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1 ´ Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Secretaria do Desenvolvimento da Produção FÓRUM DE COMPETITIVIDADE DA CADEIA PRODUTIVA DE COURO E CALÇADOS DIAGNÓSTICO SUMÁRIO 09.10.01 1 - ESTRUTURA DA CADEIA PRODUTIVA 2 2 - DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA 6 2.1 – PECUÁRIA DE CORTE 6 2.2 – FRIGORÍFICOS 9 2.3 – COURO 11 2.3.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE 11 2.3.2 – CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE 17 2.4 – MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS PARA COURO, CALÇADOS E AFINS 22 2.4.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE 22 2.4.2 – CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE 24 2.5 – COMPONENTES PARA COURO E CALÇADOS 25 2.5.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE 25 2.5.2 – CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE 28 2.6 – CALÇADOS 29 2.6.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE 29 2.6.2 – CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE 34 2.7 – ARTIGOS DE COURO 37 2.7.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE 37 2.7.2 – CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE 39

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FÓRUM DE COMPETITIVIDADE DA CADEIA PRODUTIVA DECOURO E CALÇADOS

DIAGNÓSTICO

SUMÁRIO09.10.01

1 - ESTRUTURA DA CADEIA PRODUTIVA 2

2 - DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA 6

2.1 – PECUÁRIA DE CORTE 6

2.2 – FRIGORÍFICOS 9

2.3 – COURO 11

2.3.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE 11

2.3.2 – CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE 17

2.4 – MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS PARA COURO, CALÇADOS E AFINS 22

2.4.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE 22

2.4.2 – CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE 24

2.5 – COMPONENTES PARA COURO E CALÇADOS 25

2.5.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE 25

2.5.2 – CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE 28

2.6 – CALÇADOS 29

2.6.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE 29

2.6.2 – CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE 34

2.7 – ARTIGOS DE COURO 37

2.7.1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE 37

2.7.2 – CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE 39

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1- ESTRUTURA DA CADEIA PRODUTIVA

A cadeia produtiva de couro e calçados encontra-se entre as cadeias onde oBrasil, tradicionalmente , apresenta fortes indicadores de competitividade. Acadeia produtiva vem apresentando, desde o início da década de 90, saldoscomerciais em torno de US$ 2 bilhões ao ano e exportações que superam US$2,5 bilhões com perspectivas de crescimento futuro. Apesar de indicadores queatestam a importância da cadeia produtiva de couro e calçados, há ameaças aoseu desempenho, dadas, sobretudo, pela concorrência direta de países asiáticos,com menores custos de mão-de-obra, e pela concentração das exportaçõesbrasileiras em poucos países importadores.

A cadeia produtiva de couro e calçados inicia-se na atividade de pecuária, em queos diferentes sistemas de criação podem resultar em peles de qualidadesdistintas, impondo restrições ao processamento do couro e seus derivados.

Na configuração mais comum do fluxo produtivo, o couro salgado é fornecidopelos frigoríficos aos curtumes, que podem processá-lo total (couros acabados)ou parcialmente (wet blue ou semi-acabados - crust). Os curtumes, por sua vez,abastecem as empresas nacionais − tendo destaque a indústria de artigos decouro e, sobretudo, a de calçados − assim como o mercado externo. Segundo oCICB1, baseado em dados da Secex2, estimavam-se, ao final da década de 90,em cerca de 52,7% a exportação física direta de couro (número de pelesexportadas) e em 21,7% as exportações indiretas de peles3, na forma de calçadose outros artigos de couro. Diante disso, pode-se afirmar que aproximadamente74% das peles produzidas no Brasil são exportadas direta ou indiretamente - oque configura um dos setores industriais brasileiros mais abertos ao comércioexterior.

De grande importância são também os segmentos de máquinas e equipamentos,indústria química e de componentes, que atendem às demandas das indústrias decouro, calçados e artefatos de couro. Finalmente, deve-se destacar a crescenteimportância da demanda de couro para estofamento por parte da indústriamoveleira, automotiva e aeronáutica.

Como característica geral do fluxo técnico produtivo, pode-se destacar a presençade etapas tecnologicamente separáveis e produtos intermediários estáveis, ouseja, passíveis de armazenamento e transporte. Portanto, é possível a um país ouregião deter apenas algumas etapas do processo produtivo, adquirindo osinsumos e/ou ofertando produtos junto ao mercado internacional. Assim, o fato deo Brasil apresentar todas as etapas do processo produtivo constitui um elemento

1 Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil.2 Secretaria de Comércio Exterior/MDIC.3 Considera-se que uma unidade de couro bovino permite a produção de 20 calçados de couro.

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distintivo, havendo diversos países que concentram sua produção em apenasalgumas das etapas.

Essa cadeia produtiva é composta por um significativo número de empresas,compreendendo uma enorme heterogeneidade em suas estruturas e em seusprocessos produtivos. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego(RAIS-MTE), havia, ao final de 1999, 9.488 estabelecimentos formalmenteregistrados apenas nos segmentos de couro, calçados e artigos de couro4. Ogrande predomínio é de microempresas (até 19 empregados registrados), asquais perfaziam 70,1% do total de estabelecimentos. De acordo com a mesmafonte, os mesmos três segmentos empregavam 269.069 pessoas formalmente,sendo mais da metade (56,2%) ocupada em empresas de calçados de couro. Énecessário dizer que os dados de emprego formal subestimam a importância dacadeia produtiva, em decorrência da maior relevância de microempresas − quefreqüentemente se utilizam de trabalho familiar ou informal − e do uso intenso deterceirização nos processos produtivos, o que é uma característica comum adiversos países produtores.

No que se refere à configuração espacial da produção, há dois elementos quemerecem destaque. Primeiro, é comum a ocorrência de aglomerações industriais,em especial no segmento calçadista, tendo como exemplos os casos do Vale dosSinos (RS) e Franca (SP). Essa é uma característica que confere competitividadeàs empresas, o que pode ser depreendido do fato de que dessas aglomeraçõessai a quase totalidade das exportações. Segundo, há uma tendência definida demigração de empregos e plantas industriais para regiões com menores custos demão-de-obra (por exemplo, Ceará, Paraíba e Bahia), no caso de calçados eartefatos, e com maior disponibilidade de matéria-prima (por exemplo, os Estadosdo Centro-Oeste), no caso de curtumes.

A cadeia produtiva de couro e calçados conta com diversas associações derepresentação, a maior parte delas bastante atuantes. Trata-se, a princípio, deuma vantagem do setor, uma vez que diversos bens coletivos − comoinformações e esforços para disseminação de tecnologias − podem serdisponibilizados às empresas. Nesse âmbito, destaca-se o número depublicações cobrindo aspectos variados do setor, como tecnologia e negócios.

Adicionalmente, o Brasil conta com um conjunto considerável de organizações deapoio à qualificação da mão-de-obra e ao desenvolvimento tecnológico, o que éfundamental para a constituição de sistemas locais de inovação. Essacaracterística da indústria de couro e derivados confere ao setor a capacidade deatualização tecnológica, mesmo com a predominância de pequenas empresas,que, isoladamente, não teriam condições de promover a capacitação tecnológicanecessária para fazer face à concorrência internacional. As principais

4 Os dados da RAIS não discriminam as empresas de máquinas e equipamentos e decomponentes, não estando, portanto, incluídas nesse número.

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organizações − como o CTC-Senai5, o CNTC-Senai6 e o CTCCA7 − encontram-seno Estado do Rio Grande do Sul, mas há também organizações de apoio nosdemais Estados produtores, freqüentemente junto às aglomerações industriais,como é o caso, dentre outros, do IPT8, Senai-PB e o recém-criado CTC-MS 9.Essa convivência no mesmo espaço facilita a interação e parcerias entreorganizações e empresas - o que permite explorar as sinergias características daatividade tecnológica.

É importante notar, entretanto, que esse ambiente propício à difusão detecnologia não se materializa em indicadores expressivos no que se refere àinovação tecnológica, como depósitos de pedidos de patentes ou certificados deaverbação de contratos, registrados no INPI (Instituto Nacional da PropriedadeIndustrial). A maior parte das averbações, que são em número bastante reduzido,referem-se ao uso de marcas, nacionais e importadas predominantemente junto àItália e aos EUA. Na década de 90, foram registrados 665 pedidos de patente,com forte predominância do setor de calçados, com 431 depósitos, seguido dosetor de máquinas e equipamentos, com 130 depósitos. Esses indicadores podemrefletir a falta de cultura no setor quanto à utilização do Sistema de PropriedadeIndustrial, tendo em vista que, não necessariamente refletem uma baixa atividadetecnológica, já que as empresas podem compartilhar uma estrutura dedesenvolvimento tecnológico por meio dos centros tecnológicos existentes.

5 Centro Tecnológico do Couro - Senai6 Centro Nacional de Tecnologia de Calçados - Senai7 Centro Tecnológico de Couro, Calçados e Afins8 Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo9 Centro de Tecnologia do Couro de Mato Grosso do Sul

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CADEIA PRODUTIVA DE COUROS E CALÇADOS

Artigos deCouro

IndústriaMoveleira em

Couro

Indústria deConfecçõesem Couro

Componentesem Couro paraestofamentos

ProdutosQuímicos

Importação deCouro

Indústria deComponentes

Indústria Têxtil

Artefatos deOutros

Materiais

Calçados deOutros

Materiais

Máquinas eEquipamentos

Calçados deCouro

Pecuária deCorte

Frigorífico Curtumes

Coureiro

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2 - DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA

O diagnóstico que se segue sintetiza as características de maior relevo para odesempenho competitivo dos elos da cadeia produtiva . Para isso, o textoestrutura-se em sete seções, contemplando, respectivamente, os elos de: a)pecuária de corte; b) frigoríficos; c) curtumes (couro); d) máquinas eequipamentos para couro, calçados e afins; e) componentes para couro ecalçados; f) calçados; e g) artigos de couro. As duas primeiras seções, portratarem de etapas em que o couro é um subproduto, não apresentam umaanálise da competitividade, mas apenas um panorama geral do segmento,necessário para o entendimento de seus desdobramentos sobre o restante dacadeia. As demais seções estão divididas em duas subseções, apresentando odesempenho recente (competitividade revelada) e os condicionantes dacompetitividade.

2.1 - PECUÁRIA DE CORTE

Representado por aproximadamente 1 milhão de pecuaristas de gado de corte emais de 160 milhões de cabeças de bovinos, a bovinocultura de corte brasileiraabastece a população nacional e parte da população mundial, por meio deexportações, destinadas, em especial, para a Europa e os Estados Unidos10.Entretanto, as exportações de carne, correspondentes a cerca de US$ 750milhões em 2000, são consideravelmente inferiores, em valores, àquelas obtidaspela cadeia de couro e calçados, que tem sua origem em um subproduto daindústria frigorífica.

O consumo de carne bovina nacional era de aproximadamente 37 kg/hab, em1999, apresentando tendência de crescimento nos últimos anos. Segundo estudopromovido por CNA-CNI-Sebrae11, em um cenário de crescimento do PIB daordem de 4% ao ano, o consumo per capita atingiria, em 2010, 44,8 kg/hab/ano, oque, somado ao crescimento populacional, implica em um crescimento doconsumo em quase 50% (3,87%a.a.). Também há perspectivas de aumento dademanda externa, por conta da redução da oferta dos demais países produtores.Em países europeus, norte-americanos e do Oriente Médio, a tendência é deestagnação ou pequena redução, em decorrência, principalmente, de problemassanitários, com destaque para o mal da vaca louca − Encefalopatia EspongiformeBovina (BSE)12 − e a febre aftosa.

10 As exportações de carnes nacionais somaram, em 2000, 553 mil toneladas em equivalentecarcaça, sendo que 56% deste total foram carnes industrializadas.11 SILVA, C.A. & BATALHA, M.O. (Coord.) Estudo sobre a eficiência econômica e competitividadeda cadeia agroindustrial da pecuária de corte no Brasil. Brasília, D.F. : IEL, 2000.12 Enfermidade causada provavelmente pela ingestão de rações elaboradas a partir de ossos evísceras de ovinos e/ou bovinos na alimentação do rebanho. Em humanos possivelmente está

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Nesse contexto, o Brasil encontra-se em posição privilegiada, como um país ondenão foi detectado nenhum caso de vaca louca. No que se refere à febre aftosa,há ótimas perspectivas de obtenção de novas certificações de área livre junto àOIE (Organização Internacional de Epizootias). Essas perspectivas decorrem daintensificação da vigilância sanitária, assim como da certificação por zonas livresde febre aftosa, fazendo que um foco isolado não comprometa a certificação emtodas as regiões do País. Em 2001, os circuitos pecuários Centro-Oeste e Leste,que compreendem cerca de 60% do rebanho nacional, são considerados ”áreaslivres com vacinação”. A expectativa é que, em um futuro próximo, os circuitospecuários Sul, Norte e Nordeste recebam a mesma certificação. A médio prazo ,prevê-se a erradicação da febre aftosa no Brasil, com a conseqüente certificaçãopela OIE de “área livre sem vacinação” de todos os circuitos pecuários. Essesfatores, em conjunto, são importantes para atestar a sanidade do rebanhonacional e, conseqüentemente, incrementar as exportações. A ampliação daprodução de carne, por sua vez, implica no aumento da disponibilidade interna decouro cru.

A expansão da participação da carne bovina brasileira no mercado externo podeser, entretanto, dificultada pelo protecionismo praticado especialmente pela U.E.,que subsidia fortemente o setor. A rastreabilidade exigida por esses países podeapresentar-se como uma nova barreira ao comércio internacional.

Há grande heterogeneidade tecnológica na pecuária de corte, o que implica emgrande variação na taxa de desfrute do rebanho, entre 17% e 25%. A meradifusão das tecnologias disponíveis pode aumentar o volume de abate em cercade 25%, por meio de um aumento da taxa de desfrute de 20% para 25%, semnecessidade de aumento do rebanho brasileiro.

De maneira geral, houve evolução significativa dos índices de produtividade dorebanho de corte nos últimos anos. A idade de abate sofreu redução, nasprincipais áreas produtoras, de 4 a 4,5 anos para 3 a 3,5 anos. A idade doprimeiro parto, segundo estudo da CNA-CNI-Sebrae, também foi reduzido paracerca de 3,5 anos em várias regiões. Melhoria foi igualmente apontada nosíndices de mortalidade, pela adoção de esquemas mais adequados devacinações. Esse processo de elevação da produtividade (abate mais precoce)terá um duplo efeito sobre a cadeia produtiva de couro e calçados: a) aumento daprodução e, conseqüentemente, da disponibilidade interna de couro; e b) melhoriada qualidade do couro.

O fato de se abater animais mais velhos no Brasil, compromete a qualidade docouro, diferente , por exemplo, do couro utilizado na Itália, que é de bezerro, e docouro argentino, onde o animal também é abatido mais precocemente. Entre os

relacionada com a doença conhecida como o mal de Creutzfeld-Jakob e pode ser transmitida pelaingestão de carne contaminada, ocasionando morte em curto espaço de tempo.

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diversos motivos para uma elevada correlação entre qualidade do couro e idadede abate do animal, pode-se destacar: a) o menor tempo de exposição dosanimais aos parasitas e eventuais acidentes; b) o menor tamanho do poro docouro de animais jovens; e c) o abate de novilhas, evitando o efeito adverso daprenhez sobre a qualidade do couro, uma vez que pode gerar estrias no mesmo.Como conseqüência, a redução do período de abate que vem sendo observadana pecuária brasileira deve resultar em couros de melhor qualidade. Outrosaspectos a respeito da qualidade do couro são retomados na seção 2.3., que trataespecificamente desse segmento.

A distribuição do rebanho bovino nacional mostra o predomínio dos Estados doCentro Oeste, onde se encontra cerca de um terço do rebanho nacional (Tabela1). Nessa região, destacam-se os Estados do Mato Grosso do Sul e Goiás. Emsegundo lugar, ficam os Estados do Sudeste, com destaque para Minas Gerais.Em seguida estão os Estados do Sul, Nordeste e Norte. Essa configuração revelaa consolidação das novas regiões, em contraposição às regiões tradicionais,como o Sul e o Sudeste, que, na década de 70, concentravam quase a totalidadedo rebanho nacional.

TABELA 1DISTRIBUIÇÃO DO REBANHO BOVINO NAS REGIÕES BRASILEIRAS

Unidade: 1.000 cabeças

Região 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000(1)

Norte 13.317 15.362 15.847 17.067 17.966 19.183 17.983 19.298 21.099 22.431 23.325

Nordeste 26.190 26.669 26.912 22.527 22.825 23.174 23.882 23.831 21.981 21.875 21.562

Sudeste 36.323 36.724 37.231 37.627 37.604 37.168 36.605 36.977 37.074 36.899 36.832

Sul 25.326 25.272 25.451 25.727 26.429 26.641 26.421 26.683 26.600 26.190 26.078

Centro-Oeste

45.946 48.109 48.788 52.186 53.420 55.061 53.398 54.627 56.402 57.227 57.781

Total doRebanho

147.102 152.136 154.229 155.134 158.243 161.228 158.289 161.416 163.154 164.621 165.480

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPANota: (1) Estimativa

Outro aspecto relevante da distribuição espacial do rebanho diz respeito àsatividades de cria, recria e engorda. Historicamente, a engorda e o abate têm selocalizado próximo aos centros de consumo, ficando a cria e a recria nas regiõesmais afastadas (particularmente no Centro-Oeste). Mais recentemente,entretanto, uma nova tendência tem sido verificada, mudando o panoramatradicional descrito acima. Essa nova tendência aponta para a instalação defrigoríficos nas áreas de fronteira, o que se torna viável pelo barateamento dotransporte de carne desossada e por políticas tributárias que dificultam acomercialização de animais vivos.

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Com o objetivo de melhorar a qualidade da carne bovina, foram desenvolvidosprogramas de Novilho Precoce em vários Estados brasileiros. O primeiro deles foilançado em 1992, pelo governo do Mato Grosso do Sul, iniciativa seguida peloEstado do Mato Grosso, em 1993, pelos Estados de Minas Gerais e Goiás, em1994, São Paulo, em 1995, e, posteriormente, pelos Estados do Paraná, SantaCatarina, Rio Grande do Sul e Bahia. Em síntese, procura-se incentivar o abatede bovinos jovens por meio da redução do ICMS e/ou estabelecimento de linhasespeciais de financiamento. Entretanto, o real estímulo para o pecuarista é oaumento da produtividade e lucratividade, decorrente da redução do período paraabate.

Os programas de Novilho Precoce estão, geralmente, associados à formação dealianças mercadológicas entre produtores, frigoríficos e supermercados paracomercialização de carnes diferenciadas. Em 1999, já havia várias aliançasconstituídas no País (RS, SP, BA, MT, MG e SC). O MAPA (Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento), por meio do Programa Nacional de CarneBovina de Qualidade/Novilho Precoce tem estimulado a criação de novas aliançase de programas estaduais. Estima-se que o montante atualmente abatido emalianças mercadológicas esteja entre 7% e 12% do total do abate de bovinos noBrasil, com perspectivas de crescimento. Essa tendência de crescimento do abateprecoce deve ter efeitos positivos também sobre a qualidade do couro brasileiro.

2.2 - FRIGORÍFICOS

Constituída por cerca de 800 empresas formalmente registradas, a indústriafrigorífica opera em ambiente de forte concorrência. Pode-se distinguir doisgrupos estratégicos: a) o que está direcionado a atender os segmentos demercado que exigem conformidade do produto, como o mercado externo egrandes redes supermercadistas; e b) aquele voltado prioritariamente a mercadosregionais, tendo no preço sua principal variável de concorrência.

Embora de forma não homogênea, a indústria nacional mantém um níveltecnológico compatível com os padrões internacionais. A modernização seobserva com implantação de sistemas informatizados e de automação no primeirogrupo estratégico. No segundo grupo, em contraposição, os equipamentosencontram-se tecnologicamente defasados e em condições precárias.

No Brasil, os frigoríficos instalados têm escala que varia de 500 a 2000abates/dia, em um mercado com baixo grau de concentração. Poucas empresasrealizam controle da qualidade dos animais adquiridos, preferindo ter comofornecedores os criadores que oferecem animais mais uniformes, especialmenteem peso, e que oferecem couro de melhor qualidade.

A mão-de-obra utilizada no abate e processamento é farta e de baixa qualificação.Com raras exceções, a rotatividade é alta e o absenteísmo é baixo. Ainda que de

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forma incipiente, existe preocupação em seu treinamento, especialmente noprimeiro grupo estratégico, o que pode ter conseqüências positivas sobre aqualidade do couro.

O crescimento da produção pecuária no Centro-Oeste, especialmente, tem levadoà instalação de frigoríficos nessa região. Os que permanecem no Sudeste tentamse aproveitar de vantagens , por estarem mais próximos dos centrosconsumidores, concentrando-se nas etapas de produção que se beneficiam dessaproximidade. Entre essas vantagens, destaca-se a maior proximidade dosprincipais varejistas, que exploram segmentos de mercado de maior valor,desenvolvendo alianças estratégicas que objetivam a diferenciação de produto.De modo geral, os custos logísticos indicam que o abatedouro tende a localizar-sepróximo ao rebanho bovino e a indústria de processamento (carnes processadas)junto à distribuição de seus produtos. Uma importante conseqüência dessemovimento para a cadeia de couro e calçados é a tendência do abate e, portanto,da produção de couro, apresentar padrão de localização semelhante ao dorebanho bovino.

Finalmente, um aspecto de grande importância para o setor, particularmente paraa qualidade do couro, é o transporte de animais. Esse é, em geral, realizado porfrota terceirizada e os custos correm por conta dos frigoríficos. Nessa etapa, seriaideal substituir o uso do guizo pontiagudo, ou roseta , por bastões de choqueelétrico no manejo e fazer uma revisão da carroceria do caminhão antes doembarque dos animais para evitar cantos vivos, pontas de prego ou parafusos,travessas quebradas ou madeiras lascadas.

Na chegada dos animais ao frigorífico, a atividade de preparação para o abatetambém exige alguns procedimentos importantes para se obter um couro de boaqualidade. A vasoconstrição provocada pelo banho frio antes do abate é umadelas. Sua finalidade é tornar a sangria mais eficiente e evitar um defeitoconhecido como “veiamento” nos couros curtidos. Nesse caso, a exemplo dotransporte, a prática benéfica ao couro também tem implicações positivas sobre aqualidade da carne.

No abate, a esfola (retirada do couro) é outra atividade sob a responsabilidadedos frigoríficos, com profundas conseqüências sobre a qualidade do couro. Éimportante evitar sujar o couro do animal com sangue, evitar a ruptura da camadasuperior do couro (flor), evitar fazer cortes, furos e raias no couro durante a esfolae, se possível, adotar equipamentos para a esfola mecânica (facas circulares erotativas com acionamento por eletricidade ou ar comprimido), substituindo o usodas facas manuais. Uma sangria limpa e completa diminui a proliferação debactérias, reduzindo perdas de qualidade na próxima etapa: a conservação docouro.

Deve-se destacar, entretanto, que os prejuízos à qualidade do couro muitas vezesnão são absorvidos pelos frigoríficos, uma vez que a maior parte deles vende as

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peles pelo sistema de ”bica corrida”13. No caso desses frigoríficos, não háestímulos de mercado para a adoção de práticas que reduzam as perdas edefeitos no couro. Além disso, os frigoríficos do segundo grupo estratégico têm opreço como principal variável de concorrência, tendo a qualidade da carne umaimportância secundária na orientação de suas ações. Como resultado, as práticasbenéficas à qualidade da carne que têm desdobramentos positivos sobre aqualidade do couro (exemplo: cuidados pré-abate) também não são adotadas. Omesmo não ocorre com os frigoríficos do primeiro grupo e ou integrados aoprocessamento do couro. Em ambos os casos, há estímulos para a adoção depráticas que redundem em melhoria da qualidade do couro. Esse ponto seráretomado na seção 2.3, que trata especificamente do segmento deprocessamento do couro, onde há uma síntese sobre os problemas de qualidadedo couro cru.

2.3 - COURO

2.3.1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE

A indústria brasileira de couro é constituída por cerca de 805 curtumesformalmente registrados, dos quais 80% podem ser classificados como pequenasempresas. Estima-se que essa indústria empregue diretamente cerca de 65.000pessoas e fature US$ 2,4 bilhões/ano. Segundo dados da RAIS-MTE, havia, nofinal da década de 90, 30.846 empregados formalmente registrados em curtumes,mas esse montante não incorpora a) autônomos; b) relações informais deemprego; e c) aqueles que trabalham em frigoríficos que possuem setor decurtimento na própria unidade.

Cabe registrar que existem diversos curtumes artesanais, sem qualquer registroformal, com a produção voltada, prioritariamente, para o mercado regional decalçados rústicos e, em especial, para o segmento de artefatos de couroartesanais. Esses curtumes encontram-se mais concentrados nas regiões menosdesenvolvidas, empregando grande número de pessoas.

Os curtumes podem ser caracterizados conforme as etapas de processamento docouro a que se dedicam. As principais etapas são a produção de wet blue,seguida do semi-acabamento e do acabamento (descritas em detalhe nofluxograma a seguir). Dadas essas etapas, pode-se dividir os curtumes em quatrotipos diferentes, quais sejam:

13 O termo “bica corrida” é utilizado para denominar sistemas de comercialização em que não háclassificação das mercadorias. Uma de suas conseqüências é não proporcionar um prêmioadequado aos produtos de qualidade superior.

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• curtume de wet blue - é aquele que desenvolve somente o processamento decouro cru para wet blue (primeiro estágio de processamento do couro) ou paracouro piquelado;

• curtume integrado - é aquele que realiza todas as operações, processandodesde o couro cru até o couro acabado. Portanto, tem capacidade para ofertarcouro piquelado; couro wet blue; couro semi-acabado e couro acabado;

• curtume acabado - é aquele que utiliza como matéria-prima o couro no estágiowet blue e o transforma em crust (semi-acabado) e em acabado;

• curtume de acabamento - é aquele que realiza apenas a etapa final deacabamento, utilizando-se do crust como matéria-prima.

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FLUXOGRAMA DO BENEFICIAMENTO DO COURO NO CURTUME

Setor Ribeira:• Recebimento do couro cru ou salgado.• Retirada dos pêlos por meio de solução de cal, sulfeto de sódio, tensoativos e amina.• Descarne do couro.• Aparação do couro na mesa de refila.• Divisão do couro em duas partes: flor (parte posterior) e raspa (parte inferior).• Desencalagem, purga e píquel.

Setor de Curtimento:• Curtimento ao cromo (wet blue) ou ao tanino (atanado).• Classificação manual.• Secagem do couro.• Máquina de rebaixamento do couro, onde a espessura do couro é calibrado de acordo

com o pedido do cliente.

Setor de Recurtimento:• Neutralização (utilizando sais alcalinos, como bicarbonato e formiato de sódio),

recurtimento (com sais de cromo, taninos vegetais, taninos sintéticos e resinas),tingimento e engraxe (óleos naturais e sintéticos modificados).

• Secagem do couro.

Setor de Semi-acabados:• Recondicionamento e amaciamento (com molissa, fulão de bater ou outro método)• Secagem final em “toggling”.• Lixamento do couro (opcional).

Setor de Acabamento:• Aplicação das camadas de acabamento (impregnação, fundo, cobertura e fixação

(top)).• Tratamentos mecânicos (prensagem, estampagem, polimento etc.).

Setor de Qualidade:• Inspeção final do couro.

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A produção brasileira de couro, apresentada na Tabela 2, quase triplicou nosúltimos 20 anos, passando de 13,8 milhões de couros, em 1980, para 32,5milhões em 2000 - o que representa cerca de 11% do mercado mundial.

TABELA 2EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE COURO NO BRASIL

Unidade: 1.000 couros

Ano 1980 1984 1988 1990 1992 1994 1996 1997 1998 1999 2000Produção deCouro

13.850 16.010 22.400 23.000 24.000 24.500 28.000 29.000 30.000 31.000 32.500

Exportação 1.284 3.035 6.428 5.675 5.746 6.788 13.275 14.435 14.865 14.538 14.739

Fonte: CICB

Nesse meio tempo, a oferta mundial teve crescimento médio, ao longo da décadade 90, de apenas 1,08% ao ano. Os EUA, maior país produtor, cresceu, nomesmo período considerado, apenas 1,3% ao ano, tendo havido queda deprodução na Argentina, nos países europeus e, em especial, nos países quecompunham a antiga União Soviética. Diante desse quadro, ganham relevância,juntamente com o Brasil, novos atores, como a China − cuja produção abasteceexclusivamente seu crescente mercado interno −, a Austrália e o Canadá. É dignode nota que a taxa de crescimento verificada nesses países, durante a década de90, foi ligeiramente inferior à brasileira, fato que reforça o papel de destaque queassume o setor de couro brasileiro mundialmente. Os acontecimentos do ano de2001, que resultaram no abate de milhões de reses sob suspeita decontaminação pela febre aftosa, tendem a acentuar essa tendência. Nesseparticular, as produções européia e argentina foram particularmente prejudicadas.

Conforme apontado na seção relativa à pecuária de corte, prevê-se umcrescimento da oferta de peles (abate) de quase 50% até 2010 (3,87% ao ano),quando o Brasil deverá ofertar cerca de 45 milhões de couros. Esse crescimentodeve ser ancorado, sobretudo, no aumento da taxa de desfrute do rebanho, o queeqüivale a um aumento de produtividade. Entre 1999 e 2000, por exemplo, houveum aumento do abate de 31milhões para 32,5 milhões de cabeças (Tabela 2),sem que houvesse aumento expressivo do rebanho, que passou de 164,6 milhõespara 165,4 milhões (Tabela 1). Como a taxa de desfrute é ainda baixa no Brasil(20,9%), há grande espaço para o crescimento do abate.

As exportações brasileiras também vêm apresentando acentuado crescimento.Saliente-se que, no período de 1980 a 2000, o número de couros exportadoaumentou em 1.048%, alcançando 14,7 milhões de unidades (Tabela 2). Cerca de57% do valor e 85% da quantidade exportada correspondem a exportações dewet blue (Tabela 3), primeiro estágio de industrialização do couro, o que evidenciao forte predomínio de exportações de menor valor agregado.

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Vale observar, na Tabela 3, que a relação entre a quantidade exportada de courowet blue e a total cresceu sistematicamente entre 1996 e 2000, o que é umatendência indesejável sob o aspecto de agregação de valor. O mesmo nãoocorreu com o valor exportado, visto que houve queda do preço relativo do wetblue em 1999, interrompendo a série de aumentos da participação deste produtono valor total exportado. É importante frisar que os dados, ainda parciais, de2001, indicam uma reversão dessa tendência, com sensível queda daparticipação do wet blue na quantidade e valor exportados pelo setor(respectivamente, 76,5% e 54,7%). Do ponto de vista de agregação de valor, amaior relevância do wet blue implica um menor valor das exportaçõesrelativamente aos couros crust e acabado. Do ponto de vista ambiental, afabricação do wet blue, por conta da utilização de cromo, constitui a etapa maispoluente de toda a cadeia produtiva.

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TABELA 3EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL DA INDÚSTRIA DO COURO

(em US$ 1.000)

Salgado Wet Blue Crust Acabado TotalAnoExp. Imp. Saldo Exp. Imp. Saldo Exp. Imp. Saldo Exp. Imp. Saldo Exp. Imp. Saldo

1996 17.370 2.877 14.493 353.365 34.043 319.322 118.610 84.684 33.926 167.808 17.052 150.756 657.153 138.656 518.497

1997 11.892 612 11.280 394.762 31.426 363.336 133.577 91.149 42.428 177.952 13.165 164.787 718.183 136.352 581.831

1998 12.397 425 11.972 382.448 24.040 358.408 117.454 92.367 25.087 140.402 11.133 129.269 652.701 127.965 524.736

1999 3.819 205 3.614 304.892 16.212 288.680 129.320 102.159 27.161 147.349 10.460 136.889 585.380 129.036 456.344

2000 1.429 1.817 (388) 426.708 44.303 382.405 175.577 98.886 76.691 138.754 14.983 123.771 742.468 159.989 582.479

2001(jan/abr) 1.874 39 1.835 173.051 13.655 159.396 108.313 44.055 64.258 73.737 7.864 65.873 356.975 65.613 291.362

Fonte: SECEX/DECEX

(em 1.000 Kg)

Salgado Wet Blue Crust Acabado TotalAnoExp. Imp. Saldo Exp. Imp. Saldo Exp. Imp. Saldo Exp. Imp. Saldo Exp. Imp. Saldo

1996 23.476 1.071 22.405 154.198 7.109 147.089 11.726 3.958 7.768 11.499 1.379 10.120 200.900 13.518 187.382

1997 14.536 604 13.931 169.635 6.980 162.655 10.903 4.446 6.457 11.957 1.003 10.954 207.031 13.034 193.997

1998 17.759 466 17.293 182.975 5.491 177.484 10.176 7.567 2.609 9.516 691 8.825 220.427 14.215 206.212

1999 7.862 709 7.154 165.439 4.357 161.082 13.072 6.240 6.832 12.194 643 11.551 198.568 11.949 186.619

2000 3.036 1.781 1.254 166.402 13.680 152.721 15.477 5.027 10.451 10.211 1.020 9.191 195.126 21.508 173.617

2001(jan/abr) 2.274 25 2.248 64.983 3.607 61.376 14.545 2.210 12.336 4.664 476 4.188 86.466 6.318 80.148

Fonte: SECEX/DECEX

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O aparecimento de materiais alternativos ao couro, de oferta elástica, commelhoria crescente em qualidade e aparência, modifica a concorrência naindústria calçadista. Cerca de 70% dos calçados fabricados mundialmenteutilizam-se de materiais sintéticos e empreendem intensas ações de marketing demassa pelos seus fabricantes. O marketing de massa, nesse caso, é viável, pois éancorado em fábricas que processam altas escalas, em sistemas de repetição,automatizadas, com base em matérias-primas de oferta elástica, com preçosmenos sensíveis às flutuações da demanda. Com o couro, produto de ofertalimitada, inelástica e cada vez mais destinado aos consumidores de poderaquisitivo mais elevado, esse posicionamento é mais difícil.

Um mercado em expansão para couros bovinos é o de estofamento residencial eautomotivo. Em oposição ao caso de artefatos, o mercado de couro paraestofamento exige peles de qualidade superior, em especial pela disponibilidadede peles extensas com poucos ou nenhum defeito. Nesse segmento de mercado,as perspectivas de crescimento da indústria do couro são elevadas, em particularna sua relação com a indústria de móveis, pois no mercado de estofadosbrasileiros, por exemplo, apenas 2% a 4% da oferta é relativa aos revestidos decouros. Na Europa, esse índice alcança 40% e nos EUA, 20%.

2.3.2 - CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE

A agregação de valor na cadeia requer investimentos significativos, com reflexosimportantes no nível de emprego e no custo ambiental, conforme mostra o quadro1 abaixo, com parâmetros para a industrialização de 1.000 couros/dia e 20.000pares de calçado/dia.

QUADRO 1AGREGAÇÃO DE VALOR NA CADEIA PRODUTIVA

Itens Salgado Wet blue Acabado Calçado

Mão-de –obra(nº de empregados)

10 40 300 2.200

Investimentos em máquinas einstalações (R$ milhões)

0,5 1,5 8 25

Processo(nº de operações)

5 20 70 137

Insumos químicos(custo direto em R$ milhões)

0,75 3,2 15,7 3,0

Custo ambiental(instalações/equipamentos)(R$ mil)

--- 1.000 1.200 12

Custo total da produção(MDO + MP + Ins. Quim.) (R$ mil)

16 25,7 53,6 170

Fonte: CICB

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Entre os fatores que explicam a concentração das exportações em produtos demenor valor agregado têm-se: i) sistema tributário, em especial pelas dificuldadesno ressarcimento de créditos no Brasil; ii) barreiras tarifárias a produtos de maiorvalor agregado; e iii) tendência crescente de redução do lead time (tempo deresposta a pedidos) entre acabadores e calçadistas, o que dificulta asexportações de couro acabado14.

Um importante entrave à competitividade da cadeia de couros e calçados noâmbito institucional é o custo tributário, em especial às empresas exportadoras. ALei Complementar 87/96, conhecida como Lei Kandir, teve como propósitodesonerar de impostos as exportações brasileiras, isentando de ICMS asmercadorias destinadas ao exterior. Com o mesmo objetivo, a Lei 9.363, tambéminstituída em 1996, procurava retirar das exportações o ônus fiscal decorrente daincidência do PIS e Cofins em cada etapa da cadeia produtiva (tendo, portanto,efeito cumulativo). Para isso, o montante pago na forma dessas contribuições, nocaso de exportação do produto, poderia ser recuperado como crédito sobre oImposto de Produtos Industrializados (IPI). Setores com alíquota “zero” de IPI,como curtumes, e que exportam parte relevante de sua produção, acumulamcréditos fiscais, não podendo fazer uso desses créditos diretamente comodesconto no IPI devido. Esses créditos acumulados deveriam ser, então,recuperados em moeda ou na aquisição de insumos diversos. Em tese, esseconjunto de normas desonera de impostos as exportações brasileiras. Todavia, asdificuldade burocráticas para a recuperação do crédito fiscal impossibilitam a suaefetiva utilização.

Essa distorção tributária desfavorece em especial as empresas que exportamuma elevada fração de sua produção, as quais tendem a acumular mais créditosfiscais. Esse quadro tem levado algumas empresas exportadoras a importar courovia drawback, apesar da disponibilidade doméstica.

O predomínio de exportações de wet blue decorre, também, das barreirastarifárias aos produtos de maior valor agregado. O principal exemplo é asobretaxa de 6,5% sobre os couros crust e acabados, aplicada pela UniãoEuropéia.

Adicionalmente, a tendência de estreitamento das relações entre acabadores eindústria calçadista, ao exigir grande velocidade de resposta aos pedidos, dificultaas exportações de couros acabados. A tabela abaixo evidencia que as indústriascalçadistas mais dinâmicas, como a italiana e a chinesa, absorvempreponderantemente o wet blue. Em contraposição, indústrias mais tradicionais(item “outros”) absorvem uma maior proporção de couros acabados. A tabela 4

14 Em linguagem técnica, a redução do lead time eleva a especificidade temporal dos ativos - oque resulta em maiores custos de transação na venda no mercado internacional. Diante disso, écomum calçadistas integrarem verticalmente ou utilizarem-se de contratos de longo prazo para aetapa de acabamento do couro.

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mostra, adicionalmente, os efeitos perversos da política protecionista européia,que dificulta a entrada de produtos de maior valor agregado.

TABELA 4EXPORTAÇÃO DE COURO PARA OS PRINCIPAIS IMPORTADORES (1999)

US$ mil

Wet Blue Crust Acabado TotalDestino 2000 2000 2000 2000ItáliaPortugalEspanha

268.49231.93323.970

27.5256.075

418

3.6533.517

220

299.67041.52624.607

Subtotal 324.395 34.018 7.390 365.803% sobre subtotal do tipo 76,0 19,4 5,3 49,4ChinaEUAHong KongCingapuraMercosulOutros

10.022973

24.91013.41014.10538.892

5.02945.48538.50417.214

62234.705

8.87727.52236.363

9562.761

54.885

23.92973.98099.77831.58017.488

128.482Total por tipo 426.708 175.577 138.754 741.040TotalCapítulo 41

760.223

% por tipo noCap. 41

56,1 23,1 18,3 97,5

Fonte: SECEX/DECEX

Estima-se que a capacidade instalada da indústria curtidora, em 1999,encontrava-se distribuída da seguinte forma:

TABELA 5CAPACIDADE INSTALADA – 1999

Espécie de couro Capacidade(milhões de couros)

Bovino 35,0Suíno 3,0Caprino e Ovino 14,0Equino 1,0

Fonte: CICB

Note-se que os curtumes de bovinos apresentam índice médio de utilização desua capacidade instalada de aproximadamente 80%. Já no que diz respeito acaprinos e ovinos, a indústria vem trabalhando com capacidade ociosa de 40%por absoluta escassez de matéria-prima, visto que há incidência de imposto de

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importação sobre as peles cruas ou salgadas desses animais. A oferta domésticade couro de caprinos e ovinos, por sua vez, é feita em operação casada e, atéchegar à indústria, passa por atravessadores, o que dificulta o acesso doscurtumes à matéria-prima. As novas plantas industriais têm bom níveltecnológico,. Contudo, é fundamental que se mantenham atualizadas, e deve-seenfatizar que parcela significativa das máquinas não têm similar nacional,principalmente aquelas voltadas ao acabamento de couros inteiros.

Um importante obstáculo enfrentado pelo setor, principalmente para o dinâmicomercado de estofamentos, é a melhoria da qualidade de seu produto final, cujonível atual depende da melhoria da qualidade da matéria-prima, a pele. O sistemade produção predominantemente empregado na pecuária − de pastejo extensivoe longo período para abate − resulta em um couro com elevada incidência dedefeitos, por parasitas (sobretudo bernes e carrapatos), cortes e outras marcas.Como o pecuarista não percebe um retorno maior pela qualidade do couro, aprática de marcação a ferro (para identificação dos animais) é disseminada,também prejudicando o couro.

De acordo com um documento do Senai-RS 15, 60% dos defeitos dos courosbrasileiros têm origem no campo, sendo 40% causados por ectoparasitoses(berne, carrapato, bicheira), 10% devido à marcação a fogo dos animais e 10%decorrentes de marcas de arame farpado, galhos e espinhos. Para evitar essasperdas, seria necessário maior cuidado sanitário na criação, marcação a fogosegundo determinações da Lei n° 4.714 de 29/06/65, pastagens mais limpas ecom cercas de arame liso.

O transporte inadequado do gado da fazenda até o frigorífico é responsável pormais 10 % dos defeitos das peles. Dentro do frigorífico, as perdas continuam, sejapela esfola mal feita durante o abate dos animais − responsável por 15% dosdefeitos −, seja por problemas de conservação do couro, acarretando a mesmaporcentagem de defeitos.

Esse conjunto de perdas explica porque nos Estados Unidos apenas 5% do couroapresenta defeitos, enquanto que, no Brasil, 93% das peles ainda registramproblemas. A partir da pesquisa realizada pelo CICB, apresentada na Tabela 6,percebe-se a classificação deficiente obtida pelo couro de curtumes do Brasil:

15 Racionalização e Melhoria da Qualidade da Matéria-Prima Couro: do transporte do gado à tipificaçãono curtume. Senai-RS, 1995 (mímeo).

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TABELA 6CLASSIFICAÇÃO DO COURO BRASILEIRO- PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL POR TIPO

Tipo AA A B C D EI

% de couro 8 22 35 25 7 3

Fonte: CICB apud Ferreira, R.N. O Couro é Insuperável. Brasília, 1997, p.351.

O problema na qualidade da matéria-prima está na dificuldade de transmissão deestímulos para que os diversos elos da cadeia produtiva utilizem práticas queresultem em atributos do produto final valorizados pelos consumidores. Em geral,os frigoríficos entregam o couro cru para os curtumes em um sistema de vendasdenominado “bica corrida”, em que não há um sistema adequado de classificação.Nessa etapa reside o principal problema identificado no sistema decomercialização de couro, uma vez que os defeitos das peles não sãoidentificados por ocasião da venda e, por conseqüência, não há remuneraçãodistinta conforme o produto. Não havendo estímulos financeiros para as práticasbenéficas ao couro, frigoríficos e pecuaristas mantêm as práticas tradicionais, quehoje implicam em custos elevados ao sistema produtivo. Os defeitos ocorrem atéo processo de “bica corrida”, que pode ser caracterizado como uma “valacomum”, em que a qualidade da pele não é comercialmente distinguida. Háalgumas exceções em termos de comercialização de couro - como as iniciativasdo grupo Braspelco em remunerar o pecuarista pela qualidade do couro -, mastratam-se de casos isolados no sistema de pecuária de corte brasileiro. Pigatto(2001), em entrevista a 19 frigoríficos paulistas com registro no SIF, constatouque nenhum deles remunerava o pecuarista pelo couro.

Atualmente, têm-se observado algumas tentativas de terceirização dobeneficiamento do couro wet blue por parte dos frigoríficos. Uma vez que muitoscurtumes apresentam capacidade ociosa, alguns frigoríficos tentaram terceirizar oprocessamento primário do couro (wet blue), com o objetivo de agregar valor aocouro cru e obter melhores preços no mercado. Essa estratégia deve ter um efeitobenéfico sobre a qualidade do couro, estimulando ações na atividade de abateque resultem em uma diminuição dos defeitos e perdas16. Esse efeito é esperadoporque os frigoríficos passam a ser remunerados pela qualidade do couro, aovendê-lo na forma wet blue, de tal modo que esfolas mal feitas ou máconservação das peles resultam em perda de receita. Assim, a preocupação comuma esfola mais adequada passa a fazer parte do cálculo econômico dofrigorífico. Deve-se lembrar que cerca de 30% dos defeitos do couro decorrem domodo pelo qual essas ações − esfola e conservação do couro − são conduzidasdentro dos frigoríficos.

16 Entre essas ações, pode-se citar os cuidados pré-abate, para facilitar a sangria do animal, aesfola com instrumentos adequados e a conservação do couro.

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Apesar dos problemas de qualidade de sua matéria-prima, a indústria curtidoravem realizando esforços voltados à melhoria na qualidade de seus produtos,mediante programa de gestão qualificada e utilização de equipamentosatualizados tecnologicamente. Ao mesmo tempo, o Centro das Indústrias deCurtumes do Brasil – CICB – desenvolveu e implementou o “Programa Brasileirode Melhoria do Couro Cru”, que já reduziu, por exemplo, o percentual de courosfurados ou com cortes no carnal, de 40% para 5%, nos frigoríficos que aderiramao programa. Embora apresente resultados bastante positivos, a extensão doprograma ainda não foi suficiente para reduzir os problemas de qualidade docouro brasileiro.

Como principais estratégias observadas no setor como um todo, pode-sedestacar:

a) automação da produção, permitindo o aumento da qualidade e uniformidade doproduto e, a depender da relação de preços entre máquinas e salários, umaredução dos custos variáveis. Atualmente, menos de 3% dos curtumes sãoautomatizados. Mesmo diante dos benefícios citados, a taxa de investimentoem automação reduziu-se nos últimos anos, devido, principalmente, àdificuldade de acesso às linhas de crédito;

b) implantação de gestão da qualidade, programa definido em dois níveis:qualidade total e gestão ambiental (ISO 14.000);

c) introdução de tecnologias CAD-CAM (computer-aided design ecomputer-aided manufacturing ), ampliando o componente de design nosprodutos; e

d) disseminação de ferramentas de gestão de suprimentos, como just in time ekanban, que permitem a redução de estoques.

2.4 - MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS PARA COURO, CALÇADOS E AFINS

2.4.1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE

A indústria de máquinas e equipamentos para couro, calçados e afins é compostapor 113 empresas, em sua maioria de pequeno e médio porte. O perfil daprodução é distinto , conforme o segmento a que se destina, sendo as maiscomplexas aquelas voltadas à preparação de borracha, injeção de materiaistermoplásticos e de curtumes. Nesse segmento , também é elevada a participaçãodas importações, ao contrário da produção voltada à indústria de calçados, emque a participação da produção nacional é preponderante. Essa indústria égeograficamente concentrada, pois 85% das empresas estão instaladas no RioGrande do Sul, especialmente no Vale do Sinos - maior pólo da indústria coureiro-

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calçadista do País. As demais empresas situam-se nos estados de SantaCatarina e São Paulo.

Com empresas tradicionais de até 70 anos, o setor foi criado para suprir asnecessidades da indústria coureiro-calçadista e, embora haja necessidade deatualização tecnológica, principalmente quanto à incorporação de componentesmicroeletrônicos, o setor ocupa 70% da sua capacidade instalada e vem sendocapaz de ampliar suas exportações, inclusive para novos e importantesmercados, como é o caso dos EUA, Canadá, Itália, Alemanha, Japão, China eTailândia.

O desempenho no comércio exterior do setor de máquinas e equipamentos édesfavorável, havendo déficits sistemáticos nos últimos três anos. É importanteregistrar, entretanto, a acentuada redução do déficit comercial no ano 2000, sejapela redução das importações − em um contexto de retomada dos investimentosna cadeia produtiva de couro e calçados − seja pelo aumento das exportações.

TABELA 7BALANÇA COMERCIAL

MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS PARA COURO, CALÇADOS E AFINS17

(US$ 1.000)

Ano Importação (M) Exportação (X) Saldo X+M1998 17.494 2.737 (14.757) 20.2311999 20.572 1.831 (18.741) 22.4032000 15.124 3.251 (11.873) 18.375

Fonte: SECEX/DECEX

A crise da cadeia de couro e calçados, no período de abertura de mercado evalorização cambial, conduziu sua indústria de máquinas e equipamentos, emmeados da década, a uma intensa reestruturação. Nesse processo, algumasempresas foram fechadas, outras associaram-se ou otimizaram sua produçãomediante a terceirização de algumas etapas, com conseqüente, redução depostos de trabalhos. Alguns efeitos desse processo são evidentes nos dados daABRAMEQ - Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentospara os Setores do Couro, Calçados e Afins - (Tabela 8), que mostram umaintensa queda no nível de emprego (83%) entre 1993 e 1999, tendo havido uma

17 Para o consolidação dos dados de comércio exterior do segmento de máquinas e equipamentopara couro, calçados e afins, foram utilizados os seguintes códigos da NCM: a) 8453.10.10

“Máquinas para dividir couro” b) 8453.10.90 “Outras Máquinas para preparar couro”; c)8453.20.00 “máquinas para consertar ou fabricar calçados”; d) 8453.80.00 “Outras máquinas”; ee) 8453.90.00 “Partes de máquinas”.Vale lembrar que o setor classifica suas máquinas e equipamentos em 29 NCM’s distintas, masque não são exclusivas do setor coureiro-calçadista, o que impede a correta identificação dosegmento destino dos bens de capitais

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pequena recuperação no ano 2000. Houve também redução no número deempresas até 1997, porém com subsequente elevação após a restruturação,evidenciando maior competitividade do setor.

TABELA 8NÚMERO DE EMPRESAS, EMPREGADOS E EXPORTADORES

Ano 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Total empresas 138 138 120 102 86 86 99 113Nº. Empregados 15.000 13.600 10.800 9.750 4.200 2.687 2.562 2.809

Total empresasexportadoras

25 27 33 37

Fonte: ABRAMEQ

As exportações da indústria de máquinas para calçados tiveram seu início hácerca de 30 anos, quando algumas empresas, de forma isolada e ainda poucoexpressiva, venderam para os mercados da Argentina, Chile e, posteriormente,para demais países da América Latina. Deve-se afirmar, entretanto, que o esforçoexportador não era contínuo, variando de acordo com a política cambial e com opróprio mercado interno.

O segmento de máquinas para couro exporta relativamente menos e tem seumercado mais relevante circunscrito aos países do Cone-Sul, embora tenhaexportado, em 2000/2001, para o México, EUA, Canadá, Alemanha e Hong Kong,além de outros 11 países latinos. Em contraposição, o segmento de máquinaspara calçados tem um mercado mais diversificado e dinâmico. Embora tenhaexportado menos para países do Mercosul, cuja indústria de calçados mostra-sedecadente, esse setor exportou, no último ano, para mercados dinâmicos, como aChina e o México. Há, portanto, sinais positivos de competitividade, apesar de umcerto atraso tecnológico em determinados tipos de máquinas e equipamentos edo saldo negativo na balança comercial.

2.4.2 - CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE

Em 1998, as entidades ABRAMEQ e ASSINTECAL - Associação Brasileira dasIndústrias de Componentes para Couro e Calçados - somaram esforços parapromover a retomada e a ampliação do comércio exterior, tendo desenvolvido, emparceria com a Agência de Promoção à Exportação - APEX -, o Programa SetorialIntegrado de Promoção das Exportações de Máquinas e Componentes para osSetores do Couro, Calçados e Afins.

O Programa Setorial Integrado está subdividido em cinco grandes áreas deatuação: Conscientização; Cursos de Capacitação e Treinamentos; Adequação

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de Produtos e Processos; Informação Comercial; Promoção Comercial ePromoção Direta.

Uma das mais importantes ações diretas, além da participação em bloco nasfeiras internacionais, foi a criação de uma marca para representar máquinas ecomponentes brasileiros. Assim nasceu a by Brasil, um movimento com o intuitode demonstrar a segurança e confiança no produto. Como uma variante domovimento by Brasil, o setor de máquinas criou, com o assessoramento do CTCSenai, o Selo da Qualidade Abrameq/byBrasil, que tem como objetivos estimularas indústrias a produzirem máquinas compatíveis com os padrões de qualidadeinternacionais, difundir e estimular a cultura da qualidade, da excelência e a buscapela melhoria contínua.

O Selo da Qualidade foi lançado em julho de 2001, e está dividido em trêscategorias, de acordo com a certificação do produto: bronze, prata e ouro. Asprimeiras máquinas serão certificadas no mês de dezembro/2001.

Não obstante os resultados alcançados tenham sido positivos, com 32 paísesimportando os equipamentos brasileiros – como México, Japão, China, África doSul, Indonésia, Alemanha, Espanha, Eslováquia e até Itália, faz-se necessáriodotar a indústria de capacidade produtiva mais atualizada. O objetivo é gerar ascondições de produção de máquinas e equipamentos tecnologicamentecompetitivos com os produtos italianos, alemães, ingleses e espanhóis. Essaestratégia exigiria a identificação de um subconjunto de máquinas da indústrianacional com maior potencial competitivo, que fossem objeto de um política deprogressão tecnológica.

Um dos principais gargalos identificados pelo setor é a dificuldade de atendimentodas condições de acesso ao crédito, em especial no caso das micro e pequenasempresas. Outro importante gargalo que impede o crescimento é a carência derecursos humanos especializados em automação industrial e operação demáquinas–ferramenta com comando numérico computadorizado (CNC).

2.5 - COMPONENTES PARA COURO E CALÇADOS

2.5.1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE

A indústria brasileira de componentes para couro e calçados é composta porcerca de 946 empresas, subdivididas em nove setores, conforme classificação daASSINTECAL, quais sejam:• têxteis• metais e acessórios de plásticos• formas e matrizes• solados

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• produtos químicos para couro• palmilhas• produtos químicos para calçados• outros acessórios• não-tecidos

Dentro desses nove setores encontram-se classificados mais de 1.400 produtos,o que ilustra a diversidade da produção. Esta característica decorre dasoscilações da moda na demanda por calçados, o que afeta, por sua vez, ademanda por componentes. A fim de evitar a dependência exclusiva do setorcalçadista, o segmento de componentes para couro e calçados vem buscandooutros mercados como o automobilístico, o moveleiro, o têxtil, o alimentício eoutros. Os processos produtivos e insumos similares proporcionam essaversatilidade de mercados-alvo. As empresas de solados e de palmilhas são asúnicas dentro do segmento que não têm as mesmas oportunidades dediversificação de mercados, destinando mais de 90% de sua produção para acadeia de couro e calçados.

O crescimento da indústria de componentes deu-se, principalmente, em razão dadesverticalização das grandes empresas de calçados, que passaram a terceirizarparte da sua produção de componentes visando a especializar-se na montagem ena qualidade do calçado em si. Assim, reduziram-se os riscos decorrentes deociosidade ou de sobrecarga da capacidade produtiva, diminuindo a necessidadede capital de giro em função de um ciclo produtivo mais curto. Há, adicionalmente,ganhos de especialização nas empresas terceirizadas, que também se beneficiamda possibilidade de atendimento de diversas empresas calçadistas, reduzindo osriscos de flutuação de demandas específicas. Esse movimento de terceirização,aliado às inovações em materiais derivados da petroquímica e têxtil, foram oscausadores do crescimento do número de empresas de componentes e donúmero de produtos fabricados.

O modo de constituição do segmento de componentes − a partir da indústria decalçados pré-existente − explica o grande predomínio de micro e pequenasempresas, perfazendo cerca de 80% das empresas do segmento, conformedados da Tabela 9.

TABELA 9NÚMERO DE EMPRESAS DA INDÚSTRIA DE COMPONENTES, POR TAMANHO (2000)

Tamanho da empresa Número de empresasMicro (1-19 empregados) 464Pequena (20-100) 350Média (101-500) 104Grande (+ 500) 28Total 946

Fonte: ASSINTECAL

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A diversidade de setores e possibilidades de venda para mercados diversostornam complexa a estimativa de dados sobre o segmento de componentes.Segundo estimativa da ASSINTECAL, a receita do segmento, em 2000, foi cercade R$ 5,5 bilhões. A confirmação desse número significa que a indústria decomponentes deve apresentar um crescimento de vendas de 57% no quadriênio1997-2000. Do total faturado, 92% referem-se a vendas internas, e os outros 8%vêm das exportações destinadas para mais de 70 países, incluindo o mercadoasiático, o que indica um bom nível da fabricação nacional em alguns segmentosde mercado. Todavia, o segmento também é um grande comprador de insumosno mercado internacional, o que torna os saldos comercias deficitários (Tabela10). O desempenho recente, após a desvalorização cambial, indica uma melhorano déficit comercial do segmento, entre 1998 e 1999, decorrente de forte quedadas importações. Em 2000, o déficit comercial permaneceu constante, mas houveum aumento do volume de comércio − aumento simultâneo de exportações eimportações −, o que pode indicar, se mantida essa tendência nos anosseguintes, uma maior integração desse segmento com o mercado externo.

TABELA 10BALANÇA COMERCIAL DE COMPONENTES PARA COURO E CALÇADOS1

(US$ milhões)

Ano Importação(M)

Exportação(X)

Saldo M + X

1998 780 440 -340 1.2201999 698 433 -265 1.1312000 738 474 -264 1.212

Fonte: SECEX/DECEXNota: (1) Devido ao fato de o setor de componentes perpassar setores industriais cujos produtos têm destinosdiversos, a agregação dos valores de comércio exterior, por meio da NCM, está sujeita a distorções.

O crescimento dos números do segmento em exportação é decorrência do PSI –Programa Setorial Integrado - desenvolvido em conjunto com a ABRAMEQ eAPEX. Além dos valores de exportação, destacam-se as seguintes ações comode importância para toda a indústria de componentes:

a) crescimento de certificações de qualidade;b) aumento da base exportadora, trazendo mais empresas para fazer face à

concorrência internacional;c) desenvolvimento de mecanismos de cooperação, traduzidos na formação de

consórcios para promoção à exportação;d) estimular a criação de uma consciência ligada ao design e ao conforto, antes

considerada de responsabilidade única da indústria calçadista e restrita àmoda;

e) exportações efetuadas com marca própria, mas com a denominação comumBy Brasil.

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A demanda doméstica pelos componentes para couro e calçados dependediretamente do perfil da produção desses produtos. Conforme a dinâmica de cadasegmento de consumo (masculino, feminino, infantil e esportivo), altera-se ademanda por componentes. Segundo pesquisa da ASSINTECAL18, o segmentoque mais demanda componentes de couro é o de calçados masculinos, que , em85,7% dos casos, utilizam cabedal de couro, seguido do segmento de calçadosfemininos, com 63,4%. Em contraposição, calçados infantis e esportivos utilizamrelativamente menos essa forma de cabedal, o que tem uma participação de34,7% e 14,5%, respectivamente. No material do solado, por sua vez, o couro émenos utilizado, sendo mais freqüentemente adotado em calçados masculinos -17,8% dos pares.

2.5.2 - CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE

Com o passar dos anos, a indústria de componentes respondeu positivamente aodesafio, demonstrando capacidade inovadora e agilidade frente às constantesmudanças nos processos industriais, decorrentes de novas matérias-primas e detendências ligadas à moda.

No caso específico da indústria química, foram desenvolvidas várias inovaçõestanto em processo como em produto final. Pode-se salientar como clarosexemplos, algumas tecnologias de acabamento e a busca de alternativas ao usode solventes na indústria de curtimento, bem como a melhoria de materiaisalternativos ao couro, evidente tanto no caso de solados como no cabedal. Nossolados, atualmente , são empregados nove produtos substitutos e no cabedal sãoutilizados quatro novos tipos. Comparando-se com as tecnologias dos demaispaíses produtores, estamos compatíveis em grau de uso e de desenvolvimento .

A distribuição geográfica da indústria de componentes junto a empresascalçadistas permitiu a redução de custos logísticos e compartilhamento demateriais, além de facilitar a difusão de informações técnicas e negociais.

A Região Sul emprega mais da metade da mão-de-obra da indústria decomponentes, em virtude da grande concentração de indústrias no Vale dos Sinose das técnicas de produção voltadas para segmentos de mercado. Entretanto, asestratégias de relocalização da indústria de calçados, durante a década de 90,afetaram também as decisões de localização da indústria de componentes. Dessemodo, há um movimento embrionário de deslocamento para as principais regiõesprodutoras do Nordeste. Contudo, o acompanhamento das empresas calçadistasnão foi simultâneo, o que levou algumas grandes empresas de calçados aintegrarem verticalmente a produção de alguns componentes em suas novasplantas no Nordeste. O desenvolvimento de produto, entretanto, é ainda realizado

18 Quantificação da Produção da Indústria Calçadista. Novo Hamburgo-RS: ASSINTECAL, abrilde 2001.

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no Sul, onde são maiores o domínio de técnicas e os ganhos de interação com osdemais segmentos e centros tecnológicos.

No gráfico a seguir, a distribuição, por Estado, da indústria de componentesrevela, mais uma vez, a predominância do Rio Grande do Sul. Em seguida, comaproximadamente 20% e 10%, respectivamente, situam-se os Estados de SãoPaulo e da Bahia. É interessante notar que a participação deste último Estado nosegmento de componentes supera folgadamente sua participação no segmentode calçados, conforme dados apresentados na próxima seção.

GRÁFICO 1TOTAL DE EMPRESAS POR ESTADO

106

5 739

5 5

557

17

205

0

100

200

300

400

500

600

mer

o d

e E

mp

resa

s

Estados

BA CE GO MG PR RJ RS SC SP

Fonte: ASSINTECAL

2.6 - CALÇADOS

2.6.1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE

A indústria brasileira de calçados é formada por 6.346 estabelecimentos,responsáveis pelo emprego formal de 211.582 pessoas, segundo dados doMinistério do Trabalho e Emprego relativos a 1999. Dada a presença demicroempresas, com intensiva utilização de trabalho familiar, e a terceirização deatividades do processo produtivo, pode-se dizer que o total de postos de trabalhodiretos na indústria calçadista supera consideravelmente esse montante, uma vezque os dados da RAIS-MTE restringem-se aos trabalhadores com carteiraassinada. A capacidade produtiva da indústria de calçado é estimada em cerca de600 milhões de pares calçados/ano, dos quais 70% são destinados ao mercadointerno e 30% à exportação. Vale notar que a demanda nacional é atendida quase

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que na totalidade pelos produtores locais, com pequeno volume de importações,cujo pico, no período de valorização do real, atingiu US$ 200 milhões.

Embora esteja presente em praticamente todos os Estados, com preponderância(mais de 1.000 empregados) em doze deles, destacam-se os do Rio Grande doSul – que concentra cerca de 40% da produção nacional de calçados e 80% dasexportações totais – e de São Paulo. Os Estados de Minas Gerais, Ceará,Paraíba, Bahia e Santa Catarina também apresentam uma importante produçãode calçados.

No contexto mundial, a indústria brasileira ocupa posição de destaque: é a 4ªmaior produtora e o 5ª maior mercado consumidor (Tabela 11). Sua importâncianas exportações é maior do que sugere a tabela abaixo, em decorrência do fatode Hong Kong ser efetivamente um re-exportador de calçados. Estima-se que oBrasil seja o quinto maior exportador, com perspectivas de disputar a terceiracolocação.

TABELA 11NÚMEROS DO MERCADO MUNDIAL (1999)

(em milhões de pares)

Produtores Exportadores ConsumidoresPaís Quantidade País Quantidade País Quantidade

China 5.930 China 3.426 China 2.506Índia 700 Hong Kong 970 EUA 1.727Indonésia 507 Itália 347 Índia 657Brasil 499 Vietnã 221 Japão 557Itália 318 Indonésia 217 Brasil 375

Fonte: SATRA

As exportações da indústria de calçados destacam-se na pauta de exportaçãobrasileira, correspondendo, em 2000, a 2,94% do total das exportações e 5% dototal das exportações de manufaturados. Com esse desempenho, o setor ocupoua quarta posição nas exportações de produtos manufaturados. No ano anterior,1999, o setor ocupava a segunda posição, atrás apenas das exportações deaviões. A participação do setor no total das exportações de manufaturados eraainda mais relevante ao longo da década de 80 e início de 90, oscilando entre 6%e 8% do total, o que lhe conferia a primeira colocação nas exportações dessegrupo de produtos. Contudo, a partir da edição do Plano Real, essa participaçãosofreu sensível queda, notadamente em função da política cambial adotada noPaís, combinada com o acirramento da concorrência imposta no mercadointernacional pelos produtores asiáticos. Após a desvalorização do real e umperíodo de reconquista de clientes externos, a indústria calçadista brasileira voltaa ampliar sua participação na pauta de exportações.

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Em que pese um desempenho favorável no número de pares vendidos, o valordas exportações cresceu significativamente nos últimos 20 anos, em decorrênciado aumento do valor médio dos calçados exportados, o que perdurou até 1997.

Esse posicionamento construído ao longo da década de 80 até meados dadécada de 90 encontra-se ameaçado por duas mudanças no mercadointernacional: a) a China passa a oferecer calçados de maior qualidade,concorrendo diretamente com os calçados brasileiros em seu principal mercado,os EUA; e b) o processo de terceirização da indústria italiana, passando a seutilizar dos baixos custos de mão-de-obra em países do leste europeu. Emconseqüência dessa concorrência, houve uma interrupção do crescimento dovalor médio do par exportado, tendo havido até uma pequena retração, entre1997 e 1998, antes da desvalorização cambial, o que indica uma reação positivada indústria brasileira, capaz de reduzir preços, frente ao ambiente de forteconcorrência do mercado externo. Após a desvalorização do real em 1999, aqueda do preço em dólar foi mais acentuada, como resultado de intensasnegociações com clientes externos. No ano 2000, em um ambiente mais estável,foi possível uma pequena recuperação no nível de preços.

GRÁFICO 2EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DE EXPORTAÇÃO DO CALÇADO BRASILEIRO (US$/PAR)

Fonte: SECEX/DECEX

Com a abertura de mercado e valorização do real entre 1994 e 1998, o padrão deconcorrência do mercado internacional transferiu-se, em alguma medida, para omercado interno, que passou a receber produtos provenientes do sudesteasiático. Essa mudança na concorrência interna promoveu alterações na estruturaprodutiva de calçados e artigos de couro, estando especialmente pressionada aprodução de bens de qualidade inferior, que competiam diretamente com osbaixos preços dos produtos importados. Nesse processo de restruturação, pode-se destacar como principais alterações na indústria, a) a redução do número deempresas; e b) a relocalização dos estabelecimentos na busca de menores

9,52

8,84

16,4815,9715,93

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

16,00

18,00

1996 1997 1998 1999 2000

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custos da mão-de-obra, assim como pelo apoio de políticas de desenvolvimentoregional.

Uma característica das exportações de calçados é a histórica concentração dosembarques para os Estados Unidos da América, secundados de longe por algunspaíses da Europa - Reino Unido, Alemanha e Países Baixos -, pelo Canadá e,mais recentemente, por alguns vizinhos da América Latina, especialmenteArgentina, Bolívia, Paraguai, Chile e Uruguai (Tabela 12). Essa característicatorna a indústria brasileira mais vulnerável às flutuações econômicas de umaúnica economia, no caso a americana. Esse problema torna-se mais evidente emum contexto de desaceleração da economia americana.

TABELA 12EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE CALÇADOS POR DESTINO (2000)

Países Valor(milhões US$) % Pares

(milhões)Preço médio(US$/pares)

EUA 1.081 66,85 101 10,7Argentina 129 7,98 23 5,61Reino Unido 111 6,86 8 13,88Alemanha 35 2,16 7 5Canadá 34 2,1 4 8,5Chile 22 1,36 3 7,33Paraguai 21 1,3 8 2,63Bolívia 18 1,11 3 6Países Baixos 16 0,99 2 8Uruguai 13 0,8 2 6,5Outros 137 8,47 27 5,07

TOTAL(102 países) 1.617 100 188 8,6

Fonte: SECEX/DECEX

A participação brasileira no valor total importado pelos Estados Unidos vemcaindo expressivamente nos últimos anos. Assim, de uma participação, emmédia, de 11% no período de 1990 a 1993, o calçado brasileiro caiu para menosde 7% em 1998, enquanto que, no mesmo período, o mercado cresceu cerca de50%. Nesse mesmo intervalo, os embarques da China, por exemplo, subiram de16% para 60% do total importado. A Tabela 13 apresenta a participação dosdiversos países exportadores nas importações americanas de calçados, assimcomo o preço médio por par. Pode-se perceber que a participação da China, novolume importado em pares, é de aproximadamente 80%. Esse montante resultaem 60% do valor importado por conta do menor preço médio obtido pelo calçadochinês.

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TABELA 13ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA: IMPORTAÇÕES DE CALÇADOS POR ORIGEM

PaísExportador

ValorUS$ milhões

(1998)%

Paresmilhões(1998)

Preço médioUS$

(1998)

Paresmilhões(1999)

China 9.315 60 1.247 7,47 1.367Itália 1.158 8 49 23,63 46Indonésia 1.068 7 103 10,37 79Brasil 1.020 7 83 12,29 85Tailândia 477 3 38 12,55 27Espanha 387 3 23 16,83 19México 263 2 42 6,26 37

Coréia do Sul 234 2 16 14,63 -

Reino Unido 231 1 7 33,00 -

Taiwan 176 1 17 10,35 -Outros 1.073 7 79 13,58 -Total 15.402 100 1.704 9,04 -

Fonte: Departamento de Comércio dos EUA e SATRA

O Brasil é reconhecido como exportador de calçados de couro para passeio,preponderantemente para o segmento feminino, embora ocorram embarques deoutros tipos, em menor volume (Tabela 14). É importante notar que essesegmento em que o Brasil mais se destaca é também aquele que apresenta maiorpreço médio por par exportado.

TABELA 14BRASIL - EXPORTAÇÕES DE CALÇADOS POR TIPO (2000)

Tipo Valor Pares Preço médioNCM (mil US$) % (Mil) (US$/ pares)6403.99.00 Couro Natural 1.019.958 66,41 98.945 10,316403.91.00 Cobre tornozelo 225.586 14,69 12.059 18,716403.59.00 Outros couros 77.762 5,06 4.808 16,176404.20.00 Matéria Têxtil 7.066 0,46 581 12,166402.99.00 Borracha/Plástico 93.031 6,06 15.016 6,206402.20.00 Sandálias/Tiras 32.243 2,10 11.228 2,876404.19.00 Matéria Têxtil 45.388 2,96 5.379 8,446401.99.00 Borracha s/ costura 9.926 0,65 7.226 1,37

Demais 24.843 1,62 6.027 4,126401 a 6405 1.535.803 100 161.269 9,526406 Partes de calçados 70.451 4,59 25.143 2,8064 TOTAL 1.606.254 186.412 8,62 (1)

Fonte: SECEX/DECEXNota (1) No calculo levou-se em consideração partes de calçados.

Outra característica marcante do setor é a elevada concentração dos embarquesem um pequeno número de empresas e, por outro lado, o elevado número depequenas e médias empresas que operam no mercado internacional (Tabela 15).

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Por isso, é digno de nota que aproximadamente 200 empresas exportaram menosde 10 mil dólares em 2000. Quando os dados de concentração das exportaçõessão comparados com anos anteriores, pode-se observar um aumento daparticipação da faixa de 100 mil a 1 milhão de dólares, que passou de 189empresas, em 1996, para 225 empresas, em 2000. Em contraposição, houvedecréscimo da participação da faixa de 10 a 25 milhões de dólares. Também éimportante notar que mais empresas passaram a exportar no período recente.Enquanto em 1996 700 empresas exportaram calçados, em 2000 esse númerosubiu para 821 empresas.

TABELA 15:BRASIL - DISTRIBUIÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE CALÇADOS POR EMPRESAS E FAIXA DE

EMBARQUE (2000)

Empresas Valor Exportado em 2000

Quantidades Participação %Faixa de Embarques1996 2000 1996 2000

US$ milhões %

Mais de US$ 50 milhões 6 6 0,9 0,7 453 28,0US$ 25 milhões a US$ 50 milhões 10 12 1,4 1,5 408 25,2

US$ 10 milhões a US$ 25 milhões 27 17 3,9 2,1 250 15,5US$ 5 milhões a US$ 10 milhões 26 29 3,7 3,5 208 12,9

US$ 1 milhão a US$ 5 milhões 93 83 13,3 10,1 202 12,5US$ 100 mil a US$ 1 milhão 189 225 27,0 27,4 86 5,3

US$ 50 mil a US$ 100 mil 72 75 10,3 9,1 5 0,3US$ 25 mil a US$ 50 mil 81 85 11,6 10,4 3 0,2

US$ 10 mil a US$ 25 mil 76 90 10,9 11,0 2 0,1Menor do que US$ 10 mil 120 199 17,1 24,2 1 0,1

TOTAL 700 821 100,0 100,0 1618 100,0Fonte: SECEX/DECEXNota: (1) inclui produtos da posição 6406 (partes de calçados)

2.6.2 - CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE

O setor de derivados de couro é composto principalmente , por empresas depequeno porte, com uma distribuição espacial distinta conforme o setor. No casode calçados, as empresas são regionalmente aglomeradas em algumas cidades,que caracterizam pólos de produção. A aglomeração permite a geração de mão-de-obra qualificada via learning by doing ou mesmo via treinamento formal emescolas do SENAI, como é o caso do Rio Grande do Sul e de São Paulo. OutrosEstados que apresentam pólos de produção são Minas Gerais, Santa Catarina,Ceará, Paraíba e Bahia. Em contraposição, no caso de artigos de couro, aprodução é mais dispersa, concentrando-se mais perto dos principais mercadosconsumidores: Rio de Janeiro e São Paulo. Essa característica da distribuiçãoespacial da produção é um dos fatores que explica a maior competitividade do

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segmento de calçados frente ao de artigos de couro, evidente no desempenhoexportador de cada segmento.

Uma estratégia marcante da indústria calçadista é a relocalização, motivada pormenores custos de mão-de-obra e políticas de desenvolvimento regional. Aimplicação desse movimento sobre o setor é a redução de custos, uma imposiçãodo contexto do comércio internacional de calçados. A partir de 1998, novos pólospassaram a ser formados (Ceará, Paraíba, Pernambuco, Goiás, Mato Grosso eBahia), com indicações de formação de conglomerados e boas condições deaproveitamento da mão-de-obra disponível nessas regiões. Os dados da RAIS-MTE (Tabela 16) revelam importantes características desse movimento, como aperda de participação do Rio Grande do Sul e de São Paulo − embora aindaliderem folgadamente a lista dos principais empregadores. Os setores maissujeitos à relocalização são os de calçados de plástico e de outros materiais, nosquais as vantagens comparativas dos pólos do Vale dos Sinos e de Franca sãomenores. Além disso, a relocalização tem sido mais adotada pelas grandesempresas, o que implicou em um maior tamanho médio de empresas nos Estadosdo Nordeste. Portanto, há sinais de que os novos pólos de produção são bastantediferentes dos antigos, seja em perfil de produto, seja em perfil de empresa.

Há duas possíveis explicações para essa diferente configuração da indústrianordestina. De um lado, as grandes empresas mostram-se mais sensíveis àspolíticas de desenvolvimento regional − um dos motivos que têm estimulado arelocalização das empresas. Assim, explica-se porque o perfil das empresasoperantes no NE, região que tem implementado políticas regionais de atração deinvestimentos no setor calçadista, é de maior porte. De outro lado, a maiorpresença de calçados de plásticos e de outros materiais decorre da importânciada formação de aglomerações de empresas para a competitividade do segmentode calçados de couro. Os pólos de produção do Nordeste são menos complexosque os do Sul e Sudeste, não constituindo propriamente aglomerações deempresas correlatas. Como conseqüência, há uma desvantagem relativa daRegião no segmento de calçados de couro, principalmente pela menordisponibilidade de couro acabado em just in time e relações com as indústrias demáquinas e componentes. Esse limite não é da mesma magnitude no segmentode outros materiais, beneficiando-se a região nordestina da presença do pólopetroquímico de Camaçari. É possível prever o cenário de aumento da produçãode derivados de couro no NE, com o progressivo estabelecimento deaglomerações de empresas ligadas ao couro, principalmente no Ceará, Bahia eParaíba. Esse movimento já é visível nos investimentos de grandes curtumes,como a Bracol, em estabelecimentos de alto conteúdo tecnológico na Região.

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TABELA 16BRASIL- NÚMERO DE EMPREGOS SEGUNDO SEGMENTOS DA INDÚSTRIA DE CALÇADOS E

ESTABELECIMENTOS POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO – 1999

Número de empregos formais nos ramos da ind. decalçados

Couro Tênis PlásticoOutros

Materiais Total

% noemprego

Estabeleci-mentos

Nº médio deempregados

porestabelecimen-

to

Rio Grandedo Sul

97.006 2.524 905 7.199 107.634 51,62 2.119 50,79

São Paulo 22.850 6.556 3.104 8.556 41.066 19,69 1.899 21,63Ceará 8.864 22 10.864 1.234 20.984 10,06 162 129,53

Minas Gerais 6.231 3.414 117 3.981 13.743 6,59 1.166 11,79Paraíba 1.047 1.611 94 4.949 7.701 3,69 85 90,60SantaCatarina

2.839 6 0 373 3.218 1,54 226 14,24

Pernambuco 402 0 32 1.876 2.310 1,11 32 72,19Bahia 4.728 30 47 160 4.965 2,38 71 69,93Espírito Santo 373 486 0 574 1.433 0,69 37 38,73Paraná 853 12 5 293 1.163 0,56 159 7,31Rio deJaneiro

369 11 5 651 1.036 0,50 88 11,77

Rio Grandedo Norte

1.282 0 16 3 1.301 0,62 15 86,73

Goiás 632 0 4 119 755 0,36 112 6,74Sergipe 710 0 0 0 710 0,34 9 78,89Outros 294 26 133 38 491 0,24 73 6,73Total 148.480 14.698 15.326 30.006 208.510 100,0 6.253 33,35

Fonte: RAIS-MTE

No que se refere às ferramentas de gestão, há necessidade de aperfeiçoamentodo marketing, em consolidação da marca e em canais de distribuição. Embora oproduto brasileiro goze de reputação, suas vendas são freqüentemente FOB,sendo a marca utilizada para a venda no exterior de propriedade e controle doimportador. Esse é um importante segmento de mercado que pode ser explorado,mas o Brasil pode almejar adentrar mais nos segmentos que exijamestabelecimento de marca, uma vez que domina a tecnologia e pode produzir acustos competitivos. O principal movimento da década, na área dedesenvolvimento de produto, atesta a passividade do setor em termos demarketing. Como uma das principais vantagens comparativas do Brasil é adisponibilidade de matéria-prima a baixos custos, o perfil da produção paraexportação vem se voltando para produtos mais intensivos em matéria-prima eprocessamento. Comparativamente, as atividades de design e marketing sãorelativamente menos exploradas.

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2.7 - ARTIGOS DE COURO

2.7.1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS E DESEMPENHO RECENTE

A indústria de artigos de couro (artigos de viagem, artefatos de couro, vestuário,luvas, cintos e acessórios de couro) no Brasil ocupa a posição final na cadeiaprodutiva de couro e derivados, sendo composta, segundo dados da RAIS-MTE,por 2.298 estabelecimentos que geram 26.641 empregos formais.Aproximadamente 70% do emprego ocorre em empresas de micro e pequenoportes, sendo que as primeiras correspondem a 88,4% dos estabelecimentos.Portanto, embora haja grandes empresas, há predomínio absoluto demicroempresas.

Entre as tendências de mercado que envolvem o setor de couro e derivados, umadas mais evidentes é o crescimento do uso de materiais substitutos. Essatendência é mais fortemente observada no segmento artigos de couro do que nosegmento de calçados, em que as características técnicas e estéticas do couromostram-se mais fundamentais.

O desempenho exportador do setor é ainda pouco expressivo, atingindo cerca de60 milhões de dólares anuais. Em contraposição, houve, na segunda metade dadécada de 90, apesar de problemas cambiais, uma elevação das exportaçõesdesse segmento. É considerado que, dado o domínio da tecnologia,disponibilidade de mão-de-obra e de matéria-prima, o potencial exportador dosetor de artigos de couro é relativamente pouco explorado.

Uma análise mais detalhada do setor de artigos de couro, dividido em diversoscomponentes, conforme a Tabela 17, indica três aspectos relevantes docomportamento das exportações e importações nos últimos três anos:

1. o aumento do saldo comercial do setor, decorrente , em especia,l da queda dasimportações após a desvalorização do real, em 1999;

2. os segmentos com o melhor desempenho de comércio exterior são o de“outros artigos de couro” e de luvas;

3. a desvalorização cambial de 1999 não se traduziu em aumento significativo dasexportações, o que pode significar que o preço não é a variável mais relevantepara a exploração do mercado externo neste segmento.

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Tabela 17

EVOLUÇÃO DA BALANÇA COMERCIAL DE ARTIGOS DE COURO POR TIPO

(Em US$ 1.000)

1998 1999 2000Item Exp. Imp. Saldo Exp. Imp. Saldo Exp. Imp. SaldoBolsas (1) 2.210 24.025 (21.815) 1.754 15.576 (13.822) 3.140 16.028 (12.888)

Malas(2) 1.800 20.642 (18.842) 1.458 14.519 (13.061) 1.211 18.739 (17.528)

Luvas(3) 2.927 487 2.440 1.946 262 1.684 1.609 575 1.034

Vestuário eAcessórios (4) 1.280 6.511 (5.231) 1.266 2.999 (1.733) 637 2.519 (1.882)

Cintos(5) 157 1.349 (1.192) 241 422 (181) 460 646 (186)

Outros 49.576 15.590 33.986 53.648 10.476 43.172 52.024 7.456 44.568TOTAL do Cap 42 57.950 68.604 (10.654) 60.313 44.254 16.059 59.081 45.963 13.118

Fonte: SECEX/DECEX. ...Notas: (1) Valores correspondentes às seguintes NCM’s: 4202.21.00; 4202.29.00; 4202.31.00; 4242.32.00; 4202.22.20;

4202.22.10 e 4202.39.00.(2) Valores correspondentes às seguintes NCM’s: 4202.12.10; 4202.12.20; 4202.11.00 e 4202.19.00.(3) Valores correspondentes às seguintes NCM’s: 4203.29.00 e 4203.21.00.(4) Valores correspondentes às seguintes NCM’s: 4203.10.00 e 4203.40.00.(5) Valores correspondentes à seguinte NCM’: 4203.30.00.

Conforme demonstra a Tabela 17, a principal ruptura nos dados de comércioexterior do setor de artigos de couro, após a desvalorização do real, em janeiro de1999, foi a queda das importações. Essa queda possibilitou a reversão de umdéficit do setor, em 1998, para um superávit de US$ 13 milhões, em 2000.Entretanto, as exportações não foram impulsionadas, como seria de se esperar,dadas as novas condições de preços relativos. De um modo geral, essecomportamento decorre do fato de o setor ser predominantemente voltado aomercado interno. Assim, há uma tendência de crescimento da participaçãoexterna em períodos de maior retração do mercado interno, como foi o caso de1999. Em 2000, apesar da relação favorável de preços para o produto exportado,houve uma pequena retração das exportações.

A exemplo de calçados, as exportações brasileiras sofrem de uma excessivaconcentração para um único importador, os EUA. Conforme mostra a Tabela 18,EUA e Porto Rico (território sob administração americana) absorvem 78,1% dasexportações brasileiras, o que sujeita, em demasia, o desempenho exportador dosetor às flutuações econômicas e comerciais desse país.

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TABELA 18DESTINO DAS EXPORTAÇÕES DE ARTIGOS DE VIAGEM E ARTEFATOS DE COURO

(US$ 1.000)

Países 1996 % 1998 % 1999 % 2000 %

EUA21.009 50,63 37.110 64,04 41.766 69,25 38.209 64,67

PORTO RICO4619 11,13 6625 11,43 5.221 8,66 7.955 13,46

FRANÇA3570 8,60 3732 6,44 2.460 4,08 2.686 4,55

ARGENTINA1450 3,49 1263 2,18 1.557 2,58 2.220 3,76

ITALIA3184 7,67 3884 6,70 2.564 4,25 1.802 3,05

OUTROS7.661 18,46 5.336 9,21 6.745 11,18 6.209 10,51

TOTAL(75 PAISES EM 2000) 41.493 100 57.950 100 60.313 100 59.081 100

Fonte: SECEX/DECEX

2.7.2 - CONDICIONANTES DA COMPETITIVIDADE

Uma análise do ambiente institucional, principalmente quanto aos aspectosfiscais, revela que um dos principais entraves à competitividade do segmento deartigos de couro é o custo tributário, sendo os fabricantes desses produtos (cintos,roupas, bolsas, carteiras, etc.) afetados pela incidência de uma taxa de 10% doIPI, não incidente em calçados. Deve-se destacar que este é o único segmento devestuário sujeito à tributação pelo IPI.

A defasagem no processo de automação da indústria também é considerada umforte obstáculo à evolução da competitividade do segmento. Dentre as tecnologiasde automação utilizadas na indústria italiana de calçados e artigos de couro,destacam-se os equipamentos de corte a laser e a jato d’água, o Computer AidedDesign (CAD) e o Computer Aided Manufacturing (CAM). A adoção dessastecnologias é, porém, limitada pelo custo de aquisição dos equipamentos, - o querestringe seu uso a empresas de grande porte ou que, alternativamente,compartilhem o uso dos equipamentos. Tal situação gera reduções nas taxas deinvestimento em automação devido, principalmente à dificuldade de atendimentoàs condições de acesso a linhas de crédito por parte de micro e pequenasempresas.

Considerando a localização dos estabelecimentos do setor, a Tabela 19apresenta o número de empresas do segmento de artigos de couro no período de1994 a 1999, segundo dados da RAIS-MTE. Conforme pode ser observado, estesvalores encontram-se definidos para cada Estado, sendo as informaçõesclassificadas de acordo com dois grupos de estabelecimentos que se dedicam à:(1) produção de malas, bolsas, valises de couro e outros artigos para viagem; e(2) fabricação de artefatos diversos de couro.

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TABELA 19NÚMERO DE EMPRESAS POR ESTADOS

1994 1995 1996 1997 1998 1999Estado (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2)

RO 0 0 0 0 0 0 0 1 3 1 2 0AM 0 3 1 0 1 1 1 1 1 1 1 1PA 1 1 2 4 2 2 4 4 3 6 3 6

TO 1 0 0 1 0 1 0 0 0 1 0 2

MA 0 2 0 0 0 0 1 1 1 2 2 1PI 0 0 0 2 1 1 1 0 2 0 4 0

CE 11 24 15 27 17 23 16 21 21 24 27 17

RN 2 1 3 1 5 1 6 1 6 0 5 0PB 2 5 10 16 7 17 8 14 7 16 10 12

PE 6 11 5 17 9 17 13 10 13 9 18 11

AL 0 0 2 1 1 1 0 1 1 0 1 0SE 0 1 0 2 1 2 3 1 1 2 1 2

BA 12 8 19 17 25 19 22 25 21 26 34 28

MG 98 126 117 167 112 173 115 164 128 159 123 161ES 4 8 6 8 7 8 11 10 13 9 14 8

RJ 99 97 112 99 116 98 103 92 105 84 99 72

SP 308 438 339 480 312 490 298 498 273 494 254 462PR 42 68 49 85 52 77 73 85 77 93 87 92

SC 23 42 22 43 16 42 21 50 26 51 35 69

RS 106 279 122 253 128 258 139 318 151 353 170 367MS 2 7 4 6 3 7 4 6 7 7 8 8

MT 1 6 2 4 1 7 2 3 3 6 3 5

GO 7 25 13 34 12 38 19 39 20 43 19 48DF 1 2 2 4 4 2 4 2 5 3 4 2

Total 728 1.155 846 1.273 833 1.285 865 1.347 888 1.391 924 1.374Fonte: RAIS-MTE(1) Fabricação de malas, valises e outros artigos para viagem(2) Fabricação de artefatos diversos de couros e peles

Analisando os dados, observa-se que, durante o período em tela, a maior partedas empresas de ambos os sub-setores (malas e artefatos diversos)encontravam-se localizadas, basicamente , em cinco Estados brasileiros: SãoPaulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro. Tomandocomo base para a análise apenas o ano de 1999, conclui-se que a maioria dasempresas (aproximadamente 54,6%) encontra-se localizada nos Estados de SãoPaulo e do Rio Grande do Sul, representando cerca de 31,2% e 23,4% do valortotal das empresas, respectivamente. Em Minas Gerais, estão localizadas 12,4%das empresas, no Paraná 7,8% e, finalmente, no Rio de Janeiro encontram-seaproximadamente 7,4%. Na região Nordeste, em 1998, o Ceará e a Bahiarepresentaram 1,9% e 2,7% do número total de empresas de artigos de couro.Em relação ao número de empregados, segundo dados da RAIS-MTE (Tabela20), no segmento de malas e valises de couro, os Estados de São Paulo, Rio deJaneiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais possuem o maior número deempregados, sendo que os dois primeiros perfazem 57,9% do total. São Paulo,além de possuir o maior número de empregados, também possui o maior número

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de estabelecimentos. Portanto, a localização dessas empresas não estánecessariamente ligada à indústria de curtimento de couro, mas situa-se próximoao mercado consumidor doméstico. Desse modo, as economias de aglomeração,marcantes na indústria de calçados, não são verificadas na mesma magnitude naindústria de malas e valises de couro.

No segmento de outros artefatos de couro, os empregados estão maisconcentrados nos Estados do Rio Grande do Sul (40,2%), São Paulo (23,4%),Minas Gerais (13,5%) e Rio de Janeiro (6,6%). É observada alguma sinergiadesse segmento com o de calçados femininos na confecção de conjuntos, sendoesse um dos motivos que explica a sua localização dividida entre os pólos decalçados e o mercado consumidor nacional, que é a característica do segmentode malas e valises de couro.

TABELA 20NÚMERO DE EMPREGADOS POR UNIDADES DA FEDERAÇÃO (1999)

(no de empregados)

Estado Malas, bolsas eoutros artefatos

para viagem

(%) Fabricação deoutros artefatos

de couro

(%) Total (%)

Rondônia 2 0,0 0 0,0 2 0,0Acre 0 0,0 0 0,0 0 0,0Amazonas 3 0,0 4 0,0 7 0,0Roraima 0 0,0 0 0,0 0 0,0Para 37 0,3 41 0,3 78 0,3Tocantins 0 0,0 4 0,0 4 0,0Maranhão 92 0,8 8 0,1 100 0,4Piauí 8 0,1 0 0,0 8 0,0Ceara 334 2,8 98 0,7 432 1,6Rio Grande do Norte 23 0,2 0 0,0 23 0,1Paraíba 118 1,0 233 1,6 351 1,3Pernambuco 93 0,8 54 0,4 147 0,6Alagoas 4 0,0 0 0,0 4 0,0Sergipe 2 0,0 7 0,0 9 0,0Bahia 178 1,5 231 1,6 409 1,5Minas Gerais 813 6,9 2.010 13,5 2.823 10,6Espirito Santo 73 0,6 11 0,1 84 0,3Rio de Janeiro 3.224 27,3 974 6,6 4.198 15,8São Paulo 3.616 30,6 3.472 23,4 7.088 26,6Paraná 928 7,9 682 4,6 1.610 6,0Santa Catarina 143 1,2 634 4,3 777 2,9Rio Grande do Sul 1.912 16,2 5.962 40,2 7.874 29,6Mato Grosso do Sul 25 0,2 37 0,2 62 0,2Mato Grosso 17 0,1 12 0,1 29 0,1Goiás 143 1,2 357 2,4 500 1,9Distrito Federal 17 0,1 5 0,0 22 0,1Total 11.805 100,0 14.836 100,0 26.641 100,0

Fonte: RAIS-MTE