18

Click here to load reader

Desterro

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Roteiro de ficção

Citation preview

  • DESTERRO

    Por

    ROBERTO GIGLIO

    roberto giglio 2012 [email protected](19) 8826 0079

  • CENA1 /INT /RODOVIRIA /DIAO nibus estaciona na garagem da rodoviria de uma cidademdia do estado de So Paulo. Maria de Lourdes (35) eAnacleto (37) descem do nibus acabrunhados. Logo atrsdeles seus dois filhos adolescentes, Carla (15) e Marcelo(17) descem carregando algumas trouxas nas mos. Todos elesparecem assombrados pela quantidade de pessoas e demovimento que se apresenta aos seus olhos. Tendo vindo deuma cidade pequena do interior de So Paulo, no estoacostumados com tamanha movimentao e todos procurampermanecer muito juntos como que apreensivos com o que sedesenrola ao redor.Anacleto retira um pequeno pedao de papel amassado do bolsoe procura um funcionrio da estao perguntando onde fica oendereo ali anotado. O funcionrio da algumas indicaessem prestar muita ateno para Anacleto, que agradece ecaminha com sua famlia para a sada da rodoviria.

    CENA2 /EXT /RODOVIRIA /DIAL fora ele se depara com um caos ainda maior do que ldentro, as pessoas andam de um lado para o outro, chegando esaindo dos corredores e das caladas em frente rodoviriae eles esbarram nas pessoas enquanto atravessam as avenidasem frente estao.Caminhando pelas ruas paralelas da estao vemos uma cidadede aparncia velha, com prdios velhos e mal cuidados, comose a estao to moderna fosse algo jogado dentro de umtempo ainda muito antigo. Nos prdios, a parte de baixo namaioria tomada por pequenos comrcios, vemos nos andaressuperiores roupas penduradas; s vezes uma parte de umaarmrio ou beliche, indicando que ali moram algumas pessoas,pois a maior parte desses imveis se transformaram com otempo em penses baratas ou hotis de alta rotatividade. Emalgumas caladas e esquinas, moas vestidas de uma forma queeles nunca viram se oferecem aos que passam, e eles cruzambotecos e bares onde a musica alta e as risadas so umaconstante.

    CENA 3 /EXT /RUA /DIA

    Depois de alguns quarteires, Anacleto e a sua famliachegam a um pequeno prdio decrpito de trs ou quatroandares, que ostenta na fachada o imponente nome de GrandeHotel Paraso, e logo abaixo uma placa de alugam-se quartos.Na frente do prdio, sentado em uma cadeira de vime j meiodesfiada, um velho, talvez de uns 60 anos com a facemarcada, tece uma rede de pesca, jogando os pequenos pesoscom agilidade entre os dedos de um lado para outro. Anacletocumprimenta o velho e pergunta pelo dono do hotel.

    (CONTINUED)

  • CONTINUED: 2.

    ANACLETOBom Dia

    SEVERINOBom Dia

    ANACLETOSer que o senhor poderia meindicar o dono do hotel?

    O velho para por um momento de fiar, e indica a entrada paraAnacleto que sobe as escadas com sua famlia.Atrs de umbalco, uma senhora ROSRIO (50), com grandes culos de aro,rabisca alguma coisa em um livro de registro.

    CENA 4 /INT /HOTEL/ DIA

    ANACLETOBom Dia.

    ROSRIOBom Dia. Deseja alguma coisa?

    Anacleto com seu jeito caipira entrega o papel amassado quecarrega nas mos, com a indicao de um amigo que j vieraantes tentar a sorte na cidade.

    ROSRIOMe lembro deste moo. Bom rapaz.Que fim levou?

    ANACLETOVoltou para a nossa cidade. Cansouda vida daqui.

    ROSRIOEle se foi e vcs vieram tentar asorte?

    ANACLETOEu j tenho indicao de uma obrapra trabalhar. Precisava de unlugar para ficar, at conseguiralugar uma ca sei l.

    ROSRIOMuito bem. vem que vou te mostraros quartos e te explico comofunciona aqui

  • 3.

    CENA 5 /INT /CORREDOR DO HOTEL /DIA

    A senhora sai de trs do balco e caminha com eles peloscorredores escuros do prdio, onde eles cruzam com outrospensionistas, s vezes vislumbrando um quarto ou outro. Asenhora abre um dos quartos, onde temos vemos um pequenoarmrio e dois beliches; entre as camas um televisor antigo,mas que ainda funciona, explica a senhora. Os banheirosficam no final do corredor e ela explica as regras defuncionamento do hotel.

    ROSRIOO jantar sevido s 7 horas.Qualquer coisa me liga por aqueletelefone. so tirar do gancho.

    CENA 6 /INT /HOTEL /SALA DE JANTAR/ /NOITE

    Depois que rosrio sai. a famlia comea a observar o lugar.Os filhos pulam nos beliches e Maria abre o frigobar seespantando com as coisas que tem dentro. noite depois detomar um banho, j refeitos da viagem, eles descem at asala de refeies. Maria de Lourdes veste um vestidosimples, de chita, no usa maquiagem e est com os cabelossoltos, mas pode se ver que nova talvez uns trinta e cincoanos, um pouco mais nova que Anacleto, bonita mas j commarcas no rosto de uma vida dura. Os dois adolescentes,Marcelo e Carla se vestem como todos os jovens dessa idade,jeans e camiseta. Ambos sempre freqentaram a escola, umaexigncia dos pais que queriam para eles um futuro melhor.Rosria, a dona do hotel indica uma mesa grande para eles,onde se sentam e so observados pelos outros hspedes.Anacleto reconhece o senhor que estava na porta, um rapaz decabelos longos e sotaque estrangeiro, que conversa com outrorapaz tambm novo, algumas moas juntas que conversamanimadamente com alguns homens sentadas numa mesa prxima. Acomida servida em sistema americano, onde cada um se serve eo velho mostra a Anacleto e Clara como se servir. Ao lado dobule de caf, um pequeno barril de aguardente que o velhovisita com freqncia.

    CENA 7 /INT /HOTEL /SALA DE TV /NOITE

    Depois da janta, alguns se encaminham para uma sala ondeesto alguns sofs, uma mesa com revistas e jornais e uma TVligada no noticirio. Anacleto e a famlia vo at l eRosrio trata de apresent-los aos outros hspedes.Pedro (45), um baiano, que cresceu no Paran e viveu muitosanos em Minas tem uma pequena banca de produtos do norte,onde vende ingredientes tpicos dos estados por onde viveu,ora como bia-fria ora como contratado, se mudando de acordo

    (CONTINUED)

  • CONTINUED: 4.

    com as safras e as estaes, at conseguir montar seunegcio na cidade. bastante falante e usa camisascoloridas de um gosto duvidoso. Tem um sotaque mineiro, quesegundo ele mesmo diz, prefere ao seu paraibano pois o queele achou mais bonito de falar.Alair (35) goiano, saiu das plantaes de tomate aindacedo para tentar ser cantor na cidade. De dia trabalha degaron nos restaurantes e nos fins de semana se apresenta empequenas casas de espetculos ou nos restaurantes ondetrabalha. Seu sonho ser famoso como seus conterrneos emandar dinheiro para tirar os pais da roa.Severino (65), o velho, tambm do norte, de patos naParaba, e trabalhou em obras at perder a vista. Hoje,afastado pelo servio social, passa os dias tecendo suasredes e contando seus casos de pescarias que fizera quandojovem e esperando a hora de voltar para sua terra.Como j no tem para quem vender suas redes, j que ali noexiste mar, Severino tal qual Penlope, tece suas redesdurante o dia e as desfia a noite, como que contando o tempode espera. Sbio, divide com os mais novos suas histrias devida e se figura em cada trama da rede que tece uma passagemde sua vida.

    SEVERINOEnto que est achando da cidade?

    ANACLETONo estava acostumado com tantomovimento.

    SEVERINOCom o tempo se acostuma. a cidadede onde venho tambm muitopequena. Hoje nem penso mais emvoltar para l. acho que j no meacostumaria. E porque vieram.

    ANACLETOA mesma coisa de sempre. Falta deemprego, oportunidade. As crinaasprecisam de uma boa escola.

    SEVERINOL no Norte tambm se assim. ouse muito pobre ou muito rico.aqui pelo menos, se tem o quefazer.

    Anacleto conta um pouco da sua histria, de como a cidadeque vivia, no oeste do estado, definhava a cada ano nodeixando mais muitas alternativas seno migrar para outrascidades em busca de trabalho. Primeiro foram os mais jovens,depois os um pouco mais velhos como ele. Aos poucos, diz, a

    (CONTINUED)

  • CONTINUED: 5.

    pequena cidade, assim como tantas outras vai se tornandocomo uma cidade fantasma, onde apenas os mais idosos aindaresistem, talvez por no terem mais aonde ir.No fundo da sala, Alonso (25), o de cabelos longos argentino. Veio de uma pequena cidade da argentina, mas noquer nada da vida. Vive os dias fazendo malabares nossinais, ou um ou outro trambique para viver. Bonito, asmeninas o chamam de Rodrigo Santoro. Escrpulos umapalavra que no conhece.As meninas so garotas da vida que moram no hotel. Rosriono permite que faam programa ali, apenas residem no hotel.So quatro as que vivem ali, sempre falantes e desbocadas,no so o que se pode chamar de beldades. So meninas derua, at j passando da idade. Costumam andar sempre juntase provocar a todos no hotel. Marcelo, que j quase umhomem o que se sente mais perturbado pelas moas, queadoram mexer com o rapaz.

    CENA 8 /EXT /BANCA DO PEDRO /DIA

    No dia seguinte Anacleto vai obra e acerta com oencarregado o trabalho. Comea no mesmo dia a trabalhar comocarpinteiro. Maria e os filhos resolvem dar uma volta pelocentro. Conhecer o comrcio local. Existe no centro dacidade uma infinidade de bancas de ambulantes que vendemdesde roupas a frutas e principalmente artigos importados.Os adolescentes ficam encantados pela quantidade de coisas ede pessoas que circulam naquele local, a infinidade de sonsde msicas de diferentes tipos e o assdio dos vendedoresoferecendo todo tipo de mercadoria. Depois de um lanche emuma barraca de pastel. Eles decidem ir at a banca de Pedro,A Casa do Norte como pintado nos letreiros, e o encontramatrs do balco cercado de mercadorias dos mais variadostipos, molhos, temperos regionais e comidas tpicas do nortee nordeste. Pedro oferece doces aos jovens e conversa comMaria, explicando o que faz e apresentando a clientela.

    MARIABom Dia,seu Pedro

    PEDROBom Dia.

    MARIAA gente saiu para conhecer um poucoa cidade. Nunca tinha visto tantagente junta.

    PEDROIsso daqui t sempre lotado. Tmesmo precisando de ajuda. Que achada sua menina me ajudar aqui nabanca a atender os clientes?

    (CONTINUED)

  • CONTINUED: 6.

    MARIAEu at que acho uma boa idia. j tempo desses dois ajudarem em casa.

    PEDROEu vou conversar com um amigo quetem umas vans aqui no ponto. quemsabe ache um trabalho pro seumenino. Tem vrios rapazes da idadedele que fazem alguns bicos poraqui.

    MARIAMuito obrigada seu Pedro. Vou falarcom meu marido. At mais tarde.

    CENA 9 /EXT /OBRA /DIA

    Depois de deixar os meninos no Hotel, Maria leva a marmitaat o canteiro onde Anacleto trabalha, veste ainda o vestidoda noite passada e Anacleto se senta numa lata para almoar.Ela se senta ao seu lado. Alguns homens da obra comeam aolhar para as pernas de Maria. Ambos percebem e Anacletofica chateado.

    ANACLETO melhor tu ir para casa. aqui no lugar de mulher.

    Maria se despede do mariso e vai embora sob os olhares dosoutros homens.

    CENA 10 /INT /HOTEL /DIA

    Maria fica pensando nos olhares que recebeu e resolve seolhar no espelho. Ainda bonita e sente uma onda de calorno corpo. Sem perceber uma das meninas se aproxima dela ediz que ela ainda muito bonita, s precisa se cuidar umpouco e a leva pelo brao at seu quarto.

    CINIRAVoc~e ainda muito nova. precisaaprender a secuidar mais pro seuhomem.

    MARIANo sei no. Desde que comeou essaviagem que o meu marido nem pensaem mais nada.

    (CONTINUED)

  • CONTINUED: 7.

    CINIRAPois eu vou lhe contar unssegredinhos que vai fazer teumarido mudar de idia (e cochichano ouvido de Maria que ri e ficaruborizada)

    CENA 11 /INT /HOTEL /NOITE

    noite Anacleto chega cansado do servio e parece no notara mudana na esposa. Depois da janta enquanto as crianasesto na sala de TV, Maria chama o marido para o quarto etenta mostrar para ele algumas das coisas que a menina lheensinou. Anacleto fica furioso, diz que aquelas coisas noso para mulheres decentes e sai batendo a porta. Nocorredor quase tromba com Alonso que ouvira toda a conversae olha para Maria entre o vo da porta. Anacleto se juntaaos outros na sala e Maria permanece no quarto.

    CENA 12 /INT /HOTEL /SALA DE TV /NOITE

    Marcelo pergunta ao pai se no poderia trabalhar, j que siria escola no ano seguinte, quando conseguiria amatricula e esse consente, o filho j tem idade de ajudar emcasa. Anacleto bebe algumas cervejas com o grupo e vaidormir cedo. No quarto Maria fica acordada olhando para oteto.

    CENA 13 /INT /HOTEL /DIA

    No dia seguinte, logo aps o caf, Anacleto e os meninossaem e Maria combina com Rosrio de judar a servir oshsopedes. Alonso puxa conversa com Maria. Esto sozinhos nosalo, apenas Rosrio observa de longe.

    ALONSONo pude deixar de ouvir a conversacom seu marido ontem.

    MARIAFica constrangida com as palavrasdo rapaz. - Me desculpe. Meu maridoanda um pouco nervoso

    ALONSOImagina. Ele que no sabe o queest perdendo. Voc muito bonitasabia?

    (CONTINUED)

  • CONTINUED: 8.

    Maria desconversa e vai para seu quarto, um pouco depoisAlonso bate sua porta. Maria abre e Alonso se desculpa ecomea a conversar com Maria.

    ALONSOMe desculpe. No queria teenvergonhar.

    MARIATudo bem. eu s no estou muitoacostumada ( e continuam aconversar no corredor)

    CENA 14 /INT /HOTEL /DIA

    Durante vrios dias, enquanto Maria ajuda Rosrio nosafazeres da penso, Alonso conta para Maria sobre suasviagens, os pases e lugares que freqentou, todas aspessoas que conheceu. Maria, que nunca havia sado de suacidade fica encantada com as histrias do argentino. Um dia,quando os hspedes j foram trabalhar e Maria est a arrumaras coisas no quarto, Afonso bate na porta. Maria com suainocncia deixa o rapaz entrar no quarto e com sua conversamansa consegue roubar um beijo de Maria.

    MARIANo faa isso. Eu sou casada

    ALONSOMas seu marido no lhe d a atenoque merece.

    MARIAMe deixa.

    Maria empurra o rapaz para fora e fecha a porta. Depois seencosta porta pensando no que ele disse.

    CENA 15 /EXT /RUA /DIA

    Marcelo conversa com outros rapazes de sua idade, alguns umpouco mais velhos, que mexem com as meninas que passam,alguns fumam e oferecem cigarro a ele que recusa. Perto deonde esperam as vans tem um banheiro pblico e Marcelopercebe que alguns meninos vo com freqncia l dentro edepois voltam de olhos vermelhos e assoando o nariz. Os maisvelhos explicam que, para agentar o turno de dez doze horaseles costumam usar alguns artifcios, como cheirar coca eque na maioria das vezes os prprios motoristas tambmfaziam isso. Carlos o mais velho oferece um pouco paraMarcelo e todos ridicularizam dele at que ele os acompanha

    (CONTINUED)

  • CONTINUED: 9.

    at o banheiro e prova um pouco do p. Sua cabea pareceexplodir e ele se sente vivo como nunca e logo estbrincando e agindo como os outros jovens.Carla, que agora ajuda na banca de Pedro, se aproxima doirmo e percebe que alguma coisa est errada.

    CARLATudo bem?

    MARCELOClaro que est. (E ri da irma quese afasta desconfiada)

    CARLOSE a tua irma uma gata, hein?

    MARCELOOlha o respeito, cara.

    CARLOSBrincadeira. (e todos riem)

    CARLOSVamo ai.

    MARCELOOnde?

    CARLOSCaar mulher, que mais?

    E marcelo acompanha os outros rapazes pela rua.

    CENA 16 /EXT /RUA /DIA

    Os dias se passam mais ou menos nesse ritmo. Anacleto seesfora para trabalhar cada vez mais, e Maria por seu ladono consegue esconder o interesse que comea a sentir porAlonso. Marcelo levado pelos seus novos colegas a conheceras meninas da rua e por coincidncia, acaba tendo suaprimeira experincia com uma das moas da penso. A partirda as meninas comeam a brincar com ele chamando-o de ohominho da penso. Por conta da companhia dos outros jovensMarcelo se envolve cada vez mais com as drogas e comea a sedesentender com seus pais. Carla a nica que sabe averdade, mas com medo da reao dos pais esconde o que estacontecendo.

  • 10.

    CENA 17 /INT /HOTEL /QUARTO

    No dia seguinte, depois de Anacleto sair para o trabalho,Afonso vai at o quarto do casal e consegue seduzir Maria,que se sente culpada mas no consegue resistir ao rapaz quese torna cada vez mais ousado. O velho e Rosrio atpercebem o que acontece, mas fora um olhar ou outro dereprovao, preferem no se envolver no caso.

    CENA 18 /INT /HOTEL /NOITE

    O tempo passa e Marcelo uma noite chega em casa machucado.

    ANACLETOQue foi isso?

    MARCELONo foi nada. a porta da van que mebateu na cara.

    Na verdade mais cedo, um dos traficantes, Claudio (20) umdos rapazes mais velhos, com quem Marcelo agora anda e dequem eles compram as drogas, deu uma surra em Marcelo porconta das dvidas que esse contrara e que no conseguiapagar. Claudio resolveu encostou Marcelo na parede; ouMarcelo o ajudaria num assalto para pagar a dvida ou elespegariam sua irm. Sem sada Marcelo assente.

    CENA 19 /INT /HOTEL /DIA

    To logo amanhece e Anacleto sai para o trabalho com osfilhos, Afonso vai at o quarto do casal como fazia j comcerta freqncia. Naquele dia Afonso se mostra mais brutoque o normal, e Maria pede que pare, mas o rapaz no atende.

    MARIAPara Afonso. T me machucando.

    AFONSODeixa de frescura. eu sei que tugosta.

    MARIAPara.

    AFONSODeixa eu te mostrar, o que faltapara voc ser igual as meninasdaqui (e vira Maria de bruos)

    (CONTINUED)

  • CONTINUED: 11.

    MARIANo. Pra.(Maria grita com a dor,mas afonso tapa sua boca e continuaa violent-la.

    Nesse momento Severino irrompe no quarto e o arranca de cimade maria, jogando-o no corredor onde esto Rosrio e elgumasdas meninas.

    ROSRIOVai te embora daqui. Pega as tuascoisas e sai.

    Severino empurra o rapaz que se afasta sobre agresses dasmeninas. Maria est sentada na cama soluando. Rosrioabraa Maria e pede que as outra meninas as deixem sozinhas.

    MARIAMeu Deus! Que vergonha.

    ROSRIOEsquee isso agora. J passou.

    MARIAMas e meu marido. o que eu digopara ele?

    ROSRIONada. Voc no diza nada para eleou para ningum.

    MARIAMas e o Severino as meninas?

    ROSRIONo se preocupe, que eu falo comeles. ( e puxa o rosto de Mariapara que olhe em seus olhos). Voc~ecometeu um erro. Um grave erro.Agora esquece isso e cuida da tuafamilia. Pe uma pedra sobre isso

    Maria encosta a cabea em Rosrio e comea a chorar.Um pacto feito para que agissem como se nada tivesse acontecido.Aquela noite Maria e Anacleto deitaram abraados. Maria noconseguiu dormir e passou a noite apenas abraada ao marido,olhando para o teto, pensando no que havia acontecido.Decidiu, por fim, por uma pedra sobre tudo e dar a volta porcima. Lutar pela felicidade da sua famlia.

  • 12.

    CENA 20 /EXT /FORR /NOITENo fim de semana, Alair, o cantor-garon, se apresenta emuma feira nordestina que acontece em um bairro da periferiada cidade. Todos da penso vo prestigiar o amigo, Maria eAnacleto danam e se divertem como a muito no faziam e atMarcelo dana com as meninas da penso. Pelo menos poraquela noite parece que tudo est bem.

    CENA 21 /EXT /RUA /DIA

    No dia seguinte na chegada da van, um grupo de rapazesaguarda Marcelo. Claudio (20) chama Marcelo pro canto.

    CLAUDIOEssa noite de vc pagar o que medeve.

    MARCELOTudo bem. Mas deixe minha famliafora disso

    CLAUDIODepende tudo de vc. Passo no hotalas nove. Nem pense em dar o cano nagente.

    Claudio se afsta com mais alguns jovens.

    CENA 22 /INT /HOTEL /SALA DE TV

    MARCELOPai. posso dar uma sada com unsamigos do trampo?

    ANACLETOPode. Mas v se no chega muitotarde. amanh dia de branco.

    MARCELOPode deixar.

    Marcelo se retira da sala. Maria e Anacleto conversam comAlair e Severino sem imaginar o que acontece com seu filho.

  • 13.

    CENA 23 /EXT /RUA /NOITE

    Na porta do Hotel. Marcelo entra em um carro parado naporta, onde se encontram mais alguns jovens.

    CENA 24 /EXT/ RUA/ NOITE

    Depois de andar com o carro por algum tempo, o carro seaproxima de uma casa e estaciona com os faris apagados.Claudio, o mais velho. quem manda a ao.Os outros trsjovens cobrem os rostos com capuzes, colocam as armas nascinturas e saltam o alto muro de uma casa.

    CLAUDIOAgora voc fica aqui. Se por acasopintar sujeira. voc buzina e agente se manda, entendeu?

    MARCELOEntendi.

    CLAUDIOV se no se faz de besta. ou suairmazinha quem vai pagar o pato.

    Marcelo fica aguardando do lado de fora. Alguns minutosdepois uma viatura da polcia entra vindo de frente para ocarro e antes que Marcelo possa reagir os policiais descemdo caro com as armas em punho e mandam ele se deitar nocho. Logo a rua est cheia de policiais.O porto da casa se abre e os jovens tentam sair com o carroda famlia. Quando percebem os policiais j tarde demais.Claudio tenta fugir e atira nos policiais que revidam e elecai na rua. Os outros dois se rendem e so algemados ecolocados num camburo. O corpo do rapaz morto jogadodentro de outra viatura onde colocam tambm Marcelo.

    CENA 25 /INT / HOTEL / NOITE

    J de madrugada quando o telefone da recepo toca eRosrio atende. Aos poucos sua expresso vai ficando maistensa.

    CENA 26 /INT /HOTEL /CORREDOR

    Rosrio bate porta do quarto de Maria e Anacleto e diz oque aconteceu. Maria comea a chorar e abraa Anacleto.Severino que tambm se levanta com o barulho, fala para sevestirem que os leva na delegacia.

  • 14.

    CENA 27 /INT /DELEGACIA /NOITE

    Algum tempo depois os dois chegam a uma delegacia. Num bancode cimento, coberto de sangue est Marcelo, algemadoacompanhado de um policial que evita que Maria se aproximedele. O delegado (60) chama os pais de Marcelo paraconversar. um homem de idade, j calejado com todo tipo demazelas e pede para os dois se sentarem.

    DELEGADOO filho de vocs se meteu em umaboa encrenca.

    ANACLETOEle um bom rapaz. trabalha esempre estudou. Nosei como issofoi acontecer.

    DELEGADO o que fazem as drogas.

    MARIADrogas. Mas nosso filho?

    DELEGADOInfelizmente senhora. Mas temos odepoimento dos outros rapazes queseu filho foi obrigado a cometer odelito para proteger a irm. Isso emais o fato de ser de menor. Vopesar pro lado dele.

    ANACLETOE o que a gente pode fazer.

    DELEGADOPor enquanto nada. Ele vai serenviado para uma instituio demenores e depois em alguns diasdeve estar solto. Aqui tem umcarto de algum que pode ajudar.

    ANACLETOMuito obrigado, doutor.

    DELEGADONo por isso.

    MARIAEu posso me despedir dele delegado?

    (CONTINUED)

  • CONTINUED: 15.

    DELEGADOTudo bem. (chama o escrivo quetraz Marcelo e sua me o abraachorando)

    CENA 28 /INT /NOITE /HOTEL

    De volta para o Hotel, Maria e Carla vo para o quarto eAnacleto fica na sala de TV tomando uma aguardente. Severinochega e senta perto do amigo.

    SEVERINOE ento?

    ANACLETOOnde foi que eu errei, Severino.Tudo que eu e Maria temos feito para dar uma vida melhor promeninos e agora isso?

    SEVERINONs no somos responsveis pelasaes dos outro, s pelas nossas j dificil viver com isso. Eu jtenho muitos anos de vida aqui nacidade e j vi de praticamentetudo. Aqui pode ser um lugar muitobom ou muito ruim. depende dasescolhas que fazemos.

    ANACLETOVoc nunca pensou em voltar parasua terra?

    SEVERINOH alguns anos voltei para l. Acidade continuava igual, mas notinha mais nada para mim. No tenhofamilia e as pessoas que euconhecia ou tinham ido embora oumorrido. Essa aqui agora minhafamlia, a Roario as meninas. tudo o que eu preciso.

    ANACLETOTalvez no tenha sido uma idia toboa ter vindo para c.

    SEVERINOVoc precisa pensar naquilo que formelhor para sua famlia. Agora prade beber e vai dormir. Amanh vai

    (MORE)(CONTINUED)

  • CONTINUED: 16.

    SEVERINO (contd)ser um dia dificil para vc e suamulher.

    Anacleto se despede de Severino e vai para o quarto. Mariaest acordada e Anacleto se deita abraando a mulher. nenhumdos dois fala nada.

    PASSAGEM DE TEMPO

    CENA 29 /EXT /DIA / FUNDAO CASA

    Na porta da fundaom Narcelo sai carregando seus pertences.L fora seus pais, sua irma e Severino o aguardam. Marceloabraa os pais e Severino coloca as coisas no carro. O carroruma para o hotel.

    CENA 30 /INT /HOTEL /JANELA DO QUARTO

    Maria e Anacleto olham Marcelo dormindo na cama. ambos olhampara fora debruados na janela.

    ANACLETOEstive pensando. O que faremos dedaqui em diante?

    MARIAEu no sei. No sei se tudo issoaqui vale o sacrificio.

    ANACLETOVai ser mais dificil para ele. Osamigos o trabalho. a tentao detudo o que tem aqui.

    MARIAEle vai superar. todos ns vamos.Oque importa que fiquemos juntos.

    e coloca a cabea no ombro de Anacleto.

    CENA 32 /EXT /HOTEL /DIA

    Severino arrum as malas dentro do porta malas. Maria sedespe de de Rosrio e das meninas.

    ROSRIOTem certeza que o melhor a fazer?

    (CONTINUED)

  • CONTINUED: 17.

    MARIAPor agora eu acho que . Quem sabedepois voltamos.

    ROSRIOSeu quarto vai estar aqui. e no seesquea do que conversamos.

    ANACLETOMuito obrigado por tudo Severino.Quem sabe no vai passar uns diascom a gente?

    SEVERINOQuem sabe? talvez eu ainda faa umaviagem dia desses.

    Todos entram no carro que parte.

    CENA 33 /EXT /RODOVIRIA /DIAMaria, Anacleto e os filhos se despedem de Severino e seencaminham para dentro da rodoviria.

    CENA 34 /INT /PATIO DO ONIBUS /DIA

    Anacleto e os filhos sobem na plataforma. Maria se demoraainda um pouco nos degraus olhando para fora, para a cidade,depois entra.

    CENA 35 INT/ ONIBUS /DIA

    De dentro do onibus Maria e Anacleto observam a paisagempassar. De onde esto podem ver os filhos que olham apaisagem e comentam. Maria e Anacleto olham pela janela esabem que mais difcil que reconstruir sua vida, serreconstruir sua famlia. Mas ambos so fortes, e olhando umpara o outro sorriem com a certeza de que a tudo d-se umjeito.FIM