Desigualdade de Genero- Artigo

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    537Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 132, set./dez. 2007

    Trabalho e gnero no Brasil...

    TRABALHO E GNERO NO BRASILNOS LTIMOS DEZ ANOS

    MARIA CRISTINA ARANHA BRUSCHINIFundao Carlos Chagas, Grupo de Pesquisas Socializao de Gnero e Raa

    [email protected]

    RESUMO

    Panorama da situao das mulheres no mercado de trabalho brasileiro, com base em estatsti-cas oficiais, como as do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, do Ministrio do Trabalhoe Emprego e do Ministrio da Educao, o texto destaca algumas das principais tendncias dainsero laboral das brasileiras, que marcada por progressos e atrasos. De um lado, a inten-

    sidade e a constncia do aumento da participao feminina no mercado de trabalho, que temocorrido desde a metade dos anos 1970, de outro, o elevado desemprego das mulheres e a mqualidade do emprego feminino; de um lado, o acesso a carreiras e profisses de prestgio e acargos de gerncia e mesmo diretoria, por parte de mulheres escolarizadas, de outro, o predo-mnio do trabalho feminino em atividades precrias e informais. O perfil atual das trabalhado-ras: mais velhas, casadas e mes revela uma nova identidade feminina, voltada tanto para otrabalho como para a famlia. A permanncia da responsabilidade feminina pelos afazeres do-

    msticos e cuidados com os filhos e outros familiares indica a continuidade de modelos familia-res tradicionais, que sobrecarregam as novas trabalhadoras, sobretudo as que so mes de

    filhos pequenos.TRABALHO GNERO MULHERES BRASIL

    ABSTRACT

    WORK AND GENDER IN BRAZIL IN THE LAST TEN YEARS. Based on official statistics ofinstitutions such as the Brazilian Institute of Geography and Statistics, the Ministry of Labor andEmployment, and the Ministry of Education, the paper highlights some of the main trends in the

    participation of Brazilian women in the labor market, which has been marked by progress andchallenges.On the one hand, the massive and steady increase of female participation in the labormarket, since the mid-seventies, and on the other hand, the prevalence of high unemploymentrates among women and the lower quality of female jobs; on the one hand, the access to prestigecareers and jobs, and to management and board positions, and on the other hand, the prevalence

    Texto preparado para apresentao no Seminrio Internacional Gnero e Trabalho, na FundaoCarlos Chagas Mage/FCC , realizado no Brasil (So Paulo e Rio de Janeiro), de 2 a 12 de abrilde 2007. Colaborao de Cristiano Miglioranza e Arlene Martinez Ricoldi, assistentes de pesquisada FCC.

    Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 132, p. 537-572, set./dez. 2007

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    of female presence in precarious and informal activities. The profile of female workers: older,married, with children displays a new female identity, both work- and family-oriented. The

    perpetuation of the notion of female responsibility for household chores as well as for child andfamily care indicates the persistence of traditional family models, which constitute a burden tofemale workers, especially to mothers of small children.LABOUR GENDER WOMEN BRAZIL

    Este texto traa um panorama da situao das mulheres no mercado detrabalho brasileiro desde a lt ima dcada do sculo XX at os primeiros anosdo novo milnio (2005). Com base em estatsticas oficiais1, destaca algumas das

    principais tendncias da insero laboral das brasileiras, que marcada porprogressos e atrasos. De um lado, a intensidade e a constncia do aumento daparticipao feminina no mercado de trabalho, que tem ocorrido desde ametade dos anos 1970, de outro, o elevado desemprego das mulheres e a mqualidade do trabalho feminino; de um lado a conquista de bons empregos, oacesso a carreiras e profisses de prestgio e a cargos de gerncia e mesmodiretoria, por parte de mulheres escolarizadas, de outro, o predomnio do tra-balho feminino em atividades precrias e informais.

    Em relao ao perfil das trabalhadoras, de um lado elas se tornam maisvelhas, casadas e mes o que revela uma nova identidade feminina, voltadatanto para o trabalho quanto para a famlia , de outro, permanecem as res-ponsabilidades das mulheres pelas atividades domsticas e cuidados com os

    filhos e outros familiares o que indica a continuidade de modelos familiarestradicionais, que sobrecarregam as novas trabalhadoras, principalmente as queso mes de filhos pequenos, em virtude do tempo consumido em seus cui-

    dados, como analisamos em artigo recente sobre o trabalho domstico(Bruschini, 2006).

    O texto apresenta, na primeira parte, dados gerais que demonstram ocrescimento da presena feminina no mercado de trabalho brasileiro, no pe-rodo considerado, assim como as principais caractersticas dessa nova fora de

    1. Pesquisas Nacionais por Amostra de Domiclios PNAD , do Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatstica IBGE , Relao Anual de Informaes Sociais, do Ministrio do Trabalho eEmprego MTE , dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Inep , do Minist-rio da Educao MEC e outras.

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    trabalho. Na segunda, dado destaque a reas, como a educao, e a ocupa-es e profisses nas quais as mulheres e as trabalhadoras tiveram consider-

    vel progresso no perodo 1993-2005; na terceira, destacam-se, em oposio,

    questes concernentes ao trabalho feminino em relao s quais as mulherestiveram pouco ou nenhum progresso.

    DADOS GERAIS E PERFIL DA FORA DE TRABALHO FEMININA

    A primeira questo a destacar a intensidade e constncia do crescimen-to da atividade feminina. Nesse caso, os indicadores para o Brasil revelam que,

    no perodo considerado, a Populao Economicamente Ativa PEA2 femini-na passou de 28 para 41,7 milhes, a taxa de atividade aumentou de 47% para53% e a porcentagem de mulheres no conjunto de trabalhadores foi de 39,6%para 43,5%. Isto significa que mais da metade da populao feminina em ida-de ativa trabalhou ou procurou trabalho em 2005 e que mais de 40 em cada100 trabalhadores eram do sexo feminino, na mesma data. Apesar do consi-dervel avano, no entanto, as mulheres ainda esto longe de atingir, seja as

    taxas masculinas de atividade, superiores a 70%, seja o nmero de ocupadosou de empregados3, nessa data, como se pode constatar tambm na tabela 1.Nas ltimas dcadas do sculo XX, o pas passou por importantes trans-

    formaes demogrficas, culturais e sociais que tiveram grande impacto sobreo aumento do trabalho feminino. No primeiro caso, podem ser citados: a quedada taxa de fecundidade, sobretudo nas cidades e nas regies mais desenvolvi-das do pas, at atingir 2,1 filhos por mulher em 2005 (FIBGE, 2006, p.50); areduono tamanho dasfamlias que,em 2005,passaram a ser compostas por

    apenas 3,2 pessoas, em mdia, enquanto em 1992 tinham 3,7 (FIBGE, 2006,

    2. Segundo classificao do IBGE, que realiza o Censo Demogrfico, as Pesquisas DomiciliaresAnuais e outras pesquisas oficiais, a Populao Economicamente Ativa inclui os ocupados e osdesocupados. Os ocupados so aqueles que esto empregados, no setor formal ou no infor-mal, enquanto os desocupados so aqueles procura de emprego na ocasio da pesquisa. Ja Populao Economicamente Inativa inclui os aposentados, os que esto em asilos, os estu-

    dantes, os que vivem de renda e os/as que cuidam de afazeres domsticos.3. A denominao empregados inclui: empregados com carteira assinada, sem carteira, sem de-

    clarao de carteira, militares e funcionrios pblicos estatutrios. No inclui empregados do-msticos.

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    p.163, grf. 5.2); o envelhecimento da populao, com maior expectativa devida ao nascer para as mulheres (75,5 anos) em relao aos homens (67,9 anos)(FIBGE, 2006, p.26) e, conseqentemente, a sobrepresena feminina na po-pulao idosa; e, finalmente, a tendncia demogrfica mais significativa, que temocorrido desde 1980, que o crescimento acentuado de arranjos familiares4

    chefiados por mulheres os quais, em 2005, chegam a 30,6% do total das fa-mlias brasileiras residentes em domiclios particulares (FIBGE, 2006, p.163, grf.5.1).

    Alm dessas transformaes demogrficas, mudanas nos padres cul-turais e nos valores relativos ao papel social da mulher alteraram a identidade

    TABELA 1HOMENS E MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO:

    INDICADORES DE PARTICIPAO ECONMICABRASIL, 1993 E 2005

    Mulheres

    Anos

    PEA Ocupadas Empregadas *

    (Milhes)Taxa de % de mulheres

    (Milhes)

    % de mulheres

    (Milhes)

    % de mulheres

    atividade na PEA entre os entre os

    ocupados empregados

    1993 28 47,0 39,6 25,9 39,0 11,1 31,8

    2005 41,7 53,0 43,5 36,6 42,1 17,5 36,6

    Homens

    Anos

    PEA Ocupados Empregados *

    (Milhes)Taxa de % de homens

    (Milhes)

    % de homens

    (Milhes)

    % de homens

    atividade na PEA entre os entre os

    ocupados empregados

    1993 42,8 76,0 60,4 40,5 61,0 23,8 68,2

    2005 54,2 74,0 56,5 50,4 57,9 30,4 63,4

    Fonte: FIBGE/PNADs-Microdados.* Exclusive empregados domsticos.

    4. Segundo a mais recente terminologia adotada pelo IBGE, a qual incorpora a ampla literaturasobre o tema, famlia ou arranjo familiar o conjunto de pessoas ligadas por laos de paren-tesco, dependncia domstica ou normas de convivncia, residente na mesma unidade do-miciliar, ou pessoa que mora s em uma unidade domiciliar (FIBGE, 2004, p.398).

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    feminina, cada vez mais voltada para o trabalho remunerado. Ao mesmo tem-po, a expanso da escolaridade e o ingresso nas universidades viabilizaram oacesso delas a novas oportunidades de trabalho. Todos esses fatores explicam

    no apenas o crescimento da atividade feminina, mas tambm as suas trans-formaes no perfil da fora de trabalho. As trabalhadoras, que, at o final dosanos 70, em sua maioria, eram jovens, solteiras e sem filhos, passaram a sermais velhas, casadas e mes. Em 2005, a mais alta taxa de atividade feminina,74%, encontrada entre mulheres de 30 a 39 anos, 69% das mulheres de 40a 49 anos e 54% das de 50 a 59 anos tambm so ativas (Tab. 2).

    TABELA 2TAXAS DE ATIVIDADE, SEGUNDO FAIXAS DE IDADE E SEXO

    BRASIL

    Faixas de idade e sexo 1995 2005

    Homens

    10 a 14 anos 26,4 15,6

    15 a 19 anos 68,8 60,5

    20 a 24 anos 90,5 89,4

    25 a 29 anos 95,2 94,2

    30 a 39 anos 96,3 95,3

    40 a 49 anos 94,5 93,1

    50 a 59 anos 83,6 82,3

    60 anos e mais 49,4 44,5

    Total 75,3 73,6

    Mulheres

    10 a 14 anos 14,4 8,315 a 19 anos 44,1 43,1

    20 a 24 anos 60,9 68,8

    25 a 29 anos 62,7 72,6

    30 a 39 anos 66,4 73,7

    40 a 49 anos 63,5 69,1

    50 a 59 anos 48,0 53,8

    60 anos e mais 20,4 20,3Total 48,1 52,9

    Fonte: FIBGE/PNADs-Microdados.

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    No por acaso, se for considerada a posio que ocupam nas famlias,as cnjuges foram as mulheres cujas taxas de atividade mais cresceram. Em2005, mais de 58% delas eram ativas (Tab. 3).

    Entretanto, apesar de todas essas mudanas, muita coisa continua igual:

    as mulheres permanecem como as principais responsveis pelas atividadesdomsticas e cuidados com os filhos e demais familiares, o que representa umasobrecarga para aquelas que tambm realizam atividades econmicas.

    Trabalho domstico e tempo consumido nas atividades reprodutivas

    A primeira gerao de estudos sobre trabalho feminino, no Brasil, foca-

    lizou exclusivamente a tica da produo, sem levar em conta o fato de que olugar que a mulher ocupa na sociedade tambm est determinado por seu papelna famlia. O debate terico e as pesquisas sobre o trabalho feminino toma-ram um novo rumo quando passaram a focalizar a articulao entre o espaoprodutivo e a famlia, ou espao reprodutivo. Pois, para as mulheres, a vivn-cia do trabalho implica sempre a combinao dessas duas esferas, seja pelaarticulao, seja pela superposio, tanto no meio urbano quanto no rural.

    Ao longo dos anos 1970 e 1980, foi feito um srio trabalho de crtica s

    estatsticas oficiais, consideradas inadequadas para mostrar a real contribuiodas mulheres sociedade. Para dar um exemplo, nos levantamentos censitri-os e domiciliares do IBGE, o trabalho domstico realizado no domiclio pelas

    TABELA 3TAXA DE ATIVIDADE, SEGUNDO POSIO NA FAMLIA E SEXO

    BRASIL

    Condio na Famlia 1993* 2002 2005Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres

    Chefes 57,3 85,8 56,5 85,5 59,4

    Cnjugues 49,7 83,9 55,5 83,5 58,5

    Filhos 39,1 57,3 42,7 57,0 41,6

    Outros 31,5 59,5 34,9 57,7 33,7

    Sem Parentesco 79,1 82,4 75,9 82,4 76,5

    Total (%) 47,0 73,2 50,3 73,6 52,9

    Fonte: FIBGE/PNADs-Microdados.* Tabulao especial (disponvel apenas para mulheres).

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    donas de casa no era sequer contabilizado como atividade econmica. Isto sig-nifica que as pessoas que declaravam, ao responder aos questionrios desse r-go oficial, que sua atividade principal era realizar afazeres domsticos, eram

    classificadas como economicamente inativas, juntamente com os estudantes,aposentados, doentes, invlidos e os que vivem de renda (Bruschini, 1998). Asinformaes sobre essa categoria no eram sequer divulgadas e o conhecimentosobre ela ficava restrito aos responsveis por essas pesquisas oficiais, ou na de-pendncia de tabelas especiais ou pesquisas pontuais5. Mais recentemente, apartir da divulgao dos resultados das pesquisas do IBGE em microdados, tor-nou-se possvel obter informaes sobre esse conjunto de atividades, que con-

    some tempo e energia de quem as realiza e que, na verdade, deveria ser con-siderado um trabalho no remunerado, e no inatividade. Sorj tem a mesmaopinio, ao se referir, em artigo recente (2004), ao trabalho no remunerado.realizado principalmente por mulheres, na esfera privada, como uma das dimen-ses do trabalho social, ao lado do trabalho remunerado. Estudo tambm re-cente chama a ateno para a ambigidade e a variedade de termos utilizadospara tornar visveis todos os servios prestados e/ou trabalhos realizados pelasmulheres trabalho domstico, trabalho no remunerado, trabalho reprodutivo,

    trabalho na unidade domstica, trabalho de cuidado no remunerado aos mem-bros da famlia e retoma a proposta de computar o valor desses servios ou

    trabalhos pela mensurao do tempo gasto para realiz-los (Fondo de Desarollode las Naciones Unidas para la Mujer Unifem, 2000, p.23-24). Foi o que fize-mos no artigo Trabalho domstico: inatividade econmica ou trabalho no re-munerado? (Bruschini, 2006). Nele so apresentados os resultados de um es-

    tudo realizado com dados da PNAD/2002, sobre o tempo semanal mdio de

    dedicao aos afazeres domsticos. Foram utilizadas informaes obtidas comas Perguntas 121 Na semana de 23 a 29 de setembro de 2001, cuidava dosafazeres domsticos? e 121-a, (para os que responderam sim) Quantas horas

    5. preciso mencionar, em favor dos principais rgos produtores de estatsticas do Brasil, quea crtica limitao dos conceitos no que diz respeito mensurao do trabalho femininotambm foi feita, ao longo das dcadas, no interior desses organismos. Basta mencionar,

    como exemplo, a reformulao do conceito trabalho, com base na PNAD de 1990, neleincluindo atividades para o autoconsumo e o consumo familiar, assim como o trabalho volun-trio, o que teve grande impacto sobre o volume de atividade feminina apreendida a partirdos levantamentos seguintes.

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    no pode ser desprezada. Entretanto, pesquisas que analisam a diviso sexualdas atividades domsticas em profundidade chamam a ateno para o fato deque os homens se envolvem em tarefas domsticas de maneira bastante seleti-

    va. Bruschini (1990), por exemplo, comenta, com base em entrevistas commaridos e mulheres de 25 famlias de classe mdia e mdia baixa na cidade deSo Paulo, que os companheiros partilham com as mulheres os encargos do-msticos, apenas em atividades especficas como as de manuteno ou con-serto de maneira eventual e a ttulo de ajuda ou cooperao. Sorj (2004) mostraque os homens se envolvem, preferencialmente, em atividades interativas, comocuidar dos filhos, nas que envolvem interseo entre os espaos pblico e pri-

    vado, como fazer as compras da casa ou levar os filhos ao mdico, nas ativida-des intelectuais como ajudar os filhos nos deveres escolares em oposio smanuais ou rotineiras como lavar roupa ou limpar a casa ou ainda em tare-

    fas domsticas valorizadas como realizar uma culinria mais sofisticada.As informaes sobre nmero mdio de horas semanais dedicadas aos

    afazeres domsticos, por pessoas de dez anos ou mais, foram relacionadas svariveis sexo, idade, escolaridade, rendimento, situao do domiclio (urba-no/rural), regio do pas, condio na famlia, presena de filhos, idade do lti-mo filho vivo, raa/cor, e condio de ocupao.

    Os resultados desse estudo, que se referiu apenas parcela da popula-o que respondeu sim pergunta cuidou de afazeres domsticos na se-mana da pesquisa, mostrou que, se for considerada a posio ocupada na fa-mlia, as cnjuges8so as mulheres que trabalham o nmero mais elevado dehoras 33,4 em afazeres domsticos, seguidas das chefes de famlia9, estascom um nmero de horas mais prximo ao da mdia geral da populao fe-

    minina. Note-se que mais de 97% das cnjuges e mais de 90% das chefes(categoria pessoa de referncia) declararam cuidar de afazeres domsticos.

    De todos os fatores relacionados esfera reprodutiva, a presena de fi-lhos pequenos aquele que mais dificulta a atividade produtiva feminina, na

    8. Segundo definio do IBGE, cnjuge a pessoa unida pessoa de referncia da famlia, com

    ou sem vnculo matrimonial, na ocasio da pesquisa.9. Vale a pena mencionar que o nmero de famlias chefiadas por mulheres cresce significativa-mente no perodo 1992-2002, no Brasil: de 22% das famlias brasileiras em 92, elas chegama 28,4% em 2002, segundo dados da PNAD.

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    Maria Cristina Aranha Bruschini

    medida em que o cuidado com os filhos uma das atividades que mais conso-me o tempo de trabalho domstico das mulheres. As mes dedicam a estasatividades quase 32 horas do seu tempo semanal, um nmero muito superior

    ao da mdia feminina geral e mais ainda ao das mulheres que no tiveram fi-lhos. Da mesma forma, os filhos pequenos so aqueles que consomem o maiornmero de horas de dedicao esfera reprodutiva. Ao considerar a idade doltimo filho vivo no domiclio, constatamos que as mes dedicam s atividadesreprodutivas quase 35 horas semanais quando os filhos tm menos de dois anose pouco mais de 32 horas quando estes esto na idade de dois a quatro anos,cifras muito superiores encontrada para a populao feminina em geral, que

    de 27 horas (Bruschini, 2006). Sobrecarregadas na esfera reprodutiva, as mesde filhos pequenos apresentam taxas mais baixas de atividade na produtiva,como mostram as cifras da tabela a seguir. Nela se constata que, em todas asdatas consideradas, as taxas de atividade das mes so mais baixas quando os

    filhos tem menos de dois anos, em comparao quelas das mes de filhosmaiores, que oscilam entre 60% e 70%. Porm, todas as mes, mesmo as de

    filhos muito pequenos, ampliaram sua presena no mercado de trabalho, no

    TABELA 4TAXAS DE ATIVIDADES DAS MULHERES QUE TIVERAM FILHOS,

    SEGUNDO FAIXA ETRIA DO LTIMO FILHO VIVO*BRASIL

    Idade do ltimo filho vivo1998 2002 2005

    Taxas de atividade Taxas de atividade Taxas de atividade

    % % %at 2 anos 47,1 51,9 54,9

    mais de 2 a 4 anos 57,9 64,1 67,5

    mais de 4 a 5 anos 61,8 66,9 70,4

    mais de 5 a 6 anos 65 68,3 72,6

    mais de 6 a 7 anos 63,7 67,7 72,4

    mais de 7 a 14 anos 65,2 69,1 72,7

    mais de 14 anos 40,1 42,8 45,6

    Total 48,3 54,0 57,1

    Fonte: FIBGE/PNAD-Microdados.* Foram consideradas as mulheres com 15 anos e mais que tiveram filhos e que tm vivo o ltimo filho.

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    Maria Cristina Aranha Bruschini

    geral. Em 2005, entre os trabalhadores, 32% delas, mas 25% deles, tinhammais de 11 anos de estudo (Tab. 5).

    Ao mesmo tempo, a escolaridade elevada tem impacto considervel so-

    bre o trabalho feminino, pois as taxas de atividade das mais instrudas so muitomais elevadas do que as taxas gerais de atividade, em todos os anos analisa-dos. Em 2005, enquanto mais da metade (53%) das brasileiras eram ativas,entre aquelas com 15 anos ou mais de escolaridade, a taxa de atividade atingia83% (Tab. 6).

    A escolaridade mais elevada das trabalhadoras corresponde da popula-o em geral. Nesta, pode-se constatar que o predomnio feminino ocorre a partir

    do ensino mdio, ou seja, de 9 a 11 anos de estudo. Em 2005, 26% das mulhe-res, ante 24% dos homens, esto nessa faixa, conforme dados da tabela 7.No ensino profissional, os percentuais femininos de concluso so bas-

    tante elevados, sobretudo no ensino tcnico, na rea de servios, em vriasde suas especialidades, com destaque para Sade e Artes (Fundao CarlosChagas, 2007). neste momento que comeam a ser feitas as escolhas pro-

    fissionais, que iro se consolidar no curso superior e, posteriormente se cris-tal izam no mercado de trabalho, no qual as mulheres predominam no setor

    de Servios. No ensino superior, elas ampliaram significativamente sua presenana dcada analisada, superando os homens, a ponto de, no ano de 2005, a par-cela feminina entre os formados ter atingido 62%, como revelam dados doCenso do Ensino Superior, realizado pelo Ministrio da Educao. Contudo,

    TABELA 6TAXAS DE ATIVIDADE, SEGUNDO O SEXO E A ESCOLARIDADE

    BRASIL

    Anos de estudo1995 2005

    Homens Mulheres Homens Mulheres

    Sem instruo e menos de 1 ano 73,5 40,2 68,6 37,2

    1 a 3 anos 65,6 39,0 61,0 37,9

    4 a 7 anos 73,9 44,0 66,0 42,1

    8 a 10 anos 82,5 52,8 78,9 55,4

    11 a 14 anos 88,6 69,0 89,2 73,3

    15 anos ou mais 90,6 82,3 89,1 82,8

    Total ( % ) 75,3 48,1 73,6 52,9

    Fonte: FIBGE/PNADs-Microdados.

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    Trabalho e gnero no Brasil...

    as escolhas das mulheres continuam a recair preferencialmente sobre reas doconhecimento tradicionalmente femininas, como educao (81% de mulhe-res), sade e bem-estar social (74%), humanidades e artes (65%), que prepa-ram as mulheres para os chamados guetos ocupacionais femininos. Mas tam-bm verdade que a parcela feminina nas universidades vem ampliando suapresena em outras reas ou redutos masculinos, como a rea de engenharia,produo e construo, na qual aumentou de 26% para 30% a presena dasestudantes na dcada considerada (Tab. 8).

    Ocupaes e profisses de prestgio

    A insero das mulheres no mercado de trabalho brasileiro, como apontado em muitos estudos sobre o tema, tem sido caracterizada atravs do

    TABELA 7DISTRIBUIO DAS PESSOAS DE 10 ANOS E MAIS,

    SEGUNDO O SEXO E O NVEL DE INSTRUOBRASIL

    Nvel de instruo

    1999 2005

    Homens Mulheres Homens Mulheres

    N % N % N % N %

    s/instruo e

    menos de 1 ano 8.540.987 13,6 8.882.111 13,2 8.003.731 10,8 8.540.883 10,8

    de 1 a 4 anos

    de estudo 21.677.299 34,4 21.547.950 32,1 20.841.898 28,2 20.401.494 25,8

    de 5 a 8 anos

    de estudo 17.904.695 28,4 18.492.870 27,6 20.696.292 28,0 21.144.264 26,8

    de 9 a 11 anos

    de estudo 10.317.438 16,4 12.789.672 19,1 17.541.178 23,8 20.357.372 25,8

    12 anos de

    estudo e mais 4.275.768 6,8 5.056.635 7,5 6.335.833 8,6 8.094.191 10,3

    no determinado/

    sem declarao 303.546 0,5 306.819 0,5 376.012 0,5 407.254 0,5Total 63.019.733 100,0 67.076.057 100,0 73.794.944 100,0 78.945.458 100,0

    Fonte: FIBGE/PNADs-Microdados.

    N = nmero absoluto.

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    550 Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 132, set./dez. 2007

    Maria Cristina Aranha Bruschini

    tempo pela marca da precariedade, que tem atingido uma importante parcelade trabalhadoras. Entretanto, no contraponto das ocupaes precrias, mulhe-

    res instrudas, alm de continuar marcando presena em tradicionais guetosfemininos, como o magistrio e a enfermagem, tm adentrado tambm reasprofissionais de prestgio, como a medicina, a advocacia, a arquitetura e atmesmo a engenharia, tradicional reduto masculino. Esta poderia ser conside-rada uma das faces do progresso alcanado pelas mulheres, no que tange suaparticipao no mercado de trabalho.

    Os indcios para a escolha das carreiras universitrias nas quais a presena

    das mulheres vem se fazendo sentir de forma mais expressiva vieram de estu-do anterior, que analisou informaes dos Censos Mo-de-Obra de 1980 e1991 e mostrou aumentos significativos nos percentuais de presena feminina

    TABELA 8ENSINO SUPERIOR: CONCLUINTES DO SEXO FEMININO

    SEGUNDO AS REAS DE CONHECIMENTO NO BRASIL

    rea deConcluintes

    Conhecimento

    1994 2005

    Total Mulheresparcela

    Total Mulheresparcela

    feminina (%) feminina (%)

    Brasil 245.887 150.339 61,1 717.858 446.724 62,2

    Educao 26.158 24.119 92,2 199.392 161.695 81,1

    Humanidades e artes 26.323 20.630 78,4 24.810 16.108 64,9

    Cincias Sociais,

    negcios e direito 100.979 55.298 54,8 277.572 150.958 54,4

    Cincias, matemtica

    e computao 30.175 17.657 58,5 56.436 22.061 39,1

    Engenharia, produo

    e construo 19.491 5.081 26,1 36.918 10.892 29,5

    Agricultura e

    veterinria 5.274 1.671 31,7 11.874 4.834 40,7

    Sade e bem-estarsocial 35.687 24.621 69,0 90.610 66.600 73,5

    Servios 1.435 1.110 77,4 20.246 13.576 67,1

    Fonte: MEC/Inep - Censos do ensino superior: tabulaes especiais.

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    Trabalho e gnero no Brasil...

    em algumas delas (Bruschini, 1998). Para analisar essas carreiras em maiorprofundidade e atualidade, optamos por consider-las em seu segmento for-malizado, utilizando informaes da Rais11, do Ministrio do Trabalho, para os

    anos de 1990 a 200412, a fim de apreender a evoluo da participao da mu-lher ao longo do tempo. Uma anlise mais aprofundada da insero feminina nascarreiras universitrias escolhidas foi realizada para o ano mais recente.

    A primeira observao que deve ser feita em relao a essas carreiras a consolidao da presena feminina entre esses profissionais, ao longo dadcada de 90. Na categoria dos engenheiros, por exemplo, a participao dasmulheres, que era de 12% em 1993, atinge 14% em 2004. Entre os arquite-

    tos, a fatia feminina bem mais substantiva. Na mesma data, mais da metadeda categoria (54%) composta de mulheres, dado que consolida a tendnciade feminizao da profisso, uma vez que as mulheres j ocupavam cerca de52% dos empregos dessa rea em 1993. Tambm entre os mdicos a progres-so se confirmou: 41,3% da categoria composta de mulheres em 2004, ante36% em 1993. Em todos os grupos da rea jurdica advogados, procurado-res, juzes, promotores e consultores jurdicos no foi menos significativo oincremento de mulheres. Esse um mundo do trabalho segmentado segundoos profissionais se enquadrem em dois tipos de carreira: os chamados profis-sionais do direito, que engloba todos os funcionrios vinculados ao poderpblico, aos quais vetado o exerccio da advocacia e os demais advogados econsultores jurdicos que exercem a advocacia como profissionais liberais ouassalariados de sindicatos, empresas pblicas ou privadas. Em todas essas car-reiras verificou-se o mesmo movimento de progresso, assim considerado oincremento percentual da participao de mulheres. Em todas elas, o sexo fe-

    minino passa a representar, em 2004, mais de 40% da categoria profissional.O caso da magistratura tambm exemplar, pois as juzas, que ocupavam22,5% dos postos em 1993, chegaram a mais de 34% na ltima data exami-nada (Tab. 9).

    11. Essa fonte de dados cobre somente o mercado formal de trabalho, pois composta por

    registros administrativos fornecidos pelas empresas. Sua unidade so vnculos de emprego oupostos de trabalho, e no empregados.

    12. Devido a problemas tcnicos ocorridos no processamento da Rais/2005, foi preciso estabele-cer o ano de 2004 como data limite, nesta tabela e nas seguintes que apresentam dados da Rais.

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    Maria Cristina Aranha Bruschini

    O ingresso das mulheres nessas boas ocupaes teria sido resultado daconvergncia de vrios fatores. De um lado, uma intensa transformao cultu-ral, a partir do final dos anos 60 e, sobretudo, nos 70, na esteira dos movimen-

    tos sociais e polticos dessa dcada, impulsionou as mulheres para as universi-

    dades, em busca de um projeto de vida profissional e no apenas domstico.A expanso das universidades pblicas e, principalmente, privadas, na mesmapoca, foi ao encontro desse anseio feminino. De outro lado, a racionalizaoe as transformaes pelas quais passaram essas profisses abriram novas pos-sibilidades para as mulheres que se formaram nessas carreiras, ampliando oleque profissional feminino para alm dos guetos tradicionais. Tanto a medi-cina, como a arquitetura e a advocacia tm passado por processos de especia-

    lizao e assalariamento, em detrimento da antiga autonomia profissional. Asrepresentaes sociais, construdas tanto pela sociedade como pelas prpriascategorias, tambm esto se modificando, particularmente no que diz respei-

    to ao seu perfil liberal, o que repercute no nvel de prestgio estatusatribudoa esses profissionais (Bruschini, Lombardi, 1999; 2000).

    A anlise de algumas caractersticas do perfil desses profissionais segun-do o sexo para o ano de 2004 demonstra, inicialmente, que elas so mais jo-

    vens do que os homens em todas as profisses consideradas 63% das enge-

    nheiras, 47% das arquitetas, 44% das mdicas, 68% das advogadas e mais dametade das procuradoras e das juzas tem menos de 39 anos. Outra diferenaem relao ao padro masculino, que ocorre apenas entre os engenheiros,

    TABELA 9PARTICIPAO FEMININA EM OCUPAES SELECIONADAS

    BRASIL

    Ocupaes 1993 2004Total % de mulheres Total % de mulheres

    Mdicos 135.089 36,3 202.733 41,3

    Advogados 25.404 35,1 37.682 45,9

    Procuradores e advogados pblicos 6.508 40,6 6.694 43,3

    Magistrados 10.818 22,5 11.337 34,4

    Membros do Ministrio Pblico _ _ 6.159 40,9

    Engenheiros 142.686 11,6 139.300 14,0

    Arquitetos 7.118 51,5 8.472 54,1

    Fonte: MTE - Rais: 1993 e 2004.

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    Trabalho e gnero no Brasil...

    a maior importncia do emprego no setor pblico para as engenheiras (17,4%delas e apenas 10,5% deles); nas demais profisses em anlise, o servio p-blico mostra-se igualmente importante na colocao de homens e mulheres.

    Em relao jornada de trabalho, as e os profissionais em anlise trabalhamaproximadamente o mesmo nmero de horas, exceto no caso dos engenhei-ros: nesse caso, eles tm jornada de trabalho mais longa do que elas, mas nosdemais so elas que os superam em termos de carga horria. Finalmente, em

    todas as carreiras, persiste o diferencial de rendimentos entre um e outro sexo,exceo feita aos juzes e procuradores, que apresentam rendimentos bastan-

    te semelhantes para ambos os sexos. Para dar um exemplo, ganham mais de

    20 salrios mnimos mensais: 32% dos engenheiros, mas 17% das engenhei-ras; 19% dos arquitetos e 15% das arquitetas; 8,4% dos mdicos e 7% dasmdicas; 29% dos advogados e 24% das advogadas. Esse mesmo padro per-siste desde a dcada de 1990, conforme se demonstrou em estudos anterio-res (Bruschini, Lombardi, 1999; 2000), conforme pode ser visto na tabela 10.

    Executivas em cargos de diretoria em empresas do setor formal

    Estudo de Bruschini e Puppin (2004), realizado com dados para o ano2000, mostrou que 24% dos 42.276 cargos de diretoria computados pela Raiseram ocupados por mulheres, dado surpreendente, em face do conhecimentodisponvel, nos estudos sobre o trabalho feminino, sobre a dificuldade de aces-so das trabalhadoras a cargos de chefia. As informaes obtidas para 2004 re-

    velaram que, nessa data, cerca de 31% dos 19.167 cargos de diretores geraisde empresas do setor formal eram ocupados por mulheres. Entretanto, ao ana-

    lisar a presena feminina em tais cargos segundo ramos de atividade, foi poss-vel constatar que os empregos femininos predominavam na administrao p-blica, na educao mais de 50% e em outras reas sociais, como sade eservios sociais, com 46% dos cargos de diretoria ocupados por mulheres.

    Ao considerar os cargos de diretoria em sua especificidade, foi possvelconstatar que a grande maioria deles, nas empresas de servios de sade, edu-cao e cultura, eram ocupados por mulheres (75%), enquanto entre os dire-

    tores de produo e operaes, ou mesmo nas reas de apoio, o percentualde empregos ocupados por mulheres significativamente mais baixo: 21% noprimeiro caso e 30% no segundo (Tab. 12).

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    CadernosdePesquisa,v.37,n.132,set./dez.2007

    TABELA 10OCUPAES SELECIONADAS: PRINCIPAIS CARACTERSTICAS D

    BRASIL, 2004

    OCUPAES

    Caractersticas do empregoAdvogados Procuradores e Juzes Engenhei

    consultores jurdicos

    H M H M H M H M

    IDADE

    At 29 anos 22,4 32,7 12,2 13,3 6,9 10,8 19,9 2

    De 30 a 39 anos 30,0 35,4 31,9 37,7 31,3 42,7 27,8 3

    40 anos e mais 47,6 31,9 55,9 49,0 61,8 46,5 52,3 3

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 10

    VNCULO DE TRABALHO

    CLT por tempo indeterminado 70,5 71,5 5,6 4,7 0,1 0,2 87,7 8

    Servidor pblico 28,4 27,7 94,1 95,1 99,8 99,7 10,5

    CLT por tempo determinado 0,3 0,2 0,05 0,1 0,0 0,0 0,6

    Outros tipos de vnculo 0,7 0,6 0,2 0,1 0,1 0,08 1,2

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 10

    TEMPO DE PERMANNCIA NO EMPREGO

    At 3 anos 43,5 48,6 21,9 20,6 15,3 16,8 43,1 4Mais de 3 a menos de 5 anos 15,0 14,7 13,7 12,2 8,3 9,3 13,5

    De 5 a menos de 10 anos 15,8 15,7 18,2 17,1 25,1 32,2 12,8

    10 anos e mais 25,6 20,9 46,2 50,0 51,2 41,7 30,6 2

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 10

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    CadernosdePes

    quisa,v.37,n.132,set./dez.20

    07

    TAMANHO DO ESTABELECIMENTO

    At 99 empregados 33,8 31,4 6,2 4,4 0,5 0,5 28,0 2

    De 100 499 empregados 28,3 25,6 33,3 30,7 4,4 3,1 27,9 2

    500 e mais 37,9 43,0 60,5 64,9 95,1 96,5 44,1 4

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 10

    HORAS SEMANAIS TRABALHADAS

    At 30 horas 18,9 15,6 19,4 17,4 31,5 24,4 6,4

    De 31 a 40 horas 39,0 41,5 72,7 75,9 60,4 66,4 35,9 3De 41 a 44 horas 42,1 42,9 7,9 6,7 8,0 9,2 57,7 5

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 10

    RENDIMENTO MDIO MENSAL

    At 10 SM 42,8 45,9 24,6 22,6 0,7 0,5 29,4 4

    Mais de 10 a 20 SM 28,6 30,4 16,0 18,0 2,0 1,7 38,4 3

    Mais de 20 SM 28,6 23,5 59,3 59,3 97,3 97,7 32,0 1

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 10

    Fonte: MTE-Rais, 2004.H = Homens, M= Mulheres

    OCUPAES

    Caractersticas do empregoAdvogados

    Procuradores eJuzes Engenheir

    consultores jurdicos

    H M H M H M H M

    (continuao)

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    Maria Cristina Aranha Bruschini

    TABELA 11PRESENA FEMININA NO CARGO DE DIRETOR GERAL,

    SEGUNDO O RAMO DE ATIVIDADE DA EMPRESABRASIL, 2004

    Ramos de atividade*

    Diretores gerais**

    Total Mulheres

    N. Absoluto N. Absoluto (%)

    Agricultura, pecuria, silvicultura e explorao florestal 229 30 13,1

    Pesca 9 0 0,0

    Indstrias extrativas 62 6 9,7

    Indstrias de transformao 3.417 407 11,9

    Produo e distribuio de eletricidade, gs e gua 259 49 18,9

    Construo 348 34 9,8

    Comrcio, reparao de veculos automotores, objetos pessoais

    e domsticos 3.399 914 26,9

    Alojamento e alimentao 237 74 31,2

    Transporte, armazenagem e comunicaes 848 125 14,7

    Intermediao financeira, seguros, prev. complementar e

    serv. relacionados 812 118 14,5Atividades imobilirias, aluguis e servios prestados s empresas 1.985 463 23,3

    Administrao pblica, defesa e seguridade social 5.010 2.659 53,1

    Educao 847 436 51,5

    Sade e servios sociais 316 144 45,6

    Outros servios coletivos, sociais e pessoais 1.384 377 27,2

    Organismos internacionais e outras instituies extraterritoriais 4 2 50,0

    Total 19.167 5.839 30,5

    Fonte: MTE-Rais, 2004.* Ramos de Atividade de acordo com a classificao Nacional de Atividades Econmicas CNAE,/1995.** Classificao Brasileira de Ocupaes CBO/2002, Famlia Ocupacional 1210.

    A pesquisa de Bruschini e Puppin (2004) revela que as diretoras tm perfilsemelhante ao das profissionais descritas no tpico anterior. Elas so mais jovensdo que os colegas em cargo similar e esto no emprego h menos tempo do que

    eles. Segundo os dados dessa pesquisa, mais de 80% das diretoras tinham me-nos de 50 anos, em comparao a 64% dos diretores, e 47% delas, mas 44%deles estavam no emprego h menos de trs anos. Como em todas as profis-ses analisadas anteriormente, assim como no mercado de trabalho em geral,

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    Trabalho e gnero no Brasil...

    TABELA 12PRESENA FEMININA EM CARGOS DE DIRETORIA,

    SEGUNDO AS FAMLIAS OCUPACIONAIS ADOTADAS PELACLASSIFICAO BRASILEIRA DE OCUPAES - CBO 2002

    BRASIL, 2004

    Famlias

    Diretores Total MulheresParcela

    ocupa-feminina

    cionais

    Diretores de produo e operaes 8.117 1.714 21,1

    1221 Diretores de produo e operaes em empresa agropecuria,

    pesqueira, aqcola e florestal 382 60 15,7

    1222 Diretores de produo e operaes em empresa da indstriaextrativa, transformao e de servios de utilidade pblica 1.417 137 9,7

    1223 Diretores de operaes de obras em empresa de construo 675 58 8,6

    1224 Diretores de operaes em empresa do comrcio 788 171 21,7

    1225 Diretores de operaes de servios em empresa de turismo,

    de alojamento e de alimentao 499 132 26,5

    1226 Diretores de operaes de servios em empresa de

    armazenamento, de transporte e de telecomunicao 3.470 993 28,6

    1227 Diretores de operaes de servios em instituio deintermediao financeira 886 163 18,4

    Diretores de reas de apoio 38.957 11.489 29,5

    1231 Diretores administrativos e financeiros 28.779 9.402 32,7

    1232 Diretores de recursos humanos e relaes de trabalho 1.349 600 44,5

    1233 Diretores de comercializao e marketing 5.762 964 16,7

    1234 Diretores de suprimentos e afins 543 129 23,8

    1236 Diretores de servios de informtica 922 126 13,7

    1237 Diretores de pesquisa e desenvolvimento 532 86 16,2

    1238 Diretores de manuteno 1.070 182 17,0

    Diretores em empresas de servios de sade, da educao ou

    de servios culturais, sociais ou pessoais 39.534 29.600 74,9

    1311-05; Diretores de operaes em empresa de servios pessoais,

    1311-10 sociais e culturais 2.368 1.154 48,7

    1312-05 Diretores de operaes em empresa de servios de sade 4.969 2.949 59,3

    1313-05;

    1313-10 Diretores de instituio de servios educacionais 32.197 25.497 79,2

    TOTAL 86.608 42.803 49,4

    Fonte: MTE-Rais, 2004.

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    Maria Cristina Aranha Bruschini

    tambm as diretoras de empresas do setor formal obtm rendimentos inferio-res aos dos seus colegas de mesmo nvel. necessrio lembrar que a remune-rao em empregos de nveis mais elevados como os analisados neste tpico

    costuma ser muito mais elevada do que aquela recebida por trabalhadores deoutros nveis ocupacionais, razo pela qual 50% dos diretores de empresa ante30% das diretoras analisados por Bruschini e Puppin ganhavam, em 2000, maisde 15 salrios mnimos ou no declaravam seus salrios (categoria ignorado).O diferencial de gnero nas faixas de rendimento desses profissionais permane-ce em 2004, apesar do nvel elevado. Nessa data, ganhavam mais de 15 salriosmnimos 41% dos diretores, mas apenas 16% das diretoras (Tab.13).

    TRAOS RECORRENTES NO TRABALHO FEMININO

    Diferenciais de gnero na ocupao da mo-de-obra brasileira

    No que tange ocupao da mo-de-obra brasileira na dcada de 90 enos primeiros anos do novo milnio13, os dados das PNADs sinalizam para a

    TABELA 13EMPREGOS PARA DIRETORES GERAIS,

    SEGUNDO O SEXO E A REMUNERAO MDIA MENSALBRASIL, 2004

    Faixas de RendimentoHomens Mulheres Total

    N. % N. % N. %

    At 3 SM* 3.670 27,5 2.323 39,8 5.993 31,3

    De 3 a 7 SM 2.022 15,2 1.521 26,0 3.543 18,5De 7 a 15 SM 1.717 12,9 1.043 17,9 2.760 14,4

    Mais de 15 SM 5.476 41,1 919 15,7 6.395 33,4

    Ignorado 443 3,3 33 0,6 476 2,5

    Total 13.328 100,0 5.839 100,0 19.167 100,0

    Fonte: MTE-Rais, 2004.SM: salrios-mnimos.

    13. No conceito de ocupao utilizado pelo IBGE incluem-se as pessoas que tinham trabalho nasemana de referncia da pesquisa e aquelas que no exerceram o trabalho remunerado pormotivo de frias, licena, greve etc.

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    Trabalho e gnero no Brasil...

    persistncia dos j conhecidos padres diferenciados de insero feminina emasculina segundo setores ou grupos de atividades econmicas: pela ordem,os setores do mercado de trabalho nos quais as trabalhadoras continuam encon-

    trando maiores oportunidades de trabalho e emprego so a prestao de ser-vios, a agropecuria, o setor social14, o comrcio de mercadorias e a inds-tria. A fora de trabalho masculina, por sua vez, manteve presena signif icativa,tambm pela ordem, na indstria, nos trabalhos ligados agropecuria, nocomrcio de mercadorias e na prestao de servios. Em 2005, devido novaclassificao de atividades econmicas adotada pelo IBGE desde o Censo de2000, pde-se perceber melhor como se distribuem as mulheres ocupadas no

    setor servios. Nesse ano, o setor ocupava a maior parte das trabalhadoras,quase 40% delas concentradas em trs subsetores, a saber, educao, sadee servios sociais, servios domsticos e outros servios coletivos, pessoaise sociais. Esses padres estruturais da ocupao feminina e masculina no sealteraram no perodo em anlise, embora tenham sido verificadas oscilaesconjunturais devidas s instabilidades econmicas e polticas ocorridas no pasna dcada anterior15(Tab. 14).

    No que diz respeito posio na ocupao denominao atribuda peloIBGE aos variados tipos de vnculos de trabalho que se estabelecem no merca-do , nota-se que, tanto em 1993 como em 2005, prevalecem para ambos ossexos os empregados, categoria na qual se inclui tanto uma parcela formaliza-da os com carteira de trabalho assinada pelo empregador, os estatutrios e aque-les/as com outros tipos de contrato , quanto uma parcela informal, empregadasem nenhuma forma de proteo contratual. No perodo analisado, houve au-mento do contingente de empregadas, mais do que de empregados (Tab. 15).

    14. So considerados como integrantes do Setor Social, conforme definio do IBGE, os Servioscomunitrios e sociais, os Servios mdicos, odontolgicos e veterinrios e o Ensino.

    15. A dcada de 90 foi marcada por importantes eventos de natureza econmica, poltica e so-cial. Especialmente conturbado foi o perodo 1986-1994, durante o qual o pas conviveu comnada mesmo que seis planos de estabilizao econmica. Os anos 90 e, na seqncia, osprimeiros anos do novo milnio identificam-se pela reduo do mercado formal de trabalhoe pelo respectivo aumento de formas mais precrias de contratao, como o assalariamento

    sem carteira assinada, o trabalho autnomo para o pblico, pelo aumento das taxas de de-semprego e pela queda nos rendimentos do trabalho. Durante o perodo analisado consoli-da-se o processo de terciarizao da economia e a conseqente perda do poder de geraode emprego da indstria de transformao (Dieese, 2001).

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    Maria Cristina Aranha Bruschini

    TABELA 14DISTRIBUIO DOS OCUPADOS POR SEXO E SETOR DE ATIVIDADE BRASIL

    BRASIL, 2005

    Grupamentos de atividade 2005HOMENS MULHERES

    Agrcola 23,68 16,02

    Outras atividades industriais 1,17 0,23

    Indstria de transformao 15,22 12,67

    Construo 10,88 0,40

    Comrcio e reparao 18,94 16,18

    Alojamento e alimentao 3,14 4,36

    Transporte, armazenagem e comunicao 6,82 1,43

    Administrao pblica 5,22 4,45

    Educao, sade e servios sociais 3,44 16,14

    Servios domsticos 0,90 16,93

    Outros servios coletivos, sociais e pessoais 2,71 5,26

    Outras atividades 7,51 5,88

    Atividades mal definidas ou no declaradas 0,36 0,04

    Total % 100,00 100,00Milhes 50.436.228 36.653.748

    Fonte: FIBGE/PNADsMicrodados.

    TABELA 15DISTRIBUIO DOS OCUPADOS POR SEXO E POSIO NA OCUPAO

    BRASIL

    Brasil

    Posio na ocupao1993 2005

    homens mulheres homens mulheres

    Empregados 58,6 42,7 60,4 47,9

    Trabalhadores domsticos 0,7 16,6 0,9 16,9

    Autnomos / contas prprias 25,4 15,8 25,5 16,2

    Empregadores 4,9 1,5 5,4 2,6

    No remunerados 8,6 13,5 5,2 9,0

    Consumo prprio* 1,9 9,9 2,7 7,3

    Total ( % ) 100,0 100,0 100,0 100,0Milhes 40,6 26,0 50.436.228 36.653.748

    Fonte: FIBGE/PNADs-Microdados.* Consumo e construo prprios ou para o grupo familiar.

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    Trabalho e gnero no Brasil...

    Ressalte-se, entretanto, que a insero das mulheres no mercado detrabalho brasileiro tem sido caracterizada atravs do tempo pela precarieda-de, que tem atingido uma importante parcela de trabalhadoras. Em 2005, nada

    menos que 33% da fora de trabalho feminina ou 12 milhes de mulheres si-tuavam-se em nichos precrios, ou de menor qualidade, no mercado de tra-balho, seja como trabalhadoras domsticas (mais de 6,2 milhes), seja reali-zando atividades no remuneradas (3,3 milhes) ou trabalhos na produo parao consumo prprio ou do grupo familiar, (2,7 milhes), conforme na tabela 16pode ser demonstrado16.

    O trabalho domstico, ou seja, o emprego domstico remunerado, o

    nicho ocupacional feminino por excelncia, no qual mais de 90% dos traba-lhadores so mulheres. Ele se manteve como importante fonte de ocupao,praticamente estvel at 2005, absorvendo 17% da fora de trabalho. Essepercentual tem diminudo no tempo, uma vez que em 1970, absorvia mais de1/4 da mo-de-obra feminina (Bruschini, Lombardi, 2000). A ocupao de tra-balhadora domstica ainda representa nos dias de hoje oportunidade de colo-cao para mais de 6 milhes de mulheres no mercado de trabalho brasileiroe considerada precria em razo das longas jornadas de trabalho desenvol-

    vidas pela maioria das trabalhadoras, pelo baixo ndice de posse de carteira detrabalho (apenas 25% delas) e pelos baixos rendimentos auferidos (96% ga-nham at dois salrios mnimos).

    Outras formas de ocupao mais precrias, quais sejam, o trabalho noremunerado e aquele executado na produo para o consumo prprio ou daunidade familiar so predominantemente desenvolvidas no setor agrcola, emstios, fazendas e chcaras. Tambm no setor agrcola 10% das mulheres tra-

    balhavam na produo para consumo prprio ou do grupo familiar em 1993,e em 2005, esse percentual caiu para 7% delas. Apesar do predomnio no setoragrcola, entretanto, h uma parcela no desprezvel de cerca de 30% das tra-balhadoras no remuneradas ocupadas em outros setores em 2005, assim dis-

    16. Ressalte-se que as categorias trabalhadores domsticos, trabalhadores para consumo pr-prio ou do ncleo familiar surgem nas PNADs a partir de 1992. A primeira delas, desagregada

    dos empregados e a ltima, dos no-remunerados. O refinamento da classificao, por-tanto, permite a melhor visualizao da ocupao feminina, particularmente pela desagrega-o dos empregados domsticos da categoria empregados, apesar de trazer problemas anlise das sries longitudinais referentes ao trabalho das mulheres.

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    Maria Cristina Aranha Bruschini

    tribudas: 16% no comrcio, 9% na prestao de servios e 8% na indstriade transformao. Note-se que a participao das no-remuneradas no comr-cio, nos servios e na indstria cresceu entre 1993 e 2005, o que poderia ser

    considerado um indicador de precarizao das relaes de trabalho femininaspara alm do mbito agrcola. A anlise da idade dessas mulheres pode trazeralgumas luzes sobre o seu perfil. Tanto entre as no-remuneradas como entreas que produzem para o consumo prprio, predominam as mulheres madu-ras e mais velhas. Em 2005, 59% das no-remuneradas tinham mais de 30 anos,assim como 77% das que trabalhavam na produo para o prprio consumo(Tab. 16).

    Mercado formal e estrutura ocupacional

    A parcela formal da ocupao, isto , os empregos nos quais existealgum tipo de contrato entre as partes, tradicionalmente reduzida no pas emenor entre as mulheres. Em 2005 a ocupao formalizada considerados osempregados com carteira assinada, os militares e estatutrios representava37% da ocupao total no pas, sendo 39% da ocupao masculina e 35% da

    feminina. Contudo, ao adicionar quele contingente de trabalhadores as em-pregadas domsticas que possuem registro em carteira de trabalho (apenas 1/4 delas, como referido anteriormente), a ocupao formal masculina e femini-na passa a se equiparar, cerca de 39% (Tab.17).

    importante realar que o processo de enxugamento de postos de tra-balho formalizados, que se verificou com especial intensidade nos anos 90, pa-rece ter afetado em maior medida os homens do que as mulheres: no perodo

    1985/2004, a parcela feminina no mercado formal aumentou de 32,4% para40%,enquanto a parcela masculina, no mesmo perodo, declinou(Tab. 18).A estrutura desses empregos, contudo, praticamente no se altera du-

    rante todo o perodo. Em outras palavras, a natureza do vnculo empregatciodemonstra uma regularidade que tem atravessado o perodo em anlise. Agrande maioria dos empregos, tanto masculinos, como femininos, regida pelaConsolidao das Leis Trabalhistas CLT; no entanto, o peso deste tipo de

    vnculo mostrou-se declinante no conjunto dos empregos femininos, de 1995a 2004. O percentual de empregos femininos no servio pblico, por sua vezno chamado regime estatutrio, permaneceu praticamente igual no mesmoperodo, evidenciando a persistncia da importncia desse setor na absoro

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    Trabalho e gnero no Brasil...

    TABELA 16ALGUMAS CARACTERSTICAS DA OCUPAO FEMININA EM POSIES MAIS PRECRIAS

    BRASIL

    Posio na ocupao/indicadores 1993 2005TRABALHADORAS DOMSTICAS * 16,6 16,9

    (N: 6.206.202)

    > idade

    at 19 anos 27,0 10,4

    de 20 a 29 27,4 24,5

    de 30 a 49 36,2 50,6

    50 e mais 9,4 14,5

    > no possuem carteira de trabalho 83,9 74,8> setor de atividade

    prestao de servios 100,0 100,0

    > ganham at 2 salrios mnimos 96,5 96,4

    NO REMUNERADAS * 13,5 9,0

    (N: 3.310.119)

    > idade

    at 19 anos 31,5 22,2

    de 20 a 29 18,4 18,7

    de 30 a 49 34,1 37,1

    50 e mais 15,9 22,0

    > setor de atividade

    agrcola 71,2 64,0

    comrcio 14,0 15,5

    prestao de servios (1) 8,0 9,2

    indstria de transformao 3,9 8,4

    CONSUMO PRPRIO * 9,9 7,3

    (N: 2.676.778)

    > idade

    at 19 anos 10,4 8,5

    de 20 a 29 18,5 14,8

    de 30 a 49 35,4 34,5

    50 e mais 35,6 42,1

    > setor de atividadeagrcola 100,0 99,4

    Fonte: FIBGE/PNADs-Microdados.* Porcentagem de participao no total da mo-de-obra feminina em cada ano: alimentao; serviosdomsticos; outros servios coletivos, sociais e pessoais; outras atividades.

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    Maria Cristina Aranha Bruschini

    TABELA 17OCUPAO FORMALIZADA* COMO PROPORO DE OCUPAO TOTAL

    BRASIL

    2002 2005Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

    Total Ocupados (NA) 78.179.622 45.877.459 32.302.163 87.089.976 50.436.228 36.653.748

    A - Empregados com

    carteira assinada 22.929.780 14.838.263 8.091.517 27.046.296 17.386.185 9.660.111

    B - Militares e

    estatutrios 4.991.101 2.208.416 2.782.685 5.490.792 2.380.455 3.110.337

    C - Trabalhadores

    domsticos com

    carteira assinada 1.558.970 171.238 1.387.732 1.746.856 181.831 1.565.025

    A+B+C (Ocupao

    formalizada) 29.479.851 17.217.917 12.261.934 34.283.944 19.948.471 14.335.473

    Proporo de ocupados formalizados, exclusive empregados domsticos (%)

    A 29,3 32,3 25,0 31,1 34,5 26,4

    B 6,4 4,8 8,6 6,3 4,7 8,5

    A+B 35,7 37,2 33,7 37,4 39,2 34,8Proporo de ocupados formalizados, inclusive empregados domsticos (%)

    A 29,3 32,3 25,0 31,1 34,5 26,4

    B 6,4 4,8 8,6 6,3 4,7 8,5

    C 2,0 0,4 4,3 2,0 0,4 4,3

    A+B+C 37,7 37,5 38,0 39,4 39,6 39,1

    Fonte: FIBGE/PNADs-Microdados.* Consideradas como ocupaes formalizadas os empregados com carteira assinada, os militares, osestatutrios e os trabalhadores domsticos com carteira assinada.

    da fora de trabalho feminina, muito provavelmente nas reas da educao eda sade: se em 1995 eram contratados sob esse regime, 31% dos empregos

    femininos, em 2004 esse percentual praticamente no sofreu alterao, comose observa a seguir (Tab. 19).

    A estrutura ocupacional do mercado de trabalho brasileiro apresenta

    tendncias recorrentes que pouco tm-se alterado nos ltimos 30 anos. Noemprego formal, como apresentado, para 2002, no banco de dados sobreo trabalho feminino da Fundao Carlos Chagas (srie Mercado de Trabalho e

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    Trabalho e gnero no Brasil...

    TABELA 18PARCELA FEMININA DENTRE OS EMPREGOS FORMAIS

    BRASIL

    Anos Total de vnculos formais Parcela feminina(milhes) (milhes) %

    1985 20,4 6,6 32,4

    1988 23,3 7,9 33,9

    1992 22,3 8 35,9

    1995 23,6 8,8 37,3

    1998 24,5 9,4 38,4

    2002 28,7 11,4 39,7

    2004 31.407.576 12.561.859 40,0

    Fonte: MTE - Rais; 1985/1988 Anurio Rais tab.I.4; 1992 em diante CD-ROM.

    TABELA 19DISTRIBUIO DOS EMPREGADOS POR SEXO

    E NATUREZA DO VNCULO EMPREGATCIOBRASIL

    Natureza do vnculo1995 2004

    Homens Mulheres Homens MulheresCLT 83,7 68,3 77,8 67,1

    Estatutrio 15,2 31 15,2 30,6

    Outros* 1,2 0,7 6,9 2,3

    Total ( % ) 100,0 100,0 100,0 100,0

    Milhes 14,8 8,8 18.845.717 12.561.859

    Fonte: MTE - Rais 1995 e 2004.

    * Incluem-se trabalhadores avulsos, temporrios, menores aprendizes, diretores sem vnculo mascom Fundo de Garantia por Tempo de Servio FGTS recolhido pela empresa; outros contratospor prazo determinado e tipos de vnculo ignorado (este apenas nos primeiros anos da srie).

    Estrutura Educacional, subsrie Mercado Formal), representam continuidadesno padro de ocupao das mulheres, a elevada presena feminina em ocupa-es de setores tradicionais da indstria, como o caso de costureiras na in-dstria da confeco, bem como a persistncia de enorme contingente de

    mulheres em ocupaes dos servios de cuidado pessoal, higiene e alimenta-o, como o caso das cabeleireiras e especialistas em esttica em geral, dasfaxineiras,arrumadeiras em domiclios e hotis, lavadeiras, tintureiras e cozi-

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    Maria Cristina Aranha Bruschini

    nheiras. Persistem tambm os tradicionais guetos femininos, como a enferma-gem (89% dos enfermeiros, 84% dos tcnicos de enfermagem e 82% do pes-soal de enfermagem eram do sexo feminino em 2002), a nutrio (93% dos

    nutricionistas eram mulheres), a assistncia social (91%), a psicologia (89% demulheres), o magistrio nos nveis pr-escolar (95%), fundamental (88%) e m-dio (74%), alm das secretrias (85%), auxiliares de contabilidade e caixas (75%).

    Desemprego e rendimentos do trabalho

    As mulheres tm sido especialmente atingidas pelo desemprego. Des-

    de meados dos anos 90, tm-se verificado maiores taxas de desemprego en-tre elas do que entre os homens. Segundo os estudiosos, um dos fatores quecontribui para esse resultado o contnuo aumento da populao economica-mente ativa feminina, ou seja, de mulheres que ingressam no mercado de tra-balho procura de emprego17. Ramos e Brito (2003), utilizando dados da Pes-quisa Mensal de Emprego PME do IBGE, para seis regies metropolitanasdo pas, mostram que entre 1991 e 2002 houve um aumento da participaodas mulheres entre os desempregados: segundo esses autores, a parcela fe-minina entre os desempregados passou de 39% em 91 para 46% em 2002.Informaes mais recentes, tambm da PME/IBGE, para as seis regies me-

    tropolitanas do pas, revelam que o diferencial de gnero persiste na popula-o brasileira, no que diz respeito s taxas de desemprego: em 2005, no pe-rodo de janeiro a abril, enquanto a taxa feminina de desemprego foi de 13,5,a masculina foi de 8,3 (Boletim Mercado deTrabalho, 2006)

    O nvel de ganhos dos brasileiros reconhecidamente baixo e as mu-

    lheres brasileiras como as mulheres de todo o mundo ganham ainda me-nos do que os homens18. A evoluo da distribuio do rendimento do traba-

    17. Esse raciocnio faz sentido ao considerar que o desemprego definido como a procura deemprego, sem sucesso, em determinado perodo de referncia e que a PEA composta deocupados e desocupados, ou seja, aqueles que esto procura de emprego. Ao aumentar oingresso macio das mulheres na PEA, aumenta tambm sua procura de emprego, ou seu

    nvel de desocupao.18. E mulheres ganhando menos que os homens uma situao recorrente no s no Brasil,

    como em todo o mundo. No Japo, em 2000, por exemplo, elas recebiam 65,5% do salriodos homens; na Frana, em 1999, a porcentagem era 75,2% (United Nations, 2005).

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    Trabalho e gnero no Brasil...

    lho de todos os brasileiros no perodo analisado neste texto indicada por umaumento das propores de trabalhadores(as) com menores rendimentos,refletindo a queda dos ganhos advindos do trabalho na populao ocupada: se

    em 1993, 48% dos homens recebiam at dois salrios mnimos, em 2005 essaporcentagem passou a ser de 58%; quanto s mulheres, os ndices encontra-dos foram 55% em 1993 e 63% em 2005, sendo que, nesta data, 36% das

    trabalhadoras auferiam rendimentos inferiores a um salrio mnimo (Tab. 20).As mais baixas remuneraes recebidas pelas mulheres, se comparadas s

    dos homens, so reafirmadas quando se consideram os setores econmicos, osgrupos de horas trabalhadas, a posio na ocupao e os anos de estudo. Por

    exemplo, na indstria de transformao, em que as relaes de trabalho tendema ser mais formalizadas, enquanto 46% dos ocupados recebiam, em 2002, atdois salrios mnimos, 73% das ocupadas se situavam na mesma faixa de renda.No setor denominado educao, sade e servios sociais, no qual o trabalho bastante feminizado, 49% delas ganhavam at 2 SM, ante apenas 35% dosocupados; na administrao pblica, outro tradicional nicho de insero femini-na no mercado de trabalho, recebiam at dois salrios mnimos 46% das traba-lhadoras e 32% dos trabalhadores. A situao subordinada da mulher no mer-cado de trabalho se revela tambm pela expressiva proporo das trabalhadorasno setor agrcola que no auferem rendimento (81%), diante de apenas 27% doshomens (Fundao Carlos Chagas, 2007).

    TABELA 20DISTRIBUIO DOS OCUPADOS POR SEXO E FAIXAS DE RENDIMENTO

    BRASIL

    Classes de rendimento mensal 1993 2005Homens Mulheres Homens Mulheres

    At 1 SM 25,5 35,7 27,7 35,9

    De 1 a 2 SM 22,3 18,9 30,1 26,8

    De 2 a 5 SM 25,1 14,3 22,7 14,2

    Mais de 5 SM 15,0 6,4 10,2 5,6

    Sem rendimento 10,9 23,8 8,1 16,5

    Total ( % ) 100,0 100,0 100,0 100,0Milhes 40,5 25,9 50.436.228 36.653.748

    Fonte: FIBGE/PNADs 1993 (tab. 4.27); 2005 - Microdados.

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    Maria Cristina Aranha Bruschini

    O mesmo diferencial de gnero se repete quando se analisam os rendi-mentos segundo a posio na ocupao ou o tipo de vnculo de trabalho. assim que, em 2005, recebem at dois salrios mnimos 68% das emprega-

    das, mas 63% dos empregados, 96% das trabalhadoras domsticas, mas 89%dos trabalhadores domsticos, 81% das mulheres que trabalham por contaprpria, ante 69% dos homens que mantm igual posio na ocupao. A de-sigualdade de gnero tambm se constata nas posies mais favorecidas, uma

    vez que, enquanto 36% das empregadoras ganham mais de cinco salrios m-nimos em 2005, o mesmo ocorre com 45% dos empregadores (Tab. 21).

    No que tange remunerao segundo os grupos de horas semanais tra-

    balhadas, mais uma vez se constata que, tanto em 1993 como em 2005, as mu-lheres sempre ganham menos do que os homens, mesmo quando trabalham omesmo nmero de horas. Tomando como exemplo a jornada em perodo inte-gral de 40 a 44 horas semanais , observamos que, em 1993, 56% das mu-lheres, mas 48% dos homens ganhavam menos de dois salrios mnimos, dife-rencial esse que se agudizou no perodo analisado, uma vez que, em 2005, 64%das ocupadas estavam ganhando at dois salrios mnimos, ante 58% dos ocu-pados. Na mesma tabela, o diferencial de rendimentos entre os sexos, segundo

    anos de estudo, revela com clareza a discriminao sofrida pelas mulheres, ape-sar do nvel de escolaridade feminina ser mais elevado do que o masculino, como

    j foi comentado neste texto. Entre os mais escolarizados de ambos os sexos,aquela discriminao parece ainda mais evidente: na faixa de 15 anos e mais deestudo, que corresponde ao ensino superior, 62% dos homens, mas apenas 35%das mulheres ganhavam mais de cinco salrios mnimos em 2005 (Tab. 22).

    Comparativamente a 1993, ainda na mesma tabela, possvel constatar

    a queda nos rendimentos do trabalho entre trabalhadores mais escolarizados,principalmente entre os homens, pois nesse ano 77% dos que tinham com-pletado, no mnimo, um curso superior (15 anos e mais de estudo) ganhavammais de cinco salrios mnimos, enquanto, em 2005, esse percentual cai para62%. A queda do rendimento das mulheres mais escolarizadas, por sua vez,

    foi menor: 51% das que tinham 15 anos e mais de estudo ganhavam mais decinco salrios mnimos, em 1993, ante 35% delas, em 2005.

    CONSIDERAES FINAIS

    Como este texto procurou demonstrar, nos ltimos dez a 15 anos (1992-2005) as trabalhadoras brasileiras obtiveram algum progresso no mercado de

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    Trabalho e gnero no Brasil...

    TABELA 21DISTRIBUIO DOS OCUPADOS NO TRABALHO PRINCIPAL,

    POR SEXO E POSIO NA OCUPAOBRASIL

    Posio na ocupao e

    classes de rendimento2002 2005

    mensal do trabalho principalHomens Mulheres Homens Mulheres

    Empregados (NA) 27.225.147 15.175.531 30.445.871 17.540.117% 100,0 100,0 100,0 100,0At 2 SM 56,6 61,0 63,2 68,2Mais de 2 a 5 SM 29,8 26,5 26,2 22,5

    Mais de 5 SM 12,5 11,4 9,5 8,2Sem rendimento 0,1 0,2 0,1 0,1Trabalhadoresdomsticos (NA) 428.242 5.617.858 452.425 6.206.202% 100,0 100,0 100,0 100,0At 2 SM 84,5 93,8 89,4 96,4mais de 2 a 5 SM 12,1 5,2 7,5 2,6mais de 5 SM 0,9 0,1 0,6 0,01Sem rendimento 1,3 0,6 1,6 0,5

    Contas-Prprias (NA) 12.172.296 5.228.884 12.880.631 5.950.880% 100,0 100,0 100,0 100,0At 2 SM 61,4 76,7 69,4 81,2mais de 2 a 5 SM 25,0 14,8 19,9 12,2mais de 5 SM 10,7 6,4 8,1 4,7Sem rendimento 0,8 0,4 0,7 0,4Empregadores (NA) 2.456.473 860.471 2.713.703 969.652% 100,0 100,0 100,0 100,0at 2 SM 13,6 16,6 20,3 22,8

    mais de 2 a 5 SM 31,0 35,2 32,2 38,6mais de 5 SM 51,7 43,5 45,4 35,7Sem rendimento 0,4 0,8 0,2 0,4Consumo prprio (NA) 986.771 2.257.971 1.339.814 2.676.778% 100,0 100,0 100,0 100,0Sem rendimento 100,0 100,0 100,0 100,0No Remunerados (NA) 2.598.687 3.157.219 2.603.784 3.310.119% 100,0 100,0 100,0 100,0Sem rendimento 100,0 100,0 100,0 100,0

    Sem declarao (NA) 2.149 475 _ _% 100,0 100,0 _ _

    Ignorado 100,0 100,0 _ _

    Fonte: FIBGE/PNADs-Microdados.

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    Maria Cristina Aranha Bruschini

    trabalho, embora tenham persistido, ao mesmo tempo, inmeras condiesdesfavorveis. No primeiro caso, movidas pela escolaridade seja a de nvelmdio, no qual as jovens superam os jovens, seja a de nvel superior, no qual

    as mulheres consolidaram presena bem mais elevada do que a dos homens ,as trabalhadoras mais instrudas passaram a ocupar postos em profisses deprestgio medicina, direito, magistratura, arquitetura e mesmo na engenha-ria, tradicional reduto masculino assim como cargos executivos em empre-sas do setor formal. No segundo caso, entretanto, o maior contingente de tra-balhadoras, mais de 30% da fora de trabalho feminina, continua sendocomposto por um grupo de ocupaes precrias: empregadas domsticas 75% das quais sem registro em carteira trabalhadoras no remuneradas e

    aquelas que trabalham para o prprio consumo e o consumo familiar, princi-palmente no setor agrcola. A persistncia de traos de segregao se revela

    tambm em outras dimenses: na esfera ocupacional, em que as trabalhado-

    TABELA 22RENDIMENTO DOS OCUPADOS POR SEXO SEGUNDO FAIXAS DE HORAS

    TRABALHADAS E ANOS DE ESTUDO (EM %)BRASIL

    Classes de

    1993 2005

    rendimento mensal

    Jornada de Escolaridade Jornada de Escolaridade

    trabalho integral superior (15 anos trabalho integral superior (15 anos

    ( 40 a 44 horas) e mais de estudo) (40 a 44 horas) e mais de estudo)

    Homens

    At 2 SM 48 4,2 57,6 8,1

    Mais de 2 a 5 SM 27,2 14,7 25,5 26,1

    Mais de 5 SM 17,7 76,9 12,4 61,6

    Sem rendimento 5,9 0,9 3,3 1,1

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0

    Mulheres

    At 2 SM 56,3 12,3 64,4 19,1

    Mais de 2 a 5 SM 23,7 32,2 20,7 41,3

    Mais de 5 SM 11,5 51,4 9,6 35,3

    Sem rendimento 7,7 1,8 4,2 1,9Total 100,0 100,0 100,0 100,0

    Fonte: FIBGE/PNADs-Microdados.

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    Maria Cristina Aranha Bruschini

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    Recebido em: maio 2007

    Aprovado para publicao em: maio 2007