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Como citar este artigo: Coelho SMH, et al. Desequilíbrio hormonal e disfunc ¸ão menstrual em atletas de ginástica rítmica. Rev Bras Ciênc Esporte. 2015. http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2013.09.004 ARTICLE IN PRESS +Model RBCE-47; No. of Pages 8 Rev Bras Ciênc Esporte. 2015;xxx(xx):xxx---xxx www.rbceonline.org.br Revista Brasileira de CIÊNCIAS DO ESPORTE ARTIGO ORIGINAL Desequilíbrio hormonal e disfunc ¸ão menstrual em atletas de ginástica rítmica Sabrina Macedo Hott Coelho a , Renata Duarte Simões b e Wellington Lunz c,d,a Educac ¸ão Física, Ciências da Performance Humana, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, Brasil b História e Historiografia da Educac ¸ão, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, Brasil c Departamento de Desportos, Centro de Educac ¸ão Física e Desportos (CEFD), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, ES, Brasil d Laboratório de Fisiologia e Bioquímica Experimental (LAFIBE), Programa de Pós-graduac ¸ão em Educac ¸ão Física, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, ES, Brasil Recebido em 7 de fevereiro de 2013; aceito em 17 de setembro de 2013 PALAVRAS-CHAVE Atletas; Ginástica; Hormônios; Ciclo menstrual Resumo Objetivou-se avaliar a magnitude das alterac ¸ões de hormônios reguladores do ciclo menstrual (CM) e testosterona de atletas de ginástica rítmica (GR) de alto rendimento, em período pré-competitivo para a Olimpíada de Beijing. Foram realizadas coletas de sangue em 4 momentos, com intervalos de 7 dias. Os hormônios estrogênio, progesterona, luteinizante (LH), folículo estimulante (FSH) e testosterona foram mensurados por quimioluminescência. As atletas (n = 7) relataram disfunc ¸ão menstrual e houve expressiva variac ¸ão hormonal intra e entre indivíduos. Das amostras de estrogênio, 65% ficaram abaixo do valor referencial clínico, enquanto que as concentrac ¸ões de progesterona e LH ficaram próximas ao limite inferior. Para FSH e testosterona, 10% e 30% das amostras, respectivamente, ficaram abaixo do referencial. Conclui-se que atletas de alto rendimento em GR apresentam maior risco de desequilíbrio hormonal e disfunc ¸ão menstrual, o que inspira necessidade de atenc ¸ão clínica. © 2015 Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. KEYWORDS Athletes; Gymnastics; Hormones; Menstrual cycle Hormonal imbalances and menstrual dysfunction in high-performance rhythmic gymnastics Abstract This study aimed to evaluate the behavior and magnitude of alteration of hormones that regulate menstrual cycle (MC) and testosterone from Olympic-level Rhythmic Gymnastics (RG). It was studied a population of Olympic-level athletes of RG in pre-competitive period to the Beijing Olympic Games. Blood samples were taken at four opportunities, of seven in Autor para correspondência. E-mail: [email protected] (W. Lunz). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2013.09.004 0101-3289/© 2015 Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.

Desequilíbrio Hormonal e Disfunção Menstrual Em Atletas de Ginastica Rítmica

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Disfunção Menstrual

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ARTICLE IN PRESS+ModelRBCE-47; No. of Pages 8

Rev Bras Ciênc Esporte. 2015;xxx(xx):xxx---xxx

www.rbceonline.org.br

Revista Brasileira de

CIÊNCIAS DO ESPORTE

ARTIGO ORIGINAL

Desequilíbrio hormonal e disfuncão menstrualem atletas de ginástica rítmica

Sabrina Macedo Hott Coelhoa, Renata Duarte Simõesb e Wellington Lunzc,d,∗

a Educacão Física, Ciências da Performance Humana, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, Brasilb História e Historiografia da Educacão, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, Brasilc Departamento de Desportos, Centro de Educacão Física e Desportos (CEFD), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES),Vitória, ES, Brasild Laboratório de Fisiologia e Bioquímica Experimental (LAFIBE), Programa de Pós-graduacão em Educacão Física, UniversidadeFederal do Espírito Santo (UFES), Vitória, ES, Brasil

Recebido em 7 de fevereiro de 2013; aceito em 17 de setembro de 2013

PALAVRAS-CHAVEAtletas;Ginástica;Hormônios;Ciclo menstrual

Resumo Objetivou-se avaliar a magnitude das alteracões de hormônios reguladores do ciclomenstrual (CM) e testosterona de atletas de ginástica rítmica (GR) de alto rendimento, emperíodo pré-competitivo para a Olimpíada de Beijing. Foram realizadas coletas de sangueem 4 momentos, com intervalos de 7 dias. Os hormônios estrogênio, progesterona, luteinizante(LH), folículo estimulante (FSH) e testosterona foram mensurados por quimioluminescência.As atletas (n = 7) relataram disfuncão menstrual e houve expressiva variacão hormonal intra eentre indivíduos. Das amostras de estrogênio, 65% ficaram abaixo do valor referencial clínico,enquanto que as concentracões de progesterona e LH ficaram próximas ao limite inferior. ParaFSH e testosterona, 10% e 30% das amostras, respectivamente, ficaram abaixo do referencial.Conclui-se que atletas de alto rendimento em GR apresentam maior risco de desequilíbriohormonal e disfuncão menstrual, o que inspira necessidade de atencão clínica.© 2015 Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos osdireitos reservados.

KEYWORDSAthletes;

Hormonal imbalances and menstrual dysfunction in high-performance rhythmicgymnastics

to evaluate the behavior and magnitude of alteration of hormonesle (MC) and testosterone from Olympic-level Rhythmic Gymnastics

ulation of Olympic-level athletes of RG in pre-competitive period

Gymnastics;Hormones;Menstrual cycle

Abstract This study aimedthat regulate menstrual cyc(RG). It was studied a pop

Como citar este artigo: Coelho SMH, et al. Desequilíbrio hormonal e disfuncão menstrual em atletas de ginástica rítmica.Rev Bras Ciênc Esporte. 2015. http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2013.09.004

to the Beijing Olympic Games. Blood samples were taken at four opportunities, of seven in

∗ Autor para correspondência.E-mail: [email protected] (W. Lunz).

http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2013.09.0040101-3289/© 2015 Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.

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2 S.M.H. Coelho et al.

seven days. The chemiluminescence technical was used to analyze the estrogen, progesterone,luteinizing hormone (LH), follicle stimulating hormone (FSH) and testosterone. All athletes hadmenstrual dysfunction. There was high intra and interindividual hormonal variation. To theestrogen, 65% of the samples had results lower than reference ranges. The progesterone andLH concentrations were closed with the lower limit of the clinical reference, and 10% and 30% ofthe values to FSH and testosterone, respectively, were lower than reference. Thus, RG athletesshow increased risk to hormonal imbalances and menstrual dysfunction that justify clinical care© 2015 Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Published by Elsevier Editora Ltda. All rightsreserved.

PALABRAS CLAVEAtletas;Gimnasio;Hormonas;Ciclo menstrual

Desequilibrio hormonal y la disfunción menstrual en atletas de gimnasia rítmica

Resumen El objetivo fue evaluar la magnitud de la variación de las hormonas que regulan elciclo menstrual (MC) y la hormona testosterona en atletas de GR. Participaron del estudio unapoblación de atletas de alto rendimiento en GR en el pre-competitivo para los Juegos Olímpicosde Beijing. Las muestras de sangre se recogieron en 4 periodos con un intervalo de 7 días. Seutilizó el análisis de quimioluminiscencia de las hormonas estrógeno, progesterona, hormonaluteinizante (LH), hormona estimulante del folículo (FSH) y la testosterona. Todos los atletastenían disfunción menstrual y hormonal, y variación significativa dentro y entre individuos.Además, las muestras de estrógeno, el 65% estaba por debajo del valor de referencia clínica. Lasmuestras de FSH y testosterona, 10% y 30%, respectivamente, estaban por debajo de los valoresde referencia. Por lo tanto, los atletas RG muestran un aumento del riesgo de desequilibrios

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Ginástica Rítmica (GR) é um desporto praticado exclu-ivamente por mulheres. Esse esporte envolve dancas deariados tipos, movimentos e manejo de aparelhos específi-os que são realizados em harmonia com a música escolhida.

treinamento nessa modalidade, de vasta dificuldade téc-ica, inicia-se precocemente, e é geralmente direcionadoara o alto desempenho e formacão de atletas, de modo ques praticantes são submetidas a altas cargas de treinamentoCacola, 2007).

Na busca por melhores resultados, atletas de GR tam-ém convivem com elevado estresse psicológico e rigorosaestricão calórica para manter o baixo peso corporal. Essesatores podem acarretar alteracões no perfil hormonal, assim, causar disfuncão menstrual (DM) (Bonen, 1994;anore, 2002; Meira e Nunomura, 2010).

O sistema reprodutivo feminino é altamente sensível astresses. De fato, anormalidades reprodutivas, incluindoenarca tardia e amenorreia ocorrem entre 6% e 79% dasulheres engajadas em atividades de alto rendimento (Nat-

iv, 2007). Além de anormalidades de hormônios sexuais,tletas com amenorreia exibem também distúrbios neuro-ndócrinos no eixo hormônio do crescimento (GH)-fator derescimento semelhante à insulina (IGF-I) (Stafford, 2005;aters et al., 2001) e no padrão de lipoproteínas séricas

Friday et al., 1993). O desequilíbrio das concentracões deormônios sexuais pode acarretar, entre outros, prejuízosa densidade mineral e na microarquitetura óssea com con-

Como citar este artigo: Coelho SMH, et al. Desequilíbrio hormoRev Bras Ciênc Esporte. 2015. http://dx.doi.org/10.1016/j.rbc

equente aumento do risco de fraturas (Ackerman et al.,011; Stafford, 2005), infertilidade reversível, reducão deormônios secretados pela tireoide e risco aumentado dearcinoma no endométrio (Brucker-Davis et al., 2001).

1L1E

ual que merecen la atención clínica.

O ciclo menstrual (CM) é regulado pelo eixo hipotálamo-hipófise-ovário. O hipotálamo estimula a producão do fatore liberacão das gonadotrofinas (GnRH) pela pré-hipófiseue, por sua vez, estimula a producão de LH e FSH. Estes últi-os estimulam o ovário a produzir estrogênio e progesterona

Miller, 1999). O CM regular se inicia com producão crescentee FSH e quantidades moderadas de LH. Esses hormônios sãoesponsáveis por estimular o crescimento de folículos ovari-nos com posterior producão de estrogênio pelo ovário. Osstrógenos são responsáveis por alteracões sequenciais naecrecão da pré-hipófise. Inicialmente, inibem por feedbackegativo a liberacão de FSH e LH e, num segundo momento,inalizam para a pré-hipófise produzir e liberar uma abruptaescarga de hormônios gonadotrópicos, principalmente LH,esultando em seu pico plasmático (Miller, 1999).

Tal fenômeno é responsável pelo rápido desenvolvimentonal de um dos folículos e sua posterior ruptura. Esse fenô-eno, denominado ovulacão, ocorre em torno do 14◦ dia

promove o desenvolvimento do corpo lúteo, que passa aecretar grandes quantidades de estrogênio e progesterona.sses hormônios voltam a inibir a pré-hipófise, o que pro-oca um profundo declínio da liberacão de FSH e LH. Sem ostímulo desses dois hormônios, o corpo lúteo involui e, poronsequência, diminui as concentracões de progesterona estrogênio. Nesse momento, ocorre a menstruacão motivadaela privacão dos hormônios ovarianos (Miller, 1999).

Vários estudos têm descrito e investigado disfuncõeso CM ou do comportamento de diferentes hormônios emtletas de diferentes modalidades esportivas (Friday et al.,

nal e disfuncão menstrual em atletas de ginástica rítmica.e.2013.09.004

993; Harber et al., 1998; Hohtari et al., 1988 e 1991;indholm et al., 1993; Peltenburg et al., 1984; Pirke et al.,990; Rickenlund et al., 2010; Waters et al., 2001 e 2003).

embora se saiba que o exercício físico de alta intensidade

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ARTICLERBCE-47; No. of Pages 8

Desequilíbrio hormonal e disfuncão menstrual em atletas de

contribua para irregularidades do CM (Mantoanelli et al.,2002; Stafford, 2005), a magnitude das alteracões doshormônios sexuais especificamente em atletas de elite emGR (nível Olímpico) ainda não foi descrita. Além disso, háuma lacuna na literatura científica quanto aos tipos dehormônios mais afetados pelo treinamento físico intenso,em particular em atletas de elite de GR.

Diante disso, o principal objetivo do presente estudo foiavaliar a magnitude das alteracões de hormônios envolvidosna regulacão do CM e do hormônio testosterona em atletasde GR que competem em nível Olímpico.

Métodos

Delineamento do estudo

O estudo é de característica descritiva com delineamento dotipo série de casos. O estudo foi realizado em uma populacãode 7 atletas de GR de alto rendimento. O critério parainclusão no estudo era pertencer à selecão de atletas deGR que representaria seu País nas Olimpíadas de Beijing2008, China. Não houve critério de exclusão previamenteestabelecido, entretanto, durante a coleta de dados, osresultados hormonais de duas atletas tiveram que ser excluí-dos, uma delas por fazer uso de contraceptivo e a outrapor ter sido afastada dos treinamentos em virtude de umalesão. Dessa forma, a caracterizacão da amostra e prevalên-cia de disfuncão menstrual envolveu toda populacão (n = 7),enquanto os dados hormonais envolveram cinco atletas. Acoleta de dados foi realizada num intervalo de 30 dias (entremaio e junho de 2008). As atletas assinaram termo de con-sentimento livre e esclarecido, e o estudo foi aprovado peloComitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúdeda Universidade Federal do Espírito Santo (CEP 008/08).

Coleta de dados

A coleta de sangue foi feita em 4 momentos distintos, sendoa primeira coleta realizada na primeira quarta-feira do mêsde estudo e as demais realizadas de 7 em 7 dias (datas:28/05; 04/06; 11/06; e 18/06/2008). A decisão pela coletaem 4 momentos distintos com intervalos regulares foi por-que as atletas não tinham informacões precisas acerca daperiodicidade do CM. Além disso, a variacão de hormô-nios reguladores do CM é bastante expressiva em diferentesfases do mês e, por esse motivo, a obtencão de sangueem 4 momentos foi necessária para permitir uma melhorrepresentacão dessa variacão e obtencão do valor hormonalmédio. O mês de coleta de dados representava o períodopré-competitivo para as Olimpíadas de Beijing 2008. A coletade sangue foi realizada por um profissional treinado. Osangue foi imediatamente acondicionado em ambiente refri-gerado e, na sequência, encaminhado para um centro deanálise especializado.

O peso corporal (Balanca Filizola, 100 g) e a estatura

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(estadiômetro Filizola, 0,5 cm) também foram obtidos nosmesmos dias e periodicidade da coleta de sangue, e amédia foi usada no cálculo do Índice de Massa Corporal(IMC = peso/estatura2).

i

ct

PRESSstica rítmica 3

nálise bioquímica

s hormônios analisados foram: Estrogênio (pg/ml), Pro-esterona (ng/dl), Hormônio Luteinizante (LH) (mUI/ml),ormônio Folículo Estimulante (FSH) (mUI/ml) e Tes-osterona (ng/dl). A análise hormonal foi realizada poraboratório especializado (Tommasi Laboratório, CRF---ES44) utilizando-se da técnica analítica de quimioluminescên-ia que se fundamenta na deteccão da luz emitida resultantea reacão química entre o hormônio de interesse e subs-rato quimioluminescente. Os valores de referência clínicae limites inferior e superior para a faixa etária de estudooram: Estrogênio, 18,9-570,8 pg/mL; Progesterona, 0,14-22,71 ng/mL; LH, 1,6-62,0 mUI/mL; FSH, 1,9-20,0 mUI/mL,estosterona, 20-75 ng/d, conforme Miller (1999).

nálise estatística

s dados foram analisados por estatística descritiva. Osesultados foram apresentados como valores individuaistilizando-se de medida de tendência central (média)eguida por medida de variabilidade (desvio padrão)média ± desvio padrão) ou por valores percentuais.

esultados

s resultados para idade, estatura, peso corporal e IMCoram, respectivamente, 19,4 ± 1,1 anos, 1,68 ± 0,04 m,2,5 ± 1,4 kg e 18,6 ± 0,7 kg/m2 (média ± DP). Houve grandeariacão hormonal intraindividual no curso temporal do mêse coleta. Todas as atletas relataram disfuncão menstrualoligomenorreia ou amenorreia). A tabela 1 apresenta osesultados hormonais de todas as atletas obtidos nas quatroedicões intervaladas semanalmente.Dos 20 valores amostrais para estrogênio (destacado na

abela 1), 13 (65%) desses valores ficaram abaixo do limitenferior do referencial clínico (18,9 pg/mL), e a variacãontraindividual e entre indivíduos para esse hormônio foixpressiva. A figura 1 apresenta os resultados em média ± DPara a concentracão sanguínea de estrogênio de cada atleta.as cinco atletas avaliadas, três apresentaram média destrogênio inferior ao mínimo do referencial clínico, e asutras duas atletas apresentaram valores bem próximos doimite inferior do referencial.

Na figura 2 estão apresentados os resultados de pro-esterona das cinco atletas. Os valores de desvio padrãovidenciam a alta variacão intraindividual. Também está evi-ente a alta variacão entre indivíduos. De maneira geral,s médias das concentracões sanguíneas de progesterona seproximaram muito mais do limite inferior do referenciallínico (0,14 ng/mL), mas nenhum valor individual (tabela) ficou abaixo desse referencial.

Similar ao observado para progesterona, a concentracãoanguínea média de LH se aproximou muito mais do limitenferior do referencial clínico (1,6 mUI/mL) (fig. 3), masenhum valor individual (tabela 1) ficou abaixo desse refe-encial. Houve também grande variacão intra e entre

nal e disfuncão menstrual em atletas de ginástica rítmica.e.2013.09.004

ndivíduos para este hormônio.Na figura 4, estão representados os resultados da

oncentracão sanguínea média de FSH. Dos 20 valores amos-rais (tabela 1), 2 (10%) estavam abaixo do limite inferior que

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4 S.M.H. Coelho et al.

Tabela 1 Concentracão de hormônios reguladores do ciclo menstrual e do hormônio testosterona de atletas de GinásticaRítmica em período pré-competitivo para as Olimpíadas de Beijing

Atletas Semanas Estrogênio Progesterona LH FSH Testosterona(pg/mL) (pg/mL) (mUI/mL) (mUI/mL) (ng/dL)

A1 1 27,3 0,4 5,4 4,1 24,42 83,4 0,7 4,9 1,9 203 55 0,7 2 1,1 284 16,5 1,9 1,9 1,2 34

A2 1 10 0,2 6,4 7,9 30,22 22,4 0,5 4,3 5,7 203 17,7 0,5 3,1 4 554 14,1 1,3 7,7 5,6 50

A3 1 58,9 0,4 3,2 3,5 202 27,4 0,3 2,6 3,5 28,63 37,6 0,4 3,5 3,7 204 33,8 0,4 4,9 3,7 24

A4 1 10 0,3 2,2 5,1 46,22 8,6 0,5 1,7 5,8 203 14,2 0,5 1,9 4,7 264 12,5 1 2,1 5,1 36

A5 1 28,7 0,5 2,9 8,3 28,22 7,3 0,5 2,5 6 203 26,8 0,5 2,8 7,3 234 8,8 1,6 4 5 35

FSH,

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A1 a A5, atletas enumeradas de 1 a 5; LH, hormônio luteinizante;

de 1,9 mUI/mL, e houve grande variacão intra e entre indi-íduos. Uma das atletas, atleta 3, não apresentou nenhuma

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ariacão importante para FSH durante o mês de estudo, oue se distancia do comportamento esperado.

Em relacão aos resultados de testosterona, os valoresoram apresentados apenas individualmente (tabela 1), e

94,5

75,6

56,7

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A1 A2 A3 A4 A5

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igura 1 Média e variacão da concentracão sanguínea doormônio estrogênio das atletas de Ginástica Rítmica emeríodo pré-competitivo para as Olimpíadas de Beijing. Dadospresentados como média ± desvio padrão; A1 a A5 = atletasnumeradas de 1 a 5; nas extremidades inferior e superior daeta pontilhada (a direita da figura) estão apresentados, respec-ivamente, os limites inferior e superior do referencial clínico.

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hormônio folículo estimulante.

ão como média ± DP. Essa estratégia foi necessária por-ue a técnica utilizada não tinha precisão de medida paraalores abaixo de 20 ng/dL. Desse modo, valores abaixo de0 eram identificados como 20 ng/dL, que é o valor refe-

nal e disfuncão menstrual em atletas de ginástica rítmica.e.2013.09.004

encial clínico de limite inferior. Como é possível verificara tabela 1, todas as atletas apresentaram pelo menos umalor igual (ou menor) a 20 ng/dL. Houve, ao todo, seis amos-ras com valor igual ou menor a 20 ng/dL. Portanto, pode-se

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1,68

1,82

igura 2 Média e variacão da concentracão sanguínea doormônio progesterona das atletas de Ginástica Rítmica emeríodo pré-competitivo para as Olimpíadas de Beijing. Dadospresentados como média ± desvio padrão; A1 a A5 = atletasnumeradas de 1 a 5; nas extremidades inferior e superior daeta pontilhada (a direita da figura) estão apresentados, respec-ivamente, os limites inferior e superior do referencial clínico.

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Desequilíbrio hormonal e disfuncão menstrual em atletas de giná

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Figura 3 Média e variacão da concentracão sanguínea dohormônio luteinizante (LH) das atletas de Ginástica Rítmica emperíodo pré-competitivo para as Olimpíadas de Beijing. Dadosapresentados como média ± desvio padrão; A1 a A5 = atletasenumeradas de 1 a 5; nas extremidades inferior e superior da

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seta pontilhada (a direita da figura) estão apresentados, respec-tivamente, os limites inferior e superior do referencial clínico.

afirmar que 30% dos valores estavam no limite inferior ouabaixo do valor referencial.

Discussão

Foi possível identificar que o comportamento dos hormôniosinvestigados no presente estudo, de atletas de elite de GRem uma fase pré-competicão, apresentou padrão diferentedo esperado para mulheres de mesma idade e com CM regu-lar. De fato, os hormônios reguladores do CM e o hormônio

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testosterona apresentaram valores ou abaixo do referencialclínico ou muito próximos do limite inferior. Além disso, avariacão dos diferentes hormônios em todas as atletas foi

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A1 A2 A3 A4 A5

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9,5

Figura 4 Média e variacão da concentracão sanguínea dohormônio folículo estimulante (FSH) das atletas de GinásticaRítmica em período pré-competitivo para as Olimpíadas de Bei-jing. Dados apresentados como média ± desvio padrão; A1 aA5 = atletas enumeradas de 1 a 5; nas extremidades inferior esuperior da seta pontilhada (a direita da figura) estão apre-sentados, respectivamente, os limites inferior e superior doreferencial clínico.

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PRESSstica rítmica 5

ompletamente diferente do esperado, sugerindo desequi-íbrio hormonal, como discutido adiante.

Pôde-se perceber que as atletas apresentaram com-ortamento e magnitude de alteracão hormonal comaracterísticas bem individuais, entretanto, todas as atletaspresentaram oligomenorreia ou amenorreia. Esse resultadoermite interpretar que a disfuncão do CM pode ocorrerom diferentes comportamentos e magnitudes de alteracãoormonal.

Vários estudos investigaram e descreveram disfuncõeso CM, prejuízos na resposta de diferentes hormônios, nauncão neuroendócrina, no perfil lipoproteico e de outrosarâmetros, de atletas de diferentes modalidades espor-ivas. Peltenburg et al. (1984) compararam ginastas eadadoras pré púberes, e verificaram que os níveis destrona, testosterona e androstenediona foram menores norupo de ginastas, embora essas diferencas desapareceramuando próximo da puberdade. Hohtari et al. (1988) veri-caram que a capacidade de secrecão de corticotropina endorfinas de atletas amenorreicas após uma sessão aguda80 a 100% do VO2max) em cicloergômetro não diferiu signifi-ativamente de atletas eumenorreicas, embora, nas atletasmenorreicas, a secrecão de endorfina apresentou elevacãoa condicão de repouso. Posteriormente, esse mesmo grupoe pesquisa apresentou resultados sugestivos de respostarejudicada do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal em atle-as amenorreicas (Hohtari et al., 1991).

Pirke et al. (1990) estudaram 31 atletas e verificaramiclos anovulatórios em 8 delas e prejuízo da secrecão derogesterona durante a fase lútea em outras 9 atletas.s outras 14 atletas apresentaram ciclo normal, entre-anto os ciclos foram mais curtos e apresentaram menoresoncentracões de estradiol, progesterona e LH quandoomparadas a sedentárias. Friday et al. (1993) verifica-am LDL e colesterol aumentados em atletas amenorreicas.ntretanto, nesse mesmo estudo, as concentracões de HDLambém estavam aumentadas nas atletas amenorreicas, deaneira que a relacão LDL/HDL não foi diferente do grupoe atletas eumenorreicas. Lindholm et al. (1993) não encon-raram alteracões importantes em hormônios anabólicose atletas oligomenorreicas, mas encontraram hipercorti-olismo, sugerindo desequilíbrio hormonal com predomínioatabólico. Os hormônios tiroxina e triiodotironina tambémoram encontrados em menor concentracão em desportistasmenorreicas comparadas a eumenorreicas, e o metabo-ismo muscular estava prejudicado no grupo amenorreicaHarber et al., 1998).

Resultados encontrados por Waters et al. (2001), ao estu-arem atletas, sugerem que o estado amenorreico prejudica

controle neuroendócrino de GH. Posteriormente esseesmo grupo de pesquisa apresentou resultados sugestivose que esse prejuízo de controle neuroendócrino seria multi-ausal, onde treinamento físico, estado nutricional e menorroducão de estrogênio teriam impactos independentesWaters et al., 2003). Rickenlund et al. (2010) constataramenor concentracão de insulina e maiores concentracõese GH, cortisol e proteínas ligantes de IGF-I em atletasom distúrbio menstrual quando comparadas a atletas e

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ão atletas com ciclo menstrual regular. Esses parâme-ros foram normalizados após tratamento com contraceptivoormonal oral, sugerindo que tais alteracões tinham causaormonal.

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Apesar desses vários estudos supramencionados, elesiferem quanto ao momento da coleta e análise hormo-al, tipo de modalidade esportiva e padrão de treinamento.abemos que a concentracão hormonal varia muito aoongo do CM, e que dependendo do tipo de modalidadesportiva há maior ou menor valorizacão das qualidadesísicas forca, flexibilidade, velocidade, agilidade e capa-idades aeróbica/anaeróbica. Além disso, as periodizacõese treinamento assumem padrões muito distintos. Dianteisso, o confrontamento dos resultados do nosso estudoom os resultados dos estudos supramencionados teriamontribuicão clínica limitada. Diante disso, nesse estudoptamos por uma discussão que confrontasse nossos resul-ados com os valores de referência clínica.

Os valores referenciais clínicos foram estabelecidosm adultos saudáveis e são bem conhecidos há décadasMiller, 1999) permitindo melhor compreender a magnitudeas alteracões hormonais encontradas. Embora os valoreseferenciais clínicos minimizem a ausência de um grupo con-role, é preciso destacar que o delineamento ideal para oresente estudo seria uma cohort com medidas ‘‘antes vs.epois’’, em que cada atleta seria controle de si mesma.sso, entretanto, não foi possível porque as alteracões do CMessas atletas precedeu a data de realizacão deste estudo.

O CM regular, em virtude de variacões hormonais espera-as, pode ser dividido em 3 fases: 1a fase) Do 1◦ ao 12◦ dia;a fase) Do 12◦ ao 14◦ dia; e 3a fase) 14◦ ao 28◦ dia.

Do 1◦ ao 12◦ dia a concentracão sanguínea de estrogê-io é, inicialmente, 2 vezes maior que de progesterona e,o final desse intervalo, a concentracão de estrogênio podelcancar 12 vezes a de progesterona. Nessa mesma fase,

concentracão de FSH é aproximadamente 2 vezes maiorue de LH. Do 12◦ ao 14◦ dia, a concentracão de estro-ênio não ultrapassa 7 vezes a de progesterona, enquanto

concentracão de LH alcanca valores de até 2 vezes emelacão a de FSH. Do 14◦ ao 28◦ dia, a concentracão derogesterona é até 2 vezes superior à de estrogênio e aoncentracão de FSH é 2 vezes superior ao LH (Miller, 1999).

No presente estudo, entretanto, a variacão daoncentracão sanguínea de estrogênio e progesteronaas atletas apresentou comportamento muito diferenteo esperado. De fato, a concentracão de estrogênioanteve-se entre 33 a 147 vezes superior à concentracãoe progesterona. Esse comportamento foge completa-ente do padrão esperado para qualquer uma das fases

upramencionadas (Miller, 1999).Em relacão ao LH e FSH, apenas para a atleta 1 a

oncentracão de LH foi maior (2,5 vezes) que a concentracãoe FSH, e o esperado seria que a concentracão de LH emlgum momento se apresentasse também superior ao FSHas demais atletas. As atletas 4 e 5 apresentaram compor-amento completamente diferente do esperado. De fato, aoncentracão de FSH alcancou valores até 56 vezes acimaa concentracão de LH, o que é fisiologicamente incompa-ível com o padrão clínico normal. É importante destacarue, pelas concentracões hormonais, foi impossível identi-car em que fase do CM as atletas se encontravam, dado oomportamento alterado das respostas hormonais.

Como citar este artigo: Coelho SMH, et al. Desequilíbrio hormoRev Bras Ciênc Esporte. 2015. http://dx.doi.org/10.1016/j.rbc

Apesar da grande variacão do comportamento hormo-al intra e entre indivíduos, os resultados são inequívocosuanto ao desequilíbrio hormonal dessas atletas. Embora

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s resultados tenham sido confrontados apenas com valo-es de referência clínica e não com um grupo controle, aslteracões hormonais foram tão expressivas que facilitaram

interpretacão.Esse desequilíbrio hormonal é aparentemente mediado

or alteracão na funcão do eixo hipotálamo-pituitária-ovário, com perda da secrecão de LH e, posteriormente,educão da producão de estrógeno (Stafford, 2005). Hormô-ios sexuais possuem importantes funcões fisiológicas como,or exemplo, na densidade mineral e microarquiteturassea (Stafford, 2005; Ackerman et al., 2011), fertilidade,ecrecão de hormônios da tireóide e proliferacão celularBrucker-Davis et al., 2001) e síntese de outros hormô-ios (Christo et al., 2008; Nakamura et al., 2011). Dessaorma, a compreensão da magnitude das alteracões hor-onais é importante para a tomada de decisão referente

intervencão clínica (Stafford, 2005).Estudos têm apontado que a proporcão de não atletas

om incidência de DM é muito pequena em comparacão de atletas (Vigário e Oliveira, 2005; De Souza et al.,010). A prevalência de amenorreia em não atletas é de 2

5%, enquanto que em atletas pode chegar a 66% (Vigário Oliveira, 2005). Estudo realizado com atletas de GR darécia e do Canadá encontrou prevalência de CM irregu-

ares em torno de 61% (Beals e Meyer, 2007). Em outrostudo (De Souza et al., 2010) constatou-se prevalência deuncão ovariana anormal, incluindo deficiência na fase lútea

anovulacão (ausência de ovulacão), de 52% em mulheressicamente ativas, enquanto que em sedentárias foi de ape-as 5%. Os autores desse último estudo destacam que sãoscassos os dados sobre a prevalência de disfuncões mens-ruais sutis como deformidade na fase lútea e anovulacão deulheres ativas, seja atleta ou não.É importante salientar que a maioria dos estudos envol-

endo atletas de alto rendimento avaliou apenas disfuncõeso CM e não a magnitude das alteracões dos hormôniosnvolvidos na regulacão do CM. Dessa forma, os resulta-os do presente estudo são importantes para dimensionar oomportamento de hormônios sexuais de atletas de elite emR, e assim oferecer suporte de informacão para clínicos e

reinadores. Entretanto, ainda não se sabe completamente quanto o treinamento intenso e exaustivo contribui paraais desequilíbrios hormonais.

É bem conhecido que o treinamento físico intenso podelterar a liberacão pulsátil de GnRH e, dessa forma, induzirlteracões do CM. Acredita-se que se trata de um mecanismodaptativo para poupar energia e, assim, proteger impor-antes processos fisiológicos (Brucker-Davis et al., 2001).credita-se também que os hormônios grelina e leptinaossam participar desse mecanismo (Christo et al., 2008;eira e Nunomura, 2010). Mas as restricões alimentares

ambém são comuns em atletas de GR (Beals e Meyer,007) e podem contribuir para as alteracões hormonais eesordens menstruais (Williams et al., 2006). Desvios ali-entares frequentemente resultam em diversas disfuncões

eprodutivas, como diminuicão ou supressão da fase lútea,novulacão, menarca tardia, oligomenorreia e amenorreiaHarber, 2004). A prevalência de DM entre atletas são mai-

nal e disfuncão menstrual em atletas de ginástica rítmica.e.2013.09.004

res nas modalidades cujo baixo peso corporal e o baixoercentual de gordura são enfatizados (Vigário e Oliveira,005). A GR se enquadra nesse padrão.

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Desequilíbrio hormonal e disfuncão menstrual em atletas de

Embora se acredite que as disfuncões menstruais tenhamorigem multifatorial, de modo que o treinamento físicointenso, estresse psicológico e balanco energético nega-tivo seriam as possíveis causas, é preciso destacar que abaixa disponibilidade de energia, seja por restricão ener-gética ou gasto energético excessivo, tem sido apontadapor vários pesquisadores (Beals e Meyer, 2007; Doyle-Lucaset al., 2010; Harber, 2004; Meira e Nunomura, 2010; Nattivet al., 2007; Stafford, 2005; Wilmore et al., 2010) como oprincipal fator para o surgimento de DM.

De fato, a simples inducão de um balanco energé-tico negativo em mulheres eumenorreicas resultou emalteracões hormonais significativas associadas à amenorreia(Wilmore et al., 2010), e o treinamento físico não mostrouefeito supressor sobre a pulsatilidade de LH quando a inges-tão de energia foi aumentada para compensar o dispêndioenergético do exercício (Nattiv et al., 2007).

Embora o hormônio testosterona não participe daregulacão do CM, o presente estudo também avaliou suasconcentracões sanguíneas por ser um importante hormô-nio anabólico e, portanto, baixas concentracões poderiamsugerir menor capacidade anabólica e de recuperacão mus-cular das atletas. O estudo verificou que 30% das medidas deconcentracão de testosterona estiveram no limite inferior doreferencial clínico ou abaixo desse referencial. O efeito dotreinamento intenso sobre as concentracões de testosteronade mulheres ainda é pouco conhecido. Os resultados, atéentão encontrados, ora sugerem que o treinamento físicopor mulheres pode aumentar a producão de andrógenos,como a testosterona, e ora sugerem que podem reduzir suasconcentracões (Enea et al., 2011; Nakamura et al., 2011).Pesquisas adicionais, com rígido controle de variáveis inter-venientes, serão necessárias para esclarecer esses achadosdivergentes.

Em resumo, conclui-se que o comportamento dasconcentracões dos hormônios responsáveis pelo CM e dohormônio testosterona em atletas de GR de alto rendi-mento, em uma fase pré-competitiva, se distanciou deforma expressiva dos valores de referência clínica. A mag-nitude dessas alteracões é de tal grandeza que vislumbracuidados clínicos, uma vez que podem causar prejuízo nadensidade mineral e microarquitetura óssea, infertilidade(ainda que reversível), reducão de hormônios secretadospela tireoide e, até mesmo, risco aumentado de carcinomano endométrio.

Apesar das sugestivas evidências, é preciso ponderarque o estudo apresentou algumas limitacões que devemser consideradas na interpretacão dos resultados para quenão haja imediata extrapolacão dos resultados. Uma des-sas limitacões refere-se ao desenho experimental que foido tipo estudo de casos, e não de acompanhamento, o quepermitiria avaliar o curso-temporal dos fenômenos estuda-dos. O número de atletas estudadas, apesar de se tratarde uma populacão, também foi pequeno, o que limitageneralizacões. A coleta de dados ocorreu no período pré--competitivo, ou seja, numa fase em que possivelmenteocorra significativo estresse psicológico. Por último, emboraa alimentacão tenha sido prescrita por nutricionista, o ideal

Como citar este artigo: Coelho SMH, et al. Desequilíbrio hormoRev Bras Ciênc Esporte. 2015. http://dx.doi.org/10.1016/j.rbc

seria certificar-se da adequacão do aporte calórico e demicronutrientes. Os novos estudos sobre o tema precisarãoconsiderar tais limites e buscarem estratégias para superá--los.

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onflitos de interesse

s autores declaram não haver conflitos de interesses.

gradecimentos

Mônika Queiroz e Juliana Coradini, pelo apoio e suporte axecucão do estudo.

eferências

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