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O DESPERTAR Por Antonio Marcelo - Transcrição das memórias do Professor Paulo Couto - Publicadas em 1949

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  • O DESPERTAR

    Por Antonio Marcelo

    - Transcrio das memrias do Professor Paulo Couto -Publicadas em 1949

  • 1.0

    Depois de tanto tempo em silncio resolvi honrar a memria de meu querido Professor DoutorGilberto Limeira, famoso estudioso de histria e antropologia que infelizmente, como todos sabem,morreu assassinado e louco no sanatrio Pedro II, esquecido por todos, vtima da fatdica viagemque fizera ao Amazonas. Vocs no devem se lembrar das notcias publicadas no Correio Imperial,sobre sua estranha e horripilante morte no sanatrio, executado pelo seu colega de cela, que odecapitou e escreveu um estranho texto sem sentido com sangue do morto. O alienado foicondenado, pois declarou em bom tom que fora ordenado pelo professor Gilberto a cometer estecrime, depois de confessar que no aguentava viver mais com uma verdade assustadora. O loucofalou que o executou rapidamente e que no final de tudo a cabea do doutor falou com ele palavrasestranhas e sem sentido. Devaneios assustadores de um ensandecido, mas que me do pesadelos anoite.

    Na qualidade de professor, pesquisador e aluno deste venervel mestre me sinto na obrigao denarrar algumas coisas que nunca foram a pblico e que me foram confiados por ele e que seriampublicadas aps sua morte a seu pedido. O que me apavora caro leitor que se voc tivesse aoportunidade de acompanhar a evoluo de toda esta trama, sentiria os mesmos arrepios que eusinto a colocar estas palavras no papel. So memrias vividas de meu mestre, e da mudanaocorrida em sua vida. Hoje 23 de maio de 1907, um ano aps este processo, abro uma pequenapasta de couro com anotaes to cuidadosamente guardadas pelo meu preceptor desde sua fatdicadoena, que levou a sua internao e meses depois a seu desenlace.

    So um dirio de quase 300 pginas de texto, desenhos e anotaes sobre a sua famosa viagem aoalto Amazonas. Conhecida como a misso Limeira-Fawcett, fora uma das primeiras e famosasexpedies no Brasil na era de nossa Rainha Isabel I. Neste ponto no comentei ainda sobreFawcett, o jovem explorador ingls que acompanhou o professor Limeira e que sumiu no meiodesta histria toda. No queria ainda falar sobre esta curiosa figura antes de dar mais algunsdetalhes sobre o dirio e das informaes ali contidas. Se o leitor olhasse agora, como eu fao, asprimeiras pginas escritas com um capricho harmonioso, com letras bem desenhadas, ilustraesdetalhadas e belas (o professor era um grande artista tambm), anotaes destacadas com esmero euma coerncia tpica de um acadmico Imperial, no pode conceber como ocorreu fim to trgico.

    Contudo se comeasse a passar as pginas e olhasse o dirio mais para seu meio, comearia a notarque esta harmonia fora magicamente quebrada. Os textos passam a ser confusos, as letras tortas edesordenadas, como se um louco estivesse escrevendo, mas ilustraes continuam detalhadas aoextremo, como quase um daguerreotipo, mas com temticas to obscenas e lascivas , repletas deimagens assustadoras de dolos e entidades que s podiam vir dos abismos da loucura.

    Ao final deste dirio s existem imagens cada vez mais bizarras (me sinto mal em lembrar disso) emensagens em um estranho alfabeto do qual no tenho noo. Agora o que eu chamaria de terrvelcoincidncia (vamos partir para este lado) que um dos textos do final do dirio fora reproduzidapelo assassino do professor, aps ter executado o ato.

    Exatamente igual ao do dirio, o texto escrito em sangue pelo assassino do professor, possui asmesmas palavras estranhas do livro. Sei disso, pois eu consegui atravs de um amigo oficial dapolcia que acompanhou o caso, uma reproduo do maldito texto, feita durante o processo dainvestigao. Smbolo por smbolo palavra por palavra, e que at gora no sei o teor do mesmo,nem mesmo alguns catedrticos que tentaram me ajudar. Um deles dizia que parecia copta ouaramaico, mas no fazia sentido nenhum se traduzido destas lnguas. S para por mais uma varivelneste caso que este material teoricamente vinha de uma tribo amaznica, no do oriente mdio.

  • O assassino nunca teve contato com este dirio, nem no sanatrio no estgio avanado da doena doacadmico, pois na noite antes dele ser levado, me confiou tal documentao e me pediu em nomede minha honra que s lesse e divulgasse aps sua morte.

    No dia seguinte a esta minha promessa, o professor Limeira teve um ataque de loucura, quebrandotoda a sua casa e somente foi contido por cerca de seis homens, que o amarraram e o levaramimediatamente para o sanatrio a pedido do prprio num momento raro de lucidez. Dali para frenteseu inferno pessoal comeou, coisa que eu prezado leitor no vou descrever, pois enchem de tristezameu corao e no quero lembrar as diversas visitas que fiz a aquele horrendo lugar, com seusfantasmas em forma de gente e das suas cmaras de horrores, que se dizem celas de tratamento.

    Perdi todo o meu atesmo cientfico quando visitei o sanatrio vrias vezes para tentar acompanhara doena de meu mestre. A cada ida e volta comecei a temer a Deus e o Diabo, principalmente esteltimo que com certeza ali habita e provoca as mais variadas maldades com os doentes. As cenas eas imundcies, fariam as imagens dantescas de Bosch serem obras de arte sobre o cu dos anjos. Amisria humana e a falta de esperana vivem naquele lugar, e ali conheci o verdadeiro sentido dapalavra inferno.

    At agora a emoo me assaltou enquanto escrevo estas linhas, esquecendo-me dos ditames da boaeducao de me apresentar. Basta dizer que meu nome Paulo Couto, fui professor assistente deLimeira e hoje curador e herdeiro de sua obra cientfica e seu biografo oficial. Como qualquerprofessor de histria antiga, me formei pela universidade brasileira imperial no ano de 1904, comespecializao na cultura marajoara, antes de conhecer o Professor Limeira.

    No ano de 1905 entrei no museu e comecei a trabalhar como catalogador de material vindo doAmazonas. Eram peas de artesanato de diversas tribos indgenas e de vez em quando aparecia algointeressante, mas no incio era uma coisa meio tediosa. Nesta poca ainda no trabalhava com oprofessor, isto veio acontecer um dia quando estava limpando umas peas, o mesmo entrou napequena saleta que eu ficava e me perguntou :

    - Meu caro jovem poderia me ajudar um instante ? - estava ofegante - estou com uma pea umpouco desajeitada aqui para carregar... Sabia quem era aquele homem importante, reconhecendo em instantes. Larguei a tarefa que fazia eimediatamente me dirigi a ele.

    - Claro senhor professor - respondi - o que posso ajudar ?

    Ele me pediu que o auxiliasse para carregar um enorme vaso indgena, do qual reconheci ser ummarajoara tpico. Era realmente grande, pesado, um verdadeiro trambolho, do qual levamos at suasala. Foi nesse dia que vi pela primeira vez o explorador ingls Percy Fawcett, do qual citei nesterelato. Parecia aguardar o professor fumando um cachimbo, sentado placidamente numa poltrona.Sua figura era impressionante, com um grande bigode, olhos de uma severidade aparente e um portefsico de atleta. Vestia um terno bem cortado e de tom caqui.

    - Percy ! - exclamou Limeira surpreso - no sabia que havia chegado !

    Fawcett se levantou com um sorriso misterioso e cumprimentou o professor

    - Cheguei no dirigvel das 8 da manh, acabei indo direto para o hotel, deixando minhas coisas porl. - disse - fui a Colombo tomar um caf e c estou.- Alguma novidade meu amigo ? - perguntou o Professor

  • - Consegui a verba para nossa viagem, temos que comear os preparativos !- timo ! - de repente parecia que ele se lembrou de mim novamente - ah meu caro, ser que possopedir ajuda de voc novamente ? Dirigiu-se a mim - Pode anotar umas coisas ?- Sim professor com prazer.

    Naquele dia comecei de maneira informal a trabalhar om o professor Limeira. Inicialmenteanotando algumas coisas para os dois, sobre a expedio que iriam fazer. Depois comeando aajudar o professor com sua agenda, artigos e conferncias. Tive contato a primeira vez com o diriode meu mestre. Foram cinco meses onde no incio era um simples estagirio, mas acabei metornando um ajudante de ordens fiel do Professor. Descobri muito sobre sua vida. Ele aos 40 anos,era solteiro, mas mantinha uma mulher que dizia sua amante, que mal vira com ele durante esteperodo. Tinha uma fora mental enorme e era capaz de passar noites em claro estudando eescrevendo. Era um homem sbio de verdade, alm de falar francs, latim, grego, ingls conheciahebraico e diversos dialetos indgenas amaznicos. Tinha escrito um dos primeiros dicionriosformais de tupi guarani que era base em muitos cursos do Brasil e Europa.

    J Fawcett eu soube que o professor o conhecera numa conferncia em Londres e ambos setornaram amigos rapidamente. Partilhavam dos mesmos sentimentos sobre o Amazonas, suas tribose as histrias sobre civilizaes perdidas da regio. Ele oficial do exrcito ingls, tambm era umestudioso e explorador. Tinha boas graas na sociedade cientfica inglesa e sempre estava metidoem expedies, aventuras, etc. Fawcett fora o grande descobridor de Machu Pichu, a famosa cidadeinca nos Andes, entre outros mritos. Contudo seus detratores gostavam de dizer que ele era umlouco, que caava tesouros perdidos e seres de outros mundos. As ms lnguas diziam que ele estavaenvolvido com magia e ainda fazia parte da bizarra Golden Dawn, do estranho Mathers e Crowley,mas isso fora desmentido por ele, inclusive de acordo com a imprensa inglesa, Fawcett processaraseus detratores, ganhando uma boa soma de dinheiro. Fbulas ou no, o ingls era um homemrespeitado devido a suas descobertas e a amizade com o Professor Limeira era um fato que apoiavaisso.

    Voltando a nossa narrativa, depois de cinco meses atuando como seu ajudante, ele me informou queviajaria em breve a uma expedio ao Amazonas com Fawcett. Disse que seria muito importanteesta viagem, pois tinha uma informao que se confirmasse abalaria o mundo cientfico. Me lembrode ele me contando animado e ao mesmo tempo com um ar misterioso sobre a importncia destaviagem. S falava disso e o tema de nossas conversas sempre eram estas.

    Ao se aproximar a data de sua partida comeamos a ajeitar algumas coisas no museu e levantar tudonecessrio para a aventura. De algum maneira a notcia de sua expedio, que ficou conhecidacomo Limeira-Fawcett, vazou para a imprensa e era comum reprteres baterem na porta do museuem busca de detalhes, e eu ter que em certos momentos despach-los de maneira rspida. Aexpedio no era grande, basicamente s sariam do Rio o professor Limeira e Fawcett. O restoestaria em Manaus, que seriam mateiros, carregadores, guias indgenas, que levariam os homensnuma posio na selva, que no fora revelada, nem em seu dirio pelo professor. O destino daexpedio at hoje desconhecido, s sei por deduo que era perto com a fronteira do Peru, com aColmbia, bem no interior selvagem. Na semana de sua partida, o professor Limeira veio falarcomigo reservadamente, foi uma conversa de cerca de vinte minutos. Lembro que estava muitoansioso para partir e me confiou uma srie de notas de outros de seus estudos e tarefas corriqueirasdo Museu, no final me promoveu a professor substituto, cargo que me fez muito bem, mas at hojedesperta inveja de muitos. Mas o que mais me assustou foi que ele me confiou toda uma srie dedocumentos seus e disse que tinha uma procurao para agir em seu nome caso ele no voltasse, nasmos de seus advogados. Eu achei aquilo um absurdo e ao mesmo tempo um excesso de confianade meu preceptor, mas parecia que ele sabia de algo, ou temia algo e tomou estas providncias.Ele no podia estar mais certo...

  • 2.0

    Uma semana depois da partida do professor, recebi seu primeiro telegrama, do qual reproduzo aqui.Era uma simples mensagem dizendo o seguinte.

    Companhia Imperial de Correios

    TelegramaImprio Brasileiro - 1905

    De Limeira, Amazonas Manaus - 9:35 - Agosto, 23

    Paulo,

    Chegamos bem, partiremos em breve. Muito calor aqui.

    Limeira

    Fora a primeira notcia que recebi do professor que falava sobre seu estado. Uma semana depoisrecebei outro telegrama que falava que partiriam no dia seguinte (no caso isso seria uma segunda-feira) e que ficariam 30 dias na selva sem comunicao. De acordo com os planos dele e de Fawcettseria o tempo necessrio para se chegar ao local via barco eram de 5 dias e ainda teriam mais uns 15dias de caminhada pela mata. A programao de toda expedio era de 40 dias e de acordo com suasinstrues, se no tivesse notcias dele em 50 dias eu deveria agir.

    Bom, nesta parte do relato todos devem se lembrar o que aconteceu, j que a imprensa alardeou issoaos quatro ventos. Na verdade a expedio sumiu por mais de 4 meses, e todos na poca davam oprofessor como morto. Eu mesmo me lembro do museu estar cheio de reprteres toda a semana embusca de algo, o assdio que eu sofri pela imprensa marrom ainda me traz amargas lembranas.Lembro do Natal de 1905 onde os advogados de Limeira me assediavam para colocar em prticasua procurao (descobri que o professor era dono de uma vultosa herana e de muitos imveis eque os honorrios pagos a estes abutres seriam enormes), mas eu pedi um prazo de pelo menos 1ano para agir. Eles falavam que eu era o beneficirio deste capital e que poderia viver s de rendas ede seus imveis, mas eu os calava com improprios e ameaas de no levar nada a frente.

    No incio de janeiro o Museu Imperial iniciou um perodo de 30 dias de luto, pois acreditavam queo Professor Limeira estava morto. Lembro da bandeira a meio mastro e das fitas pretas penduradasem nossos ternos em homenagem ao mestre. Contudo no dia 18 de janeiro recebemos a notcia queo professor regressara sozinho a Manaus. Dos poucos relatos que tive acesso contavam que eleparecia um mendigo e que fora reconhecido, devido a uma carta que carregava da Sociedade Realde Cincia. Depois de receber os primeiros socorros, foi despachado para o Rio de Janeiro pordirigvel, chegando a nossa cidade no dia 27 de janeiro. Neste momento que meu relato se tornarfantstico e peo aqueles que no levam f nisso que simplesmente parem de ler por aqui mesmo. Jcansei de ser chamado de aproveitador e at amante de Limeira, insinuando que eu fosse seucompanheiro e principal confessor. Mas apesar de todos os desgostos e angstias que passei, tudoque vou contar aqui merece a ateno de todos...

  • O calor estava de rachar no Santos Dumont, perto do centro do Rio. O Aerdromo recebiadiariamente dirigveis do Brasil e do mundo e ficava pertinho da Ilha Fiscal. Era um dos maisfamosos campos de dirigveis do pas e ali ficava abrigado, o Pedro I, dirigvel oficial da famliaimperial. Tinha sido batizado em homenagem ao nosso querido inventor e propagador de dirigveis,Alberto Santos Dumont, que vive hoje em Paris e que atualmente pesquisava os aparelhos de vomais pesados que o ar, ou seja os novos aeroplanos como chamavam.

    Via-se ali tambm diversos aparelhos estrangeiros e alguns militares em reabastecimento emanuteno. Eu esperava o desembarque do professor Limeira, pois de acordo com os informes omesmo estava descendo com cerca de 15 minutos de atraso. O amplo salo estava lotado com aimprensa que aguardava a chegada do professor. Estava muito preocupado com todo aquele circoque estava sendo armado e com certeza acabaria em problemas. Para minha sorte um grande amigomeu da marinha area imperial estava por l. Expliquei a situao e conseguimos ter acesso direto apista de desembarque. Levei um discretamente um carro a vapor para perto do dirigvel e conseguificar aguardando o desembarque do pessoal. O grande navio areo em forma de charuto estavapousado j na pista e uma srie de pessoas muito bem apessoadas desciam da gondola do mesmo.Foi ento que tive meu primeiro choque e na minha opinio foi o incio de todo o inferno deLimeira : vi o professor.

    Sua figura estava magra, via-se isso pois o terno que vestia parecia maior que seu tamanho. Seurosto estava chupado, como se estivesse tsico e seus olhos, estes eu confesso, me assustaram.Estavam arregalados como de um alienado, daqueles que viram coisas inimaginveis, nos abismosda loucura. Estava agarrado com seu dirio, sim o maldito livro que falarei mais a frente ecaminhava como se estivesse bbado. Resolvi me aproximar rapidamente dele e berrei :

    - Professor Limeira ! - acenei

    Ele me olhou e esboou um arcabouo de sorriso.

    - Paulo ! - sua voz era dbil, mas denotava alguma alegria. Caminhou em minha direo e me deuum forte abrao que bom te ver, me leve para casa. Pediu- E sua bagagem ? Perguntei- Pedi para despacharem para o museu. - sua voz estava dbil me leve para casa por favor.

    Obedeci meu preceptor e coloquei-o no carro. Durante a viagem ele no falou nada, apenascontinuava a segurar fortemente o dirio contra seu peito. Resolvi no iniciar nenhuma conversa,pois deixaria ele falar quando quisesse. Quando nos aproximamos de sua casa em Laranjeiras,vimos uma confuso na porta enorme. A rua estava cheia de policiais do rei, reprteres e curiosos.Sabiamente no conduzi o carro nessa direo e mudei o trajeto para minha casa, um pequenoapartamento em botafogo, que era uma herana de uma tia e que tinha espao suficiente para nsdois. Expliquei a ele sobre esta deciso e imediatamente concordou, pois disse que precisava deestar sossegado. Cheguei sem problemas e o instalei em minha casa.

    Durante uma semana nada falou a respeito, apenas escrevia algumas coisas em seu dirio. A noitetinha pesadelos e um dia o encontrei sentado na sala chorando em plena madrugada. Apesar desteisolamento contactei uma srie de autoridades do museu e governo. Minha casa comeou a ser sedede reunies com representantes do rei, polcia e at do governo ingls, pois Fawcett no voltara comele e no se tinha notcias nenhuma do explorador. Nesta mesma poca a imprensa comeou aassediar-me em minha casa, sendo que sempre batia a porta na cara deles.

  • O resultado disso foi uma srie de notcias escandalosas sobre nossa masculinidade, dos quais osadvogados do professor tiveram bastante trabalho processando diversos pasquins. Cerca de doismeses depois o professor comeou a melhorar um pouco e disse que voltaria para sua casa, maspediu se seria possvel eu passar uma temporada por l. Disse que iria sem problema e recebisurpreendentemente uma licena remunerada de 6 meses para companh-lo dada pelo governoimperial. Quando mudei para sua casa em laranjeiras, continuamos quase que diariamente, recebergente do governo, pessoal do departamento de cincia imperial e o governo ingls mandou umpesquisador para conversar com o professor. Foram dois meses destas reunies dos quais Limeirapouco dizia a mim e trancava-se com estes senhores em seu escritrio particular.

    Neste mesmo perodo comeou a ter mais pesadelos e se trancava em seu quarto, escrevendo ataltas horas da noite em seu dirio. Durante o dia o mesmo ficava guardado em um cofre, do qual euno tinha a combinao. Em pouco tempo trocou a noite pelo dia, pois de acordo com ele durante odia, os pesadelos no aconteciam. Isso durou quase at o fim de minha licena, foi nessa poca queos representantes do governo Brasileiro e Ingls pararam de nos visitar. Numa quinta-feira, dia 23de junho de 1906 ele me chamou em seu escritrio, pedindo-me para me sentar.- Paulo, vou narrar para voc o que aconteceu na expedio, pois sinto que algo de ruim iracontecer em breve.Olhei espantado e perguntei :- Como assim professor, o senhor est passando mal ?Ele pediu um pausa com a mo direita levantada :- Deixe-me falar...Fiz que sim com a cabea.- Bom meu caro deve se lembrar de tudo que ocorreu desde minha partida, mas voc no sabe osdetalhes pausou vou pedir em nome da memria de sua falecida me que no revele nada do queeu vou falar aqui para ningum, s faa isso quando eu morrer.- Que isso professor ! - Por favor jure isso por mim!- Sim senhor.- Bom vou iniciar meu relato notei que segurava o dirio e este estava fechado amarrado com umasrie de fitas, como se quisesse proteger seu contedo de olhares curiososEu e Fawcett samos do Rio no dirigvel rumo a Minas Gerais, para pegarmos o trem especial at oPar. Resolvemos fazer este trajeto, pois como sabe os dirigveis civis no costumam se aventurarpela Floresta Amaznica, somente os militares. uma regio perigosa e inexplorada. Pois bem,nossa viagem foi tranquila tanto a area, bem como a de trem. Foi uma semana para chegar at oPorto de Belm, onde pegaramos o barco at Manaus. Repassamos nosso planejamento todo,enumerando os detalhes e o destino final da expedio. Iramos parar perto da fronteira do Peru,bem no meio da selva numa rea inexplorada, em busca de runas que Fawcett dizia serem de umacivilizao pr-maia. Esta civilizao era muito mais adiantada que a nossa e de acordo com eletinham fabricado veculos capazes de alcanar as estrelas.

    Olhei surpreso sobre o que o professor que continuava a falar.

    Sei que parece loucura e contos de fada. Contudo o governo Imperial levou e leva isto a srio eapoiou esta expedio, juntamente com o governo ingls. Imagine as vantagens cientficas advindasdisso e a revoluo no mundo que poderia causar. Todos pensvamos que isto traria e quepoderamos estar mudando o rumo de nossa histria. Pois bem, pegamos a barca at Manaus numaviagem de mais 1 semana at a bela cidade amazonense. Nossa, fiquei surpreso com a riqueza e aopulncia do local, mas o que realmente me incomodou foi o calor. Nos hospedamos no PotiaraHilton, um hotel luxuoso, com um exclusivo e novo sistema de ar congelado. Imagine Paulo, l forareinava 38 e 39 graus, enquanto que l dentro tnhamos agradveis 18 graus. Era uma maravilha dacincia moderna no meio da selva. No dia seguinte a nossa chegada, Bento nosso guia nos

  • encontrou. Ele j tinha participado com Fawcett de outras expedies no Amazonas e Peru e mepareceu um indivduo muito honesto e competente. Era um mulato muito bem vestido, comesmerada educao, dono de um sorriso cativante. Ele era filho de um rico comerciante portugusde borracha e de uma ex escrava, atual dama da corte Imperial. Ele sempre fora aventureiro e apesarde uma considervel riqueza administrada pelo seu pai, gostava de acompanhar Fawcett em suasandanas.

    Fui apresentado a ele e comeamos a conversar sobre a rota que faramos at o local estimado dasrunas. Levaramos 5 dias de barco e duas semanas andando na mata. Iriamos com um grupo de 9pessoas, ns 3, 4 assistentes e 2 ndios que conheciam bem a regio. Tudo estava bem calculado,preparado e ns estvamos ansiosos para partir. Bento frisou que deveramos ter cuidado pois aregio que entraramos perto das runas era habitada por uma tribo indgena pouco contatada pelohomem branco e que deveramos ter uma srie de procedimentos at em falar com eles. Tirando issoo maior perigo que tnhamos era a selva, esta belssima, mas perigosa, tinha que ser respeitada emtoda a sua plenitude.

    Nos dois dias seguintes finalizamos nossos preparativos e embarcamos num pequeno vapor fluvialchamado Araguaia, onde subiramos o Rio na semana seguinte de barco. Nada de excepcionalaconteceu nessa viagem e a noite parvamos em pequenos povoados ribeirinhos, onde o barcoentregava mantimentos e pegava novos passageiros. Antes que eu me esquea, queria falar do restode nosso grupo. Alm de Bento tnhamos quatro caboclos da regio, todos fortes e embrutecidospela vida na mata. Todos andavam descalos e um deles, o Moreira, gostava de fumar um cachimbocom um fumo da regio, de cheiro forte e encorpado. Os outros trs, Jair, Matias e Osvaldo, poucofalavam e dormiam bastante, pois j pareciam prever que teriam muito trabalho pela frente. Osndios nos encontrariam no final da viagem do barco, j na beira da selva.

    No quinto dia de viagem chegamos a um pequeno povoado que mais parecia uma aldeia indgenado qual nossos guias silvcolas nos aguardavam. Poti e Jari eram dois ndios Tupi, que viviam pelaregio e que conheciam cada palmo da selva. Ambos eram bastante alegres e riam muito, Falavamum portugus arrastado, mas como eu falava Tupi, conversamos sem problemas. Resolvemospernoitar numa pequena estalagem de um holands que ali vivia, e pela manh entramos selvaadentro.

    Paulo a floresta amaznica algo lindo, mas ao mesmo tempo, infernal. Um calor de matar duranteo dia e toda a gama de feras e perigos. Vimos cobras enormes, pssaros lindos, onas, capivaras epassamos por diversos locais que os ndios tinham receio em caminhar. Nossa viagem pela selva foimuito tranquila, dentro da medida do possvel. Um dos poucos fatos notveis foi que encontramosum grupo de exploradores Franceses que voltavam de uma rea perto da nossa, onde foram buscarexemplares de plantas raras para remdios. Conversamos com eles, um grupo de cerca de oitopessoas que estavam retornando para Manaus depois de quase 20 dias na selva. Nos despedimos ecada grupo tomou o seu caminho.

    Quando faltavam cerca de dois dias para nosso ponto de destino, coisas estranhas comearam aacontecer. A primeira delas que Matias comeou a ter sonhos estranhos com seu falecido avpedindo para que ele voltasse dali. Ele acordou apavorado no meio da noite rezando fortemente eisto incomodou os demais homens. Eu e Fawcett tivemos um certo trabalho para o acalmar, masvimos que ele ficou visivelmente assustado. Na manh seguinte levantamos cedo e nossoacompanhante parecia estar melhor. Curiosamente foi o dia que pegamos a primeira tempestade naselva, onde caminhvamos encharcados e um pouco abatidos, Por volta de trs da tarde do mesmodia chegamos a uma enorme clareira, e no meio dela havia um enorme prdio de pedra. Fawcettestava exultante, desandou a rir e a praguejar em ingls e tambm fui tomado por uma sbita

  • alegria. Aquele prdio era um imenso cubo de pedra negra, cheio de inscries e esttuas estranhas.Os ndios ao contrrio de ns estavam apavorados, pois pareciam ter visto o demnio em pessoa. - Isto a casa de Tau - disse Jari - Muito ruim...- Como assim ? Perguntei- Este lugar no bom - falou - vamos embora...Fawcett falou seriamente para eles :- Nunca meus amigos estamos na frente de algo muito importante !

    Dizendo isso comeou a andar em direo a construo. A mesma tinha cerca de 20 metros de alturaem forma de cubo, com cada uma de suas paredes cheias de inscries e imagens de estranhosseres, Tinha um teto em forma de laje, reto, sem encaixe aparente nas paredes. No se via janelas,apenas uma entrada em forma de arco na sua frente, com inscries e desenhos que identifiqueisendo maias ou algo parecido. Me aproximei e comecei a ver as imagens com mais riqueza dedetalhes. Paulo, tive meu primeiro calafrio ao ver de mais perto as figuras. As imagens mostravamestranhos seres em volta de aparentes seres humanos, em atitudes estranhas e muito perturbadoras,Tenho as mesmas reproduzidas no dirio, e no gosto de rev-las. Uma destas cenas me marcou,pois mostra uma mulher sendo fornicada por duas destas criaturas, numa pose lasciva e doentia. Via face de Fawcett e pela primeira vez vi uma pontada de receio em seus olhos. As imagens estavamem todo a construo e no havia mais nada naquela clareira alm daquilo. E tem mais um fato ques depois reparei : no crescia vegetao em torno daquela construo maldita.

    Os homens nos olhavam apreensivos enquanto dvamos voltas em torno do prdio. Resolvemosento entrar, e verificarmos o que havia l dentro. Peguei uma lanterna junto com Fawcett eentramos na construo. O cho era formado pela mesma pedra e no havia nada l dentroaparentemente. Todas as paredes eram lisas, com exceo a do fundo do qual havia uma portadesenhada, igual a da entrada, com os mesmos smbolos, mas escavada na pedra. Samos um poucodecepcionados, mas resolvemos acampar por ali. Como comeou a chover novamente, resolvemosdormir dentro do prdio, pois era seco e aparentemente seguro.

    Bom meu caro, isto foi o maior erro de nossas vidas e confesso que eu vou narrar aqui tende a serum relato entre o limiar da loucura e o da total demncia. Entramos dentro do local e montamos umpequeno acampamento. Colocamos nossos colches e acendemos uma fogueira. Ao mesmo tempoaproveitamos folhas e galhos, improvisando uma porta simples que nos protegeria de eventuaisanimais. Neste ponto ns tivemos mo primeiro problema com os ndios. Eles se recusaram a dormirl, dizendo que passariam a noite na selva e no dia seguinte nos encontrariam. Fawcett os ameaoumas eles disseram que jamais dormiriam na casa de Tau, pois era um perigo certo. Conversei comeles e pedi que prometessem em nome de seus antepassados que voltariam no dia seguinte. Elesjuraram e me perguntaram que seu no queria ir com eles, respondi em seguida que no e quepassaria a noite ali.

    Eles saram j com a noite escura e entraram mata a dentro sem receio algum. Confesso que fiqueipreocupado no incio, mas se eles no tivessem feito isso provavelmente no estaria aqui contandoisso para voc. Fizemos uma rpida refeio e aproveitei para fazer mais algumas anotaes emmeu dirio e em breve adormeci profundamente. Inicialmente tive um sono sem sonhos, mas donada comecei a sonhar com a selva a minha volta e o prdio negro. O cenrio estava mudado, poishaviam diversos outros prdios e muitas pessoas em volta deles. Parecia uma cidade em todo seuapogeu, com construes parecidas e uma enorme pirmide estilo egpcia ao fundo. As pessoas narua andavam como sonmbulos. Olhei para as mesmas e suas faces estavam sem cor e seus olhosfundos como tsicos, vestiam andrajos e caminhavam a esmo. Foi ento que vi a primeira criatura,da qual nunca mais me esquecerei, No sei conseguirei te descrever mas vou tentar...

    (Neste momento do relato o professor Limeira ficou visivelmente emocionado, chorando baixinho)

  • Era uma criatura humanide com cerca de 2 metros de altura, com braos e pernas fortes, commos e ps. Vestia uma espcie de macaco dourado, cheio de adornos e joias. Mas Paulo o quemais me atormenta a face destes seres. Imagine uma esfera branca com dois olhos negrosenviesados, sem nariz, nem orelhas e no lugar da boca uma srie de pequenos tentculos. Elesandavam altivos e donos de tudo em volta daquelas pobres pessoas. Do lado de alguns deles haviambelssimas mulheres seminuas, que os acompanhavam despreocupadas. Eu olhava aquela cena semser perturbado como se acompanhasse tudo de uma viso privilegiada.

    Reconheci assustado que estes seres estavam representados nas paredes do prdio que estvamosagora e no pergunte como fui tomado por um arrepio em meu sonho ! Desfrutei desta cena por umtempo indefinvel, at que de repente o cenrio mudou e me vi num grande prdio, ou melhor norecinto de um grande prdio, onde haviam centenas de pessoas sentadas em cadeiras com os olhosfechados numa espcie de sono coletivo. S que Paulo em p atrs de cada um deles havia umdestes seres e cada um deles fazia algo perturbador e abominvel. Os tentculos de cada um delespareciam estarem ligados de alguma maneira na cabea de cada uma das pessoas ali sentadasdormindo. No sei que tipo de ligao blasfema era aquela, mas de alguma maneira aquelascriaturas estavam fazendo algo com aquela gente. Caminhei pelo meio sem ser perturbado, ate medirigir a outro pavilho onde novamente vi mais pessoas sentadas com aqueles seres na mesmaposio.

    Paulo, os que estavam ali sentados eram mais esqueletos do que pessoas ! Pareciam estar no ltimoestgio da tuberculose, magrrimos e sem uma chama de vida. Eram homens e mulheres entregues aalgum tipo de suplcio que no tinha noo. Apavorado comecei a correr para sair dali e parei emoutro local que parecia ser o inferno vivo. Nele homens e mulheres tambm muito magros andavama esmo por um imenso pavilho, como se no tivessem noo de onde estavam. No meio deles osseres escolhiam um deles e este imediatamente era iado para o alto por foras invisveis e explodianuma massa de carne, sangue e ossos, dos quais as criaturas se banhavam lascivamente nestanuvem. Ningum gritava, ningum protestava, apenas a exploso e um barulho semelhante achuva caindo.

    Com todas as minhas foras reunidas consegui iniciar uma corrida saindo finalmente daquele localpor uma espcie de porta principal. Me via a frente de um dia enevoado e cinzento, numa escadariaonde milhares de pessoas tentavam entrar naquele construo. Nada falavam, s mantinham umexpresso sem vida e sem esperana.

    Fui para perto de um deles e tentei despertar de seu torpor, bom meu caro nesse momento dei-meconta de algo que at agora arrepia a minha alma. Minhas mos no eram minhas mos e sim de umdaqueles seres. Corri assustado em busca de um espelho ou fonte dgua que pudesse ver o meureflexo, pois uma suspeita terrvel me assaltou. Depois de caminhar, melhor correr achei uma fontee meu desespero neste instante atingiu um grau mximo. Ao olhar a imagem refletida na gua vi queme tornara uma daquelas criaturas obscenas. No tenho palavras para descrever meus sentimentosnaqueles momentos atormentadores, mas basta dizer que meu pesadelo no terminara, pois foi aque comea o desfecho desta maldita histria.

    Caminhei meio desesperado por todo aquele cenrio, procurando alguma resposta para aquilo, mass via mais destas criaturas e os seres humanos naquele estgio de degradao total. Perambulei pormais alguns prdios e vi mais cenas assustadoras, que peo que voc no pergunte ou me force acontar, apenas acredite em mim : no posso acreditar como o mal tem faces to horrveis, que muitagente no pode imaginar as mesmas.

    Ainda desnorteado andei pela cidade e neste instante pensei em meus amigos no prdio. Se aquiloera um sonho ento eu tinha que acordar e falar com eles sobre tudo aquilo. Eu precisava contar

  • aquele sonho, ou melhor aquele pesadelo. Mas parecia que no havia como, estava preso naquelemomento e no corpo daquela criatura. Tentei ento racionalizar aquela situao e descobrir mais umpouco sobre o significado daquilo tudo.

    Foi a que um rugido se fez presente no cu. Olhei para cima e vi uma espcie de veculo voador,descendo envolto em chamas em direo a um ponto especfico na cidade. Ele parecia estar caindo,mas de repente como se sustentado por foras invisveis, comeou a parar e desceu suavementeatrs de prdios distantes. Com certeza aquele veculo era algum tipo de transporte pois alguns dosseres comearam a conversar numa lngua estranha e meldica. Pareciam alegres e comearam acaminhar na direo do pouso daquele veculo.

    Eu olhei aquilo tudo no entendo nada e no sabendo como sair daquele pesadelo comecei acaminhar em direo ao local do pouso. No meio do caminho contudo uma mulher humana, umandia, mas muito bela se aproximou de mim e me olhou por alguns instantes. Ela me encaravasurpresa e de repente falou :

    - Homem do futuro volte e conte a todos o que aconteceu aqui...

    Meu choque alm desta frase, foi entender o que ela disse. A viso me faltou logo em seguida e tiveuma horrvel sensao de queda em um abismo negro e sem fundo. Parecia que caia no infinito, masde repente acordei.

    Para meu choque estava deitado semi nu em uma oca indgena. Na minha frente 3 pajsdevidamente ornamentados me olhava curiosos e aliviados. Um deles virou-se para mim eperguntou :

    - Voc est bem kari ?- Onde estou ? Perguntei- Voc est na Casa dos homens, est aqui h 18 luas, Poti e Jari te encontraram andando na matasem rumo, com a doena da pedra negra. Conseguimos trazer sua alma de volta para seu corpo.Voc esteve possudo por Tau, mas agora est bem. Voc precisa descansar.- Eu preciso voltar, preciso voltar ! Disse e s me lembro que desmaiei.

    Fiquem com os ndios muito doente por cerca de 3 meses, eles me curaram e o resto da histriavoc j sabe. Me levaram para Manaus e depois vim para o Rio.

    Olhei meu mestre assustado e no acreditando em suas palavras. Confesso que num primeiroinstajnte pensei que ele estivesse louco, devido a floresta amaznica. Mas ele depois que terminou eficou plcido e calmo, como se aquela catarse tivesse um efeito blsamico nele. Naquele dia eledormiu cedo em no teve nenhum indcio de pesadelo algum...

    Pela manh fui surpeendido por ele gritando feito louco e quebrando tudo a sua volta ! Ele berrava eeu me lembro at hoje o que ele me disse :

    - Eles falaram comigo esta noite ! Eles esto entre ns ! E berrava insanamente.

    Contudo vou revelar algo que no est em lugar nenhum...

  • 3.0

    O desfecho desta histria j foi dito no incio deste relato. O Professor foi para o santrio e de lpara o cemitrio. Poderiamos terminar tudo aqui, mas tem mais uma coisa que eu preciso revelar. Oprofessor no falara em nenhum momento do restante da expedio, durante sua estada comigo.Isso veio acontecer quando ele estava no sanatrio, numa tarde que eu fora vist-lo e que estavamuito, mas muito calmo. De acordo com os mdicos, ele comeara a desenvolver uma melhora,mas isso se dera 1 semana exata antes de sua morte.Estvamos sentado num jardim de convalescentes, que havia no sanatrio. Era um lugar muito belo,cheio de flores e rvores. O Professor neste dia estava muito tranquilo e seus olhos denotaram umaserenidade, que at hoje guardo como a ltima lembrana de meu amigo. Estava sentado com umpijama claro, numa ampla cadeira de vime e havia uma mesa com ch e pequenos bolos. Eu sentavanuma cadeira a sua frente, sorvendo o ch, enquanto conversavamos sobre amenidades, quando derepente ele parou, por instantes como se meditasse e me disse algo calmamente:

    - Paulo, voc unca me perguntou o que aconteceu com o resto das pessoas que estavam comigo noprdio na selva...

    Um calafrio percorreu a minha espinha quando ele falou aquilo, no sei a causa, mas naquelemomento havia algo errado ali. Parecia que havia algum ou mais alguma coisa conosco naquelemomento. Notei que o professor estava calmo e sorria, tentei desviar do assunto

    - Professor no me recordo em ter tido esta curiosidade, e acredito que aqueles pobres homens,como o Sr, Fawcett tenham se perdido na selva...

    - Inocente criana - riu - na realidade aconteceram algumas coisas que eu no falei e que no escrevino dirio. Coisas que vou lhe revelar pois mesmo que voc conte, ningum vai acreditar.

    Comecei a ficar bem nervoso com aquela conversa, mas decidi ouvir o que viria depois.

    - Pos bem ao acordar do sonho, no acordei direto na aldeia, eu ainda estava dentro do prdio quedormimos a noite, mas no estvamos sozinhos.Atrs de cada um dos homens, haviam um daqueles seres que eu vira no sonho, eles j haviams econectado com os homens e cada um apresentava um olhar vtreo e perdido como os humanos quepovoavam meus pensamentos

    Emiti um grito apavorado e imediatamente fui seguro por dois indios fortes e altos, diferentes dosda tribo de Poti e Jari. Na verdade lembravam astecas, com vestes muito parecidas com estesantigos habitantes da regio amaznica. Notei ento que havia mais uma criatura no recinto, iguaisaquelas que tinham se apoderado dos meus companheiros de expedio. Ela se aproximou de mim edisse numa voz sibilante...

    - Voc no sabe, esqueceu e agora comeou a se lembrar...- pausou - voc um de ns preso nestecorpo humano, no sabemos como sua essncia foi parar a dentro mas precisamos libertar vocirmo...

    - Isso s se dar mediante um ritual, do qual voc precisar morrer neste corpo para libertar suaessncia. Ainda no o momento de nos revelarmos e sim agirmos nos bastidores deste mundo...

    Ele se aproximou, levantou sua mo direita e disse ;

    Xotla cueponi

  • Ihio, ItltolNoyollo iiztaia, moyollo iiztaia

    Vou traduzir para voc Paulo, pois asteca...

    Eles crescem, Eles florescemSua respirao, Sua palavraMeu corao torna-se branco, seu corao torna-se branco

    Pois bem meu caro, neste momento fui tomado por uma paz enorme, como neste momento aqui eagora. O ser falou de novo comigo :

    Breve iremos nos encontrar meu irmo e quando voc estiver prximo do retorno se lembrardisso

    Dali adiante s me lembro de acordar na cabana dos ndios.

    - Professor... - disse com a a voz um pouco embargada - isso verdade ?- Criana, cada palavra, em breve voltarei a encontrar os da minha raa, sair dessa priso... - derepente ele desmaiou, mas por breves instantes - Paulo, o que houve, a ltima coisa que me lembrofoi que senti uma indisposio e tudo ficou preto.- Professor, o senhor se lembra do que falou comigo h pouco ?- Lembro-me que falvamos sobre o a carte imperial e de repente eu desmaiei...- Vou chamar o mdico para ver o senhor...

    Levantei-me com o estmago revirado, a boca seca e tremendo. Encontrei um mdico e falei que oprofessor passara mal. Ele veio correndo e verificou a presso e os batimentos cardiacos de Limeira,no achando nada demais. Ele perguntara se eu estava me sentindo bem, pois estava muito plido,como se tivesse tomado um susto. No falei para o motivo real, pois pensara que o Professor tinhapassado por algum tipo de ataque e que me assustra muito. Ele me acalmou, dizendo que estavatudo bem e recomendou que o professor se retirasse para descansar e fazer mais alguns examesrotineiros. Foi a ltima vez que eu conversara com ele pessoalmente.

    Dalia uma semana ele seria morto daquela maneira estranha...

    Neste exato momento que termino de escrever este texto, estou para realizar uma viagem dedirigvel para Londres para visitar algumas pessoas importantes no meio de arqueologia pr-colombiana. So estudiosos de textos e da cultura asteca e maia. Quero encontrar algum vestgiosobre a possibilidade destes seres antigos terem existido e saber quem seriam eles. Tambm vouvisitar o tal mago ingls Crowley, pois talvez ele possa me ajudar nesta histria toda. O dirio aindaest comigo, e j foi todo fotografado em minuciosos detalhes. O original est num local do qual seu sei onde fica e as cpias foram enviadas para diversos amigos de muita confiana que estotambm estudando este livro maldito em busca de algo que eu no tenha percebido. Caso aconteaalgo comigo, o governo imperial receber um telegrama revelando o local deste livro de meupreceptor e mais alguns documentos de minha autoria sobre o caso.

    O que me resta agora partir em buscas de respostas, mas confesso que eu no consegui aindaformular as perguntas...

    FIMcopyright Antonio Marcelo - [email protected]