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DIFERENÇA ENTRE TAXA E TARIFA Muito pertinente, em algum momento do estudo do direito tributário, fazer a diferenciação entre taxa e tarifa. Fudamentalmente, é necessário dizer que, por força dos artigos 145 CF/88 e 5º CTN, taxa é espécie tributária, enquanto que a tarifa deriva de relação contratual. Cabe aqui uma observação. Alguns autores diferenciam a tarifa de preço público, de modo que a tarifa seria uma nomenclatura utiizada em relação às concessionárias, por força do disposto no artigo 175 da CF e o preço público seria em relação ao ente público, como afirma o professor Luís Emygdio. Diferenças entre Taxa e Tarifa: 1) COMPULSORIEDADE: essa compulsoriedade se refere à utilização o serviço. TAXA: Há compusoriedade na utilização do serviço, porque há, no caso, um interesse público maior. A compulsoriedade está sumulada no verbete 545 do STF Exemplo: Taxa de utilização e lixo - não se pode dizer que não se quer a coleta em sua residência, pois é necessáio para a saúde pública, de um modo geral, que o lixo seja sempre recolhido. TARIFA: No caso da tarifa a utilização é facultativa, não se podendo impor. Exemplo: Serviço de telefonia. Não importa quão importante possa ser o serviço prestado, fundamental é saber que se pode viver sem ele, pode se optar por não possuir um telefone.

DIFERENÇA ENTRE TAXA E TARIFA

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DIFERENÇA ENTRE TAXA E TARIFAMuito pertinente, em algum momento do estudo do direito tributário, fazer a diferenciação entre taxa e tarifa.

Fudamentalmente, é necessário dizer que, por força dos artigos 145 CF/88 e 5º CTN, taxa é espécie tributária, enquanto que a tarifa deriva de relação contratual.

Cabe aqui uma observação.

Alguns autores diferenciam a tarifa de preço público, de modo que a tarifa seria uma nomenclatura utiizada em relação às concessionárias, por força do disposto no artigo 175 da CF e o preço público seria em relação ao ente público, como afirma o professor Luís Emygdio.

Diferenças entre Taxa e Tarifa:

1) COMPULSORIEDADE: essa compulsoriedade se refere à utilização o serviço.

TAXA: Há compusoriedade na utilização do serviço, porque há, no caso, um interesse público maior.

A compulsoriedade está sumulada no verbete 545 do STF

Exemplo: Taxa de utilização e lixo - não se pode dizer que não se quer a coleta em sua residência, pois é necessáio para a saúde pública, de um modo geral, que o lixo seja sempre recolhido.

TARIFA: No caso da tarifa a utilização é facultativa, não se podendo impor.

Exemplo: Serviço de telefonia. Não importa quão importante possa ser o serviço prestado, fundamental é saber que se pode viver sem ele, pode se optar por não possuir um telefone.

2) ESSENCIALIDADE DO SERVIÇO: Nesse caso, a essencialidade de que se trata aqui não é a mesma da contida no CDC. O que se deve ter em mente quando se fala de essencialidade da taxa é se o serviço é típico ou atípico, ou seja se é próprio do estado ou não.

TAXA: Serviço típico, próprio de Estado;

TARIFA: pode ser exercido por particular, sendo o mesmo comercial ou industrial.

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3) SOLICITAÇÃO DO SERVIÇO:

TAXA: por conta da compulsoriedade do serviço, na taxa este não é solicitado.

TRARIFA: o serviço é solicitado pelo usuário, pois a tarifa é contratual. Contratos aministrativos de adesão, é verade, mas diferencia da taxa, que é tributo, por ser contratual.

4) UTILIZAÇÃO POTENCIAL:

TAXA: É consenso que a utilização potencial é critério de cobrança da taxa, ou seja, mesmo que você e regra, nunca ue, omo no caso da taxa de incêndio, o fato da possibilidade de utilizaã (potencial), autoriza a sua cobrança.

TARIFA:Regra geral é que a tarifa só deve ser cobrada se a utiliação for efetiva. Contudo, há a previsão da tarifa minima, que não deixa e ser uma utilização potencial, ou seja, mesmo que não use, tem que pagar, pela manutenção do serviço, este é o entendimento do STJ. É o raiocínio da solidariedade.

Questões contrvertidas:Energa Elétrica: para o STJ é um tarifa: conratual, solicitada, atípica...Gás: para o STJ é tarifa;Água e Esgoto: Existem duas correntes:1ª corrente entende que é TAXA porque é próprio do estado, a utilização é compulsória, porque tem um interesse público maior, que é a saúde pública.2ª corrente ( defendida na jurisprudência) entende que é TARIFA porque a utiizaçã seria facultativa, já que em algun estados pode se ter fossas e poços artesianos.

Bom,esses são os principis critérios de distinção entre a taxa e a tarifa

Taxa é um TRIBUTO que é pago ou quando um serviço público determinável e comensurável é prestado ou posto a disposição do contribuinte, ou quando o Estado exerce seu poder de polícia (atividade fiscalizadora do poder público). Há taxas de manutenção e taxas de fiscalização, por exemplo. 

Já Tarifa é um PREÇO PÚBLICO. Ela é cobrada normalmente por uma concessionária em contraprestação a um serviço cuja exploração é definida pela Constituição como de competência do Estado, mas que pode ser concedida a um ente particular para sua execução. Temos assim as tarifas telefônicas e de energia elétrica, como exemplos.

7.Conclusões

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Levados em consideração as singelas ilações acima, pode-se extrair as seguintes conclusões:

1. O Direito Público deve se preocupar, sobremaneira, com a atividade de tributação do Estado, não podendo admitir a existência de conceitos vagos, o que só contribuiria para o aumento da insegurança jurídica dos contribuintes, o lado mais fraco da relação jurídica tributária. Daí a importância de se conceituar e diferenciar, com o máximo de precisão possível, o que é taxa e o que é tarifa, posto que tarifas não são tributos e muitas taxas são cobradas como se fossem tarifas, com o intuito de ficarem livres das limitações constitucionais atinentes aos tributos.

2. De acordo com o regime constitucional das taxas, a instituição dessa espécie tributária corresponde sempre a uma prestação estatal diretamente dirigida ao contribuinte. Trata-se, portanto, de um tributo vinculado, somente podendo apresentar como hipótese de incidência a limitação de direitos e liberdades subjetivas do indivíduo (taxa de polícia) ou a prestação de um serviço público específico e divisível (taxa de serviço).

3. Dessa premissa decorre que a taxa é regida pelo princípio da retributividade, vale dizer, deve o Estado por meio de sua cobrança tão-somente suprir seus cofres na exata medida do gasto que experimentou com o exercício do poder de polícia ou com a prestação do serviço público, não podendo obter lucro com essa espécie tributária.

4. Para atender ao princípio da retributividade, observa com propriedade Carrazza que a base de cálculo da taxa deve dimensionar o custo da atividade prestada pelo Estado, sem qualquer alusão à condição do contribuinte (v.g., seus rendimentos, o volume das operações mercantis que presta, seu patrimônio líquido etc.). Atende-se, assim, ao comando inserto no § 2º, do art. 145, da Constituição Federal, que não só interdita às taxas terem a mesma base de cálculo dos impostos já existentes, como também proíbe que na fixação de bases de cálculo de taxas sejam levados em conta índices de tributação típicos dos impostos.

5. Diante das incorreções terminológicas de legisladores e administradores públicos, não raras são às vezes em que taxas são cobradas como se tarifas fossem, e vice-versa. Por essa razão, devemos sempre verificar o regime jurídico informador da exação, a fim de estabelecer sua correta natureza jurídica, para o que não importa a denominação utilizada. O rótulo, portanto, não determina o conteúdo; é o conteúdo que vale.

6. As tarifas são previstas no art. 175, parágrafo único, III, da CF, e dizem respeito ao preço cobrado pelo delegado de serviço público ao administrado

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como maneira de exploração econômica da atividade delegada. Sua diferença essencial em relação às taxas – além, claro, de não se constituírem em tributos – reside no fato de que elas admitem validamente a presença do elemento lucro, sem o qual, aliás, não haveria a exploração econômica do serviço delegado.

7. As tarifas são uma espécie do gênero preço público. Por preço público entende-se aquele preço que pode sofrer restrição quanto à livre fixação do valor do produto, por parte do vendedor, graças ao fato de que, ou são atividadesprivativas do Estado, que podem ser exercidas por particulares no caso de delegação, ou são atividades de interesse público, que podem, não obstante, serem exercidas livremente pelos particulares, mediante autorização, como será o caso, por exemplo, da educação.

8. Nos casos de autorização, tem-se a cobrança do preço público em sentido estrito. O preço público em sentido estrito se diferenciará da tarifa, cobrada nos casos de delegação, porque o seu regime jurídico é mais flexível do que aquela, fato este evidenciado na desnecessidade de permissão prévia para se aumentar o valor de um preço público em sentido estrito, e pela ausência do princípio da modicidade do preço, presente no caso das tarifas.

Parecer. Distinção entre taxa (tributo) e tarifa (preço). Impossível a cobrança de taxas nas concessões, permissões, autorizações e parcerias público-privadas. Nas concessões de serviços públicos, à rigidez dos princípios constitucionais-tributários (legalidade,tipicidade. Irretroatividade, anterioridade) invalidariam a flexibilidade que adorna as modernas formas de interação entre o Estado e a sociedade tendo em vista a satisfação das necessidades coletivas.Somente tarifas (preços) são compatíveis com a equação econômico-financeira dos contratos de concessão. Serviços auxiliares do poder de polícia podem ser objeto de concessão. Certificação de veículos. Remoção e guarda de veículos irregulares ou arrestados pelo Poder Judiciário.

 Continua grassando séria controvérsia entre taxa e tarifa, na doutrina e na jurisprudência, apesar de a primeira pertencer ao ramo do direito público, onde vige o princípio da estrita legalidade, e a segunda situar-se no âmbito do direito privado, regido pelo princípio da autonomia da vontade.                        Em matéria de pedágio, por exemplo, a discussão perdura mesmo após o advento da Constituição de 1988, que pelo seu art. 151, V, praticamente, conferiu natureza tributária ao pedágio à medida que vedou o estabelecimento de   ‘limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo poder público’.

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                        Muitos estudiosos enxergam exatamente nessa ressalva a natureza tarifária do pedágio, de sorte a excluí-la da proibição de instituir a taxa que, como sabemos, é espécie tributária.                        Na verdade, a Carta de 1988 acabou por conferir natureza tributária ao pedágio, pois do contrário a ressalva seria de toda desnecessária   [01]   já que a proibição refere-se aos tributos em geral. Mas, a jurisprudência formada em torno da natureza tarifária do pedágio, à época em que a utilização da rodovia pedagiada era facultativa (via Anchieta), pois existia a Estrada Velha do Mar, hoje, interditada, tornou-se irreversível.                        No setor de águas e esgotos a controvérsia também é bastante freqüente. Maioria dos Estados e dos Municípios conferiram caráter tarifário pela sua praticidade ou comodidade, unificando a conta de esgotos com a de águas. Como a intensidade do uso do serviço de esgotos é de difícil detecção, utiliza-se de um critério quantitativo fictício, que chega a ser abusivo ou irrazoável, consistente no dobro ou triplo do valor correspondente à quantidade de água consumida e aferida pelo hidrômetro, mensalmente.

            Nessa matéria, costuma-se invocar a faculdade de o poder público instituir a cobrança de taxa ou a cobrança de tarifa, por critério de oportunidade e de conveniência.            De fato, o serviço de distribuição de água e o de coleta de esgoto não configuram serviço público essencial, indelegável, podendo ser concedido a uma empresa particular ou estatal como a SABESP, a exemplo do que ocorre com os serviços de fornecimento de energia elétrica, de gás encanado, de telefonia etc.            Entretanto, não nos parece possível a livre opção em relação a determinado serviço, apesar de não configurar serviço essencial do Estado, quando ele estiver submetido ao regime de utilização compulsória como acontece com os serviços de esgotos, por força do art. 11  [02]  da Lei nº 2.312, de 3-9-54.            Por isso, asseveramos que ‘parte dos serviços a cargo da Sabesp, o de esgotos, sendo de utilização compulsória por força de lei editada pela entidade política competente, não poderia estar submetida ao regime de direito privado, mas ao regime tributário. Se o serviço é de utilização compulsória, configura serviço público, o qual só pode ser prestado sob regime de direito público. Do mesmo vício padece a lei municipal de nº 7.687, de 29-12-71, que, por meio dos arts. 33 e 34, instituiu o sistema de remuneração do expediente municipal por meio de preços públicos, revogando os arts. 181 e 184 da Lei nº 6.989, de 29-12-66 (Sistema Tributário do Município), que disciplinava a incidência das taxas de expediente, como se serviços concernentes ao recebimento de petições e requerimentos, sujeitos à apreciação e decisão de autoridade administrativa competente, pudessem ser regidos pelo direito privado’  [03] .                                    Por oportuno, transcrevemos na íntegra interessante acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, onde foi acolhida a tese da remuneração dos serviços de esgotos por meio de tarifa, porém, condenando a sua cobrança por atentar contra princípios próprios do Direito Tributário, como os da divisibilidadee e do efeito não confiscatório.

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            "VOTO Nº10974            APELAÇÃO Nº 510.473-5/0-00.            Comarca: SÃO BERNARDO DO CAMPO            Ação ordinária – Anulatória            Apelantes: FIAÇÃO PESSINA S/A. E OUTRO.            Apelados: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BERNARDO DO CAMPO E OUTRO            AÇÃO ANULATÓRIA – PREÇO PÚBLICO, TARIFA OU TAXA – SERVIÇO DE COLETA DE ESGOSTOS - Município de São Bernardo do Campo – Preliminares de ilegitimidade da SABESP, inépcia da inicial e carência da ação – Afastadas – Regime da cobrança: tarifa e não taxa ou preço público – Inexistência de violação aos princípios da estrita legalidade por não ser taxa – Regime jurídico da tarifa que não autoriza a cobrança ou fixação do valor arbitrariamente – Critério do equilíbrio econômico-financeiro que deve ser respeitado – Inteligência dos arts. 145, II e 175, parágrafo único, I e IV, da CF/88 – Caráter confiscatório da tarifa – Caracterização – Inexistência da prestação do serviço que aparece como pressuposto da instituição – Comprovada – Critério da divisibilidade não respeitado ao lançar, sem medição, 40.000 m3 por mês – Honorários advocatícios arbitrados e com inversão considerando o resultado – Provido o recurso da autora e prejudicado o da ré, nos termos do acórdão.            No presente feito, Fiação Pessina S/A. ingressou com uma ação anulatória de débito fiscal contra a Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo, precedida de medida cautelar, objetivando fossem anulados todos os lançamentos de preço públicos de coleta de esgoto, instituídos pelo Decreto 12.670/98, alterado pelos Decretos 12.928/99 e 13.995/02, desde abril de 1998, totalizando a importância à época em R$ 12.920.251,45.            Deferido pedido da autora para que a SABESP integrasse o pólo passivo da demanda, a fls. 561.            A r. sentença de fls. 766/774, cujo relatório se adota, julgou improcedentes ambas as ações, principal e cautelar, tornando sem efeito a liminar deferida e condenando a autora ao pagamento das custas e verbas de sucumbência.            Apelou a autora a fls. 782/838. Requer seja o recurso recebido também em seu efeito suspensivo. No mérito, sustenta que a Municipalidade não pode efetivar uma cobrança sobre bem público, cujo domínio é do Estado. Argumenta que, para se verificar a caracterização de serviço de esgotamento sanitário, deve ser implantado um sistema de esgoto, ou efetiva coleta, afastamento e tratamento pela ré, o que não se observa no caso sub judice. Alega que o Poder Público não está autorizado a cobrar preço público por um serviço que nunca prestou, e que não se consubstancia tal cobrança como legítima em virtude do mero despejo de efluentes em vias líquidas. Aponta a inexistência de coletores troncos para realizar a coleta e afastamento dos dejetos no ABC Paulista e, bem assim, a ausência de emissários de tratamento em toda a região. Registra que o Córrego Curral Grande nasce em Diadema, passando por São Bernardo do Campo e desaguando no Ribeirão de Couros. Aduz que o sistema de esgotamento sanitário é composto por canalização e órgãos acessórios, que coletam e transportam os esgotos sanitários a um destino final conveniente, donde se conclui que não se pode equiparar rede pública coletora às vias líquidas; porém, assim o fizeram os

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Decretos Municipais já citados. Assevera que ela, a apelante, é que coleta e realiza o afastamento de seus efluentes, conduzindo-os à estação própria de tratamento, operando transformações químicas e físicas para, posteriormente, despejá-los no Córrego Curral Grande, evitando danos ao meio ambiente. Levanta a ocorrência de violação ao patrimônio e cobrança confiscatória. Mencionando doutrina e jurisprudência, pede o provimento do apelo.            Apelou a Municipalidade a fls. 873/878. Insurge-se contra a fixação de honorários advocatícios, pleiteando seja seu valor elevado, consoante a complexidade do feito. Aguarda o provimento do apelo.            Contra-razões da Prefeitura a fls. 880/893.            Contra-razões da SABESP a fls. 897/907. Em preliminar, argúi ilegitimidade de parte passiva, inépcia da inicial e carência da ação. Rebatendo os argumentos de mérito, pede não seja conhecido o apelo da autora ou, se for, que lhe seja negado provimento.            Sem contra-razões da autora (fls. 92).            Acuso o recebimento dos memoriais, que determino a juntada considerando a consistência das razões e a relevância do julgamento das matérias controvertidas.            Também acuso o recebimento de novos memoriais após o pedido de vista que, pelas mesmas razões, determino a juntada.            É o relatório.            Preliminarmente, justifico o pedido de vista considerando as relevantes razões apresentadas nos memoriais e na sustentação oral apresentada pelo ilustre Professor Roque Antonio Carrazza.            Ainda, em preliminar, rejeito a argüição de ilegitimidade apresentada pela CIA. DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO – SABESP, uma vez que, se de um lado houve sucessão nos serviços executados e, por isso eventual inexistência de participação nos lançamentos aqui discutidos, a rigor, inexiste qualquer prejuízo na sua permanência.            Aliás, muito ao contrário, sua permanência implementa os princípios do devido processo legal e do contraditório, indispensáveis na existência da relação jurídica processual válida.            Não há que se falar em inépcia da inicial e carência de ação, que a esta altura e da fase processual encontram-se superadas, inexistindo quaisquer irregularidades na inicial ou no pedido.            Outrossim, a questão relacionada com a concessão do efeito suspensivo ao recurso interposto, considerando o resultado e fase em que se encontra o processo, é matéria prejudicada.            Rejeitam-se, assim estas preliminares.            Passam-se a examinar as razões de mérito.            A primeira questão jurídica a ser enfrentada refere-se à natureza jurídica da exação, se tributo da espécie taxa ou preço público ou tarifa.            Examinando as contas juntadas pela autora com a inicial (fls. 83 e ss), apesar de a inicial referir-se a "serviço de esgotamento sanitário", a natureza do serviço está identificada como sendo "P.P. ESGOTO", posteriormente alterado para "E.E.". (fls. 123 ss).            Examinando no contexto geral, deve incluir fornecimento de água mas considerando os lançamentos, deve estar sendo cobrado o serviço de coleta, tratamento e destinação do esgoto industrial que, conforme provas existentes nos autos, o destino final é o despejo no Córrego Curral Grande.

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            A forma de cobrança instituída pela Municipalidade de São Bernardo do Campo é o de tarifa de esgoto que a legislação local denomina de "serviço de esgotamento sanitário".            A primeira observação é a de que tarifa enquadra-se no regime de direito privado e não de direito público.            De outro lado, apesar de existirem nos precedentes jurisprudenciais e lições dos doutrinadores que adotam "tarifa" e "preço público" como sinônimos, adoto aqui a dicotomia dos significados, isto é:            TARIFA é o valor cobrado para remunerar serviço prestado em regime de concessão ou diretamente, pelo regime de direito privado, tendo como parâmetros de sua fixação o do equilíbrio econômico-financeiro; e            PREÇO PÚBLICO é o valor fixado pelo Poder Público, como existe nos casos de tabelamento de preços, sob o regime de direito privado.            Escreve sobre a matéria REGIS FERNANDES DE OLIVEIRA:            "A Constituição da República, ao dispor sobre o regime das concessionárias e permissionárias de serviços públicos, fala em ‘política tarifária’ (inc. III do parágrafo único do art. 175). No texto constitucional anterior falava-se em ‘fixação de tarifas’ para remuneração dos serviços (art. 167).            O que se tem por ‘tarifa’? Cuidando-se de serviço público, com prestação direta, dúvida não há de que se cuida de taxa. O constituinte não é técnico em Direito, e, pois, pode utilizar termos equívocos ou ambíguos". (Receitas não tributárias. Malheiros, 2º ed., p. 55).            Portanto, no meu entender, a cobrança do "serviço de esgotamento sanitário" e aqui discutido, será analisado como a de tarifa, considerando o regime jurídico aplicável.            Antes de adentrar no exame dos fatos controvertidos, deve ser enfrentada a questão se o "serviço de esgotamento sanitário" é serviço público e, se for serviço público específico e divisível, se pode ser cobrado sob o regime jurídico de tarifa ou se, necessariamente, precisa ser cobrado sob a forma e o regime jurídico de taxas.            Conhecida é a lição do saudoso Professor GERALDO ATALIBA (que apregoava e defendia com a eloqüência que lhe era peculiar) que os serviços públicos só poderiam ser remunerados pelo regime jurídico de taxas, espécie de tributo expressamente previsto no art. 145, II, da Constituição Federal de 1988.            Ainda, para reforçar a sua tese, argumentava o ilustre Professor: a Constituição não sugere nada, mas suas regras são obrigatórias e cogentes.            Nessa linha de raciocínio, posicionam-se os tributaristas da escola Paulista da PUC/SP, entre os quais, os professores ROQUE ANTONIO CARRAZA, PAULO DE BARROS CARVALHO, EDUARDO JARDIM, EDUARDO BOTALLO, entre outros.            Nesta matéria, considerando o regime jurídico vigente, ouso discordar desta corrente, para afirmar que a vigente Constituição Federal de 1988 possibilita a cobrança sob dois regimes jurídicos diferentes, isto é, com fundamento no art. 145, II, e no art. 175, parágrafo único, itens I a IV, da CF/88.            Preceitua o art. 145, II, da CF/88:            "A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:             ....................................................................................................................

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            II – taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição".            Escreve o Professor BERNARDO RIBEIRO DE MORAES:            "A taxa, para ser instituída em lei, deve atender a três elementos essenciais: a) ter um pressuposto material vinculado a uma atividade do Poder Público, relacionada diretamente ao contribuinte; b) ter como sujeito passivo da obrigação tributária a pessoa ligada à atividade estatal; c) ter como base de cálculo elemento relacionado com essa atividade estatal. Tal concepção fundamental é postulada pela doutrina contemporânea mais prestigiosa. A não-adoção de qualquer dos elementos acima apontados descaracterizará a taxa".            (Doutrina e práticas das taxas. Revistas dos tribunais, 1975, p. 47/48).            Este é o fundamento jurídico para instituição das taxas.            A segunda hipótese, de instituição das tarifas, preceitua o art. 175, parágrafo único, itens I a IV, da CF/88:            "Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob o regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.            Parágrafo único. A lei disporá sobre:            I – o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;            II – o direito dos usuários;            III – política tarifária;            IV – a obrigação de manter serviço adequado".            Escreve o Professor LUIZ FELIPE SILVEIRA DIFINI:            "A matéria é, inclusive, objeto da Súmula 545 do Supremo Tribunal Federal: ‘Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as institui’. A Súmula é ótimo exemplo de pleonasmo: por certo, as taxas são compulsórias, porque são tributos e tributo é prestação pecuniária compulsória. E também por serem tributos, sujeitam-se ao princípio da anterioridade (e, na Constituição de 1946, sob cuja vigência foi expedida a Súmula, da prévia autorização orçamentária). Em suma, taxa é tributo e preço não. Agora, o que é taxa e o que é preço, ou quando pode ser instituído um ou outro, o texto sumular não auxilia a esclarecer." (Manual de direito tributário. Saraiva, 3º ed., p. 40).            Fazendo o confronto dos dois dispositivos constitucionais, pode-se afirmar que, sem dúvida nenhuma, os serviços públicos podem ser remunerados por meio de taxas (regime jurídico público de tributo) ou mediante a instituição de tarifas (regime jurídico de direito privado).            Cabe aqui frisar que a opção do Poder Público, por um ou outro regime, não é o da liberdade total, mas vinculada às diretrizes traçadas no próprio Texto Constitucional.            Os serviços públicos executados diretamente pelo Estado ou em regime de transferência, que não envolvem ou não se confundem com a atividade empresarial, somente poderão ser remuneradas por meio da instituição de taxas;

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            Entretanto, interpretando a diretriz contida no capítulo "da ordem econômica e financeira" e dos "princípio gerais da atividade econômica", onde ressalta a prevalência da livre iniciativa dos destinatários dos direitos fundamentais sociais, somente as atividades que se enquadram em tal moldura como atividade de prestação de serviços públicos, sem dúvida, poderão ser remunerados por meio de tarifas.            É o caso, no meu entender, das tarifas de água, esgotos, energia elétrica, telefonia, entre outros.            Cabe ressaltar a opção das atividades sujeitas às tarifas que, se instituídas por lei, obedecidas as regras e princípio de direito tributário, poderão ser cobradas pelo regime de taxas (espécie de tributo).            Todavia, a recíproca não é verdadeira, podendo-se afirmar que as atividades (serviços públicos em sentido estrito), não podem ser cobradas sob o regime jurídico de tarifas.            Colocadas estas premissas passo a examinar as questões controvertidas existentes nos autos.            O Código Tributário do Município de São Bernardo do Campo, Lei nº 4.558, de 11 de dezembro de 1997, no seu art. 306, I, prevê a possibilidade de o Poder Público instituir "preços públicos" para remunerar atividades como a discutida nestes autos.            Com efeito, os Decretos nºs. 12.648/98, 12.670/98, 13.928/99 e 13.995/02, invocados como fundamentos das instituições, a rigor, apenas regulamentaram a forma de cobrança, já que a causa da instituição encontra respaldo na Lei nº 4.558/97, especialmente na Lei nº 1.802/69.            No que se refere aos valores cobrados, apesar de a inicial falar em R$ 1.000,00 que foi elevado para R$ 156.284,10, examinando os documentos trazidos com a inicial (fls. 56) verifica-se que o valor inicial anterior ao aumento ocorrido com o Decreto nº 12.670/98 era de R$ 706,50.            Este aumento, mesmo considerando o regime tarifário do art. 175, parágrafo único, itens I a IV, da CF/88, não encontra respaldo no regime jurídico vigente.            Assim sendo, se na concessão ou permissão o critério norteador do valor da tarifa a ser cobrado deve ser o do "equilíbrio econômico financeiro", não autoriza, também, o Poder Público quando exerce diretamente a atividade, fixar as tarifas arbitrariamente e sem a observância dos parâmetros e das molduras fixadas no texto Maior.            Portanto, a primeira análise sob esta óptica macula a exigência da tarifa, já que inexistem justificativas capazes de comprovar o aumento brutal havido na elevação do valor cobrado.            Não há que se falar em ilegalidade por cobrança da tarifa sobre o bem público ou que caracteriza a incompetência do Município considerando que o destino final dos efluentes é o Córrego Curral Grande, que possui uma extensão intermunicipal, uma vez que a cobrança da tarifa de esgoto não possui tal extensão e nem elasticidade.            O cerne da existência ou não dos serviços de esgotamento sanitário refere-se à existência ou não dos coletores, do tratamento e das canalizações até chegar ao final da etapa passível de remuneração, que é canal natural representado pelo Córrego Curral Grande.            Outro argumento apresentado pela apelante-autora é o da inexistência dos serviços públicos tomados como pressuposto da cobrança da tarifa, que

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são matérias de fato devidamente comprovadas nos autos, até em entrevista cujas afirmações do Secretário Mauro Arce demonstram cabalmente a inexistência dos serviços de coleta, tratamento e condução até o destino (Córrego Curral Grande).            Como se tudo isso não bastasse, a conclusão do laudo pericial de fls. 352 é categórico no sentido da inexistência de qualquer tratamento ou serviços de esgotamento sanitário.            Os efluentes produzidos pela autora, através das canalizações próprias, são lançados no Ribeirão dos Couros e, posteriormente, percorrem até o Ribeirão dos Meninos, Rio Tamanduateí e até ser lançado no Rio Tietê.            Afirma categoricamente o perito judicial:            "Em todo esse trajeto, as águas não passam por qualquer tipo de tratamento" (fls. 352).            Na pergunta seguinte, se os despejos recebem qualquer tipo de tratamento por parte dos órgãos componentes, responde:            "Não recebem qualquer tratamento por órgãos Municipais, Estaduais e Federais....." (fls. 352).            Também aqui e, neste particular, a exigência da tarifa discutida, inexistindo o serviço público, não há como encontrar sustentáculo.            A questão relacionada com a ilegalidade da substituição na forma de cobrança da tarifa em lugar da taxa, na parte preliminar, foi afastada.            Quanto ao argumento do regime da instituição, não existe qualquer ilegalidade na cobrança da tarifa em substituição à taxa, uma vez que o regime jurídico vigente autoriza a cobrança da tarifa.            Não há também que se falar em violação do princípio da legalidade, considerando o regime jurídico da tarifa, mesmo qualificada e não sujeita ao princípio da estrita legalidade.            Realmente, acolhendo as razões da autora, não se confunde a rede coletora construída com as canalizações naturais formadas pelos riachos, córregos, rios etc., especialmente quando se encontra comprovado que inexiste qualquer tipo de tratamento por parte dos órgãos públicos municipais, estaduais e ou federais.            O argumento sobre o valor cobrado, seja em decorrência do valor nominal apresentado (R$ 12.920.251,45 – corrigido até a data da propositura da ação) ou o valor apresentado e corrigido até a data da apresentação dos memoriais (R$ 22.654.657,18), representa o valor significativo que, por si só e isoladamente, pode não representar um elemento capaz de medir a capacidade contributiva.            Entretanto, analisando e confrontando com os valores do faturamento da empresa (2003 – segundo memorial), já que o valor exigido representa 31,6% do faturamento, sem dúvida, a tarifa aqui exigida toma feição confiscatória, proibida expressamente o art. 150, IV, da Constituição Federal de 1988.            Ademais, o art. 34 da Lei nº 4.434/96 (Lei do Plano Diretor), além do art. 25 da Lei Orgânica do Município de São Bernardo do Campo, exige como diretriz a implantação, a manutenção etc. do serviço de esgotos.            Não se discute aqui eventual ocorrência dos danos ao meio ambiente, apesar de estar comprovado nos autos que eventual inexistência de produtos químicos nocivo ao meio ambiente, na realidade, decorre do tratamento dos efluentes por obra e providência da própria autora.

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            Ainda, segundo informações existentes nos autos, a empresa-autora encontra-se paralisada com as suas atividades desde o ano de 2003, por obra e acaso da arbitrária e elevadíssima tarifa exigida pela ré.            Nessa dimensão e diretriz, não se pode esquecer que a empresa exerce uma função importantíssima, que a vigente Constituição Federal de 1998, no art. 6º, elegeu como sendo direito fundamental social, que se espalha a partir dos arts. 170 e ss.            Não se pode, além das ilegalidades retroapontadas, através da cobrança de tributos ou tarifas, com efeito confiscatório, inviabilizar a atividade econômica, uma vez que a empresa privada além de possuir direito fundamental social, na prática produz riquezas (PIB – produto interno bruto), oferece postos de trabalho e paga tributos.            Como último argumento, examinando-se as contas de esgoto, sem qualquer medição, estabelece em 40.000 m3 o consumo ou os efluentes lançados, o que fere o princípio da divisibilidade na fixação do valor da tarifa.            Por estes fundamentos, a r. sentença merece total reforma.            Invertem-se os ônus da sucumbência e arbitram-se os honorários advocatícios em 3% do valor dado à causa, devidamente atualizado, com fulcro no art. 20, § 4º, do Código de Processo Civil.            Fica prejudicado o recurso da ré, considerando o resultado, uma vez que o recurso estava direcionado apenas no que se refere aos honorários advocatícios arbitrados.            Isto posto, dá-se provimento ao recurso da autora e prejudicado o da ré, nos termos do acórdão.            YOSHIAKI ICHIHARA, RELATOR DESIGNADO".

INTRODUÇÃO

A proposta deste artigo é analisar as semelhanças e diferenças entre taxa e tarifa, tanto no Direito Financeiro, quanto no Tributário, enfatizando os pontos comuns e divergentes existentes entre alguns doutrinadores.

Nesse diapasão, primeiramente serão apresentados os conceitos de Direito Financeiro e de Direito Tributário.

Na sequência, haverá a explanação do instituto da taxa e da tarifa, primeiramente, sob a ótica financeira, e, em seguida, no campo do Direito Tributário, a fim de levantar as questões mais relevantes.

A fim de iniciar o desenvolvimento do trabalho, apresentar-se-á os conceitos de Direito Financeiro e Direito Tributário.

Segundo Regis Fernandes de Oliveira (2010, p. 91), o Direito Financeiro possui como objeto de estudo as normas financeiras, e visa trabalhar “sobre o dado posto, isto é, sobre a norma editada seja ela de que nível for, buscando compreendê-la e dar-lhe as consequências jurídicas pretendidas”. Na mesma linha de raciocínio, Luiz Celso de Barros e Ricardo Lobo Torres, concordam com tal definição. É significante destacar que, para este autor, o Direito Financeiro “se encontra estritamente imbricado com todos os demais ramos do direito” (TORRES, 2010, p. 115) e representa um conjunto de normas e princípios – próprios e inerentes ao Direito Constitucional e Administrativo – que estabelecem as regras da atividade

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financeira, incumbindo-lhe a regulamentação da constituição e da gestão da Fazenda Pública (TORRES, 2010, p. 12).

Por outro lado, assim como Luiz Celso de Barros, Torres (2010, p. 13) entende que o Direito Tributário é o conjunto de normas e princípios, utilizados pelo Direito Administrativo e Financeiro, “que regulam a atividade financeira relacionada com a instituição e cobrança de tributos: impostos, taxas, contribuições e empréstimos compulsórios”. Ao enfatizar a existência de autonomia entre o Direito Financeiro e o Tributário, cujo objeto é o tributo, Regis Fernandes (2010, p. 109-110), esclarece que “um ramo do direito apenas possui autonomia quando logra apresentar um objeto que lhe seja próprio”. Diferentemente, Barros (1991, p. 135) compreende que o Direito Tributário é uma das ramificações do Direito Financeiro.

Dando continuidade ao presente artigo, passar-se-á à análise da diferença entre taxa e tarifa na seara financeira e, logo depois, na tributária.

Tratando-se do Direito Financeiro, Geraldo Ataliba (2010, p. 165) afirma que no plano pré-jurídico, ou seja, para a ciência das finanças, as taxas se confundem com as tarifas ou preços. Por outro lado, o posicionamento de Luiz Celso de Barros, Regis Fernandes de Oliveira e Luiz Emygdio F. da Rosa Júnior é no sentido de diferenciar as taxas, os preços públicos e as tarifas.

No parecer de Barros e Regis Fernandes, assim como para o Direito Tributário, o exercício do poder de polícia e a efetiva utilização de Serviço Público acarretam em cobrança de taxa, diante do exposto no art. 145, II, da Constituição Federal.

Nesse sentido, Barros (1991, p. 212) entende que o diferenciador das taxas e das tarifas é a entidade prestadora do atendimento, incidindo a cobrança daquelas, ao serviço prestado diretamente pelo Poder Público, e destas, ao serviço prestado por concessionária ou permissionária. Em corrente contrária, Regis Fernandes (2010, p. 118 e 161) assegura que “a tarifa é o preço ou taxa tabelado”, destacando que, diferentemente do tributo, o qual “age valendo-se de seu poder constritivo sobre os particulares”, o Estado poderá cobrar preços – denominação genérica de tarifa, “que serão pagos desde que alguém utilize um serviço ou atividade econômica do Estado”, bem como nos casos de exploração dos bens públicos pela própria Administração Pública.

Regis Fernandes (2010, p. 120) considera que as taxas são aplicáveis quando há serviços de interesse geral (específicos e divisíveis), com vantagem maior a alguns contribuintes e havendo tributação especial, enquanto incide os preços em caso de serviços comerciais e industriais, com a finalidade de lucro, em regime de livre concorrência. Além disso, para o autor, as taxas surgem à medida que nascem novas atividades, podendo ser criadas por cada unidade federativa, “desde que o exercício do poder de polícia ou o serviço se incluam em sua competência” (OLIVIERA, 2010, p. 160).

Assemelhando-se à definição tributária, Luiz Celso de Barros (1991, p. 165) explica que é cobrada taxa – prestação pecuniária compulsória –, em serviço público especial, o qual deve ser específico, distinto, mensurável, divisível e recíproco. Em relação às tarifas, que não podem ser confundidas com os preços, o autor baseia-se no art. 75, da Constituição Federal para afirmar que elas constituem espécies de tributos. Segundo o autor,

“tarifa constitui uma medida de consumo, paga diferentemente pelos usuários, enquanto, de regra, as taxas identificam-se com valores fixos, arrecadados de todos aqueles que se situam na mesma hipótese de incidência” (BARROS, 1991, p. 215).

Opina Luiz Emygdio F. da Rosa Júnior (1997, p. 383) que a natureza da taxa, receita tributária, é limitada pelas normas constitucionais do poder de tributar, enquanto a natureza contratual – preço e tarifa – oportuniza, ao Estado, maior liberdade em seu manejo. O autor entende que, apesar da doutrina e da jurisprudência empregar as expressões tarifas e preços públicos como sinônimas, o disposto no art. 175, parágrafo único, III, da Constituição Federal designa como tarifa apenas “a receita cobrada do usuário concessionário ou permissionário do serviço público como contraprestação de uma vantagem que lhe proporciona” (ROSA JÚNIOR, p. 384, 1997), de modo que as demais receitas contratuais, exceto às referentes à concessionária ou permissionária, são designadas de preço público.

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No campo do Direto Tributário, haja vista que seu objeto é somente o tributo, a taxa e a tarifa são diferenciadas adequadamente (OLIVEIRA, 2010, p. 111), destacando Eduardo Sabag (2011, p. 440) que elas não se confundem, ainda que ambas “são prestações pecuniárias tendentes a suprir de recursos os cofres estaduais, em face de serviços públicos prestados”. Neste sentido, completa Ricardo Alexandre (2010, p. 69): a taxa e a tarifa possuem caráter contraprestacional e remuneram uma atividade prestada pelo Estado, exigindo, em ambos os casos, a referibilidade, o que torna possível a identificação do beneficiário do serviço.

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são entes competentes para instituir as taxas – “tributos retributivos ou contraprestacionais”, as quais são cobradas quando do exercício do poder de polícia ou da prestação, ao contribuinte, de um serviço público específico e divisível (ALEXANDRE, 2010, p. 60). Sabag e Ricardo Alexandre, com idêntico entendimento, destacam que a tarifa só incide sobre o serviço de utilização efetiva.

A Súmula nº 545, do STF, diferencia taxa de tarifa, no entanto, Ricardo Alexandre (2010, p. 70) entende que a parte final da normativa está prejudicada, uma vez que o princípio da anulabilidade não é mais aplicado em matéria tributária, “devendo ser desconsiderada a exigência de prévia autorização orçamentária para a cobrança de taxas”.

Na mesma linha de raciocínio, Eduardo Sabag e Geraldo Ataliba elucidam que o traço diferenciador entre a taxa e a tarifa não é a compulsoriedade ou facultatividade, e sim, a inerência ou não da atividade à função do Estado. Ou seja, faz-se necessário identificar a atividade exercida, de modo que, se for econômica, haverá preço, e se for própria do Estado, incidirá a cobrança de taxa. Contrário a este posicionamento, Ricardo Lobo Torres (2010, p. 190-191) entende que a lei não proíbe a cobrança de taxa pelos serviços relacionados aos direitos econômicos, entretanto, veda a cobrança de tarifa pela tutela dos direitos fundamentais, inerentes ao fim estatal.

Geraldo Ataliba enfatiza que o preço e o serviço público são inconciliáveis, especialmente porque este é desempenhado por força da lei, e o pagamento da taxa é mera consequência, não sendo essencial à relação de prestação-uso do serviço. Insta salientar que a taxa, resulta de uma atuação estatal desenvolvida de um regime de Direito Público, relacionando-se, direta ou indiretamente, com o contribuinte. No entanto, se o serviço não é público, os contratantes fixam o preço, o qual é cobrado do particular, sendo esta a figura típica da relação de Direito Privado (ATALIBA, 2010, p. 166 e 168).

Simploriamente, Sabag (2011, p. 440) assegura que a tarifa é espécie de preço público, e equivale-se ao “preço de venda do bem, exigido por empresas prestacionistas de serviços públicos (concessionárias ou permissionárias), como se comuns vendedoras fossem”. Na visão do autor, os serviços públicos podem ser cobrados por tarifas ou taxas, exceto os “essenciais”, que terão obrigatoriamente o regime destas, ainda que a lei adote outro (SABAG, 2011, p. 440-441), haja vista que, neste caso, não há possibilidade de troca em sentido econômico, relevando que o Estado tem finalidade pública, e, não visa a obtenção de lucro (ATALIBA, 2010, p. 169).

De outra banda, quando a execução do serviço público puder ser delegada, o legislador poderá optar entre o regime de taxa ou o de tarifa, esclarecendo Geraldo Ataliba (2010, p. 165) que ele não possui a liberdade de converter uma na outra e vice-versa, visto que “são coisas reciprocamente replentes e excludentes”.

A fim de ser melhor analisada a incidência da taxa ou da tarifa, Eduardo Sabag e Ricardo Alexandre classificam os serviços públicos em: propriamente estatais – exclusivos do Estado, indelegáveis e remunerados por meio de taxa; essenciais ao interesse público – remunerados por meio de taxa, desde que a lei os considere de utilização obrigatória; e não essenciais – via de regra, delegáveis, remunerados por meio de tarifa. Estes serão cobrados através de taxa, quando assim dispuser a lei (TORRES, 2010, p. 191).

Além de ser imprescindível verificar se o serviço executado é público, também são considerados outros requisitos para distinguir taxa e tarifa. Aquela é tributo, nasce por meio de lei, possui obrigação legal (ex lege), sujeita-se aos princípios tributários, não tem autonomia de vontade, é prestação pecuniária compulsória que remunera serviços públicos obrigatórios (e essenciais), prevalecem as normas de Direito Público, é aplicada quando o Estado presta serviços públicos, é exigida por pessoas jurídicas de direito público, possui

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receita derivada de direito público (a qual é originada do patrimônio particular), a cobrança não é proporcional ao uso, e a rescisão não é permitida.

A tarifa, por sua vez, não é tributo, decorre de contrato administrativo (e não de lei), possui obrigação contratual (ex voluntate), não sujeita-se aos princípios tributários, tem autonomia de vontade, é prestação pecuniária voluntária (ou facultativa), remunera serviços públicos facultativos (essenciais ou não essenciais, dependendo do caso), apresenta regime jurídico de Direito Privado, é aplicada quando o Estado desempenha atividades econômicas com o fito de lucro, é exigida por pessoas jurídicas de direito público e de direito privado, possui receita originária de direito privado (a qual é originada do próprio patrimônio do Estado), a cobrança é proporcional ao uso e a rescisão é permitida.

Ademais, é importante destacar que na relação jurídica-tributária, figuram no polo ativo apenas as pessoas jurídicas de direito público, mas se o objeto da ação for a tarifa, além deste sujeito, também podem figurar as pessoas jurídicas de direito privado, em caso de serviços delegados (ALEXANDRE, 2010, p. 72).

Finalmente, diante da delicadeza na diferenciação da taxa e da tarifa, e da riqueza de detalhes para se apreciar a aplicação de cada uma, percebe-se a confusão na cobrança desses institutos. Assim, vale transcrever alguns julgados que corroboram com tal afirmação:

“ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. SERVIÇO PÚBLICO DE ÁGUA E ESGOTO. NATUREZA JURÍDICA DE TARIFA OU PREÇO PÚBLICO. PRAZO PRESCRICIONAL. CÓDIGO CIVIL. PRECEDENTE DA PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. DECISÃO MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1. A controvérsia em exame foi analisada recentemente pela Primeira Seção deste Tribunal, na ocasião do julgamento dos EREsp 690.609/RS, de relatoria da eminente Ministra Eliana Calmon, DJ 07.04.2008, que, acompanhando o entendimento do Supremo Tribunal Federal, firmou posicionamento no sentido de que a natureza jurídica das contraprestações cobradas por concessionárias de serviços público de água e esgoto não é de taxa, mas, sim, de tarifa ou preço público, razão por que deve ser aplicada a prescrição vintenária nos termos da legislação de Direito Civil. 2. Recurso especial provido (STJ; REsp 1179478/RS; Relator Ministro Mauro Campbell Marques; T2-Segunda Turma; Julgado em 23.11.2010).PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF. TAXA DE ESGOTO. TARIFA COBRADA INDEVIDAMENTE. INEXISTÊNCIA DE REDE COLETORA. DEVOLUÇÃO EM DOBRO. ART. 42, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CDC. PRECEDENTES. SÚMULA 83/STJ. APELAÇÃO. SEGUIMENTO NEGADO. AGRAVO INTERNO. APLICAÇÃO DA MULTA DO ART. 557, §2º, DO CPC. SUPOSTA VIOLAÇÃO DO ART. 557, §2º. AFASTAMENTO DA MULTA (STJ; AgRg no AgRg no Ag 1324136/RJ; Relator Ministro Herman Benjamin; T2-Segunda Turma; Julgado em 16.11.2010).TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. SERVIÇO PÚBLICO DE ÁGUA E ESGOTO. NATUREZA JURÍDICA DE TARIFA OU PREÇO PÚBLICO. PRAZO PRESCRICIONAL. CÓDIGO CIVIL. PRECEDENTE DA PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. DECISÃO MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1. A controvérsia em exame foi analisada recentemente pela Primeira Seção deste Tribunal, na ocasião do julgamento dos EREsp 690.609/RS, de relatoria da eminente Ministra Eliana Calmon, DJ 07.04.2008, que, acompanhando o entendimento do Supremo Tribunal Federal, firmou posicionamento no sentido de que a natureza jurídica das contraprestações cobradas por concessionárias de serviços público de água e esgoto não é de taxa, mas, sim, de tarifa ou preço público, razão por que deve ser aplicada a prescrição vintenária nos termos da legislação de Direito Civil. 2. Os argumentos apresentados no agravo interno são insuficientes para infirmar o entendimento externado na decisão agravada, que deve ser mantida por seus próprios fundamentos. 3. Agravo regimental não provido” (STJ; AgRg no REsp 1155657/SP; Relator Ministro Benedito Gonçalves; T1-Primeira Turma; Julgado em 17.12.2009).

CONCLUSÃO

O Direito Financeiro estuda as normas e princípios financeiros, estabelecendo as regras da atividade financeira. Em contrapartida, o Direito Tributário cuida da receita pública, de modo a regular a instituição e cobrança de tributos. Apesar do entendimento divergente de Luiz Celso de Barros, a corrente doutrinária predominante depreende que o Direito Tributário é autônomo, haja vista que possui objeto próprio – o tributo.

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No aspecto financeiro, há grande divergência entre os pesquisadores ao conceituar taxa e tarifa. É importante destacar que a opinião mais díspar é de Geraldo Ataliba, pois além de utilizar tarifas e preços como sinônimos, ainda assegura que as taxas se confundem com aqueles.

Todavia, a maioria dos autores entende que o preço público não se confunde com a tarifa, e, por outro lado, a taxa, assim como no Direito Tributário, decorre do exercício do poder de polícia e da efetiva utilização do serviço público. Nesta seara, pode-se afirmar que a diferença básica entre a taxa e a tarifa é a entidade prestadora do atendimento, sendo o Poder Público, para aquela, e concessionária ou permissionária, para esta.

O Direito Financeiro, entretanto, não define com precisão o conceito de tarifa, ante a discrepância dos entendimentos doutrinários. Insta destacar que, Regis Fernandes de Oliveira a considera como o preço ou a taxa tabelado, enquanto Luiz Emygdio F. da Rosa Júnior, prevê a cobrança, desta receita, ao usuário concessionário ou permissionário do serviço público como contraprestação de uma vantagem que lhe proporciona.

A fim de elucidar o instituto da taxa e da tarifa no Direito Tributário, primeiramente vale realçar que ambas são prestações pecuniárias, tendentes a suprir de recursos os cofres públicos, em face dos serviços (públicos) prestados. As taxas são tributos retributivos ou contraprestacionais, decorrentes, conforme anteriormente previu o Direito Financeiro, do exercício do poder de polícia e da efetiva utilização do serviço público. As tarifas, por sua vez, no entendimento de Ricardo Alexandre e Eduardo Sabag, incidem sobre o serviço de utilização efetiva.

Diferentemente do preceito normativo da Súmula nº 545, do STF, o traço diferenciador entre a taxa e a tarifa não é mais a compulsoriedade ou facultatividade, e sim, a inerência ou não da atividade à função do Estado, sendo que o serviço deve ser identificado, de modo que, se for econômico, haverá preço, e se for próprio do Estado, incidirá a cobrança de taxa. Neste sentido, Ricardo Lobo Torres destaca que a lei veda a cobrança da tarifa pela tutela dos direitos fundamentais (inerentes ao fim estatal).

Sob a ótica tributária, a corrente majoritária é no sentido de estabelecer equivalência à tarifa e ao preço público. Em relação aos serviços públicos, estes podem ser propriamente estatais – exclusivos do Estado, indelegáveis e remunerados por meio de taxa; essenciais ao interesse público – remunerados por meio de taxa, desde que a lei os considere de utilização obrigatória; e não essenciais – via de regra, delegáveis, remunerados por meio de tarifa. Estes serão cobrados através de taxa, quando assim dispuser a lei. Assim, os serviços públicos, exceto os “essenciais”, podem ser cobrados por tarifas ou taxas, dependendo do caso.

Ademais, a taxa e a tarifa são inconciliáveis. Aquela é tributo, decorre de lei, apresenta regime jurídico de Direito Público, configura prestação pecuniária compulsória que remunera serviços públicos obrigatórios (e essenciais), e é exigida por pessoas jurídicas de direito público. De outra banda, a tarifa não é tributo, decorre de contrato administrativo, apresenta regime jurídico de Direito Privado, configura prestação pecuniária voluntária (ou facultativa), e é exigida por pessoas jurídicas de direito público e de direito privado.

Finalmente, é importante salientar que se faz necessária uma profunda avaliação do serviço público, bem como da relação jurídica instaurada entre o contribuinte e o ente público, a fim de evitar equivocada cobrança de tarifa ou de taxa, conforme acontece corriqueiramente nos órgãos públicos e privados com finalidade pública.