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PARA AMPLIAR A CULTURA DEMOCRÁTICA NO BRASIL DIÁLOGO SOCIAL

dialogo social z - dieese.org.br · previstos sejam tratados, criando novas agendas de possibilidades. O diálogo ... governos, sociedade e, em última instância fortalecer a democracia

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PARA AMPLIAR A CULTURADEMOCRÁTICA NO BRASIL

DIÁLOGO SOCIAL

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Apresentação 3

Objetivos 5

Condições 6

GRUPO DE TRABALHOGRUPO DE TRABALHOGRUPO DE TRABALHOGRUPO DE TRABALHOGRUPO DE TRABALHO- DIÁLOGO SOCIAL

EDIÇÃOEDIÇÃOEDIÇÃOEDIÇÃOEDIÇÃO- - - - - SECRETARIA DO GT - DIÁLOGO SOCIAL

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃOPROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃOPROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃOPROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃOPROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO- INSTITUTO PRIMEIRO PLANO

FOTOGRAFIASFOTOGRAFIASFOTOGRAFIASFOTOGRAFIASFOTOGRAFIAS- Sindicato dos Químicos ABC- CONSEA- INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL- ETHOS

REVISÃOREVISÃOREVISÃOREVISÃOREVISÃO- CLÁUDIA REGINA PINHEIRO PIRES

INFORMAÇÕESINFORMAÇÕESINFORMAÇÕESINFORMAÇÕESINFORMAÇÕESRUA JOÃO PINTO, 30 SALA 803FLORIANÓPOLIS - SC(48) 3025-3949

Março 2009

EXPEDIENTE

SUMÁRIO

As entidades que atualmente compõemo Grupo de Trabalho Diálogo Social são:Abong – Associação Brasileira de OngsLuana VilutisE-mail: [email protected]

Dieese – Departamento Intersindical deEstatística e Estudos SocioeconômicosCrystiane PeresE-mail: [email protected] BiavaE-mail: [email protected] Roberto Arantes do ValleE-mail: [email protected]

FES – Fundação Friedrich EbertJochen SteinhilberE-mail: [email protected] MeleiroE-mail: [email protected]

IDEC - Instituto de Defesa do ConsumidorLisa GunE-mail: [email protected] Ethos de Responsabilidade SocialEmpresarialPaulo ItacarambiE-mail: [email protected] Letícia SilvaE-mail: [email protected]

Instituto Observatório SocialAmarildo Dudu BolitoE-mail: [email protected] Yara PaulinoE-mail: [email protected] QueirozE-mail: [email protected]

Instituto Primeiro PlanoOdilon Luís FaccioE-mail: [email protected]

OIT - Organização Internacional do TrabalhoLais AbramoE-mail: [email protected] Beatriz CunhaE-mail: [email protected] MelloE-mail: [email protected]

Oxfam InternacionalNathalie BeghinE-mail: [email protected]

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Este documento apresenta o ponto de vista inicial de instituições quepretendem promover o diálogo social para fortalecer a democracia no Brasil.

Vivemos uma realidade que passa por grandes mudanças nos mercados,nas empresas, nos governos, na sociedade civil e na atitude das pessoas. Ascrises econômicas ou crescimento econômico insuficiente, muitas vezesexcludente ou insustentável, debilitam a confiança na democracia. Os estudossobre as mudanças climáticas, e atual crise econômica global confirmam eindicam a necessidade de um novo padrão de produção e consumo maissustentável. A realização de diálogo social envolvendo os principais atores dasociedade pode ser um importante caminho para encontrar soluções conjuntasfrente a esses desafios. No mesmo tempo histórico novos e velhos dilemasdesafiam a agenda das organizações. Um deles é como aprimorar a governançademocrática que seja capaz de incorporar as expectativas da sociedade nosrumos do país. Prescindimos de uma democracia que, ao mesmo tempo, sejacapaz de ampliar a participação da sociedade em geral com o diálogo sistemáticocom os cidadãos, com grupos sociais que querem melhorar suas condições devida e de direitos, ou que querem um padrão sustentável de desenvolvimento econsumo.

No Brasil a democracia avançou nos últimos anos, mas ainda é precisoconsolidar uma cultura democrática entre governos, empresas e a sociedade.Nosso horizonte é uma sociedade democrática e plural, onde a promoção e ainstitucionalização do diálogo social entre os atores, crie um ambiente favorávelpara que os diversos interesses sejam tratados de maneira equilibrada. Quandoo diálogo existe, os conflitos e as disputas de interesse não terminam, mas podemse desenvolver em padrões democráticos. Ao garantir a participação, acooperação e a negociação com diferentes atores, a realização do diálogo socialé uma forma de garantir a governabilidade e a ampliação da democracia. É afusão da quantidade com a qualidade. Ao mesmo tempo, na medida em que odiálogo social ocorre, abrem-se algumas “janelas” para que outros temas nãoprevistos sejam tratados, criando novas agendas de possibilidades. O diálogosocial possibilita ter metas de cooperação e/ou a convergência de objetivos,inclusive entre atores antagônicos. Tal mecanismo, a depender de como éimplementado, pode ajudar a resolver questões comuns, resultando em ganhosconcretos para os grupos sociais envolvidos: comunidades, cidadãos, empresas,governos, sociedade e, em última instância fortalecer a democracia.

Para que as mudanças socioeconômicas sejam duradouras e promovama sustentabilidade, é decisiva a sua legitimação. O processo do diálogo socialpode contribuir para uma maior legitimidade e qualidade das políticas públicas,na gestão dos negócios das empresas e, principalmente, na maior participaçãoda sociedade civil nos rumos do país.

Grupo de TrabalhoDiálogo Social

APRESENTAÇÃO

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CRIAÇÃO DO GRUPO DE TRABALHO

Considerando a importância de valorizar a dimensãodo diálogo social enquanto meio eficaz para fortalecer acultura democrática na sociedade brasileira e, ao mesmotempo, tornar-se uma ferramenta promotora de mudançasna gestão das políticas públicas ou das empresas, diversasorganizações tomaram a iniciativa de constituir um Grupode Trabalho (GT) com a clara intenção de investir energiae recursos para criar uma cultura em favor do diálogo so-cial e da democracia. A consolidação de uma cultura de-mocrática trará dividendos para todos os segmentos en-volvidos, especialmente para aqueles que querem deixarum legado democrático para as próximas gerações.

ENTENDIMENTO SOBRE DIÁLOGO SOCIALO Grupo de Trabalho parte do pressuposto de que

há vários entendimentos legítimos sobre o significado doque seja o diálogo social. Diálogo é negociação ou é coo-peração? É possível a convivência de diálogo com o con-flito e a tensão? Seria o diálogo social uma tensão em pro-cesso? Outro assunto importante a resaltar é que, na me-dida em que o diálogo avança os conflitos tendem a dimi-nuir, porém não desaparecem os diversos interesses daspartes envolvidas. É uma visão de longo prazo, onde de-verão ser ouvidas as partes para formular propostas deconsenso. Mas, independente de existir diferentes entendi-mentos, o GT considera que o mais importante, neste mo-mento, é contribuir para formular e apoiar as condições oupressupostos essenciais que possam favorecer a realizaçãodo diálogo social.

CONCEITO DE DIÁLOGO SOCIAL DO GRUPO DE TRABALHO

Diálogo social é o processo no qual atores sociais,econômicos, políticos, ou grupos sociais, legitimamentereconhecidos, se reúnem institucionalmente para compar-tilhar ideias, cooperar, buscar convergência de objetivosou negociar assuntos de interesse comum. Apesar das fre-quentes tensões e dos diversos conflitos que muitas vezes,permeiam o diálogo, este pode resultar no alinhamento depropósitos, em troca de informações, em novas agendas depossibilidades não planejadas ou pode proceder em acordosou projetos compartilhados, fortalecendo a governança de-mocrática e a sustentabilidade das instituições envolvidas.

“Nos países com diálogo social podemos observarvárias modalidades de diálogo, em função dosatores envolvidos no processo, seja ele bipartite(quando envolve apenas empresários etrabalhadores) ou tripartite (quando conta tambémcom a participação do governo). O caráter dodiálogo social é sempre o resultado das lutas sociaisconcretas e por isso também muda constantemente.Portanto, não há um único sentido do diálogosocial. O diálogo social pode significar o direito deinstalar representações dos trabalhadores e dossindicatos na empresa, um diálogo entre chefias ecomissões de fábrica, entre sindicatos e o Estado etc.Pode significar um diálogo sobre um problemaconcreto na empresa ou sobre o futuro modelo dodesenvolvimento de um país. Em suma, há muitoscanais possíveis de diálogo social nos diferentesníveis”.

Jochen Steinhilber- Representante da FES no Brasil

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OBJETIVO GERALO Grupo de Trabalho Diálogo Social é uma

articulação que reúne diferentes instituições que têmpor objetivo sistematizar, refletir, formular conteúdos erealizar atividades, visando à promoção do diálogosocial como elemento essencial para a consolidaçãode uma sociedade democrática, plural e justa.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:O Grupo de Trabalho pretende alcançar os

seguintes objetivos específicos:

1. Conhecer e acompanhar as diversasexperiências existentes, sistematizando eidentificando os principais avanços e dificuldades,objetivando desenvolver orientações quecontribuam para consolidar novas experiênciasde diálogo social.

2. Formular e disseminar conteúdos para osmeios de comunicação e eventos relacionadosao tema, contribuindo para agregar a associaçãode entidades interessadas no diálogo social.

3. Realizar atividades, encontros ou semináriosespecíficos, para o aprofundamento temático ea análise de experiências nacionais ouinternacionais que possam gerar subsídios parao desenvolvimento do diálogo social no Brasil.

OBJETIVOS

“Compreendemos o diálogo social como umprocesso que deve proporcionar a ampliação daparticipação social e o aprofundamento dademocracia. O diálogo social é também um espaçode aprendizagem, de transformação da culturapolítica da sociedade. Embora as experiências dediálogo social sejam diversas e ocorram em níveisdiferenciados, podemos identificar pressupostoscomuns entre elas. Tanto no contexto denegociações entre capital e trabalho, quanto naefetivação de políticas públicas, o diálogo socialrequer uma ação permanente, continuada e coletivaque contribua intencionalmente com ainstitucionalização de espaços de participaçãosocial. Acreditamos que a interação dialógica deveser permeada por relações de cooperação econfiança, pois o diálogo social ganha sentido sehouver uma escuta efetiva dos sujeitos envolvidos euma construção coletiva das condições do diálogo.A formação para o diálogo, a sistematização desuas práticas e a transparência na sua difusão sãorequisitos para a sua realização. Por atuar nocampo da constituição e expansão de direitos e dapromoção da justiça social, a Abong aposta nodiálogo social como um mecanismo de ampliaçãodo espaço público, partilha de poder efortalecimento das lutas sociais”.

Luana Vilutis– Representante da Abong

2a Conferência Nacional de Segurança Alimentar- CONSEA - Março 2004

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“O diálogo social representa a integração noambiente de trabalho de um dos mais relevantesdireitos de cidadania, possibilitando quetrabalhadores e empregadores obtenham um maiorcomprometimento com os objetivos da empresa, peladecisão comum de resultados a atingir. O diálogosocial representa uma oportunidade para a obtençãode compromissos que envolvam motivações de cadauma das partes sobre oportunidades dedesenvolvimento das pessoas, das organizações e dasociedade”.

Lais Abramo– Diretora da OIT Brasil

O Grupo de Trabalho identificou pressupostos quedevem orientar a prática do diálogo social no Brasil. Sãoeles:

Com relação aos atores sociais envolvidosÉ importante que as experiências de diálogo social

considerem a grande diversidade da sociedade brasileira edos grupos que a representam. Assim, ao lado do Estado,trabalhadores e empresários, atores sociais protagonistasem uma sociedade capitalista, é importante que se assegu-re espaço para a manifestação e posicionamento de gru-pos como consumidores, academia (universidades e insti-tuições de pesquisa), organizações não governamentais dedefesa de direitos e mídia. Dessa forma, esses grupos es-tarão desempenhando papel importante na promoção dessamodalidade de diálogo.

Embora a diversidade seja um elemento fundamentalpara o êxito do processo, é fundamental também que seleve em conta a legitimidade do espaço do diálogo e dosparticipantes. Assim, a observação ou não de aspectoscomo a pertinência das questões colocadas, os interessesdas entidades nas discussões propostas, a capacidade téc-nica e a representatividade política das entidades podemresultar em êxito ou fracasso do processo.

Não menos importante é a necessidade de se consi-derar a possibilidade de que atores sociais, organizaçõesou entidades que não estejam diretamente envolvidaspossam ter um papel de indutores, facilitadores e apoiadoresdo processo. Assim, o apoio da academia e da mídia, porexemplo, pode contribuir com informações para a tomadade decisão e para a divulgação social das questões tratadasno espaço do Diálogo Social.

Os promotores do diálogo social devem considerar,também, o desequilíbrio em termos de correlação de for-ças presentes, por exemplo, em decorrência de fatorescomo poder econômico, poder político, mobilização, en-tre outros.

Destaca-se o papel peculiar que cabe ao Estado nes-se processo, dado que esse ator social expressa o resulta-do da disputa de interesses presentes na sociedade em umdado momento. Dessa forma, o Estado tem no diálogosocial um instrumento para envolver os principais agentes

CONDIÇÕES NECESSÁRIAS ÀREALIZAÇÃO DO DIÁLOGO SOCIAL

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“Lidar com o diálogo social do ponto de vista denegociação é prática do trabalho que desenvolvemos noIOS no acompanhamento de algumas redes detrabalhadores em empresas multinacionais. Entretanto,como instituição de estudos e pesquisas sobre condiçõesde trabalho, entendemos que o diálogo social é tambémum processo de amadurecimento na busca de soluçõesconsensadas para conflitos de interesses. Sendo assim,ora como uma explícita negociação ora como processo,se faz necessário estabelecer metodologias diferenciadaspara que o objetivo seja atingido. Se, para um momentonegocial as técnicas e metodologias já são bastanteconhecidas e difundidas, para o processo de diálogo queobjetiva uma construção de solução entre partes (podeser a própria negociação tradicional) ainda merecemaior estudo e muita troca de experiências entreinstituições predispostas a criar novos caminhos. A atualconsciência do entroncamento das dimensõeseconômica, social e ambiental traz para dentro darelação trabalho/capital um desafio que poderá sermelhor orquestrado por meio do diálogo social. Para oIOS, participar e contribuir com o GT Diálogo Socialtambém é uma forma de consolidar seu trabalho sobre aagenda do Trabalho Decente junto ao movimentosindical. Diálogo social é um dos quatro pilares doTrabalho Decente, o mais falado na atualidade e o maisdesconhecido: sabe-se que não se resume a negociaçãocoletiva, mas muitas vezes somente esse indicador élembrado. Ultrapassar essa visão restrita e alargar asbases do diálogo, sem perder a identidade, pode tambémser uma estratégia para o movimento sindical.”

Amarildo Dudu Bolito– Supervisor Institucional do Observatório SocialAna Yara Paulino– Pesquisadora Observatório SocialRegina Queiroz– Responsável pelo projeto ResponsabilidadeSocial Empresarial

sociais e econômicos nas discussões da gestão pública.A importância do ator social Estado destacada ante-

riormente não implica, necessariamente, sua participaçãonos diversos espaços do diálogo social. Nesse sentido, hásituações, inclusive, em que os demais atores sociais po-dem não desejar a intervenção estatal, caso típico, porexemplo, de situações relacionadas a certos temas da rela-ção capital e trabalho.

COMPROMETIMENTO, ABERTURA PARA ADIVERSIDADE E CONFIANÇA NA PRÁTICA DO

DIÁLOGO SOCIALÉ importante que cada um dos atores sociais partici-

pantes do processo esteja comprometido com o diálogobuscando acordos e entendimentos com os demais. Orespeito à diversidade das organizações amplia apossibilidade da leitura da realidade e de seus problemas,contribuindo para a busca do atendimento de determina-dos objetivos. Nesse sentido, é fundamental que as repre-sentações estejam cientes das situações de alta complexi-dade que normalmente estão envolvidas na prática do diá-logo social, com visões de mundo diferenciadas, fortes ex-pectativas e interesses contraditórios.

É importante ainda, que essa complexidade seja vistacomo algo enriquecedor. Cada ator contribui e reconheceno outro um interlocutor que, mesmo com diferentes visõese interesses, vê a realidade e as ações para transformá-lade maneira distinta. Nesse sentido, o diálogo social é umprocesso de aprendizado que envolve se posicionar frentea um problema, ouvir o que o outro tem a dizer, refletirsobre as visões distintas e avaliar possibilidades de resul-tados que sejam de interesse dos atores sociais.

Finalmente, é importante que os atores reconheçamno diálogo social um instrumento para se chegar a resulta-dos que tenham maior densidade, o que poderá, no futuro,gerar políticas mais sustentáveis.

Diálogo social como processoO diálogo social é um espaço de construção contí-

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“Nossa instituição está envolvida com aorganização do Grupo de Trabalho por considerarque a realização de diálogos sociais contribui muitopara a democratização das relações sociais eeconômicas. A realização de diálogos sociaisprovoca e induz a maior cooperação entre asorganizações participantes. Se o diálogo ocorreefetivamente, ajuda a equilibrar o poder. Quando oprocesso de diálogo alcança algum nível deinstitucionalização e, os atores são valorizadoscomo representantes dos segmentos envolvidos, atendência é produzir mudanças positivas para aspartes durante um período maior de tempo. Semdúvida, processos mais democráticos sempre sãomais demorados, mas sempre são melhores porque,de alguma forma, as diferentes expectativas dosatores envolvidos, em grande medida, sãocontempladas. Isto dá maior qualidade eestabilidade aos processos de decisão e demudanças. No Brasil, por diversas razões, sabemosque não é um assunto ainda devidamenteconsiderado. No fundo, é um investimento nofuturo”.

Odilon Luís Faccio– Instituto Primeiro Plano

nua, inclusive entre os pares. Dada a pouca prática dessamodalidade de diálogo em nossa sociedade, as atividadesplanejadas para sua efetivação devem ser cuidadosamen-te preparadas, com a organização prévia dos atores en-volvidos no diálogo por meio de encontros, diálogos inter-nos e reuniões. Além do conteúdo a ser discutido, as re-gras do processo e a participação dos atores envolvidosdevem ser definidos.

Além disso, o acesso à informação de forma equâni-me entre os participantes do processo associado a meca-nismos que facilitem a comunicação, a exemplo das redesapoiadas por tecnologias de informação, são elementosfundamentais que devem ser cuidadosamente observadospelos promotores do diálogo social.

Destaca-se ainda que o trabalho para se avançar emassuntos mais gerais pode influenciar positivamente o tra-tamento conjunto de outras questões, não necessariamen-te associadas às questões iniciais. Assim, o contato entreos atores pode gerar o início de novos compromissos einiciativas conjuntas para tratar de novas questões que,direta ou indiretamente, tenham surgido a partir da reuniãoinicial dos atores. Estabelece-se, dessa forma, um processode diálogo permanente que tem em vista a institucionaliza-ção de espaços de participação social. Nesse sentido, odiálogo social pode ser visto, também, como um tipo es-pecial de aprendizagem onde os participantes aprimoramsua capacidade de intervir cotidianamente nos temas soci-ais que lhes dizem respeito.

É importante que os espaços para o diálogo socialpermaneçam abertos à participação de novas representa-ções que, por qualquer motivo, tenham optado por nãoparticiparem do começo do processo ou que tenham sidoposteriormente identificadas pelo grupo como entidadesimportantes para o trabalho.

A complexidade do trabalho com os atores sociaisrequer que as atividades que envolvam o diálogo socialsejam objeto de constante reflexão dos responsáveis pelaimplementação do trabalho. Nesse sentido, há a necessi-dade de aprofundar os passos metodológicos que podemaprimorar o processo de diálogo social, envolvendo apoioinstitucional às iniciativas, suporte técnico externo paraapoiar o processo de diálogo e o apoio à reflexão, à busca deconvergências entre os participantes e à sistematização dotrabalho dos atores. De forma particular, há a necessidade deavanços no sentido de examinar como se dá a discussão deproblemas da realidade social e como este momento pode setornar importante para a mobilização social.

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“Entendemos o diálogo com outro objetivo que nãosomente a negociação. Pensamos no diálogo paramudança de visão de sociedade, porque nãopodemos fazer incrementos sem mensurar osimpactos, caso contrário fica tudo igual. Nossoentendimento sobre diálogo é o de um espaço deaprendizagem. Um espaço de abertura onde osatores estão dispostos a novas reflexões. Se agirmosapenas como espaço de compromissos, os atores jávão com propostas fechadas e isto dificulta avanços.Pensamos o diálogo com o propósito de legitimaçãoe de construção da confiança entre as partesenvolvidas. Concebemos que o diálogo pode serespaço de aprendizagem, que proporcionemudanças do padrão de mercado, de novas relaçõesna sociedade, visando atingir os seguintes objetivos:a) o controle social – o diálogo social facilita que asociedade exerça o controle social por meio deregulamentos e leis; b) retorno para todos – acompetição e os conflitos não trazem resultadosbons, porque há desequilíbrio entre as partes; c)cooperação – o diálogo deve ser um espaço decooperação”.

Paulo Itacarambi– Diretor executivo do Instituto Ethos

Acerca dos problemas identificados pelo grupoA identificação dos problemas deve ser feita de forma

cuidadosa, de tal maneira que os atores se concentremnaqueles que sejam primordiais para a realidade que estásendo discutida. É importante que os promotores do diá-logo social trabalhem os problemas como desafios coloca-dos pela realidade aos participantes do processo, algo querequer uma intervenção para que se atinja uma situaçãodesejada. Isso será fundamental para os momentos poste-riores de identificação dos objetivos do grupo em relaçãoao problema e das ações a serem implementadas.

Acerca dos objetivos propostos paraatacar o problema

Identificado o problema, cuidado especial deve serdado à identificação dos objetivos propostos para sua so-lução. É fundamental que a atividade caminhe no sentidode que sejam definidos objetivos alcançáveis e mensurá-veis. Atenção especial deve ser dada à governabilidade dogrupo em relação a o que for estabelecido como objetivo.É importante ainda que se evitem metas muito ambiciosas,pois podem resultar em entraves à formação de consensosou frustração diante da baixa resolutividade do colegiado.Nesse sentido, é importante que se busque sempre equilí-brio entre demandas sociais, expectativas do grupo e res-postas públicas às demandas. Quando da identificação dasações para se alcançar os objetivos propostos, é impor-tante que as atribuições e responsabilidades dos partici-pantes do grupo estejam claramente estabelecidas e quepossam ser acompanhadas por todos. O cumprimento dopactuado é fundamental para consolidar a confiança entreos participantes e para criar progressivamente uma culturade diálogo social. Sistematizados os resultados do traba-lho, é importante que se assegure a transparência das in-formações aí geradas, de tal maneira que todos tenham acessoao resultado do mesmo e que possam acompanhar o trabalhodos demais nos momentos seguintes.

Acerca dos resultados do processoUm aspecto fundamental para assegurar que uma ex-

periência de diálogo social seja referência para experiênci-as semelhantes, é a implementação efetiva das ações pro-postas pelo grupo. Dessa forma, é muito importante que asentidades envolvidas no processo se empenhem na trans-

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formação do resultado do trabalho em ações efetivas, sobo risco de que o resultado seja visto como negativo pelosparticipantes, e se torne uma referência negativa para ou-tros processos semelhantes.

Finalmente, é importante que haja, entre as açõespropostas, iniciativas que visem assegurar a ampliação edisseminação do diálogo, de tal forma que a experiênciaseja vista como parte de um processo que não termina aí,mas que tem continuidade e que tem como um de seusresultados contínuos o aumento da participação social nadefinição dos rumos da sociedade.

EXPERIÊNCIASExiste um leque diversificado de experiências de di-

álogo social que contempla distintos objetivos e modali-dades de participação dos atores: governos e empresas,empresas e sindicatos, governos, empresas e sociedadecivil ou, empresas e sindicatos. Algumas dessas experi-ências são iniciativas de governos, de empresas ou frutodas conquistas sociais. O diálogo social é um instrumentoque favorece a democracia participativa e negociada. Éum espaço de discussão onde cidadãos têm a possibilida-de de expressar livremente suas opiniões e de influenciar aelaboração, implementação e monitoramento das políti-cas públicas. É um espaço de aprendizagem e de negoci-ação, que pode trazer resultados benéficos para os ato-res envolvidos.

“Oxfam Internacional aposta em processos emecanismos que auxiliem no combate àdesigualdade e à pobreza. O diálogo social é umdeles, na medida em que pode contribuir parafortalecer cidadãos ativos e Estados efetivos.Entendemos que existem diversos formatos dediálogo social que vão desde o processopreparatório de uma negociação entretrabalhadores e empregadores, passando por mesasredondas sobre determinados temas que interessamtrabalhadores, empresários, governos eorganizações não governamentais, até conselhos depolíticas que são espaços de deliberação ondecidadãos acreditados têm a possibilidade deexpressar livremente suas opiniões e de influenciar aelaboração, implementação e monitoramento depolíticas públicas. A qualidade do diálogo dependedo equilíbrio de forçasdos atores envolvidos. Neste sentido, entendemos quealguns requisitos mínimos devem ser observadospara que um diálogo social possa efetivamente serchamado de diálogo, tais como: ampla participaçãodas partes interessadas; autonomia dosparticipantes; regras e normas defuncionamento claras, conhecidas e respeitadas portodos os participantes; objetivos alcançáveis emensuráveis; atribuições e responsabilidades dosparticipantes claramente estabelecidos etransparência das ações”.

Nathalie Beghin- Assessora de Advocacy de Oxfam Internacional Reunião do Diálogo Social entre empresa e sindicatos

da BASF/América do Sul - Santiago do Chile/maio 2008

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“Entendemos o diálogo social como um espaçoonde os atores sociais são ouvidos e reconhecidosenquanto representantes da diversidade deinteresses e de visões de mundo presentes nasociedade. Os atores envolvidos têm diferentesinteresses e visões de mundo, o que dificulta, porémnão implica, na maioria dos casos, em restrições aodiálogo. Pelo contrário, essas diferenças dãoriqueza ao processo. O pressuposto é que estasdiferenças sejam respeitadas e preservadas, daíprivilegiarmos em nosso trabalho a busca de pontosde convergência, e não necessariamente deconsenso. Embora o modelo mais comum de diálogosocial seja o tripartismo, consideramos anecessidade de outros agentes que podem contribuirpara o debate ao serem envolvidos no diálogo,aumentando ainda mais a riqueza do processo”.

Crystiane Leandro Peres– Técnica

Na primeira etapa de trabalho, o GT identificou 4 ti-pos diferentes de diálogo, e vem sistematizando e analisan-do estas experiências:

a - Participação social na implementação emonitoramento de políticas públicas: aexperiência do Conselho Nacional deSegurança Alimentar e Nutricional –CONSEA e os fóruns de participação socialdo Plano PluriAnual – PPA 2004-2007(multipartismo): Oxfam Internacional eABONG.

b - Diálogo social entre empresas privadas etrabalhadores (bipartismo), em âmbitosnacional e internacional (BASF e BAYER):Instituto Observatório Social e FundaçãoFriederich Ebert.

c - Elaboração de diagnósticos participativossobre problemas do mercado de trabalho(tripartismo): DIEESE.

d - Conexões Sustentáveis - experiência quevisa comprometer as empresas a nãocomprarem produtos (soja, madeira etc.) queutilizam o trabalho escravo na cadeia deprodução: Instituto Ethos.

Seminário Conexões SustentáveisSão Paulo / dezembro 2008

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