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1 1 APRESENTAÇÃO A Amazônia brasileira, assim como toda a região da chamada Pan- Amazônia (que, além do Brasil, engloba Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname), tem sido alvo de uma série de pressões impostas pela conjuntura latino-americana e mundial, que, por um lado, tenta integrá-la na estrutura da divisão internacional do trabalho (como fornecedora de matérias-primas, energia, commodities etc), mas por outro também lhe exige que se poste como fornecedora de estoques mundiais de carbono e de recursos genéticos com potencial biotecnológico. Isto faz com que interesses externos, muitas vezes conflitantes e ambivalentes, imponham aos povos da Amazônia ora “grandes projetos” que, mediante enormes impactos socioambientais, forneçam ao mercado mundial os insumos e matérias-primas que este exige incessantemente; ora a aplicação de um preservacionismo tão sectário e anti-social que acaba se tornando uma verdadeira arma contra os povos da região. Como se percebe, ambos os projetos representam interesses que não são aqueles que historicamente cabem ao povo que vive, estuda, trabalha, enfim, se reproduz socialmente enquanto sujeitos amazônidas. Apesar disso, é a tensão (ou, por vezes, a conciliação) destes projetos que se impõem à realidade e ao povo da região, que são submetidos, por certos olhares preconceituosos externos, à construção ideológica de mitos e de imagens que, longe de reproduzir a realidade regional, apenas fazem reforçar estes projetos impostos aos povos da Amazônia. O projeto de integração da Amazônia ao mercado mundial é, sem dúvida alguma, mais antigo e mais desenvolvido que o outro referido projeto externo para a região. Dentro dele se encontra a política de “desenvolvimento” 1 da região, os grandes projetos minerais, as (freqüentemente ilegais) atividades de extração de madeira, além do intenso processo de consolidação da agropecuária na região. 1 O termo desenvolvimento é apresentado neste contexto da economia amazônica entre aspas, pois, conforme explica LEAL, trata-se muito mais de um instrumento ideológico a partir do qual o imperialismo estadunidense lograva manter seus blocos de influência regional, que propriamente um projeto político-econômico de maior substância material. LEAL, Aluízio Lins. Uma sinopse histórica da Amazônia. São Paulo: 1991. (mimeo.).

Diego Augusto Diehl - Qualificação

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1 APRESENTAÇÃO

A Amazônia brasileira, assim como toda a região da chamada Pan-

Amazônia (que, além do Brasil, engloba Bolívia, Peru, Colômbia, Equador,

Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname), tem sido alvo de uma série

de pressões impostas pela conjuntura latino-americana e mundial, que, por um

lado, tenta integrá-la na estrutura da divisão internacional do trabalho (como

fornecedora de matérias-primas, energia, commodities etc), mas por outro

também lhe exige que se poste como fornecedora de estoques mundiais de

carbono e de recursos genéticos com potencial biotecnológico.

Isto faz com que interesses externos, muitas vezes conflitantes e

ambivalentes, imponham aos povos da Amazônia ora “grandes projetos” que,

mediante enormes impactos socioambientais, forneçam ao mercado mundial os

insumos e matérias-primas que este exige incessantemente; ora a aplicação de

um preservacionismo tão sectário e anti-social que acaba se tornando uma

verdadeira arma contra os povos da região.

Como se percebe, ambos os projetos representam interesses que não

são aqueles que historicamente cabem ao povo que vive, estuda, trabalha,

enfim, se reproduz socialmente enquanto sujeitos amazônidas. Apesar disso, é

a tensão (ou, por vezes, a conciliação) destes projetos que se impõem à

realidade e ao povo da região, que são submetidos, por certos olhares

preconceituosos externos, à construção ideológica de mitos e de imagens que,

longe de reproduzir a realidade regional, apenas fazem reforçar estes projetos

impostos aos povos da Amazônia.

O projeto de integração da Amazônia ao mercado mundial é, sem dúvida

alguma, mais antigo e mais desenvolvido que o outro referido projeto externo

para a região. Dentro dele se encontra a política de “desenvolvimento”1 da

região, os grandes projetos minerais, as (freqüentemente ilegais) atividades de

extração de madeira, além do intenso processo de consolidação da

agropecuária na região.

1 O termo desenvolvimento é apresentado neste contexto da economia amazônica entre aspas, pois, conforme explica LEAL, trata-se muito mais de um instrumento ideológico a partir do qual o imperialismo estadunidense lograva manter seus blocos de influência regional, que propriamente um projeto político-econômico de maior substância material. LEAL, Aluízio Lins. Uma sinopse histórica da Amazônia. São Paulo: 1991. (mimeo.).

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2

Como reflexos deste projeto, a Amazônia passou a debater-se com as

contradições geradas pela expansão da chamada “fronteira agrícola”2, que traz

consigo importantes impactos socioambientais, dentre os quais ressalta-se a

produção do denominado “arco do desmatamento”3, que impõe um verdadeiro

cerco à floresta, e que tem avançado sobre ela rapidamente nos últimos anos.

Os impactos socioambientais decorrentes do avanço da fronteira

agrícola e da grande agricultura capitalista na Amazônia já foram objeto de

uma série de estudos, produzindo um monitoramento constante do avanço do

agronegócio na região, especialmente no que tange à produção de grãos para

exportação. O elemento novo neste processo, que o presente projeto de

pesquisa pretende analisar, é que, com a recente disponibilização no mercado

brasileiro de sementes de cultivares transgênicas, surge um novo patamar de

conflitos socioambientais, especialmente quando se trata da produção de

cultivos geneticamente modificados dentro do ecossistema amazônico.

A partir da perspectiva do socioambientalismo proposto por SANTILLI4,

intenta-se responder aos conflitos e às contradições geradas pela introdução

deste tipo de biotecnologia na grande agricultura capitalista na Amazônia

desde a perspectiva dos próprios povos da Amazônia, unindo a visão dos

movimentos populares5 com a visão dos movimentos ambientalistas que não

se deixam seduzir pelo ambientalismo imperialista, que é justamente aquele

outro projeto externo imposto à região citado anteriormente.

2 JUSTIFICATIVA:

* As polêmicas em torno dos transgênicos e de sua introdução no Brasil

2 O termo “fronteira agrícola” é utilizado no presente trabalho sob a perspectiva popularmente disseminada, referente às áreas limítrofes entre a floresta amazônica e áreas de atividade econômica mais intensa, como a introdução de pastagens, lavouras etc. 3 Segundo relatório da Casa Civil da Presidência da República, “a maior parte do desmatamento na região tem se concentrado ao longo de um ‘Arco’ que se estende entre o sudeste do Maranhão, o norte do Tocantins, sul do Pará, norte de Mato Grosso, Rondônia, sul do Amazonas e o sudeste do Acre”. BRASIL, Grupo Permanente De Trabalho Interministerial para a Redução dos Índices de Desmatamento da Amazônia Legal. Plano de ação para a prevenção e controle do desmatamento na Amazônia legal. Disponível em <www.planalto.gov.br/casacivil/desmat.pdf>. Acesso em 24/03/2010. 4 SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e novos direitos: proteção jurídica à diversidade biológica e cultural. São Paulo: Peirópolis, 2005. 5 Utiliza-se neste trabalho o termo “movimento popular” ao invés de “movimento social”, por acreditar que aquele primeiro termo contempla de forma mais rigorosa os grupos sociais que se pretende analisar.

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3

Apesar de historicamente os organismos geneticamente modificados

(OGMs) – popularmente conhecidos como transgênicos – serem relativamente

recentes, ao longo deste período já sucederam vários debates, polêmicas e

conflitos envolvendo este novo tipo de tecnologia aplicado à agricultura. Longe

de se limitar a uma discussão entre cientistas (que dificilmente chegam a

consensos quanto à segurança das técnicas de engenharia genética, seja para

o meio ambiente, seja para a saúde humana), este assunto toma conta dos

mais diversos setores da sociedade, hegemonizados pela disputa entre

grandes empresas de biotecnologia e movimentos populares críticos à

introdução desses organismos no meio ambiente.

Atualmente, há alguns países que adotam a política de moratória aos

transgênicos, ora restringindo-a apenas à importação de OGMs (proibindo o

seu cultivo), ora proibindo até mesmo a entrada de sementes e produtos

transgênicos provenientes de outros países. O fundamento para tais medidas,

em todos os casos relatados, é a falta de estudos conclusivos quanto à

segurança sanitária e ambiental destes organismos geneticamente

modificados.

No Brasil não há este tipo de proibição. Pelo contrário, após uma série

de disputas e conflitos, que envolveram desde o contrabando de sementes

transgênicas de outros países até uma série de batalhas judiciais, o resultado

histórico foi a construção de um sistema jurídico que não apenas permite a

produção e comercialização de transgênicos, como confere às grandes

empresas de biotecnologia a segurança jurídica necessária para a

intensificação de suas atividades (a partir da edificação, entre 1996 e 1998, de

uma série de leis que regulamentam a propriedade intelectual no Brasil) 6.

A permissão que o Estado brasileiro confere às empresas de

biotecnologia para a comercialização e o cultivo de sementes transgênicas é

condicionada a um procedimento administrativo que teria por função fiscalizar a

biossegurança destes OGMs, seja para a saúde humana, seja para o meio

ambiente em geral. Ocorre que, na prática, o órgão administrativo responsável

por esta fiscalização – a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança

6 Leis federais nº 9.279/96 (Marcas e Patentes), nº 9.456/97 (Cultivares), nº 9.609/98 (Software), e nº 9.610/98 (Direitos Autorais).

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4

(CTNBio) – além de não deter a estrutura suficiente para realizar

adequadamente as atividades de fiscalização, tem atuado de forma

absolutamente irresponsável no controle e análise de riscos, e na edição de

normas administrativas que visem garantir a coexistência entre espécies e a

ausência de impactos ambientais.

“Não sejamos ingênuos, a CTNBio foi criada no âmbito do Ministério da Ciência e Tecnologia, para evitar que este anacronismo de funcionários públicos honestos & zelosos, facilmente encontráveis nos ministérios da saúde, agricultura, meio ambiente, tradicionalmente fiscais, que sabem o que é Estado Nacional e suas funções, não entravem os interesses comerciais das empresas transnacionais, na nova realidade da Ordem Internacional, onde o Estado não se intromete no mercado”7.

Não é a toa, portanto, que o Brasil é um dos principais mercados

consumidores de produtos da MONSANTO, que é atualmente a maior empresa

de biotecnologia do mundo, e foi eleita pela revista FORBES como a “melhor

empresa do ano de 2009”8. Seu lucro estimado, apenas com suas operações

no Brasil, é de cerca de U$750 milhões ao ano, a partir da cobrança de

royalties referentes às suas sementes patenteadas, e, além disso, da venda de

produtos químicos dentre os quais se destaca o herbicida glifosato, cuja

aplicação pelos agricultores só fez aumentar a partir da utilização da soja

transgênica9.

É certo que as operações da MONSANTO, e também de outras

empresas de biotecnologia no Brasil (Syngenta, Bayer, BASF, DUPONT, ADM

etc) inicialmente se concentraram nas regiões onde o cultivo em grande escala

de grãos já estava há mais tempo consolidado (inicialmente Rio Grande do Sul,

quando a soja transgênica ainda era ilegal; posteriormente, também Santa

Catarina, Paraná e São Paulo), porém rapidamente suas operações comerciais

foram expandidas para outras regiões do país. Atualmente, a MONSANTO

possui atividades oficiais em 11 estados brasileiros, com 2 unidades industriais,

7 PINHEIRO, Sebastião. Transgênicos: qualidade ou contaminação? In.: GÖRGEN, Sérgio Antônio (org.). Riscos dos transgênicos. Petrópolis: Vozes, 2000. P. 76. 8 FORBES. The planet versus Monsanto. Disponível em: <http://www.forbes.com/forbes/2010/0118/americas-best-company-10-gmos-dupont-planet-versus-monsanto.html>. Acesso em 20/03/2010. 9 Conforme dados citados por ANDRIOLI, Antônio Inácio e FUCHS, Richard (org.). Transgênicos: as sementes do mal – a silenciosa contaminação de solos e alimentos. Tradução de Ulrich Dressel. São Paulo: Expressão Popular, 2008.

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5

3 escritórios, 5 escritórios regionais de vendas e 12 unidades de pesquisa,

armazenagem e processamento de sementes10. Além disso, a empresa

estadunidense tem uma agressiva política de distribuição de sementes junto a

vendedoras parceiras, além de esquemas de cobrança de royalties que

ocorrem seja nos pontos de venda de sementes, seja nos pontos de

escoamento da produção.

* A introdução dos transgênicos na Amazônia

Com o avanço da fronteira agrícola do cerrado brasileiro em direção ao

ecossistema amazônico, não são apenas as contradições inerentes ao grande

agronegócio que são transplantadas à Amazônia, mas também a introdução da

lavoura transgênica contribui para a ampliação dos impactos sócio-ambientais

inerentes a esse processo. Ademais, devido às recentes liberações comerciais

de uma série de variedades transgênicas (até o presente momento

concentradas à soja, milho e algodão), está em curso atualmente um rápido

processo de disseminação da oferta de sementes transgênicas aos produtores,

inclusive em algumas áreas de expansão mais intensa da fronteira agrícola na

Amazônia, como as regiões de Paragominas e da rodovia Cuiabá-Santarém.

A tabela abaixo remete-se a dados coletados pela Secretaria de

Estado de Agricultura do Pará (SAGRI-PA), que destaca os principais

municípios produtores de soja no Estado em 200811:

10 MONSANTO. Onde estamos. Disponível em: <http://www.monsanto.com.br/institucional/monsanto-no-brasil/onde-estamos/onde-estamos.asp>. Acesso em 17/03/2010. 11 SAGRI-PA, Secretaria de Estado de Agricultura do Pará. Produção de Soja por município de 2003 até 2008. Disponível em: <http://www.sagri.pa.gov.br/sites/default/files/Evol_Prod_Soja_por_municipio_2003_a_2008.xls>. Acesso em 19/03/2010.

BELTERRA 40.500

SANTARÉM 46.575

NOVO PROGRESSO 3.000

TOTAL (toneladas) 90.075

PARAGOMINAS 35.160

DOM ELISEU 20.160

ULIANÓPOLIS 15.950

TOTAL (toneladas) 71.270

Page 6: Diego Augusto Diehl - Qualificação

6

Percebe-se que, das 3 (três) grandes regiões de expansão da soja no

Estado do Pará (Nordeste, Sul-Sudeste e Oeste), a maior produção encontra-

se nas regiões de Paragominas e de Santarém. Não obstante tratar-se de

regiões com características distintas (tanto em termos de histórico de ocupação

como em termos de características da população que vive nelas), o processo

de expansão do agronegócio (e em especial a produção de grãos, como soja e

milho) em ambos os casos remete-se ao mesmo período, que inicia em

meados da década de 1980, desenvolve-se ao longo da década de 1990 e se

consolida já no início dos anos 2000.

Ao contrário do que se possa imaginar, o fato de o agronegócio da

soja na Amazônia envolver o grande capital agrícola (além da participação

associada de capitais financeiros conferidos por grandes bancos, como o

BASA e o BNDES), o processo de introdução dos monocultivos de soja está

bem longe de uma visão “idílica” ou bem “organizada”. Pelo contrário, ela se

configura como um elemento adicional de pressão sobre os conflitos que se

sucedem na região, cuja conseqüência prática é o fato de o Pará ser

considerado o Estado com mais conflitos no campo em todo o Brasil, segundo

dados da FASE12.

Do ponto de vista social, procurei uma palavra mais leve porém não achei: do jeito que está vindo hoje, a soja está expulsando as famílias e está grilando terra pública. Do ponto de vista da geração de emprego, que é um dos temas importantes para mim que conheço e sei e todos vocês sabem que não é uma atividade geradora de grande quantidade de emprego (...)13 (grifou-se).

12 FASE, Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional- PA. Mapa dos Conflitos Socioambientais da Amazônia Legal. Disponível em: <http://www.fase.org.br/v2/admin/anexos/acervo/2_mapa_conflito_amazonia.ppt>. Acesso em 18/03/2010. 13 Relato do Dep. Airton Faleiro em: MPEG, Museu Paraense Emílio Goeldi; EMBRAPA Amazônia Oriental; Amigos da Terra - Amazônia Brasileira. A Geopolítica da soja na Amazônia. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação, 2004, p. 12.

REDENÇÃO 3.600 FLORESTA DO ARAGUAIA 5.100 SANTANA DO ARAGUAIA 15.279 STª Mª DAS BARREIRAS 8.700 CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA 3.000 TOTAL (toneladas) 35.679

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7

Ressalta-se que os conflitos fundiários, enquanto uma das vertentes

dos conflitos socioambientais gerados pela expansão da fronteira agrícola, se

tornam cada vez mais violentos nas regiões de expansão da soja, tanto pelo

“caos fundiário” no qual historicamente se situa o Estado do Pará, quanto pelo

fato de o avanço deste grande capital empurrar os pequenos capitais

(principalmente madeireiras, carvoarias e a pecuária) para novas áreas de

floresta e de ocupação territorial tradicional.

Em termos de transformações dos espaços geográficos, a introdução

da soja na Amazônia acarreta transformações brutais, especialmente a partir

da construção de uma série de aparelhos de infra-estrutura adaptados à cadeia

produtiva e de escoamento da produção. O próprio contexto das forças

políticas é profundamente alterado nesse processo, pois o poder político destes

grandes empreendimentos econômicos inaugura uma situação altamente

desfavorável aos povos da região.

O problema do impacto da soja é muito maior do que simplesmente a perda direta de habitats que você tem aqui. Só a soja justifica um desenvolvimento de uma infra-estrutura muito grande para a Amazônia que promove transporte e escoamento; outras formas de uso da terra, como pastagem, apesar de ocupar grande área não tem peso político necessário para induzir o governo a construir hidrovias, estradas de ferro e rede viária14 (grifou-se).

A introdução do grande agronegócio na Amazônia impulsiona,

portanto, a construção de infra-estrutura voltada principalmente para o

escoamento da produção. Por conseqüência, a produção na região aumenta

ainda mais em virtude das maiores facilidades que vão sendo disponibilizadas,

(seja em termos de concessão de crédito, seja em termos de instalação de

infra-estrutura), o que inclusive atrai novos produtores, fechando este grande

ciclo de desenvolvimento da grande agricultura capitalista na Amazônia, com

todos os conflitos e contradições geradas nesse processo.

Também a produção de cultivos transgênicos é decisivamente afetada

pelas cadeias produtivas e de infra-estrutura existentes, sempre conforme as

condições gerais de demanda de produtos pelo mercado consumidor. No caso

14 Palestra de Leandro Ferreira em: MPEG, Museu Paraense Emílio Goeldi; EMBRAPA Amazônia Oriental; Amigos da Terra - Amazônia Brasileira. A Geopolítica..., op. cit., p. 26.

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8

da soja transgênica, sua inserção no bioma amazônico se dá na proximidade

de determinadas infra-estruturas de escoamento, que ligam por sua vez a

produção até os mercados consumidores.

* O eixo de expansão da soja transgênica na BR-163

A importância da cadeia de produção e escoamento na determinação

das características da produção agrícola na Amazônia é demonstrada a partir

do caso da produção de soja ao longo da BR-163 (rodovia Cuiabá-Santarém):

quanto mais próximo do Porto da CARGILL, localizada em Santarém, menores

são as probabilidades de identificar a produção de soja GM (geneticamente

modificada), visto que a CARGILL, que é a única compradora da produção de

soja na região, possui acordos comerciais com mercados consumidores

europeus que não aceitam a produção transgênica, a partir dos quais esta

empresa obtém melhor lucratividade em face do preço diferenciado que a soja

convencional possui no mercado internacional de grãos15.

Por outro lado, quanto mais se afasta da região de Santarém,

seguindo a BR-163 no sentido de Cuiabá, maiores são as probabilidades de

encontrar cultivos GM, que têm a sua disposição outras infra-estruturas de

escoamento, como a Hidrovia do Rio Madeira (acessível à produção

matogrossense a partir da Rodovia Cuiabá-Porto Velho), além dos portos de

Santos/SP e Paranaguá/PR.

O mapa abaixo, produzido pelo Instituto Socioambiental16, demonstra

as pressões fundiárias – especialmente sobre terras indígenas – que envolvem

o contexto da pavimentação da BR-163, cuja conclusão passará a possibilitar

que a produção de soja da região norte de Mato Grosso possa ser escoada por

via do Porto da CARGILL em Santarém. Este será, sem dúvida, um passo

decisivo para que também o eixo de BR-163 se torne uma via de escoamento

(e também de incentivo à produção) da soja transgênica que já é produzida em

Mato Grosso, inclusive tendo em vista a verdadeira guerra psicológica que as

15 AS-PTA. Soja transgênica perde espaço no Mato Grosso. Disponível em <http://www.aspta.org.br/por-um-brasil-livre-de-transgenicos/documentos/soja-transgenica-tem-custos-maiores/>. Acesso em 17/03/2010. 16 CARNEIRO FILHO, Arnaldo; SOUZA, Oswaldo Braga de. Atlas de pressões e ameaças às terras indígenas na Amazônia brasileira. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2009.

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9

empresas de biotecnologia realizam atualmente sobre os mercados

consumidores europeus para abolir as restrições aos produtos transgênicos.

Não são apenas as terras indígenas que se encontram em xeque

nesse processo, mas também uma série de Unidades de Conservação se

encontram atualmente ameaçadas pelas conseqüências do avanço da soja, e,

em especial, também da soja GM no eixo da BR-163, o que conseqüentemente

afetará os povos amazônidas que vivem nestas áreas (vide o mapa abaixo),

além de todas as comunidades que vivem em fora dos espaços territoriais

especialmente protegidos nesta região.

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10

O avanço da soja transgênica ao longo da BR-163 se dá, portanto, a

partir dos municípios produtores no Estado de Mato Grosso, que partem do

cerrado e se instalam em pleno bioma amazônico. É o que se vê no mapa

abaixo, que dispõe sobre a evolução do plantio de soja no Mato Grosso em

termos de áreas cultivadas por município17.

17 RISSO, Joel; RIZZI, Rodrigo; FERNANDES, Sérgio Leal; EBERHART, Isaque Daniel Rocha. Análise da dinâmica espacial da área de soja em municípios do Mato Grosso por meio de imagens do sensor MODIS. Disponível em: <http://www.ufpel.tche.br/cic/2009/cd/pdf/CE/CE_01192.pdf>. Acesso em 24/03/2010.

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11

* O eixo de expansão da soja transgênica na região de Paragominas

A introdução da soja transgênica na Amazônia Legal não ocorre

apenas a partir do eixo da BR-163, vindo do Mato Grosso, mas ocorre também

em outro eixo de expansão que se destaca no presente trabalho: a região de

Paragominas. Da mesma forma que na primeira região analisada, as condições

de inserção das lavouras transgênicas são dadas pela cadeia produtiva e de

escoamento da produção de grãos, que, neste caso, é realizada

majoritariamente pelo Porto de Itaqui, em São Luis/MA (através da Estrada de

Ferro Carajás, de propriedade da VALE).

Conforme o mapa abaixo, extraído a partir de imagem de satélite, a

cadeia de escoamento da soja de Paragominas se dá primeiramente pela

rodovia BR 010, até Açailândia (conforme a trajetória verde), onde os grãos são

carregados em vagões da VALE, rumando em sentido ao Porto de Itaqui, onde

há silos e armazéns disponíveis para a arrecadação de grãos, e o posterior

carregamento de imensos navios que escoam a produção até o porto de

Roterdã, na Holanda18.

18 Segundo informações da VALE, o maior navio graneleiro do mundo atraca apenas nos portos de São Luís e de Roterdã, suportando navios graneleiros de até 420 milhões de toneladas de porte bruto (tpb). Disponível em: <http://www.vale.com/vale/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=71>. Acesso em 25/03/2010.

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12

Apesar de não haver, na região de Paragominas, a presença de Terras

Indígenas ou de Unidades de Conservação, é certo que a presença de

camponeses, pequenos agricultores familiares e outras comunidades afetadas

naquela região igualmente produz impactos sócio-ambientais, que devem ser

identificados na medida da disponibilidade dos instrumentos de análise

existentes.

* Os impactos socioambientais causados pela soja transgênica na região

amazônica e a aplicação do princípio da precaução

Cabe, por fim, esclarecer quanto ao escopo da análise de impactos

sócio-ambientais que justificam o presente projeto. Conforme dito

anteriormente, ainda não há estudos conclusivos acerca dos impactos que os

organismos geneticamente modificados produzem sobre a saúde humana e

sobre o meio ambiente. Ademais, sequer há pesquisas nesse sentido que

procurem identificar potenciais impactos sobre o ecossistema amazônico em

suas peculiaridades, e como estes impactos ambientais se reverteriam em

impactos sociais sobre os povos da região, que tão vinculados estão à terra e

ao ecossistema em geral.

Não obstante estas dificuldades, existe já alguma bibliografia que trata,

com mais propriedade, especialmente dos impactos sociais e econômicos que

a introdução dos OGMs produz. Trata-se de uma produção que pertine

inclusive a impactos gerados pela produção de transgênicos no Brasil, porém

num contexto bastante distinto, que é a situação dos estados da Região Sul do

país. Nesse caso, a própria dificuldade em encontrar estudos voltados à região

amazônica já se evidencia como uma justificativa suficiente para a presente

investigação, ainda que os instrumentos tradicionalmente conferidos pelo

Direito para este tipo de análise sejam muito pobres (sobre esta questão, tratar-

se-á melhor no ponto de metodologia).

Ademais, o simples fato de haver indícios razoáveis de impactos sócio-

ambientais decorrentes da produção de lavouras geneticamente modificadas

na Amazônia já constituem motivo suficiente para a invocação do princípio da

precaução, que é um dos preceitos basilares do Direito Ambiental brasileiro, e

com o qual se pretende trabalhar numa perspectiva socioambientalista, que

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13

abre mão da falsa “neutralidade” na qual se arvoram as teorias positivistas do

Direito, para assumir uma posição política, a partir de uma determinada teoria

do Direito e do ordenamento jurídico vigente, desde a perspectiva dos povos da

Amazônia.

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral:

- O objetivo geral da dissertação será analisar o processo de introdução da soja

transgênica nas regiões de mais intensa expansão desta cultura dentro da

fronteira agrícola na Amazônia (que são as regiões de Paragominas e da BR-

163), e, a partir da avaliação dos potenciais impactos socioambientais,

identificar os instrumentos jurídicos que os espaços territoriais especialmente

protegidos conferem aos povos da região, especificamente nas Unidades de

Conservação e Terras Indígenas, para a garantia de seus direitos humanos em

face do avanço desta biotecnologia.

3.2 Objetivos Específicos:

- Identificar a relação entre as cadeias produtivas da soja na região amazônica,

além de outros fatores que interferem (favorecem/dificultam) na proliferação

dos cultivares transgênicos na Amazônia, dentro das áreas de estudo de

Paragominas e da BR-163;

- Analisar os impactos gerados pelo processo de introdução da soja

transgênica na região de Paragominas, e analisar fatores e conseqüências

decorrentes do avanço dos cultivares GM no eixo de expansão da BR-163,

especialmente nas proximidades de Unidades de Conservação e Terras

Indígenas desta região;

- Desenvolver uma concepção dos princípios socioambientais e dos

instrumentos jurídicos concernentes aos espaços territoriais especialmente

protegidos que potencializem o uso insurgente do Direito por parte dos povos

Page 14: Diego Augusto Diehl - Qualificação

14

da Amazônia, de forma que possam garantir a afirmação histórica dos direitos

humanos.

4 REFERENCIAL TEÓRICO

Intenta-se neste ponto indicar alguns elementos centrais que orientam a

presente investigação, a partir dos principais referenciais teóricos considerados

pertinentes à abordagem do tema proposto. A partir destas breves anotações,

indicar-se-á o referencial metodológico e a estruturação de dissertação que se

pretende adotar para atender aos objetivos e às hipóteses formuladas.

Primeiramente, enquanto projeto de dissertação proveniente do Direito,

é necessário esclarecer qual a concepção, qual teoria do Direito adota-se na

presente investigação para a abordagem do tema proposto19. Sem este

esclarecimento inicial, tornar-se-ia incompreensível a metodologia adotada, as

mediações que se pretende estabelecer com outras ciências e áreas do

conhecimento, e a própria forma como se compreende as normas e as

relações jurídicas em geral.

Nesse sentido, rejeita-se desde o início os fundamentos epistemológicos

que norteiam as tradicionais teorias positivistas e normativistas do Direito, visto

que o Direito está longe de se limitar às normas ou ao conjunto de normas

jurídicas. Ademais, ainda que estas teorias o neguem, estão profundamente

comprometidas com uma determinada teoria social que invizibiliza a existência

de diferentes classes e grupos sociais, e naturalmente também de conflitos

sociais entre estes grupos.

Conforme atesta LYRA FILHO:

“o Direito não é as normas, que pretendem veiculá-lo, nem forma um conjunto único de normas devido à oposição conflitual derivada da posição antitética de classes espoliadas e grupos oprimidos”20.

19 A presente pesquisa não pretende padecer do “aguilhão semântico” que DWORKIN atribui às concepções dogmáticas do Direito, que vêem todas as divergências em Direito como meras questões de interpretação, e não como fruto de diferentes teorias, concepções acerca do Direito. Vide DWORKIN, Ronald. O Império do Direito . Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Cap. 2. 20 LYRA FILHO, Roberto. Karl, meu amigo: diálogo com Marx sobre o Direito. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris, 1983. P. 73.

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15

O Direito não se limita portanto às normas, apesar de estas serem de

suma importância para uma teoria do Direito que consiga reproduzir a

complexidade social na qual as práticas jurídicas estão inseridas. Da mesma

forma, estas normas jurídicas não são concebidas como política ou

cientificamente neutras, mas são, na verdade, o resultado das relações sociais

existentes em uma dada sociedade.

Na medida em que as relações sociais, na sociedade vigente, são

marcadas pelas contradições e pelos conflitos inerentes às lutas de classes,

torna-se evidente que as normas jurídicas respondem, de forma complexa e

peculiar, a esta realidade social. As normas jurídicas deixam, portanto, de ser o

“puro produto da vontade das autoridades (normativamente) competentes”,

para se tornar o resultado das lutas sociais promovidas pelos mais diversos

grupos políticos e sociais, cujo interesse passou a ser oficialmente

(normativamente) reconhecido.

“O Direito, em resumo, se apresenta como positivação da liberdade conscientizada e conquistada nas lutas sociais e formula os princípios supremos da Justiça Social que nelas se desvenda”21.

A positivação dos interesses de determinados grupos e classes sociais

constitui portanto a norma jurídica, porém o Direito não é meramente o

resultado deste aglomerado de normas. O Direito constitui, na verdade, um

conjunto de relações sociais absolutamente complexas e dinâmicas, cujo

estudo por uma teoria do Direito (produto de uma ciência e de uma filosofia do

Direito) jamais poderá se esgotar na simples denominação enquanto ciência

lógica, ciência deôntica, ou qualquer outra concepção que fragmente ser e

dever-ser, lógica e história, norma e ordenamento, relação jurídica e relação

social.

“Quando consideramos em cada uma de suas partes, qualquer sistema de relações sociais, referentes a um determinado ordenamento jurídico nas suas partes constitutivas, obtemos todo o conjunto das chamadas relações jurídicas”22.

O Direito concebido como mero conjunto de normas não permite que se

21 LYRA FILHO, Roberto. O que é Direito. 17ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1999. P. 89. 22 STUCKA, Petr Ivanovich. Direito e luta de classes – teoria geral do direito. Tradução de Silvio Donizete Chagas. São Paulo: Acadêmica, 1988. P. 135.

Page 16: Diego Augusto Diehl - Qualificação

16

compreenda que as normas, sem as relações sociais, desidratar-se-iam e

deixariam de ser normas. As próprias normas são produtos de relações sociais,

erigidas ao patamar próprio e específico de relações jurídicas.

As normas de Direito Ambiental, por exemplo, são o resultado histórico

do desenvolvimento de determinadas relações sociais, que por sua vez não

podem ser concebidas enquanto relações arbitrárias, produtos puros das idéias

e vontades dos sujeitos, mas sim como resultado da materialidade das

relações sociais, que têm como objetivo primeiro a produção e reprodução da

vida concreta, material.

Com o enorme desenvolvimento das forças produtivas deflagrado desde

o início da Revolução Industrial, estabeleceram-se uma série de relações

sociais e jurídicas próprias a este contexto. Na medida em que estas forças

produtivas passaram a sofrer limitações em sua relação com a natureza,

decorrentes essencialmente do caráter anárquico e da racionalidade própria ao

processo de concorrência capitalista (que acaba desconsiderando os profundos

impactos gerados sobre o meio ambiente, limitada que está à pura e simples

lógica do lucro), novas relações jurídicas passaram a ser estabelecidas para

tentar conter esse processo, dentre as quais destaca-se a criação de normas

jurídicas específicas à tutela do meio ambiente.

Foi nessa perspectiva que nasceram as normas jurídicas ambientais,

propugnadas por movimentos ambientalistas que, longe de se contrapor ao

status quo, adequavam-se a ele buscando evitar ou minimizar as contradições

que lhe são próprias. Resultado disso é que as relações jurídicas ambientais

tiveram, de início, um forte caráter repressivo e, inclusive, anti-popular, pois

geralmente associava idéias neomalthusianas com as concepções

ambientalistas que se encontravam em pleno processo de formulação.

As normas e as relações jurídicas ambientais não são, porém, o

resultado unilateral apenas das concepções acima resumidamente descritas.

São, também, o resultado das lutas sociais promovidas por grupos e classes

sociais que, longe de se adequar ao status quo, partem de um referencial

crítico aos fundamentos mesmo da sociedade vigente, comandada pelo modo

de produção capitalista.

Esta outra perspectiva ambientalista, fortemente inspirada pelos

fundamentos do chamado ecossocialismo, irá identificar de forma mais

Page 17: Diego Augusto Diehl - Qualificação

17

profunda as contradições que o modo de produção capitalista gera em sua

relação com o meio ambiente e com os seres humanos em geral, e buscará

fortalecer sua perspectiva crítica a partir do aporte das classes sociais

exploradas e oprimidas dessa sociedade, organizadas em torno do movimento

popular. Desta união entre o movimento ambientalista e o movimento popular

surge a concepção socioambiental, que busca tutelar o meio ambiente em sua

relação com os seres humanos, numa perspectiva crítica e transformadora da

sociedade vigente.

O fortalecimento político da perspectiva socioambiental permitiu, então,

que estas classes e grupos sociais contra-hegemônicos influenciassem o

processo geral de formulação das normas jurídicas, construindo um novo

patamar para as relações jurídicas ambientais no Brasil, conforme afirma

SANTILLI:

“As leis socioambientais editadas nos anos 90 e a partir de 2000, especialmente a Lei nº 9.433/97 (que institui o Sistema Nacional de Recursos Hídricos) e a Lei nº 9.985/2000 (que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza), rompem com essa orientação [estritamente conservacionista] e passam a prever mecanismos e instrumentos de gestão dos bens socioambientais, e não apenas de repressão a determinadas condutas e atividades”23.

Longe de cristalizar as relações jurídicas, as normas que são edificadas

representam, na verdade, um novo patamar qualitativo para o desenvolvimento

destas mesmas relações. Isto significa que o fato de determinadas normas

jurídicas expressarem majoritariamente uma determinada concepção (como a

socioambientalista, nos casos acima citados) não garantem o restabelecimento

de relações correspondentes, seja porque as normas são “interpretáveis”, seja

porque podem ser alteradas a todo momento (e de fato o são!), seja porque

simplesmente não são cumpridas (são “letra morta” contra o qual o dever-ser

kelseniano é absolutamente inepto).

Fica claro, portanto, que uma análise jurídica sob essa perspectiva

jamais pode se limitar à norma jurídica, apesar de este ser um momento

necessário e imprescindível. Trata-se de apreender o objeto de estudo sob a

perspectiva das relações jurídicas existentes, que se configuram como relações

sociais específicas e complexas, influenciadas por uma série de mediações 23 SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo..., op. cit., p. 29-30.

Page 18: Diego Augusto Diehl - Qualificação

18

estabelecidas com outras relações sociais (econômicas, culturais, políticas etc)

e com as forças produtivas inscritas na sociedade24.

As relações jurídicas que se desenvolvem no contexto da introdução da

soja transgênica na Amazônia só podem ser analisadas, portanto, a partir da

sua devida localização dentro da totalidade concreta, enquanto parte

constituinte do Todo, da realidade social25. Para isso, o primeiro passo será

necessariamente compreender a atual estrutura de organização da economia

amazônica em sua relação com o mercado mundial, que, longe de ser um

produto “natural”, dado e acabado, é o resultado de um processo histórico que

deve ser profundamente compreendido.

A biotecnologia, por sua vez, surge num contexto no qual já há a

consolidação de um verdadeiro mercado mundial capitalista (que, apesar de ter

sido gestado desde o século XIX, apenas será consolidado no período do pós-

guerra no século XX26), e no qual há uma inserção definitiva da Amazônia (e

não mais esporádica, eventual) enquanto fornecedora de determinadas

mercadorias, nos termos da divisão internacional do trabalho que fora

estabelecida27.

Juntamente com esta nova força produtiva configurada pela

biotecnologia, surgem relações sociais e jurídicas correspondentes,

relacionadas especialmente à regulamentação de seu regime de propriedade,

repartição de benefícios e de controle de impactos ao meio ambiente e à saúde

humana. Constituem-se, portanto, normas e relações jurídicas referentes à

propriedade intelectual e à biossegurança.

“Ao leitor arguto não terá escapado que à desvalorização das formas de vida e à sua redução a mera matéria-prima corresponde a introdução de patentes de genes e à reivindicação de propriedade intelectual para os bioprodutos inventados. Também não lhe terá escapado a conclusão mais geral de todo o processo: agora, com a biotecnologia é possível uma apropriação direta da vida. Isto é: a vida pode ser monopolizada”28.

24 Nesse sentido, vide PASUKANIS, Eugeny Bronislanovich. A teoria geral do direito e o marxismo. Tradução de Paulo Bessa. Rio de Janeiro: Renovar, 1989. Cap. 1. 25 Este tema será melhor explicitado na apresentação da metodologia de investigação. 26 MANDEL, Ernest. O capitalismo tardio. Tradução de Carlos Eduardo Silveira Matos et alli. São Paulo: Abril Cultural, 1982. Cap. 2. 27 LEAL, Aluízio Lins. Uma sinopse..., op. cit., p. 30-41. 28 SANTOS, Laymert Garcia Politizar as novas tecnologias: o impacto sócio-técnico da informação digital e genética. São Paulo: Ed. 34, 2003. P. 29.

Page 19: Diego Augusto Diehl - Qualificação

19

A biotecnologia inaugura, portanto, um novo patamar qualitativo de

relações econômicas, jurídicas e sociais, que devem ser analisadas de forma

específica, até para que se possa compreender quais são os seus potenciais

impactos a partir do recente processo de introdução na realidade amazônica.

As referências bibliográficas que tratam dos riscos e dos possíveis

impactos gerados por cultivares transgênicos identificam potenciais efeitos

tanto ao meio ambiente quanto à saúde humana, tais como:

• Desenvolvimento de super-ervas daninhas, cada vez mais resistentes à

aplicação de herbicidas (no caso dos OGMs tolerantes a herbicidas),

exigindo a aplicação cada vez maior de agrotóxicos29;

• No caso dos OGMs resistentes a insetos (tecnologia Bt), a menor

aplicação de agrotóxicos é compensada negativamente pelo

desenvolvimento de pragas menos suscetíveis aos efeitos da bactéria

transgênica (desenvolvem-se, portanto, “super-pragas” nessas

lavouras)30;

• Transgênicos com características antibióticas podem acarretar maiores

resistências do organismo humano diante de remédios, o que torna o

consumo desse tipo de alimento transgênico tão imprevisível quanto

perigoso31;

• Vários casos foram relatados de desequilíbrio da cadeia alimentar

provocados pelos organismos geneticamente modificados, tendo em

vista a afetação de espécies não-alvo, o que acarreta a perda da

diversidade biológica, além de grave agressão ao meio ambiente32;

29 FUCHS, Richard. Cultivos transgênicos no mundo. Do Canadá à Argentina, da Romênia à China quase 90 milhões de hectares de plantas transgênicas. In.: ANDRIOLI, Antônio Inácio e FUCHS, Richard (org.). Transgênicos..., op. cit. p.31-56. 30 LANG, Chris. Árvores geneticamente modificadas: a ameaça definitiva para as florestas. Tradução de Maria Izabel Souza. São Paulo: Expressão Popular, 2006. P. 25-48. 31 NODARI, Rubens Onofre e GUERRA, Miguel Pedro. Biossegurança de plantas transgênicas. In.: GÖRGEN, Sérgio Antônio (org.). Riscos dos transgênicos. Petrópolis: Vozes, 2000. P. 39-60. 32 LANG, Chris. Árvores geneticamente modificadas..., op. cit., p. 32-36.

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20

Além disso, há pesquisas científicas que demonstram a existência de

risco de contaminação genética decorrente da chamada transferência

horizontal de genes, conforme explicam NODARI e GUERRA:

“Entre os riscos ambientais, a poluição genética, através da transferência vertical e a transferência horizontal, é a mais importante. Em decorrência disto, pode ocorrer o surgimento de super ervas daninhas, superpragas e variantes genéticos, cujas características não se pode antecipar. Contudo, outros riscos são possíveis com efeitos danosos em espécies não alvo (aves, minhocas, peixes, entre outros), contaminação de solo e água, cujas dimensões também são impossíveis de prever”33.

Tendo em vista que grande parte dos impactos gerados por OGMs ainda

não foi cientificamente confirmada, a presente pesquisa, na medida dos

objetivos e das hipóteses formuladas, e conforme as limitações metodológicas

existentes quanto a este ponto específico, buscará investigar quais efeitos

foram conclusivamente apontados como causados ou não causados por

cultivares transgênicos, e, para todos os demais casos em discussão ou sem

debates científicos estabelecidos, aplicará o princípio da precaução.

“Controlar o risco é não aceitar qualquer risco. Há riscos inaceitáveis, como aquele que coloca em perigo os valores constitucionais protegidos, como o meio ambiente ecologicamente equilibrado, os processos ecológicos essenciais, o manejo ecológico das espécies e ecossistemas, a diversidade e a integridade do patrimônio biológico – incluído o genético – e a função ecológica da fauna e da flora”34.

Na medida em que a perspectiva adotada na dissertação será o

socioambientalismo, a aplicação do princípio da precaução não se limitará à

tutela do meio ambiente, mas também se preocupará com os potenciais

impactos e riscos às comunidades humanas, à cultura dos povos e

comunidades que vivem na Amazônia, com especial enfoque àquelas situadas

em Unidades e Conservação e Terras Indígenas das regiões que serão

estudadas.

33 NODARI, Rubens Onofre e GUERRA, Miguel Pedro. Biossegurança de plantas transgênicas. In.: GÖRGEN, Sérgio Antônio (org.). Riscos..., op. cit. p. 46. 34 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental brasileiro. 15ª ed. São Paulo: Malheiros. P. 75.

Page 21: Diego Augusto Diehl - Qualificação

21

5 HIPÓTESES

São algumas hipóteses que orientam as investigações inseridas no

cronograma da pesquisa:

1. O processo de expansão da fronteira agrícola na Amazônia está inserida no

contexto da atual divisão internacional do trabalho, na qual a região

amazônica figura como mero fornecedor de matérias-primas e commodities

de caráter primário;

2. O cultivo da soja é um dos principais fatores de avanço da fronteira agrícola

e da grande agricultura capitalista na Amazônia, e está dinamicamente

inserida no contexto do desenvolvimento desigual e combinado que marca

a história recente da região;

3. A aplicação historicamente recente da biotecnologia na agricultura inaugura

um período qualitativamente distinto, que só pode ser compreendido a partir

do estudo do processo de desenvolvimento desta nova força produtiva, bem

como das novas relações sociais, econômicas e jurídicas instauradas nesse

contexto;

4. A introdução dos cultivares transgênicos no Brasil faz parte do projeto de

expansão da acumulação por parte das empresas transnacionais de

biotecnologia, porém apenas se torna possível a partir do estabelecimento

de uma série de condições jurídico-políticas (legislação de biossegurança,

proteção de cultivares, propriedade intelectual etc);

5. Igualmente essenciais para a introdução dos transgênicos no Brasil são as

condições infra-estruturais (existência de mercado consumidor, meios de

transporte, disponibilização de produtos químicos específicos, maquinário,

armazenagem, crédito agrícola etc), propiciadas tanto por agentes privados

(empresas transnacionais de biotecnologia e de produtos agrícolas, bancos

etc) como por agentes públicos (bancos públicos, políticas setoriais, etc);

Page 22: Diego Augusto Diehl - Qualificação

22

6. As regiões de mais forte expansão da fronteira agrícola na Amazônia, onde

se situam os empreendimentos agrícolas mais consolidados, estão mais

suscetíveis ao avanço da soja transgênica, porém sua introdução apenas se

materializa com a criação de condições para o escoamento desta produção,

que estão intrinsecamente ligadas às pressões de demanda do mercado

consumidor;

7. Os potenciais impactos socioambientais e a falta de certeza científica

quanto à biossegurança dos cultivares transgênicos, especialmente na sua

relação com o ecossistema e as populações que vivem na Amazônia

ensejam a aplicação do princípio da precaução numa perspectiva

socioambiental, isto é, ligada à perspectiva dos povos da própria região

amazônica;

8. As Unidades de Conservação e as Terras Indígenas, enquanto modalidades

de espaços territoriais especialmente protegidos, configuram-se como

instrumentos jurídicos efetivos que potencializam a ação de resistência e de

insurgência dos povos e das comunidades que vivem nas áreas de

expansão da soja transgênica;

9. Não obstante a importância da atuação das mais diversas instituições para

a proteção socioambiental da Amazônia em face da expansão dos

cultivares transgênicos, os principais sujeitos históricos a quem cabe a

tarefa de resistência/insurgência no atual período histórico são os povos e

as comunidades que vivem na região.

6 METODOLOGIA

Compreendendo-se a metodologia não como um mero conjunto de

métodos aplicados à pesquisa, mas como a própria aplicação da concepção de

mundo (filosofia) à teoria do conhecimento (epistemologia), a presente

pesquisa tem na filosofia dialética e no materialismo histórico os elementos

metodológicos para a análise do objeto proposto.

Nessa perspectiva, compreendendo que a produção material da vida

Page 23: Diego Augusto Diehl - Qualificação

23

(que não se confunde com o economicismo) é determinante para as diversas

formas de reprodução da totalidade concreta, desde o início refuta-se a crença

positivista de que o Direito, por si só, é capaz de conceber devidamente os

problemas inerentes ao objeto da pesquisa. Pelo contrário, é na identificação

das condições materiais de existência que se torna possível a correta

identificação do papel exercido pelas relações jurídicas sobre o objeto em

análise.

As relações jurídicas são relações sociais que compõem, também, a

realidade concreta; porém não se produzem por si mesmas, nem estão

isoladas das demais relações sociais, motivo pelo qual apenas uma abordagem

transdisciplinar pode apreender a complexidade da totalidade concreta,

inclusive em termos do papel que as próprias relações jurídicas desempenham

na realidade concreta.

Conhecer a realidade concreta é um processo que envolve três movimentos: abstrair as partes do todo, analisar suas leis e relações internas e, finalmente, reproduzir conceitualmente o todo concreto35.

Na presente pesquisa, parte-se do Todo, da totalidade concreta

representada pela relação entre a Amazônia e o sistema-mundo capitalista,

para, a partir do método da abstração, identificar algumas das partes

essenciais que compõem esse Todo dialético: o desenvolvimento dos “grandes

projetos” na Amazônia; o caráter desigual e combinado deste desenvolvimento;

a troca desigual a qual a região é submetida; o papel que a agricultura

desempenha nesse processo; etc.

É evidente que, em se tratando de uma pesquisa que busca reproduzir

teoricamente um processo real específico (uma parte da totalidade concreta), o

nível de abstração da maioria destes elementos será muito alta, reduzindo-se

apenas na medida em que surgem elementos que importam mais ao foco da

pesquisa. É nesse sentido, por exemplo, que os grandes projetos serão

analisados de forma mais abstrata, enquanto a inserção da grande agricultura

capitalista ensejará análises mais concretas, com mais elementos históricos,

inserido dentro de seu contexto histórico específico, dentro do qual seria

35 CORAZZA, Gentil. O Todo e as Partes: uma introdução ao método da economia política. In: Estudos Econômicos, São Paulo, vol. 26, Número Especial, p. 35.

Page 24: Diego Augusto Diehl - Qualificação

24

incorreto simplesmente desconsiderar os demais projetos implantados na

Amazônia nesse mesmo processo.

Para este primeiro momento da investigação, adotar-se-á

essencialmente (ainda que não de forma estanque, unilateral) a perspectiva

histórica e indutiva, buscando dentro dos principais referenciais históricos

identificar a forma como se deu o processo de integração definitiva da

Amazônia no mercado mundial, no contexto da nova divisão internacional do

trabalho.

A biotecnologia é outra “parte” que nasce dentro do contexto do

“Todo”, e que através do método da abstração será analisado em suas

características essenciais, sem porém deixar de lado sua historicidade

concreta. Enquanto força produtiva, a biotecnologia produz relações sociais e

jurídicas que lhe são específicas, que devem ser analisadas exatamente nessa

perspectiva, dentro das relações de produção que lhe são próprias.

Estas relações de produção, por sua vez, não são o único fator que

determina a forma jurídica da biotecnologia, mas também outros fatores

influenciam decisivamente, como a própria luta de classes. Nesse sentido, o

regime jurídico de biossegurança no Brasil nem é o resultado mecânico do

desenvolvimento da biotecnologia, e nem é o produto da “vontade (abstrata) do

legislador”, mas é, na verdade, uma síntese provisória da correlação de forças

entre os diversos grupos de interesse na sociedade (movimentos populares,

ambientalistas, ONGs, cientistas, empresas de biotecnologia, produtores

agrícolas, consumidores etc).

É sob esta perspectiva dinâmica que será analisada a construção das

normas jurídicas referentes à biotecnologia e à biossegurança no Brasil,

utilizando-se inicialmente do método histórico e indutivo, para, após a

apresentação de seu contexto sócio-político, adotar uma perspectiva lógica e

dedutiva no que tange à aplicação destas normas na construção das relações

jurídicas que lhe são próprias. Além da pesquisa bibliográfica referente a este

contexto histórico, analisar-se-á neste ponto algumas das principais empresas

do ramo da biotecnologia, de forma a ter um panorama geral do papel de sua

influência econômica e política na formulação das normas jurídicas para este

tema.

A forma como se dá a mediação entre a biotecnologia e a sua

Page 25: Diego Augusto Diehl - Qualificação

25

aplicação na grande agricultura capitalista já é um avanço que vai do abstrato

ao concreto, do lógico ao histórico, da “parte” que começa a reproduzir o “Todo

concreto”. Para isso, pretende-se analisar a geopolítica da soja na Amazônia,

reproduzindo teoricamente o processo real, concreto, da expansão da fronteira

agrícola da soja na região, e identificando os principais meios pelos quais esta

cultura pôde se assentar na região (a partir da construção de infra-estruturas

próprias, concessão de crédito, introdução do comércio de produtos agrícolas e

prestação de serviços específicos, etc).

Para este ponto em especial, além das referências bibliográficas que

reproduzem historicamente esse processo, levantar-se-á dados objetivos

referentes à capacidade das forças produtivas instaladas e utilizadas para a

produção de escoamento da soja, através de dados fornecidos por órgãos do

Estado (CONAB, secretarias de agricultura, órgãos responsáveis pela gestão e

fiscalização rodoviária e aquaviária etc) e pelas principais referências do setor

privado (entidades associativas como a FAEPA, empresas como CARGILL,

VALE, HERMASA e MONSANTO etc).

Aliado às análises anteriores (consideradas indispensáveis à

compreensão do processo de expansão da soja, e como condições

indispensáveis à atuação adoção de tecnologia transgênica), buscar-se-ão os

dados concretos referentes ao contexto atual de crescimento dos cultivos GM,

especificamente na região de Paragominas/PA, o que ensejará o levantamento

de dados referentes aos mercados de sementes convencionais e transgênicas,

à disponibilização de insumos químicos para cada tipo de produção, aos

equipamentos e formas empregadas para o manejo dos cultivos, além das

formas de armazenamento e de escoamento da produção.

Para lograr a obtenção destes dados, realizar-se-á inicialmente um

mapeamento prévio da região, a partir de referências bibliográficas e de meios

de informação recentes que tratem da situação atual do cultivo da soja na

região estudada. A partir de então, com este levantamento prévio dos dados

pretendidos, realizar-se-á um mapeamento de atores e das relações sociais

que são estabelecidas nesse contexto de expansão da soja GM na região, bem

como de seus potenciais impactos e conflitos socioambientais.

Como a presente dissertação não se trata de um clássico estudo de

caso, a pesquisa de campo terá um caráter menos elaborado e desenvolvido.

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26

Porém, para lograr produção algumas informações cientificamente relevantes

para o escopo do objeto de estudo, adotar-se-á na investigação concreta e no

mapeamento dos impactos e conflitos o método da pesquisa semi-estruturada,

e, quando esta não for possível, da pesquisa exploratória não-estruturada.

A partir destes dados, tornar-se-á possível analisar as condições de

concorrência entre os cultivos convencionais e transgênicos, além de identificar

os potenciais casos de contaminação genética que podem afetar esta

concorrência, de forma a indicar dedutivamente o processo de

desenvolvimento futuro da produção GM na região analisada. Da mesma

forma, a identificação provisória de impactos e conflitos sociombientais na

região, analisados à luz de outras pesquisas científicas existentes sobre o

tema, permitirão que se desenhe uma perspectiva geral dos riscos que os

transgênicos oferecem às populações que vivem na região.

É à luz de tais impactos, identificados já num contexto muito mais

próximo (inscrito dentro do bioma amazônico, com efeitos sócio-ambientais

produzidos sobre povos da própria Amazônia), que se pretende estabelecer as

mediações com os potenciais riscos que sofrem as comunidades que residem

nos espaços territoriais especialmente protegidos dentro da área de influência

da expansão da soja ao longo da BR-163. Neste caso, considerando que a soja

transgênica ainda não se proliferou por questões puramente conjunturais, as

atividades de pesquisa concentrar-se-ão na análise e no acompanhamento da

cadeia produtiva e de exportação da soja (que deverá ser impactada com a

finalização da pavimentação da BR-163) e na identificação da diversidade

socioambiental presente nas Terras Indígenas e Unidades de Conservação

existentes nesta região (sem desconsiderar, porém, a importância

socioambiental das outras modalidades de espaços territoriais protegidos

existentes).

Para isso realizar-se-á, junto ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade), o levantamento dos respectivos planos de

manejo para estas áreas (ou mesmo a ausência destes planos), buscando

identificar inclusive a presença de instrumentos jurídicos de defesa da

sociobiodiversidade em face da ação de agentes externos à área, como é o

caso de potenciais produtores de soja transgênica. A impossibilidade de

realizar pesquisas de campo em todas estas áreas fará com que o objetivo

Page 27: Diego Augusto Diehl - Qualificação

27

desta investigação seja realizar um levantamento básico das populações e dos

modos de vida existentes nestas áreas, especialmente em termos de sua

relação com o meio ambiente, e, a partir do método lógico-dedutivo, indicar os

potenciais impactos socioambientais que a expansão da produção de cultivares

transgênicos poderá acarretar.

Estes potenciais impactos demandam, por parte do Direito, uma

resposta efetiva no que se refere às relações sociais que são estabelecidas, o

que jamais é realizado pelos juristas sem uma determinada teoria do Direito. A

adoção da perspectiva socioambiental para a análise do Direito Ambiental em

sua relação com o objeto de estudo ensejará, portanto, a adoção de uma teoria

crítica e analética do Direito, que não é meramente dialética porque analisa a

totalidade concreta desde a perspectiva ética da Alteridade, do Outro negado,

roubado e excluído, e não apenas dos entes inseridos dentro da Totalidade-

dominante.

“O outro como outro, isto é, como centro de seu próprio mundo (embora seja um dominado ou oprimido) pode dizer o impossível, o inesperado, o inédito em meu mundo, no sistema. Todo homem, cada homem, enquanto é outro é livre, e enquanto é parte ou ente de um sistema é funcional, profissional ou membro de uma certa estrutura, mas não é outro. É-se outro na medida em que é exterior à totalidade, e neste mesmo sentido se é rosto (pessoa) humano interpelante”36.

Trata-se, na perspectiva de DUSSEL, de uma ética da libertação dos

povos oprimidos do Terceiro Mundo37, identificados, neste caso, sob a

perspectiva dos povos amazônicos, das comunidades que sofrem com os

impactos e conflitos gerados pela totalidade do atual sistema-mundo

dominante, materializado no presente estudo com o avanço do cultivo de soja

transgênica nas áreas estudadas. Será, portanto, sob esta perspectiva ética e

analética que serão analisados os princípios e instrumentos jurídicos de Direito

Ambiental, comprometidos com a realização histórica, pelos próprios povos da

Amazônia, de sua libertação histórica e efetivação de direitos humanos.

36 DUSSEL, Enrique. Filosofia da libertação. São Paulo: Loyola, s.d. P. 51. 37 DUSSEL, Enrique. Ética da Libertação na idade da globalização e da exclusão. Tradução de Ephraim F. Alves, Jaime A. Clasen e Lúcia M. E. Orth. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

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28

7 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

A partir das referências bibliográficas identificadas ao final do presente

projeto, da investigação de dados empíricos referentes à situação atual do

avanço da fronteira agrícola na Amazônia, e das condições gerais do plantio de

lavouras geneticamente modificadas, formulou-se o seguinte plano geral de

obra:

1) INTRODUÇÃO

2) O PROCESSO DE INSERÇÃO DA AMAZÔNIA NO MERCADO MUNDIAL

2.1) “Desenvolvimento” e “desenvolvimentismo”: a implantação dos grandes projetos na Amazônia

2.2) Desenvolvimento desigual e combinado: as veias abertas da Amazônia

2.3) A expansão da fronteira agrícola e o desenvolvimento da agricultura capitalista: violência e grilagem

3) O NASCIMENTO DA BIOTECNOLOGIA E O REGIME JURÍDICO DOS TRANSGÊNICOS NO BRASIL

3.1) Dos agrotóxicos aos transgênicos: a formação das transnacionais da biotecnologia

3.2) As estratégias de crescimento das empresas transnacionais

3.3) A formação do regime jurídico internacional para a biotecnologia e sua introdução no Brasil

3.4) O atual regime jurídico de biossegurança no Brasil e a liberação comercial de cultivares transgênicos pela CTNBio

4) A GEOPOLÍTICA DA SOJA NA AMAZÔNIA: AS CADEIAS PRODUTIVAS E A INTRODUÇÃO DOS TRANSGÊNICOS

4.1) Os corredores de escoamento e de expansão da produção da soja na Amazônia

4.2) A introdução da soja transgênica na região de Paragominas: história, dinâmica de mercado, conseqüências

4.3) O início da expansão da soja transgênica na BR-163: história, perspectivas do mercado atual e as conseqüências de uma potencial agressão aos povos tradicionais nas Unidades de Conservação e Terras Indígenas

5) OS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS COMO INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO SOCIOAMBIENTAL EM FACE DA EXPANSÃO DA SOJA TRANSGÊNICA NA AMAZÔNIA

5.1) As terras indígenas e unidades de conservação em face do princípio da precaução

5.2) O socioambientalismo como princípio orientador da ação dos órgãos

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29

públicos

5.3) O protagonismo dos povos da Amazônia na construção de um Direito insurgente

6) CONCLUSÃO

Trata-se, então, de esclarecer a perspectiva de investigação da

presente pesquisa, que justifica a organização dos tópicos de apresentação

sob a disposição acima proposta. Para isso, optou-se por uma breve

explanação acerca do conteúdo de cada capítulo, bem como seu

encadeamento lógico dentro da estrutura proposta.

* CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

Considera-se que uma boa pesquisa e um bom pesquisador

demonstram, já de início, os pressupostos teóricos e a visão de mundo geral

que nortearam a busca de informações sobre o objeto de estudo. Aliás, a

própria identificação do objeto, dentro da imensidão de “objetos possíveis” que

existem dentro da totalidade concreta, já é em si o resultado da aplicação de

uma determinada visão de mundo (filosofia) e de uma determinada forma de

recorte do objeto de estudo (epistemologia).

Dessa forma, o capítulo introdutório terá por objetivo apresentar os

principais elementos teórico-metodológicos que orientaram o recorte do objeto

de estudo e a forma de tratamento deste objeto na sua relação com a

totalidade concreta.

A perspectiva ética do compromisso com o Outro negado, violentado,

excluído e oprimido pelo atual sistema-mundo imperialista hegemônico é um

primeiro elemento que determina o recorte do objeto de estudo e a perspectiva

teórica adotada na pesquisa, que, longe de ser “neutra”, assume o ponto de

vista filosófico da Exterioridade, representada neste caso pelos povos da

Amazônia. Sua conseqüência lógica é a adoção da perspectiva socioambiental,

no âmbito de uma teoria do Direito Ambiental, e de uma filosofia materialista e

dialética, no estudo das mediações existentes entre as relações jurídicas e as

relações sociais em geral, inscritas no processo da reprodução material da vida

concreta.

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30

A condição material dos povos da Amazônia, enquanto povos

oprimidos, violentados em sua dignidade e dominados pelo atual sistema-

mundo dominante afasta desde já toda a possibilidade de aplicação de teorias

relativistas de análise da realidade. O sujeito oprimido é aquele que mais

necessita conhecer a realidade material, objetiva, para que possa realizar seu

movimento histórico de libertação. Justamente por isso, o ponto de vista dos

povos da Amazônia não está comprometido com o encobrimento da realidade

concreta, mas sim com o seu des-velamento.

Justamente por isso, faz-se necessária uma teoria adequada da

realidade amazônica e do processo de introdução das grandes empresas

transnacionais de biotecnologia na região, inseridos dentro do contexto do

mercado mundial capitalista.

Obras de referência 38:

CORAZZA, Gentil. O Todo e as Partes: uma introdução ao método da economia política. In: Estudos Econômicos , São Paulo, vol. 26, Número Especial, p. 35-50.

DUSSEL, Enrique. Método para uma filosofia da libertação: superação analética da dialética hegeliana. Tradução de Jandir João Zanotelli. São Paulo: Loyola, 1986.

KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

LÖWY, Michael. As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen: marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2000.

LYRA FILHO, Roberto. O que é Direito. 17ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1999.

* CAPÍTULO 2: O PROCESSO DE INSERÇÃO DA AMAZÔNIA NO MERCADO

MUNDIAL

2.1) “Desenvolvimento” e “desenvolvimentismo”: a implantação dos

grandes projetos na Amazônia

2.2) Desenvolvimento desigual e combinado: as veias abertas da

Amazônia

38 Por obras de referência compreendem-se as contribuições teóricas consideradas mais relevantes, dentre todas as referências bibliográficas utilizadas, para a construção de cada capítulo inscrito no presente projeto.

Page 31: Diego Augusto Diehl - Qualificação

31

2.3) A expansão da fronteira agrícola e o desenvolvimento da agricultura

capitalista: violência e grilagem

Para que se compreenda a complexidade do processo de inserção dos

organismos geneticamente modificados na Amazônia, é imprescindível que se

realize inicialmente um rigoroso estudo sobre o processo histórico no qual a

Amazônia foi integrada às economias imperialistas hegemônicas, no contexto

do chamado capitalismo tardio do pós-guerra.

Sem esta perspectiva da totalidade do sistema-mundo na qual a

Amazônia foi inserida, neste contexto histórico determinado, tornar-se-ia

absolutamente incompreensível o processo político e econômico de introdução

dos chamados “grandes projetos” na região, além da expansão da fronteira

agrícola, que são condições necessárias e indispensáveis para a posterior

introdução dos cultivos transgênicos.

Considerou-se a possibilidade de abordar a introdução dos OGMs na

Amazônia dentro do próprio contexto da expansão da fronteira agrícola na

região. Apesar disso, considerando que a introdução de cultivares transgênicos

representa um outro nível qualitativo das relações de produção em geral,

tornar-se-iam muito pobres as mediações identificadas entre o processo geral

de expansão da grande agricultura capitalista na Amazônia, e a subseqüente

produção de cultivares GM.

Ademais, é necessário que se compreenda o caráter desigual e

combinado do processo de desenvolvimento econômico da região amazônica,

inscrita dentro da periferia do sistema-mundo imperialista, para que se torne

possível uma abordagem correta do processo lógico e histórico de introdução

da biotecnologia na Amazônia.

O presente capítulo será, portanto, a síntese de uma ampla revisão

bibliográfica das mais importantes obras de caráter teórico e histórico

referentes à nova divisão internacional do trabalho inaugurada no período do

capitalismo tardio, ao papel desempenhado pelos países periféricos neste

contexto (e mais especificamente o papel que coube ao Brasil e aos países

latino-americanos nesse processo), e ao contexto histórico da implantação dos

grandes projetos e do desenvolvimento da grande agricultura capitalista na

Amazônia.

Page 32: Diego Augusto Diehl - Qualificação

32

Obras de referência:

AMIN, Samir. O Desenvolvimento desigual: ensaio sobre as formações sociais do capitalismo periférico. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1976.

LEAL, Aluízio Lins. Uma sinopse histórica da Amazônia . São Paulo: 1991. (mimeo.).

MANDEL, Ernest. O capitalismo tardio. Tradução de Carlos Eduardo Silveira Matos et alli. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

PICOLI, Fiorelo. O capital e a devastação da Amazônia. São Paulo: Expressão Popular, 2006.

PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 24ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1980.

RIBEIRO, Darcy,. Teoria do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1972.

TRECCANI, Girolamo Domenico; RIBEIRO, Paulo de Tarso Ramos. Violência e grilagem: instrumentos de aquisição da propriedade da terra no Pará. Belém: UFPA: ITERPA, 2001.

CAPÍTULO 3: O NASCIMENTO DA BIOTECNOLOGIA E O REGIME

JURÍDICO DOS TRANSGÊNICOS NO BRASIL

3.1) Dos agrotóxicos aos transgênicos: a formação das transnacionais da

biotecnologia

3.2) As estratégias de crescimento das empresas transnacionais

3.3) A formação do regime jurídico internacional para a biotecnologia e

sua introdução no Brasil

3.4) O atual regime jurídico de biossegurança no Brasil e a liberação

comercial de cultivares transgênicos pela CTNBio

A biotecnologia nasceu num contexto distinto, apesar de subseqüente,

ao processo de reorganização da divisão internacional do trabalho, no sentido

em que é analisado no Capítulo 2. Enquanto resultado do avanço das forças

produtivas e do conhecimento científico, ela passa a configurar uma nova

fronteira e perspectiva de acumulação capitalista, que tem à sua frente grandes

empresas multinacionais do ramo de produtos agroquímicos, que buscam uma

recomposição de suas taxas de lucro em pleno período de crise geral do início

da década de 1970.

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33

Trata-se, portanto, no presente capítulo, de investigar o processo

histórico de ascensão da biotecnologia desenvolvida por grandes empresas

transnacionais, e como estas últimas passaram a construir suas estratégias de

atuação, especialmente no países marcados por processos de

desenvolvimento desigual e combinado.

Nesse sentido, abordar-se-á a formação do regime jurídico próprio

referente à biotecnologia e sua disseminação aos demais países a partir da

análise das novas relações de produção inauguradas nesse processo, e, além

disso, das contradições e dos conflitos gerados pelos diferentes grupos de

interesse envolvidos nesse mesmo processo.

É apenas com a análise das condições de segurança jurídica

oferecidas às grandes transnacionais de biotecnologia, associada às suas

estratégias de inserção na grande agricultura capitalista que será possível

compreender a lógica e o sentido histórico da recente introdução dos cultivos

GM na Amazônia.

Obras de referência

ANDRIOLI, Antônio Inácio e FUCHS, Richard (org.). Transgênicos: as sementes do mal – a silenciosa contaminação de solo s e alimentos . Tradução de Ulrich Dressel. São Paulo: Expressão Popular, 2008.

DERANI, Cristiane (org.). Transgênicos no Brasil e biossegurança. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2005.

HYMER, Stephen. Empresas multinacionais: a internacionalização do capital. 2ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1983.

FOUCAULT, Michel. O nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

* CAPÍTULO 4: A GEOPOLÍTICA DA SOJA NA AMAZÔNIA: AS CADEIAS

PRODUTIVAS E A INTRODUÇÃO DOS TRANSGÊNICOS

4.1) Os corredores de escoamento e de expansão da produção da soja na

Amazônia

4.2) A introdução da soja transgênica na região de Paragominas: história,

dinâmica de mercado, conseqüências

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4.3) O início da expansão da soja transgênica na BR-163: história,

perspectivas do mercado atual e as conseqüências de uma potencial

agressão aos povos tradicionais nas Unidades de Conservação e Terras

Indígenas

Todos os capítulos anteriores terão sido momentos necessários,

imprescindíveis para munir com instrumentos de análise o presente capítulo,

que se configura, certamente, como o momento de elevação do abstrato ao

concreto, essencial para identificar o processo histórico concreto a partir do

qual se dá a introdução da soja transgênica na Amazônia.

Trata-se portanto de um momento no qual se identificam as mediações

estabelecidas entre os elementos identificados no capítulo 2 (especialmente a

expansão da fronteira agrícola) e como se dá a introdução da biotecnologia

analisada no capítulo 3. A identificação desta relação não se dará, neste ponto,

por mera aplicação lógico-dedutiva, mas ensejará pesquisas concretas e a

utilização de métodos indutivos, especialmente para indicar de que forma a

cadeia produtiva da soja, inscrita dentro do processo de expansão da fronteira

agrícola, contribui para a introdução de cultivares transgênicos na região

amazônica.

Dessa forma, além de um amplo levantamento bibliográfico a respeito

do processo de expansão (ou, como convém dizer, de geopolítica) da soja na

Amazônia, pretende-se realizar estudos de campo para identificar, ainda que

precária e inicialmente (tendo em vista o caráter absolutamente recente desse

processo), alguns efeitos imediatos da introdução de lavouras transgênicas no

bioma amazônico. Para isso, tomar-se-á o caso específico de Paragominas,

identificando os motivos pelos quais tornou-se possível a introdução de cultivos

transgênicos nesta região.

No que tange ao eixo de expansão da fronteira agrícola ao longo da

BR-163, o presente capítulo pretende levantar e sistematizar dados sobre o

processo atual de construção de sua cadeia produtiva, além de monitorar os

potenciais conflitos decorrentes da expansão dos cultivos de soja transgênica

do norte do Mato Grosso em direção ao Estado do Pará, especialmente nas

áreas no entorno de espaços territoriais especialmente protegidos, como

Unidades de Conservação e Terras Indígenas.

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35

Os instrumentos para a análise de alguns efeitos e impactos

decorrentes da introdução da soja transgênica serão conferidos a partir de

levantamento bibliográfico de estudos científicos elaborados por pesquisadores

que não sofram com eventuais “conflitos de interesses” com empresas

biotecnológicas, isto é, que não estejam tencionados de alguma forma a

“maquiar” ou “suavizar” os impactos que efetivamente ocorrem em virtude da

introdução de cultivares geneticamente modificados.

Obras de referência

FLEXOR, Georges G.; LEÃO, Sandro Augusto Viégas; LIMA, MARIA Do Socorro. A expansão da cadeia da soja na Amazônia: os casos do Pará e Amazonas. XLIV Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural. Disponível em: <http://www.sober.org.br/palestra/5/695.pdf>. Acesso em 20/03/2010.

MPEG, Museu Paraense Emílio Goeldi; EMBRAPA Amazônia Oriental; Amigos da Terra - Amazônia Brasileira. A Geopolítica da soja na Amazônia. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação, 2004.

NODARI, Rubens Onofre; FERMENT, Gilles; ZANONI, Magda. Estudo de caso: Sojas convencionais e transgênicas no Planalt o do Rio Grande do Sul. Propostas de sistematização de dados e elabora ção de estudos sobre biossegurança . Brasília: NEAD, 2009.

SCHLESINGER, Sérgio. Soja e direitos humanos. Rio de Janeiro: PAD, 2007.

TORRES, Maurício (Org.) Amazônia revelada: os descaminhos ao longo da BR 163. Brasília: CNPq, 2005.

* CAPÍTULO 5: OS ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE

PROTEGIDOS COMO INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO SOCIOAMBIENTAL

EM FACE DA EXPANSÃO DA SOJA TRANSGÊNICA NA AMAZÔNIA

5.1) As terras indígenas e unidades de conservação em face do princípio

da precaução

5.2) O socioambientalismo como princípio orientador da ação dos órgãos

públicos

5.3) O protagonismo dos povos da Amazônia na construção de um Direito

insurgente

Page 36: Diego Augusto Diehl - Qualificação

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A partir da análise do processo de expansão da soja transgênica na

Amazônia e de seus potenciais riscos e impactos para o ecossistema e a

população locais, o capítulo final pretende abordar os instrumentos jurídicos

disponibilizados pelo Direito brasileiro para assegurar os direitos humanos das

comunidades amazônidas, especialmente aquelas localizadas nos chamados

espaços territoriais especialmente protegidos.

Por se tratar de uma perspectiva socioambiental, a abordagem teórica

do ordenamento jurídico vigente não terá como centro de análise a proteção

meramente do meio ambiente, mas sim do meio ambiente em sua relação com

as populações humanas que vivem na região amazônica. Dessa forma,

privilegia-se na análise os espaços territoriais especialmente protegidos que se

configuram enquanto instrumentos jurídicos socioambientais em favor dos

povos da Amazônia, especialmente as Terras Indígenas e as Unidades de

Conservação de Uso Sustentável.

O capítulo não trata, portanto, exclusivamente de uma análise do

ordenamento jurídico sob uma dada teoria do Direito e dos direitos humanos,

mas pretende abordar este ordenamento na medida em que potencializa as

ações de resistência e de insurgência dos sujeitos histórico-concretos do

processo de libertação dos povos da periferia do atual sistema-mundo, que, no

caso da Amazônia, são os próprios povos amazônidas (indígenas, ribeirinhos,

seringueiros, pescadores, extrativistas, cabôcos, camponeses etc).

Obras de referência:

DUSSEL, Enrique. Ética da Libertação na idade da globalização e da exclusão. Tradução de Ephraim F. Alves, Jaime A. Clasen e Lúcia M. E. Orth. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

FOSTER, John Bellamy. A ecologia de Marx: materialismo e natureza. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental brasileiro. 15ª ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

PASUKANIS, Eugeny Bronislanovich. A teoria geral do direito e o marxismo. Tradução de Paulo Bessa. Rio de Janeiro: Renovar, 1989

SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e novos direitos: proteção jurídica à diversidade biológica e cultural. São Paulo: Peirópolis, 2005.

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37

8 CRONOGRAMA

ABRIL/10 - Levantamento de dados e de bibliografia sobre as cadeias produtivas da soja nas áreas de expansão da fronteira agrícola na Amazônia

MAIO/10 - Estudo e monitoramento das empresas que compõem a cadeia produtiva da soja na Amazônia (CARGILL, VALE, HERMASA, MONSANTO etc)

JUNHO/10 - Primeira análise de campo na região de Paragominas: levantamento de dados sobre o comércio local de sementes, insumos e prestação de serviços; logística da produção e escoamento da soja; identificação dos principais atores envolvidos no processo e/ou impactados pela expansão dos cultivos GM

JULHO/10 - Revisão bibliográfica sobre o regime jurídico dos transgênicos e dos espaços territoriais especialmente protegidos (terras indígenas e unidades de conservação); levantamento de estudos científicos referentes aos impactos sócio-ambientais potencialmente provocados pelos transgênicos

AGOSTO/10 - Pesquisa de dados e de campo sobre a cadeia produtiva da soja na região de Paragominas: realização de entrevistas semi-estruturadas para a análise de impactos e conflitos envolvendo a expansão da cadeia produtiva da soja e da introdução de cultivares transgênicos

SETEMBRO/10 - Sistematização dos dados coletados em Paragominas e análise dos conflitos entre os atores envolvidos; identificação de possíveis mediações com estudos científicos referentes aos impactos sócio-ambientais potencialmente provocados pelos transgênicos

OUTUBRO/10 - Levantamento de dados referentes às Unidades de Conservação e Terras Indígenas na área de influência da BR-163 (estudo do Zoneamento Ecológico-econômico; identificação e estudo dos planos de manejo existentes; levantamento de dados sobre as populações e comunidades que vivem nas áreas protegidas); análise dos dados coletados em sua relação com a expansão da cadeia produtiva da soja na região

NOVEMBRO/10 - Sistematização dos dados obtidos na área de influência da BR-163 e comparação com os dados obtidos em Paragominas; identificação dos potenciais atores impactados pela introdução da soja transgênica na BR-163 e de suas possibilidades de resistência a partir dos instrumentos jurídicos conferidos pelos espaços territoriais especialmente protegidos

DEZEMBRO/10 - Redação provisória da dissertação final JANEIRO/11 - Revisão do texto, correções e revisão referencial FEVEREIRO/11 - Redação final

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38

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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