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Diário de Campook

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DIRIO DE CAMPO

O Dirio de campo tambm chamado de Dirio de Bordo e Notas de Campo consiste em uma tcnica, na qual so elaborados registros que envolvem prticas cotidianas, viagens e experimentos. De acordo com Pezzato e Labbate (2011), tais registros podem ser utilizados como uma ferramenta de interveno da Anlise Institucional, visto que possibilitam aos diaristas uma reflexo acerca de sua prpria prtica em campo, de forma a transform-la e atribuir-lhe sentido. Pode ser utilizado, por exemplo, em observao, entrevistas, grupo focal, etnografias e estudo de caso. Segundo Falkembach (1998) Dirio de Campo o primeiro instrumento de metodologia de investigao-ao, usado primeiramente na antropologia em pesquisas etnogrficas. O pesquisador pioneiro na utilizao dessa ferramenta foi Bronislaw Manilowski (1884-1942), cujo modo de fazer etnografia trouxe contribuies relevantes para a antropologia social. Isso porque Manilowski realizou uma anlise aprofundada das culturas das ilhas ocenicas, permanecendo por um longo perodo de tempo em campo, em convivncia ntima com os nativos, mtodo pouco utilizado at o incio do sculo XX. Tal mtodo, fundamentado no exerccio da observao direta do grupo social com o qual se convive, tornou-se muito usual entre pesquisadores em pesquisa-ao.Para a construo do Dirio de campo essencial realizar uma descrio detalhada e diria do trabalho realizado em campo e de como se deu o processo de insero, observao e coleta de dados. Beaud e Weber (1998) dizem que necessrio anotar os eventos que se percebe na observao e a progresso da pesquisa. J Bodgam e Biklen (1994) apontam que importante que o investigador anote aquilo que v, experincia e pensa. Para Lopes (1993) o Dirio de campo um instrumento de interpretao-interrogao e um dos maiores problemas em observar em campo seria a questo da interpretao, ou seja, o significado que se d para aquilo que se observa, uma vez que a percepo do investigador no neutra (Gil, 2006). Quanto a maneira visual de se elaborar o Dirio de Campo recomenda-se que na primeira pgina o observador coloque cabealho contendo: ttulo, data, hora, local, nome do observador e o nmero do conjunto. sugerido tambm que se coloque uma margem esquerda para anlise das anotaes. Beaud e Weber (1998) recomendam uma sistematizao em dois dirios, um para observao e outra para pesquisa. Falkembach (1998), por sua vez, sugere uma organizao para o dirio em trs partes, sendo que na primeira estariam os fatos concretos e fenmenos sociais; na segunda, a interpretao do que foi observado, os conceitos e relaes e; na terceira, as concluses, dvidas, imprevistos, desafios e aprofundamentos. Recomenda-se que as reconstituies dos momentos da observao sejam feitos de forma cronolgica, com o menor intervalo de tempo possvel entre a vivncia e o registro. Bogdam e Biklen (1994) descrevem dois modelos de dirios de campo: os descritivos, que se buscam captar uma imagem da realidade, e os reflexivos, que expem o ponto de vista do observador, suas idias, reflexes, percepes e preocupaes. Os registros nos dirios descritivos contemplam o modo de se vestir e falar dos sujeitos observados, o detalhamento de suas atividades corporais, suas expresses faciais e verbais, a descrio do espao fsico, a relao das pessoas com o espao fsico e as interaes do observador com as pessoas do local. J nos dirios reflexivos so registrados o relato pessoal do observador, com descries e opinies, bem como a anlise do observador, discusses sobre a metodologia, os conflitos relacionais e pontos de clarificao. Alm do utilizado nas pesquisas etnogrficas, Pezzato e Labbate (2011) descrevem, ao menos, outras trs tipologias de dirio: o dirio de itinerncia, proposto por Barbier (2002), que se baseia na descrio da itinerncia de um indivduo; o dirio de pesquisa, proposto por Lourau (1988) e o dirio institucional, proposto por Hess (1998), sendo que esses dois ltimos tm suas razes na Anlise Institucional francesa e levam em considerao a anlise das implicaes. O Dirio de pesquisa consiste na narrativa do pesquisador em seu contexto histrico e social, um pesquisador implicado com e na pesquisa e que reflete sobre e com sua atividade de diarista (PEZZATO; LABBATE, 2011). Essa tcnica possibilita a construo de conhecimento sobre a temporalidade da pesquisa e permite ao leitor aproximar-se da vivncia cotidiana do campo. Seu processo de construo possibilita uma reflexo prpria do escrever, desnaturalizando a neutralidade do pesquisador e expondo suas experincias vividas no cotidiano, de forma a transparecer as fragilidades institucionais concretas. O Dirio institucional, por sua vez, consiste numa descrio ntima dos fatos relacionados a uma vivncia em uma instituio. uma tentativa pedaggica para conduzir as pessoas do nvel da escrita ntima ao nvel da escrita pblica (PEZZATO; LABBATE, 2011, apud HESS, 1998). Isso porque a prtica de escrever do diarista clareia sua relao com o seu trabalho e, quando esse difundido, torna-se uma ferramenta de interveno, de anlise e de mudana.Nesse sentido, o Dirio de Campo um instrumento de anotaes, um caderno com espao suficiente para anotaes, comentrios e reflexo para uso individual (ou coletivo) do investigador no seu dia-a-dia (Falkembach, 1998). Nele se anota as observaes, as reflexes pessoais do observador, experincias pessoais e comentrios. Isso faz com que se crie o habito de escrever, observar e refletir sobre os acontecimentos ampliando a percepo do observador e o trabalho no campo. A escrita no dirio uma escrita do presente, para si, transversal e fragmentada, visto a complexidade das vivncias que se registra (PEZZATO; LABBATE, 2011).Na perspectiva da Anlise Institucional, o Dirio de campo se constitui em uma ferramenta de interveno que capaz de gerar um movimento de reflexo da prpria prtica, muitas vezes instituda. O ato de reconstituir o vivido por meio da escrita, em toda a sua complexidade, permite refletir sobre e com ele, revelando o no-dito e desnaturalizando o que est posto. A utilizao dessa ferramenta baseia-se no pressuposto de que o pesquisador no neutro no processo de pesquisar, logo preciso considerar as implicaes de sua presena no contexto histrico e social da instituio (PEZZATO; LABBATE, 2011). Em geral, o Dirio de campo pode auxiliar para somar as experincias e proporcionar novas reflexes e discusses. Olhar novamente o acontecido gera certo estranhamento, que pode resultar em transformaes. Cada detalhe importante para formar o tecido, o texto, o contexto etnogrfico, que ser mais denso quanto mais tramado forem seus fios. O Dirio de Campo pode ser utilizado em diversas reas, dentre elas: sade, educao, trabalho, instituies pblicas ou privadas e grupos psicoteraputicos.

Referncias

PEZZATO, L., M.; LABBATE, S. O uso de dirios como ferramenta de interveno da Anlise Institucional: potencializando reflexes no cotidiano da Sade Bucal Coletiva . Physis Revista de Sade Coletiva, Rio de Janeiro, 21 [4]: 1297-1314, 2011.

MULLER, C.; MARQUES, G. Dirio de Campo. Programa de Ps-graduao em Desenvolvimento Rural PGDR. UFRGS. s/d slides.