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Grupo Ser Educacional Faculdade Maurício de Nassau Curso de Direito Eugênio Costa Mimoso DIGNIDADE E CONSCIÊNCIA CIDADÃ PARA ALÉM DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO João Pessoa-PB 2012

DIGNIDADE E CONSCIÊNCIA CIDADÃ PARA ALÉM DO … · A DEUS, por ter me dado a graça de sempre trilhar o caminho do bem; ... para se redimir do que fez contra os seus pares e contra

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Grupo Ser Educacional Faculdade Maurício de Nassau

Curso de Direito

Eugênio Costa Mimoso

DIGNIDADE E CONSCIÊNCIA CIDADÃ PARA ALÉM DO SISTEMA PRISIONAL

BRASILEIRO

João Pessoa-PB 2012

Eugênio Costa Mimoso

DIGNIDADE E CONSCIÊNCIA CIDADÃ PARA ALÉM DO SISTEMA PRISIONAL

BRASILEIRO

Monografia apresentado para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Jurídicas, pela Faculdade Maurício de Nassau – Unidade João Pessoa. Orientador: Prof. Esp. Ítalo Ricardo Amorim Nunes.

João Pessoa-PB 2012

Bibliotecária: Elaine Cristina de Brito Moreira – CRB-15/053 Bibliotecária: Elaine Cristina de Brito Moreira – CRB-15/053

M662d Mimoso, Eugênio Costa

Dignidade e consciência cidadã para além do sistema prisional brasileiro / Eugênio Costa Mimoso. – João Pessoa, PB, 2012.

72 f. Orientador: Prof. Esp. Ítalo Ricardo Amorim Nunes Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) –

Faculdade Maurício de Nassau - Unidade João Pessoa, 2012.

1 Direitos Humanos - Brasil 2 Direito - Cidadania 3 Prisão 4 Direitos Humanos – Delito 5 Execução Penal – Lei 6 Penitenciária 7 Reclusão 8 Recuperação – Sociedade 9 Direito Penal I. Título.

CDU: 343.211.3(81)

Eugênio Costa Mimoso

DIGNIDADE E CONSCIÊNCIA CIDADÃ PARA ALÉM DO SISTEMA PRISIONAL

BRASILEIRO

Monografia apresentado para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Jurídicas, pela Faculdade Maurício de Nassau – Unidade João Pessoa.

Aprovada em ____/ ____/ _______ Nota___________

_________________________________________

Prof. Esp. Ítalo Ricardo Amorim Nunes (Orientador)

(Faculdade Maurício de Nassau – Unidade João Pessoa - PB)

_________________________________________

Prof. Dr. Daniel Alves Magalhães (Convidado)

(Faculdade Maurício de Nassau – Unidade João Pessoa - PB)

______________________________________ Profa. Esp. Sabrina Kelly Borges Carneiro

(Convidada) (Faculdade Maurício de Nassau – Unidade João Pessoa - PB)

_______________________________________

Profa. Ms. Christiane Soares Carneiro Neri (Convidada)

(Faculdade Maurício de Nassau - Unidade João Pessoa - PB)

Dedico este trabalho a minha esposa

Jane que me ajudou a acreditar no

Sonho e não mediu esforços para me

ajudar a concretizá-lo.

AGRADECIMENTOS

A DEUS, por ter me dado a graça de sempre trilhar o caminho do bem;

A MINHA ESPOSA, companheira incansável nas horas de alegria e dificuldades;

AOS MEUS PAIS, que se sacrificaram para me oferecer sempre o melhor na educação;

A COMUNIDADE PAPA JOÃO XXIII, por ter sido minha irmã de caminhada e por me

apoiar na escolha do curso que estou concluindo;

AO MEU ORIENTADOR, por ter acreditado e investido na minha capacidade acadêmica;

A TODOS OS PROFESSORES DO CURSO DE DIREITO, por terem compartilhado

comigo a deliciosa arte do ensinar aprendendo;

AOS MEUS COLEGAS DE TURMA, pela colaboração e encorajamento diante dos tantos

obstáculos que me ajudaram a superar;

A ELAINE CRISTINA, bibliotecária e sua equipe, que me ajudaram a descobrir a maravilha

do pesquisar e do escrever.

“Agora, pois, permanecem

essas três coisas: fé, espe-

rança e o amor, porém a

maior delas é o amor”.

1º Coríntios 13, 13

RESUMO

Esse pretenso trabalho bibliográfico ora apresentado, tem como foco principal questionar o

Estado-Juiz, tão quanto à sociedade da maneira como recebemos o egresso do cárcere após a

sua “recuperação”, ou tão somente quando termina a sua pena. A abordagem que se faz neste

estudo é em relação à ineficácia da Lei de Execução Penal e demais códigos penalistas que

garantem que este recluso tenha de fato espaço físico, psíquico, educacional e profissional

para se redimir do que fez contra os seus pares e contra o dileto Estado. No entanto, o que

comprova na realidade é o contrário. Pode realmente este cidadão além de não se recuperar, se

deteriorar diante da “escola do crime” que lhe foi apresentada durante seus anos de reclusão?

O nó da questão é descobrir cientificamente uma maneira pela qual Estado/Sociedade pode

encontrar para recuperar tal cidadão e como reinseri-lo novamente no espaço social que

outrora este ocupou, mas é uma demanda difícil, porém não impossível, desde que tenhamos

coragem para afrontar tal situação como uma questão de justiça social e não tão somente

penitenciária.

Palavras-chave: Sociedade. Recuperação. Reclusão.

RESUMEN

Este trabajo bibliografico ahora presentado tiene como foco principal cuestionar el Estado-

Juez, tanto cuanto la sociedad de la manera como recibimos el apenado de la carcel despues

de su ¨recuperacion¨, o solamente cuando termina su pena. El abordage que se hace en este

estudio es en relaccion a la ineficiencia de la lei de execucion Penaly demas codigos penales

que garantizen que este recluso tenga de facto espacio fisico, psico, educacional y profesional

para si redimir de lo que hizo contra sus pares y contra el Estado. Entretanto, la realidad

comprueba el reves. Puede realmente este ciudano ademas de no recuperarse, deteriorarse

delante de la ¨escuela del crimen¨que le fue presentada mientrs cumplia su pena de detencion.

El nudode la cuestion es descubrir cientificamente una manera por la cual Estado/Sociedad

pueda encotrar para recuperar tal ciudadano y como inserirlo en el espacio social que antes

ocupo, pero es una demanda dificil pero no imposible, desde que tengamos corage para

afrontar tal situacion como una cuestion justicia social y no solamente carceraria.

Palabras Llave: Sociedad. Recuperación. Reclusión.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................. 11

2 DIGNIDADE HUMANA E CIDADANIA: DIREITOS DO SER

HUMANO E DEVERES DA SOCIEDADE E DO ESTADO....................

14

2.1 Todo ser humano é vocacionado à Liberdade............................................. 19

2.2 A prisão como acidente de percurso histórico-existencial.......................... 28

2.3 Sociedade e Estado como avalista da dignidade humana e da condição

cidadã...............................................................................................................

38

3 A CONDIÇÃO DE EX-DETENTOS: DILEMAS E PERSPECTIVAS... 44

3.1 O dia-a-dia de um ex-detento: entre a procura de trabalho e as

discriminações.................................................................................................

51

3.2 Quando as leis ficam no papel....................................................................... 56

3.3 A caminho da reincidência............................................................................ 60

4 CONCLUSÃO................................................................................................ 67

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 69

11

1 INTRODUÇÃO

A realidade que nos circunda, dentre outros tantos fatores, o que mais carece de ser

estudado e apreciado cientificamente é o humano ser e o meio no qual ele vive e se relaciona

com seus pares.

A vida em sociedade trás muitas vantagens, mas o indivíduo em si consegue complicar

a relação em razão de seu crescimento e amadurecimento. Para que essa desordem social não

se torne uma catástrofe, foi necessário criar regras específicas onde delimitava deveres e

direitos. Mas, ao longo dos tempos esses deveres sobrepuseram os direitos, trazendo assim

uma delimitação desumana do ser humano em questão.

Com o passar dos tempos, sobretudo neste tempo atual e globalizado, a violência tem

causado muitas dores a existência desses nomeados cidadãos. O Estado então, para dar

resposta às causas perdidas e não deixar de garantir a segurança destes, construiu um

ordenamento pátrio positivado onde as regras determinam o que é de direito e o que é de fato.

Nada menos do que é: correto ou errado na delineação da vida em sociedade.

Mesmo tendo esta pretérita intenção de garantir a sociedade toda segurança de vida

necessária, algumas pessoas se afligem com a falta de educação, de segurança, dignidade e

cidadania. Essa desmedida situação vem a colocar este ser humano em primazia numa

condição de miséria absoluta, deixando assim uma única saída que é delinquir.

É necessário apontar que todo o arcabouço jurídico ainda não é o suficiente para dar

uma resposta a estes cidadãos de última categoria, assim sendo, o Estado deixa de seguir a

própria lei e se esvai na dureza da barbárie que é denominada pena. Tendo em vista esta

situação, surge o ultimado final deste órgão estatal (judiciário), que tem o poder de investigar,

julgar, condenar e aplicar a sanção maior que a pena restritiva de liberdade. No entanto, este

deve ser privado da sua autonomia de ir e vir e não deixar de existir no mais profundo do seu

ser... Perdendo também o sacro direito de ter sua dignidade e cidadania.

Na busca excessiva de resolução para tal problemática, nasce o sistema carcerário

como resposta ineficaz onde não se previne a sociedade do crime num custo razoável, dando

assim enfoque a repressão, gastando uma cifra milionária para pressupostamente garantir a

ambos os cidadãos o direito a vida. O problema desemboca numa demanda um tanto quanto

conflitante: afinal esse ser que delinqüe é humano ou não? Eis a questão.

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Antigamente o criminoso era penalizado até mesmo na alma, levando assim a pagar o

seu erro com a própria vida de maneira mais cruel e dolorosa possível. No desenvolver desta

sociedade e deste Estado, pelo menos em tese, hoje já não mais assim: Será?

Três grandes nomes das ciências humanas, Adeildo Nunes (jurista), Alder Calado

(sociólogo) e já o tão citado Cesare Beccaria (filósofo) nos mostra abertamente que isto só

mudou, digamos assim de nome ou posição, mas que a pena continua sendo aplicado ainda

com requintes de crueldade a partir do exato momento que é negado a este cidadão que

delinquiu, o direito fundamental a vida, que lhe deve ser recuperada e não abortizada.

Também evoluíram junto com a história humana, os direitos humanos, que presa pela

dignidade, cidadania e vida justa para todo e qualquer ser humano sem distinção de raça,

credo religioso, posição social, sexo ou qualquer que seja a sua etnia. Sendo que na maioria

das vezes esses direitos garantidos através de tratados internacionais não são bem

compreendidos, deixando assim uma pseuda imagem de protecionismo à “bandidagem”,

como acentua certos indivíduos.

Afinal, o que acontece com o detento na volta ao convívio social, numa pretensa

recuperação após cumprimento da pena? Sabemos de antemão que a volta ao convívio social

acontecerá, porém, a recuperação tão garantida e exigida na Lei de Execução Penal, na íntegra

não acontecerá. Sucede que o egresso termina não sendo aceito na sociedade, exatamente

porque o Estado-Juiz na sua omissão legalizada, não colaborou, muito menos ainda

providenciou tal recuperação. E agora? Como termina esse retorno? Como bem vai nos

mostrar este estudo bibliográfico, esse egresso terminará voltando ao cárcere, porque tantas

vezes ele se auto-convence que estava mais seguro no interno do cárcere que sobre os olhos

preconceituosos e julgadores da sociedade que outrora ele era membro.

Entretanto, esse retorno ao cárcere, classificado como reincidência, acontece sempre

quase nos 80% dos casos já estudados. E porque não investir nas penas alternativas, uma vez

que essa reincidência se perfaz em apena 5% dos casos? É nisto que surge a proposta de

estudarmos a fundo cientificamente uma solução para tal problema diante da inércia do

Estado e da despreparação da sociedade ao receber tal cidadão. A possibilidade de chances

para a recuperação dentro e fora do cárcere existe, o que precisa é fomentar de maneira

positiva a existência desta e conscientizar, preparar, informar a sociedade para receber o

mesmo indivíduo que outrora vivia em plena harmonia com os demais seres humanos.

Os conflitos que os ex-detentos encontram ao cumprirem suas respectivas penas,

impostas pelo Estado, ao depararem com a dura realidade social, não conseguem atender a

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demanda que a sociedade os impõe, vivendo de tal modo uma ruptura entre o positivado pelo

Estado e o delito cometido.

Tendo em vista esta nova realidade que o circunda, o ex-condenado não consegue

reconstituir a sua dignidade como pessoa e sua cidadania, perdendo novamente a sua

liberdade, reincidindo ao mundo do crime, retornando a prisão que supostamente lhe oferece

uma pseuda segurança.

Este trabalho foi estruturado em três capítulos: o primeiro veio mostrar a realidade em

que vive as pessoas que de uma forma e de outra cometeu tal crime e que precisa ser

recolhido para recuperar-se; o segundo no entanto mostra claramente como a perda dos

direitos a cidadania tem a ver com a falta de estruturação do Estado aplicador da pena e da

sociedade, e o terceiro demonstra a condição desse ex-detento e suas perspectivas após o

pagamento de sua pena.

Portanto, no desenrolar dos fatos, o que interessa neste estudo é averiguar as falhas,

mas, sobretudo propor saídas que possam ser avaliadas pela ciência jurídica e social, dando

assim possibilidades de estudos que venham colaborar para a eficácia das leis e para que este

retorno venha permeado de recuperação. Nada se concretizará se não houver um estudo

profundo para entender o sistema carcerário brasileiro e onde se encontra as forças para lutar

contra tal sistema retrógado e já em estado de falência dos órgãos competentes, que deveriam

dar essas garantias para o cidadão recluso.

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2 DIGNIDADE HUMANA E CIDADANIA: DIREITOS DO SER HUMANO E DEVERES DA SOCIEDADE E DO ESTADO

Independentemente das eventuais circunstâncias limitativas do ser humano, como

ocorre em relação aos detentos, todo ser humano é sujeito de direitos: à vida, ao respeito, à

dignidade, à moradia, ao trabalho, à saúde, à educação, ao lazer, em breve, à cidadania.

Tanto a sociedade quanto o Estado têm o dever de assegurar condições que permitam

ao conjunto dos seres humanos a satisfação de suas necessidades básicas, materiais e

espirituais.

Dados recentes nos mostram o caos dos cárceres brasileiro, nos fazendo compreender

melhor como este nosso país trata seus cidadãos, vulgos presidiários.

Esta pessoa além de perder sua liberdade, perde também o direito de exercer sua

cidadania através do voto e do esquecimento do Estado. Compreende-se, então, porque este

cidadão vale tão pouco para o Estado e ainda menos no status social.

Apesar dos grandes esforços que o próprio Estado faz para mudar essa realidade,

começando a implantar urnas eletrônicas em alguns presídios, ainda está longe a garantia

desse direito.

Tanto é assim, que “talvez” este ser recluso possa um dia, do outro lado da sociedade,

desempenhar com mais afinco tal obrigação, ou seja, eleger os nossos representantes com

certa consciência, dado o fato de terem sidos esquecidos pelos mesmos.

Entretanto, antes de adentrarmos direto no dilema do “direito a cidadania e a

dignidade” humana, compreendendo além destes, os outros demais direitos fundamentais.

Vamos agora fazer uma busca de dados para visualizar a realidade brasileira, naquilo

que condiz com o sistema carcerário, como afirma Gomes, em seu artigo escrito em março de

2012:

Os homens, jovens e os menos instruídos são os que preponderam em nossos presídios e que o número de mulheres e de presos provisórios cresceu expressivamente. Fechando o primeiro semestre de 2011 com um total de 513.802 presos, conforme dados do DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional), o Brasil ficou em 4º lugar dentre os países mais encarceradores do mundo e em 49º lugar dentre os mais encarceradores a cada 100 mil habitantes (com uma taxa de 269,38 presos/100 habitantes), de acordo com o levantamento do Instituto de Pesquisa e de Cultura Luiz Flávio Gomes. Nos últimos 20 anos e meio (entre 1990 e junho de 2011), o Brasil teve um crescimento de 471% em sua população carcerária, já que em 1990 o país possuía 90 mil presos. No mesmo período, toda a população nacional cresceu apenas 30% (GOMES, 2012, p. 1).

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Esta fotografia não pára somente nestes dados, pois na medida em que buscamos

conhecer e estudar mais ainda a vida destes “recuperandos” vai perdendo de vista a

veracidade das leis e o comprometimento da sociedade.

No entanto, este trabalho visa realmente apresentar dados que comprovam os fatos

reais não condizentes com o exposto no ordenamento jurídico brasileiro. Temos que assumir a

realidade que nos cerca e responsabilizar o Estado pela sua inércia; buscando numa mesma

esfera ainda mais complexa a conscientização do social para o caos que estamos construindo.

Negar-se diante dos fatos em que a realidade nos apresenta, é compactuar-se com a

barbárie que estão aplicando nos presídios como forma de reeducação.

Continuar nesta cegueira grupal, colocando-se contra o ser humano que compõe o

cenário das prisões no Brasil, cuja situação é realmente dolosa, é fingir que não existimos e

que tudo não passa de uma brincadeira de mau gosto. Seja ela, fruto de uma mídia

manipuladora que só nos mostra um lado da verdadeira realidade. O côncavo da situação.

Entretanto, a coragem maior é procurar entender através de estudos como podemos

exigir mais aplicabilidade e eficácia das leis pelo Estado-Juiz, que tem o dever de garantir

tanto os direitos, como deveres que fazem funcionar a sociedade que sofre com toda esta

violência.

Voltemos à realidade e aos fatos para termos argumentos o suficiente para abordarmos

com certa autoridade, tal situação dentro do sistema penal carcerário brasileiro. Neste sentido,

Gomes, defende a seguinte tese:

Os presos provisórios foram os que tiveram o maior crescimento: 944%, alcançando uma população de 169.075 presos em 2011, dez vezes maior do que a existente em 1990 (16.200 presos). Já o número de presos definitivos cresceu 367%, alcançando uma população cinco vezes maior do que naquele período. Do total de detentos, quem lidera são os homens, representando 92,6% da população carcerária nacional, enquanto as mulheres representam 7,4% deste total. No entanto, a taxa de crescimento no número de prisões de mulheres, entre 2000 e junho de 2011, que alcançou 252%, foi duas vezes superior ao de homens, que totalizou 115% (GOMES, op. cit. p. 1-2).

Como se percebe, a população carcerária em 2011 aumentou dez vezes mais em

relação ao ano de 1990. O que não avançou nestes últimos anos, como revela a pesquisa do

instituto Luiz Flávio Gomes, apoiado no DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional),

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foram os investimentos em nível de estrutura e do cumprimento da legislação penal em si.

Antes, piorou consideravelmente.

Aqui consiste uma demanda em que não pode deixar para trás: afinal, para onde vão os

milhares de reais que o Estado injeta nesta estrutura tão complicada, por assim não dizer,

falida? Assim, temos que retomar ao cerne da questão que é a educação. Antes mesmo de

saber quanto custa um presidiário, vamos ver o quanto o governo federal investe na formação

e educação de um aluno.

Para isto, é necessário que se faça um paralelo para notoriamente entendermos a

diferença que se perfaz na hora do ter que fazer diferente.

Não podemos abrir uma discussão no âmbito do sistema carcerário, sem antes

entender como funciona o sistema educacional, já previsto na lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Vejamos o que diz Garcia, do

Jornal Síntese na sua referida avaliação:

Um aluno da educação básica custou ao Brasil R$ 2.632 anuais, sendo que o maior investimento está nas séries finais do ensino fundamental (6° ao 9° ano), com um custo de R$ 2.946 por estudante ao ano. É o que aponta estudo sobre o investimento público em educação em 2008, divulgado nesta terça-feira, 16, pelo Ministério da Educação (MEC). De acordo com a série histórica divulgada pelo ministério, de 2000 para 2008 o valor investido por aluno na educação básica passou de R$ 808 para R$ 2.632 - mais do que triplicou. Apesar do aumento, ainda é pouco mais do que os valores mensais cobrados por escolas particulares (GARCIA, 2009, p. 3).

Na mesma linha de raciocínio, podemos ver os gastos do Estado com os presos, dando

assim, melhor enfoque para visualizar o concreto real do sistema analisado. Valorizando a

realidade que nos circunda, buscamos no nordeste esta cifra que não acalenta diante dos

tributos arrecadados pelo mesmo governo. Vejamos:

Um preso em Sergipe custa muito caro. Mensalmente, o contribuinte paga R$ 1.581,80 para manter encarcerada uma única pessoa. Um único aluno na escola pública, no entanto, custa apenas R$ 173,56. Nos presídios estão 2.259 pessoas, segundo a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc), com dados de 2008. O valor deste investimento para um setor, cujo próprio ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que no país é atrasado, divide opiniões. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação em Sergipe (Síntese), Joel Almeida, diz que estes valores deveriam ser revistos e aplicados em educação. Mas o antropólogo, Fernando Lins, diz que não estão presas somente aquelas pessoas que não tiveram acesso à educação.

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Como vimos existe divergências de idéias, opiniões e posições entre aqueles que compõem o sistema como num todo. Nada melhor para resolver tal questão se o Estado comprometido usa-se dos meios de comunicação de massa para informar e educar a sociedade a respeito da educação como um mecanismo de prevenir a delinqüência e a violência (GARCIA, 2012, p. 1).

De que maneira fazer para que isto se inverta, quando a mídia está comprometida com

a classe mais alta e não como os marginalizados?

Prossigamos na busca de conhecimentos para adentrarmos na área de propostas

alternativas e eficazes para um problema cujo crime, está sendo praticado pelo próprio Estado

de direito, quando deixam seus cidadãos a chegarem a tal situação e ainda por cima negá-los

assistência devida, ante os seus direitos fundamentais. Vejamos o que diz o pesquisador do

Instituto de Pesquisa e de Cultura Luiz Flávio Gomes:

Do total de detentos, quem lidera são os homens, representando 92,6% da população carcerária nacional, enquanto as mulheres representam 7,4% deste total. No entanto, a taxa de crescimento no número de prisões de mulheres, entre 2000 e junho de 2011, que alcançou 252%, foi duas vezes superior ao de homens, que totalizou 115%. O delito mais encarcerador para ambos os sexos foi o crime de Tráfico de Entorpecentes, responsável por 60% das prisões femininas e 21% das masculinas (GOMES, op. cit, p. 1).

Num sistema corrupto e inoperante como esse, não podemos esperar melhorias sem de

fato fazer mudanças radicais como foi o fechamento do antigo Carandiru. Mesmo sendo

apenas uma estratégia de emergência sobre pressão da mídia e dos direitos humanos

internacionais.

Nada de novo foi acrescentado senão as facções criminosas que surgiram como forma

de “organização” e protesto, como: PCC (Primeiro Comando da Capital), cuja líder é Willians

Herbas Camacho, vulgo Marcola, como afirma o jornalista Barros (2006, p. 3):

[...] DESDE A FUNDAÇÃO HÁ 13 ANOS, NO PRESÍDIO DE TAUBATÉ, AOS DIAS ATUAIS, O PARTIDO SÓ FEZ CRESCER E VER AUMENTADO O SEU DOMÍNIO NAS CADEIAS PAULISTAS. UMA HISTÓRIA EXTERNA DE CONFRONTO POR MELHORES CONDIÇÕES CARCERÁRIAS E UMA HISTÓRIA INTERNA CHEIAS DE VÍTIMAS NA LUTA PELO PODER. NUM CENÁRIO DRAMÁTICO QUE POUCA GENTE CONHECE [...].

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Isto só agravou mais a situação daqueles desprotegidos pelo Estado e esquecidos pela

sociedade; gerando “um partido”, cujo comprometimento era melhores condições de vida

dentro dos presídios e organização interna, regada a sangue.

É interessante sabermos que os únicos presídios que funciona com um pouco mais de

respeito no tocante ao espaço físico, e algumas garantias são aqueles de máxima segurança;

que, diga-se de passagem: são poucos e tem um custo altíssimo de manutenção para a os

cofres públicos, sendo patrocinadora a própria sociedade.

Afinal, o investimento sai do bolso do contribuinte, que não muito esclarecido e

vendado pelos meios de comunicação, entendem que é melhor construir mais presídios do que

investir numa boa educação.

Enquanto não haja uma “revolução” no sistema educacional e até mesmo no

presidiário; o problema se configurará como uma bomba que estará sempre pronta para

explodir, bastando somente uma fagulha de indignação e o fogo da chacina se concretizará.

Que perfil se pode traçar dessas pessoas que perderam sua liberdade e espera pela

eficácia e boa vontade do Estado?

Sabe-se que poucos que passaram a experiência no cárcere estão processando o Estado

pelas falhas judiciárias, condenando pessoas erradas, até mesmo por falta de identificação.

Analisemos os dados:

Já a faixa etária que mais ensejou prisões foi a de 18 a 24 anos, atingindo 30% delas. Em relação ao grau de escolaridade, o que preponderou foram os presos com ensino fundamental incompleto, representando 46% do total. Por meio destes levantamentos é simples concluir que os homens, jovens e os menos instruídos são os que preponderam em nossos presídios e que o número de mulheres e de presos provisórios cresceu expressivamente (GOMES, 2012, p. 1).

Portanto, sem nenhuma ilusão de que o problema foi resolvido, ou será amanhã,

Estado e Sociedade precisam se encontrar de forma menos positivista e formalista, mas sim,

com mais humanidade, coerência e competência para definir princípios que venham a criar

melhorias para este cidadão, cujos direitos foram cerceados pelo Estado-Juiz. Isto posto, se

quisermos no futuro ter uma sociedade onde a tortura seja abolida e as condições de vida

dentro dos presídios sejam dadas aos cidadãos que lá se encontram.

19

Essa transformação deve acontecer nos ditames da educação, ou chegaremos a ser

vítimas fatais quando insurgir rebeliões dentro do sistema prisional brasileiro. Levando assim,

ao caos toda a sociedade civil.

Existindo um investimento maciço numa educação de qualidade, o cidadão do amanhã

não ficará refém nem do Estado e muito menos ainda da sociedade. Mais do que ter liberdade

é ser um homem livre.

2.1 Todo ser humano é vocacionado à Liberdade

Em pleno século XXI, temos que refletir com seriedade e afinco à vocação a liberdade

de um ser (humano), que na concretude dos fatos se encontra desprovido de “amparo legal” e

social. Aqui tem que citar a falta de várias políticas públicas necessárias para manter a sua

dignidade; sofrendo assim o que já conhecemos como extinção.

Numa sociedade neoliberal, o que comanda é o capital, deixando de lado a pessoa

como um todo. Ou o dito ser vale pelo o que produz, ou tão somente pelo o que possui. Seus

valores não são mais medidos pela tabela do humano ser, mas sim pela produção brutal que o

renega no mais íntimo do seu existir que é a sua liberdade. Levando assim cada pessoa tomar

rumos cada vez mais distantes daquilo que deveria existir como humanidade.

Ao longo dos tempos as pessoas deixaram de usar a autotutela e passou então a ser

“protegidos” por um ordenamento jurídico positivista que se compactua com Estado-Juiz.

Afinal, este ser tem garantia de direitos para viver como cidadão ou apenas serve para

pagar tributos e cumprir os exaustivos deveres?

Este mesmo Estado possui inúmeras normas que por sinal são consideradas as mais

bem elaboradas do mundo. Isto apesar de uma ou outra vez, fazermos uma xérox de outros

cidadãos patrióticos, assim considerados de mais evoluídos.

Na nossa carta Magna, datada especialmente do ano de 1988, traz na sua promulgação

a essência maior que todas as outras leis têm que seguir:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte

20

Constituição Da República Federativa do Brasil (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2010, p. 7).

Entretanto, aquilo que se lê no texto constitucional não condiz com aquilo que se vive

no dia-a-dia no berço desta sociedade inerte aos problemas dos mais desvalidos da proteção

estatal/social. Os direitos classificados de fundamentais às vezes são trocados por exigências

de outros países que nada tem a ver conosco. Tantas são às vezes que se burla a própria Carta

constitucional para beneficiar algumas potências do mundo, para simplesmente ficarmos bem

nas relações dos tratados internacionais feitos com o resto do classificado: finado “1º mundo.”

Depois podemos seguir perguntando aos nossos representantes políticos que sabem

quase tudo. Quanto vale um (ser) humano?

“Comenta o prestigioso jornal Le Monde Diplomatique: “A recepção de um

megaevento esportivo como esse autoriza também megaviolação de direitos,

megaendividamento público e megairregularidades.” Crítica de Frei Beto - A COPA DO MUNDO (2014) NÃO SERÁ NOSSA! (conflito do projeto lei 2.330/2011 – que autoriza a venda de bebidas nos estádios na copa de 2014 com o projeto de lei nº 283/2011 que proíbe a mesma venda até mesmo nos arredores do estádio (BETO, Frei, 2012, p. 02) grifo nosso.

Já bem sabemos que este cidadão gozando de sua liberdade já sofre pela omissão do

“PATER” Estado. Façamos então um esforço para entender, o que acontece quando este

mesmo cidadão vai contra o regime legal, cometendo então um delito grave, onde sua

liberdade é cerceada pela reclusão ou detenção. Ou seja, quando ele sai do convívio natural

para como diz a LEP (Lei de Execução Penal), se ressocializar para retornar ao seio social

“são e salvo”. Hipocrisias a parte, mais uma vez temos que nos ater entre a hermenêutica do

texto legal e o resultado concreto.

Em se tratando do apenado, nada mais incômodo em saber que não serão cumpridos os

artigos que perfazem a dita lei. Ele sabe que é fácil se adentrar nos portões de um cárcere, mas

o seu retorno não é dito que será como prevê o ordenamento jurídico: “Art. 1º da LEP - A

execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e

proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”.1

Além de sofrer as sanções impostas pela lei estatal, tem que sobreviver a lei do Talião, a

prescrita pelo interno da comunidade carcerária que como já se sabe é ainda mais cruel e

desumana.

1 Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1982 – Instituiu a Lei de Execução Penal – Site do Planalto.

21

Ao adentrar e assumir esta nova realidade, já tendo sua liberdade negada, o cidadão (ã)

precisa assumir além dos deveres “justos”, passa a sofrer outra negação do Estado, deixando-o

assim a mercê dos profissionais do crime que o imerge numa situação de miséria e de tortura,

onde fere novamente outro artigo da Constituição Federal (5º, III), alegando que nenhum ser

humano será tratado com tortura... Mesmo aqueles que perderam seu direito de ir e vir, a sua

tão preciosa liberdade.

Os dicionários HOUAISS (virtual), o Dicionário Jurídico de Plácido e Silva e o outro

Dicionário Jurídico de Marcus Cláudio Acquaviva que nos apresenta o significado desta

palavra tortura, que vivemos até a década de 80 e que se faz ainda muito presente nesta

relação Estado-Sociedade e Sociedade-Estado, como veremos abaixo:

Houaiss - Submeter à tortura ou suplício, Ex.: t. um prisioneiro; molestar, incomodar fisicamente, Ex.: comprou uma cinta que a torturava, afligir (-se) muito; atormentar (-se).

TORTURA: do latim tortura, é tido na mesma significação de tormento. É o sofrimento, ou a dor provocada por maus-tratos físicos e morais (VOCABULÁRIO Jurídico Plácido e Silva, 2008, p.1413).

TORTURA: Crime consistente em infligir à vítima sofrimento físico e moral, para o fim de obter informação, declaração ou confissão. É delito comparado aos crimes hediondos (L. 8.072, de 25.7.1990, art. 2º, caput), insuscetível de anistia, graça, indulto, fiança e liberdade provisória, além de a pena ser cumprida integralmente, em regime fechado (DICIONÁRIO Jurídico Acquaviva, Marcus Cláudio Acquaviva, 2009, p. 838.)

Esta tortura parece ter desaparecida depois do final da ditadura militar (1985), mas

ainda preconiza grandes histórias nos bastidores, sobretudo nos porões das velhas e usadas

cadeias públicas e presídios de pequena, média e máxima segurança.

Mesmo vivendo hoje num Estado democrático de direito, há vários cidadãos (ãs) que

ao longo da sua vida carcerária vivem a obscuridade de uma vida atual que retrocede no

tempo, parecendo que além de humilhar e punir o crime, o Estado/Sociedade tem dever de

humilhar e punir o criminoso, isto na essência mais garrida da sua dignidade de ser humano.

É sabido que hoje a maneira de punir foge da regra da guilhotina, do enxofre quente

derramado nas partes mais sensíveis do apenado e até mesmo o esquartejamento em praças

públicas.

22

No entanto, temos ainda “métodos que funcionam”, apesar de proibida em lei, a

tortura como crime se configura como hediondo, e apesar de tê-la deixado no passado

longínquo, esta perdura até hoje, marcada pela crueldade das penas, levando assim uma

sociedade e um Estado omisso procurar se consolar fazendo com que a lei de Talião fosse

colocada a risca, assim como nos relata Foucault (2010, p. 9):

[Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757], a pedir perdão publicamente diante da porta principal da Igreja de Paris [aonde devia ser] levado e acompanhado numa carroça, nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas libras; [em seguida], na dita carroça, na praça de Greve, e sobre um patíbulo que aí será erguido, atenazado nos mamilos, braços, coxas e barrigas das pernas, sua mão direita segurando a faca com que cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de enxofre, e às partes em que será atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo, cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas ao vento.

Tamanha brutalidade parece não existir mais hoje, não nessas regras férreas do

passado. Mas na atualidade ela é aplicada aos seres humanos que são tratados pior do que

animais. Sendo violado o seu direito até de respirar dentro de um cubículo onde estão

amontoados como escórias de uma sociedade omissa, e de um Estado que não dá mais conta

de cumprir aquilo que promete em leis.

Afinal, eles não vêm sendo submetidos ao suplício e a tortura? Há quem diga que não,

mas os direitos humanos vivem defendendo e denunciando atrocidades dos assim

reconhecidos por uma sociedade aterrorizada pela cultura do medo; o cidadão sem nome,

apenas reconhecido com um adjetivo pejorativo de: “bandido”.

A mídia, por exemplo, não fala mais o nome daquele cidadão, se tornou uma expert

em aludir aos acusados ou apenados, até mesmo ao ex-apenados com pseudônimos

pejorativos, ofuscando assim o direito de imagem daquele cidadão em específico.

Vejamos o que aconteceu no presídio de superpopulação que era o Carandiru – fábrica

de ratos-humanos escalados para morrer de forma mais brutal e desumana. Dizem às

estatísticas que na chacina que levou ao fechamento desta cidade de tortura foram 111 mortos,

todos detentos, isto no dia no dia 02 de outubro de 1992, véspera das eleições municipais em

todo o país. Mas as más línguas da mídia formadora de opinião especulam um número bem

maior, por volta de uns 200, fora os que ficaram presos nas paredes dos elevadores e aqueles

que foram praticamente destroçados pelos cães.

23

Os meios de comunicação, estes colaboradores e formadores de opinião, não deixam

de lado o sensacionalismo do sofrimento de ambas as vítimas: sejam da parte de quem é

ferido quanto da parte de quem fere. Lembrando que dentro do sistema imposto, ambos são

socialmente mortificados. O que se observa é que o mesmo Estado-Juiz que define regras e

leis dentro do sistema globalizante: cria, julga e condena estes supostos “monstros”.

A cidadania fica apenas no discurso trepido de quem não enxerga um palmo à frente

do nariz e vive aplaudindo os discursos bem latinizados dos nossos respeitados e apreciados

representantes políticos e juristas.

No famoso processo de reintegração social-humano, para devolver este apenado para o

berço de onde veio é garantido por uma gama de direitos, como a formação para a

profissionalização, barganhando um dia de serviço prestado por três pagos dentro da

pena; ainda na mesma proporção o Estado tem que garantir aos apenados o direito da

educação fundamental, que o próprio ministério da educação afirma não serem fácil dadas às

dificuldades encontradas dentro do processo pedagógico exigido e da realidade escravocrata

que o preso vive.

Na íntegra poucas prisões atendem a estes dois direitos, garantidos pela LEP, em seus

artigos que vão do 17 ao 21. Vejamos:

Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado.

Art. 18. O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da Unidade Federativa.

Art. 19. O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico.

Parágrafo único. A mulher condenada terá ensino profissional adequado à sua condição.

Art. 20. As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com entidades públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados.

Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos.

Como não poderia ser diferente das outras leis, lhes faltam estruturas e fiscalizações,

para que de fato estas pessoas que perderam sua liberdade, não percam também sua dignidade

pessoal e de cidadão (ã). Mas o que mostra a pesquisa feita pelo o próprio Ministério da

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Educação e o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária,2 expressa e confirma

nossa tese de atrocidade contra os direitos garantidos pela Lei de Execução Penal, nos artigos

já apresentados anteriormente da LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984.

• A educação para pessoas encarceradas ainda é vista como um “privilégio” pelo sistema prisional; • Há um conflito cotidiano entre a garantia do direito à educação e o modelo vigente de prisão, marcado pela superlotação, por violações múltiplas e cotidianas de direitos e pelo superdimensionamento da segurança e de medidas disciplinares; • É muito inferior à demanda pelo acesso à educação, geralmente atingindo de 10% a 20% da população encarcerada nas unidades pesquisadas. As visitas às unidades e os depoimentos coletados apontam a existência de listas de espera extensas e de um grande interesse pelo acesso à educação por parte das pessoas encarceradas (D.O.U, 2010, Seção 1. p. 28; p. 6).

Estes fatos foram pesquisados e os gestores do mesmo sistema não podem contradizer

tal estudo realizado, ou, afirmar que não existe. Além do mais, quanto às unidades de

atendimento, torna-se difícil atender a demanda porque existe o conflito entre o que a norma

exige e o que a realidade carcerária oferece, inviabilizando assim, qualquer tipo de projeto

pedagógico.

O mesmo sistema que oferece tal direito a educação, esvais-se diante das normas

internas dos presídios, causando assim um descontentamento diante dos encarcerados, pois o

número de apenados que ficam na fila na espera de uma vaga para estudar é bastante

considerável.

Aqui notoriamente podemos ver a lacuna enorme que existe entre a norma e a forma.

Uma se perfaz no pergaminho positivista do Estado e a outra nega o direito a educação a

milhares de pessoas, que se encontram privadas de sua liberdade.

Eles devem pagar um preço altíssimo, não tão somente pelo crime que cometeu, mas

como pelas artimanhas que o sistema carcerário e político criam para satisfazer a sociedade

correta que se sente no direito de julgar e condenar, juntamente com a nossa tão necessária

consciência e a mídia.

Mas o que faz um ser bom por natureza se corromper? Há quem afirma religiosamente

e cientificamente que o homem pela sua natureza é bom, mas que no decorrer do seu conviver

2 Parecer Homologado, despacho do Ministro, publicado no D.O.U de 07/05/2010, Seção 1, p. 28; p. 06, Brasil 2010.

25

em sociedade, ele pode se perder e se tornar naquilo que o sistema quer: que ele vire apenas

um “bandido”.

Até mesmo cientificamente encontramos comprovações que este ser não nasceu

predestinado para o crime, mas no seu processo de evolução social, a falta de respeito pelos

direitos adquiridos e a falta de oportunidades os levaram ao delito. O criminologista de

Alvino Augusto de Sá nos faz entender que o ser humano por natureza necessita de espaço

para se desenvolver e colaborar para o seu crescimento social.

Tentando viver, o ser tão humano começa a disputar, concorrer com seus próprios

pares, causando assim a perda de alguns valores que se esvai, quando o meio violento o

obriga a não ser mais um cidadão de bem, mas sim um delinqüente. Atentemo-nos para a

análise feita pelo profissional acima citado:

O homem, principalmente o homem moderno, o homem do mundo globalizado, vive dois grandes dilemas. O dilema da necessidade permanente de vencer, sempre de vencer, e ultrapassar os limites do humano (que leva à hubris, a maior das violências perante si e dos demais humanos) ou ajustar-se às condições humanas de sobrevivência. É o dilema de vencer as interdições que impedem o indivíduo de se realizar como homem (o que pode levar a conflitos com a Lei) ou submeter-se e resignar-se (SÁ, 2007, p. 29).

Dentre todos os fatores que denigrem a figura da dignidade da pessoa humana é a falta

de oportunidade igualitária entre todos, começando pela injusta distribuição de terra e de

renda, onde 1% detém o acúmulo de riquezas e os outros 99,9 % devem ser criativos em

dividir a parcela do pouco que lhe resta.

Falando em restos, não podemos também deixar de ter senso crítico sobre a fome

mundial. O mundo se encontra faminto de saúde, comida, educação e agora neste século atual

e neoliberal, até de humanidade.

A cidadania acarreta direitos e também deveres. Mas, o Estado-Juiz tem mecanismos

ferrenhos que obrigam ao cidadão cumprir, tão somente seus deveres.

O Brasil hoje é o país que tem a maior carga tributária do mundo, ocupando a 6ª

potência mundial, e sendo o 3º maior exportador de grãos do mundo, e mesmo assim, tem

cidadãos abaixo da linha da pobreza, de onde nasce os problemas mais diversos, inclusive o

da violência, da droga e da fome.

26

Em meio a tanta contradição, nos deparamos com uma legislação ineficaz, exceto a lei

da arrecadação fiscal, que funciona muito bem. Tendo em vista que é a única legislação que é

coerente com a realidade, é esta de arrecadar cada vez mais e investir cada vez menos.

Parece pessimismo, mas isto gera uma desigualdade social enorme, deixando o

“velho” Estado de direito promulgar leis que servem para sufocar as misérias de muitos que

vivem do salário mínimo R$622,00 (seiscentos dois reais mensais); e outros ainda abaixo

deste.

Lembremos, pois que os assistidos pelo Estado vivem de bolsa família, vale gás,

transporte, vale tudo. Programas que não dão ao cidadão uma assistência devida, levando-o ao

comodismo e a privação de sua própria cidadania.

Tudo isso é garantido pelo ordenamento pátrio, onde programas são criados para dar

uma resposta imediatista ao problema e não ajudar o cidadão obter aquilo que já lhe é

garantido nas leis atuais.

Hoje, as leis estão sendo feitas pela pressão popular, que de um lado é positivo, mas de

outro, quem legisla não consegue dar respostas imediatas ou apenas dar segurança jurídica;

para a minoria (aquele 1%) que tem poder de vez e de veto dentro do contexto social.

Na ânsia de legislar, os deputados e senadores, esquecem que estes programas só

levam o povo a uma dependência social, pois não existe algo em contrapartida, assim como

era à frente de trabalho (que foi proibida por se tratar de um direito já tutelado).

Como percebemos, legislar não pode ser uma mera arte de escrever leis, no entanto o

legislador precisa alcançar com uma visão ampla os problemas que envolvem a sociedade

naquele momento. Mas como se vêem eles estão distante da realidade existente da

necessidade popular.

O que o direito nos diz quanto ao comportamento deste ser humano quando o mesmo

já não é mais viável para a sociedade? Vejamos como o douto Miguel Reale apresenta a

temática na ótica jurídica:

Há, portanto, em cada comportamento humano, a presença, embora indireta, do fenômeno jurídico: o Direito está pelo menos pressuposto em cada ação do homem que se relaciona com outro homem [...] Não haverá para ele o manto protetor do Direito; ao contrário, seu ato provocará a repressão jurídica para a tutela de um bem, que é a saúde pública. O Direito é, sob certo prisma, um manto protetor de organização e de direção dos comportamentos sociais (REALE, 2002, p. 5).

27

Outro dever do Estado é garantir a todos sem exceção, o direito da saúde, outro fator

importante para qualquer ser humano. A garantia desse direito é assegurada por lei e quem dá

essa garantia é o SUS (Sistema Único de Saúde), que por mais defendido que seja não atende

as necessidades básicas do povo, gerando assim, uma gama de cidadãos com transtornos de

vários graus. E é aqui que entra o questionamento: no delito em si, é um caso de justiça ou um

caso de saúde?

Não temamos em avaliar esta situação, pois aqui há uma confusão incrível, tudo

sustentada pelas brechas das leis.

A desleal concorrência do plano de saúde do povo, o SUS (Sistema Único de Saúde) e

os Planos de saúde privados, faz com que haja uma divergência e uma diferença incrível,

levando a população ao caos. Não sendo provido pelo Estado, este cidadão torna-se

vulnerável a qualquer tipo de doença, causando assim riscos a sua saúde e a dos outros.

Mais uma vez vimos uma garantia constitucional sendo desrespeita e não cumprida.

No entanto, a cidadania garantida em lei constitucional, que em tese, só poderia ser alterada

por cláusulas pétreas, se esvai quando invertemos a polaridade do sistema ao qual devemos

atender as múltiplas demandas.

Estes cidadãos que precisam retornar a sua nata realidade fazem parte de qual sistema?

O sistema mostra abertamente que existem cidadãos (ãs) que nem sabe dos seus

direitos e muito menos ainda como requerê-los. Eles são os invisíveis dentro deste sistema

neoliberal.

Diante de uma realidade tão indecente, porém real, nos vemos a beira de um colapso

dentro do próprio sistema jurídico, onde os conflitos legais estão cada dia mais presente nos

Tribunais de diversas instâncias, assim como no próprio cotidiano do homem-cidadão. Afinal,

quem garante a cidadania, sobretudo quando as próprias leis se conflituam?

A única realidade conhecida de alguns legisladores é aquela vinculada numa mídia

tendenciosa e formadora de opiniões manipuladas; trocando sempre a verdade real pelas

falácias que sustentam o sitema-político-jurídico-religioso-social. Conquistando assim a

população desamparada, só restando-lhe acreditar neste Estado-juiz e nesta sociedade, a qual

é construída dentro de um sistema liberalista, positivista e legalista. Neste sentido, afirma o

ilustre douto Miguel Reale:

Se volvermos os olhos para aquilo que nos cerca, verificamos que existem homens e coisas. O homem não apenas existe, mas coexiste, ou seja, vive necessariamente em companhia de outros homens. Em virtude do fato

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fundamental da coexistência, estabelece os indivíduos entre si relações de coordenação, de subordinação, de integração ou de outra natureza, relações essas que não ocorrem em o concomitante aparecimento de regras de organização e de conduta (REALE, op. cit., 391).

Já teve quem afirmou que temos mais leis do que cidadãos por quilômetro quadrado.

No mais, é só procurar entender a lógica do sistema e ter a coragem de abrir a janela do nosso

apartamento de luxo sem deixar pesar na consciência, e não ignorar de antemão que logo

depois da linha divisória social existem seres que precisam sair da condição de bichos... E

passar a vê-los como pelo menos nosso semelhante com direitos e deveres garantidos para

todos sem exceção e exclusão.

2.2 A prisão como acidente de percurso histórico-existencial

A abordagem histórica que será feita aqui servirá exclusivamente como alicerce para

(ré)-conhecermos esta pessoa tão humana, que num lapso temporal tão curto, cometeu algo

que de uma maneira ou de outra, mereceu ser corrigido pelo Estado, e para isso teve que ter a

sua liberdade tolhida a preço indisponível.

Aqui não queremos fazer apologia ao crime ou a criminosos, apenas necessitamos

delinear o percurso que o cidadão faz até chegar à necessidade de ser retirado do convívio

social, escalando o último degrau de punição que é a reclusão.

A grande discussão em pauta não é a punição em si, mas sim a falta de garantia do

Estado em oferecer a devida tutela, quando legisla garantido que, este cidadão precisa ser

muito mais bem amparado e acompanhando, do que outros, exatamente para que ele possa

se recuperar e voltar à sociedade e ao seu convívio familiar.

Mas antes do delito em si, o que levou tal cidadão a colocar em risco sua vida e sua

liberdade?

O progresso no sistema neoliberalista nos trouxe uma gama de novidades que de certa

maneira revolucionou as relações entre os seres humanos. Como neste sistema o homem vale

por aquilo que produz e acumula, a relação empregador e empregado foi delineada pela

procura acirrada da produção... Ser e Ter não são mais parâmetros para distinguir uma

sociedade, mas sim o valor pré-estabelecido pelo o quanto nós possuímos e temos.

Esta por sua vez quebrou dentro da lei laboral aquela garantia de emprego que outrora

era fidedigna e passou então viver a insegurança do trabalho provisório (aqueles contratados

por uma temporada).

29

Na visão da sociedade que desestabiliza as relações em prol do resultado final que é o

aumento do capital e do lucro, tolheu de certa maneira a segurança de vida também entre os

seres desta mesma sociedade.

Passamos por uma fase desastrosa de “privatarias”, outro momento de insegurança,

pois o que outrora era patrimônio do Estado passa ser do particular. Havendo demissões em

massa ou a tal redução no quadro de efetivos. Isso tudo para lucrar mais e diminuir o máximo

possível os gastos. Tudo isso feito para o bem do social.

As relações afetadas pelo fenômeno chamado de terceirização levaram a uma falta de

estabilidade laboral, onde muitas famílias, sobretudo após o falido Plano Collor, a cair

degraus na escala do social, onde passaram a existir somente duas classes: a alta e a miserável

(porque a baixa, era tida como a classe média), sufocada pela inflação que levou os cidadãos a

partir para serviços que não ofereciam mais a segurança de outrora, antes, tiveram que resistir

passando para o anonimato do “ser autônomo”.

No entanto vamos ver o que o professor Ésio Augusto de Barros nos relata sobre este

terceiro que invadiu a relação laboral e quebrou até regras exigidas do sistema pátrio

trabalhista:

A idéia de terceirização é conceituada como um procedimento realizado por empresa privadas quanto pela administração pública, pelo qual se repassa a terceiros a operacionalização de algumas atividades anteriormente produzidas pelas empresas... A integração das despesas permite a eliminação de custos associados às despesas físicas e financeiras de estocagem de certos insumes, como a diminuição dos riscos inerentes à manutenção desses estoques (BARROS, 2007. p. 93).

Desta feita, o estoque mais desfavorável foi o ser humano. O que já estava difícil

tornou-se impossível. Sem trabalho garantido e a incerteza do futuro, este cidadão não foi

mais contemplado pela regra de ser presença na sociedade.

Peregrinando de agência em agência, o nobre cidadão de direito, forçado a sobreviver,

passou para a informalidade, encontrando assim uma lacuna bem ampla para contemplar o

outro mundo, que ele ainda não tinha percebido que foi o caminho da corrupção e do delito.

Na emergência da sobrevivência e amontoados nos guetos que ainda existe este

pessoal saiu do estado da informalidade para uma situação de invisibilidade. Porque não

apontar a sub-raça-humana como patamar final da miséria absoluta?

Não mais percebidos pelo sistema social, os mesmos começaram a fazer do crime uma

forma mais que de subsistência, mas sim como porta de entrada para mostrar quem de fato

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eles são. O pior é que a sociedade conheceu o pior lado deles que foi a vingança compactuada

com a violência.

O Antropólogo Luiz Eduardo Soares nos apresenta de forma categórica e real esta

situação dos “invisíveis”, presentes de maneira muito cruel e violenta nas mais variadas

capitais brasileira.

Participando do cotidiano de uma comunidade carente, vulgo favela, pode-se

cientificamente observar como é a vida daqueles moradores: necessariamente crianças,

mulheres, negros, jovens e idosos.

A realidade do Rio de Janeiro e de outras tantas cidades grandes no Brasil, é que estes

indivíduos acuados contra o muro da separação, começaram da pior forma possível mostrar as

suas faces. Na boa maioria são crianças que descem o morro, assassinando a sangue frio

pessoas inocentes e turistas. Indaga-se: qual será a razão deste ato brutal? Simplesmente

aplacar o desejo de possuir materiais, como: um tênis, relógio, câmeras, filmadoras ou

celulares? Em primeira instância podemos entender que sim, mas indo fundo na questão surge

à atrocidade da invisibilidade da pessoa humana. Que logo após se esvai na triste realidade

que nos circunda e que não damos contas de ver e agir. Avaliemos com cuidado o que nos fala

o Antropólogo Luis Eduardo:

De repente, fiquei incógnito entre os parceiros, estranho embora íntimo. A sensação não é nada agradável e seria bastante perturbadora se o mal-estar não fosse compensado pela satisfação intelectual: era gratificante viver e redescobrir, na experiência direta, o que já tinha ouvido nas aulas e lido nos livros de teoria sociológica. Eu perdi provisoriamente o contato com meus amigos da comunidade, mas ganhava um capítulo interessante para minha tese que virou livro. Era como se o chão escapasse sob meus pés, mas outro solo viesse me amparar. A fé na evidência dos objetos que estão no mundo era subtraída de meu repertório cotidiano. Aprendi na própria pele que a gente vê o que a cultura e a sociedade permitem que se veja (SOARES, BILL e ATHAYDE, 2005, p. 163-164).

Este cidadão após entrar neste processo de invisibilidade, compactua para a sua

degeneração, absorvendo um estado de demência3, facultando assim a inversão de valores no

seu próprio cérebro. Ou seja: aquilo que outrora era proibido pela moral e os bons costumes,

3 Demência - Substantivo feminino // Rubrica: psicopatologia. Perda de origem orgânica, freq. progressiva, sobretudo da memória, mas que também Compromete o pensamento, julgamento e/ou a capacidade de adaptação a situações sociais Derivação: por extensão de sentido. Comportamento inusual que aparenta ou sugere loucura; insensatez, doidice, parvoíce. Fonte: Dicionário Virtual – HOUAISS.

31

além de prescrito em lei; passa a ser facultativo para indivíduo como positivo. Funciona como

um espelho cego, aquele que mostra sua imagem relutante.

Tomemos como parâmetro o seguinte exemplo: a criança X que nasceu, está se

desenvolvendo em numa comunidade super carente de tudo. Até mesmo de cores. Isto não

significa que esta mesma criança não tenha necessidades e sonhos. A única diferença é que

lhe foi negada o direito fundamental de ter uma vida protegida da violência e da miséria que

assola a sua vida a ponto de ser negada Pelo Estado4 em seus direitos e a anulação da sua

pessoa pela mesma sociedade que a compõe.

Aqui inicia a fase de desaparecimento, onde aquele “cidadão de direito” e não apenas

o rotulado menor, termo errôneo, no entanto usado até mesmo pelo ordenamento jurídico

pátrio: parte para a defensiva, sonhando não mais com os bens materiais (roupa, boné, tênis,

etc.), mas na sua tenra carência, quer ser visualizado pela sociedade que lhe atrai e o circunda.

Esta criança ou adolescente, também o jovem e o adulto respondem a altura da

violência imposta pela depreciação social e humana. Entretanto, vamos nos ater ao exemplo

acima citado.

Esta criança vai cobrar o seu direito de aparecimento como gente de carne e osso e não

mais como um número ou como um “pixote” da vida, que depois de satisfazer os desejos da

mídia foi descartado.

É absolutamente neste momento que esta criança que é dócil e amável por natureza,

torna-se “um monstro social”, causando a outrem com os mesmo direitos sofrimentos

hediondos, como nos mostra Eitel na afirmação que segue:

Os indivíduos se movimentam ou permanecem inertes, para certos benefícios ou comodidade da vida. Por isso, ainda que respeitem o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana e se comportem de acordo com a verdade, observando a justiça e a caridade, eles podem fracassar, deixando de alcançar os seus objetivos. Em tais hipóteses, não são inteiramente benignas suas condutas, pois ficam longe das finalidades perseguidas, o que provoca frustração e até infelicidade (PEREIRA, 2011, p. 47).

Como já abordado anteriormente, não faremos apologia ao delito em si, muito menos

ainda aos criminosos. O nosso desejo é traçar o percurso feito por este cidadão de bem até o

momento de sua perversão.

4 Lei 8.069, de 13 de Julho de 1990, contemplando os arts. 3º & 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

32

Cientificamente, através da antropologia se entende que esses seres não cometem

atrocidades horríveis somente por uma necessidade material; mas porque na medida em que

se tornam invisíveis, eles buscam a pior maneira de mostrar a sua face, a sua personalidade,

seu caráter para o “anônimo” Estado Juiz e para a sociedade dividida entre poucos com muito

e outros tantos sem nada.

Sem identidade social, sem nome e sem endereço, resta-lhes começar mostrando que

podem fazer algo que deixam rastros profundos na vida destas “pessoas de bem” (porque eles

já se consideram do mal). Marcas irrecuperáveis como o homicídio, sequestro, estupro,

terrorismo e tanto outros que não seremos capazes de listar.

O jovem Lindenberg constitui um exemplo nato desta coluna do invisível. Movido

pela forte emoção, o mesmo para aparecer, cometeu crimes que o levaram ao desaparecimento

total. Ele teve a oportunidade de viver as suas dolorosas 100 horas de fama na mídia, onde

expôs tantas vidas em perigo, dando fim a vida de sua amada.

No momento em que acontece uma tragédia, como esta de Eloá, aparece uma questão

em voga que não podemos ignorá-la. Afinal, o Estado e a mídia não corrobou para que tal

situação chegasse aquele estado de calamidade pública? A polícia tinha esgotado todas as suas

táticas? E a mídia, contribuiu ou não para a sociedade julgar barbaramente o jovem em

questão?

Enquanto as respostam não chega, aquele “pacato” cidadão recebeu como prêmio, 99

anos e alguns meses de reclusão.

Analisando de outro ângulo ainda mais crítico, vimos que ele pagou sem dúvida, pela

falha da negociação policial e da intervenção errada da mídia. Mas o Estado em nenhum

momento fez esta abordagem, mas o puniu também por estes crimes.

Acontece o mesmo com as crianças/adolescentes que matam sem piedade nos

semáforos das grandes capitais, como o Rio de Janeiro. Eles não descem os morros para

buscar fama ou tão somente dinheiro; mas de outra maneira sim, buscar o seu reconhecimento

também como pessoa separada do mundo das outras.

A invisibilidade social leva estes jovens à morte precoce: contando, sem dúvida com

“o companheiro legal” que é o traficante e sucessivamente com a droga que lhe dá a

“coragem” necessária para fazer o impossível para aparecerem. Eles são os esquecidos pelos

nossos olhos que não querem ver tão dura realidade. São largados pela omissão Estatal em

não garantir direitos básicos e da inércia social que cada cidadão busca viver para não assumir

seu papel e enxergar o que vai além da nossa limitada visão.

33

Uma coisa precisa ser dito, sem meias palavras, é que: o Estado-Juiz não garante o já

prescrito em leis, por falta de estrutura ou talvez pelo desperdício movido pela corrupção.

Assim sendo, este “vilão” é o mesmo que exige o dever de cobrar impostos dos “invisíveis.”

A única estrutura do Estado que funciona 100% é a cobrança de impostos e tributos

(Fazenda Pública), não separando ninguém e exigindo de todos o seu dever diário.

Talvez a metodologia usada pelo Estado para com os desaparecidos seja diferente

daquele que tem um processo diferente (imposto de renda). Para os “invisíveis” estas mesmas

tarifas vem sutilmente cobradas até no ar que respiram. E ainda tem alguns que dizem que os

mesmos não pagam impostos. Talvez pelo fato do barraco dele não tiver sido registrado no

município, mas paga por tudo que ele usa: do ônibus a luz do poste que ilumina a via por onde

ele transita.

Já que a cobrança é para todos, porque a distribuição e aplicação desta arrecadação são

tão diferenciadas?

Analisemos a experiência concreta da invisibilidade do psicólogo Braga onde é

relatada ainda a velha escravidão. Notemos:

A humilhação crônica quebra o sentimento de possuir direitos: foi o que escreveu Simone Weil depois de longamente trabalhar como operária nas fresas da Renault. Corpo e alma ficam amarados, sempre prevenidos: “lá vem vara!” Correspondendo-se com a tensão dos senhores, os escravos ficam sem relaxamento. O movimento e a voz ficam interrompidos. O riso, quando vem, fica incompleto, vem obstruído. O riso gutural e contido, que serve ainda hoje para a simpática caricatura do preto velho, é índice de escravidão” (BRAGA, 2004, p. 13).

Retornemos ao passado e avaliemos como foi à história da abolição da escravatura no

nosso país, Tendo como base alguns fatores que merecem uma atenção especial nossa, até

para fazer uma re-leitura crítica dos fatos que seguem:

a) Primeiro a abolição da escravatura não foi feita pela convicção Estatal, na época

representada pela corte. Isto só aconteceu porque a Inglaterra precisava vender suas máquinas

acumuladas e o tráfico de escravos lhe causava grandes prejuízos;

b) A lei do ventre livre, feita de qualquer jeito, gerou uma imensidão de crianças

abandonadas. O poder monárquico e seus “senhores” não os permitiam continuar com os pais.

Aqui nasce o que hoje já transformou num protesto social. “Criança não é de rua...”, só que na

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época o que lhes restou foi somente às estradas das fazendas ou das vilas, vivendo de

mendicância;

c) Depois da assinatura da lei do sexagenário, outra fraude, que levou os idosos a ficarem

em situação subumana. Sem família e sem a ração do “senhor escravocrata”, o jeito foi parar

nos guetos, classificados como “asilo”;

d) E por último, o processo da abolição da escravatura. Sendo pior ainda, pois os negros

ou continuavam nas fazendas cumprindo trabalhos forçados ou se amontoavam em guetos nos

morros como aconteceu na Bahia e no Rio de Janeiro, hoje conhecidos como comunidades

(ou favelas) espalhadas pelo Brasil afora.

A partir dessa história mal construída e conturbada, nasce o caminho histórico para a

delinqüência e a vida do crime.

Aqueles negros mais conscientes e que tiveram condições psíquicas e financeiras,

retornaram a sua tribo de origem, mas, os que restaram aqui no Brasil _ ou foram trabalhar

sem nenhuma garantia trabalhista (Dever do Estado), ou tão somente começaram a delinqüir

pelo fato de estar cansados de viverem na escuridão das senzalas onde os castigos aconteciam

a fogo e ferro.

Tudo isto, claro, com o aval do Estado e da sociedade que os ignoravam, privando-os

através do racismo, que os impediam de ser “gente” e lhes negavam preconceituosamente o

reconhecimento na vida social, ignorando-os por completo.

Isto foi apenas o começo da iniciação criminosa, como resposta aos flagelos sofridos

por conta de serem negros. A narração do pastor Tim nos apresenta o fator principal onde se

esvai a dignidade do ser humano. Apreciemos tal afirmação:

Há, porém, um fator comum a todos: o medo. Hoje, reconhece-se o lugar que o medo tem na maioria das nossas reações conscientes ou inconscientes, que criam problemas, ou agravam os problemas já existentes. Outro fator é o desamor, e por isso se entende toda a escala de atitudes internas e externas, que são o fruto do antagonismo, da malquerência, ou do nosso sentimento de superioridade, ____, orgulho, soberba __, em relação a Deus ou ao próximo (LAHAYE, 1977, p. 78).

Aqui citaremos outros fatores que implicaram na formação deste cidadão que perdeu

ao longo do seu tempo de convivência social a sua identidade, assumindo assim outra postura,

porém desta vez a criminosa.

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Na medida em que a sociedade foi “evoluindo”, erros do passado foram sendo

repetidos e traumas foram anexados na vida jurídica e social dos assim denominados

“brasileiros”.

O fator da miscigenação foi um dos que gerou aquilo que podemos denominar de

conflito racial. As três raças básicas formadoras da população brasileira são o negro, o

europeu e o índio, em graus muito variáveis de mestiçagem e pureza. É difícil afirmar até que

ponto cada elemento étnico era ou não previamente mestiçado. A miscigenação no Brasil deu

origem a três tipos fundamentais de mestiço: Cabloco = branco + índio; Mulato = negro +

branco; Cafuzo = índio + negro (grifo nosso).

O que segue ainda neste relato são as variadas formas de mudanças de vida a partir do

que se segue. São esses os fatos:

a) A colonização por Portugal, onde não houve nenhum investimento, aqui na terra de

Vera Cruz – antes, deixaram foram os restos de condenados que a coroa tinha mandado para

redimirem de suas penas, aceitando vir desbravar o Brasil... Como o genro de Pedro Alves

Cabral, nosso “descobridor”, ou invasor;

b) A proclamação da República, onde a primeira constituição foi uma réplica da dos

EUA (Estados Unidos da América) – Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil

(de 24 de fevereiro de 1891); não fomos capazes de criar uma constituição a altura da nossa

história e de nossa realidade, sendo que nosso processo de colonização foi absolutamente

diferente do da América Central;

c) A ditadura Militar – de 1964 com o golpe de Estado até 1982 – aqui sim foi uma

fábrica de gentios – até hoje não sabemos o que se esconde nos arquivos deste tempo, sendo

que permanecem na memória de quem viu e viveu a tortura como penalidade do Estado;

d) Em todos os atos anteriores o que mais marcou foi à omissão do Estado de sitio ou

democrático de direito, que no lugar de proteger os seus, fizeram foi torturá-los, levando-os a

um estado de vegetação. Veja o que nos afirma Beccaria (2011, p. 25):

A MORAL política não pode proporcionar à sociedade nenhuma vantagem durável, se não for fundada sobre indeléveis do coração do homem. Toda lei que não for estabelecida sobre essa base encontrará sempre uma resistência à qual será constrangida a ceder. Assim, a menor força, continuamente aplicada, destrói por fim um corpo que pareça sólido, porque lhe comunicou um movimento violento.

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A falta de investimento na educação, não como um acúmulo de conhecimentos, mas

de uma pedagogia que pudesse preparar a pessoa para a vida, é outro entrave. Onde se

confirma que boa maioria dos “criminosos” não tem o ensino fundamental concluído, ou tão

pouco sabe “desenhar” o nome, ou é assim classificado de semianalfabetos.

O analfabetismo no Brasil tem caído muito, segundo o Estado, mas o que as pesquisas

não julgam é a qualidade dessa educação tradicionalista que se perfaz ainda da época do

império; sem ocultar que o nosso sistema de organização escolar estrutural é o velho modelo

americano.

Sem formação adequada é impossível concorrer a um emprego. Pesquisas já mostram

que o problema do Brasil não é desemprego, mas sim mão de obra qualificada para o trabalho.

Afinal, isto demonstra como o Estado está investindo na educação e como está

preocupadíssimo com a violência que nos assola; e da criminalidade exposta aos ditames da

sociedade através da corrupção e das drogas.

Se não houver um olhar especial para a educação que gera cidadãos de verdade e não

tão somente “analfabetos políticos”; esse ser que por natureza é bom, vai aos poucos se

deteriorando e desaparecendo do cenário da vida social e infelizmente da sua própria vida.

Isto aqui está relacionado com a perspectiva de vida do brasileiro e da brasileira, sobretudo se

for negro, jovem, mulher ou pobre.

Mas para que investir numa educação de qualidade (obrigação legal do Estado),

quando engordamos verdadeiras máquinas de fazer diplomas? As escolas particulares estão ai

para fazer a “diferença” (só não fazem diferentes). Ora, tudo isto é uma questão de ótica,

dizem os mega empresários das escolas privadas: mas, para o brasileiro isto é o meio que

pode fazer a diferença na hora de delinqüir.

Quantos da classe baixa conseguem concluir um curso universitário, mesmo tendo

tantos programas governamentais? Querer enxergar ou não é um fator essencial como nos

garante Eduardo na afirmação que segue:

Ver ou não ver, eis a questão. Parece trivial, mas não é. Será que aquilo que a gente vê é mesmo aquilo que a gente vê? Se for assim, quando se olha alguém ou alguma coisa, olha-se também para dentro de si mesmo. Em outras palavras, se este argumento fizer sentido, seria legítimo afirmar que a pessoa ou objeto que se olha é também – além de ser objeto e pessoa – um espelho para nosso espírito, nosso estado psicológico, nossa educação, valores e emoções... (SOARES, 2005, op. cit, p. 172).

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Portanto, perfazendo todo este caminho histórico, só resta a este humilde cidadão

desprovido da tutela do Estado e da não participação ativa da sociedade é parar onde ele

jamais deveria ir. No cárcere.

Não possuindo finanças para contratar um defensor particular, ele (a) fica a mercê do

público e como já sabemos: milhões de processos, tempo delimitado; enfim, nada explicado

tornando-se assim, uma torre de babel, onde aquilo que outrora era facultativo torna-se

obrigatório na vida intrépida do encarcerado... Outro novo pseudônimo.

Novamente ele se esvai no tempo e perde a sua identidade, sua dignidade de humano,

tornando apenas mais um número para o Estado-Juiz que agora vai cobrar o que não foi

cumprido, portanto este veio a delinqüir.

Mas, não foi cumprido por quem: Pelo cidadão em questão ou pelo Estado omisso na

prestação de direitos fundamentais? Isto vem de longe, acompanhando-nos na busca desta

resposta, que concretamente não sai da tese.

Portanto, não desmerecendo a inteligência dos estudiosos, o que se percebe ao longo

da história carcerária é o tratamento desumano e a privação da sua liberdade de existir. Poucas

são as ONGs (organização não governamental), ou entidades particulares, ou até mesmo

pessoas que se sensibilizam com a situação caótica do cárcere e consegue ver naquelas

vítimas do Estado, apoiado pela sociedade, uma vida humana a ser defendida e zelada.

Como ver algo tão cruel e desumano e não tomar uma posição pelo menos de

reflexão? Afinal o que podemos fazer de imediato para garantir a cidadania deste preso que

perdeu por tempo determinado o seu direito de ir e vir?

Parece pessimismo da parte da sociedade, mas existe um grupo, classificado de

PASTORAL CARCERÁRIA que visa aliviar a consciência deste cidadão recluso,

oferecendo-lhe um acompanhamento espiritual, mas, sobretudo, vê-los e tratá-los com

dignidade e humanidade. Mas isto é possível? Nada melhor do que apreciar as experiências

concretas deste grupo ligado à pastoral da Igreja Católica, que conseguem no cotidiano,

mesmo à custa de conflitos com o sistema carcerário fazer algo de diferente que venha

abrandar o sofrimento da tortura cruel que sofrem estes irmãos, como assim os chama.

Outros grupos religiosos buscam também a salvação da alma deste preso; exigindo-

lhes conversão e mudança de atitude, ou seja, fazendo com que aquele cidadão passe a ser um

membro de sua religião. Noutros momentos podemos observar que estes fatos servem de

“consolo” por assim dizer, enquanto os encarcerados estão privados da sua liberdade, porque

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depois quando voltam a sua “vida normal”, esquece daquilo que outrora fora pregado pelo os

grupos já citados. A experiência de Pe. Chico nos faz entender isso. Apreciemo-la:

Acompanhar os presos humanamente – o membro da Pastoral Carcerária precisa acompanhar o preso “humanamente”, isto é, como pessoa humana, sem ficar jogando “religião” ou “devoção” em cima dele toda hora. Nem Jesus ficava jogando religião em cima das pessoas a toda hora. Religião não é o problema número um dos presos. A sua liberdade é! Religião costuma ser o problema número um das pastorais carcerárias tradicionais ou de Movimentos Católicos de leigos. A maioria dos presos já tem Deus e religião de alguma maneira. Não a nossa maneira, mas a sua maneira, que tem que ser respeitada e reverenciada, porque é dom de Deus para ele (CHICO, 2011, p. 9).

Esta concreta experiência demonstra para cada um de nós que estamos diante de um

mega problema, no tocante ao sistema carcerário, que com boa vontade, humanidade,

envolvimento da sociedade e compromisso do Estado, torna-se possível sanar tantos vícios.

2.3 Sociedade e Estado como avalistas da dignidade humana e da condição cidadã

Partamos do princípio que o Estado é aquele que tem que garantir direitos, e de fato o

é: pelo menos àqueles direitos fundamentais e inerentes para que a cidadania aconteça como

prevê o estatuto legal, isto para que haja eficácia e a dignidade humana para este cidadão (ã)

seja garantida no convívio direto com a sociedade.

Fixemos antes de tudo o que nos ensina o dicionário virtual HOUAISS, o Vocabulário

Jurídico, DE PLÁCIDO E SILVA; O DICIONÁRIO JURÍDICO ACQUAVIVA, no tocante

ao significado destas duas palavras tão usadas nosso linguajar cotidiano.

SOCIEDADE: Substantivo feminino - agrupamento de seres que convivem em estado gregário e em colaboração mútua. Rubrica: sociologia. Grupo humano que habita em certo período de tempo e espaço, seguindo um padrão comum; coletividade. Grupo de indivíduos que vivem, por escolha, sob preceitos comuns; comunidade, coletividade, ambiente humano em que o indivíduo se encontra incorporado. A alta sociedade, a alta-roda convivência, contato entre pessoas que vivem em grupo de pessoas com interesses comuns, que, sob determinada norma ou regulamento, se organizam em torno de uma atividade, um objetivo etc.; agremiação, grêmio, associação. Derivação: por metonímia. A sede de tais agremiações; clube, grêmio, centro. Rubrica: ecologia. Agrupamento de animais de uma espécie que vive em estado gregário, freq. com indivíduos interagindo entre si e desempenhando funções específicas. Rubrica: direito comercial. Grupo de pessoas que, por contrato, se obrigam mutuamente a combinar seus recursos para alcançar fins comuns.

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ESTADO: País soberano, com estrutura própria e politicamente organizado - Obs.: inicial maiúsc.Ex.: o E. brasileiro / Conjunto das instituições (governo, forças armadas, funcionalismo público etc.) que controlam e administram uma nação/Obs.: inicial maiúsc. Ex.: a máquina política do Estado / Forma de governo, regime político / Ex.: e. totalitário / Divisão territorial de determinados países / Ex.: o e. de Sergipe. (dicionário HOUAISS virtual). SOCIEDADE: Do latim societas (associação, reunião, comunidade de interesses), gramaticalmente e em sentido amplo, sociedade significa reunião, agrupamento de pessoas, na intenção de realizar um fim, ou de cumprir um objetivo de interesse comum, para o qual todos devem cooperar, ou trabalhar. ESTADO: Derivado do latim status (estado, posição, ordem, condição) é vocábulo que possui sentidos próprios no Direito Público e no Direito Privado. (Vocabulário Jurídico De Plácido E Silva – p. 555 & 1313). SOCIEDADE: Consideramos conveniente estabelecer uma discriminação conceitual entre sociedade (reunião estável de seres humanos) e o agregado (reunião estável de irracionais), pois a sociedade humana implica uma complexidade de relações muito profundas do que aquela constatada no agregado animal. A sociedade propriamente dita, a humana, mostra dinâmica, mutável, no mais das vezes evolutiva, ao passo que o agregado animal é estático, não muda. ESTADO: Estado passou a denominar a própria sociedade política a partir de Maquiavel (1469-1527), em sua obra o Príncipe... (DICIONÁRIO JURÍDICO MARCUS CLÁUDIO ACQUAVIVA, 2009, p. 359 e 791).

Depois de ter acesso ao significado das palavras propostas: Estado e Sociedade, temos

que persistir naquilo que é mais importante para o nosso ordenamento jurídico que é a norma

positiva em si. Nada pode ser feito sem que não esteja dentro dela e nada pode existir fora

dela.

Neste item vamos conhecer através da Lei nº. 7.210, de 11 de Julho de 1994 (LEP), os

órgãos que são responsáveis pela vida bem sucedida do detento, tendo sempre em vista a sua

pretensa recuperação. São eles:

Art. 61. São órgãos da execução penal:

I - o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária;

II - o Juízo da Execução;

III - o Ministério Público;

IV - o Conselho Penitenciário;

V - os Departamentos Penitenciários;

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VI - o Patronato;

VII - o Conselho da Comunidade.

VIII - a *Defensoria Pública. (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).

A norma é feita exatamente para gerar a tão esperada segurança jurídica. Veja só

quantos órgãos que o Estado coloca como aparato para que a recuperação do preso seja de

fato realizada, pelo menos em tese, porque no real existem controvérsias.

Mais uma vez temos que entender que o referido Estado não consegue sozinho

resolver ou garantir tal demanda. Tendo em vista esta fragilidade na estrutura do sistema

legal, surge então a necessidade de envolver este “Grupo humano que habita em certo período

de tempo e espaço, seguindo um padrão comum; coletividade”. A sociedade.

A abordagem a ser feita aqui parte do pressuposto que ambos: Estado e Sociedade

trabalhem para que a eficácia destas normas venha ser aplicada no concreto, buscando sempre

a responsabilidade dupla entre estes dois entes importantíssimos.

Às vezes a lei feita pelo Estado e executado pelo judiciário, atendendo ao que pede o

ordenamento jurídico pátrio, gera conflitos que surtem efeitos negativos, sobretudo no meio

social onde compartilhamos nossa vida cotidiana.

Neste momento daremos um giro no Estado da Paraíba em relação ao encarcerados e

como estão agrupados dentro do sistema penitenciário. Assim teremos elementos para

analisarmos entendermos o sistema que nos engloba em nível de Estado.

O Estado da Paraíba possui 82 estabelecimentos, divididos da seguinte maneira5:

ESTABELECIMENTOS PENAIS MASCULINO FEMININO TOTAL

Penitenciárias 13 03 16 Colônia Agrícola, Industrial ou Similar 01 00 01 Centro de Observação Criminológica e Triagem

00 00 00

Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico

01 00 01

Cadeias 64 00 64 Total 79 03 82

5 Dados retirados do Plano Diretor do Sistema Penitenciário Nacional // Departamento Penitenciário Nacional // Secretaria de Estado e da Cidadania e Administração Penitenciária do Estado da Paraíba – Ministério da Justiça, p. 06

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*Não existem Casas de Albergados no Sistema Penitenciário do Estado da Paraíba. A Penitenciária de Segurança Média Juiz Hitler Cantalice, supre as necessidades quanto aos presos em regime aberto. Não existem estabelecimentos penais terceirizados. Não existem no Estado experiências com o método APAC (Associação de Proteção e Assistência ao Condenado). Segundo dados fornecidos pela Secap, datados de Dezembro de 2007, a população carcerária era a seguinte:

REGIME MASCULINO FEMININO TOTAL Fechado 3.918 147 4.065 Semi-aberto 778 57 815 Provisório 2.802 67 2.869 Medida de Segurança – Internação 0 0 0 Total 7.498 271 8.104

Os dados acima citados nos fazem ver o contrário daquilo que diz as leis. No entanto

temos ainda dificuldades de aceitar estes números. Para uns é um absurdo, para outros tantos é

mais do que justo. Mas, não havendo meios concretos, verdadeiros e eficazes, as normas

positivadas não passarão de um papel como o outro qualquer.

E nós (sociedade) o que fazemos para evitarmos uma “guerra civil”, coordenada pelo

PCC, como foi em São Paulo no ano de 2006?

Queimaram ônibus, feriram civis, mataram policiais, atacaram delegacias e gerou uma

onda de terror aos cidadãos paulistanos que tiveram que fechar até o comércio para evitar

saques e ataques.

Seria de fato verdade que houve um acordo do Estado-Juiz com estes “terroristas”?

Há quem atesta que toda aquela rebelião que abalaram todos os presídios do Brasil,

não passou de um descontrole; mas o que os encarcerados mostraram foi à revolta contra o

sistema que “os protegia”, ou pelo menos em tese deveria protegê-los.

Na íntegra, os acontecimentos não passaram de uma revolta bem farta dos presos

contra o sistema que os maltratavam como “animais”, partindo da dolosa situação do velho

Carandiru, passando pelo presídio de Taubaté que “foi” campeão em torturas.

E depois da pena cumprida, digamos que o preso está realmente recuperado. O que

acontece com ele? Estaria este amparado pelo Estado e acolhido pela sociedade depois deste

processo de purificação?

Partamos daqui deste ponto para avaliarmos a trajetória deste cidadão que teve sua

liberdade cerceada por um tempo para “se recuperar” e agora “recuperado”, retornará ao

convívio social.

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Qual será o trajeto deste indivíduo, partindo do princípio que sua família e a sociedade

deveriam estar de braços abertos para acolhê-lo?

Na sequência iremos tocar na abordagem de vários acontecimentos, onde o retorno a

casa, não acontece de forma tão fácil e concreta assim. Alguns fatores impedem de primeira

mão o ingresso do ex-apenado na sua volta a sociedade. Vejamos quais são eles:

a) O ex-detento tem dificuldades para ser absorvido no mercado de trabalho,

principalmente se ele tem baixa escolaridade e pelo próprio rótulo de ex-detento que este trás

no seu âmago. É como se a “culpa”, tomasse o espaço da pena já cumprida;

b) O ex-detento é discriminado, gerando assim um rótulo (ex-detento), que por sua vez a

sociedade não aceita o fato de ele ter cumprido a pena que a justiça lhe impôs e que agora não

deve mais nada ao Estado e a sociedade. Ou seja, não acreditam que ele se recuperou de fato;

c) Não sendo absorvido pelo mercado de trabalho e sofrendo discriminação pela

sociedade, o ex-detento volta à marginalidade cometendo novos delitos e depois de uma

caminhada estressante, buscando apoio de trabalho nas repartições públicas, o cidadão depara

já com a politicagem que existe dentro destas, onde o preconceito marca presença;

d) Não sendo aceito pelo mercado de trabalho e sofrendo discriminação pela sociedade,

só resta ao ex-apenado retornar a marginalidade, se envolvendo em novos crimes, retornando

assim, ao presídio, sua suposta “nova chance”;

e) A perda da família é outro problema que o cidadão recuperado tem que administrar,

isto quando já não formou outra família dentro do presídio, criando assim um conflito intra-

familiar.

Enfrentando todos estes empecilhos, o cidadão (ã) se encontra numa outra fase de vida

que é a grande tentação. Permanecer no meio social que o rejeita e o Estado que não lhes dão

sustentabilidade para isto, ou: retornar ao presídio onde pseudamente lhe oferece dois tipos de

proteção: uma garantida na lei estatal e outra garantida pelo o regime interno.

Nem sempre nesta matemática do retorno ao convívio social, depois de um tempo

afastado, dois mais dois, são quatro. Exatamente porque aquele que foi retirado do convívio

social já não é mais o mesmo. Ele ao longo da pretensa recuperação perdeu uma série de

qualidades e valores, que regressando não os reconstitui mais.

O processo de recuperação foi justo ou injusto para este cidadão?

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Demanda difícil de conceituar, exatamente dada a fraqueza do Estado e a omissão do

seu meio social, criando uma crise de identidade, quase impossível de resolver. Vamos nos

ater diante que disse o professor Alder Calado a respeito deste desafio:

Um primeiro desafio a pontuar tem a ver com a imperativa necessidade, para quem atua no campo dos Direitos Humanos, de articular de modo indissociável reivindicações de caráter pontual (por exemplo, tratamento decente para os presos comuns) com a luta pela implantação de políticas específicas por parte do Estado. A inobservância de tal estratégia pode resultar em ações até louváveis, do ponto de vista da intenção, mas inócuas, quanto à eficácia a médio e longo prazo (CALADO, 2003, p. 15).

Não existem programas governamentais, senão de algumas ONGs (Organizações não

Governamentais) que trabalham para dar a este cidadão um acompanhamento pessoal, para se

integrar dentro de si mesmo (reconquistando seu espaço) e recobrando assim o seu lugar de

antes, de agora e de depois.

Desprovido de estrutura pessoal e social, este indivíduo deve convencer os outros

cidadãos que o renega preconceituosamente, que pagou pelos atos cometidos. Mesmo assim,

ele não é digno de freqüentar o lugar de origem, ficando, porém as margens, retornando

novamente para os guetos. A história volta a se repetir, dando espaço para a reincidência.

Portanto, tentaremos ao longo desse estudo, buscar e encontrar saída para tal caos.

Nenhuma mágica irá funcionar, senão o desejo nosso de olhar para esta tremenda realidade e

perguntarmos. Iremos sujar as nossas mãos, ou iremos tão somente cruzar os braços? E o

futuro. Como será, se a crise continuar crescendo em proporções que não seremos mais

capazes de controlá-la? Parece um assunto encerrado do ponto de vista social, mas não é:

Estado e sociedade são dois caminhos fortes para afrontar o problema e em longo prazo

solucionar a questão da cidadania de pessoas que perderam o direito de gozar da sua

liberdade, por ter errado e segundo o Estado deve ser recuperado.

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3 A CONDIÇÃO DE EX-DETENTOS: DILEMAS E PERPECTIVAS

Como já expomos anteriormente, através de pesquisas até recentes, os apenados estão

sendo tratados, literalmente como “animais” (um ser com alma), mas que no processo de

desenvolvimento desta reeducação prisional o mesmo perde este status de “ser com alma”,

passando ser um ser humano “desalmado”.

Este trajeto dentro do sistema penitenciário intrauterino leva o apenado a se envolver

com as mais variadas formas do crime. Este fica exposto ao que chamamos de inércia. Ou

seja, ali ele tem que se adaptar ou adentrar-se na imundície deste segundo sistema, ou sua vida

é decepada.

Logo após este cidadão galga os portões do presídio, O Estado assume o compromisso

de amparar os dependentes com a cifra significativa que é de: R$ 915,00 (novecentos e quinze

reais) como prevê a constituição federal nos seus artigos 201 e 202.

Porém, existem falhas também nesta lei e neste órgão que administra o direito do

auxílio reclusão: de um lado há controvérsias quanto à questão da carência, que segundo a lei

é a do sujeito na hora da reclusão, de outro lado alguns doutos dizem que esta deve ser dos

dependentes do segurado. Outro dilema ainda se perfaz quando vimos é quanto à cifra

oferecida. O piso salarial para o trabalhador brasileiro não pode ser inferior ao mínimo, que é

de R$620,00; enquanto que o auxílio-reclusão previsto em lei para o preso é de R$915,00

reais. Mesmo havendo a certeza que este auxílio não é para manter o preso, mas sim seus

dependentes, fica o amargo na boca quando vimos que o não recluso recebe bem menos do

que aquele que foi recolhido em algum presídio ou cadeias públicas.

Outra falsa notícia mal veiculada pela mídia cega é que todos os dependentes dos

presos têm direito a este auxílio-reclusão... Isto definitivamente não procede. Só aquele que

é assegurado pela previdência pública é que possui essa faculdade. Caso contrário, os

dependentes deste não terão direito a tal auxílio.

Estando lotado dentro do presídio, o indivíduo, já não mais reconhecido pelo nome,

oras por um pseudônimo, se com sorte com um número na sua ficha pessoal, como apenado.

A partir daí ele tem que se arranjar da melhor forma possível, submetendo-se ao “regimento

interno” do sistema penitenciário que é lei de como deve funcionar o cárcere segundo a visão

e necessidade dos recuperandos.

A sociedade do crime se perfaz dentro do sistema penitenciário. A primeira coisa a ser

conhecida dentro deste sistema além do Estado, é a moeda de troca. Seja cigarro, dinheiro,

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drogas, chips, celulares, créditos se prefiguram como pagamento diante daquilo que o preso

precisa para sua subsistência: cama, comida, roupa, remédio, visitas íntimas, etc. Este câmbio

de dá entre os reclusos e entre os agentes ou demais responsáveis pela segurança e bom

funcionamento do sistema penitenciário. Parece ilusão de ótica, mas não é: isto é a praxe

cotidiana da vida do recluso.

Quando a família tem condições de ajudar este apenado, ele consegue se entrosar e até

conseguir um lugar na sociedade-carcerário-interna. Caso este não possua família, aí começa

sua via crucis. Muitos dormem no chão, porque a superpopulação é grande. Seu espaço físico

é reduzido quase a zero diante do que tinha outrora. Desde aqui começa a dolorosa tortura

psicológica. A ociosidade o leva a ficar sem nada para fazer, portanto, com a mente vazia,

pensamentos sórdidos é que não faltam.

Depois, começa as variadas propostas de pertencer à gangue A, ou a gangue B.

Decisão difícil, porque o preso está desamparado e sem opção. No lugar de estudar e obter

uma formação técnica, este se enreda pelas veredas da escola do crime. Se outrora este preso,

por deslize furtou um objeto até de valor pequeno, passa a conviver com estelionatários,

ladrões de caixas eletrônicas, terroristas e porque não dizer com o crime organizado em

pessoa.

Essa é a marca registrada que se fixa na vida do preso, que o portará após pagar sua

pena e retornar ao convívio social. Ele (a) será sempre um ex-detento (a). Mais que as

tatuagens feitas no corpo, que é outro estigma fortíssimo, a pior delas é este título de doutor

honoris Causa do Crime; vulgo ex-apenado. Uma vez estigmatizado, o dito sempre será o ex.

Pensando em não cometer nenhum tipo de injustiça, mais do que já foi cometida, aqui

iremos apresentar uma fala de um cidadão que fez toda esta caminhada, e por incrível que

pareça, ele não foi corrompido pelo sistema interno do cárcere, pelo menos no momento de

cumprir a sua pena. Ou pelo menos não se envolveu com situações onde a sua vida seria posta

em um risco mais elevado. Podemos criar um título para ele, exatamente para não expô-lo ao

preconceito já preconizado.

O caso concreto ora apresentado servirá como sustentáculo para a comprovação dos dados especificados anteriormente, a respeito da ineficácia da LEP e da própria aceitação da sociedade. Esta história foi resultado de um acompanhamento de um ex-detento em dois momentos: 1. Ainda no presídio do Serrotão, Campina Grande, Paraíba; 2. Fora dos muros do sistema prisional – retorno ao convívio social – João Pessoa-PB;

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Houve uma necessidade explícita do entrevistado em responder ao questionário, que ora é transcrito para comprovar exatamente, a necessidade dele expressar todos os sofrimentos padecidos pela ausência maçante do Estado e o desprezo da sociedade. P. B. A, foi indiciado nos Arts. 157 (assalto), 121(homicídio doloso) do código penal, pegando uma pena de 20 anos, sendo recolhido em 12/07/1997, migrando sempre pelos os presídios de Roger/Sílvio Porto / Máxima / Serrotão (Campina Grande – PB). Neste último presídio ele trabalhou 05 meses, mas lhe foi negado à remissão de pena / já na colônia agrícola de Souza trabalhou 10 meses, na área sempre de serviços gerais, aqui foi lhe computado a remissão de pena, pelo o diretor do presídio, mas o Juiz indeferiu. Na pena de 20 anos, ele cumpriu no regime fechado o total de 11 anos, 6 meses e 17 dias, saindo deste regime somente 29/01/2009. Durante todo este tempo, foi indeferido todo benefício requerido. Ele conclui que a responsabilidade desta barbárie foi o Estado na função de juiz da Comarca de Campina Grande que não cumpriu o que dizia a lei a respeito dos direitos adquiridos por bom comportamento. Ele sofreu tortura e represálias dentro da carceragem por um agente penitenciário, isto no momento de transferência do Silvio Porto para a Máxima, (exatamente porque o caso foi representado pela sua tia G. B, membro da Pastoral Carcerária – órgão da Igreja Católica). Ele foi espancado com socos e pontapés pelo o agente. O mesmo atribui à negação de direitos de revisão e remissão de pena por conta dessa representação feita contra o torturador. Casado, pai de 05 (cinco) filhos, brasileiro, filho de P. J. A e M. G. B (divorciados); O mesmo declara que possui 09 irmãos, do qual um está encarcerado. É natural de Catolé do Rocha, nato aos dias 30/07/1977, profissão anterior à condenação, agricultor e atual de serviços gerais no DETRAN (Departamento de Trânsito); Escolaridade: Fundamental incompleto – 6ª série – 7º ano; quando foi condenado e quando saiu do presídio, alegando que o Estado não ofereceu a ele a oportunidade de terminar os estudos e nem lhe ofereceu nenhum tipo de curso profissionalizante, no período de sua reclusão; como garante a LEP, nos seus artigos 17 a 21. P. B. A, alega terminantemente que não recebeu nenhum tipo de amparo do Estado Juiz, e muito menos da sociedade a não ser o apoio de sua família, que lhe deu coragem e condições até psicológicas para viver as durezas, na vida do cárcere. Para não ser injusto, da parte da sociedade, ele recebeu visitas e apoio a Pastoral Carcerária, na qual lhe ajudou até mesmo com assessoria jurídica. Narra que: neste período longo de reclusão nunca recebeu assistência à saúde. No qual ele quebrou um dos braços, num jogo de futebol. Não foi socorrido a tempo sofrendo assim uma deficiência física. Nunca recebeu assistência social, nem psicológica e muito menos ainda psiquiatra – onde o preso deve ser ouvido uma vez por mês por estes profissionais. Ele considera que a lei interna dentro do sistema prisional ainda é menos branda que a lei externa do Estado – para não ter problema com a lei interna basta seguir a linha de respeito e não se intrometer na vida de ninguém e evitar confusões. Já a lei do Estado Juiz é cruel, pois há momentos que julga até mesmo por “ouvi dizer”. Dando espaço para quem tem condições financeiras, deixando os pobres apenas o direito de ter um defensor público, que quer dizer – nada. Essa discriminação leva a um descontentamento tão grande que é possível haver grandes rebeliões.

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Hoje, P. B. A, está cumprindo sua pena em regime condicional e diz que ficará findará a sua pena totalmente só em 2017, repetindo que deveria ficar recluso somente 06 anos e 08 meses; mas que a barbárie do Estado lhe imputou o dever de permanecer de cinco anos a mais – ele garante que faltou foi coragem e competência de um advogado para pleitear seus direitos junto à vara de execução penal da Comarca de Campina Grande. Foi-lhe questionando o que ele aprendeu de bom dentro do cárcere, o mesmo disse que foi fazer bolas de futsal, vôlei e de campo e o artesanato. Ele declarou que teve sempre um bom comportamento, nunca brigou e nunca tentou fugir. Falou que quando entrou no presídio teve uma grande sorte, por ter já lá dentro alguns amigos e que isto facilitou o seu começo na vida presidiária. A respeito de segurança dentro do presídio, o maior risco para ele é em nível de saúde, pois não existe nenhum atendimento para os presos que tem alguma doença infecto contagiosa. Todos ficam confinados no mesmo ambiente, onde cada um se vira através de remédios dados pela família, oras até por outras visitas que se compadece da situação do preso. Relata ainda que esperava um apoio maior do Estado quando retornou para o convívio social, mas que só foi colocado no projeto LIBERTA graças a um amigo, pois até nesse momento existe política. Até agora só conseguiu trabalhar na área de serviços gerais na Casa da Cidadania em Jaguaribe e agora no DETRAN em Mangabeira. Foi-lhe perguntado pelo salário, e ele disse que em tese é o salário mínimo, mas que tem tantos descontos que cada mês vem uma cifra diferente, que fica entre R$300,00 e R$400,00 reais mensal. Para finalizar esta entrevista foi feita algumas perguntas sobre quais são as dificuldades que ele está enfrentando depois da saída do presídio. P. B. A, relatou com certo pesar que o que mais o crucifica neste momento é a discriminação da sociedade. “Somos olhados com outros olhos...” Que esta mancha de ex-presidiário fica e as pessoas fazem questão apontar isto no relacionamento social. Isto é o empecilho maior para de fato ser contratado para um trabalho com carteira assinada. Ninguém quer confiar no ex-apenado. Ele narrou que aprendeu nestes anos de cárcere a conhecer as leis que só ficam no papel, e agora ele tem consciência que precisa pensar duas vezes antes de fazer algo errado. Foi indagado sobre a LEP (Lei de Execução Penal) se a referida lei é eficaz: ele respondeu que para os ricos sim, mas para os pobre é uma bela de uma grande mentira. Ele ainda fez um comentário que lhe privaram de ser cidadão, impedindo-lhe de votar por tantos anos. Até agora mesmo que está de volta, não foi lhe concedido tal direito. Exato porque despareceram com todos os seus documentos. Ele alega que não votará em mais ninguém... Que o único político que ainda merece o seu voto é LULA. Ao falar do falecimento de sua tia, ele chorou, porque lhe foi negado o direito de ir ao funeral. Era uma pessoa muito importante na sua vida e ela o ajudava muito, sobretudo a suportar o sofrimento de estar longe da família. Ainda com os olhos lacrimejando falou que os primeiros a perseguirem os ex-detentos para verem cair na reincidência são os policiais corruptos. Ele diz que se encontra perseguido neste momento e que isto dificulta o seu reinserimento na vida social. Ele foi indagado sobre se ele se sentia recuperado, pronto para enfrentar novamente a vida na sociedade, o mesmo argumentou que não depende somente dele, mas dos outros cidadãos, os quais precisam dar-lhe uma segunda chance.

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Segundo P. B. A, que no período de saída, sobretudo do semiaberto e do aberto, a reincidência é muito provável, pela falta de apoio do Estado e a falta de credibilidade da sociedade. Já findando esta entrevista, o jovem recuperando narrou o seu sonho para o futuro que é terminar a dívida com o Estado, para assim reconstruir a sua vida; relembrando ainda que não dependa somente de seu desejo, mas da chance que ele merece da sociedade e da responsabilidade do Estado em garantir sua cidadania. Para ele o pseudo nome de ex-apenado, só será retirado, depois que o nome dele sair do livro dos réus, que isto tem um prazo de cinco anos. O cidadão entrevistado nos deu permissão para usar este material para o trabalho de monografia ou outros trabalhos que possam vir acontecer. Foi de comum acordo que ele nos concedeu tal história. Eu, abaixo assinado Plínio Borges, declaro para os devidos fins de direito legal, que: aceitei, concordei com esta entrevista escrita. Podendo fazer uso desta para o trabalho de monografia do aluno Eugênio Costa Mimoso, podendo deixá-la como arquivo para outro possível trabalho. João Pessoa, 01 de Abril do ano de 2012. P. B. A

Neste caso concreto, podemos avaliar dois pontos interessantes:

1. Não existe de fato nenhuma estrutura do Estado e muito menos ainda nenhum

interesse da sociedade em ressocializar os ex-detentos. Até porque a mesma não acredita nesta

pretensa recuperação;

2. Que o Brasil, se não for o maior, será quase o pior na violação dos direitos humanos –

perfazendo assim uma trajetória obscura entre a lei e a autotutela.

O que se poderia fazer para inverter tal situação? Como cobrar deste Estado positivista

uma solução para tal descaso aos direitos fundamentais, tão explicitados na carta Magna?

Avaliando o caso exposto de um prisma direito crítico, devemos dar razões quando

alguns afirmam que o sistema prisional brasileiro está num processo falimentar. Dado o fato

que após cumprimento da pena, ou seja: o retorno ao convívio social saudável, este cidadão

sente na pele que a realidade fora dos muros do cárcere, ora se configura com mais crueldade

do que dentro do sistema presidiário.

O primeiro impacto sofrido por esta pessoa é a ilusão que de fato a sociedade vai

aceita-lo, acreditando que o mesmo pagou sua dívida com todos e com tudo. Mas, ao deparar

com os primeiros dias de retorno é que esta recuperação não houve e nem haverá já fora das

grades que o recolheu por tanto tempo. A angústia vivida pelo ex-apenado é exatamente esta

de ficar com uma tatuagem quase invisível, mas concreta. O retorno fica confuso para este

cidadão.

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Sem o devido apoio necessário da família (que se encontra em situação de risco), sem

amparo legal do Estado e a credibilidade negativa da sociedade; este opina por não ser

realmente mais o humano ser que no passado passou por experiência da reclusão e que agora

vive profundamente a exclusão. A rotina de vida deste pode se comparar como a anterior,

sendo aceita a ociosidade como parte da sua nova vida sem nenhuma estrutura capaz de

ampará-lo para dar os primeiros passos nesta suposta vida de recuperados.

Para início de conversa não existe se quer um cronograma onde este ex-apenado possa

reorganizar a sua vida novamente. Na maioria das vezes ele vaga entre o esmolar de um

trabalho ao pleitear de uma vaga na vida social, onde ele possa retomar a rotina anterior ao

cometimento do seu delito.

Para piorar ainda mais o caos que assola o sistema carcerário brasileiro, temos ainda a

situação do preso provisório, onde a lei diz que não pode passar mais do que um ano sem

julgá-lo e isso se esvai no cronômetro jurídico e mais uma vez... A lei não se cumpre. Estes

provisórios estão espalhados pelas cadeias públicas do nosso país e a situação deles ainda é

um pouco pior, porque tantos deles ainda estão esperando pelo julgamento. Isso significa que

após o vencimento da data prevista, essa provisoriedade, poderia ser transformada em:

aguardar o julgamento em liberdade. No entanto, mais uma vez o Estado peca contra a Norma

Fundamental e suas subalternas.

Os sonhos são tantos, mas a realidade não condiz com aquilo que o indivíduo espera

ao retornar a sociedade que outrora sofreu pelo erro cometido pelo mesmo. No mais, fica a

situação bárbara entre o que se é de direito com aquilo que lhe continua a ser negado. A dita

liberdade. Oras este mesmo cidadão sente-se mais inclinado a viver enclausurado pelo lado de

fora da prisão do que quando supostamente lhe é devolvida a dignidade de pessoa livre.

Uma das maiores perspectivas almejada pelo cidadão recuperado é a aceitação no

meio social de forma integral. Ou seja: voltar a ser como era antes, uma pessoa que ninguém

tinha medo ou receio de compartilhar o mesmo espaço social. Por fim, o dito decai numa

profunda desilusão, passando por um momento depressivo, onde este fica a mercê da boa

vontade de poucos e a pesada fiscalização do Estado, sobretudo da perseguição policial que

faz parte do cardápio ora imposto pela realidade que os circunda.

Outro grande sonho é o criar de uma nova família, já que aquela que ficou fora dos

muros já não existe mais. Na maioria das vezes, os ex-apenados escolhem de constituir uma

nova família, optando assim por encontrar outra companheira que tenha tido a mesma

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experiência prisional, pois esta o compreenderá diante dos tantos vícios adquirido nos tempos

de reclusão.

Sem sombra de dúvida, outra perspectiva grande é quanto à conquista do seu antigo

trabalho. Aquele que no outrora o identificou como pessoa, ajudando-o não somente no seu

sustento mensal, mas o tornou um ser digno e honesto. Ao voltar, dependendo da profissão

praticada anteriormente, este não pode exercê-la mais; caso esta venha lhe oferecer riscos ou

quando a mesma não satisfaz mais a regras ditadas pela ordem jurídica de fazer ou não fazer

tal coisa.

O último desejo árduo existente dentro de este ser humano é apagar tudo o que foi

vivido, após o delito e o cumprimento da pena. Fica o desejo entre o que eu era antes de

colocar em risco a sociedade com o que eu fui durante os anos de reclusão e o que ele está

necessitando agora que é no mínimo sobreviver na selva de pedra. Aí então este acorda e se

dá conta que no processo pseudo de recuperação, a única coisa que ele recuperou de fato e de

direito foi à capacidade de fazer parte do submundo do crime, travando assim uma luta entre o

que era antes, o que ele deseja ser agora e o futuro que é mais obscuro do que o passado e o

presente.

É neste ponto crucial da vida do recuperado ou recuperando que todo o diferencial vai

existir no ter apoio e no ser apoiado. Tanto é que o processo de desintoxicamento da

promíscua vida prisional torna-se um monstro, atuando na mente do “ex” que deseja ser no

mínimo o ser que era antes; isto é: ter de volta o sagrado direito de viver sua liberdade como

vivem outros seres humanos que não cometeram ainda nenhum delito.

A grande temática em questão é: porque valorizar tanto este passado ruim, quando na

verdade o indivíduo quer apenas ser melhor do que foi e voltar a pertencer ao seu ciclo social?

Como fazer para que a sociedade o aceite para esta reinserção, uma vez que o dito pagou pelo

o erro que fez até de maneira superior aquilo que ele merecia? Sua trajetória passa ser a de um

irrecuperável, cuja cicatriz vai marcar e determinar o seu presente comprometendo seriamente

o seu futuro.

Aqui cabe salientar que a mídia tem uma grande responsabilidade quanto à rotulação

de este ser. Ele passa da condição de humano para bandido, do ser nominado para um ser

classificado pelas tatuagens adquiridas na vida carcerária; deixa de ser o cidadão que vota,

para ser um privado da sua cidadania, passa a ser apenas um delinqüente irrecuperável ao

contrário de um ser humano que merece uma segunda chance. Assim sendo, o auto-descrédito

é tão acentuado que não existe outra melhor opção do que a de se reincidir. Ou seja...

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Realmente aqui fora não existe espaço para este “monstro”, devo ser enjaulado novamente.

Ora ele se sente mais assegurado dentro da podridão do cárcere do que na suposta sociedade

impecável de seres que nunca vão cometer o erro que ele cometeu. Pelo menos nas jaulas dos

presídios este encontra seus pares, atenuando assim a marca registrada pelo delito pago com a

própria vida. Vejamos o que nos diz o sociólogo Alder Ferreira Calado a respeito do sacro

direito de votar de cada cidadão:

Por outro lado, podemos recolher uma lição importante dessa amarga experiência: a de que não nos basta apenas votar. Mesmo escolhendo bons candidatos, bem sabemos que esses vão ser minoria, até porque os grupos dominantes acumularam uma experiência quase imbatível na arte de eleger seus candidatos: controlam a televisão, o rádio, distribuem favores, conseguem aliciar até pessoas sérias, armam ciladas antes, durante e depois da apuração dos resultados (CALADO, 2003, p. 52).

Portanto, as perspectivas do ex-apenado são tão poucas que ele não consegue

sobreviver aos primeiros meses fora dos muros e volta a desejá-los por uma questão de falta

de opção ou de estruturação para encarar a nova vida que deveria lhe ser oferecida como a

chance de reparar o erro que destruiu a sua credibilidade diante dos outros irmãos humanos.

Não se reconhecendo mais como o humano de antes, a ele só cabe o retorno para onde ele

nunca deveria ter saído. Seja da sociedade a qual ele pertencia antes e a do cárcere onde ele

passou os últimos tempos da sua longa ou curta vida.

3.1 O dia-a-dia de um ex-Detento: entre a procura de trabalho e as discriminações

Aqui é outra realidade em que temos que pesar duas situações onde ambas se

configuram como vítimas dentro do sistema neoliberal e capitalista. Bem sabemos que o

crime não é uma dádiva oferecida gratuitamente aos seres humanos, mas que neste existem

fatores de ordem social, política e até econômica.

No patamar da existência dois fatores levam a uma análise do crime como um todo:

a) Da primeira vítima que foi aquela diretamente afetada pelo criminoso e;

b) A do cidadão que lesou o patrimônio maior que foi a sua própria vida.

Vejamos como isto na prática funciona, pois no dia-a-dia do ex-apenado, esta

realidade se configura como sentimento de culpa que o acompanhará pela eternidade e o

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sentimento de perda daquele ente querido que foi tirado do convívio social e humano de

forma tão abrupta (isto no caso dos crimes de homicídios, roubos, estupros ou hediondos).

A vítima passiva é exatamente aquela que sofreu o prejuízo direto, seja de forma

material ou moral, cabendo, pois a esta ou a sua família a reparação do erro sempre aclamada

pela feita da justiça ou da reparação do erro. Aqui há uma sensibilização muito grande das

pessoas que conviviam em sociedade de forma direta e indireta. Bem sabemos que às vezes

nos cometemos de tanta paixão, dado o fato de que há uma preconização do monstro e a

vítima; sobretudo do andar das notícias proclamadas pela mídia (“a faca de dois gumes”).

Do outro lado, existe a vítima ativa, que foi exatamente aquele que furtou o sacro

direito de outro cidadão a viver com gozo a sua vida em liberdade, causando-lhe assim um

estrago enorme do qual é classificado de delito. A este é negado o direito de ser humano,

passando antes mesmos da sentença julgada e prolatada ao título de réu, culpado, monstro ou

bandido. Já a partir desses adjetivos esta vítima ativa em questão já deixa de ter o direito dos

princípios da: ampla defesa, do contraditório e da presunção da inocência. Pior ainda é que

tantas vezes as sentenças são dadas de forma bárbara, porque os magistrados se encontram

pressionados pela opinião pública ou são apenas juristas de gabinetes, fora da realidade que

circunda tal cidadão.

No entanto o sistema vigente e atual, que é o do quem possui mais, tem mais

significado para a sociedade (o neoliberalismo) induz as mentes pensantes a pender pela

vítima passiva e apagar cada vez mais vítima ativa.

No mundo, atualmente está prefigurando este sistema de governo, onde o próprio ser

humano precisa diante daquilo propagado pela mídia e pelo sistema-econômico-financeiro, ter

mais do que ser humano. A tal da globalização hoje é uma realidade cruel, onde leva a uma

desestruturação social muito grande, dando mais aos poucos que já possuem muito e tirando

dos muitos que não possuem nada.

Podemos e devemos avaliar a falta de oportunidades, de educação, de saúde, de

trabalho e de lazer como fontes onde o crime é produzido. As comunidades carentes, onde

agregam boa parte dos traficantes, são aquelas mais visadas; mesmo tendo problemas na

classe dos abastados, sabe-se por pesquisas científicas que esta vítima ativa na maioria das

vezes provém das classes baixas... Onde reina o submundo da criminalidade e da falta de

políticas públicas para incluir os excluídos. Aqui se explica com muita clareza porque os

nossos presídios são compostos na sua maioria de negros, analfabetos, jovens e homens. Sem

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as oportunidades vitais para estes sobreviverem honestamente, resta-lhes senão a via mais

propícia que é a do crime.

Entre o árduo trabalho com jornadas pesadas, ganhando apenas o salário mínimo, que

não oferece melhorias a ninguém; parte-se para o tráfico e, sobretudo para o roubo, onde a

partir daí o sistema criam as vítimas ativas do crime. O mais interessante de se estudar é o

porquê que de um lado existe o amparo para vítima passiva, enquanto a outra vítima é

castigada pela própria falha do Estado que não deu condições básicas de sobrevivência. Aqui

merece um destaque para o que diz Cesare Beccaria na sua lição do roubo:

Um roubo cometido sem violência só deveria ser punido com uma pena pecuniária. É justo que quem rouba o bem de outrem seja despojado do seu. Mas, se o roubo é ordinariamente o crime da miséria e do desespero, se esse delito só se é cometido por essa classe de homens infortunados, a quem o direito de propriedade (direito terrível e talvez desnecessário) só deixou a existência como único bem, as penas pecuniárias contribuirão simplesmente para multiplicar os roubos, aumentando o número dos indigentes, arrancando o pão a uma família inocente, para dá-lo a um rico talvez criminoso (BECCARIA, versão para eBook eBooksBrasil.com, fonte digital WWW.jahr.org, p. 147).

Nesta mesma temática abre-se uma discussão pela qual a sociedade não acredita na

recuperação do delinqüente, dado o fato do mesmo não oferecer condições cabíveis nenhuma

para que todos tenham na realidade os mesmos direitos e não tão somente os mesmos deveres.

Como demonstra o caso concreto outrora citado, a busca incessante por trabalho é

outra demanda a ser avaliada. Dentre as tão pesadas normas aplicadas já regime Semi-aberto

ou aberto, uma delas em específico é a do controle de saídas, sobretudo após determinada

hora da noite. Um exemplo claro disto é o já classificado caso de P.B.A, que antes do delito e

da pena aplicada, ele trabalhava como garçom em um determinado bar noturno de João

Pessoa... Hoje, diante de tal regra de horário preciso de recolher ele não pode continuar

exercendo tal profissão, até porque é um ambiente de risco, onde se trabalha com bebidas

variadas, sobretudo o álcool.

Mediante situação, o recuperando se vê obrigado a ficar a mercê daquilo que o Estado

oferece nas suas repartições públicas e suas autarquias. Nem por isso o indivíduo está

amparado, pois dentro dessa realidade o mesmo se depara com várias situações desagradáveis

que impossibilita uma recuperação precisa e eficaz. Vale aqui acentuar algumas, dado a

realidade onde as mesmas são propostas ao cidadão. Após cumprir os anos dado de reclusão,

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o ex-apenado depara com as seguintes situações as quais dificultam o seu endereçamento ao

famoso mundo da recuperação. Vejamos quais são essas variadas propostas:

a) A falta de uma escolaridade onde o cidadão possa galgar um posto de referência

dentro das repartições ora contempladas;

b) São alvos sempre do cargo de serviços gerais, ou seja: do faz tudo;

c) A concorrência com os próprios colegas de recuperação, que antes dividiam a mesma

cela e realidade e que agora se tornam como adversários;

d) Os anos parados na referida ociosidade impede até a criatividade e agilidade do sujeito

dentro dos requisitos exigidos pelas repartições ou outras propostas de trabalho;

e) O sujeito tempo e a sua administração tornam-se um problema para o indivíduo,

exatamente porque no passado esse era desregrado;

f) Situação física e psíquica do candidato ao ter que lidar com os mais variados tipos de

público;

g) O salário que parte sempre da tese que é o salário mínimo, mas que na prática isso

decai-nos mais variados e inexplicáveis descontos;

h) Nenhuma segurança jurídica trabalhista – ou seja: este é visto nem como um prestador

de serviço, mas como alguém que está precisando de um favor;

i) A humilhação social que passam ao tentarem ocupar seu espaço social no meio ao qual

é chamado a participar com sua mão-de-obra;

j) A falta de estímulo para o rotulado ex-detento para que o mesmo tenha forças para

superar as diversas dificuldades e por último;

k) A falta de credibilidade e confiança em alguém que já foi processado, julgado e

condenado, mesmo o dito tendo pagado sua pena segundo manda o ordenamento jurídico

pátrio.

Nesta situação tão real e concreta, não podemos deixar de analisar a situação corrente,

onde os supostos cidadãos de bem, garantem com presteza que muitas vezes a ressocialização

não acontece por mais de boa vontade e interesse do ex-apenado. Existem casos que talvez

poderíamos até fazer tal afirmação, mas estes são minoria. O famigerado sistema que nos

engloba na política externa e interna da globalização gera situações onde deixa transparecer

essa suposta falta de interesse do ex-detento em não se recuperar.

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Exemplos de fato podem comprovar que na maioria das vezes mostra que sem

estímulos acessíveis e sem uma estrutura cabível, torna-se quase que impossível fazer tal

escolha. Os anos perdidos da vida deste suposto delinqüente não podem ser apagados da vida

da pessoa como se nada tivesse acontecido.

O ato de aprisionar uma pessoa já demonstra a pena máxima que se pode aplicar a

alguém que cometeu tal delito. Imagine só quando essa pena que em teoria seria o meio pelo

qual viria à dita recuperação se torna uma tortura; invalidando os mais sagrados direitos da

dignidade da pessoa humana. A pena é vista nesta atual realidade não como uma possibilidade

de ajudar aquele cidadão em específico avaliar o mal decorrente da prática do delito, mas sim

um castigo ao interno e externo da própria existência daquele suposto criminoso.

Nos casos de extrema periculosidade, existe sem dúvida a necessidade de tolher a

liberdade de ir e vir daquele cidadão. Mas esta teria que ser a última das últimas

circunstâncias; exatamente porque isto é custoso para o erário público e, sobretudo para o

bolso de nós contribuintes. Não mais do que isso, tolhendo a liberdade deste ou daquele

indivíduo, corre-se o risco de não mais recuperá-lo, pois, existem situações em que a pena

restritiva de liberdade só faz com que o cidadão saia formado na escola do crime.

Para tanto, é cabível que o Estado encontre alternativas para a repressão e a prevenção

da violência ora vivida no mundo, experimentada também em nosso país e no seio da nossa

convivência social.

Entretanto, a trajetória que perfaz esse cidadão, que no presente necessita de uma

assistência e uma atenção especial por conta do Estado-Juiz e do social, peregrina pelos

bastidores dos subempregos, galgando assim degraus não fáceis... Restando apenas para estes

trabalhos de terceira categoria como: flanelinhas, servente de construção civil ou tão somente

vivem no anonimato do catar lixo para transformar em luxo para a própria sociedade que o

condena tanto. Partindo desse pressuposto, vejamos o que nos diz Eitel Santiago a respeito da

organização da sociedade:

As pessoas convivem em certos espaços e compartilham afinidades étnicas, lingüísticas, religiosas e cultu-rais. Por causa dessas aspirações comuns, organizam a sociedade, para realizar as aspirações comuns. A comunidade assim arrumada tende a se converter num Estado. Com base em tais observações, os pesquisadores falam do ideal do Estado-nação, que se concretizaria, quando se criassem todos os Estados que correspondessem às várias nações existentes no mundo. (PEREIRA, 2011, p. 106).

Neste conflito entre os pares, ora configurado como vítima ativa, ora passiva, não

podemos esquecer que vários obstáculos são colocados na trajetória dessas duas vítimas, a

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ponto de se criar uma violência fundamentado no estigma ora vivido que é: “ou ele ou eu”.

Aqui não está em jogo de objetos, mas sim de indivíduos que para sua sobrevivência começa

ver e sentir seus iguais como ameaça ao seu projeto de vida. Desarticulando tal projeto, esse

indivíduo fica ferido do mais profundo da sua própria existência que é a sobrevivência.

Apreciemos o que diz o doutor Alvino Augusto de Sá a respeito da tão citada violência

fundamental:

Daí que a violência não supõe uma relação de amor nem ódio, mas unicamente de rivalidade. O objeto da violência fundamental, a pessoa contra a qual ela se dirige, é identificado simplesmente como um “outro”, não importa quem seja ao qual indivíduo busca sobrepor-se, dentro do dilema que reconheceremos como trágico (SÁ, 2007, p. 33).

Daqui parte a crise da própria existência deste ser humano, embreando-se no mar de

questionamentos que não cessam de pertubar-lhe a consciência. Afinal, indaga o cidadão em

busca de espaço e emprego: aqui de fato é o meu lugar de origem ou eu estou deslocado para

um espaço que jamais foi meu?

Mais uma vez se vislumbra a enorme dificuldade de pleitear uma vaga para o trabalho

digno, exatamente porque além de despreparado para o mundo laboral, este cidadão está

psicologicamente abalado pela a tenaz falta de apoio estatal e social. Assim sendo só lhe resta

uma única opção, que seja: reincidir. Se auto-convencendo de que o problema de fato é ele e

não o sistema que o engloba.

Portanto, é de bom grado salientar que existem várias alas da sociedade e do Estado

que tentam amenizar tal situação, mas que as estruturas montadas são feitas para não

funcionar até mesmo para os assim classificados como cidadãos comuns, imagine somente

para aquele rotulado de ex-qualquer coisa. Ou tão diletamente apenado.

3.2 Quando as leis ficam no papel

Tantas são as leis e códigos que poderemos aqui citar algumas, como: a LEP, o CP

(Código Penal), CPP (Código de Processo Penal) e a própria Carta Magna que trás no seu

bojo os sagrados princípios da isonomia, da presunção de inocência, do contraditório e da

ampla defesa. Tudo devidamente e maravilhosamente embutido em milhares de páginas que

ora servem apenas para se fazer direito e não pleitear a justiça.

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A primeira análise a ser feita é que não temos uma política penitenciária que dê ao

recluso a segurança que o mesmo precisa ter para regressar ao lar (sociedade), da qual ele saiu

obrigado por um tempo para pagar pelo erro que ele cometeu, dando assim certo prejuízo a si

mesmo e aos seus semelhantes.

O sistema prisional brasileiro não consegue compactuar com os ditames excepcionais

das leis vigentes no nosso país. Primeiro porque existe uma ponte para se atravessar que é o

texto positivado e a concretização do mesmo. Somente para termos idéia do caos que vivemos

atualmente, devemos avaliar o que nos apresenta o juiz da Vara de Execução Penal de

Pernambuco o doutor Adeildo Nunes, que faz um relato eficaz da omissão do Estado

brasileiro em relação à dignidade dos presos custodiados nos nossos cárceres atuais. Vejamos

o que ele nos apresenta a seguir:

Observa-se, assim, que o Estado brasileiro recusa oferecer dignidade ao preso, embora seja um direito fundamental, previsto na Carta Magna de 1988, a todos que estejam custodiados nos vários estabelecimentos penais do País. A ausência de um sistema penitenciário justo e que efetive, recupere o delinqüente, a superlotação carcerária, a falta de assistência material ao detento – principalmente saúde, educação e um trabalho remunerado – e os tormentos físicos e mentais, são praticados cotidianamente contra os detentos brasileiros, fazem parte do País um exemplo raro de insensibilidade com pessoas humanas que devem receber uma punição pelo mal social que causaram, mas que precisam ser vistos com dignidade necessária para o seu retorno ao convívio social em perfeita harmonia com a sociedade ordeira, que certamente ainda existe fora das prisões (NUNES, 2012, p. 336-337).

Certamente, o que os apenados não sabem é que a dita sociedade organizada e

assegurada pelo o ordenamento jurídico pátrio não está e nem pretende se preparar para

recebê-los de volta, até porque o próprio Estado não garante que a recuperação do mesmo

detento seja eficaz como prevê as leis vigentes em nosso Estado nação. Por isso, além dos

muros, existe a selva de pedra, onde cada “monstrinho” tenta defender a sua presa com garras

bem afiadas. Além do mais, o tempo vivido na reclusão leva-o a perder os princípios

necessários para uma vida em sociedade; até porque estes foram dilacerados pelas leis e

ditames internos que constitui a famosa “lei do cão” – a organização interna dos cárceres que

como sabemos que quem tem finanças o suficiente para bancar a política interna consegue

sobreviver, caso contrário fica a mercê da faculdade do crime organizado.

Bem sabemos que a barbárie praticada no interno dos cárceres brasileiros está se

tornando uma rotina, onde dor, tortura e sofrimento perfazem a vida cotidiana do preso. O que

deveria ser apoio se torna despojo da própria dignidade da pessoa humana, para assim se

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transformar num mero e frio assassino. Vejamos como Beccaria nos apresenta a

proporcionalidade da pena segundo o delito cometido por tal apenado:

Se o prazer e a dor são os dois grandes motores dos seres sensíveis; se, entre os motivos que determinam os homens em todas as suas ações, o supremo Legislador colocou como o mais poderoso as recompensas e as penas; se dois crimes que atingem desigualmente a sociedade recebem o mesmo castigo, o homem inclinado ao crime, não tendo que temer uma pena maior para o crime mais monstruoso, decidir-se-à mais facilmente pelo delito que lhe seja mais vantajoso; e a distribuição desigual das penas produzirá a contradição, tão notória quando freqüente, de que as lei terão de punir os crimes que tiverem feito nascer. (BECCARIA, versão para eBook eBooksBrasil.com, fonte digital WWW.jahr.org, p. 123-124).

Todo o ordenamento jurídico positivado surgiu para organizar a vida em sociedade e

para que o Estado democrático de direito pudesse dar essa segurança jurídica, oferecendo a

todos (as) a certeza que estamos amparados, confortados e seguros. Mas, o problema aqui é

outro: existem de fato dois poderes paralelos... Um é o do Estado-Juiz e o outro é o resultado

de falência total dos Órgãos Estatais em coibir e corrigir o crime, desmerecendo os direitos

inerentes à vida e à dignidade do ser humano, mesmo este estando sofrendo pela sua pena de

restrição de liberdade.

Todas as leis ventiladas no ordenamento pátrio ora servem somente como pano de

fundo para aplicação da hermenêutica, sobretudo a constitucional. O sistema prisional

brasileiro não podia furtar a regra, até porque não existe uma política penitenciária justa e

adequada, onde os problemas possam ser discutidos e resolvidos dentro do contexto de

políticas públicas. Pode-se por assim dizer que quando essas leis deixam de serem eficazes e

permanecem somente em tese, todo o amparato reservado a segurança da sociedade se esvai

pelo o ralo da má educação e da omissão social que nos desclassifica cada dia mais.

Na medida em que o Estado-Juiz, que visa somente coibir, corrigir e penalizar;

esquecendo, pois de prevenir, não cumpre o prometido em leis e nas tantas campanhas

políticas falidas, o “Estado” paralelo do crime surge com uma força dando vazão à

criminalidade e a leis bárbaras onde o lema é competir com o assim classificado Estado

Democrático de Direito. Vamos nos ater o que confirma o juiz da 1ª Vara Regional Penal de

Execução Penal em Pernambuco nos relata diante de tal realidade:

Ninguém duvida mais que o crime organizado no Brasil divide com o Estado legalizado a tarefa de governar este País. Se de um lado existe um estado democrático de direito, recriado com o esforço comum da própria sociedade

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que foi às ruas em busca de um regime democrático de governo, em que todos deveriam obedecer à lei, por outra via se implementou na periferia da grande cidades uma fábrica de criminosos, seguramente capazes de sucumbir nosso aparelhamento de segurança pública e os organismos estatais. (NUNES, 2012, p. 342).

As rebeliões nos presídios nasceram para reivindicar direitos inerentes à vida, como:

ter direito a energia, água potável, comida descente, direito a visitas (a própria visita íntima)

para os apenados... Coisa que para os olhos da sociedade parece ser um absurdo, pois esses

seres já não merecem mais o devido respeito, porque afinal eles têm que pagar pelo crime

cometido: o que deixam de entender é que eles são tão humanos quanto nós. O que deveria ser

reivindicação de direitos tornou-se facção criminosa e a partir disto o próprio sistema

neoliberal aproveita ainda mais para mostrar para os cidadãos de bem que os apenados não

valem nada, porque de fato não produzem nada.

No entanto, esquecemos que mesmo presos continuam pagando impostos – talvez não

de uma forma tão regular como a nossa, mas até no fósforo que usa para ascender o cigarro,

surge disfarçadamente o dever do tributo. Não podemos, muito menos ainda devemos ignorar

essa realidade.

No meio dessa confusão legalizada, podemos ver que quem perde com tudo isto somos

nós (incluindo) os cidadãos que estão cumprindo a pena restritiva de liberdade. Pois cá fora

dos muros que os cercam, vivem sem nenhuma segurança física, social e material os seus

entes queridos. Adeildo Nunes continua nos apresentando a radiografia de um sistema que

atirou no próprio pé, ou seja, a falência do Estado quando suas leis são desrespeitadas e não

saem do papel. Vejamos como o estado paralelo se desenvolveu tanto:

Esse mesmo Estado, 14 anos depois de promulgada a Constituição Federal de 1988, tornou-se completamente dominado e incapaz de conter o tráfico de armas e de drogas, dois males que venceram nossos órgãos de segurança e conquistaram um poderio financeiro e armamentista jamais imaginado. Inertes, ante a audácia dos bandidos armados com fuzis AR-15, os cidadãos de bem estão presos em suas casas, rezando para que uma bala perdida não atinja a si e nem os seus familiares, em pleno clarão do meio-dia, como acontece com freqüência, enquanto todos, indistintamente, vivenciamos cotidianas mortes trágicas de jornalistas, promotores de justiça, policiais e gente inocente, sem se contar que os seqüestros, estupros e um aumento desenfreado de crimes contra o patrimônio fazem parte de nossa convivência diária. (NUNES, op. cit, p. 342).

Gostaríamos de abrir um parêntese diante da fala do douto outrora citado e fazer um

acréscimo, mostrando que no meio dessa sociedade inerte e tão desprotegida, vivem também

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milhares de cidadãos, os quais vivem à margem da sociedade ou numa pobreza extrema,

facilitando assim, a entrada do cidadão de bem no mundo da delinquência. No entanto, no

meio dessa massa, as classificadas famílias “encarceradas”, perfilam rumo ao descaso social

e jurídico.

Portanto, não devemos classificar num todo e nem todos os que submeteram ao mundo

do crime como uma massa falida sem recuperação. A perda de valores e princípios se deu no

decorrer de um processo sócio-econômico-cultural, onde o referido cidadão compunha

anteriormente a classe dos cidadãos de bem. A perda da família, diante da pena aplicada ao

membro querido, seja: pai, mãe, irmão, irmã, primo, etc., quando lhe é imputada a pena

restritiva de liberdade se culmina com a certeza que aquele ser humano (parentes) não tem

mais recuperação, sofrendo em primazia o abandono familiar na sua maioria. A perda dos

bens se culmina com a morte política, onde as mesmas podem ser comparadas com a morte

natural. Vejamos na conclusão deste tópico, como Beccaria interpreta tal situação:

A perda dos bens é uma pena maior que a do banimento. Deve, pois, haver casos em que, para proporcionar a pena ao crime, se confiscarão todos os bens do bandido. Em outras circunstâncias, só será despojado de uma parte de sua fortuna; e, para certos delitos, o banimento não será acompanhado de nenhuma confiscação. O culpado poderá perder todos os seus bens, se a lei que pronuncia o banimento declara rompidos todos os laços que o ligavam à sociedade; porque desde então o cidadão está morto, resta somente o homem; e, perante a sociedade, a morte política de um cidadão de ter as mesmas consequências a morte natural. (BECCARIA, versão para eBook eBooksBrasil.com, fonte digital WWW.jahr.org, p. 104).

3.3 A caminho da reincidência

Aqui abordaremos dois aspectos de uma irrelevância absoluta. O primeiro é o retorno

deste apenado à sua família de origem e à sociedade, e o segundo é o retorno do pretérito lar

onde este passou vários meses ou anos se reeducando para a vida social.

Como bem podemos observar nesse estudo, estamos constantemente usufruindo da

palavra educação, sendo que esta foge do parâmetro tanto fora quanto dentro dos presídios. Já

abordamos em tópicos anteriores o problema, mas a falta de uma educação adequada à vida

do cidadão que se encontra neste estado teria que ser diferenciada. Como reeducaríamos, por

exemplo, o homem do campo ou um indígena durante e após a pena? Poderíamos afirmar que

o método pedagógico seria o mesmo? E este modelo americanizado funciona dentro de uma

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realidade tão diversificada? Vejamos como define o Dr. Antônio Alberto Pereira a educação

no meio rural, de maneira especial nos assentamentos:

O camponês tradicional tem um repertório acumulado de conhecimentos e práticas que recebeu de seus ancestrais e repassa para os seus filhos. Um conhecimento aprendido com a natureza através dos cincos sentidos: olhando, ouvindo, tocando, cheirando, sentido. A terra se apresenta para ele como mãe e pedagoga (PEREIRA, 2009, p.138).

Já o indígena tem lei educacional específica que zela por este seu direito, mas quando

comete algum crime, este também cai na malha fina do sistema prisional atual. Ou seja, além

da diversidade de costumes e culturas, temos também etnias no meio da população carcerária

que são privados das suas próprias raízes e tem um jeito diferenciado de viver em sociedade.

O que isto significa para essas classes culturais um tanto quanto diferenciadas no seu modo de

viver?

Mais que a perda da liberdade, estes também perdem a sua identidade como pessoa do

campo, da mata, dos quilombos, enfim... São enjaulados dentro de um sistema de vida urbano

que não pertencem a si mesmos. Atentemo-nos ainda para o que diz Pereira, ainda a respeito

da educação na área rural:

A primeira característica que salta à vista, ao se observar o cotidiano de uma população assentada e confirmada pelos depoimentos, é a relação intrínseca que existe entre terra e liberdade. A conquista da terra está profundamente ligada à conquista da liberdade. Sem terra não há liberdade... A conquista da terra está relacionada com a conquista da dignidade, da cidadania, de qualidade de vida. Opera-se uma passagem da condição de miséria para a condição de autonomia. (PEREIRA, op. cit, p. 138 e 141).

Depois dessa ilustre lição de cidadania através da conquista da terra, passemos a

entender o nato significado da palavra reincidência. Vejamos o que nos traduz o dicionário

virtual Houaiss:

Reincidência - substantivo feminino, ato ou efeito de reincidir, obstinação, insistência, teimosia Reincidir – verbo transitivo indireto e intransitivo, repetir certo ato, tornar a fazer uma mesma coisa, recair em// Rubrica: termo jurídico, repetir crime ou delito da mesma espécie (HOUAISS, [2012?]).

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O que leva um ser humano depois de uma experiência tão cruel e brutal, voltar às

grades da prisão para repetir tal lição? Seria o desejo realmente de se recuperar, o tão somente

o medo de não se acertar mais com os seus pares?

Mesmo depois do cumprimento da pena, sobretudo no primeiro ano de retorno, o

famigerado Estado-Juiz tem o dever de amparar este indivíduo que por anos ficou privado do

seu ser gente. Até porque, ao mesmo foram-lhe negados direitos fundamentais, como o da

própria dignidade de ser humano. Mas, o que acontece quando este ex-detento cai novamente

de pára-quedas no lar que outrora era compartilhado e que agora o mesmo não sabe nem

mesmo se reinserir. Se já foi difícil sair do social para entrar no cárcere, piora ainda mais a

situação de sair do cárcere, pois o que parece aos olhos nus é que o indivíduo sai desta

reclusão, mas o presídio o continua condicionando na situação de preso.

Afinal, como se configura tal egresso ao reconquistar novamente sua liberdade? Quais

são os mecanismos que este pode recorrer para se restabelecer no status social? Vejamos

como Adeildo nos faz entender tal situação:

A lei de Execução Penal tratou de definir a figura do egresso: é o liberado definitivo, pelo prazo de um ano a contar da saída do estabelecimento e o liberado condicional, durante o período de prova. Vê-se, assim, que o Estado mantém laços de obrigação com o recluso desde o início da prisão, e até um ano após o cumprimento da pena. É que, geralmente despojado de todos os seus bens, abandonado pela família e pela sociedade, o ex-detento necessita de assistência integral do Estado, que impôs a pena e executou. Bem por isso, a LEP assegura ao egresso completa orientação e apoio a sua reintegração social, oferecendo-lhe, se necessário, alojamento e alimentação pelo prazo de dois meses, após o cumprimento da pena, havendo previsão para a sua prorrogação, dependendo da necessidade. O que importa é que, sabendo do forte preconceito social com o ex-detento, a LEP pretendeu sobrepujar esse nefasto comportamento social, que tanto tem contribuído para a reincidência criminal (NUNES, 2012, p. 78).

O que resta de fato da imagem deste cidadão que um dia tinha seu espaço garantido no

meio familiar e social e que agora não tem se quer uma identidade definida? A tal rotulação

como ex-apenado; até porque a palavra egresso significa (Rubrica: termo jurídico -

indivíduo que, tendo cumprido toda a pena, sai do estabelecimento prisional,

readquirindo a liberdade – dic. Virtual Houaiss), se torna muito discreta no trato cotidiano,

onde não se observa a enorme negação deste indivíduo que está tentando retomar a sua vida,

logo após ter quitado seu débito com o Estado, com a sociedade e porque não dizer consigo

mesmo.

Teatrológico ou não, esse é o longo caminho que este cidadão tem que percorrer para

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restabelecer a sua convivência em busca de um desejo de ser novamente gente. O pior ainda

está por vir, pois este desejo ardente se esvai no momento em que o abandono social e até

familiar lhe toca a sua epiderme.

Há vários fatores que dificulta o retorno do ex-apenado à realidade que o circunda.

Vejamos quais são estes e como eles impedem um reinício positivo ao egresso adentrar

novamente na sociedade. São eles:

I. O tempo se torna um dos primeiros obstáculos, até porque a ociosidade vivida na

suposta recuperação não é compatível com a labuta de subsistência;

II. O acolhimento não se perfaz, exatamente na linha familiar (ora a família já não existe

mais) e o meio social não se abre para tal;

III. A auto-estima baixa do egresso – durante os anos de reclusão ele foi ninguém. Como

ele vai ser alguém nesta selva de pedra sem nenhum tipo de apoio;

IV. O rótulo social de ex impede a aproximação do candidato em busca de contato com a

sociedade que outrora fez parte;

V. A mania de perseguição que sofre o egresso... Tudo para ele fica condicionado ao que

os outros dizem, pensam e demonstram a respeito de sua pessoa, agora ex-apenado;

VI. O acúmulo de informações do mundo atual que um dia ele tinha acesso, mas agora ele

somente domina o linguajar do sistema carcerário;

VII. As regras ainda impostas pelo Estado-Juiz (horário de recolhimento, locais proibidos,

etc.) para que este retorno seja de fato consumado na hora certa;

VIII. A despreparação para encontrar a família já em outra fase de vida: filhos, netos,

mulher, irmãos (ãs); enfim, já não é mais a família de outrora (isso quando o

indivíduo constitui outra família neste percurso penitenciário);

IX. A perda da identidade profissional, sem falar na própria despreparação durante o

período de reclusão;

X. O auto-convencimento de que seu mundo agora é a prisão, causando assim a fraqueza

em cometer o mesmo crime ou outro parecido.

Dentro dessa contextualização toda, temos que averiguar os fatos através da coleta de

dados feita pelo o Instituto de Pesquisa Flávio Gomes que nos apresenta a seguir um quadro

da reincidência no Brasil. Vejamos:

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Superlotação, insalubridade, condições de vida desumanas e a própria convivência com criminosos mais perigosos tornam os presídios e as penitenciárias brasileiras verdadeiras escolas de aprimoramento no universo da criminalidade. A primeira função real da prisão consiste na “Universidade do Crime”. Prova disso são os dados anunciados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) referentes a 2010, vez que 80% dos condenados a pena de prisão reincidem, ou seja, cometem novos delitos. Nunca esse número foi comprovado com segurança. De qualquer modo, sabe-se que o índice não é pequeno. O mesmo não ocorre com os condenados a penas alternativas, já que a taxa de reincidência é de apenas 5%. Do total de 513.802 presos existentes no Brasil, conforme números divulgados em junho de 2011, pelo InfoPen (Sistema Integrado de Informações Penitenciárias), ao menos 34.794 detentos respondem por furto simples. (GOMES; BUNDUKY, 2012, p.01).

Não podemos deixar de citar a realidade que nos circunda, pois a última rebelião em

dois presídios aqui em João Pessoa (Roger e PB 1) aos olhos da mídia destorcedora dos fatos,

foi uma questão de acerto de contas entre facções criminosas, mas os bastidores nos mostram

outra realidade bem diferenciada. Acompanhando ainda dados recentes do já referido Instituto

Gomes, a fotografia da prisão no Estado da Paraíba é caótica, como comprova o resultado do

mutirão feito entre 2010 e 2011 é o seguinte:

Analisando a realidade carcerária do estado, o cenário com o qual o Mutirão Carcerário, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), entre janeiro de 2010 e janeiro de 2011, se deparou, foi de ruínas, superlotação e ilegalidades. Conforme aponta o Relatório do Mutirão 2010/2011, carecendo de três mil vagas em suas unidades prisionais, as celas do estado são verdadeiros depósitos de pessoas e a maioria das prisões são antigas e destroçadas, necessitando de urgente manutenção. O Presídio do Róger, localizado em João Pessoa, por exemplo, foi construído em 1940 e abriga três vezes mais presos do que sua capacidade. Entre julho de 2009 e fevereiro de 2011, foram registradas nele ao menos 28 mortes violentas de presos. (GOMES, 2012, op. cit, p. 01).

Atrás de fatos não verídicos e destorcidos é que julgamos o egresso, cidadão que

deveria por lei está recuperado para restabelecer o convívio com seus pares, mas, diante de

um quadro assim só resta a este cidadão delinquir novamente, exatamente para confirmar a

rotulação feita pelo sistema globalizado que tratam seus cidadãos como cifras e não como

pessoas. Afinal, devemos apostar num futuro onde não tendo mais animais para aprisionar,

estão aprisionando cidadãos e cidadãs que carecem do Estado-Juiz para se recuperar?

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Os conflitos recentemente sucedidos nos nossos presídios partem de uma realidade

onde estão privando a pessoa até de um direito absoluto que é o de ter água para a sua

manutenção. Isto seria um exagero, ou tal realidade encontra-se presente no nosso meio?

Atentemos por mais estes dados a fim de esclarecermos tamanha dúvida:

Em Cajazeiras, que fica no sertão nordestino, não há rede encanada e a falta de água é corriqueira. Por isso, os detentos têm de recorrer aos carros-pipas, que são abastecidos no mesmo local onde deságua o esgoto. Na Penitenciária de Patos, o fornecimento de água ocorre por apenas 8 horas ao dia. Já na Cadeia Pública de Bayeux, os presos chegam a ficar três dias sem água. Na Penitenciária de Regional de Campina Grande, por sua vez, o esgoto a céu aberto aumenta o mau cheiro e a proliferação de insetos e doenças. A justiça do estado também é bastante deficiente. Na Paraíba, 35% dos detentos ainda aguardam julgamento e, durante o Mutirão, encontrou-se um detento preso há sete anos, período que alcançava o dobro da pena que lhe fora imposta. Assim, a precariedade de estrutura física e a deficiência jurídica do Estado, simbolizam verdadeiro caos e abandono do sistema carcerário paraibano (GOMES, op. cit, p. 01).

Portanto, não precisamos de nenhum aprofundamento científico para saber por que a

reincidência do egresso está ai na faixa dos 80 %. O processo de recuperação como já bem

sabemos, não existe e ainda por cima gera novas oportunidades para este indivíduo se

profissionalizar no mundo do crime até organizado. O que outrora deveria ser um acerto de

contas com o Estado e com a Sociedade, transforma-se num negócio sórdido e cruel. Isto tudo

desemboca numa falta de política penitenciária, numa legislação falha e ineficaz e também

não podemos deixar de fora nosso acomodamento com a triste realidade que nos circunda

através da violência estampada nas nossas janelas.

Que tipo de ser humano está sendo construído dentro das cadeias antigas e presídios

sem nenhum tipo de possibilidade de recuperação? Aqui temos que buscar nas ciências da

solidariedade e da consciência coletiva certa compaixão por aquele que errou e tem que pagar

pelo delito efetuado, mas não de desmerecer o ser humano a situação de bicho.

O que nos resta fazer para que no futuro essa violência encarcerada não venha atingir

um dos nossos entes queridos? Analisemos ainda com Gomes essa realidade em questão:

Tais condições de vida propiciam ainda mais revoltas e agressividade entre os detentos, contribuindo para o desenvolvimento de personalidades violentas e egressos que poderão voltar a delinquir. Quem é tratado sem nenhum respeito à dignidade, tende a se comportar dessa forma quando

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passa a viver em sociedade. Quem trata os presos (ou qualquer outra pessoa, inclusive as vítimas dos crimes) como sub-gente está plantando mais violência (GOMES, op.cit, p. 01).

Portanto, mesmo nos parecendo caótico e sem saída, é de bom grado afirmar que

depende da maneira que poder público, judiciário e de maneira muito especial, a sociedade

querem encarar essa dolosa situação e procurarmos mecanismos positivado, sociabilizados,

humanizados para defender dentro do meio ambiente em questão essa classe de cidadãos que

apesar da barbaridade que cometeram, tendo estes que pagar por elas, tenha de fato o que a lei

determina: recuperação e reinserção, palavras chave para iniciarmos nosso caminho para a

mudança. Perguntas? Tantas? Respostas? Existem. O que falta então? Coragem de sujar as

mãos na porcaria que geramos no passado e que já nos compromete no presente, já gerando

ameaças para um futuro certo, sadio, educado e seguro. Essa é a questão... Ser... Humano no

sentido amplo e absoluto da palavra.

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4 CONCLUSÃO

O maior dilema pesquisado neste trabalho foi dar ênfase à ineficácia das leis do nosso

ordenamento jurídico pátrio, buscando de forma crítica e humana reavaliar a situação de

cidadãos que ao longo de sua vida vieram cometer um delito e passa então a ter um débito

com o Estado e com a sociedade. Já não bastando o fato de perder o bem maior na vida que é

a própria liberdade, esse cidadão (ã) paga um preço altíssimo, ora diretamente com a própria

vida.

Ao longo dos tempos vividos dentro do cárcere a suposta recuperação passa a ser uma

deformação da própria dignidade da pessoa humana. Deixa de ser gente para como disse

GOMES, “sub-gente”; declinando de vez para o fundo do poço que é viver da sua própria

miséria que se configura na marginalidade.

Vem ao caso salientar ainda que o humanismo permeou este estudo, dado o fato que

diante de tão árdua tarefa garantida por lei, a de recuperar o delituoso, não passa por outro

crivo senão o de analisarmos todo o devido processo legal com os olhos atentos para os

direitos humanos. No mais é fazer uma tomada de consciência de sentirmos que tipo de

sociedade julga, condena e prende os pares e qual oportunidade esses possuem para retornar

são e salvos.

Um dos maiores dilemas encontrado foi exatamente o caos do sistema carcerário que

está já em fase de falimento, isso se já não faliu. Até mesmo dentro deste sistema que produz

a morte cotidiana do cidadão (ã) que errou, vira cifra ou palanque para os analfabetos

políticos tripudiarem e arrecadarem os seus milhões de votos para assim representar-nos no

Congresso Nacional.

Ao longo do estudo, pode-se perceber certo pessimismo no tocante a resolução do

problema, mas na verdade é a maneira nua e crua de descortinar as falsas ideias que nós

vamos adquirindo com o meio ao qual vivemos, deixando assim uma gama de preconceitos

nos saltar ao dorso e nos tornamos juízes dos nossos próprios semelhantes.

Já quanto ao próprio sistema carcerário as sugestões para que de fato venha surgir

formas de resolver o atual caos são:

I. Uma política penitenciária voltada verdadeiramente para a recuperação do

detento;

II. Aplicação sempre que a lei permitir das penas alternativas;

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III. Investir na educação fundamental como reza a LEP para que depois da pena

aplicada, aquele cidadão possa se encaixar novamente no meio social;

IV. Colocar o preso próximo da família para que esta possa sustentá-lo moral,

físico e psicologicamente;

V. Aparelhar os presídios para que a mazela das drogas, celulares, armas brancas e

demais objetos não venha adentrar na estrutura;

VI. Preparar profissionalmente o pessoal que lida diretamente com o preso, dando-

lhe um salário digno e, sobretudo colocando próximo do presídio para que este

não venha a ser corrompido pelo próprio sistema;

VII. Gerar o máximo de condições de emprego e sustentabilidade para que o

egresso possa vir a se inteirar no seu retorno ao convívio social;

VIII. Colocar as APAC’s (ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA AOS

CONDENADOS) em todos os Estados como suporte para os presos que

precisam de um atendimento diferenciado na sua recuperação;

IX. Criar formas de diminuir a burocracia no sistema como um todo, para que

todos os presos possam receber o auxílio reclusão para manter seus

dependentes (família);

X. Fazer campanhas para sensibilizar a sociedade no geral quanto a pessoa do

preso, avaliando que o mesmo perdeu a liberdade, mas que não pode perder

sua dignidade e muito menos ainda sua cidadania.

Portanto, só existirão mudanças no futuro se não nos apoiarmos totalmente no

imediatismo e começarmos a discussão do problema, comprometendo-nos assim fazer a nossa

parte. Que seja mínima e uma destas e se recuperar dessa idéia maléfica e que “direitos

humanos foram feitos para bandido”. Essa é a escama que mantemos nossos olhos enquanto

tentamos tirar o peixe atravessado nos olhos alheios. Não podemos em pleno século XXI nos

deparar ainda com esse pensamento arcaico, porque senão assim não mudaremos nada, senão

nosso foco de visão intrépida de não lutar pelo o difuso e sim criar a política umbilical. Uma

coisa é certa: mais cedo ou mais tarde, frutos colheremos, agora se serão bons ou não,

dependerá de nossas posições atuais.

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