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Diálogos entre Ocidentes e Orientes

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Antônio Campos

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Antônio Campos

Diálogos entre ociDentes e orientes

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Copyright© 2011 Antônio Campos

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida, nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização do Autor.

EditorAntônio Campos

Projeto gráficoPatrícia Lima

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

Carpe Diem - Edições e ProduçõesRua do Chacon, 335, Casa Forte, Recife, PE55 81 32696134 | www.editoracarpediem.com.br

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sumário

A FLIPORTO E A CULTURA DO DIÁLOGO, 7

FLIPORTO 2011: OCIDEnTE E ORIEnTE – DIÁLOGOs, 10

GILBERTO FREYRE E O ORIEnTE QUE TORnOU O BRAsIL POssÍVEL, 13

UMA VIAGEM AO ORIEnTE, 16

MALBA TAHAn, 18

GEORGE HARRIsOn E O MIsTICIsMO, 20

InTOLERÂnCIA CULTURAL, 22

BUTÃO HIGH-TECH, 24

UM nOVO GAnDHI, 26

MUsEU DO ORIEnTE, 28

A PORTA DO ORIEnTE E BERÇO DE CIVILIZAÇÕEs, 30

sTEVE JOBs, 32

UnIDOs PELO MEDITERRÂnEO, 35

O BRAsIL EM FRAnKFURT, 37

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A FliPorto e A culturA Do Diálogo

A 6º edição da Festa Literária Internacional de Pernambuco – Fliporto, que acontece entre os dias 12 a 15 de novembro, valoriza a cultura do diálogo através do diálogo entre culturas. Os diálogos culturais são fundamentais para uma maior inte-gração cultural entre países, culturas e etnias em um momento de grande tensão do mundo contemporâneo.

A globalização econômica e financeira juntamente com o progresso das tecnologias de comunicação e informação, têm tido impacto direto nas identidades culturais, colocando em risco também a diversidade cultural no mundo.

As identidades nacionais, que têm nas culturas nacionais suas principais fontes, seguem uma tendência de desintegra-ção. Novas identidades híbridas estão tomando seu lugar. Dia-leticamente, algumas identidades estão sendo reforçadas pela resistência à globalização, num processo de tensão entre o local e o global e entre culturas.

O que significa ser europeu, num continente marcado não apenas pelas culturas de suas antigas colônias, mas também por outras culturas e povos oriundos de migrações ou diásporas pós-coloniais?

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O século XXI passou da diversidade como riqueza para a interculturalidade como problema. A crescente islamofobia na Europa, o conflito entre árabes e judeus juntamente com as re-ações às diásporas pós-coloniais em vários países são grandes preocupações do mundo contemporâneo.

No seu livro Choque de Civilizações, o sociólogo Samuel P. Huntington previu que, depois da guerra fria, as disputas se dariam no terreno da cultura e da religião.

Além de trazer a boa literatura e discutir as nossas raízes literárias, no decorrer da Fliporto iremos tratar os conflitos in-terculturais travados no mundo contemporâneo. Um dos pai-néis nesse sentido é com o filósofo e sinólogo francês François Jullien e Kathrin Rosenfield, que tratarão o tema: Do universal, do comum e do diálogo entre culturas.

O Brasil, que é um país mestiço, marcado pela mistura de várias raças, deve ser motivo de estudos quanto à tolerância e convívio entre raças e culturas. Prescindimos de identidade, porque temos todas elas. Precisamos preservar essa grande qualidade nacional, evitando tentativas de fundamentalismos religiosos como vimos nessas últimas eleições presidenciais. O Brasil pode ser um importante paradigma para uma aliança e não um choque de civilizações e culturas.

Como melhorar o convívio ou diálogo entre culturas ou indivíduos, admitindo diferenças, sem discriminações, passou a ser uma das principais indagações do século XXI.

Está no centro da vida contemporânea o desafio de cons-truir pontes, diálogos construtivos de paz, entre culturas que estão em choque real ou aparente, em sociedades cada vez mais interculturais do que multiculturais.

Somos “Di-versos”, como afirma o poema do músico brasileiro Marcelo Yuka, pois “entre a revolta e a obediência,

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crescer com diferenças e crescer pelas diferenças, será sempre entender que o amor é a nossa maior forma de inteligência”.

O Brasil não é mais o país do futuro: é do presente. Nossa grande tarefa é preservar a cultura do diálogo entre as religiões e etnias existentes no Brasil e tentar alargá-la para o mundo. Essa é certamente a maior contribuição que o Brasil pode dar ao mundo contemporâneo. E a Fliporto, como festa e pensa-mento, busca esse propósito.

Novembro, 2010.

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FliPorto 2011:

ociDente e oriente – Diálogos

Os diálogos entre o Ocidente e o Oriente remontam à An-tiguidade e até mesmo antecedem o momento em que pala-vras como “Oriente”, “Ocidente” e “diálogos” são inventadas e passam a se tornar correntes nas teorias e nos vocabulários principalmente ocidentais a esse respeito. Quem se volta para o século XIX, por exemplo, tem um rico painel disso tudo.

Mas é inegável que no século XXI esses diálogos ganham contextos e contornos tanto mais ricos quanto instigantes, não só em decorrência das profundas modificações geopolíticas e econômicas, mas nos aspectos culturais subjacentes.

De qual Oriente e de qual Ocidente se fala no século XXI? Assim mesmo no singular, ou as pluralidades e simultaneidades já superam as uniformidades? E a chamada globalização acen-tuou ainda mais as particularidades regionais?

Por essas e outras, percebe-se facilmente como a palavra “diálogos” nesse caso não pode ser dissociada das “questões” que evoca e provoca. Várias são recentes, muitas recorrentes, e outras tantas permanentes, desde que o mundo é mundo,

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desde que a humanidade é a humanidade e cuida de construir suas referências, pois, não há como negar também o aspecto de construção mental de ocidentes e orientes, mesmo para quem não tenha lido uma linha sequer de Edward Said.

O que pensa e sente o Ocidente a respeito do Oriente pode tornar mais fáceis ou mais difíceis tais diálogos. Mas isso é um caminho de mão dupla. Tem provado a história. Das Cruzadas à Primeira Guerra Mundial. O diálogo, no entanto, estimula algo que suplanta as diferenças, aponta para a convergência e o entendimento.

Pensar e agir dialogando e que esses diálogos contribuam para tornar ocidentes e orientes mais próximos – sem imposi-ções, obviamente, de parte a parte – é o que os escritores vêm fazendo ao longo do tempo. Num saudável jogo de influências, sem angústias.

O Brasil, potência emergente do Ocidente, cada vez mais dialoga com as suas equivalentes no Oriente, e no Extremo Oriente. E a constante abertura ao diálogo é uma das caracte-rísticas mais marcantes do seu povo.

A palavra “encontro”, em sua densa ambiguidade, vem mostrando a todos os que interessam pelo diálogo Ocidente/Oriente como o tema vai muito além do chamado conflito de civilizações, que ainda tem sua voga, mas que, crescentemente, tem-se obrigado a conviver com o seu oposto, num mundo que já não pode pregar hegemonias e eixos maniqueístas sem constrangimento.

Para além dos livros já clássicos que trataram ora da decadên-cia do Ocidente ora do Oriente, novos estudos de novos autores, no riquíssimo cenário da cultura, da economia e da política na atualidade têm ensejado a pensadores, intelectuais, escritores e a todos os “espíritos livres” novos e fascinantes desafios.

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O Oriente há muito não pertence ao universo mental euro-peu. Na era das multilateralidades, os velhos cânones e concep-ções são suplantados a cada dia, e isto se verifica cada vez, por exemplo, que um estudioso se debruça sobre a descolonização, ou que um escritor a lança no complexo reino da sua imagina-ção e a discute como algo vivo, pulsante.

O poeta árabe Adonis disse que “O Oriente e o Ocidente só existem na geografia. No Ocidente há Orientes mais orien-tais que no próprio Oriente. Não há diferença entre ambos, salvo geograficamente. O humano é o que me interessa”. É uma das perspectivas possíveis.

O que tudo isso tem a ver com romances, contos, poemas e ensaios no Brasil e outras partes no novo cenário que o mundo (se) desenha é o que vai mostrar a Festa Literária Internacional de Pernambuco em 2011.

Novembro, 2010.

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gilBerto FreYre e o oriente Que tornou o BrAsil PossÍVel

Em 1936, Gilberto Freyre publicou Sobrados e Mucambos, que é continuação de Casa Grande e Senzala e talvez a sua verdadeira obra-prima.

É um belo estudo do embate entre o Ocidente e o Oriente, no Brasil, durante o século XIX, onde defende a ideia de que a cultura brasileira havia sido gerada a partir de uma matriz oriental de valores, hábitos e conceitos sobre o mundo.

Desde muito cedo a ideia de uma orientalidade e de um amouriscamento do Brasil apareceriam na obra de Gilberto Freyre. A impressão de que o Brasil era, de alguma forma, um prolongamento da cultura oriental nos Trópicos.

Na perspectiva de Gilberto Freyre, as conexões entre o Bra-sil, no período de sua formação, e o Oriente, árabe ou asiático, iam muito além de aspectos arquitetônicos, tendo sido deter-minantes na conformação da sensibilidade brasileira, em sua visão de mundo e seus valores culturais mais marcantes.

O Oriente tornou o Brasil possível, no dizer de Freyre. Foram os saberes orientais que permitiram a construção da “maior civilização moderna dos Trópicos”. Freyre estava va-

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lorizando o Oriente como matriz cultural formadora do Brasil em contraposição a matriz européia.

Nesse sentido, ele destaca o papel exercido pelos navegado-res e conquistadores portugueses como intermediários entre as duas metades do mundo, a ocidental e a oriental: Foram com efeito os portugueses que primeiro trouxeram do Oriente à Europa o leque, a porcelana de mesa, as colchas da China e da Índia, os aparelhos de chá, e parece que também o chapéu-de-sol. (Casa Grande & Senzala, p. 275).

Deve-se, aliás, registrar que na maior parte das vezes em que Gilberto Freyre fala em “Oriente”, está, na verdade, se referindo tanto à África, muçulmana ou não, quanto à Ásia. No seu discurso, o Oriente é uma ampla matriz cultural que abriga todos os valores não europeus e, inclusive, antieuropeus. Vejamos: A verdade é que o Oriente chegou a dar considerável substância, e não apenas alguns dos seus brilhos mais vistosos de cor, à cultura que aqui se formou e à paisagem que aqui se compôs dentro de condições predominantemente patriar-cais de convivência humana [...] Modos de viver, de trajar e de transportar-se que não podem ter deixado de afetar os modos de pensar (Sobrados e Mucambos, p. 424).

Sobrados e Mucambos apresenta o Brasil do século XIX, como um capítulo relevante da história da luta entre Ocidente e Oriente. O estopim da luta, que, na realidade, é uma guerra simbólica, teria sido a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil, em 1808: “A colônia portuguesa da América adquirira quali-dades e condições de vida tão exóticas – do ponto de vista europeu – que o século XIX, renovando o contato do Brasil com a Europa [...] teve para o nosso País o caráter de uma reeuropeização” (Sobrados e Mucambos, p. 309). Junto com a Família Real vieram produtos ingleses e modismos franceses.

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Estes chegavam cercados de tal prestígio e poder de sedução, que tornavam difícil a resistência às “vozes de sereia do Oci-dente” (Sobrados e Mucambos, p. 453).

O século XIX representou, assim, no Brasil, o fim do “pri-mado ibérico de cultura”, que nunca fora “exclusivamente eu-ropeu, mas em grande parte, impregnado de influências mou-ras, árabes, israelitas, maometanas.

O Oriente perdia a batalha contra o Ocidente, na mesma medida em que a “manteiga francesa”, a “batata-inglesa”, o “chá também à inglesa”, agiam no sentido da “desafricanização da mesa brasileira, que até os primeiros anos da Independência estivera sob maior influência da África e dos frutos indígenas” (Casa Grande & Senzala, p. 458).

Por essa via o Brasil se afastava de si mesmo e se entregava a um processo de descaracterização, numa frágil tentativa de transformar-se numa Europa tropical.

O mundo atual é multipolar e o eixo do poder econômico volta-se novamente para o Oriente do qual temos influência decisiva em nossa formação.

As relações, desavenças e semelhanças entre Oriente e Oci-dente são temas de grande relevo. Por essa necessidade de compreensão de nossas raízes e de aprofundar o diálogo entre culturas e países no contemporâneo, é que traremos, na Fli-porto 2011, o tema “Orientes e Ocidentes - diálogos”, para discutirmos tal questão e mostrarmos a importante influência oriental na formação do Brasil.

Dezembro, 2010.

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umA ViAgem Ao oriente

O livro Uma Viagem à Índia (Edições Leya, 2010) do autor angolano Gonçalo M. Tavares é admirável. Usando o modelo da epopéia Os Lusíadas é uma revisitação original do mito cul-tural e literário do Oriente, que é o tema da Fliporto 2011.

O seu verdadeiro poema-épico com dez cantos, que se es-tende por 452 páginas, cria um personagem Bloom, verdadeiro Ulisses do século XXI, que vai à Índia em busca de sabedoria. A busca da terra da promissão da alma onde um Ocidente sem ela imagina encontrar, até descobrir que os sem gurus são mis-tificadores, na sua visão. No seu livro, a solidão, o erotismo, a crueldade humana, entre outros males contemporâneos, cum-pre o papel de monstros marinhos a serem enfrentados.

O autor esteve na Fliporto 2009, quando autografou o seu livro Jerusalém e abordou o tema de outro romance: Aprender a Rezar na Era da Técnica.

Agora, estamos o convidando novamente para ele falar, na Fliporto 2011, sobre o tema Uma Viagem Ficcional ao Oriente, que tão originalmente escreveu no seu livro Uma Viagem à Índia.

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O ensaísta Eduardo Lourenço, em seu brilhante prefácio ao livro de Gonçalo, adverte-nos que: “Quando chegamos à Índia – os que por nós lá foram para sempre e lá ficaram -, há muito que ela era para o Ocidente a porta aberta e misteriosa para uma quietude capaz de nos curar do nosso demoníaco desassossego. Mas foi a nossa chegada que a converteu para os outros em lugar de todos os sonhos e fantasmagorias. Para nós, todas as viagens são “viagens à índia”, e não é o menor dos seus desafios e atrevimentos que Gonçalo M. Tavares nos proponha repetir a viagem arquétipo a terra onde realidade e sonho se confundem. subvertendo o sentido da viagem canó-nica do Ocidente em aventura da ilusão de todas as buscas di-vinas e epopeia luminosa da decepção. Uma decepção à altura do desespero e da agonia ocidental no momento mesmo em que a sua história e meta-história, como pulsão conquistadora e épica, converteu o Ocidente inteiro e a sua cultura sob o signo de Ulisses em êxtase vazio, fascinado pelo esplendor do seu presente sem futuro utópico, glosando sem descanso a sua proliferante ausência de sentido.”

Gonçalo Tavares em seu livro conseguiu fazer uma obra que consegue atingir a Índia, desmentindo Kafka que assina-lou: “Já no tempo de Alexandre as portas da Índia estavam fora de alcance, mas, ao menos, o gládio do rei mostrava a sua direção. Hoje, as famosas portas estão mais longe e mais ina-cessíveis; mas ninguém mostra a direcção; muita gente brande gládios mas o olhar que pretende segui-los perde-os de vista.” (Franz Kafka, O Novo Advogado, em Metamorfose). Vale a pena viajar à Índia através do livro de Gonçalo, que se consagra como um escritor indispensável.

Janeiro, 2011.

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mAlBA tAHAn

A matemática é sem dúvidas uma das ciências mais fasci-nantes de toda a história da humanidade. É comum ouvirmos falar em diferentes correntes de ensino usadas por professores, estudiosos e admiradores dessa arte. Mas, enquanto disciplina obrigatória nos currículos escolares, o ensino da matemática adota metodologias que tornam a matéria antipatizada por par-te expressiva das crianças.

O ex-presidente Lula, em seus oito anos de governo, desen-volveu atividades e programas para dar mais oportunidades de crescimento intelectual e profissional a crianças, jovens e adul-tos brasileiros. Apesar de existir muito antes do governo Lula, a Olimpíada Brasileira de Matemática teve muita repercussão e visibilidade durante os últimos anos, especialmente na gestão de Eduardo Campos no Ministério de Ciência e Tecnologia.

Quando penso nisso, vejo que é de extrema importância trazer à tona a iniciativa e homenagear obras e projetos que visem a construção de um melhor raciocínio lógico, através de um nome inovador na pedagogia: Malba Tahan, um precursor da arte de tornar a matemática algo mais prazeroso no lúdico universo infantil. Ele, eterno incentivador do imaginário infan-til, muitas vezes ignorado pelas escolas convencionais, escreveu

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diversos livros didáticos primorosos que servem tanto para es-tudantes quanto para professores.

Suas obras tratam de temas como o desenvolvimento da capacidade de pensar diante de situações cotidianas num con-texto de multidisciplinaridade, pois como afirmou o próprio Tahan “é preciso, ainda, não esquecer que a Matemática, além do objetivo de resolver problemas, calcular áreas e medir volu-mes, tem finalidades muito mais elevadas. É um dos caminhos mais seguros por onde podemos levar o homem a sentir o po-der do pensamento, a mágica do espírito.”

Tahan, enquanto professor, ensinou matemática a crianças e jovens de diferentes idades de uma maneira única, pois tor-nava, ao seu modo, coisas que antes pareciam difíceis em coi-sas simples, fáceis e claras. Como escritor passava, através das letras, toda sua técnica de ensino e idéias.

Malba Tahan, que na realidade se chamava Júlio César de Melo e Sousa, faz uma grande falta a todos os alunos e pro-fessores não apenas do Brasil, mas de todo mundo. A obra mais fascinante desse homem foi “O Homem que Calculava” – reunião de problemáticas implícitas em aventuras de um ma-temático persa. A ficção e a ciência dos números tornaram-se escopo para uma das expressivas fontes da arte de ensinar.

Certa vez, o não menos admirável Monteiro Lobato classifi-cou o livro como uma obra que “ficará a salvo das vassouradas do Tempo como a melhor expressão do binômio ‘ciência-ima-ginação’.” É com o objetivo de relembrar esse carioca faleci-do no Recife em 1974, que a Festa Literária Internacional de Pernambuco – FLIPORTO o escolheu como homenageado de um dos espaços de maior importância do evento. Iremos realizar uma olimpíada de leitura em homenagem à obra de Malba Tahan, homenageado da nossa Fliporto Criança 2011.

Janeiro, 2011.

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george HArrison e o misticismo

O Oriente está em voga também na 7ª arte e, desta vez, che-ga ao público através do ponto de vista do ex-beatle George Harrison, que apresentou o misticismo da Índia ao grupo de Li-verpool e, consequentemente, aos seus fãs do Ocidente. A vida do músico irá virar um documentário, dirigido pelo aclamado diretor de cinema, Martin Scorsese, e intitulado “George Harrison: living in the material world”, que deve estrear em outubro deste ano. O filme teve a produção finalizada em maio de 2010. São o mis-ticismo e a mágica do Oriente X o logicismo do Ocidente.

O novo documentário levou cerca de quatro anos para ser produzido e filmado, e tudo em parceria com Olivia Harrison, viúva do inglês. Antes mesmo de chegar ao mercado cinemato-gráfico, o filme, que conta com entrevistas, performances e fo-tografias inéditas do músico, será exibido, em duas partes, em um canal norte-americano. Personalidades como Yoko Ono, Ringo Starr, Eric Clapton e Paul McCartney deram seus depoi-mentos sobre o guitarrista para a película.

O renomado Scorsese possui em sua bagagem, também, a produção do filme “Bob Dylan: No Direction Home”, sobre o início da carreira do cantor e compositor norte-americano, pos-

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teriormente, considerado pela revista Rolling Stone o 2º melhor artista de todos os tempos, perdendo apenas para Os Beatles.

O grande músico e tema principal do documentário, Ge-orge Harrison, encantou a todos com seu inigualável talento nas guitarras. Nos anos 60, o inglês passou a disseminar a sua admiração pela cultura indiana no Ocidente, como o fez com o Movimento Hare Khrisna, e chegando a organizar um evento de caridade grandioso, chamado ‘Concerto para Bangladesh’.

Ainda em vida, Harrison, que foi compositor, ator e pro-dutor de cinema, chegou a ocupar a 21ª posição na lista dos “100 Melhores Guitarrista de Todos os Tempos”, também pela conceituada revista Rolling Stone. Com os Beatles, compôs os clássicos “Something”, “Here Comes the Sun”, e entre outras inesquecíveis canções. Ao final da banda, obteve sucesso na sua carreira solo. Há 10 anos, ele falecia e deixava para os seus fãs, espalhados por todo o mundo, um legado musical admirável.

Julho, 2011.

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intolerânciA culturAl

O Brasil é um país marcado pela miscigenação de etnias e por uma melhor convivência entre religiões. Assim, damos uma lição de tolerância cultural e religiosa ao mundo. Recente-mente, atentados, frutos da intolerância, em Oslo e na Ilha de Utoya, na Noruega, chocaram a humanidade.

A motivação dos crimes teria cunho racista e islamofóbico, visto que Anders Behring Breivik, o autor dos atentados, alega, em seu manifesto de 1,5 mil páginas, ter sido um dos fundado-res da organização da extrema direita Cavaleiros Templários, de inspiração fundamentalista “cristã”, cujo objetivo seria lan-çar um conflito na Europa contra “marxistas” e “islâmicos”. Infelizmente, o que parece ser um caso isolado em sua ação, tem campo fértil de acolhida em suas ideias numa Europa em crise econômica e de espírito radicalizado contra os imigrantes.

No texto, o fundamentalista defende que os conservadores “precisam tomar o poder político e militar por meio de uma luta armada para evitar que prevaleça um modelo de bastardi-zação contínua, muito similar ao brasileiro, atribuído por ele à

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mistura de raças”. Além disso, Breivik tentou argumentar a sua luta contra a miscigenação brasileira ao afirmar que “o Brasil estabeleceu-se firmemente como um país de segundo mundo com um grau extremamente baixo de coesão social. Os resul-tados disso são evidentes e manifestam-se pelo elevado grau de corrupção, pela falta de produtividade e por um eterno conflito entre diversas ‘culturas’ concorrentes”.

Com isso, ele reafirma o que o mundo inteiro já consegue enxergar: somos um país multicultural e multirracial para a nos-sa felicidade. A tolerância, portanto, faz parte do nosso cotidia-no. Devemos perpetuar a prática do diálogo entre diferentes culturas e estender esse legado para o resto do mundo. Somos o paradigma que o mundo precisa para o século XXI. No meu li-vro “Diálogos no Mundo Contemporâneo” abordei esse tema.

Povos do mundo inteiro precisam refletir e enxergar o di-álogo e a tolerância como saída para as guerras diárias a que somos submetidos atualmente. A pós-modernidade trouxe-nos identidades híbridas e um mundo inteiro heterogêneo e, portanto, é urgente a hora de aprendermos a conviver e res-peitar o diferente, o estrangeiro. E é aqui, no Brasil, que vive o homem novo e pronto para assimilar e semear novas culturas. Compreender, escutar, conviver, entender, refletir, aceitar e as-similar são verbos que precisam, cada vez mais, incorporar o dicionário do nosso dia-a-dia, em um mundo que já vive em rede, no mundo digital.

Em uma carta aberta ao responsável pela chacina na Norue-ga, um jovem, sobrevivente da matança, escreveu: “Não res-pondemos ao mal com o mal como você queria. Combatemos o mal com o bem. E venceremos”.

Agosto, 2011.

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ButÃo HigH-tecH

O reino de Butão, país mundialmente conhecido pelo índice da Felicidade Interna Bruta (FIB), depara-se com uma violenta inserção tecnológica nessa região que, até o ano 2000, vivia fe-chada para o resto do mundo. Porém, a chegada das novidades high-tech divide opiniões: até onde isso irá influenciar no FIB dos butaneses? Afinal, quem disse que celular, computador, internet e televisão, obrigatoriamente, chegam acompanhados de felicidade?

O país da felicidade chega, portanto, a uma problemática. Até o início do século XX, a pacata e religiosa região, não ti-nha acesso a essas modernidades porque o rei butanês acredi-tava que tanta tecnologia poderia fazer com que a população passasse a ficar desinteressada pelas tradições e religião, o bu-dismo, de Butão. Posteriormente, o rei Jigme Singye resolveu, então, expor um país que vivia de maneira quase medieval à tecnologia do primeiro mundo e, assim, derrubar as fronteiras da felicidade butanesa. A ideia seria, assim, dividir a alegria da-quele país localizado no sul da Ásia e, além disso, tentar fazer ainda mais feliz os seus 700 mil habitantes.

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Mas, o receio do antigo rei de Butão se concretizou. Apesar do imediato sucesso dos eletrônicos no país, pesquisas assus-tam as consequências do efeito tecnológico entre os butaneses. A televisão, por exemplo, trouxe mais agressividade e menos produtividade aos jovens, assim como maridos menos aten-ciosos e alunos mais desinteressados. Adolescentes passaram a utilizar roupas ocidentais, deixando de lado a tradição budane-sa. O que, para a maioria dos países desenvolvidos, é sinônimo de felicidade, trouxe problemas e grandes dilemas para o feliz Butão. Ainda assim, os budaneses parecem lutar pelo cresci-mento do FIB e, simultaneamente, tentam aprender a conviver com tanta modernização para, assim, o Butão possa tornar-se um país rico e menos feliz.

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um noVo gAnDHi

“A força não provém da capacidade física e, sim, de uma vontade indomável”, disse, certa vez, Mahatma Gandhi, líder es-piritual e pacifista indispensável no processo de independência da Índia e que lutou a favor da pacificação entre muçulmanos e hindus. Atualmente, o mundo inteiro se depara com o surgi-mento de um novo ativista indiano, Anna Hazare, que emerge na sociedade e na mídia lutando contra a corrupção na Índia.

O discípulo de Gandhi deu início ao que chamou de Segun-da Revolução, desde 1991, uma luta desarmada contra o siste-ma corrupto sob o qual se ergueu a política da Índia. Assim, ele pretende conseguir, como ele mesmo afirmou, “a indepen-dência certa para o seu país”. No último dia 16, iniciou, então, uma greve de fome, sendo detido, posteriormente, visto que o suicídio é considerado uma prática ilegal no país oriental.

Porém, foi dessa maneira que, nas últimas décadas, Hazare lutou contra os governos, fazendo com que seis ministros dei-xassem seus cargos e mais de 400 funcionários fossem demi-tidos. Sem tocar em armas ou agredir inocentes, mas, apenas,

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ratificando um dos ensinamentos de Gandhi: “Nunca país al-gum se elevou sem ter se purificado no fogo do sofrimento”. Sofrimento este vivido, diretamente, na pele de Anna Hazare, aos 74 anos, que sofre com a perda de peso e a visível fraqueza do seu organismo.

A atitude do ativista, assim como os dizeres e ações de Gandhi, comove e mobiliza a todos. Após ser detido, aumen-tou, significativamente, o número de manifestantes contra a corrupção indiana. Eis, portanto, o legado do mestre pacifista Mahatma Gandhi, defensor do Satyagraha, que parte do prin-cípio da não-agressão como uma forma de revolução. Assim, defendeu e lutou pelo bem estar do seu povo e por uma busca, incessante, pela verdade.

No Brasil, o ator João Signorelli difunde os ensinamentos de Gandhi através das artes cênicas. Ele que, há sete anos, en-carna o personagem do líder pacifista, com uma semelhança física indiscutível, e leva às plateias, de todo o Brasil, a mensa-gem do grande mestre, com o monólogo “Gandhi, Um Líder Servidor”. Já são mais de 1.500 apresentações e, no dia 15 de novembro deste ano, encerrará as atividades da VII Festa Lite-rária Internacional de Pernambuco (Fliporto), que acontece a partir do dia 11 de novembro, na Praça do Carmo, em Olinda. Certamente, Signorelli trará um espetáculo grandioso e imper-dível, além de importantes reflexões para todos os presentes.

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museu Do oriente

Visitei o recém-inaugurado Museu do Oriente, aberto no ano de 2008, em Lisboa. Pude ver biombos chineses e japone-ses dos séculos XVII e XVIII, peças de Arte namban e precio-sidades teatrais com cores e cheiros orientais.

Um antigo armazém transformado em museu. É fruto do tra-balho da Fundação Oriente, que existe há mais de 22 anos e va-loriza as relações históricas entre Portugal e o Oriente. Rico foi o contato entre Portugal e o Oriente, o que certamente influenciou o Brasil. Portugal foi o primeiro país da Europa a ir ao Oriente e o último a sair como potência que administrava territórios.

O Museu procura documentar, a partir de uma seleção de objetos, complementada por mapas e maquetes, o estabeleci-mento e a construção de um verdadeiro Império Português do Oriente, centrado em Goa. O museu evidencia, ainda, a descoberta, pelos portugueses, da cultura do Império do Meio e do comércio de produtos de luxo, sem esquecer o papel dos missionários que deram início à Igreja Católica na China. Há um espaço também para um núcleo de obras que testemunham

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um frutuoso encontro com o Japão. Além disso, mostra laços de Portugal com o Timor-Leste. Luis de Camões em Os Lusía-das já dizia: “E entre gente remota edificaram/Novo reino, que tanto sublimaram”.

Foi buscando as Índias que o Brasil foi descoberto pelos portugueses. Até a chegada da corte portuguesa o Brasil teve uma matriz mais oriental do que ocidental. Com a chegada da corte portuguesa houve uma reeuropização do Brasil. É que os portugueses e navegadores trouxeram à colônia mais especia-rias e modos de viver do Oriente do que do Ocidente.

Esta é a visão de Gilberto Freyre em obras como Sobrados e Mucambos, Aventura e Rotina e China Tropical. Como dizia o mestre de Apipucos “aqui os orientalismos são muitos, dentro de uma lusitanidade inconfundível que torna possível a sobre-vivência de arabismos, indianismos, tropicalismos não como relíquias, mas como elementos vivos de uma cultura que junta a Europa aos trópicos”. “Pois não se vence o trópico sem de algum modo assombrá-lo a moda dos árabes ou dos orientais”, como recorda ainda Gilberto Freyre.

A Fliporto 2011, que acontecerá em Olinda, entre os dias 11 a 15 de novembro, tem o tema Uma Viagem ao Oriente e irá explorar o diálogo com essa nossa raiz e com os atuais Orientes.

Setembro, 2011.

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A PortA Do oriente e Berço De ciVilizAções

Istambul é a porta do Oriente. Cidade turca com mais de 15 milhões de habitantes, dividida entre a Ásia e a Europa. Terra do Prêmio Nobel de Literatura de 2006, Orhan Pamuk, que es-creveu o livro Istambul - Memória e Cidade, verdadeira declaração de amor à sua terra. No último domingo, foi publicada uma bela carta de Marco Lucchesi para o Ataol Behramoglu, um dos maiores poetas turcos, sobre o momento atual do mundo árabe e sobre os problemas do contemporâneo. Fala também do poema de Ataol “Desenho uma Istambul sobre o meu pei-to”, que ao desenhar a sua cidade faz um diálogo entre culturas.

Istambul foi capital de três impérios (romanos, gregos e, mais tarde, dos turcos romanos) e nela convivem traços de di-versas culturas. Foi berço de civilizações.

O famoso trem Orient Express fazia o roteiro Paris-Istambul e inspirou mais de 15 livros. Dizem que Agatha Christie termi-nou o livro, na cidade, no hotel onde ficavam hospedados os passageiros do trem. Era um roteiro exótico, à época.

Atualmente, a moeda turca está forte e Istambul recebe mais de 25 milhões de turistas por ano; o Brasil recebe apenas 5 milhões.

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A pujante economia da Turquia, sob a liderança do Primei-ro Ministro Recep Tayyip Erdogan, busca a liderança política do Oriente Médio no momento da Primavera Árabe, tentando ser um novo Nasser.

Vetada na União Européia, no passado, por ser um país de maioria muçulmana, certamente, agora, prefere os BRICS. A Turquia quer liderar e ser um exemplo para o mundo árabe. Como disse Lucchesi a Ataol: “Vivemos absurdamente sepa-rados, esquecidos do traço de união entre Oriente e Ocidente, promovido pelo Mediterrâneo, porto de chegada e de partida. Dos filhos de Abraão. Ou de seus órfãos. De Ulisses e de Sim-bad. E já não importa saber, Ataol, quem ganhou ou perdeu a batalha de Lepanto, se a futura sublime Porta ou Roma. Hoje estamos do mesmo lado. E seguimos as metáforas deste mar. Tudo cabe dentro dele. E sobra”. Recebam o meu abraço Luc-chesi e Ataol, pois a humanidade é uma só.

Setembro, 2011.

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steVe JoBs

Um gênio. Essa é a melhor maneira de qualificar Steve Jobs, líder da empresa mais revolucionária do mundo. Jobs trouxe criatividade e uma cultura de inovação ao mundo dos negó-cios, o que fez dele bilionário e um exemplo de perseverança. Certa vez, durante um discurso de abertura proferido por ele em Stanford, ele disse: ”Você tem que acreditar em alguma coisa – sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que seja. Essa maneira de encarar a vida nunca me decepcionou e tem feito toda a diferença pra mim”. Além disso, Jobs ressaltou: “Mantenha-se ávido; não se leve a sério”, como um conselho para os jovens que estavam se formando na universidade.

Com essa visão, o presidente e fundador da Apple alcan-çou altos e longos voos, em alturas nunca antes imaginadas, tanto pela audácia, quanto pelo breve e grande pulo dado por Steve Jobs. Famoso por sua teimosa e determinação, esse gê-nio do século mostrou que, para conseguir algo digno de nota, é necessário perfeccionismo e relutância. Nesse caminho, ele chegou a financiar, sozinho, alem de ajudar a montar, a Pixar,

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estúdio de animação por computador que já acumulou bilhões de dólares de faturamento. Mais um investimento e atitude ge-niais de Steve Jobs.

No entanto, a sensibilidade dele vai além das cifras e da ciência da computação. Como disse o escritor Michael Moritz, em seu livro que relata o crescimento do império de Jobs, ”Ste-ve sempre teve a alma inquisitiva de um poeta – alguém um pouco distante de todos nós que, desde a tenra infância, andou por seu próprio caminho. Se tivesse nascido em outros tempos, teria pulado em trens de carga e seguido sua estrela”.

A caminhada de Steve Jobs começou, aos 21 anos, montan-do computador com um amigo, Steve Wozniak, gênio da ele-trônica que juntou-se a ele na empreitada, realizada na garagem dos pais. Jobs vendeu a sua Kombi para investir no negócio que lhe parecia promissor, o que se confirmou tempos depois. Além de gênio, o tempo o tornou um artista, que apresentava ao mundo uma jogada inteligente atrás da outra, como os fa-mosos iPod e iPhone, entre outros. Era obsecado pelo desing e pela funcionalidade.

Sua ousadia o fez fundar a Apple duas vezes. Em 1985, foi forçado a sair da empresa. Mas, quando voltou, em 1996, Jobs promoveu a maior reviravolta na história dos negócios. Aliou design, tecnologia e praticidade e fez da Apple o império como conhecemos hoje. Tornou-se, assim, um ídolo da informática e líder do mundo dos negócios. Ele se consagrou como um mestre nas negociações e em conceber e ajudar a criar produ-tos inovadores. Apaixonado pelo novo e com carisma de sobra, Steve Jobs passou a ser a face pública da Apple.

Além dos desafios das tecnologias, Jobs também foi colo-cado à prova pela própria vida. Em 2004, enfrentou e venceu

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um câncer no pâncreas, o que, para ele, apenas certificou que o valor de uma vida genial está bem além dos bilhões de cifras. Como ele mesmo disse: ”Você tem que encontrar o que você ama”. Ultimamente, Steve Jobs optava por uma vida simples, com muito trabalho, e o mundo experimentava um legado de genialidades deixado por ele. O legado ficou.

Outubro, 2011.

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uniDos Pelo meDiterrâneo

“Vivemos absurdamente separados, esquecidos do traço de união entre Oriente e Ocidente, promovido pelo mediterrâneo, porto de chegada e de partida. [...] Hoje estamos do mesmo lado. E seguimos as metáforas deste Mar. Tudo cabe dentro dele”. Com essas palavras, o escritor Marco Lucchesi, em carta escrita ao poeta turco Ataol Behramoglu, sintetizou a preocu-pação da humanidade com esses dois berços que, juntos, en-frentam dificuldades e renascem com a força dessa união.

No escrito, Lucchesi faz questionamentos que, certamen-te, afligem a todos nós: “Quem poderá perdoar em definiti-vo a nossa dívida? Haverá dívida? Perdão?”. E, assim, o poeta brasileiro nos apresenta, em uma carta conduzida em um tom cordial, como em uma conversa de dois caros amigos, conti-nentes que, separados por uma imensidão marítima, começam a observar a emergente necessidade de nos unirmos.

Como bem disse Lucchesi, “somos filhos do Mediterrâneo”, portanto, é nosso dever andarmos de mãos atadas, tanto em crises, quanto nas bonanças que possamos vir a usufruir futura-

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mente. A preocupação com esses dois gigantes, unidos por uma fatia de água, vai além das questões políticas intensamente abor-dadas pela mídia. Engloba, ainda, e principalmente, a temática social, ou seja, civis, seres humanos que são diretamente atingi-dos por toda e qualquer crise. São eles os verdadeiros defenso-res da pátria amada. E eles também os que sofrem com as crises financeiras, culturais e religiosas que abatem os seus países.

Em um mundo marcado por tantas guerras, que os homens insistem em perdurar, poucos se dão conta da importância do diálogo em detrimento das lutas armadas. A crise na Grécia, as rebeliões na Síria, o sofrimento da Itália. Tudo isso reflete na pele de quem faz parte dessas nações, quando, na prática, o diálogo, a conversa, poderia resolver várias questões de ma-neira mais amena, menos agressiva. E essa é uma questão que será amplamente debatida durante a VII Fliporto, cujo tema será “Uma viagem ao Oriente”. E, em meio a esta importan-te reflexão, Marco Lucchesi idealizou como seria a relação do Ocidente com o Oriente: “Um mar sem passaportes e alfânde-gas, livre de naufrágios e de mortes. Mais que uma área de livre comércio, desejo sobretudo um fluxo intercultural permanente em busca de diálogo”.

Outubro, 2011.

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o BrAsil em FrAnkFurt

Em uma real demonstração do crescimento do potencial literário do nosso país em divulgar suas obras no exterior, os brasileiros roubaram a cena na última edição da Feira de Frank-furt, a maior do mundo, realizada de 12 a 16 de outubro, na Alemanha. Editores e autores foram, representando o Brasil, e chamaram atenção, seja pelo forte empenho estrangeiro em vender mais livros para o nosso país, ou pelo interesse dos es-critores nacionais na tradução das suas obras.

Aliado a tudo isso, a crise que aflige os Estados Unidos e a Europa, que reflete, diretamente, no setor editorial, e, assim, aumenta a expectativa em relação às vendas para o mercado brasileiro. Temos, portanto, um amplo mercado, de compra e venda, à nossa espera. O investimento nas traduções dos livros nacionais deve se tornar ainda mais frequente, valorizando e exportando, assim, os bons representantes da literatura nacio-nal. Internacionalizar a nossa literatura é uma ação oportuna e urgente. Certamente, muitos outros negócios serão fechados e conquistaremos um amplo espaço no âmbito internacional. O Brasil tem capacidade, e deve, se tornar uma vitrine da boa literatura da América do Sul para o mundo.

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Dessa maneira, mostraremos ao mundo culturas e valores oriundos do nosso rico país através de uma literatura digna de reconhecimento internacional. A tendência é que o nosso destaque lá fora se torne cada vez maior. Com boas estratégias, é possível atingir patamares além do que é imaginado atual-mente. Editoras nacionais devem se aliar para essa importante conquista, que deverá prestigiar a todos os envolvidos no cres-cimento literário do país. É o Brasil também mostrando a sua pujança cultural, além da econômica.

O destaque na Feira de Frankfurt mostrou a nossa capaci-dade em vender e comprar obras de boa qualidade. É preciso estimular os escritores nacionais, reconhecê-los, e impulsioná-los para compor essa vitrine. O programa de tradução da CBL e da Fundação Biblioteca Nacional, que visa, claramente, a in-ternacionalização da literatura brasileira, é um bom exemplo de como apresentar e lançar as nossas obras literárias para o restante do mundo.

Outubro, 2011.

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DADOs BIOBIBLIOGRÁFICOs

ANTÔNIO Ricardo Accioly CAMPOS nasceu no Recife, Per-nambuco, (25/06/1968). Diplomado em Direito pela UFPE. Advogado, especialista em Direito Empresarial e Eleitoral, notadamente nas áreas de Consultoria, Planejamento e Con-tencioso Tributário e Comercial, como também em Direito Público e Direito do Entretenimento. Associado à Noronha Advogados, com atuação em diversos países. Cofundador do Instituto de Direito Privado da Faculdade de Direito do Reci-fe; membro e sócio benemérito da UBE-PE; conselheiro da AIP; palestrante honorário da Escola Ruy Antunes, da OAB-PE, na cadeira de Direito Eleitoral; conselheiro titular da 1ª Câmara do 2º Conselho de Contribuintes da Receita Federal; autor de artigos jurídicos e literários publicados em periódi-cos, revistas e jornais; detentor da comenda Dom Quixote da revista Cidadania e Justiça. Membro das Academias Pernam-bucana de Letras e de Artes e Letras de Pernambuco. Antônio foi um dos fundadores do Instituto Maximiano Cam-pos (IMC), depositário do acervo literário e artístico do escri-tor Maximiano Campos, seu pai, prematuramente falecido, e também promotor e divulgador das culturas pernambuca-na e nordestina. Presidente do IMC, sociedade civil voltada para a valorização da cultura brasileira, especialmente dos valores literários, com ampla atuação em Pernambuco e na região nordestina, já apoiou a publicação de mais de cem livros. O IMC apresenta uma lista considerável de lançamen-to de livros de outros escritores e produções dele próprio, como a coletânea Pernambuco, Terra da Poesia: um Painel da Poesia Pernambucana dos Séculos XVI ao XXI, organizada

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pelo próprio Antônio Campos e por Cláudia Cordeiro, IMC/Escrituras, São Paulo, 2005; e Panorâmica do Conto em Per-nambuco, lançada em 2007 e agora em 2ª edição. Também promove concursos, como o de contos, que classi-ficou dez novos escritores de diferentes estados e resultou no livro O Talento com as Palavras, organizado pelo IMC/Edições Bagaço, 2006.Além disso, o IMC realiza eventos culturais, como a partici-pação com a Casa das Letras no I Festival de Literatura de Garanhuns, 2006.Antônio Campos assinou contrato para realizar, através do IMC, a Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto). Sob a sua curadoria, a Fliporto aconteceu em Porto de Gali-nhas, onde foi debatido o tema Integração Cultural da América Latina; seguido de Cultura Africana, Cultura Hispânica. No ano de 2010, em novo cenário, enfocou o tema Cultura Judaica. Como escritor, além dos livros, Antônio Campos é articulista, com coluna no Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, e colaborador dos jornais locais, conferencista, contista e poeta.Estou consciente das dificuldades de reduzir uma nota bio-gráfica de Antônio Campos. Dizer o quê do mentor, do dína-mo de todos esses acontecimentos? Antônio não limita sua atuação a Pernambuco, pois, como foi noticiado, ele, acom-panhado de Arnaldo Niskier, Ivo Pitanguy e Gilberto Freyre Neto, visitou Estocolmo para falar para acadêmicos suecos sobre o nosso país: “O Brasil, que é um país mestiço, marca-do pela mistura de raças, deve ser motivo de estudos quanto à tolerância e ao convívio entre raças e culturas, quase uma ‘democracia racial’”. E conclui: “É preciso resistir à tentação fácil da xenofobia e do racismo de toda espécie. Diálogo é a palavra-chave do mundo contemporâneo: entre artes, et-nias, religiões, culturas”. Visitar a Academia Sueca de Letras equivale a dizer: o Brasil existe e tem escritores. Antônio Campos traz de berço, no sangue, na alma, o gos-to pela literatura e pelas artes transmitido pelo seu pai, o escritor Maximiano Campos, assim como a marca da luta, do desbravamento, da transformação do meio em que vive, herança de uma das maiores figuras políticas deste país, seu avô Miguel Arraes. Sendo este um bem de família, não pode-mos deixar de citar a figura do irmão, o governador Eduardo Campos, nem a obra que está realizando em Pernambuco.

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Bibliografia: Mensagens, seleta de artigos publicada pelas Edições Bagaço, 2ª edição, Recife, 2002; Pense S.A., acer-ca de planejamento estratégico e melhoria organizacional, Edições Bagaço, Recife, 2002; O Grande Portal, seleta de artigos e ensaios, Edições Bagaço, Recife, 2003; Direito Elei-toral – Eleições 2004, Edições Bagaço, Recife, 2004; A Arte de Advogar, Edições Bagaço, Recife, 2004; Viver É Resistir, Edições Bagaço, Recife, 2005; Pernambuco, Terra da Poesia, coletânea, em parceria com Cláudia Cordeiro, Editora Es-crituras, São Paulo, 2005; Território da Palavra, Edições Ba-gaço, Recife, 2006; Panorâmica do Conto em Pernambuco, em parceria com Cyl Gallindo, Editora Escrituras, São Paulo, 2007; Portal de Sonhos, poesias, Editora Escrituras, São Pau-lo, 2008; [Em]Canto – A Voz do Poema (leitura de Antônio Campos), poesia em CD, Atração Fonográfica/IMC, s.d.; Cla-rice Lispector – Uma Geografia Fundadora, palestra proferi-da na APL quando da comemoração do Dia Internacional da Mulher, em 08/03/2010, Carpe Diem Edições e Produções, Recife, 2010; A Reinvenção do Livro, conferência proferida na UBE-PE, em comemoração ao Dia Internacional do Livro, em 23/04/2010, Carpe Diem Edições e Produções, Recife, 2010; Diálogos Culturais no Mundo Pós-moderno, realizado em Estocolmo, março, 2010, Carpe Diem Edições e Produ-ções, Recife, 2010.

Cyl Gallindo, Panorâmica do Conto em Pernambuco, 2010.

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Este livro foi composto e editado eletronicamente na fonte Garamond.Impressão em papel pólen, 90g/m², para o miolo e

papel Triplex, 280g/m², para a capa. Recife, novembro de 2011.

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