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informação Pes visa & Desenvolvimento o problema "manches sob o esmalte" - Parte I Claudia Gibertoni, Lilian Lima Dias e Ana Paula Margarido Menegazzo . CCB Centro Cerâmico do Brasil - Santa Gertudes - SP- Brasil Eduardo Quinteiro· UNIFESP Universidade Federal de São Paulo - São José dos Campos (SP)- Brasil 1- Justificativa Cada vez mais, diversos fabricantes entram em contato com o Centro Cerâmico do Brasil a fim de procurar explicações para o problema de manchas coloridas localizadas sob a camada de esmalte. Assim como no caso do manchamento por umidade (mancha d'água) que envolve apenas o transporte e alojamento de água no engobe, o manchamento que inclui a presença de agentes corantes, afeta, principalmente, tipologias de tonalidade clara e esmalte transparente. Como não existem estudos publicados investigando essa patologia, o CCB, de forma a atender à procura crescente de fabricantes que desejam entender esse fenômeno, resolveu estudar essa patologia. Na primeira parte deste artigo, serão apresentados os resultados preliminares obtidos na investigação das causas das manchas. Novos estudos ainda estão em andamento e serão apresentados posteriormente. 2- Introdução Diversos fabricantes de placas cerâmicas para revestimento, tanto os que produzem por via seca, quanto os que fabricam seus produtos via úmida, têm sido surpreendidos por reclamações de seus consumidores a respeito de manchas coloridas que surgem sob a camada de esmalte. O Centro Cerâmico do Brasil - CCB, a fim de atender à WW crescente procura do setor cerâmico para uma explicação a respeito das causas do aparecimento dessas manchas coloridas sob a camada de esmalte das placas cerâmicas, iniciou um estudo que pretende investigar a origem dessa patologia. Em um primeiro instante, acredita-se que essas manchas estão associadas com a entrada de umidade nas placas cerâmicas. Para o alojamento de agentes corantes no engobe, três hipóteses serão verificadas: 1a- A migração de corantes orgânicos (presentes em tintas de caneta e de impressão, em produtos de limpeza, tinturas de cabelo e outros produtos comuns no dia-a-dia, tais como produtos de limpeza) que são transportados juntamente com a água a partir do ambiente de assentamento, sendo este caso especialmente favorecido por rejuntamentos mal executados e na presença de recortes nas placas cerâmicas. 2 a - Devido à cristalização de sais solúveis na camada de engobe, sendo estes transportados na forma de solução aquosa até o engobe. E as diferenças de colorações verificadas seriam conseqüência das diferentes composições químicas destes sais, provenientes sobretudo do sistema revestimento cerâmico. 3 a - As manchas estão associadas à cultura de organismos vivos (bactérias ou fungos) dentro da camada de engobe, favorecida pela umidade presente, sendo as diferenças de tons explicadas pelas diferentes variedades de organismos. Julho/Agosto n° 83 3- Manifestações da patologia Com base em um banco de dados da área de Assistência Técnica do Centro Cerâmico do Brasil, foi possível estabelecer alguns padrões relacionados às diferentes formas de sua manifestação da mancha d'água. Caso 1 - Manchas causadas pela água que se aloja no engobe da peça, provenientes da própria superfície esmaltada de uso. Nestes casos, a detecção de furos no esmalte cerâmico não é difícil por meio de agentes corantes. O esmalte contendo furos não cumpre sua função básica de impermeabilização, caracterizando como um defeito da placa cerâmica. Caso 2 - Manchas associadas a um problema construtivo. Podem estar associadas a um vazamento na tubulação hidráulica, manifestando-se a alteração de tonalidade, assim como, devido a falhas de assentamento, onde a manifestação da patologia está diretamente associada à região onde ocorre a falha construtiva. Caso 3 - Manchas associadas a todas as peças na área de assentamento.O manchamento é observado após o assentamento e pode ocorrer secagem e recuperação da tonalidade original da peça a partir das bordas. O desaparecimento completo desta mancha pode levar alguns anos, ou em alguns casos, nunca desaparecer completamente. Esta é uma manifestação típica de ocorrência que tem correlação com os materiais e/ou procedimentos de assentamento. E muito grande a freqüência de reclamações que se enquadram neste padrão de ocorrência. Caso 4 - Manchas a partir das bordas das peças. Ocorre quando a água permeia o rejunte ocasionando o manchamento próximo às bordas, que pode evoluir para a secagem na ausência de água na superfície ou para o manchamento completo da peça, principalmente nas áreas de assentamento onde é muito freqüente o contato com água (banheiros, cozinhas, etc.). Uma segunda situação inclui regiões próximas a recortes nas peças, repetindo-se o mesmo padrão de ocorrência. Nesta segunda situação, muitas vezes, observa- se o manchamento irreversível pela penetração de agentes corantes (tinturas de cabelo, corantes orgânicos utilizados para colorir o rejunte, produtos de limpeza coloridos, etc.). As ocorrências associadas a estas manifestações também estão diretamente relacionadas aos procedimentos de assentamento, principalmente com a qualidade e a incorreta preparação e aplicação da argamassa de rejuntamento. Cada vez mais freqüentes são os casos onde as manchas por umidade são acompanhadas de alteração severa de tonalidade, podendo apresentar diversas tonalidades, variando de cinza ou roxo, para tons esverdeados, amarelados e rosados, tais como os apresentados nas Figuras de 1 a 7. 27

Desenvolvimento o problema manches sob o esmalte - Parte I

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informação Pes visa & Desenvolvimento

o problema "manchessob o esmalte" - Parte IClaudia Gibertoni, Lilian Lima Dias e Ana Paula Margarido Menegazzo . CCBCentro Cerâmico do Brasil - Santa Gertudes - SP- BrasilEduardo Quinteiro· UNIFESPUniversidade Federal de São Paulo - São José dos Campos (SP)- Brasil

1 - Justificativa

Cada vez mais, diversos fabricantes entram em contatocom o Centro Cerâmico do Brasil a fim de procurar explicaçõespara o problema de manchas coloridas localizadas sob acamada de esmalte. Assim como no caso do manchamento porumidade (mancha d'água) que envolve apenas o transportee alojamento de água no engobe, o manchamento queinclui a presença de agentes corantes, afeta, principalmente,tipologias de tonalidade clara e esmalte transparente. Comonão existem estudos publicados investigando essa patologia,o CCB, de forma a atender à procura crescente de fabricantesque desejam entender esse fenômeno, resolveu estudar essapatologia. Na primeira parte deste artigo, serão apresentadosos resultados preliminares obtidos na investigação das causasdas manchas. Novos estudos ainda estão em andamento eserão apresentados posteriormente.

2 - Introdução

Diversos fabricantes de placas cerâmicas para revestimento,tanto os que produzem por via seca, quanto os que fabricamseus produtos via úmida, têm sido surpreendidos porreclamações de seus consumidores a respeito de manchascoloridas que surgem sob a camada de esmalte. O CentroCerâmico do Brasil - CCB, a fim de atender à

WW crescente procura do setor cerâmico para umaexplicação a respeito das causas do aparecimento dessasmanchas coloridas sob a camada de esmalte das placascerâmicas, iniciou um estudo que pretende investigar a origemdessa patologia.

Em um primeiro instante, acredita-se que essas manchasestão associadas com a entrada de umidade nas placascerâmicas. Para o alojamento de agentes corantes no engobe,três hipóteses serão verificadas:

1a - A migração de corantes orgânicos (presentes em tintasde caneta e de impressão, em produtos de limpeza, tinturasde cabelo e outros produtos comuns no dia-a-dia, tais comoprodutos de limpeza) que são transportados juntamente com aágua a partir do ambiente de assentamento, sendo este casoespecialmente favorecido por rejuntamentos mal executadose na presença de recortes nas placas cerâmicas.

2a- Devido à cristalização de sais solúveis na camada

de engobe, sendo estes transportados na forma de soluçãoaquosa até o engobe. E as diferenças de coloraçõesverificadas seriam conseqüência das diferentes composiçõesquímicas destes sais, provenientes sobretudo do sistemarevestimento cerâmico.

3a- As manchas estão associadas à cultura de organismos

vivos (bactérias ou fungos) dentro da camada de engobe,favorecida pela umidade presente, sendo as diferenças detons explicadas pelas diferentes variedades de organismos.

Julho/Agosto n° 83

3 -Manifestações da patologia

Com base em um banco de dados da área de AssistênciaTécnica do Centro Cerâmico do Brasil, foi possível estabeleceralguns padrões relacionados às diferentes formas de suamanifestação da mancha d'água.

Caso 1 - Manchas causadas pela água que se aloja noengobe da peça, provenientes da própria superfície esmaltadade uso. Nestes casos, a detecção de furos no esmalte cerâmiconão é difícil por meio de agentes corantes. O esmalte contendofuros não cumpre sua função básica de impermeabilização,caracterizando como um defeito da placa cerâmica.

Caso 2 - Manchas associadas a um problema construtivo.Podem estar associadas a um vazamento na tubulaçãohidráulica, manifestando-se a alteração de tonalidade, assimcomo, devido a falhas de assentamento, onde a manifestaçãoda patologia está diretamente associada à região onde ocorrea falha construtiva.

Caso 3 - Manchas associadas a todas as peças naárea de assentamento.O manchamento é observado apóso assentamento e pode ocorrer secagem e recuperaçãoda tonalidade original da peça a partir das bordas. Odesaparecimento completo desta mancha pode levaralguns anos, ou em alguns casos, nunca desaparecercompletamente. Estaé uma manifestação típica de ocorrênciaque tem correlação com os materiais e/ou procedimentos deassentamento. E muito grande a freqüência de reclamaçõesque se enquadram neste padrão de ocorrência.

Caso 4 -Manchas a partir das bordas das peças. Ocorrequando a água permeia o rejunte ocasionando o manchamentopróximo às bordas, que pode evoluir para a secagem naausência de água na superfície ou para o manchamentocompleto da peça, principalmente nas áreas de assentamentoonde é muito freqüente o contato com água (banheiros,cozinhas, etc.). Uma segunda situação inclui regiões próximasa recortes nas peças, repetindo-se o mesmo padrão deocorrência. Nesta segunda situação, muitas vezes, observa-se o manchamento irreversível pela penetração de agentescorantes (tinturas de cabelo, corantes orgânicos utilizadospara colorir o rejunte, produtos de limpeza coloridos, etc.). Asocorrências associadas a estas manifestações também estãodiretamente relacionadas aos procedimentos de assentamento,principalmente com a qualidade e a incorreta preparação eaplicação da argamassa de rejuntamento. Cada vez maisfreqüentes são os casos onde as manchas por umidade sãoacompanhadas de alteração severa de tonalidade, podendoapresentar diversas tonalidades, variando de cinza ou roxo,para tons esverdeados, amarelados e rosados, tais como osapresentados nas Figuras de 1 a 7.

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informação Pes uisa & Desen\7nlvimenlo

Figuras 7, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 -Exemplos placas cerâmicas apresentando manchamentoacinzentadas e rosadas. (Fonte: Banco de Dados da Area de Assistência Técnica do CCB.)

4 - Resultados

A primeira ação adotada pelo CCB para investigar aorigem das manchas coloridas que ocorrem sob a camada deesmalte de placas cerâmicas, foi a realização da requeima

das amostras com uso em temperaturas de 550°C ou SOO°c.Ao se adotar este procedimento, verificou-se que as manchasdesapareciam, conforme pode ser visto por meio das FigurasS,9, 10 e 11. Tal fato serviu como indício de que as manchastinham origem externa, provavelmente de natureza orgânica.

Figuras 8 e 9 - Amostras com uso antes (8) e após requeima (9) a ~50°C. Percebe-se que a mancha presente na Figura 8, de cor cinza, desapareceuapós o procedimento de requeima. (Fonte: Banco de Dados da Area de Assistência Técnica do CCB.)

Figuras 7O e 7 1 - Amostras com uso apresentando mancha de cor cinza antes (!O) e após requeima a 550°Cdesapareceu após o procedimento de requeima. (Fonte: Banco de Dados da Area de Assistência Técnica do

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Pes visa & Desenvolvimento - nfonnação

Paralelamente à etapa de requeima, foi realizada análisemicroscópica em microscópio ótico a fim de se compararregiões da amostra sem e com manchas. Por meio das

micrografias apresentadas nas Figuras 12 e 13, verificou-seque a mancha está localizada na camada de engobe (Figura13).

Figuras 12 e 13 -Micrografia da seção transversal da amostra com uso. Figura 12: região da amostra onde não se verifica a presença de mancha. EFigura 13: região com mancha. Epossível perceber que a mancha está localizada sob a camada de esmalte, ou seio, no engobe da placa cerâmica.(Fonte: Banco de Dados da Area de Assistência Técnica do CCB.]

Na tentativa de se encontrar a origem das manchas, foirealizada análise por meio de microscopia eletrônica devarredura (MEV).

Nas Figuras 14 a 17, são apresentadas as micrografiasobtidas na análise da seção transversal das amostras contendomanchas na camada de engobe.

Figuras 14, 15, 16 e 17-Micrografia da seção transversal de amostras de revestimento cerâmico apresentando mancha sob o esmalte, onde se p"adeobservar a presença de organismos microbiológicos.

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infonnação Pes visa & Desenvolvimento

Por meio dessas micrografias, foram observadasestruturas não compatíveis com aquelas normalmenteencontradas em revestimentos cerâmicos. Desta forma,foi realizada uma análise microbiológica de uma amostraapresentando mancha de coloração acinzentada para tentarelucidar a origem da patologia. Por meio dessa análise,foi identificada a presença do bacilo Corynebacteriumaquaticum.

5 - Conclusões

Por meio dos resultados obtidos até o momento,

Bibliografia

verificou-se que as manchas têm origem externa à placacerâmica. Elas se originam no contato da placa com aumidade proveniente do contra piso, contendo bactérias oufungos cromóforos. Pretende-se, na seqüência, investigarmais detalhadamente as microestruturas de amostras comuso e tentar relacionar a cor da mancha com o agentecromóforo.

Pretende-se também, verificar quais características dasplacas cerâmicas podem ser alteradas (por exemplo, ciclode queima, composição de argilas, engobe, etc.), paraminimizar ou até mesmo eliminar o surgimento dessasmanchas.

(1) - Melchiades, F. G., Romachelli, J.c., Boschi AO. A Mancha d'água em Revestimentos Cerâmicos: Contribuiçãopara o desenvolvimento de um método de medida. Cerâmica Industrial, Vol. 5 - Número 4 - Julho/Agosto - 2000.(2) - Melchiades, f.G., Silva, L.L., Silva, VA, Romachelli, J.c., Vargas D.D.T. Sobre Engobes e Mancha D'água.Cerâmica Industrial, Vol. 7 - Número 4 - Julho/Agosto - 2002.(3) - Melchiades, F.G., Romachelli, J.c., Boschi, AO. A Mancha D'Água de Revestimentos Cerâmicos: Defeito ouCa-racterística? Cerâmica Industrial, Vol. 8 - Número 4 - Julho/Agosto - 2003.(4) - ABNT NBR 13754: 1996, Revestimento de paredes internas com placas cerâmicas e com utilização de argamassacolante - Procedimento.(5)- Tozzi, N. Smalti ceramici. Faenza: Faenza Editrice, 1992. 350p.(6) - ISO 10545-16:2010, Ceramic tiles - Part 16: Determination of small colour differences.(7) Quinteiro, E., Menegazzo, AP.M., Gibertoni, C. Manchamento do Engobe em Placas Cerâmicas Esmaltadaspara Revestimentos - Parte 1: A Mancha D'Água. Cerâmica Industrial, Vol. 15 - Número 4 - Maio/Junho, 2010.

10 ANOSATENDENDO O SETOR CERÂ ICO

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