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DESPORTO E PROTECÇÃO DOS ANIMAIS POR UM PACTO DE NÃO AGRESSÃO CARLA AMADO GOMES

DESPORTO E PROTECÇÃO DOS ANIMAIS POR UM PACTO DE … · Animais e coisas Na lei civil, cumpre distinguir dois tipos/categorias de animais: os selvagens e os não selvagens ― cfr

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DESPORTO E PROTECÇÃO DOS ANIMAIS POR UM PACTO DE NÃO AGRESSÃO

CARLA AMADO GOMES

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Desporto e protecção dos animais:

Por um pacto de não agressão

Carla Amado Gomes,

Profª Auxiliar da Faculdade de Direito da

Universidade de Lisboa

Profª Convidada da Faculdade de Direito da

Universidade Nova de Lisboa

Sumário: I. Introdução. II. A protecção dos animais. 2.1. Como objectivo

constitucional. 2.1.1. Modelos: 2.1.1.1. Indiferença. 2.1.1.2. Protecção reflexa. 2.1.1.3.

Protecção directa (mínima, média e máxima). 2.2. Como objectivo do Direito

Internacional e do Direito da União Europeia. 2.2.1. A Convenção Europeia sobre a

protecção dos animais em transporte Internacional (1968) e o respectivo Protocolo

adicional (1976). 2.2.2. A Convenção Europeia para a protecção dos animais nos

locais de criação (1976). 2.2.3. A Declaração Universal dos Direitos dos Animais

(UNESCO), de 1978. 2.2.4. A Convenção Europeia sobre a protecção de animais de

companhia (Conselho da Europa), de 1987. 2.2.5. O Direito da União Europeia:

2.2.5.1. O artigo 13 do TFUE; 2.2.5.2. O direito derivado. 2.3. Como object(iv)o da lei

civil. 2.3.1. Animais e coisas. 2.3.2. Protecção dos animais e bons costumes. 2.4.

Como object(iv)o da lei penal. 2.41. Os artigos 278º e 279º do Código Penal. 2.5.

Como objectivo da Lei de Bases da actividade física e do desporto. 2.6. Como

objecto dos diplomas de cariz ambiental. 2.6.1. A Lei de Bases do Ambiente (Lei

11/87, de 7 de Abril). 2.6.2. A Lei de protecção dos animais (Lei 92/95, de 12 de

Setembro, com a redacção dada pela Lei 19/2002, de 31 de Julho). III. Notas da

jurisprudência portuguesa. 3.1. Uma jurisprudência pouco expressiva e pouco amiga

dos animais. IV. Notas finais. 4.1. Desporto e não agressão a animais. 4.2. Protecção

dos animais e “respeito pelos valores do ambiente” (artigo 66º/2/g) da CRP). 4.3.

Desporto e “sensibilização ambiental” (artigo 31º/2 da Lei de bases da actividade

física e do desporto). 4.4. Desporto e tradição: por um pacto de não agressão.

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Introdução

A jurisprudência portuguesa sobre animais e desporto é pouco

abundante, pouco entusiasmante e pouco diversa. Estas são as razões

que justificam à autora destas linhas começar “ao contrário” ― dos

argumentos que deveriam constar dos arestos para as soluções

adoptadas ― e reduzir-se à enunciação de tópicos ― uma vez que a

fundamentação das decisões é, na sua esmagadora maioria, unívoca na

solução e parca na contextualização da questão. Trata-se, assim, de um

texto essencialmente informativo e cujo objectivo é ilustrar o crescendo

de atenção que a tutela do bem estar animal tem vindo a merecer por

parte de alguns sectores e ordenamentos ― bem como atestar a

indiferença que tal tutela tem despertado na jurisprudência maioritária.

II. A protecção dos animais

Num Estado de Direito, a procura da selecção de bens jurídicos

relevantes para a comunidade deve começar pelo texto constitucional.

Vejamos que modelos se apresentam em termos comparados.

2.1. Como objectivo constitucional

2.1.1. Modelos:

2.1.1.1. Indiferença

O texto constitucional pode ser totalmente alheio à protecção dos

animais, quer enquanto bens jurídicos autónomos, quer enquanto

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integrantes da noção de ambiente. Este padrão verifica-se em

ordenamentos como o norteamericano, o francês, o dinamarquês, que

não dedicam normas constitucionais à protecção ambiental (embora o

façam em legislação infraconstitucional1).

2.1.1.2. Protecção reflexa

Noutros ordenamentos, a protecção dos animais apenas reflexamente

pode ser induzida, através da tutela do bem jurídico ambiente,

enquanto partes integrantes (mas não identificadas) deste. São os

exemplos das constituições espanhola (artigo 45), grega (artigo 24), ou

italiana (artigo 117, nº 2/s) e nº 3).

2.1.1.3. Protecção directa

Um terceiro modelo, a que chamaremos de protecção directa,

comporta várias gradações:

i) A protecção da “natureza” e da “estabilidade ecológica” (artigo

66º/2/c)e d) da Constituição portuguesa = CRP); a protecção da

natureza e da biodiversidade (artigos 20/1 da Constituição

finlandesa; 127 da Constituição venezuelana);

ii) A protecção da “fauna” (artigo 225, §1º/VII da Constituição

brasileira), a protecção dos “animais” (artigos 42/2 da

Constituição do estado de Brandenburgo; 80 da Constituição

suiça); 20, nº 1, da Lei Fundamental de Bona, alteração de 2002);

1 Nomeadamente, o francês, que opera a recepção formal da Charte constitutionnelle de l’Environnement (Lei constitucional 2005-205, de 1 Março) pela Constituição de 1958.

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iii) A atribuição de direitos à Natureza (artigo 71 da Constituição do

Equador);

iv) A atribuição de direitos aos animais (ao que julgamos saber,

nenhum texto constitucional até hoje reconheceu direitos aos

animais).

Neste terceiro modelo, deve ressaltar-se o disposto no artigo 80 da

Constituição suiça de 2000, a disposição mais detalhada sobre injunções

dirigidas ao legislador ordinário no que tange à protecção dos animais:

Article 80 Animal Protection

(1) The Federation adopts rules on animal protection.

(2) The Federation regulates in particular:

a. the keeping and care of animals;

b. experiments and intervention on live animals;

c. the use of animals;

d. the importation of animals and animal products;

e. animal trade and transportation of animals;

f. the killing of animals

(3) The execution of the regulations falls to the cantons, as far as the

law does not reserve it for the Federation.

2.2. Como objectivo do Direito Internacional e do Direito da União

Europeia

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2.2.1. A Convenção Europeia para a protecção dos animais nos locais de

criação (1976)

Esta Convenção foi aprovada para ratificação por Portugal pelo Decreto

5/82, de 30 de Dezembro de 1981. Tem por desígnio promover a criação

de condições de alojamento, alimentação e cuidados apropriados às

suas necessidades fisiológicas e etológicas, de acordo com regras

científicas e de experiência adquirida.

2.2.2. A Convenção Europeia sobre a protecção dos animais em

transporte Internacional (1968) e o respectivo Protocolo adicional

(1976)

Esta Convenção foi aprovada para ratificação por Portugal pelo Decreto

33/82, de 15 de Fevereiro. O seu objectivo é impedir o sofrimento

desnecessário de animais em trânsito quer se destinem a abate, quer

sejam animais de companhia.

2.2.3. A Declaração Universal dos Direitos dos Animais (UNESCO), de

1978

A Declaração Universal dos Direitos dos Animais foi proclamada no seio

da UNESCO em 15 de Outubro de 1978. Trata-se de um documento não

vinculante que apela a uma coexistência harmónica entre seres

humanos e animais e que, mais do que as convenções anteriores,

reconhece direitos aos animais (direito à vida, à reprodução, à

alimentação, a não serem submetidos a tratamentos cruéis…).

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2.2.4. A Convenção Europeia sobre a protecção de animais de

companhia (Conselho da Europa), de 1987

Portugal ratificou esta Convenção através do DL 13/93, de 13 de Abril.

Ela destina-se exclusivamente à protecção de animais que têm com o

ser humano uma especial relação de proximidade e convivência,

garantindo o seu respeito, salvaguarda de condições de higiene e

alimentação e prevenindo situações de maus tratos.

2.2.5. O Direito da União Europeia:

O Direito “constitucional” da União Europeia registou recentemente

uma novidade neste campo, embora a temática da protecção dos

animais seja mais longeva.

2.2.5.1. O artigo 13 do TFUE

O artigo 13 do TFUE, introduzido pelo Tratado de Lisboa2, veio

reconhecer a qualidade de seres “sensíveis” aos animais, reconhecendo

deveres de protecção por parte do legislador da União e dos Estados-

membros, muito embora sujeitos a harmonização com práticas culturais

enraizadas:

In formulating and implementing the Union's agriculture, fisheries,

transport, internal market, research and technological development

2 Com antecedentes no Protocolo nº 13 do Tratado de Amesterdão (1997).

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and space policies, the Union and the Member States shall, since

animals are sentient beings, pay full regard to the welfare

requirements of animals, while respecting the legislative or

administrative provisions and customs of the Member States relating

in particular to religious rites, cultural traditions and regional

heritage."

2.2.5.2. O direito derivado

A União Europeia vem legislando sobre protecção do bem-estar animal

desde 1964, ano da adopção da Directiva do Conselho 64/432/CEE, de 26

de Junho, sobre protecção da saúde animal de bovinos e suínos no

comércio intra-comunitário. Numa primeira fase, a preocupação foi

sobretudo reflexa, residindo o objectivo primacial na protecção da

saúde das pessoas consumidoras. As Convenções adoptadas no seio do

Conselho da Europa, supra referenciadas e ratificadas pela União

Europeia promoveram a evolução para um segundo patamar de

protecção, directa, do bem-estar animal, que o artigo 13 do TFUE acima

mencionado veio sancionar. Actualmente, o Direito da União Europeia

sobre vários sectores da protecção dos animais, desde condições de

criação e transporte de animais para consumo, passando pela

delimitação de critérios de utilização de animais para fins de

experimentação científica, até à proibição de comercialização de

determinadas espécies3.

3 Informação legislativa disponível em http://ec.europa.eu/food/animal/welfare/references_en.htm (Animal welfare main Community legislative references).

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2.3. Como object(iv)o da lei civil

2.3.1. Animais e coisas

Na lei civil, cumpre distinguir dois tipos/categorias de animais: os

selvagens e os não selvagens ― cfr. o artigo 1319º do Código Civil (=CC).

Quanto aos primeiros, cumpre ainda diferenciar entre os protegidos

pelas leis ambientais desde logo ex vi os artigos 66º/2/d) da CRP, 16º da

Lei de Bases do Ambiente (v. infra, 1.6.1.) e legislação sectorial sobre

protecção da natureza), e os não merecedores de especial protecção

(que são res nullius, sujeitos a ocupação pelos seus achadores). Os não

selvagens são, literalmente ― e importa sublinhar a data de aprovação

do CC, inalterado neste ponto: 1966 ― coisas móveis, nos termos do

artigo 205º/1 do CC (vejam-se também os artigos 1318º/1 e 1323º/1 do CC

)4.

A evolução do estatuto do animal, muito promovida pelo emergente

interesse e afirmação do Direito do Ambiente, tem levado alguma

doutrina a defender um estatuto diferenciado para os animais não

selvagens, maxime domésticos. É paradigmática a posição de MENEZES

CORDEIRO ao qualificá-los como “semoventes”5, coisas que não estão

na absoluta liberdade de uso e fruição do seu dono em virtude da sua

qualidade de seres sensíveis. Isto na medida em que “o respeito pela

4 Diferentemente, no sentido de que o Código Civil não equipara animal a coisa móvel, José Luís RAMOS, Tiro aos pombos…, cit., p. 38, alertando ainda para alguns dispositivos de direito comparado que, no plano civil, estabelecem expressamente a diferenciação entre animal e coisa (móvel).5 António MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil, Vol. I, Tomo II, 2ª ed.,

Coimbra, 2002, p. 142, chamando, precisamente, a atenção para a dificuldade de qualificar o animal como uma simples coisa móvel, num momento histórico em que razões éticas e sócio-culturais aconselham a uma revisão do seu estatuto (pp. 212 segs e 214, 215).

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vida é uma decorrência ética do respeito pelo seu semelhante (...) O ser

humano sabe que o animal pode sofrer, sabe fazê-lo sofrer; pode evitar

fazê-lo. A sabedoria dá-lhe responsabilidade”6.

Ouçam-se também, por seu turno e numa perspectiva juspublicista,

as palavras de SÉRVULO CORREIA, a propósito da compatibilidade da

actividade da caça (cinegética) com a protecção do ambiente: “aquilo

que era até há algumas décadas fundamentalmente olhado pelo

ordenamento jurídico como mero objecto da actividade cinegética,

passou a ser encarado como um valor ambiental em si próprio,

protegido pela Constituição e abrangido pelos princípios do Direito do

Ambiente em matéria de protecção da fauna e dos seus habitats. A

própria actividade cinegética deixa de ser encarada apenas como um

modo lúdico de esforço desportivo e de ocupação de res nullius para ser

enquadrada sob regras de exploração ordenada de recursos naturais

inspiradas pelos princípios da sustentabilidade e da conservação da

diversidade biológica e genética”7.

Cumpre observar que está em curso uma iniciativa legislativa, na

Assembleia da República, no sentido de introduzir várias alterações ao

Código Civil, conferindo um estatuto diferenciado ao animal. O projecto

de lei 173/XII/1ª8, da autoria de um grupo de deputados, assumindo a

linha de continuidade com o direito comparado (nomeadamente

alemão, austríaco e suiço) e com a evolução do Direito Internacional,

propõe para o animal um estatuto de « coisa especial », que passa por

lhe ser aplicável o regime das coisas « apenas quando lei especial não

6 António MENEZES CORDEIRO, Tratado..., cit., p. 214.7 José Manuel SÉRVULO CORREIA, Zonas de caça associativa e consentimento dos

proprietários, in Estudos em homenagem ao Prof. Doutor Pedro Soares Martínez, I, Coimbra, 2000, pp. 753 segs, 776.8 Disponível em http://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar

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seja aplicável e apenas na medida em que não sejam incompatíveis com

o espírito dela » (cfr. a proposta de inclusão de um novo artigo 202ºA/2).

2.3.2. Protecção dos animais e bons costumes

Por força da crescente sensibilização para um estatuto diferenciado dos

animais, há autores que tentam delimitar obrigações de

cuidado/proibições de maus tratos ou tratamentos desnecessariamente

cruéis através da fórmula dos “bons costumes” (cfr., entre outros, os

artigos 280º/2 e 334º do CC)9. Esta argumentação visa contornar o frágil

estatuto do animal enquanto coisa, procurando construir uma base

para restringir determinados comportamentos “abusivos” dos

proprietários.

2.4. Como object(iv)o da lei penal

2.4.1. Os artigos 278º, 279º e 281º do Código Penal incidem, a títulos

diversos, sobre a tutela de animais.

O artigo 278º pune os “danos contra a natureza”, incriminando

condutas que consistam em: “a) Eliminar, destruir ou capturar

exemplares de espécies protegidas da fauna ou da flora selvagens ou

eliminar exemplares de fauna ou flora em número significativo”10 ―

sublinhe-se: espécies protegidas.

9 Neste sentido, Sonia DESMOULIN-CANSELIER, Protection des animaux et condition juridique de l'animal en droit français, in Revue interdisciplinaire d’études juridiques, nº 57, 2006, pp. 37 segs, passim.10 Note-se que, de acordo com o nº 4 deste artigo 278º, não há punibilidade

quando: “a) A quantidade de exemplares detidos não for significativa; e b) O impacto sobre a conservação das espécies em causa não for significativo”.

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O artigo 279º tem por epígrafe “crime de poluição”, punindo

autonomamente o dano substancial causado a espécies protegidas,

consistindo este no “impacto significativo sobre a conservação das

espécies ou dos seus habitats” (alínea d) do nº 6) ― mais uma vez se

ressalta a circunscrição do tipo a espécies (de fauna) protegidas.

Já o artigo 281º tem por objectivo a tutela de outras categorias de

animais através da incriminação, a título de dano, de condutas que

consistam em “b) Manipular, fabricar ou produzir, importar, armazenar,

ou [pôr] à venda, ou em circulação, alimentos ou forragens destinados a

animais domésticos alheios …” criando “deste modo perigo de dano a

número considerável de animais alheios, domésticos ou úteis ao

homem” (nº 1).

Estes dispositivos retomam, no essencial, o sistema binário do Código

Civil: animais selvagens protegidos e animais não selvagens. Os

primeiros, enquanto componentes ambientais naturais e essenciais ao

equilíbrio do ecossistema, caem sob o manto protector dos crimes

contra a natureza; os segundos, são protegidos enquanto coisas úteis

aos seus donos.

2.5. Como objectivo da Lei de Bases da actividade física e do desporto

A Lei de Bases da actividade física e do desporto (Lei 5/2007, de 16 de

Janeiro) abriga um artigo 31º que se refere a desporto na natureza. Este

dispositivo, no seu nº 1, estabelece uma obrigação de respeito pelos

valores naturais e impõe um especial cuidado na utilização de áreas

protegidas, em razão da fragilidade dos espécimens de fauna e flora aí

presentes. O nº 2 do preceito faz eco da Constituição quando apela à

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educação e sensibilização ambientais através da prática de desporto na

natureza. Por outras palavas, os desportistas devem abster-se de causar

perturbações desnecessárias e eventualmente lesivas às espécies de

fauna e flora com que se cruzem nas suas actividades.

2.6. Como objecto dos diplomas de cariz ambiental

Em nossa opinião, é a “descoberta” do Direito do Ambiente que mais

directamente influi na alteração da perspectiva do homem face ao

animal. Sendo certo que haverá sempre que distinguir entre animais

domésticos e animais não domésticos (ou não domesticáveis) no estrito

plano do Direito do Ambiente (uma vez que os últimos não integram o

ecossistema natural por força da “socialização” a que estão votados).

2.6.1. A Lei de Bases do Ambiente (Lei 11/87, de 7 de Abril)

Na Lei de Bases do Ambiente (=LBA), como já se observou, o artigo 16º

dedica-se especialmente à protecção da fauna selvagem merecedora de

especial protecção, quer em atenção a objectivos de estrita

preservação, quer também a fins de gestão racional. Trata-se, todavia,

de uma lei-quadro, que remete para diplomas especiais o

desenvolvimento das suas prescrições, pelo que dela se não retira um

regime de protecção acabado.

2.6.2. A Lei de protecção dos animais (Lei 92/95, de 12 de Setembro, com

a redacção dada pela Lei 19/2002, de 31 de Julho)

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O diploma que melhor autonomiza a preocupação crescente com a

evolução do tratamento dos animais é a Lei 92/95, de 12 de Setembro,

mais conhecida como Lei da protecção dos animais. É, de resto, sobre

esta lei que os raros casos decididos pela jurisprudência se têm

debruçado e que têm usado como base de decisão.

A lei remete para diplomas especiais a protecção de animais em vias

de extinção (artigo 1º/4), visando estabelecer um regime unitário para

todos os restantes, selvagens ou não selvagens, que assenta

fundamentalmente na proibição de sujeição a “violências injustificadas”

(artigo 1º/1).

A técnica legislativa não foi feliz, na medida em que a uma cláusula

geral (nº 1) se aditou uma enunciação taxativa (?) em que se identificam

algumas práticas que preenchem o conceito de “violência injustificada”

(nº 3), ficando a dúvida de saber, desde logo se, na qualificação,

prevalece a cláusula geral ou a enumeração taxativa e, depois, se outras

práticas pré-existentes e conhecidas do legislador, ao serem ignoradas

no elenco do nº 3 o foram intencionalmente, ou seja, com um intuito

derrogatório. Assinale-se que a alínea b) alude expressamente a

espectáculos equestres e touradas autorizadas por lei como casos

excluídos da proibição, ou seja, admitidos apesar da violência infligida

sobre o animal.

É neste ponto, precisamente, que protecção dos animais e desporto

fazem tangentes. Na verdade, se é certo que há desportos-espectáculo

que se alimentam da beleza dos animais ou da sua especial condição

física (competições hípicas; corridas de galgos), outras actividades

desportivas/espectáculos se praticam em que se sacrifica o animal,

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atentando contra a sua integridade física (touradas) ou mesmo a sua

vida (tiro aos pombos; pesca desportiva).

III. Notas da jurisprudência portuguesa

3.1. Uma jurisprudência pouco expressiva e pouco amiga dos animais

Sobre desporto e animais, há fundamentalmente dois arestos de

referência, ambos sobre o mesmo tema e com posições díspares ―

sendo certo que um é o ACSTJ, de 31 de Janeiro de 2002 e espelha a

posição maioritária11, e outro o ACTRG, de 29 de Outubro de 2003, e

perfilha uma orientação minoritária12. Falamos do tiro aos pombos13 e da

aceitação da sua prática pelo Supremo Tribunal de Justiça ― secundado

pelo Supremo Tribunal Administrativo, em acórdão de 201014 ―, e da

condenação da mesma pela Relação.

Os argumentos do Supremo residem, por um lado, no facto de se

desconsiderar a morte dos pombos como uma “violência injustificada”

11 Processo n.º 02A2200, relatado pelo Conselheiro Reis Figueira e disponível, na íntegra, em http://www.dgsi.pt/jstj, confirmado pelos ACSTJ, de 19 de Outubro de 2004, processo n.º 04B3354, relatado pelo Conselheiro Salvador da Costa e disponível, na íntegra, em www.dgsi.pt/jstj e pelo ACSTJ, de 15 de Março de 2007, proc. 06B4413, relatado pelo Conselheiro Gil Roque e disponível, na íntegra, em http://www.dgsi.pt/jstj.

12 Processo n.º 223/03, relatado pelo Desembargador xxxx e disponível, na íntegra, em xxxxxxxxxxx. Esta posição foi seguida pelo Tribunal Central Administrativo-Sul em acórdão de 2 de Dezembro de 2004, processo n.º 00375/04, relatado pela Desembargadora Maria Cristina Gallego dos Santos e disponível, na íntegra, em http://www.dgsi.pt/jtca. 13 Recenseiam-se ainda pontuais decisões sobre corridas de lebres vivas com

galgos, em sentido favorável à prática – veja-se, por exemplo, o ACTRP, de 10 de Abril de 2007, Processo n.º 0721017, relatado pelo Desembargador Cândido Lemos e disponível, na íntegra, em http://www.dgsi.pt/jtrp.14 ACSTA, de 23 de Setembro de 2010, proc. 0399/10, relatado pelo Conselheiro

Madeira dos Santos e disponível, na íntegra, em www.dgsi.pt/jsta.

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e, por outro lado, na circunstância de os trabalhos preparatórios da Lei

92/95 revelarem a inclusão da prática de tiro aos pombos, depois

afastada da versão final ― o que o Supremo vê como uma inequívoca

tomada de posição do legislador no sentido de dar a prática como

admissível15.

Nas palavras do ACSTJ, de 31 de Janeiro de 2002,

« …para a Lei, causar a morte (sofrimentos, etc.) a animais, "sem

necessidade", significa causar a morte a título absolutamente

gratuito e sem qualquer finalidade extra, sendo causa justificativa o

desporto de tiro a animais vivos: na ideia da lei, a prática daquele

desporto constitui justificação para a morte (etc.) dos animais.

O costume não age aqui, directamente e por si próprio, como

fonte de direito, mas pela via de uma lei que o reconhece e não

proíbe ».

Acresce que nem o arranque de penas da cauda dos pombos para

tornar o voo mais errático (e assim testar a perícia do atirador) nem o

tempo de estertor são reconhecidos como “graves lesões” e/ou

“sofrimento cruel e prolongado” (cfr. o atrigo 1º/1). De sublinhar é

também o facto de o tiro aos pombos ser uma actividade que alimenta

muitos clubes por todo o país, cuja legalidade de existência não é

questionada. Além de que, na perspectiva do Supremo, se trata de

meras “coisas móveis”. Enfim, o Alto Tribunal apela ao enquadramento

histórico-cultural para dar como plenamente válida a prática de tiro aos

15 Tal como também “caíram” alíneas referentes a caça a cavalo, criação de raposas ou animais daninhos com o objectivo de posteriormente os caçar e corridas de cães com lebres vivas.

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pombos, numa tradição lúdico-desportiva idêntica às touradas e à arte

equestre (essas expressamente ressalvadas na segunda parte da alínea

b) do nº 3 do artigo 1º da Lei 92/95).

Em contraponto, a Relação de Guimarães, mais sensível à evolução

(internacional) que o estatuto do animal vem denotando,

desconsiderou a não inclusão do elenco do nº 3 da prática do tiro aos

pombos, sobrelevando a proibição de violências desnecessárias e

geradoras de sofrimentos cruéis e prolongados, que se extrai do nº 1 do

artigo 1º da Lei 92/95. Os Desembargadores não tiveram dúvidas em

rotular a utilização de pombos como desnecessária em face da

possibilidade de substituição por pratos ou outros alvos móveis, e o

sofrimento provocado pelo arranque das penas da cauda como cruel,

bem como o eventual estertor antes da morte como cruelmente

prolongado. Tão pouco o facto de a prática ser socialmente aceite ―

pelas pessoas que a adoptam ― impressionou a Relação de Guimarães,

na medida em que as tradições devem ser revistas caso os valores

sociais que as sustentam se alterem, sujeitando-as a um balancing

process com vista a estabelecer a sua (des)necessidade16:

“Em causa está, assim, por um lado, uma actividade lúdico-

desportiva, desenvolvida sobretudo por caçadores, que remonta a

uma época em que nem a protecção da vida e integridade física dos

animais constituía valor dominante na comunidade internacional e

16 Atente-se, de resto, no disposto no artigo 1º/3 do DL 139/2009, de 15 Junho: “Para efeitos de aplicação do presente decreto-lei, apenas se considera património cultural imaterial o património que se mostre compatível com as disposições nacionais e internacionais que vinculem o Estado Português em matéria de direitos humanos, bem como com as exigências de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos”.

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nacional nem existiam alvos mecânicos que pudessem substituir os

alvos vivos, e por outro lado, a vida e integridade física dos animais,

valores protegidos pela Lei 92/95.

Não podendo as provas de tiro aos pombos ser equiparadas à caça,

às touradas previstas na lei e à arte equestre ― actividades

arreigadas no espírito do povo português que, por essa razão, se

encontram expressamente excepcionadas na Lei 92/95, a par das

experiências científicas de comprovada necessidade ―, não é

evidente que a morte dos animais resultante das mesmas possa

considerar-se justificada”.

Facto é que a falta de clareza da lei desincentiva posicionamentos

unívocos, deixando a solução destes casos à pura sensibilidade do

julgador.

IV. Notas finais

4.1. Desporto e não agressão a animais

Pela nossa parte e aceitando embora a ambiguidade da Lei 92/95,

nomeadamente do seu artigo 1º, pensamos ser possível extrair do

sistema uma posição contrária a práticas desportivas (com ou sem

componente de espectáculo) que impliquem sofrimento gratuito para

os animais ― leia-se: sofrimento que não seja justificado por uma

finalidade alimentícia ou científica humana. Trata-se de, uma vez

caracterizado o crescendo de argumentos no sentido de uma revisão do

estatuto jurídico do animal, aproveitar esse balanço para apoiar uma

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interpretação da Lei 92/95 mais consentânea com o contexto normativo

global e com o sentimento de uma comunidade cada vez mais motivada

para uma reavaliação da relação entre o homem e os restantes

componentes do ecossistema.

4.2. Protecção dos animais e “respeito pelos valores do ambiente”

(artigo 66º/2/g) da CRP)

Um primeiro argumento reside no apelo ao respeito pelos valores do

ambiente, ínsito no artigo 66º/2/g) da CRP. Sendo certo que a

Constituição não destaca os animais como objecto de protecção

especial, como o fazem as suas congéneres alemã e suiça, a exortação

da alínea g) deve ser assumida por todas as funções do Estado,

fundamentando uma interpretação da Lei 92/95 mais conforme ao

espírito da época, que aponta claramente para uma diferenciação do

animal enquanto “ser sensível”.

4.3. Desporto e “sensibilização ambiental” (artigo 31º/2 da Lei de bases

da actividade física e do desporto)

Um segundo argumento, decalcado do anterior, decorre do intuito de

sensibilização ambiental que encontramos na Lei 5/2007. Este

dispositivo amplifica o normativo constitucional e associa o apelo aos

valores ambientais à prática desportiva. É de ressaltar esta “indução”

de boas práticas ambientais através das actividades desportivas,

sobretudo tendo em atenção a sedução dos jovens pelo desporto e a

maior permeabilidade desta faixa etária aos novos valores, que

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envolvem grandezas transgeracionais (cfr. os artigos 70º e 79º/2 da

CRP).

4.4. Desporto e tradição: por um pacto de não agressão

O terceiro argumento baseia-se tanto numa lógica de ponderação de

bens (valores do ambiente/valores culturais) como numa equação de

razoabilidade. Por um lado, é o legislador que apela a uma conciliação

entre tradição e dignidade humana quando estabelece, quanto ao

património imaterial, que as tradições devem ceder sempre que

atentem contra valores superiores da comunidade historicamente

situada (cfr. o artigo 1º/3 do DL 139/2009, de 15 Junho). Por outro lado,

um desporto que implique uma utilização gratuita de um ser vivo, não

sobrevive ao teste da necessidade, lido à luz do “respeito pelos valores

do ambiente”.

As tradições formam-se, perdem-se, recuperam-se, banem-se, como

fenómenos culturais/temporais que são. Os desportos/espectáculos,

ainda que tradicionais, devem ser revistos de acordo com as alterações

de concepções sociais dominantes: não é despiciendo que actualmente

não haja lutas de gladiadores ou que as lutas de cães sejam proibidas

(cfr. o DL 315/2009, de 29 de Outubro). Os animais são companheiros do

homem na aventura da vida e como tal e na sua condição de seres

sensíveis, devem ser resguardados de práticas que,

desnecessariamente, lesem a sua integridade. Cumpre, pois, à

jurisprudência, especialmente bem colocada intérprete do sentir social,

incentivar a celebração de um pacto de não agressão entre o

desportista e o animal ― sendo certo que pode rapidamente vir a ser

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ultrapassada pelo legislador, caso o projecto de lei mencionado em

2.3.1., chegue a bom porto.

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