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Revista Comenda Volta da Empreza

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Fundação Garibaldi Brasil

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Raimundo Angelim VasconcelosPrefeito de Rio Branco

Francisco Eduardo Saraiva De FariasVice-Prefeito

Marcos Vinícius NevesDiretor-Presidente da Fundação Municipal de Cultura Garibaldi Brasil

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Sumário

Prólogo

Apresentação

2008Das Nascentes...

Grau Fundador: Manoel José da Silva

Grau Comandante: Padre André Ficarelli

Grau Chanceler: Jorge Viana

2009Da Poesia...

Do Espírito...

Grau Fundador: Miriam Assis Felício

Grau Comandante: Nilda Dantas Pires

Grau Chanceler: Dom Moacyr Grechi

2010Do Encontro...

Grau Fundador: Raimundo Gomes de Oliveira

Grau Comandante: Jorge Araken Faria da Silva

Grau Chanceler: Francisco Augusto Vieira Nunes

Conselho Consultivo

Prêmios

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Prólogo

Essa Comenda foi instituída por meio da Lei Nº. 1706, aprovada pela Câmara de Vereadores, em 16 de junho de 2008, com o objetivo de perpetuar as memórias de nossa trajetória como povo amazônico, valorizar nosso patrimônio sócio-

cultural e homenagear aqueles que se distinguiram por suas contribuições para o en-grandecimento do município, nos mais diversos campos de atividades. O nome da Comenda é uma referência ao primeiro nome dado à cidade de Rio Branco, no período de sua transição de seringal à povoado e é constituída de três graus com distintos Patronos. A cada ano, essa comenda será concedida a uma pessoa, em cada um destes graus. O grau Fundador, cujo patrono é Neutel Newton Maia, destina-se a reconhec-er os que se destacaram por sua significativa contribuição nos campos social, cultural, econômico, humanitário, desportivo, ou outros de notável importância para a cidade, bairro ou comunidade. O grau Comandante, com o patrono o Coronel José Plácido de Castro, destina-se a homenagear os que contribuíram, através de atos extraordinários com a comuni-dade, promovendo a consolidação estadual ou regional da cidade. O grau Chanceler tem como patrono José Maria da Silva Paranhos Junior - Barão do Rio Branco. Trata-se da mais alta distinção da Ordem, que se destina a hom-enagear aqueles que tenham reconhecidamente prestado relevantes serviços ao municí-pio, ou que, no exercício da sua atividade, tenham destacado o nome do município de Rio Branco nos cenários nacional ou internacional. Nesta revista trazemos os três primeiros anos de outorga da Comenda Volta da Empreza para que nossos homenageados sejam reconhecidos por sua importante con-tribuição ao desenvolvimento de Rio Branco como uma cidade mais fraterna e humana para todos os nossos cidadãos.

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Apresentação

Senhoras e senhores, Hoje é uma noite muito especial pra mim. Nos últimos seis anos tenho cumprido a missão, que me foi confiada

pelo povo de Rio Branco, de administrar essa cidade tão compl-exa quanto repleta de encantos e potencialidades. Uma missão, por tantas vezes pesada e custosa. Mas outras tantas prazerosa e recompensadora. Afinal estamos falando da capital do Acre. Não só a maior cidade do estado, mas também a mais antiga e populosa e, portanto, com a maior quantidade de demandas e problemas acumulados nesses últimos 126 anos. Como todos vocês, que aqui vivem, bem sabem. Temos assistido, na última década, junto com a reconstrução do

Estado do Acre, a uma significativa retomada de nossos símbolos e nossas tradições. O hino acreano, segundo as palavras do nosso Presidente Luis Inácio Lula da Silva, que é um grande e antigo amigo do Acre, é um hino de nação. Através dele cantamos nossa trajetória como povo amazônico e nos en-chemos de um profundo sentimento de amor a essa terra. Nossa bandeira, “que foi tinta no sangue de heróis” conta a história de luta de nossos antepassados e a verdadeira saga empreendida na conquista dessa região internacionalmente cobiçada. É esse exemplo de amor e dedicação a nossa querida terra natal, expresso através de nossos símbolos cívicos, que perseguimos ao instituir essa Comenda. Algo que Rio Branco estava a muito precisando e merecendo. Afinal acumulamos no município um atraso de pelo menos seis anos em relação à reconstrução do Estado. E as novas gerações de cidadãos rio branquenses têm direito a uma cidade digna, honrada, bonita e feliz. O hino de nossa cidade ainda é um ilustre desconhecido da maioria da sociedade rio-bran-quense. Nossa bandeira, apesar de estar sendo hasteada todos os dias em frente a todas as repartições publicas, ainda não é carregada com o mesmo orgulho com que homens e mulheres exibem a bandei-ra acreana em seus automóveis, camisas e casas. Ao criar essa Comenda que carrega o primeiro nome de nossa cidade, Volta da Empreza, e estabelecer como patronos três dos principais personagens históricos responsáveis pela origem e pela construção de Rio Branco buscamos, portanto, fortalecer nossos símbolos, engrandecer nossa cidada-nia e encher de orgulho o coração dos filhos dessa cidade. Mas não só.

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Ao outorgar essa comenda às três personalidades agraciadas a cada ano, não estamos apenas premiando-os. Pelo contrário, estamos colocando sobre suas histórias de vida a enorme responsabili-dade de servir como exemplos a serem seguidos por toda nossa população. Assim, cada homem e cada mulher dessa cidade poderão encontrar nos agraciados com a Comenda Ordem do Mérito Volta da Empreza, modelos, paradigmas de amor e de dedicação a essa terra e ao seu povo. Suas extraordinárias trajetórias, deixam claro nosso objetivo maior. Meus amigos e amigas. Sei que nossos desafios são imensos e temos plena consciência da quantidade de problemas que nossa cidade ainda apresenta. Mas, como preconiza o hino acreano, temos determinação para enfrentá-los “Sem recuar, sem cair, sem temer”. Além disso, temos uma população que é muito receptiva às ações do poder público, ordeira, bem-humorada e apaixonada por sua cidade. Por isso, acredito firmemente que temos hoje todas as condições de nos tornarmos a capital da Amazônia Ocidental e junto com outras grandes cidades dos nossos vizinhos Andinos, estabelecer-mos relações comerciais, políticas e culturais que nos abrirão as portas do mundo.

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Das Nascentes...

Ia terminando o ano de 1882. O vapor Apihy subia o rio com esforço para suas maquinas e seus homens. Não havia paradeiro certo. O

grupo de pioneiros estava entrando em território ainda indomado. Região de índios que há milênios percorriam praias e barrancos na difícil lida de so-breviver em meio à selva imensa. Tudo era novidade então, apesar da pais-agem parecer sempre a mesma. Matas que se debruçavam sobre as margens do rio como que querendo invadir até mesmo o canal caudaloso de águas barrentas. Um combate colossal onde o rio reagia todos os anos, no tempo das águas abun-dantes do inverno amazônico, e cheio invadia as matas de suas margens, alargando seus domíni-os, destruindo barrancos e removendo enormes porções de terra que um dia seriam lançadas ao Oceano, muitas milhas dali distante. Os lideres da expedição tentavam vencer a monotonia das voltas do rio, para permanecer atentos e identificar sinais favoráveis à exploração. Procuravam, principalmente, sinais das arvores mais cobiçadas da Amazônia: as seringueiras que generosamente ofertavam seu leite branco para en-riquecer a multidão de nordestinos que começava a perseguir um futuro melhor e mais farto. Identi-ficar terras ricas em seringueiras era, portanto, o principal objetivo de todos ali embarcados. Havia apenas três dias que o vapor Apihy tinha ancorado nas margens daquele rio descon-hecido para passar o dia de natal. Nesse mesmo local uma parte do grupo, chefiada pelos irmãos Leite, decidiu se estabelecer e abrir um Serin-

gal chamado Apihy, em referencia ao vapor que os havia trazido até ali, mas que depois se tornou conhecido como Bagaço. A bem da verdade, quase todas as ter-ras cortadas pelo rio Acre eram muito ricas em seringueiras. Fazia tão pouca diferença estar aqui ou ali, que os sinais para a escolha de um lugar para se estabelecer podiam ser completamente lógi-cos ou mesmo bastante subjetivos. Como saber, en-tão, o que atraiu a atenção de Neutel Maia e seus companheiros para aquela volta pronunciada do rio, apenas seis horas acima do Bagaço? Talvez tenha sido a presença de um bom porto para atra-car os vapores. Talvez tenha sido o estirão que rev-elava terras baixas em sua margem direita e terras altas à sua esquerda numa excelente composição para o desenvolvimento de diferentes atividades econômicas. Ou talvez tenha sido mesmo a presen-ça de uma grossa e ereta arvore bem a cavaleiro da curva do rio, perfeita para amarrar com segurança os cabos das embarcações e inexplicavelmente bela. Como saber?

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Pois foi ali, no dia 28 de dezembro de 1882, exata-mente aos pés da imponente Gameleira que Neu-tel Maia resolveu fundar sua Empreza. Enquanto isso, o restante dos pioneiros embarcados no vapor Apihy e comandados por Raimundo Girão seguiu subindo o rio até a confluência do rio Xapuri onde acabaram por se estabelecer. Acompanhado de familiares - como Sil-vestre, seu irmão, Juvêncio, Anísio, Teófilo, Hen-rique - e outros companheiros, como o português

Guilhermino Bastos, Neutel Maia construiu a sede do Seringal Volta da Empreza dando início a sua aventura. Uma Volta de rio que sob a proteção da cobra grande deu origem a um seringal, que deu origem a um povoado, que virou uma Villa, que deu origem a uma cidade, que se tornou a capital de todos os acreanos e hoje caminha para se tornar uma das principais metrópoles amazônicas.

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Manoel José da Silva

Filho dos nordestinos Sr. Henrique José de Carvalho (baiano) e D. Maria Mercedes Raulino (Cearense). Ele nasceu em Rio

Branco, no dia 12/11/1938 e se orgulha de ter re-cebido como herança de seus pais a bravura e a coragem características dos sertanejos. Além de ser de uma família constituída por 12 irmãos, é casado há 46 anos com a Dona Aldenora, com quem tem 9 filhos, 23 netos e 2 bisnetos. Assim como o pai, aprendeu cedo o corte da seringa e até hoje sempre que lhe sobra um tempo, ainda extrai látex e cuida de sua lavoura. Mas, atualmente, a atividade que mais lhe ocupa é a de Presidente da COOPERACRE. Sua trajetória foi marcada pela dedicação às causas dos seringueiros. Uma luta que para ele teve início nos anos 80 quando se tornou monitor de trabalhos litúrgicos da Igreja Católica e lider-ança sindical, para pôr fim às explorações dos marreteiros e dos patrões. Logo se destacou por sua personalidade forte. Por isso, logo foi intitulado delegado, de-pois diretor, vice-presidente e consel-heiro dentro dos sindicatos de que par-ticipou.

Em 1982, Manoel da Gameleira e mais alguns seringueiros da região de Capixaba funda-ram a Associação Santa Fé que mais tarde tor-nou-se COPASFE e resultou na COOPERACRE, que é hoje a mais importante cooperativa de Rio Branco na área de produção sustentável. O uso inteligente da floresta e o espírito coletivo dos associados da COOPERACRE vem transformando, nos últimos dez anos, o coopera-tivismo acreano. Nosso homenageado carrega em seu nome a marca da colocação Gameleira em que trabalhou durante 35 anos.

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Padre André Ficarelli

Ele nasceu em 12 de outubro de 1922 na cidade de Regemiliana, norte da Itália. Onde residiu com sua família até os treze

anos de idade quando entrou para o Seminário dos Servos de Maria onde se formou. Foi ordena-do padre em 26 de março de 1948, e desde então iniciou seu trabalho pastoral. Na cidade onde nasceu São Peregrino de Lácciore, ele teve sua primeira experiência como padre e pôde amadurecer sua vocação. E foi ali também que conheceu missionários que vinham para o Brasil e o convidaram para vir para o Acre. Depois de 15 dias viajando a bordo de um navio aportou no Rio de Janeiro, em 27 de dezem-bro de 1949 e, pouco depois, em janeiro de 1950, chegava ao Acre por via aérea. Nessa época, estava começando os tra-balhos de construção da Catedral de Rio Branco que tinham sido programados por ocasião da Sagração do bispo Dom Julio Matiolli. Ao tomar conhecimento que ele tinha noções de arquitetu-ra, Dom Júlio Matiolli lhe pediu que executasse as obras do novo templo. Mas ele sempre foi um homem a frente do sua época. Assim, ao ver a planta da Cate-dral que estava sendo executada, e pensando no que viria a ser a cidade de Rio Branco, propôs uma outra planta com o dobro do tamanho, re-

produzindo o estilo arquitetônico Romano Ba-silical, o que foi aceito pelo Bispo. Homem dedicado seguia de perto as obras da nova Cátedra, acompanhava os op-erários e também as doações e arrecadações para o prosseguimento da obra. Com isso, a primeira etapa de construção da Catedral ficou pronta em meados de 1958. E nosso homenageado desta noite foi um dos sacerdotes que participaram da benção inaugural da Catedral Nossa Senhora de Nazaré, além de ter sido agraciado com a respon-sabilidade de celebrar a primeira missa do novo templo. Ajudou também nas construções do Colégio Nossa Senhora das Dores (atual Meta), do qual foi o primeiro diretor; do Colégio São José, da Igreja Imaculada Conceição, da Igreja de Xapuri, de Brasiléia e de várias outras construções no mesmo período. Hoje, depois de 58 anos dedi-cados ao Acre, nosso homenageado revela que apesar de sua missão primor-dial ser a de sacerdote, é também a de um cidadão que sonhava e ainda sonha muito com um Acre próspe-ro e bom para se viver.

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Jorge Viana

Nascido em Rio Branco, em 20 de setem-bro de 1959, nosso terceiro homenage-ado desta noite é engenheiro florestal,

formado pela Universidade de Brasília, e iniciou sua atividade profissional na Fundação de Tecno-logia do Estado do Acre – FUNTAC, que ajudou a criar, atuando como seu primeiro Diretor de Es-tudos e Pesquisas. Em 1990 foi candidato ao Governo do Acre, na primeira vez que o Partido dos Trabal-hadores disputou o 2º turno. Pouco tempo de-pois, em 1992, foi eleito prefeito de Rio Branco pelo PT. Por suas ações inovadoras à frente do Município, teve sua administração premiada pela Fundação Ford e pela Fundação Getúlio Vargas, concluindo o mandato com uma das melhores avaliações de prefeitos das capitais brasileiras, somando 75% de ótimo e bom pela avaliação IBOPE. Em 1998 foi eleito, no 1º turno, governa-dor do Acre, pelo PT, com a proposta de viabilizar um novo modelo de desenvolvimento regional, pautado pela valorização das populações tradicio-nais e baseado na utilização racional e sustentável da Floresta. Uma administração que transformou o Acre e ficou conhecida como o Governo da Flo-resta. Em 2002 foi reeleito governador do Acre com o maior percentual de votos do Brasil. E neste segundo mandato, entre os anos de 2003 e 2006, seu

Governo ficou em 1º lugar, entre os 27 Estados da Federação, na avaliação dos governadores brasilei-ros realizada pelo Instituto Ibope em 2006, soman-do 80% de ótimo e bom na avaliação IBOPE. Graças à sua atuação à frente do gov-erno acreano recebeu a medalha da Ordem dos Palmares e da Inconfidência Mineira. Recebeu também as mais elevadas distinções das Forças Armadas do Brasil: do Exército - a Ordem do Mérito Militar, da Marinha - a Ordem do Mérito Naval e da Aeronáutica - a Ordem do Mérito Aer-onáutico. Foi distinguido ainda pela Justiça acre-ana com a Medalha do Mérito do Judiciário, e também pelo Ministério Público e pela Assem-bléia Legislativa com suas mais elevadas condec-orações. Em 2007, recebeu o prêmio Chico Mendes de Florestania concedido pelo Governo do Acre. Recebeu o prêmio de Líder para o Novo Milênio, concedido pela Revista Times e TV CNN. E foi tam-bém agraciado com as mais altas con-decorações da Bolívia e do Peru. É membro da Or-dem do Rio Branco, no Itamaraty, com o Grau de Grã-Cruz, dentre outras homenagens e condecorações que merecem igual dis-tinção.

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Da poesia...

Cidade estranha é Rio Branco.

Metade do ano chove,

Na outra metade quase não...

Cidade bela é Rio Branco

Atravessada por um outro rio

Que não é o mesmo que lhe deu o nome.

Um rio que não é Branco, mas Acre

E é nome de todo esse lugar...

Cidade improvável é Rio Branco,

já que cidade e rio às vezes se confundem

e viram uma coisa só,

tornando campos em lagos,

ruas em portos,

e terras altas em ilhas,

Sem deixar de ser cidade,

e sem conseguir esquecer

que também é o mesmo rio

que não lhe dá o nome...

Rio Branco de todas as cores...

Rio Acre de todos os gostos...

Cidade de todos d’aqui...

Desse antigo Aquiry!

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Do Espírito...

É...! É preciso admitir, Rio Branco tem mesmo umas coisas muito estranhas e diferentes...! Vocês não acham? Não estão entendendo?

Eu explico... Afinal como entender que uma cidade que tem três homens tão fortes em sua origem, tenha como protetora um espírito feminino tão terno? Não estão entendendo ainda..., né??? Tá bom. Eu explico melhor... Neutel Maia, cearense legítimo, Plácido de Castro, gaúcho dos pampas, Barão do Rio Branco, nobre por herança. Três homens completamente diferentes, unidos pelo destino de uma cidade. Um fundou, o outro conquistou e o último legitimou... Mas, como a vida costuma dar mais voltas que o próprio rio Acre, é bom que se diga, que isso tudo de fato aconteceu, mas não sem problemas... A vida de Neutel Maia, por exemplo, dar-ia um ótimo romance de aventuras. Talvez ainda melhor que o do Galvez. Vejam só... Ele veio para o Acre quando não existia nada por aqui ainda além da floresta e de tribos indígenas muito valentes. Aqui trabalhou, aqui ganhou e perdeu fortunas, aqui foi feliz e fez muitos inimigos, aqui fundou seringal, porto, comércio, cidade. Tinha sina de pioneiro Neutel Maia, e o foi... Era mesmo uma figura esse Neutel! Muitas de suas histórias, daquelas que se conta por aí, eu nem poderia contar aqui..., numa solenidade... Vai ter que ficar pra outra oportunidade... Já Plácido de Castro dispensa maiores apre-sentações... Todo mundo aqui já ouviu por demais as histórias do grande comandante da Revolução Acreana. Mas é importante lembrar que foi aqui na Volta da Empreza que Plácido enfrentou seu primeiro combate de verdade, já que em Xapuri não havia sido preciso dar nem um tiro. Pois não é que, ali, bem ali perto da velha Gameleira, pegar-

am Plácido numa emboscada, logo no seu primeiro combate à frente das tropas acreanas e ele perdeu!!! Rapaz! Quase que a vaca vai pro brejo ali mesmo. Espalharam até o boato de que Plácido tinha morrido. Mas o bravo gaúcho não se deu por vencido e menos de vinte dias depois voltava a ata-car os bolivianos agora a frente de centenas de ho-mens organizados e motivados para a vitória. Mas como cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém, Plácido teve o cuidado de começar o segundo combate da Volta da Empreza no dia 05 de outubro, dia consagrado à... São Plácido. Pois, não deu outra, com dez dias de luta, Plácido vencia e tomava definitivamente a Volta da Empreza, como venceria todos os outros com-bates daí para frente, conquistando o Acre para o Brasil, definitivamente. Quanto ao famoso Barão do Rio Branco... Esse, na verdade, nunca esteve aqui... Não conhe-ceu pessoalmente o lugar que se tornou sua primei-ra grande missão à frente da diplomacia brasileira. Porque vocês não fazem idéia do trabalho que o Acre deu pro Barão. Noites inteiras sem dormir em cima de tratados, mapas, leis e enfadonhos relatórios de comissões demarcatórias de limites. Noites in-teiras, intermináveis, até achar solução pra ru-

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morosa “Questão do Acre”. Quanta trabalheira, quanta dor de cabeça... Teve então que mandar Assis Brasil subor-nar os capitalistas ingleses e norte-americanos do Bolivian Sindycate. Teve que prometer construir uma ferrovia onde parecia impossível e onde os ingleses já haviam fracassado poucos anos antes. Teve que entregar algumas poucas e ralas terras da fronteira do Mato Grosso pra sofrida Bolívia, en-frentando a opinião pública brasileira que o conde-nava por isso... ainda que estivesse anexando assim uma área cem vezes maior no Acre... O Barão teve até que sumir com o famoso Mapa da Linha Verde, pra evitar que os bolivianos conseguissem provar o que todo mundo tava cansado de saber... que o Acre era de fato deles... Pois é! Isso tudo o Barão teve que fazer... Mas valeu a pena... Mesmo sem nunca ter pisado aqui... O Acre fez a fama do Barão... E de quebra... ainda deu seu nome àquela que seria, pra sempre, a principal cidade daquele território que ele ajudou a tornar brasileiro, pra sempre... E vocês haverão de perguntar. Mas e o es-pírito feminino que você falou no início...??? E eu explico... Acontece que ali mesmo, onde dizem que mora a cobra grande; onde o rio Acre faz a curva que deu nome à Volta da Empreza; onde, ainda resiste à voragem do tempo, nossa velha e secular Gameleira... emergiu a fé dessa cidade. Porque, vocês sabem...! Foi mesmo ali, no final do estirão, bem onde o rio faz a volta, que o povpo de Rio Branco se reuniu e, em adjunto, construiu uma capela pra Nossa Senhora da Con-ceição, protetora da pequena Villa Rio Branco... Bem que tentaram, depois, tira-la de lá... e trouxeram pra cá. Mas o povo a veio buscar... De-

pois fizeram procissões em barcos e ela passou a ser proclamada como Padroeira de todos os acreanos e, por isso, passou a ser chamada de Nossa Sen-hora do Acre. Depois surgiu num quadro de origem misteriosa, segurando um ramo de seringa e foi chamada de Nossa Senhora da Seringueira. Depois foi vista pelo espírito caboclo dessa gente singela e foi chamada de Rainha da Floresta. Depois teve er-guida uma catedral à sua fé e foi chamada Nossa Senhora de Nazaré... É!!! Não tem jeito mesmo...! Do mesmo jeito que o alto Acre (Xapuri, Epitaciolandia, Brasiléia) é de São Sebastião... Não importa o que façamos... Rio Branco foi e continuará sendo eternamente desse espírito feminino que protege, ilumina e rege este pequeno pedaço da grande floresta. É como eu disse antes... Rio Branco é uma cidade singular, diferente..., e até, sob certos aspec-tos, estranha... Do que serão feitas mesmo as cidades, en-fim? Certamente de um pedacinho do espírito de cada um de seus habitantes, pessoas simples, co-muns; gente que nasceu, cresceu e morreu aqui, gente que chegou, ficou um pedacinho e se foi, gen-te de todos os jeitos e trejeitos. Todos compondo o imenso espírito coletivo que pressentimos nas ruas, nas praças e esquinas dessa cidade. Quando a Prefeitura criou esta Comen-da, queria exatamente isso, buscar os signos que compõe nossa alma coletiva. Alma expressa pela vida de pessoas tão distintas quanto os nossos três homenageados dessa noite, cada um com seu percurso, seus dramas e suas alegrias, mas com algo em comum: todos os três tiveram e têm uma imensa participação na construção do des-tino da mais importante cidade acreana, a nossa querida Rio Branco.

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Miriam Assis Felício

Miriam Assis Felício, nasceu no dia 22 de dezembro de 1928, na cidade de Brasiléia – Acre. Filha de Miguel

Ibrahim Assis e Rosa Assis, com 09 anos de idade, foi para Belém morar com sua avó materna. Fez sua formação na escola Gentil Bintencourt em Belém, onde concluiu o colegial, tendo se desta-cado como aluna exemplar. Casou com, o então comerciante, Abrahão Felício no dia 21 de outubro de 1950. Após o casamento, foi morar em Xapurí - formando sua família, com três (03) filhos - Abrahão, Sarah e José Luiz. Em Xapurí desenvolveu diversas obras sociais e religiosas, principalmente na construção

da igreja de São Sebastião, Padroeiro da cidade.

Mudou-se para Rio Branco em 1962, onde continuou suas atividades sociais ajudando os filhos dos portadores de

hanseníase, que eram separados dos pais e cria-dos pelas freiras no Preventório. Tratava a todos com igual importância. Para ajudar aos menos favorecidos que precisavam de tratamento fora do estado realizava diversos eventos e angariava fundos. Por muitos anos presidiu a “Associação dos Amigos de Brasiléia”, que promovia o natal das crianças carentes daquele município. Tornou-se empresária juntamente com o seu esposo Abrahão Felício, em 1967, no ramo de massas alimentícias, com a fundação da indústria de biscoito Miragina, empresa que se tornou referência no estado como pioneira da indústria e parte das quatro empresas que formam o Grupo Miragina, que geram 130 em-pregos diretos. Dona Miriam foi homenageada pela Feder-ação das Indústrias como “Industrial do Ano” em 1995. Também foi homenageada pelo Governo do Estado por sua contribuição a causa acreana e com os ideais da florestania, em 17/11/2003, durante as comemorações dos 100 anos da Revolução Acreana e 100 anos do Tratado de Petrópolis.

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Nilda Dantas Pires

Nilda Dantas Pires, nasceu em 20 de maio de 1950, na cidade de Rio Bran-co. Filha da auxiliar de enfermagem

aposentada, Raimunda Dantas Pires, e do já falecido carpinteiro e marceneiro, Emídio de Brito Pires. Teve sua formação na escola Presi-dente Dutra e no tradicional Colégio Acreano. Tem formação em espanhol, e é acadêmi-ca do curso de letras da UNOPAR, mas foi através do jornalismo nas ondas do rádio e da televisão que ficou conhecida. Trabalhou com locução, apresentação e rádio repórter pelas rá-dios: Novo Andirá, Rádio Difusora Acreana, Rá-dio Rodoviária, Rádio Mercado, Rádio Capital,

Rádio Alvorada. Já como repórter e apresentadora de telejornalismo

trabalhou nas tvs: Acre e União. Mas Nilda nunca se limitou aos Quem, Onde e Quando do jornalismo. Sua experiên-cia cultural vai muito além... Desde o teatro até a poesia.

“Saltimbancos”, “Guerra Mais ou Menos Santa”, “Tor-

turas de um Coração” e “A Sementinha” foram algumas das peças teatrais das quais participou. Também fez parte do filme “A praça é do povo”. A música também faz parte de sua vida. Tanto como apresentadora de festi-vais, quanto como intérprete de músicas car-navalescas. Além de participação no Festi-val Acreano de Música Popular – os FAMPs - de 1981 até 1994 e nos shows “Penélopes Urbanas”, “Mariris”, “Córporis”, “Quase Nua”, “Fronteiras” e “Boca de Mulher”. Foi produtora e diretora do grupo de es-petáculo e dança “Cuíra”, entre 96 e 97, também teve experiência nas artes cênicas com “A dan-ça dos bumbas” e “Retorno da Cobra Grande”. Além de ter ficado conhecida nas ondas do rádio, a nossa querida Voz das Selvas, Nilda Dantas destaca-se também na poesia. Escreveu e publicou os livros: “Quase Nua” e “Devora-me”. Atualmente é Conselheira da área de jor-nalismo cultural no CONCULTURA - Consel-ho Estadual de Cultura e Conselheira do CMPC - Conselho Municipal de Políticas Culturais de Rio Branco na Câmara Temática de Literatura.

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Dom Moacyr Grechi

Dom Moacyr Grechi nasceu em Turvo, Santa Catarina, em 19 de janeiro de 1936. Filho de Urivaldo e Eufemia Pes-

cador. Realizou os estudos de filosofia em São Paulo e São José dos Campos/SP (1954-1958) e de teologia na Pontifícia Faculdade de Teologia Marianum de Roma/Itália (1958-1961). Possui também especialização em Mariologia pela mes-ma Faculdade. Foi ordenado sacerdote em 29 de junho de 1961. Foi diretor do Seminário Menor e Prior da Comunidade em Turvo entre 1963 e 1970; Prior Provincial da Ordem dos Servos de Maria em São Paulo de 1970 a 1972. Foi eleito bispo de Rio Branco em 20 de julho de 1973, sendo sagrado em 21 de outubro do mesmo ano. Durante seu episcopado, que se esten-deu até 1998, foi membro da Comissão Episcopal

de Pastoral da CNBB (1975-1978); Presi-dente da CPT (durante oito anos);

Presidente do Regional Norte 1 (dois períodos); Membro do Conselho Permanente da CNBB; Membro da Comissão Episcopal de Doutrina da CNBB (1995-

2003). Em 29 de julho de 1998, foi promovido Arcebispo

de Porto Velho, função na qual permanece até hoje.

Dom Moacir veio para o Acre substituir o Bispo Dom Giocondo da Prelazia do Acre e Pu-rus, que faleceu num trágico acidente aéreo em Sena Madureira. E quis o destino que ele chegasse a Rio Branco justo no momento em que no Acre começava a reação dos seringueiros e posseiros para ficar em suas terras diante do processo de pecuarização do Acre promovido pela Ditadura Militar brasileira. Logo o Dom Moacir deu apoio aos movi-mentos populares organizando as Comunidades Eclesiais de Base, as CEBs, que “eram células de evangelização, de oração e de fraternidade, mas eram também onde se formava a consciência para a organização sindical e, um pouco mais tarde, para a formação de partidos políticos que repre-sentassem os trabalhadores. Foram as CEBs que prepararam as bases do movimento social para a construção dos sindicatos e associações, seja nas áreas rurais, seja nas áreas urbanas. Com isso, nosso querido Bispo Dom Moacir se tornou o esteio fundamental para a sustentação de todos os oprimidos e perseguidos daqueles tempos tão difíceis. Tornando-se cada vez mais considerado e amado pelo povo acreano. Afinal, é como ele mesmo costuma dizer: “O povo do Acre me ensinou a ser cris-tão, a ser bispo, a me comprometer com o lado justo”.

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Do Encontro...

Plácido - Boa tarde Senhor Barão. Tenho o praz-er de lhe apresentar Neutel Maia, um importante comerciante lá do Acre. Neutel este é o Barão do Rio Branco, o grande negociador do Tratado de Petrópolis que fechou com chave de ouro nossa glo-riosa Revolução Acreana.

Neutel - Mas claro, quem é que não conhece o Barão do Rio Branco, eminente Ministro das Relações Ex-teriores de nossa Republica. É um grande prazer senhor Barão.

Barão – O prazer é todo meu. Aliás, se não me falha a memória eu já ouvi muito falar do Senhor Neutel Maia. Não foi o senhor que fundou a nossa querida Villa Rio Branco?

Neutel – Na verdade fundei o seringal Volta da Empreza, mas como eu não gostava do trabalho de exploração da seringa preferi transformar meu seringal em um porto comercial. E ai foi apenas questão de tempo para que outros comerciantes se juntassem a mim e quando abri os olhos, meu seringal tinha virado um povoado. - E acrescenta cheio de orgulho - Assim, acho que o senhor pode mesmo dizer que fundei a Volta da Empreza, at-ualmente conhecida como Villa Rio Branco.

Plácido – É verdade. Neutel, além de fundador da Volta da Empreza foi o grande responsável pelo

crescimento que essa cidade, a primeira do Acre, experimentou ainda durante o período em que pertencíamos formalmente à Bolívia. Entretanto, é bom chamar a atenção para o fato de que se não fosse por mim, provavelmente ao invés de se chamar Rio Branco ela se chamaria Villa Melgare-jo ou Villa Pando. Afinal de contas fui eu que tomei a cidade do Cel. Rojas.

Neutel – Mais ou menos não é Plácido. Não se es-queça que antes de sua vitória no segundo Com-bate da Volta da Empreza, você perdeu o primeiro combate, quando inclusive circulou o boato que você havia morrido.

Barão – Nesse ponto vou defender o Cel. Plácido, Senhor Neutel. O primeiro combate da Volta da Empreza foi uma emboscada, o que contou mes-mo foi o segundo combate quando o exército bo-liviano já estava fortemente entrincheirado e as forças acreanas tiveram que lutar durante dez dias pra conseguir desaloja-los de Rio Branco. – Nesse moomento o Barão faz uma pausa e acena para o garçom, dizendo em seguida – Uma xícara de chá preto inglês e algumas torradas, por gentileza. Os senhores me acompanham no chá? Neutel e Plácido acenam com a cabeça concord-ando com a pedida do Barão.Plácido – Está vendo Neutel, até o Barão do Rio Branco um dos homens mais poderosos de nossa

Há 100 anos atrás, no já longínquo ano de 1908, um inusitado encontro aconteceu na Rua do Ouvidor, mais especificamente na Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro.

Dois homens chegam e encontram um terceiro que já está sentado na pequena mesa.Cabe ao mais jovem dos três, fazer as apresentações.

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Republica reconhece meu papel à frente do exército revolucionário acreano. Aliás, ainda não tinha tido a chance de agradecer ao Senhor pelo apoio que me deu no período final da Revolução, quando aquele General Olympio da Silveira quase colocou todo meu trabalho e o seu a perder negociando direta-mente com os bolivianos.

Barão – Não precisa agradecer. Na verdade, essa é a velha síndrome de nossas forças armadas, meu caro Cel. Plácido, historicamente pensam que só eles sabem o que é melhor para nosso país, foi as-sim com a proclamação da Republica e temo que venha a ser assim novamente no futuro.

Neutel – Nunca se sabe senhor Barão, mas o sen-hor está defendendo o Cel Plácido porque não sabe o que o povo conta sobre a vitória da Volta da Em-preza lá pelas ruas de Rio Branco.

Barão – Do que o senhor está falando Senhor Neu-tel? - Fazendo expressão de surpresa.

Neutel – É que o povo diz que não foi a estratégia do Cel Plácido a responsável pela vitória na Em-preza, mas sim o medo boliviano das peixeiras nor-destinas... - Com cara de ironia.

Plácido – Besteira Neutel...

Barão – Como é que é isso?? – Se mostrando viva-mente interessado no assunto.

Neutel – É que no penúltimo dia do combate da Volta da Empreza, que já estava se arrastando demasiadamente, os soldados de Plácido se aper-

rearam e combinaram que no dia seguinte todos abandonariam as armas de fogo e atacariam o acampamento boliviano usando apenas armas brancas. E como é proverbial o temor que os boli-vianos tem de nossas facas, ao tomarem conheci-mento do boato que circulava nas trincheiras, de-cidiram se render ao amanhecer do dia seguinte.

Plácido – Que conversa Neutel! – Plácido fala rin-do, tirando por menos - Você bem sabe que isso não aconteceu. Não liga não Barão é que Neutel tem ciúme porque se ele foi o fundador de Rio Branco, eu fui o seu verdadeiro conquistador e sem mim, sua glória não faria parte de nossa história, mas sim da história da Bolívia. Ou nem isso, já que os patrícios dificilmente iriam registrar e transmitir a história de um cearense fundando a principal cidade do Acre. Provavelmente iriam contar tão somente a história do domínio boliviano e ponto final.

Barão – Senhores, por favor, não briguem. Am-bos possuem imenso valor para a construção do Acre brasileiro e mais especialmente ainda para a formação dessa cidade que, não tenho nenhuma dúvida, se consolidará como a mais importante de todo o Acre e provavelmente deverá ser sua futura capital. - E rindo completa – Além do que, com todo respeito que devo ao fundador e também ao conquistador da nossa querida Villa Rio Branco, não posso deixar de lembrar aos senhores que é o meu nome que essa alvissareira cidade haverá de carregar para todo o sempre, o que é motivo de imenso orgulho para mim. Assim, não briguemos mais e vamos ao nosso chá que é excepcionalmente saboroso...

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Boa parte das recordações que carregamos ao longo da vida são relativas a aconteci-mentos de nossas infâncias. Na verdade,

o período em que nos tornamos gente grande são determinantes para a configuração do que cada um de nós será como cidadão. Por isso, é fácil compreender o carinho e o respeito que todos os riobranquenses tem por nosso primeiro hom-enageado dessa noite. Nem poderia ser diferente porque o trabalho que ele desenvolveu ao longo de boa parte da sua vida está diretamente rela-cionado à formação de várias gerações de bons acreanos. Estamos falando do Sr. Raimundo Gomes de Oliveira, que se tornou muito mais conhecido pelo nome que ganhou dos muitos alunos que passaram pelo Colégio Acreano nos últimos 40 anos: Estamos falando do Prof. Raimundo Louro. Este extraordinário homem nas-ceu em 24 de maio de 1924, na cidade de Capanema no Pará, filho de José Vicente de Oliveira e de Vandira Gomes de Ol-iveira. Mas, ainda menino, veio com a família para Sena Madureira,

quando tinha apenas dois anos de idade, e lá viveu boa parte de sua infância. Desde criança o pequeno Raimundo demonstrava gosto especial pelos estudos, reve-lando uma natural aptidão para a educação tendo passado pelo Grupo Escolar 7 de Setembro; pelo Colégio Acreano e pela Escola Normal Lourenço Filho, sempre como aluno exemplar. Mais tarde, em uma campanha memoráv-el, na qual houve envolvimento de todas as class-es estudantis, Raimundo Louro participou, como um de seus principais articuladores, da fundação da Casa do Estudante Acreano, quando foi eleito seu primeiro presidente, lá permanecendo en-tre 1951 e 1954. Uma instituição extremamente importante para o desenvolvimento da educação acreana, a resistência política e propulsor da cri-

ação do ensino universitário no Acre. Mas seu grande sacerdó-

cio, o ensino, teve início em 1950, ainda no Governo de Guiomard Santos e se estendeu até 1999. Período no qual exerceu o magis-

tério nas disciplinas de Português e Francês, na Escola Nor-

Raimundo Gomes de Oliveira

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mal Lourenço Filho, Escola Técnica de Comer-cio Acreano, Ginásio Nossa Senhora das Dores, Colégio Acreano, Instituto Divina Providên-cia (em Xapuri, entre 1955 e 1958) e Diretor do Grupo Escolar João Ribeiro (Tarauacá, entre 1959 e1963). Apesar de seus belos olhos azuis que embalavam e destruíam os jovens corações das moças residentes em Brasiléia, Tarauacá, Rio Branco e Xapuri, ainda em 1955, durante o perío-do em que esteve em Xapuri, conheceu e casou com a musa e dona de seu coração: Dona Edite Abreu de Oliveira. Em 1965 assumiu o cargo de Vice-dire-tor do Colégio Acreano e pouco tempo depois, no dia 16 de maio de 1966 passou a diretor do Colégio Acreano, função que o notabilizou como um dos maiores educadores acreanos de todos os tempos. Pois, graças a sua firme e carinhosa atuação, o Colégio Acreano se transformou numa das principais instituições de ensino do Acre e da

região Norte, no qual foram formados brilhantes acreanos, que se tornaram mais tarde professores, funcionários públicos, promotores, desembarga-dores e governadores, enfim, várias gerações de acreanos de bem. Sua atuação à frente do Colégio Acreano foi tão marcante que o Prof. Raimundo Louro já recebeu diversas homenagens tais como: ter sido tema do enredo desenvolvido pela Escola de Sam-ba da Cadeia Velha no desfile de 1990, ter tido sua importância reconhecida pelo Senado Feder-al, como Educador do Acre, dentre muitas outras homenagens e medalhas. Mas, por conta de sua extrema importân-cia na formação de tantos acreanos, nunca será demais homenagear esse homem que dedicou toda sua vida ao Acre e à Rio Branco, motivo pelo qual nossa cidade hoje manifesta ao querido Pro-fessor Raimundo Louro nossa profunda gratidão concedendo-lhe a Comenda Volta da Empreza no grau Fundador Neutel Maia.

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Esta apresentação será um pouco diferente das demais. A grandiosa personalidade e a importância da obra do segundo agra-

ciado com a Comenda Volta da Empreza desta noite, nos obriga a fazer uma apresentação mul-tivocal, compartilhada entre nós, nosso próprio homenageado e também por um de seus muitos amigos. E para começar, nada melhor do que re-corrermos ao próprio estilo de falar e de escrever de nosso homenageado. Um estilo que lhe é tão característico e que se tornou tão conhecido e ad-mirado por todos os acreanos. “Eu nasci aos 16 dias do mês de dezembro de 1936, no que era então Distrito Federal, por ser a capital do país, mais tarde Estado da Guanabara e que, mais recentemente, passou a ser conhecido como o Estado do Rio de Janeiro.” Já deu pra reconhecer? É claro que esta-mos falando de Jorge Araken Faria da Silva, ou simplesmente Dr. Araken. Filho de Anacleto Rodrigues da Silva Júnior e Anna Faria da Silva, o jovem Jorge Arak-en, apesar da origem humilde, sempre foi um dos melhores alunos de todos os colégios por onde passou. Logo se formou em Direito pela tradi-

cional Faculdade Nacional de Direito da Univer-sidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. E, novamente, é ele próprio quem nos conta, através de um pequeno trecho de entre-vista concedida a um jornal local: “A minha história é muito simples, ela começa realmente com o Estado do Acre. Sou ci-dadão acreano. Eu era apenas um modesto bacha-rel em ciências jurídicas sociais. Fui trazido pelo Dr. Lourival Marques, um acreano, que me convidou. Nós fomos colegas de turma. E o Lourival d i s s e ao governador José Augusto que eu era daqueles estudantes que só estudava, filho de família pobre. O governador José Augusto de Araújo me no-meou juiz temporário em Cruzeiro do Sul e em Feijó, ainda em 1963”. Seguindo seu reto caminho, já em 1968, Dr. Araken tor-nou-se desem-bargador e, no ano seguinte, se

Jorge Araken Faria da Silva

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tornou professor concursado da Universidade Federal do Acre. Como sintoma de sua imensa paixão pelos livros e pelas letras, possui dezenas de trabalhos publicados, além do que recebeu di-versas homenagens e condecorações ao longo de sua profícua carreira. Encontrando tempo ainda para se tornar pai de Jorge Araken Faria da Silva Filho, Ricardo Jorge Faria da Silva e Tainá Pontes Faria da Silva e querido avô de duas netinhas. Mas, como o currículo de nosso hom-enageado só não é maior do que a importância de seu trabalho e de sua dedicação às causas acrea-nas, nada melhor que concluir esta apresentação com o belo texto escrito pelo Jornalista Antonio Stélio, um acreano do pé rachado, que tradu-ziu, como poucos, o que todos nós sentimos em relação ao Dr. Araken.

“Ao mestre com carinho Um homem chegou por aqui, pelas terras de Aquiry, há quase meio século. Trouxe consigo a alma ética e um cérebro privilegiado, a disposição para muito trabalho, uma vontade inconteste para vencer desafios e para superar intempéries. Ao che-gar ao Acre, nasceu de novo e renasceu acreano. Ele chegou num tempo em que o Acre vivia seus primeiros anos de estado e assim como ele, o Acre

também renascia, para se tornar Acre em defini-tivo. Seu nome é Jorge Araken, uma inteligência sem medo do novo, um espírito justo que aceitou uma nomeação de juiz para os confins da floresta amazônica, sendo depois concursado, ainda num tempo em que juiz e padre eram as maiores autori-dades das pequenas cidades e mandavam mais que o prefeito. E ele se juntou aos padres de Cruzeiros do Sul e Feijó, para ajudar as crianças sem profes-sores, para dar educação para nossa gente, para levar a justiça onde o povo estava. Para muitos, é o mestre da faculdade de Direito, para outros o juiz social, para alguns o desembargador exemplar e ainda para outros um exemplo de que é possível militar na magistratura com o imprescindível tino humano. Seu escudo sempre foi a lei, sua arma a eloqüência, sua estratégia o argumento, seu deleite a cátedra, seus par-ceiros os códigos, seu lazer a leitura, seu descanso o trabalho, sua casa o tribunal e sua luz a justiça. Ele nunca buscou a riqueza, nunca se beneficiou dos cargos que ocupou para acumular propriedades. Sempre morou numa casa mod-esta, num bairro distante do centro, num bairro de classe média. Assim é Jorge Araken, simplesmente um juiz, mas um juiz que deixa um legado para a justiça acreana: sem ética e amor pela justiça não se faz justiça.”

Antonio Stélio

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É curioso como um destino de dor e sof-rimento pode ser, às vezes, revelador da grandeza do ser humano. Esta parece ter

sido a sina de nosso terceiro homenageado desta noite. Um homem que soube tornar as vicissi-tudes da vida em superação e vitórias. Estamos falando de Francisco Augusto Vieira Nunes, o nosso querido “Bacurau”. Nascido em Manicoré, no Estado do Am-azonas, em 09 de dezembro de 1939, filho de João Monteiro Nunes e Elvira Vieira. Bacurau era o oitavo de onze irmãos. E teve uma infância sau-dável até os cinco anos de idade, quando apre-sentou os sintomas da hanseníase. Iniciou-se aí o drama que marcaria toda sua família. A mão es-querda inchada do menino Augusto denunciava a hanseníase na forma virchowiana, a mais grave, pois é contagiosa e apresenta sinais visíveis, como inchaços, bolhas e feridas. Naquele tempo, o preconceito e a ignorância da sociedade eram tremendos e causaram inúmeros problemas para Ba-curau e sua família. Ainda em Manicoré, autoridades locais invadiram a casa de Ba-curau atrás dele. Mas seu pai de facão na mão enfrentou a todos e não permitiu que o levassem. Algum tempo de-pois, aproveitando-se da ausência

de seu pai, a polícia sanitária voltou e levaram à força, por engano, seu irmão Pedro, que nunca mais foi encontrado. Depois de passar um tempo internado no Hospital Colônia de Porto Velho onde recebeu o apelido que carregaria por toda a vida, Bacurau veio, em 1957, para Rio Branco morar com o irmão e a partir de 1960 se internou voluntari-amente na Colônia Souza Araújo. Começava ai a trajetória de lutas e trabalhos sociais que rev-elaram a extraordinária capacidade deste homem tão especial. Foi prefeito, durante cinco anos, da Colônia Souza Araújo. Neste período se formou pelo Projeto Minerva e logo se tornou professor contratado pela Secretaria Estadual de Educação. Entregou-se intensamente, então, aos trabalhos

de evangelização e de conscientização social propostos pela Teologia da

Libertação. Em 1980, Bacurau escreve uma Carta-programa para a criação do Movimento de Re-

integração das Pessoas Atingi-das pela Hanseníase, o Morhan,

cuja fundação se dá no dia 06 de julho de 1981.

E depois de criar

Francisco Augusto Vieira Nunes

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um núcleo do Morhan em Rio Branco, em 1982, passa a viajar por todo o Brasil para divulgar o movimento. Seu trabalho tem tal impacto que, já em 1983, é convidado a ser membro permanente do Conselho nacional de Saúde. Ainda no início da década de 80, filiou-se ao recém criado Partido dos Trabalhadores. Foi candidato a deputado constituinte pelo partido em 1986, e a vereador de Rio Branco em 1988. En-tre 1992 e 1996, trabalhou como coordenador da dermatologia da Secretaria Municipal de Saúde, durante a gestão de Jorge Viana na Prefeitura de Rio Branco.Mas José Augusto Nunes Vieira, Bacurau, era tam-bém compositor e escritor, tendo várias músicas cantadas em celebrações e missas. Uma de suas músicas: “Lapinha na Mata”, virou um cântico muito conhecido na Igreja Católica. No auge dos conflitos entre fazendeiros e seringueiros no Acre, em1988, mesmo ano da morte de Chico Mendes, sua composição “João Seringueiro”, venceu o Fes-tival Acreano de Musica Popular – FAMP. Em 1978, lançou o livro “À Margem da vida: num Leprosário do Acre”. Mais tarde participou da coleção “Prosadores do Mobral”, que resultou no seu segundo livro “Chico do Boi”. Para lançá-lo voltou a sua cidade natal, Manicoré, que havia sido palco dos maiores preconceitos que sofreu em toda sua vida. E nesta ocasião foi recebido com honras e comícios. Bacurau, tornava, assim,

sua própria vida o maior e a melhor exemplo de que a verdadeira e mais cruel doença não era a hanseníase em si e sim o preconceito e a violência com que, durante milhares de anos, desde tempos bíblicos, foram tratados injustamente os hanseni-anos.O trabalho, a força e os ideais de Bacurau foram vistos e ouvidos no Brasil e no mundo. Por isso re-cebeu inúmeras homenagens. Percorreu mais de 30 cidades italianas proferindo palestras; recebeu o Prêmio Nacional Raoul Follereau; foi recebido pelo Partido Comunista Italiano e pelo Papa João Paulo II; apresentou artigo crítico no Congresso Internacional de Hanseníase, ocorrido em Orlan-do, nos Estados Unidos, em 1993; viajou à China, a convite do governo; e viveu um dos mais impor-tantes momentos de sua vida com a fundação da IDEA – Integration Dignity and Economic Ad-vancement, organização que ajudou a criar. Dias antes da sua morte, em janeiro de 1997, Ba-curau pediu à sua extraordinária companheira de todas as horas, D. Tereza Prudêncio, e à sua famíl-ia, que colocassem um papel com a frase ”Aqui viveu um homem feliz” na sala de sua casa. Definitivamente, Bacurau foi um homem raro, um daqueles poucos seres iluminados que ousam transformar as dores mais atrozes que a carne e a consciência humana são capazes de suportar, em felicidade. Por isso não podemos nunca deixar de lembrar de sua vida e de seu exemplo.

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Conselho Consultivo2008

João Francisco Salomão Raimunda Bezerra da Silva KleinRepresentantes de Conselhos Municipais

Marcos Vinicius Neves Representante da Fundação Municipal de Cultu-ra Garibaldi Brasil

Zelí Isabel AmbrósRepresentante do Gabinete do Prefeito

Leoneide Coelho do AmaralRepresentante do Poder Legislativo do Município

Mário Jorge da Silva Fadell Representante da Secretaria Municipal de Agri-cultura e Floresta

José Fernandes do RêgoRepresentante da Secretaria Municipal de Governo

João Valdiro dos SantosRepresentante dos Servidores da Prefeitura Mu-nicipal, mais antigo, que esteja na ativa

2009

João Francisco Salomão Raimunda Bezerra da Silva KleinRepresentantes de Conselhos Municipais

Marcos Vinicius NevesRepresentante da Fundação Municipal de Cultu-ra Garibaldi Brasil

Zelí Isabel AmbrósRepresentante do Gabinete do Prefeito

Leoneide Coelho do AmaralRepresentante do Poder Legislativo do Município

Mário Jorge da Silva Fadell Representante da Secretaria Municipal de Ag-ricultura e Floresta

José Fernandes do RêgoRepresentante da Secretaria Municipal de Gov-erno

João Valdiro dos SantosRepresentante dos Servidores da Prefeitura Municipal, mais antigo, que esteja na ativa

2010

Carlos Takashi SasaiRaimunda Bezerra da Silva KleinRepresentantes de Conselhos Municipais

Marcos Vinicius Neves Representante da Fundação Municipal de Cultura Garibaldi Brasil

Zelí Isabel AmbrósRepresentante do Gabinete do Prefeito

Leoneide Coelho do AmaralRepresentante do Poder Legislativo do Município

Jorge Souza Rebouças Costa Representante da Secretaria Municipal de Ag-ricultura e Floresta

José Fernandes do RêgoRepresentante da Secretaria Municipal de Governo

João Valdiro dos SantosRepresentante dos Servidores da Prefeitura Municipal, mais antigo, que esteja na ativa

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PrêmiosDiploma em Madeira

Gameleira em Bronze

Este troféu foi produzido em bronze e simboliza a Gameleira, Marco de Fundação de Rio Branco. Foi confeccionado pela artista plástica Christina Motta, autora de várias esculturas que atualmente caracterizam as cidades acreanas, como as estátuas de Luíz Galvez, Juvenal An-tunes e de Chico Mendes Cada escultura se caracteriza por ser uma peça única, exclusiva e certificado de auten-ticidade que acompanha a obra.

Diploma confeccionado em madeiras nativas: Amanitê e Sucupira Preta.

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Ficha Técnica:

Organização:Marcos Vinícius Neves

Zelí Isabel Ambrós

Cely Melo de AlmeidaMaria Leudes de Souza

Diagramação:Ulisses Lima Guimarães

Fotos:Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Rio Branco

Acervo histórico da Fundação Garibaldi Brasil

Rio Branco - Acre - Dezembro de 2010

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