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Representantes de algumas das Cooperativas que atuam na Unidade de Triagem e Reciclagem (UTR) próxima ao Bairro Parque do Sol em Campo Grande-MS. CATADOR: Trabalho Social, Ambiental e Econômico Informativo da Saúde do Trabalhador CEREST REGIONAL CAMPO GRANDE-MS Ano 2 Número 6 Julho/Agosto 2016 O Catador de Material Reciclável é um tra- balhador que recolhe resíduos sólidos recicláveis e reaproveitáveis, como papel, papelão, materiais ferrosos e não ferrosos (alumínio), plástico, vidro, entre outros. A profissão dos Catadores foi reconhecida na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) pela Portaria nº 397, de 9 de outubro de 2002, do Ministério do Trabalho, sob o Código n.º 5.192-05. Em 2012, já existia no país cerca de um milhão desses trabalhadores (CEMPRE, 2012). No entanto, se esta classificação serve para afirmar o cata- dor de material reciclável como indivíduo incluso na sociedade, por outro lado ele é excluído pelo tipo de trabalho que realiza. O acesso ao trabalho é livre, sem exigência de escolaridade ou formação profissional. O trabalho é exercido a céu aberto, em horários variados. O tra- balhador é exposto a variações climáticas, a riscos de acidente na manipulação do material e outros riscos para a saúde, em muitos casos irreversíveis. Tam- bém correm risco de acidentes de trânsito e, muitas vezes, de violência urba- na. Também não possuem reconhecimento social e nem qualquer tipo de ga- rantia trabalhista assegurada. 7 de julho Dia Internacional do Cooperativismo

Dia Internacional do Informativo da Saúde do Trabalhador · balhador é exposto a variações climáticas, a riscos de acidente na manipulação do material e outros riscos para

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Page 1: Dia Internacional do Informativo da Saúde do Trabalhador · balhador é exposto a variações climáticas, a riscos de acidente na manipulação do material e outros riscos para

Representantes de algumas das Cooperativas que atuam na Unidade de Triagem e Reciclagem (UTR) próxima ao Bairro Parque do Sol em Campo Grande-MS.

CATADOR: Trabalho Social, Ambiental e Econômico

Informativo da Saúde do

Trabalhador

CEREST REGIONAL CAMPO GRANDE-MS

Ano 2 Número 6

Julho/Agosto 2016

O Catador de Material Reciclável é um tra-balhador que recolhe

resíduos sólidos recicláveis e reaproveitáveis, como papel, papelão, materiais ferrosos e não ferrosos (alumínio), plástico, vidro, entre outros.

A profissão dos Catadores foi reconhecida na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) pela Portaria nº 397, de 9 de outubro de 2002, do Ministério do Trabalho, sob o Código n.º 5.192-05.

Em 2012, já existia no país cerca de um milhão desses trabalhadores (CEMPRE, 2012). No entanto, se esta classificação serve para afirmar o cata-dor de material reciclável como indivíduo incluso na sociedade, por outro lado ele é excluído pelo tipo de trabalho que realiza.

O acesso ao trabalho é livre, sem exigência de escolaridade ou formação profissional. O trabalho é exercido a céu aberto, em horários variados. O tra-balhador é exposto a variações climáticas, a riscos de acidente na manipulação do material e outros riscos para a saúde, em muitos casos irreversíveis. Tam-bém correm risco de acidentes de trânsito e, muitas vezes, de violência urba-na. Também não possuem reconhecimento social e nem qualquer tipo de ga-rantia trabalhista assegurada.

7 de julho

Dia Internacional do

Cooperativismo

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tar suas famílias. Além da coleta seleti-

va e das outras atribui-ções previstas na CBO, os Catadores também promovem a sensibili-zação das pessoas, mo-bilizando-as para a mu-dança de comportamento com relação aos resíduos visando à sustentabilidade do planeta.

“Os Catadores de Materiais Recicláveis são pro-fissionais que catam, selecionam e vendem materi-ais recicláveis. São profissionais que se organizam de forma autônoma ou em cooperativas e associa-ções com diretoria e gestão dos próprios Catado-res”.

O processo de industrialização desigual atraiu grandes contingentes de trabalhadores do campo para as cidades, porém, sem perspectiva de empre-go para todos.

É neste modelo de desigualdade social que os trabalhadores do campo percorreram as cidades sem emprego, fazendo bicos, trabalhando na cons-trução civil e em outras atividades informais, mui-tas vezes sem nenhum reconhecimento, invisíveis à sociedade. Nos últimos 70 anos encontraram uma forma de sobrevivência: nas ruas das cidades ou nos lixões, a partir da catação de materiais descarta-dos.

Como forma de alterar essa realidade, foram bus-car, na organização do trabalho como Catadores de Materiais Recicláveis, uma alternativa para susten-

Página 2

Como surgiu o trabalho dos Catadores

INFORMATIVO DA SAÚDE DO TRABALHADOR

A organização em cooperativas e associações foi uma alternativa para os catadores se fortalecerem frente às fraquezas e às dificuldades da atuação iso-lada nas atividades de catação. Essa alternati-va se mostra como uma das poucas oportu-nidades de melhoria de renda, dada a difi-culdade de acesso a ocupações do mer-cado formal de emprego.

O modo como se organizam as cooperativas e associações são mui-to diferentes entre si. Apresentamos quatro situações distintas:

I - Grupos formalmente organiza-dos em associações e cooperativas, com galpões próprios e com equipamentos. Possuem capacidade

Cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis

de ampliar sua estrutura, absorver mais catadores e implantar unidades industriais de reciclagem, sendo consideradas importantes organizações para a in-

clusão social; II - Grupos que estão em uma fase intermediá-

ria, com falta de alguns equipamentos e neces-sidade de reforçar a infraestrutura para poder

expandir a produção e ampliar a coleta; III - Grupos que contam com poucos e-quipamentos e não têm galpão próprio; IV - Grupos desorganizados, na situação de rua ou lixão, que não possuem nenhum equipamento e na qual os catadores e as

catadoras trabalham em condições de extrema precariedade, muitas vezes, para intermediadores (atravessadores).

Individuais (art. 5º da Constituição Federal):

- liberdade de ir e vir;

- igualdade perante a lei;

- liberdade de opinião;

- de reunir-se e se

associar.

Sociais, econômicos e culturais (art. 6º da Constituição Federal):

- direito ao trabalho; - direito à habitação;

- direito à educação, à cultura e à ciência;

- direito à alimentação;

Muitos Catadores vivem à margem

dos direitos sociais e trabalhistas e

são excluídos da maior parte da ri-

queza que o mercado de reciclagem

movimenta e produz.

Direitos Sociais dos Catadores

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ANO 2 NÚMERO 6 Página 3

As imagens e figuras foram obtidas em sites, blogs e homepages da internet,

cujo objetivo é harmonizar os textos, tornando a

leitura mais agradável.

Rua Sergipe, 402 - Jd. dos Estados 79.020-160 — Campo Grande– MS

CEREST REGIONAL CAMPO GRANDE

Tel.: 67 3314-3718 E-mail:

[email protected]

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do Trabalhador...

geralmente acontecem em decorrência da péssima qualidade do ambiente e das condições de trabalho, resultando em ferimentos, amputações por atropela-mentos e prensagem em equipamentos de compac-tação e veículos automotores, além de mordidas de animais (cães, ratos e até serpentes) e picadas de insetos. As posições incômodas em que trabalham - encurvados ou agachados - também são fatores de risco à saúde.

A questão estética, nem sempre lembrada, é bas-tante importante, uma vez que a visão desagradável dos resíduos pode causar desconforto e náusea nes-ses trabalhadores. Assim como boa parte dos traba-lhadores não considera como acidentes de trabalho os acidentes que ocorrem durante a catação, tam-bém não consideram necessária a utilização dos E-quipamentos de Proteção Individual (EPI) (gráfico).

As questões psicossociais também são motivos

de riscos à saúde e mudança na qualidade de vida desses catadores. A história de vida dos catadores de materiais recicláveis infelizmente, é marcada pela vergonha, humilhação e exclusão social; sua ocupação é sentida como sendo desqualificada e carente de reconhecimento pela sociedade, distanci-ando-o do convívio social e dos direitos básicos, como assistência à saúde, educação e segurança.

Adaptado de Profissão perigo: percepção de ris-

co à saúde entre os catadores do Lixão do Jangu-russu. Sylvia Cavalcante e Márcio F. A. Franco.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística - IBGE, no ano de 2002, havia 200 mil catadores vivendo e trabalhando em lixões espalhados em todo o País.

Nestes ambientes, é comum que os catadores de lixo trabalhem por dinheiro sem contrato ou assis-tência médica, revelando traços semelhantes aos dos demais grupos excluídos da sociedade brasilei-ra, expondo-se a riscos e situações responsáveis por prejuízos à saúde do trabalhador.

Os riscos relacionados ao ambiente e à atividade de coleta de resíduos sólidos urbanos parecem estar bem definidos para a comunidade científica em ge-ral. As vias de intoxicação, a toxidade e os danos à saúde e ao ambiente, ocorridos nestes locais e com esta atividade, aparecem hoje como conhecimento de todos e bem documentado em estudos, deixando bem claro os riscos presentes.

Os mais freqüentes agentes presentes nos resí-duos sólidos e no contato com o lixo, capazes de interferir na saúde humana e no meio ambiente, são: �Agentes físi-

cos: gases e odores dos resíduos; mate-riais perfurocortan-tes, tais como vi-dros, lascas de ma-deira, cerâmica; objetos pontiagudos, restos de fer-ros e similares; poeiras, ruídos excessivos, exposi-ção ao frio, ao calor, à fumaça e ao monóxido de carbono; �Agentes químicos: líquidos que vazam de pi-

lhas e baterias; óleos e graxas; agrotóxicos (inseticidas, herbicidas, etc); solventes; tintas; pro-dutos de limpeza; cosméticos; remédios; aerossóis; metais pesados como chumbo, cádmio e mercúrio; �Agentes biológicos: microorganismos patogêni-

cos: vírus, bactérias e fungos. Os acidentes de trabalho nesse tipo de ambiente

Perigos que cercam os catadores nos lixões

Fonte: Castilhos Jr et al. 2013

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O Catador encontra na matéria-prima, chamada de lixo pela sociedade, sua fonte de sobrevivência.

Hoje existem de 400 a 600 mil Catadores, em um país que gera 180 mil toneladas de resíduos por dia, das quais 58 mil são de materiais recicláveis.

De acordo com estudos realizados pelo Instituto de Pesquisa Econômi-ca Aplicada (IPEA), a falta de ge-renciamento correto dos resíduos sólidos representa desperdício anu-al de cerca de R$ 8 bilhões. Ou seja, os resíduos reciclados, além de contribuir para reduzir o impacto no meio ambiente, podem gerar traba-lho, emprego e renda.

Os brasileiros jogam fora 76 mi-lhões de toneladas de lixo – 30% poderiam ser rea-proveitados, mas só 3% vão para a reciclagem.

Entre 2005 e 2015, o número de municípios que

implantou programas de reciclagem aumentou de 81 para mais de 900. Mas isso não representa nem 20% das cidades, isto quer dizer que de cada dez municípios brasileiros oito ainda não tem programa de coleta seletiva e os

que têm, poderiam reciclar muito mais do que fazem hoje. Os Catadores se orgulham de ser verdadeiros defensores da vida humana saudável, de ajudar a pre-servar os recursos naturais e de lutar por condições de trabalho dignas. É a partir do seu trabalho que: � Os aterros sanitários das cida-des têm uma vida útil maior;

� As prefeituras municipais economizam recurso no serviço de coleta de lixo convencional; � Os Catadores conseguem sua inserção social.

Qual a importância do trabalho dos Catadores?

Você sabia... Que o esforço dos Catado-

res contribui para que se-

jam reciclados, no Brasil,

98% das latinhas de alumí-

nio, 56% do plástico, 48%

do papel e 47% do vidro.

Para saber mais, clique no texto e acesse as fontes consultadas para este Informativo:

Cartilha Cataforte - Proj. Cataforte Fortalecim. do Associativ. e Cooperativ. dos Catadores de Materiais Recicláveis.

Coleta Seletiva. Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Situação Social das Catadoras e dos Catadores de Material Reciclável e Reutilizável - Brasil. Sandro P. Silva e cols. IPEA. 74p. 2013.

Apenas 2% de todo o lixo produzido no Brasil é reciclado. Jornal Hoje 09 abr. 2015. Catadores de materiais recicláveis: análise das condições de trabalho e infraestrutura operacional no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. Armando B. de C. Junior e cols. Ciência e Saúde Coletiva. v. 18, n. 11, p. 3115-24. Nov. 2013.

Cantinho Cultural Neste mês, para enriquecer nosso Cantinho

Cultural, procuramos representar a poesia da re-

ciclagem na magia do Catador. No blog Catado-

res de Material Sustentável—”Guardiões da Sus-

tentabilidade” existem outras poesias que pode-

rão ser apreciadas, basta clicar no link abaixo do

texto.

Magia do Lixo Reciclável Luciana do Rocio Mallon

O lixo que é aproveitável ... Chama-se lixo reciclável!

Reciclar é uma linda e surpreendente magia, Que transforma sucata em alegria!

Pneus carecas viram divertidas bóias ... Palitos de picolés viram porta-jóias!

Papéis de bala e tampinhas de latas viram fantasias ...

Carnavalescas, luxuosas e com mais de mil harmonias!

Folhas usadas viram novos cadernos ... Protegendo as árvores de um jeito terno! Garrafas quebradas viram bijuterias ...

Com brilhos, charmes e simpatias!

Palitos de fósforos queimados viram brinquedos ... Sem perigos, sem mistérios e sem medos!

O lixo que é aproveitável ... Chama-se lixo reciclável!

Reciclar é uma linda e surpreendente magia, Que transforma sucata em alegria.

http://catadores-materialreciclavel.blogspot.com.br/p/poesias.html