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DETERMINANTES DO DESMATAMENTO NA MATA ATLÂNTICA: Uma Análise Econômica Ana Carolina Marzullo Neves Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Econômicas do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Economia da Indústria e da Tecnologia. Orientador Carlos Eduardo Frickmann Young Rio de Janeiro Dezembro/2006

Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

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Page 1: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

DETERMINANTES DO DESMATAMENTO NA MATA ATLÂNTICA: Uma Análise Econômica

Ana Carolina Marzullo Neves Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Economia da Indústria e da Tecnologia. Orientador Carlos Eduardo Frickmann Young

Rio de Janeiro Dezembro/2006

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DETERMINANTES DO DESMATAMENTO NA MATA ATLÂNTICA: Uma Análise

Econômica

Ana Carolina Marzullo Neves

Orientador Carlos Eduardo Frickmann Young

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Meste em Economia da Indústria e da Tecnologia. Aprovada por: ________________________________________________________

Prof º Carlos Eduardo Frickmann Young, D. Sc (IE-UFRJ) Presidente da Banca (orientador)

________________________________________________________

Prof º Lúcia Kubrusly, D. Sc (IE-UFRJ) ________________________________________________________

Prof º Jorge Madeira Nogueira, D. Sc (UNB)

Rio de Janeiro Dezembro/2006

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Neves, Ana Carolina Marzullo

Determinantes do Desmatamento da Mata Atlântica: Uma Análise

Econômica./Ana Carolina Marzullo Neves – Rio de Janeiro: UFRJ/IE,

2006.

xiii, 94 p. ; il, tab.; 31 cm

Orientador: Carlos Eduardo Frickmann Young

Dissertação (Mestrado) – UFRJ/IE Programa de Pós-Graduação

em Economia da Indústria e da Tecnologia, 2006.

Referências Bibliográficas: pp. 82-83

1. Mata Alântica. 2. Causas do Desmatamento. 3. Modelo

de Regressão Linear Múltipla . 4. Padrões de Desmatamento. I. Young,

Carlos. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. III. Título.

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As opiniões expressas expressas nesse trabalho são de exclusiva responsabilidade do autor.

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Dedicatória

Dedico este trabalho aos meus Pais, Ana Maria Marzullo Neves e Silvio Panno Neves, por todo apoio que me deram na minha formação pessoal e profissional.

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Agradecimento

Agradeço a equipe do Funbio- Fundo Brasileiro para a Biodiversidade, especialmente a Marina Carlota Amorim Machado, Danielle Duarte, Karine Gonçalves e Leonardo Geluda, pela amizade, carinho, companheirismo, prontidão e aprendizado nos sete meses em que trabalhamos juntos. Agradeço também aos meus amigos, do mestrado, da faculdade, do Colégio Santo Agostinho, pela amizade, aprendizado e apoio em todas as situações. Agradecimento para Ana Beatriz Kazniakowski, Bárbara Oliveira, Fernanda Cabral e Thales Carneiro por proporcionarem momentos de alegria e também por toda a força que me deram nesse tempo de convívio. Aos meus pais, irmã, amigos e namorado pelo amor, carinho e apoio que tanto contribuíram para a minha formação profissional. E também a pela compreensão que tiveram nos momentos de dificuldade. Agradeço, em especial, ao meu orientador Carlos Eduardo Frickmann Young pelos ensinamentos fundamentais, por sua amizade, pela sua confiança no meu trabalho e por ser minha referência profissional.

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A Mata, Manuel Bandeira

“A mata agita-se, revoluteia, contorce-se toda e sacode-se! A mata hoje tem alguma coisa para dizer. E ulula, e contorce-se toda, como a atriz de uma pantomima trágica. Cada galho rebelado Inculca a mesma perdida ânsia. Todos eles sabem o mesmo segredo pânico. Ou então - é que pedem desesperadamente a mesma instante coisa.

Que saberá a mata? Que pedirá a mata? Pedirá água? Mas a água despenhou-se há pouco, fustigando-a, escorraçando-a, saciando-a como aos alarves.

Pedirá o fogo para a purificação das necroses milenárias? Ou não pede nada, e quer falar e não pode? Ter surpreendido o segredo da terra pelos ouvidos finíssimos das suas raízes?

A mata agita-se, revuloteia, controce-se toda e sacode-se! A mata está hoje como uma multidão em delírio coletivo.

Só uma touça de bambus, à parte, Balouça... levemente... levemente... levemente... E parece sorrir do delírio geral.”

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RESUMO

DETERMINANTES DO DESMATAMENTO NA MATA ATLÂNTICA: Uma Análise Econômica

Ana Carolina Marzullo Neves

Orientador

Prof.: Carlos Eduardo Frickmann Young

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Economia da Indústria e da Tecnologia. A história do desmatamento da Mata Atlântica nos revela os múltiplos fatores que levaram a sua depredação. Atualmente, restam apenas 7% de sua vegetação original, os quais se encontram espalhados ao longo da faixa litorânea das regiões sul e sudeste, principalmente. Desta forma, o objetivo principal desta dissertação é verificar quais são, de fato, os fatores propulsores do desmatamento recente dessa biota. O trabalho utiliza dois ferramentais econométricos, a correlação e o modelo de regressão linear múltipla, para identificar os tipos de relações que as variáveis possuem. Busca-se verificar se os fatores relevantes para explicar o desmatamento atlântico são aqueles já esperados pela literatura, tais como a conversão de florestas para uso agropecuário e a extração de madeira. Os resultados da análise mostram que os fatores relevantes no desmatamento da região sudeste são distintos daqueles da região sul. Merece destaque, o fato que quando ambas as regiões são consideradas, o padrão de desmatamento se aproxima ao da região sudeste. Isso indica que uma política de conservação e preservação ambiental apresentará maiores impactos quando aplicada com base nas especificidades regionais. Palavras-Chave: Mata Atlântica, Causas do desmatamento, modelo de regressão linear múltipla, Padrões de desmatamento.

Rio de Janeiro Dezembro/2006

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ABSTRACT

DETERMINANTS OF ATLANTIC FOREST'S DEFORASTATION: An Economic Analysis

Ana Carolina Marzullo Neves

Orientador

Prof.: Carlos Eduardo Frickmann Young

Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Economia da Indústria e da Tecnologia. The history of Atlantic Forest’s deforestment reveal us the multiply factors that causes its depredation. Lately, only remains 7% of its original vegetation, which are spreaded along the seacoast of southeast and south brazilian regions. Thereby, the main objective of this work is to verify which are, in fact, the principal causes of the recent deforestation in this bioma. This work uses two econometric issues, correlation and multiply regression model, to identify the types of relation that exists among the variables. It also realizes if the relevant factors that explain the atlantic deforestment are that already expected by the literature, like the conversion of forests into lands for agriculture and pasture uses and wood extraction. The analysis results show that the important factors in the southeast deforestment region are different from the south region. We have to feature in the fact that when bouth regions are considered, the pattern of deforestment seems more like the southeast region one. This indicates that conservation and preservation polices will impact more significantly when applied based on the especifities of each regions. Key-Words: Atlantic Forest, Causes of Deforestation, Multiply linear regression model, patterns of deforestment.

Rio de Janeiro December/2006

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Lista de Tabelas

Tabela 1 - Extensão original e percentagem dos tipos de floresta na Mata Atlântica (MMA, 2006 b) ................................................................................................... 10

Tabela 2 – Desempenho econômico dos municípios que mais desmataram em seis estados das regiões sul e sudeste, no período de 1985-1995/96. ........................ 38

Tabela 3 - Síntese das variáveis utilizadas em cada modelo. ................ 42

Tabela 4 – Interpretação dos valor do coeficiente de correlação. ........... 47

Tabela 5 – Matriz de correlação para todos os estados. .......................... 48, 49

Tabela 6 - Matriz de correlação da Região Sudeste. .............................. 52, 53

Tabela 7 - Matriz de correlação da Região Sul. ...................................... 54, 55

Tabela 8 - Matriz de correlação do Rio de Janeiro. ............................... 56

Tabela 9 - Matriz de correlação do Espírito Santo. ................................ 57, 58

Tabela 10 - Matriz de correlação de São Paulo. ..................................... 59

Tabela 11 - Matriz de correlação do Paraná. .......................................... 61

Tabela 12 - Matriz de correlação de Santa Catarina. ............................ 62

Tabela 13 - Matriz de correlação do Rio Grande do Sul. ...................... 63

Tabela 14 – Resultados do Rio de Janeiro. ............................................ 68

Tabela 15 – Resultados do Espírito Santo. ............................................ 70

Tabela 16 – Resultados de São Paulo. ................................................... 71

Tabela 17 – Resultados do Paraná. ........................................................ 72

Tabela 18 – Resultados de Santa Catarina. ............................................ 72

Tabela 19 – Resultados do Rio Grande do Sul. ..................................... 73

Tabela 20 – Resultados Região Sudeste. ............................................... 74

Tabela 21 – Resultados da Região Sul. ................................................. 75

Tabela 22 - Resultados das Regiões Sul e Sudeste. ............................. 76

Tabela 23 – Resumo das Variáveis Significativas das regressões. ....... 78

Tabela 24 - Coeficiente de Determinação (R2) das Regressões. ........... 78

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Sumário

Sumário .................................................................................................... 1

Introdução................................................................................................. 3

Capítulo 1 – A História da Mata Atlântica: Evolução do Processo de

Desmatamento..................................................................................................... 8

1.1 A História da Mata Atlântica.............................................. 9

1.1.1 Elementos geográfico-ambientais....................... 9

1.1.2 Elementos histórico-institucionais....................... 13

1.1.3 Elementos sócio-econômicos................................. 15

1.2 A Cultura Esgotadora do Modelo Colonial: Nascimento da Crítica

Ambiental.................................................................................. 18

1.3 Perspectivas Futuras de Conservação da Mata

Atlântica..................................................................................... 20

1.4 Conclusão............................................................................. 21

Capítulo 2 - Determinantes do Desmatamento na Mata Atlântica: uma revisão da

bibliografia ............................................................................................................ 23

2.1 Revisão Bibliográfica.............................................................. 23

2.1.1 Trabalhos sem modelagem econométrica............. 23

2.1.2 Trabalhos com modelagem econométrica............ 28

2.2 Um estudo empírico para a mata atlântica...................... 35

2.3 Conclusão.......................................................................... 41

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Capítulo 3 – Modelo de Desmatamento para a Mata

Atlântica............................................................................................................... 43

3.1 Análise de correlação...................................................... 46

3.2 Modelo de regressão....................................................... 64

3.2.1 Metodologia......................................................... 64

3.2.2 Resultados............................................................ 67

3.3 Conclusão.............................................................................. 79

Conclusão................................................................................................ 80

Referências Bibliográficas...................................................................... 83

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Introdução

As florestas de todo o planeta se encontram sob pressão. De acordo com dados do

censo global de 1990, as florestas tropicais eram anualmente desmatadas numa área de

aproximadamente 150.000 km2 por ano. Em geral, este rápido desaparecimento de grandes

áreas de vegetação nativa se deve aos modos de produção e ocupação da terra que foram, às

vezes, estabelecidos de maneira irracional.

No Brasil, são quatro os principais biomas que sofrem pressões de desmatamento:

Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. Nestes, podem se destacar alguns fatores

comuns que induziram o desflorestamento, tais como “a existência de um excedente estrutural

de mão de obra rural, a luta por estender direitos de propriedade da terra, e pressões

governamentais para converter florestas em áreas de cultivo ou pastagens” (Young, 2000).

Contudo, os processos de desmatamento nesses biomas apresentam características

diferenciadas no que diz respeito a elementos sócio-econômicos, geográfico-ambientais,

históricos e institucionais.

A Mata Atlântica é uma área de desmatamento antigo e onde se encontram poucas

áreas preservadas, logo um dos biomas mais ameaçados. Sua trajetória de devastação tem

início no século XVI, com a chegada dos portugueses no país. Dean (1996) destaca que o

primeiro ato dos portugueses foi derrubar uma árvore e confeccionar uma cruz. Nesta data,

sua área original cobria cerca de 1,36 milhões de Km². É provável que, antes do

descobrimento, a Mata Atlântica ocupasse uma área um pouco mais extensa. Entretanto, além

de não haver dados que comprovem, a intervenção dos primeiros habitantes - coletores-

caçadores e indígenas - sobre a “Mata” não a modificou tão intensamente como o fizeram os

europeus.

Page 15: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

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Atualmente em estado crítico, a área florestal remanescente, de acordo com dados da

Fundação SOS Mata Atlântica, é de aproximadamente 7% do seu valor original. Tal

devastação foi provocada por séculos de uma ação antrópica, que exerceu uma pressão sem

limites sob todos recursos florestais até levar a sua escassez. A área original desse

ecossistema correspondia a cerca de 16% do território brasileiro e estava espalhada por 17

estados das regiões sul, sudeste, cento-oeste e nordeste.

Em 1995 a estimativa era de que os 98.878 km2 de florestas remanescentes,

encontravam-se dispostos esparsamente ao longo da costa brasileira. Apesar da drástica

redução de sua cobertura florestal original, a Mata Atlântica é um dos mais importantes

repositórios de biodiversidade ecológica, não apenas do país bem como de todo planeta.

Dessa forma, por ser considerada uma prioridade para a conservação, já que é uma área

ameaçada e rica em biodiversidade, foi conferido a Mata Atlântica o título de hotspot.

A história da devastação da Mata Atlântica está intrinsicamente associada à história

econômica do Brasil. Assim, apesar da grande importância econômica e histórica da Mata

Atlântica, um problema em se tratar desse ecossistema é que ainda são poucos os trabalhos e a

disponibilidades de dados sobre ele. Na realidade, percebemos que a maioria dos estudos e

dados disponíveis se concentram na Amazônia. Dada a relevância do bioma Mata Atlântica

para o desenvolvimento econômico do país e a escassez de estudos econométricos que o

tratassem surgiu a motivação em utilizá-la como tema dessa dissertação.

Atualmente, está em debate, o papel da política ambiental no processo de

desenvolvimento econômico do país. Muitos argumentam que tais políticas são culpadas por

impedirem ou prejudicarem o crescimento econômico. Entretanto, um estudo empírico,

realizado pelo Grupo de Economia do Meio Ambiente (Instituto de Economia, Universidade

Federal do Rio de Janeiro) e pela Fundação SOS Mata Atlântica, mostrou que alguns mitos

sobre a incompatibilidade entre desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente

não se sustentam.

Page 16: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

5

As conclusões desta etapa foram suficientes para comprovar a inexistência de uma

relação automática entre o crescimento econômico e desmatamento. Entretanto, apesar dos

resultados obtidos, até então, claramente apontarem a existência de uma dissociação entre

desmatamento e aumento da atividade agropecuária, reconhecia-se que havia ainda a

necessidade da realização de uma análise estatística mais sofisticada. Sendo assim, numa

segunda etapa, Andrade (2003) e Cabral (2004), deram continuidade ao trabalho.

Andrade (2003) engajou-se na aplicação de técnicas de Estatística Multivariada, tais

como a Análise de Grupamento e de Discriminante, para os estados da região sul do país.

Visando complementar à referida pesquisa, Cabral (2004) incorporou indicadores sociais à

análise, com o intuito de examinar se existe alguma correlação entre desmatamento e

melhoria das condições de vida da população rural. Mais uma vez, os resultados apontaram

para as seguintes conclusões: que desmatamento e crescimento econômico caminham em

lados opostos e que desmatamento não garante melhores condições de vida para a população

rural.

Entretanto, ainda havia uma questão a ser respondida: quais seriam os fatores

determinantes do desmatamento na Mata Atlântica? Este é o objetivo dessa dissertação,

através do uso da econometria busca-se construir um Modelo de Regressão Linear Múltipla

para o desmatamento afim de descobrir que variáveis são relevantes e significativas para

explicar o desmatamento recente da Mata Atlântica. Além dessa introdução, da conclusão e

das referências bibliográficas, esta dissertação é composta por três capítulos.

O primeiro capítulo conta a história do desmatamento da Mata Atlântica, e sua

evolução desde o descobrimento do país até o período atual. Após uma breve introdução, a

primeira seção visa abordar a história da mata atlântica destacando os elementos geográfico-

ambiental, sócio-econômico, e, histórico e institucional presentes no processo de

desmatamento do bioma. Já a segunda faz uma reflexão da crítica ambiental que,

curiosamente, surgiu na época do Brasil colônia. A terceira seção trata das iniciativas atuais

Page 17: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

6

sobre a conservação e o uso sustentável dos remanescentes florestais da floresta atlântica. Em

seguida, a quarta seção traz as conclusões deste primeiro capítulo.

Já no segundo capítulo busca-se selecionar quais são as variáveis relevantes para

explicar o desmatamento. Além da introdução, este capítulo possui mais três seções.A

primeira trata da revisão bibliográfica que aborda tanto trabalhos sem modelagem

econométrica quanto aqueles com modelagem, aos quais se dedica maior atenção. O objetivo

dessa revisão bibliográfica é a seleção das variáveis explicativas relevantes e a busca de um

modelo econométrico adequado.

Na segunda seção é exposto um trabalho feito pelo Grupo de Economia do Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (GEMA) do Instituto de Economia da UFRJ junto

com a fundação SOS Mata Atlântica, que tinha como objetivo explicar se existia alguma

relação empírica entre desmatamento e crescimento econômico. A fim de complementar esse

estudo inicial, mais dois trabalhos foram feitos com o intuito de desmitificar as afirmações

usadas pela bancada ruralista para incentivar o acelerado desmatamento. Entretanto, esses

trabalhos não utilizaram uma abordagem econométrica mais sofisticada com o intuito de

encontrar relações estatísticas entre as variáveis do modelo, o qual é o propósito do terceiro

capítulo da dissertação. Por fim, a terceira seção se dedica à conclusão do segundo capítulo.

No terceiro capítulo o objetivo é estimar um modelo de regressão múltipla do

desmatamento Além da introdução, este capítulo consta de mais três seções. Na primeira

secção, serão realizados testes de correlação entre as variáveis independentes escolhidas e o

desmatamento. A análise do coeficiente de correlação foi realizada para os estados das regiões

sul e sudeste em conjunto, por região e individualmente. Em seguida, na segunda seção é

estimado o modelo de desmatamento. Primeiramente será exposta a metodologia utilizada, e

depois serão analisados os resultados obtidos. Por fim, na última seção, são expostas as

considerações finais.

Page 18: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

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Em seguida, são apresentadas as conclusões finais desta dissertação. Nela são

evidenciadas as conclusões obtidas em cada um dos capítulos. Conclui-se que: (i) apesar da

Mata Atlântica ser uma área de desmatamento antigo, a recente pressão ( anos 80 e 90) por

redução das suas áreas florestadas é preocupante; (ii) para explicar o desmatamento é

necessário que se escolham variáveis de uso da terra, tais como área de lavoura e pastagem, e,

variáveis de contexto social, como IDH e custo de transporte; (iii) desmatamento e

subdesenvolvimento estão econometricamente associados, isto é, regiões onde há menos

empregos agrícolas e piores condições de vida (baixo IDH) desmatam mais. Por fim, são

expostas as referências bibliográficas.

Page 19: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

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Capítulo 1 - A História da Mata Atlântica: Evolução do Processo

de Desmatamento

Ao chegarem no Brasil, os portugueses se encantaram com a floresta que percorria o

litoral atlântico de norte ao sul do país. A rica e distinta biodiversidade da mata atlântica logo

despertou o interesse econômico dos primeiros invasores estrangeiros. Lamentavelmente, a

coexistência entre o homem e a floresta tropical sempre foi problemática, visto que a ação

antrópica sobre a natureza é degradadora, predatória e insustentável. A primeira espécie a ser

explorada na floresta, o pau-brasil, foi que deu o nome ao nosso país. Em seguida foram a

cana de açúcar, a mineração, a pecuária e o café. O homem avançava no território e levava

consigo a destruição da floresta, que não estava preparada para recebê-lo. Hoje, mais de cinco

séculos após a chegada destes no território brasileiro, a exuberante floresta foi praticamente

toda devastada: restam aproximadamente 7% da mata original.

O lugar onde antes ocupava a floresta nativa, deu-se espaço a grandes cidades e

centros urbanos, pastos e áreas agricultáveis, que hoje apresentam uma baixa produtividade e

valor da produção. Podemos, assim, usar a história do Brasil como reveladora de crescentes

degradação do território, como é o caso da devastação da Mata Atlântica. A história desse

bioma não é uma história natural, que explica a integração entre os seres que habitam a

floresta, mas sim uma história que mostra a relação entre sociedade e o meio ambiente.

Além dessa introdução esse capítulo apresenta três seções e a conclusão. A primeira

seção visa abordar a história da mata atlântica destacando os elementos geográfico-ambiental,

sócio-econômico, e, histórico e institucional presentes no processo de desmatamento do

bioma. Já a segunda faz uma reflexão da crítica ambiental que, curiosamente, surgiu na época

do Brasil colônia. Em seguida, a terceira seção trata das iniciativas atuais sobre a conservação

e o uso sustentável dos remanescentes florestais da floresta atlântica. Por fim, são expostas as

conclusões deste capítulo.

Page 20: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

9

1.1 A História da Mata Atlântica

1.1.1 Elementos Geográfico-ambientais

Ao longo de toda a costa brasileira, tanto na região litorânea como nos planaltos e

serras do interior, está presente a floresta Mata Atlântica. Segundo dados da Fundação SOS

Mata Atlântica, sua área original cobria continuamente uma área de 1.363.000 mil Km2, que

correspondia a 16% do território brasileiro. Sua extensão abrangia, total ou parcialmente, 17

estados do país: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe,

Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio

Grande do sul, Goiás e Mato Grosso do Sul.

A biota Atlântica é uma área de desmatamento antigo e onde se encontram poucas

áreas preservadas, logo um dos biomas mais ameaçados. Sua trajetória de devastação tem

início no século XVI, com a chegada dos portugueses no país. Dean (1996) destaca que o

primeiro ato dos portugueses foi derrubar uma árvore e confeccionar uma cruz. De acordo

com os dados mais recentemente publicados, a área remanescente foi estimada em 7,3% da

cobertura original. Entretanto, na realidade, é provável que o percentual da floresta original

remanescente seja bem menor, já que além das formações primárias esse percentual inclui

tanto as florestas plantadas quanto as florestas secundárias, que apresentam uma composição

flora e faunística reduzida e empobrecida em termos quantitativos e qualitativos (Câmara,

2003).

Em toda sua extensão, este bioma apresenta uma variedade de formações de vegetação

latifoliares englobando um conjunto de ecossistemas florestais de estruturas e composições

florísticas bastante diversificadas. Segundo Dean, a Mata Atlântica e a Amazônia, em

conjunto, “formavam uma zona biogeográfica diferente e mais rica em espécies que as outras

florestas tropicais do planeta, situadas na África e no Sudeste Asiático. A Mata Atlântica era

Page 21: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

10

em si mesma de uma diversidade extraordinária, levando-se em conta seu tamanho

relativamente modesto”.

Os seus estuários de menor proporção, tais como as planícies de restinga, dunas,

mangues, lagunas estão localizados próximos ao oceano. Na Região Sudeste temos a Serra do

Mar cuja vegetação grande e imponente a faz aparentar uma “muralha”. No Sul do país, a

Mata Atlântica adquire um caráter inteiramente diferente. Nessa área há o predomínio da

primitiva e resistente conífera Araucaria angustifolia que forma uma floresta aberta. A tabela

abaixo mostra as diferentes formações e seu respectivo percentual em área de domínio de

Mata Atlântica.

Tabela 1: Extensão original e porcentagem dos tipos de florestas na Mata Atlântica (MMA, 2006b)

Tipo de Floresta Extensão (Km2) Percentual (%)

Floresta Ombrófila densa e aberta 237530 18,18

Floresta Ombrófila Mista 168916 12,93

Floresta Sazonal e Semidecídua 635552 48,65

Área de tensão Ecológica 157747 12,07

Outros 106676 8,17

Total 1306421 100

Fonte: Elaboração Própria com dados extraídos de Câmara e Leal (2003)

Ao analisarmos a tabela acima percebemos que a floresta atlântica é principalmente

composta pela floresta sazonal e semidecídua. Em seguida, podemos enumerar a seguinte

ordem de importância e prevalecência florística: floresta ombrófila densa e aberta; floresta

ombrófila mista; área de tensão ecológica, que correspondem as áreas de transição entre as

formações florestais; e, outros ecossistemas associados, como as restingas e manguezais.

Essa grande diversidade presente nas composições florestais da biota atlântica se deve

a três fatores: latitude, altitude e variação longitudinal. O seu grande âmbito de latitude, norte

e sul, permitiu que a temperatura e a insolação agissem como importantes gradientes na

Page 22: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

11

formação de diferentes tipos de relevo que associados a determinados regimes de vento e

correntes oceânicas implicaram no surgimento de uma paisagem de flora e fauna um tanto

peculiar e específica para cada região.

A Mata Atlântica cobre terrenos que variam do nível do mar a 2700 m, tornando o

gradiente da altitute mais um fator propulsor da diversidade ambiental. Assim, uma árvore de

uma dada espécie nascida no nível do mar difere de uma árvore desta mesma espécie no topo

da serra. Por fim, a variação longitudinal é outro gradiente importante: as florestas de interior

são significativamente diferentes das que estão próximas do litoral.

Se variações de latitude, altitude e longitude, sozinhas ou conjuntas, já exercem

influencia significativa sobre as espécies, é possível imaginar o que a diferença de

pluviosidade, temperatura, fertilidade dos solos1, relevo, iluminação, entre muitas outras,

gerou em termos de diversidade de flora, fauna, microorganismos, e os ecossistemas que estes

compõem, ao longo do litoral brasileiro (Dean, 1996). Esta é uma das mais importantes razões

pela qual a Mata Atlântica é tão rica em sua biodiversidade2.

Entretanto, apesar da grande diversidade de flora e fauna a mata atlântica é um dos

biomas mais ameaçados do planeta. É provável que a destruição prematura e inconsequente

da floresta deve ter extinto muitas espécies, antes mesmo destas serem catalogadas pela

ciência. Assim, por ser considerada uma área prioritária para a conservação, já que é uma área

ameaçada e importante repositório de biodiversidade, a Conservation International conferiu a

Mata Atlântica o título de hotspot.

1 “Surpreendentemente, o estabelecimento da Mata Atlântica foi determinado mais pelo regime de chuvas que pelos solos. A combinação de chuva abundante com clima quente foi favorável a formação de solos profundos e argilosos, ricos em ferro e, tipicamente avermelhados. Estes, possuem pouca capacidade de reter água ou nutrientes implicando que o seu desenvolvimento depende, em grande parte da cobertura da vegetação, e não ao contrário” (Dean, 1996). 2De acordo com artigo 2 da Convenção sobre a Diversidade Biológica (1992) podemos definir a 'biodiversidade' ou 'diversidade biológica' como “a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade de espécies, entre espécies e de ecossistemas”.

Page 23: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

12

Critérios importantes para um bioma ser determinado como um hotspot são a

existência de , pelo menos, 1500 espécies endêmicas de plantas e a perda de mais de ¾ da sua

vegetação original3. A Mata Atlântica representa uma grande riqueza de patrimônio genético

e paisagístico, que pode ser demonstrada por alguns índices: 55% das espécies arbóreas e

40% para espécies não arbóreas são endêmicas. Podemos destacar algumas espécies, tanto da

flora quanto da fauna, que são específicas da Mata Atlântica, e estão aos poucos

desaparecendo:

� Fauna: Garça-branca-pequena, Mico-leão-de-cara-dourada,Bicho-preguiça,Gato-do-

mato,Tié-sangue, Borboleta, Tamanduá-bandeira ,Sagui-da-serra, Tatu-peludo,

Caranguejo-guaiamu, Mono-carvoeiro, Jaguatirica, Tucano, Cobras.

� Flora: Caixeta, Pinheiro-do-Paraná, Guapuruvu, Quaresmeira e Manacá, Cássia,

Orquídeas, Araucária, Urucum, Jequitibá-rosa, Embaúba, Pau-brasil, Orelha-de-pau,

Sibipiruna, Cedro, Ipê-amarelo, Jacarandá, Manacá-da-serra, Palmito-juçara, Pau-

ferro.

Conforme descreve Dean (1996), se púdessemos voar de volta ao tempo, na época que

os portugueses descobriram o país teríamos a seguinte impressão:

(...)“de um 747 que voasse de volta no tempo, o viajante teria olhado para um interminável tapete verde, salpicado pela glória de árvores inteiras em plena floração – o rosa-púrpura de sapucaias, o branco e vermelho de copaíbas, o amarelo de guapiruvus, o violeta de jacarandás. Seus habitantes originais a chamavam de caáete, a floresta verdadeira, a floresta ilesa – um cenário muito parecido com o amazônico, salvo pelos cumes e escarpas”.

Entretanto, essa não é mais a realidade paisagística da Mata Atlântica. Depois de

séculos de uma profunda destruição, movida por atender a ambições e satisfações humanas, a

floresta atlântica se encontra significativamente reduzida: aproximadamente 93% da

vegetação exuberante e verdejante sumiram através da força, insensata e ignorante, do

machado humano.

3No Brasil, além da Mata Atlântica, o bioma Cerrado também é considerado um Hotspot, isto é, uma área ameaçada e rica em biodiversidade e, então, prioritária para a conservação.

Page 24: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

13

Na atual paisagem esfarrapada estendem-se voçorocas provenientes da agricultura e

pecuária impiedosas, que durante séculos derrubaram a mata original e a esquadrinharam em

busca de animais e plantas para escambo e venda. Hoje, os 7% que restam da mata atlântica

são as últimas testemunhas da paisagem que antecedeu a civilização e seus triunfos (Dean,

1996). As subseções seguintes avançam na exposição de outros fatores determinantes do

desmatamento desta então exuberante e rica floresta.

1.1.2 Elementos histórico-institucionais

Na exposição da história de devastação da mata atlântica dois elementos essenciais

para essa análise são os fatores histórico-institucionais. Não se pode negar que o fato do

Brasil ser abundante em recursos naturais de valor econômico apreciáveis implicou que fosse

uma colônia de exploração. A fartura de recursos, conseqüentemente, tornou-se uma

vantagem comparativa da nação, caracterizando-a, durante séculos, como exportadora de

produtos primários (pau-brasil, açúcar, café,...). Por outro lado, a forma como esses recursos

foram explorados também foram decisivas para o atraso econômico e a acelerada destruição

ambiental do país. Ademais, as instituições que existiam no país eram muito atrasadas e

fracas.

Assim, ao se instalarem no país, os colonizadores perceberam que a exploração direta

da natureza seria o principal eixo da busca por riquezas nessa parte da América. De acordo

com Pádua (2003), em diferentes regiões do planeta, as colônias de exploração sempre se

caracterizaram pela exploração imediatista e brutal dos seus recursos naturais por dois fatores:

pelo impacto direto das atividades coloniais sobre os ecossistemas previamente existentes (ex:

exploração do pau-brasil, e de outros recursos extraídos da natureza); e, pela introdução de

espécies exóticas (ex: introdução das lavouras de cana-de-açúcar e do café).

Como os colonizadores apresentavam uma certa “miopia temporal”, a mata atlântica

era vista como um universo que jamais se consumiria, ou seja, era uma fronteira para sempre

Page 25: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

14

aberta ao avanço da produção econômica e da ocupação social. Assim, o patrimônio

ambiental era consumido num ritmo intenso e absolutamente desastroso, sem a menor

preocupação com as gerações futuras. Somado a isso, estava o uso de técnicas produtivas

descuidadas e extensivas, e da mão de obra escrava. Dada a abundância da biomassa

florestal, o método mais barato e imediatamente eficaz para o estabelecimento das grandes

plantações eram as queimadas. Essas opções tecnológicas e organizativas constituíram uma

agricultura rudimentar, extensiva e predatória no Brasil.

Pádua (2003) associa um fator jurídico-institucional à sensação de inesgotabilidade

dos recursos naturais: a facilidade na concessão de terras para a elite colonial. Este autor, cita

José João Teixeira Coelho, segundo o qual: “a facilidade que tem havido na concessão das

sesmarias tem sido muito prejudicial, porque se têm queimado os matos melhores, e os mais

próximos às povoações, as quais já sentem a falta das madeiras, das lenhas e dos capins”. O

resultado era que, apesar de existirem no país muitas sesmarias sem a menor produção, os

povos continuavam pedindo novas terras. A concessão fácil de novas terras estimulava a

prática de explorá-las de maneira pouco cuidadosa e depois abandoná-las.

A noção de longo prazo esta ligado a continuidade histórica de uma nação, conceito

que, naturalmente, a lógica da colonização brasileira não considerava. Assim, o modelo

predatório de ocupação organizava o modo de apropriação da fatia do território submetida ao

sistema colonial, garantindo para a elite local os benefícios econômicos possíveis no contexto

do pacto colonial. A relação que era estabelecida com a terra era meramente utilitária: não se

buscava mecanismos que favorecessem o enraizamento da população no novo ambiente. O

sentido de cidadania e responsabilidade pelo espaço coletivo estava ausente da sociedade em

formação no Brasil. Portanto, a opção escravista, produzia impactos sobre a paisagem e sobre

a civilização material.

1.1.3 Elementos sócio-econômicos

Page 26: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

15

Como podemos afirmar, após o que foi dito nas duas seções anteriores, a história da

devastação da Mata Atlântica está intrinsecamente associada à história econômica do Brasil.

O notável potencial do país residia quase que exclusivamente na sua natureza. A realidade

social e econômica que se estendia sobre esse fundo natural, no entanto, chocava pelo atraso,

pela violência e pela destruição.

Ao contrário dos portugueses, os povos que habitavam a floresta, tais como indígenas,

quilombolas4 e caiçaras5, sempre exerceram atividades de baixo impacto no meio ambiente. A

primeira ameaça sofrida por esses povos se deu com a chegada dos europeus, que alterou o

modo de vida específico dessas culturas. Atualmente, essas comunidades tradicionais da Mata

Atlântica estão sendo desestruturadas em função das pressões da especulação imobiliária e

fundiária, dos interesses de madereiros e mineradores.

Ao reconhecer que qualquer atividade econômica incide no ecossistema, quer pela

extração de recursos, quer pelo lançamento de dejetos sob a forma de matéria ou energia

degradada, conclui-se que o processo econômico deve respeitar limites. Os ciclos econômicos

brasileiros, no período colonial e pós-colonial, impactaram negativamente no patrimônio

florestal do país. Cada ciclo apresentava um modo de produção e distribuição dos produtos

próprio. O primeiro desses ciclos foi o do pau brasil, produto de grande interesse comercial

dos portugueses. Essa commodity foi intensamente explorada ao longo do século XVI e, tão

logo, se encontrou escassa. O impacto da extração desse recurso causou danos ambientais

irreversíveis na área florestada.

Em seguida, foi a vez do ciclo da cana-de açúcar, que por ser uma espécie exótica

causou pressão sobre a Mata Atlântica como um todo. A produção da cana de açúcar era

baseada no trípe: monocultura, grande latinfúndio (grandes propriedades rurais) e trabalho

4Quilombolas são comunidades rurais negras, inicialmente formadas por ex escravos. 5Os caiçaras foram um grupo cultural de mestiços de índios com portugueses que passaram a ocupar a faixa litorânea do território nacional, correspondente ao que hoje compreende os estados do rio de Janeiro, São Paulo e Paraná.

Page 27: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

16

escravo. A floresta era desmatada para dar lugar as lavouras de cana e também para se obter

lenha, que era usada como combustível nos engenhos de açúcar.

Os ciclos do gado e do ouro foram importantes para estabelecer a população no

interior do país. Entretanto, exerceram pressões devastadoras sobre a vegetação original: a

atividade pecuária queimava grandes áreas férteis para abrir novas áreas de pastagens e a

atividade mineradora, além de utilizar madeira e lenha, usava técnicas muito defasadas para

explorar as jazidas.

Por fim, temos o ciclo do café , outra espécie exótica introduzida nos domínios de

mata atlântica. Apesar de ter se tornado na atividade mais rentável do Brasil, as técnicas de

exploração utilizadas aceleraram a perda de áreas de floresta. Dessa forma, observa-se, desde

o período colonial, a prática de uma agricultura do tipo “lavoura de derrubada e queimada”,

que, em seguida, dá lugar á atividade pecuária. Ou seja, a agricultura é praticada numa

determinada área enquanto a terra é fértil. Assim que a terra perde sua fertilidade, a lavoura

avança, de maneira itinerante, para novas áreas de mata virgem e as terras antigas se

transformam em pastagens. Conforme afirma Young (2000):

“Nessa perspectiva, apesar da freqüente alternância da mercadoria geradora da dinâmica da economia colonial e, posteriormente, imperial e republicana, percebe-se um padrão de “auge e crise” a partir da exploração direta ou indireta dos recursos naturais encontrados: a abundância do recurso em questão induz à sua rápida exploração predatória, o que por sua vez leva ao declínio de longo prazo, seja por escassez crescente do que antes era farto, ou seja porque o aumento abrupto de oferta da mercadoria em questão resulta em uma tendência de depreciação contínua do seu preço nos mercados doméstico e internacional.”

Entretanto, os métodos destrutivos não se restringiram aos momentos de decadência,

implicando que a destruição ambiental não foi algo de fortuito e pontual, mas sim um

elemento constitutivo da própria lógica da ocupação colonial do Brasil. Assim, com a

independência do Brasil em 1822, muitos pensavam que o Brasil se livraria das práticas

ambientais devastadoras (Pádua , 2003).

Page 28: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

17

No período do Brasil Império e República, as queimadas para o cultivo de café não

foram os únicos instrumentos utilizados na devastação da Mata Atlântica durante esse

período, o comércio de café induziu o crescimento demográfico, a urbanização e logo a

industrialização e a construção de ferrovias (Dean, 1996). Apesar das mudanças sociais,

políticas e econômicas que ocorreram no país, como o fim da escravidão e a implatação da

República, a forma de explorar a floresta atlântica não mudou. Pelo contrário, deu-se início a

um dos períodos mais devastadores da paisagem florestal.

Assim, podemos afirmar que a industrialização brasileira foi concomitante a

devastação da Mata Atlântica. O caráter industrial predatório associado ao crescimento

demográfico exerciam uma intensa pressão sobre os, cada vez mais escassos, remanescentes

florestais. A lógica presente nas políticas desenvolvimentistas implantadas no país após a

segunda Guerra Mundial foi uma ameaça ao seu patrimônio natural. Estas, privilegiaram

como meta o crescimento econômico, em vez da distribuição da riqueza, intensificando a

concentração da renda. Assim, o ônus ambiental imposto pela industrialização, como o

desmatamento e a poluição, não era considerado relevante se o progresso do país, com a

construção de novas fábricas e a urbanização das regiões, estivesse associado.

Ademais, as políticas públicas e macroeconômicas (monetárias e fiscais, ambas

restritivas), também podem ser citadas como propulsoras do desmatamento. As políticas de

empréstimos subsidiados (anos 60 e 70), de preços mínimos para produtos agrícolas e

subsídios para insumos (anos 80) levaram um aumento da destruição dos remanescentes

florestais ao apoiar atividades agrícolas economicamente ineficientes. A política monetária

restritiva, ao elevar as taxas de juros, induz o proprietário rural a dar preferência por

atividades de curto prazo (Young, 2000).

Essa postura de “miopia temporal” vai contra a lógica do desenvolvimento sustentável

e acelera a perda de áreas de florestas. Por sua vez, as políticas fiscais de redução dos gastos

do governo também afetam as florestas (Young, 2000). Segundo Young (2000), “o corte de

Page 29: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

18

despesas dificultam a contratação de guarda-parques suficientes e a aquisição dos recursos

necessários para o manejo e a fiscalização das áreas protegidas”. As seções seguintes tratam

das críticas às práticas de cultivo devastadoras presentes no período colonial e das atuais

perspectivas de preservação desse tão importante bioma.

1.2 A Cultura Esgotadora do Modelo Colonial: Nascimento da Crítica Ambiental

No final da década de 60 (século XX), a questão ambiental passou a ser discutida

internacionalmente e com certa urgência por políticos e cientistas. Um dos eventos que

marcaram esta preocupação foi a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, realizada em Estocolmo em 1972. No entanto, ao contrário do

que muitos pensam, as críticas e preocupações com a natureza não são um fenômeno recente.

O estudo realizado por Pádua (2003) identificou muitos elementos de críticas ao mau

uso do meio ambiente em discursos de políticos luso-brasileiros do perído escravocrata. O

alvo principal dos “críticos ambientais” foi o modelo colonial produtivo explorado na seção

anterior. Conforme já abordado, a cultura esgotadora baseava-se no trípe: monocultura para

exportação, mão-de-obra-escrava e grande propriedade rural. As atividades produtivas no

Brasil, estavam entregues nas mãos de “cegos ignorantes”, precisando de uma urgente

reforma. O autor destaca algumas principais mudanças: (i) imediatas: necessidade de

diversificar a agricultura pela valorização de espécies nativas e pela aclimatação de exóticas, e

(ii) estruturais: a divisão das terras (reforma agrária), o aumento da povoação, a instrução

pública (promoção de educação) e o fim da escravidão.

De acordo com o autor, na medida em que essa tradição crítica foi se sofisticando,

uma relação direta com a crítica ao sistema escravista se estabeleceu. Os “críticos ambientais'

destacam três motivos básicos que tornavam a escravidão africana incompatível com o

progresso do Brasil: “(i) a escravidão colocava em risco a segurança do Estado; (ii) a

escravidão apresentava um impacto deletério sobre a sociedade brasileira, não havia no Brasil

Page 30: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

19

uma classe que se podia chamar de “povo”; e (iii) a escravidão expressava a crença de que

seria possível avançar economicamente uma sociedade calcada no trabalho servil” (Pádua,

2003).

Nessa época, a escravidão era vista como o fator estrutural determinante para o

conjunto dos aspectos perversos da vida nacional, para o atraso do país. A monocultura de

exportação, complemento lógico do trabalho escravo, destruía a saúde da paisagem, que só

poderia ser mantida através da diversificação produtiva6. A grande propriedade havia

concorrido apenas para o “atraso agrícola e industrial do nosso país e sua educação”.

Assim, os problemas da agricultura eram inseparáveis dos males do escravismo. A

superação gradual do trabalho escravo abriria espaço para a construção de uma agricultura e

de uma indústria diversificadas e eficientes. A substituição da mão-de-obra escrava se daria

pela imigração de colonos livres e pela modernização da economia, que envolveria tanto a

racionalização tecnológica da lavoura quanto a revitalização das minas e o surgimento de

manufaturas mecanizadas.

A conclusão dos autores da crítica ambiental brasileira era que escravismo impedia o

surgimento de uma relação saudável entre o homem e a terra. No entanto, conforme constata

Pádua (2003), apesar da rápida transição para o trabalho livre, a permanência das queimadas e

das monoculturas continuou produzindo intensa destruição que foi intensificada pela abertura

de novas regiões florestais e pela maior capacidade de impacto fornecida pela tecnologia

industrial. Ou seja, o fim do escravismo não representou um marco de ruptura com a herança

da devastação.

6“É fato constante que a produção dos vegetais que entre nós se manufaturam, como a cana por exemplo, tornam

em pouco tempo improdutiva a terra, quando é sabido que as terra cansam em breve esse não se alteram as plantações, mas que nunca cansam se esta alternação tem lugar de tempos a tempos: é isto um benefício da natureza que quer que os homens tenham não um só, mas muitos e diversos gêneros de alimentos. Demais, é evidente que tanto mais diversificadas forem as substâncias alimentares vegetais, tanto mais se aproveitará o terreno, tanto mais recursos terão os povos e tanto menos sofrerão dos acasos funestos das secas ou das chuvas excessivas, sendo parte dos vegetais suscetíveis de resitirem à secas e outros a quem não causam danos as grandes águas” (Pádua, 2003)

Page 31: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

20

Dessa forma, muitos argumentam que os críticos ambientais superestimaram o peso

específico da escravidão nos aspectos mais negativos da formação social brasileira – tanto que

muitos desses aspectos, como a concentração fundiária, a marcante desigualdade social e a

destrutividade ambiental, revelaram-se perfeitamente capazes de sobreviver após a abolição.

Já outros, contra-argumentam que a herança do escravismo, e mais ainda da obra da

escravidão são fundamentais para entender a permanência desses aspectos ao longo do século

XX.

1.3 Perspectivas Futuras de Conservação da Mata Atlântica

Após a exposição da história de devastação da Mata atlântica e dos elementos -

geográfico-ambientais, histórico-institucionais e sócio-econômicos - que caracterizaram esse

processo, percebeu-se a necessidade de conservar o pouco que ainda resta desse bioma. As

consequências da destruição florestal iam além da perda de espécies valiosas implicando na

necessidade de uma reforma geral do carater predatório da economia brasileira. Não se tratava

de impedir o avanço da agricultura, mas sim de separar uma “pequena parte” do terreno para a

conservação.

Já no período colonial havia a percepção de que a privatização dos espaços naturais

era a melhor forma de conservar as florestas. Era necessário encontrar um equilíbrio entre a

conservação florestal e os desmatamentos necessários para o progresso econômico. Ou seja,

era necessário proteger os remanescentes das matas e promover sua restauração (Pádua,

2003). Conforme afirma Pádua (2003):

“a conservação das florestas deve ser, e é, um dos primeiros interesse da sociedade e, por conseguinte, um dos primeiros deveres do governo. Todas as necessidade da vida se ligam a sua conservação. Necessárias aos indivíduos, as florestas não são menos aos Estados; sua existência é um benefício inapreciável para os países que as possuem”.

Assim, apesar da atual situação da Mata Atlântica não ser muito favorável, nota-se

algumas melhorias. Primeiramente, merece destaque a evolução da legislação ambiental, que

Page 32: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

21

vem se aprimorando para garantir importantes mecanismos para a preservação das áreas

florestais remanescentes. Como exemplos podemos citar: a lei de crimes contra o ambiente

(Lei nº 9.605/98), a de recursos hídricos (Lei nº 9433/97) e a Lei da Mata Atlântica. Esta

última, se encontra em debate no congresso.

Também pode-se verificar um grande esforço no desenvolvimento e na implementação

de mecanismos financeiros. Entre esses estão o ICMS Ecológico, o Imposto de Renda

Ecológico e o Pagamento por Serviços Ambientais. O objetivo comum desses mecanismos é

gerar uma receita extra-orçamentária que seja usada para financiar a conservação e o uso

sustentável da biodiversidade. Dessa forma, as iniciativas de reflorestamento e de criação de

Unidades de Conservação nas áreas de domínio de Mata Atlântica seriam estimuladas e

facilitadas.

Apesar da situação atual ser desanimadora, visto que restam apenas 7% da área de

floresta original, experiências de recuperação da paisagem natural, como a que foi promovida

na Costa Rica7, geram força e esperança para o bioma atlântico. Resta apenas que o governo

brasileiro junto com a iniciativa privada unam esforços para garantir que os mecanismos

financeiros e a legislação ambiental criada sejam implementados e se façam prevalecer.

1.4 Conclusão

Esse capítulo buscou abordar a história da mata atlântica com enfoque nos elementos

que determinaram o insensato e acelerado desmatamento dessa rica e exuberante floresta.

Além disso, foram expostas o surgimento da consciência ambiental no país e as expectativas

presentes de preservação do bioma.

Da primeira seção e de suas subseções podemos concluir que é muito difícil eleger um

fator responsável pelo desmatamento da mata atlântica. A causa da devastação dessa biota

está intrinsecamente relacionada com a interação perversa dos diversos fatores enumerados. A

7Colocar referência dao trab sobre a exxperiência realizada na costa Rica.

Page 33: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

22

favorável e desconcertante natureza do bioma, somente, pode ser considerada um fator

propulsor do desmatamento, visto que se pode extrair dela espécies de muito valor comercial.

Como exemplo histórico, podemos citar a extração do pau-brasil.

Na seção seguinte evidenciou-se como fator principal do desmatamento o uso da mão-

de-obra escrava. Essas eram ignorantes e faziam uso de técnicas agrícolas ultrapassadas que

castigavam o solo. Entretanto, percebeu-se que mesmo com o fim da escravidão, o

desmatamento continuou de maneira acelerada.

Já a última seção abordou as atuais iniciativas de preservação e uso sustentável do

meio ambiente. Dentre as ações que estão sendo implementadas, vale destacar: Lei da Mata

Atlântica, ICMS ecológico e IR ecológico. Com essas medidas, busca-se diminuir o ritmo de

desmatamento nesse bioma, e , quem sabe, recuperar parte do que foi perdido.

Page 34: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

23

Capítulo 2 - Determinantes do Desmatamento na mata atlântica:

uma revisão da bibliografia

Ao recorrer à literatura que trata sobre desmatamento verificou-se uma ausência de

trabalhos econométricos sobre a Mata Atlântica. A maioria dos estudos desse nível tratam da

Amazônia, do Cerrado ou da Floresta Tropical. Esse capítulo buscou fazer uma revisão

bibliográfica dos principais trabalhos que abordam as causas do desmatamento, e está

dividido em duas seções. A primeira trata da revisão bibliográfica que aborda tanto trabalhos

sem modelagem econométrica quanto aqueles com modelagem, aos quais se dedica maior

atenção. O objetivo dessa revisão bibliográfica é a seleção das variáveis explicativas

relevantes e a busca de um modelo econométrico adequado.

Na segunda seção é exposto um trabalho feito pelo Grupo de Economia do Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (GEMA) do Instituto de Economia da UFRJ junto

com a fundação SOS Mata Atlântica, que tinha como objetivo explicar se existia alguma

relação empírica entre desmatamento e crescimento econômico. A fim de complementar esse

estudo inicial, mais dois trabalhos foram feitos com o intuito de desmitificar as afirmações

usadas pela bancada ruralista para incentivar o acelerado desmatamento. Entretanto, esses

trabalhos não utilizaram uma abordagem econométrica mais sofisticada com o intuito de

encontrar relações estatísticas entre as variáveis do modelo, o qual é o propósito do terceiro

capítulo da dissertação. Por fim, segue a conclusão do segundo capítulo.

2.1 Revisão Bibliográfica

2.1.1 Trabalhos sem Modelagem Econométrica

Nos anos 70 e 80, muitos trabalhos buscaram explicar as causas do desmatamento na

Amazônia. Estes apresentaram um forte consenso em relação às principais forças

determinantes do desflorestamento, dentre os quais destacam-se: as políticas públicas, em

Page 35: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

24

especial os incentivos fiscais a empreendimentos privados na Amazônia; os créditos rurais

subsidiados; os programas oficiais de colonização agrícola; e, os investimentos em infra-

estrutura; os quais atraíram empreendedores e milhares de migrantes em busca de terras para

a região. Já na década de 90, verificou-se que, apesar das altas taxas de desmatamento, muitas

dessas variáveis reduziram significativamente sua importância, indicando a presença de

fatores subjacentes determinando a acelerada perda de áreas de florestas (Viana Rodrigues,

2004).

O recente estudo realizado por VIANA RODRIGUES (2004) investigou, com base na

literatura revisada, as principais variáveis responsáveis pelo desmatamento nos anos 90 na

Amazônia. A hipótese testada é a de que as variáveis subjacentes (políticas públicas,

institucionais, tecnológicas, econômicas e demográficas) e suas interações seriam as forças

determinantes do desflorestamento na Amazônia. Primeiramente, o objetivo do autor era

desenvolver um modelo de regressão que determinasse a importância de cada variável

explicativa no desmatamento recente na Amazônia. Entretanto, devido a problemas com a

base de dados, optou-se por fazer uma análise teórica de cada variável com base na

metodologia desenvolvida por ANGELSEN & KAIMOWITZ (1999).

Estes autores construíram um quadro conceitual dos processos de desflorestamento

que estabelece as relações entre os principais tipos de variáveis e proporciona uma abordagem

lógica para a análise do desflorestamento em três diferentes níveis: fontes, seriam as ações dos

agentes do desmatamento, como pequenos agricultores, pecuaristas, madeireiros e grandes

áreas de plantio; causas imediatas, focalizam os parâmetros de decisão, ou seja, o conjunto de

fatores disponíveis como preços, tecnologia, instituições, novas informações, acessos a

serviços e a infra-estrutura, os quais interferem na tomada de decisão dos agentes; e causas

subjacentes, influenciam as decisões dos agentes através de diversos canais, destacando-se: o

mercado; a disseminação de novas tecnologias e informação; o desenvolvimento de infra-

estrutura; e as instituições, particularmente o regime de propriedade.

Page 36: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

25

Segundo os autores, a distinção clara entre estes três níveis é necessária, em razão de

facilitar a discriminação dos parâmetros que afetam diretamente os tomadores de decisão, na

identificação do tipo de modelo utilizado (i.e. modelos microeconômicos focam as causas

imediatas, enquanto os modelos macroeconômicos focam as causas subjacentes), evitando,

assim, confusão nas relações de causa envolvidas. Ademais, modelos macroeconômicos, que

tratam de causas subjacentes, apresentam resultados menos conclusivos que àqueles que

utilizam fontes e causas imediatas.

A metodologia desenvolvida possibilitou sintetizar os resultados de mais de 140

modelos econômicos sobre as causas do desflorestamento tropical. De acordo com

ANGELSEN & KAIMOWITZ (1999), apesar destes modelos ajudarem a entender melhor as

causas do desflorestamento, os resultados obtidos são questionáveis dadas a fraca

metodologia aplicada e a baixa qualidade dos dados. Mesmo assim, concluíram que o

desmatamento tende a ser maior quando: as terras são mais acessíveis (por rodovias); os

preços dos produtos agrícolas e da madeira são mais altos; os salários são mais baixos; e,

existe escassez de empregos fora da área rural. Alertaram, então, para a importância de se

repensar as causas do desmatamento afim de verificar os impactos de alguns fatores

macroeconômicos, tais como o mercado de crédito, as mudanças tecnológicas, a redução da

pobreza e uso da terra.

O estudo de VIANNA RODRIGUES (2004) analisa apenas as causas subjacentes,

logo pode ser considerado um modelo macroeconômico para explicar as causas do

desmatamento recente da Amazônia. Conforme a metodologia desenvolvida por ANGELSEN

& KAIMOWITZ (1998; 1999), as variáveis subjacentes analisadas pelo autor foram:

• Demografia (crescimento população; densidade);

• Políticas de governo (i.e. taxas exportação; ITR; impostos; políticas de concessão e de

posse da terra; restrições à extração de madeira; salário mínimo; subsídios de crédito;

investimentos de infra-estrutura; gastos totais do governo; políticas de taxa de câmbio;

Page 37: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

26

política monetária; déficit público);

• Preços do mercado mundial;

• Variáveis macroeconômicas (PIB, nível e taxa de crescimento; taxas de câmbio; de juros);

• Tecnologia;

• Distribuição de renda.

Os resultados obtidos corroboraram a hipótese, o que possibilitou o estabelecimento

de relações e a importância relativa de cada variável subjacente no desmatamento. Destacou-

se a forte presença do Estado na Amazônia Legal8 como um importante fator de pressão do

desflorestamento. Isto é, as políticas de governo, tais como políticas de concessão e de posse

da terra; salário mínimo; subsídios de crédito;investimentos de infra-estrutura; gastos totais do

governo; políticas macroeconômicas; dentre outras, seriam as responsáveis por facilitar e

propiciar o avanço acelerado da perda da cobertura vegetal da região. A única exceção se

refere à análise da participação dos agricultores itinerantes e dos pequenos agricultores no

desflorestamento, classificados como agentes do desflorestamento. A justificativa para a

inclusão destes atores está relacionada ao fato de não haver consenso na literatura sobre estes

agentes.

De acordo com PARAYIL E TONG (1998), a recente aceleração do desmatamento na

Amazônia Brasileira (anos 1990/91), em comparação com o período 1978-88, se deve

fundamentalmente a recessão econômica do Brasil. Os autores afirmam que a principal causa

do desaparecimento de vegetação nativa entre as décadas de 1960 e 1980 era a conversão de

áreas de floresta em formação de pastagens. Atualmente, entretanto, esse processo é mais

complexo. Outros fatores, tais como a extração de madeira, a mineração, e as atividades

industriais, quando combinados podem levar a floresta a sua destruição em poucas décadas.

8 A região da Amazônia Legal é composta pelos seguintes estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, além de partes dos estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.

Page 38: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

27

Isso mostra que o desmatamento envolve múltiplos meios que se inter-relacionam entre eles,

acelerando seu processo de destruição.

Os autores exploram a dinâmica sócio-ambiental da mudança do processo de

desmatamento na Amazônia Brasileira antes promovido pela pecuária, e, agora, pela extração

de madeira. As trajetórias das causas desse fenômeno também são investigadas. Essas

mudanças foram identificadas com base em três abordagens teóricas que analisam problemas

ambientais no terceiro mundo, que são: (i) teoria Neo-malthusiana da dinâmica da

população;(ii) reformulação de Garrett Hardin's sobre a 'tragédia dos comuns', e; (iii) análise

sócio ecológicas das mudanças ambientais de Peter Taylor's e Garcia-Barrios's. Uma carência

das duas primeiras abordagens é que elas não são capazes de captar a complexidade do

desmatamento da Amazônia.

A teoria Neo- malthusiana atribui a crescente pressão do aumento da população sobre

os recursos florestais como causa para o problema da sobreexploração das terras e a

consequente degradação ambiental. De acordo com essa tese existe uma relação causal muito

forte entre crescimento da população, pobreza e degradação ambiental, e, no entanto, ignora

os fatores econômicos e sócio-políticos que determinaram a pobreza rural e o processo de

degradação do meio ambiente. Assim, a pressão do aumento da população sobre as terras

desmatadas e cultivadas forçaria a população 'a mais' a praticar atividades destrutivas, como o

desmatamento. Entretanto, PARAYIL E TONG (1998) afirmam que a perda de florestas na

Amazônia Brasileira não sustenta relação com o grande crescimento populacional. Ademais,

de acordo com dados estatísticos, as taxas de crescimento da população brasileira caíram nos

anos 70 e 80, quando o desmatamento se mostrou intenso. A causa do demstamento estaria,

assim, relacionada com a destribuição desigual da terra cultivável fora da região amazônia e

não com a sobrepopulação.

Segundo a teoria da 'Tragédia dos Comuns' de Hardin, recursos de uso comum, tais

como pastagens, florestas, oceanos, estão sujeitos a sobreexploração. Assim, cada indivíduo

Page 39: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

28

busca maximizar seu ganho na utilização do bem comum, e quanto mais indivíduos agem

dessa maneira maior e mais sério será a sobreexploração e a depleção dos recursos. Segundo

essa tese, a trajetória causal da degradação ambiental se deve a ausência de regulação

coerciva e de práticas capitalistas. Isto é, a causa do desflorestamento é a ausência de relações

de propriedades nas florestas. Porém, na Amazônia ocorre o oposto: a conversão de florestas

nessa região está associada a privatização da floresta pública, que, em geral, favorece o

estabelecimento de grandes propriedades rurais em detrimento dos pequenos e médios

produtores.

A última linha teórica seguida por Parayil e Tong (1998) buscou analizar as mudanças

ambientais a partir de uma perspectiva social, econômica, política e ecológica. Comparada as

teorias expostas anteriormente, a tese de Taylor e Garcia-Barrios fornece maior embasamento

para analisar as trajetórias que causam o desmatamento, ao argumentarem que fatores

estruturais e políticos afetam a sustentabilidade do gerenciamento dos recursos. Em geral, as

condições estruturais agem discriminando as populações rurais gerando deficiências

institucionais, pobreza e degradação ambiental. Isso porque, as questões ambientais são

consequêcias de uma série de fatores (sociais, políticos, econômicos e ecológicos) e

processos.

2.1.2 Trabalhos com Modelagem Econométrica

De acordo com REIS (1996), o desmatamento recente na Amazônia foi causado por

políticas de desenvolvimento regional dentre as quais destacam-se as iniciativas do governo

em projetos de geração de energia elétrica e extração de minérios. Um importante projeto

implementado nos anos 80 foi o “Programa Grande Carajás” cujas principais conseqüências

ambientais foram o desmatamento e a degradação das florestas tropicais. A industrialização e

a urbanização induzidas pelos investimentos do projeto de Carajás (PSC) estimulam o

demastamento. Essas ações geram a necessidade de expansão das áreas agrícolas e da

Page 40: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

29

degradação da cobertura florestal original, já que há uma maior demanda por madeira,

alimentos e matérias-primas que deve ser suprida.

Assim, o objetivo foi tratar dos efeitos indiretos do Pólo Siderúrgico de Carajás (PSC)

sobre o desmatamento. Para tal, foi construído um modelo econométrico estimado e simulado

a nível municipal, que abrange a Amazônia Legal e as subregiões identificadas como

Corredor da Estrada de Ferro Carajás e a Área de Influência de Carajás. O autor adotou duas

hipóteses básicas para o seu modelo: (i) o crescimento e a expansão da malha rodoviária são

os motores da ocupação econômica da Amazônia; e que, (ii) a utilização agropecuária das

terras constitui a principal causa imediata do desmatamento. A variável exógena, ou seja,

aquela que explicaria o desmatamento é a expansão da malha rodoviária que pode ser

considerada uma proxy dos investimentos realizados na região. O modelo consta de seis

blocos de equações:(1) expansão da malha rodoviária; (2) dinâmica populacional; (3) produto

das atividades urbanas; (4) utilização da terra, produtividade e produto nas atividades

agropecuárias; (5) desflorestamento; e, (6) emissões de dióxido de carbono. A determinação

dessas equações necessitou de um vasto conjunto de variáveis, tais como, percentual de

estradas pavimentadas, produto das atividades urbanas e rurais, população urbana e rural,

vetor de variáveis econômicas e geoecológicas, dentre outras.

O intuito desse modelo é analisar as interações entre os processos de desmatamento,

ocupação agropecuária, urbanização e industrialização. Assim, a avaliação dos impactos do

Pólo Siderúrgico de Carajás (PSC) foi realizada através da comparação das simulações desse

conjunto de equações para dois cenários alternativos, no período de 1990/2010: cenário

básico e cenário potencial. No cenário básico, simula-se o compotamento demográfico e

econômico da região supondo a inexistência do PSC. Já o cenário potencial, supõe a

existência do programa de Carajás. Os resultados apontaram para os seguintes impactos: (i) o

aumento da população é insignificante; (ii) o PIB apresentou excelentes projeções, entretanto

restrito as atividades urbanas e referente ao produto gerado numa região e não a renda

Page 41: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

30

apropriada pelos seus habitantes; (iii) o uso da terra nas atividades agropecuárias apresentou

impactos realativamente pequenos; (iv) projetam-se cifras dramáticas de desmatamento, ou

seja, o projeto apresenta perdas ambientais lastimáveis; e (v) as emissões de gás carbônico são

pequenas (pouco impacto no aquecimento do planeta).

Na década de 60, o governo brasileiro deu início a um programa de desenvolvimento

para integrar a região Amazônica às demais regiões do país. O resultado desse programa foi o

crescimento dramático do produto, da população e do desmatamento. Com o intuito de

explicar o trade-off entre crescimento econômico e desmatamento imposto pelas políticas

ambientais executadas na Amazônia Legal, ANDERSEN E REIS (1997) desenvolveram um

modelo econométrico de dois setores, rural e urbano. Supõe-se que tal trade-off não seja o

mesmo para todas as políticas, ou seja, em alguns casos o desmatamento pode ter levado ao

crescimento econômico.

Segundo os autores o setor rural utiliza como insumos a terra desflorestada e os

trabalhadores rurais, enquanto o setor urbano usa trabalhadores urbanos e o produto agrícola

como insumos. A demanda por produtos agrícolas do setor urbano é responsável por causar

desmatamento indireto. O modelo consiste de seis equações: (i) demanda do setor rural por

terra agrícola, (ii) dinâmica da população rural, (iii) dinâmica da população urbana, (iv)

produto rural, (v) produto urbano, e (vi) preço da terra. As variáveis utilizadas para construir

essas equações foram: floresta natural, floresta plantada, plantação temporária, pasto natural e

plantado, população urbana e rural, produto rural e preços da terra, condições de infraestrutura

e dados sobre crédito. A equação principal do modelo é a (i) que prevê a demanda por terra

nova desmatada na região i, no tempo t, com base em características passadas dessa região

(tais como acessibilidade, disponibilidade de terras, perspectivas econômicas) e de vizinhos

próximos (distância entre as regiões e extensão da malha rodoviária, por exemplo). Assim, a

extensão de terras desmatadas recentemente seria determinada pela demanda por novas terras

agricultáveis.

Page 42: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

31

Assumiu-se que todas as equações são da forma log-linear, e, então, foram realizados

procedimentos econométricos tais como estimação e testes de especificação. Procedeu-se da

seguinte forma: ao nível de significância de 1% foram incluídas todas as variáveis

explicativas teoricamente relevantes. Em seguida, as variáveis foram sendo deletadas na

medida em que seus coeficientes não fossem estaticamente significantes ao nível estabelecido.

Com base nos resultados, concluiu-se que o crédito subsidiado apresenta um bom trade-off

entre desenvolvimento econômico e desmatamento enquanto o mesmo não pode se verificar

com relação à construção de estradas. Assim, políticas governamentais que se baseiam no

acesso ao crédito subsidiado fazem com que os custos do desmatamento sejam menores que

os seus benefícios.

PFAFF (1994) também analisou os determinantes do desmatamento na Amazônia

Brasileira. O autor busca responder as seguintes questões: (1) como e porque as florestas

estão sendo destruídas, e se (2) as políticas públicas afetam a taxa de desmatamento. Dessa

forma, sugere que além da população, outros fatores econômicos de pressão tais como

estradas, crédito e qualidade do solo, são causas do desmatamento na região. Para tal, derivou

e, em seguida, estimou uma equação de desmatamento usando dados a nível municipal para

os anos entre 1975 e 1988. As variáveis utilizadas nessa equação foram: desmatamento,

população, preços de produção, salários, produção, área de lavoura e pastagem, estrada e

crédito.

A equação de terra desmatada foi derivada a nível municipal e com base no

ferramental de otimização dinâmica. Supõe-se que a população é uma variável endógena, isto

é, população e desmatamento são determinados conjuntamente e por outros fatores. A partir

do resultado foram realizadas inferências econométricas que levaram as seguintes conclusões:

a grande distância do centro da cidade é associado a um baixo desmatamento; quanto melhor

for a qualidade do solo, maior o desmatamento; e, quanto maior a densidade das estradas

maior o desmatamento.

Page 43: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

32

Já CASTRO DE REZENDE (2002) desenvolveu um modelo de mercado de terra com

produção de terra específico para o Cerrado. A hipótese básica é que a atual expansão agrícola

nessa região do país se deve ao baixo preço da terra em comparação com as demais regiões do

país. Assim, busca-se explicar as características da estrutura fundiária dessa região, que são

claramente concentradoras, ou seja, absorve pouca mão de obra e produz em larga escala

(agricultura mecanizada). O modelo abrange três tipos de terra: de primeira, de segunda e

virgem (terra de floresta). A terra de segunda pode ser convertida em terra de primeira através

de investimento de capital. Para cada mercado de terra foi estimado um sistema de equações

que utilizam as seguintes variáveis: quantidade demandada de terra i, quantidade ofertada de

serviços da terra i , valor do aluguel da terra i, valor de venda de uma unidade de estoque da

terra i, taxas de juros real, valor de venda de uma unidade de estoque da terra j, dentre outras.

A solução desses sistemas envolve a determinação do valor do aluguel da terra que

junto com o valor da taxa de juros real determinaria o preço da terra i. A condição de

equilíbrio de longo prazo requer que a produção da terra de primeira, por exemplo, seja num

montante absoluto igual à depreciação anual do estoque. O autor afirma que, “o preço dessa

terra (de primeira) será tão menor quanto mais barata for a terra de segunda e quanto menor

for o custo de ‘produção’ dessa terra de primeira”. Logo, quanto maior a aptidão agrícola

maior o custo de oportunidade em se preservar florestas. O resultado da queda do custo de

conversão de terra de segunda ou de terra virgem em terra agrícola de qualidade superior foi

uma elevação no estoque de terra de primeia na região centro-oeste do país.

Consequentemente, o preço da terra de primeira caiu e aumentou a competitividade regional.

É concenso que o desmatamento tropical está se acelerando em todo o mundo. De

acordo com dados estatísticos, há evidências de que a temperatura mundial está sendo afetada.

Ademais, a biodiversidade vem sendo ameaçada, visto que a perda de florestas leva a

extinção de muitas espécies da fauna e da flora. Na década de 80, o meio ambiente foi

adversamente afetado pela recessão mundial no crescimento econômico e deterioração social,

Page 44: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

33

eventos que impactaram negativamente nas práticas de uso da terra e no estado da floresta

tropical mundial.

TOLE (1998) investiga as causas do desflorestamento tropical usando dados de cross-

section para 90 países em desenvolvimento no período de 1981-1990. Com os resultados da

regressão pode-se concluir que: (i) o desmatamento se acelera com a expansão da

infraestrutura, da dívida externa, do comércio e do investimento em capital humano, ou seja,

com o desenvolvimento econômico dos países; e, (ii) a perda de florestas também está

associada à escassez relativa ou absoluta, que se manifesta nas pressões de crescimento da

população, na falta de alimentos e de terra, na dependência de madeira como combustível e na

desigualdade de acesso a terra.

Para a análise do modelo de regressão a variável escolhida como dependente foi o

desmatamento. As variáveis explicativas, ou independentes, foram divididas em dois grupos:

• Variáveis de uso da terra: expansão agrícola, produção de madeira,

desenvolvimento em infraestrutura e tamanho da floresta.

• Variáveis de contexto social: fatores econômicos, produtividade rural e

propriedade da terra, pobreza e pressões demográficas e representação política.

Assim, TOLE (1998) supõe que uma variável que seja significante na maioria das

regressões terá maior poder explicativo do que uma variável que seja significante em apenas

algumas regressões. Assim, foram rodadas diversas regressões com diferentes combinações

das variáveis explicativas. As regressões encontraram padrões de desmatamento entre os

países. Caso nenhum padrão fosse encontrado, isso significaria que as causas do processo de

desmatamento são diferentes em todos os países analisados.

As regressões buscaram estabelecer correlações entre as variáveis explicativas e o

desmatamento. Aqui, é preciso atentar que correlação não implica, necessariamente, em

causalidade. Os resultados apontaram que: variáveis de uso da terra são positiva e fortemente

Page 45: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

34

correlacionadas com o desmatamento; construção de estradas e eletricidade (variáveis de

infraestrutura) não são significantes; e, que a variável dívida externa é positiva e significante

em todas as regressões indicando que países com altas razões de serviço da dívida desmatam

mais rapidamente. Em outras palavras: quanto mais os países se desenvolvem maior a

probabilidade de acelerar a perda de florestas.

Durante os anos 90, enquanto os países da América Latina estavam ocupados em

desmontar o Estado intervencionista da era de substituição de importações, os países do leste

asiático baseavam seu modelo de desenvolvimento focando no crescimento com forte

intervenção do Estado nos mercados de produto e fatores e com o único e claro objetivo de

promover a industrialização via expansão da exportações. A América Latina perdeu muito

espaço no comércio internacional para esses países.

Dentre os produtos exportados pelos asiáticos destaca-se a madeira. Assim, o

desmatamento asiático pode ser explicado pela excessiva extração de madeira. No entanto, de

acordo com SOUTHGATE (1991), na América Latina o processo de desmatamento é um

fenômeno primariamente agrícola. Assim, o autor questiona como a expansão da fronteira

agrícola pode ser acomodada. Para tal, realiza uma regressão para analisar as causas desse

fenômeno em 23 países da América Latina.

A variável dependente é o crescimento da área usada para lavoura. As variáveis

independentes são: crescimento da população, crescimento da agricultura de exportação,

crescimento do produto. Além dessas, há a inclusão de uma variável dummy que indica que o

“fechamento” da fronteira agrícola ocorreu ou está próximo. O modelo de regressão múltipla

foi estimado pelo método de Mínimos Quadrados Ordinários - MQO (Ordinary Least Square

- OLS). Os resultados das estimações realizadas apontam que tanto o crescimento da

população quanto o da agricultura para exportação possuem uma relação positiva com o

desmatamento, enquanto que as demais variáveis têm relação negativa com a variável

Page 46: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

35

dependente. Ou seja, existem relações importantes e complementares entre o desenvolvimento

agrícola e a conservação das florestas tropicais na região.

No trabalho realizado por PALO E LEHTO (1996) os objetivos foram: fazer uma

revisão dos recursos florestais da Ásia Tropical, encontrar as causas do desmatamento na

região e analisar o desmatamento futuro. Com o intuito de explicar o desmatamento foram

estimados oito modelos em três cenários distintos.As variáveis utilizadas para estimar as

equações desses modelos foram: taxa de desmatamento, cobertura florestal, pressão da

população, renda, custo e risco de desmatamento. A taxa de desmatamento pode ser definida

como a razão entre a área desmatada e a área florestal média e é uma variável de fluxo. Já a

cobertura florestal, definida como a razão entre a área de floresta e a área de terra, é uma

variável de estoque. Nos modelos estimados, tanto a taxa de desmatamento quanto a cobertura

florestal foram usadas como variáveis dependentes, as quais se propõe explicar.

Na modelagem do processo de desmatamento foi utilizado um modelo de regressão

múltipla com estimação de Mínimos Quadrados Ordinários- MQO (Ordinary Least Square

ou OLS). As conclusões empíricas apontaram que enquanto a pressão demográfica e a renda

elevam o desmatamento, o aumento do custo e do risco do desmatamento diminuem a

intensidade desse processo. Em 2020, prevê-se que 38% da área de floresta asiática será

desmatada.

2.2 Um estudo empírico sobre a mata atlântica

É um equívoco afirmar que não existe uma vasta bibliografia que tenha como tema a

Mata Atlântica, sua história de devastação e as atuais perpectivas de preservação e

conservação. Entretanto, há uma ausência de trabalhos que utilizem o ferramental

econométrico para determinar as causas do desmatamento neste bioma. Um estudo empírico

realizado pelo Grupo de Economia do Meio Ambiente (Instituto de Economia, Universidade

Federal do Rio de Janeiro) e pela Fundação SOS Mata Atlântica objetivou preencher essa

Page 47: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

36

lacuna, com o desenvolvimento da pesquisa “Economia e Desmatamento: Aspectos Sócio-

Econômicos da Ocupação da Mata Atlântica”.

O intuito deste trabalho era mostrar que alguns mitos sobre a incompatibilidade entre

desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente não se sustentam. Para tanto,

buscou examinar as relações teóricas e empíricas entre o contínuo desmatamento nas áreas de

domínio da Mata Atlântica e as características sócio-econômicas dessas mesmas regiões.

Assim, a motivação principal do trabalho era discutir até que ponto a conversão recente de

áreas florestadas tem efetivamente resultado em mais postos de trabalho e numa melhor

qualidade de vida para as populações rurais. Dentre os mitos defendidos pela Bancada

Ruralista do Congresso Nacional e, que o trabalho buscou refutar destacam-se:

• o maior fator de pressão sobre o desmatamento é o crescimento demográfico nas áreas

rurais;

• o crescimento econômico nas áreas rurais só é possível através do desmatamento; e

• o desmatamento é necessário para a geração de emprego e garantia de melhores condições

de vida da população rural.

Merece destaque o fato do trabalho ter sido realizado utilizando variáveis a nível

municipal, o que exigiu um longo processo de tratamento dos dados. Entretanto, além de

evitar contra-argumentos, as informações encontradas foram mais releventes e conclusivas.

Assim, a primeira etapa dessa pesquisa consistiu na construção da base de dados para seis

estados das Regiões Sul e Sudeste do Brasil- Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São

Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Os dados coletados eram referentes às seguintes variáveis: desmatamento total entre

1985-95 e indicadores econômicos- pessoal ocupado nos estabelecimentos agrícolas, efetivo

de bovinos, utilização das terras para lavouras e pastagens- dos Censos Agropecuários de

1985 e 1995/96. Observa-se que a análise abrange um período de dez anos entre os dois

censos utilizados, o 1985 e o 1995/96. Nesse período muito municípios foram criados. Dessa

Page 48: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

37

forma, a fim de compatibilizar as variáveis dos dois censos para compará-los, os dados do

censo de 1995/96 foram reagregados para a malha municipal de 1985 (Cabral, 2004).

Após essa etapa, foram obtidas duas tabelas: uma com os dados em 1985 e outra com

os dados em 1995/96 (estes, já reagregados para a malha de 1985). A partir destas foi

montada uma tabela com as variações de todas as variáveis no período 1985-1995/96. Em

seguida, os municípios foram ordenados de forma decrescente de acordo com as variações

observadas em cada uma das variáveis. Assim, foram elaborados rankings da seguinte forma:

aquele município que apresentou o maior aumento, recebeu a primeira posição, e,

consequentemente, ao de menor aumento, foi concedida a última colocação. A justificativa

para este procedimento está na dificuldade de se comparar as variáveis dos Censos

Agropecuários de anos distintos, dadas as mudanças metodológicas sofridas9.

A terceira etapa contou com a construção de tabelas com os dez municípios líderes de

cada um dos rankings- desmatamento total, variação do pessoal ocupado, variação do efetivo

de bovino, variação da utilização de terras para a lavoura e pastagens- com suas respectivas

posições no ordenamento das outras variáveis pesquisadas. Os resultados desta etapa

referentes aos estados da Região Sul do país- ou seja, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e

Paraná- estão contidos em YOUNG (2002), “Is deforestation a solution for economic growth

in rural areas? Evidence from the Brazillian Mata Atlantic”, um dos primeiros trabalhos

acadêmico realizados com a base de dados de desmatamento elaborada pelo Grupo de

Pesquisa (Cabral, 2004).

Este exercício foi realizado, posteriormente, para três estados da Região Sudeste: São

Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O estado de Minas Gerais não foi inserido na análise

em função de problemas metodológicos. A elaboração dos exercícios procedeu-se da mesma

maneira daquele realizado para os estados da região sul do país. Assim, as conclusões desta

9 Young (2002) ressalta que, em particular, o censo mais recente (1995/96) é problemático visto ter sido executado em época diferente do ano, além de ter havido outras alterações no procedimento da pesquisa em relação aos censos anteriores.

Page 49: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

38

etapa foram suficientes para comprovar a inexistência de uma relação automática entre o

crescimento econômico e desmatamento, através de uma análise escritiva dos resltados.

De forma geral, os municípios que mais desmataram não apresentaram criação de

postos de trabalho no campo ou melhora dos demais indicadores econômicos. Elaborando

rankings com relação às demais variáveis observamos a mesma dissociação. Destaca-se que,

os municípios que apresentaram as melhores posições relativas nos rankings não apresentam

altas taxas de desmatamento, sinalizando que este processo não foi condição necessária para a

geração de emprego no campo ou para o crescimento econômico.

Tabela 2: Desempenho econômico dos municípios que mais desmataram em seis estados das regiões sul e sudeste no período de 1985-95/96.

Município em 1985

Desmat-total (ha)

Var PO Var Lav Var Bov Var Past

Itaiópolis-SC 9857 -430 -129230 4323 -1430

Laranjeiras do Sul -PR 10211 -930 -22982 64486 48903

Vacaria -RS 7726 -414 3835 -35166 -40487

Iguape - SP 6873 -1850 -1821 918 1932

Trajano de Morais - RJ

13850 -2553 -3542 -71 -7898

Linhares - ES 6645 -5537 -13562 28168 -2626

Fonte: Elaboração Própria (dados do Censo Agropecuário e do Atlas de Remanescentes Florestais).

A tabela acima destaca o município líder em desmatamento, em cada um dos seis

estados das regiões sul e sudeste, e o seu respectivo desempenho econômico no período de

1985-1995/96. Podemos observar que em todos esses municípios houve perda de pessoal

ocupado em atividades rurais, e, exceto o município de Vacaria (RS), todos os demais

também perderam em área de lavoura. Entretanto, apesar dos resultados obtidos apontarem

claramente a existência de uma dissociação entre desmatamento e aumento da atividade

agropecuária, reconhecia-se que havia ainda a necessidade da realização de uma análise

Page 50: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

39

estatística mais sofisticada. Sendo assim, numa segunda etapa, Andrade (2003) e Cabral

(2004), deram continuidade ao trabalho.

Andrade (2003) engajou-se na aplicação de técnicas de Estatística Multivariada, tais

como a Análise de Grupamento e de Discriminante, para os estados da região sul do país, a

fim de obter uma descrição mais geral dos dados, que procurasse estabelecer padrões entre as

observações como um todo. Através da análise de grupamento foi possível identificar dois

grupos distintos: o grupo 1, constituído por municípios com desmatamento pouco expressivo,

ganho de pessoal ocupado, de área de lavoura e madeira em toras; e, o grupo 2, caracterizado

por municípios que desmataram muito e apresentaram perdas de pessoal ocupado, de área de

lavoura e uma perda, ainda que comparativamente não muito expressiva, de madeira em toras.

As variáveis mais determinantes para a separação entre os grupos foram o

desmatamento e o pessoal ocupado10. Merece destaque o fato que, no grupo 2 estão presentes

a grande maioria dos municípios (500 de 604), enquanto apenas 104 municípios se encaixam

no caso 1. Ou seja, a maior parte dos municípios apresentam um padrão de desmatamento

elevado associado a um baixo desempenho das variáveis sócio-econômicas. Segundo o autor,

isso está ligado ao padrão da agricultura familiar da região Sul e ao fato de que há uma grande

assimetria entre os grupos.

Em seguida, na análise de discriminante, foi feito um modelo que prevê o grupo no

qual cada município estaria associado. Como um dos grupos está associado a expressivo

desmatamento, a classificação de um município como 2, significa que ele potencialmente

pode apresentar problemas de desmatamento. As variáveis que foram usadas como preditoras

foram: variação de pessoal ocupado, variação de bovinos, variação de pastagens, variação de

área de lavouras e variação de tratores. A análise não incluiu o total de desmatamento, pois a

intenção é captar se o município tem ou não um potencial de desmatamento.

10 De acordo com Andrade (2003), a maior parte das observações localiza-se abaixo da média de

desmatamento e acima em pessoal ocupado (citando as variáveis de maior peso para a classificação).

Page 51: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

40

A análise fornece um bom modelo de pressão antrópica já que determina com grande

acurácia11 se um município pertence ao grupo mais crítico, quanto à devastação da floresta,

sem que seja necessária a presença da variável desmatamento. Assim, mais uma vez, os

resultados apontaram para as seguintes conclusões: o desmatamento foi acompanhado por

perda no emprego rural, a pecuária foi a atividade mais associada à devastação da floresta e

que a conversão de áreas para lavoura não foi muito significativo, enfim, que desmatamento e

crescimento econômico caminharam em lados opostos.

Visando complementar à referida pesquisa, Cabral (2004) incorporou indicadores

sociais à análise, com o intuito de examinar se existe alguma correlação entre desmatamento e

melhoria das condições de vida da população rural, argumento defendido pela bancada

ruralista. Assim, à base de dados já referida, foi somada mais uma variável: o Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) que engloba as dimensãoes educação,

longevidade e renda, afim de mensurar a qualidade de vida.

Em seguida, foram realizados dois exercícios. O primeiro exercício foi baseado na

performance dos dez municípios que mais desmataram em cada um dos estados, no período

1985-95. Revelou que a maior parte deles caracteriza-se por apresentar uma piora ou

constância, em termos relativos, de seus níveis de desenvolvimento. Dessa forma, de acordo

com Cabral (2004) não se pode dizer que, nos municípios de maior desmatamento, este

processo gerou melhores condições de vida à população rural. O argumento da Bancada

Ruralista não se verificou empiricamente ao se tomar por referência os municípios que mais

desmataram12.

11Segundo os resultados obtidos por Andrade (2003), o acerto foi de 90,7%, ou seja, em apenas 9,3% das observações o modelo atribuiu 1 ao que originalmente foi classificado como 2 e 2 ao que originalmente foi classificado 1. 12 Segundo Cabral “Justamente por basear-se apenas na performance dos municípios líderes em desmatamento, ou seja, em casos “críticos”, o exercício anterior poderia dar espaço a certos tipos de contra-argumentos, como o de que, se a análise fosse feita de forma mais geral, o resultado seria distinto”

Page 52: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

41

O segundo exercício, então, englobou todos os municípios analisados. Foi estimado

um modelo de regressão linear simples no qual a melhora do IDHM seria a variável

dependente ou explicada e, o desmatamento a variável explicativa. Verificou-se que inexiste

uma relação de causalidade entre o processo de desmatamento e a geração de melhores

condições de vida. Ou seja, Cabral (2004) conclui que, o aumento do desmatamento no

período 1990-95, em comparação com o período 1985-90, não é capaz de explicar a melhora

dos índices de Desenvolvimento Humano obtidos pelos municípios em 2000.

Assim, buscando sofisticar a análise e fortalecer a crítica aos argumentos usados pela

Bancada Ruralista e por aqueles que defendem que o desmatamento é importante para

impulsionar o crescimento do país, o presente trabalho busca encontrar relações de

causalidade entre desmatamento e variáveis de desempenho sócio-econômico. O próximo

capítulo é responsável pela modelagem do demastamento. Antes de analisar os resultados

serão expostas a base de dados e a metodologia utilizada.

2.3 Conclusão

Esse capítulo procurou fazer uma investigação dos principais trabalhos que tratam

sobre as causas do desmatamento. Buscou-se maior enfase naqueles que fizeram uso de algum

instrumental econométrico. Estes, na sua maioria, adotaram como hipótese de pressão do

desmatamento a conversão de áreas de florestas para uso agropecuário, a extração de madeira,

políticas públicas e a recessão econômica. A tabela abaixo faz um resumo das variáveis

relevantes de cada um dos modelos tratados na primeira seção desse capítulo.

Tabela 3: Síntese das variáveis utilizadas em cada modelo

Autor (es) Variáveis

Reis percentual de estradas pavimentadas, produto das atividades urbanas e rurais, população urbana e rural, vetor de variáveis econômicas e geoecológicas, dentre outras

Page 53: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

42

Autor (es) Variáveis

Andersen & Reis floresta natural, floresta plantada, plantação temporária, pasto natural e plantado, população urbana e rural, produto rural e preços da terra, condições de infraestrutura e dados sobre crédito.

Pfaff desmatamento, população, preços de produção, salários, produção, áread e lavoura e pastagem, estrada e crédito.

Castro de Rezende

quantidade demandada de terra i, quantidade ofertada de serviços da terra i , valor do aluguel da terra i, valor de venda de uma unidade de estoque da terra i, taxas de juros real, valor de venda de uma unidade de estoque da terra j, dentre outras.

Tole expansão agrícola, produção de madeira, desenvolvimento em infraestrutura, tamanho da floresta, fatores econômicos, produtividade rural e propriedade da terra, pobreza e pressões demográficas e representação política.

Southgate área de lavoura, população, agricultura de exportação e produto agrícola.

Palo & Lehto taxa de desmatamento, cobertura florestal, população, renda, custo e risco do desmatamento.

Fonte: Elaboração Própria

Os textos pesquisados e estudados, somados à base de dados do trabalho da SOS

apontaram na direção da escolha das seguintes variáveis para montar o modelo de

desmatamento para a mata atlântica: remanescentes florestais de Mata Atlântica; pessoal

ocupado nos estabelecimentos agropecuários; áreas de lavouras e pastagem; rebanho bovinos;

número de tratores; extração de lenha; extração de madeira em toras; PIB municipal total,

industrial, de serviços e agrícola; variação da produtividade agrícola; produtividade agrícola

média; Indice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM); e Custo de transporte da

sede do municipio até a capital do estado.

Como este trabalho é uma primeira modelagem do desmatamento da Mata Atlântica,

optou-se por realizar um modelo de regressão múltipla com estimação de Mínimos Quadrados

Ordinários (MQO), conforme foi utilizado nos trabalhos de TOLE e SOUTHGATE.

Entretanto, devido a restrição da base de dados não foi possível realizar análises do tipo cross-

section ou painel. Apesar da simplicidade da modelagem, os resultados obtidos atendem ao

propósito do trabalho. Fica assim, um espaço aberto para futuras aprimorações econométricas

do modelo de desmatamento da mata atlântica.

Page 54: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

43

Capítulo 3 - Modelo de Desmatamento para a Mata Atlântica

A modelagem econométrica do processo de desmatamento na Mata Atlântica é um

instrumental importante para verificar quais são, de fato, as principais causas desse fenômeno.

A hipótese adotada é de que a conversão de áreas de florestas para uso agropecuário, ou seja,

pastagens e lavouras é um fator determinante do desmatamento na região de Mata Atlântica.

Assim, busca-se verificar se essa hipótese se confirma e se existem outros fatores de pressão

do desmatamento na biota atlântica.

O objetivo deste capítulo é estimar uma regressão múltipla cuja variável dependente

seja o desmatamento. Para tal, foram utilizadas variáveis das seguintes fontes: (i) Censos

Agropecuários: Pessoal ocupado nos estabelecimentos agropecuários; Utilização das terras

para lavouras; Utilização das terras para pastagens; Efetivo de bovinos; Trator; Lenha; e,

Madeira em toras; (ii) Evolução dos Remanescentes Florestais de Mata Atlântica:

Remanescentes de Mata Atlântica; e (iii) IPEA Data: Pib municipal; Pib municipal industrial;

Pib municipal de serviços; Pib municipal agrícola; Indice de Desenvolvimento Humano

(IDH); e Custo de transporte da sede do municipio até a capital do estado.

Todas essas variáveis13 foram selecionadas para dois anos: 1985 e 1995/6. A base de

dados inicial constava do primeiro e do segundo grupo de variáveis. Esta foi construída e

utilizada no trabalho realizada pelo GEMA/IE - Grupo de Economia do Meio Ambiente e

Desenvolvimento Sustentável, junto com a fundação SOS Mata Atlântica com intuito de

verificar, empiricamente, se havia relação automática entre desmatamento e crescimento

13 Algumas exceções são as variáveis: custo de transporte que foi selecionada para os anos de 1980 e 1995, já que não foram encontrados dados para o ano de 1985, logo os valores podem estar subestimados; IDH, que foi ncontrado para o ano de 1991, logo pode ser visto como um valor médio de referência para o período da análise; dummy município problema e dummies estaduais.

Page 55: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

44

econômico. Outros trabalhos do grupo, com um viés estatístico, utilizaram à mesma base de

dados. 14

A análise bibliográfica realizada no capítulo 2 apontou para a necessidade de se

adicionar algumas variáveis à base de dados já existente. Estas se mostraram extremamente

relevantes em trabalhos econométricos que buscam relacionar desmatamento com

desempenho sócio-econômico. Assim, para realizar os exercícios desse capítulo foram

adicionadas as seguintes variáveis: Pib municipal, Pib municipal industrial, Pib municipal de

serviços, Pib municipal agrícola, Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDHM,

Custo de transporte, produtividade agrícola média, variação da produtividade agrícola,

dummy município problema e dummies estaduais (RJ, ES, SP, PR SC e RG).

Algumas dessas variáveis foram criadas. A variável produtividade das terras agrícolas

foi criada com a função de captar o custo da terra, isto é, essa variável seria uma “proxy” do

preço da terra em cada município. Essa variável pode ser definida como: Pib municipal / área

agrícola, onde a área agricola é igual a soma das áreas de pastagem e lavoura. Assim, a partir

dessa variável foram criados dois indicadores: a produtividade agrícola média e a variação da

produtividade agrícola. O primeiro é uma proxy da média dos preços da terra no período de

1985/1995-96, e, o segundo buscou captar a variação dos preços da terra para o mesmo

período.

O fato da base de dados ser municipal acarreta alguns problemas o que levou à criação

das seguintes variáveis dummies:

� Dummy para os municípios problemas (dum): recebeu 1 o município que em 1996

manteve a área original de 1985, isto é, não foi desmembrado; e 0 aqueles municípios

14 Ver: ANDRADE, M.T.N., É Preciso Desmatar para Crescer? Evidências Empíricas para a Região Sul do Brasil, monografia de bacharelado, 2003, orientador: Carlos Eduardo Frickmann Young. CABRAL, F. S. Desenvolvimento econômico, pobreza e desmatamento: Evidências Empíricas para as Regiões Sul e Sudeste no período 1991-2000. Graduação em Economia. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Brasil, 2004.

Page 56: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

45

que foram desmembrados em 1996 e por isso tiveram q ser reagregados para o

município original de 198515;

� Dummy Rio de Janeiro (drj): recebeu 1 se o município for do RJ e 0 se não;

� Dummy São Paulo (dsp): recebeu 1 se o município for de SP e 0 se não;

� Dummy Espírito Santo (des): recebeu 1 se o município for do ES e 0 se não;

� Dummy Paraná (dpr): recebeu 1 se o município for do PR e 0 se não;

� Dummy Santa Catarina (des): recebeu 1 se o município for de SC e 0 se não;

� Dummy Rio Grande do Sul (drgs): recebeu 1 se o município for do RGS e 0 se não.

Embora a análise de regressão múltipla lide com a dependência entre uma variável

com relação a outras variáveis, ela não implica necessariamente causação. Para atribuir

causalidade, deve-se recorrer a considerações apriorísticas ou teóricas. Assim, antes de buscar

relações de causalidade entre as variáveis é muito importante realizar uma análise de

correlação, que apesar de estar intimamente ligada a análise de regressão é conceitualmente

muito diferente.

Além dessa introdução, este capítulo consta de mais três seções. Na segunda secção,

serão realizados testes de correlação entre as variáveis independentes escolhidas e o

desmatamento. A análise do coeficiente de correlação foi realizada para os estados das regiões

sul e sudeste (excluindo Minas Gerais) em conjunto, por região e individualmente. Em

seguida, na terceira seção é estimado o modelo de desmatamento. Primeiramente será exposta

a metodologia utilizada, e depois serão analisados os resultados obtidos. Por fim, na última

seção, são expostas as considerações finais.

15 Ver: YOUNG, C. E. F., Is Deforestation a solution for growth in rural areas? Evidence from the Brazilian Mata Atlantic, Working Paper Series, No. CBS-36-02, Centre for Brazillian Studies, University of.

Page 57: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

46

3.1 Correlação entre as variáveis

Em diversas investigações deseja-se avaliar a relação entre duas medidas quantitativas.

Três propósitos principais de tais investigações podem ser: (i) para verificar se os valores

estão associados; (ii) para predizer o valor de uma variável a partir de um valor conhecido da

outra; e, (iii) para descrever a relação entre variáveis. O grau de associação linear entre duas

variáveis é avaliado usando correlação. Enquanto na análise de regressão as variáveis

dependentes e explicativas são tratadas de forma assimétrica, na correlação quaisquer duas

variáveis são tratadas simetricamente, não havendo distinção entre dependente e explicativa16.

Seja x1 , x2 , x3 ,...xn , o conjunto das medidas de uma das variáveis, e seja y1 , y2 , y3

,...yn as medidas da outra variável. A mensuração do grau de associação linear entre duas

variáveis é obtida através de um indicador: o coeficiente de correlação, definido como:

r = Sxy / Sx Sy

onde Sx e Sy representam os desvios padrões amostrais dos dois conjuntos de dados avaliados.

O valor de r está sempre entre -1 e +1, com r = 0 correspondendo à não associação

linear. Valores negativos de r (quando r < 0) indicam uma associação negativa, ou seja, à

medida que x cresce, y decresce (em média). Por outro lado, quando r > 0, temos uma

correlação positiva, e à medida que x cresce, y também cresce. Quanto maior o valor de r

(positivo ou negativo), mais forte é a associação linear entre as variáveis. A tabela abaixo

fornece um guia de como podemos descrever uma correlação em palavras, dado o valor

numérico do coeficiente de correlação.

16 De acordo com GUJARATI (2000), isso ocorre porque a maior parte da teoria da correlação se baseia na hipótese de aleatoriedade das variáveis , enquanto a maior parte da teoria da regressão está condicionada a hipótese de que a variável dependente seja estocástica, mas que as variáveis explicativas sejam fixadas ou não-estocásticas.

Page 58: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

47

Tabela 4: Interpretação do valor do coeficiente de correlação

Valor do Coeficiente de Correlação

(+/-)

Interpretação

0,00 a 0,19 Uma correlação bem fraca

0,20 a 0,39 Uma correlação fraca

0,40 a 0,69 Uma correlação moderada

0,70 a 0,89 Uma correlação forte

0,90 a 1,00 Uma correlação bem forte

Fonte: Elaboração própria

Dessa forma, na investigação das causas do processo de desmatamento recente da

Mata Atlântica, a análise do coeficiente de correlação é uma primeira abordagem importante e

necessária para verificar se existe alguma relação entre as variáveis aqui analisadas. As

correlações foram obtidas com a utilização do software econométrico STATA, e foram

realizadas para todos os estados do sul e do sudeste em conjunto, por região e

individualmente. A tabela abaixo representa a matriz de correlação para os seis estados das

regiões sul e sudeste em conjunto. Os valores dos coeficientes de correlação que apresentam

*, são os que são relevantes para um nível de significância de 5%.

Page 59: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

48

Tabela 5: Matriz de correlações para todos os estados

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA.

Tabela 5: Matriz de correlações para todos os estados (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA.

desmat po lav bov past trat lendesmat 1,0000

po -0.1802* 1,0000lav -0.1793* 0.4028* 1,0000bov 0.1729* -0,0074 0.0944* 1,0000past -0,0436 0.0739* 0.1852* 0.7423* 1,0000trat 0.1206* 0.0716* 0.1031* 0.1591* 0.1215* 1,0000len -0,0148 -0,0057 -0,0180 -0,0214 -0,0180 -0,0167 1,0000tor -0.1432* -0,0254 0,0440 -0,0107 -0,0016 -0,0364 0,0405pib 0,0129 -0,0252 -0,0021 -0,0102 0,0054 -0.0529* 0,0011

pibind 0,0141 -0,0106 -0,0021 -0,0037 0,0086 -0,0478 -0,0004pibserv 0,0111 -0,0354 -0,0035 -0,0144 0,0037 -0.0566* 0,0021pibagr 0,0496 0.1297* 0.1433* 0,0110 -0,0265 0.1495* -0,0167

varprod 0.0978* -0,0224 0,0143 -0,0066 -0,0023 -0,0469 0,0055prodmed 0.0840* -0,0075 0,0260 -0,0083 0,0012 -0,0498 0,0074

idh -0.1729* 0.0649* 0,0108 -0.2346* -0.1741* -0,0255 -0,0091ct 0.1538* -0.2433* -0.2137* 0.0657* -0,0152 0,0485 0,0128

Município -0.1834* 0.2386* 0.2250* - 0,0208 0.0594* -0,0499 -0,0349drj 0.3587* -0.1568* -0,0362 0,0036 -0,0384 -0,0517 0,0172des 0,0418 -0,0135 -0,0250 0,0054 0,0108 0,0001 0,0163dsp -0.2146* 0.1909* 0.1453* -0,0442 0,0004 -0,0465 0.0639*dpr 0.0616* -0.1025* 0,0385 0.2007* 0.2208* 0.0845* 0,0421dsc 0.0654* 0.1137* -0,0465 0,0513 0,0327 0.0948* -0.1991*drg -0.0669* -0.1473* -0.1549* -0.2145* -0.2571* -0.0914* 0,0363

tor pib pibind pibserv pibagr varprod prodmedtor 1,0000pib 0,0000 1,0000

pibind -0,0021 0.9797* 1,0000pibserv 0,0012 0.9916* 0.9458* 1,0000pibagr 0,0124 -0.0613* -0.0726* -0.0624* 1,0000

varprod 0,0063 0.4797* 0.4470* 0.4905* -0,0276 1,0000prodmed 0,0085 0.4235* 0.3684* 0.4500* -0,0467 0.8573* 1,0000

idh 0.0634* 0.0897* 0.0726* 0.0978* 0,0340 0.0666* 0.0856*ct -0,0007 0,0075 0,0158 0,0023 -0,0232 0,0026 0,0188

Município| -0.0247 - -0,0039 -0,0077 0,0013 0,0296 0,0067 0,0180drj 0,0177 0,0101 -0,0081 0,0219 -0,0283 0.0809* 0.0929*des 0,0124 -0,0017 -0,0003 -0,0040 -0,0099 -0,0135 -0,0183dsp 0,0421 0,0034 -0,0073 0,0106 -0,0127 0,0333 0.0528*dpr -0,0435 -0,0049 0,0026 -0,0090 -0,0444 -0,0296 -0,0415dsc -0.0619* -0,0008 0,0078 -0,0072 0.0909* -0,0265 -0,0348drg 0,0339 -0,0029 0,0040 -0,0071 0,0021 -0,0232 -0,0321

Page 60: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

49

Tabela 5: Matriz de correlações para todos os estados (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

Tabela 5: Matriz de correlações para todos os estados (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA.

Percebemos que a diagonal de uma matriz de correlação é 1, pois representa a

associação entre a variável e ela mesma. Assim, as correlações relevantes são aquelas entre o

desmatamento (variável Y) e as demais variáveis, que podemos identificar na primeira coluna

da tabela 5. Entretanto, correlações entre outras variáveis podem se mostrar de extrema

importância, pois serão úteis para explicar relações indiretas entre as variáveis.

Nesse caso, onde todos os estados da amostra estão sendo tratados, verificamos que os

valores relevantes para o nível de significância de 5% são as correlações entre dados de

desmatamento e: pessoal ocupado (-0,1802), lavoura (-0,1793), rebanho bovino (-0,1729),

tratores (+0,1206), madeira em toras (-0,1432), variação da produtividade agrícola (+0,0978),

produtividade agrícola média (+0,0840), IDH (-0,1729), custo de transporte (+0,1538),

dummy para município problema (-0,1834) e dummies estaduais (exceto dummy Espírito

Santo).

A análise desses dados permite a conclusão de que o desmatamento apresenta uma

correlação bem fraca (positiva ou negativa, dependendo do caso) com essas variáveis. Ao

contrário do que se esperava não se verificou nenhuma associação linear entre desmatamento

idh ct m drj des dsp dpridh 1,0000ct 0.0862* 1,0000

Município| -0.0568* - 0.5472* 1,0000drj -0.0653* -0,0380 -0,0275 1,0000des -0.2525* -0,0322 -0,0382 -0,0437 1,0000dsp 0.2945* -0.2416* 0.1834* -0.1715* -0.1628* 1,0000dpr -0.4445* 0.0723* 0,0298 -0.1129* -0.1072* -0.4202* 1,0000dsc 0.1228* 0.0961* -0.0677* -0.0863* -0.0819* -0.3212* -0.2115*drg 0.1591* 0.1831* -0.1731* -0.0974* -0.0924* -0.3623* -0.2386*

unic m

dsc drgdsc 1,0000drg -0.1824* 1,0000

Page 61: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

50

e área de pastagem. Pelo contrário, além dessa associação não ser relevante para o nível de

significância considerado, ela apresenta sinal oposto ao esperado. O coeficiente de correlação

entre desmatamento e pastagem apresentou sinal negativo (-0,0436) indicando que à medida

que o desmatamento aumenta as áreas de pastagem diminuiriam, fato que não é corroborado

na prática. Em geral, o maior desmatamento está associado à conversão de florestas para fins

agropecuários, isto é, num aumento da extensão das áreas de lavoura e pastagem.

Uma possível explicação para a inexistência de correlação significativa entre

desmatamento e área de pastagem se deve ao fato de que as variáveis rebanho bovino e área

de pastagem são fortemente correlacionadas (0,7423). Assim, uma variável captaria o efeito

da outra, pois se há um aumento do rebanho bovino, a área de pastagem deve ser maior, a não

ser que se esteja praticando uma pecuária mais intensiva. Outra explicação plausível seria em

relação às áreas de lavoura. Estas podem estar ocupando espaços antes ocupados pelas áreas

de pastagens. Ou seja, que haja uma conversão de áreas de pastagem em áreas de lavoura,

implicando, assim, que esta variável esteja negativamente correlacionada com o

desmatamento.

A análise dos coeficientes de correlação a nível regional e estadual mostra resultados

mais relevantes e com diferentes tendências. É interessante observar que “todos os estados” se

parece muito a Região Sudeste e com o estado de São Paulo. Provavelmente, isso se deve ao

fato de que o estado de São Paulo possui quase 50% dos dados da amostra. Os resultados para

as regiões sudeste e sul se mostraram bem diferentes.

A um nível de significância de 5%, as variáveis da região sudeste (tabela 6) que

apresentaram correlações mais significativas com o desmatamento foram: pessoal ocupado na

área rural, área de lavoura, rebanho bovino, lenha, madeira em toras, PIB agrícola, variação

da produtividade agrícola, produtividade agrícola média, dummy município problema e

dummies para os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. Já os estados da

região sul (tabela 7), apresentaram coeficiente de correlação relevante com área de lavoura,

Page 62: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

51

rebanho bovino, trator, madeira em toras, PIB agrícola, IDH, custo de transporte, dummy

município problema e dummies para Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Esse resultado é bastante significativo, pois na região sul há predomínio de uma

agricultura mais familiar, de subsistência. Sendo assim, o setor agrícola não é um grande

empregador de mão de obra. A região sudeste, por sua vez, é uma área já saturada, onde não

há novas terras para expandir as fronteiras agrícolas, logo as variáveis de produtividade

agrícola são relevantes nessa região e se correlacionam com o desmatamento. As tabelas com

os resultados descritos acima se encontram a seguir.

Tabela 6: Matriz de Correlações Região Sudeste

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

desmat po lav bov past trat lendesmat 1,0000

po -0,0584 1,0000lav -0.1639* 0.3859* 1,0000bov 0.2017* 0,0294 0.1706* 1,0000past -0,0475 0.0878* 0.2333* 0.7715* 1,0000trat 0.3749* 0.1770* 0.2513* 0.3418* 0.2633* 1,0000len -0,0158 -0,0196 -0,0307 -0,0211 -0,0186 -0,0242 1,0000tor -0.1729* -0,0459 0,0483 -0,0107 0,0046 -0.0801* 0,0411pib 0,0030 -0,0256 -0,0092 -0,0022 0,0018 -0,0472 0,0069

pibind -0,0117 -0,0305 -0,0275 0,0207 0,0244 -0,0305 0,0060pibserv -0,0050 -0,0316 -0,0070 -0,0226 -0,0110 -0,0692 0,0081pibagr 0.2625* 0.2052* 0.1434* 0.1636* 0,0238 0.3487* -0,0289

varprod -0,0317 0,0178 0,0252 -0,0193 -0,0026 -0,0551 0,0080prodmed -0,0357 0,0216 0,0292 -0,0208 -0,0016 -0,0608 0,0092

idh -0.1293* 0,0082 -0,0239 -0.2632* -0.1896* -0,0682 -0,0290ct 0.1993* -0.3021* -0.2548* 0.1013* 0,0004 0.0782* 0,0405

Município -0.1787* 0.2566* 0.2029* - 0,0094 0,0565 -0,0694 -0,0575drj .* .* .* .* .* .* .*des .* .* .* .* .* .* .*dsp .* .* .* .* .* .* .*dpr 0,0623 -0,0686 0.1277* 0.2394* 0.2676* 0.1229* 0.0925*dsc 0.0722* 0.2299* -0,0023 0,0449 0,0331 0.1561* -0.1846*drg -0.1336* -0.1445* -0.1321* -0.2940* -0.3126* -0.2763* 0.0766*

Page 63: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

52

Tabela 6: Matriz de Correlações Região Sudeste (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

Tabela 6: Matriz de Correlações Região Sudeste

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA.

Tabela 6: Matriz de Correlações Região Sudeste

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

tor pib pibind pibserv pibagr varprod prodmedtor 1,0000pib 0,0085 1,0000

pibind 0,0014 0.8175* 1,0000pibserv 0,0086 0.9586* 0.6231* 1,0000pibagr 0,0392 0,0071 -0,0659 -0,0146 1,0000

varprod 0,0086 0.7542* 0.6563* 0.7035* 0,0003 1,0000prodmed 0,0099 0.7809* 0.6511* 0.7425* 0,0014 0.9932* 1,0000

idh 0,0668 0.1780* 0.1127* 0.1881* -0,0188 0.1280* 0.1503*ct 0,0431 0,0274 0,0708 0,0069 -0.0815* -0,0120 -0,0169

Município -0.0454 - -0,0180 0,0548 0,0012 0,0247 0,0035 0,0126drj .* .* .* .* .* .* .*des .* .* .* .* .* .* .*dsp .* .* .* .* .* .* .*dpr -0,0219 -0,0220 -0,0427 -0,0013 -0.1330* 0,0050 -0,0030dsc -0,0506 0,0241 0,0560 -0,0047 0.1715* -0,0344 -0,0291drg 0,0708 0,0004 -0,0079 0,0057 -0,0217 0,0271 0,0305

idh ct m drj des dsp dpridh 1,0000ct 0.1620* 1,0000

-0.1494* - 0.7707* 1,0000drj .* .* .* .des .* .* .* .* .dsp .* .* .* .* .* .dpr -0.5669* -0.0845* 0.1509* .* .* .* 1,0000dsc 0.2695* -0,0062 -0,0126 .* .* .* -0.5014*drg 0.3421* 0.0946* -0.1467* .* .* .* -0.5792*

unic m

munic io_~m |

dsc drgdsc 1,0000drg -0.4150* 1,0000

Page 64: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

53

Tabela 7: Matriz de Correlações Região Sul

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA.

Tabela 7: Matriz de Correlações Região Sul

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

desmat po lav bov past trat lendesmat 1,0000

po -0,0584 1,0000lav -0.1639* 0.3859* 1,0000bov 0.2017* 0,0294 0.1706* 1,0000past -0,0475 0.0878* 0.2333* 0.7715* 1,0000trat 0.3749* 0.1770* 0.2513* 0.3418* 0.2633* 1,0000len -0,0158 -0,0196 -0,0307 -0,0211 -0,0186 -0,0242 1,0000tor -0.1729* -0,0459 0,0483 -0,0107 0,0046 -0.0801* 0,0411pib 0,0030 -0,0256 -0,0092 -0,0022 0,0018 -0,0472 0,0069

pibind -0,0117 -0,0305 -0,0275 0,0207 0,0244 -0,0305 0,0060pibserv -0,0050 -0,0316 -0,0070 -0,0226 -0,0110 -0,0692 0,0081pibagr 0.2625* 0.2052* 0.1434* 0.1636* 0,0238 0.3487* -0,0289

varprod -0,0317 0,0178 0,0252 -0,0193 -0,0026 -0,0551 0,0080prodmed -0,0357 0,0216 0,0292 -0,0208 -0,0016 -0,0608 0,0092

idh -0.1293* 0,0082 -0,0239 -0.2632* -0.1896* -0,0682 -0,0290ct 0.1993* -0.3021* -0.2548* 0.1013* 0,0004 0.0782* 0,0405

-0.1787* 0.2566* 0.2029* - 0,0094 0,0565 -0,0694 -0,0575drj .* .* .* .* .* .* .*des .* .* .* .* .* .* .*dsp .* .* .* .* .* .* .*dpr 0,0623 -0,0686 0.1277* 0.2394* 0.2676* 0.1229* 0.0925*dsc 0.0722* 0.2299* -0,0023 0,0449 0,0331 0.1561* -0.1846*drg -0.1336* -0.1445* -0.1321* -0.2940* -0.3126* -0.2763* 0.0766*

munic io_~m |

tor pib pibind pibserv pibagr varprod prodmedtor 1,0000pib 0,0085 1,0000

pibind 0,0014 0.8175* 1,0000pibserv 0,0086 0.9586* 0.6231* 1,0000pibagr 0,0392 0,0071 -0,0659 -0,0146 1,0000

varprod 0,0086 0.7542* 0.6563* 0.7035* 0,0003 1,0000prodmed 0,0099 0.7809* 0.6511* 0.7425* 0,0014 0.9932* 1,0000

idh 0,0668 0.1780* 0.1127* 0.1881* -0,0188 0.1280* 0.1503*ct 0,0431 0,0274 0,0708 0,0069 -0.0815* -0,0120 -0,0169

-0.0454 - -0,0180 0,0548 0,0012 0,0247 0,0035 0,0126drj .* .* .* .* .* .* .*des .* .* .* .* .* .* .*dsp .* .* .* .* .* .* .*dpr -0,0219 -0,0220 -0,0427 -0,0013 -0.1330* 0,0050 -0,0030dsc -0,0506 0,0241 0,0560 -0,0047 0.1715* -0,0344 -0,0291drg 0,0708 0,0004 -0,0079 0,0057 -0,0217 0,0271 0,0305

munic io_~m |

Page 65: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

54

Tabela 7: Matriz de Correlações Região Sul

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA. Tabela 7: Matriz de Correlações Região Sul

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA.

Na análise estadual temos os seguintes resultados. Para o estado do Rio de Janeiro

(tabela 8), as correlações significativas ao nível de 5% foram entre desmatamento e: área de

lavoura (-0,3675), madeira em toras (-0,3666), PIB municipal industrial (0,3763) e custo de

transporte (0,3176). Tanto área de lavoura quanto de pastagem apresentam associação

negativa e fraca com o desmatamento, o que significa que quanto mais se desmata no estado,

as áreas de lavoura e a extração de madeira em toras são menores e, cada vez menos intensas.

idh ct m drj des dsp dpridh 1,0000ct 0.1620* 1,0000

-0.1494* - 0.7707* 1,0000drj .* .* .* .des .* .* .* .* .dsp .* .* .* .* .* .dpr -0.5669* -0.0845* 0.1509* .* .* .* 1,0000dsc 0.2695* -0,0062 -0,0126 .* .* .* -0.5014*drg 0.3421* 0.0946* -0.1467* .* .* .* -0.5792*

unic m

munic io_~m |

dsc drgdsc 1,0000drg -0.4150* 1,0000

Page 66: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

55

Tabela 8: Matriz de Correlações Rio de Janeiro

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

Tabela 8: Matriz de Correlações Rio de Janeiro (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

Tabela 8: Matriz de Correlações Rio de Janeiro (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

Os resultados do Espírito Santo se encontram na tabela 9. As variáveis que

apresentaram associação relevante com o desmatamento foram: pessoal ocupado (-0,3396),

tor pib pibind pibserv pibagr varprod prodmedtor 1,0000pib 0,0304 1,0000

pibind 0,0140 -0,0614 1,0000pibserv 0,0251 0.9835* -0,2409 1,0000pibagr 0,2001 -0.5061* 0,0216 -0.5027* 1,0000

varprod 0,0266 -0,0522 0,0414 -0,0582 0,0197 1,0000prodmed 0,0377 0,0040 0,0094 0,0021 0,0077 0.9856* 1,0000

idh 0,0054 0.3950* -0,1150 0.4045* -0,1569 -0,1564 -0,0981ct -0,2002 0,1549 0,0969 0,1343 -0,2170 0,0456 0,0607

Município 0,1830 -0,0205 0,1340 0,0421 0,2317 0,0440 0,0616

idh ct m Municípioidh 1,0000ct -0,0479 1,0000

Município -0.1944 - 0.3483* 1,0000

desmat po lav bov past trat lendesmat 1,0000

po -0,1345 1,0000lav -0.3675* 0.6343* 1,0000bov 0,2042 -0.2807* -0.6621* 1,0000past 0,0317 -0.2999* -0.5730* 0.8376* 1,0000trat -0,0343 0,0427 0,0118 -0,0280 -0,0562 1,0000len 0,0127 0,0695 0,0489 -0,0755 -0,1239 0.2570* 1,0000tor -0.3666* 0.3690* 0.6873* -0.7698* -0.6759* -0,0422 -0,0757pib -0,0121 -0.2586* -0,0150 -0,1447 -0,0035 -0,0920 -0,0391

pibind 0.3763* -0,0086 -0,0383 0,1379 -0,1243 -0,0248 -0,0022pibserv -0,0795 -0.2550* -0,0124 -0,1635 0,0213 -0,0831 -0,0381pibagr -0,0480 0.7106* 0.5405* -0,1742 -0.2499* -0,1618 0,0710

varprod 0,2318 -0,0637 -0,0082 -0,0236 -0,0357 -0,0668 -0,0449prodmed 0,2009 -0,0540 0,0137 -0,0351 -0,0247 -0,0630 -0,0562

idh -0,1557 -0,0273 -0,0370 -0,1461 -0,0912 0,1523 -0,0043ct 0.3176* -0.2610* -0.3053* 0,1687 0,1384 -0,1015 -0,0010

Município -0,1753 0,1249 0.2992* - 0,1191 -0,0435 -0,0191 -0,1107

Page 67: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

56

área de lavoura (-0,3564), rebanho bovino (0,5067), tratores (0,2895), madeira em toras (-

0,2643) e PIB municipal agrícola (0,4540). Por outro lado, algumas relações insignificantes

foram entre desmatamento e: pastagem, extração de lenha, PIB municipal total, industrial e de

serviços, variação da produtividade agrícola, produtividade agrícola média, IDHM, custo de

transporte e dummy para município problema.

Merece destaque a correlação entre desmatamento e rebanho bovino que apresenta

valor positivo e de intensidade moderada. Ou seja, quanto mais se desmata, maior é o número

de cabeças de gados. E, como a correlação entre desmatamento e áreas de lavoura é negativa,

é provável que haja uma conversão de áreas de lavoura para uso pecuário (para acomodar o

maior rebanho).

Tabela 9: Matriz de Correlação Espírito Santo

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

desmat po lav bov past trat lendesmat 1,0000

po -0.3453* 1,0000lav -0.3631* 0.3965* 1,0000bov 0.5066* -0,0474 -0,0738 1,0000past -0,0252 -0,0271 0,1573 0.5439* 1,0000trat 0.2930* 0,0574 -0.4017* 0,0294 -0.3341* 1,0000len -0,2249 0,0015 0,0030 -0,0361 0,0201 -0,1714 1,0000tor -0.2691* 0,1121 0,0957 -0,0568 0,1262 -0,2160 0.5509*pib -0,0561 0,0532 0,1104 -0,0767 -0,0615 -0,1422 0,0308

pibind 0,0515 -0,0552 -0,0134 0,0163 0,0548 0,0127 0,0056pibserv -0,0346 -0,0489 -0,0489 0,0423 0,1435 -0,1363 0,0497pibagr -0.4540* 0.3324* 0.5409* -0.3938* -0,0925 -0.3166* 0,1598

varprod -0,0103 -0,0490 -0,0784 -0,0096 -0,0606 -0,0457 0,0207prodmed -0,0493 -0,0206 -0,0373 -0,0386 -0,0986 -0,1077 0,0382

idh 0,0287 0,0699 -0,0723 -0,0573 -0.2918* 0,2032 0,0143ct 0,0999 0,0186 -0.3135* 0,1459 0,0089 0,0178 -0,0989

Município -0.0158 0,1280 0.5156* 0,0894 0,1197 -0.3215* 0,0236

Page 68: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

57

Tabela 9: Matriz de Correlação Espírito Santo (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

Tabela 9: Matriz de Correlação Espírito Santo (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

Em São Paulo (tabela 10), o desmatamento apresentou correlação significativa com o

número de pessoal ocupado nas áreas rurais (-0,2256), com a extração de madeira em toras (-

0,2325), com o IDH (-0,1169) e com a dummy para município problema (-0,1655). O

desempenho de todos os coeficientes revelou um baixo grau de associação negativa entre as

variáveis. As variáveis pessoal ocupado e IDH tiveram um sinal esperado: quanto mais se

desmata menos empregos e pior as condições de vida da população rural.

tor pib pibind pibserv pibagr varprod prodmedtor 1,0000pib 0,0329 1,0000

pibind -0,0849 0.4717* 1,0000pibserv 0,0365 -0.4327* -0,0995 1,0000pibagr 0.2781* 0,0580 -0,1128 -0,0308 1,0000

varprod 0,0271 -0.2810* -0,2255 0.8481* -0,0851 1,0000prodmed 0,0709 0,0047 -0,2596 0.6822* -0,0593 0.9327* 1,0000

idh 0,1681 0.3701* 0,0437 -0,1147 -0,0379 -0,0098 0,1561ct -0,1553 0,1060 -0,0148 -0,0984 -0,1449 -0,0212 0,0008

Município -0,0317 -0,0138 0,0620 0,0162 0.3068* 0,0093 0,0547

idh ct m Municípioidh 1,0000ct 0,0234 1,0000

Município -0,0563 0.5183* 1,0000

Page 69: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

58

Tabela 10: Matriz de Correlações São Paulo

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

Tabela 10: Matriz de Correlações São Paulo (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA. Tabela 10: Matriz de Correlações São Paulo (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

Os resultados para os estados da região sul se encontram nas tabelas 11, 12 e 13

abaixo. No Paraná (tabela 11), destacaram-se os coeficientes de correlação entre

desmatamento e: pessoal ocupado (-0,1127), rebanho bovino (0,4090), tratores (0,4678),

desmat po lav bov past trat lendesmat 1,0000

po -0.2256* 1,0000lav 0,0029 0.3604* 1,0000bov 0,0655 0,0174 -0,0158 1,0000past -0,0181 0.1994* 0.1075* 0.6160* 1,0000trat -0,0034 0,0202 0,0170 0,0361 0,0138 1,0000len 0,0292 0,0447 0.1328* 0,0516 0,0697 0,0079 1,0000tor -0.2325* -0,0068 -0,0032 0,0048 -0,0268 0,0046 -0,0155pib 0,0363 -0,0321 -0,0042 -0,0172 0,0185 -0,0576 0,0761

pibind 0,0305 -0,0187 0,0024 -0,0153 0,0241 -0,0550 0.0838*pibserv 0,0397 -0,0401 -0,0095 -0,0171 0,0156 -0,0593 0,0700pibagr -0,0188 -0,0284 0.1407* -0.1194* -0.1259* 0.1046* -0,0158

varprod 0,0448 -0,0113 0,0306 0,0004 0,0237 -0,0535 0,0056prodmed 0,0394 0,0157 0,0479 0,0028 0,0330 -0,0523 0,0068

idh -0.1169* 0,0144 -0,0705 -0.2095* -0.2235* 0,0128 -0,0095ct 0,0734 -0.0939* 0,0185 -0,0827 -0.1130* 0,0021 -0,0046

Município -0.1655* 0.2212* 0.1452* - 0,0163 0.1174* -0,0249 0,0207

tor pib pibind pibserv pibagr varprod prodmedtor 1,0000pib -0,0023 1,0000

pibind -0,0035 0.9860* 1,0000pibserv -0,0013 0.9942* 0.9625* 1,0000pibagr -0,0146 -0,0731 -0.0921* -0,0678 1,0000

varprod 0,0050 0.6397* 0.5926* 0.6607* -0,0454 1,0000prodmed 0,0069 0.5352* 0.4682* 0.5711* -0,0726 0.7684* 1,0000

idh 0,0494 0.1409* 0.1351* 0.1415* 0.1202* 0.1708* 0.1702*ct -0,0764 0,0139 0,0172 0,0114 0,0134 0,0465 0.1007*

Município -0.0002 - -0,0085 -0,0038 0,0111 -0,0321 -0,0193 -0,0059

idh ct m Municípioidh 1,0000ct 0.1598* 1,0000

Município -0,0728 0,0374 1,0000

Page 70: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

59

lenha (0,1946), madeira em toras (-0,1748), PIB municipal agrícola (0,3399), IDH (-0,1333),

Custo de Transporte (0,2627), dummy para município problema (-0,1728). Já para Santa

Catarina (tabela 12) , as variáveis que apresentam coeficientes de correlação relevantes, ao

nível de significância de 5%, com o desmatamento são: lavoura (-0,5892), pastagem (-

0,3168), trator (0,3696), madeira em toras (-0,1618), Pib municipal agrícola (0,1477), IDH (-

0,1789), Custo de Transporte (0,1707) e dummy para município problema (-0,2404).

Por fim, no Rio do Grande do Sul (tabela 13) verificou-se que o desmatamento

apresenta associação linear significativa com as seguintes variáveis de desempenho sócio-

econômico: área de pastagem (-0,1466), tratores (0,3143), lenha(-0,1513), madeira em toras (-

0,4986), Pib municipal agrícola (0,2704), custo de transporte (0,1814) e dummy para

município problema (-0,2397). A análise acima também confirmou uma tendência

regional: enquanto para os estados do sudeste as correlações mais relevantes são entre

desmatamento e pessoal ocupado, lavoura e madeira em toras; para os estados da região sul os

coeficientes mais significativos foram entre desmatamento e área de pastagem, tratores, lenha,

madeira em toras e pib agrícola. Esse resultado aponta para o fato do desmatamento, na região

sudeste, estar ligado à fatores relacionados com a especulação imobiliária e de infra-estrutura,

e não tanto com variáveis de desempenho agrícola.

Essa primeira análise foi importante para direcionar a abordagem que seria adotada

para a regressão. Como cada estado verificou uma tendência muito particular e o estado de

São Paulo, por apresentar quase metade dos dados, ter um resultado próximo das análises da

região sul e de ambas regiões juntas, optou-se por rodar um modelo de regressão para cada

estado, por região e para ambas, conforme foi feito para a correlação. A seção a seguir aborda

esse tópico.

Page 71: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

60

Tabela 11: Matriz de Correlações Paraná

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA. Tabela 11: Matriz de Correlações Paraná (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA. Tabela 11: Matriz de Correlações Paraná (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

desmat po lav bov past trat lendesmat 1,0000

po -0.1127* 1,0000lav 0,1104 0.3191* 1,0000bov 0.4090* -0.2567* -0.3230* 1,0000past -0,0272 -0.1384* -0.3074* 0.5593* 1,0000trat 0.4678* -0.1328* 0.1443* 0.2469* -0,0069 1,0000len 0.1946* 0,0117 -0.1746* 0.4413* 0.3705* 0.1290* 1,0000tor -0.1748* -0,0402 0,0323 -0,0070 0,0047 -0,0960 -0,0293pib -0,0060 -0,0140 0,0051 -0,0214 -0,0273 -0,0802 -0,0023

pibind -0,0293 0,0005 -0,0170 -0,0153 -0,0123 -0.1316* -0,0135pibserv -0,0110 -0,0239 0,0035 -0,0353 -0,0229 -0,0652 0,0003pibagr 0.3399* 0,0630 0.2497* 0.2292* -0.2166* 0.2845* 0,0637

varprod -0,0276 0,0012 0,0136 -0,0327 -0,0264 -0,0888 -0,0076prodmed -0,0282 0,0009 0,0145 -0,0337 -0,0272 -0,0870 -0,0089

idh -0.1333* -0,0861 0,0900 -0.2419* -0,0854 0,0134 -0.1411*ct 0.2627* -0.2432* -0.2684* 0.3751* 0.2793* 0.2536* 0.1925*

Município -0.1728* 0.2332* 0.1145* - 0.2378* -0.1656* -0.1611* -0.1207*

tor pib pibind pibserv pibagr varprod prodmedtor 1,0000pib 0,0079 1,0000

pibind -0,0043 0.9477* 1,0000pibserv 0,0100 0.9862* 0.8843* 1,0000pibagr 0,0738 0,0306 -0,0021 -0,0044 1,0000

varprod 0,0065 0.9766* 0.9036* 0.9759* -0,0003 1,0000prodmed 0,0066 0.9751* 0.8996* 0.9757* -0,0010 0.9999* 1,0000

idh 0,0355 0.2042* 0.1411* 0.2385* -0.2016* 0.1954* 0.1985*ct 0,0292 -0,0016 -0,0032 0,0034 -0,0825 -0,0108 -0,0114

Município -0,0675 0,0154 0,0120 0,0127 0,0745 0,0208 0,0217

idh ct m Municípioidh 1,0000ct 0.1801* 1,0000

Município -0.0392 - 0.7412* 1,0000

Page 72: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

61

Tabela 12: Matriz de Correlações Santa Catarina

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA. Tabela 12: Matriz de Correlações Santa Catarina (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA. Tabela 12: Matriz de Correlações Santa Catarina (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

desmat po lav bov past trat lendesmat 1,0000

po -0,0934 1,0000lav -0.5892* 0.1453* 1,0000bov 0,0296 -0.2579* 0.2030* 1,0000past -0.3168* -0.1993* 0.4611* 0.5818* 1,0000trat 0.3696* 0,0250 -0.2781* 0,0373 -0.1825* 1,0000len -0,0048 0,0727 -0,0475 -0,0761 -0,0684 0,0103 1,0000tor -0.1618* -0,0507 0,1252 0,0962 0.1882* -0,0775 0,0588pib 0,0079 -0,1097 -0,0719 -0,0230 -0,0097 -0,0700 0,0413

pibind -0,0207 -0.1407* -0,0606 0,0902 0,0500 -0,0660 0,0328pibserv 0,0132 -0,0405 -0,0350 -0,0869 -0,0452 -0,0703 0,0292pibagr 0.1477* 0,1117 -0,1020 -0.2852* -0.1454* 0.2319* 0,0047

varprod -0,0472 -0,0285 -0,0003 -0,0955 0,0055 -0,1137 0,0394prodmed -0,0585 -0,0070 0,0187 -0,1028 0,0123 -0,1205 0,0404

idh -0.1789* 0,0047 0,1105 -0.1977* 0,0287 -0,1082 0,0558ct 0.1707* -0.2523* -0.1837* 0.3456* 0,0057 0.1922* 0,0841

Município -0.2404* 0.1977* 0.1988* - 0.2289* 0,0348 -0.2429* -0,1167

tor pib pibind pibserv pibagr varprod prodmedtor 1,0000pib 0,0274 1,0000

pibind 0,0224 0.7506* 1,0000pibserv 0,0157 0.7809* 0.1814* 1,0000pibagr 0,0257 -0,1317 -0.3166* -0,0153 1,0000

varprod 0,0325 0.7266* 0.1984* 0.9064* -0,0554 1,0000prodmed 0,0337 0.5141* 0,1221 0.6599* -0,0421 0.7651* 1,0000

idh 0.1755* 0.3059* 0,0871 0.3887* -0,1044 0.3838* 0.4018*ct 0,0938 0,0675 0,1358 -0,0131 -0.1513* -0,0015 -0,0431

Município -0.0422 - -0,0229 0,0739 0,0269 0,0906 -0,0043 0,0520

idh ct m Municípioidh 1,0000ct -0,0219 1,0000

Município -0,0733 0.8169* 1,0000

Page 73: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

62

Tabela 13: Matriz de Correlações Rio Grande do Sul

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA. Tabela 13: Matriz de Correlações Rio Grande do Sul (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

Tabela 13: Matriz de Correlações Rio Grande do Sul (continuação)

Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuário (IBGE) e do IPEADATA.

3.2 Modelo de Desmatamento

3.2.1 Metodologia

tor pib pibind pibserv pibagr varprod prodmedtor 1,0000pib -0,0078 1,0000

pibind -0,0181 0.6735* 1,0000pibserv 0,0009 0.9658* 0.4613* 1,0000pibagr -0,0983 0,0327 0,0846 -0,0316 1,0000

varprod 0,0254 0.3021* 0.3233* 0.2499* 0,0314 1,0000prodmed 0,0304 0.3908* 0.3025* 0.3629* 0,0376 0.9798* 1,0000

idh 0,0376 0.1723* 0,0761 0.1804* -0,0028 0.1357* 0.1737*ct -0,1092 0,0546 0.1464* 0,0169 -0,0361 -0,0270 -0,0398

Município 0.1855* - -0,0521 0.1287* - 0,0161 -0,0569 -0,0149 0,0090

idh ct m Municípioidh 1,0000ct 0.1873* 1,0000

Município -0.2070* - 0.7789* 1,0000

desmat po lav bov past trat lendesmat 1,0000

po -0,0362 1,0000lav -0,0286 0.6928* 1,0000bov -0,0920 0.2919* 0.4264* 1,0000past -0.1466* 0.2513* 0.3939* 0.8771* 1,0000trat 0.3143* 0.3810* 0.6366* 0.3856* 0.3590* 1,0000len -0.1513* 0.3547* 0.2771* 0.1620* 0.2707* -0,0486 1,0000tor -0.4986* 0,0123 -0,0160 0,0801 0,0841 -0,1035 0,0538pib 0,0209 -0,0383 0,0128 0,0291 0,0353 -0,0272 -0,0493

pibind 0,0413 -0,0725 0,0019 0,0718 0,0799 0,0771 -0,1192pibserv -0,0004 -0,0383 -0,0037 -0,0035 0,0015 -0,0824 -0,0201pibagr 0.2704* 0.4123* 0.4410* 0.3314* 0.3224* 0.5641* 0,0403

varprod -0,0451 0,0907 0,0784 0,0161 0,0402 -0,0251 0,0532prodmed -0,0538 0,1034 0,0924 0,0217 0,0498 -0,0342 0,0671

idh -0,0198 0,0127 0,0086 -0,0881 -0,0359 0,0600 -0,0731ct 0.1814* -0.4151* -0.3141* -0,1164 -0,1237 -0,0352 -0.2469*

Município -0.2397* 0.3351* 0.2165* 0,0929 0,0868 -0,0183 0.1913*

Page 74: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

63

O exercício que será apresentado a seguir buscou verificar se o desmatamento da Mata

Atlântica possui, de fato, como fatores propulsores a conversão de áreas de florestas em áreas

de lavoura ou pecuária. Para tal foi realizado um modelo de regressão linear múltipla onde se

contrastou, para o período de 1985-95/96, dados referentes ao desmatamento ocorrido nos

municípios das Regiões Sul e Sudeste17 do Brasil com variáveis de desempenho sócio-

econômico, obtidas para os mesmos estados.

Um modelo de regressão linear é considerado múltiplo quando a variável dependente 'Y'

depende de duas ou mais variáveis explicativas. Além das hipóteses básicas do modelo

clássico, aquele com apenas uma variável explicativa, supomos que:

O modelo de regressão múltipla seja linear nos parâmetros. Isto é, as variáveis não

precisam ser lineares, podem assumir outras formas funcionais como logarítmicas ou

quadráticas, por exemplo. Entretanto, os seus coeficientes devem ser lineares.

• Os valores das variáveis explicativas (ou, regressores) devem ser fixados em amostragem

repetida.

• Haja variabilidade suficiente em valores dos regressores.

O modelo de regressão linear múltipla proposto foi o seguinte:

Y = ά + ββββX1 + ββββ2222 X2 + ββββ3X3 +ββββ4444 X4 + ββββ5555 X5 + ββββ 6X6 + ββββ7777X7 + ββββ8X8+ββββ9X9 +ββββ10X10 +ββββ11X11

+ββββ12 X12 +ββββ13X13 +ββββ14X14 +ββββ15X15 + ββββ16X16 + ε

Onde:

Y = variação absoluta do desmatamento entre os períodos 1985-90 e 1990-95 (desmat);

17Devido a um problema metodológica, o estado de Minas Gerais não foi inserido nessa análise. Mais explicações podem ser obtidas em: YOUNG, C. E. F., Is Deforestation a solution for growth in rural areas? Evidence from the Brazilian Mata Atlantic, Working Paper Series, No. CBS-36-02, Centre for Brazillian Studies, University of.

Page 75: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

64

X1 = variação absoluta do número de pessoas ocupadas no setor agropecuário nos anos de

1985 e 1995/96 (PO);

X2= variação absoluta do rebanho bovino nos anos de 1985 e 1995/96 (BOV);

X3 = variação absoluta da área de lavoura nos anos de 1985 e 1995/96 (LAV);

X4 = variação absoluta da área de pastagem nos anos de 1985 e 1995/96 (PAST);

X5 = variação absoluta do número de tratores do setor agropecuário nos anos de 1985 e

1995/96 (TRAT);

X6 = variação absoluta de lenha nos anos de 1985 e 1995/96 (LEN);

X7 = variação absoluta de madeira em toras nos anos de 1985 e 1995/96 (TOR);

X8= variação absoluta do PIB municipal nos anos de 1985 e 1995/96 (PIB);

X9= variação absoluta do PIB municipal industrial nos anos de 1985 e 1995/96 (PIBIND);

X10=variação absoluta do PIB municipal de serviços nos anos de 1985 e 1995/96 (PIBSERV);

X11=variação absoluta do PIB municipal agrícola nos anos de 1985 e 1995/96 (PIBAGR);

X12=variação absoluta da produtividade agrícola nos anos de 1985 e 1995/96 (VARPROD);

X13= produtividade agrícola média nos anos de 1985 e 1995/96 (PRODMED);

X14= Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), para o ano de 1991 (IDH);

X15= variação absoluta do custo de transporte nos anos de 1980 e 1995/96 (CT);

X16= dummy para município problema (DUM);

ά = coeficiente de intercepto;

βi = declividade do valor médio de Y com relação a Xi, mantendo as demais variáveis

constantes, onde i =1,2,3,...,15,16;

ε = erro aleatório.

Ou seja, tomando-se o desmatamento como variável dependente e o número de

pessoal ocupado, o rebanho bovino, as áreas de pastagem e lavoura, o número de tratores, a

extração de madeira em toras e lenha, Pib municipal total, industrial, de serviços e agrícola,

Page 76: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

65

IDH, custo de transporte e dummy para município problema como variáveis explicativas18,

buscou-se verificar quais destas apresentam uma relação forte e significativa com o

desmatamento. Essa relação pode ser mensurada pelos coeficientes das variáveis, os βi 's.

Estes, medem a mudança do valor médio da variável dependente 'Y' a partir de uma variação

unitária na variável explicativa Xi, mantendo as demais variáveis explicativas constantes.

Isto é, este coeficiente fornece o efeito “direto” da mudança em uma unidade em Xi

sobre o valor médio de Y, líquido do efeito das demais variáveis explicativas. Assim, a

obtenção de um estimador com alto nível de significância corroboraria a hipótese sustentada

por este trabalho, uma vez que se rejeitaria a hipótese nula (H 0 : βi = 0). A rejeição da

hipótese nula sinaliza que há uma relação de causalidade entre o desmatamento e a variável i.

A opção por usar a regressão múltipla como modelagem se deu em função do grande

número de observações (1430 municípios, no total), número significativo de variáveis e

apenas dois instantes no tempo. Para a regressão, foram calculadas as variações absolutas do

desmatamento e das demais variáveis entre os anos de 1985 e 1995/96. Algumas excessões

são as seguintes variáveis: custo de transporte, cujo período de variação e de 1980/1995; o

IDHM, que foi usado para o ano de 1991, o que pode ser interpretado como uma média entre

os anos utilizados (1985-1995/96); e, variável dummy para município problema, que é

atemporal.

Assim, a hipótese a ser testada pode ser interpretada da seguinte maneira: a variação

do desmatamento no período 1985-95 é explicado pelas variações das variáveis de uso da

terra e contexto social no período 1985-1995/96? Quais destas variáveis são significativas

para explicar o maior desmatamento do período? A regressão foi rodada no programa E-

VIEWS , versão 4.1, e foram usadas as seguintes especificações: método dos mínimos

quadrados ordinários (OLS), com a opção de coeficiente do tipo White (heterocedasticity

consistent coefficiente covariance). Os resultados para o teste de significância dos βι's foram

18Ademais, haviam sido criadas algumas variáveis dummies estaduais. Mas como a análise de regressão optou

por uma abordagem estadual e regional, essas variáveis não foram inseridas nas regressões.

Page 77: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

66

obtidos por estado, por região (Sul e Sudeste) e para ambas regiões, e os resultados se

encontram na seção seguinte.

É importante destacar que num modelo de regressão linear múltipla, além do teste de

hipótese individual para cada coeficiente podem ser realizados testes para: (i) verificar se

todos os coeficientes são conjuntamente iguais a zero (teste global); (ii) verificar se dois ou

mais coeficientes são iguais; (iii) saber se os coeficientes satisfazem certas restrições; (iv) a

estabilidade do modelo, e (v) a forma funcional. Assim, se reconhece que este modelo é um

tanto simplista e que um tratamento mais apurado dos dados tornaria o trabalho mais preciso.

Seria interessante ter realizado outros tipos de testes, entretanto com o objetivo do trabalho é

verificar quais são as variáveis relevantes e significativas para explicar o desmatamento, o

teste de hipóteses para os parâmetros individuais atende o objetivo aqui proposto.

3.2.2.Análise dos Resultados

O teste de hipótese individual é um teste que utiliza uma estatística t-student para

testar uma hipótese sobre qualquer coeficiente de regressão parcial individual. Ou seja, o

objetivo do teste de hipótese é verificar se a relação entre as duas variáveis tem ou não tem

importância. As hipóteses que são testadas são a hipótese nula (H0: β ι = 0) e a hipótese

alternativa (H1: β ι é diferente de zero). A hipótese nula diz que, mantendo as demais

variáveis explicativas constantes, a variável Xi não tem nenhuma influência sobre Y. Ou seja,

essa hipótese tem por objetivo verificar se a variável explicativa tem realmente uma relação

com Y, a variável explicada. Assim, a decisão de aceitar ou não H0 é tomada com base no

valor da estatística teste obtida com os dados disponíveis.

Nesse trabalho, foi testado quais são as variáveis explicativas que têm relação

relevante e significativa com o desmatamento. Esta hipótese nula é facilmente testada pelas

abordagens do intervalo de confiança (probabilidade do intervalo conter o verdadeiro valor do

Page 78: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

67

parâmetro), do teste t e do p-valor. Vamos iniciar com a exposição dos resultados por estado.

As tabelas abaixo apresentam os valores encontrados para os β i's, as estatística t e os p-

valores.

Assim, assumiu-se que todas as equações são da forma linear-linear, e, então, foi

estimado um modelo de regressão múltipla com estimação de mínimos quadrados ordinários.

Procedeu-se da seguinte forma: ao nível de significância de 10% foram incluídas todas as

variáveis explicativas teoricamente relevantes. Em seguida, as variáveis foram sendo

deletadas na medida em que seus coeficientes não fossem estaticamente significantes ao nível

estabelecido, ou seja, quando seus p-valores fossem maiores que 0,10. Conforme já

mencionado, a regressão foi rodado no programa Eviews para cada estado, para cada região e

para ambas regiões conjuntamente.

Observando a quarta coluna da tabela abaixo, obtemos o p-valor para cada coeficiente

da regressão do estado do Rio de Janeiro. O p-valor (valor da probabilidade) é definido como

o mais baixo nível de significância com o qual a hipótese nula pode ser rejeitada. Compara-se

o p-valor com um nível de significância considerado razoável (no caso desse exercício, está

sendo considerado um nível de 10%). Assim, se o valor imaginado para o nível de

significância superar o p-valor, a hipótese nula é rejeitada.

Tabela 14: Resultados do Rio de Janeiro

Variável Estimativa Estatísca t p-valor C 11208.71 1.99 0.05

PO 0.15 2.04 0.05 LAV -0.184608 -3.732801 0.00 PAST -0.154200 -3.608306 0.00 TOR -1098301.00 -3.082466 0.00

VARPROD 0.03 6.73 0.00 IDH -13869.57 -1.714375 0.09

DUM -360.4649 -0.429817 0.67 Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA.

Page 79: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

68

A um nível de significância de 10%, observa-se na tabela 14 que a hipótese nula é

rejeitada para todas as variáveis, exceto para a a variável DUM. Ou seja, o desmatamento no

estado do Rio de Janeiro pode ser explicado pela variação do pessoal ocupado, das áreas de

lavoura e pastagem, pela madeira em toras, pela variação da produtividade agrícola e pelo

IDH. O mais baixos dos p-valores foram para as variáveis: área de lavoura, área de pastagem,

madeira em toras e variação da produtividade agrícola. Ademais, os municípios problemas,

aqueles que foram criados a partir de outros municípios, não tem influência no desmatamento.

Uma outra maneira de realizar o teste de hipótese, de acordo com GUJARATI (2000),

é através da adoção da regra de significância “2 – t”. Segundo essa regra se o número de

graus de liberdade de uma amostra for pelo menos 20 e o nível de significância ά for 5%,

então a hipótese nula β i= 0 pode ser rejeitada caso o valor da estatística t for maior que 2 em

valor absoluto19. Como o número de graus de liberdade é superior a 20 para todos os estados

da amostra, podemos aplicar a regra acima. Entretanto, seguindo essa regra as variáveis

significativas se restringem dado o menor nível de significância.

Com base na regra, a análise dos dados leva a conclusão de que, para um nível de

significância de 5%, a variável IDH não apresenta relação significativa com o desmatamento.

Assim, para esta variável, não se rejeitaria a hipótese nula. A variável Dummy para

município problema (Dum), também não é significativa. As demais variáveis apresentam sua

hipótese nula rejeitada.

A segunda coluna dessa tabela contem os valores dos β i's, ou seja, o valor dos

coeficientes das variáveis explicativas relevantes. A única variável que tem um sinal de

relação esperado é o IDH, que se relaciona inversamente com o desmatamento. Quanto pior

são as condições de vida da população mais desmatamento haverá. As demais variáveis

apresentaram sinais opostos ao esperado. O maior desmatamento no estado do Rio de Janeiro

19 Ao examinar a tabela de t, nota-se que, para aproximadamente 20 ou mais graus de liberdade, um valor t que

exceder 2 (em termos absolutos) é estatisticamente significante em nível 5%, implicando a rejeição da hipótese nula (Gujarati, p.119)

Page 80: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

69

está associado a: um maior número de pessoas ocupadas no campo, a menores áreas de

lavoura e pastagem, a uma menor extração de madeira em toras e a uma maior produtividade

das terras agrícolas.

Tabela 15: Resultados do Espírito Santo

Variável Estimativa Estatísca t p-valor C 467.38 2.17 0.03

PO -0.182746 -3.227754 0.00 BOV 0.13 4.10 0.00 PAST -0.112903 -2.596708 0.01 LEN -4.245732 -5.188166 0.00

DUM -198.8652 -0.796821 0.43 Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA. Comparando com o Rio de Janeiro, o estado do Espírito Santo (tabela 15) apresentou

uma diferente tendência de desmatamento. No estado capixaba, com exceção da variável

Dummy para muncípio problema, tanto pela regra prática “2-t” (com nível de significância

5%) quanto pelo teste do p-valor (nível de significãncia de 10%), todas as variáveis são

significativas. Ou seja, a variação do número de pessoal ocupado na agricultura, do rebanho

bovino, das áreas de pastagem e da extração de lenha , explicam o desmatamento no estado,

com nível de significância de 5%. Destacam-se as variáveis pessoal ocupado, rebanho bovino

e extração de lenha, por apresentarem os mais baixos p-valores.

Com relação ao valor dos coeficientes das variáveis explicativas, as variáveis pessoal

ocupado e rebanho bovino apresentaram resultados esperados: quanto mais se desmata menos

empregos agrícolas e mais cabeças de gado se tem. Entretanto, o maior desmatamento desse

estado está também associado com menores áreas de pastagem e com uma menor extração de

lenha.

Tabela 16: Resultados de São Paulo

Page 81: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

70

Variável Estimativa Estatísca t p-valor C 1894.60 2.96 0.00

PO -0.086379 -2.402370 0.02 TOR -5.958466 -2.715528 0.01

VARPROD 0.00 4.10 0.00 IDH -2065410.00 -2.530444 0.01

DUM -300.6383 -2.064067 0.04 Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA. A tabela 16, contêm os resultados para o estado de São Paulo. No teste de hipótese,

tanto pela regra “2-t” quanto pelo p-valor, todas as variáveis rejeitam a hipótese nula com um

nível de significância de 5% . A variável variação da produtividade agrícola foi a que

apresentou o mais baixo p-valor. Com base nos coeficientes (segunda coluna da tabela), o

maior desmatamento paulista pode ser explicado pelas seguintes variáveis: menos pessoal

ocupado em estabelecimentos rurais, menor extração de madeira em toras, maior

produtividade agrícola e menor IDH. Ademais, observa-se que as variáveis significativas

para explicar o desmatamento desse estado também são relevantes para o Rio de Janeiro.

Os resultados para os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul estão nas

tabelas que se seguem (tabelas 17, 18 e 19). Através da regra “2-t”, o desmatamento paraense

(tabela 17), pode ser explicado pela variação da área de lavoura e pastagem, pelo rebanho

bovino, pela variação no número de tratores, pela extração de madeira em toras e pela

variação da produtividade das terras agrícolas. Ao considerarmos um nível de significância

de 10%, pelo teste do p-valor, temos que variável IDH também se mostra significativa.

Os menores p-valores foram para as seguintes variáveis: área de lavoura e pastagem,

rebanho bovino, tratores e madeira em toras. A análise da segunda coluna dessa tabela nos

revela a direção da relação do desmatamento com a variável explicativa. Para o Paraná temos

que o maior desmatamento está associado a: maior área de lavoura, maior rebanho bovino,

menor área de pastagem, mais tratores, menor extração de madeira em toras, maior

produtividade das terras agrícolas e menor IDH.

Page 82: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

71

Tabela 17 : Resultados do Paraná

Variável Estimativa Estatísca t p-valor C 2810.82 1.997314 0.05

LAV 0.05 2.880389 0.00 BOV 0.06 3.671764 0.00 PAST -0.040897 -3.431776 0.00 TRAT 4.06 4.038135 0.00 TOR -4.443410 -3.494665 0.00

VARPROD 0.02 2.209335 0.03

IDH -3581614.00 -1.737253 0.08 Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA. Considerando um nível de significância de 10%, temos que as seguintes variáveis são

relevantes para explicar o maior desmatamento do estado: menor área de lavoura, maior

rebanho bovino, menor área de pastagem e menor custo de transporte. Aplicando a regra de

decisão “2-t” para as variáveis do estado de Santa Catarina, observa-se que apenas a variável

área de lavoura é significativa com nível de significância de 5%. Esta, é a variável que

apresenta o mais baixo p-valor.

Tabela 18: Resultados de Santa Catarina

Variável Estimativa Estatísca t p-valor C 1034.93 2.545103 0.01

LAV -0.062028 -8.908038 0.00 BOV 0.09 1.899413 0.06 PAST -0.062597 -1.639042 0.10

CT -0.997513 -1.726430 0.09

DUM -788.6517 -1.883524 0.06 Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA. Para o estado do Rio Grande do Sul, as variáveis relevantes para explicar o

desmatamento são: área de lavoura e pastagem, número de tratores, extração de madeira em

toras e PIB municipal agrícola. Todas essas variáveis rejeitam a hipótese nula tanto pelo teste

da regra “2-t' quanto pelo p-valor. Isso implica que elas sejam significativas ao nível de

Page 83: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

72

significância de 5%. Destacam-se as variáveis área de lavoura, tratores e madeira em toras

com os mais baixos p-valores. Para esse estado, quanto menos área de lavoura, menos

pastagem, menos extração de tora, mas mais tratores e maior PIB agrícola, maior será o

desmatamento.

Tabela 19: Resultados do Rio Grande do Sul

Variável Estimativa Estatísca t p-valor C 113.93 2.098502 0.04

LAV -0.031344 -3.945163 0.00 PAST -0.010173 -2.280409 0.02 TRAT 2.43 3.708833 0.00 TOR -119.8076 -8.275129 0.00

PIBAGR 0.01 2.047142 0.04 Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA. A análise das regresssões para cada estado apontou algumas tendências que podem ser

confirmadas na análise econométrica regional. Percebemos, por exemplo, que enquanto a

variável pessoal ocupado é significativa em todas as regressões dos estados da região sudeste,

esta não aparece em nenhuma regressão para os estados da região sul. Assim, para verificar se

existe alguma tendência diversa no demastamento de cada uma dessas regiões, que pudesse

orientar uma política regional mais focada, foram realizadas regressões para as regiões sul e

sudeste. Os resultados estão contidos nas tabelas 20 e 21 abaixo.

Para a região sudeste, ao observarmos a quarta coluna obtemos o p-valor. Com um

nível de significãncia de 10%, temos que as variáveis pessoal ocupado, rebanho bovino, área

de pastagem, madeira em toras, variação da produtividade agrícola, IDH e dummy para

municípios problemas são relevantes para explicar o desmatamneto da região sudeste. A regra

“2-t” também é aplicável neste caso, visto que a amostra é maior que 20. Observando o valor

da estatística t para cada coeficiente, na terceira coluna da tabela 20, verificamos que todos os

valores são, em módulo, maiores que 2. Logo, a hipótese nula é rejeitada para todas as

variáveis a um nível de significância de 5%.

Page 84: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

73

Para ambos os testes, as variáveis pessoal ocupado, área de pastagem, rebanho bovino

e IDH, se destacam como as que apresentam os mais baixos p-valores. Observa-se que estes

resultados são muito parecidos com àqueles obtidos para os estados do Rio de Janeiro e de

São Paulo. Isso mostra a relevância desses estados para explicar o desmatamento da região.

A análise dos coeficientes das variáveis explicativas aponta para as seguintes

conclusões sobre o desmatamento na região sudeste: quanto menos pessoas ocupadas, mais

rebanho bovino, menos áreas de pastagem, menos toras, maior produtividade das terras

agrícolas, e menor IDH, maior o desmtamento na região sudeste. Ou seja, para essa região o

desmatamento está associado ao subdesenvolvmento (desemprego e piores condições de vida

para a população).

Tabela 20: Resultados da Região Sudeste

Variável Estimativa Estatísca t p-valor C 4932.04 5.11 0

PO -0.177103 -3.489180 0.0005 BOV 0.04 3.11 0.002 PAST -0.043580 -2.314870 0.0209 TOR -5.983974 -2.679867 0.0075

VARPROD 0.02 2.31 0.0212 IDH -6001809.00 -4.241316 0

DUM -491.7643 -2.275642 0.0232 Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA. De forma análoga, na terceira e quarta colunas da tabela 21 abaixo, temos os

resultados do teste de hipótese para a região sul. Mais uma vez, as variáveis relevantes para

explicar o desmatamento atendem tanto o teste de hipótese da regra de decisão “2-t” quanto o

teste do p-valor, implicando que elas sejam estatisticamente significantes para um nível de 5%

de significância.

Tabela 21: Resultados da Região Sul

Page 85: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

74

Variável Estimativa Estatísca t p-valor C 2548.26 3.413716 0.00

LAV -0.031372 -2.936618 0.00 BOV 0.04 3.314289 0.00 PAST -0.037210 -3.517719 0.00 TRAT 3.20 5.800786 0.00 TOR -4.384305 -3.723491 0.00

PIBSERV 0.000 3.506258 0.001 PIBAGR 0.01 2.40189 0.02

VARPROD -0.038617 -2.209816 0.03 IDH -2840600.00 -2.909094 0.00

DUM -357.6604 -2.546161 0.01 Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA. Assim, o desmatamento da região sul pode ser explicado pela variação das seguintes

variáveis: áreas de lavoura e pastagem, rebanho bovino, número de tratores, madeira em toras,

PIB municipal de serviços e agrícola, variação da produtividade agrícola, IDH e dummy para

município problema. Ao contrário da região sudeste, para a região sul não foi verificado

nenhuma relação entre desmatamento e pessoal ocupado. Ou seja, para a região sul o setor

agropecuário não é impulsionador de empregos. Isso também está retratado pela mecanização

da agricultura. Tanto nas regressões estaduais quanto na regional para o sul, o desmatameto e

o número de tratores apresenta uma relação significativa. Assim, é provável que a

mecanização do campo esteja reduzindo a necessidade de mão-de-obra neste setor.

Para a região sul temos as seguintes conclusões: quanto menores as áreas de lavoura e

pastagem, maior os rebanhos bovinos, mais tratores, menor extração de madeira em toras,

maior PIB municipal de serviços e agricola, menor produtividade da terra e menor IDH, mais

se desmata na região sul. Ou seja, desmatamento também está associado a

subdesenvolvimento, mas num estágio de ocupação da terra diferente do da região sudeste.

Levando em consideração uma tendência de desmatamento para todos os estados e

municípios inseridos em domínio de Mata Atlântica, os resultados obtidos seriam próximos

daqueles encontrados para a região sudeste. Mais uma vez, a justificativa para esse resultado

Page 86: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

75

se deve ao fato do estado de São Paulo possuir quase metade dos dados da amostra, e assim,

“puxa” o resultado do todo para um resultado próximo ao particular. A tabela abaixo

apresenta o resultado da regressão do Sudeste e Sul juntos.

Tabela 22: Resultados das Regiões Sul e Sudeste

Variável Estimativa Estatísca t p-valor C 3699.64 6.125634 0.00

PO -0.076044 -2.937273 0.00 BOV 0.05 5.198604 0.00 PAST -0.041808 -4.646182 0.00 TOR -5.585850 -4.468502 0.00

VARPROD 0.02 2.07621 0.04 IDH -4123066.000 -5.202462 0.000

DUM -506.6791 -3.867441 0.00 Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA. Ao analisarmos a terceira coluna da tabela, verificamos que todas as variáveis são

significativas a 5%. De acordo com a regra de decisão “2-t”, todas as variáveis apresentam

estatística t maior que 2, e, assim, rejeitam a hipótese nula. Em outras palavras: o

desmatamento recente nas áreas de domínio de Mata Atlântica, nas regiões sul e sudeste, pode

ser explicado pela variação do número de pessoas ocupadas em estabelecimentos

agropecuários, pela variação do rebanho bovino e da área de pastagem, pela extração de

madeira em toras, pela variação da produtividade agrícola, pelo IDH e pela dummy para

municípios problemas. Ademais, todas essas variáveis também rejeitaram o teste do p-valor,

considerando um nível de significãncia de 10%.

Com respeito a tendência de desmatamento para os estados das regiões sudeste e sul

em conjunto, temos a seguinte conclusão: quanto menos pessoas ocupadas no campo, maior

rebanho bovino, menores áraes de pastagem, menos extração de madeira em toras, maior

produtividade das terras agrícolas e menor IDH, mais se desmata em áreas de domínio de

Page 87: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

76

Mata Atlântica. Este resultado evidência uma relação econométrica entre desmatamento e

subdesenvolvimento

Para os estados das regiões Sudeste e Sul, alguns resultados das análises dos

coeficientes foram opostos ao que se esperava. Primeiramente, destaca-se a relação entre

áreas de lavoura e pastagem e desmatamento. Em geral, se esperava que aqueles municípios

que mais desmatam tivessem um aumento das suas áreas de pastagem e lavoura, através da

conversão. Visto que nas áreas de domínio de Mata Atlântica o desmatamento é muito antigo

é provável que o desmatamento recente não tenha como função a abertura de novas fronteiras

agrícolas, como se verifica no desmatamento da Amazônia.

Outra relação relevante é entre madeira em toras e desmatamento. Teoricamente, se

esperava que ambas variáveis apresentassem uma relação positiva. Entretanto, os dados

resultantes do exercício econométrico apontam para uma forte relação negativa. Isso se deve

ao fato de que se há maior oferta de madeira plantada deve haver menor pressão para

desmatar para obter madeira. Para confirmar tal hipótese seria interessante separar o

percentual de extração de madeira em toras nativa e aquela proveniente de madeira plantada,

e a partir daí buscar uma relação com o desmatamento.

O mesmo raciocínio vale para a relação entre a lenha e o desmatamento. Outra relação

teórica inversa é entre produtividade das terras agrícolas e desmatamento, cujo sinal esperado

é negativo. Uma possível explicação para a relação positiva entre essas variáveis seria o fato

de que quando a produtividade aumenta, aumenta o lucro, e este, por sua vez, aumentaria a

demanda por terras.

A tabela 23 abaixo faz um resumo das variáveis significativas (para um nível de

significância de 10%) em todas as regressões acima apresentadas e, além disso, apresenta o R2

, isto é, o coeficiente de determinação, de cada regressão. Este coeficiente tem a função de

medir o grau de ajuste do modelo. Sua interpretação é bastante simples: fornece uma medida

de proporção ou porcentagem da variação total na variável dependente Y explicada

Page 88: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

77

conjuntamente por X1, X2, ..., Xn. Seus valores se situam entre 0 e 1. Valores próximos de

um, indicam que o grau de ajustamento do modelo está bom, visto que quase 100% da

variação em Y está sendo explicada; enquanto que valores próximos de zero ilustram o caso

oposto.

Tabela 23: Resumo das Variáveis Significativas das Regressões

Estado/Região Variável significativa Rio de Janeiro PO, Lav, Past, Tor, Varprod e IDH Espírito Santo PO, Bov, Past e Len

São Paulo PO, Tor, Varprod, IDH e Dum Região Sudeste Po, Bov, Past, Tor, Varprod, IDH e Dum

Paraná Lav, Past, Bov, Trat, Tor, Varprod, IDH e CT Santa Catarina Lav, Bov, Past, CT e dum

Rio Grande do Sul Lav, Past, Trat, Tor, Pibagr Região Sul Lav, Bov, past, Trat, Tor, Pibserv, Pibagr, Varprod, IDH e Dum

Regiões Sul e Sudeste PO, Past, Tor, Varprod, IDH e Dum Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA. Tabela 24: Coeficiente de Determinação (R2) das Regressões

Estado/Região R2 Rio de Janeiro 37% Espírito Santo 53%

São Paulo 14% Região Sudeste 20%

Paraná 43% Santa Catarina 42%

Rio Grande do Sul 44% Região Sul 35%

Regiões Sul e Sudeste 18% Fonte: Elaboração Própria, a partir de dados do Atlas de Remanescentes Florestais, do Censo Agropecuáro (IBGE) e do IPEADATA. Assim, através da análise da tabela acima, concluímos que: 37,13% do desmatamento

do estado do Rio de Janeiro, no período de 1985-95/96, pode ser explicado pela variação do

pessoal ocupado, das áreas de lavoura e pastagem, pela extração da madeira em toras, pela

variação da produtividade agrícola e pelo IDH. Também temos que: 18,10% do

desmatamento das áreas de domínio de Mata Atlântica, nas regiões sul e sudeste, é explicado

Page 89: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

78

pela variação do número de pessoas ocupadas, pelas área de pastagem, pela extração de

madeira em toras, pela variação da produtividade agrícola, pelo IDH e pela dummy para

município problema.

3.3. Conclusões

Este capítulo teve como objetivo estimar um modelo de regressão múltipla para o

desmatamento. Foi escolhida como variável a ser explicada a variação do desmatamento nos

estados das regiões sul e sudeste, no período de 1985-95/96. Como variáveis explicativas

foram selecionadas variáveis de uso da terra, tais como: extração de lenha e madeira em

toras, áreas de lavoura e pastagem, e variáveis de contexto social, tais como: PIB municipal,

IDH, produtividade das terras agrícolas, pessoal ocupado, dentre outras.

Com base nessas variáveis foram estimados modelos de regressão do desmatamento a

nível estadual, a nível regional e para os ambas as regiões. Os resultados deste capítulo

mostram, que, estados da mesma região apresentam uma tendência de desmatamento

próxima.

A análise dos resultados, portanto, levou a conclusão de que o desmatamento nas áreas

de domínio de Mata Atlântica no período 1985/95-96, está econometricamente associado ao

subdesenvolvimento, isto é, desemprego e baixo IDH. Em geral, o desmatamento pode ser

explicado pela diminuição do número de pessoas ocupadas na área rural, pelo maior rebanho

bovino, pela diminuição das áreas de pastagem, pela menor extração de madeira em toras e

pelo baixo IDH. Em outras palavras, regiões longínquas e pobres, com menos população

ocupada, mas com maior rebanho bovino, menor área de pastagem e menos extração de

madeira em toras, desmatam mais.

Page 90: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

79

Conclusão

O ser humano necessita das florestas. Particularmente, as pessoas que vivem nas áreas

rurais e nas suas proximidades, dependem intensamente delas para sobreviverem. Contudo, o

acelerado desmatamento vem provocando uma redução muito rápida dos recursos florestais,

além de ameaçar a biodiversidade com as elevadas emissões anuais de gás carbônico. A Mata

Atlântica é um bioma no qual a população rural, apesar de menor, vem sofrendo muitos

impactos negativos, tais como: pobreza, desemprego e menor renda.

Na primeira parte deste trabalho o objetivo foi enumerar as variáveis que seriam

relevantes para explicar o desmatamento atlântico. A história do desmatamento da Mata

Atlântica, descrita no primeiro capítulo, nos revela os múltiplos fatores que levaram a sua

depredação. Assim, é muito difícil eleger um fator responsável pelo desmatamento da mata

atlântica. A causa da devastação dessa biota está intrinsecamente relacionada com a interação

perversa dos diversos fatores enumerados: geográfico-ambientais, sócio-econômicos e

histórico-institucionais.

Como a Mata atlântica é uma área de desmatamento antigo, verificou-se que o uso da

mão-de-obra escrava foi a principal causa do desmatamento na época do Brasil colônia. A

ignorância dos escravos e as técnicas agrícolas arcaicas por eles utilizadas acabavam com a

fertilidade do solo. Logo, era necessário desmatar terras mais férteis para dar continuidade a

exploração.

Mais tarde percebeu-se que, mesmo com o fim da escravidão, o desmatamento

continuou de maneira acelerada. O Brasil avançava no seu processo de industrialização mas a

agricultura praticada ainda era precária. Isso implicou, por muitas décadas, na continuação

acelerada do desmatamento. O desmatamento passou a ser causado pelos incentivos

econômicos que se podiam obter com a expansão da agricultura. Tanto ricos como pobres

Page 91: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

80

destroem florestas na espera de obter lucros, mas os retornos apresentados são muito

variáveis.

No segundo capítulo foi realizada uma revisão bibliográfica dos textos que tratavam

de causas de desmatamento com o intuito de selecionar as variáveis relevantes para explicar o

desmatamento. Assim, os textos pesquisados e estudados, somados à base de dados do

trabalho da SOS apontaram na direção da escolha das seguintes variáveis para montar o

modelo de desmatamento para a mata atlântica : remanescentes florestais de Mata Atlântica;

pessoal ocupado nos estabelecimentos agropecuários; áreas de lavouras e pastagem; rebanho

bovinos; número de tratores; extração de lenha; extração de madeira em toras; PIB municipal

total, industrial, de serviços e agrícola; produtividade média rural; variação da produtividade

rural; Indice de Desenvolvimento Humano (IDH); e Custo de transporte da sede do municipio

até a capital do estado.

A segunda parte desta dissertação foi dedicada a estimação de um modelo de regressão

linear múltipla para o desmatamento da Mata Atlântica, com estimação de Mínimos

Quadrados Ordinários (MQO). A variação do desmatamento nos estados das regiões sul e

sudeste, no período de 1985-95/96, foi escolhida como variável a ser explicada. As demais

variáveis, de uso da terra e de contexto social, foram utilizadas como explicativas. Com base

nessas variáveis foram estimados modelos de regressão do desmatamento a nível estadual, a

nível regional e para os ambas as regiões.

A análise dos resultados, portanto, levou a conclusão de que o desmatamento nas áreas

de domínio de Mata Atlântica no período 1985/95-96, está econometricamente associado ao

subdesenvolvimento, isto é, desemprego e baixo IDH. Em geral, o desmatamento pode ser

explicado pela diminuição do número de pessoas ocupadas na área rural, pelo maior rebanho

bovino, pela diminuição das áreas de pastagem, pela menor extração de madeira em toras e

pelo baixo IDH. Em outras palavras, regiões longínquas e pobres, com menos população

Page 92: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

81

ocupada, mas com maior rebanho bovino, menor área de pastagem e menos extração de

madeira em toras, desmatam mais.

Ademais, observou-se que estados da mesma região apresentam uma tendência de

desmatamento próxima. Isso é um importante indicador de que a política ambiental a ser

implementada para a mata atlântica deve se focar nas idiossincrasias de cada estado, e, no

máximo a região a que o estado pertence. Dessa forma, os impactos de tais políticas serão

muito maiores.

Assim, percebe-se que a biota atlântica necessita de um fortalecimento urgente da

governança das florestas. É preciso preservar o que ainda resta da Mata Atlântica e melhorar

as perspectivas econômicas da população rural com a criação de empregos e melhores

condições de vida. Atualmente já se verificam algumas iniciativas de preservação e uso

sustentável do meio ambiente. Dentre as ações que estão sendo implementadas, vale destacar:

lei da mata atlântica, ICMS ecológico e IR ecológico. Com essas medidas, busca-se diminuir

o ritmo de desmatamento nesse bioma, e, quem sabe, recuperar parte do que foi perdido.

Page 93: Determinantes Do Desmatamento Na Mata Atlântica: Uma Análise

82

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