31
Crescimento Econômico e Desigualdade Prof. Jorge O. Pires

Desigualdade

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Desigualdade

Crescimento Econômico e Desigualdade

Prof. Jorge O. Pires

Page 2: Desigualdade

Medidas de desigualdade

% acumulada da população

% acumulada da renda

Coeficiente de Gini: razão da área entre a curva de Lorenz e a linha de igualdade pela área total abaixo da linha de 45O

Figura retirada do Boletín Epidemiológico Marzo 2001

Page 3: Desigualdade

O que revelam os dados?Índice de Gini da distribuição de renda, América Latina, 1970 a 1995*

Argentina 0,394 0,366 0,410 0,400 0,431 0,463Bolívia 0,530 0,525 0,520 0,516 0,486 0,530Brasil 0,576 0,603 0,578 0,562 0,596 0,590Chile 0,460 0,470 0,532 0,549 0,579 0,565Colômbia 0,520 0,520 0,545 0,512 0,513 0,571Costa Rica 0,444 0,452 0,450 0,420 0,461 0,460Rep.Domin. 0,455 0,450 0,441 0,433 0,505 0,487Jamaica 0,479 0,511 0,504 0,498 0,484 0,445México 0,577 0,579 0,540 0,506 0,550 0,550Peru 0,550 0,570 0,493 0,494 0,492 0,515El Salvador 0,465 0,484 0,400 0,424 0,448 0,510Uruguai 0,428 0,450 0,424 0,412 0,424 0,430

País 1970 1975 1980 1985 1990 1995

Venezuela 0,477 0,436 0,428 0,452 0,538 0,470

Notas: (*) os dados se referem aos anos mais próximos dos apontados na tabela.Fonte: Deininger & Squire 1996. Elaboração:Prof. Fernando Garcia

Page 4: Desigualdade

Desigualdade e crescimento

Vários economistas acreditam que a desigualdade de renda aumenta nos estágios iniciais do desenvolvimento, fazendo com que os pobres fiquem em pior situação

Pesquisas recentes sugerem que uma distribuição de renda desigual prejudica o crescimento econômico

O que a evidência empírica tem a dizer?

Page 5: Desigualdade

Desigualdade e crescimento

Ln do PIB por trabalhador (US$ constantes de 1995)

20.00010.0009.0008.0007.0006.0005.0004.000

Gin

i da d

istr

ibuiç

ão d

e r

enda

,65

,60

,55

,50

,45

19951990

1985

1980

1975

1970

Desigualdade e produtopor trabalhador, Brasil - 1970 a 1995

Garcia et al 2002

Page 6: Desigualdade

Desigualdade e crescimentoPerguntas:

Nos países pouco desenvolvidos o crescimento econômico costuma ser acompanhado de uma piora na distribuição da renda?Será necessário atingir um determinado nível mínimo de renda per capita para que a desigualdade comece a cair?Os países com distribuições de renda desiguais têm crescimento mais lento que os mais igualitários?

Page 7: Desigualdade

Desigualdade e crescimento

Hipóteses diferentes sobre as relações entre crescimento e desigualdade levam a resultados distintos no que concerne os mais pobresCenário 1: distribuição “igualitária” sem

efeito KuznetsCenário 2: hipótese de Kuznets com

distribuição igualitáriaCenário 3: hipótese de Kuznets com

distribuição desigual

Page 8: Desigualdade

Desigualdade e crescimento Cenários

Retirado de Deininger & Squire, 1997

Page 9: Desigualdade

Desigualdade e crescimento

Cenário 1: economia “igualitária”A parte da renda destinada aos (20%) mais

pobres se mantém constante por 60 anos. A taxa de crescimento anual é de 4%

Crescimento aumento da renda dos pobres

A renda nova gerada é distribuída de forma igual e todos melhoraram de situação em termos absolutos

Page 10: Desigualdade

Desigualdade e crescimentoCenário 2: hipótese de Kuznets com distribuição igualitária Para níveis de renda per capita baixos, o

crescimento da renda per capita piora a desigualdade, que só vem a ficar melhor nos estágios finais do desenvolvimento

Essa conjectura tem por base um modelo de dois setores: (i) rural com renda baixa, porém, mais igualitário; (ii) urbano com renda alta, contudo, distribuída de forma desigual; com migração do rural para o urbano

Por um período de 60 anos a % da renda nas mãos dos mais pobres ficará abaixo do seu nível inicial. Ela permanecerá 10% menor que no início por 2 gerações

Page 11: Desigualdade

Desigualdade e crescimentoCenário 3: hipótese de Kuznets com distribuição desigual A pesquisa recente sugere um efeito negativo entre

desigualdade inicial e crescimento posterior Parte-se de uma situação com um índice de Gini maior

que no cenário 2 (+20 pontos) Sob esta hipótese a taxa de crescimento da economia

iria cair de 4% para 2,7% Ao final do período de 60 anos, a renda per capita dos

mais pobres seria menos da metade do que seria se a situação inicial fosse a de igualdade (como descrita no cenário 2)

Page 12: Desigualdade

Desigualdade e crescimento Cenários

Retirado de Deininger & Squire, 1997

Page 13: Desigualdade

Problemas com os dados

As simulações anteriores foram feitas a partir de poucos dados, e muitos deles de qualidade inaceitável

Três critérios para aceitar dados de distribuição de renda:

1) Devem ser provenientes de pesquisas nacionais representativas

2) Devem cobrir a população inteira e não apenas subconjuntos dela

3) Devem levar em conta todos os tipos de renda

Page 14: Desigualdade

Problemas com os dados

Três critérios para aceitar dados de distribuição de renda:

1) Devem ser provenientes de pesquisas nacionais representativas

Não podem vir de estimativas feitas a partir das contas nacionais e conjecturas sobre a distribuição de renda entre ocupações ou países em estágios de desenvolvimento semelhantes.

O tipo de estimativa descrito acima é inaceitável, uma vez que pressupõe a existência de relações que depois serão testadas

Page 15: Desigualdade

Três critérios para aceitar dados de distribuição de renda:2) Devem cobrir a população inteira e não

apenas subconjuntos dela. A cobertura apenas parcial é comum na AL,

onde muitos países coletam informações apenas nas regiões urbanas

Problemas com os dados

Page 16: Desigualdade

Três critérios para aceitar dados de distribuição de renda:3) Devem levar em conta todos os tipos de renda,

incluindo renda de outras fontes que não salários e também renda da produção doméstica

Muitas vezes são usados dados de impostos e de estatísticas sobre a força de trabalho, que estão mais facilmente disponíveis.

Isso, porém, tende a superestimar o coeficiente de Gini

Quando se junta dados sobre períodos antigos sobre renda de salários e completa-se uma série com dados de renda total, tem-se uma evidente queda espúria da desigualdade

Problemas com os dados

Page 17: Desigualdade

Os critérios para aceitar dados de distribuição de renda descritos, quando aplicados, levam o número de observações aceitáveis a ser muito pequeno, de tal forma que fica impossível a análise estatística delesEstratégia de Deininger & Squire: Expandir o banco de dados com dados primários de

pesquisas oficiais, publicações estatísticas, artigos publicados de pesquisadores, etc. Resultado: 58 países, 4 observações

Complementar o conjunto de dados com informações da distribuição da terra, que representa uma medida melhor da distribuição inicial (esses números estão disponíveis para 73 países, contra apenas 12 que apresentam dados sobre a distribuição inicial da renda)

Problemas com os dados

Page 18: Desigualdade

O que revelam os dados?

A desigualdade é muito maior na América Latina (AL) e na África Subsaariana, que têm coeficientes de Gini na casa dos 45-50Leste e Sul da Ásia Gini: entre 35 e 40OECD Gini: em torno de 30 ( e mais baixo ainda para Europa do Leste)As medidas de desigualdade tendem a ser bastante diferentes entre as regiões, mas se mantém estáveis dentro das regiões e países, a despeito das mudanças ocorridas na renda agregada

Page 19: Desigualdade

Índice de Gini por regiões, 1960 a 1990

América Latina e Caribe 53,2 49,1 49,7 49,3

África Subsaariana 49,9 48,2 43,5 46,9

Oriente Médio e Norte da África 41,4 41,9 40,4 38,0

Leste Ásia e Pacífico 37,4 39,9 38,7 38,1

Sul da Ásia 36,2 33,9 35,0 31,9

Países Industrializados 35,0 34,8 33,2 33,7

Região 1960 1970 1980 1990

Leste da Europa 25,1 24,6 25,0 28,9

Fonte: Deininger e Squire (1996).

O que revelam os dados?

Page 20: Desigualdade

O que revelam os dados?

A distribuição da terra e a distribuição da renda são diferentes Índia, Indonésia, e Coréia têm índices de Gini

para a renda na casa dos 30, mas para a terra esse número vai para 63, 55, e 35, respectivamente

Tailândia, Tunísia e Peru têm todos, coeficientes de Gini na faixa de 40 e os coeficientes para distribuição da terra são 45, 64 e 93, respectivamente

Page 21: Desigualdade

O que revelam os dados?

Testes da possível relação inversa entre crescimento posterior e desigualdade inicial podem ter resultados muito diferentes, dependendo da medida usada para a desigualdade inicial (terra ou renda)

Page 22: Desigualdade

O que revelam os dados?

Medidas agregadas de distribuição podem esconder mudanças na renda de grupos distintosAssim, a estabilidade da desigualdade pode ser consistente com grandes mudanças nas participações desses gruposComo o interesse desse tipo de pesquisa diz respeito, sobretudo, à situação dos pobres, deve-se então complementar a análise com uma avaliação das mudanças do bem-estar dos 20% mais pobres (e/ou 40%)

Page 23: Desigualdade

Alguns resultados

A desigualdade aumenta nos estágios iniciais do desenvolvimento?Com os dados de D&S é possível testar a hipótese de Kuznets internamente aos países (para cada país) e não mais via seção transversal Não se encontrou evidência da curva de

Kuznets para 90% dos países Os 30 anos cobertos pelos dados podem ser

insuficientes, contudo, para produzir a curva U invertida de Kuznets

Quando se olha para países com baixa renda e espera-se que a desigualdade aumente, e para os países de alta renda, esperando uma melhora nessa desigualdade, essa tendência também não é clara

Page 24: Desigualdade

Crescimento e desigualdadeOs países mais igualitários crescem mais rápido?

Se o crescimento econômico beneficia os pobres, então é pertinente a preocupação com os fatores que influenciam esse crescimento agregado sob o ponto de vista da igualdade

Pesquisas empíricas recentes indicam uma relação inversa entre desigualdade inicial e o crescimento futuro. Assim sendo, economias desiguais devem ter futuramente baixas taxas de crescimento e conseqüentemente pouca redução da pobreza

A relação negativa entre crescimento futuro e desigualdade inicial da renda é, contudo, fraca

Page 25: Desigualdade

Crescimento e desigualdade

Os países mais igualitários crescem mais rápido?

• D&S estudam os determinantes do crescimento econômico entre 1960-92 para avaliar o impacto da desigualdade inicial sobre ele

• Como dados aceitáveis sobre desigualdade de renda são escassos no período dos 1960, usam médias para o período todo, para cada país

• Eles também usam a desigualdade na distribuição da terra como fator que potencialmente poderia afetar o crescimento econômico subseqüente

Page 26: Desigualdade

Crescimento e desigualdade

Impacto da desigualdade sobre o crescimento

• Os resultados dos autores mostram um efeito negativo, porém, fraco da desigualdade de renda sobre o crescimento posterior

• Por outro lado, o efeito da desigualdade na distribuição de ativos (terra) tem um impacto negativo significativo sobre o crescimento econômico subseqüente

Page 27: Desigualdade

Crescimento e desigualdadeEfeito da desigualdade na distribuição de ativos (terra) sobre o crescimento econômico subseqüente

Retirado de Deininger & Squire, 1997

Page 28: Desigualdade

Distribuição mundial da renda

Fonte: Milanovic 2001

Page 29: Desigualdade

Distribuição mundial da renda

Fonte: Milanovic 2001

Renda Média do País

Renda Média Mundial

Page 30: Desigualdade

Distribuição mundial da renda

Fonte: Milanovic 2001

Renda Média do País

Renda Média Mundial

Page 31: Desigualdade

Referências

Esta apresentação baseia-se em:

Deininger & Squire (1997) Economic Growth and Income Inequality: Reexamining the

Links, Finance & Development, March 1997 – IMF

Milanovic (2001) World Income Inequality in the Second Half of the 20th

Century – mimeo: www2.ucsc.edu/atlas

Garcia et al (2002) - mimeo