66
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS MG INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA (ICN) Camila Noronha de Oliveira Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no Córrego do Pântano no Município de Alfenas-MG Alfenas/MG 2011

Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS – MG

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA (ICN)

Camila Noronha de Oliveira

Diagnóstico Geomorfológico para fins de

Planejamento no Córrego do Pântano no

Município de Alfenas-MG

Alfenas/MG

2011

Page 2: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Camila Noronha de Oliveira

Diagnóstico Geomorfológico para fins de

Planejamento no Córrego do Pântano no

Município de Alfenas-MG

Trabalho de Conclusão de Curso,

apresentado como requisito para

obtenção do título de Bacharel em

Geografia pela Universidade Federal

de Alfenas (UNIFAL-MG).

Área de Concentração: Geomorfologia

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marta Felícia

Marujo Ferreira

Alfenas/MG

2011

Page 3: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Camila Noronha de Oliveira

Diagnóstico Geomorfológico para fins de

Planejamento no Córrego do Pântano no

Município de Alfenas-MG

A Banca examinadora abaixo assinada

aprova o Trabalho de Conclusão de

Curso apresentado como parte dos

requisitos para aprovação na disciplina

de Trabalho de Conclusão de Curso II

e obtenção do título de Bacharel em

Geografia pela Universidade Federal

de Alfenas (UNIFAL-MG).

Prof.ª Dr.ª Marta Felícia Marujo Ferreira Assinatura:

Universidade Federal de Alfenas

Prof. Dr. Paulo Henrique de Souza Assinatura:

Universidade Federal de Alfenas

Prof. Dr. Lineo Aparecido Gaspar Júnior Assinatura:

Universidade Federal de Alfenas

Page 4: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Dedico este trabalho a todos os cidadãos que

vivem próximos a microbacia do Córrego do

Pântano, em especial àqueles que habitam as

piores condições de moradia. Torço para que

haja uma intervenção efetiva e remediadora

nessa situação.

Page 5: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Agradecimentos

Agradeço inicialmente ao meu Pai Celeste, por ter dado a mim a oportunidade de cursar uma

faculdade, além de poder conhecer e conviver com professores e mestres que a cada ano,

através de seus ensinamentos e experiências despertaram em mim a curiosidade, o interesse

pelos estudos e pelo desenvolvimento do meu senso-crítico.

Agradeço a Ciência Geográfica, por todos aqueles que fazem dela um TODO, conciliando

sociedade-meio ambiente e suas modificações no espaço. Uma ciência completa que só

aqueles que buscam solucionar os problemas sociais e ambientais, bem como questionar e

fazer levantamentos sobre tais problemas, possuir visão crítica nos aspectos sociais,

econômicos, políticos, ambientais e culturais. Ser geógrafo é fazer a mudança e começar por

si mesmo. “É pesquisar, descrever, analisar, correlacionar, interpretar, refletir e ensinar

respeitando a vida, a natureza e a sociedade, não como coisas e seres desfrutáveis, mas como

seres dignos de respeito, como semelhantes. Ver cada coisa com importância e cada coisa

como parte de um todo” (Autor Desconhecido).

Agradeço a minha família, em especial meus pais, Viviane e Samuel que sempre se

esforçaram para que eu e minha irmã Ana Cecília, tivéssemos contatos com boas escolas,

livros e conhecimentos. Sem dúvida alguma esse incentivo nos define muito bem como

pessoas dedicadas e com o propósito de sempre continuar aprendendo cada vez mais.

Por fim agradeço a colaboração de pessoas como Marcos César Ferreira, Guilherme Otávio

Gallo e a minha orientadora Marta Felícia Marújo Ferreira, por compartilharem comigo

conhecimento técnico, científico e profissional. As minhas amigas, Diely, Laura e Paulinha

pelos ensinamentos trocados durante a elaboração dessa pesquisa. A minha República

“Geolátras”, Ana Luiza, Ana Paula, Ana Lia, Diely, Mária, Mayara e as “agregadas” Carla,

Christiany, Laura, Luciana, Natália e Sara pelos momentos de descontração, troca de

informações, desabafo, carinho e por terem tido comigo paciência nos meus momentos de

stress e nervosismo. A República “Bilisca Égua” e “Bala Chita”, por permitir momentos de

alegrias e principalmente de descontração nessa etapa final. Enfim, vocês todos foram

importantes ao longo desses quatro anos da minha vida e contribuíram de uma forma ou outra

para que essa pesquisa se concretizasse.

Page 6: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

“Nada é permanente além da mudança”

Heráclito, 540-480 a.C.

“A mudança começa por mim mesmo que, como motor e reflexo, crio

o futuro no presente e o coletivo no pessoal em processo dialético. A

pureza desse futuro reluz na pureza dos meios imediatos escolhidos

para realizá-lo aqui e agora”.

Leonardo Boff

Page 7: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Lista de Figuras

Figura 1- Componentes das Vertentes......................................................................................23

Figura 2 - Dois tipos de terraços A - Terraço embutido; B – Terraço encaixado..................25

Figura 3 - Localização do Município de Alfenas-MG.............................................................28

Figura 4 A - Córrego do Pântano..............................................................................................29

Figura 4 B - Córrego do Pântano..............................................................................................29

.

Figura 5 - Bacia Hidrográfica de Alfenas-MG.......................................................................30

Figura 6 - Série de peneiras de abertura de malhas conhecidas.............................................32

Figura 7 A - Aparelho Casagrande..........................................................................................33

Figura 7 B- Aparelho Casagrande .........................................................................................33

Figura 8 - Determinação do limite de plasticidade.................................................................34

Figura 9 - Predomínio dos relevos colinosos com topos tabulares e convexos....................35

Figura 10A - Retilinização do Córrego do Pântano................................................................36

Figura 10B - Retilinização do Córrego do Pântano................................................................36

Figura 11 - Mapa de uso do solo, Córrego do Pântano, Alfenas – MG.................................40

Figura 12 - Mapa da Expansão Urbana de Alfenas no período de 1987-

2008........................................................................................................................................41

Page 8: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Figura 13 - Rampa coluvionar com intenso processo de pedogênese associada a sulcos

erosivos e ravinas....................................................................................................................56

Figura 14 - Anfiteatro de erosão preservado associado

a fragmento florestal.................................................................................................................57

Figura 15 - Planície do córrego do Pântano mostrando a ocorrência de material

argiloso......................................................................................................................................58

Figura 16 - Trecho a jusante da Microbacia mostrando fundos de vale chato

com planície de acumulação aluvionar....................................................................................58

Figura 17 - Margem direita abrupta com terraços fluviais associados a

deslizamentos............................................................................................................................60

Figura 18 - Na margem direita do córrego do Pântano ocorrem terraços associados à

margem abrupta. Margem esquerda, rampas coluvionares pedogeneizadas..........................60

Figura 19 – Mapa Morfodinâmico da Microbacia do Córrego do Pântano............................61

Figura 20 – Mapa de Classificação do Uso do Terreno..........................................................64

Page 9: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Lista de Tabela

Tabela 1 - Material cartográfico utilizado na pesquisa............................................31

Tabela 2 - Análise das Áreas de Topo....................................................................42

Tabela 3 - Análise das Vertentes............................................................................42

Tabela 4 - Análise da Rampa de Colúvio...............................................................43

Tabela 5 - Análise dos Terraços..............................................................................43

Tabela 6 - Análise Planície de Inundação..............................................................43

Tabela 7 - Análise de Anfiteatro de Erosão...........................................................44

Tabelo 8 - Escala Granulométrica..........................................................................45

Tabela 9 - Resultados Finais da Análise Granulométrica......................................45

Tabela 10 – Análise LL. das Vertentes..................................................................46

Tabela 11 – Análise LL. da Área de Topo.............................................................47

Tabela 12 - Análise LL. Rampa de Colúvio..........................................................48

Tabela 13 - Análise LL. Planície de Inundação....................................................49

Tabela 14 - Análise LL. Anfiteatro de Erosão......................................................50

Tabela 15 - Análise LL. de Terraço......................................................................51

Tabela 16 - Análise LP. Vertente..........................................................................52

Page 10: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Tabela 17 - Análise LP. Área de Topo..................................................................52

Tabela 18 - Análise LP. Rampa de Colúvio...........................................................53

Tabela 19 - Análise LP. Planície de Inundação.....................................................53

Tabela 20 – Análise LP. Anfiteatro de Erosão.......................................................54

Tabela 21 – Análise LP. Terraço...........................................................................54

Tabela 22 - Classificação Geomorfológica............................................................63

Page 11: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Curvas Granulométricas das Amostras........................................................44

Gráfico 2 - Análise das Vertentes................................................................................46

Gráfico 3 - Análise da Área de Topo...........................................................................47

Gráfico 4 - Análise Rampa de Colúvio........................................................................48

Gráfico 5 - Análise de Planície de Inundação.............................................................49

Gráfico 6 - Análise Anfiteatro de Erosão....................................................................50

Gráfico 7 - Análise de Terraço.....................................................................................51

Page 12: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Resumo

A geomorfologia se constitui em ferramenta de fundamental importância para o planejamento

urbano, considerando o intenso processo de uso e ocupação em áreas de expansão urbana que

estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à

microbacia do Córrego do Pântano, localizado no município de Alfenas-MG, sul do estado de

Minas Gerais. Esta microbacia é composta por um sistema de drenagem que tem o córrego do

Pântano como coletor principal e afluentes, os quais sofrem grande alteração antropogênica.

Esse trabalho tem como objetivo geral apresentar uma classificação geomorfológica de

aptidão para o planejamento e desenvolvimento urbano, bem como sugerir uma reordenação

da ocupação do Córrego do Pântano a partir do diagnóstico dos compartimentos

geomorfológicos mapeados. Os procedimentos metodológicos adotados no trabalho seguem

as etapas: levantamento bibliográfico, elaboração do mapeamento geomorfológico e trabalhos

de campo. A metodologia proposta está baseada em estudos desenvolvidos por Modenesi-

Gauttieri e Hiruma (2004) no Planalto de Campos do Jordão. O uso e ocupação dessa área

podem ser caracterizados pela presença de área urbana consolidada, área rural, distrito

industrial, aterro sanitário, plantio de culturas agrícolas e pastagem. Como consequência,

ocorrem inúmeros problemas ambientais, como assoreamento do córrego, contaminação da

água, desmatamento, depósitos tecnogênicos, expansão urbana sem planejamento, dentre

outros. A partir do mapeamento dos compartimentos geomorfológicos identificados na

microbacia, tais como, tipos de vertentes, várzeas, terraços, taludes artificiais, depósitos

coluvionares, interflúvios principais e secundários e as áreas de topo, foi possível elaborar um

mapa apontando o grau de estabilidade e aptidão dos compartimentos para o desenvolvimento

urbano. Foram definidas três classes de aptidão: áreas favoráveis à ocupação urbana, área de

uso exclusivo e área de preservação, com diferentes aptidões para o desenvolvimento das

atividades antrópicas.

Palavras-Chave: geomorfologia; expansão urbana; uso do solo; diagnóstico ambiental.

Page 13: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Abstract

The geomorphology constitutes very important tool for urban planning, considering the

intense process of occupation and use of urban expansion in areas that are susceptible to

environmental degradation. The present work aims to study the watershed of the Swamp

Creek, located in Alfenas-MG, the southern state of Minas Gerais. This watershed is

composed of a drainage system that has the stream as a main collector Swamp and its

tributaries, which undergo major change anthropogenic. This paper aims to present an overall

geomorphological classification of suitability for urban planning and development, and

suggest a reordering of the occupation of the Marsh Creek from the diagnosis of compartment

geomorphological map. The methodological procedures adopted in the work follow the steps:

literature review, preparation of geomorphological mapping and field work. The proposed

methodology is based on studies by Modenesi-Gauttieri and Hiruma (2004) on the plateau of

Campos do Jordao. The use and occupation of this area can be characterized by the presence

of consolidated urban area, rural area, the industrial landfill, planting crops and pasture. As a

result, there are numerous environmental problems such as stream sedimentation, water

pollution, deforestation, technogenic deposits, unplanned urban sprawl, among others. From

the geomorphological mapping identified the compartments in the watershed, such as types of

slopes, floodplains, terraces, artificial slopes, colluvial deposits, interfluves and main and

secondary areas of top, it was possible to draw a map indicating the degree of stability and

fitness magazines for urban development. We have defined three fitness classes: urban areas

in favor of the occupation, area of exclusive use and conservation area, with different skills to

the development of human activities.

Keywords: geomorphology, urban sprawl, land use, environmental diagnosis.

Page 14: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

SUMÁRIO

1.0 Introdução e Justificativa .................................................................................................... 15

2. Revisão da Literatura ............................................................................................................ 17

2.1 A geomorfologia e sua contribuição para o planejamento ............................................. 17

2.1.1 O conceito de planejamento .................................................................................... 17

2.1.2 Geomorfologia e Planejamento ............................................................................... 18

2.1.3 O Conceito de Microbacia ....................................................................................... 19

2.1.4 Fatores do meio físico necessário ao planejamento................................................. 20

2.2 Classificação Geomorfológica ........................................................................................ 26

3. Materiais e Métodos ............................................................................................................. 26

3.1. Materiais ........................................................................................................................ 26

3.1.1. Área de Estudo ....................................................................................................... 26

3.1.2 Material Bibliográfico e Cartográfico ..................................................................... 26

3.2. Procedimentos Metodológicos ...................................................................................... 30

4.0 Resultados e Discussão ....................................................................................................... 43

4.1 – Córrego do Pântano no município de Alfenas-MG ..................................................... 43

4.2 Análises de Plasticidade e Granulometria dos Solos ...................................................... 50

4.2.1 Resultados e Discussão da Análise Granulométrica ............................................... 50

4.2.2 Resultados e Discussão da Análise de Plasticidade ................................................ 54

4.2.3.Resultados e Discussão da Análise de Plasticidade ................................................ 60

4.3 As Unidades-Diagnóstico ............................................................................................... 63

5.0 Considerações Finais .......................................................................................................... 64

6.0 Referências Bibliográficas .................................................................................................. 65

Page 15: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

1.0 Introdução e Justificativa

A geomorfologia compreende os estudos voltados para os aspectos morfológicos da

topografia, os materiais que os constituem e os processos morfogenéticos, responsáveis pela

sua dinâmica, funcionamento e geração de feições esculturais das paisagens topográficas.

Assim, o modelado terrestre deve ser compreendido como condicionante para as atividades

humanas e organizações espaciais. As feições topográficas e os processos morfogenéticos

atuantes em uma determinada área possuem papel relevante para as categorias de uso do solo,

tanto em atividades agrícolas como em atividades urbano-industriais (CHRISTOFOLETTI,

2001).

Os projetos de planejamentos são relacionados com as atividades de tomadas de

decisão. Gómez Orea (1978) considera o planejamento como um processo racional de tomada

de decisões, o qual implica uma reflexão sobre as condições sociais, econômicas e ambientais

que devem orientar qualquer ação e decisão futura. Utilizando como base a tomada de

decisão, os planejamentos separam a organização do próprio processo de tomada de decisão

das atividades relacionadas à produção de resultados (planos, programas e projetos). Outro

aspecto do planejamento é o fato de sempre envolver a questão espacial, pois ele incide na

implementação de atividades em espaços determinados. Constitui um processo que repercute

nas características, funcionamento e dinâmica das organizações espaciais

(CHRISTOFOLETTI, 2001).

A geomorfologia aprimora o conhecimento sobre características e processos dos

geossistemas, visando conhecer a estabilidade e a resiliência. Assim, pode prever quanto o

sistema suportará ao sofrer a ação antrópica. Deve-se também desenvolver o conhecimento

sobre elementos componentes do geossistema, e perceber a relação entre eles e os elementos

do sistema ambiental ou sua relevância para as atividades humanas (CHRISTOFOLETTI,

2001)

Nesse trabalho de conclusão de curso o sistema a ser investigado é a microbacia do

Córrego do Pântano, localizado no município de Alfenas, sul do estado de Minas Gerais. A

bacia hidrográfica pode ser considerada uma unidade ideal de planejamento, onde é possível

estudar as inter-relações existentes entre os diversos elementos da paisagem e os processos

que atuam na sua esculturação. O córrego de Pântano é considerado o de maior intensidade de

alteração antrópica. O uso e ocupação dessa área podem ser caracterizados pela presença de

área urbana, área rural, distrito industrial, aterro sanitário, plantio de culturas agrícolas e

pastagem. Como consequência, ocorrem inúmeros problemas ambientais, como assoreamento

15

Page 16: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

do córrego, contaminação da água, desmatamento, depósitos tecnogênicos, expansão urbana

sem planejamento, dentre outros. A partir dos compartimentos geomorfológicos identificados

no Córrego do Pântano, colinas amplas e interflúvios principais e secundários e a forma dos

topos, foi possível a individualização de unidades dinâmicas da paisagem, caracterizadas por

forma, materiais, solos, vegetação e processos próprios, que se constituem a base do

diagnóstico geomorfológico.

Assim, algumas unidades - diagnóstico foram definidas, cada uma com aptidões

específicas quanto aos riscos associados às atividades antrópicas. Essas unidades foram

agrupadas em três classes, de acordo com a vulnerabilidade aos processos erosivos e

adequação à ocupação.

Vários autores têm destacado a importância dos estudos relacionando diagnósticos das

condições ambientais, contribuindo para orientar o assentamento das atividades humanas a

fim de aplicar projetos de planejamento urbano (MODENESI, 2004) e (GUERRA; SILVA;

BOTELHO, 2007).

Esse trabalho teve como objetivo geral apresentar uma classificação geomorfológica

de aptidão para o planejamento e desenvolvimento urbano, bem como preservar os recursos

naturais e sugerir uma reordenação da ocupação do Córrego do Pântano a partir das unidades

geomorfológicas mapeadas. Como objetivo específico, deve-se descrever o diagnóstico

geomorfológico da microbacia do Córrego do Pântano, caracterizando tipos de vertentes,

várzeas, terraços, anfiteatro de erosão, depósitos coluvionares, interflúvios principais e

secundários e áreas de topo. Cada uma dessas unidades será caracterizada por combinações

específicas de topografia e formas, substrato, processos atuantes e cobertura vegetal; realizar a

classificação geomorfológica da aptidão para o desenvolvimento da microbacia conforme o

grau de estabilidade e susceptibilidade aos processos erosivos, em três classes, áreas

favoráveis à ocupação urbana, área de uso exclusivo e área de preservação, com diferentes

aptidões para o desenvolvimento das atividades antrópicas.

16

Page 17: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

2. Revisão da Literatura

2.1 A geomorfologia e sua contribuição para o planejamento

2.1.1 O conceito de planejamento

Planejamento é um processo racional de tomada de decisões, o qual implica

necessariamente uma reflexão sobre as condições sociais, econômicas e ambientais que

orientam qualquer ação e decisão futura. Ou ainda uma proposta e implantação de medidas

para melhorar a qualidade de vida presente e futura dos seres humanos, através da preservação

e do melhoramento do meio ambiente. O planejamento ambiental assim como o territorial

pode ser definido como uma atividade intelectual por meio da qual se analisam os fatores

físico-naturais, econômicos, sociológicos e políticos de uma zona e se estabelecem as formas

de uso do território e de seus recursos na área considerada. Por fim, pode ser também

considerado como uma tarefa de identificar, conceber e influenciar decisões sobre a atividade

econômica, de forma que esta não reduza a produtividade dos sistemas naturais nem a

qualidade ambiental. (GUERRA e MARÇAL 2006).

Percebe-se então, que o conceito de planejamento ambiental é bastante amplo.

Segundo Almeida (1993) é possível identificar duas linhas principais do processo de

planejamento: a linha de demanda, na qual o “planejamento ambiental consiste em um grupo

de metodologias e procedimentos para avaliar as consequências ambientais de uma ação

proposta e identificar possíveis alternativas a esta ação”; e a linha de oferta, onde existe “um

conjunto de metodologias e procedimentos” que avalia as contraposições entre as aptidões e

usos dos territórios a serem planejados.

Desse modo, percebe-se que o termo planejamento ambiental é utilizado de forma

abrangente podendo ser usado para definir todo e qualquer projeto de planejamento de uma

determinada área que leve em consideração fatores físico-naturais e socioeconômicos. O

estudo a partir destes fatores é fundamental para a avaliação das possibilidades de uso do

território e/ou dos recursos naturais, ainda que haja, de acordo com os objetivos e

metodologias de cada projeto, a ênfase em determinado fator.

17

Page 18: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

2.1.2 Geomorfologia e Planejamento

Várias são as possibilidades de se aplicarem os conhecimentos geomorfológicos no

planejamento, e o geomorfólogo pode fornecer técnicas de pesquisa e conhecimentos sobre a

superfície da Terra. Esses conhecimentos relacionam-se às formas de relevo e aos processos

associados, de tal maneira que essas informações sejam vitais para o Planejamento, no sentido

de prevenir contra a ocorrência de catástrofes e danos ambientais. Além disso, os

conhecimentos geomorfológicos podem também auxiliar no desenvolvimento sustentável de

uma porção da superfície terrestre, reduzindo bastante as consequências negativas do

crescimento urbano, por exemplo. Ao estudarem a forma dos relevos e os processos

associados da superfície terrestre, devem estar atentos sobre qualquer atividade humana que

modifique a forma do terreno, induza à movimentação de materiais ou possa alterar a

quantidade e qualidade das águas interessadas a eles. (ROSS, 2005).

Uma interação efetiva requer atenção, por parte tanto dos geomorfólogos quanto dos

planejadores, dos conhecimentos oferecidos pela Geomorfologia, bem como de estruturas de

políticas públicas estabelecidas pelos planejadores (GUERRA e MARÇAL, 2006). As

políticas públicas são implementadas através de uma série de medidas, como legislação e

regulamentos, bem como através de incentivos fiscais.

As mudanças ambientais devidas às atividades humanas sempre aconteceram, mas

atualmente as taxas dessas mudanças são cada vez maiores, e a capacidade da sociedade em

modificar as paisagens também tem aumentado bastante. A combinação do crescimento

populacional com a ocupação de novas áreas, assim como a exploração de novos recursos

naturais, tem causado uma pressão cada vez maior sobre o meio físico. A combinação desses

fatores com o maior conhecimento dos processos geomorfológicos e dos materiais existentes

na superfície terrestre tem refletido também na maior preocupação por parte dos

pesquisadores. Assim, Rodrigues (2007) ressalta que é fundamental compreender as ações

humanas na superfície terrestre como ações de natureza geomorfológica, o que implica em

considerar as próprias ações humanas como ação que intervêm direta e indiretamente nas

formas, nos materiais superficiais e nos processos.

A ocupação de encostas, planícies fluviais, áreas costeiras, entre outras, envolve o

diagnóstico e prognóstico geomorfológico, com a finalidade de evitar enchentes,

deslizamentos, erosão de áreas costeiras, que sempre causam prejuízos e algumas vezes,

perdas de vida humanas. Nesse sentido, os geomorfólogos têm, cada vez mais, compreendidos

a importância dos seus levantamentos e estudos, com a finalidade de proporcionar uma

18

Page 19: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

ocupação mais segura e permanente nas diversas partes da superfície terrestre. Desse modo,

danos ambientais tornam-se cada vez mais raros, bem como a qualidade de vida, na maioria

das vezes é assegurada.

Diversos pesquisadores do mundo inteiro e também do Brasil, têm enfatizado a

importância da Geomorfologia. Assim, Christofoletti (2005) destaca que “planejamento

sempre envolve a questão da espacialidade, pois incide na implementação de atividades em

determinado território, constituindo um processo que repercute nas características,

funcionamento e dinâmica das organizações espaciais”. Dessa forma, o autor aponta também

que devem ser levados em consideração os aspectos dos sistemas ambientais físicos

(geossistemas), bem como os sistemas socioeconômicos.

Portanto, a geomorfologia aprimora o conhecimento sobre características e processo

dos geossistemas, visando conhecer a estabilidade e a resiliência, podendo assim, prever

quanto o sistema suportará ao sofrer a ação antrópica. Deve-se também, desenvolver o

conhecimento sobre elementos componentes do geossistema, e perceber a relação entre eles e

os elementos do sistema ambiental ou sua relevância para as atividades humanas

(CHRISTOFOLETTI, 2005).

2.1.3 O Conceito de Microbacia

O conceito de microbacia vem sendo cada vez mais utilizado e citado em livros e

artigos, principalmente por profissionais envolvidos com projetos de planejamento.

Entretanto, nota-se ainda a ausência de uma conceituação e de consenso, não só na sua

definição, como também no seu uso. Isso pode ser explicado ao próprio conceito de bacia

hidrográfica e de sub-bacia que acabam por inibir a construção de um conceito formal para

microbacia hidrográfica e sua utilização (GUERRA; SILVA; BOTELHO, 2007).

Sabe-se que uma bacia hidrográfica, além de poder estar inserida em outras de maior

tamanho, pode ainda, conter um número variado de outras bacias menores, chamadas sub-

bacias. Então, qual seria a diferença entre sub-bacia e microbacia? A criação do Programa

Nacional de Microbacia Hidrográfica (PNMH), através do Decreto-Lei nº 94.076, de 05 de

março de 1987, expandiu o uso do termo, que foi definido como sendo uma área drenada por

um curso d’água e seus afluentes, a montante de uma determinada seção transversal, para qual

convergem às águas que drenam a área considerada. Tal conceituação não difere em nada do

conceito de bacia hidrográfica.

19

Page 20: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Acredita-se que o conceito de microbacia esteja fortemente relacionado aos projetos de

planejamento e conservação ambiental e que, para sua definição, deve-se acrescentar a própria

conceituação de bacia hidrográfica a condição de estabelecimento de uma área, cuja extensão

é função da análise de alguns elementos que estarão envolvidos na pesquisa. Estes elementos,

são técnicas e recursos materiais, equipe de trabalho e tempo disponíveis. Além disso, é

preciso reconhecer os interesses das comunidades diretamente envolvidas nos projetos de

planejamento, que podem ser tanto mais diversificados quanto maior for a área considerada

(GUERRA; SILVA; BOTELHO, 2007).

Dessa forma, a microbacia deve abranger uma área suficientemente grande, para que

se possam identificar as inter-relações existentes entre os diversos elementos do quadro sócio-

ambiental que a caracteriza, e pequena o suficiente para estar compatível com os recursos

disponíveis, respondendo positivamente à relação custo/benefício.

2.1.4 Fatores do meio físico necessário ao planejamento

A execução de estudos visando diagnóstico ambiental passa evidentemente por uma

série de mecanismos operacionais que possibilitam atingir resultados interpretativos, frutos da

pesquisa técnico-científica. A elaboração dos estudos implica o conhecimento da teoria, o

domínio da metodologia, bem como a capacidade de operacionalizar o instrumental técnico de

apoio. É também fato consumado ser praticamente inviável elaborarem-se estudos ambientais

sem que se tenha estruturado uma equipe de profissionais multidisciplinares que trabalhem de

forma integrada, com objetivos claramente definidos (ROSS, 2010).

É necessário também entender o funcionamento do todo, compreender o mecanismo

funcional de cada um dos componentes em relação aos demais. A Geomorfologia encontra-se

nesse contexto de forma muito especial, pois ao fazer parte da superfície externa da crosta

terrestre, sofre influência motora tanto do substrato rochoso, que sustenta a crosta, como dos

demais componentes, sem desprezar o fato que o relevo também exerce sua influência sobre

outros componentes. Assim, as formas do relevo terrestre são frutos das forças de oposição

externas e internas da terra e comandadas pelas forças energéticas exógenas - energia solar - e

endógenas - forças do manto e o núcleo da terra que exercem sob a litosfera (ROSS, 2010).

É objetivo máximo dos diagnósticos ambientais conhecer os mecanismos de

funcionamento dos mais diversos ambientes. Para tanto é preciso estudar cada um dos

componentes nos locais geograficamente específicos e o entendimento do relevo quanto à sua

forma, dinâmica e gênese.

20

Page 21: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

De acordo com ROSS (2010) não se pode entender a dinâmica e a gênese das formas

do relevo, sem que se conheça muito bem os fatores bioclimáticos, pedológicos, geológicos e

mesmo antrópicos que interferem no dinamismo e portanto em sua evolução. É preciso

entender, com certo grau de clareza, que os processos são comandados por climas atuantes no

presente, mas também saber encontrar e identificar testemunhos paleoclimáticos que possam

explicar formas ou comportamentos de forma que não podem ser explicadas pelo quadro

ambiental atual.

Desse modo, interpretar o relevo não é simplesmente saber identificar padrões de

formas ou tipo de vertentes e vales, não é simplesmente saber descrever o comportamento

geométrico das formas, mas saber identifica-las e correlaciona-las com os processos atuais e

do passado, responsáveis por tais modelados, e com isso estabelecer não só a gênese, mas

também a sua cronologia, ainda que relativa (ROSS, 2010).

Portanto, sabe-se que para o conhecimento das reais potencialidades e limitações de

uso e ocupação de uma determinada área é preciso levantar dados acerca de seus atributos

físicos, como clima, geologia, relevo, solos, redes de drenagem e vegetação. No caso do

planejamento em microbacias hidrográfica é necessário um levantamento detalhado desses

atributos. O diagnóstico geomorfológico descrito na microbacia do Córrego do Pântano foi

caracterizado pelo mapeamento de unidades geomorfológicas como tipos de vertentes,

várzeas, terraços, taludes artificiais, depósitos coluvionares, interflúvios principais e

secundários e áreas de topo.

Modenesi (2004) aponta que os compartimentos geomorfológicos definidos em uma

área não são apenas unidades morfológicas, estáticas, mas sim compartimentos dotados de

dinâmica própria, relacionada a variações do substrato e/ou processos atuantes. Um mosaico

de distribuição da vegetação fortemente relacionado à variação das condições ambientais

acentua as diferenças fisionômicas e funcionais homogêneas e bem diferenciadas entre si, que

integram os vários elementos da paisagem, e são por esse motivo, ideais para fins de aplicação

em planejamento ou gerenciamento ambiental.

A partir disso, é necessário fazer a classificação das unidades originais desses

compartimentos geomorfológicos. Cada uma dessas unidades é caracterizada por

combinações específicas de topografia e formas, substrato, processos atuantes e cobertura

vegetal. Assim, devem ser registradas topografia e formas, declividade, processos erosivos

predominante nas vertentes – erosão laminar fraca, moderada e intensa e movimentos de

massas atuais.

A autora afirma ainda que as unidades - diagnósticos, mostram diferentes aptidões

21

Page 22: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

para ocupação. As unidades – diagnóstico são representadas por polígonos que delimitam

áreas sob influência de processos semelhantes, característicos de cada uma delas. Por

exemplo, a identificação de um anfiteatro de erosão representado pela cicatriz dos

movimentos de massa, corresponde, no diagnóstico, a polígonos que incluem toda a área sob

ação de movimentos de massas e concentração do escoamento superficial e subsuperficial,

processos característicos dos anfiteatros (MODENESI, 2004).

Sendo assim, discutiremos a seguir, a participação das seguintes variáveis em estudos

de planejamento ambiental:

Tipo de Vertentes

Vertentes são planos de declive variados que divergem dos interflúvios, enquadrando

o vale. Nas zonas de planície, muitas vezes as vertentes são mal esboçadas e o rio divaga

amplamente. Nas zonas montanhosas, as vertentes podem ser abruptas e podem formar

gargantas. Aí as vertentes estão mais próximas do leito do rio, enquanto nas planícies estão

mais afastadas. As vertentes apresentam formas muito variadas, porém para efeito didático

podemos agrupá-las em três tipos: côncava, convexa e retilínea. Os tipos de vertentes estão

em função principalmente do clima da região, da natureza, da estrutura e do volume do

terreno (GUERRA e GUERRA, 2006). A figura 1 ilustra os três tipos de vertentes conforme o

modelo apresentado por Lester King em 1953.

O conceito de vertente ou encosta, segundo DYLIK (1968) é uma forma

tridimensional que foi modelada pelos processos de denudação, atuantes no presente ou no

passado, representando a conexão entre o interflúvio e o fundo do vale. Apresentam três

dimensões: limite superior - corresponde ao setor onde provém um transporte contínuo de

materiais para a base da encosta; limite inferior - corresponde ao setor onde os processos

deixam de atuar e limite interno - constituído pelo substrato rochoso ou pela superfície de

ataque do intemperismo.

Figura 1: Componentes da Vertente

(KING, 1953).

Fonte: (CHRISTOFOLETTI, 1980).

22

Page 23: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Anfiteatro de Erosão

Anfiteatro de erosão são reentrâncias originadas por importantes e profundos

movimentos de massa que dissecam de alto a baixo as vertentes convexas; não se restringem

apenas às cabeceiras de drenagem, mas ocorrem lateralmente ao longo dos vales. Nos

anfiteatros de erosão, topografia e forma favorecem a concentração do escoamento superficial

e subsuperficial, caracterizando-os como ambientes úmidos, com intemperismo e solos

relativamente mais profundos (MODENESI, 1988). São áreas essencialmente dinâmicas da

paisagem, onde ocorre atividade morfogenética nas encostas. Formas e depósitos evidenciam

recorrência de movimentos de massa, escorregamentos e corridas de lama; rocha sã ou pouco

alterada podem aflorar nas suas bordas. Por isso, a superposição de colúvios com horizontes

humíferos é comum nas vertentes dos anfiteatros.

Várzeas ou Planície de Inundação

Várzeas são terrenos baixos e mais ou menos planos que se encontram junto às

margens dos rios. Constituem, a rigor, na linguagem geomorfológica, o leito maior dos rios.

Em certas regiões, as várzeas são aproveitadas para a agricultura.

São consideradas áreas frágeis do ponto de vista de sua ocupação, pois são

constituídas por materiais inconsolidados e heterogêneos, provindos das vertentes laterais,

muitas vezes relacionadas a depósitos coluvionares e materiais aluvionares. Comumente, os

materiais que compõem as planícies possuem drenabilidade deficiente e características

hidráulicas contrastantes, ou seja, mudança brusca de textura entre uma camada e outra, que,

quando submetidos a cargas elevadas, compactam e se deformam.

Terraços

Os terraços fluviais representam antigas planícies de inundação que foram

abandonadas. Surgem como patamares aplainados, de largura variada, limitados por uma

escarpa em direção ao curso de água. Quando os terraços são compostos por materiais

relacionados à antiga planície de inundação, podem ser designados de terraços fluviais. Estes

se situam a determinada altura acima do curso de água atual, que não consegue recobri-los

nem mesmo em época das cheias (CHRISTOFOLETTI, 1980).

23

Page 24: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Santos (2008, apud Suguio e Bigarella, 1980) destacam dois modelos de terraços: no

primeiro, chamado de terraço embutido, não ocorre entalhamento no embasamento rochoso

do fundo do vale e, tanto a planície de inundação, quanto o terraço, localizam-se sobre a

mesma calha rochosa. No outro tipo de terraço, denominado terraço encaixado, a planície de

inundação e os diferentes níveis do terraço encontram-se sobre o embasamento rochoso, como

mostra a Figura 2.

Figura 2 – Dois tipos de terraços A - Terraço embutido; B – Terraço encaixado

Fonte: Christofoletti, 1974

Há várias alternativas pelas quais se pode explicar o abandono da planície de

inundação, considerada como preenchimento deposicional em um vale previamente

entalhado. Quando uma oscilação climática provoca diminuição no curso de água, pode

ocorrer a formação de nova planície de inundação, em nível mais baixo, embutida na anterior.

Se a oscilação climática resultar em níveis mais altos de cheias, favorece a agradação no

assoalho do canal, assim a planície de inundação primitiva pode ficar recoberta por novos

recobrimentos aluviais (CHRISTOFOLETTI, 1980).

Segundo o Dicionário Geológico-Geomorfológico, alúvio são detritos ou sedimentos,

carregados e depositados pelos rios. Este material é arrancado das margens e das vertentes,

sendo levado em suspensão pelas águas dos rios que o acumulam em bancos, constituindo os

depósitos aluvionares. Os depósitos aluvionares são compostos de areias, seixos de tamanho

diversos, siltes e argilas.

Várias hipóteses foram propostas para explicar a formação de terraços. A primeira de

DAVIS (1902) relaciona-se à tendência contínua do entalhamento fluvial até atingir o perfil

24

Page 25: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

de equilíbrio. Para BAULING (1935) devido às oscilações do nível do mar, ocasionada pelas

glaciações, promoviam-se modificações na posição do nível de base dos rios favorecendo os

processos erosivos e deposicionais. BIGARELLA (1965) relaciona a formação dos terraços

com às oscilações climáticas. Nas regiões intertropicais, as fases de clima úmido

contribuiriam para o entalhamento fluvial, enquanto as fases secas promoveriam, por causa da

quantidade de detritos oriundos das vertentes, aplainamento lateral (CHRISTOFOLETTI,

1980).

Depósitos Coluvionares

Entende-se por depósitos coluvionares o acúmulo de material localizado

frequentemente no sopé de uma encosta e transportado por efeito da gravidade (GUERRA e

GUERRA, 2006).

Os depósitos coluvionares, ocorrem geralmente em fundos de vales e sopés de

vertentes e taludes. Muitas vezes são alterados para abertura de vias de transporte,

promovendo a sua instabilidade. Em regiões tropicais é comum instabilidades envolvendo

colúvios, pois o clima favorece o intemperismo e, por consequência, o surgimento de espessos

mantos residuais que, ao se movimentarem, resultam em numerosas áreas com depósitos de

colúvios.

Porto (2000) destaca que para a geomorfologia, o solo que recobre o substrato rochoso

inalterado é denominado regolito, que compreende tanto o material formado in situ (elúvio)

quanto o transportado, como os colúvios e alúvios. A distinção entre colúvio e alúvio reside

no agente transportador. O alúvio é decorrente de transporte por cursos d’água (rios),

enquanto o colúvio é transportado por gravidade.

Áreas de Topo

Nesse compartimento estão incluídos os topos de morros, colinas, áreas com

características morfológicas, condições hidrológicas e formações superficiais semelhantes,

que podem ser reunidas numa só unidade geomorfológica.

25

Page 26: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

2.2 Classificação Geomorfológica

O conhecimento das características geomorfológicas dos sítios urbanos é básico na

determinação do uso do solo e da susceptibilidade aos processos erosivos, permitindo

reconhecer áreas de maior potencial de risco, que requerem atenção do poder público

(MODENESI, 2004). Na microbacia do Córrego do Pântano, área de intensa alteração

antrópica, a identificação de setores mais ou menos favoráveis à ocupação torna-se essencial

para o planejamento urbano.

Após o mapeamento das feições por tipos de vertentes, várzeas, terraços, anfiteatro de

erosão, depósitos coluvionares, interflúvios principais e secundários e áreas de topo, foi

possível identificar unidades – diagnóstico no Córrego do Pântano, que podem ser agrupadas,

conforme o grau de estabilidade e susceptibilidade aos processos erosivos. Três classes com

diferentes aptidões para o desenvolvimento urbano são assinaladas: áreas favoráveis à

ocupação urbana – a morfologia e os processos dominantes permitem definir áreas como as

mais favoráveis, com nenhuma ou pequena limitação à expansão urbana; áreas de uso restrito

– correspondem às áreas de possível instabilidade e áreas de preservação – incluem as

unidades instáveis caracterizadas por alta declividade, como a presença de materiais instáveis

ou posicionados no interior da planície de inundação, e ainda depósitos de rampa de colúvio

desestabilizados pela interferência antrópica, desencadeando ravinamentos e pequenos

movimentos de massa.

3. Materiais e Métodos

3.1. Materiais

3.1.1. Área de Estudo

Alfenas é um município mineiro (figura 1) que reúne uma população de 73.774

habitantes, segundo o censo de 2010 (IBGE, 2011) tem como municípios limítrofes, Carmo

do Rio Claro, Campo do Meio, Campos gerais, Fama, Paraguaçu, Machado, Serrania, Divisa

Nova, Areado e Alterosa. Está a 340 km de Belo Horizonte, 306 km de São Paulo, 100 km de

Pouso Alegre e 105 km de Poços de Caldas e 1.133 km de Brasília.

26

Page 27: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Figura 3: Localização do Município de Alfenas – MG

Fonte: (OLIVEIRA, 2010)

O Córrego do Pântano (figuras 4, 5 e 6) é considerado como a microbacia de maior

intensidade de alteração antrópica. É caracterizado por amplas colinas, com interflúvios

principais e secundários de topos arredondados, depósitos de colúvios, as planícies possuem

amplos depósitos de acumulação gerando processos de colmatagem que podem ser atribuídos

a elevação do nível topográfico. Ao longo dos principais afluentes e do rio principal ocorrem

materiais argilosos escuros, que tem baixa capacidade de suporte, se apresentando imprópria a

ocupação (OLIVEIRA, 2010).

A dinâmica geomorfológica foi alterada pela ação antrópica desde a construção do

reservatório de Furnas, na década de 1950. Os fundos de vale e as encostas convexas

mostram-se densamente ocupadas, sendo essas instalações de bairros de classe média baixa e

de classe baixa. A presença do distrito industrial e de um aterro não controlado também está

presente na microbacia (OLIVEIRA, 2010). Também se encontram nas margens do córrego

pequenos sítios e chácaras, que cultivam hortaliças, cultura cafeeira, além da criação de

animais. Segundo o Plano Diretor elaborado em 2006, como ocorre com os demais córregos

de Alfenas, recebe todo o esgoto dos bairros adjacentes – Vila Betânia, Jardim Nova América,

Jardim São Carlos e Vista Grande – além do esgoto industrial proveniente da Tecelaria Saliba.

27

Page 28: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Em consequência do uso e ocupação dessa microbacia as problemáticas ambientais

encontradas no Córrego do Pântano são inúmeras. De acordo com OLIVEIRA (2010, p.40)

A modificação do relevo em função da densidade ocupacional urbana promove a

indução de processos geomorfológicos. Além de processos de rastejamento nas

encostas convexas, aparecem sulcos, ravinas e deslizamentos. O reservatório

apresenta pontos de assoreamento e água poluída. Essa água é aproveitada para o

Naútico Clube de Alfenas e para a rampa naútica da cidade. Embora haja avisos

indicando que a água não é propícia para banhos, é comum encontrar banhistas que

exploram a área para fins de lazer.

Além do que foi citado acima, o Córrego do Pântano é pouco profundo, sendo que

alguns trechos apresentam características de pântano e a água estagnada é favorável a

proliferação de insetos (PLANO DIRETOR, 2006). Assim, os moradores convivem com o

mau cheiro, devido à presença dos efluentes lançados sem tratamento, e com invasão de

animais (roedores, aracnídeo e insetos). Na montante desse curso d’água, é comum a

ocorrência de depósitos tecnogênicos, constituídos por tijolos, plásticos, vidros e materiais

provindos das vertentes como pequenos fragmentos de rochas (OLIVEIRA, 2010).

Figura 4A: Córrego do Pântano Figura 4B: Córrego do Pântano

Fonte: Google Earth, 2006. Fonte: Google Earth, 2006.

28

Page 29: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Figura 5: Bacias Hidrográficas de Alfenas-MG

Fonte: Revisão Plano Diretor, 2006.

3.1.2 Material Bibliográfico e Cartográfico

O levantamento e a revisão dos materiais bibliográfico e cartográfico, compõem etapas

importantes para o desenvolvimento e evolução da pesquisa. Os materiais bibliográficos sobre

a área referem-se a leitura e revisão de temas relacionados a cartografia geomorfológica

aplicada a planejamento urbano, geomorfologia urbana, morfologia antropogênica. Os

materiais cartográficos constituem de cartas topográficas nas escalas 1:50.000 e 1:250.000 e

de mapa geológico na escala 1:250.000. Além destes mapas, foram relacionados também

produtos de sensoriamento remoto, tais como imagens de satélite e fotografias aéreas (Tabela

1).

29

Page 30: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Material Cartográfico Articulação

Escala

Ano

Executor

Alfenas SF-23-I-I-3 1:50.000 1970 IBGE

Carta Geológica - Folha Varginha SF – 23 – Y – B 1:250.000 1979 Projeto Sapucaí (CPRM)

Fotografias Aéreas 1:6.000 2006 Base

Planta cadastral digital 1:1.000 2006 Prefeitura Municipal de

Alfenas Tabela 1: Material cartográfico utilizado na pesquisa

3.2. Procedimentos Metodológicos

Para o desenvolvimento da pesquisa, os procedimentos metodológicos obedeceram as

seguintes etapas:

1. Interpretação de fotografias aéreas na escala 1: 6.000 com o uso da estereoscopia

● elaboração do Mapa Morfodinâmico a fim de compartimentar as unidades

geomorfológicas e os processos dominantes e em consequência elaborar o mapa apontando as

áreas favoráveis ou não a ocupação, bem como de uso restrito, utilizando o software ArcGIs.

2. Realização de Ensaios de Solos, plasticidade e granulometria de todas as amostras de

solo das unidades geomorfológicas.

● avaliar o tipo de textura e a fragilidade aos processos erosivos.

3. Analise do uso do solo e da cobertura vegetal bem como da declividade e dos

processos dominantes atuantes.

4. Trabalhos de Campo

● foram realizados para checagem e atualização do mapa de compartimentos

geomorfológicos estudos dos materiais de superfície.

Para a avaliação do tipo de textura e a fragilidade aos processos erosivos, foram

realizados os ensaios de solo de granulometria e de plasticidade. Todos os solos, em sua fase

sólida, contêm partículas de diferentes tamanhos em proporções as mais variadas. A

determinação do tamanho das partículas e suas respectivas porcentagens de ocorrência

permitem obter a função distribuição de partículas do solo e que é denominada distribuição

granulométrica. A distribuição granulométrica dos materiais granulares, areias e pedregulhos

serão obtidos através do processo de peneiramento de uma amostra seca em estufa. Quanto à

finalidade da análise de plasticidade é a propriedade dos solos finos que consiste na maior ou

menor capacidade de serem moldados sob certas condições de umidade. Segundo a

ABNT/NBR 7250/82, a plasticidade é a propriedade de solos finos, entre largos limites de

30

Page 31: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

umidade, de se submeterem a grandes deformações permanentes, sem sofrer ruptura,

fissuramento ou variação de volume apreciável.

A análise granulométrica é feita pela separação dos sólidos, de um solo, em diversas

frações com o peneiramento. Este processo é adotado para partículas (sólidos) com diâmetros

maiores que 0,075mm (#200). Para tal, utiliza-se uma série de peneiras de abertura de malhas

conhecidas (Figura 6), determinando-se a percentagem em peso retida ou passante em cada

peneira. Este processo divide-se em peneiramento grosso, partículas maiores que 2 mm (#10)

e peneiramento fino, partículas menores que 2mm. Para o peneiramento de um material

granular, a amostra é, inicialmente, secada em estufa e seu peso determinado. Esta amostra

será colocada na peneira de maior abertura da série previamente escolhida e levada a um

vibrador de peneiras onde permanecerá pelo tempo necessário à separação das frações.

Figura 6 - Série de peneiras de abertura de malhas conhecidas

Fonte: ABNT/NBR 5734/80, 2011

Quanto a análise de plasticidade, divide-se em Limite de Liquidez (LL) e Limite de

Plasticidade (LP). No ensaio de limite de liquidez mede-se, indiretamente, a resistência ao

cisalhamento do solo para um dado teor de umidade, através do número de golpes necessários

31

Page 32: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

ao deslizamento dos taludes da amostra. Limite de liquidez de um solo é o teor de umidade

que separa o estado de consistência líquido do plástico e para o qual o solo apresenta uma

pequena resistência ao cisalhamento. O ensaio utiliza o aparelho de Casagrande, onde tanto o

equipamento quanto o procedimento são normalizados (ABNT/NBR 6459/82).

O aparelho de Casagrande, mostrado nas figuras 7 A e 7 B é formado por uma base

dura (ebonite), uma concha de latão, um sistema de fixação da concha à base e um parafuso

excêntrico ligado a uma manivela que movimentada a uma velocidade constante, de duas

rotações por segundo, elevará a concha a uma altura padronizada para, a seguir deixá-la cair

sobre a base. Um cinzel (gabarito), com as dimensões mostradas na mesma figura completa o

aparelho. O solo utilizado no ensaio é a fração que passa na peneira de 0,42mm (# 40) de

abertura e uma pasta homogênea deverá ser preparada e colocada na concha; utilizando o

cinzel, deverá ser aberta uma ranhura, conforme mostrado na Figura 7B. Conforme a concha

vai batendo na base, os taludes tendem a escorregar e a abertura na base da ranhura começa a

se fechar. O ensaio continua até que os dois lados se juntem, longitudinalmente, por um

comprimento igual a 10,0 mm, interrompendo-se o ensaio nesse instante e anotando-se o

número de golpes necessários para o fechamento da ranhura.

Figura 7 A: Aparelho Casagrande Figura 7 B: Aparelho Casagrande

Fonte: ABNT/NBR 6459/82 Fonte: ABNT/NBR 6459/82

Retirando-se uma amostra do local onde o solo se uniu determina-se o teor de

umidade, obtendo-se assim um par de valores, “teor de umidade x número de golpes”, que

definirá um ponto no gráfico de influência. A repetição deste procedimento para teores de

umidade diversos permitirá construir os gráficos de limite de liquidez. O teor de umidade é

calculado dividindo a massa de água pela massa do sólido, multiplicado por cem, assim o

32

Page 33: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

resultado do teor de umidade é em porcentagem. Convencionou-se que no ensaio de

Casagrande é necessário fechar a ranhura: no primeiro golpe deve ser em torno de 50 – 60, o

segundo entre 40-50, o terceiro entre 30-40, o quarto em torno de 25 e o quinto golpe menor

que 10.

No ensaio de limite de plasticidade o equipamento necessário à realização do ensaio é

muito simples tendo-se, apenas, uma placa de vidro com uma face esmerilhada e um cilindro

padrão com 3mm de diâmetro, conforme esta representado na figura 8. O ensaio inicia-se

rolando, sobre a face esmerilhada da placa, uma amostra de solo com um teor de umidade

inicial próximo do limite de liquidez, até que, duas condições sejam, simultaneamente,

alcançadas: o rolinho tenha um diâmetro igual ao do cilindro padrão e o aparecimento de

fissuras (inicio da fragmentação). O teor de umidade do rolinho, nesta condição, representa o

limite de plasticidade do solo. O ensaio é normalizado pela NBR 7180/82.

Figura 8: Determinação do limite de plasticidade

Fonte: NBR 7180/82

Em seguida, faz-se um cálculo para encontrar o resultado final do índice de

plasticidade. Subtrai-se o limite de liquidez do limite de plasticidade, IP = LL – LP. O limite

de liquidez é obtido analisando o gráfico, é o número correspondente a umidade no golpe de

número de 25, e o limite de plasticidade é obtido pela média dos dados do teor de umidade. Se

o índice de plasticidade for igual a zero, significa que o solo não é plástico. Se o índice de

plasticidade entre um e sete significa que o solo é pouco plástico. Se o índice de plasticidade

for entre sete e quinze significa que o solo tem plasticidade média. E por fim se o índice de

plasticidade for maior que quinze o solo é muito plástico.

33

Page 34: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

4.0 Resultados e Discussão

4.1 – Córrego do Pântano no município de Alfenas-MG

No que se refere às características da rede de drenagem, a microbacia é classificada

como de terceira ordem segundo critérios de STRAHLER (1957). A microbacia é composta

pelo córrego principal e seus tributários, que formam um sistema de drenagem com deflúvios

perenes e efêmeros. Tributários de primeira e segunda ordem aparecem no setor médio da

microbacia, quando passa a apresentar áreas de agradação (acumulação) sendo possível

observar depósitos coluvionares interdigitados por depósitos aluvionares. Estes cursos d’água

percorrem um eixo no sentido leste-oeste, desaguando na represa de Furnas. Está entre as

coordenadas 39º60’ e 40º20’ de longitude W e 76º31` e 76º35’ de latitude S. A área abrangida

é de 23Km² (2.300 ha), sendo influenciada pelo nível de base do reservatório de Furnas, que

possui nessa microbacia, seu ponto de maior proximidade com a área urbana de Alfenas.

Os tipos de relevo que predominam são colinas convexo-côncava, apresentando

amplitudes de 30 a 100m e altitudes entre 760 a 860m com fundo de vales associados a

planícies, conforme mostram o mapa hipsométrico e o modelo tridimensional da microbacia

(Figura 9).

Figura 9: Predomínio dos relevos colinosos com topos tabulares e convexos Fonte: GARÓFALO, 2011

A cabeceira da microbacia fica próxima ao interflúvio que faz divisa com outra sub-

bacia, a do Córrego da Pedra Branca. Por se tratar de uma área de topo arredondado – até 20%

de declividade – este foi o local onde se iniciou a urbanização de Alfenas. Posteriormente,

34

Page 35: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

esta se estendeu para os fundos de vale, no sentido norte e noroeste, com declividades até

30% nas vertentes e declividades menores que 12% nos fundos de vale (GARÓFALO, 2010).

O córrego do Pântano sofreu retilinização e alargamento no seu médio curso (Figuras

10 A e 10 B) a fim de evitar o retrabalhamento fluvial do curso, pois suas margens estavam

sendo erodidas por processos fluviais naturais intensificados pela ação antrópica (maior

volume do escoamento superficial, retirada da mata ciliar, etc). Outro fator contribuinte para

que as margens do córrego fossem erodidas é fato o da área do fundo de vale neste setor ser

instável, com predomínio de sedimentos argilosos. Todavia, por falta de manutenção nestas

obras, sulcos começam a se formar, paralelos aos muros de gabião construídos para a

retilinização e contenção de processos erosivos, intensificando os processos erosivos ao invés

de contê-los (GAROFALO, 2010).

Figura 10 A: Retilinização do Córrego do Pântano. Figura 10 B: Retilinização do Córrego do Pântano

Fonte: OLIVEIRA, 2010 Fonte: OLIVEIRA, 2010

Do ponto de vista do uso e ocupação da microbacia do córrego do Pântano, é

caracterizada por uma ocupação para fins comerciais e residenciais à montante, industrial no

médio curso na porção centro sudeste, áreas de expansão urbana e o restante por parcelas de

uso rural (Figura 11). Estas parcelas começam a ser desmembradas para implantação de

loteamentos.

Segundo Garófalo (2010), a categoria de uso denominada urbano 1 (Figura 11) ocupa

uma área de 219,4 ha, correspondendo a 9,53% da área total da microbacia, prevalecendo

ocupação de uso misto (residencial e comercial), desenvolvida em áreas de topos

arredondados e vertentes côncavas na sua maioria. Esta área abrange os seguintes bairros:

Parque das Nações, Vila Betânia, Jardim Nova América, Morada do Sol, Jardim América I,

Vila Borges, Jardim São Carlos e Área Central. Por ter uma ocupação consolidada, a maior

35

Page 36: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

parte do solo foi impermeabilizada, favorecendo o escoamento superficial em detrimento da

infiltração da água nestas áreas. Toda água de escoamento pluvial é lançada diretamente no

córrego do Pântano e seus afluentes, aumentando significativamente suas vazões em épocas

de chuva, favorecendo a erosão de algumas encostas desprovidas de estruturas adequadas e

erosão das margens dos cursos d’água e assoreamento destes.

A categoria de uso urbano 2 (Figura 11) abrange uma área de 146,8 ha, equivalendo a

6,38% da área da microbacia, tendo uma ocupação para fins residenciais, de classe média a

baixa. Estão inseridos nesta categoria de uso os bairros: Pinheirinho, Recreio Vale do Sol,

Boa Esperança, Jardim América e Vista Grande. Ocupa em geral todo perfil da vertente, se

estendendo em alguns pontos até os fundos de vales.

Nesta categoria de uso é observado um número elevado de lotes vazios, sendo estes,

em muitos casos, utilizados para a deposição de materiais “úrbicos” (detritos de construção

civil) e “gárbicos” (material detrítico com lixo orgânico, de origem humana). Embora aja um

grande número de lotes vazios, a área impermeabilizada faz com que ao invés de se infiltrar e

alimentar os reservatórios subterrâneos, uma proporção maior da água de chuva escoa

superficialmente, aumentando o volume de água nos córregos.

A categoria de uso urbano 3 (Figura 11) ocupa uma área de 145,8 há, corresponde às

áreas de expansão urbana com grandes vazios urbanos, perfazendo 6,35% da área da

microbacia. Fazem parte desta categoria de uso os bairros: porção sul do Vista Grande, porção

norte do Jardim São Carlos, Residencial Oliveira, porção norte do Recreio Vale do Sol,

alguns lotes próximos ao distrito industrial, e chácaras próximas ao reservatório da UHE de

Furnas. Em geral, este uso se desenvolve em áreas de média encosta e de fundos de vales.

Observa-se também a ocupação inadequada nas áreas de leito maior dos córregos, que além

do risco de enchente, apresentam um solo argiloso instável, impróprio para o suporte de

construções.

A Leitura Comunitária do Plano Diretor de Alfenas (2006) aponta a inundação como

um dos principais problemas, ocorrendo em área de fundo de vale no setor norte do bairro

Recreio Vale do Sol. As áreas edificadas da zona rural foram classificadas como sede rural,

sendo que esta categoria ocupa uma área de 20,1 ha (0,88% da área da microbacia). Algumas

áreas de APP ocupadas por sedes rurais, tanto na margem do reservatório da UHE de Furnas

quanto nas margens dos córregos.

O distrito industrial de Alfenas localiza-se na porção central desta microbacia (Figura

11), instalado sobre relevo de colina em área de topo suavizado. A área do distrito industrial e

a Saliba – indústria de tecido, localizada na porção sudeste da microbacia, foram classificadas

36

Page 37: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

como sendo de uso industrial. Esta categoria de uso ocupa uma área de 107,1 ha, equivalente

a 4,65% da área da microbacia. Esta é uma classe de uso potencialmente poluidora e de alto

impacto ambiental, uma vez que nem todas as indústrias nela instaladas possuem políticas e

práticas ambientalmente corretas, além de lançarem seus efluentes diretamente nos córregos.

A classe de uso denominada depósitos de lixo ocupa uma área de 5,4ha, equivalendo a

0,23% da área da microbacia. Esta categoria de uso é representada por duas áreas utilizadas

para deposição de materiais úrbicos e gárbicos, uma já desativada próxima ao bairro

Residencial Oliveira, e outra ainda em uso, no setor norte da microbacia. Nesta área é

depositada grande parte do lixo do município de Alfenas. Todavia, este não conta com obras

de engenharia (corte de talude, impermeabilização do solo com lona, compactação após cada

camada de lixo, canaletas coletoras de chorume e escape de gazes), localizado na média

encosta da colina com o córrego do Pântano no fundo do vale. O solo presente nesta área é o

latossolo vermelho-amarelo arenoso, propiciando a infiltração e favorecendo a poluição do

lençol freático pela infiltração do chorume. Quando o solo encontra-se saturado, o chorume

escoa juntamente com as águas pluviais, atingindo o córrego do Pântano.

Os cultivos desenvolvidos nesta microbacia restringem-se à pastagem, cultura de café,

silvicultura de eucalipto e horticulturas.

As pastagens ocupam uma área de 1.308,6 ha, equivalente a 56,8% da área da

microbacia. Estas áreas são utilizadas para fins agropecuários, sendo que em algumas

propriedades rurais, são simplesmente áreas sem uso atual. Ocorrem desde o topo das colinas,

se estendendo até as planícies, chegando a ocupar 77,76% das áreas de preservação

permanente da microbacia (GAROFALO, 2010).

O café é cultivado em uma área de 146 ha, cobrindo 6,35% da área da microbacia

(Figuras 11), sendo desenvolvido normalmente nas áreas de topo e média encosta. Este tipo

de cultivo deixa grande parte do solo exposto, propiciando tanto a ocorrência de escoamento

superficial difuso quanto o escoamento concentrado, podendo acarretar erosões em lençol

e/ou concentrada.

A silvicultura de eucalipto é um cultivo recente nesta região, porém já ocupa uma área

de 86,2 ha, o equivalente a 3,75% da área da microbacia (Figura 11). Observa-se a ocorrência

de sulcos nas áreas de plantio de eucalipto no setor oeste da microbacia. Por deixar o solo

desprotegido enquanto ainda é novo, intensifica-se o escoamento superficial concentrado,

dando origem a estas feições erosivas.

O cultivo de hortaliças pode ser observado no setor centro-sul da microbacia (Figura

11), sendo desenvolvido na média encosta, chegando próximo às margens do córrego da Boa

37

Page 38: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Esperança. A horticultura ocupa uma área de 7,8 há (0,34% da área da microbacia). O maior

problema neste cultivo é a utilização da água do córrego para irrigação, água esta, que recebe

esgoto das áreas à montante, sendo que estas hortaliças são comercializadas nas feiras livres

de Alfenas.

Apenas 2,33% (56,6 ha) da área da microbacia são destinadas à preservação florestal,

sendo estas áreas ocupadas por fragmentos florestais e alguns trechos de matas ciliares

(Figura 11). Já as capoeiras ocupam uma área de 34,71 ha (1,5%). Estas áreas ainda

preservadas estão relacionadas em muitos casos à exigência de preservação das APPs e área

de Reserva Legal (20% da área das propriedades rurais).

Outro tipo de uso é o de solo exposto, localizado no setor norte da microbacia, em área

de topo (Figura 11). Esta área foi utilizada antigamente para retirada de cascalho, e hoje se

encontra desprotegida, ocupando 3,3 ha.

O maior problema na microbacia do Córrego do Pântano está na rede de água pluvial,

no destino final do esgoto e do lixo e na falta de conservação das matas ciliares ao longo dos

cursos fluviais. O esgoto é lançado sem tratamento no córrego do Pântano e o lixo coletado,

incluindo o do restante da cidade, é despejado em um aterro localizado na encosta norte da

microbacia do Pântano. A drenagem urbana não é adequada, principalmente na área central,

que não possui a rede pluvial em todas as vias, acarretando problemas nos períodos de chuva

intensa. Por não haver uma mata ciliar conservada, toda água pluvial escoa diretamente para

os corpos d’água, ocasionando uma erosão acelerada de suas margens e assoreamento dos

mesmos.

38

Page 39: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Figura 11: Mapa de uso do solo, Córrego do Pântano, Alfenas – MG.

Fonte: GARÓFALO, 2010

A ocupação urbana de Alfenas iniciou a partir de um interflúvio comum as

microbacias do Pântano e da Pedra Branca. A ocupação urbana da microbacia do córrego do

Pântano deu-se somente a partir do início do século XX, com um grande crescimento nas

décadas de 50 e de 80 (GARÓFALO, 2010). Nos anos cinquenta, foram implantados os

loteamentos Vila Betânia, Vila Borges e Vista Grande, destinados à população com menor

poder aquisitivo, e o Jardim São Carlos. Esses empreendimentos, atualmente, estão

consolidados, com a maioria dos lotes ocupados.

No período entre 1970 a 1979, o crescimento foi menor, marcado pela implantação do

Conjunto Habitacional Pôr-do-Sol. Na década seguinte, foi construído o distrito Industrial,

cujo objetivo era promover a cidade com infraestrutura para receber indústrias, trazendo um

grande acréscimo na área urbanizada da micro-sub-bacia do Pântano.

Na década de 1990, ocorreu um crescimento no sentido norte da microbacia, a partir do

Jardim Nova América, e também a ocupação de um pequeno vazio urbano próximo da área

da nascente. No final desta década iniciou-se a implantação do Residencial Oliveira. No início

da década de 2000, consolidou-se o Residencial Oliveira, um empreendimento de grandes

proporções, que teve, até 2010, um crescimento considerável.

A partir de 2005, a antiga EFOA foi transformada em Universidade Federal de Alfenas

(UNIFAL-MG), propiciando a implantação de novos cursos. Em 2009, com o REUNI, mais

cursos foram implantados e um novo campus começou a ser construído no setor sudoeste da

39

Page 40: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

microbacia do córrego do Pântano. Estes fatos contribuíram para a aceleração do mercado

imobiliário local, com valorização dos lotes próximos a estes centros e periferização da

população de baixa renda.

Na figura 12, pode-se observar o crescimento da expansão da ocupação urbana, com

destaque para o circulo vermelho no qual representa o eixo dessa expansão na área que

corresponde a microbacia do Córrego do Pântano. Em pouco mais de vinte anos a expansão

urbana no município de Alfenas ocorreu de modo acelerado e sem planejamento urbano em

algumas áreas, como a da microbacia do Córrego do Pântano. Atualmente o Plano Diretor do

município está sendo revisto e foi diagnosticado que a microbacia é um desses eixos de

expansão que se desenvolveu rapidamente e que é hoje um dos pontos da cidade que mais

cresce.

Figura 12: Mapa da expansão urbana de Alfenas/MG no período: 1987 – 2008

Fonte: LIMA, 2010 (adaptado)

40

Page 41: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

4.2 Análises de Plasticidade e Granulometria dos Solos

4.2.1 Resultados e Discussão da Análise Granulométrica

A planilha abaixo apresenta o resultado dos processos de peneiramento dos ensaios de

granulometria do solo das áreas de topo, rampas de colúvio, terraços, vertentes, anfiteatro de

erosão e várzeas. Foram retirados cem gramas de cada amostra de solo, em seguida os torrões

foram desagregados com o auxilio do pistilo e do almofariz. Assim, a amostra de cem gramas

foi colocada nas peneiras e agitadas por dez minutos. Depois, cada amostra retida em cada

peneira foi pesada na balança de precisão, de no máximo dois quilos. Os resultados estão

expressos a seguir.

1º Análise das Áreas de Topo

MALHA (#) DIÂMETRO (MM) PESO (G) RETIDO NA

PENEIRA

# 10 2,00 15,85

# 30 0,59 36,23

# 40 0, 42 11,15

# 60 0,250 14,45

# 120 0,125 11, 37

#270 0,053 6, 75

PRATO - 4, 18

Tabela 2: Análise das Áreas de Topo

Fonte: OLIVEIRA, 2011

2ª Análise das Vertentes

MALHA (#) DIÂMETRO (MM) PESO (G) RETIDO NA

PENEIRA

# 10 2,00 6,24

# 30 0,59 23,47

# 40 0, 42 13,42

# 60 0,250 22,65

# 120 0,125 17

#270 0,053 12,37

PRATO - 4,82

Tabela 3: Análise das Vertentes

Fonte: OLIVEIRA, 2011

41

Page 42: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

3ª Análise da Rampa de Colúvio

MALHA (#) DIÂMETRO (MM) PESO (G) RETIDO NA

PENEIRA

# 10 2,00 2,08

# 30 0,59 36, 52

# 40 0, 42 12,07

# 60 0,250 16,65

# 120 0,125 16, 07

#270 0,053 13, 25

PRATO - 3,46

Tabela 4: Análise da Rampa de Colúvio

Tabela: OLIVEIRA, 2011

4ª Análise dos Terraços

MALHA (#) DIÂMETRO (MM) PESO (G) RETIDO NA

PENEIRA

# 10 2,00 8,17

# 30 0,59 10,13

# 40 0, 42 13,17

# 60 0,250 18,78

# 120 0,125 34,44

#270 0,053 11,28

PRATO - 3, 99

Tabela 5: Análise dos Terraços

Fonte: OLIVEIRA, 2011

5ª Análise Planície de Inundação

MALHA (#) DIÂMETRO (MM) PESO (G) RETIDO NA

PENEIRA

# 10 2,00 1,25

# 30 0,59 9,75

# 40 0, 42 17,62

# 60 0,250 19,13

# 120 0,125 41,34

#270 0,053 6,72

PRATO - 4,17

Tabela 6: Análise Planície de Inundação

Fonte: OLIVEIRA, 2011

42

Page 43: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

6ª Análise de Anfiteatro de Erosão

MALHA

(#)

DIÂMETRO

(MM)

PESO (G) RETIDO NA PENEIRA

# 10 2,00 23,25

# 30 0,59 18,13

# 40 0, 42 22,54

# 60 0,250 13,95

# 120 0,125 7,75

#270 0,053 5, 38

PRATO - 3,75

Tabela 7: Análise de Anfiteatro de Erosão

Fonte: OLIVEIRA, 2011

No gráfico abaixo, estão mostradas curvas granulométricas de solos e materiais

granulares das unidades geomorfológicas identificadas.

Gráfico 1 – Resultado Análise Granulométrica

Fonte: OLIVEIRA, 2011

43

Page 44: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

A seguir está a tabela apresentando a escala granulométrica que indica qual é o tipo de

textura que predomina nas amostras de solo de acordo com o diâmetro e malha da peneira.

Tabela 8: Escala Granulométrica

Fonte: Pereira, 2011

Por fim, a tabela a seguir apresenta os resultados finais, com o tipo de amostra e a

textura granulométrica predominante em cada amostra de solo coletado.

AMOSTRA TEXTURA GRANULOMÉTRICA

Área de Topos Arenosa Grossa

Vertentes Arenosa Grossa

Rampa de Colúvio Arenosa Grossa

Terraço Arenosa Fina

Área de Várzea Arenosa Fina

Anfiteatro de Erosão Arenosa Média a Grossa

Tabela 9: Resultados Finais da Análise Granulométrica

Fonte: OLIVEIRA, 2011

Resultados alcançados a partir da análise granulométrica nas unidades

geomorfológicas mapeadas comprovam a predominância de textura arenosa dos materiais

superficiais coletados em campo. Os solos arenosos possuem grãos de areia soltos, sem

agregação, caracterizando-se pela boa aeração. Assim, devido à ausência de elementos

agregadores (matéria orgânica e/ou argila) esses solos apresentam alto risco de sofrer o

processo erosivo já que os grãos de areia são facilmente destacados pela ação da água,

estando assim aptos a serem carregados pela mesma. Destaca-se que as unidades que

apresentam granulometria arenosa grossa a média são os mais propensos aos processos

44

Page 45: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

erosivos, como área de topo, vertentes, rampa de colúvio e anfiteatro de erosão. As unidades

que apresentaram textura arenosa fina, vertente, terraço e área de várzea, possuem uma

proporção de argila agregada, possibilitando coesão no solo, permitindo que os processos

erosivos não sejam tão intensos.

4.2.2 Resultados e Discussão da Análise de Plasticidade

A seguir estão expressas as tabelas de cada amostra de solo de limite de liquidez,

seguido de seus respectivos gráficos.

1ª Análise - Vertente

Recipiente número 17 03 14 18 19

Solo+ Tara+ Água g. 12,51 13, 39 16 15, 22 13, 66

Solo + Tara g. 11, 13 11, 89 13, 87 13, 02 11, 56

Tara g. 7, 17 7, 80 8, 17 7, 39 6, 45

Massa d’ água g. 1, 38 1, 50 2, 13 2, 20 2, 10

Massa de Sólidos g. 3, 96 4, 09 5, 70 5, 63 5, 11

Teor de umidade % 34,84 36, 67 37, 36 39, 07 41, 09

Número de Golpes 60 35 20 15 9

Tabela 10: Análise LL. Vertentes

Fonte: OLIVEIRA, 2011

Gráfico 2: Análise das Vertentes

Fonte: OLIVEIRA, 2011

45

Page 46: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

2ª Análise – Área de Topo

Recipiente número 08 15 11 09 02

Solo+ Tara+ Água g. 12,82 10, 95 15, 17 14, 88 12, 63

Solo + Tara g. 11, 51 9, 42 12, 99 12, 77 10, 40

Tara g. 7, 76 5, 17 7, 41 7, 51 5, 42

Massa d’ água g. 1, 31 1, 53 2, 18 2, 11 2, 23

Massa de Sólidos g. 3, 75 4, 25 5, 58 5, 26 4, 98

Teor de umidade % 34,02 36 39, 06 40, 11 44, 77

Número de Golpes 41 34 22 15 7

Tabela 11: Análise LL. Área de Topo

Fonte: OLIVEIRA, 2011

Gráfico 3: Análise da Área de Topo

Fonte: OLIVEIRA, 2011

46

Page 47: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

3ª Análise – Rampa de Colúvio

Recipiente número 04 05 08 09 10

Solo+ Tara+ Água g. 16, 41 18, 50 17, 54 19, 51 17, 90

Solo + Tara g. 13, 82 15, 44 14, 43 15, 52 15, 52

Tara g. 7, 56 8, 05 7, 77 7, 50 8, 13

Massa d’ água g. 2, 59 3, 06 3, 11 3, 99 2, 38

Massa de Sólidos g. 6, 26 7, 39 6, 66 8, 09 7, 39

Teor de umidade % 41, 37 41, 40 46, 69 49, 32 32, 20

Número de Golpes 56 47 22 15 10

Tabela 12: Análise LL. Rampa de Colúvio

Fonte: OLIVEIRA, 2011

Gráfico 4: Análise Rampa de Colúvio

Fonte: OLIVEIRA, 2011

47

Page 48: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

4ª Análise – Planície de Inundação

Recipiente número 07 08 02 07 03

Solo+ Tara+ Água g. 44, 19 40, 95 44, 44 38, 52 41, 66

Solo + Tara g. 41, 73 39, 25 41, 32 36, 29 39, 22

Tara g. 37, 60 36, 62 36, 39 33, 10 35, 75

Massa d’ água g. 2, 46 1, 70 3, 12 2, 23 2, 44

Massa de Sólidos g. 4, 13 2, 63 4, 93 3, 19 3, 47

Teor de umidade % 59, 56 64, 63 63, 28 69, 90 70, 31

Número de Golpes 55 46 25 16 7

Tabela 13: Análise LL. Planície de Inundação

Fonte: OLIVEIRA, 2011

Gráfico 5: Análise de Planície de Inundação

Fonte: OLIVEIRA, 2011

48

Page 49: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

5ª Análise – Anfiteatro de Erosão

Recipiente número 18 10 05 02 13

Solo+ Tara+ Água g. 12, 16 10, 72 18, 13 14, 32 13

Solo + Tara g. 11, 52 12, 25 12, 39 12, 33 11, 39

Tara g. 7, 15 8, 44 6, 52 7, 29 6, 16

Massa d’ água g. 2, 46 1, 70 3 2, 23 2, 10

Massa de Sólidos g. 3, 18 2, 63 4, 93 4, 19 5, 11

Teor de umidade % 32, 17 37, 82 38, 14 40, 17 43, 17

Número de Golpes 42 33 21 14 8

Tabela 14: Análise LL. Anfiteatro de Erosão

Fonte: OLIVEIRA, 2011

Gráfico 6: Análise Anfiteatro de Erosão

Fonte: OLIVEIRA, 2011

49

Page 50: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

6ª Análise – Terraço

Recipiente número 09 11 03 08 04

Solo+ Tara+ Água g. 13, 16 11, 72 19, 13 15, 32 14, 36

Solo + Tara g. 14, 52 13, 25 13, 39 13, 33 12, 39

Tara g. 8, 15 9, 44 7, 52 8, 29 7, 16

Massa d’ água g. 3, 46 2, 70 4, 63 3, 23 3, 10

Massa de Sólidos g. 4, 18 3, 63 5, 93 5, 19 6, 11

Teor de umidade % 31, 17 33, 82 39, 14 41, 17 42, 17

Número de Golpes 45 35 20 12 7

Tabela 15: Análise LL. Terraço

Fonte: OLIVEIRA, 2011

Gráfico 7 – Análise de Terraço

Fonte: OLIVEIRA, 2011

50

Page 51: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

A seguir estão expressas as tabelas de cada amostra de solo de limite de plasticidade,

seguido de seus respectivos cálculos que apontam os resultados finais.

4.2.3. Resultados e Discussão da Análise de Plasticidade

1ª Análise – Vertente

Recipiente nº 22 02 16

Solo + Tara + Água g. 19, 60 17, 53 15, 12

Solo + Tara g. 16, 60 15, 16 13, 07

Tara g. 7, 57 8,09 6,84

Massa d’água g. 3 2, 37 2, 05

Massa de Sólidos g. 9,03 7,07 6, 23

Teor de Umidade % 33, 22 33, 52 32, 90

Tabela 16: Análise LP. Vertente

Fonte: OLIVEIRA, 2011

Golpe 25 (LL) Média (LP)

36, 3 33, 21

IP = LL - LP

IP = 36, 3 – 33, 21 1< IP < 7 – POUCO PLÁSTICO

IP = 3, 09

2ª Análise – Área de Topo

Recipiente nº 04 10 13

Solo + Tara + Água g. 21, 38 23, 08 18, 99

Solo + Tara g. 17, 95 19, 36 15,86

Tara g. 7, 55 8, 14 6, 30

Massa d’água g. 3, 43 3, 72 3, 13

Massa de Sólidos g. 10, 40 11, 22 9, 56

Teor de Umidade % 32, 98 33, 15 32, 74

Tabela 17: Análise LP. Área de Topo

Fonte: OLIVEIRA, 2011

51

Page 52: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Golpe 25 (LL) Média (LP)

37,3 32, 95

IP = LL - LP

IP = 37, 3 – 32, 95 1< IP < 7 – POUCO PLÁSTICO

IP = 4, 35

3ª Análise – Rampa de Colúvio

Recipiente nº 13 01 07

Solo + Tara + Água g. 11, 61 12, 26 13, 38

Solo + Tara g. 10, 17 10, 82 11, 81

Tara g. 6, 29 7, 09 7, 64

Massa d’água g. 1, 44 1, 44 1, 57

Massa de Sólidos g. 3, 88 3, 73 4, 17

Teor de Umidade % 37, 11 38, 60 37, 64

Tabela 18: Análise LP. Rampa de Colúvio

Fonte: OLIVEIRA, 2011

Golpe 25 (LL) Média (LP)

46 37, 78

IP = LL - LP

IP = 46, 00 - 37, 78 7< IP < 15 – PLASTICIDADE MÉDIA

IP = 8, 22

4ª Análise – Planície de Inundação

Recipiente nº 01 04 05

Solo + Tara + Água g. 50, 63 54, 72 53, 74

Solo + Tara g. 46, 01 49, 64 47, 70

Tara g. 37, 77 40, 63 37, 08

Massa d’água g. 4, 62 5, 07 6, 04

Massa de Sólidos g. 8, 24 9, 01 10, 62

Teor de Umidade % 56, 06 56, 27 56, 87

Tabela 19: Análise LP. Planície de Inundação

Fonte: OLIVEIRA, 2011

52

Page 53: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Golpe 25 (LL) Média (LP)

66 56, 40

IP = LL - LP

IP = 66, 00 – 56, 40 7< IP < 15 – PLASTICIDADE MÉDIA

IP = 9,6

5ª Análise – Anfiteatro de Erosão

Recipiente nº 10 07 08

Solo + Tara + Água g. 15, 17 13, 24 14, 38

Solo + Tara g. 16, 32 11, 12 11, 56

Tara g. 7, 14 8, 89 7, 56

Massa d’água g. 2, 26 3, 45 1, 50

Massa de Sólidos g. 8, 52 8, 29 5, 67

Teor de Umidade % 32, 22 34, 78 37, 95

Tabela 20: Análise LP. Anfiteatro de Erosão

Fonte: OLIVEIRA, 2011

Golpe 25 (LL) Média (LP)

36 34, 98

IP = LL - LP

IP = 36 – 34, 98 1< IP < 7 – POUCO PLÁSTICO

IP = 1,02

6ª Análise – Terraço

Recipiente nº 10 07 08

Solo + Tara + Água g. 18, 32 17, 45 15, 38

Solo + Tara g. 16, 67 15, 89 13, 56

Tara g. 8, 15 7, 45 6, 56

Massa d’água g. 2 2, 29 2, 50

Massa de Sólidos g. 7, 78 7, 90 6, 67

Teor de Umidade % 33, 22 33, 85 34, 95

Tabela 21: Análise LP. Terraço

Fonte: OLIVEIRA, 2011

53

Page 54: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Golpe 25 (LL) Média (LP)

35,00 34, 00

IP = LL - LP

IP = 35, 00 – 34,00 1< IP < 7 – POUCO PLÁSTICO

IP = 1

Portanto, as unidades que foram verificadas com plasticidade média, área de várzea e

as rampa de colúvio preservadas, apresentam elevada coesão, dificultando que os processos

erosivos acontecem com facilidade. Já as demais unidades, terraços, vertentes, áreas de topo e

anfiteatro de erosão, que apresentaram pouca plasticidade são facilmente moldados, assim, os

riscos de processos erosivos acontecerem são altos.

4.3 As Unidades-Diagnóstico

O conhecimento das características geomorfológicas dos sítios urbanos na

determinação do uso do solo e da susceptibilidade dos processos erosivos, permitem

reconhecer áreas de maior potencial de risco, que requerem atenção do poder público. Num

relevo frágil como a da microbacia do Córrego do Pântano, a identificação de setores mais ou

menos favoráveis à ocupação torna-se essencial para o planejamento urbano.

Com o objetivo de atender à demanda por informações geomorfológicas que possam

orientar a expansão urbana na microbacia, o Córrego do Pântano foi dividido em unidades-

diagnóstico, com diferentes aptidões para ocupação. Essas unidades tiveram como base

compartimentos geomorfológicos caracterizados por formas, formações superficiais,

processos dominantes e cobertura vegetal específica. As unidades-diagnóstico reconhecidas

na microbacia do Córrego do Pântano são descritas a seguir.

Unidade Diagnóstico 1 - Tipo de Vertentes

Processos erosivos do tipo sulcos são comuns nas vertentes retilíneas com declives

acentuados associadas aos vales em “V”. Algumas vertentes côncavas nos sopés, exibem

rampas coluvionares com intenso processo de pedogênese. Convém lembrar, que formação

dos solos advém de processos físicos, químicos e biológicos que transformam os materiais

que lhes dão origem, e, recebe o nome de “pedogênese” – do prefixo e sufixo

54

Page 55: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

gregos: “pedon”= solos + “gênesis” = criação. Ou seja: criação ou formação dos solos

(LEPSCH, 2002). Os fundos de vale e as encostas convexas mostram-se densamente

ocupadas por bairros de classe média baixa e de classe baixa, assim a área urbana consolidada

favorece o processo de escoamento superficial diretamente para a microbacia, ocasionando

processos erosivos nas vertentes e assoreamento do córrego;

As declividades das vertentes retilíneas e convexas variam de 12% a 20% e de 20% a

30%. O uso e ocupação se caracterizam pela presença de café, pastagem, área urbana

consolidada e poucos fragmentos florestais. Os resultados das analises do material coletado,

apontam para uma textura arenosa fina e grossa. Os principais processos dominantes são

escoamento laminar e concentrado, favorecendo a ocorrência de processos de ravinamentos e

de sulcos erosivos.

Figura 13: Rampa coluvionar com intenso processo de pedogênese associada a sulcos erosivos e

ravinas

Fonte: OLIVEIRA, 2011

Unidade Diagnóstico 2 – Anfiteatro de Erosão

A maioria das áreas onde se encontram anfiteatro de erosão são áreas consideradas

como de Preservação Permanente. Comumente são caracterizadas como áreas onde aflora

nascentes de contato e de veredas. Na área do estudo, apresentam declividade entre 20% a

30% e menor que 30%. O uso e ocupação da área é caracterizada por pastagem, capoeira e

área urbana. A análise da cobertura pedológica superficial, mostra o predomínio de textura

55

Page 56: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

arenosa média a grossa. Os principais processos dominantes nesta unidade tratam-se da

convergência do escoamento superficial e subsuperficial se configurando em áreas

vulneráveis a ocorrência de movimentos de massa. Esta situação ocorre quando os anfiteatros

são desprovidos de cobertura vegetal.

Figura 14: Anfiteatro de erosão preservado associado a fragmento florestal

Fonte: Oliveira, 2011.

Unidade Diagnóstico 3 – Várzea ou Planície de Inundação

Ao longo da planície desta microbacia, ocorrem materiais de acumulação, do tipo

aluvionar, constituídas de areias grossas e finas associadas a material argiloso escuro. Nas

planícies é comum processos de colmatagem que podem ser atribuídos a elevação do nível

topográfico nas proximidades do reservatório de Furnas. Também é encontrada áreas

encharcadas e estagnadas favorecendo a proliferação de insetos. Em seus trechos médio e

inferior, as planícies do córrego são ocupadas por pequenos sítios e chácaras, que cultivam

hortaliças, cultura cafeeira, além da criação de animais. Muitos cursos de água foram

desviados de seu curso normal para abastecer essas ocupações rurais. O solo e água do

córrego apresentam contaminação devido à presença do distrito industrial e de um aterro não

controlado, que lançam seus efluentes, juntamente com o esgoto dos bairros adjacentes – Vila

Betânia, Jardim Nova América, Jardim São Carlos e Vista Grande – além do esgoto industrial

proveniente da Tecelaria Saliba. Os moradores convivem com o mau cheiro, devido à

56

Page 57: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

presença dos efluentes lançados sem tratamento, e com a invasão de animais. A declividade é

baixa, até 6%. O uso e ocupação é caracterizado por pastagem, capoeira e área urbana. O solo

tem predomínio de textura arenosa fina. Os principais processos dominantes são as

inundações pontuais e a presença do material argiloso altamente instável. É importante

ressaltar, que as argilas escuras presentes nas planícies do córrego do Pântano, apresentam

instabilidade, observadas pela Defesa Civil da Prefeitura Municipal de Alfenas. Algumas

moradias próximas às planícies mostram rachaduras, pequenas movimentações e instabilidade

na estrutura das casas. Ressalta-se também, que bacias circulares, como a do Córrego do

Pântano, pela sua geometria, promovem maior ocorrência de enchentes se comparado a uma

bacia alongada.

Figura 15: Planície do córrego do Pântano

mostrando a

ocorrência de material argiloso Fonte: FERREIRA, 2009.

Figura 16: Trecho a jusante da Microbacia

mostrando fundos de vale chato com planície de

acumulação aluvionar

Fonte: OLIVEIRA, 2011

57

Page 58: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Unidade Diagnóstico 4 – Terraços

Os terraços fluviais preservados encontram-se em trechos onde ocorrem margens abruptas. A

declividade varia entre 6% a 12%. Os terraços identificados têm como uso e ocupação apenas

área urbana. Na análise de solos verificou um predomínio de textura arenosa fina e os

principais processos dominantes são erosão laminar e concentrada que favorecem os

escorregamentos rotacionais. Na microbacia, a unidade terraços estão com uso urbano

intenso, sendo áreas sujeitas a vulnerabilidade pois apresentam erosão pluvial associadas a

depósitos tecnogênicos.

Figura 17: Margem direita abrupta com terraços fluviais associados a deslizamentos

Fonte: OLIVEIRA, 2011

Unidades Diagnóstico 5 – Depósitos Coluvionares

No setor médio da microbacia há áreas de agradação, ou seja, de acumulação, que,

muitas vezes, aparecem interdigitados com os aluviões próximo ao córrego. A declividade é

baixa, até 6%. O uso e ocupação é caracterizado pelo predomínio de área de urbana, pastagem

e trechos com fragmento florestal. Ressalta-se que estas unidades por corresponderem a

depósitos tornam-se instáveis quando há ocupação. As analises de solo verificaram que

apresenta textura arenosa média. Os principais processos dominantes são a suscetibilidade a

desestabilização devido aos escoamentos laminar e concentrado.

58

Page 59: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Figura 18: Na margem direita do córrego do Pântano ocorrem terraços associados a

margem abrupta. Margem esquerda, rampas coluvionares pedogeneizadas .

Fonte: OLIVEIRA, 2011

Unidade Diagnóstico 6 – Área de Topo

Apresentam topos arredondados e suaves, por vezes tabulares, com predomínio de

colinas amplas e sopés de vertentes côncavas. As amplitudes das formas variam de 30 a 100m

e altitudes entre 760 a 860m. A declividade, varia até 6% e de 6% a 12%. O uso e ocupação

tem predomínio de pastagem, cultivo de café e áreas de expansão urbana. A analise de solo

aponta para um solo com predomínio de textura arenosa média, geralmente os solos são

profundos do tipo latossolos vermelho-amarelo. Os principais processos dominantes é o

escoamento pluvial, pois é uma área dispersora de água, com predomínio de drenagem interna

através da infiltração favorecendo a formação de solos.

A seguir são apresentadas, através do Mapa Morfodinâmico (Figura 19), as sete

unidades-diagnóstico identificados ao longo da microbacia no Córrego do Pântano.

59

Page 60: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

Figura 19: Mapa Morfodinâmico da Microbacia do Córrego do Pântano

Fonte: OLIVEIRA, 2011

60

Page 61: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

4.3 Planejamento Urbano e Ambiental na microbacia do Córrego do Pântano

As sete unidades-diagnóstico definidas na microbacia do Córrego do Pântano podem

ser agrupadas, conforme o grau de estabilidade e susceptibilidade aos processos erosivos, em

três classes com diferentes aptidões para o desenvolvimento urbano.

Áreas favoráveis à ocupação urbana – A morfologia e os processos dominantes

permitem definir estas áreas como as mais favoráveis, com nenhuma ou pequena limitação à

expansão urbana. Na microbacia as unidades mais favoráveis são os topos, já que se

caracterizam como superfícies suaves e amplas.

Áreas de uso restrito – Correspondem as áreas de possível instabilidade definidas nas

unidades-diagnóstico, áreas com baixa declividade, que atraem a ocupação e torna-as

vulneráveis à ação de processos erosivos e à deposição de sedimentos. Posicionadas nesta

áreas, estão as rampas coluvionares e terraços.

Áreas de preservação - Incluem as unidades instáveis caracterizadas por alta

declividade e presença de materiais turfosos, ou ainda por sua posição no interior da planície

de inundação. As vertentes retilíneas e os anfiteatros também devem pertencer a essa

categoria, pois apresentam condições favoráveis à ação de movimentos de massa – em geral,

escorregamentos nas vertentes retilíneas e escorregamentos, slumps e corridas de terra ou

lama nos anfiteatros – e à formação de ravinas, principalmente quando seu equilíbrio é

modificado pela interferência antrópica (desmatamentos, cortes e construções). Na microbacia

as planícies, as vertentes estão nesta categoria, anfiteatro de erosão e as áreas de várzea. Na

microbacia as planícies, as vertentes, anfiteatro de erosão e as áreas de várzea, estão nesta

categoria

61

Page 62: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

A tabela 22 mostra a classificação do terreno e as unidades diagnósticos (compartimentos

geomorfológicos) mapeadas.

Tabela 22: Tabela de Classificação Geomorfológica

Autora: OLIVEIRA, 2011.

62

Page 63: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

A partir da classificação proposta, foi elaborado o mapa de Classificação do Uso do Terreno

(Figura 20).

Figura 20: Mapa de Classificação do Uso do Terreno

Fonte: OLIVEIRA, 2011

63

Page 64: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

5.0 Considerações Finais

Os estudos que relacionam bacias hidrográficas, como um sistema ambiental físico, e a

dinâmica relacionada à evolução geomorfológica e às alterações provocadas pela ação

humana, são de suma importância, pois as interações homem/relevo e os processos

geomorfológicos deflagradores desta relação, estão diretamente relacionados às mudanças

impressas no modo de usar e ocupar uma área.

Resultados da análise granulométrica apontam que a microbacia apresenta o

predomínio de materiais com textura arenosa variando de fina, média a grossa. Esta textura

sugere vulnerabilidade à ocupação urbana, além da fragilidade frente à exposição do solo

desprovido de cobertura vegetal.

Esta pesquisa propôs a classificação geomorfológica a partir do mapeamento de

compartimentos geomorfológicos, denominados de unidades diagnósticos e teve como

embasamento metodológico estudo desenvolvido por Modenesi (2004) em Campos do

Jordão-SP. As unidades mapeadas na microbacia foram agrupadas conforme Modenesi (op.

cit.) em áreas favoráveis; áreas restritas e áreas que devem ser preservadas de acordo com o

grau de estabilidade e suscetibilidade aos processos erosivos. Através da análise

granulométrica, dos compartimentos geomorfológicos mapeados, da declividade destes

compartimentos e do uso do solo atual, foi possível apresentar uma classificação do uso do

terreno. Portanto, através dessa classificação, procurou-se orientar quais as áreas que devem

ou não ser ocupadas por atividades humanas, já que não há um planejamento efetivo no

município de Alfenas-MG.

É indiscutível que no processo de urbanização do eixo de expansão da microbacia do

Córrego do Pântano, qualquer tentativa de planejamento urbano não deverá ignorar toda a

problemática da área, com objetivos de diminuir a degradação ambiental que a microbacia

vem sofrendo desde a ampliação de sua ocupação.

64

Page 65: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

6.0 Referências Bibliográficas

ABNT, 2011. Associação de Normas Técnicas. Acesso no site: http://www.abnt.org.br/, dia

10-11-2011.

ALMEIDA, J.R.; ORSOLON, N.; MALHEIROS, S.T.; PEREIRA, S.R.B.; AMARAL, F., e

SILVA, D.M. Planejamento ambiental: caminho para participação popular e gestão ambiental

para nosso futuro comum – uma necessidade, um desafio. Rio de Janeiro. Thex Ed. Biblioteca

Estácio de Sá, 1993, 176p.

CHRISTOFOLETTI, Antonio. Aplicabilidade do conhecimento geomorfológico nos

projetos de planejamento. In: GUERRA, Antonio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da

(orgs.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand

Brasil, 2005.

GARÓFALO, D. F. Análise geomorfológica das mcrobacias hidrográficas dos córregos da

Pedra Branca e do Pântano no município de Alfenas – MG. Trabalho de Conclusão de Curso,

Alfenas: Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG, 2010.

GUERRA, A. J. T; MARÇAL, M. S. Geomorfologia Ambiental. Rio de Janeiro. Bertrand

Brasil, 2006.

GÓMEZ OREA, D. El Medio Fisico y la Planificación. Cuadernos del CIFCA, v.1 e v.2.

Madrid. 1978

LIMA, B. F. 2010. Análise da Qualidade Ambiental e Mapeamento da Expansão Urbana de

Alfenas (MG) através de Técnicas de Geoprocessamento: Universidade Federal de Alfenas –

UNIFAL – MG.

MODENESI-GAUTTIERI, M.C; HIMURA, S.T.2004. A expansão urbana no planalto de

Campos do Jordão. Diagnóstico Geomorfológico para fins de planejamento. São Paulo:

Revista do Instituto Geológico, 25 (1/2), 1-28.

65

Page 66: Diagnóstico Geomorfológico para fins de Planejamento no ... · estão suscetíveis a degradação ambiental. O presente trabalho tem como propósito estudar à ... 2.1.2 Geomorfologia

OLIVEIRA, R. L. S. 2010. Caracterização da Geomorfologia do Perímetro Urbano de

Alfenas-MG. Alfenas: Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG.

PEREIRA, D. C. 2011. Proposta Metodológica para Mapeamento de Áreas de Risco à

Movimento de Massa: Aplicação na Área Urbana da Sub-Bacia Hidrográfica do Córrego da

Pedra Branca no Município de Alfenas-MG. Alfenas-MG Universidade Federal de Alfenas –

UNIFAL – MG.

PORTO, C. G., 2000. “Intemperismo em regiões tropicais”. In: Geomorfologia e Meio

Ambiente, Guerra & Cunha (2000). Ed. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro.

RODRIGUES, C. 2007. Evolução da paisagem e problemas ambientais na cidade global: São

Paulo. I Encontro IALE-BR, Rio de Janeiro, Vale do Paraíba do Sul, São Paulo

ROSS, Jurandyr L. Sanches. Geomorfologia: ambiente e planejamento. [8. ed.] -. São Paulo

(SP): Contexto, 2005. 85 p.

SANTOS, G. B. dos, 2008. Geomorfologia Fluvial no Alto Vale do Rio das Velhas,

Quadrilátero Ferrífero - MG: Paleoníveis Deposicionais e a Dinâmica Atual. Minas Gerais –

Brasil. Dissertação da UFMG.

LEPSCH, Igo F. Formação e Conservação Dos Solos. Ofina de Textos. São Paulo. 2002

66