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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM E LICENCIATURA BRUNA DE PAULA SILVA DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM IDENTIFICADOS NA ASSISTÊNCIA AMBULATORIAL A PACIENTES COM LESÕES TISSULARES: MAPEAMENTO CRUZADO NITERÓI 2013

DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM IDENTIFICADOS NA … Bruna de Paula... · dos dados, foram extraídos os termos que denotassem problemas de enfermagem. Esses termos foram cruzados com

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA

CURSO DE GRADUAO EM ENFERMAGEM E LICENCIATURA

BRUNA DE PAULA SILVA

DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM IDENTIFICADOS NA ASSISTNCIA AMBULATORIAL A PACIENTES COM LESES TISSULARES: MAPEAMENTO

CRUZADO

NITERI

2013

BRUNA DE PAULA SILVA

DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM IDENTIFICADOS NA ASSISTNCIA AMBULATORIAL A PACIENTES COM LESES TISSULARES: MAPEAMENTO

CRUZADO

Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Graduao em Enfermagem e Licenciatura da Universidade Federal Fluminense, como requisito para a obteno do ttulo de Enfermeiro e Licenciado em Enfermagem.

Orientadora: Prof. Dra. ROSIMERE FERREIRA SANTANA. Co-orientadora: Prof. Dra. BEATRIZ R. BAPTISTA DE OLIVEIRA.

Niteri

2013

FICHA CATALOGRFICA

S 586 Silva, Bruna de Paula. Diagnsticos de enfermagem na assistncia ambulatorial a pacientes com leses tissulares: mapeamento cruzado / Bruna de Paula Silva. Niteri: [s.n.], 2013.

83 f.

Trabalho de Concluso de Curso (Graduao em Enfermagem) - Universidade Federal Fluminense, 2013.

Orientador: Prof. Rosimere Ferreira Santana. Co-Orientador: Prof. Beatriz R. Baptista de Oliveira.

1. Pele. 2. Diagnstico de Enfermagem. 3. Processo de

Enfermagem. I. Ttulo.

CDD 616.075

BRUNA DE PAULA SILVA

DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM IDENTIFICADOS NA ASSISTNCIA AMBULATORIAL A PACIENTES COM LESES TISSULARES: MAPEAMENTO

CRUZADO

Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Graduao em Enfermagem e Licenciatura da Universidade Federal Fluminense, como requisito para a obteno do ttulo de Enfermeiro e Licenciado em Enfermagem.

Aprovado em: 29/07/2013.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________________ Prof. Dr. ROSIMERE FERREIRA SANTANA Orientadora

Universidade Federal Fluminense

______________________________________________________________________ Prof. Dr. ANA CARLA DANTAS CAVALCANTI - 1 Examinador

Universidade Federal Fluminense (UFF)

______________________________________________________________________ Enf. Esp. DBORA MORAES CAMPOS 2 Examinador

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

______________________________________________________________________ Enf. Esp. GLYCIA DE ALMEIDA NOGUEIRA Suplente

Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)

Niteri 2013

DEDICATRIA

Dedico este trabalho a minha bisav, Balbina Lopes, minha

vozinha, por me ensinar a ter mais pacincia, por ter sido a primeira

pessoa em quem eu prestei os cuidados de enfermagem e por ser

minha mais fiel paciente.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente e, sobretudo a Deus, ao permitir-me no apenas sonhar, mas por transformar meus

sonhos em realidades.

Aos meus pais pela minha existncia e por me dar suporte para ser o que eu sou hoje. Especialmente

minha me que sempre esteve comigo e me apoiou em todas as decises.

minha irm, Amanda, por discutir comigo sobre sade, microbiologia, trabalhos e me ajudar a

estudar, mesmo sem entender algumas coisas que eu falava. Agora voc entende minha futura Nutricionista

e Chefe de Cozinha.

Ao meu marido, Roniele, que me acompanhou durante todo esse processo, por acreditar nos meus

sonhos e me ajudar a conquist-los, por me aturar e me dar foras nas horas de estresse e incertezas.

minha orientadora Rosi, por acreditar em mim e que eu seria capaz. Por entender minhas

limitaes como pesquisadora, por ouvir minhas inquietudes e anseios. Pelo esforo em fazer dos meus

rascunhos, uma obra de arte.

Aos meus amigos de faculdade, por serem minha segunda famlia, por estarmos juntos nos momentos

complexos e dividirmos as angustias e sofrimentos que estes anos nos proporcionaram, assim como os

momentos de brigas, risos e brincadeiras.

minha amiga Nathlia, minha amiguita, sem voc a faculdade no teria sido a mesma, obrigada

por sempre estar comigo, por ser minha dupla, por me aguentar nas chatices, minhas reclamaes e ainda

reclamar comigo.

Aos meus amigos de origem, que so pra sempre: Saulo, Raquel, Bethnia, Jssica e Juliana, por

estarem comigo nos momentos difceis, e entenderem minha ausncia em diversos momentos em que me

dediquei s horas de estudo.

Aos enfermeiros, tcnicos de enfermagem e funcionrios do Hospital Estadual Azevedo Lima, por

me mostrarem como a realidade da prtica de enfermagem e por me ensinarem a ser enfermeira.

Meu eterno agradecimento!

EPGRAFE

No sei se estou perto ou longe demais,

se peguei o rumo certo ou errado.

Sei apenas que sigo em frente,

vivendo dias iguais de forma diferente.

J no caminho mais sozinho,

levo comigo cada recordao,

cada vivncia, cada lio.

E, mesmo que tudo no ande

da forma que eu gostaria, sabe

que j no sou o mesmo de ontem

me faz perceber que valeu a pena.

Professor Galvo

RESUMO

Introduo: O cuidado ao paciente com feridas, quaisquer que sejam suas etiologias, um ramo de atuao especfica da enfermagem e requer intervenes fundamentadas em evidncias cientficas. Dentro desse contexto, torna-se importante o enfermeiro realizar a sistematizao da assistncia de enfermagem a pacientes com feridas, contribuindo assim para uma assistncia qualificada, facilitando a recuperao do paciente. Objetivo Geral: Comparar termos registrados nos pronturios com os diagnsticos de enfermagem propostos pela NANDA-I. Objetivos especficos: Caracterizar os pacientes com leses tissulares com relao ao sexo, idade, co-morbidades, tempo e tipo de tratamento; Identificar os termos registrados pela equipe de enfermagem; Analisar os diagnsticos de enfermagem mais frequentemente observados nos pacientes com leses. Mtodo: Estudo retrospectivo e observacional, com abordagem quantitativa, que empregou o mapeamento cruzado como ferramenta metodolgica. O cenrio do estudo: Ambulatrio de Reparo de Feridas do HUAP. A amostra de 81 pacientes portadores de leses de qualquer etiologia, de ambos os sexos. O levantamento dos termos ocorreu atravs de um formulrio para coleta de dados. Para anlise dos dados, foram extrados os termos que denotassem problemas de enfermagem. Esses termos foram cruzados com a taxonomia NANDA-I. Utilizou-se a estatstica descritiva simples. A pesquisa consta adequada aos preceitos ticos (FM/ UFF/ HU n 219.752/08-03-2013). Resultados: A mdia de idade dos pacientes de 59,98 anos, o tempo de tratamento de aproximadamente 2 anos e 3 meses. Verifica-se uma alta prevalncia de doenas cardiovasculares 87 (47,3%) e Diabetes Mellitus 23 (12,5%). A lcera venosa trata-se do tipo de leso mais comumente encontrada na populao atendida no ambulatrio de feridas, com frequncia de 65,4% (53). Encontrou-se um total de 24 diagnsticos de enfermagem distribudos em 8 domnios: Domnio 1 Promoo da Sade: Autocontrole ineficaz de sade (4,94%); Domnio 2 Nutrio: Nutrio desequilibrada: menos do que as necessidades corporais (1,23%), Risco de Glicemia Instvel (9,88%), Volume de lquidos deficiente (32,09%) e Volume de lquidos excessivo (20,99%); Domnio 4 Atividade/repouso: Disposio para sono melhorado (1,23%), Padro de sono prejudicado (1,23%), Deambulao prejudicada (45,68%), Mobilidade fsica prejudicada (8,64%), Perfuso tissular perifrica ineficaz (13,58%), Dficit no autocuidado para banho (1,23%); Domnio 5 Percepo/cognio: Confuso aguda (3,70%), Confuso crnica (1,23%), Memria prejudicada (1,23%); Domnio 9 - Enfrentamento/tolerncia ao estresse: Ansiedade (6,17%); Domnio 10 Princpios da vida: Falta de adeso (9,88%); Domnio 11 Segurana/proteo: Integridade da pele prejudicada (85,18%), Risco de Integridade da pele prejudicada (11,11%), Integridade tissular prejudicada (14,81%), Contaminao (7,41%), Risco de resposta alrgica (14,81%); Domnio 12 Conforto: Dor aguda (12,34%), Dor crnica (27,16%). Concluso: Atravs do mtodo mapeamento cruzado de uma linguagem no padronizada com uma linguagem padronizada possvel identificar os diagnsticos de enfermagem de clientes em tratamento de leses. A realizao do estudo posteriormente, com validao por peritos dos dados evidenciados, viabilizar a padronizao dos cuidados de enfermagem em uma classificao internacionalmente conhecida, possibilitando a incluso dos dados de enfermagem nos sistemas de informao computadorizados para otimizao e melhora da qualidade da assistncia.

Descritores: 1. Pele. 2. Diagnstico de enfermagem. 3. Processos de enfermagem.

ABSTRACT

Introduction: The treatment of patients with wounds, whatever their etiologies are, is a specific role of nursing and requires interventions based on scientific evidence. Within this context, it becomes important that the nurse performs the systematization of nursing care for patients with wounds, thereby contributing to a skilled nursing care, facilitating the recovery of the patient. General Objective: To compare terms from the medical records with the nursing diagnoses proposed by NANDA-I. Specific Objectives: To characterize patients with tissue damage in relation to the gender, age, co-morbidities, length and type of treatment; Identify the terms recorded by nursing staff; Analyze nursing diagnoses most frequently observed in patients with lesions according to the taxonomy NANDA Method: A retrospective and observational study, with a quantitative approach, that employed cross mapping as a methodological tool. The study setting: Wound Repair Ambulatory of HUAP. The sample is of 81 patients with lesions of any etiology, of both genders. The study of the terms occurred using a form for data collection. For data analysis, were extracted terms that indicated nursing problems. These terms were combined with the NANDA-I taxonomy. It was used the simple descriptive statistics. The research appears adequate to ethical principles (FM/ UFF/ HU n 219.752/08-03-2013). Results: The average age of patients was 59.98 years, the treatment time of approximately two years and three months. There is a high prevalence of cardiovascular disease 87 (47.3%) and Diabetes Mellitus 23 (12.5%). The venous ulcer is the type of injury most commonly found in the population attended at the wound care ambulatory, with a frequency of 65.4% (53). Was found a total of 24 nursing diagnoses distributed in 8 domains: Domain 1 - Health Promotion: Ineffective Self control of Health (4.94%); Domain 2 Nutrition: Unbalanced nutrition: less than body requirements (1.23%), Risk of Unstable Glycemia (9.88%), fluid volume deficit (32.09%) and excessive fluid volume (20.99%); Domain 4 Activity/Rest: Willingness to improved sleep (1.23%), impaired sleep pattern (1.23%), impaired Deambulation (45.68%), impaired physical mobility (8.64%), Ineffective peripheral tissue perfusion (13.58%), bathing self-care deficit (1.23%); Domain 5 - Perception / cognition: Acute Confusion (3.70%), chronic Confusion (1.23%), impaired memory (1.23%); Domain 9 - Confronting / stress tolerance: Anxiety (6.17%); Domain 10 Principles of life: Lack of adherence (9.88%); Domain 11 Security/Protection: Impaired skin integrity (85.18%), risk of impaired skin integrity (11.11%), impaired tissue integrity (14.81%), contamination (7.41%), risk of allergic response (14.81 %); Domain 12 - Comfort: Acute pain (12.34%), chronic pain (27.16%). Conclusion: Through the cross-mapping method of a non-standard language with a standardized language it is possible to identify the nursing diagnoses of clients in treatment of injuries. The proposed study later with data validation by experts disclosed will enable the standardization of nursing care in a classification known internationally, allowing the inclusion of nursing data in computerized information systems for optimization and improvement of quality of care. Descriptors: 1. Skin. 2. Nursing diagnosis. 3. Nursing process.

SUMRIO

1. INTRODUO

1.1. MOTIVAO ..................................................................................................................16

...................................................................................................................16

1.2. CARACTERIZAO DO PROBLEMA .........................................................................17

1.3. QUESTO NORTEADORA ...........................................................................................20

1.4. OBJETO DE ESTUDO .....................................................................................................20

1.5. OBJETIVOS .....................................................................................................................20

1.5.1. Objetivo Geral ................................................................................................................20

1.5.2. Objetivos Especficos .....................................................................................................20

1.6. JUSTIFICATIVA ..............................................................................................................20

1.7. RELEVNCIA .................................................................................................................24

2. REVISO DE LITERATURA

2.1. LESES ............................................................................................................................26

............................................................................................26

2.1.1. Fisiopatologia das Leses ..............................................................................................29

2.1.1.1. lceras Venosas ..........................................................................................................29

2.1.1.2. lceras Arteriais .........................................................................................................31

2.1.1.3. lceras Neuropticas..................................................................................................32

2.2. CONTEXTUALIZANDO A SISTEMATIZAO DA ASSISTNCIA DE

ENFERMAGEM E OS SISTEMAS DE CLASSIFICAO .................................................33

3. MTODO

3.1. TIPO DE ESTUDO ...........................................................................................................38

.............................................................................................................................38

3.2. LOCAL DA PESQUISA ..................................................................................................39

3.3. SUJEITOS DO ESTUDO .................................................................................................39

3.4. COLETA DE DADOS ......................................................................................................40

3.5. ANLISE DOS DADOS ..................................................................................................41

3.6. ASPCTOS TICOS ........................................................................................................43

4. RESULTADOS

4.1. CARACTERIZAO SOCIODEMOGRFICA E CLNICA ......................................44

....................................................................................................................44

4.2. TERMOS ENCONTRADOS NOS PRONTURIOS .....................................................47

4.3. DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM MAPEADOS NO PRONTURIO ................50

4.4. CARACTERSTICAS DEFINIDORAS E FATORES RELACIONADOS MAPEADOS

NOS PRONTURIOS .............................................................................................................52

5. DISCUSSO

.......................................................................................................................56

6. CONCLUSO

.....................................................................................................................65

7. OBRAS CITADAS

..............................................................................................................67

8. OBRAS CONSULTADAS

..................................................................................................72

9. APNDICES

9.1. APENDICE A ...................................................................................................................73

........................................................................................................................73

9.2. APNDICE B ...................................................................................................................75

10. ANEXO A

..........................................................................................................................81

LISTA DE ILUSTRAES

Quadro 1. UFF/EEAAC: Estado da arte de 2008 a 2012 utilizando os descritores: pele (skin) e processos de enfermagem (nursing process). Niteri-RJ, 2013.............................................22 Quadro 2. UFF/EEAAC: Distribuio dos termos mapeados no pronturio em relao ao diagnstico de Enfermagem propostos pela NANDA-I. Niteri-RJ, 2013...............................47 Quadro 3. UFF/EEAAC: Distribuio das caractersticas definidoras, fatores relacionados ou fatores de risco mapeados no pronturio em relao ao diagnstico de Enfermagem propostos pela NANDA-I. Niteri-RJ, 2013.............................................................................................52 Quadro 4. UFF/EEAAC: Comparao dos diagnsticos de Enfermagem IPP e ITP conforme conceito, caractersticas definidoras e fatores relacionados. Niteri-RJ, 2013.........................58 Quadro 5. UFF/EEAAC: Comparao dos fatores relacionados diagnsticos de Enfermagem IPP e ITP que se assemelham. Niteri-RJ, 2013.......................................................................59 Figura 1. Fluxograma dos artigos selecionados por ttulo e resumo. EEAAC/UFF. Niteri, 2013...........................................................................................................................................22 Figura 2. Distribuio dos domnios, classes e diagnsticos de enfermagem segundo a NANDA-I. EEAAC/UFF. Niteri, 2013..................................................................................35

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Distribuio em idade dos pacientes atendidos no Ambulatrio de Reparo de Feridas do HUAP em 2012. EEAAC/UFF. Niteri, 2013........................................................44 Tabela 2. Distribuio das variveis sciodemogrficas e clnicas entre pacientes atendidos no Ambulatrio de Reparo de Feridas do HUAP em 2012. EEAAC/UFF. Niteri, 2013.......45 Tabela 3. Distribuio das co-morbidades entre pacientes atendidos no Ambulatrio de Reparo de Feridas do HUAP em 2012. EEAAC/UFF. Niteri, 2013.......................................46 Tabela 4. Distribuio do tipo de leso identificadas nos pacientes atendidos no Ambulatrio de Reparo de Feridas do HUAP. EEAAC/UFF. Niteri, 2013.................................................47 Tabela 5. Diagnsticos de Enfermagem mapeados em pacientes atendidos no Ambulatrio de Reparo de Feridas do HUAP. EEAAC/UFF. Niteri, 2013. ....................................................51 Tabela 6. Termos no cruzados com a NANDA-I em pacientes atendidos no Ambulatrio de Reparo de Feridas do HUAP. EEAAC/UFF. Niteri, 2013. ....................................................55

LISTA DE SIGLAS

MCTI Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

MEC Ministrio da Educao

CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

PROCAD Pr-Reitoria de Graduao

UFF Universidade Federal Fluminense

EEAAC Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa

EE/USP Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo

TCC Trabalho de Concluso de Curso

ETP Ensino Terico-Prtico

SAE Sistematizao da Assistncia de Enfermagem

HUAP Hospital Universitrio Antonio Pedro

COFEN Conselho Federal de Enfermagem

NANDA American Nursing Association Associao Americana de Enfermagem

Internacional

LILACS Literatura da Amrica Latina e Caribe

MEDLINE Medical Literature Analysis and Retrieval System Online

CINAHL Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature

NIC Nursing Intervention Classification Classificao das Intervenes de Enfermagem

NOC Nursing Outcomes Classification Classificao dos Resultados de Enfermagem

PE Processo de Enfermagem

GESAE Grupo de Estudos de Sistematizao da Assistncia de Enfermagem

MMHG Milmetros de Mercrio

SUS Sistema nico de Sade

META Metathesaurus

UMLS Sistema Unificado de Linguagem Mdica

ICNP International Classification for Nursing Practice Classificao Internacional para a

Prtica de Enfermagem

FM Faculdade de Medicina

PDR Poro Diria Recomendada

HGT Hemoglicoteste

AGE cidos Graxos Essenciais

MSD Membro Superior Direito

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

IPP Integridade da pele prejudicada

ITP Integridade Tissular prejudicada

HAS Hipertenso Arterial Sistmica

IASP Associao Internacional de Estudos da dor

DE Diagnstico de Enfermagem

DOs Definies Operacionais

CDs Caractersticas Definidoras

FRs Fatores Relacionados

1.

INTRODUO

A temtica deste estudo centra-se na identificao dos Diagnsticos de enfermagem

segundo os termos mapeados nos registros de enfermagem do ambulatrio de Reparo de

Feridas do Hospital Universitrio Antnio Pedro.

Este consta como subprojeto do Projeto financiado pelo MCTI/CNPq/MEC/Capes

Ao Transversal n6/2011 Casadinho/PROCAD INOVAO EM ENFERMAGEM NO

TRATAMENTO DE LESES TISSULARES - sistematizao, incluso tecnolgica e

funcionalidade, portanto se insere no escopo poltico e tico do programa de pesquisa

UFF/EEAAC.

O objetivo principal deste projeto seria promover estudos epidemiolgicos e clnicos

para preveno, diagnstico e tratamento de leses tissulares. Trata de um estudo

desenvolvido com dois enfoques da pesquisa clinica, um observacional, dos eventos que

ocorrem com pacientes e nos servios de sade; e outro experimental, da resposta do paciente

a tecnologias de produtos e processos voltados para a preveno e tratamento de leses. O

cronograma de execuo de quatro anos (2012-2015), com atividades de pesquisa na

formao de ps-graduao e mobilidade docente e discente entre as instituies EE/USP e

EEAAC/UFF.

1.1. MOTIVAO

Uma das motivaes para realizao deste estudo foi participao num projeto de

pesquisa, as atividades dar-se-iam a cumprir um dos objetivos especficos do Projeto

Casadinho, a saber: testar processos tecnolgicos voltados para a sistematizao da

assistncia de enfermagem.

Como tambm motivado pela experincia durante o ensino terico-prtico (ETP) de

algumas disciplinas, onde se teve a oportunidade de observar o processo de assistncia

17

prestada a clientes com leses, questionando-se a assistncia prestada a essa clientela deveria

ser especfica e individualizada. Instigando-me a pensar em como poderia ser realizada a

sistematizao do cuidado, considerando aspectos individuais e coletivos.

Alm disso, durante o processo de formao acadmica, percebo que a sistematizao

da assistncia em enfermagem (SAE) era amplamente discutida, principalmente os

diagnsticos de enfermagem, porm no h disciplinas especficas na academia que abordem

esta temtica na prtica principalmente em relao a sua real implantao.

Partindo da uma necessidade de ampliar o conhecimento acerca dessa etapa do

processo de sistematizao, deste modo, optou-se pelo aprofundamento dessas questes com o

intuito adquirir conhecimentos possiveis de serem transferiveis a prtica profissional.

1.2. CARACTERIZAO DO PROBLEMA

crescente o interesse no tratamento para resoluo das leses por parte dos

enfermeiros e tambm dos gestores de clnicas, hospitais e centros de reabilitao. O cuidado

ao paciente com feridas, quaisquer que sejam suas etiologias, um ramo de atuao especfica

da Enfermagem e requer intervenes fundamentadas em evidncias cientficas (MARIA e

AUN, 2004).

O tratamento e cicatrizao de feridas dependem da equipe de enfermagem e da

adeso do paciente para que possa ser recuperado com brevidade. Os curativos so

denominados como cuidados dispensados a uma rea do corpo que sofreu soluo de

continuidade, o meio teraputico que consiste na aplicao de uma cobertura estril sobre

uma ferida previamente limpa (CUNHA, 2006).

Segundo Candido (2001, p. 5) as finalidades do curativo so: prevenir a

contaminao, promover a cicatrizao (por meio de tcnica assptica), proteger a ferida;

absorver secreo, facilitar a drenagem, aliviar a dor e eliminar fatores negativos que possa

retard-lo.

Assim, cuidar de feridas pode ser entendido como um processo dinmico, complexo e

que requer uma ateno especial principalmente quando se refere a uma leso crnica.

O enfermeiro deve ter uma viso ampla no que se refere ao tratamento de uma ferida. O papel

desse profissional no se resume apenas na execuo dos curativos prescritos pelo mdico

(CUNHA, 2006).

18

O profissional de enfermagem exerce um importante papel no tratamento de feridas

aliada as orientaes, compreenso do estado de sade, conhecimentos anteriores para a

execuo do auto-cuidado.

As leses crnicas interferem na qualidade de vida da populao e apresentam custo

elevado para o setor pblico. So consideradas como um problema de sade pblica.

(BRASIL, 2002). Elas podem ocasionar dor, imobilidade, incapacidade, alteraes

psicoemocionais relacionadas com a autoestima e a autoimagem, e mudanas sociais advindas

das hospitalizaes e afastamento do convvio social (MACIEL, 2008).

Para compreender-se a importncia da incluso de novas tecnologias de cuidado com a

pele, precisa-se dimensionar a importncia da realizao segura e acurada de cada fase inter-

relacionada do processo de enfermagem.

Assim, considera-se que o cuidado com as leses envolve uma rea de complexidade

em sade, incluindo aspectos desde a avaliao da ferida e indivduo, escolha de produtos e

processos de cuidar em enfermagem, associando contextos da tecnologia fundamentais para

seu desenvolvimento cientfico e social.

No ambulatrio de reparo de feridas do HUAP, cenrio deste estudo, o atendimento

diferenciado, realizado pelos professores da EEAAC, enfermeiros do hospital, residentes de

enfermagem, alunos bolsistas de iniciao cientfica, mestrandos e alunos de graduao, o que

tem feito do ambulatrio um servio de referncia, tanto clnico como de pesquisa. Portanto, a

SAE e o raciocnio diagnstico realizado, porm de forma no padronizada.

Dentro desse contexto, torna-se relevante a execuo da Sistematizao da Assistncia

de Enfermagem atravs da linguagem padronizada no cuidado aos indivduos com leses,

contribuindo assim para uma assistncia qualificada e facilitando a recuperao da

documentao de enfermagem.

A assistncia de enfermagem no Brasil foi proposta inicialmente por Wanda Horta, em

1969, como uma dinmica de aes sistematizadas e inter-relacionadas, visando a assistncia

do ser humano. Estabelecido em 6 fases: histrico, diagnstico, plano assistencial, plano de

cuidados, evoluo e prognstico. Tais aes centralizavam-se no indivduo, famlia e na

comunidade (HORTA, 1979).

Atualmente, afirma-se que o processo de enfermagem se operacionaliza em cinco

etapas: investigao ou histrico, diagnstico, planejamento, implementao e avaliao

(COFEN, 2009).

As atribuies de enfermagem para o cuidado do paciente, dentro do processo de

enfermagem, quando planejadas a partir de uma linguagem padronizada, permitem avaliar

19

melhor a eficcia dos cuidados prestados, reorganizar a assistncia e averiguar os resultados

alcanados (DOCHTERMAN e BULECHEK, 2008).

A SAE uma atividade privativa do enfermeiro que norteia as atividades da equipe de

enfermagem. a essncia da prtica da Enfermagem, instrumento e metodologia da profisso,

e como tal auxilia o enfermeiro a tomar decises, prever e avaliar consequncias (COFEN,

2009). Vislumbra o aperfeioamento da capacidade de solucionar problemas, tomar decises e

maximizar oportunidades e recursos (FULY e LEITE, 2009).

Deste modo, envolve a tomada de deciso, individualizao do cuidado, planejamento

das aes e a gerao do conhecimento a partir da prtica, sendo necessria a utilizao de

aspectos tcnicos, intelectuais, interacionais e taxonmicos. Portanto, para se evidenciar os

benefcios da implementao do processo de enfermagem na prtica assistencial, torna-se

primordial estabelecer os diagnsticos de enfermagem a partir dos registros de enfermagem j

existentes na prtica de enfermagem.

Pois, o processo de enfermagem tem-se constitudo como instrumento facilitador do

desempenho prtico e do trmite da documentao do paciente. Por meio desse processo, os

profissionais da rea organizam a informao disponvel e determinam as intervenes que

devem ser estabelecidas para atender as necessidades dos pacientes, e os resultados esperados.

A expresso diagnstico de enfermagem est definida pela NANDA-Internacional

(NANDA-I, 2011) como:

um julgamento clnico sobre a resposta de um indivduo, uma famlia ou uma comunidade com relao a problemas de sade reais ou potenciais/ processos de vida que fornecem a base para uma terapia definitiva que busca alcanar resultados nos quais a enfermagem necessria.

O raciocnio diagnstico fundamental assistncia de Enfermagem verdadeiramente

cientfica, permitindo melhor qualidade da ateno sade humana atravs da discriminao

de problemas que demandem o cuidado pelo profissional habilitado.

A evoluo tecnolgica na rea da informao tem sido uma constante nos dias atuais,

levando a enfermagem a buscar o seu desenvolvimento nesta temtica. Para tanto, fez-se

necessrio a criao de classificaes para sua prtica, com linguagens padronizadas, capazes

de comunicar o seu saber e fazer (NAPOLEO, 2007).

A classificao tem sua importncia reconhecida, porm admite-se que, por tratar-se

de uma classificao internacional e, tendo em vista os progressivos avanos nas tecnologias

de cuidado para o paciente com integridade da pele prejudicada, h ainda necessidade de

20

testar a sua aplicabilidade, assim como introduzir as inovaes no campo prtico, no cotidiano

dos profissionais de Enfermagem no Brasil, como na adequao da Classificao prtica.

1.3. QUESTO NORTEADORA

Os termos direcionados ao diagnstico de enfermagem do paciente do ambulatrio de

reparo de feridas do HUAP, em comparao com a Classificao NANDA-I, esto de fato

estabelecidos para essa situao, ou ocorre situaes inovadoras, ou mesmo uma discrepncia

entre o descrito no pronturio e o que prev a Classificao?

1.4. OBJETO DE ESTUDO

Registros (Termos/ Diagnsticos) de enfermagem em pacientes com leses tissulares

atendidos no ambulatrio de reparo de feridas do Hospital Universitrio Antnio Pedro.

1.5. OBJETIVOS

1.5.1. Objetivo Geral:

Comparar termos registrados nos pronturios com os diagnsticos de enfermagem

propostos pela NANDA-I.

1.5.2. Objetivos Especficos:

Caracterizar os pacientes com leses com relao ao sexo, idade, co-morbidades,

tempo e tipo de tratamento;

Identificar os termos registrados pela equipe de enfermagem;

Analisar os diagnsticos de enfermagem frequentemente observados nos pacientes

com leses.

1.6. JUSTIFICATIVA

Trs perspectivas tericas demostram a importncia do uso das linguagens

padronizadas:

21

Teoria Lingustica (Hayakawa; Hayakawa, 1990): Classificaes so ferramentas

necessrias para a comunicao de uns com os outros. Enfermeiros, como outras

pessoas, pensam com palavras, ento necessitam de palavras para pensar acerca de

fenmenos pelos quais respondem. No podem discernir eventos pelas quais no tm

palavras ou frases para pensar. De acordo com a teoria lingustica, nomear

classificar, assim, toda vez que um nome dado a um fenmeno, a classificao est

ocorrendo. Isto significa que, mesmo sem a padronizao de termos, a classificao

ocorre. (LUNNEY, 2003)

Pensamento crtico (Brokkfield, 1991; Scheffer e Rubenfeld, 2000): O uso dos

conceitos NNN ajuda os enfermeiros a gerar hipteses, imaginar alternativas, e usar o

ceticismo reflexivo, ou seja, as incerteza a respeito do pensamento.

Preciso diagnstica (Lunney, 2001): O uso de linguagens padronizadas favorece a

preciso diagnstica.

Portanto, dispor de instrumento que permita a ascenso acurada dos

diagnsticos/fenomenos formulados pelos enfermeiros poder trazer benefcios de estudos

clinicos de enfermagem como tambm a implantao da SAE. Segundo Souza (2002, p.42):

A fundamental importncia que tem a linguagem no pode levar-nos a pensar que os conceitos que a formam so verdades essenciais, imutveis. Eles no so fotografias perfeitas da realidade, mas possuem atributos comuns e semelhantes aos observados nos fenmenos do real.

De uma unidade para outra, dentro do prprio hospital, pode-se denominar eventos

semelhantes com palavras diferentes, o uso das palavras varia de regio para regio. Por isto,

a nomenclatura cientfica se torna to necessria a prtica de enfermagem.

Do diagnstico depende a adequao das intervenes escolhidas e, portanto, a

qualidade da assistncia de enfermagem. A confiabilidade dos resultados de pesquisas que se

propem a descrever perfis de diagnsticos de populaes especficas depende dos

diagnsticos identificados corretamente, o que serve ao exemplo da importncia desta

pesquisa.

Na realidade brasileira, ainda so poucas as experincias na aplicao destas

classificaes, sejam de diagnsticos, intervenes ou resultados, embora existam muitos

registros de enfermagem com linguagem no padronizada.

22

Fazendo-se necessrio investir na realizao de pesquisas, justificando o presente

trabalho, como descrito no estado da arte apresentado no perodo de 2008 a 2012 (ltimos 5

anos), Quadro 1, ao relacionar os estudos encontrados nas bases de dados, LILACS,

MEDLINE e CINAHL demonstrados individualmente e, em cruzamentos com os seguintes

descritores: pele (skin) e processos de enfermagem (nursing process).

Quadro 1. UFF/EEAAC: Estado da arte de 2008 a 2012 utilizando os descritores: pele (skin)

e processos de enfermagem (nursing process). Niteri-RJ, 2013.

Apresenta-se a seguir um fluxograma correspondente aos artigos selecionados por

ttulo e resumo com os descritores Pele associados ao operador boleano AND com

Processos de Enfermagem:

Figura 1. Fluxograma dos artigos selecionados por ttulo e resumo. EEAAC/UFF. Niteri,

2013.

Nmero total de artigos

52

Lilacs6

Selecionados por ttulo e resumo

3

Medline22

Selecionados por ttulo e resumo

2

Cinahl24

Selecionados por ttulo e resumo

5

DESCRITOR Selecionados por

ttulo e resumo

Total de

artigos

LILACS MEDLINE CINAHL

Pele 0 22.444 236 8427 13.781

Processos de

Enfermagem

0 20.399 105 19093 1.201

Pele + Processos de

Enfermagem

14 52 6 22 24

23

Verifica-se como resultados obtidos 10 artigos selecionados, destes destaca-se um

artigo que descreve as intervenes de enfermagem mais utilizadas na prtica clnica de uma

unidade de terapia intensiva, com base nas prescries de enfermagem, e analisa a sua

similaridade com a NIC (LUCENA; GUTIRREZ; ECHER; BARROS; 2010).

Outro identifica a frequncia dos principais diagnsticos de enfermagem de acordo

com a NANDA-I em pacientes masculinos internados em um hospital na clnica ortopdica.

(SILVA, VIANA e VOLPATO, 2008).

Verifica-se tambm um artigo que identifica os Diagnsticos de Enfermagem mais

frequentes e prope intervenes segundo a ligao entre NANDA-I, NIC e NOC, para

mulheres internadas em uma unidade de terapia intensiva materna. (OLIVEIRA e FREITAS,

2009). Nesses trs artigos citados, h o levantamento dos diagnsticos de enfermagem Risco

para Integridade da Pele Prejudicada e Integridade da Pele Prejudicada.

Um artigo selecionado revela que h melhoria significativa na recuperao de

pacientes com lcera de presso adquiridas no hospital ao se utilizar o processo de

enfermagem. (YOUNG, ERNSTING, KEHOE e HOLMES, 2010). Outro ainda revela que h

reas que precisam de melhorias como: a falta de profissionais para o cuidado da ferida,

mtodos para documentar de forma consistente a preveno e os dados sobre a ferida, e uma

abordagem interdisciplinar da equipe de atendimento, bem como um registro eletrnico.

(MILNE, TRIGILIA, HOULE, DELONG e ROSENBLUM, 2009).

Outros artigos no selecionados abordam temas como: processos e programas

mdicos, preveno de lceras por presso sem a utilizao especfica do processo de

enfermagem, processo de cicatrizao da ferida, terapia a vcuo, validao de produtos e

processo educacional para o tratamento de feridas, os quais no so considerados relevantes

para o estudo proposto.

Identifica-se tambm que o processo de sistematizao da assistncia tem sido

aplicado pontualmente e no em larga escala, que seria o ideal para que gerasse mudanas no

perfil do Sistema de Sade como um todo.

A realizao desta busca nos aponta uma possvel lacuna sobre estudos que retratem

processos de enfermagem relacionados pele, principalmente no que se refere ao cuidado

ambulatorial de feridas, fato que justifica e ressalta a importncia do desenvolvimento deste

trabalho. Atentando-se para a restrita produo cientfica na rea de diagnsticos de

enfermagem. Destaca-se tambm a importncia de introduzir padronizaes e avanos na

linguagem.

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Young%20J%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=20736858http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Ernsting%20M%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=20736858http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Kehoe%20A%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=20736858http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Holmes%20K%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=20736858

24

A primeira gerao do processo de enfermagem (PE) caracterizada por aquela onde o

raciocnio clnico dar-se- pela identificao de problemas que devero ser solucionados luz

dos referenciais tericos que possibilitaram a sua identificao e que apoiaro as aes de

enfermagem para solucion-los (BARROS, 2009).

A segunda gerao do PE est atrelada ao uso de Classificaes de Diagnsticos, na

qual o raciocnio clnico faz-se pela formulao de hipteses diagnsticas, que sero

afirmadas ou refutadas se as metas/objetivos declarados forem, ou no, alcanados

(BARROS, 2009). O diagnstico de enfermagem a segunda etapa do processo de

enfermagem, sendo considerado fundamental, no qual os dados colhidos atravs do histrico

de enfermagem so analisados e interpretados originando os diagnsticos adequados e

especficos.

Segundo o Conselho Federal de Enfermagem (2009) o diagnstico de enfermagem o

processo de interpretao e agrupamento dos dados coletados na primeira etapa, que culmina

com a tomada de deciso sobre os conceitos diagnsticos de enfermagem que representam,

com mais exatido, as respostas da pessoa, famlia ou coletividade humana em um dado

momento do processo sade e doena; e que constituem a base para a seleo das aes ou

intervenes com as quais se objetiva alcanar os resultados esperados.

O diagnstico de enfermagem contribui para a continuidade da assistncia de

enfermagem, por facilitar a troca de informao atravs de uma linguagem padronizada.

Manrique e Pedraza (2008, p. 213) reforam esta ideia de que os diagnsticos de

enfermagem um mtodo que proporciona a enfermagem uma linguagem prpria e

padronizada a fim de comunicar suas aes.

1.7. RELEVNCIA

Considerando os pontos anteriormente citados, a relevncia deste estudo est na

sistematizao do cuidado ao cliente com feridas, j que considera suas especificidades com o

enfoque no diagnstico e, o consequente conhecimento de sua realidade. Da mesma forma

que pode contribuir para comparao de pesquisas futuras nesta rea, nas quais podem ser

aprofundadas as informaes sobre o tema e contribuir para a prtica especializada sobre o

cuidado a essa clientela.

Pesquisar os diagnsticos de enfermagem se insere no contexto de valorizao e

crescimento profissional do enfermeiro, possibilitando aprimoramento, que associadas aos

modos qualitativos de pesquisa colaboram consistentemente na evoluo da pesquisa em

25

enfermagem. Pesquisas futuras j contam com os resultados deste estudo para prosseguirem

em desenvolvimento.

Ao ensino pretende-se neste estudo proporcionar aos estudantes e professores, meios

de consulta da articulao dos cuidados prticos a teoria e pesquisa, promovendo material

didtico facilitador do processo ensino-aprendizagem, com valorizao simultnea e contnua

da pesquisa e da prtica.

Assim como adere ao Grupo de Estudos em Sistematizao da Assistncia de

Enfermagem (GESAE UFF) em sua linha Sistematizao da Assistncia de Enfermagem e,

concomitantemente, ao Ambulatrio de Reparo de Feridas do Hospital Universitrio Antonio

Pedro (HUAP)

A formao do enfermeiro carece de informaes inerentes SAE, de modo que este

estudo poder auxiliar na nfase dos diagnsticos de enfermagem. Principalmente por ser um

ramo de atuao especfica da enfermagem e necessidade de informaes sobre o assunto. A

noo de diagnstico permitir desenvolver um senso de maior flexibilidade no julgamento

clnico.

Padronizar a nomenclatura da prtica de enfermagem contribui para expanso do

conhecimento de enfermagem sobre a ligao entre diagnstico, tratamentos e resultados,

fornece subsdios para o ensino da tomada de deciso dos estudantes de enfermagem e,

favorece a comunicao e a continuidade da assistncia.

Alm disso, permitem a anlise detalhada do processo de traduo e utilizao das

classificaes concebidas em outros idiomas e diferentes contextos culturais, fortalecem e

disseminam o uso das classificaes.

Ademais, a equipe multiprofissional pode ampliar seus conhecimentos por meio de

estudos que abordem esta problemtica e aplicar a assistncia de modo holstico e individual

aos clientes com leses, maximizando a qualidade no atendimento, bem como abre caminhos

para novos estudos.

26

2.

REVISO DE LITERATURA

2.1. LESES

Leso tissular qualquer leso que interrompe a continuidade da pele. Podendo atingir

a epiderme, a derme, tecido subcutneo, fscia muscular, chegando a expor estruturas

profundas. Ou seja, um dano que atinge o tecido em diversas localidades e nveis de

comprometimento. Podem ser causadas por inflamaes, feridas, queimaduras, armas,

bactrias, fungos, presso (FLORIANPOLIS, 2008).

Lidar com o tratamento de leses cutneas trata-se de uma das atividades mais

frequentes no cotidiano do enfermeiro. Desde seu incio como profisso, a enfermagem atuou

como principal cuidador desse tipo de leso (FERREIRA et al., 2008).

Ao pensar nos cuidados de enfermagem com a pele, o maior rgo de nosso corpo,

pode-se reportar a Florence Nightingale, que desde 1874, atribua aos cuidados ao corpo,

como importante atuao de enfermagem. Entretanto, h relatos anteriores de cuidados com

leses teciduais, no Egito e na Grcia Antiga, quando eram utilizados: graxa, mel, fios de

linho, carne fresca, gua morna, vinho e vinagre para a realizao de curativos (DEALEY,

2009).

Pois, relata-se que durante a Guerra da Crimia, houve necessidade de realizao de

curativos, devido ao nmero de feridos, sendo tambm utilizados fios de linho e roupas

desfiadas. Estes produtos eram lavados e reaproveitados vrias vezes, o que os tornavam mais

macios. E, somente no sculo XIX, descobriu-se o primeiro curativo absorvente, desenvolvido

por Gamgee, a partir da utilizao de l de algodo (DEALEY, 2009).

Desde ento, o cuidado com as lceras por presso evoluiu consideravelmente.

Contribuindo para que profissionais de sade envolvidos no cuidado pudessem revisar

conceitos e prticas (FIGUEIREDO, 2008).

27

Muitas lceras, sobretudo em pacientes idosos, tm mltipla etiologia. Porm, segundo

Smeltzer e Bare et al. (2009, p.856), cerca de 75% de todas as lceras de perna resultam da

insuficincia venosa crnica, enquanto que as leses decorrentes da insuficincia arterial

contribuem com aproximadamente 20% das leses. Os 5% restantes so causados por

queimaduras, anemia falciforme e outros fatores.

A atribuio do enfermeiro no cuidado do paciente com lceras por presso vai desde

a prescrio do uso de colches especiais, hidratantes para a pele e produtos de higiene

pessoal (BRASIL, 2005) at a prescrio do uso de coberturas (BRASIL, 1986). Assim, como

perpassa a responsabilidade tica, considerada fundamental, pois se trata da vida de outro ser

humano (FIGUEIREDO, 2008).

Portanto, durante o exame fsico, o enfermeiro identifica problemas, fatores de risco e

evidencias clnicas, como alteraes na pele em relao a sua colorao, presena de edemas,

colees lquidas, espessura, rachaduras e perdas teciduais e, inicia o processo de tomada de

deciso.

Por isso, validar um instrumento de avaliao de feridas crnicas ambulatoriais se

torna imperativo para a assistncia de enfermagem de excelncia. Pois, o uso de instrumentos

validados torna-se importante para identificao dos diagnsticos de enfermagem e com isso,

a elaborao do plano de cuidados individualizado, com base em resultados e intervenes

padronizadas.

A elaborao do plano de cuidados sofre influncia da idade e da situao geral do

paciente, e diante de tantas possibilidades apresentadas, a enfermeira deve buscar evidncias

para embasar a construo do plano de cuidados. Essas evidncias so fundamentadas pelo

exame e avaliao de risco da pele, por anamnese e exame fsico e a utilizao de um

instrumento pode facilitar a avaliao da pele (BORK, 2005).

Dentre as tcnicas de avaliao das leses existentes tem-se as escalas de avaliao

pela cor (Red, Yellow e Black), caracterizando as leses de acordo com o grau de

acometimento celular e fase de cicatrizao: Red para as leses em fase de granulao; Yellow

para leses em fase inflamatria, com presena de exsudato; e, Black para leses com necrose

(FIGUEIREDO, 2008). A escala de Braden e a de Norton, indicam o risco para

desenvolvimento de lceras por presso. Estudos comprovaram que a escala de Braden tem

maior aplicabilidade e validao em unidades clnicas e casas de repouso (BERGSTROM,

1996)

28

Existem mais de 2.000 produtos para tratar feridas no mercado, o que torna a escolha

do curativo correto uma tarefa difcil e desafiadora. Nesse sentido alguns fatores devem ser

considerados, segundo Bachion et al. (2001, p. 62):

Fatores relacionados com a ferida e a pele adjacente, como etiologia, tamanho, profundidade, localizao anatmica, volume de exsudato, risco ou presena de infeco, condies da pele adjacente. Fatores relacionados com o paciente, como condies nutricionais, doenas de base, necessidade de controle da dor e preferncias. Fatores relacionados com o curativo, como indicao, contra-indicao, vantagens e desvantagens, disponibilidade, durabilidade, adaptabilidade, e facilidade de uso.

Mandelbaumet al. (2003, p. 33), afirma que:

A escolha da cobertura ou curativo adequado deve considerar a localizao da ferida (rea de proeminncias sseas, regio de dobras), rea da ferida (comprimento x largura), profundidade da leso, quantidade de exsudato presente, existncia de tneis ou cavidades na leso, vitalidade dos tecidos no leito das feridas, condies da borda da ferida, presena de edema, odor, colorao do leito e da rea ao redor da ferida.

As coberturas so chamadas primrias quando permanecem em contato direto com a

leso e, secundrias quanto so posicionadas sobre a cobertura primria. Dealey (2009, p. 45),

sugere que:

A cobertura ideal deve ser capaz de manter a umidade adequada no leito da ferida, deve proteger a ferida das agresses do meio externo e deve ser capaz de remover o excesso de exsudao e prevenir a macerao da ferida. Deve ainda proporcionar temperatura adequada e constante no leito da leso, ser facilmente removida, sem danificar o leito ou a rea adjacente a ferida e no deixar resduos aps sua remoo.

Para a seleo dos produtos de limpeza, considera-se aquele que seja capaz de

proporcionar troca no traumtica e remover os tecidos desvitalizados que estejam

superficialmente posicionados na leso.

A utilizao da soluo fisiolgica parece amplamente difundida, porm existem

estudos que desaconselham o seu uso, devido presena de cloreto de sdio (NaCl), um sal

que possivelmente, causa desidratao no leito da ferida. Sobre o uso de solues anti-

spticas, seria desaconselhvel uso de iodforos do tipo Povidine Tpico, solues de

hipoclorito de sdio, por exemplo, Lquido de Dakin, gua oxigenada e cido actico, por

serem citotxicos.

29

Outros anti-spticos base de Polihexanida e Betana, exemplo: AquaSepti e

Prontosan so utilizados com boa aceitao e bons resultados, reduzindo a contaminao no

leito da ferida, minimizando odores desagradveis e melhorando o efeito das coberturas

utilizadas (LIMA, 2006).

Os principais produtos disponveis no mercado para tratamento das feridas dividem-se

em grandes grupos, de acordo com o seu mecanismo de ao. A classificao dos tipos de

curativos teve grande variao entre os autores pesquisados. Os curativos podem ser

classificados em: Semi oclusivo: curativo absorvente, comumente utilizado em feridas

cirrgicas; Oclusivo: no permite a passagem de ar ou fluidos, atuando como barreira contra

bactrias; Compressivo: indicado para reduzir o fluxo sanguneo ou promover a estase; Sutura

com fita adesiva: apropriado para cortes superficiais e de pequena extenso; Curativos

abertos: indicados para feridas que no tem indicao de serem ocludas; Curativos secos:

fechados com gaze ou compressa seca; Curativos midos: fechado com gaze ou compressa

umedecida com pomada ou solues prescritas; Drenagens: usadas em ferimentos com grande

quantidade de exsudato (FIGUEIREDO, 2008).

Assim ocorre uma gama de produtos no mercado, alguns sem estudos clnicos

randomizados e controlados, como de seguimento da adeso teraputica e educao em sade,

e abrangncia do impacto da leso na ferida no status funcional, questes fundamentais de se

considerar ao escolher a melhor interveno de enfermagem para resoluo de um

problema/diagnostico de enfermagem.

Ou seja, a assistncia de enfermagem inicia-se com uma boa investigao do paciente,

e a declarao acurada do diagnstico, pois a resoluo deste ser o foco do processo de

trabalho do enfermeiro.

2.1.1. Fisiopatologia das Leses

2.1.1.1. lceras Venosas

O sistema venoso no membro inferior classifica-se anatomicamente pela sua relao

com a fscia e constitui o sistema superficial (subcutneo), o sistema profundo (abaixo da

fscia muscular) e as veias perfurantes de ligao (MORISON et al, 2010).

Na dinmica vascular entre esses vasos, destaca-se a funo da bomba venosa do

membro inferior, formada pela ao muscular e pelas vlvulas das veias, a qual auxilia o

30

retorno de sangue venoso ao corao, sendo a contrao muscular o principal ativador desse

sistema.

De acordo com Morison et al. (2010, p.141), a presso nas veias musculares trs vezes

superior das veias superficiais, tendo as vlvulas venosas competentes a funo de impedir o

fluxo retrgrado. Isto , impossibilitar que o sangue das veias profundas retorne aos vasos

mais superficiais. Porm, se as vlvulas das veias superficiais e perfurantes forem

incompetentes, o sangue oscila entre os segmentos, fluindo erroneamente, do sistema

profundo para o superficial.

A incompetncia das vlvulas venosas desses trs sistemas leva o paciente a um quadro

de hipertenso venosa, que, por sua vez, conduz a distenso das veias perfurantes e a mais

disfuno valvular, determinando o aparecimento das veias varicosas (MORISON et al.,

2010). A insuficincia venosa crnica:

(...) caracteriza-se por dor descrita como difusa ou contusa. O p e o tornozelo podem estar edemaciados. As ulceraes so na rea do malolo medial ou lateral (rea da polaina) e, tipicamente, so grandes, altamente exsudativas e superficiais. A hipertenso venosa provoca os extravasamentos do sangue, que colore a regio. (SMELTZER E BARE, 2009, p.856)

Qualquer que seja a causa da insuficincia venosa, a consequncia uma capacidade

diminuda para reduzir a presso venosa durante o exerccio, o que pode eventualmente

desenvolver-se numa lcera.

Morison et al. (2010, p.143) verificaram que ocorria ulcerao cutnea se o aumento da

presso venosa nas veias do tornozelo excedesse os 40-60 mmHg.

Em estudos posteriores, identificou-se que se a presso de uma veia do p permanecer

acima dos 60 mmHg durante o andar h 50% de risco de desenvolvimento de uma lcera,

enquanto que se a presso for de 45-60 mmHg o risco ser de 25% e abaixo dos 45 mmHg o

risco negligencivel (MORISON et al, 2010, p.143)

Entre os sinais clnicos observados nesses pacientes, destacam-se dor, eczema varicoso

e hiperpigmentao (devido a cumulao de hemosiderina), atrofia branca e

lipodermatosclerose (fibrose na pele e nos tecidos subcutneos), de acordo com Morison et al

(2010, p. 144). A atrofia branca definida por Castro e Silva et al (2005, p.187) como uma

rea localizada de pele atrfica, frequentemente circular, de cor branca, circundada por

capilares dilatados e, s vezes, hiperpigmentao.

As lceras decorrentes dessa etiologia caracterizam-se por apresentar uma forma

irregular, com bordas bem definidas e comumente com exsudato amarelado, sendo raro o leito

31

da leso apresentar tecido necrtico ou exposio de tendes, podendo ser nicas ou mltiplas

e de tamanhos e localizaes variveis (ABBADE E LASTRIA, 2006).

2.1.1.2. lceras Arteriais

Os pacientes com lceras arteriais frequentemente tm como patologia de base a doena

arterial perifrica, que determina a claudicao intermitente ou sintomas isqumicos mais

graves, se no for tratada adequadamente.

De acordo com Morison et al (2010, p. 261), a claudicao intermitente uma dor tipo

cibra na barriga da perna ou nas ndegas, que se desenvolve durante episdios de exerccio e

rapidamente aliviada pelo repouso. A localizao da dor indica a rea da artria estenosada

ou obstruda na rvore arterial.

A doena arterial perifrica mais frequentemente uma manifestao de aterosclerose

sistmica, na qual o lmen arterial das extremidades inferiores vai ficando progressivamente

obstrudo por placa aterosclertica, causando isquemia. Dessa forma, pode-se dizer que, as

lceras arteriais ocorrem nas extremidades e so consequncia de aterosclerose grave,

restringindo o aporte sanguneo proveniente dos principais vasos que fornecem o membro

(MORISON et al, 2010).

Podem ser descritas como pequenas ulceraes circulares e profundas nas extremidades

dos artelhos ou nos espaos interdigitais entre os artelhos. Geralmente, essas lceras

desenvolvem-se no lado medial do hlux ou na poro lateral do quinto dedo, podendo ser

causadas por uma atuao conjunta dos fatores isquemia e presso (SMELTZER E BARE,

2009, p.856), sendo incidente a presena de tecido necrtico no leito da leso.

Outras caractersticas desse tipo de ulcerao incluem: cor de base plida quando a

perna elevada e vermelha quando as pernas esto pendentes, pele circundante brilhante, fina,

seca e sem pelos, rea ulcerada profunda, margens da ferida regulares, exsudato mnimo,

quantidades variveis de edema, temperatura da pele fria ao toque, raramente possui tecido de

granulao, pulsos perifricos diminudos ou ausentes, enchimento capilar retardado, pode

apresentar tecido necrtico ou gangrena e infeco (MORISON et al, 2010).

O limitado aporte sanguneo nas reas onde h formao de lceras arteriais impede o

desenvolvimento do tecido de granulao, que essencial para a adequada cicatrizao das

leses. O tecido adjacente a essas lceras geralmente perde viabilidade, dificultando ainda

mais esse processo. Essa inviabilidade ocorre geralmente devido a:

32

Perda da presso arterial (levando a mau funcionamento das anastomoses arteriovenosas drmicas), perda de exerccio (levando a ausncia de resposta hipermica nos capilares), desenvolvimento inadequado de circulao colateral entre as artrias tibial anterior e posterior na regio vulnervel da perna e perda de oxignio e aporte de nutrientes (levando a stress dos tecidos) (MORISON et al, 2010, p.263)

A partir da, h um ciclo vicioso de infeco e inflamao que no se resolve a menos

que o aporte de sangue arterial possa ser melhorado ou restaurado.

2.1.1.3. lceras Neuropticas

O diabetes definido pelo Ministrio da Sade (2006, p.9) como:

Um grupo de doenas metablicas caracterizadas por hiperglicemia e associadas a complicaes, disfunes e insuficincia de vrios rgos, especialmente olhos, rins, nervos, crebro, corao e vasos sangneos. Pode resultar de defeitos de secreo e/ou ao da insulina envolvendo processos patognicos especficos, por exemplo, destruio das clulas beta do pncreas (produtoras de insulina), resistncia ao da insulina, distrbios da secreo da insulina, entre outros.

As lceras de ps e amputaes de extremidades inferiores so as complicaes mais

graves da Diabetes Mellitus, ocorrendo, sobretudo, como evoluo direta da neuropatia

diabtica.

Esta pode manifestar-se, entre outras coisas, por sensao de queimao, choques,

agulhadas, formigamentos, fraqueza ou alterao de percepo da temperatura,

principalmente quando o paciente encontra-se em repouso, com exacerbao noite e

melhora com movimentos (MINISTRIO DA SADE, 2006).

Em virtude dessa clnica e de cofatores de risco como obesidade e insuficincias

vasculares, h um maior risco de surgimento de leses nos membros inferiores nesses

pacientes. Tambm de acordo com o Ministrio da Sade (2006, p.40), o reconhecimento

precoce da neuropatia diabtica importante, pois permite o incio de um tratamento

especfico e da orientao adequada aos pacientes em risco de adquirir ou que j possuam

leses no percebidas.

Morison et al (2010, p. 318) afirma que as lceras neuropticas surgem a partir de

leses mecnicas, trmicas ou qumicas que no so percebidas pelo doente devido perda

de sensao de dor, sendo classicamente localizadas sob os topos metatrsicos, mas

encontrando-se mais comumente na face plantar dos dedos dos ps. Este autor tambm reitera

que:

33

As leses mecnicas diretas podem resultar de pisar objetos cortantes, mas a causa mais comum de ulcerao so as foras mecnicas repetitivas do andar, que resultam na formao de calosidades, autlise inflamatria e hematomas subqueratticos. A necrose tecidual ocorre sob a placa de calo, resultando numa pequena cavidade preenchida com fludo seroso, que acaba por se quebrar para a superfcie, com formao de lceras.

Assim, pode-se dizer que a avaliao integral do paciente destaca-se como um fator

extremamente relevante para que seja possvel intervir com eficcia no estado geral de sade,

ou seja, tratar simplesmente a lcera no permitir que os melhores resultados sejam

alcanados.

A elaborao do plano de cuidados sofre influncia da idade e da situao geral do

paciente, e diante de tantas possibilidades apresentadas, a enfermeira deve buscar evidncias

para embasar a construo do plano de cuidados. Essas evidncias so fundamentadas pelo

exame e avaliao de risco da pele, por anamnese e exame fsico e a utilizao de um

instrumento pode facilitar a avaliao da pele (BORK, 2005).

Portanto, durante o exame fsico, o enfermeiro identifica problemas, fatores de risco e

evidencias clnicas, como alteraes na pele em relao a sua colorao, presena de edemas,

colees lquidas, espessura, rachaduras e perdas teciduais e, inicia o processo de tomada de

deciso.

Por isso, validar um instrumento de avaliao de feridas crnicas ambulatoriais se

torna imperativo para a assistncia de enfermagem de excelncia. Pois, o uso de instrumentos

validados torna-se importante para identificao dos diagnsticos de enfermagem e com isso,

a elaborao do plano de cuidados individualizado, com base em resultados e intervenes

padronizadas.

2.2. CONTEXTUALIZANDO A SISTEMATIZAO DA ASSISTNCIA DE

ENFERMAGEM E OS SISTEMAS DE CLASSIFICAO

A enfermagem conta com teorias ou modelos de enfermagem como uma estrutura para

orientar a prtica profissional. E o mtodo que possibilita esta utilizao na prtica o

Processo de Enfermagem.

A atividade de cuidar exige confiabilidade, a utilizao de instrumentos para

normatizar a assistncia de enfermagem contribui para a realizao de procedimentos seguros

(PROTOCOLOS DE ENFERMAGEM, 2012).

34

O processo de enfermagem tem-se constitudo como instrumento facilitador do

desempenho prtico e do trmite da documentao do paciente. Por meio desse processo, os

profissionais da rea organizam a informao disponvel e determinam as intervenes que

devem ser estabelecidas para atender as necessidades de sade dos pacientes e os resultados

esperados (a partir da implementao das intervenes).

A utilizao da linguagem de enfermagem padronizada iniciou nos anos 70, quando

um grupo de enfermeiras norte-americanas percebeu a necessidade do desenvolvimento de

uma terminologia para descrever as respostas humanas e processos vitais diagnosticados e

tratados por profissionais de Enfermagem (TANNURE, 2009).

A conscincia do esforo de organizao terica influi na percepo da necessidade de

nomenclaturas, de linguagens, da classificao dos fenmenos pertinentes rea de

enfermagem (SOUZA, 2002). Os sistemas de classificao so instrumentos tecnolgicos que

fornecem uma linguagem padronizada a ser utilizada no Processo de Enfermagem e na

documentao da prtica profissional. Os conceitos includos nesses sistemas de classificao

fazem parte da linguagem profissional da Enfermagem (GARCIA e NBREGA, 2004).

De acordo com Moorhead et al (2008, p. 49), a criao de uma linguagem padronizada

de enfermagem requer identificao, pesquisas e aplicao de termos comuns, bem como, de

mensuraes para o estabelecimento dos diagnsticos, intervenes e dos resultados

esperados e alcanados pelo paciente.

A utilizao de linguagens padronizadas em enfermagem vem sendo desenvolvida e

divulgada amplamente. Dentre as classificaes existentes, tem-se o catlogo CIPE

(Classificao Internacional para Prtica de Enfermagem) e, a Taxonomias da NANDA- I,

Classificao dos Resultados de Enfermagem (NOC) e, Classificao das Intervenes de

Enfermagem (NIC), cujo intuito principal seria definir os fenmenos, aes da enfermagem e

descrever as contribuies da enfermagem na rea dos cuidados de sade.

Em 2002 foi proposta e aprovada a Taxonomia II da NANDA-I que compreende trs

nveis: domnios, classes e diagnsticos de enfermagem. E ainda nessa poca houve tambm a

criao de uma estrutura taxonmica comum a prtica de enfermagem, incluindo a NANDA-

I, NIC e NOC ou Taxonomia NNN (TANNURE, 2009).

A Enfermagem Baseada em Evidncias visa determinao de intervenes que de

fato sejam teis, valorizando as prticas mais relevantes, com procedimentos seguros,

resolutivos e com menor custo possvel. Esta deseja integrar a melhor evidncia disponvel

com a experincia clnica e as caractersticas de cada paciente, garantindo cuidado

individualizado, algo fundamental para cuidado de enfermagem (DOMENICO e IDE, 2003).

35

Os princpios da Enfermagem Baseada em Evidncias, pretende integrar a melhor

evidncia disponvel com a experincia clnica e as caractersticas individuais de cada

paciente (BORK, 2005) e para isto a determinao de uma nomenclatura prpria e validada

traria a sustentabilidade desejada a prtica segura.

Portanto, a necessidade de comparar os diagnsticos encontrados na prtica, com

aqueles propostos na classificao, refora a ideia da documentao e registro da qualidade

dos cuidados prestados e sua contribuio construo da cincia em enfermagem.

Estes dados tornam-se ainda mais necessrios quando se avalia o tratamento das

leses, o qual apresenta especificidades em sua investigao agravadas pelas modificaes do

processo de cronicidade e complexidade do significado da ferida ao indivduo.

Segundo NANDA-I (2011), Taxonomia, a prtica e cincia de categorizao e

classificao. Esta inclui 206 diagnsticos de enfermagem e 13 domnios, distribudos em:

Atividade / Repouso; Autopercepo; Conforto; Crescimento / Desenvolvimento; Eliminao;

Enfrentamento / Tolerncia ao estresse; Nutrio; Percepo / Cognio; Princpios da Vida;

Promoo da Sade; Relacionamento de Papis; Segurana / Proteo; Sexualidade. Estes

distribudos da seguinte forma:

Figura 2. Distribuio dos domnios, classes e diagnsticos de enfermagem segundo a

NANDA-I. EEAAC/UFF. Niteri, 2013.

A estrutura que compe o diagnstico de enfermagem aponta a seguinte formao,

segundo NANDA-I, 2011:

Enunciado diagnstico onde estabelecido o nome do diagnstico. Representado

por uma expresso onde podem ser includos modificadores;

Definio descrio clara precisa do significado do diagnstico;

DOMNIO

CLASSE

TTULOS DIAGNSTICOS

36

Caractersticas definidoras indcios e inferncias observadas no sujeito como

manifestao de um diagnstico de enfermagem real, de bem-estar ou de promoo da

sade;

Fatores de risco elementos fisiolgicos, psicolgicos, genticos, qumicos ou fatores

ambientais que aumentam a vulnerabilidade do sujeito;

Fatores relacionados fatores que parecem estar relacionados de forma padronizada

com o diagnstico de enfermagem. Tambm so descritos como antecedentes,

associados, contribuintes ou estimuladores.

Os diagnsticos de enfermagem so consistentes com a definio citada, sendo tanto

reais, potenciais e de promoo da sade. Os elementos que constituem um diagnstico real e

de promoo da sade so o ttulo, sua definio, as caractersticas definidoras (sinais e

sintomas) e os fatores relacionados (fatores causadores ou associados). Os elementos de um

diagnstico potencial so o ttulo, a definio e os fatores de risco (SANTOS et al., 2008).

O diagnstico de enfermagem real descreve respostas humanas s condies de

sade/processos vitais que um indivduo, uma famlia ou uma comunidade apresentam de fato

no momento presente. Sustenta-se pelas caractersticas definidoras que se agrupam em

padres de sugestes ou inferncias relacionadas (TANNURE, 2009).

O diagnstico de promoo da sade refere ao julgamento clnico da motivao de um

indivduo, uma famlia ou comunidade de aumentar o bem-estar e concretizar o potencial de

sade humana (NANDA-I, 2010).

O diagnstico de enfermagem de risco descreve respostas humanas s condies de

sade que podem aparecer em um indivduo, uma famlia ou uma comunidade suscetveis.

Sustenta-se por fatores de risco que contribuem para a suscetibilidade aumentada

(TANNURE, 2009).

A anlise detalhada e profunda de dados clnicos fundamental para a compreenso

dos processos sade-doena, que esto presentes em uma determinada situao. E esta anlise,

tem sido uma tarefa contnua no trabalho da enfermagem (SILVA; ARAJO; LOPES, 2006).

A NANDA uma das classificaes de diagnsticos de enfermagem mais utilizadas

no Brasil e so, portanto, de extrema importncia para o desenvolvimento da Enfermagem, j

que so ferramentas para comparar o conhecimento mundialmente. Alm disso, se o

vocabulrio utilizado na prtica se fizer de forma estruturada, padronizada e classificada,

facilitar tanto o entendimento por parte dos profissionais, quanto o monitoramento da

37

qualidade do cuidado de enfermagem sob seus pacientes, podendo ainda ajudar na produo

de estudos e pesquisas cientficas (NBREGA, GARCIA, NBREGA e ARAJO, 2009).

A necessidade de construo de uma linguagem prpria da enfermagem, que contribua

para seu desenvolvimento como cincia e estabelea a descrio de sua prtica, tem levado

enfermeiros de todo o mundo, a se empenharem na construo de um vocbulo prprio e

preciso da profisso (CHIANCA, 2009).

Desta forma, observa-se que a classificao de diagnsticos de enfermagem faz-se

cada vez mais essencial para tornar a prtica da assistncia de enfermagem padronizada e

sistematizada tornando-a com qualidade e embasada no conhecimento cientfico.

38

3.

MTODO

3.1. TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo retrospectivo e observacional dos registros de enfermagem dos

pronturios de clientes do Ambulatrio de Reparo de Feridas, no Hospital Universitrio

Antonio Pedro da Universidade Federal Fluminense (HUAP/UFF), com abordagem

quantitativa, que empregou como ferramenta metodolgica o mapeamento cruzado (cross-

maping).

No desenvolver das linguagens padronizadas da enfermagem, o cross-mapping,

traduzido como mapeamento cruzado, pode ser identificado como uma ferramenta que

possibilita a comparao destas com outras linguagens, tais como aquelas que so utilizadas

no cotidiano dos servios ou ainda as de outros sistemas de classificao j existentes, entre

outras (NONINO, NAPOLEO, CARVALHO e PETRILLI FILHO, 2008).

O mapeamento cruzado definido como um processo para explicar algo atravs do uso

de palavras com significado igual ou semelhante ao padronizado (DELANEY E

MOORHEAD, 1997). Tem sua aplicabilidade nos casos em que se deseja analisar dados

contidos no processo de enfermagem, nos diferentes campos de cuidado, atravs da

comparao entre informaes existentes no pronturio do paciente e as classificaes de

referncia para a prtica de enfermagem (COENEN, RYAN E SUTTON, 1997).

Nonino, Napoleo, Carvalho e Petrilli Filho (2008) realizaram um estudo de reviso

sobre a utilizao do mapeamento cruzado na prtica de enfermagem, identificando que essa

ferramenta tem sido usada predominantemente para mapear linguagens no-padronizadas com

linguagens padronizadas.

Observa-se que com o mapeamento cruzado as Classificaes de Enfermagem podem

ser mapeadas com os dados existentes, adaptando-os para uma linguagem padronizada a partir

39

de uma linguagem utilizada no cotidiano da enfermagem. Esta forma de adequao visa

valorizar o raciocnio clnico realizado pelos enfermeiros em sua prtica.

Segundo Lucena e Barros (2005) o mapeamento cruzado um mtodo que pode ser

til na anlise das linguagens de enfermagem no padronizadas, quando comparadas s

classificaes de enfermagem, as quais utilizam terminologia uniforme.

Sendo o mapeamento cruzado uma ferramenta til para padronizar a linguagem no

cotidiano da enfermagem, esta se tornou til e recomendada para este estudo.

3.2. LOCAL DA PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida no Ambulatrio de Reparo de Feridas do Hospital

Universitrio Antonio Pedro (HUAP) localizado na cidade de Niteri no Estado do Rio de

Janeiro. a maior e mais complexa unidade de sade da Grande Niteri e, portanto,

considerado na hierarquia do SUS como hospital de nvel tercirio e quaternrio, isto ,

unidade de sade de alta complexidade de atendimento (BRASIL, 2012).

O ambulatrio de Reparo de Feridas do HUAP foi estruturado em 1993, pela

professora Beatriz Guitton, recebeu este nome em 2007, na poca da informatizao do

ambulatrio, at ento era chamado de Sala de Curativo. Entretanto, a proposta do

ambulatrio o atendimento ao paciente com leses ou propenso a desenvolv-la, seja

paciente com feridas agudas ou crnicas.

3.3. SUJEITOS DO ESTUDO

Os sujeitos deste estudo so os usurios do Ambulatrio de Reparo de Feridas do

HUAP, atendidos no perodo de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2012, com disponibilidade

de pesquisa pela Seo de Arquivo Mdico e estatstico do Servio de Documentao Mdica

do HUAP, de acordo com os preceitos ticos.

A amostra censuria, determinada de modo aleatrio simples, composta por uma

populao de 192 pronturios que atendam aos seguintes critrios de seleo: ser maior de 18

anos; pacientes portadores de leses tissulares com ou sem sinais infecciosos; de ambos os

sexos; com cinco ou mais atendimentos realizados no Ambulatrio de Reparo de Feridas.

Critrios de excluso: ausncia de registros significativos e/ou no disponibilidade do

pronturio.

40

Aps a utilizao dos critrios de incluso e excluso, obteve-se uma amostra de 81

pronturios.

3.4. COLETA DE DADOS

O perodo de coleta de dados foi de 3 meses. Foram utilizados os pronturios e

protocolos de avaliao de clientes com leses tissulares (PACL so instrumentos j

estabelecidos e em uso no ambulatrio e que tem a funo de uma ficha de cadastro dos

pacientes em atendimento, sendo atualizados anualmente para todos os pacientes) dos

pacientes atendidos no Ambulatrio de Reparo de Feridas.

O levantamento dos termos na coleta de dados foi feito atravs de um formulrio de

pesquisa (APNDICE A), preenchido diretamente em computador pessoal. Os registros de

enfermagem que continham pelo menos cinco registros do ano de 2012 relativos ao

atendimento no Ambulatrio de Reparo de Feridas foram transcritos.

Para Leopardi (2002, p. 181) o formulrio ocorre numa ordem sistematizada, uma vez

que afirma que uma lista informal, catlogo ou inventrio, destinado coleta de dados

resultantes nas observaes, nas interrogaes, cujo preenchimento feito pelo prprio

investigador.

Descrio do formulrio de pesquisa:

Parte 1: composta por caractersticas do usurio do ambulatrio, diagnstico

mdico e dados sociais.

Parte 2: registro realizado para o mapeamento dos diagnsticos de

enfermagem. Foi realizada a transcrio dos cinco ltimos registros de

enfermagem de 2012 do pronturio para o formulrio, na ntegra.

Parte 3: representa o primeiro passo do estudo de Zielstorff (1992), sendo

composta por lacunas, que sero preenchidas atravs da fragmentao dos

registros para a busca de termos que possam descrever os diagnsticos de

enfermagem.

Parte 4: tambm composta por lacunas que sero completadas a partir da

identificao dos ttulos dos diagnsticos de enfermagem reais e potenciais,

pelas pesquisadoras.

A forma de utilizao do Cross-mapping deve respeitar a apresentao dos termos a

ser comparado paralelamente.

41

3.5. ANLISE DOS DADOS

O mapeamento foi realizado atravs da transcrio e anlise dos registros de

enfermagem de cada pronturio que continham no mnimo cinco consultas de enfermagem no

ambulatrio de reparo de feridas no ano de 2012.

A comparao dos dados clnicos com a classificao NANDA-I foi baseado no

estudo de Zielstorff 1992, (enfermeira americana especialista em sistema de informao na

enfermagem). Este estudo foi realizado para verificar se o Metathesaurus (Meta) da National

Library of Medicine Sistema Unificado de Linguagem Mdica (UMLS) inclui terminologia

relevante, para a prtica de enfermagem clnica. Foram utilizados duas linguagens de

enfermagem (NANDA-I e Omaha System) para o mapeamento com o UMLS (INC, 2011).

O mtodo desenvolvido por Zielstorff (1992) foi reproduzido na pesquisa sobre

Fenmenos de enfermagem identificados em consultas de planejamento familiar segundo a

ICNP (International Classification for Nursing Practice Classificao Internacional para a

prtica de enfermagem) em 2006.

O estudo de Zielstorff (1992), apresenta duas regras para sua realizao:

Categorizao dos termos de Enfermagem: rastreamento busca por termos;

Separao de conceitos nucleares de modificadores: processo realizado para

aumentar a combinao entre os termos (ZIELSTORFF, 1992).

Baseado nesse estudo e com algumas adaptaes, o mapeamento utilizado para esta

pesquisa foi realizada em quatro etapas, descritas a seguir:

Primeira etapa: levantamento dos problemas de enfermagem.

Na primeira fase de anlise dos dados, a partir das informaes advindas dos

pronturios digitadas nos formulrios de pesquisa foram extradas as expresses que

denotassem os problemas de enfermagem, as quais sero armazenadas no primeiro banco de

dados do programa Microsoft Excel 2010 (este arquivo conter apenas os termos advindos

dos pronturios).

Atravs da fragmentao dos registros realizou-se a busca de termos intactos

(caractersticas definidoras) pelo pesquisador, que podem descrever os diagnsticos de

enfermagem.

42

Segunda etapa: categorizao dos termos e identificao dos fatores relacionados e de

risco

Os termos foram comparados com as caractersticas definidoras da classificao dos

diagnsticos de enfermagem NANDA-I. Realizou-se a categorizao dos termos de

enfermagem atravs da anlise de combinao, porm adaptada: se o termo encontrado

combinasse exatamente com o termo do sistema de classificao, era categorizado como

combinao exata, se apresentasse sinnimos, conceitos similares e termos relacionados, era

combinado como combinao parcial. E os termos que no apresentaram nenhuma

semelhana, no tiveram nenhuma combinao.

Houve a identificao dos fatores relacionados e de risco atravs da interpretao de

termos relacionados, sinnimos ou conceitos similares que podem traduzir as alteraes

hemodinmicas provocadas pela fisiopatologia das doenas de base.

A realizao desta etapa do mapeamento cruzado destes termos com a Classificao

NANDA-I culminar na formao de um segundo banco de dados (utilizando este mesmo

software), que conter apenas os diagnsticos de enfermagem padronizados segundo a

classificao.

Terceira etapa: anlise estatstica

Realizao das associaes que so feitas para as variveis qualitativas e para as

variveis quantitativas. Os dados foram discutidos e apresentados em forma de estatstica

descritiva, sob forma de tabelas expressos pela frequncia (n) e percentual (%) para dados

categricos (qualitativos) e pela mdia, desvio padro, mediana, mnimo e mximo para dados

numricos.

Quarta Etapa: categorizao dos diagnsticos

Na quarta fase os diagnsticos padronizados e avaliados, segundo a classificao

foram categorizados. Por fim, a partir do momento em que obteve-se um banco de dados com

os termos no mapeados e um com os termos j segundo a Classificao NANDA, foi

possvel identificar as discrepncias ou semelhanas entre os diagnsticos estabelecidos na

prtica e os previstos pela literatura.

43

3.6. ASPECTOS TICOS

O projeto foi aprovado Pelo Comit de tica e Pesquisa da Faculdade de Medicina da

Universidade Federal Fluminense / FM/ UFF/ HU sob o n 219.752/08-03-2013 (Anexo A),

de acordo com a resoluo 196/96 sobre a pesquisa com seres humanos do Conselho Nacional

de Sade/Ministrio.

44

4.

4.1. CARACTERIZAO SOCIODEMOGRFICA E CLNICA

RESULTADOS

Na tabela 1 observa-se a distribuio em idade dos 81 pacientes analisados pelo

pronturio, descritas em dados agrupados atravs da frequncia simples, acumulada, relativa,

percentual e mdia dos estratos.

Tabela 1. Distribuio em idade dos pacientes atendidos no Ambulatrio de Reparo de

Feridas do HUAP em 2012. EEAAC/UFF. Niteri, 2013.

Idade Fi fac Fr Fra Fp Fpa xi Xifi (xifi)fi 23 30,67 3 3 0,04 0,04 4 4 26,84 80,52 3294,7788

30,67 38,34 1 4 0,01 0,05 1 5 34,51 34,51 648,7209 38,34 46,01 10 14 0,12 0,17 12 17 42,18 421,80 3168,4000 46,01 53,68 11 25 0,14 0,31 14 31 49,85 548,35 1128,7859 53,68 61,35 19 44 0,23 0,54 23 54 57,52 1092,88 114,9804 61,35 69,02 12 56 0,15 0,69 15 69 65,19 782,28 325,7292 69,02 76,69 17 73 0,21 0,90 21 90 72,86 1238,62 2820,2048 76,69 84,36 6 79 0,07 0,97 7 97 80,53 483,18 2533,8150

84,36 92 2 81 0,03 1 3 100 88,18 176,36 1590,4800 81 1,00 100 4.858,50 15625,8950

A mdia de idade de 59,98 anos, porm tem-se uma alta variabilidade com desvio

padro de 13,98, e coeficiente de variao de 23,3% com idade mnima e mxima variando de 23

a 92 anos, o que indica a heterogeneidade da amostra.

Considerando os indivduos acima de 60 anos obtm-se uma frequncia de 40 sujeitos, o

que corresponde a 49,38% da populao estudada.

45

Na tabela 2 tem-se o perfil geral dos 81 pronturios analisados quanto s

caractersticas sociodemogrficas e clnicas (sexo, estado civil, naturalidade, procedncia,

etnia e tempo de tratamento em meses), descritas pela frequncia (n) e o percentual (%).

Tabela 2. Distribuio das variveis sciodemogrficas e clnicas entre pacientes atendidos

no Ambulatrio de Reparo de Feridas do HUAP em 2012. EEAAC/UFF. Niteri, 2013.

Varivel Categoria F % Sexo Feminino 43 53,1

Masculino 38 46,9

Estado Civil Solteiro 32 39,5 Casado 26 32,1 Divorciado 5 6,2 Vivo 5 6,2 Sem registro 13 16,0 Naturalidade RJ 57 70,4

AC 1 1,2

AL 1 1,2

PB 2 2,5

PE 1 1,2

SP 1 1,2

Procedncia Niteri 44 54,3 So Gonalo 30 37,1 Duque de Caxias 1 1,2 Maric 1 1,2 Itabora 5 6,2 Etnia Branco 12 14,8

Preto 15 18,5

Pardo 48 59,3

Sem registro 6 7,4

Tempo de Tratamento* 26,6 23,87 (2-120) Sem registro 13

*O tempo de tratamento foi expresso pela mdia desvio padro (mnimo mximo). Verificou-se pouca diferena na varivel sexo, apesar da suposta tendncia de

feminilizao para procura de tratamento (53,1%). Quanto naturalidade e procedncia, como

esperado obteve-se a prevalncia de naturais da rea metropolitana 2, cenrio deste estudo,

exceto uma moradora de Duque de Caxias.

Observa-se tambm uma mdia de tempo de tratamento de aproximadamente 2 anos e

3 meses, ou seja, trata-se de tratamentos longo prazo, considerando que a populao em

estudo de pessoas com leses crnicas. Porm h uma variabilidade com desvio padro de

46

23,87, com valores de mnimo e mximo que variam de 2 a 120 meses de tratamento. Tal

aumento de tempo de tratamento pode-se correlacionar com as co-morbidades como

demonstrado na Tabela 3.

Tabela 3. Distribuio das co-morbidades entre pacientes atendidos no Ambulatrio de

Reparo de Feridas do HUAP em 2012. EEAAC/UFF. Niteri, 2013.

Varivel Clnica F % Doenas Cardiovasculares 87 47,3 Diabetes Mellitus 23 12,5 Neuropatias secundrias 11 6,0 Dislipidemia 9 4,9 Doenas Alimentares 9 4,9 Doenas Infecciosas 8 4,3 Doenas Geniturinrias 7 3,8 Anemia 6 3,3 Doenas Respiratrias 6 3,3 Doenas Inflamatrias 5 2,7 Doenas Oftlmicas 5 2,7 Doenas Neurolgicas 4 2,2 Cncer 3 1,6 Hipotireoidismo 1 0,5

Total 184 100

Tem-se em destaque a mdia de aproximadamente trs afeces crnicas por pessoa,

sendo exatamente 2,63 de mdia, totalizando 184 diagnsticos mdicos identificadas nos

pronturios.

Verifica-se uma alta prevalncia de doenas cardiovasculares 87 (47,3%) e Diabetes

Mellitus 23 (12,5%) que somadas representam 59,8% das co-morbidades encontradas no

paciente com leso do Ambulatrio de Reparo de Feridas, podendo ser uma das causas de

retardo na cicatrizao da ferida.

Em 11 pronturios no havia registros de diagnsticos mdicos, pois muitos pacientes

s fazem o acompanhamento no ambulatrio, tendo apenas registros das consultas de

enfermagem realizadas neste local, com atendimento mdico em outro lugar.

A seguir, na tabela 4, apresenta-se a caracterizao das leses de pele evidenciadas nos

pacientes acompanhados no ano de 2012 no ambulatrio de Reparo de Feridas.

47

Tabela 4. Distribuio do tipo de leso identificadas nos pacientes atendidos no Ambulatrio

de Reparo de Feridas do HUAP. EEAAC/UFF. Niteri, 2013.

Tipo de Leso F % lcera Venosa 53 65,4

lcera Neuroptica 13 16,1 lcera Arterial 7 8,6 Leso no Coto 3 3,7

Leso Traumtica 2 2,5 Leso Cirrgica 1 1,2

lcera Falcmica 1 1,2 lcera por Presso 1 1,2

Observa-se que a lcera venosa trata-se do tipo de leso mais comumente encontrada

na populao atendida no ambulatrio de feridas, com uma frequncia de 65,4% (53), sendo

mais da metade do total de feridas encontradas.

As leses neuropticas so evidenciadas em 13 (16,1%), e estiveram associadas a

doenas como hansenase e diabete mellitus. A ferida de coto de amputao presente em 3

(3,7%) dos sujeitos estiveram associadas a complicaes vasculares e diabticas.

4.2. TERMOS ENCONTRADOS NOS PRONTURIOS

Obteve-se 329 termos referentes a problemas de enfermagem registrados nos 81

pronturios analisados (APNCIDE B).

No Quadro 2, apresenta-se os termos referentes aos problemas de enfermagem

agrupados, conforme mapeada no contexto da prtica, em cruzamento com os diagnsticos

propostos pela classificao NANDA-I.

Quadro 2. UFF/EEAAC: Distribuio dos termos mapeados no pronturio em relao ao

diagnstico de Enfermagem propostos pela NANDA-I. Niteri-RJ, 2013.

Diagnstico de

Enfermagem NANDA-I

Termo Mapeado

Ansiedade Falante, agitado, inquieto, preocupado.

Autocontrole Ineficaz de

Sade

Pouco cooperativo; apresenta resistncia em aceitar orientaes;

se mostrou desacreditado com o tratamento, no querendo mais

cuidar-se; relatou no estar fazendo uso de nenhuma cobertura;

dificuldade de adeso ao tratamento; insatisfeito com a evoluo

48

lenta da leso; cardiopata, tabagista, com