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[DIGITALIZAÇÃO]Anna Godbersen- Série Luxo 1 - Luxo

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f|ÇÉÑáxMf|ÇÉÑáxMf|ÇÉÑáxMf|ÇÉÑáxM Na virada do século XX, as belas irmãs Elizabeth e Diana Holland

são as rainhas da vida social de Manhattan. Pelo menos, é o que parece. Quando as duas descobrem que sua posição na alta sociedade de Nova York não

está nem um pouco segura, subitamente todos - incluindo Penelope Hayes, uma alpinista social traiçoeira, Henry Schoonmaker, o mais charmoso solteiro da cidade, e Lina Bround, uma criada invejosa - ameaçam o futuro dourado de Elizabeth e Diana.

O destino da família Holland está nas mãos de Elizabeth, que precisará escolher se vai cumprir suas obrigações ou seguir seu coração. Mas quando sua carruagem tomba às margens do rio Hudson, a garota que vivia figurando nas colunas sociais da cidade é engolida pela corrente gélida. Toda Nova York está em prantos e alguns começam a se perguntar se a vida deslumbrante de Elizabeth se tornara um fardo pesado demais para ela, ou se havia alguém que desejava que a mais famosa jovem de Manhattan desaparecesse...

Num mundo de luxo e ilusão, onde as aparências são o mais importante e não cumprir as regras pode levar ao ostracismo, cinco adolescentes levam vidas perigosamente escandalosas. Essa emocionante viagem à era da inocência não é nada inocente.

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GAROTAS LINDAS COM ROUPAS PERFEITAS, DANÇANDO ATÉ D E

MANHÃ.

GAROTOS IRRESISTÍVEIS COM SORRISOS SAFADOS E MÁS INTENÇÕES.

MENTIRAS, SEGREDOS E AMORES ESCANDALOSOS.

ESTAMOS EM MANHATTAN E O ANO É 1899...

Assim começa a série g{x _âåxAg{x _âåxAg{x _âåxAg{x _âåxA

“Mistério, romance, ciúmes, traições, humor e uma incrível pesquisa dos costumes da época. Quando comecei a ler Luxo,

não consegui parar mais!”

Cecily Von Ziegesar, autora dos best-sellers da série GOSSIP GIRL.

Para Suzanne e Gordon

Essa era a maneira de agir da velha Nova York... as pessoas tinham mais medo de escândalos do que de doenças, valorizavam mais a decência do que a coragem

e achavam que nada era pior do que “cenas”, com exceção do comportamento daqueles que as causavam.

Trecho de A era da inocência, de Edith Wharton.

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cÜ™ÄÉzÉcÜ™ÄÉzÉcÜ™ÄÉzÉcÜ™ÄÉzÉ

Na manhã do dia 4 de outubro de 1899, Elizabeth Adora Holland, filha mais velha do Sr. Edward Halland (in memoriam) e de sua viúva, Louisa Gansevoort Holland, foi para o reino dos céus. O funeral será amanhã, domingo, dia 8, às dez da manhã, na Igreja Escopial da Graça, no número 800 da Broadway, Mahattan.

TIRADO DA PÁGINA DE OBITUÁRIOS DO JORNAL NEW YORK NEWS OF THE WORLD GAZETTE, SÁBADO, 7 DE OUTUBRO DE 1899.

m vida, Elizabeth Adora Holland fora conhecida não apenas por sua beleza, mas também por sua moral. Portanto, é justo acreditar que, após a morte, ela ocuparia um lugar elevado no

paraíso, com uma vista especialmente deslumbrante. Se Elizabeth houvesse olhado para baixo de seu posto celestial, numa determinada manhã de outubro, e observado seu próprio funeral, teria ficado lisonjeada ao ver que todas as melhores famílias de Nova York haviam comparecido para se despedir dela.

Estavam causando um engarrafamento na Broadway com sai carruagens negras, que seguiam gravemente até a esquina da rua Dez, leste, onde ficava a Igreja Episcopal da Graça; Embora não estivesse fazendo sol nem chovendo, seus empregados as protegiam com enormes guarda-chuvas pretos, escondendo seus rostos crispados de choque e dor do olhar intrometido do público. Elizabeth teria aprovado ao ver sua melancolia e também sua indiferença em relação ao povo curioso que se imprensava contra as barricadas da polícia. A multidão viera ali para dar vazão ao seu espanto com a morte de uma menina perfeita e dezoito anos de idade, cujas aparições em festas e eventos sociais sempre haviam sido relatadas nos jornais matinais para deixar seus dias mais alegres.

Um frio súbito surgira em Nova York naquela manhã, tingindo o céu de um inexplicável cinza. Era como se Deus não pudesse mais imaginar a beleza agora que Elizabeth Holland se fora, murmurou o reverendo Needlehouse quando sua carruagem chegou à igreja. Os jovens que iam carregar o caixão de Elizabeth assentiram e foram para dentro da sombria igreja gótica ao lado do reverendo.

Aqueles jovens eram do mesmo nível social que Elizabeth, e eram os mesmos rapazes com quem ela dançara em incontáveis bailes. Todos haviam sido enviados para escolar particulares como St. Paul’s e Exeter em algum momento e haviam retornado com idéias adultas e uma vontade enorme de flertar com as meninas. Aqui estavam eles agora, com seus sobretudos negros e fumo nas mangas, parecendo tristes pela primeira vez na vida.

Primeiro surgiu Teddy Cutting, que era conhecido por ser tão alegre e que pedira Elizabeth em casamento duas vezes, sem ser levado a sério por ninguém. Ele estava elegante como sempre, mas Liz teria percebido os vestígios de barba

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loura em seu queixo, um sinal de profundo pesar, pois Teddy era barbeado por seu criado toda manhã e jamais era visto em público sem estar com a pele perfeitamente lisa. Logo surgiu o belo James Hazen Hyde, que em maio herdara o controle acionário de uma enorme empresa de seguros. Ela uma vez deixara seu rosto próximo ao pescoço de Elizabeth, que cheirava a gardênias, e lhe dissera que ela tinha um perfume melhor que o de todas as mademoiselles do Boulevard Saint-Germain, em Paris. Depois de James veio Brody Parker Fish, cuja família tinha uma casa vizinha à dos Holland no Gramercy Park, e então Nicholas Livingston e Amos Vreewold, que muitas vezes haviam competido para ver quem seria o próximo par na dança com Elizabeth.

Eles ficaram imóveis, com o olhar preso ao chão, esperando por Henry Schoonmaker, que apareceu por último. As figuras elegantes de negro que se dirigiam para a igreja não puderam deixar de soltar uma exclamação de espanto ao ver Henry, e não apenas porque estavam acostumados a encontrá-lo com um brilho perverso nos olhos e um drinque na mão. Pareceu-lhes profundamente injusto que Henry precisasse carregar o caixão de Elizabeth no mesmo dia em que iria desposá-la.

Os cavalos atrelados à carruagem funerária eram negros e lustrosos, mas o caixão havia sido decorado com um enorme laço de cetim branco, pois Elizabeth morrera virgem. Que pena, sussurraram todos eles, soprando pequenas nuvens fantasmagóricas nas orelhas um dos outros, que uma morte tão prematura ocorresse com uma menina tão boa.

Henry, com os lábios comprimidos numa linha fina, moveu-se na direção da carruagem funerária com os outros rapazes logo atrás de si. Eles ergueram o caixão, muito mais leve do que o normal, e se dirigiram para a porta da igreja. Alguns soluços audíveis foram abafados por lenços bordados no segundo em que toda Nova York se deu conta de que jamais voltaria a ver a beleza, a pele de porcelana ou o sorriso sincero de Liz. Não restara qualquer vestígio dela, pois seu corpo não fora recuperado do rio Hudson, apesar de ela já estar sendo procurado há dois dias e apesar da bela recompensa oferecida pelo prefeito Robert Anderson Van Wyck.

Na verdade, o funeral fora organizado muito rapidamente, embora todos estivessem chocados demais para pensar nisso.

A próxima a surgir no cortejo foi a mãe de Elizabeth, que usava um vestido e um véu de sua cor preferido, o preto. A sra. Edward Holland, cujo nome de solteira era Louisa Gansevoort, sempre fora uma mulher fria e amedrontadora, mesmo para suas próprias filhas, e só se tornara distante e intratável quando seu marido falecera no último inverno. Edward Holland fora um homem estranho, e sua estranheza só fizera crescer nos anos que antecederam sua morte. No entanto, ele fora também o filho mais velho de um filho mais velho dos Holland, uma família que prosperara na pequena ilha de Manhattan desde os dias em que ela se chamava Nova Amsterdã, e por isso a alta sociedade sempre perdoara suas excentricidades. Mas, nas semanas anteriores à sua morte, Elizabeth notara algo de diferente em sua mãe, algo que lhe causava pena. Agora, Louisa se inclinava levemente para a esquerda, como se desejasse que o marido estivesse ali para apoiá-la.

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Ao lado da sra. Holland estava Edith, tia de Elizabeth e irmã mais nova de seu falecido pai. Edith Holland fora uma das primeiras mulheres a continuar tento um papel proeminente na alta sociedade após seu divórcio; todos sabiam, embora não se falasse muito no assunto, que ela se casara muito jovem com um nobre espanhol dado a ataques de mau humor, a bebedeiras e a devassidões. Ela agora voltara a usar seu sobrenome de solteira, e parecia tão devastada pela morte de Elizabeth como ficaria com a morte de uma filha.

A seguir, notou-se uma estranha ausência, que todos foram educados demais para comentar, e então surgiu Agnes Jones, que soluçava copiosamente.

Agnes não era uma menina alta e, embora parecesse bem-vestida para a multidão que tentava furar o bloqueio policial para ver melhor, Elizabeth, se a estivesse observando, teria reconhecido o vestido preto que ela portava. A própria Elizabeth o usara apenas uma vez, no funeral de seu pai, e então dera à amiga, que o aumentara na cintura e diminuíra a bainha. Elizabeth sabia muito bem que o pai de Agnes ficara arruinado financeiramente quando ela tinha apenas onze anos e subseqüentemente se atirara da ponte do Brooklyn. Agnes gostava de dizer a todos que Elizabeth fora a única que continuara sua amiga naquela época negra de sua vida. E ela se tornara sua melhor amiga, dizia Agnes sempre e, embora Elizabeth se sentisse constrangida pela afirmação exagerada, jamais sonhara em corrigir a pobre menina.

Depois de Agnes veio Penelope Hayes, que em geral era considerada a verdadeira melhor amiga de Elizabeth. Elizabeth decerto teria reconhecido a expressão de impaciência que Penolope estava fazendo agora - ela detestava esperar, especialmente ao ar livre. Uma das Vanderbilt que estava parada ali perto reconheceu a expressão também, e soltou um muxoxo de reprovação quase inaudível. Penelope, que tinha um perfil egípcio, enormes olhos com cílios muito longos e que, no momento, usava penas negras no cabelo, gozava da admiração de todos, mas da confiança de poucos.

E havia também o fato constrangedor de que Penelope estivera com Elizabeth quando seu corpo desaparecera nas águas geladas do Hudson. Todos já sabiam que ela fora a última pessoa a ver Elizabeth com vida. Não que suspeitassem dela, é claro. Mas Penelope não parecia tão arrasada quanto deveria. Exibia um cola de diamantes no pescoço e um acompanhante formidável: Isaac Phillips Buck.

Isaac era um parente distante dos Buck - tão distante que seu parentesco não podia ser provado ou contestado - mas era formidável em tamanho, três palmos mais alto que Penelope e possuindo uma barriga robusta. Liz jamais gostara dele; ela sempre tivera uma preferência secreta pelas soluções práticas e corretas, ao contrário de Isaac, que escolhia sempre o luxo. Para ela, Isaac era um mero escrevo da moda e, de fato, até seu canino esquerdo, que era de ouro combinava com a corrente do relógio que ia do casaco até o bolso de sua calça. Se a Vanderbilt que estava ali perto houvesse dito em voz alta o que estava pensando - que Isaac parecia mais preocupado com as aparências do que com o luto -, ele provavelmente teria considerado o comentário um elogio.

Penelope e Isaac entraram na igreja e foram imitados por todos os restantes, que inundaram o corredor central com suas roupas negras, a caminho dos compartimentos especialmente reservados para eles. O reverendo permaneceu em

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silêncio no púlpito enquanto as melhores famílias de Nova York - os Schermerhorn, os Van Peyser, os Harriman, os Buck, os McBrey e os Astor - se sentavam. Os que não conseguiram mais se controlar começaram a falar aos sussurros sobre a chocante ausência, apesar de estarem sob a abóbada de uma igreja.

Finalmente, a sra. Holland assentiu de forma abrupta para o reverendo. — É com nossos corações pesados... - começou ele a discursar. Mas foi tudo que conseguiu dizer antes que as portas da igreja se abrissem

de súbito, atingindo as paredes de pedra com um estrondo. As senhoras educadas da alta sociedade de Nova York desejaram muito se virar e olhar mas o decoro, é claro, proibia tal gesto. Elas mantiveram suas cabeças, encimadas por penteados elaborados, voltadas para frente, e seis olhos fixo no reverendo Needlehouse, cuja expressão de espanto não estava tornando seu esforço mais fácil.

Atravessando o corredor central da igreja com passos rápidos estava Diana Holland, irmã caçula da falecida, com alguns cachos de cabelo surgindo por debaixo do chapéu e as bochechas coradas de tanto correr. Apenas Elizabeth, se esta de fato pudesse observar tudo do paraíso, poderia compreender por que havia um pequeno sorriso no rosto de Diana quando ela se sentou no primeiro banco.

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A FAMÍLIA RICHMOND HAYES SOLICITA O PRAZER DE SUA

COMPANHIA NUM BAILE EM HOMENAGEM AO ARQUITETO

WEBSTER YOUNGHAM NA NOITE DE SÁBADO, 16 DE

SETEMBRO ÀS 21 HORAS EM SUA NOVA RESIDÊNCIA, NA

QUINTA AVENIDA NÚMERO 670, NA CIDADE DE NOVA

YORK.

FANTASIAS SÃO OBRIGATÓRIAS.

odos estão perguntando por você - disse Louisa Holland a Elizabeth sem levantar a voz, porém de forma autoritária.

Elizabeth passara dezoito anos sendo treinada para ser motivo de orgulho para sua mãe e aprendera, entre outras coisas, a interpretar perfeitamente seus tons de voz. Esse significava que ela deveria retornar agora ao salão de baile e dança com um parceiro qualquer que sua mãe escolhera, provavelmente um jovem de boa família, ainda que um pouco prejudicado geneticamente pelo inúmeros casamentos entres parentes próximos ocorridos ao longo dos séculos. Elizabeth deu um sorriso de desculpa para a meninas com quem estivera conversando - Annemarie d’Alembert e Eva Barbey, a quem ela conhecera na última primavera na França, e que estavam ambas fantasiadas como cortesãs do reinado de Luís XIV. Elizabeth estava contando a elas como Paris lhe parecia distante agora, embora houvesse saído do transatlântico naquela manhã. Agnes Jones, sua velha amiga, também estava sentada no sofá damasco com listras cor de marfim e cor de ouro, mas a irmã caçula de Elizabeth, Diana, havia desaparecido. Ela devia ter desconfiado que seu comportamento estava sendo observado o que, é claro, era verdade. Elizabeth sentiu-se irritada ao pensar na criancice de Diana, mas rapidamente controlou a emoção.

Afinal de contas, Diana não tivera um baile formal ao ser apresentada para a sociedade, como ocorrera com Elizabeth há dois anos, logo após ela fazer dezesseis. Elizabeth passara um ano tendo aulas com uma professora de etiqueta junto com Penelope Hayes, com quem dividira diversos tutores, e recebera lições de comportamento, dança e línguas modernas. Diana completara 16 anos durante a viagem de Elizabeth para Paris, mas nenhum festejo especial fora preparado. A família ainda estava de luto por causa do falecimento do pai das meninas, e não lhes pareceu apropriado fazer uma grande celebração. Diana meramente começara a freqüentar os bailes acompanhada por sua tia Edith durante o verão que ambas haviam passado em Saratoga. Não era à toa que ela andava mal-humorada.

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— Sei que lamenta deixar suas amigas - disse a senhora Holland, tirando Elizabeth da pequena sala em que ela estivera envolta numa atmosfera silenciosa e feminina e lavando-a de volta para o salão de baile.

Elizabeth estava usando uma fantasia de pastora feira de brocado branco, a parecia mais bela e alta do que nunca ao lado da mãe, que ainda vestia seu luto de viúva. Edward Holland morrera no início do ano e sua mulher usaria luto formal por mais um ano pelo menos.

— Mas aparentemente, você é a jovem mais disputada pelos rapazes essa noite - continuou a sra. Holland.

Elizabeth tinha um rosto em forma de coração, feições delicadas e tez de alabastro. Um menino que não seria admitido no salão de baile dos Richmond Hayes um dia lhe dissera que sua boca tinha o tamanho e o formato de uma ameixa. Elizabeth tentou formar um sorriso com aquela boca, embora estivesse preocupada com o tom de voz de sua mãe. Ela sempre fora uma mulher severa, mas, desde que saíra do navio, Elizabeth a achara mais ansiosa, o que era alarmante. Elizabeth partira logo após o enterro de seu pai, há nove meses, e passara toda a primavera e o verão aprendendo a ser charmosa e elegante nos salões de Paris, comprando vestidos na Rue de la Paix e tentando esquecer a perda que sofrera.

— Mas eu já dancei tantas vezes esta noite - disse Elizabeth timidamente. — Talvez - retrucou a sra. Holland. - Mas você sabe o quanto eu ficaria

satisfeita se um de seus parceiros lhe pedisse em casamento. Elizabeth tentou rir para disfarçar o desespero que aquele comentário

causara nela. — Bem, a senhora tem sorte por eu ser tão jovem, e por ainda ter anos antes

de precisar escolher qualquer um deles. — Ah, não. - Os olhos da sra. Holland observaram rapidamente todo o

salão de baile. Era estonteante: tinha a abóbada do teto feita de vidro fosco, as paredes cobertas por afrescos e inúmeros espelhos de moldura dourada, e ficava no centro da mansão da família Hayes, cercado por inúmeros outros cômodos menores, porém tão luxuosos e exagerados quanto ele. Próximos às paredes ficavam vasos com enormes palmeiras formando um escudo que protegia as mulheres que estavam nos cantos do salão dos pares de dançarinos que deslizavam freneticamente pelo chão de mármore xadrez. Havia cerca de quatro criados para cada convidado, o que pareceu ostentação até mesmo para Elizabeth, que passara os últimos meses aprendendo a se comportar como uma dama na Cidade Luz.

— A única coisa que não temos é tempo, Elizabeth. - continuou a sra. Holland.

Ela sentiu um frio na espinha mas, antes que pudesse perguntar a sua mãe o que aquela frase significava, chegaram ao salão de baile e estacaram junto ao local onde casais ricamente vestidos estavam valsando. Todos eram conhecidos das duas, que acenaram para eles.

Aqueles eram seus iguais: quatrocentas pessoas pertencentes a apenas cerca de quarenta famílias, dançando como se não houvesse amanhã. De fato, o dia seguinte provavelmente nem seria percebido por eles, que o passariam dormindo sob dosséis de seda, acordando apenas para aceitar um copo de água gelada e

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para expulsar os criados do quarto. Era dia de igreja, é claro, mas, após uma noite tão cintilante e épica, era quase certo que haveria poucos fiéis presentes. A maior vocação daquela sociedade era receber e ser recebida, atividade pontuada ocasionalmente pelo investimento de suas vastas fortunas em negócios ainda mais lucrativos.

— O último rapaz que perguntou por você foi Percival Coddington. Ele herdou toda a propriedade do pai no último verão, como você bem sabe - informou a sra. Holland para Elizabeth, posicionando-a ao lado de uma gigantesca coluna de mármore rosa.

Havia diversas colunas como aquela no salão, e Elizabeth teve certeza de que não estavam ali apenas para suportar o peso do teto, mas também para impressionar os visitantes. Ao construir sua nova casa, a família Hayes parecia ter se aproveitado de cada pequena oportunidade de exibir sua grandiosidade.

Elizabeth suspirou. Ela pensou no único rapaz que conhecia que não ia estar no baile naquela noite, mas não foi o suficiente para tornar a perspectiva de dança com Percival Coddington mais atraente. Elizabeth conhecia Percival desde criança, quando ele fora o tipo de menino que evitava o contato humano e preferia passar seus dias sendo cruel com animas de pequeno porte. Tornara-se um homem de poros enormes, que fungava com freqüência e colecionava artefatos antropológicos obsessivamente, embora não tivesse estômago para ir em pessoa nas explorações.

— Pare - disse a sra. Holland. - Você não reclamaria tanto se seu pai estivesse aqui.

Elizabeth teve um sobressalto. Não imaginava ter demonstrado qualquer emoção. A menção do Sr. Holland fez com que seus olhos de enchessem de lágrimas, e ela se sentiu mais solidária à causa da mãe.

— Sinto muito - desculpou-se Elizabeth, mantendo a voz bem firme e lutando contra as lágrimas. - Mas eu me pergunto se o Sr. Coddington, que tem tantos talentos, se lembrará de mim após eu ter passado tanto tempo fora.

A sra. Holland respirou fundo enquanto duas meninas da família Wetmore, que tinham um e três anos a mais do que Elizabeth, passaram por elas.

— É claro que ele se lembra de você. Especialmente quando a alternativa é dançar com meninas como essas. Parecem ter se vestido para trabalhar no circo - respondeu a sra. Holland.

Elizabeth estava tentando pensar em algo de bom para dizer sobre Percival Coddington e não o comentário seguinte de sua mãe. Ela chamara alguém de vulgar. Assim que a sra. Holland pronunciou essa palavra, Elizabeth notou que sua amiga Penelope Hayes estava no mezanino. Ela usava um vestido cor de papoula cheio de pregas com um corpete baixo, e Elizabeth ficou um pouco orgulhosa ao ver como sua amiga estava deslumbrante.

— Eu nem devia ter honrado esse baile com a minha presença - comentou a sra. Holland. Houve uma época em quae a sra. Holland nem sequer se dignaria a visitar as mulheres da família Hayes, que considerava novas-ricas, apesar de seu marido ter aceitado um ou dois convites para caçar com Jackson Pelham Hayes. Mas a opinião da sociedade mudara à sua revelia e a sra. Holland fora obrigada a aceitá-las. - Os jornais vão dizer que eu aprovo esse tipo de exibição de mau gosto, e você bem sabe a dor de cabeça que isso vai me dar.

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— Mas senhora sabe que teria sido um escândalo muito maior se não viéssemos. - afirmou Elizabeth.

Ela estendeu seu pescoço longo e deu um sorrisinho sutil para Penelope. Gostaria de estar lá em cima com ela, rindo da pobre menina que tivera a má sorte de ser tirada para dançar por Percival Coddington. Penelope, olhando para baixo deixou que uma de suas pálpebras cobertas de sombra escura se baixasse, piscando o olho de maneira lenta e sensual de sempre. Elizabeth teve a certeza de que fora compreendida.

— Além do mais - disse ela para a mãe -, a senhora nunca lê jornais. — Isso mesmo, nunca - concordou a sra. Holland. Então, ela ergueu seu pequeno queixo, único traço físico que passara à filha,

enquanto Elizabeth cumprimentava sua melhor amiga. Elizabeth e Penelope haviam se tornado amigas durante a adolescência,

período em que a primeira estivera mais do que nunca interessada no que teria de fazer para ser considerada uma jovem elegante. Penelope tinha o mesmo interesse, embora desconhecesse as regras da alta sociedade, da qual tanto desejava fazer parte. Mesmo assim, Elizabeth, que estava apenas começando a se importar com essas regras, desejara sua amizade. Ela rapidamente descobrira que gostava da companhia de Penelope - tudo parecia mais divertida quando se estava com a jovem senhorita Hayes. Logo, Penelope se tornara uma apta estrategista nas batalhas sociais, e Elizabeth não podia imaginar ninguém melhor para ter ao seu lado durante uma noite formal como aquela.

— Olhe! - exclamou a sra. Holland, fazendo com que a atenção de Elizabeth se voltasse para o salão de baile. - Aqui está o senhor Coddington!

Elizabeth forçou-se a sorrir e a escapar Percival Coddington, de quem não havia mais como escapar. Ele fez uma espécie de mesura, enquanto seus olhos perscrutavam o decote quadrado do corpete da jovem. Elizabeth sentiu o desânimo lhe tomando ao ver que ele usava uma fantasia de pastor, composta por culotes, botas rústicas e suspensórios coloridos. Eles estavam combinando. O cabelo de Percival estava alisado para trás e ele respirava pela boca de forma audível. Elizabeth ficou esperando o convite para dançar.

— Bem, sr. Coddington, aqui está ela. - Ouviu-se a voz melodiosa da sra. Holland alguns segundos depois.

— Muito obrigado - rosnou Percival. Elizabeth viu que estava sendo examinada por ele e sentiu-se constrangida,

mas manteve-se bem ereta e com um sorriso no rosto. Fora treinada para ser uma dama.

— Srta. Holland, a senhorita me daria o prazer desta dança? — É claro, sr. Coddington. Elizabeth ofereceu a mão a Percival, que a pegou com sua palma suarenta,

levando-a por entre a multidão de dançarinos fantasiados. Ela olhou para trás para sorrir para a sra. Holland - poderia, ao menos, ter o prazer de vê-la satisfeita.

Em vez disso, Elizabeth viu sua mãe falando com dois homens. Reconheceu primeiro a figura esguia de Stanley Brennan, que fora contador de seu pai, e depois o imponente William Sackhouse Schoonmaker, patriarca da velha família Schoonmaker, que fizera uma segunda fortuna investindo em estradas de ferro. O único filho dele, que se chamava Henry e passara algum tempo estudando em

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Harvard, largara a faculdade na primavera e desde então as moças da elite de Nova York não falavam em outra coisa. As cartas que Elizabeth recebera de Agnes enquanto estivera em Paris faziam diversas menções ao nome dele, e contavam que todas as meninas estavam disputando-o. Ele tinha uma irmã chamada Prudie que era um ou dois anos mais nova que Diana. Prudie só usava preto e nunca era vista, pois não gostava de multidões. Elizabeth ainda tinha uma impressão vaga de Henry Schoonmaker, embora o visse e ouvisse falar nele muitas vezes quando os dois eram mais jovens. Ela lembrava que ele, quando menino, gostava de fazer travessuras e pregar peças nos outros.

O parceiro de Elizabeth provavelmente percebeu que o pensamento dela estava longe, pois a trouxe de volta para o presente com um comentário bem direto:

— Creio que a senhorita teria preferido continuar na saleta com suas amigas - disse Percival amargamente.

Elizabeth tentou não tropeçar nos pés dele, que dançava muito mal. — Asseguro-lhe que não, sr. Coddington. Estou apenas um pouco cansada -

retorquiu ela. Não era de todo mentira. Seu navio chegara três dias atrasado, e ela

desembarcara há menos de vinte e quatro horas. Ainda sentia-e um pouco tonta após tantos dias passados no mar e, no entanto, ali estava, já dançando. A sra. Holland exigira que Elizabeth demitisse a criada que lhe servira em Paris e por isso ela precisara cuidar de seu cabelo e das suas roupas sozinha durante toda a viagem. Penelope a visitara, naquela tarde, para ensinar-lhe os passos das novas danças e para lhe dizer que teria ficado furiosa se o navio houvesse atrasado mais e feito com que sua melhor amiga não estivesse presente em uma das noites mais importantes de sua vida. Depois, ela falara durante muito tempo sobre seu novo amor secreto, cuja identidade revelaria para Elizabeth mais tarde, assim que as duas conseguissem ficar a sós. Nas horas que antecederam o baile havia muitos criados zanzando para lá e para cá e não teria sido prudente dizer o nome do rapaz. Penelope parecia ainda mais competitiva do que o normal em relação a sua aparência e a seu vestido, e Elizabeth acre ditava que era por causa desse namorado e pelo fato de aquele baile marcar a abertura da nova mansão de sua família. Além de tudo isso, Elizabeth também estava tensa por causa do estranho comportamento de sua mãe.

E ela já dançara quadrilha, jantara e conversara com diversos tios e tias, relatando inúmeras vezes como fora sua atribulada travessia transatlântica. Quando finalmente se sentara com algumas amigas para tomar uma taça de champanhe e conversar sobre como tudo estava deslumbrante, fora forçada a voltar para o centro das atividades, e logo para dançar com Percival Coddington. Mas continuara sorrindo, é claro. Já era um habito seu.

— Bem, então no que a senhorita está pensando? Percival franziu o cenho e pressionou a mão contra as costas de Elizabeth.

Ela sabia que ele era o último homem do mundo indicado para guiá-la por um salão repleto de pessoas levemente embriagadas.

— Hum... - começou Elizabeth, dando-se conta de que estivera pensando que nem mesmo a saleta onde estava com as amigas era um refúgio perfeito. Na verdade, ficara um pouco aliada ao se afastar de Agnes, embora ela fosse uma

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amiga tão leal, pois o vestido com franja de couro que estava usando era apertado demais e lhe caía muito mal. Por isso, Elizabeth não pudera deixar de sentir pena ao vê-la, o que lhe era desagradável. Agnes lhe parecia um constrangedor vestígio da infância, especialmente ao lado de suas novas amigas parisienses, que eram tão glamorosas.

Ela se concentrou novamente no rosto feio de Percival e tentou obrigar seus pés a se moverem no ritmo correto pelo salão. Pensou em como fora a noite até ali, com todas aquelas horas de conversa insípida, elogios cuidadosamente aceitos e atenção minuciosa às aparências. Lembrou-se do luxo da época que passara em Paris. O que realmente fizera durante todo aquele tempo? E o que ele - o rapaz que estava tentando desesperadamente esquecer, e que de fato acreditava ter esquecido - fizera durante os meses que ela passara fora? Elizabeth se perguntou se ele deixara de amá-la. Já podia sentir o enorme peso de uma vida inteira de arrependimento por ter desistido dele, e soube que seria o suficiente para enterrá-la viva.

De repente, o salão ficou silencioso e suas luzes se tornaram mais vívidas. Elizabeth fechou os olhos e sentiu a respiração quente de Percival Coddington em seu ouvido, perguntando-lhe se ela estava bem. Seu espartilho, que fora apertado por sua criada Lina horas antes, subitamente pareceu-lhe estar cortando sua respiração. Elizabeth se deu conta de que sua vida era uma armadilha.

E então o pânico, que surgira de forma tão abrupta, instantaneamente desapareceu. Elizabeth abriu os olhos. Os sons alegres do salão retornaram num átimo. Ela olhou para a abóbada do teto, que cintilava lá em cima, para ter certeza de que ela não havia caído.

— Estou bem, obrigada por perguntar, sr. Coddington - respondeu Elizabeth finalmente. - Não sei exatamente o que houve comigo.

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iana Holland viu sua mãe subir a escada de mármore que havia do outro lado do salão, de braço dado com um velhote robusto que ela teve certeza de que conhecia. O

contador e amigo da família delas, Stanley Brennan, ai logo atrás. Logo antes de os três desaparecerem, indo na direção de uma saleta no segundo andar, que decerto seria tão suntuosa quanto o resto da casa, a sra. Holland olhou para trás, encarou Diana e lançou-lhe um olhar severo. Diana ficou furiosa por ter sido vista e por um breve momento considerou a possibilidade de permanecer no salão de baile e esperar pacientemente que um de seus primos lhe chamasse para dançar. Mas a paciência não fazia parte da sua natureza.

Além do mais, ela se orgulhara tanto de sua esperteza quando escrevera o pequeno convite mais cedo, no banheiro das mulheres, e depois o colocara na mão do assistente do arquiteto Webster Youngham, que estivera parado na frente da arcada da entrada para explicar para os convidados as muitas referências arquitetônicas que haviam sido incorporadas à nova mansão da família Hayes. Diana atravessara a multidão, fizera uma mensura, apertara a mão dele e lhe entregara o bilhete.

— O senhor é de fato um artista, sr. Youngham - dissera ela, embora soubesse que o arquiteto já estava bêbado de vinho Madeira e no momento descansava numa das salas de jogos que havia no segundo andar.

— Mas eu não sou o sr. Youngham - respondera ele, com um ar adoravelmente confuso. - Sou James Haverton, assistente dele.

— Mesmo assim. Diana piscara o olho para James e desaparecera em meio aos dançarinos.

Ele tinha ombros largos e lindos olhos azul-acinzentados e, apesar de ser apenas um assistente, parecia ser também um homem viajado, que já vivera a vida. Diana não vira nenhum outro rapaz tão interessante quanto ele na hora que se passara desde que entregara o bilhete.

Por isso, ela apanhou a saia nas mãos e passou rapidamente por entre os vasos de palmeiras e a parede. Olhou para trás uma vez antes de deixar o salão para certificar-se de que não estava sendo seguida e então entrou no closet. Era enorme e muito ornamentado, pensou Diana, principalmente considerando-se que era um cômodo cujos principais ocupantes seriam os casacos e chapéus dos convidados. Eles não dariam a mínima para o fato de que o closet fora decorado

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em estilo mourisco, com o chão coberto de mosaicos coloridos e antiguidades exibidas em nichos em forma de torreão.

Diana olhou em volta, tentando localizar seu casaco, que era do mesmo tipo usado pelos tenentes do exército francês. Ela viera de fantasiada como a heroína de seu romance preferido: Trilby, de George Du Maurier. Trilby surge pela primeira vez nas páginas do livro fazendo uma pausa em seu trabalho de modelo-vivo e vestindo apenas uma combinação, chinelos e o casaco de um soldado. Diana não obtivera permissão para usar uma combinação sem o vestido por cima, mas ter conseguido ir ao baile com aquela fantasia já fora um triunfo. Sua mãe mandara fazer outra roupa de pastora para que o vestido dela combinasse com o de Elizabeth, o que teria sido horrível e humilhante. Mas ali estava ela, com uma saia de listras brancas e vermelhas que lhe dava um ar boêmio e com um corpete simples de algodão que rasgara em alguns lugares sem que a sra. Holland percebesse. Ninguém entendera a fantasia, é claro. Todas as meninas da idade de Diana eram conformistas e suas fantasias pareciam com as roupas que usavam todos os dias, com a adição de um pouco mais de pó de arroz e de espartilhos mais apertados do que o comum.

Diana estava começando a se perguntar se um dos criados não levara seu casaco esfarrapado pensando que era dele, quando o relógio que havia num dos cantos bateu uma vez, assustando-a. Ela deu alguns passos para trás, surpresa, cambaleando um pouco por causa de todo o champanhe que tomara escondida e, quando o fez, sentiu o calor do peito de um homem e duas mãos em seus quadris. A adrenalina tomou conta de seu corpo.

— Ah, é você. - disse ela, tentando mostrar indiferença, embora aquela fosse de longe a coisa mais excitante que lhe acontecera a noite toda.

— Olá. A boca de James estava muito próxima do ouvido dela. Diana se virou

devagar e encarou-o. — Espero que tenha trazido cigarros - disse ela, esforçando-se para não

sorrir demais. James tinha sobrancelhas curtas, pequenas e bem distantes uma da outra, o

que fazia com que seus olhos parecessem enormes e sinceros. — Não achei que moças de família tivessem permissão para fumar.

Diana fez biquinho.

— Então você não tem nenhum cigarro? James não respondeu e olhou-a de uma maneira que não a fez sentir como

uma moça de família. — Eu tenho cigarros - disse ele. - Mas não sei bem se devo lhe dar um... Diana percebeu que havia um brilho maroto nos olhos dele e concluiu que

devia ser o vislumbre de um espírito igual ao seu. — O que preciso fazer para convencê-lo? - perguntou ela, virando a cabeça

alegremente. — O que a senhorita está me pedindo para fazer é muito sério - respondeu

ele. James fingiu seriedade ao dizer isso, mas então caiu na gargalhada. Diana

gostou do som de seu riso.

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— Você é bonita - disse ele, dando um sorriso mais largo agora. Diana e Elizabeth tinham muitas características físicas em comum, mas

eram bem diferentes. Assim como Elizabeth, ela possuía as feições pequeninas e a boca redonda das mulheres da família Holland, embora tivesse uma aparência menos que a de sua irmã mais velha. Diana gostava de acreditar que seus cachos castanhos lhe davam um certo ar de mistério, mas eles na verdade eram completamente indomáveis. Seus olhos eram sempre descritos como sendo “cheios de vida”. E, é claro, ela e Elizabeth tinham o mesmo queixo - o queixo de sua mãe. Diana o odiava.

— Oh, sei que sou bonitinha - disse Diana, corando de falsa modéstia. — Muito mais que bonitinha. James continuou a observá-la enquanto tirava uma cigarreira do bolso do

paletó. Ele acendeu um cigarro e entregou-o a ela. Diana deu uma tragada e tentou não tossir. Adorava fumar - na verdade,

adorava a idéia de fumar - mas era difícil aprender a fazê-lo direito com sua mãe e os criados sempre a vigiá-la. Mas até que estava fingindo bem. Ou, ao menos, pensou estar, soprando pequenas baforadas. Fumar parecia ser a coisa certa a fazer naquele momento, principalmente porque os detalhes em metal e azul-turquesa do cômodo onde estava sugeriam um lugar distante e exótico. Diana levantou uma sobrancelha, perguntando-se o que James ia fazer agora.

— Se você é um arquiteto, isso que dizer que é um artista? — As opiniões divergem - respondeu ele. - Alguns arquitetos gostam de

pensar que fazemos o tipo de arte mais monumental e duradouro de todos. — Que ótimo! Porque venho tentando encontrar um artista a noite toda. — Com que propósito? - perguntou James, apoiando-se sobre os casacos e

colocando um cigarro na boca. — Para beijá-lo, é claro. Diana respirou fundo após dizer isso. Até ela própria às vezes ficava

surpresa com as coisas audaciosas que lhe saíam da boca. James exalou a fumaça, pensativo, e o doce cheiro do tabaco os envolveu. Por um segundo, Diana achou que estava a milhão de quilômetros dali, numa tenda escondida em algum recanto da Tunísia ou de Marrakesh, comprando um pó mágico de um feiticeiro.

— Parece-me que você está sendo uma menininha muito levada - disse James e seu sotaque ríspido de americano fez com que Diana se lembrasse de que estava em Nova York e, ainda por cima, na Quinta Avenida.

— Acha mesmo? - perguntou Diana, tragando seu cigarro. Ela também se afundou na parede fofa de casacos, aproximando-se um

pouco de James. — Não é comum para senhoritas de classe se encontrarem com homens

mais velhos em lugares como esse, com toda a alta sociedade a poucos metros de distância.

— E porque você acredita que eu posso ser comparada com as senhoritas de classe?

Diana falou as duas últimas palavras com nojo. As meninas de classe eram escravas da etiquetam, e levavam a vida - se é que se podia chamar aquilo de vida - de manequins inanimados.

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— Eu disse a você que estava procurando um artista - disse ela impacientemente. - Por isso, se for pensar igual a todo mundo, é melhor eu ir embora.

James sorriu e largou seu cigarro no chão de mármore preto e branco, pisando nele para apagar a brasa e chutando-o para o lado. Diana achou-o subitamente velho, embora ele não devesse ter mais do que vinte anos. Ele veio rapidamente na direção dela. Assim que seus lábios de tocaram, Diana soube que não havia qualquer mágica naquilo. Aquele não era o toque pelo qual estivera esperando a noite inteira, pois James achava que beijar alguém era meramente amassar seu rosto contra o rosto alheio. Diana quase morreu de decepção.

Ela o beijou também, só para se certificar de que seus instintos estavam corretos, mas já havia sido beijada antes e sabia como era a sensação de um beijo bom. James era muito pior que Amos Vreewold, a quem ela beijara diversas vezes durante o último verão que passara em Saratoga, e só um pouco melhor do que seu primeiro beijo, que ocorrera aos treze anos e fora desagradável a ponto de fazê-la esquecer-se completamente da identidade do garoto. Diana estava finalmente aceitando que James Haverton, assistente de arquiteto, não era o tipo de artista que estava procurando, quando a porta rangeu e passos soaram no vestíbulo.

— Srta. Diana? - chamou a voz de um homem, com mais mágoa do que choque.

Diana sentiu James apertando-a com mais força por um momento, antes que eles se voltassem na direção da porta. Ela imediatamente reconheceu o rosto longo e cansado de Stanley Brennan. Ele só tinha 26 anos - o posto de contador dos Holland lhe fora passado por seu pai -, mas, como estava sempre ansioso, parecia bem mais velho.

— Sua mãe me mandou ver onde a senhorita estava - disse ele, hesitante. - Para me certificar de que não estava se metendo em nenhuma confusão.

James tirou a mão da cintura de Diana e se afastou. Ele não parecia muito satisfeito com a aparição de Stanley, mas nada disse. Diana sentiu-se livre quase instantaneamente, tomada pela alegria de não precisar mais sentir o queixo áspero de James contra o seu.

— Obrigada, Stanley - disse ela. - Gostaria de me acompanhar até o salão de baile?

Stanley aproximou-se cuidadosamente, estendendo a mão na direção dos rasgões do corpete de Diana. Eles haviam se aberto mais durante aquele malfadado beijo.

— Pare, não há problema - disse ela, dando o braço a Stanley e voltando-se para James. - Muito obrigada por me explicar as referências islâmicas do closet, sr. Haverton. Eu jamais esquecerei.

Diana olhou para trás apenas uma vez, imaginando que a careta que surgira no rosto de James marcava o início de uma vida solitária e cheia de decepções. Era mesmo o destino dela destruir corações. Ela e Stanley deixaram o closet e caminharam para o salão de baile.

— Não vou contar a sua mãe - sussurrou Stanley. - Mas sinto que, como era amigo de seu falecido pai, devo lembrá-la de que esse tipo de comportamento pode ser sua ruína.

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— Não tenho medo - disse Diana alegremente. — Considero-a quase como se fosse minha irmã, e é minha

responsabilidade cuidar da senhorita. Ao menos é isso que sua mãe pensa. - disse Stanley, parando de andar como se quisesse mostrar que estava falando sério. - Se ela descobrisse o que a senhorita estava fazendo e que eu sabia de tudo, seria o fim de nós dois.

— Isso é verdade. Diana parou ao lado dele. Já era possível ouvir as vozes e a música vindas

do salão e num segundo eles seriam envolvidos pelas luzes cintilantes do baile. Ela fez um biquinho falso com sua boca redonda, embora seus olhos brilhassem, sedutores.

— Mas será que seria tão ruim assim? - perguntou ela. Então, Diana riu, agarrando a mão de Stanley e levando-o de volta para o

centro das atividades. Estava procurando por algo que não sabia explicar, e não ia deixar que um beijinho desagradável lhe impedisse de seguir em frente.

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gÜ£ágÜ£ágÜ£ágÜ£á

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ma pastorinha. É a fantasia perfeita para Liz. - comentou Penelope Hayes, pronunciando as palavras, como sempre, com uma certa dose de veneno.

— Pelo menos ela não esqueceu suas humildes origens americanas depois de passar tanto tempo se pavoneando para os franceses - respondeu Isaac Phillips Buck. - E pelo menos não veio vestida de marquês ou marquesa, como todos os outros - acrescentou ele com desdém.

Penelope deu de ombros. Há muitos anos ela percebera que Elizabeth Holland, que agora estava rodopiando por seu gigantesco salão com o horrível Percival Goddington, seria sua principal rival na sociedade, e por isso mesmo tornara-se a melhor amiga dela. Se Isaac fazia questão de elogiá-la, Penelope não se importaria. Estava se sentindo bem melhor agora, depois de ver o quanto todos haviam ficado impressionados com a nova mansão de sua família e com sua maneira elegante de receber as pessoas. E, é claro, com ela própria.

Penelope ficara arrasada mais cedo, quando o mensageiro lhe entregara o bilhete. Tinha acabado de voltar da casa dos Holland, onde fora para dar as boas-vindas a Elizabeth e para ralhar com ela por quase ter perdido a festa. Seu coração ficara apertado quando ela lera a descuidada missiva e Penelope tivera um acesso de raiva que fora muito injusto para com as criadas que estavam lhe vestindo para o baile. Não tinha medo de que o rapaz que escrevera o bilhete não se apaixonasse por ela - afinal, ninguém seria capaz de resistir por muito tempo - mas não queria que ele perdesse essa festa em particular. Afinal, aquela seria a melhor ocasião para ele concluir que Penelope era o centro do universo e que manter o relacionamento deles em segredo seria um desperdício colossal.

Mas agora que Penelope estava observando o salão de baile se sua mansão do mezanino, vestindo uma fantasia de dançarina espanhola cheia de babados vermelhos cujo corpete deixara sua cintura com apenas 45 centímetros, não teve dúvidas de que ele viria. Era a noite do baile da família Richmond Hayes, a noite em que eles firmariam sua posição no mais alto círculo da sociedade nova-iorquina - não havia outro lugar para ir. Penelope tinha certeza absoluta de que ele ia aparecer em breve. Bem, quase absoluta. Ela colocou uma das mãos no quadril, confiante, embora com a outra Mao ainda estivesse amassando o bilhete que tanto a enfurecera.

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— Olha só como Elizabeth está de nariz empinado - disse Penelope, fazendo com que as dúzias de delicadas pulseiras de ouro que trazia nos braços tilintassem.

Isaac se empertigou e pousou as mãos sobre a barriga redonda, aparente sob sua fantasia de bobo da corte.

— Acho que ela só está tentando fugir do mau hálito do Percival. Então, os dois riram da maneira de sempre: com as bocas fechadas,

deixando que o riso saísse apenas pelo nariz. Penelope e Elizabeth haviam se tornado amigas quando tiveram aulas com o mesmo tutor francês, no inicio da adolescência. (Anos mais tarde, Penelope ficara sabendo que o sr. Holland fizera com que a filha tivesse aulas com ela para perturbar a sra. Holland e jamais lhe perdoara por seu esnobismo). O professor era um homenzinho adorável. Elizabeth gostava de fazê-lo corar, perguntando, por exemplo, a diferença entre décolletage e décolleté. Para Penelope, fora cômico ver o quanto Elizabeth se esforçava para provar que era bem-comportada, pois ela nunca se preocupava demais com nada e pouco se importava com sua imagem de senhorita de classe.

O que era muito bom, pois Penelope não era considerada uma senhorita de classe, ao menos pelos membros das velhas famílias holandesas de Manhattan, como a mãe de Elizabeth, que mesmo assim estava ali se deleitando com os luxos da festa dos Hayes. Penelope não pôde deixar de pensar que o salão deles era muito maior e mais suntuoso que o dos Holland. Eles viviam numa velha mansão não muito bonita em Gramercy Park, com uma fachada marrom sem graça e cômodos dispostos em fileiras perfeitas. E aquela parte da cidade nem estava mais na moda.

Penelope poderia ter se sentido mal por Liz e pelo fato de que ela ainda vivia numa parte medíocre da cidade enquanto a família Hayes se mudara para a Quinta Avenida, onde estavam todas as novas mansões mais elegantes. Mas ela sabia muito bem que a sra. Holland estava sempre se referindo aos Hayes como novos-ricos. O que era uma grande injustiça. Era verdade que a fortuna da família começara a crescer quando o avô de Penelope, Ogden Hazmat Jr., deixara de ser alfaiate e passara a vender cobertores de algodão para o exercito da União pelo preço da lã. Mas, desde que ele fora párea Nova York, mudara de nome e comprara uma casa na Washington Square de uns membros falidos da família Rhinelander, o clã dos Hayes se entrincheirara na alta sociedade.

E agora haviam deixado a Washington Square para trás para sempre e ido viver na única residência particular de Nova York que tinha três elevadores e uma piscina abaixo do nível da rua. Os Hayes haviam chegado e, para provar isso, ali estava aquela mansão. Ou o palazzo, como sempre dizia a mãe de Penelope, deixando-a profundamente irritada.

— Você fez um bom trabalho hoje, Isaac - elogiou ela, dando um largo sorriso de orgulho.

As mulheres muitas vezes desdenhavam da beleza de Penelope, dizendo que a única coisa bonita em seu rosto era a boca. Mas as fofoqueiras estavam erradas: seus lábios não eram mais impressionantes que seus imensos olhos azuis, capazes de demonstrar inocência ou desprezo em igual medida.

— Foi tudo para você - respondeu Isaac.

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Ele falou com um sotaque britânico que adquirira há pouco tempo, pois andava sofrendo de anglomania. Como o parentesco de Isaac não era completamente reconhecido pela família Buck, ele precisava trabalhar para viver e se tornara um profissional indispensável para anfitriãs como a sra. Hayes. Sabia onde conseguir as flores mais frescas da cidade e onde encontrar belos rapazes que gostavam de dançar e sabiam agradar as senhoritas, embora não fossem exatamente os meninos com quem elas deveriam pensar em se casar. Sabia como gritar com os cozinheiros para que eles deixassem a carne no ponto exato. Os gritos de Isaac não eram agradáveis, mas as festas que ele dava eram maravilhosas.

— Preciso confessar que todos estão muito bonitos hoje - continuou Isaac, com ar entediado. - Meu esforço não foi todo em vão. Só para ver as jóias já teria valido a pena. Seria possível comprar a ilha de Manhattan com essas jóias.

— Tem razão - concordou Penelope. - Mas eu sempre me espanto em ver como pessoas tão feias conseguem se cobrir com tantas coisinhas brilhantes.

— Você deve estar se referindo a Agnes, e ela não tem muitas coisinhas brilhantes. Acho que ela esta fantasiada de cowgirl e, se você perguntasse a seu costureiro, ele diria que a roupa é feita de camurça.

— Muito engraçado, você sabe muito bem que Agnes não tem um costureiro, Isaac - disse Penelope, sorrindo. - E Amos Vreewold de toureiro? Pelo amor de Deus - concluiu ela, virando-se para o amigo com uma sobrancelha levantada.

— Seja bondosa. Não é todo homem que fica elegante de calça justa. — Veja, ali está Teddy Cutting! - exclamou Penelope, interrompendo a

crítica às fantasias. Teddy, que tinha cabelo loiro, olhos azuis brilhantes e uma fortuna feita no

ramo da navegação que herdara do pai, era exatamente o tipo de rapaz com quem Penelope vinha flertando desde que fora apresentada para a sociedade, há dois anos. Teddy gostava de Elizabeth Holland, e esse era o verdadeiro motivo pelo qual Penelope sempre fazia questão de dançar com ele. Ela observou as mulheres com suas enormes saias engomadas e mangas bufantes rodeando Teddy, que fez uma galante mesura e começou a beijar as mãos enluvadas que lhe eram oferecidas.

— Teddy está uma delícia - disse Isaac, colocando uma das mãos no queixo. - ele está vestido de nobre francês como todo mundo, mas sua fantasia está entre as melhores.

— Não está mal. Penelope disse isso com indiferença, pois estava interessada em outra coisa:

onde quer que Teddy fosse, sempre havia uma certa pessoa ainda melhor logo atrás dele. Ela estalou os dedos para um dos garçons que passavam por ali, amassando o bilhete que estava segurando e jogando-o dentro de sua taça vazia de champanhe. Então colocou a taça na bandeja sem olhar para o empregado e pegou outras duas, cheias até a borda.

Foi neste momento que Henry Schoonmaker surgiu na entrada do salão de baile e todo o resto do mundo pareceu desaparecer. Penelope permaneceu imóvel e ereta, embora seu coração estivesse batendo forte e seu rosto formigasse de impaciência. Henry Schoonmaker se destacava mesmo entre as pessoas mais

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ricas e elegantes da cidade, pois era muito belo e muito imoral ao mesmo tempo. Ele foi para o lado de seu amigo Teddy e também começou a beijar o turbilhão de mãos estendidas à sua volta, fazendo Penelope revirar os olhos.

Henry sempre parecia gozar de bom humor e de boa saúde, o que acorria em parte devido a seu gosto por esportes e em parte devido ao drinque que sempre segurava. Mesmo para Penelope, que estava no extremo oposto do maior salão de baile privado de Nova York, era evidente que não havia qualquer imperfeição em sua pele bronzeada. Ele tinha ombros largos de um general e as maças do rosto de um aristocrata, e sua boca em geral mostrava um sorrisinho zombeteiro. Assim como Elizabeth Holland, Henry fazia parte de uma das mais antigas família da cidade, mas ele se preocupava muito menos em se comportar bem.

— Eu teria vergonha de ser uma daquelas meninas - disse Penelope, referindo-se a suas primas e amigas que rodeavam os rapazes.

Ela passou os dedos por seus cabelos negros, que estavam partidos no meio e desciam até sua nuca, fazendo uma moldura para seu rosto oval. Enfeites de prata cheios de filigranas se abriam em leques atrás de sua cabeça.

— Creio que vou resgatar nosso amigo das garras delas - completou, como se aquilo houvesse acabado de lhe ocorrer.

Então ela apanhou os metros e mais metros de crepe da China vermelho que cobriam suas pernas e começou a descer vagarosamente a escadaria de mármore.

— Isaac - disse ela após ter descido alguns degraus, voltando-se para encará-lo com um olhar muito intenso -, esse é o homem com quem eu vou me casar.

Isaac levantou a taça de champanhe e Penelope deu um sorriso, radiante com sua declaração. Como ela podia falhar, se tinha toda a astúcia de Isaac Phillips Buck a seu serviço? Penelope voltou a descer a escada e em poucos segundos estava no salão. Um silêncio reverente se fez à sua volta, conforme os rostos da multidão se voltaram para observá-la. Por entre todos os vestidos de cetim branco e as perucas francesas, sua fantasia vermelha lhe dava ainda mais destaque que o normal. Ela atravessou o grupo de meninas que criticara do mezanino e viu-se de frente para Henry Schoonmaker.

— Quem deixou você entrar? - perguntou ela, sem sorrir e colocando as mãos nos quadris. - Não está fantasiado. O convite dizia claramente que essa é uma festa à fantasia.

Henry virou-se para ela com um sorriso casual, sem nem se incomodar em fingir que estava examinando seu fraque negro.

— Eu errei, Srta. Penelope? Não tenho mais tempo de ler minha correspondência, mas um passarinho me contou que a senhorita ia dar um baile hoje à noite.

As mulheres de Nova York diziam que Henry sempre dava um dinheiro adiantado para os músicos da cidade, pois muitas vezes eles começavam a tocar uma valsa exatamente quando ele precisava terminar uma conversa. Foi o que a banda fez nesse momento, e Henry abaixou a cabeça na direção de Penelope. Ela não conseguiu impedir que os cantos de sua boca se erguessem num quase sorriso. Henry manteve os olhos pregados nela enquanto a levava pro meio do salão, até que eles começaram a dançar.

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Por alguns segundos todos em volta apenas observaram, hipnotizados pela leveza do casal que cruzava o salão. Mas Penelope sabia muito bem como fazer suas primas e amigas morrerem de ciúmes, e ela não tinham capacidade de permanecer imóveis quando estavam tão incomodadas. Logo, casais menos exuberantes começaram a valsar também, ate que o mármore xadrez do chão quase desapareceu sob as amplas saias das damas e os pés negros e ágeis de seus parceiros.

Muita gente ainda estava olhando para a dançarina espanhola e para o elegante cavalheiro com quem ela dançava. Penelope sentiu todos os olhares sobre eles dois e por isso falou baixinho:

— Por que você me mandou aquele bilhete? - perguntou ela, virando a cabeça um pouco para o lado conforme Henry a rodopiava pelo salão.

— Gosto de provocar você - respondeu ele - Assim, sabia que ia ficar ainda mais feliz de me ver.

Penelope pesou essas palavras por um momento, mas algo nos olhos castanhos-escuros de Henry lhe dizia que ele estava contando uma meia-verdade.

— Você estava em outro lugar antes de vir para cá, não estava? — Por que você pensaria isso? - replicou Henry, sem demonstrar qualquer

preocupação. - Passei o dia inteiro esperando por esse exato momento. — Você mente muito bem. Mas sabia que não ia conseguir deixar de vir. Henry encarou-a, divertido, mas não respondeu. Apenas pressionou a Mao

contra sua saia, um pouco abaixo de onde ficava sua lombar e continuou a valsar com ela por entre a multidão. Naquele instante, Penelope sentiu que todos sabiam que havia um romance entre eles dois e que todas as meninas menos importantes estavam enxugando os olhos com seus lenços ao pensar que Henry Schoonmaker logo iria se casar. A musica lhe pareceu triunfal, como se estivesse sendo tocada apenas para ela. Penelope podia ter passado o resto da vida ali, dançando com ele. Mas a figura corpulenta do pai de Henry surgiu no salão, impedindo-o de continuar.

— Perdoe-me, Srta. Penelope - disse o sr. Schoonmaker firmemente, sem parecer estar se desculpando de fato.

Os outros dançarinos continuaram, mas Penelope viu-se horrivelmente paralisada no centro de tudo, com sua grande performance cortada ao meio por essa gigantesca e odiosa presença paterna. Ela sentiu um de seus acessos de fúria chegando, mas conseguiu controlá-lo. Os outros pares estavam fingindo não perceber o que se desenrolava diante de seus olhos, mas sem muito sucesso. Penélope se perguntou se Elizabeth estava vendo tudo. Ela queria revelar seu namoro secreto para a amiga com o máximo de drama, mas aquela cena não estava ajudando em nada.

— Vou precisar ir embora com Henry. É um assunto urgente e eu lamento muito, mas vamos ter que partir agora mesmo.

O instinto fez com que Penelope sorrisse, apesar de estar arrasada, e ela inclinou um pouco a cabeça.

— É claro. Penelope nada mais pôde fazer além de ficar parada no meio daquele salão

de proporções épicas, vendo seu futuro marido desaparecer por entre aqueles

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outros seres ordinários. E, embora todos ainda dançassem, Penelope soube que, para ela, a festa acabara.

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dâtàÜÉdâtàÜÉdâtàÜÉdâtàÜÉ

ESSE DOCUMENTO ATESTA QUE EU, WLLLIAM SACKHOUSE

SCHOONMAKER, DEIXO TODOS OS MEUS BENS, CONFORME

LISTADOS ABAIXO, INCLUINDO NEGÓCIOS, IMÓVEIS E

PROPRIEDADES PESSOAIS PARA

______________________.

enry Schoonmaker fingiu examinar o pedaço de papel por mais alguns segundos e então fez o que sempre fazia quando achava algo sério ou enfadonho demais para tentar

compreender. Ele abriu seus lábios finos, revelou seus dentes brancos e perfeitos e deu uma gargalhada.

— Que coisa mais mórbida, pai. Nós saímos de uma festa por causa disso? O pai de Henry encarou-o gravemente. William Schoonmaker, que no

momento vestia um terno preto, era um homem grandalhão, de costeletas, olhos pequenos acostumados a intimidar quem encaravam e cabelos negros pintados. Como tinha acessos de raiva freqüentes, sua pele era repleta de placas vermelhas, e seu bigode fazia duas curvas por sobre seu queixo rosado. Mas também era possível discernir nele as feições belas e aristocráticas que passara para o filho.

— Tudo é uma festa para você - disse ele. Henry soube que a parte mais desagradável da personalidade de seu pai ia emergir agora: era a parte que ele reservava para quando estava em sua própria casa ou escritório. Henry fora criado por uma governanta e, por isso, seu pai sempre fora uma figura distante e formidável para ele, marchando pela casa com um exército de criados em volta, fazendo gestos obsequíosos em tentativas vãs de agradá-lo.

Henry empurrou o pedaço de papel para o outro lado da mesa de nogueira, na direção de seu pai e de sua madrasta Isabelle, e desejou que não lhe incomodassem mais com aquilo pelo resto da noite. Isabelle sorriu como se pedisse desculpa e revirou os olhos discretamente. Ela tinha vinte e cinco anos - apenas cinco a mais do que Henry. Os dois haviam dançado muitas vezes em festas antes de Isabelle se casar com o mais rico e poderoso dos Schoonmaker. Era um pouco estranho para Henry vê-la em sua casa. Ela ainda se parecia com a Isabelle De Ford que ele conhecera e com quem sempre podia contar para um flertezinho e algumas boas risadas. Isabelle provavelmente se casara com William Schoonmaker apenas pelo dinheiro, mas Henry ainda sentia um orgulho secreto do pai por ele ter conseguido conquistá-la.

— Você não devia ser tão severo com Henry - disse Isabelle com sua vozinha aguda e infantil, tirando um cacho de cabelo louro que havia caído sobre seu rosto.

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— Cale a boca — respondeu o sr. Schoonmaker rispidamente, sem mesmo se virar e olhar para ela.

Isabelle fez uma expressão triste e continuou a brincar com seu cabelo. — Vocês dois, parem de fazer essas caras de imbecis. Henry, pegue um

drinque para você. Henry não gostava de obedecer a nenhuma ordem do pai e, de qualquer

maneira, eles dois se evitavam tanto que as oportunidades para fazê-lo eram escassas. Mas William Schoonmaker tinha o ar distante de todos os homens muito poderosos e parte de Henry ansiava por receber a atenção e a aprovação dele. Além disso, nesse momento em particular, Henry escolheu fazer o que ele mandara simplesmente porque o que mais queria no mundo era um drinque. Atravessou o cômodo, pegou uma das garrafas de vidro lapidado que havia no aparador e colocou uísque num copo.

A sala estava tomada pela fumaça de charuto que sempre rodeava o sr. Schoonmaker. As paredes e o teto eram de madeira trabalhada e, embora fossem cheias de detalhes, já eram tão familiares para Henry que ele mal as via. Era em lugares como aquele que se faziam grandes negócios, pensou Henry com certo espanto. Sua vida era tão repleta de alegria que aquela atmosfera séria lhe parecia inteiramente estranha. Aquela noite ele jantara no Delmonicos, na rua 44, fora para um daqueles bares no centro da cidade onde se podia ouvir boa música e dançar com meninas da classe trabalhadora, e finalmente se dirigira para a festa grandiosa de Penelope. Agora, sentiu um prazer perverso por estar ligeiramente bêbado no meio da decoração sisuda do escritório de seu pai.

O sr. Schoonmaker se remexeu em sua poltrona, e sua jovem esposa soltou um bocejo.

— Fale-me de Penelope - disse abruptamente o pai de Henry. Henry cheirou seu drinque e examinou seu reflexo no espelho de uma das

paredes. Ele tinha a barba benfeita e o rosto fino de um homem que se dedicava a não fazer nada, e seus cabelos negros, repletos de briíhantina, estavam partidos para a direita.

— Está falando da Penelope? — perguntou Henry, surpreso. Embora não estivesse nem um pouco inclinado a discutir seus romances

com o pai, aquele era um assunto um pouco mais agradável do que testamentos. — Sim - insistiu o sr. Schoonmaker. — Todo mundo acha que ela é uma das mulheres mais bonitas de sua

geração. Henry pensou em Penelope, com seus olhos gigantescos e seu vestido

vermelho dramático, cujo objetivo parecia ser não apenas seduzir a todos, mas também amedrontá-los. Ele sabia que Penelope, no fundo, não era nada assustadora e sabia muito bem como se divertir com ela. Henry desejou estar de volta ao baile, girando o corpo perfeito de Penelope pelo salão.

— E quanto a você? O que você pensa dela? - perguntou o sr. Schoonmaker.

— Gosto muito de sua companhia. Henry bebericou o uísque e sentiu com prazer o calor e o formigamento em

seus lábios. — Então quer... se casar com ela?

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Henry não pôde deixar de soltar uma risada. Ele viu que Isabelle estava encarando-o e soube que agora ela não estava pensando como sua madrasta, mas como todas as outras jovens de Nova York, que se perguntavam quando e com quem Henry Schoonmaker se casaria. Henry acendeu um cigarro e balançou a cabeça.

— Ainda não conheci nenhuma mulher em quem poderia pensar com tanta seriedade, senhor. O senhor muitas vezes já disse que eu não penso seriamente sobre nada.

— Portanto, Penelope não é uma mulher que você vê como sua futura esposa - confirmou o sr. Schoonmaker, fixando seus olhos ferozes em Henry.

Henry deu de ombros, lembrando-se do mês de abril, quando Penelope estivera hospedada com a família num hotel na Quinta Avenida. Os Hayes haviam deixado sua velha casa na Washington Square e a nova mansão ainda não estava pronta. Embora Henry mal a conhecesse na época, Penelope o convidara a subir na suíte que ocupava sozinha e o recebera usando apenas uma meia-calça e um chemise.

— Não, pai. Acho que não. — Mas a maneira como vocês estavam dançando... - começou o sr.

Schoonmaker antes de se interromper. - Deixe para lá. Já que não quer se casar com ela, muito bem. Ótimo.

Ele bateu uma das mãos na outra, ficou de pé e rodeou a mesa, postando sua imensa figura diante de Henry.

— E quem você acha que daria uma boa esposa? — Para mim? — perguntou Henry, esforçando-se para não rir. — É, seu vagabundo imprestável! - exclamou o sr. Schoonmaker, sem

qualquer vestígio de seu momentâneo bom humor. A famosa raiva dos Schoonmaker fora um traço que Henry tivera na

infância, quando se comportava mal e quebrava seus brinquedos com a mesma fúria do pai. William Schoonmaker sentou-se pesadamente na poltrona de couro macia que ficava ao lado da de Henry.

— Você não acha que estou perguntando sobre seus casinhos por mera curiosidade, acha?

— Não, senhor — respondeu Henry, piscando os olhos repetidas vezes. — Então é mais inteligente do que eu imaginava. — Obrigado, senhor - disse Henry seriamente, desejando que sua voz não

ficasse tão fraca em momentos como aquele. — Henry, eu creio que a maneira imoral como você leva sua vida é

ofensiva — disse o sr. Schoonmaker, arrastando a poltrona pelo chão de madeira, ficando de pé mais uma vez e indo de novo para o outro lado da mesa. - E não sou o único.

— Lamento muito, pai. Mas a vida é minha, não sua. Nem de mais ninguém.

A voz de Henry recobrara seu vigor, e ele estava se forçando a manter os olhos fixos no pai.

— Isso não é verdade. Pois é graças ao meu dinheiro, que eu herdei, é verdade, mas que multipliquei com o fruto do meu trabalho, que você leva a vida que leva.

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— Está ameaçando me deixar pobre? Henry olhou para o testamento que estava sobre a mesa enquanto acendia

um novo cigarro no que acabara de fumar. Tentou parecer indiferente ao dar uma baforada, mas só de dizer "pobre" tivera uma sensação desagradável no estômago. Ele sempre achara a palavra repulsiva. Durante seu primeiro semestre em Harvard, Henry cupara a mesma suíte que um bolsista chamado Timothy Marfield. Mais tarde, descobrira que fora seu pai quem havia escolhido seu colega de quarto, achando que, ao conhecer alguém menos favorecido, Henry se tornaria uma pessoa mais responsável. O pai de Timothy trabalhava doze horas por dia num banco de Boston para pagar a mensalidade do filho. Henry gostara de Tim, que conhecia todos os melhores bares de Boston. Mas aquela tinha sido a primeira vez que Henry se dera conta de que muita gente não fazia outra coisa além de trabalhar, e a idéia ainda o assombrava.

— Não exatamente. A pobreza não combina com os Schoonmaker. Gostaria de sugerir uma alternativa. Algo que, creio, você vai considerar mais palatável do que uma conta zerada no banco - disse o sr. Schoonmaker, abaixando a cabeça e olhando nos olhos do filho. - Um casamento.

— O senhor quer que eu me case? Henry sentiu vontade de cair na gargalhada. Ele era a pessoa menos

indicada para casar que havia em Nova York, e até aquelas colunistas sociais bajuladoras sabiam disso. Tentou imaginar uma menina com quem de fato quisesse desfilar pelos jardins da cidade de Newport, onde toda a alta sociedade de Nova York passava o verão, ou pelos deques dos navios luxuosos até o fim da vida, mas não conseguiu.

— Você não está falando sério - disse ele, finalmente. — É claro que estou. — Ah - Henry balançou a cabeça vagarosamente, tentando fingir que estava

pensando na proposta de seu pai. - Seria preciso procurar bastante, é claro, até encontrar uma menina digna de entrar para nossa família...

— Cale a boca, Henry. O sr. Schoonmaker se aproximou de sua jovem esposa e colocou suas

imensas mãos nos ombros dela. Isabelle deu um sorriso desconfortável. — Eu já tenho uma garota em mente. — O quê? - exclamou Henry, sentindo toda sua calma evaporar. — Uma menina que tem classe, sofisticação e que vem de uma boa família.

A imprensa a adora e vai gostar de ver vocês dois casados. Ela certamente é digna de entrar para a família, Henry. Alguém que será visto como um modelo de boa-educação. Estou falando de...

— Por que você está se preocupando com isso? - perguntou Henry. Ele ficara de pé, e estava furioso. Isabelle soltou um ruído de medo ao ver

os dois homens se encarando daquela maneira. — Por quê? - rugiu o sr. Schoonmaker, rodeando a mesa. - Por quê? Porque

tenho ambições, Henry, ao contrário de você. Você não parece compreender que cada gesto que faz é relatado nas colunas sociais. E as pessoas com quem eu me importo lêem essas coisas idiotas e falam sobre o que leram. Você nos cobre de ridículo. Largou a faculdade e agora anda pela cidade fazendo... cada vez que você abre a boca, mancha o nome da nossa família.

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— Isso não responde à minha pergunta. Parecia-lhe que seu pai, com seu temperamento explosivo e famoso amor

pelo dinheiro, já realizara muitas das suas ambições. Ela fundara uma companhia ferroviária e a transformara num negócio extremamente lucrativo, usara os prédios residenciais cronstruídos nas terras herdadas da sua família da forma que quisera, casara-se com duas beldades da sociedade e sobrevivera a uma delas.

— Ainda não entendi, pai - continuou Henry. - O que você quer? Isabelle colocou seus pequenos cotovelos em cima da mesa e disse

animadamente: — William quer um cargo público! — O quê? - disse Henry, incapaz de esconder sua incredulidade. - Qual

cargo? Seu pai parecia estar levemente constrangido com a revelação e aquilo

aliviou um pouco a tensão da sala. — Eu estive conversando com o governador, e ele me garantiu que... O sr. Schoonmaker se interrompeu e deu de ombros. Henry sabia que seu

pai era amigo e rival do governador Theodore Rooseveit há muitos anos e assentiu com a cabeça, indicando que ele podia continuar.

— Admiro um homem que decide servir à comunidade - enunciou o sr. Schoonmaker com uma voz profunda e imponente - Quem disse que a classe nobre não deve se envolver com política? É nossa obrigação. Um homem não é nada se não puder governar o mundo em que vive e deixá-lo melhor do que o encontrou...

— Não precisa fazer o discurso para mim - interrompeu Henry, revirando os olhos, furioso com sua falta de sorte. - Qual cargo?

— Primeiro o de prefeito e depois... — depois qualquer coisa pode acontecer! - disse Isabelle. - Se ele virar

presidente, eu vou ser a primeira-dama! — Parabéns, senhor - disse Henry, sentando-se desanimado. — Por isso você não pode mais me constranger dessa maneira. Não quero

mais ver os jornais chamando você de selvagem. Chega dessa vergonha pública. Por isso é que você precisa se casar com uma menina de família. Não com uma Penelope. Com uma menina de moral, de quem os eleitores vão gostar. Uma menina que vai fazê-lo parecer respeitável. Uma menina...

Henry viu seu pai apoiar o quadril na mesa e fingir que acabara de ter uma idéia.

— Uma menina como Elizabeth Holland, por exemplo. — O quê? — perguntou Henry, perdendo de vez a paciência. Ele conhecia a mais velha das irmãs Holland, é claro, mas a última vez que

conversara com ela fora antes de ir para Harvard, quando Elizabeth era muito jovem e ainda um pouco desajeitada. Ela possuía uma beleza impecável, era verdade, com aquele cabelo louro-acinzentado e sua boquinha redonda, mas obviamente era um deles. Seguia todas as regras, jamais deixava de comparecer ao chá da tarde, mandava cartõezínhos elegantes em todas as ocasiões.

— Elizabeth Holland é comportada demais. — Exatamente - disse o sr. Schoonmaker, batendo com o punho na mesa e

fazendo ondas no uísque de Henry.

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Henry não disse nada, mas sabia que seu rosto estava distorcido por uma expressão que misturava fúria e espanto. Seu pai não poderia ter sugerido uma pessoa pior para ser sua esposa. Seria a mesma coisa que mandar o próprio filho para a prisão. Ele imaginou a vida cheia de luxo e silêncio que levaria e já a viu estendida à sua frente como os gramados sempre bem cuidados sobre os quais as matronas de alta classe davam festas narcolépticas, em lugares como Tuxedo Park ou Newport e tantos outros.

— Henry, sei muito bem no que está pensando, e quero que pare agora - disse o sr. Schoonmaker, pegando o testamento que estava sobre a mesa e sacudindo-o no ar. - Quero que se case e se torne um homem respeitável. Vai ter de se livrar dessa Penelope. Estou lhe dando uma oportunidade aqui, Henry. Mas, se você me contrariar, cada alfinete que eu tenho vai ser passado para Isabelle. Vou lhe deserdar de forma rápida e muito pública.

Pensar em usar roupas velhas, rodear-se de móveis marrons e ver seus dentes apodrecerem fez com que Henry se sentisse subitamente, horrivelmente sóbrio, e seu olhar pousou sobre as garrafas do aparador. Por um segundo, desejou poder voltar a Harvard. Todas aquelas aulas tinham lhe parecido uma bobagem quando estudara lá, mas agora via que a faculdade poderia ter lhe dado meios de vencer sozinho e não precisar mais temer as ameaças do pai. Infelizmente, já era tarde demais.

Como Henry se comportara muito mal e tirara notas péssimas quando estivera na faculdade, jamais poderia voltar para lá sem a ajuda do pai. Ele olhou para as garrafas cheias de líquido âmbar e soube que a única rota para a independência que lhe restara era uma vida de tédio mortal ao lado de Elizabeth Holland.

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V|ÇvÉV|ÇvÉV|ÇvÉV|ÇvÉ

A criada ideal para uma mulher de classe se levanta antes de sua senhora, trazendo-lhe água morna para que ela lave o rosto, e não vai se deitar até tê-la preparado para ir para a cama. Talvez seja necessário que a criada durma um pouco durante o dia, quando seus serviços não forem requisitados.

GUIA VAN KAMP DE ADMINISTRAÇÃO DA CASA PARA DAMAS DE ALTA SOCIEDADE, EDIÇÃO DE 1899

ina Broud tirou os cotovelos do parapeito da janela e colocou-os sobre ele de novo, observando a escuridão tranqüila que rodeava o Gramercy Park. Ela estava sentada há muitas horas

naquela posição, no quarto onde, mais cedo, vestira a primogênita das Holland com camadas e mais camadas de seda, popelina, barbatanas de baleia e aço. Ela agora era a Srta. Elizabeth - não mais Lizzie, como fora chamada por Lina durante a infância das duas, ou Liz, corno ainda era chamada por Diana - mas a srta. Elizabeth, segunda mulher mais importante da casa. Lina não estava ansiosa por sua volta. Elizabeth passara tantos meses fora que sua criada pessoal quase se esquecera de como era servir alguém. Contudo, desde o primeiro segundo em que entrara em casa naquela manhã, ela deixara claro para Lina exatamente o que era esperado dela.

Lina tensionou os ombros e deixou-os pender. Ela não era como Claire, sua irmã mais velha, uma pessoa muito mais afável que se contentava em ler a última edição da revista de fofocas Cité Chatter no minúsculo quarto que elas duas dividiam no sótão da casa, observando desenhos de vestidos lindos de Charles Worth que jamais usaria. Claire tinha vinte e um anos, quatro a mais do que Lina, mas agia como se fosse mãe dela. E, como a mãe das duas estava morta há tempos, de certa forma era mesmo. Mas Claire também tinha algo de infantil, pois ficava imensamente grata por qualquer bugiganga que os Holland lhe dessem. Lina não conseguia se sentir assim.

Lina estava, como sempre, usando um vestido preto simples de linho, decote canoa e cintura baixa e deselegante. Ela se virou para observar o luxo do quarto de Elizabeth: papel de parede azul-claro, uma enorme cama de mogno, uma banheira prateada que recebia água quente encanada e peônias em vasos de porcelana cujo perfume tomava conta da atmosfera. Desde que Elizabeth fora apresentada formalmente à sociedade, ela passara a se considerar uma especialista em decoração de interiores e, se alguém lhe perguntasse, provavelmente diria que os cômodos da casa dos Holland eram muito modestos.

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E talvez fossem mesmo, se comparados com as ridículas mansões dos milionários que moravam na Quinta Avenida. Lina olhou para um quadro holandês de moldura dourada que mostrava uma adorável cena doméstica e pensou que Elizabeth não fazia idéia dos privilégios extraordinários que tinha.

Mas Lina não odiava Elizabeth. Não conseguia odiá-la, por mais que suas roupas chiques e sua maneira pomposa de agir houvessem distanciado as duas. Elizabeth sempre fora um modelo para Lina, um lampejo de esperança de que sua vida não fosse sempre tão sem graça. E tinha sido Elizabeth quem convencera Lina, certa noite, há dez anos, de que elas precisavam descer até o galpão onde ficavam as carruagens para descobrir quem estava chorando no meio da noite. Lina sentira medo, mas Elizabeth insistira. E fora assim que Lina se apaixonara por Will Keller, que já era lindo naquela época.

Will ficara órfão aos oito anos de idade quando o prédio em que morava fora consumido por um daqueles incêndios que aconteciam de vez em quando, levando as vidas de adultos e crianças. Ele fora morar na casa dos patrões de seu pai, pagando o abrigo com trabalho apesar de ser tão pequeno, e chorava quando sonhava com incêndios. Mas isso deixou de ser importante naquela noite, pois Will parou de ter aqueles pesadelos quando ficou amigo de Lina e de Elizabeth.

É claro que eles já eram tratados de forma diferente, mesmo naquela época. Mas ainda eram todos crianças, todos banidos das festas e jantares dos adultos. Durante o dia, ficavam sob os cuidados da mãe de Lina, Marie Broud, que fora a babá de Elizabeth e Diana e os considerava todos iguais. Ela sempre brigava com Will e com Elizabeth usando o mesmo tom de voz para ambos, pois os dois estavam o tempo todo fazendo alguma travessura. Claire era tímida demais para participar das brincadeiras e Diana ainda era muito pequena. Mas Lina sempre correra atrás de Will e de Elizabeth, desesperada para ser incluída. A noite, eles se esgueiravam pela casa, rindo dos retratos imponentes dos antepassados de Elizabeth, roubando açúcar da cozinha e botões de prata da sala de costura. Eles roubavam o baralho do sr. Holland, aquele que tinha desenhos de mulheres só de roupa de baixo, e faziam caretas para elas. Eram amigos de verdade naquela época, antes de o esnobismo de Elizabeth crescer e ela parar de ter tempo para seus velhos companheiros.

Lina não sabia bem quando tudo tinha mudado. Talvez na época em que sua mãe morrera, quando Elizabeth começara a ter aulas de boas maneiras com a sra. Bertrand. Lina estava com quase onze anos quando isso acontecera, e tinha o corpo desajeitado e uma vontade enorme de detestar tudo o que via. Não gostava de lembrar daquela época. Elizabeth, que era pouco menos de um ano mais velha do que ela, subitamente fora absorta por suas aulas, nas quais aprendia qual era o jeito correto de segurar uma xícara de chá e quando era o momento exato de retornar uma visita feita por uma amiga casada. Cada gesto dela parecia calculado para mostrar a Lina que as duas não eram da mesma esfera, que não eram mais amigas. E que Elizabeth era como aquelas meninas sobre as quais Claire lia nas revistas de fofocas.

Durante anos a existência de Lina fora silenciosa e solitária, embora ela servisse Elizabeth o dia inteiro e a noite inteira e dividisse um quarto com sua irmã e com as outras jovens que trabalhavam na casa dos Holland. Sua timidez a impedira de continuar amiga de Will sem a presença de Elizabeth. Por isso, Lina

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observara Will de longe, enquanto ele ia ficando cada vez mais alto e mais bonito. Ele também tinha passado por épocas difíceis - Lina ouvira a governanta, que se chamava sra. Faber, falando de suas bebedeiras e das brigas em que se metia, e se perguntara por que seu coração era tão inquieto. Fora apenas naquele verão, quando Elizabeth viajara e Lina ficara gloriosamente livre de seus afazeres, que ela e Will haviam se reaproximado. Os dois fumavam cigarros juntos no final da tarde e riam escondidos da sra. Faber. Contavam um para o outro como achavam que suas vidas seriam se pudessem fazer o que quisessem. Lina costumava se perguntar para onde Will ia quando desaparecia. Agora sabia que ele não era um rapaz perigoso e que passava quase todos os minutos em que não estava trabalhando lendo livros. Livros sobre os excessos dos ricos, sobre a teoria da democracia, sobre política e literatura e principalmente sobre o oeste do país e sobre como qualquer um que tivesse ambição e força de vontade conseguia vencer naquela região. Mas o verão já quase terminara e Lina ainda não tinha encontrado uma maneira de dizer a Will que queria ir para o oeste também. Queria ir com ele. Estava apaixonada por ele.

Lina foi despertada de seus sonhos sobre Will quando o viu em pessoa, lá embaixo. Uma das carruagens das Holland parou na frente da casa e Will pulou de seu assento para abrir a porta. Ela olhou para as costas dele, com ombros largos e torso longo, e para o X que seus suspensórios formavam. Elizabeth saiu primeiro e estendeu a mão para Diana que, apesar de gostar de contar vantagem, estava parecendo bastante cansada. Então, Will deu o braço para a sra. Holland, uma figura pequena vestida de negro que saltou rapidamente para o chão. As mulheres da família Holland atravessaram a noite tranqüila e pararam na frente da porta de sua casa. Lina ouviu Claire dando as boas-vindas a elas enquanto Will levava os cavalos para o estábulo.

Ela sabia que Elizabeth logo ia subir a escadaria principal da casa, e sentiu uma enorme onda de rebeldia lhe crescendo no peito. Quando ela chegasse ao quarto, Lina teria de ajudá-la a tirar a fantasia e só poderia ir se deitar quando o dia estivesse amanhecendo. Só de imaginar a tarefa que já fizera milhares de vezes, mas que não precisara fazer nos últimos meses, Lina ficou cheia de rancor. Ela levantou do parapeito da janela e saiu depressa do quarto de Elizabeth, atravessando o longo corredor acarpetado. Chegou à escada dos empregados, que ficava nos fundos, em poucos segundos, e desceu dois degraus de cada vez.

A caminho da cozinha, Lina ouviu Ehzabeth, Diana e a sra. Holland subindo a escadaria principal. Ela se perguntou se seria punida por abandonar seu posto na primeira noite após a chegada da srta. Elizabeth. Mas Lina queria contar a Will sobre o jeito de francesa que sua patroa adquirira durante a viagem. Queria vê-lo rindo e saber que fora ela a causa de sua alegria. E talvez... talvez encontrasse uma maneira de lhe contar o que sentia. Então, ela atravessou a cozinha correndo e saiu pela porta da despensa, que Elizabeth mandara instalar no último outono para facilitar as entregas do mercado.

Os pés de Lina tocaram o chão coberto de feno do estábulo. Will já tirara os arreios dos cavalos, que estavam enfileirados no chão para que ele pudesse limpá-los antes de guardá-los. Ele estava suado de tanto trabalhar, e o algodão puído de sua camisa de gola azul grudava em sua pele. Suas mangas estavam

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enroladas, deixando seus cotovelos à mostra, e os fios de cabelo que ficavam atrás de suas orelhas estavam molhados.

Will deu um passo à frente, encarou Lina e então estacou, como se houvesse lembrado algo.

— Olá - disse ele, baixinho. Will olhou para a porta que estava atrás de Lina e então voltou a fixar os

olhos nela, dando um sorriso nervoso. — Você não deveria estar lá em cima, ajudando as senhoritas? Lina ficou parada ao lado da porta, sorrindo descontroladamente. Ela

cruzou os braços e esperou que Will a convidasse a entrar como sempre fazia. Mas ele desviou o olhar e falou num tom de voz bem diferente do que usara com ela ao longo do verão.

— Você está se arriscando muito, saindo assim no meio da noite agora que a srta. Liz... que a srta. Elizabeth voltou. Você não devia. Não... pode.

Lina estremeceu de susto e o tempo pareceu passar mais devagar do que o normal. Will estava agindo de modo tão estranho. Era como se a intimidade que surgira entre eles naquele verão houvesse desaparecido em um segundo, ou houvesse existido apenas na imaginação dela. Ela piscou os olhos, desejando que ele voltasse a encará-la.

E então, finalmente, ele o fez. Suas feições estavam tensas e não havia qualquer carinho em seus olhos. O cavalo que estava mais próximo dos dois se remexeu, balançando a cabeça e batendo com a pata no chão. Alguns segundos se passaram, até que Will estendeu a mão e acalmou o animal.

— Will? - chamou Lina. Em sua voz havia uma súplica que ela não conseguiu reprimir. Queria

desesperadamente que ele dissesse algo para encorajá-la, alguma piada que dissipasse o constrangimento que estava sentindo naquele momento.

— Por que não podemos conversar como sempre? - perguntou ela. - As damas da sociedade fazem isso durante o dia enquanto bebem chá mas, como nós somos o que somos, só podemos conversar de madrugada...

— Lina - disse Will, interrompendo-a. Lina ficou alarmada ao ouvi-lo dizendo seu nome, coisa que nunca fazia.

Durante o verão ele sempre a chamara por seu apelido de infância: Liney. Will olhou para o chão, soltou um suspiro e, sem encará-la, aproximou-se dela. Pegou suas duas mãos com gentileza e, por um momento, Lina achou que seu coração ia parar de bater. Mas então ele empurrou-a na direção da cozinha.

— Desculpe, Lina - disse Will baixinho, fazendo-a subir os quatro degraus de madeira que davam na casa. - Hoje não. Não podemos conversar hoje à noite.

— Por que não? - perguntou ela num sussurro. Will olhou para Lina. Seu cenho estava franzido e seus olhos estavam muito

sérios e mais azuis do que nunca. Ele apenas balançou a cabeça, como se quisesse dizer que ela não compreenderia o que estava pensando.

— Hoje não, está bem? Então, Will fechou a porta na cara de Lina, que se viu na cozinha. Ela

estendeu a mão na escuridão, procurando uma parede para se apoiar. Caiu sentada no chão, que cheirava a cebolas e poeira, e ficou ali, imóvel, durante

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muito tempo, sentindo-se mais sozinha do que nunca. Lá fora, o céu começou a clarear, passando do negro fechado para um roxo escuro.

Lina ainda estava ali sentada quando a porta da escada dos empregados se abriu e uma menina envolta num quimono branco de seda atravessou a cozinha. Ela era rápida e iridescente como um fantasma e não levantou a cabeça ao passar por Lina.

A menina já abrira a porta do estábulo quando Lina se deu conta de que aquela era Elizabeth Holland.

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lizabeth, enrolada no quimono de seda branca que seu pai comprara numa viagem ao Japão e dera a ela em seu aniversário de dezesseis anos, atravessou a cozinha correndo e

saiu pela porta dos fundos. Movia-se com a determinação trêmula de um desejo que vinha crescendo dentro dela desde o início da noite. Ela manteve a cabeça abaixada ao subir os quatro degraus de madeira que davam no estábulo.

Ao entrar, Elizabeth deteve-se. O ar à sua volta estava pesado com o calor daquele final de verão e com as partículas de pó que subiam do feno. Ela ouviu o som dos cavalos movendo-se gentilmente em suas baias e sentiu-se completamente acordada pela primeira vez naquela noite. Essas coisas - os sons dos animais, a noite fresca e silenciosa, o cheiro doce do feno - eram tudo que ela tentara esquecer durante sua temporada em Paris. Elizabeth seguiu em frente, sentindo o chão do estábulo com suas sapatilhas de cetim e tentando impedir que pedaços de feno incriminadores se agarrassem a seu quimono.

— Você veio - afirmou Will, mas usou o tom de quem fazia uma pergunta. Ele estava sentado no compartimento onde dormia, que ficava perto do teto

do estábulo, com as pernas penduradas para baixo. Seus cabelos, que ele tinha mania de colocar sem parar atrás das orelhas quando estava nervoso ou chateado, estavam grudentos por causa da umidade e do suor. Will, ao contrário dos rapazes desejados pelas amigas de Elizabeth, tinha o nariz torto por tê-lo quebrado numa briga, e lábios grossos e expressivos. Seus olhos eram azuis e tristes e ele estava numa posição familiar - a posição de quem espera.

— Já tinha quase desistido de ver você - acrescentou Will, escolhendo as palavras com cuidado para mascarar o medo que sentia.

X

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Ao olhar para Will, Elizabeth sentiu-se radiante e esgotada ao mesmo tempo, e percebeu o quão longa a noite havia sido. O baile inteiro, os risos, as fantasias elaboradas pareciam ter acontecido num sonho absurdo que desaparecera com a chegada da manhã. Elizabeth dançara com muitos rapazes solteiros, o bastante para satisfazer sua mãe, e alguns deles eram menos ricos e mais charmosos que Percival Coddington. Ela tivera tempo de conversar com Penelope e elas haviam passeado de mãos dadas e elogiado os vestidos uma da outra. Esquecera-se de perguntar a Penelope sobre seu caso secreto, o que a fez se dar conta de que fora uma má amiga. Mas compensaria a falta de atenção implorando-lhe que revelasse quem era seu namorado numa outra ocasião. As duas haviam concordado que a terrina estava deliciosa, quando na verdade estavam nervosas demais para comer direito, e haviam bebido mais champanhe do que pretendiam. Mas ambas consideravam champanhe irresistível. A noite realmente fora longa, mas agora pareceu a Elizabeth que ela não poderia ter terminado em outro lugar.

— Desculpe... mas você sabe que não pode sempre ficar me esperando - respondeu Elizabeth, finalmente.

O que ela quis dizer, no entanto, era que pensara em Will todos os dias e que quase não suportara ficar longe dele. Elizabeth queria contar a ele sobre todos os lugares exóticos que visitara, como as largas avenidas de Paris faziam curvas e de repente se abriam em vistas panorâmicas impossíveis em Nova York, cujas ruas eram todas em linha reta. Ela queria dizer muitas coisas, mas apenas murmurou:

— Não quero que você fique me aguardando, pois às vezes posso não... Mas Elizabeth parou de falar quando viu que Will abaixara a cabeça. — Por favor, Will... - disse ela, com um pouco de desespero e sentindo seu

peito doer ao vê-lo daquela forma. - Por favor... Era impressionante a rapidez com que Elizabeth se ajustava ao estábulo ao

sair de seu enorme quarto no segundo andar, a rapidez com que as inúmeras regras que governavam sua vida tornavam-se inúteis e tolas. Fazia tempo que tentava parar de se sentir assim. Durante os meses que passara em Paris ela acreditara que conseguiria, que não se importava mais com Will, que se transformara na dama de alta classe que nascera para ser. Mas quando Elizabeth desembarcara do navio naquela manhã e o vira lhe esperando ao lado da carruagem, ela tinha percebido que Will também tinha crescido e visto pelo porte dele que não era mais um menino que se metia em brigas bobas. Havia determinação em cada gesto seu. E agora ali estava ela, gaguejando de nervoso, quase pedindo de joelhos que ele a amasse de novo, comportando-se como uma menina apaixonada. Era isso que ela era, no final das contas: uma menina apaixonada.

Mas nem tudo isso impediu que Elizabeth se lembrasse das palavras que sua mãe dissera logo antes de ela ir dançar com Percival Coddington: “A única coisa que não temos é tempo”. Essa frase era como um mau agouro.

— Você passou tanto tempo fora - disse Will baixinho, balançando a cabeça com tristeza.

Elizabeth encarou-o e tentou tirar a voz de sua mãe da cabeça.

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—E hoje eu tive de ficar lá na rua, esperando o baile acabar, sem saber o que você estava fazendo lá dentro, quem estava lhe tocando, quem estava...

Will olhou bem nos olhos de Elizabeth e, com isso, não precisou dizer mais nada. Um dos cavalos se remexeu, batendo os cascos no feno e soltando um relincho.

— Will, eu não podia deixar de ir ao baile. Elizabeth arregalou os olhos, sem saber o que fazer. Ela não sabia por que

Will precisava reclamar de coisas que ela não tinha como mudar, especialmente na primeira noite que passava em casa depois de todos aqueles meses. Afinal, Elizabeth estava arriscando tudo ao se esgueirar pela casa naquela hora e daquela maneira. Será que ele não podia se contentar com o tempo que eles tinham?

— Estou aqui agora, Will. Olhe para mim. Estou aqui - disse ela suavemente, dando um passo para frente. - Eu amo você.

Elizabeth quase riu, de tão verdadeiras que eram aquelas palavras. — Fiquei imaginando você lá dentro, dançando com aqueles outros homens

- disse Will, apertando com força a beirada de madeira do compartimento. - Esses caras iguais ao Henry Schoonmaker que usam ternos de cem dólares e têm casas no campo maiores ainda do que as casas que têm na cidade...

Elizabeth foi até a escada que dava no compartimento e subiu dois degraus. A superfície áspera da madeira arranhou suas mãos macias e perfeitas, mas ela mal percebeu. Manteve os olhos fixos em Will, enquanto seu sorriso ficava cada vez maior.

— Henry Schoonmaker? Aquele canalha? Você deve estar brincando. Ela soltou sua bela risada, não conseguindo mais deixar de achar graça na

situação. Elizabeth não sabia de onde vinha aquela vontade de abraçar e confortar

Will, mas, para ela, o sentimento era inescapável como o destino. Ela nem sabia quando a amizade da infância se transformara em amor, mas seja lá o que fosse que a atraia em Will, era algo que sempre estivera presente. Elizabeth jamais conhecera alguém tão verdadeiro, tão absurdamente bom. Às vezes, ele chegava a ser rigoroso demais com o mundo, mas ela sabia como fazê-lo se acalmar. Ela olhou para Will, inundada de amor, e viu que ele estava pronto para fazer as pazes. Will baixou os olhos e colocou o cabelo atrás da orelha mais uma vez. Então ele levantou um pouco a cabeça e encarou Elizabeth.

— Você está rindo de mim, Lizzie? — Eu nunca faria isso - disse ela seriamente, subindo mais um degrau da

escada de madeira. Então Will passou as pernas para cima e ficou de pé, fazendo o

compartimento tremer com suas velhas botas de couro. Ao chegar na escada ele se inclinou, tomou Elizabeth nos braços e trouxe-a para cima. Ele cheirava a cavalos, suor e sabão ordinário - era um cheiro que Elizabeth conhecia muito bem, e que adorava.

— Estou tão feliz por você estar de volta - disse ele, sussurrando as palavras com a boca quase tocando o pescoço dela.

Elizabeth fechou os olhos e não disse nada. Era tão raro e tão maravilhoso ser tocada. Ela não sabia o quanto sentira falta disso até agora.

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— E como foi a festa? - perguntou ele, falando no ouvido dela e fazendo-a se sentar nas tábuas de madeira do chão do compartimento. - Elegante ou animada?

Elizabeth encostou a cabeça no peito dele e tentou se lembrar de como fora o baile, mas só conseguiu pensar nas palavras terríveis de sua mãe e nos olhares estranhos que ela lhe lançara a noite toda. Ela pensou antes de responder e finalmente disse:

— Chata. Elizabeth olhou para o rosto grande e lindo de Will e desejou poder

esquecer o baile, esquecer quem era e quais eram suas obrigações. Ela fora até o estábulo porque a única coisa que desejava era ficar perto de Will por algumas horas, embora isso fosse proibido pela educação que recebera.

— Pensei em você a festa toda - disse ela. - Agora, será que podemos mudar de assunto e nunca mais conversar sobre bailes a fantasia?

Will sorriu e gentilmente deitou-a no colchão de molas que havia num canto do compartimento, abaixo das vigas de madeira onde ele pendurava suas roupas para secar. Elizabeth abriu seu quimono de seda. Ele debruçou-se sobre ela, segurando seu rosto com suas mãos grandes e beijando-a repetidas vezes. Elizabeth deu um enorme sorriso.

— Acho que a senhorita me ama mesmo, srta. Elizabeth - sussurrou ele.

* * *

O sol já estava alto quando a luz da manha entrou por uma pequena janela. Uma agitação percorreu o corpo de Elizabeth, lembrando-lhe que ela não devia estar se sentindo tão confortável assim. Era sua segunda manhã em Nova York após a viagem, mas ela ainda não dormira em sua própria cama.

— No que você está pensando? - sussurrou Will, usando os cotovelos para se erguer.

— Odeio essa pergunta - disse Elizabeth, porque ela estava pensando nas palavras de sua mãe mais uma vez e sabia que acordar com Will era o oposto do que devia estar fazendo.

Ela se sentou e olhou pela janelinha do estábulo, vendo a horta que havia nos fundos da casa.

— Preciso ir - afirmou, sem nenhuma convicção. — Por quê? Will colocou a mão dentro do quimono dela, pousando-a sobre seu coração.

O toque fez com que Elizabeth se desse conta do quanto ele estava batendo depressa, e de que cada segundo que ela passava lá a deixava mais nervosa. Lina, que estranhamente desaparecera na noite anterior, logo chegaria em seu quarto com uma xícara de chocolate quente e um copo de água gelada e encontraria uma cama vazia. Elizabeth forçou-se a dar um beijo rápido nos lábios macios de Will e a arrancar-se de seu abraço.

— Você sabe por quê.

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Ela ficou de pé, fechando seu quimono. Olhou para os cavalos que se remexiam nas baias lá embaixo, e tentou assumir a aparência de quem achava que estava tomando a decisão certa.

— Se minha mãe descobrisse que eu venho aqui... se qualquer pessoa descobrisse... seria o fim.

— Mas se a gente fosse para Montana... ou para a Califórnia... ninguém ia se importar com o que fizéssemos. Poderíamos passar o dia todo na cama - disse Will, ficando cada vez mais entusiasmado. - E quando levantássemos, poderíamos ir passear de cavalo, ou fazer o que quiséssemos, e...

Elizabeth já ouvira tudo aquilo antes, mas percebeu que Will pensara muito mais no assunto durante sua viagem. Ela gostava quando ele falava daquele jeito. Will era o único menino que conhecia que olhava para o futuro e tentava imaginar que poderia ser melhor do que o presente. Era a pessoa mais assustadora, linda e complicada que ela já conhecera. Ir para longe de Nova York, onde eles poderiam agir como um menino e uma menina qualquer, era a idéia mais maravilhosa que ela podia conceber. Não haveria mais nenhum mal-entendido para magoá-lo, pois ela não precisaria mais se esgueirar pela casa para visitá-lo só quando sabia que seus outros habitantes estavam exaustos demais para notar.

Elizabeth se virou, morrendo de vontade de se deixar levar por aquela fantasia, mas a cena que viu fez com que se calasse: ela viu Will, usando apenas sua calça preta puída, com o peito forte nu, apoiado apenas em um dos joelhos, como um homem prestes a fazer um pedido de casamento. Elizabeth já o vira naquela posição antes. Ela sabia o que aquilo significava.

— Talvez você devesse pensar em levar uma nova vida - disse ele suavemente.

Will pegou a mão dela. Elizabeth afastou-se instintivamente dele, enquanto seu coração voltava a bater forte. Ela olhou para as mãos e desejou que seu senso de decoro não lhe obrigasse a fazer aquelas coisas.

— Volto quando puder, está bem? Elizabeth se forçou a não olhar para o rosto de Will que, ela sabia, devia

estar confuso e magoado. Se olhasse para ele, perceberia o quanto tinha medo de perdê-lo. Poderia negligenciar todas as obrigações que uma menina comportada como ela possuía.

Elizabeth subiu a escadinha que dava na cozinha, preparando-se para tomar a escada dos empregados e ir até seu quarto, onde poderia fazer o que todas as outras meninas de alta classe estavam fazendo: dormindo para descansar do primeiro baile da temporada, satisfeitas por saberem que podiam passar o dia todo sonhando com os vestidos que iam usar e os meninos com quem iam dançar nos próximos meses.

— Bom dia, srta. Elizabeth. Elizabeth virou-se e viu Lina sentada na mesa pesada da cozinha onde a

cozinheira passava seus intervalos, usando seu indefectível vestido preto. Durante o tempo que Elizabeth passara em Paris, sua criada se tornara mais alta e magricela, enquanto as sardas espalhadas por seu nariz haviam se multiplicado. Vê-la tão feia e emburrada logo no início do dia fez com que Elizabeth tomasse um susto. Ela sentiu suas costas se cobrirem de suor e fechou mais o quimono

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para disfarçar o rubor que começava a se espalhar por suas faces. Certamente estava começando a entrar em pânico e, por isso, ficou chocada com a tranqüilidade de sua voz:

— Procurei você pela casa toda. Quero meu chocolate quente. E água também. Passei a noite toda sem ter água para beber.

Então, se virou para começar a subir a escada e perguntou, conforme saía da cozinha:

— Onde você estava na noite passada? Elizabeth tentou se convencer de que conseguira disfarçar. Lina era mal-

humorada demais para prestar atenção nas coisas que ela fazia. Além do mais, ela não devia estar na cozinha há muito tempo.

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fxàxfxàxfxàxfxàx

No baile da família Richmond Hayes, na noite de dezesseis de setembro, a jovem dona da casa foi vista dançando amorosamente com um certo rapaz que chamaremos de HS. Eles estavam tão obviamente satisfeitos com a companhia um do outro que a alta sociedade está afirmando que um noivado será anunciado em breve, embora isso não tenha ocorrido até o fechamento desta edição...

NOTA DA COLUNA SOCIAL DO JORNAL NEW YORK NEWS OF THE WORLD GAZETTE, SÁBADO, 17 DE SETEMBRO DE 1899

s jornais estavam simplesmente fantásticos - disse Isaac Phillips Buck, estendendo seu dedo mindinho ao pegar uma xícara de porcelana para tomar um gole de chá. - Não

me divertia tanto desde que Remington Astor foi pego beijando um dos ajudantes de cozinha. Esse foi um bom escândalo.

— Os jornais estavam ridículos. Penelope passou seus dedos longos e cheios de anéis sobre a cabeça de

Robber, seu cãozinho da raça Boston terrier, e sorriu languidamente. Estava usando um vestido de seda negro com um decote quadrado, cintura bem marcada e saia em camadas e parecia mais magra do que nunca perto de Isaac, que suava devido ao calor daquele final de verão. Eles eram as duas únicas pessoas na imensa sala de estar da casa de Penelope, que tinha um pé-direito de oito metros e muitos móveis franceses com estofados listrados de seda azul e branca.

— Nem sei por que você traz essas porcarias para mim - continuou Penelope com um bocejo.

Ela passara o dia todo descansando e seu corpo ainda estava deliciosamente relaxado, como se houvesse acabado de despertar.

— Como é aquele velho ditado... morrer de inveja é a melhor maneira de elogiar alguém? Você devia aprender a encarar os jornais como eu.

— Eu tento, querido. Mas eles só falam de Deus isso, Deus aquilo, Deus detesta sua nova mansão...

Penelope tentou parecer mais indiferente do que divertida, mas não conseguiu evitar uma risadinha. Os jornalistas eram tão pretensiosos.

— Sinceramente, esses colunistas deviam empregar melhor seu tempo. — Mas eles têm toda a eternidade pela frente - disse Isaac, rindo e fazendo

com que Penelope revirasse os olhos. - Bem, pelo menos os jornais parecem concordar com você sobre um certo Henry. Estão prevendo que vocês dois vão estar noivos antes do fim da temporada. Até falaram com um astrólogo para confirmar tudo.

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Os olhos de Isaac ficaram esbugalhados de excitação quando ele revelou essa notícia bombástica. Penelope sentiu uma enorme onda de autoconfiança, mas controlou-se para não dar pulinhos de alegria.

— Mas nem precisavam do astrólogo, só tinham de perguntar para as Wetmore - disse Isaac. - Elas ficaram indignadas ao ver você dançando com ele ontem à noite. Souberam instantaneamente que os rumores eram verdadeiros. Pareciam que tinham levado um tapa na cara.

— Adelaide Wetmore precisa mesmo levar um tapa na cara - disse Penelope.

Ela tentou não demonstrar que estava se sentindo embriagada de felicidade, mas saber que os jornais estavam especulando sobre ela e Henry era maravilhoso. Ele sempre fizera muita questão de manter o namoro dos dois em segredo, mas agora toda a cidade de Nova York ia ficar querendo saber se estavam juntos ou não. Logo, até Elizabeth teria de admitir que o único homem perfeito de Nova York era de Penelope. Ela forçou-se a parar de sorrir.

— Mesmo assim. É tudo tão bobo, toda essa tinta gasta por causa de uma festinha. Da próxima vez, você devia barrar os jornalistas.

Mas Penelope não tinha nada do que reclamar. Alguns colunistas haviam reclamado dos ombros expostos das moças, mas a grande maioria se limitara a descrever de maneira longa e fiel o quanto o baile fora luxuoso. E Isaac tinha razão: não havia nada melhor do que ser invejada pelas multidões. Para não falar da ajuda dos jornais em levar seu namoro adiante. Agora, fora confirmado pela imprensa e pelas estrelas: Henry ia pertencer a ela, de verdade.

Lá fora, os sinos da igreja de St. Patrick bateram três vezes. Já estava na hora.

— Isaac, você precisa ir embora - disse Penelope, ficando de pé. Isaac deu um suspiro.

— Mas, Penny, ainda nem falamos das roupas de todo mundo. — Eu sei, Isaac, mas ainda temos a semana toda. Penelope usou um tom firme, andando até a cadeira onde Isaac estava. Ela

estendeu o braço e ele pegou-o, embora com uma certa tristeza. A única hora em que Isaac a irritava era quando ele agia como um menininho emburrado.

Bernardine, a governanta dos Hayes, estava parada na porta com o chapéu de Isaac nas mãos. Ele agradeceu a ela e ela então abriu a porta da frente, revelando a visão maravilhosa que era Henry Schoonmaker, parado, sozinho, na escada da frente. Penelope ficou maravilhada ao ver que ele chegara bem na hora, pela primeira vez. Henry estava usando o casaco negro que sempre vestia e seu rosto estava belo como sempre, mas havia algo de diferente em sua expressão. Penelope estava acostumada a um Henry sereno e despreocupado, mas agora ele parecia um pouco... confuso.

— Olá, Schoonmaker - disse Isaac, estendo a mão para apertar a de Henry. - O que você está fazendo aqui?

— Olá, Buck - disse Henry, apertando resignadamente a mão gorducha de Isaac.

Penelope tentou decifrar a expressão estranha dele, em vão. Ele estava com uma cara de quem fora pego no flagra fazendo algo errado.

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— Estou fazendo umas visitas aqui e ali. Quis deixar isso com a srta. Penelope - continuou Henry, pegando um envelope selado do bolso do casaco.

O coração de Penelope se contraiu de raiva. Henry ia deixar um bilhete com a governanta, só isso? E quanto ao encontro dominical deles? Ele não podia dizer a ela o quanto ela estivera deslumbrante no baile por meio de um bilhete. Talvez fossem boas notícias, Penelope disse a si mesma. Mas Henry nunca perdia tempo escrevendo cartas formais, e não era de maneira alguma um rapaz tímido, do tipo que preferia escrever algo do que dizê-lo em voz alta.

— O senhor não gostaria de entrar e me explicar do que se trata? - disse Penelope, devagar, pegando o odioso envelope das mãos dele e lançando-lhe um olhar cheio de determinação.

— Pode ir, eu já estava indo embora - disse Isaac, voltando-se para dar um beijo em cada bochecha de Penelope. - Comporte-se - disse ele ao beijar a direita. - Mas não muito - sussurrou Isaac no ouvido esquerdo dela.

Henry cobriu a boca com uma de suas mãos envolta em luvas de couro, tossiu e acenou para Isaac. Ele foi com Penelope para o grande vestíbulo; ela conseguira fazê-lo entrar em sua casa. O vestíbulo dos Hayes não era como o das velhas casas, mas cheio de luz, com um chão feito de mármore preto e branco e tetos espelhados. Às vezes, Penelope se sentia pequena como um grão de poeira naquela imensa mansão, mas gostava do fato de poder ver seu reflexo em praticamente todas as superfícies.

— Bernardine, pode voltar para sua costura - disse Penelope para a governanta.

A mulher assentiu, formando diversos queixos ao fazê-lo. — A sra. Hayes me pediu para dizer à senhorita que o reverendo

Needlehouse irá jantar aqui hoje à noite, e que ela insiste que esteja pronta para recebê-lo às cinco em ponto.

Penelope revirou os olhos, enquanto Bernardine desaparecia por uma porta disfarçada pela rica ornamentação da parede. Estava quase perdendo a calma. Havia diversos motivos para irritação: então Henry achava que ia escapulir daquela maneira? E sua mãe queria encurtar a tarde dela? O que mais ia acontecer? Quando a criada se foi, Penelope respirou fundo para se tranqüilizar. Então, sem se virar para encarar Henry, ela disse:

— Acho que você estava tentando deixar um bilhete para mim e ir embora. Você sabe muito bem que domingo é o dia que passamos juntos.

Após alguns segundos ele respondeu friamente: — Você ainda nem leu o bilhete, então como pode saber o que contém? Penelope não tentou adivinhar no que Henry estava pensando. Em vez

disso, virou a cabeça e deixou que ele observasse seu lindo perfil e sua minúscula cintura. Ela ouviu-o respirando de leve e esperou. Henry se remexeu e pegou seu relógio de bolso.

— Já que estou aqui - disse ele, finalmente -, não custa nada tomar um chá gelado, ou um uísque, ou o que quer que você esteja servindo.

— Temos o que o senhor desejar, sr. Schoonmaker. Penelope ainda não se virara para encará-lo, pois sabia muito bem o que

Henry achava de seu corpo. Queria que ele ficasse olhando-a e se perguntando se estava zangada ou não.

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— Mas eu acabei de mandar minha governanta para seus aposentos, e por isso terei de preparar seu drinque eu mesma.

— Tudo bem. Mas ande logo. Não posso ficar muito tempo - respondeu Henry.

Penelope sorriu para ele e piscou o olho de forma lenta e sugestiva. Ela atravessou os corredores cintilantes de sua mansão com os saltos de seus sapatos batendo no mármore do chão, ouvindo os passos de Henry atrás de si.

A cozinha estava escura mas limpa, com suas fileiras de panelas de ferro penduradas no teto. Havia um fogo aceso na lareira do canto, mas nem sinal dos cozinheiros ou dos outros empregados. Penelope olhou para o bilhete de Henry e depois para ele.

— O que será que está escrito aqui? - perguntou ela, erguendo uma sobrancelha.

Henry franziu os lábios. Quando ele se aproximou, Penelope percebeu que havia uma camada de suor em seu rosto perfeito e moreno e que seus olhos castanhos estavam brilhando.

— Você gosta de mim, não gosta? - indagou ele, ignorando a pergunta dela. Havia uma certa ironia em seu tom de voz, mas Penelope jamais o vira tão

sério. Ela assentiu. — Creio que sim - respondeu ela, prendendo a respiração enquanto

esperava para ver aonde ele queria chegar. — Por quê? Os olhos de Henry estavam fixos nos dela com uma expressão de

gravidade. Por um breve momento, Penelope se perguntou se ele estava prestes a lhe pedir em casamento.

— Por quê? - repetiu ela, soltando uma risada estridente e melancólica. - Por que no amor, assim como em todas as coisas, eu escolho apenas o melhor para mim mesma. Eu sou a melhor das meninas da minha classe social, Henry, e você é o melhor dos homens. Somos os mais ricos, os mais fascinantes e os mais divertidos. Quero que todos nos olhem e morram de inveja ao ver que duas pessoas tão superiores às outras em tudo se encontraram. Por isso.

Henry ergueu as sobrancelhas e olhou para seus sapatos engraxados. — Os mais ricos, os mais fascinantes, os mais divertidos... parece que você

acertou - disse ele, fazendo um movimento de cabeça para seus sapatos antes de levantar a cabeça e dar a Penelope um de seus enormes sorrisos. - De qualquer maneira, como eu estava dizendo, estou surpreso por uma casa tão enorme e tão elegante, a melhor de todas as casas, como você mesma disse, não ter empregados na cozinha no meio do dia.

— Numa casa tão enorme e tão nova, naturalmente há mais de uma cozinha. E eu disse aos empregados que eles não iam precisar desta hoje.

Penelope pegou o envelope e passou-o debaixo de seu nariz, como se cheirá-lo pudesse ajudá-la a adivinhar qual era seu conteúdo. Fingiu hesitar por um segundo antes de jogá-lo na lareira, onde o viu sendo destruído pelas chamas com um sorriso de satisfação. Então, ela se virou e avaliou as diversas superfícies que havia naquele enorme aposento. Escolheu uma mesa alta e estreita e sentou-se sobre ela, recostando-se numa parede e deixando suas pernas dependuradas.

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— Acho que você vai ter de me dizer em pessoa o que havia no seu bilhete - disse Penelope de forma provocante.

Ela passou as mãos sobre o corpete de seu vestido para alisá-lo, criando discretamente um decote mais profundo do que teria mostrado ao público, e depois pegou um pequeno cigarro num bolso da saia. Penelope sorriu para Henry, acendeu o cigarro e exalou a fumaça. Tinha consciência de que naquele momento parecia uma mulher barata, apesar de ser uma das meninas mais ricas de Nova York. Ela já conhecia Henry há algum tempo, e sabia muito bem que ele gostava desse tipo de contradição.

Henry deu um sorriso com o canto direito da boca e Penelope soube que havia conseguido chamar sua atenção.

— O senhor se divertiu ontem à noite, sr. Schoonmaker? - perguntou ela. - Lembro-me de que nossa conversa foi interrompida.

— De fato, eu me diverti bastante, srta. Penelope - disse Henry, observando toda a cozinha com seus olhos castanhos e desabotoando o casaco, que colocou sobre o bloco em cima do qual era cortada a madeira usada no fogo. - Não posso imaginar como um baile poderia ser mais agradável.

— Nós certamente fizemos de tudo para agradar nossos convidados - replicou Penelope. - Especialmente o senhor, sr. Schoonmaker. Se houve qualquer coisa de errado, espero que me diga agora.

Henry fez uma pausa e então, como se houvesse acabado de ter uma idéia, deu um passo na direção de Penelope. Ela sentiu todo o peso daquele gesto.

— Agora que estou pensando nisso, parece-me que não fiquei tempo o suficiente na companhia da senhorita - disse ele.

— Na minha companhia? - perguntou Penelope. — Não - disse Henry, deixando a boca um pouco entreaberta, como quem

ainda não disse tudo. - Não fiquei. Penelope sorriu e puxou seu corpete para baixo, aumentando o decote a

ponto de quase se exibir por inteiro. — Está melhor assim? - perguntou ela. — Muito melhor. Henry aproximou-se de sua anfitriã e colocou ambos os braços em volta da

cintura dela. — O senhor dançou divinamente na noite passada - disse Penelope,

enquanto Henry lhe beijava o pescoço. Ele não parou para responder, o que a deixou radiante. — Na verdade, acho que nós dois dançamos divinamente juntos. Penelope fez uma pausa quando Henry tocou a pequena depressão de sua

garganta com os lábios e então prosseguiu para o outro lado de seu pescoço. — E, como o senhor sabe que eu sou muito modesta, precisarei acrescentar

que não fui a única a ter essa opinião. — Não? Henry afastou-se do pescoço dela e encarou-a. Penelope viu que havia uma

vaga expressão de zombaria nos olhos dele. — Não. Na verdade, Isaac me disse que a opinião geral no baile foi a de

que nós dançamos tão bem juntos que deveríamos jurar fazê-lo pelo resto de nossas vidas.

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Penelope soltou uma exclamação de espanto sem querer pois, sem que ela se desse conta, Henry colocara as mãos debaixo de sua saia, na parte posterior de seus joelhos. O toque dele a fez sentir um arrepio nas pernas. Mas Penelope não ia permitir que sua insinuação passasse em branco; ela lançou um olhar penetrante a Henry, deu um meio sorriso e disse:

— Diga-me, sr. Schoonmaker, o que o senhor acha disso? Mas Henry, que se considerava um verdadeiro cavalheiro e, por isso, jamais

fazia promessas que não podia cumprir, e cujas mãos agora estavam nas coxas dela, interrompeu a pergunta de Penelope com um beijo na boca.

— Henry - sussurrou ela, lânguida de prazer após o beijo -, o que o bilhete dizia?

— Nada, Penelope - respondeu Henry, colocando os lábios na orelha dela. - Não dizia nada.

— Conte para mim. Henry se afastou o suficiente para encará-la. Foi nesse momento que

Penelope viu algo novo e profundo nos olhos dele. Algo que, se ela não estivesse enganada, parecia ser o primeiro sinal de um amor que nascia.

— Você vai descobrir em breve - disse ele afinal, antes de beijar de leve os lábios rosados e perfeitos dela.

O beijo encheu Penelope de confiança, e ela então se entregou inteiramente ao prazer de ter Henry Schoonmaker só para si numa tarde de domingo. Ela estava impaciente para oficializar o noivado deles mas, como ele acabara de dizer, iria descobrir em breve quando esse dia chegaria. Uma doce satisfação tomou conta do corpo de Penelope quando ela se perguntou se teria de esperar muito.

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b|àÉb|àÉb|àÉb|àÉ

Uma jovem em particular chamou mais atenção do que todas as outras: a senhorita Elizabeth Holland, filha do falecido Edward Holland, brilhou como um diamante entre vulgares rubis, cheia de elegância e beleza sutil numa fantasia de pastora feita exclusivamente para ela por uma famosa costureira de Paris. Acreditamos que seu impacto na sociedade será profundo e benéfico.

NOTA DA COLUNA "GAMESOME GALLANT", DO JORNAL NEW YORK IMPERIAL, DOMINGO, 17 DE SETEMBRO DE 1899

lizabeth Holland adorava domingos, e esse era um dos motivos que faziam Diana Holland ter horror àquele dia. Ela odiava domingos porque em geral eles começavam com uma ida à

igreja e terminavam com o que era chamado de visitas informais, embora "informal" fosse uma maneira completamente incorreta de descrevê-las, pois tudo era feito de acordo com as regras e vigiado triplamente por sua mãe, pela tia Edith e por todos os empregados da casa. De qualquer maneira, elas não tinham ido à igreja naquela manhã, porque, como explicara a sra. Holland quando estavam chegando à sala de estar, precisariam ter uma conversa muito séria.

E ali estavam as três, sentadas naquela prisão - era isso que a sala de estar era para Diana, pelo menos quando ela era forçada a ficar ali parada por horas a fio, comportando-se como uma senhorita de classe - e cercada por tanto luxo que chegava a ser vergonhoso. No chão havia inúmeros tapetes persas e, nas paredes, pinturas a óleo em molduras douradas de todos os tamanhos que mostravam, entre outras coisas, os rostos sombrios de seus antepassados. Acima dos lambris, as paredes eram cobertas por um couro verde-oliva trabalhado, que terminava apenas ao chegar ao teto de mogno. A lareira de cornija de mármore era tão grande que dava para se esconder dentro dela. Diana e Elizabeth haviam feito isso muitas vezes quando eram crianças, e Diana ainda imaginava estar fazendo-o, especialmente durante as enfadonhas visitas de domingo. Para onde quer que olhasse, havia um objeto delicado, raro ou sedoso que ela estava sempre se arriscando a quebrar ou manchar.

Havia muitos lugares onde se sentar na sala de estar, sofás e cadeiras de diversos estilos, mas o cômodo não era confortável desde a morte do pai dela. Ele sempre dissera que havia humor em tudo e compensara a maneira formal que a sra. HoJland tinha de receber as visitas distribuindo comentários sarcásticos. Diana não tinha certeza se as tardes de domingo algum dia haviam sido divertidas, mas, naquela época, eram ao menos suportáveis. Desde que Elizabeth fora formalmente apresentada à sociedade, ela assumira seu papel de jovem dama com extrema seriedade, enquanto Diana desenvolvera o hábito de ir se sentar no

X

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cantinho turco da sala, onde dúzias de almofadas listradas estavam amontoadas no chão. Ela estava ali agora, enroscada com os enormes gatos persas dos Holland, que se chamavam Lillie Langtry e Desdêmona. Diana sempre soubera que seu temperamento era parecido com o do pai. Eles eram românticos, enquanto sua mãe e Elizabeth eram frias e práticas.

— O que você queria nos dizer, mamãe? - perguntou Elizabeth. Ela se sentou no mesmo lugar de sempre, abaixo do enorme quadro que

mostrava o pai usando uma cartola e seu melhor terno preto, com as sobrancelhas um pouco despenteadas e um ar de quem está constantemente se ofendendo com a estupidez humana. Diana desejou que ele ainda estivesse ali em pessoa para cuidar delas três. Ele lançaria um de seus olhares para Elizabeth e ela se sentiria uma tola por se comportar com tanta arrogância durante as visitas de domingo.

Elizabeth pousou as mãos sobre seu colo da maneira mais correta e educada. Diana pensou ter visto uma sombra de medo passar pelo rosto de sua irmã mais velha, mas logo ela se recompôs. A sra. Holland ficou de pé e foi até a lareira, parecendo mais severa do que nunca em seu vestido preto de gola alta. Seus cabelos estavam presos num coque apertado abaixo de sua touca de viúva. Ela ficou parada, olhando para a lareira, onde alguns pedaços de madeira esperavam pelo fogo, que ainda não fora aceso. Tia Edith fez um gesto, mandando que Claire, que estava servindo chá, saísse da sala.

— Em primeiro lugar, quero dizer que fiquei muito satisfeita ao ver os magníficos comentários sobre vocês na imprensa. Todos falaram de sua beleza, Elizabeth, e isso será muito...

A sra. Holland fez uma pausa assustadora enquanto Claire desaparecia por uma das portas de correr da sala.

—... útil para nós nesses tempos difíceis. — Como assim? - quis saber Elizabeth, e seu sorriso vacilou um pouco. A sra. Holland se voltou para encará-las, e seu olhar era penetrante mesmo

quando lançado de um ponto do outro lado do cômodo. — É absolutamente essencial que o que vou revelar para vocês agora não

seja repetido a ninguém. — Tudo acaba sendo repetido alguma hora - comentou Diana com

atrevimento. Achou aquele teatro feito por sua mãe um pouco ridículo, embora não pudesse negar que estava ficando curiosa. Por que ela estava sendo tão grave?

— Não segredos de famílias como a nossa - retrucou a tia Edith, que estava sentada numa cadeira em frente à mesa de jogo com tampo de malaquita.

Diana passara o verão inteiro em Saratoga com ela e Edith comentara diversas vezes que elas eram parecidas tanto na aparência quanto nos desejos. O casamento de tia Edith fora curto e difícil, e era verdade que a extensão da depravação do duque Guillermo de Garza jamais ficara conhecida do grande público. Mas parecia a Diana que sua tia conseguira essa discrição vivendo mais de uma década num completo tédio.

— O que foi, mamãe? Tempos difíceis foram aqueles logo após a morte de papai.

Diana suspirou e desviou o olhar de sua irmã, que usara o tom de voz suave com que moças educadas demonstravam tristeza ao dizer essa última frase. Ela

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sentia saudades do pai todos os dias, mas ele jamais desejaria que sua família ficasse paralisada pela dor. Edward Holland não gostaria de vê-las afundadas numa melancolia comportada.

— Mas agora eu e Diana voltamos, e estamos determinadas a nos divertir essa temporada - continuou Elizabeth, usando desta vez sua voz normal, que era mais alegre. - Estamos preparadas para seguir em frente.

— Esse é o problema - disse a sra. Holland, indo se sentar numa cadeira com encosto em forma de leque e braços de ouropel. - Nem todas as conseqüências da morte do pai de vocês ficaram imediatamente óbvias. Parece que seguir em frente será muito mais difícil do que você pensa. Teremos de manter o menor número possível de empregados e precisaremos demitir o tutor. Elizabeth, você cuidará da educação de sua irmã. O que ocorre, meninas...

A sra. Holland fez uma pausa e tocou de leve o centro de sua testa. Diana agora prestava toda a atenção. Ela sentiu que algo deliciosamente dramático estava prestes a ser anunciado e empertigou-se para poder ouvi-lo melhor. As mãos de Elizabeth ainda estavam na mesma posição e ela manteve seu rosto abaixado, para que ninguém pudesse ver sua expressão.

— Eu própria mal compreendo - disse a mãe delas, com algo na voz que beirava a impaciência -, embora Brennan tenha me explicado tantas vezes. Parece que, quando o pai de vocês faleceu, ele nos deixou com muitas dívidas e com uma exiguidade de... de dinheiro. Mas nós ainda pertencemos à família Holland, é claro... e isso ainda significa alguma coisa.

A sra. Hoiland revirou os olhos para o teto e emitiu um som curioso, como se estivesse tentando não chorar.

— Mas não somos ricas - concluiu ela, finalmente. - Não mais. Elizabeth levou a mão à boca. E, embora Diana pudesse ver que sua mãe

estava muito perturbada e que sua irmã estava reagindo de maneira apropriada àquela notícia, não conseguiu se controlar e bateu uma palma de excitação.

— Nós estamos pobres! - disse ela, animada, e três pares de olhos horrorizados se voltaram em sua direção.

— Diana, por favor! - exclamou a sra. Holland com uma expressão de pavor.

— Ah, eu sei, eu sei - disse Diana, alegre. Ela mal podia acreditar que algo tão romântico estivesse lhe acontecendo.

Sentiu que estava na beira de um enorme precipício e que, não importava o que fizesse em seguida, viver agora seria como flutuar no ar. Sentiu-se inteiramente livre.

— Sei que não vamos mais poder comprar jóias, nem chapéus franceses... - continuou ela. - Mas eu vou me sentir orgulhosa da minha nova condição! Vai ser tão divertido! Vamos ser como as princesas maculadas de um livro de Balzac, como...

— Diana! - interrompeu a sra. Holland. — Mas nós podemos ser qualquer coisa agora! Mendigos, ladrões de trem...

ou podemos ir a Cuba, ou para a França, ou... Diana finalmente parou de falar quando percebeu que a boca de sua irmã

estava se movendo, mas nenhum som saía. A sra. Holland olhou friamente para Diana e então se voltou para sua filha mais velha.

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— Agora, Elizabeth, você está vendo por que tudo, absolutamente tudo depende de você. De você e do que conseguir até o final da temporada. Eu estava esperando que...

A sra. Holland foi interrompida por Claire, que estava abrindo as pesadas portas de correr da sala de estar. Ela ficou imóvel com as mãos cruzadas à sua frente e os olhos fixos no chão.

— Perdoe-me, sra. Holland - disse Claire timidamente. - Chegou uma visita. O senhor Teddy Cutting deixou seu cartão e gostaria de saber se a senhora está em casa.

A sra. Holland respirou fundo, forçou-se a dar um sorriso quase assustador e mandou que Claire deixasse o rapaz entrar. A afobação tomou conta do cômodo, enquanto as mulheres da família Holland tentavam aparentar normalidade. Então, elas receberam a primeira visita de domingo com mais zelo do que o estritamente necessário.

Diana não era o tipo de menina que usava pó ou ruge. Ela gostava que suas emoções fossem mostradas em sua própria pele e agora não conseguiu esconder o quanto achava toda aquela situação ridícula, apesar de estar encolhida no canto da sala. Sempre morrera de vontade de encontrar algo interessante para fazer da vida e, agora que fora abençoada com o sagrado manto da pobreza, talvez isso fosse possível. O resto da família estava teimosamente agindo como se nada houvesse mudado, como se elas ainda fossem tão ricas quanto seus visitantes, mas a mente de Diana já estava repleta de possibilidades.

— Srta. Holland, mal tenho palavras para expressar minha satisfação com seu retorno. Jamais vi algo mais adorável que a senhorita em sua fantasia de pastora no baile da família Richmond Hayes - disse Teddy Cutting, que agora estava sentado no sofá furta-cor ao lado de Elizabeth.

Elizabeth sorriu modestamente e levantou uma das mãozinhas para abanar o ar, como se quisesse espantar o elogio dali, antes de colocá-la de novo no colo, na mesma posição.

— A senhorita fica muito bem de marfim, embora também fique de azul-claro - continuou Teddy.

Elizabeth estava usando um vestido de gola alta que na verdade era branco e azul-cobalto, facilmente confundível com azul-claro por um olhar masculino. Diana achou que sua irmã parecia uma boneca sem vida.

— Teddy, você precisa me contar se vaí velejar esta semana - disse Elizabeth.

Ela estava se comportando da maneira correta e guiando a conversa de modo a fazê-la girar em torno da visita. Conseguiu não demonstrar quase nenhum sinal de que havia algo errado, mas o peso da conversa recente estava evidente em seu tom de voz. Diana olhou para Elizabeth e Teddy do canto onde estava sentada e se deu conta do absurdo que era aquele diálogo.

— Oh, Teddy, você precisa me contar se vai velejar esta semana! - repetiu ela, atirando as mãos para o alto num falso êxtase.

Diana balançou a cabeça e soltou uma risada bem alta para deixar claro o que pensava. As outras podiam fingir o quanto quisessem. As regras de decoro que regiam a vida e a morte dos ricos não se aplicavam mais a ela. É claro que

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sabia que ainda não tinha compreendido inteiramente a revelação de sua mãe, mas sentia que sua vida só ia começar de verdade agora.

Teddy e Liz se voltaram para Diana como se houvessem acabado de se lembrar da existência dela.

— Mamãe? - chamou Elízabeth com uma certa irritação. - Diana não tem um outro compromisso?

A sra. Holland, que estivera jogando gin rummy com tia Edith, deixou suas cartas caírem sobre a mesa de tampo de malaquita.

— Diana, você está agindo de forma estranha desde que acordou. Talvez esteja se sentindo mal e deva ir lá para cima.

— Eu nunca fico doente, como todo mundo sabe - disse Diana, virando a página do livro que segurava com certa violência. - Falar sobre velejar já era um tédio antes. E agora não faz nenhum sentido, pois não podemos nos dar a esse luxo.

Durante alguns segundos ninguém disse nada, pois todos estavam em choque. Diana pensou ter visto Teddy se remexendo na cadeira de forma constrangida. Elizabeth abaixou a cabeça e a sra. Holland estreitou os olhos de fúria.

— Diana! Você não deve falar assim. Nosso convidado pode não compreender - disse ela, voltando-se para Teddy. - O que ela quis dizer, é claro, é que não podemos mais nos dar ao luxo de velejar por ser muito difícil para nós. O senhor Holland adorava o esporte e ele nos traz lembranças dolorosas.

Diana revirou os olhos ao ouvir a mais nova das mentiras. Ela se recostou nas almofadas enquanto sua mãe, sua tia e sua irmã assumiam expressões de pesar. Mas o pai dela jamais se interessara por veleiros.

— É claro. Bem, eu devo sim ir velejar esta semana - disse Teddy, fazendo um educado esforço para deixar o momento embaraçoso para trás. - Eu e Henry podemos ir sempre...

— Como está Henry? - perguntou a sra. Holland. Ela pegara novamente suas cartas e manteve os olhos fixos nelas enquanto

falava. — Ah, Henry é Henry. É por isso que todos querem sempre falar com ele,

mas ninguém consegue - disse Teddy. Ele riu e ninguém mais tocou naquele assunto. Teddy ficou na casa da

família Holland por mais quinze minutos, fazendo com que sua visita tivesse a duração socialmente aceitável de meia hora. Ele então cumprimentou a sra. Holland por ter filhas tão adoráveis e servir um chá gelado tão refrescante e foi-se embora.

Diana não lamentou vê-lo partir. Aquela era uma das regras mais irritantes: eram os cavalheiros que visitavam as damas e por isso as damas tinham de ficar em casa. Isso significava que uma senhorita de alta classe, ou o que quer que Diana fosse agora, não podia controlar quem lhe visitava, nem quando. E embora Teddy Cutting fosse bastante agradável, ele sempre parecera um pouco sem graça para ela.

— Diana! Como você pôde fazer isso?! A jovem, que estava perdida em seus pensamentos, olhou para cima e viu

sua mãe, de pé com os punhos cerrados e o rosto distorcido de raiva.

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— Como pôde expor sua família dessa maneira? - gritou a sra. Holland. - Será que não entende o que pode acontecer? Hein?

— Não adianta de nada fingir! - respondeu Diana acaloradamente. - Todo mundo vai descobrir quando você parar de pagar a costureira e a florista e quando as contas começarem a acumular...

— Silêncio! Diana olhou em volta, mas viu que ninguém estava do seu lado. Sua tia

colocou a mão sobre a boca. Claire, que estava parada na porta, não conseguiu encará-la.

— Você é uma menina atrevida e desprezível, Diana. Vá para o seu quarto imediatamente. Leia a sua bíblia. Lembre-se de que nasceu para obedecer a seu pai e sua mãe - disse a sra. Holland, olhando para baixo e deixando rolar uma lágrima. - E agora, apenas sua mãe.

Diana não pôde acreditar na teimosia da mãe e sentiu-se enojada. — Se você quer me punir por contar a verdade, tudo bem, mas... Dessa vez a sra. Holland a impediu de continuar a falar com um olhar mais

severo do que qualquer palavra. Claire se adiantou para acompanhar Diana para fora da sala. As sobrancelhas ruivas dela se juntaram no meio de sua testa e ela lançou um olhar a Diana, implorando-lhe que viesse. Diana suspirou fundo, jogou seu livro no chão de mogno e saiu batendo o pé, com Claire logo atrás.

— Elizabeth, graças a Deus eu posso depender de você. A salvação dessa família está sobre seus ombros.

Diana ouviu essas palavras ao chegar na porta da sala e, pela primeira vez, compreendeu o que sua mãe estava exigindo de Elizabeth. Não se casem por dinheiro, dissera a sra. Holland muitas vezes em tempos mais felizes, mas casem com alguém que tenha dinheiro.

Ela dissera aquelas palavras despreocupadamente, mas Diana sabia que suas intenções eram diferentes agora.

Ela olhou para trás ao entrar no corredor e viu sua irmã silenciosa e imóvel como uma estátua. Diana sentiu um aperto na garganta de raiva ao ver Elizabeth, tão passiva e aparentemente feita de pedra. Era difícil acreditar que elas fossem irmãs.

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lizabeth tentou parar de brincar com o bracelete de ouro branco entalhado que seu pai lhe dera há dois anos. Ela se deu conta de que ia precisar ser forte e começar a agir da forma habitual.

Estava inquieta e distraída, e não conseguia parar de pensar em seu pai, em sua mãe e em Will. Nada lhe parecia real. Nem ela mesma. O mais irreal de tudo era a figura de Henry Schoonmaker se preparando para entrar na sala de estar dos Holland, que ela reconheceu vagamente ao levantar os olhos e observar as portas de correr.

— Olá, sra. Holland - cumprimentou Henry, fazendo um movimento com a cabeça na direção da mesa de jogo.

— Olá, sr. Schoonmaker - responderam a mãe e a tia de Elizabeth. A sra. Holland deu um sorriso radiante. Elizabeth subitamente percebeu

que, embora falassem tanto nele e embora suas famílias fossem ligadas pela história e pela classe social, ela não falava com Henry havia anos. Ele era um solteiro muito cobiçado, todo mundo dizia, mas isso era uma mera abstração. Há muito Elizabeth não pensava em Henry como um ser humano de verdade e só o fez quando ele surgiu diante dela.

— Olá, srta. Elizabeth - disse ele. Elizabeth conseguiu se levantar e sorrir primeiro para sua mãe e depois para

Henry Schoonmaker, que estava segurando seu chapéu de forma muito educada. Ela não imaginara que alguém como Henry seguraria seu chapéu daquela maneira e talvez por esse motivo ficou olhando-o sem reação, até que ele começou a parecer constrangido. Eíizabeth acabara de ver que Henry era o tipo de homem que mandava bordar suas iniciais, HWS, em letras douradas na fita azul-clara que passava na parte interna da aba de seu chapéu, quando Claire pegou o objeto das mãos dele e anunciou que o colocaria no closet.

Os olhos de Henry observaram toda a sala de estar e então pousaram sobre Elizabeth. Ela sentiu-se envergonhada apenas com aquele olhar e tentou dizer a si mesma que o famoso Henry Schoonmaker, por quem Agnes era apaixonada, com quem Penelope dançara e cujo pai era dono de grande parte de Manhattan, não conhecia seu segredo. Seus segredos, na verdade, pois eram mais de um: os Holland estavam pobres, ela estava apaixonada por um criado e ainda por cima

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era uma menina egoísta, que provavelmente arruinaria sua família mais do que ela já estava arruinada.

— Esse vestido é muito bonito - disse Henry. — Muito obrigada, sr. Schoonmaker - respondeu Elizabeth, encarando-o e

então desviando rapidamente o olhar. Ali estava o rapaz que todas as moças de Nova York desejavam e ela

achava que deveria ter ficado maravilhada com sua visita. Henry era de fato bonito e bem vestido, o que era tudo que ela deveria desejar num homem. Elizabeth ficou surpresa ao perceber o quão pouco aquilo lhe atraía. Tudo o que conseguiu pensar foi que, se ela e sua família fossem mandadas para a prisão por não conseguir pagar suas dívidas, ele provavelmente riria. Henry parecia ser do tipo que achava a desgraça dos outros uma comédia.

— Não gostaria de se sentar, sr. Schoonmaker? - ofereceu Edith com uma expressão divertida.

Henry sentou-se no mesmo lugar que seu amigo Teddy escolhera. A luz do sol entrou pelas compridas janelas da sala de estar e iluminou aquele cômodo luxuoso, do qual Eíizabeth subitamente, e surpreendentemente, sentiu-se orgulhosa. Era como a marca registrada de sua família. Aqueles belos móveis arrumados de maneira tão perfeita para receber visitas. O couro verde-oliva trabalhado acima dos lambris de mogno, que seu pai escolhera pessoalmente após herdar a casa dos próprios pais. As curvas exuberantes dos candelabros antigos. A parede coberta de quadros. Tudo tão suave, perfeitamente antiquado e rico. Ela olhou para a mesa de cartas e notou que sua tia Edith estava fazendo um movimento de cabeça para sua mãe.

— Que casalzinho mais taciturno - sussurrou ela. Elizabeth entendeu o que sua tia quis dizer e sentiu uma onda de vergonha

ao perceber que Henry podia ouvi-la também. Ela virou-se para ele com o coração batendo forte de constrangimento, mas ele não parecia ter prestado atenção no comentário. Henry estava examinando suas abotoaduras, que também eram de ouro e também tinham suas iniciais gravadas. Elizabeth poderia ter refletido sobre o fato de que isso não demonstrava nada de positivo sobre o caráter dele, mas estava ocupada demais em olhar para sua tia e tentar adivinhar se ela iria dizer mais alguma coisa humilhante. Ela decidiu não se arriscar e ficou de pé.

— Sr. Schoonmaker, o dia parece estar lindo e eu confesso que ainda não saí de casa hoje. Gostaria de passear pelo parque?

Elizabeth viu Claire corar com o canto dos olhos e lembrou-se de que deveria ter esperado por um convite. Sua confusão era tal que ela estava esquecendo suas boas maneiras, mas obviamente não poderia explicar isso a Henry.

— Quero dizer, se o senhor... - disse ela. Mas Henry já ficara de pé e estendera o braço para ela tomar. — Será um prazer. Lá fora, o dia estava lindo e mais frio do que ela imaginara. Uma brisa

soprava do rio East e limpava o ar. Elizabeth relaxou um pouco ao sentir o cheiro das folhas do parque e ver o azul brilhante do céu. O Gramercy Park era um refúgio maravilhoso que ficava perto da barulhenta Broadway e era protegido há

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muitas gerações pela família Holland e outras tão antigas e tão ricas quanto ela. Elizabeth tentou se convencer de que aquela época não se fora para sempre, de que não se transformara numa era de exageros à qual ela não pertencia. Dentro do parque, babás corriam atrás de crianças que ainda usavam os chapéus de couro e os laçarotes com os quais tinham ido à igreja. Carruagens circulavam o parque e os cascos dos cavalos batiam contra o pavimento. Os avós de Elizabeth tinham comprado um dos lotes em torno do parque quando ainda não havia nenhuma construção no lado norte de Manhattan, e seu pai fora criado na casa de número 17. Aquele era um canto do mundo que pertencia aos Holland; era insuportável pensar que aquilo poderia mudar em breve.

Mas aquilo era mais egoísmo. Elizabeth olhou para o elegante ferro trabalhado dos portões do parque, para as casas imponentes que o rodeavam, para a sombra das árvores, e seu coração se comprimiu quando ela pensou em sua mãe na pobreza. Elizabeth imaginou um futuro em que sua família viveria num lugar pequeno e sujo e em que as risadas de escárnio dos outros ressoariam em seus ouvidos. O legado dos Holland seria destruído e ali estava ela, incapaz de impedir qualquer coisa de acontecer, mantendo as costas eretas e conversando sobre trivialidades com um rapaz de família que sem dúvida preferiria estar correndo atrás de moças européias, que eram mais dadas do que as americanas.

Mesmo assim Elizabeth continuou a caminhar ao lado de Henry, falando uma ou duas coisas sobre a qualidade do sol e do ar naquele dia específico. Ela contou mais uma vez como fora sua viagem de volta, mas ele não pareceu interessado. Eles se moviam de forma lenta e indiferente pelo parque e foram para o lado oeste, passando pela casa número 4, que fora construída por James Harper, o conhecido editor de livros. Ele mais tarde se tornara prefeito de Nova York, e dois postes de ferro, as chamadas "lâmpadas do prefeito", haviam sido instalados na frente da sua casa para indicar isso, como ocorria com todos que ocupavam o cargo. Henry e Elizabeth viraram-se na direção norte do parque e então Henry estacou, voltando-se para Elizabeth:

— Meu pai está organizando um jantar. — É mesmo? Que maravilha - replicou Elizabeth. Henry voltou a andar de braço dado com a jovem dama. Ela percebeu que

estava com o braço tenso, de modo a quase não tocar no dele. — Sim, tenho certeza de que a sra. Schoonmaker fará de tudo para que seja

mesmo uma maravilha. — Disseram-me que a sra. Schoonmaker sempre dá jantares adoráveis -

comentou Elizabeth, embora soubesse que a sra. Schoonmaker fosse poucos anos mais velha do que ela e tivesse apenas metade de seu talento para cuidados domésticos. - Eles são sempre descritos de forma tão linda nos jornais. Gostaria de poder ir, mas creio que vocês precisam limitar o número de convidados.

Henry soltou uma risadinha melancólica e bateu na cerca de ferro com o punho. Elizabeth esperou que ele dissesse mais alguma coisa e, quando isso não aconteceu, sentiu uma certa raiva. Se Henry viera visitá-la, porque estava tão horrivelmente calado? É claro que ele não tinha como saber que sua família estava passando por uma crise, mas ela estava. E será que Henry não imaginava que havia coisas melhores para ela fazer do que caminhar em silêncio com um rapaz que claramente desejava estar em outro lugar? Ela se lembrou de uma vaga

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impressão que tivera de Henry na infância, quando ele estava sempre rindo e não parecia se importar com nada.

— Creio que você sabe o motivo do jantar - disse Henry, olhando Elizabeth com frieza.

Ela balançou a cabeça com petulância. Ocorreu-lhe que talvez Henry estivesse bêbado. Elizabeth olhou em volta, como se procurasse um rosto familiar que lhe confirmasse que tudo aquilo era muito estranho e muito mal-educado. Mas havia apenas crianças e babás brincando. Todos que conhecia estavam escondidos em suas casas e ela teria de lidar com aquela situação sozinha.

— Não, não sei o motivo do jantar. — O jantar - disse ele, enunciando as palavras com desprezo e revirando os

olhos para o céu - é para comemorar nosso noivado. — Você quer dizer... nosso noivado... meu e seu? — Isso - respondeu Henry. - O louvável noivado da srta. Elizabeth Holland

com o sr. Henry Schoonmaker. Elizabeth sentiu que o chão sob seus pés estava se abrindo. Ela sentiu o

enjôo e a tontura que acometem uma pessoa que olha para baixo quando está num lugar muito alto. Ao tentar manter-se de pé, sem querer lembrou-se de Will ajoelhando, tão apaixonado e cheio de esperanças, naquela luz simples e brilhante da manhã. Quão distinto ele era do indiferente Henry, que a observava agora com seu rosto belo e frio.

— Oh - disse Elizabeth lenta e estupidamente - Eu... não tinha idéia de que o motivo do jantar era esse.

— Mas é. Por isso, creio que devo lhe dizer que me sentiria honrado se a senhorita concordasse em ser minha esposa - disse Henry, hesitando antes de dizer a palavra “esposa”, como se não soubesse bem como pronunciá-la.

— Oh. Elizabeth tentou recuperar o fôlego, perguntando-se por um segundo se

algum dia seria capaz de falar novamente. Ela teve uma visão de como seria sua vida: um ambiente de hostilidade crescente. Eles se casariam na igreja. Elizabeth teria de jurar diante de Deus que amaria aquele homem até morrer. Ela dormiria na mesma cama que Henry Schoonmaker e acordaria ao lado dele. E, um dia, embora aquilo fosse difícil de imaginar, eles teriam filhos que seriam metade ela, metade Henry.

Naquela manhã mesmo Elizabeth fantasiara sobre se casar com Will. Will, a quem ela conhecia e amava. Ela tentou pensar na reação de Will, mas a imagem que lhe veio à cabeça foi a expressão de sua mãe quando contasse que não ia conseguir se casar com um dos rapazes mais ricos de Manhattan, pois estava apaixonada pelo cocheiro.

Elizabeth fechou os olhos por um segundo, imaginando as conseqüências de aceitar o pedido de Henry - se é que aquilo podia ser chamado de pedido. Ela ficou chocada com o que viu. Sua vida como sra. Schoonmaker seria tão... suntuosa. Ela visualizou o rosto de sua mãe, que há tempos mostrava preocupação e falta de sono, com um enorme sorriso de orgulho. E as bochechas de Diana, coradas como sempre. Elizabeth viu-se fazendo aquilo que era fácil e natural para ela: sendo graciosa, bem-vestida e admirada por todos. Nesse futuro,

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sua família estava usando roupas das quais ninguém jamais poderia rir. Ela olhou para baixo, surpresa com o sentimento que surgira na base de seu estômago e agora se espalhava pelo seu peito. Não era felicidade, mas era algo que lembrava alívio.

— Isso é tão... - Elizabeth gaguejou, sem saber o que estava dizendo até que as palavras lhe saíssem da boca - tão gentil de sua parte, sr. Schoonmaker.

Ela se forçou a dar um sorriso para Henry. O esforço foi se tornando mais fácil a cada segundo, pois Elizabeth estava sentindo inúmeras emoções, mas a gratidão parecia ser a mais forte de todas.

— Muito obrigada - disse ela, finalmente. Então, Henry, acreditando que aquela resposta significava que Elizabeth

havia aceitado seu pedido, tomou o braço dela e levou-a de volta até sua casa. Por um segundo Elizabeth pensou ter visto Will passando na frente da casa e quase entrou em pânico. Ela se lembrou de que afirmara que Henry Schoonmaker era um canalha na noite passada e sentiu vergonha de estar de braços dados com ele agora, no momento em que o relacionamento deles dois dera um salto tão enorme. Foi aí que Elizabeth percebeu que o rapaz na frente da casa era apenas um dos cocheiros dos Parker Fish e, pela primeira vez na vida, sentiu-se agradecida por não estar vendo o homem que amava. Ela teria de contar para ele, é claro, mas não agora. Ainda não.

— Sr. Schoonmaker - disse ela quando eles cruzaram a rua vinte -, o senhor acha que seria possível mantermos o noivado em segredo, pelo menos até o jantar? Dessa forma ainda teríamos alguns dias de tranqüilidade.

Henry assentiu, indicando que não se opunha à idéia e eles subiram a escada frontal da casa de Elizabeth. Ela tentou tocá-lo o menos possível e jurou que ia contar a Will em breve. Amanhã.

— Você pode me chamar de Henry - disse ele friamente quando pararam diante da porta. - Afinal, nós estamos noivos.

Elizabeth não conseguiu sorrir dessa vez. Estava preocupada demais em se perguntar se Will ainda a amaria quando se tornasse a sra. Schoonmaker.

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WxéWxéWxéWxé

Todos sabem que um homem, quando está cortejando uma jovem que pretende desposar, deve primeiro conquistar as mulheres mais próximas a ela - suas amigas, é claro, e também sua irmã, se ela tiver uma.

TRECHO DO LIVRO O AMOR E OUTRAS TOLICES DAS FAMÍLIAS RICAS DA VELHA NOVA YORK, DE MAEVE DE JONG

casa estava em silêncio. Não parecia haver nada acontecendo - nem mesmo na cozinha, onde o jantar deveria estar sendo preparado. Diana percorreu os cômodos pisando

leve e cantarolando um ragtime, tentando encontrar algum sinal de vida. De repente, ela imaginou que talvez a sra. Faber houvesse descoberto que a situação financeira das Holland era desastrosa, reunido todos os criados e partido - para trabalhar no circo, talvez, ou para abrir um bordel em São Francisco. Parecia-lhe inconcebível que, após ser libertada daquela maneira, a governanta ainda fosse desejar a companhia do velho sr. Faber, seu marido. Diana se esgueirou pelo corredor dos fundos, que era usado pelos empregados, sem ver ninguém, e então entrou no closet dos casacos, que ficava no final do enorme vestíbulo. Ela sentia que estava vendo tudo com novos olhos. Era uma menina pobre; não tinha nada e, portanto, não tinha nada a perder.

Diana olhou para os casacos de pele e de veludo enfileirados ao longo das paredes do closet e se deu conta de que eles teriam de ser vendidos. Olhou atrás da porta, procurando seu casaco militar francês - esse, ela não venderia de jeito nenhum - mas o que encontrou foi um chapéu que não conhecia. Diana pegou-o e colocou-o na cabeça. Era grande demais para ela, mas os cachos de seu cabelo faziam tanto volume que o chapéu ficou quase perfeito. Diana virou-se para se olhar no espelho e decidiu que ficaria com um ar boêmio usando aquele chapéu, se o combinasse com os acessórios corretos. Então, ela espiou o corredor do lado de fora e viu um homem de casaco negro que estava de costas.

Diana saiu silenciosamente do closet e andou na direção do homem. Quando estava a cerca de um metro dele ela deve ter feito um ruído qualquer, pois o homem se virou. Ele parecia exasperado. Diana demorou alguns segundos para lembrar-se daquele rosto e do nome do homem, embora ela conhecesse ambos muito bem. As feições dele eram aristocráticas, seu maxilar era pronunciado e seus olhos castanhos pareciam já ter visto de tudo.

— Ah... eu conheço você - disse Diana.

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Ela sorriu, pois ficara surpresa ao se pegar pensando que aquele rapaz realmente tinha a aparência deliciosa. Era estranho, pois todas as outras meninas achavam o mesmo e, em geral, Diana gostava de ter opiniões originais.

— Você é Henry Schoonmaker. — Sou - disse o rapaz, olhando para a cabeça de Diana e depois encarando-

a. — Gostou do meu chapéu? - perguntou ela, tocando a aba e observando a

reação dele. Diana ouvira falar muito do jovem Schoonmaker quando estava em

Saratoga. Até a tia Edith contara fofocas sobre ele. Ao que parecia, ele participava de corridas de carruagem, dirigia carros motorizados e nunca ficava muito tempo no mesmo lugar, e nem com a mesma garota. Para Diana, ele levava a vida que ela levaria, se o mundo permitisse.

— Gosto muito do chapéu, mas preciso questionar o uso da palavra “meu” - disse Henry sarcasticamente.

Então, ele piscou o olho para ela, o que fez com que Diana se desse conta de que seu coração estava batendo bem depressa.

— E o que você vai fazer? - perguntou ela, colocando uma das mãos na cintura e levantando o queixo orgulhosamente. - Chamar a polícia e mandar me prender porque eu coloquei seu chapéu?

Henry abriu a boca, pronto para responder, mas foi interrompido pelo som de passos dentro da sala de estar. Com isso, Diana se lembrou de que, apesar do silêncio, ainda havia gente na casa toda, ouvindo conversas e vivendo de acordo com as regras. E ela não estava seguindo as regras.

Diana estava prestes a ir embora dali quando olhou para Henry e decidiu que ainda não queria deixá-lo ir embora. Ela agarrou a mão dele e puxou-o para dentro da sala de estar que havia no lado leste da casa. Sua mãe a chamava de “segunda sala de estar”, pois era o cômodo onde a família mantinha os quadros e esculturas menos valiosos. Ali costumava ser o salão de baile, mas, desde que o sr. Holland morrera, a família parara de dar festas e a sala recebera seu novo nome. Todos os objetos mais bonitos haviam sido colocados na sala de estar principal, onde os Holland recebiam seus visitantes, e essa sala ficara um pouco desarrumada. Diana reparou bem na maneira como as almofadas estavam puídas, para poder descrevê-las corretamente quando escrevesse em seu diário naquela noite. Quando ela e Henry estavam do outro lado da porta de carvalho, Diana soltou a mão dele com relutância. Ela olhou para os enormes quadros pendurados na parede, que mostravam um mar negro e cheio de ondas. Eles pareceram a Diana uma boa metáfora do que ela estava sentindo.

— O que você está fazendo na minha casa, Henry Schoonmaker? - sussurrou ela.

Diana ouviu Elizabeth falando no corredor. Ela estava usando seu tom de voz mais esnobe e autoritário e perguntando a Claire como ela podia ter perdido o chapéu do sr. Schoonmaker.

— Creio que não é da sua conta - disse Henry. Diana franziu o cenho ao ouvir essa resposta. Era possível, embora não

fosse provável, que Henry estivesse ali para visitar Elizabeth. Talvez ele houvesse sido conquistado pela descrição da beleza dela que saíra no jornal. Ou

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talvez, pensou Diana, ele houvesse visto a mais nova das irmãs Holland durante o verão, e sua curiosidade estivesse aumentando desde então. Isso, sim, teria sido maravilhoso. E, ocorreu a Diana, que talvez Henry estivesse ali com aquela cara séria porque os Holland deviam dinheiro aos Schoonmaker. Era uma idéia melancólica, mas - ela devia admitir - mais realista do que a primeira. Olhando novamente para as almofadas, Diana se deu conta de que agora estava numa posição bastante vulnerável diante de uma pessoa tão rica quanto o herdeiro da fortuna dos Schoonmaker. Mas então ela se deu conta de outra coisa: Henry estava olhando-a com admiração.

— O famoso Henry Schoonmaker - disse ela, corajosamente sustentando o olhar dele. - Aquele que não consegue ficar parado e vive partindo corações. E o que dizem, não é?

— Por que as meninas adoram tanto fofocar? - perguntou Henry. Diana estava tão próxima dele que podia sentir seu cheiro. Ele cheirava a

brilhantina, a cigarros e a perfume de mulher, ou ao menos foi o que lhe pareceu. Ela encarou Henry, que estava com uma expressão divertida no rosto, e ele sussurrou:

— Você acha que tudo o que dizem sobre mim é verdade? — Se for, então você é uma pessoa muito interessante. Diana sorriu, mordendo o lábio inferior. — Bem, eu nego tudo categoricamente - afirmou Henry, dando de ombros.

- Exceto o fato de que eu realmente gosto de meninas bonitas, o que é mais ou menos verdade. Quantos anos você tem? Não pode ter sido apresentada à sociedade há muito tempo. Nunca nem deve ter sido beijada...

— Fui, sim! - interrompeu Diana como uma criancinha. Ela sentiu que estava corando, mas estava excitada demais para se importar,

principalmente porque não estava mentindo. — Aposto que não muito bem - respondeu Henry, levantando uma das

sobrancelhas. No corredor, Claire estava dizendo a Elizabeth que o chapéu do sr.

Schoonmaker de fato desaparecera, enquanto esta lamentava a má qualidade do serviço da casa.

Diana observou as cabeças de cervo empalhadas penduradas na parede e os móveis antigos e pesadões. Havia um grande vaso de metal cheio de rosas que estavam murchando devido ao descuido, com algumas pétalas amareladas já espalhadas pelo chão. As cortinas estavam fechadas, o que por algum motivo lhe pareceu apropriado. Ela voltou a encarar Henry Schoonmaker e teve certeza de que sua presença ali não era um sonho. Foi quando Diana sentiu uma dor adorável no peito. Havia tantas coisas que de que ele sabia e ela não. Pela maneira como ele se portava, Diana pôde adivinhar que era mais velho do que ela, e que já fizera coisas que ela jamais faria. Ela sentiu vontade de levá-lo até seu quarto, trancar a porta e obrigá-lo a lhe contar tudo.

— Será que você já foi beijada de verdade? Henry abaixou sua sobrancelha, mas pareceu ainda mais cético do que

antes. Ele se inclinou para pegar o chapéu e Diana sentiu a respiração quente dele em sua orelha. Por um segundo, tudo ficou imóvel. O corpo de Henry estava tão próximo do de Diana que ela se sentiu como se eles já houvessem se tocado.

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Então, no momento em que Henry retirou gentilmente o chapéu de cima dos cachos dela, ele virou o rosto só um pouco e seus lábios pousaram de forma muito suave sobre os de Diana. Ela respirou fundo. O toque de sua boca causara uma corrente elétrica no corpo dela.

Henry olhou intensamente nos olhos de Diana, resistindo à tentação de dar um enorme sorriso, e se inclinou de novo, beijando-a de verdade. Era isso, pensou Diana. Era o que ela queria ter, uma sensação que ia até os dedos dos pés e os fazia dançar.

Henry se afastou e piscou para ela com olhos vividos e sábios. Então ele colocou o chapéu na cabeça e foi para o corredor sem dizer mais nada.

— Caras senhoritas, aparentemente eu me perdi ao sair do closet - disse ele. - Boa tarde.

Diana ouviu o tom de zombaria na voz de Henry e soube que, embora ele estivesse falando com Claire e Elizabeth, na realidade estava contando uma piada só para ela.

— Boa tarde - respondeu Elizabeth. Diana achou que sua irmã parecia estar um pouco ofendida. Ela ouviu o

som da porta se abrindo e imaginou que Henry já devia estar na rua. “Eu beijei Henry Schoonmaker”, pensou Diana, mal conseguindo acreditar. “Eu beijei Henry Schoonmaker.”

* * * Foi só mais tarde, após Diana ter conseguido entrar em seu quarto sem ser

vista por ninguém, que o misterioso pacote chegou. Claire exigira saber o que ele continha ao entregá-lo, e Diana de fato se sentira tentada a abri-lo imediatamente. Ela e sua criada conversavam muito sobre meninos e fantasiavam sobre viagens para lugares distantes e romances com príncipes europeus. Mas aquilo era real demais para ser compartilhado. Por isso, Diana pediu desculpas a Claire, abraçou-a e pediu-lhe que a deixasse sozinha.

Ela ouviu Claire se afastando da porta de seu quarto e só então tirou a tampa ornada da caixa redonda que recebera. O interior da caixa era de veludo cor de carvão e, lá dentro, estava um chapéu muito familiar e um bilhete que dizia:

cÉwx y|vtÜ vÉÅ xÄxA Y|vÉâ àûÉ uxÅ xÅ äÉv£ Öâx cÉwx y|vtÜ vÉÅ xÄxA Y|vÉâ àûÉ uxÅ xÅ äÉv£ Öâx cÉwx y|vtÜ vÉÅ xÄxA Y|vÉâ àûÉ uxÅ xÅ äÉv£ Öâx cÉwx y|vtÜ vÉÅ xÄxA Y|vÉâ àûÉ uxÅ xÅ äÉv£ Öâx tzÉÜt ÇûÉ áâÑÉÜàÉ ä£tzÉÜt ÇûÉ áâÑÉÜàÉ ä£tzÉÜt ÇûÉ áâÑÉÜàÉ ä£tzÉÜt ÇûÉ áâÑÉÜàÉ ä£@@@@ÄÉ ÇtÄÉ ÇtÄÉ ÇtÄÉ Çt Å|Ç{t vtux†tAAA Å|Ç{t vtux†tAAA Å|Ç{t vtux†tAAA Å|Ç{t vtux†tAAA táá|Åtáá|Åtáá|Åtáá|Å vÉÅÉ ÇûÉvÉÅÉ ÇûÉvÉÅÉ ÇûÉvÉÅÉ ÇûÉ ááááâÑÉÜàÉ ÑxÇátÜ ÇÉ vÉÇàxåàÉ ÇÉ âÑÉÜàÉ ÑxÇátÜ ÇÉ vÉÇàxåàÉ ÇÉ âÑÉÜàÉ ÑxÇátÜ ÇÉ vÉÇàxåàÉ ÇÉ âÑÉÜàÉ ÑxÇátÜ ÇÉ vÉÇàxåàÉ ÇÉ ÖâtÄ áxÜx|ÖâtÄ áxÜx|ÖâtÄ áxÜx|ÖâtÄ áxÜx| ÉuÜ|ztwÉ t vÉÇ{xv£ÉuÜ|ztwÉ t vÉÇ{xv£ÉuÜ|ztwÉ t vÉÇ{xv£ÉuÜ|ztwÉ t vÉÇ{xv£@@@@Ät ÅxÄ{ÉÜA Ät ÅxÄ{ÉÜA Ät ÅxÄ{ÉÜA Ät ÅxÄ{ÉÜA

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Diana leu o bilhete duzentas vezes, tentando compreender seu sentido. “O

contexto no qual serei obrigado a conhecê-la melhor?” O que isso queria dizer?

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Depois, ela colocou o chapéu na cabeça e sentiu-se perigosamente apaixonada por alguém que mal conhecia.

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TRECHO DO DIÁRIO DE DIANA HOLLAND, 17 DE SETEMBRO DE 1899

Diana só tirou o chapéu muitas horas mais tarde, quando ouviu algumas leves batidas em sua porta. Ela se levantou da cama, onde estivera sentada escrevendo em seu diário, tirou o chapéu da cabeça e escondeu o bilhete dentro dele, enfiando rapidamente os dois embaixo da cama. O toc-toc-toc soou mais uma vez e Diana escondeu seu diário, cujas páginas registravam o encontro secreto que estava inspirando todas aquelas cores, debaixo do travesseiro.

— Quem é? - gritou ela, sem tentar disfarçar a irritação em sua voz. O rosto de Elizabeth surgiu no vão da porta. Os olhos dela estavam

arregalados e sem expressão, exatamente como quando Diana a vira mais cedo na sala de estar. As duas não haviam conversado desde então, mas aquilo não era uma surpresa. Há anos elas não conversavam sobre nada de importante.

— Posso entrar? - perguntou Elizabeth gentilmente. — Tudo bem. Diana deitou-se de novo na posição em que estivera antes de se

interrompida; de barriga para baixo, olhando para seu travesseiro. Fora nele que ela apoiara seu precioso diário para poder escrever e embaixo dele que o escondera. Diana sentiu necessidade de mantê-lo longe da vista de sua irmã, pois há tempos Elizabeth era como uma estranha para ela.

Nos últimos dois anos, Diana fora traída por Elizabeth inúmeras vezes. Sua irmã mais velha ficara cada vez mais bem-educada e distante e as duas, que já haviam sido muito próximas, agora se ressentiam. A interrupção do momento sagrado que passava com seu diário todos os dias foi para Diana apenas uma pequena afronta a ser computada junto com outras bem mais graves.

— Tenho algo muito importante para lhe contar - disse Elizabeth timidamente.

Ela se sentou na outra ponta da cama de Diana, sobre a colcha de lã branca. — É mesmo? Diana revirou os olhos, pois aquilo que era importante para sua irmã quase

sempre era irrelevante para ela. De qualquer maneira, ela já estava pensando de novo em Henry, perguntando-se se ele tivera muitas namoradas e como seria a sensação de encostar a cabeça em seu peito. Para Diana, era auspicioso que sua família houvesse escolhido aquele momento para se tornar pobre. Talvez aquilo a

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tornasse diferente de todas as outras meninas aos olhos de Henry, fazendo-a brilhar com uma luz singular. Diana parara de escutar Elizabeth, mas então achou que sua irmã mais velha tinha mencionado o nome de Henry.

— O quê? - perguntou Diana, apoiando-se nos cotovelos e encarando Elizabeth.

— Henry Schoonmaker. Ele veio aqui esta tarde para me pedir em casamento e nós estamos noivos. Eu vou me casar, Di... Nossa família vai ficar bem.

Diana apertou os olhos e fez um esforço para não cair na gargalhada. Ela ia pedir que Elizabeth repetisse o que dissera, pois certamente ouvira mal, misturando o homem em quem estava pensando com essa história boba de noivado. Mas então Elizabeth pegou sua mão.

— Sei que é muito súbito. Mas quase ninguém tem mais dinheiro do que eles, e Henry é o filho mais velho... aliás, o único filho — explicou Elizabeth, como quem tentava convencer a si própria também.

— Ele... pediu você em casamento? A boca de Diana se abriu e seus olhos se arregalaram de espanto. Ela

instintivamente puxou sua mão de volta para o peito. Elizabeth olhou para baixo, enquanto Diana absorvia aquela informação. A deliciosa lembrança de Henry Schoonmaker provocando-a naquela sala deserta, escura e poeirenta fora arrancada de Diana. Ela a queria de volta.

— Mas você nem gosta dele! - exclamou Diana. — Talvez com o tempo... - disse Elizabeth, olhando para as mãos e

mexendo em suas cutículas. - Ele é muito bonito e é considerado o solteiro mais cobiçado da cidade.

Diana soltou uma exclamação de indignação e revirou os olhos mais uma vez. Era injustiça demais! Ela mal podia acreditar que sua aventura ia terminar daquela maneira. Sua raiva estava aumentando e Diana estava preparada para atacar o homem que, aparentemente, era agora o noivo de sua irmã.

— Diana, por que você está tão malcriada? Essa é uma boa notícia. — Porque você não ama Henry Schoonmaker - respondeu Diana

amargamente. E ele não ama você, acrescentou ela em pensamento. Diana poderia ter dito

que o homem com quem Elizabeth estava planejando se casar era um patife e que ele beijara a irmã mais nova de sua noiva minutos depois de pedi-la em casamento, mas não o fez. Ela já lera muitos romances e já devia ter aprendido que os bandidos da história muitas vezes têm o rosto bonito. Cometera um erro clássico ao acreditar que aquele momento maravilhoso em que os lábios de Henry haviam tocado os seus marcara o surgimento do amor. Mas não ia contar a ninguém o que fizera; era algo que pertencia só a ela. Diana fechou os olhos e disse:

— Bem... então, meus parabéns. Elizabeth sorriu sem qualquer alegria e uniu as mãos. Diana sempre

considerara aquele um gesto estúpido e, naquele momento, ele o irritou mais do que nunca.

— Os Schoonmaker têm uma ótima reputação. Além disso, Henry é muito educado e...

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Elizabeth parou de falar, como se não conseguisse pensar em nem mais uma coisa boa para dizer sobre seu noivo. Então, ela mordeu o lábio e Diana pensou ter visto uma lágrima brilhar em seus olhos. Elizabeth cobriu o rosto com as mãos.

Diana achou patético que sua irmã ficasse emocionada a ponto de chorar de alegria devido ao surgimento de um noivo rico, principalmente porque não parecia achá-lo grande coisa. Ela soltou um som gutural e olhou de novo para seu travesseiro.

— Bem - disse Elizabeth, controlando-se e limpando as lágrimas. - Vai ser bom para mamãe, bom para todos nós, que haja um casamento. Flores, vestidos novos e tudo o mais. Tudo vai ser novo, feito especialmente para a cerimônia.

Diana olhou para a irmã e viu que ela erguera as sobrancelhas louras ao enumerar todos os objetos lindos que ia comprar para o casamento, coisas imaculadas e feitas de marfim. Era como se ela houvesse passado a tarde num esgoto e houvesse acabado de emergir, desesperada para encontrar qualquer sinal de pureza. Mas Elizabeth, na verdade, passara a tarde na suntuosa sala de estar dos Holland e, ao descobrir que sua família estava mal financeiramente, ficara noiva do primeiro homem rico que encontrara. Diana concluiu que sua irmã era uma idiota por pensar em se casar com um homem obsceno como Henry Schoonmaker, que, aparentemente, entrara na casa delas aquela tarde com a intenção de arrumar não apenas uma esposa, mas também uma amante. Quão conveniente para ele. Diana se perguntou se Henry também não viera levar alguns dos móveis dos Holland, como pagamento por suas dívidas.

— Di? - chamou Eíizabeth, que continuou a falar sem esperar que ela respondesse. - Eu e Penelope fizemos uma promessa quando tínhamos treze anos, de que seríamos as madrinhas uma da outra. Espero que você entenda. Mas gostaria muito que fosse uma das minhas damas de honra.

Diana deu um sorriso sardônico. Ela não podia deixar de apreciar a ironia de ser chamada para participar de um casamento que desprezava com todo o seu ser.

— Tudo bem - respondeu Diana, resignada. Quando Elizabeth fosse embora, ela poderia voltar a escrever no seu diário,

mas dessa vez com raiva em vez de encantamento. Sua irmã emitiu um barulhinho de prazer e abraçou Diana.

— Diana, não conte isso a ninguém por enquanto - pediu Elizabeth. - Por favor, prometa.

— Prometo. Diana deu de ombros. Aquela não era uma notícia interessante o suficiente

para querer passar adiante e, de qualquer maneira, ela não tinha ninguém para quem contá-la.

— Ótimo. É que eu não quero que essa confusão toda comece rápido demais... — explicou Elizabeth, abaixando os olhos.

Nem o guloso do Henry Schoonmaker, pensou Diana. Assim, ele usaria os meses que faltavam para o casamento para beijar todas as primas de Elizabeth e talvez algumas das criadas dos Holland.

— Não se preocupe - respondeu Diana, finalmente. - Seu caso secreto não será revelado.

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Diana quisera magoar um pouco a irmã ao dizer isso, mas ficou surpresa ao ver a expressão de choque de Elizabeth. Era só uma piada. Por que Elizabeth não conseguia suportar nem uma piadinha?

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WÉéxWÉéxWÉéxWÉéx

Se a srta. Peoelope Hayes não for pedida em casamento por Henry Schoonmaker em breve, ela não será a única a ficar surpresa. Dizem que a srta. Hayes estava jogando todo o seu charme para o jovem Schoonmaker e seu pai no baile de sua família ontem à noite e isso só pode significar uma coisa: um noivado à vista...

NOTA DA COLUNA SOCIAL DO JORNAL NEW YORKNEWS OF THE WORLD GAZETTE, DOMINGO, 17 DE SETEMBRO DE 1899

A casa da família Holland parecia estranhamente melancólica, mas Lina

não estava dando muita importância para isso. Elizabeth estava sentada de frente para o espelho da penteadeira de mogno que havia em seu quarto, ereta e impassível, olhando para seu reflexo sem jamais deixar que seus olhos encontrassem os de sua amiga de infância. Ela retornara há apenas dois dias e Lina já voltara a ser tratada como apenas uma criada.

Ainda era difícil acreditar que Elizabeth - a menina perfeita, tão celebrada por sua pureza, tão bela e desamparada - logo iria até o estábulo para fazer coisas proibidas com um homem que era “um deles”. Um de nós, pensou Lina, enquanto passava o pente de prata pelos fios louros de Elizabeth e lamentava o fato de que a menina cujos cabelos ela penteava era sua rival no amor.

— Já está bom - disse Elizabeth, impaciente. - Pode trançá-lo agora. Lina olhou para o reflexo de Elizabeth no espelho e ficou furiosa. Alguns

segundos se passaram e, antes que ela soubesse como reagir, alguém bateu na porta. Elizabeth continuou imóvel, apenas levantando o queixo alguns centímetros.

— Sim? - disse ela. A porta se abriu e Lina viu sua irmã entrando. Ela estava usando um vestido

preto como o seu e seus cabelos vermelhos estavam presos num coque. Havia um cesto cheio de roupa limpa apoiado em seu quadril.

— Você ainda não terminou? — perguntou Claire, olhando primeiro para Lina e depois pata Elizabeth.

— Ah, Claire, que bom que está aqui. Pode trançar meu cabelo, por favor? — pediu Elizabeth, deixando os olhos fixos em seu reflexo no espelho oval.

Lina afastou as mãos do cabelo de Elizabeth e saiu dali, dando passagem para sua irmã. Claire se inclinou com ar cansado para deixar o cesto de roupa no chão e então atravessou o cômodo de Elizabeth, que era coberto por um tapete luxuoso, lançando um olhar de repreensão para Lina.

Lina detestava Elizabeth por fazê-la se sentir daquela maneira e ficou observando com raiva enquanto Claire separava seus cabelos e o arrumava numa trança perfeita com dedos rápidos e ágeis. Ao terminar, ela se afastou e disse:

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— Mais alguma coisa? — Não - respondeu Elizabeth. - Mas deixe sua irmã praticar um pouco com

seus cabelos. Ela parece ter esquecido algumas coisas durante a minha ausência. Lina não disse nada. Ela se lembrou dos momentos dolorosos do início de

sua adolescência, quando Elizabeth começara a se transformar na perfeccionista que era agora. Lina só se tornara sua criada pessoal quando ela fizera 16 anos, mas fora observar a metamorfose de sua amiga de infância em uma menina da alta sociedade enquanto ela continuava a ser a velha Lina de sempre que a magoara.

— É claro - disse Claire. Ela assentiu, foi até a cama de mogno, onde Lina colocara o vestido que

Elizabeth estivera usando, apanhou-o com cuidado, colocou-o no cesto e então pegou a mão da irmã. Lina quis arrancar sua mão dali e mandar que Claire não fosse condescendente com ela, mas era covarde demais para dizer qualquer coisa.

— Boa noite, srta. Elizabeth - disse Claire, levando a irmã dali. — Boa noite - respondeu Elizabeth. Ao ver que Lina não ia dizer nada, Claire arregalou os olhos para ela

ameaçadoramente. — Boa noite, senhorita — murmurou Lina com má vontade. Claire fechou a porta e largou a mão de Lina. Ela atravessou o corredor que,

assim como o resto da casa, era decorado com quadros escuros mostrando uma Manhattan composta apenas por fazendas e montanhas e seus primeiros colonizadores. Os quartos das duas irmãs Holland ficavam na ala oeste da casa, no segundo andar, bem distantes do quarto principal, o que as permitiria subir e descer pela escada dos empregados sem jamais serem notadas se quisessem - Lina acabara de perceber. O quarto de Diana dava para o sul e o de Elizabeth para o norte, com vista para a rua. Claire e Lina subiram a escada de madeira estreita, passando pelo terceiro andar e chegando ao quarto. O teto da escada era tão baixo que elas precisavam tomar cuidado com suas cabeças.

O sótão que as irmãs Broud dividiam com as outras jovens mulheres que serviam os Holland estava envolto numa escuridão impenetrável. Elas ainda usavam velas para iluminar o cômodo e, por isso, depois que o sol se punha ele parecia não acabar nunca - quilômetros e mais quilômetros de negror. Lina ouviu os passos de Claire no chão sem tapete e os sons da irmã procurando por uma vela. Ela sabia que Claire ia lhe dar uma bronca e desejou estar bem longe dali. Após alguns segundos, uma luz fraca iluminou o cômodo.

— Queria muito que você não desagradasse à srta. Elizabeth - disse Claire, acendendo mais duas velas e indo se deitar na cama de metal que elas duas dividiam. - Diga alguma coisa, Lina. Não fique muda como sempre.

Lina foi até a cômoda simples, em cima da qual Claire colocara as velas, e pegou alguns grampos enferrujados que haviam sido dados a elas pelas irmãs Holland. Ela prendeu vários fios soltos com eles e se olhou no espelho, virando o rosto para o lado para examinar seu perfil. Ela não sabia como explicar a Claire que sentia que o mundo todo era injusto e que sua vida precisava mudar drasticamente.

— Desculpe por não ter ajudado você a lavar a roupa hoje - disse Lina, simplesmente.

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Claire suspirou, olhando para o cesto que colocara ao lado da cama. — Não é disso que estou falando. Você vai me dizer por que anda tão

chateada? Lina não contara a Claire o que vira na noite anterior, mas sua irmã mais

velha há muito sabia reconhecer seus humores e estava acostumada a fazer suas tarefas quando ela não trabalhava direito. Isso sempre causava em Lina uma vaga e incômoda sensação de culpa. Mas o que era a culpa comparada com a mistura borbulhante de humilhação e desejos não correspondidos que ela vinha sentindo desde a noite anterior?

— É um bom emprego, Liney, com uma boa família - disse Claire quando Lina não respondeu, balançando a cabeça com decepção e fazendo seu coque cor de cobre se mexer de um lado para o outro. - Não sei por que você está sempre arrumando confusão.

Lina olhou para seu reflexo no espelho. Ela tinha pés enormes, um cabelo sem graça e nenhuma roupa ou acessório bonitos e, por tudo isso, sentia-se como o último dos seres humanos. Mas aquela era uma época de revoluções, disse Lina a si mesma. Todo dia saía algo no jornal sobre isso. Fortunas eram feitas da noite para o dia, e a diligência e a inventividade transformavam a aparência de uma garota. Lina sempre acreditara que havia uma menina bonita por trás de sua camada externa de feiúra.

— É que eu não estou mais acostumada a servir a srta. Elizabeth - disse ela, finalmente.

Só de dizer aquele nome, Lina sentia um embrulho no estômago. Fazia com que ela se lembrasse dos gestos orgulhosos de Elizabeth e de sua voz de boazinha. Cada vez que Elizabeth dizia alguma coisa, Lina se dava conta de que não tinha nenhuma chance contra ela.

— Era muito mais fácil dar conta de tudo quando ela estava fora - acrescentou ela, tentando se explicar.

— Você sabe muito bem que não há muitos empregos disponíveis para meninas como nós.

Claire balançou a cabeça com mais vigor dessa vez. Lina percebeu que sua irmã continuava trabalhando, pois estava dobrando as fronhas nas quais as Holland pousavam suas belas cabeças.

— Se nós perdermos esse emprego... - começou Claire - bom, aí nenhuma outra família de Nova York vai nos contratar. Você costumava ser tão amiga da srta. Elizabeth. É claro que nem tudo pode continuar a ser como era... mas se você...

Lina não quis responder e, por isso, foi para o lado de sua irmã e pegou impacientemente a fronha que ela estava dobrando. Claire virou seu rosto cansado e cheio de sardas claras para Lina com um olhar interrogativo.

— Vá se sentar - disse Lina, fazendo um gesto para o lado com a cabeça. - Você passou o dia todo de pé. Deixe que eu dobro isso aqui um pouco.

Claire riu e foi para o outro lado da cama, encostando a cabela na cabeceira e cruzando as pernas. Ela ficou observando Lina durante alguns segundos com um olhar que era quase cético.

— Cuidado com os bordados - disse Claire quando Lina pegou uma camisa toda trabalhada.

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— Pode deixar! - retrucou Lina, passando a mão por sobre o bordado delicado. - Será que dá para você relaxar um pouco? Que tal ler suas colunas de fofocas para mim?

Lina sempre implicava com Claire por causa do passatempo preferido dela, que era ler sobre as vidas dos ricos, mas agora sorriu para a irmã, assegurando-lhe que não reclamaria ou diria que aquela era uma maneira idiota de se divertir. Claire foi entusiasmada pegar a edição dobrada do News of the World Gazette e começou a ler as notícias de Newport, que contavam o que as damas nova-iorquinas que estavam em férias andavam fazendo.

Lina continuou a dobrar enquanto Claire lia as colunas sociais com uma voz exageradamente pomposa. Ela assentiu como se estivesse ouvindo com atenção, mas na verdade não podia esquecer de seu infortúnio. Tudo o que conseguia fazer era tentar pensar numa maneira de mostrar a Will que ele não tinha que se misturar com a metida da Elizabeth Holland. Lina ainda não conseguira ter nenhuma idéia quando sua irmã exclamou:

— Henry Schoonmaker! Esse é o rapaz que veio visitar a srta. Elizabeth hoje.

— O quê? - Lina levantou a cabeça e tentou parecer um pouco interessada naquele tal de Henry Schoonmaker.

— Está dizendo aqui que a amiga da srta. Elizabeth, aquela Penelope Hayes, está de namoro com Henry Schoonmaker. Ele é o jovem que veio esta tarde. Ai, Lina, você viu? - comentou Claire, com os olhos cheios de espanto ao ver o quão próximas elas duas estavam de tanta felicidade. - Ele é tão bonito que chega a ser injustiça. E Penelope Hayes vai se casar com ele!

Lina ficou atônita ao ver como Claire conseguia ficar feliz por uma menina que era sempre grosseira com elas, mas achou melhor não dizer nada.

— Mas então - disse Claire com curiosidade -, por que ele veio ver a srta. Elizabeth nesta tarde?

— De repente ele queria saber como deveria fazer o pedido — sugeriu Lina, dobrando uma anágua de algodão que pertencia a Diana.

— Talvez... Claire deu de ombros e continuou a ler as últimas notícias sobre os

habitantes mais fascinantes de Nova York. Lina sorriu para a irmã, que estava absorta demais nas fofocas que lia para notar qualquer coisa. Ela continuou a dobrar as roupas de baixo das Holland e a ouvir o som reconfortante da voz de Claire.

Lina se lembrou de Penelope Hayes, com sua pele translúcida, seus belos vestidos, suas mãos cheias de jóias e seu jeito frio. "Você sempre reconhece os ricos pela pele", costumava dizer sua mãe. Ela pensou no rosto de porcelana de Elizabeth, que não tinha nenhuma mancha ou sarda, e sentiu-se mais uma vez excluída de tudo que havia de maravilhoso no mundo.

Lina não pôde deixar de pensar que, se ela fosse uma dama como a srta. Hayes ou como a srta. Elizabeth, Will jamais teria expulsado-a do estábulo naquela noite. Ou em qualquer noite.

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TRECHO DO DIÁRIO DE EDWARD HOLLAND, DEZEMBRO DE 1898.

Já passara das duas da madrugada e todos os recantos da casa dos Holland

estavam imersos na escuridão. Elizabeth desceu os degraus da escada dos empregados um a um, tomando cuidado para não fazê-los ranger. Naquela manha, sua mãe ordenara que ela tomasse mais cuidado do que nunca com as aparências e ela tentou obedecer, embora estivesse se dirigindo para o estábulo. Ela segurava uma vela num castiçal de metal para poder ver melhor.

Ao chegar, Elizabeth esperou alguns segundos para que seus olhos se ajustassem à atmosfera do estábulo, que estava iluminado porque a janela de Will ficava bem lá no alto e deixava entrar um pouco da luz das estrelas. Ela foi até a escada de madeira e tentou não se esquecer do motivo de estar ali. Já era o dia seguinte, o dia em que se prometera que ia contar tudo a Will.

Ela subiu devagar a escada que dava no compartimento onde Will dormia e parou para admirá-lo à luz bruxuleante de sua vela. Era uma cena feita de tons de marrom, bege e negro. Will devia ter chutado para longe sua colcha vermelha enquanto dormia, pois estava enrascado como um bebê sem nada para protegê-lo.

Elizabeth atravessou o compartimento, ainda tomando cuidado para não fazer o chão de madeira ranger. Colocou a vela em cima do engradado de leite que havia do lado do colchão de Will e parou para olhar os ombros fortes e as pálpebras dele, que escondiam seus olhos enormes e lindos. A idéia de magoá-lo era tão terrível que Elizabeth mal podia pensar nela. Ela se deitou ao lado dele, encostando-se no seu corpo. Will estava dormindo profundamente e seu peito subia e descia com a respiração. Elizabeth olhou bem para o rosto dele, temendo jamais voltar a vê-lo de forma tão íntima.

Will se remexeu e puxou-a mais para perto de si. Elizabeth quase deu um grito de susto, mas um sorriso lhe surgiu no rosto e ela acabou dando uma risada

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baixinha. A mão de Will buscou sua nuca e ele acariciou-lhe os cabelos. O mundo lá fora desapareceu e Elizabeth mergulhou naquilo que estava bem à sua frente.

— Não acredito que você já veio me ver de novo - sussurrou ele. — Não conseguia dormir - explicou Eíizabeth, sem deixar de olhar para ele. Os olhos de Will se moveram de um lado para o outro, como se tentando

decifrá-la. — Sorte minha - disse ele, finalmente. Ela quis beijá-lo, mas não quis tirar os olhos dele. Will moveu sua mão

pelas costas dela, deixando-a pousada bem acima de seu quadril. Ele estava olhando para Elizabeth de uma maneira que a fazia se sentir lânguida como se houvesse passado a tarde no sol. Pela primeira vez naquele dia, os pulmões da jovem se encheram de ar e seu coração foi tomado pela felicidade. Ela tentou lembrar que seu caso com Will era impossível. Mas, ao olhar para o azul puro dos olhos dele, Elizabeth confirmou o que soubera por mais da metade de sua vida: ela podia confiar em Will, sempre.

— Você deve ter sentido muita saudade de mim - disse ele. — Você é quem mesmo? Mas Elizabeth só conseguiu ficar séria por um segundo após fazer a

pergunta e logo deu uma sonora gargalhada. Will riu também, pegando-a pela cintura e rolando-a no colchão de forma a

ficar com seu corpo em cima do dela. Ele abriu um enorme sorriso. Ela tentou se levantar, mas Will segurou seus pulsos e a impediu. Elizabeth riu mais e mais, até que Will a calou com um beijo.

Aquilo era maravilhoso, mas Elizabeth estava se sentindo uma mentirosa, e Will era a última pessoa no mundo para quem desejava mentir. Ela se afastou gentilmente dele e lançou-lhe um olhar sério. Seria cruel esperar mais, pensou ela. Isso só faria com que Will ficasse ainda mais arrasado quando soubesse.

— O que foi? - ele perguntou. Elizabeth fechou a boca, abriu-a de novo e respirou fundo, tomando

coragem. — Henry... - disse ela. — Henry Schoonmaker? - disse Will, rindo. - Você não vai me provocar de

novo, vai? Eu o vi saindo daqui esta tarde, mas não precisa se preocupar. Não vou mais lhe incomodar com meus ciúmes.

Will beijou-a mais uma vez. Elizabeth sentiu a garganta apertada e desejou que aquele momento durasse para sempre. Ele estava sorrindo quando se afastou e seus olhos estavam cheios de luz.

— Acho que vai ficar tudo bem - sussurrou ele após um longo silêncio. Elizabeth deu uma espécie de sorriso e perguntou-se se Will ia perceber o

quanto ela estava triste. — Vai ficar tudo bem - repetiu ela, num tom de voz que quase a convenceu. Amanha, amanhã ela contaria. Tudo o que queria era só mais uma noite

antes que eles ficassem furiosos um com o outro ou arrasados com aquela situação. Amanhã, repetiu ela para si mesma. Certamente não haveria problema em esperar só mais um dia para dar aquela notícia terrível.

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Will começou a tirar a camisola de Elizabeth e ela tentou não pensar na situação precária de sua família e em como eles estavam vulneráveis. Tentou não pensar em suas responsabilidades. Ou em como seria impossível contar a verdade a Will. Ela tentou se concentrar apenas na maneira como Will estava beijando a parte de seu pescoço que ficava logo abaixo de seu queixo, para poder se lembrar para sempre de como as coisas costumavam ser.

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VtàÉÜéxVtàÉÜéxVtàÉÜéxVtàÉÜéx

Um jovem de sobrenome Schoonmaker que é muito querido das meninas casadouras da cidade foi visto ontem à tarde na joalheria Tiffany. Tenho fontes no departamento de anéis de noivado que me disseram que ele saiu da loja com um solitário de diamante extraordinariamente grande e belo, valendo mais de mil dólares...

NOTA DA REVISTA CITÊ CHATTER, SEXTA-FEIRA, 22 DE SETEMBRO DE 1899

enelope Hayes sorriu friamente para a criada que estava esperando no vestíbulo de sua casa para ajudá-la a botar sua estola de marta preta. A peça era nova, assim como seu

vestido, que era de cetim cor de marfim rebordado de veludo negro, formando um desenho art nouveau - moderníssimo. Penelope nunca vira aquela menina antes, com seus olhos pequenos e ansiosos e seu cabelo mal arrumado, e concluiu que ela devia ser uma das criadas contratadas recentemente. A casa era tão grande que o número de empregados tivera que ser muito aumentado, o que fazia Penelope temer pela inviolabilidade de sua correspondência. Ela tentou expressae esse sentimento na forma irritada como removeu o cartão cor de creme da bandeja de prata que a menina lhe estendeu.

— O senhor Isaac Philips Buck chegou para acompanhar a senhorita - disse a criada com exagerada formalidade.

Penelope e Isaac eram amigos tão íntimos que ele não precisaria mais deixar seu cartão com a criada antes de entrar, mas Isaac não resistia a esses pequenos floreios.

— Obrigado - disse Penelope, descendo apressadamente os degraus de mármore branco de sua casa.

Ela olhou para trás e percebeu que cometera um erro. A criadinha estava quase desmaiando de felicidade por ter recebido um agradecimento tão gentil. Penelope tentou esquecer sua irritação - não fazia bem para a pele ficar irritada e ela estava indo a um jantar na casa de Henry, onde sempre gostava de estar com a melhor aparência possível. Virou-se e viu que Isaac estava esperando de frente para a Avenida, com a fumaça do cigarro suspensa no ar sobre sua cartola.

— O que você estava olhando? - quis saber Penelope. Isaac voltou-se para ela e pegou sua mão. Penelope se inclinou para dar-lhe

um beijo em cada bochecha. - As pessoas interessantes. Isacc deu uma pequena fungada e começou a descer a escada frontal da casa

de sua socialite preferida de braços dados com ela. A noite estava quente e um

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pouco enevoada e as melhores carruagens da cidade passavam pela Quinta Avenida vagarodamente, como se desejassem ser observadas.

— Mas nenhuma delas está tão bem vestida quanto você - concluiu ele. O cocheiro dos Hayes estava esperando numa das quatro carruagens de

madeira negra polida pertencentes a família que estavam abertas. Isaac ajudou Penelope a subir, entrando também e acenando com a cabeça para o homem. Uma menina mais preocupada com o decoro jamais teria ido de carruagem aberta para um jantar formal, mas, naquele momento, Penelope estava absolutamente deliciada consigo e não admitiria críticas. Ela se ajeitou no banco de veludo vermelho e tirou sua estola, deixando-a cair à suas costas. Queria sentir o ar da noite, embora os mais moralistas sem dúvida fossem criticá-Ia por expor seu ombros nus daquela forma.

Os cavalos começaram a andar devagar para o lado sul da cidade e Isaac entregou a Penelope um recorte de jornal que tirara do bolso do casaco.

— Achei que você pudesse achar isso interessante - disse ele num tom casual, mas sem impedir que seus lábios úmidos se abrissem num sorriso de satisfação.

Os olhos dela percorreram rapidamente a nota, arregalando-se ao ler as palavras “joalheria”, “diamante” e “mil dólares”. Penelope piscou os cílios muito maquiados e deu de ombros modestamente, embora a modéstia jamais houvesse sido uma característica admirada ou cultivada por ela. Virou o rosto para o lado leste, para que as carruagens que estavam passando na direção contrária a vissem em seu melhor ângulo, e aproveitou o curto passeio pela larga Avenida. Henry dissera que ela descobriria em breve quando eles iam ficar noivos e de fato usara a expressão de forma correta, embora esse não fosse um hábito seu. Até mesmo uma menina impaciente como Penelope podia considerar que o evento não demorara para acontecer.

A mansão dos Schoonmaker surgiu no horizonte. Ela tomava meio quarteirão na esquina da Quinta Avenida com a rua trinta e oito e, embora fosse mais nova do que Henry, já estava começando a ter a aparência datada, com seu telhado com mansardas e escadaria íngreme. Ela e Henry ganhariam uma nova mansão, é claro. Talvez papai construa uma para nós de presente de casamento, pensou Penelope. A carruagem parou na frente da casa e Isaac saltou para a rua de forma quase delicada para um homem do seu tamanho, estendendo a mão para ajudar Penelope a descer. Ela viu carruagens de diversos outros convidados paradas por ali e, dentro de cada uma delas, um cocheiro, a maioria fumando. Eles tinham uma longa espera pela frente. O cocheiro dos Holland estava ali também, encostado na carruagem da família lendo um jornal. Ele tinha ombros largos e brutos e Penelope não conseguiu lembrar seu nome. Elizabeth um dia mencionara que eles haviam sido amigos quando crianças e Penelope não pôde deixar de sorrir da maneira estranha como as coisas eram feitas na área do Gramercy Park, com todas aquelas velhas tradições e aquela mania de dar atenção demais para os criados. As damas e os cavalheiros subiam a escada de calcário da mansão dos Schoonmaker em pares, indo na direção da porta iluminada sem prestar a menor atenção aos cocheiros.

— Acho que vou demorar, Thom - disse Penelope.

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Ela nem olhou para seu empregado. Estava ocupada demais alisando suas luvas brancas, que iam até a metade de seus braços, para tirar qualquer dobra que houvesse restado. Mas sua aparência já estava perfeita e ela sabia disso muito bem.

— Estarei aqui quando a senhorita sair - respondeu o cocheiro. Penelope deu o braço a Isaac enquanto eles subiam a escada. Um dos

mordomos dos Schoonmaker pegou sua estola e levou-os até a fila de convidados que entravam. Isabelle Schoonmaker estava recebendo cada casal que entrava e suas bochechas já estavam coradas devido ao esforço de cumprimentar tanta gente. Ela ava um vestido azul-turquesa de Charles Worth que se abria em leque na cauda e lhe apertava muito a cintura, fazendo-a se inclinar para a frente como uma sereia de proa de navio.

— Ah, Penelope! - exclamou Isabelle, dando-lhe dois beijinhos. - Lamento tanto que seus pais e seu irmão não tenham podido vir.

— Isabelle, querida - cumprimentou Penelope, beijando-a também. Os pais dela estavam jantando com os Astor, um convite impossível de

recusar, e Grayson, seu irmão mais velho, estava em Londres cuidando de alguns negócios de família.

— Não se preocupe comigo. Fico muito bem só com Isaac - garantiu Penelope.

— Eu sei. Isabelle apertou de leve a mão dela e, nesse momento, Richard Amory e sua

esposa, que estavam casados há três anos e haviam ficado ainda mais enfadonhos juntos do que costumavam ser quando eram solteiros, chegaram.

— Vamos ter de deixar para nos divertir mais tarde - sussurrou Isabelle para Penelope.

Um dos criados dos Schoonmaker, que trazia o brasão da família em seu libré de veludo, surgiu e guiou-os pelos corredores até um salão de recepção com papel de parede vermelho vivo, onde inúmeros garçons circulavam levando taças de champanhe nas bandejas.

— Vou ver se está tudo bem na cozinha. Vá fazer o que voce faz melhor - disse Isaac, dando uma piscadela rápida para Penelope.

Ela parou ao chegar na porta da sala para que sua entrada causasse uma impressão ainda maior, deixando que os metros de cauda de seu belíssimo vestido negro e marfim se espalhassem pelo chão de carvalho. Como sempre, Penelope sentiu uma onda muda de aprovação e inveja das pessoas à sua volta, mas tentou se mostrar indiferente. Ela não estava interessada em ver ninguém além de Henry, mas, em vez de sentir a mão grande e quente dele em sua cintura, Penelope sentiu um aperto fraco e gelado em seu braço. Ela se virou e viu Elizabeth, que estava usando um vestido de cor pálida mais uma vez e parecendo mais insípida do que nunca.

— Penelope - sussurrou Elizabeth, dando seu sorriso recatado. A franja loura dela formava mechas perfeitas em sua testa e no pescoço ela

usava apenas uma cruz de ouro simples. — Passei a semana toda querendo lhe fazer uma visita - explicou Elizabeth.

- Sinto muito por não termos conversado direito no seu baile, mas tenho estado muito ocupada e...

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— Não se preocupe comigo - disse Penelope pela segunda vez naquela noite, pegando o braço de Elizabeth.

Elizabeth pousou a mão sobre a de Penelope e deu-lhe um sorriso afetuoso. Elas atravessaram devagar o cômodo cheio de estátuas fantasmagóricas e enormes samambaias cujas folhas tocavam o chão, permitindo que os outros as admirassem. Conforme se moviam, Penelope observou as sancas do teto e a madeira trabalhada dos lambris com olhos de futura proprietária.

— Tenho tido tanta coisa para fazer também que mal percebi. Mas estou realmente feliz de vê-la agora - disse Penelope, olhando para Elizabeth e erguendo uma de suas sobrancelhas pintadas. - Tenho notícias.

— Sobre seu namorado - adivinhou Elizabeth animadamente, arregalando os olhos. - Passei a semana toda pensando em você e seu namorado.

— Sempre pensando nos outros - disse Penelope, com um pouco mais de cinismo do que pretendia. - Mas antes que eu lhe conte tudo, precisamos brindar a ocasião.

Penelope percebeu que Elizabeth teve um sobressalto ao ouvir isso, mas prosseguiu:

— Parece que você ficou anos e anos fora. Minha novidade e sua volta certamente merecem um brinde - continuou ela. sentindo-se generosa o suficiente para incluir o retorno da amiga em sua celebração.

— Tem razão. Elizabeth fez um gesto sutil para um dos criados dos Schoonmaker e logo

as duas estavam segurando taças de boca larga e bordas douradas cheias de champanhe. Elas fizeram o brinde e beberam. Penelope sentiu o líquido borbulhante esquentando-lhe o corpo e uma enorme satisfação, pois sabia que em poucos segundos ia deixar Elizabeth bastante impressionada. A mais velha das irmãs Holland podia ser certinha demais às vezes, mas Penelope sabia que ela também era divertida. E, é claro, seu gosto para amizades era impecável.

— Bem - disse Penelope, enlaçando a cintura pequenina de Elizabeth com o braço. Mas antes que pudesse começar a contar sua história, ela notou um homem bonito usando uma roupa esporte branca que não parecia nem um pouco com nenhum rapaz que jamais conhecera. Ele tinha olhos em formato de amêndoa e a pele da cor de café com creme.

— Quem é esse? - perguntou Penelope a Elizabeth. — Ah! - exclamou Elizabeth, excitada, inclinando-se para poder cochichar

ao ouvido da amiga. - Esse é o príncipe Ranjitsinhji, da Índia. Disseram-me que ele é o capitão de um time de críquete e que está aqui para jogar com os rapazes do Clube Union.

— Ele é um príncipe de verdade? — Ninguém sabe com certeza - sussurrou Isabelle Schoonmaker com sua

vozinha infantil ao surgir inesperadamente ao lado de Penelope. - O pai dele governava Nawanagar e dizem que ele foi um pouco extravagante no que diz respeito ao matrimônio...

Penelope e Elizabeth colocaram as mãos enluvadas sobre a boca e riram, enquanto Isabelle piscava alegremente para elas. Penelope estava prestes a fazer mais perguntas sobre o príncipe quando notou a figura curiosa que era Diana Holland, usando um vestido cor de pêssego debruado de renda belga com mangas

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tufadas. Ela claramente fora obrigada a vestir aquilo, pela mãe ou pela irmã. Diana estava parada num canto, sozinha. Tinha o ar ressentido e parecia ter escapado de um hospício. Penelope se aproximou do ouvido de Elizabeth e disse:

— O que sua irmã está fazendo? Elizabeth estremeceu, mas resolveu ignorar o comentário. — Isabelle - disse ela, nervosa -, está tudo tão lindo! Que seleção

maravilhosa de convidados. Mas espero que não estejamos ocupando demais seu tempo e fazendo-a ser uma anfitriã descuida.

Penelope assentiu gravemente como se aquilo fosse a pior coisa do mundo para ela.

— Não, de jeito nenhum... Mas preciso mesmo me comportar melhor e conversar com os outros. Já volto - disse Isabelle, já percorrendo o salão com os olhos. - Obrigada, meus amores, por serem tão compreensivas.

Isabelle foi falar com o príncipe indiano e imediatamente soltou uma risadinha estridente. Penelope se virou para Elizabeth e ergueu uma sobrancelha.

— E então? Sua irmã está com alguma espécie de problema nervoso? — Não, não, não. Você conhece Diana. Ela gosta de parecer excêntrica.

Mas o mais importante... Dessa vez foi Elizabeth quem levou Penelope a atravessar o salão cheio de

convidados e ir com ela até a galeria de quadros adjacente, onde havia apenas duas pessoas: um homem e uma mulher mais velhos, completamente absortos por um retrato de Mamie Stuyvesant Fish em seu camarote de teatro. Elizabeth se virou para que elas pudessem se afastar do casal.

— Pare de se esquivar e me conte logo a novidade. Esperei semana toda para saber quem é esse namorado misterioso!

— Bem, ele é muito alto e muito bonito. — É claro. — É sócio de todos os clubes e vai a todas as festas. — Sim? Elizabeth sorriu para ela e lançou-lhe um olhar inquisidor. As meninas

pararam de andar pela galeria e observaram a arcada que a separava do salão de recepção, onde os cerca de trinta convidados estavam se comportando como se houvessem bebido um pouco demais antes do jantar.

— Ele vem me observando há algum tempo - disse Penelope, tentando não demonstrar orgulho, em vão. - E na nossa festinha. da semana passada nós dançamos juntos e esta manhã havia uma nota sobre ele num dos jornais. Ah, Elizabeth! Ele foi visto comprando um anel!

Uma risada foi ouvida no salão e Penelope viu Henry do outro lado com um drinque dourado na mão e um sorriso sardônico nos lábios. Ele vestia um fraque e nenhum fio de seu cabelo estava fora do lugar. Estava contando uma piada para um grupo de rapazes que eram todos bonitos e ricos, mas não tanto quanto ele.

— Sim? - insistiu Elizabeth, excitada. Sem tirar os olhos dele, Penelope anunciou, deliciada: — Henry Schoonmaker. Elizabeth deixou seu braço pender e Penelope se perguntou se ela estaria

literalmente morrendo de inveja. Ótimo. Aquele era o objetivo. No salão, alguém bateu uma faca contra um copo de cristal, chamando a atenção dos convidados

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para um brinde. Através da arcada, Penelope viu que era o pai de Henry quem o fizera.

— Penelope, eu preciso... - sussurrou Elizabeth. — Psiu! Pode deixar que eu conto tudo mais tarde - interrompeu Penelope,

pegando o braço da amiga mais uma vez e levando-a mais para perto do salão. Ela percebeu que Elizabeth estava muito tensa e ficou um pouco surpresa

ao vê-la tão incapaz de esconder melhor seu lado competitivo. Isabelle, que estava quase gargalhando de alegria, atravessou a pequena multidão de convidados e se postou ao lado do marido. Ela parecia pequena ao lado dele, especialmente agora, que seu peito estava estufado a ponto de quase arrebentar.

— Fui informado de que o jantar está pronto para ser servido - disse William Schoonmaker com sua voz potente. - Mas, antes de entrarmos, tenho uma notícia que gostaria muito de compartilhar com vocês.

Os convidados soltaram um murmúrio e se aproximaram um pouco daquele grande homem. Penelope olhou para Henry, mas ele não a encarou e continuou a olhar fixamente para seu drinque.

— Como vocês todos sabem, há tempos eu me dedico a transformar essa cidade num lugar melhor, um paraíso terrestre para as mais importantes figuras de nossa época. Venho fazendo isso com trabalho duro e um espírito empreendedor, transformando essa cidade no mais importante centro desta nação. Mas não estou mais satisfeito com aquilo que posso fazer dentro da esfera privada. Decidi me unir aos homens que doaram seus nomes, seu tempo e suas vidas inteiras ao povo. Decidi me candidatar à prefeitura de Nova York.

Todos os convidados deram vivas. Penelope deu um bocejo; olhou para Elizabeth, esperando que ela confirmasse que esta e fato não era uma novidade que merecia tanto entusiasmo. Mas o rosto de sua amiga estava imóvel e seus olhos estavam fixos naquele fanfarrão que seria seu futuro sogro. Penelope decidiu que seria melhor fingir estar escutando atentamente também.

— Obrigado, obrigado - disse William Schoonmaker. - Teremos que esperar mais um ano, mas eu contarei com o apoie de vocês em 1900.

Penelope observou as convidadas dos Schoonmaker, com suas saias enormes e vestidos debruados de arminho, bebendo champanhe e tentando não demonstrar tédio diante daquele discurso. Ela acabara de fixar os olhos no umbral dourado sob o qual se encontrava quando o pai de Henry começou a falar de algo muito interessante.

— E tenho outra novidade, de natureza mais pessoal, porém não menos jubilosa. Henry... meu filho, meu único filho, que está rapidamente se tornando um homem capaz de me substituir há pouco me deu a notícia pela qual todo pai espera. Ele me disse: “Papai, estou apaixonado.”

O peito de Penelope se encheu de alegria. De fato fora rápido - quase rápido demais. Após tantos meses de encontros secretos, Henry confessara seu amor por ela ao pai, o que era incrível e grandioso. Era inevitável que fosse acontecer mais cedo ou mais tarde, mas ver seus desejos se realizarem de maneira tão pública era extraordinário, embora um pouco presunçoso da parte do rapaz. Mas ela não se importava. Adorava essa autoconfiança espontânea que Henry tinha. Penelope deu um enorme sorriso de orgulho e apertou o braço de Elizabeth com mais força.

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— Ele disse, “papai, quero que o senhor seja o primeiro a saber que eu pedi a srta. Elizabeth Holland em casamento, e ela aceitou”.

Os convidados soltaram exclamações de prazer, mas Penelope não estava conseguindo nem respirar e muito menos dizer qualquer coisa. Todos olharam para onde ela e Elizabeth estavam. O sorriso de Penelope desapareceu de seu rosto e seus lábios vermelhos e carnudos se abriram de espanto. Sua boca estava seca. Ela sentiu-se como se houvesse levado uma patada de cavalo na cabeça e tudo em sua mente se embaralhou. Seu mundo caíra e ela estava ficando furiosa com uma rapidez impressionante.

Penelope largou o braço de Elizabeth como se o toque dela pudesse envenená-la e viu sua amiga entrar no salão para receber o cumprimentos de todos. Elizabeth se voltou e lançou um olhar de desculpa para Penelope. Ela se virou para frente de novo no momento em que um homem de bigodinho e com um jeito oficioso que Penelope achou conhecer de algum lugar se aproximou após um segundo, Penelope se deu conta de que o homem lhe parecia familiar porque ele já a atendera inúmeras vezes em suas idas à Tiffany. E ali estava ele agora, levando a encomenda preciosa para sua dona. Ela observou com curiosidade mórbida quando o homem tirou a caixinha de veludo do bolso. Ele abriu-a e a visão daquele diamante gigantesco brilhando fez o corpo de Penelope ser tomado pela revolta. Ela entrou na galeria e tentou se agarrar em alguma coisa, pois sua vista estava escura. Sentiu madeira, um jarro de prata e as folhas suaves de uma samambaia. Derrubou a planta. Suas estranhas estavam se revirando e Penelope não pôde mais se controlar. Ela vomitou no jarro de prata.

Não era um grande consolo, mas pelo menos a maioria dos outros convidados estava no salão e não viu nada. Mas eles certamente tinham ouvido. Em poucos segundos Isaac estava ali ao lado de Penelope, sussurrando que ia tirá-la dali antes que o estrago fosse maior. Penelope ouviu uma comoção e discerniu a voz de Isabelle Schoonmaker. Ela estava dizendo a Elizabeth que Henry estava pronto para levá-la até o salão de jantar e que ela devia ir agora mesmo, antes que todos começassem a reparar.

Penelope espiou o salão por detrás do enorme escudo que era a barriga de Isaac e percebeu que não poderia nem lançar um olhar furioso para sua ex-melhor amiga. A anfitriã já estava tirando-a às pressas do salão onde todos os planos de Penelope haviam caído por terra.

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dâ|Çéxdâ|Çéxdâ|Çéxdâ|Çéx

Os noivos sempre encontrarão uma maneira de flertar, mas é muito importante para o bem-estar da sociedade que eles não sejam encoraja-dos a fazê-lo em público. Não devem ser vistos passeando sozinhos pela cidade, especialmente se forem ao teatro e, durante jantares formais, não devem se sentar um ao lado do outro. Se isso ocorrer, eles passarão todo o evento rindo e brincando juntos e isso não deve ser suportado.

TRECHO DE AS LEIS DO CONVÍVIO NA ALTA SOCIEDADE, DE LA.M. BRECKINRIDGE

único consolo de Henry era que as regras de etiqueta eram muito claras ao declarar que noivos jamais deviam sentar lado a lado e, por isso, ele não foi forçado a conversar com sua futura

esposa durante o jantar de seis pratos que havia sido organizado para celebrar a ocasião. Ele olhou uma ou duas vezes para o outro lado da mesa, onde estava Elizabeth Holland, linda e radiante porém horrivelmente virginal, e cuja mao esquerda agora exibia o maior diamante disponível na Tiffany. Henry observou a pedra, tão grande que chegava a oprimir o dedo dela, até saber que estava sendo impertinente. Ele soube disso porque Elizabeth tossiu delicadamente. Aquela joia não tinha nada a ver com ele. Ele agarrou a cauda do fraque de um garçom que passava e pediu mais um drinque.

Mas seu pai parecia estar contente, distraído pelos inúmeros bajuladores que o rodeavam. O sr. Schoonmaker não se dera conta de que Henry só estava se comportando relativamente bem por estar completamente bêbado. Ele estava na cabeceira da mesa, fazendo afirmações grandiloquentes com uma voz tão poderosa que podia ser ouvida por metade dos comensais. À sua direita estava Isabelle. Henry fora colocado entre ela e sua irmã mais nova, Prudie, que se considerava uma intelectual, e por isso só usava vestidos de musselina negra e se recusava a conversar com os outros. Do outro lado da mesa de tampo de ônix, logo à esquerda do sr. Schoonmaker, estava a sra. Holland e, do outro bdo dela, um homem de sobrenome Brennan. Ao lado deste - e imediatamente à frente de Henry - estava Elizabeth, remexendo com o garfo a salada que havia em seu prato.

Duas cadeiras mais à esquerda estava Diana Holland, que lhe parecia fascinante justamente por ser inatingível. Ela não ficava parada na cadeira como deveria, como sua irmã fazia. Diana gesticulava largamente e ria alto, fazendo com que o vestido que fora obrigada a usar e a sala de jantar à sua volta se tornassem ridículos e sufocantes. A luz de seus olhos, que às vezes ficavam

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repletos de raiva e, outras vezes, de alegria, fazia com que as bandejas de ouro sobre a mesa parecessem ser feitas de lata. O buquê de crisântemos atrás dela pareceu a Henry enfadonho demais para lhe servir de pano de fundo. Ele se lembrou de Diana usando sua cartola e sorriu. Conseguira beijá-Ia poucos minutos depois de ficar noivo de sua irmã mas, pela lógica, jamais conseguiria tocá-la novamente. Henry tentou chamar sua atenção, mas Diana estava se mostrando uma mestra em olhar para todas as direções exceto a dele.

— O senhor já leu O despertar? - perguntou ela ao jogador de críquete de Punjab, ou sei lá onde, que estava sentado a seu lado.

O suposto príncipe balançou a cabeça sem tirar os olhos de Diana. — Dizem que é escandaloso demais para ser reeditado, mas é

absolutamente genial. — Estou muito impressionado com o fato de a senhorita ler tantos livros -

disse o príncipe, inclinando-se na direção dela com uma intimidade que fez Henry querer dar-lhe uma bofetada. - Quando eu morei na Inglaterra, pareceu-me que nenhuma das mulheres gostava de ler.

— Bem, creio que não sou convencional em nada - respondeu Diana com o mesmo brilho nos olhos que Henry vira no domingo passado.

Henry olhou para frente e viu com alegria que um copo cheio de uísque surgira ali como num passe de mágica. Após ter testemunhado a inevitável humilhação de Penelope, ficado noivo de sua melhor amiga e se sentido atraído pela irmã mais nova desta, ele decidira que a única coisa sensata a fazer era beber. Virou-se para a direita, debruçou-se sobre Prudie e falou com seu amigo Teddy, levantando o copo:

— Tim-tim. Graças a Deus você está aqui para me ajudar a passar por isso. Teddy desviou o olhar da menina que estava sentada do outro lado - ela era

uma prima de Elizabeth ou qualquer coisa assim, e não era feia. — Tim-tim - respondeu ele, levantando o copo também. - Ao meu amigo

mais sortudo. Você não a merece. — O que você quer dizer com isso? - disse Henry um pouco mais alto. — Nada, deixe para lá - disse Teddy, rindo. - Beba seu uísque e melhore

essa cara. Henry revirou os olhos e voltou a se concentrar no drinque. Ele achava que

tinha razão em se sentir como se estivesse sufocando. Parte de Henry desejava que Elizabeth simplesmente evaporasse ou, melhor ainda, que ele evaporasse. Ele estava tentando com todo seu afinco não pensar em como as pessoas que no momento se encontravam em partes menos elegantes da cidade deviam estar se divertindo. Por isso, tentou voltar sua atenção para as uvas vermelhas e insuportavelmente lustrosas que ocupavam o centro da mesa.

— Srta. Diana - chamou Isabelle -, você e a srta. Elizabeth já discutiram as cores que vão usar no casamento? Tenho visto muitos vestidos de madrinha cor de malva. No meu casamento...

— Eu detesto cor de malva - respondeu Diana, irritada, e alguns cachos castanhos rolaram por sobre seu pescoço, como para sublinhar sua desaprovação.

— Ah, não - disse Elizabeth. - Cor de malva é lindo. Mas - continuou ela mais timidamente, como se houvesse acabado de notar um pedaço de comida preso ao queixo de alguém - ela já está sendo muito usada.

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— Ah, eu concordo com você, querida. Mas quando vir sete de suas melhores amigas nesse tom divino...

Henry ergueu os olhos e encarou Diana. Os olhos dela estavam bastante maquiados e eram escuros e muito vívidos. Ao redor da mesa havia muito movimento - os criados passavam de um lado para o outro nas sombras, os jovens riam e os velhos pediam mais sopa de tartaruga - mas Henry não desviou o olhar. Ele viu que Diana achava toda aquela conversa de casamento insuportável, assim como ele, e subitamente não se importou mais com as festas que estavam acontecendo sem sua presença. Tudo o que quis foi que ela compreendesse que os dois tinham pelo menos aquilo em comum.

O olhar de Diana passou pelo teto e pelos pratos à sua frente, mas Henry conseguiu vencê-la e ela finalmente encarou-o. Henry não desviou seus olhos por alguns segundos, até que Diana soltou uma leve exclamação, como se alguém houvess dito algo grosseiro. Ela se levantou da mesa e saiu rapidamente da sala de jantar.

— Posso tirar seu prato, senhor? Henry olhou para cima, assustado, e encontrou um do garçons. — Claro, claro - disse ele, vendo o prato dourado com metade do salmão

com creme desaparecer. Henry viu que seu pai ainda estava ocupado com uma discussão sobre o

preço do aço. Isabelle e Elizabeth estavam falando dos méritos de azul-piscina e cor de lavanda. A sra. Holland estava olhando alegremente para a aliança de noivado da filha e Prudie estava murmurando alguma coisa para sua taça de vinho. Um violoncelista tocava uma melodia delicada. Henry pegou seu drinque e levantou da mesa, sem permitir que sua cadeira fizesse qualquer ruído.

Ele foi para o corredor e seguiu na direção dos passos distantes que ouviu. Uma menina num vestido cor de pêssego estava se afastando dele. Ela virou uma esquina e desapareceu, mas Henty não conseguiu resistir e foi atrás no que esperava ser uma boa velocidade, tentando não derramar nem uma gota de uísque.

Diana virou outra esquina no enorme corredor e Henry seguiu-a, sem pensar no que estava fazendo. Subitamente, ele se viu diante de uma pequena escada, que desceu aos tropeços, derramando um pouco de seu drinque. Eles estavam na estufa. A cinco metros de Henry, a menina por quem ele estava ficando cada vez mais interessado parou. Uma de suas enormes mangas bufantes havia escorregado, revelando um ombro nu, e ela virou a cabeça, com sua pilha de cachos precariamente penteados, para cima absorvendo a imponência silenciosa daquele lugar: o teto de vidro em abóbada, o cheiro de terra do ar, a profusão de plantas. Henry observou Diana enquanto ela inspirou profundamente três vezes e se inclinou para enterrar seu nariz numa hortênsia.

— Lindas, não são? É por isso que minha família nunca precisa comprar flores no florista - afirmou Henry, encostado na porta e tomando um gole de seu uísque. - Mas hortênsias não têm cheiro.

Diana virou o rosto, mas não o corpo. — Ah... é você - disse ela, olhando de novo para a flor e dando de ombros. -

Sei muito bem que elas não têm cheiro. Você quer seu chapéu de volta? — Não, é seu. Ele fica muito melhor em você do que...

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— Você já disse isso - interrompeu Diana, com raiva. - Que gracinha. — Por que a senhorita está com raiva de mim? - perguntou Henry, sorrindo

e usando o tom de provocação que lhe era habitual. - Não queria que eu a seguisse? Então por que saiu correndo daquele jeito?

— Saí correndo porque não aguentava mais você me olhando tanto! Os olhos castanhos de Diana se encheram de fúria. Ela largou a hortênsia e

olhou em torno. — Você só tem uma coisa boa, sr. Schoonmaker - disse ela, mais calma. - A

sua estufa. Preciso ir embora agora. Diana se dirigiu para a porta e Henry, que não estava acostumado a ver

mulheres tentando evitá-lo, bloqueou-lhe a passagem. Ela ficou com raiva mais uma vez ao ver que ele não ia permitir-lhe seguir, mas a emoção só conseguiu deixá-la ainda mais bonita.

— A senhorita gostaria de ser a futura proprietária dessa estufa, no lugar de sua irmã Elizabeth? - perguntou Henry, divertido.

— Ah, faça-me o favor. Diana empurrou-o e Henry, que não tinha realmente a intenção de prendê-la

ali, afastou-se sem protestar. Mas, quando ela passou ao seu lado, ele sentiu o calor de seu corpo e algumas das batidas rápidas de seu coração.

— Sinto nojo só de escutar isso. - disse Diana. - Não sou um brinquedinho qualquer, Hen...

Mas antes que pudesse completar a frase ou mesmo passar pela porta, Diana tropeçou na perna de Henry e tombou para frente. Ela conseguiu se agarrar na parede antes de cair e voltou-se para ele, furiosa. Sua saia volumosa ondulou ao seu redor.

— Tudo bem, srta. Di? - quis saber Henry, sem conseguir deixar de rir. Diana cerrou os punhos, ignorando a última pergunta. — Eu nunca senti ciúmes de minha irmã, que só se comporta do jeito que

todo mundo espera, nem nunca vou sentir. Sinto desprezo por tudo que ela deseja e pelo que consideram ser suas qualidades. E sinto desprezo pelo senhor também!

Ela atravessou o corredor com passos fortes, quase masculinos - uma maneira de andar que Henry jamais vira em outra moça de família de Nova York. Antes que ele conseguisse decidir se queria ir atrás de Diana, ela desapareceu.

Henry tomou um gole de uísque, suspirou e riu um pouco de si mesmo por ter se colocado em outra situação ridícula. Após esperar alguns segundos, para não dar margens a rumores, ele voltou para a sala de jantar, onde a sobremesa já estava sendo servida. Henry sentiu-se aliviado por ninguém ter notado sua ausência, mas o alívio logo se tranformou em decepção. A cena que viu - aqueles rostos maquiados entupindo-se de comida, aquelas risadas estridentes, aquelas mesmas velhas piadas - era horrivelmente entediante. Havia apenas um par de olhos brilhantes na mesa e eles estavam evitando os dele mais uma vez.

Henry voltou a se sentar, acenando educadamente para Elizabeth e sua mãe, e não conseguia deixar de pensar que era mesmo, como Diana declarara, um ser desprezível.

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Wxéxááx|áWxéxááx|áWxéxááx|áWxéxááx|á

Num jantar íntimo oferecido pelo Sr. William S. Schoonmaker na última sexta-feira, foi anunciado o noivado do seu filho Henry e da bela Elizabeth Holland, que recebeu do rapaz um anel de valor superior a mil dólares. Embora muitos da alta sociedade tenham ficado surpresos com a notícia, eu a considero ótima: os dois são membros de boa família e certamente trarão a elegância, o estilo de sua classe para a união. A data do casamento logo será definida...

NOTA DA COLUNA “GAMESOME GALLANT” DO JORNAL NEW YORK IMPERIAL, DOMINGO, 24 DE SETEMBRO DE 1899.

que você está fazendo? Lina, que estava sentada no batente da janela do

quarto de Edith Holland, que ficava no terceiro andar, virou-se e olhou inocentemente para a irmã.

— Ah, estava só trocando os lençóis..E está uma manhã tão bonita que eu acho que me distrai olhando pela janela.

Na verdade, Lina escolhera trocar os lençóis naquela hora porque sabia que Will havia saído para fazer algo para sra. Holland e ela queria vê-lo voltar. A idéia de conseguir vislumbrar Will era tão maravilhosa que Lina não se afastou da janela nem após ver Claire, na esperança que isso ainda fosse acontecer. Claire veio para a janela e enlaçou a cintura de Lina.

— Você anda me ajudando tanto nos últimos dias - disse ela. - Quero que saiba que eu fico muito agradecida.

Lina deu de ombros, como se não fosse nada demais. Desde o inverno ela não trabalhava tanto quanto naquela semana, mas só fizera isso porque quando estava ocupada não precisava pensar no fato de que Will era apaixonado por Elizabeth. Em vez disso, pensava em como seus braços e sua cabeça doíam e em como eram estúpidas suas tarefas braçais. Assim, podia sentir raiva e não tristeza.

— Sei que é difícil para você - disse Claire em sua voz gentil e maternal. - É muito mais inquieta do que eu. Mas espero que esteja começando a entender que, se nos comportarmos bem, vamos acabar tendo a vida que merecemos.

Lina encostou a cabeça no ombro da irmã. Ela achava aquilo uma ilusão, mas não queria falar isso para Claire. Isso só a magoaria, algo que Lina jamais quisera fazer.

— E vamos encontrar um amor, também - disse Claire suavemente. - Assim como a srta. Liz.

— O quê? - disse Lina, olhando para a irmã.

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Ela sentiu uma nova pontada de dor no coração, mas então percebeu que Claire não estava falando de Will.Os olhos dela estavam brilhando, e Lina sabia que, para sua irmã, um namoro entre a srta. Elizabeth e o cocheiro não seria romântico, mas trágico.

— Do que você está falando? - sussurrou ela. — Da srta. Elizabeth e de Henry Schoonmaker, é claro.Acabei de ler no

jornal. - disse Claire, fazendo uma cara maliciosa e indo se sentar na cadeira brocada que ficava perto da janela. - Acho que não era por Penélope Hayes que ele estava apaixonado. Quer ouvir a noticia?

— Quero. - disse Lina, tentando não parecer ansiosa demais. - Leia para mim.

Claire sorriu e se remexeu na poltrona. Ela pegou uma folha de jornal toda dobrada do bolso do avental e passou o dedo por ela, procurando a nota.

— Achei! “Num jantar íntimo oferecido pelo sr. William S. Schoonmaker na última sexta-feira...”

Lina ouviu tudo com atenção. Quando Claire repetiu o ridículo e inimaginável custo da aliança de noivado, Lina ouviu o som da porta do estábulo sendo fechada.

— Já volto - disse ela, subitamente. Claire ficou atônita. — Aonde você vai? — Eu...as fronhas bordadas..eu as deixei de molho e, se não tirara agora,

elas vão ficar destruídas... - respondeu Lina, já na porta. Ela se virou e arrancou a folha de jornal das mãos da irmã. — Posso levar isso? Pode deixar que eu devolvo. Lina desceu as escadas correndo. A frustação que ela sentira a semana toda

fora substituída por uma certeza de que conseguiria virar o jogo a seu favor. Ela contaria a Will que Elizabeth estava noiva e então estaria na posição perfeita para se oferecer para ser sua nova namorada. Logo Lina estava na cozinha, que cheirava a tripas cozidas. Era um cheiro que ela sentira muito na infância, no apartamento onde tinha morado com seu pai e sua mãe, mas jamais vira os Holland comendo algo tão vagabundo. A cozinheira não estava ali e uma das suas ajudantes descascava uma pilha de batatas. Lina poderia ter dado uma desculpa para esplicar porque estava indo para o estábulo aquela hora, mas a menina - que se chamava Colleen - mal olhou para ela.

Assim que viu Will sentado numa cadeira de madeira dobrável e completamente absorto num livro, ela começou a falar.

— Você leu o Imperial? - disse Lina, ofegante. - Elizabeth está mentindo para você!

Will olhou para ela, nervoso. Ele parecia esta pensando no que dizer. — Eu... está falando da sta. Elizabeth? — É... da srta. Elizabeth! - respondeu Lina com asco. - E eu a vi saindo

daqui de manhã cedinho, então não pense que não sei o que está acontecendo. Will se remexeu, encolheu os ombros largos, constrangido, e olhou para o

chão. — Não sei do que você está falando Liney, mas posso lhe dizer com

absoluta sinceridade que não há nada entre mim e a srta. Elizabeth. É muito

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perigoso dizer coisas como essa e gostaria de saber como lhe impedir de fazer isso.

— Will, olhe para mim. Eu sou sua amiga! Lina sabia que devia estar feia, pois estava tensa e com os olhos

arregalados. Mas não podia evitar. Precisava fazer Will compreender. — Pode dizer o que quiser para mim, eu não me importo. Pode mentir. Mas

acho que você precisa saber que sua querida srta. Elizabeth está noiva! Will se recostou na cadeira, pasmo. Ele continuou se recusando a encarar

Lina, mas, após gaguejar por alguns segundos, conseguiu dizer: — Como você sabe? — Li no jornal, assim como todo mundo. E antes que você diga que é só

um boato, saiba que ela está noiva daquele homem que veio aqui outra tarde. Você viu, era um tal de Henry Schoonmaker - explicou ela, estendendo a folha que segurava para Will. - Pode ler você mesmo, se quiser.

Will ficou de pé num pulo e sua cadeira caiu no chão coberto de feno. Ele andou vários metros e parou, apoiando umas das mãos numa viga de madeira. Lina não estava vendo seu rosto, mas percebeu que Will estava muito angustiado e perguntou-se se não subestimara o que ele sentia por Elizabeth. Lá dentro, no estábulo, os cavalos dormiam tranqüilos em suas baias. Will balançou a cabeça e colocou o cabelo para trás da orelha. Lina quase lamentou ter sido a pessoa quem dera a noticia a ele. Quase.

— O que diz o jornal? - perguntou ele com a voz entrecortada. Lina olhou para folha e leu a nota em voz alta. Ao terminar, ela disse docemente:

— Não me parece ser mentira, Will. Will deu soco na viga de madeira com toda força. Como toda madeira do

estábulo aquela se desfazia facilmente em farpas. Ele atingiu a viga diversas vezes, com tanta fúria que Lina ficou com medo. Pedaços de viga voaram. Will socou-a uma última vez, e quando se virou para Lina, ela viu que havia sangue saindo dos nós de seus dedos e pedaços da madeira presos neles. Finalmente, Will encarou-a.

Havia tanta magoa em seu rosto que Lina foi institivamente, para perto dele, pegando a cadeira do chão e forçando-o a se sentar.

— Fique sentado um pouco - pediu ela. Lina procurou algo com o qual pudesse limpar o ferimento de Will e

encontrou a bacia de água que ele usava para limpar os cavalos. Após passar a água na mão dele, ela tirou as farpas, com dedos longos e ágeis de tanto costurar. Então Lina rasgou sua anágua de algodão branco e envolveu o ferimento de Will com ela para parar o sangramento. Era um curativo meio mal-feito, mas pelo menos parecia estar funcionando.

Lina colocou a folha de jornal no chão, próximas dos pés de Will. Sem olhá-lo, ela subiu a escada de madeira que dava em seu compartimento, onde ele guardava o uísque. A luz de inicio de tarde entrava pela janelinha que havia acima da cômoda velha, onde ficavam os livros e roupas dele. Lina encontrou uma garrafa meio vazia em uma das gavetas da cômoda e levou-a lá para baixo.

Ela ofereceu a garrafa a Will, mas ele balançou a cabeça. Seus lábios estavam tremendo devido a emoção que lhe dominava no momento e o jornal estava sobre seus joelhos. Ele devia ter lido a nota de novo.

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— Sinto muito. - foi tudo que Lina conseguiu dizer. Ela estava atônita com a reação dele. Certamente subestimara o que Will

sentia por Elizabeth, e embora houvesse achado que aquele seria o momento ideal para confessar que o amava, a expressão grave dele o impediu.

Will olhou para Lina com os olhos úmidos e fez um esgar. Ela ofereceu a garrafa para ele mais uma vez e Will tomou um grande gole de uísque.

— Não sinta. É bom que você tenha me contado. - disse ele devolvendo a garrafa para ela.

Lina tomou um gole e sentiu o liquido lhe queimando os lábios e lhe aquecendo a barriga. Will balançou de novo a cabeça, como se não pudesse acreditar no que lera. Após alguns segundos, ele voltou a olhar para ela.

— Obrigado por me contar, Liney. - disse ele - Fique aqui comigo mais um pouquinho.

Lina sorriu para ele, tonta de felicidade. Nada era melhor do que ver Will precisando dela. Ela tinha certeza de que, se eles passassem algumas horas juntos, não ia precisar lhe confessar nada. Ele descobriria sozinho.

— É claro que fico - disse Lina, pegando a mão boa dele e apertando-a. - Fico o tempo que você precisar.

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lizabeth conseguira permanecer em seu quarto a manhã toda e estava começando a preferir a solidão. Ela se lembrava bem, de quão perto estivera de perder o conforto de ter um quarto

só para si, de que fora ameaçada com a necessidade de dividir um cômodo com a irmã e talvez com a mãe também. Mas, toda vez que pensava em Will, sentia-se arrasada por ainda não ter revelado-lhe que estava noiva. Elizabeth não suportava mentir para ele mas também não suportaria contar a verdade; por isso estava simplesmente evitando-o. Ela tentara adiar o inevitável mandando-lhe um bilhete em seu papel de carta pessoal, dizendo que estava sendo muito difícil ir visitá-lo e que queria vê-lo assim que pudesse. Deixara o bilhete numa das gavetas de Will a três dias, num momento em que sabia que ele estaria na rua, mas ainda não recebera uma resposta.

Mas a família Holland sempre recebia visita aos domingos e Elizabeth sabia que tinha que sair de seu refugio mais cedo ou mais tarde. Sua criada andava silenciosa e estranha, mas ela não dissera nada para sua mãe porque fora amiga de Lina quando era criança e ainda sentia sua falta de vez em quando. Por isso, Elizabeth penteou o próprio cabelo, fez um coque e vestiu-se sozinha, com uma camisa de botões e uma saia engomada azul. Não quis colocar nenhuma jóia - o diamante que havia em seu dedo anelar esquerdo e que ela vinha virando para a palma da mão desde sexta-feira, evitando olhar para ele, já fazia peso o suficiente.

Elizabeth estava muito tensa. Cada músculo do seu corpo se enrijecia quando ela pensava e Henry Schoonmaker e no fato de que casar com ele era inescapável. Como Henry era negligente! Ao vê-lo bêbado em seu jantar de noivado, ela soubera que sua vida juntos seria terrível, repleta de contendas silenciosas e de noites sozinha. Elizabeth nem conseguia pensar em Will - estava se forçando em não fazê-lo. Se pensasse nele, mesmo que por um segundo, talvez começasse a derreter e desaparecesse. E então, o que seria de sua família?

Quando estava pronta para encarar o mundo lá fora, Elizabeth abriu a porta do quarto e parou ao ver uma folha de jornal caindo no chão. Ela estava muito bem dobrada e fora colocada na maçaneta de sua porta. Soube imediatamente que aquela era a resposta de Will e por isso foi com grande ansiedade que se inclinou para pegar a coluna social que anunciava seu noivado. Escrita na parte inferior da

X

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folha, com a letra de Will, estava uma acusação disfarçada em pergunta: “Tem certeza que não é por isso que você está me evitando?”

A pele macia das bochechas de Elizabeth se tingiu de vermelho quando ela leu aquilo. Seu estomago ficou embrulhado e seu coração começou a bater descontroladamente. Ela colocou o pedaço de papel no bolso e tentou esconder também a emoção que sentira ao vê-lo. Mas não podia controlar o tremor de seu queixo e a aspereza em sua garganta, que conhecia tão bem. Elizabeth olhou em volta, esperando ver Will ali, no corredor, e então desceu correndo a escada dos empregados para procurar por ele.

Quando estava na metade do caminho a porta da cozinha se abriu e Claire subiu alguns degraus. Ela parou ao ver Elizabeth.

— Srta. Elizabeth! O que esta fazendo aqui? — Oh. Elizabeth permaneceu imóvel. Ela levou alguns segundos, para pensar

numa desculpa. — Estava indo ver se o jantar estava sendo preparado antes de me juntar ao

resto da minha família para receber os visitantes. Claire se afastou para permitir que Elizabeth passasse. — Não precisa fazer isso - disse ela, tocando o braço da patroa. - Pode

deixar que eu faço. A senhorita deve ir receber suas visitas, principalmente agora que...

Claire parou de falar e deu de ombros. Elizabeth viu que Claire corara e soube que ela estava prestes a comentar algo sobre seu noivado, mas lembrou-se de que não deveria. A criada levou-a até o corredor e abriu a porta da sala de estar para ela.

Quando Elizabeth atravessou o umbral da porta, ela viu sua irmã na posição habitual: encolhida no cantinho turco com um livro de poemas. Claire conseguira deixa-la quase respeitável num vestido rosa-chá listrado cuja enorme saia se espalhava por sobre as almofadas, fazendo com que Diana chamasse atenção apesar de todos os objetos preciosos que havia na sala.

— Ah, Elizabeth - disse a sra. Holland. Elizabeth se voltou e viu a sua mãe, que tinha uma aparência quase

assustadora em seu vestido negro de mantas compridas. Ela estava sentada numa caldeira de espaldar alto perto da lareira, que não estava acesa.

— O sr. Schoonmaker...Henry, eu deveria dizer... acabou de deixar seu cartão na porta. Eu insisti para que ele viesse tomar chá conosco mas, aparentemente, o que ele mais quer é levá-la para passear no Central Park. Não é isso, Claire?

Elizabeth se virou devagar para olhar para Claire, que ainda estava ali no corredor.

— Sim senhora, foi exatamente isso que ele disse - afirmou a criada animadamente.

Elizabeth viu que Diana olhou rapidamente para cima, mas ela logo voltou a se esconder atrás de seu livro.

— Ele está esperando lá fora - disse Claire com mais confiança, assumindo seu papel - E parece estar muito impaciente. Não quer nem entrar.

— Muito bem - disse a sra. Holland.

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Elizabeth ficou parada na porta, sem saber se devia entrar ou sair. Sua mãe se impertigou, ficando mais imponente em questão de segundos. Elizabeth desejou receber algum encorajamento, mas fora treinada na infância para não se agarrar a saia de ninguém ou implorar por atenção e, por isso, não se moveu.

— Como eu preciso estar aqui para receber os visitantes - disse sua mãe - e como sua tia não esta se sentindo muito bem...pobrezinha, creio que ainda esta se recuperando da comida pesada servida por Isabelle de Ford...quero dizer, Isabelle Schoonmaker... Will terá de acompanhar vocês. Ele já foi preparar os cavalos...

— Não! Elizabeth cobriu o rosto com as mãos, perturbadissimo ao pensar em Will e

Henry cara a cara. Um ruído estridente surgiu em seus ouvidos e cada centímetro de sua pele se cobriu de suor frio.

— O que há de errado com você? - perguntou a sra. Holland, irritada. Ela levantou o queixo e colocou as mãos firmemente nos braços da cadeira. — Eu.. Elizabeth tentou mas não conseguiu pensar num motivo para não querer

passear de carruagem num dia lindo de Setembro. Ela tocou o bilhete de Will no bolso da saia e achou que ia desmaiar.

— É que.. - continuou ela. — É que o quê? Elizabeth você está sendo malcriada. Seu noivo esta lhe

esperando. Não fique aí parada. Seja digna dele. — Mas eu... - gaguejou Elizabeth. Ela viu a maneira como sua mãe estava lhe olhando e soube que não teria

outra escolha além de ir. Por isso, agarrou-se a única coisa que poderia lhe dar forças naquele momento.

— O que quero dizer é... - disse Elizabeth. - Como temos de tomar tanto cuidado com as aparências, será que a Diana não pode vir comigo?

— Não! - exclamou Diana do seu cantinho. — Por favor, Diana? - pediu Elizabeth, resistindo a vontade de bater o pé de

impaciência. Diana se recostou nas almofadas e suspirou, exasperada. — Não vou dar um passeio longo e chato só porque você tem medo do seu

noivo. — Diana, você está sendo ridícula - disse a sra. Holland friamente. - Vá

com sua irmã, ou vou lhe considerar uma perfeita inútil. — Não é que eu tenha medo dele - disse Elizabeth, baixinho. Ela olhou para Diana e viu que ela já estava se levantando. Sua irmã parecia

magoada e Elizabeth se deu conta de que ela concordara em acompanhá-la apenas por causa das palavras duras de sua mãe.

— Então você vem? — Vou - disse Diana contrariada, esticando o vestido que havia ficado

amassado quando ela se deitara sobre as almofadas. - Mas não pense que vou abrir minha boca.

— Meninas, vocês devem parar de agir de forma tão estranha - disse a sra. Holland. - É feio. E não se esqueçam de seus chapéus. Vou realmente perder a cabeça se vocês ficarem com sardas logo agora.

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Diana deu um sorriso muito falso para mãe e atravessou a sala de estar com passos rápidos. Elizabeth foi atrás, e ao chegar ao corredor, viu pelo vidro da porta que Henry estava esperando na frente da casa. Ele usava um terno preto e uma cartola. Estava olhando para frente, para o Gramercy Park. Elizabeth virou-se para Diana que parecia furiosa. Mesmo assim, ela ficou feliz por saber que não teria que lidar com Will e Henry sozinha. Tentou sorrir para demonstrar o quanto estava grata a irmã, mas descobriu que, naquele momento, sorrir era difícil demais.

Claire surgiu de dentro do closed com dois enormes chapéus de palha. Ela colocou o de Diana primeiro, amarrando o laço de gorgorão branco abaixo do queixo dela, e depois ajudou Elizabeth a botar o dela.

— Obrigada Claire - disse Elizabeth, com a voz tremendo um pouco. - Você poderia acender a lareira na sala de estar antes de voltarmos? Pareceu-me estranhamente frio lá dentro.

Do lado de fora, elas foram recebidas pela luminosidade de um belo dia de setembro, pelo cheiro dos jantares sendo preparados nas casas em volta e por um céu azul que parecia não ter fim, pontilhado de pequenas nuvens fofas e interrompido apenas pelo topo dos poucos prédios de mais de seis andares existentes na cidade. Elizabeth se sentiu um pouco animada pela perfeição do tempo, mas isso foi antes que visse Henry voltando-se em sua direção e ouvisse o som dos quatro cavalos negros da família sendo trazidos para frente da mansão. Ela ficou feliz de estar de chapéu, pois ele escondia um pouco seus olhos. A única coisa que impediu Elizabeth de desmaiar ali mesmo foi não poder ver a maneira que Will estava olhando para ela.

— Srta. Elizabeth - disse Henry friamente. Elizabeth estendeu a mão e Henry inclinou-se para beijá-la. — Srta. Diana, a senhorita vai conosco? Diana não respondeu por alguns segundos e Elizabeth ousou olhar para

direita para tentar ver o que ela estava aprontando. — Bem, eu não queria - respondeu Diana rudemente. - mas ficaria chateada

de deixar de passear pelo Central Park num dia como hoje. Às vezes, o ar fresco e a natureza são a única coisa que fazem a vida valer a pena.

— Sorte minha. Duas pelo preço de uma. Elizabeth detectou um traço de ironia na voz de Henry e ficou insatisfeita.

Ela pegou o braço de Diana e foi até a carruagem. — Posso ajudá-la, srta. Elizabeth? - ofereceu Will com falsa formalidade. — Pode deixar - disse Henry para Will. Elizabeth desejou poder dizer a Will que não queria a ajuda de Henry e que

não queria Henry, mas então sentiu a mão do noivo na cintura, empurrando-a para dentro da carruagem. Ela sentou-se no banco de couro tentando se acalmar.

Henry sentou-se ao lado de Elizabeth e Diana na frente dos dois. Elizabeth ouviu Will estalando o chicote e fazendo os cavalos partirem. Eles estavam sendo instigados a correr a toda. Elizabeth segurou o braço de ferro com uma das mãos e seu chapéu com a outra. Ela manteve a cabeça abaixada, examinando a palha que protegia seus olhos e o azul de sua saia, que se espalhava ao seu redor. Ouviu os sons do transito - os bondes, as pessoas gritando - quando eles entraram na Avenida Lexington e tentou não imaginar o que Will estaria pensando.

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— Porque você não pega a Quinta Avenida? - gritou Henry para Will. - As mulheres sempre gostam desse caminho. É lá que elas conseguem mostrar os vestidos para mais gente.

Diana riu, mas o cocheiro continuou em silencio. — Cocheiro? - disse Henry - Pode pegar a Quinta Avenida? — Você não lê jornal? - respondeu Will, sem levantar muito a voz, mas

obviamente irritado. — Às vezes - disse Henry, rindo - mas tento não prestar muita atenção. — Bom, se tivesse prestado atenção no jornal essa manhã, saberia que a

Quinta Avenida está toda engarrafada por causa dos preparativos para a parada que vão fazer neste fim de semana, para o almirante que vai voltar das Filipinas. O nome dele é almirante Dewey. Ele ganhou a batalha na baía de Manila, lembra? - disse Will dando uma risada sarcástica. - Aposto que nem sabia que estávamos em guerra.

Elizabeth tentou esconder seu sorriso debaixo do chapéu ao escutar a resposta constrangida de Henry:

— Eu sabia que estávamos em guerra, sim. Está bem, pode pegar a Lexington.

Foi só depois que eles já haviam entrado no Central Park que ela teve coragem de olhar para cima. Elizabeth chegou o chapéu um pouco para trás e observou Diana, que estava olhando para o nada com um ar de petulância. Ela não soube dizer o que estava esperando ate então - talvez que Will começasse a gritar assim que ela levantasse os olhos - mas tudo que viu foram as costas dele, que mesmo assim pareciam estar lhe repreendendo em silêncio. Will usava a mesma camisa azul de sempre, com as mangas enroladas, e estava bastante impertigado. Elizabeth olhou rapidamente para Henry, cujo rosto arrogante estava virado para as árvores do parque. Ela então voltou a olhar Will e desejou saber o que ele estava sentindo no momento.

A carruagem tremeu muito ao subir e descer as pequenas colinas numa velocidade que fez com que diversas das senhoras que passeavam entre os elmos carregando sombrinhas olhassem para trás. Elizabeth desejou que Henry e Diana desaparecessem por por alguns segundos. Ela tocaria o braço de Will e ele saberia que podia relaxar e ir mais devagar. Saberia que ela o amava. Elizabeth estava tão absorta nesses pensamentos que não ouviu o que Henry dizia.

— Srta Diana, a senhorita será a madrinha de casamento de sua irmã? A pergunta fez com que o corpo de Elizabeth fosse tomado pelo

desconforto. Ouvir a menção da cerimônia foi horrível para ela. Deve ter sido para Will também, porque ele estalou o chicote de novo, fazendo os cavalos atravessarem uma pequena ponte em disparada.

— Não. Aparentemente, ela e Penélope Hayes prometeram ser madrinhas uma da outra quando tinham apenas treze anos - disse Diana, impaciente. - Mas eu não ligo para essas coisas.

Os cavalos ganharam ainda mais velocidade ao sair da ponte, o que obrigou Diana a agarrar com força o banco para não cair para fora da carruagem. Ela deu um grito, tirando a outra mão do chapéu e usando-a para se segurar também. Henry olhou para Will com raiva.

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— O que seu cocheiro esta fazendo? - sussurrou ele para Elizabeth. - Essa não é uma velocidade adequada para mulheres.

Will certamente ouviu o comentário, pois deu um puxão nas rédeas, tirou os cavalos da estradinha que cortava o parque e levou-os para o gramado onde, após alguns segundos, eles finalmente pararam. A carruagem deu um salto antes de estacar, e Diana só conseguiu permanecer dentro dela segurando o braço esticado de Henry.

— Que diabos você fez, homem? Ela podia ter morrido! - disse Henry, levantando do banco e ajudando Diana a ficar em pé.

— Eu realmente estou bem. - afirmou Diana, secamente. Mas o passo acelerado fez com que o laço de seu chapéu se soltasse e

naquele momento uma brisa soprou, levando-o pelos ares. O vento também bagunçou os cabelos dela e seus cachos lhe caíram sobre os ombros. -- Meu chapéu! - exclamou Diana, tirando os cabelos da frente do rosto. Elizabeth ficou em pé e viu o chapéu da irmã rolando por sobre a grama. Henry, que segundo antes parecera prestes a entrar numa briga com Will, pulou da carruagem e foi correndo atrás do objeto.

— Espere, vou pegá-lo - gritou ele, tirando a cartola e saindo a toda. — Não vai, não! - disse Diana. Antes que Elizabeth pudesse impedi-la, ela pulou para o gramado, segurou

o vestido nas mãos e correu atrás de Henry pela grama. O parque estava cheio de homens de chapéu de palha fazendo piqueniques com suas namoradas de cinturinha de vespa e todas acharam engraçado verem Schoonmaker e uma Holland tentando agarrar um chapéu. Mas Elizabeth não teve tempo de se sentir constrangida pela cena. Will pulara do banco do cocheiro e estava levando os cavalos de volta para estradinha.

Ela desceu também, tomando cuidado para não prender a saia nas rodas da carruagem, e parou logo atrás de Will um segundo após ele chegar na estrada. Quando ele se virou para olhá-la, ela ficou surpresa que seu rosto não mostrava a mais profunda raiva, mas uma expressão tranqüila e determinada. Então, Elizabeth notou o enorme curativo em sua mão.

— O que aconteceu? - perguntou ela, esticando o braço para tocá-lo, sem pensar nas conseqüências.

Will balançou a cabeça e afastou a mão dela. Ele piscou ao sentir os raios do sol em seus olhos azuis. A luz fazia surgir tons de vermelho em seus cabelos negros. Ele parecia já saber o que iria dizer.

— Não é isso que você quer - afirmou ele com uma voz baixa e controlada. Elizabeth olhou para trás. As pessoas que estavam no parque não pareciam

estar prestando atenção, mas ela jamais falara com Will daquela maneira em publico, e estava morrendo de medo.

— Sinto muito, Will - disse ela, quase desesperada. - Lamento tanto que... — Não lamente - disse ele, aproximando seu rosto do dela. — Mas você precisa entender! É minha família, nós... — Não quero saber de sua família. Vou embora, Elizabeth. Tenho certeza

que você tem seus motivos, mas se ficar aqui e se casar com aquele homem, vai se arrepender. Ainda quero casar com você Lizie, mas isso é impossível em Nova York. Poderia acontecer no oeste do país. É para lá que eu vou.

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Will olhou para baixo, mas continuou com as mãos nas rédeas para guiar os cavalos. Após alguns segundos, ele respirou fundo e encarou-a.

— E quero que você venha comigo. Elizabeth cobriu o rosto com as mãos. Ela não suportou olhar para Will,

cujos olhos azuis estavam arregalados e cheios de vontade de convencê-la. Uma tristeza abjeta estava lhe fechando a garganta e fazendo seus olhos arderem e, por isso ela os manteve escondidos. Elizabeth não sabia bem o que ia lhe acontecer se ela olhasse para Will, mas a sensação de estar perdida e arrasada já tomara conta dela. Ela ficou imóvel e cega no meio do Central Park, com as palmas pressionadas contra os olhos.

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WxéÉ|àÉWxéÉ|àÉWxéÉ|àÉWxéÉ|àÉ

Meninos no escuro não vá procurar Dirão coisas belas para depois lhe magoar

Meninos no parque se deve encontrar Pois lá estão os mais galantes que há

VERSINHO POPULAR, 1889

spere! - gritou Diana, correndo por sobre as toalhas de xadrez branco e vermelho que haviam sido espalhadas na grama e desviando de uma criança que não fora ágil o

suficiente para sair da frente. Os pés dela estavam se movendo mais rápido do que seus pensamentos,

mas Diana foi tomada pela subita convicção de que nada era mais importante do que não permitir que Henry tocasse em seu chapéu.

— Não preciso de sua ajuda! - gritou ela para ele, que já estava bem mais à frente.

Henry diminuiu urn pouco de velocidade ao ouvir o som da voz dela. Diana ainda estava irritada pela maneira como ele falara com seu cocheiro - Will trabalhava para eles há anos e Diana gostava dele por saber que era um pouco rebelde. Ela estava finalmente se aproximando de Henry quando ouviu a voz anasalada de uma mulher ali perto dizendo:

— Então é assim que os Holland criam essas meninas hoje em dia. Diana olhou para trás com desprezo e continuou com a perseguição. Estava

ofegante quando alcançou Henry, e o vento desarrumara seu vestido. Ela colocou os braços em volta de si para se esquentar e disse o mais friamente possível:

— Muito obrigada, mas não preciso de sua ajuda. Henry deu-lhe um sorriso lindo, mas Diana estava certa de que ele não tinha

mais qualquer efeito sobre ela. — Se a senhorita insiste, então não vou ajudar. Ela olhou na direção da carruagem, que estava parada ao lado da ponte de

pedra, mas não viu sua irmã ou Will. Diana então se virou para olhar para seu chapéu, que aterrissara nas águas azul-esverdeadas de um pequeno lago. O laço de fita branco com o qual ela o prendera na cabeça estava flutuando para longe. Diana suspirou com impaciência, agarrou sua enorme saia com as mãos e deu um passo hesitante na direção da borda lamacenta do laguinho.

— Cuidado, Diana... Ela olhou para Henry. Ele não estava rindo ou caçoando dela, mas apenas

olhando para a barra de seu vestido, já sujo com a lama do lago. — Não quero me impor a você mas, se preferir, posso ir pegar seu chapéu.

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Diana observou um grupo de crianças que havia se juntado pouco atrás deles. Quando se virou para a frente, viu que seu chapéu estava flutuando para mais longe. Ela se sentiu muito exposta ali no meio daquele gramado, sem saber bem o que fazer. Olhou mais uma vez para Henry, que ergueu as sobrancelhas, rindo gentilmente.

— Quer que eu pegue? — Bom - respondeu Diana, irritada. - Creio que... Henry sorriu e colocou ambas as mãos em seus quadris. O toque dele

acalmou-a e ela se perguntou por que lhe parecera tão importante que ele não tocasse em seu chapéu. Henry tirou rapidamente os sapatos e as meias e então se enfiou no lago até os joelhos, deixando suas calças negras ensopadas.

— A-rá! - exclamou Henry, alcançando o chapéu com um gesto. Naquele exato momento, um bando de patos veio examiná-lo e um deles

saiu voando com o laço de fita branco no bico. — O laço, no entanto... lamento, mas ele tem um novo dono - disse ele,

apontando para o pato marrom que nadava para longe. — Mas como vou amarrar o chapéu sem o laço de fita? - perguntou Diana,

cruzando os braços e fazendo uma careta. - Se eu ficar com sardas, minha mãe vai matar você!

Henry olhou para o pato. Diana percebeu que ele estava mesmo considerando a possibilidade de lutar com o bicho para reaver seu laço de fita e deu uma risadinha, escondendo a boca com a mão. Ele olhou para ela ao ouvi-la rindo.

— Eu estava brincando! Henry deu uma última olhada para o laço e saiu do laguinho. As crianças

começaram a gargalhar ao vê-lo tão ensopado e Diana bateu palmas para ele. Ela estava achando cada vez mais difícil se sentir ofendida por um homem descalço cujas calças haviam sido arruinadas pela lama.

— Aqui está o chapéu da senhorita - disse Henry, com um certo excesso de formalidade. - Mas ele está encharcado e eu ficaria feliz em continuar segurando-o. Se a senhorita não se incomodar, é claro.

— Muito obrigada - disse Diana, assentindo com a cabeça. Eles ficaram parados próximos ao lago enquanto o vento brincava com o

vestido rosa-chá de Diana. Henry encarou-a e ela sorriu para ele, um sorriso fraco a princípio, mas que foi ficando cada vez mais radiante. O momento durou alguns segundos a mais do que deveria e Henry disse:

— Precisamos voltar. — É, acho que sim. Diana o observou colocar os sapatos de volta e quis pensar em algo mais

para dizer que indicasse que não estava mais zangada. Entao Henry deu-lhe uma piscada de olho quase imperceptível e ela soube que não seria necessário.

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WxéxÇÉäxWxéxÇÉäxWxéxÇÉäxWxéxÇÉäx

Toda família com filhas em idade de casar deve se preocupar com os custos de uma cerimônia de casamento que, de acordo com a tradição, precisam ser arcados exclusivamente pelos pais da noiva. Quando uma menina da alta sociedade se casa, os custos podem ser astronômicos e muitos pais abastados sentiram-se quase arruinados por esses felizes eventos.

TRECHO DO LIVRO COLETÂNEA DE COLUNAS SOBRE A CRIAÇÃO DE JOVENS DE CARÁTER, DA SRA. HAMILTON W. BREEDFELT, EDIÇÃO DE 1899

lizabeth ouviu a risada de sua irmã mais nova e abriu os olhos. Ela retirou as mãos de cima das pálpebras e viu o pelo brilhante e negro de um cavalo. Diana estava voltando com a

saia presa nas mãos e Henry estava alguns passos atrás dela, carregando o enorme chapéu de palha amarela. O vento fazia as árvores se inclinarem para o sul e o mundo todo parecia brilhante.

— Eles estão voltando - sussurrou ela. Will balançou a cabeça devagar e fixou os olhos azuis nela. — Vou embora na sexta-feira, no último trem. Vou ver como é o porto do

outro lado. Você pode vir comigo ou pode ficar aqui para sempre... Elizabeth quis abraçar Will e tocar-lhe a boca com a sua. Quis encontrar as

palavras necessárias para convencê-lo a ficar e dizê-las claramente, com convicção. Mas não conseguiu. Toda a cidade de Nova York estava à sua volta. Por isso, ela cumpriu seu dever, saindo de detrás da carruagem e acenando com os braços.

— Vocês conseguiram! - exclamou ela, como se o fato de o chapéu ter sido recuperado fosse um triunfo pessoal seu.

O humor de Diana parecia ter mudado completamente. Ela olhou para Henry e riu.

— O pobre Henry praticamente teve de mergulhar no lago para pegar! - gritou ela, de longe. - Mas perdemos o laço! Ele vai fazer um ninho de pato em algum lugar.

Elizabeth sentiu que Will estava olhando-a, mas continuou a se comportar como uma dama. Ela foi encontrar Henry e Diana, sentindo suas botas de couro afundando na terra fofa e o vento frio em suas orelhas. Quando chegou perto do noivo, ele pegou seu braço e ajudou-a a subir na carruagem. Elizabeth permitiu que ele a ajudasse e escondeu os olhos sob o chapéu mais uma vez. Os cavalos

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começaram a se mover. Foi só então que ela deixou que algumas lágrimas silenciosas rolassem sobre seu rosto, guarnecidas pela sombra de seu chapéu.

*** Elizabeth tirou o chapéu ao atravessar a porta da mansão de sua família.

Alguns fios louros se prenderam na palha, mas ela apenas arrumou o cabelo de qualquer jeito com as mãos ao entregar o chapéu para Claire, que esperava pacientemente no vestíbulo escuro.

— Onde está minha mãe? Elizabeth abriu a porta da sala de estar e olhou lá para dentro. Estava se

movimentando de forma frenética, como se suas chances de consertar tudo fossem desaparecer se ela relaxasse um pouco. Mas não havia ninguém na sala de estar. Aparentemente, sua mãe e sua tia haviam desistido de esperar pelas visitas.

— Claire, onde está a sra. Holland? Elizabeth se virou e viu que Diana havia enlaçado Claire e pousado a

cabeça em seu peito. A mais velha das irmãs Broud sempre tivera aquele ar maternal, mesmo quando criança. Claire pareceu um pouco constrangida e deu um sorriso amarelo para Elizabeth.

— Eu não a vi - respondeu ela, baixinho. — O que foi? - perguntou Elizabeth a Diana. - Desculpe se insisti para que

você viesse, se ainda estiver chateada com isso. Diana encarou-a, virando a cabeça devagar. Ela estava com uma expressão

melancólica que Elizabeth não teve tempo de interpretar. — Não, estou feliz por ter ido - disse Diana. Ela falou aquelas palavras em tom baixo e solene, mas Elizabeth não

conseguiu entender por quê. E também não quis tentar. O que queria era que Diana desaparecesse como sempre fazia, para que ela pudesse encontrar sua mãe.

— Talvez você devesse ir se deitar um pouco - sugeriu Elizabeth, tentando manter a calma.

— Talvez. Diana largou Claire e subiu a escada, balançando os braços como se mal

tivesse energia para carregá-los. Quando ela sumiu, Elizabeth voltou-se para Claire. Ela passou o dedo pela sobrancelha direita, respirou fundo e preparou-se para fazer a pergunta pela terceira vez.

— Eu não sei - disse Claire antes que Elizabeth conseguisse dizer uma palavra. - Não a vi. Vou procurar no terceiro andar.

— Obrigada. Desde que Elizabeth conversara com Will no Central Park, sua ansiedade

vinha crescendo. Tudo o que ela conseguia pensar era que sua relação mentirosa com Henry era insustentável e que precisava dizer isso a sua mãe imediatamente. Se conseguisse parar de fingir que era uma menina perfeita, ela seria capaz de mostrar à mãe que não podia ir adiante com aquilo. Talvez o estado das finanças na família não estivesse tão ruim e ela não precisa-se casar imediatamente. Talvez houvesse outra maneira de sua família recuperar a fortuna - afinal, eram tempos modernos. Talvez ela pudesse ficar com Will.

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Claire subiu a escada quase correndo e Elizabeth foi olhar novamente na sala de estar. Foi então que ela viu que, no chão do vestíbulo, havia uma pintura de moldura dourada, que estava virada para a parede. Elizabeth se voltou para perguntar a Claire o que era aquilo, mas a empregada já desaparecera. Ela afastou o quadro da parede para poder ver qual era e reconheceu-o imediatamente: era o Vermeer que ficara em seu quarto pelos últimos dez anos.

A pintura era uma das preferidas de seu pai - ele a comprara de um vendedor de quadros parisiense quando a sra. Holland estava grávida pela primeira vez. Diversos colecionadores de arte, do tipo que havia decidido parar de ganhar milhões vendendo aço para se dedicar a gastá-los comprando as obras dos velhos mestres, expressaram interesse pelo quadro, mas El1zabeth implorara a seu pai para não vendê-lo. Ele mostrava duas menivas, uma loura e uma de cabelos negros, lendo um livro numa mesa de madeira ao lado de uma janela. A loura estava na esquerda, mais próxima da janela, e seu cabelo cintilava como fios de ouro. As duas estavam virando as páginas do livro e a luz iluminava sua pele, pálida e perfeita.

Elizabeth passou o dedo pela moldura dourada, onde havia um pedaço de papel afixado. O nome escrito nele - sr. Broussard - não lhe era familiar. Embora aquele quadro fosse dela, ela sentiu como se estivesse mexendo nas coisas de um estranho.

Elizabeth subiu rapidamente a escada estreita dos empregados e abriu a porta do quarto da mãe. Não havia sinal dela.

— Srta. Liz... Elizabeth fechou a porta do quarto da sra. Holland e viu que Claire estava

logo atrás dela. — O que foi? Ela não entendia bem por que estava se sentindo constrangida por andar em

sua própria casa. — A sra. Holland está lá embaixo. — Obrigada, Claire. Elizabeth se virou e desceu pela escada principal, coberta por um opulento

carpete persa. Já estava quase na metade do caminho, pensando em como ia dizer para sua mãe que não ia conseguir casar com Henry Schoonmaker, quando viu o homem no vestíbulo. Ele estava agachado na frente do Vermeer, observando o canto superior direito com uma lupa toda ornamentada. Era ali que estava a assinatura do pintor, acima da jarra de vinho. Elizabeth quis gritar com o homem e mandá-lo parar de mexer em suas coisas, mas algo, talvez seu hábito de ser sempre tão comportada, a fez continuar calada.

— Não temos quadros falsos nesta casa, sr. Broussard - disse a sra. Holland friamente, aproximando-se dele.

O homem, que estava vestido de negro e cujos longos cabelos estavam enfiados abaixo da gola, virou sua cabeça como se para avaliar a senhora que acabara de lhe falar. Ele encarou-a durante diversos segundos, o que era muito grosseiro, e voltou a olhar para as pinceladas de Johannes Vermeer. Quando estava satisfeito, o sr. Broussard tirou um pedaço de pano de uma bolsa e embrulhou o quadro. Ele ficou de pé, colocou a mão no bolso do casaco e tirou um envelope.

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— Aqui está - disse o sr. Broussard bruscamente. Elizabeth observou sua mãe abrir o envelope e examinar o conteúdo. Ver

seu quadro nas mãos de um estranho lhe fez sentir uma tristeza pesada, que estava se transformando em raiva.

— Está tudo aí dentro - disse o homem, impaciente. — Tenho certeza que sim - respondeu a sra. Holland. - Mas detestaria pedir

que o senhor voltasse caso houvesse algum problema. O sr. Broussard esperou até que a sra. Holland assentisse e então apertou a

mão dela e foi embora. Quando a porta bateu, o estrondo pareceu fazer a casa toda estremecer. Elizabeth ficou parada na escada, hesitante, enquanto sua mãe observava o homem sair, iluminada pela luz que entrava pelo vidro da porta da frente. A sra. Holland suspirou, virou-se e deu alguns passos, até que viu Elizabeth ali e parou.

— O que você está fazendo aí? Após ver sua mãe vendendo um dos objetos mais queridos da família,

Elizabeth não sabia se ia ser capaz de encará-la da mesma maneira. Aquela mulher não parecia mais ser uma pessoa assustadora que ditava as regras da sociedade. Parecia pequena, frágil, insignificante. E velha.

— Estava procurando você ... Queria lhe perguntar algo. — O quê? Elizabeth sentiu que seu coração congelara. Todas as suas emoções, seu

egoísmo, sua necessidade de mostrar lealdade a Will e obrigá-lo a continuar em Nova York haviam desaparecido. Sua família não estava apenas pobre; estava desesperada. Ela só tinha uma escolha: casar-se com Henry. Não haveria outra oportunidade como aquela.

— Só queria lhe perguntar se vai querer tomar vinho no jantar. Houve um longo momento de silêncio enquanto a sra. Holland observou

sua filha. Ela piscou os olhos e disse: — Não, querida. Precisamos guardar o vinho para o caso de os

Schoonmaker virem jantar aqui. Elizabeth assentiu. Não havia mais nada a dizer e, por isso, ela se virou e

foi procurar a governanta da mansão, com o pés pesados e o coração doendo. Ia dizer a ela que não devia servir mais vinho nas refeições até que ela se tornasse a sra. Schoonmaker.

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MENSAGEM TRANSATLÂNTICA COMPANHIA TELEGRÁFICA WESTERN UNION

PARA: Penelope HayesPenelope HayesPenelope HayesPenelope Hayes CHEGOU A: Nova York, NYNova York, NYNova York, NYNova York, NY

13:25, terça13:25, terça13:25, terça13:25, terça----feira, 26 de setembro de 1899feira, 26 de setembro de 1899feira, 26 de setembro de 1899feira, 26 de setembro de 1899

Querida Penelope.Querida Penelope.Querida Penelope.Querida Penelope. A história do escândalo que você deu naquele A história do escândalo que você deu naquele A história do escândalo que você deu naquele A história do escândalo que você deu naquele jantar chegou até aqui em Londresjantar chegou até aqui em Londresjantar chegou até aqui em Londresjantar chegou até aqui em Londres. V. V. V. V ou lhe ou lhe ou lhe ou lhe mandar uma carta em breve. Até lá, lembremandar uma carta em breve. Até lá, lembremandar uma carta em breve. Até lá, lembremandar uma carta em breve. Até lá, lembre----se de que temose de que temose de que temose de que temos o mesmo sangue. Seja forte s o mesmo sangue. Seja forte s o mesmo sangue. Seja forte s o mesmo sangue. Seja forte irmãzinha, ou o mundo vai lhe esmigalhar. irmãzinha, ou o mundo vai lhe esmigalhar. irmãzinha, ou o mundo vai lhe esmigalhar. irmãzinha, ou o mundo vai lhe esmigalhar. Não vomite mais em públicoNão vomite mais em públicoNão vomite mais em públicoNão vomite mais em público....

Grayson L. HayesGrayson L. HayesGrayson L. HayesGrayson L. Hayes

enelope agarrou Robber, seu Boston Terrier, ao ler o telegrama. Ela olhou para sua mãe, que estava sentada ao lado de Webster Youngham, o arquiteto, no outro lado da

enorme sala de estar, com seus móveis da época de Luís XV forrados de seda azul e branca e seu chão de nogueira polida. A sra. Hayes queria que todos ficassem sabendo que o sr. Youngham fora contratado novamente pela família, para construir uma mansão de veraneio em Newport, do tipo que tinha cinquenta e seis cômodos e chão de mármore em todos eles. Esse não era o tipo de novidade que devia ser mantida em segredo. Por isso, a sra. Hayes queria que o sr. Youngham construísse a casa em tempo recorde, para que fosse forçado a se hospedar ali e fosse visto por todos que os visitassem.

Penelope examinou sua mãe, Evelyn Archer Hayes. Ela usava um vestido lilás que ficava ridículo numa mulher de sua idade e que apertava sua cintura larga de forma desagradável. Penelope jurou para si mesma que jamais se permitiria engordar tanto. Então, ela se levantou, fazendo Robber cair e deslizar

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pelo chão, e andou até um dos enormes espelhos incrustados com ouropel que preenchiam os espaços existentes entre os quadros, para olhar para algo mais atraente.

— Penelope, não quero que esse animal destrua meu chão - disse sua mãe do sofá onde estava.

Penelope revirou os olhos para sua imagem no espelho e então juntou os lábios como quem vai dar um beijo.

— As unhas dele estão cortadas, você sabe muito bem - respondeu ela. Sua mãe sempre lhe irritara mas, desde que Penelope descobrira o noivado

de seu Futuro Marido com sua Ex-Melhor amiga, cada palavra que ela dizia parecia-lhe uma afronta pessoal. Ela viu que a rotunda sra. Hayes voltara a tagarelar com o sr. Youngham e então amassou o telegrama de seu irmão mais velho e colocou-o num jarro de prata cheio de rosas amarelas. Penelope queria que Grayson estivesse em Nova York para defendê-la e aquele telegrama só a fizera sentir atacada, em vez de protegida.

Os cabelos escuros de Penelope estavam presos num coque, formando um pompadour acima de sua testa. A moda para as meninas da sua idade era usar cachinhos, mas Penelope sabia muito bem o que combinava com suas feições dramáticas. Ela examinou suas sobrancelhas, esfregou a pele frágil abaixo dos olhos para dar-lhe um pouco de cor e estava olhando com prazer para os metros de cauda azul-piscina de seu vestido quando as portas da sala foram abertas por uma das empregadas.

A sra. Hayes fez um gesto, como se tivesse certeza de que o visitante era para ela, mas a criada acenou educadamente com acabeça e foi na direção de Penelope. É claro.

— A srta. Elizabeth Holland apresentou seu cartão - disse a criada. Penelope suspirou fundo ao ouvir o nome que tanto detestava e voltou a se

olhar no espelho. Ela amassou o cartão de Elizabeth e parou para pensar. O que adoraria fazer seria tratá-la com perfeita indiferença, mas isso seria uma vingança vulgar e insatisfatória. Seja forte, Penelope lembrou-se do conselho do irmão.

— A srta. Elizabeth Holland pode entrar, se assim o deseja. — Sim, senhorita - disse a criada, saindo pela porta de umbral de mogno. Penelope observou sua sala de estar e ficou muito feliz por ela ser bem

melhor do que a sala onde os Holland recebiam visitas, e também pelo fato de sua mãe estar ali, porém distraída pela presença do arquiteto. Isso ao menos a impediria de esbofetear a imbecil da Elizabeth. Ela lembrou que estava com um vestido que a deixava particularmente bela, com um corpete elaborado, uma gola chinesa, uma pequena fenda na altura do peito e um bordado feito com fios de ouro de verdade. Foi até o local onde Robber estava enroscado, uma caminha dourada forrada de veludo berinjela, pegou-o e atravessou o cômodo com seu cão encostado no peito.

A governanta anunciou formalmente a visitante, enunciando aquele nome tão desagradável: “Srta. Elizabeth Holland”. Ao ouvi-lo, os delicados fios de cabelo da nuca de Penelope se eriçaram. Ela enterrou o rosto no pelo de Robber e ouviu os passos tímidos de Elizabeth no chão polido de sua mansão. Quando já estava ouvindo a respiração nervosa dela, Penelope olhou para cima e encarou-a.

— Penelope...

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Elizabeth franziu o cenho e seu lábio inferior tremeu. Penelope avaliou a ex-amiga, que estava usando um vestido de seda marrom clara, por diversos segundos antes de abrir a boca.

— O que foi? Veio até aqui sem pensar numa coisa para me dizer? — Não, eu... eu tenho tantas coisas a lhe dizer! Lamento tanto o que

aconteceu naquela noite... — É patético ver que você precisa competir comIgo ate nisso - interrompeu

Penelope. Ela olhou para o outro lado da sala e viu que sua mãe estava radiante,

recebendo Ava Astor, neta da famosa sra, Astor, e que, aparentemente, era sua nova melhor amiga. Elizabeth arregalou seus olhos castanhos.

— Não, não! Não foi isso, de jeito nenhum! Eu não tinha ideia de que você estava tão apaixonada por Henry Schoonmaker. Você não tinha me dito. Penelope , você precisa acreditar em mim. Eu sinto tanto!

Penelope deu uma risadinha sarcástica. Ela fingiu estar evitando olhar para Elizaheth, mas não conseguiu deixar de ver o enorme diamante em sua mão esquerda.

— Você não conhece Henry como eu. Sua vida não vai ser um mar de rosas.

— Penelope - implorou Elizabeth, tentando agarrar a mão da amiga que se esquivou. - Não posso explicar agora, mas voce precisa acreditar quando eu digo que não fui eu quem fui atrás de Henry, e quando ele me pediu em casamento... juro que um dia vou explicar tudo... mas eu tinha de aceitar.

Penelope examinou o rosto ansioso de Elizaheth, viu que seus olhos estavam se enchendo de lágrimas e se deu, conta de que ela nem mesmo queria se casar com Henry Schoonmaker. AquIlo não fazia nenhum sentido para Penelope, pois ela estava doente há cinco dias só de pensar em perdê-lo. Mas ficara claro que Elizabeth não estava ali para contar vantagem. Na verdad ela parecia infeliz. E definitivamente estava abatida. Isso era algum consolo.

Penelope olhou com menos animosidade para Elizabeth e começou a andar vagarosamente perto da parede, obrigando-a ir atrás.

— Você me humilhou - disse ela, magoada. — Eu sei, Penny. Mas foi sem querer. — Todos estavam rindo de mim, sabia? Eu levei um choque horrível! Penelope fungou, como se estivesse sentindo mais tristeza do

que raiva. — Eu sei. Mal posso explicar o quanto sinto... — E você não disse nada! Ficou ali, parada. Você ouviu minha história e

podia ter me avisado, mas não disse coisa alguma. Elizabeth começou a remexer na borda de seu bolero que também era

marrom-claro. — Eu fiquei sem palavras, Penelope, juro. Ou eu teria... Ela não conseguiu continuar, o que deixou Penelope satisfeita, pois sua voz

ficara tão aguda que parecia a de uma criança manhosa. — Pode imaginar como eu me senti por causa do seu silêncio? - insistiu

Penelope. Elizabeth olhou para o chão e mordeu o lábio.

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— Não, não posso. Ela subitamente percebeu que estava quase estragando seu bolero de tanto

mexer com ele. Assim, juntou as mãos e continuou a falar, fingindo alegria: — Mas, pense bem. Você vai poder conhecer e flertar com tantos homens

diferentes, enquanto eu vou me casar muito cedo e ficarei casada para sempre. Você ainda vai poder se apaixonar muitas, muitas vezes!

— Isso é verdade - disse Penelope com cautela. Ela levantou o cotovelo, indicando que Elizabeth deveria pegar seu braço.

Elas passaram devagar pelos enormes quadros da sala de estar e entraram numa saleta menor, com papel de parede azul-escuro e branco. Ali, ficariam longe dos olhos da sra. Hayes, tio sr. Youngham e de Ava Astor. Penelope respirou fundo e tentou ser um pouco simpática.

— Bem, Liz, não consigo ficar zangada com você por muito tempo. Fico feliz de Henry se casar com você e não com uma menina qualquer.

Elizabeth pareceu momentaneamente chocada com a mesquinharia de Penelope, mas logo se recuperou.

— Obrigada por ser tão compreensiva. Muito, muito obrigada. Penelope tentou receber a gratidão de Elizabeth com um sorriso que

pudesse ser chamado de amável. Ela já não estava tão pálida e parecia realmente muito aliviada. Mas ainda sentia culpa. Penelope viu isso e preparou-se para tirar toda a vantagem que pudesse da situação. Elas se sentaram num pequeno sofá de veludo cereja, com Robber espremido entre as duas.

— Eu estava tão arrasada por ter magoado você. Seria terrível se, agora que uma de nós está noiva, não pudéssemos cumprir nossa promessa de ser a madrinha uma da outra.

Elizabeth sorriu, esperançosa, olhando nos olhos azuis de Penelope. Ela sorriu também, forçando-se a pegar a mão de Elizabeth, observando mais uma vez o diamante, e apertando-a. Não ia haver casamento, é claro... não se Penelope pudesse impedir. E ela estava começando a ver que seria bem mais fácil estragar tudo se mantendo bem próxima de Elizabeth.

— Você quer mesmo que eu seja sua madrinha? - perguntou ela num quase sussurro.

— É claro, quem mais eu... — E Diana? Ela é sua irmã. Não vai ficar magoada? Elizabeth pareceu angustiada ao ouvir o nome da irmã e Penelope percebeu,

radiante, que ela havia lhe dado preferência na hora de escolher as madrinhas. Ela pensou em algo que lhe fez sorrir, e não pôde deixar de dar a sugestão:

— E quanto a Agnes Jones? Elizabeth ficou surpresa, mas logo seu rosto se desanuviou e ela também

começou a rir daquela ideia hilária. — Seria um desastre completo - disse ela, limpando uma lágrima de alegria. — Ou Prudie? Quero dizer... — Penelope, não posso contar com ninguém além de você. — Tudo bem. Como você quiser. - Penelope piscou um olho e completou: -

Será feito. — E há um evento na sexta-feira... aquele para o almirante Dewey no

Waldorf-Astoria. Será a primeira vez que eu e Henry apareceremos em público

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como um casal. Você poderia estar ao meu lado, como minha madrinha de casamento?

— É claro. Penelope tentou não parecer feliz demais. Ela já estava sendo colocada na

posição onde poderia fazer o maior número de estragos. — Preciso de um vestido novo para a ocasião, é claro, e vou fazer a última

prova na quinta, na Lord & Taylor - disse Elizabeth, claramente aliviada por poder fazer planos como aquele. - Venha comigo e poderemos comprar algo para você também.

— Tudo bem. Mas não é nesse vestido que deveria estar pensando. Vai usar branco no casamento, é claro. Mas quem vai fazer a roupa? Ela precisará ter uma cauda enorme e...

— Ah, sim - interrompeu Elizabeth... E antes que Penelope pudesse dizer qualquer outra coisa, Elizabeth estava

falando das vantagens do marfim sobre o amarelo-claro, das variedades de flores rosas que haveria na cerimônia e de quem ia convidar para dama de honra, além de perguntar a ela o que achava realmente da aliança que ganhara.

A irmã mais nova de Grayson Hayes não vomitou em público de novo, embora tenha sentido vontade. Ver os olhos de Elizabeth Holland brilhando conforme ela imaginava os detalhes de seu suntuoso casamento fez com que a fúria de Penelope ressurgisse. Mas, apesar de sentir uma amargura que teria arruinado a pele de uma menina com menos força de vontade, Penelope Hayes continuou sorrindo. Uma amiga que sorria era uma amiga verdadeira e era isso que ela queria parecer - pelo menos por enquanto.

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Com a chegada da frota do almirante Dewcy no porto de Nova York ontem e as preparações frenéticas para as duas paradas - uma no mar na sexta-feira e outra em terra no sábado - parece que a cidade finalmente terá outro assunto para discutir além do noivado do sr. Henry Schoonmaker com a srta. Elizabeth Holland.

EDITORIAL DO NEW YORK TIMES, QUARTA-FEIRA, 27 DE SETEMBRO DE 1899

— Vamos Ringmaster! - gritou Teddy Cutting, sacudindo o punho. — Ande logo seu pangaré - acrescentou Henry, um pouco menos generoso. Ele estava sentado com o amigo numa instável arquibancada de madeira do

Morris Park, bebendo cerveja Pabst, aquela que tem uma fita azul em volta do gargalo, comendo amendoins salgados e agindo como quem pertence a uma classe bem, inferior à sua. A pista de corrida, que ficava no bairro do Bronx, era muito mais bonita quando vista do camarote de sua família, mas Henry estava tentando evitar o pai. Além disso, o camarote dos Schoonmaker era de uma opulência absurda, decorado de forma a mostrar aos convidados o tamanho da fortuna de seu dono. Tudo o que Henry queria naquele momento era beber cerveja o suficiente para ficar feliz e se esquecer da vida.

— Mexa-se! - gritou ele na direção do cavalo puro-sangue em que apostara. Teddy chegou seu chapéu-coco mais para trás na cabeça, fazendo vários

fios de cabelo louro surgirem na frente, e bateu palmas ao ver o cavalo se aproximando da linha de chegada. O Ringmaster e seu pequeno jóquei de uniforme vermelho e branco estavam em segundo, mas foram ultrapassados no finalzinho da corrida. Teddy soltou um muxoxo de frustração ao ver que o cavalo chegara em quarto lugar.

— Bom, lá se vão mais vinte dólares - disse ele, atirando o papel da aposta embaixo da arquibancada.

— Ah, deixe disso - respondeu Henry, colocando seu chapéu de palha num ângulo mais atraente e recostando-se no assento de trás. - Dinheiro não é tudo.

— Isso é o que você pensa - disse Teddy, rindo. - Em quem apostamos nessa próxima? La Infanta?

— Por que não apostamos em todos os cavalos? Assim, não vamos ter de nos preocupar em perder. Estou feliz só de estar fora da cidade e longe de toda aquela loucura.

Teddy ergueu suas sobrancelhas louras e tomou um grande gole de cerveja. Henry ignorou o olhar do amigo e virou a gola de seu paletó de tweed para cima. Morris Park, onde aconteciam as corridas de cavalo Belmont Stakes, ficava num recanto do Bronx, um bairro que ainda não parecia fazer parte de Nova York. Ele

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fora anexado à cidade no dia 1º de janeiro daquele ano, assim como o Brooklyn e o Queens, mas ainda tinha a aparência rural e ficava muito, muito longe da frenética Manhattan, que no momento estava sendo invadida por foliões e patriotas. A cidade estava preparando fogos de artifício e quilos de confete para receber os marinheiros vitoriosos.

— Eu estou falando das paradas - disse Henry, tentando se esquivar do olhar acusatório de Teddy com uma expressão séria. - Nosso barco vai participar da aquática, é claro.

— Ah, sim. Teddy não pareceu ter se convencido, mas também não demonstrou estar

perturbado pela mentira de Henry . Ele olhou para dentro da garrafa de cerveja que segurava.

— O herói do Pacífico Sul - disse ele. — Não, das Filipinas - respondeu Henry, que passara a ler os jornais

cuidadosamente desde que o cocheiro dos Holland o acusara de ser ignorante. -- Quanto trabalho por um país que é tão longe. Já a guerra de Cuba, essa sim. Nessa eu poderia ate ter lutado.

— Sim, todos nós teríamos nos alistado se tivéssemos tido tempo. — Está caçoando de mim? Teddy deu de ombros. — Se não quer admitir que na verdade está fugindo de outra coisa, não sou

eu que vou forçá-lo. Henry suspirou e cruzou os braços. Teddy acendeu um cigarro, o que fez

com que o ar à volta deles ficasse repleto de uma fumaça com cheiro adocicado. — Adoro dias como esse - disse Henry, olhando para os cavalos sendo

levados para a pista. — Realmente é horrível quando temos de colocar um fraque, ficar cercados

de garotas, beber champanhe aos baldes e comer em pratos de ouro. Você detesta isso.

— Não foi isso que eu quis dizer. — Então, qual é o problema? Henry olhou com cautela para o amigo, demorando alguns segundos para

encontrar as palavras certas. — É que não sei bem se deveria ter ficado noivo. Estou ficando um pouco

nervoso agora que já começamos a discutir os detalhes da cerimônia. A coisa toda está ficando mais real . Quer dizer, Imagine ter de receber convidados para o almoço com a sra. Schoonmaker num dia como hoje, em vez de vir apostar nos cavalos com você. Ou de fazer qualquer coisa que eu queira.

— Mas será que você vai pensar assim quando tiver uma esposa tão bonita? Henry tentou não franzir a testa, mas não conseguiu. Ele tentou pensar em

sua noiva como uma mulher que o atraía, mas só conseguiu se lembrar daquela menina fria que estremecera a cada palavra sua durante o passeio pelo Central Park. Ela mal olhara para ele e parecera uma estátua de gelo, especialmente ao lado de sua exuberante irmã, com suas bochechas rosadas e seu atrevimento.

— Todo mundo diz que ela é multo bonita - concordou Henry amargamente.

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— Eu digo que ela é muito bonita. Na verdade acho que esse adjetivo nem faz jus a ela.

— Então por que você não se casa com ela? Teddy riu. — Eu casaria, mas receio que a moça já esteja noiva de outro. Gostaria de

apostar a mão dela na próxima corrida? — Que escândalo não seria. “Rapazes da alta sociedade apostam noivas nos

cavalos.” Você sabe que os jornais publicam uma matéria toda vez que eu assoo o nariz.

— Eu estava brincando, Henry. Teddy colocou a mão no ombro do amigo e sacudiu-o de leve. — Eu sei. Henry olhou para seus dedos longos e perfeitos. Aquelas eram as mãos de

um homem que jamais trabalhara na vida. — Mas não sei se ela é a pessoa certa para mim - disse ele. - Elizabeth é

muito tímida e recatada e você sabe muito bem que eu não sou nem uma coisa, nem outra.

— Bem - disse Teddy, terminando a cerveja e jogando a garrafa debaixo da arquibancada -, ela não é uma versão feminina de você, se for isso que o preocupa.

— Não, não é. — Mas tem bom gosto e boas maneiras. Henry revirou os olhos. — E vai ser impecável em tudo que uma esposa precisa fazer - continuou

Teddy. - Vai dar boas festas, manter a casa de vocês perfeita, ter filhos bonitos e não reclamar de nada disso. Enquanto você não vai precisar fazer coisa alguma, e ninguém vai falar nada demais se continuar a ter uma vida privada paralela, com as mesmas meninas de sempre e mais algumas novas. Você nunca fica apaixonado por muito tempo. Por isso, Elizabeth é uma escolha tão boa quanto outra qualquer. Provavelmente até melhor.

Teddy pensou ter posto um fim naquela discussão e gesticulou para um menino que passava com uma caixa de madeira cheia de gelo e garrafas de Pabst. Ele pagou pelas duas cervejas, entregou uma a Henry e bateu sua garrafa levemente na dele.

— Tim-tim, meu amigo. Acho que você escolheu muito bem. Henry bebeu, mas continuou a olhar tristemente para a corrida. Uma frase

lhe ocorrera durante o discurso de Teddy e ele decidiu dizê-la em voz alta: — Acho que não quero me casar com ninguém. Teddy deu um sorriso melancólico e observou os cavalos, que estavam

fazendo a última curva da corrida a toda velocidade. Os homens sentados nas arquibancadas estavam de pé, gritando e pulando,

acreditando que poderiam mudar suas vidas em um segundo. — E o que você quer, afinal? - perguntou Teddy com uma certa

impaciência. Os cavalos cruzaram a linha de chegada e Henry lembrou que aquela seria a

última corrida do dia. A maioria dos homens à sua volta estava rasgando os papéis que marcavam suas apostas ou indo embora desanimados, olhando para o

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chão e preparando-se para voltar para suas vidinhas miseráveis. Mas um rapaz muito corado estava pulando e socando o ar.

— Ganhei! - gritava ele. - Ganhei! Henry desviou o olhar daquela exibição vulgar. Teddy estava observando-o,

perguntando-se se ele o ouvira. Mas Henry ouvira, sim, e a aquela pergunta - o que, afinal, ele queria? - estava ressoando em sua mente.

Quando ele fechou os olhos, tudo o que viu foi Diana Holland correndo pela grama, segurando o vestido, deixando a mostra seus adoráveis tornozelos brancos e gritando com ele. Houvera alegria na voz dela quando ela mandara Henry ir pegar o laço que prendia seu chapéu, ou sua mãe o mataria por deixá-la com sardas.

Henry sabia exatamente o que queria; mas não tinha a menor idéia de como conseguir.

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i|Çàx x WÉ|ái|Çàx x WÉ|ái|Çàx x WÉ|ái|Çàx x WÉ|á

Toda a cidade está esperando ansiosa para ver a srta. Elizabeth Holland e seu noivo, o sr. Henry Schoonmaker em público pela primeira vez. Eles estarão amanhã no hotel Waldorf-Astoria. onde uma festa será dada em homenagem ao almirante Dewey. Tenho certeza de que não sou a única pessoa já imaginando a visão romântica do solteiro mais querido de Nova York acompanhando sua escolhida.

NOTA DA COLUNA "GAMESOME GALLANT", DO JORNAL NEW YORK IMPERIAL, QUINTA-FEIRA, 28 DE SETEMBRO DE 1899.

Diana estava quase adormecendo devido ao calor da sala particular da loja Lord & Taylor, onde sua irmã estava provando o vestido que usaria em sua primeira aparição pública com o noivo, quando ouviu o nome mágico cuja menção ela passara a tarde toda esperando.

-- Mas me conte Henry está sendo romântico com você? Fora Penelope quem falara, tentando fingir indiferença. Ela usava uma

blusa preta de chiffon com mangas bufantes e saia castanho-amarelada debruada com seda preta. A pergunta fora dirigida a Elizabeth, que estava parada em cima de um bloco de madeira no meio da sala, mas fora o coração de Diana que batera mais rápido ao ouvir aquele nome. Elizabeth que estava rodeada não apenas pelo costureiro, o sr. Carrol1 e pela atenciosa Penelope, mas também por um pequeno exército de atendentes, nem sequer pareceu interessada em responder. Ela olhou para o nada e deu de ombros.

— Não ... - disse Elizabeth, devagar. - Mas amanhã vai ser a primeira vez que vamos a um evento como um casal, então talvez ele esteja esperando até lá.

— Isso, ele provavelmente está um pouco tímido, pois ainda não conhece você muito bem - replicou Penelope.

Diana percebeu que ela parecia ter se recuperado do escândalo que dera na semana anterior. Mas as meninas da alta sociedade eram como mariposas em volta de uma lâmpada quando se falava de um casamento, o que estava sendo demonstrado pela presença constante de Penelope ao lado do costureiro.

O sr. Carroll não era um homem alto e usava fitas métricas em volta do pescoço. Embora tivesse pouco mais de trinta anos, ele já estava quase careca, mas movia-se com graça e elegância. Elizabeth estava imóvel, embora o sr. Carroll estivesse aperfeiçoando seu vestido há quase uma hora, marcando diversos locais que teriam de ser modificados. Era um vestido recatado em teoria, que cobria a clavícula e os pulsos de Elizabeth com renda, mas cada alteração o deixava mais justo. Era feito de seda rosa muito clara e sua saia tinha inúmeras camadas que cascateavam até o chão. O decote era adornado com centenas de pequeninas pérolas de água doce em suportes de ouro. Diana ouvira sua mãe

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falando daquelas pérolas de manhã - elas haviam sido um presente da sra. Schoonmaker, aparentemente.

Diana observou Penelope mostrando um problema no corte do vestido para o costureiro. Ela estava sentada em um dos sofás de veludo cor de ameixa que havia na sala. Toda a loja de departamentos cheirava a almíscar, um odor que vinha dos andares mais baixos do prédio, onde eram vendidos broches, luvas e chapéus. A Lord &Taylor ficava na Broadway, no meio de um longo trecho cheio de lojas de luxo, considerado um dos locais mais chiques do mundo. Todas as paredes lá dentro eram cobertas de espelhos, de forma que uma jovem pudesse observar seu reflexo de todos os ângulos imagináveis. Diana em geral gostava de visitar a loja, especialmente porque a maioria dos vendedores eram rapazes bonitos. Mas hoje ela estava cansada da imagem de sua irmã refletida inúmeras vezes e iluminada por um candelabro. Só via um pequeno pedaço de si mesma no espelho - uma figurante no enorme quadro que era a prova do vestido de Elizabeth.

Ao lado de Diana estava a acompanhante das duas, a tia Edith, que dormitava. Ela usava um vestido vermelho-escuro e seu pescoço estava coberto por um lenço creme, que ela afirmava protegê-la de resfriados. A cada dez minutos uma vendedora surgia com algum novo tesouro para mostrar a elas -- chapéus pena, luvas de couro, braceletes de madrepérola, todos embrulhados em papel-seda rosa. De vez em quando elas também traziam taças de champanhe, que eram oferecidas aos melhore clientes da loja.

— E você já escolheu a data do casamento? - perguntou Penelope, arregalando os olhos azuis com uma curiosidade peculiar.

— Não ... talvez marque no inverno ou na primavera. Diana pegou uma das taças de champanhe da vendedora e tomou um gole.

Era estranho que Elizabeth estivesse sendo tão vaga, mas ela decidiu não dar muita importância ao fato. Ou também seria obrigada a notar que Penelope, que em geral não se interessava pelos outros, estava fazendo perguntas demais. Diana já observara que o tópico favorito de Penelope era ela mesma.

— Muito cedo -- disse Penelope. - Talvez você devesse pedir ajuda a Isaac para planejar o casamento. Ele é muito bom no que faz.

— Acha mesmo? - disse Elizabeth, olhando sem muito entusiasmo para seu reflexo no espelho.

— Tudo bem. Mas você pode falar com Isaac? Você o conhece tão melhor do que eu.

Diana se recostou no papel de parede azul-marinho e esperou sua vez de experimentar um vestido. Alguma coisa estava acontecendo entre Penelope e Elizabeth, mas ela não sabia bem o que era. Talvez Penelope estivesse com inveja porque a amiga ia casar primeiro. Normalmente ela não se incomodaria com aquilo, mas hoje estava fazendo questão de ouvir a conversa das duas, tentando escutar qualquer menção do nome de Henry. Henry, em qualquer contexto, era-lhe interessante.

Mais cedo, quando elas quatro haviam almoçado no Palm Garden, o restaurante do Waldorf-Astoria, Elizabeth falara sem parar sobre como era importante para ela que Penelope houvesse aceitado ser sua madrinha, como o casamento seria lindo e tudo mais. No momento em que Penelope fora fumar um

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cigarro no banheiro feminino, longe dos olhos da tia Edith, Elizabeth tinha sussurrado para Diana que lamentava não poder ter duas madrinhas.

— Eu precisava convidar Penelope. Você me perdoa, não perdoa? Nós tínhamos prometido uma para a outra.

— Eu já disse que não ligo - respondera Diana, sem se incomodar em falar baixo. - Penelope é uma candidata melhor para segurar o buquê de uma noiva que não ama o futuro marido.

Elizabeth se afastara rapidamente dela ao ouvir o comentário, mas Diana não tivera a intenção de ser cruel. Estava apenas apontando um fato. Mas, desde então, Elizabeth se mostrara sisuda e até mal-humorada, algo que ela jamais fazia em público.

— Mas você tem visto Henry? - insistiu Penelope. Ela estava muito próxima de Elizabeth, de forma quase impudente,

verificando a renda em torno de seu pescoço. — Ah, sim. Nós demos um passeio no parque, no ... quando foi, Di? — No domingo - respondeu Diana. - Ele foi muito galante - acrescentou ela

sem pensar. — Foi? - perguntou Penelope, colocando os dedos sobre as perolas que

estavam no peito de Elizabeth, mas voltando os olhos para Diana. — Ele foi bastante simpático - disse Elizabeth. - Resgatou o chapéu de

Diana, que tinha voado. — Ah - disse Penelope, voltando a examinar o vestido. Diana já se lembrara daquela tarde no Central Park incontáveis vezes e

começou a fazê-lo de novo. O borrão verde, vermelho e branco que era o gramado e as toalhas de piquenique enquanto eles corriam, Henry em seu papel de herói cômico ao entrar na água lamacenta do lago. A sutileza de seu sorriso e a maneira como ele olhara para ela.

— Você já pegou um trem para oeste saindo daqui de Nova York? Diana olhou para cima e encarou Elizabeth, que ainda parecia estar com a

cabeça em outro lugar e acabara de fazer uma pergunta completamente sem sentido. Ela voltou a se concentrar na sala de papel de parede azul-marinho e tapete opulento, espantando-se com a estranha indagação de sua irmã.

— Não, a não ser que você conte Newport. Mas isso fica para o norte, acho - respondeu Penelope.

Diana observou-a pelo espelho enquanto ela se abaixava para examinar as camadas da saia de Elizabeth. Esta última levantou o queixo, sendo imitada pelos sete reflexos que a rodeavam.

— Quantos trens você acha que saem por dia daqui para Califórnia? — Por que você quer saber isso, pelo amor de Deus? - quis saber Penelope,

sem olhar para cima. Os olhos de Elizabeth se voltaram para os metros e mais metros de cetim

rosa claro à sua volta. — Só estava pensando em como o mundo é grande hoje em dia.Você não

pensa nisso às vezes? — Não - foi a resposta imediata de Penelope, que ficou de pé, os braços e

encostou-se num dos espelhos para encarar Elizabeth. - Além de Nova York e Newport, ninguém precisa de mais nada. Aliás, o último verão que passei em

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Newport foi tão divertido! Foi o melhor verão da minha vida. Henry estava lá - disse Penelope, cheia de segundas intenções.

— Não estava, não - afirmou Diana. - Pelo menos, não o verão todo. Ele passou parte da temporada em Saratoga ... lembro-me de ouvir as outras meninas falando nele.

As duas olharam perplexas para Diana, que continuou, falando mais baixo: — Não foi, tia Edith? Não se lembra de todo mundo comentando que o

filho de William Schoonmaker estava na cidade? Tia Edith, que estava com a cabeça recostada e os olhos fechados, soltou

um ronco e acordou por um segundo. — O quê? Ninguém mais usa ancas ... - disse ela, voltando a dormitar. - Na

minha juventude era uma mania, mas agora não é mais... Todas as mulheres da sala riram baixinho e então o sr. Carroll as fez voltar

a prestar atenção na prova do vestido. — Muito bem, minha linda, já acabei - disse ele com sua voz musical. Elizabeth deu-lhe o sorriso radiante de sempre e permitiu que ele a ajudasse

a descer do bloco de madeira. As irmãs Holland adoravam o sr. Carroll e sempre o visitavam em sua loja própria, além de vê-lo na Lord & Taylor, onde ele também mantinha um ateliê, para que suas principais clientes pudessem escolher os melhores tecidos antes de todas as outras.

— Penelope, querida, é sua vez. Elizabeth deu o braço a Penelope e as duas foram na direção do provador,

onde a primeira poderia tirar seu vestido novo e a segunda colocar a roupa que mandara fazer. Diana ficou chateada de vê-Ias partir, mesmo que apenas por alguns minutos, pois sabia que iam falar de Henry longe dela, e qualquer conversa sobre Henry - não importava o quão banal fosse - fazia seu coração se acelerar.

— Com licença, senhorita - disse uma vendedora que usava uma saia branca e uma blusa negra simples e estava carregando uma caixa comprida e estreita. - Tenho aqui um pacote da parte do sr. Henry Schoonmaker...

— Oh! - disse Elizaberh, adiantando-se e corando levemente. —... para a srta. Diana Holland - completou a vendedora. — Oh! -- exclamou Penelope, olhando rapidamente para Diana. A vendedora aproximou-se de Diana, entregou-lhe a caixa e ficou

esperando. — Por que Henry mandaria um presente para você? - perguntou Penelope

bruscamente, abrindo seus belos lábios com espanto. Diana olhou para a caixa branca. Ela mal podia acreditar que estava

segurando algo que tinha sido enviado por Henry, principalmente porque estava na frente de outras pessoas. Ficou com medo do conteúdo, como se seus pensamentos secretos sobre Henry estivessem ali dentro, prontos para serem revelados quando ela retirasse a tampa. Mas Diana lembrou que não se amedrontava facilmente.

— Abra - disse Elizabeth. Ela se empertigara da mesma forma que a sra. Holland fazia e estava

observando Diana com irritação.

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Diana soltou o ar que prendera e levantou a tampa. Lá dentro havia uma fita de seda azul-clara bordada com pequenos navios azuis-marinhos e amarelos. Era uma fita bonita, mas bastante ordinária. Diana tentou não demonstrar decepção ao mostrá-la para Elizabeth e Penelope.

— Ah, uma fita - disse Elizabeth com indiferença. - Para substituir a que você perdeu.

— Um presente de menininha para nossa pequena Di - disse Penelope, sorrindo com complacência. - Que adorável. Está vendo, Elizabeth? Henry está sendo romântico com você, mas está fazendo isso mandando bugigangas para sua irmã mais nova.

Diana pensou em várias boas respostas para dar a Penelope, mas ela e Elizabeth já haviam se virado e estavam indo na direção do provador. A menina que entregara a caixa estava voltando para o trabalho, desapontada com a cena que testemunhara na sala privada das Holland.

Diana examinou a fita e não conseguiu deixar de se sentir um pouco tola. Penelope estava certa - isso era o pior. Era o tipo de presente que se dá a uma criança para fazê-Ia se calar. Talvez fosse isso que Henry estava tentando fazer. Diana puxou a fita com raiva e um pequeno pedaço de papel muito bem dobrado caiu no chão.

Diana olhou em volta para ver o que as outras pessoas estavam fazendo. Tia Edith roncava baixinho e o sr. Carroll se movia de um lado para o outro, falando sozinho sem prestar atenção nela. Diana esticou o braço e apanhou o papel do chão.

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Ela quase desmaiou ao ler isso e um calafrio percorreu seu corpo todo. Era

quase tão bom quanto um beijo roubado.

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i|Çàx x gÜ£á i|Çàx x gÜ£á i|Çàx x gÜ£á i|Çàx x gÜ£á

A criada pessoal de uma dama da sociedade em geral ganha em um mês o que uma vendedora de loja ganha em uma semana. Além disso, espera-se que ela receba com imensa alegria os vestidos velhos e objetos de segunda mão que sua patroa não quer mais. É um absurdo que, às vésperas do século XX, esses contrastes, ainda existam.

EDlTORlAL NO NEW YORK IMPERIAL, SEXTA-FEIRA, 29 DE SETEMBRO DE 1899

ina Broud ficou parada no vestíbulo da mansão dos Holland, esperando algo acontecer. Talvez Will surgisse por detrás dela e sussurrasse em seu ouvido que ficara encantado com o

curativo que ela fizera. Mas se Lina parasse de sonhar por um momento, ela seria obrigada a admitir que Will não vinha prestando muita atenção a ela nos últimos dias. Desde a tarde de domingo, quando ela colocara uma bandagem na mão dele, ele estava completamente absorto por seus próprios pensamentos. Lina sabia que Will ainda gostava de Elizabeth e estava começando a achar que deveria ter lhe dito o que sentia aquele dia no galpão, quando tivera a chance.

Lá fora, a cidade toda estava envolvida com os preparativos da parada. É claro que Lina estava presa atrás da porta de carvalho de suas patroas, olhando o mundo através de um vidro. Ela gostaria de estar no meio da multidão, comendo pipoca fresquinha ao lado de Will. Ou, melhor ainda, num daqueles barcos enormes nos quais os ricos viajavam pelo mundo todo. Como seria maravilhoso sentir o ar marinho no rosto, poder ir para qualquer lugar e fazer qualquer coisa.

Supostamente havia soldados por toda cidade. Lina lera na revista Harper's Weekly que no dia seguinte trinta mil deles iam marchar por Nova York. Ela tentou vislumbrar parte dessa horda de homens de uniforme pelo vidro da porta, mas tudo o que viu foi Claire chegando apressada. Ela estava com um dos meninos da Lord & Taylor - a loja só contratava vendedores bonitos, para atrair mais compradoras - e cada um carregava uma enorme caixa.

Lina abriu a porta e decidiu que o vendedor, embora nao fosse nada mau, não se comparava com Will.

— Quer ajuda? - perguntou ela. Sua irmã estava corada de exaustão, mas o menino da Lord & Taylor sorriu

despreocupadamente. Ele devia ser só um pouco mais velho do que Claire e estava com a barba loura por fazer.

— Não, já estamos quase - disse Claire, subindo a escada frontal e chegando ao pórtico de ferro filigranado.

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Os dois conseguiram entrar com as caixas retangulares e colocaram-nas em cima da mesa de carvalho que ficava perto da entrada. Claire suspirou e sorriu para o rapaz que havia lhe ajudado.

— Obrigada... O rapaz deu de ombros com indiferença e avaliou a empregada ruiva, cheio

de autoconfiança. Seus olhos eram castanho-claros e ele tinha um ar impertinente. Ficou claro que pensava que sua profissão o colocava numa classe superior à das irmãs Broud. Lina viu que Claire estava ruborizada e sentiu vergonha por ela. Era óbvio que o vendedor não estava ali por estar interessadso em uma das duas. Quando o constrangimento estava se tornando quase insuportável, ele disse:

— O pagamento... — Oh! - exclamou Claire, ficando com uma cor berinjela horrorosa e

olhando para Lina em desespero. - Bem, nós não... mas creio que... Ele assentiu, colocou a mão no bolso e tirou uma fatura. — Dê isso para a sra. Holland, então. E o sr. Carroll me pediu para lembrá-

la de que já existem diversas contas a pagar na loja. — Entendo - disse Claire baixinho, pegando o papel. - Vou dizer a ela. — Por favor, diga - replicou o rapaz com certa ironia. Ele tocou a aba do chapéu, desceu as escadas e pegou a Broadway. Logo

antes de entrar, Lina o viu se virar e lhe dar um enorme sorriso. — Ele é tão bonito! - disse Claire animadamente. Elas levantaram as enormes caixas e as carregaram pela escada dos fundos.

Lina tentou fazer um gesto afirmativo, mas teve pena da irmã por ela se sentir atraída por rapazes como aquele. Eles eram contratados devido a sua habilidade de flertar com as meninas ricas que estavam fazendo compras e não com suas criadas. Mas Claire vivia num mundo de fantasia e Lina achava melhor não perturbá-la.

— Mal posso esperar para ver os vestidos - disse Claire quando elas entraram no quarto de Elizabeth.

Elas colocaram as caixas na cama e Claire retirou a tampa de uma delas, abrindo o papel-seda e tirando de dentro o vestido rosa-claro. A luz do vestido pareceu refletir no rosto dela, iluminando-o.

— Não é lindo? - sussurrou Claire, pouco se importando se Lina estava ouvindo-a.

— É - admitiu a outra. O vestido era lindo e, embora Lina ficasse furiosa em se interessar por

essas coisas, ela não conseguiu deixar de se imaginar usando-o, só por um segundo.

— Ela vai usá-lo hoje, quando sair com o sr. Schoonmaker pela primeira vez. Vai ficar perfeito nela, você não acha?

Lina fez um muxoxo. Pensar na aparência perfeita de Elizabeth não lhe dava prazer algum. Na verdade, lhe causava uma dor intensa pensar que ela jamais teria joias e vestidos de seda e que todos os truques que Elizabeth usava para chamar a atenção de Will estavam fora de seu alcance.

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— Você viu a aliança da srta. Elizabeth, Lina? - perguntou Claire, esticando o vestido sobre a cama e examinando as pequenas pérolas. Que coisa mais incrível.

— Vi. É enorme... Lina desviou o olhar do vestido e se perguntou o que Will iria pensar se a

visse com ele. Ela sempre achara que seda rosa lhe cairia muito bem, mas jamais tivera a chance de descobrir.

— O jornal disse que custou mil dólares. Pode imaginar. Mil dólares. Lina balançou a cabeça com desgosto. — Não, não posso. É imoral, isso sim. Pense só em quanto tempo íamos

levar para ganhar esse dinheiro todo. — Bom, cada uma ganha doze dólares por mês, entao... Claire começou a calcular, olhando para o teto. Finalmente ela perdeu a

conta e deu de ombros. — Não sei. Mas ia ser muito tempo, com certeza. — Iríamos demorar uma década, sua pateta. Pense no que a gente poderia

fazer com esse dinheiro, aonde poderíamos ir. Para qualquer lugar. Iríamos ser donas dos nossos narizes e poderíamos largar esses empregos idiotas.

Lina estava falando no plural, mas na verdade estava pensando em Will e não em Claire como acompanhante. Ela sorriu com a possibilidade.

— Se pegássemos aquele anel e vendêssemos... - continuou ela. — Não fale assim! - ordenou Claire, amedrontada. - É errado fofocar desse

jeito. Lina não pôde deixar de rir. — Mas você ama fofocar! — Não sobre os Holland - disse Claire, encerrando o assunto. Ela passou a mão sobre o vestido para alisá-lo, pendurou-o no biombo preto

e dourado atrás do qual Elizabeth se vestia e ficou olhando-o com carinho. Lina esperou alguns segundos e disse:

— Foi estranho o que aconteceu lá embaixo, não foi? — O quê? - perguntou Claire inocentemente. — Aquela história de haver contas a pagar na loja. Claire olhou para a porta do quarto, nervosa, e então de volta para a irmã. — Posso lhe contar uma coisa? — Claro - disse Lina, baixinho. — Acho que elas estão tendo problemas... financeiros. — Quem? - perguntou Lina, dando um passo e aproximando-se de Claire. — As Holland! É que eu vi aquele homem, o sr. Broussard... aquele que

vendeu alguns dos quadros do sr. Holland quando ele morreu? Ele esteve aqui, eu o vi diversas vezes e ele levou ... algumas coisas. E não foram só as coisas que estão fora de moda disse Claire, mordendo o lábio.

— Mas as Holland não podem estar... Lina parou de falar e considerou a possibilidade de a família Holland, que

possuía tantos objetos lindos, seguia tantas regras rídiculas e agia da maneira mais esnobe do mundo, estar sem dinheiro. Embora nos últimos dias ela viesse pensando coisas horríveis de Elizabeth, a ideia de que ela podia não ser mais rica lhe chocava. Virava seu mundo de cabeça para baixo. Aquilo significava que a

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maneira como Lina empregava seu tempo e a forma subserviente como sua irmã se comportava eram absurdas.

— E acho que ouvi algo outro dia - continuou Claire. - Foi quando o sr. Cutting estava aqui. A srta. Diana disse...

As duas tomaram um susto quando a porta se abriu e Elizabeth surgiu no quarto.

— Oh! - exclamou ela, claramente surpresa ao ver suas duas empregadas ali dentro.

— Srta. Elizabeth! - disse Claire, afastando-se de Lina e tentando dar um enorme sorriso. - Acabei de trazer os vestidos da loja e nós estávamos só vendo se estava tudo certo.

— Obrigada - disse Elizabeth. Ela olhou para uma e depois para a outra, desconfiada. Talvez esteja se

perguntando por que nós duas estamos aqui só para isso, pensou Lina, enquanto se movia diante do olhar de suspeita de Elizabeth. Durante alguns segundos, ela sentiu uma certa pena da jovem dama. Era provável que ela estivesse pobre e seria muito difícil para ela se acostumar com uma vida sem vestidos novos. Então, Lina se lembrou de tudo que Elizabeth lhe roubara e empertigou-se sutilmente.

— O vestido da senhorita é deslumbrante - disse Claire, com uma voz aguda e tola que fez sua irmã mais nova estremecer. - A senhorita ficará realmente maravilhosa com ele.

Aquilo pareceu satisfazer Elizabeth. — Obrigada, Claire. É muito gentil de sua parte. Ela então olhou para Lina e as duas se encararam por diversos segundos.

Lina tentou sorrir, mas Elizabeth continuou séria. Antigamente Lina a admirara, mas essa época agora parecia muito distante. Parecia que, a cada dia, ela descobria um segredo novo sobre sua ex-amiga. A imagem de perfeição que ela tentava manter com tanto afinco estava toda rachada.

Lina parou de sorrir, mas não saiu do lugar onde estava, no meio do quarto. Ela sabia o que as meninas da sociedade faziam com os segredos que descobriam. Elas os usavam para conseguir o que queriam. Lina também tinha ambições e sabia muito bem jogar aquele jogo. Acabara de descobrir que ficar lamentando as injustiças da vida não levaria a lugar algum.

Lina entraria no jogo de Elizabeth e, em breve, Will veria o quão falsa a menina perfeita era. Então ele veria Lina com novos olhos: não como uma empregada, mas como uma dama, uma mulher que merecia seu amor.

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ntão hoje é a grande noite? Elizabeth olhou para seu reflexo no espelho oval

que ficava acima de sua penteadeira e ponderou sobre a pergunta. Seu rosto estava branco de pó de arroz, com exceção de suas bochechas, que haviam sido coloridas com ruge, e sua boca, que estava muito vermelha. Seus cabelos foram penteados em cachos elaborados e ornados com pequenas pérolas de água doce. Essas eram praticamente as primeiras palavras que Lina dissera para ela naquele dia, ou até mesmo naquela semana. Elizabeth fez um biquinho e pensou no que responder.

— Como assim? - disse ela, finalmente. — Com o jovem cr. Schoonmaker, é claro - explicou Lina, com uma

familiaridade que pareceu estranha a Elizabeth, pois fazia tempo que sua empregada não falava com ela daquela maneira. - É a primeira aparição pública de vocês dois como um casal.

Lina deu um puxão no espartilho de Elizabeth que fez as costelas da dama doerem.

— Henry? - perguntou ela. Sua criada deu mais um puxão, deixando sua cintura alguns centímetros

mais fina. Era quase uma surpresa ouvir falar em Henry, pois há dias ela só conseguia pensar em Will e no fato de que ele ia partir. Para Elizabeth, aquela não era a noite em que ela ia sair com Henry pela primeira vez. Era a noite em que Will ia embora.

— Que horas são, Lina? - perguntou ela, pensando mais uma vez nos trens que saíam de Nova York e se perguntando se Willestava dentro de um deles.

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— Oito da noite, srta. Holland - respondeu Lina, baixinho. Elizabeth sentiu um frio no estômago. Will lhe dissera claramente o que ia

fazer e agora ele se fora. Não havia dúvidas. Eram oito horas e certamente o último trem já havia partido.

Lina deu outro puxão e Elizabeth tentou respirar. — O sr. Schoonmaker vai levar a senhorita até a festa? - indagou Lina

amarrando os cordões do espartilho. — Vamos nos encontrar no hotel, pois Henry ficou preso no Elysian -

respondeu Elizabeth automaticamente. O bilhete, escrito com óbvia negligência, fora entregue há cerca de uma

hora por um criado que tivera de remar até a terra firme num bote, atravessando o caos que era o rio East no momento. Elizabeth vira a expressão de sua mãe ao lê-lo e soubera que devia estar chateada, mas na verdade não sentira nada.

— Esse é o nome do barco dos Schoonmaker - acrescentou ela. - Ele participou da parada aquática pelo almirante Dewey.

— Ah. Lina deu um último puxão, causando uma dor aguda no torso de Elizabeth.

Ela se levantou e ficou parada diante do espelho, esperando que a criada lhe vestisse. Um clamor ressoou na rua. A celebração podia ser ouvida mesmo naquela parte tranquila da cidade. Havia os sons dos fogos de artifício e de gritos vindos da Broadway, o barulho dos cascos dos cavalos e os passos de soldados marchando em grandes grupos. Para Elizabeth todos os ruídos pareciam com o de um trem saindo de uma estação.

— São só os soldados - disse Lina, voltando com o vestido. Ela estava sendo gentil demais e um pouco bisbilhoteira, o que irritou

Elizabeth. — Quando você ficou tão tagarela? - murmurou ela. — Perdão, eu só... — Desculpe-me, Lina - disse Elizabeth rapidamente. Ela tentou dar um pequeno sorriso para sua criada e lembrou que Lina

também já fora próxima de Will. Ela ainda devia sentir uma certa afeição por ele. Lina fora fascinada por Will quando eles eram amigos, um trio inseparável, antes de tudo ficar tão complicado, antes que ela se desse conta do quanto o amava. Subitamente, ocorreu-lhe que talvez Lina já soubesse da partida de Will; talvez ela também estivesse triste com a ausência dele.

— Fui cruel com você, mas sem querer. Acho que estou um pouco nervosa por sair com Henry.

Lina fez uma pequena mesura e então ficou em silêncio e emburrada como sempre. Ela ajudou Elizabeth a colocar o vestido, que ficou perfeito, com o decote ornado de pérolas acentuando sua pequena cintura. Elizabeth pensou que, se houvesse tido mais coragem e feito o que Will lhe pedira, jamais teria usado vestidos como aquele de novo. Por um minuto ela sentiu ódio da seda, das pérolas, do ouro e até dela mesma, por permitir que lhe comprassem por tão pouco. É claro que os motivos para aceitar o pedido de Henry tinham sido muitos, mas naquele momento pareceu-lhe que ela havia sido vendida pelo preço de um vestido de luxo. Elizabeth quis cair em prantos, mas não podia fazê-lo na frente de Lina, que estava calçando seus sapatos de salto alto.

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— Já está pronta? - perguntou Diana, surgindo no umbral de mogno. Ela estava usando um vestido mais simples que o de Elizabeth, com mangas

curtas, decote coração e uma enorme saia lilás que se abria num leque atrás dela. Havia uma faixa negra em sua cintura, deixando-a com a aparência muito mais arrumada do que o normal. Elizabeth sabia que aquele vestido na verdade era um antigo alterado, pois a família Holland mal tinha dinheiro para um vestido novo, quanto mais dois, mas Diana estava linda, o que a deixou um pouco mais alegre. Talvez uma delas seja feliz na vida.

— Quase. Elizabeth conseguiu ficar de pé, embora seu corpo estivesse pesado devido

à tristeza que ela sentia. Verificou se seus cabelos estavam em ordem e pegou o braço da irmã mais nova, indo com ela até o primeiro andar da mansão. Elizabeth normalmente teria agradecido a Lina ou pelo menos olhado para ela, mas estava tão concentrada em pensar em Will que não encontrou as palavras certas.

Quando as irmãs chegaram ao vestíbulo, viram a sra. Holland esperando por elas. Ela usava um vestido negro como sempre, e pareceu aliviada ao ver como suas duas filhas estavam bem. Até mesmo Diana parecia ansiosa para ir à festa e Elizabeth se perguntou como podia estar tão arrasada em fazer algo que ia trazer tanta tranquilidade para sua família. Ela conseguiu assentir para a mãe, tentando se comportar normalmente, e então a sra. Faber surgiu para ajudá-las a colocar suas estolas.

Quando as três mulheres estavam vestidas de maneira apropriada, elas saíram vagarosamente pela enorme porta de carvalho. Elizabeth sentiu um aperto na garganta. Ela olhou para a rua, onde havia tanta comoção, e sentiu-se perdida. Então virou-se para frente, onde estava a carruagem dos Holland e seu cocheiro. Teve de piscar duas vezes para se certificar.

Ali estava Will, diante dela. Ele não parecia feliz - como poderia? - mas também não parecia triste ou ansioso. Parecia calmo e seus olhos azuis se fixaram em Elizabeth de maneira tão casual que ela corou e achou que ia sair flutuando de alegria.

Por um segundo, Elizabeth se esqueceu do que precisava fazer naquela noite e estacou. A sra. Holland e Diana não perceberam nada. Elas seguiram adiante, descendo a escada de sete degraus na direção da carruagem. Elizabeth finalmente deu um passo à frente, desejando poder tocar Will para ter certeza de que ele estava mesmo ali.

Will estava usando uma jaqueta curta de lã com a gola virada para cima, calças pretas, as botas de couro puídas de sempre e um chapéu-coco, algo que ele só fazia à noite. Ele não olhou para ela ao ajudá-la a entrar na carruagem, mas Elizabeth sentiu as mãos dele em sua cintura e ficou confortada com o toque familiar. Logo ela estava sentada na carruagem e os cavalos estavam trotando na direção do Waldorf-Astoria.

— Finalmente, um sorriso - disse sua mãe. — Oh - disse Elizabeth, cobrindo instintivamente o rosto com as mãos. - É

que estou aliviada. Aliviada por estarmos a caminho. — Sim. Mas é mesmo uma pena que Henry vá encontrar você lá e não na

nossa casa.

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Elizabeth não conseguiu parar de sorrir como uma tola, sem nem ouvir direito o que sua mãe estava dizendo. Ela sentiu-se leve como o ar, sobrevoando a cidade e ouvindo toda aquela confusão pelas janelas da carruagem.

— Mas creio que não haverá problema - continuou a sra. Holland. - O importante é que vocês entrem juntos no salão de baile.

— Isso mesmo - concordou Elizabeth alegremente. Ela teria concordado alegremente com praticamente qualquel coisa naquele

momento. Will não a abandonara. Ele um dia iria compreender que ela estava fazendo aquilo por sua família. Eles jamais poderiam ficar juntos, mas tampouco ficariam separados. Elizabeth iria vê-lo sempre que pudesse e talvez Will pudesse aprender a amá-la mesmo após ela se tornar a sra. Schoonmaker.

Apesar de haver muitas carruagens na rua naquela noite, eles logo chegaram na esquina da Quinta Avenida com a rua Trinta e quatro. Elizabeth continuou a sorrir, esperando que Will viesse abrir a porta. Lá fora, todos os nova-iorquinos pareciam ter saído às ruas, bradando na direção do Waldorf-Astoria. O altíssimo hotel de quinze andares parecia estar sorrindo de volta com suas torres e inúmeras janelas. Havia carruagens paradas ao longo de todo o quarteirão.

Depois de a sra. Holland e Diana terem saído, Elizabeth deixou que Will a ajudasse a descer. Quando seus pés tocaram o chão ela preparou-se para soltar a mão dele, mas ele manteve a sua firme. Elizabeth se voltou e o viu inclinar-se e beijar sua mão. O calor dos lábios dele se espalhou por todo seu corpo. Will levantou os olhos. Elizabeth fitou-os - aqueles lindos olhos azuis - e olhou para o nariz adoravelmente torto e então para a boca que já beijara tantas vezes. Ela se deu conta de que Will estava movimentando os lábios, embora sem emitir nenhum som: ali, na frente do Waldorf-Astoria e do mundo inteiro, ele estava dizendo silenciosamente que a amava.

— Will! - chamou a sra. Holland. Elizabeth, apavorada, retirou sua mão, mas logo percebeu que sua mãe

estava apenas dando as instruções de sempre ao cocheiro: Will deveria levar os cavalos para casa agora, pois os Schoonmaker as levariam de volta. O gesto perigoso dele passara despercebido. Ela tomou coragem e deu-lhe um sorriso tímido, para explicar, de seu jeito sutil, o quanto estava feliz por ele não ter partido. Então entrou no hotel com sua família.

— O tempo não está perfeito? Elizabeth se virou e viu que quem falara fora uma mulher corpulenta que

usava um vestido de brocado dourado. Ela não a reconheceu e imaginou que devia ser um dos novos-ricos do oeste que faziam fortuna na mineração e chegavam a Nova York aos milhares todos os dias.

— Está sob medida para o almirante - completou a mulher com um sorriso radiante.

— A noite está muito bonita. Só depois de falar isso Elizabeth percebeu que a temperatura estava mesmo

agradável: nem muito quente, nem muito fria. Pela primeira vez desde que a semana começara, ela achou que fosse ficar tudo bem.

— Boa noite! - disse ela para a mulher, enquanto Diana pegava-lhe pela mão e a levava para o suntuoso lobby do Waldorf-Astoria.

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Elas atravessaram rapidamente um longo corredor, que tinha paredes de mármore amarelado cobertas de espelhos e um chão de mosaicos. Havia sofás de veludo dos dois lados, onde pessoas riam, conversavam e observavam quem passava. O lugar estava cheio de movimento e Elizabeth entendeu por que os jornais chamavam aquele corredor de Viela dos Pavões.

— Ele não está aqui! - anunciou a sra. Holland, furiosa. — Quem? - perguntou Elizabeth. Ela percebeu que sua mãe estava zangada, mas mesmo assim não conseguiu

parar de sorrir. Ainda estava mergulhada na felicidade que Will lhe proporcionara.

— Henry, é claro! Estão dizendo que ele ainda está no barco. A sra. Holland cruzou os braços. Elizabeth viu que ela estava tendo de se

controlar muito para não ter um acesso de fúria, tão grande era sua frustração por não poder exibir publicamente o noivado da filha. Penelope surgiu por detrás dela, linda em seu vestido vermelho-alaranjado com decote cavado e continhas furta-cor. O vestido era de cauda plissada e bem justo no quadril, e a pele dela brilhava de uma maneira muito peculiar.

— É mesmo, alguns dos convidados que estavam no Elysian já chegaram, mas parece que Henry ainda não pôde deixar o barco - relatou Penelope.

— Que pena - disse Elizabeth com alegria. - Ele deve chegar em breve. Isso não é motivo para não aproveitar a festa.

Ela pegou a mão de Penelope e deu-lhe um beijo em cada lado do rosto. Era bom ter Penelope de volta: ela jamais se deixaria abater enquanto houvesse uma festa à vista.

A sra. Holland se virou, ainda visivelmente contrariada, e seguiu na direção do enorme salão de baile do Waldorf-Astoria. Elizabeth olhou para os rostos sorridentes de sua amiga e de sua irmã e deu de ombros.

— Alguém deveria explicar a mamãe que não é ela quem vai se casar com Henry Schoonmaker - disse.

Penelope e Diana riram. As três meninas deram os braços e entraram naquela festa maravilhosa, em melhor harmonia do que nunca.

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i|Çàx x V|ÇvÉi|Çàx x V|ÇvÉi|Çàx x V|ÇvÉi|Çàx x V|ÇvÉ

Há tantas festas ocorrendo na cidade e tantos eventos sendo planejados que será impossível para o homem que ocasionou tudo isso comparecer a todos. Refiro-me ao herói que acabou com os espanhóis no Pacífico: o almirante George Dewey.

TRECHO RETIRADO DA PRIMEIRA PÁGINA DO JORNAL NEW YORK IMPERIAL, SEXTA-FEIRA, 29 DE SETEMBRO DE 1899

icar sentada no salão de baile do hotel Waldorf-Astoria era para Diana o mesmo que ser enterrada no mais ornamentado mausoléu jamais construído. As paredes, o teto e até mesmo

o chão pareciam emitir um brilho amarelado, pois os incontáveis espelhos refletiam qualquer objeto cintilante. No teto, que ficava a mais de dez metros de altura, havia diversos candelabros que iluminavam os convidados com uma luz cálida. Ali estavam as mesmas pessoas de sempre: os herdeiros das velhas famílias de Nova York misturando-se aos novos milionários, todos de fraque negro e vestidos de tule e cetim - além dos homens da marinha, com suas dragonas e espadas. A cada dia que se passava, Diana estava vendo mais do mundo.

— Você viu a Agnes? - perguntou Penélope a Elizabeth. As três meninas estavam sentadas num dos sofás que havia ao longo das

paredes, abanando-se com leques de renda e descansando entre uma dança e outra. As saias de seus vestidos - lilás, rosa e alaranjada - se espalhavam pelo chão. Cada vez que a porta do salão se abria, elas olhavam para ver se era Henry quem estava entrando. Nunca era, mas nenhuma parecia se incomodar muito com isso. Diana não conseguira pensar em nada além dele desde que recebera seu bilhete na tarde passada, mas se ele chegasse, teria de vê-lo dançando com sua irmã a noite toda.

— Agnes realmente precisa muito de um vestido novo - disse Elizabeth, baixinho, fazendo Diana despertar de seus pensamentos.

— E dançando com um soldado! Acho que ela daria uma boa esposa de soldado.

— Psiu! Não vamos ser más - sussurrou Elizabeth. Diana percebeu que ela estava constrangida pelo comentário de Penélope,

mas que também o achara divertido. Às vezes, parecia-lhe que sua irmã tinha duas personalidades, uma boazinha e outra maliciosa, sempre brigando para ver quem ganhava o controle.

— Eu me casaria com um soldado - disse Diana. - Assim, poderia ir para qualquer lugar do mundo.

Y

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Ao proferir essas palavras, ela imediatamente imaginou Henry de uniforme, muito ereto, bonito e arrumado.

— Mas, Di, você já pode ir a qualquer lugar do mundo - disse Penélope. Diana se lembrou do comentário que ela fizera outro dia, sobre não precisar

de mais nenhum lugar além de Nova York e Newport, e decidiu que a ideia que Penélope tinha do mundo era muito diferente da sua. Mas ela não disse nada e recostou-se nas fofas almofadas de veludo do sofá. A sua frente, casais deslizavam pelo chão polido, mantendo um olho em seus parceiros e outro nos convidados que não paravam de chegar.

— Você viu seu vizinho, o Brody Fish? - continuou Penélope. - Achei que ele ficou mais bonito.

— Ficou - concordou Elizabeth. - Acho que seus ombros estão mais largos. — Bem, algum dia, quando você for uma matrona e estiver entediada com a

vida, talvez possa ter um casinho com ele. Elizabeth colocou as mãos enluvadas sobre as bochechas, que haviam

ficado vermelhas. Diana não teria esperado outra reação de sua irmã, que era tão pudica e se chocava com tão pouco, mas mesmo assim sentiu pena ao vê-la corando daquela maneira. esticou o braço e apertou de leve a mão de Elizabeth.

— Liz, nós todos sabemos como você se comporta bem, e não pensamos mal de você só porque acha que Brody Parker Fish tem belos ombros.

Diana olhou para todos os homens, velhos e jovens, com seus fraques feitos sob medida, e concluiu que nenhum tinha graça perto do rapaz que dominava seus pensamentos.

— Eu também acho que ele tem belos ombros - afirmou ela. — Mas é que eu nunca... - começou Elizabeth, que então decidiu mudar de

assunto. - Sobre o que você acha que nossas mães estão falando? As três se viraram e viram as expressões insatisfeitas da sra. Holland e da

sra. Hayes. Elas estavam do outro lado do salão, num outro sofá de veludo dourado, e de vez em quando sussurravam algo uma para a outra. Diana se lembrava de uma época em que sua mãe se recusava a visitar a sra. Hayes, embora seu pai não se incomodasse com a companhia do pai de Penélope. Mas, aparentemente, esses dias haviam ficado para trás. Nem mesmo a sra. Holland pode ser esnobe, pensou Diana alegremente enquanto um grupo de dançarinos valsava diante delas.

— Srta. Elizabeth, srta. Diana, srta. Penélope... Diana olhou para cima e viu Teddy Cutting fazendo uma pequena mesura.

Seus cabelos louros haviam sido engomados e penteados para o lado e seu nariz estava um pouco queimado de sol.

— Teddy! - disse Elizabeth com carinho. — Olá, sr. Cutting - disse Penélope com um sorriso indiferente. Teddy beijou a mão de todas. Diana mal olhou para ele, observando sua

mãe, que se despedira da sra. Hayes e afastava-se com o queixo levantado. Diana estava tentando ver para onde ela ia quando ouviu Teddy dizer:

— Gostaria de dançar com todas vocês, é claro. Mas hoje, se me permitirem, vou começar com a mais nova. Diana, você me daria a honra?

Diana tomou um susto. Embora Teddy fosse amigo de sua irmã e, por isso, sempre estivesse por perto, ele geralmente parecera absorto demais por Elizabeth

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para perceber sua existência. Parecia-lhe estranho que ele estivesse sorrindo e estendendo-lhe a mão. Ela pegou a mão de Teddy e se levantou, percebendo que sua mãe estava conversando com um homem enorme que lhe parecia familiar.

— Henry ainda não apareceu? - perguntou Teddy. Diana tentou não sorrir ao ouvir aquele nome, mas então notou que Teddy

estava olhando para Elizabeth e Penélope, e não para ela. Subitamente, ela se perguntou se ele a convidara para dançar por algum motivo específico. Talvez Henry houvesse mencionado-a. Todo mundo sabia que os dois eram amigos de infância e, se ele fosse falar dela para alguém, era provável que fosse para o homem que estava dançando com ela agora.

— Não - respondeu ela. Teddy mal estava encostando em Diana e ela não conseguiu deixar de

pensar que talvez, para ele, ela fosse a namorada de Henry. É possível que Teddy até gostasse disso, pois assim ele ainda podia ter uma chance com Elizabeth, por quem sempre se interessara.

Diana tentou se concentrar nos passos que tinha de dar. Não era uma dançarina tão experiente quanto sua irmã, mas parecia estar seguindo bem a coreografia. Ela viu sua mãe de um ângulo melhor e se deu conta, de que o homem com quem estava conversando era William Schoonmaker. Ele estava bem próximo dela, falando algo de forma confidencial, mas seu rosto estava avermelhado e ele parecia estar furioso. Diana se perguntou como deveria ser para Henry ter um pai como aquele, e então Teddy falou de novo:

— Mas Elizabeth parece bem. — Oh. Diana tentou não olhar com pena para Teddy, embora fosse um pouco

patética a maneira como ele ainda continuava enamorado de sua irmã. Eles giraram e Diana viu que Elizabeth estava rindo. Ela e Penélope estavam de mãos dadas, cobrindo suas bocas com os leques de renda.

— É mesmo. Ela parece perfeitamente satisfeita com a ausência de Henry. Diana quis fazer uma piada ao dizer isso e Teddy riu. Mas, ao pronunciar

essas palavras, ela percebeu que eram mesmo verdadeiras. Como era curioso que a menina perfeita que fisgara o noivo perfeito estivesse aliviada de não estar com ele.

— Nós estávamos juntos no barco esta tarde. Eu devia ter obrigado Henry a vir comigo. Quando vim embora, ele estava lá com aquele tal de Isaac Buck, que agora vai ser um dos padrinhos - disse Teddy, balançando a cabeça como se não acreditasse naquilo. - Isaac me garantiu que ia trazer Henry para terra firme a tempo para o baile. Mas, agora, estou vendo que não cumpriu a promessa.

Diana olhou para seu parceiro, cujas belas feições ficavam ainda mais bonitas à luz dourada, e perguntou-se por que ele estava tão preocupado com o amigo. Henry certamente sabia se cuidar. Eles já haviam rodopiado por todo o salão e ela viu mais uma vez o pai de Henry por sobre os ombros negros dos homens e os penteados elaborados das mulheres.

— Bem, estou vendo alguém que não está tão feliz com o atraso dele - disse Diana, apontando o queixo para sua mãe e o sr. Schoonmaker.

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Ele ainda estava falando no ouvido dela e gesticulando e parecia estar demonstrando um plano de ação com os movimentos de seus enormes punhos. Teddy olhou para os dois e balançou a cabeça tristemente.

— Não quero falar mal de Isaac, mas ele parecia estar se esforçando muito para deixar todos nós alegres demais - disse Teddy, olhando mais uma vez para Elizabeth. - E quando digo todos nós, refiro-me mais especificamente a Henry.

Diana sorriu sem querer ao ouvir aquele nome. Teddy estava falando muito nele, o que parecia demonstrar que sabia do flerte dos dois. A música parou de repente. Ela e Teddy estacaram e se viraram para a porta do salão, assim como o resto dos convidados.

— Bravo! - começaram a gritar todos. Diana ficou na ponta dos pés e tentou vislumbrar o homem que acabara de

entrar. Ele tinha estatura média e um bigode grisalho e usava um belo uniforme azul-marinho com borlas e enormes botões dourados. Havia uma longa espada presa em sua cintura. Ele levantou a mão e sorriu ao ouvir os gritos de “Almirante!” e “Viva!”.

— Então esse é o herói do Pacífico? - perguntou Teddy, batendo palmas junto com os outros.

Diversos convidados haviam pegado pequenas bandeiras americanas e estavam balançando-as no ar. Diana começou a bater palmas também. Todos no salão haviam se levantado para saudar a entrada do almirante. William Schoonmaker despediu-se da sra. Holland e foi postar-se à direita dele. Ainda estava rubro, mas começou a sorrir e a acenar para a multidão como se fosse igualmente um herói.

Diana sorriu também, não por estar na presença de um grande militar, mas por ver que o homem que entrara no salão não era Henry. Ele podia ter comparecido ao baile e dançado a noite toda com Elizabeth, mas Diana tinha certeza de que, onde quer que estivesse, estava pensando nela.

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enelope já fizera aquilo dezenas de vezes. Ela enrolou-se em sua capa de lã negra, deixou que o capuz lhe caísse sobre os olhos, deu a volta na mansão dos Schoonmaker e

entrou por uma das portas usadas pelos criados. Atravessando os fundos da casa, que já conhecia bem, ela foi caminhando silenciosamente, levantando o vestido para que ele não se arrastasse no chão, até o cômodo onde sabia que ia encontrar Henry. Já era quase uma da manhã e Penélope passara a noite inteira dançando e ouvindo os outros falarem dela. Mas não estava nem um pouco cansada. Estava determinada.

Penélope sentiu-se viva por estar cometendo um ato tão proibido. Viva, linda e furiosa. Elizabeth se comportara como sempre durante o baile, sorrindo serenamente apesar da humilhação. Henry não aparecera, é claro. Ele não conseguira se mover depois de beber todo o vinho que Isaac derramara em seu copo ao longo do dia. Tudo havia acontecido exatamente como Penélope planejara: Henry passara o dia bêbado no barco. Ele ficara alegre e arruaceiro, e esquecera-se completamente de suas irritantes obrigações para com sua noiva. A única coisa que dera errado foi Elizabeth ter sido graciosa e adorável, mesmo na derrota.

Penélope adoraria arrancar os fios de cabelo louros de Elizabeth de sua bela cabeça. Ela teria gostado de rasgar aquele vestido rosa tão caro. Mas não queria uma satisfação rápida; queria vencer. E não podia vencer atacando a namoradinha da Velha Nova York. Por isso, ela se movimentou sem fazer ruído pelo corredor do terceiro andar, olhou para trás uma vez para certificar-se de que não fora vista e entrou no escritório que ficava ao lado do quarto de Henry.

— Henry - sussurrou Penélope, fechando a porta de carvalho trabalhada atrás de si.

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Henry estava deitado no sofá de couro marrom escuro que havia no centro do cômodo. Seus olhos estavam fechados e ele tinha um cigarro entre os lábios.

— Henry! - repetiu ela, um pouco mais alto dessa vez. Devagar, ele esticou o braço, tirou o cigarro da boca e virou-se na direção de Penélope.

— Ah - disse Henry, erguendo um pouco as sobrancelhas. Ele estava tão bronzeado e bêbado quanto um marinheiro de verdade, mas

continuava lindo. — Você está parecendo alguém da classe trabalhadora. Henry se observou. Sua camisa branca estava desabotoada nos punhos e

suas calças azul-claras estavam amassadas por causa do dia passado no rio, mas ele ignorou o comentário e perguntou, com ar de indiferença:

— Como foi a festa? — Está falando da festa na qual não apareceu? Penélope tirou o capuz da cabeça, mas o sorriso que deu foi tão sutil que

talvez Henry não tenha notado. — É, essa mesma - respondeu ele, colocando o cigarro de volta nos lábios. Penélope tirou uma de suas Longas luvas brancas e balançou-a de um lado

para o outro. — Diga-me, não era nessa festa que você devia fazer uma aparição pública

com Elizabeth? Henry exalou uma nuvem de fumaça. — Não vamos discutir isso, Penélope. — Mas você não acha que é significativo, Henry? Ter se esquecido de

comparecer na noite em que ia mostrar sua noiva a todos? A mãe dela ficou furiosa.

— Ficou? - perguntou ele, baixinho. — Sabe, teve uma época - disse Penélope, atravessando o escritório e indo

se sentar no sofá de couro, ao lado dos pés de Henry - em que você teria achado isso engraçado.

Henry não respondeu. Apenas deu um trago no cigarro e olhou para o nada. Penélope pegou a cigarreira dele, que estava sobre sua barriga, e acendeu um cigarro para si. Então, ela deu algumas tragadas pensativas, levantando os joelhos e deixando que sua saia se espalhasse pelo sofá. Sua voz ficou suave, agora que ela estava perto dele.

— Por que você não me contou, Henry? Por que teve de ser uma surpresa tão cruel?

— Bem, Penny... Henry empurrou o topo de sua cabeça contra o braço do sofá e olhou para a

pintura do teto, que mostrava um alegre piquenique num estilo moderno e um pouco ousado.

— Eu tentei contar a você - continuou ele. - Talvez soubesse disso, se não tivesse o hábito de queimar minhas cartas.

Penélope se deu conta de que Henry teria sido capaz de terminar tudo com ela num bilhete, o que a deixou muito infeliz. Ela sentiu-se profundamente humilhada ao se lembrar do que eles dois tinham feito enquanto o bilhete queimava na lareira de sua cozinha e temeu perder por completo o controle da situação.

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— Não sabia que... eu significava tão pouco para você. — Não é isso - respondeu Henry, dando uma última tragada no cigarro e

colocando-o no cinzeiro de vidro que pusera no chão. - Não quis que a coisa fosse feita de uma maneira tão horrível para você. Mas vai ter de acreditar quando eu digo que preciso fazê-la.

Penélope ficou de pé subitamente, arrastando sua cauda vermelho-alaranjada pelo chão. Havia algo de repetitivo naquelas palavras que a deixava insatisfeita. Ela caminhou na direção da estante cheia de livros nunca lidos e disse:

— Foi exatamente a mesma coisa que Elizabeth me falou. — Mesmo? Henry apoiou-se nos cotovelos e encarou Penélope com uma expressão de

curiosidade. — Mesmo. O que está acontecendo? Você não a ama, eu sei muito bem. Ela

é uma certinha insuportável. Se ainda não descobriu isso, vai descobrir em breve. Penélope virou-se rapidamente e atravessou o cômodo. Ela sentou-se no

chão ao lado do sofá, colocando a mão sobre a de Henry e dobrando as pernas para trás.

— Henry, você está apaixonado por mim. Não vê que eu sou a única que conseguirá acompanhar seu ritmo? Quem mais poderia...

Os olhos escuros de Henry perderam o foco. Penélope encarou-o de boca aberta, perguntando-se o que mais poderia dizer. Ela acabara de explicar tudo para ele da maneira mais clara possível. A lógica era óbvia.

De repente, Henry tirou sua mão de debaixo da dela e se levantou. Seus cabelos, que em geral eram impecavelmente penteados, estavam bagunçados de forma cômica. Alguns fios da parte de trás da cabeça estavam para cima. Penélope ficou tensa.

— Aonde você vai? — Minha querida Penny - replicou Henry. Por um segundo, ele pareceu ter de se concentrar em se manter de pé. Após

se firmar, Henry começou a colocar a camisa para dentro das calças e a pentear os cabelos com os dedos. Com poucos gestos ele conseguiu voltar a ser o homem elegante com quem Penélope adorava dançar, apesar de estar usando roupas diurnas à noite.

— Sinto muito, mas você precisará me dar licença. Tenho algo a resolver. — A essa hora da noite? - perguntou Penélope, fazendo um ar petulante. -

Depois de eu me desdobrar tanto para conseguir vê-lo? Henry foi até a escrivaninha, onde havia um samovar ornamentado. Ele

colocou café numa pequena xícara de prata e tomou um gole. Então, voltou-se para Penélope, deu de ombros e ficou olhando-a por um minuto. A luz em seus olhos estava dançando.

— Sabe, não estou mais me sentindo nem um pouco bêbado. E olhe que eu estava muito mal mais cedo.

— Eu sei - disse Penélope amargamente, lembrando que só tomara água Vichy o dia todo, para ficar bem em seu vestido, e sentindo um grande vazio dentro de si. - Fui eu que planejei tudo.

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— É mesmo? - perguntou Henry, tomando um último gole de café e colocando a xícara de novo em cima da escrivaninha. - Isso não me surpreende muito. Paciência.

— Paciência? Henry, eu estou aqui. Estou bem aqui. Penélope ergueu as sobrancelhas e tentou olhar para ele como em todas as

outras vezes em que eles haviam se encontrado e flertado. — O que mais você quer? - perguntou ela. Henry foi até o sofá, ao lado do qual Penélope ainda estava, e deu-lhe um

beijo leve em cada bochecha. — Você não ia entender. Os enormes olhos azuis da jovem se estreitaram de raiva. Henry deu-lhe um

sorriso. — Você sabe como achar a porta, não sabe? Lamento não poder levá-la

pessoalmente, mas preciso me desculpar com as Holland. Penélope ficou ali, no chão, rodeada por montes de seda, sem conseguir

compreender o que estava ouvindo, enquanto Henry pegava um chapéu de palha das costas de uma cadeira. Ele saiu do escritório com movimentos ágeis, sem olhar para trás. Ao ver aquela figura esbelta e ligeiramente amarfanhada atravessar a porta, Penélope sentiu-se, pela primeira vez na vida, muito sozinha.

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Uma dama deve sempre manter a compostura. Mesmo no meio de uma tempestade, deve estar alegre e completamente seca. Quando ela perde sua compostura, perde também o respeito de seus iguais e de seus criados.

GUIA VAN KAMP DE ADMINISTRAÇÃO DA CASA PARA DAMAS DE ALTA SOCIEDADE, EDIÇÃO DE 1899

lizabeth perdera sua paciência em meio às ruas turbulentas de Manhattan. Todo o tempo que levaria para lavar o rosto e tirar as camadas e mais camadas daquele vestido teria deixado-a

maluca. Assim que soube que sua mãe estava na cama, pegou a escada dos fundos, com roupa de gala e tudo.

Henry não fora ao baile e, por isso, Elizabeth ainda estava sentindo o toque dos lábios de Will em sua mão, que não fora maculada pelo beijo de seu noivo de araque. Elas tinham voltado para casa numa carruagem dos Schoonmaker - o pai de Henry, todo suado e claramente irritado com a ausência do filho na festa, havia insistido - mas nem isso desviara seus pensamentos. Ela olhara a paisagem ao longo de todo o trajeto, observando os fogos de artifício que explodiam no céu e desejando que os cavalos corressem mais rápido.

Elizabeth passara a noite toda pensando em Will. Mesmo enquanto estava se movendo graciosamente pelo salão com Brody Parker Fish ou Teddy Cutting, ela contara as horas para voltar para casa. Eles estavam apaixonados e iam dar um jeito. Ela sentiu-se tonta ao pensar nas inúmeras possibilidades. Estava praticamente falando em voz alta o discurso que repetia na cabeça ao cruzar a cozinha vazia e correr pela escada de madeira que dava no estábulo.

— Will? - sussurrou Elizabeth para a escuridão. Ela tirou os sapatos e foi andando depressa, sentindo com os pés descalços

as velhas tábuas de madeira e o feno, que lhe fazia cócegas. Então, subiu a escada que dava no compartimento dele.

— Will? Will, você está aí? Elizabeth caiu de joelhos no colchão que estava no chão. O cobertor e até os

lençóis haviam desaparecido. Ela se levantou, desceu a escada, atravessou o estábulo correndo e foi até as baias onde os cavalos dormiam.

— Will? Will, você está aí? Will? Elizabeth se lembrava de uma outra vez em que viera ver Will e não

conseguira encontrá-lo. Fora antes da morte de seu pai, quando nada parecia muito importante. Ela havia percorrido todo o estábulo na ponta dos pés, rindo e sussurrando o nome dele, até encontrá-lo encostado num dos postes que

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separavam as baias. Seus olhos estavam semicerrados e ele estava começando a ter um de seus sonhos sobre o oeste. Estava dormindo em pé, como faziam os cavalos. Quando Elizabeth o acordara, Will lhe contara que Jumper, sua égua preferida, tinha ficado doente. Ele estava ali para ficar ao lado dela. Naquela noite, os dois tinham ficado acordados até de manhã, cuidando de Jumper.

Hoje, no entanto, não havia sinal do cocheiro dormindo entre os cavalos. Elizabeth correu de um lado para o outro, sussurrando o nome dele, mas só encontrou os olhos negros dos cavalos observando-a de forma inexpressiva por cima das portas das baias e o cheiro doce do feno. Ela não conseguia entender a ausência dele. Passara a noite toda desejando tanto vê-lo. Era inconcebível que Will não estivesse ali, sentindo exatamente a mesma coisa.

Elizabeth respirou fundo algumas vezes e subiu de novo até o compartimento de Will. Tinha medo de acender a lâmpada a óleo, por causa de todo o feno que havia ali e porque jamais acendera uma antes, mas seus olhos já estavam se acostumando à escuridão. O colchão sem lençóis era uma visão melancólica. O engradado de madeira que Will usava como estante estava vazio e Elizabeth soube, mesmo sem olhar, que as roupas dele não estavam mais na cômoda velha que fora de seu pai na infância. Ela foi até a borda do compartimento e sentou-se pesadamente no mesmo local onde Will sempre lhe esperara.

Seus cabelos estavam se soltando e ela puxou os fios louros até que as pérolas que a adornavam começassem a rolar pelo chão de madeira. A imagem de Will na frente do hotel estava tão vívida em sua mente que parecia ter acontecido há poucos segundos. Ele olhara para ela intensamente, e Elizabeth tinha acreditado que aquela era uma confirmação de seu amor. Will beijara sua mão, e ela encarara aquilo como um gesto romântico. Elizabeth relembrou as estúpidas imagens, momento a momento, e, com o coração doendo, começou a compreender o que Will havia feito. Ele estava se despedindo.

Elizabeth tirou os cabelos de cima dos olhos e sentiu que sua garganta estava se fechando. As lágrimas estavam surgindo e os soluços já sacudiam seu corpo. Ela se inclinou para frente e encharcou o vestido com seu choro, repetindo o nome de Will. Já estava assim há algum tempo quando ouviu a voz.

— Está chorando por quê? Elizabeth ficou congelada de pavor. — Como? Ela estava com medo demais para olhar para frente e ver quem a flagrara

em sua vida secreta. — Seu vestido parece ter estragado um pouco. As lágrimas são por isso? Elizabeth levantou os olhos lentamente. Lá estava Lina, com os braços

cruzados na frente do peito, parada na porta onde Elizabeth sempre estacara quando vinha visitar Will. Ela vestia o mesmo feio vestido preto, cuja bainha ficava logo acima do calcanhar, e estava batendo o pé esquerdo no chão.

— Não - respondeu Elizabeth, ficando de pé e acalmando-se um pouco. - Não é por causa do vestido.

— Então é por quê? Por causa do Will? - perguntou Lina, balançando a cabeça com nojo. - Seu Will? - acrescentou ela ironicamente.

— O quê?

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Elizabeth sentiu a pele em volta de seus olhos se esticando, de tanto que eles estavam arregalados. Lembrou-se de Lina na infância, quando ela chorara ao se sentir excluída das brincadeiras inventadas por ela e por Will. A expressão de mágoa de seus olhos ainda era a mesma, embora agora ela parecesse um pouco mais assustadora. Elizabeth passou as pernas para cima do compartimento e desceu a escada. A saia do vestido se prendeu na madeira áspera. Ela só olhou para cima quando ouviu o tecido se rasgando. Viu que havia uma grande quantidade de seda rosa no topo da escada, mas continuou descendo. Naquele momento, nada lhe importava. Elizabeth chegou ao chão com um pulo determinado e virou-se para Lina para ouvi-la dizer:

— Você nunca mereceu Will. Elizabeth não sabia se devia discutir com Lina ou se devia encontrar uma

maneira de convencê-la a não contar seu segredo a ninguém. As duas se encararam por um longo tempo. Quando seu coração começou a bater mais devagar, Elizabeth notou a dor que havia no rosto de Lina. Ela estava tentando ser cruel, mas estava claro que também ficara arrasada com a partida de Will.

— Você não sabe de nada - disse Elizabeth firmemente, ficando cada vez mais calma. - E não está onde deveria estar no momento.

Lina deu um sorriso sardónico. — E onde eu deveria estar, senhorita? No seu quarto, ajudando-a a tirar o

vestido? Fica muito difícil fazer meu trabalho se minha patroa não está por perto. — É exatamente lá que você deveria estar. Não se esqueça de que deve me

obedecer sempre. Você é uma empregada da minha família. Elizabeth respirou fundo e colocou a mão nas cadeiras. Ela olhou para Lina,

com seu nariz cheio de sardas e seus ombros grandes e ossudos, ergueu uma sobrancelha loura e disse com a voz mais autoritária que tinha:

— Você deve ser uma enorme decepção para sua irmã. É só por causa dela que não vou lhe demitir.

Elizabeth deixou seu braço pender, indignada. Ela apanhou seu vestido rasgado com uma das mãos e passou por Lina, indo na direção da porta da cozinha. Então parou com um pé no primeiro degrau e virou a cabeça.

— É só por causa dela que ainda não vou lhe demitir. Lina encarou Elizabeth com fúria, mas não disse nada. Elizabeth levantou o

queixo e deixou que o momento se estendesse. Saber que Will se fora e que podia estar em qualquer ponto do país estava lhe roendo as entranhas. Mas ela não se permitiu chorar enquanto se afastava silenciosamente de sua criada e subia a velha escada dos fundos pela última vez.

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ina encontrou o bilhete na gaveta de cima da cômoda de Will, escondido no bolso de um casaco azul-marinho. Ela acendeu a lâmpada a óleo, pegando o pavio de lona e tocando-o

gentilmente com um fósforo. O bilhete havia sido escrito num pedaço de papel creme grosso, do tipo que Elizabeth usava para toda sua correspondência.

Lina passou os dedos pelas bordas douradas do papel e pensou em como devia ter sido difícil para Will resistir a Elizabeth. Ela deve ter-lhe parecido uma jóia rara, a dona de objetos mágicos. Era assim que sua criada pessoal costumava lhe ver também. Mas, agora, Lina estava vislumbrando uma nova Elizabeth. Ela tinha de ser montada como um quebra-cabeça, penteado, maquiagem, vestido. Ela se pavoneava sozinha no quarto, sentindo-se linda mesmo quando não havia ninguém para vê-la. Ela era uma miragem.

A criada olhou o avesso do bilhete, ficando cada vez mais furiosa ao pensar nas coisas que sua ex-amiga de infância lhe dissera. Suas palavras haviam sido brutais e seu orgulho, repulsivo. Ela ficou com raiva enquanto pensava em Elizabeth. Então, essa memória começou a desaparecer e a realidade da ausência de Will se tornou mais presente. Lina deitou-se no colchão dele, esticando seus longos braços acima da cabeça e quis poder fazê-lo voltar só com a força de seu desejo. Isso só a deixava mais triste. O único homem que ela amara se fora. E ela nunca tinha ganhado nem um beijo dele.

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Lina colocou as palmas das mãos sobre os olhos para não chorar e, quando a vontade passou, ela se levantou. O pior de tudo era que Will partira sem nem se lembrar dela - mas talvez ainda não fosse tarde demais. Ela foi até a cômoda e removeu o casaco azul-marinho. Era o tipo de casaco que os marinheiros usavam, e Lina já vira Will com ele em muitos invernos, quando ele estava tirando a neve da frente da casa ou levando cobertores para os cavalos. Ele devia tê-lo deixado ali para Elizabeth usar caso decidisse ir atrás dele - Will era assim mesmo. Mas Elizabeth não o tinha visto. Lina vestiu o casaco e colocou o bilhete de volta no bolso. Ela pegou as pérolas que Elizabeth deixara cair no chão e foi até a rua.

A noite estava quente e a Avenida Lexington ainda estava cheia de gente. A população de Nova York passara o dia todo festejando o retorno de seu herói e ainda estava celebrando, correndo pelas ruas com bandeiras, encostando-se um nos outros com uma deliciosa exaustão. Ninguém olhou para Lina quando ela passou depressa, enrolando-se no casaco de Will. Lina não estava com frio, mas o casaco tinha o cheiro dele - feno e sabão - e, por isso, ela não o tirou.

Ela caminhou os vinte quarteirões até a estação de trem sem deixar que seus pés a incomodassem. As delicadas Elizabeths do mundo não compreenderiam, é claro - andar no meio da noite dessa maneira as deixaria amedrontadas, ou cansadas, ou destruiria sua reputação. Mas, para Lina, aquilo era digno e bom. Quando viu o enorme edifício, com sua imponente fachada clássica, seus torreões e suas janelas ovais, ela começou a correr.

Lá dentro quase não havia ninguém. Algumas pessoas dormiam nos bancos de madeira, cobertas por mantas leves. Lina não via um relógio há muito tempo mas, aqui, parecia ser muito mais tarde do que nas ruas cheias de gente. Ela atravessou rapidamente o pátio, ouvindo seus saltos baixos clicando no chão de mármore, e chegou no guiché. O vendedor estava dormindo e Lina teve de bater no vidro para acordá-lo. Quando o homem finalmente a escutou, ele tirou seu gorro preto de cima dos olhos e se inclinou para frente. Lina sorriu, esperançosa. Era um rapaz jovem, não muito mais velho do que ela. Talvez ele fosse solidário.

— Senhora? - disse o vendedor, ainda cheio de sono. — Gostaria de saber... - começou Lina. Mas ela não disse mais nada, pois lhe ocorreu que devia estar com uma

aparência estranha, parada ali sem nenhuma bagagem ou roupas próprias para viajar.

— O senhor poderia me dizer - disse ela, tentando parecer confiante - se viu um rapaz passar por aqui hoje à noite? Ele estava indo para oeste. Creio que para a Califórnia.

— Um rapaz? - repetiu o vendedor devagar, sorrindo. - Como ele era? — Mais ou menos da sua idade, acho - explicou Lina, sem entender por que

o vendedor parecia estar achando a situação engraçada. - Estava viajando sozinho.

— Um rapaz viajando sozinho? E por que a senhorita quer saber para onde ele foi a essa hora da noite?

— Não é da sua conta.

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Lina fechou melhor o casaco e tentou parecer o mais orgulhosa possível. Ela queria fazer o que Elizabeth faria na mesma situação e por isso levantou o queixo, virando a cabeça um pouco para o lado.

— Bem, você vai me ajudar ou vai ficar parado aí? — Eu gostaria de ajudar a senhorita - disse o vendedor. Os olhos dele brilharam para Lina. Ela não podia imaginar por quê, mas ele

parecia estar observando-a com certo interesse. — Mas eu trabalho para Nova York, New Haven e Hartford Railroad. Se o

rapaz estava indo para a Califórnia, então ia de New York Central. — Oh - disse Lina, desanimada. Ela deve ter parecido um pouco confusa, pois o vendedor apontou para o

outro lado do enorme pátio. — O guiché deles é no próximo pátio. E só pegar aquela porta ali. Lina assentiu, agradecendo, e foi correndo na direção que ele havia

apontado. — Se não encontrar esse moço, volte aqui para me visitar! - disse o

vendedor. Lina olhou para trás e viu que ele estava piscando o olho para ela. Ela não

teve certeza, porque ninguém jamais flertara com ela, mas achou que o vendedor estava fazendo exatamente isso. Parecia um bom sinal. Lina deu um sorriso e voltou a cruzar o pátio com passos firmes.

No guiché da New York Central ela encontrou um homem mais velho que estava completamente desperto e indiferente aos seus charmes. Ele tinha costeletas, que não conseguiam esconder seu rosto largo e brilhante.

— Um rapaz alto, é isso? - respondeu o homem da New York Central. — Isso. Alto, com olhos azuis claros e um rosto bonito. Ele não tinha muita

bagagem e estava viajando sozinho. — Já vi muitos parecidos - disse o homem, pausando para arrumar alguns

papéis, para desespero de Lina. - Mas não tantos assim numa sexta à noite. Sei de quem está falando. Ele pegou o trem das onze para Chicago. Se estiver mesmo indo para a Califórnia, imagino que vá pegar outro trem de lá, para ir até Oakland.

— Que horas são agora? - quis saber Lina, arrasada, entendendo que, pela maneira como o homem estava falando, o trem das onze já partira há muito tempo.

— São dez para as duas. — Quando sai o próximo trem para Chicago? - perguntou ela, pressionando

seus dedos cheios de calos no balcão de mármore. — Só pela manhã, minha jovem. O próximo trem para Chicago é às sete. Lina pensou em como seria ter de voltar para a mansão da família Holland e

ver Elizabeth mais uma vez. — Gostaria de uma passagem de ida para Chicago. O vendedor lançou-lhe um olhar cético. — Muito bem. Quanto dinheiro você tem? Lina olhou para o chão. Ela sentiu os bolsos do casaco. Talvez Will tivesse

deixado o dinheiro da passagem ali para Elizabeth. Mas não havia nada, é claro. Ele jamais teria deixado dinheiro para trás, sabendo que Elizabeth tinha de sobra.

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— Não tenho nenhum dinheiro - disse ela, pateticamente. — Ora essa! - exclamou o vendedor. - Pois volte quando tiver. Lina se afastou do guiché e atravessou de novo o pátio, que parecia uma

igreja com todos aqueles bancos. Havia inúmeros deles e ela considerou por alguns segundos a possibilidade de dormir em um. Talvez ela fosse recolhida e enviada para um abrigo para mulheres de má reputação. Seria um fim horrível para uma noite horrível, mas ainda melhor do que ter de encontrar Elizabeth.

As locomotivas estavam adormecidas abaixo de um domo de vidro. Mais para além, no leste da cidade, ficava um bairro pobre chamado Colina Holandesa, onde os imigrantes irlandeses viviam. Se uma menina como ela entrasse ali, podia nunca mais sair. Will, que era lindo e perfeito, arrumara uma maneira de escapar dos Holland, mas Lina só podia ir até onde seus pés a levavam. Ela saiu da estação depressa, sem olhar para ninguém.

Quando chegou na rua, Lina sentiu um choque ao ver tantas luzes e escutar tantos sons. Ainda havia fogos de artifício no céu e, a cada explosão, a multidão dava vivas. O universo era gigantesco e incandescente, mas Lina sentiu que ele caçoava dela, fazendo-a lembrar que, embora ele fosse enorme e cintilante, seu mundinho era pequeno, odioso e inescapável. Ela detestava seu emprego e detestava a si mesma. Mas, acima de tudo, detestava Elizabeth. Fora ela quem estragara tudo antes que Lina tivesse a chance de conquistar Will.

Esta noite ela estivera cansada e pobre demais para conseguir ir embora mas, ao olhar para o céu da cidade, tão grande e cheio de vida, decidiu que tinha de haver uma maneira.

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Existem senhoras antiquadas que acreditam que as janelas de suas filhas devem permanecer sempre fechadas, para impedir agentes corruptores de entrar. Nós temos uma visão mais moderna: o ar fresco, com moderação, é saudável para as jovens, e em noites quentes suas janelas podem ser deixadas abertas.

GUIA VAN KAMP DE ADMINISTRAÇÃO DA CASA PARA DAMAS DE ALTA SOCIEDADE, EDIÇÃO DE 1899

s fogos de artifício ainda ecoavam nas fachadas de tijolo de Nova York, mas Diana achou que os festejos finalmente estavam se dirigindo para o centro da cidade. Ela olhou para

seu reflexo no espelho e viu as pupilas redondas e negras e os longos cílios de uma menina cuja mente estava deliciosamente tomada por pensamentos errados. Diana não teria se sentido mais amada nem se ele estivesse ali em seu quarto com ela. O fato de Henry não ter comparecido à sua primeira aparição pública com Elizabeth era tão bom quanto um olhar sensual numa sala cheia de gente ou uma ousada carta de amor. E Diana já recebera os dois.

Ela empurrou o banquinho no qual estava sentada mais para perto do espelho de corpo inteiro de moldura dourada, tirando da frente dos olhos alguns cachos que teimavam em cair ali. Já passara mais de uma hora desde que Claire lhe ajudara a tirar seu vestido, lavara seus pés e prendera seu cabelo. Mas Diana não estava cansada. Estava se sentindo cheia de energia e um pouco boba. Gostava de sua aparência com aquela longa camisola branca, que era folgada e um pouco transparente na altura dos seios. Ela fez um biquinho para o espelho e examinou a pele de seu pescoço.

— Não é nada estranho - sussurrou ela para seu reflexo - que você não consiga parar de pensar em mim, Henry Schoonmaker.

— Concordo plenamente. Diana quase caiu do banquinho, ficando de pé num pulo e instintivamente

cobrindo os seios com os braços. Ela ficou sem palavras de tanta vergonha. Voltou-se na direção de sua janela, que dava para os jardins das casas do quarteirão, e viu uma versão um pouco mal-ajambrada do homem em quem pensara a noite toda.

— O que você está fazendo aqui? - sussurrou ela, dando um passo na direção da janela, que ela deixara um pouco aberta para refrescar o quarto.

Henry estava do lado de fora, na estreita varanda de ferro batido, usando calças azuis cujas bainhas haviam sido dobradas acima dos tornozelos e uma

b

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camisa social branca que estava amassada e um pouco suja. Havia alegria e mais alguma coisa em seu olhar; Diana teve quase certeza de que era desejo. Seu maxilar elegante estava virado para o lado e continha evidências de um sorriso suprimido.

— Como foi que você chegou aqui? - perguntou Diana, achando que Henry seria capaz de ficar olhando para ela para sempre sem nunca lhe responder.

— Entrei num beco que há na rua Dezenove, pulei a cerca da casa dos Van Dorans e pulei a sua. Depois, escalei sua treliça - explicou Henry, fazendo uma mesura. - E aqui estou eu.

Diana mordeu o lábio, sentindo vergonha da aparência de seu quarto pela primeira vez na vida. A seda rosa clara que cobria a cabeceira de sua caminha quadrada, as pilhas de livros na escrivaninha, o velho tapete de pele de urso que cobria o chão em frente à lareira - tudo parecia antiquado e infantil ao mesmo tempo.

— Não consegui tirar você da cabeça a noite toda - disse ela timidamente. Henry estava espremido entre o vidro e a madeira da janela e o ferro da

varanda. Diana percebeu que ele estava moreno de sol. — Gostaria de poder dizer o mesmo. Ela abriu a boca para responder, mas então Henry piscou o olho para deixar

claro que não devia interpretar mal suas palavras. — Passei pelo menos oito horas bêbado, de duas às dez. Mas, depois que

bebi um pouco de café preto, posso lhe garantir que não pensei em outra coisa. — Jura? Henry deu um enorme e sincero sorriso e ela corou de prazer. — Juro, eu... — Di? - disse uma voz abafada do outro lado da porta do quarto. Henry se abaixou instintivamente. Diana primeiro pensou em sua mãe e

depois em Claire e seu coração disparou. Ela olhou para Henry, cheia de medo e decepção. Queria muito tocá-lo. Queria arrancar um por um os botões de sua camisa e arrastá-lo até o tapete. Henry olhou para a porta e depois para ela. Estava tentando perguntar algo com os olhos.

— Di? - disse a voz mais uma vez. - Posso entrar? Eu... Henry levantou as mãos, perguntando o que devia fazer e Diana balançou

os braços acima da cabeça ridiculamente. — Saia daqui! - sussurrou ela. Ele se voltou, ainda com um sorriso gentil nos lábios e se preparou para

obedecer. Diana ouviu a treliça fazendo um barulho assustador e depois um ruído de madeira se partindo, mas não teve coragem de ir espiar. A porta de seu quarto estava sendo aberta.

— Di?- disse Elizabeth timidamente, colocando a cabeça na abertura. — Oh! - exclamou Diana ao ver a irmã, cujo vestido estava rasgado e

encharcado e cujos cabelos estavam emaranhados como se ela tivesse sido atingida por uma tempestade.

— Só está vestindo isso? Vai apanhar um resfriado. É melhor fechar a janela.

As duas se viraram para a janela ao ouvirem o barulho de alguém caindo, um farfalhar e um grito abafado de dor.

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— O que será isso? - perguntou Elizabeth. — Deve ser o pessoal da parada - disse Diana rapidamente, indo fechar a

janela antes que sua irmã o fizesse e tentando em vão enxergar Henry lá embaixo. - Está tudo bem com você? Seu vestido...

Ela apontou para a imensa saia rosa de Elizabeth, que parecia ter acabado de ser usada como pano de chão.

— Oh, eu... tropecei quando estava descendo a escada. Estava indo pegar um copo d'água e meu vestido deve ter prendido em algum lugar...

— Você chorou? - interrompeu Diana, vendo que os olhos de Elizabeth estavam vermelhos e inchados.

— Não. Quer dizer, um pouco - disse Elizabeth, parecendo um pouco envergonhada. - É que...

Ela não completou a frase, mas continuou olhando para Diana de forma desamparada. Diana encarou-a também, sem conseguir adivinhar o que Elizabeth estava tentando dizer. Afinal, ela parecera perfeitamente satisfeita com o abandono de Henry mais cedo. Era evidente que, agora, Elizabeth estava se sentindo humilhada. E com isso, o medo de ser flagrada na companhia de Henry desapareceu, assim como a irritação de Diana por ver aquele momento precioso interrompido. Ela quase ficou preocupada com a irmã. Quase se arrependeu do que desejava.

— É que... - repetiu Elizabeth. Ela suspirou, como se não conseguisse encontrar palavras que explicassem

o que estava sentindo, deixando que seus ombros pendessem. Colocou as mãos sobre o rosto, como se estivesse prestes a chorar de novo.

— Lembra-se daquele quadro do Vermeer que papai me deu? Diana revirou os olhos. — Ele deu aquele Vermeer para mim. Ela se lembrava muito bem da história do quadro. Seu pai o comprara de

um vendedor de arte parisiense quando sua mãe estava grávida pela segunda vez, e sempre pretendera pendurá-lo no quarto da filha mais nova. Mas então Elizabeth deixara todos impressionados ao explicar de forma muito eloquente como era a composição da pintura e o sr. Holland decidiu que ele ficaria no quarto dela até que Diana fizesse 16 anos. Mas, quando ela completou 16, seu pai já havia falecido e ninguém estava disposto a discutir a localização dos quadros da casa.

— Mas você insistiu para que ele o colocasse em seu quarto - acrescentou ela, com uma certa amargura.

— Oh - disse Elizabeth, com um tom que fez Diana ter certeza de que ela não concordava com sua afirmação.

Diana deu de ombros. Ela não precisava ganhar discussões bobas como aquela após o belo noivo de sua irmã ter escalado sua janela no meio da noite. Elizabeth suspirou fundo.

— Acho que não importa mais. Mas eu só queria... Quer dizer, será que eu poderia...

Elizabeth colocou as mãos sobre o rosto mais uma vez. — Pode dormir aqui, se quiser.

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Diana foi até onde ela estava, abraçou-a e apertou-a contra si. Ela ajudou sua irmã a tirar o vestido, tentando pensar nos poucos segundos maravilhosos em que Henry estivera em sua janela. Sabia que devia estar contente por eles não terem sido pegos, principalmente agora que estava vendo o quanto Elizabeth ficara abalada.

Mas, mesmo após as duas terem se deitado para dormir lado a lado pela primeira vez desde que eram crianças, Diana não pôde deixar de desejar um outro encontro com o único homem solteiro de Nova York que lhe era proibido.

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Uma das muitas festas dadas ontem à noite para celebrar o retorno do almirante Dewey ao país - o baile no Hotel Waldorf-Astoria - também seria a primeira aparição pública do sr. Henry Schoonmaker e da srta. Elizabeth Holland como um casal. A srta. Holland compareceu, belíssima como sempre, mas o sr. Schoomaker não esteve presente na ocasião, levando certos cínicos a se perguntarem se suas atenções já se voltaram em outra direção.

NOTA DA COLUNA “GAMESOME GALLANT”, DO JORNAL NEW YORK IMPERIAL, SÁBADO, 30 DE SETEMBRO DE 1899.

enry foi acordado com uma folha de jornal atingindo seu rosto. Ele esticou as mãos e sentiu o torso: havia adormecido fora de sua cama com a roupa em que passara

o dia. Sua boca estava seca. Seus braços estavam doloridos como se houvessem sido arranhados por tigres ao longo da noite. Ele tocou seus antebraços e viu que estavam cobertos de cortes. Todas essas foram sensações desagradáveis para Henry, que estivera sonhando com a pele macia de Diana Holland.

— Acorde, Henry - disse seu pai, com o tom anasalado e irritado que usava mesmo quando estava satisfeito, o que não parecia ser o caso. - Quer um pouco de suco de laranja?

Henry abriu um olho e depois o outro, vendo a imagem desagradável de seu pai entrar em foco.

— Você está com o suco aí? — perguntou ele fracamente. — Não! Henry estava completamente acordado agora e já se situara. O cômodo em

que estava deitado, sob a longa sombra de seu pai, era o mesmo em que se deitara para descansar um pouco na noite passada, numa tentativa de se recuperar da festa épica do barco. Era seu escritório, que ficava ao lado do quarto, um aposento escuro e ótimo para curar uma dor de cabeça. Mas parecia que essa não era mais a prioridade.

Henry olhou para seu pai, que estava observando-o com desprezo, e então viu uma criada pálida logo atrás dele. Ela usava um vestido negro com punhos e colarinho branco e segurava uma bandeja com um copo cheio de um líquido que parecia mesmo ser suco de laranja. Henry abriu e fechou sua boca seca e voltou a encarar o pai.

— Não dê o suco a ele, Hilda - disse o sr. Schoonmaker, caminhando alguns passos para frente e unindo as mãos atrás das costas. - Henry, vejo que você está num estado deplorável e é possível que não se lembre da noite passada

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com perfeita clareza. Mas eu andei fazendo algumas perguntas e estou aqui para ajudá-lo a se lembrar. Hilda e eu estamos aqui para ajudá-lo a se lembrar.

A criada já trabalhava para a família há alguns anos e sempre guardara seus segredos, mas agora estava se recusando a encarar Henry. Estava branca como um lençol e com os olhos fixos na bandeja. Ele olhou com grande anseio para o suco de laranja e depois de volta para o pai, cujo enorme corpo estava coberto por um terno cinza metálico. Era o tipo de roupa que impressionava os empregados da companhia ferroviária e as criadas da casa. Henry tentou deixar claro que ele, ao menos, não estava abalado com isso.

— Ande, Hilda - disse o sr. Schoonmaker. - Conte a Henry o que você me contou.

A menina hesitou o máximo que pôde, tempo suficiente para deixar a ela e a Henry muito constrangidos, e então disse:

— Vi uma jovem saindo daqui bem tarde da noite. Ela estava com um vestido vermelho de continhas e fez bastante barulho quando foi embora. O vestido parecia novo e muito caro.

Henry deixou-se pender no sofá, desanimado, lembrando-se da dramática aparição de Penelope. Ele encostou a testa no punho e ouviu seu pai mandar Hilda deixar o escritório. Hilda assentiu respeitosamente e foi para o corredor, levando consigo o copo de suco de laranja que poderia ter molhado um pouco sua garganta.

— Não achei que seria bom Hilda ouvir a próxima parte, Henry - disse o sr. Schoonmaker, cruzando os braços. - Lembra-se de como voltou para casa?

—Não, senhor. — Uma carruagem de aluguel deixou você aqui. Estava cheio de

machucados no lado esquerdo do corpo e cortes que sugerem um encontro desagradável com um espinheiro. Está começando a recordar?

Henry balançou a cabeça negativamente. — Eu estava bêbado - disse ele, tentando soar envergonhado e firme ao

mesmo tempo. Henry se lembrava muito bem de seu encontro com o espinheiro, é claro,

mas sabia que não queria explicar ao pai que entrara pela janela do quarto da irmã caçula de sua noiva. Às vezes, refletiu ele, ter fama de estar constantemente bêbado podia ser conveniente.

— Henry, eu não sou um idiota. Sei muito bem que você estava bêbado. Agora, vai me contar a história toda ou devo relatá-la a você?

— Você parece estar ansioso para fazê-lo - disse Henry amargamente. — Leia você mesmo. O sr. Schoonmaker jogou o jornal que segurava na direção de Henry. Ele

farfalhou ao voar pelos ares e atingiu-o na testa. Ele apanhou-o, evitando olhar para o pai, que estava andando furiosamente de um lado para o outro. O Imperial fora dobrado na página da coluna de fofocas e uma das notas havia sido marcada com tinta vermelha.

— Que desagradável - disse Henry, após ler a nota. Apesar de seu tom de ironia, ele não estava brincando. Sua imagem de

playboy bêbado estava começando a aborrecê-lo. Mas sua principal preocupação

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no momento era arrumar algo para beber. Se pudesse jogar algum líquido em sua boca seca, talvez conseguisse lidar melhor com aquela situação infeliz.

— Concordo com você - disse o sr. Schoonmaker, com tanto ou mais sarcasmo do que o filho.

Henry observou seu pai diminuir o passo e ir até a janela que dava na Quinta Avenida, ainda com as mãos às costas. Ele falou mais baixo, mas seu tom continuava ameaçador.

— Gostaria de saber onde eu estava na noite passada, Henry? Henry manteve seus olhos fixos no pai e não disse nada. Ele sabia que a

resposta àquela pergunta ia ser dada mais cedo ou mais tarde. Provavelmente, mais cedo.

— Estava no Waldorf com o governador e o almirante Dewey. Sabia que estão dizendo que ele talvez vá se candidatar à presidência? Foi uma oportunidade política tremenda. Não que eu espere que isso signifique algo para um vagabundo como você.

Henry se remexeu no sofá. Ele tentou desamassar a camisa com as mãos e se parecer menos com um vagabundo. Seu pai lançou-lhe um olhar furioso.

— Eu e toda a cidade estávamos esperando ver você e sua bela noiva juntos no Waldorf. Pode imaginar como ficaram desapontados quando você nem apareceu? Todos estavam procurando uma fofoca para contar e você deu uma de bandeja. Mais uma vez, provou ser um problema.

O sr. Schoonmaker balançou-se nos calcanhares com ar pesaroso e Henry, ainda sedento e extremamente desconfortável, não conseguiu pensar em nada para dizer que pudesse fazer com que seu pai não o visse como uma decepção. Ele observou o sr. Schoonmaker controlando uma emoção qualquer antes de continuar a falar em seu tom irritado.

— Vou lhe dizer o que vamos fazer, Henry. Sua brincadeira de ontem à noite fez o noivado parecer arranjado. Muita gente já está pensando isso. Mas a notícia do noivado arranjado não vai se espalhar se nós dermos uma novidade mais interessante para a imprensa.

Henry, que sempre fora perseguido pelos jornais sem jamais ter desejado isso, olhou para o pai em completa confusão. O sr. Schoonmaker veio andando em sua direção. Henry observou aquele rosto vermelho, que fazia um contraste desagradável com os cabelos negros, e perguntou-se se seu pai algum dia ficaria feliz com ele.

— Uma novidade mais interessante? - repetiu ele mecanicamente. — Ah, você está escutando. Que ótimo. Sim, uma novidade mais

interessante. Você vai se desculpar com as Holland amanhã. Vou mandar Isabelle conversar com a sra. Holland hoje à noite, como uma espécie de embaixadora. É uma idéia perfeita. E olhe que eu só precisei do tempo entre a hora de acordar e a hora de tomar café para tê-la.

Henry estava tentando parecer interessado, mas estava ficando cada vez mais nervoso e enjoado.

— Que idéia é essa? William Schoonmaker olhou para o filho, muito animado e sorriu, fazendo

com que seu bigode negro parecesse mais largo.

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— Vamos antecipar o casamento. Os jornais vão chamá-lo de “O maior casamento do século XIX”. As pessoas vão gostar.

— Está falando do meu casamento? Com... Elizabeth? - perguntou Henry, que estava todo gelado e com a boca aberta. - Antecipar para quando?

O sr. Schoonmaker tirou seu relógio de ouro do bolso. Ele estava obviamente muito satisfeito com o golpe que ia dar, confiante em seu brilhantismo. E estava gostando de deixar Henry naquele estado.

— Se preferir ser deserdado, posso realizar seu desejo - disse o sr. Schoonmaker, olhando significativamente para o filho. - Prefiro não fazer isso, mas farei se você não me deixar alternativa.

— Não, senhor. Não prefiro ser deserdado - respondeu Henry, abaixando os olhos como que para não ver a própria covardia. - Quer dizer, gostaria que não fizesse isso.

— Então, Henry, meu garoto, se não tiver outros planos para o próximo domingo, dia oito de outubro... essa será a data.

Henry viu a expressão de triunfo do pai e soube que seu tempo terminara.

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Dizem que uma certa jovem parecia estar com o coração partido após a indelicada ausência de seu noivo numa festa celebrando a chegada do almirante Dewey.

NOTA DA COLUNA SOCIAL DO JORNAL NEW YORK NEWS OF THE WORLD GAZETTE, DOMINGO, 1º DE OUTUBRO DE 1899.

ois dias de festejos e paradas haviam exaurido Nova York e, no domingo, uma ressaca coletiva manteve seus cidadãos quietos dentro de casa. Elizabeth sentiu o ar de calmaria

sem precisar olhar pela janela da sala de estar. Até as pessoas virtuosas que apareciam para tomar chá e conversar um pouco com as Holland aos domingos estavam com os olhos um pouco vidrados. Elizabeth não lera os jornais, mas, se tivesse lido, provavelmente não teria tido coragem de negar que parecia estar com o coração partido. O fato de que o mundo já conhecia sua desculpa oficial era um alívio, embora não muito grande.

Mas, aparentemente, sua amiga de infância Agnes Jones ainda não se dera conta de que ninguém queria mais conversar sobre a parada.

— E o show aéreo foi maravilhoso! - disse Agnes, com as mãos dobradas sobre sua saia de lã xadrez. - Quem imaginaria que havia um especialista em pipas nessa cidade, ou que eles conseguem fazer coisas tão incríveis com um mero brinquedo?

Elizabeth deu um sorriso desanimado para ela e desejou que sua tia Edith, que estava sentada ao lado da lareira lendo a Cité Chatter e fingindo desaprovar as fofocas, entrasse na conversa. Os olhos de Agnes brilhavam com o que ela própria estava dizendo e seu cabelo castanho estava preso num coque, com alguns fios soltos por sobre as orelhas. O penteado acentuava o queixo dela, que era grande demais. Elizabeth poderia ter tentado encontrar uma maneira gentil de dizer isso a Agnes, mas estava se sentindo sem forças.

— E todos aqueles barquinhos cheios de luzes! Eu nunca tinha visto nada igual.

Agnes fez uma pausa e abaixou os olhos, fingindo que estava considerando a possibilidade de não dizer o que estava pensando.

— E... você ficou muito zangada com Henry por ele não aparecer na sexta-feira?

— Oh... - disse Elizabeth lentamente. Ela estava olhando para a janela mas, ao ouvir isso, voltou a encarar a

amiga. Não parava de olhar para a janela naquela tarde, esperando que uma visita inesperada surgisse.

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— Não muito, obrigada por perguntar - respondeu ela. — Não muito é melhor do que muito - disse Agnes entusiasticamente. Elizabeth suspirou, tentando demonstrar que concordava, porém com

grande desânimo. Agnes não tinha tato nenhum. Elizabeth sempre fora gentil com todos, mesmo que eles não fossem muito polidos. Era como um verdadeiro cristão devia se comportar. Além disso, um amigo verdadeiro poderia estar escondido em qualquer lugar. Penelope, por exemplo. Ela não tinha muito boas maneiras quando Elizabeth a conhecera, mas provara ser uma amiga muito leal ao aceitar ser sua madrinha de casamento, apesar de saber que ela se casaria com um ex-namorado seu.

Agnes fez um ruído borbulhante ao beber seu chá, o que despertou Elizabeth.

— Você vai ter de fazer algo muito espetacular para chamar atenção se for se casar nesta temporada. Ouvi falar de mais três noivados só neste fim de semana. Martin Westervelt pediu a mão de Jenny Thurlow...

Elizabeth tentou se manter alerta enquanto Agnes lhe contava quem ficara noivo de quem. Não era à toa que Diana estava em seu quarto se escondendo das visitas, lendo romances ridículos e falando sozinha. Há duas noites Elizabeth a ouvira tendo uma conversa inteira no quarto, sendo que não havia mais ninguém lá dentro. Ela precisava de um tutor, ou ia acabar se tornando uma selvagem. Isso era um certo consolo para Elizabeth - ao menos sua inércia ia beneficiar a família. Ao menos ela não teria de se preocupar com o fato de que Diana poderia ficar igual a... Agnes.

Mas Elizabeth ainda estava arrasada e chocada com a partida de Will. Ela parara quase completamente de comer.

— E Jenny está tão feliz, Lizzie, você iria chorar se visse como ela está feliz...

Elizabeth assentiu, pensando que Agnes provavelmente estava certa, embora saber dos noivados dos meninos e meninas da sua classe social não lhe desse nenhum prazer. Aquelas novidades só a faziam pensar em Will, em como ele era forte, em como estava sempre certo, enquanto Elizabeth se envolvia numa névoa que ela própria criara, mentindo para todos e declarando que um rapaz que mal conhecia era o amor da sua vida.

— Srta. Elizabeth? Elizabeth olhou para a porta da sala, onde Claire estava parada, e se deu

conta de que a criada estava dizendo seu nome há vários segundos. Isso sempre acontecia quando ela começava a pensar em Will - quando voltava ao presente, via que todos em volta estavam observando-a, atônitos.

— Sim, Claire? - disse Elizabeth, endireitando a coluna e colocando as mãos sobre os braços da cadeira onde estava, cuja pintura dourada estava descascando.

— O sr. Schoonmaker deixou seu cartão. — Oh! - exclamou Agnes, dando uma piscadela para Elizabeth. Então, eu

vou-me embora. — Obrigada por vir me visitar - disse Elizabeth, dando um pequeno sorriso

para sua velha amiga. Agnes inclinou-se para dar-lhe um beijo na bochecha e, ao levantar, disse:

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— Faça uma cara um pouco mais contente, pelo amor de Deus. Seu noivo está aqui.

Elizabeth fez uma expressão de imensa tristeza - ela não pôde evitar - e ficou aliviada ao ver Agnes indo embora.

— Pode deixar o sr. Schoonmaker entrar, Claire. Ao ver a criada fazendo uma mesura respeitosa, Elizabeth se lembrou de

como Lina fora horrível com ela na sexta-feira. — Claire, não pense que tem de fazer tudo sozinha - disse ela. - Sua irmã é

perfeitamente capaz de fazer chá e pegar os casacos das visitas. Claire corou levemente e assentiu antes de sair da sala. Elizabeth verificou os pequenos botões de sua blusa vinho e fechou bem as

pernas, que estavam envoltas por uma saia de linho cor de marfim. Ao olhar para cima, ela viu Henry na porta. Ele estava usando um terno cinza-escuro e observando-a gravemente, o que, para Elizabeth, era algo novo e perturbador. Suas sobrancelhas estavam unidas e as linhas de seu rosto bonito estavam mais marcadas, mostrando preocupação. Henry inclinou a cabeça e Elizabeth fez o mesmo. Então, ele atravessou a sala, pegou a mão dela e beijou-a.

— Não quer se sentar? — Obrigado. Henry passou os olhos pelo cômodo antes de sentar-se numa cadeira

idêntica à de Elizabeth, que ficava ao lado da dela. Ela se perguntou se ele estava considerando o couro verde-oliva das paredes antiquado, ou se achava que havia objetos demais na sala, que tinha inúmeros quadros de moldura dourada pendurados e camadas de tapetes persas no chão.

— Gostaria de um pouco de chá? — Adoraria, obrigado. Henry se comportava de maneira um pouco formal demais com ela, mas

Elizabeth tinha de admitir que também estava sendo fria. Ela se perguntou se Henry não parava de olhar por cima do ombro por causa de tia Edith, que estava sentada ao lado da larga cornija de mármore. Elizabeth poderia ter encontrado um jeito de sussurrar para ele que tia Edith não estava prestando atenção na conversa deles se achasse que Henry tinha algo de interessante a lhe dizer. Mas não era o caso.

— Srta. Elizabeth, gostaria de lhe dizer que lamento muito pelo que aconteceu na sexta-feira.

— Oh, não, não foi nada... — Foi, sim. Henry estava falando tudo mecanicamente, mas havia algo em seu rosto que

demonstrava remorso genuíno. — Foi horrível de minha parte deixar de ir à festa e, mesmo que eu não

tenha magoado a senhorita, estou certo de que a constrangi. — Um pouco - admitiu Elizabeth, olhando para as mãos. — Mas não quero que pense que a idéia de me casar com a senhorita me

deixa nervoso - disse Henry lentamente, como se estivesse tendo dificuldades de encontrar as palavras certas.

— Não deixa? - perguntou Elizabeth, erguendo as sobrancelhas sem querer. — Não, de forma alguma. Na verdade, eu... ah, obrigado.

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Lina surgiu por cima do ombro de Henry e começou a servir uma xícara de chá para ele. Ela estava muito serena e servil, mas só de vê-la Elizabeth voltou a sentir a raiva que lhe dominara na sexta-feira.

— Sem creme, obrigado - disse Henry, pegando a xícara de porcelana azul de borda dourada das mãos de Lina.

— Srta. Elizabeth? — Sim, por favor, com açúcar e limão - disse Elizabeth friamente. - O que

o senhor estava dizendo? — Eu estava dizendo que... bem... Henry parou de falar, franziu o cenho e observou os muitos itens da sala de

estar mais uma vez. Elizabeth inclinou-se para frente, esperando que ele continuasse. Finalmente, seus olhos voltaram a se focar nela e ele pareceu quase surpreso de encontrá-la ali.

— Não gostaria que a senhorita... achasse que eu estou mudando de idéia. E, bem, o fato é que estou muito ansioso para... me casar com a senhorita. E, enfim, o que acha de anteciparmos o casamento?

— Antecipar? - repetiu Elizabeth, achando que não havia entendido direito. A idéia de que ela ia se casar com Henry Schoonmaker era-lhe

incompreensível; pensar em fazê-lo ainda mais cedo estava além dos poderes de sua imaginação. Mas, então, uma imagem surgiu em sua mente: sua mãe dormindo tranqüilamente pela primeira vez em meses. Além disso, a única coisa que lhe restava era dar prazer aos outros. Ela estava tentando articular uma resposta quando foi distraída por Lina, que estava fazendo muitos ruídos para servir o chá.

— Sim, para o próximo domingo. Creio que minha madrasta já discutiu isso com sua mãe. A parte logística, quero dizer - explicou Henry, remexendo-se de forma constrangida na cadeira antes de continuar. - A vantagem é que, assim, todos ficariam surpresos e... cuidado!

Henry inclinou-se na direção de Elizabeth, mas foi em vão. Ela já estava surpresa e confusa quando a água fervente lhe atingiu. Elizabeth soltou um grito e afastou a saia encharcada das pernas para impedi-las de se queimar ainda mais. Ela olhou para cima devagar, vendo primeiro a xícara que pendia do dedo de Lina e depois o sorriso no rosto da criada.

— Oops! - disse Lina com ironia. Sem pensar no que estava fazendo, Elizabeth arrancou a xícara do dedo de

Lina e protegeu-a com as duas mãos. — Sua incompetência é insuportável - disse ela, com a voz cheia de um

ódio que não sabia direito de onde vinha. - Saia da minha casa. — Foi um acidente - explicou Lina despreocupadamente. Henry estava olhando para o chão e tia Edith, para Elizabeth, chocada com

sua reação violenta. Claire surgiu na porta, com os olhos arregalados de medo. Mas, naquele momento, Elizabeth não se importou com a opinião de ninguém.

— Não foi, não. Você é desajeitada e mentirosa e não quero mais vê-la na casa da minha família. Sinto muito, Claire, mas eu a quero fora daqui em uma hora.

Lina ficou parada no meio da sala, olhando com fúria para Elizabeth. — Foi um acidente - repetiu ela, sem convicção.

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— Muito obrigada pela explicação - disse Elizabeth, falando com mais firmeza dessa vez e sentindo a mancha marrom do chá se espalhando pelo tecido claro de sua saia, mas recusando-se a olhar para ela. - Está despedida mesmo assim. Sr. Schoonmaker, lamento muito que tenha tido que testemunhar uma cena tão desagradável. Por favor, finja que isso não aconteceu. Se o senhor me der licença, eu vou para o meu quarto me acalmar um pouco.

Elizabeth apanhou a saia e atravessou rapidamente a sala de estar. Ela estava sentindo as lágrimas lhe chegando aos olhos, mas controlou-se por mais alguns segundos. O fato de que Lina a vira conversando com Henry, e ainda por cima sobre o casamento, fazia-a sentir-se furiosa e envergonhada ao mesmo tempo. Ela fungou e virou para trás, vendo Henry, Lina, Claire e Edith, todos congelados de espanto.

— Muito obrigada por vir, Henry - disse ela da porta. - Mas creio que terei de ficar deitada por algum tempo. Talvez a srta. Diana possa fazer sala para o senhor durante o restante de sua visita?

O rosto de Henry, que estava visivelmente preocupado e constrangido, desanuviou-se como que por encanto. Um leve rubor se espalhou por suas bochechas.

— É claro. A senhorita deve descansar o quanto precisar. Elizabeth dera mais um passo na direção do corredor quando se lembrou de

que não respondera à proposta de Henry. Ela continuava a não sentir nada por ele, mas, já que o casamento era necessário, era melhor que fosse rápido, de maneira a deixar a maioria dos envolvidos satisfeitos.

— Sr. Schoonmaker, considero excelente a idéia de fazer o casamento no próximo domingo.

Sem esperar pela reação dele, Elizabeth seguiu na direção da escada principal. Talvez agora ela pudesse acabar com aquela agonia e começar o longo desespero que seria o resto de sua vida sem Will.

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A madrinha de um casamento deve estar sempre investigando - buscando informações sobre a amiga com o noivo, a família e até mesmo os criados. A noiva, é claro, não quer estar sempre exigindo tudo. Mas, se sua madrinha fizer as perguntas certas para as pessoas certas, ela será de grande serventia para a amiga, realizando todos os seus desejos conforme eles forem surgindo.

TRECHO DE AS LEIS DO CONVÍVIO NA ALTA SOCIEDADE, DE L.A.M. BRECKINRIDGE

á muito que o ressentimento e o ódio que lina sentia por Elizabeth vinham crescendo, mas sua demissão da casa da família Holland aconteceu muito rapidamente. Lá estava

Claire, olhando apavorada para ela e entregando-lhe a malinha que pertencera a sua mãe e uma sacola de papel cheia de sanduíches que ela prepara em poucos minutos. O rosto de sua irmã mostrava intensa preocupação, mas Lina mal estava conseguindo pronunciar uma palavra. Ela acenou para Claire e saiu pela porta da frente. Logo, estava se afastando daquele que fora praticamente o único lugar em que morara na vida.

Lina mal podia sentir a calçada abaixo de seus pés. Ela fechou o casaco de Will e continuou a andar, sem ter idéia de que direção deveria tomar. Subitamente, não estava mais presa a nada. Foi então que ouviu o som de rodas e de cascos de cavalos batendo no asfalto e uma voz que reconheceu.

— Com licença. Lina estacou e virou-se lentamente para ver quem falara. Ela piscou os

olhos diversas vezes antes para se certificar de que fora Penelope Hayes, a amiga de Elizabeth, que lhe abordara. Ela estava numa daquelas carruagens de dois lugares com rodas enormes, observando Lina com bastante interesse.

— Está tudo bem? — Não - disse Lina após alguns segundos. Penelope estava usando uma saia longa, uma jaqueta apertada de mangas

largas e um pequeno chapéu, todos de pied-de-poule. Isso fez Lina se sentir ainda mais envergonhada do vestido preto simples, das botas puídas e do enorme casaco de homem que vestia.

— Foi um dia horrível, se você quer mesmo saber - continuou ela. Penelope se inclinou para frente e apoiou o queixo numa das mãos cobertas

por luvas de camurça cinza, apontando seus olhos maquiados para Lina de cima de sua bela carruagem.

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— Lamento muito ouvir isso - disse ela. Lina sentiu que estava sendo avaliada como um animal numa jaula. Isso era

muito estranho, pois Penelope Hayes jamais lhe olhara antes. — Obrigada, senhorita. Lina passou a velha malinha de uma das mãos para a outra, tentando

lembrar direito a nota que especulava sobre um noivado entre Penelope e Henry. O que aquela menina orgulhosa teria pensado quando Henry ficara noivo de Elizabeth, e não dela? Seu coração estava batendo forte e ela levou alguns segundos para formular a pergunta que queria fazer:

— É verdade que a senhorita estava de namoro com Henry Schoonmaker? — Quem disse isso? - perguntou Penelope, irritada. Ela pareceu um pouco chocada de ouvir uma criada falar daquela maneira

ousada - mas Lina não era mais uma criada. — Acho que li em algum lugar. Lina olhou rapidamente para a mansão das Holland, mas não havia sinal de

ninguém nas janelas. — Desculpe se... - começou ela. — Aonde você vai? - interrompeu Penelope. Ela fez um gesto que pareceu indicar que tinha perdoado a impudência de

Lina. — Não sei. Lina suspirou fundo e tirou alguns fios de cabelo soltos que estavam lhe

caindo sobre os olhos. Ela decidiu que não havia motivos para esconder o ocorrido.

— Acabei de ser demitida - explicou. — Que horror! - disse Penelope. Ela deixou a boca aberta, formando um “O” atônito. Lina achou que

Penelope estava se esforçando muito para parecer preocupada. — O que você vai fazer? Lina, que ainda estava se perguntando o que Penelope sentia pelo rapaz que

estava sentado na sala de estar da família Holland, deu de ombros. —Não sei. — Bem, por que não sobe aqui? Penelope deu um enorme sorriso e indicou o cocheiro, que não dissera uma

palavra. — Eu estava indo visitar as Holland. Você deve saber que sou a madrinha

de casamento de Elizabeth. Mas, se elas estão se comportando tão mal, então podem esperar. Podemos levá-la para qualquer lugar que queira ir.

Lina fingiu hesitar por um segundo e então pegou a mão estendida do cocheiro e permitiu que ele a puxasse para cima. Ela se sentou no assento de couro branco ao lado de Penelope e ouviu-a mandar o cocheiro seguir em frente.

— Meu nome é Lina - disse ela. Lina colocou a mala no piso e viu o Gramercy Park desaparecer atrás de si.

Ela já não se sentia mais como uma moradora daquele lugar. — Eu me lembro - afirmou Penelope. Lina teve quase certeza de que era mentira. Ela fora treinada para assentir e

se sentir grata por qualquer favor, mas agora havia sido forçada a abandonar sua

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velha vida. A pessoa que ia se tornar ainda estava tateando, incerta de como deveria reagir.

— Por que você está sendo tão boa comigo?- perguntou ela. Penelope deu um sorrisinho e olhou por cima do ombro para ver onde elas

estavam. A carruagem já deixara o adorável paralelogramo localizado entre a Sexta Avenida e a Terceira, abaixo da rua Cinqüenta e nove e acima da Catorze, onde viviam os membros da alta sociedade. Agora elas estavam no território dos trabalhadores pobres, com suas hordas de filhos e rostos envelhecidos. A avenida estava cheia de veículos e enegrecida pelas sombras dos trens que passavam no elevado. Os gritos de vendedores e entregadores eram abafados de vez em quando pelos sons dos vagões cheios de gente passando na estrada de ferro acima. Então era para lá que elas estavam indo - para uma parte da cidade onde Penelope não teria medo de ser vista com uma empregada que fora demitida pelas Holland. Lina olhou em volta e sentiu uma certa repugnância. Ela queria mostrar a Penelope que seu lugar não era ali.

— E o que foi que você fez para as Holland? - perguntou Penelope, virando o rosto na direção de sua convidada.

As duas estavam muito próximas uma da outra e Lina reparou em como a pele de Penelope era clara e imaculada. Era exatamente como ela havia imaginado.

— Nada... - respondeu Lina, tentando escolher sabiamente as palavras. - Houve um incidente com uma xícara de chá... e eu acho que elas sempre quiseram que eu trabalhasse sem pensar em mais nada, como faz minha irmã Claire. Não que ela não pense em nada... Mas é que eu nunca me imaginei sendo uma criada pelo resto da minha vida.

Lina uniu as mãos, esfregando a pele seca de uma contra a outra. — Só isso? - insistiu Penelope, aproximando-se ainda mais de Lina e

sorrindo. — A verdade é que... acho que posso ter sido despedida por saber demais. Agora era a vez de Lina sustentar o olhar de Penelope. Ela fez uma pausa,

para que suas palavras tivessem mais efeito. Lina se lembrava de ter ouvido Penelope caçoar de Elizabeth por ser tão certinha em mais de uma ocasião e, por isso, respirou fundo e decidiu continuar.

— Era humilhante ter de servir a ela... Assim que a frase saiu de sua boca, Lina desejou não tê-la dito. Ela abaixou

os olhos, mas logo os ergueu novamente. — Quero dizer, a elas. Estou feliz por ter saído de lá. De verdade. — Sabe... Penelope fez um biquinho. Ela também parecia estar pensando nas palavras

que deveria empregar. A carruagem deu uma guinada brusca para desviar de um mendigo que estava no meio da rua e as duas meninas se seguraram, sem tirar os olhos uma da outra.

— Eu creio... - enunciou Penelope cuidadosamente - que nós temos antipatia pela mesma pessoa.

Lina sentiu uma onda de alívio. Ela não se enganara. — Está me dizendo que nós detestamos o mesmo membro da família

Holland?

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A voz de Lina estava mais enérgica agora, mas ainda falhou quando ela usou o verbo “detestar”. Seu corpo balançou com o movimento da carruagem.

— Sim - disse Penelope, mexendo levemente os cantos da boca. - É isso mesmo que eu estou dizendo.

Lina se recostou no banco e voltou a examinar a aspereza de suas mãos. Ela estava impressionada com a rapidez com que encontrara uma solução para seus problemas, mas não queria se precipitar e estragar tudo.

— Acho que entendi - respondeu ela com cautela. - E acho que o que sei lhe interessaria muito. Mas, como pode ver, estou completamente desamparada. Preciso de um... gesto de confiança. Para saber que estarei fazendo a coisa cerra em lhe contar.

— É claro. Penelope pegou a mão bruta de Lina com suas mãos enluvadas. Lina já

tocara muitas coisas finas na mansão dos Holland, é claro, mas mesmo assim ficou impressionada com a maciez daquela luva de camurça.

— Mas me diga mais ou menos do que se trata primeiro - pediu Penelope. Lina já guardava aquele segredo há tanto tempo que não conseguiu se

controlar e disse a verdade de uma só vez. — Elizabeth não é mais virgem. Penelope estreitou os olhos, deu uma risadinha e balançou a cabeça. — Tem certeza de que está falando de Elizabeth Holland? — Eu tenho provas. Lina colocou a mão no bolso do casaco e tirou o bilhete de Will de lá de

dentro. Ela entregou-o a Penelope, que examinou a marca d'água até ter certeza de que o papei era mesmo o usado por Elizabeth e leu-o duas vezes.

— Quem é Will Keeler? - perguntou Penelope, atônita. Lina foi sacudida de um lado para o outro quando a carruagem passou por

uma parte esburacada da rua. — Ele é... ele era o cocheiro dos Holland. Penelope mordeu o lábio e emitiu um som do fundo da garganta, que

indicou que estava achando graça na situação. — Você deve estar brincando. — Não estou - disse Lina, balançando a cabeça com vigor e pensando como

seria melhor para ela se tudo aquilo fosse mesmo uma piada. - Eu a vi entrando no quarto dele tarde da noite e saindo só de manhã. Em muitas noites eu ia ajudá-la a se preparar para ir para a cama e ela havia desaparecido.

— Desde quando? Penelope ainda estava usando um tom cético, mas seus olhos começaram a

brilhar. Era óbvio que aquela novidade a deixara radiante. — Não sei quando foi que começou, mas tenho certeza de que tem algum

tempo. E ainda estava acontecendo até muito recentemente. Tenho certeza de que eles ainda estavam envolvidos na sexta passada, quando Will foi embora.

Penelope se recostou no couro confortável de sua carruagem. — Lizzie ainda tem a capacidade de me impressionar - disse ela. - Ela deve

ter querido morrer. Em geral, é ela quem gosta de bancar a difícil. Penelope abriu os lábios vermelhos num sorriso, revelando dentes brancos e

perfeitos.

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— Apaixonada por um menino pobre! Desculpe, não quis ofender. — Não ofendeu. Lina tossiu, cobrindo a boca com a mão. Ela se perguntou se era mesmo

verdade o que Penelope dissera sobre Elizabeth gostar de bancar a difícil, e se fora assim que ela conquistara Will. Afinal, ele jamais teria sido capaz de se casar com ela ou namorá-la oficialmente. Talvez fosse aquilo que o atraía.

— E não é só isso que eu sei sobre as Holland - disse Lina. — É mesmo? O que mais você tem para me contar? - perguntou Penelope,

inclinando-se para frente com olhos brilhando de excitaçao. Lina balançou a cabeça. — Primeiro, preciso saber quanto a informação vale para você. — Oh, posso lhe assegurar que você será muito bem recompensada. Vou

levá-la para um hotelzinho que conheço da rua Vinte e seis. É limpo, e você poderá permanecer incógnita lá dentro. Vamos pedir um quarto para você passar a noite. Virei encontrá-la amanhã. E por esse bilhete eu lhe darei...

Penelope fez uma pausa e se afastou um pouco, como se estivesse avaliando Lina.

— Mil dólares - disse Lina, com a voz mais firme que conseguiu. A soma parecia-lhe mágica. Era o preço de um solitário de diamante da

Tiffany, de inúmeros vestidos de gala, de carruagens. Era mais do que suficiente para poder encontrar Will, e era o bastante para conquistá-lo com grande estilo.

Penelope ficou em silêncio conforme a carruagem atravessava a Avenida aos trancos e barrancos. Essa era muito mais engarrafada e fedorenta do que a Quinta, além de ser mais barulhenta por causa dos trens que passavam acima. Por um segundo, Lina achou que pedira dinheiro demais e se deu conta de que revelara o segredo sem nenhuma garantia de que ia receber por ele. Mas então Penelope deu de ombros e sorriu.

— É bastante dinheiro - disse ela. - O que acha de quinhentos? — Obrigada, senhorita. Muito obrigada. Lina relaxou e sentiu um calor se espalhando por seu corpo. Mil dólares era

uma soma inimaginável, mas quinhentos também era impressionante. Ela teria a chance de consertar tudo.

— Esse foi um encontro muito feliz para todos os envolvidos. A nova amiga de Lina piscou um olho de forma lenta e significativa. — Foi mesmo. Algum instinto fez Lina arrancar o pedaço de papel em que Will escrevera

seu último bilhete para Elizabeth da mão de Penelope. — De qualquer maneira, vou ficar com isso até amanhã. E talvez ainda

possa lhe dizer mais algumas coisas. Se combinarmos o preço antes. Penelope não gostou de ver o bilhete longe de suas mãos, mas, apesar de

contrariada, ela assentiu. — Então, vou vir lhe trazer o dinheiro pessoalmente. Preciso desse bilhete

amanhã. Lina desejou saber por que ela precisava do bilhete tão rapidamente e o que

planejava fazer com ele, mas estava mais preocupada em como ia gastar todo aquele dinheiro. A menina que ela costumava ser teria usado-o para ir atrás de Will, mesmo sabendo que ele iria continuar apaixonado pela elusiva Elizabeth

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Holland. Mas aquela era a chance de Lina se reinventar e ela não ia repetir nenhum erro. Ia se transformar em algo mais brilhante e sedutor que Elizabeth Holland: numa mulher que chamaria a atenção de Will, e de quem ele jamais conseguiria tirar os olhos.

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Muitos ficarão atônitos se um belo rapaz solteiro que todos na cidade conhecem e adoram não desfizer seu noivado em breve, revelando quem é seu novo amor.

NOTA DA COLUNA SOCIAL DO JORNAL NEW YORK NEWS OF THE WORLD GAZETTE, DOMINGO, 1º DE OUTUBRO DE 1899

iana observou sua tia Edith começando a descer a escadaria principal da mansão, com a cauda branca de seu vestido arrastando-se atrás dela. Ela ajeitou seus cachos e praticou

respirar com a barriga encolhida e os ombros jogados para trás. Estava usando o mesmo vestido listrado que usara na semana passada, quando Henry viera visitá-las. Diana não se preocupara em colocar outra roupa porque havia planejado passar o dia no quarto, lendo um romance de Améle Rives. Mas agora seria impossível trocá-lo por outro, é claro. Ela não teria como explicar para a tia que precisava botar um vestido mais bonito para receber o noivo da irmã.

Quando Diana entrou na sala de estar, Henry levantou-se depressa, com certo constrangimento.

— Srta. Diana - disse ele, tentando esconder um sorriso. Diana atravessou a sala, desejando que tia Edith desaparecesse por apenas

um minuto - o que ela não faria com aquele minuto! - e sentou-se ao lado de Henry. Naquela posição, sua tia poderia ver o lado direito de seu rosto, embora ela não conseguisse enxergá-la. Era naquela cadeira que Elizabeth estivera sentada ainda há pouco; Diana se deu conta disso ao ver o braço molhado e manchado de chá. Ela contraiu os lábios, mas eles estavam estremecendo, ameaçando se abrir num largo sorriso. Então, ergueu os olhos lentamente e encarou Henry. Ele parecia um pouco nervoso, pois sabia que os dois estavam sendo observados. Diana pousou as mãos sobre o colo e disse, cheia de compostura:

— O tempo tem estado muito agradável, sr. Schoonmaker, mas temo que vá mudar em breve.

— A senhorita tem toda razão - respondeu Henry, também com um excesso de boas maneiras. - Quando estava entrando aqui, senti uma brisa gelada que considerei um péssimo presságio.

— Oh! - exclamou Diana, piscando o olho para ele. Henry cruzou as pernas e mexeu num dos botões de seu colete. Ele estava

com um terno cinza-escuro que deixava seus cabelos e olhos ainda mais fascinantes. Diana percebeu que Henry estava precisando de toda sua força de vontade para não cair na gargalhada.

— E o senhor gostou das festividades de sexta-feira, sr. Schoonmaker?

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Diana viu o canto esquerdo da boca de Henry se mexer e torceu para que aquela frase significasse para ele o mesmo que significava para ela.

— Ouvi dizer que o senhor estava bastante ocupado... no Elysian. — Sim... - disse Henry lentamente. - Essa foi a noite mais divertida da

semana passada. Começou um pouco enfadonha, mas logo se mostrou particularmente... reveladora.

Diana sentiu o rubor se espalhando sobre suas faces. Ela tentou desesperadamente pensar numa boa resposta, mas só conseguiu lembrar-se de Henry vendo-a seminua em seu quarto. Diana gaguejou por um minuto e então disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça:

— E o que traz o senhor aqui hoje? Henry ficou sério de repente e ela se arrependeu de sua estupidez. Depois

de ler todos aqueles romances, certamente deveria ter sido capaz de pensar num comentário inteligente para fazer. Já estava quase bolando um quando ouviu sua tia Edith dizer:

— Oh, foi um motivo muito bom. Conte a ela, sr. Schoonmaker. Diana olhou para Henry, tirando um cacho de cabelo da testa. — O que foi? - perguntou ela, usando um tom mais agudo e infantil do que

pretendera. Henry observou-a por alguns segundos, trancando o maxilar. —Talvez seja melhor a senhora contar - disse ele a Edith, com alegria

forçada. Diana percebeu que havia um machucado em sua bochecha esquerda. Então

a queda da treliça fora feia. — Não, sr. Schoonmaker. É melhor que o senhor conte. Henry se remexeu na cadeira, constrangido. Ele passou os olhos por toda a

sala antes de voltar a fixá-los em Diana. Ela achou que a temperatura houvesse subitamente caído. Estava olhando para Henry de forma tão intensa, esperando que ele dissesse o que viera fazer ali, que achou que fosse ter uma dor de cabeça.

— Sua irmã e eu... nós decidimos... Elizabeth e eu... antecipar a data do casamento.

— A data do casamento? Diana baixou os olhos rapidamente. Uma data marcada significava que o

casamento de Elizabeth e Henry era mesmo real e ela se deu conta de que, até aquele momento, não acreditara que ele fosse acontecer de verdade. Os dois estavam apenas noivos, eles não se gostavam, e Diana imaginara que as coisas iam ficar daquele jeito para sempre.

— Mas por quê? - perguntou ela, mal conseguindo proferir as palavras. Henry deu uma espiada em tia Edith e então ficou olhando nos olhos de

Diana por um longo tempo, sem dizer nada. Ela compreendeu. A brincadeira acabara e ela teria de parar com seus sonhos ridículos.

— É mesmo maravilhoso - disse Henry, como se já houvesse explicado tudo e recebido o cumprimento de Diana.

Ele falou bem alto, ansioso para disfarçar o momento. Diana achou sua reação um pouco exagerada. Mas ela sabia que jamais tinha sido capaz de esconder o que sentia e podia imaginar a cara que estava fazendo.

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— Na verdade, eu preciso ir - disse Henry. - Há muito a resolver se o casamento for ser mesmo daqui a uma semana. Preciso dizer a Isabelle que Elizabeth concordou em realizar a cerimônia no próximo domingo. Ela cuidará dos preparativos.

Henry já estava de pé, com um ar adoravelmente preocupado. Ele se moveu, bloqueando a visão de tia Edith e se inclinou de repente, tocando o pescoço de Diana com os lábios. Então, ele se endireitou mais uma vez e disse, muito formalmente:

— Desejo-lhe uma boa tarde, srta. Diana. O breve toque de sua boca na pele dela causara uma série de deliciosos

tremores que agora irradiavam por seu corpo. Diana ficou imóvel enquanto Henry se despedia de tia Edith. Ele foi embora rapidamente e ela ficou sozinha na sala onde todos os grandes momentos da família - alegres, tristes ou desesperadores - deveriam ocorrer.

Diana se afundou na cadeira o olhou para o assento vazio onde Henry estivera. Foi então que viu o livrinho de Walt Whitman que devia ter caído de seu bolso durante a visita. Ela pegou-o depressa e começou a procurar seu poema preferido, pois gostou da idéia de encontrá-lo no livro de Henry. Mas não chegou a achá-lo, pois o marcador dele caiu no chão e lá, escrita na já familiar caligrafia de Henry Schoonmaker, estava uma mensagem só para ela.

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ÇÉäxAÇÉäxAÇÉäxAÇÉäxA Diana olhou para a tia Edith, para ver se ela estava prestando atenção, e

então observou a sala de estar de sua casa. As inúmeras antigüidades, heranças de família e objetos de arte pareciam pequenos e pálidos na luz do fim de tarde. Mas o forte pulsar de seu sangue, as batidas rápidas de seu coração e o local onde a boca de Henry lhe tocara - eles todos rebrilhavam. Diana achou que estava começando a entender por que, em todos aqueles romances que já lera, as paixões mais inebriantes eram as proibidas.

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TyxàâÉátÅxÇàx?TyxàâÉátÅxÇàx?TyxàâÉátÅxÇàx?TyxàâÉátÅxÇàx? XÄ|étuxà{XÄ|étuxà{XÄ|étuxà{XÄ|étuxà{

enelope colocou uma roupa vermelha, como sempre fazia em dias importantes. Esse vestido em particular era vermelho vivo e o bordado das mangas de seu bolero era do

mesmo tom. Ela encomendara o vestido de Paris para poder usá-lo no outono e estava muito feliz com sua escolha. Graças a ele, Penelope se destacava no departamento de tecidos da Lord & Taylor, em meio a pilhas de musselina, seda e renda branca. Elizabeth estava usando um vestido azul-claro e por isso quase se misturava com os panos à sua volta, a não ser pelo fato de que sua roupa era de um algodão bordado simples.

— Não há nada, na verdade - disse Elizabeth, suspirando e franzindo seu pequeno nariz para Penélope. - Gostaria que tivéssemos tempo de ir a Paris.

— Vamos encontrar alguma coisa perfeita. Penelope viu Elizabeth se inclinando para examinar uma peça de renda de

Alençon e lançou-lhe seu olhar mais furioso quando viu que ninguém estava observando-as. Era inacreditável que essa menina franzina e enjoada tivesse uma paixão secreta, e ainda por cima por um menino que morava num estábulo. Penelope ainda achava espantoso e um pouco fascinante que Elizabeth Holland, a garota que nunca dizia uma palavra errada, também tivesse desejos. Se as circunstâncias fossem outras, ela teria querido ouvir todos os detalhes sórdidos da história. Mas era tarde demais para isso agora.

— Você só está nervosa - disse Penelope, esforçando-se mais para parecer solidária. - Por isso está achando tudo feio.

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— Acho que você tem razão - disse Elizabeth distraidamente, passando os dedos por sobre um corte de musselina de seda cor de marfim. - Vai ser o casamento mais horroroso de todos os tempos.

— Psiu! Vai ficar tudo divino, mais lindo até do que você imagina. Mas, Liz, como você está fazendo sem empregada numa semana tão insana como essa?

Penelope se aproximou de Elizabeth e também tocou o tecido incrivelmente bem trabalhado.

— Eu comentei isso com você? - perguntou Elizabeth. Penelope temeu que, de tão ansiosa por parecer simpática, tivesse revelado

o jogo cedo demais. Mas Elizabeth estava obviamente com coisas demais na cabeça para se preocupar com tais sutilezas.

— Poderia ter sido um desastre, mas a sra. Schoonmaker me emprestou duas criadas por essa semana - explicou ela. - E a menina que estava comigo, a Lina, era terrivelmente incompetente. Eu devia tê-la demitido há muito tempo.

Penelope se aproximou um pouco mais, deixando que seu ombro tocasse no de Elizabeth. Lina provara ser muito esperta ao pedir uma soma tão espetacular por sua informação. Mas Penelope teria gastado até o dobro por aquele segredo escandaloso. Ela conseguira os quinhentos dólares facilmente, afirmando para o pai que queria doar o dinheiro para uma organização que estava construindo um orfanato. E então, para colocar Lina de volta em seu lugar, Penelope a deixara hospedada num hotelzinho que ficava numa rua cheia de bordéis.

— Esse é muito bonito - disse ela. — É mesmo. Sr. Carroll! O costureiro estava andando freneticamente de um lado para o outro no

departamento de tecidos, pegando tudo que Elizabeth pudesse considerar interessante. A ideia de preparar todas as roupas do casamento em uma semana o deixara quase enlouquecido, e Penelope não sabia se era Elizabeth ou o sr. Carroll quem estava mais nervoso. Ele veio correndo.

— Sim, senhorita? - disse ele, segurando com firmeza a fita métrica que tinha em volta do pescoço e inclinando-se ansiosamente.

— O que acha deste aqui? - perguntou Elizabeth, passando a mão sobre uma seda branca brilhante. - Talvez com aquela renda belga que o senhor me mostrou mais cedo?

— Acho que ficaria des-lum-bran-te - replicou ele, fazendo um gesto elaborado com as mãos pequenas.

— Pode separá-lo por enquanto? Vou olhar mais um pouco. — É claro, senhorita. O sr. Carroll pegou o corte e saiu, enquanto Elizabeth partia para a fileira

seguinte. Lá fora, uma nuvem saiu da frente do sol e um raio de luz entrou pelas janelas em arco, atravessando o enorme cômodo que parecia ser o pátio de uma fábrica, com o chão feito de tacos simples de madeira e pilhas e mais pilhas de tecido enfileiradas. Penelope pigarreou.

— Liz, posso lhe fazer uma pergunta? Elizabeth deu um sorriso gentil. — É claro. — Você está... nervosa?

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— Com que parte? Penélope fez questão de olhar em torno e fazer um ar envergonhado. — Você sabe... com a parte da noite de núpcias. Elizabeth cobriu o rosto delicadamente com a mão, mas Penélope viu que

ela não estava corando. Ela quase sentia mais afeição por Elizabeth agora que sabia que esta não era tão terrivelmente perfeita.

— Não muito - respondeu Elizabeth. — Você não acha que pode doer? — Não - disse Elizabeth, dando de ombros. Ela então pareceu se dar conta de algo e acrescentou rapidamente: — Não sei por que, mas não estou com medo dessa parte. Talvez seja

estranho... — Não tão estranho - disse Penelope, encarando Elizabeth e deixando de

lado o personagem que assumira ao longo da tarde. - Nem um pouco estranho, na verdade.

Elizabeth corou violentamente. Suas pupilas se dilataram e por um longo momento as duas meninas não fizeram nada além de se observar com atenção, piscando seus belos olhos.

— É que eu não estava pensando nessa parte - explicou Elizabeth, na defensiva.

— Não. E por que deveria? - perguntou Penelope num sussurro gélido. - Afinal, já andou pondo esta parte em prática com um de seus empregados, não foi?

Elizabeth abriu a boca de espanto. — Não sei do que você está falando - disse ela baixinho. O sol se escondeu mais uma vez atrás de uma nuvem e todo o imenso

cômodo foi mergulhado na penumbra. Penelope revirou os olhos. — Se quiser passar uma hora negando a verdade, tudo bem. Mas eu sei que

você já passou diversas noites com um cocheiro chamado William Keeler. E tenho provas.

Penelope não conseguiu deixar de sorrir. Era divertido amedrontar Elizabeth daquele jeito.

— Que provas? - perguntou Elizabeth, completamente pasma. — Um bilhete que ele escreveu para você. Foi na noite em que deixou a

cidade. Que adorável - disse Penelope, fazendo um gesto indiferente. - Ele pede que você vá também, mas você obviamente preferiu não atendê-lo.

— Will deixou um bilhete para mim? - disse Elizabeth, franzindo o cenho. — Ah, sim. Perdoe-me. É Will, não é? Elizabeth estava tremendo e seus olhos haviam se enchido de lágrimas. Ela

uniu as mãos. — Penny, você não pode contar isso para ninguém. — Jura? - disse Penélope, fazendo uma expressão falsa de amuo. - Por que

não mesmo? — Você ainda está chateada por causa de Henry... — Oh, é muito mais do que isso. Mas é verdade, minha querida amiga Liz.

Eu ainda estou chateada. Henry era meu. Nós formávamos um casal magnífico. E então, uma perversidade do destino destruiu tudo. Não sei bem como foi que

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aconteceu. Mas agora sei que posso consertar o estrago. Vou arruinar sua reputação, Liz - afirmou Penélope, dando um sorrisinho malicioso. - Mas foi você que fez tudo, meu bem. Eu só vou espalhar a notícia.

O olhar de Elizabeth pousou sobre o chão de madeira um pouco gasta e ela continuou com as mãos postas. A luz natural do cômodo fazia seu cabelo louro cintilar, dando-lhe um ar angelical que não abrandou a fúria de Penelope. Ela mordeu o lábio inferior com seus dentes brancos e ergueu a cabeça.

— Penny, ninguém gosta de um escândalo. — Eu gosto. — Eu sei - disse Elizabeth baixinho, enunciando cada palavra. - É por isso

que você é você... e eu sou eu. Mas ninguém vai gostar mais de você se fizer de tudo para me arruinar. Vai acabar com sua imagem.

— Ninguém precisa saber que eu... — E quando você surgir um segundo depois tentando se casar com meu

noivo? Não seja tola, Penny. Elizabeth deu um passo para frente com firmeza e, por um segundo,

Penelope vislumbrou a mulher de sangue quente que se escondia por detrás de uma máscara de perfeição.

— Penny? - disse Elizabeth. Ela ainda soava confiante, embora aquilo que queria e a extensão de seu

desejo estivessem estampados em seu rosto. — Posso ver o bilhete? Penelope atirou a cabeça para trás e bufou impacientemente. Ela colocou a

mão no bolso do casaco, pegou o bilhete e sacudiu-o na frente de Elizabeth por tempo suficiente para que ela reconhecesse seu papel de carta.

— Pode ficar com ele para sempre se fizer o que eu mandar. Penélope virou-se, exibindo suas costas cobertas de vermelho para

Elizabeth, que deu um passinho tímido em sua direção. — O que você quer que eu faça? — Encontre-me na minha casa na quarta-feira de manhã, às dez horas.

Tentarei pensar numa maneira de impedir que você se case com Henry sem arruinar sua reputação.

— Mas eu... Penelope passou a mão por um corte de seda bordado com fios de prata e

ouro e então observou Elizabeth por cima do ombro, vendo que seus olhos estavam arregalados de fúria e medo.

— Liz, você não tem escolha. Uma fina camada de suor surgira na testa de Penelope e seu estômago se

embrulhou. Estava na hora de ir. Ela tirou sua saia escarlate de cima dos pés e marchou para o elevador sem olhar para trás. Sabia que Elizabeth estaria na sua casa no horário marcado, com a mesma expressão de desespero.

Ao chegar numa fileira repleta de tecidos beges e cor de marfim, Penélope colocou a mão sobre uma escrivaninha e disse:

— Ah, Liz... - Ela se virou e encarou Elizabeth, lançando-lhe um olhar assustador. - Acho que você vai ter de escolher seu vestido sem minha ajuda.

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Um comentário sobre cores: tons de vermelho, escarlate e cereja devem ser escolhidos com muito cuidado, especialmente por jovens mulheres que se preocupam com a impressão que se terá delas.

TRECHO RETIRADO DA LADIES'STYLE MONTHLY, SETEMBRO DE 1899

a tarde de seu primeiro dia de liberdade, Lina ficou agradavelmente espantada ao pensar em todas as coisas maravilhosas que poderia fazer para passar o tempo. Ela

saiu do hotel onde estava hospedada na rua Vinte e seis e entrou na Sexta Avenida, ansiosa por começar sua nova vida. Agora que possuía uma fortuna tão extraordinária, não desejava mais evitar os olhares das pessoas de alta classe ou agradar a ninguém com exceção de si mesma. E queria que tudo que fizesse fosse grandioso.

Lina passara grande parte da manhã dando detalhes sobre o romance de Elizabeth e Will para Penelope Hayes e tornando-o ainda mais escandaloso, para assim satisfazer sua nova benfeitora. Mas não contara a ela que a família Holland poderia estar pobre. Estava compreendendo melhor a maneira como Penelope e outras meninas lidavam com segredos e, agora que descobrira o quão valiosa podia ser aquela informação, decidira guardá-la por mais algum tempo.

Penelope dera a Lina algumas roupas e jóias velhas em troca do bilhete e da história sobre Elizabeth e Will. Os vestidos já haviam saído um pouco de moda, mas Lina não podia reclamar. A roupa preta de empregada ficara para trás. Ela passou cerca de uma hora experimentando suas coisas novas e finalmente escolheu um vestido vermelho de poá. Penelope tinha dito que aquele era um de seus favoritos, mas que todos já a haviam visto usando-o na primavera passada. Mas os sapatos que Penélope lhe dera eram pequenos demais e Lina foi forçada a colocar suas velhas botas puídas.

Lina observou seu reflexo na vitrine de uma floricultura que ficava na esquina da rua Vinte e seis com a Sexta Avenida e admirou a forma como sua silhueta ficava no vestido vermelho. Ele havia sido especialmente desenhado para outro corpo, mas mesmo assim ficara bem nela. Seu nariz arrebitado e cheio de sardas e seus lábios grossos não seriam considerados belos pela alta sociedade, é claro, mas Lina ergueu o queixo e teve certeza de que possuía alguma beleza. Era uma grande vingança poder usar seu talento para fazer penteados nela própria.

Lina tinha certeza de que, no futuro, quando Claire visse o nome de sua irmã caçula das colunas sociais, acima do nome de Elizabeth Holland,

a

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consideraria o dia em que ela fora mandada embora uma ocasião feliz. Will também veria seu nome no jornal, é claro. Lina ficou deliciada ao imaginar a surpresa dele em ver como a velha Liney ficara rica e famosa. Ele viria procurá-la, com os olhos brilhando de admiração, e lhe diria o quanto sentira sua falta. Era assim que Elizabeth Holland conquistava corações: nunca correndo atrás, sempre bancando a difícil. Fora isso que Penelope dissera.

Lina sorriu para sua imagem na vitrine, que parecia estar mudando a cada segundo, e então decidiu ir para o lado leste da cidade, passando pelas lojas de chocolate e pelos alfaiates com seus toldos listrados, aproximando-se cada vez mais de sua velha vizinhança. Logo, ela estava na Quinta Avenida. Estava no território de Elizabeth mais uma vez, a poucos quarteirões da mansão dos Holland, mas sua vida de empregada parecia ter séculos. Ao atravessar o parque na Madison Square, Lina viu o arco do triunfo que havia sido erguido em homenagem ao almirante Dewey e sua colunata. Atrás dela, a coluna do Madison Square Garden se erguia bem no alto - ela sabia que Will já estivera ali uma ou duas vezes, para ver algum jogo. Foi então que Lina avistou, do outro lado da rua, o Fifth Avenue Hotel, um dos locais onde as meninas Holland iam tomar chá com sua tia. Ela lembrou que era isso que as senhoras de classe faziam quando não havia nenhum outro compromisso - tomavam chá. Lina observou o edifício de mármore branco de seis andares, com suas janelinhas quadradas, e considerou aquilo um sinal. Ela desamassou seu vestido vermelho.

A Avenida estava cheia de carruagens, bondes e homens usando chapéus. Lina ia apenas beber um chá, mas sentia-se como se estivesse sendo apresentada formalmente à alta sociedade. Pela primeira vez na vida, iam servir a ela, e não o contrário. Lina se perguntou se ia encontrar com Elizabeth, talvez fazendo um intervalo entre uma compra e outra na Lord & Taylor que, afinal, ficava a meros três quarteirões dali. Como Elizabeth ficaria chocada ao descobrir que ela não era mais Lina Broud, a criada. Agora era Lina Broud - Carolina Broud - uma mulher com quinhentos dólares na bolsa e um futuro maravilhoso peia frente.

Lina atravessou a Avenida, pegando a saia nas mãos para que ela não arrastasse na sujeira. Ela passou pela multidão de carregadores que estava parada na porta do hotel e entrou no lobby, passando os olhos pelos suntuosos tapetes e sentindo o cheiro delicioso de café e flores frescas. Lina já estivera ali antes, mas sempre fazendo alguma coisa para a família Holland. Certa vez, ela até vislumbrara a redoma de vidro que havia no salão de chá, sob a qual eram exibidos os bolos disponíveis no cardápio. Lina deu um passo na direção do salão e viu um dos atendentes do hotel vindo falar com ela.

— Boa tarde, senhorita... - disse ele, mas então parou de falar subitamente. O homem olhou para o vestido, para os pés e para o rosto de Lina e ela, que

há poucos segundos estava plenamente confiante, sentiu-se muito envergonhada. — A senhorita está hospedada no hotel? - perguntou o atendente. — Não - admitiu Lina com um pouco de tristeza. - Estou na West Side Inn,

que fica na rua Vinte e seis... Ela não teve coragem de continuar, pois viu que o homem estava olhando

de novo para seus pés. Lina olhou para baixo; ainda estava segurando o vestido e, com isso, suas botas velhas estavam completamente à mostra. O atendente fez

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um gesto para um outro homem, que estava usando um uniforme igual, e ele se aproximou.

Lina olhou em torno e se deu conta de que as senhoras que atravessavam o lobby estavam acompanhadas por outras mulheres ou por um de seus criados. Ela se perguntou como podia ter achado que conseguiria passar por uma menina de alta classe tão facilmente e em tão pouco tempo. O primeiro atendente estava olhando para ela e sussurrando algo para o segundo, que olhava com nojo para suas botas.

— Com licença - disse o segundo atendente. - Você veio encontrar alguém aqui no hotel?

— Não - respondeu Lina, arrasada. — Então vamos ter de lhe pedir para sair - disse o primeiro atendente com

um sorriso de desprezo inteiramente desnecessário, pois Lina já estava se sentindo bastante humilhada.

Ela gostaria de ter desaparecido naquele segundo, só para poder se afastar do olhar de escárnio dos dois atendentes. Lina aproximou-se da porta e correu para a rua, ouvindo o vestido vermelho farfalhar em suas pernas. Ela decidiu entrar na Broadway, no local onde esta cruzava a Quinta Avenida, formando um triângulo. Continuar a descer aquela avenida só serviria para lembrá-la do quanto fora tola. Lina estava andando tão depressa que mal via o que estava à sua volta e por isso levou um susto ainda maior quando bateu com força no peito de um homem.

— Perdão, senhorita. Lina reconheceu imediatamente o homem em quem esbarrara, mas levou

alguns segundos para acreditar que ele estava falando com ela com tanta educação. Era o vendedor da Lord & Taylor, aquele que Claire declarara ser bonito. Aquele que era contratado especialmente para seduzir as jovens da alta sociedade - algo que Lina não era.

— Sinto muito - disse ela, abaixando os olhos. — Não, sou eu quem lamenta - afirmou o rapaz timidamente. Ele estava usando uma camisa social bege clara e um colete de seda

marrom e seu paletó estava pendurado no braço. Lina achou-o ainda mais belo do que da primeira vez em que o vira, o que tornava ainda pior o fato de que ela não conseguia imaginar nada para dizer. Ela ficou olhando estupidamente para seus olhos cor de mel.

— Provavelmente vai considerar grosseiro da minha parte dirigir-me à senhorita desta maneira, mas creio conhecê-la de algum lugar. Talvez tenha tido o prazer de atendê-la na loja de departamentos Lord & Taylor?

Lina sorriu instantaneamente. Pelo menos uma pessoa no mundo não a considerava uma criada.

— Ou talvez tenha visto seu retrato no jornal? O rapaz da Lord & Taylor estava sorrindo também. Ele tinha um nariz

longo e um vestígio de barba no queixo e era muito mais alto do que Lina. — Talvez uma menção sua, relacionada a algum baile? Lina deu de ombros evasivamente. Após ter sido expulsa do hotel, ela

sentiu que precisava tomar muito cuidado para não cometer erros. Mas não

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queria que aquele momento acabasse. Ser confundida com uma dama, e ainda por cima por um rapaz tão bonito e gracioso, era bom demais.

— A senhorita não está sozinha, está? Seus pais ainda estão no hotel? Lina olhou para o prédio de mármore e ficou feliz ao ver que nenhum dos

dois atendentes estava na porta. — Oh... não. Estou hospedada aqui sozinha. — A senhorita me parece tão familiar... - disse o rapaz de novo, virando o

rosto para poder observá-la melhor. Lina não conseguiu se controlar e continuou sorrindo alegremente. — Acho que é um mistério - disse ela. — Bem, a senhorita se incomoda se eu tentar me lembrar um pouco mais?

Talvez possamos tomar um drinque juntos. Lina corou sem querer. — Ah, sei que não parece correto, mas a senhorita não será a primeira

garota chique que vai comigo para partes menos luxuosas da cidade. Prometo devolvê-la sem um arranhão.

— Não é isso - disse Lina, sentindo-se desconfortável de novo e temendo revelar sua identidade verdadeira. - É que eu já estou envolvida com alguém - explicou ela, lembrando que toda aquela metamorfose, ou pelo menos a maior parte dela, era especialmente para Will.

— Não tem importância - disse o rapaz, dando um sorriso malicioso. - É só por uma tarde. E eu prometo não contar a ninguém.

Lina pensou em Will mais uma vez e desejou que ele estivesse ali cortejando-a no lugar do vendedor. Mas também desejou que esse momento maravilhoso durasse mais um pouco.

*** Quando os olhos de Lina se acostumaram com a penumbra, ela viu um chão

repleto de serragem e paredes cobertas por folhas de jornal. Garçonetes mais novas do que ela iam de mesa em mesa carregando canecas de cerveja. Havia uma mulher gorda num dos cantos cantando uma musica chamada Old Folks at Home, que Lina já ouvira Claire assobiar. Embora ainda fosse de tarde, a cena dentro do bar achar que a noite caíra de repente.

— Bem diferente da Quinta Avenida, não é? - comentou o rapaz da Lord & Taylor.

Lina assentiu e então se deu conta de que cometera um erro: ela não comera nada o dia todo e estava se sentindo um pouco tonta. Além disso, todo o dinheiro que Penelope lhe dera estava guardado na bolsinha de seda que levava debaixo do braço. E ali estava ela, num bar no Bowery, uma região famosa por seus bares, casas de penhores, bordéis e pessoas perigosas.

— Como é mesmo seu nome? - perguntou ela. — Tristan Wrigley. Lina reparou que o cabelo claro do rapaz estava um pouco desgrenhado e

ele sorriu com uma expressão enérgica que ela não compreendeu inteiramente. — E o seu? - perguntou Tristan.

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— Carolina Broud. Lina gostou do som de seu nome completo e sorriu. Arrependeu-se de não

ter expandido o sobrenome também, afirmando se chamar “Carolina Broudhurst” ou “Carolina Broudwell”.

Tristan fez um gesto para o barman e em poucos segundos duas enormes canecas de cerveja preta surgiram diante deles e a espuma derramou sobre o balcão.

— Perdoe-me se não paro de olhar para a senhorita. Mas é que tenho certeza de que nos conhecemos antes, mas seu nome não me soa familiar...

— Não faz muito tempo que fui apresentada à sociedade. Lina tomou um gole de cerveja e não soube dizer se gostara ou não. Ela

nunca tinha tomado aquilo, só bebera um pouco do uísque de Will algumas vezes, e achou que parecia algo estragado. Mas Lina se lembrou de que uma das empregadas da cozinha um dia lhe dissera que, se não havia comida, uma cerveja e um cigarro eram quase tão bons quanto. Então, ela bebeu mais um pouco e disse:

— Eu devo me parecer com muitas outras meninas. — Nem um pouco. Tristan deu aquele sorriso de novo. Era um sorriso diferente de todos os que

Lina já vira e ele a fazia sentir feliz, aquecida e também um pouco culpada. — A senhorita é muito bonita, srta. Broud. — Não vá tendo nenhuma ideia, sr. Wrigley - avisou ela. - Já disse que

estou envolvida com alguém. Ele está no oeste do país tentando fazer fortuna, mas isso não significa que...

— Ah, já entendi - disse Tristan alegremente, piscando um olho e fazendo uma expressão parecida com a de Will. - Seu namorado não tem dinheiro o suficiente para deixar seus pais felizes e por isso está tentando ganhar uns trocados para poder obter sua mão.

Lina ficou lisonjeada ao ouvir aquilo e desejou que fosse verdade. Ela corou e Tristan pareceu compreender que devia mudar de assunto.

— Aposto que a senhorita nunca viu um lugar como esse - disse ele, virando-se para trás e observando o cômodo longo, que tinha um telhado baixo feito de estanho. - Está vendo aquele homem de cartola?

Lina seguiu o olhar dele e viu um homem de estatura mediana com um nariz amassado e olhos pequenos. Ele estava sentado numa mesa, cercado de mulheres que lhe pareceram estar quase tão bem vestidas quanto ela.

— Aquele feio? - perguntou ela. Tristan riu. — Aquele é Kid Jack Gallagher. Matou um homem a socos há dois dias.

Foi uma luta longa e o oponente dele nunca tinha sido derrotado por ninguém. Bom, até então, é claro.

— Se ele é um assassino, porque aquelas moças bonitas estão lhe dando tanta atenção? - perguntou Lina, observando as mulheres em volta de Kid Jack.

— Não são moças bonitas. São putas. E estão ali porque sabem que ele ganhou muito dinheiro com a luta.

— Ah.

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Tristan ergueu sua caneca e jogou a cabeça para trás, bebendo todo seu conteúdo. Ele olhou para Lina de forma um pouco selvagem.

— Quer tentar? Lina sorriu. Sempre gostara de um desafio. Ela jogou a cabeça para trás e

tomou toda a cerveja de uma só vez. Quase se engasgou, mas conseguiu. Tristan fez outro gesto para o barman.

— Tome mais uma - disse ele, mostrando as duas novas canecas que haviam surgido.

— Se o senhor insiste - disse Lina, olhando para sua segunda cerveja. Ela já estava bastante tonta, mas adorara o fato de que Tristan lhe

considerava uma mulher da sociedade que enveredara por um mau caminho. Além do mais, não queria voltar para o hotel e ficar sozinha naquele quarto coberto por um papel de parede velho e com vista para outro prédio.

As horas se passaram. Lina inventou diversas historinhas sobre si mesma para contar a Tristan, sempre tomando cuidado para não dar muitos detalhes. Ele ouviu tudo com grande interesse. Ela bebeu mais três cervejas e, quando se deu conta, estava quase caindo do banquinho em que se sentara.

— Ei - disse Tristan gentilmente, ajudando-a a se endireitar. - Tome cuidado.

— Obrigada. Lina deu uma risadinha, colocou a mão sobre a boca e arrotou, dando um

sorriso bobo para o homem que estava sentado ao seu lado. — Sabe, Christian - disse ela, apertando os olhos para ele e perguntando-se

se o nome que dissera estava correto. - Gosto de você. Não tanto quanto gosto de Will. Jamais poderia amar outro homem além dele. Mas gostei de conversar com você.

Tristan pegou a mão de Lina e beijou-a. — Acho que finalmente lembrei quem você é. É amiga de Adelaide

Wetmore, e foi comprar broches na loja há duas semanas. Lina riu e balançou a cabeça. — Talvez uma das netas do comodoro Vanderbilt? Lina ergueu as sobrancelhas ao ouvir essa sugestão, mas teve de balançar a

cabeça de novo. — Então, talvez eu esteja reconhecendo-a porque a senhorita está envolvida

no casamento de Elizabeth Holland e Henry Schoonmaker? Ao ouvir aquele nome, Lina parou de sorrir. — É isso, não é? Você é uma das amigas de Elizabeth Holland? — As Holland - disse ela, furiosa. - A família toda é horrível.

Principalmente Elizabeth. — É mesmo? Ela sempre me pareceu muito educada. Lina balançou a cabeça com nojo. Ela lembrou que, se Elizabeth não tivesse

enganado Will e roubado seu amor, ele estaria apaixonado por ela. — Ela é assim em público. Mas quem a conhece sabe bem que ela é

insuportável. Lina parou de falar, concluindo que já revelara demais. Então, ela se

recordou de que o homem com quem estava conversando cobrara contas de seus ex-empregadores.

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— Além do mais, eu sou muito mais rica do que os Holland. — É mesmo? - disse Tristan, colocando lentamente sua caneca sobre o

balcão. - as os Holland são uma família tão antiga. — Mesmo assim - disse ela orgulhosamente, sabendo que estava sendo tola,

mas incapaz de parar. - Eu poderia comprar todas elas. — Sério? E o que faria com elas se as possuísse? — Eu as obrigaria a esfregar o chão da minha casa, a remendar minhas

meias e a comprar lírios de uma cor muito específica para mim - disse Lina, adorando aquela fantasia.

— Parece trabalho demais para as Holland - disse Tristan com um olhar maroto.

— Ah, você não as conhece. Família horrível. São umas princesinhas. Principalmente Elizabeth - disse Lina, tomando um gole de cerveja - Gostaria que ela morresse.

— Posso dar um jeito - afirmou Tristan, inclinando-se para frente. - Sei que quem me vê com esse terno e esse jeito de falar pensa que não combino com pessoas como Kid Jack Gallagher. Mas se você quiser fazer Elizabeth Holland desaparecer...

Tristan ergueu uma de suas sobrancelhas louras. Lina deixou sua caneca cair pesadamente sobre o balcão, desconcertada com essa mudança de assunto. Então, ela olhou para Tristan - que estava sério agora, mas que estivera tão alegre a tarde toda - e percebeu que ele devia estar brincando. Ela colocou a mão na frente da boca e deu uma risadinha. Era terrível rir daquilo, mas havia uma certa graça na ideia de Elizabeth sendo assassinada por um dos rapazes que costumavam entregar seus vestidos. Além disso, era só uma fantasia.

— Ia ser bem feito - disse Lina após parar de rir. — Vamos brindar a isso, Carolina - disse Tristan, batendo sua caneca na

dela. Logo, o mundo todo pareceu estar embaçado; os rostos das pessoas em

torno ficaram distorcidos e a música ficou mais alta. O brinde com Tristan foi a última coisa de que Lina se lembraria no dia seguinte.

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VÉÅ tÅÉÜ?VÉÅ tÅÉÜ?VÉÅ tÅÉÜ?VÉÅ tÅÉÜ? fxâ Ñt|Afxâ Ñt|Afxâ Ñt|Afxâ Ñt|A

lizabeth acordou cedo na terça-feira e não conseguiu adormecer de novo, embora tenha ficado grata pelo pouco que dormira. Ela passara a noite inquieta e rodeada por fantasmas.

Não teve energia para escolher uma roupa nova e por isso colocou o mesmo vestido que usara no dia anterior, o vestido de algodão bordado com decote quadrado e mangas três-quartos franzidas. Ainda faltava muito para a hora do café da manhã quando ela terminou de ser vestir. Mas, de qualquer maneira, Elizabeth não estava com fome, e por isso foi para a saleta que havia no terceiro andar. Era ali que as mulheres da família Holland escreviam suas cartas e guardavam sua correspondência.

A coisa mais importante que Elizabeth encontrou no cômodo foi uma pilha de tecidos da Lord & Taylor que deviam ter sido entregues na tarde do dia anterior. A saleta era mais simples que o resto da casa, com o chão feito de tacos largos de madeira escura e uma cornija de metal sem adornos na lareira. O papel de parede era marrom com folhas de veludo. Os metros e mais metros de musselina de seda e renda belga cintilavam na escrivaninha do canto do aposento. Lá havia também um bilhete do sr. Carroll, pedindo que ela lhe dissesse se aprovava os tecidos e afirmando que seu assistente passaria ali de tarde para apanhá-los e levá-los para sua loja na rua Vinte e oito. Mas Elizabeth não estava com cabeça para aquilo. O que ela desenhava, mais que tudo, era poder conversar com seu pai.

As cartas que Edward Holland enviara para sua filha mais velha ficavam guardadas em diversas das pequenas gavetas de uma enorme armário de mogno. Elizabeth recebera envelopes brancos com selos do Japão, da África do Sul e do

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Alaska, e mantinha todos organizados por data, amarrando as cartas de cada mês com uma fita azul-clara. As cartas de seu pai estavam repletas de observações sobre povos estrangeiros e ideias sobre o que era ter dignidade pessoal. Edward Holland viajara muito. Ele dizia que o fazia por causa dos negócios, mas na verdade quisera ver o mundo.

Elizabeth abriu uma das gavetas e tirou um punhado de cartas. Mesmo antes de seu pai morrer, ela criara o hábito de vir até a saleta e escolher uma de suas cartas a esmo, buscando conselhos ou sabedoria. Agora, precisava disso mais do que nunca e, por isso, fechou os olhos e percorreu as margens abertas dos envelopes brancos com a ponta de seu belo dedo. Quando escolheu um, Elizabeth abriu os olhos e viu as letras longas e inclinadas desenhadas por seu pai. Ela pegou o envelope e releu o bilhete, que devia ter vindo junto com um presente qualquer.

— “Lembre-se sempre de ser verdadeira” - leu ela num sussurro. - “Verdadeira e honesta como a menina que eu conheço tão bem.”

Elizabeth sentiu a vergonha se espanhando por seu corpo. Entãi era isso que seu pai lhe diria se estivesse vivo. Ela fechou os olhos e pensou no quão mal as palavras “verdadeira” e “honesta” lhe descreviam naquele momento. Mas talvez ainda houvesse tempo para mudar isso.

Elizabeth se virou, atravessou o corredor e entrou no cômodo que servira de escritório para seu pai, segurando o bilhete.

Agora, aquele aposento era usado por sua mão todas as manhãs, onde ela examinava as contas cada vez mais numerosas da família e lia os jornais, como se esperasse encontrar uma maneira de reaver sua fortuna. Elizabeth encostou o rosto na porta e bateu.

Ninguém respondeu. Ela esperou alguns segundos e entrou, pisando leve. Ali estava sua mãe, vestida de negro e sentada à grande mesa de carvalho com tampi de couro vinho onde seu pai costumava escrever. Os cabelos da sra. Holland, que estavam sempre muito bem presos e muitas vezes também cobertos por um chapéu, caíam-lhe pelos ombros. Eles eram do mesmo tom de castanho que os de Diana, mas tinham alguns fios brancos. A sra. Holland olhou para cima e desejou bom dia para a filha.

— Mamãe, preciso falar com a senhora sobre esse casamento - disse Elizabeth, entrando no aposento na ponta dos pés.

A sra. Holland assentiu, indicando que ela podia continuar a falar, mas não tirou os olhos da carta que tinha nas mãos.

— Tenho pensando nas coisas que papai desejava para nós, na maneira como ele vivia sua vida e como esperava que vivêssemos a nossa. Estava lendo suas cartas esta manhã e encontrei uma na qual ele me pedia para ser sempre verdadeira e honesta. Casar com Henry Schoonmaker me impediria de ser ambas as coisas.

Elizabeth esperou que sua mãe dissesse alguma coisa, mas ela nem se moveu.

— Acho que papai gostaria que eu me casasse por amor - disse ela, com a voz trêmula. - E, embora eu fique muito lisonjeada com o interesse do sr. Schoonmaker e saiba que ele é uma pessoa muito importante, sei que não o amo, nem um pouco. E acho que nunca amarei.

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A sra. Holland se recostou na cadeira de carvalho e couro em que estava sentada, mas mesmo assim não olhou para sua filha.

Ela comprimiu os lábios, mas não fez qualquer outro movimento. Embora a sra. Holland nunca houvesse sido bonita e houvesse envelhecido muito desde a morte do marido, Elizabeth podia discernir nela a menina que tanto impressionara seu pai quando ainda se chamava Louisa Gansevoort. Cada gesto seu demonstrava autoridade.

— Creio que devo ficar feliz com a deserção de nossos funcionários, já que não posso mais pagá-los. Mas é doloroso, especialmente por ele ter sido o criado pessoal de seu pai.

Elizabeth ficou tão pasma com essa alusão a Will que disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça.

— O que você está lendo, mamãe? — É uma carta, minha filha. — De quem? — De Snowden Trapp Cairns, que foi o guia de seu pai quando ele viajou

para o Yukon, no Alaska. — Oh - disse Elizabeth, lembrando vagamente daquele cavalheiro de

Boston, que tinha cabelos louros e boas maneiras, apesar de gostar de passar o tempo escalando montanhas. - Ela é muito interessante?

A sra. Holland largou a carta e olhou para cima. Seu olhar estava tranquilo e ela avaliou a filha de forma quase melancólica.

— Seria muito bom se você pudesse se casar por amor, minha filha. Talvez, se seu pai não tivesse sido morto... - Ela fez uma pausa, franzindo os cantos da boca. - Mas não agora.

— Morto? Elizabeth sentiu uma dor física ao pronunciar aquela palavra. Toda sua

confiança desapareceu, dando lugar para essa nova mágoa. — Mas o papai teve um ataque cardíaco quando estava dormindo! A sra. Holland fez um gesto de desespero. — Essa foi a única maneira possível de contar a história para vocês duas... e

para todo mundo. Seu pai era jovem demais para ter um ataque cardíaco. O sr. Cairns me diz nessa carta que ele se envolveu numa transação suspeita de terrar no Alaska pouco antes de sua morte. Essas pessoas não são educadas como os Holland. Garimpeiros não vêm de famílias como a nossa. Em geral, eles são criminosos. E seu pai se envolveu nessa história.

Elizabeth achou que ia passar mal e precisou direcionar toda sua energia para não cair desmaiada.

— Não importa mais, querida Elizabeth. Temo que seu pai tenha feito escolhar muito ruins na hora de investir sua herança. Ele teria gostado de vê-la se casando por amor, mas não ficaria feliz em saber que sua família estava arruinada. É isso que você quer? Que sua família fique arruinada?

Elizabeth balançou a cabeça devagar, aterrada. Ela estava sentindo as lágrimas surgindo em seus olhos e há dias não fazia outra coisa além de chorar.

— Ótimo, porque só há uma coisa a fazer. A vontade de seu pai seria vê-la colocando sua família antes de você mesma, Elizabeth. É o que pessoas como nós sempre fizeram.

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A sra. Holland ergueu o queixo e levantou levemente a voz para deixar clara sua posição:

— Você precisa se casar com Henry, Elizabeth. Não vou mais considerá-la minha filha se não o fizer.

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uando Lia Acordou, ela estava coberta de suor frio. Sua cabeça doía e havia um zumbido detestável em seus ouvidos. Estava numa cama, porém uma que era bem mais larga que a de seu

quarto de hotel. O teto era de madeira sem qualquer pintura ou ornamento e só havia uma janela no aposento, estreita e suja, que dava para uma rua do centro da cidade. Lina tentou se lembrar de como viera parar ali, mas só se recordou de um bar escuro cheio de figuras embaçadas e de suas risadas incontraláveis. Um segundo depois ela se lembrou de Tristan, da cena em frente ao Fifth Avenue Hotel e do fato de que saíra ontem com toda sua fortuna dentro da bolsa.

Lina colocou a mão no peito e saiu correndo da cama. Ela ainda estava usando a anágua e o espartilho que Penelope lhe dera e encontrou o resto de sua roupa empilhado na única cadeira que havia no quarto. Sua bolsa estava acima do vestido, que fora muito bem dobrado, e todas as notas estavam lá dentro. Havia um bilhete também.

Lina leu a primeira parte do bilhete sem entender direito - do que ele ia cuidar, exatamente? Mas a parte dos sapatos estava bastante clara. As vergonhosas botas de Linas haviam desaparecido e, no lugar delas, surgira um par de sapatos de couro com saltos baixos, tão belos quanto qualquer objeto das Holland. Por alguns segundos, Lina só consegiu se concentrar neles.

Ela colocou-os e deu alguns passos pelo quarto, vestindo apenas a anágua, o espartilho e seus sapatos novos. Nada jamais lhe caíra tão bem. Lina imaginou seu futuro como uma dama da sociedade, repleto de vestidos feitos sob medida e sapatos elegantes. Ela se casaria com Will Keeler, que já teria feito uma fortuna

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no oeste do país. Por alguns segundos, ficou deliciada, mas um raciocínio lógico surgiu em sua mente enevoada e todas as coisas boas que estava sentindo foram substituidas por uma imensa vergonha.

Ela estava saltitando pelo quarto de um estranho, usando nada além da roupa de baixo qua ganhara da ex-amiga de sua ex-patroa. Ontem, Lina tivera a chance de se comportar como uma moça de família rica, mas, em vez disso, se embebedara num lugar vulgar e agora estava ali, acordando num quarto estanho sem se lembrar direito do que acontecera na noite anterior. Lina sentiu desprezo por si mesma por ter se desviado tanto, e tão rapidamente, do caminho que pretendia trilhar.

Ela vestiu-se depressa, pegou a bolsa e o bilhete e saiu dali o mais rapidamente possível, descendo por uma escada estreita e se perguntando como pudera se deixar enganar tão facilmente. Tristan a confundira com uma dama, mas Lina acabara de perceber que estava muito longe de ser uma.

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Aparentemente, a srta. Elizabeth Holland perdoou seu noivo, o sr. Henry Schoonmaker, por sua má conduta durante os festejos em homenagem ao almirante Dewey, pos há rumores de que o casamento foi antecipado para este domingo, oito de outubro. Devido ao tempo escasso para os preparativos, dizem que os melhores floristas, cozinheiros e costureiros da cidade estão trabalhando sem parar para conseguir organizar o suntuoso evento. É muito provável que a união das famílias Holland e Schoonmaker possa ser considerada como o maior casamento do século XIX.

NOTA DA COLUNA “GAMESOME GALLANT”, DO JORNAL NEW YORK

IMPERIAL, TERÇA-FEIRA, 3 DE OUTUBRO DE 1899. — O maior casamento do século XIX! - repetiu Penelope enojada. Ela estava caminhando devagar pela sala de estar, reservada apenas para

seu uso pessoal, que ficava no segundo andar da mansão de sua família. A tarde estava bonita e a cidade estava agitada. Penelope, que segurava seu cãozinho perto do peito, beijou a cabeça dele.

— É uma certa hipérbole, você não acha? - perguntou ela. — Definitivamente é um certo exagero - respondeu Isaac, que fumava um

pequeno cigarro fúcsia. - E você sabe que, em geral, eu gosto de exageros. — Pelo amor de Deus - disse Penelope, revirando seus enormes olhos azuis.

- Meu nome, e não o de Liz, deveria estar no jornal ao lado do de Henry. Ela me deixa furiosa.

Penelope bateu o pé no chão uma vez, voltou-se abruptamente e andou das janelas que davam para o oeste até as janelas que davam para o sul. Isaac cruzou suas pernas grossas e exalou um pouco de fumaça.

— Eu conheço o rapaz que escreve essa coluna. Ele se chama Davis Bernard. É primo de segundo grau da minha mãe ou qualquer coisa assim. Talvez nós pudéssemos...

— Mas não importa, porque eu não estou noiva de ninguém, estou? Penelope, que usava um vestido preto, estava sentindo calor e coceira, além

de estar impaciente com tudo e todos. Teve vontade de arrancar o estofado branco e dourado dos móveis da sala, mas ainda não perdera a cabeça a ponto de destruir um bom brocado. Ela suspirou, voltou-se para Isaac e disse, mais controlada:

— Desculpe. Não quis ser grosseira. É tudo tão difícil... Ela praticamente me ameaçou, sabia?

— Mesmo? Como?

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— Ela disse que se eu contasse a todos o que ela fez, isso também acabaria com a minha imagem - respondeu Penelope, voltando a quase gritar. - Com a minha imagem! Como se fosse eu que estivesse dormindo com o cocheiro!

Isaac ergueu suas sobrancelhas claras e perfeitamente esculpidas. — Ela tem razão - disse ele com cuidado. - Vai ser difícil para você reaver

Henry se estiver ligada à ruina de Elizabeth, ou parecer de beneficiar dela. A alta sociedade não gosta dos orportunistas.

Isaac balançou o dedo de um lado para o outro. Penelope emitiu um som gutural e arregalou os olhos;

— Eu não sou uma oportunista! - lamuriou-se ela. Robber se remexeu, querendo pular para o chão, mas Penelope segurou-o

com firmeza. Ela andou até onde Isaac estava e desabou no sofá ao lado dele. Alguns segundos de um silêncio constrangedor se passaram e então Penelope continuou, com a maior tranquilidade possível.

— Eu não vou suportar se ela ficar com ele. Entendeu? Precisamos de um plano, um plano perfeito, que acabe com esse noivado imediatamente.

— Nós vamos pensar em alguma coisa. Isaac coçou a cabeça de Robber e deu tapinhas carinhosos nos dedos longos

de Penelope. — Ela vai estar aqui amanhã de manhã. Como vamos conseguir pensar num

plano em menos de vinte e quatro horas? — Penny, você sabe que eu sou muito vom nisso... — Ela é tão perfeita em tudo! - interrompeu Penelope, levantando-se e

jogando Robber no colo de Isaac. - Todo mundo acha! E, enquanto isso, ela estava... fazendo você sabe o que com os serviçais.

Penelope deu um sorrisinho quando algo lhe ocorreu. — Ela provavelmente achava que estava fazendo a coisa correta para um

cristão, entregando-se para quem mais precisava - disse ela. Isaac deu uma risadinha sadônica ao ouvir isso. — E você acha que ela vai aparecer amanhã? — É claro. Ela deve estar apavorada. Eu estaria. Penelope riu sem alegria, cruzou os braços e continuou a andar de forma

agitada por sobre o chão de nogueira negra. — Você devia ter visto a cara dela, Isaac. Parecia um fantasma, de tão

branca. Isaacbateu a cinza do cigarro no cinzeiro, que era mantido a um metro do

chã por uma escultura de diversas ninfas banhada a ouro. Ele apoiou o queixo na palma da mão, pensativo.

— Bem... já um bom começo. Penelope trincou o maxilar e cerrou os punhos, balançando-os no ar com

frustração. — É claro que é um bom começo. Seria melhor ainda se pudéssemos

mostrar para todo mundo a piranha que ela é. Assim, todos compreenderiam por que ela não pode se casar com Henry e tudo voltaria para o lugar. Mas aparentemente, isso seria ruim para a minha imagem.

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Penelope soltou um grito, atirou-se no chão e bateu nele com os punhos. Isaac se levantou do sofá e pegou-a pelas axilas, obrigando-a a ficar de pé. Ele abriu um enorme sorriso, fazendo suas bochechas gorduchas se moverem.

— Você precisa se acalmar. Nunca vai conseguir o que quer se não puder controlar sua raiva.

— Eu sei! Penelope respirou algumas vezes, tentando lembrar que já virara o jogo a

sei favor. Ela se apoiou em Isaac e os dois foram até as janelas que davam para a Quinta Avenida. Lá embaixo, carruagens passavam devagar, carregando passageiros que fingiam não estar observando os veículos ao lado e que às vezes, quem sabe, também olhavam para cima para ver se conseguiam deslumbrar a menina mais bela da cidade. Penelope virou de costas para a Avenida, mostrando a curva dramática de sua coluna para os passantes. Ela detestava pensar que qualquer um deles pudesse considerá-la uma pessoa fraca.

— E ainda por cima eles anteciparam esse casamento só para me enfurecer...

— Bem, tenho certeza de que não foi só para lhe enfurecer. Penelope olhou com ódio para Isaac. — Não vou tolerar perder para Elizabeth! - berrou ela. - Não quero que

todos achem que uma idiota de uma dessas famílias velhas roubou meu namorado!

— Calma, minha querida - disse Isaac, massageando os ombros da amiga e usando um tom de voz bem doce. - Não podemos ficar dando voltas dessa maneira. Precisamos pensar num plano até amanhã. Temos as cartas certas na mão. Só precisamos saber como vamos jogar. E vamos saber.

Penelope pousou o rosto na lapela de Isaac e lembrou-se da cena na Lord & Taylor, tentando descobrir qual era a fraqueza de sua rival. Mas tudo o que viu foi o rosto de Elizabeth, com o queixo tremendo e os olhos repletos de tristeza. Ela continuava enlouquecida de raiva e por isso levantou mais uma vez, foi até o sofá onde Robber estava deitado e pegou-o. O cãozinho soltou alguns latidos, mas Penelope se recusou a largá-lo.

— Precisamos encontrar um jeito, Isaac. Não vou aguentar perder. Prefiro ver Elizabeth morta ao vê-la casada com meu Henry.

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TRECHO DO DIÁRIO DE DIANA HOLLAND, TERÇA-FEIRA, 3 DE OUTUBRO DE

1899.

ntão foi mesmo nove da noite que você quis dizer! - exclamou Diana.

Henry havia aberto o portão lateral para ela e os dois tinham atravessado um caminho de cascalho e entrado na estufa de teto de vidro. Após fechar a porta, ele se virou e sorriu para Diana, fazendo-a esquecer instantaneamente de tudo que planejara dizer.

— Tive medo de que você não entendesse - disse ele alegremente. - Mas não muito medo.

Diana ainda estava segurando o marcador que encontrara dentro do livro de Walt Whitman e que agora estava no bolso de sua capa. Ela o lera diversas vezes no caminho, só para se certificar de que Henry Schoonmaker a convidara para visitá-lo, e numa hora inapropriada para moças de família.

A estufa cheirava a terra e flores e continuava tão bela como naquela noite, há uma semana e meia. Eles passaram por folhas gigantescas e mudas raras e, quando chegaram do outro lado, Hanry abriu uma porta que dava num quartinho. O teto ali também era de vidro, mas fosco e mais baixo, e havia uma cama coberta por uma colcha feita à mão.

— Esse era o quarto do jardineiro - explicou Henry. - Mas ele começou a namorar uma das costureiras de Isabelle, e agora eles estão casados e dormem juntos na casa. Ele me deixa usá-lo de vez em quando.

Diana se perguntou o que ele queria dizer com “de vez em quando” e o que queria dizer com “usar”. Mas ficou absorta pela beleza do quarto. O ar era fresco por causa de todas as plantas e a iluminação vinha de lâmpadas amarelas simples. Não havia velas, incenso ou champanhe, sempre presente nas cens de sedução

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descritas nos folhetins. Eles pareciam estar distantes de tudo, num lugar remoto e belo.

— É lindo aqui - disse ela. — Para ser sincero, não achei que você viesse. Afinal, a única coisa boa que

tenho é minha estufa - disse Henry provocando-a e fazendo-a se lembrar de como ele parecera diferente quando ela dissera essa frase. - Achei que ia querer vir, mas...

— Mas achou que eu não ia conseguir? Sou bastante engenhosa, Henry. Diana piscou para ele, que sorriu. Os dois estavam sorrindo sem parar. Ela

tirou o capuz de sua capa e esperou que Henry viesse pegá-la. Foi o que ele fez, desabotoando-a de cima para baixo e deixando Diana apenas com seu vestido de cambraia azul-marinho de bolinhas, que ela botara para não parecer que estava indo a nenhum lugar especial se fosse pega.

— Que bom - disse Henry. Ele olhou para Diana com admiração até que ela começou a ficar

vermelha. Então, Henry botou os dedos na gola do vestido, onde ficavam os primeiros botõezinhos brancos.

— Eu não queria estar muito bem-vestida, caso alguém... Henry interrompeu-a com um logo beijo na boca. Ele enlaçou-a e trouxe-a

mais para perto, apertando seu corpo contra o dela e deixando a palma da mão em suas costas, o que causou uma sensação deliciosa em Diana. Foi um beijo molhado, com um ritmo próprio, que não acabava nunca. D iana temeu que a emoção fosse forte demais para seu coração inexperiente. Henry estava sorrindo quando finalmente se afastou dela, mas seu sorriso agora era mais gentil.

Henry pegou o primeiro botão e virou-o entre os dedos. Diana deu um suspiro fundo que fez seu peito subir e descer. Então, ele foi desabotoando um a um, até chegar em seu torso. A parte de cima do vestido de Diana caiu sobre sua cintura e ela ficou só com um chemise transparente lhe protegendo os seios. Diana pressionou um lábio contra o outro, tentando respirar mais devagar. Henry manteve os olhos fixos nela enquanto tirava seu vestido pela cabeça. O vestido caiu ao chão e Diana ficou apenas com a roupa de baixo.

Ela jogou a cabeça para trás e seus olhos escuros brilharam. — Então você me atraiu aqui para me arruinar? - disse, com a voz mais

rouca do que o normal. Henry beijou o pescoço dela, no lado oposto ao que beijara no dia anterior e

então afastou os braços. — Não, prometo que não vou fazer isso. Diana tentou não demonstrar desapontamento. Henry deitou na cama e

dobrou os braços atrás da cabeça para fazer um travesseiro. Ele estava com uma camisa amarelo-clara e pareceu mais esguio do que nunca deitado ali.

— Chamei-a aqui para que você pudesse me fazer todas as perguntas que quis fazer quando nos conhecemos. Qualquer pergunta, e juro que vou responder honestamente.

Henry piscou o olho para Diana, o que a deixou mais tranquila, e ela ficou um pouco aliviada de não ter que fazer aquilo no que estava sempre pensando. Pelo menos, não por enquanto.

— Qualquer pergunta? - quis saber ela, sentando ao lado dele na cama.

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— Qualquer uma. Ele escolheu um cigarro da cigarreira dourada que deixara na mesa de

cabeceira e acendeu-o. Diana pegou o cigarro, deu uma tragada e devolveu-o. Ela exalou, olhando para o teto, e então o encarou.

— Muito bem... se posso fazer qualquer pergunta... então me diga o que você acha de mim.

Henry deu uma risada e tragou o cigarro, pensativo. — Acho que você é a menina mais naturalmente adorável que já vi. Tem

uma expressão marota que você faz que me dá vontade de saber exatamente o que está passando pela sua cabeça e ajudá-la a colocar qualquer travessura em prática. Gosto do seu jeito engraçado de andar, e de como sempre parece grande demais para qualquer aposento. Para ser breve, srta. Diana - ele pegou a mão dela e beijou-a -, direi apenas que você tem mais vida do que qualquer outra pessoa que conheço.

Diana mordeu o lábio e sentiu o sangue lhe subindo às faces. — Gostei dessa brincadeira - sussurou ela. — Eu poderia passar a noite toda lhe elogiando, mas você logo ficaria

cansada. Faça outra pergunta. — Você já partiu mesmo inúmeros corações? Diana percebeu que a alça de seu chemise caíra, deixando seu ombro nu,

mas ela não a colocou de volta no lugar. — Já parti corações, mas não tantos como dizem por aí. — Já se apaixonou? — Já - disse Henry firmemente, com uma expressão um pouco triste. - Uma

vez. — Quem era ela? — Agora você precisa prometer que não vai contar a ninguém o que vou

lhe dizer. Diana respirou fundo, excitada, e deitou-se de lado na cama, apoiando a

cabeça na palma da mão. — Prometo. — Ela pertencia à alta sociedade nova-iorquina, assim como você, e seu

nome de solteira era Paulette Riggs, mas quando a conheci ela já se chamava Lady Deerfield.

— Paulette Riggs! Ela tem quase trinta anos! - exclamou Diana, sem conseguir de controlar. - E é casada com um lorde!

— Eu sei - disse ele, soltando uma risada malancólica e encontrando habilmente a coxa de Diana por debaixo do chemise. - Mas eu tinha dezoito anos na época e ela era a coisa mais fascinante que já vira. Ela passou a temporada em Newport, porque seu pai estava doente naquele ano, e Lorde Deerdield ai caçar tantas vezes que a fez se sentir sozinha.

— Como foi que acabou? — Mal - disse Henry, suspirando e apertando um pouco a coxa de Diana. -

Ela simplesmente se cansou de mim após algum tempo, mas eu continuei escrevendo cartas e tentando marcar encontros que nem um idiota.

— Você tem saudades dela?

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Diana ficara um pouco assustada ao saber que essa mulher, que tinha a pele muito branca, os lábios muito rubros e porte de princesa, já fora amante de Henry. Mas ainda queria todos os detalhes da história, é claro.

— Não mais. Já passou tanto tempo. Ela tinha um jeito de me olhar com uma carinha de amuada... que nem você, na verdade. Mas parei de sentir saudades dela há muito tempo.

— E você só foi apaixonado por ela na vida? Henry assentiu, alisando a coxa de Diana. — E com quantas você já... amou? Ela encarou-o, apesar de estar morrendo de vergonha de ter feito a

pergunta. Henry parecia estar achando um pouco de graça naquela falta de palavras. Ele demorou um pouco para responder, e Diana não sabia se estava fazendo contas ou repensando a promessa de responder a qualquer pergunta.

— Cinco - respondeu Henry, afinal. — E todas eram casadas com lordes ingleses? — Não! E nem eram todas moças de família, como você. Mas eu me diverti

com todas elas. — E quem foi a última garota que se deitou com Henry Schoonmaker? Henry se remexeu, tirando a mão da coxa dela e apoiando-se nos cotovelos.

Ele abriu a boca, mas então voltou a fechá-la. — Você disse que eu podia perguntar qualquer coisa! - protestou ela,

querendo saber que nome o faria hesitar tanto. Henry desviou os olhos e falou um nome que Diana conhecia muito bem: — Penelope Hayes. — Não! - disse ela, sem saber se brigava com ele ou dava uma risadinha. -

Ela deve ter ficado zangada com... Diana parou de falar, percebendo que aindanão estava preparada para falar

em Elizabeth. Henry revirou os olhos e deu um suspiro exasperado, concordando. — Não é à toa que ela anda tão esquisita - continuou Diana. - E você...

você... com ela! Henry agarrou a coxa de Diana com mais força desta vez. Eles estavam

muito próximos e ela podia sentir os menores movimentos do corpo dele. — Ela é o tipo de garota que... bem, ela é mais selvagem do que eu

imaginava. — Ah. Diana percebeu que a conversa estava ficando mais grave, mas mão se

importou. Ela queria saber como dizer a Henry que também gostava de falar sério com ele.

— Muito bem! - disse ela. Acho que sei tudo sobre você agora. — Mas eu não quero mais ser assim - disse Henru num tom contrito,

mexendo nos botões da camisa. - Quero tomar mais cuidado com os sentimentos dos outros. Não gostaria que você pensasse que isso aqui é um jogo. Naquele dia, você me disse que não é um brinquedinho qualquer. Não quero que pense que estou só me divertindo com você.

— É por isso que vocême convidou para vir aqui? - perguntou Diana, erguer mais o corpo e fixando seus olhos brilhantes nele. - Para esclarecer isso?

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— Foi. Bom, foi para isso e para... Quando eu me casar com sua irmã, não vou mais poder...

Henry olhou para baixo e deslizou a mão pela pele de Diana até chegar na sua cintura. Ela assentiu.

— Você precisa mesmo se casar com ela, não é? — Preciso... Bem, é que... — Eu entendo. E não quero saber por quê. Diana vinha pensando nos motivos pelos quais Elizabeth ia se casa com

Henry e suspeitava que deveria haver uma força parecida impelindo-o a fazer aquilo. Ela sentiu a tristeza lhe dominando, mas queria ser a primeira a dizer em voz alta o que eles dois estavam pensando.

— Essa vai ser a única vez que vamos nos encontrar. Henry encarou-a após alguns segundo e assentiu. Ele estendeu a mão e

colocou-a na parte de trás da cabeça de Diana, aproximando o rosto dela do seu. Diana examinou intensamente a beleza morena dele, para poder se lembrar dela para sempre. Lá fora, uma rajada de vento fez com que as árvores batessem contra o telhado da estufa - uma tempestade devia estar chegando - mas nem assim Henry desviou os olhos. Então, ele a beijou com uma sofreguidão que a deixou com vontade de chorar.

— Se eu prometer não fazer nada para macular sua pureza e perfeição, você concorda em passar a noite comigo?

Diana assentiu e sorriu, pronta para tudo. Henry sorriu também. — Ótimo, pois há algumas perguntas que eu gostaria de fazer também. E, com isso, Diana baixou o que restava de suas defesas e se deixou levar

pelos olhos safados e o charme insuperável de Henry Schoonmaker.

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dâtÜxÇàtdâtÜxÇàtdâtÜxÇàtdâtÜxÇàt

A coisa mais importante para qualquer noiva, mesmo uma que já possui toda a beleza que uma boa linhagem e uma criação impecável podem garantir, é o descanso. Ela deve sempre descansar, ou acabará ficando nervosa. Se isso acontecer, no dia de seu casamento ela terá a aparência de uma menina que já conhece o mundo um pouco bem demais.

TRECHO DE AS LEIS DO CONVÍVIO NA ALTA SOCIEDADE, DE L.A.M.

BRECKINRIDGE

aquela noite, Elizabeth sonhou que estava numa parte distante do país com Will, onde havia colinas entre as casas e ninguém tinha uma costureiro favorito em Paris.

Depois, ela sonhou que estava toda vestida de branco com uma ridícula coleira de renda belga e que Panelope estava rindo maldosamente e jogando arroz envenenado em sua direção. Mas, durante a maior parte do tempo, Elizabeth ficou olhando para o teto e desejando não estar acordada tão constantemente. Ela mal dormira na noite de segunda e parecia que também não ia conseguir descansar naquela.

Elizabeth não tinha como fazer as horas insones passarem mais rápido, pois não tinha muita coisa em que pensar, já que suas opções eram tão escassas e tão pouco atraentes. Ela fora ensinada a sempre agradar os outros, com sua aparência, seus atos e suas maneiras. Mas, agora, não podia fazer mais nada além de ser egoísta. Se fizesse o que sua mãe lhe pedira, seria acusada de ser uma libertina que traíra sua classe. E se fizesse o que Penelope, a mais falsa das amigas, queria, perderia o único lar e o único meio de viver que já conhecera. E se seguisse sua própria vontade... bem, já era tarde demais para isso.

Quando Elizabeth se cansou de olhar para o teto, ela se levantou e foi até o closet, pegando seu quimono branco e cobrindo seu corpo fráqgil com ele. Passara o dia todo no costureiro. Era preciso fazer o vestido de casamento, o vestido que ela usaria na recepção e muitas pequenas coisas para seu enxoval. Elizabeth ficara o dia inteiro de pé, ouvindo os outros falando dela como se não estivesse ali.

E o pior é que ela havia ficado sozinha o tempo todo. Elizabeth imaginara seu casamento muitas vezes quando era pequena, de diversas maneiras. Em alguns momentos, pensava numa cerimônia simples, na qual ela carregaria yum buquê de gérberas. Em outros, era um casamento suntuoso que saía em todos os jornais e no qual usaria um vestido com uma enorme cauda decorada com

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pequeninas rosas de seda que se arrastava por todos os degraus da igreja. Mas Elizabeth sempre achara que a parte de escolher o vestido seria divertida. Na verdade, ela passara o dia servindo de manequim para um pequeno exército de costureiras que tentavam desesperadamente fazer de tudo para agradá-la. No final, estava se sentindo dolorida e isolada, e havia sido levada para casa pelo sr. Faber em vez de Will que, antigamente, estaria esperando por ela com a carruagem. É claro que Penelope não estivera presente. Mas Diana - Diana não tinha motivo nenhum para não ter comparecido e ajuduado-a a determinar se estava linda ou ridícula. Mas ela tampouco se interessara em ir, preferindo ficar no quarto lendo e sofrendo com sei lá o quê.

Elizabeth andou para lá e para cá em seu quarto, ficando cada vez mais chateada com a ausência da irmã. Afinal de contas, ela estava sacrificando sua própria felicidade em nome da família. Estava renunciando a todos os seus desejos para que as Holland não ficassem arruinadas. E Diana nem se incomodara em largar seus livros por um dia.

Elizabeth abriu a porta do quarto com um gesto largo e machou pelo corredor. Ela ergueu o punho para bater na porta de Diana, mas então se controlou. Não era culpa dela que sua irmã mais velha houvesse se apaixonado pelo homem errado e que continuasse a amá-lo, mesmo sabendo que jamais daria certo. Não era culpa dela que a situação financeira da família estivesse tão ruim. Elizabeth pousou a mão na porta, respirou fundo e deu algumas batidinhas gentis e fraternais.

— Di? Ela olhou para o final do corredor, onde ficava o quarto de sua mãe, e

torceu para que ela não viesse ver o que estaca acontecendo. Desde a manhã de ontem, Elizabeth sentira que havia uma distância cada vez maior entre ela e sua mãe. Não tinha mais nada a dizer para ela.

— Di? - chamou Elizabeth de novo. Diana não respondeu e ela decidiu entrar. Após alguns segundos,

compreendeu que o quarto estava vazio. Diana não estava lá. Havia vestidos espalhados pela cama e pelo chão e sapatos virados em todos os ângulos. A gata Lillie Langtry olhou preguiçosamente para Elizabeth e cruzou as patinhas.

Elizabeth ficou nervosa e começou a procurar no closet e atrás das poltronas. Ela olhou as janelas que davam para a varanda - elas estavam fechadas, mas destrancadas. Estava prestes a ir lá para baixo e ver se Diana fora pegar um livro ou um copo de leite quando notou uma caixa de chapéu que estava exposta pela metade debaixo da cama. A tampa dourada estava torta e Elizabeth viu que dentro da caixa havia um chapéu-coco marrom. Ele era igual a todos os outros chapéus-cocos do mundo, mas ao vê-lo, ela se lembrou instantaneamente de uma certa tarde há duas semanas, quando seu mundo começara a se desintegrar.

Elizabeth manteve os olhos no chapéu, horrorizada, enquanto atravessava o quarto. Lillie Langtry soltou um miadinho e caminhou ao lado dela, fazendo um círculo em volta da caixa e deitando-se ali perto. Quando Elizabeth pegou o chapéu, a primeira coisa que notou foram as iniciais bordadas na fita azul clara que passava pela parte interna da aba: HWS.

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Ela desabou sobre a colcha de algodão e foi aí que viu os dois pedaços de papel dentro da caixa, fazendo um contraste com o veludo negro que a forrava. Elizabeth precisou se forçar a pegá-los e ler os dois bilhetes que Henry escrevera para sua irmã. A assinatura dizia apenas HS, mas ela não duvidou que eram dele. Não podia saber quando exatamente ela mandara para a Diana o bilhete pedindo-lhe que guardasse o chapéu e o outro afirmando que não conseguia parar de pensar nela. Mas suas intenções estavam claras e o fato de que Diana não estava em seu quarto àquela hora da noite demonstravam quais eram as dela.

Os músculos do rosto de Elizabeth pareciam estar rígidos e gelados. Ela se recostou na cama, abraçando os joelhos e rodopiando o chapéu com o dedo. Lillie Langtry ficou de pé, espriguiçando-se, rodeu Elizabeth e então se deitou no travesseiro ao lado dela. Elizabeth largou o chapéu e suspirou. Ela poderia ter rido da situação, se fosse o tipo de menina que achava graça na perversidade, mas essa horrível prova de que sua irmã havia sido corrompida não lhe parecia nada divertida.

Elizabeth foi tomada de fúria ao se dar conta de mais uma coisa: pelo menos metade da culpa por seus problemas com Penelope era de Henry. Ela não sabia como exatamente tinha sido o envolvimento dos dois, mas decerto fora isso que provocara a vingança de sua ex-amiga. E agora, ele estava em algum lugar da cidade seduzindo a pobre e inocente Diana. E, depois de tudo isso, Henry ainda esperava que Elizabeth se cassasse com ele num futuro nada distante.

Elizabeth se levantou da cama como se tivesse resolvido qualquer coisa, mas na realidade não havia nada a fazer além de recolher as roupas espalhadas de Diana. Sua raiva e seu desespero foram crescendo a cada segundo, conforme ela guardava os inúmeros vestidos que sua irmã caçula pensara em usar naquele encontro traiçoeiro.

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que isso significa? - perguntou Diana, quase explodindo de felicidade ao examinar a cruz de lápis-lazúli com a frase gravada.

Ela passou o dedos sobre as letras, ansiando por encontrar uma maneira de se tornar a noiva de verdade de Henry. Mas Diana já sabia que aquilo seria impossível. Desde que eles haviam saído da estufa, casa segundo passado com ele parecia-lhe uma dádiva preciosa. Os sons da cidade que despertava surgiam do lado de fora da carruagem, mas Diana sentia como se eles estivessem na outra margem do rio.

— Meu pai deu para minha mãe antes de eles se casarem. Nunca entendi o significado. Acho que ele deu isso para a menina de dezessete anos com quem se casou na esperança de que ela sempre tivesse essa idade - explicou Henry, dando uma risadinha irônica. - Mas não é por isso que estou dando-a para você.

— Eu sei - garantiu Diana, escondendo a cruz no corpete. — É a mais discreta que todos os presentes que ele deu a ela depois. Acho

que é por isso que gosto dela. Eu só tinha quatro anos quando minha mãe morreu, mas acho que ela possuía aquele tipo de beleza natural que fica melhor com menos ornamentos.

Diana registrou. Ela aprendera tanto sobre Henry na última noite que ele agora era praticamente outra pessoa e tudo que dizia parecia ser um segredo só deles dois. Ela se afastou do encosto da pequena carruagem de duas rodas em que eles estavam, a única que Henry pudera pegar do galpão dos Schoonmaker sem ninguém notar, e olhou para fora. Henry parara a carruagem no meio da Broadway e eles estavam esperando pelo momento certo para Diana sair, se misturar aos transeuntes e voltar para casa. Ela observou Henry com adoração e tentou sorrir.

— Vai ser difícil vê-lo se casando com Liz, Henry... Diana pretendera dizer algo mais profundo e bombástico, mas sua garganta

estava fechada e tão dolorida que ela soube que não conseguiria emitir mais nenhum som.

Henry beijou-a abaixo do olho direito. Diana olhou para ele uma última vez antes de baixar seu capuz e sair da carruagem. No instante em que seus pés tocaram a rua, ela achou mais fácil se afastar e se unir às hordas de pessoas que iam para o trabalho. À sua volta, homens usando chapéus-coco e ternos vagabundos andavam depressa, sem tempo para se perguntar quem seria aquela menina de capuz.

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Em pouco tempo Diana encontrou o beco da rua Dezenove que dava no jardim doa Van Dorans, colado ao seu. Ela se arriscara escalar a treliça na noite anterior, o que fora quase tão perigoso quanto se aventurar sozinha pelas ruas de Nova York à noite, mas hoje decidiu entrar pela portinha que dava no porão da casa, onde as roupas da família eram lavadas. De lá, Diana subiu rapidamente a escada dos fundos, até que se viu no segundo andar, muito próxima da porta de seu quarto.

Não havia ninguém lá dentro, o que era algum alívio, mas o quarto estava diferente de como ela o deixara. Todos os vestidos que tirara do closet para selecionar o que usaria em sua noite com Henry haviam sido guardados, assim como seus sapatos. E, em cima de sua cama, que também fora arrumada, estava o chapéu de Henry, exatamente no centro. Diana, apavorada, foi até onde estava o chapéu e o apanhou. Ela se sentiu congelada, imobilizada pelo horror e pela tristeza ao imaginar quem entrara em seu quarto na noite passada.

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dâtÜxÇàt x dâtÜxÇàt x dâtÜxÇàt x dâtÜxÇàt x WÉ|áWÉ|áWÉ|áWÉ|á

Tornou-se bastante aceitável chegar atrasado, um novo fenômeno social que me desagrada muito. Uma verdadeira dama sempre chega exatamente na hora combinada.

TRECHO DO LIVRO COLETÂNEA DE COLUNAS SOBRE A CRIAÇÃO DE JOVENS

DE CARÁTER, DA SRA. HAMILTON W. BREEDFELT, EDIÇÃO DE 1899

ram 9:30 da manhã de quarta-feira e Elizabeth estava no meio da confusão matinal da Broadway, paralisada pela desesperança. Todo aquele caos - as carroças puxadas por

cavalos, os bondes, os cocheiros gritando, o som das rodas de carruagem contra o pavimento, a multidão de pedestres - parou de existir em sua mente. A cena que ela acabara de testemunhar não fora uma surpresa após as provas que havia encntrado na noite anterior, mas a emoção que estava sentindo era espantosa.

A figura encapuzada se sua irmã mais nova desaparecera na rua Vinte e um. Ver Diana numa esquina de Manhattan tão cedo confirmara todas as suspeitas de Elizabeth. Mas ela permanecera estranhamente imóvel, observando a pessoa que fora deixada para trás. Ele saíra de sua carruagem e estava de pé na calçada. Elizabeth não podia ter certeza, pois estava sempre correndo após seus encontros, mas achava que a maneira melancólica como Henry estava olhando para a rua Vinte e um não era muito diferente da expressão que Will fazia todas as manhãs, quando ela virava as costas para ele e entrava em casa.

Ela passara quase a noite inteira acordada, mas mesmo assim se levantara sem ter a menor ideia de como ia subjugar Penelope, salvar Diana ou aceitar a ideia de se casar com o detestável Henry Schoonmaker. Tentara se vestir com alguma determinação, com o mesmo vestido de algodão listrado que usara no dia em que ele pedira sua mão e, porque achava que o tempo estava prestes a virar, com uma capa caramelo com o forro de flanela. Uma vez vestida, Elizabeth não soubera mais o que fazer e por isso decidira caminhar até a casa de Penelope, descendo toda a Quinta Avenida. Todos os empregados e habitantes da casa estavam ocupados com alguma tarefa relacionada ao casamento e, nos poucos segundo em que ninguém pedira sua opinião sobre nada, ela conseguira escapulir sem ser notada.

Na noite passada, Elizabeth havia chagado à conclusão de que seu noivo era a pessoa mais licenciosa que ela já conhecera. Mas agora, vendo-o em seu terno preto simples com a expressão de quem acabara de perder aquilo que lhe era mais caro no mundo, ela teve certeza de que Henry não estava tentando se aproveitar de Diana. Ele realmente amava sua irmã. E, embora Elizabeth não

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soubesse explicar direito, estava cada vez mais convencida de que Diana o amava também. Ela estivera errada. Sua raiva desaparecera em segundos.

Uma carroça alta levando diversos homens de terno parou entre Henry e Elizabeth, pensando em como entrar no tráfego da larga Avenida. Após a carroça passar, Elizabeth viu que Henry se virara e estava olhando para ela.

Ele abaixou a cabeça, mas manteve os olhos, cheios de remorso e resignação, fixos nos dela. Elizabeth viu que Henry não era muito diferente dela - ele tembém estava disposto a se casar com alguém por algum motivo que tinha mais a ver com família, obrigações e classe social do que com amor, embora seu coração desejasse outra coisa. Henry tocou a aba do chapéu, cumprimentando-a. Elizabeth abaixou a cabeça lentamente em resposta, para mostrar a ela que o compreendia, e então se virou e seguiu para o norte da cidade. Tinha um encontro marcado e não podia se atrasar.

Tudo estava diferente agora, mas ainda era tão impossível quanto antes. Elizabeth percebeu tristemente que tudo ficaria mais fácil se ela não existisse. Ela não precisava mais andar quarenta quarteirões até a mansã dos Hayes para saber o que devia fazer. Num segundo, se deu conta do ato devastador que precisaria cometer.

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dâtÜxÇàt x gÜ£ádâtÜxÇàt x gÜ£ádâtÜxÇàt x gÜ£ádâtÜxÇàt x gÜ£á

Vemos nossos pecados refletidos em todo lugar: na palidez dos rostos de nossos entes queridos, no arranhar dos galhos das árvores nas janelas, nos estranhos movimentos dos objetos cotidianos. Essa coisas podem ser mensagens de Deus ou nossa mente nos pregando peças, mas de qualquer modo não nos é permitido ignorá-las.

TRECHO DO LIVRO COLETÊNEA DE SERMÕES, DO REVERENDO

NEEDLEHOUSE, EDIÇÃO DE 1896

iana estava imóvel em seu quarto há mais de uma hora, perguntando-se o que deveria fazer com aquele chapéu, quando um grito vindo do primeiro andar da casa tirou-a de

seu estado de choque. Seu coração ficou gelado de pavor. Quando ela saíra de casa na noite anterior, parecera-lhe impossível que alguém fosse fragá-la. Afinal, ninguém andava prestando muita atenção nela ultimanete e, além disso, todo o episódio parecera ter ocorrido num mundo mágico, terminando de forma tão abrupta como havia começado. Mas o ruído que viera lá de baixo fora um grito de tristeza, raiva, confusão ou uma combinação dos três.

Diana olho para o chapéu. Estava tentando pensar em alguma história para explicar aquela prova óbvia de sua culpa quando outro grito, mais parecido com um gemido de triteza, lhe chegou aos ouvidos.

Diana atirou o chapéu de Henry embaixo da cama e foi até seu closet. Os vestidos que ela tirara dali na noite anterior estavam todos lá dentro. Era tarde demais para trocar de roupa e, por isso, ela decidiu ver no espelho como estava sua aparência. Não havia nada de diferente nela mas, após ter passado a noite com Henry, Diana estava se sentindo bem mais velha do que antes. Os lamentos recomeçaram e ela não teve outra escolha além de descer dois degraus da escada de cada vez e lidar com o inevitável círculo de acusações e confissões.

Diana entrou na sala de estar e se deparou com Penelo Hayes, cujos cabelos escuros estavam estranhamente desgrenhados e cujo vestido vermelho se espalhava por sobre o tapete persa preferido de Louisa Holland. Ela estava encharcada e não dizia coisa com coisa, além de estar dando gritos aqui e ali.

— Graças a Deus você chegou - disse tia Edith, indo até Diana e abraçando-a.

— Como pôde dormir até tarde num dia como hoje? - perguntou sua mãe, aproximando-se também e empurrando a cabeça de Diana contra o peito. - Com todas as tragédias que essa família já sofreu...

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— Do que você está falando? - sussurou ela, sem conseguir falar mais alto. Diana olhou para Penelope por sobre todos os braços que a enlaçavam. Ela

ficara subtamente quieta. — É quase insuportável - disse a sra. Holland. — Certamente é insuportável - concordou a tia Edith. Naquele momento, Claire entrou correndo na sala. — Encontrei um policial na rua - disse ela, histérica. - Ele disse que vai até

a delegacia chamar seus superiores. Sra. Holland, a senhora precisa de seus sais? — Sim, Claire, por favor. E traga água também. As três mulheres da família Holland foram juntas para o sofá mais próximo

e se sentaram. Diana já compreendera que aquilo nada tinha a ver com seu encontro com Henry. Algo muito pior devia ter acontecido. Ela olhou mais uma vez para Penelope, cuja expressão indicava que ela fora testemunha de alguma ocorrência muito grave.

— O que aconteceu? - perguntou Diana. Sua coração estava batendo tão depressa que ela mal podia ouvir. Tanto sua

mãe quanto sua tia estavam pálidas e pareciam exauridas de tanto chorar. Ela deram as mãos por sobre o colo de Diana.

— Sua irmã - disse tia Edith com a voz trêmula. — Ela... ela nos deixou, Diana. — Deixou? - repetiu Diana estupidamente. - Para onde ela foi? Foisó então que Diana começou a reparar em alguns detalhes. O chapéu,

colocado com tanto zelo perfeccionista no centro da cama impecavelmente arrumada. Fora uma mensagem de Elizabeth. A cada segundo que se passava, ela se tornava mais horrivelmente clara. Diana se sentiu tonta e enojada consigo mesma.

— Aconteceu esta manhã - disse Penelope, que de repente recobrara a voz. Ela se aproximou pisando firme e se sentou numa pequena almofada de

seda na frente do sofá onde estavam Diana, sua mãe e sua tia. Todos os sons e cores pareceram exagerados para Diana e ela viu e ouviu muito bem as pequenas gotas de água que caíam do corpo de Penelope e atingiam o chão.

— Elizabeth veio me visitar de manhã. Nós havíamos planejado ir ao costureiro juntas - explicou Penelope, falando devagar como se estivesse pensando em cada palavra que dizia ou se esforçando para não chorar. - Ela estava muito nervosa com o casamento. Acho que estava se dando conta de quantas coisas teria que resolver até domindo. Achei que seria uma boa idéia das um passeio de carruagem às margens do rio para acalmá-la. Queria que tivéssemos privacidade e por isso tentei dirigir eu mesma. Só queria tranquilizá-la. Afinal, tudo vai dar certo... ou ia dar certo. Foi isso o que eu disse a ela.

Penelope parou de falar e Diana virou-se de olhos arregalados para a mãe, esperando que ela completasse a história. Mas, antes que a sra. Holland pudesse dizer qualquer coisa, Penelope recomeçou:

— Havia um homem estranho perto do rio. Os cavalos se assustaram e... e... eu não consegui controlá-los! Não pude... oh... oh,oh,oh!

— Ela caiu - disse a sra. Helland, mal podendo se conter. - No rio. E então Penelope e a carruagem foram arrastadas por muitos quarteirões antes que ela

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conseguisse controlar os cavalos. Quando ela voltou, não havia sinal de Elizabeth em lugar nenhum.

— É o meu faetonte novo. Ele é tão rápido e tão alto! - explicou Penelope e Diana quase achou que ela estava se gabando. - Ainda não consegui compreender o que aconteceu. E a água, quando tentei encontrá-la... Estava tão fria, tão horrivelmente fria.

Diana estava completamente atônita, mas a cena que encontrara em seu quarto lhe fez acreditar. Certamente havia sido Elizabeth que entrara lá e guardara todas as suas roupas. E ela soubera de quem era aquele chapéu e, ao somar isso com a ausência de Diana, compreendera o que aquilo significava.

— Mas como ela pode ter caído se Penelope continuou na carruagem? - peguntou Diana.

Ela não queria fazer aquelas perguntas, mas era preciso. Uma culpa abjeta estava tomando conta de Diana, que sentiu a cruz que Henry lhe dera lhe perfurando a pele e fazendo-a lembrar-se do que fizera. Sua irmã estava morta e era tudo culpa dela. Diana olhou para Penelope, que estava encarando-a com uma expressão que parecia ser de puro choque.

— Quer dizer... - disse Diana numa voz que mal era audível. - Você não acha que ela se jogou de propósito, acha?

A sra. Holland e a tia Edith se afastaram de Diana, e um profundo silêncio tomou conta da sala. Diana pensou ter visto uma ponta de interesse nos olhos de Penelope, mas ela desapareceu tão rapidamente como surgira e ela voltou a mostrar apenas aflição em seu rosto.

— Estamos todos abalados - disse a tia Edith. - Ou você não diria uma coisa dessas.

— Diana, esse é um momento horrível, e é compreensível que você não saiba bem o que está dizendo. Não poderia saber, ou não teria dito uma frase dessas.

A sra. Hollando estava tentando falar com tranquilidade mas, embora suas faces não mostrassem qualquer expressão, havia algo em seus olhos que indicava a dor imensa que ela sentia.

— Você deve ir para seu quarto - disse ela. - Deve descansar. Mas não diga mais isso, pois talvez alguém possa acreditar.

Diana ficou grata por sua mãe querer que ela deixasse a sala. Ela atravessou o corredor sem olhar para trás nenhuma vez. Seu peito parecia frágil de tanta tristeza, como se pudesse pegar fogo ou se desfazer subitamente. Diana não poderia suportar ficar perto de pessoas que a consideravam inocente. Talvez Elizabeth houvesse amado Henry também, a seu modo. Talvez ela houvesse ficado tão enlouquecida ao descobrir o segredo da irmã que decidira tirar a própria vida. Elizabeth deve ter sentido que o mundo todo estava de cabeça para baixo e talvez as águas do rio Hudson houvesse lhe parecido mais confortáveis fo que um universo onde os Holland eram pobres, o casamento nada tinha a ver com amor e onde seu futuro marido passava a noite com sua irmã caçula.

Diana entrou em seu quarto e apanhou o chapéu de Henry. Ela não pensara nas consequências de seus atos da noite passada e agora elas seriam horrendas e

eternas. Diana jamais sentira culpa antes, mas agora estava dominada por ela. Deitou-se na cama, colocou o chapéu sobre o rosto e deixou as lágrimas rolarem.

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dâtÜxÇàt x dâtàÜÉdâtÜxÇàt x dâtàÜÉdâtÜxÇàt x dâtàÜÉdâtÜxÇàt x dâtàÜÉ

... E há também a princesa americana que nos deixou prematuramente, tragada pelas águas do rio Hudson. O misterioso caso de Elizabeth Holland está sendo chamado de acidente, mas há diversas razões para acreditar que foi o oposto. Há muito que não foi explicado, incluindo alguns relatos de que havia um homem - alto, esguio e bem-vestido - na margem do rio.

TRECHO DA COLUNA POLICIAL DO NEW YORK IMPERIAL, QUINTA-FEIRA, 5

DE OUTUBRO DE 1899

a manhã de quinta-feira, Lina acordou e escolheu uma saia e uma blusa clara para vestir. Essas peças não eram tão chamativas quanto o vestido vermelho que ela

colocara há dois dias, mas Lina estava cansada de vermelho por enquanto. Além do mais, o que estava vestindo era bonito o suficiente para impressionar sua irmã sem deixá-la com ciúmes. Ao sair apressadamente da mansão dos Holland, ela combinara com Claire de encontrá-la às onze da manhã de quinta - o único momento em que sua irmã tinha alguma certeza de que seus serviços não seriam necessários - em um dos bancos do parque da Union Square. Lina ainda estava se sentindo um pouco envergonhada por ter se embebedado naquela noite e torceu para que, quando encontrasse Will, ele não adivinhasse que ela se comportara daquela maneira. Era um certo alívio não conseguir se lembrar direito do que acontecera.

Lina arrumou o cabelo da maneira que estava acostumada, partindo no meio e preso num coque, e então colocou um casaquinho justo. Ao ver o quanto já estava tarde, ela pegou a bolsa e saiu correndo pelas escadas, passando rapidamente pelo recepcionista do lobby, que estava adormecido.

Estava chovendo muito lá fora e ocorreu a Lina que talvez Claire não pudesse ir ao encontro por causa do tempo. Mas ela não podia desistir. Sabia que Claire faria de tudo para comparecer e não podia decepcioná-la. Além disso, Lina estava secretamente torcendo para que Claire tivesse notícias de Will. Talvez ela soubesse de algo que pudesse ajudar Lina a encontrá-lo. Como não tinha um guarda-chuva, ela roubou a edição do Imperial que estava em cima do balcão da recepção.

Lina desceu cuidadosamente o único degrau que levava do hotel para a rua, onde ainda havia um toldo para protegê-la. O céu estava cinza-chumbo e no ar havia o cheiro de toda a sujeira que estava saindo dos bueiros e tomando as calçadas. Algumas pessoas passaram com guarda-chuvas pretos e as que não haviam pensado em trazer um rapidamente ficavam encharcadas. Lina desdobrou

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o jornal, tentando ao menos proteger sua cabeça da água, e sentiu um calafrio na espinha ao ler o nome de Elizabeth.

Ali estava ele, na página onze. Elizabeth Holland caíra no rio Hudson e acreditáva-se que ela estava morta. Lina teria ficado meno atônita se a manchete do jornal dissesse que o fim do mundo havia sido marcado para o final da tarde daquele dia. Ela já sentira tantas coisas por Elizabeth - adoração, inveja, ciúmes, fúria - que lhe parecia impossível que ela pudesse simplesmente morrer. Quando Lina pensou nisso, uma vaga memória surgiu em sua mente, mas ela não conseguiu se lembrar bem do que era. Estava se sentindo tonta.

Lina se forçou a seguir em frente, colocando o jornal sobre a cabeça para formar uma espécie de tenda. Em poucos segundos, a água entrou em seus sapatos. Ela começou a correr na direção leste, mas após alguns quarteirões o jornal já estava completamente molhado e Lina precisou se proteger sob o toldo de uma floricultura.

No final da rua, ela viu a enorme Quinta Avenida se expandindo. Ainda estava longe de seu destino, mas estava bem perto do Fifth Avenue Hotel, onde havia sido humilhada. A chuva caía aos borbotões sobre o pavimento e um trovão ressoou lá longe. Lina olhou para cima e viu um homem cruzar a rua, parcialmente escondido sob um gigantesco guarda-chuva preto. Ela subtamente se lembrou dos adjetivos alto, esguio e bem-vestido, que lera no artigo sobre Elizabeth, e sentiu-se muito nervosa. O homem do guarda-chuva aproximou-se de Lina com passos largos. Ela quis sair dali, mas o jornal que tinha nas mãos estava ensopado demais para servir para alguma coisa.

O homem estava tão perto de Lina que ela reconheceu a barba loura por fazer e o nariz longo dele. Ela o conhecia. Era Tristan sem dúvida, o vendedor da Lord & Taylor. Lina lembrou a noite que passara com ele no bar e tentou se afastar.

— Lembra-se de mim? - perguntou ele. Tristan colocou seu guarda-chuva acima da cabeça dela e as grossas gotas

de chuva bateram pesadamente contra ele. O rosto de Lina estava muito molhado e ela teve que piscar para tirar a chuva de sus olhos verdes.

— Lembro - respondeu Lina, baixinho. — Srta. Carolina, cuja beleza não me sai da cabeça. Vejo que já leu o

Imperial. Lina afastou rapidamente o olhar. A tinta do jornal escorrera e lhe manchara

os dedos. — Porque não vamos tomar café juntos, para que eu possa lhe contar o que

aconteceu? Lina assentiu. Não sabia o que fazer. Estava confusa, gelada e

amedrontada. Pelo menos a chuva não estava mais lhe molhando. Tristan fez um cumprimento com a cabeça e sorriu para ela, como que para tranquilizá-la. Mas Lina, apavorada, não pôde deixar de se perguntar o que exatamente havia combinado com ele naquela noite.

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dâtÜxÇàt x V|ÇvÉdâtÜxÇàt x V|ÇvÉdâtÜxÇàt x V|ÇvÉdâtÜxÇàt x V|ÇvÉ

A perda dramática de uma das mais importantes jovens damas da alta sociedade é duplamente trágica devido ao fato de que Elizabeth Holland ia se casar com o solteiro mais desejado de Nova York nesse domingo. Todos os que amavam a srta. Holland estão se reunindo na casa de seu noivo, Henry Schoonmaker, numa espécie de vegília. O pai do infeliz rapaz, William Sackhouse Schoonmaker, triplicou o valor da recompensa oferecida pelo prefeito Robert Anderson Van Wyck por qualquer informação que leve ao corpo da srta. Holland. Muitos têm comentado sobre a presença de Penelope Hayes nesses lugares, já que ela foi a última pessoa que viu Elizabeth viva, além de já ter tido um romance com o jovem Schoonmaker.

TRECHO RETIRADO DA REVISTA CITÉ CHATTER, SEXTA-FEIRA, 6 DE

OUTUBRO DE 1899

chocante, absolutamente chocante, que não haja qualquer sinal dela - afirmou o pai de Henry com uma voz que rossoou na sala de estar da família. - O prefeito deveria

estar envergonhado. Henry estremeceu ao ouvir seu pai fazer uma ligação entre a morte de

Elizabeth e a corrupção e incompetência do prefeito de maneira tão indelicada. Mas ele tinha a obrigação de ficar ali ao lado, assentindo como se concordasse. Aquele era um momento trágico demais para Henry correr o risco de ser considerado insensível, principalmente quando o interlocutor de seu pai era um repórter do New York World. Além disso, todos os membros das famílias Schoonmaker e Holland, além de alguns amigos, estavam reunidos em sua casa, para chorar juntos e aguardar por qualquer notícia de Elizabeth. Assim, Henry continuou parado ao lado de seu pai, parecendo mais franzino e pálido do que nunca em comparação com ele.

O corpo está desaparecido e não surgiunem mesmo um pedaço da roupa dela flutuando na água - continuou o sr. Schoonmaker. - Ela pode ter sido resgatada por um rebocador e vendida como escrava branca. E eu culpo o prefeito por isso. Ele é apenas um peão dos democratas, nunca está interessado em realizar nada.

— E quanto ao senhor, sr. Schoonmaker? - perguntou o repórter, voltando-se para Henry. - O que está achando dos trabalhos de resgate?

Não havia nada de apropriado que ele pudesse dizer e, por isso, Henry meramente abaixou os olhos. Alguns segundos se passaram, até que seu pai sucumbiu à tentação de continuar discursando. Nem mesmo a morte da noiva de seu filho lhe fazia parar de pensar na cena política nova-iorquina.

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— Vai surgir um escândalo daqui a pouco - disse o sr. Schoonmaker. - Espere só para ver. O prefeito está metido com a Consolidated Ice, e eles estão comprando todas as fábricas concorrentes. Eles vão aumentar o preço do gelo, talvez até dobrar, e o povo vai querer cortar a cabeça do prefeito. Mas, ah, sim... Elizabeth. A recompensa que Van Wyck ofereceu pelo corpo é tão baixa que chega a ser um insulto. E meu filho Henry... olhe só para ele. Mal pode falar de tão arrasado.

Henry comprimiu os lábios de constragimento ao ver todos os olhares pousando sobre ele. Decidiu sair dali, com medo de não conseguir disfarçar o nojo que estava sentindo do pai. Foi até a mesa, onde um bufê variadíssimo fora servido para os convidados, composto por pães doces, café, cidra e uma quantidade quase obscena de frutas frescas. Os pratos de prata haviam sido colocados na mesa, sobre uma toalha negra rústica. Henry estendeu a mão por cima das uvas vermelhas e pegou o vidro de uísque, colocando um pouco mais em seu copo. Há dois dias ele se sentia como se estivesse fora de seu corpo. À sua volta, a máquina do luto já fora ligada. Todos já estavam usando suas roupas mais negras e recatadas e fazendi suas expressões mais graves. Ninguém olhava Henry nos olhos. Eles evitavam ficar muito próximos dele, assentindo solidariamente em sua direção. Algumas das meninas solteiras mais ousadas, ou talvez mais estúpidas, cobriam as bocas com as mãos e lançavam olhares amorosos para Henry, mas ele estava triste demais para prestar atenção a qualquer uma delas. Estava triste por causa de Elizabeth, mas também por causa de Diana. Estava triste por causa de toda aquela confisão. Era impossível para Henry parar de pensar no olhar que Elizabeth lhe lançara na esquina da Broadway com a rua Vinte e um, na manhã de quarta-feira, antes que o mundo virasse de cabeça para baixo. O rosto de Elizabeth estivera tão melancólico na ocasião e ela o encarara com tanta sabedoria que Henry tinha certeza de que havia descoberto tudo de ruim que ele fizera.

— Meus pêsames. Henry viu o rosto macilento de Carey Lewis Longhorn, um homem que já

fora bonito e que era chamado pelos jornais de “o mais velho solteirão de Nova York”. Ele tinha mais de setenta anos e era famoso por colecionar pinturas das beldades da alta sociedade. Henry imaginou que o retrato de Elizabeth fizesse parte da coleção.

— Obrigado, senhor. — Você vai ficar bem, jovem Schoonmaker - disse o homem, desviando

seus olhos tristes de Henry e dando-lhes alguns tapinhas nas costas. - Eu sempre fiquei.

Henry ficou parado perto da mesa do bufê, olhando para o outro lado da sala, onde estavam os parentes de Elizabeth. Eles haviam ocupado diversas cadeiras e dois sofás estampados que ficavam logo abaixo de uma imensa janela. A família Holland parecia ter crescido. Henry sempre achara que eles eram apenas quatro, mas havia cerca de vinte ali. Todos os primos, tias e tios haviam saído de suas órbitas privadas para rodear à sra. Holland e a filha que lhe restara. Diana estava usando um véu negro curto que cobria metade de seu rosto e mantendo os olhos sempre baixos, jamais encarando Henry. Lá fora, a chuva caía sobre a Quinta Avenida, assim como sobre o resto da cidade, mas Diana estava

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imóvel, aparentemente indiferente à tempestade que havia na rua e à tempestade que ocorria à sua volta.

Nas últimas semanas Henry se tornara mais consciente do que nunca da necessidade de se tornar um homem mais sério - e, nos últimos dois dias, eles conseguira completar a transformação. A morte de uma menina de sua classe de maneira tão ilógicajá seria motivo para parar e refletir. O fato de ser uma menina com que ele estava tão ligado e que conhecia tão mal lhe causara um sentimento de culpa e angústia quase impossível de suportar. Henry achava que, se tivesse sido uma pessoa mais respeitável desde o início, nada disso teria acontecido. Mas, ainda assim, estava precisando se controlar para não passar o tempo todo olhando para Diana.

Era uma tortura saber que Diana estava em sua casa e ter de ficar tão longe dela. Havia tanta gente entre eles. Ela estava muito graciosa em seu vestido negro de mangas longas e justas, com os cachos escondidos sob o chapéu. Henry sabia que ela devia estar arrasada de dor e que a noite que haviam passado juntos, trocando carícias e segredos, devia ser uma terrível lembrança. Ele queria ir falar com Diana e descobrir o que ela estava sentindo. Queria ouvi-la dizendo que não culpava. Que não o odiava. Mas não havia maneira de retirá-la do meio daquela multidão de parentes que estavam em torno dos Holland e, por isso, Henry apenas suspirou e tomou mais um gole de uísque.

— Você parece estar precisando de um amigo. Henry olhou para cima e viu Teddy Cutting. Ele observou Diana e viu que

ela estava recusando um prato de comida que uma de suas primas insistia em lhe oferecer, e então voltou a encarar o amigo. Teddy estava usando um terno negro com uma rosa branca na lapela, como muitos dos outros homens que estavam ali. Ela se tornara o símbolo de Elizabeth. Henry não estava usando uma, mas só porque largara seu paletó em algum lugar e não estava com vontade de procurá-lo. Mas ninguém ia brigar com ele por estar apenas de camisa e colete, nem por estar com o cabelo desgrenhado num dia como aquele.

— Preciso mesmo - admitiu Henry. Ele permitiu que Teddy pegasse seu braço e o levasse para a saleta que

havia ao lado da sala de estar. — Você parece muito abalado. — E estou. — Devíamos ir ajudar. Fazer alguma coisa. Os homens que estão dragando

o rio não podem estar trabalhando com a vontade que teríamos. Talvez pudéssemos reunir os tripulantes do Elysian e ir lá ver o que pode ser feito.

— Talvez - disse Henry sem entusiasmo. Eles entraram num aposento onde nenhum dos convidados chagara ainda e

Henry se deu conta de que era o salão de recepção com o papel de parede vermelho vivo onde seu noivado com Elizabeth fora anunciado. Ele se lembrou de como a ideia de se casar com Elizabeth Holland lhe parecera horrível e de como a simples menção da palavra “casamento” fizera seu coração de enregelar. Henry lembro que desejara que Elizabeth evaporasse, para que ele pudesse voltar a ser livre, e teve horror de si mesmo.

— Mal estou conseguindo me mexer - ele disse a Teddy.

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— É tão horrível. Tão inacreditavelmente horrível - concordou Teddy, piscando os olhos, que estavam vermelhos de tristeza e fadiga. - O mundo parece ter mudado, você não acha? Lembra como falamos dela no dia da corrida? E agora ela está morta.

Teddy balançou a cabeça, atônito. Henry se lembrou das coisas que dissera naquela ocasião e não teve coragem de olhar para o amigo. Ele só podia agradecer por Teddy não ter visto a expressão desconsolada de Elizabeth no dia em que ela morrera.

— Agora você pode voltar a se esquivar do casamento e todas as outras meninas podem voltar a tentar lhe fisgar... - Teddy tentou dar uma risada e olhou para Henry q uando este não o acompanhou. - Desculpe-me. Não sei o que me deu. Só estou... chocado.

Henry assentiu e colocou a mão sobre o ombro de Teddy, para assegurar-lhe que compreendia.

— Estou bebendo esse troço sem para, mas não consigo ficar bêbado - disse ele, baixinho. - Mas obrigado por conversar comigo. Qualquer coisa é melhor do que ouvir meus próprios pensamentos.

Teddy assentiu. — Mas nós precisamos fazer alguma coisa. Por que não participamos do

resgate? Vai ajudar você a parar de pensar. — Tem razão. Henry usou os dedos para arrumar o cabelo e então deu um sorriso triste

para Teddy. — Gostaria de fazer isso. Mesmo. Mas é que a irmão de Elizabeth, a Di...

Quer dizer, a Diana. Estou preocupado com ela e não quero deixá-la sem... — Sem o quê? Teddy subtamente pareceu estar constrangido e a animação que havia em

seu rosto desaparecera. — É que eu não consigo parar de pensar nela. Henry se virou na direção da sala de estar onde estavam os convidados.

Havia diversos cômodos entre a sala e o aposento onde ele estava, mas Henry conseguia ver as janelas do canto através das portas abertas. Ele não pôde discernir Diana naquele momento, mas sabia que ela estava ali no meio.

— Fico pensando no que ela deve estar passando. Deve estar arrasada. E fico pensado em como ela é linda e que, após algum tempo...

Henry parou de falar ao sentir que Teddy estava desconfortável. Após algum tempo, ele estava prestes a dizer, talvez ele pudesse se casar com Diana. Talvez todos eles pudessem voltar a ser felizes.

— Henry - disse Teddy, olhando por cima do ombro e de volta para o amigo. - Você perdeu algo que jamais poderá ser substituído. Entendo que queira tentar. Mas o que você sugeriu... nunca mais diga isso para ninguém. Não está certo.

Teddy se virou e começou a caminhar de volta para sala. Henry viu que fizera uma grande tolice e, desejando não ter revelado seu desejo por Diana, seguiu-o rapidamente.

— Teddy, eu...

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— Não se preocupe, Henry - interrompeu seu amigo, fazendo um gesto que indicava que ele deveria esquecer o assunto.

Alguns segundos mais tarde, eles ouviram um gemido cacofônico vindo da sala de estar. Os dois seguiram adiante e viram, através dos muitos umbrais que os separavam dos outros, uma menina de cabelos escuros ajoelhada no chão. Sua saia negra formava uma espécie de cone em torno de suas pernas e em sua cabeça havia um pequeno chapéu de veludo negro. Não havia nenhum véu cobrindo seu rosto e assim era possível ver, mesmo à distância, que o choro histérico estava vindo de Penelope Hayes.

— Vamos até o rio ver o que pode ser feito - disse Teddy, enojado. Henry ficou furioso. Ele quis que Diana o olhasse por um segundo, para que

ele pudesse mostrar a ela que sabia o quão falsa era a dor de Penelope. Henry se arriscou a olhar para onde os Halland estavam e, nesse mesmo segundo, Diana, ainda espremida entre duas matronas vestidas de negro, levantou o véu e encarou-o. Havia tristeza e resignação em seus olhos e Henry viu que ela também reconhecia a falsidade de Penelope. Um homem passou por entre eles, indo na direção de Penelope, e por um segundo a visão de Henry foi tapada. Quando o homem saiu da frente, Diana baixara novamente o véu. Henry se perguntou se alguma vez olharia nos olhos dela de novo.

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A alta sociedade está extremamente chocada para dizer qualquer coisa. Seus membros estão tristes demais para serem vistos na Quinta Avenida, ou para dar as festas que lhes fizeram tão famosos. E hoje será o dia mais triste de nossa cidade em muito tempo, pois o funeral da srta. Elizabeth Holland ocorrerá nesta manhã, na Igreja Episcopal da Graça.

NOTA DA COLUNA “GAMESOME GALLANT”, DO JORNAL NEW YORK

IMPERIAL, DOMINGO, DE OUTUBRO DE 1899

iana Holland ficou imóvel enquanto Claire cuidadosamente escovava, partia e trançava seus cabelos. Era um penteado mais simples do que o que geralmente

usava, mas os cabelos estariam cobertos por um chapéu e, além disso, sua aparência não lhe importava mais. O rosto de Diana ficara inchado e depois descarnado em questão de dias. Pelo espelho, ela viu o rosto pálido de sua criada, que parecia ter chorado quase tanto quanto ela.

— Vai ficar tudo bem - disse Diana, embora não acreditasse nisso. — Oh, srta. Diana - disse Claire, enlaçando-a e apertando-a. - Probrezinha. Diana deu um sorriso triste e deixou que Claire a abraçasse. — É que é tão difícil de acreditar - disse ela. — Eu sei. Eu sei. Mas hoje vocês vão deixá-la descansar em paz com Deus

e, aos poucos, você vai conseguir lidar com isso. Diana passou os dedos na éle fina que ficava abaixo de seus olhos, tentando

dar-lhe mais viço. Ela estava há vários dias aprisionada pela dor e rodeada de primos, tios e tias. Eles falava pouco, comiam pouco e passavam metade do tempo em casa e a outra metade na casa dos Schoonmaker, que davam uma recepção todos os dias, com a escassa esperança de que alguma informação sobre Elizabeth ou sobre seu corpo ainda pudesse ser obtida. Diana não teria conseguido parar de pensar em Elizabeth, mesmo que houvesse tentado.

Ela sabia que cometera um ato terrível. Descobrira isso no dia em que Elizabeth morrera, mas desde então vinha sendo cada vez mais dominada pela tristeza e pela culpa. Merecia mesmo ficar feia.

— Pronto - disse Claire. Ela colocara um chapéu na cabeça de Diana e um véu preso a ele,

escondendo seus olhos inchados. Diana ficou de pé, permitindo que sua criada verificasse os fechos de seu vestido. Era um dos vestidos de sarja preta que ela usara durante o luto por seu pai, muito simples, sem qualquer adorno. A cintura era marcada, deixando as curvas de Diana um pouco mais acentuadas.

— Gostaria que você pudesse vir conosco.

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— Eu sei - disse Claire, colocando o braço em volta dela e levando-a até a porta. - Mas preciso preparar a comida do funeral e só Deus sabe quanta gente vai vir. Todos os Holland, o pobre sr. Schoonmaker e sua família, seus primos do lado Gansevoort, e...

Diana pousou a cabeça no ombro de Claire, que continuou a enumerar tudo o que precisaria ser feito antes que o funeral acabasse enquanto elas desciam a escada. Era um pouco reconfortante ouvi-la falando de coisas tão cotidianas. Quando chegara, em frente à porta que dava na sala de estar, Diana sorriu, deu um beijo na bochecha de Claire e entrou sozinha. Os móveis haviam sido cobertos por panos negros e o ar estava repleto do perfume forte dos mais de cem buquês que haviam sido enviados para a família da falecida. O tempo ruim chegara para ficar e a luz que entrava pelas janelas era difusa e melancólica.

Diversos dos parentes de Diana olharam-na com solidariedade. Ela tentou parecer grata, mas queria que a cerimônia acasse logo. A dor que estava sentindo era privada, misturada ao ódio que sentia de si mesma.

— Oh, Di! Di! Diana se virou e viu Penelope aproximando-se depressa. Ela era um choque

de beleza em seu vestido negro debruado de renda com a saia em camadas. Seus olhos azuis estavam tão frescos quanto no final de um baile e seus cabelos foram adornados com a maior quantidade de penas de avestruz que Diana já vira. Ela se lembrou subitamente da palavra que Henry usara para descrever Penepole: selvagem.

— Oh, Di, como você pode suportar o dia de hoje? - disse Penelope, agarrando as mãos de Diana, que estavam cobertas por luvas pretas.

— E você? - perguntou Diana com frieza, afastando-se dela. — Eu mal posso, é claro. Os gestos de Penelope mostravam que ela nãp desistira de fazer teatro, mas

ela ao menos deixara de fingir que estava chorando. — É claro. Diana tentou não levantar a voz, mas o pesar fraudulento de Penelope lhe

dava nojo. Era óbvio que ela estava muito satisfeita com o ocorrido. Já estava se arrumando toda, na esperança vã de conseguir chamar mais atenção agora que sua rival se fora. Era um insulto que Penelope pudesse ser bem-vinda na casa dos Holland.

— Todo mundo sabe o quanto você está arrasada, Penelope - disse Diana, cheia de ódio. - Nós todos já vimos suas lágrimas. Por que não fica um pouco quieta, para que possamos ter paz?

— Mas, Diana - replicou Penelope num tom baixo, mas intenso, que mais ninguém poderia escutar -, garanto-lhe que não tenho idéia do que você está falando.

— Você é uma mentirosa. E mente muito mal. Diana ficou feliz por estar de véu. Ele abafou sua voz e disfarçou a emoção

que fez o sangue lhe subir às faces, mas não impediu que sua tia Edith, que estava ali perto, ouvisse o que ela dissera.

Tia Edith murmurou algo para a prima com quem estivera conversando, pedindo licença. Em poucos segundos a sra. Holland surgira ao lado de Diana. Penelope ainda estava na frente dela, encarando-a com os olhos arregalados e um

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ar levemente zombeteiro. Mas a mãe de Diana pegou-a pelo braço, fez um gesto de desculpa para Penelope e arrastou-a até o corredor. Após elas saírem, alguém fechou a porta da sala.

Diana esperou uma bronca da mãe, mas em vez disso sentiu uma bofetada no rosto. Ela estremeceu, mais de surpresa do que de dor.

— Por que você fez isso? - perguntou ela. — Diana, por favor, comporte-se. Não vou suportar mais falta de educação.

Você é tudo o que tenho agora. Precisa aprender a preservar sua família. A sra. Holland falou lentamente, como se estivesse exausta, e seus olhos

vermelhos tinham uma expressão de súplica. Num segundo, Diana compreendeu que o mundo de sua mãe ruíra que ela mal estava conseguindo permanecer de pé.

— Por favor, não me decepcione no dia em que vamos nos despedir de Elizabeth.

Diana abaixou a cabeça, conformada. — Obrigada. Agora entre na segunda sala de estar e, quando estiver se

sentindo melhor, volte e se junte a nós no cortejo. Parece-me que você está agitada demais para ficar junto dos outros.

Diana tentou pensar em algo para dizer que pudesse tranquilizar sua mãe, mas só conseguiu assentir antes de entrar no cômodo que ficava no lado oposto do corredor. A sala mudara completamente. Não havia nada nas paredes e todos os vasos pintados à mão, todas as estátuas e bugigangas tinham desaparecido. Os quadros que ela examinara no dia em que conhecera Henry Schoonmaker, com mares cor de turquesa e céus cor de carvão, não estavam mais lá. Não havia nem mesmo um buquê meio murcho para decorar o aposento. Sua pobre mãe vendera tudo. Diana sentou-se pesadamente em um dos sofás e se deu conta de que o que estava prestes a acontecer com sua família não seria nada romântico.

Ela ouviu passos no corredor - os convidados estavam indo embora. Eles deviam ter se esquecido dela, pois ninguém entrou na sala para lhe dizer que estava na hora. Diana ouviu-os abrindo a porta e saindo para a rua, a caminho do funeral. Penelope estava entre eles, fingindo estar arrasada. Ao pensar nisso, ela cerrou os punhos, mas logo respirou fundo e tentou se acalmar. Diana não queria ir à igreja de jeito nenhum, mas não podia se esconder do que fizera.

Or ar gelado lhe envolveu assim que ela saiu de casa. Ainda estava cedo demais no ano para fazer tanto frio, mas até o parque parecia ter assumido um doloroso ar de inverno. Diana observou aquele dia triste, tão nublado que parecia tingir a paisagem de preto e branco, e sentiu-se mais sozinha do que nunca.

Havia uma confusão na calçada. Os parentes de Diana estavam tentando subir em suas carruagens com alguma dignidade, mas não estava, conseguindo. Ela viu que o sege de sua família já partira, conduzido pelo sr. Faber.

Foi então que Diana sentiu alguém lhe puxando a manga do vestido. Ela se virou e viu que um menino surgira como que do nada. Ele era tão magro que parecia não ter comido nada há vários dias e seu casaco estava todo remendado.

— Você é a srta. Diana Holland? - perguntou o menino, apertando os olhos como se tentasse vê-la melhor.

Diana assentiu. Ela viu que as últimas carruagens estavam indo embora e se perguntou se deveria correr até elas.

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— Tem certeza? — Tenho! - respondeu Diana, indignada. Ela viu algumas carruagens de aluguel no final da rua e ficou mais tranquila

ao saber que havia testemunhas ali perto. — Não me olhe com essa cara - disse o menino gravemente. - Disseram

para mim que era muito importante não entregar para a pessoa errada. — Entregar o quê para a pessoa errada? O menino balançou a cabeça. — Primeiro você precisa responder à pergunta. — Que pergunta? - indagou Diana, atônita com esse diálogo absurdo e

imprudente. — A pergunta sobre o Vermeer que seu pai deu para sua irmã Elizabeth... Havia um instinto tão profundo em Diana que ela se esqueceu por um

segundo de sua tristeza e de sua culpa e exclamou subitamente: — Ele deu aquele quadro para mim! O menino pareceu avaliá-la e então sorriu. — Foi isso que ela disse que você ia dizer. Ele colocou a mão no bolso e tirou um envelope amarelo e quadrado, no

qual havia o nome de Diana escrito com uma caligrafia que ela conhecia muito bem.

— Onde você arranjou isso? - perguntou ela num sussurro. — Chicago. Ela pagou minha passagem para cá e me pediu para entregar

isso para você. Para a menina que ia dizer que o quadro era dela. — Obrigada - disse Diana, rasgando o envelope e lendo freneticamente a

carta que ele continha.

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Page 209: [DIGITALIZAÇÃO]Anna Godbersen- Série Luxo 1 - Luxo

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VÉÅ tÅÉÜ? VÉÅ tÅÉÜ? VÉÅ tÅÉÜ? VÉÅ tÅÉÜ? XÄ|étuxà{AXÄ|étuxà{AXÄ|étuxà{AXÄ|étuxà{A

Quando Diana terminou de ler, sua dor de cabeça desaparecera e um calor

se espalhara em seu peito. Ela estivera errada. Elizabeth era a irmã romântica que tinha uma paixão secreta. Fora ela que largara tudo para viver uma aventura.

Diana olhou para as árvores que balançavam ao sabor da brisa e sentiu que nascera de novo. Ela não precisaria se afastar de Henry para sempre. Elizabeth estava viva - Diana não levara a própria irmã a cometer um ato terrível. O mundo ainda estava de braços abertos para ela. Diana olhou com gratidão para o menino, que já estava caminhando na direç]ap da Broadway. Ela tentou se parecer com uma menina a caminho de um funeral, mas não conseguia impedir um sorriso radiante de surgir em seu rosto. Diana estendeu o braço, chamando uma carruagem de aluguel.

Y|Å

A Série The Luxe é composta até o momento por 4 volumes (Luxe, Romurs, Envy e Splendor). Apenas o primeiro volume foi publicado no Brasil e até o momento a editora responsável pela publicação não divulgou quando será a publicação do volume 2. Assim que Romurs for publicado no Brasil, o mesmo será digitalizado pela comunidade “Traduções e Digitalizações” assim como os demais volumes.

Caso a editora não publique a continuação de “Luxo”, iremos traduzir o restante da série na comunidade “Traduções e Digitalizações”.