46
FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ECONOMIA DETERMINANTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO ENTRE 2003 E 2009 IZIS JANOTE FERREIRA ORIENTADOR: PROF. MARCELO DE ALBUQUERQUE MELLO Rio de Janeiro, 20 de abril de 2012.

DETERMINANTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO …s3.amazonaws.com/public-cdn.ibmec.br/portalibmec-content/public/... · PIB no primeiro período foi de 4,01%, entre 1996 e 2002 a média

  • Upload
    ngotu

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALLIIZZAANNTTEE EEMM EECCOONNOOMMIIAA

DETERMINANTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO ENTRE 2003 E

2009

IIZZIISS JJAANNOOTTEE FFEERRRREEIIRRAA

ORIENTADOR: PROF. MARCELO DE ALBUQUERQUE MELLO

Rio de Janeiro, 20 de abril de 2012.

DETERMINANTES DO CRESCIMENTO ECONOMICO BRASILEIRO ENTRE 2003 E 2009

IZIS JANOTE FERREIRA

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Economia como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Economia. Área de Concentração: Economia Empresarial

ORIENTADOR: MARCELO DE ALBUQUERQUE MELLO

Rio de Janeiro, 20 de abril de 2012.

DETERMINANTES DO CRESCIMENTO ECONOMICO BRASILEIRO ENTRE 2003 E 2009

IZIS JANOTE FERREIRA

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Economia como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Economia. Área de Concentração: Economia Empresarial

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________

Professor Marcelo de Albuquerque Mello (Orientador) Instituição: IBMEC - RJ

_____________________________________________________

Professor Christiano Arrigoni Coelho Instituição: IBMEC - RJ _____________________________________________________ Professor Arilton Teixeira Instituição: FUCAPE - ES

Rio de Janeiro, 20 de abril de 2012.

Prezado aluno (a), Por favor, envie os dados abaixo assim que estiver com a versão definitiva, ou seja, quando não faltar mais nenhuma alteração a ser feita para o e-mail [email protected], colocando no assunto: FICHA CATALOGRÁFICA - MESTRADO. Enviaremos a ficha catalográfica o mais breve possível para o seu e-mail (se possível em até 72 horas). 1) Nome completo; 2) Título e subtítulo (se houver e separados); 3) Ano da defesa; 4) Área de concentração: 5) Assunto principal (contextualizado); 6) Assuntos secundários; 7) Palavras-chave, e 8) Resumo (se possível) 9) Curso (Mestrado profissionalizante em ...) Ou envie os anexos contendo a página de rosto e a do resumo, além da área de concentração.

vi

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe, e à Confederação

Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo,

empresa onde trabalho, que confiou em mim ao conceder-

me a possibilidade de realização deste curso.

vii

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu pai, meu irmão e meu noivo, por compartilharem comigo os momentos de

ansiedade e angústia vividos durante esta etapa da minha vida. Agradeço muito a minha mãe,

que apesar de estar no plano espiritual, sempre foi uma grande companheira, amiga, e

conselheira. Meu “muito obrigada” especial à Confederação Nacional do Comercio de Bens,

Serviços e Turismo, empresa na qual trabalho, que me proporcionou a oportunidade de realizar

este curso. Obrigada ao professor Marcelo Mello, meu orientador, pela paciência diante de

tantos questionamentos. A todos aqueles que me apoiaram direta ou indiretamente, aos colegas

Sabrina e Luiz Fernando, meus sinceros agradecimentos.

viii

RESUMO

O objetivo desta dissertação é verificar os determinantes do crescimento econômico brasileiro

entre os anos de 2003 e 2009. Para tanto, construímos um modelo com dados organizados em

painel, para uma amostra de 41 países selecionados, considerando dados de 1970 a 2009.

Utilizamos a taxa de crescimento da renda per capita como variável dependente e como

variáveis de controle: renda inicial, grau de abertura da economia, taxa de câmbio efetiva real,

escolaridade da população com 15 ou mais anos, crédito/PIB, consumo do governo/PIB, taxa

de inflação, e investimento/PIB. Consideramos ainda uma subamostra de países selecionados

da amostra total, denominados países em desenvolvimento de acordo com a classificação do

FMI. Os resultados indicam que entre 2003 e 2009 a renda inicial, a escolaridade da população

acima de 15 anos, e a razão investimento/PIB possuem o maior impacto no crescimento do PIB

brasileiro.

Palavras Chave: Crescimento Econômico, Produto Interno Bruto, Renda Per Capita

ix

ABSTRACT

The aim of this study is to verify the determinants of economic growth in Brazil to 2003 till

2009. We built a panel data model for a sample of forty one countries, considering values from

1970 to 2009. We use the income per capita growth as the dependent variable and as

explanatory variables: initial income, economic degree of openness, real effective exchange

rate, average years of schooling for population with fifteen years or more, credit/GDP,

government expenditure/GDP, inflation rate, and investment/GDP. We consider yet another

country sample selected of the total sample, that was named by developing countries as

International Monetary Fund classification. The results indicate that between 2003 and 2009

the initial income, the years of schooling and the investment/GDP have the greatest impact on

brazilian GDP growth.

Key Words: Economic Growth, Gross Domestic Growth, Per Capita Income

x

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 –Estatisticas Descritivas – amostra integral .............................................................. 16

Tabela 2 –Estimativas Econométricas 1996 - 2002.................................................................. 18

Tabela 3 –Estimativas Econométricas 2003 - 2009.................................................................. 20

Tabela 4 –Estimativas Econométricas Países em Desenvolvimento 1996 - 2002 ................... 24

Tabela 5 –Estimativas Econométricas Países em Desenvolvimento 2003 - 2009 ................... 26

xii

LISTA DE ABREVIATURAS FMI Fundo Monetário Internacional

PWT Penn World Table

MQO Mínimos Quadrados Ordinários

xiii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO…………………………………………………………………...…….1

2 REVISÃO DA LITERATURA……………………………………………………..….4

2.1 EASTERLY, LOYAZA E MONTIEL (1997)…………………………………………………...………5

2.2 VELOSO, VILELLA E GIAMBIAGI (2008)………………………………………………...…………7

3 METODOLOGIA……………………………………………………………...………11

4 DESCRIÇÃO DOS DADOS……………………………………………………...….12

4.1 VARIÁVEIS DE CONTROLE: Zi,t…………………………………………………….....................…13

5 RESULTADOS....................................................................................................17

5.1 ESTIMATIVAS PARA O TOTAL DA AMOSTRA............…………………................................…..17

5.2 ESTIMATIVAS PARA O SUBGRUPO DE PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO......…....…..…..24

6 CONCLUSÃO.....................................................................................................29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………….………32

APÊNDICE A……………………………………………………………………………….33

APÊNDICE B………………………………………………………………………....…….33

1

1 INTRODUÇÃO

Durante os sete anos compreendidos entre 2003 e 2009, pode-se observar que a

média do crescimento do produto interno bruto (PIB) brasileiro foi amplamente superior ao

auferido no período anterior, entre 1996 e 2002. Enquanto a taxa média de crescimento do

PIB no primeiro período foi de 4,01%, entre 1996 e 2002 a média foi 2,31%.

A presente dissertação tem como objetivo identificar os determinantes do

crescimento econômico brasileiro entre os anos 2003 e 2009. Pretende-se, através do

trabalho empírico, identificar o impacto das variáveis listadas no modelo para o crescimento

da renda per capita brasileira no intervalo de tempo descrito.

Distintos fatores contribuíram para a melhora do desempenho do crescimento

econômico a partir de 2003. A manutenção e o aprofundamento das politicas econômicas

praticadas desde a instituição do Plano Real foram significativas para a estabilidade

macroeconômica alcançada no Brasil, a partir da segunda metade da década de noventa.

Nesse sentido, destacaram-se as ações de desregulamentação e de privatização

implementadas desde então.

2

Tal estabilidade dificilmente seria possível em caso de descontinuidade do tripé

macroeconômico: regime de metas de inflação, superávit primário e regime de taxas de

câmbio flutuante.

Segundo Easterly et alli (1997), os programas de estabilização econômica e as

reformas estruturais praticadas na América Latina no fim dos anos oitenta e princípio dos

anos noventa foram os principais responsáveis pela retomada da histórica taxa de

crescimento da renda per capita da região, em torno de 2%, entre 1991 e 1993. De acordo

com os autores, os países da América Latina que efetuaram reformas macroeconômicas

passaram a crescer mais rapidamente do que as economias não reformistas.

Veloso et alli (2008) estimam que as mudanças nas políticas econômicas

brasileiras, assim como o ambiente externo favorável, e os efeitos desasados das reformas do

Plano de Ação Econômica do Governo Castello Branco (PAEG), entre 1964 e 1967,

impactaram positivamente o crescimento brasileiro no período do Milagre Econômico, entre

1968 e 1973.

O efeito defasado das reformas institucionais (como reforma fiscal, tributária, do

sistema financeiro, entre outras) do PAEG foram os principais aceleradores do crescimento,

e as variáveis relacionadas ao ambiente externo, e a politica econômica explicam uma

parcela relativamente pequena da aceleração do crescimento econômico entre 1968 e 1973.

Nesta dissertação efetuamos regressões com dados organizados em painel, entre

1970 e 2009, para duas amostras de países: a primeira considerando 41 países selecionados,

3

e a segunda contendo um subgrupo de países da amostra integral denominados países em

desenvolvimento, assim classificados pelo FMI.

Os resultados das estimativas indicam que para a amostra integral, entre 2003 e

2009, a renda inicial, a escolaridade da população acima de 15 anos, bem como a razão

investimento/PIB, possuem o maior impacto no crescimento do PIB brasileiro. Para o

intervalo 1996 e 2002, a inflação e a taxa de investimento tiveram o maior impacto no

crescimento. Ao reunirmos países que possuem características semelhantes às da economia

brasileira, verificamos que os resultados são pouco conclusivos.

É importante destacar que a análise efetuada nesta dissertação considera um

período relativamente curto de tempo. No entanto, seguindo a metodologia empregada na

literatura relacionada, utilizamos o modelo neoclássico que considera o crescimento da

renda per capita no longo prazo. Ressaltamos, então, que estamos tratando o crescimento

econômico no curto prazo utilizando um modelo essencialmente de longo prazo, sem

prejuízo de eficiência do modelo descrito nesse trabalho.

Esta dissertação está organizada em seis seções, além desta introdução. Na seção 2

é apresentada a revisão da literatura relacionada. Na seção 3 efetuamos a descrição da

metodologia utilizada. A seção 4 contempla a descrição dos dados. Na seção 5 discutimos os

resultados obtidos, e na seção 6 reunimos as principais conclusões.

4

2 REVISÃO DA LITERATURA

A avaliação dos determinantes do crescimento econômico dos países motivou

distintos trabalhos que tiveram como base estimações econométricas baseadas no modelo

neoclássico de crescimento da renda per capita.

5

2.1 EASTERLY, LOYAZA E MONTIEL (1997)

Easterly et alli (1997) analisam que os programas de estabilização macroeconômica

e as reformas estruturais, instituídos nas países da América Latina no fim da década de 1980

e inicio na década de 1990, foram os principais responsáveis pela aceleração do crescimento.

Identificam, quantitativamente, como mudanças das politicas econômicas alteram as taxas

de crescimento dos países da região.

Os autores verificam que, de forma geral, os países que praticaram reformas

econômicas passaram a crescer mais rapidamente do que antes das referidas reformas, como

também mais rápido dos que as economias não reformistas.

Mostram ainda que as mudanças nas políticas econômicas fizeram com que os

países da América Latina alcançassem novamente a taxa de crescimento média histórica de

2%, entre o período de 1991-1993. Nesse período o crescimento do PIB das 16 economias

da região superou a média de crescimento dos demais países do mundo.

Eles estimam a equação básica do modelo neoclássico de crescimento econômico,

em painéis de cinco anos, para uma amostra que considera 70 países para o período de 1960

a 1993. Adicionam à equação variáveis de controle relacionadas às politicas

macroeconômicas, como a taxa de inflação e o consumo do governo em relação do PIB.

Para capturar os choques externos, utilizam a razão entre o volume de comércio exterior e o

PIB. Para medir a participação do sistema financeiro na economia usa a relação M2/PIB.

Como outras variáveis de controle, utilizam a escolaridade da população dos países, os

termos de troca, o logaritmo da renda per capita, e a razão investimento/PIB.

6

Os autores fazem uso do método MQO, com e sem a presença de efeitos fixos de

tempo e de países. O controle para o efeito fixo relacionado aos países é feito através do

método de primeiras diferenças da equação de crescimento, em que a variável dependente, a

taxa de crescimento da renda per capita, está em diferenciação de primeira ordem.

Além disso, eles estimam o modelo utilizando também o estimador em painel

dinâmico, Método dos Momentos Generalizados segundo Chaberlain (1984), Rosen et alli

(1988) e Arellano e Bond (1991).

Após estimar o modelo para os 70 países, os autores separam estes países em

grupos, dentre os quais estão as 16 economias latino-americanas, os tigres asiáticos, e

demais economias. De acordo com as taxas de crescimentos auferidas no modelo, eles

identificam que a partir de 1990 a taxa de crescimento média dos países da América Latina,

no intervalo dos cinco anos de cada período de estimação, passou a superar a média do

crescimento dos demais países do mundo, ficando atrás apenas do crescimento do produto

nos países tigres asiáticos.

Os autores concluem que os efeitos das reformas no crescimento têm impacto

positivo na média da taxa de crescimento dos países. Independente das experiências

individuais de cada país quanto às reformas (grau de alcance, período de tempo, etc) essa

média é maior do que a esperada para os países da região. Portanto, a estabilidade

econômica promovida efetivamente refletiu no incremento da renda per capita, e tal aumento

não foi insignificante.

7

2.2 VELOSO, VILLELA e GIAMBIAGI (2008)

Veloso et alli (2008) investigam os determinantes do crescimento da economia

brasileira no período do “Milagre Econômico”, ocorrido entre 1968 e 1973. Quantificam,

também por meio de regressões com dados em painel, as possíveis variáveis determinantes

do “Milagre”. Nesse intervalo a taxa de crescimento do PIB alcançou 11, 1% ao ano

acompanhada de queda da inflação e saldos positivos no balanço de pagamentos do país,

enquanto que entre 1964-1967, o crescimento foi de 4,2%.

Os autores mencionam que de acordo com o trabalho de Gomes et alli (2003) e

Bacha e Bonelli (2004), o “Milagre Brasileiro” foi, na verdade, um milagre de

produtividade. Gomes et alli (2003) mostram que o crescimento econômico entre 1967 e

1976 esteve calçado no aumento da produtividade total dos fatores, com a queda da relação

capital-produto. Por outro lado, Bacha e Bonelli (2004) evidenciam que houve queda na

relação entre produto e uma medida do estoque de capital, entre 1946 e 2002, mas que entre

1968 e 1973, ocorreu um aumento da relação produto-capital, condizente com a constatação

de Gomes et alli (2003).

Ainda assim, para verificar os determinantes da aceleração do produto no período

do “Milagre”, Veloso et alli (2008) utilizam regressões de crescimento da renda per capita.

Eles elencam três interpretações sobre os determinantes do “Milagre Econômico”

encontradas na literatura, as quais auxiliaram na definição das variáveis do modelo. A

8

primeira delas, diz respeito à importância da politica monetária expansionista, com

ampliação do credito, e o incentivo às exportações.

Na segunda linha de interpretação, relacionados ao ambiente externo favorável,

estão, a melhora dos termos de troca no período, o crescimento da economia internacional,

além da liquidez internacional traduzida em crédito externo farto e barato.

A terceira vertente é relativa aos efeitos defasados das reformas institucionais

(fiscais, tributarias e financeiras) introduzidas com o Plano de Ação Econômica do Governo

Castello Branco (PAEG), entre 1964 e 1967, na aceleração do crescimento no período

seguinte, do Milagre Brasileiro.

Indicam que de acordo com trabalho de Simonsen e Campos (1974) entre 1964 e

1967, o modelo de desenvolvimento econômico no Brasil foi alterado, com abertura da

economia ao exterior, e instituído um “esforço de restauração” em função da escalada

inflacionária, dos elevados déficits no balanço de pagamentos, e da redução dos

investimentos. As novas orientações de política macroeconômica, assim como as reformas

do PAEG refletiram em maiores taxas de crescimento do produto.

Os autores estimam regressões com dados organizados em painéis de 6 e 10 anos

para uma amostra de 62 países, durante o período entre 1962 e 1997, tendo como base o

modelo neoclássico de crescimento da renda per capita. Quantificam o crescimento

econômico previsto pelo modelo para o período entre 1968 – 1973 e avaliam em que medida

o modelo explica a aceleração do crescimento neste período, em comparação ao anterior,

1962-1967. Posteriormente, os autores utilizam os coeficientes estimados e os valores das

9

variáveis entre 68 e 73 para prever o crescimento econômico, e comparam com o valor

observado da taxa de crescimento do produto.

O modelo considera a taxa de crescimento da renda per capita como variável

dependente, e variáveis de política econômica (taxa de inflação, consumo do governo/PIB,

M2/PIB), variáveis relacionadas ao ambiente externo (volume de comércio/PIB, variável de

Sachs1), e outras variáveis de controle (escolaridade da população acima de 15 anos, taxa de

crescimento dos termos de troca, e log da renda per capita e a razão investimento/PIB).

A metodologia de quantificação das variáveis que influenciam o crescimento

econômico foi inspirada na mesma metodologia usada por Easterly el all (1997).

Veloso et alli (2008) verificam que para painéis de 6 anos, as variáveis de política

econômica e aquelas relativas ao setor externo explicam parcela pequena do crescimento

econômico. Além disso, o modelo estimado no intervalo de seis anos subestima o

crescimento econômico no período e superestima o crescimento no período anterior ao

“Milagre”, entre 62 e 67.

Para os painéis de 10 anos, dentre os quais está o intervalo 1964-1973, a taxa de

crescimento da renda prevista pelo modelo aproxima-se daquela observada. Associados, os

dois resultados indicam que de fato a aceleração do crescimento entre 68 e 73 esteve

baseada principalmente nos efeitos defasados das reformas do PAEG. Isso por que entre 64

e 67, foram ajustados os desequilíbrios macroeconômicos e efetuadas reformas institucionais

que demonstraram seus efeitos apenas nos anos seguintes, no período do “Milagre”.

1 Para análise mais detalhada, ver Sachs e Warner (1995).

10

Os autores concluem que com a evidência de que as reformas estão associadas a

defasagens importantes no crescimento, principalmente quando a economia passa por crise

econômica, pode predominar o desincentivo quanto à adoção das mudanças estruturais na

economia, como reforma do sistema tributário, por exemplo. Como os efeitos positivos das

medidas são verificados apenas parcialmente na gestão responsável pela adoção das

mesmas, forma-se um dilema na economia política.

11

3 METODOLOGIA:

O trabalho empírico concentra-se em estimar equações baseadas no modelo

neoclássico de crescimento da renda per capita. Utilizamos nas regressões dados

organizados em painel, para uma amostra de 41 países selecionados.

O painel foi estimado para o período 1970 – 2009, utilizando os estimadores

Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), Efeitos Fixos, e Método dos Momentos

Generalizados (GMM), com base em Arellano e Bond (1991). No entanto, o objetivo do

trabalho é determinar a contribuição de cada uma das variáveis de controle para o

crescimento do produto, para os sete anos compreendidos entre 2003 e 2009. Os resultados

das estimativas foram comparados com aqueles obtidos no período imediatamente anterior,

1996 – 2002.

Estimamos também o modelo com as mesmas especificações, para o subgrupo de

26 países em desenvolvimento, selecionados da amostra total. A definição dos países em

desenvolvimento foi tomada com base na classificação quanto ao nível de desenvolvimento

econômico do FMI.

Portanto, estimamos o modelo para a amostra completa dos 41 países, e para a

amostra do subgrupo dos países em desenvolvimento, conforme a equação representada a

seguir. Posteriormente comparamos os resultados obtidos pelas estimações efetuadas nos

dois intervalos de tempo.

gi,t = β0 + β1 log yi,t-5+ β2 Zi,t + µi + ηt + i,t (1)

12

Onde gi,t é a taxa de crescimento da renda per capita do país i, no período t, e o log

yi,t-5 é o valor logarítmico da renda per capita inicial do país i com defasagem de cinco anos.

O grupo Zi,t representa o conjunto de variáveis de controle dentre as quais, em pelo mesmo

uma das especificações, está a variável investimento/PIB.

O termo i,t representa o erro da regressão, enquanto que ηt representa a variável

dummy a qual captura os efeitos fixos de tempo, que são não observáveis, comuns a todas as

economias e associados a cada período. O termo µi captura os efeitos fixos específicos de

cada país, os quais estão presentes na regressão, mas não variam no longo do tempo.

Em todas as especificações utilizamos a Matriz Covariância de White para a

correção da heterocedasticidade (erro padrão).

13

4 DESCRIÇÃO DOS DADOS:

A base de dados utilizada nesta dissertação é constituída de dados anuais, para um

grupo de 41 países selecionados, no período entre 1970 e 2009. Também selecionamos um

subgrupo de 26 países da amostra, composto por países em desenvolvimento, classificados

dessa forma pelo FMI de acordo com o nível de desenvolvimento. As amostras tanto do

grupo, quanto do subgrupo de países estão descritas nos apêndices A e B, respectivamente.

No modelo estimado, a taxa de crescimento da renda per capita é a variável

dependente. O logaritmo da renda per capita defasado em cinco períodos representa a renda

per capita inicial dos países, e é uma variável de controle, em virtude da predominância da

hipótese de convergência condicional2. Utilizamos o logaritmo da renda com mais

defasagens em função do log defasado em apenas um período (t-1) ser potencialmente

endógeno ao crescimento da renda no período imediatamente posterior (t).

Adicionalmente, seguindo a literatura padrão, definimos as variáveis de controle no

grupo Zi,t, que compõem o conjunto de variáveis independentes, também explicativas do

crescimento da renda per capita.

As informações da taxa de crescimento da renda per capita anual dos países foram

calculadas a partir dos valores do PIB per capita, disponíveis na Penn World Table, versão

7.0. Também através dos valores do PIB per capita obtivemos o log da renda per capita dos

países.

2 Como descrito no modelo neoclássico, quanto mais distante estiver a economia de seu estado estacionário, mais rápido será seu crescimento. O denominado efeito de convergência refere-se à distância da economia de seu estado estacionário.

14

4.1 VARIÁVEIS DE CONTROLES: Zi,t

A taxa de inflação, medida pela variação anual no Índice de Preços ao Consumidor

(IPC) no fim do período, foi adicionada ao modelo para capturar os efeitos relacionados à

estabilidade econômica, especialmente a partir da década de noventa, através de reformas

nas políticas econômicas. É uma medida de distorção da política monetária. Os dados de

inflação foram obtidos no World Economic Outlook (WEO), do FMI, edição de abril de

2010. Espera-se que a relação entre inflação e crescimento econômico seja negativa.

Utilizamos também uma variável de política fiscal, a razão entre o consumo do

governo em relação ao PIB. Essa variável, gastos do governo, representa o grau de

intervenção/participação do governo na economia, e foi obtida na PWT, versão 7.0. O

consumo do governo em relação ao PIB pode representar um bom indicador de credibilidade

e estabilidade quanto à permanência dos ajustes fiscais. Por outro lado, o aumento dos

gastos do governo pode impactar no aumento das expectativas de inflação, e contribuiria,

assim, negativamente para o crescimento do produto. Por isso, o efeito dos gastos

governamentais no crescimento da renda pode ter sentido dúbio.

Para mensurar a participação do sistema financeiro na economia, utilizamos da

razão entre crédito e o PIB. O crédito é representado pelo crédito total do sistema financeiro

ao setor privado e ao setor publico. A variável foi obtida do website do Bank of International

Settlements (BIS). Esperamos uma relação positiva entre o crescimento do crédito e o

crescimento do produto.

15

Com vistas a denotar o grau de abertura da economia adicionamos a medida da

razão entre o volume de comércio exterior (ou corrente de comércio, que é a soma das

exportações com as importações) e o PIB. Essa é uma das variáveis representativas do setor

externo, que captura choques externos. Os dados foram verificados na PWT, versão 7.0;

Outra variável inserida no modelo, através da qual é possível controlar para

choques externos, é o índice da taxa de cambio efetiva real. Ela é utilizada também como

proxy dos termos de troca (razão entre os preços dos bens e serviços exportados e

importados). Os dados do câmbio efetivo também foram levantados no website do Bank of

International Seetlements (BIS). Esperamos que quanto maior a taxa de cambio efetiva, ou

seja, quanto mais desvalorizado o cambio, maior o crescimento da renda, via incremento da

receita com exportações.

Para controlar o impacto do capital humano no crescimento econômico inserimos a

variável de escolaridade, obtida em Barro-Lee (2011). Ela indica a média de anos de estudo

da população do país com idade igual ou superior a 15 anos. Esperamos que o crescimento

econômico seja tanto maior quanto mais anos de escolaridade tiver a população.

Em pelo menos uma especificação do modelo, utilizamos a variável taxa de

investimento em relação ao PIB, obtida na PWT versão 7.0, em função dela representar o

impacto das variáveis sobre o crescimento econômico através da elevação da taxa de

crescimento da Produtividade Total dos Fatores (PTF)3.

3 A PTF pode ser definida como a quantidade de produto obtido a partir de um conjunto de unidades ponderadas dos fatores de produção capital e trabalho. Ver Pessôa et alli (2003).

16

Essas variáveis foram usadas no modelo basicamente em razão de serem

amplamente utilizadas na literatura relacionada, como em Veloso et alli (2008). Além disso,

como o objetivo deste trabalho é verificar os determinantes do crescimento brasileiro, elas

capturam aspectos importantes da política econômica praticada no Brasil, a partir da adoção

do Plano Real em 1994, e da estabilização econômica progressivamente consolidada nos

anos posteriores a adoção do Plano.

Na tabela 1 são apresentadas as estatísticas descritivas das variáveis do modelo,

considerando a amostra integral de países.

Média Mediana Máximo Mínimo Desvio Padrão ObservaçõesCRESCIMENTO PIB % 2,369 2,363 18,444 -14,521 4,022 493LOG PIB 4,519 4,429 5,820 2,378 0,826 493INVESTIMENTO/PIB 24,001 22,540 51,930 8,810 7,263 493TAXA DE INFLAÇÃO 27,953 3,226 8999,000 -4,999 407,291 493CONSUMO GOVERNO/PIB 8,192 8,120 16,600 2,859 3,112 493ESCOLARIDADE 8,918 8,725 13,211 3,582 2,100 493CRÉDITO/PIB 93,638 83,781 328,408 -12,623 65,116 493VOLUME COMÉRCIO/PIB 69,791 52,790 443,180 16,220 75,822 493CÂMBIO EFETIVO 103,078 100,001 230,066 58,872 19,536 493

Tabela 1. Estatísticas Descritivas - amostra integral

Dentre as variáveis listadas no modelo, a inflação tem o maior desvio padrão. A

corrente de comércio e o câmbio efetivo real, variáveis que absorvem choques externos,

assim como a relação crédito/PIB, também possuem desvio padrão elevado para o período

da amostra. A diferença entre os valores máximos e mínimos destas variáveis é significativa.

No caso da inflação, podemos associar o elevado desvio padrão, à instabilidade

macroeconômica vivenciada na maior parte dos países da amostra, especialmente no início

da década de 90, e à inércia inerente à instituição de mecanismos monetários de controle

17

inflacionário instituídos por meio dos planos de estabilização. Já no fim dos anos noventa e

nos primeiros anos do século XXI, diversos países passaram a adotar o Regime de Metas

para controlar a inflação.

Para o volume de comércio, uma provável explicação diz respeito ao fato de a

maior parte das economias listadas na amostra instituírem programas de liberalização

comercial também no início dos anos 90, como componente de programas de reforma

econômica. Algumas economias emergentes, por exemplo, passaram por crises de dívida

externa e ajustes em seus balanços de pagamentos, o que em parte pode ser capturado por

esta variável. Por sua vez, a taxa de câmbio, variável que possui alta volatilidade, também

pode capturar os efeitos desses ajustes.

5 RESULTADOS

5.1 ESTIMATIVAS PARA O TOTAL DA AMOSTRA

Na tabela 2 estão descritas as estimativas econométricas obtidas para o período

1996 – 2002.

18

De acordo com a tabela, em quase todas as estimativas e especificações a inflação

possui o sinal negativo, como esperado e é estatisticamente significativa, ao nível de 5%.

Nas especificações que consideram a razão entre investimento e o PIB, predomina a

correlação positiva entre essa variável e o crescimento do produto e ela continua com

significância estatística.

O grau de abertura medido pela corrente de comércio possui correlação negativa

com o crescimento, confrontando a teoria, em que quanto maior o volume de comércio

externo, quanto maior o grau de abertura do país, maior será o crescimento econômico.

Apenas no estimador GMM a correlação é positiva, e o coeficiente é significativo. Da

mesma forma, quanto mais desvalorizado o câmbio, maior o impacto no crescimento, dado

que estimula as exportações. Portanto, o sinal negativo é contrário ao esperado.

1 2 3 4 5 60,092 0,147 4,826* 4,292* -0,663* -0,631*(0,447) (0,376) (5,382) (5,165) (0,057) (0,035)

-0,039* -0,044* -0,065* -0,074* -0,000* -0,000*(0,013) (0,015) (0,017) (0,014) (0,000) (0,000)

0,000 -0,011* -0,009 0,020 0,000* 0,002**(0,002) (0,003) (0,055) (0,051) (0,000) (0,001)

-0,006 -0,009* -0,056* -0,057* -0,001** -0,000*(0,003) (0,004) (0,021) (0,023) (0,805) (0,000)

-0,046 0,021 -0,923 -1,315 0,003 0,015**(0,122) (0,004) (1,136) (1,159) (0,011) (0,010)

0,079 -0,010 -0,149 0,224 -0,050* -0.018*(0,084) (0,063) (0,755) (0,644) (0,007) (0,006)

-0,051* -0,033* -0,066* -0,062* -0,000* -0,001*(0,019) (0,014) (0,026) (0,025) (0,806) (0,000)

- 0,195* - 0,224** - 0,009*- (0,048) - (0,122) - (0,001)

R2 0,082 0,172 0,600 0,608 - -R2 ajustado 0,050 0,139 0,497 0,506 - -Observações 212 212 212 212 210 210* Estatísticamente significativo ao nível de 5%;

** Estatísticamente significativo ao nível de 10%;

OBS: Em parenteses estão representados os valores dos erros padrões;

Tabela 2. Estimativas econométricas - 1996 - 2002Variável dependente: taxa de crescimento (%) PIB per capita

GMM

Investimento/PIB

MQO agrupado Efeito fixo

Log do PIB per capita (renda inicial)

Câmbio Efetivo

Volume de Comércio/PIB

Crédito/PIB

Escolaridade

Consumo do Governo/PIB

Taxa de Inflação

19

O impacto da escolaridade da população só é estatisticamente significante no

estimador GMM com o investimento/PIB, ao nível de 10%. Nas demais equações, a

escolaridade não é estatisticamente significativa. Uma possível explicação, neste caso, é que

o período de sete anos seja relativamente curto para que o efeito da educação no crescimento

seja capturado.

A relação entre o crédito e o PIB apresentou correlação negativa com o crescimento

da renda, também diferentemente do esperado, em todas as estimativas. O consumo do

governo, igualmente com sinal negativo em praticamente todas as estimativas, pode indicar

que neste caso, o aumento dos gastos tem impacto na expectativa de inflação, o que reduz o

crescimento no período.

A tabela 3 contém as estimativas para o intervalo entre 2003 e 2009, também para

amostra integral de países.

20

A renda per capita inicial apresentou sinal negativo, corroborando a existência da

convergência condicional, em que quanto mais distante do estado estacionário estiver o país,

ou quanto menor a renda inicial maior será a taxa de crescimento da renda, do produto.

Assim, para esse período confirma-se a hipótese de convergência condicional. Além disso, a

variável defasada da renda per capita é altamente significativa, e no estimador dinâmico

GMM, o erro padrão diminuiu significativamente.

A taxa de câmbio efetiva também é estatisticamente significativa, mas apenas

quando consideramos MQO sem efeito fixo e o estimador GMM. O sinal positivo indica a

correlação positiva com o crescimento, diferentemente do verificado nas estimativas para o

período anterior, em que os sinais negativos dos valores estimados indicam correlação

1 2 3 4 5 6-1,821* -2,091* -2,019* -2,285* -0,608* -0,677*(0,914) (0,6668) (0,487) (0,642) (0,042) (0,043)

0,049** 0,057** 0,0295 0,039 0,000** 0,000*(0,027) (0,031) (0,020) (0,027) (0,000) (0,000)

0,008* 0,006* 0,009* 0,007* -0,001 -0,001(0,002) (0,002) (0,003) (0,002) (0,000) (0,000)

-0,006 -0,006 -0,005** -0,004 0,001* -0,000*(0,005) (0,005) (0,005) (0,005) (0,000) (0,000)

0,080 0,222 0,152 0,308** 0,005* 0,013**(0,217) (0,179) (0,224) (0,180) (0,005) (0,007)

0,072 -0,005 0,107 0,022 -0,049* -0,046*(0,161) (0,127) (0,675) (0,124) (0,007) (0,007)

0,000* 0,000* 0,000 -0,095 -2,310* -1,430*(0,960) (0,849) (0,744) (0,077) (3,691) (4,420)

- 0,138* - 0,147* - 0,004*- 0,052 - (0,051) - (0,000)

R2 0,192 0,237 0,527 0,575 - -R2 ajustado 0,165 0,207 0,497 0,546 - -Observações 215 215 215 215 215 215* Estatísticamente significativo ao nível de 5%;

** Estatísticamente significativo ao nível de 10%;

OBS: Em parenteses estão representados os valores dos erros padrões;

GMMVariável dependente: taxa de crescimento (%) PIB per capita

Tabela 3. Estimativas econométricas - 2003 - 2009

Investimento/PIB

MQO agrupado Efeito fixo

Log do PIB per capita (renda inicial)

Câmbio Efetivo

Volume de Comércio/PIB

Crédito/PIB

Escolaridade

Consumo do Governo/PIB

Taxa de Inflação

21

negativa entre o câmbio efetivo e o crescimento do PIB. A maior taxa de câmbio, ou seja, a

desvalorização da moeda nacional estimula as vendas ao exterior, já que aumenta a receita

de exportações, aumentando o crescimento da renda. Verificamos que sem efeitos fixos, a

estimativa para a taxa de câmbio efetiva real é maior do que com a presença desses efeitos.

O grau de abertura ao mercado externo também se mostra altamente significante,

nas estimativas de MQO com e sem efeito fixo. Além disso, a correlação positiva com o

crescimento revela-se como esperado. Porém, quando consideramos o estimador GMM,

além da variável perder significância, a correlação torna-se negativa.

A estimativa da participação do sistema financeiro na economia apresentou

correlação negativa com o crescimento da renda, já que o valor estimado da participação

dessa variável no crescimento tem sinal negativo. Também não possui significância

estatística, à exceção de quando estimamos por GMM. Já no período anterior, as estimativas

para o crédito/PIB mostraram estatisticamente significativas em todas as especificações.

A escolaridade da população é significativa apenas quando controlamos para efeito

fixo e investimento/PIB, e também no estimador GMM. Porém, neste caso, o coeficiente

reduz razoavelmente. No entanto, se considerarmos os dois primeiros estimadores, os

valores estimados para a escolaridade da população indicam que esta variável tem

participação maior no incremento da renda. Quando controlamos para efeitos fixos e para a

taxa de investimentos, cada anos a mais de escolaridade da população representa aumento de

aproximadamente 0,31 no crescimento da renda per capita.

O consumo do governo nesse período de estimação apresenta correlação positiva

com a renda em quase todas as especificações, à exceção de quando estimamos por GMM,

22

em que as estimativas do impacto dos gastos do governo no crescimento do produto

aumentam, e passam a correlacionar-se negativamente com tal aumento. Também apenas em

GMM são estatisticamente significativas, e nesse caso, o erro padrão reduz-se

significativamente.

O impacto negativo do aumento dos gastos no crescimento do produto pode ser

parcialmente dedicado ao fato de que a política fiscal expansionista pode acelerar a inflação,

por meio do incremento da demanda agregada, o que pode ser observado, na prática. O

ambiente inflacionário reduz a perspectiva de crescimento do produto.

Diferentemente das estimativas para o intervalo anterior, em que a taxa de inflação

é significativa em todas as estimativas e especificações, a inflação mostrou-se significativa

em MQO, mas com sinal diferente do esperado. Quando controlamos para efeitos fixo e para

a taxa de investimento, predomina a correlação negativa com o crescimento, além do

coeficiente aumentar, mas a variável perde a significância estatística. Apenas quando

consideramos GMM o coeficiente é maior, com significância estatística ao nível de 5% e

com a correlação negativa com o crescimento da renda per capita.

Além disso, também entre 1996 e 2002, os coeficientes da taxa de inflação são

maiores do que os coeficientes estimados para o período 2003-2009, indicando que o

impacto da inflação no crescimento é maior no período anterior.

Finalmente, a taxa de inversões como proporção do PIB também possui correlação

positiva com o crescimento, além de ser altamente significativa. Os coeficientes estimados

indicam que o impacto do aumento na taxa de investimento sobre o crescimento da renda é

de aproximadamente 0,14, um pouco menor do que o estimado no período anterior.

23

Conforme se observa e de acordo com Veloso et alli (2008), quando a variável de

investimento é inserida nas regressões, a magnitude do impacto das variáveis de política

econômica (consumo do governo, inflação e crédito) no crescimento, em geral, é menor e

menos significativa. Tal fato ocorre por que parte do efeito dessas variáveis no crescimento

pode se dá via elevação da taxa de investimento.

Adicionalmente verificamos que através do estimador GMM os coeficientes

também são reduzidos, porém no geral, a correlação com a variável dependente mostra-se de

acordo com a teoria, além das variáveis ganharem significância estatística.

Ainda que não represente uma medida de eficiência do modelo, o R2 ajustado

referente ao período 2003-2009 é próximo ao verificado entre 1996-2002, em especial

quando a estimativa considera efeitos fixos. Na especificação mais ampla, com a variável de

investimento, o indicador é 0,55 em 2003-2009 e 0,51 em 1996-2002.

24

5.2 ESTIMATIVAS PARA OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

Efetuamos as mesmas regressões da amostra total para o subgrupo dos 26 países em

desenvolvimento. A seguir, a tabela 4 contém os resultados dos coeficientes estimados das

variáveis listadas no modelo, para o intervalo 1996-2002.

Identificamos que a renda per capita inicial tem sinal negativo confirmando a

hipótese da convergência condicional apenas no estimador GMM, entretanto possui

significância estatística somente quando controlamos para efeitos fixos.

1 2 3 4 5 60,511 -0,329 56,522* 52,497* -0,794 -0,121

(0,845) (0,961) (8,468) (7,225) (1,083) (0,884)-0,037* -0,059* -0,064* -0,068* -0,002 -0,004(0,017) (0,023) (0,022) (0,023) (0,007) (0,006)-0,015 -0,002 -0,264* -0,245* 0,029 0,007(0,026) (0,015) (0,108) (0,101) (0,127) (0,057)-0,005 -0,023 -0,005 -0,006 0,004 0,005(0,011) (0,019) (0,040) (0,041) (0,011) (0,010)-0,038 0,401** 1,768 1,557 -1,582 -0,135(0,151) (0,264) (1,500) (1,471) (1,566) (4,205)0,202* -0,008 0,573 0,618 -0,292 -0,081(0,093) (0,146) (1,258) (1,282) (1,646) (0,461)-0,048* -0,024 -0,082* -0,072* -0,002 -0,003(0,023) (0,019) (0,030) (0,031) (0,002) (0,081)

- 0,312* - 0,198 - 0,035- (0,111) - (0,207) - (0,081)

R2 0,103 0,221 0,684 0,689 - -R2 ajustado 0,040 0,158 0,572 0,574 - -Observações 108 108 108 108 107 107* Estatísticamente significativo ao nível de 5%;

** Estatísticamente significativo ao nível de 10%;

OBS: Em parenteses estão representados os valores dos erros padrões;

Investimento/PIB

Câmbio Efetivo

Volume de Comércio/PIB

Crédito/PIB

Escolaridade

Consumo do Governo/PIB

Taxa de Inflação

Log do PIB per capita (renda inicial)

Tabela 4. Estimativas econométricas - 1996 - 2002 - Países em DesenvolvimentoVariável dependente: taxa de crescimento (%) PIB per capita

MQO agrupado Efeito fixo GMM

25

No caso da taxa de câmbio, a correlação negativa com o crescimento é diferente do

esperado, mesmo quando estimamos GMM. Apesar disso, o coeficiente do câmbio é

estatisticamente significativo tanto em MQO, quando controlamos para efeitos fixos.

O grau de abertura da economia também possui correlação negativa com o

crescimento da renda nos dois primeiros estimadores, o que não ocorre quando estimamos

por GMM. Neste caso, o coeficiente estimado perde a significância estatística.

O mesmo ocorre com o crédito/PIB: a correlação negativa com o crescimento é

diferente do que esperamos, porém quando estimamos por GMM, além do erro padrão ser

menor, a correlação torna-se positiva.

Nesse intervalo, assim como para observado para o total da amostra, o impacto da

escolaridade da população não é estatisticamente significante, apesar do coeficiente elevado.

Também como ocorreu com a amostra integral no período em questão, o crédito

possui correlação negativa com o crescimento nos estimadores MQO e efeito fixo, mas essa

correlação é positiva em GMM. Quando consideramos o grupo de países com características

semelhantes, os coeficientes dessa variável não possuem significância estatística, assim

como ocorre com consumo do governo, que apresenta correlação positiva com o

crescimento quando controlamos para efeitos fixos, e negativa em GMM.

A inflação é negativamente correlacionada com o crescimento, entretanto possui

significância estatística quando consideramos efeitos fixos. Neste caso, a taxa de

investimento apesar do coeficiente relativamente elevado, não possui significância

estatística.

26

Na tabela 5 estão descritos os resultados das regressões dos países em

desenvolvimento para o período entre 2003 e 2009.

No período entre 2003 e 2009, considerando os estimadores MQO e GMM, o

coeficiente negativo da renda inicial indica que há convergência condicional da renda,

igualmente como ocorreu com as estimativas que consideram a amostra total dos países.

Além disso, a variável é significativa com efeitos fixos, e GMM controlando para a taxa de

investimento.

1 2 3 4 5 6-0,475 -1,323 23,442* 24,170* -0,627 -0,729**(0,909) (0,000) (9,506) (7,491) (0,456) (0,415)0,048 0,060** -0,041** -0,041** -0,005 -0,007

(0,033) (0,036) (0,025) (0,027) (0,005) (0,006)0,11 -0,013 -0,174 -0,215** -0,014 -0,018

(0,024) (0,024) (0,140) (0,138) (0.019) (0,014)0,003 0,000 0,005 0,036 -0,004 -0,004

(0,009) (0,009) (0,038) (0,040) (0,006) (0,007)-0,035 0,178 4,495* 5,211* 0,099 0,072(0,274) (0,314) (1,804) (1,813) (0,301) (0,323)0,204 0,043) -0,291 0,176 0,027 0,022

(0,149) (0,167) (0,886) (0,907) (0,095) (0,110)0,000 0,000 8,000 -2,640 -0,000 -0,000

(0,000) (0,000) (0,000) (0,000) (0,000) (0,000)- 0,152** - 0,358* - 0,014- (0,094) - (0,162) - (0,022)

R2 0,062 0,103 0,676 0,719 - -R2 ajustado 0,012 0,003 0,565 0,619 - -Observações 111 111 111 111 111 111* Estatísticamente significativo ao nível de 5%;

** Estatísticamente significativo ao nível de 10%;

OBS: Em parenteses estão representados os valores dos erros padrões;

Investimento/PIB

Câmbio Efetivo

Volume de Comércio/PIB

Crédito/PIB

Escolaridade

Consumo do Governo/PIB

Taxa de Inflação

Log do PIB per capita (renda inicial)

Tabela 5. Estimativas econométricas - 2003 2009 - Países em DesenvolvimentoVariável dependente: taxa de crescimento (%) PIB per capita

MQO agrupado Efeito fixo GMM

27

Assim como o coeficiente estimado no período anterior, neste intervalo, o câmbio

efetivo real também se correlaciona negativamente com o crescimento da renda em efeito

fixo e GMM, diferentemente do esperado.

O câmbio efetivo real pode, inclusive, influenciar o grau de abertura da economia,

que para este grupo de países também apresentou correlação negativa com o crescimento,

apesar do coeficiente elevado, mas sem significância estatística.

A relação crédito/PIB, como medida da participação do sistema financeiro na

economia mostrou-se com impacto positivo no crescimento nos dois primeiros estimadores,

diferentemente do observado no período anterior. Os coeficientes também não possuem

significância estatística.

A escolaridade da população é altamente significativa e com coeficiente elevado,

especialmente quando controlamos para efeitos fixos. O coeficiente da escolaridade da

população dos países emergentes aumentou nesse intervalo, comparativamente com o

anterior. Podemos dizer que nesse período, os anos de estudo tiveram maior contribuição

para o crescimento. No entanto, a variável é estatisticamente significativa apenas quando

controlamos para efeitos fixos.

A intervenção do governo na economia tem sinal positivo, mas não possui

significância estatística, como a taxa de inflação. Esta somente correlaciona-se

negativamente com o crescimento quando estimamos por GMM.

A taxa de investimento/PIB é significativa ao nível de 5% quando controlamos para

efeitos fixos, e ao nível de 10% quando estimamos MQO agrupado. Quando usamos o

28

estimador GMM, o coeficiente não é significativo, mas correlaciona-se positivamente com o

crescimento. Considerando o estimador de efeitos fixos, podemos dizer que o aumento de

um ponto percentual na taxa de investimento, impactou no incremento de 0,35 ponto

percentual na renda per capita entre 2003 e 2009, para o grupo de países em

desenvolvimento.

Apesar do R2 ajustado de aproximadamente 0,62 no período 2003 e 2009, e 0,57

entre 1996 e 2002, indicar que as variáveis incluídas no modelo respondem por cerca de

60% do comportamento da renda desse grupo de países, em termos de correlação entre as

variáveis e significância estatística, o resultado é pouco conclusivo.

Como em Veloso et alli (2008), salientamos que embora o objetivo seja mensurar a

contribuição individual de cada variável para o crescimento, é recomendável tanto do ponto

de vista econômico quanto do de significância estatística considerar a contribuição conjunta

das variáveis de politica econômica (inflação, consumo do governo e crédito). O consumo

do governo, por exemplo, pode ter coeficiente maior do que o estimado, na medida em que

pode afetar o crescimento indiretamente por meio da inflação. O mesmo acontece para as

variáveis do setor externo, que são diretamente correlacionadas.

29

6 CONCLUSÃO

Esta dissertação tem como objetivo identificar os determinantes do crescimento

econômico brasileiro entre 2003 e 2009. Para verificá-los, estimamos equações baseadas no

modelo neoclássico de crescimento da renda per capita com dados organizados em painel,

para uma amostra de 41 países, entre o período de 1970 a 2009. Consideramos a taxa de

crescimento da renda per capita como variável dependente e variáveis de controle como taxa

de inflação, relação crédito/PIB, razão consumo do governo/PIB, taxa de câmbio efetiva

real, volume de comércio, escolaridade e investimento/PIB.

Além disso, em virtude de distintos níveis de desenvolvimento dos países, também

estimamos o modelo para um subgrupo de economias denominadas países em

desenvolvimento, de acordo com a classificação do FMI.

O modelo constitui-se de três estimadores, MQO, efeitos fixos, e Método dos

Momentos Generalizados (GMM).

Comparamos as estimativas obtidas no intervalo 2003 – 2009, com aquelas

auferidas entre 1996 e 2002.

Os resultados para a amostra integral demonstram que os principais determinantes

do crescimento da renda per capita entre 2003 e 2009 foram a renda inicial, a escolaridade

da população com idade igual ou superior a 15 anos, e a taxa de investimento em relação ao

PIB. Essas variáveis apresentaram-se significativas estatisticamente, além da correlação

positiva com o crescimento da renda, como esperado.

30

Destacamos que apesar de no geral as variáveis relacionadas ao setor externo, bem

como as associadas à politica econômica explicarem parcela relativamente pequena do

crescimento econômico brasileiro no período, quando consideramos o estimador mais

abrangente, a taxa de câmbio efetiva real mostra significância estatística, assim como a taxa

de inflação e o consumo do governo.

A maior importância relativa do controle inflacionário para o crescimento

econômico entre 2003 e 2009 pode estar relacionada ao êxito do Plano Real, quanto à

promoção da estabilidade macroeconômica. Apesar de instituído na segunda metade da

década de noventa, o modelo estimado indica que provavelmente o impacto da inflação,

como variável de política econômica, no crescimento do produto foi defasado. Essa

conclusão segue o resultado encontrado por Veloso et alli (2008), em relação aos efeitos

defasados das reformas do PAEG no crescimento da economia brasileira entre 1968 e 1973.

Essa é uma evidência de que o efeito de reformas no crescimento econômico pode

estar associado a defasagens significativas, em especial quando essas reformas são

implementadas em períodos de crise econômica, como frequentemente ocorre e a literatura

registra.

Diferentemente do esperado, dado o aumento dos fluxos do comércio internacional,

o maior peso de economias emergentes no comércio, e o ganho de importância de outras

moedas fora do eixo Dólar-Euro, as variáveis do setor externo impactaram pouco no

crescimento econômico. Esperávamos que essas variáveis obtivessem uma participação

maior no crescimento do PIB brasileiro nesse período.

31

Entre 1996 e 2002, a inflação e a taxa de investimento tiveram o maior impacto no

crescimento, e o modelo indica que as variáveis explicam aproximadamente 58% do

comportamento do crescimento da economia brasileira.

Quando avaliamos o modelo que considera apenas os países em desenvolvimento,

os resultados também são pouco conclusivos, em ambos os intervalos de estimação, em

termos de significância estatística e correlação entre as variáveis.

32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

VELOSO, Fernando; VILLELA, André; GIAMBIAGI, Fábio (2008). “Determinantes do

Milagre Econômico Brasilero (1968-1973): Uma Análise Empírica” In: Revista Brasileira

de Economia. Rio de Janeiro, v. 62, n. 2, p. 221-246, abril/junho de 2008.

EASTERLY, William; LOYAZA, Norman; MONTIEL, Peter (1997). “Has Latin

American’s Post-reform growth been disappointing?” In: Journal of International

Economics. Washington, v. 43, p. 287-311, janeiro 1997.

FERNÁNDEZ-ARIAS, Eduardo; MONTIEL, Peter (2001). “Reform and Growth in Latin

America: All Pain, No Gain?” In: IMF Staff Papers, v. 48, n. 3, 2001.

HAUSSMAN, Ricardo; PRITCHETT, Lant; RODRICK, Dani (2004). “Growth

Accelerations” In: National Bureau of Economic Research. Massachusetts, junho de 2004

BANDEIRA, Andreia (2000). “Reformas Econômicas, Mudanças Institucionais e

Crescimento na América Latina” Dissertação de Mestrado. EAESP/FGV. São Paulo, Brasil.

CESARIO, Bianca (2011). “O Efeito do Setor Financeiro sobre o Crescimento Econômico”

Dissertação de Mestrado. IBMEC/RJ. Rio de Janeiro, Brasil.

MENDES, Alice (2010). “A Importância do Crescimento dos Termos de Troca para o

Crescimento Econômico” Dissertação de Mestrado. IBMEC/RJ. Rio de Janeiro, Brasil.

INTERNATIONAL MONETARY FUND; “World Economic Outlook Database”, abril de

2011.

WOLD BANK; “World Bank Database”, acesso em setembro de 2011.

PENN WORLD TABLE 7.0, acesso em setembro de 2011.

BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS; “Statistics”, acesso em outubro de

2011.

33

APÊNDICE A:

Países da amostra integral: África do Sul, Angola, Alemanha, Arábia Saudita, Argélia,

Argentina, Austrália, Bolívia, Brasil, Canadá, Catar, Cingapura, Chile, China, Colômbia,

Coréia do Sul, Emirados Árabes, Espanha, Estados Unidos, Equador, França, Hong Kong,

Índia, Itália, Irã, Iraque, Japão, Kuait, Líbia, México, Nigéria, Nova Zelândia, Paraguai,

Peru, Portugal, Reino Unido, Rússia, Taiwan, Turquia, Uruguai, e Venezuela.

APÊNDICE B:

Subgrupo da amostra - Países em Desenvolvimento: Argélia, Argentina, África do Sul,

Angola, Arábia Saudita, Bolívia, Brasil, Catar, China, Chile, Colômbia, Emirados Árabes,

Equador, Índia, Irã, Iraque, Kuait, Líbia, México, Nigéria, Paraguai, Peru, Rússia, Turquia,

Uruguai e Venezuela.