a finalidade de examinar de novo nossa missão evangelizadora a luz do
ensino Bíblico e da atual situação latino-americano.
Nossa presença neste congresso tem sido manifestação de nossa unidade em
Cristo, cuja natureza espiritual e não organizacional aprofunda suas raízes em nossa
comum herança evangeliza, fundamentadas nas verdades da bíblia cuja autoridade como
palavra de Deus iluminada pelo Espírito Santo afirmamos categoricamente.
Como conseqüência, esta declaração que apresentamos ao povo evangélico
latino-americano é expressão de um consenso no qual existe acordo no fundamental;
porém existe também lugar para diversidade que provem da multiforme graça de Deus
ao dar seus dons ao seu povo: diversidade dentro da unidade.
Esta declaração quer também refletir a tomada de consciência que nestes dias o
Senhor Jesus Cristo quer dar-nos fazendo-nos sentir o agudo da crise múltipla pela qual
atravessam nossos povos, e o caráter imperativo de seu mandado a evangelizar. Juntos
temos reconhecido a necessidade de viver plenamente o evangelho, proclamando-o em
sua totalidade ao home latino-americano no contexto de suas múltiplas necessidades
compartilhamos com um sentido de urgência o que o senhor Jesus Cristo tem nos
mostrado, porem sem tentar legislar na vida das igreja latino americanas. Convidamos
mais especificamente ao povo latino-americano a considerar e a estudar estas
declarações que expressão as convicções a que o senhor Jesus Cristo nos levou durante
o congresso.
Assim declaramos
1. A presença evangélica na America latina é fruto da ação de Deus por
meio de um imenso caudal de amor cristão, visão missionária, espírito de sacrifio,
trabalho, esforço tempo e dinheiro investido aqui pelas missões estrangeiras que tem
trabalhado a mais de um século, inclusive a obra das sociedades bíblicas. Esta visão da
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nossa historia deve, pelo menos, despertar em nos um espírito de gratidão pela obra
pioneira cuja dimensão reconhecemos. Ao mesmo tempo ao observar ate o futuro,
estamos conscientes das novas responsabilidades, novas tarefas e novas estruturas que
são verdadeiro desafio aos crescentes latinos americanos, e ao líder autóctone em todas
as dimensões do ministério.
2. A missão de anunciar o evangelho a toda criatura é um imperativo
claramente expressado na palavra de Deus. A evangelização não é algo optativo: é a
essência mesma do ser da igreja , sua tarefa suprema.
A dinâmica da tarefa evangelizadora é a ação do Espírito Santo. É ele quem da
os dons a igreja, capacita o evangelizador, dá testemunho de Cristo ao ouvinte ilumina-o
convence-o do pecado da justiça, do juízo, e da eterna perdição; converte-o em nova
criatura, e o faz parte da igreja colaborar com Deus na evangelização. Quando não se
reconhece essa iniciativa do Espírito Santoa evangelização torna-se mera empresa
humana.
3. Nossa teologia sobre evangelismo determina nossa ação evangelizadora,
ou a ausência dela. A simplicidade do evangelho não esta contra sua dimensão
teológica. Sua natureza é a auto-revelação de Deus em Cristo Jesus. Reafirmamos a
historicidade de Jesus Cristo segundo o testemunho das escrituras: sua encarnação, sua
crucificação e sua ressurreição. Reafirmamos o caráter único de sua obra mediadora,
graças a qual o pecador encontra o perdão dos pecados e a justificação pela fé, sem
reiteração daquele sacrifício.
Reafirmamos, deste modo, que Cristo é o senhor e a cabeça da igreja, e que a
manifestação final de seu senhorio sobre o mundo será evidente em sua segunda vinda,
a qual é esperança dos remidos. Estas são as boas noticias cuja proclamação e aceitação
transforma radicalmente o homem.
4. Os campos da América Latina está brancos e prontos para ceifa. Grandes
setores da população manifestam receptividade AP evangelho, porem esta hora de
oportunidade demanda estratégia adequada. Devemos avaliar os atuais métodos de
evangelização à luz dos resultados visíveis nos crescimentos assombrosos de certas
denominações. Tal avaliação, unida a uma consideração cuidadosa da vida da igreja
neotestamentária, demonstrará em primeiro lugar a importância de uma mobilização
total da igreja para tarefa evangelizadora. Afiramos, para ser fiéisBíblia, que esta
170
mobilização tem de ser obra do Espirito Santo, que usará os meios que a igreja
proporcione com inteligência e inventiva, começando no nível da congregação local.
5. EM nosso século somo testemunha do processo assombroso dos meios de
comunicaçãoque, por sua eficiência e pela falta de ética de quem os manejam,
contribuem a criar um caos de vozes que confundem o latino-americano. Em meio de tal
confusão a voz clara, distintiva, sensível e poderosa da mensagem de Cristo deve
encontrar seu caminho até o ouvinte. O mensageiro de Jesus Cristo tem a urgente
responsabilidade de compreender e utilizar as técnicas modernas de comunicação a fim
de captar a atençãodo homem latino-americano, dialogar com ele e comunicar-lhe o
evangelho em forma inteligível e pertinente à sua situação vital.
6. O processo de evangelização se dá em situações humanas concretas. As
estruturas sociais influem sobre a igreja e sobre os receptores do evangelho. Se se
desconhece esta realidade, desfigura-se o evangelho e empobrece-se a vida cristã. É
chegada a hora de que nós evangélicos tomemos consciência de nossas
responsabilidades sociais. Para cumpri-las, o fundamento bíblico é a doutrina evangélica
e o exemplo de Jesus Cristo levado até suas ultimas consequências. Esse exemplo deve
encarnar-se na crítica realidade latino-americana de subdesenvolvimento, injustiça,
fome, violência e desesperança. Os homens não poderão construir o reino de Deus sobre
a terra, porem a ação social evangélica contribuirá para criar um mundo melhor como
antecipação daquele por cuja vinda oram diariamente.
7. A explosão demográfica nos apresenta o desafio de uma população
juvenil que aumente vertiginosamente, no preciso momento em que a igreja comprova
por sua parte um êxodo de sua juventude e uma crise do ministério frente às novas
gerações. O impulso da igreja deve renovar-se de acordo com uma estratégia orgânica
que compreenda o diagnóstico realista da crise juvenil e a reformulação das demandas
de Cristo. O desafio do Senhor tem de anunciar-se de maneira que capte a imaginação e
a energia da juventude, lançando-a precisamente à conquista da América Latina para
Cristo. O entusiasmo, o vigor, o espírito de serviço e aventura de uma juventude que
faça de Cristo seu Senhor e líder, poderão torar realidade as profundas transformações
que nossos povos esperam.
8. A tarefa da evangelização não termina com a proclamação e a conversão.
Se faz necessário um ministério de consolidação dos crentes novos que lhes dá
capacitação doutrinal e pratica para viver a vida cristão dentro do ambiente em que se
movem, para expressar fidelidade a Cristo no contexto sociocultural onde Deus os
171
colocou. O processo de planificação da tarefa evangelizadora também deve prover as
bases teológicas e os métodos práticos para realizar esta tarefa de consolidação.
9. Em um continente de maioria nominalmente católica, não podemos
fechar os olhos às inquietudes de renovação que se advertem na igreja de Roma. O
aggiornamento nos representa por igual risco e oportunidade: as mudanças em matéria
de liturgia, eclesiológica, política e estratégica deixam sem dúvida incólumes os dogmas
que fazem divisão entre os evangélicos e Roma. Porém nossa confiança na palavra, cuja
difusão e leitura se vai acelerando dentro do catolicismo, nos faz esperar frutos de
renovação e nos proporciona oportunidade para o diálogo em nível pessoal. Este diálogo
tem de ser inteligente, e exige em nossa igrejas um ensino mais profundo e conseqüente
com a herança evangélica, a fim de evitar os riscos de um ecumenismo ingênua e mal
entendido.
10. Em atitude de agradecimento ao Senhor Jesus Cristo pela forma que nos
tem permitido a expansão do Evangelho nestas terras, confessamos ao mesmo tempo
nossa incapacidade e nossas falhas no cumprimento de seu mandato nesta hora crítica.
Porém afirmamos nossa fé nos recursos de sua graça, que capacitam os seus à medida
das tarefas que ele lhes manda, e na ajuda e o poder do Espírito Santo prometido à igreja
“até o fim do mundo”. Ao Senhor e Salvador, ao qual damos a glória agora e pelos
séculos, entregamo-nos. Amém.
172
Anexo 3
CLADE II
Segundo Congresso Latino-Americano de Evangelização
CARTA DO CLADE II
Ao Povo Evangélico da América Latina
Amados Irmãos em Cristo:
Que a graça e a paz do Deus Trino seja com cada um.
1. Antecedentes. Dez anos depois da realização do Primeiro Congresso Latino-
Americano de Evangelização em Bogotá, Colômbia, reunimo-nos em Huampani, Peru,
de 31 de outubro a 8 de novembro de 1979, 266 participantes procedentes de diferentes
setores do povo evangélico da América Latina. Nosso propósito tem sido considerar
juntos a tarefa evangelizadora a que somos chamados a cumprir nas próximas décadas.
2. Reafirmação. Procuramos deliberar sobre nossa missão submetendo-nos à
autoridade suprema da Bíblia, a Palavra de Deus, à direção soberana do Espírito Santo e
ao senhorio de Jesus Cristo, num ambiente de amor fraternal. Nesta atitude,
reafirmamos nossa adesão à declaração do Primeiro Congresso Latino-Americano de
Evangelização e ao pacto do Congresso Mundial de Evangelização, realizado em
Lausanne, Suíça, em julho de 1974.
3. Lealdade. Estamos profundamente agradecidos a Deus por nossa herança
evangélica e pelos esforços e sacrifícios realizados de parte dos pioneiros, tanto
nacionais como estrangeiros. Decidimos renovar nosso compromisso de lealdade ao
evangelho e de fidelidade à tarefa de evangelizar no contexto de nossa América Latina.
Ao mesmo tempo, sentimos que devemos responder ao desafio missionário que, em
nível mundial, representam as milhões de pessoas que não conhecem a Jesus Cristo
como Senhor e Salvador.
4. Tragédia. Temos ouvido a Palavra de Deus que nos fala e que também
escuta o clamor dos que sofrem. Temos levantado os olhos para o nosso continente e
contemplado o drama e a tragédia em que vivem nossos povos nesta hora de inquietação
espiritual, confusão religiosa, decadência moral e convulsões sociais e políticas. Temos
ouvido o clamor dos que têm fome e sede de justiça, dos que se encontram desprovidos
do que é básico para sua subsistência, dos grupos étnicos marginalizados, das famílias
173
destruídas, das mulheres despojadas do uso de seus direitos, dos jovens entregues aos
vícios ou impulsionados à violência, das crianças que sofrem fome, abandono,
ignorância e exploração. Por outro lado, temos visto que muitos latino-americanos estão
se entregando à idolatria do materialismo, submetendo os valores do espírito aos valores
impostos pela sociedade de consumo, segundo a qual o ser humano vale não pelo que é
em si mesmo, mas pela abundância dos bens que possui.Há também os que, em seu
desejo legítimo de reivindicar o direito à vida e a liberdade ou de manter o estado de
coisas vigente, seguem ideologias que oferecem uma análise parcial da realidade latino-
americana e conduzem a formas diversas de totalitarismo e à violação dos direitos
humanos. Existem, ainda, vastos setores escravizados pelos poderes satânicos que se
manifestam em formas variadas de ocultismo e religiosidade.
5. Pecado. Vemos este quadro sombrio que nos apresenta a realidade latino-
americana, à luz da Palavra de Deus, como expressão do pecado que afeta radicalmente
a relação do homem com Deus, com seu próximo e com a criação. Percebemos em tudo
o que se opõe ao senhorio de Jesus Cristo a ação do espírito do Anticristo que já está no
mundo.
6. Renovação. Louvamos ao Senhor, contudo, porque em meio a esta situação
o Espírito de Deus tem se manifestado poderosamente. Animamos o testemunho que
temos compartilhado no Clade II da obra maravilhosa que Deus está realizando em
nossos respectivos países. Milhares têm-se entregado a Jesus Cristo como Senhor,
encontrando nele libertação e incorporando-se às igrejas locais. Muitas igrejas têm sido
renovadas em sua vida e missão. O povo de Deus avança em sua compreensão do que
significa o discipulado radical num mundo de mudanças constantes ou súbitas.
Tudo isso é fruto do evangelho que é mensagem de salvação e esperança em
Jesus Cristo, em quem estão sujeitas todas as coisas. Animados por esta esperança,
decidimos intensificar nossa ação evangelizadora. Queremos, ainda, dedicar-nos com
maior empenho ao estudo da Palavra de Deus para escutar, com humildade e espírito de
obediência, o que ele tem a dizer nesta hora crítica de nossa história.
7. Confissão. Confessamos que como povo de Deus nem sempre temos
atendido às demandas do evangelho que pregamos como demonstra nossa falta de
unidade e nossa indiferença frente às necessidades materiais e espirituais de nosso
próximo. Reconhecemos que não temos feito tudo o que com a ajuda do Senhor
deveríamos realizar em benefício de nosso povo. Porém, propomo-nos a depender do
poder transformador do Espírito Santo para o fiel cumprimento da tarefa que está diante
174
de nós. Cremos que na próxima década o Senhor poderá abençoar de maneira singular o
seu povo, salvar integralmente a muitíssimas pessoas, consolidar ou restaurar nossas
famílias e levantar uma grande comunidade de fé, que seja uma antecipação, em palavra
e ato, do que será o reino em sua manifestação final.
Como um apoio para a ação que nos corresponde, apresentamos o “Documento
de Estratégia” elaborado por todos os participantes deste Congresso. Recomendamos
seu uso de acordo com cada situação.
8. Missão. No amor de Cristo, instamos a nossos irmãos na fé a que propaguem
estes anelos e se dediquem à missão de Deus, tomando em consideração que “a noite
vem, quando ninguém pode trabalhar”.
No desejo de que Deus cumpra o seu propósito no mundo, em sua igreja e em
nossas vidas, e que os povos latino-americanos escutem a voz de Deus, encomendamo-
nos todos à sua graça e lhes enviamos uma saudação fraterna.
II CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE EVANGELIZAÇÃO
175
Anexo 4
CLADE III
(DECLARAÇÃO DE QUITO)
TODO O EVANGELHO A PARTIR DA AMÉRICA LATINA PARA
TODOS OS POVOS
PRÓLOGO
A 500 anos da chegada dos europeus às Américas, convocados a Quito,
Equador, de 24 de agosto a 4 de setembro de 1992 para o III Congresso Latino-
Americano de Evangelização (CLADE III), expressamos a nossa gratidão a Deus por
este encontro de evangélicos de 24 países com sua riqueza de culturas, etnias e línguas.
Nos reunimos sob o tema “Todo o evangelho para todos os Povos a partir da América
Latina”, em um momento de grandes mudanças no mundo, que apontam sérias questões
para a situação do povos de nosso continente.
Confessamos nossa fé em todo o evangelho de Jesus Cristo conforme as
Sagradas Escrituras, irmanados com todas as igrejas evangélicas da América Latina, e
no mesmo espírito do CLADE I e II. Refletimos sobre alguns aspectos do evangelho,
em relação com o nosso contexto o desafio que apresenta para nossa participação na
missão mundial. Nos comprometemos a levar à prática missionária as consequências
que surgem da reflexão e os testemunhos apresentados neste encontro.
1. TODO O EVANGELHO
A. O evangelho e a Palavra de Deus
Todo o conselho de Deus e a manifestação de seu Reino se nos dão a conhecer
por meio do evangelho. As Escrituras registram a revelação de Deus na história por
meio de fatos concretos. Elas convergem em Jesus Cristo, a expressão plena e definitiva
da revelação de Deus. Para tanto, a Palavra de Deus é o fundamento e ponto de partida
para a vida, teologia e missão da igreja.
B. O evangelho da criação
Deus é o criador de tudo e o que ele criou é bom. Criou o ser humano, homem
e mulher, à sua imagem, como seres chamados a viver em relação harmônica com Ele,
seu próximo e a natureza. Deus os colocou como mordomos responsáveis de toda a
176
criação para beneficio de toda a humanidade. Porém os seres humanos caíram em
pecado e toda a criação sofreu os efeitos dessa queda, tornando-se cativa do pecado e da
morte. Sem dúvida, Deus em sua soberania tem tomado a iniciativa de estabelecer um
pacto para reconciliar consigo mesmo aos seres humanos e toda criação na pessoa e
obra de Jesus Cristo. Em Cristo, Deus está restaurando a dignidade humana,
transformando as culturas e conduzindo sua criação até a redenção final.
C. O evangelho do perdão e da reconciliação
Jesus Cristo é o verbo encarnado, dom de Deus e único caminho até Ele. Por
meio da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo se oferece perdão ao ser humano, e
reconciliação e redenção para toda criação. O arrependimento e a fé são imprescindíveis
como expressão da total dependência de Deus, ara receber a salvação. Quem recebe o
perdão torna-se filho de Deus e esta nova relaçãofilial os capacita para obedecer-lhe. A
nova vida significa manter e desenvolver esta relação com seus Criador. Ela produz uma
nova relação com seus semelhantes e com toda a criação, mediada pelo compromisso
com o Senhor e baseada na prática do amor, a verdade e a justiça. Deus em Cristo cria
uma comunidade perdoa e reconciliada chamada a ser agente de perdão e reconciliação
em um contexto e ódio e discriminação.
D. O evangelho e a comunidade do Espírito
A pessoa do Espírito Santo atua com poder no mundo. Ela o faz
primordialmente por meio da igreja outorgando-lhe vida, poder e dons para seu
desenvolvimento, maturidade e missão. A igreja, comunidade de reconciliados com
Deus, é enviada ao mundo por Jesus Cristo. Nela se opera uma transformação radical
que mostra o propósitodivino de eliminar toda injustiça, opressão e sinais de morte.
Como comunidade do Espírito, a igreja deve proclamar liberdade a todos os oprimidos
pelo diabo e impulsionar uma pastoral de restauração que traga consolo aos que sofrem
discriminação, marginalização e desumanidade.
E. O evangelho e o reino de Deus
Com a chegada de Jesus Cristo, o reino de Desu se fez presente entre nós,
cheio de graça e verdade. O reino está em conflito constante com opoder das trevas; a
luta ocorre na regiões celestiais e se expressa em toda a criação em nível pessoa,
coletivo e estrutural. Sem dúvida, a comunidade do reino vive sustentada pela confiança
177
de que a vitória já te sido conquistada e que o reino de Deus se manifestará plenamente
ao final do tempos. Com o poder e a autoridade delegados por Deus, ela assume sua
missão neste conflito, para ser agente na redenção de toda criação. O Rei Jesus Cristo
tem-se encarnado e chama a sua comunidade a fazer o mesmo no mundo. Seguir-lhe
como seus discípulos significa assumir sua vida e missão.
F. O evangelho de justiça e poder
O evangelho revela um Deus santo, justo e poderoso em seu caráter e suas
ações. Por ele a igreja é chamada a viver segundo a justiça do reino, no poder do
Espírito. Em um mundo caracterizado pelo abuso do poder e o domínio da injustiça, o
testemunho da igreja confronta os pobres que dominam no presente. Por isso a
proclamação do reino anuncia a Jesus Cristo e denuncia as forças do mal.
2. A PARTIR DA AMÉRICA LATINA
A. Perspectiva histórica da igreja evangélica
No povo evangélico da América Latina tem-se despertado uma consciência
missionária a outros continentes. Sem dúvida, as novas gerações de evangélicos, em
geral, desconhecem suas próprias raízes históricas e herança protestantes. O
conhecimento de nossa história é fundamental para evitar os erros do passado, recuperar
certos distintivos de nossa herança e cumprir o mandamento missionário.
Na América Latina e no Caribe o protestantismo tem raízes históricas que
datam do século 16. É parte da própria história da América Latina, não simplesmente
um agente estrangeiro que obedece à penetração do imperialismo de plantão. Esta
afirmação não livra a igreja evangélica de seus erros históricos e das deformações do
evangelho em sua chegada e estabelecimento no continente. No entanto, é fundamental
examinar quais tem sido os pontos positivos e negativos da missiologiaeuropéia e
norte–americana, bem como dos que surgem daqui mesmo.
B. O evangelho e a cultura
O evangelho é pertinente a toda a realidade humana, incluída a cultura, por
meio da qual o ser humano transforma a criação. A capacidade de criação de criação
cultural é um Don dado ao ser humano por Deus, a cuja imagem foi criado. No entanto,
é importante que a cultura ocupe o lugar que merece em nossa reflexão e prática
missiológica.
178
Durante esse 500 anos nosso continente tem testemunhado desprezo e
destruição sistemática das culturas autóctones em nome da evangelização. Torna-se,
então, condenável a submissão e o ultraje do qual foram vitima os povos indígenas. Por
isso, é imprescindível buscar a reconciliação entre nossos povos. Por sua vez, temos que
reconhecer que toda cultura pode ser veiculo adequado para comunicar fielmente o
evangelho. A partir da perspectiva deste, toda cultura deve ser veiculo adequado para
comunicar fielmente o evangelho. A partir da perspectiva deste, toda cultura deve ser
entendida, respeitada e promovida, sem pressupor a superioridade de uma cultura sobre
outras. Deve-se assinalar que toda cultura está afetada pelo pecado, que introduziu a
corrupção, os conflitos, o egoísmo e o rompimento das relações entre Deus e toda a
criação. Para tanto, todas as culturas estão sob o juízo da Palavra. O criador não deve
ser confundido com sua criação, nem com cultura particular alguma. A revelação de
Deus em Cristo transcende a ambas e, por sua vez, entra em relação com elas para
redimi-las.
A missiologia evangélica deverá atuar em dois sentidos. Primeiro reconhecer,
respeitar e dignificar as etnias e suas culturas: segundo, avaliar à luz do juízo da
Palavra, oferecendo a esperança do evangelho para sua transformação. A fidelidade da
igreja aos propósitos de Deus demanda uma hermenêutica contextual que permita
comunicar fielmente o evangelho em dialogo aberto com a cultura. A igreja deve
cumprir a missão de anunciar a salvação integral à totalidade do ser humano na
realidade em que está inserido.
C. A identidade evangélica
Como evangélicos necessitamos revalorizar nossas raízes indígenas, africanas,
mestiças, européias, asiáticas e crioulas, e considera e a pluralidade de outras culturas e
raças que tem contribuído, e considerar a pluralidade de culturas e raças que tem
contribuído para enriquecer-nos. Como igreja latino-americana confessamos que temo-
nos identificado mais com os valores culturais estrangeiros que com os autenticamente
nossos. Pela graça de Deus podemos reencontrar-nos com o mundo sem complexos nem
verginhas a partir de nossa identidade cultural e evangélica como palavra de Deus.
Afirmar nossa identidade evangélica implica reafirmar nosso compromisso
com a herança da Reforma. Não significa assumir uma postura acrítica com respeito a
nossa tradição, doutrinas ou missiologia. Como igreja estamos chamados a reformar-nos
permanentemente à luz das escrituras como palavra final.
179
Devemos avaliar os modelos de missão que herdamos do passado ou que se
importam no presente, e buscar novos modelos. Isso implica forjar uma missiologia a
partir da America Latina que leve em conta as experiências e apoios das igrejas dos
diferentes grupos étnicos e culturais do continente. Sem dúvida, a busca de novos
modelos não deve conduzir-nos a fazer concessões no tocante à verdade d Jesus Cristo.
3.PARA TODOS OS POVOS
A. A universalidade da missão
Deus cumpriu a promessa de prover um redentor para todo o mundo. O
propósito dele é que todos os seres humanos sejam salvos pela fé em Jesus Cristo. A
suficiência e a universalidade de Jesus Cristo correspondem à essência do evangelho. O
caráter universal da fé cristão e a confissão do senhorio de Cristo, conferem à igreja a
dimensão missionária. Em conseqüência, a igreja é enviada ao mundo para viver e ser
mensageira da universalidade do evangelho.
O propósito divino e a universalidade do evangelho não significam que todos
os caminhos e opções sejam válidos para obtenção da salvação de Deus. As praticas
sacramentalistas e rituais que expressam a intenção de obter a justificação pelas obras
são alheias ao propósito revelado por Deus nas Escrituras. A verdade unida do
evangelho e sua ética conseqüente se opõem a todo universalismo e relativismo que
consideram como igualmente válida toda experiência religiosa.
B. Toda a igreja é missionária
Toda a igreja é responsável pela evangelização de todos ospovo, raças e
línguas. Uma fé que se considera universal mas que não é missionária transforma-se em
retórica sem autoridade e faz-se estéril. A afirmação de toda a igreja é missionária se
baseia no sacerdócio universal dos crentes. É para o cumprimento dessa missão que
Jesus Cristo tem dotado a igreja de dons e de poder do Espírito Santo.
C. Missão Integral
A visão, a ação e a reflexão missionária da igreja devem fundamentar-se no
evangelho que, quando é compreendido em sua integridade, proclama-se em palavra e
obra e dirige-se a todo o ser humano. Nossa missiologia deve fazer-se a partir da
Palavra, da nossa realidade latino–americana e em dialogo com outras missiologias,
buscando superar as deformações ou dicotomias que podem ter afetado o evangelho que
180
recebemos. Isso demanda também um compreensão dos novos desafios que o mundo
atual apresenta, tais como a globalização, a pós-modernidade, o ressurgimento do
racismo, os esoterismos e a crescente deteriorização ecológica.
D. A nova consciência missionária na América Latina
O Espírito Santo tem feito surgir na América Latina um nova consciência
missionária. À prática missionária do passado se soma uma crescente disposição em
assumir a responsabilidade da igreja, em obediência à Palavra, a partir da América
Latina. Nos últimos anos têm aumentado as oportunidades de formação e envio
missionário para outros continentes e contextos. Sem dúvida, as novas possibilidades
que se abrem para a atividade missionária devem levar-nos a uma avaliação de modelos
e experiências e a uma continua correção destes à luz da Palavra de Deus.
E. O estilo encarnacional de missão
A encarnação é modelo para missão da Igreja. Em sua encarnação, Jesus se
identificou com a humanidade pecadora, solidarizou-se com ela em suas aspirações,
angustias e debilidades, e dignificou-a como criatura feita à imagem de Deus. A igreja
está chamada a encarar sua missão ao estilo de Jesus. Esse cumprimento demanda
cruzar frinteiras geográficas, culturais, sociais, lingüísticas e espirituais, com todas suas
conseqüências. Em todo o mundo, o crescimento das grandes cidades e suas maiorias
empobrecidas constitui um desfio de especial urgência. Para responder a todas estas
questões é necessário reconsiderar o modelo do Novo Testamento, usar adequadamente
as ciências sociais e humanas e refletir sobre a prática. Também é indispensável a
formação espiritual que capacita o missionário para santidade e a humildade que tornou
possível o respeito e valorização de outras línguas e culturas e a fidelidade ao
evangelho.
F. A urgência da missão
A igreja na America Latina deve assumir plenamente e sem demora a
responsabilidade na evangelização mundial. Deve criar e promover centros de formação
em cada país com programas adequados de capacitação para a missão local e
transcultural. A estrutura de toda a educação teológica deve ser revisada à luz do
imperativo missinário. O avanço missionário sempre tem surgido da vitalidade
espiritual em momentos de renovação. Para ser missionária, a igreja na América Latina
181
deve renovar sua dependência do Espírito e entregar-se à oração. Assim poderá
responder ao desafio de proclamar todo o evangelho a partir da América Latina a todos
os povos da terra.
CONCLUSÃO
Louvamos a Deus pelo privilégio que nos tem concedido de participar do
Terceiro Congresso Latino-Americano de Evangelização neste momento critico da
história de nossos povos. Tal privilégio nos move a renovar nosso compromisso com o
Senhor Jesus Cristo e com sua igreja como portadorada boa-nova do reino de amor e
justiça que Ele veio estabelecer. Humildemente nos encomendamos a Deus para que
Ele, por meio de seu Santo Espírito, ponha em nós o propósito de agradar-lhe em tudo,
segundo sua boa vontade. “Ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único e sábio
Deus, seja honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém.”
182
Anexo 5
CLADE IV
Quarto Congresso Latino- Americano de Evangelização
DOCUMENTO FINAL DO CLADE IV
Atos 4.31-34.
Irmãos e irmãs, membros e representantes de igrejas e organizações cristãs
evangélicas de todas os países da América Latina e alguns da Europa, Ásia, Oceania e
América do Norte, fomos convocados pela Fraternidade Teológica Latino-Americana
(FTL) para o Quarto Congresso Latino-Americano de Evangelização (Clade IV), como
continuidade de seus trinta anos de peregrinação, com o propósito de refletir, à luz das
escrituras, e discernir os desafios das igrejas evangélicas no nosso contexto para levar a
cabo a missão integral.
Estivemos reunidos na cidade de Quito, Equador, de 2 a 8 de setembro de 200,
1.300 pessoas. Experimentamos juntas um maravilhoso tempo de comunhão e louvor,
fundamentado na Palavra de Deus, dirigido pelo Espírito Santo e expresso em nossa
diversidade e riqueza cultural.
Concordamos
Ao inicia o novo milênio, a América Latina enfrenta uma situação crítica,
marcada pela implementação de modelos econômicos desumanizadores, com seu
correlato de uma política de aberturas de mercados e de privatização indiscriminadas,
incremento de uma dívida externa abusiva, altos índeces de subemprego e desenprego,
deterioração do meio ambiente, corrupção generalizada (especialmente da classe
política e do sistema de administração de justiça), acesso restrito à educação e a sistema
de saúde, e crescente pauperização de setores mais amplos da sociedade. Além disso,
em alguns países, ainda podemos acrescentar a ameaçade ingerência militar estrangeira.
Na ultima década, o mapa religioso latino-americano variou substancialmente.
Hoje em dia, as propostas religiosas são múltiplas e diversas, e tudo indica que
marchamos para um pluralismo religioso. Nesse contexto, muitas igrejas evangélicas
estão experimentando um acelerado crescimento numérico, que nem sempre é
acompanhado de um despertar de sua consciência social. Sem dúvida, existem
experiências coletivas de ministérios integrais, que buscam transformar as condições de
183
vida dos mais pobres. Há renovação espiritual e maior presença de crentes e igrejas
evangélicas em
diversas instâncias da sociedade civil, inclusive no campo da política. Toda via
percebe-se certa deficiência na reflexão teológica, que se reflete na frequentemente
tendência a adotar acriticamente propostas “teológicas” estranhas à Bíblia, como no
caso do chamado Evangelho da prosperidade”, da apresentação do evangelho como um
artigo mais de consumo religioso e de estruturas eclesiais em que se prima pela ambição
ao poder. Por sua vez, as igrejas têm carências no campo da espiritualidade e se vêen
ameaçadas pelo ativismoa, pelo misticismo e pelo dogmatismo.
Diante do exposto, agradecemos a:
Nosso Trino Deus, por essa oportunidade histórica e por ter nos congregado
nas instalações do Seminário Ministerial Subamericano (Semisud) para um tempo de
estudo e reflexão na sua Palavra, iluminados pelo Espírito Santo, com respeito ao
avanço do reino de Deus e de nossa vocação missionária, dentro de nossa amada e
ensangüentadaAmerica latina.
Confessamos que, muitas vezes:
Temos sido negligentes na tarefa profética, assim como na geração de
comunidades do reino e na busca de estruturas sociais alternativas e justas.
Com nosso silencio, temos sido cúmplices de governos corruptos, que condenam
milhões de seres humanos à pobreza e à miséria absoluta, violentando sua dignidade
humana.
Temos cedido à tentação de valorizar como normas supremas outras fontes de
autoridade no lugar das sagradas Escrituras.
Temos restringido a mensagem da Bíblia ao âmbito “espiritual” e eclesial,
desnaturalizando assim sua mensagem, integridade, poder e eficácia libertadora.
Temos permitido um dualismo intelecto-emoção, em vez de buscarmos mentes e
corações iluminados e renovados pelo Espírito Santo.
Temos adotado uma forma de liderança pastoral, inspirada no modelo empresarial
da sociedade de consumo, esquecendo-nos do exemplo de nosso Senhor, que não veio
para ser servido, mas, sim para servir.
Em nosso excessivo ativismo, temo descuidado da oração como espaço
inseparável do estudo da Palavra e fonte de espiritualidade cristã genuína.
184
Temos fomentado a divisão e a intolerância, em vez de buscarmos a unidade e o
respeito mútuo.
Temos discriminado e marginalizado a mulher, os indígenas, os negros, as
crianças, os jovens, os velhos, os incapacitados, os imigrantes e outros gruposdentro da
igreja. Temos negado, dessa maneira que eles são imagem e semelhança de Deus e
desconhecido seu enorme potencial humano e missionário.
Reconhecemos que:
A Bíblia é a revelação divina consignada em escrito humanos, cujo valor é
único e insubstituível na reflexão do propósito de Deus para nossa América Latina. Seu
caráter humano exige de nós uma constante releitura e contextualização para as diversas
gerações de discípulos.
A missão integral só se realiza quando uma igreja recebe com discernimento o
testemunho da Escritura, obedece e dispõem-se a assumir o custo da fidelidade a Deus.
A missão integral nasce de cada pagina sagrada, concretiza-se em nossos contextos
históricos e se orienta colocando todas as coisas sob o senhorio de Jesus Cristo. O
Espírito Santo abre nosso entendimento e nos sustenta com sinais que anunciama
presença libertadora do reino de Deus.
Nosso culto comunitário tem de ser prazeroso, espontâneo e contextualizado,
para que, num clima de liberdade, adoremos ao Senhor, sustentados na Palavra e sob o
impulso do Espírito. Necessitamos de uma teologia mais espiritualidade mais teológica.
Precisamos de uma teologia trinitária, comunitária, centrada na Palavra de Deus,
reconciliadora e missionária. A realidade do pluralismo religioso não debilitará o
chamado de Deus e a prática evangelizadora da igreja.
Nos comprometemos a:
- Orar em todo tempo e estudar diligentemente a Bíblia, esforçando-nos para obedecer
todo o conselho e Deus em nossa realidade histórica especifica.
- Promover, nas congregações, oportunidades de formação integral e apoiar programas
de ensino bíblico, bem como a produção e distribuição de materiais que dêem um
tratamento sério e acessível às Escrituras, por intermédio de instituições de educação
teológica, editoras e outras iniciativas.
- Ser igreja de adoração, serviço, fé, esperança, justiça e amor, que se convertam em
comunidades alternativas para a nossa sociedade.
185
- Valorizar e incluir todos os grupos sociais e culturais excluídos (crianças, jovens,
mulheres, negros, indígenas, incapacitados, imigrantes, etc) como sujeitos a quem
também é dirigido o evangelho do reino de Deus.
- Desenvolverum liderança que busque sua inspiração e prática no modelo de Jesus-
Servo.
- Participar na missão de Deus, dando testemunho integral do evangelho, vivendo uma
espiritualidade cristã inclusiva, exercendo uma mordomia da criação que coloque o
material a serviço do espiritual e o poder em beneficio das demais e para a glória de
Deus, e promovendo reconciliação entre raças, classes sociais, sexos, geraçõese do
homem como o meio ambiente.
- Viver a esperança escatológica do reino de Deus na sofredora América Latina de hoje,
participando ativamente nos processo da sociedade civil que promovam a vida e a
dignidade humanas.
- Buscar intensamente a direção e ação do Espírito Santo na vida da igreja, sem
esquecer o compromisso da evangelização transcultural na perspectiva da missão
integral.
Concluimos esta declaração com a firmação de que a Palavra de Deus nos convoca a ser
comunidades proféticas e solidarias com a dor e o sofrimento que destroem a vida e a
dignidade de nossas ações, pois entendemos que parte medular de nossa missão é
perseguir a justiça para todos, no poder do Espírito Santo.
1Tessalonicenses 5.23,24.
186
Anexo 6
CLADE V
Seguir Jesus em seu Reino de vida. Guia-nos, Espírito Santo
Nós, irmãos e irmãs participantes do Quinto Congresso Latino-americano de
Evangelização (CLADE V), ocorrido em San José, Costa Rica, de 9 a 13 de julho de
2012, convocados e convocadas pela Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL),
e gratos ao Senhor Jesus pela oportunidade de terem se reunido em torno do tema:
"Seguir Jesus em seu Reino de vida. Guia-nos, Espírito Santo", compartilhamos o
seguinte:
1. Seguindo a Jesus no caminho de vida
Diante de falsas imagens, sejam elas midiáticas, esotéricas e espiritualizadas,
que aludem a conceitos religiosos de Jesus, reconhecemos a necessidade urgente de
seguir plenamente a Jesus em seu caminho de vida. Uma de nossas tarefas urgentes é
redescobrir o Jesus bíblico e o que significa caminhar com ele. Isto nos levará a
considerar nossos contextos, transcender o campo teórico e interagir ativamente com a
comunidade de fé. As diferentes situações exigem respostas bíblicas às necessidades
humanas, respostas que produzam transformações justas e que sejam inclusivas em
termos de gênero, etnia, faixa etária, capacidades físicas e mentais diferentes, minorias
tradicionalmente relegadas e outros grupos que estão crescendo significativamente hoje,
como por exemplo, as comunidades de imigrantes. Portanto, seguir a Jesus é encarnar
seu chamado em sua missão transformadora.
Recomendação
À luz do CLADE V, recomenda-se que os núcleos da FTL em cada uma de
suas regiões promovam e fomentem o diálogo, a reflexão bíblico-teológica e contextual,
bem como a publicação e divulgação dos significados e práticas de se seguir hoje o
Jesus bíblico pelo caminho de vida.
2. O Reino da vida
Frente aos conceitos reducionistas, mercantilistas e místicos do Reino de Deus,
reconhecemos a falta de coerência entre o nosso compromisso verbal com a missão
187
desse reino e nossa práxis. Promovemos uma abertura para exploração desse reino, mas
que leve em consideração a diversidade, a ideia de comunidade, a solidariedade, e que,
finalmente, seja parte da agenda de reflexão para todos e todas. Necessitamos promover
espaços de renovação e diálogo que sejam inclusivos e plurais, vinculando a presença
do reino com as realidades sociais em nossos contextos. Por inclusividade, propomos
considerar os seres humanos em toda a sua diversidade e a criação como campos nos
quais se manifesta o reino.
Reconhecemos que o reino de Deus também se manifesta nos movimentos que
lutam em favor da vida, do cuidado com criação, da igualdade no tratamento entre
homens e mulheres de todas as idades e da justiça social. Portanto, como agentes ativos
do reino, devemos nos unir a essas lutas, assumindo ao mesmo tempo uma voz profética
que promova os valores desse reino.
Recomendação
À luz do CLADE V, recomenda-se que os núcleos da FTL, em cada uma de
suas regiões, promovam o diálogo, a reflexão bíblico-teológica e contextual, bem como
a publicação e divulgação dos significados e práticas do reino de vida hoje frente a
tantas manifestações de morte.
3. O Espírito de Vida
Frente às tentativas de limitar e monopolizar o Espírito da vida como
propriedade privada de certos líderes megalomaníacos, reconhecemos que as práticas
discriminatórias e patriarcais entristecem o Espírito da vida. A atuação do Espírito
ultrapassa os nossos espaços ministeriais, trabalhando soberanamente em todo o mundo,
e nos convidando a participar dos sinais de vida de seu Reino. Portanto, precisamos
assumir nossa responsabilidade como agentes de esperança em todos os âmbitos de
morte em nossa sociedade. Necessitamos que o Espírito da vida nos conduza no
discernimento dos tempos e no enfrentamento dos poderes que marginalizam nossos
povos e promovem a destruição ambiental, o medo e a morte. O Espírito nos dá poder
para que, com voz profética, denunciemos as muitas manifestações de escuridão e
proclamemos a esperança na utopia do reino de Deus e sua justiça revelada em Jesus
Cristo.
Recomendação
188
À luz do CLADE V, recomenda-se que os núcleos da FTL, em cada uma de
suas regiões, promovam o diálogo, a reflexão bíblico-teológica e contextual, bem como
a publicação e divulgação dos significados e práticas de sermos dirigidos pelo Espírito
da vida hoje.
4. Comunidade trinitária
Frente aos modelos eclesiásticos empresariais e comerciais vendidos à cultura
do espetáculo, que reproduzem uma espiritualidade individualista e isolada das
realidades sociais de pobreza, de individualismo e de desesperança, reconhecemos que,
com frequência, nos vemos seduzidos pelo poder egoísta que limita a possibilidade de
vida para os outros e promove comunidades fechadas e apáticas. Reafirmamos a
promoção de um modelo de comunidade trinitária que celebra o diálogo, o encontro, a
interculturalidade e a missão de Deus. Nossas comunidades devem promover o amor em
contraposição ao poder humano, o perdão e não a vingança, a justiça do reino em
oposição à corrupção, a paz que supera a violência, a reconciliação e não a
discriminação e a restauração dos sonhos e da utopia do reino contra a desesperança.
Devemos incentivar comunidades que sigam Jesus no seu reino de vida, apaixonadas
pela redenção de toda a criação no Jesus ressurreto. Convidamos os seguidores e
seguidoras de Jesus Cristo a formar comunidades de iguais, onde a equidade, a justiça, a
celebração, a liberdade e a responsabilidade floresçam como evidências concretas de
vidas transformadas.
Conclusão
Perante estes desafios fazemos um chamado a: Seguir a Jesus em seu reino de
vida, com tudo o que isso implica diante de toda realidade contrária, em total
dependência da direção do Espírito. Mesmo que isso signifique que, como comunidades
trinitárias, caminhemos na contramão e desafiemos com nossas vidas as expressões de
morte e escuridão em nossas comunidades, pois Jesus nos disse: "Assim como o Pai me
enviou, eu os envio".
Recomendação
À luz do CLADE V, recomenda-se que os núcleos da FTL, em cada uma de
suas regiões, promovam o diálogo, a reflexão bíblico-teológica e contextual, bem como
a publicação e divulgação:
189
• dos significados e práticas de seguir hoje o Jesus bíblico pelo caminho de
vida;
• dos significados e práticas do reino de vida hoje frente a tantas manifestações
de morte;
• dos significados e práticas de sermos dirigidos pelo Espírito de vida hoje.
• dos significados e práticas de ser hoje uma comunidade moldada pela vida da
Trindade.
190
Anexo 7
IPA
CARTA PASTORAL
à
PRIMEIRA IGREJA BATISTA EM SÃO PAULO
Pastor Irland Pereira de Azevedo
Em 16 de junho de 1996
Queridos irmãos:
Graça e paz lhes sejam concedidas pelo Deus Triúno, Pai, Filho e
Espírito Santo, que em Sua presciência, providência e misericórdia nos
chamou para sermos Seu povo.
Estou a escrever-lhes, depois de muito orar e buscar a vontade do
Senhor para nossa igreja, nosso ministério, nossa família e a Causa de Deus,
neste fim de século.
Quero convidá-los, neste dia, a uma vista d’olhos no passado, a
uma visão do presente e a uma antevisão do futuro.
1. VISTA D’OLHOS NO PASSADO
Foi em começos de 1970 que recebi dessa igreja o primeiro convite a vir
para São Paulo.
Orei, juntamente com minha esposa, e senti que não era ainda tempo de
deixar o Méier e o Rio de Janeiro.
Em setembro voltei a ser chamado pela Comissão Pastoral e então
sentimos, minha esposa e eu, que era imperativa a vontade do Senhor com
relação à nossavinda.
O convite da Igreja fez-se em duas votações consecutivas.
191
Em 2 de janeiro de 1971 assumi o pastorado, sucedendo a dois gigantes
da fé, Pr. Dr. Manoel Tertuliano Cerqueira e PrEmygdio José Pinheiro.
Nestes 25 anos e 5 meses de pastorado Deus derramou muitas bênçãos
sobre nossa Igreja, sendo bastante destacar - para glória Dele - as seguintes:
osex-pastores, amados por todos, foram honrados e cuidados, recebendo ambos os títulos de Pastores Eméritos;
a Igreja desenvolveu intenso programa de missões e evangelização de que resultaram a organização de 13 igrejas filhas, o batismo de quase 1.850 novos crentes, a conversão de milhares de pessoas, o alcance de centenas de milhares de pessoas pelo rádio e telefone, além da presença e atuação do pastor em muitos estados da Federação e diversas partes do mundo, pregando o Evangelho.
A Igreja tem sustentado muitos missionários e pastores de pequenas igrejas, inclusive noutros estados e além fronteiras;
Foram consagrados 27 novos pastores, para servirem às igrejas de Jesus Cristo;
Formaram-se centenas de obreiros na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, em cujas vidas o Ministério de nossa igreja influiu de maneira decisiva;
Formamos centenas de líderes, em nosso Centro de Educação Teológica por Extensão, habilitando-os a pregar, a ensinar, a servir na liderança, de maneira eficaz; muitos deles hoje servem com eficiência e dedicação nesta e noutras igrejas irmãs;
Foram aconselhadas e orientadas muitas dezenas de casais e de centenas de pessoas carentes de ajuda pastoral;
Foi quase concluído o Edifício Educacional de que falta apenas o acabamento e o mobilhamento de alguns andares;
O Pastor titular participouda Associação das Igrejas do Centro de São Paulo, da Convenção Estadual, da Convenção Batista Brasileira, da União Batista Latino-Americana e da Aliança Batista Mundial, juntamente com outros representantes da igreja;
Houve firmeza na pregação e no ensino das Sagradas Escrituras, na sã doutrina e na afirmação de nossa identidade denominacional;
A Igreja foi representada em conclaves nacionais e internacionais, sempre sendo elevado, bem alto, o nome de Jesus Cristo;
Houve a departamentalização da Igreja por Ministérios, e implantação destes;
Houve incentivo e apoio à criação do Ministério Jeame, para assistência a meninos e adolescentes de rua e de conduta infracional; à criação do Desafio Jovem Peniel, em São Paulo, para recuperação de viciados em drogas; à criação do Centro Social Dr. Manoel Tertuliano Cerqueira, para atendimento social à população carente, de Campos Elísios e adjacências;
Houve manutenção de níveis de excelência em nosso programa e atividades musicais, graças à dedicação do Ministério de Música;
192
Ocorreu aumento do patrimônio da Igreja, com aquisição, entre outras coisas, de piano, de um órgão de tubos menor, e outro órgão de tubos, duas vezes maior, ora em fase de instalação;
Verificou-se apoio e cooperação ao Ministério, por parte do Conselho Diaconal, de demais membros da liderança “leiga” da Igreja e dos obreiros do Ministério Colegiado;
Por tudo isso, e muito mais, rendo graças a Deus!
2. VISÃO DO PRESENTE
Vejo hoje a Igreja e o Ministério Pastoral a exigir mudanças, sob a
direção de Deus e a capacitação do Espírito Santo.
Sinto-me como Moisés no cume do Nebo a contemplar a Terra
Prometida. Vejo os anos derradeiros deste século evislumbro os começos do
próximo século e Milênio, e sinto,
2.1 Em relação à Igreja
- que é urgente a conclusão de nosso Edifício Educacional e seutotal
mobilhamento e adequação, para que a igreja possa expandir-se;
- que é imperativa a necessidade de mobilizar a igreja, ativa e inativa,
para evangelização e missões e resposta a outros desafios de nossa
comunidade, nossa cidade, nosso Estado, e do Brasil, empregando todos os
meios disponíveis;
- que há necessidade de atendimento pastoral individualizado a todos os
membros da igreja, de maneira especial os mais distantes e descomprometidos
com o Senhor e Sua igreja;
- que se faz mister a implementação de programas e reavaliação e quiçá
reformulação da visão, da missão e dos objetivos da igreja, em face das
mudanças socioeconômicas por que passam a Cidade, São Paulo, o Brasil e o
mundo;
- que há de se imprimir maior ritmo e eficácia na execução dos objetivos
programáticos da Igreja, neste e nos anos porvindouros;
193
- que se deve considerar seriamente eventual mudança do Templo e
instalações educacionais da Praça Princesa Isabel, ou a aquisição de áreas
contíguas, para real expansão da Igreja;
- que é imperativo o envolvimento das famílias da igreja, na formação e
efetivo funcionamento de núcleos ou células familiares por meio dos quais o
Evangelho alcance a comunidade e permeie a cidade de São Paulo, como bom
fermento.
2.2 Em relação ao Ministério Pastoral
Considerando:
- as limitações e cuidados de minha saúde e sua manutenção;
- as dificuldades que naturalmente me virão com o avançar dos anos;
- a consciência de minha finitude, e que não reúno hoje condições de
manter, no labor pastoral,ritmo, velocidade, volume de trabalho e eficácia com
que os irmãos se acostumaram no decorrer dos anos, desde 1971,
1. CONCLUO que a Igreja precisade um Pastor jovem e capaz,
teologicamente maduro e doutrinalmente são, que pregue, ensine e desafie a
igreja a enfrentar desafios que se lhe antolham;
2. VEJO a necessidade de um Pastor jovem dedicado e fiel, capaz de
mobilizar os de perto e de longe, convocando-os a um novo momento da vida
da Igreja;
3. RECONHEÇO que a Igreja precisa de um Pastor jovem que promova
o reestruturar e afeiçoar da igreja às exigências dos novos tempos;
4.ESTOU CONVENCIDO de que a Igreja precisa hoje de uma liderança
que apóie de todo coração o novo Obreiro, procurando seus auxiliares
compreender-lhe a personalidade, entender-lhe a visão, interpretar-lhe os
anseios e sonhos de seu coração pastoral, como fez em relação a mim a
liderança desde 25 anos atrás;
5. SINTO o imperativo de um novo Obreiro que continue a obra, mude o
que precise de ser mudado, e permaneça fiel à doutrina e à mensagem do
Evangelho, que são imutáveis;
Sei do caráter transitório e complementar do Ministério Pastoral e,
portanto, que um Obreiro passa para que outro venha a completar ou
complementar-lhe a obra e, quiçá, cuidando de áreas deslembradas de
194
atenção no atual pastorado. Não foi Paulo quem disse: “Eu plantei, Apolo
regou, mas Deus deu o crescimento”?
3. ANTEVISÃO DO FUTURO
Que vejo na linha do horizonte, onde céu e terra se abraçam?
Que antevejo para esta igreja e para meu ministério?
É o que compartilho agora, abrindo o coração para que os irmãos vejam
lá bem no fundo dele!
3.1 Em relação à Igreja
*ANTEVEJO um futuro de bênçãos para esta igreja, não obstante
sua localização no centro comercial da cidade, inserida numa realidade
socioeconômica desfavorável. Reconheço que ela é, como muitas outras em
grandes cidades do mundo, uma “downtownChurch”, com seus problemas
peculiares.
*ANTEVEJO, entretanto, a igreja a atingir com impacto a
comunidade próxima e a cidade em geral, mediante um ministério arrojado e
submisso ao Senhor, com sério compromisso de todos os seus membros;
*ANTEVEJO a igreja firme na fé, até a volta de Nosso Senhor
Jesus Cristo, fiel à sua história de igreja missionária e evangelizadora, de
púlpito firme na doutrina, e de gente dedicada à oração, à adoração, ao louvor,
ao testemunho;
*ANTEVEJO uma igreja cujas famílias façam de seus lares
verdadeiras “ecclesiolae”, como ocorreu com os cristãos do primeiro século,
isto é, a tornar suas casas pequeninas igrejas, pontos de irradiação da
mensagem da Redenção.
*ANTEVEJO uma igreja fiel à sua vocação no sustento de
missionários e na cooperação denominacional.
3.2 Para o meu Ministério
Neste momento de meu Ministério antevejo anos diferentes e
produtivos noutro plano que não o de um pastorado de igreja local.
195
Verifico que as igrejas estão a carecer de obreiros bem
preparados, egressos de nossos Seminários;
Vejo que os pastores estão a precisar de mais ajuda e motivação
espiritual em seu ministério.
Isto, em termos de incentivo pessoal, e também por meio de literatura
adequada às demandas do pastoreio do povo de Deus.
Noto no futebol, esporte de minha preferência, quejogadores mais
velhos e bem sucedidos em sua carreira, costumam “pendurar as chuteiras”,
quando ainda válidos, em tempo de poderem ajudar, treinar, orientar e
incentivar os que formam as equipes em competição. E vêm a tornar-se
técnicos ou treinadores.
Por que não acontecer algo semelhante na vida ministerial?
Obreiros mais experientes podem deixar suas funções de pastoreio do povo de
Deus, para se tornarem “formadores”, “treinadores” e incentivadores dos que
estão no campo e em plena atividade pastoral.
Sinto, irmãos queridos, que Deus me impulsiona nessa direção: a
de deixar o pastorado efetivo para dedicar-me, sem embaraços, à missão de
ajudar a preparar e fortalecer novas gerações de obreiros, a serviço de nossas
igrejas.
Por outro lado, há muito desejo produzir material teológico e
didático: livros, artigos, apostilas, vídeos e outros materiais. Mas não tem
havido tempo, porque os misteres pastorais têm-me consumido todas as horas
dos dias, meses e anos.
Como sabem, há mais de 25 anos venho prelecionando para
pastores, e ensinando em seminários, faculdades e outras escolas de formação
ministerial, no Brasil e no Exterior; tenho participado de retiros, congressos e
cursos, com pastores e líderes; e observo o quanto precisam de estímulo e
ajuda em seu ministério tão desgastante.
Pois bem. Agora, depois de meditar e orar e buscar ao Senhor,
cheguei à conclusão deque não tenho “pernas” para correr o campo inteiro de
um efetivo pastorado de igreja, de acordo com o padrão de desempenho com
que me acostumei e os irmãos se acostumaram.
Ora, não me sentirei feliz em permanecer em “campo” do
pastorado, atuando em ritmo menor e mesmo com o risco de ser achado em“off
side”, quem sabe sem pique para buscar a bola, e fazer os “gols” com que o
Senhor é glorificado. Não. Isso não me parece razoável.
196
Sinto que a esta altura de minha vida poderei marcar e festejar os
“gols” de meu Ministério e minha vida, d’outra maneira.
Como? Por meio de outros que eu vier aajudar a treinar e
preparar-se para atuação com eficácia e dedicação, no Santo Ministério.
Isso é possível, até mesmo porque já “joguei” em quase todas as
“posições” do Ministério Pastoral, nestes quase 36 anos e, desse modo, estarei
em condições de ajudar aos colegas em atividade.
Que antevejo, então, quanto ao meu futuro Ministério?
- Estar DISPONÍVEL para ajudar o Ministério Batista no Brasil e
fora do país, sempre que chamado a participar de retiros, seminários, cursos
de atualização teológica e outros eventos;
- DISPOR DE TEMPO e condições para produzir literatura
períódica e permanente, voltada para as necessidades das igrejas e seus
ministérios;
- OCUPAR-ME na ministração de cursos especiais, em
seminários, faculdades, institutos teológicos e outras escolas de formação
ministerial, em nível de graduação e pós-graduação;
- Estar DISPONÍVEL, na parte do calendário que houver, a fim de
atender convites de igrejas para conferências doutrinárias ou de
evangelização;
- Ter o TELEFONE E RESIDÊNCIA ACESSÍVEIS, em dias e
horários determinados, para atender pastores, estudantes e outros obreiros
cristãos desejosos de dialogar e orar sobre o Ministério Cristão.
Para esse novo plano de Ministério preciso, com minha
família, da intercessão dos irmãos e de apoio da igreja que, destarte, estará
servindo à Denominação Batista, à Comunidade evangélica e, especialmente,
às novas gerações de pastores.
Estas são as visões; este, o desafio, que submeto à minha
querida Primeira Igreja Batista em São Paulo, neste dia.
Como já falei à Diretoria da Igreja e ao competente e dedicado
Conselho Diaconal, não tenho candidatos à minha sucessão no pastorado
titular.
Sugiro, por isso, que a Igreja constitua uma Comissão de
Sucessão Pastoral, para logo iniciar seu trabalho, que promova cultos e
jornadas de oração e se prepare para receber relatório da Comissão, em tempo
oportuno. O ideal étermos em 1 de janeiro de 1997, se não antes, um novo
197
Pastor, por quem estarei orando, a quem estarei ajudando no que ele precisar,
e cuja orientação e liderança estarei aceitando. Se a Comissão de Sucessão
Pastoral vier a precisar, em algum momento, de minha assessoria, estarei
disponível, mas espero que a escolha do candidato à minha sucessão seja
livre, sob a orientação soberana do Espírito Santo.
Esperamos aqui estar como membros e obreiro da Igreja, e
participantes dos cultos, sempre que não estivermos com compromissos ou em
viagem a serviço da Causa do Senhor.
Mas só permaneceremos como membros da Igreja, ou dela
freqüentadores, se nossa presença de nenhum modoconstranger o novo
Pastor titular.
Esclareço-lhes que nada estou reivindicando ou pleiteando.
Entretanto, em reunião com a Diretoria e plenário do
Conselho Diaconal, expus o presente plano, necessidades pessoais e de
minha família, e estou persuadido de que osDiáconos terão sabedoria e
discernimento para propor à Igreja o que lhes parecer justo e agradável a Deus
sobre mim, minha família e nosso futuro ministério.
Os irmãos sabem muito bemque só cuidamos, durante estes
anos, dos interesses da Igreja do Senhor, do crescimento espiritual das
pessoas, da pregação do Santo Evangelho e extensão do Reino de Deus.
Como ocorreu com Paulo, de ninguém cobiçamos prata ou ouro.
Nenhum bem material realmente valioso e durável adquirimos para nós, nestes
25 anos. Nosso alvo foi servir ao Senhor e gastar nossa vida a serviço de Seu
povo. Os irmãos constituem, todavia, nossa alegria, nossa fortuna,
nossa glória e nossa esperança.
Agradecidos, minha família e eu, pelos anos abençoados de seu
amor, cooperação e dedicação, e esperando estar no centro de suas orações e
seus cuidados, no novo plano de ministério, queremos dedicar-lhes as palavras
de Paulo aos Filipenses 1.6:
“tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós
começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Cristo
Jesus”.
No amor de Jesus Cristo,
Pastor IrlandPereira de Azevedo
198
Anexo 8
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS
Sexo: Masculino
Idade: 33 anos
Nome da Igreja: 1ª Igreja Batista de São Paulo
1) Há quanto tempo é membro da igreja?4 anos
2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,
em sua compreensão:
Perguntas Sim Sim, porém secundária Não
A missão da igreja é falar de Jesus X
A missão da Igreja é dar assistência aos
necessitados
X
A missão da igreja é intervir em
situações onde a dignidade humana é
violada (podendo estabelecer ações
políticas e públicas)
X
Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta: Item 3, secundário no
sentido de não ser omisso, porém a real responsabilidade parte dos governantes. A
igreja é um braço ou ferramenta que agraga, porém não PE fator decisivo.
3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a
pergunta, em sua compreensão:
Perguntas Sim Não
Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X
Ações de assistência social são ações missionárias? X
É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres
humanos?
X
Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:
199
4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo
grau de importância segundo sua compreensão).
1º- campanhas para arrecadação de fundos para envio junto a missões nacionais
2º- projeto Cristolândia – inserida uma igreja 24hs dentro da cracolandia para evangelismo
3º - Sustento de membros internos da igreja que tiveram o chamado para missões
4º- projetos ação social
5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?
Visita em orfanatos e asilos com intuito de carinho a estas pessoas e falar de Jesus Cristo
6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso
sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.
Sim. Ações sociais fazem parte da Missio Integral, é uma das formas de colocar em
prática o “Ide” de Jesus Cristo. Atitudes dizem mais que palavras.
7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
Região centro (entorno da Igreja): 1ª drogas. 2ª alcoolismo, 3º fome, 4ª desemprego.
Fatores correlacionados com envolvimento de drogas
8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão).
1ª Igreja dentro da cracolândia
2ª suporte social com internações em casa de recuperação
3ª Ação social
4ª encaminhamento para agencias de emprego, painel no subsolo
9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa
teologia em sua vida?
Sim. Conheço que é um mecanismo de levar a palavra de Deus através de ajuda
humana, não somente fora do município, estado ou pais e sim no local em que
estamos. Colocar em prol das pessoas, nossas habilidades e aproveitar para falar de
Jesus Cristo.
200
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS
Sexo: Feminino
Idade:18 anos
Nome da Igreja:1ª Igreja Batista de São Paulo
1) Há quanto tempo é membro da igreja?8 anos
2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,
em sua compreensão:
Perguntas Sim Sim, porém secundária Não
A missão da igreja é falar de Jesus
A missão da Igreja é dar assistência
aos necessitados
A missão da igreja é intervir em
situações onde a dignidade humana é
violada (podendo estabelecer ações
políticas e públicas)
X
Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:_
3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a
pergunta, em sua compreensão:
Perguntas Sim Não
Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias?
Ações de assistência social são ações missionárias?
É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres
humanos?
X
Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:
4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo
grau de importância segundo sua compreensão).
1- Ministrado a evangelização
2- Prestado assistência
3- Reestruturando a vida física e emocional na âmbito social
201
5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?
Visita à cristolândia, auxilio com as crianças
6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso
sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.
Sim, prestar assistência àqueles que principalmente estão ao redor da nossa igreja
7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
1-cracolândia
2- reestruturação social dessa pessoas que estão ao nosso redor
8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão).
A igreja tem a cristolandia que é uma ação missionária que tem ajudado a salvar muitas
vidas e mudado completamente a vida dessas pessoas. Acredito que essa foi uma forma
que a igreja encontrou de se aproximar dessas pessoas e salva-las.
9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa
teologia em sua vida?
Conheço. O objetivo principal é resgatar vidas para Cristo e quando se trata de ser
humano isso já me deixa impactada e nóscomo filhos de Deus precisamos ajudar
servir aqueles que necessitam de nós. E a missão é isso, não ajudar com aquilo
que nos sobra e sim com aquilo que eles necessitam.
Sejam elas físicas ou econômicas, é conseguir suprir essas necessidades.
202
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS
Sexo: Masculino
Idade:21 anos
Nome da Igreja:1ª Igreja Batista de São Paulo
1) Há quanto tempo é membro da igreja?
+ou- 7 anos
2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,
em sua compreensão:
Perguntas Sim Sim, porém secundária Não
A missão da igreja é falar de Jesus X
A missão da Igreja é dar assistência
aos necessitados
X
A missão da igreja é intervir em
situações onde a dignidade humana é
violada (podendo estabelecer ações
políticas e públicas)
X
Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:_
3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a
pergunta, em sua compreensão:
Perguntas Sim Não
Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X
Ações de assistência social são ações missionárias? X
É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres
humanos?
X
Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:
4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo
grau de importância segundo sua compreensão).
1.cristolandia
1. Moinho
1. Presidio
1. Missões Nacionais
203
5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?
Ofertas
6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso
sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.
Sim, a igreja precisa buscar sempre o bem de todos, auxiliar pessoas que estão
passando por necessidades (fome,sem emprego)
7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
1. Educação
2. Saúde
2. Segurança
8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão).
Sempre que as pessoas que tem algum tipo de problema procuram ajuda na igreja são
sempre auxilia-daspelos pastores e membros
9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa
teologia em sua vida?
Não
204
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS
Sexo: Feminino
Idade:32 anos
Nome da Igreja:Primeira Igreja Batista em SP
1) Há quanto tempo é membro da igreja?
21 anos
2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,
em sua compreensão:
Perguntas Sim Sim, porém secundária Não
A missão da igreja é falar de Jesus X
A missão da Igreja é dar assistência
aos necessitados
x
A missão da igreja é intervir em
situações onde a dignidade humana é
violada (podendo estabelecer ações
políticas e públicas)
X
Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:Missão da Igreja é falar de
Jesus, demontrando o amor e cuidado uns com os outros.
3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a
pergunta, em sua compreensão:
Perguntas Sim Não
Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X
Ações de assistência social são ações missionárias? X
É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres
humanos?
X
Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:
O voluntariado muitas vezes se mistura à missão, os dois podem caminhar de forma
agregadora
4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo
grau de importância segundo sua compreensão).
1. capelania hospitalar
2. capelania prisional
3. ministériocristolândia
205
4. lar batista de criança
5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?
1- Na adolescência viajava as cidades do interior falando de Jesus de porta em porta,
depois trabalhei na favela do Moinho no ministério DAT, em seguida, por 6 meses integrei
a capelaniaprisionalna penitenciária Carandiru, fiz parte da Cristolandia e agora faço visitas
regulares no lar batista de criança
6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso
sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.
Sim. Igreja são pessoas e as pessoas mesmas precisam e necessitam serem
acompanhadas, seja em qual área for. O maior exemplo até hoje era a forma coma a
igreja primitiva fazia.
7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
O problema do crack, protituição, falta de saneamento básico na favela do Moinho, tudo
aqui na região central.
8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão).
A igreja tem seus ministérios de ação social interno e externo. Em relação as drogas
desenvolveram a cristolandia, neste trabalho, muitos homens e mulheres deixaram as ruas
9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa
teologia em sua vida?
Já ouvi falar, mas confesso que não tenho tantas informações a ponto de ter uma
opnião.
206
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS
Sexo: Masculino
Idade: 71 anos
Nome da Igreja: Primeira Igreja Batista de São Paulo
1) Há quanto tempo é membro da igreja? 10 anos
2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,
em sua compreensão:
Perguntas Sim Sim, porém secundária Não
A missão da igreja é falar de Jesus X
A missão da Igreja é dar assistência
aos necessitados
X
A missão da igreja é intervir em
situações onde a dignidade humana é
violada (podendo estabelecer ações
políticas e públicas)
X
Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta: Ide por todo o mundo e
pregai este evangelho a toda criatura Marcos 16.15
3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a
pergunta, em sua compreensão:
Perguntas Sim Não
Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X
Ações de assistência social são ações missionárias? X
É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres
humanos?
X
Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:
4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo
grau de importância segundo sua compreensão).
Contribuir para missões locais assim como a cristolandia, missões estaduais nacionais e
mundiais
207
5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?
Evangelismo estudos bíblicos e transformação da cracolândia em cristolandia entregas de
literaturas bíblicas
6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso
sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.
Sim, Tirar pessoas das drogas, da miséria da pobreza física espiritual, alimentos
vestes e educação
7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
1ª falta de Deus, drogas, alcolismo, ignorância, pois temor a Deus é principio da sabedoria
8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão).
Falta muito a fazer, mas temos feito algo de muita importância assim como trabalho social
cristolandia visitas aos presídios, hospitais moradores de ruas etc
9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa
teologia em sua vida?
Trabalho com drogados, que tem repercutido no mundo inteiro. Eu sinto maravilhado
208
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS
Sexo: Feminino
Idade:76 anos
Nome da Igreja:Primeira Igreja Batista em São Paulo
1) Há quanto tempo é membro da igreja?
Hámais de 30 anos com 76 anos de crente
2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,
em sua compreensão:
Perguntas Sim Sim, porém secundária Não
A missão da igreja é falar de Jesus X
A missão da Igreja é dar assistência
aos necessitados
X X
A missão da igreja é intervir em
situações onde a dignidade humana é
violada (podendo estabelecer ações
políticas e públicas)
x
Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:
3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a
pergunta, em sua compreensão:
Perguntas Sim Não
Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X
Ações de assistência social são ações missionárias? x X
É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres
humanos?
X
Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:
4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo
grau de importância segundo sua compreensão).
A nossa igreja está no caminho certo nos últimos tempos o que eu mais gostei, foi da obra
“Cristolândia”, erao que mais me incomodava era ver seres humanos perdidos incluindo
crianças. Louvado seja Deus pelo pastor Paulo e demais irmãos que cooperam com essa
missão
209
5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?
Várias, nãos só presente mais contribuindo e levando a mensagem através de folhetos,
bíblias e cheguei a ser presidente da união feminina dessa igreja e membro da união
estadual atuando na casa batista da Amizade.
6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso
sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.
Sim, a exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo, que através da sociabilidade,
cumpriu sua missão levando o Reino de Deus, por onde Ele andava, precisamos
ter muito cuidado.
7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
São muitos: o que mais me incomoda são as leis que são verdadeiras aberrações,
como o homossexualismo, o abandono, do adulto e da criança
8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão).
Nossa Igreja tem feito o bastante apesar de necessitar que todos participem conforme
pudessem.
Eu devido doenças e morte na família tenho estado um pouco ausente por isso peço
perdão por não falar melhor sobre a nossa igreja, querida e amada.
9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa
teologia em sua vida?
Não
210
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS
Sexo: Feminino
Idade:64 anos
Nome da Igreja:1ª I.B. em São Paulo
1) Há quanto tempo é membro da igreja?desta igreja= 6 anos
2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,
em sua compreensão:
Perguntas Sim Sim, porém secundária Não
A missão da igreja é falar de Jesus X
A missão da Igreja é dar assistência
aos necessitados
X
A missão da igreja é intervir em
situações onde a dignidade humana é
violada (podendo estabelecer ações
políticas e públicas)
X
Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:A missão da Igreja é
restaurar vidas através de Jesus Cristo.
Restaurar em todos os sentidos. Tanto rico como o pobre, doente ou saudável
precisam de Jesus Cristo como único que através de seu sangue vertido na cruz e
a ressurreição pode dar dignidade as pessoas.
3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a
pergunta, em sua compreensão:
Perguntas Sim Não
Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X
Ações de assistência social são ações missionárias? X
É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres
humanos?
X
Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:
Quando um membro da igreja, salvo por Jesus Cristo, adentra em um local ou mesmo em
um espaço publico ele deve estar representando o senhor Jesus. Nós somos
embaixadores de Cristo.
211
4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo
grau de importância segundo sua compreensão).
A nossa Igreja tem sido missionário e junto com a JMN; com a cristolandia que pelo meu
entender tem sido campo fértil para restaurar vidas e alcançando os familiares,
contagiando outras cidades, estados e até os países que tem tido problemas com a
dependência química.
5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?
Eu sou cooperadora da junta de missões nacionais e mundiais, estou viúva a menos de 2
anos e não pude participar indo ao campo; praças, bairros, instituições, etc. Mas sou
professora na rede púbica e tenho falado aos meus alunos
6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso
sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.
Sim. O pastor titular, Paulo Eduardo, desde que chegou a esta igreja, 10 anos +ou-,
andou pelas redondeza do templo e viu seres humanos sendo tripudiados pelas
drogas.
Ele sentiu em seu coração e um certo dia disse: A cracolandia vai se tornar
Cristolandia. Um fato realizado e contagiado os Batistas Brasileiros.
7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
1º Uso de drogas
2º muitos estrangeiros vivendo em condições subumanas
3º Crianças entrando no mundo do crime. Por falta dos pais que trabalham o dia todo
8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão).
1º Cracolandia
2º Favelas, inclusive a do “Moinho”
3º Estrangeiros- bolivianos
4º Junta de Missôes Nacionais
5º Junta de Missões Mundiais
6º Capelania Hospitalar
9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa
teologia em sua vida?
212
Creio que Missão Integral é o trabalho de todos os membros levando o evangelho aos
perdidos onde quer que atuarem na vida particular e pública
Como disse, sempre estou falando e testemunhando de Cristo aos que me cercam.
Atualmente estou pretendendo atuar na capelaniahospitala, por isso participei de um
curso no ultimo feriado prolongado.
Estou aguardando a entrevista no dia 16/5/15 para posteriormente fazer o estágio e
estar pronta para dar um alento para enfermos e familiares.
Creio que a capelania hospitalar é um trabalho missionário de grande impacto.
Até mesmo, os diretores dos hospitais contam com o nosso trabalho e está na
constituição nacional do Brasil.
Eu amo Missões, amo almas sedentas da palavra de consolo e restauração de suas
vidas.
213
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS
Sexo: Masculino
Idade:72
Nome da Igreja:PIB São Paulo
1) Há quanto tempo é membro da igreja?
15 anos
2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,
em sua compreensão:
Perguntas Sim Sim, porém secundária Não
A missão da igreja é falar de Jesus X
A missão da Igreja é dar assistência
aos necessitados
X
A missão da igreja é intervir em
situações onde a dignidade humana é
violada (podendo estabelecer ações
políticas e públicas)
X
Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta: Auxiliando e orientando,
atendendo aos princípios éticos e morais, procurando sempre primar pelos
princípios doutrinários
3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a
pergunta, em sua compreensão:
Perguntas Sim Não
Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X
Ações de assistência social são ações missionárias? X
É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres
humanos?
X
Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:
4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo
grau de importância segundo sua compreensão).
Evangelizando e ajudando aqueles que estão ao relento, entregue as drogas, vícios,
prostituição (missão cristolandia) presídios. Mundial, nacional, estadual.
214
5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?
Como líder comunitário procurando auxilias, orientar na busca do conhecimento da palavra
de Deus, adolescentes jovens, adultos
6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso
sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.
Fazer-se presente sempre que necessário ajudando aos que realmente precisam
de ajuda
7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
Assistencia social, falta de política de política social, segurança, -------, educação. Sendo o
caso muito mais abragente em todas as áreas
8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão).
9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa
teologia em sua vida?
Não
215
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS
Sexo: Masculino
Idade:56
Nome da Igreja:Primeira Igreja Batista S. Paulo
1) Há quanto tempo é membro da igreja?
25 anos
2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,
em sua compreensão:
Perguntas Sim Sim, porém secundária Não
A missão da igreja é falar de Jesus X
A missão da Igreja é dar assistência
aos necessitados
X
A missão da igreja é intervir em
situações onde a dignidade humana é
violada (podendo estabelecer ações
políticas e públicas)
X
Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:Falar de Jesus é prioridade
e salvação eterna dar assistência as famílias da igreja e também á comunicar ao
seu redor
3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a
pergunta, em sua compreensão:
Perguntas Sim Não
Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X
Ações de assistência social são ações missionárias? X
É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres
humanos?
X
Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:
Em todas as perguntas você tem a oportunidade de falar de Jesus e do Evangelho
4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo
grau de importância segundo sua compreensão).
Missão Cristolndia
Envio de seminaristas para diversas regiões do país
216
5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?
Diretamente com a Igreja nenhuma, mas em meu trabalho sim e também aonde moro.
6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso
sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.
Sim, ajudando que estão passando por alguma dificuldade á nível de saúde,
financeiro e também espiritual.
7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
Drogas
Desemprego
Saúde pública
8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão).
Drogas- Projeto Cristolandia e clinica de recuperação
Desemprego – mantendo relação com empresas e agencias de emprego
9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa
teologia em sua vida?
Não conheço
217
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS
Sexo: Masculino
Idade:48
Nome da Igreja:P. Igr. Batista em SP
1) Há quanto tempo é membro da igreja?
07 anos
2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,
em sua compreensão:
Perguntas Sim Sim, porém secundária Não
A missão da igreja é falar de Jesus X
A missão da Igreja é dar assistência
aos necessitados
X
A missão da igreja é intervir em
situações onde a dignidade humana é
violada (podendo estabelecer ações
políticas e públicas)
X
Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:Creio que o foco da Igreja
deve ser, cristocentrico, gerando salvação e discipulado, com mudança de vidas. A
partir do individuo restaurado partir para a assistência social e a política (tudo é
política)
3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a
pergunta, em sua compreensão:
Perguntas Sim Não
Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X
Ações de assistência social são ações missionárias? X
É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres
humanos?
X
Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:
O “nascido de novo” deve ser um testemunho vivo e vibrante de seu salvador
através de uma inserção ativa na comunidade
4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo
grau de importância segundo sua compreensão).
218
- envio e sustento de missionários;
- missões urbanas (ex: cristolandia)
Pregações do evangelho (na igreja ou templo e pro seus membros individualmente
5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?
Ações evangelísticas
6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso
sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.
Sim, A igreja possui responsabilidade social e, através da pregação e do testemunho,
apresentar a sociedade obras sociais como meio de expressar a fé e o compromisso com
as vidas das pessoas vale lembrar que não existe outra instituição que faça mais obras
sociais que a igreja evangélica
7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
- um centro urbano esquecido pelo governo local e tomado pelo tripé contravenção-drogas-
prostituição
8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão).
- pregação, testemunho, formação de pequenos grupos nos lares e distribuído pelacidade
- missão cristolandia
Depto. De obras sociais
9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa
teologia em sua vida?
Ainda não conheço
219
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS
Sexo: Feminino
Idade:40 anos
Nome da Igreja:PIBSP
1) Há quanto tempo é membro da igreja?
Menos de um ano
2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,
em sua compreensão:
Perguntas Sim Sim, porém secundária Não
A missão da igreja é falar de Jesus X
A missão da Igreja é dar assistência
aos necessitados
X
A missão da igreja é intervir em
situações onde a dignidade humana é
violada (podendo estabelecer ações
políticas e públicas)
X
Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:_
3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a
pergunta, em sua compreensão:
Perguntas Sim Não
Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X
Ações de assistência social são ações missionárias? X
É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres
humanos?
X
Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:
4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo
grau de importância segundo sua compreensão).
Cristolandia
5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?
Preciso me empenhar mais
220
6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso
sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.
Sim
7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
Saúde
Educação
Segurança
8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão).
Muito acolhedora
9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa
teologia em sua vida?
Não
221
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS
Sexo: Feminino
Idade:35
Nome da Igreja:1ª Igreja Batista de SP
1) Há quanto tempo é membro da igreja?
20 anos, desde 1995
2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,
em sua compreensão:
Perguntas Sim Sim, porém secundária Não
A missão da igreja é falar de Jesus X
A missão da Igreja é dar assistência
aos necessitados
X
A missão da igreja é intervir em
situações onde a dignidade humana é
violada (podendo estabelecer ações
políticas e públicas)
X
Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:
3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a
pergunta, em sua compreensão:
Perguntas Sim Não
Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X
Ações de assistência social são ações missionárias? X
É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres
humanos?
X
Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:
4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo
grau de importância segundo sua compreensão).
* Projeto Cristolandia
* Capelania Prisional
* Capelania Hospitalar
222
5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?
* Capelania – prisional
- hospitalar
* visita ao orfanato
*ação na praça
6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso
sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.
Sim. Pq precisamos estar onde as pessoas estão, e independente da condição
social delas, portanto ide e pregai todo o mundo
7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
* Falta de estrutura familiar
* Problemas $
* vícios ( droga, bebidas etc...)
8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão).
Em nossa igreja as ações estão mais voltadas ao projeto cristolandia que é muito
importante porém precisa se estender a mais ações comunitárias, pois existem diversos
“problemas” ao redor diariamente
9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa
teologia em sua vida?
Não conheço este termo “missão Integral”
223
Anexo 9
ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA O PASTOR
Sexo: Masculino
Idade: 51 Tempo de pastorado:28 Cargo dentro da Igreja: Pastor presidente
Nome da Igreja: Primeira Batista de São Paulo
Endereço da Igreja: Praça princesa Isabel,233, São Paulo
1) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,
em sua compreensão:
Perguntas Sim Sim, porém secundária Não
A missão da igreja é falar de Jesus X
A missão da Igreja é dar assistência aos
necessitados
X
A missão da igreja é intervir em
situações onde a dignidade humana é
violada (podendo estabelecer ações
políticas e públicas)
X
Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta: Creio num agir amplo da
igreja, compartilhando Jesus, e o reino de Deus apresentado por Jesus.
2) Sobre ação missionária da Igreja, assinale a opção que melhor responda a
pergunta, em sua compreensão:
Perguntas Sim Não
Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X
Ações de assistência social são ações missionárias? X
É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres
humanos?
X
224
Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:
3) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo
grau de importância segundo sua compreensão).
1- Cristolandia
2- Novos Sonhos
3- Parceria com a Rede social do centro
4- Lar Batista -Jovens
4) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso
sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.
Razoável o engajamento da igreja com as questões sociais do centro é bom, mas pode ser
bem mais abrangente
5) Qual é a realidade social da igreja?
Classe média baixa, talvez 60% e média média 40%
6) Qual é a realidade social da comunidade na qual a igreja está inserida?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
Media baixa
7) A igreja promove alguma ação social que promova o desenvolvimento e a
justiça? Se sim, quais? (Enumere pelo grau de importância segundo sua
compreensão).
A nossa participação junto a rede social centro, com participações ------- da secretaria da
justiça e cidadania
8) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?
(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).
Drogas, promiscuidade sexual, moradores de rua
9) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau
de importância segundo sua compreensão).
1-Cristolandia
2- Ações sociais como rede social centro
3- Capelania prisional
225
10) O senhor conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto
dessa teologia em seu ministério?
Sim conheço, não li muito dos autores da missão Integral. li muito do pessoal da
teologia da libertação nos anos 80 e 90
226
Anexo 10
Análise das Pastorais do Pastor Paulo Eduardo Gomes Vieira, publicadas nos
boletins da PIBSP.
Data Autor Tema Assunto
04/11/12 Pr. Paulo
Eduardo
Orai sem cessar Uma interpretação dessa expressão
como o ato de estar constantemente em
comunhão com Deus
11/11/12 Pr. Paulo
Eduardo
Em Patmos Ensina que as situações adversas,
quando vividas com Deus nos servem
como benção
25/11/12 Pr. Paulo
Eduardo
O que acontece
quando a Igreja ora
Fala sobre a importância da oração e faz
uma exortação para que a PIBSP ore
mais.
02/12/12 Pr. Paulo
Eduardo
Que diferença faz? Uma reflexão sobre a diferença que
Jesus deve fazer em nossa vida
24/02/13 Pr. Paulo
Eduardo
Juntos, somos Igreja Fala sobre a importância do andar
juntos e ter comunhão, e coloca esse
fato como um dos alvos da Igreja
03/03/13 Pr. Paulo
Eduardo
Conduzidos pelo
Espírito
Apresenta o Espírito Santo como o
condutor da igreja e de seu povo. E
destaca o papel da leitura bíblica e
oração nesse processo
31/03/13 Pr. Paulo
Eduardo
A pedra foi removida;
pedras ainda são
removidas
O Cristo que retornou a vida continua
fazendo milagres (removendo pedras)
de nossa vida
14/04/13 Pr. Paulo
Eduardo
Pelo poder do Espírito A necessidade do poder do Espírito para
a obra missionária
28/04/13 Não tem pastoral
05/05/2013 Pr. Paulo
Eduardo
Repetida 26/04/15
12/06/13 Pr. Paulo “...E serás salvo, tu e A importância de testemunhar com o
227
Eduardo tua casa” viver a Palavra de Deus dentro do lar
19/05/14 Pr. Paulo
Eduardo
Repetida 04/05/14
26/05/13 Pr. Paulo
Eduardo
Repetida 03/05/15
02/06/13 Pr. Paulo
Eduardo
Celebrando 114 anos:
...e participando do
sustento da Igreja
Estimula a participação no sustento da
igreja
06/07/13 Pr. Paulo
Eduardo
Palavra de
Restauração
A responsabilidade de conciliar a
intelectualidade da Palavra à vida
prática.
07/07/13 Pr. Paulo
Eduardo
Celebrando 114 anos:
Compartilhando com
outros o amor de
Cristo
Fala sobre o amor de Jesus e desafia a
igreja a compartilhar o amor de Jesus
com o próximo, e levá-lo as celebrações
da igreja
14/07/13 Pr. Paulo
Eduardo
O Senhor esteve entre
nós
Relata a possibilidade de a igreja ter
experiências com os céus ainda hoje
21/07/13 Pr. Paulo
Eduardo
O Senhor fará
maravilhas
Trata os aspectos positivos de esperar
coisas boas e grandes do Senhor. Dá
destaque ao papel importante que a
santidade ocupa nesse processo
28/07/13 Pr. Paulo
Eduardo
Jovens diferentes Fala sobre três posturas necessárias para
juventude ser diferente, a saber: Ser
críticos em relação ao mundo;
Alimentar a mente com coisas boas;
fazer a vontade de Deus
18/08/13 Pr. Paulo
Eduardo
Graça visível A igreja deve ser manifestação da graça
de Deus
25/08/13 Pr. Paulo
Eduardo
Repetida de 20/10/13
Título alterado por:
“Então disse eu: Ai de
mim..porque sou
homem de lábios
228
impuros
20/10/13 Pr. Paulo
Eduardo
A presença de Deus
produzindo
restauração
Um convite àcomunhão com Deus e a
santidade
03/11/2013 Pr. Paulo
Eduardo
Frutos do Espírito no
lar
A importância de cultivar e aplicar os
frutos do Espírito no lar
10/11/13 Pr. Paulo
Eduardo
Repetida -06/07/13
08/12/13 Pr. Paulo
Eduardo
A luz resplandece nas
trevas: É natal
O nascimento de Jesus é apresentado
como o reino que lança luz sobre as
questões espirituais mas que nos chama
a uma vida de santidade
15/12/13 Pr. Paulo
Eduardo
Repetida 06/07/13
12/01/14 Pr. Paulo
Eduardo
Aba A necessidade de cultivar um
relacionamento de intimidade com
Deus, onde nos vemos como filhos.
19/01/14 Pr. Paulo
Eduardo
Reconsiderar Fala da importância de se fazer uma
auto-analise crítica para reconsiderar o
nosso viver
23/02/14 Pr. Paulo
Eduardo
Expectativa Buscar a Deus com a motivação e
expectativa corretas
06/04/14 Pr. Paulo
Eduardo
Compaixão Relação entre compaixão e missão. A
importância de ver o sofrimento a nossa
volta
13/04/14 Pr. Paulo
Eduardo
Repetida de 31/03/13
20/04/14 Pr. Paulo
Eduardo
Repetidade 31/03/14 e
13/04/2014
27/04/14 Pr. Paulo
Eduardo
Repetida 06/04/2014
04/08/14 Pr. Paulo
Eduardo
Minha casa lugar de
benção
Atitudes que abençoam ou amaldiçoam
a família
229
11/05/14 Pr. Paulo
Eduardo
Minha casa, casa de
oração
As casas dos membros como casas de
oração
27/07/14 Pr. Paulo
Eduardo
Repetição de 03/03/13
Titulo alterado para:
Condução do Espírito
Santo
14/09/14 Pr. Paulo
Eduardo
Sejam luz e façamos
missões
A importância de irmos e cumprirmos a
missão fora dos portões da igreja
21/09/14 Pr. Paulo
Eduardo
Repetida de 14/04/13
Título alterado para:
“Poder do Espírito,
missões aqui, missões
lá”
12/10/14 Pr. Paulo
Eduardo
Aprendendo a
aprender com as
crianças
Apresenta a criança como o modelo a
ser seguido no processo de aprendizado
02/11/14 Pr. Paulo
Eduardo
Repetido de 03/03/13
e 27/07/14 Titulo
alterado para:
“Conduzidos pelo
Espírito”
09/11/14 Pr. Paulo
Eduardo
Repetido de 03/03/13;
27/07/14; 02/11/14
Título: “Conduzidos
pelo Espírito”
30/11/14 Pr. Paulo
Eduardo
Igreja conduzida pelo
Espírito Santo: Culto
fervoroso
Fala sobre 3 ingredientes para uma
adoração inspiradora e contagiante, a
saber: Fervor; comunhão;
expressividade na adoração
28/12/14 Pr. Paulo
Eduardo
O verbo se fez carne:
É natal
Desafia a viver de maneira a refletir em
nosso dia a dia os princípios
expressados pelo Cristo encarnado.
04/01/15 Pr. Paulo Providencia e confiar Fala sobre a importância de confiar em
230
Eduardo Deus
01/02/15 Pr. Paulo
Eduardo
Em busca de
Relacionamentos
saudáveis
A igreja de ser um ambiente
caracterizado por relacionamentos
saudáveis, relacionamento com Deus e
com o próximo.
08/02/15 Pr. Paulo
Eduardo
Grandes celebrações e
Pequenos grupos
Desafia a igreja a considerar a
importância dos cultos onde a igreja
toda se reúne, mas também os pequenos
grupos
15/02/15 Pr. Paulo
Eduardo
O Senhor fará
maravilhas
Fala sobre a importância da
santidadepara que o Senhor realize suas
maravilhas
22/02/15 Pr. Paulo
Eduardo
Repetida de 15/02/15
01/03/15 Pr. Paulo
Eduardo
Novos Sonhos O valor da santidade
22/03/15 Pr. Paulo
Eduardo
Sonhar: mesmos
diante das más
noticias
Importância nos apegarmos a Deus
frente aos problemas
12/04/15 Pr. Paulo
Eduardo
Novos Sonhos O valor dos pequenos grupos
26/04/15 Pr. Paulo
Eduardo
Repetida de 11/05/14
03/05/15 Pr. Paulo
Eduardo
Repetida de 03/11/13
17/05/15 Pr. Paulo
Eduardo
Terceirização Trata sobre a tendência da terceirização
das coisas espirituais
07/06/15 Pr. Paulo
Eduardo
Repete de 01/02/15
Título alterado por:
“Pessoas precisam de
pessoas”
231
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