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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARÁ CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM FÍSICA VICTOR FALCÃO DA VERA-CRUZ GIANFRANCO GATINHO SANTOS DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ Data de Defesa: ___/ ___/ ___ Conceito: ________________ Banca Examinadora ___________________________________ Prof. orientador: _____________________________________ Prof.: Co-orientador

DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARÁ CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM FÍSICAVICTOR FALCÃO DA VERA-CRUZ GIANFRANCO GATINHO SANTOSDIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARÁ

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM FÍSICA

VICTOR FALCÃO DA VERA-CRUZ

GIANFRANCO GATINHO SANTOS

DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

Data de Defesa: ___/ ___/ ___

Conceito: ________________

Banca Examinadora

___________________________________Prof. orientador:

_____________________________________Prof.: Co-orientador

_____________________________________Prof.

_____________________________________Prof.

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Dedicamos este trabalho aos professores e demais

funcionários da Escola Municipal de Ensino Fundamental

Suely Falcão, que sempre contribuíram para a realização

deste trabalho, nunca se negando a qualquer de meus

pedidos.

Aos demais professores que dedicaram um pouco de seu

tempo para me auxiliar na produção deste trabalho.

E principalmente aos meus alunos que mais uma vez me

ensinaram mais do que vos ensinei. Sem o aluno não

existiria professor, muito menos este trabalho.

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AGRADECIMENTOS

A minha orientadora Profª. Ermelinda Nóbrega de Magalhães

que sempre esteve ao meu lado, me ajudando nos momentos

mais difíceis, que me fez acreditar que esse trabalho era

possível e que apesar de todos os problemas sempre

“arranjou um tempinho” para se dedicar a mim que nem

sempre mereci tal atenção. A minha co-orientadora Profª. Drª.

Maria de Fátima Vilhena da Silva que mesmo sem me

conhecer confiou no meu trabalho e foi de fundamental

importância nesta produção. Aos meus pais Raimundo Antônio

Falcão da Vera Cruz e Maria de Lourdes Falcão da Vera Cruz

que me iniciaram, mantiveram e até hoje fornecem a boa

educação que tenho, pois sem o aprendizado e a educação

que obtive com os meus pais, provavelmente eu seria apenas

mais um na multidão. A minha noiva e futura esposa Camila

Carrera de Rezende, que por mais difícil que seja admitir, devo

concordar que o homem é a cabeça, mas a mulher é o

pescoço, ela por muitas vezes me guiou para o caminho certo.

Agradeço a todos os meus professores, pois sem eles sei que

não chegaria até aqui. Não poderia esquecer de agradecer a

Deus por tudo que me proporcionou e por tudo que permitiu

que eu alcançasse.

Victor Falcão da Vera Cruz

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que colaboraram e acreditaram na realização

deste trabalho, especialmente as professoras Ermelinda

Nóbrega de Magalhães e Maria de Fátima Vilhena da Silva e

as Instituições que contribuíram para tornar realidade a nossa

pesquisa.

Gianfranco Gatinho Santos

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Escola é......O lugar onde se faz amigos,

Programas, horários, conceitos...Escola é, sobretudo gente...

Gente que trabalha, que estuda,Que alegra, se conhece, se estima.

O Mantenedor é gente,O Diretor é gente,

O Professor é gente,O Aluno é gente,

Cada Funcionário é gente.E a Escola será cada vez melhor,

Na medida em que cada um se comporteComo colega, amigo, irmão.

Nada de ilha cercada de gente por todos os lados,Nada de conviver com pessoas e depois descobrir que

Não tem amizade a ninguém,Nada de ser como tijolo que forma parede

Indiferente, frio, só.Importante na Escola não é só estudar, trabalhar,

É também criar laços de amizade,É criar ambiente de camaradagem,

É conviver e se “amarrar nela”.Ora, é lógico...

Numa Escola assim vai ser fácilEstudar, trabalhar, crescer,

Fazer amigos, educar-se, ser feliz!É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo!

Paulo Freire

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RESUMO

Este trabalho foi desenvolvido em uma turma de 4º etapa da Escola

Municipal de Ensino Fundamental Suely Falcão, localizada no município de

Marituba/PA proporcionada pela disciplina Vivência na Prática Educativa que nos

encaminhou ao estágio supervisionado obrigatório e nos despertou o interesse em

conhecer como se desenvolve o processo de ensino e aprendizagem de Ciências

em classes de Ensino de Jovens e Adultos (EJA), de Ensino Fundamental.

Oportunizou também refletir sobre a ação de ensinar com vistas à melhoria da

qualidade da ação docente, redimensionando concepções na busca de novos

enfoques sobre a compreensão da prática docente e dos conteúdos dos

professores. Tais buscas nos levam a (re) pensar uma formação de professores que

possa diminuir o “abismo” entre teoria e prática e que oportunize esse profissional a

desenvolver suas atividades, não somente em nível profissional como também

pessoal dentro das instituições escolares cuja tendência reflexiva pode ser encarada

como um novo paradigma na formação de professores. O objetivo deste trabalho

está consubstanciado a essa idéia e relatam resultados obtidos de práticas teórico-

metodológicas desenvolvidas na escola na disciplina Ciências. Também analisamos

os resultados à luz de um referencial teórico que subsidiou nossa pesquisa, nos

incentivando a contribuir com propostas metodológicas que incentivem docentes que

trabalhem com esta modalidade de ensino favorecendo aos discentes uma

aprendizagem mais significativa, com um olhar diferenciado para este público,

acolhendo de fato seus conhecimentos, interesses e necessidades de

aprendizagem, contemplando temas como cultura, relações sociais, necessidades

dos alunos, meio ambiente, cidadania, trabalho e exercício da autonomia.

PALAVRAS-CHAVE: EJA, Aprendizagem Significativa, Formação docente,

Ciências.

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ABSTRACT

This work was developed in 4th level class of Municipal Elementary School

Suely Falcão, located in Marituba/Pa, proportioned by discipline Life in the Education

Practice, which guides to the obligated supervised probation and make up our

interest to discover how happen the teaching process and learning of chemistry in

classes of teen and adults in the elementary school. It gave us the chance of thinking

about the action of teaching, trying to increase the quality of the education, to create

a new structure, looking for new focuses about the understanding of the practice and

the teacher’s subject. That search makes us think about one teacher’s graduation

which can reduce the abyss between the theory and the practice and permit that

workers developed their activities, not only in a work level, but in a personal to, in

side of the school which reflexives tendencies can be faced like on new paradigm in

the teacher education. The objectives of this work are based on this idea and relate

results obtained from practices theory–methodology, developed in the school, in the

chemistry class. The results were analyzed in the light of one theory reference which

subsidies our research, encouraging us to make a methodology proposal which

stimulate the teacher that works with this kind of education, favoring to the students

with a more significant education, with one different look to their public, using their

knowledge, concern and education request, contemplating themes as culture, social

relationship, requests, environment, citizenship, work and autonomy’s exercise.

KEYWORD: EJA, significant education, education of educator and

chemistry.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 10

1.1. JUSTIFICATIVA ...................................................................................... 13

1.2. SITUAÇÃO PROBLEMA ......................................................................... 14

1.3. OBJETIVOS ............................................................................................ 15

2. METODOLOGIA......................................................................................... 16

2.1 O CENÁRIO ........................................................................................... 16

2.2 OS SUJEITOS DA PESQUISA............................................................... 23

2.3 COLETA DE DADOS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS ...................... 30

3. A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL ....................... 33

3.1 PRINCIPAIS ELEMENTOS HISTÓRICOS ............................................. 33

3.2 A SITUAÇÃO NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS ............................................. 34

4. O ENSINO DE CIÊNCIAS E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE

CIÊNCIAS....................................................................................................... 38

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................ 44

5.1 NA VISÃO DO EDUCADOR .................................................................. 44

5.2 NA VISÃO DO ALUNO .......................................................................... 47

6 SUGESTÕES METODOLÓGICAS ....................................................... 49

6.1 BIOLOGIA .............................................................................................. 51

6.1.1 CITOLOGIA ...................................................................................... 51

6.1.2 CORPO HUMANO ............................................................................ 53

6.2 QUÍMICA ................................................................................................ 54

6.3 FÍSICA .................................................................................................... 56

6.4 A LEITURA ............................................................................................. 57

6.5 AVALIAÇÃO ........................................................................................... 57

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 59

REFERÊNCIAS

ANEXOS

APÊNDICES

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1. INTRODUÇÃO

A priori objetivamos analisar a educação de jovens e adultos em nosso país,

assunto continuamente posto em segundo plano. Há necessidade de se estabelecer

uma nova prática para educação de jovens e adultos que, antes de tudo, crie um

vínculo de parceria entre estados, municípios, universidade e educadores que atuam

nessa área.

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) surgiu devido a um déficit na

educação de pessoas que já passaram da idade para participar do sistema de

educação regular, deve-se fornecer agora as oportunidades do foi negado no

passado.

Inicialmente, consideramos importante contextualizar a situação do índice de

analfabetismo no Brasil. Com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostragem

por Domicílios feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em

1996, verifica-se a seguinte realidade: o índice geral é de 14,7% analfabetos, o que

corresponde a 16 milhões de brasileiros e brasileiras desprovidos da capacidade de

ler e escrever. Em outra pesquisa por amostragem, feita em 2004, esse índice foi de

11,4%, sendo, regionalmente assim constituído: Norte, 11,6%; Nordeste 28,7%;

Sudeste, 8,7%; Sul 8,9% e Centro-Oeste, 11,6%. Esses dados permitem que se

enxergue com clareza onde está a maior concentração de analfabetismo no nosso

país, que é na região Nordeste, 28,7%. Quase 1/3 do universo nacional de

analfabetos que; na verdade concentram-se nos bolsões de pobreza e de miséria. E

os números aumentam em relação àqueles que não conseguem compreender a

palavra escrita – os analfabetos funcionais, os que chegam a aproximadamente 65

milhões de pessoas, cerca de 24,4% de brasileiros e brasileiras.

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Para minimizar essa situação é necessário mais investimentos na Educação

Básica a fim de que possa melhorar a qualidade de ensino. Os dados atuais indicam

96% das crianças e jovens na escola na idade própria, no entanto continua havendo

reprovação, evasão e até problemas mais graves, como crianças da 4ª e 5ª séries

que não sabem ler e escrever. Isso requer investimentos na qualificação do

professor logo, o trabalho das Universidades é muito importante no que diz respeito

a formação continuada, a formação em serviço, a capacitação, como também a

preparação adequada no momento da formação inicial do professor.

Quando se pensa na educação de jovens e adultos, a situação é muito mais

grave, porque o professor sequer tem formação para atuar com esses alunos

adultos sem escolaridade ou com pouca escolaridade, mas possuem uma bagagem

cultural, um saber que já construiu, com o qual alguns professores não sabem como

lidar. É um engano supor que o professor devidamente preparado para atuar com

crianças tem condições de receber uma turma de adultos e sair-se bem a não ser

que ele próprio busque novos saberes docentes para enfrentar o desafio posto.

Embora as realidades regionais, de geração e de gênero sejam diferentes

em termos de analfabetismo, é possível identificar alguns pontos em comum. Mas

cada localidade e cada comunidade necessitam encontrar a sua forma de lidar com

o problema. É nesse contexto que propomos a seguinte pesquisa.

A presente pesquisa surgiu do interesse em conhecer como se desenvolve o

processo de ensino e aprendizagem de Ciências em classes de Ensino de Jovens e

Adultos (EJA), de Ensino Fundamental, bem como, identificar de que maneira o

conteúdo de Ciências vem sendo trabalhado em classes tão heterogêneas ao

comparada com uma classe do ensino regular na escola publicam, na pesquisa

apontada por GADOTTI & ROMÃO (2001:32):

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No mínimo, esses educadores precisam respeitar as condições culturais do jovem e do adulto analfabeto. Eles precisam fazer o diagnóstico histórico econômico do grupo ou comunidade onde irão trabalhar e estabelecer um canal de comunicação entre o saber técnico (erudito) e o saber popular.

A instituição escolar escolhida foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental

Suely Falcão, localizada no Bairro Residencial Almir Gabriel, município de

Marituba/Pa. A escola encontra-se em uma área de risco, com alto nível de

marginalização e os alunos apresentam como agravante o fato de possuírem mais

de 15 anos e estarem ausentes dos bancos escolares há longo tempo.

Durante o processo de observação podemos constatar que não existe um

tratamento diferenciado para tais alunos que se apresentam em uma situação tão

debilitada. Baseando-se nos discursos de Paulo Freire (1921 a 1997) e Piaget (1896

a 1980), os quais afirmam que a educação deve ser retirada do cotidiano do aluno

nos sentimos estimulados a estudar o quadro sócio-econômico desses alunos para

tentar suprir tais necessidades.

Este trabalho visa auxiliar aos professores de ciências e a todo e qualquer

profissional que venha a trabalhar com essa clientela. Visto que:

Conhecendo as condições de vida do analfabeto, sejam elas as condições objetivas, como o salário, o emprego, a moradia, sejam condições subjetivas, como a história de cada grupo, suas lutas, organização, conhecimento, habilidades, enfim, sua cultura. Mas, conhecendo-as na convivência com ele e não apenas “teoricamente”. Não pode ser um conhecimento apenas intelectual, formal. O sucesso de um programa de educação de jovens e adultos é facilitado quando o educador é do próprio meio. (GADOTTI & ROMÃO, 2001, p.32).

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1.1 JUSTIFICATIVA

Ao nos depararmos em uma sala de aula temos consciência da diversidade

de pessoas e as necessidades diferenciadas de cada aluno. Neste momento que

todo o nosso conhecimento é colocado à prova, e nos damos conta que temos muito

a aprender, pois a cada turma, novas problemáticas são descobertas e nem sempre

o professor está preparado para enfrentá-las de imediato. Muitas dessas

dificuldades nunca ou pouco foram discutidas em um banco de Universidade,

principalmente quanto à prática pedagógica na EJA.

Durante o estágio obrigatório da disciplina de Vivência na Prática Educativa,

de acordo com o Projeto Vivência na Prática Educativa observarmos os alunos da

quarta etapa da E.M.E.F. Suely Falcão, Localizada no Bairro Almir Gabriel, na

cidade de Marituba-PA e pudemos perceber que eles se encontram em uma

realidade completamente diferente das apresentadas durante nossa formação em

sala de aula. Vimos que os alunos da EJA não apresentam os pré-requisitos

exigidos pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases) ou pelos PCNs (Parâmetros

Curriculares Nacional) e apresentam problemas, os professores por sua vez têm

dificuldades em avaliar um aluno que afirma não ter tempo para estudar, nem fazer

trabalhos ou qualquer outra atividade extra-classe, nunca antes estudados em sala

de aula. As dificuldades e dúvidas só aparecem no exercício da profissão pois, é

difícil responder a uma pergunta que ainda não foi feita. Pergunta e respostas só

surgirão durante o cotidiano pedagógico do professor, em sala de aula.

Segundo Paulo Freire (1921 a 1997), a matriz curricular de um aluno deve

ser tirada de seu próprio cotidiano, desta forma, nos encorajando a estudarmos o

quadro sócio-econômico desses alunos para investigar se existe relação entre eles e

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possíveis dificuldades no processo ensino aprendizagem e a partir dessa

investigação propor métodos e técnicas alternativas para redução dessas possíveis

dificuldades.

1.2 SITUAÇÃO PROBLEMA:

Constatamos durante nossa pesquisa de campo, que os alunos da quarta

etapa da E.M.E.F. Suely Falcão apresentam visíveis dificuldades no aprendizado,

podendo estar relacionadas a vários fatores determinantes os quais nos

incentivaram a investigar e desvelar as possíveis situações que possam estar

contribuindo para o desinteresse e dificuldades encontradas por esses alunos. Estes

problemas motivam a busca de respostas para as seguintes questões:

1- Até que ponto o trabalho prejudica o aprendizado do aluno?

2- Os alunos têm consciência de que seu aprendizado depende também de

seu compromisso e força de vontade?

3- De que maneira o professor poderá auxiliar o aluno a melhorar o

aprendizado?

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1.3 OBJETIVOS

GERAL: Investigar dificuldades e avanços na Educação de Jovens e

Adultos de uma Escola Pública em Marituba-Pará e sugerir estratégias motivacionais

que contribuam para uma prática reflexiva que favoreçam uma aprendizagem

significativa.

.ESPECÍFICOS:

a) Identificar quais as principais dificuldades que contribuem para que o

aluno de EJA deixe a escola em segundo plano

b) Sensibilizar os discentes da importância do compromisso deles com

aprendizagem escolar;

c) Sugerir metodologias de ensino de Ciências (a partir dos PCN’s) que

favoreça uma aprendizagem mais contextualizada e significativa.

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2. METODOLOGIA

Para realização deste trabalho optamos por uma pesquisa de natureza

qualitativa (parte onde será feita a interpretação dos dados obtidos) e quantitativa

(parte da pesquisa que tratará dos números puros), incluindo um levantamento mais

detalhado das condições educacionais dos alunos de EJA.

2.1 O CENÁRIO

A ESCOLA

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Suely Falcão, esta em seu

terceiro ano de funcionamento, com quatro turnos, manhã, intermediário, tarde e

noite, Nos três primeiros turnos conta com apenas turmas de 1º a 4º série e no turno

da noite as turmas da EJA que vai da primeira até a quarta etapa. Desde sua

fundação é dirigido pelo Professor Álvaro Augusto Maia da Silva.

A escola dispõe de dez salas de aula, uma diretoria, uma secretaria, sala de

professores, uma copa, sala de leitura, sala de informática e uma quadra de areia.

Possui setenta e cinco funcionários.

As salas de aula apresentam uma boa estrutura, com quadro magnético e

ventiladores, no entanto, em algumas salas existem ventiladores com defeito.

A escola tinha a sua própria máquina de xerocópia; dois televisores; um

DVD player; dois vídeos; um retro projetor e oito computadores, sendo um da

secretaria, outro da direção e seis na sala de informática; um ar-condicionado na

sala de informática e uma caixa amplificadora. No entanto, no dia 11 de abril de

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2006 a escola fora vítima de um assalto onde todos os equipamentos citados acima

foram roubados, com exceção da caixa amplificadora e do ar-condicionado.

Após a festa junina de 2006, utilizando em parte o dinheiro arrecadado na

mesma e o dinheiro arrecadado com a copiadora (alugada) da escola, o diretor já

conseguiu comprar dois novos DVD, duas televisões, 21 instrumentos musicais para

a formação da banda marcial, um computador, um CD player e um retro-projetor.

No turno da noite existe uma turma de 1º etapa, duas turmas de 2º etapa,

três turmas de 3º etapa e quatro turmas de 4º etapa. Contamos com a presença

constante da Vice-Diretora Silvia Patrícia Clarindo Ferreira e do auxiliar

administrativo Raimundo Flávio Vicente da Silva. A escola possui uma orientadora

pedagógica chamada Luzanira de Fátima Cruz Padilha e um secretário chamado

Vitor Sergio Dagort, porém esses só podem ser encontrados na escola nos três

primeiros turnos.

A escola conta com três professores de educação geral, sendo um para a

primeira etapa e uma para cada uma das segundas etapas, uma professora de

história, uma professora de geografia e um professor de ciências, esses são

responsáveis por ministrar suas disciplinas em todas as terceiras e quartas etapas,

uma professora e um professor de matemática, que respectivamente são

responsáveis pela terceira e quarta etapa e duas professoras de português que se

dividem entre as terceiras e quartas etapas totalizando dez professores.

No ano de 2006 a escola criou uma “creche” para os filhos dos alunos, ela

funciona no turno da noite. Durante as aulas as mães deixam as crianças sobre os

cuidados de uma professora que fica com as crianças na sala de leitura, contando

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histórias, fazendo brincadeira e jogos. Essa foi uma iniciativa do Diretor ao constatar

que muitas alunas estavam pensando em abandonar a escola por não ter ninguém

para cuidar de suas crianças enquanto elas estivessem estudando.

No ano de 2005 a escola iniciou o seu ano letivo com noventa e três alunos

matriculados nas quartas etapas e no final do ano apenas 41% conseguiram concluir

o seu ensino fundamental. Tendo 47% de abandono e 12% de reprovação.

No início do ano de 2006 a escola matriculou cento e cinqüenta alunos nas

quarta etapa e durante um levantamento feito no mês de agosto deste ano

percebeu-se que trinta e três alunos haviam abandonado a escola (22,25%),

sessenta e quatro alunos possuíam média inferior a cinco, ou seja, se continuassem

assim ao final do ano estariam reprovados (43,75%) e com isso apenas cinqüenta

alunos estariam com notas superiores a cinco (34%).

O local escolhido para estudo foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental

Suely Falcão (E.M.E.F. Suely Falcão), localizada na Rua Antônio Armando, no bairro

Residencial Almir Gabriel em Marituba/PA. A escola apresenta aproximadamente mil

e setecentos alunos e setenta e cinco funcionários, distribuídos em quatro turnos

(manhã, intermediário, tarde e noite). Os professores da escola em sua maioria

apresentam apenas o curso de Magistério, alguns poucos estão cursando um curso

superior ou já o concluíram. A pesquisa tem como foco a Educação para Jovens e

Adultos, turno da noite.

HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO

No dia 29 de julho de 1997 um grupo de duas mil e quinhentas pessoas,

distribuídos em 184 famílias, ocuparam o Ginásio de Esporte Municipal de

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Marituba*, localizado na praça matriz ao longo do km 12 da BR 316. Esse grupo

reivindicava a posse de uma área, localizada as margens do km 16 da Br 316, que

na época era chamada de Fazenda Santo Amaro. Esse território pertencia a Manoel

Pinto.

No dia 15 de agosto de 1997 as pessoas deixaram o Ginásio em uma

caminhada até a Fazenda Santo Amaro e nesta data iniciou-se a ocupação. No dia

27 de agosto de 1997 foi feito uma assembléia, onde fora escolhido o nome do

assentamento, tendo como opções para serem votados Santo Amaro e Che-

guevara que venceu com uma diferença de apenas 5 votos.

Nesse período a comunidade contratou um topógrafo para fazer a

organização do assentamento, isso garantiu ao bairro uma característica exótica ao

de uma invasão, pois ela apresenta uma malha urbana organizada. Neste momento

ficou acordado que os terrenos em sua maioria teriam 300 m² de extensão, com

exceção de alguns poucos terrenos que ficaram maiores para acompanhar a

curvatura da BR.

O bairro de início possuía oitenta e quatro lotes agrícolas que apresentavam

1000 m², no entanto, esses lotes nunca chegaram a cumprir com o seu objetivo

encontrando-se hoje abandonado, três desses estão favelizados, foram divididos em

terrenos de 200 m² e vendidos ou distribuídos entre os familiares, deixando de ser

agrícolas passando a fazer parte do setor urbano.

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Após essa divisão territorial a coordenação, em reunião, deu um prazo para

a completa fixação dos proprietários da terra, aqueles que ultrapassassem esse

prazo perderiam o direito a terra que seria repassada para uma outra família, que

chegara ao assentamento após a ocupação, e que se encontrava em uma lista de

espera.

Durante esse processo o atual deputado Babá foi contatado e em uma

demonstração de apoio no sentido de ajudar a organização passou vinte e quatro

dias hospedado na comunidade.

No mandato do Prefeito Fernando Correia (1996 a 2000) fora criado um

projeto de lei que mudaria o nome do bairro para Residencial Almir Gabriel. O

vereador Alberto Campos, o qual não havia conseguido a re-eleição, fez um acordo

com o atual Prefeito Antônio Armando, que na época (novembro e dezembro de

2000) já se encontrava eleito. Nesse acordo o vereador deveria apoiar a mudança

do nome, de maneira que ela acontecesse antes do término do ano e com isso

Antônio Armando ao tomar posse daria a Alberto Campos à secretaria de Cultura,

Lazer e Esporte e assim foi feito. Ainda em dezembro de 1999 Che-guevara passou

a se chamar Residencial Almir Gabriel.

Após a homologação da lei que mudava o nome do bairro o problema foi

com a comunidade e com a CTEBEL, pois após alguns dias da homologação a

empresa de ônibus que circulava pelo bairro fez a mudança em sua placa, no

entanto, no dia seguinte teve que voltar a utilizar o nome de Che-guevara, pois os

moradores apedrejaram vários ônibus em forma de protesto e a CETEBEL, que na

época estava sobre o domínio do prefeito Edmilson Rodrigues, não autorizou a

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mudança na linha de ônibus. Somente no primeiro mês de 2004, com a posse do

Prefeito Duciomar Costa é que a empresa de ônibus recebeu a autorização para

circular utilizando o novo nome do bairro.

Atualmente o bairro apresenta o seu índice de infra-estrutura próximas do

zero, pois não apresenta pavimentação, saneamento básico, água encanada, possui

apenas um posto de saúde e uma escola de nível médio.

As poucas ruas que se encontram em boas condições de circulação de

automóveis, só estão assim graças a duas empresas de ônibus Nossa Senhora do

Carmo e Izabelense, que devido às suas próprias necessidades fizeram à drenagem

e deram à base necessária para que depois a prefeitura pudesse fazer o

asfaltamento das duas principais avenidas do bairro, o restante continua na piçarra.

Devido a ausência de água encanada dentro da comunidade, desenvolveu-

se um sistema onde uma pessoa, com boas condições financeiras, cava um poço e

compra uma bomba e começa a comercializar a água para seus vizinhos, por

valores que variam de R$ 20,00 a R$ 50,00 reais mensais. Esse é um sistema muito

lucrativo, pois devido muitas denúncias de cobrança indevida contra a Rede Celpa,

que nada fez hoje mais de 90% da comunidade não paga energia elétrica, utilizando

o chamado “gato de energia”.

Hoje o bairro do Che-Guevara, como continua sendo chamado pelos

moradores, ainda é um “bairro dormitório”, onde a grande parte de sua comunidade

economicamente ativa trabalha como doméstica secretária do lar, funcionalismo

público, autônomos e construção civil (pedreiro), os principais pólos de trabalho são

Belém e em segundo lugar Ananindeua. Esses trabalhadores normalmente não

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apresentam nem um vínculo empregatício e recebem em média R$ 500,00 reais

mensais.

Uma característica histórica muito marcante que nos dá o embasamento

para classificar o bairro como sendo um bairro dormitório é que antes da entrada de

uma linha de transporte urbano, a efetiva fixação só ocorrera às margens da BR,

pois esses moradores caminhariam até a BR para pegar ônibus que faziam a

circulação em Benevides, Benfica e outras localidades. Após a entrada de uma

empresa de ônibus, no bairro, a fixação foi se interiorizando, hoje atingindo

aproximadamente 5 km.

Em uma pesquisa antropologia, feita pela Professora Maria Cristina Brito

Pinto, o nível de desemprego no bairro fica a baixo dos 35%, a primeira gravidez

ocorre entre os quatorze e os quinze anos e o nível de instrução do bairro em sua

maioria é Fundamental Incompleto, onde os pais apresentam o que antigamente era

chamado de primário completo (1ª a 4ª série do ensino fundamental) e os filhos vão

um pouco além alcançando até em média a 6ª série.

De acordo com os resultados da nossa pesquisa obtidos através do

questionário, passado aos alunos, 65% dos pais apresentam o ensino fundamental

incompleto, 13% são analfabetos, 13% tem ensino médio completo e apenas 6%

têm nível superior, 3% não respondeu a pergunta.

Page 22: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

23

2.2 OS SUJEITOS DA PESQUISA

OS ALUNOS

A pesquisa fora realizada com os alunos da quarta etapa da EJA, quarta

etapa (correspondente a sétima e oitava série do ensino regular), que somam um

total de aproximadamente cento e vinte alunos na faixa etária entre 12 a 54 anos,

distribuídos em quatro turmas.

No universo de aproximadamente 250 alunos, que responderam o

questionário, 55% são do sexo feminino e 45% do sexo masculino. A maioria se

insere na faixa etária de 16 a 20 anos. Apenas 35% são solteiros (viúvos,

divorciados ou abandonados) e 42,5% ainda são casados e 22,5% não responderam

a pergunta, 57% dos alunos apresentam um ou dois filhos.

Quanto à disciplina que consideram mais fácil de aprender é História e a

mais difícil é Ciências como nos mostra a tabela 2:

TABELA 2 O GRAU DE DIFICULDADE NA OPINIÃO DOS ALUNOS

Matéria Mais fácil (%) Mais difícil (%)

Língua Portuguesa 13 13

Matemática 7 30

Ciências 2 45

História 46 3

Geografia 32 9

Page 23: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

24

De acordo com a tabela 2, a disciplina que os alunos encontram maior

dificuldade é Ciências, seguida da matemática. Isto pode ser explicado porque nas

aulas de ciências é comum o uso de matemática. Em diversos momentos, os

professores afirmaram que os alunos compreendem o conteúdo de Ciências, porém

erram a resolução por não saberem efetuar uma multiplicação ou uma divisão.

Quanto ao desempenho nas atividades que exige leitura de textos, a maioria

dos alunos não gostam e poucos conseguem alcançar o objetivo almejado. Os que

responderam negativamente justificam de diferentes maneiras, tais como: “isso é

muito chato”, ou “já não basta a professora de Português”, no entanto podemos

perceber que eles apenas tentam fugir de uma das principais dificuldades

apresentadas a da leitura e da escrita. Os alunos da 4º etapa da E.M.E.F. Suely

Falcão, apresentam dificuldades no aprendizado, possuem grandes limitações na

leitura e na escrita, alguns não chegam ao menos a produzir um texto compreensivo.

O número de alunos empregados supera o de desempregados. A maioria

(80%) são funcionários assalariados, sem vínculo empregatício, eles desempenham

atividades como: domésticas, construção civil (pedreiro e ajudante de pedreiro),

serviços gerais em empresas e poucos são autônomos.

A partir dos questionários verificamos que os alunos da EJA dedicam certo

tempo ao trabalho que varia de 6 a 10 horas diárias, evidenciando uma das

dificuldades que os alunos enfrentam para se dedicar aos estudos, e mesmo

freqüentar às aulas. A média de idade que esses alunos começaram a trabalhar foi

entre 15 a 17 anos em que deveria estar cursando entre o 1º ou o 3º ano do ensino

médio. 76,5% afirmam que não tem muito a reclamar do trabalho, afinal eles não

apresentam muitas opções; afirmam também que voltaram a estudar na tentativa de

Page 24: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

25

conseguir melhoraria de vida, conseguir um emprego melhor. Outros declararam ter

voltado a estudar, porque os seus filhos estavam estudando e quando eles faziam

alguma pergunta sobre o dever da escola, os pais se sentiam envergonhados em

não saber responder. 92% responderam que costumam utilizar o seu tempo livre

assistindo televisão, principalmente as novelas. Inclusive é comum ouvir dos alunos

que estão saindo mais cedo da aula: “bora logo que ainda dá pra pegar a novela!”.

Dentre os alunos, 98% são moradores do bairro, 62% afirmaram que

passaram de um a cinco anos fora da escola, onde 25% abandonaram devido ao

trabalho; 25% aos filhos, 10% à falta de interesse, 10% por viajar muito, 2,5% o

casamento e o restante não responderam à pergunta.

Os gráficos de 1 a 5 demonstram mais resultados obtidos a partir dos

questionários.

Page 25: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

26

MÉDIA DE IDADE

1; 2%

21; 49%

6; 14%

5; 12%

4; 9%

2; 5%

4; 9% 10 a 15

16 a 20

21 a 25

26 a 30

31 a 36

36 a 40

não respondeu

Gráfico 2: Média de Idade dos Alunos da EJA Fonte: Questionário respondido pelos alunos, 2005

TEMPO DE TRABALHO DIÁRIO EM HORAS

9; 23%

2; 5%

9; 23%8; 20%

2; 5%

10; 24%4 a 6

6 a 8

8 a 10

10 a 12

12 a 14

não trabalha

Gráfico 1: Tempo de Trabalho Diário em Horas dos Alunos da EJA Fonte: Questionário respondido pelos alunos, 2005

Page 26: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

27

RENDA FAMILIAR MENSAL EM REAIS

26; 64%7; 17%

1; 3%

1; 3%

3; 8%

2; 5%

0 a 900

901 a 1500

1501 a 2100

2101 a 2700

mais de 2700

não respondeu

Gráfico 4: Renda Familiar Mensal em Reais dos Alunos da EJA Fonte: Questionário respondido pelos alunos, 2005

Gráfico 4

NÚMERO DE PESSOAS RESIDENTES NA CASA

3; 8%

14; 34%

6; 14%3; 8%

7; 17%

1; 3%

1; 3%

2; 5%

3; 8%

23456789não respondeu

Gráfico 3: Número de Pessoas Residentes na Casa dos Alunos da EJA Fonte: Questionário respondido pelos alunos, 2005

Page 27: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

28

NÚMERO DE CRIANÇAS SOBRE OS CUIDADOS DO ALUNO

13; 32%

12; 29%

11; 28%

2; 5%

1; 3%

1; 3%

nenhuma

1

2

3

4

mais de 6

Gráfico 5: Número de Crianças Sobre os Cuidados dos Alunos da EJA Fonte: Questionário respondido pelos alunos, 2005

Page 28: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

29

OS PROFESSORES

Contamos também com os professores que atuam diretamente com essas

quatro turmas e consultamos professores de outras instituições.

O perfil dos professores de EJA foi construído a partir de entrevistas pré-

estruturadas, onde constatamos que nem um dos professores leciona em mais de

uma disciplina, porém 40% dos professores desenvolvem o seu trabalha em outra

modalidade de ensino (ensino regular de nível médio). O universo pesquisado de

professores é constituído de 20% do sexo masculino e 80% do sexo feminino.

Todos os professores têm contrato temporário, 30% dos professores

apresentam apenas o antigo Magistério, (dentre esses um ingressou na Faculdade

este ano) 30% são formandos e 40% já concluíram a graduação. O município

oferece duas semanas de cursos por ano, sendo a primeira semana no início do ano

(Semana Pedagógica) tendo como público alvo todos os professores da rede

municipal e a outra semana ocorre no segundo semestre, voltada apenas para os

professores da EJA. A grande maioria dos professores apresenta uma carga de

trabalho excessiva e por isso acabam confessando que não conseguem estudar,

nem desenvolver o plano de aula.

As aulas costumam ser tradicionalista. O professor coloca o conteúdo no

quadro e depois explica, abrindo espaço para possíveis perguntas, que quase nunca

acontecem, devido a vergonha que os alunos têm em perguntar. Costuma ser

utilizado material apostilado, para ganhar tempo em sala de aula e porque os

professores perceberam que os alunos têm dificuldade de copiar o conteúdo do

quadro de maneira organizada.

Page 29: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

30

2.3 COLETA DE DADOS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS

Os dados da pesquisa foram obtidos através de questionários passados

para os alunos da quarta etapa e professores de outras instituições. Utilizamos

também entrevista semi-estruturadas feitas com oito alunos, cinco professores e o

diretor da escola. Outro Instrumento são as fotografia que servem para melhor

caracterizar a escola quanto a sua estrutura física.

O questionário consta de dezessete perguntas (Apêndice A), destinadas

a estabelecer o perfil sócio-econômico dos alunos.

As entrevistas realizadas com os professores da instituição (Apêndice B)

tiveram como principal objetivo estudar acerca da opinião dos professores em

relação aos alunos e saber de que maneira os demais professores enxergavam

os alunos.

Houve também entrevistas com três professores que lecionam na Escola

Municipal de Ensino Fundamental e Médio Nilson Pinto (E.M.E.F.M. Nilson

Pinto), localizada ao lado da E.M.E.F. Suely Falcão, a única escola pública de

ensino médio que o bairro apresenta e que recebe grande parte dos alunos que

concluem o ensino fundamental na E.M.E.F. Suely Falcão. Os professores

entrevistados lecionam Biologia, Química e Física. A pretensão de entrevistá-los

foi ter uma comparação entre os alunos provenientes do Suely Falcão e os

demais alunos, além de responder a algumas perguntas:

Como o aluno que sai do Suely falcão chega ao Nilson Pinto, ou seja, qual

o nível de conhecimento e de aprendizado que este aluno apresenta?

Page 30: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

31

O aluno demonstra ter os pré-requisitos básicos exigidos para cursar o 1º

ano do ensino médio?

De que maneira o professor da 4º etapa poderia melhorar o rendimento

dos alunos?

Qual parte do conteúdo o professor da 4º etapa deveria dar mais ênfase?

A entrevista com o diretor teve o objetivo de compreendermos qual avaliação

ele faz da educação fornecida na escola, a opinião sobre as condições dos alunos e

saber quais as medidas tomadas pela direção para a manutenção/melhoramento da

qualidade da educação.

Entrevistamos também a Professora Maria Cristina Brito Pinto, que durante

três anos a diretora da Escola Nossa Senhora da Vitória (atualmente fechada)

localizada no bairro e presidente da Associação de Moradores do Che-Guevara

(AMOCHE), A professora coordena a educação da Associação de Desenvolvimento

Solidário e Sustentável de Marituba (ADSSMAR) e Secretária da Associação

Comunitária Santo Antônio e Conselheira da Criança e do Adolescente. Nesta

entrevista foi traçado um histórico de ocupação do bairro e o perfil sócio-econômico

e estrutural do mesmo.

Alguns professores do 1º ano, incluindo os da Escola Nilson Pinto, foram

entrevistados com o intuito de responder as seguintes interrogações:

Quais as principais dificuldades que os professores encontram no

processo pedagógico na EJA?

De que maneira o professor da EJA, do ensino fundamental, poderia

melhorar o rendimento dos alunos?

Page 31: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

32

Qual ou quais parte(s) do conteúdo de Ciências os professores do ensino

fundamental deveriam dar mais ênfase?

Page 32: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

33

3. A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL

3.1 PRINCIPAIS ELEMENTOS HISTÓRICOS

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil, data de sua colonização

pelos portugueses, pois uma das primeiras medidas tomadas pelos Jesuítas foi

catequizar os índios que aqui viviam com o intuito de domesticá-los e escravizá-los.

Em um segundo momento a EJA se destacou através da ação de sindicatos

que tentavam capacitar a mão-de-obra que anteriormente era basicamente agro

exportador e que naquele momento (1930 a 1960) estavam passando pelo processo

de industrialização. Vale a pena ressaltar que neste período o analfabetismo

alcançava 60,1% e que o novo mercado de trabalho exigia mais instrução de seus

trabalhadores.

Desta forma na constituição de 1934 iniciam-se as primeiras medidas para a

implantação oficial de um modelo para a educação de jovens e adultos, sofrendo

também a pressão da UNESCO em 1947 com a portaria nº. 57 e 61 de 30 de

Janeiro era criado o SEA (Serviço de Educação de Adultos)

Após dez anos de existência, muitas críticas começaram a surgir sobre a

metodologia, principalmente porque não fora observado melhoras significantes no

número de analfabetos no Brasil que em 1950 continuava em 50%.

No período de 1964 a 1985 o Brasil passou pelo regime militar onde a

educação, televisão, rádio, o congresso, ou seja, tudo que ia de contra aos

interesses dos militares era considerado em subversivo e proibido. Com isso, em

Page 33: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

34

1967 o governo criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), com o

objetivo de instruir os trabalhadores brasileiros.

Em 1988 a educação passa a ser um direito constitucional a todos os

brasileiros, no entanto, de 1989 a 1994 o Brasil passa por difíceis momentos onde

ocorre o confisco das cadernetas de poupança, fazendo com que os juros sofram

reduções, mas não o suficiente, pois as taxas de juros permaneciam acima dos

100%. Com isso, o então ministro da Educação José Goldenberg deixou de lado a

educação de jovens e adultos, dizendo que todos os idosos analfabetos deveriam

ocupar os cargos de faxineiros, pedreiros e demais profissões que não exigiam

alfabetização.

Em 1996 ocorre a promulgação da Lei nº. 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (LDB), toda a responsabilidade da educação de nível

fundamental fica de responsabilidade do município.

Após várias transformações em sua sistematização e em seus objetivos em

1996 surgi a EJA que até hoje vigora nas escolas.

3.2 A SITUAÇÃO NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS

A Educação Para Jovens e Adultos (EJA), surgiu devido a um grande déficit

na educação de pessoas que já passaram da idade para participar do sistema de

educação regular, deve-se fornecer agora as oportunidades que o foi negado no

passado.

Além disso, de acordo com o Plano Nacional de Ensino, no ano de 1996, 16

milhões de brasileiros acima de 15 anos eram analfabetos, desta forma tornando-se

Page 34: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

35

também um dos objetivos da EJA reduzir o nível de analfabetismo no Brasil. A tabela

abaixo irá mostrar com maior clareza a situação do analfabetismo no Brasil.

TABELA 1 COMPARAÇÃO ENTRE O QUADRO DE ANALFABETISMO

ENTRE OS ANOS DE 1996 E 2004

% de

Analfabetismo

% de

Analfabetismo

funcional

% de pessoas que

apresentam entre 15 à 19

anos e que já concluíram o

ensino fundamental

1996

2004

14,70

11,40

36,90

24,40

32,42

33,20

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio, 1996 e 2004.

Em uma pesquisa do IBGE de 1997 a porcentagem de analfabetismo

aumentava de acordo com a idade e era maior no sexo masculino e nas zonas

rurais.

De acordo com a carta Magna (art. 208, 1), a modalidade de ensino EJA no

nível fundamental deve ser ofertada gratuitamente pelo Estado a todos que a ele

não tiveram acesso na idade própria.

No Plano Nacional de Ensino (1996), podemos encontrar 26 objetivos

traçados para esta modalidade de ensino, as quais iremos resumi-las adiante:

Alfabetizar 10 milhões de brasileiros em 5 anos e erradicar o

analfabetismo até o final da década;

Page 35: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

36

Estabelecer programas nacionais, para assegurar que localidades

caracterizadas pelo auto índice de analfabetismo possam oferecer para a

comunidade cursos alfabetizadores e exames para jovens e adultos;

Estabelecer programas de fornecimento, pelo Ministério da Educação de

materiais didáticos específicos para essa modalidade;

Realizar anualmente um levantamento para avaliar os rendimentos dos

projetos para erradicar o analfabetismo;

Tentar trazer a comunidade através de trabalhos comunitários e o

aproveitamento de espaços ociosos.

Estimular a concessão de créditos curriculares aos estudantes de

educação superior e cursos de formação de professores em nível médio que

participem de programas de EJA;

Ofertar cursos básicos de formação profissional para estudantes do

Ensino Fundamental. ;

Implantar em todos os sistemas carcerários e instituições que lidam com

menores infratores programas da EJA;

Articular as políticas da EJA com as de proteção contra o desemprego e

de geração de empregos;

Articular a EJA com programas de cultura.

A resolução CNE/CEB N° 1 DE 5 DE JULHO DE 2000 em seu art. 50

parágrafo único menciona que:

“Como modalidade destas etapas de educação básica, a identidade própria da EJA considera as situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes

Page 36: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

37

curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio, de modo a assegurar:1 - quanto à eqüidade, a distribuição específica dos componentes curriculares a fim de propiciar um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação;II - quanto á diferença, a identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores;III - quanto à proporcionalidade, a disposição e alocação adequadas dos componentes curriculares face às necessidades próprias da Educação de Jovens e Adultos com espaços e tempos nos quais as práticas pedagógicas assegurem aos seus estudantes identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica”.

No ano de 2004, as pesquisas do IBGE, conforme vimos anteriormente

demonstram que o principal objetivo da EJA não está sendo alcançado, pois depois

de oito anos o analfabetismo reduziu em apenas 3,3%, vale lembrar que o objetivo

era de em cinco anos reduzir o analfabetismo pela metade.

Page 37: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

38

4. O ENSINO DE CIÊNCIAS E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE

CIÊNCIAS

Ao fazer uma pesquisa nas principais Universidades do Estado do Pará,

constatou-se que em apenas uma delas, os cursos de formação de professores,

com habilitação para o ensino de Ciências, apresenta em sua matriz curricular uma

disciplina voltada para o ensino de EJA. No Centro Federal de Educação

Tecnológica do Pará (CEFET-PA), existe uma disciplina em sua matriz denominada

EJA, no entanto, essa disciplina é optativa. O aluno acadêmico do sexto semestre

deve escolher dentre seis disciplinas optativas, no mínimo duas conforme grade

curricular que mostramos no quadro abaixo. Infelizmente muitos acadêmicos

costumam escolher as disciplinas que têm mais ligação com a área da pesquisa,

como exemplo no curso de Física, a grande maioria dos formandos decidiram fazer

Mecânica Quântica e Mecânica Clássica II.

QUADRO DEMONSTRATIVO DAS DISCIPLINASCURSO DE LICENCIATURA PLENA EM FÍSICA

Disciplinas Referentes ao 6º Semestre e Disciplinas Optativas

VI

SEMESTRE

DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS CR CH

Optativa I 03 60

Optativa II 03 60

História da Física 02 40

Cultura e Ética Profissional 02 40

Física Moderna II 03 60

Metodologia da Pesquisa II 02 40

Vivência da Prática Educativa 02 40

TOTAL 17 340

Page 38: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

39

OPTATIVAS

DISCIPLINAS OPTATIVAS CR CH

Educação para Jovens e Adultos03 60

Políticas Públicas Educacionais no Brasil03 60

Mecânica Clássica II03 60

Mecânica Quântica I03 60

Língua Estrangeira (Inglês/Espanhol)03 60

Fonte: Coordenação de Licenciatura em Física do CEFET/PA (2006)

O reflexo deste currículo é a formação de profissionais que ao se depararem

com uma turma de EJA apresentam um completo despreparo para lidar com as

dificuldades dos alunos. Porém, ressaltamos que já está previsto a inclusão da

disciplina EJA na grade curricular das licenciaturas do CEFET/PA como disciplina

obrigatória em 2007, o que consideramos um grande avanço no sentido de melhorar

a qualidade de ensino nesta modalidade.

O ensino de Ciências nas turmas de EJA necessita ser tratado de maneira

diferenciada, devido às peculiaridades de sua clientela, no entanto, percebe-se que

os professores assim não o fazem, o professor não foi preparado para atender as

necessidades daquele alunado. Costuma-se ensinar utilizando a metodologia

tradicional, onde o professor põe o conteúdo no quadro, os alunos copiam e depois

o professor explica o conteúdo o que leva os alunos se sentirem inibidos para fazer

perguntas e guardam as dúvidas. Por um lado os alunos se sentem obrigados a

decorar um conjunto de nomes estranhos, principalmente em Ciências e um

amontoado de fórmulas que não fazem o mínimo sentido para eles. Por outro lado o

professor não se importa em mostrar a aplicabilidade do conteúdo dentro do

cotidiano do aluno, quando tem a oportunidade de faze-lo ou de contextualizar,

Page 39: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

40

tornando a aprendizagem mais significativa e prazerosa, como aponta a seguinte

afirmação:

“Os professores aprendem sua profissão por vários caminhos, com a contribuição das teorias conhecidas de ensino e aprendizagem e inclusive com a própria experiência. O aprender a ser professor, na formação inicial ou continuada, se pauta por objetivos de aprendizagem que incluam as capacidades e competências esperada no exercício profissional de professor” (LIBÂNEO, 2005, p. 73).

A despeito deste aparente consenso a grande parte das realidades de

nossas escolas continua dominada por uma concepção pedagógica tradicional no

qual se ensina uma grande quantidade de informações - geralmente tendo como

base única e exclusivamente o programa do livro didático. A pesar dos avanços das

pesquisas em educação, da ciência e da tecnologia, as aulas mais se assemelham a

modelos do início do século, dando maior ênfase à metodologia que é predominante

na exposição, exercitação e comprovação, em detrimento da aprendizagem.

A escola, organizada sob tal enfoque, carece de significados aos aprendizes,

gera abandono, desmotivação, entre outras coisas. A resposta que a escola dá a

isso é por vezes acentuar os incontáveis problemas de aprendizagem.

Na essência, ainda temos uma escola meritocrática classificatória, que se

não exclui por meio de reprovações, exclui por uma aprendizagem que não ocorre,

especialmente na EJA. Não estamos ainda preparados para as diferenças

individuais. Sonhamos com a homogeneidade e, como conseqüência mais direta,

criamos a categoria dos atrasados, dos excluídos, dos carentes de pré-requisitos

para estarem em nossas salas de aula. Tal cenário certamente passa distante do

discurso sobre formação para cidadania e, mais especificamente da aprendizagem

significativa

quando o aprendiz tem pela frente um novo corpo de informações e consegue fazer conexões entre esse material que lhe é apresentado e o seu conhecimento prévio em assuntos correlatos, ele estará

Page 40: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

41

construindo significados pessoais para essa informação, transformando-a em conhecimentos, em significados sobre o conteúdo apresentado. Essa construção de significados não é uma apreensão literal da informação, mas é uma percepção substantiva do material apresentado, e desse modo se configura como uma aprendizagem significativa (TAVARES, 2004, p. 2).

A aprendizagem deve desenvolver-se num processo de negociação de

significados. Não queremos dizer com isso que todas as noções e conceitos que os

aprendizes aprendem devem estar ligados à sua realidade imediata, o que seria

olhar para os conteúdos escolares de maneira muito simplista, porém pressupõe um

olhar diferenciado para seu público, acolhendo de fato seus conhecimentos,

interesses e necessidades de aprendizagem. Pressupõe também a formulação de

propostas flexíveis e adaptáveis às diferentes realidades, contemplando temas como

cultura e sua diversidade, relações sociais, necessidades dos alunos e da

comunidade, meio ambiente, cidadania, trabalho e exercício da autonomia.

O professor precisa ter clareza que os alunos jovens e adultos possuem

características específicas, pois suas experiências pessoais, bem como sua

participação social, não é igual às de uma criança, portanto não devem ser tratados

como tais.

Ao educador deve-se fazer com ele tudo o que se deseja que ele faça com

os seus alunos, mostrando para ele a prática das diversas teorias que o fazem

lerem; vendo os resultados positivos dessa teoria é mais fácil convencê-lo de que é

a melhor.

A prática não deve ser separada da teoria. É difícil uma pessoa realizar um

procedimento, corretamente, sem um conhecimento teórico do mesmo. A prática e a

teoria devem andar juntas, pois toda teoria ao ser aplicada deve sofrer ajustes de

acordo com o meio. Quando uma pessoa tenta executar uma prática sem o

conhecimento da teoria, na verdade ele está seguindo uma receita e que nem

Page 41: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

42

sempre dá certo, existem diversos fatores que devem ser considerados, como por

exemplo, o tipo e a marca do trigo (alunado) e do fermento (recursos didáticos).

A prática pedagógica é compreendida como trabalho por ter potencial de ensinar, de gerar conhecimento, não necessariamente inédito, o que lhe confere valor social. Ela constitui um espaço social que articula a ação com o pensamento, a teoria com a prática e viabiliza a relação do profissional em educação com o mundo físico, social e político, apresentando-se, portanto, como ponto de partida e de chegada de um estudo educacional crítico e reflexivo e como um dos possíveis caminhos de aproximação do processo educativo real (ARNONI, 2001. P. 26).

A formação desejada, hoje, mundialmente, é a da formação do professor

reflexivo-pesquisador. Para Alarcão (1996) dentre outros autores, o exercício da

prática profissional com a reflexão sobre ela constitui-se importante estratégia para a

construção de saberes profissionais, uma vez que “possibilita a integração entre a

teoria e a prática e desafia a reconsideração dos saberes científicos com vista à

apresentação pedagógica” (ALARCÃO, 1996, p.154).

Normalmente a formação Técnico-pedagógico antecede a ação, na sala de

aula, o que é um problema, pois neste caso tenta-se adivinhar quais as dificuldades

que o professor irá enfrentar em sala de aula. É claro que neste momento existe

uma troca de experiências, no entanto cada experiência é um caso a parte e as

decisões e medidas tomadas no momento talvez não sejam aplicáveis em outra

ocasião. A intenção não é desmerecer a formação antecipada a prática, mas sim

lembrar que ela não é o suficiente, a formação deve ser contínua, pois sempre

surgirão novas dificuldades onde o professor necessitará do auxílio de uma

profissional mais experiente.

É verdade que o alfabetizador tem uma grande série de perguntas antes de iniciar seu trabalho. Nada impede, portanto, que exista uma ação formadora inicial para responder a estas perguntas. Todavia, estas perguntas nem de leve afloram o que irá surgir na prática da alfabetização. No enfrentamento das dificuldades é que irá surgir a maioria das novas indagações. Portanto, é necessário garantir um

Page 42: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

43

espaço para que estas questões sejam resolvidas. Assim, o processo não se esgota na formação inicial, mas continua durante todo o processo. Portanto, é necessário um processo de formação permanente. (GADOTTI & ROMÃO, 2001, p. 81)

Temos que compreender que o aprendizado não depende somente do

educador, pois sendo assim seria impossível que em uma mesma sala de alunos

possam ter resultados diferentes, pois o professor é o mesmo, logo o aprendizado

deveria ser igual. O sucesso ou o fracasso vai depender também do aluno e

fazendo-o entender isso provavelmente os resultados serão melhores.

Um educador deverá fazer uma reflexão permanente de suas ações e suas

práticas metodológicas, devem ter caráter incentivador capaz de gerar

aprendizagem. Tal afirmação pode ser colaborada com a afirmação de ALARCÃO

(2002) acerca do que seja um professor reflexivo:

Aquele que pensa no que faz que seja comprometido com a profissão e se sente autônomo, capaz de tomar decisões e ter opiniões. Ele é, sobretudo, uma pessoa que atende aos contextos em que trabalha, os interpreta e adapta a própria atuação a eles. Os contextos educacionais são extremamente complexos e não há um igual a outro. Eu posso ser obrigado a, numa mesma escola e até numa mesma turma, utilizar práticas diferentes de acordo com o grupo. Portanto, se eu não tiver capacidade de analisar, vou me tornar um tecnocrata.

O educador deve ser um observador, ele tem que perceber quais os

equívocos que o formando apresenta, quais os erros em suas teorias e práticas e

tentar concertá-las. No entanto, essa nem sempre é uma tarefa fácil, pois

normalmente o professor não consegue enxergar os seus próprios erros. Neste

caso, deve-se convencê-lo de que sua teoria apresenta equívocos, somente após o

professor perceber os problemas é que o formador poderá tentar introduzir uma

nova teoria.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 NA VISÃO DO EDUCADOR:

Segundo os professores pode-se perceber que, de modo geral, os alunos

recebem o incentivo da família e de seus patrões, no trabalho. Muitos alunos

afirmaram que:

“O meu patrão disse que se eu concluir o meu ensino fundamental eu vou ser promovido”.

Os professores também afirmaram que em algumas turmas percebem uma

grande imaturidade por parte dos alunos, devido à baixa idade dos alunos,

contraindo, inclusive, o que determina no CNE como se pode ler:

Parágrafo Único. Fica vedada, em cursos de Educação de Jovens e Adultos, a matrícula e a assistência de crianças e de adolescentes da faixa etária compreendida na escolaridade universal obrigatória, ou seja, de sete a quatorze anos completos. (CNE/CEB N٥ 1 de 5 de julho de 2000)

No entanto nesta pesquisa havia uma aluna de apenas doze anos

freqüentando a 4º etapa. Além disso, os dados obtidos nos questionários apontam

que cerca 50% dos alunos apresentam entre 15 a 20 anos, esses se encaixam na

idade mínima estipulada pela lei. No entanto, poderiam muito bem continuar os seus

estudos no sistema regular de ensino.

Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. (LDB, Art. 37, § 1º, 1996).

Os alunos apresentam graves deficiências na leitura e na escrita, o que

compromete a educação, os professores afirmam tentar ajudá-los, no entanto, essa

não é uma tarefa fácil para educadores que não apresentam experiência na

alfabetização de Jovens e Adultos. Quando se fala em alfabetização, não é um

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exagero, pois ocorre caso de alunos que chegam na 4º etapa, sem ao menos

escrever o seu nome corretamente.

Os professores em geral afirmaram acreditar que o principal culpado por

essa deficiência é o sistema, que permite às pessoas mal capacitadas lecionam no

ensino básico, por acreditar que por ser básico não deve ser valorizado. Por

exemplo professores que apresentam apenas o antigo magistério podem lecionar

apenas para turmas de 1º a 4º série. Deve-se compreender que a palavra “básico”

não que dizer simples, ou desprezível, mas sim base, sustentação, ou seja, sem

uma boa base, não se pode construir um grande conhecimento. Não existe nem

uma lei sobre isso, no entanto, professores afirmaram que são obrigados a aprovar

os alunos, eles estando ou não preparados para isso, alguns inclusive se sentiram

ameaçados ao tentar argumentar com a direção de sua escola.

“Hoje a maioria dos professores de 1º a 4º tem apenas o magistério, eu aqui não quero desmerecer o papel do magistério no passado, mas tenho a impressão de que agora às necessidades são outras, os nossos alunos deveriam ser atendidos não apenas por pessoas com o segundo grau, mas por especialista. Na minha opinião graduado seria o mínimo que poderia trabalhar, a educação hoje é um reflexo do sistema educacional do Brasil, o aluno não tem culpa, o aluno é a vítima do professor sem capacidade, da escola que não sabe gerenciar os problemas dela, do governo e da família que não o ajuda.” (Diretor Álvaro Augusto Maia da Silva, entrevista).

Os docentes de outras instituições educacionais, que lecionam no ensino

médio afirmaram que os alunos ingressantes no 1º ano necessitam ter maior

aprendizado em trabalhar com fórmulas e pedem para que os professores, do

ensino fundamental, levem o ensino para o cotidiano dos alunos, pois muitos não

sabem o significado e a importância da disciplina.

Ao serem perguntados sobre as possíveis causas das dificuldades dos

alunos na leitura e escrita, os professores em geral, foram unânimes em responder

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que uma das principais causas era o fato de seus ex-professores sempre terem

“passado à mão na cabeça de seus alunos”.

“Os alunos estão muito maus acostumados, eles não fazem mais os trabalhos, não estudam para a prova, alguns nem ao menos comparecem na aula, tudo porque ele sabe que no final do ano, o professor vai ajudá-lo a passar, foi assim nos anos passados, por que não será assim agora? desta forma eles conseguem chegar a 4º etapa sem saber ler nem escrever, um dia isso vai ter que acabar, só não vai ser agora, nem comigo, eu não posso, não tenho autonomia. As vezes me envergonho de ser professor neste pais.” (Professor Diego, entrevista).

Na Escola Nilson Pinto, os professores, concordam com as afirmações

anteriores, no entanto afirmaram que os alunos provenientes da Escola Suely Falcão

apresentam melhor desempenho, principalmente nas aulas de Biologia.

Ao entrevistar o professor de Ciências da Escola Suely Falcão ele afirmou

que de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), a disciplina de

Biologia, apresenta um conteúdo consideravelmente maior do que o de Física e

Química e que seguindo a lógica de que a 4º etapa corresponde a 7º e 8º série do

ensino regular, onde na 7º série, durante todo o ano letivo, deve-se estudar o corpo

humano e que apenas na 8º série é que será estudada a Física e a Química Ele

costuma ensinar a Biologia durante todo o primeiro semestre, a Química durante o

3º bimestre e a Física somente no último bimestre, logo concorda que esses dois

últimos serão prejudicados.

Os professores apresentam grandes dificuldades em adaptar um sistema

avaliativo adequado a seus alunos, pois se a avaliação ocorre de maneira

cumulativa, somente com a prova tradicional, o conteúdo fica muito extenso e os

alunos que apresentam o hábito de só estudarem na véspera da prova acabam

apresentando um rendimento muito baixo (notas abaixo de cinco), se os professores

valorizam os trabalhos extraclasse, os muitos alunos o deixam de fazer afirmando

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falta de tempo, logo uma parte considerável dos alunos apresentará notas baixas,

Se a preferência for para trabalhos em classe, esbarra-se no problema do tempo,

pois a disciplina de Ciências possui apenas 3 horas/aula semanal por turma.

No entanto, vale lembrar que devido a escola se encontrar em uma área de

risco as aulas acontecem das sete às dez da noite, ao invés de terminar às vinte e

três horas, com isso a hora/aula que normalmente é de cinqüenta minutos passou a

ser de apenas trinta minutos.

“Estamos preparando esses alunos para ingressarem no ensino médio, não podemos mais avaliá-lo e agregar pontos, simplesmente, porque ele copiou corretamente o conteúdo do quadro, ou porque ele teve freqüência em sala de aula. Se continuarmos a acostumá-los desse jeito não se pode esperar muita coisa desses alunos.” (Professor José, entrevista-2005)

5.2 NA VISÃO DO ALUNO

Os alunos afirmaram que não tinham quase nem um conhecimento

científico, a única Ciência a qual eles tinham acesso era o conhecimento popular,

sem comprovação científica, que é passada de geração em geração. Apesar de

seus méritos, às vezes, ela pode piorar um quadro, como por exemplo, de acordo

com o conhecimento popular, para sanar uma queimadura, deve-se passar pasta ou

óleo de cozinha, porém ambos serão prejudiciais, e de acordo com os médicos a

melhor coisa a se fazer é lavar com água corrente.

Atualmente o aluno já tem mais condições de avaliar o conhecimento

popular, assim como já conhece melhor o seu próprio corpo. Alguns afirmam que

após as aulas eles mudaram a sua dieta alimentar, já se sentem mais seguros para

conversar com os filhos sobre a questão da sexualidade.

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Outros já aplicam os conhecimentos da Química e da Física, obtidos na

escola, para o seu trabalho, favorecendo o seu desempenho profissional, como se

ler a seguir:

“Eu trabalho em uma empresa de exportação madeireira e hoje eu compreendo melhor os avisos de cuidado que tem nas cargas que temos que manuseá-las, dentre esses avisos tem um de corrosivo, devido produtos ácidos, também estou sentindo facilidade para trabalhar com a metragem.” (aluno Luiz, entrevista).

Outros alunos afirmaram que se sentiam envergonhados por não poderem

ajudar, quando os seus filhos traziam dever de casa e pediam para que os

ajudassem. Hoje o resultado da escolarização tem trazido novos argumentos como

fala Alemcar:

“Hoje eu estou muito feliz, pois sempre que o meu filho me procura eu estou lá pronto para ajudar. Inclusive os meus filhos me respeitam mais do que antes, e eu os compreendo”.

A grande maioria afirma que sempre recebeu o apoio de sua família para

estudar, no entanto, já aconteceram casos recentes em que uma aluna deixara a

escola porque o marido não queria que ela continuasse seus estudos.

Os alunos, no geral, voltam a estudar com o intuito de concluir o ensino

fundamental para conseguir um emprego melhor, ou melhorar mais seu

desempenho no atual, no entanto, grande parcela desses alunos reconhecem outros

benefícios na educação e decidem prosseguir nos estudos na tentativa de

conquistar o ensino médio.

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6. SUGESTÕES METODOLÓGICAS

Tratar de metodologia de alfabetização de jovens e adultos implica

necessariamente apresentar o pensamento de Paulo Freire, dada a importância de

sua contribuição no trato da questão.

Não é nossa intenção propor metodologias como se fossem receitas prontas

e acabadas, pois pensamos que não existe a “melhor metodologia”, mas temos um

compromisso docente no sentido de (re) pensar estratégias metodológicas que

favoreçam uma aprendizagem mais consistente, prazerosa, significativa. É o

momento da ação-reflexão-ação. O que fazer para transformar a sala de aula num

lugar em que o aluno vai por vontade, não por obrigação? Como despertar nos

alunos o desejo de aprender, a sede do conhecimento?

Querendo ou não, cabe ao professor a responsabilidade de criar estratégias

para reconstruir essa imagem desgastada que a história tem registrado do processo

de ensinar. Cabe-lhe a missão de fortalecer a paixão de aprender que nasce com o

ser humano e muitas vezes morre por falta de estímulo, de uma palavra amiga, um

gesto de compreensão.

Pensamos que os professores que trabalham com os alunos da EJA devem

extrair do seu meio cultural e da vivência deles, os caminhos metodológicos que

possam facilitar a apreensão dos conteúdos. Seguindo esta linha de raciocínio

vamos sugerir uma metodologia de ensino que possa contribuir no sentido de

minimizar o as dificuldades no ensino-aprendizagem nas aulas de Ciências para as

4ª etapas em turmas de EJA.

A metodologia deverá ser “conscientizadora”, não se restringindo as

definições a serem comprovadas, mas fazendo análise da realidade onde estão

imersos os sujeitos. É necessário dar ênfase a assuntos que despertem a

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consciência crítica, acolher de fato seus conhecimentos, interesses e necessidades

de aprendizagem, contemplando temas como cultura, relações sociais,

necessidades dos alunos, meio ambiente, cidadania, trabalho e exercício da

autonomia.

A priori, propomos para amenizar o cansaço em sala de aula o uso de

músicas. Por exemplo, enquanto eles estão copiando a matéria do quadro ou

resolvendo algum exercício o professor coloca uma música romântica, ou clássica,

para que os alunos possam relaxar. Já que eles têm uma vida bem estressante e

cansativa no trabalho, por que não transformar a sala de aula em um lugar mais

confortável?

Deve-se tomar cuidado com músicas que possam tirar a concentração dos

alunos. Sempre que possível trazer músicas que tenham um cunho social, como

violência e drogas e fazer uma reflexão sobre o tema, educando para a formação de

cidadãos críticos e que compreendam cada vez mais o meio social em que vivem.

Ser ou não um professor reflexivo não é uma questão de metodologia. O

profissional da educação deve preocupar-se com o seu próprio desempenho, e viver

em constante avaliação de si próprio, afim de minimizar seus erros pedagógicos e

consequentemente favorecer os alunos na aprendizagem.

Como a 4º etapa é uma série transitória que prepara os alunos para o

ingresso no ensino médio, desta forma, o professor de Ciências lida com a base de

três disciplinas do ensino médio (Biologia, Química e Física). No entanto,

observamos que o conteúdo da disciplina de apresenta um vasto conteúdo e não se

aprofunda em nenhum deles, o que torna ainda mais difícil uma apredizagem

significativa.

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Para uma melhor organização desse trabalho ele irá seguir a ordem de

conteúdo presente no PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais).

6.1 BIOLOGIA:

6.1.1 Citologia

Nessa parte do conteúdo o professor poderá ensinar ao aluno, a

composição, as características e as propriedades das células, que são as unidades

formadoras de todos os seres vivos, exceto os vírus.

É importante fazer o aluno compreender que para iniciar qualquer estudo se

deve antes de tudo conhecer as bases teóricas

que sustentam tal estudo. Dentro da Biologia

essa base é vista pela Citologia; como

compreender o corpo humano e os demais

seres vivos se o aluno não sabe de que ele é

formado, nem sabe que todo movimento que se

realiza, como o andar, inicia e acaba em uma

célula, ou como explicar a um aluno o que é um

espermatozóide, sem antes explicar o que é

uma célula, já que o espermatozóide nada mais

é do que uma célula especializada na

reprodução.

Os alunos de EJA respondem muito

bem a visualização de imagens e outra maneira

bastante eficaz de fixar o conteúdo e facilitar o

aprendizado e a criação de metáforas, utilizando

Célula Bacteriana, procarionte.

Figura 2

Figura 3

Célula Vegetal

Figura 1

Célula animal, eucarionte.

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recursos mais palpáveis. É difícil um aluno imaginar, visualizar a imagem de uma

célula, que apresenta uma ou duas membranas, uma região cheia de líquido, onde

nesse líquido estão mergulhados o núcleo e as organelas citoplasmática. Se

mostrarmos a imagem de uma célula em um cartaz ou projetada no quadro irá

ajuda-lo bastante, mas não o suficiente, ainda está faltando à metáfora, que poderia

ser, por exemplo, a de um balão (membrana plasmática) cheio de água com açúcar

(citoplasma), com uma uva (núcleo e a casquinha a carioteca em caso de células

eucariontes, ver fig. 1) ou um pouco de macarrão (núcleo sem carioteca, no caso de

célula procarionte, ver fig. 2), pedrinhas (ribossomos) e outros matérias que se

assemelham com as organelas citoplasmáticas, enquanto que, em uma célula

vegetal (ver fig. 3), esse balão pode ser colocado dentro de uma caixa de papelão

que fará a proteção da célula, assim como a parede celular. Mesmo com a utilização

de imagens é importante estabelecer esta comparação para que o aluno

compreenda que a célula não é plana, ou somente como um círculo, mas apresenta

diferentes formas geométricas.

Pode-se pedir para que os alunos façam uma maquete de uma célula,

representando os principais elementos e na tentativa de contextualizar o conteúdo,

não se pode esquecer de tecer comentários sobre a clonagem e outros temas

atuais.

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6.1.2 Corpo Humano

De acordo com os Professores em geral esse é um dos conteúdos mais

fáceis de mostrar ao aluno a sua importância, no entanto, o que exige o maior

número de recursos visuais.

Pergunte para a turma: qual é o seu bem mais precioso? Após muitas

respostas talvez um aluno responda que seja a vida. Você dá os parabéns e depois

complementa dizendo que já que a vida é o bem mais precioso ela merece de

cuidados. Como você vai cuidar de algo que você não conhece, por isso que é tão

importante conhecer o corpo humano, pois só conhecendo-o é que você poderá

cuidar da maneira correta.

Este é um conteúdo bastante extenso e por isso não se conseguirá cumpri-lo

sem o auxílio dos alunos. Desta forma, sugerimos que se faça um seminário

avaliativo relacionando a esse conteúdo, que deve ser iniciado ainda no primeiro

bimestre, onde deverá ser feita a divisão das equipes e do conteúdo, para que os

alunos possam começar a fazer a pesquisa. Ao final do primeiro bimestre deve-se

dar por encerrada a pesquisa bibliográfica e o início da produção escrita e ao final do

segundo bimestre deve ocorrer a apresentação dos seminários (ver apêndice J), a

qual já servirá como revisão para a avaliação qualitativa.

Cada equipe deverá ter um coordenador e um relator, o coordenador irá

cuidar da organização e o relator será responsável por relatar todos os passos no

desenvolvimento do trabalho. Exigir um relatório a cada quinze dias, para que possa

ser feito um acompanhamento das tarefas. A avaliação do seminário poderá ser feita

em três momentos: o primeiro na entrega dos relatórios, onde o professor perceberia

a participação dos integrantes das equipes e se o trabalho está sendo feito de

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acordo com o desejado, o segundo na produção textual, que seria a culminância

final dos meses de pesquisa e por fim a avaliação referente à apresentação.

A apresentação deve conter, como requisito obrigatório, uma imagem de

bom tamanho, que possibilite a visualização de todos em sala. Essa imagem deverá

ser feita preferencialmente pintada à mão, para que ocorra a valorização do trabalho

artístico manual. Na tentativa de fazer com que os alunos estudem todo o trabalho e

não somente uma parte dele, faça um sorteio no momento da apresentação

estipulando o que cada integrante deverá explicar e em que ordem.

Uma parte muito importante dentro deste conteúdo que costuma atrair a

atenção dos alunos é a parte onde se devem comentar as doenças relacionadas

com cada sistema estudado, dando ênfase nas DST’s (Doenças Sexualmente

Transmissíveis). Neste momento faça uma breve explanação sobre duas ou três

doenças e deixe os alunos à vontade para perguntar, se tudo der certo você vai

ouvir muitas perguntas como essa:

“Professor, um amigo meu tá morrendo de medo porque apareceu uma verruga no pênis dele, isso pode ser uma DST?”. (pergunta feita pelo aluno Juca em sala de aula).

Dependendo do seu relacionamento com os alunos, talvez no final da aula

um ou mais alunos irão lhe procurar para tirar mais dúvidas pessoais sobre o tema.

6.2 QUÍMICA

Propomos iniciar o estudo da matéria, sua formação através dos átomos,

suas características e suas propriedades. De que maneira ocorre à ligação entre

dois átomos para que possamos vislumbrar os objetos que nos rodeiam e por fim a

caracterização e nomenclatura das funções inorgânicas (Ácido, Base, Sal, Óxido e

Hidreto).

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55

Esta parte do conteúdo também é bastante extensa. Este é um momento

muito delicado, pois como convencer ao aluno, que é importante estudar algo que

ele nem ao menos sabia que existia e que ele não pode enxergar, como mostrar a

aplicação do estudo do átomo, se quando ele está desenvolvendo as suas

atividades diárias, saber o número atômico, ou no número de massa em nada vai

alterar o seu cotidiano.

É preciso sensibilizar esses alunos sobre a importância de se estudar a base

da Química e que apesar deles não perceberem, o seu conteúdo está em todo lugar,

principalmente dentro de sua casa.

Indicamos muito o estudo da tabela periódica (ver fig. 04), que classifica os

átomos de acordo com o seu número atômico (número de prótons). No entanto,

dificilmente a escola disponibiliza de uma tabela periódica grande, suficiente para a

visualização de toda a classe. A tabela periódica é dividida em dezoito famílias,

dividem-se essas famílias entre equipes e cada equipe deverá fazer uma parte da

tabela, de acordo com a formatação padrão solicitada pelo professor. No dia

agendado para a entrega deste trabalho os alunos poderão fazer a união dos

pedaços (ver apêndice I) de maneira que forme uma tabela de proporções que

possibilite a visualização de todos na sala.

Para estudar as funções inorgânicas, pode-se pedir para aos alunos que

tragam rótulos de produtos químicos encontrados em suas casas; incentivar os

alunos que identifiquem a que função pertencem os nomes químicos encontrados

nos rótulos.

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6.3 FÍSICA

Neste momento vai ser ministrado para os alunos o estudo da Mecânica,

que tem por objetivo estudar os corpos em movimento, assim como os corpos que

se encontram em equilíbrio. A Mecânica se divide em três partes: a Cinemática que

estuda os corpos em movimento, sem se preocupar com as causas, levando em

consideração apenas às características. a Dinâmica, a qual estuda as causas do

movimento e a Estática, que estuda as condições e características de um corpo em

equilíbrio.

Mostrar para o aluno alguns conceitos da Física e sua aplicação no

cotidiano, interligando os fenômenos físicos frequentemente observados no dia-a-dia

de qualquer pessoa, como por exemplo, o estourar de uma garrafa dentro do

congelador, ou o funcionamento de uma televisão, de um rádio, ou até mesmo uma

leve explanação sobre a diferença entre raio, relâmpago de trovão. Outro exemplo

pode ser a exploração do porquê o alimento cozinha mais rápido em uma panela de

pressão do que em uma panela comum. Levantar uma discussão acerca de como

seria mais fácil empurrar um carro, se aplicando uma força na traseira ou na lateral,

próximo a porta? Por quê?

Esse conteúdo poderá ser iniciado com as relações de unidades métricas,

que apresenta uma grande aplicabilidade no cotidiano, pois é aí que o aluno deve

aprender a fazer as transformações entre unidades, como por exemplo de metro (m)

para centímetro (cm), ou de Kilograma (kg) para grama (g).

Geralmente, o segundo semestre é um período meio “apertado”, por isso,

fica difícil de propormos uma atividade prática em sala de aula para a física, porque

vai depender de até que ponto o conteúdo vai avançar. Por exemplo, no ano letivo

de 2005 o professor com quem estagiamos só conseguiu ensinar os conceitos

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básicos da cinemática e o conceito de velocidade. Com apenas esse conteúdo fica

praticamente impossível de se fazer experimentos que demonstrem na prática a sua

teoria, por isso fora desenvolvido um jogo de trilha, que tinha por objetivo fixar os

conceitos de variação de espaço e velocidade. No entanto, se o conteúdo avançar

um pouco além, talvez seja possível introduzir uma experiência simples e de baixo

custo.

6.4 A LEITURA

A leitura é transversal a qualquer disciplina, pode ser trabalhada de diversas

formas, mas principalmente através da interpretação de músicas, textos jornalísticos,

revistas, filmes e os próprios textos dos livros didáticos. Propomos que seja utilizada

a leitura constantemente em sala de aula como exercício e com objetivo de cultivar a

competência leitora.

Como os textos científicos dentro da área de Ciências costumam ter um alto

nível de dificuldade, recomendamos também que se utilizem textos que tenham a

ver com o cotidiano dos alunos. O mais importante é que a atividade não seja feita

por fazer, mas sim que ela tenha um planejamento traçado e um objetivo a ser

alcançado. A avaliação dessa atividade normalmente é feita através da resolução de

um questionário sobre a atividade desenvolvida.

6.5 AVALIAÇÃO

Como já foi dito anteriormente, a avaliação na EJA é um assunto delicado

que deve ser (re)pensado e questionado. Pensamos que devemos estabelecer

maneiras de avaliar esses alunos sem exigir muito tempo dos mesmos.

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Propomos que em cada bimestre passemos no mínimo um e no máximo

dois trabalhos extra-classe; trabalhos preferencialmente simples, porém

contextualizado e significativo, que o aluno possa fazer sem grandes dificuldades. A

avaliação deve ser processual e contínua, estimulando para que os alunos

mantenham um estudo periódico e não somente nas vésperas da prova. Os alunos

têm o hábito de só estudarem na semana das provas, por isso se o conteúdo a

estudar for muito extenso, provavelmente o aluno não conseguirá absorvê-lo de

maneira satisfatória, fragmentando o conteúdo fica mais fácil para o aluno estudar e

o força a estudar regularmente.

A prova tradicional deve ter o menor peso possível, porque o aluno tem

dentro de si o “mito da prova”, e em geral temem a prova, mesmo aqueles que se

empenham mais nos estudos, costumam esquecer até mesmo o que sabem.

Um recurso que também pode ser utilizado é a prova com questões

optativas. Por exemplo, imagine uma prova que apresenta dez questões, cada

questão valendo um ponto, e considere também um aluno que conseguirá acumular

cinco pontos em trabalhos feitos durante o bimestre, esse aluno escolheria cinco

questões para responder e deixaria as demais em branco, caso o aluno tenha

acumulado apenas quatro pontos, ele teria que resolver seis questões e assim

sucessivamente. Desta maneira mesmo alunos que não fizeram nenhum trabalho

teriam a chance de alcançar boas notas.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensamos que por se tratar de um público especial, Educação de Jovens e

Adultos, com diferentes faixas etárias e histórias de vida diferente dos alunos da

escola regular, o método educacional utilizado não é o mais adequado, pois não

considera as particularidades desse grupo e, principalmente, o conhecimento

adquirido fora da escola, bem como o saber construído fora da sala de aula.

Enfatizamos a importância de se insistir na realização de conexões entre o

conteúdo trabalhado e o conhecimento prévio dos alunos, uma vez que,

constatamos a dificuldade dos alunos realizarem uma relação prática entre o que

está sendo ensinado e suas vidas.

Os alunos da EJA trabalharem durante todo o dia em diversos tipos de

serviços, como já fora citado anteriormente, e neste sentido, é previsível que os

alunos não sintam disposição física e mental para os estudos, logo, torna-se

necessária uma reflexão sobre formas alternativas de ensino, não só de Ciências,

mas também para as demais disciplinas.

Evidenciamos o desejo dos alunos adquirirem conhecimentos, a que foram

privados na idade escolar regular, uma vez que, apesar de todas as dificuldades,

decidem por optar freqüentar as aulas a ficar em casa com seus familiares, numa

época em que a escola não exerce grande poder de atração entre as pessoas, em

especial os alunos da Educação de Jovens e Adultos que já chegam cansados na

escola, depois de uma jornada de trabalho exaustivo.

É evidente que alguns alunos não retornam aos estudos por vontade própria,

mas por exigência do mercado de trabalho e pela busca de melhores condições de

vida. Contudo, o enfrentamento de vários obstáculos como os já citados, além da

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ausência do convívio escolar por vários anos, os valorizam como pessoas, e merece

reconhecimento por parte dos educadores.

Trata-se de uma parcela da população brasileira que, perante a falta de

oportunidades no passado, busca reescrever sua história. Almeja conquistar a

cidadania para se tornar ciente de seus direitos e deveres, prepara-se para

compreender o mundo, o país, sua cidade, seu bairro, como resultado da produção

que o homem realiza sobre o espaço, como um cidadão crítico e consciente de seu

papel na sociedade. Finalmente, destacamos a necessidade de metodologias

alternativas de ensino para este público, assim como pensamos que deveriam criar

livros didáticos formulados especificamente para estes alunos de acordo com sua

realidade regional.

Enfim, neste trabalho deixamos registradas algumas propostas

metodológicas que possam contribuir na construção do conhecimento dos alunos da

EJA, a participação, e o respeito ao ritmo próprio de aprender. É urgente rever os

aspectos formativos na educação de Jovens e Adultos. O ensino voltado para a

construção do saber exige a presença do docente mediador e orientador mas

situações problemáticas que estimulem a curiosidade e a inquietação para adquirir

novos saberes. Pensamos que se contarmos com docentes bem qualificados,

haverá o feedback desejado como também haverá mais estímulo aos alunos nas

escolas, evitando ou reduzindo a evasão escolar. A EJA deve ser na escola um

espaço que nunca é tarde para “recomeçar”, para “aprender a aprender”.

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REFERÊNCIAS

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Porto: Porto Editora 1996.

ALARCÃO, Isabel; Revista Nova Escola. ed.154.ago. 2002. Disponível em

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ARNONI, M. E. A prática do estagiando no magistério na perspectiva da práxis

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faculdade de Campinas, 2001.Disponível em www.unicamp.com.br. Acesso em 08

fev.2006.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 25º ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1979.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 40º ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

GADOTTI, Moacir; ROMÃO, E. José (orgs). Educação de Jovens e Adultos: teoria,

prática e proposta. 4º ed. São Paulo: Cortez/Instituto Paulo Freire,2001,(Guia da Escola

Cidadã; V. 5).

LDB, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996; Lei de Diretrizes e Bases da

Educação.

LIBÂNEO. J.C. Reflexibilidade e formação de professores: outra oscilação do

pensamento pedagógico brasileiro? In: PIMENTA, S. G. GHEDIN. E (org.).

Professor reflexivo no Brasil: gênese e critica de um conceito. 3ª ed.,São Paulo:

Cortez, 2005.

MATOS, Deusamar Sales. Educação de Jovens e Adultos: Um Estudo Sobre a

Formação dos Educadores; (Trabalho de Conclusão de Curso Licenciatura Plena

Page 61: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

62

em Pedagogia) – UFPA. Belém,2005.

MOURA, Tânia Maria de Melo. A Prática Pedagógica dos Alfabetizadores de

Jovens e Adultos: Contribuições de Freire, Ferreiro e Vygotsky. Maceió:

EDUFAL, 1999.

PLANO NACIONAL DE ENSINO, 2000; p. 40-44.

PELIZZARI, Adriana; KRIEGL, Maria de Lurdes; BARON, Márcia Pirib; FINCK, Nelcy

Teresinha Lubi; DORACINSKI, Solange Inês. Teoria da Aprendizagem

Significativa Segundo Ausubel. Ver PEC: Curitiba, V.2, nº1, p. 37-42, jul. 2001 –

jul. 2002.

Resolução CNE/CEB Nº 1, de 05 de Julho de 2000.

TAVARES, Romero. Aprendizagem Significativa e o Ensino de Ciências; 2004;

Disponível em www.rived.proinfo.mec.gov.br. Acesso em 05 out 2006.

Page 62: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

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ANEXOS A

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ANEXO B

Figura 4

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APÊNDICE A

Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará

Diretoria dos Cursos Superiores

Coordenação de Licenciatura Em Física

QUESTIONARIO AOS ALUNOS

Caro Aluno, este questionário é um instrumento de coleta de informações

que, após analisados servirão como ferramenta importante para a construção de

nosso Trabalho de Conclusão de Curso – TAC. Agradecemos a todos os que

responderem, pois estarão contribuindo para efetivação desta investigação.

1. Você mora próximo à escola?

2. Como você vai à escola?( ) carro ( ) ônibus ( ) bicicleta ( ) a pé

3. Você trabalha?

4 Quanto tempo você trabalha por dia?( )4h a 6h ( )6h a 8h ( )8h a 10h ( )10h a l5h ( )l2h a l4h ( ) mais que 14h

5 Qual a sua idade?( )10 a l5 ( )16 a 20 ( )21 a 25 ( )26 a 30 ( )31 a 35 ( )36 a 40 ( )41 a 45 ( )46 a 50 ( )51 a 55 ( )55 a 60 ( ) 60 a 65 ( ) mais de 65

6 Quanto tempo você ficou sem estudar9( )0 a 5 anos ( )6 a l0anos ( )11 a 5anos ( ) 16 a 20 anos ( )21 a 25anos ( )26 a 30anos ( )3l a 35anos ( )36 a 40 anos

7. Por que você parou de estudar?( ) casamento ( )filhos ( ) trabalho ( ) falta de interesse ( ) outros ..................

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8. Quantas pessoas residem em sua casa?( )l ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( )6 ( )7 ( )8 ( ) mais de 9 anos

9. Qual a renda total em sua casa?( )0 a 900 ( )901 a 1500 ( ) l500 a 2100 ( )2101 a 2700 ( )mais de 2700

10 Sua rua é asfaltada?

11 Você é pai ou mãe solteira?

12 Quantas crianças pequenas você cuida em sua família( ) 1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 ( )6 ( ) mais de 6

13 Quanto tempo livre você tem por dia?( )0 a 2h ( )2 a 4h ( )4 a 6h ( )6 a 8h ( )mais de 8

14. Quanto tempo você estuda por dia?.( )0 a 2h ( )2 a 4h ( )4 a 6h ( )6 a 8h ( )mais de 8

15 Qual a sua profissão?

16 Qual o nível de instrução do seu pai?( ) Analfabeto ( )Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Ensino Superior

17 Qual o nível de instrução da sua mãe?( ) Analfabeto ( )Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Ensino Superior

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APÊNDICE B

Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará

Diretoria dos Cursos Superiores

Coordenação de Licenciatura Em Física

QUESTIONARIO AOS PROFESSORES DE OUTRAS INSTITUIÇÕES

Caro Professor, este questionário é um instrumento de coleta de

informações que, após analisados servirão como instrumento importante para a

construção de nosso Trabalho de Conclusão de Curso – TAC. Agradecemos a

todos os docentes que responderem, pois estarão contribuindo para efetivação

desta investigação.

1º) Qual a principal dificuldade que o(a) senhor(a) observa em seus alunos do 1º ano

do Ensino Médio, dentro das disciplinas de Biologia/Química/Física?

2º) Dê uma sugestão para reduzir essa dificuldade?

3º) Qual parte do conteúdo o(a) senhor(a) acha pré-requisito obrigatório para o aluno

que deseja ingressar no Ensino Médio?

4º) De modo geral, tirando o enfoque do conteúdo, o que o(a) senhor(a) deseja que

o professor do Ensino Fundamental desse maior ênfase?

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APÊNDICE C

Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará

Diretoria dos Cursos Superiores

Coordenação de Licenciatura Em Física

ENTREVISTA AOS PROFESSORES DA INSTITUIÇÃO

Caro Professor, este entrevista é um instrumento de coleta de informações

que, após analisados servirão como instrumento importante para a construção de

nosso Trabalho de Conclusão de Curso – TAC. Agradecemos a todos os docentes

que responderem, pois estarão contribuindo para efetivação desta investigação.

1º) Quais as principais dificuldades que o(a) senhor(a) pode observar para lecionar

nas turmas de 4º etapa da EJA?

2º) Quais ações você já utilizou para suprir tais dificuldades?

3º) Quais delas deram certo e como funcionaram? Por quê?

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APÊNDICE D

Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará

Diretoria dos Cursos Superiores

Coordenação de Licenciatura Em Física

ENTREVISTA AOS ALUNOS

Caro Aluno, esta entrevista é um instrumento de coleta de informações que,

após analisados servirão como ferramenta importante para a construção de nosso

Trabalho de Conclusão de Curso – TAC. Agradecemos a todos os que

responderem, pois estarão contribuindo para efetivação desta investigação.

1º) Qual o seu nível de conhecimento, levando em consideração a disciplina de

Ciências, antes de você iniciar a sua vida escolar?

2º) Qual o seu conhecimento agora, após as aulas de Ciências?

3º) De que forma você tem utilizado esse conhecimento no seu dia-a-dia? De que

forma ele tem lhe ajudado?

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APÊNDICE E

FOTO 01

SALA DE LEITURA

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APÊNDICE F

FOTO 02

SALA DE INFORMÁTICA ANTES DO ASSALTO

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72

APÊNDICE G

FOTO 03

PARTE DOS PROFESSORES ATUANTE NO TURNO DA NOITE

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APÊNDICE H

FOTO 04

TURMA 4º ETAPA A

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74

APÊNDICE I

FOTO 05

MONTANDO A TABELA PERIÓDICA

Page 74: DIFICULDADES E AVANÇOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM MARITUBA-PARÁ

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APÊNDICE J

FOTO 06

APRESENTAÇÃO DE SEMINÁRIO SOBRE O CORPO HUMANO