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Revista ESPM de Comunicação Corporativa
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1
revista esPM de coMunicação corPorativa
DIÁLOGO ano 1 · outubro de 2009
Juan Costa · Cees Van Riel · Mário Rosa
Charles Fombrun · Rudimar Baldisserra
Cees Van Riel · Mário Rosa · Juan Costa
Charles Fombrun e Rudimar Baldisserra
Paulo de Lencastre e Ana Côrte-Real
José Roberto Martins · Cristina Panella
Paulo de Lencastre e Ana Côrte-Real
revista diálogo
Uma publicação do Curso Gestão de Processos Comu-
nicacionais, do Departamento de Artes da ECA-USP.
Integrante da Rede Ibero-Americana de Revistas de
Comunicação e Cultura.
Indexada no PORTCOM/Portdata (Brasil), Portal
Infoamerica (Espanha) e Rebeca (ECA/USP).
reitora
Profa. Dra. Sueli Vilela Sampaio
diretor
Prof. Dr. Luís Milanesi
vice-diretor
Prof. Dr. Mauro Wílton de Sousa
chefe
Prof. Dr. Adílson Citelli
vice-chefe
Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares
ProJeto gráfico
Ilana Mendonça
conselho editorial
Adílson Jose Ruiz
Adílson Odair Citelli
Alberto Efendy Maldonado de la Torre
Albino Canelas Rubim
Alice Vieira
Antonio Fausto Neto
Benjamin Abdala Junior
Christa Berger
Clovis de Barros Filho
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revIsta esPM De cOMunIcaçãO cOrPOratIva
DIÁLOGO ano 1 · outubro de 2009
Juan Costa · Cees Van Riel · Mário Rosa
Charles Fombrun · Rudimar Baldisserra
Cees Van Riel · Mário Rosa · Juan Costa
Charles Fombrun e Rudimar Baldisserra
Paulo de Lencastre e Ana Côrte-Real
José Roberto Martins · Cristina Panella
Paulo de Lencastre e Ana Côrte-Real
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DIÁLOGO
Outubro 2009
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Alguns pesquisadores defendem que escrever um artigo científico é uma toma-
da de decisão que implica num enorme crescimento profissional. Além disso,
ressaltam que uma determinada área de conhecimento pode ser identificada por
vários indicadores, inclusive pelo número e pela qualidade de textos produzidos
pelos profissionais. Assim, pode-se concluir que produzir um artigo científico é
uma tarefa fundamental para qualquer área do conhecimento.
É preciso lembrar, no entanto, que não basta produzir o artigo científico.
Também é necessário divulgá-lo, pois, de acordo com uma velha máxima, o
conhecimento tem valor apenas quando é produzido e, em seguida, transmitido
para a sociedade.
A seguir as considerações de Roger Chartier, um texto deve ser produzido e
divulgado no mundo social para, em seguida, circular e ser consumido. Divulgar
um texto é, portanto, tão importante como produzi-lo. É claro que um artigo
não deve ser divulgado em qualquer periódico. A qualidade e a circulação da
revista são fundamentais para recompensar os esforços intelectuais investidos
na confecção do artigo. Ademais, verificar se o texto é indexado e o qualidade
do público atingido pelo periódico são tarefas fundamentais para se ter uma
noção do impacto da publicação.
Cabe lembrar, ainda, que um artigo não deve ser produzido e divulgado a
despeito dos princípios científicos. Em resumo, todo texto acadêmico deve
seguir os preceitos da criatividade, originalidade e clareza. Deve, igualmente,
apresentar-se segundo os princípios éticos e as regras técnicas. Por último, é
imprescindível saber para quem você escreve, ou seja, qual público irá consumir
o seu produto intelectual. Caracterizar a revista parece ser a melhor maneira de
tentar apontar o público leitor.
Nesse ponto, convém esclarecer que a Saber Acadêmico caracteriza-se por ser
uma revista eletrônica multidisciplinar que contará com publicações de docentes
e discentes da Faculdade de Presidente Prudente, assim como dos membros de
outras unidades ligadas ao grupo UNIESP e a comunidade científica em geral.
Edvaldo Correa SotanaEditor, outubro de 2009
cOnJuntura eMPresarIaL
DIÁLOGO
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Mauro Lopes
DasLu nOtÍcIa
O jornal interno da sofisticada butique Daslu mostra que o fortalecimento das relações é valioso para qualquer tipo de empresa
DIÁLOGO
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O grande desafio que a equipe da MVL se colocou para conceber um jornal
interno para a butique Daslu em 2003 foi o de apreender a essência da vida
da organização, uma empresa vigorosa com mais de 700 funcionários, mas
que aparece ao público como uma loja intimista, voltada ao topo da pirâmide
econômico-social do País.
Uma organização feminina, fundada sobre a lógica das relações. Mais ainda,
uma pesquisa juntos aos profissionais da empresa informou que a Daslu sempre
manteve um clima interno saudável e acolhedor, que sua imagem para esse
público é positiva e ainda que os fóruns de reflexão para os que atuam em
diferentes funções estão garantidos por outros mecanismos e canais que não
as mídias. Assim, não se buscou responder às expectativas mais comuns pre
sentes quando se opta por implantar um veículo de comunicação interna, como
a veiculação de informações, a conformação de uma determinada imagem, ou
mesmo como um elemento desencadeador de reflexões e debates. Buscou-se
criar um veículo capaz de, levando em conta essas condições já existentes,
evidenciar o que a empresa tem de mais valoroso: as relações.
Relacionamento é tema-chave para a empresa. A Daslu foi fundada há 45 anos
como uma mpresa familiar, cuja sustentação mais importante encontra-se nas
relações em rede. Na MVL, costumamos dizer que a Daslu
é uma das percussoras do pósmodernismo no Brasil, por ter
identificado nas relações em rede entre vendedoras e com-
pradoras a chave do sucesso do empreendimento.
Isso ainda nos anos 70! As vendedoras são as amigas das
donas, originárias da mesma classe social das potenciais com-
pradoras, com desejos e gostos semelhantes, freqüentam os
mesmo ambientes.
A Daslu é a mais importante empresa do comércio de luxo do País e referência
mundial no segmento, tendo inaugurado em junho o megaespaço Villa Daslu.
A imagem de sofisticação da empresa interage com a de sua proprietária, Eliana
Tranchesi, e principais dirigentes da Daslu, que são personagens nas colunas
sociais, revistas de “famosos”, de estilo e design. Da mesma forma, os eventos,
desfiles e clientes da loja são alvo dessa mídia.
Portanto, tratava-se de realizar um jornal que pudesse veicular, para o público
interno da Daslu, os conteúdos e imagens que são projetados para seu público
consumidor.
Relações são o aspecto central; sofisticação é um requisito essencial à forma;
exposição da imagem dos personagens (funcionários e funcionárias) nas repor-
tagens, uma orientação fundamental. Este é o coração do Daslu Notícia. O pú-
blico do jornal é constituído pelos mais de 700 funcionários da empresa, sendo
reLações eM reDe entre
venDeDOras e cOMPraDOras
sãO a chave DO sucessO.”
MAURO LOPES Daslu Notícia
DIÁLOGO
Outubro 2009
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dois terços deles mulheres. Nos cargos gerenciais e na direção da empresa, a
proporção de mulheres é ainda mais expressiva.
Cada um dos elementos fundadores da empresa – sofisticação, estilo e valo-
rização das relações - está presente no Daslu Notícia. Desde a preocupação
obsessiva com a forma (escolha do papel, das cores branco, cinza, vermelho,
bordô, das fontes dos títulos, da capa branca com foto) ao conteúdo das notas.
Em cada edição do jornal há uma grande reportagem de capa. Esse tema central
sempre conta histórias das funcionárias e funcionários, de seus familiares, de
momentos vivenciados por todos. Sempre recheadas por fotos das pessoas.
Aliás, as fotos são uma prioridade no jornal. É indicativo do conceito que alicerça
o projeto o fato de, na publicação de uma loja, não haver destaque para fotos de
prateleiras, produtos, cenários. O foco do jornal e da máquina fotográfica está
sempre nas pessoas e na produção caprichada de cada imagem.
crIanDO IDentIDaDe
A reportagem central do primeiro número contou a história da Daslu - como
a loja começou, quais seus princípios e diretrizes; destacou as pessoas que ini-
ciaram a empresa, localizando sua atividades naquele momento e o que fazem
agora. Esse primeiro número teve a preocupação de criar identidade com o
público interno, leitor do jornal, e ainda estabelecer explicitamente os vínculos
entre o projeto original da Daslu e o que se realiza atualmente.
O primeiro número do jornal foi lançado em julho de 2003. O sucesso e a reper-
cussão da primeira edição consagraram o conceito original do Daslu Notícia. As
demais edições visaram apreender os temas relacionais em desenvolvimento; as
famílias que trabalham na empresa; as histórias de amor originadas na empresa
(namoros, casamentos); histórias de grandes amizades construídas no trabalho;
o desafio de ser homem numa organização feminina. Com o sucesso do veículo,
pautas surgidas no coletivo da empresa têm sido incorporadas ao jornal. Um
exemplo dessas pautas é a reportagem central da edição de número seis, que
tratou das diferentes atividades esportivas praticadas por funcionários da Daslu,
da corrida à ioga, da capoeira à natação.
O jornal é entregue às funcionárias e funcionários da Daslu de maneira persona-
lizada. Cada pessoa recebe o Daslu Notíciacom uma etiqueta com seu nome.
A etiqueta não é colada no jornal, para não estragá-lo, e sim afixada com um
pequeno clipe. As gerentes das áreas entregam os exemplares pessoalmente.
A estratégia de divulgação de cada número é harmônica com a estratégia global
de comunicação da Daslu: propaganda boca-aboca.
DIÁLOGO
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MAURO LOPES Daslu Notícia
a MaIOr PrOva De Que O nOssO JOrnaL é uM sucessO é O fatO De eLe ser esPeraDO cOM ansIeDaDe POr tODas POr aQuI.”
As pessoas que serão retratadas na edição a ser publicada, as personagens da
reportagem principal do jornal, encarregamse, elas próprias, de espalhar pela
empresa a “boa nova”. Há hoje um quase frenesi por conhecimento e re-
conhecimento na loja. Pessoas dos departamentos que ainda não foram pauta
do jornal têm, nos últimos tempos, procurado o RH da empresa ou a equipe
do jornal “lançando a candidatura” de sua área para as edições seguintes ou
solicitando cobertura alguma iniciativa.
Para Eliana Tranchesi, o Daslu Notícia tem enorme impacto navida da Daslu:
“Nós amamos o jornal. A maior prova de que o nosso jornal é um sucesso é o
fato de ele ser esperado com ansiedade por todas aqui. O mais legal é que ele
conta a nossa história. A história de cada uma.”
Mauro Lopes é presidente da MVL Comunicação.
entrevista
DIÁLOGO
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MÁrIO rOsaJuan cOsta
charLes fOMBrunentrevistados por Nara Leão
MARIO ROSA, JUAN COSTA, CHARLES FOMBRUN Comunicação como Expressão da Identidade
DIÁLOGO
Outubro 2009
16Adotando visceralmente seu conceito de desenvol-
vimento sustentável baseado nas relações, a Natura
faz da comunicação um elemento-chave para levar
sua mensagem não só de fabricante de cosméticos,
mas de empresa-cidadã. Mais que assinaturas de
campanhas publicitárias, o “Bem Estar Bem” é um
conceito que visa provocar reflexões sobre as re-
lações com o próprio indivíduo e dele com o todo.
A expressão instiga conversas sobre relações e está
sendo utilizada (na íntegra e em português) na Fran-
ça. Não por acaso foi escolhido o dia 22 de abril
(Dia do Descobrimento do Brasil) para inaugurar
a Casa Natura, em Paris, a primeira loja da marca
no mercado europeu. A chegada à Europa acontece
depois da Natura se consolidar no sistema de venda
direta não só no Brasil como também na Argentina,
Chile, Peru e Bolívia e, a partir do segundo semes-
tre, também no México. Sua visão de mundo fez
da Natura uma A empresa reconhecida e premiada
por seus vários atributos ligados ao relacionamento
com colaboradores, ao respeito aos consumidores,
à responsabilidade social e à sustentabilidade. Com
modelo de gestão reconhecido inclusive pela London
Business School, a empresa possuía três presidentes
– Antonio Luiz Seabra, Pedro Luiz Passos e Guilher-
me Peirão Leal – até março, quando Passos, então
mais presente no dia-a-dia da operação, passou a
dividir a presidência do Conselho de Administração
com Seabra e Leal. Na mesma época, Alessandro
Carlucci (há 15 anos na companhia) passou a ocupar
o cargo de diretor-presidente.
cOMunIcaçãO cOMO eXPressãO Da IDentIDaDe
DIÁLOGO
17
A Natura tem uma jornada bem-sucedida, reconhecida em suas três décadas. O historiador e mitólogo norteamericano Joseph Campbell diz em seu livro A Jornada do Herói que: “Uma vez transposto o portal, o herói percorre uma paisagem onírica de formas curiosamente fluidas, ambíguas, onde deve uma sucessão de provas...”. Que provas vêm aí pela frente?
costa Eu tenho dúvidas de que o arquétipo do herói deva ser incorporado
pela empresa. Acho que a identificação é mais pelo lado iluminado da missão do
herói, que tem como definição portar uma bandeira coletiva. Nesse aspecto,
aceito o estereótipo, mas não os ferimentos do herói que sobreviveu. A gente
pode elencar alguns dos desafios sem que nós eliminemos o fator imponderável,
que é o que eu acho que caracteriza se portar uma bandeira coletiva, enfren-
tando “Somos um organismo que soube capturar o espírito da época, a cada
momento se reinventando e levantando as bandeiras coletivas do herói.” adver-
sidades, na maior parte das vezes. Mas tudo isso, num contexto mais objetivo,
para elencar a questão da internacionalização, o que ela tem de racional.
rosa O Brasil sempre foi receptor da internacionalização e nosso caso é de
uma organização que ousou transformar em empresa o improvável e, além de
tudo, exerce sua própria razão de ser, a cosmética, que é menos provável ainda,
pelos padrões de racionalidade.
foMBrun Voltando três décadas atrás, por que é que foi sucesso? Talvez
porque somos um organismo que soube capturar e até verbalizar o espírito da
época, a cada momento se reinventando e levantando as bandeiras coletivas do
herói. Quando você olha para as instituições, elas não conseguem se manter,
envelhecem e, às vezes, perdem a capacidade de nos capturar.
rosa Hoje, somos uma empresa importante para o tamanho do mercado
brasileiro em termos de volume. Como é que a gente fala em crescer sem
se tornar um “dinossauro”, ou seja, uma organização esclerosada, engessada,
pouco flexível, que perde o sentido da missão com o
carreirismo, a competitividade e todas as coisas que im-
peram nas grandes organizações? Como é que a gente
cresce, expande o compartilhamento dessa misão rela-
cionar como empresa com o consumidor e com toda a
sociedade sem perder essas características?
Para mim, este talvez seja o maior desafio. Claro que há
uma dificuldade objetiva e concreta em chegar ao mer-
cado francês e acessar o consumidor. Mas acho que isso
é uma dificuldade menor, que se resolve. A questão é:
se dá certo, como é que a Natura vai se expandir sem se
descaracterizar, sem se distanciar da sua vocação. Esse
mesmo livro citado na sua pergunta diz que o privilégio
de uma vida é poder ser quem você é.
DIÁLOGO
Outubro 2009
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foMBrun O modelo de gestão da Natura foi reconhecido inclusive pela Lon-
don Business School. Como e por que a empresa tem três presidentes? Como
os pensamentos e as diretrizes são gerados, como as decisões são tomadas?
Seabra - Não tem uma fórmula. Dos desafios que nos esperam, o que desperta
um entusiasmo muito grande é que a nossa história nos diz que somos assim
capazes de ser melhores que quando éramos pequenos. Então, não é o susto
do crescimento que deve nos atemorizar e nos tornar mais ou menos céticos
em relação ao crescimento. O crescimento sempre implica contato com o des-
conhecido, embora na mente das pessoas elas acreditam que crescendo se está
condenado a perder a identidade. Não é verdade. Nós passamos a ser mais nós
mesmos na medida em que nós crescemos. Passamos a visualizar um universo
muito mais amplo, aprendendo com a intimidade que foi sendo construída no
dia-a-dia, com as eleições afetivas que foram nos permitindo através do coração,
do afeto, da convicção, do que é verdade.
DIÁLOGO
19
Em termos de instrumentos de gestão, eles não diferem muito de empresa para
empresa. Só que os instrumentos que a gente detém para bem gerir a empresa,
e nisso estamos sempre em busca de aperfeiçoamento, são
de experiências cultural, espiritual, humana, humanística, que
foram sendo descobertas no cotidiano e com uma abertura
de coração, uma vontade e convicção de que o outro merece
toda a minha confiança até que isso se prove o contrário.
Não temos a mínima idéia de como a nossa originalidade é
organizada do ponto-devista de cargos tradicionais de uma
organização. O que a gente sabe é que não dá para alcançar
espaços, ser reconhecido e obter êxito sem que se seja abso-
lutamente verdadeiro.
costa Uma coisa que eu destacaria foi a história e a vivên-
cia, que foram nos mostrando que a diversidade foi fundamental. Nascemos
como uma empresa formada pelo Luiz e mais um sócio. Cinco anos depois, o
Luiz fez uma sociedade com outra pessoa. Cinco anos depois disso, eu entrei
e formamos uma outra sociedade. Dois anos depois, o Pedro entrou para fazer
parte dessa nova organização. E tivemos quatro ou cinco empresas interdepen-
dentes, que tinham que sobreviver de forma independente, mas dependiam
umas das outras. Então, não tinha o super-herói. Somos claramente contrários
ao CEO. Fomos a primeira empresa da série histórica de capas do Melhores e
Maiores, da Exame, que teve três presidentes na capa. Aliás, eles queriam saber
quem era o herói. E aqui há vários co-responsáveis, cada um com seus méritos.
Mas existe um coletivo que está acima da pessoa. Esse coletivo composto pelo
diverso é uma das questões chaves da riqueza do processo decisório, que tra-
zem como variáveis a espiritualidade, a objetividade, o pragmatismo, o sonhar,
o medir, o controlar, mas, ao mesmo tempo, a intuição, quer dizer, essa coisa
mais flexível que caracteriza o modelo da Natura. Claro que ninguém pode
conduzir uma empresa dessa sem planejar, acompanhar, medir. Precisamos de
todas as ferramentas de gestão, mas não somos prisioneiros deste processo.
A gente quer investir efetivamente na perpetuação de nosso modelo e não
das pessoas, obviamente, mas de um pensar a empresa sempre através de um
coletivo. Não estamos querendo pra nos suceder um super-herói – em março,
Alessandro Carlucci assumiu a presidência da empresa após 15 anos dedicados
à companhia, tendo sido gerente de marketing, gerente de vendas e diretor de
vendas -, mas que vários coletivos sejam criados e amalgamados, que possam ser
portadores dessa riqueza. E aí eles usarão as ferramentas de modo inteligente.
rosa Esse modelo dá mais energia à organização. Hoje é difícil imaginar a
nossa trajetória se fosse com o modelo tradicional, se a gente não tivesse a
mesma coragem. Seria muito pobre se tivéssemos uma gestão mais típica. E
esse fato teve impacto em toda a organização. Então, é uma empresa que tem
um modelo de gestão que quem vê de fora até estranha, chega a se irritar. Tem
que conversar muito para entender. Mas é que a decisão é quase um detalhe.
sOMOs uM OrGanIsMO Que
sOuBe caPturar e até verBaLIzar
O esPÍrItO Da éPOca, a caDa
MOMentO se reInventanDO"
MARIO ROSA, JUAN COSTA, CHARLES FOMBRUN Comunicação como Expressão da Identidade
DIÁLOGO
Outubro 2009
20
Porque o importante é o que vem antes desse processo coletivo. É óbvio que
tem exageros, tem erros e tem coisas que podem ser melhoradas, mas muda
muito a característica da gestão. O planejamento estratégico é muito
diferente, os processos são muito espalhados, o que não elimina a necessidade
de decisão, de pontos focais, de cronogramas etc.
costa Concordo com você. No Brasil, nós temos casos clássicos de algumas
empresas que desapareceram porque os gestores quiseram sempre entrar em
consenso - o que às vezes é difícil conseguir - e não tiveram velocidade de se
adaptar às transformações profundas do mercado. E o que nos dá também força
de mudar rapidamente? É que há uma confiança estabelecida, é um diverso
unido por alguns valores muito fortes. Este “olho no olho” que o Luiz fala, o
exercício da verdade, nos dá confiança de que, se acontecer algo que precisa de
uma ação imediata, cada um se sente absolutamente à vontade para tomar uma
decisão. Os diversos níveis da organização também se sentem capazes de agir
se sentirem que a situação impõe uma tomada de decisão.
DIÁLOGO
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O “contêiner” mais forte da Natura é a instalação física atual, o Espaço Natura em Cajamar (SP), muito ligado à identidade da empresa. Como é que vocês estão expandindo esse “con-têiner” - e a falando em logística, ponto-devenda, ação das consultoras, das mídias virtuais e toda esse imaginário da marca?
foMBraun Usando um pouco a imagem das idéias de nosso “contêiner”,
ele é antecedido por idéias. E muito antes de inaugurarmos este nosso Espaço
Natura, já alcançávamos a expressão que nos permitiu construir esse lugar. A
Natura é uma empresa que, reconhecidamente, vem da improbabilidade. Nós
fomos buscando e passando a ser a partir de crenças. Aliás, a empresa que de
fala em crenças e valores é a Natura. Mais que crenças e valores só tem uma
palavra que é mais dita aqui, que é relações. Fomos absolutamente sinceros.
rosa Há determinadas crenças e às paixões que nos mobilizaram que essa
empresa pôde um dia construir contêineres,dirigindo idéias. Estava no DNA da
Natura essas crenças básicas. Mas neste aspecto de “contêineres”, no período
pós-fusão do Sistema Natura – várias empresas independentes que se inter-
relacionavam, em 1992-1993, a gente repensou quais eram nossas crenças e
valores e como explicitá-los. E ainda, como manifestamos isso em todas as
nossas ações. E aí, os “contêineres”, ou seja, as embalagens, os conceitos de
produto, as formas de nos relacionarmos com as consultoras etc, ganharam um
avanço muito importante porque tudo o que fazemos tem que ser coerente
com aquilo gente acredita e pensa. Então, depois de 25 anos, criarmos nossa
sede própria em Cajamar, em 1997, era a primeira vez que a gente construía
uma instalação a partir do zero. E aí, pensamos que era uma oportunidade im-
perdível de expressar de maneira muito eloqüente as nossas crenças e valores
através de um projeto, da cupação de um espaço. Não íamos construir uma
nova fábrica, mas um Espaço Natura. Até então, a Natura era mais pujante que
sua instalação física. No começo, tínhamos 100 mil consultoras e elas tinham
um desejo de conhecer a sede da Natura. Só que não dava, não havia espaço. E
nós estávamos num outro momento quando decidimos cons-
truir o Espaço Natura. A gente acha que toda estética tem que
expressar a nossa ética. A embalagem, a publicidade, o relató-
rio anual, as sacolinhas, cada manifestação nossa tem que ter
uma estética muito eloqüente para manifestar essa ética. Para
expandir internacionalmente de um jeito forte, precisamos
ter um controle das variáveis. Temos que saber o que são as
manifestações que constituem a marca. Este é o ponto crítico
para que possamos expandir sem perder a identidade.
costa Recebi diversos engenheiros e arquitetos para fazer
o projeto desta unidade e eles não entendiam o que era o Espaço Natura. Eu
dizia que não se tratava de uma fábrica convencional. Muitas pessoas foram
absolutamenten críticas. Hoje, podemos dizer que fomos felizes.
eMPresas DesaPareceM
POrQue Os GestOres
QuereM estar seMPre eM cOnsensO"
MARIO ROSA, JUAN COSTA, CHARLES FOMBRUN Comunicação como Expressão da Identidade
DIÁLOGO
Outubro 2009
22
foMBraun Nós temos uma revista de comunicação interna e uma das ma-
térias do mês de março se chamou Fora do Padrão.
costa E esse é o nosso desafio. mos reproduzir, com adaptações, o tipo de
protagonismo que vimos exercendo no mercado e na sociedade. Aqui somos ci-
dadãos. Lá, de alguma forma, temos que criar esse enraizamento na sociedade.
Com relação a Paris, não é oportunismo, é um investimento em construir .
Como as crenças e valores da Natura serão incorporados ao modelo de expansão da Natura na Europa? A chegada a Paris é uma oportunidade ou uma estratégia?
foMBraun Levar cosméticos num mercado de excelência no setor como o
francês, não há omo a diferenciação se dar só pelo produto. E embora tenha-
mos imenso orgulho, satisfação e confiança em nossos produtos, sabemos que
a nossa proposta de valor é mais ampla que isso. Então, nossas crenças fazem
parte do valor da mos reproduzir, com adaptações,sobre como acessar esse
mercado, do G-7, dos países desenvolvidos, que a gente acha que os indícios
são receptores a essa proposta mais ampla de valores, conceitos, comporta-
mento. E isso por meio de um outro canal de vendas, as lojas – já que a gente
acredita que na Europa não há boa aceitação para a venda direta isoladamente,
como temos no Brasil. Estamos construindo o caminho. Nossa experiência
mostra que o que leva esses valores são os conceitos transmitidos verbalmente
ou filosoficamente e eles se consolidam através de práticas das mais variadas
coisas. O seu produto tem queser expressão de crenças e valores,assim como
a propaganda, o relacionamento com os colaboradores, e é assim que você
contamina e faz com que as coisas sejam vividas, sentidas e desenvolvidas. Toda
vez que você não traz o conceito para a prática, não funciona. E essa manifes-
tação prática é desde como eu trato as pessoas na recepção, o colaborador, o
consultor...
rosa Como é que vão chegar os nossos valores, não temos certeza absoluta,
mas se eles não forem chegar, a gente não vai. Quer dizer, não estamos dispos-
tos a fazer business só por business. Queremos continuar sendo o que somos.
O que me parece ser a esperança de preservação da vida é a questão da ética
entre os Seres Humanos. Eu tenho a impressão de que esta estrutura, que é tão
correspondente a coisas que estão sendo mais assimiladas pela sociedade nos
últimos cinco anos, de alguma forma, a gente se antecipou a ela, como muitas
empresas fizeram. Só que estamos num tipo de atividade.
Se houvesse um país, que pelos traços de identidade, nossos valores e crenças
não encontrar eco, não iríamos para lá. Mesmo que esse país representasse a
maior massa de consumidores do planeta.
DIÁLOGO
23
No Brasil, a Natura é percebida pela sua responsabilidade social e sustentabilidade. Na Europa, qual será o grande atributo da marca a ser percebida no mercado francês?
costa Em termos de percepção, por enquanto, a Natura é uma desconhecida
na Europa. Só que a gente vem de uma micro experiênciaanterior que não pode
deixar de ser descartada. Chegamos lá com um pouco de comunicação direta
a um público muito específico. Ficamos absolutamente impressionados com a
resposta surpreendente, quase afetiva, uma acolhida calorosíssima. E o que foi
reforçado fortemente nas pesquisas no âmbito da linha que apresentamos lá,
é que as respostas foram muito positivas em relação a nossas possibilidades.
Falamos de nossos ideais, de nossas crenças e valores e da sustentabilidade e a
resposta foi muito efetiva. E olha que sustentabilidade para a Europa não é um
assunto novo. Mas só saberemos como a Europa nos vê ao longo do tempo.
foMBraun Quando falamos de Europa, começaremos nossa história mos-
trando os nossos atributos e posicionamentos. Talvez tivesse sido mais fácil
mostrar o caminho do desenvolvimento sustentável, do Brasil, de uma outra
cosmética que se apresenta fora do paradigma. Mas eu gosto daquela definição
de que queremosconstruir uma marca que se caracteriza pela qualidade das re-
lações e dos recursos, identificados com a comunidade a partir de uma relação
melhor com todos. Essa é a marca que a gente quer passar. Mas para contar essa
história, temos que eleger alguns partidos.
Falando em comunicação intercultural, vocês já pensaram em como será a “tradução” para o público francês do conceito “Bem estar bem” das campanhas publicitárias da Natura?
rosa A experiência com o público francês, independente do resultado que
vai dar, tem sido muito rica. Fazemos isso também há um ano e meio, com a
experiência na Argentina. O que a gente quer transmitir é a crença de que dá
mudar uma comunicação potencial que ainda estamos arranhando, não somos
detentores nem professores, ela está nos ensinando e, de alguma forma, tem
que aprender e aumentar nossas perspectivas para melhor decodificá-la. Mas
comunicação é absolutamente essencial para nossa existência de empresa que
tem muito para dizer e sabe que ainda terá muito mais para dizer.
foMBraun Quando você define a primeira célula, o dentro e o fora, e esta-
belece o processo de comunicação dessa forma, isso é definição de vida, existe
relação de troca. Comunicação, no sentido mais viceral, é definidor de um or-
ganismo vivo. E uma empresa, que para nós um organismo vivo, não vive sem
se comunicar. Agora, como você vive e faz sua estratégia de comunicação, para
nós é elemento fundamental e sempre há uma possibilidade aperfeiçoá-la, de
ouvir melhor, compreender melhor as pessoas, as culturas e de expressar de uma
maneira. mais clara as nossas convicções, nossas crenças, nossos valores etc.
MARIO ROSA, JUAN COSTA, CHARLES FOMBRUN Comunicação como Expressão da Identidade
DIÁLOGO
Outubro 2009
24
costa Para nós, a comunicação tem uma importância brutal, seja mídia ou em
no media, para levar a voz da empresa. Ela é um elemento importante para car-
regar nossa mensagem. Por isso a comunicação é um desafio, ela trafegue com
a mensagem levando nossos valores para que eles possam ser compartilhados.
foMBraun Levar cosméticos num mercado de excelência no setor como o
francês, não há omo a diferenciação se dar só pelo produto. E embora tenha-
mos imenso orgulho, satisfação e confiança em nossos produtos, sabemos que
a nossa proposta de valor é mais ampla que isso. Então, nossas crenças fazem
parte do valor da mos reproduzir, com adaptações,sobre como acessar esse
mercado, do G-7, dos países desenvolvidos, que a gente acha que os indícios
são receptores a essa proposta mais ampla de valores, conceitos, comporta-
mento. E isso por meio de um outro canal de vendas, as lojas – já que a gente
acredita que na Europa não há boa aceitação para a venda direta isoladamente,
como temos no Brasil. Estamos construindo o caminho. Nossa experiência
mostra que o que leva esses valores são os conceitos transmitidos verbalmente
ou filosoficamente e eles se consolidam através de práticas das mais variadas
coisas. O seu produto tem queser expressão de crenças e valores,assim como
a propaganda, o relacionamento com os colaboradores, e é assim que você
contamina e faz com que as coisas sejam vividas, sentidas e desenvolvidas. Toda
vez que você não traz o conceito para a prática, não funciona. E essa manifes-
tação prática é desde como eu trato as pessoas na recepção, o colaborador, o
consultor... ■
nÚcleo teMático
DIÁLOGO
Outubro 2009
26
Carlos Alberto Messeder Pereira e Micael Herschmann
cOMunIcaçãO eGestãO estratéGIca
nas OrGanIzaçõesO jornal interno da sofisticada butique Daslu mostra que o fortalecimento das
relações é valioso para qualquer tipo de empresa
ResumoA enorme quantidade de informações publicamen-
te disponibilizadas bem como a disponibilidade de
sofisticados softwares de gestão – Dataminer, ERP,
CRM e outros –, que permitem operar quantitativa
e qualitativamente com informações num ambien-
te competitivo e junto a mercados cada vez mais
segmentados, exigem, por parte do corpo de fun-
cionários das organizações e de consultores, um
investimento em pesquisas qualitativas permanentes
e sistemáticas que busquem dar conta do conjunto
de dados e informações qualitativamente já sele-
cionadas mas ainda toscamente organizados por
essas ferramentas de gestão. Só assim, nesse mundo
marcado pela alta visibilidade e por rápidas transfor-
mações, será possível realizar um diagnóstico mais
rico do ambiente interno/externo das organizações,
detectando potencialidades e determinando estraté-
gias de gestão verdadeiramente eficientes, capazes
de afirmar um diferencial diante dos concorrentes.
AbstractAcademic literature uses the abstract to succinctly
communicate complex research. An abstract may
act as a stand-alone entity instead of a full paper.
As such, an abstract is used by many organizations
as the basis for selecting research that is proposed
for presentation in the form of a poster, platform/
oral presentation or workshop presentation at an
academic conference.
CARLOS ALBERTO MESSEDER, MICAEL HERSCHMANN Comunicação e Gestão Estratégica nas Organizações
DIÁLOGO
27
Quando, hoje, reconhecemos a forte e evidente presença da mídia, da infor-
mação, enfim, do campo da comunicação em nosso cotidiano, do que estamos
efetivamente falando? Que transformações tecnológicas, econômicas, organi-
zacionais estão na base dessa enorme visibilidade que a circulação, rápida e
intensa, de variados fluxos de informação tem no mundo atual?
Ao longo dos últimos anos, vimos assistindo a uma revolução relacionada aos
impactos e desdobramentos das novas tecnologias de informação e comunica-
ção que vêm alterando as formas de organização social e econômica, as formas
de produção, de trabalho e de consumo, bem como colocando a comunicação
num lugar estratégico.
na nOva ecOnOMIa, O caPItaL InteLectuaL é funDaMentaL Para as OrGanIzações
Em outras palavras, o processo de valorização da informação tem forte impacto
na maneira da sociedade se organizar e produzir. Vivemos em uma sociedade
que, crescentemente, se organiza em rede e na qual o conhecimento e a infor-
mação desempenham um papel chave para a produção constante de inovação,
condição básica para o sucesso das organizações.
Essas mudanças estão agilizando os processos de produção e consumo, enquan-
to ocorre uma convergência de base tecnológica que vem permitindo trabalhar
com a informação, em alta velocidade, sobre uma base única e digital.
Esses recursos tecnológicos vêm possibilitando e exigindo que, cada vez mais,
as informações de vários contextos ou ambientes – de trabalho e de lazer, por
exemplo - sejam incorporadas produtivamente, fragilizando as fronteiras entre o
ambiente interno e externo das organizações. Assim, as sociedades contempo-
râneas, da informação e do conhecimento, estão marcadas, em seus processos
produtivos, por uma nova natureza e por dinâmicas do capital que impactam as
diferentes organizações e também por um novo papel “produtivo” do consumo,
o qual ocupa um lugar de crescente destaque no mundo atual, fazendo do con-
sumidor um personagem ativo e engajado.
Estamos assistindo à emergência não de um setor da economia (pontocom), mas
de uma “nova economia imaterial”, marcada pela busca constante da inovação e
baseada na utilização intensificada da informação e do conhecimento.
Nessa nova economia, o capital intelectual torna-se fundamental para as organi-
zações; revela-se de importância vital ter uma equipe de profissionais capacitada
a operar, sistematizar e aplicar, produtivamente, de forma inovadora, os fluxos
de sentido e informação.
Se, na antiga economia, a luta era contra a escassez, na sociedade atual - da
Informação e do Conhecimento -, a luta decisiva é contra o tempo; a questão
DIÁLOGO
Outubro 2009
28
é como se gerencia uma ampla gama de informações em pouco tempo, o que
permite seu emprego antes que estas mesmas informações se tornem sem valor
ou obsoletas. Ao se tornarem mais reprodutíveis (com a digitalização) e volá-
teis (com a velocidade), a informação e o conhecimento se expandem porque
necessitam estar em constante (re)produção. Aliás, ambos têm que ter alta
visibilidade e forte presença social; caso contrário, não se tornam interativos e
não agregam valor.
Entretanto, isso traz algumas dificuldades: ao mesmo tempo em que as or-
ganizações devem socializar seus conhecimentos, produtos e serviços para
agregar valor, elas também encontram dificuldades em garantir seu direito de
propriedade intelectual, o qual está na base da riqueza dessa nova economia.
As organizações ainda não têm recursos institucionais suficientes para coibir o
pirateamento generalizado no mundo. Mais que isso, a questão da propriedade
é hoje um grande desafio, além de ter que ser pensada em suas complexas
articulações com as necessidades dos processos de gestão, os quais têm que
responder criativa, permanente e produtivamente aos movi-
mentos necessários de socialização intensiva de informações
e (re)apropriação, em um patamar de maior sofisticação e
abstração, de informações e conhecimentos.
Nesse contexto, o campo da comunicação passa a ser funda-
mental, uma vez que é através dos processos comunicacionais
que a informação e o conhecimento se tornam capital. Além
disso, é no desenrolar desses processos que ocorre a articula-
ção estratégica de sentidos: a concretização de uma logística
do sentido num mundo desmaterializado que opera crescentemente através de
redes de sentido. É a compreensão do que aqui estamos denominando como
“logística do sentido”, ou seja, da natureza, da distribuição e das formas de
circulação de fluxos de sentido em determinado ambiente ou contexto.
Assim, pode-se atestar o quanto o campo da comunicação, entendido enquanto
locus estratégico das operações que articulam sentidos e informações, vem se
tornando um espaço de importância crucial tendo em vista as dinâmicas produ-
tivas contemporâneas, especialmente no que se refere às formas de produção,
circulação e consumo do capital intelectual, às novas formas de cooperação no
registro do trabalho imaterial ou às novas potencialidades do consumo, tanto no
que diz respeito à constituição de novos consumidores quanto no que se refere
às dinâmicas produtivas baseadas nas articulações entre consumo e produção.
Para que os processos de gestão se caracterizem pelo acompanhamento da
variedade de sentidos e informações e de sua intensa velocidade de circulação,
instrumentalizando produtivamente estes mesmos sentidos e informações e com
isso gerando vantagens competitivas (definindo-se, portanto, como efetivamen-
te estratégicos), é necessária a utilização de ferramentas adequadas, capazes de
levar à compreensão de dimensões essencialmente qualitativas e à definição, em
é através Da cOMunIcaçãO Que InfOrMaçãO e cOnhecIMentO se tOrnaM caPItaL
2Essa divisão é apenas
didática e contempla o ponto de vista do pesqui-sador, já que estrutura e funcionamento estão em constante interação na elaboração de uma significação.
CARLOS ALBERTO MESSEDER, MICAEL HERSCHMANN Comunicação e Gestão Estratégica nas Organizações
DIÁLOGO
29
referêncIas BIBLIOGrÁfIcas
Piaget, J. e Inhelder, B. (1979) Procédures et strucutres. Archives Psychologie. 47 (18), 165- 175.
Silva, J.A. (2009). Modelos de Significação e pensamento lógico-matemático: um estudo sobre a influência dos
conteúdos na construção da inteligência. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Educação,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. RS.
tempo hábil (tendendo ao tempo real), de estratégias que permitam às organi-
zações se destacar num ambiente, simultaneamente, de alta competitividade e
de necessária cooperação entre as diferentes organizações. Como trabalhar na
direção tanto do imprescindível compartilhamento de conhecimentos e tecno-
logias quanto da não menos necessária busca de um diferencial capaz de definir
esta ou aquela empresa como líder de um setor de mercado, como mais capaz
de agregar valor? ■
Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do programa de Pós-Graduação em
Comunicação Social da UMESP e de Jornalismo da ECA/USP, diretor da Comtexto
Comunicação e Pesquisa.
Graça Caldas é jornalista e pesquisadora da área de Divulgação Científica e Políticas
de C&T da Universidade Metodista de São Paulo.
DIÁLOGO
Outubro 2009
30
Carlos Alberto Messeder Pereira
teLevIsãO e cuLtura nO BrasIL Da
vIraDa De sécuLOA enorme quantidade de informações publicamente disponibilizadas
bem como a disponibilidade de sofisticados softwares de gestão.
Resumo
A enorme quantidade de informações publicamen-
te disponibilizadas bem como a disponibilidade de
sofisticados softwares de gestão – Dataminer, ERP,
CRM e outros –, que permitem operar quantitativa
e qualitativamente com informações num ambien-
te competitivo e junto a mercados cada vez mais
segmentados, exigem, por parte do corpo de fun-
cionários das organizações e de consultores, um
investimento em pesquisas qualitativas permanentes
e sistemáticas que busquem dar conta do conjunto
de dados e informações qualitativamente já sele-
cionadas mas ainda toscamente organizados por
essas ferramentas de gestão. Só assim, nesse mundo
marcado pela alta visibilidade e por rápidas transfor-
mações, será possível realizar um diagnóstico mais
rico do ambiente interno/externo das organizações,
detectando potencialidades e determinando estraté-
gias de gestão verdadeiramente eficientes, capazes
de afirmar um diferencial diante dos concorrentes.
Abstract
Academic literature uses the abstract to succinctly
communicate complex research. An abstract may
act as a stand-alone entity instead of a full paper.
As such, an abstract is used by many organizations
as the basis for selecting research that is proposed
for presentation in the form of a poster, platform/
oral presentation or workshop presentation at an
academic conference.
CARLOS ALBERTO MESSEDER PEREIRA Televisão e Cultura no Brasil da Virada do Século
DIÁLOGO
31
O grande volume de publicações, artigos, eventos ou debates que, desde o ano
passado, vêm celebrando os 50 anos de TV no Brasil, revela que ela é, hoje, um
veículo plenamente consolidado no país; seja no que se refere à conquista de um
público, ao reconhecimento da legitimidade de sua linguagem e dos produtos
que veicula (resguardados, evidentemente, os direitos daqueles que jamais a
aceitarão com a naturalidade que a época atual já nos permite...ou exige), à
estrutura empresarial que a sustenta, ao vasto mercado profissional que criou
ou ainda às soluções tecnológicas encontradas pelo veículo.
Ao mesmo tempo, nessa virada de século, a TV passa por transformações capa-
zes de fazer dela, até certo ponto, um veículo novo. E isto tanto de um ponto
de vista tecnológico quanto do papel cultural que ela passa a desempenhar no
conjunto do sistema de mídias. O estabelecimento definitivo da televisão por
assinatura, as inovações tecnológicas que já permitem (ou vão permitir breve-
mente) melhor qualidade de transmissão e de recepção ou ainda maior intera-
tividade, a enorme movimentação que vem ocorrendo no mundo das empresas
televisivas, especificamente, e de telecomunicações, em geral, a necessária
DIÁLOGO
Outubro 2009
32
interação da televisão com a internet e assim por diante, esses são alguns dos
elementos que compõem o novo universo no qual se insere atualmente o já
tradicional meio TV.
Hoje, o que observamos, em linhas gerais, é a convivência de dois modelos
de fazer televisão: um primeiro, da TV de massa, aberta, que fez da televisão
um dos maiores veículos contemporâneos de comunicação, difundindo um
patrimônio até certo ponto comum de informação para vastos e diversificados
públicos; e um segundo, que afirmou, pelo menos para os públicos de maior
poder aquisitivo, uma TV fechada, segmentada, voltada para demandas mais
particularizadas, que vai se apoiar sobre novos modelos empresariais e de ne-
gócio e sobre novas articulações tecnológicas.
A convivência desses dois modelos de fazer televisão é freqüentemente con-
flituosa e, às vezes, abertamente contraditória. Se, algum dia, a TV fechada
e segmentada será capaz de substituir por completo a tradicional TV aberta,
de massa é uma questão difícil de ser respondida de modo definitivo, agora;
certamente, ao longo dos próximos anos, o campo do audiovisual como um
todo passará por transformações que hoje ainda nos parecem inimagináveis.
No Brasil, a televisão é, de longe, o veículo de comunicação com maior força
de penetração em todo o conjunto da população, representando também um
de nossos grandes sucessos empresariais, inclusive no terreno das exporta-
ções. Enquanto veículo de comunicação, tem tido um papel essencial tanto
na divulgação de valores, hábitos e estilos de vida quanto na formação de
uma “opinião pública” de âmbito nacional. Especialmente no campo da tele-
dramaturgia, a televisão brasileira foi capaz de desenvolver uma linguagem
inovadora, um padrão de imagem capaz de impactar outras mídias, como o
cinema, por exemplo, como produtos que têm obtido excelente colocação em
um disputado mercado.Ao mesmo tempo, a TV foi um elemento fundamental,
no Brasil, especialmente ao longo dos últimos 30 anos, no
sentido da construção e/ou do reforço de uma identidade, de
um sentimento ou de uma imagem nacionais. Nesse sentido,
vale a pena considerar o impacto sobre a TV, especialmente
em contextos como o brasileiro, da crise da idéia de Estado
Nação – pelo menos no seu sentido mais tradicional – bem
como da definitiva emergência de uma sociedade cada vez
mais marcada pela segmentação, o que faz com que a TV,
hoje, se defronte com a demanda crescente de parte de seu
público por informação local/regional.
Nesse novo cenário em que poderosos fluxos globais se
articulam com não menos poderosas forças locais, que pa-
pel restaria àquela TV que um dia desempenhou o papel de formadora por
excelência de uma imagem nacional? Será que este papel está definitivamente
perdido para ela? Ou a TV se veria hoje diante de cenários no mínimo contra-
aPrenDeMOs sOBre LIBerDaDe De eXPressãO cOM Os aMerIcanOs. cOMO PODeM nOs PeDIr Para tOLhê-La?
CARLOS ALBERTO MESSEDER PEREIRA Televisão e Cultura no Brasil da Virada do Século
DIÁLOGO
33
ditórios o suficiente para dar a ela papéis diversos dependendo do momento
e dos diferentes contextos nacionais de um mundo globalizado mas nem por
isso menos marcado por gigantescas diferenças? Nesse sentido, os recentes
episódios referentes aos desdobramentos da cobertura televisiva dos ataques
terroristas aos EUA parecem ser ilustrativos.
De um lado, não faltaram momentos em que a mídia televisiva, valendo-se
do recurso a suas dramáticas imagens, assumia ou recuperava, com vigor re-
dobrado – pelo menos por alguns momentos -, sua velha retórica “nacional-
fundamentalista” que tão bem se traduziu na versão que tentou se afirmar da
“guerra do bem contra o mal”, indo muito além da simples atualização de um
“ponto de vista ocidental” (o que acontecia quando a TV ganhava ares mais ob-
jetivos e menos dramatizados); de outro, a demanda por “outras vozes” ou por
uma certa “cor local/regional” parece ter sido responsável, ao menos em parte,
pela súbita emergência da rede Al Jazira, “um canal transmitido por satélite”
surgido em 1996, “com sede no emirado árabe do Catar” que ampliou muito
sua notoriedade ao “divulgar as imagens de Osama bin Laden conclamando seus
seguidores à guerra santa, logo após os primeiros bombardeios no Afeganistão”.
Vale lembrar que “só a Al Jazira tem acesso autorizado ao território afegão sob
controle do talibã”, mantendo com a CNN um acordo de exclusividade.
Situada em um complexo, contraditório e nem sempre confortável lugar de
confluência entre fluxos globais e determinações locais, a rede Al Jazira vem se
afirmando, em meio a tantas e excitantes notícias que têm deixando a opinião
pública mundial um tanto sobressaltada ultimamente, como a mídia que se tor-
nou, ela mesma, a grande notícia, e provocando reações nada desapaixonadas.
“(...) O governo americano pediu que as redes americanas tenham cautela ao
divulgar entrevistas dos terroristas à Al Jazira, por acreditar que elas possam
conter mensagens cifradas para seus companheiros. (...)
a tv POr assInatura nO PaÍs encOntra sérIOs OBstÁcuLOs e só atInGe Os seGMentOs MaIs PrIvILeGIaDOs
Virando o feitiço contra o próprio feiticeiro: “Aprendemos sobre liberdade
de expressão com os americanos. Como podem nos pedir para tolhê-la? Se
interferirmos entre nossa informação e nosso público, será o começo do nosso
fim”3.
Episódios como o relatado acima revelam o quanto a mídia televisiva vem so-
frendo complexas transformações direta ou indiretamente ligadas ao processo
de globalização, às novas tecnologias de transmissão e recepção, às diferentes
respostas que é capaz de dar em função dos diferentes contextos político-
cultural-econômicos em que opera e assim por diante, o que deixa claro que os
2Essa divisão é apenas
didática e contempla o ponto de vista do pesqui-
sador, já que estrutura e funcionamento estão
em constante interação na elaboração de uma
significação.
3(KEYES, 2006, p.438)
DIÁLOGO
Outubro 2009
34 2No caso brasileiro, um importante fenômeno televisivo capaz de falar do surgimento.
efeitos da globalização sobre a TV estão longe de transformá-la na fonte segura
e definitiva de uma única voz ou de uma versão única da vida social, cultural e
política nos diferentes territórios globais.
No caso brasileiro, um importante fenômeno televisivo capaz de falar do surgi-
mento de “outras vozes” que buscam dialogar, com maior ou menor capacidade
de penetração, com as grandes redes hegemônicas, mais afeitas a um discurso
mais tradicionalmente totalizador na direção de grandes “sínteses nacionais”,
talvez seja a emergência das TVs evangélicas que vêm afirmando a presença de
públicos!
No que se refere especificamente à implantação da TV por assinatura no Brasil,
esta vem se dando ao longo dos últimos dez anos com conseqüências significa-
tivas em termos da definição do público televisivo, da natureza da programação
veiculada, da avaliação da “qualidade” especialmente dos conteúdos transmiti-
dos da TV aberta, do destino de grandes verbas publicitárias e assim por diante.
Aliás, especialmente no caso brasileiro, o próprio surgimento e a disseminação
da TV por assinatura criam uma divisão no interior do público televisivo, fazen-
do com que a TV aberta dedique maior atenção a segmentos mais populares
de público, o que tem, como uma de suas conseqüências, o aguçamento da
tantas vezes discutida questão da “qualidade” da programação televisiva e do
“bom gosto”; mais uma vez, a classe média ascendente “se horroriza” diante
da invasão de seu tradicional espaço simbólico por demandas “excessivamente”
populares.vai envolver atores e organismos tão diferentes quanto as Redes de
Televisão, o Congresso Nacional, Ministérios, Associações de Classe ou Agências
Reguladoras. Assim, vai se buscar ordenar, através de novos instrumentos legais,
tanto a atuação, por exemplo, de empresas que operam serviços de transmissão
via cabo quanto o sistema mais geral do conjunto da comunicação de massa.■
Carlos Alberto Messeder Pereira é Pedagogo e atua no Núcleo de Estudos em Epis-
temologia Genética e Educação (UFRGS). lisses Capozoli é jornalista especializado
em divulgação científica, historiador científico e presidente da Associação Brasileira
de Jornalismo Científico (ABJC).
referêncIas BIBLIOGrÁfIcas
Piaget, J. e Inhelder, B. (1979) Procédures et strucutres. Archives Psychologie. 47
(18), 165- 175.
Silva, J.A. (2009). Modelos de Significação e pensamento lógico-matemático: um
estudo sobre a influência dos conteúdos na construção da inteligência. Tese de
Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. RS.
CARLOS ALBERTO MESSEDER PEREIRA Televisão e Cultura no Brasil da Virada do Século
PesQuIsa
DIÁLOGO
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36
Maria Rosa de Carvalho
MuLheres sãO MaIOrIa na
cOMunIcaçãOPesquisa exclusiva do Instituto ABERJE mostra que mulheres estão em
argos gerenciais na comunicação corporativa, mas não detêm a direção
O sexo feminino ocupa níveis gerenciais na comuni-
cação empresarial, mas ainda não está presente nas
diretorias das empresas de todo o País. As mulheres
acreditam que lidam melhor com as pessoas do que
seus colegas homens e a sensibilidade é uma das
características que mais ajuda na carreira. Por ou-
tro lado, a emotividade é o que mais atrapalha. Já o
casamento não interfere na vida profissional, mas os
filhos pequenos, sim.
Essas foram as principais conclusões da pesquisa
A Mulher na Comunicação Corporativa, realizada
pelo Instituto ABERJE de Pesquisa, com patrocínio
da Multibrás e Natura, junto a 206 profissionais da
área em 193 empresas de todo o Brasil. As entre-
vistadas trabalham em empresas que estão entre
as mil maiores do País, segundo levantamento do
jornal Valor Econômico. A maioria das empresas
(62,6%) é associada à ABERJE e 37,4% não são as-
sociadas. A pesquisa foi coordenada por Paulo Nas-
sar, presidente-executivo da ABERJE e professor da
ECA/USP, e Suzel Figueiredo, diretora do Instituto
ABERJE de Pesquisa.
DIÁLOGO
37
A composição das equipes tem forte predominância feminina. Em 65% das or-
ganizações, a maioria dos profissionais de comunicação são mulheres. O setor
da indústria é o que concentra maior número de homens. Das profissionais
entrevistadas, 28,2% têm cargos em nível de analista, 19,9% são assistentes e
19,4% são assessoras. Embora 16% sejam gerentes, apenas 2% são diretoras.
Há quase um equilíbrio entre a presença das solteiras (47,1%) e das casadas
(42,2%). As mulheres entre 25 e 40 anos ocupam 65,5% das posições na área
de comunicação. A faixa entre 41 e 50 anos representa 15,5%, mesma propor-
ção das que estão na faixa dos 18 a 24 anos. A área de comunicação corporativa
agrega profissionais de diferentes formações, omo rádio e TV, secretariado,
psicologia, pedagogia, sociologia, antropologia, letras, hotelaria, serviço social,
recursos humanos, tradução e filosofia, entre outras. E eles são a maioria, qua-
se 30%, na área de comunicação, mostrando a multidisciplinariedade que o
setor conrega. Um quarto das profissionais é graduada em jornalismo - 24,9%
-, seguida de 18,8% de relações públicas e 13,4% de propaganda. Mais de 70%
das mulheres ouvidas trabalham em empresas com mais de 1 mil funcionários,
sendo 33% delas em empresas com mais de 5 mil funcionários. A região Sudes-
te está representada na amostra com 79% das empresas, seguida da região Sul,
com 11,7%.
eQuIPes enXutas
Na comunicação corporativa das maiores empresas do Brasil dominam equipes
enxutas, sendo que 63,6% delas é integrada por menos de oito pessoas. As
maiores equipes, com mais de 25 funcionários, estão concentradas na área da
prestação de serviços.
Em 30,5% das empresas onde trabalham essas
mulheres, já existe uma diretoria de comuni-
cação corporativa, mesmo que seja com no-
menclatura diferente. Em 35% das empresas,
a área é representada por uma gerência. Em
60% das empresas, a pessoa mais graduada na
comunicação corporativa é uma mulher. Mas
onde a área é representada por uma diretoria,
em 42,3% dos casos quem a ocupa é um ho-
mem, contra 22,7% de mulheres.
As mulheres entrevistadas não acreditam que ganhem mais que os homens na
comunicação corporativa e 45,6% delas acham que ganham menos. Em relação
ao comando, 65% das mulheres afirmaram que não têm preferência entre che-
MARIA ROSA CARVALHO Mulheres São Maioria na Comunicação
DIÁLOGO
Outubro 2009
38
fes homens ou mulheres, enquanto 26,2% preferem homens. Quando questio-
nadas sobre seus subordinados, 77,3% disseram ter preferência pelo sexo.
cOMPetItIvIDaDe feMInIna
As mulheres se mostram conscientes de suas qualidades como profissionais,
especialmente no que se refere a relacionamentos. Das entrevistadas, 75%
concordam que lidam melhor com as pessoas que os homens. Mas a questão da
competitividade feminina ainda é muito forte, o que levou apenas 21,3% res-
ponderem que preferem trabalhar com mulheres. A maioria das que concorda-
ram que as solteiras têm mais chances são mulheres casadas. Já 70% afirmaram
que as empresas preferem homens para cargos de diretoria, no entanto, 78,7%
discordam de que os homens planejam melhor que as mulheres.
A jornada múltipla da mulher fez com que a pesquisa estudasse também a influ-
ência da vida pessoal sobre o trabalho. Para 75,7% das mulheres, o casamento
não atrapalha a vida, mas os filhos pequenos interferem, como apontado por
81,1% delas. O segundo maior problema é a Tensão Pré- Menstrual (TPM),
com 68,9% menções. “Esse resultado sugere que as empresas precisam pensar
melhor sobre essa questão biológica feminina”, analisa Suzel. A maioria das em-
presas – 47,1% não possuem programas específicos para as mulheres, apenas
23,8% possuem ações nesse sentido e 29,1% fazem programações eventuais.
Entre as que mantém programas voltados para a mulher, se destacam as indús-
trias como as que mais se preocupam com o assunto.
Da mesma forma que as mulheres possuem uma
multiplicidade de tarefas, elas também se vêem
com diferentes características. A mais citada
foi a sensibilidade, considerada uma qualidade
feminina por 34,3%. A característica que mais
atrapalha. Preocupações é a emotividade, com
30,4% idade, com 11,2%.■
resenhas de livros
DIÁLOGO
Outubro 2009
40
A leitura de Poemas (1968-2000), de Chico Alvim,
é para mim uma oportunidade deliciosa de voltar
no tempo e reviver os primeiros contatos que tive
com seus belos textos e sua fina sensibilidade, o
que se traduz numa obra marcada por uma leitura
especial do cotidiano que nos cerca e que raramente
percebemos com a densidade com que Chico nos
faz encará-lo. Sem tirar dos pequenos fatos coti-
dianos uma certa leveza descomprometida, Chico
os adensa com seus enquadramentos precisos. Ao
recortar esses variados pequenos acontecimentos
do dia-a-dia (as “falas” que nos rodeiam), o poeta
nos permite, de certa forma, ver além. E isso nos
fascina imediatamente.
cOMunIcaçãO MercaDOLóGIca
Marcélia Luppeti
Conheci o trabalho de Chico Alvim nos anos 70. Eu
era um jovem antropólogo que preparava sua dis-
sertação de Mestrado e havia elegido o fenômeno da
“poesia marginal” como meu tema de pesquisa. Eu
tinha na época 20 e poucos anos e avaliar a produção
poética marginal significava, de certa maneira, me
posicionar enquanto membro de uma geração que
entrava para a vida intelectual e política num mo-
mento especialmente conturbado da vida brasileira
mas que nem por isso deixava de querer encontrar
um caminho naquela enorme confusão. A disserta-
ção resultou em um livro intitulado Retrato de Épo-
ca, editado pela FUNARTE, no qual Chico Alvim era
um personagem chave. Além de ler seus trabalhos,
entrevistei o autor, assim como uma série de outros
poetas que começavam, naquela hora, a aparecer
sob um mesmo rótulo – “poetas marginais”!
Todos sabemos que nem só de chumbo eram feitos
os anos 70 – havia também uma eletrizante loucura
no ar que se traduzia em festas e viagens (de todos os
tipos) simplesmente inacreditáveis. O grande barato
da época era o mundo underground; e nesse mundo,
um tanto distante da repressão, várias gerações se
encontravam. Havia certa perplexidade, certo des-
bunde no ar e era tom hegemônico naquele momen-
to. Independentemente de se possuir uma trajetória
mais ou menos intelectualizada, ou de se ter 20, 30
ou 40 anos na época, todos se encontravam naquele
espaço alternativo em que, apesar da ditadura, da
repressão e da tortura, ainda era possível discutir
idéias e, sobretudo, ter idéias novas. ■
DIÁLOGO
41
A leitura de Poemas (1968-2000), de Chico Alvim,
é para mim uma oportunidade deliciosa de voltar
no tempo e reviver os primeiros contatos que tive
com seus belos textos e sua fina sensibilidade, o que
se traduz numa obra marcada por uma leitura es-
pecial do cotidiano que nos cerca e que raramente
percebemos com a densidade com que Chico nos
faz encará-lo. Sem tirar dos pequenos fatos coti-
dianos uma certa leveza descomprometida, Chico
os adensa com seus enquadramentos precisos. Ao
recortar esses variados pequenos acontecimentos
do dia-a-dia (as “falas” que nos rodeiam), o poeta
nos permite, de certa forma, ver além. E isso nos
fascina imediatamente.
étIca, JOrnaLIsMO e nOva MÍDIaCaio Túlio Costa
Conheci o trabalho de Chico Alvim nos anos 70. Eu
era um jovem antropólogo que preparava sua dis-
sertação de Mestrado e havia elegido o fenômeno
da “poesia marginal” como meu tema de pesqui-
sa. Eu tinha na época 20 e poucos anos e avaliar
a produção poética marginal significava, de certa
maneira, me posicionar enquanto membro de uma
geração que entrava para a vida intelectual e política
num momento especialmente conturbado da vida
brasileira mas que nem por isso deixava de querer
encontrar um caminho naquela enorme confusão. A
dissertação resultou em um livro intitulado Retrato
de Época, pela FUNARTE, no qual Chico Alvim era
um personagem chave. Além de ler seus trabalhos,
entrevistei o autor, assim como uma série de outros
poetas que começavam, naquela hora, a aparecer
sob um mesmo rótulo – “poetas marginais”!
Todos sabemos que nem só de chumbo eram fei-
tos os anos 70 – havia também uma eletrizante
loucura no ar que se traduzia em festas e viagens
(de todos os tipos) simplesmente inacreditáveis. O
grande barato da época era o mundo underground;
e nesse mundo, um tanto distante da repressão,
várias gerações se encontravam. Havia uma certa
perplexidade, um certo desbunde no ar e esse
era o tom hegemônico naquele momento. Inde-
pendentemente de se possuir uma trajetória mais
ou menos intelectualizada, ou de se ter 20, 30 ou
40 anos na época, todos se encontravam naquele
espaço alternativo em que, apesar da ditadura, da
repressão e da tortura, ainda era possível discutir
idéias e, sobretudo, ter idéias novas. ■
RESENHAS DE LIVROS
DIÁLOGO
Outubro 2009
42
A leitura de Poemas (1968-2000), de Chico Alvim,
é para mim uma oportunidade deliciosa de voltar
no tempo e reviver os primeiros contatos que tive
com seus belos textos e sua fina sensibilidade, o que
se traduz numa obra marcada por uma leitura es-
pecial do cotidiano que nos cerca e que raramente
percebemos com a densidade com que Chico nos
faz encará-lo. Sem tirar dos pequenos fatos coti-
dianos uma certa leveza descomprometida, Chico
os adensa com seus enquadramentos precisos. Ao
recortar esses variados pequenos acontecimentos
do dia-a-dia (as “falas” que nos rodeiam), o poeta
nos permite, de certa forma, ver além. E isso nos
fascina imediatamente.
Conheci o trabalho de Chico Alvim nos anos 70. Eu
era um jovem antropólogo que preparava sua dis-
sertação de Mestrado e havia elegido o fenômeno
da “poesia marginal” como meu tema de pesqui-
sa. Eu tinha na época 20 e poucos anos e avaliar
a produção poética marginal significava, de certa
maneira, me posicionar enquanto membro de uma
geração que entrava para a vida intelectual e política
num momento especialmente conturbado da vida
brasileira mas que nem por isso deixava de querer
encontrar um caminho naquela enorme confusão. A
dissertação resultou em um livro intitulado Retrato
de Época, editado pela FUNARTE, qual Chico Alvim
era um personagem. Além de ler seus trabalhos,
entrevistei o autor, assim como uma série de outros
poetas que começavam, naquela hora, a aparecer
sob um mesmo rótulo – “poetas marginais”!
cOMunIcaçãO eM cIêncIa e tecnOLOGIaJorge DuarteRosa Maria RibeiroTodos sabemos que nem só de chumbo eram fei-
tos os anos 70 – havia também uma eletrizante
loucura no ar que se traduzia em festas e viagens
(de todos os tipos) simplesmente inacreditáveis. O
grande barato da época era o mundo underground;
e nesse mundo, um tanto distante da repressão,
várias gerações se encontravam. Havia uma certa
perplexidade, um certo desbunde no ar e esse
era o tom hegemônico naquele momento. Inde-
pendentemente de se possuir uma trajetória mais
ou menos intelectualizada, ou de se ter 20, 30 ou
40 anos na época, todos se encontravam naquele
espaço alternativo em que, apesar da ditadura, da
repressão e da tortura, ainda era possível discutir
idéias e, sobretudo, ter idéias novas. ■
DIÁLOGO
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A leitura de Poemas (1968-2000), de Chico Alvim,
é para mim uma oportunidade deliciosa de voltar
no tempo e reviver os primeiros contatos que tive
com seus belos textos e sua fina sensibilidade, o que
se traduz numa obra marcada por uma leitura es-
pecial do cotidiano que nos cerca e que raramente
percebemos com a densidade com que Chico nos
faz encará-lo. Sem tirar dos pequenos fatos coti-
dianos uma certa leveza descomprometida, Chico
os adensa com seus enquadramentos precisos. Ao
recortar esses variados pequenos acontecimentos
do dia-a-dia (as “falas” que nos rodeiam), o poeta
nos permite, de certa forma, ver além. E isso nos
fascina imediatamente.
Conheci o trabalho de Chico Alvim nos anos 70. Eu
era um jovem antropólogo que preparava sua dis-
sertação de Mestrado e havia elegido o fenômeno
da “poesia marginal” como meu tema de pesqui-
sa. Eu tinha na época 20 e poucos anos e avaliar
a produção poética marginal significava, de certa
maneira, me posicionar enquanto membro de uma
geração que entrava para a vida intelectual e política
num momento especialmente conturbado da vida
brasileira mas que nem por isso deixava de querer
encontrar um caminho naquela enorme confusão. A
dissertação resultou em um livro intitulado Retrato
de Época, editado pela FUNARTE, no qual Chico
Alvim era um chave. Além de ler seus trabalhos,
entrevistei o autor, assim como uma série de outros
poetas que começavam, naquela hora, a aparecer
sob um mesmo rótulo – “poetas marginais”!
Todos sabemos que nem só de chumbo eram fei-
tos os anos 70 – havia também uma eletrizante
loucura no ar que se traduzia em festas e viagens
(de todos os tipos) simplesmente inacreditáveis. O
grande barato da época era o mundo underground;
e nesse mundo, um tanto distante da repressão,
várias gerações se encontravam. Havia uma certa
perplexidade, um certo desbunde no ar e esse
era o tom hegemônico naquele momento. Inde-
pendentemente de se possuir uma trajetória mais
ou menos intelectualizada, ou de se ter 20, 30 ou
40 anos na época, todos se encontravam naquele
espaço alternativo em que, apesar da ditadura, da
repressão e da tortura, ainda era possível discutir
idéias e, sobretudo, ter idéias novas. ■
étIca, JOrnaLIsMO e nOva MÍDIaCaio Túlio Costa
RESENHAS DE LIVROS
Impresso em outubro de 2009
tiPografias
Humanist 521
Helvetica Neue Ultra Light
Garamond
caPa
Cartão Supremo 300g/m2
Miolo
Pólen Print 120g/m2
fotolitos e iMPosição
AM Produções Gráficas
11 6104 1176
iMPressão
Cromosete Gráfica e Editora Ltda.
11 6104 11 76
acaBaMento
Armazém Especialidades Editoriais Ltda.
11 5061 4940
Diálogo | Revista ESPM de Comunicação Corporativa
v. 1, n. 1 (outubro 2009)
Rio de Janeiro, RJ: ESPM, 2005.
Semestral
issn 1678-3379
1. Medicina – Produção científica.
2. Ciências Médicas. I. Universidade de Caxias do
Sul. II. Associação Médica de Caxias do Sul.
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1. Medicina - Produção científica
2. Ciências Médicas
61 61:001.8
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