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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DIAGNÓSTICO DAS PERCEPÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL A PARTIR DO MODELO TRIDIMENSIONAL DE PERFORMANCE SOCIAL: O CASO DE UMA EMPRESA DO SETOR TÊXTIL NÍVEA MARCELA M. NASCIMENTO MACÊDO João Pessoa - PB 2010

DIAGNÓSTICO DAS PERCEPÇÕES DE RESPONSABILIDADE … · 3 M141d Macêdo, Nívea Marcela M. Nascimento. UFPB/BC Diagnóstico das percepções de responsabilidade social empresarial

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

DIAGNÓSTICO DAS PERCEPÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

EMPRESARIAL A PARTIR DO MODELO TRIDIMENSIONAL DE

PERFORMANCE SOCIAL: O CASO DE UMA EMPRESA DO SETOR

TÊXTIL

NÍVEA MARCELA M. NASCIMENTO MACÊDO

João Pessoa - PB

2010

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NÍVEA MARCELA M. NASCIMENTO MACÊDO

DIAGNÓSTICO DAS PERCEPÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

EMPRESARIAL A PARTIR DO MODELO TRIDIMENSIONAL DE

PERFORMANCE SOCIAL: O CASO DE UMA EMPRESA DO SETOR TÊXTIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação

em Engenharia de Produção da Universidade Federal

da Paraíba como requisito parcial para a obtenção do

título de Mestre em Engenharia de Produção.

Área de concentração: Gestão da Produção

Sub-área: Tecnologia, Trabalho e Organizações

Professor orientador: Gesinaldo Ataíde Cândido, Dr.

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M141d Macêdo, Nívea Marcela M. Nascimento.

Diagnóstico das percepções de responsabilidade social empresarial a partir do modelo tridimensional de performance social: o caso de uma empresa do setor têxtil / Nívea Marcela M. Nascimento Macêdo. - - João Pessoa: [s.n.], 2010.

200 f. : il.

Orientador: Gesinaldo Ataíde Cândido. Dissertação (Mestrado) – UFPB/CT.

1.Engenharia de Produção. 2.Responsabilidade Social Empresarial. 3.Gestão de Stakeholders. 4.Empresa Têxtil.

UFPB/BC CDU: 62:658.5 (043)

UFPB/BC CDU: 62:658.5 (043)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela minha recuperação, por me permitir chegar ao fim desta fase de minha

vida, por me oferecer a força necessária para isso.

À meus pais Wilton e Maria de Jesus (Duy) que sempre estiveram presentes, comprometendo-

se com minha formação intelectual e profissional, sendo o suporte de minha vida.

À João Marcelo, pela compreensão e ajuda necessária nesta trajetória. Por estar comigo

sempre nas horas em que mais precisei, principalmente nos momentos em que me faltou

saúde.

Á minha irmã Amanda pelos instantes de tranquilidade e alegria que foram tão importantes

neste período da minha vida.

À Gesinaldo Ataíde Cândido, que além da orientação acadêmica e confiança, me mostrou que

a ousadia é um atributo necessário à realização da pesquisa.

À banca examinadora, professora Waleska e professora Lúcia, pelas contribuições oferecidas.

À Capes, pelo suporte financeiro disponibilizado.

Aos colegas e amigos do GEGIT: Raquel, Minele, Maria, Bartira, Beth, Ana e Jacqueline, que

tanto colaboraram para realização deste estudo, como compartilharam comigo alguns

momentos alegres e tristes de minha vida.

Aos amigos da turma Albenisa (Bena), Lorena, Adriano, Luciene, Ana Maria e Agnes.

À diretoria da empresa pela disponibilidade e abertura para a realização desta pesquisa.

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"A construção da paz começa no coração das pessoas e tem seu

fundamento no amor, que tem suas raízes na gestação e na

primeira infância, e se transforma em fraternidade e

responsabilidade social. A paz é uma conquista coletiva. Tem

lugar quando encorajamos as pessoas, quando promovemos os

valores culturais e éticos, as atitudes e práticas da busca do bem

comum".

Zilda Arns Neumann

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MACEDO, N. M. M. N. Diagnóstico das Percepções de Responsabilidade Social

Empresarial a partir do Modelo Tridimensional de Performance Social: o caso de uma

empresa do setor têxtil. 2010. 200 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção).

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFPB, João Pessoa.

RESUMO

Diante do contexto atual de negócios, as empresas necessitam estar preparadas às

novas formas de economia e gestão e aos novos requisitos de relevância e atuação social,

consolidados a partir das necessidades e problemas dos atores sociais envolvidos com uma

organização. Esse contexto introduz às empresas uma preocupação crescente com sua

legitimidade social, visto que a valorização do termo Responsabilidade Social Empresarial

(RSE) tem aumentado nos últimos anos. Para que uma empresa adote e desenvolva uma

postura baseada em princípios éticos paralelos à busca de seus objetivos econômicos, ela

precisa ter por base a gestão de stakeholders, uma vez que assim será possível conhecer as

perspectivas e necessidades de todos os que compõem o ambiente institucional e os meios

para melhor aceitabilidade e aplicação de suas metas interna e externamente. Os stakeholders

são pessoas ou grupos com interesses legítimos e autênticos em relação a aspectos inerentes e

que influenciam a organização. Um estudo que viabilize a explanação da gestão de suas

necessidades e percepções torna-se relevante visto que analisa as ações e seus impactos sob o

ponto de vista daqueles que as contróem e utilizam. Assim o objetivo desta pesquisa é

diagnosticar as percepções dos diversos tipos de stakeholders acerca das políticas e ações de

RSE adotadas por uma empresa do setor têxtil do estado da Paraíba, utilizando o modelo

tridimensional de performance social de Carroll (1979), sendo uma das principais

contribuições deste estudo a estruturação de parâmetros para que o modelo tridimensional em

questão possa ser aplicado num contexto específico. A metodologia utilizada neste estudo

consistiu numa pesquisa quali-quantitativa. A etapa qualitativa foi baseada em roteiros de

entrevista semi-estruturados, e foi analisada pela técnica de análise de conteúdo; a quantitativa

foi baseada em questionários criados com base no modelo tridimensional, os quais foram

analisados por intermédio do software sphinx. Alguns dados primários foram levantados,

assim como foi feita a observação não participante. A partir desta metodologia, verificou-se as

percepções e entendimento dos stakeholders acerca das ações sociais da empresa, em que foi

possível observar que os agentes internos, funcionários em geral e diretores acreditam que a

empresa pesquisada possui mais ações de natureza legal, uma resposta acomodativa e um foco

nos funcionários. Os agentes externos mostraram opiniões mais diversificadas, as quais estão

baseadas em seu nível de conhecimento sobre o conceito de responsabilidade social, e a

características intrínsecas suas, como a não disponibilidade para uma relação mais estreita ou

próxima com a organização. Nesse sentido, conclui-se que é de extrema urgência que a

organização pesquisada tome iniciativas mais abrangentes no sentido de uma melhor interação

com seus stakeholders. O entendimento dos investigados esteve relacionado à realidade da

empresa, no entanto, as pessoas não mostraram grande conhecimento sobre o conceito da

responsabilidade social, bem como não esboçaram disponibilidade para integrar ou agir em

conjunto nas iniciativas sociais.

Palavras-chave: Responsabilidade Social Empresarial, Gestão de Stakeholders, Empresa

Têxtil

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ABSTRACT

MACEDO, N. M. M. N. Diagnóstico das Percepções de Responsabilidade Social

Empresarial a partir do Modelo Tridimensional de Performance Social: o caso de uma

empresa do setor têxtil. 2010. 200 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção).

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFPB, João Pessoa.

Before the current context of businesses, the companies need to be prepared to the new

economy and administration forms and to the new requirements of relevance and social

performance, consolidated starting from the social actors‟ needs and problems involved with

an organization. That context introduces to the companies a growing concern with your social

legitimacy, because the valorization of the term Managerial Social Responsibility has been

increasing in the last years. For a company to adopt and develop a posture based in ethical

beginnings on parallel to the search of your economical objectives, she needs to have for base

the stakeholders administration, once it will be like this possible to know the perspectives and

needs of all the ones that they compose the institutional atmosphere and the means for better

acceptability and application of your internal and external goals. The stakeholders are people

with legitimate and authentic interests in relation to inherent aspects that influence the

organization. A study that makes possible the explanation of the administration of your needs

and perceptions becomes important because analyzes the actions and your impacts under the

point of view of those that the build and use them. The objective of this research is like this to

diagnose the perceptions of the several types of stakeholders concerning the politics and

actions of social responsibility adopted by a textile company of the state of Paraíba, using the

three-dimensional model of social performance of Carroll (1979), being one of the main

contributions of this study the structuring of parameters so that the three-dimensional model

in subject can be applied in a specific context. The methodology used in this study it consisted

of a quali-quantitative research. The qualitative stage was based on interview routes semi-

structured, and it was analyzed by the technique of content analysis; the quantitative was

based on questionnaires created with base in the three-dimensional model, which were

analyzed through the software sphinx. Some primary data were lifted up, as well as the

observation non participant was done. Starting from this methodology it was verified the

perceptions and understanding of the stakeholders concerning the social actions of the

company, in that was possible to observe that the internal agents, employees in general and

directors, believe that the researched company possesses more actions of legal nature, an

accommodate answer and on employees focus. The external agents showed opinions more

diversified, which they are based on your knowledge level on the concept of social

responsibility, and to intrinsic characteristics yours, as the non readiness for a relationship

more narrow or close with the organization. In that sense, it is ended that is of extreme

urgency that the researched organization it takes including initiatives in the sense of a better

interaction with your stakeholders. The understanding of those investigated was related to the

reality of the company, however, the people didn't show great knowledge on the concept of

the social responsibility, as well as they didn't sketch readiness to integrate or to act together

in the social initiatives.

Key-words: Managerial Social Responsibility, Stakeholders Administration, Textile

Company.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – Introdução ................................................................................................. 13

1.1 Delimitação do Tema ........................................................................................................ 13

1.2 Apresentação do problema de pesquisa .............................................................................16

1.3 Objetivos ............................................................................................................................18

1.3.1 Geral ............................................................................................................................18

1.3.2 Específicos ...................................................................................................................18

1.4 Justificativa ........................................................................................................................18

1.5 Estrutura da Dissertação .....................................................................................................20

CAPÍTULO 2 – Fundamentação Teórica ............................................................................22

2.1 Conceituação da Responsabilidade Social Empresarial .....................................................22

2.2 Surgimento e análise histórica das abordagens teóricas da Responsabilidade Social

Empresarial ..............................................................................................................................27

2.2.1 A Responsabilidade Social Empresarial nos anos 50 .....................................................28

2.2.2 A Responsabilidade Social Empresarial nos anos 60 .....................................................29

2.2.3 A Responsabilidade Social Empresarial nos anos 70 .....................................................30

2.2.3.1 Modelo Tridimensional de Performance Social ..........................................................32

2.2.4 A Responsabilidade Social Empresarial nos anos 80 .....................................................38

2.2.4.1 Modelo de Performance Social Corporativa ................................................................39

2.2.5 A Responsabilidade Social Empresarial nos anos 90 .....................................................41

2.2.5.1 Modelo Corporate Social Revisited .............................................................................42

2.2.5.2 A pirâmide de Responsabilidade Social Empresarial ..................................................44

2.2.5.3 Modelo de Performance Social Reorientado .............................................................. 48

2.2.5.4 Norma SA 8000 – Standard for Social Accountability ................................................50

2.2.5.5 Modelo de Responsabilidade Social de Enderle e Tavis .............................................51

2.2.5.6 Instituto Ethos ..............................................................................................................52

2.2.6 A Responsabilidade Social Empresarial nos anos 2000 .................................................53

2.2.6.1 Modelo Bidimensional de Responsabilidade Social Empresarial ................................54

2.2.6.2 Modelo Multidimensional, Relacional e Multidirecional para Responsabilidade

Social nos negócios ..................................................................................................................57

2.2.6.3 Modelo dos três domínios de Responsabilidade Social Empresarial ...........................59

2.2.6.4 Estudo sobre Responsabilidade Social de Garriga e Melé ...........................................61

2.2.7 Teoria dos Stakeholders...................................................................................................64

2.3 Considerações sobre o modelo a ser aplicado ....................................................................68

CAPÍTULO 3 – Procedimentos Metodológicos ..................................................................70

3.1 Delineamento da Pesquisa .................................................................................................70

3.1.1 Estudo de Caso ................................................................................................................72

3.2 Objeto e contexto do Estudo ..............................................................................................72

3.3 Universo e amostra da Pesquisa .........................................................................................74

3.4 O Processo de coleta de dados ...........................................................................................75

3.5 Análise Compreensiva Interpretativa dos Dados .............................................................. 77

3.5.1 Variáveis da pesquisa ......................................................................................................79

3.5.2 Parâmetros de Análise das variáveis ...............................................................................82

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CAPÍTULO 4 – Apresentação e Análise dos Resultados ..................................................84

4.1 Análise da Percepção de cada stakeholder pesquisado ......................................................84

4.1.1 Funcionários gerais – voluntários e não voluntários .................................................84

4.1.1.1 Dimensão Categorias de Responsabilidade Social ......................................................84

4.1.1.2 Dimensão Comportamentos e Respostas de Responsabilidade Social ........................90

4.1.1.3 Dimensão Ações e Programas de Responsabilidade Social .........................................95

4.1.2 Diretores .......................................................................................................................103

4.1.2.1 Dimensão Categorias de Responsabilidade Social ....................................................103

4.1.2.2 Dimensão Comportamentos e Respostas de Responsabilidade Social ......................107

4.1.2.3 Dimensão Ações e Programas de Responsabilidade Social .......................................112

4.1.3 Fornecedores ................................................................................................................119

4.1.3.1 Dimensão Categorias de Responsabilidade Social ....................................................119

4.1.3.2 Dimensão Comportamentos e Respostas de Responsabilidade Social ......................124

4.1.3.3 Dimensão Ações e Programas de Responsabilidade Social .......................................128

4.1.4 Parceiro ........................................................................................................................133

4.1.4.1 Dimensão Categorias .................................................................................................133

4.1.4.2 Dimensão Comportamentos e Respostas ...................................................................136

4.1.4.2 Dimensão Ações e Programas ...................................................................................140

4.1.5 Clientes .........................................................................................................................145

4.1.5.1 Dimensão Categorias .................................................................................................145

4.1.5.2 Dimensão Comportamentos e Respostas ...................................................................147

4.1.5.3 Dimensão Ações e Programas ....................................................................................149

4.1.6 Consumidores ..............................................................................................................153

4.1.6.1 Dimensão Categorias .................................................................................................153

4.1.6.2 Dimensão Comportamentos e Respostas ...................................................................156

4.1.6.3 Dimensão Ações e Programas ....................................................................................159

4.1.7 Comunidade .................................................................................................................161

4.1.7.1 Dimensão Categorias .................................................................................................161

4.1.7.2 Dimensão Comportamentos e Respostas ...................................................................164

4.1.7.3 Dimensão Ações e Programas ....................................................................................166

4.2 Cubo Tridimensional de Performance Social ..............................................................169

CAPÍTULO 5 – Conclusões ................................................................................................174

5.1 Limitações da Pesquisa ....................................................................................................179

5.2 Sugestões para futuros estudos ........................................................................................179

Referências .............................................................................................................................180

Anexo A..................................................................................................................................185

Anexo B..................................................................................................................................192

Anexo C .................................................................................................................................198

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Evolução das iniciativas de certificação social empresarial .................................... 26

Figura 2: Modelo Tridimensional de Performance social corporativa ....................................33

Figura 3: Categorias de responsabilidade social ......................................................................34

Figura 4: Formas de Resposta Social .......................................................................................37

Figura 5: A pirâmide de Responsabilidade Social Corporativa …………….....……….....….45

Figura 6: Modelo das duas dimensões de Responsabilidade Social Empresarial ....................55

Figura 7: As dimensões do modelo MRMRSN .......................................................................57

Figura 8: Modelos dos três temas centrais de Responsabilidade Social

Corporativa ...............................................................................................................................60

Figura 9: Resumo da evolução da ideia de Responsabilidade Social Corporativa ..................63

Figura 10: A proposta de Stakeholder view of Corporation ....................................................67

Figura 11: Triangulação de dados de análise ...........................................................................78

Figura 12: Fluxograma de Pesquisa .........................................................................................83

Figura 13: Cubo Tridimensional – Percepção dos Funcionários ...........................................102

Figura 14: Cubo Tridimensional – Percepção dos Diretores .................................................119

Figura 15: Cubo Tridimensional – Percepção dos Fornecedores ..........................................133

Figura 16: Cubo Tridimensional – Percepção do Parceiro ....................................................144

Figura 17: Cubo Tridimensional – Percepção dos Clientes ...................................................153

Figura 18: Cubo Tridimensional – Percepção dos Consumidores .........................................161

Figura 19: Cubo Tridimensional – Percepção da Comunidade .............................................169

Figura 20: Cubo Tridimensional – Percepção dos stakeholders pesquisados .......................172

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Resultados da Dimensão Categorias - Funcionários ..............................................85

Gráfico 2: Resultados da Dimensão Comportamentos

e Respostas – Funcionários ......................................................................................................91

Gráfico 3: Resultados da Dimensão Ações e Programas - Funcionários..................................96

Gráfico 4: Resultados da Dimensão Categorias - Diretores ..................................................103

Gráfico 5: Resultados da Dimensão Comportamentos e Respostas – Diretores ....................108

Gráfico 6: Resultados da Dimensão Ações e Programas – Diretores ....................................113

Gráfico 7: Resultados da Dimensão Categorias – Fornecedores ...........................................120

Gráfico 8: Resultados da Dimensão Comportamentos e Respostas – Fornecedores .............124

Gráfico 9: Resultados da Dimensão Ações e Programas – Fornecedores .............................129

Gráfico 10: Resultados da Dimensão Categorias – Parceiro .................................................134

Gráfico 11: Resultados da Dimensão Comportamentos e Respostas – Parceiro ...................137

Gráfico 12: Resultados da Dimensão Ações e Programas – Parceiro ....................................141

Gráfico 13: Resultados da Dimensão Categorias – Clientes ..................................................145

Gráfico 14: Resultados da Dimensão Comportamentos e Respostas – Clientes ...................148

Gráfico 15: Resultados da Dimensão Ações e Programas – Clientes ....................................150

Gráfico 16: Resultados da Dimensão Categorias – Consumidores ........................................154

Gráfico 17: Resultados da Dimensão Comportamentos e Respostas – Consumidores .........156

Gráfico 18: Resultados da Dimensão Ações e Programas – Consumidores ..........................159

Gráfico 19: Resultados da Dimensão Categorias – Comunidade ..........................................162

Gráfico 20: Resultados da Dimensão Comportamentos e Respostas – Comunidade ............164

Gráfico 21: Resultados da Dimensão Ações e Programas – Comunidade ............................167

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Modelo de Desempenho Social Empresarial ...........................................................42

Tabela 2: Cartografia das teorias e abordagens da Responsabilidade Social ...........................62

Tabela 3: Categorias e variáveis do modelo de Carroll (1979) ................................................80

Tabela 4: Comportamentos e Respostas da empresa sobre questões sociais ...........................80

Tabela 5: Ações e programas de atuação social .......................................................................81

Tabela 6: Parâmetros de análise das variáveis .........................................................................82

Tabela 7: Valores quantitativos para a dimensão Categorias – Funcionários ..........................86

Tabela 8: Valores quantitativos para a dimensão Comportamentos

e Respostas – Funcionários ......................................................................................................92

Tabela 9: Valores quantitativos para a dimensão Ações e Programas – Funcionários ............97

Tabela 10: Valores quantitativos para a dimensão Categorias – Diretores ............................104

Tabela 11: Valores quantitativos para a dimensão Comportamentos

e Respostas – Diretores ..........................................................................................................108

Tabela 12: Valores quantitativos para a dimensão Ações e Programas – Diretores ..............113

Tabela 13: Valores quantitativos para a dimensão Categorias – Fornecedores .....................120

Tabela 14: Valores quantitativos para a dimensão Comportamentos

e Respostas – fornecedores ....................................................................................................125

Tabela 15: Valores quantitativos para a dimensão Ações e Programas – Fornecedores .......129

Tabela 16: Valores quantitativos para a dimensão Categorias – Parceiro .............................134

Tabela 17: Valores quantitativos para a dimensão Comportamentos

e Respostas – Parceiro ............................................................................................................137

Tabela 18: Valores quantitativos para a dimensão Ações e Programas – Parceiro ...............142

Tabela 19: Valores quantitativos para a dimensão Categorias – Clientes .............................145

Tabela 20: Valores quantitativos para a dimensão Comportamentos

e Respostas – Clientes ............................................................................................................148

Tabela 21: Valores quantitativos para a dimensão Ações e Programas – Clientes ................150

Tabela 22: Valores quantitativos para a dimensão Categorias – Consumidores ...................154

Tabela 23: Valores quantitativos para a dimensão Comportamentos

e Respostas – Consumidores ..................................................................................................157

Tabela 24: Valores quantitativos para a dimensão Ações e programas - Consumidores........159

Tabela 25: Valores quantitativos para a dimensão Categorias – Comunidade ......................162

Tabela 26: Valores quantitativos para a dimensão Comportamentos

e Respostas – Comunidade ....................................................................................................165

Tabela 27: Valores quantitativos para a dimensão Ações e Programas – Comunidade ........167

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Capítulo 1 - Introdução

1.1 Delimitação do Tema

A globalização tem modificado as formas de concorrência, bem como os padrões de

negócios das empresas. Observa-se a velocidade com que as informações e os processos

produtivos se modificam em função de novas descobertas e pesquisas. Além disso, os

modelos de desenvolvimento econômico e humano passam a considerar a elevação da

qualidade de vida e da equidade social, além da conservação ambiental, como requisitos

necessários ao crescimento e progresso de uma sociedade.

Nesse sentido, ocorrem mudanças em diversos setores da economia, decorrentes em

grande parte dos avanços tecnológicos, do aumento do fluxo de informações e da modificação

da consciência e opinião de consumidores e pessoas em geral acerca das desigualdades

sociais, degradação do meio ambiente e subdesenvolvimento de muitas comunidades. As

empresas necessitam estar preparadas às novas formas de economia e gestão (crises

econômicas, globalização, diferenciação rápida das características do mercado); como

também aos novos requisitos de relevância e atuação social, consolidados a partir das

necessidades e problemas dos atores sociais envolvidos com uma organização.

Isto porque esses atores estão afetando os objetivos empresariais e sua atuação de uma

forma mais intensa. E possuem uma identificação ou denominação distinta – stakeholders. Os

stakeholders designam-se como os agentes com os quais uma organização interage, sofre

influência ou mantém relacionamentos distintos necessários à sua sobrevivência. Essas

pessoas estão ocasionando turbulências e mudanças no ambiente organizacional que são

fundamentadas em grande parte por sua maior interferência nele. Estas questões estão se

constituindo nas principais preocupações dos gerentes, que precisam adequar o gerenciamento

estratégico à aparente necessidade de considerar todas as relações que podem afetar ou serem

afetadas pela conquista dos objetivos organizacionais. É nesse sentido que, segundo Hoff

(2008) se observa que os interesses dos stakeholders podem ser integrados dentro dos vários

propósitos da firma, fazendo com que os relacionamentos sejam gerenciados de forma

coerente e estratégica para a organização.

Surgem iniciativas que levam as empresas a adquirirem referenciais de mudança de

seus modelos gerenciais e habilidades, direcionando suas práticas para novos e melhores

formatos de relacionamentos com seus públicos interno e externo, uma vez que esses

relacionamentos se constituem nos principais fatores intervenientes no sucesso e eficiência

organizacional.

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15

Donaldson e Preston (1995) argumentam que a empresa orientada para a interação

com os stakeholders tem seus interesses legitimados e os de seus públicos também, pois

existe uma relação mútua e possível troca de benefícios. Conforme o conceito, stakeholders

são indivíduos que têm interesse e influenciam de alguma maneira o desempenho do negócio.

Neste sentido, dada a importância que possuem os relacionamentos entre os agentes

que compõem a organização, o grande desafio para a administração moderna será criar

relacionamentos sustentáveis com as partes interessadas ligadas às empresas (stakeholders), e

para isto estas necessitam se envolverem socialmente, desenvolvendo um sentido de

Responsabilidade Social Empresarial (RSE) coerente com a estratégia do negócio.

Molteni (2006) entende que as necessidades sociais podem ser investigadas e

integradas na estratégia de tal forma que ajude a empresa a encontrar soluções inovadoras

para satisfazer às expectativas dos seus stakeholders e, com isso, se transforme em um fator

criativo no desenvolvimento de suas ações sociais.

Ressalta-se a importância do correto entendimento da RSE e sua evolução, para que

práticas sejam desenvolvidas no sentido de melhor administrar recursos e pessoas para o

desenvolvimento social. Nesse sentido, Ashley, Coutinho e Tomei (2000) demonstram como

se trava nas últimas três décadas um intenso debate teórico acerca de conceitos e definições de

RSE e termos afins, sem que se tenha chegado a um consenso teórico ou prático da questão.

É possível afirmar que o tema surge do progressivo aumento da discussão dos valores

éticos e de novas práticas de gestão, voltadas ou ao efetivo desenvolvimento de iniciativas

sociais, ou a uma superficial consideração e busca por elementos que garantam essa iniciativa.

A busca por uma melhor especificação da responsabilidade social marca o atual

contexto com a ascensão de iniciativas e debates sobre o tema, bem como por diagnósticos de

naturezas diversas, relacionados à interação entre atores sociais e as organizações. Atkinson,

Waterhouse e Wells (1997) pontuam que a organização moderna é uma rede de contratos

implícitos e explícitos que especificam a relação entre a empresa e seus stakeholders. Sendo

assim, torna-se relevante considerar seus públicos de interesse.

É também necessária uma abordagem que considere o entendimento e percepção

desses stakeholders em relação à atuação, principalmente social, da empresa a qual estão

relacionados, uma vez que essas percepções interferem e podem validar ou prejudicar tal

atuação. Para essa constatação, inicialmente as organizações devem observar quais são os

principais conjuntos de indivíduos que mantém relação direta ou indireta ou que tem seus

interesses garantidos ou violados dada a realização de suas atividades.

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Alguns autores como Friedman (1970) e Donelly, Gibson e Ivancevich (2000) avaliam

que o único stakeholder válido para consideração da empresa é o acionista. Outros autores

como Clarkson (1995) e Donald e Preston (1995) veem um leque intermediário de indivíduos

atuantes na organização. E por fim têm-se autores como Edward Freeman (1984) e Archie

Carroll (1979), que apontam para uma proposta bem mais ampla na verificação e influência

dos atores sociais em uma organização.

Freeman (1984) tratou e especificou a teoria dos stakeholders, abordando que existem

relações diretas e indiretas com alguns conjuntos de indivíduos ligados às organizações como

fornecedores, funcionários, clientes, gestores e outros; e que cada relação desta precisa ser

investigada e caracterizada de maneira que possa ser possível agir em benefício mútuo e como

forma de evitar problemas.

Notoriamente, para que a organização adote e desenvolva uma postura baseada em

princípios éticos paralelos à busca de seus objetivos econômicos, ela precisa ter por base a

gestão de stakeholders. Assim será possível conhecer as perspectivas e necessidades de todos

os que compõem o ambiente institucional e os meios para melhor aceitabilidade e aplicação

de suas metas interna e externamente. A teoria dos stakeholders especifica que a empresa tem

a necessidade de trabalhar em conjunto e considerar as especificidades das pessoas por ela

envolvidas ou influenciadas.

No entanto, antes disso, Carroll (1979) apresentou em seu modelo tridimensional de

performance social a possibilidade de identificar as compreensões e entendimentos de pessoas

envolvidas com uma organização. Em seu cubo tridimensional, ele explicita as categorias de

atuação social nas quais a empresa pode se estabelecer, os tipos de responsividade social e o

foco de atuação que ela pode trabalhar; estas dimensões do modelo podem ser analisadas

mediante o conhecimento e opinião de todo um conjunto de pessoas as quais uma empresa

pode se vincular.

Toda organização que desenvolve ações de natureza social é passível à análise e a

distintas opiniões por parte de seus stakeholders, e essa inferência possui importância

significativa para a gestão do negócio e para as próprias pessoas. Com isso, a presente

pesquisa, a qual se deu em uma empresa do setor têxtil, evidencia as interpretações de seus

atores sociais envolvidos, já que estas percepções são tão importantes para o negócio.

Isto porque, há toda uma dependência entre uma empresa e agentes envolvidos como

fornecedores, clientes, comunidade, parceiros, e essas relações de dependência são mútuas.

Verifica-se sobre o tema RSE que sua emergência está iminentemente atrelada à visualização

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de que a organização sofre influência, é requisitada, mantém parcerias e variadas formas de

comércio com distintos atores do seu entorno, e que com isso é necessária a relevância e

conhecimento de suas características e percepções. Esse conhecimento fará parte da nova

conjuntura e cultura da organização, se esta pretender adotar ou fomentar ações de natureza

socialmente responsável.

Com isso, tem-se o pressuposto de que o diagnóstico das percepções dos stakeholders

acerca da RSE permite identificar as principais questões a serem trabalhadas para o correto

desempenho social de uma organização.

O atual contexto de negócios mostra que o crescimento econômico deve favorecer o

progresso social, principalmente porque é dele que surgem as possibilidades de

desenvolvimento de um país ou população. É nesse contexto que as empresas em geral devem

trabalhar, ressaltando a importância da adequação do seu compromisso social aos seus custos,

a sua capacidade de manutenção em médio e longo prazo, como também as expectativas

daqueles que têm o papel de legitimar e que interferem neste tipo de conduta.

A relevância da RSE no processo estratégico pode caracterizar-se como um diferencial

competitivo a curto e longo prazo, pois pode fomentar o bem-estar social e processos

produtivos mais limpos, elevando a credibilidade e a imagem empresarial, o estabelecimento

das relações comerciais e parcerias, bem como a aceitação e consolidação no mercado por

meio do efetivo compromisso com a qualidade de vida dos seus stakeholders.

Assim, levando em conta que as necessidades, entendimentos e melhores condições de

vida dos stakeholders são integrantes da análise, construção e atuação social da empresa, é

possível evidenciar o problema que norteia a construção da presente pesquisa.

1.2 Apresentação do problema de pesquisa

A consideração e as práticas de ações sociais por parte de uma empresa podem validar

de forma eficiente suas relações com o conjunto de atores sociais envolvidos – stakeholders –

e consequentemente a realização de suas atividades e negócio. Os atores sociais – clientes,

funcionários, fornecedores, acionistas, comunidade, gestores – fazem parte da razão de ser da

empresa, e a RSE pode ser tratada como a consideração de suas necessidades e características,

agindo no intuito de proporcionar e desenvolver eficientes condições de negócio, ou o que a

empresa tem por finalidade social. As interdependências e atividades que são dispostas no

âmbito interno e externo a uma organização precisam ser observadas do ponto de vista

daqueles que as determinam e constroem, para que seja possível aperfeiçoar estas relações.

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À medida que a empresa trabalha no sentido de estabelecer ações firmes de RSE, ela

está verificando os principais problemas, opiniões e características de seus stakeholders, os

quais estão arraigados a um conjunto de fatores relacionados ao ambiente, cultura e forma de

gestão da empresa. Há a possibilidade de observar as formas pelas quais ela atua nessa

direção, como age com as ações socialmente responsáveis de forma a beneficiar seus

stakeholders, como também e principalmente, pontuar as opiniões e observações que os

próprios atores sociais podem demonstrar em relação a estas iniciativas.

De acordo com autores como Carroll e Buchholtz (1991), Paoli (2005) e Heleno

(2008), os pontos de vista acerca das ações socialmente responsáveis podem ser considerados

eficientes quando trabalham com as necessidades de seus stakeholders, ou quando trabalham

do “ponto de vista dos stakeholders”, com suas particularidades e vulnerabilidades.

Para Freeman (1999), precursor da teoria dos stakeholders, sua abordagem sugere que

se as organizações querem ser efetivas, elas irão prestar atenção em todas aquelas relações

que podem afetar ou ser afetadas pela conquista dos objetivos organizacionais. Esse

gerenciamento é fundamentalmente um conceito pragmático. Para Clarkson (1995) e a própria

teoria dos stakeholders, tanto a corporação quanto seus administradores gerenciam relações

com seus stakeholders e não com a sociedade.

O modelo tridimensional de performance social fornece subsidio necessário à

identificação da percepção dos stakeholders frente às ações sociais de uma empresa através de

três distintas dimensões. No entanto, é necessário estabelecer parâmetros – instrumentos de

pesquisa e variáveis – para sua aplicabilidade frente a um determinado cenário específico,

sendo o desenvolvimento destas ferramentas uma das principais contribuições do presente

estudo.

O cenário específico abordado foi uma empresa do setor têxtil, o qual estimula a

criação de outras indústrias, entre as quais de máquinas têxteis, de fibras artificiais e

sintéticas, embalagens, etc. Emprega cerca de um milhão de pessoas, tendo grande

participação no comércio exterior.

Uma vez que é fato que a empresa do setor têxtil considerada e pesquisada possui

iniciativas de cunho social e ações implantadas de atuação com os stakeholders, o estudo pode

também contribuir no sentido de um maior conhecimento por parte desta empresa sobre as

ações já consolidadas e o entendimento que se tem delas, ampliando a capacidade de melhor

planejamento e coordenação na implantação de suas estratégias sociais e oferecendo uma

melhor visualização das mudanças necessárias e já ocorridas na empresa.

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Nesse sentido, levanta-se o seguinte questionamento: Quais as percepções dos

diversos tipos de stakeholders acerca da RSE adotada por uma empresa do setor têxtil a partir

do modelo tridimensional de performance social de Carroll (1979)?

1.3 Objetivos

1.3.1 Geral

Identificar as percepções dos diversos tipos de stakeholders acerca das políticas e

ações de RSE adotadas por uma empresa do setor têxtil do estado da Paraíba, utilizando o

modelo tridimensional de performance social de Carroll (1979).

1.3.2 Específicos

Para a consecução do objetivo geral, foram elaborados os seguintes objetivos

específicos:

1 – Levantar o histórico e as principais abordagens teóricas da RSE no contexto nacional e

internacional;

2 – Contextualizar e caracterizar as políticas e ações da RSE adotadas pela empresa

pesquisada;

3 – Enfocar o modelo tridimensional de performance social (1979) e criar variáveis para cada

uma de suas dimensões, como também construir instrumentos de pesquisa específicos para

uma avaliação quantitativa e qualitativa;

4 – Identificar para cada grupo de stakeholders o seu entendimento e percepção das ações

sociais, adotadas pela empresa, frente às três dimensões de RSE do modelo tridimensional de

performance social (1979);

5 – Classificar a posição da empresa pesquisada quanto ao entendimento dos atores

institucionais pesquisados a partir do cubo tridimensional de performance social.

1.4 Justificativa do estudo

Conforme será especificado, a temática da RSE e a maneira como é trabalhada nas

empresas só em anos recentes começa a ter uma abordagem mais abrangente. Com isso,

verifica-se a necessidade de um esforço para que se possa preencher lacunas na literatura

especializada, tendo como foco a ampliação dos conhecimentos sobre o processo de fomento

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de modelos de gestão em que a tomada de decisão se caracterize por princípios de

desenvolvimento social e econômico.

É fato considerar também a necessidade de discussões acerca de temáticas sobre ações

socialmente responsáveis porque estas ações estão sendo verificadas como um item

diferencial para as empresas num mercado competitivo e globalizado; e como forma de

responder às novas percepções e requisitos desse mercado.

Nesse sentido, surge o interesse e a necessidade de estudar e mensurar a RSE,

observando de que maneira as empresas se colocam e se relacionam no que concerne a essa

prática, como também dado o fato de haver uma gradativa mudança na cultura das empresas

brasileiras no que concerne à esse aspecto. Hoje, conceitos de ecoeficiência e

responsabilidade social devem estar integrados e precisam ser praticados com visão de

mercado.

Os stakeholders são pessoas ou grupos com interesses legítimos e autênticos em

relação a aspectos inerentes e que influenciam a organização. Possuem interesses na empresa

e esta para com eles; e dessa forma as ações da empresa correspondem às suas características.

Um estudo que viabilize a explanação da gestão de suas necessidades e percepções torna-se

relevante visto que analisa as ações e seus impactos sob o ponto de vista daqueles que as

contróem e utilizam.

O modelo tridimensional de performance social engloba as necessidades dos

stakeholders e os tipos ou conjuntos que influenciam ou sofrem influência na organização.

Sendo possível assim procurar atingir o objetivo proposto através da aplicação deste modelo.

A teoria dos stakeholders não apenas expõe as condições e relacionamentos entre as pessoas

que constituem a rede social, como também indica estruturas, atitudes e práticas que

constituem o gerenciamento dos stakeholders. Assim, há uma relação e suporte entre a teoria

e o modelo tridimensional de performance social.

Sabe-se que cada setor produtivo ou empresa em particular possui seus stakeholders

específicos. Para o caso da presente pesquisa, optou-se por efetivar o estudo numa empresa do

setor têxtil. Destaca-se que o setor é constituído principalmente por empresas de capital

nacional – cerca de 91% -, situadas em todas as regiões do país, as quais geram empregos

diretos na fase de produção fabril ou indiretos na produção de matérias-primas e outros

insumos. O Setor é formado por cerca de 5.000 empresas, das quais apenas 11% são

consideradas de grande porte e 21% de pequeno e médio porte. As microempresas, que

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atingem 68% do total, representam a grande maioria do setor. Estas últimas em maior

quantidade, dado o menor investimento necessário, bem como a tecnologia de maior domínio.

O Brasil desenvolveu uma indústria de máquinas, equipamentos e acessórios têxteis e

de confecção com tecnologia própria ou procedente do exterior. A adoção de inovações

técnicas não é tão alta, sendo os mecanismos de concorrência mais adotados as estratégias de

comercialização e a integração vertical das atividades. Os gastos com pesquisa e

desenvolvimento realizados pelas empresas do setor são reduzidos quando comparados com

os realizados por indústrias de outros setores.

A empresa pesquisada possui atividades sociais conhecidas e atuantes no âmbito

interno e externo a ela. Possui considerável número de transações e exerce influência para

com agentes internos e do mercado em que se encontram. Sendo estes os principais motivos

pelos quais optou-se por realizar o estudo nela.

A presente pesquisa pode contribuir no sentido de viabilizar melhores planos e ações

estratégicas do ponto de vista social, bem como o conhecimento das percepções e

entendimento dos stakeholders em relação a estas ações e, neste caso, justifica-se o trabalho

na empresa em questão pela mesma vir realizando iniciativas e projetos de cunho social para

com seus stakeholders. Dessa forma, tem importância tanto para a empresa em estudo como

para a comunidade na qual a mesma se insere e para posteriores estudos acadêmicos que

possam acontecer.

As conclusões advindas do estudo podem contribuir no sentido de melhores decisões

para o setor e empresa, em ações que vão desde a implementação de novos métodos de

produção, criação de produtos, ponderação de certos conjuntos de atores sociais em

detrimento de outros, maior relevância dos dados problemas e requisitos sociais resultantes da

pesquisa, e também consolidação ou efetivação das práticas até então verificadas por

intermédio das opiniões e percepções mostradas pelos stakeholders.

Em nível acadêmico, em relação ao estudo científico do tema, aqui colocado como um

conjunto de informações que podem dar subsídios a outras pesquisas, tanto neste, como em

outros setores da economia local, verifica-se a relevância das reflexões baseadas nas teorias e

modelo a ser estudado, principalmente conforme já colocado, pelo fato de ser um tema em

ascenção e pelas possibilidades de novos estudos que pode gerar.

Neste sentido, deseja-se efetivar contribuições na área da RSE, uma vez que o modelo

utilizado na presente pesquisa, o modelo tridimensional de Carroll (1979), possui pouca

aplicabilidade na literatura. Almeja-se definir os parâmetros necessários para sua

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operacionalização, bem como preencher algumas lacunas existentes desde a sua criação em

1979. Espera-se uma contribuição também para a empresa em estudo, uma vez que poderá ser

possível visualizar por meio do diagnóstico as relações com seus stakeholders e seu

entendimento sobre as principais ações sociais desenvolvidas e, com isso, prover debates

sobre como está sendo colocada em prática e como poderia ser reforçada no sentido de

melhores resultados para a empresa e, em consequência, para esses atores envolvidos.

Uma das principais contribuições do estudo diz respeito ao desenvolvimento de uma

aplicabilidade do modelo tridimensional em questão, com a construção de variáveis e dos

instrumentos de pesquisa para avaliação da percepção das ações sociais.

1.5 Estrutura da dissertação

A presente pesquisa está estruturada da seguinte forma:

O primeiro capítulo, referente à introdução, faz uma análise e delimitação do tema,

enfocando em linhas gerais quais os principais aspectos a serem abordados, o contexto e o

ambiente no qual se insere o tema referente ao estudo. Ainda, mostra a definição da situação

problema, a apresentação da justificativa, os objetivos geral e específicos e a premissa do

estudo, os quais remontam à proposta de pesquisa.

Posteriormente, o segundo capítulo aborda a fundamentação teórica, em que são

analisados o histórico, conceitos e formas de abordagem e avaliação da RSE no mundo e no

Brasil. São tratados aspectos concernentes à RSE como um fator estratégico e o

comportamento socialmente responsável e a ética nos negócios.

O terceiro capítulo refere-se à apresentação dos procedimentos metodológicos, em

que são explicitadas as etapas para a consecução dos objetivos. São explicitados o tipo e

natureza da pesquisa, as variáveis criadas para a aplicação do modelo de performance social e

as formas de levantamento dos dados a serem analisados. O contexto referente à empresa

pesquisada também é enfocado, para que seja possível uma análise mais aprofundada do caso.

O quarto capítulo apresenta a análise dos dados, em que são discutidos os resultados

da pesquisa. Nesse momento, é possível verificar a percepção dos stakeholders em relação às

atividades sociais desenvolvidas pela empresa e sua verificação no cubo tridimensional de

Carroll (1979).

Finalmente as conclusões procuram responder ao problema de pesquisa e enfocar o

posicionamento da pesquisadora. É possível observar ainda as limitações do estudo e as

posteriores considerações finais.

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Capítulo 2 – Fundamentação Teórica

No intuito de melhor entender os aspectos e itens inerentes ao tema em questão, é

necessário relacionar a ideia de alguns autores, seus ângulos e formas de análise, bem como

verificar a relação das ações socialmente responsáveis com a ética e a maneira como pode ser

considerada na empresa, do ponto de vista estratégico. Destaca-se que, à princípio, a

interpretação do conceito de RSE é importante para o correto entendimento do que propõe o

estudo. Assim, são explicitadas argumentações de alguns autores sobre a temática.

Também se torna relevante especificar a evolução das correntes teóricas e do próprio

conceito em si na literatura, ou seja, como passou a ser visto a cada momento da história e

quais contribuições efetivamente ocorreram no sentido de desenvolver o conceito. Destaca-se

ao final a teoria dos stakeholders e algumas considerações sobre o modelo a ser aplicado.

2.1 Conceituação da Responsabilidade Social Empresarial

A RSE torna-se parte de um conjunto importante de ideias entrelaçadas que

configuram o conceito e torna possível seu entendimento. Muitos aspectos estão relacionados

à definição do construto, como as características do meio e da sociedade em questão. Também

aspectos do mercado e da própria história são sujeitos inerentes à gestão da organização.

O conceito é pautado numa cultura dirigida aos relacionamentos com todos os agentes

envolvidos com a empresa, com todos os afetados ou interessados de alguma forma nos

negócios da organização. Essa cultura está relacionada com a promoção do bem estar pela

investigação das principais necessidades ou problemas dos atores relacionados à firma.

Essas necessidades estão relacionadas às novas demandas da sociedade, que implicam

em novos processos de trabalho e em um número maior de pessoas que interagem ou

interferem na atuação das empresas. Essa interferência precisa ser administrada e considerada,

uma vez que a organização necessita de relacionamentos bem estruturados e eficazes com

seus envolvidos, ou seja, que gerem resultados satisfatórios para todas as partes.

Também, os novos pensamentos éticos e morais que norteiam o desenvolvimento da

sociedade e a determinação de novas estruturas estratégicas de organizações de naturezas

diversas acabam por definir parâmetros que construam e valorizem a iniciativa social.

A RSE é um conceito em desenvolvimento, complexo e com significados diferentes,

que vem passando por um processo de amadurecimento na forma de ser trabalhado pelas

organizações, bem como nos seus modelos de indicadores (ASHLEY; COUTINHO; TOMEI,

2000).

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Segundo Tenório (2006), a base conceitual contemporânea da RSE está associada aos

valores requeridos pela sociedade pós-industrial. Nessa nova concepção do conceito, há o

entendimento de que as companhias estão inseridas em um ambiente complexo, onde suas

atividades influenciam ou têm impacto sobre os diversos agentes sociais, comunidade e

sociedade. Dessa forma, é necessária a incorporação de objetivos sociais no plano de

negócios.

A visão de RSE foi passível a diversas transformações, as quais tornam o conceito um

processo contínuo que mostra atitudes de mudança de percepção. A princípio, a

responsabilidade da empresa estava limitada ao lucro e foi ao longo do tempo modificando-se

até atingir um abrangente escopo englobando todos os stakeholders, com um caráter de

transparência. Deve-se verificar que essa conceituação é um processo ainda não acabado, que

leva as empresas a buscarem uma adequação a um processo em constante mutação.

A RSE, quando considerada por uma empresa, pode aperfeiçoar relações de parceria, a

visão interna por parte dos funcionários, o comprometimento com o trabalho, sendo um ponto

de interação na procura de ações promissoras e eficazes, aperfeiçoando tanto a empresa

quanto as relações que a mesma mantém com a sociedade.

A principal forma de análise da RSE parte da consideração dos relacionamentos entre

funcionários, clientes, fornecedores, comunidade, acionistas, poder público e meio ambiente.

Ou seja, a construção de práticas sociais pode ser validada pela interação e tipo de relação da

empresa com todas as pessoas que sofrem influência ou que são por ela influenciadas.

Isto porque uma gestão empresarial que tenha como referência apenas os interesses

dos acionistas revela-se insuficiente no novo contexto, pois ela requer uma gestão balizada

pelos interesses e contribuições de um conjunto maior de partes interessadas. A busca de

excelência pelas empresas passa a ter como objetivos a qualidade e eficiência em todas as

relações.

A correta gestão destas relações entre os agentes ligados à organização faz parte do

cerne do desempenho social e para a eficácia de todas as outras atividades da empresa.

Entretanto temas de enfoques distintos também fazem parte da construção do tema RSE.

Na prática, toda teoria relativa à temática da RSE possui em si uma vinculação com as

questões de geração de lucro, performance política, demandas sociais e valores éticos, mas

abordam esses temas de forma diferenciada e com diferentes pesos (GARRIGA e MELÉ,

2004).

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Swanson (1999) corrobora afirmando que a RSE é uma forma de controle social de

todas as atividades organizacionais.

A RSE é um conjunto de ações que aparentemente geram algum benefício, além dos

interesses da firma, e que são requeridas por lei. Mas a responsabilidade social em alguns

casos vai além dos requisitos mínimos exigidos por lei dada algumas vezes pelas

características relacionadas a valores e princípios individuais dos gestores, por pressões do

mercado ou por possibilidades de retorno advindo do investimento social (Wartick, Cochran,

1985; Wood, 1991; Siegel e McWilliams, 2001).

A responsabilidade social torna-se um processo através do qual as empresas integram

preocupações sociais e ambientais em suas operações e em sua interação com seus

stakeholders de forma voluntária, não apenas respondendo a obrigações legais, mas indo além

da mera observância das leis.

De acordo com Wartick e Cochran (1985), existe um contrato entre a organização e a

sociedade, que funciona como um veículo por meio do qual o comportamento dos negócios é

posto em conformidade com os objetivos da sociedade, sendo que os negócios desempenham

o papel de agentes morais sociedade, refletindo e reforçando seus valores.

Segundo o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (2009), a RSE se

define pela gestão, relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os

quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que promovam a redução

das desigualdades sociais.

No sentido de pensar e considerar ações de RSE, o Sistema Firjan (2008) destaca que

uma empresa deve ter em vista que os custos de manter operações social e ambientalmente

responsáveis são muito menores do que os potenciais riscos financeiros que a ausência de

boas práticas em sustentabilidade pode representar a médio e longo prazos. Trata-se da

sustentação e sobrevivência do próprio negócio. Pagar impostos, garantir saúde e segurança

dos empregados, controlar efluentes e recuperar áreas degradadas são obrigações. As ações

voluntárias e de cidadania empresarial é que fazem a diferença.

Entretanto, estudos de Gray e Milne (2004) relatam que se a RSE for definida em

conformidade com o que é possível, tendo em vista as atividades e objetivos atuais das

empresas, o conceito se torna trivial e redundante. Mencionam que, caso o conceito seja

definido conforme se possa realmente entendê-lo, ele se torna claramente inalcançável por

uma empresa financeiramente bem sucedida, pois iria contra os princípios de interesse

privado sobre os quais grande parte das noções empresariais estão constituídas.

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Outros autores como Blowfield (2005) defendem que algumas empresas dependentes

de cadeias de produção estão assumindo a responsabilidade sobre o desempenho social e

ambiental de seus fornecedores, por vezes independentemente de qualquer exigência legal.

A forma como a empresa atua e desenvolve suas ações sociais está relacionada com

sua cultura e estratégias específicas. De acordo com a natureza de suas atividades, a

ponderação da RSE pode diferir no cenário empresarial.

Dessa ponderação fazem parte características não só da empresa, mas de todo o

conjunto de atores envolvidos. Em relação à participação dos atores envolvidos, Steurer et al

(2005) afirma que a RSE é uma abordagem de gerenciamento voluntário, na qual os

stakeholders organizacionais têm uma função muito importante. Daí a necessidade do

conhecimento de suas características e percepções, como também do nível de interferência

(poder) que eles possuem sob a firma na realização das práticas sociais.

Para Tenório (2006), existem vários elementos que podem motivar as empresas a atuar

de forma socialmente responsável: por pressões externas, que se referem aos movimentos dos

consumidores, a atuação dos sindicatos, as exigências dos consumidores e as reivindicações

das comunidades afetadas pelas atividades industriais. Muitas empresas recebem incentivos

fiscais concedidos pelo governo ou obtêm redução ou isenção da carga tributária por

determinado período ao considerar certas ações.

Todos esses elementos dizem respeito aos agentes direta ou indiretamente ligados à

organização. Verifica-se a relação direta do desempenho social empresarial com

especificidades dos stakeholders: pessoas ligadas à organização como comunidades,

consumidores, sindicatos, governo, entre outros. Essas especificidades são influências e

comportamentos, entendimentos que os agentes que fazem parte da empresa apresentam para

o contexto e os princípios da organização. Quando a RSE é motivada por questões de

princípios, o risco de descontinuidade dos investimentos sociais é reduzido, pois esses valores

passam a estar inseridos na cultura da empresa.

A RSE pressupõe que a representação dominante de globalização possui uma

dimensão moral, tal qual suas dimensões políticas e econômicas. Desta forma, o conceito

revela áreas nas quais o entendimento sobre o modelo de progresso deve ser revisto, deixando

visível a necessidade de novas formas de diálogo sobre a interação entre empresas, governos e

sociedades.

Assim sendo, devido à atual popularização do conceito, estão crescendo as adesões a

padrões de certificação social, os quais analisam e legitimam o grau de responsabilidade de

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determinada empresa para com o social. Um padrão amplamente implantando e aceito é a ISO

14001, tanto no mundo quanto no Brasil. A figura 1 explana a evolução das certificações ou

balanços sociais por parte das empresas:

Figura 1: Evolução das iniciativas de certificação social empresarial

Fonte: Welzel, et al (2008).

Segundo Welzel et al (2008), inicialmente as empresas sentiam as exigências por

maiores níveis de qualidade, depois maior comprometimento ambiental e ético, que se reflete

até hoje. Ainda de acordo com os autores, a ISO 14000 vem passando por reformulações que

implicarão no estabelecimento de novos padrões de certificação. A ISO 14000 é a mais

conhecida e difundida no Brasil.

Essas certificações têm o objetivo de mensurar e mostrar tanto aos clientes internos

quanto aos externos o papel social da empresa as quais consomem, e a empresa por sua vez

analisa as impressões de suas ações no contexto o qual interage.

Portanto, uma empresa socialmente responsável procura ter uma visão de que tudo que

ela faz gera uma variedade de impactos diretos e indiretos dentro e fora dela, atingindo desde

os consumidores e empregados até a comunidade e o meio ambiente (MAKOVER; 1994).

Nesse sentido, a organização precisa agir no intuito de minorar esses impactos e como

forma de responder às necessidades dos atores sociais localizados em seu entorno, uma vez

que todas as suas atividades influenciam e são influenciadas pelos seus stakeholders.

Vale salientar a importância do entendimento de como surgiu o conceito, quais foram

as prioridades da atuação social de anos atrás e como vem evoluindo, para que se possa

verificar sua aplicabilidade e o nível de aceitação da temática por parte das empresas.

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2.2 Surgimento e análise histórica das abordagens teóricas da Responsabilidade Social

Empresarial

A temática da RSE foi primeiramente abordada em estudos dos economistas Arthur

Hakley e Charles Eliot. Porém, os seus conceitos não foram aceitos na comunidade

empresarial e, tampouco, na acadêmica.

As leis que existiam até então estabeleciam como sendo a responsabilidade

fundamental das organizações apenas a obtenção de lucratividade financeira para o benefício

dos proprietários e acionistas (ASHLEY; COUTINHO; TOMEI, 2000).

De acordo com Tenório (2006), até a década de 1950, a RSE assume dimensão

estritamente econômica e é entendida como a capacidade empresarial de geração de lucros,

criação de empregos, pagamento de impostos e cumprimento das obrigações legais. Essa era a

representação clássica do conceito.

Porém, através de um estudo não-empírico sobre operações empresariais, Hakley, em

1907, começou a expor algumas dificuldades da empresa nas relações de trabalho e com a

sociedade. Conforme explicita Santos (2007), em tal estudo são perceptíveis os objetivos de

lucros altos e rápidos das empresas – inclusive com abusos por parte dos executivos e da alta-

direção das organizações – e suas possíveis consequências para os grupos sociais, as

expectativas para as novas políticas e legislações e as divergências e situações conflitantes

entre a liberdade e a igualdade, sendo também possível analisar como seriam, neste contexto,

as responsabilidades sociais dos gestores e empresários.

Após a quebra da bolsa em 29 e a Primeira grande Guerra Mundial, a visão de que as

empresas só deveriam se preocupar com os lucros passou a ser questionada, e vários foram os

artigos acadêmicos, como os de Berle e Means (1932), que foram produzidos nesta direção

(ASHLEY, COUTINHO, TOMEI, 2000).

Nesse período, alguns tribunais americanos mostraram o entendimento de que

acionistas não estão na “linha de frente” da empresa, e que por isso as necessidades e

interesses de funcionários poderiam ser considerados em conjunto com os seus. Esse

entendimento permitiu que várias deliberações apresentassem resultados em prol de ações

filantrópicas e, em vista deste fato, se criou jurisprudência e se estabeleceu uma legislação

para a regulamentação do que recebeu o nome de filantropia corporativa.

As diversas transformações ocorridas na visão da RSE podem ser percebidas como um

processo contínuo decorrente de uma atitude de mudança de percepção. Inicialmente a

responsabilidade da empresa se limitava ao lucro e foi caminhando em conceituação até

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29

atingir um amplo escopo, englobando todos os stakeholders, com um marcante caráter de total

transparência. Apesar do longo caminho, deve-se entender que toda esta gradação de

conceitos e atitudes coexiste nos dias de hoje, indicando que é um processo ainda não acabado

(SANTOS, 2007).

Nesse sentido, é válido o conhecimento das características que contribuíram para a

construção e evolução do conceito, bem como a continuação da análise da história da RSE.

2.2.1 Responsabilidade Social Empresarial nos anos 50

Na década de 50, as discussões acerca da RSE adquiriram consistência, visto que a

literatura que trata do tema apareceu de forma mais específica. Na verdade, a partir deste

momento, a consciência de que a atuação das empresas trazia consigo uma série de

responsabilidades começou a aumentar.

Cedo ou tarde as empresas teriam que seguir um caminho de maior relevância social,

porque, se não o fizessem por iniciativa própria, o fariam por força de leis e regulamentos

governamentais (CARROLL, 1999; LOURENÇO, SCHRODER, 2003).

Mais precisamente em 1953, o tema foi discutido, tendo sido caracterizado como

filantropia, condição reconhecida pela Suprema Corte Norte-americana. Nesse mesmo ano, a

obra de Bowen (1953), intitulada Social Responsabilities of the Businessman, que tinha como

questão central discutir a responsabilidade do homem de negócio para com a sociedade além

de suas obrigações laborais, dá início à era moderna da RSE (CARROLL, 1999).

Neste período, as expressões de RSE reproduziam a busca de uma melhor condição de

trabalho e vida para os funcionários, verificando atitudes ambientais e éticas.

Importantes obras da literatura especializada sobre o tema, datadas da época são:

“Doações corporativas em uma Sociedade livre”, de Eell (1956); “Gerenciamento responsável

para a sociedade: O crescimento de uma ideia”, de Held's (1957) e “Moral Philosophy for

management” (A moral filosófica para o gerenciamento), de Seleskman (1959).

2.2.2 Responsabilidade Social Empresarial nos anos 60

Nesta época, surge o entendimento de que as empresas devem levar em conta como

suas decisões afetam o sistema social como um todo. Ou seja, a busca de uma conceituação

sobre o tema começa a ser assumida pelas empresas. Alguns empresários fazem uso de

princípios de RSE, entendendo que estes podem traduzir-se como requisitos para o bom

andamento dos negócios.

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30

Na busca dessa conceituação, Santos (2007) cita o trabalho de Davis (1967), pois, de

acordo com este autor, a conceituação de RSE poderia ser mais facilmente entendida dentro

de um ambiente administrativo, uma vez que muitas de suas deliberações podem ser

justificadas dentro de uma ótica de longo prazo, pois estas apresentam a possibilidade de se

converter em ganhos monetários para a organização, recuperando desta forma os gastos

realizados.

Para Carroll (1999), na década de 1960 ocorreu a substituição do termo

responsabilidade social dos homens de negócios, definido por Bowen (1953) no período

anterior, pela expressão responsabilidade social corporativa, tendo sido caracterizada pelas

tentativas de formalizar o conceito, que passou a ser compreendido como um sistema social

mais amplo, o qual evoluiu do nível individual para o corporativo.

As consequências éticas das relações entre empresa e sociedade e a preocupação com

o bem estar social passam a fazer parte do comportamento social corporativo, além das

exigências econômicas e legais. Foram visões inovadoras num contexto em que a RSE ainda

não estava consolidada apropriadamente.

Uma discussão contrária à consideração de posicionamentos sociais responsáveis por

parte da empresa partiu de Friedman (1962), que, em seu artigo publicado no New York

Times, pontuava a ética do capitalismo, verificando que o único objetivo da empresa deve ser

a maximização do lucro para os acionistas. Crítico da RSE, o autor defendia que a relevância

social por parte dos administradores poderia arruinar as bases da sociedade livre.

Algumas discussões sobre a RSE no Brasil começaram nos anos 60, com a fundação

da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE). Uma das diretrizes básicas da

ADCE era o entendimento e a aprovação, por parte dos seus integrantes, do princípio da

função social da empresa (LOURENÇO, SCHRODER, 2003).

Internacionalmente, diversos autores procuraram definir a RSE. McGuire (1963)

pontua as políticas que a empresa deve possuir para a legitimação do conceito em sua atuação,

tais como políticas voltadas para o bem-estar da comunidade, educacionais e políticas para a

melhoria das condições de trabalho dos seus funcionários, em diferentes ações sociais,

validando os negócios através da cidadania.

Frederick (1960) considerou que a responsabilidade social inclui uma atitude pública

em relação aos recursos humanos e econômicos, de tal forma que esses não sejam utilizados

de maneira restrita aos interesses de pessoas e empresas privadas.

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31

No final da década, apareceram trabalhos no âmbito internacional acerca das temáticas

ambientais, segurança no trabalho, regulamentos governamentais, o consumismo excessivo e

o desperdício dos recursos naturais (BORGER, 2001). Assim, os debates sobre RSE começam

a consolidar-se e marcam a década seguinte.

2.2.3 Responsabilidade Social Empresarial nos anos 70

Foi a partir da década de 1970 que a RSE passou a adquirir o formato mais conhecido

atualmente de abordagem ética e que envolve a discussão sobre as necessidades sociais dos

diferentes agentes que envolvem a empresa. Entretanto, ainda era necessário validar o

conceito, dado o fato de que trabalhos como os de Friedman marcaram a década.

Para Oliveira e Valadão Júnior (2007), foi na década de 1970 que se ampliaram as

discussões sobre o relacionamento empresa, governo e comunidade diante do aumento da

crise social e ambiental do momento. Neste período, as relações entre empresas e agentes

externos tornaram-se mais firmes e a definição de RSE com uma composição reguladora

apresentou-se em paralelo a debates filosóficos sobre as obrigações das organizações no

provimento do progresso social.

Dessa forma, a visão voltava-se para a intensidade e nível de respostas da organização,

para os compromissos sociais para com a sociedade, uma vez que tais compromissos sociais

eram vistos como uma das obrigações da empresa.

Para Friedman (1970), a RSE é uma ideia subversiva, embora considerasse como

compromisso social de qualquer empresa o respeito à ética e a obediência às leis em uma

constante auto-procura do lucro. Para ele, a utilização de recursos para ações sociais em lugar

de aplicá-los à produção representa uma redução da eficácia da empresa. Para o autor, os

problemas sociais são de competência do Estado.

A análise das políticas de relacionamento da empresa para com as comunidades e a

busca de uma boa relação com essas comunidades, além de uma visão de filantropia

corporativa, são também consideradas neste período.

São ainda relevantes, nessa década, as preocupações do Comitê para o

Desenvolvimento Econômico (CED) ligadas aos produtos, empregados, ao meio ambiente, à

exclusão e pobreza, bem como à elaboração de modelos teóricos a fim de conceituar a RSE e

de avaliar o desempenho social empresarial (PRESTON e POST, 1975; SETHI, 1975;

CARROLL, 1979; ZENISEK, 1979).

Para autores como Eilbert e Parket (1973), duas visões abrangem as ações socialmente

responsáveis: uma consiste em não realizar nada que possa prejudicar a comunidade vizinha,

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enquanto a outra é a ação voluntária de auxiliar na solução dos problemas dessa comunidade,

optando por um papel ativo. Outras análises como a de Ackerman (1973) verificam que as

ações de RSE, inicialmente, se constituem em respostas à sociedade ou a pressões legais.

Essa responsividade consiste na adaptação das ações sociais às demandas coletivas na

empresa, atuando de forma antecipatória e pró-ativa, levando em conta os anseios da

sociedade.

Num modelo de responsividade social, as empresas inserem em sua estratégia ações

que visam solucionar as demandas apontadas pela sociedade, evidenciando que a sua atuação

social pode ser reativa, resultante de pressões exercidas externamente. Não atuar com o foco

na pró-atividade é um limitante da responsividade, o que eleva o prazo para viabilizar a

solução dos problemas identificados (STONER, FREEMAN 1995; BORGER, 2001).

Para Davis e Blomstrom (1975), a RSE começava no ponto em que terminam as leis.

Assim, uma empresa não está sendo socialmente responsável se obedece somente às

exigências mínimas da lei, porque isto é o que se espera dela. Os autores definiram o conceito

como sendo o compromisso da empresa em analisar os efeitos causados pelo processo

decisório, de maneira que se estendesse além das obrigações legais e resultasse em benefícios

sociais. O enfoque de Preston e Post (1975) apóia a opinião de Davis, ao descrever que a RSE

é a extensão do papel empresarial que ultrapassa seus objetivos econômicos e legais.

Preston e Post (1975) e Borger (2001) propuseram o termo responsabilidade pública

por compreenderem que o fato de uma organização estar inserida no contexto da vida pública

lhe confere responsabilidades sociais de viabilizar a sua contínua melhoria. Os autores veem a

responsabilidade social como função da gestão no contexto da vida pública. Ressalvando-se

apenas que é necessário especificar ou delimitar de forma prática o que é responsabilidade

pública ou privada.

Após as considerações de Preston e Post (1975), outros autores analisaram a

responsabilidade social e suas particularidades. Fitch (1976) realizou uma investigação acerca

da necessidade de as empresas adotarem um posicionamento como agentes de transformação

social. Zenisek (1979) criou um modelo de RSE que procurava a coerência entre a ética

empresarial e as demandas sociais. Holmes (1976) analisou o ponto de vista da alta direção

acerca de temos como responsabilidade empresarial na obtenção da lucratividade, auxílio na

solução de problemas sociais, impactos das ações sociais na lucratividade da empresa e as

expectativas sobre as ações de RSE (CARROLL, 1999).

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33

Outros autores também procuraram trabalhar com o conceito de performance social,

verificando um conjunto de evidências relacionadas, é o que se pode ver a seguir.

2.2.3.1 Modelo Tridimensional de Performance Social

O modelo tridimensional de performance social foi proposto por Archie B. Carroll, em

1979, com vistas a integrar conceitos e promover uma análise multidimensional da RSE. O

conceito passou a ser visto não mais como um possível fator para produzir uma rede de

custos, mas uma contribuição para a geração de vantagens estratégicas em longo prazo com

vistas a melhorar o desempenho das empresas em termos de produtividade e inovação.

Carroll (1979) propôs o conceito de desempenho social das empresas, abrangendo

princípios, processos e políticas sociais, partindo do princípio de combinar as ideias

filosóficas da responsabilidade social e os modelos de reatividade social. Esses modelos de

reatividade partem do princípio de que as empresas reagem individualmente a questões

sociais, ponderando uma análise micro dessas questões.

Para conceituar a responsabilidade social e analisar seu nível de abrangência por parte

das organizações, deve-se estudar por inteiro o conjunto de obrigações que a empresa tem

para com a sociedade, verificar as características do contexto e ambiente em que atua a

empresa e observar suas formas de resposta frente às necessidades de seus stakeholders.

A partir destas constatações, o autor enfoca três dimensões distintas no trato da RSE.

O primeiro aspecto do modelo trata de categorias, da tarefa da responsabilidade social, que

são as categorias: econômica, legal, ética e discricionária. O segundo aspecto diz respeito a

toda uma gama de ações ou programas sociais que a empresa pode focar ou priorizar, estas

questões podem ser relacionadas principalmente ao consumo, meio-ambiente, discriminação,

segurança do produto ou do trabalho, acionistas etc. E o terceiro aspecto trata-se do

posicionamento (resposta) que a empresa pode ter em relação à relevância social.

Esses três ângulos de análise forçam à consideração das principais questões que devem

ser analisadas na performance social de uma empresa (CARROLL, 1979). Para Welzel et al

(2008), o modelo de RSE idealizado por Carroll (1979) é tido como um modelo explicativo

fundamental do tema. E considera-se que o mesmo serviu de base para diversos outros

estudos e conceitos sobre o tema surgidos posteriormente.

A figura 2 a seguir mostra o cubo tridimensional exposto pelo autor, o qual explana as

três dimensões ou ângulos de análise em questão:

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34

Figura 2: Modelo Tridimensional de Performance Social Corporativa

Fonte: Carroll (1979, pg. 503)

As categorias que o autor coloca para o estudo de ações socialmente responsáveis por

parte da empresa mostram as responsabilidades ou obrigações do negócio.

Responsabilidade econômica – Os negócios têm responsabilidades de pagamento e

venda aos fornecedores, funcionários e clientes. Todos os outros papéis são atributos

derivados desse pressuposto fundamental. Não se pode dizer que uma empresa é socialmente

responsável quando ela deixa de cumprir compromissos econômicos com os stakeholders.

Dessa forma, ela deve verificar a adequação entre seu nível de receitas e despesas e

disponibilizar produtos adequados aos clientes ou prover serviços que a sociedade requer e

vendê-los de forma apropriada e conveniente. A empresa possui como sua natureza e

justificativa de existência oferecer ao seu público produtos e serviços adequados e garantir o

efetivo retorno financeiro a acionistas, sócios, fornecedores, funcionários e parceiros.

Responsabilidade legal - Leis e regulamentações formam a estrutura legal sobre a

qual espera-se que os negócios operem. Obedecer à lei é uma das condições para a existência

dos negócios na sociedade. Carroll (1979) afirma que a sociedade espera que as empresas

atuem dentro de sua responsabilidade econômica, e dentro da estrutura dos requerimentos

legais impostos à sua existência.

Responsabilidade ética – Comportamento e normas éticas também são uma

expectativa que os membros da sociedade esperam ser preenchidos pelos negócios, mas nem

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sempre estão codificados na lei. Conforme o autor do modelo, a responsabilidade ética pode

ser considerada como a mais difícil de ser trabalhada e praticada nos negócios. Porém, a

mesma tem sido muito discutida e debatida e adquire considerável relevância, principalmente

em relação aos debates sobre aspectos que podem ser ou não éticos. Esses fatores implicam na

análise e reflexão ética e exigem que a tomada de decisões por parte da empresa seja feita

considerando-se as consequências de suas ações.

Responsabilidade discricionária – Os atos discricionários consistem nas ações

praticadas pela gerência, em resposta às expectativas sociais. Esses atos podem ser vistos

como voluntários ou filantrópicos e ficam por conta do julgamento individual dos gestores da

organização, tais como ações voluntárias devem ser. Essas atividades são guiadas pelo desejo

dos negócios em se engajar em papéis sociais não legalmente obrigatórios e estão tornando-se

cada vez mais parte integrante das estratégicas organizacionais. Para Carroll (1979), essas

responsabilidades incluem atividades que não são impostas às empresas, nem por lei, normas

éticas ou por necessidades econômicas.

A figura 3 mostra como a responsabilidade social pode ser categorizada nos quatro

grupos explicitados:

Responsabilidade

Discricionária

Responsabilidade

Ética

Responsabilidade

Legal

Responsabilidade

Econômica

Figura 3: Categorias de Responsabilidade Social

Fonte: Carroll (1979, pg. 499).

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Estas quatro categorias não são mutuamente excludentes, nem são destinadas a retratar

uma continuidade com preocupações econômicas em uma extremidade, e preocupações

sociais em outra, ou seja, elas não são cumulativas nem aditivas. O gráfico é apenas para

sugerir o que poderia ser denominado seu papel fundamental na importância da evolução da

consideração – categorização – social. Todos esses tipos de responsabilidades têm sempre

existido nas organizações, a história mostra que primeiramente eram considerados aspectos

econômicos e legais e que depois aspectos éticos e discricionários passaram a ser também

levados em conta (CARROLL, 1979).

As atitudes sociais das empresas podem ser caracterizadas e entendidas de acordo com

as categorias mencionadas. Uma organização pode realizar ações socialmente responsáveis de

maneira abrangente ou de forma principiante, entretanto as mesmas podem ser vistas sob a

ótica econômica, legal, ética ou discricionária.

As duas primeiras categorias são exigidas pela sociedade, podendo ser denominadas

de „responsabilidade de ação‟ das empresas. A terceira categoria é esperada pela sociedade, e

a quarta é desejada pela sociedade (CARROLL, 1991). Todos estes compõem uma das

dimensões de análise social.

Conforme o autor, o modelo procura estabelecer uma visão distinta para muitos que

discutem o fato de a responsabilidade econômica estar separada da ênfase social. O modelo

sugere uma integração de fatores econômicos e sociais, ao contrário da visão dos que

argumentam o fato de os aspectos econômicos estarem separados da responsabilidade social.

Em síntese: a empresa deve ser economicamente viável, produzir bens ou prover

serviços que a sociedade precisa; cumprir as leis; adotar comportamentos que não estão

propriamente codificados nas leis, mas são esperados pela sociedade; e, voluntariamente,

contribuir com projetos sociais que beneficiem a comunidade. O comportamento específico

da empresa deve ser referendado pelos stakeholders, pois as opiniões dos membros desses

grupos influenciam na aceitação que a empresa e suas atividades dispõem na sociedade.

É válido considerar que para entender a complexidade da RSE nas organizações

modernas, é necessário incorporar uma visão mais vasta e dimensional da sociedade, e

considerar o macro ambiente, suas necessidades e anseios, conforme explanam Carroll

(1979), Wood (1991) e Ashley (2000).

A estrutura do presente modelo aborda uma outra dimensão, que consiste nas ações e

programas sociais envolvidos. Trata-se de questões nas quais as responsabilidades

econômicas, legais, éticas e discricionárias podem ser ou estar vinculadas.

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Carroll (1979) aponta que essas ações e programas são diferentes para cada indústria, e

sua consideração e relevância dependem do contexto e dos stakeholders envolvidos com a

empresa. Na verdade, a gestão pode focar em certas áreas de interesse ligadas à natureza dos

produtos ou em áreas relacionadas à própria cultura da organização. Essas áreas são descritas

no modelo como a ênfase na segurança do produto, segurança do processo ou do trabalho,

meio-ambiente, consumo e acionistas, ou seja, designam focos prioritários que a empresa

pode trabalhar no momento de sua relevância social. Entretanto, o autor coloca que a empresa

pode não ter nenhuma desta ênfase no trabalho com questões sociais, ficando a cargo de o

pesquisador identificar quais as áreas ou recursos a empresa prioriza nas ações socialmente

responsáveis.

A necessidade de reflexão para com as áreas sociais tem evoluído no âmbito da

responsabilidade social, principalmente o reconhecimento de como elas mudaram ao longo do

tempo; por exemplo, segurança do produto, segurança ocupacional, saúde e ética empresarial

não eram interesses da década passada. As questões e seu grau de interesse estão sempre em

um estado de fluxo. À medida que o tempo passa, a ênfase nas áreas de consideração social

muda (CARROLL, 1979).

Nesse sentido, pode-se observar que o entendimento de ações e programas está sujeito

a fatores como identificação da empresa, contexto em que a mesma se encontra, pessoas

envolvidas, cultura, ambiente e aspectos da atualidade. Com isso o autor menciona a

importância de verificar esses itens associados ao tipo de relevância social que a empresa

pretende assumir, fatores que podem ser analisados mediante a consideração do ambiente e de

aspectos relacionados.

A filosofia, modo ou estratégia de comportamento e resposta do gestor também é um

aspecto que pode ser focado quando da análise da relevância social por parte da empresa,

designando a terceira dimensão do modelo de Carroll (1979). Conforme ele, o termo

geralmente usado para descrever este aspecto é resposta social, e pode se estender desde

nenhuma resposta até uma resposta pró-ativa. O que se coloca não é a gestão que aceita a

existência de obrigações morais e éticas que devem ser consideradas pela empresa, mas trata-

se do grau e tipo de ação gerencial que a mesma pode adotar nesse aspecto.

Alguns escritores mencionaram métodos conceituais que descrevem formas de

resposta social por parte da empresa. Essas formas de resposta, em sua visualização final,

consistem no posicionamento da empresa, na maneira como ela pode responder à sociedade

por aspirações sociais e a forma como se dá essa resposta. Ian Wilson (1975) apud Carroll

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(1979) identificou que existem quatro estratégias de resposta social: reativa, defensiva,

acomodativa e pró-ativa. Outros autores também identificaram modelos de resposta, conforme

se pode observar a seguir:

Ian Reativa Defensiva Acomodativa Pró-ativa

Wilson

Terry Reage Faz apenas o É progressivo Conduz a indústria

McAdam a mudanças requerido

Davis & Retirada Abordagem de Abordagem Negociação Resolução

Blomstrom Relações públicas jurídica de problema

Mínima Máxima

Relevância Relevância

Figura 4: Formas de resposta social

Fonte: Carroll (1979, pg. 502)

Terry McAdam descreveu uma metodologia similar e complementar à de Wilson, e

ainda procurou explicitar toda a abordagem gerencial que caracteriza os níveis de resposta.

Davis e Blomstrom descrevem também alternativas de resposta às pressões da sociedade. A

figura mostra essas responsabilidades de uma forma contínua.

Carroll (1979) identificou que a abordagem de Ian Wilson (1975) era adequada para

seu modelo de RSE. O autor coloca que as empresas buscam, para adequar-se e desenvolver

métodos de observação social, implantar os princípios do contrato social em seus processos

decisórios e em suas políticas empresariais; esses princípios dizem respeito ao

posicionamento que a organização pode tomar no sentido de responder a problemas sociais.

Com isso, uma empresa pode ser caracterizada como tendo uma resposta:

a) Reativa: a empresa responde a uma questão social depois que ela ameaça seus objetivos, ou

seja, depois que algum problema interfere em seu efetivo funcionamento;

b) Defensiva: a empresa age para se proteger ou se defender de um desafio ou problema;

c) Acomodativa: a empresa se alinha às exigências do governo ou da opinião pública; ou

d) Pró-ativa: a empresa antecipa exigências que ainda não foram feitas.

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Observa-se que, como pontua o autor, enfoques antes tidos em separado como as

formas de resposta social, categorias e focos de análise da empresa foram colocados em

conjunto, conforme três dimensões de uma mesma abordagem.

O modelo foi sugerido para ser utilizado principalmente na área acadêmica, por

pesquisadores e alunos, sendo chamado de modelo tridimensional conceitual de performance

social. Mas também seu uso por gestores, no intuito da medição e relevância da abrangência

social da empresa, mostra os principais focos de análise da organização e os problemas a

serem enfrentados para o desenvolvimento de uma empresa socialmente responsável.

Também enfoca a consideração dos stakeholders e sua visualização, entendimento e

percepção acerca das ações desenvolvidas, uma vez que estes influenciam e são tidos como a

natureza das práticas e ações socialmente responsáveis. O modelo pode auxiliar e ser utilizado

como uma ferramenta de diagnóstico empresarial ou como mecanismo para entendimento e

apreciação do entendimento dos stakeholders sobre determinadas questões sociais de dada

empresa.

O modelo tridimensional de performance social coloca-se como uma das grandes

contribuições na área de RSE. Muitos autores posteriormente o mencionaram e

desenvolveram estudos com base em Carroll, conforme se pode verificar na década de 80.

2.2.4 Responsabilidade Social Empresarial nos anos 80

Na década de 1980, com a retomada da ideologia liberal, o conceito de RSE sofre

transformações, revestindo-se de argumentos a favor do mercado.

Com isso, o mercado passa a ser o principal responsável pela regulação e fiscalização

das atividades empresariais, impedindo abusos por parte das companhias (TENÓRIO, 2006).

Vê-se que os novos requisitos desse mercado, juntamente com a mudança de mentalidade dos

consumidores, foram fatores decisivos na ascensão dos debates sobre RSE nesta década.

Nesse período, muitos estudos tanto no exterior quanto no Brasil deram enfoque ao

tema, destacando-se o de Magalhães (1984), ao considerá-la como consequência da ação

política dos indivíduos e da sociedade; o de Mota (1984), que a relacionou com a

administração pública para se atingir a eficiência e a lucratividade; e o de Tomei (1984), que

avaliou a percepção dos empresários, quanto a seus valores e ideologias, para compreender se

a adoção da RSE representava um novo estilo de administrar.

Friedman (1984) continuava a colocar o entendimento de que a função básica da

empresa é garantir a maior lucratividade para proprietários e acionistas. Entretanto essa visão

era rebatida por trabalhos da época que tratavam de temas como ética empresarial e teorias de

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gestão focalizadas nos stakeholders. Uma discussão acontecia assim em meios empresariais e

acadêmicos.

O foco da RSE modificou-se da definição para a busca pela operacionalização,

abrangendo muitos temas relativos como ética empresarial, gestão pública, desempenho social

corporativo, teoria dos stakeholders. Tornaram-se sólidos os estudos para determinar e

gerenciar a RSE atrelada à atuação financeira.

Para Drucker (1984) e Cochran e Wood (1984) existe uma relação proporcional entre

a lucratividade de uma empresa e a sua RSE, devendo a organização transformar as suas

ações sociais em possibilidades de retorno financeiro, como forma de transformar um

problema social em conveniências econômicas para a firma.

Dado o fato de que assuntos sociais estão relacionados a questões subjetivas, alguns

autores procuraram num primeiro momento fomentar modelos conceituais no intuito de focar

o comportamento da organização, como forma de possibilitar a verificação da situação de

desenvolvimento em que ela se encontra.

Neste contexto, Wartick e Cochan (1985) elaboraram um modelo de desempenho

social corporativo, utilizando um agrupamento de princípios, processos e políticas para

integrar responsabilidade, responsividade e outros temas sociais a uma gestão administrativa.

2.2.4.1 Modelo de Performance Social Corporativa

Tendo por base os trabalhos de Carroll (1979), Wartick e Cochran (1985)

desenvolveram um modelo que procurou ampliar e reorientar sua análise social. Nesta visão,

primeiramente os autores definiram os principais desafios de RSE no momento da relevância

social por parte do gestor. Cada desafio tenta definir tanto o escopo da responsabilidade social

na sociedade quanto os critérios de mensuração da performance da empresa na área social.

O primeiro desafio consiste na responsabilidade econômica, que está focada em

garantir que os interesses dos acionistas, gestores ou funcionários estejam sendo considerados

e colocados em ordem. Esses interesses estão arraigados na empresa, e não podem ser

colocados em segundo plano. O ponto é que a RSE inclui, mas não é limitada, pela

responsabilidade econômica.

O segundo desafio é verificar que existe a responsabilidade pública, que consiste nas

ações praticadas pela empresa que impactam ou ocasionam mudanças na sociedade e na

opinião pública. Diz respeito ao conhecimento e adequação da empresa com as características

do mercado e sua resposta para com a sociedade.

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41

O terceiro desafio é a responsividade social, que está relacionada ao processo de

resposta social da empresa para com a sociedade (pressões sociais). É um conceito válido que

conduz os gestores a entender de uma melhor forma a ênfase no desenvolvimento e

implantação de um plano de ação social.

Os autores abordam que as dimensões de responsabilidade social têm sido alvo de

muitas conceituações e teorias, e verificam os princípios como uma orientação filosófica. A

dimensão de responsividade social enfoca a maneira de satisfazer as obrigações sociais, trata-

se da capacidade de resposta. A terceira dimensão é a administração dos aspectos sociais, que

estava sendo desenvolvida como um método para operacionalizar a responsividade social. O

quadro 1 mostra as dimensões em análise:

PRINCÍPIOS PROCESSOS POLÍTICA

Responsabilidade Social Responsividade Social Gestão dos Aspectos Sociais

Empresarial

1. Econômica 1. Reativa 1. Identificação dos Aspectos

2. Legal 2. Defensiva 2. Análise dos Aspectos

3. Ética 3. Acomodativa 3. Desenvolvimento da resposta

4. Discricionária 4. Pró-ativa

Dirigido ao: Dirigido à: Dirigido à:

1. Contrato social do negócio 1. Capacidade de resposta a 1. Minimização de surpresas

2. Negócio como um agente alterações das condições sociais; 2. Determinação das políticas

moral 2. Abordagens de gestão para efetivas de RSE

desenvolvimento de respostas.

Orientação filosófica Orientação institucional Orientação organizacional

Quadro 1: Modelo de Responsabilidade Social Corporativa Fonte: Wartick e Cochran (1985, p. 767)

Cada componente (dimensão) possui suas próprias orientações e direções e, em geral,

eles proveem um conceito integrado do envolvimento social de uma organização.

O modelo de Wartick e Cochran (1985) apresenta a origem e natureza das dimensões

da RSE. Os princípios de responsabilidade social refletem uma orientação filosófica, pois é

fato que a identificação das causas e problemas sociais infere uma colocação dos sentidos

racional e lógico; os processos de resposta social refletem uma orientação institucional, em

que existe a necessidade do conhecimento do ambiente e das necessidades do entorno da

empresa para a consecução de sua resposta; e as políticas de gerenciamento dos aspectos

sociais refletem uma orientação organizacional, em que a administração dos recursos sociais

se dão no âmbito interno da empresa.

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42

O modelo acrescenta a visualização de que os princípios, processos e políticas

possuem utilidades ou estão direcionados a uma função principal, tal qual a empresa como

agente moral no contexto de contrato social dos negócios. Ele é similar e procurou até certo

ponto complementar o modelo de Carroll e ampliar seu ângulo de análise, evidenciando a

natureza de seus princípios e processos e seu direcionamento.

Em 1987, Epstein, a partir da realização de pesquisas acerca da responsividade e a

ética e RSE, definiu-a como um processo político-social corporativo, procurando demonstrar

que responsabilidade social, responsividade e ética empresarial são ideias que se relacionam

(CARROLL, 1979, 1999).

Ocorre também na década de 80 o nascimento da corrente denominada Business &

Society, dado o fato da revolução decorrente das novas tecnologias da informação e da

globalização, fatores que acabaram por transformar organizações locais em corporações

transnacionais. Para os pensadores desta corrente, a empresa e a sociedade formam uma rede

de interesses e relações permeadas por disputas de poder, por acordos contratuais e pela busca

da legitimidade. Um dos pilares da Business & Society é a Teoria dos Stakeholders, a qual foi

discutida primeiramente nos anos 80. Entretanto sua discussão e abordagem serão feitas

posteriormente à discussão e presente análise histórica.

2.2.5 Responsabilidade Social Empresarial nos anos 90

O movimento de valorização da RSE ganhou forte impulso na década de 90, através

da ação de entidades não governamentais, institutos de pesquisa e empresas que começaram a

trabalhar com a questão. Nesta época, surgiram pesquisas no intuito de aperfeiçoar métodos e

modelos de desempenho social corporativo, criados nas décadas anteriores. De acordo com

Wood (1991), outros temas como cidadania corporativa, desempenho financeiro e

rentabilidade foram explorados com maior intensidade.

Pode-se verificar que a discussão sobre o tema está associada à transição de valores

que o país atravessou: de uma sociedade industrial, em que a RSE assume conotação

econômica, para uma sociedade pós-industrial, onde o tema valoriza aspectos relacionados à

melhora da qualidade de vida.

A partir de outras iniciativas, em 1993 muitas organizações passaram a realizar, todos

os anos, a divulgação do seu balanço social (LOURENÇO; SCHRODER, 2003). E novas

visões e conceitos são consolidados. Wood (1991) alegou que empresa e sociedade fazem

parte de um mesmo sistema e estão em constante interação; ambas estão ligadas por um

contrato social e a empresa está sujeita ao controle por parte da sociedade.

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43

Em seu modelo de desempenho social, ele discute fatores que impõem uma mudança

de comportamentos para com aqueles que de alguma forma são ou não impactados por uma

organização, fazendo com que a mesma adote políticas e programas de prevenção e mitigação

de impactos. Seu trabalho é tido como uma importante referência para estudos sobre RSE.

2.2.5.1 Modelo Corporate Social Revisited

No intuito de determinar o perfil da RSE, Wood (1991) apresenta um modelo que tem

por objetivo facilitar a visualização das dimensões e relacionamentos de uma empresa

socialmente responsável. Seu estudo foi baseado no modelo de Carroll (1979) e de Wartick e

Cochran (1985), tendo o cuidado de substanciar os conhecimentos existentes até o momento.

O autor sugeriu uma análise sobre o que seria um modelo de desempenho social

corporativo, no intuito de viabilizar a mensuração dos resultados da prática das ações sociais.

Segundo ele, negócio e sociedade se combinam, constituindo-se em uma única entidade. Este

modelo pode ser considerado tridimensional, conforme se pode verificar na tabela 1, a seguir:

Princípios de Responsabilidade Social Empresarial

Princípio institucional: legitimidade;

Princípio organizacional: responsabilidade

pública;

Princípio individual: gestão discricionária.

Processos de Responsividade Social Empresarial

Avaliação ambiental;

Gestão de stakeholders;

Gestão de questões.

Atitudes de Comportamento Social Empresarial

Impactos sociais;

Programas sociais;

Políticas sociais.

Tabela 1: Modelo de Desempenho Social Empresarial Wood (1991)

Fonte: Heleno (2008)

Segundo Wood (1991), a empresa e a sociedade estão interligadas e não são

consideradas distintas, já que a sociedade tem determinadas expectativas para o

comportamento adequado de uma empresa.

A representação do autor lhe permitiu desenvolver uma relação entre os princípios de

RSE com a legitimidade social (nível institucional), a responsabilidade pública (nível

organizacional) e o discernimento e a sensatez administrativa (nível individual). O quadro 2

explana os princípios:

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O Princípio da Legalidade: A sociedade concede legitimidade e poder de negócio. A longo prazo,

aqueles que não utilizam o poder de forma que a sociedade considera responsável tenderá a perdê-

lo.

Nível de aplicação: Institucional baseada em uma empresa da obrigação genérica como uma

organização empresarial.

Foco: Obrigações e sanções.

Valor: Define a relação institucional entre as empresas e a sociedade e especifica o que se espera de

qualquer negócio.

Origem: Davis (1973).

O Princípio da Responsabilidade Pública: As empresas são responsáveis pelos resultados

relacionados com as áreas de envolvimento com a sociedade.

Nível de aplicação: Organizacional, com base nas circunstâncias específicas da empresa e as

relações com o meio ambiente.

Foco: Parâmetros comportamentais para as organizações.

Valor: Limita uma empresa da responsabilidade aos problemas relacionados com sua atividade e

interesses, sem especificar um domínio de ação possível.

Origem: Preston & Post (1975)

O Princípio do Poder da Gestão Discricionária: Os gestores são agentes morais. Dentro de cada

domínio da responsabilidade social das empresas, existe a obrigação de exercer tal poder

discricionário tanto possível, no sentido socialmente responsável.

Nível de aplicação: Individual, com base nas pessoas, ou seja, gestores, como atores nas

organizações.

Foco: escolha, oportunidade e responsabilidade pessoal.

Valor: define a responsabilidade dos gestores como moral, de forma a perceber e a exercer as suas

opções em função da responsabilidade social.

Origem: Carroll (1979), Wood (1990)

Quadro 2: Princípios da Responsabilidade Social Empresarial Wood (1991)

Fonte: Wood (1991)

Para Wood (1991), os administradores são atores morais, obrigados a exercitar a

prudência na direção de resultados socialmente responsáveis, que devem ampliar o caráter

moral de suas decisões, sabedores dos efeitos prejudiciais que podem produzir as suas atitudes

menos éticas.

Nesse sentido, surge o conceito de responsividade social, que representa

comportamentos que a organização define como respostas para com questões sociais –

informações, características e agrupamentos de stakeholders com os quais a empresa

relaciona-se. Autores como Carroll (1979) e Wartick e Cochran (1985) definem que a

responsividade social não substitui a RSE, mas apenas a complementa.

Wood (1991), que baseou muito de sua visão sobre responsividade em Ackerman

(1975) e Strand (1983), sugeriu três comportamentos característicos de uma empresa que

trabalha com responsividade, que são: Acompanhamento e avaliação das condições

ambientais; Assistência aos interesses das partes interessadas (stakeholders); Definição de

planos e políticas para responder às novas condições. Esses comportamentos mostram a

consideração das pessoas, grupos, condições ambientais e de tratamento da informação.

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Os resultados do desempenho das ações de RSE são extremamente importantes para a

análise do desempenho social da empresa. São dois os resultados a se considerar: impactos

sociais das ações empresariais, e programas e políticas sociais empresariais (ASHLEY, 2002).

Essa terceira vertente do modelo consiste na definição de políticas, programas e resultados

observáveis, que estejam relacionados com as relações sociais da empresa.

O modelo de RSE de Wood (1991) é destaque não só como abordagem sobre o modo

das respostas sociais empresariais, mas é tido como um conjunto de conceitos e explicitações

teóricas do que consiste a responsabilidade social. Este modelo pode ser tido como uma

junção conceitual de estudos anteriores sobre o tema; contribuiu para uma conceituação mais

desenvolvida do que pode ser uma empresa que pratica ações socialmente responsáveis.

No intuito de promover uma definição também mais abrangente da RSE, Carroll

(1991) deu continuidade ao seu estudo proposto em 1979, relatando conceitos e visualizações

novas e diferentes daquelas propostas até o momento.

2.2.5.2 A pirâmide de Responsabilidade Social Empresarial

Em 1991, Carroll revisou sua concepção sobre RSE e introduziu um novo conceito, o

da cidadania corporativa, defendendo a convergência entre a responsabilidade social e este

conceito. Para ele, as empresas que são lucrativas, obedecem às leis, apresentam um

comportamento ético e desenvolvem ações filantrópicas são empresas-cidadãs.

Dentre as principais considerações do estudo, verifica-se o argumento de que as

empresas devem elaborar programas e metas sociais integradas ao pensamento ético, de

acordo com sua estratégia, tomada de decisão e políticas.

O autor sugeriu que as quatro categorias de RSE: econômica, legal, ética e

discricionária, identificadas e discutidas em seu modelo exposto em 1979, fossem organizadas

em forma de pirâmide, onde na base estaria o princípio econômico e, por conseguinte, os

próximos – legal, ético e discricionário. Assim surgiu a pirâmide de SER, a qual os descrevia

e mostrava as características a serem analisadas em cada um deles. As funções ou princípios

são colocados dessa forma, conforme a seguinte figura:

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Responsabilidade

Filantrópica

Ser uma empresa-cidadã

Contribuir com recursos

para a comunidade;

Melhorar a qualidade de vida

Responsabilidade

Ética

Ser ético

Fazer o que é certo, justo e honesto;

Evitar injustiças ou ofensas.

Responsabilidade

Legal

Obedecer à lei

A lei é a codificação da sociedade sobre o que é certo e

errado. Jogue com as regras do jogo.

Responsabilidade

Econômica

Ser útil e proveitoso

A fundação sobre a qual todas as outras operam

Figura 5: A pirâmide de Responsabilidade Social Corporativa Fonte: Carroll (1991, pg. 4).

Carroll (1991) faz uma detalhada explicação sobre os princípios, em que é possível

destacar alguns pontos principais mencionados pelo autor:

1 – Componentes Econômicos (Responsabilidades): Carroll (1991) pontua que, sem a

ocorrência do componente econômico, todos os outros componentes se tornam meras

considerações, sem legitimidade ou segurança. É importante manter uma posição competitiva

no mercado e altos níveis de eficiência operacional.

2 – Componentes Legais (Responsabilidades): A empresa deve operar segundo os requisitos,

normas e leis impostas pelo mercado ou governo. Nesse sentido, deve verificar as

regulamentações federal, estadual e municipal. Na verdade, deve estar de acordo com os

princípios econômicos, operando sob uma estrutura legal.

3 – Componentes Éticos (Responsabilidades): Esse componente não está codificado em leis

ou regulamentações e consiste nos julgamentos de valor e moral que a empresa possui e

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coloca em ação para com seus stakeholders. Envolve os padrões, critérios, normas ou

expectativas que refletem o que consumidores, funcionários, shareholders e a comunidade

consideram como justo e honesto. Mudanças éticas ou de valor precedem o estabelecimento

das leis porque eles se tornam a força reguladora por trás da criação das leis e

regulamentações. O componente ético pode ser considerado como continuamente em debates

públicos para sua legitimidade e é frequentemente difícil para os empresários lidarem e

trabalharem com ele (CARROLL, 1991).

Para o autor ainda, o comportamento empresarial ético da última década estabeleceu a

responsabilidade ética como um componente que legitima as ações de RSE. Deve-se observar

que essa responsabilidade está numa interface dinâmica com a responsabilidade legal,

entretanto o comportamento ético vai além da mera submissão com leis e regulamentações.

4 – Componentes filantrópicos (Responsabilidades): Este componente reflete a importância

de trabalhar paralelamente com as expectativas filantrópicas da sociedade. Pode-se verificar

principalmente a importância de ações que legitimem a participação de administradores e

funcionários em atividades voluntárias em sua comunidade local.

As responsabilidades ética e discricionária estão envolvidas em um sentido mais

amplo de RSE. Isto porque estão fundamentadas em preceitos como de cidadania, moral e

compromisso social comum, ou seja, para benefício mútuo. Ações socialmente responsáveis

devem reunir iniciativas de natureza ética ou humanitária, mas também econômica e legal. A

RSE inclui a contribuição discricionária, mas não é limitada por ela.

A pirâmide de responsabilidade social de Carroll e seu modelo tridimensional de

performance social são tidos como referências conceituais e estão presentes em muitos

estudos da área, como também muitos modelos criados posteriormente assemelham-se

estruturalmente a eles.

Observa-se que, em 1991, Carroll chamou a responsabilidade discricionária descrita

em 1979 de responsabilidade filantrópica, introduzindo a discussão sobre o que é filantropia e

seu escopo e atuação. Verifica-se essa modificação pela importância dada ao voluntariado e à

filantropia no contexto do momento, itens direcionados e voltados ao conceito em questão.

Observa-se também que seu estudo preocupou-se em descrever e analisar mais

detalhadamente as categorias de análise social, introduzindo uma visualização piramidal.

Entretanto, as considerações já feitas em 79 foram consolidadas, como a observação de que

essas responsabilidades não são mutuamente exclusivas, e sua consideração em conjunto ou

em separado deve ocorrer dentro do contexto e da dinâmica interação que ocorre entre eles.

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A pirâmide de responsabilidade social procura dispor uma melhor visualização e

entendimento das categorias, visto que aspectos do componente econômico podem colocar-se

como em choque ou conflito com os outros componentes da pirâmide: o atendimento das

necessidades de lucro e a consideração dos problemas éticos e sociais internos e da sociedade.

Carroll (1991) faz menção à importância da análise dos stakeholders; principalmente

ao fato de identificar aqueles que merecem uma relevância prioritária, os desafios e

oportunidades envolvidos nesta consideração e quais atitudes que devem ser trabalhadas para

cada stakeholder.

Nesse sentido, o autor procurou em seu estudo vincular a relevância dos stakeholders

com as características do componente ético mais propriamente. O princípio ético é analisado

mais detalhadamente em consonância com as perspectivas do grupo de stakeholders de uma

empresa. Três abordagens de análise ética apresentadas em um estudo do autor de 1987 são

enfocadas e reavaliadas, essas abordagens referem-se à conduta ou comportamento da

empresa no que tange à ética, e são colocadas como condutas imoral, amoral e conduta moral.

O posicionamento imoral é caracterizado pelos gerentes cujas decisões, ações e

comportamentos vão de encontro ao que é estabelecido como moral ou ético, voltam-se para a

preocupação com as receitas e realizações pessoais. Os gerentes com a conduta moral,

segundo Carroll (1991), nem sempre visualizam suas ações como tendo um caráter ético, pois

observam necessidades de atitudes ou iniciativas além das realizadas. A conduta amoral está

relacionada a estilos de liderança voltados aos funcionários e suas necessidades e conflitos.

O autor pretende oferecer um maior entendimento acerca da consideração ética de

questões relacionadas aos diversos atores envolvidos com a empresa e suas interações. O

pensamento e a relevância do tipo de comportamento moral deve ser uma prática de todos os

que estão envolvidos de alguma forma com o negócio. Segundo Carroll (1991), o

comportamento amoral, para ser completamente considerado, precisa ser visto do ponto de

vista do contexto e das relações entre empresa-stakeholders.

Em relação à pirâmide de RSE proposta no estudo, o autor mostra a ideia de que ela

disponibiliza uma estrutura que melhora o entendimento da natureza de cada uma das

performances da firma: econômica, legal, ética e filantrópica. A implantação desses princípios

pode variar dependendo do tamanho da firma, suas particularidades, filosofia de gestão,

estratégia corporativa, características da indústria, economia e outras condições; porém os

quatro componentes mostram aos gestores as naturezas e tipologias de relevância social que a

organização pode abranger.

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Mais tarde o autor, em conjunto com outros pesquisadores, inferiu outros

posicionamentos em relação ao modelo abordado. Assim, vale salientar suas colocações

posteriormente.

Ao analisar os modelos até agora enfocados, pode-se observar que, conforme

estabelecido, o modelo de Wood (1991) procurou sintetizar todos os conhecimentos existentes

até a época, dando destaque aos trabalhos de Carroll (1979) e Wartick e Cochran (1985). Por

sua vez, os modelos de Swanson (1995) e Hopkins (1997) encontraram sustentação em Wood

(1991). Neste caso, analisam-se as principais considerações do modelo de Swanson (1995).

2.2.5.3 Modelo de Performance Social Reorientado

Diane Swanson, em seu modelo de avaliação da performance social, procurou nortear

o modelo de Wood (1991) e reorientá-lo, observando pontos e dificuldades de sua análise. A

autora verifica que o modelo de Wood enfrenta muitos desafios e com isso é passível de

críticas de caráter normativo, uma vez que em seus princípios de RSE não é contemplada

claramente a relação entre deveres/obrigações da empresa e aferição de lucro, inferindo em

um problema de justificativa e critérios morais.

Assim, Swanson verificou que era preciso especificar os princípios, processos e

resultados colocados em quatro grupos: macro-princípios de responsabilidade social, micro-

princípios, cultura corporativa e impactos sociais.

Os macro-princípios de RSE são divididos em nível institucional e organizacional.

Ambos trabalham com a prerrogativa de que a empresa é uma “ferramenta” no

desenvolvimento de estratégias (responsabilidades) econômicas e ecológicas, dada uma

perspectiva de deveres positivos e negativos. Os micro-princípios de RSE examinam e

debatem sobre a tomada de decisão dos executivos em relação aos aspectos econômicos e

ecológicos e do uso de poder legítimo e ilegítimo diante de valores pessoais. Com relação à

cultura corporativa, o modelo faz alusão à sua relação com a tomada de decisão e às respostas

sociais sustentadas por assuntos externos.

Verifica também os impactos sociais, que são vistos como econômicos, ecológicos e

de poder. São três processos de valor, tais como: (1) Econômicos: que se referem à habilidade

das organizações de converterem inputs em outputs eficientemente de acordo com um

comportamento competitivo. (2) Ecológicos: referem-se a links integrativos entre

organizações e o ambiente que as circundam, que funciona adaptativamente para sustentar a

vida. Estes links estão baseados numa cooperação, num comportamento colaborativo. (3)

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50

Poder: refere-se a um comportamento individual em organizações que buscam adquirir e

utilizar um poder coercitivo no entorno de arranjos ou organizações hierárquicas.

O modelo de Swanson, com sua ênfase em obrigações positivas e negativas, procura

evidenciar as diferenças entre ética, ações socialmente responsáveis, e as interfaces

econômicas e ecológicas e sua consideração em conjunto ou em separado. O autor procurou

construir em seu modelo um destaque para a importância dos processos de tomada de decisão

(em diferentes tipologias de organização) como também aos valores pessoais que dão forma a

esses processos.

Porém, pode-se observar a necessidade de uma melhor explicitação de como se dariam

essas relações e de como mensurar os aspectos relacionados aos valores pessoais, dada a

subjetividade deles. De acordo com Pasa (2004), o modelo de Swanson considera que, se a

empresa possui um código de ética e uma declaração de valores, estes devem ser seguidos por

toda a organização; e, em não havendo esta conduta, a empresa pode tomar as medidas que

achar necessárias para a punição dos envolvidos.

O presente modelo possui algumas carências e dificuldades de mensuração social, o

que implica na visualização de que a análise deste tipo de desempenho em uma empresa inclui

fatores subjetivos, verificação de impactos e influências, formas diversas de entendimento, de

acordo com os diversos stakeholders de uma organização.

Segundo Makower (1994), uma organização, para se intitular socialmente responsável,

deve ter a ideia de que todas as suas ações estão sujeitas a gerar impacto de forma direta ou

indireta, tanto interna quanto externamente, afetando consumidores, funcionários, a

comunidade local, o meio ambiente e a sociedade como um todo.

Kang (1995) indica o predomínio literário da ideia de que a RSE é uma atividade

estratégica importante para a manutenção da competitividade e lucratividade da empresa

frente à sociedade, sendo que a RSE seria uma atividade pós-lucro, que objetiva a

sobrevivência da empresa, mediante a valorização da imagem organizacional.

Algumas correntes de análise social mostram que existem visões baseadas de um lado

no compromisso social que uma empresa deve adotar, pois isso é moralmente correto

(orientação ética) e, de outro, nas consequências e resultados econômicos que podem advir

desse processo (visão instrumental).

Em 1997, o sociólogo Herbert de Souza (Betinho) fundou o Instituto Brasileiro de

Análises Sociais e Econômicas (IBASE), o qual inicia uma campanha, por todo o território

brasileiro, em favor de tornar público o balanço social das empresas, contando para isso com

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o auxílio de empresários (...). A campanha gerou vários questionamentos nos meios de

comunicação. Ainda em 1997, o IBASE lançou o Selo do Balanço Social com o objetivo de

encorajar o engajamento das empresas, divulgando o balanço social conforme padrão

sugerido previamente (LOURENÇO; SCHRODER, 2003).

No âmbito internacional em 1997, Hopkins criou um modelo de análise social

tomando como base o modelo Corporate Social Performance, desenvolvido por Wood

(1991). Esse modelo de Desempenho Social das Empresas ofereceu uma sucessão de

indicadores que tornam possível uma avaliação do perfil das empresas em relação à atuação

no campo da responsabilidade social. De acordo com Ashley (2003), os indicadores de

Hopkins são formas de avaliar, de maneira genérica, a responsabilidade social das empresas,

no intuito de definir perfis sociais.

O modelo de Hopkins aborda tanto princípios quanto as formas de resposta e os

resultados das ações sociais no que concerne aos stakeholders, constituindo-se num

instrumento de verificação dessas ações e suas implicações para com os envolvidos.

2.2.5.4 Norma SA 8000 – Standard for Social Accountability

A norma SA 8000 da SAI – Social Accountability International - tem o objetivo de

certificar empresas que trabalham e atendem a um conjunto de requisitos sociais como:

extinção do trabalho infantil ou o trabalho forçado, discriminação ou práticas abusivas de

gestão, saúde e segurança no trabalho, liberdade de associação, negociação coletiva e

remuneração justa.

A norma foi criada no ano de 1997 e passou por uma atualização, realizada pela Social

Accountability Intemational, em 2001. A SA 8000 busca aferir o grau de responsabilidade

social das empresas no que diz respeito à implantação e manutenção de condições de trabalho.

De acordo com a norma, a empresa deve evitar qualquer tipo de coação referente ao

trabalho infantil, cumprir padrões referentes ao expediente de trabalho, como também

assegurar os direitos dos jovens trabalhadores, não os expondo a situações de risco. A

organização deve instituir sistemas de proteção a acidentes no trabalho, evitar danos à saúde e

manter um ambiente de segurança para funcionários. Deve proporcionar também os requisitos

mínimos de remuneração conforme a área de atuação da empresa, disponibilizar treinamento

sobre saúde e segurança e cumprir adequadamente o contrato de trabalho. Em relação à

equidade, a empresa deve buscá-la no âmbito do trabalho, evitando a discriminação em

qualquer situação e garantindo os direitos dos funcionários. Da mesma forma, a empresa deve

assegurar a sustentabilidade do negócio, também por meio da sua política de gestão de RSE.

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52

Autores como Srivastava (1995) e Zadek (1994, 1999) acreditam ser fundamental uma

modificação da maneira de se pensar os negócios e as relações econômicas para a geração de

um modelo sustentável na ótica ambiental e social. Para Zadek (1999), a sustentabilidade

necessita atuar de forma interdisciplinar – considerando as óticas econômica, ambiental e

social – e todas as análises e os relatórios deveriam focar as relações presentes nestas esferas.

Nesse sentido, alguns autores fazem alusão às diferentes óticas que podem favorecer o

entendimento do processo de desempenho social empresarial.

2.2.5.5 Modelo de Responsabilidade Social de Enderle e Tavis

Enderle e Tavis (1998), ao considerar o crescimento da relevância social pelas

empresas, dado o cenário econômico e social, propõem um modelo conceitual em que as

responsabilidades corporativas, analisadas em função das dimensões econômica, social e

ambiental, devem ser consideradas em três níveis de desafios éticos:

Nível 1 – nível em que as empresas atuam unicamente em função do alcance de

objetivos econômicos, ou seja, a maximização do lucro, sendo esta filosofia

prioritária em relação às questões de ordem moral e ética;

Nível 2 – este nível considera que a organização tem o compromisso de promover

o bem-estar da sociedade através de suas ações socialmente responsáveis;

Nível 3 – apresenta o anseio por ideais éticos, em que a existência da organização

tem vinculação direta com as demandas sociais e a consistência da preservação

ambiental.

Diante dos três níveis, cada empresa pode ser analisada segundo seu enquadramento

em um deles, identificando-se com isso o estágio em que a mesma se encontra. Enderle e

Tavis (1998) sugerem o equilíbrio entre as dimensões econômicas, sociais e ambientais, e

nenhuma destas deveria sobrepor-se a outra, desta forma, estas dimensões constituiriam ativos

das empresas dando suporte para a sua sobrevivência em um cenário de constantes mudanças.

Os autores reforçam ainda que o conceito de responsabilidade social vai depender do

entendimento que a empresa tem do desempenho dos recursos a serem comprometidos para o

atendimento desta visão.

Nesta década, surgem também várias entidades voltadas para o exercício da RSE,

como as organizações Ethic Resource Center; Business for Social Responsibility e Ethics

Officer Association, nos Estados Unidos; o Instituto Ethos, no Brasil; e outros institutos

internacionais, como o Global Reporting Initiative (GRI) (SANTOS, 2007).

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53

O GRI é uma organização internacional não governamental que procura desenvolver e

disseminar diretrizes para a elaboração de relatórios sobre o desempenho empresarial sócio-

ambiental utilizado por organizações. Para Calixto (2007), a utilização dessas diretrizes tem

um caráter voluntário e auxilia as empresas na padronização de informações sociais a serem

divulgadas para o público externo.

Essa divulgação é, muitas vezes, realizada através dos relatórios de sustentabilidade e

critérios estabelecidos e aceitos globalmente. Normalmente, as informações estabelecidas por

este órgão são mais caracterizadas como qualitativas do que quantitativas, e relatam aspectos

positivos e negativos das ações empresariais em relação ao processo sustentável e o contexto

no qual se insere a empresa em questão.

O Instituto Ethos é um dos parceiros do GRI na formulação dos relatórios, e reforçam,

entre outros, a tomada de consciência dos empresários e da sociedade brasileira sobre o tema.

2.2.5.6 Instituto Ethos

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, fundado no Brasil em 1998

por Oded Grajew, é uma organização não-governamental que procura divulgar por intermédio

de publicações e programas experiências de práticas e ações sociais feitas por diversos órgãos

e empresas. É utilizado internacionalmente para auxíliar às organizações a analisar suas

práticas de gestão e aprofundar seus compromissos de RSE. O Instituto Ethos procura dar

subsídios às empresas para que seja possível conhecer os melhores desempenhos de acordo

com o ramo e a localidade em que estão inseridas. É um espaço de divulgação, para a

sociedade, de experiências de empresas cujas práticas destacaram-se nos Indicadores Ethos de

responsabilidade social corporativa.

Esses indicadores podem ser tidos como: Valores, Transparência e Governança;

Público Interno; Meio Ambiente; Fornecedores; Consumidores e Clientes; Comunidade e

Governo e Sociedade. Cada indicador reflete uma forma de análise, abordando as ações que a

empresa proporciona aos envolvidos e de que maneira deve visualizar o ambiente que a

circunda.

É possível verificar que, na década de 90, muitos conceitos e abordagens sobre

desempenho social corporativo se consolidaram e forneceram subsídios marcantes para a

construção do conceito, como também o caráter estratégico atrelou-se ainda mais ao enfoque

social das organizações do momento.

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54

Datam dessa época, pesquisas para aperfeiçoar modelos de desempenho social

corporativo, elaborados em décadas anteriores (WOOD, 1991; SWANSON, 1995). Destaca-

se a importância dada à sustentabilidade e a consideração de forma interdisciplinar da RSE.

Muitos foram os modelos que deram enfoque a essas perspectivas.

2.2.6 Responsabilidade Social Empresarial nos anos 2000

Os estudos sobre RSE já consolidados têm gerado conceitos, metodologias e

estratégias voltados para a construção do melhor enfoque. Sua definição ainda se encontra em

evolução e enfrenta rivalidades. Observa-se que a maioria dos modelos construídos até o

momento são continuidades dos anteriores, revisões, atualizações com diferentes pontos de

vista e opiniões, mas que procuram integrar de uma forma cada vez mais homogênea o

conceito. Verifica-se a partir desta década o enfoque estratégico que a RSE passa a obter.

Para Freire et al (2008), foi a partir do ano 2000 que identificam-se muitas das

relações da RSE com outros temas, tais como ética empresarial, sustentabilidade, gestão de

stakeholders e cidadania corporativa. Contudo, segundo o autor, o que se pode notar é que os

estudos sobre essa responsabilidade no Brasil são mais recentes se comparados aos realizados

no exterior, onde a pesquisa já está mais desenvolvida.

No entanto, o interesse pela temática tem se ampliado no Brasil, o que resulta numa

crescente divulgação e conhecimento do tema pelos mais diversos segmentos da sociedade.

Há que se considerar, como já abordado por alguns autores, a distância entre a teoria e a

prática, o que torna a maioria dos modelos e abordagens desenvolvidos difíceis de

mensuração e passíveis ao erro.

Também pela mudança de valor e consciência que a sociedade passa a ter, o

entendimento e relevância de temas sociais passam a ser maiores e, com isso, as empresas

buscam uma melhor percepção da comunidade acerca de sua atuação social. Houve um

aumento da relação entre estratégia, ética e responsabilidade social.

Para Melo Neto e Froes (2005), ocorreu uma mudança na operacionalidade da RSE,

pois as ações sociais passaram do caráter exclusivamente filantrópico – baseado em ações

individuais, do tipo beneficente e paternalista – para assumir uma posição em que as ações

sociais apresentam um maior senso cívico, além de consciência social, e uma estreita relação

com o marketing social. Para esses autores, nos dias de hoje, existe um predomínio maior de

ações sociais externas – aquelas direcionadas à sociedade como um todo, e, em particular,

para a comunidade local – e uma menor manifestação de ações internas – voltadas para os

funcionários e seus familiares, em um modelo assistencialista.

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55

Considerando as ações de RSE, algumas empresas já vêm atuando de forma coerente

com os seus valores culturais organizacionais. Outras, no entanto, ainda se preocupam em

criar uma imagem estratégica que não representa os valores e a cultura da organização. Nas

empresas que possuem uma cultura social consistente, se pode observar uma propensão de

procurar ultrapassar as normas legais (MENDONÇA; GONÇALVES, 2002).

Observa-se nesta década também uma tentativa de desenvolver métodos de análise

social, de diagnóstico de desempenho e de fomento dos modelos.

2.2.6.1 Modelo Bidimensional de Responsabilidade Social Corporativa

Quazi e O‟brien (2000) desenvolveram uma abordagem fundamentada na percepção

de que, ao longo dos anos, a RSE foi estudada sob dois pontos de vista ou perspectivas – a

primeira enfoca o posicionamento de que os negócios têm a função de maximizar lucros, e a

segunda, conhecida como abordagem multidimensional, de que os negócios devem operar

levando em conta os interesses da sociedade.

A primeira abordagem, segundo Cavalcanti e Falk (2007), é a de que o lucro deve ser

o único critério para julgar a eficiência das operações dos negócios, ignorando que a

organização é parte da grande sociedade. Na perspectiva multidimensional, a empresa, ao se

envolver com a responsabilidade social, não está necessariamente criando uma rede de custos,

mas colaborando para a construção de vantagens estratégicas em longo prazo, pela melhora

do desempenho das empresas em termos de produtividade e inovação.

Nesse sentido, para entender a complexidade do ambiente e da RSE e se adequar aos

requisitos do mercado, é necessária uma visão ampla da sociedade, considerando o macro

ambiente conforme pontuam Carroll (1979), Wood (1991) e Ashley (2000).

Assim, o modelo de Quazi e O‟brien (2000) enfatiza as duas perspectivas de análise

social, desde a visão restrita à ampliada da RSE e justifica-se, de acordo com os autores, por

que os gestores estão sempre decidindo sobre a rede de benefícios e de custos que deve ou

pode ser criada a partir do exercício da responsabilidade social. A figura 9 a seguir explana as

duas abordagens dos autores:

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Figura 6: Modelo de Duas Dimensões de Responsabilidade Social Empresarial

Fonte: Quazi e O‟Brien (2000), p. 36.

O modelo bidimensional apresenta os eixos horizontal, que representa os extremos das

visões sobre responsabilidade, e o vertical, que retrata os extremos das percepções sobre as

consequências das ações sociais em termos de custos e benefícios para as empresas.

A primeira dimensão, que é representada pelo eixo horizontal, indica em sua extrema

direita a visão estreita da responsabilidade, em que ela é vista em termos de prover o máximo

lucro em curto prazo e resultados aos acionistas, e divide-se nas visões clássica e sócio-

econômica, que serão explicitadas posteriormente.

O ponto extremo esquerdo indica a visão ampliada, em que os negócios estendem seus

compromissos para além da regulação, trabalhando aspectos de forma a responder às

expectativas da sociedade, esta responsabilidade divide-se nas visões moderna e filantrópica,

que serão também explicitadas posteriormente.

A segunda dimensão, que é representada no caso pelo eixo vertical, indica o extremo

inferior, que dá ênfase ao lado negativo da envoltura social da empresa, pontuando a

existência de uma rede de custos pela relevância social; e o extremo superior, com o

envolvimento social criando uma rede de benefícios estratégicos para a empresa em questão.

No quadrante referente à visão clássica, é abordada a questão da relevância social

como algo que implicará em custos para a empresa, e pontua que ela será avaliada unicamente

sob o ponto de vista de sua eficiência em operações. O entendimento sócio-econômico mostra

a visão de que as ações sociais por parte da empresa devem acontecer no momento em que

elas promoverem algum benefício para a empresa. Admite que elas podem criar uma rede de

benefícios adotando alguma ação social e, com isso, evitar algum tipo de regulamentação.

Em contrapartida, a visão moderna avalia que a rede de benefícios criada com as ações

sociais traz vantagens a curto e longo prazos e que as empresas devem manter relações

recíprocas com a matriz social, verificando as necessidades de seus stakeholders. O quarto

quadrante indica a visão filantrópica; segundo Cavalcanti, Falk (2007), o envolvimento com

ações sociais, mesmo que represente uma rede de custos, deve ser adotado por razões éticas e

sentimentos altruístas em relação à sociedade.

Neste modelo, a filantropia é vista como positiva, pois seus custos são tidos como

„investimento‟ na construção de relações com os stakeholders, bem como estratégia de

melhoria da imagem corporativa. Com isso a empresa espera que a sociedade a favoreça

devido as suas ações caritativas em prol da comunidade (QUAZI e O`BRIEN, 2000).

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Na concepção de Welzel et al (2008), o modelo bidimensional de Quazi e O‟brien

possui uma falha, pois a colocação, segundo os autores, de que a filantropia é positiva nada

mais é do que agir em „interesse próprio‟, com um „revestimento‟ de altruísmo. Argumentam

que essa visão é enquadrada como „responsabilidade ampliada‟, mas é baseada simplesmente

em ações caritativas, reforçando uma ideia de superficialidade da RSE.

Este modelo avalia a responsabilidade social segundo aspectos que pontuam as áreas

de interesse e abrangência social que uma empresa pode ter. Entretanto algumas visões

destacadas no modelo como singulares podem ser enfocadas e observadas em conjunto na

empresa, ou seja, a mesma organização pode ter uma visão moderna e filantrópica, ou ainda

alguns pontos de vista não se baseiam somente na concepção de que relevância social implica

e pode trazer uma rede de custos ou benefícios.

Schwartz e Carroll (2003) declararam que devido à complexidade do assunto e de

temas envolvidos, também pelo contexto em questão, a meta de encontrar um paradigma não

foi realizada, por causa da sua abrangência e da competição de temas complementares.

Ashley desenvolveu, ao longo de seus estudos, diversas abordagens e ângulos de

análise social; destacando-se seu trabalho em 2000 junto com Coutinho e Tomei sobre a RSE

e cidadania empresarial, em que a autora destacou a integração da cidadania à estratégia

empresarial, mostrando esses conceitos como parte indispensável da prática e desempenho

social corporativo.

As ações de RSE a serem adotadas pelas redes de relacionamentos das empresas

dependem da participação ética de seus agentes, promotora de melhoria na qualidade de vida

no trabalho, em um ambiente socialmente mais saudável. A cidadania empresarial é um

instrumento regulador das relações com os stakeholders, e, portanto, indispensável na

estratégia empresarial (ASHLEY; COUTINHO; TOMEI, 2000).

Posteriormente Ashley desenvolveu um modelo para a análise e posicionamento da

incorporação da responsabilidade social à orientação estratégica da empresa quanto à

governança das relações negócio-sociedade.

2.2.6.2 Modelo Multidimensional, Relacional e Multidirecional para Responsabilidade

Social nos Negócios

O modelo MRMRSN procura entender e avaliar a estratégia de gestão da

responsabilidade social nas organizações. Apresenta agrupamentos (clusters) baseados nas

relações entre stakeholders – negócio e sociedade. Na pretensão de identificar estas

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distinções, o modelo apresenta dimensões, instituições e relações com uma série de atores

envolvidos com a empresa.

O modelo MRMRSN estabelece que uma organização esteja dividida em quatro

dimensões, quais sejam: as relações político-sociais (Estado e Governo, Sociedade Civil

organizada; Famílias e Comunidades), as relações econômicas objeto e meio do negócio ou

relações core business (ambientes natural e construído, demandantes, ciência e tecnologia e

fornecedores), as relações de produção e distribuição internas (agentes de direção, trabalho

contratado, capital próprio e de terceiros) e a dimensão tempo/espaço, a fim de responder aos

questionamentos que balizam esta dimensão. Além de ser perpassada pelo vetor comunicação

e conhecimento (ASHLEY, MACEDO-SOARES, 2001, MACEDO, 2006). Estas dimensões

podem ser visualizadas na figura a seguir:

Figura 7: As dimensões do modelo MRMRSN

Fonte: Ashley (2005, pg 121).

Cada dimensão do modelo apresenta categorias de atores sociais (stakeholders) quanto

às relações negócio-sociedade, aos quais estariam associadas às expectativas de valores e

responsabilidades mútuas. Indica as várias relações de poder que podem existir na relação

negócio-sociedade em diversos contextos e tempos. Ressalta-se que a empresa pode focalizar

um ou vários stakeholders, verificando que, à medida que aumenta o número deles, há um

aumento proporcional na complexidade da gestão. Então, todas as dimensões citadas no

modelo procuram responder à inquietação sobre para quem são direcionadas as ações de RSE.

Em 2005, a autora ressaltou que a gestão da RSE deve alcançar o maior número

possível de stakeholders, a fim de promover o fortalecimento social da organização.

Para tanto, a organização pauta suas relações na ética, são as normas sociais presentes

em todas as relações da empresa que definem os seus níveis de moralidade corporativa e

respondem à questão sobre até onde vai a atuação da RSE. Essas relações éticas apresentam

três desafios, os quais podem ser considerados simultâneos ou alternadamente, [...]

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(ASHLEY, 2005). Esses desafios podem definir o grau de RSE em que a empresa encontra-

se. O primeiro seria o desafio ético nível 1: cumprir a Lei; o segundo o desafio ético nível 2: ir

além do que foi determinado por lei a fim de atender às expectativas atuais da sociedade no

contexto em que se insere a empresa; o terceiro o desafio ético nível 3: aspirar a ideais éticos,

ainda não amplamente reconhecidos nas expectativas atuais de seu contexto social.

Esses desafios somam-se às dimensões do modelo MRMRSN para viabilizar a sua

operacionalização a partir de normas sociais que garantam as obrigações mútuas advindas das

relações estabelecidas entre as organizações e seus stakeholders (MACEDO, 2006).

O modelo MRMRSN apresenta níveis e ângulos de análise diferentes acerca da

abordagem da RSE. Quanto mais dimensões e elementos dessas dimensões são incorporados

ao conceito, mais ampla passa a ser a definição de RSE. Enfoca fatores relacionados ao tempo

e espaço e à comunicação e conhecimento, itens importantes à consideração de ações sociais,

uma vez que o contexto, a realidade, a geração de conhecimento e informações são capazes de

gerar mudanças profundas nas relações negócio-sociedade.

Donelly, Gibson e Ivancevich (2000) destacam que da diferença entre a ausência de

RSE, exceto da exigida por lei, e a adoção de uma postura socialmente responsável mais

ampla, surgem três níveis diferentes de abordagem da RSE a serem adotadas como ações das

empresas em relação às suas demandas sociais. A abordagem de obrigação social é uma

perspectiva relacionada à opinião do economista Milton Friedman, que afirma que uma

empresa pode cumprir suas ações sociais ao melhorar as condições de trabalho, pagar salários

justos, criar novos empregos. As empresas que adotam a postura de reação social acreditam

que elas dependem da aceitação da sociedade a qual pertencem, e que ignorar os problema

sociais pode ser destrutivo a longo prazo. A abordagem de sensibilidade social ou pró-

atividade significa ir além das obrigações e reações sociais, pois se refere a comportamentos

sociais mais antecipatórios e preventivos.

Observa-se que muitos modelos de RSE destacaram a ética como um fator

preponderante no desempenho social da empresa. A abordagem de Schwartz e Carroll (2003)

coloca a ética como um dos fatores consideráveis para análise de desempenho social.

2.2.6.3 Modelo dos três domínios de Responsabilidade Social Empresarial

O modelo dos três domínios de RSE foi criado por Schwartz e Carroll (2003) como

uma nova proposta de análise social. Os autores utilizaram neste modelo novas perspectivas

conceituais para melhor entender o tema e suas práticas efetivas e, para isso, criaram círculos

indicadores de campos ou domínios de RSE, que são: econômico, legal e ético. Os autores

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60

pretendem mostrar ou identificar a ênfase empresarial às diferentes categorias de RSE, sendo

o adequado para a empresa que os três domínios estejam em equilíbrio.

As atividades na produção de impactos econômicos positivos, diretos e indiretos, ou a

maximização do lucro estão contidas no campo econômico. No campo da responsabilidade

legal estão as respostas dadas pela empresa relacionadas a normas e princípios legais sob os

aspectos da conformidade legal e das medidas para evitar litígios e antecipatórias às leis

(SCHWARTZ, CARROLL, 2003). O domínio ético no modelo está relacionado às

responsabilidades com os imperativos domésticos ligados às expectativas da população e com

os imperativos globais, direcionados aos stakeholders, mediante três padrões éticos gerais: o

convencional, o consequencialista e o deontológico.

O convencional ou relativismo ético representa padrões e normas sociais aceitas como

necessárias ao funcionamento das empresas nos setores atuantes, nas associações profissionais

e sociedade em geral. Para contornar a variação dessas normas em diferentes grupos sociais, a

empresa deve elaborar e aplicar códigos formais de ética. O padrão consequencialista no qual

as ações promotoras do bem-estar social são julgadas ou decididas por suas consequencias, no

propósito da maior quantidade de benefícios ou o menor custo, em comparação às demais

alternativas. O último padrão ético geral, o deontológico, envolve noções de obrigação e

dever como objetos das ações (SCHWARTZ, CARROLL, 2003). A figura a seguir procura

explanar o modelo:

Figura 8: Modelos dos três temas centrais de Responsabilidade Social Corporativa

Fonte: Adaptado de Schwartz e Carroll (2003, pg. 519).

A junção desses domínios da responsabilidade propicia sete novas categorias

socialmente responsáveis. As três primeiras são as já citadas de domínio exclusivo

econômico, legal e ético; do seu cruzamento e interligação, surgem quatro categorias

ajustadas: as relacionadas ao mundo dos negócios que são Econômico/Legal,

Econômico/Ético e Legal/Ético, e a superposição ideal central, Econômico/Legal/Ético, na

qual todos os domínios estão presentes concomitantemente.

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O modelo de Schwartz e Carroll (2003), apesar de tratar domínios distintos de RSE de

forma simultânea, acaba por desconsiderar fatores ambientais e não relaciona a importância

da análise do contexto e das características da empresa em questão.

Os estudos de Carroll sobre RSE são revistos pelo próprio autor, em conjunto com

outros e tratam-se de contribuições relevantes para o entendimento do tema. O autor, em

conjunto com Buchholtz, elaborou outro estudo, em 2003, onde relacionava conceitos como

cidadania corporativa e ética empresarial. Neste estudo, Carroll e Buchholtz (2003)

pontuaram o fato de que a pirâmide de SER, criada por Carroll em 1991, poderia ser um

modelo de análise social errôneo, visto que coloca as categorias (componentes), conforme a

própria pirâmide, em forma hierárquica, dando a entender que algumas possuem ordens de

importância diferentes (maiores ou menores) dentro da empresa. Cavalcanti e Falk (2007)

verificam os componentes diagnosticados por Carroll como uma hierarquização de ações da

empresa, e enfocam que outros autores assim observam o modelo.

Outro ponto que Cavalcanti e Falk (2007) destacam é o fato de Carroll denominar de

responsabilidade filantrópica em 1991 a responsabilidade discricionária identificada por ele

em 1979. Para os autores, o enfoque filantrópico envolve conceitos e sentidos além da

responsabilidade social, abrangendo valores e aspectos distintos individuais, e que não fazem

parte muitas vezes do trabalho social no âmbito organizacional.

Os autores reforçaram o estudo publicado por Carroll em 1979, caracterizando

aspectos do cubo tridimensional visto sob o contexto dinâmico e complexo em que as

decisões e ações empresariais ocorrem.

Outros autores também desenvolveram estudos para análise social nos anos 2000.

2.2.6.4 Estudo sobre Responsabilidade Social de Garriga e Melé

Em seu artigo intitulado Responsabilidade Social das empresas: cartografia do

território, Garriga e Melé (2004) verificaram que o campo da RSE apresenta uma ampla gama

de abordagens, que são controversas, complexas e pouco claras. A grande contribuição deste

trabalho é a classificação da abordagem da RSE em quatros grupos de teorias: instrumentais,

políticas, integrativas e éticas, de acordo com a visão de muitos autores e pesquisadores do

assunto, ou seja, é uma tabulação do que foi desenvolvido até então.

As teorias instrumentais consideram a RSE como uma esfera para melhorar o

desempenho econômico e financeiro da empresa. É uma ferramenta destinada a aperfeiçoar e

alcançar os objetivos econômicos. As teorias políticas focalizam as ações recíprocas e

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ligações entre empresa e sociedade, e as formas de resposta da empresa a essa

responsabilidade para com a sociedade. As teorias integrativas dizem respeito ao modo como

as organizações integralizam as exigências sociais nos seus processos de tomada de decisão e

orientação. É a forma como a empresa pode ajustar-se em conformidade.

As teorias éticas preocupam-se em identificar os princípios de atuação ética que as

empresas devem observar, sejam eles os direitos humanos, os interesses legítimos dos

stakeholders ou o desenvolvimento sustentável das sociedades (HELENO, 2008).

A seguir, a tabela procura resumir as teorias propostas pelos autores, apresentando

associadas a cada teoria as diferentes abordagens, uma breve descrição e as respectivas

referências.

TIPO DE TEORIA DIFERENTES

ABORDAGENS

BREVE DESCRIÇÃO REFERÊNCIAS

Instrumentais

Maximização de valor para

o lucro

As empresas investem em

atividades sociais (incluindo

as filantrópicas) desde que

contribua para aumentar a

sua riqueza.

Friedman (1970) e Jensem

(2000)

Estratégias para a vantagem

competitiva

As empresas promovem

investimento social desde

que se verifique uma

melhoria do contexto

competitivo

Porter e Kramer (1996)

As empresas promovem

estratégias baseadas nos

recursos naturais

Hart (1995) e Lizt (1996)

As empresas promovem

estratégias da base da

pirâmide econômica

Prahalad e Hammond

(2002), Hart e Christensen

(2002), Prahalad (2003)

Marketing das causas

As empresas apóiam causas

que melhorem a sua imagem

e reputação

Varadarajan e Menon

(1988), Murray e Montanari

(1986)

Políticas

Constitucionalismo

empresarial

As empresas detem poder

considerável na sociedade e

capacidade para influenciar

o equilíbrio do mercado

Davis (1960, 1967)

Teoria do contrato social

integrativo

As empresas assumem um

contrato social com a

sociedade

Donaldson e Dunfee (1994,

1999)

Cidadania empresarial

As empresas têm dever de

cidadania perante a

sociedade de que fazem

parte

Wood e Logdson (2002),

Andriof e McIntosh (2001)

Integrativas

Gestão de assuntos sociais

As empresas devem atender,

avaliar e responder aos

sinais e expectativas do

desempenho social da sua

envolvente

Sethi (1975), Ackerman

(1973), Jones (1980), Vogel

(1986) e Wartick e Mahon

(1994)

Responsabilidade Pública

As empresas devem ter em

consideração na sua

performance social as

políticas públicas e da

regulamentação

Preston e Post (1975, 1981)

Gestão de Stakeholders

É necessário a empresa fazer

uma gestão equilibrada dos

interesses dos stakeholders

Mitchell et al (1997), Agle e

Mitchell (1999), Rowley

(1997)

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Desempenho social da

empresa

As empresas socialmente

responsáveis são aquelas

que procuram a legitimidade

social e conseguem dar uma

resposta apropriada às

questões sociais

Carroll (1979), Wartick e

Cochran (1985), Wood

(1991) e Swanson (1995)

Éticas

Teoria normativa dos

stakeholders

Os stakeholders têm

interesse nas ações da

empresa, implicando por

parte desta uma resposta

adequada

Freeman (1984, 1994), Evan

e Freeman (1988),

Donaldson e Preston (1995),

Freeman e Phillips (2002),

Phillips, et al (2003)

Direitos humanos

As empresas devem

obedecer aos Direitos

Humanos universais

Princípios Globais (1999) e

UM Global Compact (1999)

Desenvolvimento

sustentável

As empresas devem adotar

políticas de

desenvolvimento

sustentável, garantindo os

direitos das gerações

presentes e futuras

Comissão Mundial do

Desenvolvimento

Sustentável – Relatório de

Brundtland (1987), Gladwin

e Kennelly (1995)

O bem comum

Como membros da

sociedade, as empresas

devem contribuir para o bem

comum e o progresso da

comunidade

Alford e Naghton (2002),

Mele (2002), Katú (1997)

Tabela 2: Cartografia das teorias e abordagens da responsabilidade social

Fonte: Garriga e Melé (2004)

Através da explicitação das teorias, Garriga e Melé (2004) procuraram expor as

diferentes abordagens e focos de análise social que as empresas podem considerar e ter, sendo

importante no momento do estudo da adequada estratégia empresarial para a relevância social,

dado o seu contexto, e para observação e análise das diferentes correntes nesse sentido.

Conforme a explanação da revisão de literatura, é possível observar a evolução do

conceito de RSE e temas relacionados, conforme a figura que se segue:

Figura 9: Resumo da evolução da ideia de Responsabilidade Social Corporativa

Fonte: Hoff (2008, pg 100)

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A construção do conceito da RSE não é um fenômeno novo. No Brasil, as efetivas

discussões e desempenho socialmente responsável das empresas datam da década de 90. No

mundo, existia inicialmente uma preocupação com atores como acionistas e gestores (geração

de lucro) e aos poucos se passou a incorporar uma preocupação e interesse mais amplo, em

que aspectos e indivíduos internos e externos à empresa passaram a ser considerados

paralelamente ao trabalho com a responsabilidade econômica. Atualmente, a RSE é tratada

como um conceito abrangente, com um conjunto de ações práticas, e inúmeras foram as

abordagens que visaram construir um novo paradigma. Pretendeu-se, ao longo do tempo,

desvincular a imagem caritativa da RSE e vinculá-la ao fator estratégico da organização,

atrelado à ética e à transparência, buscando garantir a competitividade e a sustentabilidade nos

negócios.

Dentro da evolução do conceito, destaca-se que a base de todas as discussões foi o

tratamento e verificação do nível de interferência e importância dos stakeholders, os quais são

elementos chave e integrantes do conceito de RSE.

2.2.7 Teoria dos Stakeholders

A teoria dos stakeholders denota o entendimento de que os negócios não possuem

responsabilidades apenas em relação a acionistas, mas com todo um conjunto de partes

interessadas, com aqueles indivíduos que de alguma maneira fazem parte da “existência” do

negócio. Criada por Edward Freeman em 1984, a teoria mostra que os resultados das

atividades organizacionais necessitam considerar o devido retorno a todos os stakeholders

envolvidos com a organização.

Stakeholders é qualquer grupo ou conjunto de pessoas que afetam ou são afetadas de

alguma forma pela realização das atividades, pelo alcance dos objetivos organizacionais; são

“atores” envolvidos com a empresa – funcionários, gerentes, consumidores, clientes, outros.

Os stakeholders auxiliam a empresa, mas apresentam também necessidades que

sofrem variações de grupo para grupo, que precisam ser entendidas e levadas em consideração

nas ações da organização. Freeman (1984) defende que as empresas necessitam demonstrar

ações de RSE para com os distintos grupos que mantêm um relacionamento, buscando

resposta para uma questão fundamental: “Para quem devem ser os benefícios e que despesas

devem ser administradas pela empresa?” (BORGER, 2001).

O entendimento das necessidades e expectativas dos stakeholders é fundamental para

o sucesso da organização, uma vez que essas necessidades acabam pressionando as empresas

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65

de forma multidirecional, pois, para os diferentes stakeholders, diversas são as suas demandas

(CARROLL, 1999; BORGER, 2001). Entretanto, vale ressaltar a necessária discussão sobre

quais stakeholders atender prioritariamente, ou seja, como verificar aqueles que merecem

maior atenção no processo decisório. Para isso, faz-se necessário que os gestores qualifiquem

os níveis de urgência ou importância de suas reivindicações, levando em consideração fatores

como a legitimidade, poder e influência que estes possuem.

Na concepção de Carroll (1991), existe uma relação natural e direta entre a

conceituação de RSE e o conceito de stakeholders. Faltava apenas a definição de para quem

se destinavam as ações sociais da empresas. O conceito de stakeholders define os grupos que

mantêm com as empresas uma rede de relacionamentos que merece uma atenção maior e a

orientação que as empresas devem considerar.

Para que a empresa obtenha eficiência e sobreviva aos concorrentes, é importante que

todos os atores sejam administrados nas suas necessidades e níveis de influência para com a

organização. A premissa fundamental dessa teoria, segundo Wilson (2000), é que quanto mais

fortes forem as relações de uma organização com seus parceiros externos e internos, mais

fácil será para essa organização alcançar seus objetivos corporativos.

Logsdon e Yuthas (1997) entendem a Teoria dos Stakeholders como estando atrelada à

responsabilidade social da empresa, o que confere à proposta um cunho moral. Comparam,

dessa forma, o comportamento moral de um indivíduo com o de uma organização e o

classificam em estágios.

Os estágios podem ser considerados como pré-convencional, convencional e pós-

convencional. O primeiro diz respeito ao relacionamento com outros atores focado apenas em

interesses imediatos, muitas vezes, os que são indissociáveis dos interesses dos executivos. O

segundo estágio, convencional, volta-se mais ao mercado e seus interesses, aceitando pressões

externas e uma preocupação com consumidores, proprietários e funcionários. No nível pós-

convencional há uma prioridade pelo comportamento moral, em que atores são solicitados a

participar das decisões, mesmo não tendo direitos legais. É o caso das comunidades locais,

ambientalistas etc. Esse comportamento é resultante da influência de fatores individuais, tais

como as características e o desenvolvimento moral dos gestores; e ambientais, representados

pelas normas e expectativas sociais.

A visão de alguns autores pode, conforme Stoney & Winstanley (2001), ser

caracterizada como analítica ou reformadora em relação ao propósito da teoria dos

stakeholders. Existe uma visão analítica que mostra que, pelo fato de a teoria observar as

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diferenças e necessidades dos atores envolvidos, ela pode ser vista como uma ferramenta de

diagnóstico e análise de interesses na organização, já que verifica as relações de poder entre

grupos de stakeholders. Outras visões colocam a Teoria dos Stakeholders como um modelo

prescritivo, visando à transformação da empresa e da sociedade. Há ainda os autores que

possuem uma opinião que está entre essas duas visões. Outras classificações sugerem que esta

Teoria é um meio ou maneira para atingir fins estabelecidos – proposta instrumental. Outras

de que ela é um fim em si mesmo – proposta intrínseca ou normativa.

Os autores vinculados à visão instrumental entendem que o fato de melhorarem as

relações com seu entorno faz com que a organização tenha reduzidos muitos de seus custos.

Assim, a busca por um lucro maior não é incompatível com práticas normalmente associadas

às propostas da Teoria dos Stakeholders. É descritiva porque apresenta – descreve – a

organização como conjunto de interesses competitivos e cooperativos entre os atores. É

normativa ao definir padrões de ação e comportamento das organizações no gerenciamento

dos stakeholders, no intuito de melhorar o desempenho das organizações.

A proposta de Donaldson e Preston (1995) é que a função da Teoria dos Stakeholders

seria, portanto, explicar o funcionamento de uma organização e guiar sua operação frente a

vários relacionamentos. Essa conduta deve ser orientada por linhas morais e filosóficas, as

quais pertencem à estrutura da Teoria dos Stakeholders desde seu início.

Observa-se que Freeman (1999) diverge da distinção entre normativo e descritivo,

entendendo que quando alguém menciona o termo “stakeholder” já imputou a ele um valor, o

que inviabiliza um olhar neutro, típico da descrição.

Existem alguns autores que veem como stakeholders da empresa um leque restrito de

atores, conforme a proposta de Friedman (1970); outros autores já incorporam um número

maior de atores, como Clarkson (1995) e Donaldson e Preston (1995); e outros autores têm

uma concepção larga dos atores envolvidos com a empresa, tais como o próprio Freeman

(1999) e Carroll (1979,1999).

Segundo Carroll (1991, p. 43; 1998, p. 73), as cinco principais perguntas a serem

respondidas por uma Teoria dos Stakeholders, ainda em formação, seriam: Quais são nossos

stakeholders? Quais são seus interesses? Que oportunidades e desafios os stakeholders

representam para as empresas? Quais as responsabilidades que as empresas têm para com

seus stakeholders, do ponto de vista ético, legal, econômico e filantrópico? Quais as

estratégias e as ações que uma empresa deveria ter para melhor responder aos desafios e às

oportunidades representadas pelos stakeholders?

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Phillips (2003) questiona: Quem são os stakeholders? Como eles podem ser

gerenciados? Há alguma obrigação legal para atender a suas demandas? Deveria haver uma

lei que obrigasse a presença de stakeholders no board de uma empresa? Deveriam os

princípios de uma Teoria dos Stakeholders sair do âmbito da empresa e ganhar uma

dimensão social maior?

Pode-se observar que para uma contemplação e entendimento dos principais atores

envolvidos com a empresa, e da própria teoria dos stakeholders, faz-se necessária a resposta à

primeira questão de ambos os autores e como eles são identificados.

Freeman (1984) em sua principal obra aponta para um grupo de stakeholders

primários, os quais mantêm um relacionamento formal, contratual e oficial com a empresa.

Todos os demais seriam classificados como stakeholders secundários. Na sua visão, a melhor

proposta seria a que se aproxima do senso ampliado, e vários autores o seguiram nessa

sugestão, como é o caso de Morgan e Hunt (1994). Esses autores dividem os stakeholders em

quatro grupos: internos (empregados e unidades de negócio), compradores (finais e

distribuidores), fornecedores e laterais (competidores, governo e organizações sem fins

lucrativos). Igualmente próximos da visão de Freeman estão Droge et al, (1990), os quais

identificaram treze tipos diferentes de stakeholders, e Sirgy (2002), que dividiu os

stakeholders em três grupos: o interno (empregados e diretores), o externo (clientes,

distribuidores, fornecedores, mídia, meio-ambiente, acionistas e comunidade) e os periféricos

(agências governamentais, defensores dos consumidores, sindicatos, auditores, líderes

industriais, associações de comércio, educação superior e vários outros) (PINTO, 2004).

Verifica-se que para cada autor existe uma tipologia distinta de agente prioritário

como foco de uma organização. Há que se considerar para cada firma em particular as

características dessas relações, níveis de influência e confiança entre eles.

Visto que a confiança mútua é um atributo desejável nas relações com stakeholders, e

que pode ser um elemento catalisador de riquezas, Post et al (2002) asseveram que essa teoria

é adequada para aumentar o valor da empresa. Em resumo, a riqueza de uma organização está

baseada na qualidade de suas relações com seus stakeholders. Esses autores sugerem uma

stakeholder view - SHV, que seria uma visão ampliada de resouce-based view – RBV,

defendida Hamel e Prahalad e da industry-structure view – ISV, de Michael Porter.

A figura 10, a seguir, procura explanar:

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Governos

Suply Chain Acess

ORGANIZ.

Comunidades Sindicatos Clientes Autoridades Org.

Locais Reguladoras Privadas

Funcionários

Investidores Fornecedores

Parceiros

Figura 10: A proposta de Stakeholder View of Corporation

Fonte: Adaptado de Post, et al, (2002)

Existe o entendimento de que o sucesso da empresa, sem mencionar aspectos sociais,

está intimamente relacionado com as interações recíprocas com os stakeholders. Vale

observar que essas interações podem garantir os requisitos necessários à abordagem do

ambiente interno e externo à empresa, no que concerne a suas potencialidades e problemas.

Dado o tipo e natureza da empresa, sua relevância para um dado ator ou grupo de atores

(comunidade, sindicatos, organizações privadas, etc.) é considerada ou não.

Pode-se observar a intrínseca relação entre RSE e teoria dos Stakeholders, uma vez

que, para a correta atividade de atuação social, é necessária a consideração, pela empresa, do

papel e importância de todos os atores que mantém uma interação e são por ela influenciados.

Esta consideração poderá definir os aspectos a serem trabalhados e solucionados em relação

aos principais componentes (atores) envolvidos com a empresa, dado o fato de que são esses

agentes os reais construtores e formadores do negócio. Nesse sentido, a observação e análise

das formas de interação entre stakeholders e empresa são totalmente necessárias para o

trabalho com a RSE.

A relevância das necessidades e importância dos atores constituintes de uma

organização pode ser possível, conforme já exposto pela utilização do modelo tridimensional

de performance social, uma vez que este trata da atuação socialmente responsável de uma

empresa sob o ponto de vista da participação e características de seus stakeholders, como

também dada sua interpretação ou percepção em relação à mesma; sendo com isso sua

utilização apropriada dado o objetivo do presente estudo.

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2.3 Considerações sobre o modelo a ser aplicado

Um dos modelos de análise de desempenho social mais evidenciado na academia, em

diversos estudos e por diversos autores foi o desenvolvido por Carroll em 1979.

É importante destacar que este modelo é considerado uma das principais referências

conceituais dos autores nacionais. Além de estar presente em diversos trabalhos, assemelha-se

conceitualmente a muitos outros, semelhanças estas que são bastante significativas.

Isto porque muitas metodologias e argumentações criadas posteriormente tiveram

como foco o modelo de Carroll (1979), convergiram para seu modo de análise ou partiram de

suas ideias para a construção de seus resultados.

As principais semelhanças encontram-se na convergência entre as dimensões

econômica e legal de Carroll (1979) e econômica de Enderle e Tavis (1998) e a visão clássica

defendida por Quazi e O‟Brien (2000). A dimensão ética proposta por Carroll (1979) possui

semelhanças com a dimensão ambiental de Enderle e Tavis (1998) e com a visão moderna

apresentada por Quazi e O‟Brien (2000). Finalmente, a dimensão discricionária do modelo de

Carroll (1979) converge com a visão filantrópica preconizada por Quazi e O‟Brien (2000).

Wood (1991) teve como um dos focos de análise o modelo de Carroll (1979). Wartick e

Cochran (1985) desenvolveram um modelo de análise social estruturalmente similar ao

modelo tridimensional de performance social.

No entanto, mesmo com estas similaridades, a maioria dos modelos apresenta

visualizações que nem sempre correspondem ao objetivo da presente pesquisa. Também, o

modelo tridimensional permite especificar mais claramente a percepção dos stakeholders.

Nesse sentido, observa-se a relevância do modelo do referido autor para a construção

do conceito e dos métodos de abordagem da RSE. A tridimensão do modelo de Carroll (1979)

mostra ângulos de análise diferenciados, os quais caracterizam-se como de verificação interna

e externa à empresa, que aborda os interesses, singularidades e necessidades de seus

stakeholders.

De acordo com a teoria dos stakeholders, na medida em que os gestores procuram

introduzir ações sociais nas empresas, ocorre a necessidade de contemplar todo um conjunto

de indivíduos relacionados, que atuam direta e indiretamente com a empresa e são por ela

influenciados; bem como existe a necessidade da consideração de suas prioridades e seus

níveis de poder na organização.

O modelo tridimensional de performance social representa o suporte necessário para

relevância dos stakeholders de uma organização, de sua percepção, conforme o objetivo

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proposto no presente estudo. Dessa maneira, avalia-se como apropriado para a consecução

desse objetivo, para a realização da pesquisa. Destacando que o mesmo, apesar de suas

limitações, pode ser trabalhado no intuito de desenvolver formas adequadas para sua

operacionalização.

Conforme explicitado na seção introdutória, o conceito de RSE é passível a muitas

análises e o construto foi ao longo do tempo se transformando. A visão de busca pelo lucro e

retorno econômico foi dando lugar ao desenvolvimento de temas alternativos como

performance social, ética nos negócios e cidadania corporativa e aos poucos a RSE foi

obtendo um enfoque mais estratégico. A abordagem dos stakeholders é constituinte do tema,

visto que a RSE é tratada e desenvolvida em seu benefício; como também o aperfeiçoamento

das relações entre os atores envolvidos com uma organização é necessário para o correto

andamento e eficiência das atividades da firma. A teoria dos stakeholders mostra que na

atualidade as organizações são caracterizadas como uma integração sem fim de relações

múltiplas e múltiplos objetivos. Daí o fato de que estas relações precisam ser melhor

gerenciadas e consideradas, uma vez que são o cerne e a principal característica do negócio.

Para a consecução desta consideração e dada sua importância, através do modelo

tridimensional de Carroll (1979) é possível verificar o entendimento e as percepções dos

agentes envolvidos com uma organização, sendo este o objetivo da presente pesquisa.

Com isso, é necessária a explanação dos passos e procedimentos a que se submeteu o

presente estudo, bem como sua natureza e questões envolvidas.

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Capítulo 3 – Procedimentos Metodológicos

O método científico de pesquisa pode ser definido como “(...) o conjunto de processos

ou operações mentais que se devem empregar na investigação. É a linha de raciocínio adotada

no processo de pesquisa.” (SILVA; MENEZES, 2001 p. 25).

O presente capítulo objetiva explicitar o método utilizado para dar suporte ao estudo,

mostrando o embasamento e as práticas adotadas em todas as etapas da investigação. Na

primeira seção é explicitado o delineamento da pesquisa, em que são exploradas formas de

abordagem, tipo e natureza do estudo; neste item é feita uma explicitação sobre o método

estudo de caso o qual fundamenta a análise de dados. Posteriormente é feita uma

contextualização e uma explanação das características da empresa pesquisada, suas formas de

negócio e gestão. O tópico seguinte aborda o universo e amostra, que apresenta os atores

institucionais considerados e investigados, bem como os critérios para sua escolha. O tópico

posterior mostra o processo de coleta de dados, como foi o processo de interação com a

empresa e agentes envolvidos. A quinta e última seção apresenta a análise compreensiva

interpretativa dos dados que, entre outros aspectos, exibe as variáveis para o modelo utilizado.

3.1 Delineamento da pesquisa

O estudo caracteriza-se como exploratório com relação aos objetivos pretendidos.

Uma vez que se estudou o conceito de RSE, suas particularidades, benefícios e

vulnerabilidades dentro de um contexto específico e dado conjunto de stakeholders. Também

o trabalho busca a abertura de uma discussão para o entendimento do conceito e o avanço do

conhecimento sobre o tema.

Segundo Triviños (2001), os estudos exploratórios permitem ao pesquisador o

entendimento aprofundado de uma teoria para encontrar os elementos necessários que lhe

permitam a elaboração de algum instrumento, [...]. É comum, também, que os estudos

exploratórios sejam utilizados na busca do conhecimento para planejar uma pesquisa

descritiva ou de tipo experimental, para tanto pode envolver levantamento bibliográfico,

entrevistas, análise de exemplos, dentre outros, assumindo, em geral, as formas de pesquisas

bibliográficas e estudos de caso.

No que compete aos fins, a pesquisa pode ser tida como descritiva, uma vez que

buscou promover uma descrição acerca das características da empresa pesquisada e suas

práticas sociais, para poder promover o entendimento e descrição dos stakeholders envolvidos

e sua percepção frente às ações sociais.

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Além disso, o método descritivo adotado também possibilita a análise das

características das relações entre os elementos componentes do grupo investigado, permitindo

a realização de uma completa observação do fenômeno, captando a correlação dos fatos e

variantes, analisando as relações com outras variáveis e investigando a frequência dos

fenômenos e suas características (GIL, 1995).

Com relação ao tipo de abordagem, a pesquisa distingue-se como quali-quantitativa.

Isto porque, foram construídos instrumentos de pesquisa específicos (questionários)

fundamentados numa escala numérica de concordância e discordância, que foram baseados no

modelo tridimensional de performance social. Como também, a percepção dos stakeholders

foi medida por intermédio de suporte qualitativo – entrevistas semi-estruturadas – que foram

tidas como apropriadas para a busca de dados adicionais aos dispostos nos questionários.

A pesquisa qualitativa foi selecionada como formato apropriado para se obter

respostas para questionamentos específicos e particulares de investigação da realidade

humana em um campo do conhecimento impossível de ser inteiramente quantificado. A

investigação qualitativa permite o entendimento da natureza de fenômenos, onde os dados são

mais sutis demandando uma análise da subjetividade do objeto de estudo (TRIVINOS, 1987).

A utilização simultânea dos dois métodos não pode ser considerada imprópria ou para

validação de processos investigativos inacabados. Para Pitta e Castro (2006), ao contrário do

que pensam os mais fundamentalistas, de um lado ou de outro, há uma fertilização cruzada

virtuosa entre os métodos quantitativos e qualitativos. Cada um chega onde o outro não

consegue chegar. O método quantitativo pergunta „como‟ acontece, „o que‟ acontece. Já o

método qualitativo pergunta „por que‟ acontece.

A natureza bibliográfica do estudo advém do fato de que foram necessários

levantamentos de informações na literatura sobre RSE, em pesquisas consolidadas sobre o

tema. Estas informações podem ser consideradas uma forma de complementação aos dados

que foram coletados nos questionários e entrevistas na construção dos resultados. Segundo

Martins e Lintz (2007), a pesquisa bibliográfica procura explicar e discutir um tema ou um

problema com base em referências teóricas publicadas em livros, revistas, periódicos, etc.

Busca conhecer e analisar contribuições científicas sobre determinado tema.

Quanto aos meios, a pesquisa coloca-se como um estudo de caso, uma vez que tem o

objetivo de estudar e mensurar determinada realidade com o auxílio de dados coletados por

questionários, entrevistas e observações em loco na empresa em estudo. Este tipo de

abordagem pode ser melhor especificada no item seguinte.

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3.1.1 Estudo de Caso

O estudo de caso justifica-se porque a pesquisa envolve a necessidade de estudar as

ações sociais de uma organização e as percepções de seus stakeholders sobre elas sob alguns

pontos de vista. Este tipo de estudo permite uma análise mais profunda da organização,

proporcionando um maior conhecimento do objeto de pesquisa por sua flexibilidade.

Para Robert Yin (1984), o estudo de caso significa uma pesquisa empírica que

investiga um fenômeno contemporâneo em seu contexto natural, em situações em que as

fronteiras entre o contexto e o fenômeno não são claramente evidentes, utilizando múltiplas

fontes de evidência.

O estudo de caso trabalha com informações não tão diretas e objetivas, em que a

subjetividade é sua grande característica. Yin (1984) acrescenta, ainda, que estudos de caso

são também usados como etapas exploratórias na pesquisa de fenômenos pouco investigados

ou como estudos-piloto para orientar o design de estudos de casos múltiplos.

É possível, com isso, ser indicado para tratar o problema referente à presente pesquisa,

uma vez que o modelo de tridimensional de Carroll (1979) é caracterizado como pouco

aplicado, e que exige estudo aprofundado que leve à identificação de categorias de observação

ou instrumentos capazes de operacionalizá-lo.

Usando um critério mais geral, Yin (1984, p.14) afirma que uma investigação

caracteriza-se como um estudo de caso se “surge do desejo de compreender fenômenos

sociais complexos” e “retém as características significativas e holísticas de eventos da vida

real”.

Nesse sentido, é possível a análise das características da empresa pesquisada, suas

relações com stakeholders, os principais agentes envolvidos, o entendimento e participação

dos atores sociais e institucionais das ações sociais, entre outros. A prática do estudo de caso

inclui informações prévias, questões substantivas e leituras relevantes de dados de distintas

naturezas referentes a essas questões. Pretende-se observar aspectos concernentes a uma

empresa e stakeholders envolvidos.

3.2 Objeto e contexto de estudo

A presente pesquisa deu-se em uma empresa do setor têxtil situada no estado da

Paraíba, que fabrica fios e tecidos naturais. Realiza vários processos, desde a seleção, compra,

recebimento e análise da qualidade da matéria-prima até a elaboração da mistura do algodão

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seguidos do processamento na abertura, cardas, passadores, open ends, urdideira,

engomadeira, teares, inspeção, embalagem, faturamento e por fim o embarque da mercadoria

e entrega do produto ao cliente.

Possui um total de 1.580 funcionários e tem cerca de 16 hectares construídos, sendo

esta uma das filiais da empresa no estado - sua origem é mineira. Possui duas bases de

produção na unidade e opera no período diurno e noturno. O regime de trabalho é de 4/2. Está

há 15 anos neste mercado e por isso mesmo já obtém significativa importância, conhecimento

e influência no ambiente em que está localizada. Seu mercado é composto por clientes e

fornecedores situados em muitas regiões do Brasil, destacando-se as regiões sudeste e centro-

oeste. Esta empresa é a principal responsável pela distribuição e comércio de fios e tecidos

brutos da região, sendo assim importante para este tipo de comércio local e regional.

Pela solicitação do anonimato, não foi possível relacionar outras características da

empresa e envolvidos. Sendo assim, a mesma adotará o nome Têxtil, e o principal projeto

educacional por ela desenvolvido será chamado apenas de projeto educacional.

A Têxtil implantou ações sociais há quase dez anos. O público alvo destas ações

envolve principalmente os funcionários e alguns indivíduos da comunidade. Esses últimos

devido ao fato de que um dos grandes projetos da empresa, senão o maior, trata-se de um

centro de ensino profissionalizante para jovens e adolescentes com idades entre 16 e 18 anos

situado na própria empresa. Esse centro atende pessoas de baixa renda e que não possuem

relação direta ou indireta com membros da empresa. O programa é realizado por uma

fundação a partir de parcerias com grandes e médias empresas e os cursos têm a duração de

aproximadamente um ano, as aulas são ministradas pelos próprios funcionários nas

instalações da empresa.

Outros projetos sociais envolvem parcerias com instituições de apoio à indústria. Esses

projetos estão voltados para iniciativas de inclusão digital e cursos de educação para

funcionários da empresa; música; culinária; educação para jovens e adultos (EJA); academia;

inclusão de deficientes; tratamento para viciados em drogas; esporte; aquisição de

conhecimento com cerca de 2.000 livros para pesquisa, revistas atualizadas e computadores

com acesso à internet.

Os projetos de iniciativa própria estão relacionados à auxílios em planos de saúde,

seguro de vida, supermercado e farmácia; atividades desportivas; serviço odontológico.

Outros projetos incluem doações à comunidade e convênios para livraria.

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A atuação social da empresa se faz num contexto em que a responsabilidade social é

pouco praticada pelas organizações do entorno. Acrescenta-se o fato de que muito do que é

feito, apesar da atuação social da Têxtil ter cerca de dez anos, ainda é considerado

principiante ou iniciante pelos membros do setor administrativo, e com isso está ainda sob

fase de consolidação e construção de programas mais desenvolvidos e abrangentes.

O critério de escolha dessa organização para investigação se deu pela pesquisa sobre

as principais organizações do estado da Paraíba, sua influência e desenvolvimento de ações

sociais. Como também pela receptividade e oportunidade disponibilizada pela Têxtil. Os

fatores decisivos para a escolha foram a representação e legitimidade que ela confere na

comunidade e localidade em questão, pelo seu conhecimento local e participação no mercado

e nas principais atividades comerciais da região.

Assim sendo, analisa-se os atores institucionais e locais que participaram da

investigação na consecução do objetivo proposto.

3.3 Universo e amostra da pesquisa

Conforme especificado, foram construídos questionários e roteiros de entrevista semi-

estruturados baseados no modelo tridimensional de performance social (1979) para a

verificação da percepção dos stakeholders. Seria necessário considerar para pesquisa atores

sociais envolvidos, que fossem influenciados ou que conhecessem as ações realizadas, para

que fosse possível avaliar seu entendimento – percepção – frente à estas ações.

Ao se considerar a pesquisa como qualitativa e quantitativa no tocante à avaliação das

variáveis do modelo posteriormente apresentadas, o critério numérico para garantir a

representatividade do estudo não se encontra no número de entrevistados, e sim, na

confiabilidade dos dados. Assim, a amostra deve possibilitar a abrangência da totalidade do

problema investigado em suas múltiplas dimensões de acordo com Minayo (1994).

Para Marconi e Lakatos (1999, p. 43), a amostra é “um subconjunto da população,

uma parcela, convenientemente selecionada do universo a ser pesquisado”.

A amostragem é classificada basicamente em dois grandes grupos: amostragem

probabilística e não probabilística, conforme Colauto e Beuren (2003, p. 121). Para o caso da

presente pesquisa, optou-se por utilizar a amostragem probabilística estratificada, a qual

consiste em dividir a população em subgrupos mais homogêneos (estratos) e retirar amostras

aleatórias simples dos subgrupos. Uma vez que se pretendeu pesquisar os stakeholders da

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empresa Têxtil, procurou-se evidenciar em cada grupo – fornecedores, funcionários, diretores,

parceiros e outros – as pessoas que conheciam suas iniciativas sociais.

No intuito de investigar aqueles atores que pudessem responder de forma concisa em

relação ao objetivo da pesquisa e levando em conta os procedimentos metodológicos

adotados, foi realizada a pesquisa quantitativa com 55 funcionários, 4 gestores, 4

representantes de um parceiro, 15 consumidores (consumo de toalhas, tecidos e roupas), 4

clientes (consumo dos fios e tecidos „brutos‟), 3 fornecedores e 7 pessoas da comunidade. É

válido ressaltar que as opiniões de acionistas não puderam ser contempladas na pesquisa visto

que os mesmos não se encontram na localidade da empresa em questão, dada a sua natureza

de filial, como também não possuíam as informações ou conhecimentos específicos e

necessários para a realização da pesquisa.

A pesquisa qualitativa, a que se referiu às entrevistas semi-estruturadas, deu-se com 1

diretor (o principal responsável pelo planejamento e manutenção das atividades sociais da

empresa), 5 funcionários (3 voluntários e 2 não voluntários dos projetos sociais), 2

fornecedores, 2 clientes, 3 representantes de um parceiro, 3 consumidores e 2 da comunidade.

Assim, após a explanação de quais os elementos a serem investigados, é válido

observar como foi o processo e as ferramentas para a coleta dos dados.

3.4 O processo de coleta de dados

Para a realização da pesquisa foi estruturada uma carta de apresentação do presente

estudo enviada previamente ao diretor administrativo e para o responsável pelo

desenvolvimento das ações e iniciativas sociais da organização, o diretor de qualidade. Neste

documento foi possível mostrar o objetivo geral, o escopo da pesquisa e quais as pessoas

envolvidas conforme é possível observar no anexo 3. A pesquisa foi autorizada pelo gerente

geral da unidade da unidade de negócios do estudo de caso

Foram realizadas ao todo oito visitas à empresa pesquisada, em que a primeira foi

oportuna para o conhecimento da mesma, suas características, funcionários, setores, produtos,

entre outros fatores. Nessa primeira visita, foi estabelecida a necessidade, para o correto

andamento da pesquisa, de um pré-teste no intuito de adequar e desenvolver melhor tanto o

instrumento de pesquisa como as formas estabelecidas de abordagem aos respondentes.

Assim, efetivou-se esse pré-teste com alguns funcionários disponíveis na ocasião como o

diretor de qualidade, uma secretária e dois funcionários do setor de informática; e de acordo

com os resultados verificados optou-se por reestruturar algumas afirmações e

posicionamentos dos instrumentos em questão. Para Vergara (2008), é útil e necessário

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submeter o questionário e o formulário a testes prévios, que antecedem a aplicação. [...], o

julgamento refere-se não só à correção do conteúdo que é apresentado ao respondente, como

também à forma pela qual o é.

O pré-teste também foi aplicado com um pequeno número de pessoas as quais

correspondiam aos conjuntos de stakeholders que se pretendia pesquisar. Assim, todos eles

manifestaram conhecimento das ações da Têxtil, podendo desta forma participar da pesquisa.

O único conjunto de stakeholders que não participou foi o governo, dada a limitação de

informações que possuíam.

Na construção do presente estudo de caso, as habilidades e conhecimentos relativos à

coleta de dados quantitativa e qualitativa por parte da pesquisadora foram desenvolvidos por

meio do aprofundamento conceitual e pelas visitas e conversação com os funcionários.

Treinamentos específicos não foram necessários visto que a principal habilidade requerida era

a capacidade de comunicação clara para os respondentes.

Na fase quantitativa, foram distribuídos questionários para os funcionários

selecionados como apropriados para investigação conforme os critérios estabelecidos no item

anterior universo e amostra de pesquisa. A pesquisadora mostrou-se disponível e apta para

esclarecimentos acerca dos instrumentos no momento das respostas por parte dos

pesquisados; e esses instrumentos continham espaços para comentários adicionais segundo é

possível observar no anexo tal. Conforme especificado esses questionários foram elaborados

mediante o modelo tridimensional de performance social de Carroll (1979), que como a

definição do modelo especifica é composta por três dimensões.

As entrevistas semi-estruturadas, que envolveram a fase qualitativa da pesquisa, foram

presenciais. Segundo Godoi e Mattos (2006. p. 312), a participação do entrevistador tem uma

função intersubjetiva na entrevista, colocando-o como “construtor das produções discursivas

na conversação. De tal forma que o êxito da entrevista (a qualidade e a quantidade da

informação acessível à análise) não se fundamenta no desenho da investigação, senão na

destreza e habilidade do entrevistador”. É preciso que o entrevistador exerça a função

essencial de transmissor de interesse, confiança, familiaridade, motivação e garantia de

identificação ao seu interlocutor (SIERRA, 1998).

Dentre as três modalidades ou tipologias de entrevista identificadas por Patton (1999),

que são a entrevista conversacional livre em torno de um tema; a entrevista baseada em

roteiro e a entrevista padronizada aberta, identificou-se como mais apropriado o tipo de

entrevista baseada em roteiro, visto que era necessário roteiros distintos para grupos de

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stakeholders e seu nível de conhecimento acerca das ações sociais para respostas, como

também poderia ser possível observar ou questionar pontos que não estivessem contemplados

no roteiro estruturado.

Ressalta-se que roteiros de entrevista podem ser estruturados, semi-estruturados ou

não estruturados. Sendo de escolha para a presente pesquisa o roteiro semi-estruturado

porque, segundo Trivinos (2001), a entrevista semi-estruturada é a que parte de certos

questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que

em seguida, adicionam-se a uma grande quantidade de interrogativas, fruto de novas hipóteses

que surgem no transcorrer da entrevista.

Na entrevista semi-estruturada, é possível conhecer algumas características e ter maior

interação com a realidade dos informantes. Em algumas pesquisas qualitativas, esse tipo de

entrevista parece ser um dos principais instrumentos de coleta de dados.

As mesmas foram transcritas no momento em cada respondente expressava-se, visto

que não foi permitida pela empresa a gravação das entrevistas. Pontua-se que os respondentes

ficaram livres para responder como quisessem, e que algumas de suas respostas abriam a

possibilidade para questionamentos aquém do roteiro estabelecido. As entrevistas foram nos

locais de trabalho dos entrevistados, a não ser pelo grupo comunidade e consumidores, os

quais foram pesquisados em locais distintos.

Vale ressaltar também que todos os indivíduos que responderam às entrevistas não

responderam ao questionário e vice-versa.

O roteiro de entrevista semi-estruturada foi também elaborado conforme o modelo de

Carroll (1979), mais especificamente os questionários, que foram construídos

preliminarmente, serviram como subsídio e base para a constituição dos roteiros. Esses

instrumentos foram distintos para agentes internos e externos à organização, uma vez que não

é possível para cada grupo de stakeholder responder sobre determinado assunto da

organização, visto que sua amplitude de conhecimento e nível de respostas são diferentes.

Essas características foram principalmente observadas no pré-teste que foi realizado com os

funcionários da organização e com alguns membros externos os quais faziam parte da

comunidade e fornecedores.

3.5 Análise Compreensiva Interpretativa dos Dados

A pesquisa validou-se de uma fonte de dados primários, pois utilizou instrumentos de

pesquisa específicos como questionários e roteiros de entrevista semi-estruturados; de uma

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79

pesquisa documental para a verificação de dados secundários e a observação não participante.

A análise documental permitiu o conhecimento e a consolidação ou não dos dados primários,

bem como a geração de informações adicionais. Esses dados consistiam em documentos

disponibilizados pela empresa e por alguns agentes relacionados como parceiros e pesquisas

na internet.

Com a observação não participante, foi possível verificar fatos que reforçaram ou não

as prerrogativas apontadas na análise dos dados primários e documentais e também entender e

promover uma reflexão sobre os significados subjetivos e intersubjetivos capazes de

influenciar a percepção dos stakeholders. Segundo Merriam (1998) a análise de muitos

materiais e dados secundários pode agregar e consolidar as respostas de entrevistas ou

questionários. Para o autor, este processo de averiguação chama-se triangulação e visa

corroborar as respostas dadas por cada respondente, bem como, apurar as discrepâncias nas

respostas. A análise pode ser vista conforme é exposto a seguir:

Dados Primários

Dados Secundários Observação Não Participante

Figura 11: Triangulação de dados de análise

Fonte: Elaboração Própria

Os dados primários quantitativos foram analisados e estudados por intermédio do

software Sphinx. Este pode ser caracterizado como um sistema para estudos quantitativos e

qualitativos, que auxilia na tabulação dos dados e faz análises representativas no intuito de

facilitar as inferências do pesquisador. Para Freitas, et al (2002) esse software representa uma

gama de sistemas que permite gerir planos de análise e exploração de dados, tabulação

automática, relatórios, questionários e outros.

Os questionários foram construídos segundo uma escala numérica de concordância e

discordância, compostos de categorias de resposta que variaram entre 1 e 7, em que o número

1 correspondia à opinião discorda totalmente, o número 2 discorda muito e assim

consecutivamente sendo as outras respostas discorda pouco, nem concorda/nem discorda,

concorda pouco, concorda muito e concorda totalmente. O que permitiu que as pessoas

pudessem explicitar suas opiniões em diferenciados graus de aprovação ou desaprovação

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80

sobre as afirmativas existentes nos questionários. Pontua-se que o sphinx forneceu subsídio

para essa tabulação de dados, mediante a análise numérica dos dados da escala.

Os questionários também contavam com a possibilidade de comentários adicionais por

parte dos respondentes, se fosse o caso de sua necessidade.

A análise dos resultados contou também com o coeficiente de variação das respostas

dos investigados, bem como com a média, e sua interpretação se deu da seguinte forma:

quanto maior a média, a avaliação se dava de maneira positiva, ou seja, a categoria,

comportamento ou programa é aplicável na empresa em estudo.

A análise interpretativa das entrevistas semi-estruturadas foi permeada pela utilização

da análise de conteúdo temática, uma vez que esta forneceu mais adequado subsídio à

interpretação das falas e consequente percepção dos entrevistados.

A partir das leituras feitas das entrevistas, foi possível para cada grupo de stakeholder

identificar para a construção dos resultados os posicionamentos e opiniões divergentes,

similares e complementares, de forma que a codificação das leituras das entrevistas se deu por

meio do tipo de natureza e desempenho institucional de cada participante.

3.5.1 Variáveis da pesquisa

Para uma adequada aplicabilidade do modelo tridimensional de performance social em

sua totalidade, foram criadas variáveis que podem ser identificadas em cada dimensão social

do cubo tridimensional de Carroll (1979). Conforme especificado nele, existem as categorias

de análise social, as formas de comportamento e respostas da empresa sobre questões sociais e

suas ações e programas desenvolvidos, sendo a construção/criação e possível validação de

variáveis de cada uma das dimensões do modelo uma das principais contribuições do presente

estudo.

Coloca-se que algumas variáveis foram contempladas na pesquisa com stakeholders

internos, como gestores e alguns funcionários específicos. Outras variáveis foram trabalhadas

na pesquisa com stakeholders externos. Esse fato aconteceu porque, conforme especificado,

cada grupo e natureza de stakeholder estão aptos a responder por determinada área e

abrangência (um consumidor não possui as mesmas informações sobre atuação social que um

gerente ou cliente e assim sucessivamente) e por isso a construção de instrumentos de

pesquisa específicos.

Para cada uma das três dimensões, procurou-se diagnosticar as variáveis relacionadas.

A primeira dimensão consiste nas categorias de desempenho social que a empresa pode

apresentar. A tabela a seguir mostra as categorias e suas variáveis criadas:

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81

MODELO TRIDIMENSIONAL DE PERFORMANCE SOCIAL

CATEGORIAS VARIÁVEIS

Econômica

Equilíbrio entre receitas e despesas

Satisfação de clientes como indicador de desempenho do negócio

Transações satisfatórias para stakeholders

Monitoramento da produtividade dos funcionários

Preços convenientes ao poder de compra da demanda

Investimento em estrutura física, treinamento dos funcionários e novos produtos

Produção de bens e provisão de serviços de acordo com os requisitos da demanda

Legal

Efetividade no pagamento de impostos e tributos municipal, estadual e federal

Cumprimento integral das leis do trabalho e obrigações contratuais

Adequação dos produtos ao Código de Defesa do Consumidor

Cumprimento de normas técnicas e de legislação ambiental

Ética

Existência e aplicação de um código de ética na empresa

Respeito à integridade física e moral de funcionários e clientes

Abertura ou procedimento confidencial na empresa para funcionários tratarem questões

problemáticas

Fomento de uma cultura interna para criação e adoção de valores éticos

Discricionária

Desenvolvimento de iniciativas sociais em benefício da comunidade local

Estímulo ao voluntariado nos clientes internos

Participação em organizações cívicas ou consideração de problemas sociais da comunidade

Disponibilidade aos funcionários para aquisição de habilitações suplementares

Tabela 3: Categorias e variáveis do modelo de Carroll (1979)

Fonte: Elaboração Própria

O modelo tridimensional de Performance Social de Carroll (1979) também engloba

em seu cubo uma dimensão referente ao comportamento e respostas da empresa frente a

questões sociais. Procura diagnosticar ou caracterizar as ações sociais da empresa de acordo

com uma postura social. A tabela a seguir mostra as respostas e as variáveis encontradas:

MODELO TRIDIMENSIONAL DE PERFORMANCE SOCIAL

COMPORTAMENTOS VARIÁVEIS

Reativo

Fomento de ações sociais depois de protesto ou reivindicações da sociedade

Ações sociais para viabilizar a mitigação de impactos negativos provocados pela

empresa

Defensivo

Realização de auditorias frequentes

Revisão periódica das ações sociais para conformidade com objetivos empresariais

Desenvolvimento de ações ou programas sociais no intuito de evitar problemas

Receptividade para relevância de problemas sociais ocasionados pela empresa

Acomodativo

Gestão administrativa em acordo com as expectativas/necessidades dos funcionários

Projetos sociais para cumprir às normas e legislação governamental

Atuação social tendo em vista o que a empresa necessita e o governo solicita

Pró-ativo

Institucionalização de projetos educacionais, culturais, éticos, internamente ou na

comunidade local

Ações sociais tidas como além das expectativas dos stakeholders

Desempenho de projetos por iniciativa própria

Existência de relação entre planejamento empresarial e estratégias sociais

Tabela 4: Comportamentos e respostas da empresa sobre questões sociais

Fonte: Elaboração Própria

Após a explanação das respostas da empresa, o modelo aborda no cubo a dimensão

referente às ações e programas da empresa, ou seja, quais são suas prioridades e foco de

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atuação no desenvolvimento de ações sociais. A tabela a seguir mostra as ações e

consequentes variáveis identificadas:

MODELO TRIDIMENSIONAL DE PERFORMANCE SOCIAL

AÇÕES VARIÁVEIS

Consumo

Modificação e/ou retirada de produtos após sua distribuição quando não adequados à

clientes ou consumidores

Disposição de informações técnicas adequadas e necessárias

Realização de pesquisas de mercado

Relacionamento pós-venda satisfatório com o cliente

Meio Ambiente

Disposição de informações sobre educação ou consciência ambiental no âmbito externo

Enquadramento da empresa com certificação ambiental

Tratamento e reutilização de água proveniente da produção

Disposição adequada de resíduos sólidos e gases poluentes

Utilização de tecnologias limpas ou que reduziram a poluição

Desenvolvimento de projetos voltados à preservação do meio-ambiente

Discriminação

Igualdade de condições salariais independente de sexo

Igualdade na ocupação de cargos de chefia a pessoas de qualquer raça ou sexo

Liberdade de escolha e prática religiosa

Segurança para o emprego ou contratação de funcionários com mais de 45 anos de idade

Trabalho para mitigação de discriminação social ou racial entre funcionários ou outros

relacionados à empresa

Segurança do

produto

Disponibilidade de informações sobre normas técnicas necessárias à correta fabricação

Implantação de meios que busquem a excelência do padrão de qualidade

Execução de medidas eficazes de logística

Ambiente sanitariamente adequado para produção e estoque

Produtos seguros à saúde de consumidores

Segurança do

Trabalho

Fiscalização e monitoramento da utilização de equipamentos de proteção

Treinamentos para manejo adequado de ferramentas e máquinas

Fiscalização de infra-estrutura para impedir danos à saúde dos funcionários

Diminuição do índice de acidentes nas operações do trabalho

Acionista

Contínua prestação de contas aos acionistas da empresa

Mediação de interesses dos sócios acionistas com os objetivos de comprometimento social

da empresa

Elaboração de programa de envolvimento de acionistas com projetos sociais desenvolvidos

pela empresa

Estudo em conjunto com acionistas sobre as implicações da atuação social responsável na

competitividade e aumento de lucratividade

Tabela 5: Ações e programas de atuação social

Fonte: Elaboração Própria

A presente pesquisa teve a preocupação e o intuito de adequar as variáveis observadas

à realidade investigada.

Algumas variáveis que compõem cada um dos itens do modelo em questão podem ser

respondidas por todo o conjunto de stakeholders pesquisados, como exemplo as variáveis de

segurança e saúde no trabalho. Entretanto, outras variáveis como as da categoria econômica

estão em maior quantidade pelo fato de que cada conjunto de stakeholder se mostrou melhor

apto a responder determinadas naturezas e especificidades de questão.

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83

Com a construção das variáveis, posteriormente deu-se a construção dos questionários,

os quais foram direcionados a conjunto de stakeholders específicos. Assim, três questionários

foram feitos: um para gerentes, outro para funcionários e um terceiro para atores externos à

organização. Esses últimos foram pessoas que mantém um contato direto ou indireto com a

organização, seja em relação à compra de produtos, seja em relação à interação por

proximidade de moradia ou outro, mas todos conheciam pelo menos algumas das ações

desenvolvidas pela empresa.

3.5.2 Parâmetros de análise das variáveis

Cada variável (afirmação) do questionário dispôs de uma escala de sete pontos, onde o

nível mínimo (1) indicava a total discordância com a existência da variável na empresa, e o

nível máximo (7) indicava a total concordância com sua existência. Todos os valores entre

esses níveis indicaram um aumento gradual do nível de concordância ou aceitabilidade da

variável como existente na empresa pesquisada. Essa existência ou não coloca a categoria,

comportamento e ação ou programa a qual a variável se refere como característica da Têxtil, e

cada resposta contribui para a geração de uma média aritmética, sendo possível assim avaliar

em cada dimensão a que obteve maior valor (média) segundo este parâmetro. A tabela 6

procura explanar:

ESCALA DE VALORES NO QUESTIONÁRIO/OPINIÕES

1 2 3 4 5 6 7

Discorda

Totalmente

Discorda

Muito

Discorda

Pouco

Nem

concorda/nem

discorda

Concorda

Pouco

Concorda

Muito

Concorda

Totalmente

NÍVEL DE APLICABILIDADE/EXISTÊNCIA DA VARIÁVEL NA EMPRESA TÊXTIL – PERCEPÇÃO

Total

divergência

da Existência

Muita

divergência

da Existência

Pouca

divergência

da Existência

Não

existência

como

característica

da dimensão

Pouca

Existência

Muita

Existência

Total

Existência

Tabela 6: Parâmetros de análise das variáveis

Fonte: Elaboração Própria

Conforme apresentado anteriormente, o parâmetro estabelecido para a análise dos

dados quantitativos foi de que quanto maior a média, mais aplicável seria a categoria, resposta

ou ação ou programa seria na empresa em estudo e vice-versa. O cálculo da média foi feito

pelo Sphinx, levando em conta as respostas mais frequentes da escala apresentada acima.

A seguir apresenta-se de maneira mais resumida o fluxograma da presente pesquisa.

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84

FLUXOGRAMA DE PESQUISA

Objetivo Geral:

Identificar as percepções dos diversos tipos de stakeholders acerca das políticas e ações de RSE

adotadas por uma empresa do setor têxtil do estado da Paraíba, utilizando o modelo

tridimensional de performance social de Carroll (1979).

Sujeitos da Pesquisa:

Funcionários, Diretores, Fornecedores, Clientes,

Consumidores, Comunidade e Parceiros da empresa pesquisada.

O Processo de Coleta e Análise Interpretativa

de Dados

Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa

* Aplicação de Questionários construídos * Aplicação de Roteiros de Entrevista semi-estru-

com base no modelo tridimensional; turados construídos com base no modelo

tridimensional;

* Análise da escala de valores por meio

do software SPHINX. * Transcrição integral das entrevistas in loco e;

* Exame dos dados por meio da técnica de análise

de conteúdo.

Apresentação e Análise dos Resultados

Análise Cubo

Quali-quantitativa PERCEPÇÃO Tridimensional

Conclusões

Figura 12: Fluxograma de Pesquisa

Fonte: Elaboração Própria

Após a apresentação dos procedimentos metodológicos que fundamentaram a

pesquisa, é possível abordar, por conseguinte, os resultados encontrados em relação às

percepções de cada stakeholder pesquisado e sua colocação no cubo tridimensional de Carroll

(1979).

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85

Capítulo 4 – Apresentação e Análise dos Resultados

Quanto aos resultados encontrados através da coleta de dados dos instrumentos

aplicados, a interpretação será dividida em dois momentos: o primeiro especifica para cada

grupo de stakeholders pesquisados a sua percepção das ações sociais de acordo com os dados

quantitativos e qualitativos, posteriormente apresentados no cubo tridimensional. O segundo

momento procura especificar os resultados encontrados para todos os stakeholders referentes

às três dimensões do modelo de Carroll (1979) em seu cubo tridimensional, e algumas

considerações.

4.1 Diagnóstico da percepção de cada Stakeholder pesquisado

4.1.1 Funcionários gerais – voluntários e não voluntários

Dentre os 55 funcionários participantes da pesquisa quantitativa, e os 5 que

responderam às entrevistas, procurou-se verificar um conjunto de pessoas que não estivesse

situado no mesmo setor e que não desempenhasse as mesmas atividades. Assim, poderia ser

possível verificar perspectivas e entendimentos de funcionários situados em setores distintos e

que dessa forma possivelmente pudessem obter informações diversificadas. Assim sendo,

aplicou-se questionários com pessoas de setores como: tecelagem, corte, vendas, segurança do

trabalho, administração e propriamente os voluntários que se encontram mais no setor de

informática. Dentre os respondentes da pesquisa qualitativa, encontravam-se três no setor

administrativo, um na biblioteca e um no setor de informática.

4.1.1.1 Dimensão Categorias de Responsabilidade Social

É possível observar que as categorias de responsabilidade social explicitadas no

modelo tridimensional possuem observações um tanto heterogêneas. Pelo gráfico 1, a seguir,

é possível verificar:

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70,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

15,0%

0,0%

5,0%

50,0%

0,0%

10,0%

20,0%

15,0%

0,0%

10,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

5,0%

25,0%

5,0%

10,0%

20,0%

0,0%

5,0%

0,0%

5,0%

0,0%

55,0%

0,0%

5,0%

0,0% 0,0% 0,0%

25,0%

30,0%

15,0% 15,0%

25,0% 25,0%

35,0%

20,0%

25,0%

10,0%

20,0%

10,0% 10,0%

0,0% 0,0% 0,0%

30,0%

25,0%

5,0%

20,0%

5,0%

15,0%

10,0%

60,0%

5,0%

70,0%

10,0%

30,0% 30,0%

15,0%

30,0% 30,0%

25,0%

5,0%

40,0%

25,0%

0,0%

20,0% 20,0%

0,0%

45,0%

15,0%

0,0%

45,0%

50,0%

15,0%

25,0%

40,0%

15,0%

0,0%

30,0%

15,0%

0,0%

35,0%

20,0%

0,0%

5,0%5,0% 5,0%

15,0%

5,0%

70,0%

45,0%

30,0%

0,0% 0,0%

5,0%

10,0%

0,0%

5,0%

0,0% 0,0% 0,0%

Econôm 1 Econôm 2 Econôm 3 Econôm 4 Legal 1 Legal 2 Legal 3 Legal 4 Ético 1 Ètico 2 Etico 3 Etico 4 Disc r ic 1 Disc r ic 2 Disc r ic 3 Disc r ic 4

discorda totalmente discorda muito discorda pouco nem concorda/nem discorda concorda pouco concorda muito

concorda totalmente

Gráfico 1: Resultados da Dimensão Categorias - Funcionários

Fonte: Dados da Pesquisa

Os parâmetros são estabelecidos sob uma notação de 1 (Discorda Totalmente) a 7 (Concorda Totalmente).

A categoria econômica é representada pelas legendas econôm 1, econôm 2, econôm 3 e econôm 4; a categoria legal é representada pelas

legendas legal 1, legal 2, legal 3 e legal 4; a categoria ética é representada pelas legendas ético 1, ético 2, ético 3 e ético 4 e, por fim, a categoria

discricionária é representada pelas legendas discric 1, discric 2, discric 3 e discric 4.

A tabela a seguir explana os valores da média aritmética, desvio padrão, coeficiente de variação e frequência de maior resposta conforme

o gráfico anterior apresentado:

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CATEGORIAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de

Variação (%)

ECONÔMICA 4,92 0,91 18,5

LEGAL 5,72 0,90 15,6

ÉTICA 3,48 1,27 36,5

DISCRICIONÁRIA 3,90 1,42 36,6

Tabela 7: Valores Quantitativos para a dimensão Categorias - Funcionários

Fonte: Dados da Pesquisa

Os parâmetros são estabelecidos sob uma notação de 1 (Discorda Totalmente) a 7 (Concorda Totalmente).

Conforme o gráfico 1 expôs, a categoria legal é a que possui maior nível de

concordância, principalmente na primeira variável (70%), como também a média referente a

esta categoria, de 5,72, mostra sua maior aceitabilidade em relação a outras.

A categoria econômica também obteve aceitação expressiva, com média de 4,92. Na

categoria ética, conforme o gráfico, os valores são distintos, ou seja, o entendimento dos

funcionários é diverso. Já na discricionária, os valores são um pouco mais diversificados.

Em relação à categoria econômica, a maioria dos funcionários entende que a empresa

controla a produtividade (50% concordam muito), investe em novos produtos (45%

concordam muito) e de acordo com os requisitos dos clientes (70% concordam pouco). O

investimento em estrutura física e treinamento dos funcionários não foi um item marcado com

maior concordância por todos os respondentes – 55% discordam pouco - daí o fato de a

categoria econômica ter obtido menor média que a legal. Este item foi evidenciado por alguns

em discordância porque os treinamentos realizados acontecem quase sempre quando da

admissão de funcionários, e ao longo do tempo os cursos para capacitação e treinamentos não

são disponibilizados em horários compatíveis para maioria deles. Entretanto, não obstante este

fator, a categoria pode ser tida como aplicável na Têxtil de acordo com os respondentes.

Para Carroll (1979), o papel prioritário da empresa deve ser o de gerar bens e serviços

de acordo com diretrizes financeiras convenientes e com os requisitos dos consumidores.

Assim, conforme as entrevistas, os funcionários percebem que esses objetivos são cumpridos

adequadamente. A afirmação a seguir exemplifica:

“Até onde sabemos, a empresa cumpre compromissos e tem boa

produtividade”.

O coeficiente de variação de 18,5% desta categoria mostra a constatação de que os

funcionários têm opiniões parecidas em relação à economia da empresa.

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A maior aceitabilidade, segundo observado, vem da categoria legal. Isto porque as

ações sociais fomentadas pela Têxtil, quase que em sua totalidade, estão baseadas nos padrões

e requisitos legais para empresas de seu porte. Os funcionários reconhecem que os projetos

feitos são pela própria necessidade da empresa de estar em conformidade com leis e

regulamentos.

“Acho que a empresa faz pelos colaboradores o que tem que fazer.

Toda empresa tem que oferecer aos seus colaboradores boas

condições. E acho que é mais ou menos o que é feito. Algumas

coisas aqui podiam mudar como, por exemplo, a adoção de um

plano de classificação de salário mais justo”.

De fato, a observação da maioria dos projetos sociais realizados, tanto em parceria

com outras instituições como por adoção própria, mostram que a Têxtil não é considerada

propriamente discricionária. Os funcionários que manifestaram entendimento sobre o conceito

das categorias de RSE optaram por ressalvar que a empresa está mais para o posicionamento

legal que qualquer outro, embora fosse possível verificar que outras pessoas, principalmente

voluntários, entendam que a Têxtil realiza ações que estão além da sua área de interesse ou

dever, como exemplo as visitas familiares e as próprias doações realizadas.

Apesar destas opiniões distintas, esta categoria obteve a menor variabilidade de

respostas: 15,6%. Isso se deve ao fato de que, dentre as variáveis contidas nos questionários,

quase todos os investigados optaram pela mesma resposta. Mas, de acordo com as entrevistas

e observações, foi possível verificar outros pontos de vista. Destaca-se que a responsabilidade

social é passível a muitos entendimentos, dependendo do nível de escolaridade, função e até

faixa etária dos pesquisados. Essa percepção varia entre a interpretação de que a empresa tem

poder para fomentar atividades sociais mais abrangentes; a empresa realiza mais que poderia

ou é requerido fazer; e a empresa faz aquilo que é possível propiciar, já que é difícil conciliar

muitos papéis e tarefas no cenário atual de competitividade.

Dentre os pontos contemplados tanto nas entrevistas como nos questionários,

observou-se que os funcionários acham que a Têxtil está de acordo no que se refere a

pagamento de impostos, benefícios (70% concordam totalmente), código de defesa do

consumidor (40% concordam muito) e legislação ambiental (30% nem concordam nem

discordam). Esta última variável mostrou um entendimento bastante heterogêneo, conforme

pode ser verificado pelo gráfico. Pela afirmação a seguir, é possível verificar algumas

observações que merecem destaque no que concerne à legislação ambiental:

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“É tudo devidamente pago sim, os benefícios dos colaboradores são

garantidos. A legislação ambiental é cumprida, até pelas características do

produto e sistema de produção”.

Dentro da categoria legal, mais da metade dos funcionários pesquisados verificam que

a empresa está adequada à questão de legislação ambiental, outros, entretanto, ressalvam que

isto é uma característica consequente da natureza dos produtos fabricados e das necessidades

prioritárias da empresa. A produção de fios e tecidos naturais não impõe tantos cuidados em

relação à exteriorização de resíduos no ambiente. No entanto, estas informações serão mais

bem especificadas na dimensão ações e programas - meio ambiente.

Em relação à ética, é possível observar que as respostas foram heterogêneas. O maior

nível de discordância (50% discordam totalmente) se deu em relação à existência de um

procedimento confidencial para os funcionários apresentarem reclamações, e também de um

código de ética (30% discordam pouco). Esses resultados podem ser evidenciados pelas

respostas:

“Não existe esse procedimento. Mas agente tem alguma abertura pra falar de

algum problema. Também quando vamos trabalhando estamos vendo como

se comportar, mas com certeza se tivesse uma maneira pra se comunicar

sobre problemas seria melhor”.

“O código de ética mesmo não existe. Mas nós temos consciência e preparo

para trabalhar em conjunto, com princípios definidos e respeito mútuo.

Procedimento para reclamações não há”.

“Não há muito o hábito de conversar sobre valores e princípios éticos. Acho

que essas questões vêm mais de nós mesmos, de nossa cultura. Mas o

ambiente da empresa impõe sim a adoção desses princípios, de maneira

indireta”.

A Têxtil não possui um código de ética, no entanto, segundo a última afirmação,

dispõe de um ambiente ético e moral de trabalho, ou seja, o próprio ambiente onde os

funcionários trabalham propicia os meios e entendimentos para a adoção de condutas e

escalas de valores morais no âmbito interno. As respostas mostraram que a empresa trabalha

sob a existência de valores éticos e respeito à integridade (40% concordam pouco), mas o

desenvolvimento de maneiras adequadas de incentivo à participação dos funcionários poderia

ser considerado, já que as respostas a esta variável foram bem heterogêneas, com 25%

concordando pouco com ela. Essa participação, segundo eles, seria na forma de sugestões,

avisos ou reclamações; enfim, procedimentos que proporcionariam melhorias na realização

das atividades.

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“Procedimentos confidenciais não existem, e acho que isso é um problema

tanto pra empresa quanto pra os funcionários porque fica difícil falar de

alguma coisa que pode estar incomodando. Pode ser até pra dar uma opinião

ou um aviso de algum problema”.

A média desta categoria de 3,48 e o desvio padrão de 1,27 mostra que as opiniões

estão na média da escala de respostas, que variam de 1 a 7. Isto corrobora que a aceitabilidade

dos componentes expostos no instrumento quantitativo não está alta como nas categorias

anteriores. Com uma média menor em detrimento das outras categorias, verifica-se que, para

os funcionários, a Têxtil não está propensa a uma cultura aberta ao diálogo e para maior

interação entre empresa e funcionário.

A categoria discricionária apresenta também um entendimento heterogêneo, pouco

maior que a anterior. O coeficiente de variação de 36,6% corrobora esta afirmação, bem como

a média de 3,90, a qual demonstra que as respostas estão em um padrão mediano.

A variabilidade das respostas pode ser atribuída a diferentes compreensões quanto à

estrutura de abertura entre empresa e comunidade, bem como quanto a promoções na carreira

profissional dos funcionários. É notório que, para os funcionários entrevistados, não há um

processo interativo de troca de informações entre empresa e comunidade sobre necessidades e

ideias de ambos, 60% nem concordou nem discordou com esta variável. Essa ausência se

deve, para alguns, à falta de esclarecimento do povo em relação aos benefícios que podem

advir deste tipo de relação direta. Essas interações podem se basear em troca de informações

sobre potencialidades e vulnerabilidade de ambos. Para outros funcionários, essa ausência se

deve à falta de disponibilidade da empresa para abertura e troca de informações com a

comunidade.

Questionados sobre se a Têxtil desenvolve campanhas para melhoria da qualidade de

vida das pessoas da região onde se insere ou se mostra aberta para solucionar possíveis

problemas ou impactos causados, alguns funcionários têm opiniões parecidas.

“Sim. Existe um grande projeto que é em benefício da comunidade, para a

educação de jovens e adolescentes. Mas a maioria dos projetos feitos aqui é

em benefício dos colaboradores. A abertura com a comunidade não é tão

grande, porque não existe uma prática por parte deles e também da empresa

de procurar saber o que é feito ou de mostrar alguma coisa”.

“Tem muitas campanhas, mas a principal é o nosso maior projeto

educacional, porque é inteiramente para o público externo. A empresa não

tem tanta abertura com a comunidade porque não existe clima pra isso. [...]

Muitos não participam do projeto porque não sabem como funciona,

preferem os filhos em casa por medo se agente vai realmente tomar conta”.

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91

O projeto educacional em benefício do público externo foi o mais mencionado como

parte integrante dos programas desenvolvidos pela empresa. De fato, ele envolve a

participação direta de mais de vinte funcionários que desempenham os papéis de

administradores e professores, como também uma relação com pessoas (alunos) de fora da

empresa. Esse projeto é de grande repercussão para vários stakeholders, conforme será

exposto adiante.

A progressão na carreira profissional não foi mencionada com muita concordância:

45% concordam pouco com esta variável, apesar de fato de a empresa oferecer alguns cursos

de aperfeiçoamento com frequência. Para alguns funcionários, estes cursos são importantes,

mas a possibilidade de sua participação fica comprometida, pelo fato de que seus horários são

incompatíveis com os horários da maioria dos funcionários. Muitos manifestaram a opinião

de que algumas poucas pessoas têm oportunidade de participar, e que a diretoria não está apta

a substituir o funcionário que deseje ingressar no curso, fato este reforçado por alguns

comentários adicionais feitos nos instrumentos de pesquisa.

A questão da discricionariedade da Têxtil está associada, segundo os funcionários,

apenas ao principal projeto educativo da empresa e a algumas iniciativas de cunho menos

abrangente em benefício dos clientes internos. É fato mencionar que os principais projetos

que caracterizam esta categoria são desenvolvidos em parceria com outra instituição, e que as

ideias centrais, objetivos e alguns recursos são despendidos pelos próprios parceiros, não

desmerecendo também os recursos e iniciativas da empresa para desenvolvê-los.

O estímulo ao voluntariado foi pouco discordado por 35% dos funcionários, variável

que caracteriza também ações de cunho discricionário.

Assim, é possível vislumbrar dentre a exposição das categorias que a empresa Têxtil

encontra-se de acordo com seus funcionários no posicionamento legal frente às categorias do

modelo tridimensional de performance social de Carroll (1979).

A seguir, serão explicitados como se dão os comportamentos e as respostas frente a

questões problemáticas que foram parte ou podem fazer quando da realização de suas

atividades cotidianas.

4.1.1.2 Dimensão Comportamentos e Respostas de Responsabilidade Social

Os comportamentos e as respostas dizem respeito ao seu modo de atuação frente a

questões que podem constituir problemas ou atividades que requeiram um desempenho social

por parte da corporação. Observou-se que os funcionários manifestaram opiniões relacionadas

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92

propriamente a uma resposta específica, tendo todos os coeficientes de variação oscilados a

um nível médio.

É possível visualizar o comportamento da empresa pelo gráfico 2 a seguir, que expõe

os resultados quantitativos obtidos com a pesquisa:

55,0%

0,0%

15,0%

10,0%

5,0% 5,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

10,0%

5,0%

0,0%

5,0%

0,0% 0,0% 0,0%

15,0%

35,0%

40,0%

15,0% 15,0%

0,0%

20,0%

10,0%

45,0%

40,0%

25,0%

30,0%

25,0%

0,0%

10,0%

5,0%

40,0%

0,0%

20,0%

40,0%

35,0%

10,0%

45,0%

30,0%

0,0%0,0% 0,0%

10,0%

15,0%

35,0%

25,0%

50,0%

0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

55,0%

0,0%

5,0%

0,0%

Reativo Reativo2 Defensivo Defensivo2 Acomodativo Acomodativo2 Pró-ativo Pró-ativo2

discorda totalmente discorda muito discorda pouco nem concorda/nem discorda

concorda pouco concorda muito concorda totalmente

Gráfico 2: Resultados da Dimensão Comportamento e Respostas - Funcionários

Fonte: Dados da Pesquisa

Os valores encontrados em relação ao gráfico exposto são apresentados na tabela 8:

COMPORTAMENTOS E RESPOSTAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de

Variação (%)

REATIVO 3,20 1,13 35,4

DEFENSIVO 4,28 1,25 29,2

ACOMODATIVO 5,60 0,88 15,8

PRÓ-ATIVO 4,30 0,88 20,5

Tabela 8: Valores Quantitativos para a dimensão Comportamentos e respostas - Funcionários

Fonte: Dados da Pesquisa

De acordo com o gráfico 2, é possível inferir que a percepção dos funcionários em

relação ao comportamento reativo foi de discordância. Inclusive a média de 3,20, abaixo do

padrão mediano da escala de valores, o desvio padrão de 1,13 e variação de 35,4% mostraram

algumas opiniões difusas em relação a este tipo de comportamento da empresa. Na opinião

dos funcionários pesquisados, as ações sociais não são desenvolvidas após alguma

reivindicação ou reclamação por parte do governo e/ou comunidade; 40% nem concordam

nem discordam com esta variável.

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93

“Como te falei, a sociedade não tem iniciativa de procurar ações ou de

requerer algo da empresa. As ações são mais pra melhorar o ambiente, pra

fazer o que precisa ser feito. As pessoas de fora não conhecem os projetos e

vejo que nem buscam procurar saber.”

“Não. Os projetos feitos não enfrentam problemas, eles são bem aceitos pelos

colaboradores. A sociedade não reclama, pois ela não interfere ou tem (sofre)

interferência dos projetos. A não ser o nosso grande projeto educacional, mas

é mais aqui na comunidade local”.

Pelo observado, uma vez que a comunidade não possui uma prática de interação com a

empresa, de interligação sobre necessidades ou problemas, não é possível manifestar com

maior intensidade, apesar de não ser impossível, uma reivindicação ou princípio de protesto.

Tanto é que a variável que explana a existência de projetos sociais como forma de mitigar

impactos negativos foi pouco discordada por 40% dos funcionários. Assim, a resposta reativa

acaba por não estar exprimida ou manifestada por isso.

“Não existe muita interação com a sociedade. Por isso não tem muita

reivindicação. As pessoas não reconhecem a importância do projeto

educacional feito, inclusive os funcionários não valorizam, o projeto era

discriminado por eles e só agora começa a gerar certa consciência, só agora

que ele está se consolidando. Ele não é tão divulgado porque há pouco tempo

pra isso. A sociedade não reconhece”.

A própria falta de abertura da Têxtil para um procedimento em que os funcionários

possam declarar suas opiniões acaba por ser um fator que inibe a existência do

comportamento reativo.

Já o comportamento defensivo obteve média um pouco maior de 4,28 e variação

menor de 29,2%, o que mostra uma concordância relativamente maior que o comportamento

anterior. De acordo com o observado, a ocorrência de desafios ou problemas não é um fator

que motive de maneira marcante o desenvolvimento de ações sociais, como também nem

sempre os problemas que ocorrem são sanados ou tratados por intermédio da adoção deste

tipo de comportamento. O que ocorre é que, analisando a frequência de reclamações recebidas

no departamento de recursos humanos, e observando a natureza e princípio das ações sociais

adotadas, nenhuma partiu da intenção para resolver de uma questão problemática ou para

evidenciar o trabalho com um desafio. Alguns funcionários questionados sobre se a empresa

assume o papel de atuante para a resposta a problemas, de alguma forma, tem essa opinião:

“Acho que não. Quando agente pensa em desenvolver um projeto, o

planejamento é feito procurando o melhor. Até hoje os problemas não

interferiram tanto nesse planejamento”.

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“Eu acho que o que é feito é mais como um incentivo e não pra resolver um

problema. É pra motivar as pessoas pro trabalho. Talvez os problemas

tenham influência no desejo de introduzir ações sociais aqui, mas acredito

que isso não é o motivo principal”.

Algumas atividades relacionadas a esporte, produção de conhecimento, culinária,

tratamento com drogas e inclusão de deficientes, que são os principais, não foram motivadas,

segundo observação, pelo surgimento de conflitos, falta de integração ou atividades

insuficientes no trabalho. Foram planejadas sob o ponto de vista da busca por inovação ou

incremento do trabalho realizado e não por soluções específicas que devessem ser trazidas ao

exercício das atividades. Com isso, a variável desenvolvimento de programas sociais para

evitar acidentes ou conflitos obteve 35% de pouca concordância.

A resposta acomodativa foi a mais observada pelos funcionários, isto porque sua

média foi de 5,60, e seu desvio padrão e coeficiente de variação respectivamente de 0,88 e

15,8%. Esse tipo de resposta está relacionado à adequação por parte da empresa às exigências

da opinião pública, do governo ou das necessidades prioritárias de agentes internos. Tem por

fundamento práticas estabelecidas e desenvolvidas na observância de aspectos reguladores

das empresas, menos voltados a iniciativas de cunho remediador. O desenvolvimento de

projetos apenas conforme as normas e legislação foi totalmente concordado por 55% dos

funcionários, mais da metade; e o atendimento de suas necessidades e expectativas por parte

da gestão foi pouco concordado por 45% deles.

Essa resposta, como também todas as outras, é o resultado de como a empresa se porta

em relação às respostas para com agentes internos e externos, seu posicionamento e reação

frente a requisições da sociedade, petições, postura dos funcionários, entre outros. Assim, de

acordo com o posicionamento da Têxtil e de suas relações com seus funcionários, a opinião

destes está mais relacionada ao comportamento acomodativo. As ponderações de alguns

funcionários entrevistados podem ser verificadas a seguir:

“Existem benefícios como convênio saúde, cesta básica, transporte e outros,

mas alguns colaboradores não vêem tanta vantagem nisso, e também eles não

se interessam em interagir mais fortemente com a empresa na busca de

soluções para o desempenho de um trabalho melhor”.

“As exigências legais são cumpridas, e existem algumas iniciativas que estão

além disso como as parcerias para os projetos de educação e aperfeiçoamento

profissional para os colaboradores. Mas não são todos os projetos que são

feitos por envolvimento próprio”.

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O comportamento pró-ativo foi visto pelos funcionários com uma frequência menor

que o último. Este comportamento está relacionado à disposição da empresa para agir de

maneira antecipada, como forma de antever qualquer questão que possa comprometer a

eficiente realização das atividades. Este tipo de resposta pode ser visto na Têxtil pelo seu

maior projeto social, o projeto educacional para jovens e adolescentes de baixa renda da

comunidade local. O projeto possui um caráter voluntário, apesar de não ser desenvolvido por

iniciativa própria, e relaciona-se à mitigação de uma série de problemas que podem afetar a

sociedade de forma direta e a empresa indiretamente. A erradicação do trabalho infantil, o

analfabetismo, o incentivo à cultura e a disponibilidade de uma orientação educacional e

profissional para as pessoas participantes do projeto designam-se como partes integrantes do

projeto. É possível afirmar que os funcionários da Têxtil observam este projeto como grande

influência positiva da sociedade, e este colocado pró-ativamente. Assim, 50% concordam

muito que a organização adota projetos contra erradicação do trabalho infantil, analfabetismo,

discriminação, incentivo à cultura ou outros, internamente ou na comunidade local.

Alguns funcionários falaram sobre o que acham dos projetos sociais feitos pela

empresa, conforme a seguir:

“(...) existem alguns projetos. Posso te dar o exemplo do que está sendo feito

agora como a Semana da Saúde Bucal que estamos realizando por iniciativa

própria da nossa dentista. (...) A prioridade da maioria dos nossos projetos é a

educação, esses fazemos por nós mesmos e com parcerias com algumas

instituições”.

“Nosso maior projeto social é voltado à educação de jovens e adolescentes de

baixa renda da comunidade. Podemos considerá-lo como contribuinte à

erradicação do trabalho infantil. Outros agente faz com parceria, como o que

é feito para dar aulas à colaboradores após o expediente de trabalho, para

aqueles que não podem estudar fora. A educação na verdade, ela trabalha na

forma de diminuir ou sanar vários problemas”.

Conforme o gráfico, 2,45% dos funcionários discordam um pouco que os projetos

sociais desenvolvidos estão além das expectativas de todos; esta afirmação comprova que,

ainda que os projetos tenham reconhecimento por parte dos funcionários, estes verificam que

as ações não superaram suas expectativas, o que poderia caracterizar um comportamento pró-

ativo.

Questionados sobre se há um planejamento empresarial relacionado com o

desenvolvimento de estratégias sociais e se existe um balanço social acessível à sociedade, os

funcionários explicitaram a não concordância com as duas afirmações.

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“O planejamento das ações sociais não está atrelado ao planejamento da

empresa. Existe uma pessoa responsável por verificar a viabilidades de todos

eles”.

“Não fazemos balanço social. A empresa planeja as ações, e principalmente

interage com o [principal parceiro]. O planejamento dos projetos é um pouco

diferente do planejamento econômico da empresa”.

O balanço social é um meio para divulgação e interação com os stakeholders de uma

empresa. A Têxtil poderia dispor desta ferramenta como informativo sobre sua forma de

realização de atividades sociais. Ela também não relaciona os projetos sociais dentro de seu

contexto econômico, ou seja, não reúne em meio aos seus objetivos empresariais prioritários a

iniciativa social.

Deste modo, a partir da análise dos comportamentos e respostas da empresa Têxtil, a

resposta acomodativa foi a mais citada, o que mostra que, segundo seus funcionários, esta

empresa possui respostas e aplica seus esforços por seu próprio turno, de acordo com o que

está requerido pela legislação, e levando em conta quando possível as opiniões de agentes

externos.

Por conseguinte, verificam-se quais as ações e programas explicitados no modelo

tridimensional a empresa está mais propensa a adotar no momento em sua relevância social.

4.1.1.3 Dimensão Ações e Programas de Responsabilidade Social

As ações e programas estão relacionados ao foco que uma empresa adota na prática de

ações sociais. Percebe-se que os funcionários apresentaram pontos de vista que caracterizam

opiniões parecidas entre as ações explicitadas no modelo, já que as médias referentes às ações

ficaram muito próximas. O gráfico a seguir evidencia a porcentagem de cada percepção dos

funcionários encontrada para as afirmações construídas para dimensão ações e programas.

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65,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

20,0%

0,0% 0,0%

5,0% 5,0% 5,0%

0,0% 0,0%

5,0% 5,0% 5,0%

50,0%

0,0% 0,0%

5,0%

20,0%

0,0%

5,0%

45,0%

15,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

10,0%

0,0%

35,0%

0,0% 0,0%

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15,0%

0,0%

20,0% 20,0% 20,0%

0,0%

5,0%

0,0%

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55,0%

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55,0%

25,0% 25,0%

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0,0% 0,0%

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5,0% 5,0%

0,0%

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0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

5,0%

20,0%

0,0% 0,0%

5,0%

0,0% 0,0% 0,0%

Consumo Consumo 2 Consumo 3 MeioAmbiente

Meioambiente 2

MeioAmbiente 3

Discr im Discr im 2 Discr im 3 Seg- Produto Seg- Produto2

Seg- Produto3

Seg-Trabalho

Seg-Trabalho 2

Seg-Trabalho 3

discorda totalmente discorda muito discorda pouco nem concorda/nem discorda concorda pouco

concorda muito concorda totalmente

Gráfico 3: Resultados da Dimensão Ações e Programas - Funcionários

Fonte: Dados da Pesquisa

LEGENDA:

Consumo - Consumo, consumo 2 e consumo 3

Meio ambiente - Meio Ambiente, meio ambiente 2 e meio ambiente 3

Discriminação - discrim, discrim 2 e discrim 3

Segurança do Produto - Seg- Produto, Seg-Produto 2 e Seg- Produto 3

Segurança do trabalho – Seg-Trabalho, Seg- Trabalho 2 d Seg- Trabalho 3

De acordo com o gráfico, é possível observar que os funcionários não concordam totalmente com praticamente nenhuma afirmação da

dimensão ações e programas. Algumas afirmações das ações de consumo e meio ambiente obtiverem opiniões significativas de que concordam

muito e a segurança do produto uma que concorda pouco.

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A tabela 9 mostra os valores encontrados mediante o gráfico:

AÇÕES E PROGRAMAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de

Variação (%)

CONSUMO 4,98 0,80 15,9

MEIO-AMBIENTE 4,15 1,0 24,2

DISCRIMINAÇÃO 4,03 1,37 34,0

SEG. PRODUTO 4,72 0,94 19,9

SEG. TRABALHO 2,88 1,14 39,5

Tabela 9: Valores Quantitativos para a dimensão Ações e Programas - Funcionários

Fonte: Dados da Pesquisa

A ação e programa consumo obteve a maior média dentre as ações destacadas no

modelo tridimensional: 4,98. Destaca-se também sua variação de 15,9% considerada de média

dispersão, e desvio padrão de 0,8. Esses resultados podem ser atribuídos à variável

modificação e/ou retirada de produtos após sua distribuição quando não adequados a clientes

ou consumidores com uma aceitação de 65%, e à variável adequada disposição de normas

técnicas dos produtos com uma aceitação de 45% de pouca concordância.

Uma vez que a ação e programa consumo obteve a maior média entre as ações, é

possível que a Têxtil esteja mais voltada em suas práticas sociais para o melhor

desenvolvimento do produto. Carroll, em seu artigo de 1979, exemplifica empresas que

optaram por modificar o produto mesmo após sua comercialização por avaliarem que ele não

satisfaria com eficiência as necessidades dos clientes, e caracterizou esta ação de consumo

socialmente responsável. A administração da Têxtil mostrou que possui a mesma intenção em

seu comportamento de venda, reafirmado por alguns funcionários. Entretanto, há que se

destacar se realmente este tipo de iniciativa caracteriza as ações e programas da organização,

ou seja, se estão colocados como foco de suas práticas sociais.

Os questionamentos que fizeram parte da intervenção qualitativa da pesquisa se

referiram a se a empresa transfere informações necessárias aos clientes sobre as informações

técnicas dos produtos, se busca inovações tecnológicas para estar de acordo com preferências

dos consumidores, e como se dá esse foco social.

“A empresa vende fios e tecidos naturais. Pela natureza desses produtos, os

requisitos para compra e venda não são tão complexos, mas a empresa

transfere essas informações. E qualquer produto em desconformidade com o

desejado agente procura agir rápido pra solucionar os problemas. Não, mas o

foco social acho que não é a venda e adequação do produto final, acho que é

só uma parte.”

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Conforme os próprios funcionários, a essência e a motivação das ações da Têxtil são

advindas da busca pelo seu bem estar e qualidade de vida no trabalho e, assim, a ação e

programa consumo não se trata do foco central da organização. Os resultados da média

ponderada, a qual se colocou como a maior dentre as ações destacadas e do coeficiente de

variação, que foi o menor, pode ser atribuída ao fato de que uma organização do porte da

Têxtil possui grande estrutura do ponto de vista da adequação de seus produtos às condições e

especificidades de seus clientes ou consumidores.

Em relação à ação meio ambiente, observa-se que a média foi de 4,15, um pouco

menor que a de consumo, e que o desvio padrão 1 e variabilidade de 24,2% caracterizou uma

média dispersão. Esses resultados corroboram com as opiniões dos entrevistados, pois a

variação de respostas foi relativamente média.

A questão legal foi evidenciada, a princípio, para saber se a Têxtil possui alguma

certificação ambiental ou sistema de gestão ISO 14000, ou selo verde – trato com reciclagem.

Não foi observada nenhuma preocupação ou iniciativa para sua obtenção. No entanto, alguns

funcionários manifestaram o entendimento de que aos poucos o sistema de gestão da empresa

começa a dar sinais de que está se adequando a uma certificação.

“Sim, nos últimos anos foi intensificado esse lado, pois antes não tinha tanto

cuidado. A visão ambiental está se consolidando e pretendemos introduzir um

ciclo PDCA nessa visão e planejamento ambiental. A água é quase que

totalmente utilizada e alguns resíduos são vendidos.”

A questão do tratamento de resíduos e efluentes líquidos, assim, não se coloca como

questões muito problemáticas ou que mereçam tratamento específico, segundo alguns

funcionários, pela natureza dos produtos fabricados. Provavelmente por isso, a empresa não

dê tanto destaque ao tratamento, exame e debate destes assuntos em seu âmbito interno. Daí o

fato de a variável „desenvolveu técnicas de melhoria da produção que reduziram a poluição ao

ambiente‟ ter obtido 55% de opinião nem concorda/nem discorda por parte dos funcionários

pesquisados. Apesar disso, 60% concordaram muito que a água e os resíduos da produção são

adequadamente dispostos ou reutilizados. Estas opiniões são advindas da mudança gradual

que acontece na organização relacionada à questão do meio ambiente. Observa-se melhor este

fator na afirmação a seguir:

“Sem dúvida as ações desenvolvidas aqui podem, de alguma maneira, ter

uma consequencia positiva na imagem da empresa. O processo de produção

não agride o meio ambiente. Temos uma ETE „estação de tratamento de

esgoto‟ estruturada principalmente por estarmos num complexo industrial. Os

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resíduos gerados são quase que totalmente biológicos; até a goma usada para

engomar o fio não agride nada. Tem uma lagoa para estabilização onde as

bactérias absorvem os restos da fabricação do fio e tecido. E temos um

processo de osmose reversa em que melhoramos a qualidade da água para ser

reaproveitada. O processo de produção também não emite gases tóxicos. Não

sofremos cobrança por parte da sociedade para diminuição de impactos.”

Pondera-se que os principais malefícios que podem ser oriundos da produção

industrial dos fios de algodão são mitigados ou não existem. Fica claro para os funcionários

que os resíduos são reutilizados, mas quando questionados sobre se a gerência se alinha a

ações como estudos de impacto ambiental, preservação de espécies, definição de áreas

territoriais a serem protegidas ou outros, as respostas foram um pouco diferentes. Confirmam-

se aqui as opiniões verificadas na variável desenvolvimento de técnicas de melhoria da

produção para redução da poluição. As seguintes respostas mostram como alguns

funcionários pesquisados viam o questionamento colocado:

“O foco ainda não está tão além. Atividades estão sendo feitas no presente

como forma de melhorar essas atividades pro futuro.”

“Acho que essas atividades não são muito focadas. Na verdade eu não sei se

ele foca. Não é divulgado pra todo mundo, eu não sei.”

Fica entendido que a ação e programa meio ambiente são considerados pelos

funcionários como existentes em parte na Têxtil, uma vez que apesar de uma adequada

administração de resíduos, esses funcionários não relacionaram o acontecimento de ações

ligadas ao desenvolvimento de programas de incentivo à preservação ambiental ou políticas

relacionadas, ou seja, o foco das ações sociais não está no meio ambiente.

Importante destacar que na ação e programa discriminação, houve grande coeficiente

de variação, o maior registrado nesta dimensão: 34 %, o que relata uma alta dispersão ou que

as opiniões encontram-se instáveis, heterogêneas. A média de 4,03 e o desvio padrão de 1,37

também confirmam em parte esta constatação. Verifica-se ainda na discriminação que esta

variação deu-se de maneira que 20% dos funcionários responderam que concordavam muito,

discordavam muito e nem concordavam e nem discordavam que este é o foco da empresa. A

variável igualdade de salários entre homens e mulheres obteve 45% de muita discordância,

enquanto que a variável ocupação de cargos de chefia independente da raça ou sexo obteve

variação de 10 a 25% em quase todas as respostas. 40% dos funcionários concordaram pouco

com a variável relativa à liberdade de escolha religiosa. Este resultado mostra a evidência de

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101

que a discriminação é vista pelos respondentes como uma questão problemática na empresa, e

que pouco tem sido feito para remediar esta situação.

“Os cargos de chefia são ocupados independente da raça ou sexo e os

benefícios também são distribuídos igualitariamente. Mas a questão dos

salários eu acho que é algo que ainda precisa melhorar.”

“Não tem igualdade, eu diria que os homens ganham mais. Acho que esse

problema existe em muitas empresas. É como se fosse uma questão de

cultura”.

Outros posicionamentos também foram verificados pelos funcionários, inclusive por

observação feita na Têxtil, que traduziram um descontentamento em relação a problemas no

diálogo com diretores, o qual já foi explicitado pela não existência de um procedimento

confidencial para reclamações e sugestões. Esses e outros fatores mostram que a adoção de

práticas de responsabilidade social deve partir da busca pela compreensão e conhecimento do

que pensam e necessitam os funcionários, e do diálogo consistente entre as partes. Reforça-se

que as ações adotadas, inclusive, poderiam ser melhor construídas na Têxtil, caso a questão da

discriminação fosse mais considerada.

A segurança do produto obteve 19,9% de variação nas respostas, caracterizando uma

média dispersão. A variável referente à disposição de informações técnicas para correta

fabricação dos produtos obteve 65% de pouca concordância, enquanto que o atendimento às

normas de excelência do padrão de qualidade do produto apresentou 40% de pouca

concordância. Dentre os investigados, 35% nem concordam nem discordam que existe um

planejamento coerente e eficaz de armazenamento, estoque, distribuição e venda. Este último

dado pode estar relacionado ao não conhecimento, pela maioria dos funcionários pesquisados,

das condições e correta distribuição da estrutura física necessária à fabricação dos produtos.

A média referente a esta ação foi de 4,72 e o desvio padrão de 0,94. Esta média mostra

um resultado além do valor mediano estabelecido pela escala de 1 a 7 do instrumento

quantitativo. A média pode estar atribuída às seguintes opiniões dos entrevistados:

“A qualidade dos fios é garantida. Apesar de não termos ainda nenhuma

certificação. Existe treinamento para a efetividade dos processos de produção

e com isso a qualidade do produto final.”

“Os funcionários são bem orientados. Temos uma estrutura de produção que

dá suporte aos colaboradores pra a correta fabricação dos produtos.”

Segundo os funcionários entrevistados, os produtos oferecidos são de qualidade e

apresentam um correto planejamento operacional. Entretanto, até pelos resultados

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102

quantitativos encontrados e pela análise das ações realizadas, não é possível visualizar a ação

ou programa segurança do produto como o foco de ações sociais da Têxtil.

O foco na segurança do trabalho foi desconsiderado por praticamente todos os

funcionários pesquisados. A média encontrada foi de apenas 2,88 e o desvio padrão e

coeficiente de variação respectivamente de 1,14 e 39,5%. Este último dado mostra alta

dispersão de dados, tendendo a uma heterogeneidade de respostas. As variáveis contempladas

mostram que 55% dos funcionários discordam pouco que existe treinamento e fiscalização

dos equipamentos de trabalho pelos funcionários, 65% discordam pouco que existe

fiscalização da infra-estrutura e 50% discordam totalmente que não houve acidentes nos dois

últimos anos nas operações do trabalho.

Esses dados mostram que a Têxtil enfrenta problemas no que se refere à segurança do

trabalho, pelo menos do ponto de vista dos funcionários, e que, consequentemente, o foco de

atuação social da empresa não está nesta abordagem. Algumas visões dos entrevistados

mostram que as principais questões conflitantes e problemáticas estiveram, no entanto,

maiores nos últimos dois anos, e que atitudes têm sido tomadas no sentido de sanar a falta de

treinamentos e o número de acidentes no trabalho.

“Os EPI‟s são fiscalizados e tem treinamento pra sua utilização. Acidentes

acontecem, mas nem sempre é culpa da empresa. O número de treinamentos

foi intensificado de um ano e meio pra cá e a quantidade de acidentes caiu

muito depois disso.”

“Tudo é bem sinalizado. Mas só esse ano que esse setor melhorou. Os

equipamentos existem, agente vê.”

Para os funcionários, o treinamento e a disposição de EPI‟s deveria ser mais rigoroso,

bem como o antigo número alto de ocorrência de acidentes reflete a existência de questões a

serem reconsideradas e trabalhadas no intuito de minimizar ou extinguir qualquer problema

relacionado.

Conforme a exposição das percepções dos funcionários acerca das ações e programas,

fica evidenciado que nenhum dos componentes desta dimensão é visto pelos pesquisados

como característico da empresa; e questionados sobre essa constatação, algumas pessoas

diretamente ligadas às ações sociais realizadas mostram que o foco das ações da Têxtil é o

bem estar dos funcionários, ou seja, a manutenção de um ambiente propício e favorável à

eficiente realização das atividades diárias. De fato, ações que têm o objetivo de promover o

lazer, informações sobre saúde, inclusão digital, ginástica, dentre muitas outras estão

realmente focadas no conforto dos que trabalham na organização e na promoção de um

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103

espaço favorável ao tratamento das necessidades humanas. É válido observar que Carroll

(1979) evidencia em seu modelo tridimensional que a dimensão referente a ações e programas

é passível ao estabelecimento ou introdução de áreas além e igualmente importantes por parte

das empresas ou pesquisadores quando de uma possível aplicação ou consideração do modelo,

os quais devem analisar cuidadosamente qual área é mais apropriada para a organização

recorrer no seu planejamento socialmente responsável.

Com isso, tem-se que a Têxtil tem o foco social nos funcionários, e que assim a parte

referente à dimensão ações e programas deve ser definida dessa maneira. A seguir, é possível

verificar a percepção dos funcionários conforme o cubo tridimensional de performance social:

Figura 13: Cubo Tridimensional – Percepção dos Funcionários

Fonte: Adaptado de Carroll (1979)

Observou-se que as interpretações e percepções dos funcionários podem ser

consideradas diferentes dependendo da atividade desempenhada na empresa. De fato, o

entendimento sobre responsabilidade social ainda não faz parte do cotidiano da organização,

nem os funcionários se apropriaram dele para tal.

Entretanto, esta é a visão dos funcionários. Outros pontos de vista e particularidades

de outros stakeholders devem ser observados.

4.1.2 Diretores

4.1.2.1 Dimensão Categorias de Responsabilidade Social

Para os diretores, a empresa está de acordo com os parâmetros financeiros

estabelecidos, bem como com os requisitos legais exigidos. A seguir, o gráfico 4 mostra os

resultados:

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100,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

25,0% 25,0%

0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

25,0%

50,0%

25,0%

0,0%0,0% 0,0% 0,0%

25,0%

0,0% 0,0% 0,0%

25,0%

0,0%

25,0%

0,0%

25,0%

0,0%

25,0% 25,0% 25,0%

0,0% 0,0%

25,0%

50,0%

0,0% 0,0% 0,0%

25,0%

50,0%

0,0%

50,0% 50,0%

0,0% 0,0%

25,0% 25,0%25,0%

0,0%

75,0%

0,0% 0,0% 0,0%

25,0%

50,0% 50,0%

25,0% 25,0%

0,0%

25,0%

0,0% 0,0% 0,0%

75,0%

100,0%

0,0%

25,0% 25,0% 25,0%

50,0%

0,0% 0,0%

50,0%

25,0% 25,0%

50,0%

0,0% 0,0%

50,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

75,0% 75,0%

25,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Econôm 1 Econôm 2 Econôm 3 Econôm 4 Legal 1 Legal 2 Legal 3 Legal 4 Ético 1 Ético 2 Ético 3 Ético 4 Disc r ic 1 Disc r ic 2 Disc r ic 3 Disc r ic 4

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda Concorda pouco Concorda Muito

Concorda Totalmente

Gráfico 4: Resultados da Dimensão Categorias - Diretores

Fonte: Dados da Pesquisa

Os valores da média aritmética, desvio padrão, coeficiente de variação e frequência de maior resposta calculados com base no gráfico são

explicitados a seguir:

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CATEGORIAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de

Variação (%)

ECONÔMICO 5,19 0,56 10,4

LEGAL 5,94 0,69 11,6

ÉTICO 4,63 1,05 22.6

DISCRICIONÁRIO 3,50 1,37 39.1

Tabela 10: Valores Quantitativos para a dimensão Categorias - Diretores

Fonte: Dados da Pesquisa

Observa-se que, do ponto de vista econômico, a maioria dos diretores concorda que os

compromissos estão sendo cumpridos com êxito, bem como os custos e as receitas geradas

são satisfatórias. A variável correspondente a transações comerciais satisfatórias para

fornecedores e parceiros obteve total concordância pelos pesquisados, enquanto que 50% nem

concordam nem discordam que a satisfação dos clientes é um indicador de desempenho do

negócio. Isto porque os produtos gerados estão sob os requisitos do cliente, quando alguma

especificação muda, o que é difícil dada a natureza da produção de fios e tecidos puros, a

empresa se mantém apropriada no mesmo momento. Mas, uma vez que a frequência de

mudança não é alta, possivelmente, de acordo com o observado, a prioridade não seja

relacionar os indicadores de desempenho à satisfação do cliente. Para o diretor entrevistado, o

qual é o principal responsável pelo planejamento e operacionalização das atividades sociais

adotadas, os investimentos feitos têm sido compensados, de acordo com suas próprias

palavras. Ele ainda comenta que a produção está num patamar nunca antes visto e que as

vendas têm se concentrado mais para clientes das regiões centro-oeste, sudeste e norte do

Brasil.

Os diretores que fizeram parte da pesquisa quantitativa confirmam estes resultados, já

que a média foi de 5,19; a variabilidade de respostas com baixa dispersão, com pouco mais de

10%, e o desvio padrão de 0,56. A metade dos pesquisados concordam muito que a empresa

está de acordo com os parâmetros econômicos.

Na categoria legal, os diretores percebem que a adequação é maior ainda, já que a

média foi de 5,94, e a variação apenas um pouco maior de 11,6%.

Observa-se nesta grande concordância que 75% dos diretores verificam a existência

das variáveis pagamento de impostos e tributos federal, estadual e municipais em

conformidade com a legislação que regulamenta a contratação de pessoal. Outros 50%

concordam muito que os produtos estão de acordo com as normas do código de defesa do

consumidor e 50% concordam pouco que a empresa procura se ajustar à legislação ambiental.

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106

Eles reiteram a opinião dos funcionários de que a legislação ambiental é cumprida e que

nenhum resíduo perigoso é lançado no ambiente, mas que ações no sentido de aprimorar este

tipo de consideração não são realizadas como objetivo central.

O diretor entrevistado opina que os benefícios dos funcionários e legislação são

garantidos, e que as ações desenvolvidas têm sim um cunho de adequação legal, mas que a

busca por resultados caracterizados como voluntários são considerados.

“Nesse sentido há total regularidade. Você pode ir nos Recursos Humanos pra

ver. Os impostos são devidamente pagos e os benefícios a empresa adota todos.

[...] Agente procura fazer como um plano de ações, que vão desde nossas

necessidades legais, mas também procuramos desenvolver o que pode trazer

mais satisfação aos funcionários, e isso se envolve também com projetos

voluntários. Hoje agente vai nos departamentos e procura ver os funcionários e

saber o que pode ser feito pela empresa e claro dentro de nossas

possibilidades”.

A Têxtil possui um departamento de controle da qualidade, o qual alguns dos seus

funcionários conhecem e participam das ações sociais que são lá desenvolvidas e controladas;

eles interagem com o principal parceiro no intuito de conhecer os projetos que podem ser

implantados de acordo com as características da organização. Junto com o parceiro, a empresa

analisa o que ela pode fazer e, por intermédio do diretor, os departamentos administrativos

conhecem essas iniciativas, como também conhecem as intenções por parte dos funcionários

do que pode ser feito como melhoria do ambiente de trabalho e estímulo a eles.

“Nós conhecemos os funcionários, sabemos a natureza de suas ações e o que

pode ser feito à eles no sentido de melhores perspectivas pro trabalho,

principalmente à longo prazo. Mas tem as perspectivas da empresa também,

tem o caminho a ser percorrido até chegar ao objetivo e acredito que estamos

no caminho”.

Essa opinião do gerente indica que, para ele, a empresa possui limitações para com o

desenvolvimento de maiores benefícios para os funcionários e situa-se ainda como aprendiz

no trato com questões sociais mais elaboradas e dirigidas apenas por recursos próprios.

A categoria legal, assim, foi validada também pelos diretores da organização como a

que mais se enquadra como foco e suporte para seus projetos. Apesar de sua proximidade em

termos de resultados quantitativos da categoria econômica ter sido expressiva.

Em termos de ética nas ações sociais e no desempenho da empresa, os diretores

consideram que o clima organizacional é propício à adoção de valores morais, ainda que a

necessidade de algumas ferramentas, como maior número de palestras informativas, só ter

sido minorada no último ano. A média das respostas obtida foi de 4,63, o que mostra uma

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107

percepção por parte dos diretores de que essa categoria é participante das ações da empresa.

Dentre eles, 50% concordam pouco e 50% concordam muito, respectivamente, com as

variáveis existência de um código de ética e cumprimento de suas normas, e existência de

respeito à integridade física e moral dos funcionários e clientes. A existência de um código de

ética de fato não há, conforme já evidenciado, entretanto, segundo o diretor entrevistado, os

funcionários são motivados à adoção de uma cultura de diálogo e ética, em um ambiente que

tem como suporte valores morais.

O coeficiente de variação de 22,6% mostra uma média dispersão, que evidencia que

os diretores possuem uma opinião relativamente similar, ou seja, a aplicabilidade, de fato, do

código de ética não existe e discussões em torno desses valores e princípios não são feitas na

prática, mas de uma maneira indireta e de interpretação intrínseca da cada funcionário.

A variável adoção de valores e princípios éticos foi relatada pelos diretores

pesquisados com 50% de nenhuma concordância ou nenhuma discordância. Nem sempre é

possível relacionar entre os hábitos intelectuais e práticos dos indivíduos realmente a

participação de componentes éticos, principalmente porque na Têxtil esses princípios não são

totalmente discutidos. A opinião do diretor confirme essas especificações.

“Sempre quando admitimos um novo colaborador, procuramos mostrar o

ambiente da empresa e inserir nele uma cultura de diálogo e ética, já que nosso

ambiente é favorável e adequado para o desenvolvimento dessa postura nas

pessoas. Até há um código de ética, mas ele não é utilizado e nem divulgado.

Isto é porque ele não está inserido na missão pois só agora estamos

desenvolvendo ela”.

Os diretores têm o entendimento de que a empresa está manifestando maior interesse

e conformidade com especificações éticas, no que concerne a procedimentos estruturados para

essa consideração.

De maneira discricionária, a organização estudada é vista, segundo seus diretores, de

uma maneira heterogênea. A variabilidade das respostas atingiu um valor de 39%, o que

corrobora uma alta dispersão. De fato, a Têxtil possui algumas características que dificultam

este tipo de posicionamento. A interação com a comunidade não ocorre com frequência,

apesar da realização do projeto educacional para jovens e adolescentes; e discussões entre

funcionários e diretores não são facilitadas pelo não desenvolvimento de ferramentas que

facilitem esse diálogo, como reuniões frequentes ou procedimentos para

sugestões/reclamações. Existem lacunas entre administração e funcionários que dificultam o

estabelecimento de ações voluntárias firmes e consistentes.

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108

A média de respostas a essa categoria foi de 3,5, ou seja, encontram-se na média da

escala de opiniões de 7 pontos. Segundo os diretores, a empresa adota em parte ou pode ser

caracterizada como discricionária apenas relativamente, dada sua percepção de que é

necessário haver ainda maior relevância sobre o que pode ser feito em busca de um número

maior de projetos voluntários em benefício dos funcionários.

“Temos sim algumas ações, que são feitas por nós mesmos. Mas a

responsabilidade social é mais abrangente e temos a consciência que

precisamos melhorar em muitos aspectos, principalmente na conscientização

de nossos colaboradores”.

Em relação ao fomento de projetos em benefício da comunidade, o diretor verifica

que a necessidade de interação com ela existe. É um problema recorrente porque o foco da

empresa são os funcionários.

“Nosso projeto educacional para jovens e adolescentes é um exemplo de

projetos para a comunidade. É uma ação voltada para formação técnica de

jovens. 90% de nossos técnicos têxteis foram formados pela empresa. Estamos

abertos para conversar com a comunidade, embora nem sempre isso aconteça

por uma falta de iniciativa de ambos. Mas a maioria dos projetos visam

proporcionar um melhor ambiente de trabalho pra os colaboradores, são

principalmente em benefício deles. Isso promove motivação. [...] Não temos

muito conhecimento das pessoas de fora, a interação não é grande mesmo a

empresa tendo uma cultura „de portas abertas‟. Acredito até que muitos têm

uma visão distorcida nossa. Até pelo fato de não haver grande divulgação por

parte da empresa das ações que ela faz. Na verdade não há mesmo a

consciência por parte da comunidade de interagir ou requisitar algo da

empresa. Porque nunca tomamos a iniciativa de organizar os dados e fazer um

balanço social”.

As ações sociais da empresa Têxtil são vistas por seus diretores como atuantes no

sentido de prover um melhor ambiente de trabalho aos seus integrantes. Podem ser

consideradas ações discricionárias, no entanto, para uma concordância maior por parte deles,

a organização necessita de maior planejamento, desenvolvimento e orientação para projetos

mais abrangentes, inclusive para obter uma certificação como a ISO 26000.

Os comportamentos e respostas da empresa segundo seus diretores podem ser

verificados no sentido de entender como isso pode ser feito.

4.1.2.2 Dimensão Comportamentos e Respostas de Responsabilidade Social

Os diretores não mostraram muita concordância ou até mesmo conhecimento acerca

das respostas ou comportamentos da Têxtil sobre sua responsabilidade social. O gráfico 5

mostra:

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109

100,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

25,0% 25,0% 25,0%25,0%

0,0%

75,0%

0,0% 0,0% 0,0%

50,0%

25,0%

50,0%

100,0%

25,0%

100,0%

0,0%

25,0% 25,0% 25,0%25,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

50,0%

0,0%

25,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

100,0%

0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Reativo Reativo 2 Defensi vo Defensi vo 2 Acomodativo Acomodativo 2 Pró-Ati vo Pró-Ati vo 2

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda

Concorda pouco Concorda Muito Concorda Totalmente Gráfico 5: Resultados da Dimensão Comportamento e Respostas - Diretores

Fonte: Dados da Pesquisa

Os valores encontrados mostram que houve grandes especificações de nenhuma

concordância ou nenhuma discordância em algumas variáveis dos comportamentos reativo e

defensivo. Entretanto, a grande e pouca concordância mostrou-se nas variáveis da resposta

acomodativa. A resposta pró-ativa obteve metade das opiniões a favor e contra sua colocação

na empresa. A seguir, têm-se os valores gerados pela análise dos dados:

COMPORTAMENTOS E RESPOSTAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de

Variação (%)

REATIVO 4,00 0,41 10,2

DEFENSIVO 3,63 0,25 6,8

ACOMODATIVO 5,00 0,70 14,1

PRÓ-ATIVO 3,25 1,05 32,3

Tabela 11: Valores Quantitativos para a dimensão Comportamentos e Respostas - Diretores

Fonte: Dados da Pesquisa

O comportamento reativo foi visto pelos diretores com certa homogeneidade de

respostas. Sua média de respostas 4 e o baixo desvio padrão e variação reafirmam esta

verificação.

Questionado sobre como a administração sofre influência e é motivada para o

desempenho de iniciativas sociais, o diretor reitera que a influência não é pelo acontecimento

de problemas, pela necessidade de solucionar conflitos internos ou externos, ou por produtos

fora de conformidade, pelo descontentamento de fornecedores, clientes ou parceiros.

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110

“Não. Acredito que os projetos são feitos como forma de melhorar a

realização do trabalho e de certa forma como consequencia evitar acidentes.

Agente tem que trabalhar de dentro pra fora, desenvolvendo tudo

primeiramente no âmbito interno. E aqui os conflitos não geram a

necessidade de fazer um projeto social, nem enfrentamos qualquer problema

que requisite isso”.

A variável a empresa desenvolve ações sociais depois de reclamações da comunidade

obteve 50% de nenhuma concordância ou nenhuma discordância, onde se entende que, ou a

sociedade não reclama, ou a empresa não se porta nesse sentido, ficando, a título de

observação, a primeira alternativa como sendo válida. Na variável os projetos sociais são

feitos para diminuir os impactos negativos que a empresa pode causar no ambiente, todos os

diretores pesquisados têm a mesma percepção de que nem concordam e nem discordam.

Na empresa pesquisada, as redes de relacionamentos estabelecidas entre os agentes

não mostram que existe ou existiu em períodos anteriores interferências relevantes que

requisitassem ações remediadoras. Por isso, os diretores entendem que a organização

pesquisada não pode ser caracterizada como tendo o tipo de resposta reativa.

Do ponto de vista defensivo, os diretores mostram menor concordância que o primeiro

comportamento, uma vez que, pela análise do gráfico, todos eles nem concordam nem

discordam que projetos sociais são desenvolvidos como forma de evitar conflitos, já que a

demanda, os funcionários ou outros não apresentam questionamentos suficientes para tal.

Na verdade, o conhecimento sobre conceitos de responsabilidade social e sobre os

projetos da empresa são dificultados pela não existência de certificações, balanço social e pela

pouca iniciativa dos atores externos de comunicação com a empresa. Também, a quase total

conformidade com aspectos de ordem legal pela Têxtil e a natureza de seus produtos (a

produção de fios e tecidos naturais) não facilita ou não requer uma postura ou comportamento

defensivo. Não é que ela não enfrente problemas, conforme comentários do próprio gestor,

mas estes não se traduzem em manifestações ou questões que motivassem ou necessitassem

de tal resposta.

A média de 3,63 próxima da escala mediana de valores estabelecidos e a baixa

dispersão de dados de 6,8% mostram que o nível de opinião entre os gestores é bem parecido.

O desvio padrão também foi um dado pequeno, de apenas 0,25. Observa-se, com isso, que os

resultados quantitativos corroboram os dados de natureza qualitativa, em que 62,5% dos

gestores nem concordam nem discordam que a empresa possui uma postura defensiva.

No comportamento acomodativo, a média de respostas foi de 5,00 e o desvio padrão

de 0,70. A variação mostrou uma proximidade de opiniões de 14,1%. Possivelmente esta

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111

percepção se deu pelo fato de que, analisando a natureza das ações abordadas, e não deixando

de evidenciar a intenção da empresa de considerar as necessidades de seus funcionários no

fomento de projetos sociais, constata-se que a maioria delas está mais voltada a este tipo de

resposta. A Têxtil não utiliza sua estrutura de varejo para promover ações que repercutam ou

dêem maior visibilidade a causas sociais, ou destaca-se com distintas parcerias para iniciativas

do governo ou de outros agentes na comunidade a qual se insere. O desenvolvimento de

cooperativas que trabalhem com meio ambiente – reciclagem –, agricultura ou projetos de

outra natureza também não é evidenciado. No entanto, a opinião pública, o governo ou os

próprios funcionários não se manifestam sobre essas questões, o que leva a empresa a crer que

as iniciativas de responsabilidade social por ela desenvolvidas não interferem ou estão na

ordem de observação desses stakeholders.

Todas essas verificações servem de suporte para que os gestores pesquisados vejam

que as respostas da Têxtil são ou estão caracterizadas como acomodativas. Ressalvando-se

aqui o investimento feito no desenvolvimento social e comunitário por meio da qualificação

educacional de jovens proporcionada pela empresa.

“São cumpridas as exigências legais, mas também existem alguns próprios.

Quase todos os projetos em parceria são de obrigatoriedade da empresa. Eles

buscam a melhoria da qualidade de vida dos recursos humanos, dar uma

influência positiva”.

As variáveis referentes a este comportamento obtiveram 100% de muita concordância

e 50% de pouca concordância, respectivamente, em desenvolvimento de projetos apenas

conforme as normas e legislação, e atendimento das expectativas e necessidades dos

funcionários e opinião pública por parte do sistema de gestão.

Em termos de pró-atividade, a empresa, segundo seus diretores, não possui as

possibilidades e requisitos ainda para cumprir tal papel. A média de respostas foi de apenas

3,25 e sua variabilidade foi alta: 32,5%. A falta de uniformidade nas respostas deve-se ao fato

de que, mesmo sem o foco direcionado no planejamento de ações que tenham o objetivo de

antecipar-se aos problemas, a organização desenvolve um grande projeto educativo, de cunho

abrangente, que por si só já consegue aos poucos sanar questões problemáticas de diversas

especificidades.

“Nosso maior projeto social envolve um grande número de colaboradores. Os

professores são funcionários da própria empresa e com essa iniciativa

acreditamos poder erradicar também problemas de outra natureza na

comunidade. Temos outros grandes projetos em parceria também, até pela

nossa necessidade de querer desenvolver algo além de nossas possibilidades”.

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112

Para o diretor, a empresa não tem uma cultura de anteceder-se ou não enfrenta

exigências, obrigações ou necessidades que justifiquem e requeiram ações antecipadas. 25%

dos pesquisados concordam pouco e nem concordam nem discordam que os projetos sociais

desenvolvidos estão além das expectativas de todos. A forma como a Têxtil se porta frente

aos projetos a caracteriza como um ator “principiante”, que firma o caminho do

desenvolvimento de ações sociais de maneira lenta. Há dez anos a empresa implantou a

primeira ação social, e desde lá planeja e adota projetos que visam melhorar a saúde dos

funcionários com testes de glicemia; promover o lazer com circuitos de beleza, caminhadas

ecológicas, projetos musicais, culinários e esportivos, todos estes em parcerias com outras

instituições. No entanto, não foram suficientes como suporte para projetos mais abrangentes e

que pudessem ser motivadores para a criação de um balanço social.

Na variável existência de planejamento empresarial relacionado com as estratégias

sociais, 50% dos pesquisados discordaram pouco de sua existência.

“O planejamento estratégico da empresa não está sendo feito em conjunto

com ações sociais. Elas são desenvolvidas em concordância, claro, com os

objetivos da empresa”.

Nota-se que a organização ainda não visualizou o planejamento e realização de

projetos sociais, a responsabilidade social, como algo intrínseco à empresa. Inicialmente ela

utilizava projetos isolados, e com o passar do tempo procurou integrar mais projetos feitos e

dispor o departamento de qualidade para a finalidade. Entretanto ainda não existe uma relação

direta de tais projetos com o planejamento estratégico. Assim, o entendimento dos diretores é

compatível com a realidade da organização.

Na adoção de uma postura pró-ativa, uma organização ou instituição não utiliza

iniciativas que objetivem mitigar possíveis impactos negativos causados no ambiente ou

comunidade, já que ela age de forma a prevenir os impactos. O diretor do departamento de

qualidade acredita que a antecipação aos acontecimentos não ocorre porque não existem

acontecimentos que requeiram tal comportamento.

“Não concordo tanto com essa afirmativa, não é que existam impactos

negativos. Os projetos não são para que os problemas não aconteçam, o

objetivo não é esse. Agente tem referências de iniciativas, e buscamos

adequar os melhores projetos às necessidades daquele momento. Mas nosso

objetivo é cada vez mais nos aperfeiçoar e sermos a referência”.

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113

Os diretores têm facilidade no acesso a informações, bem como participam mais

ativamente do que é construído pela empresa; nesse sentido, seu entendimento e percepção

estão relacionados tanto ao que acontece de fato, quanto às particularidades que envolvem a

adoção dos comportamentos. Para eles, a Têxtil torna-se acomodativa no momento em que

não toma iniciativas para remediar impactos porque eles não acontecem numerosamente e

porque os problemas que podem acontecer não inferem uma perspectiva reativa ou defensiva.

Os projetos visam promover o bem estar dos funcionários proporcionando a eles o que deve e

pode ser feito.

4.1.2.3 Dimensão Ações e Programas de Responsabilidade Social

As percepções dos diretores acerca das ações e programas foco de RSE não se

mostraram uniformes. Esta dimensão, conforme já verificado, possui entendimentos distintos

porque existem vulnerabilidades em cada uma de suas ações e estas não se tratam diretamente

de assuntos foco ou área de abrangência da empresa pesquisada.

O gráfico 6 explana, na escala de valores adotada, as opiniões dos pesquisados.

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25,0%

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Consumo Consumo 2 Consumo 3 MeioAmbiente

MeioAmbiente 2

MeioAmbiente 3

Disc rim Disc rim 2 Disc rim 3 Seg-Produto

Seg-Produto 2

Seg-Produto 3

Seg Trab Seg Trab 2 Seg Trab 3

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda Concorda pouco

Concorda Muito Concorda Totalmente

Gráfico 6: Resultados da Dimensão Ações e Programas - Diretores

Fonte: Dados da Pesquisa

O gráfico mostra que não houve concordância total em nenhuma das ações, apenas a muita concordância se deu em variáveis das áreas de

segurança do produto e segurança do trabalho. É válido ressaltar que as áreas de meio ambiente e discriminação obtiveram opiniões conflitantes e

distintas, acarretadas por lacunas existentes entre as informações que são disponibilizadas na própria organização. Itens que serão melhor

expostos em suas respectivas seções.

A seguir, têm-se os dados resultantes da pesquisa com os diretores.

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AÇÕES E PROGRAMAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de

Variação (%)

CONSUMO 5,08 0,55 10,8

MEIO-AMBIENTE 3,92 0,50 12,7

DISCRIMINAÇÃO 4,58 1,43 31,2

SEG. PRODUTO 5,00 1,04 20,8

SEG. TRABALHO 4,58 0,65 14,2

Tabela 12: Valores Quantitativos para a dimensão Ações e Programas - diretores

Fonte: Dados da Pesquisa

A partir da tabela 12, é possível verificar que a ação consumo foi a que obteve maior

média, com 5,08, e menor variabilidade de dados, de 10,8%. Isto implica em uma

concordância quase que geral por parte dos diretores desta ação como foco da empresa. A

variável modificação e/ou retirada de produtos após sua distribuição quando não adequados a

clientes ou consumidores ficou com uma grande concordância, de 50%; a disposição de

normas técnicas com pouca concordância, de 75%, e a variável realização de pesquisas de

mercado com 50% de pouca concordância. A análise destas variáveis permite constatar que a

organização é bem estruturada do ponto de vista da construção de produtos adequados e da

utilização deles pelos clientes e consumidores. Dada as características da cadeia logística e

comercial da organização (cadeia estruturada de comunicação com fornecedores e

distribuidores), de uma quantidade significativa de clientes (a Têxtil é uma das principais

vendedoras do Estado que se situa) e o formato de seus produtos (produtos que não sofrem

com mudanças sazonais ou frequentes modificações nas preferências dos clientes), os

requisitos para um adequado consumo tornam-se possíveis, indispensáveis e necessários.

O diretor, questionado sobre como se dá o processo de interação com o cliente e a

disposição das informações técnicas dos produtos, reiterou a conformidade com as

especificações.

“Estamos abertos para discussões com clientes, até porque, parte do nosso

produto vai pra outra filial aqui do mesmo Estado. E temos também

(empresas) em muitos outros lugares do Brasil. Posso dizer que nossa relação

é muito boa. Os requisitos técnicos são sim revistos e dispostos por nós nos

produtos finais. Essa uniformidade é cautelosamente resguardada. O código

de defesa do consumidor é disponibilizado por nós a qualquer pessoa”.

Verifica-se uma evidente consideração de aspectos relacionados à estrutura de

consumo dos produtos da empresa. Esta preocupação está relacionada a todo um cuidado

gerado para as relações verticais e horizontais entre os componentes da cadeia, expressos pelo

gerente e passíveis à observação não participante frente à pesquisa com outros stakeholders.

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116

Para os gerentes pesquisados, a organização toma uma postura à frente no que se

refere ao consumo, mas não pode ser caracterizada, dessa maneira, como tendo uma ação ou

programa empresarial social sustentado nesse foco. É válido ressaltar a natureza legal advinda

destas questões, já que especificações técnicas e normativas são solicitadas ou exigidas por

lei. Para a adoção de um foco relacionado ao consumo, seriam necessárias atitudes

fundamentadas no desenvolvimento, teste e aplicação de novos produtos, pesquisas com

consumidores, modificação de estratégias frente a novas demandas, diferentes estruturas de

marketing, relações diretas com consumidores para promoção de campanhas na comunidade,

entre outros; fatores estes que não são salientados pela administração da empresa dada as

características de seu produto e logística.

A atenção para o meio ambiente é vista como permanente pela alta administração, uma

vez que para eles a empresa está percorrendo um processo de mudança para maiores níveis de

consideração ambiental. A média de respostas foi de apenas 3,92, já que os diretores

entendem que o processo é lento, e o desvio padrão de 0,50 e coeficiente de variação de

12,7% aponta para opiniões uniformes.

Pela existência de um caminho a ser percorrido, os diretores não acreditam que o foco

social é o meio ambiente. Apesar de uma estrutura consolidada no que se refere à reutilização

de insumos da produção e não degradação e poluição ao ambiente, a variável referente às

iniciativas relacionadas a estudos de impacto ambiental obteve 75% de nenhuma

concordância e nenhuma discordância. Essa inferência é advinda do fato de que realmente não

existem essas iniciativas, mas que a empresa mostrou significativo interesse em abordar e

trabalhar estes aspectos. A variável referente à existência de certificação ambiental obteve

75% de pouca discordância, atribuída ao fato de que certificações como a ISO 14001 – a qual

certifica o sistema de gestão ambiental – não existem ainda na empresa. A variável referente

ao desenvolvimento de técnicas para redução da poluição ao meio ambiente mostrou uma

pouca concordância de também 75%. Esta última, colocada como questionamento ao diretor

entrevistado.

“Reutilizamos a água para produção e os resíduos do algodão (gerados) não

são prejudiciais à natureza. Estamos de acordo com as normas da SUDEMA.

A água é tratada numa estação de tratamento dentro das suas normas, e existe

fiscalização em relação à este aspecto”.

De fato, em relação aos agentes internos da organização, percebe-se um

entendimento favorável em relação ao trato com questões ambientais. Muitos estão de acordo

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117

que a poluição do ar gerada é pequena, bem como a gestão de insumos é eficiente. A

relevância de projetos sociais que estejam além destas áreas é que se tornam ainda

insuficientes.

“Nosso maior foco está na diminuição dos impactos ambientais, isso estamos

fazendo. Não chegamos ainda na fase de estudos de maior abrangência ou de

áreas específicas”.

Isto implica no entendimento de que o trabalho com as questões ambientais é feito de

forma a garantir que os possíveis impactos gerados sejam mitigados, e que estudos

abrangentes como preservações de áreas territoriais ou de impacto ambiental não são

verificados. Com isso, a ação ambiental pode ser considerada existente na Têxtil, porém, não

como foco ainda de sua área de interesse e programas desenvolvidos no presente.

A área discriminatória apresentou uma média de 4,58 e uma alta variação ou dispersão

de respostas de 31%. Essa opinião difere um pouco da opinião dos funcionários, que

mostraram uma discordância bem maior nesse quesito. 50% dos diretores acreditam que há

igualdade de salários entre homens e mulheres, diferentemente da não concordância dos

funcionários; e 25% concordam totalmente, concordam muito e nem concordam nem

discordam que as pessoas ocupam cargos de chefia independente da raça ou sexo. A variável

referente a não existência de barreiras à contratação de pessoas com mais de 45 anos de idade

ou por outra razão foi vista com 75% de nenhuma concordância e nenhuma discordância.

Possivelmente o que acontece é que não existe uma relação direta de contratação de pessoas

com essa idade pela organização.

“Não há qualquer tipo de exclusão, inclusive faz parte do foco de nossos

projetos sociais a inclusão de deficientes físicos. Sim, os salários são

igualitários e existe o cuidado de manter os relacionamentos com todos os

envolvidos, respeitando suas individualidades. E procuramos trocar

experiências, queremos ter um papel importante tanto no mercado quanto

aqui dentro”.

As atitudes tomadas pela administração são percebidas pelos gerentes como oportunas

do ponto de vista do impedimento de condutas que levem à discriminação no âmbito da

empresa. No entanto, estes pontos de vista não foram verificados nos funcionários, já que

estes consideraram a existência de diferenças relacionadas ao sexo no que tange aos salários

pagos. Assim, os gerentes julgam que a empresa está apropriada do ponto de vista do foco

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118

social na discriminação, mas como a média de respostas do programa anterior de consumo foi

maior, esta não pode ser considerada, então, centro de atenções da empresa.

A ação ou programa segurança do produto obteve significativa concordância por parte

dos pesquisados, já que a média de respostas foi de 5,00 e o desvio padrão de 1,04. A

dispersão de respostas foi média, de 2,08%. Todos os diretores concordam muito com a

variável referente à manutenção de um ambiente sanitariamente adequado para produção e

estoque, se apresentando aqui o primeiro consenso. A variável que se define como o

atendimento de normas de excelência do padrão de qualidade do produto teve 75% de pouca

discordância, mas mostra também que do ponto de vista dos pesquisados os produtos têm

garantia de qualidade. 50% concordam muito que existe um planejamento coerente de

materiais, estoque, distribuição e venda. Todas estas condições pesquisadas levam ao

entendimento de que a empresa está adequada, na opinião de seus gerentes, às condições

requeridas para a fabricação de produtos seguros.

O gerente entrevistado corrobora as opiniões relatadas ao mencionar que o ambiente

de trabalho neste sentido é totalmente resguardado. Existem inclusive campanhas feitas

internamente para conscientização da manutenção de um ambiente limpo e calmo para o

trabalho; essas campanhas, segundo o gerente, visam proporcionar maior educação para a

criação de uma cultura de ajuda e cooperação mútua no desenvolvimento das atividades

diárias; as fábricas dispõem cartazes, avisos de segurança, e se colocam à disposição para

esclarecimentos e dúvidas. Daí a média de respostas ter alcançado um dos maiores valores

entre as ações e programas apresentados.

“As especificações para fabricação são claras e apresentadas para os

funcionários no momento da contratação. Os treinamentos referentes à essas

especificações são constantes. E agente procura manter um ambiente aberto

para que os colaboradores venham até nós e se sintam à vontade para

trabalhar”.

A segurança do produto também é especificada pelos diretores com eficiente gestão

por parte dos responsáveis. Indicadores de desempenho das atividades estão sendo criados

para dar suporte para a construção de melhores e mais eficientes níveis de produção.

Este programa obteve média muito próxima à média do programa consumo, e pode

ser visto, segundo alguns gerentes, como foco de atuação social. Mas ainda está pouco abaixo

do foco consumo, e por isso não foi especificado uniformemente e de maneira consensual sua

aplicação na empresa.

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Em relação à segurança no trabalho, as opiniões foram um pouco heterogêneas. A

média de respostas foi de 4,58 e o desvio padrão foi baixo, de 0,65. A variação esteve em

torno de 14%, mostrando-se baixa. Os gerentes entendem que a empresa tem se aperfeiçoado

neste ponto nos últimos anos, mas que necessita ainda de melhorias do ponto de vista de

maior reconhecimento e participação dos funcionários. Dentre os pesquisados, 75%

concordam muito que existe treinamento e fiscalização da utilização dos equipamentos de

trabalho pelos funcionários. A fiscalização da infra-estrutura de modo a impedir danos à

saúde dos funcionários obteve 75% de pouca concordância. Mas uma questão a discutir é que

50% deles discordam muito que nos últimos dois anos não houve acidentes com os

funcionários nas operações do trabalho.

Este último quesito vem sendo mais abordado no âmbito administrativo, os

treinamentos têm aumentado significativamente devido a estatísticas um tanto altas de

acidentes no trabalho. No ano de 2007, essas estatísticas aumentaram relativamente em

relação a anos anteriores. Mas esse fator se deu devido o número de treinamentos ter caído.

Por isso, esta ação ou programa social não pode ser considerada como ponto de atenção da

empresa. Até porque, certificações como a OHSAS 18001 referentes ao sistema de gestão de

saúde e segurança no trabalho não existem e ainda falta a conformidade com muitos requisitos

para que possa existir.

Questionado sobre se a empresa mantém equipamentos de proteção física para

funcionários e orienta para prevenção de acidentes, mantendo a área sinalizada, o gerente diz

que acidentes acontecem ou têm acontecido, mas tudo dentro de padrões normais.

“A questão da segurança do trabalho tem melhorado muito. Nos últimos anos

os treinamentos foram intensificados e o número de acidentes diminuiu.

Ainda assim acontecem incidentes, mas tudo dentro dos padrões normais”.

Dentre as ações destacadas, verifica-se que os diretores têm maior concordância com o

foco consumo, observando os valores encontrados. No entanto, conforme já especificado, eles

não indicam que o foco social e as principais ações adotadas estão em consonância com um

caráter relacionado ao consumo, já que para isso seria necessária uma abordagem mais

abrangente e planejada. Assim, em concordância com os outros funcionários, os diretores

acreditam que o centro de atenção social seria também os funcionários e a manutenção de um

ambiente com melhores condições para o trabalho. É possível observar a percepção dos

diretores conforme o cubo a seguir:

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Figura 14: Cubo Tridimensional – Percepção dos Diretores

Fonte: Adaptado de Carroll (1979)

O entendimento e percepção dos gerentes são mais favoráveis à organização que as

opiniões dos funcionários. No entanto, os gerentes têm acesso e disponibilidade de

informações distintas sobre a empresa, em maior quantidade e frequência que os outros

funcionários. Daí entendimentos em alguns momentos conflitantes. Comprova-se que as

percepções estão de acordo com a realidade da organização, que necessita de ajustes e

maiores recursos para uma abrangente consideração da responsabilidade social.

É válida a observação e análise de constatações de agentes externos à empresa, os

quais possuem conhecimentos e informações também distintas e obtidas de outras fontes.

4.1.3 Fornecedores

Os fornecedores pesquisados, os quais tinham conhecimento das ações sociais

realizadas e características da Têxtil, não mostraram de fato que a gama de informações tidas

era ampla. A maioria não conhece com maior intensidade os projetos realizados. Sabem

apenas sobre o educacional, que é o maior, e de onde parte o interesse da empresa de construí-

los. Relatam também que a sociedade não é participante ativa na construção das ações e que

não interfere, deste modo, com qualquer participação. Para eles, os problemas que podem

surgir são solucionados no âmbito interno à empresa e, com isso, as principais ações sociais

são fundamentadas e visualizadas melhor por parte dos agentes internos.

4.1.3.1 Categorias de Responsabilidade Social

O gráfico a seguir dá uma ideia de como é o entendimento dos fornecedores em

relação à dimensão categorias da responsabilidade social.

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Econôm Econôm 1 Legal Legal1 Ética Ética1 Disc ri c Di sc ri c 1

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda

Concorda Pouco Concorda Muito Concorda Totalmente Gráfico 7: Resultados da Dimensão Categorias - Fornecedores

Fonte: Dados da Pesquisa

Observa-se que, em algumas variáveis, houve 100% de muita concordância como nas

categorias econômica e discricionária; e na categoria legal, houve 100% de concordância total

na segunda variável. Isto mostra que possivelmente, segundo os pesquisados, há a existência

de alguma categoria do modelo tridimensional na responsabilidade social da Têxtil.

Os valores obtidos pela pesquisa quantitativa mostram, a seguir, a percepção dos

fornecedores.

CATEGORIAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de Variação (%)

ECONÔMICO 5,75 0,36 6,2

LEGAL 6,25 1,06 16,9

ÉTICO 4,75 1,06 22,3

DISCRICIONÁRIO 5,00 0,71 14,2

Tabela 13: Valores Quantitativos para a dimensão Categorias - Fornecedores

Fonte: Dados da Pesquisa

A partir dos dados, observa-se que a categoria econômica obteve significativa

concordância, e que os fornecedores avaliam como existente este tipo de caráter na empresa.

Produtos com qualidade e que atendem eficazmente aos requisitos dos clientes foram

analisados positivamente como integrantes da organização, como também a adequação dos

preços ao poder de compra desses clientes. A média de respostas esteve perto de 6 e a

oscilação dos dados de 6,2% mostram que as opiniões não são divergentes, mas que

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122

encontram-se todas entre as escalas de maior concordância. A estrutura econômica é, também

segundo os entrevistados, propriamente consolidada na Têxtil.

“Os produtos são de ótima qualidade, posso te dizer que o maior concorrente

da empresa está perdendo mercado. O produto não é final, ainda vai passar

por outras fases do processo produtivo, mas o que é gerado é adequado em

relação ao preço”.

Em meio a um grande número de clientes e fornecedores, como também de

consumidores, e conforme já pontuado anteriormente, é natural que a organização seja vista

como eficiente do ponto de vista econômico, dado seu porte e características de mercado.

Os fornecedores também têm uma visão positiva em relação à existência de ações

sociais estruturadas e mais voltadas para requisitos legais. A maior média entre as categorias

mostrou uma quase que total concordância pelos fornecedores, 6,25, e a baixa dispersão de

respostas de praticamente 17%. Os fornecedores afirmam que os produtos estão de acordo

com as normas do código de defesa do consumidor e que não há o conhecimento do

descumprimento de normas legais. Essas variáveis tiveram respectivamente, 50% e 100% de

total concordância. Em relação aos fornecedores entrevistados, eles mencionam que

conhecem muitas atividades de responsabilidade social desenvolvidas em benefício das

famílias dos funcionários, e que elas têm um caráter legal, já que a maioria são fundamentadas

na busca pela adequação a exigências regulamentais.

“[...] as famílias dos funcionários participam de muitas semanas

comemorativas em prol da segurança do trabalho, saúde, assistência social,

acompanhamento psicológico, e muitos outros”.

Os fornecedores entrevistados verificam a natureza legal das atividades sociais pela

empresa realizadas.

“Não conheço bem todas as iniciativas desenvolvidas. Mas acredito que não

são muitas voluntárias, pois agente nem tem conhecimento. Na verdade, não

existe o hábito aqui pelas empresas da localidade de adotar uma postura de

responsabilidade social, muitos nem sabem o que é isso. Nem também as

pessoas valorizam o que pode ser feito. Acho que essas coisas dificultam

quando alguém decide, assim, ser socialmente responsável. Pra isso precisa

de apoio interno e externo à fábrica”.

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123

Para os fornecedores considerados tanto na pesquisa quantitativa como na pesquisa

qualitativa, a organização estudada trabalha sob pré-requisitos de natureza legal. E as

atividades sociais por ela realizadas têm muito mais um cunho regulamental que uma natureza

discricionária, devendo-se ressalvar que os fornecedores não conhecem minuciosamente os

projetos feitos, e que as informações que possuem foram, segundo eles, todas originárias ou

obtidas pela própria empresa.

A categoria ética foi vista por eles com menor aplicabilidade na organização, mas

ainda assim obteve concordância, com 4,75 de valor médio e uma média dispersão de pouco

mais de 22%. A não existência de um código de ética pode acarretar numa consequente

dúvida da aplicação de princípios éticos, e este fato pode ter dado a esta categoria 50% da

opinião nem concordância nem discordância pelos pesquisados. 50% deles concordam muito

que o respeito à integridade física e moral de clientes é uma prática constante na empresa. E

alguns deles, também 50%, concordam pouco com a existência de um código de ética.

Eles manifestaram ainda o não conhecimento sobre o descumprimento de valores

éticos e morais, os quais devem ser, de acordo com a categoria ética, os arraigados e

integrantes aspectos partes da cultura empresarial, que devem ser existentes para o adequado

ambiente de trabalho. Questionados sobre se a organização desenvolve alguma atividade na

comunidade que influencia beneficamente os costumes, deveres e modo de proceder das

pessoas na comunidade, ou até mesmo no âmbito interno, um entrevistado mostrou que

acredita na abertura da empresa para procedimentos éticos, e ainda que:

“Conheço o [projeto educacional], sei que é um programa para formação de

jovens e adolescentes bastante abrangente. A maioria dos projetos tem

parceria e alguns são de iniciativa própria”.

A visão dos fornecedores sobre o posicionamento ético da empresa é bem divergente

da opinião dos funcionários, já que estes apontam para a necessidade da empresa de maior

abertura para tratamento de suas questões particulares e problemáticas que estejam

relacionadas mais diretamente ao seu ambiente de trabalho, e também maior disponibilidade

de cursos ou palestras sobre o tema ética. No entanto, os fornecedores acreditam que a

organização, conhecida regionalmente, possui toda uma estrutura baseada em valores éticos, e

que seus funcionários trabalham totalmente mediante esses princípios.

Na categoria discricionária, as opiniões foram bem homogêneas, com pouco mais de

14% de variação e média 5. O desvio padrão de 0,71 também mostra percepções em

consonância umas com as outras. Todos os entrevistados concordam muito que a empresa

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124

desenvolve projetos educacionais ou ambientais na comunidade a qual se insere, e 50%

concordam pouco que ela promove campanhas voltadas para melhoria da qualidade de vida

das pessoas da região e se mostra aberta em atendê-los.

De fato, a abertura com a comunidade para este tipo de iniciativa é pouco observada,

conforme já especificado, por seu déficit de conhecimento sobre responsabilidade social e sua

pouca iniciativa de interagir com a empresa. Esta última demonstra ainda pouca intenção para

promoção de um balanço social ou para abertura de institutos ou mecanismos do tipo para

diálogo com a comunidade.

Questionados sobre se sabem da existência de projetos para melhoria da qualidade de

vida das pessoas da comunidade ou se a empresa se mostra aberta para solucionar possíveis

problemas existentes, os fornecedores mostraram o conhecimento sobre o projeto educacional

realizado.

“Sim, ela tem campanhas mas não sei te falar como funcionam. [Então, ela

não divulga?] Acho que a divulgação não é tão organizada, mas já vi cartazes

e a [pessoa responsável pelo desenvolvimento dos projetos] já me falou

sobre eles. A parte ambiental não é tão trabalhada, ou pelo menos não tenho

conhecimento à fundo. Sei que eles tem uma escola dentro da empresa. [...]

Não acho que a empresa sofre pressões da comunidade, não existe essa

cultura”.

“Desconheço a maioria dos projetos, não posso citar nomes. Mas sei que são

iniciativas sociais, que não se tratam de marketing institucional, até porque

não existe divulgação pra nós fornecedores sobre essas ações. Sei da

existência de projetos educacionais”.

As ações de cunho discricionário acabam por se tratar, segundo os fornecedores, do

projeto educacional feito para jovens e adolescentes, e alguns em parceria como os de lazer e

cultura. Entretanto, ressalta-se que nenhum desses é realizado por iniciativa própria, ainda que

a Têxtil demonstre grande abertura para sua implantação.

Dentre os dois fornecedores entrevistados, um entende que há uma necessidade do

fomento de ações discricionárias, dadas as próprias características do trabalho na empresa.

“[...] muitas das atitudes são feitas em beneficio dos funcionários. Inclusive

como forma de compensar a grande carga de trabalho, a jornada é alta.

Assim, as áreas de lazer e os serviços são necessidades da empresa, já que

pode existir a questão da insatisfação no trabalho”.

Os números mostram que a empresa tem uma aceitação boa nesta categoria, já que as

ações dessa natureza não foram vistas como em muita quantidade.

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125

A análise da percepção dos fornecedores sobre as categorias de responsabilidade

social do modelo tridimensional de performance social (1979) permite a inferência de que

todas elas são tidas como características da empresa, sendo que a maior natureza vem da

categoria legal, já que mesmo com a menção ao projeto educacional por parte de todos, os

projetos feitos por iniciativa própria parecem, de acordo com os fornecedores, menos

voluntários e mais indispensáveis para a realização das atividades.

4.1.3.2 Dimensão Comportamentos e Respostas de Responsabilidade Social

A caracterização das formas de resposta social por parte da empresa estudada não

obteve heterogeneidade de opiniões. Os fornecedores tiveram percepções muito próximas em

relação às respostas. Conforme o gráfico a seguir, é possível verificar que houve grande

aceitabilidade por parte das variáveis apresentadas em quase todos os comportamentos.

100,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

50,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

50,0%

0,0%

50,0%

0,0%

50,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0%

50,0%

100,0%

50,0% 50,0% 50,0%

100,0%

0,0%

100,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

50,0% 50,0%

0,0% 0,0%

Reativo1 Reativo Defensi vo Defensi vo1 Acomodativo Acomodativo1 Pró-Ati vo Pró-Ati vo1

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda

Concorda Pouco Concorda Muito Concorda Totalmente

Gráfico 8: Resultados da Dimensão Comportamento e Respostas - Fornecedores

Fonte: Dados da Pesquisa

De acordo com o gráfico 8, a total concordância pode ser observada no

comportamento acomodativo; como também há grande aceitabilidade (muita concordância)

em algumas variáveis do comportamento reativo e também defensivo (pouca concordância).

Os valores estabelecidos também por intermédio da pesquisa quantitativa podem ser

considerados a seguir:

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126

COMPORTAMENTOS E

RESPOSTAS Valor Médio Desvio – Padrão Coeficiente de Variação (%)

REATIVO 4,75 0,36 7,5

DEFENSIVO 4,75 0,36 7,5

ACOMODATIVO 6,00 1,41 23,5

PRÓ-ATIVO 4,50 0,71 15,7

Tabela 14: Valores Quantitativos para a dimensão Comportamentos e Respostas - Fornecedores

Fonte: Dados da Pesquisa

Observa-se que as médias estiveram muito próximas, assim como alguns valores dos

desvios padrão e coeficientes de variação. Verifica-se também que as frequências de maior

resposta estiveram contíguas, o que remete ao fato de pouca heterogeneidade de opiniões.

A resposta reativa mostrou uma média de 4,75 e baixa variação de 7,5%. Os

fornecedores não têm uma ideia formada sobre se a intenção para realização de iniciativas

sociais parte, por exemplo, de reclamações da comunidade e por isso 50% deles nem

concordam nem discordam que esta variável existe. Esta dúvida advém do fato de não haver

grande interação entre comunidade e empresa. Todos os pesquisados concordam muito que os

projetos sociais são feitos para diminuir os impactos negativos que ela pode causar no

ambiente ou comunidade.

Os entrevistados mostraram opiniões de que a empresa não enfrenta questões

problemáticas e que, dessa forma, não há a necessidade da existência de um comportamento

reativo por parte dela. Questionados sobre se as ações socialmente responsáveis são feitas

porque os clientes ou a sociedade apresentam reclamações ou se têm o conhecimento de

algum problema enfrentado, os fornecedores mostraram percepções similares.

“A sociedade não interfere muito nesse sentido de cobrar. Mas os projetos

abrangem na medida do possível. Acredito que o que é feito depende da

possibilidade da empresa de realizar, e talvez das necessidades”.

“A sociedade não tem reclamações, não tem essa iniciativa. A empresa

oferece empregos e procura gerar um ambiente de trabalho favorável pra as

atividades. Não temos o conhecimento sobre se ela tem enfrentado problemas

ou alguma coisa que precisasse de uma ação social imediata”.

Assim, o comportamento reativo não é visto pelos fornecedores como existente na

Têxtil, já que eles não têm conhecimento sobre se ocorre exigências para atitudes

solucionadoras de conflitos por parte de agentes externos, como também internos.

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127

Para os fornecedores, uma resposta defensiva também não é muito característica da

empresa, já que a média de respostas foi a mesma do comportamento reativo, de 4,75, e a

variação de respostas também de 7,5%. O baixo desvio padrão de 0,36 mostra opiniões

similares em relação a este tipo de comportamento. A receptividade da empresa para com a

relevância de problemas sociais ficou com 50% de pouca concordância, já que não é frequente

nem necessário este tipo de posicionamento. Todos os fornecedores pesquisados concordam

pouco que os programas sociais são desenvolvidos como forma de evitar acidentes ou

conflitos.

Na verdade, não é que existam problemas, mas a empresa age no intuito de

proporcionar, conforme já mencionado, um ambiente de trabalho mais agradável e favorável à

realização das atividades cotidianas. E nesse ínterim, acaba por propiciar o não aparecimento

de conflitos internos ou acidentes no trabalho. Os fornecedores entrevistados não mostraram

muito conhecimento acerca da receptividade da empresa na relevância de problemas sociais.

“Deve haver sim receptividade. Não sei te dizer como é com certeza, como é

na prática”.

“Acredito que sim, mas é difícil afirmar porque na verdade acho que ela não

ocasiona problemas não é verdade? Pode haver sim algum conflito interno,

ou alguma coisa a ser evidenciada, mas não é do nosso conhecimento”.

A existência de conflitos externos à organização não é diagnosticada pelos

fornecedores. E de fato eles não existem, uma vez que os tipos de relacionamento com os

agentes externos não condizem com tal perspectiva. Conflitos internos, em conformidade com

a própria opinião dos stakeholders já pesquisados, não são suficientes ou não se colocam

como prioridade para a definição de projetos ou iniciativas sociais.

Já a resposta acomodativa obteve a maior aceitabilidade e é vista deste modo como a

que caracteriza o posicionamento responsivo da empresa. O valor médio das respostas foi de 6

e a variabilidade de 23,5%, caracterizando uma média dispersão de dados. O desvio padrão

também mostra uma dispersão pequena de 1,41.

Os fornecedores acreditam que os projetos sociais desenvolvidos pela empresa têm seu

foco de atuação mais em favor de seus stakeholders internos, já que para eles, se houvesse

maior beneficiamento de atores da comunidade, o conhecimento das ações por parte deles

seria maior. É colocado também por eles que a adoção de iniciativas de responsabilidade

social tem por interesse e intenção prioritária o alcance e efetividade com princípios legais.

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128

“Acho que os projetos que ela [a Têxtil] desenvolve são mais voltados pra os

seus funcionários. Se a comunidade fosse beneficiada, agente saberia mais.

Sei que ela faz doações. Pra a comunidade mesmo conheço apenas o [projeto

educacional] que é feito pra formação técnica. Mas eu acho que quando

agente pensa em desenvolver alguma coisa social, agente pensa logo em fazer

em benefício interno pra depois ver as necessidades de fora”.

“É, ela cumpre os requisitos legais. Também uma empresa daquele porte [...]

É bem provável que não tenha muita solicitação da comunidade por mais

ações, acredito que não. E internamente eu não sei. Mas acho que ela ta mais

pra fazer o que precisa ser feito na empresa sem ter que necessariamente ser

um problema”.

Verifica-se que a maioria dos pesquisados entende que a organização não possui

necessariamente questões a resolver, e que tem como foco de atuação mais fontes internas que

externas. 50% dos pesquisados concordam totalmente que as ações são feitas para cumprir as

exigências legais, e 50% também concordam totalmente que os projetos feitos são aqueles que

os funcionários precisam e o governo solicita. Apesar de não haver intensa comunicação e

interação com o público externo e o governo, os fornecedores acreditam que o

comportamento de respostas da Têxtil está em conformidade com sua opinião, e até por isso

esse público externo não tem tanta participação em relação às práticas da organização. Apesar

da menor concordância com a resposta anterior, a resposta acomodativa obteve maior média e

maior concordância total nas variáveis estabelecidas.

A opinião pró-ativa por parte dos fornecedores obteve aceitabilidade um pouco menor.

O conhecimento das ações aplicadas no âmbito interno à empresa não é grande. Assim, as

pessoas ficam por vezes aptas a falar mais do projeto educacional e acabam por não verificar

alguns outros projetos realizados em parceria. A média deste comportamento foi de 4,50 e a

variação de respostas foi média de quase 16%. Variáveis como planejamento e adoção de

projetos sociais internamente ou na comunidade local por iniciativa própria obtiveram 50% de

pouca discordância e também de pouca concordância. Este resultado ambíguo é porque a

empresa não adota de fato muitos projetos por iniciativa própria, tanto interna quanto

externamente. Mas o projeto educacional, que é em benefício externo, por alguns visto como

realizado por iniciativa própria, é considerado abrangente e organizado, e dessa forma

algumas pessoas verificam esta variável como existente e outras não. Isto está diretamente

relacionado ao entendimento que o indivíduo tem sobre responsabilidade social, o que para

alguns impõe a necessidade do desenvolvimento de muitos projetos em benefício dos

principais atores sociais com os quais a empresa interage, e outros entendem que a relevância

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129

social parte do pressuposto de que a empresa deve considerar questões para atuação social

prioritárias àqueles por ela envolvidos, mesmo que sejam em menor quantidade ou

abrangência.

Outra variável pesquisada foi a adoção de projetos contra erradicação do trabalho

infantil, analfabetismo, discriminação, incentivo à cultura ou outros. Essa variável obteve

100% de pouca concordância, pois projetos são realizados ainda que com conhecimento

restrito.

“Tem uma escola para o trabalho com pessoas de baixa renda. E também sei

da existência de um trabalho com a família dos funcionários. Muitas ações

para prevenção de doenças, educacionais, projetos infantis, viagens, são

disponibilizados às famílias. [...] e acho que a família dos funcionários faz

parte da comunidade não é? Algumas doações também são feitas, mas não

sabemos o fim, quem é beneficiado por elas”.

“Existem problemas que podem ser sanados pelo trabalho antecipado, antes

que eles aconteçam. Acho que a responsabilidade social é uma forma de

tratar isso. E o projeto educacional é um exemplo disso. O treinamento é

próprio, prepara o próprio profissional dentro das reais condições da empresa.

Os cursos técnicos formam pessoas para o trabalho e não deixam

oportunidades para jovens ociosos [...] Assim eles tem oportunidade para

trabalhar na empresa ou fora dela”.

Todos os comportamentos ou respostas foram vistos com grande concordância pelos

fornecedores. Isto indica uma percepção algumas vezes ambígua, já que o comportamento

defensivo é diferente do comportamento pró-ativo, por exemplo. Mas as opiniões indicam

que, em consonância com a visão dos stakeholders internos, a Têxtil é uma empresa

acomodativa no que concerne à sua responsividade social.

4.1.3.3 Dimensão Ações e Programas

Os fornecedores acreditam que há aplicação de algumas das ações e programas do

modelo tridimensional na empresa pesquisada. A análise dos dados mostra que as médias

foram altas, em detrimento da percepção dos stakeholders já analisados, como também a

variação nas respostas não foi grande, conforme os desvios padrão e coeficientes de variação

apresentados. O gráfico 9, a seguir, apresenta os resultados da escala de concordância obtida

com a pesquisa quantitativa.

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100,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0%

50,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

50,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0%

50,0% 50,0%

0,0%

50,0%

100,0%

0,0% 0,0%

50,0%

0,0%0,0% 0,0% 0,0%

100,0%

0,0% 0,0% 0,0%

50,0% 50,0% 50,0%

100,0%

50,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

100,0%

50,0%

0,0%

50,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Consumo Consumo1 Meio Ambiente Meio Ambiente1 Disc rimin Disc rimin 1 Seg Produto Seg Produto1 Seg Trabalho Seg Trabalho1

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda Concorda Pouco

Concorda Muito Concorda Totalmente Gráfico 9: Resultados da Dimensão Ações e Programas - Fornecedores

Fonte: Dados da Pesquisa

O gráfico mostra que algumas variáveis das ações e programas tiveram 100% de muita concordância pelos fornecedores. Entretanto,

variáveis de natureza discriminatória são desconhecidas ou não foram vistas como aplicáveis na organização estudada.

Para melhor interpretação, a tabela a seguir mostra os valores obtidos para cada ação em particular.

AÇÕES E PROGRAMAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de Variação (%)

CONSUMO 5,50 0,71 12,9

MEIO-AMBIENTE 4,00 0,71 17,7

DISCRIMINAÇÃO 3,75 0,36 9,6

SEG. PRODUTO 5,75 0,36 6,2

SEG. TRABALHO 5,00 0,71 14,2

Tabela 15: Valores Quantitativos para a dimensão Ações e Programas - Fornecedores

Fonte: Dados da Pesquisa

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A análise da tabela permite verificar que a ação referente ao consumo teve uma

aceitabilidade grande, assim como a segurança do produto. A ação ou programa consumo

obteve muita concordância porque a variável disposição de normas técnicas dos produtos foi

vista por todos os fornecedores pesquisados com grande aplicabilidade; e metade deles

concordou muito também que existe atendimento pós-venda. Este tipo de atendimento pode

ser melhor respondido pelos clientes, porque é mais oferecido a eles. Mas, no pré-teste, os

fornecedores mostraram que têm conhecimento deste tipo de atendimento, e que a empresa é

bem solícita para tratar tanto de questões logísticas quanto de outras de distintas naturezas nas

relações de comécio que tem com alguns stakeholders. Os fornecedores entrevistados

mostraram opiniões similares.

“Sim, tem assistência pós venda. E as informações técnicas são repassadas,

normas de etiquetagem, de qualidade”.

“As normas técnicas são acordadas, e a qualidade [do produto] é garantida.

Acredito que os funcionários são bem treinados para melhores resultados

nesse ponto. Você sabe que existe uma carência de apoio do governo, e

melhores produtos têm que ser feitos muitas vezes por nós mesmos”.

A média de 5,50 e a baixa dispersão de dados (respostas) de quase 13% corroboram

esta verificação. Entretanto valores maiores de aceitabilidade foram observados em outras

ações ou programas.

A parte referente ao meio ambiente foi um pouco menor, com média de 4 e

variabilidade de dados de 17,7%, uma média dispersão. Alguns pontos de vista mostraram

que não existem iniciativas de natureza ambiental. 50% dos pesquisados nem concordam nem

discordam que a empresa desenvolve projetos na comunidade para preservação ambiental.

Esse meio termo indica na realidade que eles não conhecem projetos nesse sentido e,

realmente, eles não existem. A outra variável obteve 100% de pouca concordância, a qual

consiste no fornecimento de informações sobre educação ambiental a clientes ou comunidade.

Alguns pontuam que provavelmente as informações ambientais sejam disponibilizadas mais

para clientes internos.

“Não tenho conhecimento da realização de atividades em prol do meio

ambiente. Sei apenas que há reaproveitamento de água. Acho que ela [a

empresa] dá informações ambientais aos seus funcionários”.

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132

Os fornecedores têm conhecimento, assim como os stakeholders já analisados, de que

os resíduos da produção não são lançados ao meio ambiente. Ressalta-se também que os

produtos fabricados não oferecem danos. A correta administração de resíduos também é

pontuada pelo segundo fornecedor entrevistado.

“Ela [a empresa] cuida dos resíduos dela, acredito que não há projetos para

preservação. Talvez, conforme você diz, esse não seja o foco. Mas pra fazer

alguma coisa nesse sentido tem que haver incentivos, parcerias e pesquisa e

acredito que a [Têxtil] ainda não esteja com planos deste tipo. Ela está mais

pra cuidar dos resíduos gerados, e nesse ponto é tudo em conformidade”.

Apesar de haver a correta administração de resíduos, a empresa Têxtil não possui

projetos estruturados de preservação do meio ambiente ou iniciativas relacionadas.

A ação relacionada à discriminação foi a que obteve a menor concordância dos

fornecedores como foco da empresa. Na verdade, a opinião de nem concordância nem

discordância foi a que caracterizou este tipo de foco social. 50% dos fornecedores tiveram

essa opinião em relação à variável não existência de barreiras à contratação de pessoas com

mais de 45 anos de idade ou por outra razão. Todos os fornecedores também mostraram este

tipo de opinião em relação ao desconhecimento por parte da comunidade do acontecimento de

discriminação social e racial entre funcionários da empresa ou com outras pessoas.

Na verdade, os fornecedores não mostraram muito conhecimento acerca de atitudes

relacionadas à discriminação no âmbito da empresa ou fora dela. A média de respostas de

3,75 esteve bem perto do nível médio na escala de opiniões, e não houve pequena variação de

9,6% nas respostas dadas, ou seja, todos têm percepções similares. Essa falta de informações

pode ser evidenciada por um dos fornecedores entrevistados:

“Acredito que há total seriedade e integridade moral no trato com

funcionários e também com as pessoas de fora. Não tive informações que

mostrassem o contrário disso”.

A pesquisa com os fornecedores revelou que não é muito do conhecimento deles

atitudes impróprias que caracterizassem ações de discriminação na empresa, sendo que sua

percepção por não concordar ou não discordar revela que o foco social da Têxtil não está

direcionado contra manifestações de discriminação.

A segurança do produto foi o foco mais aceitável pelos fornecedores, já que a média

de respostas foi de 5,75 e a variabilidade foi de apenas 6,2%, mostrando uma baixa dispersão.

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133

O desvio padrão das respostas também foi bem baixo, de 0,36. As opiniões parecidas são

originadas pela avaliação positiva das condições do produto pelos fornecedores. Todos eles

concordam muito que os produtos não oferecem risco à saúde dos consumidores, e 50%

concordam muito e concordam pouco que a empresa atende às normas de excelência do seu

padrão de qualidade. Essa concordância foi verificada também pelas entrevistas.

“Dados os requisitos do mercado, as pressões da concorrência e o porte dela,

as normas de qualidade são adotadas, os produtos são ótimos”.

Questionado sobre se eles verificam a segurança do produto como foco de atuação

social, um fornecedor identifica que essas ações são prioritárias sim, já que a intenção da

empresa é proporcionar produtos adequados.

“Se o foco social é segurança do produto eu acho que pode ser. Porque os

produtos são de qualidade. E acho que na empresa mesmo oferece aos seus

funcionários boas condições pra esse trabalho”.

Os fornecedores concordam muito que a segurança do produto é trabalhada, apesar

de não haver um consenso. Mas ainda assim, de acordo com as observações realizadas, é

possível verificar esta ação ou programa como centro de trabalho da Têxtil.

A segurança do trabalho teve opiniões similares, que mostraram pouca variação de

14,2% e média 5. A metade dos fornecedores concordam pouco que nos últimos dois anos

não houve o conhecimento de acidentes nas operações no trabalho. 50% concordam muito

que os funcionários utilizam equipamentos de proteção para realizar suas atividades. Este tipo

de conhecimento é disponibilizado aos fornecedores porque sempre existe troca de

informações entre membros de uma cadeia logística, entre pessoas que dispõem ou tratam de

relacionamentos comerciais. Para os entrevistados, a empresa está de acordo com os

requisitos que garantem uma adequada segurança no trabalho.

“Acredito que toda empresa enfrenta problemas como acidentes no trabalho,

mas no caso da empresa [Têxtil], não há conhecimento deste tipo de

acontecimento”.

“Não tenho conhecimento de reclamações de LER – lesões por esforços

repetitivos – ou algum tipo de acidente. A maioria dessas respostas são

melhor visualizadas no âmbito interno. Agente nunca sabe”.

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134

Ressalva-se que esta visão não é similar à opinião dos funcionários, já que estes

mostram o foco na segurança do trabalho com bem menor aceitabilidade que os fornecedores.

A partir da análise das ações e programas apresentada, é possível ver que os principais

argumentos favoráveis ao foco de atuação da Têxtil estiveram em torno da segurança do

produto. Os fornecedores identificam que produtos seguros e de qualidade fazem parte da

missão e objetivos organizacionais, e que, com isso, a empresa trabalha no intuito de

proporcionar aos seus funcionários as condições necessárias para tal fim.

A opinião dos fornecedores pode ser observada conforme o cubo a seguir:

Figura 15: Cubo Tridimensional – Visão dos Fornecedores

Fonte: Adaptado de Carroll (1979)

4.1.4 Parceiro

A empresa Têxtil possui um relacionamento estreito com este parceiro. Existe diálogo

frequente e ele é conhecedor das características e necessidades sociais da empresa. Segundo

ela própria, todos os seus projetos sociais são desenvolvidos com esta parceria. As outras

iniciativas tratam-se mais de benefícios que a organização presta aos seus funcionários.

A relação de parceria para projetos sociais é mantida apenas com este parceiro. Seu

conhecimento é amplo, consequentemente, em relação às ações que a empresa realiza. Assim,

conforme já exposto no método do estudo, optou-se por englobar, dentre as pessoas que

trabalham nesta instituição, quatro pessoas na pesquisa quantitativa e três na pesquisa

qualitativa.

4.1.4.1 Dimensão Categorias

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135

Na percepção do parceiro, esta dimensão mostrou uma aceitabilidade grande, sendo

destaque respectivamente as categorias legal e ética, conforme é observado no gráfico 10:

75,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0%

25,0%

0,0% 0,0% 0,0%

50,0%

0,0%

25,0%

0,0%

25,0%

0,0% 0,0%

25,0%

50,0% 50,0%

25,0%

75,0%

0,0%

50,0%

25,0%

75,0%

0,0%

50,0% 50,0%

25,0%

50,0% 50,0%

75,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Econômica Econômica1 Legal Legal1 Ética Ética1 Discricionária Discricionária1

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco

Nem concorda/nem discorda Concorda Pouco Concorda Muito

Concorda Totalmente

Gráfico 10: Resultados da Dimensão Categorias - Parceiro

Fonte: Dados da Pesquisa

As variações das respostas não foram altas, estando numa posição de baixa dispersão.

A homogeneidade de opiniões mostrou que os parceiros têm grande concordância quanto à

aplicação das categorias do modelo tridimensional. Os níveis de concordância e variabilidade

podem ser observados a seguir:

CATEGORIAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de Variação (%)

ECONÔMICA 6,00 1,0 16,6

LEGAL 6,63 0,54 8,1

ÉTICA 5,13 0,54 10,5

DISCRICIONÁRIA 5,38 0,77 14,3

Tabela 16: Valores Quantitativos para a dimensão Categorias - Parceiro

Fonte: Dados da Pesquisa

A categoria econômica apresentou alto valor médio 6 e desvio padrão 1. O alto

resultado da categoria econômica se dá pelo fato de a Têxtil ser uma empresa estruturada do

ponto de vista financeiro – recursos despendidos. Praticamente todos os stakeholders

pesquisados têm essa percepção e opinam que a estrutura econômica é eficaz, ainda que não

seja possível afirmar que as ações sociais têm uma característica econômica ou são originárias

deste objetivo. As variáveis contempladas na pesquisa obtiveram 75% de muita e 50% de total

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136

concordância, que são respectivamente: produtos de qualidade e preços adequados ao poder

de compra dos clientes.

A categoria legal mais uma vez foi observada pelos stakeholders com grande

concordância, já que a média entre as respostas foi de 6,63 e sua variação de apenas 8,1%. As

duas variáveis pesquisadas tiveram quase que total concordância: produtos conforme as

normas e disposição de atividades conforme a legislação. Os parceiros verificam a seriedade

das atividades sociais prestadas e o comprometimento legal da empresa. Pontuam também que

os projetos desenvolvidos não têm propriamente uma finalidade legal, mas que estão situados

sob esses pré-requisitos.

“Acho que os projetos não são todos feitos por exigências legais. O projeto

educacional, o culinário, por exemplo, não é por exigência legal. Mas é

necessário estar de acordo com o que a legislação determina, e isso é

totalmente de acordo”.

“Eu diria que em parte ela faz por necessidades legais e em parte de maneira

pró-ativa”.

A percepção dos parceiros sobre a adequação aos requisitos legais parte do

pressuposto de que existe essa necessidade por parte de qualquer empresa, em discordância

com outros stakeholders como os funcionários, que verificam que o caráter legal é advindo do

fato de a organização só trabalhar o que lhe é imposto por lei.

A menor concordância foi da categoria ética, que teve média de 5,13 e baixo desvio

padrão de 0,54. Houve muita concordância de 75% que há respeito à integridade física e

moral de funcionários e clientes; e pouca concordância de 50% que a empresa possui e

divulga seu código de ética. Esta categoria não foi avaliada como característica da empresa, já

que não faz parte do seu objetivo prioritário, nem da cultura das empresas locais, a efetivação

do compromisso ético e moral com treinamentos e palestras sobre o assunto, ou com

atividades que promovam tal foco, ainda que seja possível verificar um ambiente de condutas

moralmente apropriadas ao trabalho.

“O parceiro é administrado para estimular, fazer diagnósticos empresariais,

ver as características da empresa e de acordo com isso e com a sua

necessidade propor o melhor projeto. Sempre tivemos boa resposta das

empresas, mas não podemos negar que falta muito entendimento porque elas

querem visibilidade, o que não é o caso da [Têxtil]. Ela faz projetos e

acredito que eles têm uma visão ética, mas ela ainda está caminhando para

amplidão”.

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137

“A empresa está desenvolvendo atividades no seu âmbito interno, procurando

disponibilizar benefícios para os funcionários. Mas está tudo sendo feito de

uma maneira calma, os projetos estão se consolidando”.

O caráter ético é visto em algumas atuações e projetos da empresa, mas os parceiros

verificam que a característica ética e moral está sendo aos poucos introduzida na empresa, e

que suas atividades assim, ainda estão tomando este tipo de conduta.

A visão discricionária também foi vista com aceitabilidade. A média entre as respostas

foi de 5,38 e o desvio pequeno de 0,77. Houve 50% de muita concordância com as duas

variáveis: desenvolvimento de projetos educacionais ou ambientais na comunidade, promoção

de campanhas voltadas à melhoria da qualidade de vida interna ou externamente e abertura

para atender à comunidade. Projetos ambientais de fato não existem, daí os parceiros não

concordarem totalmente com a primeira variável. Ações para melhoria de qualidade de vida

remetem os parceiros à lembrança do projeto educacional, e sobre ele todos falam com total

propriedade.

“Os projetos estão ainda em fase inicial, a empresa está desenvolvendo um

núcleo de responsabilidade social aprimorado. Mas conheço o projeto

educacional, não é totalmente por iniciativa própria, mas requer grandes

recursos por parte da empresa. É um projeto que muda a vida do adolescente,

dá um encaminhamento pro mercado de trabalho porque é um trabalho

especializado. É claro que precisa ainda de ajustes porque muitos ainda não

sabem o que fazer depois que terminam”.

“Eu destaco a grande receptividade da empresa para discutir e implantar

projetos sociais. Sempre que possível, ela procura saber o que pode ser feito

em benefício de seus funcionários. Acredito que as campanhas feitas são

mais para o pessoal de dentro, da fábrica e área administrativa”.

O projeto educacional é basicamente o único em benefício da comunidade. Todos os

outros a influenciam indiretamente. Entretanto, já que há grande parceria para ações sociais

em benefício dos funcionários, os próprios parceiros verificam a categoria discricionária com

grande aceitação.

A característica das ações sociais, segundo os parceiros, de acordo com a pesquisa

quantitativa, é a categoria legal. No entanto, algumas visões foram similares e obtiveram

quase que a mesma concordância, como é o caso da discricionária. A empresa Têxtil é vista,

assim, com uma característica social discricionária, mas os parceiros reiteram a opinião de

que o caráter legal não é totalmente descartado dessa visão.

4.1.4.2 Dimensão Comportamentos e Respostas

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138

A forma como se dá a resposta da empresa, segundo seus parceiros, também foi vista

com certa similaridade em alguns pontos, em consonância com as categorias. O gráfico a

seguir explana os resultados.

75,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

50,0% 50,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

25,0% 25,0% 25,0%

0,0% 0,0%

25,0%

50,0%

0,0%

25,0% 25,0%

75,0%

25,0% 25,0%

0,0%

25,0% 25,0%

0,0% 0,0% 0,0%

75,0% 75,0%

50,0%

25,0%

75,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

25,0%

0,0% 0,0%

Reativo1 Reativo Defensivo Defensivo1 Acomodativo Acomodativo1 Pró-Ativo Pró-Ativo1

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco

Nem concorda/nem discorda Concorda Pouco Concorda Muito

Concorda Totalmente

Gráfico 11: Resultados da Dimensão Comportamento e Respostas - Parceiro

Fonte: Dados da Pesquisa

Os valores da média ponderada, desvio padrão, variabilidade e maior frequência de

respostas são explicitados a seguir:

COMPORTAMENTOS E

RESPOSTAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de Variação (%)

REATIVO 3,75 0,96 25,6

DEFENSIVO 5,25 0,50 9,5

ACOMODATIVO 5,75 0,88 15,3

PRÓ-ATIVO 5,25 0,73 13,9

Tabela 17: Valores Quantitativos para a dimensão Comportamentos e Respostas - Parceiro

Fonte: Dados da Pesquisa

A posição reativa obteve pequena aceitabilidade. A média de 3,75 mostra que, na

escala de concordância, o nível de opiniões ficou num patamar mediano. A variação de pouco

mais de 25% mostra uma média dispersão de respostas. Metade dos parceiros pesquisados

discorda pouco da existência das duas variáveis, de que as ações sociais são desenvolvidas

depois de reclamações da sociedade; e de que os projetos sociais são feitos para diminuir os

impactos negativos que ela pode causar no ambiente ou comunidade.

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139

Reagir a problemas ou se posicionar frente a um conflito não é a característica da

Têxtil, de acordo com seus parceiros. Conforme já abordado, a sociedade não apresenta

reclamações, não interage com a empresa, e impactos negativos não se tornam, assim,

característica marcante das iniciativas de resposta.

Questionados sobre se a empresa só age de forma socialmente responsável porque os

clientes ou a sociedade apresentam reclamações ou algo do tipo, os parceiros mostraram

posicionamentos parecidos.

“A participação da comunidade é pequena, os projetos são para os

funcionários com uma, assim, ligeira participação dos familiares”.

“As pessoas não falam nada sobre a empresa. E acredito que se não falam é

porque não há o que falar. Sempre existe uma tendência de falar

negativamente quando é possível”.

Muitos stakeholders falam da participação dos familiares dos funcionários. E, de fato,

a maioria dos auxílios gerados pela própria empresa, direta ou indiretamente, beneficia a

família dos funcionários. São palestras, semanas educativas, seminários, encontros, viagens,

que objetivam promover uma interação maior com os clientes internos. Essas iniciativas

foram mencionadas por muitos stakeholders externos pesquisados, e caracterizam um pouco

das ações da Têxtil.

A empresa foi mais percebida pelos parceiros de maneira defensiva, em detrimento da

resposta anterior. A média maior de 5,25 e a baixa dispersão nas respostas de 9,5%

corroboram esta verificação. 75% dos parceiros concordam pouco que há receptividade da

empresa para relevância de problemas sociais ocasionados por ela; e 75% concordam muito

que os programas são desenvolvidos como forma de evitar acidentes ou conflitos. As opiniões

dos entrevistados apresentam algumas constatações:

“Existem projetos que são feitos por iniciativa legal. Acho que existe

receptividade, mas na verdade isso não é prioridade [...], justamente porque a

empresa não é cobrada e porque o foco são os funcionários e como

consequencia a família dos funcionários”.

“Acredito que a empresa não enfrenta problemas, mas as iniciativas sociais

quase sempre partem do desejo e da necessidade de sanar e evitar problemas,

ainda que não sejam aparentes”.

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140

O comportamento defensivo não é característico porque os problemas surgidos não

requerem ações imediatas de natureza social e porque a empresa não ocasiona tantos

problemas externamente que requeiram tal comportamento. Os parceiros enfatizam que, do

ponto de vista dos agentes externos e de um possível impacto pela empresa causado, não há

muito para que se defender. Para eles, o nível de escolaridade das pessoas da comunidade não

é alto, e necessita haver uma sensibilização sobre o que é responsabilidade social e sobre o

que uma organização pode impactar ou influenciar uma comunidade local.

De maneira acomodativa, a empresa foi melhor observada pelos parceiros. Suas

respostas tiveram uma média de 5,75 e desvio padrão de 0,88. Dos pesquisados, 75%

concordam muito que as ações sociais são feitas para cumprir às exigências legais e 50%

também concordam muito que os projetos desenvolvidos são aqueles que os funcionários

precisam e o governo solicita.

Os parceiros entrevistados deram as seguintes respostas quando questionados sobre se

a empresa adota projetos sociais desenvolvidos e abrangentes e se a sociedade ou o governo

requerem mais ações sociais por parte da organização estudada:

“A maior parte da comunidade não requer ações sociais. Não existe uma

valorização ou mesmo uma visão positiva da empresa. Acredito que a

interferência do governo é pequena, mas tudo aquilo que é requisitado é feito

por ela, inclusive nosso trabalho compreende isso”.

“Existem critérios com que ela possa atender a comunidade, tem que estar

relacionado com sua missão. As iniciativas são abrangentes de acordo com o

objetivo da empresa porque o objetivo dela é primeiro o público interno [...],

e nesse ponto ela está fazendo de tudo pra ser abrangente”.

Para os parceiros, os programas sociais estão de acordo com a missão e objetivos

empresariais, os quais estão relacionados ao seu público interno – os funcionários em geral.

Para eles, a visão acomodativa é válida porque, apesar da pouca participação dos agentes

externos, as mínimas condições por eles requeridas ou que possam requerer são consideradas

e garantidas tanto em parceria como pela própria empresa.

O comportamento pró-ativo foi enfatizado pelos parceiros quase que com a mesma

concordância do comportamento anterior. A média de 5,25 e a variação baixa nas respostas de

quase 14% mostram uma homogeneidade de opiniões.

Esse tipo de comportamento não foi mais concordado pelos parceiros porque, em

relação à primeira variável, 50% deles nem concordam nem discordam que existe adoção de

projetos sociais internamente ou na comunidade local por iniciativa própria. Essa percepção

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141

advém do fato de que efetivamente não existem tais projetos, pois todos são feitos em parceria

e apenas alguns benefícios internos são de iniciativa própria. Entretanto, ressalta-se a abertura

e participação ativa da empresa em todos os programas, principalmente no projeto

educacional. Dentre os parceiros investigados, 75% concordam muito que a empresa adota

projetos contra erradicação do trabalho infantil, analfabetismo, discriminação, incentivo à

cultura ou outros. Esses projetos dizem respeito ao interesse de antecipação aos problemas,

propriamente ao pró-ativo.

O caráter pró-ativo foi especificado como existente, ainda que não haja total iniciativa

própria. Como também os projetos próprios são brevemente conhecidos.

“A nossa missão é ter a iniciativa de mostrar a responsabilidade social, de

mostrar o que a empresa pode fazer em benefício dos atores sociais. A

maioria das ações fomos nós que buscamos, mas a empresa é muito receptiva

e interessada”.

“Conheço apenas os projetos que ela faz em parceria conosco. De maneira

sucinta eu conheço o projeto educacional”.

Novamente os parceiros mostraram entendimentos próximos, agora em relação aos

comportamentos e respostas. Isso se deve ao fato de que os programas estão baseados no que

requer o governo e algumas diretrizes por ele estabelecidas, como também iniciativas sociais

como o projeto educacional ou alguns outros são considerados como antecipatórios a

exigências internas ou externas, ainda que não sejam totalmente realizados por iniciativa

própria. Nesse sentido, os comportamentos acomodativo e pró-ativo são vistos como a

característica de resposta da Têxtil, sendo o comportamento pró-ativo mais considerado na

pesquisa qualitativa e o acomodativo da pesquisa quantitativa.

De acordo a visão das categorias, e para a maior parte dos entrevistados, existe um

posicionamento para resposta social pró-ativo, dada a receptividade da empresa Têxtil de

discutir e abordar o que melhor pode ser realizado no seu âmbito interno.

4.1.4.3 Dimensão Ações e Programas

Os parceiros não viram como convenientes ou aplicáveis algumas das ações

apresentadas. É possível ver pelo gráfico que as ações referentes ao consumo, meio ambiente

e discriminação obtiveram quase que em sua maioria opiniões em que eles nem concordam

nem discordam das variáveis apresentadas. Apenas a ação ou programa segurança do produto

obteve significativa concordância dentre as apresentadas.

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100,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

25,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0%

50,0%

25,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

25,0%

0,0%

50,0%

100,0%

25,0%

75,0%

25,0%

50,0%

0,0% 0,0%

25,0%

0,0%

25,0%

0,0%

25,0%

0,0%

25,0%

0,0%

25,0%

0,0%

50,0%

0,0%

25,0%

0,0% 0,0% 0,0%

50,0%

25,0%

50,0%

100,0%

0,0%

50,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

25,0%

0,0% 0,0%

50,0%

Consumo Consumo1 Meio AmbienteMeio Ambiente1Di sc rimi naçãoDi sc rimi nação1Segurança doProduto

Segurança doProduto1

Segurança doTrabal ho

Segurança doTrabal ho1

Di scorda T otalmente Di scorda Muito Di scorda P ouco Nem concorda/nem discorda

Concorda Pouco Concorda Mui to Concorda Total mente

Gráfico 12: Resultados da Dimensão Ações e Programas - Parceiro

Fonte: Dados da Pesquisa

Algumas ações como a discriminação ou a segurança do trabalho tiveram variações médias, que demonstram uma maior heterogeneidade

de opiniões. As outras, porém, apresentaram variações bem menores, o que indica que visões consensuais são maiores no que concerne às ações e

programas segundo os parceiros.

A tabela mostra os valores melhor organizados.

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AÇÕES E PROGRAMAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de Variação (%)

CONSUMO 4,38 0,48 10,9

MEIO-AMBIENTE 3,75 0,73 19,4

DISCRIMINAÇÃO 4,63 1,3 27,9

SEG. PRODUTO 6,00 0,41 6,8

SEG. TRABALHO 5,38 0,77 14,3

Tabela 18: Valores Quantitativos para a dimensão Ações e Programas - Parceiro

Fonte: Dados da Pesquisa

A ação consumo, apesar de sua média de 4,38 e baixa dispersão de opiniões de 10,9%,

obteve pouca visibilidade pelos parceiros. A metade deles nem concorda nem discorda que há

correta disposição das normas técnicas dos produtos, e todos eles têm a mesma opinião sobre

a manutenção do atendimento pós-venda.

Essas percepções são advindas da falta de conhecimento dos parceiros em relação a

este aspecto. Muitos não mostraram tanta familiaridade com a questão do foco da empresa ser

o consumo e ações relacionadas como disposição de melhores produtos, mais adequados à

demanda, pesquisas frequentes de mercado, atendimento pré e pós-venda e itens relacionados.

Na ação meio ambiente houve a menor aceitabilidade, com média de 3,75 e desvio

padrão de 0,73. A metade dos parceiros discorda pouco que a empresa desenvolve projetos na

comunidade para preservação do meio ambiente, e 75% deles nem concordam nem discordam

que a empresa fornece informações sobre educação ambiental a clientes ou comunidade. Na

realidade, a prioridade é a disposição dessas informações em maior quantidade aos

funcionários e depois ao público externo.

Atividades relacionadas ao meio ambiente não foram vistas com frequência,

principalmente se dirigidas ao trabalho com agentes externos. Os parceiros reafirmaram que

os produtos não oferecem danos ao ambiente e mostram algumas opiniões diferentes daquelas

dos stakeholders já pesquisados.

“Sei que tem reutilização de água. Pela empresa trabalhar com algodão,

poderia ter alguma coisa relacionada ao reflorestamento, mas eu não sei se de

fato existe”.

“Algumas palestras educativas sobre meio ambiente são feitas, mas tudo

dentro da empresa. Não tenho conhecimento sobre projetos ambientais mais

amplos, acho que não há. O meio ambiente poderia ser um foco de trabalho

social, e um foco bem interessante de trabalhar”.

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144

Um parceiro levantou a questão de que a Têxtil poderia trabalhar com um projeto

voltado ao reflorestamento, uma vez que produz a partir do algodão; e este foco poderia

realmente ser considerado, já que há um eficiente trabalho com os resíduos da produção.

Ações sociais para evitar a discriminação mostraram-se em maior quantidade na

opinião dos parceiros. A média de respostas foi de 4,63 e a variabilidade foi média com

dispersão de 27,9%. As constatações foram mais heterogêneas que as ações e programas

anteriores, com 50% concordando muito que não existem barreiras à contratação de pessoas

com mais de 45 anos de idade ou por outra razão; e 50% nem concordando nem discordando

que a comunidade desconhece o acontecimento de discriminação social ou racial entre os

funcionários da empresa ou com outras pessoas.

A discriminação foi observada como não existente pelos parceiros da empresa, e que

ações no sentido de evitar esta prática são realizadas como semanas educativas e palestras. No

entanto não é possível verificar o foco da empresa como para não discriminação, pois

conforme seus parceiros as atividades não chegam a tal nível.

A segurança do produto obteve a maior concordância e aceitabilidade das ações

apresentadas. A média 6 e o desvio padrão de apenas 0,41 mostram esta verificação. O fato

pode ser originário do entendimento de que o produto é seguro e eficiente em relação aos

requisitos exigidos. A metade dos pesquisados concordou muito que os produtos não

oferecem riscos à saúde dos consumidores, e todos eles concordaram muito que a empresa

atende às normas de excelência do padrão de qualidade do produto.

Essas variáveis de fato existem, como também a adequação e disposição de normas

técnicas, e abertura da empresa para explicitação de itens relacionados à fabricação e

utilização dos produtos. No entanto, não é possível afirmar, de acordo com os parceiros, que o

foco social da empresa é a segurança do produto, conforme será exposto mais adiante.

A ação ou programa segurança do trabalho obteve também boa aceitabilidade como

foco da empresa. A média de respostas foi 5,38 e o desvio de 0,77. Essa concordância pode

ser atribuída ao fato de 50% concordarem pouco que nos últimos dois anos não houve

conhecimento de acidentes nas operações do trabalho e a mesma porcentagem concordou

totalmente que os funcionários utilizam equipamentos de proteção para realizar suas

atividades no trabalho. Essas opiniões não são corroboradas pelos funcionários, por exemplo,

já que estes entendem que o item acidentes no trabalho é uma variável que precisa ainda

melhorar muito. A percepção dos parceiros pode ser resumida conforme a resposta a seguir:

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145

“Acontecem acidentes esporádicos, não graves. E acho que é pouco, já que a

quantidade de funcionários é grande. E também ela realiza SIPAT [– Semana

interna de prevenção a acidentes no trabalho], a CIPA – [Comissão Interna de

Prevenção a acidentes]”.

Pelas opiniões verificadas das ações e programas apresentados, observa-se a grande ou

total concordância de que a segurança do trabalho existe na empresa, bem como o caráter

legal dessa atuação, embora não seja possível afirmar, conforme os próprios parceiros

pesquisados, que esse seja o foco de atuação social da Têxtil.

“O foco é a qualificação do funcionário, ela é uma grande empresa. Pela

empresa ter uma visão de mercado, uma visão à frente, ela busca alternativas

diversificadas para a realização do trabalho e satisfação dos funcionários. A

empresa recebeu agora o nosso prêmio anual de qualidade no trabalho, ela

está dentro o processo e busca de qualificação frequente”.

Os parceiros demonstram ter a mesma percepção que têm os funcionários sobre o foco

social da organização. As atividades e programas sociais implantados pela empresa estudada

têm como centro de atenções as necessidades e bem estar do público interno.

Com isso, o cubo tridimensional de performance social mostra o entendimento e

percepção dos parceiros da Têxtil frente às suas ações sociais.

Figura 16: Cubo Tridimensional – Percepção dos Parceiros

Fonte: Adaptado de Carroll (1979)

Este é, até o presente momento, o entendimento mais diverso ou conflitante sobre as

ações sociais da Têxtil, frente às percepções apresentadas até então, que foram as opiniões dos

funcionários em geral, diretores e fornecedores.

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146

4.1.5 Clientes

Os clientes mostraram menor familiaridade e conhecimento das ações e projetos

sociais da Têxtil em comparação com outros stakeholders. Apesar de conhecerem de maneira

sucinta os projetos, eles compreendem a motivação, as iniciativas e intenções da

administração, bem como as estruturas sob as quais os programas foram construídos.

4.1.5.1 Dimensão Categoria

A percepção dos clientes sobre as categorias de responsabilidade social do modelo

tridimensional foi equivalente à opinião dos stakeholders já pesquisados. Ressalta-se os

valores baixos e médios da dispersão dos níveis de resposta, o que mostra que o entendimento

dos clientes é bem próximo.

O gráfico 13 apresenta a percepção dos clientes sobre as categorias:

100,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

33,3%

0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

66,7%

0,0%

33,3%

0,0%

33,3%

0,0% 0,0%

33,3% 33,3%

66,7% 66,7%66,7%

33,3% 33,3%

0,0%

33,3%

0,0% 0,0% 0,0%

33,3% 33,3%

66,7%

100,0%

33,3%

0,0% 0,0% 0,0%

Econômica Econômica1 Legal Legal1 Ética Ética1 Disc ri ci onária Disc ri ci onária1

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda

Concorda Pouco Concorda Muito Concorda Totalmente

Gráfico 13: Resultados da Dimensão Categorias – Clientes

Fonte: Dados da Pesquisa

Para análise mais específica do gráfico, a tabela a seguir mostra a visão dos clientes

para as categorias de acordo com o valor médio, desvio padrão, variação e maior resposta.

CATEGORIAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de Variação (%)

ECONÔMICA 5,88 0,89 15,1

LEGAL 6,63 0,54 8,1

ÉTICA 4,75 1,05 22,2

DISCRICIONÁRIA 4,38 0,98 22,3

Tabela 19: Valores Quantitativos para a dimensão Categorias - Clientes

Fonte: Dados da Pesquisa

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147

A categoria econômica foi validada pelos clientes; na medida em que compram os

produtos da empresa, eles podem afirmar com propriedade que as variáveis desta categoria

são existentes. A média de 5,88 mostra grande aceitabilidade em relação à característica

econômica das atividades, confirmada por 66,7% dos clientes ao concordarem muito que os

produtos são de qualidade e atendem os requisitos por eles solicitados, e 33,3% concordarem

muito e concordarem totalmente que os preços estão de acordo com seu poder de compra.

Para os clientes, o desempenho econômico está favorável e adequado ao acirrado

mercado e características da concorrência e demanda.

A categoria legal é vista como a base das ações realizadas, uma vez que, para um

cliente entrevistado:

“As empresas hoje em dia precisam estar com todos os parâmetros legais

estabelecidos, e com a [Têxtil] não é diferente. Acho que até as ações de

responsabilidade social passam por isso, tem que ser fundamentadas nesse

aspecto. Mas acredito que também existe o conhecimento dos que trabalham

na empresa, do que eles precisam, do povo de fora, de como eles acham que é

a postura da empresa, e tudo isso contribui pra você optar por um

determinado projeto [social] e outro não”.

As ações de RSE são, assim, para o cliente entrevistado, originárias do contexto e das

particularidades que envolvem a organização, e também envoltas pelas necessidades e

exigências legais que regem todas as empresas. Essas percepções foram tidas de alguma

forma por todos os clientes entrevistados.

A pesquisa quantitativa mostrou uma média de 6,63 e variação de apenas 8% nas

respostas, que mostra que todos têm opiniões não conflitantes. 66,7% dos clientes acreditam

que os produtos estão conforme as normas do código de defesa do consumidor, e todos eles

também concordam totalmente que a empresa desenvolve suas ações dentro da legalidade.

Esse entendimento mostra a total concordância com esta categoria, uma vez que os requisitos

legais são vistos como a base do desenvolvimento das ações de responsabilidade social.

A categoria ética obteve consonância com média aritmética de 4,75 e dispersão

mediana de respostas de 22,2%. Essa média dispersão mostrou que 33,3% dos clientes

concordam totalmente, concordam pouco e concordam muito que o respeito à integridade

física é uma prática constante; e 66,7% nem concordam nem discordam que a empresa possui

e divulga seu código de ética. A abordagem ética e moral é entendida por um cliente

entrevistado como integrante das atividades cotidianas da organização, ainda que não

divulgada, inserida e trabalhada no contexto do ambiente externo.

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148

“Em algumas das transações comerciais, conversamos informalmente sobre

alguns projetos da empresa. Sabemos das iniciativas e propostas adotadas,

mas sabemos também que não é fácil trabalhar onde nem todo mundo sabe o

que é ser socialmente responsável, cada um tem que saber dos seus direitos e

deveres como cidadão, e muitos nem imaginam o que é isso”.

A característica ética das ações sociais não é vista pelos clientes como aplicável ou

consolidada, e daí sua média menor em relação à legal. Muitos atores sociais ainda não têm a

compreensão da importância desses valores como norte de atitudes empresariais.

Na categoria discricionária, a concordância foi um pouco menor, já que a média de

respostas foi de 4,38 e o desvio padrão de 0,98. Desse nível de aceitabilidade, é possível ver

que 66,7% dos clientes concordam pouco, tanto na primeira quanto na segunda variável

respectivamente: desenvolvimento de projetos ambientais ou educacionais na comunidade e

promoção de campanhas voltadas à melhoria da qualidade de vida das pessoas da região e

abertura para a comunidade.

Para os clientes, a responsabilidade social é firmada por itens de natureza legal, os

quais são integrantes da conduta empresarial da atualidade e que, na Têxtil, juntam-se à sua

vontade e objetivo social de proporcionar ações que enfoquem o maior padrão possível de

iniciativas voluntárias.

4.1.5.2 Dimensão Comportamentos e Respostas

Em relação aos comportamentos e respostas, a visão dos clientes foi um tanto

heterogênea, principalmente porque eles não verificaram muita aplicabilidade nas respostas

do modelo tridimensional na postura da empresa em questão. O gráfico seguinte mostra o

entendimento sobre cada comportamento.

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149

75,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

50,0%

25,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0%

25,0% 25,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

50,0%

25,0%

50,0%

25,0% 25,0%

0,0%

25,0%

50,0%

0,0% 0,0%

25,0% 25,0%

0,0%

50,0%

75,0%

50,0%

0,0%

25,0%

0,0%

50,0% 50,0%

25,0%

0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

25,0% 25,0%

0,0% 0,0%

Reativo1 Reativo Defensivo Defensivo1 Acomodativo Acomodativo1 Pró-Ativo Pró-Ativo1

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda

Concorda Pouco Concorda Muito Concorda Totalmente

Gráfico 14: Resultados da Dimensão Comportamentos e Respostas – Clientes

Fonte: Dados da Pesquisa

De acordo com a escala de opiniões, é possível verificar também os seguintes valores:

COMPORTAMENTOS E

RESPOSTAS Valor Médio Desvio - Padrão

Coeficiente de Variação

(%)

REATIVO 3,38 1,43 42,3

DEFENSIVO 4,63 0,89 19,2

ACOMODATIVO 5,75 1,11 19,3

PRÓ-ATIVO 4,63 0,54 11,7

Tabela 20: Valores Quantitativos para a dimensão Comportamentos e Respostas – Clientes

Fonte: Dados da Pesquisa

O comportamento reativo não é visto pelos clientes como próprio da empresa, já que

os dois entrevistados verificam que pressões externas não implicam sempre em um

comportamento para solução de problemas ou ameaças internas ou externas. Eles acham que a

natureza do tipo de sistema produtivo não acarreta tais circunstâncias. No entanto, é válido

ressaltar a extrema carga de trabalho – horas – às quais os funcionários estão sujeitos.

Daí a média deste comportamento ter sido apenas 3,38 e as respostas demasiadamente

variadas com 42,3% do coeficiente.

O comportamento defensivo foi mais bem concordado que o anterior. A média de

respostas foi 4,63 e a variação com média dispersão de 19,2%. A metade dos clientes nem

concorda nem discorda que há receptividade da empresa para relevância de problemas sociais,

e também a metade, 50%, concorda muito que os programas são desenvolvidos como forma

de evitar acidentes ou conflitos. Os clientes mostraram uma percepção e entendimento quase

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150

que em total conformidade com o que acontece na realidade da organização no que se refere a

este comportamento. A opinião a seguir pode ser tida como resumo da constatação:

“Não acredito que existem muitos conflitos que levem a empresa a adotar

essa conduta. Acho que os problemas são minimizados quando logo que

acontecem, sem que antes eles se tornem uma ameaça”.

No que se refere ao comportamento acomodativo, a aceitabilidade foi a maior entre

todas. A média de respostas foi 5,75 e o desvio padrão de 1,11. Isto porque 50% concordam

muito que as ações sociais são feitas para cumprir as exigências legais e 50% concordam

pouco que os projetos feitos são aqueles que os funcionários precisam e o governo solicita.

A maior abrangência dos projetos foi vista pelos clientes como um objetivo da

empresa, apesar da não interferência (solicitação) nesse sentido de agentes internos ou

externos. Para eles, o governo ou a opinião pública não mostram significativo interesse em

articular e interagir com a empresa no trato com questões sociais, mas, apesar disso, a

organização estudada está “alinhada” com a postura ou pensamento desses agentes.

De maneira pró-ativa, a Têxtil foi considerada com a mesma média que o

comportamento defensivo, 4,63, e a variação das respostas mostrou uma dispersão

homogênea de 11,7%. 75% dos clientes concordam pouco que os programas adotados interna

ou externamente são por iniciativa própria e 50% concordam pouco e nem concordam nem

discordam sobre a adoção de projetos contra erradicação do trabalho infantil, analfabetismo,

discriminação, incentivo à cultura ou outros. Para eles, a iniciativa própria sobre os projetos

adotados não está clara, não está visível, não há o conhecimento suficiente para afirmar tal

questão, como também a maioria dos projetos não são todos conhecidos, sendo apenas o

projeto educacional visto e mencionado com maior frequência.

Assim, o comportamento acomodativo foi, também para os clientes, avaliado como

mais característico em relação ao tipo de resposta social da organização em questão.

4.1.5.3 Dimensão Ações e Programas

Apesar do menor conhecimento dos programas realizados e das iniciativas a serem

implantadas, não houve muita heterogeneidade de respostas. Os clientes levam em

consideração todo o ambiente que circunda a empresa. Possivelmente por isso sua visão em

relação às ações e programas tenha sido distinta em relação às já apresentadas.

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O gráfico 15 dá uma ideia de como os clientes veem a definição e trabalho com o foco social da organização estudada.

100,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0%

25,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0%

25,0%

50,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0%

50,0% 50,0% 50,0%

25,0%

0,0% 0,0%

25,0%

0,0%

25,0%

50,0%

0,0% 0,0%

50,0% 50,0%

100,0%

75,0% 75,0% 75,0%75,0%

50,0%

0,0% 0,0% 0,0%

25,0%

0,0%

25,0%

0,0%

25,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Consumo Consumo1 Meio Ambiente Meio Ambiente1 Disc riminação Disc riminação1 Segurança doProduto

Segurança doProduto1

Segurança doTrabalho

Segurança doTrabalho1

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda Concorda Pouco

Concorda Muito Concorda Totalmente

Gráfico 15: Resultados da Dimensão Ações e Programas – Clientes

Fonte: Dados da Pesquisa

Para as ações e programas apresentados, têm-se os valores em particular, conforme a tabela 21:

AÇOES E PROGRAMAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de Variação (%)

CONSUMO 5,63 0,54 9,5

MEIO-AMBIENTE 3,38 0,77 22,8

DISCRIMINAÇÃO 4,75 0,70 14,8

SEG. PRODUTO 5,13 0,25 4,9

SEG. TRABALHO 5,00 0,50 10

Tabela 21: Valores Quantitativos para a dimensão Ações e Programas – Clientes

Fonte: Dados da Pesquisa

Page 152: DIAGNÓSTICO DAS PERCEPÇÕES DE RESPONSABILIDADE … · 3 M141d Macêdo, Nívea Marcela M. Nascimento. UFPB/BC Diagnóstico das percepções de responsabilidade social empresarial

Os clientes entendem que os produtos oferecidos encontram-se quase que em total

conformidade com as especificidades exigidas. Daí o fato de a ação consumo ter obtido a

maior média dentre as ações do modelo, de 5,63, e variação de respostas pequena de 9,5%.

Assim, 75% deles concordam muito que a disposição das normas técnicas está adequada, bem

como 50% concordam muito que existe atendimento pós-venda adequado. Estas e outras

ideias levaram à verificação de que o foco de trabalho da empresa atualmente está em

propiciar os melhores produtos, de acordo com as características e necessidades da demanda,

mesmo isso implicando em maiores custos para a empresa. A deliberação a seguir denota esta

constatação:

“O atendimento pós-venda nos deixa à vontade pra fazer qualquer

posicionamento da gente, opinião sabe. Muitas vezes alguns produtos têm

que ser retirados, ou de última hora vem novas diretrizes ou layout mesmo.

Aí faz de novo. As normas técnicas são boas, o produto passa por diversas

etapas até chegar a nós, e em cada etapa, mesmo não sendo mais na [Têxtil],

ele é bem feito, adequado”.

O foco nos melhores meios para o consumo se dá no momento em que a empresa pode

dispor de produtos eficientes e adequados à demanda, tanto em preço como em qualidade, e

para os clientes, estas atitudes são bem aplicadas na empresa Têxtil.

O meio ambiente mais uma vez obteve aceitabilidade bem menor que as outras ações e

programas, em consonância com a opinião dos outros grupos de stakeholders pesquisados. A

metade deles nem concorda nem discorda com as duas variáveis consideradas, quais sejam

desenvolvimento de projetos na comunidade para preservação do meio ambiente e

fornecimento de informações sobre educação ambiental a clientes ou comunidade. Os clientes

enfocam que possivelmente a interação com a comunidade não é grande, já que eles próprios

não têm essa atitude. E com isso a consolidação das variáveis fica comprometida, mas não

totalmente por desinteresse da empresa. Em relação ao fomento de projetos ambientais, um

cliente mostrou achar que realmente não existe essa prática.

“Tem que ser uma via de mão dupla o acesso à comunidade. Mas

internamente eu não sei, nunca ouvi falar de programas voltados pra isso”.

A ação ou programa discriminação teve 4,75 de média de respostas e desvio padrão

0,70. Os clientes acreditam que a empresa, por ter muitos anos no mercado e tratar com

grande número de funcionários, determina processos e atitudes que garantem a não existência

de políticas que levem a atos discriminatórios ou ações relacionadas. Com isso, a metade dos

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153

pesquisados concordam pouco com as duas variáveis apresentadas – não existência de

barreiras à contratação de pessoas com mais de 45 anos de idade e desconhecimento sobre o

acontecimento de discriminação social ou racial entre os membros externos. Ainda assim, o

nível de concordância não chegou à primeira ação ou programa consumo.

A segurança do produto foi vista com grande aceitabilidade, estando atrás apenas do

consumo. O valor médio de 5,13 e a significativa baixa dispersão de quase 5% mostram uma

quase unanimidade de respostas. Todos os clientes concordam pouco que os produtos não

oferecem riscos à saúde dos consumidores, e 75% deles também concordam pouco que a

empresa atende às normas de excelência do padrão de qualidade do produto.

Estas percepções corroboram as especificações da ação consumo, que está muito

relacionada ou atrelada à segurança do produto. Produtos seguros dão subsídios para que o ato

de consumir seja feito de maneira benéfica aos indivíduos. Com isso, estas duas ações

obtiveram níveis de concordância altos.

A segurança do trabalho também foi vista com certa aceitabilidade, apesar de não

caracterizar-se como foco de atuação empresarial. A média 5 e a variação de apenas 10%

mostram que os clientes concordam com as variáveis apresentadas, com 75% de pouca

concordância em ambas criadas – não conhecimento de acidentes nas operações do trabalho

nos últimos dois anos e utilização de equipamentos de proteção por parte dos funcionários

para realização das atividades. Os clientes têm conhecimento um tanto restrito em relação ao

âmbito da fábrica, mas explanam que, dada as características e porte organizacional, é

indispensável a verificação destes aspectos, principalmente no que tange a um ambiente

propício e seguro à realização das atividades, reiteram que quando do acontecimento de

acidentes maiores, fica quase que consequente o conhecimento deste tipo de informação pelos

principais clientes envolvidos.

Após a explanação da opinião dos clientes, é possível verificar a seguir como se

encontra o cubo tridimensional segundo sua visão:

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154

Figura 17: Cubo Tridimensional – Percepção dos Clientes

Fonte: Adaptado de Carroll (1979)

Os clientes verificam que o foco em iniciativas que propiciem melhores condições

para o consumo existe com maior evidência na Têxtil.

4.1.6 Consumidores

A empresa pesquisada fabrica fios de algodão e tecidos naturais, os quais são

revendidos para outras empresas para a fabricação do produto final. São confeccionadas

roupas, artigos para cama, mesa e banho, os quais são vendidos aos consumidores finais na

forma de varejo. Para que os consumidores façam uso de bons produtos, sua matéria-prima

tem que ser de qualidade e adequada às exigências necessárias.

4.1.6.1 Dimensão Categorias

Os consumidores pesquisados mostraram aceitabilidade em relação às categorias

expostas no modelo tridimensional. A observação dos valores das médias ponderadas mostra

essa constatação. Houve também média variabilidade de respostas, o que indica que os

consumidores têm opiniões similares. O gráfico a seguir mostra os níveis de concordância e

discordância das variáveis apresentadas.

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155

66,7%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

6,7%

0,0%

6,7%

0,0% 0,0%

6,7%

33,3%

0,0%

26,7%

6,7% 6,7%

20,0%

13,3%

40,0%

60,0%

6,7%

46,7%

26,7%

60,0%

33,3%

40,0%

6,7% 6,7%

60,0%

6,7%

66,7%

26,7% 26,7% 26,7%

33,3%

0,0%

33,3%

13,3%

0,0% 0,0%

20,0% 20,0%

13,3%

0,0% 0,0% 0,0%

Econômica Econômica1 Legal Legal1 Ética Ética1 Discricionária Discricionária1

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda

Concorda Pouco Concorda Muito Concorda Totalmente

Gráfico 16: Resultados da Dimensão Categorias - Consumidores

Fonte: Dados da Pesquisa

Os valores para cada categoria são apresentados conforme a seguir:

CATEGORIAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de Variação (%)

ECONÔMICA 5,33 0,71 13,4

LEGAL 5,50 1,02 18,6

ÉTICA 4,40 0,93 21,3

DISCRICIONÁRIA 4,60 0,85 18,3

Tabela 22: Valores Quantitativos para a dimensão Categorias - Consumidores

Fonte: Dados da Pesquisa

Os questionamentos referentes à categoria econômica foram respondidos com grande

segurança pelos consumidores entrevistados. Todos eles pontuaram que os produtos estão de

acordo com sua preferência, fazendo a devida ressalva de que roupas e artigos para cama e

banho estão sujeitos muito mais às escolhas pelo gosto (estilo) do comprador, do que por

características intrínsecas do produto. A adequação ao poder de compra também foi

concordada.

“Sim, os produtos são bons, do jeito que os consumidores gostam ou

querem”.

“Os preços são bons sim, acho que pelas roupas que eles vendem ta de

acordo”.

Essas percepções foram corroboradas pela muita concordância de 66,7% dos

consumidores que responderam à pesquisa quantitativa de que os produtos estão de acordo

com os requisitos, e da pouca concordância de 60% de que os preços estão de acordo com seu

poder de compra.

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156

Apesar da média de respostas 5,33, esta não foi a categoria que obteve a maior

consonância dentre as apresentadas.

A maior concordância veio da categoria legal; entretanto, esta conformidade não partiu

necessariamente da crença por parte da comunidade pesquisada de que as características para

abrangência social são totalmente de natureza legal. Na aplicação das entrevistas semi-

estruturadas, foi possível a promoção de diálogos em que alguns consumidores mencionam

que não há conhecimento de que a empresa atuou fora da legalidade, no entanto, acreditam

que o interesse pela promoção de iniciativas sociais não parte unicamente pela intenção

prioritária de estar em conformidade com requisitos legais.

“Não tenho conhecimento de a empresa ter atuado fora da legalidade. [...] Eu

acho que ela cumpre o que deve ser feito nesse aspecto [...] Nada me levou a

crer que a prioridade do projeto educacional, por exemplo, é estar dentro da

lei. Mas acho sim que do ponto de vista legal está tudo de acordo”.

A categoria legal obteve média significativa de 5,50 e dispersão média de dados de

18,6%. Essa dispersão, conforme pode ser visto pelo gráfico 16, mostra que 33,3%

concordam pouco sobre a adequação da organização ao código de defesa do consumidor, e

40% também concordam pouco sobre o desenvolvimento das atividades dentro da legalidade.

A não concordância total pode ser atribuída ao fato de que não é possível à organização

estudada transmitir a ideia direta aos consumidores sobre se a adoção de programas e

benefícios sociais é fundamentada unicamente na lei ou nos requisitos legais.

A categoria ética teve média de respostas de 4,40 e dispersão de opiniões de 21,3%. A

não concordância ou não discordância esteve em 40% das opiniões sobre o respeito à

integridade física e moral, e em 60% das opiniões sobre a divulgação de um código de ética.

Alguns consumidores compreendem que essas informações são mais bem dispostas no âmbito

interno à organização, mas que esse conhecimento poderia ser melhor disponibilizado a eles.

Na categoria discricionária, a média de respostas foi 4,60 e a variação média de

18,3%. A compreensão de que ações de natureza discricionária são realizadas pela empresa

mostrou-se relativamente boa, já que ela não possui um balanço social ou outro mecanismo

que propicie tal ação. Houve pouca concordância de 60% de que existem projetos

educacionais ou ambientais na comunidade, e 46,7% nem concordam nem discordam que ela

faz campanhas para melhoria da qualidade de vida das pessoas da região.

“Sei que a empresa faz projetos sociais, e acredito que alguns deles são por

iniciativa própria. Ela faz também doações, mas não sei a frequência.

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157

Acredito que assumir uma postura de responsabilidade social não é da noite

pro dia, e que a empresa vem tentando trabalhar com isso na medida do

possível”.

A consumidora que deu essa resposta conhece a empresa não de uma maneira física.

Todas as informações por ela dadas foram obtidas pelo parceiro da empresa, e este sim é

bastante conhecido na comunidade. Estas e outras opiniões mostram que o caráter

discricionário existe na empresa, de acordo com os consumidores; no entanto, não se trata da

característica central da organização.

Apesar de a média da categoria legal refletir a maior concordância de respostas dos

consumidores, é válido ressaltar que não houve total conhecimento se a empresa é de fato

fundamentada na busca pela realização de iniciativas sociais em conformidade com a lei; e,

deste modo, fica a categoria econômica como a que melhor explana, na opinião dos

investigados, a característica principal das ações e programas pela Têxtil realizados.

4.1.6.2 Dimensão Comportamentos e Respostas

Também chamada de responsividade social, esta dimensão apresentou opiniões um

pouco menos favoráveis, isso porque as médias estiveram em torno de 4 e não mais que 5. Os

consumidores investigados não acreditam que os tipos de resposta do modelo tridimensional

são característicos da Têxtil. Importante ressalvar que todas as variações das opções dos

consumidores mostraram-se com uma média dispersão.

66,7%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0%

6,7%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

6,7%

33,3%

6,7%

26,7%

6,7%

0,0% 0,0%

13,3%

20,0%

66,7%

33,3%

53,3%

33,3%

13,3%

46,7%

33,3%

20,0%

0,0%

53,3%

6,7%

46,7%

53,3%

40,0%

46,7%

33,3%

0,0%

6,7% 6,7%

13,3%

20,0%

13,3%

6,7%

20,0%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

13,3%

0,0% 0,0% 0,0%

Reativo1 Reativo Defensivo Defensivo1 Acomodativo Acomodativo1 Pró-Ativo Pró-Ativo1

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda

Concorda Pouco Concorda Muito Concorda Totalmente Gráfico 17: Resultados da Dimensão Comportamentos e Respostas - Consumidores

Fonte: Dados da Pesquisa

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158

Os valores dos comportamentos e respostas podem ser analisados na tabela 23:

COMPORTAMENTOS E RESPOSTAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de

Variação (%)

REATIVO 4,13 0,61 14,9

DEFENSIVO 4,23 0,88 20,8

ACOMODATIVO 5,00 0,81 16,2

PRÓ-ATIVO 4,43 1,03 23,3

Tabela 23: Valores Quantitativos para a dimensão Comportamentos e Respostas - Consumidores

Fonte: Dados da Pesquisa

Novamente o comportamento reativo foi o menos considerado como aplicável na

empresa, em consonância com a compreensão dos stakeholders já analisados. A média de

4,13 explana tal consideração. Da comunidade investigada, 66,7% nem concordam nem

discordam que a empresa desenvolve ações sociais depois de reclamações da comunidade; e

53% concordam pouco que os projetos feitos são para mitigar os impactos negativos que a

empresa pode causar. As explicitações a seguir explanam em detalhes a opinião dos

pesquisados:

“Eu não acho que uma reclamação pode ser suficiente pra provocar o

acontecimento de uma ação social. E isso não acontece com a [Têxtil] porque

ela nem deve sofrer reclamações ou conflitos oriundos aqui de fora”.

“Não. Acredito que essa não é essa a motivação [...]”.

De acordo com as respostas, os consumidores acreditam que a motivação para

realização de ações sociais da empresa não está propriamente no foco em resolução de

problemas, pois eles acreditam que a Têxtil não tem muitas questões desta natureza para

considerar. Eles evidenciam que não ouviram falar sobre a empresa com problemas.

O comportamento defensivo obteve 4,23 de média de respostas. Verifica-se que os

pesquisados não consideram muito esse tipo de comportamento ou resposta na empresa.

Dentre eles, 53,3% nem concordam nem discordam sobre a receptividade da organização para

relevância de problemas sociais, e 46,7% concordam pouco que os programas desenvolvidos

objetivam mitigar acidentes ou conflitos.

De maneira acomodativa, a Têxtil foi vista com média de respostas 5. De fato, este

comportamento foi o melhor colocado pelos consumidores como o tipo de responsividade da

organização. Houve pouca concordância de 53% de que as ações sociais são feitas para

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159

cumprir as exigências legais; e 47% nem concordam nem discordam que os programas feitos

são aqueles que os funcionários precisam e o governo solicita.

“Não sei se os projetos são muito abrangentes, ou se eles envolvem as

pessoas de fora, porque pelo menos para mim isto não está claro. Acredito

que essa informação não é muito divulgada. Mas a sociedade não cobra não.

Nem se posiciona sobre isso. O governo também não”.

“Acho que eles devem fazer como os funcionários precisam, mas não tenho

certeza. O governo eu acho que não interfere”.

Para os consumidores investigados, a empresa procura dispor práticas e iniciativas que

satisfazem o público interno. Esse é o entendimento deles. Entretanto, em relação ao

alinhamento às exigências do governo ou da opinião pública, eles acreditam que esta

iniciativa não há de fato, não por falhas ou falta de empenho da Têxtil, mas por características

da comunidade e do governo, os quais não demonstram exigências ou interesse necessários

para tal.

O comportamento pró-ativo obteve uma média de 4,43 e desvio padrão de 1,03. Os

projetos feitos por iniciativa própria foram pouco concordados pelos investigados, com

46,7%; e a mesma opinião, com 33%, foi para os projetos contra erradicação do trabalho

infantil, analfabetismo e outros. Sobre isso, os entrevistados pontuaram:

“Não tenho certeza sobre a existência desses projetos. Conheço o projeto

educacional, mas não sei como funciona mesmo”.

“Acho que o foco não é para antecipar-se aos problemas, só se eles forem em

grande quantidade, mas nunca ouvi falar que a [Têxtil] enfrenta grandes

conflitos ou questões problemáticas”.

Os consumidores, na verdade, atribuem maior parte de sua falta de conhecimento às

lacunas da empresa no que tange à sua transparência e disposição de informações para os

agentes externos. Realmente, não há uma cultura ou hábito de muitas empresas da localidade

de praticar tal procedimento, como também, os consumidores ou a comunidade não dispõem

de interesse necessário para isso.

Dentre as respostas dos consumidores analisadas, fica a compreensão de que os

comportamentos evidenciados no modelo tridimensional de performance social de Carroll

(1979) não são totalmente aplicáveis ou característicos da Têxtil. Mas pela natureza e

tipologia de suas opiniões, é possível relacionar o comportamento acomodativo como o mais

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160

direcionado à organização, já que alguns consumidores reiteram que possivelmente a empresa

pode estar alinhada às opiniões ou requerimentos do público externo, se houver.

4.1.6.3 Dimensão Ações e Programas

Esta dimensão obteve grande número (o maior) de opiniões de nenhuma concordância

ou nenhuma discordância. O que ocorre é que os consumidores não verificaram como foco da

organização em questão as ações abordadas, tendo pouca concordância apenas com a ação

segurança do produto. O gráfico 18 dá uma ideia.

73,3%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0%

13,3%

6,7%

13,3%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0%

6,7%

33,3% 33,3%

6,7%

0,0% 0,0% 0,0%

6,7%

0,0%

73,3%

66,7%

46,7%

53,3%

73,3%

40,0%

6,7%

33,3%

66,7%

46,7%

26,7% 26,7%

6,7% 6,7%

0,0%

53,3%

46,7%

26,7%

20,0%

26,7%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

6,7% 6,7%

46,7%

40,0%

6,7%

26,7%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Consumo Consumo1 Meio Ambiente Meio Ambiente1 Discriminação Discriminação1 Segurança doProduto

Segurança doProduto1

Segurança doTrabalho

Segurança doTrabalho1

Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda Concorda Pouco

Concorda Muito Concorda Totalmente Gráfico 18: Resultados da Dimensão Ações e Programas - Consumidores

Fonte: Dados da Pesquisa

Da conformidade ou não com as variáveis apresentadas, têm-se os seguintes valores

para cada ação ou programa apresentado:

AÇÕES E PROGRAMAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de Variação (%)

CONSUMO 4,23 0,51 12

MEIO-AMBIENTE 3,53 0,78 22,2

DISCRIMINAÇÃO 4,23 0,78 18,4

SEG. PRODUTO 5,23 0,75 14,4

SEG. TRABALHO 4,53 0,78 17,2

Tabela 24: Valores Quantitativos para a dimensão Ações e Programas - Consumidores

Fonte: Dados da Pesquisa

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161

As médias ponderadas referentes às ações e programas consumo, meio ambiente e

discriminação mostram valores iguais para o consumo e discriminação, e pequena

aceitabilidade para o meio ambiente. Conforme já abordado, ações com foco no meio

ambiente não são desenvolvidas na comunidade local, bem como a disposição de informações

sobre preservação ou educação ambiental. O foco no consumo também foi pouco

evidenciado, tanto pelos entrevistados quanto pelas pessoas que participaram da pesquisa

quantitativa, mas agora deveu-se ao fato do pouco conhecimento sobre a disposição das

normas técnicas e o atendimento pós-venda:

“Eu não posso te afirmar com certeza, até nunca prestei atenção pra esse fato

sabe. Mas acho que a empresa deve dispor sim as normas técnicas, é

necessário né”.

Em relação ao foco discriminatório, 53,3% concordam pouco que desconhecem o

acontecimento de discriminação social ou racial entre funcionários ou com outras pessoas no

âmbito da empresa. Sobre isso, pontuam:

“Acho que a discriminação mesmo é uma coisa muito forte e até ruim pra

empresa, e ela deve fazer de tudo pra que isso não aconteça. Não ouvi falar

que isso aconteceu, e se acontece mesmo acho que só quem fica sabendo

mesmo é o pessoal de dentro. O foco social? Pode ser sim a discriminação,

mas não sei te dizer com certeza”.

A segurança do produto foi o centro de atenções que obteve maior aceitabilidade, com

média 5,23 e 46,7% de muita concordância sobre o não oferecimento de riscos do produto

para a saúde dos consumidores; e 40% de muita concordância que a empresa atende às

normas de excelência do padrão de qualidade do produto.

Existe uma confiança dos consumidores em relação ao produto vendido e uma crença

de que a empresa deve fazer o possível em relação à sua fabricação para que eles sejam de

qualidade. Possivelmente, a Têxtil deve proporcionar aos seus funcionários programas e

benefícios sociais que os fazem melhor dispostos para as tarefas diárias, na busca de uma

qualidade de trabalho boa para que eles possam produzir eficientemente, já que conforme os

funcionários o foco de atuação social da empresa são eles próprios.

Por fim, a segurança do trabalho acompanhou a percepção das outras ações e

programas: consumo, meio ambiente e discriminação. Dentre os consumidores pesquisados,

67% não têm o efetivo conhecimento de que ocorreram acidentes no trabalho nos últimos dois

anos, o que é um dado positivo para a empresa. Em contrapartida,46,7% nem concordam nem

discordam que os funcionários utilizam equipamentos de proteção para realizar suas

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162

atividades no trabalho. Esta última compreensão foi originada da falta deste tipo de

informação, já que está intimamente relacionada a características internas da organização.

Em suma, a percepção dos consumidores sobre a postura social da Têxtil pode ser

observada conforme o cubo a seguir:

Figura 18: Cubo Tridimensional – Percepção dos Consumidores

Fonte: Adaptado de Carroll (1979)

Em detrimento das análises anteriores, as três dimensões evidenciadas não foram

totalmente concordadas pelos consumidores. A análise mostra que muitas das variáveis da

dimensão ações e programas não foram concordadas nem discordadas, ou seja, eles não veem

muita aplicabilidade delas como foco social da Têxtil.

4.1.7 Comunidade

Os indivíduos da comunidade selecionados para a participação no estudo possuem

conhecimentos limitados sobre os programas sociais pela empresa desenvolvidos. Mas ainda

assim efetivou-se a pesquisa para verificar até que ponto as informações eram repassadas e

dispostas entre os integrantes da comunidade. O projeto educacional é conhecido de maneira

concisa, os projetos em parceria são pouco mencionados e os de iniciativa própria não foram

tidos com informações relevantes para abordagem na pesquisa.

A análise das dimensões a seguir mostra o entendimento sobre responsabilidade social

e sobre a atuação da Têxtil no que concerne a este assunto.

4.1.7.1 Dimensão Categorias

Nas categorias de responsabilidade social, as percepções não foram muito

homogêneas, principalmente porque as pessoas demonstraram diferentes compreensões acerca

Page 163: DIAGNÓSTICO DAS PERCEPÇÕES DE RESPONSABILIDADE … · 3 M141d Macêdo, Nívea Marcela M. Nascimento. UFPB/BC Diagnóstico das percepções de responsabilidade social empresarial

163

do conceito de responsabilidade social, suas formas de atuação e influência, tanto para uma

empresa como para a comunidade na qual ela se insere.

Nesse sentido, a análise do gráfico evidencia um ponto como não resposta, referente à

cor azul, uma vez que os cidadãos participantes não responderam algumas das afirmações

dispostas nos questionários – instrumento quantitativo – bem como as entrevistas –

instrumento qualitativo.

O gráfico a seguir evidencia as respostas e seu nível de concordância.

88,9%

0,0% 0,0% 0,0%

55,6%

11,1%

77,8%

11,1%

0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

11,1%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

88,9%

0,0%

44,4%

0,0%

11,1% 11,1%

0,0% 0,0% 0,0%

22,2%

44,4%

55,6%

44,4%

33,3%

55,6%

22,2%

0,0%

44,4%

0,0%

44,4% 44,4%

0,0%

33,3%

0,0% 0,0%

33,3%

0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Econômica Econômica1 Legal Legal1 Ética Ética1 Discricionária Discricionária1

Não resposta Discorda Totalmente Discorda Muito

Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda Concorda Pouco

Concorda Muito Concorda Totalmente Gráfico 19: Resultados da Dimensão Categorias - Comunidade

Fonte: Dados da Pesquisa

Os valores para cada categoria estão dispostos conforme a tabela a seguir:

CATEGORIAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de Variação (%)

ECONÔMICA 5,39 0,62 11,5

LEGAL 5,17 0,51 9,8

ÉTICA 3,40 0,00 0

DISCRICIONÁRIA 4,22 0,74 17,6

Tabela 25: Valores Quantitativos para a dimensão Categorias - Comunidade

Fonte: Dados da Pesquisa

Para a categoria econômica, a comunidade mostrou uma forte concordância, a média

foi de 5,39, o desvio padrão de 0,62 e a variação das respostas foi baixa, de 11,5%. Houve

grande e total concordância nas variáveis: produtos de qualidade e de acordo com os

requisitos, e preços adequados ao poder de compra dos consumidores, os valores foram

respectivamente de 55,6% e 44,4%. Para a comunidade, todos os artigos conhecidos de

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164

fabricação da empresa são adequados e de qualidade, bem como os preços, dada a demanda

que querem atingir.

Com isto, esta categoria foi avaliada pela comunidade como a característica principal

da empresa. Esta constatação é principalmente originária do não conhecimento sobre as

atividades voluntárias, próprias ou não, de caráter ético ou normativo, que indicam claramente

as opiniões e objetivos da empresa. O não conhecimento maior sobre estas questões leva a

categoria econômica a ser o atributo principal que rege as ações e iniciativas da Têxtil,

segundo a comunidade a que ela faz parte.

A categoria legal obteve pouco menos de aceitação, com 5,17 de média e 9,8% de

variação das respostas dadas. Nesta categoria, a primeira variável não foi respondida por

55,6% da comunidade pesquisada, que foi a conformidade dos produtos com as normas do

código de defesa do consumidor; e 55,6% concordaram pouco que a empresa desenvolve suas

atividades dentro da legalidade. Com isso, observa-se que a comunidade não tem muito

conhecimento sobre as características dos produtos oferecidos; bem como analisam as ações

dentro da legalidade como suposições, e não como constatações oriundas de informações

geradas pela empresa.

“Não tenho conhecimento muito sobre isso. Acho que é tudo dentro da

legalidade sim”.

A categoria ética não obteve significativa verificação de aplicabilidade da empresa. Na

verdade, um montante de 77,8% da comunidade não respondeu sobre o respeito à integridade

física e moral de funcionários e clientes. E ainda 88,9% discordam pouco que a empresa

possui e divulga seu código de ética. Pela falta de meios que garantam maior transparência e

informação para os atores externos à organização, até pelo fato de este não ser um objetivo

prioritário, a comunidade acaba por ficar sem o conhecimento das práticas e processos que

regulam as atividades sociais do negócio em questão. Assim, a média de respostas foi de

apenas 3,40, não sendo possível verificar desvio padrão e variação de respostas para esta

categoria.

De acordo com a análise da categoria discricionária, verifica-se que o conhecimento

sobre responsabilidade social é um pouco restrito entre algumas das pessoas entrevistadas.

Nem sempre elas relacionam o conceito às ações implantadas. As respostas a seguir podem

mostrar o entendimento e opinião de alguns da comunidade.

Page 165: DIAGNÓSTICO DAS PERCEPÇÕES DE RESPONSABILIDADE … · 3 M141d Macêdo, Nívea Marcela M. Nascimento. UFPB/BC Diagnóstico das percepções de responsabilidade social empresarial

165

“Campanhas pra melhorar a vida aqui não tem. Conheço sim o [projeto

educacional], mas não são eles que procuram os jovens aqui pra participar,

tem a ajuda de, acho que outra empresa, do governo”.

“Não sei se tem abertura pra tratar problemas daqui. Mas acho que não existe

esse costume sabe. Não, não tem incentivo [para interação com a

comunidade]. É como te falei, é falta de costume”.

Com isso, esta categoria obteve média 4,22 e dispersão mediana de 17,6%. As

opiniões mostraram-se assim um pouco heterogêneas, conforme se pode observar no gráfico.

Na primeira variável, 44,4% da comunidade concordaram pouco que a organização

desenvolve projetos ambientais ou educacionais, e a mesma porcentagem nem concorda nem

discorda que promove campanhas voltadas para melhoria da qualidade de vida das pessoas da

região e se mostra aberta a atender a comunidade.

Nesse sentido, houve maior conhecimento e opinião sobre as ações pela Têxtil

implantadas. Mas a categoria discricionária não obteve aceitabilidade necessária como

característica social da empresa, de acordo com a comunidade.

4.1.7.2 Dimensão Comportamentos e Respostas

Em relação aos comportamentos e respostas, as percepções não foram distintas, apesar

de que novamente houve um contingente de pessoas que não respondeu a algumas variáveis

da pesquisa, conforme se observa no próximo gráfico.

88,9%

0,0%

11,1%

88,9%

22,2%

77,8%

44,4%

22,2%

33,3%

66,7%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

11,1%

0,0% 0,0%

55,6%

11,1%

44,4%

0,0% 0,0%

44,4%

33,3%

0,0%

33,3%

0,0%

33,3%

0,0% 0,0%

22,2%

33,3%

11,1%

0,0% 0,0% 0,0%

22,2%

44,4%

0,0% 0,0%

11,1%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

11,1%

0,0% 0,0%

11,1%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

Reativo1 Reativo Defensivo Defensivo1 Acomodativo Acomodativo1 Pró-Ativo Pró-Ativo1

Não resposta Discorda Totalmente Discorda Muito

Discorda Pouco Nem concorda/nem discorda Concorda Pouco

Concorda Muito Concorda Totalmente Gráfico 20: Resultados da Dimensão Comportamentos e Respostas - Comunidade

Fonte: Dados da Pesquisa

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166

A tabela a seguir explana em detalhes cada resposta e os valores encontrados mediante

a percepção da comunidade.

COMPORTAMENTOS E

RESPOSTAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de Variação (%)

REATIVO 3,33 0,26 7,8

DEFENSIVO 3,78 0,26 7,0

ACOMODATIVO 4,00 0,57 14,2

PRÓ-ATIVO 4,00 0,77 19,3

Tabela 26: Valores Quantitativos para a dimensão Comportamentos e Respostas - Comunidade

Fonte: Dados da Pesquisa

A visão de como é o comportamento ou respostas da empresa foi um pouco difusa; a

tabela mostra que o comportamento acomodativo obteve a mesma média que o pró-ativo.

A comunidade entende que a empresa não é reativa porque, da própria parte deles, não

há qualquer tipo de reclamação ou requerimento. Eles também não acreditam ser evidente ou

aparente qualquer tipo de problema que ameace os objetivos da empresa.

“Acho que não existem problemas graves. As pessoas não procuram qualquer

diálogo com a empresa, por isso uma reação à conflitos não existe”.

Assim, o comportamento reativo obteve média 3,33, tendo uma discordância um

pouco maior que o defensivo, com média 3,78, ambos com desvio padrão de 0,26 e pequena

variabilidade de respostas em torno de 7%. A resposta defensiva também não foi considerada,

já que a variável receptividade da empresa para tratar problemas sociais foi vista com 44,4%

de pouca discordância e a variável desenvolvimento de programas sociais para evitar

acidentes ou conflitos com 77,8% sem respostas.

O comportamento ou resposta acomodativo foi mais bem concordado pela

comunidade, que mostrou média de respostas 4 e variabilidade de 14,2%. Ainda assim, 44,4%

concordam pouco que as ações sociais são feitas para cumprir às exigências legais, e também

44,4% discordam pouco que a empresa desenvolve os projetos sociais que os funcionários

precisam e o governo solicita. A comunidade pesquisada entende que não há interação, nem

troca de opiniões, e que esse diálogo deve ser uma ação ou processo recíproco. Assim, a

adequação às exigências do governo e da opinião pública fica comprometida, não

necessariamente pela organização, mas pela própria atuação do governo e da comunidade, que

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167

não estão ainda com uma relação estreita e consolidada com a empresa para troca de

informações e ideias.

“Essa é uma questão a se discutir, já que, por exemplo, o líder comunitário

não tem quase que nenhuma discussão com a empresa. As pessoas também

não [...] Mas é que existem outras coisas, e também acho que a

responsabilidade social é melhor tratada por eles, que estão mais ligados. Não

sei se os projetos são abrangentes, mas pode ser pra eles lá dentro, porque

pelo nosso conhecimento não é”.

A pró-atividade, também com uma opinião que gerou média 4, é vista como mais

característica do comportamento social da empresa. A comunidade pesquisada acredita que

existem projetos consolidados, ainda que não saibam se a iniciativa é própria ou em parceria.

“Sei que eles adotam programas educativos, como o [projeto educacional], e

alguns agente ouve falar que são feitos na fábrica, pra os funcionários, mas

não sei detalhar como eles são”.

“Sim, a empresa faz projetos sociais, mas acho que eles são mais pra o

pessoal lá de dentro mesmo”.

A variável adoção de projetos sociais, internamente ou na comunidade local por

iniciativa própria, obteve 33,3% de nenhuma concordância ou nenhuma discordância. A

segunda referente à adoção de projetos contra erradicação do trabalho infantil, analfabetismo,

discriminação, incentivo à cultura ou outros não foi respondida por 66,7% da comunidade

pesquisada. Para os pesquisados, os programas sociais existem e são desenvolvidos na

empresa de maneira satisfatória, mas essas são suposições e entendimentos consequentes,

dada a observação não participante que alguns realizaram. Deste modo, eles acreditam que a

resposta característica é a pró-ativa, já que eles sabem de maneira sucinta da aplicação de

atividades sociais.

4.1.7.3 Dimensão Ações e Programas

Esta dimensão foi a que apresentou menor conhecimento e menor concordância em

relação às ações e programas apresentados. O gráfico seguinte dá uma primeira impressão

sobre os resultados encontrados.

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168

100,0%

0,0%

66,7%

100,0%

0,0%

11,1%

77,8%

0,0% 0,0%

55,6%

0,0%

66,7%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0%

44,4%

11,1%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0%

55,6%

66,7%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%0,0% 0,0% 0,0%

11,1%

0,0% 0,0% 0,0%

11,1%

0,0%

11,1%

22,2%

0,0% 0,0% 0,0%

22,2%

33,3%

11,1% 11,1%

44,4%

11,1%11,1%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

66,7% 66,7%

0,0%

44,4%

11,1%

0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%

22,2% 22,2%

11,1%

0,0%

Consumo Consumo1 Meio Ambiente MeioAmbiente1

DiscriminaçãoDiscriminação1

Segurança doProduto

Segurança doProduto1

Segurança doTrabalho

Segurança doTrabalho1

Não resposta Discorda Totalmente Discorda Muito Discorda Pouco

Nem concorda/nem discorda Concorda Pouco Concorda Muito Concorda Totalmente Gráfico 21: Resultados da Dimensão Ações e Programas - Comunidade

Fonte: Dados da Pesquisa

Para cada ação ou programa, foram encontrados os valores:

AÇÕES E PROGRAMAS Valor Médio Desvio - Padrão Coeficiente de Variação (%)

CONSUMO 5,33 0,29 5,4

MEIO-AMBIENTE 2,76 0,53 19,2

DISCRIMINAÇÃO 5,55 0,25 4,5

SEG. PRODUTO 6,00 1,05 17,5

SEG. TRABALHO 5,50 0,85 15,5

Tabela 27: Valores Quantitativos para a dimensão Ações e Programas - Comunidade

Fonte: Dados da Pesquisa

Na ação ou programa consumo, grande parte dos pesquisados não responderam as

variáveis apresentadas, no entanto, para as respostas válidas, houve uma média 5,33. A

primeira variável não foi respondida por 66,7% da comunidade pesquisada, a qual consistiu

na adequada disposição das normas técnicas dos produtos. Apenas 22,2% concordam pouco

que ela é aplicável. A segunda variável não foi respondida pelos pesquisados, a qual consistiu

em saber sobre o atendimento pós venda. As entrevistas mostraram que a comunidade não

tem efetivo conhecimento sobre essas especificidades, às quais estão relacionadas diretamente

com o processo logístico da empresa.

“Nunca procurei este tipo de informação. Mas acho que o foco não deve ser

esse, tem outras coisas pra se trabalhar no social”.

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Na opinião sobre meio ambiente, a média de 2,76 mostra que a concordância é bem

pequena, e não houve muita variação de respostas nesse sentido, de 19,2%. A variável

desenvolvimento de projetos de preservação ambiental na comunidade foi pouco discordada

por 55,6%. E o fornecimento de informações sobre educação ambiental foi também pouco

discordada por 66,7% da comunidade pesquisada. Essas iniciativas não se mostraram como

foco ou área de interesse da administração. Assim é percebido pela comunidade.

“Não existe políticas de preservação ambiental não. Ou pelo menos não tenho

conhecimento. Também nunca ouvi falar de algum interesse sobre isso [...]

Preservação ambiental ou desenvolvimento sustentável não tem tanta

valorização aqui pelas empresas da região”.

Atividades para impedir a discriminação são vistas pela comunidade com opiniões

similares, já que a variação foi de 4,5%. A média de 5,55 apresenta uma concordância em

relação às respostas dadas. O desvio padrão de 0,25 apresenta-se pequeno, dada a

equivalência das respostas. Em relação ao conhecimento de que não existem barreiras à

contratação de pessoas com mais de 45 anos de idade ou por outra razão, 77,8% da

comunidade não efetivou respostas. Seria natural o entendimento ou conhecimento deste tipo

de informação por parte dos pesquisados se a empresa disponibilizasse procedimentos

relacionados à transparência necessária para tal. As informações podem ser dadas a qualquer

indivíduo que solicitá-las à empresa, mas a falta de um balanço ou até mesmo de um site

apropriado na internet que favoreça o conhecimento destes tipos de dados dificulta uma

percepção positiva da comunidade.

O mesmo não acontece com a segunda variável, que consiste no desconhecimento por

parte da comunidade do acontecimento de discriminação social ou racial entre funcionários ou

outros relacionados à empresa. Eles demonstram que informações deste tipo são mais

facilmente divulgadas, e que, de fato, esta conduta não existe.

Apesar da concordância com a não discriminação, a maior média, 6, foi originária do

foco segurança do produto. E as respostas não foram heterogêneas, pois a variação foi de

17,5%. O atendimento às normas de excelência do padrão de qualidade do produto não foi

respondido por 55,6% da comunidade. Entretanto, houve muita concordância, de 66,7%, em

relação ao não oferecimento de riscos por parte dos produtos à saúde dos consumidores.

Esse entendimento é originário da confiança gerada pelos produtos vendidos. As

pessoas os consideram de boa qualidade e, até certo ponto, dentro de seu conhecimento

restrito, conforme as normas requisitadas.

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170

“Os produtos são sim de qualidade. Tanto as roupas quanto os artigos para

cama e banho. Desse ponto de vista da fabricação acho que a empresa cuida

pra que seja bem feito, acho que ela tem o cuidado”.

“Sim os produtos são de qualidade. Acho que a comunidade não tem do que

reclamar nesse sentido”.

O foco na segurança do produto é considerado no momento em que a comunidade

acha ou entende que a fabricação e a própria administração da organização tem a preocupação

de oferecer produtos sem riscos ou com o mínimo de defeitos.

A segurança no trabalho apresentou média de respostas de 5,50 e baixa dispersão de

15,5%. Houve muita concordância, de 44,4%, de que não há o conhecimento de acidentes nas

operações do trabalho nos últimos dois anos. Houve um déficit de respostas apenas em

relação à utilização de equipamentos de proteção no trabalho.

Os membros da comunidade entrevistados revelaram não ter conhecimento da

ocorrência de acidentes. E acreditam que a relevância social deve começar com a garantia e

esforço contínuo para um adequado e seguro ambiente de trabalho.

“Acho que se for pra ter responsabilidade social, a primeira coisa é manter

boas condições pra trabalhar. Não adianta pensar em fazer coisas boas ou pra

a comunidade ou pra empresa mesmo se os funcionários não estão satisfeitos

com o trabalho”.

Outros entrevistados manifestaram opiniões similares; e, de acordo com o exposto, é

possível verificar que, segundo eles, o foco de atuação social, até pelas informações ou pouco

conhecimento por eles tidos, seja a segurança do produto.

O cubo a seguir explana a opinião da comunidade:

Figura 19: Cubo Tridimensional – Percepção da Comunidade

Fonte: Adaptado de Carroll (1979)

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171

As percepções da comunidade encontram-se difusas e existe uma grande necessidade

de maior disponibilidade de informações sobre a Têxtil a eles, sob a prerrogativa de que seu

entendimento e observação encontram-se muitas vezes fora ou diferente da realidade da

organização. É necessário que a comunidade a qual circunda a empresa saiba ou entenda seus

objetivos, tenha confiança em suas atitudes e possa manifestar, quando possível, uma ajuda,

apoio ou descontentamento quando da adoção de suas práticas.

Após a explanação da percepção e entendimento dos stakeholders da Têxtil

pesquisados, observa-se uma análise em conjunto de suas interpretações por meio do cubo

tridimensional de performance social.

4.2 Cubo Tridimensional de Performance Social

A categoria econômica apresentou uma concordância grande ou quase total em muitas

das percepções analisadas. Praticamente todos os stakeholders pesquisados entendem que

aspectos de natureza econômica são eficientemente administrados pela Têxtil. Este dado

corrobora o pensamento de Friedman (1984), e Donelly, Gibson e Ivancevich (2000), que

abordam que a principal finalidade da empresa é a garantia do efetivo retorno financeiro aos

envolvidos. Carroll (1979) aponta que a eficiência da categoria econômica é indispensável

para o sucesso da empresa, e que deve ser permanente para a sobrevivência de qualquer

negócio, e, sendo assim, a Têxtil pode ser considerada, segundo seus stakeholders, como

eficiente neste aspecto.

A categoria legal obteve as maiores percepções de concordância por causa do

entendimento, também quase que conjunto, de que a empresa busca legitimidade e seriedade

garantidas pela consideração de requisitos legais. Os stakeholders percebem que, sem a

devida adequação a esses requisitos, não é viável o planejamento social, e enfocam também

que as ações da empresa, as quais são em benefício de seus funcionários, estão em sua

maioria dispostas conforme os parâmetros legais.

Os stakeholders entendem que não há muita aplicabilidade da categoria ética. Ainda é

necessário o fomento de algumas ferramentas internas e a conscientização da importância da

implantação deste aspecto no cotidiano das atividades, ou seja, uma cultura propícia tem que

estar em constante trabalho para fornecer maior abertura da diretoria e ambiente de

entrosamento na adoção de princípios éticos. Nenhum stakeholder viu esta categoria como

característica da empresa pesquisada.

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172

A não ocorrência de parcerias com ONG‟s – Organizações Não Governamentais -, a

não adoção de projetos por iniciativa própria na comunidade e a pequena disseminação de

informações e consequente conhecimento sobre a empresa fazem com que os pesquisados não

verifiquem ou caracterizem a Têxtil como discricionária. As doações realizadas para institutos

da comunidade local e alguns benefícios concedidos ao público interno não foram tidos como

suficientes para tal caracterização.

Algumas particularidades foram observadas, como a grande concordância dos

fornecedores com a aplicação das categorias do modelo. O contrário foi colocado pelos

consumidores, que não verificaram as categorias do modelo tridimensional como

características apropriadas da empresa. Já os parceiros apresentaram posicionamentos

contrários sobre as categorias na pesquisa quantitativa e qualitativa: os dados quantitativos

indicaram a categoria legal, já os qualitativos mostraram um posicionamento discricionário.

Outro ponto a destacar foi a grande discordância com o comportamento reativo. E este

fato está diretamente relacionado à realidade da empresa, conforme já abordado. A opinião

acomodativa foi a que obteve maior aceitabilidade por praticamente todos, já que a Têxtil

possui realmente um caráter legal (o que foi pontuado pelos investigados), e existe uma

estreita relação entre as exigências legais e a opinião do público externo e do governo.

Há que se destacar que quanto mais conhecimento as pessoas investigadas mostravam

sobre a empresa, maior era o entendimento de que suas ações eram mais direcionadas ao

âmbito interno, aos funcionários. E, sendo assim, esta ação ou programa foi inserida no

modelo tridimensional para efeito desta pesquisa, já que, conforme Carroll (1979), esta

dimensão permite que o observador ou pesquisador posicione o foco que for mais

característico da empresa em análise.

A segurança do produto foi igualmente concordada com os funcionários como foco

social da organização. Entretanto este diagnóstico foi feito mediante o pouco conhecimento

tido sobre a atuação da Têxtil, e mediante também a constatação de que os produtos são

seguros e de qualidade, o que leva a crer que a empresa tem como centro de atenções a

eficiente fabricação dos produtos.

A adoção do programa 5‟s pela Têxtil serve de base para esse centro de atenções nos

funcionários, como também é o primeiro passo para projetos mais audaciosos como a

certificação das normas ISO. Essa base é originada do fato de que tornar o ambiente de

trabalho melhor e modificar as atitudes das pessoas infere numa transformação da qualidade

de vida dos funcionários. A intenção prioritária da Têxtil, segundo observação, é aumentar a

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produtividade e reduzir custos e desperdícios, e com isso o programa 5‟s acaba por influenciar

beneficamente a realização das atividades e a postura dos funcionários.

Esse foco social é visto por eles próprios, mas reiteram que as relações de cooperação

e trabalho em equipe precisam de maior consolidação e efetividade, de maior compromisso

ético, e talvez de maior relevância sobre suas reais necessidades, algo que, para eles, não está

sendo propriamente considerado pela organização.

Com isso, observam-se opiniões não muito distintas, e que estão baseadas nas

características e realidade da empresa. A seguir tem-se um cubo geral onde é possível

verificar a opinião de todos os stakeholders da Têxtil pesquisados.

Figura 24: Cubo Tridimensional – Percepção dos Stakeholders pesquisados

Fonte: Adaptado de Carroll (1979)

LEGENDA:

PARCEIROS CLIENTES

FUNCIONÁRIOS CONSUMIDORES

DIRETORES COMUNIDADE

FORNECEDORES

Pela observação do cubo, é possível verificar que as opiniões que obtiveram maior

aceitabilidade nas três dimensões do modelo, as quais são respectivamente Categorias de

Performance Social, Comportamentos e Respostas e Ações e Programas foram a Legal,

Acomodativa e Funcionários.

De uma maneira geral, os stakeholders percebem que os projetos pela Têxtil

trabalhados não têm ainda um caráter abrangente, que possa ser considerado pró-ativo, e que

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dessa forma está mais voltado às especificações do governo ou da opinião pública, por não ter

uma iniciativa propriamente voluntária.

Nem todas as pessoas sabem que a Têxtil ainda é “principiante” no trato da

responsabilidade social. Algumas pessoas do público externo, principalmente, verificam que a

empresa possui uma postura abrangente e consolidada. Esta opinião errônea é derivada do

fato de que iniciativas sociais de empresas da comunidade local não são frequentes, como

também a responsabilidade social não é um conceito amplo para operacionalização ou

planejamento efetivo. Com isso, mínimas iniciativas direcionadas à RSE são vistas com total

singularidade e importância.

Outro ponto a destacar seria o de que os funcionários voluntários e os não voluntários

obtiveram opiniões um tanto difusas quanto às dimensões apresentadas. O grande número de

funcionários da empresa não está diretamente envolvido com as ações sociais, e verificou-se

que esta parcela de pessoas não está propensa a ter uma opinião ou visão totalmente positiva

dessas iniciativas e benefícios internos, isto porque os funcionários relacionados aos projetos

os caracterizam como voluntários e benéficos àqueles a que se destinam. No entanto, a visão

geral é de que há uma grande necessidade de maior troca de informações e ideias entre

diretoria e funcionários gerais, e que nem sempre a intenção dos projetos é totalmente

alcançada.

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Capítulo 5 – Conclusões

Conforme especificado na fundamentação teórica do presente estudo, a RSE

evidencia-se como um tema em ascensão e passível a muitas lacunas, tanto do ponto de vista

de seu conceito quanto principalmente de sua operacionalidade. Paralelo e apesar deste fator,

observa-se que iniciativas e projetos de cunho social estão obtendo maior importância e

representatividade na estratégia de negócios de empresas da atualidade.

Com isso, o esclarecimento de ferramentas que objetivem aumentar o campo de

conhecimento e promover aplicabilidade a conceitos e ideias não claramente práticos

apresenta devida importância. Foi nesse sentido que esse estudo procurou trabalhar, uma vez

que o modelo tridimensional oferece abordagens e entendimentos, mas necessita de

esclarecimentos e direcionamentos para que seja efetivado ou aplicado dada a realidade do

momento. O conhecimento sobre ações socialmente responsáveis, bem como sua aplicação,

obtém, com esta pesquisa, a possibilidade de maior consideração e campo de estudo,

principalmente pela construção de parâmetros, instrumentos e variáveis de pesquisa para o

modelo tridimensional de performance social criado em 1979.

Coloca-se a importância de estudar e efetivar aplicabilidades para modelos conceituais

de RSE, dada a necessidade que as empresas têm de estruturar e fomentar ações sociais, e

dada a necessidade de estudos desta natureza na literatura relacionada.

A pergunta de pesquisa que norteou a construção da presente dissertação foi: “Quais

as percepções que os diversos tipos de stakeholders podem apresentar acerca da RSE adotada

por uma empresa do setor têxtil?”.

Para responder a esta pergunta, utilizou-se um modelo conceitual de RSE muito

conhecido, mas pouco aplicado na academia, o modelo tridimensional de performance social

ou simplesmente cubo tridimensional de Carroll (1979), o qual fornece ângulos de análise que

priorizam as interpretações e participações dos stakeholders de uma organização.

Construíram-se variáveis e instrumentos de pesquisa específicos para a devida análise

mediante este modelo, os quais não tinham sido criados pelo autor, e que se constituem na

principal contribuição acadêmica deste estudo. Analisou-se quem eram os stakeholders que

conheciam as ações da empresa Têxtil e verificou-se a percepção e entendimento que estes

tinham sobre elas, procurando-se evidenciar os acontecimentos relacionados a estas opiniões.

De uma maneira geral, os stakeholders apresentaram percepções similares sobre as

ações sociais da Têxtil, apesar de possuírem distintas atuações na empresa. Conforme o cubo

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tridimensional apresentou, os projetos sociais são vistos em sua maioria com um enfoque

legal, uma resposta acomodativa e um foco social nos funcionários.

O pouco conhecimento sobre as ações sociais e sobre a própria Têxtil leva alguns

membros externos a apresentarem uma visão que não se enquadra com a realidade da

empresa. Os consumidores, por exemplo, acreditam que a característica dos programas da

organização é econômica, a resposta é acomodativa e o foco é a segurança do produto. Esta

percepção é tida porque os consumidores muitas vezes não têm como afirmar ou inferir

opiniões sobre a empresa, e seu entendimento e percepção acabam por direcionar-se, assim,

para a visão de que a atuação social se faz sob os requisitos mínimos possíveis e não sobre

uma característica voluntária e pró-ativa.

Uma quase unanimidade de opiniões esteve relacionada à visão de que a Têxtil não

enfrenta muitos problemas ou apelos sociais que incidam ou requeiram um posicionamento de

resposta direto e firme por parte da empresa, e possivelmente por isso o tipo de

comportamento acomodativo tenha sido o mais concordado pelos pesquisados.

Os stakeholders compreendem ainda que o produto da empresa seja seguro e de

qualidade, o que permitiu que três grupos de pesquisados optassem por este tipo de foco

social da organização. Ainda assim, o centro de atenções nos funcionários foi totalmente

evidenciado, tanto nas entrevistas como nos questionários do público interno pesquisado e

também de alguns do público externo. O projeto educacional é visto pelos investigados como

uma das maiores contribuições da atuação social da empresa, que visa à educação profissional

de jovens e adolescentes, os quais podem inclusive, após o curso, trabalhar na própria fábrica

da organização.

Esses resultados indicam que a percepção do público interno está relacionada à

realidade da organização, com a ressalva de que ainda muitas pessoas, principalmente os

voluntários, precisam de maior conhecimento sobre a atuação socialmente responsável, sobre

os direitos e deveres das organizações e sobre o que elas podem realmente construir em

benefício interno e da comunidade ou região a qual se inserem.

O conhecimento das percepções dos stakeholders de uma empresa sobre sua atuação

social ajuda neste sentido, pois evidencia quais as pessoas mais influenciadas e beneficiadas

pelas ações, como também apresenta onde a empresa pode ou deve trabalhar mais no sentido

de melhorar sua imagem e auferir maiores ganhos quando da participação – trabalho conjunto

– de membros internos e externos a ela.

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Verificou-se que a RSE da empresa Têxtil não gera benefícios diretos para a

comunidade local, esse conjunto de stakeholders possui pouco conhecimento sobre a empresa,

o que pode dificultar uma opinião positiva sobre sua postura socialmente responsável.

É necessário mais parcerias com fundações, centros de pesquisa, institutos ou

associações no intuito de garantir que sejam gerados projetos realmente abrangentes na

comunidade local e para os próprios funcionários. Esses projetos podem se tornar o impulso

necessário à criação de um balanço social e de uma maior interação com a comunidade local.

A Têxtil pode promover um núcleo mais específico para verificar quais são seus problemas ou

oportunidades considerados prioritários, qual o principal impacto que a empresa causa aos

seus stakeholders, e procurar melhorar a comunicação com os agentes externos.

Se o foco são os funcionários, há que se pensar em mecanismos para melhor dispor

uma interação e troca de informações entre eles e a diretoria, como também relacionar quais

são suas principais questões problemáticas e necessidades.

Constatou-se que a RSE é pouco compreendida na comunidade local, inclusive por

muitos atores sociais os quais fazem parte da realização das atividades. De fato, não existe

apelo social que legitime ou requeira maiores posicionamentos sociais das empresas, e isso

dificulta o investimento e o dispêndio de recursos para tal fim.

O papel social da Têxtil pode ser considerado principalmente como sendo a sua

receptividade para iniciativas ou programas os quais são planejados inicialmente por seu

parceiro. Este é o norteador de todos os projetos mais dinâmicos da organização e, sendo

assim, foi visto pelos stakeholders o seu caráter não discricionário ou pró-ativo. A

receptividade foi demasiadamente citada pelos parceiros entrevistados como o que realmente

faz da Têxtil uma empresa socialmente responsável. Esta percepção os levou a crer, em

dissonância dos outros grupos de pesquisados, que a organização é caracterizada

discricionariamente e sua responsividade é pró-ativa.

O público interno, os funcionários voluntários, gerais e os diretores concordam que a

empresa é legal, acomodativa e com foco nos funcionários. Mas essa percepção é diferente do

público externo, que algumas vezes pontuou o foco em segurança do trabalho e a

caracterização das atividades com a categoria econômica.

Ressalta-se que não é objetivo desta pesquisa analisar as práticas sociais da empresa,

bem como enfocar quais são aquelas que estão certas ou erradas, mas sim analisar, a partir de

um modelo e seus parâmetros e variáveis construídas, como as pessoas pela empresa

influenciadas e que geram influência entendem e percebem o que é feito socialmente por ela.

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Nesse ínterim, verificou-se que a percepção das pessoas está diretamente relacionada,

obviamente, ao nível de conhecimento que elas têm sobre responsabilidade social. E conclui-

se que quanto menor o conhecimento deste conceito, melhor e mais favorável é a visão sobre

as iniciativas implantadas; e em detrimento disto quanto maior o conhecimento sobre a

responsabilidade social, menor é a opinião de que os projetos da Têxtil são o bastante, são

suficientemente abrangentes.

Conclui-se também que as pessoas não têm uma postura para mudança social da

realidade em que estão situadas, estes comportamentos ocorrem tanto em pessoas da própria

empresa quanto com agentes externos. A comunidade mostrou uma postura por vezes apática

sobre aspectos que podiam melhorar sua própria vida, sobre a atuação de empresas privadas

ou ONG‟s em benefício dos cidadãos da localidade. Isso gera um entendimento de que a

responsabilidade social por vezes não é necessária, e que a atuação do governo é que pode

gerar resoluções ou resultados satisfatórios para membros de uma comunidade local.

Os stakeholders possuem relações diretas e indiretas com a organização e estas

relações precisam ser consideradas e investigadas para que seja possível à empresa interagir

da melhor maneira possível, sobre os interesses e necessidades de cada conjunto no intuito de

evitar problemas e gerar maiores ganhos e oportunidades para todos.

O trabalho social da Têxtil é dirigido aos stakeholders internos que são os funcionários

em geral: operários e membros da administração. Esse foco acaba por desvalorizar a opinião e

até julgamento dos agentes externos, que tem participação indireta com as atividades da

empresa, uma vez que são seus stakeholders e podem influenciar com suas opiniões formadas

sobre o negócio.

Dessa forma, pensamentos diversos e contraditórios são passíveis a existir, o que não

foi o caso da Têxtil, mas que podem contribuir inclusive à ocorrência de danos ou visões

errôneas acerca o que está sendo implantado por uma empresa.

Existe uma grande lacuna entre a organização estudada e muitos de seus stakeholders,

que consiste num espaço vazio que a própria empresa não mostra interesse ou prioridade em

preencher. Trata-se de uma questão de interesse ou atenção da Têxtil. Como também, os

agentes externos não mostram interesse significativo em conhecer mais sobre o que podem

fazer ou como podem ser beneficiados por uma organização privada.

Assim, foi possível concluir sobre as dimensões do modelo de performance social:

1ª Dimensão – Categorias de Responsabilidade Social: A categoria legal, que para Carroll

(1979) é validada pela adequação à estrutura dos requerimentos legais impostos à existência

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das empresas, é a que mais se assemelha às atitudes da Têxtil, sendo suas ações sociais mais

apropriadas para essa característica. A categoria econômica obteve concordância significativa,

já que todos os outros papéis de uma organização são derivados desse pressuposto

fundamental. A categoria ética não foi considerada como característica da Têxtil por nenhum

grupo de stakeholders pesquisado, pois esta dimensão inclui comportamentos ou atividades

que a sociedade espera das empresas. A categoria discricionária envolve iniciativas tidas

como voluntárias ou filantrópicas, as quais ficam por conta do julgamento individual dos

gestores. A maioria das percepções dos investigados foi de que a empresa ainda não possui

número de projetos necessários para tal caracterização. Isso significa que os investimentos

sociais não são suficientes para que sejam vistos como voluntários, e que a existência de

ações de natureza fiscal é conhecida e revelada pelos atores sociais. As relações com a

comunidade não são de natureza estratégica.

2ª Dimensão – Comportamentos e Respostas: os resultados obtidos foram menos

expressivos nesta abordagem, tendo-se verificado que o comportamento reativo é

completamente contrário ao tipo de resposta da Têxtil, já que ela não responde a uma questão

social depois que esta ameaça seus objetivos. Os stakeholders não conhecem desafios que

requeiram um comportamento defensivo, até porque as relações entre comunidade e

funcionários não oferecem abertura necessária para um maior número de reclamações ou

troca de informações. O item acomodativo foi o que obteve maior concordância, e a

motivação para este tipo de resposta é porque apesar de não haver significativas exigências do

governo ou da opinião pública, os stakeholders acreditam que a natureza legal das atividades

feitas está de acordo com uma possível opinião destes agentes, ainda que não sejam aparentes.

E a antecipação a exigências que ainda não foram feitas, que caracteriza um comportamento

pró-ativo, não foi devidamente concordada, e realmente este tipo de conduta não existe na

Têxtil.

3ª Dimensão – Ações e Programas: pela análise desta dimensão, foi possível verificar que,

conforme Carroll (1979) explicitou, a natureza destas ações é diferente para cada indústria e

sua consideração e relevância dependem do contexto e dos stakeholders envolvidos com a

empresa. De acordo com essa constatação, e promovendo o estudo da Têxtil, verificou-se que

o caráter dos projetos e benefícios fomentados pela empresa são principalmente baseados no

bem estar do funcionário, sendo este o foco social da organização. Entretanto, é válido

ressaltar que alguns grupos de pesquisados têm opiniões distintas, e optaram pela segurança

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do produto – dado seu entendimento de que os produtos são seguros e de qualidade – e pelo

consumo.

Observou-se que as práticas sociais da Têxtil não são muito relacionadas ou

direcionadas para seu conjunto de stakeholders, como também não há muita importância por

parte dela às suas percepções. Existe uma necessidade assim, de que esses agentes possam

dispor de relações mais estreitas e amigáveis, para que seja feita uma correta gestão de

stakeholders por parte da empresa, a qual é tão importante para seu efetivo sucesso. Este

estudo de caso mostra que o conhecimento da percepção e entendimento dos agentes ligados à

organização é importante, pois a abertura e diálogo com esses agentes podem ser responsáveis

por grande volume de benefícios e melhores transações.

A RSE é um campo importante a ser estudado e compreendido, e este entendimento

requer uma análise multidisciplinar. Na visão de Freeman (1984), as ações de RSE de uma

empresa devem atender aos distintos grupos com quem mantém relacionamento, para que seja

possível construir uma rede de relações a fim de garantir a eficiência da organização no

mercado.

Os resultados dispostos auxiliam tanto na forma teórica quanto prática do campo da

RSE, uma vez que avaliam o entendimento dos stakeholders de uma organização, obtendo

como suporte para construção de ideias a teoria dos stakeholders e os modelos de

responsabilidade social, em destaque o modelo tridimensional de performance social. Estes

estudos serviram de base, como também se somam à consolidação desta pesquisa.

5.1 Limitações da Pesquisa

Algumas limitações inerentes ao estudo podem ser identificadas, quais sejam:

Pesquisas com números maiores de amostra precisam ser consideradas, já que foi

feita a análise de funcionários do turno diurno da fábrica.

A amostragem probabilística estratificada não foi completamente explorada

quando da definição do número de pesquisados do extrato, visto que era preciso

contemplar na pesquisa as pessoas que tinham conhecimento e entendimento

necessário e adequado para a construção dos resultados.

5.2 Sugestões para futuras pesquisas

Verifica-se que existe ainda um longo percurso a percorrer nesta temática, e com isso

sugere-se:

O estudo de empresas de outros setores ou ramos de negócio.

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ANEXO A – INSTRUMENTOS DE PESQUISA: QUESTIONÁRIOS

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193

ANEXO B – INSTRUMENTOS DE PESQUISA: ROTEIROS DE ENTREVISTA

Roteiro de Entrevista Individual Semi-Estruturado para membros internos à empresa

TÍTULO DO ESTUDO: Diagnóstico das práticas de Responsabilidade Social Empresarial a

partir do modelo tridimensional de Performance Social: o caso de uma empresa do setor têxtil.

PESQUISADORA: Nívea Marcela M. Nascimento Macedo

ORIENTADOR: Prof. Gesinaldo Ataíde Cândido, Dr.

Guia para Entrevista

1. Agradecimentos ao entrevistado

2. Comentários sobre a pesquisa:

* Instituição de Pesquisa: UFPB.

* Sujeitos da Pesquisa: Conjunto de Stakeholders da organização.

* Relevância da Pesquisa: Diagnóstico da percepção dos stakeholders sobre as práticas da

empresa, o que pode contribuir para constatação de possíveis potencialidades ou

vulnerabilidades de acordo com sua visão.

3. Explicação do uso das informações

Os procedimentos adotados na pesquisa asseguram meios confidenciais e privacidade;

proteção da imagem, não estigmatização; utilização das informações em benefício de pessoas

ou entidades; respeito aos valores culturais, morais, religiosos e éticos dos sujeitos da

pesquisa.

• Garantia da inexistência de conflito de interesses entre o pesquisador e os sujeitos da

pesquisa ou patrocinador do Projeto.

• Garantia de esclarecimentos, antes e durante o curso da pesquisa, sobre a metodologia

utilizada.

• Liberdade de o sujeito recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da

pesquisa.

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194

Questões

Econômico

1) Existe equilíbrio entre receitas e despesas (houve diminuição de custos, cumpre

compromissos)?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Legal

2) A empresa age de acordo com a legislação que regulamenta a contratação do pessoal e os

benefícios dos colaboradores (verifica legislação ambiental) e seus impostos são devidamente

pagos? (federal, est. mun.).

__________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Ético

3) A empresa possui um código de ética e são adotadas políticas justas de demissão e

contratação e se existe um procedimento confidencial para funcionários apresentarem

reclamações ou reivindicações?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Discricionário

4) Promove campanhas voltadas para melhoria da qualidade de vida das pessoas da região

onde se insere? Mostra-se aberta para solucionar possíveis problemas ou impactos causados

pela empresa?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Reativo

5) A empresa desenvolve ações sociais depois de protesto ou reivindicações da sociedade, ou

seja, depois de reclamações por parte do governo ou comunidade?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Defensivo

6) Normalmente a administração desenvolve programas sociais para responder a problemas

como exemplo a busca de maior comprometimento no trabalho?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Acomodativo

7) A empresa não se envolve diretamente em atividades sociais, cumprindo apenas as

exigências regulamentais ou da sociedade?

___________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

Pró - ativo

8) Adota projetos sociais contra erradicação do trabalho infantil, analfabetismo,

discriminação, incentivo à cultura, ou outros internamente ou na comunidade local por

iniciativa própria?

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195

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9) Há um planejamento empresarial relacionado com o desenvolvimento de estratégias sociais

e seu balanço social está acessível à sociedade?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Consumo

10) Transfere informações necessárias aos clientes sobre as normas estabelecidas no Código

de Defesa do Consumidor como as informações técnicas dos produtos e possui um

atendimento pós-venda?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Meio-ambiente

11) Desenvolveu técnicas melhores de produção que diminuíram custos e poluição ao

ambiente e dispõe adequadamente o lixo e materiais da produção ou reutiliza água?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12) A gerência se alinha a ações como: estudos de impacto ambiental, preservação de

espécies, definição de áreas territoriais a serem protegidas, ou outro?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Discriminatória

13) Há igualdade de salários entre homens e mulheres?As pessoas ocupam cargos de chefia

independente da raça ou existem barreiras para contratação de pessoas com mais de 45 anos

de idade ou deficientes?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Segurança do Produto

14) A empresa atende às normas de excelência do padrão de qualidade do produto? Fornece

informações aos funcionários e explicita as normas técnicas necessárias para uma correta

fabricação?

___________________________________________________________________________

Segurança do Trabalho

15) A empresa mantém equipamentos de proteção física para funcionários e orienta para

prevenção de acidentes e tem a preocupação de manter a área sinalizada, e se nos últimos

anos, houve acidentes nas operações do trabalho?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Acionistas

16) A empresa foca as necessidades dos acionistas? Os informa continuamente sobre seu

desempenho econômico e social?

________________________________________________________________

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196

Roteiro de Entrevista Individual Semi-Estruturado para membros externos à empresa

TÍTULO DO ESTUDO: Diagnóstico das percepções de Responsabilidade Social Empresarial

a partir do modelo tridimensional de Performance Social: o caso de uma empresa do setor

têxtil.

PESQUISADORA: Nívea Marcela M. Nascimento Macedo

ORIENTADOR: Prof. Gesinaldo Ataíde Cândido, Dr.

Guia para Entrevista

1. Agradecimentos ao entrevistado

2. Comentários sobre a pesquisa:

* Instituição de Pesquisa: UFPB.

* Sujeitos da Pesquisa: Conjunto de Stakeholders da organização.

* Relevância da Pesquisa: Diagnóstico da percepção e entendimento dos stakeholders sobre as

práticas da empresa, o que pode contribuir para constatação de possíveis potencialidades ou

vulnerabilidades de acordo com sua visão.

3. Explicação do uso das informações

Os procedimentos adotados na pesquisa asseguram meios confidenciais e privacidade;

proteção da imagem, não estigmatização; utilização das informações em benefício de pessoas

ou entidades; respeito aos valores culturais, morais, religiosos e éticos dos sujeitos da

pesquisa.

• Garantia da inexistência de conflito de interesses entre o pesquisador e os sujeitos da

pesquisa ou patrocinador do Projeto.

• Garantia de esclarecimentos, antes e durante o curso da pesquisa, sobre a metodologia

utilizada.

• Liberdade de o sujeito recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da

pesquisa.

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Questões

Econômico

1) Os produtos atendem aos requisitos (gosto e preferência) dos clientes? Estão de acordo

com seu poder de compra?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Legal

2) Você tem conhecimento se a empresa atuou fora da legalidade? Os produtos estão de

acordo com as normas legais?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Ético

3) A empresa desenvolve alguma atividade na comunidade ou no âmbito interno que

influencia beneficamente os costumes, deveres e modo de proceder das pessoas nas relações

com seus semelhantes?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4) O respeito à integridade física e moral de clientes é uma prática constante na empresa?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Discricionário

5) Promove campanhas voltadas para melhoria da qualidade de vida das pessoas da região

onde se insere ou se mostra aberta para solucionar possíveis problemas existentes, como

também incentiva a participação da comunidade?

__________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Reativo

6) Você acredita que a empresa só age de forma socialmente responsável porque os clientes

ou a sociedade apresentaram reclamações?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Defensivo

7) A empresa se mostra receptiva no momento da relevância de problemas sociais

ocasionados por ela?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Acomodativo

8) A empresa adota projetos sociais desenvolvidos e abrangentes? A sociedade e o governo

requerem mais ações sociais por parte da empresa?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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Pró-ativo

9) Adota projetos contra erradicação do trabalho infantil, analfabetismo, discriminação,

incentivo à cultura, ou outros por iniciativa própria?

__________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Consumo

10) Tem conhecimento que a empresa tem atendimento pós-venda, e se ela transfere aos

clientes as informações técnicas dos produtos ou a melhor forma de descartá-lo no ambiente?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Meio Ambiente

11) Os produtos fabricados oferecem danos ao meio-ambiente? A empresa desenvolve

políticas de preservação e informa sobre educação ambiental e desenvolvimento sustentável?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Discriminação/Preconceito

12) Há o conhecimento na comunidade de que existem barreiras à contratação de pessoas com

mais de 45 anos de idade ou por outra razão?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Segurança do produto

13) A empresa atende às normas de excelência do padrão de qualidade do produto?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Segurança do trabalho

14) Nos últimos anos, houve conhecimento de acidentes nas operações do trabalho?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Acionista

15) Tem informações sobre a participação dos acionistas da empresa em ações sociais

desenvolvidas por ela?

___________________________________________________________________________

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ANEXO C – Carta de Apresentação

UFPB

Campina Grande - PB, 26 de outubro de 2009.

A(o)

(...) Têxtil - Paraíba

REF.: Pesquisa Acadêmica – Responsabilidade Social Empresarial

Prezado Senhor,

O GEGIT – Grupo de estudos em Gestão, Inovação e Tecnologia – é um grupo

interdisciplinar de Pesquisas que faz parte do programa de Pós-Graduação em Engenharia

de Produção (PPGEP) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Dentro das temáticas

de nossas pesquisas, está a responsabilidade social e suas características e relações com os

atores envolvidos com uma empresa.

A proposta corrente da pesquisa que poderá ser realizada é uma análise das ações de

responsabilidade social do ponto de vista de sua eficiência e relação com os atores

envolvidos. O mapeamento de projetos e iniciativas sociais pode evidenciar pontos a serem

trabalhados no intuito de melhor adequar as ações que estão sendo realizadas às

necessidades daqueles que estão sendo beneficiados por elas. E ainda, poderá ser possível

relacionar ações adicionais ou que venham a acrescentar valor àquelas já consolidadas.

A pesquisa poderá se dar por intermédio de entrevistas com roteiro semi-

estruturado, feitas com diretores ou gerentes ligados à área de responsabilidade social, ou

temas correlatos; funcionários e pessoas que possam esclarecer acerca dos questionamentos

que serão feitos. Pode-se ainda intervir clientes ou pessoas que estejam de alguma forma

interagindo com a empresa. À princípio, não pretende-se estabelecer um número de

entrevistados, uma vez que este é um fator que dependerá das informações obtidas com os

questionamentos feitos nas primeiras entrevistas.

O roteiro de entrevista pode ser visto conforme os pontos que se seguem:

No trabalho social, a organização pode desenvolver atividades distintas do tipo:

1 – A empresa pode dar prioridade a itens ou ações sociais que garantam aspectos de ordem

econômica, como o equilíbrio entre receitas e despesas, a produtividade de acordo com o

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esperado e produtos construídos favoravelmente à preferência do cliente. Ou, a empresa

pode dar prioridade à aspectos de ordem legal, verificando a importância de agir conforme

a legislação, no que concerne ao pagamento de impostos, regulamentações, e no que tange

ao código de defesa do consumidor. A empresa pode ainda dar ênfase ou prioridade à

aspectos de ordem ética, verificando mais fortemente o respeito ao cliente e funcionários e

a manutenção de um código de ética, bem como a participação de funcionários e

procedimentos para construção de um ambiente ético de trabalho, ou a participação da

empresa em atividades sociais na comunidade, etc. A mesma pode focar o voluntariado,

trabalhando pontos como a promoção de campanhas na comunidade, ações na prevenção de

impactos ambientais, ou estímulo de funcionários para com ações sociais.

2 – A empresa pode caracterizar-se como tendo um posicionamento próprio no que

concerne à suas práticas sociais. Assim, serão questionados itens relacionados ao momento

em que ela decide tomar a iniciativa de construir projetos sociais. Ela pode agir depois de

ser pressionada pela sociedade; como uma maneira de se proteger de um desafio; ou como

forma de estar de acordo apenas com os requisitos legais; ou ainda pró - ativamente, agindo

antes que problemas sociais venham a acontecer ou que por ela sejam requisitadas ações

nesse sentido.

3 – A empresa pode ainda, focar algumas áreas específicas em seu programa de atividades

sociais. Pode-se destacar itens como o consumo, meio-ambiente,

discriminação/preconceito, segurança do produto ou do trabalho, acionistas, dentre outros.

Questiona-se como se deu a escolha dessas áreas, como são feitos os programas e como é a

opinião daqueles diretamente envolvidos e beneficiados pelos planos sociais.

A participação da organização na presente análise é de grande importância e

proporcionará grande contribuição na área em pesquisa. A partir dos resultados também

poderá avaliar suas práticas sociais e estará difundindo o conhecimento para o

desenvolvimento de atividades relacionadas ao assunto e de profissionais no mercado local.

* Destaca-se o caráter de discrição no momento da análise; como também a não

divulgação do nome da empresa, para o caso da publicação do estudo;

* Caso haja interesse da organização, os pesquisadores disponibilizarão os

resultados do trabalho realizado, bem como um possível relatório se assim o preferirem;

Desde já agradecemos a atenção e disponibilidade. Colocamo-nos à disposição para

maiores esclarecimentos e informações acerca de quaisquer dúvidas e esclarecimentos.

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Atenciosamente,

Nívea M. M. Nascimento Macedo

Mestranda em Engenharia de Produção – GEGIT/PPGEP/UFPB

[email protected]

(83) 9990-0923