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B | DOMINGO, 17 DE JANEIRO DE 2010 | Gazeta de Alagoas Gazeta de Alagoas Diário A vida pode ser um constante reencontro. Um dos precursores do Cinema Novo, realizador de filmes como Boca de Ouro e O Amuleto de Ogum, Nelson Pereira dos Santos esteve pela última vez em Alagoas no ano de 1992, para as comemo- rações do centenário de nascimento do escritor Graciliano Ramos. Mas foi somente nos primei- ros dias de 2010 que teve a chance de refazer o percurso trilhado inicialmente no segundo se- mestre de 1962. Nas cidades de Palmeira dos Ín- dios e Minador do Negrão, o diretor mergulhou no ‘sertão’ para adaptar com primazia a obra de referência na qual se transformou Vidas Secas. Quarenta e sete anos depois, a Gazeta acompa- nhou todos os lances desse momento histórico – foram quase 24 horas no encalço do cineasta. Nesta edição especial, você vai ficar por dentro de cada detalhe desse retorno. Não perca Leia nas págs. B2, B3 e B5 da volta Nelson Pereira dos Santos em frente à casa que serviu de locação para o filme Vidas Secas, há 47 anos Amanda Nascimento

Diário da volta

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Matéria sobre a volta do diretor Nélson Pereira dos Santos ao sertão alagoano, palco das filmagens do longa "Vidas Secas", adaptação da obra homônima de Graciliano Ramos.

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Page 1: Diário da volta

B | DOMINGO, 17 DE JANEIRO DE 2010 |

Gazeta de AlagoasGazeta de Alagoas

Diário

A vida pode ser um constante reencontro. Um

dos precursores do Cinema Novo, realizador de

filmes como Boca de Ouro e O Amuleto de Ogum,

Nelson Pereira dos Santos esteve pela última vez

em Alagoas no ano de 1992, para as comemo-

rações do centenário de nascimento do escritor

Graciliano Ramos. Mas foi somente nos primei-

ros dias de 2010 que teve a chance de refazer

o percurso trilhado inicialmente no segundo se-

mestre de 1962. Nas cidades de Palmeira dos Ín-

dios e Minador do Negrão, o diretor mergulhou

no ‘sertão’ para adaptar com primazia a obra de

referência na qual se transformou Vidas Secas.

Quarenta e sete anos depois, a Gazeta acompa-

nhou todos os lances desse momento histórico

– foram quase 24 horas no encalço do cineasta.

Nesta edição especial, você vai ficar por dentro

de cada detalhe desse retorno. Não perca

Leia nas págs. B2, B3 e B5

da volta

Nelson Pereira dos Santos em frente à casa que serviu de locação para o filme Vidas Secas,

há 47 anos

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Page 2: Diário da volta

B2 CADERNO B DOMINGO, 17 DE JANEIRO DE 2010 Gazeta de Alagoas

Todas as memórias de um passado presente No regresso a Palmeira dos Índios e Minador do Negrão, Nelson Pereira dos Santos No regresso a Palmeira dos Índios e Minador do Negrão, Nelson Pereira dos Santos se lança no sertão das lembranças: do museu que guarda objetos do Mestre Graça se lança no sertão das lembranças: do museu que guarda objetos do Mestre Graça à calçada em que ele e a equipe de filmagem proseavam com os moradores da à calçada em que ele e a equipe de filmagem proseavam com os moradores da região e passando ainda pelo povoado de Santa Cruz – uma das locações de região e passando ainda pelo povoado de Santa Cruz – uma das locações de Vidas Vidas SecasSecas –, o diretor refaz os caminhos pelos quais passou há quase meio século –, o diretor refaz os caminhos pelos quais passou há quase meio século

Fotos: Amanda Nascimento

C O N T I N U A Ç Ã O D A P Á G I N A B 1

| RAMIRO RIBEIRO Repórter

Palmeira dos Índios e Minador do Negrão, AL – Nelson Perei-ra dos Santos passeia pelos cô-modos da Casa Museu Gracilia-no Ramos, na cidade de Palmei-ra dos Índios, agreste alagoano. No local, uma modesta coleção de objetos pessoais do escritor: máquina de escrever, canetas, re-lógio, roupas, fotos e exempla-res de edições nacionais e estran-geiras de seus livros. Na cozinha, junto ao fogão a lenha e dian-te dos utensílios de barro, o di-retor de 81 anos levanta a tam-pa de uma panela e repete a fa-la do “menino mais velho”, per-sonagem de sua adaptação pa-ra o cinema de Vidas Secas, filme que, 47 anos depois de lançado, o

traz de volta a Alagoas: “Mamãe, o que é o inferno?”.

Nelson está na companhia de sua esposa, Ivelise Ferreira, do fi-lho Ney Santana e do documen-tarista César Morais – eles fil-mam a visita para um documen-tário ainda sem previsão de lan-çamento. O diretor regressa en-fim ao cenário que definiria os rumos de sua carreira. Com Vi-das Secas, o então jovem realiza-dor de Rio 40 Graus (1955) e Man-dacaru Vermelho (1961) lançava a “pedra fundamental” do Cine-ma Novo, numa trinca que in-cluía ainda Deus e o Diabo na Ter-ra do Sol, de Glauber Rocha, e Os Fuzis, de Ruy Guerra. Instaurava-se ali o movimento que moderni-zou o “fazer cinema” no País. Or-çamentos estreitos, locações na-turais, temas voltados à realida-

de brasileira. Assim foi cunhado o slogan “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”.

CENA DE INTERIOR De volta ao “sertão”, Nelson Pe-reira dos Santos não hesitava em mostrar suas muitas ideias, sem-pre sugerindo novas imagens pa-ra o documentário do qual é per-sonagem. Após a visita ao mu-seu, foi na calçada da casa dos irmãos Leopoldo e Lucy Soares que se deu o primeiro de uma sé-rie de reencontros – era ali que a equipe de filmagem descansa-va, jogando conversa fora. Típica cena de cidade do interior. Lucy lembra de tudo muito bem: “To-da noite eles batiam ponto aqui. Os mais assíduos eram Nelson, Luiz (Carlos Barreto, diretor de fotografia e um dos produtores

do longa) e Jofre Soares. Era sem-pre uma festa”.

Este foi também o momen-to do reencontro com Gilvan Li-ma, que, com 11 anos de ida-de na época, comemorava o fato das filmagens ocorrerem duran-te as férias escolares. Pôde acom-panhar tudo, e até participar co-mo figurante. Quase meio sécu-lo depois, ele era o guia perfei-to para a comitiva, levando seus integrantes a todos os lugares que serviram de cenário para a produção. A satisfação do diretor em revisitar esse capítulo de seu passado saltava aos olhos. Mas já era noite, e a equipe começava a se preparar para a segunda eta-pa da viagem. Na manhã seguin-te Nelson e cia. partiriam rumo à cidade de Minador do negrão, 35 quilômetros a oeste.

Localizada na região do agres-te de Alagoas – assim como Palmeira dos Índios –, Mina-dor do Negrão fica a 169 quilô-metros de Maceió. Surgida, do mesmo modo que tantas ou-tras cidades do interior, como um povoado em torno de uma fazenda, ainda nos anos 30, foi elevada à condição de vila em 1950, e obteve sua eman-cipação em 1962. Com pouco mais de 5 mil habitantes e pro-duto interno bruto em torno de R$ 14.500 (IBGE, 2008), sua principal atividade é a pecuá-ria, com um rebanho aproxi-mado de 15 mil bovinos.

No caminho da volta, a pri-meira parada tinha como des-tino o povoado de Santa cruz, onde foi rodada a sequência da igreja. Encontramos uma pequena vila, com não mais do que dez casas, onde um outro reencontro aconteceu. Dessa vez com Luis Omena Ferro, que no filme interpreta um vaqueiro, e com José Alves da Costa, que tinha nove anos então e hoje cuida da Igreja de Santa Cruz. Luis trazia consi-go uma cabaça – original da época – para presentear o ci-neasta. A conversa era emoci-onada entre o diretor e seus figurantes, e foi nesse tom que eles reconstituíram aque-les dias agitados numa cida-dela marcada pela tranquili-dade. Aos poucos, Gilvan des-fiava informações que testa-vam sua memória, lembrando de inúmeros detalhes da pro-dução, enquanto Nelson pon-tuava a narração com histó-rias pitorescas, revelando as condições em que o longa fo-ra realizado. Falou das câme-ras, recarregadas com a aju-da de baterias de caminhão. Contou que a equipe envolvi-da não passava de dez pesso-as, menor que o número dos que agora seguiam seus pas-sos. A logística era difícil, o equipamento era transporta-do nas costas até os locais on-de as cenas seriam rodadas.

A poucos quilômetros do povoado está o cenário prin-cipal, a casa onde a família de Fabiano se estabelece em sua fuga da seca. A constru-ção resiste ao tempo com difi-culdade. Não há placa ou qual-quer tipo de sinalização no lo-cal, nenhum vestígio da im-portância daquele pedaço de

chão para a memória do cine-ma brasileiro. E pensar que o Cinema Novo começou ali, on-de hoje o que se vê é lixo – são latas e garrafas vazias espa-lhadas pelo terreiro, além de paredes riscadas e fiapos de arame farpado dependurados pelos cantos.

Nelson entra na cozinha pela porta dos fundos e reme-mora a cena da família assis-tindo ao cair da chuva, espe-rançosa. O bocejo da cachorra Baleia. “Foi o Jofre quem ensi-nou. Ela o viu fazendo e o imi-tou”. A cada momento, uma passagem do filme sai da zo-na das lembranças e volta à vi-da. Tudo é memória. “É emo-cionante rever os locais que filmei, lembrar daqueles tem-pos. Lembrar da própria fil-magem, de tudo o que aconte-ceu. Como foi feito, o compor-tamento dos atores, casos que a gente não esquece. E tam-bém uma coisa importante é verificar a mudança que acon-teceu nesses quase 50 anos”.

Na chegada à cidade pro-priamente dita, movimenta-da em dia de feira, todos pa-ram para olhar e perguntar quem é esse senhor que atrai tanta atenção. Nelson cami-nha até a praça central e se surpreende com o “progres-so” encontrado. “A praça era de chão batido. Hoje é uma be-leza... a praça muito bem fei-ta, com uma arquitetura pre-sente. A gente percebe no pró-prio comportamento das pes-soas que houve um grande progresso”. E vai atrás dos ou-tros cenários do filme: a casa do fazendeiro, a cadeia, o ar-mazém. Pede licença aos mo-radores, conversa com as pes-soas, observa o movimento agitado enquanto é bem rece-bido por todos.

Há motos, bicicletas... os curiosos se aglomeram em torno do homem com andar apressado que não quer per-der nenhum segundo dessa oportunidade. Nelson é apre-sentado a um repentista, es-cuta-o com interesse e bate palmas ao final do improviso. Tinha 34 anos na época das fil-magens, hoje está com 81 – e tem pressa. Desce ligeiro uma ponte até o leito do rio que corta a cidade e encontra uma escada para registrar a praça lá de cima. |RR

Aos 81, Nelson Pereira dos Santos tem pressa

No Museu Graciliano Ramos, Nelson inicia seu reencontro

Graciliano, Baleia e Nelson

Com dona Lucy, depois de décadas

A equipe que regis-tra seus passos

No centro de Mina-dor do Negrão

Foram muitas noi-tes nesta calçada

Lembranças na cozinha do museu

Page 3: Diário da volta

B3CADERNO BGazeta de Alagoas DOMINGO, 17 DE JANEIRO DE 2010

| programe-se |

GAZETA INDICA››

MÚSICA ›› Primeiro Show do Ano A banda paulista de punk rock The Biggs é uma das atrações da matinê que rola neste domingo no The Jungle, a partir das 18h

Mari Crestani/Divulgação

TEATRO ›› O Púcaro Búlgaro Sucesso nacional desde 2006, o espetáculo dirigido por Aderbal Freire-Filho será apresentado no Teatro Marista, nos dias 23 e 24 de janeiro

Guga Melgar/Divulgação

MÚSICA

Primeiro Show do Ano. Promovi-do pelo coletivo Popfuzz e pela FVM Produções, o evento que rola neste domingo (17) traz em sua programa-ção as bandas The Biggs (SP) e The Baggios (SE), além dos grupos alagoa-nos Misantropia e Baztian. Ideal para a turma que curte um som alternativo, a matinê que começa às 18h no The Jungle também contará com quiosque de ‘lanche vegan’, banquinha do Pop-fuzz e ponto de venda da loja de Flá-via Biggs – com camisetas e produtos de merchandising da banda. ›› The Jungle. Av. Comendador Leão, 485, Poço. Hoje (17/01), a partir das 18h. Ingressos: R$ 5. Mais informa-ções: www.popfuzz.com.br. Trio Beto Batera. Tendo como men-tor o virtuoso baterista Beto Batera, o trio que traz em sua formação os ins-trumentistas Valter Fernandez (baixo) e Geraldo Benson (guitarra e violão) se apresenta neste domingo (17) no Espaço Ênio Santos do restaurante Tri-lha do Mar, em Garça Torta. A música começa a rolar às 16h – e o repertório é de primeira. Vale a pena conferir. ›› Restaurante Trilha do Mar. Rua V. Santana, 03, Garça Torta. Hoje (17/01), a partir das 16h. Couvert artístico: R$ 10 (por pessoa). Mais informações: 3355-1271 e 9331-0154. Duetos: Chico Buarque. Esse é im-perdível. Imagine uma banda forma-da por feras como Carlos Bala (ba-teria), Zé Português (baixo e violão), Lene Dorzèe (voz) e Luiz Pompe (vi-olão e voz) a interpretar canções de Chico Buarque. Pois é, essa sonzei-ra vai rolar no dia 21 de janeiro, a partir das 21h, no Engenho Massayo (antigo Bella Gula), na Jatiúca. E nem pense em obviedades no repertório. A cantora Lene Dorzèe manda avi-sar que a turma selecionou canções mais “lado B” do compositor carioca – Anos Dourados, Brejo da Cruz e Fora de Hora, entre outras –, inclusive algu-mas que foram gravadas originalmen-te com Carlos Bala na bateria, como A Mulher de Cada Porto. Vai ser show! ›› Engenho Massayo. Av. Dr. Antônio Gomes de Barros, 173, Jatiúca. No dia 21 de janeiro, a partir das 21h. Couvert artístico: R$ 10 (por pessoa). Mais in-formações: 3357-1099.

Maceió Viva Cultura. Depois do su-cesso no ano passado, o projeto mu-sical realizado quinzenalmente pela Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC) volta em nova temporada. No dia 31 de janeiro, a partir das 18h, a Orquestra de Frevo, o Xote.com e os Los Borrachos Enamorados sobem ao palco da concha acústica montada no Posto 7, na orla de Jatiúca. Frevo, forró e brega-rock ao vivo à beira-mar para fechar o fim de semana com chave de ouro. Vai perder? ›› Posto 7. Orla de Jatiúca. No dia 31 de janeiro, a partir das 18h. Aberto ao público. Mais informações: 3221-2090 e 3336-1648. Vá Indo que Eu Não Vou 7 – A Melhor Vingança é Viver Bem. Com novo recado no subtítulo, a sé-tima edição da festa idealizada pelo IJ Abutre é atração no dia 22 de ja-neiro no The Jungle, no Poço. Na pista, o som rola sob o comando do coletivo Out Quitéria e do DJ-N-Mix (drum’n’bass); no lounge, o público vai curtir o grupo de rap Dubex e Co-elho DJ, além do próprio IJ Abutre. A noite contará ainda com projeção de vídeos, a cargo do Pastor Tsapa. O repertório traz “brasis, latinidades, blacks, rocks e electronics”. ›› The Jungle. Av. Comendador Leão, 485, Poço. No dia 22 de janeiro, a par-tir das 22h30. Ingressos: R$ 5. Mais in-formações: [email protected]. CINEMA Cine Sesi Pajuçara. Segunda-feira especial no Cine Sesi Pajuçara: com sessões às 16h45 e 21h, amanhã (18) você vai conferir a pré-estreia de Abra-ços Partidos, o novo filme de Pedro Almodóvar. Já às 19h, a Sessão Últi-ma Chance reprisa O Desinformante, de Steve Soderbergh. No filme de Al-modóvar, a trama estrelada por Pené-lope Cruz traz de volta o cinema de autoreferências do cineasta espanhol. O longa de Soderbergh conta a his-tória de um executivo que assume o papel de espião do FBI e se envolve numa série de confusões ao investigar a empresa em que trabalha. ›› Cine Sesi Pajuçara. Av. Dr. Antô-nio Gouveia, 1.113, Pajuçara. Amanhã (18/01), com sessões às 16h45 e 21h, (pré-estreia) e às 19h (Sessão Última Chance). Mais informações: www.cen-troculturalsesi.com.br.

TEATRO

O Púcaro Búlgaro. Em 40 cenas, a montagem teatral dirigida pelo re-nomado Aderbal Freire-Filho conta a história baseada no texto homônimo do escritor mineiro Campos de Carva-lho. Sucesso absoluto em todo o Bra-sil desde 2006, o espetáculo chega a Maceió para duas sessões, nos dias 23 e 24 de janeiro, no Teatro Maris-ta. No roteiro, um homem em dúvida sobre a existência da Bulgária publica um anúncio no jornal para convocar pessoas interessadas em realizar uma expedição ao país. Ao lado de tipos estranhos, ele parte numa jornada re-pleta de situações inusitadas. ›› Teatro Marista. Av. Dom Antônio Brandão, 564, Farol. Nos dias 23 e 24 de janeiro, respectivamente às 21h e 20h. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Pontos de venda: Zoolo (Ma-ceió Shopping e Hiper Farol). Mais in-formações: 3325-2373 e 4009-2767. AÇÃO CULTURAL Literatus. Apostando no ditado que afirma que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, a Litera-tus, locadora de livros e café, abre suas portas amanhã (18). Instalado em frente ao Conselho Regional de Enge-nharia, Arquitetura e Agronomia de Alagoas (Crea-AL), o estabelecimento funcionará de segunda a sexta-feira, no período das 13h às 21h. ›› Literatus – Locadora de Livros e Café. Rua Dr. Osvaldo Sarmento, 22, Farol. Início das atividades: amanhã (18/01). Funcionamento: de segunda a sexta, das 13h às 21h. Mais informa-ções: 9309-8197 e 8845-9624. OFICINA/TEATRO Identidade – Oficina de Teatro. Integrante do elenco da novela teen Malhação, da Globo – na pele do ines-crupuloso empresário Félix –, o ator Licurgo Espínola estará em Maceió no dia 25 de janeiro para ministrar a ofi-cina teatral intitulada Identidade. Pro-movida pelo grupo Cena Livre, a ofi-cina contará com atividades voltadas para crianças e adultos e será realiza-da no Teatro Marista. ›› Teatro Marista. Av. Dom Antônio Brandão, 564, Farol. No dia 25 de janei-ro. Mais informações: 8842-9165.

Contatos: [email protected] | Avenida Aristeu de Andrade, 355, Farol - Maceió-AL - Cep.: 57051-090

Fabiano, sua mulher Sinha Vi-tória, dois filhos, a cachorra Baleia e um papagaio atraves-sam o sertão nordestino a pé, carregando o mínimo de tra-lhas possível. A mulher cuida da casa, enquanto ele trabalha na caatinga. As crianças brin-cam com a cachorra, caçam ou ajudam os pais. A fome não dá trégua e a seca inclemente os obriga a abandonar sua terra em busca da sobrevivên-cia. O filme foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1964.

Lançado originalmente em 1938, é o romance em que Graciliano – tão meticulo-so que chegava a compa-recer à gráfica no momen-to em que o livro entrava no prelo, para checar se a revisão não haveria in-terferido em seu texto – alcança o máximo da ex-pressão que vinha bus-cando em sua prosa. O que impulsiona os perso-nagens é a seca, áspera e cruel, e paradoxalmente a ligação telúrica, afetiva, que expõe naqueles seres em retirada, à procura de meios de sobrevivência e um futuro. Editado em 19 países, em 1962 rece-beu o Prêmio da Fundação William Faulkner (EUA) como livro representati-vo da literatura brasileira contemporânea.

No belo volume Vidas Secas 70 Anos, o fotógrafo Evandro Teixeira segue as pistas dei-xadas por Graciliano Ramos na escrita de Vidas Secas, há 70 anos. O resultado é uma edição fotográfica do romance que contém, além do texto in-tegral, fotografias produzidas especialmente para o proje-to. Durante dez dias, Evandro percorreu o sertão nordestino, trilhando os caminhos de Gra-ciliano e de seus personagens.

O FILME

SERVIÇO Título: Vidas Secas

Autor: Graciliano Ramos

Editora: Record

Preço: R$ 27 (176 págs.)

SERVIÇO Título: Vidas Secas 70 Anos

Autor(es): Graciliano Ramos e

Evandro Teixeira (fotografias)

Editora: Record

Preço: R$ 80 (288 págs.)

SERVIÇO

Filme: Vidas Secas

Direção: Nelson Pereira dos Santos

Lançamento: Regina Filmes,

previsto para março

Preço: a definir

O LIVRO

CONHEÇA TAMBÉM: EDIÇÃO COMEMORATIVA

Mais do que lugares, a vida que permanece Na derradeira etapa de sua jornada de volta, o diretor de Na derradeira etapa de sua jornada de volta, o diretor de VidasVidas SecasSecas lembra de Jofre Soares, fala de sua relação com o ‘ofício de lembra de Jofre Soares, fala de sua relação com o ‘ofício de filmar’ e revela suas impressões sobre o tempo e o progresso filmar’ e revela suas impressões sobre o tempo e o progresso

Amanda Nascimento

C O N T I N U A Ç Ã O D A P Á G I N A B 1

| RAMIRO RIBEIRO Repórter

Palmeira dos Índios e Minador do Negrão, AL – Durante todo o trajeto percorrido no retorno aos cenários de Vidas Secas, tanto Nelson Pereira dos Santos quan-to os moradores da região – que participaram do filme – relem-bravam a todo o momento a fi-gura de Jofre Soares, que, com a adaptação, estreava no primei-ro dos mais de cem filmes que faria até sua morte, em 1996. Nascido em Palmeira dos Índi-os, o ator teve um papel impor-tantíssimo também na produção do longa, ajudando bastante nas filmagens.

“O Jofre é inesquecível. Era um faz-tudo. Já na preparação do filme, nos apresentou as pessoas que poderiam entrar no elenco. Descobriu o ‘menino mais novo’ e o ‘menino mais velho’, os dois. Os amigos dele participaram do filme. Ele foi o grande relações públicas da equipe junto à soci-edade de Palmeira dos Índios e nos colocou numa situação mui-to boa, à vontade. Abriu os cami-nhos. E também durante as fil-magens colaborava na parte téc-nica, sabia inventar coisas. Aque-le marinheiro sabia dar mil nós”, falava o diretor, imerso em recor-dações.

O amigo Leopoldo Soares lem-bra de sua personalidade. “Ele era extremante generoso, des-prendido. Ajudava todo mundo. Quando chegava aqui com seu carrão, era um acontecimento”. Até Ney Santana tem história pa-ra contar, das que ouvia do pai quando criança. Lembra de ter

escutado que Jofre fazia o traje-to Maceió-Palmeira dos Índios de trem, e sempre dava um jeito de parar num restaurante no meio do caminho, famoso pela sopa que servia. Mas o prato inevita-velmente era oferecido em tem-peraturas fumegantes, e o ator voltava para a filmagem com a língua queimada.

ATIVIDADE PRAZEROSA Noutro trecho de Minador, o di-retor finalmente encontrou o ri-acho fino com o qual os perso-nagens do longa, sempre em mo-vimento, se deparam em sua fu-ga da seca e na busca pela so-brevivência. O chão está coberto de flores violetas e o sol é incle-mente. Nelson passa a refletir so-bre a passagem do tempo, sobre as mudanças impostas pelo que chamamos de progresso. Após as avaliações, divide com a equipe de filmagem atual as impressões do que reencontrou.

O ofício de dirigir filmes de-ve ter efeitos terapêuticos. Não são poucos os realizadores que avançam tempo adentro, sem ao menos pensar em parar de tra-balhar. Clint Eastwood está pres-tes a completar 80 anos. Woody Allen tem 74. O francês Jean-Luc Godard, 79.

“Pois é, não posso negar. Vou inventando, inventando, está no sangue. A atividade é muito pra-zerosa. Ao mesmo tempo em que você fica imaginando quadros, cenas, é também uma atividade física. Se não tivesse isso, fazia ginástica. Dá um resultado mui-to bom”, ele confirma, e aprovei-ta para anunciar que a edição co-memorativa e restaurada do fil-

me deve ser lançada em março próximo. “No máximo em mar-ço teremos a edição pronta. Va-mos mandar alguns exemplares para cá. Contará com vários ex-tras. Além do filme, haverá mate-rial sobre o filme e também sobre Graciliano. Vai ser uma boa edi-ção. Vai ajudar muito em sua re-descoberta”.

QUASE DIFERENTE Óbvio que dessa vez o cenário co-nhecido por Nelson está ligeira-mente diferente – o chão racha-do deu lugar a alguma vegeta-ção, mais cinza do que verde, que pode sugerir de fato uma mu-dança no cotidiano da popula-ção sertaneja –, mas o solo pe-dregoso não deixa escapar a sen-sação de “busca pela sobrevivên-cia” com a qual os habitantes do lugar parecem conviver des-de sempre. Além dos rebanhos de bovinos, caprinos e ovinos, poucas opções restam quanto à agricultura de subsistência. Nes-sa terra, nem tudo que se plan-ta dá. Mesmo assim, os tempos mudaram e o progresso se apro-xima, lentamente.

Nelson Pereira dos Santos vai embora confiante, esperançoso. “As coisas melhoraram mesmo. Acho que, no final da história do filme, e do livro do Graciliano, quando a mulher pergunta para o marido ‘Você acha que nós po-demos continuar vivendo assim, que nem bicho?’, e ele pensa um pouco e responde para ela ‘Não, não pode não’, é essa a resposta que o próprio povo está dando, fazendo o maior esforço para vi-ver como gente. É muito gratifi-cante observar isso”.

| FIGURANTE DO TEMPO | Aos 78 anos, Luis Omena Ferro, que interpretou um vaqueiro em Vidas Secas, encontra o cineasta com quem trabalhou naquele que deve ter sido seu único filme. Na ocasião, deu-lhe de presente uma cabaça ‘original’, utilizada nas gravações do longa

Page 4: Diário da volta

B5CADERNO BGazeta de Alagoas DOMINGO, 17 DE JANEIRO DE 2010

C O N T I N U A Ç Ã O D A P Á G I N A B 1

INSTANTÂNEOS INSTANTÂNEOS Nas fotos de Amanda Nas fotos de Amanda Nascimento, registros da passagem Nascimento, registros da passagem histórica de Nelson por Alagoas histórica de Nelson por Alagoas

Prosa na calçada: tempo de lembrar

Reencontro com ‘cenário-chave’

Paisagem bucólica: pausa na aridez

Luzes e sombras no interior da casa

Com Gilvan Lima, o garoto de outrora

Gravação no povo-ado de Santa Cruz

Pisando no sertão em flor

Com a esposa, saboreando cajus