Upload
others
View
2
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
FATORES ASSOCIADOS À PARTICIPAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO CULTURAL
BRASILEIRO
Área 13 - Economia do Trabalho
Danyella Juliana Martins de Brito
(CEDEPLAR-UFMG)
Stélio Coêlho Lombardi Filho
(CEDEPLAR-UFMG)
Resumo
Este artigo analisa como fatores individuais e municipais impactam na decisão do indivíduo de estar empregado
em uma ocupação do núcleo artístico da classe criativa no Brasil. Utilizando os microdados do Censo
Demográfico de 2010, informações do Suplemento de Cultura da Pesquisa de Informações Básicas Municipais
e dados de despesa municipal por função do Tesouro Nacional, são estimados modelos multiníveis na tentativa
de compreender os principais elementos que afetam a probabilidade de estar ocupado em atividades do referido
setor. Os principais resultados sugerem que a idade, o nível educacional e a condição de migrante são fatores
positivamente associados às chances de ocupação neste setor. Observa-se também que indivíduos que vivem
com cônjuge ou companheiro, bem como aqueles que se declaram o provedor da unidade residencial,
apresentam menores chances de estar empregado no núcleo artístico criativo. Quanto às características
ocupacionais, tem-se que trabalhar no próprio domicílio, estar informal no trabalho principal e possuir mais de
um emprego são fatores positivamente associados a esta probabilidade. Por fim, em termos de características
municipais, o efeito positivo da taxa de diversidade evidencia que localidades mais tolerantes e liberais têm
uma maior força de atração para o trabalho cultural. Outra variável que se mostrou relevante é o índice de
amenidades culturais, que apresentou um expressivo efeito sobre as chances de estar empregado no setor
criativo.
Palavras Chave: Mercado de Trabalho, Núcleo Artístico da Classe Criativa, Modelos Multinível.
Abstract
This article analyzes how individual and local factors impact the decision of the individual to be employed in
an occupation of the artistic core of the creative class in Brazil. Using microdata from the brazilian Census
2010, information from the Culture Supplement of the Municipal Basic Information Research and municipal
expenditure data by function of the National Treasury, we estimated multilevel models in an attempt to
understand the key elements that affect the probability of being occupied in activities of that industry. The
main findings suggest that age, educational level, and migrant status are factors positively associated with the
chances of occupation in this sector. It is also observed that individuals living with spouse or partner, as well
as those who claim to be the residential unit provider, have lower chances of being employed in the creative
artistic core. As for occupational characteristics, working in the household, being informal in the main job and
having more than one job are factors positively associated with this probability. Finally, in terms of local
characteristics, the positive effects of the diversity rate show that more tolerant and liberal cities have a greater
force of attraction for cultural workers. Another variable that showed significant impact is the index of cultural
amenities, which showed a significant effect on the chances of being employed in the creative sector.
Key Words: Labor Market, Artistic Core of the Creative Class, Multilevel Models.
Classificação JEL: J22; R23; Z10.
1. Introdução
O Brasil tem apresentado, sobretudo nos últimos anos, uma importância crescente da indústria criativa
em sua economia. Segundo os dados do Mapeamento da Indústria Criativa Brasileira, realizado pela Federação
das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN, 2014), houve um crescimento de 69,1% da indústria
criativa no Brasil, no período de 2004 a 2013. Com isso, o número de empresas desse setor passou de 148 mil,
em 2004, para 251 mil em 2013. Nesse mesmo intervalo de tempo, observou-se um crescimento de 90% do
número de trabalhadores empregados, de modo que, em termos de mercado de trabalho formal, a indústria
criativa passou a ser composta por cerca de 892,5 mil profissionais formais ao fim deste período. Tal
crescimento foi, inclusive, superior ao avanço de 56% constatado no mercado de trabalho brasileiro. No tocante
à atividade econômica, ressalta-se que a indústria criativa gerou um PIB de R$ 126 bilhões, em 2013, o
equivalente a 2,6% do total produzido naquele ano, frente a 2,1% em 20041.
É importante destacar, todavia, que a definição de indústria criativa do Sistema FIRJAN é bastante
abrangente, diferentemente da que será adotado no presente estudo. Ressalta-se também que as indústrias
criativas são caracterizadas pela natureza dos insumos de trabalho, isto é, “indivíduos criativos”. Para a
economia criativa, a cultura não é produzida, mas sim é o insumo da produção. Já as indústrias culturais são
definidas em função do objeto cultural. Setores associados às indústrias criativas seriam os de propaganda,
arquitetura, design, software interativo, filme e TV, música, publicações e artes performáticas. Os setores
interligados às indústrias culturais seriam os de museus e galerias, artes visuais e artesanatos, educação de
artes, broadcasting e filmes, música, artes performáticas, literatura e livrarias (BENDASSOLLI et al., 2009;
HARTLEY, 2005). É possível perceber que existe uma certa sobreposição entre esses conceitos e, segundo
Bendassolli et al. (2009), tanto os estudos sobre indústrias criativas como sobre indústrias culturais abordam
implicações para políticas públicas.
Diante do exposto, fica evidente a importância do setor cultural no Brasil e a necessidade de se estudar
mais a fundo suas características e o seu mercado de trabalho, de modo a compreender melhor esse setor tão
relevante para a dinamização da economia e para o bem-estar de um país. Conforme ressaltado em alguns
trabalhos da literatura, quando os indivíduos começam a se afastar de comportamentos tradicionais, tais como
trabalhar somente pelo salário e consumir apenas bens padronizados, e se aproximam de atitudes que refletem
o desejo de controlar a própria vida, eles passam a demandar mais serviços e a se interessar, sobretudo, pelas
necessidades de ordem estética, intelectual e de qualidade de vida (BENDASSOLLI et al., 2009; FLORIDA,
2002b; INGLEHART, 1990).
Segundo Florida (2002b), a classe de trabalhadores criativos é composta por dois grupos distintos. O
primeiro grupo é composto por profissionais diretamente envolvidos no processo de criação, enquanto o
segundo é constituído por aqueles com capacidade de resolver problemas complexos, dado seu alto nível de
qualificação. Para este autor, o desenvolvimento econômico de uma localidade está intimamente interligado à
classe criativa, pois esta classe, ao escolher sua localização residencial, tende a privilegiar aqueles espaços
urbanos que favorecem a criatividade, ou seja, localidades com grande tolerância e diversidade. Ademais, a
presença desses indivíduos em um dado território tanto incentiva o desenvolvimento de empresas de elevado
valor agregado, como costuma estar associada a níveis tecnológicos mais elevados. Nesse sentido, como
ressaltado também por Vivant (2012), a força da cidade estará fortemente ligada à sua dimensão criativa.
A atividade cultural tem uma capacidade de gerar empregos, renda e efeitos multiplicadores sobre
outras atividades econômicas (MARKUSEN; SCHROCK, 2006). A existência de bens culturais pode
influenciar a formação de capital humano em uma localidade, pois as práticas culturais – como atividades que
apelam para as capacidades intelectuais e emocionais dos indivíduos – juntamente com a educação e a pesquisa
1 O Sistema FIRJAN engloba na definição de indústria criativa os seguintes setores da economia: Arquitetura, Audiovisual, Editorial,
Mídias Digitais, Moda, TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação), Calçados e Acessórios, Têxtil/Confecção, Joias,
Cosméticos, Editorial/Gráfico, Panificação, Plástico, Mobiliário, Metal-Mecânico, Construção.
científica, ajudam na formação de um capital humano capaz de promover evoluções, criações, antecipação e
mobilização (DINIZ, 2008; TOLILA, 2007).
A opção do indivíduo de estar ocupado em atividades definidas como culturais é influenciada pela
existência de características individuais e municipais. Estudos como os de Florida (2002b) e Golgher (2008;
2011) reforçam que características criativas de uma localidade podem ser importantes para a presença e
formação de uma classe criativa. Nesse contexto, o presente estudo pretende examinar como fatores individuais
e municipais impactam na decisão do indivíduo de estar empregado em uma ocupação definida como
pertencente ao núcleo artístico da classe criativa no Brasil. Assim, o trabalho cultural é entendido aqui como o
exercício de alguma ocupação dentro deste núcleo artístico2. Para este fim, serão utilizados os microdados do
Censo Demográfico de 2010, informações do Suplemento de Cultura da Pesquisa de Informações Básicas
Municipais e dados de despesa municipal por função do Tesouro Nacional.
Estudos acerca do mercado de trabalho do núcleo artístico da classe criativa brasileira ainda são
escassos e pouco conclusivos. Dessa forma, a contribuição que este artigo busca trazer é identificar os
principais determinantes da inserção no mercado de trabalho neste setor. Para tanto, características individuais
e municipais são consideradas em um arcabouço metodológico adequado para isolar o efeito de variáveis de
diferentes níveis de mensuração, a saber: os modelos multinível.
Este artigo encontra-se dividido em seis seções, incluindo esta introdução. Na próxima seção é feita
uma contextualização teórica do tema mercado de trabalho cultural, onde são apresentadas brevemente as
principais referências do assunto. Na seção subsequente são explicadas as bases de dados utilizadas, bem como
todo o tratamento executado nelas. A seção quatro explica a estratégia empírica empregada, enquanto a seção
cinco apresenta os resultados obtidos. Por fim, tem-se uma última seção com as discussões e considerações
finais a respeito dos resultados.
2. Contextualização Teórica
A necessidade de se estudar economia da cultura relacionando as particularidades deste setor ao
mercado de trabalho fez-se presente em estudos seminais deste campo. Baumol e Bowen (1966), em uma
importante análise do setor de teatros e de apresentações ao vivo na Broadway, defendem o subsídio às artes
pelo fato dessas atividades serem intensivas em trabalho. Neste sentido, os autores argumentam que,
diferentemente de outros setores nos quais o uso intensivo da tecnologia origina ganhos de produtividade e
consequente redução dos custos, as organizações culturais apresentam custos relativos progressivamente
maiores, dada a impossibilidade de se auferir ganhos de produtividade nas atividades artísticas (doença de
custos)3. Dado o problema da doença de custos, a renda das vendas do setor muitas vezes fica aquém de seus
custos. Baumol e Bowen (1966) enfatizam, portanto, as especificidades do setor cultural e o papel do Estado
no fomento de suas atividades.
Na literatura internacional, vários trabalhos posteriores ao de Baumol e Bowen (1966) buscaram
entender melhor as especificidades do mercado de trabalho cultural. Nessa linha, Benhamou (2003) examina
duas questões chaves: i) como é possível descrever o emprego cultural e, nesse contexto, quem deve ser
considerado um artista de fato?; ii) existem características do emprego no ramo cultural que justifiquem a
existência de uma abordagem teórica única e original para a sua análise? A autora argumenta que, apesar de
ser possível considerar os artistas como agentes maximizadores de utilidade – pois pode-se pensar que esses
indivíduos buscam o melhor conjunto de recompensas monetárias e não monetárias através de seus esforços –
a carreira de risco com contratos curtos, o treinamento duro e a baixa taxa de históricos de sucesso configuram
2 Mais à frente são especificadas as ocupações que englobam o núcleo artístico do setor criativo. Para mais detalhes ver Machado,
Simões e Diniz (2013). 3 Os fatores responsáveis por essa impossibilidade de ganhos de produtividade nas artes performáticas são: a incapacidade de
reprodução ao infinito do espetáculo, a falta de retorno sobre certos custos em espetáculos com curto período de tempo e a
impossibilidade de se elevar cada vez mais os preços.
aspectos inerentes às escolhas de trabalho artístico, o que naturalmente leva um indivíduo racional a escolher
outras carreiras.
A autora também ressalta que o mercado de trabalho cultural é considerado heterogêneo. Portanto,
trata-se de um mercado de trabalho atípico e não-competitivo, onde os artistas são substitutos imperfeitos entre
si. Como considera-se que não há substituto para qualquer talento particular, os preços dos bens culturais
podem aumentar mesmo que isso não conduza a uma diminuição da demanda. Assim, ela conclui que, apesar
da economia do trabalho tradicional fornecer uma abordagem teórica poderosa para compreensão dos mercados
de trabalho das artes, as características específicas da oferta de trabalho artística exigem a execução de estudos
mais empíricos.
Menger (2006) enfatiza que o emprego de longo prazo, que alimenta a doença de custo de Baumol e
Bowen (1966), persiste apenas em organizações grandes e fortemente subsidiadas e patrocinadas. O sistema
de produção artística atual dominante, baseado em projetos, caracteriza-se por transferências de curto prazo.
Logo, grande parte do risco do negócio é transferido para a força de trabalho. Nesse contexto, Menger (2006)
ressalta que os artistas e trabalhadores técnicos atuam principalmente como trabalhadores contingentes,
freelancers e autônomos. Portanto, para o autor, o mercado de trabalho artístico apresenta as principais
características de uma estrutura de mercado de concorrência monopolística imperfeita, caracterizado por
excesso de oferta de trabalho, produção extremamente diferenciada, com existência de “rendas de reputação”
e um conjunto de pequenas firmas que cresce tão rápido quanto o número de artistas. Nessas circunstâncias, os
indivíduos aprendem a gerir os riscos de seu emprego no ramo cultural assumindo mais de um trabalho e
através de uma versatilidade ocupacional mais elevada.
Alper e Wassal (2006) discutem as características e mudanças observadas no mercado de trabalho dos
artistas, usando dados de sete edições do censo americano para o período 1940-2000. Uma primeira informação
importante encontrada pelos pesquisadores foi o grande crescimento da participação de artistas na composição
da força de trabalho. Em 1940, apenas 0,7% da força de trabalho nos Estados Unidos era composta por
indivíduos ocupados no núcleo artístico do setor criativo. Já em 2000, esta participação praticamente dobrou.
Os autores também identificaram que, em geral, artistas trabalham menos horas, enfrentam maiores taxas de
desemprego e recebem menores salários. Eles também observaram que a variabilidade salarial é maior para
estes trabalhadores, em comparação com outros profissionais e técnicos, e que o retorno à educação é menor
nesta categoria.
Em relação ao mercado de trabalho criativo e as características dos residentes das distintas localidades,
Florida (2002b) propôs uma metodologia que passou a ser amplamente adotada para mensurar aspectos da
economia criativa. Sua análise consiste na construção de índices compostos por variáveis relacionadas a três
dimensões centrais: talento, diversidade e tecnologia. Nessa linha, o autor busca testar a hipótese de que
indivíduos talentosos são atraídos por ambientes mais diversificados e tolerantes com os diferentes tipos de
pessoas.
A dimensão talento refere-se à indivíduos com elevado nível de capital humano, podendo ser
localmente mensurado pelo percentual da população que completou ao menos o Ensino Superior. Considerando
que o talento é atraído por baixas barreiras à entrada de capital humano e uma maior tolerância, o autor também
elabora um indicador de diversidade composto pela proporção de famílias homossexuais em uma região. Por
fim, o autor considera também a relação entre talento e altos níveis tecnológicos. A conclusão chegada por
Florida (2002b) é a de que talento, diversidade e tecnologia caminham juntos, sendo capazes de proporcionar
níveis de renda mais elevados. Estes fatores seriam importantes, inclusive, para impulsionar o próprio
desenvolvimento regional.
Markusen e Schrock (2006) destacam que as análises regionais e urbanas que focam na importância
das artes e cultura para o desenvolvimento de políticas muitas vezes subestimam as reais contribuições dos
trabalhadores culturais criativos para uma economia regional, seja por causa de altas taxas de emprego por
conta própria destes profissionais, ou devido ao fato de suas atividades gerarem opções de entretenimento e
consumo internos às localidades. Assim, essa importância é subestimada na medida em que o trabalho dos
artistas aumenta a produção, também por meio da inovação, e a comercialização de produtos e serviços de
outros setores. Para Markusen e Schrock (2006), os artistas criam opções de entretenimento o que estimula a
arte local e, por conseguinte, permite que a renda gerada circule dentro da própria região, estimulando a
economia daquela localidade.
Com uma visão centrada no mercado de trabalho do setor cultural, mais especificadamente nos artistas,
Markusen e Schrock (2006) testam de maneira exploratória a hipótese de que muitos artistas escolhem um
local de trabalho levando em consideração aspectos relacionados as amenidades locais, ao custo de vida e a
própria necessidade de nutrir uma comunidade artística naquela região, geralmente sem levar muito em
consideração os empregadores especificadamente. Utilizando os dados da PUMS (Public Use Microdata
Sample) para 1980, 1990 e 2000 eles analisam a distribuição dos artistas das maiores áreas metropolitanas dos
Estados Unidos. Os autores não encontram uma relação evidente entre a força artística e o tamanho do mercado
de trabalho total, nem com as taxas de crescimento regional. Nesse sentido, eles destacam a existência de
algumas regiões grandes, como por exemplo Chicago e Filadélfia, que não possuem o mesmo poder artístico
das “mega regiões”, enquanto muitas localidades de médio porte, como Seattle, ultrapassam a norma nacional
de empregos4.
Por fim, os pesquisadores percebem que outros fatores, tais como um menor custo de vida, menos
congestionamento, oportunidades de lazer, alternativas de cuidados de saúde, e uma cultura artística
diversificada, estão muito mais associados a atração dessa classe artística. Eles concluem, portanto, que os
artistas compreendem uma ocupação que pode ser bastante útil como um alvo da política de desenvolvimento
econômico regional.
Steiner e Schneider (2013) realizaram um importante estudo empírico sobre a satisfação (ou utilidade)
dos artistas proveniente de seu posto trabalho. Segundo as autoras, apesar de o mercado de trabalho artístico-
cultural caracterizar-se por uma série de adversidades, tais como salários baixos e elevado desemprego, ainda
assim ele consegue atrair um elevado número de jovens. A literatura teórica sugere como explicação para este
fenômeno o alto nível de satisfação que as atividades relacionadas a este setor seria capaz de fornecer. Nessa
linha, o objetivo central do estudo foi testar a hipótese de que os artistas conseguem derivar mais utilidade com
seu emprego, em relação às demais ocupações, e identificar os fatores que levariam a essa maior obtenção de
satisfação.
Para a realização da pesquisa, as autoras fizeram uso dos dados da German Socio-Economic Panel
Survey (SOEP), uma base de dados em painel para a Alemanha. O período considerado foi de 1990 a 2009,
sendo a variável proxy para medir satisfação no emprego a própria satisfação autodeclarada com o seu trabalho.
Os resultados das análises confirmaram que, em média, os artistas consideram-se mais satisfeitos com seu
trabalho do que os trabalhadores de outros setores. Além disso, também se identificou que diferenças de
remuneração e de número de horas trabalhadas, bem como diferenças de personalidade, não explicam
totalmente a diferença observada na satisfação no trabalho. Por outro lado, essa diferença pode, pelo menos
em parte, ser atribuída à elevada taxa de empregados por conta própria observada entre os artistas. O restante
da diferença é aparentemente ocasionado por aspectos do próprio trabalho artístico, como, por exemplo, a
variedade de atividades que podem ser exercidas nesta ocupação.
Na literatura nacional, Silva (2007), utilizando os dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem
Domiciliar) e da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), faz uma abrangente análise exploratória do setor
cultural brasileiro na década de 1990 e início dos anos 2000. O autor percebe que em 1992 o mercado cultural
era responsável pela ocupação de cerca de 3.339.000 pessoas, e em 2001 esse número de ocupados no setor
cultural sobe para 4.300.000 pessoas. Diante disto, o autor conclui que o mercado de trabalho cultural brasileiro
mostrou um dinamismo acima daquele verificado no mercado de trabalho geral. Silva (2007) também examina
a importância do setor cultural pela ótica do dispêndio, por meio das informações da POF, e percebe que os
dispêndios culturais das famílias brasileiras representaram 2,4% do PIB do país em 2002, quando atingiu R$
4 As cidades que se distinguem como ricos centros artísticos são: Washington, D.C., Seattle, Boston, Orange County, Minneapolis/St.
Paul, San Diego e Miami. Além dessas, Portland, Atlanta, Baltimore, Chicago e Newark também estão acima da norma nacional
(MARKUSEN; SCHROCK, 2006).
31,9 bilhões. O autor ainda destaca que esse montante representava cerca de 3% do total dos gastos familiares
naquele ano, o que enfatiza a relevância do consumo cultural domiciliar.
Já Diniz (2008) traça as principais características do setor cultural no Brasil, com base nos dados do
Suplemento da Cultura da Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2006 e do Censo Demográfico de
2000, ambos do IBGE. Com enfoque nas Regiões Metropolitanas (RMs) de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador,
Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre e o município de Brasília, a autora
caracteriza as localidades de acordo com seu “ambiente cultural”, por meio de uma análise multivariada de
clusters. Adicionalmente, ela investiga, através dos dados censitários, os principais determinantes do
rendimento dos trabalhadores do setor cultural.
Dentre os principais resultados obtidos do conjunto de regressões mincerianas e quantílicas que a autora
examina, pode-se destacar o fato de que a única diferença regional realmente significativa sobre os rendimentos
no setor cultural ocorre apenas entre residir no grupo de municípios constituído pelas capitais e por alguns
municípios que compõe as RM’s ou não. Esse grupo de municípios é também o que apresenta melhor ambiente
cultural. Diniz (2008) nota que o grupo de indivíduos que apresenta maiores rendimentos é o de trabalhadores
das artes performáticas, e os piores nível de renda são daqueles que estão ocupados no artesanato. A análise
quantílica, permite a autora concluir que os retornos da educação são menores nos extremos da distribuição de
renda, além disso, o efeito da formalidade diminui ao longo da distribuição, enquanto a discriminação de gênero
aumenta.
Ferreira Neto, Freguglia e Fajardo (2012), com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios de 2002 a 2007, examinam os fatores que afetam o diferencial de salários dos trabalhadores do
setor cultural e dos artistas no Brasil urbano. Através do estimador de efeitos fixos em um modelo de pseudo
painel de coortes e aplicando a correção do possível viés de seleção, tal como proposto por Heckman (1979),
os autores notam que os trabalhadores do setor cultural e artistas são melhores remunerados comparativamente
aos demais trabalhadores. Eles utilizam a decomposição de Oaxaca para compreender melhor esse diferencial,
e detectam que o fator determinante para os diferenciais salariais é aquele associado às características setoriais.
Machado, Simões e Diniz (2013), em uma análise de nível municipal, investigam o potencial criativo
dos territórios brasileiros. Através de análise de clustering, os autores tentam identificar vantagens
comparativas entre os municípios, em termos de equipamentos culturais, mercado de trabalho criativo e das
despesas públicas em cultura. Para tanto, eles utilizam os dados do Censo Demográfico Brasileiro (IBGE), da
Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC-IBGE) e de despesas municipais em cultura do Tesouro
Nacional (FINBRA). Os resultados indicam a existência de seis clusters, dos quais os três bem definidos são:
o cluster (1) que inclui os municípios de São Paulo e Rio de Janeiro, o cluster (2) que é composto por capitais
dos principais estados do país e cidades que possuem grandes universidades (centros universitários criativos),
e o cluster (3) composto de 99 municípios e pode ser nomeado como centros de turismo cultural e ecológico.
Ressalta-se que a opção por utilizar, no presente estudo, a tipologia de ocupação do núcleo artístico da classe
criativa de Machado, Simões e Diniz (2013) se deve a relevância e objetividade dessa tipologia, pois ela permite
filtrar as principais atividades artísticas culturais no contexto brasileiro.
Machado, Rabelo e Moreira (2013) analisaram as especificidades do mercado de trabalho do setor
artístico cultural das regiões metropolitanas brasileiras. Os autores definiram o referido setor como
contemplando todos os trabalhadores diretamente envolvidos na produção e distribuição de bens e serviços que
incorporam criatividade, símbolos artísticos e sinais, independentemente do nível educacional dos mesmos. Os
dados utilizados no estudo são oriundos da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) e das Finanças do Brasil
(FINBRA), referentes ao período 2002-2010. As informações contidas nestas bases foram empregadas para
traçar um perfil dos trabalhadores do setor criativo e para a estimação de um modelo probit e uma equação de
salários.
O modelo probit foi empregado com o objetivo de estimar a probabilidade de se trabalhar em alguma
atividade criativa. Os resultados encontrados apontaram que ser mulher, branco e estar ocupado no setor
informal aumentam a probabilidade de estar ocupado no setor criativo. Ademais, esta probabilidade também
cresce com os anos de estudo e com a variável de interação entre a disposição a trabalhar horas adicionais e o
número de horas trabalhadas5, indicando que os trabalhadores desse setor possuem uma maior disposição a
trabalhar horas adicionais e que essa disposição não se deve a uma jornada de trabalho reduzida.
Com relação à equação de salários, o objetivo foi identificar como características sócio demográficas
dos trabalhadores, as horas trabalhadas, os gastos públicos per capita com cultura e características do setor
criativo impactam o salário dos trabalhadores. Sendo assim, observou-se que mulheres ganham relativamente
menos que homens, e negros menos que brancos, o que sugere uma possível discriminação por gênero e raça.
Além disso, conforme esperado, os salários crescem com os anos de estudo. O resultado mais interessante,
todavia, diz respeito ao coeficiente positivo associado aos gastos per capita com cultura. Desse modo, um
aumento nesse gasto público tende a aumentar o salário dos trabalhadores do setor artístico cultural.
Outro tema que a literatura nacional tem focado bastante é nos aspectos teóricos propostos por Florida
(2002b). Nesse sentido, alguns estudos vêm tentando compreender melhor a questão da importância de uma
sociedade com grande diversidade na formação de trabalhadores culturais e qualificados (GOLGHER, 2008).
Os aspectos associados a localidade de residência ganham importância nessa tentativa de explicar o
funcionamento do mercado de trabalho cultural.
Golgher (2011) utiliza dados acerca das Regiões Metropolitanas (RMs) brasileiras, nos anos de 1991 e
2000, para testar as hipóteses discutidas por Florida (2002a, b). Por meio do arcabouço de dados em painel, ele
identifica que RMs com elevados índices de entretenimento tendem a apresentar uma maior proporção de
indivíduos qualificados (talentosos). Todavia, o mesmo não foi observado para o índice de diversidade. Assim,
ele conclui que há evidências para dar suporte apenas à hipótese de que os indivíduos talentosos são atraídos
por ambientes mais diversificados.
Também o estudo de Jäger (2014) discute a importância da construção de indicadores adequados para
mensurar o desempenho e o desenvolvimento do setor criativo, de modo que seja possível explorar todo o seu
potencial em termos de crescimento econômico e geração de empregos. O autor constrói um índice de
economia criativa para sete cidades brasileiras (São Paulo, Rio de Janeira, Curitiba, Brasília, Salvador e
Belém), tomando por base os trabalhos de Florida (2002b, 2005). Após considerar uma série de variáveis
relacionadas às dimensões talento, diversidade e tecnologia, o autor conclui que as cidades do Sul e Sudeste
são as que concentram os melhores indicadores em todas as dimensões.
Percebe-se que a literatura nacional ainda tem muito espaço para evoluir, especialmente no que diz
respeito à relação entre as questões básicas de mercado de trabalho, isto é, oferta e demanda por trabalho, e a
economia da cultura. Compreender melhor a importância econômica da cultura do ponto de vista da geração
de renda e empregos no Brasil ainda é algo que exige atenção e que pode subsidiar na aplicação de políticas
públicas de qualidade para o desenvolvimento cultural do país.
3. Fonte e Tratamento dos Dados
Os trabalhadores culturais constituem um grupo muito heterogêneo, por esta razão a definição de
artistas muitas vezes é bastante ampla e confusa (BENHAMOU, 2003). Considerou-se neste artigo
trabalhadores do ramo cultural indivíduos que declararam possuir uma ocupação definida como pertencente ao
núcleo artístico da classe criativa. Esta variável dependente foi construída com base na tipologia de atividades
culturais direta e indireta de Machado, Simões e Diniz (2013). A partir dos microdados do Censo 2010, a
variável indicativa de trabalho no núcleo artístico da classe criativa foi construída da seguinte forma: o
indivíduo que afirmou possuir uma ocupação cultural dentro do grupo de trabalhos diretos ou indiretos recebeu
5 Conforme ressaltado pelos autores, a disposição a trabalhar horas adicionais consistes em uma medida indireta de satisfação do
trabalho. Apesar dessa variável ser extremamente importante para a análise da força de trabalho do setor cultural, no presente estudo
essa proxy de satisfação não foi utilizada devido a ausência de informações a respeito da disposição a trabalhar horas adicionais no
Censo Demográfico.
valor 1, enquanto que aqueles não enquadrados em uma dessas ocupações culturais recebeu valor 0. A Tabela
1 apresenta as ocupações enquadradas no núcleo artístico da classe criativa.
Tabela 1 – Ocupações definidas como pertencentes ao núcleo artístico da classe criativa
Ocupações Código da ocupação
(IBGE) Especificações
TRABALHOS DIRETOS
Artes plásticas 2651 Artistas plásticos
Artes performáticas 2652 Músicos, cantores e compositores
2653 Bailarinos e coreógrafos
2654 Diretores de cinema, de teatro e afins
2655 Atores
2659 Artistas criativos e interpretativos não classificados
anteriormente
7312 Confeccionadores e afinadores de instrumentos musicais
Escritores 2641 Escritores
Artesanato 7317 Artesãos de pedra, madeira, vime e materiais semelhantes
7318 Artesãos de tecidos, couros e materiais semelhantes
7319 Artesãos não classificados anteriormente
TRABALHOS INDIRETOS
Artes performáticas 2354 Outros professores de música
2355 Outros professores de artes
Artes plásticas e visuais 3432 Desenhistas e decoradores de interiores
3431 Fotógrafos
2621 Arquivologistas e curadores de museus
2622 Bibliotecários, documentaristas e afins
3433 Técnicos em galerias de arte, museus e bibliotecas
4411 Trabalhadores de bibliotecas
Mídia e comunicação 2642 Jornalistas
2643 Tradutores, intérpretes e linguistas
2656 Locutores de rádio, televisão e outros meios de
comunicação
3521 Técnicos de radiodifusão e gravação audiovisual
Artes gráficas 7321 Trabalhadores da pré-impressão gráfica
7322 Impressores
Fonte: Machado, Simões e Diniz (2013).
Em relação às variáveis explicativas, considerou-se características do indivíduo e de seu município de
residência. O primeiro conjunto de regressores refletem características individuais que afetam as chances de o
mesmo estar empregado no setor cultural. Essas variáveis, descritas no Quadro 1, foram selecionadas com base
na literatura de economia do trabalho e economia da cultura (BECKER, 1962; MINCER, 1962; BORJAS,
1996; FLORIDA, 2002b; BENHAMOU, 2003; MACHADO, RABELO e MOREIRA, 2013). Todas essas
variáveis foram extraídas dos microdados do Censo Demográfico 2010, fornecidos pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). É importante destacar que a amostra se restringe àqueles indivíduos brasileiros
nato, entre 15 e 64 anos de idade, que declararam estar trabalhando (isto é, afirmaram possuir uma ocupação
na data de referência do Censo) e não estudantes.
Dentre as variáveis individuais que possivelmente afetam a probabilidade de estar empregado no setor
cultural, merece destaque a ocorrência de mais de um emprego, pois a natureza do pluriemprego é apontada
por Benhamou (2003) como um dos aspectos mais característico da inserção no mercado de trabalho dos
artistas. Outra variável importante é a que identifica se o indivíduo trabalha no próprio domicilio ou não.
Particularmente, esta é uma característica bastante comum entre escritores e artesãos, por exemplo.
Quadro 1 – Descrição das variáveis de primeiro nível (individual)
Variável Tipo Descrição e codificação
Gênero Masculino Binária 1 se o indivíduo é do sexo masculino; 0 caso contrário.
Feminino (categoria omitida) Binária 1 se o indivíduo é do sexo feminino; 0 caso contrário.
Raça
Branca ou amarela (categoria
omitida) Binária
1 se o indivíduo declarou-se de cor branca ou amarela; 0 caso
contrário.
Preta Binária 1 se o indivíduo declarou-se de cor preta; 0 caso contrário.
Parda Binária 1 se o indivíduo declarou-se de cor parda; 0 caso contrário.
Indígena Binária 1 se o indivíduo declarou-se de cor indígena; 0 caso contrário.
Idade Contínua Idade do entrevistado em anos.
Idade ao quadrado Contínua Quadrado da diferença entre a idade do indivíduo e a média de
idade de todos indivíduos na amostra.
Chefe Binária 1 se o indivíduo se declarou chefe do domicílio; 0 caso contrário.
Cônjuge Binária 1 se o indivíduo declarou viver com cônjuge ou companheiro; 0
caso contrário.
Níveis de Instrução
Sem instrução e fund. incompleto
(categoria omitida) Binária
1 se o indivíduo não tem instrução ou tem curso fundamental
incompleto; 0 caso contrário.
Fund. completo e médio incompleto Binária 1 se o indivíduo tem curso fundamental completo ou nível médio
incompleto; 0 caso contrário.
Médio completo e superior incompleto Binária 1 se o indivíduo tem nível médio completo ou curso superior
incompleto; 0 caso contrário.
Superior completo Binária 1 se o indivíduo tem curso superior completo; 0 caso contrário.
Migrante Binária 1 se o indivíduo é migrante de data fixa intermunicipal; 0 caso
nasceu e sempre morou no município de residência.
Trabalho
Trabalha no domicílio Binária 1 se o indivíduo trabalha no próprio domicílio; 0 caso contrário.
Possui mais de um trabalho Binária 1 se o indivíduo afirmou possuir mais de um trabalho; 0 caso
contrário.
Trabalhador com carteira assinada
(categoria omitida) Binária
1 se o indivíduo não tem como posição na ocupação principal
“empregado com carteira assinada” ou “militar” ou
“empregador”; 0 caso contrário.
Trabalhador sem carteira assinada
(informal) Binária
1 se o indivíduo não tem como posição na ocupação principal
“empregado sem carteira assinada” ou “conta própria” ou “não
remunerado”; 0 caso contrário.
Setor de residência
Zona rural (categoria omitida) Binária 1 se o indivíduo reside no meio rural; 0 caso contrário.
Zona urbana Binária 1 se o indivíduo reside no meio urbano; 0 caso contrário.
Região metropolitana
Não região metropolitana (categoria
omitida) Binária 1 se o indivíduo não reside em uma RM; 0 caso contrário.
Região metropolitana Binária 1 se o indivíduo reside em uma RM; 0 caso contrário.
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010.
Duas variáveis que merecem ser analisadas com bastante atenção são a idade e o nível de escolaridade
dos indivíduos. Segundo alguns estudos, as atividades culturais estão em certa medida interligadas à construção
de uma reputação que se difunde através de uma ampla rede de contatos de emprego. Nesse contexto, surge
um paradoxo, pois apesar da grande proporção de indivíduos com nível superior neste campo, percebe-se a
importância limitada de um diploma para tais carreiras, uma vez que experiência e reputação tornam-se
aspectos muito mais centrais, especialmente em alguns subsetores específicos como o das artes visuais
(BENHAMOU, 2003; MENGER, 2006; THROSB e THOMPSON, 1995).
O segundo grupo de variáveis consideradas no estudo refere-se as características e elementos
municipais, conforme descrito no Quadro 2.
Quadro 2 – Descrição das variáveis de segundo nível (municipal)
Variável Tipo Descrição e codificação Fonte
Índice de amenidades Contínua Indicador de itens e equipamentos culturais no município. MUNIC-IBGE
Taxa de diversidade Contínua
Proporção de casais no município que declararam estar em
um relacionamento conjugal homoafetivo em relação ao
total de casais.
Censo 2010
Renda média do setor cultural Contínua Rendimento médio dos trabalhadores do setor cultural no
município. Censo 2010
Despesa em cultura per capita Contínua Despesa municipal em cultura ponderada pela população
residente. FINBRA
Logaritmo da população Contínua Logaritmo da população do município. Censo 2010
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010, dos dados da MUNIC-IBGE
e dos dados da FINBRA.
O índice de amenidades culturais foi construído a partir do suplemento de cultura da Pesquisa de
Informações Básicas Municipais de 2006 (MUNIC-IBGE) e engloba, dentre outros pontos, aspectos
relacionados a existência e quantidade de itens e equipamentos culturais do município. O índice foi construído
pela média das quantidades per capita de museus, bibliotecas, centros culturais, ginásios e cinemas presentes
no município.
A taxa de diversidade está relacionada ao indicador de tolerância da sociedade. O indicador análogo
sugerido por Florida (2002b) é obtido pela contabilização dos lares compostos por indivíduos do mesmo sexo
que afirmaram estar em uma relação estável. Segundo o autor, a presença de casais homoafetivos é um
elemento positivo para uma cidade, dado o elevado poder aquisitivo e as preferências culturais desse grupo
social. No presente estudo o que se pretende captar de fato com essa variável é o nível de tolerância a
comportamentos diferenciados. Pois, conforme Vivant (2012) destaca, uma sociedade considerada fechada não
instiga indivíduos criativos.
O rendimento médio municipal dos trabalhadores empregados em atividades do núcleo artístico criativo
tem por objetivo verificar se municípios com remuneração mais elevada neste ramo conseguem, de fato, atrair
mais indivíduos para realizar atividades em tal setor.
Finalmente, a despesa em cultura per capita foi construída com base nos dados das Finanças do Brasil
(FINBRA), um relatório do Tesouro Nacional com informações sobre gastos e receitas de cada município
brasileiro. A coleta de dados de contabilidade baseia-se na Lei de Responsabilidade Fiscal, que obriga os
municípios a enviar suas informações, incluindo as despesas por função, por meio do chamado SISTN -
Sistema de Coleta de Dados Contábeis Consolidados, da Caixa Econômica Federal. Os dados são anuais, e as
informações sobre despesas municipais em cultura da FINBRA foram ponderadas pela população residente de
cada município, para o ano de 2010. Com esta informação, busca-se identificar se a decisão individual de estar
ocupado no setor cultural é influenciada pelos gastos com cultura do município.
Apresentada a descrição das variáveis, a Tabela 2 mostra as estatísticas descritivas da amostra
contemplada pelo estudo. Para tornar mais clara a composição da mesma, optou-se por apresentar as
informações agregadas, bem como separando aqueles ocupados no núcleo artístico do setor criativo daqueles
ocupados nos demais setores. Inicialmente, nota-se que cerca de 1,16% dos indivíduos trabalha direta ou
indiretamente no núcleo artístico do setor criativo.
Tabela 2 – Distribuição dos trabalhadores segundo características socioeconômicas e condição de trabalho no núcleo artístico do setor
criativo (Brasil 2010)
Total Trabalha no Núcleo Artístico
Criativo
Não trabalha no Núcleo Artístico
Criativo
Diferença de
média
Média Desvio-Padrão Média Desvio-Padrão Média Desvio-Padrão
Gênero
Masculino 0,6069 0,4884 0,5420 0,4982 0,6076 0,4883 -0,0656***
Idade 35,6921 11,6430 35,5067 11,5707 35,6943 11,6438 -0,1876***
Idade ao quadrado 153,3855 209,8332 150,1727 207,9432 153,4233 209,8551 -3,2506***
Cor
Branca ou amarela 0,5146 0,4998 0,5769 0,4940 0,5139 0,4998 0,0631***
Preta 0,0782 0,2684 0,0701 0,2553 0,0783 0,2686 -0,0082***
Parda 0,4036 0,4906 0,3413 0,4742 0,4043 0,4908 -0,0630***
Indígena 0,0036 0,0601 0,0117 0,1074 0,0035 0,0593 0,0081***
Faixa de Instrução
S/ instrução e fund. Incompleto 0,4288 0,4949 0,2709 0,4444 0,4307 0,4952 -0,1598***
Fund. completo e médio incompleto 0,1679 0,3738 0,1812 0,3852 0,1677 0,3736 0,0134***
Médio completo e superior incompleto 0,2989 0,4578 0,3865 0,4870 0,2979 0,4573 0,0886***
Superior completo 0,1044 0,3058 0,1614 0,3679 0,1037 0,3049 0,0577***
Domicílio
Chefe 0,4353 0,4958 0,3923 0,4883 0,4358 0,4959 -0,0435***
Com cônjuge ou companheiro 0,6337 0,4818 0,5759 0,4942 0,6344 0,4816 -0,0584***
Ocupação
Trabalha no próprio domicílio 0,2211 0,4150 0,3792 0,4852 0,2193 0,4137 0,1600***
Emprego principal informal 0,4973 0,5000 0,6478 0,4777 0,4956 0,5000 0,1522***
Possui mais de um trabalho 0,0302 0,1712 0,0562 0,2303 0,0299 0,1704 0,0263***
Setor de residência
Região metropolitana 0,3252 0,4685 0,4294 0,4950 0,3240 0,4680 0,1054***
Zona urbana 0,7619 0,4259 0,8977 0,3031 0,7603 0,4269 0,1374***
Migrante 0,1482 0,3553 0,1648 0,3710 0,1480 0,3551 0,0169***
Indicadores municipais
Índice de amenidades 0,0204 0,0295 0,0165 0,0267 0,0204 0,0295 -0,0040***
Taxa de diversidade 0,0428 0,0499 0,0559 0,0535 0,0427 0,0498 0,0132***
Renda média do setor cultural 1.033,7200 652,4849 1.169,2820 716,7437 1.032,1240 651,5230 137,1581***
Log da população 11,0127 2,0422 11,7053 2,2434 11,0046 2,0383 0,7008***
Despesa em cultura per capita 38,4681 46,6622 39,3682 41,8577 38,4575 46,7157 0,9107***
Número de observações 4.150.101 48.277 4.101.824
Fonte: elaboração dos autores a partir dos dados do Censo Demográfico 2010. Nota: *** estatisticamente significativo a 1%.
Considerando a amostra como um todo, observa-se que a maior parte dos indivíduos é do sexo
masculino, tem idade média de aproximadamente 35 anos e é da raça branca ou amarela. Tem-se ainda que
pouco mais de 43% são chefes de família, 14,82% migrantes e apenas 3% possuem mais de um trabalho.
Ademais, a maior parte não completou sequer o Ensino Fundamental (42,88%), vive com o cônjuge ou
companheiro e reside na área urbana. Uma informação importante é que quase metade dos indivíduos (49,73%)
trabalha no setor informal. Em relação às variáveis alusivas aos aspectos populacionais e culturais dos
municípios brasileiros, tem-se que a renda média do núcleo artístico do setor criativo é de aproximadamente
R$1.033,72, enquanto que a média das despesas per capita com cultura fica por volta de R$38,47.
As informações mais interessantes, contudo, referem-se às comparações entre os que trabalham e os
que não trabalham no núcleo artístico do setor criativo. Em média, a concentração de homens é menor no
referido setor e os indivíduos que nele trabalham possuem um nível educacional mais elevado: cerca de 39%
completaram o Ensino Médio e 16% o Ensino Superior, ao passo que estas proporções se reduzem para 30% e
10%, respectivamente, para os ocupados em outros setores. Conforme esperado, há, em média, mais ocupados
no núcleo artístico do setor criativo não vivendo com cônjuge ou companheiro, tendo mais de um emprego e
trabalhando no próprio domicílio, comparativamente aos ocupados nos demais setores. Em termos de
características domiciliares, estes trabalhadores concentram-se fortemente em áreas urbanas e metropolitanas.
Observa-se também que, em média, estes indivíduos residem em áreas com taxas de diversidade mais elevadas
e com maior renda média do setor cultural.
4. Estratégia Empírica
Tendo em vista os objetivos delineados, optou-se por empregar a abordagem de modelos hierárquicos,
também conhecidos como modelos multinível, para estimar a probabilidade de o indivíduo estar empregado
no núcleo artístico da classe criativa brasileira. A ideia ao adotar este procedimento é analisar como fatores
individuais e regionais afetam as chances de um indivíduo estar empregado no referido setor.
A opção pela utilização da modelagem hierárquica parte do reconhecimento de uma provável
variabilidade nas chances de um indivíduo estar empregado no setor criativo em decorrência da localidade,
mesmo após o controle pelas características individuais. Assim, pessoas com características semelhantes, mas
de localidades distintas, teriam diferentes probabilidades de ocupação devido aos atributos locais.
Conforme apontado por Raudenbush e Bryk (2002), grande parte dos estudos acerca de fenômenos
sociais envolve uma estrutura de dados hierarquizada. Indivíduos usualmente situam-se dentro de unidades
organizacionais, como escolas ou firmas, por exemplo. Estas unidades, por sua vez, encontram-se localizadas
em uma cidade, região ou país. Os modelos multiníveis permitem a modelagem conjunta de diferentes níveis
de observação, identificando como as variáveis medidas em um nível influenciam as relações em um outro
nível. A variável dependente é sempre medida no menor nível de agregação, enquanto que as variáveis
explicativas podem ser medidas em todos os níveis. Outro importante ganho fornecido por esta abordagem é a
possibilidade de particionar a variância entre os níveis de análise (RAUDENBUSH; BRYK, 2002).
Nesta pesquisa, aplicou-se um modelo hierárquico em dois níveis. O primeiro nível corresponde ao
indivíduo, enquanto que o segundo se refere ao município. Como tem-se uma variável dependente binária,
assumindo valor 1 se o indivíduo se encontra empregado no setor criativo e 0 caso contrário, a especificação
assume a forma de um modelo logit hierárquico. Assim, o primeiro nível é composto por um modelo linear
generalizado, podendo ser escrito como:
𝜂𝑖𝑗 = 𝑙𝑜𝑔 (𝜙𝑖𝑗
1 − 𝜙𝑖𝑗) = 𝛽0𝑗 + ∑ 𝛽𝑞𝑋𝑞𝑖𝑗 + 𝜀𝑖𝑗
𝑞
(1)
Em que: 𝜂𝑖𝑗 é o log-odds, ou chances de sucesso, de o indivíduo 𝑖 residente no município 𝑗 estar empregado
no setor criativo, enquanto que 𝜙𝑖𝑗 representa a probabilidade desse evento ocorrer; 𝛽0𝑗 é o intercepto do
modelo; 𝑋𝑞𝑖𝑗 e 𝛽𝑞 correspondem, respectivamente, às 𝑞 variáveis explicativas a nível individual incluídas no
modelo e seus efeitos parciais; e 𝜀𝑖𝑗 é o termo de erro aleatório.
No segundo nível, assume-se que o intercepto, 𝛽0𝑗, varia aleatoriamente em todos os municípios:
𝛽0𝑗 = 𝛶00 + ∑ 𝛶0𝑠𝑊𝑠𝑗 + 𝑢0𝑗
𝑠
(2)
Tal que: 𝛶00 representa a média global da variável dependente, isto é, a média de empregos no setor criativo
considerando todos os municípios; 𝑊𝑠𝑗 corresponde aos 𝑠 regressores a nível municipal e 𝛶0𝑠 aos seus
respectivos efeitos parciais; e 𝑢0𝑗 é o incremento para o intercepto associado ao município 𝑗, ou seja, o efeito
aleatório.
Combinando as equações (1) e (2) chega-se a uma única complexa equação:
𝜂𝑖𝑗 = 𝑙𝑜𝑔 (𝜙𝑖𝑗
1 − 𝜙𝑖𝑗) = 𝛶00 + ∑ 𝛶0𝑠𝑊𝑠𝑗 + 𝑢0𝑗
𝑠
+ ∑ 𝛽𝑞𝑋𝑞𝑖𝑗 + 𝜀𝑖𝑗
𝑞
(3)
Nos quais os regressores de primeiro e segundo nível considerados neste estudo encontram-se descritos em
detalhes nos Quadros 1 e 2.
A primeira etapa na abordagem hierárquica, entretanto, consiste na estimação do modelo mais simples
possível, isto é, o modelo nulo ou ANOVA. A partir dessa estimação, é possível produzir uma estimativa da
correlação intraclasse que possibilita avaliar se, do ponto de vista econométrico, há justificativas para se
incorporar um segundo nível. Ou seja, através do coeficiente de correlação intraclasse do modelo nulo pode-
se observar se a inclusão do segundo nível ajuda a explicar a variabilidade dos dados do modelo (HOX, 2002).
O modelo nulo apresenta a seguinte especificação para o primeiro nível:
𝜂𝑖𝑗 = 𝛽0𝑗 + 𝜀𝑖𝑗 (4)
Sendo 𝛽0𝑗 a média de empregos no setor criativo do j-ésimo município e 𝜀𝑖𝑗 o efeito aleatório associado ao
primeiro nível, assumido como sendo normalmente distribuído com média zero e variância constante (𝜎2). Já
a especificação para o segundo nível é dada por:
𝛽0𝑗 = 𝛶00 + 𝑢0𝑗 (5)
Onde 𝛶00 representa a média global da variável dependente e 𝑢0𝑗 é o efeito aleatório associado ao j-ésimo
município, assumido como tendo média zero e variância 𝜏00.
Uma vez justificada a inclusão de um segundo nível, o passo seguinte consiste na estimação do modelo
multinível não-condicional, também chamado modelo ANCOVA, que contém apenas variáveis explicativas
do primeiro nível. Este modelo permite a mensuração da variabilidade associada a este nível e é dado por:
𝜂𝑖𝑗 = 𝛽0𝑗 + 𝛽0𝑗 + ∑ 𝛽𝑞𝑋𝑞𝑖𝑗 + 𝜀𝑖𝑗
𝑞
(6)
𝛽0𝑗 = 𝛶00 + 𝑢0𝑗 (7)
Por fim, as variáveis contextuais, correspondente ao segundo nível, são incluídas gradativamente,
dando origem ao modelo expresso na equação (3). Desse modo, é possível verificar o quanto essas variáveis
municipais contribuem para a redução da variabilidade não-condicional associada ao intercepto estimado do
nível 1. Este cálculo é feito por meio do índice de redução proporcional da variância, que representa o
percentual da variância do intercepto do modelo não condicional que é explicada pela inclusão das variáveis
no segundo nível.
5. Resultados
Com o intuito de analisar como as características individuais e regionais mudam as chances de um
indivíduo estar empregado no núcleo artístico da classe criativa no Brasil, empregou-se a técnica de modelagem
hierárquica. Tal procedimento metodológico permite observar se e como alguns dos componentes que afetam
as chances de estar empregado nos ramos artístico criativo estão associados à estrutura criativa local,
justificando a inclusão de variáveis municipais.
A tabela 3 apresenta as estimativas das razões de chance (odds ratio) para as análises multiníveis
conduzidas no estudo. O modelo 1, conhecido como o modelo ANOVA com efeitos aleatórios (ou modelo
nulo), é estimado objetivando testar a aleatoriedade dos coeficientes. Por meio do cálculo do ICC deste modelo
é possível observar a variação nas chances de estar empregado no setor cultural atrelada às características
municipais. Como o valor do ICC calculado foi 0,1351, isto indica que 13,51% da variação nas chances de
estar empregado no núcleo artístico criativo, em 2010, decorre de diferenças nas chances de estar ocupado
nesse setor entre os municípios6. Além disso, como nos sete modelos estimados os coeficientes das variâncias
contextuais são estatisticamente diferentes de zero, conclui-se que a probabilidade de estar exercendo uma
ocupação laboral no setor cultural difere de acordo com o município em que o indivíduo reside, para todos os
casos analisados.
O modelo 2, não condicional, inclui apenas as variáveis explicativas associadas às características
individuais, possibilitando a mensuração da variabilidade não condicional de segundo nível. Já os modelos 3, 4, 5, 6
e 7, condicionais às características municipais, nos quais são incluídas de maneira gradativa as variáveis de
segundo nível, permitem verificar o quanto as variáveis municipais contribuem para a redução da variabilidade
não condicional do intercepto estimado no modelo 2. A proporção da variância explicada é apenas uma métrica
alternativa para tal exame. Assim, nota-se, por exemplo, que no modelo 3 apenas o indicador de amenidades
culturais explica a variabilidade do intercepto em cerca de 0,04%. Contudo, ao adicionarmos a taxa de
diversidade, a renda média do setor cultural, a população do município e as despesas per capita com cultura,
essas variáveis em conjunto são responsáveis por explicar a variabilidade do intercepto em quase 3,5%.
Analisando inicialmente as variáveis de primeiro nível, tem-se que, à exceção do coeficiente da variável
de gênero, todos os demais parâmetros estimados foram estatisticamente significativos a 1% em todos os
modelos. Dessa forma, os resultados para as características individuais indicam que a variável idade está, pelo
menos em certa medida, interligada à construção da reputação do indivíduo, no sentido de que quanto maior a
idade maiores as chances de estar empregado no núcleo artístico criativo. Já a variável idade ao quadrado capta
o decréscimo da participação no mercado de trabalho que a própria literatura de economia do trabalho atribui
à redução na produtividade a partir de uma certa idade. Quanto ao nível de escolaridade, percebe-se que, quanto
maior a escolaridade do indivíduo, maiores são as chances do mesmo estar empregado em ocupações do núcleo
artístico criativo, em relação às demais atividades. Tal resultado corrobora os estudos que já haviam
identificado a existência de grande proporção de indivíduos com nível superior neste ramo (BENHAMOU,
2003; MACHADO; RABELO; MOREIRA, 2013; MENGER, 2006; THROSBY; THOMPSON, 1995).
6 O coeficiente de correlação intraclasse é calculado como 𝐼𝐶𝐶 =
𝜎002
𝜎002 +𝜋2
3⁄. A literatura sugere que a variância do erro a nível
individual, nos modelos de regressão logística, seja sempre fixada em 𝜋2
3⁄ = 3,29, dado que nestes modelos não é possível estimar
os coeficientes e a variância do erro a nível individual para o componente aleatório (MORENOFF, 2003; RAUDENBUSH; BRYK,
2002; SNIJDERS; BOSKER, 1999).
Tabela 3 – Regressões hierárquicas para a probabilidade de estar empregado no núcleo artístico do setor criativo (Brasil 2010)
Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Modelo 5 Modelo 6 Modelo 7
Componente Fixo
Intercepto 0,0068*** 0,0010*** 0,0010*** 0,0010*** 0,0010*** 0,0002*** 0,0002***
(0,0001) (0,0000) (0,0000) (0,0000) (0,0000) (0,0000) (0,0000)
Índice de amenidades 0,3138*** 0,3841*** 0,3862*** 6,5992*** 6,1838***
(0,1122) (0,1377) (0,1383) (2,8561) (2,6794)
Taxa de diversidade 4,9275*** 5,4027*** 2,5870*** 2,5212***
(1,4507) (1,5931) (0,7842) (0,7644)
Renda média da cultura 0,9999*** 0,9999*** 0,9999***
(0,0000) (0,0000) (0,0000)
Log da população 1,1678*** 1,1707***
(0,0164) (0,0165)
Despesa em cultura per capita 1,0005***
(0,0002)
Masculino 0,9913 0,9914 0,9913 0,9914 0,9913 0,9913
(0,0097) (0,0097) (0,0096) (0,0097) (0,0097) (0,0097)
Idade 1,0023*** 1,0023*** 1,0023*** 1,0023*** 1,0023*** 1,0023***
(0,0007) (0,0007) (0,0007) (0,0007) (0,0007) (0,0007)
Idade ao quadrado 0,9999*** 0,9999*** 0,9999*** 0,9999*** 0,9999*** 0,9999***
(0,0000) (0,0000) (0,0000) (0,0000) (0,0000) (0,0000)
Preta 0,8971*** 0,8957*** 0,8952*** 0,8942*** 0,8915*** 0,8912***
(0,0172) (0,0172) (0,0172) (0,0172) (0,0171) (0,0171)
Parda 0,8802*** 0,8785*** 0,8788*** 0,8772*** 0,8754*** 0,8753***
(0,0098) (0,0098) (0,0098) (0,0098) (0,0098) (0,0098)
Indígena 4,6523*** 4,6398*** 4,6375*** 4,6289*** 4,6098*** 4,6115***
(0,2337) (0,2331) (0,2329) (0,2325) (0,2314) (0,2315)
Fund. completo e médio incompleto 1,6187*** 1,6191*** 1,6183*** 1,6197*** 1,6169*** 1,6169***
(0,0235) (0,0235) (0,0235) (0,0236) (0,0235) (0,0235)
Médio completo e superior incompleto 2,0474*** 2,0475*** 2,0464*** 2,0477*** 2,0427*** 2,0424***
(0,0261) (0,0261) (0,0260) (0,0261) (0,0260) (0,0260)
Superior completo 2,2800*** 2,2794*** 2,2778*** 2,2797*** 2,2710*** 2,2707***
(0,0375) (0,0375) (0,0374) (0,0375) (0,0374) (0,0374)
Chefe 0,8863*** 0,8862*** 0,8863*** 0,8862*** 0,8863*** 0,8864***
(0,0092) (0,0092) (0,0092) (0,0092) (0,0092) (0,0092)
Vive com cônjuge/companheiro 0,8507*** 0,8508*** 0,8510*** 0,8509*** 0,8515*** 0,8516***
(0,0085) (0,0085) (0,0085) (0,0085) (0,0085) (0,0085)
Trabalha no próprio domicílio 2,3419*** 2,3412*** 2,3400*** 2,3414*** 2,3349*** 2,3350***
(0,0238) (0,0238) (0,0237) (0,0238) (0,0237) (0,0237)
Emprego principal informal 2,5827*** 2,5825*** 2,5843*** 2.5816*** 2,5859*** 2,5863***
(0,0268) (0,0268) (0,0268) (0,0268) (0,0269) (0,0269)
Possui mais de um trabalho 1,6649*** 1,6654*** 1,6657*** 1,6656*** 1,6654*** 1,6654***
(0,0345) (0,0345) (0,0345) (0,0345) (0,0345) (0,0345)
Reside em região metropolitana 1,3025*** 1,2865*** 1,2476*** 1,2690*** 1,1470*** 1,1463***
(0,0441) (0,0439) (0,0430) (0,0442) (0,0412) (0,0411)
Reside em zona urbana 2,9944*** 2,9849*** 2,9716*** 2,9788*** 2,9421*** 2,9406***
(0,0528) (0,0527) (0,0525) (0,0527) (0,0521) (0,0521)
Migrante de data fixa 1,2127*** 1,2132*** 1,2120*** 1,2132*** 1,2164*** 1,2167***
(0,0159) (0,0159) (0,0159) (0,0159) (0,0160) (0,0160)
Componente aleatório
Coeficiente 0,5274*** 0,4515*** 0,4513*** 0,4485*** 0,4455*** 0,4366*** 0,4357***
(0,0162) (0,0142) (0,0142) (0,0142) (0.0141) (0,0138) (0,0138)
% da variância explicadaa 0,0443 0,6644 1,3289 3,3001 3,4994
Observações
Nível individual 4.150.101 4.150.101 4.150.101 4.150.101 4.150.101 4.150.101 4.150.101
Nível municipal 4.817 4.817 4.817 4.817 4.817 4.817 4.817
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2010 e dados do IPEADATA. Notas: (a) a proporção da variância explicada é calculada por:
% 𝑑𝑎 𝑣𝑎𝑟𝑖â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑒𝑥𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑑𝑎 =�̂�00(𝑛ã𝑜−𝑐𝑜𝑛𝑑𝑖𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙)−�̂�00(𝑐𝑜𝑛𝑑𝑖𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙)
�̂�00(𝑛ã𝑜−𝑐𝑜𝑛𝑑𝑖𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙); (b) desvios-padrão entre parênteses; (c) ***estatisticamente significante a 1%, **estatisticamente significante
a 5%, *estatisticamente significante a 10%.
Em relação a cor da pele, aqueles que declararam ser da raça preta e parda possuem menos chances de
estar empregado no núcleo artístico criativo, em comparação àqueles que declararam a cor da pele branca ou
amarela (categoria omitida). Por outro lado, ser indígena aumenta em mais de quatro vezes as chances de estar
ocupado em atividades artísticas criativas. Esse resultado possivelmente está atrelado ao elevado número de
atividades artesanais exercido por esta etnia. Machado, Rabelo e Moreira (2013) já haviam observado, com os
dados da PME, que ser branco aumenta a probabilidade de estar ocupado no setor criativo, mas essa
peculiaridade dos indígenas não havia ainda sido captada empiricamente na literatura, devido ao fato de que a
grande parte da literatura nacional se restringe as áreas metropolitanas.
Referente aos aspectos domiciliares, nota-se que os indivíduos que vivem com cônjuge ou
companheiro, bem como aqueles que se declaram o provedor da unidade residencial (chefe do domicílio),
apresentam menos chances de estar empregado no setor de análise. Esse resultado pode ser um indício de que
o risco inerente ao exercício laboral das atividades culturais – marcado por contratos de curta duração,
geralmente muitas horas de treinamento e baixas taxas de histórico de sucesso – naturalmente leva os
indivíduos com maior nível de responsabilidades dentro do lar a optar por outras carreiras (BENHAMOU,
2003).
As características individuais ocupacionais apresentam alguns resultados interessantes e pouco
explorados até o momento para o Brasil. Fica perceptível que os indivíduos que declararam trabalhar no próprio
domicílio, aspecto este fortemente interligado as atividades que compõem os trabalhos culturais diretos, tal
como escritor, artesão e outros, apresentam maiores chances de ocupação no núcleo artístico criativo. Além
disso, estar informal no trabalho principal e possuir mais de um emprego também são fatores positivamente
associados a esta probabilidade.
Como esperado, os modelos parecem evidenciar que residir em áreas metropolitanas e em setores
urbanos estão associados a maiores chances de trabalho no núcleo artístico criativo, em relação a outras
atividades. Tal resultado reflete as maiores oportunidades de emprego e sucesso no ramo cultural que estão
associadas às localidades mais economicamente desenvolvidas.
No que concerne à condição de migrante, observa-se que estes apresentaram maiores chances de estar
empregado no núcleo artístico do setor criativo. Os migrantes são, em média, positivamente selecionados, o
que se deve ao fato deles serem indivíduos menos avessos ao risco e mais empreendedores do que os indivíduos
que decidem permanecer no local de nascimento. Consequentemente, essa seletividade positiva pode afetar as
chances desses indivíduos estarem empregados (CHISWICK, 1999; SANTOS JÚNIOR; MENEZES FILHO;
FERREIRA, 2005). Como mencionado, o risco inerente às atividades culturais faz com que, de fato, tais
atividades estejam mais vinculadas a perfis menos avessos ao risco, como no caso dos migrantes.
As variáveis de idade, idade ao quadrado, faixa de instrução, migração e, em certa medida, raça parecem
mostrar um padrão correspondente aos seus efeitos mais abrangentes no mercado de trabalho como um todo.
Contudo, os aspectos domiciliares e ocupacionais mostram o quanto de fato o mercado de trabalho cultural
possui especificidades marcantes.
A Tabela 3 evidencia que o melhor modelo para análise multinível é o 7, pois há uma redução do
componente da variância, e, por conseguinte, uma elevação do percentual da variância explicada do intercepto
no modelo 7, em relação aos demais. Portanto, voltando a atenção agora para os resultados das variáveis de
segundo nível, observa-se que, considerando o modelo 7, o índice de amenidades culturais tem um expressivo
efeito sobre as chances de estar empregado no núcleo artístico da classe criativa. Desse modo, residir em um
município com elevada quantidade de equipamentos culturais parece ser determinante para a ocupação no
referido setor. De modo similar, a taxa de diversidade, aqui empregada como proxy para o nível de tolerância
do município, também apresentou efeito direto com as chances de ocupação no núcleo artístico do setor
criativo. Logo, os municípios mais tolerantes e receptivos aos diferentes tipos de pessoas conseguem atrair
mais indivíduos para trabalhar em atividades artísticas criativas.
Ao contrário do esperado, a renda média do setor não apresentou relação positiva com a variável de
interesse. Dado que o valor de seu coeficiente foi muito próximo de zero, apesar de significativo, conclui-se
que este não é um fator relevante para a decisão de trabalhar ou não no núcleo artístico do setor criativo. Os
coeficientes das variáveis de população e despesas culturais per capita, por outro lado, indicam que quanto
mais populoso e maior for o investimento em cultura no município, maiores as chances de estar empregado no
setor analisado. É importante recordar que Machado, Rabelo e Moreira (2013) detectaram uma relação positiva
entre os gastos per capita com cultura e o salário dos trabalhadores do setor artístico cultural, o que explica o
fato de um maior gastos per capita com cultura no município aumentar as chances de emprego no ramo artístico
criativo naquela localidade, tal como observado na Tabela 3.
6. Considerações Finais
O presente artigo buscou identificar os principais aspectos individuais e regionais que afetam as chances
de trabalhar no núcleo artístico da classe criativa no Brasil. Conforme tem sido apontado em estudos teóricos
e aplicados, a cultura pode ser um fator importante para impulsionar o desenvolvimento econômico de uma
localidade. Diversos autores identificaram o elevado dinamismo do setor cultural e a sua capacidade de, em
alguma medida, gerar desenvolvimento econômico e social (ALPER; WASSALL, 2006; MARKUSEN;
SCHROCK, 2006; SILVA, 2007). Diante disso, por meio de um conjunto de modelos logit multinível,
observou-se como a existência de um ambiente propício à cultura pode influenciar no mercado de trabalho
desse setor, com enfoque na decisão individual do trabalhador por exercer ou não uma atividade do núcleo
artístico do setor criativo.
Os principais resultados indicam que as variáveis de idade, idade ao quadrado, faixa de instrução,
migração e, em certa medida, raça estão em conformidade com o padrão correspondente aos seus efeitos mais
abrangentes no mercado de trabalho como um todo. Nesse sentido, indivíduos que declararam a cor da pele
preta e parda possuem menores chances de estar empregado no núcleo artístico do setor criativo, em relação
àqueles que declararam branca ou amarela. Enquanto isso, os indígenas possuem mais chances de estar ocupado
em atividades do núcleo artístico criativo.
Os achados também parecem evidenciar que residir em áreas metropolitanas e em setores urbanos estão
associados a maiores chances de trabalho no núcleo artístico criativo, em relação às demais atividades. Como
os centros urbanos são propícios à difusão de ideias, de fato tais localidades são preferenciais para a localização
das atividades culturais. Observa-se também que os migrantes apresentam maiores chances de estar empregado
no núcleo artístico criativo, possivelmente devido a seletividade positiva desse grupo, o que os caracteriza
como menos avessos ao risco e, por conseguinte, mais propensos a se envolver em atividades culturais.
Em termos de aspectos domiciliares e ocupacionais, fica perceptível o quanto de fato o mercado de
trabalho cultural possui especificidades marcantes. Referente aos aspectos domiciliares, os resultados mostram
que os indivíduos que vivem com cônjuge ou companheiro, bem como aqueles que se declaram o provedor da
unidade residencial, apresentam menos chances de estar empregado no núcleo artístico criativo. Isso ocorre,
possivelmente, porque o elevado nível de risco das carreiras artísticas naturalmente conduz os indivíduos com
maior nível de responsabilidades dentro do lar a optar por outras ocupações.
Quanto ás características ocupacionais, nota-se que os indivíduos que declararam trabalhar no próprio
domicílio, o que está bastante relacionado aos trabalhos culturais diretos, apresentam maiores chances de
ocupação no setor. Adicionalmente, estar informal no trabalho principal e possuir mais de um emprego também
são fatores positivamente associados a esta probabilidade. Essa questão da informalidade e do pluriemprego,
em certa medida, capta a dificuldade de estar empregado nos setores culturais no Brasil, dado a insegurança
marcante desta atividade.
Referente às variáveis municipais, o efeito positivo da taxa de diversidade evidencia que localidades
mais tolerantes e liberais têm uma maior força de atração para o trabalho cultural. Outra variável que merece
atenção é o índice de amenidades culturais, que apresentou um expressivo efeito sobre as chances de estar
empregado no setor criativo. Isso permite concluir que residir em localidades com elevada quantidade de itens
e equipamentos culturais aumenta a probabilidade de trabalho no ramo criativo. Pensar as características das
localidades, especialmente aquelas atreladas a existência de equipamentos culturais, parece ser uma das
principais forças capaz de estimular este mercado de trabalho.
Apesar de os gastos per capita com cultura no município também terem se mostrado um fator relevante,
fica evidente o significativo efeito da variável de amenidades culturais. Isso indica que não é o gasto
indiscriminado com cultura que estimula o setor, mas sim que é preciso traçar estratégias de gastos que gerem
amenidades culturais a serem usufruídas pela sociedade, e que, por outro lado, também incite o trabalho no
ramo cultural. Com o estímulo do trabalho no setor tem-se, por conseguinte, impactos em outros setores, o que
alavanca a economia como um todo daquela região.
Florida (2002b) observou que talento, diversidade e tecnologia caminham juntos na geração de níveis
de renda mais elevados e impulsionam o desenvolvimento regional. O que se percebe no presente estudo é que
pensar políticas públicas capazes de melhorar o número de equipamentos culturais talvez ajude nessa
importante tarefa.
Pensar políticas públicas voltadas para o desenvolvimento cultural e educativo dos espaços públicos
também pode ser extremamente importante para o desenvolvimento e a valorização do espaço. Casos de
sucesso como o de Medellín, na Colômbia, onde políticas públicas voltadas para as artes, cultura e educação
reverteram em certa medida uma realidade de degradação causada pelo narcotráfico, é um bom exemplo de
como é importante explorar mais a economia da cultura. A existência de um ambiente cultural rico pode ser
um insumo ao desenvolvimento regional, o que justifica o quanto é importante estudar o setor cultural e suas
inter-relações com os aspectos ocupacionais e regionais.
REFERÊNCIAS
ALPER, N. O.; WASSALL, G. H. Artists’ Careers and Their Labor Markets. In: GINSBURGH, V.;
THORSBY, D. (Org.). . Handbook of the Economics of Art and Culture. Amsterdam: Elsevier, 2006. p. 813–
864.
BAUMOL, W.; BOWEN, W. Performing arts: the economic dilemma. Massachussets: Yale University
Press, 1966.
BECKER, G. S. Investment in human capital: a theoretical analysis. The Journal of Political Economy, v. 70,
n. 5, p. 9–49, 1962.
BENDASSOLLI, P. F.; WOOD JÚNIOR, T.; KIRSCHBAUM, C.; CUNHA, M. P. Indústrias criativas:
definição, limites e possibilidades. RAE - Revista de Administração de Empresas, v. 49, n. 1, p. 10–18, 2009.
BENHAMOU, F. Artists’ labour markets. In: TOWSE, R. (Org.). A handbook of cultural economics.
Cheltenham: Edward Elgar, 2003. p. 69–75.
BORJAS, G. J. Labor Economics. New York: McGraw-Hill Companies, 1996.
CHISWICK, B. R. Are Immigrants Favorably Self-Selected? The American Economic Review, v. 89, n. 2, p.
181–185, 1999.
DINIZ, S. C. Análise do setor cultural nas regiões metropolitanas brasileiras. 2008, Salvador, ANPEC -
Associação Nacional dos Centros de Pósgraduação em Economia: Anais do XXXVI Encontro Nacional de
Economia, 2008.
FERREIRA NETO, A. B.; FREGUGLIA, R. DA S.; FAJARDO, B. A. G. Diferenciais salariais para o setor
cultural e ocupações artísticas no Brasil. Economia Aplicada, v. 16, n. 1, p. 49–76, 2012.
FIRJAN. Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil. Rio de Janeiro: Federação das Indústrias do Estado
do Rio de Janeiro, 2014.
FLORIDA, R. The economic geography of talent. Annals of the association of American Geographes, v. 92,
n. 4, p. 743–755, 2002a.
FLORIDA, R. The rise of the creative class. Regional Science and Urban Economics, v. 35, n. 5, p. 593–596,
2005.
FLORIDA, R. The Rise of the Creative Class. New York: Basic Books, 2002b.
GOLGHER, A. B. A distribuição de indivíduos qualificados nas regiões metropolitanas brasileiras: a
influência do entretenimento e da diversidade populacional. Nova Economia, v. 21, n. 1, p. 109–134, abr.
2011.
GOLGHER, A. B. As cidades e a classe criativa no Brasil: diferenças espaciais na distribuição de indivíduos
qualificados nos municípios brasileiros. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 25, n. 1, p. 109–129,
2008.
HARTLEY, J. Creative Industrie. London: Wiley-Blackwell, 2005.
HECKMAN, J. J. Sample Selection Bias as a Specification Error. Econometrica, v. 47, n. 1, p. 153–161,
1979. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/1912352>.
HOX, J. J. Multilevel Analisys: Techniques and Applications. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates,
Inc., 2002.
INGLEHART, R. Culture shift in advanced industrial society. Princeton: Princeton University Press, 1990.
JÄGER, G. F. B. Economia criativa e seus indicadores: uma proposta de índice para as cidades brasileiras.
2014. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2014.
MACHADO, A. F.; RABELO, A.; MOREIRA, A. G. Specificities of the artistic cultural labor market in
Brazilian metropolitan regions between 2002 and 2010. Journal of Cultural Economics, v. 37, p. 1–15, 2013.
MACHADO, A. F.; SIMÕES, R. F.; DINIZ, S. C. Urban Amenities and the Development of Creative
Clusters: The Case of Brazil. Current Urban Studies, v. 01, n. 04, p. 92–101, 2013.
MARKUSEN, A.; SCHROCK, G. The artistic dividend: Urban artistic specialisation and economic
development implications. Urban Studies (Routledge), v. 43, n. 10, p. 1661–1686, 2006.
MENGER, P. M. Artistic Labor Markets: Contingent Work, Excess Supply and Occupational Risk
Management. In: GINSBURGH, V.; THORSBY, D. (Org.). Handbook of the Economics of Art and Culture.
Amsterdam: Elsevier, 2006. p. 765–811.
MINCER, J. Labor Force Participation of Married Women: A Study of Labor Supply. In: LEWIS, H. G.
(Org.). . Aspects of Labor Economics. Princeton: Princeton University Press, 1962. p. 63–106.
MORENOFF, J. D. Neighborhood Mechanisms and the Spatial Dynamics of Birth Weight. American
Journal of Sociology, v. 108, n. 5, p. 976–1017, 2003.
RAUDENBUSH, S. W.; BRYK, A. S. Hierarchical Linear Models: Applications and Data Analysis
Methods. 2. ed. Thousand Oaks: Sage Publications, 2002.
SANTOS JÚNIOR, E. R.; MENEZES FILHO, N.; FERREIRA, P. . Migração, seleção e diferenças regionais
de renda no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 35, n. 3, p. 299–331, 2005.
SILVA, F. Economia e política cultural: acesso, emprego e financiamento. Coleção Cadernos de Política
Cultural, v. 3, n. Brasília: Ministério da Cultura, 2007.
SNIJDERS, T. A. B.; BOSKER, R. J. Multilevel analysis: An introduction to basic and advanced multilevel
modeling. [S.l.]: SAGE Publications, 1999.
STEINER, L.; SCHNEIDER, L. The happy artist: An empirical application of the work-preference model.
Journal of Cultural Economics, v. 37, n. 2, p. 225–246, 2013.
THROSBY, D.; THOMPSON, B. The Artist at Work. Sydney: Australia Council, 1995.
TOLILA, P. Cultura e Economia: problemas, hipóteses, pistas. São Paulo: Iluminuras Itaú cultural, 2007.
VIVANT, E. O que é uma cidade criativa? São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2012.