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DESENVOLVIMENTO E TESTE DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA A SUPERAÇÃO DE OBSTÁCULO EPISTEMOLÓGICO. Leny Pereira Pardim, [email protected] Alexandre Geraldo Viana Faria, [email protected] IFMS/COXIM Resumo Nossa pesquisa desenvolveu-se qualitativamente com professores do ensino básico na cidade de Coxim –MS, caracterizou-se por ser exploratória, descritiva e os dados coletados foram tratados por meio da técnica de análise de conteúdo. Foram utilizados os pressupostos teóricos de Gaston Bachelard(1996), que nos mostraram possíveis dificuldades no conteúdo de química, e as contribuições de Jean-Pierre Astofi(1994 , que nos indicaram as possibilidades de superação dessas dificuldades. Por meio de um curso de formação continuada de 40 horas, preparamos esses professores para que pudessem aplicar aos seus alunos uma sequência didática que possibilitasse a identificação, a fragilização e a superação de um obstáculo epistemologico. Os resultados preliminares obtidos com essa ação indicam que essa preparação se mostrou eficiente. Palavras chave: Obstáculos Epistemológicos, misturas, formação continuada. 1. Introdução A formação continuada e a constante atualização dos conhecimentos dos professores é que poderá contribuir na 1

DESENVOLVIMENTO E TESTE DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA A SUPERAÇÃO DE OBSTÁCULO EPISTEMOLÓGICO

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DESENVOLVIMENTO E TESTE DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA A SUPERAÇÃO DE OBSTÁCULO EPISTEMOLÓGICO.

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DESENVOLVIMENTO E TESTE DE SEQUNCIA DIDTICA PARA A SUPERAO DE OBSTCULO EPISTEMOLGICO.Leny Pereira Pardim, [email protected] Geraldo Viana Faria, [email protected]/COXIMResumo

Nossa pesquisa desenvolveu-se qualitativamente com professores do ensino bsico na cidade de Coxim MS, caracterizou-se por ser exploratria, descritiva e os dados coletados foram tratados por meio da tcnica de anlise de contedo. Foram utilizados os pressupostos tericos de Gaston Bachelard(1996), que nos mostraram possveis dificuldades no contedo de qumica, e as contribuies de Jean-Pierre Astofi(1994 , que nos indicaram as possibilidades de superao dessas dificuldades. Por meio de um curso de formao continuada de 40 horas, preparamos esses professores para que pudessem aplicar aos seus alunos uma sequncia didtica que possibilitasse a identificao, a fragilizao e a superao de um obstculo epistemologico. Os resultados preliminares obtidos com essa ao indicam que essa preparao se mostrou eficiente.Palavras chave: Obstculos Epistemolgicos, misturas, formao continuada.1. Introduo A formao continuada e a constante atualizao dos conhecimentos dos professores que poder contribuir na aprendizagem de estudantes. Dentro desta perspectiva, importante oportunizar cursos de aperfeioamento, palestras, minicursos e outros, possibilitando um repensar nas prticas docentes, e que poder proporcionar um olhar ampliado ao processo de ensino aprendizagem. Com o intuito de atender essa perspectiva educacional, desenvolvemos uma formao continuada para professores de cincias de escolas pblicas da cidade de Coxim-MS, no cmpus do IFMS, para 10 professores. Num primeiro momento foi apresentado o conceito de obstculo epistemolgico de Gaston Bachelard (1996), que mostra possveis dificuldades na compreenso de conceitos cientficos, juntamente com as contribuies de Jean-Pierre Astofi (1994), que possibilita a superao de obstculos.Faria (2006), utilizando a ideia de obstculos epistemolgicos, Identificou problemas na incompreenso de estudantes com relao aos conceitos cientficos envolvidos na heterogeneidade do sistema gua e leo, j que esses insistentemente atribuem densidade o motivo desse fenmeno, sendo que apenas mostrar aos estudantes os conceitos corretos no suficiente para compreend-los. Com a utilizao da sequncia didtica desenvolvida por Faria (2010), que proporciona a superao dos obstculos epistemolgicos, que o aluno possa a apresentar corretamente os conceitos que se articulam para explicar a imiscibilidade do sistema gua e leo. Essa sequncia didtica foi utilizada no treinamento dos professores, por meio de uma formao continuada de 40 horas.Avaliamos se essa sequncia didtica, quando utilizada por esses professores, tambm teria a mesma eficcia como meio de fragilizar, transpor e destruir os possveis obstculos epistemolgicos sobre a compreenso do sistema gua e leo. Os dados coletados foram analisados por meio da tcnica de anlise de contedo que para Minayo (2006) uma forma de expressar dados colhidos qualitativamente, mas que apresenta a mesma lgica de dados quantitativos.2. Fundamentao TericaA formao continuada de professores acontece, principalmente, para o aperfeioamento profissional, mas tambm para reflexes crticas sobre a pratica pedaggica. A melhoria no ensino e na aprendizagem passa pela preocupao do professor em se melhorar como profissional. Em Mato Grosso do Sul a formao continuada de professores acontece nas escolas estaduais e municipais, sob orientaes de diretores e coordenadores, porm poucas vezes com a participao de pesquisadores dos mecanismos de ensino e aprendizagem. A boa formao e a constante atualizao de professores podem possibilitar uma aprendizagem melhor aos estudantes. Neste contexto, importante oportunizar cursos de aperfeioamento, possibilitando uma nova reflexo sobre as prticas docentes. Conforme mencionado nos Parmetros Curriculares Nacionais (BRASIL 1997), refletir sobre a prtica docente uma tarefa que deveria ser realizada constantemente, pensando-se no que se est fazendo, no que realmente precisa ser feito e em como desenvolver essa questo.

A importncia da formao continuada de professores reforada por Bachelard, desde que a escola atue de maneira articulada, organizada, preparando formaes que possam relacionar a realidade escolar com conceitos educacionais que atendam a especificidades, com impactos direto no processo de ensino e aprendizagem e consequentemente no desempenho dos estudantes. Bachelard v o conhecimento como uma relao dialtica entre a razo e a experincia. Para ele, em cincia, preciso saber formular problemas. Todo conhecimento resposta a uma pergunta (...). Nada evidente. Tudo construdo. (Bachelard, 1996, p.18). No caso da educao de professores podemos, portanto, ver o instinto formativo, definido por Bachelard (1983), como uma das condies necessrias para a formao profissional do professor, pois este instinto que pode levar a uma prtica reflexiva e a um constante aprender a ensinar. Podemos afirmar que a atividade docente pode e deve ser desenvolvida por meio das constantes problematizaes enfrentadas em sala de aula e, portanto, atravs da reflexo consciente e constante. Assim, o aprendizado docente se torna uma atividade dinmica que se d por dilogo entre a ao e a reflexo.

Um dos problemas enfrentados pelos professores em sala de aula identificar as razes que fazem com que o aluno no aprenda, em especial os professores de qumica, os quais se deparam diariamente com obstculos epistemolgico que segundo Bachelar (1996) impedem, estagnam e no contribuem para o desenvolvimento cientfico. Ele ainda defende a ocorrncia do erro para que se d a aprendizagem e esta viso, acaba permitindo ao professor ousar em sala de aula sem a exagerada preocupao de errar, assim, a rompendo assim, com prticas tradicionais que s se preocupam com a transmisso do conhecimento. A (re)estruturao das prticas e a criao de novas formas de trabalho esto intrinsecamente ligadas a no ter medo de errar, portanto, a reflexo, a constante preocupao em se renovar e a oportunizao de novas tcnicas por meio de cursos de formao pode ajudar o professor a romper com uma prtica tradicionais em sala de aula fundamentada no ensino autoritrio. 3. Objetivo GeralContribuir para superao das dificuldades dos alunos do ensino mdio na compresso dos conceitos cientficos relativos densidade a miscibilidade por meio de formao continuada de seus professores de cincia.

3.1 Objetivo Especfico Discutir a noo de obstculo epistemolgico com os professores de cincias.

Apresentar uma sequncia de didtica que produza a superao de obstculos epistemolgico.

Avaliar a eficcia da sequncia didtica usada pelos professores de cincias.

4. MetodologiaA pesquisa, quanto aos seus objetivos, caracterizou-se como exploratria e descritiva e os dados coletados diretamente dos participantes da pesquisa. Apresentamos uma sequncia de didtica, balizada pelas ideias de Gaston Bachelard (1996) e com as contribuies de Jean-Pierre Astofi (1994) que foi avaliada por de uma abordagem qualitativa de pesquisa.

A pesquisa foi realizada com um grupo de professores de escolas Estaduais de Coxim MS, constitudo por 10 professores de cincias, que participaram de um curso de formao continuada de 40 horas, aplicaram os conhecimentos adquirido ao longo do curso em seus alunos e que foram avaliados quanto ao aprendizado de conceito que norteiam o processo de miscibilidade gua e leo.

No primeiro momento da formao continuada foi apresentado a sequncia didtica e discutido com todos a noo de obstculo epistemolgico. No segundo momento foi desenvolvido no laboratrio de qumica que permite a superao do obstculo, no terceiro momento os professores aplicaram o que aprenderam na formao para seus alunos, no quarto momento os alunos foram avaliados quanto a aprendizado no processo de miscibilidade gua e leo. Como instrumento de coleta de dados foram utilizados um questionrio com perguntas abertas abordando o tema em questo para os professores, um relatrio escrito aps uma semana da interveno didtica e um questionrio adaptado de pesquisa feita com os alunos do ensino mdio sobre as concepes de densidade.

Na anlise de contedo, utilizamos trs etapas de execuo: Uma anlise previa, em que organizamos as respostas dos questionrios em seguida, uma anlise exploratria, que consistiu em classificar as respostas, categorizando-as; e, por ltimo, a interpretao, que consistiu na aplicao da anlise descritiva das questes.

Bachelard (1996) ressalta que a realizao de um experimento requer a formulao de um problema, pois o problema que d experincia o sentido racional. Os questionamentos e as discusses suscitadas, a partir da colocao de um problema, rompem com a ideia da realizao de uma atividade experimental para verificar o que diz a teoria. A formao pedaggica foi dividida em 6 etapas. Utilizamos em nossa pesquisa, uma sequncia didtica proposta por Faria (2010), que utiliza os mesmos referenciais de nossa pesquisa.

Baseado nessa sequncia, para conhecer o obstculo distribumos aos professores uma folha contendo duas questes abertas para serem respondidas, utilizando seus conhecimentos em cincias, com o intuto de investigar se os resultados observados em Faria (2010) se repetiriam. Avaliamos as respostas obtidas, que confirmam Faria (2010), conscientizamos os professores de que existem pesquisas que a comprovam e que a resposta se constitui em obstculos compreenso da explicao aceita cientificamente.Discutimos com a participao dos professores, sem que seus autores fossem identificados, as respostas obtidas. Durante esse processo importante explicitar a todos que a inteno da formao ser justamente tentar resolver a dificuldade observada em compreender os motivos da imiscibilidade do sistema gua e leo e tentar superar a concepo equivocada de que a densidade a responsvel pela heterogeneidade do sistema gua e leo. Desenvolvemos uma discusso com os professores, mostrando que a definio de densidade est, na maioria dos casos, disseminada entre eles e, quase sempre, de forma incorreta, mas que ter a definio correta no significa entender os conceitos envolvidos no assunto. Uma forma de comprovao perguntar o que densidade?, e invariavelmente temos alguns professores que responderam massa por volume. Logo aps foi executado um experimento explicando a densidade onde mostrou que a densidade que determina qual o mximo de matria que se pode colocar em determinado espao. Para esclarecer melhor a questo o segundo experimento com o objetivo de fragilizar no conceito do professor de forma que seja mais possvel aceita-lo como verdadeiro, pois com as novas informaes obtidas a partir da experincia, no se poder creditar diferena de densidade uma justificativa plausvel a miscibilidade de qualquer sistema includo, ai, gua e leo.

Para superar os obstculos desenvolvemos o terceiro experimento, que possvel que o professor tenha reconhecido que a diferena de densidade realmente no justifica o tipo de comportamento de um sistema entre lquidos, mas provavelmente ainda no produziu respostas que pudessem explicar essa questo.Aps a formao continuada os professores participantes foram convidados aplicarem os conhecimentos obtidos com o curso em seu alunos do ensino mdio. Acompanhamos uma dessas intervenes que iniciou com a apresentao dos objetivos da aula e com as perguntas: gua e leo se misturam? e Utilizando seus conhecimentos de qumica explique por que, sendo postas no quadro para que fossem respondidas e para que em seguida nos entregassem. Os Professores recolheram as folhas e antes mesmo da leitura de suas respostas, comentaram que a resposta esperada envolveria, em sua maioria, a palavra densidade o que foi confirmado por vrios alunos. Em seguida, explicaram a definio cientificamente aceita para densidade, demonstrando em detalhes o seu significado e utilizando exemplos cotidianos. Mostram exemplos de materiais pouco densos e de materiais mais densos para melhor entendimento da diferena nos espaos ocupados, utilizaram representaes submicroscpicas de alguns materiais. A partir desse instante, foi discutido o conceito de massa com nfase nas informaes adequadas ao ensino mdio e o conceito de volume. Percebemos que alguns relacionam massa ao peso e volume ao tamanho. Foi mostrado que, ao perguntar se gua e leo se misturam, todos responderam que no. No entanto, quando o professor disse que essa resposta est errada, percebemos certa incredulidade de alguns que comentaram que, sempre entenderam que gua e leo no se misturavam.Em seguida os professores mostraram experimentos distintos que fizeram com que os alunos refletssem melhor suas respostas, pois claramente fragilizavam as bases dos seus conhecimento at ento.5. Resultados O trabalho desenvolvido at aqui se mostrou eficiente na superao das dificuldades dos alunos do ensino mdio na compresso dos conceitos cientficos relativos densidade a miscibilidade e os professores da rede pblica passaram a conhecer a noo de obstculo epistemolgico. Com isso passaram a se preocupar com a formao desses obstculos em seus alunos, modificando aspctos de sua metodologia.

Tiveram contato com uma sequncia de didtica que produz a superao de obstculos epistemolgico e passaram a utiliz-la. A sequncia se mostrou eficiente para contribuir com a superao das dificuldades dos alunos do ensino mdio na compresso dos conceitos cientficos relativos densidade e a miscibilidade, conforme Faria (2010) havia sugerido.6. Consideraes FinaisNo decorrer do curso de formao continuada para professores de escolas pblicas de Coxim MS, foi possvel perceber que, por meio das discusses e das reflexes feitas a partir da prtica pedaggica, os professores conseguiram perceber as contribuies de Bachelar, no que diz respeito formao de obstculos, bem como as contribuies de Astolfi para a superao desses obstculos, consequentemente procuraram evitasr a formao dos obstculos epistemolgico, que impendem o aluno aprender cincias e quando identificado sua presena, ,passaram a utilizar a sequncia didtica proposta para a superao dos mesmos, o que se mostrou eficiente como uma ferramenta ao ensino de qumica.8. RefernciasASTOLFI, J.P. El Trabajo Didctico de los Obstculos, en el Corazn de los Aprendizajes Cientficos, Enseanza de las Ciencias, v.12 n.2, p.206 2161994.BACHELARD, G. A formao do Esprito Cientfico: Contribuio para uma psicanlise do conhecimento. (Traduo de Estela dos Santos Abreu) Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.BACHELARD, G. Epistemologia. (Texto organizado por Dominique Lecourt) Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983.BRASIL. Secretaria da Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais. Braslia: MEC/SEF, 1997. FARIA, A.G.V. Por Que gua e leo No se Misturam? Trabalho de concluso de curso. Campo Grande: UFMS, 2006.MINAYO, M. C. de S. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Sade. 9 ed. So Paulo: Hucitec, 2006.Figura 1 - Aula dos professores para alunos da escola Pblica. Foto: Aline Mota

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