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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’O S S E RVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Ano LI, número 5 (2.602) Cidade do Vaticano terça-feira 4 de fevereiro de 2020 y(7HB5G3*QLTKKS( +z!"!?!"!,! A graça é antídoto contra o desânimo DIA MUNDIAL DA VIDA CONSAGRADA NESTE NÚMERO Pág. 2: Angelus de domingo, 2 de fevereiro; pág. 3: Audiência geral de quarta-feira; pág. 4: Em diálogo com o arcebispo Ro- dríguez Carballo; pág. 5: Missa na vigília do Dia mundial da vida consagrada; págs. 6-7: Discurso no congresso internacional sobre «A riqueza dos anos»; Discurso à Congregação para a doutrina da fé; pág. 8: Francisco recebeu em audiência a Rota Ro- mana; pág. 10: O Pontífice elogiou a iniciativa ecológica dos pescadores de San Benedetto del Tronto; pág. 11: Informações; pág. 12: Um livro do Papa Francisco dedicado às crianças.

DIA MUNDIAL DA VIDA CONSAGRADA A graça é …...Mateus, capítulo cinco, versículos de um a onze e ler as Bem-aventu-ranças — talvez várias vezes duran-te a semana — para compreender

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Page 1: DIA MUNDIAL DA VIDA CONSAGRADA A graça é …...Mateus, capítulo cinco, versículos de um a onze e ler as Bem-aventu-ranças — talvez várias vezes duran-te a semana — para compreender

Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00

L’O S S E RVATOR E ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suum

EM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Ano LI, número 5 (2.602) Cidade do Vaticano terça-feira 4 de fevereiro de 2020

y(7HB5G3*QLTKKS( +z!"!?!"!,!

A graça é antídotocontra o desânimo

DIA MUNDIAL DA VIDA CONSAGRADA

NESTE NÚMEROPág. 2: Angelus de domingo, 2 de fevereiro; pág. 3: Audiência geral de quarta-feira; pág. 4: Em diálogo com o arcebispo Ro-dríguez Carballo; pág. 5: Missa na vigília do Dia mundial da vida consagrada; págs. 6-7: Discurso no congresso internacionalsobre «A riqueza dos anos»; Discurso à Congregação para a doutrina da fé; pág. 8: Francisco recebeu em audiência a Rota Ro-mana; pág. 10: O Pontífice elogiou a iniciativa ecológica dos pescadores de San Benedetto del Tronto; pág. 11: Informações;pág. 12: Um livro do Papa Francisco dedicado às crianças.

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página 2 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 4 de fevereiro de 2020, número 5

L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suumEM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Cidade do Vaticanoredazione.p ortoghese.or@sp c.va

w w w. o s s e r v a t o re ro m a n o .v a

ANDREA MONDAd i re t o r

Giuseppe Fiorentinov i c e - d i re t o r

Redaçãovia del Pellegrino, 00120 Cidade do Vaticano

telefone +390669899420fax +390669883675

TIPO GRAFIA VAT I C A N A EDITRICEL’OS S E R VAT O R E ROMANO

Serviço fotográficotelefone +390669884797

fax +390669884998p h o t o @ o s s ro m .v a

Assinaturas: Itália - Vaticano: € 58.00; Europa: € 100.00 - U.S. $ 148.00; América Latina, África,Ásia: € 110.00 - U.S. $ 160.00; América do Norte, Oceânia: € 162.00 - U.S. $ 240.00.

Administração: telefone +390669899480; fax +390669885164; e-mail: assinaturas.or@sp c.va

Para o Brasil: Impressão, Distribuição e Administração: Editora santuário, televendas: 0800-160004, fax: 00551231042036, e-mail: [email protected]

Publicidade Il Sole 24 Ore S.p.A, System Comunicazione Pubblicitaria, Via Monte Rosa, 91,20149 Milano, [email protected]

Proteger a vidado início ao fim natural

Recomendou o Pontífice no final da prece mariana

ANGELUS

«Renovar o compromisso depreservar e proteger a vida humanadesde o início até ao fim natural»:foi a recomendação do PapaFrancisco no final do Angelus de 2 defevereiro, recitado com os fiéis napraça de São Pedro, dia em que aIgreja italiana celebra o Dia pelaVida. Anteriormente, comentando oevangelho do quarto domingo dotempo comum, o Pontífice falou daApresentação de Jesus no Templo.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!Hoje celebramos a Festa da Apre-sentação do Senhor: quando Jesus,recém-nascido, foi apresentado notemplo pela Virgem Maria e porSão José. Esta data marca tambémo Dia da Vida Consagrada, que re-corda o grande tesouro na Igrejadaqueles que seguem de perto oSenhor na profissão dos conselhosevangélicos.

O Evangelho (cf. Lc 2, 22-40)diz-nos que, quarenta dias depoisdo seu nascimento, os pais de Je-sus levaram o Menino a Jerusalémpara o consagrar a Deus, comoprescreve a lei judaica. E enquantodescreve um ritual tradicional, esteepisódio apresenta à nossa atençãoo exemplo de alguns personagens.Eles são apresentados no momento

em que experimentam o encontrocom o Senhor no lugar em que Elese torna presente e próximo do ho-mem. Trata-se de Maria e José, Si-meão e Ana, que representam mo-delos de acolhimento e de entregada sua vida a Deus. Estes quatronão eram iguais, eram todos dife-rentes, mas todos procuravamDeus e deixavam-se guiar pelo Se-n h o r.

O evangelista Lucas descreve osquatro numa dupla atitude: atitudede movimento e atitude de a d m i ra -ção.

A primeira atitude é o movimen-to. Maria e José caminham em di-reção a Jerusalém; por sua vez, Si-meão, movido pelo Espírito, vai aotemplo, enquanto Ana serve aDeus dia e noite sem descanso.Deste modo, os quatro protagonis-tas do trecho evangélico mostram-nos que a vida cristã requer dina-mismo e exige vontade de cami-nhar, deixando-se guiar pelo Espí-rito Santo. A inação não é adequa-da ao testemunho cristão e à mis-são da Igreja. O mundo precisa decristãos que se deixem interpelar,que não se cansem de andar pelasruas da vida, para levar a todos apalavra consoladora de Jesus. To-dos os batizados receberam a voca-ção para anunciar — anunciar algo,

anunciar Jesus — a vocação para amissão evangelizadora: proclamarJesus! As paróquias e as diversascomunidades eclesiais são chama-das a fomentar o empenho dos jo-vens, das famílias e dos idosos, pa-ra que todos possam ter uma expe-riência cristã, vivendo a vida e amissão da Igreja como protagonis-tas.

A segunda atitude com a qualSão Lucas apresenta os quatro per-sonagens da história é a a d m i ra ç ã o .Maria e José «estavam admiradoscom o que se dizia dele [de Jesus]»(v. 33). A admiração é tambémuma reação explícita do velho Si-meão, que no Menino Jesus vêcom os seus olhos a salvação reali-zada por Deus a favor do seu po-vo: aquela salvação que ele espera-va há anos. E o mesmo é válidopara Ana, que se «pôs a louvar aDeus» (v. 38) e começou a indicarJesus ao povo. Ela é uma santa fa-ladora. Ela falou de coisas boas,não de coisas más. Dizia, anuncia-va: uma santa que foi ao encontrode outra mulher para lhe mostrarJesus. Estas figuras de crentes estãoenvoltas na admiração, porque sedeixaram capturar e abranger pelosacontecimentos que se verificavamdiante dos seus olhos. A capacida-de de se admirar com as coisas quenos rodeiam favorece a experiênciareligiosa e torna fecundo o encon-tro com o Senhor. Pelo contrário, aincapacidade de se surpreender tor-na-nos indiferentes e alarga a dis-tância entre o caminho da fé e a vi-da quotidiana. Irmãos e irmãs,sempre em movimento e permane-cendo abertos à admiração!

Que a Virgem Maria nos ajude acontemplar todos os dias em Jesuso dom de Deus para nós e a dei-xar-nos atrair por Ele no movimen-

to da doação, com jubilosa admira-ção, para que toda a nossa vida setorne um louvor a Deus no serviçoaos nossos irmãos.

No final da prece mariana o SantoPadre recordou o Dia pela vida,pediu um aplauso para osconsagrados e por fim saudou os fiéisp re s e n t e s .

Estimados irmãos e irmãs!Hoje, na Itália, celebramos o Diapela Vida, que tem como tema«Abrir as portas à vida». Associo-me à Mensagem dos Bispos e espe-ro que este Dia seja uma oportuni-dade para renovar o compromissode preservar e proteger a vida hu-mana desde o início até ao seu fimnatural. É necessário também com-bater todas as formas de violaçãoda dignidade, até quando estão emjogo a tecnologia ou a economia,abrindo as portas a novas formasde fraternidade solidária. Hoje, noDia da Vida Consagrada, gostariaque todos nós, na praça, rezásse-mos pelos consagrados e consagra-das que tanto trabalho fazem emuitas vezes em segredo. Rezemosjuntos [Ave Maria]. E um aplausoaos homens e mulheres consagra-dos!

Saúdo-vos a todos, romanos eperegrinos. Em particular, os estu-dantes de Badajoz (Espanha); osfiéis de Cremona, Spoleto, Fano,Palau e Roseto degli Abruzzi. Vejoque há peregrinos polacos, muitos!E peregrinos japoneses, saudemo-los!

Desejo-vos a todos bom domin-go. E, por favor, não vos esqueçaisde rezar por mim. Bom almoço eaté à vista!

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número 5, terça-feira 4 de fevereiro de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 3

O caminho certoda felicidade

Início do ciclo de meditações sobre as bem-aventuranças

C AT E Q U E S E

«Far-nos-á bem hoje abrir o Evangelho de Mateus, capítulo cinco, versículo deum a onze e ler as Bem-aventuranças... para compreender este caminho tãobonito, tão certo da felicidade». Frisou o Papa na audiência geral de quarta-feira, 29 de janeiro, na sala Paulo VI, inaugurando um novo ciclo decatequeses dedicadas ao texto que abre o Sermão da Montanha.

anuncia as bem-aventuranças. Por-tanto, a mensagem é dirigida aosdiscípulos, mas no horizonte está amultidão, ou seja, toda a humani-dade. É uma mensagem para todaa humanidade.

Além disso, a “montanha” faz re-cordar o Sinai, onde Deus entre-gou os Mandamentos a Moisés. Je-sus começa a ensinar uma nova lei:ser pobre, ser manso, ser misericor-dioso... Estes “novos mandamen-tos” são muito mais que normas.De facto, Jesus nada impõe, masrevela o caminho da felicidade — oseu caminho — repetindo a palavra“felizes” oito vezes.

Cada Bem-aventurança compõe-se de três partes. Inicia semprecom a palavra “felizes”; depois vema situação na qual os felizes se en-contram: pobreza de espírito, afli-ção, fome e sede de justiça, e assimpor diante; por fim há o motivo dabem-aventurança, introduzido pelaconjunção “p orque”: “Felizes estesporque, felizes aqueles porque...”Assim as Bem-aventuranças são oi-

to e seria bom aprendê-las de corpara as repetir, a fim de ter namente e no coração esta lei que Je-sus nos deu.

Prestemos atenção a este facto: omotivo da bem-aventurança não éa situação atual, mas a nova condi-ção que os bem-aventurados rece-bem como dom de Deus: “p orquedeles é o reino do céu”, “p orqueserão consolados”, “porque possui-rão a terra”, e assim por diante.

No terceiro elemento, que é pre-cisamente o motivo da felicidade,Jesus usa muitas vezes um futuropassivo: “serão consolados”, “p os-suirão a terra”, “serão saciados”,“alcançarão a misericórdia”, “serãochamados filhos de Deus”.

Mas o que significa a palavra “fe-liz”? Por que começa cada uma dasoito Bem-aventuranças com a pala-vra “feliz”? O termo original nãoindica alguém que tem a barrigacheia ou está bem na vida, mas éuma pessoa que está em condiçãode graça, que progride na graça deDeus e no caminho de Deus: a pa-ciência, a pobreza, o serviço aosoutros, a consolação... Quantosprogridem nestes aspetos são feli-zes e serão bem-aventurados.

Deus, para se doar a nós, esco-lhe muitas vezes caminhos impen-sáveis, talvez os dos nossos limites,das nossas lágrimas, das nossasderrotas. É a alegria pascal da qualfalam os nossos irmãos orientais,aquela que tem os estigmas, masestá viva, atravessou a morte e ex-perimentou o poder de Deus. AsBem-aventuranças conduzem-nos àalegria, sempre; são o caminho pa-ra alcançar a alegria. Far-nos-ábem hoje abrir o Evangelho deMateus, capítulo cinco, versículosde um a onze e ler as Bem-aventu-ranças — talvez várias vezes duran-te a semana — para compreendereste caminho tão bonito, tão segu-ro da felicidade que o Senhor nosp ro p õ e .

No final da catequese, o Santo Padresaudou os grupos linguísticospresentes, dirigndo aos de expressãoportuguesa as seguintes palavras.

Queridos peregrinos de língua por-tuguesa, sede bem-vindos! A todosvos saúdo, convidando-vos a pedirao Senhor uma fé grande para ver-des a realidade com o olhar deDeus, e uma grande caridade paravos aproximardes das pessoas como seu coração misericordioso. Con-fiai em Deus, como a Virgem Ma-ria! Sobre vós e vossas famílias,desça a bênção do Senhor!

Audiência ao presidente da República do Iraque

Amados irmãos e irmãs, bom dia!Hoje iniciamos uma série de cate-queses sobre as Bem-aventurançasno Evangelho de Mateus (5, 1-11).Este texto abre o “Sermão da Mon-tanha” e iluminou a vida dos cren-tes, e também de muitos não-cren-tes. É difícil não se comover comestas palavras de Jesus, e é justo odesejo de as compreender e acolhercada vez mais plenamente. As Bem-aventuranças contêm o “bilhete deidentidade” do cristão — este é onosso bilhete de identidade — p or-que delineiam o rosto do próprioJesus, o seu estilo de vida.

Agora enquadremos estas pala-vras de Jesus globalmente; nas pró-ximas catequeses comentaremos ca-da uma das bem-aventuranças,uma de cada vez.

Antes de tudo, é importante co-mo surgiu o anúncio desta mensa-gem: Jesus, vendo a multidão queo seguia, sobe à suave encosta querodeia o lago da Galileia, senta-see, dirigindo-se aos discípulos,

No sábado, 25 de janeiro, o PapaFrancisco recebeu em audiênciaSua Excelência o senhor BarhamSalih, presidente da República doIraque, que sucessivamente se en-controu com o cardeal Pietro Paro-lin, secretário de Estado, acompa-nhado pelo arcebispo Paul RichardGallagher, secretário para as Rela-ções com os Estados.

Durante os colóquios cordiais fo-ram evocadas as boas relações bila-terais e os desafios atuais do país, aimportância de incentivar a estabili-dade e o processo de reconstrução,encorajando o caminho do diálogoe a busca de soluções adequadasem favor dos cidadãos e no respeitopela soberania nacional. Na conti-nuação dos colóquios foi frisada aimportância de preservar a presençahistórica dos cristãos no país, doqual são parte integrante, e a con-

tribuição significativa que oferecempara a reconstrução do tecido so-cial, realçando a necessidade delhes garantir segurança e um lugarno futuro do Iraque. Por fim, fo-ram mencionados os vários confli-

tos e graves crises humanitárias queafligem a Região, evidenciando arelevância dos esforços realizadoscom o apoio da comunidade inter-nacional para restabelecer a con-fiança e a convivência pacífica.

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página 4 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 4 de fevereiro de 2020, número 5

Em diálogo com o arcebispo José Rodríguez Carballo

Sinal e profeciaNICOLA GORI

A vida consagrada é profecia; é, usando umsímbolo querido ao Papa Francisco, como aágua que deve escorrer para não deteriorar.Os consagrados estão sempre a caminho embusca do que Deus quer deles e do que osfiéis lhes pedem. Falámos sobre isto com oarcebispo José Rodríguez Carballo, secretárioda Congregação para os institutos de vidaconsagrada e as sociedades de vida apostóli-ca, nesta entrevista concedida a «L’O sservato-re Romano» por ocasião do XXIV Dia mun-dial celebrado em Roma com o Papa Francis-co, a 1 de fevereiro, na basílica vaticana.

Francisco, é como a água: se não escorrer,deteriora-se. Se a vida consagrada não quiserser meramente admirada como uma peça demuseu, mas apresentar-se diante das pessoascomo uma forma de vida bonita e possíveltambém para os outros, deve perguntar-seconstantemente o que querem dela Deus e opovo de Deus, neste momento e nestas cir-cunstâncias. O discernimento para respondera esta pergunta e para se colocar na direçãoindicada pelo Espírito é essencial. Por fim,os consagrados, que receberam a chamada ainterceder pelo povo de Deus, sentem tam-bém a necessidade da oração coral da Igrejapor eles: para que permaneçam sempre fiéis àchamada do Senhor e à missão nas periferias

Francisco deve ressoar bem alto: «Despertai omundo! Sede testemunhas de uma maneiradiferente de fazer, de agir e de viver!»; ouainda: «Na Igreja, os religiosos são chamadosa ser profetas, a dar testemunho de como Je-sus viveu nesta terra e a proclamar como oReino de Deus estará na sua perfeição». Pararesponder a esta vocação terão que procurarapaixonadamente a vontade do Senhor, anun-ciando a boa nova a todos, sobretudo nas pe-riferias existenciais; procurar novas formas pa-ra proclamar o Evangelho, denunciando tudoo que for contrário à vontade de Deus. Comodiz o livro do D e u t e ro n ó m i o , falando sobreMoisés, o profeta deve orientar o povo à es-

Como surgiu esta iniciativa e quais são os seusobjetivos?

É um fruto do Sínodo dos bispos sobre avida consagrada e da publicação da exorta-ção pós-sinodal Vita consecrata, em 1996. Afinalidade deste Dia é alcançar três objetivos:tornar a vida consagrada mais conhecida eapreciada em toda a Igreja, não só pelo quefaz, mas sobretudo, pelo que é e significa;encorajar os consagrados a continuar a refle-xão e o discernimento sobre a sua identidadee missão na Igreja e no mundo, e fazer comque a Igreja se una aos consagrados de todoo mundo no louvor e na oração pelo domque Deus lhes concedeu com a vida consa-grada. A Igreja não pode apreciar a vidaconsagrada apenas pela sua funcionalidade;ela não é unicamente “mão de obra”, mas an-tes de tudo é sinal e profecia de outras reali-dades muito mais profundas. Os consagra-dos, como todo o povo de Deus, não podemjulgar a vida consagrada somente pelo queaparece através das suas obras. Pelo contrá-rio, muitos deles deverão de ser revisitadospara ver se respondem ou não ao carisma doseu instituto e à sua missão. A vida consagra-da deve ser apreciada e valorizada pelo queé: uma forma profética de viver o Evangelho.Por outro lado, os consagrados devem conti-nuar a discernir a sua identidade e missão àluz do Evangelho, do próprio carisma e dossinais dos tempos, sempre guiados pelo ma-gistério da Igreja.

Existe uma simbologia que expresse a vida con-s a g ra d a ?

Os consagrados devem estar bem cons-cientes de que a sua vida, assim diz o Papa

da existência e do pensamento, à qual o Es-pírito as impulsiona neste momento atravésdo rico magistério do Papa Francisco. E sem-pre sem esquecer de rezar para que o Senhorcontinue a enriquecer os vários carismas comnumerosas vocações.

O Pontífice indica a vida consagrada como«louvor que dá alegria ao povo de Deus, visãoprofética que revela o que conta». Como podeser interpretado isto na vida diária?

O Santo Padre insiste constantemente naprofecia como elemento indispensável da vi-da consagrada. Esta não pode renunciar àprofecia sem correr o perigo de perder o sa-bor e, portanto, a sua razão de ser. A profe-cia é inerente à vida consagrada, disse JoãoPaulo II; a profecia é a nota que caracteriza avida consagrada, repete-o sempre Papa Fran-cisco. A vida consagrada, assim como não po-de renunciar à paixão por Cristo, que é o seuverdadeiro fundamento, nem sequer pode re-nunciar à paixão pela humanidade, particular-mente a humanidade ferida, vulnerável, queconstitui a sua missão. Ao serem profetas, enão apenas ao brincar de ser profetas, as pes-soas consagradas apostam a sua credibilidade.A vida consagrada é chamada a manter acesaa lâmpada do profetismo, tornando-se um fa-rol para quantos estão desorientados no altomar, uma tocha para aqueles que caminhamna escuridão, uma sentinela para aqueles quenão veem uma saída na vida. Ao mesmo tem-po, não pode renunciar a dar voz àqueles quenão a têm, e exigir justiça onde não há ne-nhuma. Só assim será uma vida profética,uma alternativa à cultura do descarte. No co-ração dos consagrados o convite do Papa

cuta obediente da Palavra e conformar-se comos planos de Deus na história (cf. 18, 15-24).

Nos próximos dias haverá um congresso com apresença das claustrais. Qual é o lugar delas naI g re j a ?

Depois de três simpósios e dois seminárioscelebrados nos últimos anos sobre economiaao serviço da vida consagrada, agora no con-gresso programado de 31 de janeiro a 1 de fe-vereiro, queremos abordar o tema específicoda gestão dos bens e do património na vidacontemplativa. Parece-nos importante e ur-gente adaptar esta gestão à legislação daIgreja, como é tratado no documento que hádois anos foi publicado pela nossa Congre-gação, A Economia ao serviço do carisma e damissão, respeitando sempre as normas do Di-reito canónico e, neste caso, também a legis-lação italiana. Por esta última razão, o con-gresso é dirigido às abadessas e ecónomasdos mosteiros na Itália.

No mês de maio será realizado um eventosemelhante na Espanha. Além dos relatoresdo nosso Dicastério, falarão também peritosem economia da Universidade católica deMilão, com a qual colaboramos neste âmbitohá vários anos, e também da Conferênciaepiscopal italiana. Neste momento, mais de400 contemplativas já se inscreveram. Há,além disso, cerca de trinta convidados. Ocongresso tem certamente o apoio do SantoPadre, que permitiu também a participaçãode contemplativas na missa presidida por elena basílica de São Pedro a 1 de fevereiro pe-las 17h00 por ocasião do Dia mundial da Vi-da consagrada.

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número 5, terça-feira 4 de fevereiro de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 5

Na basílica de São Pedro missa na vigília do Dia mundial da vida consagrada

A graça é antídoto contra o desânimo«Quem sabe ver, antes de tudo, agraça de Deus, descobre o antídotocontra o desânimo e o olharmundano», realçou o Papa Franciscodurante a homilia da santa missapresidida na basílica de São Pedro nofinal da tarde de 1 de fevereiro, vigíliada festa da Apresentação do Senhor,24º Dia mundial da vida consagrada.A seguir, a reflexão do Santo Padrenessa ocasião.

«Meus olhos viram a Salvação» (Lc2, 30): são as palavras de Simeão,que o Evangelho apresenta comoum homem simples, um homem«justo e piedoso», diz o texto (v.25). Mas, dentre todos os homensque estavam no templo naquele dia,só ele viu em Jesus o Salvador. Queviu ele? Um menino; um pequenino,frágil e simples menino. Mas n’Eleviu a Salvação, porque o EspíritoSanto lhe fez reconhecer, naqueleterno recém-nascido, «o Messias doSenhor» (v. 26). Ao tomá-lo nos bra-ços, percebeu, pela fé, que n’EleDeus cumpria as suas promessas. Eassim ele, Simeão, já podia partir empaz: vira a graça que vale mais doque a vida (cf. Sl 63/62, 4), e nadamais esperava.

Também vós, queridos irmãos e ir-mãs consagrados, sois homens e mu-lheres simples que vistes o tesouroque vale mais do que todas as rique-zas do mundo. Por ele, deixastescoisas preciosas, tais como bens,criar uma família própria. Por que ofizestes? Porque vos apaixonastespor Jesus, n’Ele vistes tudo e, fasci-nados pelo seu olhar, deixastes oresto. A vida consagrada é esta visão.É ver aquilo que conta na vida. Éacolher de braços abertos o dom doSenhor, como fez Simeão. Isto é oque veem os olhos dos consagrados:a graça de Deus derramada nas suasmãos. A pessoa consagrada é alguémque, ao olhar-se cada dia, diz: “Tu d oé dom, tudo é graça!”. Queridos ir-mãos e irmãs, não é mérito nosso avida religiosa, é um dom de amorque recebemos.

Meus olhos viram a Salvação: sãoas palavras que repetimos cada noitena hora das Completas. Com elas,concluímos a jornada, dizendo: “Se-nhor, a minha salvação vem de Vó s ;as minhas mãos não estão vazias,mas cheias da vossa graça”. Saber vera graça é o ponto de partida. Olharpara trás, reler a própria história ever nela o dom fiel de Deus, nãoapenas nos grandes momentos da vi-da mas também nas fragilidades, fra-quezas, misérias. O tentador, o dia-bo insiste precisamente nas nossasmisérias, nas nossas mãos vazias:“Passados tantos anos, não melho-raste, não realizaste aquilo que po-dias, não te deixaram fazer aquilopara que estavas talhado, não fostesempre fiel, não és capaz” e assimpor diante. Cada um de nós conhecebem esta história, estas palavras. Ve-mos que, em parte, isto é verdade edeixamo-nos levar por pensamentose sentimentos que nos confundem. Ecorremos o risco de perder a bússo-la, que é a gratuidade de Deus. Comefeito, Deus ama-nos e sempre se

oferece a nós, mesmo nas nossas mi-sérias. São Jerónimo dera muitascoisas ao Senhor, mas o Senhor pe-dia-lhe mais... Ele retorquiu: “Se-nhor, dei-vos tudo, tudo. Que faltaainda?” — “Os teus pecados, as tuasmisérias. Dá-me as tuas misérias!”.Quando mantemos o olhar fixon’Ele, abrimo-nos ao perdão que nosrenova e somos confirmados pelasua fidelidade. Hoje podemos inter-rogar-nos: “Para quem volto o olhar,para o Senhor ou para mim?”.Quem sabe ver, antes de tudo, agraça de Deus, descobre o antídotopara o desânimo e o olhar munda-no.

Com efeito, sobre a vida religiosapaira esta tentação: ter um olharmundano. É o olhar que já não vê agraça de Deus como protagonista davida e vai à procura de qualquersubstituto: um pouco de sucesso,uma consolação afetiva, fazer final-mente aquilo que quero. A vida con-sagrada, quando deixa de girar emtorno da graça de Deus, retrai-se nopróprio eu: perde impulso, acomo-da-se, paralisa. E sabemos o queacontece depois! Reivindicam-se osespaços próprios e os direitos pró-prios, deixamo-nos cair em críticas emurmurações, indignamo-nos pelamais pequena coisa que não funcio-ne e entoamos a ladainha da lamen-tação — as lamúrias; tornamo-nos o“padre lamúrias”, a “irmã lamúrias”— acerca dos irmãos, das irmãs, dacomunidade, da Igreja, da socieda-de. Já não se vê o Senhor em tudo,mas só o mundo com as suas dinâ-micas; e o coração restringe-se. As-sim, a pessoa torna-se rotineira epragmática, enquanto no seu íntimoaumentam a tristeza e o desânimo,que degeneram em resignação. A is-to conduz o olhar mundano. Agrande Teresa dizia às suas irmãs:«Ai da irmã que vai repetindo “fize-ram-me uma injustiça”!».

A fim de ter um olhar justo sobrea vida, peçamos para saber ver, co-

mo Simeão, a graça de Deus queveio para nós. O Evangelho repetetrês vezes que Simeão tinha familia-ridade com o Espírito Santo, que es-tava nele, o inspirava e impelia (cf.vv. 25-27). Tinha familiaridade como Espírito Santo, com o amor deDeus. A vida consagrada, se perma-necer firme no amor do Senhor, vê abeleza. Vê que a pobreza não é umesforço titânico, mas uma liberdadesuperior, que nos presenteia comoverdadeiras riquezas Deus e os ou-tros. Vê que a castidade não é umaesterilidade austera, mas o caminhopara amar sem se apoderar. Vê que aobediência não é disciplina, mas avitória, no estilo de Jesus, sobre anossa anarquia. A propósito de po-breza e vida comunitária, numa dasterras atingidas pelo terremoto naItália, havia um mosteiro beneditinoque foi destruído e outro mosteiroconvidou as irmãs a mudarem-se pa-ra lá. Mas ficaram lá pouco tempo:não eram felizes, pensavam no lugarque deixaram, no povo da terra. Epor fim decidiram voltar e fazer omosteiro em duas rulotes. Em vez deestar num grande mosteiro, confortá-veis, viviam ali como os pintainhos,todas juntas, mas felizes na pobreza.Isto aconteceu no ano passado. Umacoisa linda!

Meus olhos viram a Salvação. Aover Jesus pequenino, humilde, queveio para servir e não para ser servi-do, Simeão define-se a si próprioservo. Na realidade afirma: «Agora,Senhor, segundo a tua palavras, dei-xarás ir em paz o teu servo» (v. 29).Quem mantém o olhar fixo em Je-sus, aprende a viver para servir. Nãoespera que os outros comecem, masvai à procura do próximo, como Si-meão que procurava Jesus no tem-plo. E onde se encontra o próximo,na vida consagrada? Esta é a ques-tão: onde se encontra o próximo?Antes de mais nada, na própria co-munidade. Devemos pedir a graçade saber procurar Jesus nos irmãos eirmãs que recebemos. É aqui que secomeça a praticar a caridade: no lu-gar onde vives, acolhendo os irmãos

e irmãs com as suas pobrezas, comoSimeão acolheu Jesus simples e po-bre. Há muitos, hoje, que só veemnos outros obstáculos e complica-ções. Há necessidade de olhares queprocurem o próximo, que aproxi-mem quem está distante. Como ho-mens e mulheres que vivem paraimitar Jesus, os religiosos e as reli-giosas são chamados a tornar pre-sente no mundo o olhar d’Ele, oolhar da compaixão, o olhar que vaià procura dos distantes, que nãocondena, mas encoraja, liberta, con-sola. O olhar de compaixão: aquelerefrão do Evangelho que muitas ve-zes, referindo-se a Jesus, diz “tevecompaixão”. É o abaixar-se de Jesuspara cada um de nós.

Meus olhos viram a Salvação. Osolhos de Simeão viram a Salvação,porque a esperavam (cf. v. 25). Eramolhos que aguardavam, que espera-vam. Procuravam a luz, e viram aluz das nações (cf. v. 32). Eramolhos idosos, mas brilhantes de es-perança. O olhar dos consagrados sópode ser um olhar de esperança. Sa-ber esperar. Olhando em redor, é fácilperder a esperança: as coisas que es-tão mal, a diminuição das vocações,etc. Paira ainda a tentação do olharmundano, que aniquila a esperança.Mas olhemos o Evangelho e vejamosSimeão e Ana: eram idosos, viviamsozinhos e contudo não tinham per-dido a esperança, porque estavamem contacto com o Senhor. Ana«não se afastava do templo, partici-pando no culto noite e dia, com je-juns e orações» (v. 37). Aqui está osegredo: não se afastar do Senhor,fonte da esperança. Tornamo-nos ce-gos, se não fixarmos o olhar no Se-nhor todos os dias, se não o adorar-mos. Adorar o Senhor!

Amados irmãos e irmãs, agradeça-mos a Deus pelo dom da vida con-sagrada e peçamos um olhar novo,que saiba ver a graça, que saiba p ro -curar o próximo, que saiba e s p e ra r.Então os nossos olhos também verãoa Salvação!

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número 5, terça-feira 4 de fevereiro de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 6/7

A velhice não é doençamas privilégio

Discurso no congresso internacional sobre «A riqueza dos anos»

A velhice não é «uma doença» mas «um privilégio»: recordou o Papa Francisco nodiscurso dirigido aos participantes no congresso internacional sobre o tema «A riquezados anos», que recebeu em audiência na manhã de sexta-feira 31 de janeiro, na SalaRégia.

psicofísico e de libertação das obriga-ções laborais.

Em ambas as situações, como viverestes anos? Qual sentido dar a esta faseda vida, que para muitos pode ser lon-ga? A desorientação social e, em mui-tos aspectos, a indiferença e a rejeiçãoque as nossas sociedades demonstrampara com os idosos, chamam não só aIgreja, mas todos, a uma séria reflexãopara aprender a compreender e a apre-ciar o valor da velhice. Na realidade,enquanto, por um lado, os Estados têmde lidar com a nova situação demográ-fica em termos económicos, por outro,a sociedade civil precisa de valores esignificados para a terceira e quartaidades. E aqui, acima de tudo, está acontribuição da comunidade eclesial.

Por isso, acolhi com interesse a ini-ciativa deste congresso, que focalizou aatenção no cuidado pastoral dos idosose iniciou uma reflexão sobre as implica-ções de uma presença substancial dosavós nas nossas paróquias e sociedades.Peço-vos que isto não permaneça umainiciativa isolada, mas marque o iníciode um caminho de aprofundamentopastoral e de discernimento. Devemosmudar os nossos hábitos pastorais pararesponder à presença de tantas pessoasidosas nas famílias e comunidades.

Na Bíblia, a longevidade é uma bên-ção. Confronta-nos com a nossa fragili-dade, com a nossa dependência mútua,com os nossos vínculos familiares e co-munitários e, sobretudo, com a nossafiliação divina. Concedendo a velhice,Deus Pai dá tempo para aprofundar o

conhecimento d’Ele, a intimidade comEle, para entrar cada vez mais no Seucoração e entregar-se a Ele. Este é omomento de nos prepararmos para en-tregar o nosso espírito nas suas mãos,definitivamente, com confiança de fi-lhos. Mas é também uma época de re-novada fecundidade. «Na velhice aindadarão fruto», diz o salmista (Sl 91, 15).Com efeito, o desígnio de salvação deDeus, também é realizado na pobrezade corpos débeis, estéreis e impotentes.Do ventre estéril de Sara e do corpocentenário de Abraão, nasceu o PovoEleito (cf. Rm 4, 18-20). De Isabel e doidoso Zacarias nasceu João Batista. Oidoso, mesmo quando está frágil, podetornar-se um instrumento da história dasalvação.

Consciente deste papel insubstituíveldas pessoas idosas, a Igreja torna-se umlugar onde as gerações são chamadas apartilhar o desígnio de amor de Deus,numa relação de intercâmbio recíprocodos dons do Espírito Santo. Esta parti-lha intergeracional obriga-nos a mudaro nosso modo de ver os idosos, aaprender a olhar para o futuro junta-mente com eles.

Quando pensamos nos idosos e fala-mos deles, ainda mais na dimensãopastoral, devemos aprender a mudarum pouco os tempos verbais. Para osidosos não há apenas o passado, comose para eles houvesse apenas uma exis-tência vivida e um arquivo bolorento.Não. O Senhor pode e quer escrevercom eles também novas páginas, pági-nas de santidade, de serviço, de ora-ção... Hoje gostaria de vos dizer que osidosos são ainda o presente e o futuro daIgreja. Sim, eles são também o futurode uma Igreja que, juntamente com osjovens, profetiza e sonha! Por isso é tão

importante que os idosos e os jovensfalem uns com os outros.

A profecia dos idosos realiza-sequando a luz do Evangelho entra ple-namente nas suas vidas; quando, comoSimeão e Ana, tomam Jesus nos seusbraços e anunciam a revolução da ternu-ra , a Boa Nova daquele que veio aomundo para trazer a luz do Pai. Por is-so peço-vos que não vos poupeis a pro-clamar o Evangelho aos avós e aos ido-sos. Ide ao encontro deles com um sor-riso no rosto e o Evangelho nas mãos.

Ide pelas ruas das vossas paróquias eprocurai os idosos que vivem sozinhos.A velhice não é uma doença, é um pri-vilégio! A solidão pode ser uma doen-ça, mas podemos curá-la com caridade,proximidade e conforto espiritual.

Deus tem uma grande população deavós em todas as partes do mundo.Hoje em dia, nas sociedades seculariza-das de muitos países, as atuais geraçõesde pais não têm, na sua maioria, aquelaformação cristã e aquela fé viva que, aocontrário, os avós podem transmitir aosseus netos. Eles são o elo indispensávelpara educar as crianças e os jovens nafé. Devemos acostumar-nos a incluí-losnos nossos horizontes pastorais e consi-derá-los, de forma não episódica, comoum dos componentes vitais das nossascomunidades. Eles não são apenas pes-soas que devemos ajudar e a protegerpara preservar a sua vida, mas podemser atores de uma pastoral evangeliza-dora, testemunhas privilegiadas doamor fiel de Deus.

Por isso, agradeço a todos vós quededicais as vossas energias pastorais aosavós e aos idosos. Estou bem conscien-te de que o vosso empenho e reflexãonascem de uma amizade concreta commuitas pessoas idosas. Espero queaquela que hoje é a sensibilidade depoucos se torne património de toda co-munidade eclesial. Não tenhais medo,tomai iniciativas, ajudai os vossos Bis-pos e Dioceses a promover o serviçopastoral aos idosos e com os idosos.Não desanimeis, ide em frente! O Di-castério para os Leigos, a Família e aVida continuará a acompanhar-vos nes-te trabalho.

Eu também vos acompanho com aminha oração e bênção. E vós, por fa-vor, não vos esqueçais de rezar pormim. Obrigado!

À Congregação para a doutrina da fé o Pontífice recordou o dever de não abandonar ninguém

Todas as vidas são dignasÉ necessário garantir a terapia da dignidade aos doentes terminais

A 30 de janeiro o Papa Franciscorecebeu em audiência na SalaClementina os participantes naassembleia plenária da Congregação paraa Doutrina da Fé, aos quais dirigiu oseguinte discurso.

Senhores CardeaisAmados irmãos no episcopadoe no sacerdócioEstimados irmãos e irmãs!Recebo-vos por ocasião da vossa As-sembleia Plenária. Agradeço ao Prefei-to pelas suas amáveis palavras e saúdotodos vós, Superiores, Oficiais eMembros da Congregação para aDoutrina da Fé. Agradeço-vos todo otrabalho que fazeis ao serviço da Igre-ja universal, em ajuda ao Bispo deRoma e aos Bispos do mundo, na pro-moção e tutela da integridade da dou-trina católica no respeitante à fé e àmoral.

A doutrina cristã não é um sistemarígido e fechado em si, nem sequer éuma ideologia que muda com o passardas estações; é uma realidade dinâmi-ca que, permanecendo fiel ao seu fun-damento, se renova de geração em ge-ração e se realiza num rosto, num cor-po e num nome: Jesus Cristo Ressus-citado.

Graças ao Senhor ressuscitado, a féabre-nos ao próximo e às suas necessi-dades, desde as menores até às maio-res. Portanto, a transmissão da fé exi-ge que se tenha em consideração o seudestinatário, que o conheçamos e ame-mos ativamente. Nesta perspectiva, ésignificativo o vosso compromisso derefletir, durante esta Plenária, sobre ocuidado das pessoas nas fases críticase terminais da vida.

O atual contexto sóciocultural estáprogressivamente a desgastar a cons-ciência do que torna a vida humanapreciosa. Na realidade, ela está a sercada vez mais avaliada com base nasua eficiência e utilidade, a ponto deconsiderar “vidas descartadas” ou “vi-das indignas” aquelas que não corres-pondem a este critério. Nesta situaçãode perda dos valores autênticos, vêm afaltar os deveres inalienáveis de solida-riedade e fraternidade humana e cris-tã.

Na realidade, uma sociedade merecea qualificação de “civilizada" se desen-volver anticorpos contra a cultura dodescarte; se reconhecer o valor intangí-vel da vida humana; se a solidariedadefor ativamente praticada e salvaguar-dada como fundamento da convivên-cia.

Quando a doença bate à porta danossa vida, emerge cada vez mais emnós a necessidade de alguém que olhepara nós, que nos pegue pela mão,que mostre a sua ternura e cuide denós, como o Bom Samaritano da pará-bola do Evangelho (cf. Mensagem parao XXVIII Dia Mundial do Doente, 11 defevereiro de 2020).

O tema do cuidado dos doentes,nas fases críticas e terminais da vida,põe em questão a tarefa da Igreja dereescrever a “gramática” de assumir e

cuidar da pessoa que sofre. O exem-plo do Bom Samaritano ensina que énecessário converter o olhar do cora-ção, porque muitas vezes quem olhanão vê. Porquê? Porque falta compai-xão. Ocorre-me que, muitas vezes, oEvangelho, falando de Jesus diante deuma pessoa sofredora, diz: “encheu-sede compaixão”, “encheu-se de compai-xão”.... Um refrão da pessoa de Jesus.Sem compaixão, quem olha não se co-move com o que vê e passa adiante;ao contrário, quem tem um coraçãocompassivo deixa-se tocar e comover,pára e cuida.

Em volta da pessoa doente é neces-sário criar uma verdadeira plataformahumana de relações que, enquanto fa-vorecem os cuidados médicos, abram àesperança, especialmente naquelas si-tuações-limite nas quais o mal físico éacompanhado pelo desconforto emo-cional e angústia espiritual.

A abordagem relacional — e nãomeramente clínica — com o paciente,considerada na singularidade e integri-dade da sua pessoa, impõe o dever denunca abandonar ninguém na presen-ça de males incuráveis. A vida huma-na, devido ao seu destino eterno, con-serva todo o seu valor e dignidade em

sam viver com dignidade, confortadospela proximidade dos seus entes queri-dos, a fase final da sua vida terrena.Espero que estes centros continuem aser lugares onde a “terapia da dignida-de” seja praticada com esmero, ali-mentando assim o amor e o respeitopela vida.

Aprecio também o estudo que em-preendestes acerca da revisão das nor-mas sobre os delicta graviora re s e r v a d aao vosso Dicastério, contidas no Motuproprio “Sacramentorum sanctitatis tute-la” de São João Paulo II. O vossocompromisso enquadra-se na justa di-reção de atualizar a normativa comvista a tornar os procedimentos maiseficazes, mais ordenados e orgânicos, àluz de novas situações e problemas noatual contexto sóciocultural. Ao mes-mo tempo, exorto-vos a prosseguir re-solutamente nesta tarefa, a fim de darum contributo válido num âmbito noqual a Igreja está diretamente envolvi-da, a proceder com rigor e transparên-cia na tutela da santidade dos Sacra-mentos e da dignidade humana viola-da, especialmente a dos mais pequeni-nos.

Por fim, congratulo-me pela recentepublicação do documento preparado

qualquer condição, até de precarieda-de e fragilidade, e como tal é sempredigna da mais alta consideração.

Santa Teresa de Calcutá, que viveuo estilo da proximidade e da partilha,preservando, até ao fim, o reconheci-mento e o respeito pela dignidade hu-mana, e tornando mais humana amorte, disse: «Quem no caminho davida acendeu até uma só chama nahora escura de alguém, não viveu emvão».

A este respeito, penso quanto bemfazem os serviços de cuidados paliati-vos, onde os doentes terminais são as-sistidos com apoio médico, psicológicoe espiritual qualificado, para que pos-

pela Pontifícia Comissão Bíblica sobreos temas fundamentais da antropolo-gia bíblica. Com ele, é aprofundadauma visão global do projeto divino,que começou com a criação e encontrao seu cumprimento em Cristo, o Ho-mem novo, que constitui «a chave, ocentro e o fim de toda a história hu-mana» (Conc. Ecum. Vat. II, Const.past. Gaudium et spes, 10).

Agradeço a todos vós, Membros eColaboradores da Congregação para aDoutrina da Fé, pelo vosso valiososerviço. Invoco sobre vós a abundân-cia das bênçãos do Senhor; e peço-vos, por favor, que rezeis por mim.O brigado!

Amados irmãos e irmãs!Dou as bem-vindas a vós que partici-pastes no primeiro Congresso Interna-cional de Pastoral dos Idosos — “A ri-queza dos anos” — organizado pelo Di-castério para os Leigos, a Família e aVida; e agradeço ao Cardeal Farrell assuas amáveis palavras.

A “riqueza dos anos” é a riqueza daspessoas, de cada pessoa que tem mui-tos anos de vida, de experiência e dehistória. É o tesouro precioso que seforma ao longo da vida de cada ho-mem e mulher, qualquer que seja a suaorigem, a sua proveniência, as suascondições económicas ou sociais. Pois avida é um dom, e quando é longa é umprivilégio, para si mesmo e para os ou-tros. Sempre, é sempre assim.

No século XXI, a velhice tornou-seuma das características da humanidade.Em poucas décadas, a pirâmide demo-gráfica — que outrora se baseava numgrande número de crianças e jovens etinha alguns idosos no seu topo — in-verteu-se. Se outrora os idosos pode-riam povoar um pequeno estado, hojepoderiam povoar um continente intei-ro. Neste sentido, a grande presençados idosos é uma novidade para todosos ambientes sociais e geográficos domundo. Além disso, a velhice hoje cor-responde a diferentes fases da vida: pa-ra muitos é a idade em que se inter-rompe o compromisso produtivo, dimi-nuem as forças e surgem sinais dedoença, a necessidade de ajuda e isola-mento social; mas para muitos é o iní-cio de um longo período de bem-estar

«Retrato de uma idosa», obra do monogramista I.S. (1632-1658)

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página 8 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 4 de fevereiro de 2020, número 5

O Senhor veio para os pecadoresnão para os perfeitos

Francisco adverte a Rota Romana contra a tentação de uma pastoral de elite

como na descrição de Paulo nuncaestão parados, mas sempre em cons-tante movimento. E perguntamo-nosporque este modelo de casal itine-rante não teve, na pastoral da Igreja,a sua própria identidade de espososevangelizadores por muitos séculos.É disto que as nossas paróquias pre-cisariam, sobretudo nas zonas urba-nas, onde o pároco e os seus colabo-radores clérigos nunca terão temponem força para chegar aos fiéis que,declarando-se cristãos, permanecemafastados da frequência dos sacra-mentos e privados, ou quase, do co-nhecimento de Cristo.

É surpreendente, portanto, depoisde tantos séculos, a imagem modernadeste santo casal em movimento pa-ra que Cristo fosse conhecido: elesevangelizaram sendo mestres da pai-xão pelo Senhor e pelo Evangelho,uma paixão do coração que se tra-duz em gestos concretos de proximi-dade, de aproximação aos irmãosmais necessitados, de acolhimento ede cuidado.

No e x ó rd i o da reforma do Proces-so Matrimonial, insisti em duas pé-rolas: proximidade e gratuidade.Não vos esqueçais disto. São Pauloencontrou nestes esposos uma forma

de estar perto dos distantes, e amou-os vivendo com eles por mais de umano, em Corinto, por serem espososmestres de g ra t u i d a d e . Muitas vezessinto receio do juízo que Deus vosdará sobre estas duas coisas. Ao jul-gar, eu estava perto do coração daspessoas? Ao julgar, eu abri o coraçãoà g ra t u i d a d e ou fui levado por inte-resses comerciais? O juízo de Deusserá muito rigoroso sobre isso.

Os esposos cristãos devem apren-der de Áquila e Priscila como seapaixonar por Cristo e como estarpróximo das famílias, muitas vezesprivadas da luz da fé, não por causada sua culpa subjectiva, mas porqueficam à margem da nossa pastoral:uma pastoral de elite que esquece op ovo.

Gostaria muito que este discursonão fosse apenas uma sinfonia depalavras, mas que estimulasse, porum lado, pastores, bispos, párocos aprocurar amar, como fez o apóstoloPaulo, os casais como humildes mis-sionários dispostos a chegar àquelaspraças e palácios da nossa metrópo-le, onde a luz do Evangelho e a vozde Jesus não chega nem penetra. E,por outro lado, os cônjuges cristãosque têm a audácia de despertar dosono, como fizeram Aquila e Prisci-la, capazes de serem agentes, não di-zemos independentes, mas certamen-

Senhor DecanoReverendíssimos Prelados AuditoresEstimados Oficiaisda Rota Romana!Estou feliz por poder encontrar-mehoje convosco por ocasião da inau-guração do Novo Ano Judiciáriodeste Tribunal. Agradeço calorosa-mente a Sua Excelência o Decanopelas nobres palavras que me dirigiue pelas sábias intenções metodológi-cas formuladas.

Gostaria de retomar a catequeserealizada na audiência geral de quar-ta-feira 13 de novembro de 2019, ofe-recendo-vos hoje uma reflexão adi-cional sobre o papel principal do ca-sal Áquila e Priscila como modelosde vida conjugal. De facto, para se-guir Jesus, a Igreja deve trabalharsegundo três condições confirmadaspelo próprio Mestre divino: itinerân-cia, prontidão e decisão (cf. An g e l u s ,30 de junho de 2019). A Igreja está,por natureza, em movimento, nãopermanece tranquila no seu recinto,está aberta a horizontes mais am-plos. A Igreja é enviada para levar oEvangelho para as ruas e alcançar asperiferias humanas e existenciais.Faz-nos lembrar o casal neotesta-mentário Áquila e Priscilla.

O Espírito Santo quis colocar aolado do Apóstolo [Paulo] este admi-rável exemplo de casal i t i n e ra n t e : defacto, tanto nos Actos dos Apóstolos

«O Senhor veio procurar os pecadores, não osperfeitos». Recordou o Papa Francisco no seguintediscurso que dirigiu aos prelados auditores, aosoficiais, aos advogados e aos colaboradores doTribunal da Rota romana por ocasião da soleneinauguração do ano judiciário. No início da

audiência, que teve lugar na Sala Clementina, a 25de janeiro, o decano, Pio Vito Pinto, dirigiu aoPontífice uma saudação em nome dos presentes, todosengajados «a responder com sabedoria e competênciaàs expectativas dos fiéis em busca da verdade acercado seu vínculo conjugal». Em seguida mencionou a

Reforma do processo matrimonial que «não obstanteas imensas e inevitáveis dificuldades chega aos fiéiscomo uma esperança inesperada», despertandosentimentos de gratidão para com o bispo de Roma»tanto nos Tribunais diocesanos como entre os muitoscasais de esposos.

Audiência ao presidenteda República Democrática do Congo

Entrada em vigordo Acordo-Quadro

entre a Santa Sé e a RepúblicaDemocrática do Congo

CO N T I N UA NA PÁGINA 9

A 17 de janeiro, no Palácio Apostólico do Vaticano, SuaEminência o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, eSua Ex.cia o Senhor Félix Antoine Tshisekedi Tshilombo,Presidente da República Democrática do Congo, procede-ram ao intercâmbio dos instrumentos de ratificação doAcordo-Quadro entre a Santa Sé e a República Democráti-ca do Congo sobre temas de interesse comum, assinado noVaticano no dia 20 de maio de 2016.

O Acordo-Quadro entrou em vigor no mesmo dia, emconformidade com o artigo 21 § 1 do mesmo Acordo. To-mando conhecimento da respetiva independência e autono-mia da Igreja e do Estado, o Documento define o quadrojurídico para as relações mútuas. Em particular, é sanciona-da a liberdade da Igreja nas atividades apostólicas e na re-gulamentação das matérias de sua competência. Regularizatambém diversas áreas, incluindo as instituições educativascatólicas, o ensino da religião nas escolas, as obras caritati-vas da Igreja, a assistência pastoral nas Forças Armadas enas penitenciárias e hospitais, o regime patrimonial e fiscale a obtenção de vistos de entrada e autorizações de residên-cia para os religiosos. Prevê também entendimentos deaplicação entre a Conferência Episcopal e o Estado sobredeterminados assuntos de interesse comum.

O Papa recebeu em audiênciaa 17 de janeiro o Presidente daRepública Democrática doCongo, Sua Excelência o Se-nhor Félix Antoine TshisekediTshilombo, que em seguida seencontrou com o cardeal Pie-tro Parolin, secretário de Esta-do, acompanhado pelo arcebis-po Paul Richard Gallagher, se-cretário para as Relações comos Estados.

Durante os colóquios cor-diais foram destacadas as boasrelações bilaterais existentes,assim como a satisfação com aratificação do Acordo-Quadroentre a Santa Sé e a RepúblicaDemocrática do Congo sobre temas de interesse comum. Neste contexto, não faltou acontribuição da Igreja católica para o processo democrático e em favor do bem comume do desenvolvimento integral da Nação, especialmente no campo da educação e dasaúde. No prosseguimento dos colóquios, refletiu-se sobre a situação atual do país, comespecial referência ao sofrimento da população nas províncias orientais, devido aos per-sistentes conflitos armados e à propagação do vírus Ébola. Por fim, foi destacada a ur-gência de coordenação e cooperação, a nível nacional e internacional, para proteger adignidade humana e promover a convivência civil, a começar pelos numerosos re f u g i a -dos e deslocados que enfrentam uma grave emergência humanitária.

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número 5, terça-feira 4 de fevereiro de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 9

CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 8

te cheios de coragem a ponto deacordar os pastores do sono e dotorpor, talvez demasiado quietos oubloqueados pela filosofia do peque-no círculo dos perfeitos. O Senhorveio para procurar os pecadores, nãoos perfeitos.

São Paulo VI, na Carta EncíclicaEcclesiam suam, observava: «É neces-sário, ainda antes de falar, auscultara voz e mesmo o coração do ho-mem, compreendê-lo e, na medidado possível, respeitá-lo» (n. 49).Ouvir o coração humano.

Trata-se, como recomendei aosBispos italianos, de «escutar o reba-nho, [...] estar próximos das pessoas,atentos para aprender a sua lingua-gem, para se aproximar de cada umcom caridade, permanecendo ao la-do das pessoas durante as noites dassuas solidões, das suas inquietaçõese dos seus fracassos» (Discurso à As-sembleia Geral da C.E.I., 19 de maiode 2014).

Devemos estar conscientes de quenão são os pastores que inventam,com a sua criatividade humana —embora em boa fé — os santos casaiscristãos; eles são obra do EspíritoSanto, que é o protagonista da mis-são, sempre, e já estão presentes nasnossas comunidades territoriais. Ca-be a nós pastores iluminá-los, dar-lhes visibilidade, torná-los fontes denovas capacidades para viver o ma-trimónio cristão; e também preservá-los para que não caiam em ideolo-gias. Estes casais, que o Espíritocontinua certamente a animar, de-vem estar prontos «a sair de si mes-mos e a abrir-se aos outros, a viver aproximidade, o estilo do viver jun-tos, que transforma qualquer relaçãointerpessoal numa experiência defraternidade» (Catequese, 16 de outu-bro de 2019). Pensemos no trabalhopastoral do catecumenado pré e pós-matrimonial: são estes casais que de-vem fazê-lo e ir em frente.

É necessário estar vigilantes paraque não caiam no perigo do particu-larismo, optando por viver em gru-pos escolhidos; pelo contrário, é pre-ciso «abrir-se à universalidade dasalvação» (ibid.). De facto, se agra-decemos a Deus pela presença naIgreja de movimentos e associaçõesque não descuidam a formação dosesposos cristãos, por outro lado, énecessário afirmar com força que aparóquia é em si mesma o lugar ecle-sial de anúncio e testemunho; por-que é neste contexto territorial que jávivem os esposos cristãos, dignos deiluminar, que podem ser testemunhasactivas da beleza e do amor conjugal

e familiar (cf. Exortação ap. pós-sin.Amoris laetitia, 126-130).

Portanto, a ação apostólica dasparóquias na Igreja é iluminada pelapresença de esposos como os do No-vo Testamento, descritos por Paulo eLucas: nunca parados, sempre emmovimento, certamente com descen-dência, segundo o que nos é trans-mitido pela iconografia das IgrejasOrientais. Portanto, que os Pastoresse deixem iluminar também hoje pe-lo Espírito, para que este anúnciosalvífico por parte de casais, quemuitas vezes estão prontos mas nãosão chamados, se torne realidade.Existem.

Hoje a Igreja precisa de casais emmovimento, em todo o mundo, masidealmente a partir das raízes daIgreja dos primeiros quatro séculos,ou seja, das catacumbas, como fezSão Paulo VI no final do Concílio,indo às Catacumbas de Domitila.Naquelas Catacumbas, este santoPontífice afirmou: «Aqui o cristianis-mo estava enraizado na pobreza, noostracismo dos poderes constituídos,no sofrimento da perseguição injustae sangrenta; aqui a Igreja foi despo-jada de todo o poder humano, erapobre, humilde, piedosa, oprimida,heroica. Aqui o primado do Espíritodo qual o Evangelho nos fala teve asua obscura, quase misteriosa, masinvencível afirmação, o seu testemu-nho incomparável, o seu martírio»(Homilia, 12 de setembro de 1965).

Se o Espírito não for invocado epor isso permanecer desconhecido eausente (cf. Homilia em Santa Mar-

ta, 9 de maio de 2016) no contextodas nossas Igrejas particulares, sere-mos privados da força que faz doscasais cristãos a alma e a forma deevangelização. Em termos concretos:viver a paróquia como aquele territó-rio jurídico-salvífico, por ser «casaentre as casas», família de famílias(cf. Homilia em Albano, 21 de setem-bro de 2019); Igreja — isto é, paró-quia — pobre para os pobres; corren-te de esposos entusiasmados e apai-xonados pela fé no Ressuscitado, ca-pazes de uma nova revolução da ter-nura do amor, como Áquila e Prisci-la, nunca satisfeitos ou fechados emsi mesmos.

Poderíamos pensar que este santocasal do Novo Testamento não tinhatempo para se mostrar cansado. As-sim, de fato, ele é descrito por Pauloe Lucas, para os quais foi compa-nheiro quase indispensável, precisa-mente porque não foi chamado porPaulo, mas despertado pelo Espíritode Jesus. É aqui que se funda a suadignidade apostólica de esposos cris-tãos. Foi o Espírito que os desper-tou. Pensemos em quando o missio-nário chega a um lugar: o EspíritoSanto já está là espera dele. Certa-mente, deixa um pouco perplexo ofacto do longo silêncio, nos séculospassados, sobre estas figuras santasda Igreja primitiva.

Convido e exorto os irmãos Bis-pos e Pastores a indicar estes santosesposos da Igreja primitiva comocompanheiros fiéis e luminosos dosPastores daquele tempo; comoapoio, hoje, e exemplo de como osesposos cristãos, jovens e idosos,possam tornar o matrimónio cristãosempre fecundo de filhos em Cristo.Devemos estar convencidos, e gosta-ria de dizer com certeza, que naIgreja tais casais já são um dom deDeus e não pelo nosso mérito, por-que são fruto da ação do Espírito,que nunca abandona a Igreja. Pelocontrário, o Espírito espera o ardordos pastores para que não se apaguea luz que estes casais difundem nasperiferias do mundo (cf. Gaudium etspes, 4-10).

Por conseguinte, permiti que oEspírito nos renove, para não nos re-signarmos com uma Igreja de pou-cos, como se ele quisesse permanecerapenas um fermento isolado, priva-

do daquela capacidade dos espososdo Novo Testamento de se multipli-carem em humildade e obediênciaao Espírito. O Espírito que iluminae é capaz de tornar salvífica a nossaactividade humana e a nossa pobre-za; é capaz de tornar salvífica qual-quer actividade nossa; convictos deque a Igreja não cresce por proseli-tismo, mas por atração — o testemu-nho destas pessoas atrai — e assegu-rando sempre e contudo a marca dotestemunho.

De Áquila e Priscila não sabemosse morreram mártires, mas são certa-mente, para os nossos esposos dehoje, um sinal de martírio, pelo me-nos espiritual, isto é, testemunhascapazes de serem fermento na fari-nha, de serem fermento na massa,que morre para se tornar a massa(cf. Discurso às Associações de Famí-lias Católicas na Europa, 1 de junhode 2017). Isto é possível hoje, emqualquer lugar.

Queridos juízes da Rota Romana,as trevas da fé ou o deserto da fé queas vossas decisões, desde há vinteanos, denunciaram como possívelcircunstância causal da nulidade doconsentimento, oferecem-me, tal co-mo ao meu predecessor Bento XVI(cf. Discursos à Rota Romana, 23 dejaneiro de 2015 e 22 de janeiro de2016; 22 de janeiro de 2011; cf. art.14 Ratio procedendi do Motu proprioMitis Iudex Dominus Iesus), o motivopara fazer um grave e urgente convi-te aos filhos da Igreja na época emque vivemos, para que se sintam,todos e cada um, chamados a trans-mitir ao futuro a beleza da famíliacristã.

A Igreja precisa ubicunque t e r ra r u mde casais como Áquila e Priscila, quefalem e vivam com a autoridade doBaptismo, que «não consiste emmandar e fazer-se ouvir, mas em sercoerente, em ser testemunha e porisso companheiro no caminho doSenhor» (Homilia a Santa Marta, 14de janeiro de 2020).

Dou graças ao Senhor que aindahoje concede aos filhos da Igreja acoragem e a luz para voltar aos iní-cios da fé e redescobrir a paixão dosesposos Áquila e Priscila, que são re-conhecíveis em cada matrimónio ce-lebrado em Cristo Jesus.

Por ocasião do encontro «Mediterrâneo fronteira de paz»

A 23 de fevereiro o Papa irá a Bari

Domingo, 23 de fevereiro, o Papa Francisco visitaráBari, onde concluirá o encontro de reflexão e espiri-tualidade «Mediterrâneo fronteira de paz». No en-contro, promovido pela Conferência episcopal italiana(CEI), que será aberto no dia 19 de fevereiro, partici-parão os bispos dos países limítrofes do Mare nos-trum.

O Pontífice chegará à capital da Apúlia de helicóp-tero. A chegada está prevista por volta das 8h15 damanhã na praça Cristoforo Colombo, onde será rece-bido pelo arcebispo de Bari-Bitonto, D. FrancescoCacucci, e pelas autoridades civis locais. Será imedia-ta a transferência de carro para a basílica pontifíciade São Nicolau, onde o Papa Francisco participará nasessão final do encontro. O programa inclui uma in-trodução do cardeal Gualtiero Bassetti, presidente daCEI, e os pronunciamentos do cardeal Vinko Puljić,arcebispo de Vrhbosna, Sarajevo e presidente daConferência episcopal da Bósnia e Herzegovina, e do

arcebispo Pierbattista Pizzaballa, administrador apos-tólico “sede vacante” do Patriarcado latino de Jerusa-lém.

Depois do discurso do Pontífice e das palavras deagradecimento do arcebispo de Argel, D. Paul Des-farges, presidente da Conferência episcopal regionalda África do Norte (CERNA), Francisco saudará osbispos presentes no encontro e irá à cripta da basílicapara venerar as relíquias de São Nicolau e encontrar-se com a comunidade dos padres dominicanos. Emseguida, do adro da basílica, saudará os fiéis reunidosna praça.

O momento culminante da manhã será a concele-bração eucarística que terá lugar na avenida VittorioEmanuele II. O Papa presidirá à liturgia, pronunciaráa homilia e, no final, recitará a oração mariana doAngelus. Por volta das 12h30, o Pontífice retornará àpraça Cristoforo Colombo, de onde regressará ao Va-ticano de helicóptero.

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página 10 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 4 de fevereiro de 2020, número 5

O Pontífice elogia a iniciativa ecológica dos pescadores de San Benedetto del Tronto

Um modelo de dedicaçãoa favor da salvaguarda do mar

A iniciativa de libertar os fundos marinhos doplástico empreendida pelos pescadores de SanBenedetto del Tronto «é muito importante» edeve representar «um modelo a repetir noutrasregiões da Itália e no estrangeiro», frisou oPapa na manhã de 18 de janeiro, ao receberem audiência na Sala Clementina umadelegação de trabalhadores do mar da regiãodas Marcas.

Caros irmãos e irmãs!Sinto-me feliz por vos conhecer e saúdo-voscordialmente. Agradeço ao vosso Bispo assuas palavras, assim como aos sacerdotesaqui presentes, que espiritualmente acompa-nham o vosso trabalho e as vossas famílias.Ao longo do litoral das Marcas, partis combom ou mau tempo para extrair do mar onecessário para viver, com tanta paixão,muitos sacrifícios e até com algum perigo. Eos vossos entes queridos partilham as difi-culdades e a precariedade que este vosso ti-po de vida comporta.

Sois uma categoria significativa na vidasocial do vosso território. No progresso quecarateriza a sociedade moderna, o pescadoràs vezes pode sentir-se tentado pelo desejode um trabalho seguro em terra firme. Noentanto, aqueles que nascem no mar nãopodem erradicar o mar dos seus corações.Exorto-vos a não perder a esperança diantedos inconvenientes e incertezas que infeliz-mente deveis enfrentar: a coragem não vosfalta! Ao mesmo tempo, é necessário que ovosso trabalho, muitas vezes arriscado e ár-duo, seja valorizado, apoiando os vossos di-reitos e as vossas legítimas aspirações.

Da minha parte, gostaria de expressar omeu particular apreço pela atividade de re-cuperação dos fundos marinhos que empre-endestes com a adesão de outras associaçõese a colaboração das Autoridades competen-tes. Esta iniciativa é muito importante, tantopela grande quantidade de resíduos, espe-cialmente de plástico, que recuperastes, co-mo — e diria acima de tudo — porque elapode e já está a tornar-se um modelo a re-petir noutras regiões da Itália e no estran-geiro. A obra “A Pesca de Plástico”, querealizastes de forma voluntária, é um exem-plo de como a sociedade civil local pode edeve contribuir para enfrentar questões de

importância global, sem nada tirar, pelocontrário, estimulando a responsabilidadedas instituições. E vejo que o trabalho con-tinua, porque eu dizia ao vosso Bispo queda outra vez que o grupo me visitou, fala-ram de cerca de 6 toneladas, agora de 24:sigamos em frente!

Caros amigos, o vosso é um trabalho anti-go. O meu predecessor Pedro também erapescador. No Evangelho lemos uma série deacontecimentos relacionados com a vida e omundo dos pescadores. Os primeiros discí-pulos de Jesus foram “vossos colegas”, e Elechamou-os para O seguir precisamentequando estavam a armar as suas redes namargem do lago da Galileia. Gosto de pen-sar que ainda hoje, quantos entre vós sois

cristãos, sentis a presença espiritual do Se-nhor ao vosso lado. A vossa fé anima valo-res preciosos: a religiosidade popular que seexpressa na confiança em Deus, no sentidoda oração e na educação cristã dos filhos; aestima pela família; o sentido da solidarie-dade, por isso sentis a necessidade de vosajudar uns aos outros e de vos socorrer nasnecessidades. Por favor, nunca percais estesv a l o re s !

Com estes desejos, confio-vos à proteçãoda Virgem Maria, a quem venerais como“Nossa Senhora da Marinha”, e do vossopadroeiro São Francisco de Paula. Invocosobre vós, sobre as vossas famílias e o vossotrabalho a bênção do Senhor. E peço-vos,por favor, que rezeis por mim. Obrigado!

O Santo Padre recebeu o presidenteda República argentina

Santa Sé e a República Argentina. Sucessiva-mente, debateu-se a propósito da situação nopaís, com particular referência a alguns proble-mas como a crise económico-financeira, a lutacontra a pobreza, a corrupção e o tráfico dedrogas, a promoção social e a tutela da vidadesde a concepção. Neste contexto, realçou-se

a significativa contribuição da Igreja católicaem benefício de toda a sociedade argentina, es-pecialmente das camadas mais vulneráveis dap opulação.

Na continuação do colóquio, foram aborda-dos também temas de interesse comum em âm-bito regional.

O Papa recebeu em au-diência na manhã de 31de janeiro, no PalácioApostólico, o Presidenteda República Argentina,Alberto Fernández, quesucessivamente se encon-trou com o cardeal PietroParolin, secretário de Es-tado, acompanhado pormonsenhor Mirosław Wa-chowski, subsecretário pa-ra as Relações com os Es-tados.

Durante os colóquioscordiais foram expressascom satisfação as boas re-lações existentes entre a

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número 5, terça-feira 4 de fevereiro de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 11

INFORMAÇÕES

Audiências

O Papa Francisco recebeu em audiên-cias particulares:

A 23 de janeiroOs Senhores Cardeais Angelo DeDonatis, Vigário-Geral para a Dioce-se de Roma; Luis Francisco LadariaFerrer, Prefeito da Congregação paraa Doutrina da Fé; Angelo Becciu,Prefeito da Congregação para asCausas dos Santos; e Désiré Tsa-rahazana, Arcebispo de Toamasina(Madagáscar), Presidente da Confe-rência Episcopal de Madagáscar,com D. Marie Fabien Raharilambo-niaina, Bispo de Morondava, Vice-Presidente, e D. Jean Claude Ran-drianarisoa, Bispo de Miarinarivo,Secretário-Geral; e o Rev.do Pe. Ga-briel Randrianantenaina, SecretárioCoordenador; D. Filippo Santoro,Arcebispo de Taranto (Itália); D.Guglielmo Borghetti, Bispo de Al-benga-Imperia (Itália); D. AntonioStaglianò, Bispo de Noto (Itália); eo Rev.do Pe. Juan Antonio GuerreroAlves, S.I., Prefeito da Secretaria pa-ra a Economia.

A 24 de janeiroO Senhor Cardeal Lluís MartínezSistach, Arcebispo Emérito de Bar-celona (Espanha); D. Michel Du-bost, Administrador Apostólico “se-de plena et ad nutum Sanctae Sedis”de Lião (França); e D. Salvatore Fi-sichella, Presidente do PontifícioConselho para a Promoção da NovaEvangelização.Sua Ex.cia o Senhor Michael RichardPence, Vice-Presidente dos EstadosUnidos da América, com o Séquito.

A 25 de janeiroSua Ex.cia o Senhor Barham Saleh,Presidente da Repúlica do Iraque,com o Séquito.O Senhor Cardeal Marc Ouellet,Prefeito da Congregação para osBispos; D. Nicolas Brouwet, Bispode Tarbes e Lourdes (França); oR e v. mo Mons. Pio Vito Pinto, Deca-no do Tribunal da Rota Romana; eo Colégio dos Prelados Auditores doTribunal da Rota Romana.

A 27 de janeiroOs seguintes Prelados da Conferên-cia Episcopal dos Estados Unidos da

América, em visita «ad limina Apos-tolorum»: D. José Horacio Gómez,Arcebispo de Los Angeles, com osAuxiliares D. Alejandro D. Aclan, D.David Gerard O’Connell, D. RobertEmmet Barron, e D. Marc V. Tru-deau, com o Arcebispo Emérito Car-deal Roger Michael Mahony, e comos ex-Auxiliares D. Thomas J. Currye D. Gerald E. Wilkerson; D. JosephVincent Brennan, Bispo de Fresno,com o Bispo Emérito D. ArmandoXavier Ochoa; D. Daniel Elias Gar-cia, Bispo de Monterey na Califór-nia; D. Kevin William Vann, Bispode Orange na Califórnia, com os Au-xiliares D. Timothy E. Freyer e D.Thanh Thai Nguyen, com o BispoEmérito D. Tod David Brown; D.Gerald Richard Barnes, Bispo deSan Bernardino, com o Bispo Coad-jutor D. Alberto Rojas, e com o ex-Auxiliar D. Rutilio Juan Del RiegoJánez; D. Robert Walter McElroy,Bispo de San Diego, com o AuxiliarD. John P. Dolan; D. Salvatore Jose-ph Cordileone, Arcebispo de SanFrancisco, com o ex-Auxiliar D. Wil-liam Joseph Justice; D. Clarence R.Silva, Bispo de Honolulu; D. GeorgeLeo Thomas, Bispo de Las Vegas,com o Bispo Emérito D. Joseph An-thony Pepe; D. Michael Charles Bar-ber, Bispo de Oakland; D. RandolphRoque Calvo, Bispo de Reno; D. Jai-me Soto, Bispo de Sacramento, como Bispo Emérito D. William KeithWeigand; D. Oscar Cantú, Bispo deSan José na Califórnia, com o BispoEmérito D. Patrick Joseph McGrath;D. Robert Francis Vasa, Bispo deSanta Rosa; e D. Myron Joseph Cot-ta, Bispo de Stockton.

Renúncias

O Santo Padre aceitou a renúncia:

No dia 23 de janeiroDe D. Charles J. Chaput, O.F.M.Cap., ao governo pastoral da Arqui-diocese de Filadélfia (E UA ).

Nomeações

O Sumo Pontífice nomeou:

A 23 de janeiroArcebispo Metropolitano de Filadél-fia (E UA ), D. Nelson Jesus Perez, atéhoje Bispo de Cleveland.

A 25 de janeiroNúncio Apostólico no Zimbábue, D.Paolo Rudelli, Arcebispo Titular deMesembria.Auxiliares da Arquidiocese de Méxi-co (México), os Rev.dos Padres LuisPérez Raygosa, do clero da mesmaArquidiocese, até hoje Cónego Se-cretário do Cabido Metropolitano eVigário Episcopal; Héctor Mario Pé-rez Villareal, do clero da Arquidioce-se de Monterrey, até agora Pároco eEncarregado do Departamento dosbens patrimoniais; e Francisco Da-niel Rivera Sánchez, M.S P.S., até estadata Superior-Geral dos Missioná-rios do Espírito Santo, simultânea erespetivamente eleitos Bispos Titula-res de Suava, de Bennefa e de Ara-di.

D. Luis Pérez Raygosa nasceu a 21de agosto de 1973, na Cidade do Mé-xico (México). Recebeu a Ordenaçãopresbiteral no dia 13 de maio de 2000.

D. Héctor Mario Pérez Villarealnasceu em Monterrey (México), no dia20 de fevereiro de 1970. Foi ordenadoSacerdote a 9 de janeiro de 1999.

D. Francisco Daniel Rivera Sán-chez, M.S P.S., nasceu no dia 15 de ou-tubro de 1955, em Guadalajara (Mé-xico). Recebeu a Ordenação sacerdotala 12 de agosto de 1988.

A 27 de janeiroBispo de Achonry (Irlanda), oR e v. do Pe. Paul Dempsey, do cleroda Diocese de Kildare e Leighlin,até agora Vigário Forâneo e Párocode Newbridge.

D. Paul Dempsey nasceu em Carlow(Irlanda), a 20 de abril de 1971. Foiordenado Sacerdote no dia 6 de julhode 1997.

A 29 de janeiro

Bispo de Augsburg (Alemanha), oR e v. mo Mons. Bertram Meier, do cle-ro de Augsburg, até esta data Admi-nistrador diocesano e Decano doCabido da Catedral da mesma Dio-cese.

D. Bertram Meier nasceu a 20 dejulho de 1960, em Buchloe (Alema-nha). Recebeu a Ordenação sacerdotalno dia 10 de outubro de 1985.

Disposições especiais

Sua Santidade aprovou:

No dia 18 de janeiro

A eleição — realizada pelos SenhoresCardeais da Ordem dos Bispos — doDecano do Colégio Cardinalício, napessoa do Senhor Cardeal GiovanniBattista Re, do Título da Igreja Su-burbicária de Sabina — Poggio Mir-teto, o qual assumirá também o Tí-tulo da Igreja Suburbicária de Ós-tia.

No dia 24 de janeiro

A eleição do Vice-Decano do mesmoColégio, na pessoa do Senhor Car-deal Leonardo Sandri, do Título dosSantos Brás e Carlos “ai Catinari”,atualmente Prefeito da Congregaçãopara as Igrejas Orientais.

Prelados falecidos

Adormeceu no Senhor:

A 24 de janeiro

D. José Luis Castro Medellín, BispoEmérito de Tacámbaro (México)

O saudoso Prelado nasceu a 21 dejunho de 1938, em Mineral de la No-ria (México). Foi ordenado Sacerdoteno dia 16 de junho de 1963. Recebeua Ordenação episcopal em 3 de dezem-bro de 2002.

Igrejas CatólicasO rientais

No dia 22 de janeiro

O Sínodo da Igreja Arquiepiscopal-Mor Greco-Católica Romena elegeuBispo Auxiliar da Arquieparquia deFăgăraş şi Alba Iulia (Roménia), oR e v. do Pe. Cristian Dumitru Crişan,ao qual o Santo Padre deu o seuconsentimento, atribuindo-lhe a Se-de Titular de Abula.

D. Cristian Dumitru Crişan nasceua 1 de outubro de 1981, em Reghin(Roménia). Foi ordenado Sacerdote nodia 11 de maio de 2008.

O Sínodo da Igreja Arquiepiscopal-Mor Greco-Católica Romena elegeuBispo Auxiliar da Eparquia de Lu-goj (Roménia), o Rev.do Pe. CălinIoan Bot, ao qual o Santo Padre deuo seu consentimento, atribuindo-lhea Sede Titular de Abrittum.

D. Călin Ioan Bot nasceu em Sur-duc (Roménia), no dia 24 de julho de1970. Recebeu a Ordenação presbiterala 10 de setembro de 1995.

Audiência ao vice-presidentedos Estados Unidos da América

Na manhã de 24 de janeiro, o Papa recebeu em audiência Sua Ex.cia o SenhorMichael Richard Pence, vice-presidente dos Estados Unidos da América, que depois

se encontrou com o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado,e com o arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados

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página 12 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 4 de fevereiro de 2020, número 5

Um livro do Papa Francisco dedicado aos pequeninos

Com o olhar de uma criançaSão os seus “amigos de coração”. A elas, as crianças, o PapaFrancisco dedica sempre uma atenção especial em qualquer cir-cunstância, até nas audiências mais formais e onde a etiquetaexigiria tempos e modos muito distantes da simplicidade e doimediatismo das crianças. Por uma criança vale sempre a penaparar por um momento no meio da multidão, estender-lhe amão para uma carícia, oferecer um sorriso e talvez fazer umabrincadeira ou dar uma gargalhada.

É evidente o sentimento especial que o Pontífice tem paracom os mais pequeninos, aos quais agora dedicou um livro es-crito particularmente para eles. Com efeito, acaba de ser publi-cado um pequeno volume ilustrado de capa dura, no qual sedirige a eles com linguagem simples e frases curtas, quase “sus-surradas”, como se fossem preciosos conselhos de um avô. Ibambini sono speranza [“As crianças são esperança”]: eis o títulodo livro (Milão, Salani, 2020, 32 páginas) que, naturalmente,recorre de maneira preponderante à linguagem mais apropriadaaos seus interlocutores, a das imagens animadas e coloridas,realizadas por Sherre Boyd, ilustradora nova-iorquina nascidana Itália.

Entrando assim, em ponta de pés, no mundo das crianças,Francisco acompanha com delicadeza os vários momentos dosseus dias, dando sugestões para a reflexão. E deste modo, ven-do-as brincar, recomenda: «Sê feliz quando estiveres com osoutros», ou, imaginando-as num momento de dificuldade ou detristeza, aconselha: «Jesus compreende os teus problemas. Rezaem silêncio e deixa que as palavras brotem das lágrimas». As-sim, pegando quase idealmente cada criança ao colo, o Papaaproveita este “diálogo” para falar de espírito de partilha, de to-lerância, de paz e de generosidade. E convida os mais pequeni-nos a ser felizes — porque «Jesus nos ama em grande medida»— e até a «dançar» para mostrar a todos, inclusive aos maisidosos, como é importante viver com júbilo e alegria.

Em última análise, é uma questão de perspetiva: fitar o mun-do com o olhar de uma criança. Encontrando-se no Vaticanocom as crianças hóspedes no dispensário pediátrico Santa Mar-ta, há dois anos, Francisco disse: «Para compreender a realida-de da vida, temos que nos abaixar, assim como nos abaixamospara beijar uma criança». (maurizio fontana)

Rimas e desenhos para narrar a história de São Tomás de Aquino

O boi bom e mudo

te Alighieri, que para as canções da Divina Comé-dia se inspirou na teologia do Aquinate, reunidasna Suma. Giovanelli faz uso extensivo de rimassimpáticas e de simples compreensão para ascrianças. Como quando descreve as qualidadespossuídas por Tomás desde criança: «Agora volte-mos para Aquino / lá com grande obstinação /São Tomás pequenino / escolheu a pregação».Ou quando cita o episódio em que, ainda criança,pega sorrateiramente da cozinha de casa um pou-co de comida para levar aos pobres famintos. Opai, porém, duvidando do que o seu filho levava

às escondidas, detém-no e pede-lhe que abra oseu manto. Diante deste pedido «São Tomás re-ceoso / não sabe como se comportar / depois de-cide, esperançoso / o manto alargar». Mas «eis,que grande estupor / do pão nem sequer uma mi-galha! / E tão-pouco o odor / agora a consciêncianão atrapalha». Rimas que certamente apelam àimaginação das crianças, que divertidas podemver o quadro que ilustra o episódio: o pai, umpouco enrugado, pede explicações a um filho sor-ridente que tem nas mãos um ramo de rosas ver-melhas: «Diz então com ânimo ligeiro / “olha

insiste: «Agora o Papa, desapontado / está admi-rado porque, ao seu redor espantado / à modéstiarecorrer / não faz parte do proceder».

O gato azul reproduzido na capa volta a apre-sentar-se repentinamente no final do livro. Dasmuralhas defensivas de uma cidade ou de um cas-telo, fita atentamente a lua. A ele está confiada aconclusão, que fala não só às crianças mas tam-bém aos adultos: «O pensamento nunca banal /A sua teologia benfazeja / de ninguém pensoumal / é um gigante da Igreja! (nicola gori)

Aprende a cultivartodos os dias a graça de amar

Assim encontrarás Deus

pai, repara / digo-lhe, sou sincero / hárosa perfumada!”».

Certamente, entre versos irónicos ealusões — como a referência à barrigaque distinguia o Aquinate, não poracaso definido na capa como «o boibom e mudo» — Giovanelli conseguetransmitir uma mensagem: Tomás es-creve a Suma mais com a experiênciaespiritual de Deus e com a oração doque com os raciocínios científicos. Odominicano encontra Cristo na Euca-ristia e dali declina todo o seu saber.No livro menciona-se também a suahumildade, vivida a tal ponto quequando Clemente o chamou para oelevar ao episcopado, não quis aceitara proposta. A ilustração dá uma boaideia da perplexidade que assaltou To-más, ao ouvir as palavras do Papa: le-vanta as mãos ao céu, atira-se paratrás e com o dedo indicador diz“não”. Surpreendido com a reação dofrade, o Pontífice fica espantado e não

Sê feliz quando estiverescom os outros

Quando vejo uma criançacomo tu, sinto muita esperançano coração

Não é fácil escrever sobre São Tomásde Aquino, ainda mais se se trata deum texto destinado às crianças. Não éfácil traduzir para a sua linguagemuma vida tão particular e toda a pro-fundidade teológica da sua mensageme doutrina. Procuraram fazer isto comsucesso Flaminia Giovanelli e PaolaBevicini, autoras de um livro ilustradoa cores que já pelo título chama aatenção das crianças. Trata-se de To m -maso d’Aquino. Santi capricci e angelicipensieri [“Tomás de Aquino. Caprichossantos e pensamentos angélicos”] (Ed.Cantagalli, Sena, dezembro de 2019,43 páginas), publicação para a qualGiovanelli contribuiu com os textos eBevicini com as ilustrações.

O livro repercorre a vida de Tomásdesde o seu nascimento no castelo pa-terno de Roccasecca (Frosinone) até àsua morte, ocorrida na abadia de Fos-sanova, destacando quanta influênciateve o seu pensamento nos séculos se-guintes. A começar pelo sublime Dan-