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l Planejamento Regional l Rômulo Almeida e o Sonho do Planejamento Regional l Tensões Externas e Internas na Composição Regional do Brasil l A Implantação de Distritos Industriais como Política de Fomento ao Desenvolvimento Regional: O Caso da Bahia l El Concepto de Desarrollo em Arnold J. Tonybee l Algunas Reflexiones y Ejemplos del Valor da la Percepción Ambiental en La Planificación Territorial y de Actividades l Diez Hipótesis sobre el Turismo en España l Concentração e Descentralização na Região Metropolitana de Salvador l Reflexões sobre a Mundialização da Economia l Períodos Prolongados de Desemprego são Decorrentes de Fatores Inerciais? l Turismo e Planejamento Regional l Artigos e Ensaios Científicos l Castells, Manuel. Fim do Milênio Neste número: d R E REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO revista DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III l Nº 4 l Semestral l Julho de 2001 l Salvador, BA

DESENVOLVIMENTOREREVISTA DE ECONÔMICO DE … · l Rômulo Almeida e o Sonho do Planejamento Regional l Tensões Externas e Internas na Composição Regional do ... l Castells, Manuel

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l Planejamento Regional

l Rômulo Almeida e o Sonho do Planejamento Regional

l Tensões Externas e Internas na Composição Regional doBrasil

l A Implantação de Distritos Industriais como Política deFomento ao Desenvolvimento Regional: O Caso da Bahia

l El Concepto de Desarrollo em Arnold J. Tonybee

l Algunas Reflexiones y Ejemplos del Valor da laPercepción Ambiental en La Planificación Territorial y deActividades

l Diez Hipótesis sobre el Turismo en España

l Concentração e Descentralização na RegiãoMetropolitana de Salvador

l Reflexões sobre a Mundialização da Economia

l Períodos Prolongados de Desemprego são Decorrentes deFatores Inerciais?

l Turismo e Planejamento Regional

l Artigos e Ensaios Científicos

l Castells, Manuel. Fim do Milênio

Neste número:

dR EREVISTA DEDESENVOLVIMENTOECONÔMICO

revistaDE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Ano III l Nº 4 l Semestral l Julho de 2001 l Salvador, BA

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Departamento de Ciências Sociais Aplicadas 2Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e UrbanoCurso de Ciências Econômicas com ênfase em Economia Empresarial

Ano III l Nº 4 l Semestral l Julho de 2001 l Salvador, BA

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3RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

R348 RDE – Revista de Desenvolvimento Econômico / UNIFACS.Departamento de Ciências Sociais Aplicadas 2. Ano 3,n. 4 (Julho, 2001). – Salvador: DCSA2 / UNIFACS, 2001.

1v.: il. 21x29,5 cm

ISSN 1516-1684

1. Economia. I. UNIFACS – Universidade Salvador.

CDD 330

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4 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

Ano III l Nº 4 l Julho de 2001 l Salvador, BA

EXPEDIENTE:Revista de Desenvolvimento Econômico

Ano III ¤ Nº 04 ¤ Julho de 2001 ¤ Salvador – Ba

A Revista de Desenvolvimento Econômico é uma Publica-ção Semestral do Departamento de Ciências Sociais Apli-cadas 2, do seu Programa de Pós-Graduação em Desenvol-vimento Regional e Urbano (composto pelo Doutorado emPlanejamento Territorial e Desenvolvimento Regional e peloMestrado em Análise Regional) e do Curso de Ciências Eco-nômicas com ênfase em Economia Empresarial da UNIFACS– Universidade Salvador.

UNIFACS – UNIVERSIDADE SALVADOR

REITOR Prof. Manoel Joaquim F. de Barros Sobrinho

VICE-REITORProf. Guilherme Marback Neto

PRÓ- REITOR DE GRADUAÇÃOProfª Maria das Graças Fraga Maia

PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃOProf. Luiz Pontes

PRÓ- REITOR COMUNITÁRIOProf. Sérgio Augusto Gomes V. VianaPRÓ- REITOR ADMINISTRATIVO

Profª Verônica de Menezes FahélDEP. DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 2

Prof. Noélio D. Spinola

CONSELHO EDITORIALProf. Dr. Alcides CaldasProf. Dr. Aloísio Rocha

Profa. Dra. Bárbara-Christine Nentwig SilvaProfa. Dra. Débora Nunes

Prof. Dr. Fernando C. PedrãoProf.Dr. Noélio D. Spinola

Prof. Dr. Pedro VasconcelosProfa. Dra. Regina Celeste de Almeida Souza

Prof. Dr. Rossine CruzProf. Dr. Sylvio Bandeira de Mello e Silva

Profa. Dra. Vanessa BrasilProfa. Vera Lúcia Nascimento Britto

Prof. Victor Gradim

EDITORProf. Dr. Noelio D. Spinola

SECRETARIA EXECUTIVAProfa. Tatiana Spinola

REVISÃONúcleo de Revisão, Tradução e Editoração da UNIFACS

CAPA E EDITORAÇÃO GRÁFICAAntônio Caldas

FOTOLITOS E IMPRESSÃOQUICKGRAPH - Gráfica e Editora Ltda

TIRAGEM: 1000 exemplares

Os artigos publicados podem ser reproduzidos para atividadessem fins lucrativos, mediante autorização da UNIFACS – Uni-versidade Salvador.

As contribuições para a Revista devem ser encaminhadas à REVIS-TA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, digitadas em Word.Enviar disquete com texto e uma cópia impressa, no máximo com 30laudas de 20 linhas cada, aproximadamente 30.000 caracteres. De-verá incluir resumo.

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIAAlameda das Espatódias, 915 – Caminho das Árvores, Salvador, Bahia

CEP: 41827-900 - Tel.: (71) 273-8557E-MAIL: [email protected]

Os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores.

Departamento de CiênciasSociais Aplicadas 2Programa de Pós-Graduação emDesenvolvimento Regional e UrbanoCurso de Economia Empresarial

EDITORIALEDITORIALA UNIFACS, através do seu Departamento de Ciências Sociais Apli-

cadas 2 e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional eUrbano, edita agora o quarto número da Revista de DesenvolvimentoEconômico, reunindo a produção científica nacional de professores e alu-nos do seu programa de pós-graduação assim como a contribuição interna-cional de professores da Universidade de Barcelona.

Coerente com a sua linha editorial, a revista abre esta edição com umartigo inédito de Rômulo Almeida que foi, sem dúvida, o maior economistabaiano do século XX e um técnico que contribuiu de forma marcante esignificativa para o crescimento da economia regional. O trabalho de Rômu-lo é comentado em estudo do professor Sylvio Bandeira de Mello e Silva,que também examina as novas tendências da questão regional.

As tensões externas e internas na composição regional no Brasil sãoexaminadas pelo professor Fernando Pedrão, que registra, pela quarta vezconsecutiva, uma valiosa presença em nossa RDE.

Outra questão, polêmica, relacionada com a política de fomento indus-trial da Bahia, no período compreendido entre 1967 e 1999, é examinadapelo professor Noelio D. Spinola. Este artigo foi extraído da sua tese dedoutoramento, defendida e aprovada pela Universidade de Barcelona, emfevereiro deste ano.

A participação discente neste número é, também, significativa, compa-recendo os alunos do programa de pós-graduação com os artigos de EdgardPorto sobre a concentração e descentralização na Região Metropolitana deSalvador e de Rosaly Loula sobre a mundialização da cultura. Na seção deNotas e Informes, a mestranda em análise regional Cláudia Mesquita, abordaalguns aspectos do planejamento voltado para a prática da atividade tu-rística, e o doutorando Fernando Alcoforado, na seção de resenhas, faz umaanálise do livro Fim de Milênio de M. Castells.

As contribuições externas são provenientes do professor Tito BelchiorMoreira, da Universidade Católica de Brasília, com uma análise da rela-ção dos períodos prolongados de desemprego com os fatores inerciais, alémde uma substancial participação internacional em que os professores daUniversidade de Barcelona José Luiz Luzón, Javier Martin Vide e FrancescLópes Palomeque contribuem com estudos em que examinam, respectiva-mente, os aspectos conceituais do desenvolvimento social, a percepção ambi-ental na planificação territorial e a problemática do turismo na Espanha.Registra-se, por fim, o trabalho da Profa. Vera Lúcia Nascimento Brittoque, a pedido da editoria da RDE, escreveu sobre a normalização de artigose ensaios científicos. Destaque-se que as normas apresentadas pela profes-sora Vera N. Britto serão adotadas a partir do próximo número da RDEcomo padrão para os artigos candidatos à publicação na revista.

É importante observar que a RDE também divulga a produção cientí-fica do corpo docente do programa de pós-graduação em desenvolvimentoregional e urbano e do corpo discente do mestrado em Análise Regional,consubstanciada por 52 trabalhos de pesquisa e de dissertação em anda-mento, assim como os 13 trabalhos de investigação em fase de conclusão,no âmbito do Doutorado em Planejamento Territorial e DesenvolvimentoRegional realizado em convênio com a Universidade de Barcelona.

Tudo isso demonstra que é possível a uma universidade particulardesenvolver programa de pós-graduação stricto sensu com qualidade eque não se justifica o preconceito existente em alguns setores do meio aca-dêmico que consideram esta atividade apenas viável quando desenvolvidapor instituições públicas.

A editoria da RDE, ao apresentar este quarto número, não pode deixarde comentar a dificuldade com que se defrontou no esforço para aviabilização da revista, tendo em vista a ausência de sensibilidade para opatrocínio de trabalhos técnico-científicos. A presente edição só foi possí-vel graças ao apoio da direção da UNIFACS e do seu Instituto de PesquisasAplicadas que, com sacrifício, financiaram a sua produção.

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5RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

ARTIGOS

PLANEJAMENTO REGIONAL

RÔMULO ALMEIDA

RÔMULO ALMEIDA E O SONHO DO PLANEJAMENTO REGIONAL

SYLVIO BANDEIRA DE MELLO E SILVA

TENSÕES EXTERNAS E INTERNAS NA COMPOSIÇÃO REGIONAL NO BRASIL

FERNANDO PEDRÃO

A IMPLANTAÇÃO DE DISTRITOS INDUSTRIAIS COMO POLÍTICA DE FOMENTO AO DESENVOLVIMEN-TO REGIONAL: O CASO DA BAHIA.NOELIO SPINOLA

EL CONCEPTO DE DESARROLLO EM ARNOLD J. TOYNBEE.JOSÉ LUIZ LUZÓN BENEDICTO

ALGUNAS REFLEXIONES Y EJEMPLOS DEL VALOR DE LA PERCEPCIÓN AMBIENTAL EM LA

PLANIFICACIÓN TERRITORIAL Y DE ACTIVIDADES.JAVIER MARTIN VIDE

DIEZ HIPÓTESIS SOBRE EL TURISMO EN ESPAÑA

F. LÓPEZ PALOMEQUE

CONCENTRAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR

EDGARD PORTO E EDMILSON CARVALHO

REFLEXÕES SOBRE A MUNDIALIZAÇÃO DA ECONOMIA

ROSALY CONRADO LOULA

PERÍODOS PROLONGADOS DE DESEMPREGO SÃO DECORRENTES DE FATORES INERCIAIS?TITO BELCHIOR SILVA MOREIRA

NOTAS E INFORMES

TURISMO E PLANEJAMENTO REGIONAL

CLAUDIA MESQUITA

ARTIGOS E ENSAIOS CIENTÍFICOS

VERA LUCIA NASCIMENTO BRITTO

RESENHA

CASTELLS, MANUEL. FIM DO MILÊNIO

FERNANDO ALCOFORADO

SUMÁRIOSUMÁRIO

61217

2849

61667492

107

114

103

112

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PLANEJAMENTO REGIONAL*

Rômulo AlmeidaRenomado economista baiano. Criador, entre outrasinstituições, do Banco do Nordeste do Brasil S.A. –B.N.B. (1914-1988).

stas notas se baseiam na expe-riência brasileira, da qual recolhemilustrações, mas não representamanálise exaustiva. Adicionalmente oestudo direto de casos em outros paí-ses e uma certa fonte da literatura so-bre desenvolvimento regional e pla-nejamento foram materiais sedimen-tados numa longa preocupação doautor pelo assunto, inspirada menospor objetivos acadêmicos, que pelabusca de fórmulas operativas.

1. MOTIVAÇÃO POSITIVA ENEGATIVA

O interesse hoje universal pelosproblemas regionais e pelo planeja-mento regional se deriva:

l das reivindicações regiona-listas;

l da política de justiça e solida-riedade nacional;

l das idéias de maximizar o usodos recursos naturais e huma-nos;

l da preocupação de prevenir oagravamento dos problemascriados nos grandes centrospelas migrações do campo edas cidades periféricas.

A resistência, ou motivação nega-tiva, ao desenvolvimento regional pro-vém do receio quanto aos efeitos ne-gativos do regionalismo contra o in-teresse nacional de alcançar um cres-cimento ótimo, ou máximo. A ideolo-

gia e o esquema teórico do desenvol-vimento nacional geralmente incor-pora o suposto da concentração es-pacial dos esforços a fim de assegu-rar depois uma expansão territorialdo processo de desenvolvimento.Logo, naturalmente, os interessesacastelados na área privilegiada pelomodelo de desenvolvimento concen-trado, tendem a exacerbar essa resis-tência e auto-perpetuar as suas van-tagens, criando, inclusive um tipo es-pecial de “regionalismo”. Este regio-nalismo de auto-perpetuação chega amanifestar-se em pruridos separatis-tas das “locomotivas” em relação aos“vagões”... pruridos que se desvane-cem face ao interesse maior da áreadominante no que toca à unidade.

O regionalismo é uma mobili-zação psicológica e ideológica para aluta por uma parcela local maior nadistribuição da renda, ou melhor, dadespesa nacional, buscando equali-zação. Ele só se ajusta a objetivos na-cionais de crescimento ótimo ou má-ximo na medida em que se justificacom o desenvolvimento tempestivo esuficiente dos recursos (suficiente emtermos de capacidade competitivaque pode requerer escala ou aglome-ração, ou seja, massa crítica de inver-sões). Fora dessas condições é confli-tivo com o planejamento nacional douso dos recursos em âmbito nacional,que conduza a uma taxa de cresci-mento ótima. O regionalismo apresen-ta aspectos positivos, mesmo na sualuta pela equalização utópica, talcomo já mostrou John Friedman. Creio

que se poderia acentuar a importân-cia do regionalismo como capacitaçãoregional para a participação e para ainiciativa. Estas condições, tal comono caso do espírito de comunidade eda capacidade empresarial, são sus-cetíveis de superar certas desvanta-gens marginais quanto à produtivi-dade de outros fatores.

A política de desenvolvimento re-gional inspirada na idéia de justiça eno interesse de assegurar melhor asolidariedade nacional através demaior satisfação das populações pe-riféricas – política administrada porum poder arbitral, mesmo em condi-ções de mais débeis pressões regio-nalistas - ainda que tenha origemquase paternalista, é paralela ao regi-onalismo nos seus efeitos, sem a van-tagem salientada do último, mas coma possível vantagem de melhor ajus-tar os programas regionais aos objeti-vos totais do país.

Nestes dois casos é saliente o pro-pósito de justiça social entre regiões,paralelo e às vezes confluente com ode justiça social entre classes. Tam-bém a idéia de expansão deliberadada “fronteira” (no sentido econômi-co) com o objetivo de ampliar oumaximizar o uso de recursos naturaise humanos tem sido motora de mui-tos projetos de desenvolvimento regi-onal. Esta abertura para o desenvol-vimento regional tende a ser até pro-

(*) Trabalho apresentado no VIII CongressoInteramericano de Planificación, Salva-dor�Bahia, 13 a 18/09/1970

E

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movida pelos grupos sediados naárea de economia metropolitana, sem-pre que se trate de projetos “de fron-teira” fornecedores de insumos ouimediatamente insumidores de pro-dutos dessa área dominante. Por ou-tro lado, essa linha de desenvolvi-mento regional é conflitiva com o de-senvolvimento máximo se conduz àdispersão de projetos, impedindo asaglomerações de investimentos emtorno de pólos mais dinâmicos, ouseja, se não se orienta no sentido darevelação e plena habilitação de fo-cos de maior produtividade no siste-ma econômico. O acentuado cresci-mento recente dos “camponeses nascidades”, ou seja, das cidades reser-vatórios de migrantes sem perspecti-vas de trabalho regular se expressano problema de investimentos e ser-viços públicos sem o crescimento dasreceitas públicas, resultando em for-çar a uma divisão de recursos comessas massas de marginais infra-ur-banos. Com efeito, a cidade, ainda queinchada e quase rural, é inexorávelquanto as exigências mínimas deinfra-estrutura. E, por outro lado, odesemprego ou subemprego dessas“franjas” urbanas é mais visível earticulável em manifestações, geral-mente caóticas ou pré organiza-cionais, mas, com considerável eficá-cia na luta distributivista. Parece, en-tretanto, que o problema da aglome-ração urbana não gera um impasseem termos materiais, no caso das me-trópoles das regiões mais ricas. Paraestas em regra é mais fácil ter recur-sos para superar, em termos materiais

os grandes problemas de investimen-tos gerados por essa expansão urba-na indesejável – os problemas de sa-turação – do que as áreas de origemdos migrantes terem meios para resol-ver problemas muito rudimentares,dos quais poderiam resultar condi-ções melhores de fixação. O problemaé a perda de qualidade na vida des-ses centros maiores e a incomodida-de dos grupos dominantes, face aosproblemas que lhe são criados. Isto,provavelmente é o que conduz a umaatenuação das resistências, nas me-trópoles econômicas, ao desenvolvi-mento regional, e mesmo a acendertênues interesses positivos na espe-rança de gerar um anteparo às migra-ções excessivas. Carecemos de umaanálise sobre variáveis políticas quecondicionam a viabilidade dos pla-nejamentos regionais, seus tipos, ca-racterísticas e formas afinal adotadas,tanto no planejamento formal quantoem sua efetivação. Basicamente, o pro-blema é saber em que medida os pla-nejamentos regionais variam entre umdesafio à estrutura de poder e o ajus-tamento aos interesses expansionistasda área dominante – tal como no casodos desenvolvimentos “nacionais”em condições de dominação. Não ten-do possibilidade de intentar tal aná-lise nem atreveria avançar nada di-ante dos especialistas reunidos nestecongresso.

2. REGIÕES, POLARIZAÇÕES ECIDADES

As considerações gerais sobreesta parte serão simplesmente de re-ferência, diante do desenvolvimentoque o tema ganhou em outros traba-lhos apresentados ao Congresso. O ob-jetivo dessas considerações será ape-nas situar as experiências típicas doBrasil e conduzir às seções seguintesda comunicação.

A classificação Perroux-Boude-ville parece satisfatória aos objetivosdo autor.

Quanto às regiões homogêneas,serão tecidas considerações sobre ex-periências realizadas em bacias hidro-

gráficas e o intento de dividir o paísem micro-regiões. Neste último caso,se adverte que a delimitação das mes-mas levou em conta as condições tra-dicionais de micro polarização. Poroutro lado, o esquema das micro-regi-ões parece estar inspirando progra-mas seletivos, mas ainda geografica-mente muito dispersos, de desenvol-vimento urbano, tal como o Programade Ação Concentrada-PAC.

Os programas dos vales constitu-em uma experiência, em alguns casosantiga mas em todos os casos muitorudimentar, oscilando entre a idéia dedesenvolvimento polarizado em tor-no de determinadas unidades hidre-létricas e a dispersão de esforços portoda uma vasta área. Neste sentido, odesenvolvimento se aproximou dasregiões-programa.

O caso das regiões-programa seapresenta antes que os das regiõespolarizadas nas tentativas de plane-jamento. Três casos típicos mais im-portantes devem ser focalizados naexperiência brasileira:

a) o dos estados;

b) o das grandes regiões periféri-cas;

c) o artifício máximo: o caso dafronteira sudoeste.

Serão focalizados, especialmente,os casos de planejamento no Estadoda Bahia e na região nordeste.

Quanto às regiões polarizadas eque não se deve confundir com as áre-as metropolitanas, embora às vezescoincidam, a experiência do Brasil émuito incipiente. Focalizaremos ocaso do Recôncavo, que se introduzvigorosamente num processo tradici-onal de planejamento de duas regi-ões programa superpostas, mas queainda não adquiriu uma concei-tuação madura.

A seguir, serão feitas algumasconsiderações sobre o conceito de po-larização e suas relações com o pla-nejamento espacial.

Todo planejamento regional ten-deria a ser baseado nas regiões pola-rizadas e nos seus pólos, focos ou ei-xos de desenvolvimento. O “espaçoeconômico” da polarização, ou do sis-

... a cidade,ainda que inchada

e quase rural,é inexorável quanto

as exigênciasmínimas de

infra-estrutura.�

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8 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

tema de forças atrativas e irradiantesa partir dos pólos, espaço que é abs-trato, passa a condicionar a área geo-gráfica da região mas a delimitaçãodessas regiões polarizadas é menosnítida à medida que se amplia o raioa partir do pólo.

Se é certo que a existência de re-cursos naturais favoráveis e de boalocalização além de outras condiçõesacumuladas historicamente, favore-cem a polarização, por outro lado,cada vez há uma menor dependênciadessas condições, desde que entretan-to seja bastante a concentração dosfatores “artificiais”, planejados.

Em outras palavras, os “comple-xos tecnológicos” criam regiões arti-ficiais. Mas, provavelmente na propor-ção em que ninguém dispõe de recur-sos naturais, posição e outras condi-ções tradicionais, maior concentraçãode investimentos será necessária. Oextremo é o que se poderia chamar o“modelo da fundação” lembrandoManheim.

Confluência entre o planejamen-to econômico-social e o planejamentoespacial (além do institucional, namedida em que possa ser realmenteplanejado).

O planejamento econômico-soci-al, através dos sistemas de transpor-tes, da localização dos projetos pro-pulsores e da caracterização dos pó-los, induz à investigação da variávelespacial e logo ao planejamento es-pacial mesmo. Nas áreas de recentecolonização e mesmo nas de desen-volvimento incipiente, o sistema mo-derno de transportes é criado pratica-mente ab ovo. Seu impacto, portanto,na delimitação e caracterização dasregiões e superação de fatores tradici-onais, é evidentemente muito maisimportante que em áreas econômicasmais desenvolvidas.

Afinal, só muito recentemente ascidades passaram a ser objeto do pla-nejamento econômico-social ao nívelnacional, depois de ganharem impor-tância nos planejamentos nacionais.

Assim, em termos muito esque-máticos, o planejamento econômico esocial se orientou no sentido de inte-grar planejamento espacial e físico.

3. A CIDADE NO

DESENVOLVIMENTO

REGIONAL

No sentido inverso, o planejamen-to das cidades partiu de um enfoquefísico limitado à área, para conside-rar a integração da cidade com a suaimediata área de influência e logo como sistema de transportes, com as áre-as econômicas de polarização e como sistema geral de cidades. E assimfoi conduzido a desembocar no pla-nejamento econômico-social geral.

A experiência do Brasil ainda émuito, diria, preliminar, quanto aosmecanismos operativos, nos dois sen-tidos, embora conceitualmente já setenha avançado um pouco mais. En-tretanto, o importante esforço recentede conceitualização e de programa-ção efetiva das áreas metropolitanas,como que parte de três objetivos:

a) preparar as metrópoles para asolução coordenada, entre vá-rios municípios que a com-põem, bem como a ação suple-tiva do Estado e da União naárea;

b) preparar as metrópoles paramanejar os problemas críticosda hiper urbanização; e

c) (que em grande parte coincidecom b) preparar uma oferta deinfra-estrutura física e socialurbanas, no sentido de compe-tir na atração e fixação de capi-tais e recursos humanos quali-tativos.

Entretanto, esse esforço pioneirode planejamento urbano e metropoli-tano, sendo isolado, e, sobretudo,quando não tem relação com o plane-jamento de pólos de desenvolvimen-to, é precário na sua eficácia preditiva,pois a demanda das infra-estruturasurbanas, das condições gerais, ou seja,a demanda de cidade, não é dada porcondições tradicionais ou autôno-mas, mas pelo sistema de cidades. Istoé sobretudo importante numa fase demudanças violentas na tecnologia enum país ou região de desenvolvi-mento incipiente.

O planejamento dispersivo dosnúcleos urbanos que se está verifican-do não considera as mudanças emperspectiva ou possíveis, nas condi-ções locacionais, inclusive os câmbi-os nos requerimentos de aglomeraçãoda economia moderna, sem falar nasmudanças operadas pela própria aber-tura de novos sistemas de transporte.Pode ele, assim, constituir uma expe-riência negativa, não só de dispersãode recursos, se não também de inflexi-bilização de estruturas urbanas, comefeito sobre o desenvolvimento geralda região e do país.

Algumas considerações se justi-ficaram adicionalmente quanto àscondições extrínsecas e intrínsecas depotencial das cidades. Aqui são apre-sentadas a título de meditações, paraprovocar os especialistas.

I. Seriam condições intrínsecas àcidade mesma:

a) a qualidade da oferta de infra-estrutura urbana, ou seja, ascondições das economias edeseconomias urbanas no pro-cesso de desenvolvimento;

b) certas condições gerais urba-nas insuscetíveis de quanti-ficação;

c) posição em face a condiçõesgeográficas não suscetíveis desuperação tecnológica.

II. Seriam extrínsecas à cidademesma, mas intrínsecas à suaárea de influência:

a) recursos naturais;

b) população e renda da área po-larizada;

O planejamentodispersivo

dos núcleos urbanosnão considera asmudanças emperspectiva...�

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9RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

d) competição com outros centrosdentro da região.

III. Seria condição extrínseca àprópria região; a competição nosistema nacional e internacio-nal de cidades; o que corres-ponde à competição da regiãocom as outras e à própria com-petição entre as nações.

O potencial urbano, por decisãoautônoma, é muito limitado, pois exis-te a tendência de competir no item I.a,bem como através da superaçãotecnológica de desvantagens existen-tes em outros locais, correspondentesao item I.b. Por outro lado, entretanto,certas condições naturais e culturaistalvez sejam irredutíveis no seu valorrelativo; e, pelo contrário, talvez te-nham crescente significação, comoseria o caso de um patrimônio histó-rico e artístico irreprodutível ou declima e paisagem excepcionais.

Não há dúvida que a competiçãonas condições I, desde que não resul-te numa super-oferta ou, noutro ex-tremo, numa oferta dispersa, pode re-presentar uma contribuição para odesenvolvimento regional ou nacio-nal, não só importante em si mesmapela melhoria da qualidade da vidaurbana, mas também de grande alcan-ce na elevação da produtividade dosistema econômico geral. Mas essaoferta em sí mesma tem limitados efei-tos germinativos locais tal como, emgeral, o suprimento prévio de infra-estruturas excedentes à demanda efe-tiva imediata. Tal oferta pode, sim, re-forçar o efeito motriz dos pólos de de-senvolvimento.

O item II.a vai perdendo de valorcomo o desenvolvimento da tecnolo-gia ou, simplesmente, das inversõesem transportes.

O item II.b, num esquema plane-jado de longo prazo, perde tambémde importância, pois o planejamento,ou, automaticamente, o próprio desen-volvimento básico (neste caso commaior custo), induz ou implica emtransferências populacionais paraonde se criam as condições de empre-go e vida urbana.

4. POLÍTICA DE ESTRATÉGIA

DO PLANEJAMENTO

NACIONAL DAS REGIÕES

O objetivo do desenvolvimentoregional dificilmente é viável politi-camente se não existe uma consciên-cia de sua compatibilidade com umdesenvolvimento ótimo do país. (Oótimo, aqui, considerado não apenasno limite quantitativo da máxima pro-dutividade marginal, mas também nosentido qualitativo que admite umcerto preço de crescimento quantitati-vo para alcançar metas políticas, so-ciais e culturais). Essa consciênciapode ser e é frequentemente desavisa-da, refletindo uma cândida despreo-cupação pelo cálculo econômico empaíses menos desenvolvidos, como éo próprio caso do Brasil.

O problema é saber em que medi-da o desenvolvimento regional é efi-caz para esse objetivo de crescimentoótimo do país. Portanto, a definiçãode crescimento ótimo é um elementopreliminar na fixação de objetivos ede uma estratégia para o planejamen-to regional.

Já se está superando a idéia de quenenhuma alternativa seria mais efi-caz que a do crescimento máximo, emtermos quantitativos, ainda que a pre-ço inicial de desequilíbrio social e es-pacial acentuado:

- um maior crescimento imedia-to nem sempre é o mais condu-cente ao crescimento contínuoe à sua aceleração no largoprazo;

- certos gastos correntes, quan-do valorizam recursos, se equi-param a investimentos, como éo caso da educação e da pes-quisa sobre recursos naturaise a tecnologia mais adequadaa estes e ao projeto da socie-dade;

- objetivos sociais, culturais epolíticos podem ser em certamedida mais importantes queos econômicos para um desen-volvimento que poderiamosclassificar humanisticamente

de autêntico, além de que po-dem estar capitulados naque-les objetivos – meio de desen-volvimento econômico maior alongo prazo.

- O aproveitamento melhor dosrecursos naturais, além de con-centração de capital e em cer-tos casos, aglomeração de em-preendimentos diversos, tam-bém depende de um períodomais longo de maturação, quan-do se trata de áreas menos de-senvolvidas; e durante essetempo, com frequência a rela-ção produto/capital marginalse deteriora em relação a apli-cações nas áreas mais desen-volvidas.

Parece haver um ponto básico nafilosofia política e social do Ocidente:a proteção à saúde, a que se poderiaestender a segurança de mínimos vi-tais de consumo, habilitação educati-va. Aliás, essa “valorização” dos re-cursos humanos pode constituir umameta mínima de planejamento regio-nal disperso, posto que estará tambémpreparando reservas para as áreasmais dinâmicas e dominantes.

Dever-se-ia acrescentar entre es-ses objetivos mínimos de planejamen-to regional disperso, os estímulos aoesforço próprio: a capacitação dascomunidades, da liderança local, da“capacidade empresarial” coletiva eindividual, nos limites em que elapossa compensar desvantagens mar-ginais.

Há um campo, portanto, para ra-cionalizar as pré-inversões nacionaisem todo o país. Mas isto não bastapara caracterizar uma política regio-nal, baseada na criação de condiçõescompetitivas e dinâmicas de novasregiões com a região ou as áreas jádesenvolvidas.

Sabemos que o processo de desen-volvimento requer centralização, acu-mulação espacial de investimentos,massa crítica. E, por definição, umasociedade sub-desenvolvida está lon-ge de ter possibilidade de muitos pro-jetos regionais simultâneos nessascondições. Daí, a seletividade e suces-sividade no desenvolvimento regio-

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nal como um requisito de eficácia. Oprocesso modelo assim poderia sedefinir como de desconcentração con-centrada.

Por outro lado, o processo de cen-tralização tende a auto-perpetuar-se,por causação circular, não necessari-amente por produtividade intrínsecae potencial. Essa concentração acumu-lada, por força de produtividade mar-ginal imediata, ou simplesmente apa-rente, e de deformações no sistema depoder e no funcionamento das insti-tuições, inclusive fiscais, depois decerto limite estará certamente reduzin-do o potencial de crescimento da eco-nomia nacional, sem falar no desen-volvimento da sociedade, mas os pro-jetos ali são em regra mais lucrativose fáceis a curto prazo, ou isolada-mente.

A consequência é que dificilmen-te pode haver desenvolvimento regio-nal no sistema de preços. Há que ha-ver intervenção deliberada para des-centralizar.

O cálculo econômico para isso é,porém, indispensável. Freqüente-mente, a evidência da necessidade deintervenção faz olvidar esse requisitode eficiência.

O cálculo econômico certamentedeverá ter critérios para determinar oscustos comparativos dinâmicos, cujatécnica está longe de haver atingidosuficiente madureza.

Possivelmente um planejamentoregional, na base de complexos pro-dutivos integrados pode aproximar-se mais rigorosamente desses custoscomparativos dinâmicos, natural-mente formulando hipóteses sobre ocomportamento das áreas ou comple-xos competitivos e o desenvolvimen-to da tecnologia.

Os preços-sombra, ou preços deconta, podem constituir também umexercício útil, inclusive para incorpo-rar a um modelo quantitativo objeti-vos de produtividade social, ou me-ramente meta-econômicos.

Uma outra observação importan-te se refere ao sistema fiscal, frequen-temente negligenciado no que se rela-ciona com o planejamento regional.Antes de promover deliberadamente

inversões em regiões a desenvolver,deve ser examinado se em parte taisdecisões seriam dispensáveis medi-ante correções economicamente justi-ficáveis no sistema tributário, ou im-perativas por questão de justiça. É oque se verifica no Brasil, no que tocaaos impostos indiretos. Na última re-forma fiscal – talvez sem que se tenhapretendido esse efeito – agravou-se odesequilíbrio regional pela transferên-cia tributária implícita no sistema doICM (Imposto sobre Circulação deMercadorias) para os estados e os cen-tros urbanos mais industrializados oumais importantes no comércio. Comefeito, “a parte de leão” desse impos-to, que incide afinal sobre o consumi-dor, é retida naquelas áreas. Um pon-to fundamental, portanto, numa polí-tica regional, seria alterar radicalmen-te as bases dessa distribuição.

A dúvida está, porém, nos limitesda autonomia que sejam compatíveiscom o desenvolvimento nacional óti-mo, sobretudo nos países de menordesenvolvimento.

O federalismo e a autonomia nãopodem, neste caso, conduzir a recur-sos muito avultados, que sejam deaplicação autônoma. Parece-me ine-vitável que o poder central concentremaior massa de recursos e, por outrolado, que, através das inversões dire-tas, das transferências para as enti-dades locais, do planejamento indica-tivo como condição para essas trans-ferências e do uso dos controles decrédito e câmbio, balize o uso da au-tonomia pelos poderes locais.

Um planejamento regional, porconseguinte, não pode amplamenteser autônomo, embora se deva estimu-lar, e até exigir, o hábito do planeja-mento municipal, provincial e regio-nal, dentro das pautas do planejamen-to nacional.

Afinal, cabe especular que tipo deplanejamento regional se pode indi-car como o mais convincente a conci-liar a redução possível de desequi-líbrio regional com o crescimento óti-mo nacional.

Não creio que haja uma receitaabsoluta. As condições de cada estru-tura econômica, geográfica e institu-cional, é que definem o tipo de plane-jamento mais adequado em cada áreae em cada momento. Porém parece-meque já se tem elementos para concluirque, ao lado de normas e critérios ge-rais de política regional e compensa-ção de desequilíbrios mais chocantes,o desenvolvimento regional intensi-vo deve basear-se num modelo dedesconcentração concentrada . Estemodelo conduz a desenvolver as re-giões na base de pólos e áreas metro-politanas, modelo no qual se integrao planejamento econômico-social e oespacial, embora os limites do espaçogeográficos sejam, só convencional-mente fixáveis. Na prática, certamen-te, esse modelo será condicionadopelos limites de regiões-programa es-tabelecidos por condições institucio-nais de difícil ou desnecessária corre-ção.

É como seconsiderasse um

modelo de“livre empresa”

entre as entidadespúblicas.�

Um outro problema fundamentalse refere à estrutura e funcionamentodo modelo de organização constitu-cional: federalismo, autonomia local.O que já se disse sobre o estímulo, aparticipação e a capacidade local deiniciativa, pareceria conduzir logica-mente ao corolário do federalismo eda autonomia local. Mas esta é umaquestão que pomos em dúvida. Cer-tas condições mínimas de autonomiasão convenientes àquele propósito aointeresse nacional de uma participa-ção mais ativa e dinâmica; ou, aindado desenvolvimento do maior núme-ro de agentes de decisão. Que assegu-rem uma competição dinâmica sau-dável. É como se considerasse ummodelo de “livre empresa” entre asentidades públicas.

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(Ilustração do caso baiano, a par-tir do Recôncavo e, neste, basicamen-te do petróleo e da metalurgia).

5. PROJEÇÃO CONTINENTAL

DO DESENVOLVIMENTO

REGIONAL INTRA-NACIONAL

Dúvidas têm sido levantadas emvários países quanto à compatibilida-de ou viabilidade simultânea entredesenvolvimento regional interno eintegração latino-americana. O pri-meiro, como uma forma de integraçãonacional, ao lado de uma maior di-versificação do sistema produtivo in-terno, constituiria um objetivo priori-tário e excludente de uma imediataintegração regional latino-americana.

Creio haver nessa tese um equí-

voco fundamental, quando não seja asimples incapacidade de manejar ummodelo teórico e operativo mais com-plexo.

A conveniência da integração la-tino-americana para o desenvolvi-mento regional interno mais equili-brado me parece, pelo contrário, mui-to claro. Com efeito, num modelo maisaberto de desenvolvimento, os dese-quilíbrios regionais seriam menores,posto que pelo menos se reduziria oefeito da dominação única, ou seja,haveria sobre as áreas inevitavelmen-te periféricas (em termos econômicos)e, inclusive limítrofes, geograficamen-te, a competição de maior número depólos e áreas metropolitanas. Doisefeitos resultariam disso:

1 -reduzir as perdas pela dete-riorização dos termos de inter-câmbio entre as áreas periféri-cas e as áreas metropolitanas.

Tais perdas se acentuam no re-gime de substituição horizon-tal de importações;

2 -reduzir a própria condição pe-riférica de tais áreas na medi-da em que elas passarem a es-tar em eixos de comunicaçãomais vivos entre áreas metro-politanas de vários países.

Possivelmente, o policentrismoseria assim ajudado pela integraçãoregional latino-americana. E, possi-velmente, sem perda absoluta para asáreas econômicas metropolitanas atu-ais, graças aos ganhos de produtivi-dade de um mercado mais amplo.Caminharíamos, assim, para a hipó-tese mais auspiciosa de integraçãoentre um planejamento regional inter-no e o planejamento do desenvolvi-mento latino-americano, admitindo,naturalmente, regiões multinacionaisnão apenas fronteiriças.

Já saíram osCadernos deAnáliseRegional:Agricultura,Indústriae Comércio.

Ligue(71) 273-8557

Mais uma publicação Unifacs

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1. QUESTÕES GERAIS

questão regional, entendidaaqui de forma abrangente, ou seja,como a busca de alternativas para opleno desenvolvimento de determina-das áreas do espaço geográfico atra-vés do uso eficiente e justo de recur-sos, de uma competente organizaçãosócio-territorial e de uma eficaz inser-ção nos contextos externos, tem rece-bido uma crescente atenção e isso deforma coincidente com a aceleraçãodos debates sobre o que hoje se con-vencionou chamar de globalização.Sem dúvida, esse fato é um poderosoindicador de que os dois processos,globalização e regionalização, sãoprocessos fortemente integrados.“Quanto menos importantes as bar-reiras espaciais, tanto maior a sensi-bilidade do capital às variações dolugar [e da região] dentro do espaço etanto maior o incentivo para que oslugares [e regiões] se diferenciem demaneira atrativa ao capital. O resul-tado tem sido a produção da fragmen-tação, da insegurança e do desenvol-vimento desigual efêmero, no interiorde um unificado espaço econômicoglobal de fluxos de capital” (Harvey,1990, p.296).

Entretanto, é preciso reconhecerque, em fases anteriores, nem semprea questão regional recebeu uma aten-ção prioritária em termos analíticos eaplicados. Quase sempre, a ênfase naanálise espacial, por exemplo na Eco-nomia, era sobre o comportamentodas economias nacionais e da Econo-

mia Internacional, resultado das re-lações e das comparações entre dis-tintas economias nacionais. Entretan-to, deve ser ressaltada, de qualquermodo, a importante contribuição daEconomia Regional (ver, por exemplo,Richardson, 1969; Haddad et al., 1989)e da chamada Ciência Regional, decaráter pluridisciplinar mas bastanteancorada na Economia, em especialna Econometria (ver, por exemplo,Isard, 1956; Benko, 1998). Entretanto,a difusão dessa contribuição não foidas maiores no seio da própria Ciên-cia Econômica, em função do predo-mínio dado ao comportamento dosagregados micro e macro-econômicos,adotando, sobretudo, perspectivasnacionais, e na área do planejamen-to, como decorrência das dificuldadesde operacionalização dos sofisticadosmodelos em complexos ambientes só-cio-políticos.

Já no caso da Geografia, tradicio-nalmente ocorreu, em um longo perí-odo, uma super-valorização da região,com uma visão mais empírica, de ca-ráter idiográfico e, por conseguinte,com forte conteúdo excepcionalistana visão de que os espaços regionais,preferencialmente sub-nacionais, in-tegrariam de forma única e, portanto,com resultados diferenciados, todosos fenômenos geográficos, naturais esócio-econômicos (ver, por exemplo,Hartshorne, 1969, Schäffer, 1953). Porseguinte, a importante contribuiçãoda Geografia Regional, associada,durante bom tempo, à visão de toda aGeografia, deve ser ressaltada na

perspectiva da valorização das iden-tidades regionais. Mas sua aplica-bilidade foi também relativamente li-mitada ao deixar de valorizar outrasinstâncias, inclusive técnicas e sócio-políticas, e outras escalas, ficandomais associada aos trabalhos de di-agnósticos regionais. Com o cresci-mento da chamada Geografia Teóricae Quantitativa (ver, por exemplo,Harvey, 1970 e Haggett, 1966), desen-volvendo modelos locacionais, deinteração espacial, de organizaçãoespacial e de desenvolvimento, envol-vendo muitas vezes predição e simu-lação, portanto mais próximos ou in-tegrados aos da Economia Regional/Ciência Regional, irá crescer a aplica-bilidade, embora também com proble-mas de operacionalização e de iden-tificação de prioridades socialmenterelevantes. As perspectivas marxistas(Massey, 1984) e humanísticas (Tuan,1980 e 1983) vão criticar essas contri-buições, agregando, de um lado, umavisão mais histórico - estrutural e só-cio - política e, de outro lado, uma pers-pectiva mais existencial e subjetiva.Em ambos os casos, as dificuldadesde aplicação no planejamento tam-bém têm sido importantes como resul-tado, de um lado, da necessidade deprofundas reformas estruturais, porexemplo, na proposição marxista, e,de outro lado, da falta de preocupa-ção com prioridades normativas, navisão fenomenológica.

Recentemente, como resultado daaceleração dos processos de globali-zação e regionalização, observam-se

RÔMULO ALMEIDA E O SONHO DO

PLANEJAMENTO REGIONAL

Sylvio Bandeira de Mello e SilvaDoutor em Geografia. Professor do Programa de Pós-Graduaçãoem Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salva-dor – UNIFACS.

A

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algumas tendências que, pelas suascaracterísticas e intensidade, são bemdiferentes dos contextos anteriormen-te resumidos. Em resumo, destacaría-mos os seguintes pontos:

a) certo enfraquecimento e mu-danças significativas nas for-mas tradicionais de ação dosEstados nacionais, repercutin-do na visão das perspectivasdas economias nacionais;

b) crescimento em importância domercado como regulador daeconomia e crescimento dopeso das grandes empresastransnacionais;

c) surgimento e fortalecimento deinstâncias supra-nacionais(grandes blocos econômicos),expressando a maior impor-tância da escala global;

d) revalorização de instânciassub-nacionais (regionais e lo-cais) graças à maior abertura eflexibilização dos mercadosnacionais permitindo que asregiões e os lugares tenham re-lações diretas com outras eco-nomias locais, regionais, naci-onais e supra-nacionais, emuma escala global, tambémcomo conseqüência da forte re-dução dos custos de transpor-te e comunicação;

e) como conseqüência, crescimen-to expressivo do papel dos go-vernos regionais e locais nasquestões relativas ao planeja-mento e ao desenvolvimentoregional e local;

f) crescente preocupação com asquestões ambientais em todosos setores e escalas;

g) progressiva integração dasquestões ambientais com asquestões sociais e econômicas,envolvendo também diferentessetores e instâncias;

h) expansão das formas de com-petição entre regiões e lugarestentando atrair investimentosnacionais e internacionais;

i) incremento significativo do

papel das organizações e mo-vimentos sociais (o chamadoTerceiro Setor) nas questões dedesenvolvimento local e regio-nal, quase sempre como refle-xo da redução do papel do Es-tado;

j) valorização das questões cul-turais;

k) redirecionamento das formasde ajuda multi e bilateral porparte de Estados e bancos in-ternacionais que passam a agircom políticas mais descentra-lizadas, favorecendo as escalaslocais e regionais, a questãoambiental e as organizaçõessociais.

l) Expansão das formas de acom-panhamento e avaliação depolíticas, programas e projetossocialmente relevantes.

Como resultado, a questão regio-nal aparece hoje como uma das maisimportantes no mundo motivandopesquisa básica e aplicada (v., porexemplo, Krugman, 2000, na Econo-mia, e Storper, 1997, na Geografia).Como essa questão se coloca no con-texto nacional?

2. DESEQUILÍBRIOS REGIONAIS

NO BRASIL

O Brasil destaca-se, dentre mui-tas outras características, por apresen-tar grandes desequilíbrios sociais eregionais.

Em um trabalho que se tornouuma referência mundial, o economis-ta J.G. Williamson publicou um textoem 1965, sobre o desenvolvimento re-gional em diferentes países agrupa-dos em níveis de desenvolvimentocom base na classificação propostapor Kuznets.

A fórmula usada por Williamsoné a seguinte:

_

2_

y

n

fyy

V

ii

iw

=∑

onde fi: população da região i n : população nacional yi : renda per capita da região i y : renda nacional per capita

e

_

2_

y

N

yy

V

ii

wu

=

onde N é o número de regiões

Assim, Vw é o coeficiente ponde-rado de variação que mede a disper-são dos níveis da renda regional percapita relativamente à média nacio-nal enquanto cada desvio regional éponderado pela sua participação napopulação nacional. Desta forma, Vwsendo mais elevado maior será o ta-manho da diferença geográfica derenda.

Com base em dados da década de50, Williamson produziu uma tabelacomparativa internacional que, naépoca, causou grande impacto (v. ta-bela 1).

Como se pode ver, o Brasil, com oíndice de 0,700, aparece em primeirolugar no mundo em desequilíbriosregionais na análise de Williamson.A constatação desse fato, por essa viaou por outros meios, nos ambientesacadêmicos, políticos e sociais, levouprogressivamente o Governo brasilei-ro a formular importantes políticasregionais que se cristalizaram emble-maticamente na criação da SUDENE,em 1959 e , mais tarde, da SUDAM,da SUDECO e de outros organismos.Antes o Brasil já havia ensaiado atuarna promoção do desenvolvimento re-gional quando criou em 1909, aInspetoria Federal de Obras contra asSecas (IFOCS), transformada, maistarde, em Departamento Nacional deObras contra as Secas (DNOCS), e, em1948, a Comissão do Vale do São Fran-cisco (CVSF), hoje Companhia do De-senvolvimento do Vale do São Fran-cisco, esta última inspirada no bemsucedido exemplo da TVA-TennesseValley Authority, criada em 1933 pelo

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Governo dos EUA para promover odesenvolvimento de todo o Vale doTennessee. O esforço italiano em de-senvolver o atrasado Sul, na décadade 50, através da Cassa per il Mezzo-giorno, serviu também como estímulopara a criação da SUDENE.

Assim, numerosos projetos e pro-gramas foram progressivamenteimplementados nas regiões periféri-cas brasileiras sobretudo nas décadasde 60 e 70.

Como resultado, os desequilíbriossofreram uma redução relativa mas

ainda persistem com grande intensi-dade. Assim, usando a mesma fórmu-la de Williamson para os dados de1998, o Brasil apresenta no mesmo anoo índice de 0,458, próximo ao da en-tão empobrecida Espanha em meadosda década de 50 (0,415). Portanto, épreciso avançar muito mais no Brasil.

Quanto aos desequilíbrios sociais,o Brasil também ocupa uma posiçãoaltamente desconfortável já que é osegundo país do mundo, após SerraLeoa, quanto ao índice Gini de con-centração de renda (v. tabela 2).

Evidentemente, a questão regio-nal está associada à questão socialbastando analisar, para tanto, que osmaiores e mais difundidos índices depobreza e concentração de renda ru-ral e urbana estão nos Estados maispobres do Norte e Nordeste. RômuloAlmeida ressalta também essa inte-gração quando destaca em artigo nes-ta Revista “o propósito de justiça so-cial entre regiões, paralelo e às vezesconfluente, com o de justiça socialentre classes”.

TABELA 1COMPARAÇÃO INTERNACIONAL SOBRE DESEQUILÍBRIOS REGIONAIS

PAÍSES AGRUPADOS SEGUNDO ACLASSIFICAÇÃO DE KUZNETS

PERÍODO DE COBERTURADAS INFORMAÇÕES

Vw

(índice de desequilíbrio regional)Grupo I

Austrália 1949/50 - 1959/60 0,058Nova Zelândia 1955 0,063

Canadá 1950-61 0,192Reino Unido 1959/60 0,141

Suécia 1950, 1955,1961 0,200Média do Grupo I 0,139

Grupo IIFinlândia 1950, 1954, 1958 0,331

França 1954, 1955/56 0,283Alemanha Ocidental 1950-55, 1960 0,205

Holanda 1950, 1955, 1958 0,131Noruega 1952, 1957-60 0,309

Média do Grupo II 0,252Grupo III

Irlanda 1960 0,268Chile 1958 0,327

Áustria 1957 0,225Porto Rico 1960 0,520

Média do Grupo III 0,335Grupo IV

Brasil 1950-59 0,700Itália 1951, 1955, 1960 0,360

Espanha 1955, 1957 0,415Colômbia 1953 0,541

Grécia 1954 0,302Média do Grupo IV 0,464

Grupo VIugoslávia 1956, 1959, 1960 0,340

Japão 1951-59 0,244Média do Grupo V 0,292

Grupo VIFilipinas 1957 0,556

Média do Grupo VI 0,556Grupo VII

Índia 1950/51, 1955/56 0,275Média do Grupo VII 0,275

Média Geral 0,299

Fonte: WILLIAMSON, 1965.

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3. A CONTRIBUIÇÃO DE

RÔMULO ALMEIDA

É diante da histórica questão re-gional brasileira que merece ser des-tacada a contribuição do conhecidoeconomista e planejador RômuloAlmeida, através da divulgação, nes-ta Revista, de um texto apresentadono Congresso Interamericano dePlanificación (Salvador, 13 a 18/09/1970). Rômulo Almeida teve atuaçãodestacada como homem público, comgrande contribuição no planejamentonacional e baiano e ainda com rele-vante atuação no cenário internacio-nal (Almeida, 1995).

A contribuição de Rômulo Almei-da, agora amplamente divulgada, foioriginalmente apresentada e discuti-da em um período de crescimento daeconomia mundial e brasileira tendoaté gerado, entre nós, a expressão“milagre brasileiro” (1969-1973). As-sim, inicialmente, destaca-se a opor-tunidade de se discutir o planeja-mento regional, com forte papel doEstado, mesmo em um momento deexpansão econômica onde se poderiaesperar que o mercado tenderia a cons-

truir um maior equilíbrio inter-regio-nal. Almeida implicitamente admiteo contrário quando no texto valoriza,por exemplo, “a política de desenvol-vimento regional inspirada na idéiade justiça e no interesse de assegurarmelhor a solidariedade nacional atra-vés de maior satisfação das popula-ções periféricas – política administra-da por um poder arbitral...” e, sobre-tudo, quando critica “a idéia de quenenhuma alternativa seria mais efi-caz que a do crescimento máximo, emtermos quantitativos, ainda que a pre-ço inicial de desequilíbrio social e es-pacial acentuado...” .

Portanto, fica clara a valorizaçãodo papel das políticas públicas inte-grando o planejamento nacional aoplanejamento regional (v. Araújo,2000).

Um outro aspecto a destacar nacontribuição de Almeida nesta Revis-ta é a valorização, embora com os de-vidos cuidados, das autonomias re-gionais (e até locais) no processo deplanejamento regional, o que assumehoje maior relevância.

Também merece uma menção es-pecial a relação pioneira entre desen-volvimento regional intra-nacional e

a integração latino-americana, o quesó passou a receber mais atenção coma implantação do MERCOSUL, duasdécadas após a apresentação do tra-balho de Almeida.

Assim, a divulgação do texto deRômulo Almeida nesta Revista con-tribui de forma relevante no processode discussão do planejamento regio-nal em nossos dias, com destaquepara a realidade brasileira.

Com efeito, diante da persistên-cia dos graves e integrados desequi-líbrios sociais e regionais, o Brasilprecisa encontrar um novo e eficientemodelo que associe toda a política dedesenvolvimento nacional às políti-cas de desenvolvimento regional.

E isto torna-se cada vez mais ur-gente na medida em que se constata acrise dos modelos institucionais an-teriores (a transformação em curso daSUDENE e da SUDAM em agênciasregionais de desenvolvimento, comredução de suas autonomias) e a emer-gência de formas de reconcentraçãoem função, em especial, da maiorintegração econômica do Cone Sul,beneficiando as regiões Sul e Sudestedo país (Diniz, 1994; Santos e Silvei-ra, 2001).

TABELA 2PAÍSES COM MELHOR E PIOR DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO MUNDO -1999

PAÍSES COM PIOR DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

PAÍSES COM MELHOR DISTRIBUIÇÃODE RENDA

PAÍSÍNDICEDE GINI

PIB percapita(US$)

PAÍSÍNDICE DE

GINI

PIB percapita(US$)

Serra Leoa 62.9 410 Eslováquia 19.5 7.860Brasil 60.1 6.350 Áustria 23.1 22.010

Guatemala 59.6 4.060 Dinamarca 24.7 23.450África do Sul 59.3 7.190 Suécia 25.0 19.010

Paraguai 59.1 3.860 Bélgica 25.0 23.090Colômbia 57.2 6.570 Noruega 25.2 24.260Panamá 57.1 6.890 Finlândia 25.6 19.660

Zimbábue 56.8 2.240 República Tcheca 26.6 10.380Chile 56.5 12.240 Polônia 27.2 6.510

Lesoto 56.0 2.490 Hungria 27.9 6.970Senegal 53.8 1.690 Alemanha 28.1 21.170México 53.7 8.110 Romênia 28.2 4.270

Honduras 53.7 2.260 Bangladesh 28.3 1.090República Dominicana 50.5 4.690 Letônia 28.5 3.970

Nigéria 50.5 830 Bielo-Rússia 28.8 4.820Fonte: Banco Mundial, 1999.

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Os desequilíbrios de renda naBahia, por outro lado, continuamgravíssimos como pode ser visto, porexemplo, na comparação dos municí-pios com maior e menor renda percapita (v. tabela 3).

Reler Rômulo Almeida e refletirsobre suas idéias, contextualizando-as diante dos novos desafios de hoje,é, portanto, um valioso e instigadorexercício acadêmico e aplicado. O so-nho deve continuar!

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TABELA 3ESTADO DA BAHIA

MUNICÍPIOS COM MAIORES E MENORES PIB PER CAPITA – 1996(em US$)

MUNICÍPIOS COMMAIORES PIB PER CAPITA

PIB PERCAPITA1996 (*)

MUNICÍPIOS COM MENORESPIB PER CAPITA

PIB PERCAPITA1996 (*)

1. São Francisco do Conde 11.532,07 1. Bom Jesus da Serra 137,832. Candeias 10.007,25 2. Nova Itarana 211,973. Simões Filho 8.743,80 3. Nova Redenção 216,084. Salvador 6.269,52 4. Caetanos 246,155. Lauro de Freitas 6.129,01 5. Mirante 248,376. São Desidério 5.352,39 6. Caldeirão Grande 251,967. Catu 4.895,68 7. Boa Vista do Tupim 271,828. Amélia Rodrigues 4.812,62 8. Iramaia 293,459. Camaçari 4.566,63 9. Jussara 315,00

10. Lajedão 4.535,21 10. Guajeru 325,8211. Santo Amaro 4.476,21 11. Planaltino 327,0112. Brumado 4.387,05 12. América Dourada 335,2513. Lajedinho 4.196,98 13. Serra Dourada 344,0614. Dias d'Ávila 4.145,64 14. Ponto Novo 345,8715. Pojuca 4.116,88 15. Souto Soares 350,27

Fonte: Elaborado com base em dados do IPEA e do IBGE(*) US$ 1998

CEDRE – Centro de Estudos do Desenvolvimento Regional

l Núcleo de Estudos do Desenvolvimento Locall Núcleo de Estudos do Turismol Núcleo de Estudos Ambientais

UNIFACS – Departamento de Ciências Sociais Aplicadas 2Prédio de Aulas 8 - Campus Iguatemi

Alameda das Espatódias, 915 - Caminho das Árvores - CEP 41820-460 - Salvador, BahiaTel.: (71) 273-8528/8557 — e-mail: [email protected]

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O CORTE REGIONAL DAECONOMIA NACIONAL

globalização obriga a levarem conta, explicitamente, a importân-cia dos elementos externos na forma-ção e transformação de regiões, por-tanto, de reconhecer que o desempe-nho das regiões está submetido aosmovimentos cíclicos da economiamundial. Ao mesmo tempo, a compre-ensão de que as diversas regiõessediam estruturas produtivas diferen-ciadas, faz com que se procure esta-belecer com clareza em que consistemos elementos próprios de cada região,que a diferenciam das demais. Tratan-do de economias semi industrializa-das como a brasileira, a relação entreos elementos externos e os internos éuma linha móvel, que se desloca se-gundo se difundem os efeitos das va-riações na esfera internacional e se-gundo se reorganizam os elementosda esfera interna. Para uma análiseregional atualizada é preciso, portan-to, distinguir quais são os elementospor cujo intermédio se propagam osmovimentos internacionais; e quais osque representam o dinamismo inter-no.

Os elementos externos são os mo-vimentos de capital, compreendendoos de longo e curto prazo e os movi-mentos demográficos, que já se vê quecompreendem as migrações e os mo-vimentos temporários, desde os tra-balhadores temporários até os turis-tas. Por sua vez, os elementos inter-nos são movimentos de capital que se

TENSÕES EXTERNAS E INTERNAS NA

COMPOSIÇÃO REGIONAL NO BRASIL

Fernando Pedrão

concentram em investimentos de lon-ga e curta duração e são as migraçõese o turismo interno. Deste conjunto deelementos internos, pode-se conside-rar os movimentos de longa duraçãocomo os mais representativos da es-tabilidade na composição do capital,por isso, que podem ser tomadoscomo referência das tendências bási-cas dos sistemas de regiões. Na práti-ca, isso significa iniciar a discussãodos temas regionais mediante umaanálise da infra-estrutura.

Uma combinação de concentra-ção de problemas imediatos e de crisede sistemas de infra-estrutura torna oBrasil hoje especialmente sensível aconsiderações relativas às tendênci-as dos processos em curso de reestru-turação de seus sistemas de infra-es-trutura. A reconstrução de uma visãointegrada dos problemas nacionaisdemanda um esforço especial, parasituar historicamente os fatos atuais,para ver o significado destes proces-sos de hoje na formação econômicado Brasil. O projeto de interpretaçãoempreendido por Celso Furtado em19591 , representou um esforço de si-tuar historicamente a atualidade,mostrando como os fundamentos daeconomia nacional continuam pre-sentes em suas transformações dehoje; e como é preciso ver com distân-cia crítica os movimentos que hojeparecem mais importantes. Em algum

momento esses movimentos da forma-ção da economia nacional pareceramter uma mesma direção e pertence-rem a um mesmo movimento do capi-tal. A experiência da análise do de-senvolvimento econômico incorpora-da na década de 60 mostrou que erauma suposição equivocada, porque aligação entre o passado e o presenteem economia era dada pela duraçãodo capital; e a sobrevivência de ativosde capital pertencentes a uma estru-tura tecnológica condiciona a realiza-ção de novos investimentos. Noutraspalavras, a formação econômica doBrasil é um tema da atualidade, queleva a procurar argumentos igual-mente válidos para analisar a trajetó-ria passada e a atualidade dos siste-mas econômicos. Trata-se de históriaeconômica e não de projeções a mé-dio ou a longo prazo. Na nossa pers-pectiva, trata-se da composição do sis-tema econômico nacional em regiões,portanto, compreendendo uma com-posição do capital e uma composiçãodo trabalho, com relações inter-regio-nais e relações internacionais.

Daí, nesta abordagem, há umaquestão relativa ao tratamento dos sis-temas de infra-estrutura, como partenecessária da capacidade instaladade produção, que condiciona o fun-cionamento das unidades industriaise o do consumo. Nesta análise, parti-mos dos sistemas de infra-estrutura,com as peculiaridades que eles apre-sentam para a análise econômica. Ocerne da infra-estrutura é energia. Ocentro energético da crise brasileira de

Docente Livre da UFBA, Diretor do Instituto de Pes-quisas Sociais, Professor e Pesquisador da Univer-sidade Salvador- UNIFACS

1 Referência a Formação Econômica doBrasil, Rio de Janeiro, Cultura, 1959

A

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hoje sinaliza a presença de outras di-ficuldades, como de água e de trans-portes, que em seu conjunto constitu-em o coração estratégico do funcio-namento da economia nacional. Pa-ralelamente, há um problema de de-sempenho do sistema produtivo, cujolado positivo é sua eficiência e cujoprincipal lado negativo é seu impac-to ambiental. A concentração territo-rial do sistema - tal como aconteceucom a produção de energia elétrica -torna-se um custo e um risco, a sercontornado ou compensado.

Todos esses sistemas são regio-nais e representam a rigidez regionalda economia nacional, isto é, corres-pondem a padrões territoriais inevi-táveis, que não poderiam ser de outromodo. As barragens estão onde po-dem estar. As estradas obedecem res-trições físicas. Não há uma mobilida-de territorial dos capitais que permitatratar as localizações como neutrasem relação com o desempenho econô-mico do sistema produtivo. Tampoucohá como atribuir valores padrão àslocalizações, ou seja, trata-las medi-ante uma análise de desvio padrão.Há, realmente, uma especificidadedas regiões, que obriga a olhar a com-posição regional da economia nacio-nal como um dado funcional da eco-nomia, que terá que ser explicado se-gundo evoluem os desempenhos dosinvestimentos ao longo do tempo.

A constituição do sistema produ-tivo brasileiro nos últimos cinqüentaanos seguiu uma única lógica, de pro-curar níveis aceitáveis de eficiêncianuma área restrita, entre o Rio de Ja-neiro e São Paulo, aceitando entretan-to certas margens de desvio, que pas-saram a incluir núcleos de investi-mento em Minas Gerais e no Rio Gran-de do Sul. A lógica geral do sistemaseria de absorver alargamentos dabase territorial na medida em quehouvesse retornos que realimen-tassem o eixo central de aliança daindústria com o controle da “produ-ção” de infra-estrutura e com o damodernização da agricultura. Essesistema dentro do sistema passou ademandar quantidades crescentes derecursos, naturais e humanos, e a dre-

nar a capacidade de investimento dogoverno. As políticas de localizaçãoindustrial promovidas pelos órgãospúblicos, especialmente pelo Bancodo Brasil, pelo BNDE(S) e pelo BNB,receberam de Rômulo Almeida oepíteto de “desconcentração concen-trada”, que seria o modo de ver surgirnúcleos econômicos regionais capa-zes de gerar sua própria autosus-tentação.

A experiência mostrou que nissohouve muito romantismo e um pen-samento preso às categorias de racio-cínio da segunda revolução indus-trial, que sempre trabalhou com a su-posição de eqüivalência entre os agen-tes econômicos e de simetria nas rela-ções entre empresas. Tal raciocínio nãoentrou no mérito da estrutura do fi-nanciamento das empresas, não con-siderou as variações nas condiçõesde financiamento dos diversos tiposde empresas, olhando apenas para ofinanciamento suplementar oferecidopelo Estado. Em outras palavras, sãopolíticas de desenvolvimento que nãoquestionaram as transformações domercado de capitais, nem a formaçãode monopólios e oligopólios, portan-to ignorando o controle da produçãoindustrial por interesses bancários.Por isso, as propostas de fomentarcomplexos industriais, em voga nadécada de 802 , desconheceram porcompleto o fato de que a indústria bra-sileira funcionava sobre a base de al-guns grandes complexos, integradospor indústrias de diferentes níveistecnológicos3 ; e que o alargamento doespaço dos oligopólios e monopóliosresultou na pressão de desestatizaçãoue começou com a década de 90.

REALINHAMENTOS DO CAPITAL

E ESPACIALIDADE DO

PROCESSO SOCIAL

Durante muito tempo, pratica-mente enquanto foram válidos os pres-supostos da segunda revolução in-dustrial, a temática regional foi trata-da como um campo de conhecimentoque podia ser manejado em formadescritiva, limitando-se a oferecer ex-plicações mecânicas do aspecto espa-cial da organização social e técnicada economia. Os aspectos críticos dateoria, bem como as observações so-bre a progressão no tempo dos pro-cessos regionais foram desconside-rados, formando-se um corpo ortodo-xo de análise baseado numa plenacomparabilidade de custos.

Até hoje, grande parte da análiseregional não se desprendeu daquelaspremissas de hierarquização e de si-metria de custos, trabalhando com opressuposto de von Thünen, de espa-ços econômicos contínuos. Isso querdizer que se trata de uma análise quetrabalha com estruturas de mercadoinvariante, que não entra no méritode movimentos de oligopolizaçãonem de monopolização. Resultanuma análise regional estática cir-cunscrita aos dados específicos decada problema de destinação de re-cursos, que não entra no mérito devariações na oferta desses recursos.4

A análise marginalista nos planosmicro e macro econômicos manteve-se nesse padrão doutrinário, organi-zando-se em análises comparativas,baseadas nos aspectos externos dosprocessos que dão lugar ao perfil re-

2 Foi uma tendência claramente registrada em seminário promovido por IPEA/CEPAL emBrasília em 1984, sobre Industrialização e desenvolvimento do Nordeste, em que sepretendeu, justamente, examinar a criação de complexos industriais como alternativa depolítica. A proposta de criar complexos industriais não se confunde com a formação deum complexo agro-industrial nem do complexo industrial-militar, que seriam desdobra-mentos do capitalismo avançado e não poderiam ser vistos como objetivos de políticaspúblicas.

3 Esse padrão se repetiu e consolidou como um traço característico das novas grandesempresas brasileiras, especialmente daquelas originadas da construção civil e do terciário,que sempre operaram baseadas na captação de contratos de obras públicas.

4 Em trabalho anterior - As desigualdades regionais no desenvolvimento econômico -apresentei um modelo de análise regional baseado na relação entre os sistemas derecursos naturais e o sistema produtivo, procurando daí extrair uma ordem seqüencialde restrições para aplicações específicas de capital.

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gional da sociedade econômica.5 Éum atraso teórico que pode ser atribu-ído a certo fechamento doutrinário emcada uma das esferas disciplinaresque se ocupam dos temas regionais ecertamente, a falta de comunicaçãoentre elas, apesar de que a maior par-te dos problemas regionais requeremuma reflexão interdisciplinar. A con-fusão doutrinária e metodológica acer-ca da questão dos polos de crescimen-to é claro atestado dessa dificuldade,causada basicamente por ter-se igno-rado o relativo à tendência geral à con-centração e ao aumento de complexi-dade do capital, que está sobejamentetratada na teoria econômica.

Nessa qualidade, as análises re-gionais dão lugar a estudos que justi-ficam políticas públicas, antes queindicam opções de política. Examinamviabilidade mas não criticam contra-dições. Por isso, as tensões causadaspelas pressões internas e externas daconcentração de capital e as tensõessociais do mercado de trabalho, con-centradas nas grandes cidades e nasáreas rurais submetidas a maiorespressões na estrutura fundiária, mos-tram a necessidade de uma análise re-gional capaz de ir ao encontro das ten-dências inerentes a essas tensões, emvez de trabalhar com problemas isola-dos de alocação de recursos.

Uma primeira observação nessesentido, é que as principais propostasteóricas de análise regional, reunidasao longo das décadas de 40 a 60, con-tribuíram para essa imagem de análi-se suplementar, justificando em boamedida certo desprezo benevolentedos que se ocupam dos aspectos glo-bais do funcionamento do sistema eco-nômico, ou dos que tratam com os di-versos aspectos dos conflitos sociais.

No entanto, essa imagem pacífica deanálise descritiva e maleável às im-posições de método e de preconceitodas diversas disciplinas do conheci-mento social entrou em crise, quandose evidenciaram, mais uma vez, asrupturas institucionais, agora ligadasao problema energético e ao ambientale à concentração de problemas soci-ais, especialmente de drogas e violên-cia, nas grandes cidades.

Na verdade, o anterior viés des-critivo da teoria regional constituiuuma espécie de imprudência, já queos grandes movimentos da economiamundial nas décadas de 20, 30 e 40tinham estado claramente associadosa expansões de fronteira agrícola, aconcentrações industriais e à constru-ção de grandes sistemas de infra-es-trutura, que definiram um mapa regi-onal mundial. No Brasil, movimentosdesse tipo criaram a economia moder-na do país e reorganizaram suas regi-ões periféricas. Desse modo, as teori-as regionais serviriam apenas paratratar dos fenômenos marginais dosistema, tornando-se elas próprias,marginais como instrumentos de aná-lise e complementares de políticas eco-nômicas definidas nos níveis global esetorial, já que não encontraram onexo entre os problemas específicosde localização de empreendimentos eas restrições da economia nacional emseu conjunto.

Um aspecto especialmente críticonesse sentido, na experiência brasi-leira, é a questão da taxa de câmbio,que geralmente não se vê como partedo campo de preocupações da análi-se regional. Entretanto, ela é o princi-pal barômetro das relações internaci-onais e os efeitos indiretos das varia-ções da taxa de câmbio têm sido deci-sivos no direcionamento de movimen-tos de concentração e de desconcen-tração dos investimentos, inclusivealterando o perfil cíclico dos negóci-os (Batista,2000) . Não é por acasoque o debate econômico central sobrea economia mundial e sobre as ten-dências macro regionais não tomaconhecimento da análise regional.

Esse quadro de análise descritivateve que mudar, porque ao longo da

década de 70 acumularam-se questio-namentos que abalaram a consistên-cia aparente da análise regional, pelomenos em três aspectos fundamen-tais: no relativo à possibilidade de tra-balhar com o pressuposto de recur-sos ilimitados e substituíveis; no re-lativo aos componentes irreversíveisdos sistemas produtivos; e no que tocaa mudanças de comportamento liga-das a mudanças na composição docapital. Convém situar cada um des-ses aspectos.

Primeiro, a teoria econômicamarginalista passou para a análiseregional seu pressuposto básico deescassez relativa e a consideração deefeitos substituição e efeito renda noscomportamentos dos consumidores,que surgiram com Alfred Marshall(1890) e foram encaixados, como par-te essencial da estrutura analíticaconstruída por John Hicks em1947. Aanálise neo clássica, desde von Thü-nen, criou um corpo de análise regio-nal, cujo epicentro é a noção de espa-ços contínuos e homogêneos, ondesempre se pode trabalhar com as rela-ções custos - distância e onde há si-metria de comportamentos do capitale do trabalho. A rigor, é uma análiseaplicada, conceitualmente anterior àsanálises de estruturas de mercado quemostraram a subordinação dessascolocações à supremacia dos interes-ses de monopólios e de oligopólios,portanto, que obrigaram a trabalharcom espaços sociais assimétricos etemporalmente desiguais. Teria queser confrontada com os dados de umsistema produtivo em que predomi-nam processos de oligopolização e demonopolização (Labini, 1972).

Segundo, a presença de compo-nentes irreversíveis significa que o sis-tema produtivo contém tendências de

...as análisesregionais dão lugar

a estudos quejustificam políticas

públicas...

5 Esse é o pressuposto que permite apli-car irrestritamente técnicas de análisecustos/benefícios, que obviamente tra-balham com horizontes restritos de tem-po, incompatíveis, por exemplo, com aanálise econômica da ecologia. Ao reco-nhecer que se trabalha, efetivamente,com horizontes variados de tempo, in-clusive de tempo indeterminado, comonas usinas hidrelétricas, esse pressu-posto torna-se inadequado.

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irreversibilidade.6 Ao registrar aentropia do sistema de produção,Georgescu Röegen simplesmenteobrigava a teoria econômica a tomarconhecimento de progressos da ciên-cia desde Bolzmann a Heisenberg(1935), que prevêem mudanças decomportamento em trajetórias - empercursos, no campo social7 - afeta-das pela irreversibilidade. A teoriaregional não poderia desconhecer es-sas proposições científicas, comotampouco poderia ignorar as pesqui-sas sobre recursos naturais, que jáapontavam a importância da diversi-dade na reprodução da vida (Schrö-dinger, 1989) . Não há como duvidar,que um retrospecto da teoria regionalnas décadas de 50 e 60 permite vercom clareza seu atraso, por trabalharcom estruturas teóricas simplifica-doras, incapazes de registrar as ten-dências da ciência.

Por fim, a análise do grande capi-tal, desde John Hobson (1895), pas-sando pela análise da concorrênciaimperfeita de Joan Robinson (1931),aos trabalhos sobre oligopólio de vonStackelberg , William Fellner (1956) ePaolo Labini (1972), mostra a inade-quação das análises econômicas quecontinuam com pressupostos de con-corrência perfeita e comportamentossimétricos, sem considerar as trans-formações das empresas e dos ambi-entes sociais em que elas operam. Omodo de participação das empresasno mercado varia segundo seu tama-nho e segundo as dimensões do mer-cado, ou ainda, segundo as perspec-tivas de expansão do mercado em queparticipam. O pressuposto de dimen-são do mercado não é parte da análi-se neo clássica, que trabalha com re-ferência de espaços indefinidos. Aprática mostra a necessidade de talpressuposto. Por exemplo, no atualmovimento de expansão de empresaseuropéias no Brasil, há um funda-mento de busca de mercados que po-dem se expandir, que são expectati-vas que não teriam sentido em seuspaíses de origem.

Tornou-se necessário rever osfundamentos da teoria regional norelativo a mercado. Considerar a com-

posição do mercado, suas tendênciasde expansão, concentração e reestru-turação e o potencial de crescimentodo mercado em diversas partes da eco-nomia mundial. É o que faz a diferen-ça entre instalar uma fábrica de avi-ões no Brasil, na Espanha, na Bélgicaou mesmo no Canadá. O argumentode potencial de mercado tem mostra-do seu peso no padrão de localizaçãode investimentos das multinacionais,que finalmente tendem a certos perfisde concentração e de dispersão quesejam os menos inadequados para areprodução de seu capital. A adequa-ção da localização varia ao longo dotempo, segundo muda a composiçãodos investimentos da empresa em seuconjunto. Não há como descartar ahipótese de que qualquer percurso deformação de capital enfrenta obstácu-los e que a realização de investimen-tos novos cria efeitos positivos e ne-gativos no desenvolvimento do siste-ma produtivo. Por exemplo, o padrãomacro regional de localização das fá-bricas de automotores tem que combi-nar concentração de demanda comdispersão de capacidade produtiva.

As condições objetivas do merca-do são um dado fundamental da ques-

tão. Compreendem a escala atual e apotencial de crescimento do mercado;e são os meios pelos quais funcionaesse mercado. O mercado se desenvol-ve desigualmente entre grupos deprodutos, tipos de tecnologia e o ar-gumento de escala já mudou de sinaldiversas vezes, desde a década de1960. O tratamento dado por Steindl(1990) a essa questão sinalizou ten-dências gerais, que se passou a ter quequalificar segundo as condiçõesoperacionais locais. A informatizaçãodas aplicações de capital aumentou avolatilidade do mercado financeiro,evidenciando os aspectos de incerte-za do mercado, inclusive, desviandoa atenção de seus aspectos de conti-nuidade e de previsibilidade.

Desde a década de 70 tornou-seevidente a necessidade de renovaçãoda teoria, que continuava tratandoapenas de espaços simétricos e nãotinha incorporado nada da noção deespaço-tempo trazida pela Físicaquântica e pelo estruturalismo histó-rico. A vertente geográfica da análiseregional continuava privilegiandouma discussão de espaço separadode tempo, elaborando uma teoria doespaço, que contrasta com as princi-pais tendências da análise histórica,no tratamento de fenômenos em se-qüência e coincidentes, portanto, dis-tinguindo a esfera de análise de perí-odo da esfera de análise do cotidiano.Algo equivalente aconteceu com a ver-tente econômica da análise regional,que trabalha com deslocamentos devariáveis em pseudo tempo.8 Já entãoestavam claras diferenças de poderexplicativo entre as correntes doutri-nárias, principalmente dividindo os

A informatizaçãodas aplicações

de capital aumentoua volatilidadedo mercadofinanceiro...�

6 Pode-se argüir se são tendências predominantes ou secundárias de irreversibilidade,mas de qualquer modo, a presença desse tipo de tendências invalida o pressupostoclássico de plena irreversibilidade. Admitindo que aumenta o componente de mercadooligopólico, a tendência à irreversibilidade torna-se, progressivamente, mais importante.

7 Utilizamos o conceito de percurso introduzido por Gianbattista Vico, para representaros caminhos concretos percorridos pela sociedade em sua formação.

8 Seminário realizado em Valparaíso em 1971, que resultou em volume intituladoPlanificación regional y urbana en América Latina, mostrou tendências de questionamentodas estruturas teóricas �oficiais� , com forte reivindicação de uma crítica histórica esocial. A perspectiva histórica da concentração de capital difere essencialmente de umateoria de polos, porque considera a totalidade dos impulsos concentradores, assimcomo a totalidade dos interesses locais, levando a tomar os movimentos a longo prazocomo determinantes das condições a curto prazo de movimentos de capitais e detrabalhadores.

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que acompanharam a formação his-tórica dos fenômenos regionais, dosque se limitaram a problemas de or-ganização regional atual. Isso signi-fica que fenômenos tais como a cons-trução de estruturas de enquadra-mento do sistema produtivo conti-nuaram sem ser examinados.9

A questão regional ressurgiu nadécada de 90 com novas cores e no-vos significados nos movimentos daacumulação de capital, na escala depaíses, de grandes regiões e na de lo-calidades, tanto no continente maisrico como nos mais pobres. Esses mo-vimentos revelaram aspectos dapluralidade de motivos do mundocontemporâneo, que foram antes ofus-cados pela supremacia da lógica docapital em expansão no contexto dabipolaridade leste-oeste. A desorgani-zação do bloco leste levou a perdasna coesão do bloco oeste, que por suavez deixaram espaços para a emer-gência de movimentos guiados pormotivações não capitalistas de expres-são mundial (Kurz, 1993). A prolife-ração de exemplos de países que sefracionaram, a emergência de movi-mentos locais e fundamentalistas, noconjunto revelaram outras fronteirasda estruturação social, que claramen-te não se explicam pelo modelo orga-nizacional dos países bem sucedidos.Não são movimentos incidentais, se-não manifestações reveladoras deprofundas alterações da espaciali-dade do processo econômico, que de-vem ser vistas em sua real complexi-dade.10

As décadas de 60 e de 70 foramdeterminantes do reordenamento daeconomia mundial, segundo repre-sentaram, respectivamente, a con-quista e difusão de novo patamartecnológico; e a absorção dessa mu-dança no campo energético. Desdeentão, a indústria evoluiu, delibera-damente, no sentido de reduzir a car-ga energética de seus produtos finais;e passou a cobrar menor carga energé-tica do consumo familiar.11 O proces-samento social da produção de tecno-logia tornou-se, claramente, diferentedo processamento da difusão de téc-nicas, dando lugar a uma subalter-

nidade desta segunda parte frente àprimeira. Países como o Brasil, gran-des usuários de novas técnicas fica-ram, entretanto, mais dependentes daprodução de tecnologia, e por essavia, do progresso científico.

Assim, as condições para a expan-são de capitais no sistema produtivoficou, de fato, condicionada pela cap-tação de condições favoráveis aos in-vestimentos, que certamente não estãorefletidas pelos rendimentos dos inves-timentos ou por indicadores de valori-zação de ações. Trata-se realmente docontrole das opções de investimento,que se concentram nas empresas ca-pazes de reunir a liquidez suficientepara materializar esses investimentos.Desse modo. criaram-se as bases paraa reorganização e expansão dos inte-resses privados, que se colocaram so-bre o controle internacionalizado detecnologia e energia.

CONCENTRAÇÃO E DISPERSÃO

Dadas as preferências das gran-des empresas na localização de seusinvestimentos, e da formação de gran-des blocos econômicos, pergunta-sequais são as reais tendências de con-centração de capital e de população equais são as principais conseqüênci-as, em termos de concentração de em-pregos e de qualidade da vida. Sãotendências uniformes, ou tendênciascarregadas de contradições, e têmperspectivas de continuidade ou sãotransitórias? Quais as perspectivas de

continuidade do atual modelo regio-nal brasileiro e de suas tendências deconcentração na região de influênciade São Paulo? Quais, se há, os movi-mentos significativos de dispersãoinerentes a esse modelo? Finalmente,qual o papel das políticas econômi-cas e sociais em seu desdobramento,tanto das políticas que atingem a eco-nomia nacional em seu conjunto, taiscomo a monetária e financeira, comodas grandes políticas setoriais, comoa energética e de recursos hídricos.Interessa destacar o caráter regionaldas políticas, não aquilo que se rotu-la de regional.

Um dado fundamental da ques-tão é que no Brasil esses sistemas ti-veram que ser feitos em muito poucotempo, a custos muito superiores àcapacidade de formação de capital dopaís. O esforço de financiamento tra-duziu-se em pressão inflacionária eem certos impactos em concentraçãode renda entre empresas. Esse aspec-to foi deixado de lado pelas políticasde privatização dos setores estratégi-cos da economia nacional, especial-mente do campo energético. Há cus-tos de manter a escala e a proporcio-nalidade dos serviços de infra-estru-tura; e há custos de manter a capaci-dade de reprodução e expansão des-ses sistemas. Compreendem custoseconômicos, que podem ser estimadossobre os projetos iniciais; e custos fi-nanceiros, da captação de capital du-rante a realização dos empreendimen-tos, que não podem ser estimados nomomento inicial, mas que se tornam,

9 André Marchal (1959) denomina de estruturas de enquadramento todos aqueles siste-mas, infra-estruturais e institucionais, que precondicionam o funcionamento do sistemaprodutivo. Entendemos que é uma referência conceitual fundamental, mas que deve serreajustada, no relativo a reconhecer que esse enquadramento tem duração limitada,portanto, que a renovação da infra-estrutura e do sistema produtivo seguem caminhospróprios, que se aproximam ou divergem, modificando as condições de transformaçãodo sistema em seu conjunto. Por exemplo, a renovação tecnológica dos transportesurbanos tem um caminho próprio, que entretanto condiciona os conjuntos de investimen-tos das empresas no ambiente das cidades.

10 Estas observações alinham-se com teses levantadas por Robert Kurz (1989) relativasaos efeitos no oeste da desorganização do bloco leste. Entendemos que elas devem serapreciadas à luz de contradições inerentes ao modo de desenvolvimento dos paísesperiféricos do oeste.

11 Não só automóveis e aviões que alcançam as mesmas velocidades com menor gastode combustível, como eletrodomésticos com menor carga e, principalmente, políticas derestrição de consumo de energia, que em última análise constituem intervenções nomercado.

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progressivamente, mais importantes.O desmembramento pela privatiza-ção representa perdas de escala, quesuperam a capacidade de reposiçãodo sistema, portanto, que levam a umacrise inevitável de financiamento,constituída de perda de capacidadefísica e perda de capacidade financei-ra, com a conseqüência de atraso ge-ral do sistema.12

Tudo indica que as tendências emcurso levam à consolidação de algunsaspectos da estruturação regional dopaís e ao reordenamento de outros,com o resultado geral de um condicio-namento das possibilidades de desen-volvimento do país e de um notávelagravamento da situação social, tan-to em desemprego como em indicado-res de níveis de vida. Qual o papel dapolítica econômica nesse processo?Em alguns aspectos ela se revela comobjetivos gerais de estabilidade a cur-to prazo; em outros mostra orienta-ções contraditórias com a sustentaçãodesse mesmo equilíbrio a médio pra-zo; em outros, ainda, mostra escolhasque levam, tendencialmente, ao agra-vamento desses problemas, por afir-mação e por omissão. O significadode equilíbrio muda radicalmente, en-tre as perspectivas de análise a curto,médio ou longo prazo.

Essas tendências refletem umacombinação de pressões externas einternas sobre o sistema produtivo,que se desdobram ao longo do tempoem movimentos oscilatórios não ne-cessariamente contínuos, que se ma-terializam através de mecanismos quedevem ser explicados. É possível tra-balhar com hipóteses sobre uma con-vergência de tendências entre os mo-vimentos de capitais e as migrações,

mas as mudanças de tecnologia sem-pre injetam aspectos de incerteza nes-se quadro. Por exemplo, o novo pa-drão de localização de fábricas deautomotores, com concentração noParaná, indica mudanças de tendên-cias regionais, que podem “contami-nar” as tendências da agro-indústria,do mesmo modo como novas geraçõesde agro-indústria podem atrair equi-pamentos.

Não é novidade que a questão re-gional seja tratada como adjetivo deuma política econômica substantiva-mente definida num esquema macro-econômico sintético e abstrato, ondetampouco há verdadeiras políticassetoriais. A ideologia da política glo-bal sempre foi a do controle sobre asregiões. A política econômica, mone-tária, financeira e tributária do paístornou-se um campo de decisões queopera hoje com restrições externamen-te estabelecidas, que a tornam, em gran-de parte, uma política condicionada.A relação entre a política cambial, areceita externa líquida, o pagamentoda dívida, e o controle do preço damoeda, regula a capacidade de despe-sa do governo em seu conjunto; e setransmite, num perfil desigual e con-trolado, aos níveis estadual e munici-pal. O ajuste externo corresponde a umdesequilíbrio interno, que se propagasegundo a desigualdade de condiçõesdas regiões, para sediarem as novasdecisões de formação de capital.13

A diminuição das margens deautonomia de decisão da política eco-nômica nacional torna-se regional-mente mais grave, porque leva a con-tradições a curto prazo insolúveis, naarticulação entre o plano federal e o

dos estados, bem como na articula-ção de genuínas políticas setoriaisque realimentem esse diálogo entre oplano federal e o estadual. A tensãoentre centralização e dispersão na es-fera pública torna-se parte de pressõesdos capitais envolvidos em projetosde expansão e na luta pelo controledo mercado, que se torna aparente naconfiguração de áreas prósperas e es-tagnadas; mas essencialmente deter-minadas pela configuração geral epelas alterações parciais do bloco depoder. Como a maior parte dos proje-tos relevantes excede os recursos dis-poníveis pelos estados, os empreen-dimentos que podem alterar a com-posição regional da economia ficamexclusivamente na órbita federal, sal-vo algumas poucas exceções, que porisso tendem a se tornar áreas de con-flito entre os interesses dos diversosestados.

Outra novidade é que se precisaatualizar a compreensão de regiãopara tratar da questão brasileira, cer-tamente distinguindo entre regiõesestáveis e em crescente consolidação,regiões em transformação mais oumenos acelerada e regiões em decom-posição ou em todo caso, com perdade seus elementos de solidariedade.Entretanto, entendemos que essa di-ferenciação é uma conseqüência deprocessos, que tem que ser examina-da como um elemento interativo daformação da economia nacional; e nãocomo uma referência comparativa dedados globais. Os velhos coeficientesde concentração econômica e os mo-delos estáticos ajudam pouco, oudistorcem a realidade, porque nãomostram os elementos concretos com

É possíveltrabalhar com

hipóteses sobre umaconvergência de

tendências...�

12 No Brasil, os ganhos em escala obtidos pela integração do sistema chegaram a 20% nofinal da década de 1990, que constitui uma magnitude bruta de energia superior à capa-cidade do sistema para investir naquela escala de tamanho. A privatização de compo-nentes do sistema alterou, progressivamente, a relação de composição entre a geraçãoe a distribuição de energia, retirando os lucros da distribuição do financiamento dageração, portanto, transferindo para o Estado o custo total da reposição e expansão dosistema. O efeito em cadeia dessa perda de recursos é o retrocesso do sistema deprodução.

13 Os dois aspectos de relação entre o ajuste externo e o interno, e entre o ajuste dascontas públicas e ação do Estado para o desenvolvimento, ocupam posições estratégi-cas na fixação de despesas que podem confirmar ou alterar o quadro atual. Sobre essesdois pontos, cabe citar, Dias Carneiro e Modiano (1990), Pedrão (1988), em diferentesabordagens do papel do ajuste macro econômico na determinação do perfil do dinamis-mo na economia nacional.

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que se realiza a transformação dossistemas produtivos. Entretanto, o queconta é a capacidade de transformaro sistema produtivo. Como disseKindleberger (1964), “a capacidade detransformar é a capacidade de reagir àmudança, originada internamente ou noexterior, adaptando a estrutura do comér-cio exterior às novas situações”. Por trásdos coeficientes de concentração es-tão os dados das modificações dossistemas produtivos.

As principais indicações nessesentido são a integração do sistemaelétrico nacional, que se torna um gran-de viabilizador da economia do Sudes-te; e a progressiva constituição da eco-nomia da bacia Paraná-Paraguai, queaprofunda a hegemonia interna, queamplia o espaço diretamente articu-lado pelo Sudeste, mas que modificao balanço de poder, ao ampliar eaprofundar suas contradições, bemcomo ao dar novas dimensões deinternacionalidade da economia bra-sileira.

Além disso, a configuração deuma grande região predominante seconfirma, mas com outra composiçãoe em outros modos de articulaçãointer-regional. Ao mesmo tempo emque se consolida um grande espaçoregional de poder econômico centradoem São Paulo, aumentam as contra-dições internas dessa grande região,com movimentos de concentração edispersão, com novos perfis de desi-gualdade e de exclusão, com os reco-nhecidos dados chocantes sobre suarealidade social, em termos de anal-fabetismo, violência urbana e desem-prego. Nessa escala, a questão urba-na e a regional mostram-se em novascombinações, podendo-se dizer queSão Paulo passa a representar novotipo de metropolização desigual, di-ferente das que se encontram noMexico D.F. e em Buenos Aires. Mas operfil básico dos problemas de hiper-concentração urbana, ou de urbani-zação sociopática (Hoffman, 1980) éo mesmo, com variadas tonalidadesde concentração, entre cidades comoFortaleza e Salvador e cidades comoRio de Janeiro e Belo Horizonte.14

O modo regionalmente concentra-

dor tem um perfil equivalente na rela-ção com o exterior, acentuando-se asubalternidade em relação com o cen-tro hegemônico norte-americano,onde Miami, Nova York e Los Angelesfuncionam como centros externosmaiores desse processo concentrador.Há um movimento centrífugo de ca-pital e de trabalho qualificado, à par-te da emigração dependente. Consi-derando esse componente subordina-do e alienante, junto com tendênciasdispersivas mais amplas da interna-cionalização da economia, há, certa-mente, um problema maior de tendên-cias expulsivas da economia brasilei-ra em seu conjunto, que deverão seravaliadas com mais cuidado, comocaracterísticas do processo social bra-sileiro em sua modalidade atual e nãocomo simples decorrência de umaglobalidade inexorável.

Internamente, a dimensão regio-nal mostra, com clareza ímpar, a com-binação de concentração de capaci-dade de produção, perda ou desmobi-lização de capacidade instalada e detrabalho; e de reordenamento do es-paço econômico nacional. É um mo-vimento que se realiza com enormedesperdício de capital, tanto nadesativação de estabelecimentos pro-dutivos, na permanência de terrasfora de cultivo e através de desinves-timento público para aplicações decusteio. Nesse sentido, numa visão alongo prazo do processo do capital, aexpansão da economia brasileira re-vela-se uma das mais destrutivas eauto destrutivas da história, geral-mente vista com benevolência que sóse explica como continuidade básicado bloco de poder.

Para mostrar os custos da concen-tração, a perspectiva regional da aná-lise global do processo permite obser-var criticamente o ajuste externo daeconomia, no relativo à expansão daregião hegemônica e em suas diferen-ças com as demais regiões. Interna-mente, esse custo corresponde a ten-dências ao aprofundamento das dife-renças entre uma região hegemônicae as demais, bem como ao aprofun-damento de diferenças no interior daprópria região hegemônica.

PRESSÕES EXTERNAS E INTERNAS

Dados esses elementos, impõe-sereconhecer a combinação de pressõesexternas e internas na regionalidadeda economia brasileira; e consideraros efeitos em progressão dos ajustesentre os interesses identificados coma internacionalidade do processo e osligados às bases internas da forma-ção de capital. Há pressões que seacumulam sobre as formas tradicio-nais de produção, tais como a agri-cultura produtora de mercadorias, emitens como café, cacau, açúcar e ali-mentos básicos, assim como há pres-sões sobre a indústria produtora debens de consumo. É preciso examinara economia brasileira, não por resul-tados isolados, mas por sua capaci-dade de obter resultados. Tal capaci-dade não é um estado senão uma si-tuação instável, que depende de ele-mentos externos à capacidade pro-dutiva, dentre outros, destacada-mente, a taxa de câmbio. A subordi-nação a variações externamente de-terminadas da taxa de câmbio é a prin-cipal marca das economias periféri-cas, em sua incapacidade de autode-terminação econômica. O contencioso

... a expansão daeconomia brasileirarevela-se uma dasmais destrutivas eauto destrutivas da

história ...�

14 Encontra-se aqui uma bifurcação inevi-tável da análise: sociopatia no sentidode enfermidade, ou no de denotar umpathós urbano, próprio dos momentosde urbanização periférica? É inevitáveladmitir que a urbanização nas grandescidades periféricas envolve uma muta-ção, que é o aparecimento de uma cultu-ra urbana da exclusão, que está ligada àmobilidade negativa que examinamosneste trabalho.

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do câmbio foi parte central das preo-cupações de Prebisch em sua teori-zação da relação centro-periferia, quefoi sintomaticamente abandonado,quando as reflexões sobre o subde-senvolvimento se aproximaram maisda visão weberiana da dominação.

Assim, a linguagem sociológicada teoria da dependência na verdadeocultou um desvio e atraso de seu equi-valente econômico, num momento decrise da economia e da sociedademundial, que só foi percebida naAmérica Latina com alguns anos deatraso.15 Não é, realmente, que a teo-ria da dependência fosse um avançona leitura do aspecto sociológico dadesigualdade - que já estava registra-do em diversos documentos da déca-da anterior - senão que a análise eco-nômica do desenvolvimento revelou-se incapaz de acompanhar as trans-formações operacionais das empresase do Estado. Simplesmente, a análiseeconômica do desenvolvimento dei-xou de registrar problemas de opera-cionalidade da relação entre empre-sas e Estados nacionais, que já eramconhecidos na análise de programasde investimento e mesmo na de proje-tos, que obrigariam a rever a formula-ção inicial da teoria dos termos de in-tercâmbio feita por Prebisch.16

No plano externo, destacam-se asinfluências da internacionalidade nosfenômenos locais, colocada agora emtermos da globalização e da divisãointernacional do trabalho. Interna-mente, tornaram-se mais visíveis asimplicações ambientais em geral eenergéticas em particular, do funcio-namento e da expansão da economia,bem como o significado dos proble-mas de desemprego e de incerteza daocupação em suas diversas modali-dades.

A percepção dessa combinação defatores leva a revisar a questão regio-nal, destacando primeiro a necessida-de de revalorizar a categoria de tota-lidade na análise da esfera regional,isto é, focalizar nas interdependênciase inter-relações; e segundo, leva a des-tacar as ligações entre o modo de for-mação de capital e o perfil espacialdo sistema de produção.

A importância dos elementos in-ternacionais do problema aumentoudesde a década de 1970, com a revo-lução tecnológica do terciário, mani-festada principalmente na informá-tica e nas telecomunicações, compre-endendo, subjacentemente, um com-plexo problema de qualificação e dedesqualificação do trabalho. Mas,lembra-se que os movimentos daglobalização são modificações deprocessos em curso de internaciona-lização, que se realizam de modo sele-tivo entre as formas de capital e deempresa, que portanto se expandemdesigualmente. Antes de falar deglobalização como de um movimentogenérico, destacam-se as estratégiasdo capital como expressão dessa pre-dominância da perspectiva financeira.

A globalização de fato estende-seatravés da operação do capital finan-ceiro e do modo como ele interfere nosistema produtivo, segundo os empre-endimentos usam crédito e segundoo capital das empresas se reconstruinos moldes atuais de fluidez do capi-tal financeiro. Mas a intensificação daglobalização manifesta-se em aumen-

to de operações de transferência decapital entre aplicações, que não podeser confundida com investimento, tra-duzindo-se num movimento especu-lativo ilusório da realidade do merca-do. Quanto dessas aplicações são in-crementos líquidos de formação decapital e quanto são meras transferên-cias contábeis é um aspecto a ser es-clarecido, quando se vê que no Brasilessas mesmas empresas que captamrecursos a taxas de juros do mercadoeuropeu, obtém financiamento prefe-rencial para investimentos que teriamque fazer de qualquer modo por seuspróprios interesses?

Daí, torna-se fundamental distin-guir entre aqueles que realmente de-senvolvem tecnologia ou que gastamcom tecnologia; e aqueles outros quelicitam tecnologia através de parceri-as e de compra de ativos. Parte desseprocesso é a criação de uma culturade tecnologia na gestão do capital emempresas, supostamente estimuladopelas condições de competitividadeem que elas operam. Que são essascondições de competitividade e comoelas se dão para quais tipos de em-presas, é justamente a questão a seresclarecida em qualquer análise regi-onal que reconheça as restrições obje-tivas do funcionamento da economia.

Daí, portanto, as diferenças entreas tendências genuinamente novas deprodução, induzidas pela globali-zação, com movimentos de ampliaçãode mercado; e movimentos especula-tivos oscilatórios, que simplesmentedeslocam recursos entre usos equiva-lentes, tal como geralmente tem acon-tecido com as privatizações, que sim-plesmente trocam dinheiro fictício por

A globalizaçãode fato estende-se

através da operação docapital financeiro e do

modo como eleinterfere no sistema

produtivo...�

15 Esse vem a ser um ponto extremamente delicado da história do pensamento econômicolatino-americano, certamente inclusive do brasileiro, que se aferrou a explicações de-senvolvidas no plano político naquele período, perdendo de vista a ligação entre oaparecimento de uma nova etapa de acumulação a escala mundial e o perfil macroregional dos problemas de desenvolvimento. Observe-se que os principais autores quetrataram dessa temática na época, como Gunder Frank, Samir Amin e Emmanuel, traba-lhavam com elementos de uma visão da década anterior, na beira oposta da brechacausada pelas mudanças do período do fim da década de 60 e inícios da década de 70.

16 A formulação inicial dessa teoria, que é o cerne da teoria da relação centro-periferia,apresentada no Estudo da América Latina de 1949, foi revista por Prebisch em seustrabalhos posteriores, mas ficou presa a um nível de conhecimento da América Latinaque se tornou inaceitável, como fundamento empírico da especulação teórica. A questãoconsistiria, realmente, em decidir com quais critérios escolher o material empírico comque trabalhar.

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títulos de propriedade. Estaremos di-ante de outro tipo de patrimonialismono capitalismo avançado, ou diantede uma diluição do patrimônio noambiente de financeirização? Quaisregras permanecem válidas, para ava-liar o patrimônio de empresas queoperam nesse ambiente especulativo?

Isso se reflete na divisão interna-cional e inter-regional do trabalho,com conseqüências inconfundíveisna mobilidade social e espacial dostrabalhadores, isto é, com a definiçãode características objetivas do merca-do de trabalho, em sua qualidade deambiente em que se realizam os movi-mentos do capital. É a base formativade exclusão de pessoas do processode trabalho, que afeta mais as regiõesmais pobres, ou que são menos atrati-vas para as novas linhas de investi-mento, mas que se propaga no siste-ma produtivo em seu conjunto, na for-ma de uma mobilidade negativa dotrabalho, com uma progressão de efei-tos em cadeia, cujos resultados finaissão pressões no mercado de trabalhoe são emigrações. A mobilidade nega-tiva do trabalho torna-se uma forçadecisiva na constituição do sistemaeconômico nacional, dando lugar amovimentos que começam como saí-da de pessoas do campo e das cida-des do interior e terminam como gran-des concentrações urbanas de grupossociais sem perspectiva de emprego,com seus correspondentes problemasde degradação social e violência.

Ao mover-se para procurar renta-bilidade num mercado financeirooligopolizado, as empresas descar-tam todos aqueles elementos de cus-tos que se tornam disfuncionais à ges-tão internacionalizada do capital.Não há, realmente, uma relação sig-nificativa, entre os custos operacio-nais e o fluxo de renda das grandesempresas, como tampouco há, entreos custos do funcionalismo e o servi-ço público realizado.17 Trata-se maisde que, tanto as grandes empresascomo o governo tratam de adaptar-sea padrões internacionais de operacio-nalidade, que lhes permitem ampliarlucratividade segundo padrões dita-dos pelo mercado de capitais e não por

padrões de eficiência na produção.Os aspectos internos sobressaem

na questão regional, por refletirem aconsistência histórica da organizaçãoatual da economia no território. Noentanto, está claro que as regiões, en-quanto adensamento de povoamentoe de organização do capital no terri-tório, são historicamente dinâmicas einteragem na internacionalidade daeconomia, não apenas em seu quadrode relações internas. Por isso, chamaespecialmente atenção, que as recen-tes políticas econômicas regionaisbrasileiras, veiculadas na forma degrandes eixos regionais, apoiados emsistemas de infra-estrutura, desco-nhecem completamente a trajetória daformação das regiões; e contribuem,claramente, para agravar desigualda-des, inclusive desigualdades que nãoserão necessárias para a reproduçãodo atual sistema produtivo. Perde-sede vista o dinamismo próprio de con-centrações de capital que só se expli-cam por suas relações internacio-nais.18 Programas tais como de trans-posição de rios, vão completamente acontrapelo de soluções para os pro-blemas energéticos e de manejo racio-nal dos sistemas hidrográficos. A fal-ta de políticas regionais de gestãohídrica torna-se inexplicável.

No quadro de relações econômi-cas internacionais, os papéis das re-giões se consolidam ou mudam aolongo do tempo. A atual emergênciadessa região mediterrânea da bacia doParaná, de certo modo reedita a pro-posta do século XIX de criação de umarepública naquela região, represen-tando, portanto, um desafio ao poderregional das diversas capitais do sul.Paralelamente, a internacionalidadedos estados do Nordeste, que se faziaà distância, por sua função exporta-dora, e que foi sacrificada pela subs-

tituição de importações, reaparece,pelo simples fato que o Sudeste e oSul deixaram de exercer esse papel deacelerador regional, praticamente des-de a década de 1970. As opções dedesenvolvimento das regiões dese-nham-se, cada vez mais, como resul-tantes de estratégias do capital, regio-nalmente representado por governose grupos estaduais.

Certamente, há um problema derepresentação social e política no pla-no regional, agora mais claro que an-tes. A questão regional é social e polí-tica, com sustentação técnicas e nãoao contrário. Nesse sentido, o contras-te entre a permanência dos interessesoligárquicos e a emergência de inte-resses sem raiz local, como os dosgrandes grupos, tornam evidente agravidade da situação e das perspec-tivas do Nordeste. Pequenos sucessoscircunstanciais de alguns investimen-tos e um discurso otimista dos gru-pos dominantes, não esconde o fatofundamental de uma dupla subalter-nidade, frente ao plano externo e aointerno, que justamente os obriga aprocurar soluções econômicas paramanter suas posições, em torno dacircularidade de suas atividades bá-sicas. O exemplo da produção açuca-reira é o mais evidente, em suas duasversões, na nordestina e na paulista.O fundamento econômico dessa ati-vidade obviamente mudou, assimcomo mudaram suas justificativastecnológicas. Mas há uma notável con-tinuidade dos fundamentos políticosdessa atividade nas diversas regiõesdo país, que finalmente põe de ummesmo lado, os usineiros do Nordes-te e do Sudeste.

Essas estratégias de permanênciatêm um preço. Tal preço se cobra emtermos de desemprego e má remune-ração, que expulsa trabalhadores, nos

17 Não há muito de novo nesse argumento, que foi exposto em termos essencialmentesimilares por Thomas Balogh (1963), avaliando os efeitos contraditórios das políticasinternacionais no desenvolvimento econômico dos países periféricos. Mais ou menos omesmo foi dito por Hirschmann em 1972, avaliando os efeitos diretos e indiretos deprojetos do Banco Mundial.

18 A viabilidade econômica dos programas de irrigação depende, desde sua origem, deprojetos econômicos baseados em exportação. Aos custos fixos com que operam osdistritos de irrigação, não praticamente como pensar em solvência econômica em ven-das regionais (Pedrão, 1986).

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diversos níveis de qualificação; e quetambém expulsa capitais, que migramem busca de ambientes menos contro-lados.19 Isso quer dizer, que os efeitosda tecnologia estão historicamentesituados e que a eficácia da renova-ção tecnológica depende do momen-to em que ela é inserida e do modocomo penetra em cada economia na-cional. No Brasil, a difusão tecnoló-gica tem que lidar com um corpo socialdiverso e marcado por variadas for-mas de subordinação e precariedadede educação, ligando aspectos etno-culturais com estruturação de classes(Pedrão, 2001). Daí, a análise do im-pacto dos processos técnicos no siste-ma de produção tem que considerar otempo de difusão e o perfil dessa di-fusão, segundo ela atinge setores maisou menos sensíveis. Uma série de al-terações tecnológicas na agriculturatradicional brasileira não necessaria-mente garantem que ela passe a ter acapacidade de conduzir sua própriamudança.

Em cada época, marcada por con-juntos de tecnologias interdependen-tes, há tendências de consolidação ede dispersão de regiões, em que essastecnologia são consolidadas, intro-jetando elementos culturais de coesãoe de experiência. A região é, sempre,um fato social complexo, que se apoiaem disponibilidade de recursos regi-onais e capacidade de usa-los. Massua complexidade muda, assim comomuda sua capacidade de mudar e emrelação com as demais regiões, segun-do avançam as configurações impos-tas pela progressão da composição docapital. A produção social das regiõessegue variados caminhos e diferentesintensidades.

A questão regional ressurge ago-ra no Brasil, frente às tendências decentralização do poder, encobertaspelos movimentos de retração da pre-sença do Estado na produção. O ve-lho discurso regional, descritivo eeventualmente pré determinado buro-craticamente, tornou-se irrelevante,além de inadequado. A perspectivaregional pode ser um dos aspectosmais reveladores do tecido de contra-dições e conciliações, superficiais e

profundas. de que está constituída arealidade brasileira. Mas depende deuma leitura capaz de decodificar osignificado regional do processo po-lítico, com suas diversas bases territo-riais e com suas referências interna-cionais. Na realidade, jamais houvecomo separar os processos políticosdo espaço social nacional de suas re-ferências internacionais. Tanto noperíodo colonial como no Império ena República, o Brasil lidou com cons-trangimentos externos, por exemplo,que induziram suas políticas em re-lação com a Bacia do Prata e com aÁfrica, assim como lhe permitirampressupor margens de independênciaem suas relações com os países maispoderosos. Não se precisa de muitoesforço para ver que as políticas rela-tivas à Amazônia sempre envolveramuma atitude defensiva, muito antesque houvesse qualquer preocupaçãocom o meio ambiente.

A quebra do monopólio da repre-sentação do interesse público peloEstado nacional, abriu espaço para aemergência de outras representações,anteriores e simultâneas a ele, quepretendem ser suas equivalentes, oumesmo suplanta-lo. O que é mais im-portante é que essa emergência deoutros interlocutores não segue as re-gras de formação do Estado, senão usamecanismos que foram antes supera-dos, ou mesmo desqualificados peloEstado em sua ascensão. Valores cul-turais de imigrantes, que antes se dis-punham a apagar suas origens; valo-res religiosos, que resgatam religiõesminoritárias e oprimidas e que negama república civilista e anticlerical; va-lores internacionalistas, que contra-dizem a exclusividade da formaçãonacional. Todos juntos perfazem umquadro de relativização da esfera pú-blica, que cria novas condições parao quadro de processos regionais.

Em cada país esses elementos as-

19 O registro do efeito de agravamento dadesigualdade pode ser olhado nas mani-festações do mecanismo de desigual-dade (Dupas, 1999) e nos mecanismosda dinâmica da pobreza como tal (Gal-braith, 1979). O essencial a ser ressal-tado, é que esse mecanismo é um traçoessencial da modernização e não umaspecto incidental de um momento ououtro do processo.

... o Brasil lidoucom constrangimentos

externos ...�� sumiram um determinado perfil, que

corresponde aos dados de sua histó-ria e ao contexto de pressões externasatuais em que se move. As pressõesinternas são produzidas pelos confli-tos e pelas composições de interessesgestados no âmbito das relações declasse. Como convivem as relações declasse com a globalização? No Brasilessa pluralização de representaçõesaparece identificada com as diversasformas pelas quais, tanto nas regiõesmais novas como nas mais antigas,desde grupos de alta como de baixarenda, há movimentos de apropria-ção de elementos de modernidade,que mudaram completamente as pers-pectivas de reprodução social no país.Por isso, é possível pensar que essejogo de pressões externas e internaspode ampliar as margens de opçõesde investimento da economia brasi-leira, inclusive abrindo novas indica-ções de localização de empreendimen-tos, em escalas mais amplas e cadavez menos comparáveis com as quepodem ser antecipadas nos países vi-zinhos. Novos setores de serviços dealta tecnologia, com forte apoio deinformática, tal como o lazer náutico,podem convergir com essa diversifi-cação de opções, assim como o pró-prio planejamento urbano pode serconcebido como tecnologicamenteavançado e ecologicamente adequa-do. No ambiente de flexibilidadetecnológica as escalas de mercadodesempenham um papel estratégicoem conjunto com as escalas de pro-dução. Estas, pelo contrário, podemser adaptadas para acompanhar ascaracterísticas da expansão do mer-cado, em condições em que as varia-ções das pressões externas e das in-ternas terão que ser sempre acompa-nhadas como um referências variá-veis.

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Nome do Professor Título da Pesquisa

1. Alcides dos Santos Caldas“O sistema de denominações de origem comoestratégia de desenvolvimento do territóriobaiano”

2. Aloísio da Franca Rocha Filho “Mídia, informação e turismo em Salvador”

3. Débora de Lima Nunes Sales“Desenvolvimento local, participação popular economia solidária”

4. Fernando Cardoso Pedrão“A economia do comércio na Bahia:fundamentos, organização e condiçõesoperacionais”

5. Noélio Dantaslé Spinola“A economia baiana no século XX – Uma revisãohistórica”

5. Pedro de Almeida Vasconcelos “Análise intra-urbana de Salvador”

7. Regina Celeste de Almeida Souza“Potencial turístico e territorialidade no Estadoda Bahia”

8. Rossine Cerqueira da Cruz“Desenvolvimento tecnológico e sistemaestadual de inovação – O cao da Bahia”

9. Sylvio Carlos Bandeira de Mello e Silva“Informação, participação e desenvolvimentoterritorial”

10. Vanessa Brasil Campos Rodriguez“Frei Agostinhoda Piedade: análise da obraescultórica de um religioso do século XVII naBahia”

UNIFACSDCSA 2/CEDRE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃOEM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO

PROJETOS DE PESQUISA EM ELABORAÇÃO PELO CORPO DOCENTE2001

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28 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

INTRODUÇÃO

ste estudo apresenta as con-clusões de um trabalho de investiga-ção que teve como objetivo analisar oimpacto da política de localização in-dustrial no desenvolvimento regionale urbano do Estado da Bahia.

Com este propósito, examinaram-se os programas de fomento à indus-trialização da Bahia, executados noperíodo compreendido entre 1967 e1999 e que deram origem aos distritosindustriais da Região Metropolitanado Salvador - RMS1 e a outros locali-zados em municípios do interior doEstado.

As áreas pesquisadas compreen-deram a cidade do Salvador, capitaldo Estado, a sua Região Metropolita-na - RMS e os cinco maiores municí-pios do interior, representados porFeira de Santana, Ilhéus, Vitória daConquista, Juazeiro e Jequié. No con-junto, essas áreas respondiam, em1997, por 71,12% do Produto InternoBruto e 30% da população estadual, eabrigavam os principais distritos in-dustriais da Bahia .

A história econômica da Bahiaregistra que, a partir da segunda me-tade dos anos 60, o Estado tentou pro-mover a decolagem do seu processo

A IMPLANTAÇÃO DE DISTRITOS

INDUSTRIAIS COMO POLÍTICA DE FOMENTO

AO DESENVOLVIMENTO REGIONAL:O CASO DA BAHIA.

Noelio Dantaslé SpinolaDoutor em Geografia pela Universidade de Barcelo-na. Professor e pesquisador da Unifacs. E-mail:[email protected]

de desenvolvimento industrial que,acreditava-se à época, seria o elemen-to motor de outro processo mais am-plo de desenvolvimento econômico esocial.

A estratégia adotada consistiubasicamente numa política de cons-trução de centros e distritos industri-ais, tanto na Região Metropolitana deSalvador quanto nas cidades do inte-rior, consideradas mais bem dotadasde infra-estrutura e vocacionadaspara a implantação de empreendi-mentos industriais.

A expectativa dominante era a deque seria possível a criação de condi-ções para o desenvolvimento indus-trial, mediante a oferta de terrenosinfra-estruturados, a preços subsidi-ados, em áreas bem localizadas quepropiciassem a geração de externali-dades e, através delas e dos subsídiosgovernamentais representados pelosincentivos fiscais, se obtivessem van-tagens competitivas “vis à vis” outrasindústrias, notadamente aquelas lo-calizadas na região Sudeste do país.

Esse processo deveria promovera criação de empresas industriais vol-tadas para o aproveitamento de recur-sos naturais das regiões em que seinserissem, o que induziria efeitosmultiplicadores de crescimento amontante (agricultura) e a jusante (co-

mércio e serviços).No caso específico dos distritos

implantados no interior, pregava-se,também, a integração do núcleo in-dustrial ao núcleo urbano, objetivan-do, de um lado, promover o desenvol-vimento local e, do outro, possibilitaro aproveitamento da infra-estruturaexistente, notadamente no planohabitacional, e minimizar os custosde implantação, otimizando a relaçãotrabalho/transporte/moradia.

Inspiravam-se os planejadores deentão nas teses da Comissão Econô-mica para a América Latina e o Caribe– CEPAL, um organismo técnico daONU, as quais ficaram conhecidashistoricamente como industrialismoe foram adotadas pelos governos deorientação nacional–desenvolvimen-tista que dirigiram o Brasil até o iní-cio da década de 90.

Entretanto, nesses trinta e doisanos de política industrial, a Bahianão conseguiu promover o desenvol-vimento econômico e social aspiradopelos seus órgãos de planejamento.Com um Produto Interno Bruto deUS$ 42 bilhões em 1997, a economia

1 A RMS está composta pelos municípiosde Salvador, Camaçari,Dias D Avila,Lauro de Freitas, Candeias, Simões Fi-lho, São Francisco do Conde, Itaparica,Vera Cruz e Madre de Deus.

E

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29RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

deste Estado classifica-se como a sex-ta mais importante entre os vinte e seteestados que compõem a federação bra-sileira. Não obstante, paradoxalmen-te, classifica-se entre os estados deten-tores dos mais elevados índices deindigência e pobreza do País, segun-do estudos do Instituto de PesquisasEconômicas Aplicadas – IPEA, um or-ganismo especializado do GovernoFederal.

Segundo o IPEA, no período de1996/1997, 80,45% da populaçãobaiana se encontravam abaixo dachamada linha de pobreza, com umarenda mensal inferior a US$ 80,542 e60,24% abaixo da linha de indigên-cia, com uma renda mensal de US$39,65.

Neste estudo, procura-se exami-nar o que realmente aconteceu, medi-ante a confirmação das seguintes hi-póteses que explicam o problemacomo sendo decorrente de :

a) uma conseqüência da dinâmi-ca do processo de desenvolvi-mento econômico brasileiro,caracterizado pela formaçãotardia da sua estrutura capita-lista, e da construção desta es-trutura prioritariamente na re-gião Sudeste do País, o que es-tabeleceu as bases dos dese-quilíbrios regionais e as limita-ções de um mercado consumi-dor regional, restringindo ascondições empresariais de ob-tenção de escala e de custoscompetitivos no mercado nacio-nal e internacional;

b) uma opção equivocada do pla-nejamento, ao privilegiar-se oprincípio da geração de exter-nalidades e da concessão desubsídios através de incentivosfiscais como elementos sufici-entes para o fomento de umprocesso de industrialização,associada à escolha da grandeindústria produtora de bensintermediários como o “motor”do desenvolvimento regional,num processo que ficou conhe-cido como de “desconcentra-ção concentrada”, que resultouna geração de uma base mono-industrial no Estado, fundadano segmento químico/petro-químico;

c) uma herança do processo colo-nizador, baseado na escravi-dão, que resultou na cristaliza-ção da secular pobreza local ena formação de uma estruturasócio-econômica em que o esta-mento social dominante, repre-sentado por uma elite agro-comercial e financeira conser-vadora, inibiu a formação deuma classe média com poderde consumo e de um capital hu-mano qualificado para a ino-vação e o empreendedorismo.

Visando melhor definir algunsconceitos-chave utilizados neste estu-do, investigou-se o entendimento quevigorava no Brasil, até o final da dé-cada de 70, para a denominação dasáreas de localização concentrada deindústrias.

Assim, entende-se aqui que :Centro industrial – “é basicamen-

te um instrumento de planejamento esua resultante efetivação, consubs-tanciada pela ocupação racional deuma área bem definida, à qual se as-socia um conjunto de motivações in-dustriais, harmonizadas ao processogeral de desenvolvimento econômicoda região” (PINTO, 1975). Um centroindustrial pode-se subdividir em com-plexos ou em distritos.

Complexo industrial – “é um con-junto de unidades manufatureiras lo-calizado em determinado espaço ge-

ográfico, planejado com base em umaestrutura física comum, criado em tor-no de uma indústria principal deno-minada também de unidade medularou foco do complexo. Essas unidadesestão ligadas entre si por importantesrelações tecnológicas e econômicas”(SAMPAIO, 1975).

Distrito industrial – é uma “áreaindustrial planejada, estreitamentevinculada a um núcleo urbano e do-tada de infra-estrutura física e servi-ços de apoio necessários à induçãode um processo de desenvolvimentoindustrial” (ANEDI, 1976).

Vale ressaltar que esses conceitospermaneceram sem alterações na Ba-hia até o final da década de 90 emconsequência do declínio da ativida-de de planejamento no Estado, a par-tir dos anos 80, quando se passou ausar abusiva e equivocadamente o ter-mo “pólo” para denominar toda equalquer concentração de empreendi-mentos agrícolas e agro-industriaisque apresentassem perspectivas pro-missoras de expansão.

A primeira experiência baiana noprograma de industrialização, via acriação de distritos industriais, ini-ciou-se em 1967, na RMS com o Cen-tro Industrial de Aratu, conhecidopela denominação da baía em tornoda qual foi construído. Adotando omesmo modelo institucional surgiu,logo depois, o Centro Industrial doSubaé, em Feira de Santana. Em umsegundo momento, ao levar este pro-grama de facilidades locacionais aointerior, o Governo do Estado deno-minou suas unidades de “distritos”,tendo sido inicialmente criados os deIlhéus, Vitória da Conquista, Juazeiroe Jequié.

Posteriormente, o próprio Gover-no do Estado promoveu, outra vez naRMS, a criação do Complexo Petro-químico de Camaçari – COPEC, des-tinado a abrigar o segundo pólo pe-troquímico do País, dimensionando-o para permitir, também, a localiza-ção de indústrias de transformação e,inclusive, unidades não petroquími-cas. Anos depois, o Complexo foi am-pliado, para incorporar uma unida-de de metalurgia do cobre e indústrias

... a Bahiaclassifica-se entre os

estados detentores dosmais elevados índices

de indigência epobreza do País...�

2 Valores baseados na cotação do dólarde junho de 1999 a R$ 1,85.

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30 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

complementares. Com a recente ins-talação de um parque automobilísti-co (o projeto AMAZON da FORD) noseu espaço anteriormente destinadoà indústria de transformação petro-química, que não logrou atrair para aBahia, o COPEC perdeu tecnicamen-te a sua característica de complexopara se transformar em um centro in-dustrial que abarca três complexos: opetroquímico, o metalúrgico do cobree o automobilístico. Porém, dificilmen-te, a denominação original será mo-dificada visto que está consagradapelo uso popular, absolutamente in-diferente ao rigor técnico conceitual.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O“ESTADO DA ARTE”

O estudo das alternativas de lo-calização industrial constitui um im-portante componente da teoria do de-senvolvimento regional, tendo ocupa-do, ao longo do tempo, as atividadesde pesquisa de inúmeros profissio-nais de diferentes áreas das ciênciassociais, notadamente os geógrafos eos economistas.

As formulações teóricas sobre otema datam do final do século XIX e sedesenvolveram no século subseqüen-te, condicionadas pelo processo dedesenvolvimento capitalista, com mar-cante influência do modelo de produ-ção industrial taylorista/fordista.

Desta forma, no correr do tempo,as teorias da localização industrialforam presididas por um paradigmafuncionalista, tendo recebido tambémcontribuições humanistas na medidaem que se passou a discutir as ques-tões relacionadas com a ruptura doatraso econômico e da pobreza nospaíses ditos subdesenvolvidos.

Apesar do risco de imprecisão,visto que o processo social não ocorrede forma temporalmente homogêneanas diversas regiões, notadamentequando comparadas aquelas maisdesenvolvidas com as mais atrasadas,admite-se que a formulação teórica eo debate sobre a questão locacionalpossa ser dividida em dois períodos.O primeiro, que se encerra no final dadécada de 60, assistiu ao aparecimen-

to de duas correntes teóricas. Umadelas considerava os mercados punti-formes, ou seja, os consumidores seconcentrariam em pontos discretosdo espaço geográfico. O enfoque eraestático, não contemplava a inter-dependência locacional e o regime demercado era o da concorrência perfei-ta. As contribuições seminais dessegrupo foram as de Johann Heinrichvon Thünen, Walter Christaller eAlfred Weber. Para a segunda corren-te os consumidores encontravam-sedispersos em áreas de mercado de di-versos tamanhos. O enfoque eradinâmico,admitia a interdependêncialocacional e o regime de mercado erao da concorrência imperfeita. Nessacorrente, destacaram-se AugustoLösch, Harold Hotelling, Tord Palan-der e notadamente Walter Isard. Naliteratura, simplificadamente, os teó-ricos destas duas correntes são deno-minados clássicos.

O segundo período, que retoma aquestão a partir dos anos 80, é movi-do, de um lado, pela revolução tecno-lógica que se prenunciava e, de outro,pela ruptura, no mundo desenvolvi-do, com o modelo de produção taylo-rista/fordista, iniciando-se uma novaera, por muitos denominada como daespecialização flexível (PIORE eSABEL, 1994).

Na verdade, o final do século XXassiste a um grande debate no âmbitodas ciências sociais, com o questio-namento de vários paradigmas (comoo keynesiano, na economia, por exem-plo), sem que se estabeleçam outrosque definam novos rumos para as cor-rentes de pensamento. O estudo daproblemática regional, que ressurgiucom intensidade nos últimos vinteanos e, por extensão, das questõeslocacionais, é um exemplo das rápi-das mudanças que caracterizam estestempos de globalização capitalista.

Com efeito, o acentuado desen-volvimento da tecnologia da comuni-cação produziu, nos anos recentes,uma revolução no tempo e no espaço.Isto provocou um novo debate na ci-ência regional, mobilizando geógra-fos, economistas, sociólogos e outrosespecialistas da área das ciências so-

ciais num esforço para entender, maisque tudo, e explicar, se possível, o queestá ocorrendo e o que ocorrerá com aeconomia mundial e, dentro desta, aregional, no bojo deste processo deglobalização aclamado por uns e cri-ticado por outros.

Uma das questões preocupantesrelaciona-se com a manutenção donível de emprego, uma categoria queestá sendo transformada rapidamen-te pela mecatrônica e seu conseqüen-te efeito na automação e o bem-estarcoletivo, que parece mais distante nospaíses periféricos e mais ameaçadopela revolução tecnológica que se pro-cessa nos países desenvolvidos.

BENKO (1999) afirma que os co-nhecimentos atuais são insuficientes,a teoria da localização está em crise ea concepção weberiana perdeu inte-resse e, principalmente, não informasobre o comportamento industrialcontemporâneo. Além disso, as novasteorizações pós-weberianas só apare-cem de maneira tímida, essencialmen-te nos países anglo-saxônicos.

Segundo MARKUSEN (1995),discute-se atualmente a eficácia da“especialização flexível” como umasaída para a crise que ameaça a es-tabilidade do sistema capitalista, cons-tituindo a expressão de um novoparadigma, o do desenvolvimento re-gional endógeno que, na visão deBENKO (1994) representa uma rup-tura radical com as teorias funcio-nalistas e com a teoria predeter-minista das etapas do desenvolvi-mento de Walter Rostow, do esquemahistórico de Colin Clark e do ciclo dosprodutos de Vernon que, combinados,explicavam e justificavam o processode acumulação capitalista na relaçãoentre regiões desenvolvidas e subde-senvolvidas na década de 60.

... as teorias dalocalização industrialforam presididas por

um paradigmafuncionalista ...

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A “especialização flexível” sematerializa no “distrito industrialmarshaliano” cujo exemplo se encon-tra na Itália, especificamente na regiãoda Emilia–Romagna (Terceira Itália),onde a capacidade de atração e de re-tenção de investimentos é atribuídaao papel exercido por firmas peque-nas e inovadoras, articuladas em umarranjo cooperativo de âmbito e dire-ção regionais, o que lhes dá capaci-dade de adaptação e de crescimentoincólume aos efeitos da globalização.

O distrito industrial marshaliano,na concepção original de AlfredMARSHALL (1990) compreende umaregião com estrutura econômica ba-seada em pequenas firmas com ori-gem, propriedade e decisões sobre in-vestimentos e produção de base local.Economias de escala são pouco rele-vantes, o que limita o tamanho dosnegócios. Uma substancial teia detransações intradistrital normalmen-te favorece contratos e compromissosde longo prazo.

Segundo MARSHALL (1990) o quefaz desse distrito uma área especial é anatureza e a qualidade do seu mercadode trabalho, altamente flexível.

Exemplo do distrito industrialmarshaliano é o distrito à italiana, as-sim definido por BECATTINI (1994).

O distrito industrial é uma entida-de socioterritorial caracterizada pelapresença ativa de comunidade de pes-soas e de uma população de empresasnum determinado espaço geográfico ehistórico. No distrito, ao invés do queacontece noutros tipos de meios, comopor exemplo as cidades industriais,tende a criar-se uma osmose perfeitaentre a comunidade local e as empresas.

A sua característica mais marcanteé o seu sistema de valores e de pensa-mento relativamente homogêneo – ex-pressão de uma certa ética do trabalhoe da atividade, da família, da reciproci-dade e da mudança , o qual, de algumamaneira, condiciona os principais as-pectos da vida. (BECATTINI, apudBENKO, 1994, p. 20)

GAROFOLI (1994) destaca que aorigem e o desenvolvimento do distri-to industrial marshaliano e a suaespecificidade estão vinculados à cul-tura italiana e mesmo mediterrânica.

Também BECATTINI (1994) destacaa importância da convergência localde certos traços socioculturais própriosda comunidade (sistema de valores,comportamentos e instituições) de ca-racterísticas históricas (a Emilia Romag-na tem uma longa tradição de lutaspopulares e de organização sindical),de condições naturais particulares deuma região geográfica (orografia, viasde comunicação e centros de troca,modo de urbanização, etc.).

MARKUSEN (1995) procura mos-trar os limites da industrialização fle-xível como proposta teórica para aná-lise da emergência de novas áreas in-dustriais e identifica três outros mo-delos alternativos de áreas competiti-vas na atração e manutenção de in-vestimentos. Trata-se dos novos dis-tritos3 centro-radial, plataforma in-dustrial satélite e os distritos comsuporte do Estado.

Os distritos industriais centro-ra-diais são aqueles onde um certo nú-mero de empresas ou de unidades in-dustriais mais importantes funcio-nam como firmas-chave ou eixos daeconomia regional, congregando emtorno de si fornecedores e outras uni-dades correlatas. Markusen cita comoexemplo os casos da Boeing em Seattle(USA) e da Toyota (Japão).

As plataformas satélite corres-pondem a um tipo de distrito indus-trial construído normalmente pelopoder público, afastado dos grandescentros urbanos e justificado pelo in-teresse da promoção do desenvolvi-mento regional.

Os distritos com suporte do Esta-do são organizados em torno de algu-ma entidade pública (uma base mili-tar, uma universidade, um centro depesquisas, etc.). A estrutura dos negó-cios locais é normalmente dominadapela presença dessas instituições quecondicionam a atuação das empresasprivadas ali localizadas.

Esses distritos possuem uma es-trutura que varia de acordo com a “ins-tituição-âncora”. Em sua caracteriza-ção básica, aproximam-se dos distri-tos centro-radiais, embora a sua enti-dade central possa atuar sem gran-des vínculos com a economia regio-

nal. No Brasil, MARKUSEN (1995)cita como exemplo desse distrito oconjunto de atividades formadas emtorno da Universidade de Campinas(UNICAMP) e o complexo da EM-BRAER em São José dos Campos.

Analisando esses modelos de dis-tritos industriais, Markusen critica apretensão de se generalizar o modelode “especialização flexível” no pa-drão dos distritos industriais marsha-lianos ou da sua vertente italiana,como um paradigma. Para ela, a ca-pacidade de algumas áreas de susten-tarem um crescimento industrial emum ambiente cada vez mais integra-do e competitivo, por ela caracteriza-do como sticky places in slippery space,pode ser função de outros fatores quenão a existência de uma rede de fir-mas pequenas, inovadoras e especia-lizadas. Em muitos casos, são deter-minantes o papel das instituições efacilidades governamentais ou locais,das firmas líderes, das filiais decorporações multinacionais, do mer-cado e das relações de trabalho, ou daprópria trajetória industrial da região,a qual não se enquadra nessa concep-ção de industrialização flexível e de-sintegração vertical. A sua crítica pa-rece procedente no caso do Brasil, eespecificamente da Bahia, onde é ab-solutamente impossível o desenvol-vimento de um distrito dessa nature-za, dadas as suas peculiaridades cul-turais que constituem o oposto daqui-lo que se observa, por exemplo naEmilia Romagna.

Ainda em termos de aglomeraçõesindustriais modernas, merecem regis-tro os distritos tecnológicos.

A despeito de poderem ser enqua-drados no modelo dos novos distri-tos sustentados pelo Estado, segun-do definição de Markusen anterior-mente comentada, esses distritos vêmganhando projeção nos últimos anose adquirindo vida própria sob diver-

3 Markusen define distrito industrial comouma área espacialmente delimitada, comuma nova orientação de atividade eco-nômica de exportação e especializaçãodefinida, seja ela relacionada à base derecursos naturais, ou a certos tipos deindústrias ou serviços.

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32 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

sas denominações, como tecnópoles,pólos tecnológicos e parques tecno-lógicos.

Segundo LUNARDI (1997), con-sidera-se tecnópole todo núcleo urba-no cuja economia depende funda-mentalmente de sua capacidade cien-tífica e tecnológica e que promove, emespecial, mediante a inovação e o de-senvolvimento tecnológico, as condi-ções necessárias à sua inserção com-petitiva na economia global da socie-dade do conhecimento.

Já os pólos tecnológicos (como sãoconhecidos no Brasil) compreendemum conjunto de empreendimentosbaseados na pesquisa universitária,indústria inovativa de alta tecnologia,empreendimentos iniciantes basea-dos em novas tecnologias e empreen-dimentos acadêmicos.

Sobre o aspecto organizacional eespacial, os pólos tecnológicos podemapresentar uma estrutura organiza-cional informal e espacial dispersa nonúcleo urbano onde funcionam, ocor-rendo ações e projetos que são com-partilhados entre as instituições deensino e as empresas. Esses pólos po-dem também apresentar uma estrutu-ra organizacional formal e espacialdispersa quando existe uma entidadecoordenadora incumbida de articularas ações entre as partes envolvidas.

Os parques tecnológicos consti-tuem uma iniciativa localizada numloteamento apropriadamente urbani-zado e possuem ligações formais coma universidade ou outras instituiçõesde ensino e pesquisa; permitem a for-mação e crescimento de empresas debase tecnológica e são coordenadospor uma entidade que desempenha asfunções de gerente do parque, a qualestimula a transferência de tecnologiae promove ações voltadas ao aumen-to da capacitação das empresas e dosdemais empreendimentos que resi-dem no local. Em linhas gerais, asempresas estão reunidas num mesmolocal, dentro ou próximo do campusda universidade, numa área de raioinferior a 5 quilômetros.

Segundo LUNARDI (1997), o mo-delo institucional básico dos pólos eparques tecnológicos mundialmente

conhecidos teve sua origem na expe-riência do Silicon Valey e da Route128, nos Estados Unidos da América,na década de 50, estreitamente vincu-lado ao desenvolvimento da micro-eletrônica e da informática no perío-do do pós-guerra.

Esses aglomerados de empresasde base tecnológica surgiram na peri-feria de instituições como as univer-sidades de Stanford e Havard e doMassachusettes Institute of Techno-logy – MIT, como resultado de umasérie de ações conjuntas empreendi-das pelo governo americano, acade-mia e empresas privadas, as quais,durante o período da Guerra Fria, pro-piciaram o desenvolvimento de pro-dutos e processos inovadores na áreade microeletrônica e informática.

O modelo de tecnópoles foi gera-do na França, na década de 70, com acriação de Sophia Antipoles, uma ci-dade construída próximo a Nice, como objetivo de promover a geração deconhecimentos científicos e tecnoló-gicos e a sua transformação em bens eserviços (LUNARDI, 1997).

A implantação de tecnópoles naFrança constitui uma diretriz nacio-nal pela qual cada cidade define a suaárea de atuação, cria um parquetecnológico que passa a fazer parte doprojeto de desenvolvimento regional.LUNARDI (1997) informa que existi-am 40 tecnópoles operando na Fran-ça em 1996.

GONZÁLEZ e PÉREZ (1995) afir-mam que a política de parques tecno-lógicos chegou à Espanha em 1985quando se criou o parque tecnológicode Três Cantos próximo de Madrid.Existiam operando, em 1995, oito par-ques com a seguinte localização:Madrid (1985), País Vasco, Vallés eValencia (1987), Andalucia (1988),Asturias (1989), Boecilo (1991) eGalícia (1993).

Em sua pesquisa sobre os parquestecnológicos espanhóis, GONZÁLEZe PÉREZ (1995) assinalam as notáveisdisparidades entre esses parques cujalocalização varia de regiões industri-alizadas, como Madrid e Barcelona(Vallés), a regiões pouco industriali-zadas, como Orense, passando por

regiões em declínio industrial (sic),como o País Vasco e Asturias, e regi-ões em expansão, como Valencia. Poristo questionam se a política dos par-ques tecnológicos é valida para qual-quer região. Os autores chamam aten-ção para o perigo de que os parquesnão se integrem ao entorno econômi-co em que se localizam, consideran-do que a Espanha não possui um se-tor de alta tecnologia muito desenvol-vido, sugerindo a atração de multina-cionais do setor o que, como foi vistoaqui, pode não ser uma boa alternati-va. É destacado também o perigo deque os parques se convertam em sim-ples instrumentos de relocalizaçãoindustrial e criticado o fato de o Go-verno assumir um papel importanteno suporte do risco o que, segundo osautores, não garante o sucesso dosempreendimentos cujo fracasso podeser mascarado pela subvenção públi-ca. Finalizando suas conclusões, osautores deixam no ar o questionamen-to quanto à eficácia dos parquestecnológicos como catalisadores ade-quados do desenvolvimento regionalespanhol.

O Brasil começou a implantaçãode parques tecnológicos no início dadécada de 80, seguindo, em linhasgerais, o modelo adotado nos EstadosUnidos e na Europa. O planejamentoe a implantação das primeiras inicia-tivas ocorreram em São Paulo, ao ladodas universidades instaladas nas ci-dades de São Carlos, Campinas e SãoJosé do Campos e no Estado da Paraí-ba (Nordeste), em Campina Grande.Todas estas iniciativas contaram comum forte respaldo governamental emtermos de recursos financeiros, linhasde financiamento para as empresas eformação de recursos humanos.

Levantamento promovido pelaAssociação Nacional de ParquesTecnológicos e Incubadoras – AN-PROTEC constatou que existiam noBrasil, em 1995, sete parques tecnoló-gicos (nas cidades de Florianópolis,Campina Grande, Rio de Janeiro,Brasília, Uberaba, Cascavel e Curiti-ba) e seis pólos tecnológicos (SãoCarlos, São José dos Campos, SantaRita do Sapucaí, Campinas, Fortale-za e Florianópolis).

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Observe-se que os projetos detecnópoles, pólos e parques tecnoló-gicos ocorrem no Brasil preponderan-temente na região Sudeste, próximoàs universidades que possuem mas-sa crítica de pesquisadores.

O desenvolvimento dos empreen-dimentos relacionados às novastecnologias pressupõe a disponibili-dade local de um conjunto de fatores,como os seguintes: existência de mas-sa crítica;infra-estrutura de apoiotecnológico desenvolvida; grandenúmero de fornecedores e redes dedistribuição; disponibilidade de re-cursos para P&D e investimentos decapital; força de trabalho qualificada;elevado padrão de qualidade de vidae custos relativos favoráveis de deter-minados negócios.

A carência desses fatores limitadrasticamente a expansão das tecnó-poles, pólos e parques tecnológicos noBrasil onde inexiste uma política con-sistente, de desenvolvimento científi-co e tecnológico. Em 1994, de acordocom as informações mais recentesfornecidas pelo Ministério da Ciênciae Tecnologia, o Brasil aplicava em ci-ência e tecnologia 0,7% do seu Produ-to Interno Bruto. Trata-se de um nú-mero modesto quando comparadocom as aplicações de países como oJapão (3%), Alemanha (2,8%), EUA(2,6%), França (2,4%), Inglaterra(2,1%), Canadá e Itália (1,4%).

A situação dos parques tecnoló-gicos no Brasil é, pois, embrionária emovida muito mais pela idealizaçãoacadêmica do que pela conjunção defatores reais e concretos.

Esta fragilidade se explica, emparte, porque o Brasil, em termos dedesenvolvimento, praticamente per-deu as duas últimas décadas do sé-culo XX, envolvido que esteve com umprocesso inflacionário muito grave euma política de estabilização econô-mica de cunho monetarista e neolibe-ral ditada pelo Fundo Monetário In-ternacional – FMI, que provocou umarecessão brutal em sua economia.

Assim sendo, não é exageradoafirmar que o planejamento industri-al brasileiro parou no tempo, na dé-cada de 80, salvo tímidas iniciativas

puntuais que não modificaram o qua-dro global como um todo.

Entre as iniciativas puntuais aquireferidas cabe, finalmente, mencionara mais recente de todas que se refereaos clusters produtivos.

Os clusters consistem de indústri-as e instituições que têm ligações par-ticularmente fortes entre si, tanto ho-rizontal quanto verticalmente. Usual-mente, a organização de um clusterinclui: empresas de produção especi-alizada; empresas fornecedoras; em-presas prestadoras de serviços; insti-tuições de pesquisa; instituições pú-blicas e privadas de suporte funda-mental. A análise dos clusters focalizaos insumos críticos de que as empre-sas geradoras de renda e de riquezanecessitam para serem dinamicamen-te competitivas. A essência da organi-zação dos clusters é a criação de capa-cidades especializadas dentro de re-giões para a promoção de seu desen-volvimento econômico, ambiental esocial.

Na opinião de HADDAD (1999)não faz sentido falar-se de um clustersem contextualizá-lo espacialmente,entre outros motivos, por causa donível organizacional dos produtores,da qualidade da mão-de-obra, dalogística de transporte, dos indicado-res ambientais, dos insumos de conhe-cimentos científicos e tecnológicos,etc. Neste sentido, um cluster produti-vo não será competitivo se a regiãoonde opera não for igualmente com-petitiva em termos da qualidade desua infra-estrutura econômica, sociale político-institucional .

O sucesso de um cluster dependede uma boa gestão das externalidadese das economias de aglomeração. Nãohá sustentabilidade de um cluster se aforma como se relaciona com a natu-reza (o seu contrato natural) levar aum uso da base de recursos renová-veis e não renováveis que venha acomprometer os níveis de produtivi-dade econômica e de bem-estar socialdas futuras gerações. Da mesma for-ma, não há sustentabilidade de umcluster se a forma como se relacionacom a sociedade local e regional ondese insere (o seu contrato social) criar

deseconomias sociais de aglomeração(poluição, congestionamento) que afe-tem adversamente as condições devida dos habitantes em seu entornode influência direta e indireta. Nestesentido, um cluster poderá se tornarautofágico se não souber lidar civiliza-damente com as relações comunitá-rias e as relações ambientais em suaárea de influência.

Ainda segundo HADDAD (1999)a concepção de um cluster é essencial-mente holística, envolvendo um pro-cesso de desenvolvimento integradode um conjunto de atividades produ-tivas interdependentes tecnológica eespacialmente. Entretanto, a organi-zação de um cluster não se deve trans-formar num convite ou numa tenta-ção de se formar uma autarquia regi-onal. Por ser composto por diferentessegmentos produtivos com escalasótimas de produção muito diversifi-cadas, um cluster não pode abrangertodo o conjunto de atividades nummesmo espaço relevante, particular-mente quando se consideram as pos-sibilidades de suprimento e de benefi-ciamento em escala internacional.

Feitas estas considerações, cons-tata-se que o debate sobre a questãolocacional e a busca de uma nova teo-ria que explique como ocorrerá o pro-cesso de ocupação econômica do es-paço, nos próximos anos, ainda de-mandarão muito tempo e, talvez, nun-ca sejam conclusivos.

Um fato importante a registrar é adiferença cultural, tecnológica, econô-mica e social existente entre os paísesdesenvolvidos da Europa e da Amé-rica do Norte e aqueles do terceiro

... um clusterpoderá se tornarautofágico se não

souber lidarcivilizadamente com

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mundo, o Brasil aí incluído. Isto im-plica dizer que muitos conceitos, di-tos eurocêntricos e anglo-saxônicos,não explicam adequadamente o fenô-meno locacional nesses países.

O Brasil, com sua dimensão con-tinental, possui uma grande diversi-dade regional. Conceitos europeus enorte-americanos podem ser aplicá-veis em alguns casos à sua região Su-deste e não se ajustarem à explicaçãodo que ocorre no Nordeste, Norte,Centro-Oeste, etc..

Como visto, na Bahia, os progra-mas de áreas para localização concen-trada de indústrias foram concebidosaté o final da década de 70, como ins-trumentos de industrialização des-concentrada, aliados à promoção dodesenvolvimento regional, tendocomo objetivo uma política de corre-ção de desequilíbrios econômicos esociais, ainda que marginalmenteexistissem preocupações com a sepa-ração física das funções urbanas.

De modo geral, pode-se afirmarque a estratégia utilizada pelo progra-ma de áreas para localização indus-trial na Bahia foi a de fomentar a in-dustrialização, mediante a atraçãopura e simples de qualquer unidadeindustrial, independentemente de sualinha de produção, tecnologia utiliza-da, origem do capital ou de mão-de-obra empregada.Esta estratégia perma-neceu inalterada até o final do séculoXX, não se registrando qualquer evo-lução no “estado da arte” em termosde política de localização industrial .

Certamente contribuiram paraesta estagnação da estratégia indus-trial do Estado as duas últimas déca-das de baixo desempenho da econo-mia nacional, em que se inibiu a reali-zação de novos programas de inves-timentos industriais.

Tem razão, por exemplo, CecileRaud (apud BENKO e LIPIETZ, 2000,p. 249) quando questiona “se é possí-vel falar de crise do fordismo em paí-ses que não o conheceram”, ou ondeeste modo de produção ainda pros-pera em filiais de multinacionais quetrabalham em mercados oligopólicos.

Assim, o compromisso com a in-terpretação correta dos fenômenoslocacionais exige uma avaliaçãocriteriosa das múltiplas realidadesespaciais e uma posição de cautelafrente aos modismos produzidos nospaíses desenvolvidos e exportadospara a periferia como “verdades” aque ela deve ajustar a sua realidade oque, na prática, acaba gerando umaficção acadêmica estéril e poucoexplicativa dos fenômenos ali produ-zidos.

Afinal, em que pesem os dogmasda “globalização” e da “revoluçãotecnológica”, categorias como o ho-mem, a sociedade e a cultura formamum processo social que não pode sersincronizado ou modificado como semodifica um programa de computador.

ASPECTOS HISTÓRICOS DA

ECONOMIA BAIANA

Tratando-se aqui de uma investi-gação do passado e como a compre-ensão do tema objeto requer uma vi-são da totalidade em que ele se en-contra inserido e condicionado, tor-nou-se indispensável mostrar a iden-tidade da problemática baiana nocontexto do Brasil, a partir de umarevisão do seu processo histórico.

Assim, cabe notar que a históriaeconômica da Bahia, ao longo dos úl-timos 150 anos, foi marcada pela su-cessão de ciclos de longa e média du-ração que, a um só tempo, explicamas alternâncias de progresso e de cri-ses decorrentes do desempenho das

principais atividades agroindustriaisligadas ao comércio exterior, como oaçúcar, o fumo e o cacau, que consti-tuíram a base da sua economia, reve-lando também um persistente esforçode integração estadual no contextodas regiões mais dinâmicas do país eda economia internacional, o que ain-da não se concretizou com a intensi-dade desejada.

Ao findar o século XIX, apesardos ciclos de ascensão e de queda dasua economia comercial e agroexpor-tadora, a Bahia apresentava uma es-tatística positiva em termos das suasperspectivas industriais. Na moldu-ra produtiva da época, a indústriaparecia assumir definitivamente umaposição destacada na geração da ren-da interna e do emprego, despontan-do a agroindústria do açúcar e as fá-bricas de tecidos como os segmentosmais promissores da economia urba-no-industrial, lado a lado com o co-mércio e com os exportáveis agrícolas.

Com efeito, segundo os dados co-ligidos por CALMON (1978) a indús-tria contava com cerca de 140 fábri-cas em atividade, em 1892, com pre-dominância das grandes unidades detecidos localizadas em Salvador e noRecôncavo, em número de doze; trêsde chapéus; duas de calçados (umadas quais empregava 800 operáriosna Companhia Progresso Industrial);cinco alambiques; doze fábricas decharutos e quatro de cigarros; cincofundições de ferro, bronze e outrosmetais; nove grandes engenhos cen-trais de açúcar; sete fábricas de móveise serrarias; duas de chocolate; duas decerveja; dez de sabões e sabonetes; seisde velas; cinqüenta de massas alimen-tícias; além de outras de camisas, rapé,gelo, óleos vegetais, biscoitos, pregos,luvas finas, fósforos, etc.

Os trapiches de fumo e armazénscentrais de compra de cana-de-açú-car proliferavam pelo interior. Na ca-pital, 64 firmas importadoras, 11 ex-portadoras (em sua maioria de capitalestrangeiro) e 30 casas de negócios emcomissão compunham o comércioatacadista, fornecendo toda sorte deprodutos a 964 firmas de varejo.

Em 1899, graças à recuperação do

... a sociedadee a cultura formam

um processo social quenão pode ser

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câmbio, que se prolongou até 1910, aeuforia tomou conta de toda a econo-mia regional. Fato marcante, pela pri-meira vez, em 1899, as exportaçõesbaianas lograram superar as impor-tações, revelando o caráter estruturaldas nossas atividades produtivas e osvínculos da Bahia em relação ao mer-cado internacional.

Graças à situação cambial favorá-vel, na última década do século, regis-trou-se um processo de modernizaçãoe ampliação numérica do parque açu-careiro baiano, com a construção degrandes usinas que se mantiveram ematividade ao longo da primeira meta-de do século XX, com maquinárias dasmais modernas, adquiridas junto aosfornecedores ingleses.

Em 1900, nascendo o século XX,as 23 usinas e engenhos de açúcar doRecôncavo baiano somavam nadamenos de 5 mil toneladas/dia de ca-pacidade instalada, constituindo omaior e mais moderno parque produ-tor do Nordeste, rivalizando a Bahiacom o Rio de Janeiro na produção ena moagem da cana.

O crescimento industrial baianoregistrado no final do século XIX nãose repetiu na primeira metade do sé-culo XX.

A Bahia permaneceu estagnadano plano industrial até meados dadécada de 50 por um conjunto de ra-zões econômicas e políticas que mar-caram o seu relacionamento com asdemais unidades federativas do país,notadamente aquelas localizadas naregião Sudeste.

Segundo as pesquisas realizadaspor ALMEIDA (1977), foi responsá-vel por este fenômeno (a que um ilus-tre governador da Bahia, OctávioMangabeira, denominou de “enigmabaiano”) um conjunto de fatores, taiscomo o ritmo fraco de capitalização

do Estado, o conservadorismo da re-presentação política estadual no go-verno republicano instalado no Riode Janeiro, as dificuldades de trans-portes, a carência de energia e ainexistência do aporte de capital hu-mano qualificado visto que a emigra-ção européia e asiática, deflagrada nofinal do século XIX e início do séculoXX, concentrou-se exclusivamente naregião Sudeste, preferencialmente emSão Paulo, pois os grandes latifundi-ários nordestinos, temendo repercus-sões negativas para suas atividadesagroexportadoras, bloquearam o flu-xo de imigrantes em direção à região.

Por seu turno, MARIANI (1977)aponta como causa do problema ainstabilidade da base econômica doEstado, preponderantemente agríco-la e dependente das variações dassafras e dos preços internacionais dasmatérias-primas.

Com efeito, nas primeiras déca-das do século XX, assistiu-se na Ba-hia ao declínio de culturas básicascomo o açúcar e o tabaco e o desgastedo intercâmbio comercial interno, de-correntes da política cambial vigenteno país que agravou a descapita-lização do Estado e a sua capacidadede formação de poupança.

Segundo ALMEIDA (1977), a par-ticipação da Bahia no produto indus-trial brasileiro caiu de 3,5% em 1920,para 1,9% em 1940.4

Neste ponto, há de se observarque, no Brasil, um país de industriali-zação retardatária, o processo de tran-sição do capitalismo agrário exporta-dor para o capitalismo industrial ocor-reu de forma descontínua, no planoespacial, e assincrônica, no planotemporal.

Em termos práticos, isto significaque, por dispor de condições políti-cas e econômicas mais favoráveis nadécada de 30 (saldos de poupançaconsideráveis e um mercado internoem desenvolvimento graças à imigra-ção e a economia cafeeira), o Estadode São Paulo, e por extensão a regiãoSudeste, capitaneou o processo de in-dustrialização brasileira.

O planejamento nacional surgidonessa época contribuiu para o acelera-

mento da industrialização que assu-miu a forma de um “processo de subs-tituição de importações” que perdu-rou no período de 1947 a 1967.

A Bahia ficou de fora desse pro-cesso que implicava na modernizaçãodo parque industrial brasileiro con-centrado em São Paulo, e a partir des-te momento foi condenada a assumiruma condição de economia periféri-ca, condicionada e reflexa do centroindustrial paulista, hegemônico na-cionalmente.

UMA PERIODIZAÇÃO DA POLÍTICA

INDUSTRIAL BAIANA

No período compreendido entre1950 e 1970, o Estado passou por umprocesso sistemático de planejamen-to, no qual se destaca, como seminal,o Plano de Desenvolvimento da Ba-hia – PLANDEB ( concluído em 1959e contemporâneo do planejamentoelaborado por Celso Furtado para oNordeste) que detalhou um conjuntode atividades em termos de projetosespecíficos, principalmente de inicia-tiva estadual, projetando um setor in-dustrial mais ou menos equilibradoentre a produção de bens de consumoe de capital, mas enfatizando umaprioridade para a especialização dasgrandes empresas produtoras de bensintermediários, aproveitando algunsrecursos naturais à época abundan-tes na região, como o petróleo.

O PLANDEB foi o responsávelpela estratégia da “desconcentraçãoconcentrada” que preconizava a in-dustrialização da Bahia mediante asua inserção no projeto nacional dedesenvolvimento. Em sua concepção,seriam atraídas para o Estado gran-des empresas produtoras de bens in-termediários que seriam as polariza-doras do desenvolvimento industrialo qual ocorreria nos distritos indus-triais criados para abrigá-las, junta-mente com as empresas produtoras debens finais (grandes geradoras de

4 Em 1990 esta participação era de 4,0%segundo SOUZA e GARCIA (1998).

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regional ...��

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empregos diretos e indiretos) que seinstalariam à jusante. É de se desta-car, contudo, que o PLANDEB consti-tuiu um trabalho de grande abrangên-cia, propondo projetos que integrari-am de forma sistêmica os setores agrí-cola, industrial e comercial, objetivan-do o desenvolvimento equilibrado daeconomia baiana. Muitos dos seusprojetos setoriais não saíram do pa-pel. Outros foram executados com ocorrer dos anos, até a década de 80. Aproposta que teve implementação des-tacada foi, justamente, a que se refe-ria à implantação da grande indús-tria produtora de intermediários, re-presentada pela química/petroquími-ca e por algumas unidades siderúrgi-cas/metalurgicas.

Caso o PLANDEB tivesse sidoexecutado integralmente ( o plano nãofoi aprovado pela Assembléia Legisla-tiva do Estado da Bahia) provavelmen-te a história econômica baiana teriasido outra. Entretanto, havia um gran-de descompasso entre a mentalidadetécnica progressista emergente naépoca e os interesses políticos e eco-nômicos dominantes que eram mar-cados por posições retrógradas e con-servadoras. Ademais, o próprio pro-cesso de desenvolvimento capitalistano Brasil, conduzido pelas forças daeconomia internacional, de quemsempre o país foi dependente, tambémnão permitiram que isso sucedesse.

Um segundo período, que pode serdatado entre 1970 e 1980, caracterizou-se por uma utilização intensa de apoi-os institucionais (financiamentos ajuros subsidiados, isenção de impos-tos e incentivos fiscais com o aporte deconsideráveis recursos públicos a fun-do perdido) oriundos dos organismosde fomento do país, canalizados paraa formação dos distritos industriais dointerior e da RMS (o Centro Industrialde Aratu e o Complexo Petroquímicode Camaçari) e a montagem do parqueindustrial produtor de bens interme-diários concentrado nos segmentos daquímica/petroquímica e dos mineraisnão-metálicos.

Nesse período, as característicasdo processo de industrialização daBahia também mudaram considera-

velmente, acompanhando as oportu-nidades que foram surgindo em fun-ção das transformações da economiabrasileira.

O aumento da integração do mer-cado nacional foi determinante paraa economia baiana, pois condicionouas possibilidades de produção e am-pliação das fábricas existentes e asperspectivas de implantação de no-vas fábricas a regras mercadológicasexternas e independentes da capaci-dade de influência do Estado. Ou seja,essa integração de mercados específi-cos de diferentes grupos de bens, as-sociada à integração do sistema fi-nanceiro nacional, extinguiu as pos-sibilidades de consolidação de umaestrutura industrial regional autôno-ma. Não teriam sucesso os empreen-dimentos que não apresentassem ca-pacidade competitiva em termos na-cionais.

Um terceiro período se inicia nadécada de 80, prolongando-se até osdias atuais. É quando se observa quea redução das vantagens concorren-ciais que eram obtidas pela distânciade São Paulo (diferencial de fretes, porexemplo), associada ao peso das eco-nomias de escala obtidas pelos oligo-pólios no mercado nacional, decreta-ram a falência do modelo de industri-alização baseado nas externalidadesproduzidas pela concentração deinfra-estrutura nos distritos industri-ais adotada na década anterior.

A implantação do complexo pe-troquímico na Bahia, efetivamenteconcretizado nessa época, foi conse-qüência da evolução do setor petrolí-fero e químico do Brasil e de uma es-tratégia definida fora das fronteirasbaianas, notadamente pela Petrobras.A petroquímica introduziu sua pró-pria dinâmica industrial na Bahia,com decisões de investimentos e comfluxos de insumos e de produtos, in-dependentes dos demais gêneros in-dustriais do Estado.

O complexo petroquímico nãoproduziu os efeitos multiplicadores(de polarização) esperados e que res-ponderiam pelo desenvolvimento deum parque de indústrias de transfor-mação, produtoras de bens finais, a

jusante das suas centrais. Por outrolado, reduziu a capacidade de finan-ciamento de vários segmentos indus-triais alternativos ao monopolizar acaptação dos escassos recursos regi-onais para o financiamento da indús-tria. Ademais, pelo peso que assumiuna economia do Estado, ampliou adependência da Bahia às flutuaçõesdo seu mercado específico, tornando-a como no passado agrário-exporta-dor, extremamente vulnerável ao com-portamento da economia nacional einternacional.

CONSEQUÊNCIAS DO

PLANEJAMENTO INDUSTRIAL

É evidente que a economia baia-na cresceu no período analisado(1967/1999), apresentando númerossignificativos em alguns dos princi-pais indicadores macroeconômicos,além de uma paisagem urbana exu-berante em termos de edificações eobras de infra-estrutura em Salvadore em algumas cidades do interior. Mas,tanto os números como a paisagemapenas mostram uma face da realida-de, escamoteando outros números eoutra paisagem, confinados aossuburbios e periferias dessas mesmascidades, que denunciam a absurdaconcentração da renda e uma gritan-te injustiça social.

A Bahia cresceu economicamente,mas não se desenvolveu. Isto porque,a despeito do aparente progresso ma-terial e dos avanços tecnológicos, oconjunto dos benefícios por eles gera-dos não está disponível para milhõesde excluídos que constituem, prepon-derantemente, a população estadual.

Ademais, a Bahia viu agravada asua dependência externa, tanto noplano nacional quanto no internacio-

A Bahia cresceueconomicamente,

mas não sedesenvolveu ...�

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nal, como decorrência de uma políti-ca desenvolvimentista equivocada-mente traçada pela tecnoburocraciaregional com a cumplicidade das eli-tes capitalistas agromercantis locais.

Como foi visto, parte do insucessoda política de industrialização regio-nal decorreu da própria dinâmica decrescimento da economia nacional,caracterizada pelo surgimento tardiodo capitalismo industrial no país epela sua concentração na região Su-deste, particularmente no Estado deSão Paulo, beneficiado pelo processode substituição de importações, ocor-rido no período compreendido entre1947 e 1967, do qual a Bahia não par-ticipou.

A marginalização da Bahia (comode todo o Nordeste brasileiro) nesteprocesso de substituição de importa-ções pode ser atribuída a diversos fa-tores, tais como as diferenças de ma-turidade da economia agromercantildo Sudeste comparada com a do Nor-deste, e à fragilidade da economiabaiana para promover uma expansãodo seu próprio mercado regional deforma a permitir escala de produção eretorno compatível com os novos in-vestimentos.

O fato é que isto produziu um atra-so considerável em relação à regiãoSudeste, na formação de uma estrutu-ra industrial capaz de apresentar van-tagens competitivas e de promover adecolagem de um processo de cresci-mento auto-sustentável.

Esse atraso também deve ser cre-ditado à orientação do governo fede-ral, na época francamente discrimina-tória em relação ao Nordeste. Exem-plo disto é que, entre 1948 e 1960, as-sistiu-se, por obra e graça da políticacambial, à maior drenagem de recur-sos da economia baiana (e nordesti-na) quando cerca US$ 413 milhõesforam transferidos para a região Su-deste, através do mecanismo do “con-fisco cambial”.

Ao observar-se a gênese do pla-nejamento nacional e regional no Bra-sil, verifica-se como, em um país mar-cado pelo autoritarismo, as decisõesdo poder central acabaram por condi-cionar e determinar a ação regional e

local, fazendo com que a figura cons-titucional da federação fosse, na prá-tica, um mito, dependendo sempre osestados e os municípios dos recursosconcentrados pelo Governo Federal.E, neste plano, no que se refere à ques-tão nordestina, deve ser desmistifi-cada a relação causal estabelecidaentre o fenômeno da seca e a pobrezaregional, cujas verdadeiras causasestão associadas a esta centralizaçãode poder e ao processo de acumula-ção do capital mercantil numa regiãoonde as oligarquias, associadas aogoverno federal e ao capital externo,construíram um quadro de difícil pers-pectiva de reversão a curto prazo,numa sociedade até hoje marcadapela injustiça social.

Este quadro político-econômicoexplica o descolamento entre o plane-jado e o realizado, no caso da Supe-rintendência do Desenvolvimento doNordeste – SUDENE, uma autarquiacriada no final da década de 50 peloGoverno Federal com o objetivo dedesenvolver a região e que acabouderrotada pelo conjunto de forças re-acionárias e conservadoras do País.

Desta forma, o planejamento dodesenvolvimento regional brasileirosempre esteve condicionado pela es-trutura política dominante no país,prosperando nos períodos de fortale-cimento do sistema federativo e desa-parecendo naqueles de dominaçãoautoritária que pontilharam a vidapolítica desta nação ao longo de 40anos do século XX.

Apenas no intervalo democráti-

co que transcorreu entre 1946 e 1964,ocorreu a reação política dos Estadosao centralismo do Governo Federal, oque propiciou o surgimento do pla-nejamento regional, notadamente naBahia, que foi pioneira, nesta área.

É de ressaltar que a natural con-fusão, na opinião pública, do concei-to de “região” com o de “estado” le-vou a que as reações esboçadas con-tra a centralização política tomassem,de início, o caráter de reivindicaçõesregionalistas. Realmente, no campopolítico, o movimento em favor daseconomias regionais assumia umaclara conotação “estadual” e era comessa motivação que se realizavam aspressões locais, justificadas por argu-mentos de ordem econômica.

No plano econômico, o reconhe-cimento dos desequilíbrios inter-regi-onais de desenvolvimento, provoca-do pelo conjunto destas reivindica-ções de ordem política, acabou porconsolidar o movimento regionalistado País. Em resposta a isso, a própriaUnião tratou de criar organismos ad-ministrativos, visando a cuidar dosinteresses e a promover o desenvolvi-mento das áreas reinvindicantes,abrangendo sempre mais de um Esta-do, através dos bancos regionais dedesenvolvimento e da Superintendên-cia do Desenvolvimento do Nordeste– SUDENE.

Na verdade, foi o elemento eco-nômico, mais do que o elemento polí-tico, que influiu na formulação de umaestratégia de desenvolvimento regio-nal. Aliás, a simples constatação daexistência de disparidades muitograndes de desenvolvimento entre asregiões justificava a existência dosmovimentos reinvindicatórios. Mes-mo que não houvesse conotação polí-tica alicerçando as reinvindiçõesregionalistas pela melhoria dos níveisde bem-estar, elas teriam aparecidoforçosamente, como fruto das desi-gualdades sócio-econômicas registra-das à época, provavelmente de formaviolenta, resultante do agravamentoda desagregação da economia e,consequentemente, da sociedade nor-destina, produzida pela políticadiscriminatória praticada no país .

... o planejamentodo desenvolvimentoregional brasileiro

sempre estevecondicionado pelaestrutura política

dominanteno país ...�

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Com o movimento militar de1964, o planejamento nacional con-solidou-se como um sistema, o queimplicou na completa subordinaçãoda estratégia de desenvolvimento doNordeste às diretrizes do GovernoCentral. A Constituição promulgadapelo governo da revolução, em 1967,concentrou tal gama de poder emmãos do Governo Federal que, na prá-tica, decretou a morte da federação.

Entre 1964 e 1970, o Nordeste pas-sou de um status de região-problemadentro do Brasil, para outro, em que oseu crescimento econômico se davano mesmo quadro traçado para o con-junto das demais regiões. Não que oNordeste tivesse deixado de ser umproblema real; mas, aos olhos da pla-nificação estatal, este problema deve-ria ser equacionado de um modo inte-grado, em que a região se desenvol-vesse concomitantemente ao desen-volvimento do país, sem tratamentopreferencial que não tivesse suacontrapartida econômica para o pro-jeto da “nação-potência”. Neste con-texto, a SUDENE, pela sua história,pelas suas ligações com a ordem vi-gente no período anterior a 1964, pe-las suas limitações, não poderia evi-dentemente manter-se incólume, pas-sando a desempenhar um papel se-cundário nas decisões e na execuçãodo planejamento nacional regio-nalizado.

A nova orientação para o setorindustrial nordestino, emanada do 1ºPlano Nacional de Desenvolvimento(1970) preconizava a implantação, naregião, de grandes unidades indus-triais, capazes de abastecer com bensintermediários o mercado brasileiro,promovendo-se, desta forma, suaintegração àquelas mais desenvolvi-das do país. Com este plano, o Gover-no Central avocou-se a tarefa de de-senvolver o Nordeste, nos seus termos,acabando com os enfoques regio-nalistas.

A opção pelos grandes projetos,como visto, também era assumida pe-los técnicos baianos que, já no inícioda década de 60, através do PLAN-DEB, propunham como estratégia dealavancagem do desenvolvimento do

Estado a promoção da grande empre-sa dedicada à produção de bens in-termediários, visando aos mercadosdo Sudeste.

A adoção desta estratégia de“desconcentração concentrada” cons-tituiu-se no grande equívoco do pla-nejamento regional baiano, pois con-seguiu que a Bahia efetivamente setransformasse numa grande produto-ra de alguns bens intermediários sem,contudo, expandir seus efeitos multi-plicadores a montante ou a jusante degrandes plantas como as da petroquí-mica e da metalurgia, que se instala-ram no Estado, por exemplo.

Os planejadores baianos, que cer-tamente estudaram Perroux e Hirs-chmam, não conseguiram que aquisurgisse um pólo de desenvolvimen-to gerador de um parque de indústri-as de transformação que, via comple-mentaridade, asseguraria o sonhadodesenvolvimento auto-sustentado daregião.

A opção pela criação de pólos dedesenvolvimento associada à constru-ção dos distritos industriais na RegiãoMetropolitana do Salvador e nas prin-cipais cidades do interior da Bahia,constituiu uma política ineficaz frenteao modelo de industrialização adota-do, como exemplifica o insucesso daconcepção do Complexo Petroquími-co de Camaçari como um pólo e, con-seqüentemente, um instrumento dedesenvolvimento regional.

Essa concepção estava implicita-mente baseada no raciocínio de quese os pólos constituíam a chave docrescimento capitalista e se era possí-vel determinar a dinâmica do seu fun-

cionamento, uma das formas de pro-moção do desenvolvimento regionalse constituiria mediante a criação dascondições necessárias à reproduçãodessa dinâmica.

A idéia de pólo de desenvolvimen-to foi bastante reforçada, à época, pelaconcepção estratégica militar que do-minava o país. Ademais, é nesse mo-mento que começam a se configuraros impasses do “desenvolvimento” e,em função deles, a crise do próprioprojeto nacional de desenvolvimentoque tantas esperanças havia desper-tado no Brasil.

Começava a se tornar evidenteque, apesar de todos os êxitos estatís-ticos resultantes do esforço de desen-volvimento econômico até então rea-lizado, a evolução econômica e socialem um país de capitalismo tardio edependente se fazia em termos distin-tos daqueles que marcaram a expan-são capitalista nos países desenvol-vidos. Uma das evidências desse fatoera dada, justamente, pela tendênciaa forte e regressiva concentração, tan-to social, quanto espacial, dos frutosdo desenvolvimento. Em outras pala-vras: constatava-se que a eliminaçãodo que, na terminologia da época, sedesignava como “obstáculos ao de-senvolvimento”, não conduzia à ge-neralização da expansão capitalistano âmbito do espaço nacional; ao con-trário, tal eliminação punha em mar-cha mecanismos que reforçavam, emnovos e até mais perversos termos, astendências estruturais à concentraçãoda renda. As frustrações e tensões so-ciais que emergem dessa constataçãoe desses resultados, ameaçando a pró-pria legitimidade da idéia de desen-volvimento, são demais conhecidaspara serem aqui relembradas.

É nesse momento que a idéia daimplantação de pólos começa a des-pertar interesse e é logo em seguidaincorporada ao arsenal dos instru-mentos de intervenção na economia àdisposição do Estado, da mesma for-ma que passa também a reanimar aexpectativa da generalização do pro-cesso de desenvolvimento no âmbitoda nação. O recurso à idéia de pólo,como instrumento de desenvolvimen-

...a SUDENE,pela sua história,

não poderiaevidentemente

manter-seincólume ...�

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39RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

to regional, parece relacionar-se dire-tamente à percepção da classe diri-gente brasileira de que, através daimplantação de pólos, seria possívelcorrigir as “distorções” existentes noprocesso, sem que, para tanto, se tor-nasse necessário reformular o padrãobásico de desenvolvimento.

Em torno da noção de pólo (ouatravés da manipulação propagan-dística dela) foram criadas rapida-mente altas expectativas, notada-mente no que se refere aos efeitos so-ciais no âmbito do desenvolvimentoregional. Assim, a política de implan-tação de pólos surgiu, independente-mente, ou na ignorância, das restri-ções que muitos especialistas interna-cionais e mesmo nacionais faziam àsua real eficácia.

A despeito das contribuições dachamada escola “espacial”, desen-volvendo e ampliando as formulaçõesiniciais de Perroux, assim como datentativa de incorporação do concei-to de pólo à “teoria da localização”,continuava sem solução a maioria dosproblemas suscitados pela questãomaior de como compatibilizar a geo-grafia dos pólos com a economia dospólos, de modo a reter, no âmbito daprimeira, os resultados obtidos atra-vés da segunda.

Foi em função dessa dificuldadeque surgiu a crítica à possibilidadede conversão da noção de pólo eminstrumento de promoção do desen-volvimento regional. O argumentocentral dessa crítica era de que tal con-versão incorria num erro de lógica, namedida em que tomava como sendocerto aquilo que era dado apenascomo possível. Esse erro decorreria dofato, como argumenta LASSUÉN(1976), de se desconhecer que a teoriados pólos é uma “teoria de crescimen-to condicional”: ela constata a ocor-rência de um fenômeno, que designados pólos, e explica as razões da di-nâmica de seu funcionamento, masnão explica a dinâmica e as condiçõesnecessárias à existência deles. Emoutras palavras: a teoria dos pólosdescreve a dinâmica do funcionamen-to de algo cuja existência é simples-mente constatada, mas nada diz so-

bre as condições prévias necessáriaspara o surgimento daquilo cujo fun-cionamento ela descreve.

Formulada nesses termos, essadistinção entre funcionamento e exis-tência pode parecer excessivamenterigorosa. Ela tem alguma importân-cia, entretanto, para explicar a genea-logia da aplicação do conceito, pois,de fato, a implantação de um pólo nãopode limitar-se a criar as condiçõesnecessárias para que ele possa funcio-nar (que são as que a teoria dá), massupõe a criação prévia de condiçõespara que ele exista como pólo (que sãoas que a teoria não dá). Essa crítica émencionada apenas para mostrarcomo existiam impasses em termos deteoria, pois parece evidente que osprocessos de natureza social e econô-mica raramente são redutíveis às re-gras da lógica formal (MARTINS,1981).

Na verdade, o fundamental dacrítica, para o que aqui interessa, estána constatação das dificuldades prá-ticas da aplicação da noção de pólo àpromoção do desenvolvimento regio-nal, já que a “teoria da localização” ea “teoria dos pólos” oferecem expli-cações desvinculadas entre si e deharmonização complicada. E nessaparte a crítica é pertinente, pois o quefazem Perroux e seus seguidores é, emúltima análise, superpor estruturaseconômicas setoriais a espaços geo-gráficos, supondo que o implante “pe-gue”, graças à dinâmica econômicaatribuída às primeiras.

Considerações teóricas à parte,

constata-se que vinte e cinco anos de-pois de planejado e implantado, o Com-plexo Petroquímico de Camaçari – CO-PEC não conseguiu transformar-se emum pólo de crescimento econômico emuito menos de desenvolvimento.

Para o entendimento do que ocor-reu em Camaçari, é importante o es-clarecimento do papel e da importân-cia dos agentes envolvidos no seuprocesso de planejamento e execuçãodas obras de infra-estrutura física eurbano-social.

Os grandes parceiros na constru-ção de Camaçari foram o Governo doEstado da Bahia e a PETROBRAS, re-presentada por suas subsidiárias aPETROQUISA e a COPENE – Petro-química do Nordeste S.A . Coadjuvan-tes no processo o Governo Federal,através do Ministério da Indústria eComércio – CDI; o BNDE; o BNH e aSUDENE.

A participação da classe empre-sarial, depois de vencida a oposiçãodos empresários paulistas, foi insig-nificante. A classe política, a comuni-dade local e regional e os organismosde classe foram, quando muito, sim-ples espectadores.

A PETROBRAS, pelo menos até ofinal da década de 80, possuía umextraordinário poder político no país.

A associação com o Governo daBahia interessava à PETROBRAS por-que o controle da indústria petroquí-mica nacional frente à “ameaça” docapital estrangeiro5 e a descentra-lização industrial do país, constituíaum objetivo estratégico do grupo mi-litar nacionalista que comandava aEscola Superior de Guerra , formula-va os princípios da doutrina de segu-rança nacional e tinha no GeneralErnesto Geisel o seu maior expoentena área do petróleo.

Os baianos, liderados por políti-cos hábeis, bem municiados por umaassessoria técnica competente e comgrande trânsito nos mais altos esca-lões do poder, constituíam os aliados

5 Na Bahia representado pela Dow Quími-ca, defendida em Brasília pelo Gal.Golbery do Couto e Silva, um dos milita-res de maior poder no País durante osGovernos Medici e Geisel.

... 25 anos depois,o COPEC não

conseguiutransformar-se em um

pólo de crescimentoeconômico e muito

menos dedesenvolvimento ...�

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ideais para os propósitos daPETROBRAS. Além do mais, a defesada bandeira da desconcentração in-dustrial e da correção dosdesequilíbrios regionais, constituía, àépoca, um dos mais poderosos argu-mentos disponíveis no arsenal domarketing político nacional. Esta as-sociação porém, tinha os seus limitesditados pelos interesses específicos eo autoritarismo de cada um dos par-ceiros.

Assim, à estatal interessava de-senvolver na Bahia um complexo pe-troquímico (que denominava de Com-plexo Básico), limitado a um conjun-to de empresas, enquadradas na suaestratégia de ação no mercado nacio-nal. A PETROBRAS não admitia sub-meter seu projeto à ingerência do Go-verno Baiano, daí porque decidiu au-tonomamente localizar-se em Cama-çari, numa opção criticada pelos ja-poneses (sócios estrangeiros nas in-dústrias) e por alguns técnicos baia-nos . A opção ideal para os japonesesseria próximo ao mar e o Centro In-dustrial de Aratu oferecia estas con-dições no CIA-Norte. Também oBureau d´Etudes Industrielles et deCooperation de l´Institut Français duPétrole – BEICIP, organismo técnicoespecializado, que assessorou o Go-verno Federal no processo, manifes-tou a sua preferência pela localiza-ção do Complexo na área do CIA-Nor-te. Ademais, localizando-se naquelaárea, promover-se-ia a redução subs-tancial do custo da infra-estrutura queteria de ser construída a um preço ele-vado para um Estado pobre; viabiliza-ria o CIA, um distrito carente de in-dústrias e reduziria, segundo os am-bientalistas, a produção de danos am-bientais, pois, de acordo com algunsgeólogos, o Complexo foi localizado emcima da formação de São Sebastião,um importante aquífero subterrâneo,capaz de, isoladamente, abastecertoda a RMS com água de elevadapotabilidade6 , por um longo períodode tempo.

Segundo MARTINS,a escolha de Camaçari como sítio para alocalização do complexo básico já haviasido feita, a partir de estudos realiza-dos pela COPENE, subsidiária daPETROQUISA, desde 1972, ou seja:dois anos antes da formulação do Pla-

no Diretor. Oficialmente, o critériobásico que levou a essa escolha foi o dadisponibilidade de água na região, alia-do a uma análise dos custos comparati-vos de investimento e de funcionamen-to proporcionados por Camaçari em re-lação a quatro outras possíveis locali-zações (todas elas situadas no Municí-pio vizinho de Candeias). Estimou-seentão que em termos de custos de fun-cionamento (ligados à maior distânciade Salvador e do Porto de Aratu e aotransporte de matérias primas) as van-tagens oferecidas por Camaçari teriamuma vigência de pelo menos dezoitoanos, se comparadas com as vantagensoferecidas por Aratu.

Essa afirmação é feita no Plano Dire-tor, embora nenhuma referência pre-cisa seja dada sobre a maneira comoforam realizados tais cálculos – queseriam, aliás, tornados pelo menos emparte obsoletos pelo (à época imprevisí-vel) aumento do preço do petróleo. Seessa é a versão oficial, existem indica-ções, de que a verdadeira motivação dasubsidiária da PETROBRAS para a não-localização do complexo petroquímico emAratu deveu-se muito mais ao desejo daempresa estatal de “ver-se livre” daseventuais limitações à ação que preten-dia desenvolver decorrente da existên-cia já em Aratu de uma administraçãodependente da Secretaria de Indústriado Governo da Bahia. Como quer queseja, o importante é que a decisão delocalizar o complexo em Camaçari já es-tava tomada antes que se fizesse qual-quer estudo de planejamento regional.(MARTINS, 1981. p. 51).

O Governo da Bahia aceitou ha-bilmente todas as decisões daPETROBRAS (PETROQUISA/COPENE), inclusive incorporando-asao seu planejamento.

O raciocínio dos dirigentes e dostécnicos estaduais era de que o bene-

fício a ser gerado pelo empreendimen-to compensaria todos os custos. AoGoverno do Estado caberia ampliaros efeitos da iniciativa, transforman-do o Complexo em um pólo de desen-volvimento.

Desta forma, o planejamento emCamaçari foi realizado pela COPENEno que se referiu à localização, aozoneamento do Complexo Básico(cuja área foi desapropriada pelo Go-verno Federal/PETROBRAS), ao mo-delo industrial e ao esquema acionário(tripartite)7 . O estudo da COPENEapresenta o seu Plano Diretor com ozoneamento da área do ComplexoBásico, definição do sistema viáriointerno, energia elétrica e tubovias,drenagem e localização das Centrais(de Matérias Primas, de Utilidades, deManutenção, de Serviços) e de maisnove empresas, da quais cinco já exis-tentes no local antes da implantação.

Já o Plano Diretor do COPEC, ela-borado pelo Governo do Estado, in-corpora e amplia este Plano Diretorda COPENE sem influenciar, contu-do nas diretrizes já estabelecidas.

O Plano Diretor global da áreaincorporava o Complexo Básico comouma zona industrial do ComplexoPetroquímico de Camaçari.O governobaiano elaborou também o Plano deDesenvolvimento Social de Camaçari(que sendo transformado em “área desegurança nacional” perdeu a auto-nomia política e passou a ser admi-nistrado por um funcionário do Esta-do, nomeado pelo Governador) e exe-cutou a custosa infra-estrutura físicae urbano-social da área, com financi-amento do BNDE/BNH.

Após o pioneiro trabalho deRômulo Almeida, intitulado Desenvol-vimento da indústria petroquímica no

6 Informações recentes, de organizações ambientalistas dão conta de que este aquíferoestá sendo contaminado gradualmente.

7 O modelo tripartite foi a forma encontrada pela PETROBRAS/PETROQUISA para solu-cionar diversos problemas financeiros e técnicos do empreendimento, visto que a esta-tal à época estava comprometida, com outros grandes projetos, como o da PQU em SãoPaulo. Por este modelo, o sócio estrangeiro entrava no negócio com o aporte da tecnologiaque dominava. Isto levou o complexo a adquirir �pacotes fechados de tecnologia� (deno-minados pelos técnicos nacionais de �caixas pretas�) o que certamente comprometeuseveramente a possibilidade do desenvolvimento tecnológico futuro do complexo e daBahia como um todo.( Polarização técnica).

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Estado da Bahia, decidiu o GovernoFederal contratar a consultoria doBEICIP objetivando a definição demedidas necessárias a instalação doComplexo Petroquímico.

O estudo do BEICIP consistianuma estimativa do mercado brasilei-ro para produtos petroquímicos até ofinal da década de 70, assim como deuma previsão sobre as condições e oscustos de sua produção no Brasil, to-mando-se os casos de São Paulo e daBahia para efeito de comparação.

Este estudo tomava como base aconstituição de grandes unidadesmodernas de produção, sob a formade joint-ventures, voltadas para ummercado aberto e, portanto, submeti-do à concorrência internacional. Apartir de uma estimativa da disponi-bilidade e do preço da matéria-primadeterminavam-se, em seguida, ascondições necessárias à rentabilida-de da produção de oleofinas e de aro-máticos, assim como de alguns pro-dutos intermediários.

Um dos argumentos amplamenteutilizados em favor da instalação doComplexo na Bahia era o de localiza-rem-se no Recôncavo as mais impor-tantes reservas conhecidas de petró-leo e de gás natural existentes no país.Além disso, já existia, na região, aRefinaria Landulfo Alves Mataripe -RLAM, da PETROBRAS, com capaci-dade para produzir a matéria-primaindispensável ao ciclo petroquímico.Todavia, o problema que se colocavaera o da natureza dessa matéria-pri-ma. Uma certa quantidade de etenopoderia ser oferecida pelaPETROBRAS, mas em quantidadesinsuficientes. Tornava-se necessário,assim, recorrer também à nafta. Mascomo uma parte da produção de naftadevia ser destinada à produção de ga-solina, impunha-se uma terceira fon-te de matéria prima, no caso, o quero-sene. Como notava o estudo do BEICIP,o recurso a três ordens de matérias-primas teria por conseqüência tornarbem mais complexo o processo pro-dutivo, pois de cada uma delas resul-tam subprodutos diferentes e que, emtermos de rentabilidade, implicam nainstalação de sucessivas unidades

para sua valorização. Isto significavaque o complexo petroquímico a serinstalado deveria, para sua maiorrentabilidade, ser pensado em termosde uma engrenagem bastante comple-xa, obrigatoriamente dotada de umnúmero relativamente grande de uni-dades de produção interligadas entresi, não só de alto custo em termos deinstalação como de mais difícil admi-nistração. Desde esse instante, portan-to, o Complexo Petroquímico da Ba-hia aparece como uma máquina pe-sada, cara, complicada e implicandoem difíceis problemas de planificaçãoda produção, sem que, entretanto,nada ainda tivesse sido de fato estu-dado sobre os efeitos induzidos quedele se poderia esperar, seja no domí-nio puramente industrial, seja no pla-no do desenvolvimento econômico esocial da região.

É com certo atraso que surge apreocupação de ver surgir no Nordes-te, e não em qualquer outra parte dopaís, as indústrias a jusante, que se-riam indispensáveis à maximizaçãodos benefícios a serem retidos na re-gião – questão essa, como se vê, indis-pensável à caracterização de um “pólode desenvolvimento” nos termos emque este era concebido pelos planeja-dores. Essa é a razão pela qual se faznovamente apelo ao BEICIP para quefosse estimado o mercado potencialexistente no nordeste para duas cate-gorias de indústrias: a de plásticos ea de fibras sintéticas.

Esse segundo estudo do BEICIPde alguma forma justifica a esperan-ça de que o novo Complexo Industri-al pudesse se constituir (pelo menosatravés dos plásticos e das fibras)

num instrumento de desenvolvimen-to regional. Todavia, é importante re-gistrar que nele não se diz que taisindústrias deveriam ser implantadasem Camaçari ou mesmo na Bahia. Seexaminada a localização previstapara os 19 projetos iniciais, propos-tos neste estudo, constata-se que, ex-ceção feita àqueles que utilizam ma-téria-prima líquida e de mais fáciltransporte por tubulação, os demaispoderiam ser localizados em qualquerparte da região nordestina, de prefe-rência na proximidade dos mercadosde consumo. Todo o esforço realizadoatravés desse estudo foi o de pensarnão mais em termos do mercado bra-sileiro como um todo, mas do merca-do nordestino, um esforço de especia-lização pouco freqüente nesse tipo deestudo. Mas, mesmo assim, reapare-cem aqui as diferentes concepçõesentre espaço econômico e espaço geo-gráfico que se vão constituir numafonte de equívocos de conseqüênciasgraves. Com efeito, se o relatório ates-ta a existência de um mercado nor-destino para a transformação, na pró-pria região, dos produtos das indús-trias chamadas de segunda ou tercei-ra geração no nordeste, nada garan-tia que tais indústrias tivessem quesituar-se fisicamente em Camaçari.

Isto posto, a opção pela localiza-ção de indústrias em Camaçari nãoproduziu os resultados esperados econtribuíu para esvaziar o Centro In-dustrial de Aratu, em cujo espaço de-veria ter sido instalado o Complexo.Não ocorreu a implantação de umparque de transformação a jusantedas empresas matrizes do complexo-básico, que não se constituíram indús-trias-motrizes.

No caso de Camaçari existe aindaum aspecto relevante a registrar, no quese refere às conexões interindustriaisque constituem um fator necessáriopara caracterizar um pólo. Se a condi-ção de pólo decorre da capacidade deinovação da indústria-motriz, adqui-re importância não apenas o tipo deindústria e a função que ela está tecni-camente apta a exercer, mas também aforma jurídico-administrativa como éconstituída a empresa da qual se es-

... a localizaçãode indústrias emCamaçari não

produziuos resultadosesperados ...�

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pera a ação motriz-inovadora.Nesse plano, o controle acionário

da empresa que constitui a indústria-motriz (se estatal, privado ou multina-cional) tende a adquirir significaçãopara o que se discute. Essa variável éraramente considerada na teoria dospólos, embora seja evidente sua im-portância. A introdução de contínuasinovações depende de decisões em-presariais que não se relacionam ape-nas à capacidade de gerar tecnologiae “novas combinações”, mas tambémà vontade de fazê-lo. Quer dizer: aointeresse de seus controladores emfazerem uso de tal capacidade.

Uma empresa multinacional, ouum grupo nacional poderoso, podemnão ter interesse em introduzir numdado mercado, dentre os múltiplos emque atua, as inovações para as quaisestão tecnicamente capacitados. Istoocorrerá se tais inovações vierem agerar, por exemplo, uma expansão daestrutura produtiva desse mercadoparticular que seja superior àquelaque tal empresa considera compatí-vel com sua estratégia global e com ojogo oligopólico do qual, em geral,depende sua expansão continuada.Da mesma forma, embora por outrasrazões, também os empresários locaispodem não reunir as condições neces-sárias (por falta de recursos ou de ca-pacidade empresarial) para preen-cherem, substitutivamente, a funçãoinovadora.

Neste ponto, demonstrando a uto-pia do modelo de “desconcentraçãoconcentrada”, o COPEC assistiu, coma privatização do seu controle acioná-rio, deslocar-se todo o seu centro dedecisão para a região Sudeste, fican-do em Camaçari apenas as unidadesde produção (fábricas). Com a assun-ção do controle da COPENE (suaindustria “motriz”) por uma multina-cional ou por um grupo nacionalhegemônico na área da petroquími-ca, tornam-se remotas as expectativasda criação de um polo de desenvolvi-mento a partir deste Complexo.

No que tange aos demais distri-tos, vinte anos transcorridos da úni-ca atualização do seu Plano Diretor,realizada em 1980, o Centro Industri-

al de Aratu é, hoje, uma sombra dogrande empreendimento sonhado nadécada de 60 e que, segundo os seusidealizadores, iria transformar a faceda Bahia, projetando-a como um Es-tado moderno, industrializado e, con-seqüentemente, desenvolvido.

Esta expectativa não se concreti-zou. O CIA constitui hoje um espaçocomposto por duas zonas industriais,ainda denominadas de CIA-Norte eCIA-Sul, com diversas empresas fe-chadas e áreas subutilizadas, já ten-do sido denominado pela imprensabaiana de “cemitério de empresas”,servindo como testemunha materialdas contradições e dos desencontrosdo processo de desenvolvimento in-dustrial baiano..

Se examinados todo o período deexistência do Centro e a sua atual si-tuação, poder-se-á dizer que a contri-buição do CIA para o desenvolvimen-to industrial do Estado foi pouco rele-vante e que a política de localizaçãoindustrial por ele encarnada não pro-duziu os efeitos desejados.

Pelo contrário, contribuiu para aconcentração industrial na RMS emdetrimento de várias regiões do Esta-do, muito mais pelo efeito atracionalde micro-e pequenas empresas que seexpandiram no seu entorno (região deValéria, por exemplo) do que propria-mente pelas empresas que abrigou emseu perímetro.

Já os distritos industriais do inte-rior, teoricamente, no plano da políti-ca de interiorização do desenvolvi-mento, assumiriam as característicasde um parcelamento do solo devida-mente infra-estruturado, de cuja cria-

ção se valeria o poder público comoinstrumento adicional para atrair in-dústrias, dentro de uma estratégia dedesconcentração industrial.

Cumulativamente, deveriam cum-prir a função de ordenadores da loca-lização de indústrias nas suas respec-tivas cidades-sede, no que, pelo menosem tese, contribuiriam para a melhoriada qualidade da estrutura urbana nascidades de médio porte do interior daBahia.

Embora se constituíssem no ins-trumento de maior autonomia comque o Estado participava da políticade industrialização, os DI não se ca-racterizavam como instrumentos fun-damentais dessa política, mas princi-palmente como mecanismos de apoio,que buscavam minimizar o impactourbano da implantação de indústriasem larga escala e tentavam induzir alocalização de novas indústrias, de-vendo fazê-lo conforme diretrizes dedesenvolvimento espacial.

Tratavam-se, basicamente, deequipamentos que facilitavam, masnão tinham força suficiente para de-terminar a localização de indústrias,nem gerar novos projetos, às vezessequer em termos intra-urbanos. As-sim, tornava-se evidente que, se, porum lado, a disponibilidade de infra-estrutura era uma variável condi-cionante da atração de investimentosindustriais, tinha, por outro, um pa-pel bastante limitado pela interferên-cia de outros mecanismos mais fun-damentais.

Esse foi o caso de fatores exógenosrelativos à dinâmica do sistema eco-nômico que, como um todo, forammais influentes e condicionantes nalocalização e geração de novos proje-tos industriais. Entre esses devem sersalientados: primeiro, o modelo eco-nômico nacional, que se caracteriza,até os dias atuais, por ser concen-trador de renda, determinando umsistema produtivo em que as empre-sas industriais apresentam um altocoeficiente de localização, ou seja,uma tendência a concentração espa-cial; segundo, a orientação para pro-jetos de grandes unidades produto-ras de bens intermediários, (priorida-

... a contribuiçãodo CIApara o

desenvolvimentoindustrial

do Estado foi poucorelevante ...�

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43RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

de do planejamento baiano) o que criaa exigência de escala, de aglomera-ção e de apoio de serviços, exceçãofeita apenas às unidades agroindus-triais e de processamento de minéri-os, que necessitam ser localizadasjunto às matérias-primas.

As repercussões espaciais dessesfatores se manifestam pela concentra-ção da produção em uns poucos pon-tos do território,(as metrópoles) fazen-do com que as cidades de porte médio(as “capitais regionais”) percam odomínio sobre suas respectivas áreasde influência.

Essas características do modeloeconômico conflitam, originariamen-te, com uma política de desconcen-tração industrial como a dos DI dointerior, invalidando-a como um ins-trumento capaz de atenuar os dese-quilíbrios regionais.

Neste contexto, uma política queobjetivasse, em bases realistas, o fun-cionamento eficaz de centros secun-dários de crescimento, complementa-res e articulados com os principaisdistritos regionais – no caso o CIA e oCOPEC – ou se baseava em possibili-dades reais de investimentos ou re-quereria uma mudança profunda napolítica de industrialização, algomuito mais complexo do que a sim-ples criação dos DI.

Há que considerar, adicionalmen-te, os reflexos da conjuntura econô-mica, no momento de implantaçãodos DI do interior, quando já as estra-tégias de crescimento econômico co-meçavam a dar mostras de perda dedinamismo, fazendo com que a pró-pria força dos incentivos fiscais se re-velasse insuficiente para a geração eatratividade de novos projetos.

Por outro lado, salvo a existênciado incentivo fiscal específico e a as-sistência técnica, nem sempre pron-tamente disponível, foi precária a ar-ticulação entre os diversos instru-mentos da política de industrializa-ção posta em prática.

Assim, em relação aos DI do inte-rior, o objetivo estadual mais compa-tível seria o de vincular o parque in-dustrial aos sistemas produtivos lo-cais, a concretizar-se mediante a

transformação dos produtos agrope-cuários e exploração de recursos mi-nerais, os quais, no entanto, tinhamfatores microlocacionais bem especí-ficos, nem sempre possibilitando umaopção locacional pelas cidades demédio porte, onde foram instaladosos DI.

Ademais, como inexistia uma es-tratégia de desenvolvimento urbano,não ocorreu a integração das ações emtermos intersetoriais, nem se apoiou oubeneficiou a política de DI de escala deprioridades em termos espaciais.

Nas cidades onde se implanta-ram os principais DI administradospelo Estado, (Ilhéus, Jequié, Juazeiroe Vitória da Conquista) era, à época,bastante precária a infra-estrutura fí-sica e urbano-social, sendo de assi-nalar-se que, mesmo os programashabitacionais não tinham presençadestacada nesses assentamentos ur-banos.

A estes fatores se agrega, de refe-rência à política urbana, a dispersãodas responsabilidades executivaspela implantação de infra-estruturaeconômica e social nas cidades, comconseqüente desarticulação e perdade eficiência dos investimentos reali-zados.

É natural, assim, que os DI fos-sem limitados pela falta de suporte,tanto setorial quanto espacial, tantomais que foram estabelecidos em con-dições e quantidade provavelmentemaior do que seria desejável.

Do ponto de vista espacial, cons-tata-se que a definição macroloca-cional dos DI baseou-se muito maisna análise da hierarquia urbana do

que na ocorrência de efetivas possibi-lidades econômicas e de industriali-zação. Como a rede urbana da Bahiaé, ainda, marcada pela macrocefaliada RMS, o volume demográfico, oequipamento urbano e o nível de ren-da predominante nas “cidades médi-as” do interior não se revelavam ca-pazes de viabilizar distritos industri-ais, fazendo-se necessário não apenasrigoroso critério de prioridades, mastambém um esforço concentrado, emtermos de governo, a exemplo do queocorreu para a implantação do Com-plexo Petroquímico, na RMS. Este es-forço, de igual modo, deveria incluirnão apenas a implantação de infra-estruturas mas também a promoção,agenciamento e participação nos em-preendimentos nucleares, destinadosa possibilitar a viabilização dos DI.

Como observa HADDAD (1992),uma das condições essenciais paraque uma atividade econômica que selocalize numa região possa promovero desenvolvimento sustentável destaregião e não estimule apenas um ci-clo de crescimento instável e poucoduradouro, é que haja uma difusãodo dinamismo da implantação destaatividade econômica para outros se-tores da economia regional. Vale di-zer, que esta atividade se articule demaneira adequada com o sistema pro-dutivo local.

Faltou, no caso dos DI, esta difu-são de dinamismo. As empresas loca-lizadas na maioria desses distritosnão possuíam qualquer relação dotipo insumo-produto com a economiada região onde se instalavam e aque-las que possuíam esta relação nor-malmente se instalavam fora do dis-trito, como ocorreu com a agroin-dústria de frutas em Juazeiro.

Concebidos com o enfoque de umaindustrialização via grandes empre-sas, os Distritos, em seu conjunto, ja-mais representaram um fator atrativopara os micro e pequenos empresáriosbaianos que, segundo a Secretaria daIndústria e Comércio da Bahia, corres-pondiam a 83% do universo empre-sarial do Estado em 1981, e preferi-ram localizar-se no centro comercialou na periferia dos seus núcleos ur-

... os Distritos,em seu conjunto,

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os micro e pequenosempresáriosbaianos ...�

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banos.Outra distorção da política de lo-

calização industrial da Bahia, utili-zando os mecanismos de incentivosfiscais e financeiros, consistiu na ins-talação nos distritos, de uma parcelade empresários oportunistas, de ou-tras regiões, que só permaneceram noestado enquanto se beneficiaram dosfavores concedidos pelo poder públi-co. Encerrado o benefício , encerravamo negócio.Em algus casos,vários em-preendimentos fecharam em plenogozo dos benefícios por incapacida-de de gestão administrativa ou pelaprópria inviabilidade econômica donegócio.

A criação dos distritos industri-ais da Bahia, foi uma decisão bem in-tencionada mas utópica, posto quenão se trabalhava sobre uma realida-de concreta, pré-existente, que deman-dasse algum tipo de intervençãoordenadora. E foi, ao mesmo tempoautoritária, dado que as decisões fo-ram tomadas sem a participação dosdiversos segmentos das comunidadeslocais.

Tratou-se, assim, de um planeja-mento descolado da realidade, quenão pode ser comparado às experiên-cias de distritos industriais como os“marshalianos” ou a sua vertente ita-liana. Isto porque esses distritos fo-ram construídos pela comunidade aolongo do tempo, formando uma cadeiade empresas, muitas vezes de um mes-mo ramo industrial (como é o caso dasconfecções em Carpi, na Emilia Ro-magna, Itália) onde a cadeia de pro-dução é partilhada por diversas em-presas (muitas de pequeno porte) co-mandadas por princípios de especia-lização, complementaridade e solida-riedade, como apontam diversos au-tores, entre os quais BENKO (1994).

Inexistiam e ainda inexistem taiscondições na Bahia e mesmo no Bra-sil, um país marcado por uma culturaindividualista tão exacerbada quefrustra o desenvolvimento de mode-los associativos como o coopera-tivismo, por exemplo.

Então, é comum as elites intelec-tuais e governantes importarem idéi-as e modelos bem sucedidos em ou-

tros países (com outras culturas e ou-tros níveis de desenvolvimento sócio-econômico e tecnológico) e tentaremtransplantá-los para a nossa realida-de, “de cima para baixo”, o que, viade regra, termina em insucesso, comofoi o caso dos distritos industriaisbaianos.

Atualmente, a tendência que seregistra na política de fomento à in-dustrialização da Bahia é a de priva-tizar os distritos existentes, passan-do o seu controle e administração paraos municípios e as empresas usuárias,o que não tem conseguido muito su-cesso, por causa de problemas de na-tureza política e da resistência dospróprios usuários, que preferem con-tinuar recebendo o suporte infra-es-trutural gratuito do Estado. Enquan-to isto, os espaços ociosos disponíveissão aproveitados para a locação deempreendimentos captados no mer-cado, no contexto de uma “guerra fis-cal” para a atração de investimentosque hoje mobiliza (de forma suicida)a maioria dos estados brasileiros.

Em síntese a política de industria-lização contribuiu para a concentra-ção das atividades industriais naRMS (58,01% das empresas em 1995),sendo de ressaltar que, também em1995, 65,26% das indústrias baianasestavam localizadas fora dos distri-tos industriais.

Segundo a SEI/SEPLANTEC, em1995, a indústria participava com 31%do PIB estadual. Contudo, esta parti-cipação estava basicamente concen-trada em apenas um setor, o petroquí-mico, com cerca de 49 empresas, querespondia, naquele ano por 50,5% doPIB industrial, o que atesta, na práti-ca, que a Bahia não é um Estado in-

dustrializado, no sentido abrangentedo termo, reunindo, de um lado, umconjunto reduzido de empresas pro-dutoras de bens intermediários querespondem majoritariamente pelo va-lor bruto da produção industrial e, dooutro, uma miríade de micro- e peque-nas empresas sem expressão econô-mica. Estes números são reforçadospelo IBGE, em 1997, quando informaque a indústria baiana respondia porapenas 5,9% dos empregos (em SãoPaulo este número era 19,5% , no mes-mo período), cabendo a agricultura ocu-par 44,5% da população empregada(este número em São Paulo era 7,1%).

Outros dois elementos contribuí-ram para o artificialismo da políticade localização via a construção dedistritos industriais na Bahia: primei-ro, a ausência de empresários locaiscom vocação industrial, notadamenteaqueles capazes de inovar e de em-preender e, segundo, a fragilidade domercado consumidor na região

Um conjunto de fatores de nature-za histórica, antropológica, sociológi-ca e econômica explica a ocorrênciadesses dois fenômenos que são decor-rentes, em última instância, da pobre-za secular e endêmica que domina deforma majoritária a população baiana.

Considera-se aqui que a pobrezacompreende as diversas formas deexclusão social dos benefícios da ati-vidade econômica, seja diretamente,no uso de bens e de serviços ou, indi-retamente, no acesso aos benefíciosculturais propiciados pela prosperi-dade econômica.

Esta pobreza foi gerada pelomodo de produção escravagista im-posto no processo de exploração co-lonial pelo capitalismo agrário-mer-cantil ibérico que prevaleceu durantequatro séculos da história brasileira.A transição deste regime para o do tra-balho livre ocorreu de forma absolu-tamente perversa, dada a total omis-são do Governo que simplesmenteabandonou os negros libertos à suaprópria sorte, situação esta que per-dura até os dias atuais. Isto gerou umamassa considerável de mão-de-obramarginalizada que veio a constituirparcela considerável da população

A criaçãodos distritos

industriais da Bahiafoi uma decisão bemintencionada, mas

utópica ...�

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rural (em grande parte não assalaria-da, ocupada como agregados e mes-mo como servos das propriedadesagrícolas). Até hoje, um percentualconsiderável da PEA rural baiana re-fere-se à classe dos trabalhadores semrendimentos.

Na cidade, esta população de ne-gros libertos foi absorvida pelas ati-vidades urbanas mais elementares erudimentares, quando não permane-ceu na marginalidade ou na infor-malidade.

O limitado acesso à educação blo-queou a mobilidade social dos negrose implicou na sua maior participaçãonos postos de trabalho menos remu-nerados da sociedade civil. É de sedestacar que, segundo dados do IBGE,80% da população baiana são de ori-gem africana (pretos e pardos).

O processo de acumulação capi-talista, por seu turno, ao transitar doestágio agrário-mercantil para o in-dustrial, não abriu espaços para aabsorção de mão-de-obra mais bemremunerada, criando um contingentecada vez maior de excluídos.

Por seu turno, a lavagem cerebralpromovida no negro por uma escravi-dão brutal não lhe quebrou a culturaconservada e transmitida de pai parafilho através da história oral. Mas ofez acostumar-se com o pouco e a acei-tar mansamente a pobreza como sen-do uma condição (um destino, “umasina”) dada por Deus (e aí entra firmea evangelização da Igreja Católica aserviço das classes dominantes).

Em virtude da forma como foi ma-nipulado pelo colonialismo, e de suaprópria herança cultural, o negro nãose inseriu no processo de acumulaçãocapitalista européia, assumindo umalógica econômica própria: a da sobre-

vivência com alegria. É aí que ele des-ponta inovador e empreendedor. Comacesso limitado à educação básica emuito menos à científica e tecnológica,o negro baiano valoriza, da sua heran-ça ancestral, o corpo. E inova e empre-ende na dança, na música, no carna-val, que constituem novos modos deprodução que não obedecem à racio-nalidade anglo-saxônica.

Ademais, a pobreza explica a au-sência de capital, de poupança e derecursos para investimentos. Explicatambém a formação de uma economiainformal que viceja nos circuitos infe-riores das cidades (SANTOS, 1979)onde parte considerável da popula-ção urbana sobrevive. E esclarece oporquê da baixa vocação empresarialbaiana, notadamente para a ativida-de industrial.

Tendo em vista esta pobrezamantida e agravada, desde a escravi-dão, pela forma como se estruturou asociedade baiana e como se expandi-ram as suas cidades, produziu-se umperfil de emprego que limitou as pos-sibilidades da formação de uma clas-se média urbana, que respondesse porum mercado suficiente para estimu-lar a constituição de uma indústriaregional significativa.

Conseqüentemente, a oferta depostos de trabalho na economia baia-na permaneceu dependendente de ummercado local baseado na expansãodo setor terciário, com empregos dire-tos no comércio e empregos indiretosnas diversas formas de prestação deserviços a empresas e pessoas por pro-fissionais autônomos, além do empre-go público.

Restringindo-se a absorção depessoal às atividades comerciais e deserviços, deslocou-se a pressão porempregos, decorrente do crescimentoda população urbana em Salvador,para o setor público, amparada pelopaternalismo político. Formou-se, as-sim, um mercado de trabalho cuja ofer-ta de empregos formais seria sempremuito inferior à procura e em que,mesmo com um sistema educacionalinsuficiente para o atendimento dapopulação, houve sempre um consi-derável número de pessoas com esco-

laridade média e superior obrigadasa emigrar para encontrar trabalho. ABahia ficou caracterizada como umaregião de emigração, onde o trabalhoera remunerado sob a pressão de umnumeroso exército de reserva de tra-balhadores, e de uma oferta de empre-go, que não oferecia espaços para otrabalho técnico.

Na Bahia a remuneração do tra-balho nunca esteve vinculada a au-mentos de produtividade e , portanto,não se produziram estímulos parauma profissionalização do trabalho,equivalente ao que ocorreu na regiãoSudeste.Assim, tanto o tipo de empre-go oferecido quanto a falta de especi-alização da força de trabalho, contri-buíram para manter a remuneraçãodos trabalhadores baianos em valo-res consideravelmente inferiores aosdos seus congêneres das cidadesmais industrializadas do país.

Esta situação não se alterou como passar dos anos.A Bahia, segundoo IBGE, possuía, em 1998, 39% dapopulação no campo (o maior contin-gente de população rural do país).Talvez por isto mesmo os dados doIBGE/PNAD demonstram que em1995 a Bahia contabilizava 4,6 mi-lhões de integrantes da PIA sem qual-quer rendimento e mais 3,7 milhõescom rendimento mensal até 2 salári-os mínimos, totalizando 72,6% daspessoas com 10 anos e mais, eviden-ciando a existência, no Estado, de ummercado consumidor de grande am-plitude numérica e de baixíssima ca-pacidade de consumo, com repercus-sões altamente negativas no campo dasaúde, da educação, da habitação eda qualificação profissional de umaforça de trabalho, que se mantém àmargem dos benefícios da aberturados mercados por falta de poder aqui-sitivo, em condições precárias de aten-dimento por parte dos serviços públi-cos, na fronteira entre a pobreza e amiséria absoluta, no campo e na peri-feria das grandes cidades.

Isto explica a inexistência de ummercado interno que ofereça escala esustentabilidade a um parque indus-trial produtor de bens finais e porqueo Governo do Estado, no propósito de

O limitadoacesso à educação

bloqueou amobilidade social

dos negros ...�

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industrializar a Bahia, foi buscar emoutras regiões (notadamente no Su-deste e no Sul do País) o capital hu-mano e tecnológico de que não dispu-nha internamente.

Só que o processo não obteve êxitopelo seu próprio artificialismo, ao ten-tar, via subsídios fiscais e financeiros,criar um capitalismo “sem riscos”.

Por fim, no que se refere ao desen-volvimento local, a política de locali-zação industrial via a construção dosdistritos industriais também não pro-duziu os resultados esperados.

Os programas de desenvolvimen-to local, realizados na Bahia por or-ganismos públicos vinculados aosgovernos federal e estadual, aindanão alcançaram a eficácia almejada..Isto decorre de um conjunto de fato-res relacionados com a inexpressivi-dade política dos municípios na for-mulação das políticas de fomento, nasquais a participação destes, sobretu-do na Bahia e no Nordeste, é quasesempre passiva.

Os municípios baianos depen-dem dos recursos federais e estadu-ais para a realização de programas eprojetos em seus respectivos territóri-os visto que a participação dos seusrecursos próprios no orçamento mu-nicipal não ultrapassa a 5% do mon-tante da receita orçamentária. O res-tante provém de transferências dasoutras instâncias de poder. Com isto,a sociedade local perde as condiçõesautônomas de organizar-se e estabe-lece-se uma relação de dependência(clientelismo) aos outros poderes queditam as condições e a intensidade emque se desenvolverá uma cidade e oseu território. Existem numerososexemplos de cidades “postas de cas-tigo” (sem receber recursos para in-vestimento, ou excluídas de projetosde fomento) pelo fato de o governomunicipal se encontrar em oposiçãoao governo estadual ou federal.

Nesta circunstância, os sistemaslocais atrofiam-se e a cidade pára notempo, regredindo às vezes.

O mais grave desse sistema dedistribuição de recursos públicos éque as lideranças locais perdem a ex-pressão perante as suas comunida-

des e, conseqüentemente, as condi-ções de atuar como elementos catali-sadores de um processo de desenvol-vimento local.

Mais ainda, o mecanismo endemi-camente corrupto, engendrado poreste sistema sociopolítico faz com queproliferem “lideranças” oportunistase pouco comprometidas com a cidadee o município. Atualmente, segundonoticia a imprensa, 175 dos 415 pre-feitos baianos estão respondendo aprocesso por malversação de recursospúblicos.

Entre outros fatores que respon-dem pelas limitações do desenvolvi-mento local na Bahia, merece desta-que a rarefação espacial-urbana doEstado e o baixo grau de integraçãoentre as cidades que exercem influên-cia urbana, como as que foram exami-nadas (Feira de Santana, Ilhéus, Vitó-ria da Conquista, Juazeiro e Jequié) eque, por sua importância no contextoestadual, foram contempladas com osprimeiros distritos industriais do Es-tado. Essas cidades e outras tambémimportantes como Barreiras (no oesteda Bahia, capitaneando uma podero-sa fronteira agrícola) Itabuna (que for-ma, por conurbação, um pólo comIlhéus), Alagoinhas, Eunapolis e Tei-xeira de Freitas, não interagem merca-dologicamente por estarem separadaspor distâncias consideráveis que po-dem, em determinados casos, superara barreira dos mil quilômetros, servi-das por uma péssima infra-estruturade transporte.

Ademais elas “polarizam” muni-cípios menores e ainda mais pobresque sobrecarregam suas infra-estru-turas de suporte social (educação,saúde, segurança pública, etc.). Se-gundo a Secretaria de Planejamentodo Estado – SEPLANTEC, em 1997, aBahia possuía 100 municípios com apopulação na faixa da indigência.

As cidades de influência urbanasão, por seu turno, de pequena expres-são demográfica. Apenas Feira deSantana, no interior da Bahia, possuiuma população municipal (urbana erural) superior a 400 mil habitantesem 1997, segundo o IBGE. As demais,considerando-se toda a área munici-

pal, situavam-se, neste mesmo ano, emtorno da média de 166 mil habitantes(urbanos e rurais). Considerando o to-tal dos municípios do Estado, 73%possuíam menos de 20 mil habitantes.

Segundo o IBGE , no Censo Demo-gráfico de 2000, 115 dos 415 municí-pios baianos perderam população.Isto deve-se ao êxodo provocado pe-las secas do período, mas, também, àredução da taxa de fecundidade, quecaiu de 6,23 filhos por mulher, em1980, para 2,99 filhos por mulher, em1996.

A população desses municípiosmigra normalmente para a RegiãoMetropolitana do Salvador que res-pondia, em 1997, por 22% da popula-ção do Estado.

Não é apenas a população pobreque migra do interior para ampliar amiséria na periferia da capital. Umfenômeno mais grave foi identificadoem pesquisa realizada pelo IPA – Ins-tituto de Pesquisas Aplicadas daUNIFACS, entre 1994 e 1999 (diagnós-ticos sócio-econômicos de 91 municí-pios baianos), e dirigida pelo autordeste trabalho. Trata-se da exportaçãode capital humano qualificado.

Na maioria das cidades estuda-das, as elites migram para Salvadorou outras capitais, deixando em seulugar capatazes, feitores e agregadosque, além de não possuírem rendapara investir, também não possueminiciativa, pouco contribuindo para oprocesso de desenvolvimento local.Em outros casos, ficam os pais con-servadores que envelhecem à frentedos negócios da família e migram osjovens que vão “estudar na capital” ejamais voltam, visto que a terra natal

Não é apenasa população pobre quemigra do interior para

ampliar a misériana periferia da

capital ...�

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não lhes oferece o padrão de confortourbano a que se acostumaram em cen-tros maiores, para não falar em ren-da, ocupação e status.

Nessas duas situações, os espa-ços da cidade são ocupados pela po-pulação que migra do campo cujopotencial produtivo é baixo, em virtu-de dos níveis precários de educação ede renda. Assim, a cidade exporta ca-pital humano qualificado e absorvecapital humano despreparado, caren-te de recursos e que funciona comouma pesada sobrecarga em relação àinfra-estrutura urbana e social exis-tente, que recebe uma intensa deman-da de serviços, sem a contrapartidada geração de recursos para atendê-la. A cidade perde também a capaci-dade de modernizar-se, de inovar ede empreender novas atividades queampliem e dinamizem o seu sistemalocal produtivo.

A promoção do desenvolvimentoindustrial via “distritos” não pode-ria ter sucesso nesse contexto e atémesmo por não considerar a estrutu-ra de funcionamento dos sistemas lo-cais produtivos eminentemente agro-pastoris.

Assim, de um planejamento quepossuía uma certa lógica, apesar dedescolado da realidade, partiu-se paraações pontuais, não planejadas, e bemao sabor da concepção neoliberal vi-gente. Em decorrência disto, a Bahiaencerrou o século XX sem ter conse-guido promover o seu desenvolvimen-to regional e ingressa no novo séculosem grandes perspectivas de consegui-lo em curto prazo, tão grande é o seupassivo social e tão reduzidas as suasbases econômicas para empreender astransformações que são requeridas in-ternamente e nas relações com as de-mais regiões brasileiras.

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Nome do Doutorando Título da Pesquisa Orientador

1. Adary OliveiraO Pólo Petroquímico de Camaçari: História, problemas eesperanças

Prof. Dr. José Luiz Luzón

2. Anailde Pereira AlmeidaOs trânsitos sociais da capoeira na formação sóciocultural daBahia

Prof Dr. Fernando Pedrão

3. Antônio Virgílio Sobrinho O espaço geográfico da Bahia através do Jornalismo Prof. Dr. Sylvio Bandeira

4. Denise Ribeiro de AlmeidaEnsino superior privado – Análise do seu papel no processode desenvolvimento regional da Bahia

Prof Dr. Fernando Pedrão

5. Fernando Antônio G. AlcoforadoA evolução da economia brasileira e seus desequilíbriosregionais

Prof. Dr. Sylvio Bandeira

6. Fernando Barreto Nunes Perfil da demanda de energia elétrica no Estado da Bahia Prof Dr. Fernando Pedrão

7. Helmuth MullerClima, desenvolvimento e meio ambiente – o caso deSalvador

Prof. Dr. Javier Martín

8. Lúcia Maria Aquino de QueirozAnálise da evolução do sistema institucional de turismo naBahia

Prof. Dr. Sylvio Bandeira

9. Maria das Graças Sodré Fraga MaiaA integração universidade e empresa como fator dedesenvolvimento regional: um estudo da RegiãoMetropolitana de Salvador

Prof. Dr. José Luiz Luzón

10. Maria del Carmen M. L. PrataPrograma Banco do Nordeste – PNUD. Resultados doprocesso de capacitação de micro e pequenosempreendedores em Salvador-Bahia

Prof. Dr. José Luiz Luzón

11. Osmar G. SepúlvedaIndustrialização da Bahia e localização espacial planejada:uma avaliação do papel dos distritos industriais

Prof. Dr. Sylvio Bandeira

12. Rosaly Conrado LoulaA política nacional de educação ambiental e algumasexperiências em Salvador

Prof Dr. Fernando Pedrão

13. Terezinha Lúcia G. RiosInstrumentos de gestão do uso e ocupação do solo no âmbitodo planejamento urbano nas cidades do Rio de Janeiro e PortoAlegre

Prof. Dr. Sylvio Bandeira

UNIFACS / UNIVERSIDADE DE BARCELONADCSA 2

DOUTORADO EMPLANEJAMENTO

TERRITORIAL EDESENVOLVIMENTO

REGIONALPROJETOS DEPESQUISA EM

ELABORAÇÃO PELOCORPO DISCENTE

2000

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LA COMPLEJIDAD DEL

CONCEPTO

l concepto de desarrollo sociales complejo, pues sus causas y conse-cuencias afectan a muy diversas esfe-ras del ser humano. Es económico, yaque se precisa generar excedentespara lograr una acumulación de ca-pital; es social en la medida que de-terminadas formas de relación entrelos seres humanos facilitan la vidacotidiana y ofrecen formas de defen-sa frente a la adversidad; es políticopues el buen gobierno es la forma deejercer el poder en el modo más justoen beneficio de la mayoría; es cultu-ral, en la medida que el conocimientopermite avanzar en el proceso de de-sarrollo.

Estos distintos aspectos de la cues-tión se interrelacionan entre sí, incre-mentando la complejidad del concep-to. Las variables sufren mutaciones encada momento histórico e interactuandialécticamente, por lo que es muydifícil elaborar una teoría integral deldesarrollo o simplemente una teoríaaproximada y por este motivo es casiimposible definir una adecuada inge-niería del desarrollo. Aunque algunos

EL CONCEPTO DE DESARROLLO

EN ARNOLD J. TOYNBEE

José Luiz LuzónDoutor em geografia e Professor Titular da Universi-dade de Barcelona. Professor visitante do Mestradode Análise Regional da Unifacs.

Como seres humanos, nosotros estamos dotados de libertad para elegir, y no pode-mos desvincularnos de esa responsabilidad, dejándola sobre las espaldas de Dios o dela naturaleza. Nosotros debemos asumirla sobre nosotros mismos. Esa es nuestraresponsabilidad. Arnold J. Toynbee

autores teóricos han incidido en estecampo y a pesar de que la interven-ción sobre el desarrollo tenga ya dé-cadas de experiencia, los resultadoson generalmente insatisfactorios.Muchas veces se perciben los avan-ces de las sociedades como algo dis-tinto en cada caso y las mismas estra-tegias aplicadas en lugares diferen-tes no proporcionan los mismos re-sultados.

Uno de los graves problemas antelos que nos enfrentamos, es la dificul-tad de definir las variables más rele-vantes y expresarlas en forma deindicadores. Se han realizado múlti-ples esfuerzos en esta línea y en oca-siones, caso del IDH, se ha logradoun cierto consenso. Pero cualquieranalista inteligente de los procesos dedesarrollo social, aún recurriendo aestos indicadores podría hacer unacrítica de los mismos basándose ensu escaso valor absoluto. Tal vez poreste motivo, a pesar de existir unaaceptación bastante generalizada deque desarrollo es algo más que creci-miento económico y distribución dela renta, muchos de los análisis seconcentran en los aspectos econó-micos y son realizados por economis-tas. Los servicios de estudios de las

agencias internacionales, nacionaleso regionales de desarrollo, general-mente cubren sus cuadros con eco-nomistas porque ellos dominan elanálisis económico, el cual cuentacon suficiente número de variablesaceptadas globalmente, como paraproducir resultados aparentementesatisfactorios. El desarrollo económi-co puede expresarse en términos nu-méricos y esto produce una sensa-ción de confort para quien los elabo-ra, los utiliza o simplemente los con-sulta. En ocasiones se acostumbra acompletar el análisis considerandootras variables sectoriales no esen-cialmente económicas, referidas a lademografía, a la salud, a la educa-ción y a las infraestructuras y de estamanera se produce la impresión deun estudio holístico.

Las agencias multilaterales dedesarrollo deseosas de incluir en todasu integridad la problemática del de-sarrollo, están realizando intentospara sofisticar el método de análisis,dirigiendo los esfuerzos principaleshacia la elaboración de nuevos indi-cadores de contenido social o hacialos indicadores sintéticos. De estamanera el problema se puede plan-tear en forma de matriz de datos, con

E

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50 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

imputes y outputs. Las matrices per-miten ordenar los objetivos, elaborarescenarios y cronogramas de cumpli-miento, de manera que se puede ha-cer un seguimiento del proceso en sutotalidad, introduciendo las correccio-nes coyunturales que sean necesa-rias. Un ejemplo es el método pro-puesto en el Marco Integral de Desa-rrollo del Banco Mundial(1), en el cualse definen un gran número de varia-bles sociales y de los indicadores queles corresponden. Con estas metodo-logías de procedimiento, se puedenrealizar prognosis de situación, en elcaso de cumplimiento de las hipóte-sis estableciéndose una similitud en-tre el análisis social y el análisis eco-nómico. Si sofisticamos el método conanálisis factoriales por ordenador yrecurrimos a los Sistemas de Informa-ción Geográfica, para determinar losefectos sobre la ordenación del terri-torio, en opinión de los defensores deeste procedimiento, habremos llega-do a una forma casi perfecta de plani-ficación del desarrollo. Este tipo dematrices han sido impulsadas y am-pliamente difundidas desde la Cum-bre Mundial de Copenhague para elDesarrollo Social de 1996 y la elabo-ración del Marco Integral de Desarro-llo del Banco Mundial en 1999 y sedice suponen un nuevo paso en laintervención sobre el desarrollo.

Yo creo que esta forma de afron-tar el problema es insatisfactoria. Lasmatrices integrales preconizadas porlos ingenieros del desarrollo como suinstrumento esencial de trabajo, pre-sentan varias graves dificultades in-herentes a la naturaleza de los elemen-tos que las componen. Aunque mejo-remos el proceso de elaboración y de-finición de indicadores y de selecciónde las variables, siempre nos encon-traremos con la mala calidad de losdatos numéricos de los cuales vamosa nutrir a nuestra matriz. El mejormétodo estadístico y los medioscibernéticos más modernos, no sirvenpara corregir las desviaciones produ-cidas en la recogida de datos. Desdelos ajustes deformadores que realizanlos agentes estadísticos hasta la difi-cultad de formular, responder e inter-

pretar los cuestionarios, hay un sinfin de escollos que difícilmente per-miten generar un banco de datos decierto nivel de confianza. Por otra par-te muchas de las reacciones, emocio-nes, decisiones del ser humano o delas sociedades en su conjunto, tanimportantes como la autoestima o lafelicidad, difícilmente son suscepti-bles de análisis numérico. El procesode desarrollo está sometido a tal can-tidad de factores que es imposible pre-decir su futuro, lo cual no significaque éste dependa del puro azar, puessu evolución es susceptible de inter-pretación, sólo que a posteriori. Dehecho tal vez nos encontramos anteun buen ejemplo de aplicación de lateoría del caos, según la cual el futurono podemos conocerlo, aunque sea-mos capaces de interpretar todas lasinteracciones. En este caso las certi-dumbres son sustituidas por las pro-babilidades.

En la reciente historia ya hemosconocido experiencias similares deaplicación de matrices a procesos muycompilados de planificación y estasconcluyeron en fracasos estrepitosos,por ejemplo el gosplan soviético. Unode los problemas es que el instru-mente suele convertirse en sí mismaen objetivo y el esfuerzo de muchosfuncionarios y políticos es el de ajus-tar la contabilidad de la matriz, paramostrar una buena imagen hacia elinterior o hacia el exterior. No es yaúnicamente las dificultades intrínse-cas al manejo estadístico, sino inclu-sive la manipulación de los datos paramostrar un elevado nivel de cumpli-miento de los objetivos(2) y obtener deeste modo la recompensa, en forma de

ayudas y subsidios para el desarro-llo, que indefectiblemente manejaránquienes han procesado en forma in-debida los datos. La respuesta a estaobjeción por parte de los defensoresde las matrices es incluir en ellas as-pectos tales como la lucha contra lacorrupción y otros aspectos difícil-mente cuantificables, aunque se recu-rra a técnicas cuantitativas muy refi-nadas.

Estas técnicas de planificaciónestructurada también mostraron suslimitaciones por la imposibilidad decuantificar las dimensiones cualitati-vas de la estrategia de desarrollo. Porotra parte es muy difícil resolver lasinterferencias entre los diversos cen-tros de poder que intervienen comoagentes del desarrollo, pues todosellos compiten entre sí para obtenermayores parcelas de poder. Lo mismosucede en cuanto a la eficacia de lasinstituciones o agencias de desarro-llo, locales nacionales o internaciona-les, más preocupadas por reproducir-se y mantener su propio statu quo quepor servir a los teóricos beneficiariosde la planificación. Tal como señala-ra Michael Bruno

Las cuestiones de centralizacióny descentralización en la planifica-ción del desarrollo, el problema dedeterminar la zona de controlefectivo del gobierno, así como lascuestiones sociales y políticasescapan a menudo del formato delmodelo de planificación estructu-rada(3)

Ahora buen, la principal objeciónque debe plantearse ante esta estrate-gia es su acientificidad. Si bien el mé-

(1) El Marco Integral de Desarrollo fue propuesto por el Presidente del Banco Mundial,James D. Wolfensohn en enero de 1999 al Directorio Ejecutivo para su discusión. Enesencia el documento defendía la necesidad de integrar plenamente el desarrollo socialy asignaba una prioridad absoluta a la lucha contra la pobreza. Proponía un instrumentometodológico de intervención: la matriz integral de cada país, donde figurarían todas lasvariables esenciales, los objetivos, metas y cronograma, así como las instituciones queintervendrían en el proceso de erradicación de la pobreza.

(2) La manipulación de los datos, los errores en su procesamiento, no son exclusivos de lospaíses subdesarrollados. Tenemos el reciente ejemplo de las elecciones a la presidenciade los Estados Unidos, donde la elección de Bush se llevó a cabo en un marco deabsoluta desconfíanza y de escándalo nacional e internacional.

(3) BRUNO Michael, en el comentario a la aportación de Jan Tinbergen en la obra editadapor MAIER, Gerald M. y DUDLEY, Seers,(1986) Pioneros del Desarrollo., Madrid. Tecnos.Pg. 332.

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todo de análisis económico ha adqui-rido ciertas cotas de nivel científico,lo que permite manejar con modera-do éxito algunas de las macrova-riables de la economía, no sucede lomismo con los sistemas sociales, enlos cuales por más indefinidos domi-na la casuística y no pueden, en miopinión, ser sometidos a un métodocientífico y en consecuencia es impo-sible plantear ecuaciones, si no sabe-mos cuáles son las incógnitas y cuá-les son las relaciones entre los diver-sos términos de la fórmula. No pode-mos por tanto formular hipótesis quenos permitan intervenir en la resolu-ción del problema y cualquier prog-nosis de escenarios, o definición deobjetivos complejos con un crono-grama de consecución, deviene enimposible.

LA INTERPRETACIÓN DEL

DESARROLLO. ¿DOMINIO

EXCLUSIVO DE LOS

ECONOMISTAS?

Yo creo que una buena parte deesta preocupación por los indicadores,las matrices y la planificación, respon-de al hecho de que el estudio del de-sarrollo ha correspondido casi exclu-sivamente a los economistas. Ellos sehan preocupado de analizar el porqué del atraso o adelanto, de la rique-za o la pobreza de las naciones. Fre-cuentemente han abstraído la reali-dad hacia el campo de la economíapolítica y en ella han tratado de en-contrar soluciones al subdesarrollo.Sólo ocasionalmente han mostradointerés por variables no estrictamenteeconómicas. Raramente han tomadoen consideración los aspectos institu-cionales, legales, políticos o cultura-les del proceso de desarrollo.

Tomemos un ejemplo. En 1984 elBanco Mundial solicitó a diez desta-cados economistas, que habían hechosustanciales aportaciones al estudiodel desarrollo, que manifestaran enqué estaban de acuerdo y en quédisentían de sus propias teorías y te-sis de los años cincuenta y sesenta. El

resultado fue una interesante obra ti-tulada Pioneros del Desarrollo(4). Losbrillantes intelectuales conovocadoseran: P. T. Bauer, Colin Clark, Albert.O. Hirschman, Arthur Lewis, GunnarMyrdal, Raúl Prebisch, Paul N. Rosen-stein-Rodan, W.W. Rostow, H.W.Singer y Jan Tinbergen. Todos elloseconomistas de elite del período for-mativo de los estudios de desarrollo;entre ellos había profesores de Har-vard, asesores del Banco Mundial,Ministros de Planificación y Finan-zas, dos premios Nobel, profesoresdel MIT, un Presidente de la CEPAL yhasta dos títulos de la Corona de SuMajestad Británica. En gran parte fue-ron los promotores de las ideas queimpulsaron la planificación y la co-operación para el desarrollo de lasdécadas de los sesenta y los setentaen el mundo occidental, tal como sellevó a la práctica desde los paísesmás ricos, desde las Naciones Unidasy desde las Instituciones de BrettonWoods. En sus textos se refleja clara-mente su preocupación por la econo-mía, como factor que nos ayuda a ex-plicar el fenómeno del desarrollo, quepara ellos es esencialmente el aumen-to de la productividad. Sin embargopodemos encontrar textos, que mues-tran la preocupación de los economis-tas por entrar en dominios ajenos alanálisis económico. Con esta finali-dad he seleccionado a tres de ellos:Myrdal, Tinnerman y Bauer.

Gunnar Myrdal tenía un curricu-lum impresionante: Senador en elparlamento sueco, Ministro de Comer-cio de Suecia, Secretario Ejecutivo dela Comisión Económica de las Nacio-nes Unidas para Europa. En 1974 fue

laureado con el Premio Nobel de Eco-nomía. Entre sus numerosas obrasmostró ser no sólo un pionero del pe-ríodo formativo, sino un precursor delos paradigmas futuros. Sus estudiosestán impregnados de humanismoque va mucho más allá de la simpleeconomía política. Ya en Asian Dra-ma(5) incluyó capítulos relativos a lasinstituciones, a la corrupción, a la sa-nidad y educación y a la pobreza ysus formas de atajarla. Estos temasvolvieron a ser abordados en Challen-ge of world poverty en 1970(6) en formatodavía más específica. Pero Myrdalfue un caso muy singular, pues hastaél mismo reconocía en 1984 que Lle-gué a ser el primer economista en escribiracerca del «estado de carácter social»(7)

En cuanto al debate entre factoresexógenos y endógenos del crecimien-to, su pensamiento evolucionó a lolargo de su vida; si en los sesenta creíaen la teoría del desarrollo, según lacual los países atrasados y pobressolamente superarían su portergaciónmediante la ayuda internacional, unaespecie de Plan Marshall a escala mun-dial; pero en 1984 se mostraba muchomás cauto y defendía la necesidad dereformas radicales internas en los paí-ses subdesarrollados, llegando a for-mular críticas bien amargas:

Los países menos adelantadoshan convertido, creo, las deman-das de un nuevo orden económicomundial en una especie de pretex-to para no reformar la manera enque son gobernados.(8)

Jan Tinbergen tenía un curricu-lum no menos brillante que el deMyrdal, si bien estuvo más vinculadoal mundo académico ejerciendo como

(4) MAIER, Gerald M. y DUDLEY, Seers (1986) Op. Cit.

(5) MYRDAL, Gunnar (1968) Asian Drama: an Inquiry into de Poverty of Nations. 3 vols.New York, Pantheon. Existe una versión abreviada a cargo de Seth S. King para laTwentieth Century Fund, traducida al español y publicada en 1974 por la editorial Ariel deBarcelona

(6) MYRDAL, Gunnar (1970) The Challenge of World Poverty: A World Antovoverty Programin Outline. New York: Pantheon.

(7) MYRDAL, Gunnar (1984) La desigualdad internacional y la ayuda extranjera en retros-pectiva en MAIER, Gerald M. y DUDLEY, Seers (1986) Op. Cit. Pg. 159

(8) MYRDAL, Gunnar (1984), Pg. 169. La crítica de Myrdal era bien amarga, pues veinteaños atrás se había mostrado decidido partidario de la ayuda al desarrollo desde lospaíses industrializados, mostrándose abierto partidario de la denomianda Teoría delDesarrollo, en su aplicación a los países subdesarrollados.

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profesor de planificación del desarro-llo en la Universidad Erasmo, enRotterdam entre 1933 y 1973. Dirigióla Oficina de Planificación Central deLa Haya y en 1969 compartió el pri-mer Nobel en Ciencias Económicas.Su especialización en el análisis eco-nómico lo dirigió hacia la econo-metría, siendo uno de los fundadoresde la Sociedad Econométrica. La es-cuela de planificación que contribu-yó a crear, defendía consistía en com-binar la teoría económica con conte-nidos empíricos aplicados. El cuerpoprincipal del plan debería compren-der objetivos cuantitativos y basarseen un conjunto de ecuaciones. Con-tradictoriamente con este método, JanTinbergen manifiesta en la obra queestoy comentando, inquietudes quehacen referencia más al sentido co-mún que a la econometría. Pero cuan-do el economista abandona el análi-sis económico puro entra en un cam-po de banalidades referentes a con-ceptos tales como educación y cultu-ra. De la educación, por ejemplo, nosdice que es preciso invertir mucho paratener resultados a medio plazo y quecuanto mayor es el dominio tecnológi-co que se desea obtener, mayor el pla-zo formativo. De la cultura no pareceentender gran cosa, pues confundeideales religiosos con la base culturalreligiosa de las estructuras sociales,que son cosas muy distintas(9); ademásadvierte de obviedades tales como queel respeto a las culturas no debe llegaral punto de tolerar violaciones de losderechos humanos. Sin embargo en uncurioso intervalo filosófico, el econo-mista se pregunta sobre los aspectosno económicos que inciden en el desa-rrollo, aportando una lista, que él re-conoce como incompleta, en la quenombra el clima, las instituciones, elestado de la tecnología y la cultura sinextenderse en ninguno de estos temascruciales. Se refiere, eso sí, a Toynbee ysu teoría del Challenge and Resposte,pero tan sólo en lo referente al caso delos esquimales, que no se habrían de-sarrollado porque la incitación natu-ral del medio ártico era excesiva y so-lamente ppsibilitaba la supervivenciay reproducción.

Bauer era un polemista nato quese enfrentó abiertamente a las tesis deMyrdal. Húngaro, nacido en Buda-pest en 1915. Su vida académica estu-vo vinculada a la Escuela de Econo-mía de Londres, donde fue profesordesde 1960 hasta 1983. En este últi-mo año recibió la dignidad de Lord.Conceptualmente combatió vigorosa-mente la tesis de la teoría del desarro-llo, que por entonces defendía Myrdaly otros autores cercanos al socialis-mo. Liberal hasta la provocación nególa posibilidad de establecer uan teo-ría del desarrollo. Supo diferenciar elconcepto de progreso material del de-sarrollo, siendo el primero, en su opi-nión, apenas un aspecto del segun-do; el análisis económico serviría paraintrepretar el progrsso material, perono el desarrollo. La encendida retóri-ca de Bauer mostró que no era insen-sible a la consideración de los elemen-tos no económicos del desarrollo, perocriticó a Myrdal que en su deseo deconsiderarlos en todo su valor, olvi-dara su papel de economista y diva-gara en una análisis económico muypoco ortodoxo. De hecho Bauer acep-taba la necesidad de transformacio-nes institucionales profundas, perodudaba sobre la forma de afrontar elproblema de las diferencias cultura-les. Así, por ejemplo, en el caso de In-dia destacaba el fuerte peso de las di-ferencias étnicas y linguïsticas, de losvalores culturales vinculados a la ren-ta, riqueza y rango, ls conducta y lascostumbres, la sociedad de castas etc.Se mostró heterodoxo y brillantemen-te reaccionario contra lo que se consi-deraba progrsista en la época: la pla-nificación central. En su ardor, creoque Bauer fue demasiado lejos y quesus evidencias empíricas tenían tanescaso fundamento como las de sus

contrarios de las tesis de la teoría dela dependencia. Pero fue muy lúcidocuando percibió que el problema deldesarrollo debía ser analizado desdela cooperación entre disciplinas:

En el estudio de las economíassubdesarrolladas puede haber unlugar para la cooperación interdis-ciplinaria, especialmente entre losantropólogos, economistas e his-toriadores. Mediante tal coopera-ción pueden estudiarse de manerafecunda situaciones y fases dedesarrollo hasta ahora compren-didas de manera imperfecta.(10)

El propio Bauer en su reflexiónsobre el tema crucial de las variables,auqnue salía en defensa del análisiseconómico que consideraba esencial,e incluso llegaba a denominar a laEconomía la reina de las ciencias so-ciales, reconocía la dificultad de inte-grar en sus esquemas, las variablesmás cualitativas y que en sus días, ycreo que tampoco ahora, no eran sus-ceptibles de tratamiento numérico.Citaba explícitamente las siguientes:aptitudes y actitudes humanas, insti-tuciones, costumbres sociales, com-promisos políticos, acceso a los con-tactos externos, posesión de recursosnaturales y acceso a ellos. Se refería aun ejemplo significativo: en ciertospaíses africanos la posesión de deter-minados animales era más razón deprestigio que de beneficio económico;sin embargo, razonaba, también en lospaíses industrializados se tiende aposeer animales de los que no se va aobtener provecho económico, talescomo caballos o mascotas, y el dinerogastado en comprarlos y mantener-los es muy elevado. Como cosecuenciade estas limitaciones del análisis eco-nómico decía, que los modelos que seutilizaban en la planificación erán

(9) Me parece muy importante insistir en este punto. Creo que la cultura occidental está muymarcada por la base cultural del cristianismo, en el sentido de que una gran cantidad delas normas de comportamiento, de las relaciones sociales, de los principios básicos enlos que descansa la civilización desde la política a la justicia y hasta la estética, estándirectamente vinculados al cristianismo, sin que esto sigenifique que generalmente sesigan los preceptos de la religión cristina, salvo en los aspectos más formales.

(10) BAUER, P.T. (1971) Dissent on Development-Studies and debates in DevelopmentEconomics. La cita está tomada de la versión española: Crítica de la teoría del desarrolloBarcelona. Ariel 1985, pg. 428

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demasiado simples y no tenían resul-tados en la prognosis cierta(11). Estasopiniones de Bauer sustentan mi hi-pótesis de la imposibilidad de plani-ficar adecuadamente sólo a partir dela Economía.

Podríamos seguir analizandotextos de otros economistas, para lle-gar a la conclusión de que más alládel análisis económico, poco habíanadelantado. Pero si el desarrollo esalgo que afecta a otras esferas del co-nocimiento más allá de la economía,¿dónde están las teorías holísticas queposibilitan su interpretación?. Paraque una teoría tenga valor científico,debe estar sometida a un método cien-tífico y si bien podemos interpretarparcialmente diversos hechos me-diante teorías parciales, con hipóte-sis y tesis particulares, la compren-sión integral del fenómeno y sus con-secuencias, debe ser objeto de una teo-ría general. El análisis económico sir-ve para que conozcamos lo que se hahecho bien o mal, en la economía, yhasta puede decirnos que hay quehacer para evitar caer en los mismoserrores. Sin embargo si consideramosla sociedad como juego de relacionespersonales y de grupo, las institucio-nes políticas, la cultura, el clima o elmedio ambiente, precisamos unaaproximación holística global y en esteterreno no hay aportaciones suficien-tes desde el campo de la economía.

¿Cómo afrontar el problema?. Enprimer lugar hay que asumir que eldesarrollo es un concepto que tal vezno pueda ser objeto de una teoría yesto ya lo han dicho muchos autores,entre ellos algún notable economista;que nos estemos moviendo en un cam-po cercano o propio de la teoría delcaos o que simplemente carecemos de

instrumental científico adecuado,porque el agente del desarrollo es elhombre y su esencia nos es descono-cida. En suma, que estamos interpre-tando un mundo de sombras dentrode una caverna y que no hayamos in-tentado salir al exterior, tal vez porimposibilidad de hacerlo.

En mi opinión uno de los inten-tos más serios de elaborar una tesis,que permita analizar y comprender lanaturaleza del desarrollo, correspon-de al historiador Arnold J. Toynbee.La clasificación rígida y comparti-mentada de nuestras disciplinas aca-démicas, ha dificultado que el cono-cimiento de la obra de Toynbee hayatranscendido más allá del ámbito dela propia Historia. Si bien su teoríadel Challenge and Resposte es conoci-da superficialmente por las personasde cierto nivel cultural, su influenciasobre el análisis del desarrollo, cam-po de los economistas, es más bienescasa.

ARNOLD TOYNBEE,HISTORIADOR DEL DESARROLLO

Nació en Londres el año 1889. Adiferencia de los grandes economis-tas citados, no ocupó grandes cargospúblicos y su trabajo se desarrolló casiestrictamente dentro del ámbito aca-démico. En 1925 aceptó un puesto deprofesor de Historia Internacional enla London School of Economics y lle-gó a ser director del Instituto Real delAsuntos Internacionales. En 1939, entiempos de guerra, se incorporó alMinisterio de Asuntos Exteriores,como director del departamento deinvestigaciones, pero luego retornó ala London School hasta su jubilaciónen 1956. A lo largo de su vida acadé-mica escribió numerosos artículos ylibros, continuando su obra tras suretirada de la docencia. De todas sus

obras él siempre consideró como unade las más importantes su Study ofHistory(12), libro comenzado en 1934 yen el que sentó las bases de su métodode análisis sobre el origen, crecimien-to y colapso de las grandes civiliza-ciones.

El consideraba que el objeto deanálisis debían ser las civilizaciones,en lugar de los Estados. Esto quieredecir que para estudiar la antiguaGrecia, es preciso estudiar el mundohelenístico en su conjunto, desde Gre-cia hasta Roma y los primeros añosdel cristianismo. Igualmente paraanalizar la moderna Gran Bretaña sedebe considerar el mundo cristianooccidental como un todo, desde el fi-nal del período helenístico.

La interpretación más difundidadel método de Toynbee es el procesode incitación y respuesta (Challengeand Resposte) Este proceso significaque la sociedad debe afrontar de tan-to en tanto un reto importante y quedependerá de la respuesta que la so-ciedad ofrezca, que saldrá fortalecidao debilitada en el empeño. Aplicandoeste método a la Historia Universalexplica el auge y caída de las civiliza-ciones utilizando conceptos talescomo el Estado Universal y las Igle-sias. Ahora bien, hay aspectos en elEstudio de la Historia que deben seranalizados y ponderados por aque-llos estudios del desarrollo de las so-ciedades, pues sus reflexiones sobreglobalidad cultural, la naturaleza delcrecimiento de las sociedades y el pa-pel de la tecnología en el desarrollo,entre otros, permiten ayudar a com-prender de forma más diáfana la com-plejidad de estos fenómenos, más alláde lo que permite el simple análisiseconómico.

Su metodología conjuga la com-plejidad, la profundidad analítica yla sencillez. Analizando el procesode origen, vida y cenit o declive de las

... estamosinterpretando un

mundo de sombrasdentro de una

caverna ...�

(11) BAUER, P.T. (1971) op cit. Pgs. 394 y ss.

(12) TOYNBEE, Arnold J. A Study of History. Los tres primeros volúmenes de esta obra sepublicaron en 1933 y los otros en 1939 por parte de la Oxford University Press. En 1955la misma editorial publicó un compendio realizado por D. C. Somervell con la aprobacióndel propio Toynbee. La edición española de este compendio y en la cual me he basado,lleva por título: Estudio de la Historia editado en Madrid por Alianza Editorial, en 1970, conediciones posteriores.

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54 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

civilizaciones. estableció una lista deveintiuna, de las cuales seis habríansurgido de la vida primitiva, mientrasque las otras quince tenían filiaciónconocida. El progreso material, el do-minio de las tecnologías, la acumula-ción de capital tenían en su opiniónuna importancia secundaria para ex-plicar el auge o colapso de las civili-zaciones. Esta tesis planea actual-mente sobre estructuras políticas quetriunfan en lo tecnológico y económi-co, pero que no ofrecen suficiente so-lidez en cuanto a los propias formasde ordenar la vida política y el gobier-no. Creo que es muy relevante la lec-tura de Toynbee, para aproximarnosdesde una perspectiva no economi-cista a la naturaleza del desarrollo, ala globalización y al significado deldesarrollo tecnológico y su relacióncon el desarrollo social.

DE LAS MINORÍAS Y DE LA

NATURALEZA ENDÓGENA DEL

DESARROLLO

Según las conocidas tesis deSchumpeter se define el desarrollocomo el proceso de adopción de inno-vaciones.(13) En la esfera de la econo-mía los actores principales son losempresarios, es decir, la minoría depersonas que aunando profesionali-dad, audacia y prudencia, lograncrear nuevas empresas, introducien-do innovaciones que retroalimentanel crecimiento económico. Estas mino-rías innovadoras arrastran a la so-ciedad en su conjunto, bien sea por lanecesidad de los otros empresariospor mantener posiciones en el merca-do, o bien por consumir los nuevos

productos que se fabrican en las nue-vas empresas. La innovación se con-vierte así en el criterio definidor deldesarrollo.

Por las mismas fechas que Schum-peter escribía sus principales traba-jos, Toynbee reflexionaba desde unaperspectiva cultural sobre las mino-rías innovadoras. Según él, en todasociedad hay un proceso de mimesis,por el cual los individuos intentanadecuar sus modos de vida y su com-portamiento a otros individuos des-tacados que son sus referentes. Esta-blecía una diferenciación entre socie-dades primitivas y civilizaciones. Enlas primeras la mimesis se dirige ha-cia la generación más vieja y hacia losantecesores muertos, en consecuenciason estáticas, conservadoras, escasa-mente creativas, mientras que en lassegundas los referentes son las mino-rías innovadoras y como consecuen-cia las civilizaciones son dinámicas,liberales y creativas. En el universotoynbiano los agentes del cambio sonlas minorías, las elites, las cuales asu-men el riesgo de innovar, como en eluniverso schupenteriano son los em-presarios singulares.

En las sociedades en proceso decivilización, la mimesis se dirigehacia las personalidades creadorasque logran una adhesión porqueson precursores.(14)

Toynbee consideraba que el pro-ceso de desarrollo es la respuestacreativa ante incitaciones diversas. Laincitación juega un papel decisivo ensu interpretación del desarrollo puespuede ser el inicio del cambio. Distin-guía diversas clases de incitaciones:1) La geográfica del contorno duro,ante la cual los hombres podían ren-dirse, pactar o dominar. 2) La del nue-vo suelo que incitaba a los pionerosobligándoles a mudar sus hábitos so-ciales, económicos, políticos y cultu-rales para adaptarse a un mundo di-ferente al de sus orígenes. 3) La de los

golpes adversos que llevan a las so-ciedades a rendirse o a crecerse en laadversidad. 4) La de las presiones, quepueden inhibir la capacidad creativadel ser humano, pero que tambiénpueden obligarle a adoptar estrate-gias de optimización de sus actuacio-nes limitadas por el medio. 5) La delos impedimentos, que puede ayudara buscar vías de escape para dar sali-da al potencial creativo en direccio-nes no ortodoxas o comunes.(15) Anteestas incitaciones, aisladas o entre-mezcladas, los seres humanos y lassociedades reaccionan de formas di-ferente.

La teoría de la incitación tiene suslimitaciones. Pudiera ser que ante unmedio particularmente adverso: loshielos polares, el desierto, o ante gol-pes y presiones excepcionalmenteduras, los individuos debieran dedi-car todo su esfuerzo a la mera super-vivencia y aunque crearan formas deadaptación particularmente ingenio-sas y hábiles, no dispondrían de re-cursos para evolucionar hacia formasmás avanzadas. Inclusive pudierasuceder que la respuesta a la incita-ción fuera tan débil que ni tan siquie-ra pudieran sobrevivir de forma sos-tenible entonces el grupo social des-aparecía o era absorbido por otro gru-po social más poderoso.

Así pues, se podrían identificarlos momentos más creativos, los orí-genes del desarrollo, como las res-puestas a las incitaciones, pero lo fun-damental es la forma en que se va aresponder y esta dependería de unfactor X, de difícil identificación y queconvierte el problema en irresolubleen cuanto a la prognosis se refiere.Además la naturaleza del factor X se-ría profundamente compleja, pues nose trataría de un ente único sino deuna forma determinada de relaciónentre las variables. No basta entoncesde disponer de todos y cada uno delos elementos que se consideran esen-ciales para que haya un proceso de

En la esferade la economía losactores principales

son losempresarios ...�

(13) SCHUMPETER, J. A. (1955) The Theory of Economic Development Cambridge(Massachusets).

(14) TOYNBEE, A. J. (1970) Op cit. , (I, 89).

(15) TOYNBEE, A. J. (1970) Op cit. (I, 144/146).

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desarrollo, sino que estas variablesdeben interactuar entre sí de un modopeculiar y único ante una incitacióndeterminada.(16)

Aunque conozcamos todos losdatos que pueden formularsecientíficamente, no estaremos encondiciones de predecir el resulta-do de la interacción de las fuerzasque estos datos representan. Elfactor desconocido es la reacciónde los actores a la prueba cuandorealmente llegue ésta.(17)

La tesis de la incitación y respues-ta tiene un doble campo de actuación.De una parte las incitaciones exóge-nas, causadas, provocadas, por agen-tes externos, tales como el cambioclimático o por las presiones desde elexterior; pero también hay que consi-derar las incitaciones desde el inte-rior, las que no golpean desde el exte-rior, sino que surgen de dentro, y lasrespuestas victoriosas no adoptan laforma de superación de obstáculosexternos o de triunfo sobre el adver-sario del exterior, sino que se mani-fiestan en una autoarticulación o au-todeterminación interna(18) Las inci-taciones externas servirían para pro-vocar reacciones en el orden interno ymediante una transformación endó-gena adecuada, las sociedades revita-lizarían y encontrarían elementos dedesarrollo sostenido.

El crecimiento significa que lapersonalidad o la civilización encrecimiento tiende a convertirse ensu propio contorno y en su propiaincitación y en su propio campo deacción. En otras palabras, el criteriode crecimiento es el progreso haciala autodeterminación; y el progre-so hacia la autodeterminación esuna fórmula prosaica de describirel milagro por el cual la Vida entraen su Reino.(19)

Otro texto no deja lugar a dudassobre la esencia endógena del desa-rrollo en la concepción toynbyana

La autodeterminación es elcriterio del crecimiento, y si laautodeterminación significa laautoarticulación, al investigar elmodo en que las civilizaciones searticulan en forma progresiva,habremos analizado el proceso porel cual las civilizaciones en desarro-llo crecen realmente.(20)

¿Cómo veía Toynbee el problemade la incitación y autodeterminaciónde su época?. Consideraba que el de-safío y el estímulo ya no provenía dela conquista de nuevos espacios onuevas técnicas. Daba por hecho quela adquisición de las tecnologías eraalgo simple y que en su especializa-ción apenas produciría un desarrollodesequilibrado. El estímulo tampocoparecía provenir de otras sociedadesajenas a la occidental, pues el domi-nio de ésta parecía lo suficientementeexplícito y consistente. Más bien creíaque la incitación estaba entrando enla esfera de la moral, pues la sociedadno evolucionaba armónicamente entodos los diferentes aspectos. Si no seproducía una respuesta adecuadaque permitiera la autodeterminación,la civilización occidental podríacolapsar.

¿EXISTE REALMENTE LA

GLOBALIDAD?

Consideramos al mundo como unúnico sistema en el que los flujos decapital, mercancías e información, cir-culan a mayor rapidez que en ningúnotro momento de la historia univer-sal, tejiendo una red de enlaces quepermiten hablar del sistema mundial.Para muchos autores el mundo actualpuede considerarse heredero directode la revolución industrial inglesa,como ésta lo fue de la cultura helenís-tica. Puede ser cierto en la medidaque las formas de producción y lasleyes que rigen la economía, son res-petadas por igual en casi todo el mun-do; también la tecnología es común,

pues no hay tecnologías alternativasa las que predominan en el mundo.Estadounidenses, europeos, asiáticosy africanos tienen en común el uso deldinero, el principio de libre empresa,la utilización del automóvil y del or-denador; las diferencias son más demagnitud que de modelos. La redmundial de comercio e informaciónha creado un mercado único y lasmedidas de la OMC tienen a que secree una zona de libre cambio a esca-la mundial.

Pero tal como Toynbee advirtie-ra(21) esta unidad no la encontramossi consideramos los planos cultura-les y políticos. En efecto, aunque lasformas culturales que se vinculan almaquinismo y a la cibernética son lasde la civilización occidental, y si bienes cierto que las mercancías y las for-mas de producción del maquinismohan llegado a casi todos los rinconesdel globo, no es menos cierto que sub-sisten civilizaciones claramente dife-renciadas de la occidental, como laárabe, la hindú, la china o la japone-sa. Estas sociedades mantienen susseñas de identidad en esferas tan im-portantes como las relaciones de fa-milia, la sensibilidad estética, el sen-tido de relación hombre - sociedad, lamúsica, la literatura, los hábitos ytabúes alimentarios, la creación artís-tica en general, desde luego la lenguay notablemente, en el caso chino y ja-ponés, su alfabeto. Las señas de iden-tidad de estas civilizaciones son losuficientemente fuertes como plantearproblemas de integración, en uno uotro sentido, cuando sus miembrosdeben compartir espacio con los deotras culturas; este fenómeno puedeapreciarse en el proceso de creaciónde ghetos culturales cada vez mayo-res en el corazón de Europa, comoconsecuencia de la inmigración.

El factordesconocido es la

reacción de los actoresa la prueba ...�

(16) TOYNBEE, A. J. (1970) Op cit (I, 105 y115)

(17) TOYNBEE, A. J. (1970) Op cit (I,115)

(18) TOYNBEE, A. J. (1970) Op cit (I, 300)

(19) TOYNBEE, A. J. (1970) Op cit (I, 312)

(20) TOYNBEE, A. J. (1970) Op cit (I, 313)

(21) TOYNBEE, A. J. (1970) Op cit (I,27/28)

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Un claro ejemplo podemos encon-trarlo en la industria cinematográfi-ca, y discográfica, pues aunque el do-mino de la producción estadouniden-se parece ser apabullante, existe unenorme segmento del mercado que noes abastecido desde Estados Unidos,pues grandes sociedades muestranuna mayor sensibilidad ante otrasformas de creación artística: por ejem-plo, India es el país que más películasproduce anualmente en el mundo; sinembargo es muy extraño que un filmede esa nacionalidad llegue a los cir-cuitos comerciales de la civilizaciónoccidental. De hecho las películas detema hindú que mayor difusión hantenido en Europa, han sido obra derealizadoras occidentales, pero en lospaíses árabes el cine hindú es muyaceptado. Algo similar cabe decir so-bre la industria cinematográfica japo-nesa, aunque esta haya conocido eta-pas en las que algunos directores ja-poneses, notoriamente Kurosawa, seintrodujeron en las salas comercialesde occidente. Reflexiones similarespodríamos hacer desde el campo dela música o de otras manifestacionesde la creatividad humana no tecnoló-gica. La música pop, máquina o rockno penetran en el mundo árabe o enChina con igual vigor que el mundocristiano occidental. Podemos enten-der un salón de cibernética en Seúl,pero sería exótico, un festival de mú-sica rock. En ámbitos mucho más mi-noritarios, pero fundamentales, lacreación literaria de los países no oc-cidentales, generalmente se mantieneen unos moldes extraños para la sen-sibilidad occidental. Un best seller es-tadounidense difícilmente será núme-ro uno de ventas en Beijing, en Tokioo en El Cairo. La mundialización noalcanza a estos niveles Es posibleunificar la tecnología productiva y lade los bienes de consumo, pero no lasensibilidad, la religión o la creaciónartística. No obstante estos aspectosson fundamentales en el proceso deorganización de las sociedades y sudesarrollo incide en ámbitos o esferasdonde no llega la tecnología, elmaquinismo o la cibernética. De he-cho la mayor parte de los autores que

escriben sobre desarrollo, defiendenla idea de que se trata de un procesoesencialmente cultural. Entonces, adiferentes culturas corresponderíandiferentes sistemas de desarrollo.

No es posible por tanto, mante-ner la tesis de la globalidad desde unaperspectiva cultural. Según Toynbeela tesis de la unidad de la civiliza-ción es una errónea concepción.(22) Elrasgo que induce al error es que en lostiempos modernos la civilización oc-cidental ha arrojado la red de sus sis-tema económico alrededor del mun-do y además ha difundido su modelopolítico; pero el mapa cultural siguesiendo sustancialmente lo que eraantes de la revolución industrial in-glesa, son aún claros las señas de iden-tidad de las cuatro civilizaciones vi-vas no occidentales. Si la civilizaciónno es única y el criterio de un mundoglobal basado en los flujos económi-cos no es suficiente, hay que convenirque cuando hablamos de globalidadestamos refiriéndonos apenas a unaspecto de las civilizaciones, aquelque puede ser objeto de análisis eco-nómico.

Aunque los mapas económicoy político han sido ahora occidenta-lizados, el mapa cultural siguesiendo sustancialmente lo que eraantes de que nuestra SociedadOccidental comenzara su carrera deconquista económica y política. Enel plano cultural, para aquellos quetienen ojos para ver, son aún claroslos lineamientos de las cuatrocivilizaciones vivas no occidentales.Pero muchos no tienen ojos paraello; y de su visión surge el uso dela palabra inglesa «nativos» y desus equivalentes en otras lenguasoccidentales.(23)

Al decir de Toynbee, aquellos quecontemplan el mundo desde una pers-pectiva de civilización única, consi-deran que se ha producido un fenó-meno de difusión del conocimientotecnológico desde un solo centro: laInglaterra del siglo XVIII. Posterior-mente habrían surgido otros centrosneurálgicos: Estados Unidos, EuropaOccidental, Japón y SE de Asia. En estesentido estos dos últimos conjuntos

habrían sido incorporados al proce-so de unificación y se habrían com-portado como discípulos aventaja-dos. Este tipo de análisis es eurocén-trico y desdeña los aspectos cultura-les del problema. Algunos autoresdefienden la aproximación cultural alestudio del desarrollo, pero en reali-dad les interesa solamente el gradode refractación o de permeabilidad delas diferentes culturas al procesouniformizador de la difusión de la tec-nología europeo occidental. Para es-tos autores el estudio del desarrollo,siendo un proceso mundial, es abor-dado desde una perspectiva regionaselectiva. Al decir de Toynbee, es comosi un geógrafo hiciera una GeografíaUniversal escribiendo apenas sobreEuropa Occidental y Norteamérica.(24)

Toynbee probó su método en unaobra monumental Estudio de la Histo-ria, analizando la génesis y creci-miento de una veintena de civiliza-ciones. Algunas de ellas tenían filia-ción conocida en sociedades primiti-vas o en otras civilizaciones y a suvez eran paternas de otras. La mayorparte de ellas habían colapsado: lamaya, la incaica, la mexicana, la egip-cia o la índica, entre otras. Subsistenla hindú, la arábica, la del lejanoOriente en sus dos ramas: la china yla japonesa, la cristiano ortodoxa,principalmente su rama rusa y la oc-cidental, siendo estas dos últimas fi-liales de la helénica.

(22) TOYNBEE, A. J. (1970) Op cit (I,69).(23) TOYNBEE, A. J. (1970) Op cit (I,69.(24) TOYNBEE, A. J. (1970) Op cit (I, 73).

Al decir deToynbee, es como siun geógrafo hiciera

una GeografíaUniversal escribiendoapenas sobre Europa

Occidental yNorteamérica ...�

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El éxito alcanzado por la culturaoccidental en su dominio político, eco-nómico y tecnológico, ha hecho quequedaran minusvaloradas las otrascuatro civilizaciones existentes, demanera que en la mayor parte de lashistorias universales, historias de lafilosofía o similares, las civilizacionesárabes, orientales, hindúes o árabes,quedan relegadas a simples comple-mentos del texto fundamental. Existeuna corriente de pensamiento muyarraigada, según la cual la humani-dad actual tuvo su origen en Grecia,en la cultura helénica, donde todohabría prácticamente ocurrido. Gre-cia habría sido el origen de la filoso-fía, de la política, de las ideas estéti-cas actuales y del pensamiento cien-tífico. En esta línea de pensamiento,los aportes de las restantes culturasserían meras anécdotas curiosas e in-teresantes para los especialistas. Unode los méritos principales de Toynbeees que ataca directamente al eurocen-trismo.

TECNOLOGÍA Y DESARROLLO:TODOS HEMOS COPIADO

Una de las películas más genia-les que se han realizado nunca Tiem-pos modernos de Charles Chaplin, seinicia con unos subtítulos sobre unfondo industrial que dicen: La huma-nidad avanza en su cruzada hacia la feli-cidad. La imagen se encadena enton-ces con un primer plano de un rebañode borregos traspasando un portón;nuevo encadenado y los borregos sehan transformado en obreros. Desdeluego en el pensamiento de Chaplinel avance tecnológico no aportaba fe-licidad, como se puede apreciar en

numerosas escenas de este excelentefilme.

En el siglo XVIII en Inglaterra tuvolugar la Revolución Industrial. Lasustitución del trabajo humano porlas máquinas y el uso de energías pro-cedentes de fuentes inanimadas sonlos dos elementos que mejor definenese proceso. La consecuencia fue laincrementar notoriamente la produc-tividad dando paso a la producciónmasiva y adentrar a la humanidad enla era del maquinismo, que ha condu-cido hasta la cibernética actual. Sedice que el maquinismo es un produc-to de la sociedad occidental y se hadifundido al mundo desde su lugarde origen, Inglaterra; las otras civili-zaciones, como la árabe o la oriental,habrían adoptado el maquinismo im-portándolo desde Occidente, de ma-nera que en este sentido serían deu-doras.

Muchos autores interpretan elmaquinismo como una etapa funda-mental hacia el progreso de la huma-nidad, del mismo modo que lo fue larevolución achelense o la neolítica, yaque la evolución tecnológica sería elcamino que nos diferenciaría cada vezmás de los animales irracionales. Lalínea de pensamiento más común, in-clusive entre autores distinguidos, esconsiderar que el mundo actual es re-sultado de la cultura elaborada en elperíodo helénico, en el MediterráneoOriental. La creación más valiosa deesta civilización sería la cultura eu-ropeo occidental, de la cual es pater-na y, por último, un momento trans-cendente en la cultura occidental ha-bría sido la revolución industrial. Lasotras civilizaciones, si bien tuvieronmomentos de auge no habrían progre-sado en forma sostenible, sino que sehabrían estancado en un momentodeterminado de la historia, de mane-ra que para coger el tren del desarro-llo deberían adoptar los métodos tec-nológicos occidentales.(25)

Este raciocinio no por ser comúnes menos criticable, pues si rebajamosla escala del análisis a los Estados,en realidad todos seríamos deudoresde Inglaterra. La propia difusión delprogreso desde un solo lugar, nos obli-

ga admitir que no sólo las civiliza-ciones índica, oriental y árabe sondeudoras de aquellos innovadores delsiglo XVIII, sino que también lo es elresto de la civilización occidental.Todos los países copiaron de los in-gleses y en la propia Gran Bretaña,los escoceses y los galeses también lohicieron. La paternidad de la revolu-ción maquinista corresponde a un re-ducido grupo, localizado en un pe-queño lugar, dentro de la sociedadoccidental. Vincular lo que fue patri-monio de unos pocos a todo el con-junto de la civilización occidentalpuede ser un tanto excesivo.

Es cierto que tras Inglaterra sur-gieron nuevos centros innovadores:Alemania, Francia y, notablemente,Estados Unidos, pero amplios territo-rios de la Civilización Occidental fue-ron refractarios a la innovación comosistema propio principalmente en losprimeros decenios de la era del maqui-nismo: toda América Latina, una bue-na parte de Centro Europa y del Surde Europa. Es cierto que cada vez sonmás los centros innovadores, pero nosólo en el marco de la civilizaciónOccidental, sino también en la Orien-tal: Japón, Corea, China, o en la civili-zación ortodoxa: Rusia. La llamadaconquista del espacio tiene compo-nentes de diferentes culturas y lo mis-mo cabe decir de la cibernética. En miopinión el principio de la difusiónparadójicamente invalida la tesis, quevincula el perfeccionamiento tecnoló-gico del maquinismo con toda la civi-lización occidental, en detrimento delas otras civilizaciones. El dinamis-mo de la primera y el estancamientode las segundas deben cuestionarse ala luz del hecho difusionista. La rápi-da asunción de las tecnologías mo-dernas por el Japón de la era Meiji,sin abandonar por ello los rasgos másidentificadores de la cultura japone-

... los aportesde las restantesculturas serían

meras anécdotascuriosas ...�

(25) Esta es desde luego la tesis de David S.Landes, profesor emérito de Harvard yautor de una obra pretenciosamente ti-tulada La riqueza y la pobreza de lasnaciones. Este libro ha sido un best selleren los Estados Unidos y esto, en miopinión, más que un mérito lo convierteen algo sospechosos de banalidad.

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sa, nos dice que no es preciso formarparte del cuerpo de la civilización oc-cidental para hiperdesarrollarse tec-nológicamente. Y lo mismo podría-mos decir de Corea, Taiwan, HongKong y quizás, corto plazo, de China.

Pero es más importante todavíareflexionar sobre otros aspectos de lacuestión. Por ejemplo: ¿Existen prue-bas de una correlación positiva entreun perfeccionamiento en la técnica yun progreso hacia el bienestar social?¿Es la tecnología la medida del desa-rrollo?. ¿El maquinismo es el mejormodelo de desarrollo?. Desde luego,si la adquisición de tecnología es laclave del desarrollo, lo que deberíanhacer los pueblos y sociedades atra-sadas es dotarse de tecnologías avan-zadas, utilizando todo tipo de atajosy así quedaría resuelto el problema.Tenemos ejemplos claros en los queesto no ha sido así y de que la simpleadopción de las nuevas técnicas noes condición suficiente para el desa-rrollo, pues según la forma en que serealice, puede dar origen a procesosde desarrollo abortados. Veamos elcaso de Cuba.

Cuba a finales del siglo XVIII erauna isla escasamente poblada y ale-jada de cualquier atisbo de moderni-dad. La revuelta negra de Haití quecolapsó la producción azucarera enesa isla mientras, que se incrementabala demanda del mercado europeo yestadounidense de azúcar, convirtióa Cuba en una nueva frontera econó-mica, por su situación geográfica ypor la riqueza de su suelo. Estas ven-tajas potenciales fueron bien percibi-das por las elites cubanas, quienesdecidieron introducir el masivo culti-vo de la caña en las postrimerías delsiglo XVIII. Los plantadores de la islapercibieron rápidamente las grandesventajas que aportarían al procesoproductivo, las innovaciones tecnoló-gicas del momento e introdujeron congran rapidez el ferrocarril, la calderade vapor y el telégrafo en la industria,cuando estos instrumentos no se ha-bían aplicado ni siquiera en España,su metrópoli colonial. No solamentese introdujeron precozmente estas in-novaciones, sino que se expandieron

rápida y notablemente y las fechasson claras: 1836, primer ferrocarrilcubano de La Habana a Los Güines;1846, primer ferrocarril en España, deBarcelona a Mataró. Sin embargo niel ferrocarril ni la caldera de vaporpermitieron el desarrollo cubano,pues estos avances técnicos coexistie-ron con un grave deterioro de la cues-tión social, ya que la agroindustriaazucarera recurrió a métodos anti-guos y deplorables: la esclavitud. Silas modernas máquinas llegaban engrandes cantidades a la isla, los es-clavos negros o chinos también entra-ron masivamente, de manera que laCuba del XIX fue, junto con otro paísazucarero, Brasil, el último país de lacivilización occidental en abandonasla esclavitud. La llegada de más de unmillón de negros esclavos y 150.000coolíes chinos en el siglo XIX, marca-ron todo el proceso de desarrollo cu-bano, generando los elementos demarginalidad y exclusión, que crista-lizaron y condicionaron la sociedadcubana del siglo XX. Este proceso de-terminó un modelo económico cuyaconsecuencia fue una deforestacióncasi total en la isla y el abandono deactividades agrícolas de productostradicionales para el consumo huma-no: yuca, arroz, frutas y hortalizas,convirtiendo a la isla en gravementedeficitaria en materia alimentaria yclaramente dependiente de las impor-taciones del exterior. La revolución de1956 fue una fase más de ese proceso,sin que haya servido para mejorar lascosas, pues si bien introdujo mejoraseducacionales y sanitarias generali-zadas, ha conclído generando másexclusión y una casi total inhibiciónde las fuerzas creativas.

El ejemplo cubano es paradigmá-tico, pero podríamos extenderlo al Surde los Estados Unidos hasta la segun-da mitad del siglo XX, a Perú, con susferrocarriles de montaña o al Chile delsalitre, o a la Argentina de la primeramitad del siglo XX. Todos estos paí-ses recurrieron a tecnologías avanza-das, pero no consiguieron el desarro-llo. En un proceso lineal que solamen-te considerara los avances de la técni-ca, la caldera de vapor debería dar

paso a la metalurgia moderna, a laindustria química, a la electricidad ya la petroquímica; pero estos movi-mientos de expansión y de introduc-ción concatenada de innovaciones,solamente se produjo en algunos paí-ses. Se pude argüir que en Cuba seutilizó la tecnología moderna, pero nose desarrolló, pero apenas estamosdesplazando la cuestión a otros esta-dios.

¿Cómo interpretaba Toynbee larevolución industrial?, tal como seña-la el filósofo Carl Schmitt(26) este pro-blema debió interesarle más que losretos que motivaron la construcciónde las pirámides, o la civilización az-teca. Pero la pregunta de Schmitt eraretórica, pues él mismo citaba al his-toriador para responder que «La téc-nica moderna es una astilla despren-dida de nuestra cultura hacia el finaldel siglo XVII». Schmitt era de la opi-nión que los avances tecnológicos noson la medida del avance de una civi-lización:

Invenciones técnicas no sonrevelaciones de un espíritu superi-or. Se producen a su tiempo.(27)

Se pudeargüir que en Cuba

se utilizó la tecnologíamoderna ...�

(26) Carl Schmitt es un tema tabú en la litera-tura académica. Sin embargo su obra esbrillante y sugerente, si la expurgamosde sus excesos ideológicos. En Tierra ymar sostiene la explicación del éxito deInglaterra a finales del siglo XVIII porsaber optar adecuadamente ante elchallenge de los océanos. En Diálogo delos nuevos espacios publicada en 1962,exponía su preocupación ante el descon-trol de la tecnología, de manera que elchallenge del moento debía ser más unaintrospección autocrítica, que unaapertura hacia nuevos espacios. La der-rota de la Alemania Nazi en la II GuerraMundial tal vez contribuya a explicar lapostura de Scmitt, pero nadie pueda ne-gar su perspicacia, profundidad concep-tual y dominio de la lógica.

(27) SCHMITT, Carl (1962) Diálogo de losNuevos Espacios, Madrid. IEP, pg. 45.

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INTERMEDIO FAMILIAR: EL TÍO

ARNOLD Y LA REVOLUCIÓN

INDUSTRIAL

Realmente Toynbee no parece ha-ber mostrado un particula interés porel tema. En su obra capital son pocaslas páginas que dedica a la revolu-ción industrial. Tal vez estaba influen-ciado por su tío Arnold, economista,que en 1884 publicaba un magníficotrabajo titulado Lectures on the Indus-trial Revolution in England. Es intere-sante reflexionar aobre esta obra, quedebió ejercer una gran influencia enArnold J. Toynbee.Tres aspectos me-recen ser destados. En primer lugarminimiza la importancia de los ade-lantos mecánicos, aunque les atribu-ye un papel destacado en la sustitu-ción del domestic system por el factorysystem, que es una de las característi-cas de la revolución industrial. Porencima de este factor señalaba la im-portancia de los cambios en las regu-laciones del trabajo, del comercio ex-terior y, sobre todo, de la revoluciónagrícola. En segundo lugar destaca suposición crítica ante los análisis ex-clusivamente económicos de los clá-sicos de la época. Adam Smith, Ricar-do y Malthus, los cuales no conside-raron los aspectos históricos o institu-cionales de la revolución industrial.Esto le permitía hacer un llamamien-to a la necesidad de introducir estostemas en los análisis sobre los cam-bios de las civilizaciones, pues la eco-nomía no explica todo. Por últimodedicó un gran interés al crecimientode la población y la gran extensión dela pobreza.

La depauperación es una de lasfacetas más sombrías vinculadas a larevolución industrial y por sí mismasería un buen argumento de que losavances tecnológicos en sí mismos, nosirven para emancipar a la humani-dad de sus problemas más acuciantesLas estadísticas que él maneja ponende manifiesto que el número de po-bres indigentes, o cercanos a la indi-gencia, aumentó desde 1,2 millonesen 1760 a 7,9 millones en 1818. Lasolución al problema de la pobrezallegó de la mano de los cambiosinstitucionales y del poder de las tradeunion y, principalmente por la emigra-ción a América. La migraciones sir-vieron de válvula de escape no sólo aInglaterra, sino a todo un continente,para reducir la pobreza hasta nivelestolerables; esto es generalmente omi-tido por los autores que como Landes,consideran que la simple introducciónde innovaciones científicas y tecnoló-gicas, junto con la libre empresa y ellibre comercio, fueron el origen delcamino hacia la felicidad del génerohumano. Todos los demás países de-ben seguir esa senda, pero ¿a dóndeemigrarán los nuevos pobres?

El estudio acerca de la pobreza enInglaterra, su historia, sus causas ysus soluciones, contenido en la obrade Arnold Toynbee el economista, so-bre la revolución industrial, ocupacasi la mitad de sus páginas y se mues-tra abiertamente contrario a las tesisde Malthus y de los economistas polí-ticos, los cuales no tuvieron en cuen-ta que el problema podría ser encara-do desde el campo de la legislación ylas reformas de las poor laws. En unaépoca en la que las Naciones Unidasy las instituciones multilaterales dedesarrollo lanzan las campañas delucha contra la pobreza, es importan-te recordar que Toynbee el economis-ta fue precursor en este campo.

LA TECNOLOGÍA NO ES LA

MEDIDA DE LA CIVILIZACIÓN

En su obra fundamental se mani-festaba abiertamente contrario, a con-siderar el avance tecnológico como

prueba evidente del avance humano.Desde un punto de vista conceptualmenospreciaba inclusive los avancestecnológicos que suponían una pola-rización de la creatividad humana, endetrimento de otras esferas sociales yculturales esenciales.

¿La conquista progresiva delcontorno físico por perfeccio-namiento de la técnica es capaz deproporcionarnos un criterio ade-cuado respecto al verdadero creci-miento de una civilización.?

Esta correlación se da por des-contada entre los arqueólogosmodernos, en la cual se consideraque una supuesta serie de gradosde perfeccionamiento de la técnicamaterial es el índice de una suce-sión correspondiente de capítulosen el progreso de la civilización. Eneste esquema de pensamientos serepresenta el progreso humanocomo una serie de «edades» que sedistinguen por títulos tecnológicos:la edad paleolítica, la edad neolítica,la edad del cobre, la edad del bron-ce, la edad del hierro, a la que po-demos añadir la edad de la máqui-na. A pesar de la amplia circulaciónde que goza esta clasificación, noestará de más examinar crítica-mente sus pretensiones.

Es sospechosa, en primer lugar,porque apela a los preconceptos deuna sociedad que está fascinadapor sus propios triunfos técnicosrecientes.

Otras razón para considerarcon sospecha la clasificación tecno-lógica es la de que constituye unejemplo manifiesto de la tendenciadel estudioso a convertirse en es-clavo de los materiales particula-res de estudio que el azar ha pues-to en sus manos. Desde el puntode vista científico es un mero acci-dente el que los instrumentos ma-teriales que el hombre «prehistóri-co» se haya confeccionado hayansobrevivido, mientras que han pe-recido sus creaciones psíquicas, susinstituciones e ideas.(28)

Los argumentos de Toynbee sonrealmente de peso. El maquinismoimplica especialización y ésta deter-

(28) TOYNBEE, A. J. (1970) Op cit (I, 290/291).

La depauperaciónes una de las facetas

más sombríasvinculadas

a la revoluciónindustrial ...�

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60 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

mina que el progreso no se realice enforma armónica entre las diversasfacetas del ser humano. Un hombretosco y poco ilustrado, con unas ideaselementales de los principios éticos ymorales de la civilización, puedeaprender a manejar con extraordina-ria pericia una máquina muy comple-ja; sin embargo poco a poco inclusiveestos expertos maquinistas se venabocados a la sustitución, por otrasmáquinas con inteligencia artificial.El propio progreso técnico en el cuálellos participan y les proporcionanlas raíces de su autoestima y orgullo,los convertirá inexorablemente enprescindibles en un futuro no muylejano.

Es más fácil difundir el conoci-miento técnico, especializado, queotros aspectos muy importantes de lassociedades: el gusto por el trabajo y laeficacia, el respeto por los ancianos,la solidaridad entre los grupos, la ale-gría creativa, la afición a la cultura ensus diversas manifestaciones, las re-laciones sociales desinhibidas, etc. La

tecnología puede facilitar muchas co-sas y, desde luego, ha servido para quemuchos hombres dispongan de unmejor nivel de vida y de tiempo libre;pero es discutible si lo que han deja-do en el camino compensa las venta-jas del confort generalizado y si el ociolejos de satisfacer creativamente alhombre no está cada vez más dedica-do a actividades embrutecedoras. Sinmencionar que una gran parte de lahumanidad está excluída de los avan-ces tecnológicos más satisfasctorios yteniendo conocimiento de su existen-cia, se ven obligados a interpretar eltriste papel de Tántalo, uniendo a lacarencia la profunda frustración.Frente al principio que contempla eldesarrollo como un proceso lineal deadquisición de tecnologías, desde elguijarro tallado hasta la estación es-pacial, podemos oponer otras tesisque sin menospreciar los avances tec-nológicos como muestra de la crea-ción cultural, contemplen otros aspec-tos inherentes al hombre y a las socie-dades. Además Es preciso recordar (29) TOYNBEE, A. J. (1970) Op cit.

que determinadas creaciones de latécnica están sembrando de catástro-fes provocadas o accidentales la his-toria de la humanidad y que el poten-cial humano para provocar cataclis-mo a escala global crece de día en día.La tecnología no puede ser neutral,pues actualmente responde casi conexclusividad al afán de lograr un be-neficio empresarial, de manera que loimportante no es lo que se mejore lavida del ser humano con el aporte téc-nico, sino lo que estas innovacionessatisfacen el afán de lucro de una mi-noría. Cito de nuevo a Toynbee

¿Se ha de emplear el nuevo im-pulso social del industrialismo y lademocracia en la gran obra cons-tructiva de organizar un mundooccidentalizado en una sociedadecuménica o vamos a dirigir nues-tro nuevo poder a nuestra propiadestrucción? (29)

Objetivos

Contribuir para soluções de problemas econômicos-sociais, ambientais eorganizacionais, a nível local e regional. Contribuir para formar e atualizarprofessores, capacitando-os para um desempenho adequado, na graduação epós-graduação. Formar uma massa crítica capaz de desenvolver trabalhos ci-entíficos que contribuam para o desenvolvimento local, regional e nacional.

Prédio de Aulas 08 - Campus Iguatemi – Alameda das Espatódias, 915 – Caminho das Árvores, Salvador-BACEP. 41.820-460 – Tel. (071) 273-8528 – Fax. (071) 273-8525

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EMDESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANOMestrado em Análise Regional(Recomendado pela CAPES)

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1. INTRODUCCIÓN

a percepción ambiental, es de-cir, cómo se percibe o se siente el medioambiente (a partir del individuo inser-to en él), tiene un notable interés psico-lógico y sociológico, pero tambiénconstituye una herramienta útil deanálisis de la realidad para la planifi-cación territorial y la programación deactividades. Aunque los resultadosque la percepción suministre puedan,en ocasiones, discrepar abiertamentede la realidad, sirven al gestor y al pla-nificador en la toma de decisiones ade-cuadas para la colectividad en sus re-laciones con el marco físico.

En el campo de la Geografía elestudio de la percepción tiene ya unoscuarenta años de desarrollo, habien-do dado lugar a una rama llamadaGeografía de la percepción y del com-portamiento. Su origen arranca a prin-cipios de los años sesenta del sigloXX en Estados Unidos, cuando unconjunto de fenómenos de base espa-cial y psicológica ligados a la percep-ción del medio comenzó a despertarla atención de investigadores con di-versa formación – geógrafos, urbanis-tas y psicólogos – (Capel, 1973). LaGeografía de la percepción pone enevidencia la existencia de espacios

ALGUNAS REFLEXIONES Y EJEMPLOS

DEL VALOR DE LA PERCEPCIÓN AMBIENTAL

EN LA PLANIFICACIÓN TERRITORIAL

Y DE ACTIVIDADES

“vividos”, vinculados a la existenciaparticular de cada humano, de su re-lación con el entorno y de la percep-ción que de él tiene (Ortega, 2000). Losmapas mentales, que son mapas oimágenes espaciales resultado de latransformación del mapa real por lapercepción de cada individuo, hansido uno de los métodos más conoci-dos y empleados en los trabajos deGeografía de la percepción.

Las potencialidades de la percep-ción ambiental se basan en el hechode que los humanos no nos compor-tamos, en general, según cómo es larealidad, sino tal como la percibimos.Su utilidad, entonces, es más que evi-dente en dos asuntos, uno de carácteraplicado y otro informativo o educa-tivo. Por una parte, conviene conoceresas imágenes mentales sobre el me-dio ambiente de las personas que in-tegran un grupo para prever la evolu-ción y el comportamiento individualy colectivo del mismo y, así, adecuarservicios, infraestructuras, etc. a lasdemandas y necesidades sociales delos escenarios futuros previsibles. Porotra parte, la información perceptualha de permitir una mejor elaboraciónde los mensajes e informaciones quehan de difundirse entre la sociedad,al partir del conocimiento de lo quecada individuo cree, siente o percibe,para esclarecer asuntos complejos o

corregir creencias erróneas.2. UN CASO DE PERCEPCIÓN

AMBIENTAL: LA PERCEPCIÓN

CLIMÁTICA

Un caso particular de la percep-ción ambiental es la percepción me-teorológica y climática. Ésta tiene unagran fuerza, por sus profundas raícesen unas experiencias y vivencias per-sonales (Martín-Vide, 1990) -en unageografía subjetiva o personal (VilàValentí, 1983)-, consideradas, así,dogma de fe individual. Casi nadiedeja, en un momento u otro, de expre-sar ciertas opiniones sobre la evolu-ción del tiempo atmosférico vivido. Lafuerza que suele darse a estos juiciosse explica, en efecto, por el hecho deque los argumentos proceden de lapropia experiencia. Todos los huma-nos tienen vivencias personales sobreel comportamiento del clima y deltiempo, sea normal o anómalo (todosen un momento u otro hemos padeci-do algún fenómeno meteorológico ex-tremo o hemos asistido a un compor-tamiento atmosférico normal y bene-ficioso durante un cierto período).

Se oye hoy decir con harta fre-cuencia en países de latitudes medias:ahora no nieva tanto como antes; eltiempo está loco; ahora llueve menos,etc. En algunos casos esas percepcio-

Javier Martín-VideDoutor em Geografia pela Universidade de Barcelona.Departamento de Geografía Física y Análisis GeográficoRegional, Universidad de Barcelona, España

L

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62 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

nes pueden ser ciertas. Así, por ejem-plo, en muchos centros de ciudadesla frecuencia de los días de nieve hadisminuido a lo largo del último siglocon el crecimiento rápido de la ciu-dad y el reforzamiento del conocidofenómeno de la “isla de calor” urba-na (se trata de una anomalía positivade la temperatura en los centros delas ciudades por contraste con su pe-riferia – el centro es más cálido que elespacio periurbano –, por las combus-tiones y los intercambios energéticosen el medio urbano (Moreno García,1992). En consecuencia, un gran nú-mero de personas está hoy sometidoa unas condiciones térmicas más sua-ves que las que tuvo hace unas déca-das en el medio rural del que partió oen ciudades de menor tamaño.

La mayoría de las veces, sin em-bargo, percepción y realidad climáticano coinciden. Los datos instrumen-tales procedentes de los aparatos me-teorológicos no avalan muchas de lascreencias populares. El caso es que lamemoria, marco de referencia funda-mental de las percepciones de cadaindividuo, es siempre selectiva, másaún, irregularmente selectiva. Unasveces olvida y otras magnifica ciertoshechos pasados, por el concurso dediversas circunstancias personales.Casi siempre agranda y detalla lo másreciente y difumina lo viejo, con uncalendario y una escala propia decada sujeto. Cada uno tiene, además,un nivel de sensibilidad diferente antelos hechos atmosféricos, reparandomás o menos en ellos, y haciendo muydifícil la comparación numérica en-tre las experiencias recordadas porvarios sujetos.

Además, son sobre todo los pro-fundos cambios de modos de vida, delugar de residencia y de situación so-cial general experimentados a lo lar-go del siglo XX, que han variado pa-trones y referencias, hitos y valores,los que condicionan la percepción delclima y otras percepciones. Las mejo-ras de las condiciones de alimenta-ción, de vestido y de habitabilidad delas viviendas explican, muchas veces,la opinión de que ahora hace menosfrío que antes, al margen del calenta-

miento de los centros urbanos e in-cluso del posible cambio climáticoantrópico hacia un calentamientoglobal.

Sin embargo, a pesar de todas laslimitaciones indicadas, de su comple-jidad y de sus discrepancias con larealidad, lo percibido del comporta-miento de la atmósfera tiene un nota-ble valor, que el climatólogo no puededespachar sin una lectura atenta. Lasinformaciones meteorológicas emiti-das por los medios de comunicación,por ejemplo, tienen hoy un gran im-pacto socioeconómico. El anuncio deun tiempo desapacible para el fin desemana disminuye la salida de la po-blación hacia los espacios de ocio, conel consiguiente descenso de los ingre-sos en el ramo de la hostelería. Con-viene, pues, precisar mucho el men-saje difundido, en función del recep-tor, de su conocimiento y de su per-cepción de la realidad.

Como ejemplo de manifiesta dis-crepancia entre percepción y realidadmeteorológica, pero cuya explicaciónes interesante incluso desde un pun-to de vista aplicado, el autor del pre-sente artículo planteó en 1991 unaencuesta con una pregunta única. Sepreguntó entonces a los ciudadanosdel área metropolitana de Barcelona:“Qué día(s) de la semana es(son) máslluvioso(s) (Más concretamente, sepregunta qué día(s) de la semanaresulta(n) más veces lluvioso(s))”. El32,9% citó el sábado y el 26,6% el do-mingo, acaparando, por tanto, el finde semana casi el 60% de las respues-tas, o sea, más del doble del porcenta-

je equidistributivo entre los 7 días dela semana (Martín Vide, 1990). Tansólo un 7,9% contestó que todos losdías por igual, bien es cierto que en lacuestión, aparentemente abierta e ino-cente, se orientaba al encuestado, enalguna medida, hacia la elección deun día. A pesar de esto, la contunden-cia de los porcentajes no deja lugar adudas acerca de la creencia de que losdías que componen el fin de semanason más lluviosos que los días labora-bles. Encuestas con la misma pregun-ta en otras áreas urbanas han dadoresultados coincidentes (CEHAK,1982).

Los propios encuestados suelendesvelar el punto de apoyo de esaopinión mayoritaria: se nota o se la-menta más la aparición de un sábadoo un domingo con mal tiempo (lluvio-so) que de cualquier otro día de la se-mana, dado que las actividades deocio, que en zonas templadas y tropi-cales tienen lugar gran parte del añoal aire libre, y que se concentran en elfin de semana, pueden verse seria-mente afectadas por la aparición dela lluvia. En Barcelona, avanzada laprimavera y a comienzos del verano,la población se siente muy contraria-da cuando aparece un sábado o undomingo lluvioso o con cielo cubier-to, al no poder llevar a la práctica eldeseo de acudir a la playa o tomar elsol. Es común el lamento de que todala semana hace buen tiempo y al lle-gar el fin de semana se estropea. Lamayor parte de las semanas hay díaslaborables lluviosos o nublados, quepasan inadvertidos por la población,al no alterar sus tareas (salvo en ca-sos muy concretos, como los taxistas),o afectar a unas actividades no tanapetecibles como las de ocio.

El resultado práctico es que elansia de sol a finales de mayo y enjunio suele traducirse, sobre todo sise dieron previamente uno o dos fi-nes de semana nublados o lluviosos,en una salida masiva de la poblaciónhacia las playas el primer festivo so-leado, con serios problemas de tráfi-co. Ese comportamiento, que reflejauna cierta ansiedad colectiva, fruto enparte de la creencia en los fines de se-

Lasinformacionesmeteorológicasemitidas por los

medios decomunicación tienenhoy un gran impacto

socioeconómico ...�

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63RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

mana lluviosos, debe orientar a lasautoridades de tráfico y a otros servi-cios sobre el establecimiento de medi-das especiales para atender conve-nientemente a la población.

También en Salvador la poblacióncree que los fines de semana son máslluviosos que el resto de los días. Unaencuesta entre 50 personas de nivelcultural medio de Salvador, llevada acabo por Luzinaldo M. RodriguesViana, alumno de la asignatura “Cli-ma, medio ambiente y desarrollo” delprograma de doctorado Planificaciónterritorial y desarrollo regional (Univer-sidad de Barcelona y UNIFACS) (cur-so 2000), sobre o dia que chove mais,confirmó unos resultados casi simi-lares a los de Barcelona: el 58% con-testó sábado o domingo.

3. UN EJEMPLO SOBRE LA

PERCEPCIÓN DE LOS

PROBLEMAS AMBIENTALES EN

SALVADOR Y EN BARCELONA

Con todas las limitaciones, sesgose insuficiencias de conocimiento so-bre la realidad concreta que tenga ungrupo o colectivo de ciudadanos, supercepción de los problemas ambien-tales de la propia ciudad que habitasuministra elementos de gran interésal gestor y al planificador. El ejercicioperceptual, mediante una simple en-cuesta, no sólo permite constatar losproblemas reales más evidentes queafectan a la ciudad en cuestión, conlos matices de su mayor o menor inci-dencia por barrios, sino, en especial,aquellos asuntos que más preocupanal ciudadano, coincidentes en mayoro menor grado, o no, con los proble-mas reales, siendo causa de insatis-facción, y hasta de angustia. La cali-dad de vida del habitante de la ciu-dad debe ser también estimada a par-tir de parámetros perceptivos, pues latranquilidad y felicidad, sentimientosíntimos y subjetivos en gran medida,fuente de satisfacción y calidad vital,difícilmente son medibles de un modoestrictamente físico. Esos estados deánimo, que se alimentan de percep-

ciones y sensaciones, son evaluablestambién, usando encuesta o entrevis-ta personal, a partir de lo que expresaque siente o percibe la persona encuestión.

Un ejercicio simple de encuestallevado a cabo entre los alumnos bra-sileños de la asignatura y programade doctorado citados anteriormente(“Clima, medio ambiente y desarro-llo”, doctorado en Planificación terri-torial y desarrollo regional, Universidadde Barcelona y UNIFACS) del curso2001 es bien significativo sobre laspotencialidades de la herramientaperceptual. Se pidió que los alumnosbrasileños identificaran los tres pro-blemas ambientales más graves enSalvador. Tal ejercicio, realizado in-dividualmente en el aula, fue contras-tado con otro llevado a cabo entre losmiembros del Grupo de Climatologíade la Universidad de Barcelona, asícomo con los debates que tuvieronlugar el año anterior en la misma asig-natura de doctorado. Los alumnos dedoctorado de UNIFACS de la citadadisciplina, con formaciones académi-cas muy diversas, economistas, arqui-tectos, contables, geógrafos, etc., y conun nivel medio-alto de conocimientosmedioambientales, detectaron los pro-blemas indicados en la tabla adjunta(a los que se añade el porcentaje deencuestados que eligieron cada res-puesta).

Aunque es evidente que el cortonúmero de encuestados no permite enabsoluto atribuir significación esta-dística a los resultados, ni incluso

dentro del grupo cultural al que per-tenecen los alumnos, no por ello de-jan de tener una lectura interesante yorientadora. Así, podría llamar la aten-ción al visitante o a quien no conoceSalvador – una ciudad de más de dosmillones de habitantes- la ausencia decontaminación atmosférica. En efec-to, ninguno de los alumnos la identi-ficó como un problema ambiental, loque concuerda con la realidad. El aireque respiran los salvadoreños es no-tablemente puro y salubre, gracias ala gran ventilación que experimentala ciudad, por su posición marítimapeninsular, en uno de los extremos dela Bahía de Todos os Santos, clara-mente abierta a los vientos alisios ydemás corrientes aéreas de proceden-cia marítima. El debate subsiguientea la exposición de estos resultados,tanto en el curso 2001, como otros de-bates en el curso precedente, expusie-ron la preocupación por cualquieractuación urbanística futura que per-mitiera la construcción de grandesedificios junto a la fachada marítimade la ciudad. Esto dificultaría el ba-rrido de contaminantes que ejerce elaire, por causa del efecto de pantallao barrera que producirían los edifi-cios.

Otro resultado interesante es la noconsideración como problema del rui-do o contaminación sonora o acústi-ca, que no fue señalado por ningúnalumno. El intenso tráfico rodado dealgunas avenidas salvadoreñas, asícomo el volumen sonoro de la músicaen algunos locales y durante ciertas

Déficit de redes de saneamiento, aguas residuales y contaminaciónde recursos hídricos 50%

Uso indebido del suelo y deslizamientos de tierras 50%

Basura y residuos sólidos urbanos 42%

Contaminación de las playas 33%Deforestación 25%

Pobreza 25%

Residuos industriales 17%

Lago y dunas de Abaeté 17%

Otras (inseguridad, falta de información ambiental, etc.) 42%

(El número de alumnos que respondieron a la encuesta fue de 12, el día 21 de junio de 2001.Se obtuvieron 36 respuestas (12x3). El porcentaje indicado del 50% corresponde a unproblema ambiental señalado por 6 de los 12 alumnos).

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64 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

fiestas, sobrepasa claramente los ni-veles de intensidad sonora recomen-dados. En este caso, el contraste conlas respuestas dadas por el colectivode Barcelona es bien claro. Barcelonaes, sin duda, como muchas otras po-blaciones españolas, una ciudad muyruidosa. La población barcelonesaidentifica hoy el ruido como uno delos principales problemas ambienta-les al que se enfrenta la ciudad. Sinembargo, la lectura del contraste en-tre las respuestas de los dos gruposno debe recalcar el hecho cierto de queBarcelona es una ciudad más ruido-sa que Salvador, sino de que las ciu-dades europeas y, en general, del pri-mer mundo, están en la actualidadmuy sensibilizadas ante los proble-mas de salud y la incomodidad queproduce el ruido. En algunas ciuda-des se ha construido el mapa sónico,con los valores expresados en decibe-lios de las intensidades medias y ex-tremas. Muchas actividades son tam-bién controladas en cuanto al niveldel ruido que producen. La poblaciónsalvadoreña es de momento más sen-sible a otros problemas más directosy “visibles”, como la basura o lasaguas residuales a cielo abierto. Porotra parte, pudiera también contribuira la diferencia de respuestas el hechode que el grupo salvadoreño encues-tado habitara, por su nivel socioeco-nómico, en barrios tranquilos, no di-rectamente expuestos al ruido de lasvías urbanas más transitadas.

Es interesante destacar también laconsideración de la pobreza y de lainseguridad como problemas ambien-tales por parte de los alumnos salva-doreños. El concepto de medio am-biente, muy comprehensivo, holísticoy complejo, por sus múltiples relacio-

nes con las esferas sociales y económi-cas, llega a acoger en su capítulo deproblemas hechos en un principio sinun origen físico o ambiental directo,como es la pobreza. Una investigaciónllevada a cabo, también mediante en-cuesta, en la ciudad de Río de Janeirocolocó la violencia entre los problemasambientales que percibe la poblacióncarioca (Brandao et al, 2000).

Como contraste con las respues-tas del cuadro, en el caso de Barcelo-na además de la contaminación at-mosférica que genera el tráfico roda-do, los problemas más citados son elruido, la suciedad que generan losexcrementos de los perros y las palo-mas, estos últimos muy corrosivospara la piedra con la que están cons-truidos los monumentos históricos, yla escasez de áreas verdes (Barcelonaes una ciudad con muy pocos parquesy áreas ajardinadas en los barrios cen-trales, por su elevada densidad deedificación). Se trata, pues, de proble-mas y preocupaciones percibidas porla población barcelonesa que difierenapreciablemente de los sentidos porla salvadoreña. En el caso de la ciu-dad española, si se exceptúa la conta-minación atmosférica, los restantesson problemas percibidos como talesrecientemente, por su mayor inciden-cia en los últimos lustros, pero, sobretodo, por una sensibilización crecien-te ante sus consecuencias. Como ejem-plo muy reciente, en los últimos me-ses ha crecido la inquietud sobre lacontaminación electromagnética queproducen las antenas de la telefoníamóvil instaladas en el techo de losedificios y en otros lugares de la ciu-

dad. La población barcelonesa cree,en una proporción creciente, que suproximidad causa efectos negativosen la salud. Los ciudadanos declaranque, desde la instalación de una ante-na próxima, duermen peor, sufren ce-faleas, etc. Se trata, por tanto, de unproblema ambiental nuevo claramen-te percibido por los barceloneses, aun-que su realidad científica como fuen-te de trastornos para la salud no estáaún totalmente demostrada.

EPÍLOGO

La percepción ambiental posee,como toda percepción, una carga sub-jetiva inherente a su proceso perso-nal y único de aprehensión de la rea-lidad, lo que aparentemente la alejadel conocimiento científico, objetivo,cuantitativo y distante del objeto deestudio. No obstante, el análisis de losresultados que suministra, sean, porejemplo, los conseguidos a través deencuestas, provee una información denotable valor sobre los problemasambientales que más afectan a los ciu-dadanos, sean auténticamente graveso sólo percibidos como tales, pero que,en todo caso, generan insatisfaccióny hasta angustia. Al mismo tiempo, elplanificador y el gestor público dis-ponen de unas imágenes mentalesque le han de ayudar en la toma delas decisiones más adecuadas paraadaptar los servicios, las infraes-tructuras y las actuaciones ambienta-les a los comportamientos previsiblesque se derivan de aquellas percepcio-nes. El conocimiento de éstas orienta,al mismo tiempo, a los responsablesde las políticas y prácticas vincula-

... ha crecidola inquietud sobre la

contaminaciónelectromagnética queproducen las antenas

de la telefoníamóvil ...�

... la ciudadde Río de Janeiro

colocó la violenciaentre los problemas

ambientales ...�

�Los ciudadanos

declaran que, desde lainstalación de unaantena próxima,

duermen peor, sufrencefaleas ...�

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65RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

das al medio ambiente en el uso dellenguaje más directo, claro y accesi-ble para que el ciudadano compren-da la realidad ambiental.

AGRADECIMIENTOS

Al profesor Noelio Dantaslé Spi-nola Dantaslé, por su amable invita-ción, y a los colegas de UNIFACS. Alos alumnos brasileños de la asigna-tura “Clima, meio ambiente e desen-volvimento” del programa de docto-rado en Planificaçao territorial e desen-

volvimento regional, fruto del convenioentre la Universidad de Barcelona yUNIFACS, de los cursos 2000 y 2001,por el nivel de sus debates científicosy su cariño y amistad.

BIBLIOGRAFÍA

BRANDAO, A.M.P.M.; MALHEIROS, T.S.y FRANÇA, D.A.(2000): “Percepçao docarioca sobre o meio ambiente”. BoletimClimageo, abril 2000, 3, Universidade Fe-deral de Rio de Janeiro.

CAPEL, H.(1973): “Percepción del medio ycomportamiento geográfico”. Revista de

Geografía, VII, 58-150, Universidad deBarcelona.

CEHAK, K.(1982): “Note on the dependen-ce of precipitation on the day of the weekin a medium industrialized city”.Archives for Meteorology, Geophysics andBioclimatology, B, 30 (3), 247-251.

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MORENO GARCÍA, Mª C.(1992): Estudiodel clima urbano de Barcelona: la “isla decalor”, Barcelona, Oikos-tau.

ORTEGA VALCÁRCEL, J.(2000): Los hori-zontes de la geografía. Teoría de la Geografía,Barcelona, Ariel.

VILÀ VALENTÍ, J.(1983): Introducción alestudio teórico de la Geografía, Barcelona,Ariel.

Universidade Salvador � UNIFACS

CONGRESSO INTERNACIONALSOBRE PERSPECTIVAS DE

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Salvador, Bahia-Brasil, setembro de 2002

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66 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

l turismo se caracteriza porser un fenómeno diverso y complejo,con múltiples manifestaciones. Es evi-dente, pues, que el turismo constituyeun objeto de estudio de múltiples con-tenidos, al cual se realizan aproxima-ciones desde disciplinas muy diver-sas. El fenómeno turistico es relativa-mente nuevo, sobre todo su caráctermasivo. Este hecho y su carácter cam-biante han condicionado el desarro-llo de su análisis científico. En Espa-ña el estudio del turismo, desde lasciencias sociales, se ha consolidadoen fechas muy recientes, lo que realzael papel de los pioneros, que desdedistintas disciplinas realizaron incur-siones en la investigación turística. Enel ámbito de la Geografia, es el casodel profesor J. Vilà Valentí, con su ar-tículo “El valor económico del turis-mo”, publicado en Estudios Geográfi-cos en 1962. Esta fecha se sitúa en losaños del despegue turístico de Espa-ña y también de la “institucionaliza-ción” de la investigación turística,que cuenta con la aparición en 1960de Editur, Semanario Profesional delTurismo; con la creación del Institutode Estudios Turísticos en 1962 y conla publicación de la revista EstudiosTurísticos a partir de 1964, entre otroshechos relevantes. Este texto se escri-be como reconocimiento a los pione-ros, a sus ensayos y aportaciones so-bre el conocimiento del turismo, y es-pecialmente al profesor Vilà Valentí,maestro de geógrafos, que, además dela obra citada y de otras aproximacio-nes en obras generales posteriores, en

DIEZ HIPÓTESIS

SOBRE EL TURISMO EN ESPAÑA

F. López PalomequeDoutor em Geografia. Professor Titular daUniversidade de Barcelona.

E aquellos años impulsó entre sus estu-diantes universitarios de Murcia larealización de tesis de licenciatura so-bre turismo.

Estas páginas contienen formula-ciones sobre diez aspectos seleccio-nados del conjunto de rasgos que ca-racterizan y definen el turismo en Es-paña. No son formulaciones cerradas,ni en el nùmero ni en los argumentosque contienen, sino que con las mis-mas se persigue identificar diversoshechos clave – desde la perspectivageográfica – que caracterizan el turis-mo en España. Estas formulacionescontienen, a su vez, suposiciones so-bre los factores explicativos asocia-dos a los hechos que se identifican y,en consecuencia, formalmente supo-nen hipótesis en torno a los procesosdel pasado y el presente, pero tambiénhipótesis sobre escenarios futuros. Laformulación en clave de hipótesis obe-dece, también, al propósito de apor-tar ideas y reflexiones para la contras-tación o revisión de las valoracionesgeneralmente aceptadas sobre distin-tos aspectos del turismo, que hoy for-man parte del conocimiento científi-co sobre este fenómeno.

La decisión de seleccionar “diez”hipótesis se ha basado en la exigen-cia derivada de la extensión disponi-ble para este texto, así como en el inte-rés por simplificar la caracterizaciónde este fenómeno. En la elección delcontenido de los diez ítems, y no deotros contenidos, se han se seguidodistintos criterios. Basicamente se hatenido en cuenta su mayor o menor

significación como componente defi-nidor del turismo, desde la perspecti-va geográfica, y que actualmente es-tén sujetos a discrepancias inter-pretativas, contenidos que suelen va-lorarse de manera sesgada o desdeperspectivas interesadas. La últimaformulación, sobre la evolución de laGeografia del Turismo, se ha incorpo-rado por cuanto en el contexto actualsupone un ineludible ejercicio de re-flexión. Es evidente, pues, que algu-nas características básicas del turis-mo español no son abordadas en estaocasión, por ejemplo la vertiente eco-nómica del fenómeno, en todas su ma-nifestaciones; el perfil sociológico dela demanda (interna y externa); losimpactos de diversa naturaleza y adiferentes escalas e incluso el análi-sis evolutivo de los parámetros bási-cos del turismo, entre otros. En cuan-to a los aspectos formales, cada unode los diez items aparece encabezadopor un enunciado que identifica elhecho sobre el que se plantea la for-mulación en clave de hipótesis, cuyosargumentos – que merecerían un ma-yor desarrollo y contrastación – apa-recen limitados en extensión por laspropias servidumbres del texto.

1. España, un destino turísticoevolucionado y un cartel conocido.España, en su ciclo evolutivo como“país” turístico, ha alcanzado unasituación calificada de mercado de ofer-ta, frente a la situación de mercado dedemanda que caracteriza las primerasfases del proceso de desarrollo del

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67RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

turismo. En consecuencia, en la situa-ción actual el comportamiento de Es-paña como destino turístico consoli-dado, las estrategias de los distintosagentes que intervienen en el sistematurístico y los objetivos a perseguirhan de fundamentarse, principal-mente, en la búsqueda de la eficaciadel sistema, y en menor medida enpautas de crecimiento y desarrollo delmodelo, propias de las primeras fa-ses del ciclo.

El modelo turístico español se ca-racteriza, como es sabido, por la he-gemonía del turismo masivo de sol yplaya. Es precisamente en los espa-cios turísticos litorales tradicionalesdonde se detectan de manera más in-tensa los problemas de saturación,deterioro y obsolescencia de la ofertaturística y los problemas de eficienciaeconómica del próprio sistema turís-tico. A esta situación se llega no solopor el envejecimiento del sistema tu-rístico del litoral español, sino porquecon el tiempo han aparecido otrosdestinos de sol y playa competidores,próximos y lejanos, más “atractivos”que el “sol” de España (Cals, 1991;Marchena, 1995). Para este turismoespañol ya no es suficiente “esperar”la llegada de turistas, sino que Espa-ña ha de “ofertarse” y “venderse”para atraer la demanda en competen-cia con otros destinos. En esta fase delciclo adquieren gran importancia lacapacidad de promoción y venta (es-trategias orientadas hacia el márke-ting y la comercialización) y la dispo-nibilidad de un producto de calidad,como requisito previo para poder te-ner éxito y mantener los niveles de fre-cuentación.

Es evidente que las estrategiaspara conseguir la eficacia del sistema

y la optimización del modelo, en susdimensiones cuantitativas y cualita-tivas, se concretan en la competiti-vidad y ésta se pretende alcanzar porla vía de la calidad, a través de la ofer-ta de un producto de calidad, desta-cándose el papel que en estos proce-sos tienen y tendrán las variables te-rritorial y medioambiental. La histo-ria reciente del turismo en Españaavala esta argumentación y, en estesentido, cabe recordar que la dimen-sión y gravedad del agotamiento delmodelo llegó a tal limite a finales delos ochenta y principios de los noven-ta que obligó a consensuar estrategias– entre todos los agentes afectados. Deello surgió el Plan Marco de Competi-tividad, elaborado por la SecretariaGeneral de Turismo, y con la partici-pación de las comunidades autóno-mas y con la colaboración de agentessociales, empresariales y sindicales(Vera, 1994). Tras cinco años devigência se puede afirmar que las lí-neas de subvención del Plan han al-canzado razonablemente los objeti-vos propuestos y apoyado las inicia-tivas más válidas del sector, que laactuación de los poderes públicoscontinua siendo necesaria para lograrla corrección de los defectos estructu-rales del sector y que, además, el IIPlan Marco de Competitividad delTurismo Español 1996-1999 aspira,una vez terminado el Plan Futures I, aconsolidar aquellos mismos objetivos(Fernández, 1997).

Los turismos que no son “sol-pla-ya” disponen, en general, un mayormargen de desarrollo, puesto que in-cluso en determinados casos aún seencuentran en su fase inicial. Dichodesarrollo puede afectar también a suvertiente territorial, si bien algunos deestos turismos no son consumidoresde espacio. En consecuencia, formal-mente cabe pensar que estos turismosy espacios afectados se encuentran enuna situación de mercado de demanda;sin embargo, la realidad es otra, pues-to que en muchas ocasiones se detec-tan características de mercado de ofer-ta, que no son resultado de su procesoevolutivo en términos tradicionales,sino que estas situaciones se deben a

la multiplicación de lugares turísticosy la proliferación de tipos de turismoque entran en competencia entre sipara atraer una misma demanda po-tencial en una realidad turística cadavez más desestacionalizada y más ge-neralizada en el territorio.

2. De la industria de los foraste-ros al turismo interior. En la evolu-ción del modelo turístico español seha producido un cambio importanteen la composición del flujo turístico,puesto que se ha pasado de una si-tuación marcada por un protago-nismo hegemónico del turismo recep-tivo, tanto en la percepción del hechoturístico como en sus magnitudes, auna nueva situación en la que el flujoturístico tiene una composición dualsegún su origen geográfico: flujo exte-rior y flujo interior. La evoluciónsocioeconómica de España ha permi-tido el desarrollo de su mercado tu-rístico, en términos de demanda, quese orienta hacia el próprio país comodestino principal, y también de formacreciente hacia el extranjero. Sin duda,el turismo interior es un hecho de grantranscendencia por cuanto supone unfactor fundamental para el manteni-miento del sistema turístico español,y, pese a ello, aún se suele cometer elerror de asociar el “turismo” de ma-nera exclusiva con el “turismo recep-tivo” o la “presencia de forasteros”.

El progresivo protagonismo delturismo interior – y también del papelde españa como país emisor – puedeevaluarse y dimensionarse a partir dela consideración de diversas varia-bles. Por ejemplo, una de las utiliza-das habitualmente es la composiciónde las pernoctaciones causadas porviajeros nacionales o extranjeros enestablecimientos hoteleros y simila-res. Los dados son reveladores yavalan la formulación inicial: en losaños sesenta la proporción de pernoc-taciones causadas por españoles so-bre el total no llegaba a un tercio, enlos años setenta el porcentaje fueincrementándose hasta alcanzar aprincipios de los ochenta el 40%. Enlos últimos 15 años la tendencia glo-bal se ha caracterizado por un incre-

El modeloturístico español por

la hegemonía delturismo masivo de sol

y playa...�

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mento de dicha proporción, llegandoa representar el 46% em 1990. Sinembargo, las coyunturas del mercadointerior y exterior de la última décadahan dado lugar una evolución anualcon altibajos, según los años, de lacomposición geográfica de las pernoc-taciones. Como ejemplo puede consi-derarse el dato de 1995, año en el quelas pernoctaciones de los españoles“sólo” representó el 38% del total.

Un aspecto importante de la com-posición del flujo turístico según lanacionalidad de origen es su distri-bución espacial. En este sentido cabedecir, reforzando además la hipótesis5, que la distribución espacial de lademanda exterior y de la demandainterior muestran rasgos diferencia-dos (López Palomeque, 1988). En re-sumen, cabe constatar que el flujo tu-rístico receptivo presenta una granconcentración en determinadas regio-nes y zonas turísticas, mientras quela demanda española aparece distri-buida de manera más regular en elmapa turístico español y es hegemó-nica en la mayor parte de las regio-nes, lo que no quiere decir que sea unadistribución homogénea, puesto quela asimetria espacial de la oferta de-termina, a su vez, una asimetría espa-cial de la demanda. La desigual ca-pacidad receptiva de las regiones es-pañolas explica la mayor o menor im-portancia de las actividades turísti-cas en cada parte del territorio. Así,en función del papel que desempeñala demanda que procede del exteriorse perfilan tres grupos de regiones di-ferenciadas: Baleares y Canarias y, en

menor medida, Cataluña dependencasi exclusivamente del turismo ex-tranjero; un segundo grupo está for-mado por Andalucia, la Comunidadde Valencia, Madrid y el País Vascoque poseen una demanda repartidaproporcionalmente entre residentesespañoles y no residentes; y, final-mente, el resto de las regiones depen-den del turismo interior, pese a que enalgunas tienen participación sobre elturismo extranjero (Esteban, 1997).

3. La dialéctica cantidad-calidady la mitificación de los récords. Elmodelo turístico español se define,entre otros rasgos, por un intenso yconstante proceso de expansión de lascifras de afluencia y del crecimientode plazas hoteleras y extrahoteleras,que se utilizan como máximos expo-nentes de la dinámica del turismo es-pañol. En otro sentido, el agotamien-to de este modelo masivo – particu-larmente del modelo turístico del lito-ral mediterráneo –, puesto de mani-fiesto en las últimas coyunturas, y quese asocia a “cantidad”, a una deman-da de media o baja capacidad de gas-to y que constituye un modelo vulne-rable a las oscilaciones de la deman-da interior e internacional, ha obliga-do a la búsqueda de estrategias orien-tadas a sostener las ventajas compa-rativas tradicionales y buscar nuevosfactores de competitividad. En el con-texto señalado se sitúa la necesidadde modificación o sustitución del mo-delo por otro que se fundamente en la“calidad”, que atraiga una tipologiade demanda de mayor capacidad ad-quisitiva y que, en conjunto, anule ocomporte menos impactos negativos,de todo tipo, derivados del actualmodelo masivo.

Entre los dos hechos que se hanexpuesto – utilización “coyuntural”de parámetros cuantitativos para eva-luar el dinamismo del sector y necesi-dad de estrategias para cualificar elmodelo – se detecta una contradic-ción, con distinto grado de aparien-cia o realidad según los casos, porcuanto la consecución del récord devisitantes (cantidad) o el incrementode los censos de alojamiento (creci-

miento en términos absolutos) sonutilizados habitualmente y tempora-da tras temporada como indicadorespositivos del dinamismo del turismoespañol y como reflejo del éxito de lapolítica o de las estrategias llevadasa cabo por los responsables políticoso por los agentes empresariales y so-ciales. Esta disfunción entre los obje-tivos y estrategias formuladas para“cambiar” el modelo y la satisfaccióny maximización de las cifras (indica-dores que fundamentan el modelomasivo) obedece a dos hechos bási-cos. Por un lado, el cambio real delmodelo requiere, como mínimo, unhorizonte temporal de medio plazo;y, por otro lado, los ejercicios y balan-ces turísticos (de la administraciónpública, de los responsables políticos,de las empresas...) se evalúan por tem-poradas y por años, es decir, en tiem-po real o a muy corto plazo, y eludeno rechazan como estrategia el horizon-te a medio o largo plazo.

El carácter masivo es un rasgoestructural del modelo turístico espa-ñol y ha sido inducido tanto por losfactores que motivaron en su momen-to el despegue y desarrollo del turis-mo español como por los nuevos fac-tores que intervienen y que interven-drán en el modelo turístico que se de-sea configurar. Este modelo ha de sus-tentarse en las ventajas comparativastradicionales, que puedan ser puntosfuertes hoy dia y en el futuro, por ejem-plo, la renta de situación/accesibili-dad externa y las condiciones ambien-tales de nuestro país; y, por otra par-te, en nuevas ventajas comparativasen relación con destinos competido-res: la infraestructura turística crea-da a lo largo de varias décadas (canti-dad y calidad), la accesibilidad inter-na o la diversidad/complementa-riedad de recursos/productos turís-ticos que dispone España, entre otros(Vera y Marchena, 1996).

4. la concentración espacial yestacional del turismo. La estructuraespacial de las actividades turísticasen España muestra claros contrastesy marcadas asimetrias que se debenbásicamente a dos factores que, ade-

... el flujoturístico receptivopresenta una granconcentración en

determinadasregiones y zonas

turísticas...�

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más, influyen de manera interrelacio-nada: la variada condición geográfi-ca del territorio español y el carácterhegemónico del atractivo sol-playa enel conjunto de las motivaciones delturismo masivo, hecho que ha prima-do el desarrollo turístico de las zonaslitorales de clima cálido. La espacia-lización de estos componentes geona-turales junto a la renta de situaciónde diversas áreas han dibujado lostrazos básicos del mapa turístico deEspaña.

En la localización de la oferta dealojamiento turístico, y también de lainfraestructura y servicios comple-mentarios, destacan unas zonas cla-ramente diferenciadas y jerarquiza-das (López Palomeque, 1988; Pries-tley, 1996). Según los datos de 1995, aescala regional, las islas Baleares con-centran el 24% de las plazas hotele-ras; Cataluña el 19,8%; Andalucia el14,3%; Canarias el 9,8% y la Comuni-dad Valenciana el 7,3% entre otras.Téngase en cuenta, como referenciatemporal, que las islas Baleares en1955 – antes del desarrollo del turis-mo de masas – solo concentraba el6,5% de la oferta hotelera española,en 1985 alcanzó el 28,9% y actualmen-te se sitúa en torno al 24% del total.Por otra parte, en el mapa de cám-pings “desaparecen” las provinciasinsulares, Cataluña concentra más deun tercio de la oferta y, además delresto del litoral mediterráneo, sobre-sale también la zona del Atlánticonorte y el Cantábrico. Los contrastesespaciales se refuerzan si añadimosla oferta de apartamentos, por otraparte dificil de cuantificar con preci-sión, ya que las estimaciones realiza-das sobre su dimensión y su distribu-ción geográfica jerarquizan aún másel eje mediterráneo, que destaca comoprincipal región turística, además delas provincias insulares. Esta realidadnos permite hablar de España comopaís turístico y, a otra escala, de lasregiones turísticas de España y de lasregiones no turísticas.

En los últimos 15 años se observauna difusión espacial del crecimien-to turístico que tiene su origen en lasaturación de las zonas turísticas tra-

dicionales y en la explotación de nue-vos recursos en zonas del interior obien en sectores litorales no explota-dos (véase hipótesis 5). Este procesoha hecho disminuir el índice de con-centración de la oferta turística, talcomo corresponde a las pautas cono-cidas de los modelos de evolución delas “regiones turísticas”. No obstan-te, las variaciones son poco importan-tes en el contexto de la asimetria exis-tente y, por otra parte, estos resulta-dos no anulan la jerarquía espacialdel fenómeno dado el carácter estruc-tural de los factores ya señalados.

La concentración estacional tam-bién obedece a dos factores estructu-rales: la estacionalidad de la deman-da – particularmente la que corres-ponde al modelo turístico español –y, por otra parte, la estacionalidadede la oferta, entendiendo como tal ladisponibilidad temporal de las con-diciones ambientales, sujeta a la va-riación estacional del clima, si bienhay que contar también con las situa-ciones específicas del litoral más me-ridional y de las islas Canarias. El re-sultado de las estrategias que se hanllevado a cabo para luchar contra laexcesiva concentración espacial ytemporal ha sido desigual, y comobalance cabe constatar, por una par-te, la reducción de la estacionalidadque se ha conseguido en algunos des-tinos y, en otro sentido, cabe señalarque estas estrategias tienen un limiteintrínseco en la propia naturaleza yorigen de este fenómeno.

5. El mapa turístico de España yla generalización espacial del turis-mo. El mapa turístico de España esdinámico y sus cambios se explican apartir de las pautas espacio-tempora-les que se contemplan en los modelosevolutivos tradicionales de las “regio-nes” turísticas. No obstante, la diná-mica del último decenio comprende,entre otros fenómenos, una genera-lización o “turistificación” del terri-torio español que obedece a tres focosgenéticos específicos: la intensifica-ción del fenómeno de ocio-turismo deproximidad, la concepción e instru-mentalización del turismo como es-

trategia de desarrollo y la necesidadde reestructuración de los espacios li-torales tradicionales (López Palo-meque, 1997).

La intensificación del ocio-turis-mo de proximidad es un fenómenogenerado por las metrópolis y gran-des aglomeraciones urbanas, y afectatanto al litoral como al interior. Tradi-cionalmente éste era un fenómeno es-pecífico de las residencias secunda-rias, por lo que el papel del mercadourbano no es nuevo. Sin embargo, lonuevo radica en su mayor dimensióny en sus nuevas pautas espaciales, asicomo en la aparición de nuevas ma-nifestaciones de ocio de proximidadfavorecidas por los avances en la mo-vilidad.

El “desarrollo” turístico y la dina-mización económica de las áreas in-teriores (que asimilamos a rurales) yde los pueblos y ciudades de Españase fundamentan en diversas razones;los estímulos recibidos por una de-manda “espontánea” de productosrecreativos y turísticos, el efecto mi-mético del “éxito” de las zonas turís-ticas y, también, por la necesidad deencontrar alternativas a las orienta-ciones espontáneas tradicionales delmedio rural, entre otras motivaciones.Estos hechos han provocado un cre-cimiento de la actividad turística y dela frecuentación, así como la creaciónde un estado de opinión favorablesobre las “ventajas” que se derivande la “atracción de forasteros” y delos negocios inducidos.

La concepción del turismo comofactor de desarrollo del mundo ruraly de las ciudades es un hecho que cabedestarcarse ya que la función estraté-

La intensificacióndel ocio-turismo

de proximidad es unfenómeno

generado por lasmetrópolis...�

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gica del turismo ha sido asumida porlos dirigentes locales, regionales, es-tatales y comunitários, así como porlos diversos agentes socioeconómicos,que actúan en los diversos ámbitosespaciales. Cabe destacar que la es-tructura del “estado de las autono-mías” ha conducido a que las Comu-nidades Autónomas (CC.AA.) dispo-gan prácticamente de todas las com-petencias en materia de turismo (ex-cepto la promoción exterior y la redde paradores nacionales). El resulta-do ha sido la multiplicación de los“promotores turísticos” y la prolife-ració formal y funcional de mercadosde oferta. Sin duda, esta nueva estruc-tura político-administrativa y sus ob-jetivos de desarrollo turístico, en cadacaso, tiene mucho que ver con la ge-neralización del turísmo por “toda”España.

La necesidad de reestructuraciónde los espacios litorales tradicionalesha conducido a dos tipos de estrate-gias con dimensión espacial: 1) estra-tegia extra-litoral o de incorporacióndel “traspaís” (zonas de interior), y2) estrategia intra-litoral o de incor-poración y/o articulación entre losdistintos espacios litorales. Los doshechos se concretan en fórmulas oestrategias para la revalorización delos productos turísticos obsoletos, queen unos casos suponen la extensiónde actividades turísticas desde el li-toral hacia áreas de interior y en otroscasos la generalización del turismo a“todo” el litoral, ocupando sectoresque no estaban integrados formal-mente y/o funcionalmente en el siste-ma turístico.

6. Mucho más que sol y playa. Elcarácter predominante del turismo desol y playa ha alimentado una ima-gen turística del país que, de manerasimplificada, se asocia e identifica

casi exclusivamente con el modeloturístico litoral, y como tal así se per-cibe. Sin embargo, la realidad turísti-ca de España comprende no solamen-te este tipo de turismo, que aún sien-do hegemónico no es el único, sinoque en el país han existido y existenotros tipos de turismo fundamentadosen la diversidad geográfica de Espa-ña, que comprende un rico patrimo-nio natural y cultural. En otro senti-do, en los últimos años las estrategiasdel sistema turístico español parahacer frente al agotamiento de algunsodestinos tradicionales de “sol y pla-ya” y para atender las necesidades delas nuevas tendencias de la deman-da, activando nuevos recursos/pro-ductos, han puesto de actualidade losdenominados turismos “alternati-vos” o turismos basados en recursos/productos distintos al sol-playa. Prin-cipalmente son los denominados tu-rismo rural y turismo urbano, con susmúltiples modalidades en cada caso.Estos hechos avalan el slogan “muchomás que sol y playa”, que con las mis-mas palabras o con mensajes pareci-dos ha proliferado em muchos desti-nos de ámbito local o regional, y queglobalmente puede aplicarse a nues-tro país, rompendo la imagen “úni-ca” del sol y playa.

La diversidad turística de Espa-ña – sus potencialidades y sus reali-dades – no es un hecho nuevo, obvia-mente, sino que muy probablementela omnipresencia del sol-playa la haocultado. En cambio, los factores in-dicados en el punto anterior, la han“trasparentado”, sin olvidar que elanálisis detallado de las motivacio-nes de la demanda interior y exteriory de los destinos específicos elegidosrevela la diversidad de turismos.Ahondando en esta cuestión y abu-sando de las metáforas se puede ar-gumentar, en primer lugar, que el “sol’nos ha deslumbrado y no nos ha de-jado ver la “geografia española”, ladiversidade geonatural y geoculturaly sus atractivos turísticos; y, por otraparte, también se puede argumentarque el “sol nos ha hecho olvidar queel patrimonio natural y cultural deEspanã atraía forasteros antes del

advenimiento del turismo de masas,y que en los últimos decenios a la“sombra” del “sol” se han desarro-llado otros turismos que localmente oregionalmente han adquirido granrelevancia.

Se sabe que el espacio geográfico,cualitativamente diferenciado, cons-tituye el soporte fisico de los procesossociales, pero también actúa como fac-tor, ya que su diversidad espacial con-duce a actuaciones diferenciadas. Lamagnitud del espacio y sus atributosde carácter cualitativo tienen un va-lor intrínseco – ya sea natural ocutlural -, y, a la vez, el derivado de lavaloración que le otorga la sociedad,hecho que induce su concepción yadecuación como producto turístico,en cada caso. Todo ello conduce a queel marco del actual escenario turísti-co y siguiendo la argumentación deestas líneas, se pueda afirmar que enEspaña existe una grand diversidady un gran número de recursos turísti-cos, pero en cambio existen pocos pro-ductos turísticos. En esta potenciali-dad se fundamentarán los cambios ylas nuevas ofertas turísticas del país,además de la cualificación y poten-ciación de los recursos ya explotados.

7. Territorio, turismo y planifica-ción turística. La desestructuracióndel poblamiento y de la organizaciónespacial preexistentes y las disfun-ciones del nuevo poblamiento turísti-co son rasgos que caracterizan el mo-delo (o modelos) de implantación es-pacial del turismo en España. En ge-neral se suele argumentar, como cau-sa explicativa, que ello es consecuen-cia de la “espontaneidad” del proce-so de implantación turística, quemayoritariamente no ha seguido lasnecesarias pautas de planificación.No obstante, sin desestimar que elloha sido cierto en diversas situaciones,hay que añadir que la principal cau-sa radica en la inexistencia de unalegislación o normativa de planifica-ción urbana y territorial específica delturismo, hecho que a tenor de las pro-puestas recientes para la modificaciónde la ley del suelo parece que no va aresolverse a corto plazo.

... muchomás que soly playa...

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El turismo ha sido un factor deorganización territorial a escala localy comarcal y de manera más vaga aescala regional. Su papel es decisivoen las zonas de alta densidad turísti-ca, alli donde el turismo ha definidola especialización funcional y produc-tiva del espacio. En los últimos dece-nios se ha configurado un nuevo sis-tema de asentamientos especifica-mente turístico. El turismo crea nue-vos asentamientos específicos al mis-mo tiempo que transforma, a menudomuy profundamente, los ya existen-tes. En ambos casos el proceso puedehaber seguido las pautas marcadaspor una planificación previa o pro-ducirse de manera totalmente espon-tanea; lo más frecuente en los espa-cios turísticos españoles ha sido losegundo con los resultados sobrada-mente conocidos sobre la calidad dela edificación, los servicios y el medioambiente (Valenzuela, 1986).

La especificidad de la implanta-ción espacial del turismo y el hechoineludible de someterse a la legisla-ción de planificación urbanística yterritorial general ha generado des-ajustes formales y funcionales delpoblamiento turístico. Estas disfun-ciones han tenido diversas manifes-taciones que en muchos se han tradu-cido en impactos negativos en el terri-torio y han afectado a la “calidad delproducto”, acentuando el problemaactual de revitalización. Este últimoaspecto nos obliga a recordar que lainadecuación entre la legislación ur-banística y territorial y la planifica-ción turística y globalmente el mode-lo (o modelos) de implantación turísti-ca han producido desequilíbrios te-

rritoriales y ambientales, y que comorespuesta a dichos desequilibrios y alagotamiento del modelo de los espa-cios turísticos tradicionales se estánllevando a cabo diversas acciones dereestructuración y renovación (Vera,1994).

La especificidad del espacio tu-rístico, de la ciudad turística (génesisy espacialización distintas a la ciu-dad convencional, funciona de mane-ra distinta,) ha hecho que se reclamecon insistencia una flexibilización enel planeamiento y gestión urbanísti-ca de los espacios turísticos. Esta es-pecificidad se fundamenta en que elespacio turístico tiene su génesis ydesarrollo a partir del modelo secto-rial económico inducido por la socie-dad del ocio y no es, en cambio, unaexpresión del crecimiento industrial,cuyo desarrollo urbano fue la basepara formular la Ley del Suelo de 1956(Rullán 1996).

8. Administración pública y tu-rismo. La intervención de la adminis-tración pública en el sector turísticoha constituido un destacado factor deldesarrollo y del despliegue territorialdel turismo en España. El protago-nismo del Estado, por encima de loque ocurre con otras actividades eco-nómicas, ha obedecido al carácter es-tratégico del turismo – en diversosámbitos –, hecho que se ha manteni-do e incrementado si cabe con el nue-vo “Estado de las Autonomías”. Lapolítica turística ha ido cambiando decontenido desde el inicio del turismode masas y se puede afirmar que siem-pre ha sido objeto de críticas. Elprotagonismo del Estado en el sectorturístico no ha está exento de contra-dicciones; y para ilustrar esta afirma-ción puede servir de ejemplo el hechoque la gestión política del turismonunca ha tenido un reconocimientode primer nivel (ministerio propio) enel organigrama político-administrati-vo del país, a pesar de su tutela einstrumentalización.

La contribución del Estado comoagente en el proceso de configuraciónde España como destino turístico hasido importante y, aunque pueda

discurtirse su alcance real o el signode los efectos de su intervención, esincuestionable su permanente e inten-sa presencia en dicho proceso. La“tutela”a que ha sido y está siendosometido el turismo por parte del Es-tado se fundamenta en diversos moti-vos, al margen del mayor o menor gra-do de intervención del sector públicoen el sistema productivo en razón decoyunturas y situaciones singulares.Entre estes cabe señalar la naturalezade los recursos turísticos – en muchasocasiones son bienes públicos o tie-nen una condición de carácter simi-lar –, el valor añadido que suponeuna actividad de relación con el “ex-terior” y, por último, el valor estraté-gico del turismo, que se manifesta adistintas escalas y en el ámbito de loeconómico, lo territorial y lo político.Un aspecto paralelo al hecho estruc-tural que tratamos es que el turismoes una actividad expuesta e su instru-mentalización política (más que unaintervención orientada a la ordena-ción del sector o de ordenación físi-ca), y ante esta condición el turismono está exento de ser utilizado en de-fensa o promoción de determinadospostulados políticos, estrategia que sefundamenta en el valor añadido desu significado (dimensión social,comunicativa mediática...), tal comose ha producido desde los primerosmomentos del despegue del turismoen España.

La evolución de la política turís-tica contempla, en una simplificaciónanalítica, tres referencias temporales:la política del desarrollismo, la polí-tica turística de visión veraniega y, fi-nalmente, la nueva política turística(Fayos, 1996). Los objetivos de cadauna de estas políticas ha sido distin-tos puesto que el contexto y la reali-dad turística también han sido dis-tintas en cada fase. Otro aspecto aconsiderar es el protagonismo de losdistintos agentes y especialmetne dela administración cuyo rol siempre hasido destacado, tanto en periodos deexpansión como en periodos de cri-sis, y cuya participación – en solita-rio o concertada con el sector privado– se concibe y se demanda para llevar

... se haconfigurado

un nuevo sistema deasentamientosespecificamente

turístico...�

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a cabo la nueva política turística es-pañola que ha de hacer frente a losretos derivados de los nuevos escena-rios turísticos, mundial y regional.

El paso de un estado centralista aun estado autonómico ha comporta-do cambios, pero también permanen-cias, en el protagonismo de la admi-nistración pública en el turismo. Laprimera afirmación que hay que ha-cer es que dicho protagonismo, quehemos calificado como importante, loes más si cabe en el “estado” de lasautonomías. Se ha producido un cam-bio de escala, y con ello una mayorproximidad entre administración ylugares turísticos; se han multiplica-do, y “formalizado” en el ámbito po-lítico-administrativo (CC.AA.), losdestinos turísticos y la competenciaentres ellos; y, finalmente, hay quedestacar que todas las administracio-nes autonómicas han asumido el pa-pel estratégico del turismo en el desa-rrollo de sus respectivos territorios, locual se ha concretado en una diversi-dad de políticas turísticas “regiona-les”. Esta “política” de la administra-ción regional se suma a la política dela administración central y a la de laadministración local. Sin duda, a lasingularidad de la política turísticase añade ahora un alto grado de com-plejidad (Bote y Marchena, 1996).

9. El futuro de España como paísturístico. Cualquier formulación so-bre hipótesis de futuro comportadificuldades derivadas de la propiaprospectiva como ciencia. En nuestrose añaden, además, las limitacionesderivadas del carácter complejo y di-verso del turismo, en cuya evoluciónadquiren relevancia las circunstan-cias no conocidadas o imprevistas. Apesar de ello, considerando las carac-teristicas del modelo (o modelos) tu-rístico español; los escenarios actua-les y futuros a escala regional y mun-dial, dibujados a partir del comporta-miento de la proyección de los facto-res que los determinan y consideran-do, finalmente, las macrotendenciasde la oferta y la demanda y los merca-dos turísticos resultantes, entende-mos que la hipótesis previsible a cor-

to y medio plazo contempla un esce-nario tendencial (no rupturista); hi-pótesis previsible, pero también posi-ble y deseable. En consecuencia, elperfil turístico de España y su signifi-cado en el mapa del turismo interna-cional no variará notablemente a cor-to y medio plazo, porque los factoresen los que se fundamenta tienen uncarácter estructural y un alto gradode permanencia.

Sin embargo, la evolución previs-ta no será lineal ni unidireccional. Poruna parte, cabe prever la aparición decontradicciones y riesgos que obsta-culizarán las tendencias conocidas obien hechos que impondrán un ritmoo secuencia temporal distinta a la pre-vista inicialmente. Y, por otra parte,el escenario futuro no se configuraráa partir de hechos “espontáneos” ode comportamientos aleatorios de losagentes y destinos turísticos. Por elloEspaña tendrá que hacer un esfuerzode renovación del sistema turístico, decualificación para mantener e incre-mentar su capacidad de atracción.

Se puede abundar en estos argu-mentos e indicar que, en relación alfuturo, y pese a las nuevas tendenciasde la oferta y de la demanda y del de-terioro del producto sol-playa, perma-necerán los factores básicos que ex-plican la distribución espacial del tu-rismo dado el caráter estructural delos mismos, afectando tanto a los fac-tores físicos y medioambientales (si-tuación geográfica, condiciones cli-máticas...), como a los de naturalezageopolitica (conflictos políticos y so-ciales, seguridad ciudadana real yaparente...). A ello hay que añadir larigidez de la oferta y la servidumbretemporal que supone la creación delas infraestructuras turísticas. En de-finitiva, se constata como tendenciala permanencia del turismo sol-pla-ya, si bien tendrá que competir connuevos destinos sol-playa tambiéncon la aparición y la explosión denuevos turismos específicos y alter-nativos.

Como dato que ilustra lo señala-do anteriormente cabe recordar quehasta la fecha el mantenimiento delsistema turístico español ante los cam-

bios del turismo (nuevas motivacio-nes, turismo activo y personalizado,vocaciones fragmentadas, nuevos des-tinos competidores...) y ante las exi-gencias de um nuevo escenario inter-nacional ha requerido, precisamente,la aplicación de un conjunto de medi-das y la formulación de una políticaturística orientada hacia estrategiasde rehabilitación de su oferta de alo-jamiento, la mejora de la calidad delos espacios turísticos y su implemen-tación con nuevos componentes paradotar de mayor calidad el espacio tu-rístico (véase hipótesis 1).

10. El desarrollo de la Geografíadel Turismo, Ocio y Recreación enEspaña. Los estudios sobre el fenóme-no turístico realizados por geógrafosespañoles no han sido muy numero-sos hasta fechas recientes, si se com-paran con las investigaciones que sehan llevado a cabo sobre otros aspec-tos geográficos. Sin embargo, hoy díase puede afirmar que la investigaciónen Geografia del Turismo en Españaha superado su posición tradicionaly ha alcanzado un nível de desarro-llo que es equiparable al de otras pro-ducciones geográficas, al nivel quepresenta la investigación turística deotras disciplinas afines y al grado dedesarrollo que presentan las comuni-dades de geógrafos de otros países.Esta nueva situación es consecuen-cia de varias circunstancias, a saber:los nuevos intereses de una renovadacomunidad cientifica universitaria; elreconocimiento de la importancia delturismo como factor transformadormantenedor de las estructuras terri-toriales y, por último, el atractivocomo objeto de estudio del turismo,por ser un fenómeno diverso y com-

... se constatacomo tendencia lapermanencia del

turismosol-playa...�

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plejo en su globalidad y en su vertien-te geográfica, y variado en sus mani-festaciones espaciales.

La Geografia como materia edu-cativa ha tenido una presencia pocorelevante en la oferta universitaria y,por otra parte, la investigación geo-gráfica se ha desarrollado casi exclu-sivamente en el seno de la universi-dad. Un cambio sustancial se ha pro-ducido a partir de 1980, cuando seaprobaron los planes de estudio con-ducentes a la obtención del título delicenciado en Geografia, con lo que porprimera vez se cuenta con una titula-ción específica. Este hecho ha de cons-tituir la base para conseguir una ma-yor calidad y un mayor volumen dela investigación geográfica. Particu-larmente ha se suponer el marco ade-cuado para el desarrollo y madurezdefinitiva de la investigación turísti-ca en geografia, incluyendo materiasde geografia del turismo, especial-mente en segundo y tercer ciclo.

El proceso señalado ha ido acom-pañado de otros hechos de naturale-za distinta, pero que apuntan en lamisma dirección, probablemente enuna estrecha relación causa-efecto.Por una parte, la constitución del Gru-po de Trabajo de Turismo, Ocio y Re-creación (Grupo 10) en el seno de laAsociación de Geógrafos Españoles(AGE), que empezó a gestarse en 1987y que se aprobó definitivamente yaentrada la década de los 90. Por otraparte, un hecho que refleja em mayorinterés por el tema y una intensifica-ción de los estudios es su progresivaincorporación como tema de ponen-cias en los congresos nacionales orga-nizados por la AGE, en otras reunio-nes de ámbito regional o nacional, asícomo las propiciadas por la UniónGeográfica Internacional (UGI); sinolvidar, además, otras de carácterinterdisciplinar, en la que los geógra-fos suelen estar presentes con unprotagonismo destacado.

Pero también, la investigacióngeográfica del turismo en España pa-dece problemas que son handicaps queafectan a cualquier tipo de investiga-ción turística y que ha dificultado ydificultará su avance (Cals, 1996).

Este contrapunto al balance positivode estas líneas se concreta en dos ti-pos de handicaps. En primer lugar, losproblemas derivados del marco gene-ral de la investigación universitariaen España. Entre ellos cabe señalar lainsuficiencia de la financiación pú-blica y de la financiación privada, lano inclusión de los estudios de turis-mo como temas prioritarios en los ca-nales de financiación pública de lainvestigación y la excesiva atomiza-ción de las unidades de investigaciónen turismo, que favorece la investiga-ción fragmentada e inconexa y restaeficacia a los proyectos y a sus resul-tados. Y, en segundo lugar, los pro-blemas derivados de los limites de lageografia como disciplina y de la co-munidad de geógrafos españoles enconcreto, con sus potencialidades ycapacidades para hacer frente a losrestos planteados: observar, describiry explicar el fenómeno turístico y apor-tar soluciones aplicables a las necesi-dades del turismo y de la sociedade.Par hacer frente a los handicaps indica-dos en estos dos puntos se planteacomo necesidad conseguir una mayordisponibilidad de recursos financieros,así como una cierta concentración derecursos humanos y materiales con elfin de alcanzar una masa crítica sufi-ciente para afrontar las investigacio-nes de mayor exigencia y favorer lacalidad de los estudios.

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Números anteriores:Secretaria da Revista:Profª Tatiana SpínolaTel.: (71) 273-8557

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CONCENTRAÇÃO

E DESCENTRALIZAÇÃO NA REGIÃO

METROPOLITANA DE SALVADOR1

Edgard PortoDoutorando em Planejamento Territorial e DesenvolvimentoRegional. Universidade de Barcelona.Instituto de Pesquisas Econômicas, Sociais e Ambientais– InP – e-mail: [email protected].

Edmilson CarvalhoInstituto de Pesquisas Econômicas, Sociais e Ambientais –InP, e-mail: [email protected].

municípios que a formam e constitu-em2 . Obviamente, deste novo ponto devista, resulta que, de um lado, os pro-blemas mais densos e relevantes con-tinuam sendo os que ocorrem no inte-rior da própria Salvador, que é a me-trópole, com cerca de 2,4 milhões dehabitantes, em torno da qual “giram”os demais municípios, e que, de ou-tro, alguns desses problemas assu-mem formas específicas, no âmbitodos municípios, por conta de deter-minações próprias suas, que se tenta-rá detectar durante a análise.

Assim, esta fase da investigação,que terá desdobramentos posteriores,busca apresentar inicialmente os fa-tos mais importantes que marcaramas descobertas sobre o processo deglobalização na cidade do Salvador,a fim de que este trabalho possa ter acapacidade de aprofundar temas eseus espaços e, ao mesmo tempo, po-der ser entendido independentemen-te do conhecimento do trabalho ante-rior. Em seguida, apresenta algunsindicadores para identificar se as ca-racterísticas gerais dos movimentos,encontradas na cidade do Salvador,se aplicam em toda a sua região e como

parte desses movimentos repercutemdiferentemente nos distintos espaçosperiféricos de continuidade da metró-pole ou das cidades que ainda nãoforam conurbadas, embora estejamintimamente interligadas por fluxosde capitais, mercadorias e pessoas.

Por fim, apresentam-se as conclu-sões que expressam as alterações pro-cessadas na metrópole nos dois últi-mos anos e o comportamento dos flu-xos sociais e econômicos nos espaçosdiferenciados da RMS, diferenciando-se aqueles caracterizados pela novafase de globalização da economiamundial.

PROCESSOS ESTRUTURANTESA globalização segue sendo, para

nós, um fenômeno mundial totali-zante, historicamente determinado eque traz, no seu modo de ser, umaantinomia estrutural: a antítese daextrema concentração, casada com aextrema exclusão social, dois aspec-tos e movimentos que se produzem ese reproduzem dialética e reciproca-mente.

Todos os modos de produção dopassado, com suas respectivas forma-

1 Trabalho apresentado no VI Seminário da Rede Iberoamericana de Investigadores,realizado em Rosário, Argentina � maio de 2001

2 É uma região constituída por lei federal , que os órgãos públicos adotam para efeitos depesquisas e apresentação de dados e que, por isso mesmo, nós adotamos apenaspara efeito de análise dos movimentos internos, sem questionar a validade dos seuslimites físicos.

PULSO DA INVESTIGAÇÃO

ste trabalho dá continuidadea um processo de investigação sobreos reflexos da globalização na regiãode Salvador. Em documento anterior,abordamos o modo de crescimento dacidade de Salvador, tentando captar,na sua lógica de crescimento e descen-tralização, um desdobramento parti-cular - econômico-espacial - da lógicacapitalista, no seu atual estágio deglobalização. Foi um processo medi-ado pelo desenvolvimento-descentra-lização da economia e do espaço nosplanos nacional (Brasil), regional(Nordeste brasileiro) e estadual (refe-rente ao Estado da Bahia, do qual Sal-vador é a capital). Ressaltávamos,então, que esta cadeia de momentoslógicos, que se realizavam através dosaspectos espaciais (regionais e urba-nos) e sociais da acumulação de capi-tais, em última instância, constituíamderivações de uma lógica mais ampla- na verdade universal -, a lógica quepreside o capitalismo mundial à es-cala planetária.

Alguns aspectos, revelados nocrescimento e na descentralização dacidade de Salvador, mediante a análi-se então feita, são, aqui, retomados,só que num plano de análise maior,ou seja, num plano que cobre a Re-gião Metropolitana de Salvador – RMS- a região que abrange cerca de dez

E

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75RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

ções sociais, alcançaram um determi-nado grau - maior em alguns casos,menor em outros - de mundialização.O modo de produção primitivo, al-deão ou tribal foi, entre todos os dopassado, aquele que alcançou maioramplitude mundial, respeitada, obvi-amente, a dimensão populacional doglobo terrestre. Já o modo de produ-ção escravista clássico teve uma mar-gem de mundialização bem menor,quase que se circunscrevendo às civi-lizações grega e romana (Anderson,1982). Quanto ao modo de produçãofeudal, estendeu-se menos do que oprimitivo, porém mais do que oescravista.

Todavia, de todos os modos deprodução conhecidos até o momento- os quais não se desenvolveram e nemse sucedem numa suposta “lineari-dade histórica”, como pretende umdeterminado determinismo, estreito edogmático, aquele que mais se mun-dializou é exatamente o modo de pro-dução capitalista. Sua mundializa-ção, que se lastreia no caráter, na for-ma e na dinâmica de expropriação/reconversão de seu excedente, de seumais-produto - a mais-valia -, teve iní-cio no momento mesmo da etapa daacumulação primitiva. Passou pelaimportação de matérias-primas e ex-portação de mercadorias e capitais,pela constituição do capital financei-ro, pelo grande impulso da produçãofordista (principalmente depois daSegunda Guerra até a crise dos anos70 (Mandel, 1996)). No momentoatual, a produção capitalista subme-te todas as demais formas de produ-ção e sociabilidade à escala planetá-ria num nível jamais alcançado pornenhuma outra forma de produção do

passado: sobressaem os fluxos e aacumulação financeira e a longevi-dade das crises de superproduçãonum contexto em que se combinam are-estruturação produtiva e o neolibe-ralismo, impulsionados pela automa-ção e a instantaneidade proporciona-das pela robótica e a informática. É aesta mais recente etapa, a rigor desen-volvida nos últimos 20 a 30 anos, masintensificada na década de 90 do sé-culo que findou, que chamamosglobalização (Beinstein, 2001).

A contradição ressaltada maisatrás permeia todos os espaços à es-cala mundial: nos continentes, sepa-ra os que pontilham as ilhas de altaprodução e produtividade dos que seencontram cada vez mais na condi-ção de sucata em todos os níveis -como é o caso mais flagrante do conti-nente africano e como é também o casode outros, como a América Latina, quecaminham, a passos largos, para umasituação semelhante à do continenteafricano.

Nos países, repete ao mesmo mo-vimento antitético de concentração-exclusão, desta vez entre regiões nasquais se localizam as ilhas internasde concentração da produção, datecnologia e da riqueza, cada vez maisricas, socialmente mais reduzidas ediscriminatórias, das cada vez maisamplas regiões, em cadeia, nas quaisse multiplicam a exclusão social, odesemprego, a deterioração dos par-ques industriais, da agricultura e docomércio, as rendas e os salários su-cessivamente mais rebaixados.

Nas regiões, o mesmo fenômenose repete, mesmo nas regiões mais ri-cas: localidades nas quais se encon-tram as cada vez mais restritas econcentradoras ilhas da riqueza,ladeadas por localidades que sãoprojetadas, inexoravelmente, parafora ou para a margem do processode acumulação e distribuição doproduto social.

Nas cidades, sobretudo nas me-trópoles - isto é o que pretendemosdemonstrar quando analisamos a ci-dade de Salvador -, tudo se repete nomesmo compasso: áreas, bairros e lo-calidades nas quais se concentram as

ilhas de moradia e comércio de pon-ta, envoltas num mar de bairros e es-paços literalmente deteriorados, ondeimperam as habitações insalubres, omesmo desemprego, o caos urbano eurbanístico, o chamado “mercado in-formal” e as péssimas condições denutrição, saúde e educação da maiorparte da população.

Todos os aspectos possuem seusrebatimentos espaciais - e de tal ma-neira que se pode fazer, através dasrepresentações espaciais, a leituradeste amplo processo que combinaconcentração de riqueza com exclu-são social e que são, numa palavra,representações econômicas, sociais eespaciais da globalização universa-lizada e internalizada.

Mas existe um aspecto que, cadavez mais, passa a ser central em todosesses cenários concretos, que temosdestacado e que voltaremos a desta-car agora, na análise da realidade daRegião Metropolitana de Salvador, eque diz respeito ao fato de que todasestas cada vez mais restritas (social eespacialmente) ilhas de riqueza estãocada vez menos ligadas às atividadeseconômicas internas e, corolaria-mente, cada vez mais ligadas a umarede, em cadeia, de atividades econô-micas interligadas a um mesmo nú-cleo de megainteresses internacionais,representados por um punhado cadavez mais reduzido de megaempresasque controlam a produção e a circula-ção mundial de mercadorias - e dopróprio capital - e que, em última ins-tância, refletem e caracterizam o fenô-meno da globalização (Beinstein,2001).

Sempre houve, em cada país, emcada região e em cada metrópole, umaligação entre determinado núcleo de

... a produçãocapitalista submete

todas as demaisformas de produção esociabilidade à escala

planetária...�

... imperam ashabitações insalubres,o mesmo desemprego,

o caos urbano eurbanístico ...�

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produção - café, açúcar, carne, mine-ral, tabaco, cacau, borracha, etc. - ecertos núcleos de consumo (produti-vo ou improdutivo) situados no exte-rior de cada país. Isso também acon-teceu, no passado, com Salvador e suaregião de influência direta, com a pro-dução de açúcar e tabaco para expor-tação. Todavia, com o fenômeno atualda “globalização”, estas ligações nãosó se tornaram mais estreitas e repre-sentativas, porque oriundas do modocomo circula o capital “globalizado”,disposto em circuitos, na atualidade,como acabou por dividir o espaço so-cial e físico (regional e urbano) emsubespaços imediatamente ricos, por-que interligados ao circuito de capi-tais dominantes à escala mundial, esub-espaços imediata e amplamentepobres, marginalizados porque exclu-ídos do mesmo circuito.

Dizer “excluídos”, de tais circui-tos, não significa dizer excluídos dalógica e do movimento de capitais,como totalidades históricas e sociaiscomplexas, que os inclui quanto à ex-ploração e os exclui quanto à distri-buição do produto social de uma acu-mulação socialmente cada vez maisrestrita e impotente para dar conta dosproblemas sociais que ela mesma criae recria.

Esta mesma lógica estrutural epoliticamente discriminatória é amesma que conclui seu percurso se-gregando, além da população e doespaço, os Estados, as instituições(como os sindicatos, etc.) e os cada vezmais frágeis, impotentes e vazios po-deres locais de províncias e municí-pios - tudo em favor de um núcleomundial de decisões cada vez maisresolutamente centrado.

REGIÃO METROPOLITANA DE

SALVADOR

Salvador, com cerca de 2,4 mi-lhões de habitantes, terceira metrópo-le do país em população3 , é a capitaldo Estado da Bahia, com cerca de 13,1milhões de habitantes. É a maior me-trópole da Região Nordeste do país,cuja participação no PIB nacional4

teve um crescimento significativo en-

tre 1970 e 1985, de 1,82% para 2,72%,respectivamente, passando a crescermais levemente a partir dessa últimadata até alcançar uma estabilidade de2,8% na última década. Para se ter umaidéia, somente a cidade de São Paulorepresenta quase que 18% do PIB na-cional, enquanto a segunda maior ci-dade, Rio de Janeiro, participa comcerca de 8,%% do PIB, ficando a cida-de de Belo Horizonte, com uma popu-lação menor que a de Salvador, comquase 4% do PIB brasileiro.

Em relação ao Estado, a RMS cres-ceu de 41,5% em 1970, quando se ini-cia a descentralização industrial nopaís, para 57,1% em 1990, quando seesgota a fase da industrialização sub-sidiada da Sudene. Nesta década, essaparticipação tende a cair para 52,6%(em 1996), em função de alguns in-vestimentos em papel e celulose noExtremo Sul do Estado e atividadesagrícolas de corte moderno voltadospara a produção de frutas em Juazeiroe grãos em Barreiras. É importante fri-sar o papel da RMS no Estado da Ba-hia e no Brasil, para que se ofereça adimensão da metrópole baiana e sereconheça que, apesar deste porte, osmovimentos se assemelham a outrasmetrópoles ibero-americanas, comoveremos mais adiante.

Salvador é o centro principal ur-bano de uma região - a principal doEstado -, o Recôncavo baiano, forma-do por cerca de 40 municípios que, nopassado - a rigor, até as décadas de50 e 60 do século XX -, abrigou a pro-dução de tabaco, charutos, cana deaçúcar e açúcar para exportação euma economia de subsistência mini-fundista que garantia a reproduçãoda força de trabalho empregada naeconomia de exportação e o envio deexcedentes para o mercado urbano dacapital. Em 1970, o Estado da Bahiapossuía cerca de 7,5 milhões de habi-tantes, o Recôncavo contava com

aproximados 1,7 milhões de pessoas,enquanto Salvador detinha em tornode 1,0 milhão de habitantes. Agora,passados trinta anos, o Estado daBahia quase dobrou a sua população(cerca de 13 milhões) e Salvador maisdo que dobrou a sua (em torno de 2,4milhões).

Durante os anos 60-80 passados,a industrialização incentivada pelaSuperintendência do Desenvolvimen-to do Nordeste – SUDENE, desman-chou o cenário tradicional do Recôn-cavo. Com efeito, a industrializaçãoincentivada e a acelerada urbaniza-ção que a acompanhou foram basica-mente centradas em grande parte doRecôncavo, levando as economias tra-dicionais a completarem uma crise jámuito antes iniciada.

O velho Recôncavo canavieiro efumageiro perdeu sua fisionomia se-cular e, no seu lugar, implantou-se, emmenos de duas décadas, uma “man-cha” urbano-industrial, com uma par-te de seu espaço situada dentro dovelho Recôncavo e outra a ultrapas-sar os seus limites. Essa nova forma erealidade de ocupação denominadade “Macrorregião de Salvador”, é pornós assim caracterizada:

... Salvador-Feira (de Santana) emais um determinado grupo de mu-nicípios... constituem uma só macror-região, porque fazem parte de umadeterminada divisão de trabalho, deuma determinada corrente de fluxos,

3 São Paulo, 10.406.166 habitantes, é a maior das metrópoles brasileiras; Rio de janeiro,com 5.850.544, vem em segundo lugar; em terceiro, Salvador, com 2.440.886; em quar-to, Belo Horizonte, com 2.229.697 e em quinto, Fortaleza com 2.138.234 habitantes.Estas são as cinco maiores cidades do país.

4 IPEA: www.ipea.gov.br.

... a industria-lização incentivada

pela SUDENEdesmanchou o cenário

tradicional doRecôncavo...�

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de uma dada aglomeração (feita à basede capital fixo, infra-estrutura, com-ponentes terciários etc.), ao tempo emque, por isso mesmo, articula (...) es-paços e realidades socioeconômicasdentro do estado da Bahia, fora delee, o que é mais relevante, também asduas regiões mais importantes do Bra-sil: o Centro-Sul e o Nordeste (Porto eCarvalho, 1995).

Porém, se a industrialização ocu-pou todo o espaço da nova macrorre-gião, os equipamentos principais emais representativos dessa massa decapitais foi instalado, principalmen-te, no conjunto de 10 municípios (Sal-vador, Simões Filho, Itaparica, VeraCruz, Lauro de Freitas, Camaçari,Dias D´Ávila, Candeias, São Francis-co do Conde e Madre de Deus) queformam a oficialmente denominadaRegião Metropolitana de Salvador eque abriga, em seu espaço, os maioresequipamentos e ramos da economiaincentivada - hoje claramente, no seuconjunto, sob processo de contração:os ramos metal-mecânico, petroleiroe petroquímico, o complexo petroquí-mico da Bahia (COPEC), o Centro In-dustrial de Aratu (CIA), o Porto deAratu, a Usina Siderúrgica da Bahia(USIBA) e a Refinaria Landulfo Alves(RLAM). Em segundo lugar, na cida-de de Feira de Santana - a segundacidade do Estado da Bahia em termospopulacionais, com cerca de 500 milhabitantes -, onde está localizado oDistrito Industrial de Subaé.

Com base em valores que visam amedir a participação da renda produ-zida em cada município do Estado daBahia, no conjunto da renda geradano Estado, que devem ser considera-dos como uma proxy do PIB munici-pal5 , constatamos que a Macrorregião

de Salvador produz perto de 60% doPIB estadual (o Estado da Bahia con-tém 417 municípios). Segundo o cen-so mais recente, do ano de 2001, apopulação da RMS é de 3.006.141habitantes, cabendo a Salvador, com2.440.836, 80% deste total. É esta Re-gião Metropolitana de Salvador que éo objeto de estudo deste trabalho.

OLHARES DISTINTOS ECONVERGENTES

Seguimos os rumos de pesquisasanteriores que abordaram os efeitosda globalização, especialmente na ci-dade de Salvador, utilizando basica-mente os mesmos indicadores, paracompreender os movimentos em es-cala metropolitana. São olhares sobóticas distintas, porém complementa-res, que permitirão compor uma ima-gem síntese que representam os seustraços estruturais e convergentes.

Neste sentido, procurou-se com-preender:

a) os movimentos espaciais dapopulação por faixas de rendi-mentos, níveis de instrução equantitativo, supondo que te-nha uma relação direta com asatividades econômicas e a qua-lidade de vida na metrópole;

b) a densidade dos fluxos de li-gações telefônicas para enten-der o grau de relações entrecada subespaço metropolitanoe entre eles e outras regiões domundo, o que mostra uma

maior ou menor capacidade dearticulação social e econômica;

c) o comportamento do setor imo-biliário em relação à demandapelas distintas classes sociaise pelos setores de comércio/serviços, indústrial/institucio-nal, etc, para cada subespaçoda metrópole, o que demonstraa mobilidade espacial das pes-soas e suas relações com ele-mentos da infra-estrutura me-tropolitana;

d) o volume arrecadado de Impos-to sobre a Circulação de Mer-cadorias e de Serviços – ICMSque, tal como o nome indica,sugere a distribuição e qualifi-cação das atividades de consu-mo das mercadorias e dos ser-viços na RMS6 .

CORNUBAÇÃO QUE SE

CONSOLIDA E SE AMPLIA

O Brasil possui, hoje, segundo ocenso de 2000, 169.544.443 habitan-tes. A Bahia conta com cerca de 8%deste total, ou seja, 13.066.746 habi-tantes. Se, quando do impulso inicialda industrialização incentivada, ano1970, Salvador, com 1.027.142 habi-tantes, detinha cerca de 83,3% da po-pulação da RMS (com 1.165.117 habi-tantes), hoje, quando essa mesma in-dustrialização incentivada encontra-se em processo de contração, Salva-dor, com 2.440.836 habitantes, passaa deter em torno de 80% da popula-

... a Macrorregiãode Salvador produz

perto de 60%do PIB

estadual...�

5 www.sei.ba.gov.br6 Os indicadores utilizados merecem algumas observações: como são de fontes diferen-

ciadas, é comum que eles sejam apresentados com zoneamentos distintos, o que exigiuum esforço de análise qualitativa para efeito de comparação dos seus resultados (apro-ximados) espaciais; no que se refere aos dados que não são de fontes oficiais, porexemplo, o volume de construções na cidade, a metodologia merece algumas críticasquanto a sua consistência, por exemplo o fato de que o volume de construções de altarenda foi obtido por informações dos filiados da Associação de Dirigentes de Empresasdo Mercado Imobiliário da Bahia � ADEMI, em que pese eles serem quase absolutosnesta faixa de renda; os dados de ICMS devem ser relativizados em função de quealguns produtos são isentos (produtos perecíveis, por exemplo.), o que pode deformara crescimento relativo da RMS no Estado da Bahia e, por outro lado, as cobranças destataxa são realizadas às vezes na área da produção (bebidas, por ex.) e às vezes no localde consumo, o que pode mascarar ou transferir valores de uma área para outra; por fim,alguns indicadores mereceriam uma série histórica para melhor compreensão dos mo-vimentos. Apesar de todos esses problemas, os indicadores mostram capacidade paraexpressar os traços estruturais do movimento econômico e social da RMS, desde quetratados convenientemente, como foi o caso.

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ção da RMS, esta, agora, com 3.006.141habitantes. Se, nesses 30 anos, a po-pulação da RMS praticamente tripli-cou, Salvador mais do que duplicou asua, daí seguindo que o crescimentorelativo da população de Salvador foimenor do que o da RMS. Isso se de-veu, de um lado, a municípios conur-bados com Salvador, como Simões Fi-lho e Lauro de Freitas - meras exten-sões urbanas de Salvador – que expe-rimentaram crescimentos espetacula-res (Lauro de Freitas passou de meros10 mil em 1970 para 113 mil em 2000,enquanto Simões Filho passou de 22mil em 70 para mais de 90 mil em2000) e, de outro, ao grande cresci-mento de municípios, como Camaçari,que abriga o Pólo Petroquímico, pas-sando de 34 mil em 70 para 161 milem 2000, e Candeias, município queabriga instalações da Petrobras, quepulou de 34 mil em 70 para 76 mil em2000. Os demais municípios da RMSexperimentaram pequenos incremen-tos populacionais durante o período.7

O censo de 2000 trouxe outras re-velações. Das cinco grandes regiõesbrasileiras, segundo o conceito doIBGE (Norte, Centro-Oeste, Sudeste,Sul e Nordeste), o Nordeste, com umataxa anual média de 1,3%, foi a quemenor crescimento populacional ex-perimentou entre 1991 e 2000. Já den-tro do próprio Nordeste, os estadosque menos cresceram em populaçãoforam os estados da Bahia e da Paraí-ba, ambos com uma taxa anual médiade apenas 4% entre 1996 e 2000. Ade-mais, o Estado da Bahia foi um dosque encolheram mais a sua popula-ção no país, vez que, aí, cerca de 153municípios (37% dos 417 existentes)tiveram suas respectivas populaçõesdiminuídas em termos absolutos (sósendo superado, sob este aspecto, pe-los estados de Minas Gerais, RioGrande do Sul e Paraná).

Uma das razões centrais de taldiminuição - ora em termos absolu-tos, ora em termos relativos - resideexatamente no freio da industrializa-ção incentivada pela SUDENE a par-tir dos anos 90. Com efeito, esta in-dustrialização, com suas reformas,não só não logrou se realizar e se

internalizar pelo hinterland do Nordes-te e da Bahia, como, ali onde se fixou,entrou em visível processo ora desucateamento, ora de retração ourecessão (CIA, Subaé, exploração depetróleo, ramo metal-mecânico, cacau,algodão, café, feijão, etc.), ora mergu-lhou num profundo processo dereestruturação produtiva que a fezreduzir não só o valor dos saláriosindividuais - e da correspondentemassa de salários -, como o contin-gente de trabalhadores.

O Pólo Petroquímico, por exem-plo, que empregara, em décadas ante-riores, mais de 25 mil trabalhadores,hoje não emprega 10 mil. O contin-gente de trabalhadores da Petrobrastambém sofreu redução brusca com aparalisação de grandes áreas de explo-ração no Recôncavo baiano. No ramometal-mecânico, a redução foi drásti-ca: o número de unidades em opera-ção caiu de mais de 40 para menos de10, segundo dados da própria SUDIC- Superintendência de Desenvolvimen-to Industrial e Comercial.

Na região do cacau, a massa dedesempregados chega a mais de 350mil. No ramo bancário existiam, noinício da década de 80, 1,2 milhão debancários no país, enquanto, na Ba-hia esta, massa era representada porcerca de 26 mil trabalhadores. Hoje, amassa de bancários do país desceupara 460 mil, enquanto, na Bahia, elabaixou para menos de 12 mil (dadosdo Sindicato dos Bancários).

Mas, ao lado do desemprego e dabaixa remuneração, tinha início, mes-mo nos anos 80, um outro aspectoperverso recém-introduzido pelareestruturação, que já se propagavacom rapidez: a precarização das con-dições de trabalho dos que ainda seencontravam no mercado de trabalho.Com efeito, “a proporção de emprega-dos com carteira assinada na populaçãoocupada da RMS cai de 56,4% em 1981para 51,4% em 1989 e a de empregados

sem carteira cresce de 20,7% para 23,8%no mesmo período” (Borges, 1993).

É fato por demais conhecido quetal situação se agravou sem parardurante toda a última década - e nãoé por outra razão que toda a RMS, emtodas as cidades que nela se situam, onúmero e a massa de camelôs e dochamado “comércio informal” assu-miu dimensões alarmantes, como sepode ver claramente em cidades comoCamaçari, Feira de Santana e a pró-pria Salvador. De tudo isso, resulta oseguinte quadro só no caso de Salva-dor: “Dados da Companhia de Desenvol-vimento da Região Metropolitana de Sal-vador (Conder) indicam que Salvadorpossui mais de 360 favelas, onde estãovivendo cerca de 1,5 milhão de pessoasem condições subumanas”8 - cerca de62% da população da cidade.

Se compreendermos que a seqüên-cia da implantação de indústrias no-vas no Estado, na última década, dá-se a um ritmo menor do que antes, éacompanhada de processos produti-vos que absorvem e põem em movi-mento muito menos força de trabalho,pagam salários menores (inclusivepela elevação do grau de terceirização)e não reúnem a aglomeração anteriorde economias de escala, além de sesituarem num quadro agudo de con-centração da renda, não tardaremosa entender o porquê da retração

... Salvadorpossui mais de 360favelas, onde estão

vivendo cerca de 1,5milhão de pessoas em

condiçõessubumanas...�

7 Se levarmos em conta que, em 1970, Dias D´Ávila era apenas um distrito de Camaçari,e que hoje é município emancipado, a população que seria hoje de Camaçari, paratermos de comparação, teria pulado de 34 mil em 1970 para 206 mil.

8 A Tarde, edição de 14 de outubro de 1999.

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populacional do Estado da Bahia,tanto em termos absolutos (em mui-tos casos) como em termos relativos.9

Compreenderemos também porque aRMS ostenta a condição de regiãometropolitana com maior taxa de de-semprego do país (9,72% segundo oIBGE em 1999) e estaremos aptos acompreender a dinâmica interna dosmovimentos populacionais da RMS.

Em 1991, existia, na maior parteda Região Metropolitana de Salvador,uma enorme área - certamente maiordo que a metade de toda a RMS - re-presentada por zonas de informa-ção10 com uma população situadaentre 5 a 5.114 pessoas. Nessa exten-sa faixa, que representava pratica-mente um grande vazio demográfico,as exceções ficavam com pequenasparcelas territoriais nas proximida-des de Candeias, onde se encontra aRefinaria Landulfo Alves, com popu-lações entre 5.114 e 16.471 por zonade informação, na faixa que represen-ta Dias D´Ávila, com a mesma dimen-são populacional por zona de infor-mação, no Município de Itaparica,com população de 5.114 a 16.471 pes-soas por zona de informação e, final-mente, nas áreas de Camaçari, ondese localizam o Pólo Petroquímico e afaixa litorânea, com populações de32.571 a 52.971 pessoas por zona deinformação para as proximidades doPólo e da área urbana e com popula-ção de 5.114 a 16.471 para as faixasdo litoral. Todas as áreas restantes detoda a RMS, que representavam umaconcentração maior de habitantes porzona de informação, situavam-se, noinício da década de 90, de Simões Fi-

lho e Lauro de Freitas para baixo até seintegrarem no tecido urbano de Salva-dor, ali onde as faixas mais populosasse encontravam, inclusive com 5 fai-xas de 52.971 a 99.964 pessoas porzona de informação (Mapa 1).

A primeira constatação a ser feitaé que, já no ano de 1991, as faixaspopulacionais de maior densidade(por zona de informação) encontra-vam-se em Salvador e nos municípi-os imediatamente conurbados com acapital, a saber, Lauro de Freitas eSimões Filho - este último bem próxi-mo ao Centro Industrial de Aratu e aoPorto de Aratu. Nessa época, inclusi-ve, em que a produção fordista aindase fazia representar em algumas im-portantes economias da Macrorregiãode Salvador, grande parcela de traba-lhadores especializados do CIA, doPólo e da Petrobras, até então aindarelativamente numerosos, moravamentre Salvador e Feira de Santana eeram levados e trazidos de volta aoslocais de trabalho por meio de ônibus,diariamente.

Em apenas 5 anos, ou seja, até oano da contagem populacional, 1996,o quadro populacional geral da RMSmudou substancialmente, por conta,antes e acima de tudo, do já citadomovimento migratório do interiorpara as cidades, sobretudo Salvador,Feira de Santana, Camaçari e Laurode Freitas. Este movimento, como de-monstra o censo mais recente, do ano2000, só fez se acentuar, com a agra-vante de que, a este processo deinchaço de tais cidades, literalmenteocupadas por “invasões“ e o chama-do “comércio informal”, correspon-deu uma das duas menores taxas decrescimento da população no Brasil:Bahia e Paraíba, com apenas 4% aoano. Parte do esvaziamento do interiorveio refletir-se no crescimento dessascitadas cidades (Mapa 2).

A situação do ano de 1996 de-monstra, pelo que foi dito, uma eleva-ção da densidade populacional porzona de informação em toda a RMS.Com efeito, toda a área de relativo va-zio demográfico antes representadapor zonas de informação com concen-trações populacionais de 5 a 5.114pessoas por ZI, não só diminuiu deextensão como foi substituída por fai-xas mais densas.

Observa-se que a maior concen-tração populacional de toda a RMSse deu:

a) em menor escala, nas imedia-ções de Candeias, orla da ilha,Dias D´Ávila, Camaçari, orlaoceânica da própria Camaçarie alguns bairros internos deSalvador;

b) em escala de média a alta naorla de Lauro de Freitas e emalguns bairros internos de Sal-vador (faixa da BR-324 que ligaSalvador a Feira de Santana),subúrbio ferroviário (uma fai-xa na qual predomina o desem-prego e o subemprego), áreasadjacentes ao miolo;

c) em escala máxima em certostrechos do mesmo subúrbio fer-roviário (Periperi, Paripe) e darodovia BR-324, bairro de Bro-tas, todo o miolo (zona proletá-ria central e principal da cida-de) e trecho de Itapuã a SãoCristóvão bairros que, nos últi-mos anos, experimentaramverdadeiros saltos popula-cionais, de comércio e, também,de desempregados e subem-pregados.

A “lei da descentralização”, com-binada com a concentração popula-cional da RMS - principalmente Sal-vador -, que é claramente observada evivida empiricamente por quem vive

9 A Tarde, edição de 25 de junho de 2000: as demissões efetuadas, só no comércio deSalvador, de janeiro de 1999 a março de 2000, alcançaram a cifra de 70.462 trabalhado-res e no mesmo período, o número total de demissões realizadas em todos os ramos daatividade econômica de Salvador foi 291.439 pessoas.

10 Zona de Informação é uma divisão territorial utilizada pelo órgão de planejamento daRMS (CONDER) e pela Prefeitura Municipal de Salvador, com o intuito de agregar asinformações regionais, utilizando como critério o agrupamento de bairros com certahomogeneidade socioeconômica.

... a RMSostenta a

condição de regiãometropolitana

com maiortaxa de desemprego

do país...�

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em Salvador e a observa com olho crí-tico, é aqui confirmada pelos dados.A RMS se torna mais densa, dentrodela Camaçari, Lauro de Freitas, a orlaoceânica e a periferia mais ainda e, deresto, algumas áreas internas de Sal-vador atingem o ponto máximo desseadensamento populacional. A cidadeolha - com “pobres olhares” - para abaía de Todos os Santos e, com “osolhos dos ricos”, cada vez maisminoritários, isolados e concentrados,para a direção da Avenida Paralela,para Itapuã e para a orla oceânica.

SEGREGAÇÃO ESPACIAL DA RENDA

Aqui, a configuração do adensa-mento se converte, tornando-se de cer-ta forma a antítese do adensamentopopulacional visto no tópico anteri-or. Elevam-se muito as áreas da RMSe da própria Salvador, nas quais par-celas crescentes de chefes de famíliaganham apenas até 1 salário mínimo.

A faixa de toda a RMS onde a ren-da é mais concentrada, vale dizer, naqual de 64% a 79% dos chefes de fa-mília ganham até 1 salário mínimo(cerca de US$ 75), atinge quase toda ailha de Itaparica, a maior parte domiolo e grande parte do município deSão Francisco do Conde – onde, para-doxalmente, se situa a Refinaria Lan-dulfo Alves –, praticamente todo oMunicípio de Dias D´Ávila e a maiorparte do Município de Camaçari,onde se localiza o Pólo Petroquímico- o que demonstra que os efeitos eco-nômicos dessas concentrações indus-triais não chegam até a população lo-cal, senão residualmente (daí a forteconcentração do “mercado informal”nelas).

Outras faixas de elevada concen-tração da renda - nas quais de 31% a45% e de 46% a 63% recebem até 1salário mínimo - se espalham prati-camente por toda a RMS e por Salva-dor - o que certamente explica a exis-tência de cerca de 1,5 milhão de pes-soas distribuídas por cerca de 360 fa-velas só na capital (Mapa 3).

A renda do chefe de família entre5 e 10 salários mínimos mensais (en-tre 372 e 754 dólares), muda e com-pleta, antiteticamente, a situação an-

terior. Na, de longe, maior extensãosócioterritorial da RMS, incluindoSalvador, apenas de 0% a 4% dos che-fes de família recebem entre 5 e 10 sa-lários mínimos mensais. No contra-ponto, em apenas algumas localida-des isoladas da cidade de Salvador(deve ser notado que os trabalhado-res especializados do Pólo, da RLAN,do CIA, da USIBA, etc., que se locali-zam fora da capital, residem nela) -que se localizam em alguns pontosdiminutos do centro da cidade e emalguns outros localizados em bairrosde classe média (Barra, Pituba, Ita-puã) (Mapa 4).

A renda dos chefes de família si-tuada acima de 20 salários mínimos(acima de US$ 754), revela, por fim, oestado de paroxismo da concentraçãoda renda na RMS e em Salvador. Ape-nas na Pituba e na Barra, de toda aRMS, melhor dito, de Salvador, de 25%a 38% dos chefes de família logramganhar acima de 20 salários mínimos,ou seja, acima dos R$ 1.500,00 ou dosaproximadamente equivalentes US$754,00. Em contrapartida, seguramen-te em mais de 90% de toda a RMS, sóentre 0% a 2% dos chefes de famíliaconseguem auferir acima deste valormensal. Numa outra faixa, que coin-cide com a Avenida Paralela, a orlade Salvador, a de Lauro de Freitas eum certo prolongamento, consegue-seencontrar chefes de família que ga-nham acima deste valor, com respec-tivamente os percentuais de 3% a 8%,

9% a 15% e 16% a 24% para pequenas elocalizadas áreas da capital (Mapa 5).

ESCOLARIDADE INVERTIDA

Quando se analisa o percentualdos chefes de domicílio com mais de15 anos de estudo, por zonas de infor-mação, nos anos de 1991 e 1996, a es-colaridade fica totalmente desmisti-ficada. De fato, nota-se que mais de90% de toda a RMS é composta de zo-nas de informação nas quais apenasde 0% a 0,3% possuem mais de 15 anosde estudo - os níveis de educação fun-damental e superior (Mapas 6 e 7).

Mesmo nas áreas mais “nobres”da capital, numa faixa estreita que vaido centro à orla de Lauro de Freitas,as zonas mais escolarizadas são zo-nas cujos chefes de domicílio commais de 15 anos de estudo não pas-sam de 5%. Trata-se, de fato, de umasituação grave, a de uma cidade naqual, em alguns pontos, encontram-se apenas de 3% a 5% da populaçãocom escolaridade de 15 ou mais anosde duração. Este dado revela que o quese chama de “instrução”, citado notópico anterior e segundo os critériosoficiais, não passa de uma elevada si-tuação de escolaridade precaríssima.

A situação básica praticamentepermaneceu inalterada até o ano de1996. Este quadro de nível de educa-ção e escolaridade está bem de acor-do com a situação generalizada dedesemprego, de subemprego e defavelização da cidade, que cobre mui-to mais da sua metade - e, no que serefere à RMS, a sua maior parcela.

COMUNICAÇÃO E SEGREGAÇÃO

Há uma elevadíssima densidadede fluxos de comunicação por telefo-ne (em parte pela Internet) na zonaorla de Salvador, por ser a faixa urba-na que reúne o maior comércio deponta da cidade, como de moradiasde classe média (inclusive alta), escri-tórios e consultórios de advocacia,medicina, odontologia, engenharia econsultoria, hospitais, os maioresshopping-centers do Estado (Barra,Itaigara, Iguatemi e Aeroclube), bares,restaurantes, clubes, a maior partedas instalações das maiores univer-

A renda doschefes de família

situada acima de 20salários mínimosrevela o estado de

paroxismo daconcentração da renda

na RMS e emSalvador...�

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82 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

Fonte: CONDER/IBGE

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83RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

Fonte: CONDER/IBGE

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sidades do Estado, também a maiorparte das instalações do serviço pú-blico (estadual e federal) localizadosna capital, o maior número de hotéisde maior porte da capital e assim pordiante. É esta massa de instalaçõesprodutoras de serviços a responsávelpelos elevadíssimos índices de 59,3%,27,10%, 55,33% e 42,29% para os qua-tro tipos de chamadas - ora realiza-das por telefone fixo, ora por telefonecelular, ora por via da Internet.

Ou seja, cerca de 45% - quase ametade - da chamadas telefônicas detoda a Região Metropolitana de Sal-vador situa-se numa densa, mas es-treita, faixa urbana que vai do bairrode Barra a Itapuã, passando por áre-as de intensa concentração comerciale habitacional como Barra, Pituba,Itaigara e Iguatemi, Avenida Paralelae Itapuã - cuja pequenez territorialpode ser vista na figura que localizaos chefes de domicílio, por zonas deinformação, que auferem mais de 20salários mínimos por mês.

É, certamente, nesta área, que selocaliza a maior concentração pesso-al da riqueza em toda a RMS, que se

concentra também o maior número decomputadores e aparelhos de telefo-nia, o que nos remete, para atribuirrazão, à seguinte constatação feita porJorge Beinstein em suas investigações:

“Revendo a edição de 1998 dos Indi-cadores de Desenvolvimento Mundial´(Banco Mundial, 1998), podemos obser-var que em 1996 os chamados países dealta renda, com somente 165 da popula-ção mundial, dispunham de 63% das li-nhas telefônicas do planeta, enquanto ospaíses de baixa renda, com 56% da popu-lação mundial, contavam apenas com11% dessas linhas”. “Se observarmos adistribuição de computadores, constata-remos que a desigualdade é ainda maiselevada. Os países de alta renda possuí-am, em 1996, 83% dos computadores,contra somente 3% nos países de baixarenda” (Beinstein, 2001).

Como se vê, a esfera de desigual-dade detectada por Beinstein, no quese refere à distribuição social de linhastelefônicas e computadores no planomundial, se projeta, não importa oíndice exato, no interior da RMS -onde uma nesga de faixa territorial,certamente muito menor de que 10%

de todo o território da RMS, concen-tra quase a metade de todas as cha-madas e, por conseqüência, tambémas linhas telefônicas e, mais ainda, oscomputadores e o uso da Internet.

Afora essa faixa, as áreas de cres-cimento conurbado da metrópole apre-sentam comportamentos diferencia-dos em função do porte das ativida-des econômicas e da qualidade derenda dos seus habitantes, o que me-rece destaque.

O maior vetor de crescimento dascamadas de população mais pobres,IAPI/subúrbio , na direção de SimõesFilho, apresenta relativamente percen-tuais elevados, em virtude, muitomais, da imensa extensão do conjun-to de bairros que compõem a referidafaixa do que da densidade de apare-lhos de telefonia na área. O mesmopode ser dito da faixa urbana deno-minada Cabula/Pernambués. Nosdois casos, ademais, existem univer-sidades, hospitais, clínicas e outrosserviços que utilizam a telefonia comcerta intensidade, inclusive a Internet.

Entretanto, na direção do vetor deexpansão metropolitana, caracteriza-

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do pelas orlas de Lauro de Freitas ede Camaçari, o quadro se modifica. OMunicípio de Lauro de Freitas, ape-sar de possuir uma população muitomenor do que, por exemplo, o miolo -conjunto de bairros entre os maispopulares e densamente povoados dacapital - praticamente se equipara aeste último no número geral de cha-madas. Isso decorre do fato de Laurode Freitas situar-se na orla marítima epossuir uma considerável faixa demoradia e veraneio de classe médiaalta, Vilas do Atlântico - o que explicaa relativamente elevada percentagemde chamadas em todos os quatro seg-mentos. Neste caso, o uso da internetdeve ter um peso considerável.

A orla de Camaçari se assemelha,quanto à composição social de seusfreqüentadores, à de Lauro de Freitas,com a diferença de que em Lauro deFreitas a densidade populacional e apopulação são maiores. Nos dois ca-sos, são freqüentes as nucleaçõeshabitacionais fechadas, de classe mé-dia, ainda que em proporção menordo que em Salvador.

Já no caso da zona urbana deCamaçari e do Pólo - próximo à zonaurbana -, a baixa percentagem de cha-madas locais se explica por conta dobaixíssimo nível de renda da popula-ção local, que não deve dispor de umgrande número de telefones e compu-tadores, enquanto a elevada percenta-gem de chamadas internacionais paraum espaço territorial tão pequeno deveser tributada às operações - por via te-lefônica e Internet - efetuadas no PóloPetroquímico e em algumas sedes deempresas comerciais e prestadoras deserviços localizadas na área urbana deCamaçari. O elevado percentual dechamadas intra-Estado traduz a neces-sidade de transações comerciais e so-ciais mantidas entre o Pólo Petroquí-mico e Salvador.

DUALIDADE DO

MERCADO IMOBILIÁRIO

Se analisarmos o volume dasconstruções autorizadas pelo PoderPúblico municipal de Salvador, entredezembro de 1999 e janeiro de 2001,constatamos que a zona da orla, que

concentra as faixas de renda mais ele-vadas e contém a maior densidade defluxos de comunicação, também é aque é responsável pelo maior volumede construções residenciais, comerci-ais e institucionais da cidade11 . Háuma concentração maior na região daPituba, tanto para as construçõesresidenciais (41,7%) da cidade, quan-to para as comerciais e de serviços(43,5%), seguida de todo o trecho daorla que vai da Pituba até os limitescom o Município de Lauro de Freitas,de Brotas, Paralela e Amaralina. En-quanto isso, os bairros da Barra/Gra-ça/Vitória, desta mesma zona que de-nominamos orla de Salvador, apresen-tam baixa incidência de percentual denovas construções, em que pese seremainda mais significativas as constru-ções para uso residencial do que osbairros da orla da baía de Todos osSantos, onde está incluída a antiga áreacentral e comercial de Salvador.

Nessa antiga área central, na suaparte comercial, as construções paracomércio e serviços (6,3% no centro e6,1% em Nazaré) são pouco superio-res ao bairro hegemonicamente resi-dencial de Brotas (4,1%), e inferioresaos bairros da orla de Salvador, loca-lizados entre Amaralina (11,3%) eItapuã (8,6%), incluindo a Paralela(Mapa 8).

O mais importante a analisar é ofato de que o movimento de descen-tralização das atividades comerciaisna direção da orla se mantém, assimcomo o processo de expansão metro-politana (comércio, serviços e habita-ções) na direção da conurbação como Município de Lauro de Freitas,notadamente pela faixa litorânea. Há,porém, alguns sinais de que, do pon-to de vista das pressões por novas

construções, o movimento está ten-dendo a especializar-se e a assumiruma dualidade de comportamentoentre atividades comerciais e habita-cionais por faixa diferentes de rendi-mento.

Se compararmos12 os dados maisrecentes de construções dos últimosdois anos (aproximadamente) e o pe-ríodo entre 1995 e 1998, podemosconstatar que há uma tendência dediminuição relativa das construçõespor novas unidades habitacionais ede comércio/serviços em todas as áre-as voltadas para a baía de Todos osSantos, incluindo aí a antiga área cen-tral comercial e histórica. Em contra-partida, há uma tendência de eleva-ção dos índices das áreas da orla deSalvador, com dois sinais importan-tes de correção de rumos: diminuemas taxas relativas para os bairros en-tre a Pituba e Itapuã e da região deBrotas, enquanto se elevam as taxasde concentração na região da Pituba,tanto para habitações quanto paracomércio/serviços. Isso é significati-vo, porque parece indicar que a ten-dência de expansão de habitações

11 É bom ressaltar que os dados considerados se referem a um percentual pequeno deconstrução na cidade que é controlada pelo Poder Público Municipal. Entretanto, trata-se da parcela mais importante em termos de porte, qualidade e capacidade emreestruturar a RMS. Desta forma, as construções populares não foram consideradas,mas sabe-se que elas estão distribuídas nos bairros de menor renda, conforme mapasde renda dos chefes de domicílio.

12 É uma comparação qualitativa por conta de que os dados, nos dois períodos, foramagrupados por zonas diferentes. Entre 1995 e 1998 utilizou-se as Zonas de Informa-ções, enquanto que entre dezembro de 1999 e janeiro de 2001 utilizou-se as zonas deuso da Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo de Salvador � LOUOS. Fez-se um esforço de agrupamento das zonas de usos da LOUOS para facilitar as compa-rações, cujos resultados são expressos apenas como tendências gerais por macro-áreas da cidade.

... há umatendência de

diminuição relativadas construções por

novas unidadeshabitacionais,de comércio

e de serviços ...�

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para as faixas de renda média, utili-zando-se de pequenos condomíniosfechados e villages na direção deItapuã e o município conurbado deLauro de Freitas, que alcançou umaestabilidade e diminuiu o seu cresci-mento.

Por outro lado, as faixas de ren-da média e média-alta parecem voltara concentrar-se na região da Pituba e

em Amaralina, mantendo, como sem-pre, as áreas da Barra/Ondina está-veis no seu baixo crescimento de no-vas construções, até mesmo pela suajá alta densidade de ocupação. Essemesmo comentário pode ser aplicadoaos setores comerciais e de serviço: asregiões da Pituba e da Amaralina ele-vam a sua participação, mas a regiãoda orla na direção de Itapuã, incluin-

do a Paralela, também aparece comuma elevação, nas suas taxas de cres-cimento relativo, de construções vol-tadas para o setor comercial e de ser-viços, notadamente os de maior porteao longo da Avenida Paralela.

Um fato importante merece des-taque. É certo que as construções, paraas faixas de renda mais elevadas, re-presentam um percentual muito pe-

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87RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

queno na região, entretanto ela é res-ponsável por um movimento que estáarticulado com a espacialização deinfra-estrutura e unidades de comér-cio e de serviços sofisticados, além,naturalmente, de estar associada a um“jeito” peculiar de morar que tem ca-pacidade de ressonância para as clas-ses inferiores de renda.

Os movimentos dessas faixas derenda, medido pelo percentual dasconstruções de apartamentos de altopadrão construtivo de acima de quar-to quartos e com duas ou mais suítesaté os apartamentos de cobertura, de-monstram que todas as construçõesestão localizadas entre os bairros daVitória, Barra, Ondina, Horto Flores-tal, Itaigara e Pituba. Portanto, todosna orla de Salvador.

Vale salientar que não foi possívellevantar o volume de construção decasas em Salvador e nos municípiosde Lauro de Freitas e Camaçari, pro-váveis locais de residência de famíliasde alto rendimento. Sabe-se, por entre-vistas qualitativas com profissionaisdo setor imobiliário, que a tendênciadesse tipo de construção para essasfaixas de renda não parece ser cres-cente. Ao contrário, há uma tendênciaà moradia não só em condomínios fe-chados, mas até verticalizados.

De janeiro a setembro de 1998, amaioria das construções ocorria rela-tivamente no Horto Florestal (condo-mínio fechado, hegemonicamenteconstituído por casas e agora em pro-cesso de verticalização), seguido pelaPituba e Itaigara, com algumas cons-truções isoladas nas imediações naBarra, Ondina e Vitória, onde os pre-ços se apresentam com valores maiselevados por m2 de construção. Entreoutubro de 1998 e dezembro de 2000,a Pituba assume a liderança, seguidapor Itaigara e Horto Florestal e mais oconjunto de bairros da Vitória, pas-sando pela Barra e Graça até Ondina,cujo conjunto eleva suavemente suaparticipação no setor, alastrando osinvestimentos por locais mais diver-sificados, onde os preços médios porm2 são os mais elevados da cidade.

Isso significa dizer que as cons-truções para as faixas de renda mais

elevadas também não se descentrali-zam na direção dos municípiosconurbados, mas sim adensando asáreas mais infra-estruturadas de Sal-vador, notadamente concentrando-sena Pituba (principalmente), Horto eItaigara e em áreas específicas de al-guns bairros entre a Vitória e Ondina,passando pela Barra/Graça. Enquan-to estes últimos bairros se adensam,substituindo as antigas mansões eresidências por condomínios de altarenda no formato ainda abertos e tra-dicionais de Salvador entre 20 e 30anos atrás, Pituba e Itaigara aindadispõem de glebas para expansão/adensamento e o Horto inicia o pro-cesso de substituição do padrãoresidencial em condomínio fechadopor edificações verticalizadas, cons-tituindo-se em espécies de microci-dades cercadas e relacionadas comoutras ilhas equivalentes.

Por outro lado e distante, mesmoque constituídos fisicamente comovizinhos metropolitanos, as faixas derendimentos mais baixas se espraiamna direção norte da cidade de Salva-dor, até encontrar o Município deSimões Filho, as partes internas doMunicípio de Lauro de Freitas e dailha de Itaparica (municípios de VeraCruz e de Itaparica), além de comporas tendências de expansão das áreasurbanas das sedes municipais queconstituem a RMS e que tendem seconurbar completamente com a me-trópole em alguns anos. Essa é a par-cela sem infra-estrutura, sem empre-go e que constitui as maiores taxas demigrações de outras regiões do Esta-do da Bahia.

Portanto, a dualidade do mercadoimobiliário consiste em, ao mesmo tem-po, expandir as faixas de rendimentosmédio-baixo e baixo para a periferiada cidade, criar ilhas compostas porcondomínios fechados nas periferiasmais distantes da metrópole e, ao mes-mo, tempo adensar, com verticalizaçãoe em substituição às antigas residên-cias de luxo, algumas áreas exclusi-vas e protegidas da cidade para criartambém ilhas capazes de se articularcom suas partes residenciais equiva-lentes e com equipamentos comerciais

modernos (shoppings, centros educa-cionais, hipermercados, etc), utilizan-do os túneis caracterizados pelasgrande vias de circulação e pelos veí-culos protetores e protegidos dasações das áreas públicas deterioradassocialmente.

VALOR DA PRODUÇÃO ECOMERCIALIZAÇÃO DE

MERCADORIAS E DE SERVIÇOS

A RMS tem elevado a sua partici-pação na arrecadação do Imposto deCirculação de Mercadorias e Serviços– ICMS na Bahia, crescendo 35,09%,contra 13,45% do conjunto do Estadoentre os anos de 1995 e 2000 - em ape-nas 5 anos! Em 1995, tinha uma par-ticipação de 63,2% no Estado, passan-do a representar 75,34% em 2000.

É evidente que isso pode trazerdesvios pelo fato de que há isençõespara alguns produtos, na maioria re-presentando uma boa parte da pro-dução de algumas regiões do interiordo estado da Bahia. Entretanto, a ten-dência apresentada qualitativamen-te é superior ao crescimento da pro-dução de outras regiões baianas, o quepermite reconhecer um importanteaspecto do movimento de reconcen-tração metropolitana.

Esse movimento é explicado pordois motivos e em algumas áreas prin-cipais:

a) a mais importante é a presen-ça dos investimentos na dupli-cação da Refinaria LandulfoAlves – RLAM no Municípiode São Francisco do Conde,agregando a elevação dos pre-ços de combustíveis no perío-do;

b) em segundo lugar, o crescimen-to da participação da arreca-dação do setor de serviços deinfra-estrutura (transporte,energia, comunicação, água,comércio e serviços sociais) emSalvador;

c) em terceiro lugar, o crescimentodos setores de transportes,construção\atividades imobi-liárias, comércio e setores so-

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ciais de educação e saúde domunicípio de Lauro de Freitas(de 0,68% em 1995 para 1,00%em 2000).

Significa dizer que Salvador re-concentra atividades de arrecadaçãoem relação ao estado da Bahia (30,02%em 1995 para 33,37% em 2000), nossetores caracterizados pela sua capa-cidade de centralização dos serviços,pelo seu porte e pelo seu papel de cen-tro metropolitano estadual, enquantoque Lauro de Freitas, que é o municí-pio mais conurbado com Salvador, temuma forte presença nas atividades deexpansão dos serviços, comércio eequipamentos de apoio às atividadesresidenciais, que para aí se desloca-ram, conformando uma nucleação quedá apoio ao crescimento da orla deCamaçari. Todos os outros municípi-os diminuíram a sua participação naRMS e no Estado da Bahia, inclusive omunicípio de Camaçari, onde está lo-calizado o Pólo Petroquímico, que re-presenta um peso significativo no PIBbaiano (Tabela 1).

A rigor, Lauro de Freitas tem maiortaxa de crescimento do que Salvador,entretanto, um porte ainda insignifi-cante. Apenas São Francisco do Con-de e Lauro de Freitas obtiveram cres-cimento relativo dentro da RMS(21,02% em 1995 para 35,63% em 2000e 1,08% em 1995 para 1,32% em 2000).Tal foi o incremento de São Franciscodo Conde, que Salvador diminuiu suaparticipação relativa na arrecadaçãona RMS.

Em suma, a RMS reconcentra, in-clusive Salvador, porém tem como res-ponsáveis apenas um investimentoindustrial e uma área de expansãometropolitana. Em outras palavras, aRMS reconcentrou-se, ampliando-se,expandindo a sua capacidade de do-minação e incorporando novas áreasurbanas ao tecido da metrópole. É oduplo sentido do movimento (descen-tralização com verticalização de ati-vidades) para expressar apenas umobjetivo, o da concentração. É de seesperar que essa região tenda a sepotencializar e a expandir-se na dire-ção da orla de Camaçari, com a entra-da em operação da Ford, mas cujos

resultados ainda não se apresentamà base de informações disponíveissuficientes para se proceder a umaaferição com maior segurança.

ARQUIPÉLAGO DA

PROSPERIDADE E DA

SEGREGAÇÃOComo a RMS vivenciou, entre as

décadas de 70 e 80, um crescimentobaseado na expansão da mesma pla-taforma de produção de caráter indus-trial e subsidiada, o crescimento regi-onal ocorria num processo de conso-lidação da descentralização espacialhorizontalizada, em que cada sub-espaço atendia aos fluxos centraliza-dos nos valores econômicos geradospelos pólos industriais, pelas ativida-des turísticas no entorno da metrópo-le e pelos excedentes agrícolas oriun-

dos das diversas áreas de produção,em decadência, do interior do Estado.À medida que cresciam as demandas,elevava-se o porte da metrópole, numprocesso típico de complementaçãoem forma de adensamento de umaestrutura que já havia descentraliza-do suas nucleações de atividades des-de o final da década de 70.

A partir da década de 90, com oprocesso de maior abertura dos mer-cados mundiais, de uma economiaque se mundializou, com reestrutura-ções na produção capitalista, com oenxugamento do papel do Estadofomentador para Estado regulador (re-lativamente), o espaço metropolitanose re-qualificou. A região cresceu e setornou mais complexa porque atraiumaior número de fluxos diferenciadose cada vez mais mundializados. Essenovo papel, que contempla relaçõesde competitividade com outras regi-ões do Brasil e do mundo, exigereformulações nos setores produtivos,tanto no porte e na qualidade da pro-dução como na sua circulação, o queresulta em exigentes deslocamentosespaciais de atividades e de funções.

Ora esses deslocamentos se diri-gem para a periferia da metrópole,como é o caso do crescimento das ati-vidades industriais e da expansão defamílias de faixas de rendimento mé-dios e baixos (em que Salvador diferede outras metrópoles de maior porte),ora esses deslocamentos se reconcen-tram no interior desta mesma metró-pole, mais notadamente na orla de

Fonte: Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia - SEFAZ

1995 1996 1997 1998 1999 2000LOCAL/ANO %RMS %Ba %RMS %Ba %RMS %Ba %RMS %Ba %RMS %Ba %RMS %Ba

VERA CRUZ 0,22 0,14 0,13 0,08 0,12 0,08 0,11 0,08 0,13 0,09 0,11 0,08DIAS D´ÁVILA 2,56 1,62 1,51 0,99 2,18 1,51 1,94 1,37 2,24 1,63 1,82 1,37SALVADOR 47,44 30,02 51,48 33,67 51,28 35,44 49,61 34,94 46,10 33,59 44,29 33,37 BROTAS 17,29 10,94 18,97 12,41 17,44 12,06 15,97 11,25 14,66 10,68 16,74 12,61 CALÇADA 7,66 4,85 6,56 4,29 4,71 3,26 3,65 2,57 3,72 2,71 3,47 2,61 IGUATEMI 16,97 10,74 21,47 14,04 17,82 12,32 18,89 13,31 18,31 13,34 16,56 12,48 PIRAJÁ 5,51 3,49 4,48 2,93 11,30 7,81 11,10 7,82 9,41 6,86 7,52 5,67S.F. CONDE 21,02 13,30 22,07 14,43 24,73 17,09 26,00 18,31 31,62 23,04 35,63 26,85S. FILHO 5,36 3,39 4,61 3,02 4,25 2,94 3,90 2,75 3,42 2,50 2,93 2,21CAMAÇARI 19,67 12,45 16,91 11,06 14,31 9,89 15,47 10,89 13,66 9,95 12,48 9,40CANDEIAS 2,55 1,61 1,85 1,21 1,55 1,07 1,44 1,01 1,39 1,01 1,40 1,05ITAPARICA 0,08 0,05 0,07 0,05 0,06 0,04 0,03 0,02 0,02 0,01 0,02 0,01L. DE FREITAS 1,08 0,68 1,33 0,87 1,50 1,04 1,48 1,04 1,41 1,02 1,32 1,00M. DE DEUS 0,02 0,01 0,02 0,01 0,03 0,02 0,02 0,01 0,02 0,01 0,01 0,01TOTAL RMS 100,00 63,28 100,00 65,40 100,00 69,12 100,00 70,43 100,00 72,86 100,00 75,34

TABELA 1Arrecadação de ICMS na Região Metropolitana de Salvador – 1995-2000

... com aentrada em

operação da Ford,é de se esperar que a

RMS tenda a sepotencializar e aexpandir-se na

direção da orla deCamaçari...�

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89RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

Salvador, como sugerem os indicado-res apresentados. No primeiro caso, ocrescimento ocorre na direção dospólos industriais e dos grandes eixosde acessibilidade da metrópole comoutras regiões do país, tal como ocor-re em outras grandes metrópoles, porexemplo, o que afirma Méndez (1999)para o caso de Madrid e, no segundocaso, nas proximidades dos grandeseixos viários que constituem a ossatu-ra da acessibilidade interna e das suasarticulações externas.

A metrópole baiana não pode serconsiderada como “cidade mundial”,tal como São Paulo, Santiago do Chi-le, Buenos Aires ou a Cidade do Mé-xico (Hiernaux,1999; Mattos, 1999;Ciccolella, 1999), para ficar entre asmaiores metrópoles da América Lati-na, mas tem elevado o seu quantum defluxos mundializados, principalmen-te em função das suas atividades tu-rísticas, do consumo “uniformizado”de alimentos, bebidas, vestuário, decomportamentos de morar e consu-mir, de centros de serviços, além doPolo Petroquímico e agora com a ins-talação da Fábrica da Ford. É uma re-gião que está longe, por exemplo, deatrair sedes de empresa internaciona-lizadas, tal como ocorre na metrópolepaulista, mas o pouco que articula jáinduz a que sejam criados espaçoscomerciais e de serviços que, atrela-dos a necessidades de outras ativida-des econômicas, constituem polarida-des que tendem a constituir várias ci-dades dentro da metrópole, para des-frute de uma “classe capitalista mun-dial” ou “clube social mundial” comodenomina Hiernaux (1999).

Podemos dizer que o simples alas-tramento ou a consolidação da estru-

tura espacial montada nos finais dadécada de 70 é efetivada na décadade 80, ou seja, um processo de expan-são horizontal, dá lugar a novos pro-cessos de utilização dessa estrutura.Incorpora-se uma nova vertente de cres-cimento, aliada e concomitante à expan-são horizontal: a especialização desubespaços, em forma de verticalizaçãoqualificada e concentradora de fluxossociais e econômicos.

A RMS descentraliza suas ativi-dades comerciais, suas áreas habita-cionais e seus sistemas de infra-estru-tura e, com isso, eleva a sua capacida-de de atrair fluxos de outras regiõesda Bahia e do Brasil. Ou, em outraspalavras: é a confluência de fluxos deoutras regiões que conduzem a que aRMS expanda e consolide seu papelde metrópole regional. De ambas asformas de se encarar o desenvolvi-mento, que não é objeto deste estudo,a Região tem atraído contingentes re-lativamente maiores de população doque o Estado da Bahia, sendo que,dentro dela, as áreas periféricas e lo-calizadas no caminho dos vetores deexpansão da metrópole são as queganham maior adensamento de pes-soas e, logicamente, de atividades so-ciais e econômicas.

Constata-se que o Município deSalvador, que constitui a área maisdensamente ocupada e é epicentro domovimento que elevou mais signifi-cativamente suas atividades a partirda década de 70, perde relativamentepoder de crescimento quantitativopara os municípios vizinhos. Entre-tanto, Salvador ganha a responsabi-lidade de se qualificar para atrairequipamentos de porte internacional,centros de negócios, além de ofertarespaços qualificados para residênciasde famílias de altos rendimentos, ilha-

das por uma infinidade de famíliaspobres, que representam 62% da suapopulação em favelas, que se esprai-am pelo interior da região.

Para essa imensa mancha de po-breza, a segregação econômica e socialse reflete em falta de emprego, emsubemprego, na informalidade e nabusca de alternativas de negócios emseus próprios bairros, tal como ocorrena maioria das metrópoles ibero-ame-ricanas, por exemplo, na Cidade doMéxico, como salienta Hiernaux (1999).

Por sua vez, conjuntos de famíliasde alto e médio poder aquisitivo seconcentram na orla de Salvador, deLauro de Freitas e de Camaçari (estasduas últimas como maior opção parasegunda residência). Nesta diminutafaixa de território ainda ocorre umapolarização clara das tendências ex-pressas por condomínios fechados,agora verticalizados, em pontos iso-lados e protegidos fisicamente entre aVitória, Barra, Ondina, Horto Flores-tal, Itaigara e Pituba, utilizando-sesubstituição de mansões por edifíciosde luxo, em parte como ocorreu hámuito tempo nas maiores metrópoleslatino-americanas, o como o Rio deJaneiro, São Paulo, Buenos Aires, San-tiago do Chile, Cidade do México, etc.

O processo é parecido mas nãoigual - ou seja, ao lado de leis e inclina-ções gerais comuns, ocorrem distinçõeslocais. É certo de que nessas cidades,hoje, essas “ilhas” tendem a ocorrer naperiferia das metrópoles, por conta deque já não há mais disponibilidade deterritório adequados para absorvê-las,tal como ainda pode acontecer em Sal-vador. Mas o processo de formação des-sas “ilhas” em todas as metrópoles têm,

... é a confluênciade fluxos de outras

regiões que conduzema que a RMS expandae consolide seu papel

de metrópoleregional...�

... a RMS tematraído contingentes

relativamentemaiores de população

do que o Estado daBahia...�

... a segregaçãoeconômica e social se

reflete em falta deemprego, em

subemprego, nainformalidade e na

busca de alternativasde negócios...�

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90 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

hoje, o mesmo caráter de segregaçãoexarcebada. Em Salvador, o processo éigual no gênero e se diferencia no grau,o que explica a periferização e o portedas “ilhas” em, por exemplo, BuenosAires, conhecidas habitualmente porcountries verticales, conforme atestaHiernaux (1999).

Aliadas a esses pólos de excelên-cia em habitabilidade, ocorrem tam-bém as concentrações articuladas degrandes centros de consumo e de en-tretenimento. São equipamentos com“farda mundial” que, não por acaso,ocorrem com maior ênfase nas orlasde Salvador, Lauro de Freitas e Cama-çari, mas que vêm atendendo a toda ametrópole e até a outros estados, taiscomo: shopping-centers nas áreas daPituba, Itaigara e Barra; hipermer-cados, nesses mesmos locais, esten-dendo-se para alguns bairros de peri-feria, notadamente para aqueles derenda média e de maior peso na ex-pansão da metrópole; área para gran-des espetáculos na Av. Paralela; áreasculturais e turísticas, como é o casodo Pelourinho; parques de águas naParalela, etc. Aliados a isso estão oscentro empresariais, cujo conjunto,como os anteriores, localizam-se aolongo dos grandes eixos viáriosestruturantes da metrópole, com ex-celente acessibilidade por parte dasáreas de maior concentração das fa-mílias de maior poder aquisitivo.

Esse é o conjunto de equipamen-tos que representam a “pós-moderni-

dade” da mundialização dos fluxos eque, apesar de já estarem presentes háalgumas décadas, foram agora força-dos a integrar-se com maior peso en-tre si e com as ilhas residenciais commaior poder de consumo e mais arti-culadas com a trama que completa arede superior e mundial de produção,de consumo e de comportamentos“aculturados”.

Vê-se, pois, que se trata de ummovimento que extrapola limitesinstitucionalizados, que não mais per-mite agregações de informações sob aégide da política municipal (afora al-gumas políticas específicas e sem ca-pacidade de reformulações estruturaisna região) e que, por isso mesmo,desautoriza estudos e análises que nãocompreendem o movimento re-gional,com suas relações com outras regiões,e as partes articuladas e hierarquiza-das que espacialmente constituem es-pecializações de atividades humanasde forma mundializada.

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Os economistas formados pela UNI-FACS estarão habilitados a executar, en-tre outras, as seguintes atividades:

a) planos, programas e projetos empre-sarias;

b) análise econômica e financeira e aná-lise de risco de investimentos;

c) estudos de mercados, de competiti-vidade e de viabilidade econômica deempreendimentos;

d) operações no mercado financeiro,notadamente nos mercados de capi-tais (bolsa de valores, fundos de in-vestimentos) e cambial;

e) estudos de competitividade interna-cional de produtos;

f) gestão econômica e financeira denegócios;

g) estudos, análises e pareceres pertinen-tes à micro e macroeconomia. Análi-ses de conjuntura, elaboração de ce-nários macroeconômicos;

h) perícias, avaliações e arbitramentos.Determinação do preço de mercadode empresas;

i) montagem e desenvolvimento do seupróprio negócio;

j) outros trabalhos vinculados à consul-toria econômica.

Prédio de Aulas 08Campus IguatemiAlameda das Espatódias, 915Caminho das ÁrvoresSalvador-BACEP. 41.820-460Tel. (071) 273-8500/8560Fax. (071) 273-8525e-mail: [email protected]

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 2CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS COM ÊNFASE EMECONOMIA EMPRESARIAL

Curso de Economia Empresarial

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92 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

INTRODUÇÃO

o fim deste séc. XX, a ordemgeográfica pós-moderna, e a ordemeconômica neoliberal fizeram crescerno mundo, e nos países ocidentais emparticular, uma nova forma de identi-dade. A identidade global.

Os países percebem a transnacio-nalização e a globalização de seus ci-dadãos. Estuda-se e fala-se outras lín-guas, em especial o inglês, como nun-ca; diversos tipos de programas deintercâmbio fazem com que estudan-tes de todo o mundo possam estudarem outros países, experimentando vi-ver em sociedades com cultura e lín-gua distintas da sua, e promovendo atransposição de parte desta nova cul-tura para a sua. Via internet e via sa-télite o espaço mundo se comprime.Iogurte Danone. Sabão em pó Ariel.Lâminas de barbear Gillette Todosestes fazem parte de um universo deprodutos transnacionalizados queinvadiram até os mais remotos dossupermercados, oferecendo ao mun-do o que seus habitantes consideramo melhor que se pode ter. A globali-zação não parou com o Big Mac. Aglobalização está em nossos refrige-radores e na nossa dispensa. Titanicnão é só a grandiosidade de um na-

REFLEXÕES SOBRE AMUNDIALIZAÇÃO DA CULTURA

Rosaly Conrado LoulaDoutoranda em Planejamento Territorial e Desenvol-vimento Regional. Universidade de Barcelona. DiretoraGeral da FABAC – Faculdade Baiana de Ciênciase-mail: [email protected]

“Na verdade, por que desejamos, quase todos nós, aumentar nossa renda? À primeiravista, pode parecer que desejamos bens materiais. Mas, na verdade, os desejamos,principalmente para impressionar o próximo.” (Russel, Bertrand. Ensaios céticos.) 1

vio de cruzeiro, mas Titanic tambémprovou ser grandioso no cinema,quando espectadores ao redor domundo, em expectativa, esperavam otrágico climax.

Mesmo com tudo isto, nos recu-samos a pensar que somos todosiguais. Por uma série de característi-cas, os brasileiros são ainda brasilei-ros. Os japoneses são japoneses. Cadaum de nós se recusa a aceitar a idéiade que passamos a ser cidadãos domundo, sem identidade cultural defi-nida. Mas a globalização está avan-çando. Isto não pode ser negado. Ecom a globalização, a cultura nacio-nal sofre uma influência sem prece-

dentes. O mundo está interconectado.Assim como o fluxo de informações, ohomem tem poucas fronteiras quedetenham sua liberdade de circula-ção. O choque, seguido da quase im-posição da cultura do estrangeiro so-bre as culturas locais durante os perí-odos de colonização, está acontecen-do agora numa escala mais ampla,rápida e eficiente. Não atinge só umgrupo de pessoas, mas alcança oshábitos mais particulares de toda so-ciedade.

Este artigo, fruto de reflexõessurgidas a partir, principalmente, daleitura do livro Mundialização e Cultu-ra, de Renato Ortiz2 (1994) e da leiturade Consumidores e Cidadãos: conflitosmulticulturais da globalização, de NéstorGarcía Canclini3 (1996), objetiva mos-trar brevemente como o fenômeno daglobalização vem interferindo na cul-tura das nações. Na sociedade pós-moderna, a cultura como elemento deidentidade de uma sociedade já nãoestá mais tão claramente definida. As

N

1 Russell, Bertrand. Ensaios céticos. S. Paulo: Nacional, 1957 (apud Platão & Fiorin, Paraentender o texto: leitura e redação.)

2 Renato Ortiz formou-se em Sociologia pela Universidade de Paris VIII e doutorou-se emSociologia e Antropologia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris). Éprofessor da UNICAMP.

3 Néstor García Canclini dirige o Programa de Estudos sobre Cultura Urbana no Departa-mento de Antropologia da Universidade Autônoma Metropolitana do México.

... A globalizaçãoestá em nossos

refrigeradores e nanossa dispensa...�

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93RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

fronteiras dos países estão abertas nãosó para o comércio, mas para a im-portação de hábitos e costumes dospadrões culturais mais dominantes.

Na primeira seção, estaremos re-fletindo sobre o que significa diferen-ças culturais a partir da abordagempositivista, que resulta em um conjun-to de determinantes culturais. Nasseções seguintes, vamos historiar bre-vemente os movimentos que contri-buíram para o fenômeno econômicoda globalização e os mais importan-tes fatores de impacto que levaram auma transformação cultural: a mu-dança da ordem econômica, a globali-zação do consumo, a cultura propa-gada pela mídia, e, finalmente, o cres-cimento da internet que emerge comouma nova forma de promoção instan-tânea de circulação da informação aoredor do mundo. Concluiremos comCanclini (id.) quando nos leva a ama-durecer a necessidade de se discutir erepensar o papel do cidadão como umcidadão político e não apenas como ocidadão consumidor.

1 DETERMINANTES DA

CULTURA E DA IDENTIDADEA palavra “cultura”, do latim

“cultura”, significa, segundo Aurélio,1986, “3. O complexo dos padrões decomportamento, das crenças, das ins-tituições e doutros valores espirituaise materiais transmitidos culturalmen-te coletivamente e característicos deuma sociedade; civilização... 4. O de-senvolvimento de um grupo social,uma nação, etc., que é fruto do esforçocoletivo pelo aprimoramento dessesvalores; civilização, progresso...”

Muito tem se refletido sobre o signifi-cado desta palavra. Nos primórdiosdo debate filosófico sobre o que era“cultura”, este termo geralmente erausado em oposição à “natureza”. En-quanto “cultura” estava relacionadaa tudo que era construído voluntaria-mente pelo homem, “natureza” eratudo que existia sem a interferênciado homem.

Desde o século XVIII, no entanto,a palavra “cultura” passou a ser liga-da mais ao sentido de “produtos quetêm valor”, em alguns autores foi usa-da para descrever “elite”, principal-mente na Europa continental. e tudoque estava relacionado com conceitosculturais respeitados na época. Nametade do século XIX, o conceito decultura de massa e o conceito de cul-tura popular surgiram em oposição à“cultura” como ligada à classe domi-nante, considerada superior aos ou-tros grupos e classes sociais.

Uma outra visão de cultura estácentrada em um conjunto de valores eatributos de um determinado grupo(ou sub-grupo) e à relação do indiví-duo com uma cultura, isto é, aos va-lores e atributos, dinâmicos e em cons-tante transformação, que determinamesta cultura: valores compartilhados,crenças, pressuposições básicas equalquer padrão de comportamentoque deles surgem. Um grupo pode tervárias formas de construção social eo indivíduo e a cultura em que vive éum conjunto complexo de relações: deum lado ele determina sua cultura, dooutro ele é um ser moldado pela cul-tura do grupo em que vive.

A cultura de um grupo, de umasociedade, de uma nação pode serpercebida sob vários aspectos: cará-ter nacional/ personalidade do indi-víduo; percepção do mundo; conceitode tempo; conceito de espaço; organi-zação do pensamento; língua; comu-nicação não-verbal; valores morais ereligiosos; hábitos, normas e regrasde comportamento; grupos sociais emodos de se estabelecer os relaciona-mentos. Uma outra forma de se des-crever uma cultura é através do estu-do de suas três camadas: a camadamais externa, isto é, artefatos, produ-

tos, língua, hábitos alimentares, arqui-tetura, estilo, etc.; na camada do meioficam as normas (a percepção do gru-po do que certo e do que é errado) e osvalores (a definição do que é bom e doque é errado). Na camada mais inter-na, estão os pressupostos básicos so-bre o significado da vida e as formasde se lidar com os problemas da vida.

1.2 A AQUISIÇÃO, MUDANÇA

CULTURAL E ACULTURAÇÃO

Como mostrado nas sessões an-teriores, o homem vive no meio de umsistema complexo com o qual interage,a cultura do grupo do qual faz parte.Quando a criança nasce, sua rede deinfluência é sua família e as normas,comportamentos e valores que elesacreditam ser os adequados para seeducar uma criança. Por outro lado,estes valores representam a cultura deseu país em transformação e a adap-tação à dinâmica do processo de mu-danças do grupo em que se inserem.Enquanto cresce, o indivíduo intensi-fica seu relacionamento fora do meiofamiliar, principalmente na escola eno trabalho. Também começa a serinfluenciado pela mídia, e mais tar-de, pela política e pelas relações soci-ais A emergência de uma cultura na-cional é um processo em que certasnormas e valores são compartilhadospor indivíduos que vivem em um mes-mo Estado ou território nacional, ouainda por indivíduos que se associ-am a um certo “grupo nacional”. Esteconceito de “cultura nacional”, noentanto, tem perdido sua força maisrecentemente pelo esfacelamento dasociedade em vários grupos e sub-gupos pela mobilidade social, pelaatomização dos grupos étnicos, reli-giosos e raciais. Cada um destes gru-pos possui valores culturais que sãocomplementares aos valores da cul-tura nacional, ou, ainda, que dela di-ferem.

Qualquer mudança numa socie-dade, seja ela econômica, social oupolítica, irá se refletir nos padrõesculturais dos indivíduos que nela vi-vem, e, dependendo do número deindivíduos envolvidos nesta mudan-ça, ela afetará o grupo como um todo.

... a internetemerge como uma

nova forma depromoção instantânea

de circulação dainformação...�

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O mundo em que vivemos está emmudanças rápidas e contínuas e aadaptação cultural, a aculturação,tem se tornado, para muitos, parte dodia-a-dia.

1.3 TRANSMISSÃO VERSUS DIFUSÃO

CULTURAL

As culturas sempre foram defini-das como se realizando no espaço deum território e em torno de um focosignificativo. No entanto, como as re-lações sociais são dinâmicas, elemen-tos carregados de significados cultu-rais de uma sociedade podem ser ex-portados e outros, externos, importa-dos. Existem dois mecanismos bási-cos para a transmissão cultural: a)transmissão cultural por tradição, quese refere à transmissão de conteúdosculturais de uma geração para outra,operando essencialmente no tempo;b) transmissão cultural por difusãoem que os elementos culturais migramde uma população para outra, e acon-tece, portanto, no espaço.

No estudo da transmissão da cul-tura, o conceito de memória coletivatorna-se fundamental. A lembrançaexiste enquanto o grupo está coeso; oesquecimento pode acontecer quandoo grupo se divide e subgrupos par-tem. Para reconstruir suas crenças,estes subgrupos têm de recorrer à me-mória coletiva para recuperar as lem-branças do fosso do esquecimento eredesenhar no seu destino um novoterritório para preservar a identidadeanterior. No Brasil, o sincretismo en-tre santos católicos e orixás africanoscobre com a máscara cristã a persis-tência da “essencialidade” africana.

2 CIDADÃOS DO MUNDONeste final de século, uma tendên-

cia mundial parece ser irreversível.Os sinais de seu avanço são inegá-veis. Assistimos sua presença todosos dias na mídia, na economia, napolítica. São processos globais quetranscendem as fronteiras das nações,dos grupos, das classes sociais e queatingem o indivíduo. Percebemos queos homens, ainda que não-conscien-temente e independente de sua von-tade, estão interligados numa rede de

hábitos e costumes muito mais am-plos que a própria maior rede de co-municação, a internet. Quando come-mos um hamburger no MacDonald,quando nos vestimos com roupascompradas numa boutique da Benet-ton, quando dirigimos um Fiesta,estamos fazendo uso de nossa cida-dania mundial sem que tenhamos vi-sitado uma única vez os países ondeoriginariamente estes produtos foramfabricados. Quando usamos a pala-vra workshop para descrever um tipode atividade acadêmica, ou não, so-mos cidadãos do mundo. O mundopenetrou nosso cotidiano, e afetounossa cultura que se tornou, assim,mundializada. Mas será que nesteprocesso global já não podemos iden-tificar o particular? Se para Ortiz (id.),“A mundialização da cultura se reve-la através do cotidiano”, será que jásomos, pelo consumo nos seus diver-sos aspectos, cidadãos do mundo?

3 A ALDEIA GLOBALEntre as várias metáforas que têm

sido usadas pelos diversos autorespara caracterizar o fenômeno daglobalização, um processo ainda emconstrução, a de “aldeia global” vemsendo tomada emprestada de seusautores, McLuhan e Powers, (apudOrtiz, id.) para sublinhar o fato de queneste momento a tecnologia modernaé importante na organização da vidado homem.

O próprio conceito de “sociedadeglobal”, cunhado por Gurvitch em1950 (apud Ortiz, id.), procurava dar

conta dos fatos sociais que engloba-vam e ultrapassavam os grupos, asclasses sociais e até mesmo o Estado.Para Gurvithch, porém, o planeta se-ria composto por um conjunto de so-ciedades globais que, apesar de se to-carem, no fundo se excluíam: as na-ções, os impérios (Roma, China, etc.)e as civilizações (Islão) são exemplosde sociedades globais sob esta pers-pectiva.

As propostas de uma visão domundo como um único sistema, noentanto, aparecem realmente somen-te nos anos 70. Nestes estudos, Imma-nuel Wallerstein tem um papel deci-sivo. Sua crítica ao Estado-naçãocomo unidade de análise para os es-tudos econômicos, é a base para secomeçar a discutir o capitalismo soba perspectiva da estrutura mundo.World-system passa a ser consideradaa categoria analítica que favorece atotalidade econômica envolvente.

3.1 A CULTURA E O SISTEMA-MUNDO

Como vimos na Introdução, o con-ceito de cultura esteve sempre associ-ado a uma sociedade. Os enfoques deestudos sempre ressaltaram os aspec-tos específicos de cada cultura. Cul-tura sempre foi plural. O número deculturas equivaleria ao número desociedades existentes no mundo. Oconceito de cultura mundializadarequer mudanças de ordem estrutu-ral. A história do sistema mundial foisempre baseada, como vimos acima,na análise economicista e se confun-de com a própria história do capita-lismo. A infra-estrutura da sociedadeera econômica. Todos fenômenos po-líticos e culturais, a superestruturaideológica, eram percebidos como re-flexos.

No Brasil, osincretismo entresantos católicos e

orixás africanos cobrecom a máscara cristã

a persistência da“essencialidade”

africana.�

... será que jásomos, pelo consumo

nos seus diversosaspectos, cidadãos do

mundo?�

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Mesmo quando trata da culturade forma clara, Wallerstein, por exem-plo, subjuga-a ao sistema econômico,como se uma cultura mundializada,implicasse no aniquilamento dasmanifestações culturais, como se nointerior do sistema-mundo todos oselementos se encontrassem funcio-nalmente determinados pelo todo:“Cultura é o sistema-idéia desta eco-nomia capitalista mundial, a conse-qüência de nossas tentativas, coleti-vas e históricas, em nos relacionar-mos com as contradições, as ambigüi-dades, e a complexidade da realida-de sócio-política desse sistema parti-cular” (apud Ortiz).

Esta visão ilustra uma certa per-cepção comum, que identifica aglobalização com a unicidade de pa-drões culturais no mundo. Tomemoso inglês como exemplo. Vários foramos fatores que fizeram com que o in-glês se tornasse uma língua hegemô-nica do mundo atual: a Inglaterracomo potência colonizadora e berçoda Revolução Industrial, o papel eco-nômico dos Estados Unidos no sécu-lo XX, a presença de multinacionaisnos diversos países, a maioria delascorporações americanas, as transfor-mações tecnológicas, o computador ea linguagem da informática, o adven-to da rede mundial de comunicação,a Internet, os Estados Unidos, e o pesode uma indústria cultural de massade origem norte-americana. Mas, em-bora o inglês, como língua mundial,preserve os outros idiomas, seu usocomo lingua franca revela a globali-zação da vida moderna. Os emprésti-mos lingüísticos que o português fazdo inglês, fazem parte do processonormal de línguas que entram em con-tato. O português, também, já fez em-préstimos de outras línguas, tais como

o francês, o árabe, o iorubá, o grego,etc. Ao se incorporarem, estes vocá-bulos se adaptam ao sistema e à es-trutura da língua receptora, mas con-servam sua marca.

4 MUNDIALIZAÇÃO VERSUS

GLOBALIZAÇÃO Ortiz (id.) faz uma distinção en-

tre os usos dos termos “global” e“mundial”. Para o autor, “global” estáligado a “processos econômicos etecnológicos”, a “mundial”, ao “do-mínio específico da cultura”. A cate-goria “mundo” está vinculada, então,a duas outras dimensões: ao movi-mento de globalização e a um conjun-to de símbolos que exprimem o uni-verso específico da civilização atual.

A mundialização da cultura deveser compreendida como um proces-so, porque, como em toda sociedade,se reproduz e se desfaz incessante-mente; como totalidade é um fenôme-no social que transcende e permeia oconjunto de manifestações culturais.A cultura vista sob este enfoque, em-bora tenha sua territorialidade globali-zada, não pode ser traduzida comohomogeneidade.

5 A ANTIGÜIDADE DA NOÇÃO

DE “MUNDO”A história mostra que a noção de

mundo como espaço que transcendiaas fronteiras geográficas dos povos ébastante antiga. O movimento demundialização começou com a ex-pansão das chamadas religiões uni-versais que se encarregavam de rom-per os limites dos países em que seusseguidores originalmente habitavampara outros espaços congregando gru-pos distintos entre si. Os cristãos daIdade Média não estavam contidos nasociedade que criaram a religião cris-tã. Tampouco o islamismo e o budis-mo ficaram restritos aos seus locaisde origem. Contudo, esses mundoseram contidos em si mesmos.

No comércio, o Ocidente encon-trava o Oriente quando estabeleciamrelações para a exportação/importa-ção de especiarias e na rota da seda.Estas economias eram, no entanto,

independentes entre si. Somente en-tre os séculos XV e XVIII, quando ocapitalismo começa a sua expansão,dinamizado pelas descobertas marí-timas, é que o mundo torna-se geogra-ficamente unificado. Apesar de nãose poder falar, ainda, em globalização,até o final do século XVIII, surgem asprimeiras economias-mundo já orga-nizadas na China, no Japão e no Islão.O poderio bélico do Ocidente, porém,fez com que estes Estados optassempor uma política de auto-exclusãocomo meio de proteção de seus valo-res. O mundo anterior à RevoluçãoIndustrial conserva a pluralidade e aautonomia das civilizações por con-servarem valores culturais, éticos ereligiosos distintos entre si: as socie-dades ocidentais são mais racionais,as orientais detêm princípios funda-mentalmente religiosos.

5.1 O SURGIMENTO DA NAÇÃO

É na passagem de uma sociedadeagrária para uma sociedade industri-al que começa a se delinear os concei-tos modernos de Estado e nação. Asociedade agrária reforça mais a dife-renciação do que a homogeneidadecultural. A Revolução Industrial re-verte este quadro pois requer de seusmembros a pluralidade de papéis euma maior mobilidade. Enquanto aoEstado cabia a responsabilidade damáquina política-administrativa, anação se definia como um espaço li-derado por um poder central, masque congregava e integrava cultural-mente os habitantes deste espaço.Neste momento, para reforçar osideais das revoluções políticas, sur-gem os símbolos nacionais que objeti-

... o uso doinglês como lingua

franca revela aglobalização da vida

moderna...�

O movimentode mundializaçãocomeçou com aexpansão das

chamadas religiõesuniversais...�

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vavam reforçar a identificação destespovos com o destino nacional e com oprincípio de cidadania: “14 de Julho”,na França, “Os Pais Fundadores”, nosEstados Unidos, etc. Nos países pluri-lingüísticos, uma língua oficial éestabelecida não só para impor a legi-timidade de poder do grupo dominan-te, mas também como valor simbólicoda unicidade lingüística da nação.

5.2 A PAPEL DOS MEIOS DE

COMUNICAÇÃO

O sistema moderno de comunica-ção que já se começava a delinear,como a imprensa e os meios de trans-porte, além da escola, reforçavam emtodos a formação da nacionalidade.Se antes, na sociedade agrária, o es-paço se encontrava circunscrito aosfeudos, agora a rede comunicativarompe com o isolamento local, e a na-ção deixa de definir seu habitantecomo camponês, citadino, para identi-ficá-lo pela nacionalidade: francês,inglês ou alemão.

É importante destacar aqui o pa-pel da rede ferroviária nesta integra-ção. O trem era um veículo totalmentenovo, e as estradas de ferro uma formade colocar em contato espaços distan-tes que antes se encontravam isolados.Houve a necessidade então de se re-presentar o território nacional comouma rede complexa que tinha a capi-tal como seu centro. A sensação de en-colhimento do espaço é generalizada;o transporte a cavalo ou em carruagenspermitia que o homem percebesse ocontinuum espacial, o trem destrói apercepção do espaço intermediário. Adistância percorrida parece tornar-securta no tempo e no espaço.

5.3 O TEMPO COMO UNIDADE

MUNDIAL

Embora os relógios tenham sidoinventados em épocas mais remotas,os homens não os tinham como refe-rência para controlar o tempo. Servi-am mais como adornos, e o ritmo dassociedades acompanhava o ritmo danatureza até porque eram predomi-nantemente agrárias. Cada lugar ti-nha sua hora específica determinadapelo nascer e cair do sol.

Na passagem do século XVIIIpara o XIX, apenas em algumas capi-tais européias é adotado um “tempomédio” e o dia passa a ter um concei-to mais abstrato. O progresso da hora-padrão, no começo interna a cada país,a hora nacional, se impõe para todo oplaneta. O tempo mundial, determi-nado pelo meridiano de Greenwich,tinha de se adequar às exigências deuma civilização urbana-industrial emque os homens circulavam. Esse tem-po abstrato e racional ao integrar asdiversas sociedades na era pós-Revo-lução Industrial, além disso, vai pos-sibilitar a categorização das diferen-ças entre elas, mensuradas em rela-ção a uma mesma unidade temporal:“primeiro”, “segundo”, “terceiro” e“quarto” mundo. Sob esta perspecti-va, os países passaram a não ser maisdefinidos por suas idiossincrasias,mas por serem “desenvolvidos” ou“subdesenvolvidos” em um determi-nado momento do continuum da his-tória econômica mundial, e em com-paração com outros que se encontra-vam em distintos níveis de desenvol-vimento. Tinha-se como referência paradeterminação deste parâmetro, princi-palmente, a Revolução Industrial.

5.4 O SÉCULO XXE A MUNDIALIZAÇÃO

Após a Segunda Guerra mundi-al, o processo de mundialização co-meça a se realizar plenamente. Pro-gressos na indústria cultural contri-buem para isto impulsionando seusprodutos para o circuito mundial. Osfilmes, favorecendo a formação dacultura da imagem, transcende o es-paço de origem nacional, e seus ato-res passam a ser ídolos mundiais que

influenciam a moda e o comportamen-to dos homens. Outro exemplo de in-dústria que emprega uma política deatuação mundial é a indústria fono-gráfica. Em 1910, havia poucos paí-ses em que não existiam agências sub-sidiárias das grandes companhias deprodução de discos.

A indústria automobilística, emestreita cooperação com a indústriade publicidade, também define umapolítica transnacional. Os EstadosUnidos lideravam a produção mun-dial de automóveis e precisavam ven-der seus carros no mercado externo.Começa a ser construída uma rede detrocas culturais com dimensões mun-diais que irá se fortalecer com o rádioe a televisão, saindo dos países doPrimeiro Mundo para localidadesmais distantes do Terceiro Mundo.

Na década de 40, surgem os pri-meiros computadores que logo sãointerligados em redes, e as informa-ções são transmitidas não só peloshomens como pelas máquinas que secomunicam entre si em uma lingua-gem abstrata. Está formada, assim, amalha necessária para a mobilidadedos padrões culturais que transcen-dem suas territorialidades e é respon-sável por uma civilização que semundializa. Um evento remoto, tor-na-se próximo, enquanto o que nosrodeia pode estar afastado.

5.5 A MUNDIALIZAÇÃO DOS HÁBITOS

ALIMENTARES

A preservação dos modos de co-zinhar revela a estabilidade e a per-manência da tradição de transmissãocultural do grupo. No entanto amodernidade e a circulação que serealizam nas reformas urbanas, nosmeios de transportes, na moda, tam-

Começa a serconstruída uma redede trocas culturais

com dimensõesmundiais ...�

O trem eraum veículo totalmente

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bém vai afetar nossos hábitos alimen-tares que passam a necessidade de seadaptarem à rapidez do mundo. Astécnicas de conservação, o baratea-mento dos transportes, a emergênciade grandes empresas processadorasde comida e a invenção da comidaindustrial, padronizada, transformaestes comportamentos alimentares,desterritorizando-os e tornando-osinternacionais pois passam a ser dis-tribuídos em escala mundial. Coca-Cola, Guiness e Heinenken são al-guns exemplos no mercado de bebi-das; os produtos da Nestlé, da Nabis-co e da Parmalat são encontrados nãosó nas prateleiras de supermercados,mas em hotéis e restaurantes em todomundo. Rompe-se a relação entre lu-gar e alimento.

Além disso, com a “americaniza-ção” do mundo, um outro fenômenono campo da alimentação acontece,aparecem as primeiras cadeias de fast-food, lideradas pela rede McDonald´se seus drive-ins que integram a refei-ção ao movimento dos automóveis.São aplicados à indústria de alimen-tação os princípios do modelo detaylorização das fábricas. A restrição esimplificação do menu, e a sincroniaentre produção e consumo fazem osucesso desta fórmula. Mais uma vez,se comprime o tempo e se muda a cul-tura. Se antes a refeição era um mo-mento de comunhão dos membros deuma comunidade, familiar ou não,este hábito passa a ser consideradocomo “perder tempo”, em descom-passo com os que vivem na moderni-

dade. A refeição, estrutura tradicio-nal que se fazia em horários fixos tor-na-se fragmentada, e há uma dessin-cronização entre o tempo e o lugar emque as refeições são ingeridas. O ali-mento perde substância e ganha cir-cunstância e, para Barthes (apud Ortiz)torna-se polissêmico: o cafezinho nolocal de trabalho remete mais a umintervalo, do que à necessidade de setomar café.

Por outro lado, o desenvolvimen-to da indústria agroalimentar, quedissocia os alimentos dos ritmos danatureza, favorecem o aparecimentode grandes centros distribuidores, quede novo favorecem a padronizaçãodos hábitos alimentares. Os super eos hiper mercados passam a se cons-tituir na principal fonte para o abas-tecimento das populações.

6 A DESTERRITORIALIZAÇÃO

DOS LUGARESTodas as vezes que nos referimos

a um lugar, temos em nossa memóriaum espaço com identidade própria eplena de significados. Se nos hospe-damos em um hotel, este espaço “ho-tel” passa a pertencer à nossa memó-ria por características especiais que odiferencia de qualquer outro em queestivemos: pequeno, mobiliário anti-go, jardins com flores, etc. Se vamos aum restaurante ou mesmo a um caféem Paris, estes lugares podem estarcheios de significados porque certasparticularidades os diferenciam detodos os outros: pode ser tradicionalou moderno, pode oferecer alguns ser-viços que são totalmente distintos detodos os outros.

Contrariamente aos “lugares”,que carregam significados e identida-des próprias, o espaço sem territóriode origem definido, é um espaçodesterritorializado, é vazio de conteú-dos particulares porque são construí-

dos e operados à imagem e semelhan-ça de todos os outros que pertencem àmesma categoria. São os “não-luga-res”. Os hotéis internacionais da redeIbis, os aeroportos internacionais, osrestaurantes McDonald´s e os shop-ping centers4 são exemplos de locaispadronizados e serializados, espaçosimpessoais. Sua finalidade é fazercom que seus usuários se “sintam emcasa” , independente do país onde seencontrem. Mais uma vez a velocida-de da tecnologia leva a uma unifica-ção do espaço e os lugares se mun-dializam.5

7 CULTURAINTERNACIONAL-POPULARPara entender-se a mundializa-

ção e a desterritorialização da cultu-ra, basta enfocar-se o movimento dedeslocalização da produção. Para setornarem competitivas no mercadointernacional, as empresas são obri-gadas a diminuírem o custo de seusprodutos. A flexibilidade das tecnolo-gias permite que desloquem a produ-ção e acelerem a produtividade bai-xando os custos. Isto vale para quasetodos os produtos, tais como carros,computadores, televisores, etc. Já nãopodemos definir a origem dos objetos,pois se transformaram em unidadesresultantes da combinação de partesfabricadas em fábricas dispersas alea-toriamente pelo planeta. Este é um

...com a“americanização” do

mundo, um outrofenômeno no campo

da alimentaçãoacontece, aparecem asprimeiras cadeias de

fast-food...

Os supere os hiper mercados

passam a se constituirna principal fonte

para o abastecimentodas populações.�

4 O Sonae, grupo português líder mundial na fabricação de aglomerados, e que possuiuma rede de vinte shopping centers está construindo um destes centros comerciais emCampinas, S. Paulo, o Parque Dom Pedro Shopping, que, seguindo uma tendência darede, traz em sua arquitetura, ambientação e decoração diferenciais que lhe conferemuma certa identidade: trilha sonora com o som do vento e o canto de pássaros; trepadei-ras e árvores plantadas no piso, não em vasos. São shopping centers temáticos.

5 Para uma discussão da dinâmica do tempo-espaço, ver Harvey (2000), na Parte III,principalmente, em �A compressão do tempo-espaço e a condição pós-moderna�.

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movimento que está na base da for-mação de uma cultura internacional-popular cujo elemento é o mercadoconsumidor.

Quando transcende as fronteirasnacionais, este tipo de cultura torna-se característica de uma sociedadeglobal de consumo. Na propagandada Malboro, com um homem forte tipocowboy, paisagem rude, cavalos e o ci-garro, a publicidade capitaliza sig-nos e referências culturais reconheci-das mundialmente pelos valoresmundiais intrínsecos, como a virili-dade, mas capitaliza também os valo-res, paisagens, etc. do imaginário dosfilmes de western, que também já estãodesenraizados e possuem uma iden-tidade própria.

8 A CULTURA NACIONAL E OMUNDO DO CONSUMONo mundo tradicional da socie-

dade industrial que se forma até o fi-nal do século XIX, um produto é com-prado e percebido apenas pela suafuncionalidade, pela sua utilidade.Na sociedade atual, os bens devem seradquiridos independentes de seu va-lor de uso. Esta ética do consumo, noentanto, não nasce e é alimentadaapenas pelas necessidades econômi-cas de produzir e vender, mas é tam-bém de natureza cultural. O anonima-to do homem na sociedade urbano-industrial, fragmenta as relações so-ciais e deixa o indivíduo solto. A socie-dade necessita criar novos meios deintegração das pessoas. Um dessesmeios é a publicidade, que passa sero modelo de referência. Através dapublicidade o consumo passa a sercultural.

Nos Estados Unidos, a constru-ção e a identidade nacional se deramatravés do consumo. A produção emmassa de automóveis Ford arremataa idéia de democracia sendo igual aoconsumo, e faz com que o universo doconsumo surja como o espaço privile-giado da democracia. A pop art ame-ricana também legitimou esta cidada-nia no seu mundo de signos e objetos.

A transnacionalidade, principal-mente, dos padrões americanos, temacelerado o processo de globalizaçãodas sociedades e a desterritoria-lização da cultura vem transforman-do a memória nacional. A familiari-dade com que observamos objetos demarcas mundializadas, nos dá a sen-sação de que estamos “em casa”. Oreconhecimento destes objetos emambientes que consideramos estra-nhos, transforma os “não-lugares”em “lugares” recheados de significa-dos porque nos remete ao conhecido.6

8.1 HOMOGENEIZAÇÃO OU

HETEROGENEIDADE CULTURAL?Esta sensação de familiaridade

levou alguns teóricos da administra-ção a defenderem a total homogenei-zação dos desejos e necessidades hu-manas. O que percebemos, no entan-to, é que apesar de toda força da pu-blicidade e das empresas transna-cionais em imporem seus produtos,existem especificidades em todos oslugares, traços das culturas locais quese contrapõem aos produtos mundiaise fazem com que eles sejam a elasadaptados. O grande desafio, então,das campanhas publicitárias para osbens de consumo “universais” é iden-tificar os segmentos mundializadosque têm as mesmas características.Não produzir para “todos”, mas pro-mover estes bens globalmente entregrupos específicos. Por outro lado,mesmo a produção industrial de cul-tura não é suficiente para que ela semundialize, porque pode incorporarnovas tecnologias mas o mercado in-

ternacional possui disponibilidadesestéticas nas quais os gostos se encon-tram predeterminados. Isto nos mos-tra que, apesar da globalização eco-nômica, não podemos imaginar quevivemos em um mundo sem frontei-ras. A velocidade do tempo comprimeos espaços e rompe os limites da geo-grafia tradicional, mas cria novos es-paços, e as diferenças entre os mun-dos orgânico e periférico são diluídaspara alguns segmentos, mas outrossão criados no seu interior, agrupan-do ou excluindo outros grupos, ou-tras pessoas.

9 A INTERNETA internet merece um destaque es-

pecial nestas reflexões. Primeiro, por-que é um meio de comunicação total-mente diferente do rádio e da televi-são. Enquanto a TV e o rádio, mesmocom a enorme quantidade de canaisacessíveis agora, se constituem emuma forma passiva de comunicaçãodo ponto de vista do telespectador oudo ouvinte, a internet faz da comuni-cação uma atividade interativa. Ointernauta decide não só o que ele querver, mas com quem ele quer interagir,como nos jogos interativos e nas sa-las de bate-papo.

Segundo, porque, além de ofere-cer a oportunidade de saltar frontei-ras e culturas com um simples clickdo mouse, estar conectado na internetsignifica ter um recurso ilimitado debusca e acesso a informações de qual-quer tipo e para qualquer sabor. So-bretudo, a internet já rompeu as bar-reiras entre os meios de comunicaçãoe entretenimento mais tradicionais(imprensa escrita, rádio e televisão),como provedores de conteúdo, as em-presas de software, como provedoresde software de acesso e o setor de tele-fonia, como provedores de links. Ainternet faz uso dos três recursos emum único pacote para dar suporte asua própria existência. A mídia tradi-cional se rendeu ao apelo da rede

A sociedadenecessita criarnovos meios

de integração daspessoas.�

6 Mas de alguma forma, imprimimos nossa marca nestes não-lugares. Como perguntaCanclini: �Mas não se transformarão, contudo, estes lugares neutros, como os shoppings,em lugares pelo modo com que as novas gerações os marcam ao utilizá-los comosignificativos e os incorporam à sua historia?� (Canclini, id.)

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mundial e já disponibiliza seu con-teúdo em sites que trazem notíciasmais frescas do que, muitas vezes, suaprópria organização-mãe, como asnotícias do plantão de jornais e revis-tas on line.

9.1 O SURGIMENTO DA INTERNET

A internet surgiu em 1960 um pro-jeto do Departamento de Defesa dosEstados Unidos. Interconectando ins-tituições acadêmicas durante os anos8o, ela se ampliou globalmente no co-meço dos anos 90, e sua distribuiçãose estendeu a empresas e ao uso fami-liar. O crescimento espetacular da redepode ser visto no Quadro 1 a seguir:

Quadro 1Número de provedores entre 1993 e 1998

DataProvedores em

todo mundo

Janeiro 1998 9,670,000Janeiro 1997 16,146,000Janeiro 1996 9,472,000Janeiro 1995 4,852,000Janeiro 1994 2,217,000Janeiro 1993 1,313,000

(Fonte: Network Wizards, www.nw.com, eRIPE www.ripe.net.)

9.2 O USO E OS USUÁRIOS

DA INTERNET

O número total de usuários dainternet é ainda desconhecido, mas seestima que em 1996, o número fossealgo em torno de cinqüenta milhões,cem milhões em 1997, e já quatrocen-tos milhões agora, no ano 2000.

9.2.1 A COMERCIALIZAÇÃO DO

ESPAÇO CIBERNÉTICO

Se, no começo, a internet era umarede essencialmente acadêmica, cujosusuários baniam qualquer tipo de usocomercial, o crescimento e o poderpotencial para a expansão das fron-teiras comerciais resultaram em umaverdadeira comercialização e comodi-ficação do espaço cibernético.

A verdadeira guerra comercialentre a Microsoft e a Netscape pelodomínio do mercado do software es-

pecífico para acesso à rede, o browser,e a batalha, a princípio, perdida pelaMicrosoft na justiça americana, sãoaspectos econômicos que exemplifi-cam a importância da rede no cenárioatual. Um curioso exemplo desta im-portância, nos leva a uma pequenacidade localizada em uma montanha,fora de Cuzco, Peru. Nesta cidadezi-nha, uma cooperativa de agriculto-res nativos descobriu um meio de ven-der sua safra de batatas por mais dedez vezes o preço local para uma ca-deia de alimentos orgânicos em NovaYork que eles encontraram na internet.As lojas, supermercados e livrariasagora também são virtuais. E as car-tas já não são responsáveis pela gran-de ocupação dos funcionários dosCorreios. A grande circulação é demercadorias compradas via internet.O consumo é estimulado pela própriafacilidade de se chegar a bens antesinatingíveis no mercado local, e deforma instantânea.

9.3 A INFLUÊNCIA DA INTERNET NA

CULTURA

Em outra dimensão, observamosque a internet vem mudando hábitos ecostumes que até há pouco pareciamimutáveis: o jornal da manhã pode serlido eletronicamente, já não se preci-sa ir ao jornaleiro; o livro é eletrônico;a coleção de livros que compunhamuma enciclopédia foi substituída pelaconsulta on line do verbete que se querpesquisar, a compra de livros e discosse faz, de casa, a qualquer hora do diaou da noite, mundialmente, viainternet; na educação a rede está pa-trocinando uma revolução com o en-sino à distância. Os amigos que faze-mos podem estar em qualquer partedo mundo e nunca o vimos, são vir-tuais. Os endereços são eletrônicos. Já

não escrevemos cartas que podiamlevar até quinze dias para chegar aodestinatário. Por e-mail, em segundos,temos acesso ao outro. Os cartões deaniversário e de Natal também sãoenviados eletronicamente. Estas sãoapenas algumas das mudanças dehábitos e costumes deflagrados pelainternet.

E-commerce, e-business, on line sãopalavras, como muitas outras, queentram para nosso vocabulário. Algu-mas sofrem adaptações, são incorpo-radas ao sistema da língua e passama fazer parte do dicionário, ao inven-tário do léxico da língua: deletar,plugar, formatar, etc. Outras mudam ouampliam seu significado para absor-ver uma nova dimensão semântica,como salvar, no sentido de armazenar.Outras, ainda, sofrem adaptações fo-néticas, sófiter (software).

10 A CIDADANIA DO CONSUMOPOSTA EM QUESTÃONo seu livro, Consumidores e Cida-

dãos: conflitos multicuturais da globali-zação (1996), Nestor Garcia Canclinidiscute a questão da cidadania naeconomia globalizada e na culturamundializada. Como vimos nas se-ções anteriores, o consumo de bens,tangíveis ou não, é responsável pelasmudanças que ocorrem no conceito epercepção da cultura de um povo. Oconceito de “ser cidadão” sempre es-teve associado à capacidade de apro-priação de bens e ao direito de deci-são de como usá-los de todo indiví-duo, mas também ao direito de votar,ao de pertencer a um partido político,ao de ser representado por um sindi-cato. Quando estas instituições per-dem o estatuto de elementos de agre-gação e identificação dos indivíduoscomo pertencentes a uma sociedade,conservando, no entanto, sua indivi-dualidade, eles vão buscar esta iden-tidade no consumo privado de bens epassam a ser seguidores e lideradospelos meios de comunicação de mas-sa. Perde-se a participação coletivanos espaços públicos, onde o cida-dão descobria o lugar a que perten-cia, os direitos que tinha e quem re-presentava seus interesses. O cidadão,

... a internet vemmudando hábitos ecostumes que até há

pouco pareciamimutáveis...�

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100 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

neste cenário, deixa de ser o represen-tante de uma opinião pública, paraser um cidadão que quer ser respeita-do. Para isso seleciona e se apropriade bens que considera publicamentevaliosos para se integrar e se distin-guir na sociedade em que vive. O “es-paço público” de Habermas foi apro-priado pela mídia eletrônica, que seconverteu no principal formador deopinião. Conhecemos os candidatosaos diversos cargos políticos atravésde fotografias e debates, dos quais nãoparticipamos. Apenas os assistimos,passivamente, pela televisão. As as-sembléias e comícios, espaços em quepodíamos exercer nosso direito de ci-dadania assumindo uma posição pro-ativa, discutindo e questionando pla-taformas de trabalho, debatendo pro-postas dos partidos, etc. estão desa-parecendo gradativamente. Somosmeros espectadores de políticos ato-res. As campanhas políticas já nãomobilizam a sociedade e o direitomaior do exercício da cidadania, vo-tar, é apenas um cumprimento de umaobrigação da qual tentamos nos livraro mais rápido possível.

CONCLUSÃO

Neste conflito entre cidadãos po-líticos e cidadãos consumidores, pre-cisamos recompor o papel do Estadoe da sociedade civil, repensar a polí-tica e a forma de participação da soci-edade na construção de sua identida-de e na preservação de sua cultura.Precisamos discutir os conceitos de“cidadão” e “consumidor”. É verda-de que o desejo de progresso material

é universal. Mas precisamos estaratentos para os movimentos dasmacroempresas transnacionais que,ao reordenarem o mercado a partir deprincípios e políticas de administra-ção global, criaram uma espécie de“sociedade civil mundial”. Com suacapacidade e rapidez de decisão mui-to maiores do que as dos partidos po-líticos, sindicatos e movimentos soci-ais que têm seu perímetro de atuaçãogeograficamente delimitados ao terri-tório nacional, estas empresas tentamsubordinar a ordem social a seus in-teresses privados, e o fazem de tal for-ma sublimar, que deles não nos aper-cebemos. Não podemos esquecer que,apesar de uma cultura de consumoglobal, identidades e valores morais ereligiosos ainda estão bastante enrai-zados nas diversas sociedades. Nãose pode homogenizar globalmenteuma raça. Nos países de religiãofundamentalista, as diferenças e des-confianças entre estas culturas e asocidentais estão maiores que há qua-renta anos. No Afeganistão do Tali-ban, mais ainda do que em seu vizi-nho Irã, qualquer manifestação cul-tural que tenha um mínimo de influ-ência ocidental pode ser reprimida ecastigada até com a morte.

Mas, nem toda ingerência de mo-vimentos globais é maligna para associedades particulares. Os gruposambientalistas transnacionais, organi-zações de direitos humanos e as em-presas internacionais do Terceiro Se-tor têm tido um papel importante edecisivo na solução de conflitos inter-nos aos mais diversos países. Istoaconteceu, por exemplo, durante o con-

flito entre os índios Chiapas e o gover-no no México. O governo mexicano,durante o impasse, ia agir da mesmaforma que sempre, enviando tropaspara a área. Organizações de direitoshumanos, no entanto, mobilizaramrapidamente uma rede de apoio aosChiapas usando fax, e-mails e outrastecnologias de comunicação. Os Chia-pas puderam assegurar, então, o di-reito de ir à televisão e contar ao mun-do sua história, forçando o governomexicano a abrir negociações.

Como Canclini (id.), concluímosafirmando que “nossa primeira res-ponsabilidade é resgatar estas tarefaspropriamente culturais de sua disso-lução no mercado ou na política: re-pensar o real e o possível, distinguirentre a globalização e a moderniza-ção seletiva, reconstruir, a partir dasociedade civil e do Estado, ummulticulturalismo democrático”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ortiz, Renato. Mundialização e cultura. SãoPaulo: Brasiliense, 1994.

Canclini, Néstor Garcia. Consumidores e ci-dadãos: conflitos multiculturais da globali-zação. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1995.

Harvey, David. Condição pós-moderna. S.Paulo:Edições Loyola, 2000.

Huberman, Leo. História da riqueza do ho-mem. Rio de Janeiro: Ed. GuanabaraKoogan S.A, 1986.

A última do Taliban. Veja, 26 de julho de2000.

Fernandez, Sandy. Latin America gets wired.TIME, April 3, 2000.

Fukuyama, Francis. Economic Globalizationand culture. www.ml.co/woml/forum/global2.htm, 27/07/2000

Dahl, Stephan. Communications and culturetransformation: cultural diversity, globaliza-tion and cultural convergence http://stephweb.com/capstone, 20/07/2000.

Somos merosespectadores de

políticos atores. Ascampanhas políticasjá não mobilizam a

sociedade...�

Conhecemosos candidatos aosdiversos cargos

políticos através defotografias e debates,

dos quais nãoparticipamos...�

� ... precisamosrecompor o papeldo Estado e da

sociedade civil...��

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101RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

Nome do Mestrando Título da Dissertação Orientador

1. Augusto César Schaeff Pereira“O Uso de Matrizes de Insumo/Produto para o Planejamento das AtividadesTurísticas”.(*)

Prof. Dr. Rossine Cruz

2. Carlos Henrique Jorge Gantois “As invasões de terra em Salvador na década de 90”. Profª Drª Débora Nunes3. Élson Jeffeson N da Silva “Impacto da industrialização baiana no Município de Salvador”.(*) Profª Drª Regina Souza4. Francisco Lessa Ribeiro “Moradores de rua na cidade de Salvador: um exemplo de exclusão social”. Prof. Drª. Regina Souza

5. Lídia Mª Leal Santana“Lazer náutico na Baía de Todos os Santos: uma perspectiva de valorizaçãosócio-ambiental e de promoção regional”.(*)

Profª Dr. Fernando Pedrão

6. Luis Antônio Góes Fraga Maia“Gerenciamento de resíduos sólidos domésticos na Região Metropolitana deSalvador”.

Prof. Drª Vanessa Brasil

7. Luis José Pimenta “A crise nas concessionárias de automóveis do Brasil”.(*) Prof. Dr. Rossine Cruz8. Manuel Vitório da Silva Filho “Programa de Desenvolvimento Regional: uma metodologia de avaliação”.(*) Prof. Dr. Fernando Pedrão

9. Maurício West Pedrão“O Estado Gerencial Regulador Brasileiro. O caso da AGERBA e a Regulação daDistribuição de Energia”.(*)

Prof. Dr. Rossine Cruz

10. Paulo Henrique Leitão Lopes“Das vantagens comparativas às vantagens competitivas. Por uma efetivainserção do segmento de gemas, jóias e artesanato mineral da Bahia no mercadointernacional”.

Prof. Dr. Fernando Pedrão

11. Webster Rocha de Moura “Estratégias Competitivas para os Portos da Baía de Todos os Santos”.(*) Prof. Dr. Pedro Vasconcelos

UNIFACS / DCSA 2MESTRADO EM ANÁLISE REGIONAL

PROJETOS DE PESQUISADISSERTAÇÕES EM ELABORAÇÃO PELO CORPO DISCENTE

1999/2000

(*) Defesa prevista para o 2º semestre de 2001.

Nome do Mestrando Título da Dissertação Orientador1. Adilson Bastos Luz “A influência dos transportes na Região Oeste da Bahia”. Prof. Dr. Sylvio Bandeira

2. Ailton Florêncio dos Santos“As potencialidades da economia do babaçu e o impacto sócio-econômico eambiental no Estado do Maranhão”.(*)

Prof. Dr. FernandoPedrão

3. Aldo Cavalcante Prestes “Os efeitos do uso da energia solar na economia baiana”. Prof. Dr. Sylvio Bandeira

4. Célia Guimarães Netto Dias“Graduados em Ciências Contábeis no Estado da Bahia. Trajetória Profissional eMercado de Trabalho”.

Prof. Dr. PedroVasconcelos

5. Cláudia Mesquita P. Soares “Dinâmica do Turismo na Baía de Todos os Santos: o caso de Itaparica”. Profª. Drª. Regina Souza

6. Cristina Mª Dacah F. Marchi“Impactos do Programa de Saneamento Ambiental da Baía de Todos os Santosnas Comunidades de Baixa Renda da Cidade de Salvador”.

Prof. Dr. Rossine Cruz

7. Débora Zorzan da Luz“Reestruturação Tecnológica e a Indústria Automobilística. Uma comparaçãoentre os Projetos GM e FORD”.

Prof. Dr. Rossine Cruz

8. Janaína Oliveira de A. Leal “Turismo em Áreas de Assentamento Rural: o exemplo de Itacaré/Ba”. Prof. Dr. Sylvio Bandeira

9. José Maria Ramos “A geoeconomia da região Oeste do Paraná”.Prof. Dr. FernandoPedrão

10. Lídia R. Aguiar de Souza“Estratégias para Reabilitação de Áreas Urbanas Degradadas”. Prof. Dr. Pedro

Vasconcelos

11. Lívia F. Castello B. Pereira“Uma experiência de gestão participativa de água no Estado da Bahia: Estudo decaso da Sub-Bacia do Rio Itapicuru Açu”.

Prof. Dr. Rossine Cruz

12. Marcelo de Andrade e Silva“Um enfoque histórico-cultural para o desenvolvimento do turismo local em Riode Contas - Ba”.

Profª. Drª. Regina Souza

13. Márcia Regina G. Alfano“Entre Esperanças e Realidade: o Trabalho Informal em Camaçari”. Prof. Dr. Pedro

Vasconcelos

14. Maria Lúcia Abreu“ A importância do conhecimento da língua inglesa na capacitação da mão-de-obra para a atividade turística na cidade de Salvador”.

Prof. Dr. PedroVasconcelos

15. Miriam de Castro Gordilho“Comportamentos facilitadores e dificultadores do desempenho profissional nosetor de hotelaria”.

Prof. Dr. Sylvio Bandeira

16. Antonio Rosevaldo Ferreirada Silva

“Reestruturação e criação de distritos industriais no interior do Estado daBahia”.

Prof. Dr. Rossine Cruz

17. Tatiana Guerreiro de Sá “Viabilização da administração de benefícios farmacêuticos para o INSS”.(*) Prof. Dr. Rossine Cruz

18. Vivian Costa Brito“Análise das políticas de desenvolvimento regional e local aplicadas em PortoSeguro”.

Profª. Drª. Regina Souza

(*) Defesa prevista para o 2º semestre de 2001.

1999

2000

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102 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOAno III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

Nome do Mestrando Título da Dissertação Orientador1. Abelardo de Jesus Filho “Gestão de Bacias Hidrográficas: análise da sua implantação no Nordeste”. Prof. Dr. Rossine Cruz

2. Ana Claudia N. e Souza“Uma percepção dos resultados do Projeto de Educação Ambiental noPrograma Bahia Azul”.

Prof. Dr. Fernando Pedrão

3. Antônio Luis de C.Fernandes

“Pequenas empresas de saúde em Salvador: contribuição ao desenvolvimentoeconômico local”.

Prof. Dr. Noélio Spínola

4. Cínara Rodrigues Cardoso“O Turismo de Eventos como vetor de desenvolvimento econômico para oEstado da Bahia”.

Profª. Drª. Vanessa Brasil

5. Cláudio Ribeiro Calazans “Análise dos Recursos do Programa Viver Melhor. Habitat Brasil”. Profª. Drª. Débora Nunes

6. Denise Silva Magalhães “Impactos ambientais em Costa do Sauípe”.Prof. Dr. Aloísio F RochaFilho

7. Elisiana Rodrigues O.Barbosa

“Distribuição dos Recursos Públicos para Educação e seus Impactos noDesenvolvimento das Regiões: um estudo das Regiões Administrativas dasDIREC’s”.

Prof. Dr. Sylvio Bandeira

8. Gilberto Romano R. de Jesus “Lauro de Freitas: um futuro Pólo Universitário”. Prof. Dr. Alcides Caldas

9. Hamilton Couto Passos“A efetiva inserção da cidade de Camaçari no processo de desenvolvimentosócio-econômico propiciado pelo Pólo Petroquímico”.

Prof. Dr. Aloísio FrancaRocha Filho

10. Heron Albegaria de Melo“Considerações sobre o território e modo de ser da Feira de São Joaquim comoresposta ao modelo de globalização econômica objetivado para Salvador”.

Profª. Drª. Débora Nunes

11. João Apolinário da Silva“Violência e Desenvolvimento urbano na cidade do Salvador 1980 – 2000”. Prof. Dr. Aloísio F Rocha

Filho

12. José Aurélio S. Guimarães“Logística e as transformações regionais no Estado da Bahia: consideraçõessobre as implicações sócio-econômicas na cadeia de suprimentos e distribuiçãoda produção”.

Prof. Dr. Fernando Pedrão

13. Jurema Hughes Sento Sé “Turismo como fator de desenvolvimento para a região de Juazeiro/Ba”. Profª. Drª. Regina Souza

14. Karine Freitas Sousa“O progresso regional através de ações empreendedoras do SecretárioExecutivo por meio da criação de pequenas empresas (na cidade de SãoPaulo)”.

Prof. Dr. Noélio Spínola

15. Lorena Santana de A. Ramos “O turismo como indutor do desenvolvimento local em tribos indígenas”. Profª. Drª. Vanessa Brasil16. Lúcia Mª de Castro Ramos “Economia Solidária: experiência de desenvolvimento local”. Profª. Drª. Débora Nunes

17. Luiz Augusto de S. Moraes“A informática no ensino médio da rede pública na qualificação do trabalhadorpara o mercado formal da cidade de Salvador”.

Prof. Dr. Aloísio FrancaRocha Filho

18. Neide de Assis Santana“A ocupação urbana na cidade de Feira de Santana, tendo como influência osConjuntos Habitacionais”.

Prof. Dr. Pedro Vasconcelos

19. Nelly Pereira Magalhães“O Planejamento estratégico, competitividade e mercado publicitário na cidadede Salvador: 1990/2000”.

Prof. Dr. Aloísio FrancaRocha Filho

20. Oswaldo Sidney LuzSacramento

“Turismo Náutico em Salvador: os impactos na geração de empregos no setorinformal”.

Profª. Drª. Regina Souza

21. Patrícia da Silva Cerqueira“A ocupação da mão-de-obra agrícola de fruticultura na Região do Baixo-Médio São Francisco de 1995 a 1999”.

Profª. Drª. Vanessa Brasil

22. Pedro Nunes Vieira Neto “Concessão de rodovias e seu impacto sócio-econômico na área da BA – 099”. Profª. Drª. Vanessa Brasil

23. Valney Barbosa Pelegrino“Demanda dos produtos estratégicos da Nestlé: o leite e o cacau na cidade deItabuna na década de 90”.

Prof. Dr. Noélio Spínola

UNIFACS / DCSA 2MESTRADO EM ANÁLISE REGIONAL

PROJETOS DE PESQUISADISSERTAÇÕES EM ELABORAÇÃO PELO CORPO DISCENTE

1999/20012001

Departamento de Ciências Sociais Aplicadas 2Curso de Ciências Econômicas e Ciências Contábeis

CEMPRE – Centro de Estudos Empresariais

UNIFACS – Universidade Salvador - Prédio de Aulas 8 - Campus IguatemiAlameda das Espatódias, 915 - Caminho das Árvores, Salvador, BA - CEP 41820-460Tel.: (71) 273-8557 – E-mail: [email protected]

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103RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

1 INTRODUÇÃO

rês hipóteses explicam o efei-to histerese. A primeira distingue en-tre o desemprego de curto e de longoprazo e supõe que o desemprego delongo prazo exerce pouca pressão so-bre os salários. Essa teoria é conheci-da como teoria da duração (Layard &Nickell, l986). A segunda, conhecidacomo teoria da filiação, é baseada nadistinção entre insiders e outsiders(Lindbeck & Snower, l986; Blanchard& Summers, l987a). Os trabalhadoresdas firmas (insiders) têm forte poderde barganha na determinação dossalários, ao contrário dos desempre-gados, outsiders. A terceira hipótese ébaseada no conceito de salário-efici-ência que relaciona o esforço do tra-balhador ao seu nível salarial e, por-tanto, entre salário real e produtivi-dade dos trabalhadores. O modelomais simples de salário – eficiênciaconsidera que a melhor forma de in-centivar o trabalhador a despender umesforço maior na produção é pagan-do-lhe um salário acima do seu salá-rio reserva (Solow, l979). A seguir, fa-remos uma breve exposição das trêshipóteses que procuram explicar oefeito histerese.

2 TEORIA DA FILIAÇÃOA análise, neste caso, enfoca o

comportamento e a relação entre

PERÍODOS PROLONGADOS DE DESEMPREGO

SÃO DECORRENTES DE FATORES INERCIAIS?Tito Belchior Silva Moreira

Professor do Departamento de Economia da Universidade Ca-tólica de Brasília – UCB e Doutorado pela Universidade deBrasília - UNB;e-mail: [email protected] e [email protected] autor agradece a Francisco G. Carneiro, José A. Santana eCarlos Alberto Ferreira Junior pelas sugestões e críticas apre-sentadas. Como de praxe, a responsabilidade pelos erros eomissões do produto final cabe exclusivamente ao autor.

insiders e outsiders e o impacto sobre adeterminação de salários (Blanchard& Summers, l987a, l987b ; Lindbeck& Snower, l987).

Os insiders conseguem prevenir-se contra ajustamentos que levem areduções salariais, mesmo em perío-do de altas taxas de desemprego. Estaproposição, depende crucial- mentedo grau de poder de monopólio dosinsiders, dentro da firma, no processode determinação salarial, e da relu-tância da firma em barganhar com osoutsiders. Por que os trabalhadoresdesempregados involuntariamentenão se tentam empregar com menoressalários? Argumenta-se que a contra-tação dos outsiders - com menores sa-lários - geraria gastos adicionais emvirtude do custo de rotatividade(Lindebeck & Snower, l986) comcontratação, treinamento, indeniza-ções trabalhistas, etc.

Como se supõe que os insiderspossuem um certo poder de monopó-lio, eles conseguem incrementar oscustos de rotatividade nas negocia-ções salariais, seja pelas razões aci-ma citadas, seja pelo poder de mani-pular a produtividade e de fazer umjogo não cooperativo com os entrantes.Assim, torna-se mais caro para a fir-ma contratar novos trabalhadores.Além disso, quanto maior o custo derotatividade, menos atrativo é para osoutsiders, uma vez que seus saláriosteriam que ser iguais ou menores do

que os salários dos insiders menos oscustos de rotatividade. Mas como osinsiders não querem perder seu status,fixam seus proventos a um nível emque possam permanecer empregados.Assim, o desemprego involuntárioaumenta com o conflito entre insiderse outsiders.

O modelo de filiação sugere queos fatores internos da firma lucro, pro-dutividade, competitividade, habili-dade específica dos trabalhadores, ea forma de atuação dos sindicatos nasempresas sejam mais importantes nadeterminação salarial do que aquelesrelativos ao desemprego regional e aonível salarial, ou mesmo ao desempre-go agregado. Isto também sugere que,se os insiders não se importam com odesemprego se eles determinam o sa-lário unilateralmente, o nível de de-semprego não tem qualquer relaçãocom a determinação dos salários(Blanchard & Summers, l986) e queos outsiders não influenciam no pro-cesso de determinação salarial (Car-ruth & Oswald, l987).

Existem, contudo, dois canaisatravés dos quais outsiders podem in-fluir no conjunto dos salários. Primei-ro, altas taxas de desemprego signifi-cam piores chances de se reempregar,de forma que os outsiders preferem amanutenção do emprego aos altossalários. Segundo, altas taxas de de-semprego e altos diferenciais de salá-rios - entre empregados e desempre-

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gados - fortalecem o poder de barga-nha da firma. Caso a diferença de sa-lário seja suficientemente grande, tor-na-se mais atrativo para a firma subs-tituir todos seus insiders, ou uma par-te deles, ainda que ambos os casosresultem em altos custos de rotativi-dade (Lindbeck & Snower, l986).

3 TEORIA DOSALÁRIO-EFICIÊNCIAO modelo de salário-eficiência

busca uma explicação para a persis-tência dos salários reais rígidos napresença do desemprego involun-tário. A proposição central desta teo-ria é que salários reais maiores podem- através de vários mecanismos - re-sultar em maior produtividade do tra-balho. Portanto, um declínio nos sa-lários reais produzirá uma queda tan-to na produtividade do trabalho quan-to no lucro da firma. Uma vez quemaiores salários resultam em maioresforço do trabalhador no processoprodutivo, os empregadores aumen-tarão os salários até o ponto em queos benefícios marginais do incremen-to salarial seja equivalente ao incre-mento do custo marginal do salário.Assim, o salário ótimo ocorre no pon-to em que a elasticidade do esforço,com relação ao salário, é unitária.

Existem vários mecanismos quese propõem a explicar a ligação entremaiores salários e maior produtivida-de. Alguns dos mais conhecidos mo-delos que explicam essas ligações sãoapresentados a seguir:

Os modelos dos trabalhadoreslenientes baseiam-se na idéia de queas firmas motivam seus trabalhado-res oferecendo altos salários e amea-çando dispensar aqueles que não têmum bom desempenho. Maiores salá-rios redundam em um incremento docusto para os trabalhadores, no casode uma dispensa, e criam maiores in-centivos para o trabalhador aumen-tar o seu esforço. Uma clara exposi-ção deste modelo encontra-se emShapiro & Striglitz (l984), e modelossimilares podem ser encontrados emCalvo (l979), Foster & Wan (l984),dentre outros.

O modelo sobre o efeito-moral

parte da proposição de que a remune-ração paga ao trabalhador tem umefeito direto sobre o moral e, por con-seqüência, sobre a produtividade. Omodelo moral foi desenvolvido porSolow (l979) e, mais recentemente, porAkerlof (l982) e por Akerlof & Yellen(l990).

De acordo com o modelo do salá-rio justo, um incremento do salário emrelação ao que os trabalhadores acre-ditem ser o salário justo acarreta ummaior esforço e, portanto, maior pro-dutividade do trabalho. Essa teoria foiproposta por Akerlof (l982), e posteri-ormente discutida por Akerlof &Yellen (l988,l990) e Summers (l988).

Carneiro (1997) destaca que a di-ferença entre as duas teorias apresen-tadas (insiders-outsiders e salário-efi-ciência):

“...é que na teoria dos salários deeficiência não se chega a consideraruma concorrência efetiva por empregovia redução do salário nominal de en-trada: reduções de salários não indu-zem as firmas a substituir mão-de-obra;no caso da teoria do conflito entreinsiders e outsiders, os insiders usamo seu poder de mercado para se prote-ger de uma concorrência via reduçãodo salário de entrada por parte dosoutsiders. Em ambas as teorias, a exis-tência do desemprego involuntário évista como conseqüência da atitudepreventiva das firmas contra os custosassociados à rotatividade da mão-de-obra; na de efficiency wages as fir-mas fixam os salários com o objetivo demanipular esse custos, enquanto quena de insiders-outsiders, os custosde rotatividade proporcionam poder demercado aos insiders, o que permitemque eles consigam fixar seus saláriosacima do nível de mercado (market-clearing level)” (CARNEIRO l997).

4 TEORIA DA DURAÇÃOEssa teoria enfatiza os efeitos ne-

gativos da duração do desemprego eos efeitos subseqüentes sobre a ofertade trabalho (Hargreaves-Heap, l980;Clark & Summers, l982; Nickell, 1990).Existem três principais tipos de efei-tos-duração: deterioração das habili-dades; percepção da firma sobre a di-ferença de produtividade do trabalha-dor que está desempregado há pouco

tempo e daquele que está há um lon-go período; e mudanças no compor-tamento do desempregado relaciona-da à motivação para procura de em-prego (Blanchard & Diamond, l990).

Desemprego persistente deteriorae enfraquece o capital humano e ashabilidades da força de trabalho. Adeterioração do capital humano é cau-sada ou por uma perda das habilida-des adquiridas anteriormente ou pelafalha do desempregado de não adqui-rir novas habilidades. Como resulta-do, a produtividade dos trabalhado-res que estão desempregados por umlongo período declina, e eles podemtransformar-se em trabalhadores nãoempregáveis.

Caso o desemprego continue altoe persistente, a pressão, para baixo,do excesso de oferta de trabalho sobreos salários é substancialmente redu-zida, uma vez que boa parte dos de-sempregados são considerados debaixa qualificação. Pode-se argumen-tar que estes trabalhadores que per-deram suas habilidades fluíram domercado primário, que exige maiorqualificação, para o secundário - noqual poderiam ser absorvidos. Ressal-te-se que aquele mercado é, normal-mente, um setor intensivo em capital.Assim, a migração desses trabalha-dores para o mercado secundário pres-siona os salários para baixo, de for-ma a aumentar as dispersões salari-ais entre os setores.

O segundo aspecto da teoria daduração enfatiza a percepção da fir-ma quanto às diferenças entre traba-lhadores que estão desempregadospor períodos curtos ou longos. Istoestá baseado na concepção de queexiste uma relação negativa entre aprodutividade e duração do desem-prego. As firmas recrutam trabalha-dores sob a premissa de que a possi-bilidade de reempregar decresce coma duração do desemprego (Toetsch,l988).

Como resultado, a relação entresalário e desemprego é afetada da se-guinte forma: altas taxas de desem-prego tornam-se pouco preocupantespara aqueles que estão empregados,pois eles sabem que, caso percam o

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emprego, suas chances de se reempre-garem serão muito melhores do queaqueles que estiverem desempregadospor um longo período.

Assim, desde que as firmas con-siderem a duração do desempregocomo um indicador de qualidade dotrabalhador, o aumento no desempre-go terá um forte efeito para os salári-os inicialmente. Mas, eventualmente,quando o desemprego persistir, oefetivo excesso de oferta incluirá so-mente o desempregado por curto pe-ríodo.

A terceira explanação para a teo-ria da duração diz respeito ao aspec-to comportamental do desempregadoreferente à motivação e intensidadeda procura por emprego. Quando odesemprego é persistente, cada vezmais trabalhadores desistem de pro-curar emprego e, por conseguinte, seexcluem da oferta de trabalho. Podehaver também uma mudança de gos-to ou de preferência do trabalhadorem direção ao lazer e eles podem re-duzir a intensidade da procura poremprego. A implicação é que, quandoo desemprego persiste e a intensida-de da procura por emprego cai, o ex-cesso de oferta de trabalho é reduzidoe a relação entre salário e desempregode longo prazo torna-se tênue.

A teoria da duração enfatiza apressão que os desempregados po-dem exercer sobre o declínio dos salá-rios com a duração do desemprego.Este fato acarreta uma importanteconseqüência: qualquer decréscimono desemprego causa um incrementona proporção dos trabalhadores queestão desempregados por longos pe-ríodos. A queda do desemprego reduza pressão dos salários para baixo por-que a proporção dos trabalhadoresque não se empregam facilmente émaior. No longo prazo, contudo, o ní-vel dos desempregados por longosperíodos cai na mesma tendência donível de desemprego. Conseqüente-mente, a relação dinâmica entre de-semprego e salário parece ser não-li-near (Nickel, l987; Blanchard &Diamond, l990).

As críticas sobre a teoria da dura-ção freqüentemente concentram-se na

falta de um suporte empírico substanci-al e unânime. Existem dúvidas tambémsobre a noção de que a perda de capitalhumano possa ser uma razão forte paraa persistência do desemprego.

Estudos sobre os desempregados(por exemplo: Hugher & Hutchinson,l988) concluem que a maioria são tra-balhadores não-qualificados. A per-da de habilidade para estes grupospode ser pequena, e apenas modestosretreinamentos seriam necessáriospara reintegrá-los ao processo produ-tivo. O argumento de que o desempre-go de longo prazo muda a ética de tra-balho tem um certo suporte de pes-quisas empíricas (Clark & Summers,l982 ).

5 CONCLUSÃOA análise relatada mostra que as

teorias da duração enfatizam a idéiaque o desempregado perde sua influ-ência sobre a determinação dos salá-rios com o passar do tempo, enquan-to, de acordo com as teorias dasfiliações, somente os insiders, freqüen-temente identificados com os empre-gados, determinam o nível salarial.Admitindo-se que os recentes desem-pregados ainda pertencem ao grupodos insiders e que os outsiders são aque-les que estão desempregados por umlongo tempo, então constata-se que asduas teorias não são excludentes.

Por outro lado, as teorias dosinsiders e outsiders e a do salário-efici-ência demonstram que a existência dodesemprego involuntário é vista comoconseqüência da atitude preventivadas firmas contra os custos associa-dos à rotatividade da mão-de-obra.Isto posto, admita-se que:

a) maiores salários pagos pelasfirmas motivam os trabalhado-res e favorecem o recrutamentode mão-de-obra mais qualifica-da no mercado (teorias dos sa-lários-eficiência);

b) o incremento dos salários, porsua vez, aumenta os custos derotatividade dos trabalhadores- em virtude de maiores indeni-zações trabalhistas, por exem-plo -, o que leva a um maior

poder de barganha dos insiders(teoria da filiação);

c) por fim, os trabalhadores maisqualificados ou já estão empre-gados ou são recém-desempre-gados, e aqueles desemprega-dos por longos períodos, queperderam suas habilidades, tor-nam-se mão-de-obra não-quali-ficada (teorias da duração).

Assim, observa-se que as três teo-rias não são mutuamente excludentes.A combinação desses modelos forneceum arcabouço teórico para explicar porque os salários reais são rígidos nummundo de persistente desemprego(efeito histerese).

Um analista menos rigoroso e maisafoito acataria o argumento citado.Entretanto, a literatura mostra que umaanálise mais completa sobre o efeitohisterese não se resume a essas trêsteorias analisadas. Depende de outrosfatores tão ou mais importantes do queos analisados até este ponto. Fatorestais como a estrutura de barganha daseconomias mais centralizadas - paí-ses nórdicos - e menos centralizadas -EUA, Canadá e Japão; o grau de aber-tura de comércio exterior e de fluxosde capitais; os aspectos culturais pró-prios de diferentes sistemas, como pa-íses que possuem tradição social-de-mocrata ou liberal; as característicaspeculiares da segmentação do merca-do de trabalho e mesmo do grau dedesenvolvimento de cada país. Entre-tanto, isto não significa que o arcabou-ço teórico das três teorias apresenta-das não possam explicar o efeitohisterese, mas que deve-se consideraro contexto e o ambiente econômico,social e político em que se está anali-sando a aplicabilidade dessas teorias.

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IPA - Instituto dePesquisas Aplicadas da UNIFACS

A instituiçãoO IPA é uma sociedade sem fins lucrati-vos vinculada programaticamente àUNIFACS – Universidade Salvador, umainstituição de ensino superior baiana quemantém em funcionamento 21 cursos degraduação universitária, quatro mestra-dos e dois doutorados, além de uma pós-graduação lato-sensu.

ObjetivosO IPA atua na área de pesquisa e exten-são, executando os mais diversos servi-ços técnicos. Assim, através dos seus qua-dros, o IPA está apto a realizar os seguin-tes trabalhos:

• Pesquisa• Planejamento, programas e projetos• Estudos e análises• Consultoria• Treinamento

O IPA constitui-se em um centro deintegração da Universidade com as empre-sas, as instituições públicas e privadas, pro-curando associar as atividades acadêmi-cas aos esforços que são promovidos pelasociedade na busca de novos patamaresde desenvolvimento econômico e social.

Áreas de atuaçãoO IPA atua nas áreas que são objeto doscursos superiores e da Pós-Graduação da

UNIFACS, constituindo-se em campo de ati-vidades e estágios para os seus professorese alunos. Os cursos de graduação são osseguintes:1. Administração de Empresas;2. Arquitetura e Urbanismo;3. Ciência da Computação (Análise de Sis-

temas);4. Ciência da Computação (Suporte);5. Ciências Contábeis;6. Ciências Econômicas (Economia Em-

presarial);7. Ciências Sociais (Consultoria, Planeja-

mento e Pesquisa Sócio-Econômica);8. Comércio Exterior;9. Comunicação Social (Publicidade e Pro-

paganda);10. Comunicação Social (Relações Públicas);11. Direito;12. Educação Artística (Computação Grá-

fica);13. Engenharia Civil;14. Engenharia Elétrica;15. Engenharia Mecânica;16. Engenharia Química;17. Hotelaria;18. Letras (Tradução);19. Matemática;20. Psicologia;21. Turismo.

Os mestrados são os seguintes:1. Análise Regional (recomendado pela

CAPES);2. Rede de Computadores;3. Regulação da Indústria de Energia;4. Administração.E os cursos de Doutorado são:1. Planejamento Territorial e Desenvol-

vimento Regional (em convênio com aUniversidade de Barcelona, Espanha);

2. Administração Pública (em convêniocom a Universidade Complutense deMadrid, Espanha.

O IPA atua integrado com o Centro deEstudos do Desenvolvimento Regional –CEDRE, da UNIFACS, operando nas se-guintes áreas temáticas de pesquisa:1. Desenvolvimento Sócio-Econômico

Regional;2. Desenvolvimento de Organizações;

3. Tecnologia da Educação;

4. Processos de Comunicação e Cultura;

5. Turismo.

LocalizaçãoIPA - Instituto de Pesquisas Aplicadas

Rua das Violetas, 42 - PitubaSalvador - Bahia - BrasilCEP: 41.810-800 - Tel: (55-71) 452-6422Fax: (55-71) 452-1557E-Mail: [email protected]

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APRESENTAÇÃONeste artigo, pretende-

se apresentar algumas con-siderações acerca do plane-jamento voltado para a prá-tica da atividade turística emtermos regionais, analisan-do-a, sob a ótica das políti-cas públicas, em todos osníveis de abrangência, na-cional estadual e municipal,dando ênfase ao Programade Desenvolvimento Turís-tico do Nordeste – PRODE-TUR/NE.

No primeiro momento,abordaremos a questão doplanejamento turístico esuas particularidades. Emseguida, apresentaremos al-gumas considerações acer-ca das teorias de localizaçãoe sua aplicação ao desenvol-vimento regional, concluin-do então com as questõessobre políticas públicas esuas implicações no plane-jamento regional, culminan-do com as questões polêmi-cas da atividade regional doturismo e a possibilidade deexistir um planejamentoneste nível.

ALGUMASCONSIDERAÇÕESACERCA DOPLANEJAMENTO DOTURISMO

O planejamento do turis-mo tende, na maioria dasvezes, a se basear nas técni-cas das ciências sociais, po-rém é importante salientar a

TURISMO E PLANEJAMENTO REGIONALClaudia Mesquita

Bacharel em Turismo pela Universidade Salvador, Mes-tranda em Análise Regional da UNIFACS e professora docurso de Turismo da UNIFACS e do CEFET. Participa comovoluntária do Projeto de Revitalização do Convento doDesterro e da Revitalização da Ilha de Itaparica. E-mail:[email protected]

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interdisciplinaridade da atividadeturística e sua estreita ligação com aabordagem econômica uma vez queatravés desta é possível incrementarmercados, investimento e, acima detudo, gerar renda e emprego.

BAPTISTA (1981,p.13) define pla-nejamento como o processo perma-nente e metódico de abordagem raci-onal e científica de problemas. Impor-tante salientar a proposição de pla-nejamento como processo e não algoestático, em que muitos fatores conco-mitantes têm de ser coordenados paraalcançar os objetivos desejados. E, porser dinâmico, deve ser monitoradopara sempre sofrer revisão e correçãodos rumos.

Para o planejamento do turismo,é sempre sugerido o esquema de es-trutura integrada de processos, umavez que a atividade abrange setoresdiferenciados da sociedade. ParaBENI (1998), que idealizou a análiseestrutural do turismo, turismo é conce-bido com um sistema aberto que carre-ga em sua estrutura as relaçõesambientais – ecológicas, sociais, eco-nômicas e culturais - e o conjunto dasorganizações estruturais – infra-estru-tura e superestrutura – além das açõesoperacionais, que seriam as ações demercado.

No turismo, o plano de desenvol-vimento constitui o instrumento fun-damental da determinação e da sele-ção das prioridades para a evoluçãoharmoniosa da atividade, determinan-do suas dimensões ideais, para que, apartir daí, possa-se estimular, regularou restringir sua evolução. Em rela-ção aos objetivos, o planejamento doturismo tem como prioridade ordenara atividade de forma a conduzir mu-

danças estruturais de realidades exis-tentes e gerar o crescimento econômi-co acelerado.

Contudo, devemos lembrar queesta atividade detém o poder deincrementar os setores sociais, cultu-rais e históricos e, além disso, orde-nar os impactos ambientais, posto quetambém pode impactar negativamen-te, e torna-se necessário a previsãopara diminuição destes fatores quetendem a deteriorar o espaço turísticoregional.

Também deve ser concebido emtermos nacionais, regionais e locais,através principalmente da influênciadas políticas de ordem pública, o queapresentaremos de forma mais amplaa seguir.

Numa perspectiva mais modernado planejamento, este deve ser orien-tado de forma a ser gerido pelas par-tes que serão mais amplamente afeta-das, a demanda receptiva, que incluia população, com seus desejos e críti-cas e conjunto de empresários locaisde turismo os quais serão beneficia-dos ou não com o desenrolar do pla-nejamento. Trata-se, então, de umaproposta de gestão participativa, naqual a população passa a ser defini-dora, conjuntamente com os técnicosplanejadores do processo de incre-mento da atividade, podendo interfe-rir e definir o que lhe parecer melhor econveniente.

A preocupação maior deve ser, emparticular na atividade turística, como planejamento da atividade, a formacomo a comunidade será inserida nocomplexo esquema do plano de de-senvolvimento, devendo ela ser amaior beneficiada, uma vez que é apartir dessa oferta, seja ela em forma

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de mão de obra operacio-nal ou em forma de mani-festação cultural, que seformarão os produtos co-mercializáveis.

Vale lembrar que o tu-rismo, como atividade eco-nômica, não se constituiem atividade fim, poisuma sociedade precisaráde outras bases produti-vas como suporte à ativi-dade turística. Por outrolado, devemos dar atençãoespecial aos destacadosefeitos econômicos que elacausa, sendo de expressi-va importância para o pro-cesso de desenvolvimentoda economia e de melho-ramento dos índices soci-ais. É sem dúvida a ativi-dade excelente para obten-ção de resultados no de-senvolvimento e planeja-mento regional ou terri-torial, afirma BENI (1998),uma vez que promove odesenvolvimento interse-torial, em função do efeitomultiplicador dos investi-mentos e dos fortes cresci-mentos da demanda inter-na receptiva.

Porém, é valido lem-brar que, se mal planejadoou nem mesmo identifica-do como de importânciasuperior para tal contribui-ção na economia, é capazde provocar danos irrepa-ráveis à sociedade e suaidentidade e manifesta-ções, além dos danos deordem ambiental, uma vezque principal produto daatividade é a paisagem.Então, é capaz de provocaros efeitos positivos e multi-plicadores, mas também oprocesso inverso, incluin-do também a exclusão so-cial de diversos setores eclasses da sociedade.

AS TEORIAS DE LOCALIZAÇÃO ESUA APLICAÇÃO AO DESENVOL-VIMENTO TURÍSTICO REGIONAL

Das diversas teorias de localiza-ção, algumas são de importância su-perlativa para a questão do desenvol-vimento regional do turismo. Se, con-tudo, considerarmos a atividade doturismo como uma indústria de servi-ços, entendendo-a, assim, como o se-tor terciário e a atividade do turismocomo a indústria motriz, capaz, portan-to, de produzir o crescimento econô-mico regional através do crescimentoda atividade.

Vejamos que na teoria dos “pólosde crescimento” (PERROUX, apud eSILVA,1976) propõe basicamente um“modelo de crescimento econômicobaseado no crescimento do setor in-dustrial, particularmente de certasindustrias inovadoras e propulsoras”de tal desenvolvimento.

Assim, se considerarmos a ativi-dade turística como uma “indústriade serviços”, e que por si só já é ino-vadora e de tal forma é inerente a suanatureza produzir efeito de arraste, quePERROUX menciona, e consideran-do que já fora explanado os efeitos daatividade turística, podemos entãoadotar a teoria dos pólos de crescimentopara atividade turística.

Analisando, podemos identificaros pólos de crescimento em turismo,tecendo paralelo com as divisões emregiões turísticas do Estado da Bahia,cabendo ressaltar que cada uma de-las possui um centro turístico1 ondese encontra a maioria das atividadese as mais importantes. Os demais nú-cleos e áreas com serviços comple-mentares mantêm íntimas ligaçõescom o centro turístico que, por suaposição, tende a crescer sempre, am-pliando a oferta de equipamentos ede serviços. Assim, ele é consideradocomo pólo de crescimento (regional), umavez que suas atividades se desenro-lam em função da indústria motriz, ade serviços turísticos.

Tais considerações levam-nos acompreender a teoria dos pólos decrescimento conjuntamente com a teo-ria das localidades centrais de Walter

CHRISTALLER (1939): o geógrafopropõe uma teoria da localização paraos serviços e instituições urbanas,supondo que a centralização é umprincípio de ordem e que os centrosaos quais CHRISTALLER(1939) sereporta não são necessariamente nú-cleos populacionais, mas centros dedistribuição de bens e serviços de umaregião e seu entorno.

Isto torna claro o entendimentodas regiões turísticas do Estado daBahia, cada uma com um centro dis-tribuidor de serviços e dotado deinfra-estrutura suporte para toda aregião na qual está inserido.

Consideramos, portanto, que ospólos de crescimento, como centrosturísticos, possuindo característicasde acordo com suas necessidades eda região, seriam os centros de distri-buição, de estadia, de excursão, deescala, etc.

Neste sentido, CHRISTALLER(1939) chega a firmar que os bens eserviços produzidos em tais centrossão também consumidos em váriospontos dispersos. Para entender talafirmação, é necessário entender osconceitos de limiar e de alcance, de umbem ou serviço central, que seria paranós a oferta turística.

O nível mínimo de demanda paraassegurar a produção de bens e servi-ços chamamos de limiar (SILVA,1976). O excedente, portanto, propor-ciona o crescimento econômico e fi-nanceiro da oferta efetiva.

Dessa forma, é criterioso salien-tar que somente se configura em cen-tro se houver uma determinada de-manda de consumidores para aten-der à oferta. Caso contrário, tal centrose constituirá em uma simples aglo-meração urbana sem possibilidade decrescimento econômico e social.

Como alcance, entendemos a má-xima distância que a demanda se pro-põe a percorrer com o objetivo de con-

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1 Centro turístico � centro urbano queatende a todos os requisitos de infra-estrutura turística, somando a sua bási-ca, complementar e de equipamentos;geralmente funciona como centro regio-nal de serviços, agregando núcleos tu-rísticos próximos.

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sumir o serviço (SILVA,1976).

Os demais núcleos regi-onais se reportam ao centromais próximo para abaste-cimento de bens e serviçosdos quais não dispõem.Assim também acontececom a demanda turística: ébem claro que o perfil do tu-rista define o local de desti-no da viagem, assim comoos serviços que irá consu-mir e também dispor. Destaforma, quanto mais distan-te do centro, menos serviçosserão ofertados, tendo, por-tanto, que ter ligação com oou os centros regionais exis-tentes.

Neste caso, é precisolembrar o conceito de hie-rarquia das localidadescentrais que CHRISTAL-LER (1939) idealizou. Deuma forma mais resumida,a hierarquia se daria emfunção dos serviços e equi-pamentos oferecidos, danecessidade ou não de cadaum deles em uma determi-nada região. Logicamente,a demanda responderia ànecessidade ou não.

Nos centros turísticos,dispomos de aeroportos,grande parque hoteleiro euma infra-estrutura de apoiomais eficiente que no restan-te do território, com a fina-lidade inclusive de abran-ger uma determinada re-gião que normalmente sevolta para tal centro, emfunção do limiar e das ne-cessidades de consumo jáexplicadas acima.

Algumas delas possu-em estrutura extremamen-te adequada ao turismo demassa. É o caso dos gran-des centros urbanos e ou-tros com atividades menoscorrentes que oferecem a de-manda de consumo um de-terminado nível de consumo

que está hierarquicamente inferior aosdispostos no grande centro.

O que fica claro da noção decomplementaridade dos serviços nocontexto de região com um grandecentro – pólo turístico, é que há umainterdependência de todos os núcle-os turísticos, sendo esta uma das prin-cipais motivações do planejamentoregional efetivo do turismo.

ALGUMAS REFLEXÕES ACERCADAS POLÍTICAS DE DESENVOLVI-MENTO DO TURISMO E O PLANE-JAMENTO REGIONAL DO TURISMO

O papel do estado na composiçãode políticas de turismo deverá ser ade determinar as prioridades, a cria-ção de normas e a administração derecursos e estímulos. O governo en-tão dará as diretrizes e proverá as fa-cilidades, através, sobretudo, das po-líticas de turismo, sejam elas munici-pais regionais ou mesmo nacionais.

Em suma, turismo é uma ativida-de que requer a intervenção proemi-nente do Estado, que, do ponto de vis-ta econômico, representa uma ativi-dade pluri-setorial, necessitando decoordenação e planejamento de seudesenvolvimento que só podem serpromovidos pelo poder público.

Assim como HILHOST (1973),BENI (1998) adota a teoria geral dosistema para desenvolver seu enten-dimento da relação de várias inter-re-lações de um sistema maior. HIS-HOST(1973) considera a região comoum sistema aberto, assim como BENI(1973) o propõe para o sistema turís-tico e, portanto, interagindo e interfe-rindo com e em outros sistemas.

Desta forma, podem-se destacar fa-tores tanto externos como internos queinfluenciam o desenvolvimento regionaldo turismo, objeto de nosso estudo.

Dos fatores internos, ou endóge-nos, destacamos os atrativos naturaise culturais além dos fatores históri-cos e de identidades da demanda in-terna receptiva que constituem a po-pulação como mantenedora de suasraízes e disposta a comandar todo oprocesso de proporcionar à regiãomelhores possibilidades de vida, atra-

vés de movimentos organizados soba forma de ONG, associações e, atémesmo, fundações.

Todas estas carregam uma parce-la de responsabilidade social com suaregião e tendem a defender interessesda comunidade local, ampliando aperspectiva de vida da população.

Por ser o turismo uma atividadehíbrida, como afirmou BECKER (1997),no sentido de que ele é, ao mesmo tem-po, proporcionador de desenvolvi-mento, mas também possui um enor-me potencial de degradação, deve-seatentar para os efeitos e impactos daatividade, principalmente no que dizrespeito aos fatores naturais e de im-portância sociocultural da comuni-dade, primando sempre pelas condi-ções de vida da população local.

Quanto a isso e somando sua pos-sibilidade de interagir com os maisdiversos setores da sociedade, infra –e superestruturais, podemos preveruma enorme complexidade no queconcerne ao desenvolvimento da ati-vidade deste setor, necessitando, so-bretudo, o que para nós ainda nãoexiste efetivamente, políticas de turis-mo. Principalmente aquelas que fo-mentam a atividade local regional.

Sob o aspecto federal, temos a Po-lítica Nacional de Turismo, queabrange todo o território nacional,porém de maneira excludente, porexistirem vários contextos diferentesde paisagem e de culturas singula-res, necessitando, contudo, estar mais

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Números anteriores:Secretaria da Revista:Profª Tatiana SpínolaTel.: (71) 273-8557

e-mail: [email protected]

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centrada nos problemaslocais e regionais e nãosomente nos municipais,como propõe o PNMT2 oumesmo o Plantur3 .

É então um grande fa-tor inibidor de qualquerpossibilidade de desenvol-vimento regional, o PNMT,na medida em que incenti-va locais que exploram oturismo de massa, receben-do cada vez mais incenti-vos, possibilitando inclu-sive a superexploração deum determinado local, eesquecendo de outros me-nores que praticam o turis-mo de forma sustentável.Afirmam-se como desti-nos, sem nenhum incenti-vo público ou mesmo fis-cal, e ainda conseguemincrementar a atividade,proporcionando a possibi-lidade de vias desenvolvi-mento integradas em com-posição com a atividadeturística. Lembre-se queesta não pode e não deveser encarada como a ativi-dade fim, mas pode ser aforça motriz que incentiva-rá o desenvolvimento local.

As experiências no Ce-ará, com descentralizaçãode ações ligadas ao turis-mo apresentaram um cami-nho através de conselhosregionais que, dispostos aviabilizar a interiorizaçãodos fluxos turísticos, puse-ram, além das prefeiturasmunicipais, os empreen-dedores de atrativos locaisem parceria a fim de dina-mizar a atividade turísticaem nível regional.

Casos isolados de re-gionalização do turismosão exemplos de que a ati-vidade consegue ser sus-tentável, uma vez que atin-ge níveis de parcerias e dematuridade na administra-ção dos contextos e das

possibilidades regionais e não em ter-ritórios isolados.

Exemplo próximo, na nossa rea-lidade, é o da região de Porto Seguro,delimitada e denominada de Costa doDescobrimento. Os municípios conse-guiram unir-se em favor da atividadeque se constitui a força motriz da re-gião, o turismo, e nele e para ele man-têm planos e decisões integrados aoprocesso do todo regional e não deinteresses particulares de cada muni-cípio. Assim, a atividade consegueproporcionar uma integração compe-titiva do tipo cluster possibilitandoganhos para, mais uma vez, o conjun-to regional e não somente o local.

O programa de fomento à ativi-dade turística na região Nordeste, oPRODETUR/NE4 propõe que a ativi-dade seja intensificada através deampliação dos recursos de infra-es-trutura básica e de acesso além de pro-por o aperfeiçoamento do sistemainstitucional de gestão da atividade.Tal programa tem impingindo signi-ficativas transformações ao processode construção e reconstrução de terri-

tórios para uso do turismo, fato quedaria mais pontos de discussão, con-siderando a vasta abrangência da re-gião nordeste frente às demais regi-ões do país.

NICOLÁS (1989, apud CRUZ,2000) afirma que o PRODETUR/NEinsere-se num modelo internacionalde desenvolvimento do turismo, omodelo de “indústria turística” quetem por características: a construçãoe a habilitação das condições geraispara as atividades turísticas, as queem termos tradicionais se manejamcomo infra-estrutura (aeroportos, ro-dovias, energia elétrica, água...); aparticipação na dotação das condi-ções mínimas para reprodução da for-ça de trabalho empregada nas ativi-dades turísticas; as funções tradicio-nais do Estado diante do capital quevão desde o crédito até a formação demão de obra.

Como o PRODETUR/NE compõebasicamente políticas de desenvolvi-mento urbano, por assegurar a infra-estrutura a ser implementada, nãoconsegue, por si só, atingir os outros

2 PNMT � Política Nacional Municipalização do Turismo, fomenta a atividade turística nosmunicípios com este potencial, proporcionando a integração da comunidade aos aspec-tos da atividade turística, e onde e como cada setor entrará e atuará proporcionando umentendimento da comunidade com as parcerias públicas e provadas do setor. Esteprograma é, em sua concepção, uma abordagem da gestão participativa: necessita daatuação da própria comunidade para que as ações sejam realmente efetivas, porémpeca por não envolver e ampliar a problemática para a questão regional, o que podecontribuir para a não-integração do entorno com as atividades que acontecem no muni-cípio, facilitando, entretanto, a questão dos núcleos isolados e dificultando o estabeleci-mento de redes de ligação entre os núcleos e centros existentes. Por fim, possibilitandoo isolamento do município frente à região.

3 Plano Nacional de Turismo � instrumento básico da Política Nacional de Turismo preco-nizada pelo Decreto 448/92, foi instituída em 1996, no primeiro mandato de FHC(1995-98). O Plantur tem como objetivos: estímulo aos investimentos privados de interesseturístico; concessão de estímulos fiscais e outras facilidades que propiciem a canaliza-ção de empreendimentos turísticos para áreas que deles necessitem ou apresentemcondições favoráveis.

4 PRODETUR/NE idealizada na década de 1990, pelo governo federal � Fernando Collorde Mello � juntamente com os governos dos estados de Alagoas e Pernambuco, ummagaempreendimento, em torno do objetivo comum de criar um complexo turístico, degrandes proporções, ao longo do litoral daqueles dois estados. Essa iniciativa deu ori-gem ao Projeto de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste � PRODETUR/NE, que, por razões políticas e operacionais tornou-se extensivo à toda área de jurisdi-ção da Sudene.

O PRODETUR/NE foi criado pela Sudene e Embratur � portaria conjunta 1, de 29 denovembro de 1991 � abarca todos os estados Nordestinos e a região do norte de MinasGerais � esta última faz parte da área de jurisdição da Sudene � tendo como objetivosespecíficos: aumentar o turismo receptivo; aumentar a permanência do turista no nor-deste; induzir novos investimentos na infra estrutura turística; gerar emprego e renda naexploração direta e indireta da atividade turística.( Portaria Conjunta 2 de 16 de abril de1993, instituída pelos Ministérios da Fazenda, da Indústria,do Comércio e do Turismo,da Integração Regional, da Aeronáutica, e pela Secretaria de Planejamento, Orçamentoe Coordenação da Presidência da República).

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objetivos que incluem aampliação dos fluxos deturistas ou mesmo sua per-manência nestes, inclusi-ve porque, como um plane-jamento turístico deve serintegrado, devem-se con-templar a preservação e avalorização do ambiente,além de assegurar à popu-lação seus recursos histó-ricos salvaguardados. Taisconsiderações estão pre-sentes nas diretrizes bási-cas do programa, porémnão há ações efetivas queexerçam tais possibilida-des, concebendo um turis-mo de forma sustentável.

Em contrapartida, háuma questão positiva: asobras de infra-estruturaproporcionam uma melho-ra de qualidade de vidanos diversos centros urba-nos contemplados com oprograma e o modelo deintegração administrativa,

com os setores mais diretamente liga-dos ao turismo, além do trabalho con-junto e cooperativo com a iniciativaprivada e suas associações, confirmaa estratégia regionalizada, no exem-plo Costa do Descobrimento – já cita-da – que é uma área definida comoprioridade no PRODETUR/NE.

É preciso lembrar a amplitude doplanejamento turístico e sua integra-ção com as outras atividades, motivopelo qual devem-se trabalhar os di-versos setores da sociedade e da eco-nomia, para um melhor aproveita-mento total da atividade e, regionali-zando a atividade, podemos contri-buir para o crescimento de áreas mai-ores e contar com seus efeitos multipli-cadores capazes de ampliar os impac-tos da atividade, como propôs ogeógrafo sueco, quando contribuiucom a teoria da propagação das on-das de inovação. Como explica SILVA(1976), “é fácil associar os centros deirradiação com as cidades que pas-sam, então, a ter o mais importantepapel no processo de difusão espacialdo desenvolvimento”. É nesse senti-

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do que enfatizamos a necessidade deum planejamento regional do turismo,frente, é claro, à nossa riqueza de pai-sagens naturais e históricas e tambémsociais , dentre outras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BECKER, Berta. Políticas e planejamento doturismo no Brasil. In: YÁZIGI, Eduardo.CARLOS, Ana F. A, CRUZ, Rita deCássia A. (org.). Turismo: espaço, pai-sagem e cultura. São Paulo: Hucitec,1996.

CHRISTALLER, (FALTA COMPLETAR)CRUZ, Rita de Cássia. Política de turismo e

território. São Paulo: Contexto, 2000.HILHOST, (FALTA COMPLETAR)LIMA, Luíz Cruz. O planejamento regional

ajuda o turismo? In: YÁZIGI, Eduardo;CARLOS, Ana F. A.; CRUZ, Rita deCássia A. (org.). Turismo: Espaço, pai-sagem e cultura. São Paulo: Hucitec,1996.

SILVA, S. C. B. Mello. Teorias de localiza-ção e desenvolvimento regional. Geogra-fia, Rio Claro. v. 1 n. 2, p.1-23, out. 1976.

_______. Geografia, turismo e crescimento:O exemplo do Estado da Bahia. In:RODRIGUES, Adyr B.(org.). Turismo egeografia: reflexões teóricas e enfoquesregionais. São Paulo: Hucitec, 1996.

PÓS-GRADUAÇÃOUNIFACS

LATO SENSOl Administraçãol Análise e Intervenção Sociall Clínica de Dorl Design Gráfico e de interfacesl Direito do Trabalhol Direito Públicol E-Businessl Finanças Corporativasl Gestão da Produção Culturall Gestão de Empreendimentos Turísticosl Gestão do Comércio Internacional

MESTRADOSl Mestrado em Análise Regionall Mestrado em Redes de Computadoresl Mestrado em Administraçãol Mestrado em Regulação da Indústria

de Energia

l Marketingl Novas Abordagens para o Ensino da

Língua Portuguesa: Gramática e Textol Planejamento Ambientall Processol Psicologia Organizacionall Psicopatologia - Modelos e Métodos:

Novas Abordagens em Saúde Mentall Redes de Computadoresl Sistemas Distribuídosl Sistemas e Aplicações WEB

DOUTORADOSl Doutorado em Planejamento

Territorial e DesenvolvimentoRegional

l Doutorado em AdministraçãoPública

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Nos dias de hoje, nemsempre é muito clara, atépara os próprios autores, adistinção entre artigos eensaios científicos. Ela en-tretanto existe, tanto queum é normatizado pelaNBR 6022/1994 da ABNT(o artigo) e o outro não o é .

1 ARTIGO

1.1 DEFINIÇÃO

Modalidade de traba-lho científico primário quese define por um discurso“envolvido” – o da desco-berta do escritor-cientista –e por um discurso “envol-vente” – porque o escritorbusca o envolvimento dacomunidade científica como valor de verdade de suadescoberta. Geralmente,portanto, apresenta o resul-tado de estudos ou pesqui-sas pequenas, porém com-pletas, que não constituemmatéria para um livro.

A NBR 6022 da ABNTadmite a existência de doisoutros tipos de artigos:

a) o primeiro, denominado“versão preliminar”, éaquele artigo “explicita-mente apresentado comoabordagem inicial ouparcial de determinadoassunto, em função deindisponibilidade tem-porária de dados, salva-guarda de propriedadeindustrial ou segurançanacional”.

b) o segundo, de caráter se-cundário, uma espécie de

ARTIGOS E ENSAIOS CIENTÍFICOSVera Britto

Mestre em Letras e Professora da UNIFACS.

“revisão, quando resume, analisa ediscute informações já publicadas”.

Todas as formas de artigos sãopublicadas em periódicos, especiali-zados ou não.

1.2 ESTRUTURA

A estrutura dos artigos científicosestá fixada em norma e é a seguinte:

a) elementos pré-textuais ou preli-minares,

• título (e subtítulo, se houver, em-bora não seja aconselhável),

• autoria: nome do(s) autor(es)acompanhado(s) de suas creden-ciais (qualificação na área de quetrata o artigo), da data de elabo-ração do trabalho e do local ondeexerce suas atividades, com orespectivo endereço. Todo o blo-co das credenciais e dos eventu-ais agradecimentos do autordeve aparecer em nota de rodapéna página de abertura, preferen-cial, mas não obrigatoriamente,visto que é possível transformá-lo em nota editorial colocada nofim do artigo,

• resumo: parágrafo redigido deacordo com a NBR 6028 da mes-ma ABNT o qual deve conter otema, os objetivos, a metodologiae as conclusões do artigo, redigi-do de forma concisa (algumas re-vistas exigem também a versãodo resumo para língua de gran-de difusão, geralmente o inglês),

• palavras-chave: termos indica-tivos do conteúdo do artigo;

b) elementos textuais - corpo do arti-go, subdividido em

• introdução: apresentação do as-sunto, objetivos, metodologia, li-

mitação (recorte) e proposições(i.é, aquilo que o autor defendeno artigo),

• desenvolvimento: exposição, ex-plicação ou demonstração domaterial, avaliação dos resulta-dos e comparação com obras an-teriores,

• comentários e conclusões: dedu-ção lógica dos elementos do de-senvolvimento;

c) elementos pós-textuais - partereferencial - notas ou referênciasbibliográficas (NBR 6023/2000),apêndices, anexos e, se essa for aopção, data e agradecimentos. Anorma da ABNT recomenda que seevitem ao máximo as notas derodapé ou de final de texto e a se-paração do texto de anexos e apên-dices. Se, entretanto existirem, ascitações devem ser apresentadas deacordo com a NBR 10520.

Nem sempre é necessário, em vir-tude das limitações impostas à exten-são dos artigos - na maioria das vezespelas características do tipo de pes-quisa que gera artigos e também pelaprópria estrutura dos periódicos -explicitar subdivisões no desenvolvi-mento: elas se traduzirão na ordena-ção lógica do material. Entretanto, érecomendável numerar progressiva-mente todas as seções primárias: in-trodução, o título geral do desenvol-vimento e a conclusão.

1.3 CONTEÚDO

Abrange aspectos variados, masem geral apresenta temas ou aborda-gens novas, atuais, diferentes. Assim,ele pode:• versar sobre estudo pessoal ou dar

a temas polêmicos enfoque diversodaqueles com que até então foramtratados;

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• oferecer soluções provi-sórias ou não para ques-tões controvertidas;

• abordar aspectos se-cundários levantadospor alguma pesquisamas não utilizados nelapor desviar-se do pro-blema central;

• levar ao conhecimentodo público especializa-do idéias novas parasondagem de opiniãoou atualização de infor-mações.

2 ENSAIOCIENTÍFICO

2.1 DEFINIÇÃO

É uma situação de dis-curso secundário, i.é, o queé produzido referindo-se adescobertas de cientistasque não o autor do ensaio.Segundo SEGISMUNDOSPINA, ele oferece pontosde contato com a mono-grafia e a tese, diferindodelas pela forma eminen-temente pessoal como otema é tratado, ou seja, peloCARÁTER CRÍTICO doescrito, sobre uma questãocientífica.

Caracteriza-se, funda-mentalmente, como “estu-do bem desenvolvido, for-mal, discursivo e conclu-dente que consiste em ex-posição lógica e reflexivae em argumentação rigoro-sa com alto nível de inter-pretação e julgamento doautor”(SALVADOR, apudSEVERINO, 2000, p. 152).Na medida em que, paraisso, o autor não precisaapoiar-se em aparato dedocumentação empírica ebibliográfica, ele tem maiorliberdade de defender de-terminada posição, masexige grande informação

cultural e grande maturidade intelec-tual (SEVERINO, p. 153). Os autores,porém, têm dificuldade de caracterizaresse tipo de texto, denominando-o ora“artigo” ora “ensaio”, quer no resu-mo, quer no texto expandido.

2.2 TIPOS

Há dois tipos de ensaios científi-cos:

a) informativo ou teórico (con-vencimento)

b) opinativo ou avaliativo (per-suasão)

No ensaio teórico, o escritor-cien-tista apresenta argumentos favoráveisou contrários a uma teoria ou a teori-as, enfocando um dado argumento edepois fatos (em geral do domíniopúblico científico) que possam prová-lo ou refutá-lo.

O desenrolar da argumentaçãoconduz à tomada de posição do autorquanto à teoria ou às teorias discuti-das, funcionando como conclusão doensaio. Esta forma requer pesquisa econhecimento profundos e reflexãointensa, sendo geralmente elaboradapor especialistas experientes.

No ensaio avaliativo, confron-tam-se experiências conhecidas peloensaísta que são comparadas, apreci-adas, julgadas e transmitidas à comu-nidade científica a fim de que estamude de opinião e aceite o ponto devista do escritor ensaísta. Esta é a for-ma que costuma aparecer em suple-mentos culturais de jornais e revistas.

Embora outros autores não o fa-çam, CARMO-NETO (1992 p. 101) in-clui no seu livro um outro tipo de en-saio opinativo que é aquele

“ensaio (assinado) de jornal... no qualo autor pode estar interessado simples-mente em : dar uma opinião, proveruma solução alternativa a um certoproblema polêmico sem entrar emquaisquer especificações metodológicas,criticar uma atitude de ação social, po-lítica ou econômica, comentar sobreuma minoria de certa ideologia, darinformação, opinar sobre um aconteci-mento que jamais poderá se realizar ecorrigir ou demonstrar vieses aparen-temente não percebidos”. Trata-se, jáse vê, de uma diversidade temática tão

grande, que dificilmente se poderia es-tabelecer um método de redação ou es-tabelecer uma estrutura. Assim, é pre-ferível considerar como ensaios cien-tíficos apenas as duas modalidadesanteriormente citadas.

2.3 ESTRUTURAS

Ensaio teórico e ensaio avaliativotêm estruturas diferentes (assim comosão diferentes seus objetivos). Sãoelas:

a) do ensaio teórico:

• exposição da teoria• apresentação dos fatos• síntese dos fatos• conclusão

b) do ensaio avaliativo:

• apresentação - o que está sen-do avaliado

• avaliação - o valor da ques-tão (importância)

• exposição - razões, argumen-tos e provas

• finalização - conclusão, comencaminhamento e aberturade debate.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMASTÉCNICAS (RJ). Normas sobre docu-mentação. Rio de Janeiro: 1980-1994.

_______. NBR 6023: informação e docu-mentação – referências – elaboração. Riode Janeiro, 2000.

BRENNER, Eliana de Moraes; DIAS, CéliaGuimarães; JESUS, Dalena Maria Nas-cimento de. Elaboração de trabalhosacadêmicos: projeto de pesquisa, mono-grafia e artigo. 2. ed. Salvador: Universi-dade Salvador – UNIFACS, Coordena-ção de Pesquisa, 2000.

CARMO-NETO, Dionísio. Metodologia ci-entífica para principiantes. Salvador:Ed. Universitária Americana, 1992.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodolo-gia do trabalho científico. 21. ed. rev. eampl. São Paulo: Cortez,2000.

SPINA, Segismundo. Normas gerais paratrabalhos de grau: um breviário para oestudante de pós-graduação. 2. ed. melh.e ampl. São Paulo: Ática, 1984.

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O livro Fim de Milênio se divideem cinco capítulos descritos a seguir:

1. A crise do estatismo1 industri-al e o colapso da União Sovié-tica

2. O surgimento do Quarto Mun-do: capitalismo informacio-nal2 , pobreza e exclusão social

3. A conexão perversa: a econo-mia do crime global

4. Desenvolvimento e crise na re-gião do Pacífico asiático

5. A unificação da Europa: globa-lização, identidade e o Estadoem rede

Serão apresentados, a seguir, osprincipais aspectos apontados porManuel Castells no contexto de cadaum dos tópicos acima descritos.

1. A CRISE DO ESTATISMO

INDUSTRIAL E O COLAPSO DA

UNIÃO SOVIÉTICA

Neste capítulo, Castells identifi-ca as causas determinantes do colap-so da União Soviética.

A primeira delas seria o esgota-mento do modelo extensivo de cresci-mento econômico da União Soviética,que exigia a mudança para um novoequacionamento da produção no qual

os avanços tecnológicos pudessemadquirir maior importância e os bene-fícios trazidos pela revolução tecnoló-gica fossem empregados para aumen-tar substancialmente a produtivida-de da economia como um todo.

A Segunda, a incapacidade estru-tural do estatismo e da versão soviéti-ca do industrialismo3 de assegurar atransição para a sociedade da infor-mação4 porque, na União Soviética,essa transição exigia medidas queabalavam os interesses da máquinaburocrática do Estado e da nomenkla-tura5 do partido.

Em terceiro lugar, a despeitodo enorme volume de recursosalocados pela União Soviéticapara o avanço da ciência e da pes-quisa e desenvolvimento (P&D) eapesar de o país contar com o mai-or número de cientistas e enge-nheiros entre a população econo-micamente ativa em relação a qual-quer outro país importante domundo, o sistema desestimulou abusca pela inovação em uma épo-ca de mudanças tecnológicas fun-damentais.

A quarta razão seria a existên-

CASTELLS, MANUEL.FIM DE MILÊNIO. SÃO PAULO: PAZ E TERRA, V. 3, 1999.

ANÁLISE DO LIVRO FIM DE MILÊNIO

Fernando Alcoforado *

* Fernando Alcoforado, consultor em planejamento econômico, energético e empresarial,doutorando em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidadede Barcelona, ex-professor da Unifacs e ex- presidente do IRAE- Instituto RômuloAlmeida de Altos Estudos, é autor dos livros Globalização, De Collor a FHC- o Brasil e anova (des)ordem mundial e Um projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo), entreoutros. E-mail: [email protected].

1 Estatismo é o sistema social organizado em torno da apropriação do excedente econô-mico produzido na sociedade pelos detentores do poder no aparato do Estado, aocontrário do capitalismo, em que o excedente econômico é apropriado pelos detentoresdo controle das organizações econômicas privadas.

2 Capitalismo informacional é caracterizado pela inexistência de controles das forças demercado, pela formação de uma economia do crime global, bem como pela suainterdependência crescente em relação à economia formal e às instituições políticas.

3 Industrialismo é o mecanismo de desenvolvimento em que as principais fontes de produ-tividade consistem no aumento quantitativo dos fatores de produção (capital, trabalho erecursos naturais), juntamente com a utilização de novas fontes de energia.

4 Sociedade da informação ou informacionalismo é o mecanismo de desenvolvimento emque a principal fonte de produtividade é entendida como a capacidade qualitativa deotimizar a combinação e o emprego dos fatores de produção com base na informação eno conhecimento.

5 Nomenklatura era o grupo dominante na estrutura de poder da União Soviética.

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cia de um complexo militar-industri-al que agia como um buraco negro naeconomia soviética, absorvendo amaior parte da energia criativa da so-ciedade e um orçamento insustentá-vel para defesa.

Em quinto lugar estariam osdesequilíbrios sistêmicos entre seto-res econômicos e o desajuste crônicoentre oferta e procura na maioria dosprodutos e processos contribuírampara que se gerasse escassez e criasseuma economia paralela que se desen-volveu consideravelmente nos anos70 com a anuência da nomenklatura dopartido, causando profunda mudan-ça na estrutura social soviética e de-sarticulando e onerando uma econo-mia centralmente planejada.

Vem a seguir o insucesso das re-formas econômicas com a Perestroikae a abertura política através da Glas-nost que deram vazão à pressãoincontida das identidades nacionais-distorcidas, reprimidas e manipula-das durante o stalinismo. A busca deidentidades distintas da ideologiacomunista provocou o enfraqueci-mento do Estado soviético de formadecisiva. O nacionalismo tornou-se aexpressão máxima dos conflitos en-tre o Estado e a sociedade, sendo ofator político imediato que culminouno processo de desintegração daUnião Soviética.

O Partido Comunista Soviéticonão estava em condições de lançarmão de mecanismos repressivos por-que fora dividido, desconcertado edesarticulado pelas manobras deGorbachev e pela infiltração, em suas

fileiras, dos valores e projetos de umasociedade reavivada.

Verifica-se, desse modo, que oestatismo soviético não entrou em co-lapso sob o ataque de movimentossociais nascidos das contradiçõesentre o Estado e a sociedade civil. Aexperiência soviética demonstra quesistemas sociais podem desaparecercomo vítima de suas próprias arma-dilhas, sem serem atacados de formairreversível por agentes sociais mobi-lizados de forma consciente.

Quando o comunismo soviético sedesintegrou, a ausência de um proje-to coletivo alternativo, que fosse alémdo fato de ser “ex”, disseminou o caospolítico e estimulou uma competiçãoselvagem na corrida pela sobrevivên-cia individual.

2. O SURGIMENTO DO QUARTO

MUNDO: CAPITALISMO

INFORMACIONAL, POBREZA EEXCLUSÃO SOCIAL

Neste capítulo, Manuel Castellsaborda o processo de polarização domundo, a desumanização da África,o novo dilema norte-americano dadesigualdade, pobreza urbana e ex-clusão social na era da informação ea perspectiva das crianças no proces-so de globalização, superexploraçãoe exclusão social.

Uma visão global da polarizaçãodo mundo considera que a dispari-dade entre países em termos de pro-dução por pessoa talvez seja a carac-terística predominante da história daeconomia moderna. A diferença derenda per capita no país mais ricoversus o mais pobre, entre 1870 e 1989,multiplicou-se pelo fator 6, e o des-vio-padrão do PIB per capita cresceuentre 60% e 100%. Em boa parte domundo, esse desajuste geográfico nacriação/apropriação da riqueza au-mentou nas últimas duas décadas, aopasso que o diferencial entre os paí-

ses membros da OCDE e o restante doplaneta, representando a esmagado-ra maioria da população, ainda éabissal.

Nas três últimas décadas, temhavido crescente desigualdade e po-larização na distribuição da riqueza.Apenas US$ 5 trilhões dos US$ 23trilhões do PIB global originaram-sedos países em desenvolvimento, em-bora estes respondam por quase 80%da população mundial. Os 20% maispobres viram sua parcela de partici-pação na renda global cair de 2,3%para 1,4% nos últimos 30 anos. Aomesmo tempo, a fatia dos 20% maisricos cresceu de 70% para 85%. Comisso, a razão da participação no“bolo” do PIB entre os países mais ri-cos e os mais pobres dobrou de 30:1para 61:1. Os bens dos 358 maioresbilionários do mundo (em US$) supe-ram a soma das rendas anuais de pa-íses com nada menos que 45% da po-pulação mundial.

Por outro lado, há uma dispari-dade considerável na evolução da de-sigualdade interna de distribuição derenda em diversas regiões do mundo.Nas últimas duas décadas, a desigual-dade na distribuição da renda cresceunos Estados Unidos, Reino Unido,Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia,Peru, Tailândia e Rússia e, nos anos80, no Japão, Canadá, Suécia, Austrá-lia, Alemanha e México. Contudo adesigualdade diminuiu de 1960 a 1990na Índia, Malásia, Hong Kong, Cinga-pura, Taiwan e Coréia do Sul.

O que parece ser um fenômenoglobal é o avanço da pobreza6 , e prin-cipalmente da pobreza extrema7 . Emmeados de 1990, considerando comoa linha de pobreza extrema um nívelde consumo equivalente a um dólarpor dia, 1,3 bilhão de pessoas, querdizer, 33% da população do mundoem desenvolvimento, encontra-se emestado de miséria. De modo geral, por-tanto, a ascensão do capitalismoinformacional global caracteriza-se,

6 Pobreza se refere a um nível de recursos abaixo do qual não é possível atingir o padrãode vida considerado mínimo em uma sociedade e época determinadas.

7 Pobreza extrema ou miséria é o nível mais baixo de distribuição de renda/bens ouprivação.

A busca deidentidades distintas

da ideologiacomunista provocouo enfraquecimento

do Estadosoviético...�

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indubitavelmente, pelo desenvolvi-mento e subdesenvolvimento econô-micos simultâneos, inclusão social eexclusão social.

Quanto à desumanização da Áfri-ca, o surgimento do capitalismoinformacional/global, no último quar-to do século XX, coincidiu com o co-lapso das economias africanas, a de-sintegração de muitos de seus Esta-dos e a dissolução da maioria de suassociedades. Como conseqüência,fome, epidemias, violência, guerrascivis, massacres, êxodo em massa ecaos social e político constituem, nes-te final de milênio, seus traços carac-terísticos.

De modo geral, as relações comer-ciais pioraram substancialmente paraa maioria dos países africanos entreos anos de 1985 e 1994. A fragilidadedos mercados impediu que se susten-tasse a industrialização de produtosem substituição à importação e tam-bém a produção agrícola para os mer-cados internos. A produção agrícolamanteve-se 3% abaixo da taxa anualde crescimento populacional. Desdeo início dos anos 80, as importaçõesde produtos alimentícios aumentaramcerca de 10% ao ano.

A sobrevivência da maioria daseconomias africanas acabou depen-dendo de ajuda internacional e deempréstimos externos. Em 1990, a Áfri-ca recebeu 30% do montante destina-do ao auxílio financeiro no mundotodo. Na década de 80, houve um in-gresso maciço de empréstimos exter-nos para salvar as economias africa-nas do colapso. Em termos de percen-tagem do PNB, a dívida externa totalsaltou de 30,6%, em 1980, para 78,7%,em 1994. Cientes da impossibilidadede a África saldar esta dívida, os cre-dores do governo e as instituições in-ternacionais valeram-se desta depen-dência financeira para imporem polí-ticas de ajuste sobre os países africa-nos, exigindo subserviência em trocado perdão parcial da dívida ou de suarenegociação.

Embora o volume de investimen-tos privados diretos nos países emdesenvolvimento tenha aumentadoenormemente durante a última déca-

da, para cerca de US$ 200 bilhões porano, a parcela destinada à África vemencolhendo até o limite do desprezí-vel. Três fatores são determinantesdesta situação: falta de infra-estrutu-ra de produção e comunicações, faltade capital humano e políticas econô-micas incorretas que prejudicam osinvestimentos e as exportações pelofavorecimento a empresas locais emvirtude de suas boas relações com aburocracia estatal.

Sem condições de competir nanova economia global, a maioria dospaíses africanos possui mercados in-ternos de pequeno porte que não cons-tituem base para a acumulação docapital endógeno. Há uma integraçãoseletiva de pequenos segmentos decapital africano, mercados afluentese lucrativas exportações nas redes glo-bais de capital, bens e serviços, en-quanto a maior parte da economia e aesmagadora maioria da populaçãosão abandonadas à própria sorte, nolimite entre a pura subsistência e ossaques violentos.

A África é a região menos informa-tizada do mundo como é também ocontinente privado da infra-estrutu-ra mínima necessária ao uso de com-putadores, o que faz com que estejaexcluída da revolução da tecnologiada informação. Em 1995, metade dospaíses africanos não tinha acesso àInternet e, de modo geral, a África ain-da ostenta o título de região “desliga-da do mundo”.

Os Estados-nações da maior par-te do continente africano tornaram-se,em grande medida, predadores desuas próprias sociedades, constituin-do um gigantesco obstáculo não só aodesenvolvimento, mas à sobrevivên-cia e civilidade. Verifica-se que a com-binação de fatores como a pobrezaurbana, crise da agricultura de sub-sistência, colapso institucional, vio-lência generalizada e movimentosmigratórios em massa foram respon-sáveis pela deterioração das condi-ções de vida da maioria da popula-ção africana na década passada.

Outro problema dramático daÁfrica é a epidemia de AIDS cujapropogação resulta de suas condições

sociais e econômicas. Em meados dadécada de 90, a África subsaarianarespondia por 60% dos soropositivosexistentes no mundo. Se as péssimascondições em que se encontra a Áfri-ca forem ignoradas ou subestimadas,é pouco provável que a AIDS fiqueconfinada em seus atuais limites geo-gráficos e a Humanidade estará seria-mente ameaçada.

O potencial relacionamento entrea África do Sul democrática, governa-da pela maioria negra, e os demaispaíses africanos pode proporcionar aassimilação da África pelo capitalis-mo global sob condições mais favorá-veis mediante a conexão sul-africana.

A África do Sul é claramente dis-tinta do restante da África subsa-ariana pelo fato de apresentar um ní-vel bem mais alto de industrialização,uma economia mais diversificada eexercer um papel mais significativona economia global do que os demaispaíses do continente. A África do Sulpoderia tornar-se uma força motrizpara a África meridional com quem jáestá integrada por rotas de transportee responde por 80% do PIB da região.O verdadeiro problema da África doSul é o de encontrar uma maneira deevitar ser excluída da acirrada con-corrência existente na nova economiaglobal, uma vez promovida a abertu-ra de sua economia.

Quanto ao novo dilema norte-americano da desigualdade, pobrezaurbana e exclusão social na era dainformação Castells considera que, nadécada de 90, o capitalismo norte-americano parece ter sido bem suce-dido ao se transformar em um siste-ma bastante lucrativo, dentro das con-dições de reestruturação, informacio-nalismo e globalização, mas a renda

... é poucoprovável que a AIDSfique confinada emseus atuais limites

geográficos...��

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familiar da classe média, que se es-tagnara nas décadas de 70 e 80, so-freu uma queda na primeira metadedos anos 90 e a desigualdade social,de acordo com o coeficiente de Gini,aumentou. A pobreza tornou-se maisgeneralizada e a miséria ou extremapobreza tem aumentado em ritmomais acelerado.

O crescimento da desigualdade eda pobreza nos Estados Unidos resul-ta da desindustrialização, em conse-qüência da globalização da produçãoindustrial, da mão-de-obra e dos mer-cados, da individualização e integra-ção em rede do processo de trabalhosuscitada pela informacionalização,da incorporação da mulher ao traba-lho remunerado na economia infor-macional, sob condições de discrimi-nação patriarcal, e da crise da famíliapatriarcal.

O processo de desindustriali-zação faz com que haja deslocamentogeográfico da produção industrialpara outras áreas do globo, eliminan-do os empregos do setor industrial,além de enfraquecer os sindicatos,destituindo os trabalhadores de seuinstrumento de defesa coletiva. Aindividualização ao lado das firmasque assumiram a forma de empresaem rede é o principal fator de desi-gualdade porque os trabalhadoressão colocados diante de condições detrabalho individual enfraquecendoseu poder de negociação com os em-pregadores.

A incorporação maciça das mu-lheres na economia informacionaltem contribuído para a economia fun-cionar com eficiência a um custo bemmais reduzido. Além disso, a crise dafamília patriarcal, relacionada em

parte com a independência econômi-ca da mulher, teve efeito punitivo so-bre a maioria delas, especialmente asmães solteiras.

Há uma redução substancial deempregos no setor industrial, sobre-tudo naqueles que exigem menor qua-lificação e uma precarização das re-lações de trabalho de modo geral. Aeconomia informal, particularmente aeconomia do crime, impera em mui-tas das áreas carentes.

Aos Estados Unidos cabem a tris-te e ambígua condição de ser o paíscom o maior percentual de populaçãocarcerária do mundo: a proporção dedetentos em relação à população to-tal dobrou em 10 anos.

Quanto à perspectiva das crian-ças no processo de globalização,superexploração e exclusão social, seainda restam dúvidas quanto ao fatode a principal questão trabalhista naera da informação não ser o fim dotrabalho, mas sim as condições dostrabalhadores, elas foram definitiva-mente dirimidas com a explosão, du-rante a última década, do crescimen-to da mão-de-obra infantil mal remu-nerada.

Embora a esmagadora maioria decrianças que trabalham se encontre nomundo em desenvolvimento, o fenô-meno vem ocorrendo com maior fre-qüência também nos países capitalis-tas avançados, especialmente nos Es-tados Unidos em que se atribui à de-terioração das condições de vida daclasse operária, bem como ao aumen-to da imigração ilegal. Um enormecontingente de crianças, tanto nospaíses desenvolvidos como nos paí-ses em desenvolvimento, está envol-

vido em atividades que geram algumtipo de renda vinculada à economiado crime, sobretudo em termos de trá-fico de drogas, pequenos furtos e men-dicância organizada.

A crise das economias de subsis-tência, aliada ao empobrecimento deamplos segmentos da população, for-ça as famílias e seus filhos a todos ostipos de estratégia de sobrevivência:não há tempo para se dedicar à esco-la, há necessidade premente do maiornúmero de filhos possível para aju-dar em casa. As famílias, impelidaspela necessidade, vêem-se muitas ve-zes forçadas a entregar seus filhos aotrabalho “escravo” ou mandá-lospara as ruas.

Mas há algo de muito pior acon-tecendo em meio à situação deplorá-vel em que, hoje em dia, se encontrammuitas crianças: elas se tornarammercadorias sexuais em uma indús-tria de larga escala, organizada inter-nacionalmente através do uso detecnologia avançada, e que tira pro-veito da globalização do turismo e dasimagens. Relacionada à prostituição,mas considerada um segmento distin-to da indústria do sexo de menoresem franca expansão, está a pornogra-fia infantil com o apoio da Internet.

3. A CONEXÃO PERVERSA: AECONOMIA DO CRIME

GLOBAL

Neste capítulo, Castells apresen-ta a economia do crime global. Suasprincipais considerações são as se-guintes:

A prática do crime é tão antigaquanto a própria humanidade. Mas ocrime global, com a formação de re-des entre poderosas organizações cri-

O crescimentoda desigualdade e dapobreza nos EstadosUnidos resulta da

desindustria-lização...�

... as famíliassão forçadas a

entregar seus filhos aotrabalho “escravo”ou mandá-los para

as ruas...�

... as crianças setornaram mercadorias

sexuais em umaindústria de larga

escala...�

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minosas e seus associados e ativida-des compartilhadas em todo o plane-ta, constitui um novo fenômeno queafeta profundamente a economia noâmbito internacional e nacional, apolítica, a segurança e, em última aná-lise, as sociedades em geral.

As principais atividades do cri-me organizado são o tráfico de dro-gas, o tráfico de armas, o tráfico dematerial nuclear, o contrabando deimigrantes ilegais,o tráfico de mulhe-res e crianças, o tráfico de órgãos e alavagem de dinheiro. Embora o tráfi-co de drogas seja o segmento maisimportante deste setor com ramifica-ções e contatos em todo o mundo, ocontrabando de armas representatambém um mercado de alto valor.

No centro do sistema está a lava-gem de dinheiro, de centenas de bi-lhões (talvez trilhões) de dólares. Es-quemas financeiros complexos e re-des de comércio internacional estabe-lecem a conexão entre a economia docrime e a economia formal, penetran-do profundamente nos mercados fi-nanceiros e constituindo um elemen-to crítico e volátil em uma frágil eco-nomia global.

Nas duas últimas décadas, as or-ganizações criminosas vêm estabele-cendo, cada vez mais, suas operaçõesde uma forma transnacional, aprovei-tando-se da globalização econômicae das novas tecnologias de comuni-cações e transportes. A Conferênciarealizada pela ONU em 1994 sobre ocrime global organizado estimou queo comércio global de drogas tenha atin-gido a cifra de US$ 500 bilhões porano; quer dizer, foi maior que o valordas transações comerciais globais

envolvendo petróleo. Os lucros glo-bais oriundos de todos os tipos de ati-vidades ilegais foram calculados emnada menos que US$ 750 bilhõesanuais.

O crime organizado na Rússiacontemporânea e nas ex-repúblicassoviéticas é o resultado da transiçãocaótica e descontrolada do estatismopara o capitalismo selvagem. Dada aimportância estratégica, econômica epolítica da Rússia e em virtude de seuenorme arsenal militar e nuclear, suanova e profunda ligação ao crime glo-bal organizado tornou-se uma dasmais preocupantes questões deste fimde milênio e um dos mais importan-tes assuntos da pauta das reuniõesgeopolíticas em todo o mundo.

Não resta dúvida de que a econo-mia do crime representa um segmen-to considerável e dos mais dinâmicos,das economias latino-americanasdeste fim de milênio. Além disso, aocontrário dos padrões tradicionais deinternacionalização da produção e docomércio na América Latina, trata-sede uma atividade orientada para aexportação, controlada por latino-americanos e dotada de competiti-vidade global comprovada.

A globalização provocou umaverdadeira revolução na estratégiainstitucional do crime organizado.Abrigos seguros ou relativamente se-guros vêm sendo encontrados em todoo planeta: pequenos (Aruba), médios(Colômbia), grandes (México) ou enor-mes (Rússia), entre muitos outros.Além disso, a grande mobilidade eextrema flexibilidade das redes lhespossibilita livrar-se das regulamenta-ções nacionais e dos procedimentosrigorosos necessários à cooperação

entre a polícia de diferentes países.Em uma reação desesperada ao

poder cada vez maior do crime orga-nizado, os Estados democráticos, comoforma de autodefesa, recorrem a medi-das que atualmente cerceiam, e cercea-rão, as liberdades democráticas.

Com o Estado-nação sitiado, e associedades e economias nacionais jáinseguras de suas inter-relações comredes transnacionais de capitais epessoas, a influência crescente do cri-me global pode provocar um retroces-so significativo dos direitos, valores einstituições democráticas pois o Es-tado não está sendo apenas ludibria-do pelo crime organizado a partir depontos externos a suas fronteiras. Estáruindo por dentro.

Quanto mais o crime organizadose globaliza, tanto mais seus compo-nentes, notadamente importantes,valorizam sua identidade cultural,com o objetivo de não desaparecer noturbilhão do espaço de fluxos. Aofazê-lo, preservam suas bases étnicas,culturais e, sempre que possível,territoriais. Aí reside sua força. É pro-vável que as redes criminosas estejamà frente das empresas multinacionaisem termos de capacidade de aliaridentidade cultural a negócios globais.

4. DESENVOLVIMENTO E CRISE

NA REGIÃO DO PACÍFICO

ASIÁTICO

Entre 1965 e 1996, o crescimentoanual médio do PNB, em termos reais,no mundo, foi de 3,1%. Entretanto, naregião do Pacífico asiático, a Chinacresceu à taxa anual média de 8,5%,Hong Kong, 7,5%, Coréia do Sul, 8,9%,Cingapura, 8,3%, Tailândia, 7,3%,

Os lucrosglobais de todos ostipos de atividades

ilegais foramcalculados em nadamenos que US$ 750

bilhões anuais...�

A globalizaçãoprovocou uma

verdadeira revoluçãona estratégia

institucional do crimeorganizado...�

... o Estado nãoestá sendo apenas

ludibriado pelo crimeorganizado...

Está ruindo pordentro...�

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Indonésia, 6,7%, Malásia, 6,8%, Fili-pinas, 3,5% e Japão, 4,5%. Em 1950, aÁsia representava apenas 19% da ren-da mundial; em 1996, sua participa-ção alcançou 33%.

No período de mais ou menos trêsdécadas, a região do Pacífico asiáticotornara-se importante centro de acu-mulação de capital do planeta, o maiorprodutor industrial, a região de co-mércio mais competitivo, um dos prin-cipais centros de inovação e produ-ção de tecnologia da informação (sen-do o outro os Estados Unidos) e omercado de crescimento mais rápido.

Em 1997 e 1998, economias intei-ras entraram em colapso (Indonésia,Coréia do Sul) outras enfrentaramprofunda recessão (Malásia, Tailân-dia, Hong Kong, Filipinas) e a princi-pal economia, o Japão, que é a segun-da maior do mundo, foi abalada porfalências financeiras, causando a des-valorização internacional de títulos eações japonesas.

No início, a crise asiática foi umacrise financeira causada pela crise damoeda. A desvalorização das moedasimpediu os bancos de honrarem as dí-vidas de curto prazo com os credoresestrangeiros, uma vez que operavamcom moedas atreladas ao dólar. Quan-do a maioria dos governos agiu, sobpressão do FMI, para elevar as taxas dejuros em defesa da moeda, acrescenta-ram mais pressão sobre os bancos eempresas insolventes e, em última aná-lise, bloquearam suas economias, se-cando as fontes de capital. Por isso, asmoedas despencaram ainda mais emilhares de empresas foram à falência.

O volume excessivamente grandede crédito externo, em sua maior par-te de curto prazo, parece ter sido umarazão importante para a instabilida-de das finanças asiáticas. Outro fatorimportante para explicar a crise asiá-tica é a crise do próprio Japão que nãofoi capaz de emprestar capital, absor-ver importações e reorganizar os mer-cados financeiros da região. O Japão,que estava passando por uma criseestrutural do seu modelo de desenvol-vimento desde o início dos anos 90,sofreu grave impacto dos colapsos fi-nanceiros de toda a região.

Entre o início da década de 60 e ofim dos anos 80, os Estados prote-giam as economias asiáticas do turbi-lhão dos mercados financeiros globaise, em certa medida, até da concorrên-cia do comércio global. Quando a es-cala dessas economias, o porte des-sas empresas e sua interligação comas redes capitalistas globais levarama uma integração bilateral na econo-mia global, os Estados não puderammais proteger ou controlar os movi-mentos de capital, bens e serviços.Desse modo, eles foram ignoradospelos fluxos econômicos globais e nãotiveram condições de regulamentar oucomandar suas economias com asnormas preexistentes. Sem nenhumaproteção do Estado, as empresas e osmercados financeiros asiáticos foramtomados pelos fluxos de capital glo-bal que obteve lucros substanciais edepois deixou esses mercados, quan-do sua falta de transparência os tor-nou muito arriscados.

O sistema institucional que era afonte do milagre asiático, o Estadodesenvolvimentista, tornou-se o obs-táculo para o novo estágio de integra-ção global e de desenvolvimento ca-pitalista na economia asiática. Paraaderirem à economia global, não ape-nas como concorrentes e investidores,mas como mercados e destinatáriosdo investimento global, as economiasasiáticas tinham de seguir a discipli-na dos mercados financeiros globais.

Um Estado é desenvolvimentista

quando estabelece como princípio delegitimidade sua capacidade de pro-mover e sustentar o desenvolvimen-to, entendendo-se por desenvolvimen-to a combinação de taxas de cresci-mento econômico altas e estáveis e amudança estrutural do sistema pro-dutivo tanto no âmbito interno comonas relações com a economia interna-cional. Para o Estado desenvolvi-mentista, o desenvolvimento econô-mico não é um objetivo, mas um meiopara assegurar a sobrevivência dopaís e da sociedade e defender os in-teresses nacionais rompendo com asituação de dependência.

No fim de 1998, a única economiaasiática que mantinha uma trajetóriaestável de grande crescimento econô-mico, cerca de 7% ao ano, era a China.Em 1997-98, a China consolidou seupoder econômico e manteve relativaestabilidade, resistindo ao assaltodestrutivo de fluxos financeiros e evi-tando entrar em recessão. A economiachinesa sofreu um impacto muito me-nor da crise que o resto da região.

O principal fator que explica acapacidade relativa da China paraabsorver o choque da crise é suaintegração limitada na economia glo-bal, sobretudo em termos de merca-dos financeiros. O controle governa-mental das ligações entre o sistemafinanceiro chinês e os mercados glo-bais funcionou como um anteparo,protegendo o sistema para que resis-tisse aos movimentos violentos dosfluxos financeiros de todo o mundo.

O Estado desenvolvimentistaconstituiu a força motriz no extraor-dinário processo de crescimento eco-nômico e modernização tecnológicada região do Pacífico asiático, na se-gunda metade do século XX. As polí-ticas do Estado enfocavam a conexãodo país com a economia global paraindustrializar e dinamizar a econo-mia nacional.

5. A UNIFICAÇÃO DA EUROPA:GLOBALIZAÇÃO, IDENTIDADE

E O ESTADO EM REDE

A unificação da Europa, quandocompletada, representará uma das

Um Estado édesenvolvimentistaquando estabelececomo princípio delegitimidade sua

capacidade depromover

e sustentar odesenvolvimento...�

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tendências mais importantes na defi-nição de nosso novo mundo. UmaEuropa unificada, com seu poderioeconômico e tecnológico e influênciacultural e política, aliados ao desen-volvimento da região do Pacífico, ser-virá de apoio ao sistema de podermundial em uma estrutura policên-trica, impedindo a existência de qual-quer superpotência hegemônica, ape-sar da contínua preeminência militar(e tecnológica) dos Estados Unidos.

Essa unificação é uma fonte deinovação institucional que poderá for-necer algumas respostas à crise doEstado-nação porque estão sendo cri-ados novos tipos de governo e novasinstituições governamentais nos âm-bitos europeu, nacional, regional elocal, motivando uma nova forma deEstado, que Castells denomina Esta-do em rede, em conseqüência do fra-casso do Estado-nação clássico emarticular a resposta aos desafios daglobalização da economia, da tecnolo-gia e da comunicação.

Em 1948, quando se deu inícioaos debates sobre a integração euro-péia, o principal objetivo era o de evi-tar uma nova guerra. À tese de JeanMonet de constituir um Estado fede-ral europeu com a perda da sobera-nia das nações européias, De Gaullecontrapropôs com a tese da monta-gem de um comitê intergoverna-mental, formado por chefes do poderexecutivo para exercerem o poder naEuropa que teria por objetivo políticoconsolidar sua independência em re-lação aos Estados Unidos.

Foi a impressão de que a Europapoderia tornar-se colônia econômicae tecnológica das empresas norte-ame-ricanas e japonesas que levou à gran-de segunda reação defensiva repre-sentada pelo Ato Único Europeu, de1987, que estabeleceu os passos rumoà constituição de um verdadeiro mer-cado unificado em 1992. A integraçãoeuropéia é, ao mesmo tempo, uma re-ação ao processo de globalização esua expressão mais avançada.

Ao decidir pela criação do “euro”e do Instituto Monetário Europeu, bemcomo pela harmonização das políti-cas fiscais, o Tratado de Maastricht

assumiu um compromisso irreversívelpara a unificação total da economiaeuropéia.

A União Européia é essencial-mente organizada como uma rede queenvolve mais a concentração e ocompartilhamento de soberania quea transferência de soberania para umnível mais alto.

O processo de industrialização emtodo o mundo, as redes de empresas ea interpenetração dos mercados ofe-recem oportunidades para que asempresas européias se expandam poroutros lugares para enfrentar o mer-cado global, em vez de entricheirar-seem seus feudos domésticos. A tendên-cia é haver desinvestimento relativona Europa vis-à-vis a outras regiõesdo mundo, em especial na indústria.Esse cenário é uma das causas dascrescentes taxas de desemprego naUnião Européia, em claro contrastecom o crescimento substancial doemprego nos Estados Unidos e na re-gião do Pacífico asiático na décadade 90.

A modelagem da União Européiatem conseqüências profundas e du-radouras para as sociedades da Eu-ropa. Provavelmente, a mais impor-tante seja a dificuldade de preservaro Estado do bem-estar social europeuem sua forma atual. Isso porque amobilidade de capital e as redes deprodução criam condições que favo-recem a mudança de investimentospara regiões do mundo onde os cus-tos sociais são mais baixos. Mas tam-bém porque a busca por flexibilidadenos mercados de trabalho e o proces-

so de desinvestimento na Europa re-duzem a base de emprego de que aestabilidade fiscal do Estado do bem-estar social depende.

A unificação européia vem geran-do resistências porque o aceleramentodo processo de integração coincidiucom a estagnação dos padrões de vida,com o surgimento do desemprego ecom a maior desigualdade social nadécada de 90. Partes significativas dapopulação da Europa tendem a afir-mar suas nações contra os respectivosEstados, considerados cativos dasupranacionalidade européia. Cresce,também, o racismo e a xenofobia.

A capacidade de influenciar doscidadãos nas decisões sobre políticaeconômica foi reduzida de forma con-siderável porque não há, praticamen-te, nenhum canal efetivo de partici-pação do cidadão nas instituiçõeseuropéias. Quem decide sobre políti-ca econômica é o Banco Central euro-peu. Não há aprendizagem de cida-dania européia porque as instituiçõeseuropéias gostam de viver em seumundo isolado, constituído de órgãostecnocráticos e conselhos de minis-tros encarregados dos acordos.

Ante o declínio da democracia eda participação do cidadão em umaépoca de globalização da economia ede europeização da política, os cida-dãos entrincheiram-se em seus paísese cada vez mais consolidam suas na-ções. O nacionalismo, não o federa-lismo, é a evolução concomitante daintegração européia. A União Euro-péia sobreviverá como construçãopolítica só se conseguir administrar eacomodar o nacionalismo. No contex-to das sociedades democráticas, aEuropa só será unificada em váriosgraus e sob formas ainda a surgir, seessa for a vontade de seus cidadãos.

PRINCIPAIS CONCLUSÕES

Pelo exposto, pode-se afirmar queestá ocorrendo, em termo mundiais,uma grande reestruturação represen-tada pela globalização capitalista daeconomia que integrou, também, os ex-países socialistas do leste europeu eos países socialistas remanescentes.

A UniãoEuropéia sobreviverá

como construçãopolítica se conseguir

administrar eacomodar o

nacionalismo...�

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121RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano III • Nº 4 • Julho de 2001 • Salvador, BA

Com a globalização da economiamundial, proporcionada pela expan-são das empresas multinacionais edas finanças internacionais, os pro-blemas sociais se agravaram de for-ma vertical e acelerada e os Estados-nações perderam a capacidade decontrolar suas economias.

Além de se defrontar, no planointerno, com o pluralismo e a força depressão da sociedade civil, o Estadose depara, no plano externo, com onovo caráter das relações internacio-nais, baseadas na interdependênciaeconômica das nações, e com a emer-gência das empresas transnacionaiscujo poder político, econômico e finan-ceiro chega a ultrapassar o de muitosEstados-nações. Na atualidade, vive-mos, portanto, o desaparecimento daplenitude do poder estatal no mundo.

Bobbio, Matteucci e Pasquino(1986)8 enfatizam que existem outrosespaços não mais controlados peloEstado soberano. O avanço progres-sivo da globalização econômica, lide-rada pelas empresas transnacionais,tende a aprofundar o ocaso da sobe-rania do Estado-nação.

“O mercado mundial possibilitou aformação de empresas multinacionais,detentoras de um poder de decisão quenão está sujeito a ninguém e está livrede toda a forma de controle; embora nãosejam soberanas, uma vez que não pos-suem uma população de um territórioonde exercer de maneira exclusiva ostradicionais poderes soberanos, estasempresas podem ser assim considera-das, no sentido de que - dentro de cer-tos limites - não têm superior algum”.

O processo de globalização colo-cou em xeque não apenas a capacida-de do Estado-nação em controlar suaseconomias e fazer frente às questõessociais, mas principalmente a sobe-rania popular que está ameaçada noconfronto com o poder financeiro, co-mercial e tecnológico das gigantescasempresas e bancos transnacionais. Opoder de decisão sobre investimentose, conseqüentemente, sobre o cresci-mento e desenvolvimento das nações,está sendo transferido paulatinamen-te para essas organizações. Isto signi-fica dizer que a própria soberania

popular está comprometida. O gover-no e os parlamentos de muitos paísesestão perdendo cada vez mais pode-res. Isto significa dizer, também, queos partidos políticos lutarão pela con-quista de um poder nacional cada vezmais ofuscado pelas empresas trans-nacionais.

O declínio do Estado-nação sig-nifica também o comprometimento daRepública democrática entendidacomo expressão da soberania popu-lar. A República democrática é a ex-pressão da soberania popular porqueas leis aprovadas pelo corpo legisla-tivo de uma nação traduzem, em últi-ma instância, a vontade popular. Foio conceito de soberania que possibili-tou a formação do Estado moderno ea elaboração de uma teoria acabadado Estado. Todas as nações que seconstituíram a partir de 1776, dentrodos princípios da República democrá-tica, com base nos regimes presiden-cialista e parlamentarista, reforçavamem maior ou menor grau a soberaniado Estado.

Hoje, nos defrontamos, entretanto,com o eclipse da soberania. O conceitode soberania entrou em crise tanto teó-rica quanto praticamente. Teoricamen-te, com o prevalecer das teorias constitu-cionalistas com sua tese do Estado mis-to, da separação dos poderes e da su-premacia da lei e, na prática, com a cri-se do Estado moderno, que não é maiscapaz de se apresentar como centroúnico e autônomo de poder, sujeito ex-clusivo da política, único protagonis-ta na arena internacional.

Todos os fatos relatados no livrode Castells indicam, portanto, que anova estrutura de poder mundial co-mandada pelas empresas transna-cionais (industriais, financeiras e deserviços) está substituindo a atual es-trutura de poder dos Estados-nações.Com o ocaso dos Estados-nações e aproeminência das empresas transna-cionais na estrutura de poder global,o cenário que se descortina para o fu-turo é o de um capitalismo mundialfora de controle. Este cenário tende aassumir características catastróficasna medida em que o sistema capita-lista mundial passe a funcionar sem

os instrumentos de regulação e con-trole. Neste contexto, não é impossí-vel que ocorram no futuro próximocrises semelhantes à de 1929 que le-vou o sistema capitalista mundial àbancarrota e contribuiu para o adven-to da Segunda Guerra Mundial.

Riccardo Petrella (1994)9 afirmaque:

“o governo do planeta, comandado pe-las redes mundiais anônimas de em-presas financeiras e industriais gigan-tes, não aceita nenhuma responsabili-dade social e não presta contas a nãoser a seus acionistas também anôni-mos. Esta situação provoca efeitos de-vastadores porque não se permite veronde se encontram as verdadeiras ne-cessidades econômicas e sociais domundo, além daquelas dos mercadosaos quais se reduziu a racionalidadedo economicismo dominante”.

O agravamento da crise social emtodo o mundo, pela falta de políticassociais governamentais apropriadas,poderá gerar conflitos de grande mag-nitude engendrando golpes de esta-do e revoluções sociais. A barbáriepassaria a ser a característica domi-nante do capitalismo mundializado.Urge, portanto, a implantação, na cenamundial, de novas instituições inter-nacionais que tenham capacidade deregular a economia mundial e asse-gurar que a civilização se sobreponhaà barbárie. Além disso, é necessárioreinventar o socialismo a partir daexperiência da União Soviética e dosdemais países que implantaram talsistema a fim de que a médio e longoprazo haja uma alternativa concretade superação do capitalismo selva-gem contemporâneo e sejam assegu-rados o progresso social e econômico,o desenvolvimento sustentado e a de-mocratização da sociedade em todosos países do mundo.

8 BOBBIO, N., MATTEUCCI, N. E PAS-QUINO, G. Dicionário de Política.Brasília: Ed. Da UnB, 1986, p. 1.187.

9 PETRELLA, Riccardo. Pour un contratsocial mondial. Le Monde Diplomati-que, Paris, jul. 1994. p. ?

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