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DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE SEGURANÇA DE UMA ESTRUTURA EM SOLO GRAMPEADO APLICADAS A UM CASO REAL Gabriel Ladeira Kingma Orlando Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Leonardo De Bona Becker Coorientador: José Bernardino Borges RIO DE JANEIRO Março de 2018

DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

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Page 1: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

SEGURANÇA DE UMA ESTRUTURA EM SOLO GRAMPEADO APLICADAS A

UM CASO REAL

Gabriel Ladeira Kingma Orlando

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia Civil da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientador: Leonardo De Bona Becker

Coorientador: José Bernardino Borges

RIO DE JANEIRO

Março de 2018

Page 2: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

i

DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

SEGURANÇA DE UMA ESTRUTURA EM SOLO GRAMPEADO APLICADAS A

UM CASO REAL

Gabriel Ladeira Kingma Orlando

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

______________________________________________

Prof. Leonardo De Bona Becker - D.Sc. (Orientador).

______________________________________________

Prof. José Bernardino Borges - M.Sc. (Coorientador)

______________________________________________

Eng. Tiago Proto da Silva - M.Sc.

______________________________________________

Prof. Marcos Barreto de Mendonça – D.Sc.

RIO DE JANEIRO

Março de 2018

Page 3: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

ii

Kingma, Gabriel Ladeira

Diferentes abordagens na determinação do fator de

segurança de uma estrutura em solo grampeado aplicadas a

um caso real / Gabriel Ladeira Kingma Orlando – Rio de

Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2018.

XII, 90 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Leonardo de Bona Becker

Coorientador: José Bernardino Borges

Projeto de graduação – UFRJ/ Escola Politécnica / Curso

de Engenharia Civil, 2018.

Referências Bibliográficas: p. 87-90.

1. Ensaios de arrancamento. 2. Estabilidade de talude. 3.

Solo grampeado. 4. Método Alemão

I. Leonardo De Bona Becker et al. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de

Engenharia Civil. III. Título

Page 4: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

iii

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo dom da vida e por colocar pessoas tão especiais em meu

caminho.

Agradeço aos meus pais Victor e Cristina pelo amor incondicional e apoio em

todos os momentos. Obrigado por me ensinarem que nós somos o legado que deixamos

por aqui. Dedico este diploma a vocês, que me fizeram acreditar que a educação é o que

nos transforma. Obrigado por nunca terem poupado esforços para me ensinar que os

nossos valores são adquiridos pelo exemplo dentro de casa.

A todos os meus irmãos (Lívia, Larissa, Paula e Breno) pelos conselhos durante

essa caminhada e pela amizade incondicional. Devo agradecer em especial ao meu

irmão Breno, que juntamente com minha cunhada Natália e o meu afilhado Miguel,

foram minha família durante essa jornada longe de casa, tornando-a muito menos difícil.

A todo o restante da minha família por me apoiarem em todos os momentos e

por vibrarem comigo em todas as conquistas.

Aos meus cunhados e amigos pela parceria e amizade ilimitada durante todos

esses anos.

A todos os meus professores por dedicarem parte de suas vidas a me passar os

seus conhecimentos.

Ao meu orientador Leonardo Becker, ao meu coorientador José Bernardino

Borges e ao amigo Tiago Proto por todo o apoio, atenção e ensinamentos que foram

essenciais à confecção deste trabalho.

Aos amigos do departamento comercial da SEEL pelos conselhos e

ensinamentos durante esses anos de convivência.

Ao amigo Matheus e a SEEL por terem me fornecido todos os dados necessários

a esta pesquisa.

A minha namorada Flávia pela ajuda, companheirismo de todos os dias e por

tornar as noites escrevendo este trabalho muito mais prazerosas.

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Page 5: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

iv

Diferentes abordagens na determinação do fator de segurança de uma estrutura em

solo grampeado aplicadas a um caso real

Gabriel Ladeira Kingma Orlando

Março/2018

Orientador: Leonardo De Bona Becker

Coorientador: José Bernardino Borges

Curso: Engenharia Civil

Este trabalho apresenta diferentes abordagens na determinação do fator de

segurança de um talude reforçado com solo grampeado. Esse talude foi objeto de uma

campanha experimental apresentada por MORAIS (2017), na qual incluiu 10 ensaios de

arrancamento e ensaios de cisalhamento direto de amostras de solo retiradas do local.

A determinação do fator de segurança na seção considerada crítica foi realizada

através do Método de Spencer, via software computacional. As análises foram feitas

para os parâmetros de resistência do solo em duas condições de umidade (inundada e

natural). A resistência unitária na interface solo-grampo (qs) foi adotada de duas

abordagens diferentes. Na primeira abordagem foi considerado qs variável de acordo

com a profundidade, conforme proposta de PROTO SILVA (2005). Já em uma segunda,

foi utilizado um qs único e constante. Através da comparação dos resultados entre as

duas abordagens, verificou-se que, para um dos casos, o modo de ruptura entre as

diferentes abordagens foram diferentes.

Esse trabalho também apresenta uma determinação do fator de segurança através

do método alemão (STOCKER et al, 1979), em que foi analisada uma seção hipotética

de inclinação suave e constante. Nessa seção, também foi verificada a análise de

segurança através do método de Spencer via software comercial. Os resultados foram

comparados e as análises trouxeram resultados discrepantes entre os dois métodos.

Também foi criada outra 2ª seção hipotética, já essa com face vertical. Para esta seção,

os resultados entre os métodos foram mais próximos.

Palavras-chave: Solo grampeado, Ensaio de Arrancamento, Estabilidade de

Talude, Método Alemão, Método de Spencer

Page 6: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

v

Undergraduate Project’s abstract presented to Escola Politécnica/UFRJ as part of the

requirements for obtaining the title of Civil Engineer.

Different approaches in determining the safety factor of a soil nailing structure applied

to a real case

Gabriel Ladeira Kingma Orlando

March/2018

Advisors: Leonardo De Bona Becker

Co-Advisor: José Bernardino Borges

Undergraduate Degree: Civil Engineering

This work presents different approaches in determining the safety factor of a

reinforced slope with soil nailing. This slope was the subject of an experimental

campaign presented by MORAIS (2017), which included 10 pullout tests and direct

shear tests of soil samples taken from the site.

The determination of the safety factor in the critical section was performed using

the Spencer Method, using computational software. The analyzes were made for soil

resistance parameters in two wet conditions (flooded and natural). The unit resistance at

the soil-clamp interface (qs) was adopted from two different approaches. In the first

approach was considered qs variable according to depth, as proposed by PROTO

SILVA (2005). Already in a second, a unique and constant qs was used. By comparing

the results between the two approaches, it was found that in one case, the mode of

rupture between the different approaches were different.

This work also presents a determination of the safety factor through the German

method (STOCKER et al, 1979), in which a hypothetical section of smooth and constant

slope was analyzed. In this section, the security analysis was also verified through the

Spencer method via commercial software. The results were compared and the analyzes

yielded discrepant results between the two methods. A second hypothetical section with

vertical face was also created, and for this section, the results between the methods were

closer.

Key words: Soil nailing, Pullout Test, Slope Stability, German Method, Spencer Method

Page 7: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

vi

Sumário

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

1.1. Contextualização Geral ............................................................................................. 1

1.2. Apresentação do Problema ....................................................................................... 2

1.3. Objetivo da pesquisa ................................................................................................. 3

1.4. Metodologia .............................................................................................................. 3

1.5. Organização do trabalho ........................................................................................... 4

2. Revisão Bibliográfica ................................................................................................. 5

2.1. Estabilidade de taludes ............................................................................................. 5

2.1.1. Métodos de análise ................................................................................................... 5

2.1.1.1. Método Determinístico: Análise de tensões e deformações x equilíbrio limite ....... 5

2.1.1.2. Definição de Fator de Segurança pelo método do equilíbrio limite (FS) ................. 7

2.1.2. Método das Fatias ..................................................................................................... 9

2.1.2.1. Método de Spencer ................................................................................................. 13

2.2. Solo grampeado ...................................................................................................... 16

2.2.1. Origens do solo grampeado .................................................................................... 16

2.2.2. Caracterização da técnica ........................................................................................ 17

2.2.3. Método executivo ................................................................................................... 19

2.2.3.1. Serviços preliminares .............................................................................................. 20

2.2.3.2. Terraplanagem ( Caso em taludes escavados ) ....................................................... 20

2.2.3.3. Perfuração ............................................................................................................... 20

2.2.3.4. Armação/Montagem ............................................................................................... 21

2.2.3.5. Injeção ..................................................................................................................... 21

2.2.3.6. Proteção da face e cabeça do grampo .................................................................... 22

2.2.3.6.1. Tela métalica e/ou geomanta e/ou biomanta (caso revestimento flexível) ........... 22

2.2.3.6.2. Concreto Projetado ( caso de revestimento rígido) ................................................ 22

Page 8: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

vii

2.3. Mecanismo de interação solo-grampo ................................................................... 23

2.4. Ensaio de arrancamento de grampos ..................................................................... 25

2.4.1. Algumas considerações sobre o ensaio .................................................................. 27

2.5. Resistência unitária (𝒒𝒔) a partir de parâmetros de resistência do solo ................ 27

2.5.1. Determinação da tensão normal atuante no grampo ............................................ 32

2.6. Tipos de ruptura ...................................................................................................... 34

2.6.1. Ruptura interna: ...................................................................................................... 35

2.6.1.1. Ruptura dos reforços ............................................................................................... 35

2.6.1.2. Ruptura por Falta de Aderência (Arrancamento) ................................................... 37

2.6.1.3. Ruptura Durante as Fases de Escavação ................................................................. 37

2.6.2. Ruptura Externa e Ruptura Mista............................................................................ 38

2.7. Métodos de Dimensionamento .............................................................................. 39

2.7.1. Método Alemão (Stocker et al, 1979) ..................................................................... 41

2.7.1.1. Superfície de Ruptura .............................................................................................. 42

2.7.1.2. Equilíbrio de Forças ................................................................................................. 43

2.7.1.3. Definição do fator de segurança (FS) ...................................................................... 44

2.7.2. Dimensionamento via software de estabilidade de taludes ................................... 46

3. Descrição do caso estudado .................................................................................... 50

3.1. Caracterização do talude ......................................................................................... 50

4. Parâmetros de resistência ....................................................................................... 53

4.1. Parâmetros de resistência do solo .......................................................................... 53

4.2. Resistência unitária na interface solo-grampo (𝒒𝒔) ............................................... 54

4.2.1. Ensaio de arrancamento ......................................................................................... 54

4.2.2. Verificação da proposta de proto silva (2005) por morais (2017) .......................... 56

4.2.3. Determinação da resistência unitária na interface solo-grampo (𝐪𝐬) ................... 59

4.2.3.1. Estimativa da resistência unitária na interface solo-grampo (𝐪𝐬) através da

proposta de proto silva (2005) ................................................................................................ 60

5. Análise de estabilidade do talude ........................................................................... 63

Page 9: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

viii

5.1. Fator de segurança admissível ................................................................................ 63

5.2. Análise de estabilidade via método de spencer (1967) .......................................... 63

5.2.1. Análise de estabilidade via método de spencer (1967) - 𝒒𝒔 ∗∗ variável - Condição

de umidade natural ................................................................................................................. 64

5.2.2. Análise de estabilidade via método de spencer (1967) - 𝒒𝒔 ∗∗ variável - Condição

inundada 65

5.2.3. Análise de estabilidade via método de spencer (1967) - 𝒒𝒔 ∗∗∗ constante -

Condição de umidade natural ................................................................................................. 66

5.2.4. Análise de estabilidade via método de spencer (1967) - (𝒒𝒔 ∗∗∗) constante -

Condição inundada .................................................................................................................. 67

5.3. Seção hipotética - Análise de estabilidade via método Alemão ............................. 69

5.3.1. Seção hipotética - Análise de estabilidade via método "Alemão" - Determinação do

fator de segurança (FS) ........................................................................................................... 71

5.3.2. Seção hipotética - Análise de estabilidade via método Alemão - Determinação do

fator de segurança (FS) - Resultados ....................................................................................... 75

6. Conclusão ................................................................................................................ 85

7. Referèncias bibliográficas........................................................................................ 86

Page 10: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Tensões cisalhantes mobilizadas e resistentes em uma massa de solo (GERSCOVICH,

2012) ............................................................................................................................................. 7

Figura 2 - Método das fatias (Notas de aula de Geotecnia Ambiental - Poli USP) ...................... 10

Figura 3 - Forças Atuantes em uma Fatia. (LAMBE & WHITMAN, 1969) .................................... 10

Figura 4 - Forças Atuantes em uma Fatia no método de Spencer. (Adaptado de LAMBE &

WHITMAN, 1969) ........................................................................................................................ 13

Figura 5 - Convergência do método de Spencer (Adaptado de Spencer, 1967) ......................... 16

Figura 6 - Técnicas de execução de túneis com revestimento rígido (a) e flexível (b) (ORTIGÃO

& SAYÃO, 2000) ........................................................................................................................... 17

Figura 7 - (a) - Estabilização de taludes naturais e (b) - escavações (Georio, 2014) ................. 18

Figura 8 - Tipos de cabeças para grampos: (a) embutida na face por meio de dobra no aço; (b)

fixada por placa metálica, rosca e porca; (c) feixe de barras embutido na face por dobra (DIAS

et al., 2006) e (d) sem ancoragem (EHRLICH, 2003). .................................................................. 19

Figura 9 - Execução do solo grampeado por meio de escavação em bancadas e nichos

alternados (LAZARTE et al., 2003) ............................................................................................... 20

Figura 10 - Execução de solo grampeado em talude natural com faceamento em geomanta

associada a tela metálica ( Arquivo Pessoal ) ............................................................................. 22

Figura 11 - Execução de faceamento em concreto projetado ( Fonte : Arquivo Pessoal) .......... 23

Figura 12 - Mecanismos de interação solo-reforço na estrutura de solo grampeado (Adaptado

de SHEAHAN & ALVARADO, 1996) .............................................................................................. 24

Figura 13 - Mecanismos de estabilização do solo grampeado (EHRLICH & BECKER, 2009) ....... 25

Figura 14: Arranjo geral de um ensaio de arrancamento (Adaptado de LAZART et al, 2003). ... 26

Figura 15 - Curva deslocamento x força de um ensaio de arrancamento (CLOUTERRE, 1991) .. 26

Figura 16: Fator de carga λ1 em função da tensão normal para o solo residual jovem de gnaisse

(PROTO SILVA, 2005). .................................................................................................................. 30

Figura 17: Fator de carga λ1* em função da tensão normal para o solo residual de gnaisse,

incorporando os resultados do solo residual maduro e solo residual jovem (PROTO SILVA,

2005). .......................................................................................................................................... 30

Figura 18: Relação entre o coeficiente de interface (α) e a tensão normal. (PROTO SILVA, 2005).

..................................................................................................................................................... 31

Figura 19 – Círculo de MOHR por PROTO SILVA (2005) .............................................................. 33

Figura 20 - Tipos de ruptura em uma estrutura de solo grampeado (SILVA, 2009). .................. 35

Figura 21 - Ruptura interna por flexão e/ou cisalhamento dos reforços (ELIAS et al., 1993)..... 36

Figura 22 - Ruptura interna por esforços de tração nos reforços (ELIAS et al., 1993) ............... 36

Figura 23 - Ruptura interna por falta de aderência na interface solo-reforço (ELIAS et al., 1993)

..................................................................................................................................................... 37

Figura 24 - Estabilidade das fases de escavação do muro experimental nº 02 da CEBPTP

(CLOUTERRE, 1991) ..................................................................................................................... 38

Figura 25 - Diferentes tipos de ruptura em uma estrutura de solo grampeado (ELIAS et al.,

2003) ........................................................................................................................................... 39

Figura 26 - Divisão dos blocos instáveis e suas respectivas forças, segundo o processo das

cunhas (CAMARGO, 2005)........................................................................................................... 42

Figura 27 – Definição dos parâmetros do grampo via Slope/W ................................................. 46

Figura 28 – Superfície de Ruptura gerada pelo Software ........................................................... 48

Figura 29 - Vista do local mostrando seção crítica e região estudada por MORAIS (2017) ........ 50

Page 11: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

x

Figura 30 - Vista do local da seção crítica do talude ( Fonte : Arquivo Pessoal ) ........................ 51

Figura 31 - Planta do local (Arquivo Pessoal) .............................................................................. 52

Figura 32 - Seção A-A - Seção crítica do talude ........................................................................... 52

Figura 33 - Envoltória de resistência - condição inundada (MORAIS, 2017) ............................... 53

Figura 34 - Envoltória de resistência - condição de umidade natural (MORAIS, 2017) .............. 54

Figura 35 - Esquema de montagem do ensaio de arrancamento (MORAIS,2017) ..................... 55

Figura 36 - Locação dos grampos ensaios no talude (MORAIS, 2017) ........................................ 55

Figura 37 - Seção transversal do talude (MORAIS, 2017)............................................................ 57

Figura 38 - fator de carga 𝝀𝟏 ∗∗ x tensão normal atuante no grampo (MORAIS, 2017) ............ 59

Figura 39 -Cálculo de 𝑯𝒍𝒊𝒏𝒋. , 𝒎é𝒅. - Seção crítica do talude .................................................... 61

Figura 40 - Superfície crítica de ruptura para condições parâmetros de resistência de umidade

natural e 𝒒𝒔 ∗∗ variável .............................................................................................................. 64

Figura 41 - Superfície crítica de ruptura para parâmetros de resistência inundado e 𝒒𝒔 ∗∗

variável ........................................................................................................................................ 66

Figura 42 - Superfície crítica de ruptura para condições parâmetros de resistência de umidade

natural e 𝒒𝒔 ∗∗∗ constante ......................................................................................................... 67

Figura 43 - Superfície crítica de ruptura para parâmetros de resistência inundado .................. 68

Figura 44 - Seção hipotética do talude. ....................................................................................... 69

Figura 45 - Seção hipotética para o cálculo de 𝑯𝒍𝒊𝒏𝒋. , 𝒎é𝒅 ..................................................... 70

Figura 46 - Parametrização do talude ......................................................................................... 72

Figura 47 - Diagrama de Forças Método Alemão ........................................................................ 74

Figura 48 - Superfície de ruptura pelo método Alemão - parâmetros de resistência de umidade

natural ......................................................................................................................................... 76

Figura 49 - Superfície de ruptura pelo método Alemão - parâmetros de resistência inundado 77

Figura 50 - Superfície crítica - Seção hipotética - parâmetros de resistência de umidade natural

..................................................................................................................................................... 78

Figura 51 - Superfície crítica - Seção hipotética - parâmetros de resistência inundado ............. 78

Figura 52 - Superfície de ruptura pelo método "alemão" - parâmetros de resistência inundado -

2ª seção hipotética - face vertical ............................................................................................... 81

Figura 53 - Superfície de ruptura pelo método "alemão" - parâmetros de resistência de

umidade natural - 2ª seção hipotética - face vertical ................................................................. 83

Figura 54 - Superfície de ruptura pelo método de método de Spencer - parâmetros de

resistência de umidade natural - 2ª seção hipotética - face vertical .......................................... 83

Figura 55 - Superfície de ruptura pelo método "alemão" - parâmetros de resistência inundado -

2ª seção hipotética - face vertical ............................................................................................... 84

Page 12: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Fatores de segurança mínimos para deslizamentos (NBR 11682, 2009) ..................... 9

Tabela 2 - Nível segurança contra perda de vidas humanas (NBR 11682, 2009) .......................... 9

Tabela 3 - Nível segurança contra danos materiais e ambientais. (NBR 11682, 2009) ................ 9

Tabela 4 - Premissa dos diferentes métodos de cálculo em solo grampeado (adaptado de

ORTIGÃO et al, 2003) .................................................................................................................. 40

Tabela 5 - Relação dos resultados dos ensaios realizados (MORAIS, 2017) ............................... 56

Tabela 6 - Resultados da estimativa de grampos do Grupo 1 (MORAIS, 2017) .......................... 58

Tabela 7 - Resultados da estimativa de grampos do Grupo 2 (MORAIS, 2017) .......................... 58

Tabela 8 - Resultados da estimativa de grampos do Grupo 3 (MORAIS, 2017) .......................... 58

Tabela 9 - Estimativa de 𝒒𝒔 ∗∗ pela proposta de PROTO SILVA (2005) para condição de

parâmetros de resistência de umidade natural .......................................................................... 62

Tabela 10 - Estimativa de 𝒒𝒔 ∗∗ pela proposta de PROTO SILVA (2005) para parâmetros de

resistência inundado ................................................................................................................... 62

Tabela 11 - Determinação de 𝒒𝒔 ∗∗ para a seção hipotética - parâmetros de resistência de

umidade natural .......................................................................................................................... 70

Tabela 12 - Determinação de 𝒒𝒔 ∗∗ para a seção hipotética - parâmetros de resistência

inundado ..................................................................................................................................... 70

Tabela 13 - Dados de entrada e saída para parâmetros de resistência de umidade natural -

Método "Alemão" ....................................................................................................................... 76

Tabela 14 - Dados de entrada e saída para parâmetros de resistência inundado - Método

Alemão ........................................................................................................................................ 77

Tabela 15 - Tabela de comparação - Seção hipotética - Método Alemão x Spencer .................. 79

Tabela 16 - Dados de entrada e saída para parâmetros de resistência de umidade natural -

Método "Alemão" - 2ª seção hipotética - face vertical e revestimento rígido ........................... 81

Tabela 17 - Dados de entrada e saída para parâmetros de resistência de inundado - Método

"Alemão" - 2ª seção hipotética - face vertical e revestimento rígido ......................................... 82

Tabela 18 - Tabela de comparação - 2ª Seção hipotética - Método Alemão x Spencer - Face

Vertical ........................................................................................................................................ 84

Page 13: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL

Talude pode ser conceituado como uma superfície de terreno que faz um dado

ângulo com a horizontal. Os taludes podem ser classificados de acordo com a sua

origem, podendo ser naturais ou originários de corte e/ou aterro. Como o talude possui

um desnível, está sujeito a escorregamentos.

A estabilidade de taludes é a área da engenharia que estuda a segurança contra o

deslocamento de sua massa. De acordo com a norma brasileira de estabilidade de

taludes NBR 11682 (ABNT, 2009), fator de segurança (FS) é a relação entre os esforços

estabilizantes (resistentes) e esforços instabilizantes (atuantes), para determinado

método de cálculo. Um talude pode ser considerado estável quando os esforços

instabilizantes forem menores que os estabilizantes.

Há diversas formas de estabilização que visam o aumento do fator de segurança

existente de um talude. Dentre as diversas formas de estabilização conhecidas, a solução

em solo grampeado vem se consagrando como um método técnico e economicamente

eficaz, tendo seu uso amplamente difundido no meio geotécnico.

A técnica consiste na inserção de elementos passivos no solo, geralmente barras

de aço, que podem ser cravadas ou inseridas após a execução de pré-furos no solo com

perfuratriz e envoltas em calda de cimento. O objetivo da inserção dos grampos é fazer

com que esses contribuam com uma resistência adicional ao solo, por meio de esforços

mobilizados na barra de aço, visando ao aumento do fator de segurança (FS).

Os grampos trabalham mobilizando esforços de tração, cisalhamento e momento

fletor e são necessários pequenos deslocamentos do maciço para que o atrito seja

mobilizado e os esforços sejam transmitidos à ancoragem. (SPRINGER, 2006)

Além dos grampos, geralmente o talude recebe também um faceamento, que

pode ser, por exemplo, em concreto projetado com telas eletrossoldadas ou telas

metálicas de alta resistência e/ou geossintéticos. O faceamento tem a finalidade de

promover a estabilização local do talude, evitando que ocorram erosões entre os

grampos.

Page 14: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

2

No Brasil, a técnica de solo grampeado começou a ganhar notoriedade a partir

da década de 80, mas há relatos da utilização da técnica desde o início da década de 70.

O baixo custo comparado a outras técnicas de estabilização, boa adaptabilidade a

diversos tipos de geometria e de solos, elevada produtividade e o uso de equipamentos

de pequeno porte difundiu o seu uso pelo país (ORTIGÃO et al., 1993).

Com a difusão da técnica, a forma de transferência de esforços do solo aos

grampos passou a ser estudada e, assim, diversos métodos foram propostos para prever

e estimar essa interação. A hipótese mais difundida entre os projetistas é que a

resistência dos grampos é proveniente, principalmente da mobilização do atrito e coesão

na interface da calda de cimento com o solo e assim, a resistência da interface,

juntamente com os parâmetros de resistência do solo e da barra, são os principais fatores

para o dimensionamento da estrutura.

Diante da necessidade de prever a resistência ao cisalhamento na interface solo-

grampo, foram propostos ensaios de arrancamento para determinar a carga necessária

para levar o grampo à ruptura. Através desses ensaios, é determinada a resistência

unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠). Durante a elaboração do projeto, esse parâmetro

normalmente é estimado pela experiência do projetista ou com base em relações

semiempíricas propostas por estudos na literatura que propõem a estimativa de 𝑞𝑠 com

base em parâmetros do solo. Todavia, a boa prática recomenda que esse parâmetro seja

verificado em campo durante a obra. Caso necessário, devem ser feitos ajustes no

projeto.

1.2. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

O estacionamento de uma empresa no município de Duque de Caixas/RJ foi

instalado a jusante de um talude de corte composto de solo residual de gnaisse. Esse

talude apresenta altura máxima de 8,3m, inclinação média de 53º e uma sobrecarga

resultante de uma edificação de três andares à montante.

Visando a aumentar a segurança contra a ruptura, o talude foi reforçado com

uma solução em solo grampeado com faceamento em geomanta reforçada com tela

metálica de dupla torção.

Posteriormente à execução do reforço, MORAIS (2017) apresentou 10 ensaios

de arrancamento nesse talude e, através de ensaios de caracterização e cisalhamento

Page 15: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

3

direto, buscou determinar os parâmetros de resistência do solo e, assim, avaliar a

proposta de PROTO SILVA (2005) que estima a resistência unitária na interface solo-

grampo (qs) através dos parâmetros de resistência do solo e das tensões normais

atuantes no grampo.

Como o talude se localiza em zona urbana e próximo a áreas de movimentação

de pessoas, é de interesse avaliar à sua estabilidade e segurança contra a ruptura.

1.3. OBJETIVO DA PESQUISA

O objetivo principal do trabalho é analisar a estabilidade do talude citado. As

análises serão feitas utilizando os dados de MORAIS (2017) e a estimativa de 𝑞𝑠

proposta por PROTO SILVA (2005). Assim, será determinado o FS (Fator de

Segurança) contra a ruptura no talude através do Método de Spencer.

PROTO SILVA (2005) propôs que a resistência unitária na interface solo-

grampo (𝑞𝑠) é dependente da tensão normal atuante no grampo. Dessa forma, o autor

defende que 𝑞𝑠 é variável ao longo das linhas dos grampos e o seu valor aumenta com a

profundidade. Já outros autores defendem que, em solos homogêneos, o valor de 𝑞𝑠 não

é dependente da tensão normal atuante e, assim, o seu valor é constante ao longo da

profundidade. Dessa forma, outro objetivo do trabalho em voga verificará qual a

influência no modo de ruptura e no fator de segurança (FS) de uma consideração de 𝑞𝑠

variável ou constante ao longo da profundidade.

Este trabalho ainda tem como objetivo realizar uma comparação dos resultados

gerados pelo método de Spencer via software comercial e um método analítico de

dimensionamento de solo grampeado (Método Alemão). Para isso, foram criadas duas

seções hipotéticas. A primeira seção hipotética apresenta inclinação suave e constante,

já a segunda seção hipotética apresenta face vertical. Os principais resultados e as

principais diferenças entre os métodos serão comparadas e discutidas.

1.4. METODOLOGIA

No Brasil, não há uma metodologia única e padrão para dimensionamento de

estruturas em solo grampeado. De forma geral, para estabilidade interna, os métodos se

baseiam na teoria do equilíbrio limite, na qual se destacam o Método Francês

(CLOUTERRE, 1991), os Métodos das Fatias (ex.: Bishop e Spencer), o Método

Alemão (STOCKER et al, 1979) e o método Davis (SHEN et al.,1981). Para a

Page 16: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

4

estabilidade externa, pode-se considerar a estrutura de solo grampeado como um muro

de peso, aplicando as Teorias de Rankine e Coulomb.

O presente trabalho abordará a análise através de dois destes métodos: Método

das Fatias, onde será utilizado o método de Spencer através do software comercial

GeoStudio (Geo-Slope International, 2012) módulo Slope/W, que é largamente

utilizado no meio geotécnico e o Método Alemão (STOCKER et al., 1979).

1.5. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O trabalho está dividido em sete capítulos, organizados da seguinte forma:

O Capítulo 1 apresenta a introdução, metodologia e objetivo do trabalho.

No Capítulo 2 são revisados os conceitos envolvidos como estabilidade de taludes, solo

grampeado e ensaio de arrancamento.

No Capítulo 3 é apresentada a descrição do talude objeto de estudo deste trabalho.

No Capítulo 4 são discutidos os parâmetros de resistência do solo do talude estudado.

O Capitulo 5 apresenta a análise de estabilidade do talude através de dois métodos

encontrados na literatura.

O Capítulo 6 apresenta a conclusão deste trabalho

No Capítulo 7 estão as referências bibliográficas citadas ao longo do trabalho.

Page 17: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

5

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. ESTABILIDADE DE TALUDES

2.1.1. MÉTODOS DE ANÁLISE

A análise de segurança de um talude é abordada por dois diferentes métodos: o

determinístico e o probabilístico. As variáveis envolvidas pelo método determinístico

são determinísticas, pois possuem um valor fixo, não contando com a incerteza

associada a elas. Já as variáveis presentes no método probabilístico são consideradas

aleatórias e com determinada distribuição estatística. Cada variável é caracterizada pelo

seu valor de cálculo, que pode ser estimado diretamente, ou a partir do valor

característico. Através dessa segunda forma, são aplicados coeficientes de segurança

parciais aos seus valores característicos e o valor de cálculo vem da majoração ou da

minoração desses coeficientes.

Há algumas dificuldades na aplicação de métodos probabilísticos à engenharia

geotécnica, pelo fato, por exemplo, do número de determinações experimentais serem

geralmente reduzido, dificultando um tratamento estatístico convencional e também o

fato das variáveis envolvidas serem independentes, conforme mencionado por

FERNANDES (2011).

Já dentre os métodos determinísticos de análise de segurança em taludes,

destacam-se os métodos das tensões e deformações e o método do equilíbrio limite, que

serão abordados no próximo tópico deste trabalho.

2.1.1.1. MÉTODO DETERMINÍSTICO: ANÁLISE DE TENSÕES E

DEFORMAÇÕES X EQUILÍBRIO LIMITE

A análise de estabilidade baseada em estudos de tensões e deformações busca

que o estado de tensões do ponto mais solicitado da estrutura esteja suficientemente

afastado da envoltória de resistência do material. Esse afastamento deve ser tal

conforme a definição do coeficiente de segurança interno, que minora a envoltória e

define um estado de tensões admissíveis para todos os pontos da estrutura ao longo de

sua vida útil. Já no método dos estados limites, um coeficiente de segurança externo

define o afastamento entre o carregamento que levaria a estrutura a um estado limite,

seja um estado limite último (ELU), onde ocorre um colapso ou a um estado limite de

Page 18: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

6

serviço (ELS), que faz com que a estrutura seja comprometida em algum aspecto

funcional.

A análise de tensões e deformações resulta em uma abordagem mais realista e,

assim, mais complexa. Diante disso, são necessários o auxilio de softwares

computacionais, que podem ser baseados no método dos elementos finitos (MEF) ou

das diferenças finitas (MDF). Entretanto, no caso dos taludes naturais, as incertezas e

complexidades de aplicação desse tipo de análise aumentam consideravelmente, em

virtude da grande variabilidade de características geológicas, estratigráficas,

hidrogeológicas e mecânicas do material constituinte.

Dessa forma, a maioria dos métodos de análise de segurança em taludes são

através do método do equilibro limite, que é um subgrupo do método dos estados

limites, onde são verificados apenas os estados limites últimos (CAMARGO, 2005). A

análise por equilíbrio limite possui uma simplicidade maior de aplicação, pois não exige

parâmetros de deformabilidade. O método consiste na determinação do equilíbrio de

uma massa ativa de solo, a qual pode ser delimitada por uma superfície de ruptura

circular, poligonal ou de qualquer outra geometria.

Através da experiência de escorregamentos anteriores, verifica-se que os

deslocamentos de massa em taludes homogêneos e sem quaisquer descontinuidades

marcantes, apresentam uma superfície ruptura que pode ser aproximada pela forma de

uma concha. Assim, a maioria dos métodos propõe que a superfície potencial de ruptura

possui uma forma circular. Essa premissa permite avaliar a estabilidade do talude

através do equilíbrio de momentos em relação ao centro da superfície, na qual o braço

das forças normais à superfície de ruptura é considerado nulo e as forças de

cisalhamento se mantêm constante.

O método considera as hipóteses de que a mobilização de sua resistência se dá

de maneira uniforme ao longo da superfície de ruptura e que toda a massa de solo se

comporta como um material rígido-plástico. Assim, a ruptura se dá quando os

elementos alcançam a resistência última, ou seja, quando a resistência última do solo for

igual à tensão cisalhante mobilizada, conforme Figura 1.

Page 19: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

7

Figura 1 - Tensões cisalhantes mobilizadas e resistentes em uma massa de solo (GERSCOVICH,

2012)

2.1.1.2. DEFINIÇÃO DE FATOR DE SEGURANÇA PELO MÉTODO DO

EQUILÍBRIO LIMITE (FS)

As forças que tendem a ocasionar o movimento da massa de solo são

balanceadas pelos esforços resistentes (Figura 1). Assim, define-se fator de segurança

(FS) como sendo a razão entre estas duas forças: resistência ao cisalhamento do solo

(𝑟𝑒𝑠) e a tensão cisalhante mobilizada (𝑚𝑜𝑏).

Assim,

FS =res

mob (1)

Onde:

𝑚𝑜𝑏 : Tensão cisalhante mobilizada

𝑟𝑒𝑠 : Resistência ao cisalhamento do solo

FS: Fator de Segurança

A tensão cisalhante resistente do solo, em termos de tensão efetiva, pode ser escrita pelo

método de Mohr-Coulomb como:

res = c′ + ( − u) x tan ’ (2)

Ou em termos de tensão total como:

𝑟𝑒𝑠 = 𝑐 + x tan ’ (3)

Onde:

: Tensão total normal no plano de ruptura

Page 20: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

8

u: Poropressão;

c’: Intercepto de coesão efetiva do solo

’: Ângulo de atrito efetivo do solo, baseado na teoria de Mohr-Coulomb

c : Intercepto de coesão do solo em termos de tensão total

: Ângulo de atrito em termos de tensão total

Segundo MASSAD (2003), quando as poropressões existentes ao longo da

superfície de ruptura são iguais aos ensaios triaxiais que buscam simular as condições

reais de drenagem e carregamento existentes em campo, utiliza-se a abordagem em

termos de tensão total. Já quando os valores de poropressões ao longo da superfície de

ruptura são conhecidos, utiliza-se a consideração das tensões efetivas, assim, se

possível, é mais indicado o seu uso na prática.

Assim, substituindo (3) em (2):

E aplicando o conceito de tensão efetiva:

′ = − u (4)

𝐹𝑆 =c′+ ′x tan ’

mob (5)

Onde:

': Tensão normal efetiva no plano de ruptura

O método admite que todos os elementos ao longo da superfície de deslizamento

atingem simultaneamente a condição de ruptura. Essa hipótese, no entanto, não

representa a realidade, e o fator de segurança calculado representa uma média dos

fatores de segurança ao longo de toda a superfície potencial de ruptura.

A norma brasileira de estabilidade de taludes NBR 11682 (2009) recomenda

valores mínimos de fator de segurança (FS), com base em níveis de segurança para

danos materiais, ambientais e a vidas humanas e são resumidos através das Tabelas 1, 2

e 3:

Page 21: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

9

Tabela 1 - Fatores de segurança mínimos para deslizamentos (NBR 11682, 2009)

Tabela 2 - Nível segurança contra perda de vidas humanas (NBR 11682, 2009)

Tabela 3 - Nível segurança contra danos materiais e ambientais. (NBR 11682, 2009)

2.1.2. MÉTODO DAS FATIAS

O método mais utilizado para análise de estabilidade de taludes foi proposto

originalmente por FELLENIUS (1936), que propôs dividir a massa de solo acima da

superfície potencial de ruptura em fatias, conforme Figura 2. Nesse método, a base de

cada fatia é representada por um segmento de reta em vez de uma curva para simplificar

o cálculo do peso próprio de cada uma delas. O método das fatias permite a análise de:

Solo heterogêneo;

Superfície irregular;

Distribuições de poropressões.

Page 22: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

10

Figura 2 - Método das fatias (Notas de aula de Geotecnia Ambiental - Poli USP)

No caso de taludes heterogêneos, deve-se atribuir à base de cada fatia um único

conjunto de parâmetros de resistência, condicionando dessa forma a largura das fatias.

A Figura 3 apresenta uma fatia e as forças, conhecidas e desconhecidas, que atuam

sobre ela.

Figura 3 - Forças Atuantes em uma Fatia. (LAMBE & WHITMAN, 1969)

Page 23: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

11

Os símbolos apresentados na Figura 4 representam:

Wi : Peso da fatia

Xi : Resultante das tensões cisalhantes na face esquerda da fatia

Ei : Resultante das tensões normais efetivas na face esquerda da fatia

Xi + 1: Resultante das tensões cisalhantes na face direita da fatia

Ei + 1 : Resultante das tensões normais efetivas na face direita da fatia

Xi: Resultante das tensões cisalhantes na face esquerda da fatia

Ei: Resultante das tensões normais efetivas na face esquerda da fatia

Ti: Resultante da resistência ao cisalhamento mobilizada ao longo da base da fatia

Ni : Resultante das tensões normais efetivas atuantes na base da fatia

Ul: Resultante das poro-pressões atuantes na face esquerda da fatia

Ur: Resultante das poro-pressões atuantes na face direita da fatia

ui: Poro-pressão atuante na base da fatia

Ui : Resultante das poro-pressões atuantes na base da fatia

i: Inclinação da base :

Δli: Comprimento da base

Δxi: Largura da fatia

ai: Distância da face esquerda da fatia até o ponto de aplicação de Ni

bi: Distância da base da fatia até o ponto de aplicação de Ei:

r : Raio da superfície de ruptura

O : Centro da superfície circular

Conforme citado anteriormente, a base de cada fatia será representada por uma

reta em vez de uma curva, assim, a resultante da resistência ao cisalhamento mobilizada

ao longo da base de cada fatia será igual a:

𝑇𝑖 = τ x Δli (6)

Page 24: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

12

Substituindo-se (6) em (5)

𝑇𝑖 = 𝑐′Δli+ ′Δli x tan ’

FS (7)

Como a resultante das tensões normais efetivas atuantes na base da fatia é igual a:

Ni = ′Δli (8)

Logo:

𝑇𝑖 = c′Δli+ Ni x tan ’

FS (9)

Como o somatório de momentos em torno do ponto O é igual a 0

∑Wi x r sen(i)- ∑Ti x r = 0 (10)

Substituindo (9) em (10):

∑ 𝑐′Δli+Ni x tgØ

FS x r= ∑𝑊. 𝑠𝑒𝑛(i) x r (11)

Evoluindo a expressão, chega-se em:

𝐹𝑆 =∑ c′Δli+ Ni x tan Ø.′

Wi x sen(i) (12)

Observa-se que o problema é estaticamente indeterminado, visto que existem

mais incógnitas do que equações de equilíbrio. Para que fosse possível satisfazer

condições de equilíbrio de forças ou de momentos, ou ainda em alguns casos o

equilíbrio completo, foi desenvolvido simplificações a partir do método de fatias.

A natureza bidimensional do estudo e a simplificação introduzida trazem

resultados conservativos em termos de fator de segurança, pois se despreza o efeito

tridimensional da resistência mobilizada nas extremidades laterais da superfície de

deslizamento. (DUNCAN & WRIGHT, 2005).

Para a análise bidimensional, diversos métodos foram desenvolvidos utilizando

o conceito de equilíbrio limite e método das fatias. Dentre eles pode-se citar

FELLENIUS (1927), MORGENSTERN & PRICE (1965), SPENCER (1967), JANBU

(1973), BISHOP SIMPLIFICADO (1955), dentre outros. As diferenças entre eles

dependem de quais equações estáticas são consideradas e satisfeitas, quais as forças

entre as fatias são incluídas e qual é a relação considerada entre as forças cisalhantes e

Page 25: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

13

normais entre as fatias. Dentre esses métodos citados, os métodos de SPENCER (1967)

e MORGENSTERN & PRICE (1965) são considerados rigorosos, pois incluem em seus

cálculos todas as forças entre as fatias e satisfazem todas as equações de equilíbrio

estático.

2.1.2.1. MÉTODO DE SPENCER

O método de Spencer satisfaz todas as condições de equilíbrio estático (forças e

momentos) e pode ser aplicado a superfícies não circulares, por isso é considerado um

método mais rigoroso que os demais métodos de equilíbrio limite. Spencer considerou

que as forças Ei, Ei + 1, Xi, Xi + 1 poderiam ser substituídas por uma resultante (𝑄𝑖)

inclinada em um dado ângulo com a horizontal, passando pelo ponto médio da base da

fatia, ou seja, no ponto de interseção entre as forças Wi, Ni e Ti, conforme Figura 4.

O processo de cálculo é iterativo, adotando-se valores iniciais para o fator de

segurança e para a inclinação das forças entre as fatias. Considerando que as forças

sejam aplicadas no centro da base da fatia, o procedimento de cálculo é repetido até que

se atinja o equilíbrio de forças e momentos em cada uma dessas fatias. A Figura 4

ilustra as hipóteses do método.

Figura 4 - Forças Atuantes em uma Fatia no método de Spencer. (Adaptado de LAMBE &

WHITMAN, 1969)

Onde:

Wi : Peso da fatia

Ti: Resultante da resistência ao cisalhamento mobilizada ao longo da base da fatia

Page 26: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

14

Ni : Resultante das tensões normais efetivas atuantes na base da fatia

Ui : Resultante das poro-pressões atuantes na base da fatia

i: Inclinação da base:

Δli: Comprimento da base

Δxi: Largura da fatia

r : Raio da superfície de ruptura

O : Centro da superfície circular

𝑄𝑖 : Resultante das forças atuantes nas laterais da fatia

Ângulo de inclinação da resultante 𝑄𝑖 com a horizontal

Adotando-se o eixo x paralelo à base da fatia, conforme mostrado na Figura 4, faz-se o

equilíbrio de forças em x e y:

∑Fy= 0:

Ni + Ui + Qi × sen(𝑖 − ) − Wi. cos (𝑖) = 0 (13)

Ni = Wi. cos𝑖 − 𝑄𝑖 × 𝑠𝑒𝑛( − ) − Ui (14)

∑Fx = 0:

Ti - Qi.cos(𝑖 - ) - Wi.sen𝑖 = 0 (15)

Aplicando (7) em (15):

c ′Δli+Ni x tan Ø′

𝐹𝑆 = Wi. sen𝑖 + 𝑄𝑖.cos(𝑖 - ) (16)

Substituindo (14) em (16):

𝑄𝑖 =[

c ′Δli+tan Ø′

𝐹𝑆 x ( Wi.cos 𝑖 −𝑈 𝑖)−Wi.sen𝑖]

cos(𝑖 − ) x [1+ tan Ø′

𝐹𝑆 x tan (𝑖 − )]

(17)

Assim, percebe-se que 𝑄𝑖 é dependente de duas variáveis ( e FS). De modo a

superar o problema de desequilíbrio entre numero de equações e de incógnitas,

SPENCER (1967) sugere adotar um valor de inclinação constante para todas as fatias.

Essa hipótese significa assumir uma determinada função para as forcas interlamelares.

Page 27: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

15

Entretanto, a força entre as fatias são forças internas da massa de solo (corpo rígido) e

se não houver forças externas ao talude, para garantir o equilíbrio global, assume-se

que:

∑𝑄𝑖 = 0

Além disso, supõe-se que Ni, Ui e Wi tem direções que passam pelo centro da

base. Como o somatório destas forças mais 𝑄𝑖 vale zero, então a direção de 𝑄𝑖 também

tem que passar pelo centro da base para que se tenha ΣM=0 na fatia. Como a massa

potencialmente instável é um corpo rígido, o momento das forças 𝑄𝑖 em relação a

origem deve ser nulo (se não houver forças externas), ou seja:

∑𝑄𝑖(xi.sen + yi.cos ) = 0 (18)

Sendo xi e yi as coordenadas do centro da base da fatia "i"

Assim, o algoritmo utilizado pelo software computacional pode ser simplificado

da seguinte forma:

Arbitra-se uma superfície potencial de ruptura

Arbitra-se

Calcula-se FS a partir da Equação (18) de equilíbrio momentos, determinando o

fator de segurança para o equilíbrio de momentos (FSm) .

Calcula-se FS a partir da Equação (17) de equilíbrio de forças, determinando o

fator de segurança para o equilíbrio de forças (FSf).

Repete-se o procedimento para outros valores de

Plota-se as curvas FSm x e FSf x

O ponto de encontro das curvas FSm e FSf é o fator de segurança

correspondente à SPR arbitrada, conforme Figura 5

Page 28: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

16

Figura 5 - Convergência do método de Spencer (Adaptado de Spencer, 1967)

2.2. SOLO GRAMPEADO

2.2.1. ORIGENS DO SOLO GRAMPEADO

O solo grampeado surgiu através de uma modificação da técnica de estabilização

de frentes de escavação de túneis em rocha denominada NATM ("New Austrian

Tunneling Method). A técnica do NATM veio para substituir o método tradicional de

execução de túneis (Figura 6), no qual utilizava-se um revestimento rígido com grande

espessura para impedir os deslocamentos do maciço e resistir aos esforços mobilizados.

A utilização de um suporte flexível com pequena espessura, permitindo a deformação

do terreno e a geração de uma região plastificada no entorno da escavação tornou as

obras de túneis mais eficientes e econômicas. Além do revestimento flexível em

concreto projetado, o maciço pode ser reforçado com chumbadores, tirantes, telas

metálicas e/ou cambotas metálicas.

Pode-se afirmar, então, que uma escavação de solo grampeado está para a

execução de túneis com revestimento flexível da mesma forma que a solução

convencional de túneis se compara a uma cortina ancorada (ORTIGÃO & SAYÃO,

2000).

Diante do sucesso da técnica do NATM aplicada em rochas duras, surgiram

novos estudos e experiências em materiais menos resistentes. Primeiramente em rochas

FS

FSm

FSf

Page 29: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

17

brandas e posteriormente em solos com o nome de solo pregado ou solo grampeado

(“soil nailing”, em inglês; “clouage du sol”, em francês).

A partir da década de 70, a técnica começou a se difundir, destacando-se estudos

realizados em países como França, Alemanha e EUA que buscaram conhecer e

aprimorar a técnica.

Figura 6 - Técnicas de execução de túneis com revestimento rígido (a) e flexível (b) (ORTIGÃO &

SAYÃO, 2000)

2.2.2. CARACTERIZAÇÃO DA TÉCNICA

Solo grampeado é uma técnica que visa a reforçar o maciço através da inserção

de elementos semirrígidos resistentes a esforço de tração, cisalhamento e momento

fletor. A técnica é bastante eficaz no que diz respeito ao reforço do solo “in situ",

podendo ser aplicada em taludes naturais ou resultantes de processo de escavação,

conforme pode ser visto na Figura 7.

Page 30: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

18

Figura 7 - (a) - Estabilização de taludes naturais e (b) - escavações (Georio, 2014)

Os elementos de reforço são similares às ancoragens tradicionais, porém sem

protensão e por isso são denominados “passivos”, diferente dos tirantes que recebem

uma protensão e são denominados “ativos”. Salienta-se também que enquanto nos

tirantes há uma normatização para a proteção contra a corrosão, não há nenhuma norma

definindo algum tipo de tratamento anticorrosivo para os grampos, ficando a definição a

cargo do projetista.

Os grampos, em sua maioria, são feitos de aço com diâmetro variando entre 15 e

32mm e sua incorporação à face da estrutura pode ser feita de formas diversas,

conforme observado na Figura 8. Esses elementos de reforço são posicionados

horizontalmente ou sub-horizontalmente no maciço, de forma a introduzir esforços

resistentes de tração, cisalhamento e momentos fletores. Os grampos podem ser

inseridos no solo através de cravação ou executando pré-furos previamente a sua

montagem. (ORTIGÃO et al., 1993)

Page 31: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

19

Figura 8 - Tipos de cabeças para grampos: (a) embutida na face por meio de dobra no aço; (b)

fixada por placa metálica, rosca e porca; (c) feixe de barras embutido na face por dobra (DIAS et

al., 2006) e (d) sem ancoragem (EHRLICH, 2003).

2.2.3. MÉTODO EXECUTIVO

A técnica de solo grampeado pode ser aplicada em situações distintas e o método

executivo diferente quanto a sua aplicação. Quando o objetivo é a estabilização de

taludes naturais, os grampos e o faceamento são instalados sobre o terreno já

conformado. Já quando a utilização da técnica visa a garantir a segurança de

escavações, pode ser necessária a realização de etapas de escavações intermediárias,

através da execução de bancadas e/ou bermas provisórias (Figura 9), na qual somente

prossegue-se com a escavação quando toda a linha de grampos correspondente à aquela

bancada for executada. Dessa forma, garante-se uma segurança adicional nas etapas

intermediárias de escavação.

Page 32: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

20

Figura 9 - Execução do solo grampeado por meio de escavação em bancadas e nichos alternados

(LAZARTE et al., 2003)

A inserção dos grampos geralmente se dá através da realização de furos com

perfuratrizes, sendo posteriormente montados, instalados e injetados nos furos. A

estrutura pode apresentar diferentes tipos de faceamento, que podem ser em

revestimento flexível como telas metálicas, geomantas, biomantas ou revestimentos

rígidos como concreto projetado. As etapas de execução podem ser resumidas da

seguinte forma:

2.2.3.1. SERVIÇOS PRELIMINARES

Liberação formal da(s) área(s) onde serão instalados os grampos no tocante à sua

locação e cotas, de acordo com o projeto;

Limpeza e Regularização do talude;

2.2.3.2. TERRAPLANAGEM ( CASO EM TALUDES ESCAVADOS )

Execução da bancada de trabalho e/ou nichos alternados através de escavação

manual e/ou mecânica (Figura 9).

Carregamento do material até a área de bota-fora previamente definida.

2.2.3.3. PERFURAÇÃO

Locação dos furos

Posicionamento da perfuratriz;

Page 33: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

21

Verificação da verticalidade e/ou ângulo de inclinação de acordo com as

condições de projeto;

Realizar a perfuração por meio da perfuratriz até a profundidade indicada em

projeto;

Medir a profundidade da perfuração, utilizando-se a composição de tubos de

injeção, introduzindo-a no interior do tubo até a cota de fundo da perfuração;

Quando a perfuração atingir matacão, blocos de rocha, rocha e/ou concreto,

poderá ser usada sapata ou coroa diamantada, acoplada na ponta da composição

de tubos de revestimento;

Alternativamente podem ser utilizados martelos pneumáticos ou hidráulicos,

sendo que todos os martelos perfuram por sistema roto-percussivo. O martelo é

introduzido pelo tubo de revestimento seguindo em rocha com diâmetro um

pouco inferior ao do revestimento.

A limpeza do furo pode ser realizada com água através de bombas hidráulicas ou

ar com a utilização de compressores.

2.2.3.4. ARMAÇÃO/MONTAGEM

Cortar/Montar os grampos e, caso necessário, proteger com pintura

anticorrosiva, obedecendo às características de projeto;

Inserir os elementos no interior das perfurações já executadas previamente até a

profundidade informada em projeto;

2.2.3.5. INJEÇÃO

Injetar a calda de cimento por meio da bomba injetora, posicionando o tubo de

injeção no fundo do furo.

Proceder à injeção de baixo para cima até que a calda seja expulsa pela boca do

furo, formando a bainha.

No caso do projetista especificar fases extras de injeção, devem ser instalados

tubos perdidos de reinjeção adjacentes a barra de aço, de polietileno ou similiar,

com diâmetro variando entre 8 e 15mm, providos de válvulas a cada 0,5m e até

Page 34: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

22

1,5m da boca do furo. Para cada fase de injeção, deve-se considerar um tubo

perdido. (SPRINGER, 2006)

2.2.3.6. PROTEÇÃO DA FACE E CABEÇA DO GRAMPO

2.2.3.6.1. TELA MÉTALICA E/OU GEOMANTA E/OU BIOMANTA (CASO

REVESTIMENTO FLEXÍVEL)

Ancorar a tela/geomanta na crista do talude.

Rolar a tela/geomanta sobre o talude e realizar a sua fixação sobre os grampos já

executados. (Figura 10)

2.2.3.6.2. CONCRETO PROJETADO ( CASO DE REVESTIMENTO

RÍGIDO)

Instalação da tela metálica eletrossoldada ( caso previsto em projeto ).

Instalação de drenos curtos tipo barbacã para drenar a água entre a face do talude

e a parede de concreto projetado

Execução da parede de concreto projetado. (Figura 11)

Figura 10 - Execução de solo grampeado em talude natural com faceamento em geomanta

associada a tela metálica ( Arquivo Pessoal )

Page 35: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

23

Figura 11 - Execução de faceamento em concreto projetado ( Fonte : Arquivo Pessoal)

2.3. MECANISMO DE INTERAÇÃO SOLO-GRAMPO

A interação entre as ancoragens e o solo envolve basicamente dois mecanismos

que contribuem para a melhoria da resistência da massa de solo: o primeiro é a

resistência ao cisalhamento proveniente da resistência unitária na interface solo-grampo

(𝑞𝑠), na qual produz esforços de tração na ancoragem. Já o segundo é proveniente do

esforço normal (empuxo lateral) que o solo exerce sobre o reforço, gerando uma zona

cisalhante no interior da massa de solo e mobilizando uma parcela de momento fletor e

cisalhante no grampo. Conforme no projeto CLOUTERRE (1991), os deslocamentos e a

interação entre solo e grampo dependem de uma série de fatores como rigidez do

reforço, tipo de solo, inclinação da face e metodologia executiva. Esses mecanismos,

representados na figura 12, ainda são objetos de dúvida e há diversas pesquisas em

busca de compreendê-los. Dessa forma, os atuais métodos de projeto ainda são muito

empíricos. (SILVA, 2009)

Page 36: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

24

Figura 12 - Mecanismos de interação solo-reforço na estrutura de solo grampeado (Adaptado de

SHEAHAN & ALVARADO, 1996)

Embora possam ocorrer os dois mecanismos, a maioria dos pesquisadores

considera que a interação solo-reforço é oriunda, principalmente, da resistência unitária

na interface solo-grampo (𝑞𝑠). (STOCKER et al., 1979 ).

De forma geral, considera-se que a resistência unitária na interface solo grampo

(𝑞𝑠) é distribuída ao longo dos reforços (Figura 13). Na zona ativa, as tensões oriundas

da resistência lateral entre o solo e o grampo são direcionadas no sentido do movimento

da massa de solo, já as tensões na zona resistente são direcionadas no sentido contrário

ao movimento do maciço. Dessa forma, há uma redistribuição das tensões da zona ativa

para a zona resistente, formando uma espécie de "amarração". O limite entre as duas

regiões é definido pela ligação dos pontos de tração máxima (𝑇𝑚𝑎𝑥) de cada um dos

reforços ( SPRINGER, 2001).

LIMA et al. (2003) verificaram que essa afirmativa só é válida para o caso de

grampos com ambas as extremidades livres, sem fixação à parede (grampos livres).

SPRINGER (2001) também concluiu que a distribuição das tensões no grampo varia

conforme a forma de fixação dos grampos à face. Nos grampos fixos, o ponto de tração

máxima fica próximo a face, já nos grampos livres, esse ponto é localizado no interior

do maciço.

Page 37: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

25

Figura 13 - Mecanismos de estabilização do solo grampeado (EHRLICH & BECKER, 2009)

2.4. ENSAIO DE ARRANCAMENTO DE GRAMPOS

A estabilidade de uma contenção em solo grampeado é estudada em seu estado

limite último, assim, a quantificação da resistência unitária na interface solo-grampo

(𝑞𝑠) é obtida principalmente através de ensaios de arrancamento, que são executados em

campo. O grampo é tracionado por um macaco hidráulico e seus deslocamentos são

controlados e medidos.

Em obras de grande porte, recomenda-se que os ensaios de arrancamento devam

ser realizados antes da obra para se estabelecer o valor da resistência unitária na

interface solo-grampo (𝑞𝑠) a ser adotada no projeto. Todavia, em obras menores, isso

raramente ocorre e, os ensaios são realizados durante a obra e o projeto é ajustado à

medida que se obtém resultados desses ensaios. (SPRINGER, 2001).

O objetivo principal dos ensaios de arrancamento é determinar a resistência ao

cisallhamento unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠) quando submetido a uma força de

tração axial máxima (Fmax). Essa resistência é um dos parâmetros essenciais no

dimensionamento de uma estrutura em solo grampeado e é função das propriedades do

grampo, do solo e da interface solo-grampo (SCHLOSSER & UNTERREINER, 1990).

O ensaio consiste em aplicar cargas de tração através de um macaco hidráulico

(Figura 14) e, para cada carga aplicada, registra-se o deslocamento da cabeça do

grampo. Da curva Deslocamento x Carga (Figura 15), obtém-se a Máxima carga axial

de tração no grampo (Fmax) do ensaio de arrancamento. (SPRINGER, 2006)

Page 38: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

26

Figura 14: Arranjo geral de um ensaio de arrancamento (Adaptado de LAZART et al, 2003).

Figura 15 - Curva deslocamento x força de um ensaio de arrancamento (CLOUTERRE, 1991)

Após o ensaio terminado, o valor de 𝑞𝑠 é definido por:

𝑞𝑠 =𝐹𝑚𝑎𝑥

𝜋. 𝐷𝑓𝑢𝑟𝑜. 𝐿𝑖𝑛𝑗.

onde,

𝐹𝑚𝑎𝑥 – força máxima obtida no ensaio;

𝐿𝑖𝑛𝑗. – comprimento do trecho ancorado;

𝐷𝑓𝑢𝑟𝑜 – diâmetro do furo.

Page 39: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

27

Segundo o projeto CLOUTERRE (1991), os padrões utilizados para os ensaios

de arrancamento podem ser executados com deslocamento controlado (velocidade

constante) ou com força controlada.

Para as mesmas condições de solo, tanto o ensaio com controle de deslocamento

quanto o ensaio com controle de força, devem levar ao mesmo resultado, ou seja, à

mesma força máxima de arrancamento. (CLOUTERRE, 1991).

2.4.1. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSAIO

O trecho livre deve ser executado de forma que não haja nenhuma aderência

entre a barra de aço e a calda de cimento, visto que a força de compressão que o

macaco exercerá sobre o paramento poderá causar efeitos de contorno

indesejáveis. A fundação GEO-RIO (2014) recomenda trecho livre de

aproximadamente 1m e trecho ancorado com 3m.

A carga máxima de ensaio não deve ultrapassar a 90% da carga de escoamento

da barra, evitando assim acidentes que possam ser causados por uma ruptura

brusca da barra de aço.

A Fundação GEO-RIO (2014), propõe, através de seu manual, que sejam

realizados ensaios de arrancamento em, no mínimo, dois grampos ou 1% do

total previsto, para que sejam confirmados os valores de 𝑞𝑠 considerados no

projeto. Esses ensaios devem ser realizados na medida em que a obra avança

para permitir adequações de projeto.

O procedimento de instalação de grampos destinados aos ensaios de

arrancamento (inclinação, perfuração, introdução no furo e injeção) deve ser

exatamente o mesmo dos grampos de trabalho (permanentes) da construção,

conforme recomendado pelo projeto CLOUTERRE (1991).

2.5. RESISTÊNCIA UNITÁRIA (𝒒𝒔) A PARTIR DE PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA DO

SOLO

Na literatura existem diversas propostas de correlação da resistência unitária na

interface solo-grampo (𝑞𝑠) com os diferentes parâmetros de resistência do solo obtidos

Page 40: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

28

em ensaios de campos. BUSTAMANTE E DOIX (1985) propuseram uma correlação de

𝑞𝑠 com a pressão limite do pressiômetro de Ménard. ORTIGÃO E PALMEIRA (1997)

apresentaram a correlação de 𝑞𝑠 e o número de golpes do ensaio SPT. PROTO SILVA

(2005) desenvolveu uma correlação semiempírica para obtenção de 𝑞𝑠 em função dos

parâmetros de resistência do solo, da interface solo/nata de cimento e da tensão normal

atuante no grampo.

A expressão semiempírica apresentada pelo autor apresentou resultados

satisfatórios para os solos residuais de gnaisse.

PROTO SILVA (2005) define essa relação a partir de ensaios de

arrancamento em uma obra de solo grampeado executada em solo residual de gnaisse, e

de ensaios de cisalhamento direto no solo e na interface solo/nata de cimento.

O autor admite que o mecanismo de transferência de carga na interação

solo/grampo se dá pelo deslizamento da nata de cimento no contato com o solo. Pode-se

então considerar que o 𝑞𝑠 obtido nos ensaios de campo é igual à resistência ao

cisalhamento na interface solo/grampo, obtida pelos ensaios de cisalhamento direto na

interface solo/nata de cimento. Esses ensaios foram executados em corpos de prova

moldados com estes dois materiais, com a superfície de ruptura coincidindo com a

interface. A equação abaixo apresenta a relação. (PROTO SILVA, 2005).

𝑞𝑠 = 𝜏 = 𝜆1. (𝑐′𝑎 + 𝜎𝑛. 𝑡𝑔𝛿′)

onde:

𝑞𝑠 – resistência unitária na interface solo-grampo;

𝜏 – resistência ao cisalhamento;

𝜆1 – fator de carga;

𝑐′𝑎 – adesão da interface;

𝜎𝑛 – tensão normal aplicada ao grampo;

𝛿′- ângulo de atrito da interface.

A equação anterior pode também ser escrita em função dos parâmetros de resistência do

solo (PROTO SILVA, 2005):

Page 41: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

29

𝑞𝑠 = 𝜆1. 𝛼. (𝑐′ + 𝜎𝑛. 𝑡𝑔′)

onde:

𝑞𝑠 – resistência unitária na interface solo-grampo;

𝜆1 – fator de carga;

𝛼 – coeficiente de interface;

𝑐′ – coesão do solo;

𝜎𝑛 – tensão normal aplicada ao grampo;

′- ângulo de atrito do solo.

PROTO SILVA (2005) também apresenta um fator de carga (𝜆1) que depende de um

conjunto de condicionantes, tais como:

Fator de escala;

Interação física entre a nata de cimento e o solo;

Sucção dos solos não saturados;

Efeito tridimensional do grampo;

Condicionantes de projeto (espaçamento entre os grampos);

Efeitos da reinjeção dos grampos estudados.

A Figura 16 apresenta a variação do fator de carga (𝜆1) com o aumento da tensão

vertical no solo caracterizado como areia argilosa (solo residual jovem de gnaisse).

Page 42: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

30

Figura 16: Fator de carga λ1 em função da tensão normal para o solo residual jovem de gnaisse

(PROTO SILVA, 2005).

PROTO SILVA (2005) realizou os ensaios em dois tipos de solo diferentes: solo

residual jovem e solo residual maduro. A Figura 16 apresenta a relação do fator de carga

com a tensão normal para o solo residual jovem de gnaisse. Em seu trabalho o autor

também realizou ensaio em solo residual maduro de gnaisse. A Figura 17 apresenta o

resultado do fator de carga (λ1∗) incorporando os resultados em solo residual maduro e

solo residual jovem em função da tensão normal.

Figura 17: Fator de carga λ1* em função da tensão normal para o solo residual de gnaisse,

incorporando os resultados do solo residual maduro e solo residual jovem (PROTO SILVA, 2005).

Page 43: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

31

Para se expressar os parâmetros de resistência da interface em função dos

parâmetros de resistência do solo (c’ e ’), o autor utilizou um coeficiente de interface

(α) que pode ser definido como:

𝛼 =𝑐𝑎

′ + 𝜎𝑛𝑡𝑔𝛿′

𝑐′ + 𝜎𝑛𝑡𝑔′

Onde:

𝛼 – coeficiente de interface;

𝑐𝑎′ – adesão solo/nata de cimento;

𝜎𝑛 – tensão normal aplicada ao grampo;

𝛿′- ângulo de atrito na interface solo/nata de cimento;

𝑐′ – coesão do solo;

′- ângulo de atrito do solo.

A Figura 18 define as curvas de variação do coeficiente de interface (𝛼) em

função da tensão normal para o grampo de solo residual maduro (solo 1) e solo residual

jovem de gnaisse (solo 2). (PROTO SILVA, 2005)

Figura 18: Relação entre o coeficiente de interface (α) e a tensão normal. (PROTO SILVA, 2005).

Page 44: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

32

Então, determina-se o fator de carga para solo residual de gnaisse (𝜆1∗) e o

coeficiente de interface (α). Em função desses parâmetros e dos parâmetros de

resistência do solo (𝑐′,′), é possível escrever a equação semiempírica de avaliação da

resistência do grampo ao arrancamento (𝑞𝑠) em função destes. (PROTO SILVA, 2005):

𝑞𝑠 = 𝜆1∗ . 𝛼. (𝑐′ + 𝜎𝑛. 𝑡𝑔′)

Onde:

𝑞𝑠 – resistência unitária na interface solo-grampo;

𝜆1∗ – fator de carga para solo residual de gnaisse;

𝛼 – coeficiente de interface;

𝑐′ – coesão do solo;

𝜎𝑛 – tensão normal aplicada ao grampo (meio do bulbo de ancoragem);

′- ângulo de atrito do solo.

2.5.1. DETERMINAÇÃO DA TENSÃO NORMAL ATUANTE NO GRAMPO

Em seu trabalho original, PROTO SILVA (2005) utilizou o software comercial

GEO-STUDIO (2012), módulo Slope/W, para determinar as tensões atuantes no plano

horizontal e vertical para cada ponto de uma malha pré-definida.

Como os grampos estudados pelo autor foram inseridos no talude como uma

determinada inclinação em relação ao plano horizontal, PROTO SILVA (2005)

determinou as tensões normais aos grampos através da utilização do círculo de Mohr,

que é a representação gráfica do estado de tensões atuantes em todos os planos passando

por um ponto (Figura 19)

De posse dos valores das tensões principais (σ1 e σ3) e tensões normal e de

cisalhamento nos planos vertical e horizontal, para cada metro de grampo, PROTO

SILVA (2005) traçou o círculo de MOHR para cada um desses pontos (Figura 19).

Traçando-se um plano horizontal passando pelo ponto do círculo que representa

a tensão vertical e um plano vertical pelo ponto que representa a tensão horizontal, o

autor definiu o pólo do círculo de Mohr

Page 45: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

33

Figura 19 – Círculo de MOHR por PROTO SILVA (2005)

Sabe-se que todos os planos que passam pelo pólo interceptam o circulo de

Mohr no ponto correspondente à tensão normal e cisalhante que age sobre este mesmo

plano. Assim, passando-se um plano de inclinação igual a do grampo pelo pólo, pode-se

determinar as tensões normal e cisalhante atuantes sobre o grampo. (PROTO SILVA,

2005)

Determinada a tensão cisalhante no plano normal ao grampo, infere-se que a

tensão cisalhante no plano perpendicular ao grampo tem a mesma magnitude, todavia

com sentido contrário. De posse dessas grandezas, pode-se determinar a tensão normal

atuante no grampo. Todavia, a tensão que atua no plano perpendicular ao grampo é

muito menor do que a tensão normal, assim, foi desprezada pelo autor na análise de

tensões ao longo do grampo. (PROTO SILVA, 2005)

Como os grampos geralmente são inseridos com inclinação suave em relação ao

plano horizontal, PROTO SILVA (2005) afirma que a tensão normal aos grampos tem

valor próximo ao da tensão σ1, onde a tensão cisalhante é nula. Assim, o autor

considerou que os valores de tensão cisalhante nos grampos são muito reduzidos

quando comparados aos da tensão normal. Diante disso, desprezou-se a contribuição da

tensão cisalhante na análise da resistência unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠) dos

Page 46: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

34

grampos em função da tensão atuante. Por fim, o autor determinou o valor da tensão

normal atuante no grampo como a média ponderada entre os valores de tensão normal a

cada metro de grampo.

Alguns outros autores, como FEIJÓ (2007), pontuam que a realização do pré-

furo provoca um alívio da tensão normal atuante nas paredes do furo. Desta forma, a

tensão normal atuante no grampo não seria dependente da profundidade. Segundo o

autor, as tensões normais atuantes nos grampos ensaiados são fortemente influenciadas

pelo efeito de ("interlocking"), em que há uma tendência de expansão promovida pela

mobilização do cisalhamento entre solo-grampo. Assim, essa tensão normal é de difícil

avaliação e não corresponde simplesmente a tensão geostática.

Em outros trabalhos, como o de CARTIER & GIGAN (1983) e o de

MITCHELL & VILLET (1987), os autores também defendem, através de experimentos

em campo, que o valor de 𝑞𝑠 (resistência unitária na interface solo-grampo) é constante

e não aumenta com a profundidade.

2.6. TIPOS DE RUPTURA

Na técnica de solo grampeado, assim como em outras estruturas de solo

reforçado, o processo de instabilidade pode acontecer por formas distintas. A ruptura

interna do sistema solo reforçado ocorre quando há a ruptura dos reforços (Figura 20c).

A ruptura externa acontece quando a estrutura comporta-se como um bloco monolítico

(Figura 20a). Já na ruptura mista, parte da estrutura se comporta como ruptura interna e

outra parte como ruptura externa. (Figura 20b).

Durante o projeto CLOUTERRE (1991), foram realizados diversos

experimentos para estudar os diferentes modos de ruptura do sistema solo grampeado.

Na sequência, apresentam-se, de forma mais especifica, os diferentes modos de ruptura

do sistema solo grampeado, conforme mencionado pelo projeto.

Page 47: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

35

Figura 20 - Tipos de ruptura em uma estrutura de solo grampeado (SILVA, 2009).

2.6.1. RUPTURA INTERNA:

O processo por ruptura interna se dá quando há algum tipo de falha na

transferência de carga entre o solo e o grampo. O desencadeamento desse processo pode

estar relacionado a uma resistência a tração menor do que a prevista e pode ser causado

por diversos fatores como comprimento do reforço insuficiente, falha no processo

construtivo e outros que serão explicitados a seguir:

2.6.1.1. RUPTURA DOS REFORÇOS

Durante o projeto CLOUTERRE (1991), diversos modelos em escala reduzida e

experimentos em escala real foram realizados para levar os reforços à ruptura e avaliar

quais fatores foram mais relevantes na falha do sistema. Um dos experimentos mostrou

que o desenvolvimento de uma zona de cisalhamento no solo pode levar a ruptura do

grampo antes de se atingir a carga máxima de tração. Através do experimento,

verificou-se que a estrutura foi comprometida mobilizando a resistência à flexão no

reforço (Figura 21).

Page 48: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

36

Em outro experimento do projeto CLOUTERRE (1991), utilizou-se reforços

mais flexíveis e observou-se uma ruptura repentina dos reforços por tração (Figura 22).

Alguns fatores podem produzir a ruptura dos reforços, conforme citado

por SILVA (2009), entre os quais:

Subdimensionamento da seção transversal do reforço

Processo de corrosão do reforço. Esse tipo de ruptura ocorre de forma repentina

ao longo da superfície de ruptura, onde as tensões de tração são máximas

(GUILLOUX & JAILLOUX, 1979).

Figura 21 - Ruptura interna por flexão e/ou cisalhamento dos reforços (ELIAS et al., 1993)

Figura 22 - Ruptura interna por esforços de tração nos reforços (ELIAS et al., 1993)

Page 49: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

37

Sobrecarga posicionada no topo do muro, quando este não está dimensionado

para suportá-la. Esse tipo de ruptura foi verificado em um muro de solo

grampeado construído na Alemanha (STOCKER et al., 1979);

Saturação da estrutura reforçada por infiltração de água;

2.6.1.2. RUPTURA POR FALTA DE ADERÊNCIA (ARRANCAMENTO)

Quando a aderência entre o reforço e o solo é inadequada pode ocorrer o

"arrancamento" do reforço do interior do maciço de solo. Essa falha pode estar

associada a um comprimento insuficiente do reforço na zona resistente ou uma

estimativa equivocada de 𝑞𝑠, o que compromete a redistribuições de tensões da zona

ativa para a zona resistente (zona de ancoragem) (Figura 23).

Figura 23 - Ruptura interna por falta de aderência na interface solo-reforço (ELIAS et al., 1993)

2.6.1.3. RUPTURA DURANTE AS FASES DE ESCAVAÇÃO

O projeto CLOUTERRE (1991) recomenda que não se deve dimensionar frentes

de escavação com altura elevada em uma obra de solo grampeado pois o processo de

instabilização local pode se propagar para o topo da estrutura, causando uma sucessiva

eliminação do efeito de arqueamento dos grampos, o que pode acarretar em uma ruptura

repentina da estrutura.

Para avaliar a estabilidade local e global do maciço de solo grampeado durante

as sucessivas fases de escavação, construiu-se um muro de solo grampeado de 6,0 m de

altura em um dos experimentos do projeto CLOUTERRE (1991). Para conduzir essa

Page 50: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

38

estrutura à condição de ruptura, os avanços da frente de escavação foram realizados com

alturas crescentes, conforme apresentado na Figura 24.

Na ocasião, para uma frente de escavação com altura de 3m, observou-se que o

efeito do arqueamento foi destruído, e a ruptura local propagou-se até o nível da

superfície. Assim, recomenda-se que as frentes de escavação devem ter altura inferior à

altura critica de escavação. (CLOUTERRE, 1991)

Figura 24 - Estabilidade das fases de escavação do muro experimental nº 02 da CEBPTP

(CLOUTERRE, 1991)

2.6.2. RUPTURA EXTERNA E RUPTURA MISTA

A ruptura externa de uma estrutura de solo grampeado faz com que este se

comporte como um bloco monolítico, que pode se romper ao longo de superfície de

ruptura (Figura 25a) ou deslizar através de sua base (Figura 25b). Esse tipo de ruptura

geralmente está associado a uma baixa capacidade do solo de fundação ou a um

comprimento insuficiente dos reforços na zona resistente (zona de ancoragem).

Outro tipo de ruptura que pode ser ocasionado é o processo por ruptura mista,

em que há uma falha interna e externa da estrutura (Figura 25-c). De forma análoga as

rupturas individuais, esse tipo de ruptura também está relacionado a um comprimento

insuficiente do reforço na zona resistente (zona de ancoragem) ou a uma baixa

resistência à tração do reforço. (SILVA, 2009).

Page 51: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

39

Figura 25 - Diferentes tipos de ruptura em uma estrutura de solo grampeado (ELIAS et al., 2003)

2.7. MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO

Não há uma metodologia padrão ou única para o dimensionamento de uma

estrutura de solo grampeado. Dentre os métodos disponíveis, há diferentes abordagens

quanto às premissas de cálculo. Todavia, a maioria dos métodos de dimensionamento de

estrutura de solo grampeado são baseados no método do equilíbrio limite, em que são

analisadas as condições de equilíbrio de uma porção instável do talude após a inserção

dos reforços, onde são verificadas a mobilização da resistência do solo e das forças

disponíveis nos grampos. (CAMARGO, 2005)

Conforme ZIRLIS et al (2010), há alguns métodos de cálculo de cunho

internacional para o dimensionamento das estruturas de solo grampeado. Dentre os

métodos mais difundidos, destacam-se o método Francês (CLOUTERRE, 1991), o

método Alemão (Stocker et al, 1979), o método de Davis (SHEN et al., 1981) e o

método Cinemático (JURAN, 1990). Esses métodos foram comparados por

CLOUTERRE (1991), CHRISTOPHER et al. (1990) e JURAN et al. (1990). A Tabela

4 apresenta o resumo dos métodos citados.

Page 52: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

40

Tabela 4 - Premissa dos diferentes métodos de cálculo em solo grampeado (adaptado de ORTIGÃO

et al, 2003)

MULTICRITÉRIO

Page 53: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

41

A maioria dos métodos pressupõe uma superfície de ruptura dividida em uma

zona ativa e uma zona resistente. A linha que separa essas duas regiões é definida pelo

ponto de máxima força axial em cada grampo. Essa força é desenvolvida a partir do

deslocamento do solo, causado pela descompressão lateral. As análises de estabilidade

global são feitas considerando-se os esforços estabilizantes dos reforços atuando nessa

cunha ativa. Entretanto, os métodos de cálculo diferem entre si quanto à forma da

superfície de ruptura, ao método de cálculo do equilíbrio das forças atuantes e à

natureza das forças. (Zirlis et al., 2010).

Ressalta-se que existem duas correntes de pensamento entre os pesquisadores de

solo grampeado. Uma delas considera a rigidez à flexão dos reforços e a outra considera

apenas os esforços de tração (comumente mais utilizada). Essa questão ainda precisa ser

esclarecida, mas, preliminarmente, pode-se considerar que os reforços instalados na

posição horizontal, atravessando à superfície potencial de ruptura, devem aumentar a

resistência ao cisalhamento do solo, principalmente, por meio de seu trabalho à tração.

(SILVA, 2009 ).

De forma geral, a realização de projetos de solo grampeado em grande parte

resulta na definição dos seguintes parâmetros: comprimento dos grampos (L), ângulo de

instalação (), espaçamento vertical (𝑆𝑣) e horizontal (𝑆ℎ), parâmetros de resistência do

solo (c' e ') e resistência unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠).

2.7.1. MÉTODO ALEMÃO (STOCKER ET AL, 1979)

STOCKER et al (1979) propuseram um método de cálculo para solos

homogêneos através da análise de ensaios realizados em escala reduzida e real de muros

de solo grampeado. Nos ensaios, as estruturas eram levadas até a ruptura para a

identificação dos diversos mecanismos envolvidos e do comportamento da estrutura,

englobando estados de ruptura total e estados de comprometimento do serviço.

Dentre os aspectos observados, destacam-se a distribuição das pressões ao longo

do paramento de concreto projetado, o mecanismo de interação entre solo/grampo, a

distribuição dos esforços de tração ao longo dos reforços e a posição da superfície de

ruptura através de dados de inclinômetros e dos registros dos deslocamentos verticais e

horizontais desenvolvidos no paramento ao longo da escavação.

Page 54: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

42

2.7.1.1. SUPERFÍCIE DE RUPTURA

Através da análise dos dados, os pesquisadores constataram que a superfície de

ruptura poderia ser aproximada por uma cunha bipartida, conforme Figura 26, em que

os esforços 𝑘1 representam as forças de coesão e os 𝑠1 as forças de atrito.

Figura 26 - Divisão dos blocos instáveis e suas respectivas forças, segundo o processo das cunhas

(CAMARGO, 2005)

Onde:

𝐤𝟏 : Força de coesão atuante na base da cunha 1

𝐤𝟏𝟐: Força de coesão na interface entre as cunhas 1 e 2

𝐤𝟐: Força de coesão atuante na base da cunha 2

𝒔𝟏 : Força de atrito atuante na base da cunha 1

𝒔𝟏𝟐: Força de atrito na interface entre as cunhas 1 e 2

𝒔𝟐: Força de atrito atuante na base da cunha 2

𝑾𝟏 : Peso da cunha 1

𝑾𝟐 : Peso da cunha 2

𝑸𝟏 : Resultante da sobrecarga atuante no topo da cunha 1

𝑸𝟐 : Resultante da sobrecarga atuante no topo da cunha 2

𝑵𝟏 : Força normal atuante na base da cunha 1

𝑵𝟏𝟐 = 𝑵𝟐𝟏 : Força normal atuante na interface entre as cunhas 1 e 2

𝑵𝟐 : Força normal atuante na base da cunha 2

Page 55: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

43

𝑻𝟏 = 𝑻 : Resultante da resistência dos grampos

A superfície é determinada através da premissa que o grampo não pode

atravessar a base da cunha 2. Assim, os esforços resultantes dos grampos devem atuar

somente na cunha 1. CAMARGO (2005) salienta que os autores deveriam considerar

uma força " 𝑇12 " resultante dos grampos que atravessam a interface entre as cunhas 1 e

2. Todavia, como os autores não consideraram, estas não são indicadas na Figura 26.

Em sua publicação original, os autores afirmam que os ângulos 1 , 2 e 12

poderiam ser quaisquer. Esses ângulos deveriam ser pesquisados buscando um FS

mínimo através de iterações. Já em um trabalho posterior, dois dos autores que

participaram do artigo de 1979 modificaram ligeiramente o conceito defendido pelo

método original. Na nova mudança, os autores fixaram o valor de 12 como 90º e

2 como 45º +

2. Dessa forma, bastaria buscar o mecanismo critico (FS mínimo) para

um determinado ângulo 1 . (GÄSSLER & GUDEHUS, 1981)

2.7.1.2. EQUILÍBRIO DE FORÇAS

Como não há esforços de grampo atuando na cunha 2, poder-se-ia considerar

que a estrutura se comporta como uma cunha ativa agindo sobre um muro de peso.

Nenhuma equação é apresentada STOCKER et al. (1979) ou por GÄSSLER &

GUDEHUS (1981). Todavia, o equilíbrio pode ser calculado considerando as forças

apresentadas na Figura 26, em que são conhecidos os módulos e as direções das forças

de peso próprio W1 e W2 e das sobrecargas Q1 e Q2 . Como o método considera que os

grampos trabalham apenas a tração, a força possui a mesma direção que estes. Já as

demais forças possuem direção definida pelo ângulo de atrito . (CAMARGO, 2005)

CAMARGO (2005) apresenta um equacionamento para o método, já

considerando 12 como 90º e coeficientes parciais de segurança sobre a resistência do

solo (FS e FSC ), conforme a seguir:

N1 = (W1+ Q1 +K12

FSC+ N12

tan

FS) cos1 − N12 sen1 +

T

FST sen (1 + ) (19)

N2 = (W2+ Q2 −K12

FSC− N12

tan

FS) cos2 + N12 sen2 (20)

Page 56: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

44

K2

FSC+ N2

tan

FS= (W2+ Q2 −

K12

FSC− N12

tan

FS) sen2 − N12 cos2 (21)

K1

FSC+ N1

tan

FS+

T

FSTcos (

1 + ) = (W1+ Q1 +

K12

FSC+ N12

tan

FS) sen1 + N12 cos1(22)

Nas equações acima, percebe-se que há um único FSC e um único FS para as

duas cunhas, pois o método pressupõe que o solo é homogêneo. Já o FST é a razão entre

a tração mobilizável nos grampos e a tração necessária ao equilíbrio do sistema.

2.7.1.3. DEFINIÇÃO DO FATOR DE SEGURANÇA (FS)

O fator de segurança pelo método original de STOCKER et al. (1979) era

definido através do FST presente nas equações acima. CAMARGO (2005) salienta que

esse fator pode ser considerado apenas como um fator de segurança parcial, já que

dentro do equilíbrio proposto pelo método também há a possibilidade de se considerar

fatores de segurança sobre os parâmetros de resistência do solo (FSC e FS), em que a

resistência do solo não seria totalmente mobilizada. De toda forma, esses coeficientes

parciais de segurança não foram considerados pelo método original de STOCKER et al

(1979), tampouco pelo método modificado por GÄSSLER & GUDEHUS (1981).

Segundo CAMARGO (2005), há duas maneiras de se resolver o equacionamento

proposto anteriormente. A primeira é definir valores para os fatores de segurança

parciais (FSC, FS e FST) e calcular a tração 𝑇𝑔 necessária por metro de obra. A

definição original do método por STOCKER et al (1979) seria a consideração de

FSC = FS = 1 e um valor diferente para FST. Há ainda a possibilidade de se considerar

um FS global único para todos os parâmetros ou valores diferentes para cada fator de

segurança parcial, considerando as particularidades de cada obra. Com a definição do

FS, são realizadas diversas iterações em busca de uma tração 𝑇𝑔 máxima. De posse

dessa tração máxima, os grampos podem ter seus comprimentos, inclinações e seções

dimensionadas, resultando em uma tração máxima mobilizada por grampo (tg).

Todavia, esta tração será considerada como a menor entre os seguintes limitadores:

Carga de escoamento da barra (𝑇𝑒𝑠𝑐, Equação 23) e força de arrancamento ou pull out

(𝑇𝑝𝑜, Equação 24).

𝑇𝑒𝑠𝑐 =As . fy

sh (23)

Page 57: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

45

𝑇𝑝𝑜𝑞𝑠 . . 𝐷 . 𝑙𝑧𝑟

sh (24)

Onde:

As : Área de seção da barra

fy : Tensão de escoamento do aço

sh : Espaçamento horizontal dos grampos

qs : Resistência unitária na interface solo-grampo.

D: Diâmetro do furo

lzr: Comprimento do grampo que atravessa a base da cunha 1.

Assim,

tg = menor valor entre as equações 23 e equação 24 (25)

O valor total da tração total mobilizada pelos grampos será a soma da tração máxima de

cada grampo.

Tg = ∑ tgn∗1 (26)

Onde:

n* : Número de grampos que atravessam a base da cunha 1.

A segunda maneira de resolver o equacionamento é fixar a quantidade e o

comprimento dos grampos, para uma determinada superfície de ruptura e efetuar o

cálculo dos fatores de segurança. Todavia, o sistema seria indeterminado, já que

possuiria 6 incógnitas (FSC, FS, FST, N1, N2 e N12). Visando a redução do número de

incógnitas, CARDOSO e FERNANDES (1986) propõem algumas hipóteses para dar

uma solução ao sistema, são elas:

Considerar um fator de segurança (FS) único e global fazendo FS=

FS=FSc=FST, o que reduziria o número de incógnitas para 4.

Adotar que a resistência à tração dos grampos será totalmente mobilizada, com

FST = 1. Já para a resistência do solo, considerar os dois fatores de segurança

parciais como sendo iguais (FSC = FS).

Page 58: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

46

2.7.2. DIMENSIONAMENTO VIA SOFTWARE DE ESTABILIDADE DE TALUDES

O software de analise de estabilidade de taludes adotado por esse trabalho foi o

GeoStudio (Geo-Slope International, 2012) módulo Slope/W. O software permite a

análise através do método das fatias. Há em sua base de dados diversos métodos

consagrados pela literatura, como MORGENSTERN & PRICE (1965), SPENCER

(1967), JANBU (1973), BISHOP SIMPLIFICADO (1955), dentre outros, cabendo ao

usuário a definição de qual será utilizado.

Os grampos (nails) são adicionados na análise pelo software através da opção

“Reinforcement Loads”, conforme Figura 27

Figura 27 – Definição dos parâmetros do grampo via Slope/W

Após definir a geometria dos grampos como comprimento (L), ângulo de

instalação () e localização no talude, o usuário deve definir alguns parâmetros de

entrada, conforme observado na Figura 27. Dentre eles, destacam-se:

F os S Dependent (Yes or No) : Define se a resistência dos grampos é

dependente do fator de segurança (FS) global calculado para a superfície de ruptura.

Force Distribution (Concentrated or Distributed) : Define se a força mobilizada

pelos grampos serão concentradas na primeira fatia em que a porção resistente do

Page 59: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

47

grampo (𝑙𝑧𝑟) atravessar ou se será distribuída ao longo de todas as fatias que a porção

resistente do grampo (𝑙𝑧𝑟) atravessar

Anchorage (Yes or No) : Define se a cabeça do grampo está ancorada a face

Pullout Resistance : Resistência unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠)

Resistance Reduction Factor : Fator de redução incidente sobre a resistência

unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠)

Bond Diameter : Diâmetro do bulbo de ancoragem

Nail Spacing : Espaçamento horizontal dos grampos (𝑆ℎ)

Tensile Capacity : Capacidade da barra

Reduction Factor : Fator de redução incidente sobre a capacidade da barra

Shear Force : Força de cisalhamento transversal ao grampo

Shear Reduction Factor : Fator de redução incidente sobre a força de

cisalhamento transversal ao reforço

Apply Shear (Parallel to slip or Perpendicular to Reinforcment) : Define se a

força de cisalhamentro tranversal ao grampo é paralela à superfície de ruptura ou

perpendicular ao reforço

Assim, definindo-se que os grampos mobilizam apenas esforços de tração, a

resistência que cada grampo proverá ao sistema (𝑡𝑔) será governada pelo menor valor

entre duas grandezas: Carga de escoamento da barra (𝑇𝑒𝑠𝑐, Equação 23) e força de

arrancamento ou pull out (𝑇𝑝𝑜, Equação 24).

𝑇𝑒𝑠𝑐 =𝐶𝑎𝑝𝑎𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑎 𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎

sh 𝑥 𝑅𝑅𝐹 (27)

𝑇𝑝𝑜𝑞𝑠 . . 𝐷 . 𝑙𝑧𝑟∗

sh 𝑥 𝑅𝐹 (28)

Onde:

RRF - Resistance Reduction Factor : Fator de redução incidente sobre a resistência

unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠)

RF - Reduction Factor : Fator de redução incidente sobre a capacidade da barra

Page 60: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

48

sh : Espaçamento horizontal dos grampos

qs : Resistência unitária na interface solo-grampo.

D: Diâmetro do furo (bulbo)

lzr∗: Comprimento do trecho resistente do grampo

Assim,

tg = menor valor entre as equações 23 e equação 24 (29)

O valor total da tração total mobilizada pelos grampos será a soma da tração máxima de

cada grampo.

Tg = ∑ tgn1 (30)

Onde:

n : Número de grampos que atravessam a superfície de ruptura

Após executar a análise, o programa exibe uma superfície de ruptura, conforme

Figura 28

Figura 28 – Superfície de Ruptura gerada pelo Software

Page 61: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

49

O software representa o comportamento dos grampos de forma gráfica. Para esta

superfície de ruptura representada na Figura 28, os diversos comportamentos de cada

grampo mostrados pelo software são listados abaixo.

Considerando o grampo superior como o 1º:

1º ao 4º grampo – Grampos não atravessam a superfície de ruptura e são

representados como uma linha preta contínua. O software considerou que, para esta

superfície de ruptura, esses não apresentaram resistência.

5º grampo – Grampo representado por uma linha preta contínua e o trecho além

da superfície de ruptura é envolto por uma linha contínua vermelha. Para esta superfície

de ruptura, essa consideração significa que o comprimento de ancoragem na zona

resistente foi insuficiente e o grampo rompeu por arrancamento, não atingindo a

capacidade da barra(carga de escoamento).

6º grampo – Grampo representado por uma linha preta tracejada e uma porção

do trecho além da superfície de ruptura é envolto por uma linha contínua vermelha. A

ruptura do grampo foi por escoamento da barra e a linha contínua vermelha indica qual

o comprimento de ancoragem na zona resistente foi suficiente para mobilizar a carga de

escoamento da barra.

7º grampo - Percebe-se que o programa representou a linha contínua vermelha

na denominada região ativa do talude, diferente das outras linhas onde a linha contínua

vermelha estava na zona resistente. Ressalta-se que esta consideração só é prevista caso

se defina que não há ancoragem entre a face do talude e a cabeça dos grampos. Assim,

considerando-se que os grampos possuem liberdade para movimentação, sua resistência

será proveniente do menor comprimento entre dois trechos:

Trecho 1 - Trecho entre a face do talude e a superfície de ruptura.

Trecho 2 - Trecho entre a superfície de ruptura e a extremidade do grampo.

Para esse caso, como o Trecho 1 foi menor do que o Trecho 2, a força de

arrancamento no comprimento embutido na região ativa é menor do que aquele que

corresponde ao comprimento da região resistente. Dessa forma, a resistência mobilizada

pelo grampo com sentido contrário ao da movimentação da massa de solo foi a

proveniente do Trecho 1.

Page 62: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

50

3. DESCRIÇÃO DO CASO ESTUDADO

3.1. CARACTERIZAÇÃO DO TALUDE

O presente trabalho tem como objetivo avaliar a segurança contra a ruptura de

um talude localizado em Duque de Caxias/RJ. O talude se localiza a montante de um

estacionamento de uma empresa e foi reforçado com uma estrutura em solo grampeado.

A seção considerada crítica para esse talude apresenta altura máxima de 8,3m,

inclinação média de 53º e uma sobrecarga resultante de uma edificação de três andares à

montante. O faceamento do talude foi realizado com a aplicação de uma geomanta

reforçada com tela metálica de dupla torção. Fotos do local podem ser vistas nas figuras

29 e 30.

Figura 29 - Vista do local mostrando seção crítica e região estudada por MORAIS (2017)

Page 63: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

51

Figura 30 - Vista do local da seção crítica do talude ( Fonte : Arquivo Pessoal )

Para a determinação do perfil geológico geotécnico do talude, foram utilizados

os dados dos ensaios de caracterização do solo realizados por MORAIS (2017), que

foram realizados em uma região próxima à seção considerada crítica por esse trabalho.

(Figura 29). O autor classificou o solo como silte arenoso de alta compressibilidade e

com características que se aproximam de um solo residual de gnaisse.

O croqui da seção crítica foi obtido com o auxílio do software comercial Civil

3D, na qual foi utilizada uma planta topográfica do local (Figura 31). A sobrecarga

resultante da edificação de três andares foi estimada como 30kPa através da fórmula

preliminar de 10kPa por pavimento.

Na seção considerada crítica, o talude apresenta 7 linhas de grampos que foram

instalados com inclinação variáveis, na qual as cinco primeiras linhas apresentam

inclinação = 15º e as outras duas linhas restantes = 45º. Os grampos são compostos

de barras de aço CA-50 de 6m de comprimento, diâmetro d = 16mm e foram instalados

em furos de D=75mm, espaçados com 𝑠ℎ= 1,3m e 𝑠𝑣 = 1,3m. De posse desses dados e

considerando o talude como homogêneo, chegou-se no perfil apresentado na Figura 32.

Page 64: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

52

Figura 31 - Planta do local (Arquivo Pessoal)

Figura 32 - Seção A-A - Seção crítica do talude

Escala- 1:600

Page 65: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

53

4. PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA

4.1. PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA DO SOLO

MORAIS (2017) realizou ensaios de cisalhamento direto em amostras retiradas

de uma região do talude próxima à seção crítica que será o objeto de estudo deste

trabalho (Figura 29). Os ensaios foram feitos com os corpos de prova em condições de

umidade natural e inundada. Os valores definidos pelo autor foi ângulo de atrito (ϕ) de

34º e 29kPa de intercepto coesivo (c) para as condição de umidade natural e ângulo de

atrito (ϕ) de 28º e 12kPa de intercepto coesivo (c) para a condição de corpo de prova

inundado. As envoltórias de resistência apresentadas pelo autor seguem nas Figuras 33 e

34.

Figura 33 - Envoltória de resistência - condição inundada (MORAIS, 2017)

y = 0,5411x + 11,579 R² = 0,9989

0

20

40

60

80

100

120

0 20 40 60 80 100 120 140

Ten

são

cis

alh

ante

(kP

a)

Tensão normal (kPa)

Page 66: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

54

Figura 34 - Envoltória de resistência - condição de umidade natural (MORAIS, 2017)

4.2. RESISTÊNCIA UNITÁRIA NA INTERFACE SOLO-GRAMPO (𝒒𝒔)

4.2.1. ENSAIO DE ARRANCAMENTO

MORAIS (2017) apresentou ensaios de arrancamento que também foram

executados em uma região do talude próxima a seção considerada crítica por este

trabalho. O autor apresentou dados de ensaios de 10 grampos da marca Pinofix, com

carga de trabalho de 13tf e diâmetro da barra de 23mm, instalados em furos de 75mm.

Os grampos foram executados com um comprimento ancorado de 3,0m e 1,0m de

comprimento livre, sendo esse comprimento livre garantido pelo obturador de espuma,

conforme a Figura 35.

y = 0,6767x + 28,682 R² = 0,989

0

20

40

60

80

100

120

140

160

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

Ten

são

cis

alh

ante

(kP

a)

Tensão normal (kPa)

Page 67: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

55

Figura 35 - Esquema de montagem do ensaio de arrancamento (MORAIS,2017)

Os grampos foram executados de três metodologias distintas, sendo separados

em tipo "A", na qual foi utilizado ar como fluido de lavagem do furo, tipo "L" em que a

lavagem do furo foi realizada com água, e tipo "R". Nos grampos do tipo "R" a limpeza

do furo também foi realizada com ar, porém foi realizada uma fase de reinjeção de calda

de cimento 2h após a injeção com o objetivo de minimizar a retração da calda. O autor

apresentou um croqui da locação dos grampos no talude, apresentado na Figura 36.

Figura 36 - Locação dos grampos ensaios no talude (MORAIS, 2017)

Os valores de resistência unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠) apresentados por

MORAIS (2017) foram calculados seguindo a fórmula apresentada no capítulo 2, que é

novamente apresentada a seguir.

Page 68: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

56

𝑞𝑠 =𝐹𝑟𝑢𝑝

𝜋. 𝐷𝑓𝑢𝑟𝑜 . 𝐿𝑖𝑛𝑗.

Onde,=:

𝐹𝑟𝑢𝑝 – força de ruptura obtida no ensaio;

𝐿𝑖𝑛𝑗. – comprimento do trecho ancorado;

𝐷𝑓𝑢𝑟𝑜 – diâmetro do furo.

O autor reuniu os dados e apresentou conforme a Tabela 5.

Tabela 5 - Relação dos resultados dos ensaios realizados (MORAIS, 2017)

4.2.2. VERIFICAÇÃO DA PROPOSTA DE PROTO SILVA (2005) POR MORAIS

(2017)

MORAIS (2017) avaliou a proposta de PROTO SILVA (2005) para a estimativa

da resistência unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠) em solos residuais de gnaisse. A

proposta de PROTO SILVA (2005), conforme apresentada no capítulo 2, prevê que a

resistência unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠∗) é dependente dos parâmetros de

resistência do solo (c e ) e da tensão atual atuante no grampo, conforme fórmula que

será reapresentada a seguir:

𝑞𝑠∗ = 𝜆1

∗ . 𝛼. (𝑐 + 𝜎𝑛. 𝑡𝑔)

Onde:

Grampo Linj. (m)Força axial

máx. (kN)qs (kPa) Tipo

01 3,0 66,5 94,1 R

02 3,0 66,5 94,1 L

03 3,0 61,4 86,9 A

04 3,0 92,1 130,3 R

05 3,0 76,8 108,6 L

06 3,0 107,5 152,1 L

07 3,0 138,2 195,5 R

08 3,0 87,0 123,1 L

09 3,0 76,8 108,6 A

10 3,0 102,4 144,9 A

Page 69: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

57

𝑞𝑠 ∗ – resistência unitária na interface solo grampo estimada pela proposta do autor;

𝜆1∗ – fator de carga para solo residual de gnaisse;

𝛼 – coeficiente de interface;

𝑐 – coesão do solo;

𝜎𝑛 – tensão normal aplicada ao grampo;

- ângulo de atrito do solo.

Para avaliar a proposta de PROTO SILVA (2005), MORAIS (2017) considerou

que as condições de umidade natural seriam mais representativas para as condições de

campo.

Conforme explicitado anteriormente, as características do solo foram

consideradas como sendo próximas a um solo residual jovem de gnaisse. Dessa forma,

MORAIS (2017) utilizou a curva do solo 1 da proposta de PROTO SILVA (2005) para

obter o coeficiente de interface 𝛼 da proposta.

Para a obtenção da tensão normal nos grampos ensaiados, MORAIS (2017)

simplificou o cálculo através da utilização de uma tensão média atuante na metade do

comprimento injetado do grampo, conforme esquema apresentado na Figura 37.

Figura 37 - Seção transversal do talude (MORAIS, 2017)

O autor agrupou os grampos por faixa de tensões normais e excluiu os grampos

do tipo "R", os quais receberam uma fase de reinjecão, já que os grampos executados

Page 70: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

58

por PROTO SILVA (2005) não tiveram fase de reinjeção. Dessa forma, MORAIS

(2017) apresentou um resumo das resistências unitárias na interface solo-grampo

(qs(SRJ)σn,méd*) obtidas pela proposta de PROTO SILVA (2005), comparadas com as

resistências unitárias na interface solo-grampo obtidas em campo (𝑞𝑠), que são

apresentadas a seguir nas Tabelas 6, 7 e 8.

Tabela 6 - Resultados da estimativa de grampos do Grupo 1 (MORAIS, 2017)

Tabela 7 - Resultados da estimativa de grampos do Grupo 2 (MORAIS, 2017)

Tabela 8 - Resultados da estimativa de grampos do Grupo 3 (MORAIS, 2017)

Analisando os resultados, verifica-se que a proposta de PROTO SILVA (2005)

trouxe estimativas satisfatórias para o valor da resistência unitária na interface solo

grampo (𝑞𝑠∗) chegando a uma aproximação que varia em uma faixa de 82% a 86%.

Assim, infere-se que essa proposta pode ser utilizada para uma estimativa preliminar de

𝑞𝑠 em solos residuais de gnaisse, não isentando o projetista de realizar ensaios de

arrancamento no local.

Para fins de contribuição científica, MORAIS (2017) aliou os resultados dos

ensaios de arrancamento apresentados em seu trabalho com os resultados de PROTO

SILVA (2005) com o intuito de afinar o cálculo do fator de carga 𝜆1∗ presente na

proposta de PROTO SILVA (2005). Dessa forma, o autor apresenta um novo fator de

Grupo 01

Grampo qs (kPa) qs(SRJ)45* (kPa)

2,0 94,1

8,0 123,1

9,0 108,6

Média 108,6 88,8

σn,méd. (kPa) - 45kPa

88,8

Grupo 02

Grampo qs (kPa) qs(SRJ)55* (kPa)

3,0 86,9

10,0 144,9

Média 115,9 99,7

σn,méd. (kPa) - 55kPa

99,7

Grupo 03

Grampo qs (kPa) qs(SRJ)65* (kPa)

5,0 108,6

6,0 152,1

Média 130,4 110,5

σn,méd. (kPa) - 65kPa

110,5

Page 71: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

59

carga 𝜆1∗∗ e uma nova relação fator de carga 𝜆1

∗∗ x tensão normal atuante no grampo, que

é apresentada na Figura 38.

Figura 38 - fator de carga 𝝀𝟏∗∗

x tensão normal atuante no grampo (MORAIS, 2017)

4.2.3. DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA UNITÁRIA NA INTERFACE SOLO-

GRAMPO (𝐪𝐬)

Como pode ser observado na Figura 29, a seção do talude considerada crítica por

este trabalho apresenta uma sobrecarga resultante de uma edificação de três andares,

diferente da seção estuda por MORAIS (2017), que não apresentava sobrecarga. Assim,

pela proposta de PROTO SILVA (2005), considera-se que a resistência unitária na

interface solo-grampo (𝑞𝑠) será maior na seção crítica, já que as tensões normais

atuante nos grampos são maiores.

Este trabalho utilizará diferentes abordagens para a determinação do FS contra a

ruptura desse talude através do método de Spencer. A primeira delas considerará 𝑞𝑠

como dependente da tensão normal e dos parâmetros de resistência do solo, sendo este

valor estimado através da proposta de PROTO SILVA (2005). Todavia, o fator de carga

presente na equação será substituído pelo fator de carga 𝜆1∗∗ sugerido por MORAIS

(2017), já que este também apresentou uma dispersão reduzida no ajuste da reta e

incorpora os resultados dos ensaios realizados no mesmo talude de estudo deste

trabalho. Assim, define-se 𝑞𝑠∗∗ como sendo a resistência unitária na interface solo-

grampo estimada através da proposta de PROTO SILVA (2005), mas considerando o

fator de carga 𝜆1∗∗ de MORAIS (2017).

Page 72: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

60

Em uma segunda abordagem, será considerado um valor de 𝑞𝑠 único,

independente da profundidade do grampo, conforme defendido por CARTIER &

GIGAN (1983) e MITCHELL & VILLET (1987). Como o objetivo é realizar uma

comparação entre as duas abordagens, busca-se um 𝑞𝑠 único que traduza em uma

mesma soma das forças de arrancamento de cada grampo ( ∑ tg n1 ) obtida na primeira

abordagem. Dessa forma, poder-se-ia avaliar com mais exatidão a influência da

consideração de 𝑞𝑠 único ou variável. Uma forma de conseguir este 𝑞𝑠 único seria

calcular a média ponderada de 𝑞𝑠 com os comprimentos dos trechos resistentes dos

grampos (𝑙𝑧𝑟). Todavia, essa consideração seria complexa e de difícil aplicação. Assim,

de maneira a simplificar o problema, será considerada uma média aritmética dos 𝑞𝑠∗∗

utilizados na primeira abordagem.

Dessa forma, define-se:

𝑞𝑠∗∗∗ =

∑ 𝑞𝑠∗∗n

1

𝑛∗∗

Onde:

𝑛∗∗ - Número de linhas de grampo

4.2.3.1. ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA UNITÁRIA NA INTERFACE SOLO-

GRAMPO (𝐪𝐬) ATRAVÉS DA PROPOSTA DE PROTO SILVA (2005)

PROTO SILVA (2005) propõe que a resistência unitária na interface solo-

grampo (𝑞𝑠 ) é dependente da tensão normal atuante no grampo. Todavia, a

determinação das tensões normais atuantes no grampo é complexa, já que a perfuração

prévia a inserção dos grampos altera as tensões atuantes nas paredes do furo, conforme

citado por FEIJÓ (2007). Assim, a tensão normal atuante no grampo não é

simplesmente a tensão geostática.

A determinação da tensão normal atuante no grampo realizada por PROTO

SILVA (2005) foi apresentada no item 2.5.1. Todavia, esse trabalho utilizará a mesma

simplificação utilizada por MORAIS (2017), em que a tensão normal atuante no grampo

foi considerada como a tensão média atuante no meio do trecho injetado do grampo,

conforme equação mostrada a seguir.

𝜎𝑛,𝑚é𝑑. = 𝛾𝑛,𝑚é𝑑. 𝑥 𝐻𝑙𝑖𝑛𝑗.,𝑚é𝑑 + 𝑆𝑜𝑏𝑟𝑒𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 (30𝐾𝑃𝑎)

Page 73: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

61

onde:

𝜎𝑛,𝑚é𝑑. – tensão normal média atuante no trecho injetado;

𝛾𝑛,𝑚é𝑑. – peso específico médio do solo em estudo;

𝐻𝑙𝑖𝑛𝑗.,𝑚é𝑑 – altura correspondente ao meio do trecho injetado.

O valor de 𝛾𝑛,𝑚é𝑑. foi adotado como 18,32kN/m³ para a condição de umidade

natural, conforme apresentado por MORAIS (2017) e 19kN/m³ para a condição

inundada. A Figura 39 esquematiza como foi calculado o 𝐻𝑙𝑖𝑛𝑗.,𝑚é𝑑.

Figura 39 -Cálculo de 𝑯𝒍𝒊𝒏𝒋.,𝒎é𝒅. - Seção crítica do talude

Assim, para a primeira abordagem, em que será considerado um 𝑞𝑠∗∗ variável ao

longo da profundidade, chega-se nos valores estimados pela proposta de PROTO

SILVA (2005) de resistência unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠∗∗) para cada linha de

grampo da seção considerada crítica, nas duas condições de umidade, conforme

apresentado a seguir nas Tabelas 9 e 10.

Page 74: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

62

Tabela 9 - Estimativa de 𝒒𝒔 ∗∗ pela proposta de PROTO SILVA (2005) para condição de

parâmetros de resistência de umidade natural

Tabela 10 - Estimativa de 𝒒𝒔 ∗∗ pela proposta de PROTO SILVA (2005) para parâmetros de

resistência inundado

Já para a segunda abordagem, com a consideração de uma resistência unitária na

interface solo grampo constante ao longo da profundidade (𝑞𝑠∗∗∗), será utilizado à

simplificação explicitada no item anterior. Assim, para a condição de parâmetros de

resistência natural, define-se 𝑞𝑠∗∗∗ como sendo a média aritmética dos valores de

𝑞𝑠∗∗ apresentados nas Tabelas 9 e 10:

Logo, para as condições de umidade natural:

(𝑞𝑠 ∗∗∗) = 167kPa

Já para a condição de parâmetros de resistência inundados:

(𝑞𝑠 ∗∗∗) = 116kPa

Page 75: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

63

5. ANÁLISE DE ESTABILIDADE DO TALUDE

5.1. FATOR DE SEGURANÇA ADMISSÍVEL

Conforme mencionado na revisão bibliográfica presente no capítulo 2, a Norma

Brasileira de Estabilidade de Taludes NBR 11682 (2009) recomenda valores mínimos

de fator de segurança (FS) com base em níveis de segurança para danos materiais,

ambientais e a vidas humanas. Diante disso, considerando que o talude se encontra à

montante de um estacionamento de uma empresa, próximo à área de movimentação de

pessoas, considera-se nível a danos materiais e a vidas humanas como “médio”. Assim,

a norma exigiria um fator de segurança (FS) de 1,4.

5.2. ANÁLISE DE ESTABILIDADE VIA MÉTODO DE SPENCER (1967)

Conforme citado no capítulo anterior, esse trabalho realizará a análise de

estabilidade através de duas diferentes abordagens. Será considerado um 𝑞𝑠∗∗ variável de

acordo com a profundidade em uma primeira abordagem e um 𝑞𝑠∗∗∗ constante em uma

segunda abordagem. Ambas as abordagens serão realizadas para os parâmetros de

resistência do solo em condições de umidade natural e em condição inundada. O método

de cálculo utilizado para análise de estabilidade por SPENCER (1967) foi através do

software comercial GEO-SLOPE (2012), módulo SLOPE/W.

O software permite a definição do tipo de incorporação entre a cabeça do

grampo e o faceamento da estrutura. Assim, como o faceamento do talude analisado por

este trabalho é composto de uma geomanta reforçada com tela metálica de dupla torção,

foi considerado que o revestimento é flexível e o grampo tem liberdade para

movimentação. Além disso, adotou-se a hipótese de que os grampos mobilizam apenas

esforços de tração.

O software também permite a definição de algumas premissas de cálculo para a

determinação do FS. Dentre as opções, utilizou-se a consideração que a resistência

disponível do grampo será totalmente mobilizada e independente do fator de segurança

(FS), que é compatível com a condição citada no item 2.7.1.3 visto anteriormente.

O software também exige que se defina o valor da capacidade de carga da barra

da ancoragem. O cálculo da capacidade de carga da barra foi definido utilizando a carga

de escoamento da barra de aço CA-50 e minorando-a com o coeficiente de segurança

típico do aço s (1,15).

Page 76: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

64

Dessa forma, para uma barra de aço CA-50 de diâmetro 16mm, chega-se a uma

capacidade de carga da barra de 87,4 kN, que deve ser dividida pelo espaçamento

horizontal dos grampos, de forma a obter um valor de carga por metro de obra.

5.2.1. ANÁLISE DE ESTABILIDADE VIA MÉTODO DE SPENCER (1967) - 𝒒𝒔∗∗

VARIÁVEL - CONDIÇÃO DE UMIDADE NATURAL

A análise de estabilidade do talude para a condição de umidade natural e

resistência unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠∗∗) variável de acordo com a

profundidade segue na Figura 40. Observa-se que para esta superfície de ruptura, o fator

de segurança (FS) foi de 2,56, acima do valor de 1,4 que seria exigido pela Norma

Brasileira de Estabilidade de Taludes NBR 11682 (2009).

Figura 40 - Superfície crítica de ruptura para condições parâmetros de resistência de umidade

natural e 𝒒𝒔 ∗∗ variável

Destaca-se que, para esta superfície, ocorreu uma ruptura do tipo mista,

apresentando modos de ruptura diferentes. Considerando a linha de grampo superior

como a 1ª, as quatro primeiras linhas de grampo não contribuíram com qualquer tipo de

resistência, tendo em vista que não atravessam a superfície de ruptura. Já as três últimas

Page 77: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

65

linhas apresentam três formas de ruptura distintas, conforme pode ser observado na

Figura 40.

A 5ª linha apresenta uma ruptura por "arrancamento", no qual o comprimento de

ancoragem na zona resistente foi insuficiente. A 6ª linha apresenta uma ruptura por

escoamento da barra. A 7ª linha apresenta a força de arrancamento mobilizada na

denominada zona ativa do talude. Ressalta-se que esta consideração só é válida em

taludes grampeados com faceamento pouco resistentes e/ou frouxamente conectados à

cabeça dos grampos.

5.2.2. ANÁLISE DE ESTABILIDADE VIA MÉTODO DE SPENCER (1967) - 𝒒𝒔∗∗

VARIÁVEL - CONDIÇÃO INUNDADA

A análise de estabilidade do talude para a condição de parâmetros de resistência

do solo inundados e 𝑞𝑠∗∗ variável segue na Figura 41. Observa-se que para esta

superfície crítica de ruptura, o fator de segurança (FS) foi de 1,61, também acima do

valor de 1,4 que seria exigido pela norma brasileira de estabilidade de taludes

NBR11682 (2009). Ressalta-se novamente que há de ocorrer condições muito adversas

para o talude se apresentar nessas condições, pelos motivos que foram explicitados no

capítulo anterior. Mesmo nessas condições, o fator de segurança (FS) estaria acima do

exigido pela norma brasileira de estabilidade de taludes NBR11682 (2009).

Da mesma forma que na análise de estabilidade em condições de umidade

natural, para essa superfície, ocorreu uma ruptura do tipo mista. As três primeiras linhas

de grampo não contribuíram com resistência. A 4ª e 5ª linha romperam por

arrancamento. A 6ª linha rompeu por escoamento da barra. Na 7ª linha a força de

arrancamento foi mobilizada na denominada zona ativa do talude.

Page 78: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

66

Figura 41 - Superfície crítica de ruptura para parâmetros de resistência inundado e 𝒒𝒔 ∗∗ variável

5.2.3. ANÁLISE DE ESTABILIDADE VIA MÉTODO DE SPENCER (1967) - 𝒒𝒔∗∗∗

CONSTANTE - CONDIÇÃO DE UMIDADE NATURAL

A análise de estabilidade do talude para a condição de umidade natural e

resistência unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠∗∗∗) constante segue na Figura 42.

Observa-se que para essa superfície de ruptura, o fator de segurança (FS) foi de 2,53,

acima do valor de 1,4 que seria exigido pela Norma Brasileira de Estabilidade de

Taludes NBR 11682 (2009). Nota-se que a superfície de ruptura e o valor de FS

considerando um 𝑞𝑠∗∗∗ único foram muito próximos aos da abordagem com 𝑞𝑠

∗∗ variável,

não apresentando diferenças significativas.

Page 79: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

67

Figura 42 - Superfície crítica de ruptura para condições parâmetros de resistência de umidade

natural e 𝒒𝒔 ∗∗∗ constante

Da mesma forma da primeira abordagem com 𝑞𝑠∗∗ varíavel, nessa superfície,

ocorreu uma ruptura do tipo mista, na qual as quatro primeiras linhas de grampo não

contribuíram com qualquer tipo de resistência, tendo em vista que não atravessam a

superfície de ruptura. As três últimas linhas apresentam três formas de ruptura distintas,

conforme pode ser observado na Figura 42. A 5ª linha apresentar uma ruptura por

arrancamento. A 6ª linha apresentar uma ruptura por escoamento da barra. Já na 7ª linha

inferior, a ruptura se deu pela mesma consideração explicitada no item anterior, em que

a força de arrancamento foi mobilizada na zona ativa do talude.

5.2.4. ANÁLISE DE ESTABILIDADE VIA MÉTODO DE SPENCER (1967) - (𝒒𝒔 ∗∗∗)

CONSTANTE - CONDIÇÃO INUNDADA

A análise de estabilidade do talude para a condição de parâmetros de resistência

do solo inundados e 𝑞𝑠∗∗∗ constante segue na Figura 43. Observa-se que para essa

superfície crítica de ruptura, o fator de segurança (FS) foi de 1,58, também acima do

valor de 1,4 que seria exigido pela norma brasileira de estabilidade de taludes

NBR11682 (2009).

Page 80: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

68

O fator de segurança (FS) encontrado nesse caso foi próximo ao da 1ª

abordagem. Todavia, o modo de ruptura desta abordagem foi diferente do modo de

ruptura da abordagem com (𝑞𝑠∗∗) variável. Como a primeira abordagem propõe que o

𝑞𝑠∗∗ é proporcional a tensão normal atuante no grampo, o seu valor aumenta com a

profundidade. Assim, o valor de 𝑞𝑠 para as quatro últimas linhas são maiores na

primeira abordagem. Dessa forma, nessa segunda abordagem, uma menor resistência

unitária na interface solo-grampo na 6ª linha de grampo fez com que esta mobilizasse a

força de arrancamento na zona ativa antes do escoamento da barra, diferente do que

ocorreu com esta linha de grampo na 1ª abordagem. Outra diferença foi que a superfície

crítica aproximou-se da face, atingindo a 3ª linha de grampo, diferente da 1ª abordagem

quando esta ficou contida na zona ativa. Ressalta-se que, nesse talude específico, a

alteração do modo de ruptura destes grampos não apresentou mudanças significativas

no fator de segurança (FS), entretanto, em outras geometrias de talude, os resultados

poderiam apresentar diferenças mais acentuadas.

Figura 43 - Superfície crítica de ruptura para parâmetros de resistência inundado

Page 81: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

69

5.3. SEÇÃO HIPOTÉTICA - ANÁLISE DE ESTABILIDADE VIA MÉTODO ALEMÃO

Para fins de contribuição científica, será feito uma análise da segurança contra a

ruptura do talude objeto deste estudo via método Alemão (Stocker et al., 1979). Os

resultados serão posteriormente comparados com os gerados método de Spencer (1967)

via software comercial.

Como o método prevê a análise de segurança para geometrias simples de talude,

será proposta uma seção hipotética com inclinação da superfície () e dos grampos ()

constantes, conforme Figura 44.

Figura 44 - Seção hipotética do talude.

Os parâmetros de resistência do solo e a resistência unitária solo-grampo

(𝑞𝑠 ) serão as mesmas utilizadas na primeira abordagem do tópico anterior. Ou seja,

parâmetros de resistência do solo apresentados por MORAIS (2017) e determinação de

𝑞𝑠∗∗ variável ao longo da profundidade através da proposta de PROTO SILVA (2005),

aliadas ao fator de carga 𝜆1∗∗ proposto por MORAIS (2017). Os valores de 𝐻𝑙𝑖𝑛𝑗.,𝑚é𝑑

necessários para a simplificação do cálculo da tensão normal média foram determinados

conforme Figura 45 abaixo.

Page 82: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

70

Figura 45 - Seção hipotética para o cálculo de 𝑯𝒍𝒊𝒏𝒋.,𝒎é𝒅

Os valores de 𝑞𝑠∗∗ para cada linha de grampo são apresentados nas Tabelas 11 e

12 a seguir. Da mesma forma do item anterior, as análises serão feitas para os

parâmetros de resistência do solo em condições de umidade natural e inundado.

Tabela 11 - Determinação de 𝒒𝒔∗∗ para a seção hipotética - parâmetros de resistência de umidade

natural

Tabela 12 - Determinação de 𝒒𝒔∗∗ para a seção hipotética - parâmetros de resistência inundado

Page 83: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

71

5.3.1. SEÇÃO HIPOTÉTICA - ANÁLISE DE ESTABILIDADE VIA MÉTODO

"ALEMÃO" - DETERMINAÇÃO DO FATOR DE SEGURANÇA (FS)

Para a determinação do fator de segurança (FS) via método Alemão, foram

determinadas algumas premissas, conforme a seguir:

A superfície crítica de ruptura foi obtida conforme mencionado no capítulo 2,

em que dois dos autores do método original (Gässler & Gudehus, 1981)

propuseram uma modificação do método original, fixando-se o valor de

12 como 90º e 2 como 45º +

2. Dessa forma, bastaria buscar o mecanismo

critico (FS mínimo) para um determinado ângulo 1 para a obtenção da

superfície critica de ruptura.

Conforme descrito no capítulo 2, o método impede que os grampos atravessem a

base da cunha 2. Assim, poder-se-ia considerar a estrutura como uma cunha

ativa atuando sobre um muro de gravidade. Diante disso, considerou-se esta

hipótese para a análise de segurança.

A consideração dos fatores parciais de segurança foi seguida conforme sugerido

por CARDOSO & FERNANDES (1986), no qual considerou-se que a

resistência do grampo foi totalmente mobilizada (𝐹𝑆𝑇 = 1). Já a resistência do

solo foi considerada parcialmente mobilizada, aplicando-se fatores de segurança

parciais sobres os parâmetros de resistência do solo e considerados com o

mesmo valor ( 𝐹𝑆𝐶 = 𝐹𝑆 ).

Assim, para a análise de segurança desta seção hipotética, foi criado um

programa via Excel para realizar as iterações e determinar o fator de segurança

(FS) contra a ruptura do talude para esta seção. Os passos realizados pelo

programa são resumidos a seguir:

1 - Desenhar o talude e os grampos como segmento de retas através de sua inclinação

e inclinação dos grampos .

2 - Determinar a superfície de ruptura (cunha bipartida) através dos ângulos 2 = 45º +

2 , 12 = 90º e 1 . O valor de 1 é primeiramente arbitrado. A Figura 46 demonstra a

parametrização do talude como retas para um determinado ângulo 1 .

Page 84: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

72

Figura 46 - Parametrização do talude

3 - Parametrizar a reta 1, que é a base da cunha 1, através de seu ângulo 1 .

4 - Parametrizar a reta 6, que é a reta que tangencia a extremidade de todos os grampos.

A interseção entre as retas 1 e 6 será o ponto A.

5 - A partir do ponto A, determinar a reta 5, obtendo-se o ponto B e a reta 2 através do

ângulo 2 , desenhando-se assim toda a superfície de ruptura.

6 - Calcula-se as áreas de cunhas 1 e 2 e as respectivas massas de solo como solo

x

ACUNHA .

7 - Calcula-se comprimentos da base superior ( LSUPERIOR CUNHA 1 ) e inferior da cunha

1 ( LINFERIOR CUNHA 1 ).

8 - Calcula-se altura da cunha 1 ( ZAB )

9 - Com os dados calculados anteriormente, determina-se o empuxo ativo da cunha 2

sobre a cunha 1 ( Q12 ), que terá sua direção coincidente com a do ângulo de atrito do

solo (). O valor de Q12 será igual a:

Q12 = Ka x [ (0,5 . solo

. ZAB

2) + (ZAB . q )]

Onde:

1

2

12 CUNHA 2

CUNHA 1

ZAB

LSUPERIOR CUNHA 1

A

𝐵

LINFERIOR CUNHA 1

Page 85: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

73

q : Sobrecarga atuante no topo da cunha 2.

Ka : Coeficiente de empuxo ativo: = 𝑠𝑒𝑛² (90 + )

𝑠𝑒𝑛 (90 − ) 𝑥 [ 1 + √𝑠𝑒𝑛(2) 𝑥 𝑠𝑒𝑛()

𝑠𝑒𝑛(90 − ) ] ²

10 - Calcula-se os comprimentos do trecho dos grampos que atravessaram a base da

cunha 1 (lzr)

11 - Calcula-se a resistência disponível por grampo, que será o menor valor entre as

seguintes equações, conforme detalhado no capítulo 2 e que serão reapresentadas a

seguir. A carga de escoamento do aço será minorada utilizando o coeficiente de

segurança típico do aço ( s

).

As . fy

sh .s

𝑞𝑠 . .𝐷 . 𝑙𝑧𝑟

sh

Onde:

As : Área de seção da barra

fy : Tensão de escoamento do aço

sh : Espaçamento horizontal dos grampos

qs : Resistência unitária na interface solo-grampo.

D: Diâmetro do furo

lzr : Comprimento do grampo na zona resistente.

Assim,

tg = menor (As .fy

sh.s

,𝑞𝑠 . .𝐷 . 𝑙𝑧𝑟

sh) (25)

O valor total da tração total mobilizada pelos grampos será a soma da tração máxima de

cada grampo.

Tg = ∑ tg

12 - Parametriza-se o diagrama de forças como segmento de retas, conforme Figura 47

Page 86: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

74

Figura 47 - Diagrama de Forças Método Alemão

Onde:

W : Peso da Cunha 1 = ACUNHA 1 x SOLO

SOBRECARGA = q x (LSUPERIOR CUNHA 1 − sCQ )

sCQ : Distância da crista do talude à sobrecarga

Tg : Resistência total mobilizada pelos grampos

Q12 : Empuxo ativo atuante da cunha 1 sobre a cunha 2 (Direção igual ao ângulo de

atrito do solo )

N1: Força normal (Considerada como perpendicular a base da cunha 1

TMOB: Total de resistência mobilizada pelo solo

13 - Dentre as 6 forças, conhece-se o módulo, direção e sentido de 4 destas (W,

SOBRECARGA, Tg e Q12). Para completar o diagrama, é necessário traçar também as

forças N1e TMOB. Mesmo sem o valor dos módulos de N1e TMOB, conhece-se a direção e

o sentido destas forças, o que é suficiente para completar o diagrama.

Page 87: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

75

14 - Após o diagrama estar completo, é possível calcular os módulos das forças N1e

TMOB de forma gráfica, já que estas forças estão parametrizadas como retas. De posse

desses dados, o fator de segurança é calculado através dos seguintes passos:

TMOB = c x LINFERIOR CUNHA 1

FSC+

N1 𝑥 tan()

FS (31)

Considerando-se um fator de segurança único para os parâmetros de resistência

do solo ( 𝐹𝑆𝐶 = 𝐹𝑆), chega-se na seguinte expressão:

FS = c x LINFERIOR CUNHA 1 + N1 𝑥 tan()

TMOB (32)

15 - De posse do valor de FS, coloca-se o seu valor e o ângulo 1 correspondente em

uma lista.

16 - Arbitra-se um novo valor para 1 , repetindo-se os passos anteriores. Ao final de

todas as iterações, procura-se o ângulo 1 correspondente ao menor FS na lista,

obtendo-se assim a superfície crítica de ruptura.

5.3.2. SEÇÃO HIPOTÉTICA - ANÁLISE DE ESTABILIDADE VIA MÉTODO ALEMÃO

- DETERMINAÇÃO DO FATOR DE SEGURANÇA (FS) - RESULTADOS

Conforme citado no tópico anterior, os valores de FS serão calculados para as

duas condições de umidade. Os valores de entrada e de saída do programa são

mostrados abaixo através da Tabela 13 (umidade natural) e da Tabela 14 (inundado).

Page 88: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

76

Tabela 13 - Dados de entrada e saída para parâmetros de resistência de umidade natural - Método

"Alemão"

A superfície crítica de ruptura para estas condições da Tabela 13 é mostrada

abaixo através da Figura 48:

Figura 48 - Superfície de ruptura pelo método Alemão - parâmetros de resistência de umidade

natural

Page 89: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

77

Tabela 14 - Dados de entrada e saída para parâmetros de resistência inundado - Método Alemão

A superfície crítica de ruptura para estas condições da Tabela 14 é mostrada

abaixo através da Figura 49:

Figura 49 - Superfície de ruptura pelo método Alemão - parâmetros de resistência inundado

Um dos objetivos do trabalho é realizar a comparação entre um método analítico

(Alemão) e um método computacional (Spencer). Para fins de comparação entre os

métodos de Spencer e o método Alemão, será feita uma análise de segurança para essa

mesma seção hipotética pelo método de Spencer via software Slope/W com as mesmas

Page 90: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

78

premissas que foram utilizadas na 1ª abordagem para a seção considerada crítica. Dessa

forma, os resultados poderão ser discutidos e comparados em uma mesma base, já que

terão a mesma geometria e condicionantes. As superfícies críticas geradas pelo software

seguem abaixo nas Figuras 50 e Figura 51.

Figura 50 - Superfície crítica - Seção hipotética - parâmetros de resistência de umidade natural

Figura 51 - Superfície crítica - Seção hipotética - parâmetros de resistência inundado

Page 91: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

79

Os resultados de ambos os métodos são comparados através da Tabela 15.

Percebe-se que os resultados deram uma diferença elevada, chegando a uma diferença

de valores de FS 276,65% para o caso de parâmetros de resistência inundados e

190,18% para o caso de parâmetros de resistência de umidade natural.

Tabela 15 - Tabela de comparação - Seção hipotética - Método Alemão x Spencer

Observa-se que o método "Alemão" apresentou resultados de FS bastante

elevados em relação ao método de Spencer. Cabe ressaltar que o método original

proposto por STOCKER et al (1979) considera uma superfície de ruptura bilinear

baseada na análise de um número limitado de experimentos em modelos físicos, onde a

ruptura era causada por acréscimo de sobrecarga. Todavia, CHRISTOPHER et al.

(1988) afirmam que essa superfície de ruptura bilinear não parece consistente com o

comportamento observado em estruturas de solo grampeado submetidas principalmente

ao seu peso próprio, pois ela geralmente não estaria contida na massa de solo

grampeado, passando por fora dela e levando a uma massa potencialmente instável de

proporções maiores que as observadas em estruturas reais. Entretanto, esse efeito

relatado por Christopher et al (1988) não foi observado no presente trabalho, tendo em

vista que nos dois casos estudados a superfície bilinear interceptou quase todos os

grampos.

O método "Alemão" condiciona que os grampos não podem atravessar a base da

cunha 2. Assim, no caso dessa seção hipotética analisada, para atender esta condição,

são obtidas somente superfícies de ruptura com valores de 1 limitados, acarretando em

uma cunha ativa pequena e uma grande massa de solo a se deslocar, conforme

verificado nas Figuras 48 e 49.

Em taludes grampeados com faceamento pouco resistente e/ou frouxamente

conectado à cabeça dos grampos, outra incoerência pode surgir. A força de

arrancamento pelo método alemão é proporcional ao comprimento do trecho dos

grampos que se estende além da cunha 1 (𝑙𝑧𝑟 ). Assim, não é prevista a possibilidade da

Page 92: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

80

força de arrancamento ser mobilizada no trecho do grampo entre o faceamento e a

superfície de ruptura. Este modo poderia ser crítico no caso em que o comprimento do

trecho embutido na cunha é menor do que aquele trecho que corresponde ao

comprimento inserido na região resistente. Essa condição é prevista pelo software

comercial, pois para o cálculo da força de arrancamento, é utilizado o comprimento do

menor dos dois trechos. Esse caso foi observado no 7º grampo da superfície de ruptura

para a condição de parâmetros de resistência inundado (Figura 51).

Experimentos realizados pelo projeto CLOUTERRE (1991) mostraram que as

superfícies de ruptura em estruturas de solo grampeado se apresentam como curvas.

Sabe-se que quando a face do talude é vertical, a superfície crítica pode assemelhar-se a

um plano. Entretanto, à medida que diminui a inclinação da face, a curvatura da

superfície crítica torna-se mais acentuada, aumentando o erro associado à superfície

crítica adotada pelo método “alemão”, nesse caso. Dessa forma, acredita-se que os

resultados do método Alemão estejam contra a segurança no caso analisado, mas que

poderiam ser mais coerentes em um talude com face vertical.

Em caso de geometrias complexas de talude e grampos com inclinações

variáveis, como foi o caso da seção original analisada por este trabalho, torna-se de

difícil análise através de métodos analíticos como o método "Alemão". O mesmo

ocorreria para solos estratificados ou com poro-pressões. Porém, em casos com solo

homogêneo, grampos com inclinação constante, face aproximadamente vertical e com

revestimento rígido (incorporação entre a cabeça do grampo e a face), espera-se que o

método Alemão dê resultados mais próximos aos do software comercial.

Visando a aferir se o método alemão traz resultados mais confiáveis para estas

condições, será analisada uma 2ª seção hipotética, com o solo considerado homogêneo,

H=8,3m , =90, =15º, grampos com 6m de comprimento e estrutura com face rígida.

Através dessa 2ª seção, serão gerados resultados através dos dois métodos (Spencer e

"Alemão"). Assim como na 1ª seção hipotética, as análises serão feitas para condições

de parâmetro de resistência de umidade natural e inundado, mantendo-se todas as outras

considerações do item anterior.

Os dados de entrada do programa e os resultados pelo método alemão para as

condições de parâmetro de resistência de umidade natural seguem na Tabela 16

Page 93: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

81

Tabela 16 - Dados de entrada e saída para parâmetros de resistência de umidade natural - Método

"Alemão" - 2ª seção hipotética - face vertical e revestimento rígido

A superfície crítica de ruptura para estas condições da Tabela 16 é mostrada

abaixo através da Figura 52:

Figura 52 - Superfície de ruptura pelo método "alemão" - parâmetros de resistência inundado - 2ª

seção hipotética - face vertical

Page 94: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

82

Os dados de entrada do programa e os resultados pelo método alemão para as

condições de parâmetro de resistência inundado seguem na Tabela 17.

Tabela 17 - Dados de entrada e saída para parâmetros de resistência de inundado - Método

"Alemão" - 2ª seção hipotética - face vertical e revestimento rígido

A superfície crítica de ruptura para estas condições da Tabela 16 é mostrada

abaixo através da Figura 53:

Page 95: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

83

Figura 53 - Superfície de ruptura pelo método "alemão" - parâmetros de resistência de umidade

natural - 2ª seção hipotética - face vertical

Conforme citado anteriormente, também será realizada a análise para as duas

condições de umidade pelo método de Spencer, todavia com a premissa de que os

grampos estão incorporados à face. A superfície crítica para as duas condições pelo

método de Spencer seguem nas Figuras 54 e Figura 55.

Figura 54 - Superfície de ruptura pelo método de método de Spencer - parâmetros de resistência de

umidade natural - 2ª seção hipotética - face vertical

Page 96: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

84

Figura 55 - Superfície de ruptura pelo método "alemão" - parâmetros de resistência inundado - 2ª

seção hipotética - face vertical

Conforme suposto anteriormente, os resultados de ambos os métodos para um

talude de face vertical e rígida foram próximos, sugerindo que o método "Alemão" é

mais adequado para uma estrutura com essas características. A diferença encontrada foi

de 12% para análise utilizando parâmetros de resistência de umidade natural do solo e

de 11% utilizando os parâmetros de resistência inundado, conforme apresentado na

Tabela 18. As superfícies encontradas pelos dois métodos foram próximas a uma cunha

única, razão pela qual trouxe resultados similares na determinação do FS.

Tabela 18 - Tabela de comparação - 2ª Seção hipotética - Método Alemão x Spencer - Face Vertical

Page 97: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

85

6. CONCLUSÃO

Em relação à segurança contra a ruptura do talude objeto de estudo deste

trabalho, foi verificado que, nas duas abordagens, seja com a resistência unitária na

interface solo-grampo (𝑞𝑠) variável ao longo da profundidade ou constante, as análises

demonstraram que o fator de segurança (FS) está acima do admitido pela norma. Cabe

frisar que, mesmo considerando parâmetros de resistência do solo inundado em que

haveria de acontecer situações muito adversas para este se apresentar desta forma, o FS

foi acima do exigido pela norma.

Este trabalho propôs analisar a influência no fator de segurança (FS) e no modo

de ruptura de uma estrutura em solo grampeado através da consideração de uma

resistência unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠) variável ou constante ao longo da

profundidade. Verificou-se que, para o talude analisado por este trabalho, as diferentes

abordagens não produziram resultados com diferenças acentuadas. Todavia, em outros

tipos de taludes, essas diferenças entre as abordagens poderiam ser significativas.

Outro objetivo deste trabalho foi avaliar a diferença entre os resultados gerados

por um método de dimensionamento analítico de solo grampeado e um método

computacional. Dessa forma, os resultados do método analítico alemão (STOCKER et

al, 1979) foram comparados com os gerados por um software comercial via método de

Spencer (1967). As análises mostraram que, para este caso específico, os resultados

foram bem discrepantes, sendo os resultados gerados pelo método Alemão contra a

segurança. Em outra análise, verificou-se que um talude hipotético de face vertical

apresentou uma diferença muito menor entre os resultados do software computacional e

os do método Alemão. Dessa forma, sugere-se que não se deve utilizar o método alemão

para taludes que não apresentem face vertical ou subvertical.

Para pesquisas futuras, sugere-se a realização de ensaios de arrancamento em

taludes homogêneos sujeitos a diferentes sobrecargas, verificando se a resistência

unitária na interface solo-grampo (𝑞𝑠) é dependente da tensão normal atuante no

grampo.

Outra sugestão para pesquisas futuras seria uma normatização dos métodos de

dimensionamento de solo grampeado, bem como a padronização dos ensaios de

arrancamento.

Page 98: DIFERENTES ABORDAGENS NA DETERMINAÇÃO DO FATOR DE

86

7. REFERÈNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BUSTAMANTE, M., DOIX, B. 1985, Une Méthode Pour le Calcul dês Tirants et

dês Micropieux Injectées, Boletim de Laboratório de Pontes e Estradas, Paris, França.

CAMARGO, V.E.L.B., 2005, Comparação de métodos de análise de estruturas de

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CARDOSO, A. S.; FERNANDES, M. M., 1986, Escavações pregadas:

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