92

Dicas de Português

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Ana Paula Assunção Rodrigues

Citation preview

  • Dica 1 - Estilo de Redao

    (...) Como ho de ser as palavras?Como as estrelas.As estrelas so muito distintas e muito claras.O estilo pode ser muito claro e muito alto.To claro que o entendam os que no sabem.E to alto que tenham muito queentender nele os que sabem[...]O discurso, para ser claro,no precisa ser raso, como os regatos;a profundidade nem sempre faz turvas as guas(...)

    Padre Antnio Vieira

    Sermo da SexagsimaPregado na Capela Real, no ano de 1655

    PEIXOTO, Afrnio. Os Melhores Sermes de Vieira. Rio de Janeiro: Ed.Americana, 1931.

    (...) Mas que significa isso? - perguntou o mooinsatisfeito - No entendi nada. Nem eu - respondeu a moa - mas os contosdevem ser contados e no entendidos; exatamentecomo a vida.

    Carlos Drummond de Andrade

    ANDRADE, Carlos Drummond de. O Entendimento dos Contos, in:Contos Plausveis. Rio de Janeiro: Ed. Jos Olympio, 1985.

    Nossos mais ilustres autores servem de base para estudos

  • lingusticos de toda ordem, desde as mais corriqueiras lies degramtica at as lies de estilo. Mas os recados transmitidos pelosdois autores citados diferem entre si, concordam?

    Bem, para comeo de conversa, os textos literrios propriamente fictcios vivem num mundo muito maior que o dos textostcnicos. Aqueles alcanam uma linguagem universal e atemporal,falam diretamente s emoes comuns a todos ns, seres humanos. por isso que costumamos afirmar que Shakespeare eterno, queHomero fala a nossa lngua e que Machado de Assis atualssimo.Eles tm, tambm, a chamada licena potica, o que permite aosartistas transgredir regras gramaticais em nome da criatividade, doestilo pessoal.

    Drummond transmite o recado de absorver o hermetismo doconto como se vive a vida, ao invs de se tentar explicar eracionalizar sua poesia, o que a destruiria. Apesar de haver umalinha interpretativa, a hermenutica, que estuda os textos literrioscomo se fossem uma equao matemtica... mas ai j outroassunto.

    J as palavras de Padre Antnio Vieira que tinha habilidaderara com elas - trazem grande lio de estilo, atual e til a ns nombito do TRT, pois tratam da clareza no ato de escrever aplicvelao texto em prosa no fictcio, ao texto tcnico.

    Tendo em mente essa distino e dela advm inmerosdesdobramentos na pontuao, concordncia etc vamos nosconcentrar no estilo de redao de textos oficiais e jurdicos. Aqui,temos de fazer nossos textos explicveis e acessveis aojurisdicionado. Por mais hermtico que seja um tema, pode sertraduzido em palavras que o mais comum dos leitores compreenda.Ento, sabedores de que nosso estilo de trabalho no permitelicenas poticas, vamos s dicas:

    Conciso

    No lugar de:

    neste momento ns acreditamos, diga acreditamos;Travar uma discusso, escreva discutir;

  • ato de natureza hostil, ato hostil;deciso tomada no mbito da diretoria, deciso da diretoria;fazer uma viagem coloque viajar;pr as ideias em ordem, ordenar as ideias.

    Diga o que , no o que no

    Ele no assiste regularmente s aulas. troque porEle falta com frequncia s aulas.

    A voz ativa deixa o texto atraente, vigoroso, enquanto a passiva o deixa mole, sem graa:

    Os alunos fizeram a redao melhor que A redao foi feita pelos alunos.

    A frase:

    Na cmara dos deputados, os parlamentares discutiram em sesso.Tornaram pblicas suas desavenas melhor que Na cmara dos deputados, os parlamentares discutiram em plenrio tornandopblicas suas desavenas.

  • Leia as duas frases em voz alta. Depois, escolha a que soa melhor:

    Fui livraria e comprei os dois livros de Direito daquele autor indicado pelo professordo curso e a gramtica.Fui livraria e comprei a gramtica e os dois livros de Direito daquele autor indicadopelo professor do curso.

    A segunda frase agrada mais, concorda? Pela seguinte razo: o termo mais curto ficou na frentedo mais longo. Quando o verbo tiver mais de um objeto, direto ou indireto, ponha o mais curto nafrente.

    Boa semana a todos.

    Ana Paula Assuno Rodrigues servidora no TRT h 19 anos e atua como revisora de textos emgabinete h 15 anos. Graduada pela UnB em Letras e ps-graduada em Produo Textual, lecionou noEnsino Mdio e em cursinho pr-vestibular nas cadeiras de Literatura, Redao e Lngua Inglesa.

    Mais dicas...

  • Dica 2 - Pronome Demonstrativo

    Sculo XVI, Japo feudal, samurais. Famlia Ichimongi, com opatriarca Hidetora ao centro, seus trs filhos, o bobo da corte.Famlias rivais prestes a selar amizade aps anos de intriga. Essa asegunda cena do brilhante filme RAN, 1985, de Akira Kurosawa,consagrado diretor japons.

    Ultrapassada a barreira da nossa ansiedade ocidental, podemos nosdeixar enlevar ao ritmo das nuvens do cu do Japo, queacompanham as cenas como se observassem os acontecimentoshumanos.

    Aproximadamente 1 hora e 53 minutos do filme, temos o dilogoentre os irmos Sue e Tsurumaru:

  • Passadas 2 horas e 3 minutos do filme, ouvimos:

    Incitados pelas frases extradas de RAN - palavra que, a propsito, significaconflito, algo com o que todos os que lidam com processo no TRT estohabituados vamos a alguns esclarecimentos sobre pronomes demonstrativos.

    Concebe-se o uso do pronome demonstrativo a partir do ponto central deorientao do sujeito falante, que o referencial, e tem o propsito de expressartempo, espao, posio no texto (sobre o que ou quem se trata) para amensagem ser transmitida com exatido.

    1) Critrio espacial:

    a) este(s), esta(s), isto: referem-se primeira pessoa gramatical,indicam que o objeto est perto da pessoa que fala (aqui).

    Exemplo: Este livro em meu colo timo;

  • b) esse(s), essa(s), isso: referem-se segunda pessoa gramatical,indicam que o objeto est perto da pessoa com quem se fala (a).

    Exemplo: Esse livro na sua mo bom?

    OBSERVAO: O objeto pode at estar perto de mim, mas a frase se refere ao meu ouvinte.Imaginem a cena: estou vendo um livro nas mos de um amigo, me aproximo, pego o livrotambm, sem tir-lo das mos dele e pergunto: Onde voc comprou esse livro?

    c) aquele(s), aquela(s), aquilo (l, a): referem-se terceira pessoagramatical, indicam que o objeto est distante do falante e do ouvinte.

    Exemplo: Voc viu aquela livraria nova na outra comercial?

    2) Critrio temporal:

    a) este(s), esta(s), isto: tempo presente.

    Exemplo: Esta semana, este ms (outubro), este ano (2012).

    b) esse(s), essa(s), isso: tempo passado recente ou futuro prximo.

    Exemplos: Conheci voc em 2008. Nesse tempo, voc ainda notinha filhos; Esse ano de 2013 ser timo!

    c) aquele(s), aquela(s), aquilo: tempo passado, bem distante, vago,remoto.Exemplo: Bons tempos aqueles da minha juventude!

    3) Critrio da posio no texto ou critrio cognoscitivo:

    a) este(s), esta(s), isto: emprego catafrico indica que a frase serpronunciada, o pronome se refere quilo que aparecer no texto, aps opronome; chama ateno sobre o que vamos dizer.

    Exemplo: A Escola Judicial publicou esta frase: Terceira turma do cursode portugus jurdico a distncia tem incio dia 10

    b) esse(s), essa(s) isso: emprego anafrico indica que a frase foipronunciada, est sendo retomada, o pronome se refere quilo que japareceu no texto.

  • Exemplo: Terceira turma do curso de portugus jurdico a distncia temincio dia 10, essa frase foi publicada pela Escola Judicial.

    empregado, tambm, quando nos referimos ao que foi dito por nossointerlocutor.

    Exemplo :

    - Voc no dormiu bem, aceita um caf para despertar?

    - J tentei isso.

    4) Critrio distributivo:

    Quando queremos aludir, discriminadamente, a termos j mencionados,servimo-nos dos demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo para o referidoprimeiro lugar e dos este(s), esta(s), isto para o que foi nomeado por ltimo.

    Exemplo: A pressa inimiga da perfeio, esta no admite aquela.

    Prxima dica: 1/10/2012

    E ento, ser que a traduo de Ran obedeceu s regras gramaticais? assistiratento e conferir!

  • clique aqui para ver o trailer

    Ana Paula Assuno Rodrigues servidora no TRT h 19 anos e atua como revisora de textos emgabinete h 15 anos. Graduada pela UnB em Letras e ps-graduada em Produo Textual, lecionou noEnsino Mdio e em cursinho pr-vestibular nas cadeiras de Literatura, Redao e Lngua Inglesa.

    Mais dicas...

  • Dica 3 - Registro de data e hora

    No posso ficarNem mais um minuto com vocSinto muito amorMas no pode ser.Moro em Jaan,Se eu perder esse trem,Que sai agora s onze horas,S amanh de manh.

    Adoniran Barbosa

    Trecho do samba Trem da Onze

    Clique aqui para ouvir a verso completa

    O fragmento do clssico samba vem ilustrar o formato porextenso da notao de horas, redigido assim porque ser cantadosem abreviao. Trata-se de texto potico, de letra de msica queser entoada tal como escrita.

    Para ns aqui no TRT esse formato no possvel. Devemos usara norma culta aplicada aos textos oficiais.

    Vejamos, ento, como deve ser:

    a) No se escreve no formato de relgio digital, portanto, 08:00 errado!

    b) A representao de horas sem nada - sem dois pontos, sem ponto,sem plural, sem espao, sem maisculas;

    c) Somente escreveremos o smbolo de minutos (min) caso hajasegundos; os segundos no precisam ser denotados por smbolo, poisj esto implcitos e sempre optaremos pela forma mais econmica nas

  • redaes; Exemplo: 14h, 14h30, 14h30min40.

    d) Para jornada de horas permanece o numeral em algarismo arbico, masos termos horas, minutos e segundos vm por extenso. Exemplo: O reclamante trabalhava 8 horas por dia; a autora usufruiu de apenas 1 hora de intervalo.

  • Mais dicas:

    a) Nas assinaturas dos documentos preciso registrar por extenso o ms,com o nome da localidade: Exemplo: Braslia, 5 de maio de 2010.

  • b) O primeiro dia sempre se escreve em numeral ordinal: Exemplo: 1 .5.2010.

    c) O ano se apresenta com os quatro algarismos sem ponto: Exemplo: 2010.

    d) Dispense os substantivos dia, ms e ano: Exemplo: em 12 de fevereiro de 1999. e no no dia 12 do ms de fevereiro do ano de 1999.

    e) Para citao de lei, recomendvel que seja aposta a data da suacriao na primeira vez em que aparecer no texto, no formato sucinto: Exemplo: 5/5/2010.

    Ana Paula Assuno Rodrigues servidora no TRT h 19 anos e atua como revisora de textos emgabinete h 15 anos. Graduada pela UnB em Letras e ps-graduada em Produo Textual, lecionou noEnsino Mdio e em cursinho pr-vestibular nas cadeiras de Literatura, Redao e Lngua Inglesa.

    Mais dicas...

  • Dica 4 - Uso dos "porqus"

    Porque

    Conjuno explicativa ou causal

    Usa-se em resposta ou indicao de causa.

    Exemplos:

    Ele se sente cansado porque o clima est muito seco.Abandonou o curso porque, tendo de cuidar dos filhos noite e trabalhar de manh, sentiu-se nolimite.Por que foram a juzo? Porque estavam cheios de razo.Ela sabe a razo da queda dos juros, porque alm do cargo detm outros poderes.Porque trabalhamos em sala fechada, nem sempre percebemos a mudana no clima.No foi palestra porque no se sentia bem.

  • Por que

    Preposio + pronome interrogativo ou relativo

    Usa-se em orao interrogativa direta (com ponto de interrogao grafado)e tambm na indireta (sem grafia da interrogao, esconde as palavras

    "razo", "motivo" ou "causa").

    Quando usar:

    a) em perguntas diretas e indiretas:

    Exemplos: Por que voc no veio? Voc ainda no me contou por que no veio.

    b) em frases afirmativas/negativas e exclamativas:

    Exemplos: Vamos verificar por que os processos esto se acumulando nesse setor.

    Sinceramente, no sei por que ela no veio.

    c) em ttulos de obras/artigos:

    Exemplo: POR QUE PRATICAR ATIVIDADE FSICA [ttulo de artigo]

  • Por qu / Qu

    O que passa a ser tnico em final de frase.

    Fica acentuado antes de pausa forte,

    do ponto de interrogao, exclamao ou final.

    Exemplos:

    Agradecida. No h de qu.O professor marcou novos testes, ningum sabe por qu.Quem foi ao show adorou. Voc quer saber por qu?Tanta correria para qu?!Voc especial, sabe por qu?Qual o qu! a mais pura especulao.

    Porqu

    Substantivo masculino

    Usa-se precedido de artigo, numeral ou pronome.

    Exemplos:

    No entendo o porqu de tudo isso.Ah, se todos os nossos porqus tivessem resposta!Certos porqus no convencem o juiz.

  • Alguns porqus da humanidade

    "Tem sido dito que a astronomia uma experincia de humildade e formao de carter".

    Essa frase foi dita por Carl Sagan em um interessante documentrio intitulado Um plido ponto azul.Clique no link abaixo para assistir:

    "Um plido ponto azul" - Carl Sagan

    Ana Paula Assuno Rodrigues servidora no TRT h 19 anos e atua como revisora de textos em gabinete h 15 anos.Graduada pela UnB em Letras e ps-graduada em Produo Textual, lecionou no Ensino Mdio e em cursinho pr-vestibular nascadeiras de Literatura, Redao e Lngua Inglesa.

  • Mais dicas...

  • Dica 5 - O Novo Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa

    ltima flor do Lcio, inculta e bela,s, a um tempo, esplendor e sepultura:Ouro nativo, que na ganga impuraA bruta mina entre os cascalhos vela

    Amo-te assim, desconhecida e obscura.Tuba de alto clangor, lira singela,Que tens o trom e o silvo da procela,E o arrolo da saudade e da ternura!

    Amo o teu vio agreste e o teu aromaDe virgens selvas e de oceano largo!Amo-te, rude e doloroso idioma,

    Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"E em que Cames chorou, no exlio amargo,O gnio sem ventura e o amor sem brilho!

    Olavo Bilac

    BILAC, Olavo. Lngua portuguesa.In: Poesias. 29. ed. Rio de Janeiro:Civilizao Brasileira, 1977. p. 268.

    O Novo Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa est em vigor desde 1/1/2009 e o perodo de transio paraimplementao definitiva se encerrar no final de 2012 aqui no Brasil, pas que ter o dicionrio menosmodificado dentre todos os envolvidos.

    A explicao mais usual para o Novo Acordo quesimplesmente se quer unificar a LnguaPortuguesa entre os 8 pases que a adotam comooficial... mas, por qu? Se a lngua a expressocultural de identidade de cada povo porexcelncia, patrimnio de cada um de ns e,como um organismo vivo, se modifica ao longo dotempo conforme influncias e premnciasdiversas, como se pode unific-la e impormudanas aos seus falantes naturais? Bem, damesma forma com que a norma culta impostapara que se possa escrever de modo inteligvel atodos, restringindo coloquialismos, regionalismos evariantes que poderiam atrapalhar a comunicao

    em larga escala, o Novo Acordo veio para que os 8 pases tenham maior integrao entre si e maisexpressividade no cenrio mundial.

    Entretanto, h mais razes nem to simples assim que gostaria de lhes contar:

    Razes Polticas

    A lngua instrumento de poder. Em toda dominao de povos na histria da humanidade alngua foi usada para aculturar os nativos ao levar paradigmas diferentes, viso de mundo,

  • valores, todo um universo cultural que subjuga e aos poucos substitui a cultura local. Onosso portugus brasileiro est sendo privilegiado nessa reforma: apenas 0,5% do idiomaser modificado aqui, enquanto em Portugal, Angola, Cabo Verde, Guin-Bissau,Moambique, So Tom e Prncipe e no Timor-Leste, 1,6%, com alteraes que tornaro aLngua Portuguesa mais brasileira que nunca.

    Em 1975, o Brasil foi o primeiro pas a reconhecer a independncia de Angola, do qualrecebemos gratido. Todos os pases africanos ex-colnias guardam mgoas eressentimentos de Portugal pela colonizao exploratria e discriminatria de mais de 4sculos de durao. O Brasil para eles o grande irmo com quem simpatizam, a quemadmiram em variados aspectos e so agradecidos por atitudes de aproximao recentes.

    O movimento imigratrio para c crescente desde 2010, pessoas de diversas naes estovindo, como se estivesse havendo uma nova descoberta do Brasil.

    Com a unificao lingustica alcanaremos maior representatividade e prestgio em grandesfruns internacionais. Na ONU, por exemplo, somente a partir de 2008 comeou a havertraduo simultnea e possibilidade do Portugus ser utilizado nas intervenes de abertura edebate geral, apesar de contar com mais de 200 milhes de falantes no planeta, ser a 3lngua ocidental e 5 mais falada no mundo e, ainda, ocupar a 4 posio dos idiomas maisusados na internet.

    Razes Econmicas

    O mercado editorial se ampliar e o lucro ser maior ao se poder publicar uma mesma obranos 8 pases, uma vez que a Lngua ser una e facilitar divulgao do idioma e respectivaliteratura.

    O lobby das editoras, especialmente das brasileiras, tem forte peso para a implementaodeste Novo Acordo, que visto como um tratado facilitador da penetrao no mercadoafricano a ameaar o das editoras portuguesas naquele continente.

    No cenrio mundial contemporneo, estamos em destaque economicamente em comparaocom Portugal, que vivencia profundamente a crise na Europa. Somos o principal exportadordentre os pases lusfonos.

    O acordo ampliar cooperao internacional entre os 8 pases, facilitar intercmbio cultural ecientfico entre as naes.

    Todos esses fatores citados compem um pano de fundo em que se pode vislumbrar que nose trata de um simples novo conjunto de regras de Portugus que teremos que decorar, antes um acordo poltico que lingustico.

    A revolta em Portugal muito grande, a reforma nem sequer tem data para entrar em vigor, chamada de traidora da Ptria. Fala-se em inverso potica da colonizao, que a Lnguano evolui por decreto e est sendo descaracterizada. H quem lamente que Portugal errouao deixar um filho enorme como o Brasil e no umas vinte repblicas pequeninas, todasmenores que o reino-me!

    Alm das questes lingusticas complexas, tem-se um misto de sentimento colonialistatransformado em subjugo e abandono, ao invs de cooperao e cultura.

    No se pode negar, ademais, que os portugueses demonstram um sentimento protetor epatritico muito grande e aparentemente maior que o dos brasileiros, a julgar peloinconformismo, enquanto aqui se observa a simples e pura aceitao das mudanasimpostas, que, ainda que mais favorveis, tambm so contra a ordem natural das coisas,afinal, j disse Fernando Pessoa, minha ptria a Lngua Portuguesa!

    ****************************************************************************************************************************

    Acredito que, melhor do que dispor neste espao lista de vocbulos cuja ortografia foialterada ou mesmo destacar principais mudanas constantes do Novo Acordo - material emprofuso em vrios meios de comunicao e objeto dos cursos e manuais da Escola Judicial, fornecer 3 fontes de consulta pela internet bastante teis:

    Novo Acordo Ortogrfico na ntegra;

  • VOLP Vocabulrio Ortogrfico da Lngua Portuguesa, fornecido pela Academia Brasileira de Letras, jdevidamente adaptado;

    Conversor Ortogrfico - converte o vocbulo da escrita anterior para a nova!

    As msicas sugeridas tm letras muito educativas e plenas de significado. Pindorama, da dupla Palavra Cantada, voltada paraas crianas, enquanto Lngua, de Caetano Veloso, cheia de referncias a obras e artistas da Lngua Portuguesa:

    "Pindorama" "Lngua" - de Caetano Veloso

    Ana Paula Assuno Rodrigues servidora no TRT h 19 anos e atua como revisora de textos em gabinete h 15 anos. Graduada pela UnB emLetras e ps-graduada em Produo Textual, lecionou no Ensino Mdio e em cursinho pr-vestibular nas cadeiras de Literatura, Redao e LnguaInglesa.

    Mais dicas...

  • Dica 6 - Uso correto de expresses latinas

    Se h uma dica de Portugus infalvel para se escrever bem esta: leia bons livros. Mais do quetentar decorar as regras gramaticais, ler livros bem escritos nos permite memorizar a ortografiacorreta, a sintaxe perfeita, o uso adequado de expresses diversas, o estilo de que gostamos. Aintuio lingustica vem a se desenvolver num patamar mais acurado de competncias quepermitem ao falante se expressar melhor e redigir com assertividade.

    Os textos de Machado de Assis so muito bem cuidados, apresentam linguagem culta, clssica eacadmica, tudo conforme regras de correo gramatical; por tudo isso, servem muito bem aopropsito do estudo da norma.

    Veja no texto de "O Alienista" exemplo de bom uso da expresso plus ultra:

  • MOON, Fbio e B, Gabriel. O Alienista de Machado de Assis: adaptao de Fbio Moon e Gabriel B.Coleo Grandes Clssicos em Graphic Novel. Rio de Janeiro: Agir, 2007.

    A seguir, lista de palavras e expresses por vezes usadas equivocadamente e seu correto significado:

    A cerca de / Acerca de / H cerca de / Cerca de

    A cerca de distncia aproximada, tempofuturo aproximado.

    Eis que

    No usar no sentido de causa. Empregar somenteno sentido de de repente.

  • Acerca de sobre, a respeito de. H cerca de indica tempo transcorrido, fazaproximadamente. Cerca de aproximadamente.

    Aferir / Auferir

    Aferir avaliar, cotejar, medir, conferir. Auferir - obter, receber.

    A fim / Afim

    A fim para, com o objetivo de, finalidade. Afim - tem afinidade, semelhana.

    medida que / Na medida em que

    medida que proporo que, ao passoque, conforme. Nunca usar no sentido de causa. Na medida em que uma vez que, tendo emvista, pelo fato de que. Traz ideia de causa.

    A nvel de / Ao nvel de / Em nvel de

    A nvel de no existe. Ao nvel de altura de. Em nvel de nessa instncia, no mbito de.Geralmente dispensvel, pode-se cortar da frasesem perda de sentido.

    A par / Ao par

    A par ciente, informado, inteirado, por dentrodo assunto. Ao par emparelhado, caminhar lado a lado.

    Apud

    Apud - Junto de.

    A princpio / Em princpio

    A princpio No comeo, inicialmente, antes dequalquer coisa. Em princpio em tese, teoricamente.

    A quo

    A quo juzo a quo aquele de cuja deciso serecorre. Dies a quo o dia em que um prazocomea a ser contado.

    Atravs

    Face a face / Frente a frente

    Nenhuma expresso composta de palavrasrepetidas tem acento grave. Nada de crase.

    Grosso modo / A grosso modo

    Grosso modo de modo grosseiro, aproximado,impreciso; A grosso modo no existe.

    H / A / H muito tempo atrs

    H diz respeito a tempo passado: trabalho aquih anos; A no sentido de tempo, refere-se a futuro: daquia 10 anos me aposentarei; H muito tempo atrs pleonasmo, no usar.

    Isto posto / Isso posto / Posto isso

    Isto posto isto refere-se ao que se dir, noao que se disse, alm de estar antes do verbo, o quetambm inadequado; Isso posto A forma nominal do verbo (particpioou gerndio) deve vir antes do pronome e nessaexpresso a posio est invertida; Posto isso Expresso correta.

    Junto a

    Tem significado fsico: perto de, ao lado de.Exemplos: carrego a bolsa junto ao corpo; Pareijunto ao carro.No use em frases do tipo:

    impetrou mandato junto Vara; solicitou emprstimo junto ao banco; est em negociao junto aos scios.

    Para essas, prefira:

    impetrou mandato na Vara; solicitou emprstimo ao banco; est em negociao com os scios.

    Mutatis mutandis

    Quer dizer mudando o que deve ser mudado,

  • Do verbo atravessar, s pode ser empregado nosentido de transpassar, passar de um lado para ooutro ou passar ao longo de. Exemplos: o navioatravessa os mares; vejo atravs do vidro.No pode ser empregado no lugar de mediante,por meio de, por intermdio de, graas a,segundo ou por, sendo assim, no escreva, porexemplo, "peticionou atravs do advogado" ou"recorre atravs dos documentos".

    Avocar / Invocar / Evocar

    Avocar atribuir-se, chamar. Invocar pedir ajuda, chamar, proferir. Evocar lembrar, invocar.

    Bastantes / Bastante

    Bastantes quando acompanha substantivo, adjetivo, por isso, flexionado e pode sersubstitudo por muitos ou suficientes. Exemplos: tenho bastante dinheiro; tenho bastantes dvidas; ele obteve bastantes provas para olaudo; Bastante quando acompanha adjetivo ouverbo, advrbio, no flexiona e pode sersubstitudo por muito. Exemplo: Trabalho bastante durante a semana.

    Cada

    pronome indefinido que no pode ser usadosozinho: acompanha substantivo, numeral oupronome qual; portanto, no use ganharam 5bombons cada e sim "ganharam 5 bombons cadaum".

    Cesso / Seo / Sesso

    Cesso ato de ceder; Seo parte, trecho, setor, repartio; Sesso reunio; lapso de durao de umcongresso, assembleia.

    Com vista a / Com vistas a

    Ambas so corretas e tm mesmo significado.

    Custas / Custa

    Custas despesa forense; Custa sempre no singular na expresso custa de.

    com a devida alterao de pormenores, uma vezefetuadas as necessrias mudanas.

    Onde / Aonde

    Onde - usa-se apenas ao se referir a lugar;significa local em que, no qual; Aonde - indica movimento para um lugar; usa-sesomente com verbos que requerem a preposio "a"e indicam movimento.

    Pedir vista / Pedir vistas

    O correto "pedir vista", no singular.

    Plus ultra

    Plus ultra - Mais alm.

    Posto que

    Equivale a "embora", "apesar de" e no a"porque".

    Se no / Seno

    Se no - caso no; Seno - mas, a no ser, exceto pois, do contrrio,caso contrrio, defeito. Plural: senes.

    Sequer / Nem sequer

    Sequer - pelo menos, ao menos: o recorrido teriaido se a intimao sequer tivesse chegado; Nem sequer - nem ao menos - usa-se paraexpressar negao: o recorrente nem sequer juntouprovas aos autos.

    Sine qua non

    Sem a qual no; indispensvel, essencial.

    Sito em

    No use "sito a", pois no indica movimento.

  • Deferir / Diferir

    Deferir conceder, outorgar; Diferir discordar, diferenciar; retardar, adiar.

    Descriminar / Descriminalizar / Discriminar

    Descriminar e descriminalizar do DireitoPenal, significa inocentar, absolver de crime; oprefixo des traz ideia de negao; Discriminar tratar de forma diferente.

    Vez que / uma vez que

    Vez que - no existe; Uma vez que - dado que, visto que, como, jque; no caso de, caso, se.

    Vultoso / Vultuoso

    Vultoso - volumoso, relativo a vulto, grande vulto; Vultuoso - com a face congestionada.

    Ana Paula Assuno Rodrigues servidora no TRT h 19 anos e atua como revisora de textos em gabinete h15 anos. Graduada pela UnB em Letras e ps-graduada em Produo Textual, lecionou no Ensino Mdio e emcursinho pr-vestibular nas cadeiras de Literatura, Redao e Lngua Inglesa.

    Mais dicas...

  • Dica 7 - Uso do "Se"

    Central do Brasil. Drama, 1998, 113 minutos. Diretor: Walter Salles.(Clique na imagem para assistir ao trailer)

    Aproxima-se o recesso forense e muitos de ns comeamos a planejar uma viagem...por falar em viagem, h um subgnero no cinema denominado road movie, ou filme deestrada, que Hollywood adora. um estilo que aborda a viagem por que passa umpersonagem como smbolo de sua transformao interna, pois a geografia, tanto afsica quanto a humana, que ele desconhecia at ento, o afeta profundamente, demodo que mudanas na pessoa viajante ocorrem, pois, medida que se depara com odesconhecido, ela muda, como ns mudamos. Representa tambm a busca daliberdade e o esprito aventureiro do ser humano. um estilo de cinema que traz parao espectador a oportunidade de acompanhar no s belas imagens, mas a construode uma nova personalidade, que, ao fim, se revela.

    Destacamos Bagdad Caf, Paris/Texas, Sem Destino, Thelma e Louise, Pequena MissSunshine, Assassinos por Natureza, Corao Selvagem. Mas no s na terra do tio Samesse estilo produzido, temos, por exemplo, o francs Mamute, o mexicano E Sua MeTambm, os brasileiros Bye Bye Brasil, Na Estrada, Central do Brasil, os dois ltimos deWalter Salles, diretor tambm de Dirios de Motocicleta, coproduo que envolveu

  • Argentina, Brasil, Chile, Reino Unido, Peru, Estados Unidos da Amrica, Alemanha,Frana e Cuba.

    Central do Brasil um filme maravilhoso, humanista, singelo e bem feito. Apersonagem de Fernanda Montenegro, Dora, recupera sua identidade e o afeto, se re-sensibiliza graas ao encontro do outro, que vem a ser o menino Josu, que a leva auma viagem por um Brasil diverso daquele do Rio de Janeiro, cidade em que vivia.Ateno para a trilha sonora e para a construo das imagens, que vo se tornandofluidas e rarefeitas na mesma proporo em que Dora se torna livre da opresso e dopragmatismo em que se encontrava; vale tambm assistir s entrevistas com atores ediretor do filme.

    Usaremos vrias frases extradas dessa pelcula e da msica Preciso me encontrar,integrante da trilha sonora, para exemplificar os tpicos da nossa dica sobre uso do se,que no um viajante pelas estradas, mas faz muita gente viajar na maionese nahora de escrever!

    Nos textos do TRT, h corriqueiramente m aplicao do se principalmente comopronome na funo de partcula apassivadora ou de ndice de indeterminao dosujeito, como ver-se- a seguir:

    O se tem duas acepes: conjuno ou pronome pessoal.

    I) Na qualidade de conjuno, expressa subordinao ao principal. Pode ser:1 - condicional

    - indica hiptese, condio; no caso de. Se ele no vier, eu deponho. Do filme: Seele estiver a, fala alguma coisa maluca.

    - indica tempo; quando, enquanto. Se h depoimento, o secretrio de audinciadigita.

    - indica causa; visto que, uma vez que. Se voc nem sequer precisa depor, por queest to ansioso?

    2 - integrante

    - exprime dvida, incerteza, interrogao indireta (se acaso, se por acaso, seporventura).

    Neste caso encaixa-se o verso da msica em destaque, que, na ordem direta dafrase, seria assim:

    Diga que eu s vou voltar depois que eu me encontrar se algum por mimperguntar.

    Tambm, as seguintes frases do filme:

  • V se pelo menos me aparece para conhecer seu filho.

    Se por acaso voc mudar de ideia s voc vir, ', vir atrs de mim, numa boa.II) Na qualidade de pronome pessoal, refere-se 3 pessoa do singular para os doisgneros; funciona como objeto do verbo ou complemento. Pode ser:1 - objeto direto

    - tranquilizar-se, ferir-se, agredir-se, recusar-se; Exemplo de fala do filme: Pai, vemaqui no Rio que minha me se machucou;

    2 - com verbos pronominais, indica carter reflexivo ou recproco

    - aposentar-se, arrepender-se, queixar-se; indignar-se; Exemplo extrado dofilme: V l, se achegue!

    3- partcula apassivadora

    - forma, juntamente com o verbo, a voz passiva sinttica, como lemos na placada mesa de trabalho da Dora, escrevedora de cartas:

    Escreve-se carta, ou carta escrita;

    Escrevem-se cartas, ou cartas so escritas.

    Registravam-se nas folhas de ponto horrios rgidos, sem anotarem-se comcorreo os intervalos para descanso e refeio, ou horrios rgidos eramregistrados nas folhas de ponto, sem os intervalos para descanso e refeio seremanotados com correo.

    Podem-se citar vrios exemplos, ou vrios exemplos podem ser citados.

    erro bastante comum, talvez o mais encontrado em anncios, como os vistos nofilme:

    Faz-se mveis - o certo fazem-se mveis (mveis so feitos);

    Conserta-se culos - o certo consertam-se culos (culos so consertados).Dica: a voz passiva sinttica formada com verbo transitivo direto (h excees) + see permite troca para a voz passiva analtica. A voz passiva analtica formada com verbo ser +particpio. Identifica-se o sujeito passivo da orao, principalmente na converso da formasinttica (com se) para a forma analtica, como feito nos exemplos. Ento, o macete construira frase com o verbo ser, se ele for para o plural, o verbo da frase com se tambm ir.

    Na voz passiva sinttica, o verbo concorda com o sujeito, por isso, vai para o plural se o sujeitofor plural.

    4- ndice de indeterminao do sujeito - IIS

    - o verbo fica sempre na 3 pessoa do singular.Dica: para no confundir com a partcula apassivadora (item 3), perceba que a transposiopara a voz passiva analtica no possvel, pois neste caso no temos verbos transitivosdiretos (exceo para os preposicionados), apenas verbos transitivos indiretos, intransitivos oude ligao. No se identifica o sujeito da frase.

    Por isso, o verbo nunca vai para o plural, pois no h sujeito com o qual concordar emnmero!

    Vejamos:

  • Precisa-se de empregados. No possvel a construo "empregados soprecisados", pois o verbo PRECISAR transitivo indireto, requer a preposio de,PRECISAR DE algo;

    Aqui se feliz - verbo de ligao;

    Morre-se de amores - verbo intransitivo;

    Trata-se de embargos de declarao. No possvel a construo "embargos dedeclarao so tratados", o verbo tratar est na acepo de indicar qual aquesto, o que se debate, sobre o que se discorre. Sintaticamente, apresenta-secomo verbo transitivo indireto, com preposio de. As estruturas trata-se de e suaafim cuida-se de so, assim, invariveis.

    erro, dessarte, redigir "tratam-se de embargos..." ou "cuidam-se de embargos",equvoco comum nos textos do TRT. O verbo tratar, na acepo desta frase, transitivo indireto, requer preposio de, forma a expresso verbal TRATAR-SE DEdeterminado assunto, e o sujeito indeterminado.

    Obs: importante evitar o excesso de uso do pronome "se" como IIS; em muitos casos, elepode ser subtrado sem perda do sentido da frase. Ex: Para atingir nossa meta h que evitarestrangeirismos (e no para se atingir...h que se evitar).

    Verso da msica Preciso Me Encontrar, Cartola, 1976.

    Quanto colocao correta na frase, o se pode ocupar trs posies em relaoao verbo - antes, depois ou no meio do verbo, ou seja, em nclise, prclise oumesclise, respectivamente, conforme regras a seguir:1 - nclise

    De modo geral, desta forma que se deve escrever, com o pronome posposto aoverbo. Exemplo: Escreve-se carta.

    Ateno para a proibio:

    1- Quando houver palavra de valor atrativo de prclise, que estudaremos a seguir.

    Obs: Ao usarmos o pronome em nclise, temos mais chance de acertar, pois atende maioria dos casos de colocao pronominal!

    2 - prclise

    H perda da fora encltica por motivo de anteposio, aos verbos, de partculas que

  • atraem o pronome oblquo, normalmente para efeito de eufonia (bom som). Vejamosos 8 casos em que a prclise obrigatria:

    a) Em oraes negativas, pois a palavra negativa, seja advrbio, pronome ouconjuno, atrai o "se" para antes do verbo. Exemplos: Nada se far; Ela no seexamina nem se deixa examinar;

    b) Com as conjunes alternativas ora...ora, ou...ou, j...j, quer...quer,agora...agora, quando...quando. Exemplos: Ora se expe, ora se esconde;quando se pensa que o aumento saiu quando se percebe que ainda h muitopor vir;

    d) Com pronomes adjetivos e relativos que, qual, quem, cujo. Exemplos: Aest o processo cujas pginas se sujaram;

    e) Com certas conjunes coordenativas aditivas (nem, no s, mastambm, que). Exemplos: No comprou nem se lembrou de pedir para comprar;

    f) Com os pronomes indefinidos (algum, algum, diversos, muito, pouco,tudo, vrios etc.), quando esto antes do verbo. Exemplos: Pouco se estuda oidioma ptrio. Tudo se tem aqui, recursos materiais e humanos.

    g) Com os advrbios, sempre que precederem o verbo. Exemplos: Aqui sefaz, aqui se paga; sempre se pede mais, quando a comida boa!

    h) Com os pronomes demonstrativos. Exemplos: Aquilo se assemelha a umaassinatura forjada;

    i) Com o verbo no gerndio, precedido da preposio em. Exemplo: Nestaterra, em se plantando, tudo nasce.

    Proibio:

    1- No se pode iniciar um perodo com pronome oblquo. Exemplo de erro: Me deram umpresente (deve-se dizer: Deram-me um presente);

    3 - mesclise

    A mesclise obrigatria quando as formas do futuro do presente e as do futurodo pretrito iniciarem o perodo e sempre que, mesmo sem iniciar o perodo, no houverpartcula atrativa de prclise. Exemplos: Queixar-se-ia se no estudasse muito; Alegrar-se-com as peraltices de seu beb; mesmo que nada se faa, propor-se- o projeto novo.

    Dica final: a prclise predomina sobre a mesclise, que predomina sobre anclise, embora esta colocao atenda maioria dos casos!

  • Preciso me Encontrar, 1976, Cartola

    No mais, boa viagem a quem de viagem, e lembramos que em 17/12 publicaremos a ltima dica do ano.

    Ana Paula Assuno Rodrigues servidora no TRT desde 1993 e atua como revisora de textos em gabinete. Graduada pela UnB em Letras e ps-graduada em ProduoTextual, lecionou no Ensino Mdio e em cursinho pr-vestibular nas cadeiras de Literatura, Redao e Lngua Inglesa.

    Mais dicas...

  • Dica 8 - Uso de "no h falar", "o mesmo" e "verso"

    As frases destacadas nos quadros so contribuio da cultura popular para exemplificar o

    quanto podemos aplicar elipses(1), zeugmas(2) e contraes s palavras e ainda assim oobjetivo da comunicao se efetivar. Depende da inteno, do contexto, do registro que temosde usar em determinado veculo e ambiente e, claro, da criatividade, da regio do Brasil e atmesmo em decorrncia do grau de instruo. A comdia pa, traz expresso baiana,enquanto o dilogo ao redor do "cafezinho" regionalismo mineiro e foneticamente seassemelha ao som de uma galinha!

    Rotineiramente, lemos em textos jurdicos as expresses "no h falar", "no h falar-se" eafins e a surge a dvida: esto corretas? De uma primeira impresso, fica a sensao de quefalta algo na frase, de que est capenga, com algum termo elptico... mas no est!

    Podem-se usar as expresses a seguir indistintamente, so sinnimas e todas corretas:

    -No h falar;-No h falar-se;-No h que falar;

  • -No h que se falar.

    Por extenso, mesma explicao serve para outros verbos, como, por exemplo, no hconfundir, no h fugir, no h olvidar.

    (1) elipse - omisso de um termo facilmente identificvel, que fica subentendido pelo contexto ou por elementos gramaticaispresentes na frase. Torna o texto mais conciso e elegante;(2) zeugma - caso especial de elipse, quando o termo omitido j tiver sido expresso anteriormente na frase.

    buuuuu

    O fantasma no elevador assombra. Chama-se o mesmo. Cuidado com ele! Por isso, o aviso aosusurios em todo hall de elevadores:

    Comunidades no orkut e facebook foram criadas e os mais descrentes fizeram piada dofantasma (ou seria um manaco?).

    Brincadeiras parte, vamos entender o porqu dessa frase estar errada.

    1. Os termos o mesmo, a mesma, os mesmos e as mesmas no no podem ser

    usados no lugar de substantivo ou de pronome, e sim como um reforo de um nome ou

    pronome ao qual se ligam; sendo assim, concordam com o termo a que se referem,

    como nos exemplos:

    - Ele mesmo trouxe as provas (prprio);

  • - As assistentes mesmas faro o voto (prprias);

    - As mesmas testemunhas esto neste processo (de igual identidade);

    - Os assistentes mesmos digitaram o texto (prprios);

    2. O mesmo funciona como substantivo e flexiona em gnero e nmero quando significa "a

    mesma coisa" ou "a mesma pessoa" (ateno, no substitui um substantivo e sim o

    prprio substantivo):

    - Nos anos que se seguiram, sucedeu o mesmo (a mesma coisa);

    - Continuam as mesmas na defesa da justia (as mesmas pessoas).

    3. Invarivel fica o termo mesmo se utilizado no sentido de realmente, at, ainda que,

    embora, como nos exemplos:

    - Mesmo doentes, vieram testemunhar;

    - As testemunhas colaboraram mesmo com o andamento do processo;

    - Mesmo querendo, no vamos concluir todos os votos at o encerramento do ano.

    Quanto ao aviso do elevador, o erro est em ter utilizado o mesmo como substituto de

    elevador, o que proibido, conforme explanao no item 1. Vrias maneiras de se redigir

    o aviso seriam melhores, tais como:

    - Antes de entrar no elevador, verifique se esse encontra-se parado neste andar;

    - Antes de entrar no elevador, verifique se ele encontra-se parado neste andar;

    - Antes de entrar, verifique se o elevador est no andar.

    Mesmo raciocnio se aplica s redaes oficiais e votos no TRT. Exemplos de erro:

    a) A recorrente solicitou juntada de provas, mas a mesma foi indeferida.

    Frase errada porque a mesma no pode substituir o substantivo juntada.

    Correta:

    - A recorrente solicitou juntada de provas, mas esta foi indeferida.

    b) O juiz recebeu o processo e analisar o mesmo rapidamente.

    Errado porque o mesmo est no lugar de processo mas no pode funcionar

    como seu substituto. Correto:

    - O juiz recebeu o processo e o analisar rapidamente.

  • c) Irei ao escritrio do meu advogado e l combinarei com o mesmo a melhor defesa.

    Texto incorreto pelo mau uso de o mesmo no lugar do pronome pessoal,

    indica estilo fraco e falta de recursos sintticos. Ficaria melhor:

    - Irei ao escritrio do meu advogado, com quem combinarei a melhor defesa;

    - Irei ao escritrio do meu advogado para combinar com ele a melhor defesa;

    - Irei ao escritrio do meu advogado. Combinarei com ele a melhor defesa.

    Por fim, vejamos a notao correta para indicao de verso da folha.

    Especificar que o assunto est localizado no verso da pgina (quando ela no numerada)

    importante e economiza tempo, pois o leitor pode ir direto ao ponto que interessa.

    Temos em frase do tipo "as contrarrazes esto fl.21, verso" adjuntos adverbiais que

    devem ficar separados por vrgula. Identificam-se dois adjuntos adverbiais de lugar, o

    primeiro expressa que a informao est contida na folha 21 e o segundo, que o contedo

    tem prosseguimento no verso da referida folha.

    Recomenda-se evitar o uso da notao "v." para no ser confundida com a abreviatura de

    "vide" ou "veja".

    Sugerimos, ento, a notao no formato a seguir:

    O recurso tempestivo, fl. 121, verso e a representao est regular, fl. 45, verso.

    Por falar em verso, h um trecho do filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989, EUA, drama,direo de Peter Weir) em que encontramos inspiradora explanao do professor Keating a seusalunos que cabe bem neste momento de fim de ano, vejam:

  • Sociedade dos Poetas Mortos.

    Boas festas e at maro de 2013!!!

    {jcomments on}

    Ana Paula Assuno Rodrigues servidora no TRT h 19 anos e atua como revisora de textos em gabinete h 15 anos.Graduada pela UnB em Letras e ps-graduada em Produo Textual, lecionou no Ensino Mdio e em cursinho pr-vestibular nascadeiras de Literatura, Redao e Lngua Inglesa.

    Mais dicas...

    DancompRectangle

  • Dica 9 - Esttica Textual e Vcios de Linguagem

    Clique para ouvir

    O que belo?

    O que vem a ser beleza?

    Ao longo da histria da humanidade, essas questes sempre se fizeram presentes e asrespostas certamente foram bem diversas das que obtemos no mundo contemporneo.

    ECO, Umberto. Histria da Beleza, Rio de Janeiro: Record, 2004.

    No livro Histria da Beleza, organizado por Umberto Eco, temos breve anlise da culturaocidental sobre o tema-ttulo desde a Antiguidade at o sculo XX. Embora sua fonte depesquisa se atenha Europa e no abranja to detidamente as belezas das Amricas,partilhamos dos mesmos ideais e podemos observar o quanto o conceito de belo continha

  • princpios sublimes, duradouros, nada absolutos. O que hoje se tem, ao menos popularmente, a beleza concebida como mero produto de consumo por vezes descartvel, fruto de processomiditico e um fim em si mesma.

    Mron, Discbolo, 460-450 a.C.

    Na Grcia antiga, o belo, o bom e o verdadeiroeram indissociveis, exsurgindo da princpiosticos e estticos. Ligada proporo e harmonia, a beleza relacionava-se ao cosmo e natureza.

    Miniatura do Cdigo Manessiano, sculo XIV

    Na Idade Mdia, luz e cor compunham o conceitodo belo, ligado tambm poesia. A proporo, aintegridade e a claritas (luminosidade) eramnecessrias beleza, conforme Toms de Aquino.Surpreende saber que ao tempo em que filsofos,telogos e msticos eram todos homens de igreja ede rigor moralista surgiram cantos como CarminaBurana (sculos XII-XIII) e composies poticaspastoris em que se descreviam as belezasfemininas muito sensualmente.

    Botticelli, Alegoria da Primavera, 1482

    Nos sculos seguintes, passou-se a relacionar abeleza com a mimesis: imitava-se no no sentidode cpia, mas de representao da natureza, poiso conhecimento do mundo visvel seria meio para oconhecimento da realidade suprassensvel. Osimulacro tornou-se nobre porque reproduzia abeleza.

    A condessa Hanssonville, 1845

    Na Renascena, a mulher da Corte ocupava-se damoda sem esquecer de cultivar a prpria mentecom capacidades discursivas, filosficas epolmicas e tinha participao ativa nas belasartes. O homem demonstrava poder e fora ecolocava-se no centro do mundo. A opulncia e abrancura dos corpos indicava nobreza, uma vezque fartura de alimentos era para poucos, sendo amagreza atributo dos plebeus e ligada a pobreza,doena e mazelas em geral, assim como as pelesbronzeadas pelo sol era indicativo de pessoatrabalhadora braal.

    O belo se manifesta na arquitetura e nas artes em geral conforme a poca e mesmo uma paisagempassa por essa conceituao, que se transformou ao longo dos sculos at chegarmos ao minimalismo,praticidade, funcionalidade e outros atributos relacionados ao nosso tempo, que requer velocidade atna hora de apreciarmos a beleza! Se antes um texto podia apresentar floreios e divagaes tal qualuma vestimenta rebuscada, hoje tem que primar pela facilidade de leitura ao apresentar perodos

  • curtos, declaraes diretas, conciso, preciso, simultaneamente com preocupaes de passar omximo de informao til e ainda ser politicamente correto.

    Vila Chigi, em Centinale, Siena Caspar Friedrich, Rochedos em Rgen, 1818

    Roscea norte da Catedral de Notre Dame em Paris Caspar Friedrich, Viajante diante do mar de nuvens, 1818.

  • Frank Lloyd Wright, Casa Kufmann, Bear Run, 1936

    O belo em temas diversos - jardim, paisagem, arquitetura

    Paremos por aqui na apreciao da beleza histrica.Vamos, afinal, nos deter nas quatro regras a seguir:

    Sobre essas regras funda-se o senso comum grego da beleza, e no que cabemperfeitamente ao nosso tema da dica?

    Esttica textual

  • A beleza de um texto alcana seus leitores de modo a conduzi-los agradavelmente a mximosentendimento e compreenso da mensagem; tem carter social e coletivo na medida em quecolabora para que o objetivo da comunicao seja atingido.

    A esttica textual refere-se correo lingustica, ao esmero com que se escreve e a aspectostcnicos e estruturais como os estabelecidos pela ABNT. Visualmente aprazvel, transmite ocuidado com organizao por parte do escritor e que este se importa com seus leitores.

    Boa concatenao de ideias, expresso clara e lgica do pensamento tm implicao naaparncia: os pargrafos devem ser mais curtos, com uma ideia central apenas.

    VCIOS DE LINGUAGEM

    O bom senso esttico e a procura do belo ao redigir evita os denominados vcios de linguagem:

    1 - Ambiguidade - falta de clareza no discurso, gera possibilidade de uma mensagem ter dois sentidos.

    Exemplos:

    O reclamante andava de lotao, ao final do contrato j no andava mais (no andava porque adquiriu

    deficincia, porque passou a ir a p ou porque comprou um automvel?);

    A presidncia noticiou aos servidores a mudana de suas funes (foram mudadas as funes da

    presidncia ou dos servidores?).

    2 - Barbarismo - desvio da norma culta e uso de palavra estrangeira no lugar da equivalente em

    Portugus.

    Exemplos:

    A empresa mantinha servio de delivery (servio de entrega);

    Houve justa causa face a conduta do reclamante ( francesismo, em portugus "em face de");

    O PJE ser implantado nos diversos TRT's (anglicismo, pois em Portugus no se usa apstrofo "s"

    para o plural; a forma correta para o plural de uma sigla com o "s" ao final, sem apstrofo: TRTs,CPFs, PMs;

    O adevogado chegou a tempo (desvio da norma quanto grafia da palavra advogado).

  • 3 - Paradoxo vicioso - consiste numa anttese extrema intil e desnecessria ao contexto de uma

    sentena.

    Exemplos:

    Tenho relativa certeza quanto s provas dos autos;

    As crianas entraram para fora ao amanhecer.

    4 - Plebesmo - uso de palavras de baixo calo, grias ou termos informais para o contexto.

    Exemplos:

    "...ver um servidor da prpria Justia Federal cuspindo no produto...";

    E a, velho, o que acha?

    5 - Solecismo - desvio em relao s regras da sintaxe

    Exemplos:

    Fazem anos que no fao um curso de reciclagem (Faz anos ...);

    Aluga-se salas nesse edifcio (alugam-se...);

    Eu no respondi-lhe nada do que perguntou (Eu no lhe respondi...).

    6 - Eco - dissonncia provocada pela utilizao de palavras com terminaes iguais ou semelhantes na

    frase;

    Exemplo: Responde pessoalmente pelo que corresponde.

    7 - Cacfato ou cacofonia - encontro de slabas de palavras diferentes que resulta num som desagradvel

    ou inconveniente;

    Exemplos:

  • Tem que ter f demais para ir em frente (fede mais);

    A gorjeta era dividida por cada um dos garons (porcada);

    Diz que o recorrente... (disque).

    8 - Coliso - quando o uso legtimo da aliterao no convm e causa um efeito estilstico ruim ao receptor

    da mensagem

    Exemplo: alegada ilegalidade;

    9 - Preciosismo - afetao, falta de naturalidade ao redigir;

    Exemplo: Nomeou o insigne e indefectvel depositrio fiel.

    10 - Arcasmo - modo de escrever antiquado, uso de vocbulos ou expresses que deixaram de ser usuais

    na norma;

    Exemplo: Pediu dispensa do trabalho para ir matin (matin no se usa h um tempo).

    11 - Pleonasmo vicioso - repetio dispensvel de uma ideia, redundncia.

    Exemplos: - de sua livre escolha;

    - lapso temporal (lapso j significa intervalo de tempo)

    - conviver junto;

    - h anos atrs;

    - outra alternativa;

    - motivo que motivou.

    12 - Prolixidade - exposio repetitiva e intil de argumentos e superabundncia de palavras para exprimir

    poucas ideias. Falta de objetividade que compromete a clareza e cansa o leitor.

  • Para finalizar, leiamos exemplo extremamente antiesttico de texto cuja arrogncia e plebesmogeram reaes diversas nos leitores - certamente nenhuma agradvel - tomado emprestado coma devida autorizao do stio www.migalhas.com.br (link ao final):

    "A tese to brilhante que deve o autor lev-la ao relator do projeto do novo CPC para que venha a ser acolhida nonovo cdigo". A ironia est registrada em sentena do juiz Federal substituto Guilherme Gehlen Walcher, de SC, ao negarprovimento aos embargos de declarao de servidor da JF que ajuizou ao contra a Fazenda Nacional. Mas engana-sequem acha que as "lies" do magistrado param por a. H trechos como : " lamentvel ver um servidor da prpriaJustia Federal cuspindo no produto (sentena) da atividade fim da instituio a que pertence, que paga seu salrio eque sustenta sua famlia". E completa com uma "humilde" constatao : "No perco a oportunidade de registrar que, nodia em que o embargante for aprovado no concurso de Juiz Federal, aos 27 anos de idade, em trs oportunidades,obtendo um primeiro e um segundo lugares (sendo que neste ltimo caso o primeiro lugar somente foi assumido porterceiro candidato aps a pontuao dos ttulos), ter condies intelectuais de dar lies de processo civil a estejulgador (...)". mole ou quer mais ? Leia a ntegra da deciso, com todo o destemperado arroubo do jovemmagistrado. Jovialidade que, como se sabe, o tempo d jeito de curar. (Clique aqui)

    Ana Paula Assuno Rodrigues servidora no TRT desde 1993 e atua como revisora de textos emgabinete. Graduada pela UnB em Letras e ps-graduada em Produo Textual, lecionou no Ensino Mdio eem cursinho pr-vestibular nas cadeiras de Literatura, Redao e Lngua Inglesa.

    Mais dicas...

  • Dica 10 - Uso do acento grave - CRASE

    O filme Matrix marcou poca. Apresentou efeitos especiais inditos, impressionou pelo roteiroenigmtico e repleto de referncias, arrebanhou admiradores mundo afora. Vidas saram das salas decinema transformadas. Produziram-se verdadeiros tratados sobre ele, de filosficos a msticos, passandopela Psicologia e pela Informtica. Estudiosos de todas as reas opinaram: jornalistas, cineastas,psiclogos, semilogos, designers, financistas e intelectuais, o encanto foi geral.

    Mas Baudrillard dele no gostou.

    Matrix, filme de fico cientfica dos diretores Lana e Andy Wachowski produzido em 1999,parceria EUA/Austrlia, teve como fonte de inspirao, segundo os prprios criadores, o livro de JeanBaudrillard - filsofo, socilogo e fotgrafo francs - chamado Simulacros e Simulao, lanado em1981*.

    Na cena destacada do filme temos a vista do citado livro, dentro do qual o personagem Neo guarda,em um fundo falso, dinheiro e o fruto de seu trabalho hacker.

    A metfora da pelcula remete, pelo vis poltico, obra de Guy Debord, de quem Baudrillard foicontemporneo e a quem se refere em algumas de suas publicaes. De forma muito simplificada: omundo em que vivemos no real. Todas as experincias humanas autnticas so devoradas pelocapitalismo de consumo. Depois de engolidas, so transformadas em produtos vendidos para nsmesmos por meio da mdia e de seus mecanismos publicitrios (que vm a ser nada mais do que umacaixinha de ressonncia dos desejos da sociedade!). O que h substituio da experincia prpria por

  • outras artificiais: as que vemos no cinema, sries, jornais, reality shows, etc e a incapacidade porinteiro de se formular alguma opinio objetiva sobre quase qualquer assunto devido ao excesso deinformao-desinformao que satura, do isolamento advindo da tecnologia, do ensino alienante - tudoa nos desapropriar de nossa natureza essencial.

    Baudrillard concentrou sua anlise mais profunda na comunicao de massas e na sociedade deconsumo. O desejo de incluso no sistema de consumo a motivao por trs do desejo do consumidorem adquirir bens; o objeto no de fato desejado. O mais belo objeto de consumo finalmente ocorpo, ns mesmos.

    Os signos (signo = significado + significante) so manipulados, h infinita reproduo e sobreposiode imagens e signos a acarretarem o apagamento de toda a distino entre o real e a imagem. Osistema de signos tornou-se nossa hiper-realidade. Disso deriva a perda de significados estveis e associedades ps-modernas assim esto, na quarta fase: na fase inicial, o signo reflete uma realidade.Numa segunda, o signo mascara e altera uma realidade. Numa terceira fase, o signo encobre aausncia de uma realidade e numa quarta fase o signo no tem qualquer relao com realidadealguma: ele o seu prprio simulacro.

    Todos os componentes da vida humana so convertidos em um show. O espetculo um pesadelo doqual temos de acordar.

    Neo escolhe a plula vermelha. E acorda do coma. E seus olhos doem porque pela primeira vez estosendo usados.

    Baudrillard no aprovou o filme, afirmou que os roteiristas no entenderam o que leram e que, alis,muitos intelectuais tambm no compreenderam seu texto e estavam a popularizar conceitosequivocados (vide entrevista, link ao final). Afirmou que Matrix o tipo de filme que a prpria matrizcriaria e, tendo em vista a banalizao e absorvio pelo pop, que esvaziou de significado tudo o que ofilme poderia trazer e hoje a frase "saia da matrix" virou um bordo tolo, parece que o filsofo tinharazo.

    * BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulao. Lisboa: Relgio d'gua, 1991.

    Enfim, ao tempo em que lemos alguns trechos do livro Simulacros e Simulao, vamosestudar o acento grave, a temida crase?

    Se outrora pudemos tomar pela mais bela alegoria da simulao a fbula de Borges* em que os

  • cartgrafos do Imprio desenham um mapa to detalhado que acaba por cobrir exatamente o

    territrio (mas o declnio do Imprio assiste ao lento esfarrapar deste mapa e sua runa (1),

    podendo ainda localizarem-se alguns fragmentos nos desertos beleza metafsica desta

    abstrao arruinada, testemunha de um orgulho medida do (2) Imprio e apodrecendo como

    uma carcaa, regressando (3) substncia do solo, de certo modo como o duplo acaba por

    confundir-se com o real ao envelhecer) esta fbula est terminada para ns e tem apenas o

    discreto encanto dos simulacros da segunda categoria [...] o real, e no o mapa, cujos

    vestgios subsistem aqui e ali, nos desertos que j no so os do Imprio, mas o nosso. O

    deserto do prprio real. (pg. 8)

    * BORGES, Jorge Lus, Do Rigor na Cincia.

    1 - verbo assistir, transitivo indireto na acepo de presenciar, requer preposio na regncia de seu objeto. Em "

    sua runa" temos crase facultativa porque antes de pronome possessivo.

    2 - locuo que significa "na proporo". Sempre com crase.

    3 - verbo regressar, transitivo indireto na acepo de retornar, requer preposio na regncia de seu objeto. Objeto

    indireto feminino (substncia), somem-se preposio "a" e artigo "a", temos a crase.

    Dissimular fingir no ter o que se tem. Simular fingir ter o que no se tem. O

    primeiro refere-se a uma presena, o segundo, a uma ausncia (4). (pg.9)

    4 - verbo referir-se, bitransitivo e pronominal na acepo de reportar-se, requer partcula "se" e preposio na

    regncia de seu objeto. Sem crase porque proibida antes de artigo indefinido (uma).

    ...experincia americana de TV-verdade tentada em 1971 sobre a famlia Loud: sete

    meses de rodagem ininterrupta, trezentas horas de filmagem direta, sem guio nem

    cenrio, a odisseia de uma famlia, os seus dramas, as suas alegrias, as suas

    peripcias, non stop resumindo, um documento histrico bruto, e a mais bela

    proeza da televiso, comparvel, escala da nossa cotidianidade, ao filme do

    desembarque na Lua (5).(pg.40)

    5 - " escala" - locuo de base feminina.

    Reunidos em congresso em Lyon, os veterinrios preocuparam-se com as doenas

    e perturbaes psquicas que se desenvolvem na criao industrial de animais

    domsticos. Os coelhos desenvolvem uma ansiedade mrbida, tornam-se

    coprfagos e estreis. Maior sensibilidade s infeces, ao parasitismo

  • (6)[...]Escurido, luz vermelha, gadget, tranquilizantes, nada resulta. Existe nas

    aves uma hierarquia de acesso comida (7), o pick order[...]Quis-se ento romper

    o pic order e democratizar o acesso comida mediante outro sistema de

    repartio. Fracasso: a destruio desta ordem simblica leva confuso total nas

    aves e a uma instabilidade crnica (8). Belo exemplo de absurdo: conhecem-se os

    estragos anlogos que a boa vontade democrtica pde fazer nas sociedades

    tribais. Os animais somatizam! Extraordinria descoberta! Cancros, lceras

    gstricas, enfartes do miocrdio nos ratos, nos porcos, nos frangos! (pgs.160/161)

    6 - sensibilidade a algo, nesta acepo requer complemento nominal e preposio na regncia do seu

    complemento. Complemento feminino (infeces), somem-se preposio "a" e artigo "as", temos a crase.

    7 - acesso a algo, requer complemento nominal e preposio na regncia do seu complemento. Complemento

    feminino (comida), some-se preposio "a" ao artigo "a", temos a crase.

    8 - verbo levar, transitivo indireto na acepo de conduzir, requer preposio na regncia de seu objeto. Objeto

    indireto feminino (confuso), somem-se preposio "a" e artigo "a", temos a crase. O segundo objeto (uma

    instabilidade crnica) no tem crase porque proibida antes de artigo indefinido.

    Deixo considerao (9) se poder haver um romantismo, uma esttica do neutro.

    No creio - tudo o que resta o fascnio pelas formas desrticas e indiferentes,

    atravs da prpria operao do sistema que nos anula. Ora, o fascnio (em

    oposio seduo (10) que se agarrava s aparncias (11), e razo dialctica

    que se agarrava ao sentido) uma paixo niilista por excelncia, a paixo prpria

    ao modo de desaparecimento. Estamos fascinados por todas as formas de

    desaparecimento, do nosso desaparecimento. Melanclicos e fascinados, tal a

    nossa situao geral numa era de transparncia involuntria.(pg. 196)

    9 - verbo deixar, bitransitivo na acepo de deixar algo a algum, requer preposio na regncia de seu objeto

    indireto feminino (considerao), some-se preposio "a" ao artigo "a", temos a crase.

    10 - oposio a algo, requer complemento nominal e preposio na regncia do seu complemento. Complementos

    femininos (seduo e razo dialtica), somem-se preposio "a" e artigo "a", temos a crase.

    11 - verbo agarrar, pronominal na acepo de prender-se, grudar-se, requer preposio na regncia de seu objeto

    indireto feminino (aparncias), some-se preposio "a" ao artigo "as", temos a crase. Antes da palavra masculina

    "sentido", proibida a crase.

  • O termo crase vem do grego e significa fuso: unio de duas vogais idnticas.Graficamente, a juno de "a" (preposio) com outro "a" (artigo ou pronomedemonstrativo) representada pelo acento grave.

    Casos:

    1. A preposio a + os artigos a, as:

    Exemplos:

    Prefiro o horrio corrido fixao de dois turnos.

    Referi-me s funcionrias do gabinete.

    2. A preposio a + os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo, a(s):

    Exemplos:

    Dirija-se quelas funcionrias de uniforme.

    Referi-me quilo que voc citou no despacho.

    Referi-me s que voc citou.

    Dicas importantes:

    Substitua a palavra feminina por uma masculina. Se ocorrer "ao" ou "aos" sinal de que h crase.

    Exemplos:

    Fui a audincia. (?)

    Fui ao salo plenrio.

    Correto: Fui audincia.

    Substitua o "a" por "para" ou "para a". Se ocorre "para a" sinal de que h crase.

    Exemplos:

    Reportou a histria a juza (?)

    Reportou a histria para a juza.

    Correto: reportou a histria juza.

    No esquea que s pode ocorrer crase diante de palavra feminina que admita o artigo "a" e que dependa de outrapalavra que exija a preposio "a", ou seja:

    a) Se o termo regente exige a preposio a:

  • Exemplo: Sou contrrio ideia de demisso do gerente.

    b) Se o termo regido aceita o artigo a/as: a palestra, chegar a

    Exemplo: Chegou atrasado palestra.

    Caso

    Uso obrigatrio

    (diga SIM)

    Uso proibido

    (diga NO)

    Uso facultativo

    (INDIFERENTE)

    Antes de palavras masculinas

    Quando estiverimplcito moda de:

    Mveis Lus 15;bacalhau Gomesde S.

    Quando subentendidotermo feminino:

    Vou [praa] JooMendes.

    Viver a seu bel-prazer;viajar a convite;escrito a lpis;traje a rigor;sesso a portasfechadas;passeio a p;sal a gosto;TV a cabo;barco a remo;carro a lcool;avio a jato etc.

    Antes de verbosVeio disposto acolaborar.

    De tratamento -senhora, senhorita edona:

    Dirigiu-se

    Antes da maior partedeles, inclusivepronomes detratamento:

    Pronomes possessivos:

    Enviou a carta (a)minha famlia, no (a)sua famlia.

  • Antes de pronomes senhorita Alice. Disse a ela que novir;nunca se refere avoc;dirigiu-se a V.Exrudemente.

    Antes de substantivo femininode sentido indefinido e o "a"vem antes de plural

    A juza no se referiua mulheres;no irei a festasnessa casa.

    Expresses formadas porpalavras repetidas

    Cara a cara;ponta a ponta;frente a frente;gota a gota.

    Depois de "para", "at","perante", "com", "contra"outras preposies

    O jogo est marcadopara as 16h;foi at a esquina;lutou contra asamericanas.

    Antes de cidades, Estados,pases

    Foi Itlia (voltouda Itlia).Chegou Paris dospoetas (voltou daParis dos poetas).

    Foi a Roma (voltou deRoma).Fez pssimasreferncias a Braslia.

    Locues de base feminina

    s vezes modas pressas primeira vista medida que noite custa de procura de beira de tarde vontades cegass escurass claras distncia (quandodeterminada), etc.

    A distncia (quandoesta no fordeterminada)

    Locues femininas demeio ou instrumento:

    vela/a vela; bala/a bala; vista/a vista; mo/a mo.

    Prefira crase quando forpreciso evitarambiguidade:

    Vendeu vista (pois novendeu os olhos, a vista).

    Aquele, aqueles, aquilo,aquela, aquelas

    Referiu-se quilo;Foi quelerestaurante;Dedicou-se quelatarefa.

    Com demonstrativo a

    A capitania deMinas Gerais estavaligada de SoPaulo;Falarei s quequiserem me ouvir.

    Na indicao de numeral dehora determinada

    A audincia ser s13h.

    Perante nomes femininos depessoas

    A convocao dirigiu-se (a) Maria.

  • Depois do termo "at"Iremos at (a) sessode julgamento.

    Com os termos "casa" e"terra"

    Se for determinada:

    Fui casa de meusnetos no mesmodia.Viajarei terra demeusantepassados.

    Fui a casa.Ao desembarcarmos,fomos direto a terra(terra no sentido deoposio a mar).

    Leia a entrevista com Jean Baudrillard, cujo livro inspirou os diretores da trilogia Matrix. Ao final,h referncia a o que ele pensava sobre o Brasil:

    clique para ler na ntegra a entrevista com Jean Baudrillard

    Mais dicas...

    Ana Paula Assuno Rodrigues servidora no TRT desde 1993 e atua como revisora de textos emgabinete. Graduada pela UnB em Letras e ps-graduada em Produo Textual, lecionou no Ensino Mdio eem cursinho pr-vestibular nas cadeiras de Literatura, Redao e Lngua Inglesa.

  • Dica 11 - Neologismo

    Clique na figura para ver mais desenhos de John Tenniel - 1820-1914 - feitos para Aventuras de Alice no Pas das Maravilhas (originais em preto e branco)

    O recurso indenizatrio tornou-se imexvel

    Onde est o erro nessa frase? Acertou quem apontou para o vocbulo "indenizatrio".

    Dialeticidade, juridiqus, inocorrer, inobstante, infraconstitucional, autoexecutoriedade, inexecutividade,infralegal, prefalado, contrarrazes, autoaplicvel, inincidncia, improver, inacolher, sobrenorma, sobredireito,investigatrio, indenizatrio, sucumbencial, logicirio, negocial, fiduciante, insuportabilidade, mensalo,internets, faturizao, insuportabilidade, locatcio, improvimento, invivvel, inexigir, improver, imerecer,inaplicar, induvidar, impagar, publicizar, inconciliar, sigilosidade... sabiam que nenhuma dessas palavras existe?Ou melhor dizendo, nenhuma foi catalogada e dicionarizada at o momento?

    A criao de palavras configura neologismo, que vem a ser o contrrio de arcasmo. Segundo AurlioBuarque de Holanda, "a palavra, frase ou expresso nova, ou palavra antiga com sentido novo". fenmeno lingustico legtimo, surge por necessidades variadas e de muitas maneiras, vejamos algumas:

    1 - Neologismo semntico - quando uma palavra j existente passa a ter nova conotao, novo significado:

    Exemplos:

    estou a fim de fulano (estou interessada);

    vou fazer um bico (trabalho provisrio).

    2 - Neologismo lexical - quando de fato a palavra nova e detm novo conceito:

    Exemplos:

    deletar (eliminar);

    juridiqus (linguagem do Direito).

  • 3 - Neologismo sinttico - combina elementos j existentes na lngua para criar um novo vocbulo, por esquema de

    derivao ou composio, entre outros:

    Exemplos:

    infralegal; indenizatrio; sucumbencial; dialeticidade; saudadear; desinquieto; desfeliz; avoamento.

    O processo neolgico exige duas condies:

    1. estruturao adequada em nosso idioma e

    2. ausncia de sinnimo em nossa lngua.

    Se no conveniente nem corretamente formado, o neologismo passa a ser barbarismo e a configurar vcio delinguagem.

    Para se conferir se determinado vocbulo existe oficialmente na lngua (e no s na nossa imaginao),devemos consultar dicionrios e, especialmente, o VOLP - Vocabulrio Ortogrfico da LnguaPortuguesa, catlogo de toda a lngua Portuguesa que detm a palavra oficial e final sobre a matria,disponvel em http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23.

    Curiosidades:

    "imexvel", neologismo expressado pelo ex-ministro Magri nos idos de 1991, agora palavra oficial, consta do VOLP e de dicionrios em geral; exemplo, pois, delegitimao pelo uso dos falantes em geral e, por ter passado pelo correto processo deformao de palavras de nossa lngua, chegou a ser dicionarizado.

    Reparem que os verbos criados so em sua maioria pertencentes 1 desinncia (final em AR).

    O verbo elencar j consta do VOLP e do dicionrio Houaiss, mas ainda no aparece no Aurlio!

    O VOLP excepcionou o termo improvido como adjetivo (como verbo, no). Pode-se redigir, ento, "orecurso foi improvido" - adjetivo, mas no "o juiz havia improvido o recurso" - verbo .

    Vejamos indagao Academia Brasileira de Letras, guardi da lngua e instituto que elabora o VOLP, e suarespectiva resposta em duas ocasies diferentes a respeito do tema:

    ABL RESPONDE

    "Pergunta : Por favor, por que no encontro o termo jurdico "contrarrazes" no VOLP? termo largamente utilizado aqui no tribunal onde trabalho e sempre acreditei que o VOLPregistra todos os vocbulos da Lngua Portuguesa! Obrigada

  • Resposta : Prezada consulente, embora o VOLP procure registrar o maior nmero possvel depalavras, no h como registrar todos os vocbulos possveis de serem formados na lnguaportuguesa. Est para sair a 6 edio do VOLP com a incluso de novos termos e algumasoutras atualizaes. Enviaremos sua sugesto para a equipe de Lexicografia, da ABL,responsvel pela elaborao do VOLP. Pode utilizar a palavra contrarrazo."

    "Pergunta : Bom dia, Trabalho em um tribunal onde se usam os termos autoexecutoriedade einexecutividade, mas noto que ambos no so registrados nem no VOLP nem em dicionrios.Como podem ser substitudos, ou por serem termos tcnicos, se tornam neologismos quepodem ser empregados? Obrigada, Ana Paula

    Resposta : Prezada consulente: Em certas reas do saber ou da esfera do trabalho, algumaspalavras passam a circular de modo corriqueiro, sem que antes tenha sido registrada emdicionrios. So os chamados neologismos tcnicos que, muitas vezes, ganham amplitude e seconsolidam. O VOLP, de fato, no registra os termos autoexecutoriedade e 'inexecutividade'.Seu uso no proibitivo, mas recomenda-se a sinalizao de que se trata de um neologismo,com uso de aspas, por exemplo. Atente-se, porm, para o processo de formao do segundotermo, j que o primeiro, sem dvida, est dentro do padro formativo do portugus. Osegundo termo seria derivado de inexecutvel ? Se for derivado desse adjetivo, a melhorformao ser 'inexecutabilidade' e no 'inexecutividade'."

    Criatividade profcua tem hora e lugar; quanto ao ambiente do Tribunal, o uso da linguagem padro no deixaespao para intervenes lingusticas dos falantes. No entanto, sabemos que h termos com significadotcnico no abrangido por outro vocbulo e se torna de grande utilidade e necessidade us-los, mesmo sendoneologismo, por no terem sinnimos e serem criados para preencher lacunas no vocabulrio. O uso e ocostume acabam por trazer formalidade um termo antes relegado informalidade, mas nem sempre.

    Sugere-se, ento, que se lance mo apenas daqueles neologismos estritamente necessrios por no haversubstituto; atente-se, porm, para termos como "inobstante", que devem ser trocados por outros legitimadose de igual teor: "nada obstante", "no obstante".

    Enfim, sempre que possvel e no houver mcula no significado estrito que se quer empregar, devemosprocurar equivalentes para termos no dicionarizados, uma vez que redigimos em um ambiente que exige oregistro da norma culta para um mundo real e prtico; se no, pode parecer que estamos no mundo de Alice,escrevendo na lngua do Jabberwocky.

    O poema intitulado Jabberwocky, considerado nonsense (em verdade, com muito sentido), de Lewis Carrol emseu texto Atravs do Espelho, continuao de Aventuras de Alice, rendeu ao menos 7 verses variadas emLngua Portuguesa.

    Elaboradas por tradutores que tentaram criar neologismos em nossa lngua que provocassem efeitosemelhante aos originais (Carrol amava neologismo), a verso mais conhecida e fiel a do nosso poetaconcretista Augusto de Campos.

    A primazia era pela sonoridade, um poema para se ler em voz alta e pelos sons provocar as sensaes debrincadeira de criana e aventura contra um monstro gigante e ameaador. As palavras, mesmo inexistentes,porque frutos de processo neolgico, so inteligveis pelo contexto e sonoridade, at porque algo dito commuita excitao no faz sentido primeira vista:

  • Desenho de John Tenniel para Atravs do Espelho, lanado em 1871

    Conhea algumas verses de JABBERWOCKY em Portugus e a verso original(CLIQUE PARA ABRIR)

  • Coelho, por John Tenniel

    Ana Paula Assuno Rodrigues servidora no TRT desde 1993 e atua como revisora de textos emgabinete. Graduada pela UnB em Letras e ps-graduada em Produo Textual, lecionou no Ensino Mdio eem cursinho pr-vestibular nas cadeiras de Literatura, Redao e Lngua Inglesa.

  • Mais dicas...

  • Dica 12 - Uso da vrgula - parte I

    Trailer do filme em 3D "Pina", 2011, de Win Wenders

  • Imagem de divulgao da Copa do Mundo de Futebol 2014 no Brasil / Neuroprtese, "veste robtica" para vtimas de paralisia

    O que pode haver em comum entre o filme Pina, o cartaz da FIFA e a imagem daneuroprtese?

    Miguel Nicolelis!

    O cientista brasileiro mais importante atualmente tem a msica como assunto inicial de seu livro Muito Almdo Nosso Eu. Em boa parte de todo o texto discorre sobre como as sensaes desse contato musicalinusitado influenciaram sua carreira e suas pesquisas neurocientficas, inclusive aquelas sobre resgate domovimento de pessoas com paralisia grave. Ser um adolescente tetraplgico que dever usar a "vesterobtica" concebida por Nicolelis no jogo inicial da Copa do Mundo em 2014.

    Neurocientista de envergadura internacional, cotado para o Nobel desde 2009, pioneiro e descobridor dadenominada "nova cincia do crebro", seu trabalho tambm o credencia como humanista. Engajadosocialmente, suas pesquisas tm alcance no apenas clnico para vasto campo de enfermidades - o que jseria timo - mas tambm social - as crianas do Rio Grande do Norte que o digam (Da pedra lascada veste robtica: tecnologia a extenso do nosso ser).

    Pina Bausch, bailarina alem, revolucionria da dana, considerada uma das coregrafas maisimportantes do sculo XX. Disse quanto a seu trabalho: "O que me interessa no como as pessoas semovem, mas sim o que as move (Pina Bausch: tudo dana).

    A essncia da dana o corpo em movimento, mas no apenas, h de haver muitas conexes importantespara se criar uma coreografia. tambm expresso dos sentimentos, ideias e imagens. O filme-documentrio de Win Wenders sobre uma artista completa, que transcendeu a dana, teve capacidade detornar o ser humano e o bailarino transparentes: quem dana a alma, o que vai por dentro, no sentimentoe organicidade. Com sua companhia de dana, Pina captava tudo como uma fotgrafa e traduzia emmovimento, artes plsticas, cinema, teatro. Danava a dor, a solido, com intensidade e delicadeza.

    No filme, que foi exibido nos cinemas de Braslia em 2012 em 3D, vemos as cores da Alemanha, diferentes

  • das nossas, e dores e solides tambm outras. Mostra como sua obra reflete contrastes dos sentimentoshumanos, o que organiza e desorganiza - o vil e o sublime, o dio e o amor. Seus bailarinos apresentamtcnica precisa, apurada, mesmo no sendo esse o foco das coreografias.

    Com abordagens diferentes, mas ambos ligados ao movimento em sua concepo mais profunda - Pina, nombito dos sentidos e dos sentimentos e de suas conexes para se danar; Nicolelis, no mbito dasconexes cerebrais que geram energia bidirecional - essas duas personalidades vm a este espaoenriquecer o tema "uso da vrgula", trao indicativo de pausa no movimento lgico da estrutura frasal (e noda fala!).

    Acessem matrias sobre eles e seus trabalhos por meio dos endereos eletrnicos indicados ao finale aguardemos a chance de observar o funcionamento da neuroprtese na Copa do Mundo em 2014!

    Por ora, vejamos o uso da vrgula nos seguintes trechos do livro do nosso cientista (NICOLELIS, Miguel.Muito alm do nosso eu: a nova neurocincia que une crebros e mquinas e como ela pode mudarnossas vidas. 1 ed. So Paulo: Companhia das letras, 2011) :

    "Perplexo. S assim eu poderia descrever meu estado ao detectar a primeira rajada de arpejos deviolinos que,(1) ricocheteando nas sisudas paredes de mrmore,(2) expandiu-se pelas elegantesescadas que ligam o segundo andar ao trio de entrada do prdio da Faculdade de Medicina daUniversidade de So Paulo (FMUSP). Diante de tal assombrao sonora,(3) minha nica reao foiexibir um espanto paralisante. Afinal,(4) nenhum estudante de medicina est preparado paraenfrentar o absurdo da situao que se apresentou naquela at ento tranquila noite de planto.Pois,(5) durante um breve interldio na rotina dantesca de um dos mais concorridos prontos-socorros do planeta,(6) o Pronto-Socorro do Hospital das Clnicas da FMUSP,(7) sem saber nemcomo nem por qu,(8) de repente me encontrei imerso nos primeiros acordes de um inebrianteconcerto que rapidamente preencheu todos os espaos ao meu redor.

    [...]

    Ainda em choque por tudo aquilo a que eu havia sido exposto pela primeira vez,(9) s me ocorreuperguntar: 'Mas o que eu preciso fazer para encontrar essa outra classe?'

    Sorrindo,(10) enquanto gentilmente abria a porta do auditrio,(11) dr. Csar Timo-Iaria deu oprimeiro conselho ao aprendiz para toda a vida que ele acabara de recrutar com tanta maestria:'Basta seguir a msica!'. " (pgs. 11 e 17).

    (1) Vrgula obrigatria, marca incio da orao intercalada;

    (2) Vrgula obrigatria, marca final da orao intercalada;

    (3) Vrgula obrigatria, marca frase invertida, fora da ordem direta;

    (4) Vrgula obrigatria, destaca expresso explanatria;

    (5) Vrgula obrigatria, marca incio da orao intercalada;

    (6) Vrgula obrigatria, marca final da orao intercalada e isola aposto;

    (7) Vrgula obrigatria, isola o aposto;

  • (8) Vrgula obrigatria, marca frase invertida, fora da ordem direta;

    (9) Vrgula obrigatria, marca frase invertida;

    (10) Vrgula obrigatria, separa oraes coordenadas;

    (11) Vrgula obrigatria, marca frase invertida, fora da ordem direta;

    Um consrcio cientfico internacional,(12) o The Walk Again Project (Projeto andar Novamente),(13)

    que ajudei a fundar,(14) oferece uma primeira imagem desse futuro. Concebido alguns anos depoisque Belle e Aurora demonstraram a possibilidade de conectar tecido nervoso vivo com ferramentasartificiais,(15) o projeto tem como objetivo desenvolver e implementar a primeira ICM capaz derestaurar a mobilidade corporal completa em pacientes vtimas de graus severos de paralisia. (pg.471).

    (12) Vrgula obrigatria, isola o aposto;

    (13) Vrgula obrigatria, demarca incio da orao adjetiva explicativa;

    (14) Vrgula obrigatria, demarca final da orao adjetiva explicativa;

    (15) Vrgula obrigatria, separa oraes coordenadas sindticas;

    Nesta dica, estudaremos os casos de vrgula obrigatria, facultativa e proibida. Na segunda parte, em umaprxima dica, os casos especiais.

    Desfazendo mitos

    Antes de mais nada, preciso desmistificar a cultura de que vrgula pausa pura esimplesmente.Tampouco corresponde respirao ou fala (o que seria dos asmticos e dos gagos?).Tambm no "questo de ouvido".

    Deve-se evitar a viso simplista de que a vrgula serve para marcar as pausas da fala. A vrgula obedece acritrios sintticos, ou seja, necessita-se ter conhecimento estrutural da lngua para no separar o que sintaticamente ligado, como estudaremos adiante. A fala objeto de estudo da prosdia, no da sintaxe.

    Certamente desenvolve-se bom conhecimento da estrutura da lngua ao lermos textos bem escritos, debons autores. No preciso conhecer profundamente a sintaxe, saber fazer anlise sintticaminuciosamente: a intuio lingustica/competncia lingustica desenvolve-se pela leitura, mas, quandoequvocos permanecem, faz-se necessrio estudar algumas regras.

  • Celso Pedro Luft esclarece essa problemtica e, por oportuno, transcrevo trecho de seu livro A vrgula(LUFT, Celso Pedro. A vrgula.2 ed. So Paulo: tica, 2007) : A nossa pontuao - a pontuao emlngua portuguesa obedece a critrios sintticos, e no prosdicos. Sempre importante lembrarisso a todos aqueles que escrevem, para que se previnam contra bisonhas vrgulas de ouvido. Ensinam asgramticas que cada vrgula corresponde a uma pausa mas que nem a toda pausa corresponde umavrgula. Essa ligao entre pausa e virgula deve ser a responsvel pela maioria dos erros de pontuao. Epenso que est mais do que na hora de desligar a duas coisas." (pg. 7).

    No adianta ler em voz alta e pr uma vrgula onde se pausa a fala porque muitas vezes ela no coincidircom as regras de virgulao e pode-se acabar at com o significado correto de um trecho. A ordem diretade uma frase, normalmente sujeito + verbo + complemento, no admite vrgula, pois este sinal depontuao existe justamente para demonstrar "falta ou quebra de ligao sinttica (regente+regido,determinado+determinante) no interior das frases". (pg. 9).

    Vrgula obrigatria

    a- Separar elementos de uma enumerao. Ex: A audincia foi longa, entediante, desnecessria;

    b- Isolar o aposto. Ex: Dad Squarisi, autora das dicas do Correio Braziliense, festejada em todas assuas publicaes;

    c- Isolar o vocativo. Ex: Excelncia, peo vnia para minha declarao;

    d- Indicar inverso ou intercalao de algum elemento da frase, fazendo-a sair da ordem direta. Ex:No incio da sesso, os advogados entregaram os memoriais;

    e- Indicar a supresso do verbo. Ex: Antes das frias, mutiro no gabinete para entregarmos todos osprocessos.

    f- Isolar termos pleonsticos ou repetidos. Ex: Na presena dos jornalistas, o ministro calou-se, calou-se quanto ao tema.

    g- Destacar as expresses explanatrias ou corretivas. Ex: O preposto falhou, isto , no esclareceuaspectos fundamentais.

    Vrgula optativa

    Se a intercalao ou inverso se der com uma s palavra ou com expresso curta, as vrgulas quemarcam tal ocorrncia acabam sendo optativas. Ex: Com tranquilidade, o reclamante falava sobretudo; Com tranquilidade o reclamante falava sobre tudo; O reclamante, com tranquilidade, falavasobre tudo;

    Observe-se que, quando houver intercalao com vrgula optativa, ou se usam ambas as vrgulas, ouno se usa nenhuma delas. Ento, ser errado escrever "o reclamante, com tranquilidade falava sobretudo".

    Vrgula proibida

    a - Entre sujeito e verbo. Ex: O juiz determinou nova audincia;

    b - Entre verbo e objeto direto. Ex: O juiz determinou nova audincia;

  • c - Entre verbo e objeto indireto. Ex: O juiz precisou de mais tempo para decidir;

    d - Entre verbo e predicativo. Ex: A audincia foi longa;

    e - Entre verbo e agente da passiva. Ex: Uma nova audincia foi determinada pelo juiz;

    f - Entre o adjunto adnominal e o substantivo ao qual se refere. Ex: A defesa da r gerou revolta;

    g - Entre o complemento nominal e o vocbulo por ele completado. Ex: A defesa contra as acusaesgerou revolta;

    h - Por raciocnio lgico, tambm no se usar vrgula entre as oraes principais e aquelas queexeram funes sintticas de sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo do sujeito ecomplemento nominal.

    i - Quanto inverso entre os termos da orao, h exceo: a posposio do sujeito ao verbo novem sinalizada pela vrgula. Ex: No acarretar sanes o comportamento da recorrida nestes autos;

    A matria de capa da edio de setembro de 2008 da Revista Scientific American jtrazia a imagem da "veste robtica" a ser usada na abertura dos jogos da Copa de

    2014

    Nesse artigo, Miguel Nicolelis discute a rpida evoluo da pesquisa em interfaces crebro-mquina na ltima dcada e as perspectivas para que a abertura da Copa do Mundo no Brasilem 2014 possa servir como palco de uma demonstrao do potencial de impacto dessatecnologia no futuro da reabilitao de pacientes portadores de paralisia corprea grave

  • (Artigo: Mind Motion).

    Matrias em linguagem acessvel ao pblico leigo, mas interessado, disponveis na internet sobre MiguelNicolelis e sobre Pina Bausch em:

    - Instituto Internacional de Neurocincia de Natal

    - Nosso Nobel

    - Pesquisa de Miguel Nicolelis d a largada para criar 'internet cerebral'

    - Miguel Nicolelis, a mente brilhante da cincia brasileira

    - Samsung quer desenvolver tablets controlados por pensamento

    - Cientistas desenvolvem prtese wireless que funciona com a fora dopensamento

    - Pina Bausch: tudo dana

    - Bailarina brasileira da companhia de Pina Bausch fala sobre o filme

    Ana Paula Assuno Rodrigues servidora no TRT desde 1993 e atua como revisora de textos emgabinete. Graduada pela UnB em Letras e ps-graduada em Produo Textual, lecionou no Ensino Mdio eem cursinho pr-vestibular nas cadeiras de Literatura, Redao e Lngua Inglesa.

  • Mais dicas...

  • Dica 13 - Uso da vrgula - parte II

    Ilustrao inspirada na obra de Erico Verissimo, em O tempo e o vento 50 anos

    Tom Jobim foi um mestre na harmonia e considerado um gnio brasileiro. Arquitetou solidamente sua obracom uma sofisticao natural, extrema elegncia, som claro e lmpido, em imensa estrutura harmnica. Aomesmo tempo, foi popular, tanto que emprestou suas canes a temas musicais de programas televisivos, equando o vamos na tela da TV, podamos reconhecer um quase tpico homem brasileiro - maisprecisamente, carioca -, afvel, sorridente, bem humorado.

    A harmonia se tem na construo e no encadeamento de acordes, que, por sua vez, sustentam as melodias.Nas composies de Tom, percebemos o mnimo de notas, sem rebuscamentos suprfluos, o que limpa osom que chega aos nossos ouvidos - meldico, direto, claro, facilmente assimilvel, aparentemente simples,mesmo no o sendo em sua essncia.

    Excelente letrista tambm, temos nesta dica a presena de sua msica "Passarim" (aperte o play abaixopara ouvi-la), emprestada para a minissrie feita em adaptao da obra "O Tempo e o Vento", do escritorrico Verssimo.

    Msica "Passarim", de Tom Jobim

    Em Verssimo (sim, ele o pai de Lus Fernando Verssimo, tambm escritor de sucesso), temos outrobrasileiro notvel. Pertencente ao Modernismo, da fase regionalista do movimento - quando temos autoresque se concentram em temas nordestinos (Graciliano Ramos, Guimares Rosa e Jos Lins do Rego) - oautor do pico "O Tempo e o Vento" elaborou uma das obras mais importantes da literatura nacional comfoco na regio sul do pas.

    A obra composta de trs romances, cada um deles em mais de um volume ou tomo: "O Continente", "ORetrato" e "O Arquiplago", dos quais constam 200 anos do processo de formao do estado do Rio Grandedo Sul, num enredo que mescla fico e fato - histria do Brasil, de 1745 a 1945, tempos marcados pelo

  • poder das oligarquias, por conflitos internos e por guerras de fronteira, a recontar a formao deste pas.

    Provavelmente todos j conhecem o capito Rodrigo, a Ana Terra, ou algum outro personagem marcante daobra, seja pela minissrie, seja por ter lido alguma parte dessa grandiosa epopeia nos tempos de escola.Interessante que todo o processo de finalizar essa trilogia levou o escritor ao esgotamento, como ele mesmodisse:

    "Nessa aceitao vejo hoje um sinal de minha hesitao quanto ltima parte de O Tempo e o Vento.No fundo, essa ida para os Estados Unidos foi uma espcie de fuga dos fantasmas, problemas edificuldades que me esperavam atocaiados nesse novo livro", confessou rico em uma entrevista Revista do Globo em 1961, depois da publicao, afinal, do primeiro tomo de O Arquiplago.

    Premido, entre outras coisas, pelo prprio "aprecivel sentimento de culpa" infundido pela trilogiainconclusa e pela dificuldade de escrever aquele que deveria ser seu romance mais franco, em suaprpria opinio, Erico foi derrubado pelo estresse e teve seu primeiro infarto, em maro de 1961, o quepoderia ter atrasado ainda mais a concluso da obra.

    Em 2012, tivemos o cinquentenrio de publicao da obra completa. Vejam no caderno especial do ZEROHORA excelente matria, com documentrios, entrevistas, gravuras e tudo o mais a que se tem direito porse tratar de to valioso legado: O Tempo e o Vento - 50 anos.

    A boa nova que teremos no segundo semestre de 2013 o lanamento do filme homnimo O Tempo e oVento, com direo de Jayme Monjardim, com os atores Thiago Lacerda, Marjorie Estiano, FernandaMontenegro, Clo Pires, Mayana Moura, entre outros. Confiram ao final o trailler do filme.

    A partir deste ponto, vejamos os casos especiais para o uso da vrgula:

    Reza a lenda qu