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Diálogos para a Transformação Digital Educação presencial e virtual Mg. Martha Castellanos Mg. José F. Otero Junho 2020

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  • Diálogos para a

    Transformação Digital Educação presencial e virtual

    Mg. Martha Castellanos

    Mg. José F. Otero

    Junho 2020

    https://www.5gamericas.org/

  • Diálogos para a Transformação Digital

    Educação presencial e virtual

    Junho 2020

    Serie de Diálogos en Brecha Zero

    © 2020 5G Americas. All Rights Reserved

    Foto de capa: Pexels

    Imagens: Pixabay

    Ícones: Pixelmeetup

  • Contenido

    Preâmbulo ..........................................................................................................................................................................................4

    Introdução ........................................................................................................................................................................................ 7

    Desafios Digitais para Professores ......................................................................................................................... 9

    Setor, Regulação e Programas Nacionais ................................................................................................... 13

    Reflexiones ..................................................................................................................................................................................... 23

    Participantes ............................................................................................................................................................................... 25

    Sobre o Brecha Zero ............................................................................................................................................................. 27

    CLÁUSULA DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE ........................................................................................... 27

  • Preâmbulo

    O munda das tecnologias da informação e comunicação está repleto de segmentações que infelizmente revelam uma incrível diferença nos gaps digitais. O tempo de se falar sobre a disparidade na distribuição da riqueza digital que se limitava a discursos centrados no acesso a internet ficou no passado.

    As plataformas tecnologias que podem ser utilizadas para oferecer serviços de acesso à internet revolucionaram e fraturaram ainda mais o panorama da internet latinoamericana. Em outras palavras, o simples acesso à internet já não é o suficiente para colocar em paridade os habitantes da região. Outros aspectos como a velocidade, tipo de dispositivo, sistema operacional e criação de software são determinantes na qualidade do acesso à Internet e às TIC.

    Um dos exemplos a serem aprofundados nos novos desafios enfrentados pela comunicação é o do Chile. Os números de dezembro de 2019 apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) do Chile mostram que apenas 61% dos domicílios do país contam com conexão fixa à Internet. No entanto, uma observação mais detalhada do tipo de velocidade de cada família chilena mostra que cerca de 19% têm uma velocidade inferior a 20 Mbps. Esse número contrasta com os 38,9% das famílias com maior poder aquisitivo localizadas em centros urbanos, com velocidades superiores a 100 Mbps. Basta imaginar a tentativa de baixar um arquivo que pesa 50 MB com uma conexão que mal entrega 256 Kbps? Uma clara desvantagem fica evidente quando comparado a quem pode ter acesso ao mesmo arquivo em apenas alguns segundos.

    As plataformas de tele-educação são alternativas que contribuem com a expansão da educação e, no contexto atual da pandemia global do COVID-19, tornaram-se indispensáveis. Ao mesmo tempo, seu uso depende da disponibilidade de uma rede de telecomunicações capaz de suportar o tráfego gerado e entregue aos dispositivos dos

  • usuários. Não há possibilidade de educação virtual se as redes entrarem em colapso, impedindo assim os alunos de acessarem o conteúdo.

    Tampouco aqueles que vivem em áreas remotas onde o poder aquisitivo é muito baixo, onde as famílias carecem dos serviços públicos mais básicos devido à falta de recursos ou mesmo devido a falta de cobertura, onde não podem se beneficiar da tele-educação. No caso da Colômbia, dados do censo de 2018 do Departamento Administrativo de Estatística (DANE) indicam que 11 milhões de colombianos vivem em zonas rurais (cerca de 22% da população), onde, segundo a entidade governamental, 16 % das famílias não têm acesso aos serviços públicos.

    A situação é muito simples: aqueles que não possuem nem o suficiente para comer provavelmente não têm como prioridade adquirir equipamentos de TIC para comunicação ou produtividade. Ainda que a cobertura de rede esteja presente nas áreas em que essas pessoas vivem, se o poder aquisitivo for muito baixo, as ferramentas digitais não poderão ser aproveitadas. Por esse motivo, é preciso que os governos da região analisem seus planos de conectividade como um primeiro passo para integrar todos os segmentos da população no mundo digital, sem reduzir o problema simplesmente à conectividade. A abordagem deve ser holística, focada no desenvolvimento e complementada por estratégias para combater a pobreza.

    Dessa forma, qualquer estratégia de tele-educação em zonas rurais deve contar com suporte logístico que permita aos beneficiários deste serviço manter, reparar ou substituir o dispositivo que forem utilizados para a conexão. Isso deve ser feito tendo em mente que há uma grande diferença entre o acesso aos serviços pedagógicos virtuais feitos por meio de um telefone celular inteligente a fazê-lo por meio de um laptop ou tablet. No México, por exemplo, a Pesquisa INEGI sobre Disponibilidade e Uso de Tecnologias de Informação e Comunicação em Residências 2019 (ENDUTIH 2019) indica que entre os usuários que possuem equipamentos de Internet e computador disponíveis em casa, 93% vivem em áreas urbanas.

  • Por outro lado, a velocidade da conexão também é extremamente importante se considerarmos que um dos componentes da educação virtual que está ganhando força é a visualização de vídeos que complementam o ensino, além do desenvolvimento de sessões presenciais com vídeo em tempo real.

    No papel, a evolução contínua das TICs parece colocar à mesa uma oportunidade transformadora para o setor educacional, mas surgem lacunas que devem ser levadas em consideração na criação de políticas públicas eficazes. As mudanças necessárias para enfrentar a emergência de saúde do COVID-19 isoladamente em vários países colocaram a tele-educação no centro da agenda educacional, e também mostraram que a lacuna de acesso não é o único obstáculo. Nesse processo de transformação educacional é necessário considerar outras lacunas, como habilidades e capacidades digitais, bem como o esforço que a implementação da “virtualização” da educação impõe aos professores e alunos.

    Essa nova edição de Diálogos, focada na educação, tem como objetivo continuar a disseminar um dos temas nevrálgicos do compilado apresentado pelo Brecha Zero: a integração das TIC na educação.

    A boa notícia, como já exposta no portal da 5G Americas, é de que é cada vez mais comum ler sobre o progresso na educação de jovens, crianças e professores em mercados tão distintos quanto El Salvador, Antígua e Barbuda ou Uruguai. No entanto, o assunto estava incompleto sem as reflexões de uma pessoa tão dedicada a melhorar a qualidade de vida de outras pessoas quanto a Mg. Marta Castellanos, que ao falar da Colômbia realmente pinta um quadro de toda a América Latina. Não tenho dúvidas de que sua visão ajudará muitas pessoas a entenderem a complexidade da situação que enfrentamos diante da inevitável evolução da educação em nossa região.

    José F. Otero

    5G Americas.

  • Introdução

    O advento do COVID-19 à América Latina impactou a região de várias maneiras, algumas delas com conseqüências diretas nas políticas públicas adotadas para impedir a disseminação do vírus. Outros, como conseqüência da infraestrutura presente em cada um dos municípios dos países da região. É claro que o impacto não foi uniforme e que os estratos econômicos mais pobres sofreram com o impacto desta doença.

    Uma das maiores preocupações geradas por essa pandemia é que tipo de educação nossos filhos, sobrinhos ou netos terão. Como continuar com a necessidade de educar as gerações futuras com segurança, minimizando as chances de contágio?

    Precisamente esta, além de outras perguntas foram respondidas por Mg. Martha Castellanos nesta entrevista, na qual detalha as principais diferenças entre os métodos de ensino presencial e os implementados com a utilização de plataformas virtuais. Suas palavras também destacam a importância de levar em consideração todos os envolvidos na criação de políticas públicas, e como essas duas abordagens são completamente diferentes, mesmo que atinjam o mesmo objetivo. Ou seja, eles não são intercambiáveis .

    Outro ponto excelente que muitas vezes é ignorado devido à falta de conhecimento é que uma segmentação deve ser feita no tipo de abordagem que deve ser adotada para os alunos, dependendo da idade, entre outros fatores. O educador não está mais limitado ao ensino, ele deve atuar como em apoiador e conselheiro; ser também capaz de detectar quando o aluno , no ensino virtual, está passando por alguma situação que não lhe permita continuar com seus estudos. Nesse momento, é vital que exista um esquema de apoio institucional.

    É um erro muito sério pensar que a educação virtual é apenas colocar todas as horas de uma discussão presencial de um professor em uma plataforma de conferência virtual.. Claramente, isso nos leva a questionar quantos esforços de

  • educação virtual estão apresentando resultados? Foi oferecido algum tipo de treinamento ou instruções aos professores sobre como transmitir sua mensagem aos alunos?

    De qualquer forma, o futuro tem um viés esperançoso, devido ao COVID-19, muitas pessoas em posições de autoridade em toda a América Latina perceberam que aquilo que há décadas escutam sobre a importância das redes de telecomunicações na promoção da educação é repleto de verdades.

    Fica a esperança de que quando terminarem de ler as palavras de Mg. Castelhanos, algumas de suas reflexões permaneçam gravadas na mente do leitor porque, como ela bem apontou: “O professor é um super-herói, eu digo a você que professores e profissionais de saúde são os que entraram de cabeça nessa crise, ao contrário de outras profissões. E por que eles são super-heróis? Porque tiveram que se reinventar, não é o mesma coisa ser inovador em uma classe presencial do que tentar implementar esses mesmos elementos de inovação em uma aula virtual

    .

  • Educação virtual em resposta

  • José F. Otero: Em sua experiência de trabalho com os governos da América Latina, considerando a abordagem variada que existe para o tema da educação e a incorporação de tecnologias da informação e da comunicação (TIC), como você vê a pandemia atual impactando todos os esforços que os governos têm para começar a digitalizar ou pelo menos expandir essa digitalização na educação?

    Martha Castellanos: Bem, acho que essa situação complexa nos mostrou o quanto é importante inovar o ensino presencial, que é o sistema educacional com maior números absolutos nos países da América Latina. Mesmo ao manter o modelo como estava, com as inovações em sala de aula implementadas pelo professor, alguns deles já estavam começando a discutir abordagens sobre como aumentar a atenção e motivar os alunos nessas novas dinâmicas. Acima de tudo, motivar-los a aprender.

    Essas opções virtuais já estavam assumindo uma posição importante na instituição em que estou trabalhando, [Fundación Universitaria del Área Andina]. Obtive uma experiência muito boa neste esforço, mas são duas modalidades diferentes: uma é a modalidade de treinamento virtual e a outra é a modalidade de treinamento presencial.

    Nesta conjuntura [do COVID19], o que estamos vendo é um esforço remoto, ou seja, tentamos preservar os elementos de contato pessoal. Não podemos nos ver, não podemos interagir, então fazemos upload (de aulas e materiais) e usamos as ferramentas para conseguirmos, de alguma forma, manter esse modelo. Muitas instituições tiveram que improvisar, muitas delas não conheciam essas ferramentas, o que as levou a pedir apoio de outras instituições.

    Por exemplo, no caso da Colômbia, o governo através do Ministério da Educação do Vice-Ministério do Ensino Superior, criou um plano de apadrinhamento. Esse plano consiste em indicar instituições que têm experiência no uso desses recursos, para que possam apoiar as universidades que não possuem. Então, podemos observar como se dá o apoio às instituições no ajuste das práticas de ensino com essas mídias; são usadas ferramentas como o Zoom, como

  • Reuniões, Meetings, Teams quaisquer ferramentas que possuam, para que possam continuar ministrando suas aulas.

    Gostaríamos de fazer uma ressalva e dizer que uma coisa é essa situação que todos estão passando, escolas, universidades, para realizar esse esforço e outra coisa muito diferente é contar com uma educação virtual.

    Você me pergunta sobre essa situação e possíveis reflexões sobre ela. Isso nos leva a fazer todas as reflexões do mundo, o que nos leva a dizer que o ensino presencial continua sendo importante. Quando pudermos voltar ao novo normal, ou seja, quando pudermos nos ver novamente, sem dúvida continuaremos a manter carreiras profissionais presenciais que não podem mudar, como por exemplo as carreiras relacionadas a saúde.

    Precisamos de um espaço físico para atender o paciente, onde são desenvolvidas às práticas hospitalares. Obviamente, tivemos que suspender esses tipos de práticas hospitalares hoje em dia e estamos levando, a esses meios, espaços teóricos e conceituais, como por exemplo, assistência à infância. Para que o cuidado infantil seja uma prática que tenha uma quantidade mínima de horas em clínicas especializadas. O que os professores estão fazendo é trazer essa teoria, trazendo novas práticas, trazendo elementos avançados para que o aluno possa fazer reflexões agora e para quando retornar à sala de aula, porque poderá exercitar as práticas necessárias.

    Então, sim, sem dúvida, isso nos traz um precedente, uma reflexão: vamos esperar que esse tipo de coisa aconteça para só então nos prepararmos? Isso não significa que agora toda atividade presencial tenha que se transformar em virtual.

    Minha indicação, José, com essa experiência que tivemos é que, com o presencial, haverá carreiras que seguirão como presenciais, mas que mesmo no presencial pode haver inovação. No presencial você pode trazer elementos virtuais ou remotos nos quais pode levar o professor a participar de fóruns, a realizar seminários on-line, mas com o sempre presente "Vejo vocês na próxima aula às cinco da tarde, por exemplo". Começo a inovar e começo a implementar essas

  • práticas para que, quando isso acontecer novamente (os especialistas vem dizendo que, infelizmente, aparentemente esse não será o único isolamento, teremos que intercalar entre o presencial e o virtual) as instituições estejam preparadas.

    Muitas instituições dizem "nos virtualizamos". No caso da minha instituição, não nos virtualizamos porque temos dois tipos de administração de empresas, dois tipos de psicologia, existem vários programas nos quais temos dois tipos. Temos administração de negócios virtual e administração de negócios presencial, os dois são completamente diferentes. Ambos são de qualidade, mas têm uma abordagem pedagógica muito diferente: a modalidade virtual tem menos horas porque é muito mais intensa, tem uma questão norteadora que convida o aluno a criar reflexões do começo ao fim, para ter elementos conceituais que após as reflexões os levem à prática. Além disso, esse tipo de modalidade virtual recompensa e leva o aluno a ter mais controle sobre sua aprendizagem; o professor ainda é essencial, sem o professor não podemos avançar. O professor é mais do que tudo, um guia no processo de aprendizagem, esse é um modelo virtual. Para este, José, virtualizamos cem por cento o conteúdo, temos práticas síncronas e assíncronas, fóruns, oficinas; no virtual (as oficinas) são chamadas de espaços de treinamento.

    Enquanto, que no presencial, temos o dobro de semanas: de um lado (virtual), são oito semanas, do outro (presencial), dezesseis semanas. Ministramos aulas como todos as conhecemos, aulas nas quais treinamos. O professor é o protagonista deste exercício, claro que, junto com o aluno, mas o professor dirige o aluno. O aluno, sem dúvida, tem uma participação importante, mas são duas configurações completamente diferentes. Então, neste momento, eu não poderia passar estudantes de uma modalidade para outra porque são completamente diferentes. Um pouco para ir resumindo antes da pergunta que você me fez, acho que o que está nos levando, neste momento, a analisar as

    “O professor é mais do que tudo, um guia no processo de aprendizagem, esse é um modelo virtual. Para este virtualizamos cem por cento o conteúdo,

    temos práticas síncronas e assíncronas, fóruns, oficinas; no virtual são chamadas de espaços de treinamento”

    Martha Castellanos

  • instituições de ensino superior [é identificar] quais programas podemos com certeza virtualizar, mas também quais programas devemos manter de forma presencial. Paradoxalmente, nem todos os alunos gostam do ensino

    presencial. E no presencial posso tirar proveito dessas ferramentas para desenvolver conteúdo alternativo, independente de haver pandemias ou não. Este é um elemento fundamental que a UNESCO vem pedindo há vinte anos.

    [A pandemia] nos surpreendeu, mas quando você se volta para as autoridades de cada setor, a UNESCO diz: onde estão os conteúdos digitais para os estudantes? Onde estão as práticas mediadas pelas tecnologias? Professores? Devemos ser treinados para o uso de novas tecnologias?

    A UNESCO não estava buscando a virtualização total do conteúdo, o que estava fazendo na verdade era um convite para entendermos as novas tecnologias, as novas gerações e que essas tecnologias poderiam ser uma ferramenta, não pensando em uma pandemia, mas pensando em uma alternativa onde o aprendizado do aluno possa ser muito mais significativo, porque alcançamos os alunos com ferramentas que são parte de seu cotidiano.

    JFO: Quando falo com pessoas de diferentes países sobre docentes e as experiências que os mesmos estão tendo elas vão desde rearranjar todo o material pedagógico para ministrá lo as crianças de uma forma diferente a sentá-las por oito horas em frente ao computador para começar a ditar todo o material como se estivesse em uma sala de aula. Por isso quero perguntar. Pensando nesses dois métodos pedagógicos, que aspectos da educação presencial devem ser destacados e quais aspectos destacar do ensino virtual?

    MC: Primeiro, antes de abordar sua pergunta, é importante fazer uma boa separação entre estudantes do ensino superior e estudantes de diferentes faixas etárias. Porque na educação básica, o que estamos vendo é uma complexidade completamente diferente em relação aos alunos do ensino médio e do ensino superior.

  • Os alunos do ensino fundamental precisam de algo, que neste momento desejo de todo o coração, que é a presença de um professor; são as crianças que precisam desse guia para aprender. Agora, há também uma oportunidade para nós, pais, gerar oportunidades de independência para eles, ou seja, [comunicar às crianças que] não posso ficar ao seu lado por três horas para fazer sua lição de casa porque a lição de casa é sua.

    Implantar esse aprendizado em uma criança do ensino fundamental e da pré-escola é difícil, mas esse é o trabalho que nós, como pais, temos no momento porque trabalhamos, precisamos estar cientes do almoço e de muitas situações complexas que nos levam a pelo menos dizer a eles, acompanho você fazer pelo menos três exercícios.

    Agora, para o ensino médio e superior, o trabalho é diferente. Não precisamos de supervisão, são estudantes que possuem outras habilidades. O grande problema é como eles resolvem seus problemas e isso se tornou como um bumerangue para as instituições, no ensino superior, porque, paradoxalmente, José, nós, como professores, estamos atendendo mais solicitações de alunos o que não ocorria antes no ensino presencial. Assim, no ensino remoto, nós professores, estamos gastando mais tempo atendendo os alunos do que com as aulas em si, isso é absolutamente paradoxal.

    Por quê? Porque, presencialmente, já se supunha que tínhamos um vínculo com eles e agora acontece que estamos experimentando um vínculo muito mais próximo por esses meios. Conclusão? O aluno pode ser da pré-escola, o aluno pode ser do ensino superior; o aluno precisa de supervisão, o aluno está nos exigindo sermos mais “presentes” de qualquer maneira.

    Não tanto ensino presencial, mas uma maior atenção a alunos do ensino médio e universitário. Agora, essas técnicas que estão nos ajudando ou as metodologias que estão nos ajudando muito, José, é a metodologia reversa.

    “O aluno pode ser da pré-escola, o aluno pode

    ser do ensino superior; o aluno precisa de supervisão, o aluno está nos exigindo sermos mais “presentes” de

    qualquer maneira”

    Martha Castellanos

  • Existem amplas possibilidades de se inovar no ensino superior, mas estamos vendo que, no ensino superior, quando temos esse modelo chamado de metodologia reversa. Por exemplo vamos dizer que teremos uma aula de taxonomia, na próxima aula, eu, como professor, deixo o material para

    você estudar, você o estuda previamente de tal maneira que, quando chegar à aula, sem dúvida também (como professora) faria uma introdução sobre a taxonomia, mas você já traz alguns conceitos prontos, algumas dúvidas e algumas perguntas que podemos compartilhar em conjunto.

    O objetivo a ser alcançado com a metodologia reversa, é que o tempo do professor e do aluno seja melhor aproveitado. Esse é um ponto muito interessante que vemos nas metodologias que estão nos servindo. Outro ponto que está nos servindo muito, que não se aplica necessariamente a essa metodologia remota, mas a todos os tipos de aprendizado, é ser capaz de levar aos alunos o conceito com elementos práticos de sua vida cotidiana.

    O que está acontecendo ao nosso redor? Por exemplo, deixamos a leitura de um determinado elemento de aprendizagem para que possamos ver o que significa ética, por exemplo, e depois como professores, levamos o aluno a fazer uma oficina ou um ensaio no qual ele pode relacionar os conceitos de ética versus o que é a ética hoje neste tipo de meio, que elementos antiéticos você vê nos líderes, colegas, em sua própria casa. Então ele começa a relacionar elementos que às vezes são muito amplos na teoria e começa a relacioná-los de alguma forma com elementos práticos. José, é muito poderoso, porque vimos que isso já foi estudado extensivamente.

    Piaget falou bastante, Vygotsky mencionou isso em muitas ocasiões, a capacidade que você tem de gerar uma correlação entre um conceito com ações mais amplas. Esses elementos, temos observado que estão nos trazendo muitos aprendizados interessantes.

    Outro ponto que está nos sendo de grande valia é a capacidade de gerar desafios, o modelo usado pela Apple a época, aprendendo desafios para resolver problemas. Então, resolveremos um problema que acontece hoje em dia com os alunos que, por exemplo, não têm recursos para se

  • alimentar na universidade ou o problema que alguns alunos têm de não ter onde deixar seus filhos enquanto frequentam as aulas. Como resolvemos esses problemas? Isso se torna um desafio e a solução desse desafio não é resolvida por um psicólogo, é resolvida por um grupo interdisciplinar entre psicólogos, terapeutas, advogados, engenheiros, etc.

    Quando você coloca um desafio comum, possui múltiplas visões distintas e interpretações que podem gerar uma solução poderosa. Temos visto isto com alguns destes elementos, todos que quiser. Existem muitas metodologias e abordagens, mas essas três são as que eu gostaria de destacar para não tomar mais tempo, nós as identificamos como muito poderosas, implementamos em algumas aulas presenciais, em algumas classes virtuais e agora nas classes remotas que temos gerado, digamos, um impacto muito grande.

  • Desafios Digitais para Professores

  • JFO: Falemos sobre as diferentes categorias de estudantes. Como o professor está sendo impactado?

    MC: O professor é um super-herói, eu digo a você que professores e profissionais de saúde são os que entraram de cabeça nessa crise, ao contrário de outras profissões. E por que eles são super-heróis? Porque tiveram que se reinventar, não é o mesma coisa ser inovador em uma classe presencial do que tentar implementar esses mesmos elementos de inovação em uma aula virtual.

    Descrevo experiências-chave: enquanto no ensino presencial, usar um [jogo de aprendizado], como o Kahoot pode ser maravilhoso, no remoto talvez não seja. Quando no presencial você usou um vídeo que levou aos alunos a perguntarem coisas interessantes, adquirir informações valiosas, no modelo remoto não é. Por quê? Como as redes estão saturadas, todo mundo está usando a Internet, o vídeo não roda nessas ferramentas.

    São ótimas ferramentas, mas quando você começa a usar elementos diferentes, elas começam a gerar complicações na largura de banda. Então o que acontece? Os alunos não conseguem assistir os vídeos.

    [Enquanto isso os professores utilizaram vídeos] na primeira ou na segunda classe [antes] de descobrir essas limitações, por se tratar de um aprendizado empírico, ninguém lhes disse "professor, eu recomendo que você não use vídeos". Não, todo mundo foi para instituições com o intuito de "vamos capacitar o professor para usar as ferramentas". A parte técnica não levou em consideração que o professor, além de passar uma apresentação, tinha uma reunião acontecendo ao mesmo tempo, também usaria vídeos, Kahoot e outras ferramentas.

    Quando o professor começou a usar esses recursos para ministrar suas aulas, as aulas pararam e o que o professor disse? "Um momento, eu tenho que alterar minhas ferramentas." O mesmo vídeo que eu usei nas outras aulas não funciona mais para esse método, porque aqui nem todos os alunos têm a largura de banda necessária. Em seguida, o professor teve que repensar e procurar novos mecanismos para aumentar o engajamento do aluno.

  • Primeiro, ele teve que reformular todas as suas aulas, as quais, sem dúvida, vem atualizando semestre a semestre, incluindo recursos diferentes, mas ele já tinha, digamos, uma conceituação básica e precisava alterá-la de acordo com a ferramenta. Segundo: o professor está trabalhando muito mais porque teve que mudar de classe, mas também enfrenta uma situação em que os alunos podem não ter o retorno da Internet que ele pode ter, nem todos compartilham a mesma largura de banda. Isso significa que o professor precisa seguir um ritmo diferente, o professor precisa entender que, se o aluno não conseguiu se conectar, não pode culpá-lo. Isso não é comum em todas as universidades, depende da autonomia dada pela instituição.

    No nosso caso, como vou fazer o aluno interagir e aprender? Bem, primeiro eu tenho que deixar uma aula gravada, o que no ensino presencial nunca foi necessário. Então agora você deve ter uma aula gravada, tem que entender que o aluno não tem os meios tecnológicos necessários, outro ponto importante: os professores tiveram que passar muito mais tempo tentando entender o que está acontecendo com o aluno, tem que ter a ciência que o estado de ânimo do aluno é uma constante tanto no ensino presencial quanto no virtual.

    Existem alguns estudantes que, embora já tenham estudado de maneira virtual, não vivem de maneira virtual. Eles saíam, tinham seu trabalho, suas famílias e agora de repente tudo é virtual. Muitos estão enfrentando situações complexas de depressão. Felizmente, temos um escritório de bem-estar que sempre os monitora, mas é uma realidade. Então agora nossos professores precisam passar pelo menos 15 minutos da aula perguntando um por um: Como você está? O que está acontecendo em sua casa? Você perdeu o emprego? O que está acontecendo com você?

    Essa abordagem que o professor está adotando, de deixar de ser professor e ter um acompanhamento adicional dos alunos é completamente novo. Uma coisa é um professor preocupado: "Olá, como vai, vejo que você está atrasado hoje", o que é muito diferente fazer o mesmo aluno por aluno. Estamos monitorando o humor dos alunos.

  • Às vezes, os alunos nos dizem “professor, eu não consegui me conectar”. Ligam para o professor tarde da noite, tenho testemunhos muito valiosos de professores que disseram “eu não atendo o telefone tarde” agora eles dizem “o aluno me liga uma da manhã” e eu respondo porque sei que ele tem dúvidas e estou preocupado com o estado de espírito dele.

    O professor teve que triplicar, mudar seus caminhos e sua didática nos espaços de treinamento e eles estão se tornando super-heróis, hoje eles acompanham tudo, até para determinar quais alunos não têm acesso a Internet, imagine um professor que depende de você ter (acesso a) internet ou não. Hoje o professor me diz "Marta, X número de alunos não tem internet". Imediatamente a universidade tem os recursos para dar um subsídio de Internet aos estudantes.

    “Muitos estudantes têm um computador danificado”, o papel do professor já é diferente, ele não apenas é a pessoa que ensina ou acompanha, mas também se tornou um confidente dos alunos. Isso para uma instituição como a nossa que tem 35.000 estudantes, é uma dimensão muito grande, é claro que nem todos os 35.000 estão no ensino presencial porque temos 12.000 virtuais, mas é um esforço muito grande, de muito mérito e somos absolutamente gratos aos professores.

    “O professor teve que triplicar, mudar seus caminhos e sua didática nos espaços de treinamento e eles estão se tornando super-

    heróis, hoje eles acompanham tudo, até para determinar quais alunos não têm acesso a Internet, imagine um

    professor que depende de você ter (acesso a) internet ou não”.

    Martha Castellanos

  • Setor, Regulação e Programas Nacionais

  • JFO: Como as plataformas de comunicação e as empresas que precisam se manter estão operando durante toda essa crise? Porque eu entendo que, por um lado, nem todas as instituições têm a facilidade de implementar ensino virtual, por exemplo, eu estava conversando com a Universidad del Cauca e, obviamente, todos os estudantes de engenharia poderiam acessar facilmente os cursos virtuais, mas para aqueles de outras faculdades era um mundo completamente diferente. Por outro lado, em áreas remotas, eles me disseram: "Olha, eu não posso ministrar cursos virtuais porque são áreas muito pobres e não têm computador, e o que aconteceu foi que recebi uma carta dizendo: "Nessa data, você para de cobrar (mensalidade)". " Que faço?"

    MC: É muito complexo. As empresas de telecomunicações foram, de acordo com a The Economist, as grandes protagonistas deste esforço. Na Colômbia, há uma delas que está dando subsídios importantes para a internet, especialmente para faixas da população com mais necessidade e há desafios. Por exemplo, quando você ministra aulas por esses meios, você pode estar sujeito te ter as mesmas hackeadas.

    Imagine se eu sou um professor que aprendeu a usar as ferramentas recentemente e finalmente estou ministrando minha aula com os alunos e, de repente, começam a exibir pornografia ... é muito complicado. Portanto, há um desafio relacionado a segurança nesse tipo de mídia. As condições em áreas remotas de nossos países latino-americanos que não têm acesso à Internet são um grande desafio para os Ministérios da Educação.

    Acima de tudo, porque essa liderança geralmente é assumida pelos Ministérios de Tecnologia. Muitas vezes quanto o convite de trabalhar em conjunto era feito, o convite era respondido sem muito afinco. Hoje acho que podemos tirar muitas conclusões sobre isso.

    Além do computador, do tablet ou do dispositivo em si, houve um esforço importante para a criação de alguns programas, alguns governos criaram e outros não. Além da internet, do computador e de tudo isso, havia (o foco na) formação de professores.

  • Tenho professores que, na presença de alguns alunos que não conseguem se conectar, estão ministrando perfeitamente suas aulas com meios alternativos. Eles montam oficinas, se comunicam via WhatsApp, porque estão procurando aprender além da classe. É aí que precisamos começar a desmembrar o modelo. O que eu estou procurando? Que os estudantes cumpram suas tarefas, que sejam capacitados? Como eu faço isso? No modelo tradicional, isso é feito através de um modelo presencial, de uma classe; no modelo virtual, eu o crio através de um espaço de treinamento, mas se eu não tiver nenhum dos dois, o que devo fazer?

    Bem, é aí que entra o professor que começa a pensar: o que eu faço para alcançar o aluno? Parece fácil, mas é muito difícil quando nem o professor tem um computador ou conexão à Internet, muito menos o aluno, por isso o modelo é muito complexo e é por isso que muita coisa acontece no ensino básico, no ensino superior está acontecendo, você mencionou a Universidade de Cauca e as universidades públicas [colombianas] estão enfrentando um desafio gigantesco por terem estudantes que moram em diferentes regiões do país e o estudante pode ter o computador ou o tablet, mas a área em que vivem não (possui conexão). É daí que surge uma ótima pergunta para o modelo: o que podemos fazer?

    Acredito particularmente que, no momento, estamos tentando levar da melhor maneira possível essa situação imposta, mas no próximo semestre teremos que repensar os modelos de educação que estarão disponíveis em todas as instituições de ensino, tanto na pré-escola quanto na educação básica, primária, secundária e superior. Porque não podemos dizer "Como não havia internet, o aluno perdeu o semestre, a criança perdeu o ano, não conseguimos realizar os objetivos básicos de aprendizagem ”. Não.

    Do ponto de vista da Pedagogia, a rigor, deve haver outros caminhos para alcançar esse aluno. Se as portas estão fechadas para mim, se me limito porque não tenho Internet, não tenho computador, por isso devemos nos voltar para um modelo muito mais condizente, sobretudo para as realidades latino-americanas. Qual é esse modelo? Bem, estamos

  • trabalhando com muitas instituições, na [Fundação Universitária da Área Andina] estamos trabalhando em um modelo que terá um esquema híbrido para apoiar esses exercícios, mas no ensino básico e secundário o exercício é muito mais complexo, não é uma situação mais fácil como as pré-escolares, escolas e instituições de ensino e bacharelado estão enfrentando.

    JFO: Quando observo o desenvolvimento da educação virtual em países como os EUA, percebo que alguns estados dizem "você precisa se formar com um número X de cursos virtuais", mas sempre oferecem um curso virtual para que a criança ou o adulto se acostume. Sei que você está me dando um ponto de vista pessoal, o que está fazendo e o que vê ao seu redor no âmbito colombiano, além do fato de estar envolvida nesta categoria há muito tempo. No entanto, qual é sua percepção no restante da América Latina? Que outros esforços você está vendo que estão sendo desempenhados? Onde podemos observar desafios e oportunidades de uma maneira mais clara do que na Colômbia?

    MC: Eu acho que O Uruguai é um exemplo muito interessante porquê tem praticamente cem por cento dos seus estudantes com algum dispositivo conectado há muito tempo, creio que vale a pena observar o que está ocorrendo no Plano Ceibal, como esta informação está sendo passada.

    Poderíamos constatar que, como todos estão conectados, os professores estão treinados, os pais já conhecem esse mecanismo, porque também há um desafio para eles entenderem toda essa dinâmica; podemos constatar que o modelo no Uruguai está se tornando de alguma maneira muito mais estruturado e com muito mais escopo e impacto. Acho que o Uruguai é um modelo muito valioso a ser observado.

    Também vale a pena examinar o caso chileno e perceber que uma importante mediação está sendo feita em relação à tecnologia e que também foram alcançados avanços importantes. Mas em todos os modelos há uma grande

    “O Uruguai é um exemplo muito

    interessante porquê tem praticamente cem por cento dos seus estudantes com algum dispositivo conectado há

    muito tempo, creio que vale a pena observar o que está ocorrendo no Plano Ceibal, como esta informação está sendo passada...”

    Martha Castellanos

  • questão: como daremos continuidade a isso? porque a conjuntura é uma coisa e a aposta é outra. [Desta vez], o semestre decorreu dessa forma até o término do ano letivo , seguimos o calendário americano, o que vai acontecer? O que acontecerá a seguir?

    Entre os modelos que são muito valiosos, gostaria de destacar esses dois: o uruguaio e o chileno, que me parecem modelos valiosos; inclusive o modelo argentino, mas existem muitas perguntas de qualquer maneira, como vamos avançar? Esse é o modelo certo? Você tem que olhar para uma conjuntura que é muito complexa de se resolver, ou seja, estou realmente alcançando a qualidade na educação através desse modelo? A qualidade depende principalmente dos objetivos de aprendizado que você possuía. Então, nós estamos fazendo isso? sim ou não? Como estamos progredindo nesse esforço?

    JFO: Você mencionou o caso argentino e o uruguaio. No caso argentino, como você vê a existência de projetos que têm um dia, uma data de início e uma data de término, como aconteceu com o Conectar Igualdad? No caso uruguaio, não sei se você teve a oportunidade de rever quais foram os resultados daquela primeira geração de 2007, iniciada com os Ceibalitas que já chegaram à universidade?

    MC: Não vi os resultados dos estudantes do programa posteriormente, na universidade, o que pude constatar é que pelo menos na educação básica eles estão se saindo bem e na educação superior o esforço está fluindo de forma ampla. Eu não poderia lhe dizer "essa geração Ceibalite, isso não" porque, como você disse desde 2007, tem um amplo espectro de beneficiários, mas o que pode ser constatado é que, no Uruguai, tiveram um bom desempenho.

    Como em todos os modelos, existem detratores. Alguém diz que "não é a mesma coisa o computador comparado com o professor que vou ver daqui a duas horas; não é a mesma coisa ter a oportunidade de me comunicar com meus colegas de classe do que fazer um trabalho através deste meio. É por isso que sempre haverá alguém que é contra e quem será a favor, mas você vê que esse modelo está particularmente tendo um bom desempenho, mas além do aparato, porque aqui a coisa mais importante na minha

  • opinião não é a dispositivo, mas o que você disse anteriormente que é "você teve tempo para gerar uma interação do aluno com o professor por esses meios".

    Portanto, são professores que, apesar de terem uma prática no ensino presencial, realizaram exercícios dessa maneira. Não sei se com essas ferramentas ou com outras pessoas, mas tiveram essa oportunidade. São alunos que desenvolvem tarefas e realizam exercícios em grupo para esta modalidade. São pais que sabem que através desses elementos os alunos podem aprender. Então, digamos que você já tenha um ecossistema armado, você já sabe quando as peças de repente não estão encaixadas corretamente.

    Ninguém sabia que isso iria acontecer, mas quando chega a hora de se enquadrar nessa situação, os andaimes professor-aluno-pai tem todo o sentido. [Então] você vê que no Uruguai está ocorrendo um esforço muito valioso, principalmente por causa da formação de professores, da formação que o aluno teve e também do conhecimento dos pais. Agora, quão fluido é o exercício? Certamente haverá pessoas que dirão que sim, outras que não e você pode ver isso nas notícias. O que diz "meu computador quebrou e não tenho como trabalhar no momento" não está faltando, o que diz "eu não estava acostumado a passar tantas horas no computador" como em todos os modelos do mundo, mas nesse local já havia o modelo diferente e já havia um exercício de sobreposição de peças, pelo menos.

    JFO: Como você enxerga os governos reagirem em termos de "vamos digitalizar a educação"? Eu sei que na América Latina há dez, quinze anos atrás; apenas um terço dos governos incluiu a educação em seus planos de conectividade, felizmente isso mudou, mas depois, do texto nos projetos de conectividade e dos textos das leis como se transpuseram para a realidade, como você viu essa transformação, essa iniciativa ? Por outro lado, você mencionou anteriormente que na Colômbia havia uma comunicação entre o Ministério de Tecnologia da Informação e Comunicações (MINTIC) e o Ministério da Educação. Levando em conta que é um dos poucos países que possui um vice-ministério de transformação digital para facilitar esse tipo de conversa. Então, se o progresso é lento na

  • Colômbia, o que podemos esperar do resto da região, onde nem sequer temos uma entidade encarregada, para que todos os ministérios, todas as secretarias, todas as agências possam conversar entre si de maneira coordenada? Como levar uma estratégia digital para os diferentes segmentos, como a educação?

    MC: Primeiro, acho que todos os governos, bem, não posso generalizar dizendo "todos os governos", mas a grande maioria dos governos da América Latina a época disseram "precisamos envolver elementos de tecnologia na educação" também porque a UNESCO vem dizendo isso há muitos anos.

    Agora, o grande problema: se você olhar para a regulamentação existente nos diferentes países, encontrará uma resolução, um decreto, que convida instituições educacionais, da pré-escola à educação superior, que convida a fazer um uso criterioso das tecnologias nas salas de aula, de treinar professores nesse tipo de tecnologia.

    Eu acredito que o problema, hoje em dia, e isso tenho defendido há um mês, é dizer que alguns (ministérios) ficaram inteligentes (com a pandemia), e não eram. Que foi colocado como um "é bom ter", como é bom tê-lo, como é bom implementá-lo, mas não foi visto como uma questão urgente, necessária e imediata.

    Nenhum ministério poderia fazer isso, porque nenhum ministério pensava nisso. Seria injusto para com os ministérios da América Latina dizer que eles não tinham visão, ninguém a tinha. Eles tinham as previsões, disseram "faça isso, faça aquilo".

    As mesmas instituições, por sua vez, que são as beneficiárias dessa regulação, disseram "pronto, vamos começar", mas começaram aos poucos e muitas tiveram suas salas de informática, muitas treinaram seus alunos, professores, muitas até implementaram exercícios disruptivos, mas isso que aconteceu , um abalo sísmico muito forte, nos levou a uma transformação, não é mais "é legal ter", mas é obrigatório ter esse tipo de dimensões.

    Digamos que eu ache que os ministérios fizeram um bom trabalho, o que acontece é que eles encararam isso como uma boa prática, ninguém nunca pensou que era

  • absolutamente necessário passar por esse tipo de transformação. E ela chegou até nós, chegou a todos nós, incluindo as instituições de ensino superior que tivemos que assumir. Quando você analisa a legislação no caso colombiano, permitimos instituições de ensino superior presencial que tenham, em geral, pelo menos 20% das aulas apoiadas por recursos tecnológicos. Isto está no quadro das grandes instituições de ensino superior, agora a questão principal é: Nós tínhamos? E estávamos executando como uma boa prática?

    No caso da [Fundação Universitária da Área Andina], já temos porque somos uma instituição muito inovadora; há dois anos temos um documento chamado "Orientações Acadêmicas", no qual dizemos aos professores que em seus planos de estudo é preciso envolver tecnologia e também usar uma sala de inovação e também fazer X coisas, fóruns, oficinas por meios tecnológicos." É por isso que muitos professores foram capazes de dar esse salto a frente de outros professores, porque eles já tinham experiência.

    Agora, uma coisa é ter 20% de sua matéria nessas metodologias e outra é ter 100% dela; são dois esquemas completamente diferentes. Portanto, se as disposições sabiam, o que acontece é que a mensagem dita não existia e não existia porque ninguém sabia o que ia acontecer. Agora, acredito que haverá um antes e um depois desse exercício [forçado pela pandemia], acho que os ministérios da educação levarão em conta que essa liderança deva ser deles e não dos ministérios da tecnologia, que os professores precisam ser treinados para isso, mas também tenham prática nesse modelo, não apenas "eu fiz um curso, um seminário", mas sim como você está transformando a sala de aula com isso.

    Levar o aluno também a usar essas ferramentas, porque há também uma grande pergunta: os alunos estão nas redes sociais, mas quando é hora de estudar por esses meios, as coisas mudam. Qual é a famosa digitalização que estamos

    “os ministérios fizeram um bom trabalho, o que

    acontece é que eles encararam isso como uma boa prática, ninguém nunca pensou que era absolutamente necessário passar por esse tipo de transformação .

    Martha Castellanos

  • vendo em nossos alunos? É uma digitalização leve, limitada às redes sociais ou também é uma digitalização que está levando a uma formação?

    E aqui está um ponto, de alguns especialistas dos países nórdicos. Este é um estudo antigo, de meados de 2010, porque agora, com mais de um mês, está ultrapassado. Neste estudo, é feita uma revisão da realidade nos países nórdicos das empresas com alto desempenho pelo uso de ferramentas tecnológicas e com baixo desempenho e perceberam que é muito semelhante porque foi possível mostrar que ambas as empresas que possuem um bom desenvolvimento financeiro, como pessoas de alta renda, estão usando a internet e as redes para aprender melhor, ter melhores redes de conhecimento, ter melhores clientes no caso de empresas, reduzir custos, aprender, ter melhores relações institucionais, para conseguir trabalhar por esses meios.

    [Isso] que não estava acontecendo em outros segmentos, eles estavam apenas usando essas ferramentas para conversar ou enviar e-mails. E é aí onde está o debate: como as tecnologias utilizadas como uma forma de agregar valor e com finalidade de treinamento no caso de instituições de ensino realmente têm impacto? Não é a internet pela internet ou o tablet pelo tablet, mas o uso que está sendo feito. Há uma grande pergunta e uma grande reflexão para todas as instituições sobre o que vamos fazer com esses esforços.

    JFO: Alguma palavra final, algo que você queira destacar?

    MC: Só te agradecer. Disse que isso [COVID-19] mudou nossas vidas e está paradoxalmente nos levando a ser mais pessoas, mais humanos. Porque, embora estejamos usando essas tecnologias, agora estamos mais interessados no desempenho do amigo, como está minha família, o aluno, como meu professor está, o que somos como comunidade.

    Em outras palavras, estamos valorizando coisas intangíveis que existiam anteriormente, que antes considerávamos como certas apenas por causa do ensino presencial. Então, a primeira coisa é que essas mídias, em minha opinião, estão nos levando a uma humanização mais profunda do que o que existia quando estávamos no modelo presencial porque consideramos muitos elementos como já garantidos. Dois:

  • está nos levando a entender que a dinâmica educacional deve se concentrar em capacitar o aluno como sujeito e força motriz do conhecimento.

    Ou seja, o aluno não pode ser um receptor, ele deve ser um protagonista em seu processo de aprendizagem e, digamos, que sempre esteve presente, há muitos autores que dizem a mesma coisa há muito tempo, mas acho que este é o momento que nos demos conta que hoje, mais do que nunca, sabemos que os professores são importantes.

    Já nos outros momentos em que conversamos e eu trabalhava na educação básica, pensava-se que o professor seria substituído, eu sempre estava convencida de que o professor não poderia ser substituído. Você pode ter conteúdo, largura de banda, supercomputador, mas precisa de um orientador do conhecimento. É completamente distorcido, na minha opinião, e muitas pessoas podem ser contra o que vou dizer, o conceito de nativo digital, é distorcido. Não é verdade que o nativo digital exista.

    JFO: Para mim, o conceito de nativo digital foi uma mentira que acabou causando muitos danos.

    MC: É uma falácia total, não existe, o nativo digital não existe. É como dizer que você e eu nascemos não lendo mais nada porque nascemos depois da impressora. Então, é uma mentira que existam nativos digitais e hoje podemos comprovar. Hoje, vemos adolescentes que sabem como acessar o Instagram ou o Tiktok, mas acham muito difícil assistir a uma aula on-line, responder e participar ativamente da aula. Portanto, um dos pontos mais importantes é que esse conceito de nativo digital seja destruído e o conceito de educador se torne ainda mais importante.

    “Pode ter conteúdo, largura de banda, supercomputador, mas precisa de um orientador do conhecimento. É completamente distorcido, na minha opinião, e muitas

    pessoas podem ser contra o que vou dizer, o conceito de nativo digital, é distorcido. Não é verdade que o nativo digital exista¨.

    Martha Castellanos

  • Reflexões

    - Durante a crise do COVID-19, o objetivo definido foi preservar os elementos do ensino presencial. Isso levou muitas instituições a improvisar, pois não conheciam essas ferramentas e foram forçadas a usá-las. Há uma grande diferença entre adotar e de fato possuir um método de educação virtual.

    - Antes da pandemia, a UNESCO já alertava sobre a necessidade de se entender as novas tecnologias, as novas gerações e como essas tecnologias poderiam ser utilizadas como ferramentas. Foram apresentadas como alternativas na qual o aprendizado dos alunos poderia ser muito mais significativo.

    - Na situação atual de uma pandemia, são os professores e os profissionais de saúde que entraram de cabeça. Porque eles tiveram que se reinventar. Ser inovador em uma classe presencial não é o mesmo que implementar esses mesmos elementos de inovação em uma classe virtual.

    - As empresas de telecomunicações têm sido os principais protagonistas desse exercício de virtualização da educação, trazendo conectividade e facilitando o acesso com planos mais acessíveis.

    - Além do dispositivo de acesso, é necessária a realização de um trabalho anterior importante por parte dos governos, alguns fizeram e outros não. Mais importante que o fornecimento da internet e da disponibilidade de dispositivos, é a formação do docente.

  • - O modelo utilizado pelo Plano Ceibal no Uruguai está sendo implementado de maneira muito mais estruturada e com muito mais abrangência e impacto. É um modelo muito valioso a ser observado.

    - As regulamentações existentes nos diferentes países incluem resoluções, decretos, iniciativas que convidam as instituições educacionais a fazer um uso criterioso das tecnologias nas salas de aula ou a treinar professores na utilização desse tipo de tecnologia.

    - O nativo digital não existe. É como dizer que quem nasceu depois da prensa, nasceu sabendo ler. Os nativos digitais são uma mentira, há adolescentes que sabem como entrar no Instagram ou no Tiktok, mas é muito difícil para eles assistirem uma aula on-line, onde sejam capazes de responder e participar ativamente da aula..

  • Participantes

    Martha Castellanos é Vice-Reitora Acadêmica da Fundación Universitaria del Área Andina (Fundação Universitária da Região Andina). Consultora especialista em TIC e educação para o desenvolvimento, foi gerente da Computadores para Educar, coordenadora da Virtual Educa Colombia e da Aprende Virtual, além de Gerente del Plan Nacional Decenal de Educación (Gerente do Plano Decenal Nacional de Educação) 2016-2026.

    Economista da Universidad del Rosario, especialista em Evaluación Social de Proyectos (Avaliação Social de Projetos) pela Universidad de los Andes, especialista em Ambientes Virtuais de Aprendizagem pelo Instituto Virtual Educa de Formação de Professores, Mestre em Gerenciamento de Telecomunicações, Strathclyde (Escócia) e doutorando em Educação com concentração em Tecnologia Educacional e Educação a Distância pela Nova Southeastern University (Miami).

    José F. Otero é vice-presidente da 5G Americas para América Latina e para o Caribe, cargo no qual promove o desenvolvimento e a adoção da banda larga sem fio e tecnologias na região. Otero tem mais de 25 anos de experiencia no setor das telecomunicações, dos quais atuou por cerca de 20 anos como consultor em mais de 100 projetos de pesquisa para entidades como a Casa Branca, o Banco Mundial, e Banco Interamericano de Desenvolvimento. É autor de diversos estudos sobre a indústria das telecomunicações na região da América Latina e do Caribe.

    Otero estudou em várias universidades, incluindo estudos sobre a América Latina na Universidade de Boston (USA), Segurança internacional na Universidade de Leicester (Inglaterra), Direito na Tecnologia da Informação na Universidade de Edimburgo (Escócia),

  • Gerenciamento na Tecnologia pela Universidade de Georgetown (USA), Literatura Espanhola e da América Latina pela Universidade de Barcelona e Inovação Social na Universidade de Cambridge (Inglaterra).

    Nasceu em Porto Rico e pode se comunicar em Inglês, Espanhol e Português. No passado, viveu e trabalhou em alguns países da região, incluindo Argentina, Brasil, Colômbia, México e Uruguai, atualmente reside nos Estados Unidos.

  • Sobre o Brecha Zero O BrechaZero.com.br é o blog da 5G Americas e irá abordar as tecnologias da informação e comunicações (TICs), principalmente, as redes de banda larga sem fio, e seus impactos para o desenvolvimento em diferentes âmbitos para a sociedade, como saúde, educação, inclusão social, trabalho, igualdade de gêneros e outros. O propósito do BrechaZero.com.br é informar sobre as diferentes iniciativas, serviços, tendências, histórias e a utilização de tecnologia aplicada para a superação de exclusões de toda índole, especialmente de caráter social e econômico, e para a melhora na qualidade de vida das populações.

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