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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’O S S E RVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Ano XLIX, número 47 (2.542) Cidade do Vaticano terça-feira 20 de novembro de 2018 y(7HB5G3*QLTKKS( +{!#!#!&!_! Dia mundial O grito de muitos pobres abafado pelo barulho de poucos ricos NESTE NÚMERO Pág. 2: Missa em Santa Marta. Pág. 3: Catequese de quarta-feira. Pág. 4: Cartas de Francisco e Bento XVI; Congresso sobre «Direitos fundamentais e conflitos en- tre direitos». Pág. 5: Entregues pelo Papa os prémios Ratzinger. Pág. 6: Declaração conjunta assinada pelo Papa e pelo catholicos Gewargis III; Comemoração de Abdisho de Nísibis. Pág. 7: Francisco recebeu o catho- licos da Igreja assíria do Oriente. Págs. 8 e 9: Segundo dia mundial dos pobres; Angelus de 19 de novembro. Pág. 10: Aos sacerdotes do colégio Pio Latino-America- no; Liberdade e cooperação entre o Brasil e a Santa Sé. Pág. 11: Mensagem do Pontífice aos religiosos e às religiosas da Espanha. Pág. 12: Carta para a instituição de um novo ciclo de estudos na Pontifícia universidade lateranense. Pág. 13: À plenária da pontifícia academia das ciências. Pág. 14: No cinquentenário da comunida- de de Bose; Visita do prefeito de Propaganda fide a Angola. Pág. 15: Informações; Embaixador da Irlanda. Pág. 16: Audiência aos participantes na plenária do Pontifício comité para os congressos eucarísticos inter- nacionais.

Dia mundial - osservatoreromano.va · um bom sinal». «A Igreja nunca ... “Sou administrador de Deus ou um especulador?”». Dado prudente, justo, piedoso, continen- ... de Deus:

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L’O S S E RVATOR E ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suum

EM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Ano XLIX, número 47 (2.542) Cidade do Vaticano terça-feira 20 de novembro de 2018

y(7HB5G3*QLTKKS( +{!#!#!&!_!

Dia mundial

O grito de muitos pobres abafadopelo barulho de poucos ricos

NESTE NÚMEROPág. 2: Missa em Santa Marta. Pág. 3: Catequese dequarta-feira. Pág. 4: Cartas de Francisco e Bento XVI;Congresso sobre «Direitos fundamentais e conflitos en-tre direitos». Pág. 5: Entregues pelo Papa os prémiosRatzinger. Pág. 6: Declaração conjunta assinada peloPapa e pelo catholicos Gewargis III; Comemoração deAbdisho de Nísibis. Pág. 7: Francisco recebeu o catho-licos da Igreja assíria do Oriente. Págs. 8 e 9: Segundodia mundial dos pobres; Angelus de 19 de novembro.Pág. 10: Aos sacerdotes do colégio Pio Latino-America-no; Liberdade e cooperação entre o Brasil e a SantaSé. Pág. 11: Mensagem do Pontífice aos religiosos e àsreligiosas da Espanha. Pág. 12: Carta para a instituiçãode um novo ciclo de estudos na Pontifícia universidadelateranense. Pág. 13: À plenária da pontifícia academiadas ciências. Pág. 14: No cinquentenário da comunida-de de Bose; Visita do prefeito de Propaganda fide aAngola. Pág. 15: Informações; Embaixador da Irlanda.Pág. 16: Audiência aos participantes na plenária doPontifício comité para os congressos eucarísticos inter-nacionais.

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página 2 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 20 de novembro de 2018, número 47

L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

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novidade pós-conciliar, mas desdeo início, quando a Igreja se deuconta de que se devia organizarcom bispos deste tipo».

«Aqui somos só dois — p ro s s e -guiu o Papa — mas isto é para to-dos, para rezar pelos nossos bisposa fim de que sejam assim: não im-porta se são simpáticos, ou se têmhabilidades nos métodos pastorais— sim, tudo isto é bom! — mas quesejam humildes, mansos, servos,com todas estas qualidades, e nãocom os vícios mencionados porPaulo». E «não se põe ordem naIgreja sem esta atitude dos bispos:e também com a dos sacerdotes edos leigos, mas pensemos nos bis-pos». E «Paulo deixa Tito parapôr ordem em Creta, escolhendobispos deste género».

«O bispo conta perante Deus,não se for simpático, se pregarbem, mas se for humilde, manso,servo, com todas estas virtudes»,concluiu o Pontífice, confidencian-do que propôs esta meditação tam-bém porque «na liturgia de hojefestejamos um bispo»: São JosafatKuncewicz. E pediu para reler «es-te trecho e rezar pelos bispos: quesejam assim, como Paulo pede».

Rezemos hoje pelos bispos para quesejam sempre como São Paulo pede

que eles sejam humildes, mansos, servidores# S a n t a Ma r t a

(@Pontifex_pt)que «o bispo é administrador deDeus, deve ser irrepreensível: estefoi o mesmo pedido que Deus feza Abraão: “Caminha na minha pre-sença e sê irrepreensível”. Esta é apalavra fundamental, de um che-fe».

Ainda na carta a Tito, São Paulo«diz o que o bispo não deve ser, edepois o que deve ser», afirmou oPontífice. Portanto, o bispo «nãodeve ser arrogante, soberbo, coléri-co — que discute sempre — não sedeve dar ao vinho — podemos di-zer, aos vícios: o vinho era bastantecomum naquela época, porque atéàs viúvas ele recomenda que nãosejam dadas ao vinho. Vê-se queera um dos vícios mais comuns —não-violento — pensemos num bis-po colérico, arrogante, dado ao vi-nho, violento».

«Um bispo deste tipo seria umacalamidade para a Igreja, mesmose tivesse um só destes defeitos»,observou o Papa. Além disso, obispo não deve ser «ávido de lu-cros desonestos: não deve ser espe-culador, apegado ao dinheiro». «Obispo não deve ser assim».

«Como deve ser o bispo?»,questionou-se então o Papa. E asua resposta foi: «Hospitaleiro —dar hospitalidade — amigo do bem,Auke Mulder, «Confusão»

MISSA EM S A N TA M A R TA

Segunda-feira, 12 de novembro

Como deve ser o bispo«Quando se fazem averiguaçõespara a eleição dos bispos», é neces-sário seguir o critério sugerido porPaulo na sua carta a Tito: «Quesejam administradores de Deus, ir-repreensíveis, servos humildes», epouco importa se «são habilidososcom os planos pastorais ou simpá-ticos». Realçando que as indica-ções remontam precisamente a SãoPaulo — portanto, muito antes doConcílio Vaticano II — o PapaFrancisco pediu para rezar a fim deque todos os bispos se reconheçamno perfil traçado pelo apóstolo«para pôr ordem na Igreja».

«No livro dos Atos dos Apósto-los lemos como nasceu a Igreja»,sugeriu o Papa. «A Igreja — expli-cou — nasceu na confusão e na de-sordem; com fervor, mas na desor-dem, a ponto que as pessoas queouviam os apóstolos falar, diziam:“Estão bêbados”».

«A Igreja nasceu na confusão»,frisou Francisco. «E esta confusãovê-se também, por exemplo, quan-do Pedro vai ter com Cornélio: háimediatamente confusão e Pedroentende que o Espírito está ali ebatiza, mas sem confusão, aliás,com gestos admiráveis». E ainda,acrescentou, «pensemos por exem-

plo no ministro da economia darainha Candace, algo é estranho:também este homem leva a Igrejaao seu país». Mas «há sempre con-fusão, a força do Espírito, desor-dem, mas não devemos assustar-nos». A Igreja «nasce assim: este éum bom sinal».

«A Igreja nunca nasceu total-mente estruturada, em ordem, semproblemas, sem confusão», frisou oPontífice. «Nasceu sempre assim, eesta confusão, esta desordem deveser arrumada: é verdade, porque épreciso pôr tudo em ordem; pense-mos, por exemplo, no primeiroconcílio de Jerusalém: havia a lutaentre os judaizantes e os não-judai-zantes; pensemos bem: realizam oconcílio e resolvem os problemas».

«Isto acontece todas as vezesque a Igreja é anunciada pela pri-meira vez», frisou o Papa, referin-do-se ao trecho da carta a Tito (1,1-9) proposto pela liturgia comoprimeira leitura. «É isto que Paulopõe nas mãos de Tito: “Foi por is-to que te deixei em Creta: paraacabares de organizar tudo”». Emsíntese, para que Tito «ponha or-dem na Igreja». Mas Paulo «recor-da-lhe» que o «aspeto mais impor-tante é a fé, dá-lhe o tesouro, atransmissão da fé firme: “Pa u l o ,servo de Deus, apóstolo de JesusCristo, para levar à fé aqueles queDeus escolheu e para revelar a ver-dade, em conformidade com a reli-giosidade autêntica, na esperançada vida eterna — prometida desde aeternidade por Deus que não men-te e, no tempo estabelecido, e ma-nifestada na sua palavra mediantea pregação que me foi confiada porordem de Deus, nosso Salvador —a Tito, meu verdadeiro filho nanossa fé comum: graça e paz daparte de Deus Pai”».

Paulo «transmite todo esta “ba-gagem de experiências de fé”» aTito, afirmou o Pontífice. E «de-pois diz: “o rg a n i z a ” essa Igreja, eque tu “estabeleças alguns anciãosem cada cidade, de acordo com asnormas que te tracei”». Na verda-de, pede-lhe que «estabeleça osbispos e escolha leigos; e fala — le-remos isto amanhã — dos jovens,dos idosos, das viúvas, das mulhe-res: como todos devem ser escolhi-dos». Em síntese, Paulo «oferececritérios para a organização».

«Hoje — realçou Francisco — fa-larei sobre o perfil do bispo, domodo como Tito deve escolher osbispos e, com todos os sacerdotes

que estão aqui, este parece um co-légio presbiteral!». «Falemos, pois,do bispo como administrador deDeus: a definição que dá do bispoé “administrador de Deus”, nãodos bens, do poder, dos grupinhos,não: de Deus». Por este motivo,afirmou o Papa, o bispo «deve cor-rigir-se sempre a si mesmo e inter-rogar-se: “Sou administrador deDeus ou um especulador?”». Dado

prudente, justo, piedoso, continen-te, fiel à palavra fidedigna que lhefoi ensinada». E «todas estas virtu-des “para ser capaz de exortar coma sua sã doutrina e de rejeitar osseus opositores”», como escreveSão Paulo a Tito.

«Assim é o bispo, este é o perfildo bispo», insistiu o Pontífice. «Equando se fazem averiguações paraa eleição dos bispos seria bom for-mular estas perguntas no início,para saber se se pode continuar».Mas «vê-se sobretudo que o bispodeve ser humilde, manso, servo,não príncipe». E «esta é a palavrade Deus: “Ah, sim, padre, é verda-de, depois do Vaticano II é precisofazer assim” — “Não, depois dePa u l o ! ”». Porque «esta não é uma

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número 47, terça-feira 20 de novembro de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 3

Onde há mentiranão há amor

Michael McJilton, «A verdade? O que é a verdade?»

Sobre o oitavo mandamento

C AT E Q U E S E

A verdade «não se diz comdiscursos»; ao contrário, ela é «ummodo de existir, uma maneira deviver, que se vê em cada gesto»,recordou o Papa Francisco durante aaudiência geral de quarta-feira, 14 denovembro, na praça de São Pedro.Dando continuidade ao ciclo decatequeses dedicadas ao Decálogo, oSumo Pontífice falou sobre o oitavomandamento: «Não levantarás falsotestemunho contra o teu próximo».Eis a reflexão do Papa.

Bom dia, queridos irmãos e irmãs!Na catequese de hoje abordaremosa oitava Palavra do Decálogo:«Não levantarás falso testemunhocontra o teu próximo».

Este mandamento — reza o Cate-cismo — «proíbe falsificar a verda-de nas relações com outrem» (n.2.464). Viver de comunicações nãoautênticas é grave, porque impedeos relacionamentos e, por conse-guinte, também o amor. Onde hámentira não há amor, não pode ha-ver amor. E quando falamos de co-municação entre as pessoas, enten-demos não apenas as palavras, masinclusive os gestos, as atitudes, atéos silêncios e as ausências. Umapessoa fala com tudo aquilo que ée que faz. Todos nós estamos emcomunicação, sempre. Todos nósvivemos comunicando e estamoscontinuamente em equilíbrio entrea verdade e a mentira.

Mas o que significa dizer a ver-dade? Significa ser sincero? Ouexato? Na realidade, isto não é su-ficiente, porque podemos estar sin-ceramente em erro, ou podemos serexatos no detalhe, mas não enten-der o sentido do conjunto. Às ve-zes justificamo-nos dizendo: “Maseu disse o que sentia!”. Sim, masabsolutizaste o teu ponto de vista.Ou então: “Eu simplesmente dissea verdade!”. Talvez, mas revelastedados pessoais ou reservados.Quantas bisbilhotices destroem acomunhão por inoportunidade oufalta de delicadeza! Aliás, os mexe-ricos matam, e quem o disse foi oApóstolo Tiago na sua Carta. Ostagarelas, as tagarelas são pessoasque matam: matam o próximo,porque a língua mata como umafacada. Estai atentos! Um bisbilho-teiro ou uma bisbilhoteira é umterrorista, pois com a sua língualança a bomba e vai embora tran-

quilo, mas aquilo que diz aquelabomba lançada destrói a reputaçãode outrem. Não vos esqueçais: me-xericar significa matar.

Mas então: o que é a verdade?Eis a pergunta formulada por Pila-tos, precisamente quando Jesus,diante dele, realizava o oitavo man-damento (cf. Jo 18, 38). Com efei-to, as palavras «Não levantarás falsotestemunho contra o teu próximo»pertencem à linguagem forense. OsEvangelhos culminam na narraçãoda Paixão, Morte e Ressurreição deJesus; e esta é a narração de umprocesso, da execução da sentençae de uma consequência inaudita.

Interrogado por Pilatos, Jesusdiz: «Foi para dar testemunho daverdade que nasci e vim ao mundo:para dar testemunho da verdade» (Jo18, 37). E Jesus dá este «testemu-nho» mediante a sua Paixão eMorte. O Evangelista Marcos narraque «o centurião que estava diantede Jesus, ao ver que Ele tinha expi-rado assim, disse: “Este homem erarealmente o Filho de Deus!”» (15,39). Sim, porque era coerente, foicoerente: com esse seu modo demorrer, Jesus manifesta o Pai, o seuamor misericordioso e fiel.

A verdade encontra a sua plenarealização na própria pessoa de Je-sus (cf. Jo 14, 6), no seu modo deviver e de morrer, fruto da sua rela-ção com o Pai. Ele, Ressuscitado,oferece também a nós esta existên-cia de filhos de Deus, enviando o

Espírito Santo, que é Espírito deverdade, o qual confirma ao nossocoração que Deus é nosso Pai (cf.Rm 8, 16).

Em cada um dos seus gestos, ohomem, as pessoas afirmam ou ne-gam esta verdade. Desde as peque-nas situações diárias até às escolhasmais exigentes. Mas é a mesma ló-gica, sempre: aquele que os pais eos avós nos ensinam, quando nosdizem para não mentir.

Questionemo-nos: quais obras,palavras e escolhas de nós cristãoscomprovam a verdade? Cada umpode perguntar-se: sou uma teste-munha da verdade, ou sou mais oumenos um mentiroso disfarçado deverdadeiro? Cada qual se interro-gue. Nós cristãos não somos ho-mens e mulheres extraordinários.No entanto, somos filhos do Paicelestial, que é bom e não nos desi-lude, instilando no nosso coração oamor pelos irmãos. Esta verdadenão se diz tanto com discursos, éum modo de existir, uma maneirade viver, que se vê em cada gesto(cf. Tg 2, 18). Este homem é v e rd a -d e i ro , aquela mulher é v e rd a d e i ra :vê-se! Mas como, se não abre a bo-ca? Contudo, comporta-se comov e rd a d e i ro , como v e rd a d e i ra . Diz a

verdade, age de modo verdadeiro.Um bom modo de vivermos!

A verdade é a maravilhosa reve-lação de Deus, da sua Face de Pai,é o seu amor ilimitado. Esta verda-de corresponde à razão humanamas supera-a infinitamente, porqueconstitui um dom que desceu sobrea terra e se encarnou em CristoCrucificado e Ressuscitado; ela érevelada por quem lhe pertence etem as suas mesmas atitudes.

Não levantarás falso testemunhosignifica viver como filho de Deus,que nunca, nunca se desmente, ja-mais diz mentiras; viver como fi-lhos de Deus, deixando sobressairem cada gesto esta grande verdade:que Deus é Pai e que podemosconfiar n’Ele. Eu confio em Deus:esta é a grande verdade. Da nossaconfiança em Deus, que é Pai e meama, nos ama, nasce a minha ver-dade, o ser verdadeiro e não menti-ro s o .

No final da audiência geral, o SantoPadre saudou os fiéis e peregrinospresentes na praça de São Pedro,proferindo entre outras as seguintese x p re s s õ e s .

Queridos amigos vindos do Brasile de Portugal: sejam bem-vindos!Peçamos ao Senhor a força do Es-pírito Santo, para que, fortalecidoscom os seus dons, possamos per-manecer firmes na fé dando umtestemunho alegre da verdade cris-tã. Que Deus vos abençoe!

Dirijo as cordiais boas-vindasaos peregrinos de língua árabe, emparticular aos provenientes do Mé-dio Oriente! Estimados irmãos e ir-mãs, vivei como filhos de Deus,deixando sobressair em cada gestoque Deus é Pai e que podemosconfiar n’Ele. Que o Senhor vosab enço e!

Dirijo um pensamento particularaos jovens, aos idosos, aos doentese aos recém-casados.

Desejo a todos vós que a pere-grinação a Roma possa revigorar ovosso vínculo com a Cidade dosApóstolos e a alegria da pertença àIgreja católica!

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Direitos fundamentais e conflitos entre direitos

Corageme profundidade

Wassily Kandinsky «Sinal» (1925)

Carta de Bento XVI

Nas basesda convivência humana

Prezado Padre Lombardi!Como o senhor sabe, desde que fui informado — há váriosmeses — acerca do primeiro projeto do Simpósiointernacional sobre o tema «Direitos fundamentais econflitos entre direitos», manifestei-lhe imediatamente o meuapreço pela iniciativa, considerando-a extraordinariamenteútil. Em particular, pareceu-me importante que se fale demodo explícito da problemática da “multiplicação dosd i re i t o s ” e do risco “da destruição da ideia de direito”.É uma questão atual e fundamental para tutelar as bases daconvivência da família humana, que merece ser apresentadamais uma vez como tema de uma reflexão aprofundada esistemática, como o programa do Simpósio demonstra quedeseja fazer.Por isso, garanto a todos os relatores e aos participantes noSimpósio a minha estima e a minha proximidade na oração,para que o Senhor abençoe os trabalhos como serviçoprecioso a favor da Igreja e do bem da família humana.

Seu no Senhor,Bento XVI

Ao ReverendoPadre FEDERICO LOMBARDI,

S.J.Presidente da Comissão

de Administraçãoda Fundação Vaticana

Joseph Ratzinger — BentoXVI

Por ocasião doSimpósio Interna-cional sobre o te-ma «Direitos fun-damentais e con-

flitos entre direitos», organi-zado em colaboração entre aFundação Vaticana JosephRatzinger — Bento XVI e aLivre Universidade MariaSantíssima Assunta, desejotransmitir aos organizadores,aos ilustres relatores e aosparticipantes, a minha sau-dação e os meus votos defrutuosa realização dos tra-balhos.

Enquanto se aproxima o70° aniversário da adoção daDeclaração Universal dosDireitos do Homem por par-te da Assembleia Geral dasNações Unidas, é oportunonão apenas celebrar a memó-ria daquele evento histórico,mas também definir umaprofunda reflexão sobre asua atuação e sobre o desen-volvimento da visão dos di-reitos humanos no mundode hoje.

No Discurso ao CorpoDiplomático de janeiro pas-sado, dedicado exatamente a

esta Declaração, observeique ela visa abater os murosde separação que dividem afamília humana e favorecer odesenvolvimento humano in-tegral. Contudo relevei que,ao mesmo tempo, é necessá-rio «notar que, ao longo dosanos, se foi progressivamentemodificando a interpretaçãode alguns direitos, a pontode se incluir uma multiplici-dade de “novos direitos”,não raro contrapondo-se en-tre eles». Assim, abre-se umasérie de problemas que che-gam a envolver profunda-mente a própria ideia de di-reito e dos seus fundamen-tos.

O Papa Bento XVI sentiucom lucidez a urgência des-tas temáticas para o nossotempo, abordando-as comautoridade como pensador ecomo pastor. Precisamentepor isso, há vinte anos estaUniversidade conferiu ao en-tão cardeal Ratzinger o di-ploma honoris causa em juris-p ru d ê n c i a .

Por isso, faço votos que oSimpósio de alto nível aca-démico que está prestes a sercelebrado, inspirando-se nopensamento e no magistériodo nosso amado Papa eméri-to, possa contribuir com co-ragem e profundidade paraesclarecer uma problemáticaessencial para a salvaguardada dignidade da pessoa hu-mana e do seu desenvolvi-mento integral.

Animado por estes senti-mentos, tenho o prazer deconceder aos participantes aminha Bênção, pedindo atodos que se recordem demim na oração.

Va t i c a n o13 de novembro de 2018

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número 47, terça-feira 20 de novembro de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 5

Entregues pelo Papa os prémios Ratzinger

Um diálogo construtivocom a cultura de hoje

Estimados irmãos e irmãs!

É com prazer que participo, também este ano,na cerimónia de entrega dos Prémios às emi-nentes personalidades que me foram apresen-tadas pela Fundação vaticana Joseph Ratzin-ger — Bento XVI, sob proposta do seu Comitécientífico. Saúdo os dois Premiados: a Profes-sora Marianne Schlosser e o Arquiteto MarioBotta, assim como os membros e os amigos

Mas hoje desejo expressar o meu especialapreço pelas duas personalidades que recebe-ram o prémio. É-me verdadeiramente gratoque o Prémio para a pesquisa e o ensino dateologia seja atribuído a uma mulher, a Pro-fessora Marianne Schlosser. Não é a primeiravez — porque já a Professora Anne-Marie Pel-letier o recebeu — mas é muito importanteque seja reconhecido cada vez mais a contri-buição feminina no campo da pesquisa teoló-

com o Arquiteto Mario Botta. Em toda a his-tória da Igreja, os edifícios sacros constituíramuma referência concreta a Deus e às dimen-sões do espírito, onde quer que o anúnciocristão se tenha difundido no mundo; expri-miram a fé da comunidade crente, acolheram-na contribuindo para dar forma e inspiração àsua oração. Portanto, o compromisso do ar-quiteto criador de espaço sagrado na cidadedos homens tem um valor muito elevado, edeve ser reconhecido e encorajado pela Igreja,de modo particular quando se corre o riscodo esquecimento da dimensão espiritual e adesumanização dos espaços urbanos.

Por conseguinte, no pano de fundo e nocontexto dos grandes problemas do nossotempo, a teologia e a arte devem continuar aser animadas e elevadas pelo poder do Espíri-to, nascente de força, de alegria e de esperan-ça. Por isso, permiti que eu conclua recordan-do as palavras com as quais o nosso PapaEmérito nos convidou à esperança, evocandoa elevação espiritual de um grande teólogo esanto particularmente querido a ele e muitoconhecido pela nossa Premiada, a ProfessoraSchlosser. Por ocasião da sua visita a Bagno-regio, pátria de São Boaventura, Bento XVI as-sim se expressou: «Uma bonita imagem daesperança encontramo-la numa das suas pre-gações do Advento, na qual compara o movi-mento da esperança com o voo do pássaro,que abre as asas do modo mais amplo possí-vel, e para as mover emprega todas as suasforças. De um certo modo, torna-se ele mes-mo movimento para se elevar e voar. Esperaré voar, diz São Boaventura. Mas a esperançaexige que todos os nossos membros se façammovimento e se projectem para a verdadeiraaltura do nosso ser, para as promessas deDeus. Quem espera — afirma ele — “deve er-guer a cabeça, dirigindo para o alto os seuspensamentos, para a altura da nossa existên-cia, ou seja, para Deus” (Sermo XVI, Dom. IAdv., Opera Omnia IX, 40ª)» (Discurso emB a g n o re g i o , 6 de setembro de 2009).

Agradeço aos teólogos e aos arquitetos quenos ajudam a erguer a cabeça e a dirigir osnossos pensamentos para Deus. Parabéns atodos vós pelo vosso nobre trabalho, para quese oriente sempre para esta finalidade.

Na manhã de 17 de novembro, na sala Clementina do Palácio apostólico, tevelugar a entrega dos prémios Ratzinger 2018. Este ano o Papa Franciscoconferiu o prestigioso reconhecimento à teóloga Marianne Schlosser e aoarquiteto Mario Botta. A cerimónia foi introduzida pela saudação do jesuítaFederico Lombardi, presidente da fundação Joseph Ratzinger — Bento xvi.Em seguida, o presidente do comité científico, cardeal Angelo Amato,apresentou o perfil biográfico dos premiados. Depois, o Pontífice proferiu odiscurso que publicamos nesta página.

A Marianne Schlosser e Mario Botta

Doutores os nomes de outras mulheres, SantaTeresa de Lisieux e Hildegarda de Bingen.

Além da teologia, a partir do ano passadoos Prémios Ratzinger foram oportunamenteconferidos inclusive no campo das artes cristã-mente inspiradas. Por isso, congratulo-me

gica científica e do ensino da teo-logia, por muito tempo considera-dos territórios quase exclusivos doclero. É necessário que tal contri-buição seja encorajada e encontreum espaço mais amplo, coerente-mente com o aumento da presen-ça feminina nos vários setores deresponsabilidade da vida da Igre-ja, em particular, e não só nocampo cultural. Desde que PauloVI proclamou Teresa de Ávila eCatarina de Sena Doutoras daIgreja, não há mais dúvidas sobreo facto de que as mulheres podemalcançar os cumes mais elevadosna inteligência da fé. TambémJoão Paulo II e Bento XVI o con-firmaram, inserindo na série de

da Fundação aqui presentes; e agradeço aoCardeal Angelo Amato e ao Padre FedericoLombardi, que traçaram o sentido deste even-to e o perfil dos Premiados.

Esta é uma boa ocasião para dirigirmosjuntos o nosso pensamento afetuoso e gratoao Papa Emérito, Bento XVI. Como apreciado-res da sua herança cultural e espiritual, vós re-cebestes a missão de a cultivar e de continuara fazê-la frutificar, com aquele espírito forte-mente eclesial que distinguiu Joseph Ratzin-ger deste os tempos da sua fecunda atividadeteológica juvenil, quando deu frutos preciososjá no Concílio Vaticano II, e depois de modocada vez mais meticuloso nas seguintes etapasda sua longa vida de serviço, como professor,Arcebispo, Chefe de Dicastério e finalmentePastor da Igreja Universal. O seu espíritopondera com consciência e coragem os pro-blemas do nosso tempo, e sabe haurir da es-cuta da Escritura na tradição viva da Igreja asabedoria necessária para um diálogo constru-tivo com a cultura de hoje. Nesta linha, enco-rajo-vos a continuar a estudar os seus escritos,mas também a enfrentar os novos temas sobreos quais a fé é solicitada ao diálogo, assim co-mo aqueles que foram por vós evocados e queconsidero muito atuais, do cuidado da criaçãocomo casa comum e da defesa da dignidadeda pessoa humana. Paul Rubens, «Santa Teresa de Ávila» (séc. XVII)

Hildegarda de Bingen tem uma visãoe descreve-a ao seu confessor («Scivias», séc. XII)

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página 6 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 20 de novembro de 2018, número 47

Declaração conjunta

Voz dos cristãos perseguidosPublicamos a seguir a nossa tradução dadeclaração conjunta assinada pelo Papa e pelocatholicos.

1. Louvando a Santíssima Trindade, Pai, Filhoe Espírito Santo, nós, Papa Francisco e Pa-triarca catholicos Mar Gewargis III, elevamosas nossas mentes e os nossos corações emação de graças ao Omnipotente pela crescenteproximidade na fé e no amor entre a IgrejaAssíria do Oriente e a Igreja católica. O nossoencontro, hoje, como irmãos, faz eco às pala-vras do santo apóstolo Paulo: «Paz aos ir-mãos, bem como amor e fé da parte de DeusPai e do Senhor Jesus Cristo» (Ef 6, 23).

2. Nos últimos decénios as nossas Igrejasaproximaram-se muito, como nunca ao longodos séculos. Desde o seu primeiro encontroem Roma em 1984, os nossos predecessores,de veneranda memória, Papa São João PauloII e Patriarca Catholicos Mar Dinkha I V, em-preenderam um caminho de diálogo. Estamosmuito gratos pelos frutos deste diálogo deamor e de verdade, que confirmam que a di-versidade de costumes e de disciplinas não éde modo algum um obstáculo para a unidade,e que certas diferenças nas expressões teológi-cas muitas vezes são complementares e nãocontrastantes. A nossa orante esperança é porque o diálogo teológico nos ajude a aplainar ocaminho rumo ao dia longamente esperadono qual poderemos celebrar juntos o sacrifíciodo Senhor no mesmo altar. Entretanto, pre-tendemos proceder no reconhecimento mútuoe no testemunho conjunto do Evangelho. Onosso batismo comum é o fundamento sólidoda verdadeira comunhão já existente entrenós: «Num só Espírito, fomos todos batiza-dos para formar um só corpo» (1 Cor 12, 13).Caminhando juntos na confiança, procuramosa caridade que «é o vínculo da perfeição» (Cl3, 14).

3. Na nossa peregrinação rumo à unidadevisível, experimentamos um sofrimento co-mum que nasce da dramática situação dosnossos irmãos e irmãs cristãos no MédioOriente, sobretudo no Iraque e na Síria. Aimportância da presença e da missão cristã noMédio Oriente foi evidenciada mais uma vezde maneira clara durante o Dia de oração ereflexão que teve lugar em Bari, a 7 de julhode 2018, quando os chefes das Igrejas e dascomunidades cristãs do Médio Oriente se reu-niram para rezar e para falar uns com os ou-tros. A Boa Nova de Jesus, crucificado e res-suscitado por amor, chegou do Médio Orien-te e com o decorrer dos séculos conquistoucorações humanos, não com a força terrena,mas com a força desarmada da Cruz. Contu-do, há alguns decénios o Médio Oriente é um

epicentro de violência, onde todos os dias po-pulações inteiras suportam provações doloro-sas. Centenas de milhares de homens, mulhe-res e crianças inocentes sofrem imensamentepor causa de conflitos violentos sem justifica-ção. As guerras e as perseguições aumentaramo êxodo de cristãos das terras nas quais vive-ram lado a lado com outras comunidades reli-giosas desde os tempos dos apóstolos. Semdistinção de rito nem de confissão, sofrem porprofessarem o nome de Cristo. Neles vemos oCorpo de Cristo que, ainda hoje, é atormenta-do, espancado e ultrajado. Estamos profunda-mente unidos na nossa prece de intercessão eno nosso compromisso caritativo em prol des-tes membros sofredores do Corpo de Cristo.

4. No meio deste sofrimento, do qual im-ploramos o fim imediato, continuamos a verirmãos e irmãs que percorrem o caminho dacruz, seguindo docilmente as pegadas de Cris-

de quem não tem voz. Juntos faremos o pos-sível para aliviar o seu sofrimento e ajudá-losa encontrar maneiras para iniciar uma novavida. Desejamos afirmar mais uma vez quenão é possível imaginar o Médio Oriente semcristãos. Esta convicção não se funda apenasem bases religiosas, mas também em realida-des sociais e culturais, pois os cristãos, junta-mente com outros crentes, contribuem ampla-mente para a identidade específica da região:um lugar de tolerância, respeito e aceitaçãorecíprocos. O Médio Oriente sem cristãos dei-xaria de ser o Médio Oriente.

6. Convictos de que os cristãos permanece-rão na região unicamente se for restabelecidaa paz, elevamos as nossas sinceras preces aCristo, Príncipe da Paz, pedindo a vinda da-quele fundamental «fruto da justiça» (cf. Is32, 17). Uma trégua mantida com muros e de-monstrações de força não levará à paz, pois a

Comemoração de Abdisho de Nísibis

Na vigília do encontro com o Papa, o catholi-cos participou na sessão inaugural da confe-rência comemorativa do sétimo centenário damorte de Abdisho bar Berika, metropolita deNísibis, realizada nos dias 8 e 9 de novembrono Pontifício instituto oriental (Pio). Autoreclético, é considerado um dos teólogos, poe-tas e canonistas mais importantes da tradiçãodesta antiquíssima Igreja, conhecida na histó-ria também como “nestoriana” e “síria orien-tal”. Com as suas raízes no Iraque, outroraela constituía uma entidade vasta, global, quese difundiu até Chipre no Ocidente e até àChina no Oriente, produzindo importantespensadores em toda a Idade Média, algunsdos quais contribuíram para a transmissão dopensamento grego no mundo islâmico. Junta-mente com a comunidade católica caldeia —

cujo cardeal patriarca Sako interveio nos tra-balhos, introduzidos pelo reitor do Pio, o je-suíta David Nazar — a Igreja Assíria doOriente mantém hoje uma significativa pre-sença no norte do Iraque e no Irão, na Síriaoriental e no sul da Índia, com diásporas naEuropa, Austrália e América do Norte.

to, em união com Aquele que nos reconcilioucom a sua cruz e, deste modo, «destruiu nasua carne a inimizade» (cf. Ef 2, 14-16). Esta-mos gratos a estes nossos irmãos e irmãs quenos inspiram a seguir o caminho de Jesus pa-ra derrotar a inimizade. Estamos-lhe gratospelo testemunho que dão do Reino de Deusatravés das relações fraternas existentes entreas suas diversas comunidades. Assim como osangue de Cristo, derramado por amor, trouxereconciliação e unidade e fez prosperar a Igre-ja, também o sangue destes mártires do nossotempo, membros de Igrejas diversas, mas uni-dos pelo seu sofrimento comum, é semente deunidade cristã.

5. Face a esta situação, unimo-nos aos nos-sos irmãos e irmãs perseguidos por serem voz

paz autêntica pode ser alcançada e preservadaunicamente através da escuta recíproca e dodiálogo. Por conseguinte, exortamos maisuma vez a comunidade internacional a imple-mentar uma solução política que reconheça osdireitos e os deveres de todas as partes envol-vidas. Estamos convictos da necessidade degarantir os direitos de cada pessoa. A prima-zia do direito, incluídos o respeito da liberda-de religiosa e a igualdade perante a lei, basea-do no princípio de “cidadania”, prescindindoda origem étnica ou da religião, é um princí-pio fundamental para a instituição e a preser-vação de uma coexistência estável e produtivaentre os povos e as comunidades do MédioOriente. Os cristãos não querem ser conside-rados uma «minoria protegida» ou um grupotolerado, mas sim, cidadãos efetivos, cujos di-reitos sejam garantidos e tutelados juntamentecom os de todos os outros cidadãos.

7. Por fim, reafirmamos que quanto maisdifícil for a situação, tanto mais necessário se-rá o diálogo inter-religioso fundado numa ati-tude de abertura, verdade e amor. Tal diálogoé também o melhor antídoto contra o extre-mismo, que constitui uma ameaça para os se-guidores de todas as religiões.

8. Dado que nos encontramos aqui em Ro-ma, rezemos juntos aos apóstolos Pedro ePaulo para que, por sua intercessão, Deuspossa efundir as suas abundantes bênçãos so-bre os cristãos no Médio Oriente. Peçamos àSantíssima Trindade, modelo de verdadeiraunidade na diversidade, que fortaleça os nos-sos corações de maneira que possamos res-ponder à chamada do Senhor aos seus discí-pulos a serem um só em Cristo (cf. Jo 17, 21).O Omnipotente, que iniciou esta obra boa emnós, possa levá-la a cumprimento em CristoJesus (cf Fl 1, 6).

Vaticano, 9 de novembro de 2018

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número 47, terça-feira 20 de novembro de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 7

Partilhamos o sofrimentode muitas pessoas no Iraque e na Síria

Francisco recebeu o catholicos da Igreja assíria do Oriente

xão pela paz no Médio Oriente,tão desejado também por VossaSantidade. Com efeito, partilhamoso grande sofrimento que deriva datrágica situação que vivem muitosnossos irmãos e irmãs no MédioOriente, vítimas da violência emuitas vezes obrigados a deixar asterras onde sempre viveram. Elespercorrem a V i a - S a c ra nas pegadasde Cristo e, mesmo pertencendo acomunidades diferentes, instauramentre eles relações fraternas, tor-nando-se para nós testemunhas deunidade. Será pelo fim de tanto so-frimento que mais tarde rezaremos

juntos, invocando do Senhor odom da paz para o Médio Oriente,sobretudo para o Iraque e a Síria.

Um particular motivo de açãode graças a Deus que temos em co-mum é a Comissão para o diálogoteológico entre a Igreja Católica e aIgreja Assíria do Oriente. Há preci-

samente um ano tive a alegria dereceber os seus Membros por oca-sião da assinatura da Declaraçãoconjunta sobre a “vida sacramen-tal”. Esta Comissão, fruto do diálo-go, mostra que as diversidades prá-ticas e disciplinares nem sempresão obstáculo para a unidade, eque algumas diferenças nas expres-sões teológicas podem ser conside-radas complementares e não confli-tuais. Rezo a fim de que os traba-lhos que ela leva por diante, e quenestes dias entram numa terceirafase de estudo sobre a eclesiologia,nos ajudem a percorrer ainda outraporção de caminho, rumo à metatão desejada na qual poderemoscelebrar o Sacrifício do Senhor nomesmo altar.

Este caminho impele-nos emfrente, mas requer também que seconserve sempre viva a memória,para nos deixarmos inspirar pelastestemunhas do passado. Precisa-mente este ano a Igreja Assíria doOriente, assim como a Igreja Cal-deia, celebram o sétimo centenárioda morte de Abdisho bar Berika,Metropolita de Nísibis, um dosmais famosos escritores da tradiçãosírio-oriental. As suas obras, sobre-tudo no âmbito do direito canóni-co, ainda são textos fundamentaisda vossa Igreja. Alegro-me pelaparticipação de Vossa Santidade,assim como dos distintos Membrosda sua delegação, no congresso in-ternacional organizado nesta oca-sião pelo Pontifício InstitutoOriental. Espero que o estudo des-te grande teólogo ajude a fazer co-nhecer melhor as riquezas da tradi-ção síria e a acolhê-las como umdom para a Igreja inteira.

Santidade, caríssimo Irmão, de-sejo expressar-lhe com afeto a mi-nha gratidão pela vossa visita e pe-lo dom de rezar juntos, uns pelosoutros, fazendo nossa a prece doSenhor: «Para que todos sejam umsó [...] a fim de que [...] o mundocreia» (Jo 17, 21).

SantidadeAmados irmãos!«Paz aos irmãos, bem como amor efé da parte de Deus Pai e do Se-nhor Jesus Cristo» (Ef 6, 23). Comas palavras do Apóstolo Paulo saú-do-vos e, através de vós, os Mem-bros do Santo Sínodo, os Bispos, oclero e todos os fiéis da queridaIgreja Assíria do Oriente.

Passaram dois anos desde o nos-so primeiro encontro, mas entretan-to tive a alegria de me encontrarnovamente com Vossa Santidade a7 de julho passado em Bari, porocasião do Dia de oração e refle-

Na manhã de sexta-feira, 9 de novembro, o patriarca catholicos da Igrejaassíria do Oriente, Mar Gewargis III, visitou o Papa Francisco. Depois docolóquio particular na biblioteca do Palácio apostólico foram apresentadas asdelegações. Em seguida, tiveram lugar o pronunciamento dos discursos e atroca dos dons: o Pontífice ofereceu um artístico ramo de oliveira em metal, ocatholicos um candelabro em forma de cruz. Sucessivamente o Papa e opatriarca foram, com o séquito, à capela Redemptoris Mater para presidirjuntos a uma prece ecuménica, durante a qual foram cantados hinos datradição oriental e proclamado o trecho evangélico de Mateus (5, 1-16).Francisco e Gewargis III recitaram o Pai-Nosso e depois abençoaram aassembleia. Na conclusão foi assinada uma declaração conjunta. Estavampresentes o cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício conselho para apromoção da unidade dos cristãos, com os membros da Comissão mista parao diálogo teológico entre a Igreja católica e a Igreja assíria do Oriente. Aseguir, a nossa tradução do discurso do Papa.

Companheiros de trabalhoGewargis III compromete-se a incrementar diálogo e colaboração

Com um abraço a Francisco, «companheiro de traba-lho pelo Evangelho de Cristo», o patriarca catholicosGewargis III agradeceu ao Papa em nome dos cristãosdo Iraque, da Síria e do inteiro Médio Oriente todosos esforços que a Santa Sé envida pela paz.

«A minha presença hoje aqui — disse — pretende re-cordar e ao mesmo tempo confirmar a nossa dedicaçãoe o nosso compromisso comuns a favor da liberdadereligiosa em todo o mundo como um dos direitos hu-manos mais fundamentais». E acrescentou: «Elevemosa nossa voz para expressar uma preocupação comum esincera pelos nossos irmãos e irmãs cristãos na regiãodo Médio Oriente, que continuam a sofrer várias for-mas de perseguição por amor a nosso Senhor JesusCristo naquela mesma parte do mundo onde o cristia-nismo nasceu e onde a mensagem evangélica foi pro-clamada pela primeira vez».

Gewargis III reconheceu que precisamente «o nossocomum diálogo e peregrinação como irmãos em Cristonosso Senhor, nos estimula como pastores a recordardiante da comunidade mundial os sofrimentos que oscristãos do Médio Oriente continuam a experimen-tar». De resto, «os muitos decénios de guerra, violên-cia, hostilidades religiosas e sectarismo tiveram efeitosincomensuráveis e, infelizmente, irreversíveis sobre asnossas antigas comunidades cristãs do Oriente». Comefeito, afirmou, «o que vimos no Iraque e na Síria nosúltimos quinze anos é um testemunho vivo desta dolo-rosa situação de saída compulsiva e de migração força-da, quer interna quer externa, de milhões de cristãosda região do Médio Oriente».

Além disso, denunciou, «a recrudescência do funda-mentalismo religioso e do sectarismo deixou a sua ci-catriz pelo menos em duas gerações de crianças e jo-

vens, que ainda não sabem o que é a paz e a justiça.Eles cresceram acreditando que a guerra e a violênciareligiosa são não só parte integrante da vida diária,mas também um princípio ditado pela religião. Alémdisso, muitos outros — mulheres, homens e idosos —sofreram violências psicológicas e físicas, cada um aseu modo».

Para Gewargis III «o maior pecado consiste no factode o coração e a alma humanos terem sido danificadose alterados de maneira irremediável». A ponto que a«hospitalidade» e a «religiosidade dos povos do Mé-dio Oriente foram substituídos por sofrimento, faltade caridade, intolerância religiosa». Por isso, é necessá-rio fazer «o possível para aliviar» os sofrimentos doscristãos e ajudá-los a «começar uma nova vida» escon-jurando o risco da «extinção». De resto, reafirmou, «oMédio Oriente sem cristãos já não seria o MédioO riente».

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Na missa em São Pedro a denúncia do Pontífice

O grito de muitos pobres abafadopelo barulho de poucos ricos

Peçamos a graça de abrir nossos olhose o coração aos pobres, para ouvir seus gritos

e reconhecer suas necessidades #DiaMundialdosPobres

(@Pontifex_pt)Antes do Angelus Francisco falou do encontro definitivo com Deus

Não sabemosnem o tempo nem o modo

«A história dos povos e dosindivíduos tem um fim e umameta a alcançar: o encontrodefinitivo com o Senhor», disse oPapa no Angelus de 19 denovembro, na praça de SãoP e d ro .

Estimados irmãos e irmãs,bom dia!No trecho do Evangelho desteDomingo (cf. Mc 13, 24-32), oSenhor quer instruir os seusdiscípulos sobre os aconteci-mentos futuros. Em primeirolugar, não é um discurso sobreo fim do mundo mas, ao con-trário, o convite a viver bem opresente, a estarmos vigilantese sempre prontos para quandoformos chamados a prestarcontas da nossa vida. Jesusdiz: «Naqueles dias, depoisdessa tribulação, o sol ficaráescuro, a lua não refletirá o seuesplendor; cairão os astros docéu» (vv. 24-25). Estas palavrasfazem-nos pensar na primeirapágina do Livro do Génesis, anarração da criação: o sol, alua, os astros, que desde osprimórdios do tempo brilhamna sua ordem e transmitemluz, sinal de vida, aqui sãodescritos na sua decadência,enquanto precipitam na escuri-dão e no caos, sinal do fim.Pelo contrário, a luz que há deresplandecer naquele últimodia será única e nova: será ado Senhor Jesus, que virá naglória com todos os santos.Naquele encontro veremos fi-nalmente o seu Rosto na plenaluz da Trindade; um Rostoresplandecente de amor, diantedo qual também cada ser hu-mano aparecerá na verdade to-tal.

A história da humanidade,assim como a de cada um denós, não pode ser entendidacomo uma simples sucessão depalavras e de acontecimentossem sentido. Também não po-de ser interpretada à luz deuma visão fatalista, como setudo já estivesse preestabeleci-do, segundo um destino quesubtrai todo o espaço de liber-dade, impedindo que se façamescolhas que sejam fruto deuma verdadeira decisão. Pelocontrário, no Evangelho de ho-je, Jesus diz que a história dospovos e dos indivíduos temum fim e uma meta a alcançar:o encontro definitivo com oSenhor. Não conhecemos otempo nem as modalidades co-mo isto acontecerá; o Senhorreiterou que «ninguém o sabe,

nem os anjos do céu, nem se-quer o Filho» (v. 32); tudo estáconservado no segredo do mis-tério do Pai. Todavia, conhece-mos um princípio fundamen-tal, com o qual nos devemosconfrontar: «O céu e a terrapassarão — diz Jesus — mas asminhas palavras não passarão»(v. 31). Eis o verdadeiro pontocrucial. Naquele dia, cada umde nós deverá compreender sea Palavra do Filho de Deusiluminou a própria existênciapessoal, ou se lhe virou as cos-tas, preferindo confiar nas pró-prias palavras. Será mais doque nunca o momento no qualabandonar-nos definitivamenteao amor do Pai e confiar-nos àsua misericórdia.

Ninguém pode evitar estemomento, nenhum de nós! Jánão servirá a astúcia, que mui-

mesmos, ao próximo e a todoo mundo.

No final da prece mariana, oPapa proferiu ainda as seguintese x p re s s õ e s .

Caros irmãos e irmãs!

Foi com pesar que recebi anotícia do massacre perpetradohá dois dias num campo dedeslocados na República Cen-tro-Africana, no qual foram as-sassinados também dois sacer-dotes. A este povo que me étão querido, onde abri a pri-meira Porta Santa do Ano daMisericórdia, exprimo toda aminha proximidade e o meuamor. Oremos pelos defuntose feridos, e para que cessequalquer violência naqueleamado país, que tanto precisa

bam consolar, não com palavras vazias, mas compalavras de vida, com gestos de vida. No nome deJesus, encontramos e oferecemos verdadeira conso-lação: não são os encorajamentos formais e previs-tos que restauram, mas a presença de Jesus. Enco-ra j a i - n o s , Senhor! Consolados por Vós, seremosverdadeiros consoladores para os outros.

E a terceira ação de Jesus: no meio da tempesta-de, Jesus estende a mão (cf. 14, 31). Agarra Pedroque, assustado, duvidara e, afundando, gritou:«Salva-me, Senhor!» (14, 30). Podemos colocar-nos no lugar de Pedro: somos pessoas de pouca fée estamos aqui a mendigar a salvação. Somos po-bres de vida verdadeira, e serve-nos a mão estendi-da do Senhor que nos tire fora do mal. Isto é oinício da fé: esvaziar-se da orgulhosa convicção denos julgarmos em ordem, capazes, autónomos, pa-ra nos reconhecermos necessitados de salvação. Afé cresce neste clima, um clima ao qual nos adap-tamos convivendo com quantos não se colocam nopedestal, mas precisam e pedem ajuda. Por isso éimportante, para todos nós, viver a fé em contactocom os necessitados. Não é uma opção sociológica,não é a moda de um pontificado, mas exigênciateológica. É reconhecer-se mendigos de salvação,irmãos e irmãs de todos, mas especialmente dospobres, prediletos do Senhor. Assim bebemos doespírito do Evangelho: «o espírito de pobreza e decaridade — diz o Concílio — são a glória e o teste-munho da Igreja de Cristo» (Const. past. Gau-dium et spes, 88).

Jesus ouviu o grito de Pedro. Peçamos a graçade ouvir o grito de quem vive em águas borrasco-sas. O grito dos pobres: é o grito estrangulado debebés que não podem vir à luz, de crianças que pa-decem a fome, de adolescentes habituados ao fra-gor das bombas em vez de o ser à algazarra alegredos jogos. É o grito de idosos descartados e deixa-dos sozinhos. É o grito de quem se encontra a en-frentar as tempestades da vida sem uma presençaamiga. É o grito daqueles que têm de fugir, deixan-do a casa e a terra sem a certeza de um refúgio. Éo grito de populações inteiras, privadas inclusivedos enormes recursos naturais de que dispõem. É ogrito dos inúmeros Lázaros que choram, enquantopoucos epulões se banqueteiam com aquilo que,por justiça, é para todos. A injustiça é a raiz per-versa da pobreza. O grito dos pobres torna-se maisforte de dia para dia, mas de dia para dia é menosouvido. De dia para dia é mais forte aquele grito,mas de dia para dia é menos ouvido, porque abafa-do pelo barulho de poucos ricos, que são sempremenos e sempre mais ricos.

Perante a dignidade humana espezinhada, mui-tas vezes fica-se de braços cruzados ou então aba-nam-se os braços, impotentes diante da força obs-cura do mal. Mas o cristão não pode ficar de bra-ços cruzados, indiferente, nem de braços a abanar,fatalista! Não... o crente estende a mão, como Jesusfaz com ele. Junto de Deus, o grito dos pobres en-contra guarida. Pergunto: e em nós? Temos olhospara ver, ouvidos para escutar, mãos estendidas pa-ra ajudar, ou vamos repetindo «volta amanhã»?«Nos pobres, o próprio Cristo como que apela emalta voz para a caridade dos seus discípulos» (ibid.,88). Pede-nos para o reconhecermos em quem temfome e sede, é forasteiro e está privado de dignida-de, doente e encarcerado (cf. Mt 25, 35-36).

O Senhor estende a mão: é um gesto gratuito,não devido. É assim que se faz. Não somos cha-mados a fazer bem só a quem nos ama. Retribuir énormal, mas Jesus pede para ir mais longe (cf. Mt5, 46): dar a quem não tem para restituir, isto é,amar gratuitamente (cf. Lc 6, 32-36). Consideremosos nossos dias: entre as muitas coisas que fazemos,alguma é de graça? Fazemos algo por quem nãotem com que retribuir? Tal há de ser a nossa mãoestendida, a nossa verdadeira riqueza no céu.

Estendei-nos a mão, Senhor, agarrai-nos. Ajudai-nos a amar como Vós amais. Ensinai-nos a deixaro que passa, a encorajar quem vive ao nosso lado,a dar gratuitamente a quem está necessitado.Amém!

Almoço com o Papa O campo de deslocados e a igreja de Alindaona República Centro-Africana (Reuters)

«O serviço aos pobres deve ser preferi-do a tudo. Não deve haver atrasos, es-crevia São Vicente de Paulo há quasequatrocentos anos. Palavras aindaatuais, fonte de inspiração para promo-ver gestos concretos de caridade e deatenção para com os irmãos mais neces-sitados. Como aconteceu no dia mun-dial dos pobres, instituído pelo PapaFrancisco em 2016 com a carta apostó-lica Misericordia et misera na conclusãodo jubileu da misericórdia, que chegouà sua segunda edição, e no domingo 18de novembro foi celebrado em todas asdioceses do mundo, mas em Roma as-sumiu um significado particular porquese procurou concretizar as palavras dosalmo: «Os pobres comerão e serão sa-ciados» (22, 27).

No Vaticano, os pobres foram servi-dos por quarenta diáconos da diocesede Roma e por cerca de setenta volun-tários provenientes das paróquias deoutras dioceses. Antes do início do al-moço, Francisco dirigiu-se aos presen-tes, dizendo: «Bom dia! Agora almoça-remos todos juntos. Agradeçamos a

quantos prepararam a refeição e aquantos a servem. Agradeçamos todose rezemos a Deus a fim de que nosabençoe. Uma bênção de Deus para to-dos nós que estamos aqui. Que Deus

de voluntariado e vários organismosativos nas paróquias.

O almoço foi oferecido em particularpor Rome Cavalieri — Hilton Italia emcolaboração com a entidade moral Ta-

bor. O menu foi composto por lasanha,frango com puré de batatas e tiramissúcomo sobremesa.

No final o Pontífice saudou os pre-sentes, dizendo: «Agradeço muito a to-dos vós a companhia. Agora dizem-meque começa a festa verdadeira e o Papatem que ir embora, para que a festa se-ja boa! Muito obrigado! Obrigado avós pela companhia. Obrigado aos jo-vens músicos, a quantos preparam asrefeições, aos que as serviram e aosmuitos jovens que estão a ajudar amanter a ordem. Obrigado a todos vós.E rezai por mim. Que o Senhor vosabençoe. Obrigado!». Antes de deixara Sala, Francisco saudou as crianças, ospobres e as pessoas presentes e posoupara uma foto recordação com os cozi-n h e i ro s .

Entre as várias iniciativas organiza-das em preparação para o evento, deve-mos lembrar o centro médico solidárioque funcionou na praça de São Pedrode 12 a 18 de novembro e que o Papavisitou no dia 15.

tas vezes inserimos nos nossoscomportamentos, para acredi-tar a imagem que queremosoferecer; do mesmo modo, jánão poderá ser usado o poderdo dinheiro e dos meios eco-nómicos, com os quais preten-demos, com presunção, com-prar tudo e todos. Só dispore-mos daquilo que realizamosnesta vida, acreditando na suaPalavra: o tudo e o nado da-quilo que vivemos ou que dei-xamos de fazer. Só levaremosconnosco o que doarmos.

Invoquemos a intercessão daVirgem Maria, para que aconstatação da nossa proviso-riedade na terra e do nosso li-mite não nos faça afundar naangústia, mas nos chame à res-ponsabilidade em relação a nós

de paz. Rezemos juntos a Nos-sa Senhora... [Ave Maria].

Recito uma prece especialpor quantos foram atingidospelos incêndios que estão a fla-gelar a Califórnia, e agora tam-bém às vítimas do gelo na cos-ta leste dos Estados Unidos. OSenhor receba na sua paz osdefuntos, conforte os familiarese ampare quantos se compro-metem nos socorros.

Saúdo em particular, entreoutros, o grupo de sacerdotesde Campanha (Brasil), com oseu Bispo; bem como os acom-panhadores aos Santuários ma-rianos no mundo.

Desejo bom domingo a to-dos. E, por favor, não vos es-queçais de rezar por mim.Bom almoço e até à vista!

Dor pelo massacre na República Centro-Africana

abençoe cada um denós, os nossos cora-ções, as nossas inten-ções, e nos ajude a irem frente. Amém.Bom almoço!».

Na organização, co-laboraram com o di-castério para a novaevangelização a Cári-tas, a comunidade deSanto Egídio, a Or-dem de Malta, as co-munidades Novos Ho-rizontes e João XXIII,a associação Irmão2016, as obras antonia-nas de Roma, as Aclis,os grupos vicentinos

O grito dos últimos «torna-se cada vez mais forte,mas cada vez menos ouvido», porque «abafado pelobarulho de poucos ricos, que são sempre menos esempre mais ricos»: eis a marcante denúncia do Papapor ocasião do segundo dia mundial dos pobres, porele instituído no encerramento do jubileu damisericórdia. Ao celebrá-lo na manhã de 18 denovembro, o Pontífice presidiu à missa na basílica deSão Pedro.

Debrucemo-nos sobre três ações que Jesus realizano Evangelho.

A primeira. Em pleno dia, deixa... deixa a multi-dão na hora do sucesso, quando era aclamado porter multiplicado os pães. E os discípulos queriamgozar do triunfo, mas Jesus obrigou-os imediata-mente a partir, enquanto Ele despede a multidão(cf. Mt 14, 22-23). Procurado pelo povo, retira-sesozinho; quando tudo se apresentava «em desci-da», Ele sobe ao monte para rezar. Depois, no co-ração da noite, desce do monte e vai ter com osseus, caminhando sobre as águas agitadas pelovento. Em tudo isto, Jesus vai contracorrente: pri-meiro deixa o sucesso, depois a tranquilidade. En-sina-nos a coragem de deixar: deixar o sucesso queensoberbece o coração, e a tranquilidade que ador-mece a alma.

Para ir... aonde? A Deus, rezando, e a quem temnecessidade, amando. São os verdadeiros tesourosda vida: Deus e o próximo. Subir até Deus e des-cer até aos irmãos: eis a rota indicada por Jesus.Subtrai-nos, assim, à tendência de nos apascentar-mos calmamente nas cómodas planícies da vida, dedeixar correr ociosamente a vida por entre as pe-quenas satisfações do dia a dia. Os discípulos de

Jesus não são feitos para a previsível tranquilidadede uma vida normal. Como o Senhor Jesus, vivemo seu caminho, leves, prontos a deixar as glóriasdo momento, atentos a não se apegar aos bens quepassam. O cristão sabe que a sua pátria não éaqui, sabe — como recorda o apóstolo Paulo na se-gunda Leitura — que já é «concidadão dos santose membro da casa de Deus» (cf. Ef 2, 19). É umágil viandante da existência. Não vivemos paraacumular: a nossa glória está em deixar o que pas-sa, para guardarmos aquilo que permanece. Peça-mos a Deus a graça de nos assemelharmos à Igrejadescrita na primeira Leitura: sempre em movimen-to, especialista no deixar e fiel no servir (cf. At 28,11-14). Despertai-nos, Senhor, da calmaria ociosa,da bonança tranquila dos nossos portos seguros.Desligai-nos das amarras da autorreferencialidadeque atulham a vida, libertai-nos da busca dos nos-sos sucessos. Ensinai-nos, Senhor, a saber d e i x a r,para orientar a rota da vida pela vossa: rumo aDeus e ao próximo.

A segunda ação: em plena noite, Jesus e n c o ra j a .Vai ter com os seus, submersos na escuridão, cami-nhando «sobre o mar» (Mt 14, 25). Na realidade,tratava-se de um lago; mas naquele tempo o mar,com a profundidade dos seus abismos tenebrosos,evocava as forças do mal. Por outras palavras, Je-sus vai ao encontro dos seus, calcando os inimigosmalignos do homem. Tal é o significado deste si-nal: não uma manifestação celebrativa de força,mas a revelação, que nos é feita, da certeza tran-quilizadora de que Jesus, só Ele, Jesus, vence osnossos grandes inimigos: o diabo, o pecado, amorte, o medo, o mundanismo. Hoje, Ele diz tam-

bém a nós: «Tranquilizai-vos! Sou Eu! Não te-mais!» (14, 27).

A barca da nossa vida vê-se, frequentemente, ba-lanceada pelas ondas e sacudida pelos ventos; e, seas águas por vezes estão calmas, não tardam a agi-tar-se. Então irritamo-nos com as tempestades domomento, como se fossem os nossos únicos pro-blemas. Mas o problema não é a tempestade pre-sente, mas o modo como navegar na vida. O se-gredo de bem navegar é convidar Jesus a subir abordo. O leme da vida deve ser dado a Ele, paraque seja Jesus a traçar a rota. Com efeito, só Eledá vida na morte, e esperança na dor; só Ele curao coração com o perdão, e liberta do medo com aconfiança. Convidemos, hoje, Jesus a subir para abarca da vida. Como os discípulos, experimentare-mos que, com Ele a bordo, amainam os ventos (cf.14, 32) e nunca sofremos naufrágio. Com Ele abordo, nunca sofremos naufrágio. E só com Jesusé que nos tornamos capazes também de encorajar.Há uma grande necessidade de pessoas que sai-

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página 10 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 20 de novembro de 2018, número 47

Aos sacerdotes do colégio Pio Latino-Americano

Pastores de povo

CO N T I N UA NA PÁGINA 11

À comunidade do pontifício colégio Pio Latino-Americano, recebida na salaClementina na manhã de 15 de novembro, por ocasião do 160° aniversáriode fundação, o Papa citou o exemplo de Santo Óscar Romero, convidandoos jovens sacerdotes a evitar a «perversão do clericalismo» e a ser cada vezmais «pastores de povo», não «clérigos de Estado». A seguir, as palavrasproferidas pelo Pontífice.

Liberdade e cooperaçãoentre Brasil e Santa Sé

«Liberdade» e «cooperação»: são os dois elementos qualificadoresdo acordo assinado em 2008 entre a Santa Sé e o Brasil com o ob-jetivo de oferecer, «cada um conforme as próprias competências,uma contribuição para a consecução de um objetivo comum: o bemdo ser humano e da sociedade na qual ele age», sublinhou o car-deal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do sínodo dos bispos, inter-vindo num seminário realizado de 12 a 14 de novembro em Campi-nas, no Estado de São Paulo, para celebrar os dez anos da promul-gação do acordo. O purpurado — que como núncio apostólico foitestemunha direta da fase preparatória e da negociação — observouque neste texto é fácil compreender «uma estruturação orgânica quenão deixa espaço a lacunas nem interpretações limitadas». Comefeito, ao preâmbulo seguem-se vinte artigos relativos à presença daIgreja no país, à sua atividade apostólica e à sua dimensão institu-cional. Trata-se de disposições que, «exceto o papel específico doEstado, mostram o desejo de criar uma consonância harmoniosa en-tre as Partes para a consecução do bem comum da sociedade».

Neste sentido, o acordo apresenta um «alcance inovador, quepermite propô-lo como modelo significativo e funcional para as re-lações entre Igreja e Estado orientadas decididamente para aquelasadia c o o p e ra t i o posta como garantia da salvação das almas e dobem comum da sociedade».

É com prazer que me encontroconvosco e me uno à ação de gra-ças pelos 160 anos de vida doPontifício Colégio Pio Latino-Americano. Agradeço ao reitor, opadre jesuíta Gilberto Freire, pe-las suas palavras em nome de to-da a comunidade sacerdotal e doscolaboradores leigos que, com oseu trabalho diário, tornam possí-vel a vida de família.

Talvez a particularidade maisconhecida do vosso colégio seja oseu ser latino-americano. É umdos poucos colégios romanos que,com a sua identidade, não se refe-re a uma nação nem a um caris-ma, mas procura ser o lugar deencontro, em Roma, da nossa ter-ra latino-americana, a PátriaGrande, como os nossos pais dapátria gostavam de a sonhar. OColégio foi sonhado desta formae assim é desejado pelos seus Bis-pos, que privilegiam esta Casa,oferecendo-vos, jovens sacerdotes,a oportunidade de desenvolveruma visão, uma reflexão e umaexperiência de comunhão expres-samente “latino-americanizada”.

Entre os fenómenos que atual-mente marcam vigorosamente oContinente contam-se a fragmen-tação cultural, a polarização dotecido social e a perda das raízes.Isto agrava-se, quando se fomen-tam discursos que dividem e di-fundem vários tipos de conflitos eódios contra quantos “não sãodos nossos”, inclusive importandomodelos culturais que pouco ou

nada têm a ver com a nossa histó-ria e identidade e que, longe dese misturar em novas sínteses co-mo no passado, acabam por de-sarraigar as nossas culturas dassuas tradições mais ricas e autóc-tones. Novas gerações erradicas efragmentadas! A Igreja não éalheia à situação e está exposta aesta tentação; submetida ao mes-mo clima, corre o risco de se per-der, permanecendo prisioneiradesta ou daquela polarização, oudesarraigada, se se esquecer dasua vocação para ser terra de en-contro (cf. Santo Óscar Romero,IV Carta Pastoral — Misión de laIglesia en medio de la crisis delPaís, 6 de agosto de 1979, n. 23).Até na Igreja sofremos a invasãodas colonizações ideológicas!

Eis a importância deste tempoem Roma e sobretudo no Colé-gio: para poder criar vínculos ealianças de amizade e de fraternida-de. E isto não através de uma de-claração de princípios ou gestosde boa vontade, mas a fim de quedurante estes anos possais apren-der a conhecer melhor e a fazervossas as alegrias e as esperanças,as tristezas e as angústias dos vos-sos irmãos, conferindo um nomee um rosto a situações concretasque os nossos povos vivem e en-frentam, e sentindo como vossasas problemáticas daqueles que vi-vem ao vosso lado.

O “Pio” pode ajudar muito acriar uma comunidade sacerdotalaberta a criativa, jubilosa e cheia

de esperança, se souber ajudar-see socorrer-se, se for capaz de seradicar na vida dos outros, irmãose filhos de uma história e de umpatrimónio comuns, parte de umúnico presbitério e povo latino-americano. Uma comunidade sa-cerdotal que descobre que amaior força de que dispõe paraconstruir a história nasce da soli-dariedade concreta entre vós hoje,e continuará amanhã, entre asvossas Igrejas e os vossos povos,para serdes capazes de superar oâmbito puramente “paro quial” eguiar comunidades que saibamabrir-se ao próximo para tecer ecuidar da esperança (cf. Exort.Ap. Evangelii gaudium, 228).

O nosso Continente, marcadopor feridas antigas e novas, temnecessidade de artesãos de relaçãoe de comunhão, abertos e queconfiem na novidade que o Reinode Deus pode suscitar hoje. E vóspodeis começar a desenvolver istodesde já. Um pároco na sua paró-quia, na sua diocese, pode fazermuito — e está bem — mas corretambém o risco de se queimar, dese isolar e recolher para si. Sentir-se parte de uma comunidadepresbiteral, na qual todos são im-portantes — não por ser a somade pessoas que vivem juntas, maspelos relacionamentos que criam,pelo sentir-se parte desta comuni-dade — consegue despertar e pro-mover processos e dinâmicas ca-pazes de superar o tempo (é bomrecordar que «é melhor estar emdois que sozinho [...] Se um viera cair, o outro levanta-o. Mas aido homem só: se ele cair, não háninguém para o levantar» (Ecl 4,9-10).

Este sentido de pertença e dereconhecimento ajudará a libertare estimular criativamente novasenergias missionárias, estimulemum humanismo evangélico capazde se transformar em inteligênciae força propulsora no nosso Con-tinente. Ao contrário, sem estesentido de pertença e de trabalholado a lado, dispersar-nos-emos,debilitar-nos-emos e, pior ainda,privaremos muitos dos nossos ir-mãos da força, da luz e da conso-lação da amizade com Jesus Cris-to e de uma comunidade de féque confira um horizonte de sen-tido e de vida (cf. Exort. Ap.Evangelii gaudium, 49). E assim,pouco a pouco, e quase sem nosdarmos conta, acabaremos poroferecer à América Latina “umDeus sem Igreja, uma Igreja sem

Cristo e um Cristo sem povo” (cf.Homilia na Missa em Santa Mar-ta, 11 de novembro de 2016) ou,se quisermos dizê-lo de outro mo-do, um Deus sem Cristo, umCristo sem Igreja, uma Igreja sempovo... puro gnosticismo reelabo-rado.

Na sua tradição e na sua me-mória, o nosso Continente conse-guiu plasmar uma realidade: oamor a Cristo e de Cristo só sepode manifestar na paixão pelavida e pelo destino dos nossospovos e na solidariedade especialpara com os mais pobres, sofre-dores e necessitados (cf. GuzmánCarriquiry, Recapitulando los 50años del CELAM, en camino haciala V C o n f e re n c i a , n. 31).

Caros irmãos, isto recorda-nosa importância de que, para ser-mos evangelizadores com toda aalma, a fim de que a nossa vidaseja fecunda e se renove com opassar do tempo, é necessário de-senvolver o prazer de estarmossempre próximos da vida da nos-sa gente; nunca nos devemos iso-lar. A vida do presbítero diocesa-no vive — permiti-me a redundân-cia — desta identificação e perten-ça. A missão é paixão por Jesusmas, ao mesmo tempo, paixãopelo seu povo. É aprender a olharpara onde Ele olha e a deixar-noscomover por aquilo que o como-ve: sentimentos profundos pelavida dos irmãos especialmentedos pecadores e de todos aquelesque estão cansados e abatidos, co-mo ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,36). Por favor, nunca nos acomo-demos em abrigos pessoais ou co-munitários, que nos afastem doseixos onde se escreve a história.Fascinados por Jesus e membrosdo seu Corpo, devemos inserir-nos profundamente na sociedade,compartilhar a vida de todos, ou-vir as suas preocupações... ale-grar-nos com quantos vivem naalegria, chorar com os que cho-ram e oferecer cada Eucaristia portodas as pessoas que nos foramconfiadas (cf. Exort. Ap. Evangeliigaudium, nn. 269-270).

Por isso, julgo que é providen-cial poder associar este aniversá-rio à canonização de Santo ÓscarRomero, ex-aluno do vosso Insti-tuto e sinal vivo da fecundidade eda santidade da Igreja Latino-Americana. Um homem radicadona Palavra de Deus e no coraçãodo seu povo. Esta realidade per-

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número 47, terça-feira 20 de novembro de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 11

Mensagem do Pontífice aos religiosos e às religiosas da Espanha

A vida consagradaentre dificuldades e desafios

«Incertezas e preocupações», mas tambémnovas «oportunidades» e «desafios»caraterizam hoje a vida consagrada, sublinhouo Papa numa mensagem enviada àConferência espanhola dos religiosos (Confer)por ocasião da vigésima quinta assembleiageral que decorre em Madrid de 13 a 15 denovembro. A seguir a nossa tradução.

Queridos irmãos e irmãs!É-me grato saudar-vos por ocasião da vossaAssembleia geral, durante a qual celebraisprecisamente o XXV aniversário da Uniãodas Confer masculinas e femininas. Sem dú-vida, estes anos de estreita colaboração entrereligiosos e religiosas foram fecundos. Cria-ram-se vínculos de fraternidade, de recipro-cidade e de comunhão, quer no respeitanteàs tarefas específicas da Confer quer atravésda solidariedade e da ajuda entre consagra-dos e consagradas em muitos momentos ec i rc u n s t â n c i a s .

Convido-vos a olhar com confiança parao futuro da vida consagrada na Espanha, se-gundo o lema escolhido para esta assem-bleia: «Dar-vos-ei um futuro de esperança»(cf. Jr 29, 11).

O Senhor dá-nos e s p e ra n ç a com as suasconstantes mensagens de amor e com assuas surpresas, que por vezes nos podemdeixar desorientados, mas ajudam-nos a sairdos nossos fechamentos mentais e espiri-tuais. A sua presença é de ternura, acompa-nha-nos e empenha-nos. Por este motivodiz: «Bem conheço os desígnios que mante-nho para convosco... desígnios de prosperi-dade e não de calamidade, para vos conce-der um futuro repleto de esperança. Invo-car-me-eis e vireis suplicar-me, e eu vosatenderei. Procurar-me-eis e me haveis de

encontrar, porque de todo o coração me fos-tes buscar. Permitirei que me encontreis... evos trarei do cativeiro para reintegrar-vos nolugar de onde vos exilei» (Jr 29, 11-14). Ocaminho percorrido como Confer tem umahistória fecunda, rica de exemplos de dedi-cação e de santidade escondida e silenciosa.Não se devem poupar esforços para servir eanimar a vida consagrada espanhola, a fimde que não lhe falte a memória grata, nem oolhar para o futuro, pois não há dúvida deque o estado da vida religiosa, sem esconder

como por exemplo a diminuição de voca-ções e o envelhecimento dos seus membros,problemas económicos e os desafio da inter-nacionalidade e da globalização, as insídiasdo relativismo, a marginalização e a irrele-vância social...; mas é nestas circunstânciasque se actua a nossa esperança no Senhor, oúnico que nos pode socorrer e salvar (cf.Carta apostólica A todos os consagrados porocasião do Ano da Vida Consagrada, 21 denovembro de 2014, n. 3). Esta esperança le-va-nos a pedir ao Senhor da messe que en-vie operários para sua messe (cf. Mt 9, 38),e a trabalhar para a evangelização dos jo-vens a fim de que se abram à chamada doSenhor. Este é um grande desafio: estar aolado dos jovens para os contagiar com a ale-gria do Evangelho e a pertença a Cristo. Hánecessidade de religiosos audazes, queabram novos caminhos, e de apresentar aquestão vocacional como opção cristã fun-damental. Cada trecho da história é tempode Deus, inclusive o nosso, dado que o seuEspírito sopra onde quer, como quer equando quer (cf. Jo 3, 8). Qualquer mo-mento e circunstância pode transformar-senum “k a i ro s ”, temos unicamente que estaratentos para o reconhecer e viver como tal.

Maria, nossa Mãe, que «conservava todasestas palavras, meditando-as no seu cora-ção» (Lc 2, 19), ajudar-nos-á a contemplar ea meditar tudo o que não compreendemossobre o momento atual, acolhendo-o, na ex-petativa de um futuro que, embora diferen-te, continuará a ser fecundo para a vidaconsagrada.

A vida consagrada caminha em santidade.Como religiosos devemos atormentar-nos,dedicar-nos e cansar-nos vivendo as obrasde misericórdia, que são o programa da nos-sa vida (cf. Exortação apostólica Gaudete etexsultate, n. 107). Não se trata de ser heróisnem de nos apresentarmos uns aos outroscomo modelos, mas de estarmos com quan-tos sofrem, acompanhar, procurar juntamen-te com os outros caminhos alternativos,cientes da nossa pobreza, mas também coma confiança depositada no Senhor e no seuamor sem limites. Eis então a necessidadede ouvir novamente a chamada a viver coma Igreja e na Igreja, saindo dos nossos es-quemas e comodidades, para estar próximosde situações humanas de sofrimento e dedesânimo que esperam a luz do Evangelho.Os desafios que se apresentam à vida reli-giosa todos os dias são muitos. A realidadena qual vivemos exige respostas e decisõesaudazes diante destes desafios. Os temposmudaram e as nossas repostas devem ser di-versas. Encorajo-vos a dar resposta, tanto asituações estruturais que exigem novas for-mas de organização, quanto à necessidadede sair e procurar novas presenças para serfiéis ao Evangelho e canais do amor deDeus. A vida de oração, o encontro pessoalcom Jesus Cristo, o discernimento comuni-tário, o diálogo com o bispo devem serprioritários no momento de tomar decisões.Devemos viver com audácia humilde olhan-do para o futuro e com uma atitude de es-cuta do Espírito; com ele podemos ser pro-fetas de esperança.

Que o Senhor vos abençoe e a VirgemMaria vos acompanhe e vos ajude a desco-brir o caminho a seguir. E, por favor, nãovos esqueçais de rezar por mim.

Vaticano, 5 de novembro de 2018

FRANCISCO

incertezas e preocupações, está repleto deoportunidades e também de entusiasmo,paixão e consciência de que hoje a vida con-sagrada tem sentido.

A Igreja quer que sejamos p ro f e t a s , ou se-ja, homens e mulheres de esperança. Justa-mente, um dos objetivos do ano da vidaconsagrada encorajava a «abraçar o futurocom esperança». Conhecemos as dificulda-des que hoje a vida religiosa deve enfrentar,

CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 10

Ao colégio Pio Latino-Americano

mite-nos entrar em contactocom aquela longa plêiade detestemunhas na qual somosconvidados a ganhar raízes e ainspirar-nos todos os dias, demaneira especial nesta épocaem que estais “fora de casa”.Não receeis a santidade, nãotenhais medo de consumir avida pela vossa gente.

Não somos órfãos no cami-nho de mestiçagem cultural epastoral; a nossa Mãe acom-panha-nos. Ela desejou mos-trar-se assim, mestiça e fecun-da, e está ao nosso lado destemodo, Mãe de ternura e devigor que nos resgata da para-lisia ou da confusão do medo,porque simplesmente está ali,é Mãe.

Irmãos sacerdotes, não vosesqueçais dela e, com confian-ça, peçamos-lhe que nos indi-que o caminho, que nos livreda perversão do clericalismo,que nos torne cada vez mais“pastores de povo” e não per-mita que nos tornemos “cléri-gos de Estado”.

Dirijo uma última palavra àCompanhia de Jesus — algunsdos quais estão aqui presentescom o seu Geral — que desdeo início acompanharam o ca-minho desta Casa. Obrigadopelo vosso trabalho e pelavossa tarefa.

Uma das caraterísticas dis-tintivas do carisma da Com-panhia é procurar harmonizaras contradições, sem cair emreducionismos. Esta foi a von-tade de Santo Inácio, quandopensou nos jesuítas como ho-mens de contemplação e deação, homens de discernimen-to e de obediência, compro-metidos na vida quotidiana elivres para partir (cf. JorgeMario Bergoglio, Me d i t a c i o n e spara religiosos, nn. 93-94). Amissão que a Igreja coloca nasvossas mãos exige de vós sa-bedoria e dedicação a fim deque, no período que passamna Casa, os jovens possam ali-mentar-se deste dom da Com-panhia, aprendendo a harmo-nizar as contradições que a vi-da lhes apresenta e apresenta-rá, sem cair em reducionis-mos, lucrando em espírito dediscernimento e liberdade.

Ensinar a enfrentar os proble-mas e os conflitos sem medo,a lidar com a discordância ecom o confronto; ensinar adesvendar todos os tipos dediscurso “c o r re t o ” mas redu-cionista é tarefa crucial dequantos acompanham os ir-mãos na formação. Ajudai-osa descobrir a arte e o prazerdo discernimento como modode proceder para encontrar,no meio das dificuldades, asveredas do Espírito, saborean-do e sentindo interiormente oDeus semper maior. Sede mes-tres de grandes horizontes e,ao mesmo tempo, ensinai acuidar do que é pequenino, aabraçar os pobres, os doentes,e a aceitar os aspetos concre-tos da vida de todos os dias.Non coerceri a maximo, contine-ri tamen a minimo divinum est.

Mais uma vez, obrigadopor me terdes permitido cele-brar convosco os primeiros160 anos de caminho. Ao des-pedir-me, desejo saudar tam-bém as vossas comunidades,povos e famílias. E, por favor,nãos vos esqueçais de rezar epedir para rezarem por mim.

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página 12 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 20 de novembro de 2018, número 47

Carta para a instituição de um novo ciclo de estudos na Pontifícia universidade lateranense

Educar para a cultura da paz

Ao Venerado IrmãoSenhor Cardeal

ANGELO DE DO N AT I SGrão-Chanceler da Pontifícia

Universidade Lateranense

1. O desejo de paz que se eleva da família hu-mana viu desde sempre a Igreja prodigalizar-se ao envidar todos os esforços a fim de con-tribuir para libertar homens e mulheres dastragédias da guerra e para aliviar as suas peri-gosas consequências. Também no tempo pre-sente, no qual aumenta a necessidade de pre-venir e resolver conflitos, à luz do Evangelho,a Igreja sente-se interpelada a inspirar eapoiar todas as iniciativas que garantam aosvários povos e países um caminho de paz, fru-to daquele diálogo autêntico, capaz de extin-guir o ódio, de abandonar egoísmos e autorre-ferencialidades, de superar desejos de poder ede opressão dos mais débeis e dos últimos.

Esta intenção pressupõe, antes de tudo, umesforço educativo em vista da escuta e dacompreensão, mas também do conhecimentoe do estudo do património de valores, das no-ções e dos instrumentos capazes de abatertendências ao isolamento, ao fechamento e alógicas de poder, que são portadoras de vio-lência e destruição. Meios de conciliação, for-mas de uma justiça de transição, garantias dedesenvolvimento sustentável, proteção e salva-gurda da criação são, hoje, alguns dos instru-mentos capazes de abrir o caminho às formasde solução pacífica dos conflitos, de eliminarcarreirismos e posições dominantes, e assimformar pessoas dedicadas de maneira incondi-cional ao serviço da causa do homem.

Para ser medianeira credível perante a opi-nião pública mundial, a Igreja é chamada afavorecer a «solução de problemas relativos àpaz, à concórdia, ao meio ambiente, à defesada vida, aos direitos humanos e civis» (Exort.Ap. Evangelii gaudium, 65). Uma tarefa de-sempenhada também através da ação que aSanta Sé realiza na Comunidade internacionale nas suas Instituições, recorrendo aos instru-mentos da diplomacia para superar os confli-tos com os meios pacíficos e a mediação, apromoção e o respeito pelos direitos humanosfundamentais, o desenvolvimento integral depovos e países.

2. Na prossecução deste objetivo, desempe-nha um papel central o mundo universitário,lugar símbolo daquele humanismo integralque tem continuamente necessidade de ser re-novado e enriquecido, para que saiba produ-zir uma corajosa renovação cultural que o mo-mento atual exige. Este desafio interpela in-clusive a Igreja que, com a sua rede mundialde Universidades eclesiásticas, pode «oferecero decisivo contributo de fermento, sal e luzdo Evangelho de Jesus Cristo e da Tradiçãoviva da Igreja, sempre aberta a novos cenáriose propostas», como recordei recentemente, re-formando o ordenamento dos estudos acadé-micos nas Instituições eclesiásticas (cf. Const.Ap. Veritatis gaudium, 2). Sem dúvida, istonão significa alterar o sentido institucional eas tradições consolidadas das nossas realida-des académicas mas, pelo contrário, orientar asua função na perspetiva de uma Igreja maisacentuadamente “em saída” e missionária.Com efeito, é possível enfrentar os desafiosdo mundo contemporâneo com uma capaci-dade de resposta adequada nos conteúdos ecompatível na linguagem, antes de tudo diri-gindo-se às novas gerações. Eis, pois, a tarefaque vos é confiada: encarnar a Palavra deDeus para a Igreja e para a humanidade doterceiro milénio. E, ao fazê-lo, é importanteque estudantes e professores se sintam pere-grinos chamados a anunciar a Boa Nova a to-dos os povos, sem ter medo de arriscar, nemde sonhar com a paz para todas as pessoas etodas as nações.

3. Portanto, animado pelo desejo de trans-por para o âmbito académico e dotar de mé-todo científico este património de valores e deações, instituo junto desta Pontifícia Universi-dade, que participa de modo específico na

missão do Bispo de Roma, um ciclo de estu-dos em Ciências da Paz, como percurso acadé-mico para o qual concorrem os âmbitos teoló-gico, filosófico, jurídido, económico e social,de acordo com o critério da inter- e transdisci-plinaridade (cf. ibid., 4, c). Por conseguinte, aestrutura curricular servir-se-á do concurso deensinamentos ministrados pelas Faculdades epelos Institutos da Universidade Lateranensepara conferir os graus académicos de Bachare-lado e de Licenciatura na conclusão, respeti-vamente, de um primeiro ciclo trienal e de umbiénio de especialização.

4. Através de Vossa Eminência, Senhor Car-deal, confio o novo percurso de estudos àUniversidade, atribuindo a sua direção aoMagnífico Reitor, a fim de que seja garantidauma específica formação científica de sacerdo-tes, consagrados e leigos. Para as Ciências daPaz poderão olhar com confiança os Bisposdiocesanos, os Ordinários castrenses, as Con-ferências episcopais, os Superiores e as Supe-rioras das diferentes formas de vida consagra-da, os Responsáveis de associações e movi-mentos do laicado, bem como todos aquelesque o desejarem, para promover uma adequa-da preparação de atuais e futuros obreiros depaz.

Diante desta tarefa faço votos para que, noserviço quotidiano à Sé de Pedro, toda a co-munidade universitária da Lateranense — do-centes, estudantes e todos os funcionários —se sinta engajada na sementeira da cultura dapaz. Uma obra que tem início com a escuta, oprofissionalismo e a dedicação, sempre acom-panhados pela humildade, mansidão e vonta-de de se tornar tudo para todos.

Coloco sob a proteção dos meus dois San-tos Predecessores, João XXIII e Paulo VI, au-tênticos arautos da paz no mundo e que con-tribuíram enormemente para o desenvolvi-mento do Magistério em tal campo, este novofruto da solicitude da Igreja, confiando-o aMaria Rainha da Paz, a fim de que nos ajudea compreender e a viver aquela fraternidadeque o Coração do seu Filho exige e da qualderiva a verdadeira paz.

Vaticano, 12 de novembro de 2018Memória do Beato João da Paz.

Pablo Picasso«A pomba da paz» (1962)

Na manhã de 12 de novembro, na Pontifícia universidadelateranense, teve lugar a cerimónia de inauguração do anoacadémico. O cardeal vigário Angelo De Donatis, grão-chanceler, abriu o dies academicus com uma saudação,à qual se seguiu a intervenção do bispo secretário doConselho de cardeais, Marcello Semeraro, o qualapresentou a lectio magistralis, dedicada à Constituiçãoapostólica que reforma a Cúria romana. Depois dopronunciamento do reitor, Vincenzo Buonomo, o substitutopara os assuntos gerais da Secretaria de Estado,D. Edgar Peña Parra, leu a carta (que publicamos naíntegra) com a qual o Papa Francisco institui o novo ciclode estudos em “ciências da paz”.

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número 47, terça-feira 20 de novembro de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 13

Falta a vontade políticade pôr fim a armamento e guerras

À plenária da pontifícia academia das ciências

«Faltam vontade e determinaçãopolítica para deter a corrida aoarmamento e pôr fim às guerras,para passar com urgência a energiasrenováveis, a programas que visemgarantir água, alimento e saúdepara todos e investir em prol dobem comum os enormes capitais quepermanecem inativos nos paraísosfiscais», afirmou o Papa nodiscurso aos participantes naplenária da Pontifícia academia dasciências, recebidos na sala doConsistório a 12 de novembro.

Ilustres Senhoras e Senhores!É uma alegria encontrar-me denovo com toda a Pontifícia Aca-demia das Ciências. Dirijo cor-diais boas-vindas aos novos Aca-démicos e agradeço as gentis pa-lavras do ex-Presidente, Prof.Werner Arber, enquanto formulovotos de imediato restabelecimen-to ao Presidente Prof. Joachimvon Braun. Estendo o meu reco-nhecimento a todas as personali-dades que intervieram oferecendoo seu contributo precioso.

O mundo da ciência, que nopassado assumiu posições de au-tonomia e de autossuficiência,com comportamentos de descon-fiança em relação aos valores es-pirituais e religiosos, hoje ao con-trário parece ter adquirido umamaior consciência da realidade ca-da vez mais complexa do mundoe do ser humano. Surgiram umacerta insegurança e alguns temo-res face à possível evolução deuma ciência e de uma tecnologiaque, se forem abandonadas a simesmas sem controle, podem vi-rar as costas ao bem das pessoase dos povos. É verdade, a ciênciae a tecnologia influem sobre a so-ciedade, mas também os povoscom os seus valores e costumespor sua vez influenciam a ciência.Com frequência a direção e a ên-fase que são dadas a alguns pro-gressos da pesquisa científica sãoinfluenciadas por opiniões ampla-mente partilhadas e pelo desejode felicidade ínsito na naturezahumana. Todavia, temos necessi-dade de maior atenção aos valo-res e aos bens fundamentais queestão na base da relação entre po-vos, sociedades e ciências. Tal re-lação exige uma reconsideração afim de promover o progresso inte-gral de cada ser humano e dobem comum. Diálogo aberto ediscernimento atento são indis-pensáveis, especialmente quandoa ciência se torna mais complexae o horizonte que ela abre fazemergir desafios decisivos para ofuturo da humanidade. De facto,hoje tanto a evolução social quan-to as mudanças científicas aconte-cem cada vez mais rapidamente eperseguem-se. É importante que aPontifícia Academia das Ciênciasconsidere que estas mudanças in-terligadas entre si exigem umcompromisso sábio e responsávelpor parte de toda a comunidade

meus Predecessores, reitero a im-portância fundamental de se com-prometer a favor de um mundosem armas nucleares (cf. Me n s a -gem à Conferência da Onu para ne-gociar um tratado sobre a proibiçãodas armas nucleares, 23 de marçode 2017) e peço — como fizeramSão Paulo VI e São João Paulo II— aos cientistas a colaboração ati-va a fim de convencer os gover-nantes da inaceitabilidade éticade tal armamento devido aos da-nos irreparáveis que causa à hu-manidade e ao planeta. Por con-seguinte, reitero também a neces-sidade de um desarmamento so-bre o qual parece que hoje já nãose fale naquelas mesas ao redordas quais se tomam grandes deci-sões. Que também eu possa dargraças a Deus, como fez São JoãoPa u l o II no seu testamento, por-que durante o meu pontificadoao mundo foi poupada a tragédiaenorme de uma guerra atómica.

As mudanças globais estão ca-da vez mais influenciadas pelasações humanas. Por conseguintetambém são necessárias respostasadequadas para a salvaguarda dasaúde do planeta e das popula-ções, saúde ameaçada por todas

faz parte do serviço que prestais àhumanidade.

Aprecio que a Academia seconcentre também sobre os novosconhecimentos necessários paraenfrentar as chagas da sociedadecontemporânea. Os povos pedemjustamente para participar naconstrução das próprias socieda-des. Os proclamados direitos uni-versais devem tornar-se realidadepara todos e a ciência pode con-tribuir de modo decisivo para talprocesso e para o abatimento dasbarreiras que o impedem. Agrade-ço à Academia das Ciências a suapreciosa colaboração ao contras-tar aquele crime contra a humani-dade que é o tráfico de pessoasfinalizado a trabalho forçado,prostituição e tráfico de órgãos.Acompanho-vos nesta batalha dehumanidade.

Há ainda muito caminho a per-correr rumo ao desenvolvimentoque seja integral e ao mesmo tem-po sustentável. A superação dafome e da sede, da elevada morta-lidade e da pobreza, especialmen-te entre os oitocentos milhões denecessitados e excluídos da Terra,não será alcançada sem uma mu-dança nos estilos de vida. Na En-

vogado dos povos aos quais sóchegam de longe e raramente osbenefícios do amplo saber huma-no e das suas conquistas, espe-cialmente em matéria de alimen-tação, saúde, educação, conectivi-dade, bem-estar e paz. Permitique vos diga em nome deles: pos-sa a vossa pesquisa beneficiar to-dos, a fim de que os povos daterra tenham saciadas a fome e asede, sejam curados e formados; apolítica e a economia dos povospossam dela obter indicações paraproceder com maior certeza rumoao bem comum, em vantagem es-pecialmente dos pobres e necessi-tados, e rumo ao respeito peloplaneta. Este é o imenso panora-ma que se abre aos homens e mu-lheres de ciência quando conside-ram as expetativas dos povos: ex-petativas animadas pela esperançaconfiante mas também pela in-quietude e pela ansiedade.

Abençoo de coração todos vós,o vosso trabalho e as vossas ini-ciativas. Agradeço-vos muito oque fazeis. Acompanho-vos com aminha oração; e também vós, porfavor, não vos esqueçais de rezarpor mim. Obrigado.

científica. A boa segurança datorre de marfim dos primeirostempos modernos deixou lugar,em muitos, a uma salutar inquie-tude, em razão da qual o cientistade hoje se abre mais facilmenteaos valores religiosos e entrevê,para além das aquisições da ciên-cia, a riqueza do mundo espiri-tual dos povos e a luz da trans-cendência divina. A comunidadecientífica é parte da sociedade enão se deve considerar separadanem independente, aliás, ela échamada a servir a família huma-na e o seu desenvolvimento inte-gral.

Os possíveis frutos desta mis-são de serviço são inúmeros; nestasede gostaria de fazer uma breveobservação. Antes de tudo, sobrea imensa crise das mudanças cli-máticas em curso e a ameaça nu-clear. Seguindo o exemplo dos

as atividades humanas que usamcombustível fóssil e desflorestamo planeta (Carta enc. Laudato si’,23). A comunidade científica, domesmo modo que fez progressosao identificar tais riscos, agora échamada a prever válidas soluçõese a convencer as sociedades e osseus líderes a concretizá-las.

Sei que, nesta perspetiva, du-rante as vossas sessões identificaisos conhecimentos que emergemda ciência de base e estais habi-tuados a relacioná-las com visõesestratégicas que tendem a estudarprofundamente os problemas. Évossa vocação indicar os progres-sos inovadores em todas as disci-plinas principais da ciência de ba-se e reconhecer as fronteiras entreos vários setores científicos, emparticular em física, astronomia,biologia, genética e química. Isto

cíclica Laudato si’ apresentei algu-mas propostas-chave para a con-secução desta meta. Posso contu-do dizer que faltam vontade e de-terminação política para deter acorrida ao armamento e pôr fimàs guerras, para passar com ur-gência a energias renováveis, aprogramas orientados a garantirágua, alimento e saúde para to-dos e investir em prol do bem co-mum os enormes capitais quepermanecem inativos nos paraísosfiscais.

A Igreja não espera que a ciên-cia só siga os princípios da ética,que são um património inestimá-vel do género humano. Ela esperaum serviço positivo, que podemoschamar com São Paulo VI a «cari-dade do saber». A vós, queridoscientistas e amigos da ciência, fo-ram confiadas as chaves do saber.Gostaria de ser junto de vós o ad-

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página 14 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 20 de novembro de 2018, número 47

Cinquentenário da comunidade de Bose

O caminho da unidade

Visita do prefeito de Propaganda fide a Angola

Novo cunho à evangelizaçãoA exortação a manter a guarda alta contra amediocridade no âmbito do celibato e dacastidade, assim como na vida pastoral e co-munitária, foi dirigida pelo cardeal Fernan-do Filoni aos sacerdotes e aos consagradosda província eclesiástica de Saurimo, emAngola, durante dois diferentes encontrosrealizados na manhã de terça-feira, 13 de no-v e m b ro .

O prefeito da Congregação para a evan-gelização dos povos esteve na África lusófo-na para o encerramento das celebrações doscinquenta anos da Conferência episcopal deAngola e São Tomé e Príncipe (Ceast). Aochegar a Luanda na noite de sábado 10, namanhã seguinte visitou as irmãs clarissas dacapital e na parte da tarde foi à paróquia deNossa Senhora de Fátima para falar com ossacerdotes, religiosos e religiosas da arqui-diocese e das duas Igrejas sufragâneas deCaxito e Viana. No seu discurso renovou arecomendação do Papa Francisco a «dar umnovo cunho ao processo de evangelização.Com grande confiança, conto com cada umde vós para dar vida a uma Igreja na qualressoe a alegria do Evangelho». Portanto, oprefeito do dicastério missionário auspiciou«um processo de renovação da escuta pes-soal na sequela de Cristo, partindo doEvangelho. Empenhar-se neste processo —explicou — significa dar-se conta de que sa-cerdotes, religiosos e religiosas são, antes detudo, homens e mulheres de Deus»; e porconseguinte «homens e mulheres de ação,que procuram responder de forma cada vezmais coerente e autêntica à sua vocação pa-ra a vida sacerdotal e religiosa e à sua mis-são ao serviço do povo de Deus». Por fim,o cardeal Filoni recordou a responsabilidadeque eles têm de ser líderes das comunida-des, «chamados a servi-las, dedicando-se in-teiramente a elas; a amá-las com todo o co-ração, precisamente como Cristo ama a suaI g re j a » .

Na manhã de segunda-feira 12, a transfe-rência para Saurimo, sede metropolitana

que pertence também às dioceses de Dundoe Lwena. Aqui, falando aos prelados dastrês sedes, o purpurado convidou-os a man-ter viva a consciência da dimensão colegialdo ministério episcopal, na unidade a na so-lidariedade, para oferecer um testemunhoconvicto de comunhão eclesial.

«A Igreja em Angola — disse — está a tor-nar-se cada vez mais vivaz, dinâmica, enga-jada e desenvolve-se constantemente, comodemonstra o crescente número de sacerdo-tes, religiosos e religiosas locais, filhos destaterra». Ao mesmo tempo, elogiou também«o compromisso de muitos leigos, em parti-cular dos catequistas, no âmbito da evange-lização, a afluência dominical dos fiéis às

jurisdição». As tarefas prioritárias para osbispos angolanos são: «a atenção aos sacer-dotes, aos religiosos e às religiosas, o cuida-do em relação aos candidatos ao sacerdócioe à vida consagrada, a assistência aos leigos,em particular aos jovens e às famílias, atra-vés de uma formação integral e permanen-te». Além disso, os bispos devem ser mode-lo de moralidade e de disciplina, contra astendências de alguns sacerdotes a não viverseriamente os compromissos assumidos coma ordenação. Inclusive entre os religiososconstata-se estes tipos de problemas, aosquais muitas vezes se acrescentam desviostribalistas e superstições que causam divi-sões.

Igrejas, a sua participação nos sacramentos,a solidariedade demonstrada especialmentenos momentos de dificuldade».

Por fim, o purpurado analisou algumasprioridades pastorais. «Cada conferênciaepiscopal é chamada a preocupar-se — re c o -mendou — com o crescimento espiritual emoral do povo de Deus presente na própria

Sucessivamente, na parte da tarde, o pre-feito do dicastério missionário falou às no-vas gerações e aos movimentos laicais, recor-dando-lhes a importância do recente sínododedicado aos jovens. O objetivo, para todos,é tornar-se discípulos missionários, em saídapelas ruas e pelas periferias para testemu-nhar o amor de Cristo.

Guilherme Mampuya Wola, «Luanda»

Publicamos o texto da cartaenviada pelo Papa Francisco aofundador do mosteiro de Bose,Enzo Bianchi, no cinquentenáriodo nascimento dessa comunidademonástica.

Ao EstimadoFr. Enzo BIANCHI

Fu n d a d o rdo Mosteiro de Bose

Por ocasião do cinquentenáriode fundação desta Comunidademonástica, associo-me espiritual-mente à vossa ação de graças ao

Senhor por estes anos de fecun-da presença na Igreja e na socie-dade, mediante uma peculiarforma de vida comunitária, quenasceu no sulco das orientaçõesdo Concílio Vaticano II.

O início simples tornou-seuma missão significativa que fa-voreceu a renovação da vida re-ligiosa, interpretada como Evan-gelho vivido na grande tradiçãomonástica. No seio desta corren-te de graça, a vossa Comunida-de distinguiu-se no compromis-so de preparação do caminho daunidade das Igrejas cristãs, tor-nando-se lugar de oração, deencontro e de diálogo entre cris-tãos, em vista da comunhão defé e de amor, pela qual Jesus re-zou.

Desejo manifestar o meuapreço especialmente pelo mi-nistério da hospitalidade quevos carateriza: o acolhimento detodos sem distinção, crentes enão-crentes; a escuta atenta dequantos estão em busca de con-fronto e consolação; o serviçodo discernimento para os jovensà procura do seu papel na socie-

dade. Os frutos produzidos pelavossa obra de fé e de amor sãonumerosos, e na sua maioria co-nhecidos somente pelo Senhor.

Face aos desafios contemporâ-neos, encorajo-vos a ser cadavez mais testemunhas de amorevangélico, em primeiro lugarentre vós, vivendo a autênticacomunhão fraterna que repre-senta o sinal, perante a Igreja ea sociedade, da vida para a qualsois chamados. Os idosos da co-munidade animem os jovens, eos jovens cuidem dos idosos,precioso tesouro de sabedoria ede perseverança. Assim, conse-guireis viver com generosidadede coração também com os ou-tros, especialmente com os maispobres de esperança. Continuaia estar atentos aos pequeninos,aos últimos, aos peregrinos e es-trangeiros: eles são os membrosmais frágeis do Corpo de Jesus.

Esta data de aniversário cons-titua um momento de graça pa-ra cada um de vós, um tempopara meditar mais intensamentesobre a vossa chamada e sobre avossa missão, confiando-vos ao

Espírito Santo para que tenhaisfirmeza e coragem para prosse-guir o caminho com confiança.Acompanho-vos com a oração,para que possais perseverar naintuição inicial: a sobriedade davossa vida seja testemunho lu-minoso da radicalidade evangé-lica; a vida fraterna na caridadeseja um sinal de que sois umacasa de comunhão, onde todospodem ser acolhidos, comoCristo em pessoa.

Com estes sentimentos, en-quanto vos peço que rezeis pormim, concedo de coração a Bên-ção Apostólica, a Vossa Reve-rência, ao Prior e a toda a Co-munidade monástica, bem comoaos hóspedes, aos amigos e aquantos compartilham o vossocarisma.

Fr a t e r n a l m e n t e ,

Va t i c a n o11 de novembro de 2018

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número 47, terça-feira 20 de novembro de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 15

O Papa Francisco recebeu em audiên-cias particulares:

A 12 de novembroSua Ex.cia o Senhor Alain Berset,Presidente da Confederação Helvéti-ca, com a Ex.ma Esposa e o Séquito.Os seguintes Prelados da Conferên-cia Episcopal da Croácia, em visita«ad limina Apostolorum»: D. Želi-mir Puljić, Arcebispo de Zadar; D.Đuro Hranić, Arcebispo de Đakovo-Osijek; D. Antun Škvorčević, Bispode Požega; D. Ivan Devčić, Arcebis-po de Rijeka; D. Zdenko Križić,Bispo de Gospić-Senj; D. Ivica Peta-niak, Bispo de Krk; D. Dražen Ku-tleša, Bispo de Poreč i Pula; D. Ma-rin Barišić, Arcebispo de Split-Ma-karska; D. Mate Uzinić, Bispo deDubrovnik; D. Petar Palić, Bispo deHvar; D. Tomislav Rogić, Bispo deŠibenik; Cardeal Josip Bozanić, Ar-cebispo de Zagreb, com o AuxiliarD. Ivan Šaško; D. Vjekoslav Huzjak,Bispo de Bjelovar-Križevci; D. Ni-kola Kekić, Bispo de Križevci paraos fiéis de rito bizantino; D. VladoKo šić, Bispo de Sisak; D. Josip Mr-zljak, Bispo de Varaždin; e D. JureBogdan, Bispo Ordinário Militarpara a Croácia.

A 15 de novembroSua Ex.cia o Senhor Reuven Rivlin,Presidente do Estado de Israel, coma Ex.ma Esposa e o Séquito.O Senhor Cardeal Josip Bozanić,Arcebispo de Zagreb (Croácia).Suas Ex.cias as Senhoras Tamar Grd-zelidze, Embaixadora da Geórgia,em visita de despedida; e HenriettaH. Fore, Diretora Executiva da Uni-cef.

A 16 de novembroSuas Ex.cias os Senhores Josip Gelo,Embaixador da Bósnia e Herzegovi-na, para a apresentação das CartasCredenciais; e Kailash Satyarthi (Ín-dia), Prémio Nobel da Paz de 2014.D. Celestino Migliore, NúncioApostólico na Federação Russa e noUzbequistão; D. Dražen Kutleša,Bispo de Poreč i Pula (Croácia); eD. Miguel Ángel D’Annibale, Bispode San Martín (Argentina).

A 17 de novembroO Professor Alberto Barbieri, Reitorda Universidade de Buenos Aires( A rg e n t i n a ) .O Senhor Cardeal Marc Ouellet,Prefeito da Congregação para osBisp os.Suas Ex.cias os Senhores MostaphaArrifi, Embaixador de Marrocos; eJaime Manuel del Arenal Fenochio,Embaixador do México, ambos emvisita de despedida.

Jude Scicluna, que conserva o cargode Arcebispo de Malta.

A 14 de novembroBispo de Ilagan (Filipinas), D. Da-vid William Valencia Antonio, atéhoje Auxiliar de Nueva Segovia. OPrelado continuará a desempenhar oseu serviço de Administrador Apos-tólico do Vicariato Apostólico deSan Jose in Mindoro, até à nomea-ção do Sucessor.Bispo de Teófilo Otoni (Brasil), D.Messias dos Reis Silveira, até estadata Bispo da Diocese de Uruaçu.

A 15 de novembroArcebispo de Kisumu (Quénia), D.Philip A. Anyolo, até esta data Bis-po de Homa Bay.Bispo Prelado da Prelazia territorialde Juli (Peru), o Rev.do Pe. CiroQuispe López, do clero da Arqui-diocese de Cuzco e Diretor de Estu-dos do Seminário Maior “San Anto-nio Abad”, na mesma Arquidiocese.

D. Ciro Quispe López nasceu a 20de outubro de 1973, em Cuzco (Peru).Foi ordenado Sacerdote no dia 30 denovembro de 2001.

A 17 de novembroArcebispo de Hà Nôi (Vietname), D.Joseph Vu Vãn Thiên, até agora Bis-po de Hai Phòng.Enviado Especial ao encerramentodo 525º aniversário da primeira San-ta Missa celebrada nas Américas,

que terá lugar em Isabela, Diocesede Puerto Plata (República Domini-cana) a 15 de janeiro de 2019, o Se-nhor Cardeal Gregorio Rosa Chá-vez, Auxiliar de San Salvador.

Núncio Apostólico na Serra Leoa,D. Dagoberto Campos Salas, atual-mente Núncio Apostólico na Libériae na Gâmbia.

Audiências Renúncias

Nomeações

Prelados falecidos

O Santo Padre aceitou a renúncia:

No dia 12 de novembroDe D. Luis Felipe Gallardo M. delCampo, S.D.B., ao governo pastoralda Diocese de Veracruz (México).

No dia 14 de novembroDe D. Edgardo Sarabia Juanich, aogoverno pastoral do Vicariato Apos-tólico de Taytay (Filipinas).

No dia 15 de novembroDe D. José María Ortega Trinidad,ao governo pastoral da Prelazia ter-ritorial de Juli (Peru).De D. Zacchaeus Okoth, ao governopastoral da Arquidiocese de Kisumu(Quénia).

No dia 17 de novembroDo Senhor Cardeal Peter NguyênVãn Nhon, ao governo pastoral daArquidiocese de Hà Nôi (Vietname).

O Sumo Pontífice nomeou:

A 12 de novembroBispo de Veracruz (México), D.Carlos Briseño Arch, O.A.R., até ago-ra Auxiliar da Arquidiocese de Mé-xico.

A 13 de novembroSecretário Adjunto da Congregaçãopara a Doutrina da Fé, D. Charles

INFORMAÇÕES

Adormeceram no Senhor:

A 11 de novembroD. Pedro Aranda Díaz-Muñoz, Arce-bispo Emérito de Tulancingo (Méxi-co).

O saudoso Prelado nasceu em León(México), a 29 de junho de 1933. Re-cebeu a Ordenação sacerdotal no dia28 de outubro de 1956. Foi ordenadoBispo em 24 de junho de 1975.

D. Dominic Carmon, religioso dasociedade do Verbo Divino (Verbi-tas), Bispo Auxiliar Emérito de NewOrleans (E UA ).

O venerando Prelado nasceu em Fri-lot Cove (EUA), a 13 de dezembro de1930. Foi ordenado Sacerdote em 2 defevereiro de 1960. Recebeu a Ordena-ção episcopal a 11 de fevereiro de 1993.

Apresentação das credenciaisdo novo embaixador da Irlanda

Na manhã de 9 de novembro, o Papa recebeu em audiênciaSua Excelência o Senhor Derek Hannon,

novo Embaixador da Irlanda, para a apresentaçãodas cartas com as quais é acreditado junto da Santa Sé

Sua Excelência o Senhor Derek Hannon, novo embaixador daIrlanda junto da Santa Sé, nasceu a 3 de agosto de 1960; é sol-teiro. Formou-se em ciências da educação e obteve o mestradoem história (University College Dublin). Desempenhou, entreoutros, estes cargos: terceiro secretário junto do departamentopara os Assuntos políticos no ministério dos Negócios estran-geiros (MNE) e do Comércio (1986-1987); terceiro secretário jun-to do departamento para os Assuntos económicos do MNE e doComércio (1987-1988); terceiro secretário de embaixada junto daSanta Sé (1988-1992); terceiro secretário junto do departamentopara os Assuntos económicos do MNE e do Comércio (1992-1994); primeiro-secretário junto do departamento para os As-suntos culturais do MNE e do Comércio (1994-1995); primeiro-secretário de embaixada em Budapeste (1995-1999); primeiro-se-cretário no departamento para os Assuntos anglo-irlandeses doMNE e do Comércio (1999-2004); primeiro-secretário de embai-xada em Londres (2004-2008); primeiro-secretário no departa-mento para o Desarmamento e a não-proliferação nuclear doMNE e do Comércio (2008-2011), primeiro-secretário de embai-xada em Washington Dc (2011-2015); e primeiro-secretário nodepartamento para a UE do MNE e do Comércio (2015-2018).

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página 16 L’OSSERVATORE ROMANO terça-feira 20 de novembro de 2018, número 47

Comunhão, serviço e misericórdia: são as trêsatitudes geradas pela celebração da missa que oPapa recordou na audiência de 10 denovembro aos participantes na plenária doPontifício comité para os congressos eucarísticosinternacionais, recebidos na sala do Consistório.Francisco indicou no pão partido a respostacristã à atual crise da «Europa doente deindiferença e atravessada por divisões efechamentos».

Senhores Cardeaisqueridos irmãos Bispos e Sacerdotesirmãos e irmãs!Sinto-me feliz por me encontrar convoscono final dos trabalhos da vossa Assembleia;agradeço a D. Piero Marini as gentis pala-vras. Saúdo os Delegados Nacionais desig-nados pelas Conferências Episcopais e, demodo especial, a Delegação do comité hún-garo guiada pelo Cardeal Peter Erdő, Arce-bispo de Budapeste, cidade na qual terá lu-gar o próximo Congresso Eucarístico Inter-

nacional, em 2020. Este evento será celebra-do no cenário de uma grande cidade euro-peia, na qual as comunidades cristãs estão àespera de uma nova evangelização capaz dese confrontar com a modernidade seculari-zada e com uma globalização que ameaçacancelar as peculiaridades de uma históriarica e variada.

Eis que nasce a pergunta fundamental: oque significa celebrar um Congresso Euca-rístico na cidade moderna e multicultural naqual o Evangelho e as formas de pertençareligiosa se tornaram marginais? Significacolaborar com a graça de Deus para difun-dir, mediante a oração e a ação, uma “cultu-ra eucarística”, isto é, um modo de pensar eagir fundado no Sacramento mas percetívelaté além da pertença eclesial. Na Europadoente de indiferença e atravessada por di-visões e fechamentos, os cristãos, de domin-go em domingo, antes de tudo renovam ogesto simples e vigoroso da própria fé: reú-nem-se em nome do Senhor reconhecendo-se irmãos. E repete-se o milagre: na escutada Palavra e no gesto do Pão partido até amenor e mais humilde das assembleias decrentes se torna corpo do Senhor, seu taber-náculo no mundo. Desta forma, a celebra-ção da Eucaristia torna-se incubadora dasatitudes que geram uma cultura eucarística,porque impele a transformar em gestos ecomportamentos de vida a graça de Cristoque se doou totalmente.

A primeira destas atitudes é a comunhão.Na Última Ceia Jesus escolheu, como sinaldo seu dom, o pão e o cálice da fraternida-de. Disto deriva que a celebração da memó-ria do Senhor, que nos nutre com o seuCorpo e o seu Sangue, exige e funda a co-munhão com Ele e dos fiéis entre si. O ver-dadeiro desafio da pastoral eucarística é pre-cisamente a comunhão com Cristo, porquese trata de ajudar os fiéis a comunicar-secom Ele, presente no Sacramento para vivern’Ele e com Ele na caridade e na missão.Para isto contribui fortemente também oculto eucarístico fora da Missa, que consti-tui desde sempre um momento importantenestes encontros eclesiais. A prece de adora-ção ensina a não separar o Cristo Cabeça doseu Corpo, isto é, a comunhão sacramentalcom Ele, daquela com os seus membros econsequentemente do compromisso missio-nário.

A segunda atitude é o serviço. A comuni-dade eucarística, comunicando com o desti-no de Jesus Servo, torna-se ela mesma “ser-va”: comendo o “corpo doado” torna-se“corpo oferecido pelas multidões”. Voltandocontinuamente ao “quarto de cima” (cf. At 1,13), ventre da Igreja, onde Jesus lavou ospés aos seus discípulos, os cristãos servem acausa do Evangelho, inserindo-se nos luga-res da fraqueza e da cruz para partilhar esarar. São muitas as situações na Igreja e nasociedade, sobre as quais derramar o bálsa-mo da misericórdia com obras espirituais ecorporais: famílias em necessidade, jovens eadultos sem trabalho, doentes e idosos sozi-nhos, migrantes marcados por dificuldades eviolências — e rejeitados — e outras pobre-zas. Nestes lugares da humanidade ferida oscristãos celebram o memorial da Cruz e tor-nam vivo e presente o Evangelho do Servo

Jesus, que se entregou por amor. Desta ma-neira, os batizados semeiam uma cultura eu-carística fazendo-se servos dos pobres, nãoem nome de uma ideologia mas do próprioEvangelho, que se torna regra de vida dosindivíduos e das comunidades, como teste-munha a multidão ininterrupta de santos esantas da caridade.

Por fim, a Missa alimenta uma vida euca-rística trazendo à superfície palavras deEvangelho que as nossas cidades muitas ve-zes esqueceram. É suficiente pensarmos notermo m i s e r i c ó rd i a , quase eliminado do voca-bulário da cultura atual. Todos se lamentamdo rio cársico de miséria que percorre a ex-periência da nossa sociedade. Trata-se deinúmeras formas de medo, opressão, arro-gância, maldade, ódio, fechamento, negli-gência para com o meio ambiente, e assimpor diante. Todavia os cristãos experimen-tam todos os domingos que este rio impe-tuoso nada pode contra o oceano de miseri-córdia que inunda o mundo. A Eucaristia éa fonte deste oceano de misericórdia porquenela o Cordeiro de Deus, imolado mas ele-vado, do seu lado trespassado faz brotar riosde água viva, efunde o seu Espírito parauma nova criação e oferece-se como alimen-to sobre a mesa da nova Páscoa (cf. Carta.ap. Misericordiae vultus, 7). Deste modo, amisericórdia entra nas veias do mundo econtribui para construir a imagem e a estru-tura do Povo de Deus, adequada ao tempoda modernidade.

O próximo Congresso Eucarístico Inter-nacional, ao levar em frente uma históriamais que centenária, é chamado a indicareste percurso de novidade e conversão, re-cordando que no centro da vida eclesial estáa Eucaristia. Ela é mistério pascal capaz deinfluenciar positivamente não só cada bati-zado mas também a cidade terrena na qualvivemos e trabalhamos. Possa o evento eu-carístico de Budapeste favorecer nas comu-nidades cristãs processos de renovação, paraque a salvação da qual a Eucaristia é fontese traduza também em cultura eucarística,capaz de inspirar os homens e as mulheresde boa vontade nos âmbitos da caridade, dasolidariedade, da paz, da família, do cuida-do da criação.

Confio desde já o próximo CongressoEucarístico Internacional à Virgem Maria.Nossa Senhora proteja e acompanhe cadaum de vós e as vossas comunidades, e tornefecundo o trabalho que estais a desempe-nhar e pelo qual vos estou muito grato. Pe-ço-vos por favor que rezeis por mim e decoração concedo-vos a Bênção Apostólica.

Em Budapesteno ano de 2020Numa «sociedade dominada pelo relativismo epelo agnosticismo», a decisão de levar o congres-so eucarístico ao coração da Europa — que terálugar em Budapeste de 20 a 27 de setembro de2020 — oferece aos católicos «a oportunidade defortalecer a própria fé, de dar o seu testemunhopúblico e de partilhar esperança, vida e alegria»,afirmou o arcebispo Piero Marini, presidente daPontifício comité para os congressos eucarísticosinternacionais que, ao saudar o Papa Francisco,recordou que a assembleia plenária que acabou dese concluir foi dedicada precisamente à prepara-ção do solene encontro que pela segunda vez serána Hungria (também em 1938 a sede foi Budapes-te).

O quinquagésimo segundo encontro eucarísticoterá como tema um versículo do Salmo 87: «Asminhas fontes estão todas em ti», com o objetivode reafimar o ensinamento conciliar que consideraa Eucaristia «Culmen et fons da vida da Igreja».

Robert Pelles, «Indiferença»

Matthias Stomer, «A ceia de Emaús» (detalhe)

O Papa falou do próximo congresso eucarístico internacional

Pão partido para uma Europadoente de indiferença