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DIAGNÓSTICO DO RISCO AMBIENTAL DA BACIA DO CÓRREGO DO CERCADINHO, BELO HORIZONTE/MG: CO-RELAÇÃO DOS DE SEUS ASPECTOS FÍSICOS E DEMOGRÁFICOS. BARBOSA, Liliane de Deus - Centro Universitário de Belo Horizonte - [email protected] FONSECA, Diego Ferreira – Centro Universitário de Belo Horizonte - [email protected] GOMES, Carlos Antônio Santos - Centro Universitário de Belo Horizonte - [email protected] LOBO, Carlos Fernando Ferreira - Centro Universitário de Belo Horizonte – [email protected] ASSIS, Wellington Lopes - Centro Universitário de Belo Horizonte – [email protected] Resumo A bacia do Córrego do Cercadinho, localizada na região Oeste do município de Belo Horizonte/MG, vem passando por um processo de rápida ocupação, caracterizada principalmente pelo adensamento populacional em residências do tipo multifamiliar nos bairros Buritis e Estoril. Em contrapartida, existem nesta mesma bacia bairros que possuem residências do tipo unifamiliar estabelecidas entre as décadas de 70 e 80. O objetivo deste trabalho foi realizar a análise das características físicas da bacia e correlacioná-las com uma base de dados demográficos, a fim de verificar os diferentes usos e ocupações e mapear as áreas de propensão para a expansão urbana. A relevância deste artigo consiste no levantamento dos impactos da urbanização na região da bacia do Córrego do Cercadinho de modo a evitar que ocorram novos processos de ocupação em áreas consideradas de risco. Os recursos metodológicos utilizados compreendem a pesquisa bibliográfica, a confecção de cartogramas e o uso de ferramentas em ambiente dos Sistemas de Informações Geográficas. Também foram utilizados outros instrumentos de modo a auxiliar o trabalho final, como cartas topográficas, mapas geológicos e imagens de satélite. Os resultados obtidos através do projeto de pesquisa “Modelagem espacial de risco ambiental na bacia hidrográfica do Córrego do Cercadinho” fundamentaram este artigo e contribuíram para o mapeamento das variáveis físicas e da densidade populacional da bacia. A partir desta base de dados, foi gerado um mapa de risco ambiental com a identificação das áreas que deverão ser evitadas em futuros loteamentos. Palavras - chave: Bacia hidrográfica, densidade populacional e Sistemas de Informações Geográficas.

DIAGNÓSTICO DO RISCO AMBIENTAL DA BACIA DO … · DE SEUS ASPECTOS FÍSICOS E DEMOGRÁFICOS. ... localizada na região Oeste do município de Belo Horizonte/MG, ... elevados da região

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DIAGNÓSTICO DO RISCO AMBIENTAL DA BACIA DO CÓRREGO DO CERCADINHO, BELO HORIZONTE/MG: CO-RELAÇÃO DOS

DE SEUS ASPECTOS FÍSICOS E DEMOGRÁFICOS. BARBOSA, Liliane de Deus - Centro Universitário de Belo Horizonte - [email protected] FONSECA, Diego Ferreira – Centro Universitário de Belo Horizonte - [email protected] GOMES, Carlos Antônio Santos - Centro Universitário de Belo Horizonte - [email protected] LOBO, Carlos Fernando Ferreira - Centro Universitário de Belo Horizonte – [email protected] ASSIS, Wellington Lopes - Centro Universitário de Belo Horizonte – [email protected] Resumo A bacia do Córrego do Cercadinho, localizada na região Oeste do município de Belo Horizonte/MG, vem passando por um processo de rápida ocupação, caracterizada principalmente pelo adensamento populacional em residências do tipo multifamiliar nos bairros Buritis e Estoril. Em contrapartida, existem nesta mesma bacia bairros que possuem residências do tipo unifamiliar estabelecidas entre as décadas de 70 e 80. O objetivo deste trabalho foi realizar a análise das características físicas da bacia e correlacioná-las com uma base de dados demográficos, a fim de verificar os diferentes usos e ocupações e mapear as áreas de propensão para a expansão urbana. A relevância deste artigo consiste no levantamento dos impactos da urbanização na região da bacia do Córrego do Cercadinho de modo a evitar que ocorram novos processos de ocupação em áreas consideradas de risco. Os recursos metodológicos utilizados compreendem a pesquisa bibliográfica, a confecção de cartogramas e o uso de ferramentas em ambiente dos Sistemas de Informações Geográficas. Também foram utilizados outros instrumentos de modo a auxiliar o trabalho final, como cartas topográficas, mapas geológicos e imagens de satélite. Os resultados obtidos através do projeto de pesquisa “Modelagem espacial de risco ambiental na bacia hidrográfica do Córrego do Cercadinho” fundamentaram este artigo e contribuíram para o mapeamento das variáveis físicas e da densidade populacional da bacia. A partir desta base de dados, foi gerado um mapa de risco ambiental com a identificação das áreas que deverão ser evitadas em futuros loteamentos. Palavras - chave: Bacia hidrográfica, densidade populacional e Sistemas de Informações Geográficas.

DIAGNOSIS OF THE AMBIENT RISK OF THE BASIN OF THE STREAM OF THE

CERCADINHO, BELO HORIZONTE /MG: CO-RELAÇÃO OF THE

ONES OF ITS PHYSICAL AND DEMOGRAPHIC ASPECTS.

Abstract

The basin of the Stream of the Cercadinho, located in the region West of the city of Belo Horizonte /MG,

comes passing for a process of fast occupation, characterized mainly for the population adensamento in

residences of the multifamiliar type in the quarters Buritis and Estoril. On the other hand, they exist in this

same basin quarters that possess established residences of the unifamiliar type between the decades of 70

and 80. The objective of this work was to carry through the analysis of the physical characteristics of the

basin and to correlate them with a demographic database, in order to verify the different uses and

occupations and to mapear the areas of propensity for the urban expansion. The relevance of this article

consists of the survey of the impacts of the urbanization in the region of the basin of the Stream of the

Cercadinho in order to prevent that new processes of occupation in considered areas of risk occur. The

used metodologic resources understand the bibliographical research, the confection of cartogramas and the

use of tools in environment of the Systems of Geographic Information. Also other instruments had been

used in order to assist the final work, as topographical letters, geologic maps and images of satellite. The

results gotten through the research project “space Modeling of ambient risk in the hidrográfica basin of the

Stream of the Cercadinho” had based this article and had contributed for the mapping of the physical

variable and the population density of the basin. From this database, a map of ambient risk with the

identification of the areas was generated that will have to be prevented in future land divisions.

Population Density, hydrographic watershed ,Systems of Geographic Information

Introdução

A importância deste artigo consiste no levantamento dos impactos da urbanização na região da bacia do

Córrego do Cercadinho de modo a evitar que ocorram novos processos de ocupação em áreas

consideradas de risco. Além disso, o processo histórico de uso e ocupação do solo da região caracterizou

uma diferenciação sócio-econômica entre os bairros que compõem a bacia, apresentando assim, diversas

disparidades quanto à exposição aos riscos ambientais. Assim, considerando as características levantadas

sobre a bacia, percebe-se a necessidade da análise dos usos e ocupações da bacia, de modo a observar as

áreas propensas à expansão urbana e principalmente, diagnosticar os riscos ambientais da ocupação de

determinadas áreas desta bacia, para que futuramente estas sejam evitadas pela população.

A bacia hidrográfica do Córrego Cercadinho, afluente do Córrego Arrudas, corta o município de Belo

Horizonte no sentido oeste-leste, integrando a bacia do Ribeirão Arrudas, afluente direto do Rio das

velhas/ bacia do São Francisco. Esta bacia possui uma área de drenagem de 12,6 Km² e suas nascentes

estão localizadas próximas a BR-040. Ao todo, ela compreende os bairros Buritis, Estrela Dalva, Estoril,

Mansões, Havaí, Palmeiras e parte dos bairros Belvedere e Olhos d’água (FIG.1).

Figura 1- Imagem de satélite da Bacia hidrográfica do Córrego Cercadinho.

Algumas das características físicas da área já haviam sido levantados anteriormente em estudo elaborado

por Figueiredo et al. (2003). Assim, o domínio geológico do local é compreendido pela borda noroeste do

Quadrilátero Ferrífero, configurando-se em uma estrutura denominada geologicamente como um

homoclinal, e geomorfologicamente denominada como um hogback.

De acordo com Ferreira (2004) a bacia do Córrego do Cercadinho era considerada o principal manancial

de Belo Horizonte devido á sua vazão elevada. Desde a construção da capital, a empresa COPASA é

responsável por esta captação, que é mantida até os dias atuais, mesmo com a vazão deste córrego

apresentando-se bastante reduzida. No início da estruturação da cidade, os usos e ocupações do solo da

região eram caracterizados por poucas habitações e terras do tipo latifúndio, instituídas na chamada

Fazenda do Cercado, já estabelecida há anos neste lugar.

Para Ferreira (2004) o movimento de urbanização da bacia hidrográfica do Córrego do Cercadinho se

desenvolve a partir de meados da década de sessenta, mas intensifica nos anos oitenta, configurando-se,

em poucos anos, uma área de intensa exploração construtiva do solo urbano. No entanto, verifica-se que

este processo ocorreu de forma desigual. Seguindo aos modelos de ocupação implantados no século XX

no vetor oeste, constituído pelos bairros Calafate, Jardim América e Salgado Filho, os primeiros sinais de

ocupação ocorreram no bairro Havaí e seu entorno. Desde a sua implantação até os dias atuais, esses

bairros possuem uma característica de uso residencial por edificações de pequeno porte (casas de até 2

pavimentos). Uma exceção estabelecida nesta região é o conjunto Paineiras – conhecido popularmente

como Conjunto Estrela Dalva -, este embora apresente um modelo de ocupação diferente do entorno e dos

outros conjuntos da época, ainda assim, sua construção é destinada à população de baixa renda viabilizada

pelo sistema de BNH. Existem também nesta região edificações construídas nas margens do córrego,

construídas de modo irregular e desordenado, conhecida pelos moradores como Vila Havaí.

Na segunda metade da década de 80, com a expansão do eixo sul da cidade, alguns loteamentos

transformam o perfil do espaço urbano da Bacia do Córrego do Cercadinho. O primeiro deles, implantado

no bairro das Mansões, localizada na margem direita do córrego e tomando toda sua encosta, originou

uma clientela de classe média com característica urbana de grandes lotes que seria acessada pela avenida

Raja Gabália, implantada também nesta ocasião. Em seguida, o bairro Estoril recebeu um zoneamento

com parâmetros muito mais permissivos que os bairros entorno, possibilitando a construção de edificações

multifamiliares verticais, com conjuntos de edifícios que apresentam de 3 a 10 pavimentos, acelerando o

processo de ocupação na área, que atingiu seu ápice na década de 90, incentivado pela expansão do

mercado imobiliário já estabelecido no bairro Buritis. (FERREIRA; 2004)

Destaque-se o fato de que o conjunto Paineiras encontra-se em uma depressão, área de contribuição de um

pequeno afluente do córrego Cercadinho, separado do terreno do bairro Estoril por um divisor de águas.

Neste caso, o próprio relevo contribuiu para reforçar a diferença entre estes locais. Observa-se, no entanto,

que a ocupação dos lotes do Buritis nas proximidades ao Conjunto tem se caracterizado, sobretudo nos

empreendimentos recentes, por um padrão mais popular, formando, assim, uma área de transição.

(FERREIRA; 2004).

Outras áreas que merecem destaque na caracterização da bacia são a implantação de dois centros

universitário na região que condicionaram a ocupação futura dos lotes ainda vazios do entorno, pois estas

instalações aumentaram o fluxo de veículos na região, gerando uma maior concentração de lojas

(inclusive pequenos shoppings), atraídos certamente, pelo movimento de pessoas (FERREIRA, 2004). Há

ainda, uma área protegida na bacia, classificada como a APE (Área de Proteção Ambiental) do

Cercadinho, criada pelo decreto Estadual nº 32017, em 1990, mantendo a área com um baixo potencial de

degradação ambiental.

A população inserida na área de estudo tem uma heterogeneidade, no que diz respeito à questão de poder

aquisitivo. Pois, em determinados bairros, a população que possui um poder aquisitivo elevado, como é o

caso do bairro Buritis e o outro cuja população tem um poder aquisitivo baixo, no caso do bairro Havaí.

Essa questão é perceptível nos padrões habitacionais dos bairros citados.

Considerando o histórico de implantação destes bairros, alguns autores já identificaram alguns problemas

eminentes nesta bacia, que podem ser considerados com possibilidade potencial de risco ambiental nesta

bacia. Alves e Lobo (2008) apontam a bacia hidrográfica do Córrego do Cercadinho como uma área

ambientalmente frágil que sofre constantes pressões demográficas nas porções setentrionais, mais

precisamente nos bairros Buritis, Estoril, Palmeiras e Havaí.

Ferreira (2004) destaca que as novas regras para a ocupação do solo destes bairros foi um equívoco, pois

concederam ao Estoril, já verticalizado, o zoneamento com o maior potencial de adensamento da cidade. E

consideraram, na época, que a área apresentava infra-estrutura eficiente, condições ambientais

(principalmente, sob o ponto de vista geológico) adequadas à ocupação e articulação viária interna e

externa capaz de suportar o adensamento da área. Ao observarmos a situação atual desses parâmetros

analisados anteriormente, percebe-se com clareza as deficiências desta análise sobretudo quando

consideramos à eficiência do trânsito.

Outro local destacado pela mesma autora é a área com ocupação irregular e desordenada, com

características de favela conhecida como Vila do Havaí. Do ponto de vista do planejamento, as

edificações foram construídas nas margens do córrego Cercadinho, em área prevista na planta oficial do

loteamento para a implantação de uma via de fundo de vale. As edificações avançam sobre o curso d’água,

sustentadas pelos gabiões construídos para a contenção das margens. O risco de desabamento é presente,

sobretudo, na época das chuvas, já tendo sido registrado vários incidentes. Apresentando-se assim com um

grande potencial de risco ambiental.

Metodologia

A pesquisa bibliográfica foi imprescindível para levantamento de dados e histórico da bacia, bem como

para a conceituação geral dos termos utilizados neste artigo. Já a contribuição majoritária de dados tem

como fonte os resultados obtidos através do projeto de pesquisa “Modelagem espacial de risco ambiental

na bacia hidrográfica do Córrego do Cercadinho” principalmente quanto ao mapeamento das variáveis

físicas e da densidade populacional da bacia.

Para resultar no diagnóstico do risco ambiental do Córrego do Cercadinho este trabalho utilizou como

unidade de análise geográfica a bacia hidrográfica. Segundo Figueiredo et al. (2003), nas últimas décadas,

a bacia hidrográfica estabeleceu-se como unidade fundamental para os estudos do ambiente. Uma

microbacia hidrográfica pode ser definida como o conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus

afluentes, cuja delimitação é dada pelas linhas divisoras de água que demarcam seu contorno. Estas linhas

são definidas pela conformação das curvas de nível existentes na carta topográfica e ligam os pontos mais

elevados da região em torno da drenagem considerada.

Considerando as perspectivas teóricas deste trabalho, torna-se necessário a definição do termo Risco

Ambiental, de modo que a significância do conceito se ajuste adequadamente à perspectiva dos autores.

Para Castro, Peixoto e Rio (2005), risco pode ser tomado como uma categoria de análise associada às

noções de incerteza, exposição ao perigo, perda e prejuízos, materiais, econômicos e humanos em função

de processos de ordem natural (tais como processos endógenos e exógenos da Terra) e/ ou daqueles

associados ao trabalho e às relações humanas.

Ainda segundo Castro, Peixoto e Rio (2005), os riscos naturais estão relacionados ao processo e eventos

de origem natural ou induzidos por atividades humanas. A natureza desses processos é bastante diversa

nas escalas temporal e espacial, por isso o risco natural apresenta diferentes graus de perda, em função da

intensidade (magnitude), da abrangência espacial e do tempo da atividade dos processos considerados.

Para Silva e Zaidan (2004) o diagnóstico ambiental consiste na transformação dos dados, após sua

compatibilização e consolidação, que permitem uma análise integrada de diversos fatores podendo gerar

tanto a elaboração de mapas avaliativos de síntese e quanto para obtenção de informações sobre as

situações ambientais de interesse. O geoprocessamento é uma ferramenta muito utilizada para modelagem

da realidade ambiental, tornando viável a manipulação de grande volume de dados, o tratamento e a

disponibilização rápida de um universo de informações. Devido à isso, esta se tornou indispensável ao

geoplanejamento à medida que possibilita, além da espacialização da informação, maior acessibilidade,

precisão e velocidade na obtenção e processamento de dados necessários às análises.

Especificamente, essa bacia hidrográfica já havia sido avaliada anteriormente, em alguns aspectos, pelo

projeto “Modelagem espacial de risco ambiental na bacia hidrográfica do Córrego do Cercadinho. Belo

Horizonte/MG” através do uso dos modelados digitais desenvolvidos com o Sistema de Informações

Geográficas (SIG). Este projeto de pesquisa pertencente ao grupo de estudos Espaço e Meio Ambiente, é

realizado pela instituição Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) sendo composto por um

grupo de professores pesquisadores e alunos estudantes desta universidade. Seu principal objetivo consiste

na elaboração de modelos espaciais para análise do risco ambiental na bacia do Córrego do Cercadinho.

Considerando as variáveis físicas, este trabalho apresenta a análise geologia (FIG.2), geomorfológica

(FIG.3), hipsométrica (FIG.4) e de declividade (FIG.5), apresentadas logo abaixo com breves comentários

relativos à seu conteúdo:

Figuras 2 e 3 – Levantamento geológico e geomorfológico da bacia do Córrego do Cercadinho.

A área que compreende os setores do alto e médio Cercadinho, encontra-se inteiramente desenvolvida

sobre unidades geológicas pertencentes ao Quadriláterro Ferrífero, correspondendo à sua borda noroeste,

no contato com o Complexo Cristalino de Belo Horizonte (área dômica) (FIGUEIREDO et al., 2003).

As nascentes do Córrego Cercadinho encontram-se sobre rochas da Formação Gandarela, constituindo o

topo do Grupo Itabira, composta de filitos dolomitícos e hematíticos. Na altura do Córrego Cercadinho na

direção SW – NE é proporcionada uma dissolução dos dolomitos e, atualmente, erodindo parte da

cobertura laterítica, desenvolve um leito fluvial encaixado, cujo talvegue encontra-se diretamente sobre as

rochas da Formação Gandarela.

Ainda considerando esta mesma bacia, Figueiredo et al. (2003) indicam que na época do terço superior, o

vale do Córrego Cercadinho encontra-se delimitado sobre duas cristas (interflúvios). A primeira, margem

direita, corresponde à Formação Cauê, constituindo a base do Grupo Itabira. É composta por itabiritos

silicosos, hematíticos e dolomíticos da Serra do Curral. A litologia característica é o itabirito silicoso, uma

formação ferrífera de fácies óxido constituída de quartzo finamente granular e hematita. Podem ser

constatadas também intercalações de diferentes espessuras de itabirito dolomítico, filito hematítico e

filitodolomítica.

As camadas de Itabirito têm direção geral SW - NE, mergulhando para SE com ângulos que variam de 45o

– 60o, até próximo de 90º, configurando-se em estruturas de hog back e cristas isoclinais, respectivamente.

Além disso, são extensivamente encobertas por formações lateríticas e ricas em fragmentos de itabirito e

hematita, provavelmente de idade cenozóica (terciária). Estas couraças lateríticas superficiais recobrem

unidades topograficamente inferiores e menos declivosas, avançando sobre as vertentes que compõem a

margem direita do terço superior da Bacia do Cercadinho.

A segunda crista, margem esquerda, topograficamente inferior à primeira, corresponde à Formação

Cercadinho, base do Grupo Piracicaba, composta por quartzitos cinzas de granulometria média a muito

grossa, hematíticos, gradados ouem estratificação cruzada de médio a pequeno porte, intercalados por

camadas filíticas cinza-prateadas. As cristas correspondem às camadas quartzíticas e as faixas levemente

deprimidas correspondem às camadas filíticas, menos resistentes à ação da erosão, por onde se

desenvolvem canais de drenagem superficial,funcionando como áreas de fluxo preferencial. Já na área do

alto e médio Cercadinho situa-se sob um domínio geológico-geomorfológico, cujas rochas são de difícil

intemperismo e pouco susceptíveis à erosão natural, ou seja, a evolução da paisagem local (desnudação

geoquímica) desenvolve-se de forma muito lenta. (FIGUEIREDO, et.al 2003)

O mapa de hipsometria (FIG.4) foi dividido em quatro classes de altitude. A primeira classe engloba os

valores altimétricos de 1180 até 1285 metros, enquanto a segunda agrega valores entre 1075 e 1180

metros, a terceira de 970 à 1075 metros e por fim, a quarta de 865 à 970 metros. A gradação de cores foi

representada na sequência das altimétrias: marrom, laranja, bege e amarelo.

A cota altimétrica de maior representação é a de 865-970 metros indicando que grande parte da bacia

encontra-se me relevo considerado plano. Nas cotas mais baixa demonstra-se no mapa, um aplainamento

que também é perceptível a leste que são de cotas mais superiores. Na porção Centro-Sul do mapa mostra-

se uma maior inclinação, ou seja, drenagem mais encaixada pois em sua maioria tem um numero

considerável de nascentes. Portanto esta área apresenta uma maior propensão a erosão. Existem poucas

áreas com altitudes superior a 1180 metros.

Figura 4 – Hipsometria da bacia do Córrego do Cercadinho.

Pode-se verificar que a declividade da bacia alcança valores superiores a 37º de declividade nas áreas

indicadas em cor mais escura no mapa, sendo que estas correspondem a 3,55% do da área total (FIG.5).

As áreas com declividade entre 25,1º e 37º correspondem a 11,84% (1432,95 m2) da bacia. Aqueles com

cota altimétrica de 16,1º a 25º ocupam 18,55% (2245,95 m2), enquanto as regiões com declividade entre

5,1º e 16º corresponde à grande parte do terreno, com 46,26% (5599,58 m2) da área total da bacia. Os

locais com declividade entre 2,1º e 5º, somam 6,45% (780,95 m2) da bacia. E por fim, as áreas com

declividade entre 0 e 2º, correspondem a 13,35% (1615,80 m2) do total da bacia.

Figura 5 – Declividade presente da bacia do Córrego do Cercadinho

Alves e Lobo (2008) observaram uma forte concentração populacional nas porções setentrionais, mais

precisamente nos bairros Buritis, Estoril, Palmeiras e Havaí (FIG.6). À montante da bacia a pressão

demográfica não é tão intensa, isso se deve pelo fato de termos uma grande área não ocupada, que no caso

é a Área de Proteção Ambiental da Copasa.

Figura 6 – Densidade demográfica líquida da bacia do Córrego do Cercadinho.

Resultados e discussões

O objetivo principal da confecção do mapa de risco ambiental consiste na identificação das áreas que

estão expostas à possíveis danos posteriores tanto ambientais quanto sociais, de modo à evitar perdas

significativas no futuro. Para isto, foi necessária a identificação de áreas que deverão ser evitadas em

futuros loteamentos resultante do cruzamento destes dados já anteriormente levantados. Foram cruzados

os dados de declividade e densidade populacional devido à primeira dessas variáveis permitir identificar

especificamente quais são os locais mais sujeitos aos processos de erosão, enquanto a segunda detalha a

localizada a população, demonstrando-a quantitativamente.

A metodologia para a construção do mapa temático constituiu na criação de um banco de dados em

planilha do programa do EXCEL e também na utilização de uma base setorial da bacia hidrográfica do

Córrego do Cercadinho. Especificamente no banco de dados, foi calculada a média simples da variável

população (total da população da bacia / número de setores), posteriormente, foi atribuído o valor zero (0)

para os setores que apresentavam valores inferiores à média e valor um (1) para aqueles com valores

superiores à média. Já para variável declividade, foi atribuído valor zero (0) para os setores que

apresentavam declividade menor que 20 % e valor um (1) para aqueles com valores superiores à 20%. A

escolha dos 20% como referência na divisão dos valores de declividade ocorreu devido à autora Granell-

Pérez, M. C. (2001), apresentar uma classificação no qual as áreas com valores superiores a 20% são

apontadas como sujeitas a erosão linear muito forte, grande perda de solo, movimentos de massa, etc.

Considera-se desta forma, que estas áreas podem apresentam risco para ocupação humana.

Em seguida, através de uma expressão que considera a densidade populacional e a declividade (de acordo

com os valores 0 e1 anteriormente estabelecidos), foram gerados quatro tipos diferentes de variáveis: 11,

10, 01, 00. Assim, foi criado um mapa temático (utilizando o software MAP INFO Professional 8.5) que

apresentou quatro níveis diferentes de análise: áreas de alto risco (que contemplam um alto índice de

adensamento populacional em áreas com alta declividade), áreas com declividade alta (porém com

densidade populacional baixa), áreas com densidade populacional alta (mas com declividade baixa) e

áreas que apresentam baixo índice tanto de adensamento populacional quanto de declividade. Conforme

previsto, o resultado deste cruzamento de dados gerou o mapa a seguir:

Figura 7 – Densidade populacional e declividade da Bacia do Córrego Cercadinho – Belo Horizonte/MG

Analisando o mapa obtido, percebe-se que a área que apresenta maiores riscos quanto às variáveis

populacionais é especificamente o bairro Buritis e parte de seu entorno. As áreas da nascente do córrego

cercadinho, área da COPASA e os bairros Belvedere (1,2 e 3) e Olhos d’água são locais que apresentam

uma declividade considerável e devem ser evitados em futuros loteamentos. As demais áreas não são

consideradas de risco quanto à declividade, e preferencialmente as áreas a serem ocupadas futuramente

devem ser aquelas consideradas de baixo risco e que ainda não apresentam um adensamento populacional

significativo.

Considerações finais

Considerando os aspectos apresentados anteriormente, pretende-se futuramente, gerar novos mapas de

risco ambiental que utilizem outras variáveis também de grande importância como a geologia,

geomorfologia, hipsometria, pedologia, etc. Assim, espera-se dar continuidade á este trabalho com novas

contribuições ao projeto de pesquisa “Modelagem espacial de risco ambiental na bacia hidrográfica do

Córrego do Cercadinho”.

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