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trazido para vocŒ pelo www.filipetadamassa.blogspot.com ESTADO DE PERNAMBUCO PODER JUDICI`RIO COMARCA DO RECIFE 2“ VARA CRIMINAL DOS FEITOS RELATIVOS A ENTORPECENTES D E S P A C H O Processo 001.2009.109617-1 EMENTA: Medida Cautelar. Proibiªo de realizaªo da Marcha pela Maconha. Movimento de mbito nacional. Expressªo de liberdade de pensamento sobre a descriminalizaªo do uso da maconha. Direito assegurado pela Constituiªo Federal. Liminar indeferida. Vistos, etc. I BREVE RELATO 1. O MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO, atravØs seu Representante Legal, aforou a presente A˙ˆO CAUTELAR INOMINADA COM PEDIDO LIMINAR, com o objetivo de impedir a realizaªo da denominada Marcha da Maconha nas ruas do Recife Antigo, prevista para o dia 3 de maio de 2009, a partir das 14h00, alegando que: a) colheu informaıes atravØs da Internet da organizaªo de um evento denominado Marcha da Maconha, o qual estÆ previsto para ocorrer no dia 3 de maio de 2009 (...) tendo como finalidade a apologia ao consumo da referida droga. b) Por se tratar de substncia entorpecente, o incentivo ao seu consumo, atravØs de um evento pœblico, (...) perfaz a adequaªo figura tpica prevista no art. 33, inciso 2”, da Lei 11.343/06 (...) e sobram indcios do cometimento do ilcito de apologia ao crime, estatudo no art. 287, do Cdigo Penal 2. Acrescenta o Parquet que nªo se cogita de proibiªo liberdade de expressªo, pois considerando o princpio de proporcionalidade e de que vivemos em um Estado DemocrÆtico de Direito, razoÆvel limitar o direito expressªo quando este direito esbarra numa liberdade pœblica de alta relevncia aos interesses sociais 3. O pedido cautelatrio veio instrudo com extratos de comunicaªo, via Internet, entre as pessoas apelidadas por Gojoba, Neco Tabosa, `lvaro Lobo, Pintolico e P.T. (fls. 09/10), notcias de

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ESTADO DE PERNAMBUCO PODER JUDICIÁRIO � COMARCA DO RECIFE

2ª VARA CRIMINAL DOS FEITOS RELATIVOS A ENTORPECENTES

D E S P A C H O

Processo 001.2009.109617-1

EMENTA: Medida Cautelar. Proibição de realização da Marcha pela Maconha. Movimento de âmbito

nacional. Expressão de liberdade de pensamento sobre a descriminalização do uso da maconha.

Direito assegurado pela Constituição Federal. Liminar indeferida.

Vistos, etc. I � BREVE RELATO 1. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO, através seu Representante Legal, aforou a presente AÇÃO CAUTELAR INOMINADA COM PEDIDO LIMINAR, com o objetivo de �impedir a realização da denominada �Marcha da Maconha� nas ruas do Recife Antigo, prevista para o dia 3 de maio de 2009, a partir das 14h00, alegando que: a) colheu informações através da Internet da organização de um evento denominado �Marcha da Maconha�, o qual está previsto para ocorrer no dia 3 de maio de 2009 (...) tendo como finalidade a apologia ao consumo da referida droga�. b) �Por se tratar de substância entorpecente, o incentivo ao seu consumo, através de um evento público, (...) perfaz a adequação à figura típica prevista no art. 33, inciso 2º, da Lei 11.343/06 (...) e �sobram indícios do cometimento do ilícito de apologia ao crime, estatuído no art. 287, do Código Penal 2. Acrescenta o Parquet que não se cogita de �proibição à liberdade de expressão�, pois �considerando o princípio de proporcionalidade e de que vivemos em um Estado Democrático de Direito, razoável limitar o direito à expressão quando este direito esbarra numa liberdade pública de alta relevância aos interesses sociais� 3. O pedido cautelatório veio instruído com extratos de comunicação, via Internet, entre as pessoas apelidadas por �Gojoba�, �Neco Tabosa�, �Álvaro Lobo�, �Pintolico� e �P.T.� (fls. 09/10), notícias de

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proibição da �Marcha da Maconha� em João Pessoa (fls. 11/16) e na Bahia (fl. 17), e sobre a realização do evento, em 2008, apenas em Recife (fls. 18/19). Anexou ainda a RDC 07, de 26.02.2009, que lista as drogas de uso controlado (fls. 20/37) II � FUNDAMENTOS JURÍDICOS 4. A prova documental acostada aos autos dá conta de que um grupo de jovens, identificados apenas com os apelidos de �Gojoba�, �Neco Tabosa�, �Álvaro Lobo�, �Pintolico� e �P.T.�, fazem convocações para a realização da �Marcha da Maconha no Brasil�, com destaque para o evento em Recife. Nas referidas convocações destacamos os seguintes trechos: �Galera beleza, este ano estamos dando continuidade a

organização do movimento anti proibicionista em nosso estado, a reunião vai rolar hoje as 19 h no DCE da universidade católica de PE. Só com organização e agindo coletivamente, vamos avançar em nossa luta pela legalização da maconha� (�Gojoba�, fl. 09. Grifo da transcrição)

�Pô galera, na boa, não penso q esse assunto deva ser tão

grande importância, pois todo mundo sabe q vai ter polícia, isso é uma grande bobagem, pois em toda a marcha sempre se fumou... É até legal q a sociedade veja que numa grande reunião de fumacê, não acontecem grandes problemas, pelo menos por parte dos maconheiros... e quem tiver medo de que proíbam a marcha, pense bem o q é estar num movimento por liberdade... estaremos na praça proibida ou não...� (�Álvaro Lobo�, fl. 10)

�de fato, é ilusório achar que ninguém em nenhuma

marcha vai fumar... o movimento tem que aceitar as possibilidades do incontrolável, mesmo como forma de expressão daquilo que a Marcha abarca: as posições dos indivíduos que são pela discussão do atual cenário legal da maconha� (�P.T.�, fl. 10. Grifo e Negrito da transcrição),

5. Não vislumbro nas declarações acima transcritas qualquer indução ou instigação ao uso da maconha (L. 11.343/2006, art. 33, inciso 2º), nem enxergo no caso qualquer ato que configure a alegada apologia ao crime (CP, art. 287) 6. Os Internautas pretendem realizar o mencionado Evento com o objetivo de �luta pela legalização da maconha� ou �discussão do atual cenário legal da maconha�, uma manifestação de pensamento que lhe é assegurada pela Constituição Federal: �é livre a manifestação do pensamento...�(art, 5º, inc IV); �A manifestação do pensamento, a criação,

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a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, ...� (art. 220, caput) 7. O que se destaca nas convocações acima transcritas é a preocupação dos propagadores do Evento com a possibilidade de uso da droga por participantes da Marcha, o que foi interpretado pelo Ministério Público como Indução ou Instigação ao uso da droga e como apologia ao crime, atos e atitudes punidas pelo art. 33, inciso 2º, da Lei 11.343, de 23.08.2006, no primeiro caso, e pelo art. 287 do Código Penal, na segunda hipótese. 8. No Estado Democrático de Direito, assegurado pela Carta Magna da República não há como coibir a realização da pretendida Marcha da Maconha, assim como não se tem proibido os movimentos, eventos ou marchas empreendidas, aqui e alhures em prol da descriminação do crime de aborto (CP, arts. 124 a 128) 9. A propósito, o renomado constitucionalista brasileiro JOSÉ AFONSO DA SILVA ensina: ��Liberdade de pensamento� � segundo Sampaio Dória

� �é o direito de exprimir, por qualquer forma, o que se pense em Ciência, Arte, ou o que for�. Trata-se de liberdade de conteúdo intelectual e supõe o contato do indivíduo com seus semelhantes, pela qual �o homem tenda, por exemplo, a participar a outros suas crenças, seus conhecimentos, sua concepção do mundo, suas opiniões políticas ou religiosas, seus trabalhos científicos� (Comentário Contextual à Constituição, Malheiros Editores, Rio de Janeiro, 2009, pp. 89/90)

10. A realização da pretendida Marcha pela Maconha, todavia, não isentará seus organizadores e participantes de responsabilização por prática dos crimes tipificados nos arts. 28 e 33 a 39 da Lei 11.343, de 26.08.2006, e 287 do Código Penal, caso sejam flagrados atos que configuram tais delitos. 11. Desta forma, a referida Marcha pela Maconha deverá ser acompanhada pelas autoridades policiais, especialmente, pelo Departamento de Repressão ao Narcotráfico, para garantir, na forma do art. 144 e inciso 4º da Constituição Federal, a segurança pública e a apuração de qualquer infração penal ocorrente. 12. Em se tratando de MEDIDA CAUTELAR SATISFATIVA, ficam prejudicados os pedidos contidos nas letras B e C da inicial. 13. A postulação contida na letra D deve ser perseguida através de ação própria, no caso, representação junto à Autoridade Policial para instauração do competente Inquérito, com pedido de quebra de sigilo eletrônico e outras medidas congêneres, se necessário, para identificação e possível indiciamento dos pretensos agentes criminosos.

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III � DECISÃO INTERLOCUTÓRIA 14. Diante do acima exposto, considerando tratar-se de uma Cautelar Satisfativa:

a) INDEFIRO o pedido liminar de suspensão da Marcha pela Maconha, prevista para o dia 03 de maio do corrente ano pelas ruas do Recife Antigo; e

b) DETERMINO às Autoridades Policiais o acompanhamento regular de sua realização, na conformidade da Lei.

15. INTIME-SE o Requerente. 16. OFICIE-SE a Secretaria de Defesa Social

Recife, 24 de Abril de 2009 Alípio carvalho Filho

Juiz de Direito

Ciente, em 30/04/2009 José Correa de Araújo

Promotor de Justiça