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Deste lado da sepultura - Série Night Huntress

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Mas justamente quando conseguem superar o último desafio, as novas habilidades de Cat ameaçam quebrar o equilíbrio que há muito tempo, e a muito custo, vem sido mantido entre as nações de ghouls e vampiros. Rumores de que uma guerra entre as espécies está mais perto do que nunca são alimentados pelo misterioso desaparecimento de vampiros. Um líder fanático resolve incitar a violência entre as duas raças e, se estes poderosos grupos resolverem se enfrentar, os efeitos serão catastróficos... inclusive para os mortais inocentes. Agora, Cat e Bones devem buscar ajuda nos lugares mais inesperados, o que inclui uma “aliada” perigosa: a rainha ghoul de Nova Orleans. Mas o preço desta ajuda pode ser alto demais, e ainda mais desastroso que a própria guerra entre os seres sobrenaturais.

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Deste lado da SepulturaSérie Night Huntress

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Jeaniene Frost

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Jeaniene Frost

São Paulo 2013

Deste lado da SepulturaSérie Night Huntress

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2013IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO ÀNOVO SÉCULO EDITORA LTDA.

CEA – Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 – 11º Andar

Bloco A – Conjunto 1111CEP 06455-000 – Alphaville Industrial– SP Tel. (11) 3699-7107

[email protected]

Copyright © 2011 by Jeaniene Frost

Copyright © 2013 by Novo Século Editora Ltda.

Published by arrangement with HarperCollins Publishers

Coordenação Editorial: Mateus Duque Erthal

Tradução: Eugenia Mae

Preparação: Aline Câmara

Diagramação: Claudio Tito Braghini Junior

Motagem de Capa: Monalisa Morato

Revisão: Equipe Novo Século

Frost, Jeaniene Deste lado da sepultura / Jeaniene Frost; [tradução Eugenia Mae]. -- Barueri, SP: Novo Século Editora, 2013. -- (Série night huntress) Título original: This side of the grave. 1. Ficção norte-americana I. Título. II. Série. 13-01440 CDD-813.5

1. Ficção : Literatura norte-americana 813.5

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:

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DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO ÀNOVO SÉCULO EDITORA LTDA.

CEA – Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 – 11º Andar

Bloco A – Conjunto 1111CEP 06455-000 – Alphaville Industrial– SPTel. (11) 2321-5080 – Fax (11) 2321-5099

[email protected]

Para Matthew, Melissa e Ilona,por tantas razões que é impossível enumerar.

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Agradecimentos

Este trecho pode parecer extenso, mas, na realidade, nem chega perto de agradecer a todas as pessoas importantes para a série Night Huntress. Aqueles cujo nome não menciono, saibam que não é por falta de gratidão, mas pura e simples falta de espaço.

Como sempre, tenho que começar agradecendo a Deus por todas as ma-ravilhosas oportunidades que recebi. Lembro do tempo em que tudo o que eu pedia era que meu livro fosse publicado. Felizmente para mim, o Senhor tinha planos muito maiores.

Agradeço de coração a minha maravilhosa editora Erika Tsang e aos in-tegrantes da fabulosa equipe da Avon Books. Nancy Yost, minha empresária, continua a valer o seu peso em ouro. Um agradecimento público a Tage, Erin, Kimberley e Carol por tudo o que fazem na Frost Fans. Muito obrigada também aos leitores da série Night Huntress por seu apoio a Cat, Bones e toda a “desajus-tada família das presas”. Nunca vou conseguir expressar o quanto sou grata por contarem a outras pessoas sobre a série e também por suas mensagens de enco-rajamento. A frase “Vocês é que mandam!” está longe de ser suficiente.

Agradeço a Miriam Struett e a Angelika Szakácsi, vencedoras do concurso “Um nome para o gato”. Acho Helsing (versão resumida de Van Helsing) um nome perfeito para o gato da Gatinha!

E, é claro, amor e gratidão eternos a meu marido e a minha família, por tantas coisas que eu jamais conseguiria enumerar.

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TIRE AS MÃOS DE MIM!

Cheguei aos vampiros quando eles empurravam o homem para fora do meu campo de visão. Pelo batimento frenético em seu peito, era um humano.

– O que está acontecendo, pessoal? – Minha voz soou casual e mantive as mãos distantes da faca de prata presa às minhas costas.

Um dos vampiros me lançou um olhar hostil.– Não é da sua conta, ruiva.Bones entrou na área, obviamente depois de ter ouvido a discussão e meu

envolvimento nela. Sorriu para o grupo de vampiros, mas não foi isto que os fez interromper o que faziam para lhe dar total atenção. Foi o poder que Bones libe-rou quando deixou cair suas barreiras e toda a força da sua aura emergiu como um gêiser, agitando o ar à sua volta com correntes invisíveis.

– Eu acho que minha mulher fez uma pergunta.

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Um

O vampiro puxou as correntes que o prendiam à parede da caverna. Seus olhos estavam verdes, e o brilho deles iluminava a escuridão que nos cercava.

– Acha mesmo que esta coisa vai me prender? – perguntou, com um sota-que britânico acariciando o desafio.

– Acho, sim – respondi. – Estas algemas foram instaladas e testadas por um vampiro Master, portanto são fortes o suficiente. Disto eu sei. Eu mesma já fiquei presa nelas.

O sorriso do vampiro revelou presas entre os alvos dentes superiores. Elas não estavam ali minutos antes, quando ele parecia, a olhos destreinados, apenas humano.

– Tudo bem, então. O que você quer, agora que me deixou indefeso?Ele não soava nem um pouco indefeso. Mordi os lábios e avaliei a per-

gunta, deixando que meu olhar o examinasse. Nada interrompia a minha visão, afinal, ele estava nu. Há muito tempo eu havia aprendido que era pos-sível esconder armas em várias peças do vestuário, mas a pele nua não escon-dia nada.

E, neste momento, ela distraía muito a minha atenção. O corpo do vampi-ro era uma atraente combinação de músculos, ossos e linhas esguias e elegantes, tudo isso arrematado por um rosto maravilhoso, com maxilares tão bem talha-dos que poderiam cortar manteiga. Vestido ou despido, o vampiro era estontean-te e ele, obviamente, sabia disto. Aqueles olhos verdes brilhantes fitaram os meus com uma expressão conhecida.

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– Quer que eu repita a pergunta? – perguntou com um toque de perversidade.Com esforço, mantive a indiferença.– Para quem você trabalha?O verde se acentuou, indicando que a minha interpretação desinteressada

não estava tão convincente como eu gostaria que fosse. Ele chegou até a esticar as correntes ao máximo, seus músculos encrespando-se como ondas numa lagoa.

– Para ninguém.– Mentiroso. – Peguei uma faca de prata e com a ponta marquei de leve o

seu peito, sem ferir a pele, deixando apenas uma linha rósea que desapareceu em segundos. Um vampiro pode ter a capacidade de se curar com extrema rapidez, mas a prata que atravessa o seu coração é letal. Apenas alguns centímetros de ossos e músculos se interpunham entre seu coração vampiro e a minha lâmina.

Ele observou o caminho desenhado pela minha faca.– Isto era para dar medo?Fingi refletir sobre a pergunta.– Bem, eu tenho um bom currículo no mundo dos mortos-vivos desde os

meus dezesseis anos. Até ganhei o apelido de Ceifeira Ruiva. Portanto, se coloco uma faca perto do seu coração, sim, você deve sentir medo.

A expressão dele ainda era irônica.– Você fala como uma mulher sórdida, mas aposto que consigo me soltar

e te colocar de costas no chão antes que você consiga me impedir.Bastardo arrogante.– Falar é fácil. Prove.Suas pernas se moveram como um raio e tiraram meu equilíbrio. Pulei para

frente, mas, no instante seguinte, um corpo frio e forte me estatelava no chão da ca-verna. Uma mão de ferro prendeu meu punho, impedindo que eu levantasse a faca.

– O orgulho sempre precede a queda – murmurou satisfeito.Tentei livrar-me do seu peso, mas uma tonelada de tijolos teria sido mais

fácil de deslocar. Deveria ter prendido seus braços e pernas antes de desafiá-lo daque-le jeito, me repreendi mentalmente.

Aquele sorriso arrogante apareceu outra vez quando o vampiro olhou para mim.

– Continue se contorcendo, amor. Você está me massageando em todos os lugares certos.

– Como você se livrou das correntes? – Por sobre o ombro dele, vi um buraco onde antes se penduravam as algemas de titânio de quase três centímetros de espessura. Inacreditável. Ele simplesmente as tinha arrancado da parede.

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Uma sobrancelha escura se arqueou.– Eu sabia exatamente em qual ângulo puxar. Não se instalam correntes

sem saber como se livrar delas. Só levou um instante e te coloquei deitada de costas. Exatamente como eu disse que seria.

Se meu coração ainda batesse, estaria acelerado agora, mas isto eu tinha per-dido – pelo menos na maioria das vezes – quando fui transformada de metade vam-pira para vampira completa vários meses antes. Meus olhos ganharam um brilho esverdeado ao mesmo tempo em que as presas despontavam entre os meus dentes.

– Exibido.Ele se aproximou até que nossos rostos estivessem a apenas centímetros

de distância.– Agora, minha adorada prisioneira, com você presa sob mim, o que pode

me impedir de me aproveitar de você?A faca que eu ainda segurava caiu das minhas mãos, quando envolvi o seu

pescoço.– Nada, eu espero.Bones, meu marido vampiro, soltou uma risada grave e pecaminosa.– É a resposta que eu queria ouvir, Gatinha.

O subterrâneo de uma caverna não seria a acomodação escolhida por nin-guém, mesmo que de última hora, mas para mim parecia o céu. Os únicos sons vinham do movimento suave do rio no subsolo. Era um alívio não precisar me desconectar do ruído constante dos inúmeros diálogos excessivamente altos para a capacidade auditiva de um vampiro. Se dependesse de mim, Bones e eu ficarí-amos aqui semanas.

Mas termos um tempo reservado exclusivamente para os momentos de relax não estava escrito nas estrelas. Isto eu tinha aprendido da maneira mais difícil. Outra coisa que eu havia aprendido era a aproveitar bem os momentos de escape, sempre que possível. Daí a nossa parada para evitar o amanhecer na mes-ma caverna onde, há sete anos, meu relacionamento com Bones havia começado. Na época, era eu quem estava presa às correntes, convencida de que estava pres-tes a ser comida por um sanguessuga malvado. Em vez disto, acabei me casando com o tal sanguessuga.

Helsing, meu gato, soltou um miado melancólico no canto do nosso pe-queno refúgio, arranhando a pedra que servia de porta.

– Você não pode sair para explorar – eu lhe disse –, pode se perder. – Ele miou novamente, mas em seguida começou a lamber a pata, o tempo todo me

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lançando olhares malignos. Ele ainda não tinha me perdoado por deixá-lo com a caseira durante meses. Não posso culpar Helsing por seu rancor, mas, se ele tivesse ficado comigo, poderia ter morrido. Muitas pessoas morreram.

– Já descansou o suficiente, amor? – Bones perguntou.– Hm-hum – murmurei, espreguiçando-me. Eu havia caído no sono pou-

co depois do amanhecer, mas não era mais aquela inconsciência instantânea que costumava me dominar durante minhas primeiras semanas como vampira. Aqui-lo eu já havia superado, para minha felicidade.

– É melhor a gente começar a se mexer, então – ele disse.Certo. Como sempre, tínhamos que ir a alguns lugares.– A única coisa que falta aqui nesse lugar é um chuveiro normal – suspirei.Bones achou divertido.– Vamos lá, o rio é bem refrescante.A cinco graus, “refrescante” era uma maneira gentil de descrever a versão

caverna de um encanamento interno. Bones removeu a porta de pedra para que pudéssemos sair da alcova, colocando-a de volta antes que meu gatinho pudesse saltar para fora também.

– O truque é pular de uma vez – ele continuou –, entrar devagar só deixa tudo mais difícil.

Engoli o riso. Aquele conselho também poderia ser aplicado à navegação no mundo dos mortos-vivos. Tudo bem. Saindo um pulo no rio congelante.

Depois seria a hora de tratar da verdadeira razão de termos vindo a Ohio. Com um pouco de sorte, nada estaria acontecendo no meu estado natal, exceto por alguns casos isolados de violência entre presas vampirescas.

Eu duvidava disso, mas ainda podia ter esperança.

O sol da tarde ainda estava alto no céu quando Bones e eu chegamos à fonte do shopping Easton. Bem, a um quarteirão de lá. Precisávamos nos certifi-car de que não era uma armadilha. Bones e eu tínhamos muitos inimigos. Duas guerras recentes entre vampiros deixam essas consequências, sem mencionar nossas antigas profissões.

Não senti nenhuma energia sobrenatural excessiva, exceto um leve zu-nido de poder no ar que indicava um, talvez dois vampiros mais jovens mis-turados à multidão. Mesmo assim, Bones e eu não nos movemos até que uma figura nebulosa e indistinta atravessasse o estacionamento voando e entrasse em nosso carro.

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– Há dois vampiros na fonte – disse Fabian, o fantasma que eu mais ou menos adotei. Sua silhueta se solidificou fazendo que se parecesse mais com uma pessoa e menos com uma espessa nuvem de partículas. – Eles não me viram.

Embora este fosse exatamente o objetivo, a voz de Fabian soou triste quan-do disse isto. Diferente dos humanos, os vampiros podiam ver fantasmas, mas geralmente eles os ignoravam. Estar morto não significava automaticamente ter um bom relacionamento com pessoas.

– Obrigado, amigo – Bones disse –, fique de olho para garantir que não haja surpresas desagradáveis a nossa espera.

As feições de Fabian começaram a dissolver-se até que todo seu corpo desapareceu.

– Nós temos um encontro com um vampiro, somente – pensei em voz alta. – O que acha do fato de nosso contato trazer companhia?

Bones ergueu os ombros.– É bom que ele tenha uma ótima razão para isso.Ele saiu do carro. Eu fiz o mesmo, estendendo a mão para as facas escon-

didas nas mangas, num toque leve e tranquilizador. Nunca saia de casa sem elas, esse era meu lema. É verdade que os vampiros gostam de proteger o sigilo de sua raça, e estávamos num local público e movimentado, mas isto não garantia a nossa segurança. As facas também não, mas com certeza inclinavam as chances a nosso favor. O mesmo com os dois outros vampiros parados logo abaixo, prontos para entrar em ação caso isto se tornasse algo pouco semelhante a um diálogo para troca de informações.

Os aromas do local me envolveram quando me aproximei da fonte do pá-tio. Perfume, suor e várias substâncias químicas eram os mais dominantes, mas havia outra camada logo abaixo que eu havia aprendido a decifrar: emoções. Medo, cobiça, desejo, raiva, amor, tristeza... Tudo isto manifestado em aromas que iam do doce perfume ao ranço amargo. Não é de se estranhar que as emoções desagradáveis tenham os aromas mais acres. Caso em questão: os dois vampiros sentados no banco de concreto emanavam o cheiro de fruta-podre do medo, mes-mo antes que Bones lhes dirigisse um olhar dominador.

– Qual de vocês é o Scratch? – ele perguntou com voz áspera.O que tinha mechas grisalhas se levantou.– Sou eu.– Então você pode ficar, mas ele... – Bones fez uma pausa e virou brusca-

mente a cabeça na direção do vampiro magrelo – pode ir embora.

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– Espere! – disse Scratch em voz baixa ao aproximar-se de Bones. – O assunto que veio conversar comigo... Talvez ele tenha informações.

Bones olhou para mim. Levantei um ombro em meia dúvida.– Talvez seja bom ouvir o que nosso visitante inesperado tem a dizer –

comentei.– Meu nome é Ed – disse o vampiro, olhando nervoso para mim por

sobre o ombro de Bones. – O Scratch não me disse que era com vocês que ele tinha um encontro.

Pela sua expressão, percebi que, ao notar o meu cabelo carmesim, o enor-me diamante vermelho no meu dedo e o sotaque britânico de Bones, Ed havia deduzido quem éramos.

– É porque ele não sabia – Bones respondeu friamente. As emoções de Bones, acessíveis a mim desde que ele havia me transformado, estavam agora trancafiadas por trás da barreira impenetrável que ele usava em público. Ainda assim, qualquer um podia perceber a tensão em sua voz quando ele continuou.

– Estou entendendo que as apresentações são desnecessárias?O olhar de Scratch deslizou até o meu e em seguida fugiu.– São – balbuciou –, você é Bones e aquela é a Ceifeira.A expressão de Bones não se suavizou, mas eu sorri no melhor estilo “eu

não vou te matar”.– Pode me chamar de Cat, e por que não encontramos uma sombra para

conversar?Os raios do sol não são letais aos vampiros como afirma a mitologia, mas

nos queimamos com facilidade. Gastar nossa energia sobrenatural somente para curar os efeitos dos raios do sol não fazia sentido. Havia um restaurante francês ali perto, então encontramos uma mesa sob um guarda-sol e sentamos os quatro como se fôssemos velhos amigos batendo papo.

– Você disse que seu Mestre foi morto há alguns anos, e não deixou ninguém para cuidar dos membros de sua linhagem – Bones disse à Scratch, depois que a garçonete anotou nossos pedidos. – Parte do grupo de vocês se uniu para proteger uns aos outros. Quando observou pela primeira vez que havia algo errado?

– Há vários meses, no outono do ano passado – respondeu Scratch. – A princípio, pensamos que alguns haviam saído da cidade sem informar a ninguém. Ficamos de olho uns nos outros, mas não somos babás, entende? Então, quando mais alguns desapareceram, gente que diria alguma coisa antes de partir... bem, ficamos preocupados.

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Eu acreditava. Como vampiros jovens e sem um líder, Scratch e outros como ele estavam no nível mais baixo da hierarquia do mundo dos mortos-vivos. Eu podia não aceitar o sistema feudal sob o qual operavam os vampiros, mas quando se tratava de proteger os membros de sua linhagem, a maioria dos vam-piros Master estava muito atenta. Mesmo os que eram do mal.

– E depois mais ghouls começaram a aparecer na região – continuou Scratch.

Gelei. Era por isso que Bones e eu estávamos em Ohio. Também tínhamos ouvido sobre um recente fluxo de ghouls no estado onde eu havia nascido, além de relatos sobre vampiros desaparecidos.

– Ei, isto aqui é o playground dos mortos-vivos – continuou Scratch, in-diferente ao meu desconforto. – Muitas linhas de ley e vibrações divertidas, para que a gente não prestasse atenção na chegada dos comedores de carne. Mas al-guns deles agem de maneira realmente cruel com os vampiros. Assediam os que não têm Mestre, seguem-nos até nossas casas, provocam brigas... Por isso pensa-mos que eles poderiam estar por trás dos desaparecimentos. O problema é que ninguém dá a mínima, pois não pertencemos a ninguém. Pra falar a verdade, me surpreende que você esteja interessado.

– Tenho os meus motivos – respondeu Bones no mesmo tom impassível. Ele nem olhou de relance para mim. Séculos de desinteresse simulado fizeram dele um especialista. Ed e Scratch não faziam ideia de que a razão de estarmos espremendo informações dos dois era para descobrirmos se minha condição de Vampira mais Estranha do Universo seria a razão pela qual os ghouls agiam com hostilidade, e saber por que os vampiros estavam desaparecendo.

– Se você está atrás de dinheiro, nós não temos muito – interrompeu Ed. – Aliás, pensei que tinha se aposentado da matança por contrato quando uniu as linhagens com o mega Mestre Mencheres.

Bones ergueu uma sobrancelha.– Tenta não pensar muito ou você vai acabar se machucando – respondeu

de forma simpática.O rosto do Ed se contraiu, mas ele fechou a boca. Eu contive um sorriso. A

cavalo dado não se olham os dentes... principalmente se é cavalo que morde.– Você tem alguma prova de que os ghouls estejam envolvidos nos desapa-

recimentos de seus amigos? – perguntei a Scratch, voltando ao assunto.– Não. Mas parece mais do que coincidência que sempre que um deles de-

saparecia, tinha sido visto pela última vez no mesmo lugar onde estavam alguns daqueles ghouls idiotas.

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– Que lugares? – perguntei.– Bares, clubes...– Nomes – pressionou Bones.Scratch começou a recitar uma lista, mas, de repente, sua voz sucumbiu a

uma torrente de outras vozes.... mais quatro horas antes de eu descansar...... pegou o recibo? Se não servir, eu vou devolver...... se ela pedir mais um par de sapatos, eu vou gritar...O ataque repentino dos diálogos intrusos não vinha das pessoas fazendo

compras à nossa volta – isto eu tinha desligado antes mesmo de nos sentarmos. Vinha de dentro da minha cabeça. Chacoalhei como se tivesse levado um soco, levando rapidamente minha mão à têmpora.

Que merda. De novo, não.

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