43
UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO INICIAL DE UM QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DO VÍNCULO CONTINUADO APÓS O LUTO (QAVCAL) Joana Castanho Moura Semedo MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicoterapia Cognitiva- Comportamental e Integrativa) 2017

DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO INICIAL DE UM QUESTIONÁRIO DE …

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO INICIAL DE UM

QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DO VÍNCULO

CONTINUADO APÓS O LUTO (QAVCAL)

Joana Castanho Moura Semedo

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-

Comportamental e Integrativa)

2017

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO INICIAL DE UM

QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DO VÍNCULO

CONTINUADO APÓS O LUTO (QAVCAL)

Joana Castanho Moura Semedo

Dissertação orientada pelo Professor Doutor João Manuel Moreira

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-

Comportamental e Integrativa)

2017

i

Agradecimentos

Ao meu orientador de dissertação Professor Doutor João Moreira, por todos os

ensinamentos, sempre úteis, por toda a disponibilidade, a qualquer hora, por todo o

empenho e motivação com o meu projeto.

A todos os que ocuparam o seu tempo e se voluntariaram a participar na minha

investigação, a vossa colaboração foi imprescindível.

À minha orientadora de estágio Dra. Helena Salazar, pela sugestão do tema, e

também pelos conhecimentos que me transmitiu ao longo deste ano letivo.

A todos os Professores, e em especial aos do núcleo, agradeço profundamente

todas as aulas, todas as horas de atendimento, todos os conteúdos lecionados. Agradeço

ainda os vossos exemplos enquanto pessoas e profissionais que são, ajudaram a definir as

metas e objetivos que um dia espero alcançar.

A todos os meus colegas e amigos que a faculdade me trouxe, especialmente

aqueles que me acompanharam neste percurso desde o início e até ao fim, agradeço terem

dado cor aos momentos mais cinzentos e de maior desespero nas alturas de avaliações e

pelos momentos felizes e partilhas que tivemos, tornaram este percurso único, como

vocês tão bem sabem.

Aos meus pais e à minha irmã, por todo o amor, apoio, preocupação, carinho e

ainda a enorme capacidade de tolerância aos meus momentos de maior stress, durante

todo o percurso académico e na minha vida, sem vocês este sonho não estaria prestes a

concretizar-se.

Ao meu namorado, faltam palavras para agradecer, porque sabes que foste

inalcançável em apoio, em preocupação! Agradeço as palavras de motivação e até as mais

duras nos momentos de maior fraqueza e falta de confiança, que também foram

importantes. És um exemplo de determinação, de pessoa que luta para atingir objetivos e

só pára quando alcança o topo. Obrigada por toda a ajuda durante o meu percurso

académico e ainda por me permitires e aceitares como sou.

Aos meus restantes amigos e a todos aqueles que de alguma forma zelaram por

mim, também foi importante o vosso afeto, estou grata.

Por fim, dedico este trabalho a todos aqueles que fizeram parte da minha vida, mas

que já não se encontram fisicamente presentes, principalmente os meus avós.

Contribuíram para aquilo que sou hoje e recordo com saudade os bons momentos,

mantenho-vos vivos através do que de vós perdura em mim.

ii

“Não existe partida para aqueles que permanecerão

eternamente nos nossos corações”

Caio Fernando Abreu

iii

Resumo

O luto de alguém significativo é um acontecimento potencialmente traumático e

pode trazer consequências negativas para a saúde mental e física dos envolvidos. Existem

teorias que consideram que a quebra do vínculo será a melhor forma de ultrapassar esse

acontecimento, mas cada vez mais se considera a perspetiva de que a continuação dos

laços poderá ser adaptativa. Para além dessa controvérsia existente e a dificuldade em

demonstrar a funcionalidade da continuação dos laços, denota-se uma escassez de

instrumentos pertinentes que possam ser usados na prática clínica. Neste sentido, foi

elaborado o Questionário de Avaliação do Vínculo Continuado Após o Luto (QAVCAL),

a partir de 37 itens representativos das várias facetas do vínculo continuado, como a

presença controladora, a manutenção segura, o evitamento, entre outros. Efetuada uma

análise em componentes principais (N=174), diferenciaram-se três domínios

(Continuação de Laços Adaptativos, Continuação de Laços Desadaptativos e

Evitamento), resultando numa versão final com nove itens e valores aceitáveis dos

coeficientes alfa de Cronbach. As correlações entre as escalas e outros instrumentos

mostram que existem associações positivas entre os Laços Continuados Adaptativos e

algumas variáveis relativas ao funcionamento adaptativo, e entre os Laços Continuados

Desadaptativos e o Evitamento e as variáveis relativas à presença de patologia, incluindo

o luto patológico. A presença de laços continuados está negativamente relacionada com o

estilo evitante, e a de Laços Continuados Desadaptativos com o estilo ansioso. Estes

resultados demonstram que existem diferentes manifestações de laços continuados após o

luto, com diferentes consequências em termos da saúde mental dos indivíduos. Assim, os

resultados encorajam a prosseguir o estudo deste questionário, a fim de disponibilizar um

instrumento válido e útil, quer para a avaliação clínica quer para a investigação sobre o

papel dos laços continuados na adaptação e acomodação à morte de uma figura

significativa.

Palavras-chave: luto, continuação, laços, vínculo, adaptação, desadaptação.

iv

Abstract

Losing a significant other is a potentially traumatic event that can bring negative

consequences to the mental and physical health of those affected. There are theories that

sustain that breaking the bond with the deceased is the best way to overcome this event,

but the perspective that continuing bonds may be adaptive has gained growing

acceptance. In addition to the existing controversy and to the difficulty in demonstrating

the functionality of continuing bonds, a scarcity of relevant assessment instruments for

use in clinical practice is also felt. With this in mind, the Post-Bereavement Continuing

Bonds Assessment Questionnaire (QAVCAL) was developed, starting from a set of 37

items representative of the several facets of continuing bonds, such as controlling

presence, secure maintenance and avoidance, among others. A principal components

analysis (N = 174) differentiated three domains (Adaptive Continuing Bonds,

Maladaptive Continuing Bonds, and Avoidance), resulting in a final version with nine

items and acceptable Cronbach’s alpha values. Correlations between the scales and other

instruments showed positive associations between Adaptive Continuing Bonds and some

variables related to positive functioning, and of both Maladaptive Continuing Bonds and

Avoidance to psychopthology-related variables, including pathological mourning. The

presence of continuing bonds was negatively related to the avoidant attachment style, and

that of Maladaptive Continuing Bonds to the anxious style. These results show that there

are distinct manifestations of continuing bonds after bereavement, with different

consequences in terms of the mental health of individuals. Therefore, results encourage

the continuing study of this questionnaire, so as to make available a valid and useful

instrument, both for clinical assessment and for research on the role of continuing bonds

in adaptation and acommodation to the death of a significant figure.

Keywords: bereavement, continuing, bonds, attachment, adaptive, maladaptive.

v

Índice

Introdução ....................................................................................................................................... 6

Método .......................................................................................................................................... 16

Resultados ..................................................................................................................................... 20

Discussão ...................................................................................................................................... 26

Referências Bibliográficas .......................................................................................................... 32

6

Introdução

O luto e o processo de luto são temáticas muito estudadas pela psicologia clínica,

devido à influência que têm no bem-estar, funcionalidade e saúde mental dos indivíduos

que estão a enfrentar uma perda de alguém que lhes é significativo. Muitas vezes esse

tema surge na terapia como precipitante, distal ou proximal, do problema, denotando-se a

recorrência e pertinência deste estudo. É impreterível continuar a investigar a temática do

luto, em particular aperfeiçoando os instrumentos de avaliação que existem, colmatando

as suas falhas e criando novos que abranjam áreas ainda não avaliadas. Ora, será esse o

objetivo deste projeto de investigação: criar um questionário para auxiliar na prática

clínica, que permita avaliar expressões de laços continuados no processo de luto.

Ao longo do tempo, o significado da morte não tem sido o mesmo. Antigamente a

morte era vista como natural e inevitável e hoje em dia, aliado ao aumento do

conhecimento e da técnica, tem-se vindo a aumentar a esperança de vida e a morte tem

vindo a ser encarada como sinónimo de impotência e fracasso (Delalibera, 2010).

A maioria das pessoas em alguma ocasião das suas vidas depara-se pelo menos

com uma situação de perda e muitas delas lidam de forma eficaz com essa experiência.

Apesar de existirem diversas formas de enfrentá-la (Bonanno, 2004), é sabido que a

privação de uma figura significativa é um acontecimento altamente disruptivo e é seguido

por um período limitado de tempo de luto (Shear & Shair, 2005).

Vários foram os autores e as escolas que procuraram analisar o luto enquanto

processo, sendo que o pioneiro foi Freud, em 1917, que descreveu o luto como um

processo de desinvestimento de energia psíquica, temporário, que originava uma

hipercatexia das memórias do objeto perdido, ou seja, no luto considerava existir um

excesso de concentração de energia mental e emocional, que iria diminuindo com o

tempo (de Almeida, 2015). Para além disso, fez uma distinção entre a melancolia e o luto,

na sua obra Luto e melancolia (1917), caracterizando o luto como afeto normal e a

melancolia como a perda de libido, perda de interesse pelo mundo, da capacidade de

amar, insónias frequentes, e perda objetal retirada da consciência, o que não aconteceria

no considerado luto normal, ainda que o sujeito apresente algumas características

descritas como presentes na melancolia (Ferrari, 2006).

Ao analisar o significado literal da palavra, do latim, luto diz respeito ao

sentimento de pesar pela morte de alguém (Debastiani et al., 2013). Já a World Health

7

Organization (WHO, 2004) caracterizou-o como um processo de perda e de posterior

recuperação, e que se encontra normalmente associado a um conjunto de reações

emocionais, físicas, comportamentais e sociais.

Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-

V; Association, 2013), o processo de luto normal decorre pela perda de alguém com quem

existia uma relação próxima e persistente, durante aproximadamente, 12 meses após a

perda, interferindo com o funcionamento normal do indivíduo.

Quando se fala em luto saudável, o que normalmente os sujeitos experienciam é

uma tristeza intensa pela ausência da figura amada, associada com ansiedade, e

pensamentos e imagens intrusivas acompanhadas de emoções disfóricas. Estes sintomas

podem ocorrer durante um período de tempo de semanas até meses, no entanto não são

persistentes e após esse período as pessoas voltam a sentir bem-estar e emoções positivas

(Bonanno, Moskowitz, Papa, & Folkman, 2005).

O luto não é considerado uma perturbação médica ou psiquiátrica, é sim uma

reação normal e esperada face a uma situação stressante. A sua duração depende do

sucesso do trabalho de luto da pessoa, e existia a ideia psicanalítica que, muitas vezes,

havia supressão do mesmo, pois determinados indivíduos tentariam evitar o stress intenso

e a expressão de emoções dolorosas, que são necessários (Lindemann, 1944).

Vários autores procuraram caracterizar as fases do luto entre eles Leick e

Davidsen-Nielsen (1991), Worden (2008), e de Almeida, Garcia-Santos, e Haas (2011). A

primeira fase, por todos os autores considerada consiste em aceitar a realidade da perda,

que caso não seja conseguida pode levar a choque e negação. Estas reações constituem

uma defesa que a mente cria para tentar lidar com a sobrecarga da realidade.

A segunda fase, ainda que com diferentes designações, como gestão de emoções,

processamento ou elaboração da dor provocadas pela perda, está relacionada com o lidar

com um conjunto de sentimentos desencadeados no luto, como desesperança, medo,

sensação de abandono, culpa, raiva. Worden (2008) acrescentou que estes sentimentos

podem não ser sentidos por todas as pessoas em situação de luto, nem com a mesma

intensidade e/ou forma.

Da terceira tarefa fazem parte a restauração e a aquisição de novas competências,

isto é, a pessoa tem de continuar a acomodar emoções fortes, ao mesmo tempo que tenta

recuperar aquilo que era o seu quotidiano antes do processo de luto. Para Worden (2008),

esse ajustamento ocorre em três áreas distintas: o ajustamento externo, ou como a morte

afetou a vida diária; o ajustamento interno, ou a forma como a morte afetou o sentido do

8

self e o ajustamento espiritual, ou a forma como a morte afetou as crenças, valores e

assunções sobre o mundo do indivíduo.

A última fase, considerada por estes autores, diz respeito a encontrar uma

conexão duradoura entre o falecimento e a nova vida, e coloca-se a hipótese sobre a

perspetiva da continuação dos laços com o falecido, que permitirá o desenvolvimento

normal da vida (Worden, 2008). Leick e Davidsen-Nielsen (1991) e de Almeida, Garcia-

Santos e Haas (2011), referiram-se a esta fase em termos de reinvestimento de energia

emocional e funcional.

Schut (1999) dedicou-se também ao estudo do processo de luto e desenvolveu o

Modelo do Processo Dual de Coping, que diz respeito ao evento stressor, às estratégias

cognitivas e ao processo dinâmico de oscilação, que foi concebido por este autor. Uma

anotação importante é que o coping considerado não está presente em todo o tempo de

luto, mas embutido naquilo que é a vida diária das pessoas enlutadas. Desta forma,

existem dois tipos de coping envolvidos no processo de luto saudável, sendo um deles

aquele que é o orientado para a perda, e para o laço com a pessoa perdida e envolve

ruminação sobre o falecido, tristeza, recordar fotos antigas, imaginar reações e

sentimentos da pessoa.

Em simultâneo, existe também o coping orientado para a restruturação, pois

perante a morte de uma figura significativa é preciso para além de chorar a perda,

existirem ajustamentos às mudanças que ocorreram no mundo externo e às consequências

secundárias da mesma, como por exemplo lidar com tarefas que eram função dessa

pessoa, se for pertencente ao núcleo familiar. O que vai depender do tipo de perda que a

pessoa está a enfrentar, pois a morte de um filho vai implicar ajustamentos diferentes à

morte do cônjuge. Ocorre um processo de oscilação entre estes dois processos, isto é,

existe uma alternância entre o coping orientado para a perda e o coping orientado para a

restauração. A oscilação é consciente, uma vez que a pessoa escolhe se pretende ser

confrontada pela perda ou estar dedicada a outras tarefas. Contudo, sabe-se que no início

do processo de luto, o coping é mais orientado para a perda e posteriormente domina a

orientação para a restauração.

Vários fatores são variáveis intervenientes no processo de luto, entre eles a idade,

o sexo, o tipo e qualidade da relação com a pessoa falecida, a previsibilidade ou

imprevisibilidade da morte e até mesmo a presença ou ausência de crenças religiosas

(Stroebe, Folkman, Hansson, & Schut, 2006). Há estudos que concluíram que as mulheres

utilizam mais estratégias emocionais para lidar com o luto, enquanto os homens são

9

menos confrontativos, e, como tal, expressam menos os sentimentos negativos que as

mulheres. Para além disso, existe a influência cultural, sendo que em Portugal a tradição é

que pessoas enlutadas vistam totalmente de preto, as mulheres cubram a cabeça com

lenço e os homens deixem crescer o bigode e a barba (Rijo, 2004). No entanto, cada vez

mais, nos dias de hoje, as pessoas manifestam ou expressam de forma diferente a sua

vivência no luto.

Estes fatores intervenientes podem facilitar ou dificultar o processo de luto

saudável, previamente descrito. Para além disso, é um facto que alguns indivíduos

recuperam de uma experiência de separação e perda de forma mais adaptativa e completa

do que outros (Bowlby, 2010), e isso poderá dever-se a outras variáveis, entre elas o estilo

de vinculação.

Luto e Vinculação

Um autor que se dedicou ao estudo da temática da vinculação, associada ao luto e

à perda foi Bowlby (1982). Segundo esta teoria, a criança vai responder e reagir quando

denota sinais de inacessibilidade da sua figura de vinculação, do seu cuidador, que lhe

providencia cuidados imprescindíveis e sensação de conforto, segurança. Ora, parecem

existir semelhanças com a experiência do luto, porque nela o enlutado também perdeu

alguém amado e tem dificuldade em encontrar conforto noutras relações (Bowlby, 2008).

Ainsworth et al. (1969), procurou identificar e analisar diferenças individuais na

forma como se usa o acesso aos cuidadores para recuperar a sensação de segurança e

provocou a separação de um grupo de mães dos seus bebés, observando as reações destes

durante a presença e a ausência das figuras de vinculação (Situação Estranha). Os

comportamentos de vinculação incluem expressões como sorrir e chorar, e também

vocalizações e outros mais significativos como aproximar-se, procurar, apertar, agarrar.

Esta experiência continha diversos momentos, uns que induziam o comportamento de

exploração da criança e outros stressantes, como a ausência da mãe e a entrada de uma

figura estranha no quarto. Seguidamente, existia o retorno da mãe e as reações da criança

eram registadas.

Segundo as observações registadas, as crianças avaliadas foram divididas em três

grupos: as ansiosas-resistentes, as evitantes e as seguras. As crianças ansiosas-resistentes,

na Situação Estranha mostram uma tendência para continuar focadas na figura de

vinculação, mesmo quando lhes era dada oportunidade de brincar, choram

compulsivamente durante o período de separação e não recuperam a calma quando existe

10

o regresso da figura de vinculação. As crianças evitantes revelam indiferença quanto ao

paradeiro da figura de vinculação e, frequentemente, ignoram-na após o seu retorno. Por

fim, as crianças seguras encontram-se entre os dois grupos anteriores, isto é, reagem com

stress perante a separação, no entanto, quando se dá o regresso rapidamente voltam a

sentir-se felizes e confiantes para brincar e explorar.

A qualidade do vínculo que foi desenvolvido durante a infância vai se fortalecer e

tornar-se um traço individual na vida adulta que forma a base do funcionamento

psicológico diário. Um dos princípios básicos da teoria da vinculação é que o vínculo

continua a desempenhar um papel importante durante toda a vida do indivíduo,

nomeadamente na representação do self e dos outros (Bartholomew & Horowitz, 1991)

Desta forma, a vinculação segura caracteriza alguém que se sente amado e tem

expetativa de que os outros sejam responsivos; a vinculação ansiosa-preocupada indica

um sentimento de não se sentir amado associado a uma avaliação positiva dos outros; a

vinculação receosa-evitante indica um sentimento de não se sentir amado associado a uma

avaliação negativa dos outros e, por fim uma vinculação desligado-evitante está associada

a um sentimento de se sentir amado, mas tendo uma visão negativa dos outros, que resulta

em independência e evitamento de relações próximas.

No processo de luto existem, tal como na vinculação entre pais e crianças,

processos de hiperativação e de desativação, sendo que os primeiros proporcionam a

exploração do significado da perda e o encontro de novas maneiras de reorganizar a vida

sem a pessoa falecida e os segundos permitem desvincular-se momentaneamente dos

pensamentos sobre o falecido e contribuir também assim para a reorganização após a

morte, por suprimir pensamentos e sentimentos dolorosos (Mikulincer e Shaver, 2007;

Stroebe, 1998).

Fazendo uma associação com os estilos de vinculação previamente descritos e a

reação face ao luto, descreve-se os resultados de alguns estudos como é o caso de

Stroebe, Schut e Boerner (2010), Wayment e Vierthaler (2002) e Félix (2014), que

chegaram à conclusão que as pessoas com um estilo de vinculação seguro mantêm a

ligação com o falecido por forma a lidar com a perda, e gradualmente vão diminuindo as

lembranças e recordações, permanecendo dependentes emocional e materialmente dos

outros. Os indivíduos que possuem uma vinculação inseguro-evitante, frequentemente

negam a necessidade de manutenção do laço com o falecido, tentando permanecer

independentes e evitando pensamentos e lembranças que se relacionam com o falecido. Já

para aquelas pessoas que apresentam um estilo inseguro-preocupado, o laço é mantido de

11

forma disfuncional, refletindo-se em ansiedade, arrependimento, culpa, e estes

sentimentos tendem a dominar todas as relações existentes (Stroebe, Schut, & Boerner,

2010).

Revelou-se ainda que os indivíduos com um estilo de vinculação ansioso-

ambivalente exibiram maiores níveis de sintomas de depressão e ansiedade, enquanto os

evitantes são aqueles que menos emoções negativas expressam, quer no período seguido à

perda quer posteriormente, mas são os que apresentam mais queixas somáticas (Wayment

& Vierthaler, 2002). Félix (2014) acrescentou, ao estudar viúvas, que aquelas que

apresentavam um estilo de vinculação seguro manifestaram menos sintomas de luto do

que aquelas que apresentam estilos preocupado e evitante-receoso, que mostram uma pior

adaptação ao falecimento do cônjuge.

Perspetiva da Continuação dos Laços

Um luto saudável é aquele em que o indivíduo se conforma que ocorreu uma

mudança no seu mundo exterior e esta despoleta uma série de modificações internas e que

implicam uma reorganização das representações do sujeito. O luto bem-sucedido não é

apenas um desligar da relação que se tinha com a figura significativa (Field, 2006), e a

teoria da vinculação, já descrita, foi a primeira a falar numa perspetiva da continuação dos

laços, sem se referir a tal manifestação como patológica.

A um nível mais concreto, a morte significa a perda física de alguém que se ama,

no entanto não significa obrigatoriamente que a relação, mais especificamente o vínculo,

tenha de acabar. Ainda que transformado, pode continuar a existir, ou seja, existe uma

continuação do laço (Root & Exline, 2014). Existe evidência científica de que as pessoas

que mantêm a ligação com a pessoa falecida, quer através de pensamentos, sonhos,

conversas, guardar pertences da pessoa, revelam um luto adaptativo. Desta forma, a

manutenção da ligação parece contribuir para facilitar o lidar com a experiência de

transição do passado para o presente e futuro (Canavarro, 2004).

Segundo esta perspetiva, quando o laço entre a pessoa em luto e o falecido

perdura, ainda que apenas interno, esta representação que se mantém funciona como

sustento da vinculação (Field, 2006). Para além da continuação do vínculo, a manutenção

de laços tem outras funções, entre elas ajudar a dar suporte à identidade do enlutado, pois

perante as mudanças que ocorreram após a morte, serve como uma função de

acomodação.

12

Alguns autores que estudaram expressões e manifestações de laços foram Klass

(1993), Silva (2014) e Reisman (2001), em que pais de crianças que faleceram relatam a

perda como correspondente a uma falta de si próprios e a forma como a tentam combater

é através de uma interação contínua com a representação interna que têm do filho perdido

(Klass, 1993). Existe uma grande diversidade de formas de manutenção do vínculo,

podendo corresponder a memórias, sentimentos e comportamentos face à pessoa falecida

e expressar-se através de sensações físicas (e.g., confundir o falecido na rua com outras

pessoas, ouvir a voz ou sentir o cheiro dele) ou ainda outros como visitar o local onde

repousa e até lugares que o falecido frequentava antes da morte (Silva, 2014).

A acrescentar que foi feita uma distinção relevante entre expressões de vínculo de

ordem superior, que seria a manutenção do laço de forma simbólica, saudável (e.g., usar

objetos simbólicos como fotografias), para criar um laço indireto e abstrato que permite à

pessoa ultrapassar o acontecimento dramático e entre expressões de vínculo de ordem

inferior, disfuncional (e.g., não se desfazer das roupas e pertences do falecido), que seria

como se o laço fosse direto, concreto e a pessoa ainda estivesse viva (Reisman, 2001).

Ora, existe uma diferença considerável quando se pensa de forma positiva sobre a

figura amada perdida, nas suas qualidades, em usá-las de forma incorporada nos

objetivos, entre sentir-se preso e dominado pela pessoa e confundir a realidade e negar a

morte (Field, 2006). Se a continuação de laços pode ser saudável e funcionar como

coping e ajustamento à perda da figura amada, pode também tornar-se num impedimento

à resolução do luto. Isto quando representa uma estratégia de evitamento do confronto

com a perda e conexão direta com o falecido, pois perpetua tristeza e angústia da pessoa

em luto (Root & Exline, 2014).

Se formos atentar de novo à teoria de Bowlby (1982), ao diferenciar vários tipos

de vinculação, mostra as várias pistas que foram sendo deixadas de que existirão também

vários tipos de continuação do vínculo, menos e mais adaptativas, no processo de lidar

com a perda e morte de alguém significativo. Desta forma, hoje em dia existem dois

paradigmas conflituantes para quem se dedica ao estudo do luto, sendo que um deles

valoriza a quebra dos laços e o outro a continuação do vínculo (Boerner & Heckhausen,

2003).

Existem dificuldades significativas para os clínicos que trabalham nesta área em

diferenciar entre o que é normativo do que é patológico na continuação do vínculo com o

falecido. Alguns exemplos são as alucinações e ilusões que são expressões de

continuação de laços que são frequentes e normais no início do processo de luto e, como

13

tal, não devem ser considerados sinais de que irá ocorrer um luto desadaptativo. Só que,

se ocorreram algum tempo depois da morte, podem ser indicativas de uma falha em

aceitar que não se vai recuperar a proximidade física da pessoa amada (Field, Gao, &

Paderna, 2005).

Portanto, existem alguns critérios que são tomados em consideração, atualmente,

como forma de diferenciação entre o saudável e o patológico, de destacar: há quanto

tempo decorreu a morte, em que quanto mais tempo, mais a continuação do laço será

desadaptativa e também quando existe uma falha em distinguir entre aquilo que era

passado e o presente, ou seja, existe uma dificuldade em reconhecer a fronteira entre a

vida e a morte da figura significativa (Field, 2006). Ainda assim, existe uma necessidade

de gerar competências e instrumentos mais eficazes para estudar estes processos.

Avaliação de Expressões e Manifestações de Luto

A maioria das pessoas que estão num processo de luto experienciam as fases

supramencionadas, e enfrentam o que se designa por luto saudável. No entanto, estudos

indicam que cerca de 10% dos indivíduos que perderam alguém experienciam o que se

designa por luto patológico. Frequentemente, estas reações são mais frequentes quando as

perdas correspondem a mortes de filhos, ou a mortes inesperadas ou violentas (Shear et

al., 2011).

O luto patológico é uma perturbação clínica que gera elevados níveis de

sofrimento e consequências no funcionamento do indivíduo e, como tal, quem apresenta

este tipo de perturbação representa uma presença frequente nos serviços de saúde mental

(Rijo, 2004). Num estudo de Prigerson et al. (1997) comprovou-se que os indivíduos em

luto com pontuações elevadas nos sintomas de luto patológico, têm um risco mais

significativamente alto de contrair vários problemas de saúde, de que são exemplos

problemas de coração e cancro. O que permite concluir que esta condição patológica

poderá potenciar eventuais efeitos negativos para a saúde mental e física da condição da

pessoa em luto.

Foram propostos critérios para incluir no DSM-V a perturbação de luto

patológico, pois os autores consideram importante considerar o luto não saudável como

uma perturbação formal e que esta venha descrita. O que vai facilitar a identificação e

reconhecimento desta condição que afeta uma minoria de indivíduos em luto, no entanto

tal ainda não foi possível, uma vez que os critérios existentes falham em evidência

empírica (Boelen & Prigerson, 2012).

14

Na proposta apresentada, esta perturbação é definida como após a morte de uma

figura significativa, o indivíduo experienciar ansiedade, tristeza intensa e dor emocional

durante um período de pelo menos 12 meses. Esses sintomas normalmente vêm

associados a uma dificuldade em aceitar a morte, acompanhada de raiva intensa,

diminuição do sentido do self, sentir-se incompleto, com dificuldade de planeamento do

futuro e em envolver-se em atividades. Uma anotação importante é que estes sintomas

excedem o que seria expetável face ao evento stressor da morte e do processo de luto

saudável de uma figura significativa e provocam danos em áreas importantes de

funcionamento (Boelen & Prigerson, 2012).

Para considerar que uma pessoa possui esta perturbação, pela proposta

apresentada, tem de preencher os seguintes cinco critérios: A) a experiência individual de

morte de uma figura próxima seja há pelo menos 12 meses; B) a pessoa deve apresentar

pelo menos um dos quatro sintomas que representam a ansiedade de separação; C) pelo

menos seis sintomas devem estar presentes de uma lista de 12 (seis de angústia reativa à

morte e seis de interrupção da identidade social); D) os sintomas são causadores de stress

e prejuízos funcionais; E) os sintomas são inconsistentes com as normas culturais,

religiosas ou para a idade da pessoa (Boelen & Prigerson, 2012).

Como já explicado, contribui para esta condição a representação que existe sobre

o vínculo ser estável, e a experiência de morte e perda ser, pelo contrário, uma mudança

dramática da relação que existia com a pessoa amada, que, como tal, requer tempo de

assimilação até que seja incorporada no modelo de trabalho do indivíduo. Ora, quando

não acontece, tal alteração pode gerar uma incompatibilidade, que se traduz pelo modelo

de trabalho do indivíduo continuar a transmitir a presença do falecido e gerar descrença e

desorientação (Shear et al., 2007).

A área da neuroimagem também se tem dedicado a investigar sobre esta temática

e descobriu-se que existe uma região no cérebro, o nucleus accumbens (NAcc), associada

à recompensa e ao prazer (Knutson, Adams, Fong, & Hommer, 2001), e que tem uma

maior ativação na resposta a itens relacionados com o luto que em itens neutros, em

indivíduos que apresentam sintomatologia de luto patológico, comparados com

indivíduos em processo de luto saudável (O’Connor et al., 2008). A conclusão principal

deste estudo é que a lembrança associada ao falecido, pelos indivíduos em luto

patológico, é percecionada como recompensa, portanto existe a ativação do NAcc. Desta

forma, a ativação desta região cerebral poderá ser um indicador neurobiológico de uma

15

falha na adaptação do processo de luto, associado à perturbação do luto patológico

(O’Connor, 2012).

Existem vários obstáculos ao estudo dos sintomas e reações do luto, entre eles, a

dificuldade de distinguir entre manifestação de continuação de laços funcionais e

desadaptativos; em isolar os critérios específicos do luto e da perturbação de luto

patológico de perturbações de depressão, ansiedade ou até stress pós-traumático e a

ausência de escalas avaliativas (Prigerson et al., 1995); no entanto, vários autores, ao

longo do tempo, tentaram fazê-lo. Entre os instrumentos criados para avaliar o processo

de luto saudável e normal, um exemplo é a Grief Measurement Scale (GMS: Jacobs et al.,

1986). No entanto, omitia sintomas que são expetáveis num processo de luto, como por

exemplo culpa e desconfiança dos outros (Prigerson et al., 1995).

Quando se fala em luto patológico, foi desenvolvido por Prigerson et al. (1995), o

Inventory of Complicated Grief (ICG), com o objetivo de colmatar a escassez para avaliar

os sintomas desadaptativos da perda, no entanto possui como limitação, na amostra inicial

só terem sido considerados viúvos. Ainda assim, atualmente é o instrumento mais

utilizado e mais válido para avaliar o luto patológico (Boelen & Prigerson, 2012). Este

instrumento (PG-13) foi traduzido e adaptado por Delaibera (2010) para a população

portuguesa, sendo que a análise fatorial detetou dois fatores. A primeira dimensão

corresponde ao trauma inerente à experiência de luto, que se manifesta em choque,

incapacidade funcional, ressentimento, e que seriam aspetos fundamentais para distinguir

o luto saudável do patológico; a segunda refere-se aos sentimentos de dor emocional,

ansiedade de separação pelo falecido, que seriam critérios de perturbação de luto

patológico.

Outra área importante a avaliar é a continuação dos laços, em que o principal

instrumento criado foi o Continuing Bonds Scale-16 (CBS-16: traduzido e adaptado por

Silva, 2014). Este instrumento caracteriza os vários tipos de manutenção do vínculo, que

são divididos em internalizados e externalizados (Field & Filanosky, 2009), compondo

dois fatores, que se dividem por 16 itens.

Nos tipos de laços internalizados representados, ocorre uma adaptação à perda, e a

pessoa mantém a proximidade com o falecido internamente funcionando este como uma

base segura (e.g., evocar uma imagem mental do falecido como uma presença

confortante, quando se encontra numa situação stressante). Fazem parte do processo de

luto saudável, uma vez que não enfatizam a recuperação da proximidade física, apenas

interna, psicológica. Os tipos de laços externalizados normalmente estão associados a um

16

luto não resolvido, em que não existe processamento da morte da pessoa significativa, e

algumas formas de manifestação são através de ilusões e alucinações, que têm como

objetivo a reaproximação física. As ilusões representam uma forma de re-experienciação

em que se confunde alguém que tenha características físicas semelhantes com o falecido,

como a sua imagem ou voz. Nas alucinações, as pessoas em luto identificam fenómenos

intrusivos que envolvem interpretações erróneas de uma fonte de informação interna que

consideram como externa, como por exemplo falar com e ouvir a pessoa perdida.

O CBS-16 possui como limitação algumas formas de manutenção do vínculo,

mais especificamente as internalizadas, não estarem associadas a um melhor ajustamento

da perda (Hastings, 2000), o que demonstra, mais uma vez, a dificuldade em distinguir o

que são expressões adaptativas do que não são, na perspetiva de manutenção do vínculo

com o falecido.

Desta forma, tendo em conta os instrumentos de avaliação criados até ao

momento, quer para o processo de luto saudável, quer para os processos de luto não

resolvidos, quer os que tentaram considerar ambos, e mostrar que são diferenciáveis, e

ainda os que avaliaram expressões de continuação de laços, não existe, ainda nenhum que

seja capaz de o fazer, e essa é uma dificuldade que afeta os especialistas no assunto.

Chegando à conclusão de que é preciso continuar a trabalhar no desenvolvimento de

instrumentos de avaliação, a presente investigação teve por objetivo a criação de um novo

instrumento avaliativo das expressões de continuação de laços, que permita diferenciar

entre os que são adaptativos e aqueles que não o são.

Método

Participantes

A amostra deste estudo foi composta por 174 indivíduos em processo de luto, 141

do sexo feminino (81.0%) e 33 (19 %) do sexo masculino, com idades compreendidas

entre os 19 e os 71 anos (M= 32.41, DP= 12.48). O critério de inclusão dos participantes

foi a idade ser maior de 18 anos e de a perda ter sido num período de há 2 meses até há 2

anos atrás. Importa referir que, por razões de espaço, serão, para algumas variáveis,

referidas apenas as categorias que mais se destacam, pelo que as percentagens podem não

somar 100%.

A maioria dos sujeitos é de nacionalidade portuguesa (98.3%). Relativamente ao

estado civil, 58 % da amostra é solteiro e 34.4 % é casado ou vive em união de facto. No

17

que concerne às habilitações literárias, 67.2% frequentou o ensino superior, 26.4% o

ensino secundário ou equivalente e 1.1 % apenas possui o 1º ciclo de ensino ou

equivalente. Dos participantes, 49.4% trabalham no setor não público ou no público,

29.9% são estudantes, sendo os desempregados uma percentagem de 3.4%.

Sobre o que o falecido era relativamente ao participante, para 50% da amostra

recolhida era avô/avó, para 20.7% era pai/mãe, para 6.3% era amigo/a, para 2.9% era

irmão/a, para 1.7% era filho/a, para 1.1% era cônjuge e ainda 17.2% responderam na

categoria outro. Considerando há quanto tempo foi a morte da figura significativa, para

23.6% foi entre 2 a 6 meses, para 21.3% foi entre 6 a 12 meses, para 14.9% foi entre 1

ano a 1 ano e meio e para 40.2% foi entre 1 ano e meio a 2 anos.

As causas da morte dos falecidos consideradas foram: doença de curta duração

(44.8%), doença de longa duração (36.8%), acidente (4%), suicídio (2.3%) e 12.1%

responderam na categoria outra. Considerando a previsibilidade da morte, para 24.7% dos

participantes foi completamente inesperada, para 29.3% foi inesperada, para 36.8% foi

esperada e para 9.2% foi completamente esperada.

Confirmando a ideia suprarreferida de que, para muitos participantes, não existe a

possibilidade de se preparar antecipadamente para a perda, constata-se que só 19% dos

participantes responderam que tomaram consciência de que a morte iria acontecer mais de

2 meses antes, 17.2% mais de 1 mês antes até à semana anterior, 23% na semana anterior

até ao dia antes e 40.8% no momento em que tomaram conhecimento dela.

Instrumentos

1) Questionário de Avaliação do Vínculo Continuado Após o Luto (QAVCAL): foi

desenvolvido no âmbito deste estudo, com o objetivo de colmatar a falta de

instrumentos de avaliação neste domínio capazes de distinguir entre processos e

reações de continuação do vínculo adaptativas das disfuncionais no processo de

luto. Os itens foram construídos por forma a abranger uma variedade de

comportamentos e reações passíveis de ocorrer numa situação de luto, desde

aqueles que são esperados até aos que representam um certo grau de patologia

(e.g., manutenção segura do vínculo, presença controladora, componentes

alucinatória e ilusória, evitamento, luto prolongado e desligamento). Na versão

que foi usada neste estudo, o questionário contém 37 itens e cada um deles foi

avaliado numa escala que vai de 1 (Discordo Fortemente) até 4 (Concordo

18

Fortemente). Uma vez que o QAVCAL é o foco deste estudo, a análise

psicométrica irá ser descrita na secção de Resultados;

2) Questionário Experiências em Relações Próximas (ERP): Este instrumento foi

criado originalmente por Brennan, Clark, e Shaver (1998), com o objetivo de

avaliar as duas dimensões básicas das diferenças individuais no estilo de

vinculação dos adultos, entre elas a evitação e a preocupação. A versão portuguesa

deste questionário (Moreira et al., 2006), sofreu uma adaptação por esses mesmos

autores (Mendes, 2016), sendo o questionário utilizado referente a essa versão,

composta por 12 itens, em que seis itens são da dimensão de evitação e seis da de

preocupação, neste caso relativos à relação próxima e específica do participante

com a pessoa significativa que perdeu. Na presente investigação, a escala

denominada por vinculação evitante, correspondente à original escala de evitação,

apresenta um alfa de .74 e a escala denominada por vinculação ansiosa,

correspondente à original escala de preocupação, apresenta um alfa de .82;

3) Questionário Clinical Outcome Routine Evaluation – Outcome Measure (CORE-

OM): originalmente concebido por Evans et al. (2000), foi traduzido e adaptado

para português (Sales, Moleiro, Evans, Alves, 2012), sendo um instrumento de

autorrelato que é usado para medir a saúde mental em adultos, e é constituído por

34 itens. Destes, quatro abordam o domínio do bem-estar subjetivo, 12 referem-se

a sintomas de ansiedade, depressão, físicos e trauma. Os outros 12 abordam o

funcionamento geral nas relações próximas e nas relações sociais. Por fim, os

últimos seis avaliam o risco para o indivíduo e para os outros. Neste estudo, os

alfas foram os seguintes: para o domínio do bem-estar subjetivo .79; para o

domínio das queixas de ansiedade .79, queixas de depressão .74, queixas físicas

.66 e queixas de trauma .75; para o domínio do funcionamento geral foi de .80;

para o domínio do funcionamento nas relações próximas foi de .67; para o

domínio do funcionamento social foi de .66; para o domínio do comportamento de

risco para o próprio de .62 e para o domínio do comportamento de risco para os

outros de .14;

4) Prolonged Grief Disorder (PG-13): a versão original é de Prigerson et al. (1995),

que foi traduzida e adaptada por Delaibera, Coelho, & Barbosa (2011). Este

questionário é composto por 13 itens descritivos de um conjunto de sintomas que

devem persistir por um período mínimo de seis meses e que estão associados a um

significativo distúrbio funcional. A primeira parte do questionário é constituída

19

por dois itens que avaliam a frequência do sentimento de ansiedade de separação.

O terceiro item refere-se à duração deste sintoma. A segunda parte é composta por

nove itens descritivos de sintomas cognitivos, emocionais e comportamentais. A

última questão é relativa à incapacidade funcional nas áreas social e ocupacional.

A análise fatorial da escala na versão portuguesa revelou a presença de dois

fatores: o primeiro associado ao trauma inerente à experiência do luto e o segundo

refere-se aos sentimentos de dor emocional e ansiedade de separação pelo

falecido. Na presente investigação o alfa de Cronbach do fator trauma corresponde

a .85 e do fator associado à dor-ansiedade é de .83.

Procedimentos

Os dados descritos foram recolhidos pela internet, sendo que a divulgação dos

questionários foi feita através de redes sociais, sites e e-mails. O procedimento de

obtenção da amostra foi através de “bola de neve”, isto é, foram escolhidos alguns

indivíduos, estes deram a conhecer o questionário a outros, e a amostra foi crescendo

(Goodwin, 2016). Os sujeitos que participaram fizeram-no de forma voluntária, e foram

informados antes do preenchimento sobre a temática dos questionários, a duração

prevista, questões de confidencialidade dos dados e critérios de inclusão, nomeadamente

ter mais de 18 anos de idade e a perda ter sido num período de há 2 meses até há 2 anos

atrás. Desta forma, explicava-se que, ao clicarem para avançar, davam o seu

consentimento e garantiam que preenchiam esses mesmos requisitos.

Devido ao carater sensível dos questionários e o risco de, com o seu

preenchimento, existir desconforto ou dano psicológico para o participante, a questão da

confidencialidade assumiu grande importância. Como tal, foi garantido que as respostas

aos questionários estariam abrangidas pela confidencialidade e, para além disso, seria

preservado o anonimato, não existindo qualquer forma de relacionar a identidade do

participante com as respostas dadas. Além disso, como forma de minimizar os riscos,

foram disponibilizados os contactos dos elementos da equipa de investigação para

possível atendimento psicológico, caso o participante assim o pretendesse. A presente

investigação foi aprovada pela Comissão de Deontologia da Faculdade de Psicologia da

Universidade de Lisboa.

20

Resultados

Análise Fatorial

Começou-se por realizar uma análise fatorial do QAVCAL, utilizando a técnica da

análise em componentes principais e o scree plot (Moreira, 2004), como forma de estimar

o número de fatores a extrair. Analisando o gráfico dos valores próprios decidiu-se

considerar três fatores.

Para a interpretação dos fatores, atendeu-se à matriz de saturações, após uma

rotação do tipo Varimax (Quadro 1).

Quadro 1.

Matriz de componente após rotação dos itens do questionário inicial (saturações dos

itens considerados a negrito, ≥ .5)

Item

Fator

1 2 3

1 – Atualmente a pessoa continua a exercer uma influência

positiva sobre mim.

.75 .04 -.04

2 – Imagino-a a guiar-me ou observar-me. .79 .22 .04

3 – Sinto que depois da sua morte me reconstruí enquanto pessoa. .50 .20 -.09

4 – Vejo-a diante de mim. .40 .47 -.09

5 – Continuo a visitar o local onde repousa para manter a nossa

ligação.

.30 .57 -.03

6 – Considero que a pessoa gostaria que eu vivesse a minha vida

da melhor forma.

.49 -.15 .18

7 – A pessoa deixou de ter tanta importância para mim. -.57 .16 -.17

8 – Vejo as suas fotografias para me sentir mais próximo/ dela. .51 .34 -.02

9 – Sinto obrigação em ir quase todos os dias visitar o local

onde repousa, pois devo fazê-lo.

.01 .68 -.03

10 – Quando vou na rua confunda-a com outras pessoas. .06 .54 .06

11 – Em casa, qualquer barulho me faz lembrar a sua voz. .10 .76 .20

12 – Sonho frequentemente com a pessoa. .14 .61 .26

13 – Lembro-me cada vez menos dela. -.39 -.16 -.31

21

14 – Considero que já consegui ultrapassar a perda. -.03 -.50 -.54

15 – Imaginei partilhar com a pessoa alguma coisa especial que

aconteceu comigo.

.62 .29 .28

16 – Sinto o seu toque físico. .21 .65 .15

17 – Penso em como ela teria gostado de alguma coisa que vi

ou fiz.

.73 -.00 .17

18 – Já fui a sítios onde a pessoa gostava de ir, porque considero

que ela gostaria que o fizesse.

.49 .52 .11

19 – Sinto que ela continua a preocupar-se comigo. .77 .33 .03

20 – Já imaginei que a pessoa me observava ou guiava como se

estivesse presente, ainda que de forma invisível.

.71 .37 .05

21 – Considero que tenho de realizar alguns sonhos/desejos seus,

pois ela gostaria que o fizesse.

.50 .52 .12

22 – Uso ou mexo nas suas coisas. .34 .55 .28

23 – Sinto que a pessoa me protege. .74 .34 .07

24 – Dedico-me muito ao trabalho ou a outra atividade desde a

sua morte.

.39 .38 .35

25 – Às vezes ainda penso que isto tudo é só um sonho, e que a

morte não aconteceu.

.20 .52 .41

26 – Evito falar com amigos/familiares sobre a perda. -.10 -.06 .72

27 – Evito ir a sítios que me façam recordá-la. -.01 -.03 .70

28 – Ainda que brevemente, agi como se a pessoa não tivesse

falecido (e.g. colocar o prato na mesa para a pessoa).

.07 .44 .35

29 – Para evitar pensar nela passei a trabalhar mais do que

antigamente.

.07 .31 .56

30 – Emociono-me quando em assunto de conversa alguém fala

sobre a pessoa.

.23 .19 .38

31 – Quando me recordo dela só me vêm as memórias

positivas.

.50 .05 -.17

32 – Visto ou percorro as suas roupas para poder sentir-me mais

perto dela.

.14 .61 .33

33 – Já fui falar com os seus amigos sobre ela, para manter viva a

sua memória.

.16 .54 .09

34 – Sinto que não sou completo, que parte de mim morreu com a

pessoa.

.23 .43 .59

22

Verificou-se que o Fator 1 agregava itens cujo conteúdo era mais relacionado com

tentativas de manutenção do vínculo saudáveis no processo de acomodação do luto (e.g.,

item 1 – “Atualmente a pessoa continua a exercer uma influência positiva sobre mim”).

Foram selecionados para a escala final itens com saturações superiores a .50, neste fator,

com o cuidado de não incluir itens que apresentassem saturações importantes nos outros

dois fatores (fazendo o mesmo para os fatores subsequentes). Seguindo este critério

apenas puderam ser utilizados quatro itens, sendo um deles de cotação invertida. A escala

foi designada por Laços Continuados Adaptativos, sendo que o alfa de Cronbach obtido

foi de .73.

O conteúdo dos itens considerados no Fator 2 parece ter em comum uma tentativa

de manutenção do vínculo não saudável, em que o falecido exerceria um domínio sobre a

pessoa, abordando ainda a componente ilusória e alucinatória (e.g., item 11 – “Em casa,

qualquer barulho me faz lembrar a sua voz”). Designou-se esta escala por Laços

Continuados Desadaptativos, sendo composta por três itens, e o alfa de Cronbach é de

.71. Apenas um dos itens poderia ter sido retirado da escala, por fazer subir o alfa de

Cronbach, no entanto não o foi, pois assegurava uma maior representatividade do

construto e o aumento do valor do alfa era desprezível.

Por fim, o Fator 3 é composto por itens cujo conteúdo denota o evitamento do

enfrentar o luto e a não reconstituição, após a morte (e.g., item 26 – “Evito falar com

amigos/familiares sobre a perda”). Atribuiu-se a este fator a designação de Evitamento,

sendo composto por dois itens e o seu alfa de Cronbach é de .66 (Quadro 2).

Quadro 2.

Médias, desvios-padrões, alfas e itens selecionados para o questionário final (QAVCAL)

Escalas M DP Itens α

Laços Continuados Adaptativos 14.47 2.13 1, 7, 17, 31 .73

Laços Continuados Desadaptativos 4.40 1.78 11, 9, 10 .71

35 – Continuo a reviver o momento da sua morte. .24 .55 .45

36 – Acho que estou a conseguir lidar bem com a perda. .06 -.45 -.56

37 – Desde a sua morte, não consigo confiar em mais ninguém. -.12 .60 .40

23

Evitamento 3.66 1.54 27, 26, .66

Nota. M = média; DP = Desvio-padrão

Hipóteses e Associações Com Outras Variáveis

H1) Espera-se que a escala dos Laços Continuados Adaptativos esteja associada

de forma positiva com a variável do tempo da morte e com as variáveis relativas ao

funcionamento adaptativo (bem-estar subjetivo, funcionamento geral, funcionamento nas

relações próximas, funcionamento social). Espera-se também que esteja associada de

forma negativa com a variável da consciência da morte, com as variáveis relativas à

presença de patologia (queixa de ansiedade, queixa de depressão, queixas físicas, queixas

de trauma, comportamentos de risco para o próprio e comportamentos de risco para os

outros), com as variáveis da vinculação evitante, do trauma e da dor-ansiedade;

H2) Espera-se que a escala dos Laços Continuados Desadaptativos esteja

associada de forma positiva com a variável da consciência da morte, com as variáveis

relativas à presença de patologia (queixa de ansiedade, queixa de depressão, queixas

físicas, queixas de trauma, comportamentos de risco para o próprio e comportamentos de

risco para os outros), com a variável da vinculação ansiosa, com as variáveis do trauma e

da dor-ansiedade. Espera-se também que esteja associada de forma negativa com a

variável do tempo da morte, com a vinculação evitante e com as variáveis relativas ao

funcionamento adaptativo (bem-estar subjetivo, funcionamento geral, funcionamento nas

relações próximas, funcionamento social);

H3) Espera-se que a escala do Evitamento esteja associada de forma positiva com

a variável da consciência da morte, com as variáveis relativas à presença de patologia

(queixa de ansiedade, queixa de depressão, queixas físicas, queixas de trauma,

comportamentos de risco para o próprio e comportamentos de risco para os outros), com

as variáveis da vinculação evitante e da vinculação ansiosa, com as variáveis do trauma e

da dor-ansiedade. Espera-se também que esteja associada de forma negativa com a

variável do tempo da morte e com as variáveis relativas ao funcionamento adaptativo

(bem-estar subjetivo, funcionamento geral, funcionamento nas relações próximas,

funcionamento social);

H4) Espera-se que exista uma diferença em termos dos grupos de sexo dos

participantes (homens e mulheres) na manifestação destes fatores. Mais especificamente,

que as mulheres obtenham valores mais elevados nas escalas dos Laços Continuados

24

Adaptativos e dos Laços Continuados Desadaptativos e mais baixos na escala do

Evitamento; os homens obtenham valores mais elevados na escala Evitamento e mais

baixos nas escalas dos Laços Continuados Adaptativos e dos Laços Continuados

Desadaptativos;

H5) Espera-se que exista uma associação positiva entre as variáveis do tempo da

morte e da antecedência da tomada de consciência de que a morte iria acontecer

(QAVCAL) e entre as variáveis do trauma e da dor-ansiedade (PG-13).

Com o objetivo de medir a associação linear entre as escalas identificadas para o

QAVCAL e as variáveis avaliadas nos outros instrumentos utlizados e já descritos,

testando assim as hipóteses, efetuaram-se correlações de Pearson (Quadro 3).

Quadro 3.

Correlações entre os as escalas do QAVCAL e outras variáveis

Escalas QAVCAL

Instrumentos Variáveis Laços

Continuados

Adaptativos

Laços

Continuados

Desadaptativos

Evitamento

QAVCAL Tempo da morte -.03 .06 -.10

QAVCAL Consciência da morte -.01 -.01 .17*

CORE-OM Bem-estar Subjetivo .01 -.30** -.29**

CORE-OM Queixa de Ansiedade .05 .32** .33**

CORE-OM Queixa de Depressão -.00 .33** .26**

CORE-OM Queixas Físicas -.10 .16* .18*

CORE-OM Queixas de Trauma -.04 .27** .29**

CORE-OM Funcionamento Geral .19* -.26** -.30**

CORE-OM Funcionamento nas

Relações Próximas

.15* -.38** -.34**

CORE-OM Funcionamento Social .09 -.23** -.32**

CORE-OM Comportamentos de risco -.03 .22** .15*

25

Nota. *p<0,05; **p<0,0

O Fator 1, Laços Continuados Adaptativos, tem uma associação positiva com

variáveis relativas ao funcionamento adaptativo no CORE – OM (funcionamento nas

relações próximas) e com a dor-ansiedade (PG-13). E uma associação negativa com a

vinculação evitante (ERP), o que faz com que H1 seja parcialmente confirmada.

O Fator 2, Laços Continuados Desadaptativos, tem uma associação positiva com

as variáveis relativas à presença de patologia no CORE -OM (queixas de ansiedade,

queixas de depressão, queixas físicas, queixas de trauma, e comportamentos de risco para

o próprio e para os outros), com a vinculação ansiosa (ERP), o trauma e a dor-ansiedade

(PG-13). E uma associação negativa com o bem-estar subjetivo, funcionamento geral,

funcionamento nas relações próximas, funcionamento social (CORE-OM) e com a

vinculação evitante (ERP), o que faz com que H2 seja parcialmente confirmada.

O Fator 3, Evitamento, tem uma associação positiva com a variável antecedência

de tomada da consciência da morte, com variáveis relativas à presença de patologia no

CORE – OM (queixas de ansiedade, queixas de depressão, queixas físicas, queixas de

trauma, e comportamentos de risco para o próprio e para os outros), com a vinculação

ansiosa (ERP) e o trauma e a dor-ansiedade (PG-13). E uma associação negativa com

variáveis relativas ao funcionamento adaptativo no CORE-OM (bem-estar subjetivo,

funcionamento geral, funcionamento nas relações próximas e funcionamento social), o

que faz com que H3 seja parcialmente confirmada.

Sobre H4, relativa às diferenças entre dois grupos diferentes, homens e mulheres,

esta não é confirmada, pois não existe evidência estatisticamente significativa para

afirmar acerca das diferenças entre as duas médias destes grupos e os fatores

considerados no QAVCAL.

para o próprio

CORE-OM Comportamentos de risco

para os outros

-.03 .16* .22**

ERP Vinculação evitante -.59** -.31** -.01

ERP Vinculação ansiosa .05 .25** .33**

PG-13 Trauma .12 .49** .40**

PG-13 Dor-ansiedade .31** .50** .23**

26

Por fim, H5 demonstra uma associação positiva significativa entre o tempo de

antecedência da tomada de consciência da morte e a variável do trauma, com t (174) =

0.29, p ˂ 0.01, e a variável da dor-ansiedade, com t (174) = 0.20, p ˂ 0.01, como era

esperado. Não ficou comprovado que exista uma associação significativa entre o tempo

da morte e qualquer uma destas variáveis medidas no PG-13, o que faz com que quinta

hipótese seja parcialmente confirmada.

Discussão

Os resultados deste estudo mostram que o objetivo de construir um instrumento de

avaliação psicológica capaz de medir diferentes domínios do processo de luto foi em

grande parte atingido. Após a análise das qualidades psicométricas do questionário

inicial, que foi aplicado, consideraram-se quais os itens para o questionário final, por

forma a explorar as suas qualidades psicométricas na avaliação dos processos e reações

face ao luto, como era o objetivo da presente investigação.

Mais especificamente, atentando em termos de número de itens, sabe-se que este

deve ser reduzido o tanto quanto possível e de forma a se adequar aos objetivos da

pesquisa em questão (Amaro, Póvoa, & Macedo, 2005). O QAVCAL em termos de

número de itens, nove, não será desadequado para se usar em clínica como forma de

rastreio ou diagnóstico inicial de uma população em processo de luto, por forma a avaliar

manifestações de laços continuados, embora a sua reduzida dimensão e valores apenas

aceitáveis do alfa de Cronbach coloquem limitações ao seu uso em diagnóstico clínico.

Em termos de conteúdo, o objetivo ao construir os itens foi de diferenciar entre

domínios no processo de luto, abordados na literatura, funcionais e disfuncionais. Entre

eles, a análise fatorial ditou a presença de três fatores, designados por Laços Continuados

Adaptativos, Laços Continuados Desadaptativos e Evitamento. Os alfas obtidos para cada

uma destas escalas são de .73, .71 e .66, respetivamente (Quadro 2). O que, tendo em

conta a quantidade de itens por fator considerados (quatro itens para o Fator 1, três itens

para o Fator 2 e dois itens para o Fator 3), não são valores inesperados, nem

desfavoráveis, e demonstram que a separação entre a manutenção do vínculo adaptativa

da desadaptativa foi praticamente conseguida.

As três escalas considerados neste questionário já tinham sido estudadas

anteriormente, nomeadamente com a denominação de tipos de manutenção de vínculo

27

internalizados e externalizados (Field & Filanosky, 2009), sendo os primeiros associados

a uma maior aceitação e integração da perda do que os segundos. No entanto com a

construção da CBS-16 (Field & Filanosky, 2009), que tinha como objetivo avaliar esses

tipos de manutenção do vínculo, não se conseguiu isolar a componente mais adaptativa da

continuação do vínculo de uma menos adaptativa , pois a componente adaptativa dos

laços continuados deveria não se relacionar de forma positiva com patologia e tal facto é

comprovado ao existirem correlações semelhantes entre ambos os tipos de manutenção de

vínculo e a qualidade de vida, presença de sintomatologia psicopatológica e outras

variáveis (Silva, 2014).

Desta forma, embora a validade externa e a consistência interna sejam metas

desejáveis na construção de um teste, a natureza dos construtos avaliados pode não

permitir que ambas sejam atingidas concomitantemente (Urbina, 2009). E embora a maior

parte dos estudos que têm sido feitos possua mais itens, estes não asseguram a validade

discriminante dos construtos. No presente estudo, existe uma diferenciação entre a

componente adaptativa, desadaptativa e evitamento dos laços continuados e diferentes

associações com outras variáveis, o que representa por si só um avanço face aos estudos

que se tinham feito nesta temática, ainda que os valores dos alfas das escalas consideradas

não sejam tão elevados quanto se desejaria para uso clínico.

Analisando as correlações que foram consideradas nas hipóteses deste estudo, a

escala Laços Continuados Adaptativos está relacionada de forma positiva com variáveis

relativas ao funcionamento adaptativo como o funcionamento geral e funcionamento nas

relações próximas, mas não com o bem-estar subjetivo e o funcionamento social. Para

além disso, não foi encontrada associação negativa significativa entre esta escala e as

variáveis relativas à presença de patologia (queixa de ansiedade, queixa de depressão,

queixas físicas, queixas de trauma, comportamentos de risco para o próprio e

comportamentos de risco para os outros).

Pelo contrário, as escalas Laços Continuados Desadaptativos e Evitamento, como

era esperado, estão relacionadas de forma positiva com variáveis relativas à presença de

patologia (queixas de ansiedade, queixa de depressão, queixas físicas, queixas de trauma,

comportamentos de risco para o próprio e comportamentos de risco para os outros) e de

forma negativa com variáveis relativas ao funcionamento adaptativo (bem-estar subjetivo,

funcionamento geral, funcionamento nas relações próximas, funcionamento social), o que

permite afirmar que existe uma diferença em termos das manifestações dos Laços

28

Continuados Adaptativos (Fator 1), dos Laços Continuados Desadaptativos (Fator 2) e do

Evitamento (Fator 3) na saúde mental de indivíduos em luto.

O tipo de vinculação existente comprovou-se ter relevância no tipo de continuação

de laços manifestado (Stroebe, Schut, & Boerner, 2010), sendo que quem apresenta um

estilo de vinculação seguro tem tendência a manifestar os seus laços com o falecido de

forma adaptativa, quem é inseguro-preocupado ou ansioso irá fazê-lo de uma forma

desadaptativa e quem é inseguro-desligado ou evitante, ou mantém o laço de forma

desadaptativa como forma de negar a morte, ou evita e suprime o lidar com o luto (Main,

1996). Dos resultados obtidos comprovou-se existir uma associação positiva entre a

vinculação ansiosa e as escalas Laços Continuados Desadaptativos e Evitamento, que era

esperada; e uma associação negativa entre a vinculação evitante e as escalas Laços

Continuados Adaptativos e Laços Continuados Desadaptativos, que também eram

esperadas.

Contrariamente ao esperado, não existe uma associação positiva entre a

vinculação evitante e a escala Evitamento. A hipótese que se pensou para tal ter

acontecido, tem a ver com a ideia que foi desenvolvida no Modelo do Processo Dual de

Coping, em que o processo de luto implicaria a confrontação com a dor e a tristeza pela

morte, mas também seria constituído por estratégias de coping para evitar o confronto

com a perda, e este processo seria o oscilar entre as duas dinâmicas (Schut, 1999).

Desta forma, é aceitável que não haja uma associação positiva entre a vinculação

evitante e a escala Evitamento, pois usar uma estratégia de evitamento do confronto com

o luto, poderá não querer dizer que aquele indivíduo obrigatoriamente tenha uma

vinculação evitante na relação com o falecido. Para além disso, uma característica da

vinculação evitante é que existe uma menor queixa em termos de sintomas, portanto ainda

que estes indivíduos usassem como estratégia de coping o evitamento considerado na

escala Evitamento, não iriam assumi-lo, e isso poderá também ser justificativo destes

resultados.

Sabe-se que o processo de luto é experienciado de forma esperada e saudável para

a maioria da população, mas que existe uma condição de luto patológico, que uma

minoria possui, e traz consequências severas que afetam a saúde mental e física dos

enlutados (Prigerson et al., 1995). Desta forma, colocou-se a hipótese de haver uma

associação entre as escalas que medem os Laços Continuados Desadaptativos e o

Evitamento e os fatores do PG-13 (Prigerson et al., 1995), pois se existissem expressões

ou manifestações de laços continuados indicadores de uma possível perturbação de luto

29

patológico, seria de uma grande relevância clínica. Atentando aos resultados, confirma-se

que existe uma associação positiva entre as escalas Laços Continuados Desadaptativos e

Evitamento e as variáveis do trauma e da dor-ansiedade, representadas no PG-13, o que

era esperado. Por outro lado, não ficando comprovada a associação negativa entre Laços

Continuados Adaptativos e o trauma e dor-ansiedade. E ainda existe uma associação

positiva entre a escala Laços Continuados Adaptativos e a dor-ansiedade, o que não era

esperado, no entanto, tal resultado pode dever-se a que as perdas consideradas na amostra

não tenham sido tão significativas quanto se esperava e a expressão de laços continuados

não exerça tanto efeito e provoque ainda mais ansiedade (ver secção das Limitações e

Implicações Para Estudos Futuros).

Colocou-se a hipótese de existirem diferenças entre os grupos homens e mulheres

em termos das escalas consideradas, pois as mulheres sentem uma maior necessidade de

expressar as emoções quer positivas quer negativas do que os homens (Stroebe, 1998).

No entanto, não se verificou, o que pode dever-se às limitações deste estudo,

seguidamente apresentadas.

Quanto ao tempo com que se toma consciência de que a morte vai acontecer,

estudos anteriores concluíram que quanto mais perto do momento da morte, ou seja,

quanto mais esta for repentina, mais associado a presença de sintomatologia (Wayment &

Vierthaler, 2002). Esta variável foi considerada numa das hipóteses e demonstrou-se que

o tempo com que se tomou consciência da morte está associado positivamente com a

escala Evitamento, como era esperado, mas não com a escala Laços Continuados

Desadaptativos; nem negativamente com a escala Laços Continuados Adaptativos. Para

além disso, considerou-se há quanto tempo foi a morte, e colocaram-se hipóteses, mas

não se encontraram associações quer positivas quer negativas com nenhuma das escalas

consideradas, o que, mais uma vez, pode dever-se às limitações deste estudo,

seguidamente apresentadas, nomeadamente a importância de o relacionamento com o

falecido ser significativo e ainda ao período temporal que foi definido como critério de

inclusão (a morte ter acontecido entre há 2 meses até há 2 anos atrás).

É preciso justificar que, um dos objetivos da criação de este questionário era

demonstrar que existem indicadores de adaptação na expressão de laços continuados após

a morte e diferenciar os fatores, mostrando que se correlacionam de forma diferente com

outras variáveis, o que foi conseguido. Mas, para além disso, com os resultados que se

obtiveram em H6 de que existe associação entre a variável da tomada de consciência da

morte no momento e o luto patológico (medido através do PG-13), ficou algo mais

30

provado, uma vez que o PG-13, avalia exclusivamente o luto patológico. Ora, parece que

assim se consegue provar, novamente, que os laços continuados não parecem estar

associados ao luto patológico. Além disso, o instrumento QAVCAL não mede os mesmos

domínios do luto que outros instrumentos como o PG-13, mas sim construtos diferentes,

sendo os dois instrumentos complementares e não concorrentes, e com aplicabilidade e

pertinência clínica.

Limitações

Em termos da amostra, a dimensão da amostra poderia ser maior, e cerca de 50%

das figuras significativas falecidas eram avôs/avós dos participantes, o que não é

representativo dos diferentes tipos de relação existentes. Associada a essa limitação,

encontra-se o facto de não se ter operacionalizado a variável da significância da figura

amada, que não será a mesma para todos os respondentes e poderá ter afetado os

resultados. Em estudos futuros poder-se-á fazê-lo, uma vez que existem instrumentos

como o Quality of Relationships Inventory (QRI; Pierce, Sarason, & Sarason, 1991;

versão portuguesa: Moreira, 2003).

Existe uma grande discrepância, também em termos de amostra entre as mulheres

e os homens que responderam, 81% para 19%, e existia inclusive uma hipótese para

diferenças entre os géneros que não se pôde comprovar, e poderá derivar dessa limitação.

O facto de o recrutamento ter sido feito com recurso a “bola de neve” poderá ter

enviesado a amostra e impedir a generalização dos resultados. O valor relativamente

baixo dos coeficientes de precisão em algumas escalas pode ter dificultado a obtenção de

efeitos significativos.

Além disso, a amostra foi de conveniência, isto é, não clínica, o que faz com que

haja uma baixa incidência de processos de luto complicado, e assim se vê que as relações

entre os enlutados e os falecidos não têm tanta significância, afetando os resultados

esperados, e futuramente dever-se-á ter isso em consideração. Outra limitação foi

apresentar-se neste estudo uma primeira versão do questionário desenvolvido e não se ter

conseguido fazer uma segunda recolha de dados com introdução de melhoramentos no

questionário, nomeadamente em termos de validação e precisão, o que poderá vir a ser

colmatado em estudos futuros.

31

Implicações Para Estudos Futuros

Como já foi visto, existe ainda muita controvérsia, descrita na literatura,

relativamente à perspetiva de manutenção do vínculo após o falecimento de alguém

significativo (Stroebe & Schut, 2005). No entanto, com este estudo ficou comprovada,

uma vez mais, a necessidade de investir no maior conhecimento da temática do luto e na

construção de instrumentos úteis e eficientes de auxiliar na prática clínica.

Uma das implicações teóricas consideradas é que ficou comprovado, com os

resultados desta investigação, que a teoria da vinculação e dos laços continuados criada

por Bowlby (2008) teve uma grande importância teórica ao considerar, já nessa altura, a

adaptabilidade da continuação do vínculo com a figura amada perdida.

O questionário que foi desenvolvido neste estudo constitui uma inovação nesse

sentido, uma vez que os fatores que nele foram identificados contribuem de forma

significativa para enriquecer os estudos e questionários anteriores relacionados com o

tema do luto. Nomeadamente os resultados confirmam que existem três domínios

distintos nas manifestações dos laços continuados no contexto do luto (Laços

Continuados Adaptativos, Laços Continuados Desadaptativos e Evitamento). Ainda que

não se tenha conseguido isolar totalmente a componente adaptativa da componente

desadaptativa na continuação do laço com o falecido. E este estudo serviu também para

induzir, assim se espera, a continuação de em futuro estudos, se construir mais itens

significativos e capazes de isolar o fator adaptativo, por forma a mostrar o quanto aquele

domínio diferencia com precisão o traço ou comportamento que o teste pretende avaliar,

neste caso a funcionalidade da manutenção do vínculo no processo do luto.

Para além de que, o QAVCAL terá implicações práticas em termos de utilidade

clínica, pois ainda que seja necessário investir na criação de mais itens para conseguir

aumentar os valores dos alfas nas escalas consideradas dos laços continuados, este

questionário poderá ter utilidade para avaliar processos de mudança e progressos clínicos.

Por exemplo, no contexto do luto, considerar um plano de intervenção baseado em

objetivos de redução do Evitamento e dos Laços Continuados Desadaptativos e promoção

dos Laços Continuados Adaptativos, em que se usaria o QAVCAL antes e depois da

intervenção, e nesse sentido, seria útil também futuramente realizar estudos com amostras

clínicas, para que tal seja possível.

32

Referências Bibliográficas

Ainsworth, M. D. S., & others. (1969). Individual Differences in Strange-Situational

Behaviour of One-Year-Olds. Obtido de https://eric.ed.gov/?id=ED056742

Almeida, I. A. L. de. (2015). Luto patológico, ansiedade perante a morte e variáveis

sociodemográficas, sua relação com a sintomatologia depressiva em adultos mais

velhos. Obtido de http://repositorio.ul.pt/handle/10451/23048

Amaro, A., Póvoa, A., & Macedo, L. (2005). A arte de fazer questionários. Porto,

Portugal: Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Obtido de

http://www.mobilizadores.org.br/wp-content/uploads/2015/03/A-arte-de-fazer-

question%C3%A1rios.pdf

Association, A. P. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-

5®). American Psychiatric Pub.

Bartholomew, K., & Horowitz, L. M. (1991). Attachment styles among young adults: a

test of a four-category model. Journal of personality and social psychology, 61(2),

226. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1037/0022-3514.61.2.226

Boelen, P. A., & Prigerson, H. G. (2012). Commentary on the Inclusion of Persistent

Complex Bereavement-Related Disorder in DSM-5. Death Studies, 36(9), 771–

794. https://doi.org/10.1080/07481187.2012.706982

Boerner, K., & Heckhausen, J. (2003). TO HAVE AND HAVE NOT: ADAPTIVE

BEREAVEMENT BY TRANSFORMING MENTAL TIES TO THE

DECEASED. Death Studies, 27(3), 199–226.

https://doi.org/10.1080/07481180302888

Bonanno, G. A. (2004). Loss, Trauma, and Human Resilience: Have We Underestimated

the Human Capacity to Thrive After Extremely Aversive Events? American

Psychologist, 59(1), 20–28. https://doi.org/10.1037/0003-066X.59.1.20

33

Bonanno, G. A., Moskowitz, J. T., Papa, A., & Folkman, S. (2005). Resilience to Loss in

Bereaved Spouses, Bereaved Parents, and Bereaved Gay Men. Journal of

Personality and Social Psychology, 88(5), 827–843. https://doi.org/10.1037/0022-

3514.88.5.827

Bowlby, E. J. M. (2008). Loss - Sadness and Depression: Attachment and Loss. Random

House. Obtido de https://books.google.pt/books?hl=pt-

PT&lr=&id=bPyZyrzSzmAC&oi=fnd&pg=PR13&dq=Bowlby,+E.+J.+M.+(2008

).+Loss++Sadness+and+Depression:+Attachment+and+Loss.+Random+House.&

ots=4ASz_I0EKo&sig=RW_KHSxD4mU4eP9KwOXkPiPNTcY&redir_esc=y#v

=onepage&q=Bowlby%2C%20E.%20J.%20M.%20(2008).%20Loss%20%20Sad

ness%20and%20Depression%3A%20Attachment%20and%20Loss.%20Random

%20House.&f=false

Bowlby, E. J. M. (2010). Separation: Anxiety and anger: Attachment and loss. Random

House. Obtido de https://books.google.pt/books?hl=pt-

PT&lr=&id=CoKpgqpF78QC&oi=fnd&pg=PA21&dq=Bowlby,+E.+J.+M.+(201

0).+Separation:+Anxiety+and+anger:+Attachment+and+loss.+Random+House.&

ots=q-zSbEQc36&sig=sCuctOMg-F-iRhJ

tDkLYQ7uaI0&redir_esc=y#v=onepage&q=Bowlby%2C%20E.%20J.%20M.%2

0(2010).%20Separation%3A%20Anxiety%20and%20anger%3A%20Attachment

%20and%20loss.%20Random%20House.&f=false

Bowlby, J. (1982). Attachment and loss: Retrospect and prospect. American journal of

Orthopsychiatry, 52(4), 664. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1111/j.1939-

0025.1982.tb01456.x

Canavarro, M.C. (2004). Vinculação, perda e luto: Implicações clínicas. Psychologica,

35, 35–47.

34

de Almeida, E. J., Garcia-Santos, S., & Haas, E. I. (2011). Padrões especiais de luto em

mães que perderam filhos por morte súbita. Revista de Psicologia da IMED, 3(2),

607–616. https://doi.org/https://doi.org/10.18256/2175-5027/psico-

imed.v3n2p607-616

Debastiani, V. S., Debastiani, É. S. D. S., Sartori, D. S. S. S., Sartori, N. S. S. S., Stoffel,

P. C. S. C., & Cesar, M. A. D. C. C. A. D. C. (2013). LUTO PATOLÓGICO

TARDIO: IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO. Revista Acadêmica de

Medicina, 7(1). Obtido de

https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/RAM/article/view/3061

Delalibera, M. A. (2010). Adaptação e validação portuguesa do instrumento de avaliação

do luto prolongado: prolonged grief disorder (PG-13). Obtido de

http://repositorio.ul.pt/handle/10451/2255

DELALIBERA, M., COELHO, A., & BARBOSA, A. (2011). VALIDAÇÃO DO

INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DO LUTO PROLONGADO PARA A

POPULAÇÃO PORTUGUESA. Acta Médica Portuguesa, 24(6). Obtido de

https://www.researchgate.net/profile/Mayra_Delalibera2/publication/227395255_

Validation_of_prolonged_grief_disorder_instrument_for_Portuguese_population/l

inks/56c7422208ae5488f0d2c755.pdf

Evans C, Mellor-Clark J, Margison F, Barkham M, Audin K, Connell J, et al. (2000).

CORE: clinical outcomes in routine evaluation. Journal of Mental Health, 9(3),

247–255. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1080/jmh.9.3.247.255

Félix, C. I. V. (2014). Influência dos estilos de vinculação a nível de resiliência na

manifestação de sintomas de luto prolongado. Obtido de

http://repositorio.ul.pt/handle/10451/18086

35

Ferrari, I. F. (2006). Melancolia: de Freud a Lacan, a dor de existir. Latin-American

Journal of Fundamental Psychopatology on Line, VI, 1. Obtido de

https://www.psicopatologiafundamental.org/uploads/files/latin_american/v3_n1/m

elancolia_de_freud_a_lacan.pdf

Field, N. P. (2006). Unresolved Grief and Continuing Bonds: An Attachment Perspective.

Death Studies, 30(8), 739–756. https://doi.org/10.1080/07481180600850518

Field, N. P., & Filanosky, C. (2009). Continuing Bonds, Risk Factors for Complicated

Grief, and Adjustment to Bereavement. Death Studies, 34(1), 1–29.

https://doi.org/10.1080/07481180903372269

Field, N. P., Gao, B., & Paderna, L. (2005). CONTINUING BONDS IN

BEREAVEMENT: AN ATTACHMENT THEORY BASED PERSPECTIVE.

Death Studies, 29(4), 277–299. https://doi.org/10.1080/07481180590923689

Goodwin, C. J. (2016). Research In Psychology Methods and Design. John Wiley &

Sons.

Hastings, S. O. (2000). Self‐disclosure and identity management by bereaved parents.

Communication Studies, 51(4), 352–371.

https://doi.org/10.1080/10510970009388531

J. William Worden, PhD. (2008). Grief Counseling and Grief Therapy, Fourth Edition: A

Handbook for the Mental Health Practitioner. Springer Publishing Company.

Obtido de https://books.google.pt/books?hl=pt-

PT&lr=&id=cRStL8oURqoC&oi=fnd&pg=PR9&dq=.+William+Worden,+PhD.+

(2008).+Grief+Counseling+and+Grief+Therapy,+Fourth+Edition:+A+Handbook

+for+the+Mental+Health+Practitioner.+Springer+Publishing+Company.&ots=Ak

Co5Z0jAt&sig=ZDYZPozgz0sr7b6gjRVgW38Yffs&redir_esc=y#v=onepage&q=

.%20William%20Worden%2C%20PhD.%20(2008).%20Grief%20Counseling%2

36

0and%20Grief%20Therapy%2C%20Fourth%20Edition%3A%20A%20Handbook

%20for%20the%20Mental%20Health%20Practitioner.%20Springer%20Publishin

g%20Company.&f=false

Jacobs, S. C., Kasl, S. V., Ostfeld, A. M., Berkman, L., Kosten, T. R., & Charpentier, P.

(1986). The Measurement of Grief: Bereaved versus Non-Bereaved. The Hospice

Journal, 2(4), 21–36. https://doi.org/10.1080/0742-969X.1986.11882573

Klass, D. (1993). Solace and immortality: Bereaved parents’ continuing bond with their

children. Death Studies, 17(4), 343–368.

https://doi.org/10.1080/07481189308252630

Knutson, B., Adams, C. M., Fong, G. W., & Hommer, D. (2001). Anticipation of

increasing monetary reward selectively recruits nucleus accumbens. Journal of

Neuroscience, 21(16), RC159–RC159. Obtido de

https://pdfs.semanticscholar.org/1204/3d53117395f91f447d4c4c68676bb1d68cd1.

pdf

Leick, N., & Davidsen-Nielsen, M. (1991). Healing pain: attachment, loss, and grief

therapy. London; New York: Routledge.

Lindemann, E. (1944). Symptomatology and management of acute grief. American

journal of psychiatry, 101(2), 141–148.

https://doi.org/https://doi.org/10.1176/ajp.101.2.141

Main, M. (1996). Introduction to the special section on attachment and psychopathology:

2. Overview of the field of attachment. Journal of consulting and clinical

psychology, 64(2), 237. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1037/0022-

006X.64.2.237

37

Mendes, M. D. R. (2016). Relação entre traços de personalidade e as dimensões básicas

dos estilos de vinculação em adultos. Obtido de

http://repositorio.ul.pt/handle/10451/27557

Mikulincer, M., & Shaver, P. R. (2007). Attachment in Adulthood: Structure, Dynamics,

and Change. Guilford Press. Obtido de https://books.google.pt/books?hl=pt-

PT&lr=&id=d0MlDAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PR1&dq=ikulincer,+M.,+%26+Sha

ver,+P.+R.+(2007).+Attachment+in+Adulthood:+Structure,+Dynamics,+and+Cha

nge.+Guilford+Press.&ots=iAfqpTpicR&sig=6JVcG5UAA5eMEdtEMsjHN9AT

m3w&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false

Moreira, J. M., Lind, W., Santos, M. J., Moreira, A. R., Gomes, M. J., Justo, J. M., …

Faustino, M. (2006). “Experiências em Relações Próximas”, um questionário de

avaliação das dimensões básicas dos estilos de vinculação nos adultos: Tradução e

validação para a população Portuguesa. Laboratório de psicologia, 3–27. Obtido

de http://hdl.handle.net/10400.12/130

Moreira, J.M. (2004). Questionários: Teoria e prática. Coimbra: Almedina.

O’Connor, M.-F. (2012). Immunological and neuroimaging biomarkers of complicated

grief. Dialogues in Clinical Neuroscience, 14(2), 141–148. Obtido de

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3384442/

O’Connor, M.-F., Wellisch, D. K., Stanton, A. L., Eisenberger, N. I., Irwin, M. R., &

Lieberman, M. D. (2008). Craving love? Enduring grief activates brain’s reward

center. NeuroImage, 42(2), 969–972.

https://doi.org/10.1016/j.neuroimage.2008.04.256

Prigerson, H. G., Bierhals, A. J., Kasl, S. V., Reynolds, C. F., Shear, M. K., Day, N., …

Jacobs, S. (1997). Traumatic grief as a risk factor for mental and physical

38

morbidity. American journal of psychiatry, 154, 616–623.

https://doi.org/https://doi.org/10.1176/ajp.154.5.616

Prigerson, H. G., Maciejewski, P. K., Reynolds, C. F., Bierhals, A. J., Newsom, J. T.,

Fasiczka, A., … Miller, M. (1995). Inventory of complicated grief: A scale to

measure maladaptive symptoms of loss. Psychiatry Research, 59(1), 65–79.

https://doi.org/10.1016/0165-1781(95)02757-2

Reisman, A. S. (2001). DEATH OF A SPOUSE: ILLUSORY BASIC ASSUMPTIONS

AND CONTINUATION OF BONDS. Death Studies, 25(5), 445–460.

https://doi.org/10.1080/07481180126216

Rijo, D. (2004). Temas críticos do luto patológico: Diagnóstico, modelos e intervenção

terapêutica. Psychologica, 35, 49–67.

Root, B. L., & Exline, J. J. (2014). The Role of Continuing Bonds in Coping With Grief:

Overview and Future Directions. Death Studies, 38(1), 1–8.

https://doi.org/10.1080/07481187.2012.712608

Sales, C., Moleiro, C., Evans, C., Alves, P., & others. (2012). Versão Portuguesa do

CORE-OM: Tradução, adaptação e estudo preliminar das suas propriedades

psicométricas. Revista de Psiquiatria Clínica, (2), 54–59. Obtido de

http://www.scielo.br/pdf/rpc/v39n2/03/

Schut, M. S., Henk. (1999). THE DUAL PROCESS MODEL OF COPING WITH

BEREAVEMENT: RATIONALE AND DESCRIPTION. Death Studies, 23(3),

197–224. https://doi.org/10.1080/074811899201046

Shear, K., Monk, T., Houck, P., Melhem, N., Frank, E., Reynolds, C., & Sillowash, R.

(2007). An attachment-based model of complicated grief including the role of

avoidance. European Archives of Psychiatry and Clinical Neuroscience, 257(8),

453–461. https://doi.org/10.1007/s00406-007-0745-z

39

Shear, K., & Shair, H. (2005). Attachment, loss, and complicated grief. Developmental

Psychobiology, 47(3), 253–267. https://doi.org/10.1002/dev.20091

Shear, M. K., Simon, N., Wall, M., Zisook, S., Neimeyer, R., Duan, N., … Keshaviah, A.

(2011). Complicated grief and related bereavement issues for DSM-5. Depression

and Anxiety, 28(2), 103–117. https://doi.org/10.1002/da.20780

Silva, I.P.C.D.C. (2014). Manutenção do vínculo e adaptação individual de pais em luto:

contributos para a validação da versão portuguesa da continuing bonds scale-16.

Obtido de http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/19942/1/ulfpie047332_tm.pdf

Stroebe, M. S. (1998). New directions in bereavement research: exploration of gender

differences. Palliative Medicine, 12(1), 5–12.

https://doi.org/10.1191/026921698668142811

Stroebe, M. S. (1998). New directions in bereavement research: Exploration of gender

differences. Palliative Medicine, 12(1), 5–12.

https://doi.org/10.1191/026921698668142811

Stroebe, M. S., Folkman, S., Hansson, R. O., & Schut, H. (2006). The prediction of

bereavement outcome: Development of an integrative risk factor framework.

Social Science & Medicine, 63(9), 2440–2451.

https://doi.org/10.1016/j.socscimed.2006.06.012

Stroebe, M., & Schut, H. (2005). To Continue or Relinquish Bonds: A Review of

Consequences for the Bereaved. Death Studies, 29(6), 477–494.

https://doi.org/10.1080/07481180590962659

Stroebe, M., Schut, H., & Boerner, K. (2010). Continuing bonds in adaptation to

bereavement: Toward theoretical integration. Clinical Psychology Review, 30(2),

259–268. https://doi.org/10.1016/j.cpr.2009.11.007

Urbina, S. (2009). Fundamentos da testagem psicológica. Artmed Editora.

40

Wayment, H. A., & Vierthaler, J. (2002). Attachment style and bereavement reactions.

Journal of Loss &Trauma, 7(2), 129–149.

https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1080/153250202753472291

World Health Organization. (2004). A glossary of terms for community health care and

services for older persons. WHO. Obtido de

http://www.who.int/kobe_centre/ageing/ahp_vol5_glossary.pdf

41

Termo de Consentimento Informado

Caro/(a) participante,

A pesquisa para a qual pedimos a sua colaboração decorre no âmbito de um

projeto de investigação da mestranda Joana Semedo, em Psicologia Clínica, orientada

pelo Professor Doutor João Manuel Moreira, da Faculdade de Psicologia da Universidade

de Lisboa, com a finalidade de estudar e avaliar os processos e reações de luto.

A sua participação nesta pesquisa deverá ter um carácter voluntário, pelo que a

decisão de participar é livre e pessoal, e não envolve nenhuma remuneração. Neste

sentido, pode recusar e/ou retirar este consentimento a qualquer momento que o desejar.

Ainda assim, a sua participação será de extrema importância, uma vez que facilitará a

concretização deste estudo e o avanço no conhecimento científico.

Para participar no estudo deverá ser maior de idade e ter perdido alguém

significativo entre o período de há 2 meses até 2 anos atrás. A sua participação terá a

duração aproximada de 30 minutos e consiste em responder a um conjunto de

questionários online, nesta plataforma Qualtrics.

Como possíveis benefícios, os resultados da pesquisa poderão contribuir para a

prevenção e intervenção psicológica em situações de luto. Como possíveis riscos, o

preenchimento dos questionários poderá causar algum desconforto para o participante, o

qual a investigadora tentará minimizar. Se necessário e se o desejar, poderá ser

encaminhado/(a) (ver contactos em baixo) para o atendimento por outros profissionais. A

equipa de investigação garantirá a confidencialidade e anonimato dos dados recolhidos na

plataforma. Não vão ser registados quaisquer elementos identificativos ao longo dos

questionários e apenas os elementos da equipa da investigação terão acesso aos dados

recolhidos. Todo o estudo decorrerá segundo os princípios éticos nacionais e

internacionais aplicados à investigação em Psicologia.

Caso esteja interessado/(a) em receber, no final na investigação, um resumo dos

resultados em linguagem não técnica, ou para qualquer outra questão relativa ao estudo,

poderá contactar a investigadora através do email [email protected], ou o seu

orientador, através do email [email protected].

É importante que a sua resposta seja a mais sincera possível, não havendo

respostas certas ou erradas.

Ao prosseguir e avançar garante que tem 18 anos ou mais, que leu e concordou

com as indicações acima, e que aceita colaborar livre e voluntariamente nesta

investigação.