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Londrina - Paraná 2017 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU MESTRADO PROFISSIONAL EM EXERCÍCIO FÍSICO NA PROMOÇÃO DA SAÚDE FERNANDO MASSARI MITAMURA VALIDAÇÃO DO FORMATO ELETRÔNICO DO QUESTIONÁRIO DE PREFERÊNCIA E TOLERÂNCIA DA INTENSIDADE DE EXERCÍCIO FÍSICO (PRETIE-Q)

VALIDAÇÃO DO FORMATO ELETRÔNICO DO QUESTIONÁRIO DErepositorio.pgsskroton.com.br/bitstream/123456789/2279/1/Versão... · com a participação futura em um programa de exercício

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Londrina - Paraná 2017

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU

MESTRADO PROFISSIONAL EM EXERCÍCIO FÍSICO NA PROMOÇÃO DA SAÚDE

FERNANDO MASSARI MITAMURA

VALIDAÇÃO DO FORMATO ELETRÔNICO DO QUESTIONÁRIO DE

PREFERÊNCIA E TOLERÂNCIA DA INTENSIDADE DE EXERCÍCIO

FÍSICO (PRETIE-Q)

FERNANDO MASSARI MITAMURA

Cidade ano

AUTOR

Londrina - Paraná

2017

VALIDAÇÃO DO FORMATO ELETRÔNICO DO QUESTIONÁRIO DE

PREFERÊNCIA E TOLERÂNCIA DA INTENSIDADE DE EXERCÍCIO

FÍSICO (PRETIE-Q)

Relatório Técnico apresentado ao Programa de Pós-Graduação stricto sensu da Universidade Norte do Paraná, Unidade Piza, como requisito para a obtenção do título de Mestre Profissional em Exercício Físico na Promoção da Saúde. Orientador: Prof. Dr. Cosme Franklim Buzzachera

AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,

POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,

PARA FINS DE ESTUDO OU PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Universidade Norte do Paraná - UNOPAR

Biblioteca CCBS/CCECA - PIZA

Setor de Tratamento da Informação

M679v Mitamura, Fernando Massari

Validação do formato eletrônico do questionário de preferência e

tolerância da intensidade de exercício físico (PRETIE-Q). / Fernando

Massari Mitamura. Londrina: [s.n], 2017

87f.

Relatório Técnico (Mestrado profissional em Exercício Físico na

Promoção da Saúde). Universidade Norte do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Cosme Franklim Buzzachera

1 – Exercício Físico – Relatório Técnico de Mestrado – UNOPAR 2 –

Questionário Eletrônico 3 – Questionário Eletrônico – validação 4 –

Promoção da Saúde 5 – Exercício Físico – Intensidade – Preferência I –

Buzzachera, Cosme Franklim; orient. II – Universidade Norte do Paraná.

CDU 796.077

FERNANDO MASSARI MITAMURA

VALIDAÇÃO DO FORMATO ELETRÔNICO DO QUESTIONÁRIO DE

PREFERÊNCIA E TOLERÂNCIA DA INTENSIDADE DE EXERCÍCIO FÍSICO

(PRETIE-Q)

Relatório Técnico apresentado ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da

Universidade Norte do Paraná, referente ao Curso de Mestrado Profissional em

Exercício Físico na Promoção da Saúde, Área e Concentração Prescrição do

Exercício Físico em Idades Jovens, como requisito parcial para a obtenção do título

de Mestre Profissional, conferido pela Banca Examinadora:

_________________________________________ Prof. Dr. Cosme Franklim Buzzachera

Universidade Norte do Paraná (Orientador)

_________________________________________ Prof. Dr. Eros de Oliveira Junior Universidade Norte do Paraná

(Membro Interno)

_________________________________________ Prof. Dr. Denílson de Castro Teixeira Universidade Estadual de Londrina

(Membro Externo)

_________________________________________ Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes

Universidade Norte do Paraná Coordenador do Curso

Londrina, 07 de Março de 2017.

i

MITAMURA, Fernando Massari Validação do formato eletrônico do questionário de preferência e

tolerância da intensidade de exercício físico (PRETIE-Q). 76f. Relatório Técnico. Mestrado Profissional

em Exercício Físico na Promoção da Saúde. Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2017.

RESUMO

O propósito do presente relatório técnico foi validar um questionário, em formato eletrônico, sobre preferência

e tolerância da intensidade de exercício físico (PRETIE-Q). A proposta é direcionada para profissionais da

área da saúde que prestam serviços de avaliação, prescrição e/ou monitoramento do treinamento físico. Uma

informação acurada sobre a preferência e tolerância individual da intensidade do esforço físico pode contribuir

no entendimento de fatores psicobiológicos determinantes da aderência à prática regular de exercício físico.

Para suportar a proposta, o relatório técnico foi estruturado em três tópicos centrais. Inicialmente, a versão

para língua portuguesa do questionário PRETIE-Q (Smirmaul et al., 2015) foi elaborada, em seu formato

eletrônico, por um profissional em programação de dados. O formato eletrônico do PRETIE-Q encontra-se

disponível para uso no website www.coachmitamura.com/pretie-q. A versão eletrônica da PRETIE-Q foi

então analisada quanto aos critérios de consistência interna e concordância com o seu formato original e

impresso. Usando uma parcela da amostra total dos respondentes, a confiabilidade teste e reteste de curta

duração também foi determinada. Por fim, após a determinação das propriedades psicométricas do formato

eletrônico do PRETIE-Q, analisou-se fatores associados com o seu uso, tais como facilidade de compreensão,

tempo para o preenchimento, e preferência por seu uso. Usando dados oriundos do questionário PRETIE-Q,

um artigo científico, intitulado ‘Validação do formato eletrônico do questionário sobre preferência e tolerância

da intensidade de exercício físico (PRETIE-Q)’, a ser submetido a Revista Brasileira de Medicina do Esporte,

foi elaborado. Sob uma perspectiva prática, preconiza-se que a presente ferramenta eletrônica venha a

constituir-se como um instrumento de informação rápida para profissionais da saúde que prestam serviços de

prescrição e monitoramento do treinamento físico. Espera-se também que o instrumento possa servir para

gestores que tomam decisões relacionadas a criação de estratégias para a continuidade na prática regular de

exercício físico e promoção da saúde.

Palavras-chave: Promoção da Saúde, Aderência, Validade, Reprodutibilidade.

ii

MITAMURA, Fernando Massari Validation of the electronic version of the Preference for and Tolerance

of the Intensity of Exercise Questionnaire (PRETIE-Q). 76p. Technical Report. Professional Master in

Exercise on Health Promotion. North University of Paraná, Londrina, 2017.

ABSTRACT

The purpose of this technical report was to validate the electronic format of a Questionnaire on Preference for

and Tolerance of the Intensity of Exercise, named PRETIE-Q. This report is focused on health professionals

who are responsible for assessing, prescribing, and/or monitoring exercise training in adults. A more accurate

information about preference for and tolerance of the intensity of exercise may lead to a better comprehension

of psychobiological determinants of adherence to exercise programs. To support our perspective, the current

technical report was composed by three parts. Firstly, the electronic format of the Portuguese language version

of the PRETIE-Q, recently validated by Smirmaul et al (2015), was developed by a software programmer. The

electronic format of the PRETIE-Q can be found at www.coachmitamura.com/pretie-q. Psychometric

characteristics of the new version of the PRETIE-Q was then assessed, which included analysis on internal

consistency and concordance with its original, print version, as well as reliability analysis. Finally, easy of

comprehension, time to fill the questionnaire, and user preference were also assessed. Using data from the

new version of the PRETIE-Q, a manuscript entitled ‘Validation of the electronic version of the Preference for

and Tolerance of the Intensity of Exercise (PRETIE-Q)’, was done and will be submitted to Revista Brasileira

de Medicina do Esporte’. From a practical standpoint, the electronic version of the PRETIE-Q can be an easy

and accurate source of information for health professionals who are responsible for assessing, prescribing and

monitoring exercise training in adults from a broad range of ages.

Key Words: Health Promotion, Adherence, Validity, Reliability.

iii

SUMÁRIO

RESUMO .............................................................................................................. i

ABSTRACT .......................................................................................................... ii

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1

2. OBJETIVOS ........................................................................................................ 4

3. REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................... 5

3.1 INATIVIDADE FÍSICA, INTENSIDADE, & ADERÊNCIA ............................. 5

3.2 RESPOSTAS AFETIVAS, INTENSIDADE & ADERÊNCIA ........................... 7

3.3 PREFERÊNCIA & TOLERÂNCIA ..................................................................... 12

3.4 PREFERÊNCIA & TOLERÂNCIA: EXERCÍCIO FÍSICO ................................ 13

3.5 PREFERÊNCIA & TOLERÂNCIA: INSTRUMENTOS DE MEDIDA ............. 14

3.6 PREFERÊNCIA & TOLERÂNCIA: CRIAÇÃO DA PRETIE-Q ....................... 15

3.7 PREFERÊNCIA & TOLERÂNCIA: TRADUÇÃO ............................................. 17

3.8 QUESTIONÁRIO DO FUTURO: IMPRESSO OU ELETRÔNICO .................. 18

4. METODOLOGIA ............................................................................................... 19

4.1 DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO TÉCNICO .......................................... 19

4.1.1 Delineamento ........................................................................................................ 19

4.1.2 Participantes .......................................................................................................... 19

4.1 Instrumentos & Procedimentos Metodológicos .................................................... 20

4.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 42

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 43

6. APÊNDICE 2: Manuscrito Científico ............................................................... 51

7. APÊNDICE 3: Resumo Científico ..................................................................... 74

8. ANEXO 1: Questionário PRETIE-Q (Smirmaul et al., 2015) ........................ 75

9. ANEXO 2: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .............................. 76

1

1 INTRODUÇÃO

A importância da atividade física cotidiana para a saúde e longevidade tem sido reconhecida há

séculos por manuscritos chineses, indianos e gregos (Berryman e Park, 1992). Porém, foi apenas

em meados da década de 1950 que evidências científicas surgiram para indicar uma associação

significativa e direta entre atividade física cotidiana e benefícios à saúde. De fato, em uma série

de estudos, Prof. Jeremy Morris e seus colegas usaram dados quantitativas para demonstrar que

a prática regular de atividade física reduz a incidência de distúrbios coronarianos (Morris et al.,

1953; Morris, 1957; Morris e Crawford, 1958; Morris et al., 1966). Especificamente, os autores

notaram que mortes causadas por distúrbios coronarianos foram menos comuns a trabalhadores

engajados em tarefas ativas em comparação aos seus pares engajados em atividades com menor

demanda física. Esses achados preliminares foram posteriormente expandidos para numerosos

distúrbios crônicos (Paffenbarger et al., 2001; Booth et al., 2012), reforçando os pressupostos de

agências governamentais e não governamentais no suporte à prática regular de atividade física

no contexto da promoção da saúde (ACSM, 2008; WHO, 2010).

Apesar da conscientização pública atual sobre os benefícios físicos e mentais da atividade física

(Pratt et al., 2014), milhões de pessoas ao redor do Mundo continuam a ser insuficientemente

ativas (Dumith et al., 2011). Evidências recentes revelam uma prevalência de inatividade física

de ~31% na população adulta ao redor do Mundo (Hallal et al., 2012), agravando-se em países

em desenvolvimento como o Brasil, onde ~50% da população adulta é considerada fisicamente

inativa (Knuth et al., 2010). Neste contexto, identificar fatores sociais, econômicos, ambientais e

comportamentais associados ao fenômeno de pandemia da inatividade física tornou-se essencial

aos profissionais da área da saúde nos últimos anos (Blair, 2009).

2

Em termos comportamentais, numerosos estudos direcionam seus esforços para compreender os

fatores determinantes do engajamento inicial e continuidade em programas de exercício físico

(Marcus et al., 2006; Biddle e Nigg, 2000; Rhodes e Nigg, 2011); infelizmente, até o momento,

os modelos teóricos formulados para explicar o comportamento exercício físico parecem pouco

esclarecedores e promissores (Ekkekakis, 2013). De fato, diversas teorias na área da saúde, tais

como a teoria do comportamento planejado, teoria social-cognitiva, entre outras, foram criadas

com base na idéia que os seres humanos tomam decisões quanto a continuidade ou abandono a

um dado comportamento conforme o seu conhecimento, de ordem racional, do comportamento

em questão (Nasuti & Rhodes, 2013). Neste sentido, intervenções no âmbito do exercício físico

deveriam focar-se no aprofundamento da compreensão sobre os benefícios físicos e mentais do

exercício físico, facilitando o julgamento de seus participantes na identificação de vantagens e

desvantagens para a continuidade do comportamento e suas consequências futuras. Evidências

sugerem, contudo, que intervenções focadas na educação e mudanças no julgamento cognitivo

são pouco efetivas, reduzindo a importância de famosas teorias racionalistas e comportamentais

no contexto do exercício físico na promoção da saúde (Dishman & Buckworth, 1996).

A quantidade de prazer reportada durante uma sessão de exercício físico parece estar associada

com a participação futura em um programa de exercício físico (Williams et al., 2008). De fato,

Dishman e Buckworth (1996) notaram que “sentimentos de prazer e bem-estar são motivos mais

fortes para a participação continuada do que conhecimento e crença nos benefícios do exercício

físico”. Os autores notaram ainda que “conhecimento e crença nos benefícios do exercício físico

motivam o engajamento inicial e o retorno após um período relapso; sentimentos de prazer e

bem-estar, por sua vez, parecem ser motivos mais fortes para a participação continuada”. Essa

argumentação corrobora os pressupostos básicos da teoria hedônica da motivação (Young 1952;

Kahneman et al., 1993), a qual postula que caso uma pessoa reporte prazer em sua atividade, ela

buscará repeti-la; por outro lado, caso uma pessoa reporte desprazer em sua atividade, a chance

de repeti-la é menor. De fato, um estudo prospectivo conduzido por Williams et al. (2008) notou

3

que respostas afetivas, nomeadamente prazer e desprazer, durante uma sessão de exercício físico

moderado foram capazes de predizer a participação futura em um programa de exercício físico.

As respostas afetivas durante exercício físico parecem ser mediadas pela intensidade do esforço

(Ekkekakis et al., 2005a). Todavia, a relação entre respostas afetivas e intensidade do esforço é

caracterizada por uma enorme variabilidade interindividual (Ekkekakis et al., 2008); de fato, em

uma mesma intensidade do esforço, algumas pessoas reportam prazer, enquanto outras reportam

desprazer. As razões para variabilidade interindividual nas respostas afetivas são ainda incertas,

mas parecem depender, pelo menos parcialmente, de dois traços de personalidade: preferência e

tolerância a intensidade do esforço físico. Especificamente, preferência refere-se à intensidade

na qual a resposta afetiva é otimizada, enquanto tolerância faz referência a intensidade capaz de

ainda permitir a manutenção de um estado afetivo prazeroso (Ekkekakis et al., 2008). Ambos os

constructos, preferência e tolerância, parecem estar associados com a aderência em programas

de exercício físico (Tempest e Parfitt, 2016), podendo ainda ser reportados pelo questionário de

preferência e tolerância da intensidade do exercício físico, PRETIE-Q (Ekkekakis et al., 2005b).

Criado no ano de 2005, o PRETIE-Q foi validado para a língua inglesa (Ekkekakis et al., 2005b;

Ekkekakis et al., 2008) e, até o momento, usado em estudos recentes no contexto do exercício

físico na promoção da saúde (Ekkekakis et al., 2006; Ekkekakis et al., 2007; Ekkekakis et al.,

2008; Hall et al., 2014; Tempest e Parfitt, 2016; Baiamonte et al., 2016). Um estudo recente,

conduzido por Smirmaul et al. (2015), adaptou e validou o PRETIE-Q para a língua portuguesa,

mantendo as propriedades psicométricas do instrumento original com adequada consistência

interna, confiabilidade teste e reteste, e correlações transversais com indicadores de prática de

atividade física na população adulta. De um ponto de vista prático, a validação do PRETIE-Q na

população brasileira adulta permite aos profissionais da saúde que prestam serviços de avaliação

e prescrição do treinamento físico uma informação acurada de dois traços de personalidade de

inegável importância no contexto da aderência ao exercício físico, preferência e tolerância.

4

Os avanços tecnológicos ocorridos nas últimas décadas contribuíram para um cenário promissor

na área da saúde, incentivando o desenvolvimento, adaptação e validação de versões eletrônicas

de diversos instrumentos de medida usados na área (Wilson et al., 2002; Cook et al., 2004;

Beidleman et al., 2007; Junker et al., 2008; Olajos-Clow et al., 2010). Versões eletrônicas de

instrumentos de medidas, como inquéritos ou questionários, asseguram eficiência e segurança

na coleta e manipulação de dados, diminuem o tempo de preenchimento e impedem respostas

imprecisas ou incompletas (Cook et al., 2004). Todavia, estudos de equivalência psicométrica

entre os formatos impresso e eletrônico dos instrumentos de medida devem preceder a sua

utilização no contexto da saúde (APA, 1986).

2 OBJETIVOS

O propósito do presente relatório técnico foi validar o formato eletrônico do questionário sobre

preferência e tolerância da intensidade de exercício físico (PRETIE-Q) na população brasileira

adulta. A proposta é direcionada para acadêmicos e pesquisadores na área da saúde, assim como

para profissionais e administradores de centros de condicionamento físico que prestam serviços

de avaliação, prescrição, e monitoramento do treinamento físico.

5

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 INATIVIDADE FÍSICA, INTENSIDADE DO ESFORÇO, E ADERÊNCIA

A importância da atividade física cotidiana para a saúde e longevidade tem sido reconhecida há

séculos por manuscritos chineses e indianos datados do terceiro milênio A.C. e por escrituras

antigas de famosos filósofos gregos, como Herodicus, Hipócrates e Galeno (Berryman e Park,

1992). De fato, em suas escrituras de Sobre A Higiene, Galeno suportou sua teoria que todas as

pessoas podem beneficiar-se da prática regular de atividade física (Berryman, 2012):

“A utilidade da atividade física, penso eu, são duas: contribuir na evacuação dos excrementos

e na produção de uma boa condição das partes sólidas do corpo... e o movimento corporal

assim resulta em uma maior rigidez dos órgãos contra atritos, aumento do calor intrínseco, e

movimentos acelerados de respiração. Benefícios individuais ao corpo seguem-se devido a

estas respostas”

Cabe salientar, todavia, que foi apenas em meados da década de 1950 que evidências científicas

surgiram para indicar uma associação significativa entre atividade física cotidiana e benefícios a

saúde. Em uma série de estudos, Prof. Jeremy Morris e colegas usaram dados quantitativas para

confirmar que a prática regular de atividade física reduz a incidência de distúrbios coronarianos

(Morris et al, 1953; Morris, 1957; Morris e Crawford, 1958; Morris et al., 1966). De modo

particular, os autores demonstraram que mortes ocasionadas por distúrbios coronarianos foram

menos comuns entre trabalhadores engajados em tarefas mais ativas em comparação aos seus

pares engajados em atividades com menor demanda física. Esses achados preliminares foram

posteriormente expandidos para outros diversos distúrbios crônicos (Paffenbarger et al., 2001).

De fato, até o momento, reconhece-se que a prática cotidiana de atividade física diminui o risco

relativo para cerca de 35 distúrbios orgânicos (Booth et al., 2012), reforçando assim concepções

6

preventivas de agências governamentais e não governamentais no suporte à prática de atividade

física no contexto da promoção da saúde (ACSM, 2008; WHO, 2010).

Apesar da conscientização pública atual sobre os benefícios físicos e mentais da atividade física

(Cameron et al., 2004; Craig e Cameron, 2004; Pratt et al., 2014), milhões de pessoas ao redor

do Mundo continuam a ser insuficientemente ativas (Dumith et al., 2011). Evidências recentes

revelam uma prevalência de inatividade física de ~31% na população adulta ao redor do Mundo

(Hallal et al, 2012), um fenômeno hodierno preocupante que abrange tanto países desenvolvidos

como países em desenvolvimento. De fato, dados recentes mostram que cerca de 35% dos norte-

americanos com idade ≥ 18 anos não atingem as recomendações mínimas semanais de atividade

física (An et al., 2016). De modo similar, cerca de 50% da população brasileira com idade ≥ 20

anos é considerada insuficientemente ativa ou inativa (Knuth et al., 2010). Salienta-se, todavia,

que o fenômeno de pandemia da inatividade física não se associa somente com baixas taxas de

engajamento inicial, mas também com uma elevada prevalência de abandono nos meses iniciais

de participação na atividade física (Kohl et al., 2012). Evidências indicam que cerca de 50% das

pessoas que começam um programa de exercício físico o abandona logo nos primeiros meses de

atividade (Dishman e Buckworth, 1996). Neste contexto, identificar fatores sociais, econômicos,

ambientais e comportamentais associados a inatividade física tornou-se crucial aos profissionais

da área da saúde nos últimos anos (Blair, 2009).

A prática regular de atividade física em intensidade vigorosa parece ser um fator predisponente

para baixa aderência à programas de exercício físico. Estudos epidemiológicos e de intervenção

mostram que pessoas sedentárias são mais predispostas a aderir a programas de exercício físico

com ênfase em atividades moderadas em comparação aos seus pares engajados em atividades de

intensidade vigorosa (Pollock, 1978; Sallis et al., 1986; Perri et al., 2002; Duncan et al., 2005).

De fato, usando um inquérito comunitário longitudinal, Sallis et al. (1986) notaram que taxas de

aderência foram consideravelmente maiores (65–75%) em atividades de intensidade moderada

7

em comparação com atividades de intensidade vigorosa (50%). Usando um ensaio randomizado,

Perri et al. (2002) corroboraram os achados anteriores, mostrando que opostamente à caminhada

em intensidade vigorosa, a caminhada em intensidade moderada promoveu não somente uma

maior aderência (66% vs 58%), assim como uma maior quantidade semanal de atividade física

(85 min vs 72 min). Tais estudos suportam a hipótese que a intensidade do esforço pode afetar a

aderência à programas de exercício físico; todavia, nenhum dos estudos supracitados examinou

potenciais fatores mediadores da associação entre intensidade do esforço e aderência.

3.2 RESPOSTAS AFETIVAS, INTENSIDADE DO ESFORÇO E ADERÊNCIA

A quantidade de prazer reportada em uma atividade parece estar associada com a participação

futura em um programa de exercício físico (Kiviniemi et al., 2007; Williams et al., 2008). Tal

hipótese baseia-se nos pressupostos da teoria hedônica da motivação (Young, 1952; Kahneman

et al., 1993), a qual postula que caso uma pessoa reporte prazer por sua atividade, ela buscará

repeti-la; inversamente, caso uma pessoa reporte desprazer ou desconforto por sua atividade, ela

buscará não repeti-la. De fato, em um estudo prospectivo, Williams et al. (2008) notaram que

respostas afetivas, nomeadamente prazer e desprazer, reportadas em uma sessão de exercício

físico moderado são capazes de predizer a participação futura em um programa de exercício

físico. Desse modo, o presente capítulo faz referência ao constructo afeto e destaca as principais

teorias associadas com a relação entre afeto, intensidade do esforço e aderência, nomeadamente,

teoria dual mode e teoria hedônica da motivação.

3.2.1 Definição Do Constructo Afeto

O uso dos constructos emoção, humor, e afeto como sinônimos contribuíram enormemente para

o surgimento de achados contraditórios em estudos científicos na área da psicologia (Dishman,

1994; Biddle, 1995). Para solucionar tamanha confusão terminológica, Ekkekakis e Petruzzello

8

(2000) buscaram tornar os constructos emoção, humor, e afeto claramente definidos e distintos

entre si. De acordo com os autores, emoção foi definido como um estado afetivo originado após

um processo de julgamento cognitivo, como por exemplo orgulho ou embaraço, durante o qual

um objeto específico é reconhecido como prejudicial ou promotor do bem-estar individual. A

emoção caracteriza-se por sua curta duração e alta intensidade. Por sua vez, humor também foi

definido como um estado afetivo originado após um processo de julgamento cognitivo; porém, a

presença de um objeto específico não é necessária. Opostamente à emoção, humor caracteriza-

se como um estímulo de duração longa e intensidade menor. Finalmente, o constructo afeto foi

definido como um componente não cognitivo de respostas contrastantes, como por exemplo,

conforto e desconforto ou mesmo prazer e desprazer. Salienta-se que o constructo afeto engloba

emoções e humores, porém, não se limita a eles. Sendo assim, o afeto ocorre como componente

da emoção (por exemplo, o orgulho é prazeroso) ou independente dela, na ausência de qualquer

processo de julgamento cognitivo, como na dor, onde ocorre uma falta de prazer não mediada

pela cognição (Ekkekakis e Petruzzello, 2000).

3.2.2 Respostas Afetivas e Intensidade Do Esforço

Define-se respostas afetivas como mudanças no prazer e desprazer auto reportado (Ekkekakis et

al, 2005a). Atualmente, a investigação das respostas afetivas e sua associação com a intensidade

do esforço é uma proeminente área de pesquisa na psicobiologia. Em uma revisão sistemática,

Ekkekakis et al. (2005a) identificou, entre 1971 e 2005, 48 estudos científicos que examinaram

efeitos de múltiplas intensidades sobre as respostas afetivas durante exercício físico; porém, o

número de estudos na temática tem aumentado exponencialmente nos últimos anos (Ekkekakis

et al., 2013). A razão para o maior interesse decorre da expectativa crescente na elucidação de

possíveis mediadores, como por exemplo as respostas afetivas, na relação entre intensidade do

esforço e aderência (Sallis et al., 1986; Dishman & Buckworth, 1996; Perri et al., 2002; Duncan

et al., 2005).

9

Evidências anteriores sugerem a existência de um formato curvilíneo U invertido na relação da

intensidade do esforço e respostas afetivas (Kirkcaldy e Shephard, 1990; Ojanen, 1994; Berger e

Motl, 2000). No formato U invertido, apenas intensidades moderadas causam mudanças afetivas

substanciais, enquanto intensidades leves e intensas não geram mudanças em respostas afetivas.

Destaca-se ainda que intensidades vigorosas seriam associadas a experiências aversivas (Berger

e Motl, 2000). Contudo, dois problemas fundamentais foram identificados no formato de curva

U invertido. Primeiro, apesar de sua enorme popularidade, o formato não se mostrava coerente

com os achados de estudos anteriores (Ekkekakis et al., 2000; Van Landuyit et al., 2000; Lind et

al., 2005). De fato, Ekkekakis et al. (2000) notaram um aumento no prazer reportado durante

exercício físico de intensidade leve, opostamente ao suposto estado afetivo inalterado. Segundo,

o formato curvilíneo U invertido reforça modelos dose-resposta gerais, os quais desconsideram

a variabilidade interindividual (Ekkekakis e Petruzzello, 1999). Logo, a necessidade por novos

modelos teóricos capazes de elucidar a relação entre intensidade de esforço e respostas afetivas

tornou-se evidente nos últimos anos.

3.2.2.1 Teoria Dual Mode

Respostas afetivas durante exercício físico foram comumente analisadas usando uma abordagem

categórica (Thayer, 1987; Gauvin e Rejeski, 1993), capaz de examinar a presença ou ausência e

a magnitude de estados afetivos específicos, como ansiedade, revitalização, fadiga, entre outros

(Ekkekakis e Petruzzello, 2000). Entretanto, embora a abordagem categórica seja um modelo

metodológico que descreve estados afetivos específicos, ela torna-se inadequada para detectar

um estado afetivo único associado com a participação futura em programas de exercício físico

(Williams et al, 2008). Tal afirmação é confirmada por numerosas investigações conduzidas por

Ekkekakis e colaboradores (Ekkekakis e Petruzzello, 1999, 2000; Ekkekakis, 2003; Ekkekakis

et al., 2005; Ekkekakis et al., 2008), evidenciando que usar uma abordagem dimensional para

obter respostas afetivas durante exercício físico, opostamente ao uso de abordagens categóricas,

10

sacrifica as especificidades de estados afetivos em detrimento de um estado afetivo mais global.

Teoricamente, uma abordagem dimensional captura uma área ampla das respostas afetivas no

exercício físico, dividindo-a em duas diferentes dimensões, nomeadamente prazer e desprazer

(medido pela Feeling Scale; Hardy e Rejeski, 1989) e excitação alta e baixa (medido pela Felt

Arousal Scale; Svebak e Murgatroyd, 1985). Outra vantagem da abordagem dimensional refere-

se ao uso de escalas de item único, como a Feeling Scale, na avaliação de respostas afetivas, as

quais facilitam sua aplicação pré-, durante, e pós-exercício físico; opostamente, uma abordagem

categórica usa escalas de itens múltiplos para avaliar estados afetivos distintos, dificultando a

sua aplicabilidade durante exercício físico. A mensuração repetida das respostas afetivas pré-,

durante, e pós-exercício físico asseguram uma análise temporal mais detalhada de sua relação

com a intensidade do esforço (Ekkekakis et al., 2008).

Baseado nos pressupostos de uma abordagem dimensional, Ekkekakis (2003) propôs o modelo

dual mode, postulando uma interação entre fatores cognitivos e interoceptivos na geração de

respostas afetivas durante exercício físico que varia de acordo com intensidade do esforço. De

acordo com as premissas do modelo, fatores cognitivos, como auto eficácia, expectativas, entre

outros, pouco influenciam a geração da resposta afetiva durante exercício físico em intensidades

abaixo do limiar ventilatório. Nesta intensidade, a homeostase não é ameaçada e a resposta

afetiva tende a ser homogênea e positiva. Caso a intensidade aproxime-se do limiar ventilatório,

fatores cognitivos tornam-se mais salientes e a resposta afetiva tende a ser heterogênea, sendo

positiva ou negativa. Por fim, caso a intensidade seja superior ao limiar ventilatório, fatores

interoceptivos ganham importância e tornam-se responsáveis por gerar a resposta afetiva. Nesta

intensidade, a homeostase é ameaçada e a resposta afetiva tende a ser homogênea e negativa

(Ekkekakis, 2003). Cabe salientar que o modelo dual mode melhorou a compreensão a respeito

da geração de respostas afetivas no contexto do exercício físico. Destaca-se ainda que o modelo

suscitou um maior debate sobre a enorme variabilidade interindividual na geração de respostas

afetivas, destacando inclusive seus possíveis causadores, como certos traços de personalidade.

11

3.2.2.2 Teoria Hedônica Da Motivação

Embora o modelo dual mode proporcione uma maior compreensão da relação entre intensidade

do esforço e afeto, pouco ainda é conhecido a respeito da associação das respostas afetivas com

a aderência no contexto do exercício físico na promoção da saúde (Williams, 2008). Criada por

Young (1952) e adaptada para numerosos contextos por Kahneman (1993), a teoria hedônica da

motivação fornece um pressuposto teórico adequado para explicar a associação entre respostas

afetivas e aderência a um dado comportamento. Ressalta-se, todavia, que o conceito hedonismo

é antigo e deriva de manuscritos gregos, postulando que pessoas buscam maximizar e prolongar

o prazer e minimizar ou evitar o desprazer e a dor. Profissionais famosos, como os psicólogos

Jeremy Bentham (1789) e Sigmund Freud (1920), sustentaram as premissas do hedonismo ao

longo do tempo; entretanto, foi apenas no começo da década de 1950 que o psicólogo norte-

americano Paul Thomas Young introduziu o processo afetivo como mediador entre um estímulo

e uma resposta (Young, 1952). Segundo Young (1959), processos afetivos definem-se por seus

atributos, e sendo assim, comportamentos de continuidade referem-se a afeto positivo, enquanto

comportamentos de abandono referem-se a afeto negativo. Mais recentemente, baseados nos

argumentos de Young (1959), Kahneman et al. (1993) propuseram que a percepção de utilidade

de um comportamento define-se pela resposta afetiva gerada naquele comportamento, afetando

assim a decisão de continuidade. Desde então, numerosos estudos usando a teoria hedônica da

motivação foram conduzidos no âmbito da saúde (Kelley et al., 2002; Robinson & Berridge,

2003; Levine et al., 2003; Shiffman et al., 2006; Robinson et al., 2007); todavia, até o momento,

poucos estudos foram realizados no contexto do exercício físico na promoção da saúde. De

acordo com Williams (2008), tal lacuna literária explica-se pelo fato que apenas recentemente as

respostas afetivas foram reconhecidas como um fator determinante para a participação futura em

um programa de exercício físico. De fato, Kiviniemi et al. (2007) mostraram, de modo inédito,

que respostas afetivas tem um papel crucial sobre o comportamento atividade física. Contudo,

foi a partir do estudo prospectivo de Williams et al. (2008) que respostas afetivas durante uma

12

sessão de exercício físico moderado foram reconhecidos como preditores da participação futura

em um programa de exercício físico. Tais achados provocaram uma enorme discussão na área

da psicobiologia a respeito dos fatores determinantes de respostas afetivas no exercício físico.

Tais fatores, prioritariamente àqueles oriundos de estados/traços de personalidade, são debatidos

nos próximos capítulos da fundamentação teórica.

3.3 PREFERÊNCIA E TOLERÂNCIA: TRAÇOS DE PERSONALIDADE E ESTÍMULOS

CORPORAIS

Em 1967, o psicólogo Hans Eysenck definiu traços de personalidade como características inatas

de ordem biológica. Atualmente, sabe-se que numerosos traços de personalidade poderiam estar

associados com a estimulação, conhecida na psicologia como arousal, e a modulação sensorial.

Ambos os constructos são descendentes conceituais das premissas teóricas de força do sistema

nervoso de Ivan Pavlov e incluem a dimensão de introversão vs extroversão (Eysenck, 1967),

impulsividade e ativação vs inibição comportamental (Gray, 1970), reatividade (Kohn, 1985),

busca de sensação (Zuckerman, 1979) e predisposição para a estimulação (Coren, 1970), entre

outras. Todavia, os resultados dos estudos examinando a associação entre ambos os constructos

e respostas à estímulos corporais revelaram achados contraditórios na literatura.

Talvez um exemplo emblemático e ilustrativo possa ser a associação entre extroversão e limiar,

sensibilidade e tolerância a dor. Hipóteses sugeriam que devido às diferenças basais no grau de

estimulação (arousal) do sistema de ativação reticular (SAR; alto para introvertidos e baixo para

extrovertidos), pessoas mais introvertidas seriam mais sensíveis aos estímulos na porção inferior

de um espectro de intensidade, enquanto pessoas extrovertidas responderiam melhor a estímulos

próximos a porção superior do espectro. Ou seja, o grau de tônus hedônico, definido na valência

afetiva, ou preferência em pessoas introvertidas deveria ser otimizado em uma baixa intensidade

13

enquanto para pessoas extrovertidas, o grau deveria ser otimizado em uma intensidade maior de

estimulação sensorial.

Acreditando-se que uma intensidade de estimulação sensorial superior à zona ótima resultaria

em declínio no tônus hedônico, sugeriu-se que diferenças na tolerância também existiriam, onde

pessoas extrovertidas seriam capazes de tolerar níveis de estimulação sensorial maiores do que

seus pares introvertidos. As evidências empíricas, todavia, não corroboraram tais hipóteses, pois

enquanto estudos confirmaram a associação entre extroversão e limiar, sensibilidade e tolerância

à dor (p.ex., Lynn e Eysenck 1961), outros negaram tais achados (p.ex., Harkins et al., 1989).

3.4 PREFERÊNCIA E TOLERÂNCIA: TRAÇOS DE PERSONALIDADE E ESTÍMULOS

CORPORAIS NO EXERCÍCIO FÍSICO

Os resultados de estudos que examinaram traços de personalidade associados com estimulação

(arousal) e modulação sensorial no âmbito do exercício físico também são incoerentes. De fato,

em um estudo clássico, Morgan (1973) propôs a 9 homens adultos pedalar por 1 min em cinco

cargas de trabalho (variando de 300–1500 kpm). Escores de extroversão foram negativamente

correlacionados com esforço percebido em 900 (-0.62), 1200 (-0.69), e 1500 kpm (-0.71). Cabe

ressaltar que quando os participantes foram questionados sobre qual carga de trabalho preferiam

caso a sessão de trabalho fosse estendida por 30 min, uma associação direta entre extroversão e

carga de trabalho foi revelada (0.70). Koller et al. (1984) corroboraram os achados de Morgan

(1973), indicando que pessoas extrovertidas exibem melhor humor e menor esforço percebido

durante esforços vigorosos em comparação com seus pares introvertidos.

Resultados similares foram encontrados com referência a tolerância ao esforço físico. Costello e

Eysenck (1961) reportaram que opostamente a pessoas introvertidas, uma resiliência maior na

continuidade de uma contração isométrica foi notada em pessoas extrovertidas. Shiomi (1980)

14

notou, similarmente, que pessoas extrovertidas persistem por um maior tempo em uma carga de

trabalho constante, vigorosa, do que pessoas introvertidas. Ainda, extroversão foi associada com

uma maior quantidade cotidiana de atividade física, atividade física vigorosa, participação em

esportes de endurance e aderência. Cabe salientar, todavia, que alguns achados contrapõem tais

resultados na literatura. Por exemplo, Williams e Eston (1986) indicaram nenhuma associação

entre extroversão e esforço percebido durante exercício físico em ciclo ergômetro com cargas de

trabalho que variaram entre 30% e 90% potência máxima produzida (Wmax). Feldman (1964) e

Smith (1968), similarmente, demonstraram nenhuma correlação significativa entre extroversão e

persistência em tarefas de endurance isotônicas e isométricas. Por fim, Yeung e Hemsley (1997)

não notaram correlações significativas entre extroversão e participação futura em programas de

exercício físico. Sendo assim, a relação entre traços de personalidade e estimulação (arousal) e

modulação sensorial no contexto do exercício físico permanece ainda incerta.

3.5 PREFERÊNCIA E TOLERÂNCIA: INSTRUMENTOS DE MEDIDA

Ekkekakis (2005b) cita que incertezas na relação entre traços de personalidade e estimulação e

modulação sensorial no contexto do exercício físico derivam de pressupostos teóricos errôneos.

Salienta-se, todavia, que as ferramentas disponíveis e usadas para caracterizar constructos, como

por exemplo extroversão, não capturaram elementos centrais do traço de personalidade de um

modo adequado. Embora nenhum modelo teórico citado anteriormente tenha sido criado apenas

para caracterizar estímulos exteroceptivos, nota-se uma tendência nos instrumentos de medida

atuais para descrever estímulos exteroceptivos, primariamente social, em detrimento a estímulos

interoceptivos. Tal ênfase em manifestações sociais de extroversão (sociabilidade), opostamente

a outros componentes mais centrais, é tratada como problemática na literatura vigente (Phillips e

Gatchel, 2000).

15

Cabe ressaltar que incertezas na relação entre traços de personalidade e estimulação (arousal) e

modulação sensorial no âmbito do exercício físico não são limitadas a uma caracterização única

da extroversão. De fato, numerosas escalas usadas nos estudos citados anteriormente focam-se

primariamente em respostas aos estímulos exteroceptivos em contextos sociais (Ekkekakis et al,

2005b). Neste contexto, pode-se acreditar que os achados inconsistentes no efeito dos traços de

personalidade sobre a estimulação e modulação sensorial no exercício físico originam-se de dois

aspectos a serem notados: (a) fatores que podem afetar a modulação de estímulos interoceptivos,

comumente vistos no exercício físico, diferenciam-se daqueles que influenciam a modulação de

estímulos exteroceptivos e sociais; (b) medidas disponíveis de traços de personalidade baseiam-

se em estímulos exteroceptivos e sociais, negligenciando os efeitos de estímulos interoceptivos.

Portanto, a criação de novos constructos para o estudo da relação entre traços de personalidade e

estimulação e modulação sensorial no exercício físico, assim como a elaboração e a validação

de instrumentos de medidas capazes de caracterizar as singularidades de cada novo constructo,

tornou-se necessária.

3.6 PREFERÊNCIA E TOLERÂNCIA: DEFINIÇÕES OPERACIONAIS E CRIAÇÃO DA

PRETIE-Q

Ekkekakis et al. (2005b) sugeriram dois novos constructos no estudo de traços de personalidade

e sua relação com estimulação e modulação sensorial, denominados preferência e tolerância da

intensidade de exercício físico. Especificamente, preferência define-se como uma predisposição

para escolher uma intensidade durante exercício físico, quando dada a oportunidade. Exemplos

são protocolos de exercício físico autosselecionado ou não supervisionado (DaSilva et al. 2011).

Tolerância, por sua vez, define-se como um traço de personalidade que afeta a capacidade para

continuar a exercitar-se em uma intensidade imposta, mesmo após a atividade tornar-se pouco

prazerosa. Ekkekakis et al. (2005b) afirmam que não apenas ambos os traços de personalidade,

preferência e tolerância, determinarão a escolha e a continuidade em uma dada intensidade. De

16

fato, fatores físicos (p.ex., idade, aptidão física e estado de saúde), situacionais (p.ex., ansiedade

social e auto eficácia) e de experiência (p.ex., histórico de exercício físico) são relevantes neste

caso. Nota-se que os autores conceitualizam os constructos preferência e tolerância como traços

de personalidade, presumivelmente de ordem genética, baseados em numerosos argumentos,

como diferenças individuais enormes e consistentes notadas na preferência e tolerância tanto em

modelos animais como humanos.

Neste contexto, Ekkekakis et al. (2005b) elaboraram a PRETIE-Q (do termo inglês, Preference

for and Tolerance of the Intensity of Exercise Questionnaire), um instrumento de medida para

uso no contexto do exercício físico, capaz de identificar diferenças individuais na preferência e

tolerância da intensidade de exercício físico (Anexo 1). A escala é composta por oito itens para

cada novo constructo, sendo 4 itens para preferência por uma intensidade vigorosa e 4 itens para

preferência por uma intensidade leve. A escala é composta ainda por 4 itens para tolerância a

uma intensidade vigorosa e 4 itens para tolerância a uma intensidade leve. Cada item é seguido

por uma escala do tipo Likert de 5 pontos, sendo 1 discordo totalmente e 5 concordo totalmente.

Ekkekakis et al. (2005b) notou coeficientes de consistência interna entre 0.81 e 0.85 para escala

de preferência e entre 0.82 e 0.87 para escala de tolerância. A confiabilidade teste-reteste para as

escalas de preferência e tolerância foi de 0.67 a 0.80 após 3 meses e de 0.80 e 0.72 após 4 meses

de intervalo da primeira avaliação, respectivamente. Por fim, a PRETIE-Q correlacionou-se com

indicadores transversais de prática cotidiana de atividade física. Desde então, diversos estudos

confirmatórios foram conduzidos usando a PRETIE-Q (Ekkekakis et al., 2005b, 2006, 2007,

2008; Hall et al., 2014; Smith et al, 2015). Por exemplo, embora ambas as escalas de preferência

e tolerância da PRETIE-Q sejam correlacionadas com as respostas afetivas durante uma sessão

de 15 min de corrida na esteira na intensidade relativa ao limiar ventilatório, apenas a tolerância

significativamente correlacionou-se com respostas afetivas em uma intensidade maior (ou seja,

10% acima do limiar ventilatório) (Ekkekakis et al., 2006). Ainda, a escala de tolerância, e por

uma menor extensão, a escala de preferência da PRETIE-Q, foram preditores da continuidade

17

em um teste incremental máximo até a exaustão, após se atingir o limiar ventilatório (Ekkekakis

et al., 2007). Tais estudos foram cruciais para confirmar a validade e a aplicabilidade prática da

PRETIE-Q em diversas populações e contextos do exercício físico na promoção da saúde.

3.7 PREFERÊNCIA E TOLERÂNCIA: ADAPTAÇÃO CULTURAL E VALIDAÇÃO DA

PRETIE-Q PARA A LÍNGUA PORTUGUESA

Compreendendo a relevância da determinação dos constructos preferência e tolerância da

intensidade do exercício físico no contexto da promoção da saúde, Smirmaul et al. (2015)

validaram a PRETIE-Q para a língua portuguesa. Baseados nas recomendações de Beaton et al.

(2000), os autores realizaram uma avaliação psicométrica da PRETIE-Q em duas fases distintas:

1) tradução, retrotradução, e produção de uma versão em língua portuguesa do questionário; e 2)

validação de constructo, análise de coeficientes de consistência interna e confiabilidade teste e

reteste. Em suma, os autores notaram equivalências semântica, idiomática, cultural e conceitual

da PRETIE-Q em língua portuguesa. Coeficientes de consistência interna entre 0.91 e 0.82 e

confiabilidade teste e reteste de 0.90 e 0.89 para as escalas preferência e tolerância da PRETIE-

Q, respectivamente, foram encontradas no estudo. Por fim, os autores notaram uma correlação

significativa entre as escalas de preferência e tolerância e a intensidade (r = 0.48 e r = 0.57) e

frequência (r = 0.40 e r = 0.51) de atividade física cotidiana, respectivamente. Tais achados

confirmam a manutenção das propriedades psicométricas do instrumento original, permitindo a

aplicação da PRETIE-Q em adultos fluentes na língua portuguesa no âmbito do exercício físico

na promoção da saúde. Smirmaul et al. (2015) destacam ainda a possibilidade de futuros estudos

corroborarem a avaliação psicométrica inicial da PRETIE-Q em língua portuguesa, seja em seu

formato original ou adaptado para diferentes populações etárias ou contextos, aumentando assim

a abrangência no uso do instrumento.

18

3.8 QUESTIONÁRIOS DO FUTURO: FORMATO IMPRESSO OU ELETRÔNICO?

Os avanços tecnológicos ocorridos nas últimas décadas demonstram um cenário promissor na

área da saúde, permitindo a utilização de computadores, tablets, e smartphones em numerosos

serviços de cuidado ao paciente. O desenvolvimento ou adaptação de questionários em formato

eletrônico e online, em substituição aos tradicionais instrumentos em formato impresso, é um

exemplo de como novas tecnologias vêm beneficiando a prática profissional de prestadores de

serviços no âmbito da saúde. De fato, em um recente estudo, Van Gelder et al. (2010) destacam

que a evolução inerente ao uso de questionários em formato eletrônico e online no contexto da

pesquisa científica é promissora, podendo facilmente atender as expectativas dos pesquisadores

no futuro. Versões eletrônicas de instrumentos de medida como questionários e inquéritos são

capazes de assegurar eficiência e segurança na coleta e manipulação de dados, reduzir o tempo

de preenchimento e evitar respostas imprecisas ou incompletas (Wilson et al., 2002; Cook et al.,

2004). Outras vantagens citadas incluem o maior número de respondentes, diminuição do custo

financeiro e, potencialmente, maior sustentabilidade ecológica (Van Gelder et al, 2010). Estudos

de equivalência entre os formatos impresso e eletrônico de um instrumento de medida, todavia,

devem preceder a sua utilização (American Psychological Association, 1986). De fato, diversos

estudos foram conduzidos nos últimos anos buscando comparar as propriedades psicométricas

de instrumentos de medida em seu formato original, impresso, e o seu novo formato eletrônico

(Wilson et al., 2002; Cook et al., 2004; Beidleman et al., 2007; Junker et al., 2008; Olajos-Clow

et al., 2010). Neste contexto surgiu a proposta do presente estudo, que visa elaborar e validar o

formato eletrônico da PRETIE-Q na população adulta brasileira, assegurando a manutenção das

propriedades psicométricas do instrumento original. Detalhes do processo de desenvolvimento e

avaliação psicométrica da versão eletrônica da PRETIE-Q são descritos no Capítulo 4.

19

4. METODOLOGIA

4.1 DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO TÉCNICO

4.1.1 Delineamento

O presente produto técnico foi elaborado em quatro fases distintas. Em um primeiro momento, a

versão para língua portuguesa do questionário PRETIE-Q (Smirmaul et al., 2015) foi elaborada,

em seu formato eletrônico, por um profissional em programação de dados. O formato eletrônico

do PRETIE-Q encontra-se disponível para uso no website www.coachmitamura.com/pretie-q. A

versão eletrônica da PRETIE-Q foi então analisada quanto aos critérios de consistência interna e

concordância com o seu formato original e impresso. Usando uma parcela da amostra total dos

respondentes, a confiabilidade teste e reteste de curta duração também foi determinada. Por fim,

após a determinação das propriedades psicométricas do formato eletrônico do PRETIE-Q, foram

analisados fatores associados com o seu uso, tais como facilidade de compreensão, tempo para o

preenchimento, e preferência por seu uso. Detalhes sobre a criação e validação do instrumento

no formato eletrônico são apresentados no tópico 4.1.3.

4.1.2 Participantes

Para o desenvolvimento do produto técnico, praticantes de atividade física foram recrutados de

modo voluntário, por conveniência. O número de participantes foi específico para cada fase do

estudo; de fato, 110 adultos, de ambos os sexos, voluntariaram-se para a etapa de determinação

da validade do formato eletrônico da PRETIE-Q, enquanto apenas uma parcela da amostra total

dos respondentes (n = 61) voluntariou-se para a etapa de determinação da confiabilidade teste e

reteste do instrumento. Os critérios de inclusão no estudo foram idade entre 18 e 60 anos e um

mínimo de seis meses de prática regular de atividade física (> 150 min por semana de atividade

20

física moderada ou vigorosa). Uma apresentação dos propósitos, procedimentos, e benefícios do

estudo foi feita aos participantes. A participação dos voluntários foi permitida após a assinatura

do termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice 1), conforme normativas do Conselho

Nacional de Saúde (2012) para pesquisas envolvendo seres humanos. O projeto de pesquisa foi

submetido para análise do comitê de ética institucional da Universidade Norte do Paraná.

4.1.3 Instrumentos e Procedimentos Metodológicos

4.1.3.1 Desenvolvimento do Questionário (Formato Eletrônico)

Conforme mencionado anteriormente, o questionário PRETIE-Q é composto por oito itens para

cada novo constructo, nomeadamente, preferência e tolerância da intensidade de exercício físico

(Ekkekakis et al., 2005b). Basicamente, o instrumento compõe-se de 4 itens para preferência por

uma intensidade vigorosa (itens 6, 10, 14, 16) e 4 itens para preferência por uma intensidade

leve (itens 2, 4, 8, 12). Compõem ainda o instrumento 4 itens para tolerância a uma intensidade

vigorosa (itens 5, 7, 11, 15) e 4 itens para tolerância a uma intensidade leve (itens 1, 3, 9, 13).

Destaca-se que cada item ou domínio possui uma escala Likert de 5 pontos, sendo 1 discordo

totalmente e 5 concordo totalmente. Contudo, itens referentes a preferência por uma intensidade

leve (itens 2, 4, 8, 12) e tolerância a uma intensidade leve (itens 1, 3, 9, 13) têm seu escore

invertido. Dessa maneira, o escore total do questionário PRETIE-Q para cada novo constructo

deverá variar entre 8 e 40 (ver Anexo 1).

A plataforma eletrônica da versão em língua portuguesa da PRETIE-Q (Smirmaul et al., 2015)

foi elaborada utilizando linguagens de programa online. Para o desenvolvimento da estrutura,

utilizou-se HTML 5, CSS 3.0, Php e Jquery, programas capazes de dar suporte a estrutura visual

inicial. O programa possui interface gráfica e linguagem PHP com suporte matemático, sistema

multiplataforma, suporte a um numeroso banco de dados e código fonte aberto. O PRETIE-Q

21

pode ser acessado por meio de três navegadores de internet: Internet Explorer, Mozilla e Google

Chrome. Ainda, o PRETIE-Q, em formato eletrônico, foi composto pela mesma estrutura do

instrumento em seu formato impresso, sendo diferenciado apenas pelo modo de interface de

preenchimento das respostas. Na estrutura interna para criar a funcionalidade de armazenamento

dos bancos de dados, por sua vez, utilizou-se os programas MySQL e phpMyAdmin (Figuras 3-

9). Cabe salientar novamente que a plataforma online se encontra disponível para uso através do

website www.coachmitamura.com/pretie-q.

4.1.3.2 Concordância Entre Formatos Impresso & Eletrônico do PRETIE-Q

Para determinar a concordância entre os formatos impresso e eletrônico do PRETIE-Q, utilizou-

se um delineamento randomizado e cruzado. Cada participante, recrutado por conveniência em

centros de condicionamento físico na cidade de Londrina (PR), preencheu o formato eletrônico

do PRETIE-Q em um aparelho portátil touch screen (iPad®, Apple Inc.) no começo da sessão

experimental; posteriormente, após 2 horas de intervalo, cada participante preencheu o formato

impresso do questionário (ou vice-versa). Nenhuma discussão sobre a pesquisa foi permitida

entre os respondentes durante a sessão experimental. Descritores demográficos e sociais dos

respondentes, assim como aspectos inerentes ao grau de usabilidade e preferência de ambos os

formatos do PRETIE-Q, foram determinados na presente sessão experimental (maiores detalhes

no tópico 4.1.3.4). Participaram desta fase da pesquisa 110 adultos, 61 homens e 49 mulheres,

com idade média de 28,9 ± 8,4 anos e índice de massa corporal médio de 24,8 ± 3,5 kg.m-2.

Para o tratamento estatístico, utilizou-se o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS v.

24.0). Dados descritivos de ambos os formatos do PRETIE-Q são apresentados nas Tabelas 1 e

2. A consistência interna de cada formato foi determinada por índices α de cronbach (Cronbach,

1951). Segundo Cronbach (1951), cada item deve estar satisfatoriamente correlacionado com a

sua própria dimensão, não devendo existir correlações negativas entre um item e a escala total.

22

A adequação e satisfatoriedade do modelo α foi testada usando os seguintes critérios propostos

por Taylor et al (2005): índices α > 0,80, desejáveis; índices α > 0,70, recomendados; índices α

> 0,60, aceitos apenas para uso em pesquisa científica, sendo desaconselhável o seu uso clínico.

Dessa maneira, para os propósitos do presente estudo, qualquer índice α superior a 0,60 pode ser

tido como uma consistência interna satisfatória. Basicamente, todos os domínios do questionário

PRETIE-Q, formato impresso, apresentaram coeficientes de consistência interna satisfatórios,

variando entre 0,80 e 0,82 na escala de preferência e entre 0,78 e 0,80 na escala de tolerância.

As Tabelas 3 e 4 apresentam os coeficientes de correlação de Spearman (ρ) e intraclasse (ICC),

com um nível de significância P < 0,05, entre os formatos impresso e eletrônico do questionário

PRETIE-Q. Basicamente, uma correlação significativa e moderadamente alta (ρ > 0,73 e ICC >

0,73, P < 0,01) foi reportada em ambos os constructos nos diferentes formatos do questionário.

Salienta-se, todavia, que procedimentos correlacionais, tais como coeficientes de correlação de

Spearman ρ ou ICC, são afetados pela amplitude dos escores e, portanto, calcular a proporção

de concordância com um valor de referência ± 1 pode adicionar informações da estabilidade do

instrumento avaliado (Nevill et al., 2011). No presente estudo, a proporção de respondentes que

assinalaram a mesma resposta em duas ocasiões separadas ou discordaram em apenas ± 1 ponto

na escala Likert de 5 pontos foi superior a 80%. Por fim, usando testes t pareados, nenhuma

diferença foi notada entre os dois formatos do PRETIE-Q nos constructos analisados.

A concordância entre os formatos impresso e eletrônico do PRETIE-Q (Figura 1A-D) foi ainda

analisada utilizando-se da estratégia de Bland e Altman (1995), a qual pressupõe a construção

de um gráfico da concordância (média vs concordância) vs cálculo do limite de concordância.

Com o uso desta técnica, pode-se definir a magnitude das diferenças para 95% das observações

(Altman, 1991). Em suma, percebe-se uma satisfatória distribuição aleatória ao redor de zero,

com poucos pontos fora dos limites superior e inferior, denotando assim uma boa concordância

entre os formatos impresso e eletrônico da PRETIE.

23

Tabela 1 Estatística descritiva, item por item, referente ao domínio preferência dos formatos impresso e eletrônico do PRETIE-Q (n = 110).

Item

Média Desvio Padrão Mediana Mínimo-Máximo

α-cronbach

Impresso Eletrônico Impresso Eletrônico Impresso Eletrônico Impresso Eletrônico

Preferência, Baixa Intensidade

Q2 3,55 3,45 1,08 1,20 4,00 4,00 2 – 5 1 - 5

Q4 3,39 3,39 1,00 1,05 4,00 4,00 1 – 5 1 - 5

Q8 3,56 3,57 1,00 0,99 4,00 4,00 2 - 5 1 - 5

Q12 3,95 3,90 0,92 0,88 4,00 4,00 2 - 5 1 - 5

Domínio 14,46 14,32 3,30 3,41 15,00 14,00 8 – 20 6 – 20 0,82

Preferência, Alta Intensidade

Q6 3,73 3,65 1,00 1,07 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Q10 3,53 3,45 1,10 1,13 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Q14 3,24 3,43 0,96 1,00 3,00 3,00 1 - 5 1 - 5

Q16 3,55 3,49 1,04 1,11 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Domínio 14,04 14,00 3,17 3,11 14,00 14,00 8 - 20 6 - 20 0,80

Total 28,50 28,32 5,95 5,75 29,00 28,00 16 - 40 16 - 40

24

Tabela 2 Estatística descritiva, item por item, referente ao domínio tolerância dos formatos impresso e eletrônico do PRETIE-Q (n = 110).

Item

Média Desvio Padrão Mediana Mínimo-Máximo

α-cronbach

Impresso Eletrônico Impresso Eletrônico Impresso Eletrônico Impresso Eletrônico

Tolerância, Baixa Intensidade

Q1 3,58 3,55 0,99 1,09 4,00 4,00 2 - 5 1 - 5

Q3 2,92 3,08 1,01 1,07 3,00 3,00 2 - 5 1 - 5

Q9 3,58 3,46 0,98 1,17 4,00 4,00 2 - 5 1 - 5

Q13 3,16 3,12 1,04 1,09 3,00 3,00 2 - 5 1 - 5

Domínio 13,25 13,22 3,07 3,40 13,00 13,00 8 – 20 4 – 20 0,80

Tolerância, Alta Intensidade

Q5 3,42 3,54 1,05 1,02 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Q7 2,86 3,00 0,97 1,01 3,00 3,00 1 - 5 1 - 5

Q11 3,16 3,25 1,08 1,09 3,00 3,00 1 - 5 1 - 5

Q15 3,47 3,54 1,03 0,95 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Domínio 12,92 13,32 2,96 3,01 13,00 14,00 4 - 20 5 - 20 0,78

Total 26,16 26,54 5,13 5,59 26,00 27,00 13 - 38 13 - 40

25

Tabela 3 Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) e intraclasse (ICC), diferença média, e proporção de respondentes que assinalaram uma mesma resposta

ou discordaram em apenas ± 1 ponto na escala Likert de 5 pontos no domínio preferência dos formatos impresso e eletrônico do PRETIE-Q (n = 110).

Item % Concordância (exato) % Concordância (± 1) Correlação Spearman ρ ICC Significância P (teste t)

Preferência, Baixa Intensidade

Q2 64 25 0,76 0,75 0,14

Q4 58 34 0,65 0,66 1,00

Q8 62 29 0,67 0,68 0,90

Q12 67 27 0,70 0,71 0,39

Domínio 0,88 0,87 0,37

Preferência, Alta Intensidade

Q6 64 24 0,59 0,54 0,38

Q10 54 32 0,57 0,51 0,43

Q14 61 28 0,62 0,58 0,04*

Q16 60 30 0,57 0,51 0,59

Domínio 0,73 0,73 0,86

Total 0,90 0,89 0,49

* P < 0,05.

26

Tabela 4 Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) e intraclasse (ICC), diferença média, e proporção de respondentes que assinalaram uma mesma resposta

ou discordaram em apenas ± 1 ponto na escala Likert de 5 pontos no domínio tolerância dos formatos impresso e eletrônico do PRETIE-Q (n = 110).

Item % Concordância (exato) % Concordância (± 1) Correlação Spearman ρ ICC Significância P (teste t)

Tolerância, Baixa Intensidade

Q1 77 18 0,76 0,81 0,65

Q3 51 38 0,65 0,66 0,04*

Q9 60 27 0,67 0,58 0,21

Q13 63 25 0,70 0,69 0,57

Domínio 0,88 0,84 0,87

Tolerância, Alta Intensidade

Q5 54 31 0,59 0,51 0,22

Q7 60 30 0,57 0,64 0,09

Q11 65 29 0,62 0,71 0,29

Q15 59 32 0,57 0,64 0,42

Domínio 0,73 0,77 0,05

Total 0,90 0,85 0,17

* P < 0,05.

27

Figura 1 Análise da concordância entre o formato impresso e eletrônico do PRETIE-Q pela plotagem de Bland Altman (n = 61).

28

4.1.3.3 Confiabilidade do Formatos Eletrônico do PRETIE-Q

Confiabilidade pode ser definida como a extensão pela qual os escores de uma medida, os quais

não se alteraram no período de tempo entre dois testes, são os mesmos para medidas repetidas

(Terwee et al., 2009). Para a determinação de confiabilidade, Altman (1991) sugere um tamanho

amostral não inferior a 50 participantes para estudos usando métodos paramétricos. Portanto, no

presente estudo, uma parcela da amostra total de respondentes foi convidada, por conveniência,

a preencher o formato eletrônico do PRETIE-Q 14 dias após a primeira sessão experimental, em

um processo chamado de confiabilidade teste reteste. De acordo com Kline (1993), um intervalo

superior a três meses entre teste e reteste é necessário para reduzir as chances de memorização

de respostas pelos respondentes; todavia, um intervalo de tempo mais curto pode ser usado, pois

a possibilidade de mudanças per se em certas variáveis é minimizada (Nevill et al., 2001). Neste

contexto, participaram desta etapa do estudo 61 adultos, 30 homens e 31 mulheres, com idade

média de 29,3 ± 3,0 anos e índice de massa corporal médio de 24,7 ± 6,9 kg.m-2.

Dados descritivos do formato eletrônico do PRETIE-Q, teste e reteste, são apresentados nas

Tabelas 5 e 6. A consistência interna do instrumento foi medida por índices α cronbach, usando

critérios de satisfatoriedade propostos por Taylor et al (2005). Dessa maneira, para os propósitos

do estudo, um índice α superior a 0,60 seria uma consistência interna satisfatória. Basicamente,

os domínios do formato eletrônico do PRETIE-Q tiveram coeficientes de consistência interna

satisfatórios, variando entre 0,81 e 0,82 para a escala de preferência e entre 0,62 e 0,80 para a

escala de tolerância.

Para determinação da confiabilidade teste reteste do formato eletrônico do PRETIE-Q, analisou-

se coeficientes de correlação de Spearman (ρ) e intraclasse (ICC), com um nível de significância

P < 0.05 (Weir, 2005). Em suma, uma correlação significativa e moderadamente alta (ρ > 0,71 e

ICC > 0,76, P < 0.01) foi notada em ambos os constructos entre o teste e reteste do instrumento.

29

A proporção de respondentes que assinalaram uma mesma resposta em duas ocasiões separadas

ou discordaram em ± 1 ponto na escala Likert de 5 pontos foi superior a 80%. Por fim, usando

testes t pareado, nenhuma diferença foi detectada entre as duas aplicações do formato eletrônico

do questionário PRETIE-Q em cada constructo analisado (Tabelas 7 e 8).

Determinou-se ainda a concordância entre as duas aplicações do formato eletrônico do PRETIE-

Q (Figura 2A-D), utilizando-se da estratégia proposta por Bland e Altman (1995). Com o uso de

tal técnica, pode-se determinar a magnitude das diferenças para 95% das observações (Altman,

1991). De modo sucinto, percebeu-se uma satisfatória distribuição aleatória ao redor de zero,

com poucos pontos fora dos limites superior e inferior, denotando assim uma boa concordância

teste e reteste do formato eletrônico do PRETIE.

4.1.3.4 Usabilidade do Formato Eletrônico do PRETIE-Q

Critérios referentes a usabilidade do formato eletrônico do PRETIE-Q foram avaliados. Usando

um teste t pareado, verificou-se que o tempo de preenchimento foi similar (~166 vs 165 seg; P >

0,05) entre os formatos impresso e eletrônico do questionário, respectivamente. Ainda, o grau

de entendimento dos itens da versão eletrônica do questionário PRETIE-Q foi avaliado através

de uma escala Likert de 6 pontos, variando de 0 não entendi nada até 5 entendi perfeitamente e

não tenho dúvidas. Basicamente, os respondentes tiveram uma boa compreensão do instrumento

(4,4 ± 0,8). Por fim, usando um teste qui-quadrado (X2), notou-se que uma parcela considerável

dos respondentes preferiu a versão eletrônica do questionário (~81%) em detrimento ao formato

impresso do instrumento (~19%, P < 0,05).

30

Tabela 5 Estatística descritiva, item por item, referente ao domínio preferência do formato eletrônico (teste e reteste) do PRETIE-Q (n = 61).

Item

Média Desvio Padrão Mediana Mínimo-Máximo

α-Cronbach

Teste Reteste Teste Reteste Teste Reteste Teste Reteste

Preferência, Baixa Intensidade

Q2 3,45 3,30 1,20 1,21 4,00 3,00 1 - 5 1 – 5

Q4 3,39 3,41 1,05 1,02 4,00 3,00 1 - 5 1 – 5

Q8 3,57 3,64 0,99 0,98 4,00 4,00 1 - 5 1 – 5

Q12 3,90 3,87 0,88 0,92 4,00 4,00 1 - 5 1 – 5

Domínio 14,32 14,46 3,41 3,54 14,00 15,00 6 – 20 5 – 20 0,81

Preferência, Alta Intensidade

Q6 3,65 3,59 1,07 1,11 4,00 4,00 1 - 5 2 – 5

Q10 3,45 3,52 1,13 1,05 4,00 4,00 1 - 5 1 – 5

Q14 3,43 3,25 1,00 1,04 3,00 3,00 1 - 5 1 – 5

Q16 3,49 3,41 1,11 1,05 4,00 4,00 1 - 5 1 – 5

Domínio 14,00 13,95 3,11 3,19 14,00 14,00 6 - 20 6 – 20 0,82

Total 28,32 28,41 5,75 6,35 28,00 28,00 16 - 40 11 – 40

31

Tabela 6 Estatística descritiva, item por item, referente ao domínio tolerância do formato eletrônico (teste e reteste) do PRETIE-Q (n = 61).

Item

Média Desvio Padrão Mediana Mínimo-Máximo

α-Cronbach

Teste Reteste Teste Reteste Teste Reteste Teste Reteste

Tolerância, Baixa Intensidade

Q1 3,55 3,52 1,09 1,10 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Q3 3,08 3,11 1,07 1,14 3,00 3,00 1 - 5 1 - 5

Q9 3,46 3,33 1,17 1,24 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Q13 3,12 3,10 1,09 1,12 3,00 3,00 1 - 5 1 - 5

Domínio 13,22 12,97 3,40 3,54 13,00 13,00 4 – 20 4 – 20 0,80

Tolerância, Alta Intensidade

Q5 3,54 3,43 1,02 1,07 4,00 4,00 1 - 5 1 – 5

Q7 3,00 3,00 1,01 1,11 3,00 3,00 1 - 5 1 – 5

Q11 3,25 3,18 1,09 1,13 3,00 3,00 1 - 5 1 – 5

Q15 3,54 3,10 0,95 1,12 4,00 4,00 1 - 5 2 – 5

Domínio 13,32 13,33 3,01 3,49 14,00 14,00 5 - 20 4 – 20 062

Total 26,54 26,30 5,59 6,25 27,00 27,00 13 - 40 8 - 40

32

Tabela 7 Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) e intraclasse (ICC), diferença média, e proporção de respondentes que assinalaram uma mesma resposta

ou discordaram em apenas ± 1 ponto na escala Likert de 5 pontos no domínio preferência do formato eletrônico (teste e reteste) do PRETIE-Q (n = 61).

Item % Concordância (exato) % Concordância (± 1) Correlação Spearman ρ ICC Significância P (teste t)

Preferência, Baixa Intensidade

Q2 56 33 0,59 0,57 0,09

Q4 52 39 0,61 0,62 0,48

Q8 62 28 0,58 0,57 0,68

Q12 67 23 0,57 0,61 0,88

Domínio 0,78 0,76 0,42

Preferência, Alta Intensidade

Q6 61 26 0,63 0,63 0,25

Q10 62 26 0,61 0,62 0,32

Q14 61 31 0,60 0,55 0,59

Q16 59 21 0,41 0,39 0,50

Domínio 0,71 0,76 0,52

Total 0,81 0,82 0,36

* P < 0,05.

33

Tabela 8 Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) e intraclasse (ICC), diferença média, e proporção de respondentes que assinalaram uma mesma resposta

ou discordaram em apenas ± 1 ponto na escala Likert de 5 pontos no domínio tolerância do formato eletrônico (teste e reteste) do PRETIE-Q (n = 61).

Item % Concordância (exato) % Concordância (± 1) Correlação Spearman ρ ICC Significância P (teste t)

Tolerância, Baixa Intensidade

Q1 52 34 0,49 0,45 0,82

Q3 56 36 0,73 0,72 0,12

Q9 64 21 0,70 0,67 0,10

Q13 51 36 0,62 0,62 0,41

Domínio 0,83 0,80 0,74

Tolerância, Alta Intensidade

Q5 64 25 0,69 0,66 0,15

Q7 54 39 0,68 0,70 0,34

Q11 66 26 0,66 0,66 0,68

Q15 62 26 0,61 0,62 0,20

Domínio 0,80 0,80 0,52

Total 0,85 0,85 0,88

* P < 0,05.

34

Figura 2 Análise da confiabilidade teste e reteste de curta duração (14 dias) do formato eletrônico do PRETIE-Q pela plotagem de Bland Altman (n = 61).

35

Figura 3 Plataforma PRETIE-Q: Banco de Dados Interno phpMyAdmin.

36

Figura 4 Plataforma PRETIE-Q: Programação (Parte 1)

37

Figura 5 Plataforma PRETIE-Q: Programação (Parte 2)

38

Figura 6 Plataforma PRETIE-Q: Programação (Parte 3)

39

Figura 7 Plataforma PRETIE-Q: Visualização do usuário (Parte 1)

40

Figura 8 Plataforma PRETIE-Q: Visualização do usuário (Parte 2)

41

Figura 9 Plataforma PRETIE-Q: Visualização do usuário (Parte 3).

42

4.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente relatório técnico demonstrou que o formato eletrônico e online do questionário sobre

preferência e tolerância da intensidade de exercício físico (PRETIE-Q; Ekkekakis et al., 2005b),

possui propriedades psicométricas satisfatórias quanto aos critérios de validade e confiabilidade

teste e reteste. De fato, a versão eletrônica do questionário, disponibilizado para uso gratuito no

website www.coachmitamura.com/pretie-q, foi comparável à sua versão em formato impresso.

De um ponto de vista prático, a validação do formato eletrônico do PRETIE-Q para a população

adulta brasileira permite aos profissionais da área da saúde, prestadores de serviços de avaliação

e monitoramento do treinamento físico, uma informação rápida e satisfatória de dois traços de

personalidade de inegável relevância no âmbito da aderência ao exercício físico, nomeadamente

preferência e tolerância da intensidade do exercício físico.

43

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51

VALIDAÇÃO DO FORMATO ELETRÔNICO DO QUESTIONÁRIO DE

PREFERÊNCIA E TOLERÂNCIA DA INTENSIDADE DE EXERCÍCIO FÍSICO

(PRETIE-Q)

(Submissão do manuscrito para Revista Brasileira de Medicina do Esporte)

(Webqualis A2)

52

Introdução

Apesar da conscientização pública atual sobre os benefícios físicos e mentais da atividade física

(Pratt et al., 2014), milhões de pessoas ao redor do Mundo continuam a ser insuficientemente

ativas (Dumith et al., 2011). Evidências recentes revelam uma prevalência de inatividade física

de ~31% na população adulta ao redor do Mundo (Hallal et al., 2012). Neste contexto,

identificar fatores sociais, econômicos, ambientais e comportamentais associados ao fenômeno

de pandemia da inatividade física tornou-se essencial aos profissionais da área da saúde nos

últimos anos (Blair, 2009).

Numerosos estudos têm sido direcionados a examinar os fatores determinantes do engajamento

inicial e continuidade em programas de exercício físico (Marcus et al., 2006; Biddle e Nigg,

2000); todavia, até o momento, os modelos teóricos formulados para explicar o comportamento

exercício físico são pouco esclarecedores e promissores (Ekkekakis, 2013). Neste sentido,

intervenções no âmbito do exercício físico deveriam focar-se no aprofundamento da

compreensão sobre os benefícios físicos e mentais do exercício físico, facilitando o julgamento

de seus participantes na identificação de vantagens e desvantagens para a continuidade do

comportamento e suas consequências futuras. Evidências sugerem, contudo, que intervenções

focadas na educação e mudanças no julgamento cognitivo são pouco efetivas, reduzindo a

importância de famosas teorias racionalistas e comportamentais no contexto do exercício físico

na promoção da saúde (Dishman & Buckworth, 1996).

A quantidade de prazer reportada durante uma sessão de exercício físico pode estar associada

com a participação futura em um programa de exercício físico (Williams et al., 2008). Tal

argumentação confirma os pressupostos da teoria hedônica da motivação (Young 1952;

53

Kahneman et al., 1993), a qual postula que caso uma pessoa reporte prazer em sua atividade, ela

buscará repeti-la; por outro lado, caso uma pessoa reporte desprazer em sua atividade, a chance

de repeti-la é menor. De fato, um estudo prospectivo conduzido por Williams et al. (2008) notou

que respostas afetivas, nomeadamente prazer e desprazer, durante uma sessão de exercício físico

moderado foram capazes de predizer a participação futura em um programa de exercício físico.

As respostas afetivas durante exercício físico parecem ser mediadas pela intensidade do esforço

(Ekkekakis et al., 2005a). Todavia, a relação entre respostas afetivas e intensidade do esforço é

caracterizada por uma enorme variabilidade interindividual (Ekkekakis et al., 2008). Embora as

razões para a variabilidade interindividual nas respostas afetivas continuem incertas, dois traços

de personalidade podem estar associados, nomeadamente preferência e tolerância a intensidade

do esforço físico. Preferência refere-se à intensidade na qual a resposta afetiva é otimizada, e

tolerância faz referência a intensidade capaz de permitir a manutenção de um estado afetivo

prazeroso (Ekkekakis et al., 2008). Ambos os constructos podem ser avaliados pelo questionário

de preferência e tolerância da intensidade do exercício físico, PRETIE-Q (Ekkekakis et al.,

2005b). Criado no ano de 2005, o instrumento foi validado para a língua inglesa (Ekkekakis et

al., 2005b; Ekkekakis et al., 2008) e, até o momento, usado em estudos recentes no contexto do

exercício físico na promoção da saúde (Ekkekakis et al., 2006; Ekkekakis et al., 2007;

Ekkekakis et al., 2008; Hall et al., 2014; Tempest e Parfitt, 2016). De modo importante, um

estudo recente conduzido por Smirmaul et al. (2016), adaptou e validou o PRETIE-Q para uso

na língua portuguesa. De um ponto de vista prático, a validação do PRETIE-Q na população

brasileira permite aos profissionais da saúde que prestam serviços de avaliação e prescrição do

treinamento físico uma informação acurada de traços de personalidade de inegável importância

no contexto da aderência ao exercício físico, preferência e tolerância.

54

Os avanços tecnológicos ocorridos nas últimas décadas contribuíram para um cenário promissor

na área da saúde, incentivando o desenvolvimento, adaptação e validação de versões eletrônicas

de diversos instrumentos de medida usados na área (Wilson et al., 2002; Cook et al., 2004;

Beidleman et al., 2007; Junker et al., 2008; Olajos-Clow et al., 2010). Versões eletrônicas de

instrumentos de medidas, como inquéritos ou questionários, asseguram eficiência e segurança

na coleta e manipulação de dados, diminuem o tempo de preenchimento e impedem respostas

imprecisas ou incompletas (Cook et al., 2004). Todavia, estudos de equivalência psicométrica

entre os formatos impresso e eletrônico dos instrumentos de medida devem preceder a sua

utilização no contexto da saúde (APA, 1986). Neste contexto, o propósito do presente estudo foi

ampliar a usabilidade da PRETIE-Q na população adulta brasileira, elaborando e validando o

formato eletrônico do instrumento.

Métodos

Participantes

Praticantes de atividade física foram recrutados de modo voluntário, por conveniência. O

número de participantes foi específico para cada fase do estudo, sendo 110 adultos, de ambos os

sexos, voluntários para a etapa de determinação da validade do formato eletrônico da PRETIE-

Q; apenas uma parcela da amostra total dos respondentes (n = 61) voluntariou-se para a etapa de

determinação da confiabilidade teste e reteste do instrumento. Os critérios de inclusão no estudo

foram idade entre 18 e 60 anos e um mínimo de seis meses de prática regular de atividade física

(> 150 min por semana de atividade física moderada ou vigorosa). Uma apresentação dos

propósitos, procedimentos, e benefícios do estudo foi feita aos participantes. A participação dos

voluntários foi permitida após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido

(Apêndice 1), conforme normativas do Conselho Nacional de Saúde (2012) para pesquisas

55

envolvendo seres humanos. O projeto de pesquisa foi submetido para análise do comitê de ética

institucional da Universidade Norte do Paraná.

Instrumentos e Procedimentos Metodológicos

Desenvolvimento do Questionário PRETIE-Q em Formato Eletrônico

Conforme mencionado anteriormente, o questionário PRETIE-Q é composto por oito itens para

cada novo constructo, nomeadamente, preferência e tolerância da intensidade de exercício físico

(Ekkekakis et al., 2005b). Basicamente, o instrumento compõe-se de 4 itens para preferência por

uma intensidade vigorosa (itens 6, 10, 14, 16) e 4 itens para preferência por uma intensidade

leve (itens 2, 4, 8, 12). Compõem ainda o instrumento 4 itens para tolerância a uma intensidade

vigorosa (itens 5, 7, 11, 15) e 4 itens para tolerância a uma intensidade leve (itens 1, 3, 9, 13).

Destaca-se que cada item ou domínio possui uma escala Likert de 5 pontos, sendo 1 discordo

totalmente e 5 concordo totalmente. Contudo, itens referentes a preferência por uma intensidade

leve (itens 2, 4, 8, 12) e tolerância a uma intensidade leve (itens 1, 3, 9, 13) têm seu escore

invertido. Dessa maneira, o escore total do questionário PRETIE-Q para cada novo constructo

deverá variar entre 8 e 40.

A plataforma eletrônica da versão em língua portuguesa da PRETIE-Q (Smirmaul et al., 2015)

foi elaborada utilizando linguagens de programa online. Para o desenvolvimento da estrutura,

utilizou-se HTML 5, CSS 3.0, Php e Jquery, programas capazes de dar suporte a estrutura visual

inicial. O programa possui interface gráfica e linguagem PHP com suporte matemático, sistema

multiplataforma, suporte a um numeroso banco de dados e código fonte aberto. O PRETIE-Q

pode ser acessado por meio de três navegadores de internet: Internet Explorer, Mozilla e Google

Chrome. Ainda, o PRETIE-Q, em formato eletrônico, foi composto pela mesma estrutura do

instrumento em seu formato impresso, sendo diferenciado apenas pelo modo de interface de

56

preenchimento das respostas. Na estrutura interna para criar a funcionalidade de armazenamento

dos bancos de dados, por sua vez, utilizou-se programas MySQL e phpMyAdmin. A plataforma

online se encontra disponível para uso através do website www.coachmitamura.com/pretie-q.

Concordância entre Formatos Impresso & Eletrônico do PRETIE-Q

Para determinar a concordância entre os formatos impresso e eletrônico do PRETIE-Q, utilizou-

se um delineamento randomizado e cruzado. Cada participante, recrutado por conveniência em

centros de condicionamento físico na cidade de Londrina (PR), preencheu o formato eletrônico

do PRETIE-Q em um aparelho portátil touch screen (iPad®, Apple Inc.) no começo da sessão

experimental; posteriormente, após 2 horas de intervalo, cada participante preencheu o formato

impresso do questionário (ou vice-versa). Nenhuma discussão sobre a pesquisa foi permitida

entre os respondentes durante a sessão experimental. Descritores demográficos e sociais dos

respondentes, assim como aspectos inerentes ao grau de usabilidade e preferência de ambos os

formatos do PRETIE-Q, foram determinados na presente sessão experimental (maiores detalhes

no tópico 4.1.3.4). Participaram desta fase da pesquisa 110 adultos, 61 homens e 49 mulheres,

com idade média de 28,9 ± 8,4 anos e índice de massa corporal médio de 24,8 ± 3,5 kg.m-2.

Para o tratamento estatístico, utilizou-se o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS v.

24). A consistência interna de cada formato foi determinada por índices α de cronbach. Segundo

Cronbach (1951), cada item deve estar satisfatoriamente correlacionado com a sua própria

dimensão, não devendo existir correlações negativas entre um item e a escala total. A adequação

e satisfatoriedade do modelo α foi testada usando os seguintes critérios propostos por Taylor et

al (2005): índices α > 0,80, desejáveis; índices α > 0,70, recomendados; índices α > 0,60, aceitos

apenas para uso em pesquisa científica, sendo desaconselhável o seu uso clínico. Dessa maneira,

para os propósitos do presente estudo, qualquer índice α superior a 0,60 pode ser tido como uma

consistência interna satisfatória. Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) e intraclasse (ICC),

assim como diferenças de média (teste t pareado) com um nível de significância P < 0,05, entre

57

os formatos impresso e eletrônico do questionário PRETIE-Q, também foram mensurados. A

concordância entre os formatos impresso e eletrônico do PRETIE-Q (Fig. 1) foi ainda analisada

utilizando-se da estratégia de Bland e Altman (1995), a qual pressupõe a construção de um

gráfico da concordância (média vs concordância) vs cálculo do limite de concordância. Com o

uso desta técnica, pode-se definir a magnitude das diferenças para 95% das observações

(Altman, 1991).

Confiabilidade do Formatos Eletrônico do PRETIE-Q

Confiabilidade pode ser definida como a extensão pela qual os escores de uma medida, os quais

não se alteraram no período de tempo entre dois testes, são os mesmos para medidas repetidas

(Terwee et al., 2009). Para a determinação de confiabilidade, Altman (1991) sugere um tamanho

amostral não inferior a 50 participantes para estudos usando métodos paramétricos. Portanto, no

presente estudo, uma parcela da amostra total de respondentes foi convidada, por conveniência,

a preencher o formato eletrônico do PRETIE-Q 14 dias após a primeira sessão experimental, em

um processo chamado de confiabilidade teste reteste. De acordo com Kline (1993), um intervalo

superior a três meses entre teste e reteste é necessário para reduzir as chances de memorização

de respostas pelos respondentes; todavia, um intervalo de tempo mais curto pode ser usado, pois

a possibilidade de mudanças per se em certas variáveis é minimizada (Nevill et al., 2001). Neste

contexto, participaram desta etapa do estudo 61 adultos, 30 homens e 31 mulheres, com idade

média de 29,3 ± 3,0 anos e índice de massa corporal médio de 24,7 ± 6,9 kg.m-2.

Dados descritivos do formato eletrônico do PRETIE-Q, teste e reteste, são apresentados nas

Tabelas 5 e 6. A consistência interna do instrumento foi medida por índices α cronbach, usando

critérios de satisfatoriedade propostos por Taylor et al (2005). Dessa maneira, para os propósitos

do estudo, um índice α superior a 0,60 seria uma consistência interna satisfatória. Coeficientes

58

de correlação de Spearman (ρ) e intraclasse (ICC), assim como diferenças de média (teste t

pareado) com um nível de significância P < 0.05, foram analisados. Determinou-se ainda a

concordância entre as duas aplicações do formato eletrônico do PRETIE-Q (Fig. 2), utilizando-

se da estratégia proposta por Bland e Altman (1995).

Resultados e Discussão

Basicamente, todos os domínios do questionário PRETIE-Q, formato impresso, apresentaram

coeficientes de consistência interna satisfatórios, variando entre 0,80 e 0,82 na escala de

preferência e entre 0,78 e 0,80 na escala de tolerância (Tabelas 1 e 2). As Tabelas 3 e 4

apresentam os coeficientes de correlação de Spearman (ρ) e intraclasse (ICC), com um nível de

significância P < 0,05, entre os formatos impresso e eletrônico do questionário PRETIE-Q.

Novamente, uma correlação significativa e moderadamente alta (ρ > 0,73 e ICC > 0,73, P <

0,01) foi reportada em ambos os constructos nos diferentes formatos do questionário. A

proporção de respondentes que assinalaram a mesma resposta em duas ocasiões separadas ou

discordaram em apenas ± 1 ponto na escala Likert de 5 pontos foi superior a 80%. Usando testes

t pareados, nenhuma diferença foi notada entre os dois formatos do PRETIE-Q nos constructos

analisados. Por fim, salienta-se ainda uma satisfatória distribuição aleatória ao redor de zero,

com poucos pontos fora dos limites superior e inferior, denotando assim uma boa concordância

entre os formatos impresso e eletrônico da PRETIE.

*** Inserir Tabelas 1-4 ***

*** Inserir Figura 1 ***

59

Dados descritivos do formato eletrônico do PRETIE-Q, teste e reteste, são apresentados nas

Tabelas 5 e 6. De modo resumido, os domínios do formato eletrônico do PRETIE-Q tiveram

coeficientes de consistência interna satisfatórios, variando entre 0,81 e 0,82 para a escala de

preferência e entre 0,62 e 0,80 para a escala de tolerância. Ainda, uma correlação significativa e

moderadamente alta (ρ > 0,71 e ICC > 0,76, P < 0.01) foi notada em ambos os constructos entre

o teste e reteste do instrumento. A proporção de respondentes que assinalaram uma mesma

resposta em duas ocasiões separadas ou discordaram em ± 1 ponto na escala Likert de 5 pontos

foi superior a 80%. Usando testes t pareado, nenhuma diferença foi detectada entre as duas

aplicações do formato eletrônico do questionário PRETIE-Q em cada constructo analisado

(Tabelas 7 e 8). Por fim, verificou-se uma satisfatória distribuição aleatória ao redor de zero,

com poucos pontos fora dos limites superior e inferior, denotando assim uma boa concordância

teste e reteste do formato eletrônico do PRETIE-Q.

*** Inserir Tabelas 5-8 ***

*** Inserir Figura 2 ***

Critérios referentes a usabilidade do formato eletrônico do PRETIE-Q foram avaliados. Usando

um teste t pareado, verificou-se que o tempo de preenchimento foi similar (~166 vs 165 seg; P >

0,05) entre os formatos impresso e eletrônico do questionário, respectivamente. Ainda, o grau

de entendimento dos itens da versão eletrônica do questionário PRETIE-Q foi avaliado através

de uma escala Likert de 6 pontos, variando de 0 não entendi nada até 5 entendi perfeitamente e

não tenho dúvidas. Basicamente, os respondentes tiveram uma boa compreensão do instrumento

(4,4 ± 0,8). Por fim, usando um teste qui-quadrado (X2), notou-se que uma parcela considerável

dos respondentes preferiu a versão eletrônica do questionário (~81%) em detrimento ao formato

impresso do instrumento (~19%, P < 0,05).

60

Conclusões

Em suma, o formato eletrônico e online do questionário PRETIE-Q (Ekkekakis et al., 2005b),

possui propriedades psicométricas satisfatórias quanto aos critérios de validade e confiabilidade

teste e reteste. De fato, a versão eletrônica do questionário, disponibilizado para uso gratuito no

website www.coachmitamura.com/pretie-q, foi comparável à sua versão em formato impresso.

De um ponto de vista prático, a validação do formato eletrônico do PRETIE-Q para a população

adulta brasileira permite aos profissionais da área da saúde, prestadores de serviços de avaliação

e monitoramento do treinamento físico, uma informação rápida e satisfatória de dois traços de

personalidade de inegável relevância no âmbito da aderência ao exercício físico, nomeadamente

preferência e tolerância da intensidade do exercício físico.

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249-262, 1952.

63

Tabela 1 Estatística descritiva, item por item, referente ao domínio preferência dos formatos impresso e eletrônico do PRETIE-Q (n = 110).

Item

Média Desvio Padrão Mediana Mínimo-Máximo

α-cronbach

Impresso Eletrônico Impresso Eletrônico Impresso Eletrônico Impresso Eletrônico

Preferência, Baixa Intensidade

Q2 3,55 3,45 1,08 1,20 4,00 4,00 2 – 5 1 - 5

Q4 3,39 3,39 1,00 1,05 4,00 4,00 1 – 5 1 - 5

Q8 3,56 3,57 1,00 0,99 4,00 4,00 2 - 5 1 - 5

Q12 3,95 3,90 0,92 0,88 4,00 4,00 2 - 5 1 - 5

Domínio 14,46 14,32 3,30 3,41 15,00 14,00 8 – 20 6 – 20 0,82

Preferência, Alta Intensidade

Q6 3,73 3,65 1,00 1,07 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Q10 3,53 3,45 1,10 1,13 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Q14 3,24 3,43 0,96 1,00 3,00 3,00 1 - 5 1 - 5

Q16 3,55 3,49 1,04 1,11 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Domínio 14,04 14,00 3,17 3,11 14,00 14,00 8 - 20 6 - 20 0,80

Total 28,50 28,32 5,95 5,75 29,00 28,00 16 - 40 16 - 40

64

Tabela 2 Estatística descritiva, item por item, referente ao domínio tolerância dos formatos impresso e eletrônico do PRETIE-Q (n = 110).

Item

Média Desvio Padrão Mediana Mínimo-Máximo

α-cronbach

Impresso Eletrônico Impresso Eletrônico Impresso Eletrônico Impresso Eletrônico

Tolerância, Baixa Intensidade

Q1 3,58 3,55 0,99 1,09 4,00 4,00 2 - 5 1 - 5

Q3 2,92 3,08 1,01 1,07 3,00 3,00 2 - 5 1 - 5

Q9 3,58 3,46 0,98 1,17 4,00 4,00 2 - 5 1 - 5

Q13 3,16 3,12 1,04 1,09 3,00 3,00 2 - 5 1 - 5

Domínio 13,25 13,22 3,07 3,40 13,00 13,00 8 – 20 4 – 20 0,80

Tolerância, Alta Intensidade

Q5 3,42 3,54 1,05 1,02 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Q7 2,86 3,00 0,97 1,01 3,00 3,00 1 - 5 1 - 5

Q11 3,16 3,25 1,08 1,09 3,00 3,00 1 - 5 1 - 5

Q15 3,47 3,54 1,03 0,95 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Domínio 12,92 13,32 2,96 3,01 13,00 14,00 4 - 20 5 - 20 0,78

Total 26,16 26,54 5,13 5,59 26,00 27,00 13 - 38 13 - 40

65

Tabela 3 Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) e intraclasse (ICC), diferença média, e proporção de respondentes que assinalaram uma mesma resposta

ou discordaram em apenas ± 1 ponto na escala Likert de 5 pontos no domínio preferência dos formatos impresso e eletrônico do PRETIE-Q (n = 110).

Item % Concordância (exato) % Concordância (± 1) Correlação Spearman ρ ICC Significância P (teste t)

Preferência, Baixa Intensidade

Q2 64 25 0,76 0,75 0,14

Q4 58 34 0,65 0,66 1,00

Q8 62 29 0,67 0,68 0,90

Q12 67 27 0,70 0,71 0,39

Domínio 0,88 0,87 0,37

Preferência, Alta Intensidade

Q6 64 24 0,59 0,54 0,38

Q10 54 32 0,57 0,51 0,43

Q14 61 28 0,62 0,58 0,04*

Q16 60 30 0,57 0,51 0,59

Domínio 0,73 0,73 0,86

Total 0,90 0,89 0,49

* P < 0,05.

66

Tabela 4 Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) e intraclasse (ICC), diferença média, e proporção de respondentes que assinalaram uma mesma resposta

ou discordaram em apenas ± 1 ponto na escala Likert de 5 pontos no domínio tolerância dos formatos impresso e eletrônico do PRETIE-Q (n = 110).

Item % Concordância (exato) % Concordância (± 1) Correlação Spearman ρ ICC Significância P (teste t)

Tolerância, Baixa Intensidade

Q1 77 18 0,76 0,81 0,65

Q3 51 38 0,65 0,66 0,04*

Q9 60 27 0,67 0,58 0,21

Q13 63 25 0,70 0,69 0,57

Domínio 0,88 0,84 0,87

Tolerância, Alta Intensidade

Q5 54 31 0,59 0,51 0,22

Q7 60 30 0,57 0,64 0,09

Q11 65 29 0,62 0,71 0,29

Q15 59 32 0,57 0,64 0,42

Domínio 0,73 0,77 0,05

Total 0,90 0,85 0,17

* P < 0,05.

67

Figura 1 Análise da concordância entre o formato impresso e eletrônico do PRETIE-Q pela plotagem de Bland Altman (n = 61).

68

Tabela 5 Estatística descritiva, item por item, referente ao domínio preferência do formato eletrônico (teste e reteste) do PRETIE-Q (n = 61).

Item

Média Desvio Padrão Mediana Mínimo-Máximo

α-Cronbach

Teste Reteste Teste Reteste Teste Reteste Teste Reteste

Preferência, Baixa Intensidade

Q2 3,45 3,30 1,20 1,21 4,00 3,00 1 - 5 1 – 5

Q4 3,39 3,41 1,05 1,02 4,00 3,00 1 - 5 1 – 5

Q8 3,57 3,64 0,99 0,98 4,00 4,00 1 - 5 1 – 5

Q12 3,90 3,87 0,88 0,92 4,00 4,00 1 - 5 1 – 5

Domínio 14,32 14,46 3,41 3,54 14,00 15,00 6 – 20 5 – 20 0,81

Preferência, Alta Intensidade

Q6 3,65 3,59 1,07 1,11 4,00 4,00 1 - 5 2 – 5

Q10 3,45 3,52 1,13 1,05 4,00 4,00 1 - 5 1 – 5

Q14 3,43 3,25 1,00 1,04 3,00 3,00 1 - 5 1 – 5

Q16 3,49 3,41 1,11 1,05 4,00 4,00 1 - 5 1 – 5

Domínio 14,00 13,95 3,11 3,19 14,00 14,00 6 - 20 6 – 20 0,82

Total 28,32 28,41 5,75 6,35 28,00 28,00 16 - 40 11 – 40

69

Tabela 6 Estatística descritiva, item por item, referente ao domínio tolerância do formato eletrônico (teste e reteste) do PRETIE-Q (n = 61).

Item

Média Desvio Padrão Mediana Mínimo-Máximo

α-Cronbach

Teste Reteste Teste Reteste Teste Reteste Teste Reteste

Tolerância, Baixa Intensidade

Q1 3,55 3,52 1,09 1,10 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Q3 3,08 3,11 1,07 1,14 3,00 3,00 1 - 5 1 - 5

Q9 3,46 3,33 1,17 1,24 4,00 4,00 1 - 5 1 - 5

Q13 3,12 3,10 1,09 1,12 3,00 3,00 1 - 5 1 - 5

Domínio 13,22 12,97 3,40 3,54 13,00 13,00 4 – 20 4 – 20 0,80

Tolerância, Alta Intensidade

Q5 3,54 3,43 1,02 1,07 4,00 4,00 1 - 5 1 – 5

Q7 3,00 3,00 1,01 1,11 3,00 3,00 1 - 5 1 – 5

Q11 3,25 3,18 1,09 1,13 3,00 3,00 1 - 5 1 – 5

Q15 3,54 3,10 0,95 1,12 4,00 4,00 1 - 5 2 – 5

Domínio 13,32 13,33 3,01 3,49 14,00 14,00 5 - 20 4 – 20 062

Total 26,54 26,30 5,59 6,25 27,00 27,00 13 - 40 8 - 40

70

Tabela 7 Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) e intraclasse (ICC), diferença média, e proporção de respondentes que assinalaram uma mesma resposta

ou discordaram em apenas ± 1 ponto na escala Likert de 5 pontos no domínio preferência do formato eletrônico (teste e reteste) do PRETIE-Q (n = 61).

Item % Concordância (exato) % Concordância (± 1) Correlação Spearman ρ ICC Significância P (teste t)

Preferência, Baixa Intensidade

Q2 56 33 0,59 0,57 0,09

Q4 52 39 0,61 0,62 0,48

Q8 62 28 0,58 0,57 0,68

Q12 67 23 0,57 0,61 0,88

Domínio 0,78 0,76 0,42

Preferência, Alta Intensidade

Q6 61 26 0,63 0,63 0,25

Q10 62 26 0,61 0,62 0,32

Q14 61 31 0,60 0,55 0,59

Q16 59 21 0,41 0,39 0,50

Domínio 0,71 0,76 0,52

Total 0,81 0,82 0,36

* P < 0,05.

71

Tabela 8 Coeficientes de correlação de Spearman (ρ) e intraclasse (ICC), diferença média, e proporção de respondentes que assinalaram uma mesma resposta

ou discordaram em apenas ± 1 ponto na escala Likert de 5 pontos no domínio tolerância do formato eletrônico (teste e reteste) do PRETIE-Q (n = 61).

Item % Concordância (exato) % Concordância (± 1) Correlação Spearman ρ ICC Significância P (teste t)

Tolerância, Baixa Intensidade

Q1 52 34 0,49 0,45 0,82

Q3 56 36 0,73 0,72 0,12

Q9 64 21 0,70 0,67 0,10

Q13 51 36 0,62 0,62 0,41

Domínio 0,83 0,80 0,74

Tolerância, Alta Intensidade

Q5 64 25 0,69 0,66 0,15

Q7 54 39 0,68 0,70 0,34

Q11 66 26 0,66 0,66 0,68

Q15 62 26 0,61 0,62 0,20

Domínio 0,80 0,80 0,52

Total 0,85 0,85 0,88

* P < 0,05.

72

Figura 2 Análise da confiabilidade teste e reteste de curta duração (14 dias) do formato eletrônico do PRETIE-Q pela plotagem de Bland Altman (n = 61).

RESPOSTAS PERCEPTUAIS E AFETIVAS DURANTE TREINAMENTO RESISTIDO

EM MULHERES TREINADAS: O PAPEL DA AUTONOMIA PERCEBIDA

Autores: Fernando M. Mitamura1, Juliano M. Gabardo1, Andreo F. Aguiar1, Arli R. de

Oliveira2, Cosme F. Buzzachera1. E-mail: [email protected]

Instituições: 1Universidade Norte do Paraná, Londrina/PR. 2Universidade Estadual de

Londrina.

INTRODUÇÃO: A quantidade de prazer e esforço percebido reportado por um

indivíduo durante o exercício físico associa-se com sua participação futura na

atividade física. Neste contexto, estratégias capazes de gerar respostas afetivas e

perceptuais positivas durante o exercício físico, como a autosseleção da intensidade

do esforço, foram sendo inseridas no contexto da promoção da saúde. A autosseleção

da intensidade do esforço associa-se com uma melhora da autonomia percebida,

porém, até o momento, nenhum estudo examinou o papel da percepção de controle e

sua associação com o afeto e esforço percebido no treinamento resistido. OBJETIVO:

Examinar o papel da autonomia percebida sobre as respostas afetivas e perceptuais

durante treinamento resistido em mulheres previamente treinadas.

MÉTODOS: Participaram do estudo 14 mulheres com idade média de 19,7 ± 3,9 anos.

Cada participante completou três sessões de exercício resistido em cadeira extensora

consistindo de três séries de 10 repetições. Manipulou-se a carga de trabalho

conforme segue (1) autosselecionada, onde o avaliado regulou a sua carga de

trabalho, (2) imposta, onde a carga executada foi igual à selecionada pelo avaliado na

primeira sessão, porém, sem o conhecimento do mesmo, e (3) imposta - 10%, onde a

carga executada foi 10% inferior a carga executada nas duas primeiras sessões. As

respostas perceptuais (OMNI RPE scale 0-10) e afetivas (Feeling scale, Hardy e

Rejeski, 1989) foram mensuradas pré, durante, e pós cada série de todas as sessões

experimentais. ANOVA one-way com post hoc de Bonferroni foi usada para comparar

a autonomia percebida entre as três condições experimentais. ANOVA com medidas

repetidas foram usadas para comparar respostas afetivas e perceptuais nas mesmas

condições experimentais. Um valor de p<0.05 foi adotado. RESULTADOS: Em média,

participantes autosselecionaram uma carga de ~43% 1-RM durante a condição

autosselecionada. O esforço percebido foi 5.4 ± 1.4 na sessão autosselecionada, 6.7 ±

1.2 na sessão imposta, e 5.6 ± 2.1 na sessão imposta - 10%; o esforço percebido em

ambas as condições, autosselecionada e imposta - 10%, foi menor em comparação

com a condição imposta (p<0.025). As respostas afetivas foram similares entre todas

as três condições experimentais (p>0.05). A autonomia percebida foi maior durante a

condição autosselecionada (24.7 ± 2.3) em comparação com as condições imposta

(19.0 ± 5.0) e imposta – 10% (20.0 ± 2.8) (p < 0.05). CONCLUSÃO: A autonomia

percebida afeta as respostas perceptuais, porém não as respostas afetivas, durante

treinamento resistido em mulheres treinadas. Tais achados podem ter implicações

práticas para a prescrição do treinamento resistido por profissionais da saúde.

Resumo científico apresentado no VI CONBRAMENE (09-12/novembro 2016,

Londrina)

75

Universidade Norte do Paraná

Laboratório de Fisiologia do Exercício (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido)

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Título da Pesquisa Validação do formato eletrônico da PRETIE-Q

Prezado Voluntário, Por favor, leia com atenção as informações abaixo antes de dar o seu consentimento para participar desta pesquisa. O objetivo desta pesquisa é validar um questionário sobre tolerância e preferência por uma intensidade do exercício em adultos jovens, praticantes de exercício físico. A validação da escala em seu formato eletrônico, chamada PRETIE-Q, contribuirá na compreensão de como praticantes de exercício físico preferem e toleram um determinado esforço, assegurando ao profissional da saúde um maior conhecimento e individualização na prescrição do exercício físico aos seus clientes. Toda a pesquisa será conduzida no local de prática, com os dados sendo tratados na Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), localizada na Av. Paris, 625, Jardim Piza, Londrina (PR). Cada voluntário deverá participar da seguinte etapa:

1) Preenchimento do questionário PRETIE-Q, no seu formato impresso (Smirmaul et al., 2015) 2) Preenchimento do questionário PRETIE-Q, no seu formato eletrônico 3) Novo preenchimento do questionário PRETIE-Q, no seu formato eletrônico, caso necessário (após 14 dias)

A sua participação é voluntária e não está ligada a nenhum custo. Além disso, a sua identificação e de seus dados coletados são confidenciais, sendo tratados pelo responsável do estudo. Todas as medidas serão tomadas para evitar risco para a integridade física, mental ou moral de cada voluntário da pesquisa. A pesquisa apresenta como responsável Dr. Cosme Franklim Buzzachera, professor da Universidade Norte do Paraná. Qualquer dúvida sobre a pesquisa poderá ser esclarecida pelo seu responsável no telefone 43 99699-1000. Diante do exposto acima, concedo a minha participação voluntária na pesquisa e declaro estar ciente dos seus objetivos e procedimentos, sabendo ainda que poderei retirar meu consentimento a qualquer instante da pesquisa, sem a ocorrência de qualquer tipo de prejuízo aos meus cuidados.

Londrina, _____ de _________________ 2016

Nome _________________________________ ______________________________________________

Assinatura _________________________________ Prof. Dr. Cosme Franklim Buzzachera

76

Universidade Norte do Paraná

Laboratório de Fisiologia do Exercício (PRETIE-Q)

Questionário de Preferência e Tolerância da Intensidade de Exercício (PRETIE-Q, Ekkekakis et al, 2005)

Nós estamos interessados em conhecer a preferência e a tolerância à tipos de atividade física que as pessoas escolhem/suportam como parte

do seu dia a dia. Por favor, responda cada questão, mesmo que considere que não seja ativo. Suas respostas são MUITO importantes.

Obrigado por sua participação.

Leia cada uma das afirmações seguintes e então utilize a escala de respostas abaixo para indicar se você concorda ou discorda delas. Não há

respostas certas ou erradas. Responda rapidamente e assinale a resposta que melhor descreve o que você acredita e como você se sente.

Certifique-se de responder TODAS as questões.

1= Discordo totalmente 2 = Discordo 3 = Nem concordo nem discordo 4 = Concordo 5 = Concordo totalmente

1. Sentir-me cansado durante um exercício é meu sinal para diminuir ou parar. 1 2 3 4 5

2. Eu prefiro me exercitar em baixos níveis de intensidade por uma longa duração do que em altos níveis de intensidade por uma curta duração.

1 2 3 4 5

3. Durante o exercício, se meus músculos começam a queimar excessivamente ou se eu percebo que estou respirando com muito esforço, é hora de diminuir.

1 2 3 4 5

4. Eu prefiro ir devagar durante meu exercício, mesmo que isso signifique levar mais tempo.

1 2 3 4 5

5. Durante o exercício, eu tento continuar mesmo depois de me sentir exausto(a). 1 2 3 4 5

6. Eu prefiro realizar um exercício curto e intenso, do que um exercício longo e de baixa intensidade.

1 2 3 4 5

7. Eu bloqueio a sensação de fadiga quando me exercito. 1 2 3 4 5

8. Quando me exercito, eu geralmente prefiro um ritmo lento e constante. 1 2 3 4 5

9. Eu prefiro diminuir ou parar quando um exercício começa a ficar muito difícil. 1 2 3 4 5

10. Exercitar-me em baixa intensidade não me agrada nem um pouco. 1 2 3 4 5

11. Fadiga é a última coisa que me influencia a parar um exercício; eu tenho uma meta e paro somente quando a alcanço.

1 2 3 4 5

12. Quando me exercito, eu prefiro atividades que são de ritmo lento e que não requerem muito esforço.

1 2 3 4 5

13. Quando meus músculos começam a queimar durante um exercício, eu geralmente diminuo o ritmo.

1 2 3 4 5

14. Quanto mais rápido e difícil for o exercício, mais prazer eu sinto. 1 2 3 4 5

15. Eu sempre continuo a me exercitar, apesar da dor muscular e fadiga. 1 2 3 4 5

16. Exercício de baixa intensidade é entediante. 1 2 3 4 5