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DINÂMICA SOCIOESPACIAL EM ZONA DE EXPANSÃO URBANA. OS IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DE NOVOS EMPREENDIMENTOS NA ÁREA AO ENTORNO DA AVENIDA SILVIO BASTOS TAVARES EM CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ NATÁLIA GUIMARÃES MOTHÉ UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ DEZEMBRO 2011 DINÂMICA SOCIOESPACIAL EM ZONA DE EXPANSÃO URBANA. OS IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DE NOVOS EMPREENDIMENTOS NA ÁREA AO ENTORNO DA AVENIDA SILVIO BASTOS TAVARES EM CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ NATÁLIA GUIMARÃES MOTHÉ Dissertação apresentada ao Centro de Ciências do Homem da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Políticas Sociais Orientadora: Prof a . Dr a . Teresa de Jesus Peixoto Faria CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ DEZEMBRO 2011 DINÂMICA SOCIOESPACIAL EM ZONA DE EXPANSÃO URBANA. OS IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DE NOVOS EMPREENDIMENTOS NA ÁREA AO ENTORNO DA AVENIDA SILVIO BASTOS TAVARES EM CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ NATÁLIA GUIMARÃES MOTHÉ Dissertação apresentada ao Centro de Ciências do Homem da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Políticas Sociais Aprovada em 20 de Dezembro de 2011. Comissão Examinadora: _____________________________________________________________ Prof°. Luiz de Pinedo Quinto Junior (Doutor em Arquitetura e Urbanismo) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense Campus Campos-Centro _____________________________________________________________ Prof°. Geraldo Márcio Timóteo (Doutor em Sociologia) Universidade Estadual do Norte Fluminense - Darcy Ribeiro. _____________________________________________________________ Prof°. Marcos Antonio Pedlowski (Doutor em Planejamento Regional) Universidade Estadual do Norte Fluminense - Darcy Ribeiro. _____________________________________________________________ Prof a . Teresa de Jesus Peixoto Faria (Doutora em Estudos Urbanos) Universidade Estadual do Norte Fluminense - Darcy Ribeiro. Orientadora Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado força tanto nos momentos de desespero quanto nos de felicidade. Ao meus familiares por estarem presentes em todos os momentos em mais essa etapa em minha vida; sempre me aconselhando e me acalmando nos momentos difíceis. Ao meu marido, Gustavo da Silva Maciel, que sempre me apoiou e compreendeu, com paciência, todos os momentos em que estava distante, ocupada, preocupada e, principalmente, estressada. A minha orientadora, Teresa de Jesus Peixoto Faria, que além de orientadora, se tornou uma grande amiga e conselheira; sempre atenciosa e paciente. As queridas amigas que fiz durante o mestrado, Maria Alice Pohlmann e Gisele da Silva Gonçalves, me apoiando, trocando experiências e aconselhando sobre assuntos relacionados ao mestrado e a própria vida pessoal. A minha amiga de muito tempo Giselle Pessanha, que sempre me deu força, se preocupando quando eu estava mal e tentando me ajudar de alguma forma. Ao professor Marcos Pedlowski, que mesmo do seu jeito, se mostrou o professor mais sincero e preocupado com nós mestrandos em Políticas Sociais. Além da conquista de mais um título, neste período pude ver o quanto nós podemos ser fortes, mesmo nos momentos de adversidade e que ainda existem pessoas dispostas e nos ajudar mesmo sem receber nada em troca. Obrigada a todos!

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DINÂMICA SOCIOESPACIAL EM ZONA DE EXPANSÃO URBANA. OS IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DE NOVOS EMPREENDIMENTOS

NA ÁREA AO ENTORNO DA AVENIDA SILVIO BASTOS TAVARES EM CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ

NATÁLIA GUIMARÃES MOTHÉ

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE – UENF

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ DEZEMBRO – 2011

DINÂMICA SOCIOESPACIAL EM ZONA DE EXPANSÃO URBANA. OS IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DE NOVOS EMPREENDIMENTOS

NA ÁREA AO ENTORNO DA AVENIDA SILVIO BASTOS TAVARES EM CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ

NATÁLIA GUIMARÃES MOTHÉ

Dissertação apresentada ao Centro de Ciências do Homem da Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Políticas Sociais

Orientadora: Profa. Dra. Teresa de Jesus Peixoto Faria

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ DEZEMBRO – 2011

DINÂMICA SOCIOESPACIAL EM ZONA DE EXPANSÃO URBANA. OS IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DE NOVOS EMPREENDIMENTOS

NA ÁREA AO ENTORNO DA AVENIDA SILVIO BASTOS TAVARES EM CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ

NATÁLIA GUIMARÃES MOTHÉ

Dissertação apresentada ao Centro de Ciências do Homem da Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Políticas Sociais

Aprovada em 20 de Dezembro de 2011. Comissão Examinadora: _____________________________________________________________ Prof°. Luiz de Pinedo Quinto Junior (Doutor em Arquitetura e Urbanismo) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense Campus Campos-Centro _____________________________________________________________ Prof°. Geraldo Márcio Timóteo (Doutor em Sociologia) Universidade Estadual do Norte Fluminense - Darcy Ribeiro. _____________________________________________________________ Prof°. Marcos Antonio Pedlowski (Doutor em Planejamento Regional) Universidade Estadual do Norte Fluminense - Darcy Ribeiro. _____________________________________________________________ Profa. Teresa de Jesus Peixoto Faria (Doutora em Estudos Urbanos) Universidade Estadual do Norte Fluminense - Darcy Ribeiro. Orientadora

Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado força tanto nos momentos de desespero quanto nos de felicidade. Ao meus familiares por estarem presentes em todos os momentos em mais essa etapa em minha vida; sempre me aconselhando e me acalmando nos momentos difíceis. Ao meu marido, Gustavo da Silva Maciel, que sempre me apoiou e compreendeu, com paciência, todos os momentos em que estava distante, ocupada, preocupada e, principalmente, estressada. A minha orientadora, Teresa de Jesus Peixoto Faria, que além de orientadora, se tornou uma grande amiga e conselheira; sempre atenciosa e paciente. As queridas amigas que fiz durante o mestrado, Maria Alice Pohlmann e Gisele da Silva Gonçalves, me apoiando, trocando experiências e aconselhando sobre assuntos relacionados ao mestrado e a própria vida pessoal. A minha amiga de muito tempo Giselle Pessanha, que sempre me deu força, se preocupando quando eu estava mal e tentando me ajudar de alguma forma. Ao professor Marcos Pedlowski, que mesmo do seu jeito, se mostrou o professor mais sincero e preocupado com nós mestrandos em Políticas Sociais. Além da conquista de mais um título, neste período pude ver o quanto nós podemos ser fortes, mesmo nos momentos de adversidade e que ainda existem pessoas dispostas e nos ajudar mesmo sem receber nada em troca. Obrigada a todos!

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INTRODUÇÃO

No Brasil, assim como em outras partes do mundo, transformações espaciais

podem se apresentar em decorrência de necessidades do capital, o que pode gerar

conseqüências à estrutura social do país. Alguns pontos podem ser aprimorados,

enquanto outros, podem causar ou acentuar manifestações negativas.

Tem-se presenciado vultosas somas direcionadas ao desenvolvimento de

grandes empreendimentos nas cidades, as quais se mostram bem interessadas na

inserção desse grande capital, principalmente no setor privado. Neste contexto, para

receber essas somas, determinados espaços devem ser adaptados até com a ajuda

do Poder Público, para atrair essas atividades localmente complementares, o que os

torna espaços complexos. No Brasil, estes lugares se concentram nas metrópoles,

tendo, recentemente, se apresentado também em cidades médias:

No caso brasileiro, a região privilegiada é o Sudeste e os lugares privilegiados são as metrópoles, às quais recentemente também vem juntar-se um grande número de cidades médias, graças ao desenvolvimento agrícola e industrial (SANTOS, 2009:19-20).

Tais ações são presenciadas com freqüência nos espaços urbanos, tornando

determinada área, vista anteriormente como degradada e afastada do centro

econômico citadino, agora valorizada.

Mas, como já foi citado a cima, para que tais ações se concretizem, o capital

privado necessita da parceria do Estado em determinadas ações. Também usado

como ferramenta de comando pelas elites, o Poder Público pode acelerar, através de

determinadas medidas, o processo de inserção/expansão de novos

empreendimentos. A partir disso, observa-se uma participação estatal com maior

afinco em áreas pontuais onde se concentram empreendimentos privados, enquanto

as áreas mais carentes sofrem as conseqüências.

Quem não pode arcar com os novos custos agregados ao espaço de

moradia, vê como alternativa migrar para outras áreas também vistas como

desvalorizadas, como alerta Santos (1994):

Melhorar uma via pública significa aumentar também a possibilidade de implantação ou melhoria do transporte público e criar uma valorização que acabará por expulsar daquela vizinhança os mais pobres. Instalar um novo serviço público (água, esgotos, eletricidade)

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acaba por ter o mesmo resultado, pelas mesmas razões. E a necessidade (nova) de pagar por esses mesmos serviços pesa sobre os orçamentos reduzidos e apressa o processo de expulsão. Todo melhoramento em uma área pobre faz dela o teatro de um conflito de interesses com as classes médias em expansão, para não falar das classes altas (SANTOS, 1994:113).

Nessa discussão abordada por Santos, pode-se incluir o espaço da favela.

Esta, detentora de uma problemática social ligada à pobreza, ilegalidade e ausência

de saneamento básico (ZALUAR & AVITO, 1998); cujo seus habitantes ainda

carregam o estigma de serem preguiçosos, desordeiros, marginais e sem regras

básicas de higiene e educação, fica, muitas vezes, à margem dessas mudanças

espaciais, tornando-se um ambiente segregado e esquecido pelo poder público;

"maquiado" por pequenas intervenções de infra-estrutura, que não trazem consigo

soluções reais aos problemas a cima descritos.

Quando o espaço em que está localizado uma favela se torna alvo para a

construção de um empreendimento, desenvolve uma problemática que envolve a

população que já mora no local e o empreendimento que será instalado. O local se

torna valorizado e, em alguns casos, o custo de vida se eleva.

A população com menor poder aquisitivo que não pode custear o novo padrão

de vida, vê como solução migrar para outras áreas que condizem ao seu perfil

econômico.

Observa-se em outros casos que quando a população não é deslocada para

outras áreas através de ações governamentais, essa muitas vezes se “fecha” a nova

realidade presente, permanecendo em seu próprio universo (tanto social como

econômico), apresentando as mesmas problemáticas espaciais.

Vivencia-se tal discussão em escala local, observada no município de

Campos dos Goytacazes; onde a gênese dessa problemática parte do século XVIII,

ligada a crise no campo (no município, pela produção de açúcar e no restante da

região, pelo setor agrícola - principalmente na produção de açúcar e café) e a

inserção de leis trabalhistas no campo.

Com a inserção dessas leis, houve uma grande retirada de migrantes das

áreas rurais para a cidade (principalmente em direção a cidade campista). Surgem

ocupações em áreas ainda não urbanizadas da cidade. Com isso, o espaço citadino

foi se expandindo, criando novas áreas periféricas (sem infraestrutura, para além da

malha urbana), acentuando a configuração centro versus periferia.

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Mesmo com a descoberta de petróleo na bacia submarina de Campos, na

década de 1970, e com a inserção do pagamento de royalties ao município, essa

desigualdade entre esses espaços não foi resolvida. O petróleo substituiu, de certa

forma, as perdas com a indústria do açúcar, mas não foi suficiente para extinguir ou

pelo menos amenizar os contrastes socioespaciais na cidade. Tal como demonstrou

Terra (2007), os investimentos do Poder Público Municipal continuam se

concentrando nas áreas centrais e voltados para os grupos de alto status social.

Um exemplo que poderia contrariar tal fato se refere a uma área periférica,

vista no passado como desvalorizada, sobretudo, pela presença da Favela Margem

da Linha1, e que atualmente vem sofrendo uma série de investimentos,

transformando completamente sua paisagem, usos e significados. Estas

transformações compreendem o entorno da Avenida Sílvio Bastos Tavares (Estrada

do Contorno2).

Vivencia-se que diversos empreendimentos públicos e, principalmente,

privados tem sido instalados nas últimas décadas na região, porém, observa-se que

tais investimentos são voltados, principalmente, para um público que possui maior

status econômico e social. O que demonstra a inexistência de interesse em atender

ou integrar a população da Favela Margem da Linha.

Presenciou até o momento a inserção na área de um shopping center,

condomínios residenciais fechados, empreendimentos e serviços diversos. Todos

voltados para as novas classes que vem migrando para o local. No entanto, não foi

observado o esforço do Poder Público em inserir a população da Favela Margem da

Linha ao novo contexto sócio-espacial que se reproduz no local; sendo esta situação

contraditória, visto que os moradores da Favela Margem da Linha foram os primeiros

a se instalarem no local.

Será observado ao longo do trabalho que todas as referências bibliográficas

tratam a palavra favela como um conceito. Com isso, a palavra favela possui toda

uma construção histórica, uma evolução, que partiu de uma simples palavra para

uma definição concreta. Hoje, surge um novo termo que eventualmente está sendo

empregado: "comunidade". Como ainda não há uma utilização maciça de tal palavra

e a própria bibliografia científica da área ainda emprega a palavra favela em suas

discussões, não há porque ocorrer o contrário neste estudo.

1 A favela Margem da Linha ocupa a área descrita desde a década de 1960 (GUIMARÃES & PÓVOA,

2005; POHLMANN, 2008) 2 Nome popular dado à Avenida Silvio Bastos Tavares.

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A partir dessas observações, foram formuladas questões em relação à Favela

Margem da Linha que nortearam o presente estudo: Quais as suas maiores

dificuldades e necessidades? Quais as suas expectativas em relação às mudanças

espaciais em seu entorno? Existe o interesse do Poder Público em inserir a Favela

Margem da Linha nesse novo contexto socioespacial? Que configuração espacial

tende a existir nessa área a partir da inserção dos novos empreendimentos?

Com foco direcionado para as transformações provocadas pelos

empreendimentos – paisagem, usos, configuração espacial – tendo como principal

interesse a Favela Margem da Linha, os possíveis resultados a serem alcançados

quando forem respondidas as questões propostas na dissertação são: 1. datar e

localizar os investimentos que foram introduzidos na área ao longo do período

estudado (que abrange da década de 1990 até os dias atuais); 2. verificar em que

medida, positiva ou negativamente, essas transformações sociais e espaciais afetam

a Favela Margem da Linha; 3. Apontar a atual configuração espacial da cidade,

sobretudo face aos padrões de segregação/fragmentação.

Para isso, a dissertação foi organizada em capítulos que irão auxiliar a

compreensão do presente estudo.

Os referenciais teóricos utilizados para reflexões sobre o objeto de estudo

estão presentes no Capítulo 1. Além de terem o intuito de auxiliar a análise, eles

buscam respaldar o trabalho, trazendo para a discussão conceitos referentes aos

fenômenos socioespaciais e ao processo de favelização brasileiro e da cidade de

Campos dos Goytacazes.

No Capítulo 2 – Metodologia, será explicado de que forma e com quais

recursos foram alcançadas as respostas das questões levantadas anteriormente.

Já no terceiro capítulo, serão analisados os atuais processos de

transformação espacial na cidade de Campos dos Goytacazes associados aos

fenômenos de favelização e segregação; envolvendo na discussão a atuação do

Plano Diretor.

O Capítulo 4 busca analisar as transformações espaciais ocorridas na região

de entorno da Avenida Silvio Bastos Tavares ao longo dos anos, considerando os

principais empreendimentos que estão sendo instalados no local. Também será visto

como se deu o processo de surgimento da Favela Margem da Linha, observando se

essa recebe a mesma atenção que os novos empreendimentos.

Já o Capítulo 5 busca observar, através de análises de gráficos construídos

em EXCEL a partir de dados coletados na Favela Margem da Linha, quais são as

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suas maiores dificuldades, necessidades, expectativas e visão em relação às

mudanças espaciais em seu entorno; além de apresentar as maiores necessidades

em relação ao Poder Público e atuais características socioespaciais da favela.

Com a análise dos dados será possível dizer se os moradores da Favela

Margem da Linha se acham inseridos no novo contexto social emergente na região.

Além disso, nesse capítulo, será debatida a dimensão real da Favela Margem

da Linha (discussão já iniciada no Capítulo 4), orientada pela concepção espacial de

seus moradores perante a que foi apresentada pelo IBGE e em estudos anteriores.

Ao final, serão apresentadas as conclusões a partir do que foi coletado

durante o campo, das reflexões associadas às leituras realizadas e de observações

particulares da autora.

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CAPÍTULO I. REFERENCIAL TEÓRICO

Em diversas partes do mundo, transformações espaciais podem ocorrer em

decorrência de necessidades do capital, o que pode trazer conseqüências à

estrutura social dos países. Alguns pontos podem ser aprimorados, enquanto outros,

podem causar ou acentuar manifestações negativas.

Um dos cientistas que estudam o comportamento social e espacial no

ambiente urbano é Manuel Castells. Em seu livro "A Questão Urbana" (2009), o

autor discute o ambiente citadino fazendo menção a Wirth, em alusão que quanto

maior a dimensão da cidade, maior a sua interferência nas relações sociais.

Diversas características negativas são visíveis nesse extenso espaço urbano como

superficialidade, anonimato, distanciamento, falta de participação, etc:

São estas as relações causais entre características e formas culturais que Wirth empenha-se em valorizar. Primeiro, no que diz respeito à dimensão de uma cidade: quanto maior ela é, maior o leque de variação individual e maior também a diferenciação social; o que determina o afrouxamento dos elos comunitários, substituídos pelos mecanismos de controle formal e pela competição social. Por outro lado, a multiplicação das interações produz a segmentação das relações sociais e suscita o caráter “esquizóide” da personalidade urbana. Os traços distintivos de um tal sistema de comportamento são então: o anonimato, a superficialidade, o caráter transitório das relações sociais urbanas, a anomia, a falta de participação. Esta situação tem conseqüências sobre o processo econômico e sobre o sistema político: por um lado, a segmentação e o utilitarismo das relações urbanas levam à especialização funcional da atividade, à divisão do trabalho e à economia de mercado; por outro lado, já que a comunicação direta não é mais possível, os interesses dos indivíduos só são defendidos pela representação (CASTELLS, 2009:130).

Partindo dessa premissa, Castells continua sua análise da problemática do

ambiente urbano, seguindo novamente para os relacionamentos humanos através

de Wirth. Ao mesmo tempo em que os contatos sociais estão distantes, existe uma

justaposição espacial, porém sem a interatividade social. Nestes ambientes, não há,

na maioria das vezes, uma preocupação com o coletivo, apenas com os interesses

próprios do indivíduo:

Em segundo lugar, a densidade reforça a diferenciação interna, pois, paradoxalmente, quanto mais próximos estamos fisicamente, tanto mais distantes são os contatos sociais, a partir do momento em que

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se torna necessário só se comprometer parcialmente em cada um dos relacionamentos. Há portanto uma justaposição sem mistura de meios sociais diferentes, à que gera o relativismo e a secularização da sociedade urbana (indiferença a tudo que não esteja diretamente ligado aos objetivos próprios de cada indivíduo). Enfim, a coabitação sem possibilidade de expansão real resulta na selvageria individual (para evitar o controle social) e, conseqüentemente, na agressividade (CASTELLS, 2009:130).

Este modelo social apresentado por Castells e Wirth está atrelado às

transformações espaciais que vem ocorrendo constantemente no ambiente urbano.

Além do modelo citadino descrito acima, o espaço urbano também pode se

configurar a partir da dualidade Centro versus Periferia, abrangendo uma região

comercial, referência para todo o resto da cidade – o centro –, e uma região mais

afastada, desprovida de infra-estrutura, vista como local de moradia das classes

mais populares – a periferia, como será visto a seguir.

1.1. O Padrão Centro Versus Periferia

Para Corrêa (1995), a visão tradicional de centro-periferia parte de duas

referências clássicas do cenário urbano idealizado na cultura ocidental: o Centro,

primeiro e mais importante; dado como uma área nuclear que funciona como espaço

de atração (econômica, social e política), cujo acesso e efetivo gozo devem cumprir

exigências da ordem do capital; e a Periferia, em segundo plano, dada pela condição

de espaços e do tradicional distanciamento das áreas centrais, sendo definida como

segregada. Assim como Corrêa, Villaça (2001) entende que:

[...] o mais conhecido padrão de segregação da metrópole brasileira é o de centro versus periferia. O primeiro, ditado da maioria de serviços urbanos público e privados, é ocupado pelas camadas de mais alta renda. A segunda, subequipada e longínqua é ocupada, predominantemente, pelos excluídos (VILLAÇA, 2001:143).

Atualmente, o modelo citadino tem passado por transformações (tanto

naturais como antrópicas), tornando o modelo dual centro-periferia defasado. Desta

forma, o processo de urbanização conduz ao desenvolvimento de novos processos

socioespaciais, como o surgimento de dois centros urbanos:

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[...] o centro tradicional que, abandonado pelas elites, progressivamente passa a ser ocupado pelo comércio e serviços dirigidos aos mais pobres, e um ‘centro novo’, estrategicamente localizado junto à área de grande concentração das camadas de mais alta renda, e concentrando o comércio e os serviços orientados para essas camadas (VILLAÇA, 2001:34).

Da observação desses novos processos, podemos depreender que a

configuração clássica dual centro-periferia, pode ser questionada, não sendo mais

possível utilizá-la e aplicá-la para definir as configurações dos espaços urbanos das

cidades brasileiras na atualidade. Como, hoje, estes espaços, se caracterizam como

altamente complexos, a visão que se deve ter da cidade é que as transformações na

sua configuração espacial ocorrem com maior velocidade, e resultam de diferentes e

acelerados processos socioespaciais, muitas vezes, concomitantes.

Milton Santos compreendera que o modelo dual de centro-periferia não seria

mais aplicável à realidade espacial das cidades. O autor explica, usando como

modelo a metrópole, que a dinâmica de uma cidade não gira apenas a limites físicos

próximos, mas de uma forma instantânea e descentralizada; levando a conclusão

que a cidade em si não se encontra mais estática, e sim móvel. Motivo a mais que

nos leva a crer na defasagem do modelo dual:

As questões de centro-periferia, como precedentemente colocadas, e a das regiões polarizadas, ficam, assim, ultrapassadas. Hoje, a metrópole está presente em toda parte, no mesmo momento, instantaneamente. Antes, a metrópole não apenas não chegava ao mesmo tempo em todos os lugares, como a descentralização era diacrônica: hoje a instantaneidade é socialmente sincrônica. Trata-se, assim, de verdadeira “dissolução da metrópole”, condição, aliás, do funcionamento da sociedade econômica e da sociedade política (SANTOS, 1994:91-92).

Lago (2000) também observa que a visão tradicional de dualidade que ocorre

na cidade está caindo em desuso, principalmente a partir da década de 1980, em

decorrência de diversas transformações espaciais e sociais que vêm ocorrendo

como:

a crescente instabilidade do trabalho e da renda, com seus efeitos sobre o acesso à cidade, a retomada do crescimento das favelas tanto nas áreas centrais quanto nas periféricas e o surgimento, na periferia, de novos espaços residenciais e comerciais excludentes, destinados às camadas médias da periferia (LAGO, 2000:207).

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Como afirmado pela autora, atualmente os espaços excludentes podem ser

localizados em áreas afastadas da cidade, assim como em áreas centrais; podendo,

segundo a atual configuração espacial, ser habitadas ou freqüentadas tanto por

moradores de classe mais popular como mais elevada.

Embora a atual configuração espacial possibilite que moradores com classes

sociais distintas venham a habitar o mesmo espaço, não é fato que ocorra

necessariamente uma aproximação social entre as mesmas; ao contrário, pode-se

acentuar o distanciamento social e, conseqüentemente, alguns fenômenos

socioespacias.

Como foi visto em Castells, as interações sociais diminuem e embora as

diferentes sociedades estejam cada vez mais próximas, o que se percebe é um

afrouxamento dos elos comunitários; o que mostra que a idéia de centro versus

periferia está realmente caindo em desuso, passando a existir um outro modelo que

envolve uma justaposição espacial e social entre as diferentes sociedades em um

mesmo espaço; porém sem uma vivência mútua, o que nos leva ao surgimento do

fenômeno segregação socioespacial.

Quando esta segregação perpassa os limites sociais, se aprofundando em

algo mais complexo no campo espacial, caracterizado por um distanciamento social

e espacial, envolvendo núcleos territoriais particulares, cada qual com suas

características; onde dificilmente os distintos atores que os compõem freqüentam o

espaço do outro, podemos nos referir ao fenômeno Fragmentação Socioespacial.

Pelo que foi estudado, o fenômeno Fragmentação Socioespacial pode ser

compreendido como o aumento do distanciamento de uma sociedade com outra (o

que integra aspectos sociais e espaciais).

Enquanto a segregação socioespacial envolve o distanciamento de um grupo

em relação à outro, tanto em aspectos sociais como espaciais, sabendo que eles

ainda mantém algum tipo de contato e troca de experiências; a fragmentação

envolve o individualismo e o fechamento de grupos homogêneos, não se misturando

com grupos que não sejam seus pares, reforçando o surgimento de outros

fenômenos como o Emuralhamento da Vida Social e a criação de Ilhas Utópicas.

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1.2. Segregação socioespacial

A partir das modificações espaciais atuantes constantemente no espaço

urbano, pode-se considerar o aumento do distanciamento social entre moradores de

diferentes classes sociais que habitam o mesmo espaço, em conseqüência do

aumento de determinados fenômenos socioespaciais. Neste caso, a segregação se

torna mais comum no ambiente citadino, tendo como característica principal o

domínio que um grupo pode ter sob o outro, principalmente em casos em que se um

se introduz no espaço já ocupado por outro grupo. Para Castells, a segregação

refere-se

Ao processo pelo qual o conteúdo social do espaço torna-se homogêneo no interior de um unidade e se diferencia fortemente em relação às unidades exteriores, em geral conforme a distância social derivada do sistema de estratificação, enfim, a invasão-sucessão explica o movimento pelo qual um nova população (ou atividade) se introduz num espaço previamente ocupado, sendo rejeitada pela anterior, sendo integrada ou finalmente sucedendo-lhe como dominante na unidade ecológica visada (CASTELLS, 2009:186).

Para o autor, o mais importante é considerar que a segregação não é apenas

um fenômeno de discriminação social, mas sim carregado de complexidades, como

as situações sociais de distanciamento e desinteresse de um grupo com o outro:

O que é socialmente significativo não é o fato de a pobreza ou da discriminação em si, mas a fusão de certas situações sociais e de uma localização particular na estrutura urbana. É desta forma que a segregação urbana se constitui enquanto fenômeno específico, e não simplesmente como reflexo da estratificação social geral (CASTELLS, 2009:258).

Indo mais longe, Lago (2000), aponta que o fenômeno da segregação, além

de não representar apenas uma problemática discriminatória, também engloba uma

tendência a dualização social, a uma nova questão mercadológica dada aos

espaços e as moradias de luxo:

Em síntese, a segregação ocorre como uma forma extrema de desigualdade. O impacto espacial da tendência à dualização social seria, numa extremidade, a apropriação cada vez mais exclusiva dos espaços mais valorizados pelas funções ligadas ao consumo e à moradia de luxo e, na outra, a conformação de espaços exclusivos da pobreza. No âmbito dessas transformações surgiram, como

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expressões de um novo padrão de segregação espacial, noções como “cidade dual” e “espaço fragmentado” (Sassen, 1991; Castells, 1992). A noção de segregação, portanto, estaria atrelada a novas espacialidades que emergem nas grandes cidades capitalistas, em especial o gueto americano e os espaços residenciais excludentes das camadas sociais superiores (LAGO, 2000:208).

A segregação também é compreendida como “um processo segundo o qual

diferentes classes sociais ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez

mais em diferentes regiões gerais ou conjunto de bairros da metrópole” (VILLAÇA,

2001).

Sabendo que esse fenômeno se constitui “em um complexo processo de

produção e consumo diferenciado de espaço” (TAVARES; ARAÚJO, 2008:82),

observa-se a possibilidade do mesmo ser utilizado ao benefício, principalmente, das

camadas mais altas da sociedade, que por meio do capital, estabelecem seus

interesses no espaço. Neste caso, o que é mais valioso no fenômeno da segregação

é o poder que as camadas mais altas detêm em relação às demais.

Com isso, para as camadas de mais alta renda, a segregação torna-se uma

conseqüência do processo de aceleração da transformação espacial de áreas do

seu interesse. Estes espaços se tornam diferenciados e excludentes quando

transformados:

Esta diferenciação em naturais agrupamentos econômicos e culturais dá forma e caráter à cidade. Porque a segregação oferece ao grupo, e, portanto, aos indivíduos que compõem, um lugar e um papel na organização total da vida da cidade. A segregação limita o desenvolvimento em certas direções, mas deixa-o livre em outras. Estas áreas tendem a acentuar certas características, atraindo e desenvolvendo as respectivas espécies de indivíduos e assim tornando-se mais diferenciados (BURGESS, 1970:362).

Um fator que auxilia nessa valorização do espaço submetendo-o à

segregação é o novo conceito que é lhe dado. Atualmente, vem ganhando margem

a idéia que a residência não é somente um lugar para a moradia, descanso e

segurança. Hoje, elas também representam o "status social" do indivíduo e, de

acordo com o local em que estão localizadas, é lhes agregado mais valor:

O princípio essencial que influencia a distribuição das residências no espaço é o prestígio social, cuja expressão positiva é a preferência social (preferência por vizinhos semelhantes) e a expressão negativa, é a distância social (rejeição de vizinhos diferentes) (CASTELLS, 2009:251).

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Os fatores que levam o indivíduo à busca de locais mais exclusivos para

habitar estão relacionados a pontos negativos que compõem a paisagem urbana

(como a pobreza e informalidade, deterioração de bairros tradicionais - seja pela

poluição ou perda da qualidade ambiental) e pelo aumento de problemas sociais,

ligados – principalmente – à criminalidade e insegurança. Estes fatores acabam por

ser vinculados apenas a paisagem da cidade “tradicional”, o que torna um estímulo à

auto-segregação (CORRÊA, 1995; SOUZA, 2005).

Conseqüentemente, além da segregação e da auto-segregação, outros

fenômenos podem vir a emergir no cenário brasileiro, podendo desencadear

problemáticas sociais cada vez mais complexas e difíceis de serem contidas na

cidade "tradicional". Para Cocco (2009), a transformação sócio-espacial que o

cenário brasileiro vem recebendo, poderá desencadear uma série de fenômenos

negativos em todo o país:

A transformação social brasileira pode encontrar no seu caminho a reiteração amplificada (globalizada!) dos fenômenos de desigualdade econômica, fragmentação social, segregação espacial e violência que caracterizam a trajetória da modernização brasileira e que hoje aparecem como as características gerais da pós-modernidade (COCCO, 2009:142).

Através das leituras realizadas, é perceptível que o número de locais que

apresentam características do fenômeno segregação socioespacial tem aumentado

com o passar do tempo. Como foi visto a cima, esse fenômeno está atrelado a

fatores sociais como pobreza, violência, ausência do poder público, que acabam

gerando na população da cidade “tradicional” (SOUZA, 2005), sentimentos como

medo e insegurança; conseqüentemente, o que corrobora numa reclusão da

população em suas casas, e quando lhes é possível, o refúgio em condomínios

fechados.

Quando a população se utiliza os condomínios horizontais ou verticais como

locais de fuga de toda a problemática social que se desenvolve no espaço urbano,

podemos nos referir ao fenômeno Fragmentação Socioespacial. Portanto, esses

condomínios que se caracterizam como uma representação da realidade urbana,

porém com as vantagens de não apresentarem suas características negativas,

podem ser vistos como sintomas de uma Fragmentação Socioespacial. Esta se

refere ao isolamento de determinados grupos em núcleos homogêneos, onde,

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praticamente, não há contato com a cidade “tradicional”, e quando isto é realizado,

ocorre principalmente entre o trajeto dos condomínios fechados a serviços privados;

ao contrário da Segregação Socioespacial, em que o distanciamento social e

grande, porém, ainda há a possibilidade dos grupos circularem na cidade tradicional.

1.3. Fragmentação Socioespacial

Diante de toda a nova realidade apresentada nas cidades brasileiras, estas

vêm se tornando locais dissolvidos, desintegrados, não sendo mais vistas como

espaços de encontro entre as diversas camadas da sociedade. A cidade se torna

individualizada, e sua configuração espacial se remodela por meio de novos

subcentros que são construídos de acordo com os desejos de mercado.

Nessa nova conjuntura espacial, Gomes (2006) analisa o surgimento do

fenômeno fragmentação na cidade. Esta fragmentação é entendida pelo autor como

“soma de parcelas mais ou menos independentes, havendo uma multiplicação dos

espaços, que são comuns, mas não públicos; há um confinamento dos terrenos de

sociabilidade e diversas formas de nos extrairmos do espaço público” (GOMES,

2006:174).

Para Gomes, a fragmentação espacial é acompanhada por uma fragmentação

social, em que o espaço é recriado de uma forma fragmentada e em esferas

menores e privativas, que negam os princípios de uma vida democrática.

Com a existência da segregação em determinado local, a última das

conseqüências geradas por tal fenômeno é a fragmentação, em que além de haver a

segregação entre e por parte de determinados grupos, ocorre à auto-segregação de

alguns, chegando ao ponto que as trocas de experiências entre diferentes grupos

não ocorre, se fechando em universos homogêneos. Com isso, não há mais a

diversidade pelas ruas, ou a utilização dos espaços públicos. Cada grupo se torna

apenas vinculado aos seus pares, se fechando em espaços próprios como os

condomínios fechados exclusivos ou, em alguns casos, morros e favelas.

Assim, o fenômeno da fragmentação se tornou demasiado complexo

apresentando particularidades em determinados locais em que é estudado. Desta

forma, alguns autores já o analisam de forma mais aprofundada, expandindo mais o

seu conceito, como é o caso de Souza (2005):

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Como o nome indica a fragmentação do tecido sociopolítico-espacial coloca em primeiro plano a dimensão política, vale dizer a dimensão do poder. Está-se diante, portanto, de uma fragmentação territorial, no sentido próprio do termo território: um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder (SOUZA, 1995a:78). Não importa que a fragmentação não diga respeito a territórios estatais e sim a territórios cuja formação é conduzida no âmbito da sociedade civil ou mesmo a territórios ou microterritórios ilegais. Na verdade, as fronteiras dos territórios estatais permanecem inalteradas; o que acontece é que poderes paralelos ao Estado, protagonistas de atividades econômicas ilícitas, territorializam ostensivamente numerosos pontos do espaço intra-urbano, notadamente espaços residenciais segregados, desafiando o controle territorial estatal (SOUZA, 2005:216-217).

Como é apontada por Souza, a fragmentação já se encontra relacionada, não

necessariamente apenas aos territórios de âmbito da sociedade civil ou do Estado.

Esse fenômeno se apresenta também em territórios onde o processo de ocupação

ocorre de maneira ilegal, onde, muitas vezes, o tráfico de drogas dita suas regras,

além de manter suas relações de poder. Essa margem de liberdade obtida pelo

tráfico e pela marginalização se torna mais um agravante para que a sociedade civil

venha a acreditar que os espaços públicos são inseguros, o que a leva a circular em

espaços homogêneos como os shopping centers e os condomínios fechados, o que

reflete em novos fenômenos socioespaciais.

A fragmentação socioespacial, nesse caso, é cada vez mais evidente, sendo

vista também em cidades de porte médio, onde atualmente tem sofrido com este

processo de desuso dos espaços públicos, principalmente quando cada grupo se

fecha de forma homogênea em virtude da violência e do medo, colaborando para,

além da fragmentação socioespacial, no surgimento de outros dois fenômenos

socioespaciais: o Emuralhamento da Vida Social e a criação de Ilhas Utópicas.

1.4. Emuralhamento da Vida Social e Criação de Ilhas Utópicas

As idéias da violência e criminalidade, ligadas à insegurança, corroboram

para a criação na sociedade de mecanismos de fuga cada vez mais segregadores.

Dois destes mecanismos são os condomínios fechados e os shoppings centers. Os

primeiros são vistos como espaços exclusivos para uma parcela da sociedade que

pode arcar com altos custos para viver longe da realidade da cidade “formal”;

enquanto que o segundo - os shoppings -, podem ser seletivos e variar

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economicamente de acordo com o público-alvo e a área geográfica em que está

localizado. No entanto, embora os shoppings possam usar de estratégias para se

verem livres dos pobres, não são totalmente “imunes a toda ‘contaminação’, pois

são freqüentados também por pessoas de baixa renda” (SOUZA, 2005:201).

A partir disso, observa-se um recuo paralelo dos espaços públicos, podendo

ser identificado através de dois fenômenos trabalhados por Paulo César da Costa

Gomes, em seu livro A Condição Urbana (2006) denominados Emuralhamento da

Vida Social e Crescimento de Ilhas Utópicas. O primeiro fenômeno abrange a

questão do emuralhamento da sociedade, que cada vez menos utiliza os espaços

urbanos, usados apenas para a circulação. Relacionado a este fenômeno cresce

ainda mais a figura do Shopping Center.

Já o segundo, envolve a idéia de áreas urbanas de grandes centros que se

isolam homogeneamente, ficando mais distantes espacialmente do centro antigo da

cidade. Representados pelos condomínios fechados, esses locais funcionam ao

mesmo tempo como moradia e clube. São compostos pelos mais diversos

ambientes, desde playground a academia de ginástica. Em suas campanhas

publicitárias, compõem toda a vida do ambiente urbano, apenas apresentando uma

diferença: a vantagem da segurança e da homogeneidade social.

O melhor exemplo brasileiro que retrata esta realidade é o condomínio

fechado Alphaville, localizado na cidade de São Paulo, estudado tanto por Caldeira

(2000), quanto por Souza (2005), que neste sentido, observa-se a recusa de

conviver com uma sociedade multifacetada e variada; vindo, a partir dos

condomínios fechados a idéia de “ilhas utópicas”.

Estas “ilhas” representam uma parte do universo urbano; o que é necessário

e o que é de bom grado aos olhos de seus moradores; mas toda a realidade, o

contraste social, acompanhado de toda a problemática urbana, não se encontra

presente nesses espaços exclusivos.

Desta forma, a sociedade que pode arcar com tal modelo de vida se fecha a

realidade da sociedade civil em um universo utópico, se desligando das

necessidades socioespaciais e da participação de uma vida democrática. Ao mesmo

tempo, a classe popular, que não pode arcar um alto padrão de vida, é cada vez

menos assistida pelo Poder Público, o que corrobora ainda mais para o aumento do

processo de favelização na Brasil.

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1.5. O Processo de Favelização

Para Lago (2000), o processo de favelização brasileiro, principalmente no Rio

de Janeiro, se acentua na década de 1980, a partir de mudanças na conjuntura

urbana brasileira que, atreladas à redução de investimentos no setor público,

desencadearam a retomada do crescimento das favelas tanto em áreas centrais

como em periféricas; fenômeno simultâneo ao aumento de novos espaços

residenciais e comerciais excludentes, destinados a camadas com maior poder

aquisitivo.

Mas, para entender todo este processo de favelização que se expande ano

após ano no cenário brasileiro, é preciso compreender como se deu tal processo e

quais conseqüências para a transformação social e espacial no cenário urbano até

os dias atuais.

Primeiramente, uma das referências ao processo de transformação espacial

das cidades atrelado ao surgimento das favelas, incluindo o próprio termo, está

ligado a Guerra de Canudos e ao retorno de soldados ex-combatentes para a cidade

do Rio de Janeiro em busca de uma definição a sua situação no exército. Como não

obtiveram resposta, alguns construíram casebres precários no mesmo morro em que

se localizava o Ministério da Guerra (Morro da Providencia), em 1897 (OLIVEIRA &

MACIER, 1998; VAZ, 2002).

No entanto, alguns estudiosos na área acreditam que antes do "Morro da

Providência" já havia outro morro que apresentava moradias precárias de ex-

combatentes contra Antônio Conselheiro: o desconhecido Morro de Santo Antônio

(PRETECEILLE & VALLADARES, 2000; VALLADARES, 2011). Para estes autores,

já em 1897, havia, no Morro de Santo Antônio, 41 barracos, o que demonstra a sua

antecedência de surgimento em relação ao Morro da Providência.

Recentemente Abreu mostrou que, embora com origens semelhantes, e, apesar de ser pouco conhecida, a formação da favela de Santo Antônio (já desaparecida) antecede a da Providência. Os praças de outro batalhão, também retornados da campanha de Canudos, construíram seus barracos com autorização dos chefes militares no morro situado aos fundos do quartel, entre as ruas Evaristo da Veiga e Lavradio. Há notícias da presença em 1897 de 41 barracos no local; de 150, em 1901, e de 1.314 em 1910 (VAZ, 2002:55).

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Com isso, Oliveira & Marcier (1998) reafirmam em nota que dever-se-ia

considerar também o Morro de Santo Antônio como um dos percussores na história

da origem das favelas.

O surgimento do Morro da Providência possui também em sua história, o

contexto da palavra "favela" ou, como era chamada nesta época "favella". Com a

chegada dos ex-combatentes de Canudos, o Morro da Providencia passa a ser

apelidado de Morro da Favella, por possuir uma vegetação semelhante a encontrada

no sertão baiano, denominada "Favella" (VAZ, 2002).

A partir daí, o antigo Morro da Providencia passou a se chamar

constantemente dessa forma, sendo já na primeira década do século XX conhecido

desta maneira, o que levou futuramente a palavra a ser utilizada como substantivo

por diversos jornais (VAZ, 2002).

O Morro da Favella, pouco a pouco, passou a estender sua denominação a qualquer conjunto de barracos aglomerados sem traçado de ruas nem acesso aos serviços públicos, sobre terrenos públicos ou privados invadidos. Conjuntos que então começaram a se multiplicar no Centro e nas Zonas Sul e Norte da cidade do Rio de Janeiro (VALLADARES, 2011:26).

Segundo Abreu (1994b:35) – em pesquisa realizada no jornal Correio da Manhã entre 1901 e 1930 -, foi apenas durante a segunda década do século XX que a palavra favela se tornou um substantivo genérico não mais referido, exclusivamente, ao Morro da Favella. Surge, assim, uma categoria nova para designar o habitat pobre, de ocupação ilegal e irregular, sem respeito às normas e geralmente sobre encostas (VALLADARES, 2011:26).

Ainda em relação a essa primeira idéia, segundo alguns autores, liga-se

também o surgimento da favelas ao conto "Os Sertões" de Euclides da Cunha,

escrito em 1902, que narra a história do Arraial de Canudos e todo o processo que

sofreu durante os confrontos com soldados da República Velha. O livro serviu como

difusor da história da luta de Canudos e do sofrimento de seus habitantes; o que

facilitou ainda mais no fortalecimento do novo nome dado ao Morro da Providência.

A história da reflexão sobre a favela segue aqui uma outra lógica, e a sua periodização é constituída a partir de um mito de origem: a imagem do povoado de Canudos descrita por Euclides da Cunha em Os Sertões (1902). Imagem que também corresponde àquela vislumbrada pelos primeiros visitantes da favela do Rio, quando transpuseram em suas descrições a dualidade “litoral versus sertão” para a dualidade “cidade versus favela” (VALLADARES, 2011:23).

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Também foi observado através de pesquisas bibliográficas que outra

explicação pode ser dada ao surgimento do termo favela e as suas características

físicas. Autores como Vaz (2002) e Valladares (2011), comentam que uma das

hipóteses para a presença das favelas no ambiente citadino, principalmente no Rio

de Janeiro, se deve, inicialmente, ao surgimento das estalagens e cortiços que, a

medida que cresciam, se caracterizavam cada vez mais como ambientes

promíscuos, insalubres e superpopulosos.

Há notícias sobre as estalagens desde a primeira metade do século XIX, mas foi apenas em meados do século que elas se multiplicaram, e que também se difundiu o nome cortiço para este tipo de moradia. Sua construção foi proibida ainda no século XIX (VAZ, 2002:30). Definido como um verdadeiro “inferno social”, o cortiço carioca era visto como antro de vagabundagem e do crime, além de lugar propício à epidemias, constituindo ameaça à ordem social e moral. Percebido como espaço propagador da doença e do vício, era denunciado e condenado através do discurso médico e higienista, levando a adoção de medidas administrativas pelos governos das cidades (VALLADARES, 2011:24).

Desses ambientes, um dos mais conhecidos foi o cortiço denominado

"Cabeça de Porco". Em 1893, este cortiço foi extinto, através de ações de parceria

entre o Estado (no governo do prefeito Barata Ribeiro), opinião publica e imprensa.

O papel do Estado neste processo foi crucial: através de ações higienistas, leis e

regulamentações, voltadas primeiramente aos cortiços, foram impedidas obras

iniciais ou de melhorias, com o intuito de impedir o aumento e a construção desses

ambientes degradantes3. Para as autoras citadas a cima, o cortiço (mais

precisamente o Cabeça de Porco)4 seria o "germe" da favela, como pode ser visto:

Estudos sobre cortiços no Rio de Janeiro demonstram que esse tipo de hábitat pode ser considerado o “germe” da favela. Segundo pesquisa realizada por Vaz (1994:591), o célebre cortiço Cabeça de

3 A autora Lilian Fessler Vaz aponta as ações do Estado em relação às estalagens e cortiços neste período: “O Estado impôs a obrigatoriedade da licença para construção e as normas referentes aos aspectos sanitários a partir de 1856. Proibiu a construção de estalagens no centro e adjacências a partir de 1873, ampliando progressivamente a zona interditada. Fechou algumas habitações coletivas insalubres na década de 1880, demoliu o Cabeça de Porco – a mais famosa das habitações coletivas cariocas – em 1893, e proibiu terminantemente a construção de novas estalagens, cortiços e casa de cômodos em toda a cidade e qualquer conserto ou reconstrução nas existentes (VAZ, 2002:32-33)”. 4 O nome “Cabeça de Porco” surgiu devido a uma característica peculiar que havia na entrada do cortiço: um grande portal em arcada ornamentado com a figura de uma cabeça de porco.

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Porco, destruído pelo Prefeito Barata Ribeiro, em 1893, possuía barracos e habitações precárias do mesmo tipo identificado em seguida no Morro da Providência. Outros autores também estabeleceram uma ligação direta entre as demolições dos cortiços do Centro da cidade e a ocupação ilegal dos morros no início do século XX (Rocha, 1986; Carvalho, 1986; Benchimol, 1990) (VALLADARES, 2011:24).

Com o fim dos cortiços e sem alternativa de uma segunda moradia na cidade

formal, os moradores desses locais se deslocaram para as áreas dos morros,

tornando-os ainda mais populosos.

Com intervenções maciças sobre os cortiços e a busca da sua erradicação,

os olhares da sociedade, imprensa e governabilidade passaram a se voltar a favela.

As medidas higienistas, antes, aplicadas fortemente aos cortiços, passaram a

integrar o cotidiano dos planejamentos urbanos, até por que, neste período de

República Velha, os governantes eram compostos principalmente, por higienistas ou

sanitaristas.

As campanhas a favor da extinção das favelas só foram se acentuando, e o

Estado percebia cada vez mais a necessidade de controlar o crescimento

vertiginoso das áreas de construções "anti-higiênicas" (VALLADARES, 2011). Para

enfrentar tal quadro, surge o Código de Obras de 1937 com uma parte intitulada

"favelas":

O Código de Obras de 1937 introduz em seu capítulo XV “Extinção das Habitações Anti-Higiênicas”, uma parte intitulada “Favelas” (p. 107), da qual podemos citar em especial o artigo 349: “Art. 349 – A formação de favelas, isto é, de conglomerados de dois ou mais casebres regularmente dispostos ou em desordem, construídos com materiais improvisados e em desacordo com as disposições dêste decreto, não será absolutamente permitida” (VALLADARES, 2011:52).

Embora se tenha criado um capítulo especial no Código de Obras de 1937, o

interesse do Estado em erradicar as favelas se acentua, em vista de toda

problemática gerada pelas mesmas, o que levou a incluí-las nos Censos de 1948 e

1950 (Recenseamento Geral de 1950). O primeiro, não apresentava uma definição

concreta da palavra favela e nem "indica[va] exatamente os princípios de

identificação utilizados (VALLADARES, 2011:64)". Já o Censo de 1950, realizado

pelo governo federal, principalmente, pelo mérito de Alberto Passos Guimarães,

diretor na época da Divisão Técnica do Serviço Nacional de Recenseamento do

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IBGE, incluía o termo no Censo, além de apresentar sua definição. Foi através de

Guimarães que este Censo além de apresentar a definição de favela, caracterizava

sua definição a partir de cinco critérios:

Desse modo, foram incluídos na conceituação de favelas os aglomerados humanos que possuíssem, total ou parcialmente, as seguintes características: 1. Proporções mínimas – Agrupamentos prediais ou residenciais formados com unidades de número geralmente superior a 50; 2. Tipo de habitação – Predominância no agrupamento, de casebres ou barracões de aspecto rústico típico, construídos principalmente de folhas de Flandres, chapas zincadas, tábuas ou materiais semelhantes; 3. Condições jurídicas da ocupação – Construções sem licenciamento e sem fiscalização, em terrenos de terceiros ou de propriedade desconhecida; 4. Melhoramentos públicos – Ausência no todo ou em parte, de rede sanitária, luz, telefone e água encanada; 5. Urbanização – Área não urbanizada, com falta de arruamento, numeração ou emplacamento (Guimarães, 1953:259) (VALLADARES, 2011:68-69).

Da forma como foi desenvolvido, o Censo Geral de 1950, possibilitou a

criação de uma nova categoria nacional em relação ao conjunto de moradias

precárias: o "aglomerado subnormal".

A introdução de uma categoria relativa a conjuntos de moradias precárias no recenseamento brasileiro – encontrados até hoje sob o título de “aglomerado subnormal” -, a partir do caso do Rio, contribuiu para a generalização do uso da palavra favela que, progressivamente, passou de categoria local a categoria nacional (VALLADARES, 2011:71). Os censos do IBGE, desde então, basicamente se pautam pela mesma definição, usando nacionalmente a denominação de Aglomerado Subnormal para designar aquilo que no Rio de Janeiro conhecemos por favela (PRETECEILLE & VALLADARES, 2000:378).

A partir daí, o termo "aglomerado subnormal" passou a ser constantemente

utilizado em outros Censos realizados pelo IBGE, se referindo ao que no Rio de

Janeiro é conhecido como favela. Mas, cabe aqui ressaltar, que o termo "favela",

também ficou registrado oficialmente como referência de habitações irregulares em

todo país (ZALUAR & ALVITO, 1998).

Com isso, a palavra favela, passou a carregar uma série de significados que

lhe remetiam as suas características mais conhecidas, como um ambiente de

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“precariedade urbana, resultado da pobreza de seus habitantes e do descaso do

poder público” (ZALUAR & ALVITO, 1998:7).

Percebe-se com isso, que a favela, mesmo com o passar dos anos, ainda não

faz parte integralmente da sociedade (ZALUAR; ALVITO, 1998) e quem poderia

assisti-la (o Estado), através de Políticas Sociais, se mostra ausente, se

manifestando, na maior parte dos casos, aos interesses de uma minoria elitizada.

Conseqüentemente, o que se vê, na maioria das vezes, é a expansão de

moradias precárias e de favelização em áreas, na maior parte das vezes, impróprias

ou irregulares. Isso acentua a idéia, apontada em reflexões de Rolnik, que na política

urbana brasileira, jamais se admite que os pobres tenham um lugar na cidade formal

(ROLNIK, 2009)5. Além disso, Santos afirma que os pobres são pouco inseridos nas

discussões espaciais e que

[...] não parecem ter sido objeto de preocupações dos economistas espaciais. Se a pobreza tem sido freqüentemente estudada por geógrafos, sociólogos, antropólogos etc., a economia, salvo exceções honrosas, parece passar sem esse incômodo, o que reduz a possibilidade de compreender a realidade total, da qual os pobres são parte integrante, em maior número, aliás (SANTOS, 2009:47).

Para o autor Mike Davis (2006), em diferentes cidades no mundo, está

havendo uma mudança espacial onde uma “nova ordem urbana” trará desigualdades

cada vez maiores. Para ele, essa “nova ordem urbana” traz como resultado a

produção em massa de favelas.

O autor também aponta que o fenômeno da favelização e o seu crescimento

são, entre outros, temas preocupantes neste século, pois, a partir desses, geram-se

questões para discussões que envolvem a saúde pública, meio-ambiente,

subdesenvolvimento, concentração de renda, etc.

Segundo Davis, o fenômeno da favelização está associado a uma série de

fatores, como: crescimento urbano rápido, desvalorização da moeda, redução do

Estado, guerras, crescimento da indústria, substituição de importações e busca de

abrigo de imigrantes rurais nas cidades após a modernização da agricultura.

Assim, mesmo com o passar dos anos e com uma série de mudanças

socioespaciais no ambiente urbano, percebe-se que o mesmo ainda é palco da

injustiça social e da segregação; tendo agora mais um ponto nos preocuparmos nas

5 Rolnik discute a questão do acesso ao solo urbano em entrevista à Revista VERSUS em Agosto

de 2009.

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discussões socioespaciais que é a visão mercadológica em que é dada ao espaço

atualmente.

1.6. A Cidade Como um Grande Empreendimento

Em relação às transformações espaciais recentes da cidade, é importante nos

atermos a determinados grupos que vem atuando em seu processo de crescimento

espacial. Seguindo uma lógica que obedece a anseios e necessidades próprios,

esses grupos se utilizam de práticas que produzem, de modo descontinuo e

diferenciado, o espaço urbano.

Esses grupos são principalmente representados por grandes firmas que,

diversas vezes, necessitam modificar áreas, expandindo-as, com o intuito de

aumentar sua produção, clientela, e espaço físico. Para isso, freqüentemente,

selecionam áreas, ao seu ver, em potencial para atingir seus objetivos; mesmo que

para isso, tenha-se que modificá-la em grandes proporções.

Outra representatividade que compõe esses grupos cada vez mais

emergentes são as grandes corporações de construtoras que se apropriam de áreas

que apresentam grande potencial mercadológico para a inserção de condomínios

fechados, tanto horizontais como verticais. No entanto, em ambos exemplos, muitas

vezes, para que ocorram tais empreendimentos, é necessário a participação do

Estado. Este, por se tratar de um mecanismo também utilizado pelas elites, atua de

diversas formas em favorecimento destes grupos (regulamentando novas leis,

desapropriando áreas anteriormente particulares, realizando obras que agregam

melhores condições de infra-estrutura, etc.). Com isso, o Estado age

direta ou indiretamente, nas relações de trabalho, estimula de forma seletiva e freqüentemente discriminatória as diversas atividades, estabelece os usos do solo, impondo regalias e interdições e cria, até mesmo zonas especiais, como os distritos industriais ou as próprias regiões metropolitanas. Cada parcela do território urbano é valorizada (ou desvalorizada), em virtude de um jogo de poder exercido ou consentido pelo Estado (SANTOS, 2009:121-122).

Para o autor, uma conseqüência atrelada às ações estatais na dinâmica

espacial de uma cidade, se refere à utilização de capitais que passam cada vez mais

a ser inigualitários; e como a inserção dessas empresas requer um planejamento, é

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movido o uso do planejamento urbano.

Como novas economias serão criadas, novas desigualdades também serão: a

medida que o espaço é modificado, a distribuição de renda, de recursos, de capital

diminui. Em vista da sociedade em geral, o Estado diminui a sua atenção, enquanto

que para os interesses de grandes corporações se dedica ao máximo. Tudo

depende da lógica que opera o mercado:

Se a necessidade de modificar a cidade, reconstruir o espaço urbano faz-se sentir de forma repetida e a fracos intervalos, o erário público é chamado a ter despesas sempre maiores, toda vez que a cidade se torna inviável para o grande capital. Por conseguinte, há ciclos sucessivos de inviabilização e reviabilização da cidade, aumentando a superfície urbana, útil aos grandes capitais, estendendo a área urbana de forma específica, de maneira a permitir as condições exigidas pelas grandes firmas em matéria de espaço geográfico. O espaço das grandes firmas é um espaço particular, especial, organizado de forma específica, ao passo que a cidade tomada como um todo vai mudando de função. Desse modo, não basta atribuir o aumento do tamanho urbano apenas à lógica dos vazios especulativos, pois também temos de considerar a lógica espacial das grandes firmas (SANTOS, 2009:46).

Como o Estado atua de forma desigual em suas ações, principalmente a favor

da classe dominante, as desigualdades ficam mais visíveis. Isso pode ser observado

quando o mesmo transforma seletivamente os lugares, influenciado pelo interesse

do capital privado. Ao mesmo tempo, as classes mais desfavorecidas não recebem

a atenção devida (como a inserção de equipamentos públicos, como água, esgoto,

iluminação publica, saúde e educação). Corrêa (2007) analisa esta questão indo

mais longe: o autor afirma que esta atuação estatal pode implicar na expulsão de

moradores de loteamentos sem infra-estrutura quando essas áreas estão sendo

modificadas:

A contradição entre o modo individual de apropriação das condições de vida e o coletivo de gestão é, por sua vez, dificultada pela natureza privada e pulverizada dos agentes econômicos, cujos interesses não se referem a todo o conjunto do espaço urbano. No contexto das contradições acima referidas, o Estado encarrega-se de prover os equipamentos de consumo coletivo para todo o espaço urbano. No entanto, como o Estado é também o elemento de legitimação de classe dominante, sua atuação enquanto provedor tende, por um lado, a reforçar as áreas residenciais nobres, e por outro, a viabilizar o sucesso de novas implantações produtivas do grande capital, através, por exemplo, da criação de distritos industriais. Isto significa que a sua atuação não se realiza de forma uniforme no espaço urbano, atuação que se traduziria nos

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investimentos em água e esgoto, na criação de uma completa infra-estrutura para implantações industriais, na produção de novos espaços urbanizáveis, na abertura de vias de grande densidade de tráfego, na instalação de áreas de lazer, na renovação urbana, na construção de conjuntos habitacionais, mas também na expulsão de moradores e permissividade na proliferação de loteamentos populares sem infra-estrutura (CORRÊA, 2007:82-83).

O que se percebe, quando o Estado atua desta forma, é o seu distanciamento

e até o abandono em relação às classes mais populares. Quando os locais em que

esses moradores habitam recebem uma série de intervenções do capital privado,

gradativamente essa população não se vê incluída nesses novos planos; com isso,

muitas vezes, se retirando do local por não condizer com o novo contexto

socioespacial que se aplica ao local. Desta forma, como é analisado por Castells

(2009), a ausência do Estado nas intervenções públicas desencadeia uma série de

conseqüências a população mais humilde. Um exemplo ocorre quando são

praticamente expulsos de seu local de moradia: esses moradores vêem como

solução a invasão de terrenos livres; fenômeno que tem avançado atualmente não

somente na América Latina, como em grandes metrópoles mundiais (CASTELLS,

2009).

Desse modo, o Estado acaba criando uma situação em que as camadas

sociais mais pobres se tornam mais segregadas no espaço urbano, enquanto as

camadas locais "privilegiadas" se enclausuram em seu próprio ambiente,

contribuindo ainda mais com este fenômeno. Neste contexto, a desigualdade se

torna mais evidente:

Em nível político-institucional, a “democracia local” tende a reforçar as conseqüências da segregação, praticando uma política de serviços em função dos interesses da fração dominante de cada unidade administrativa. Com efeito, já que os recursos locais dependem do nível econômico da população, a autonomia local perpetua a desigualdade: quanto mais alto este nível, com efeito, menos se faz necessária uma intervenção pública no que concerne aos equipamentos coletivos. Portanto, as coletividades locais “privilegiadas” terão tendência a fechar suas fronteiras, deixando ao encargo do Estado federal as subvenções necessárias para as necessidades esmagadoras das coletividades desfavorecidas (CASTELLS, 2009:262).

Assim, com o intuito de reverter o quadro segregador e fragmentado que se

desenha nas áreas urbanas das cidades brasileiras, foram criados ao longo dos

anos, instrumentos urbanísticos voltados a melhorias quanto às problemáticas

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espaciais que se desenham atualmente. Estes instrumentos podem ser visualizados

através de Planos Urbanísticos, Lei de Zoneamento e Uso e Ocupação do solo, que

buscam estabelecer regras de moradias dignas, expansão ordenada e a

participação de grupos menos favorecidos na inserção urbana.

1.7. Alternativas dos Planos Urbanísticos

Os Planos Urbanísticos se destacam na orientação do estabelecimento de

melhores estruturas urbanas, tendo como pano de fundo a construção de políticas

públicas de saneamento, habitação e mobilidade (MARICATO, 2008).

Partindo do Projeto de Lei original 5.788/90, somado a outros 17 Projetos de

Lei, o Estatuto da Cidade (Lei N 10.257, de 10 de Julho de 2001), se torna o mais

importante entre os instrumentos urbanísticos, trazendo o debate sobre a Função

Social da Propriedade. Embora existam muitas dificuldades impostas (como a

aprovação ou não das propostas nas Câmaras Municipais), a Lei 10.257, segundo

Maricato (2008), é interessante, pois pode realizar um impacto nos preços do

mercado imobiliário, trazendo à realidade, a função social da propriedade.

Mencionado nos Artigos 182 e 183 da Constituição Federal Brasileira de

1988, como instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão

urbana para cidades com mais de vinte mil habitantes, o Plano Diretor (citado no

Estatuto da Cidade como um instrumento de política urbana, em especial de

planejamento municipal), é um instrumento urbanístico que se encontra mais

inserido na realidade municipal. No entanto, este plano, apresenta uma discussão

muito complexa; pois traz realmente a possibilidade de reverter o quadro segregador

da propriedade urbana, dando outro viés à desigualdade social; mas para que tal

feito se concretize, é necessário que o Plano Diretor seja aprovado pelas Câmaras

Municipais, passando por cima do interesse dos que controlam o mercado imobiliário

citadino, ou seja, quem, muitas vezes, detém o poder local. Desta forma, a sua

aprovação se mostra como um grande desafio; e a sua implementação, um desafio

ainda maior.

Devido a estas circunstâncias, muitas vezes, o que é aplicado pelos Planos

Diretores fica muito aquém do que está escrito em lei. Maricato (2008) analisa que

os Planos Diretores além de não implementarem totalmente na prática o que é

proposto no papel (resumidamente, a visão proposta em lei do Plano Diretor é a

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orientação dos investimentos, não a favor do mercado privado, mas sim de acordo

com o interesse público; com um novo padrão de fiscalização e uma normativa

cidadã e universal, além de um discurso claro para que a população possa entender

e participar de tal debate), utilizam-se de uma linguagem específica, carregada em

terminologias e conceitos modernos, mostrando, mais uma vez um discurso

avançado, porém com práticas arcaicas.

Todas as ressalvas a respeito do Plano Diretor revelam a discrepância entre o

que se busca na lei e o que é verdadeiramente posto em prática. Desta forma,

Maricato reforça tal discussão: “É preciso mudar a concepção do Plano Diretor, o

qual está previsto na Constituição Federal, mas que, há décadas, tem cumprido um

papel ideológico mais do que instrumento de orientação da gestão e dos

investimentos” (MARICATO, 2008:118).

Dentre as definições descritas no Plano Diretor, cabe ressalvar a Lei de

Zoneamento, a qual é vista como o que há de mais moderno no ordenamento, uso e

ocupação do solo, também existem equívocos. Maricato mostra, a partir de

conclusões críticas, a busca em trazer um novo ordenamento urbano, a partir de

regras genéricas e universais que:

1) [...] está bastante descaracterizada com grande parte das edificações e seu uso, fora da lei; 2) dificulta a ampliação do mercado privado em direção à camadas de mais baixa renda; 3) desconsidera a questão ambiental; 4) é de difícil compreensão e aplicação; 5) ignora as potencialidades dadas pelos arranjos locais ou informais; e, finalmente, 6) contribui com a segregação e a ilegalidade (MARICATO, 2008:114).

O que a autora busca mostrar é o como a Lei de Zoneamento está sendo

aplicada, reforçando a manutenção do mercado imobiliário, excluindo as

possibilidades da inserção da Função Social da Propriedade; e que a lei deve ser

repensada; sendo aplicada de forma que contribua na ampliação do direito à cidade

e não o contrário. Neste caso, o que deve ser buscado através da Lei de

Zoneamento é a valorização de temas que já se encontram em voga desde a

década de 1960 (como o de importância para a integração urbana, preocupação

com o meio ambiente, saneamento, morfologia, etc.); todos estes devem estar

envolvidos com a integral participação da população. Desta forma, o zoneamento

pode contribuir com o estabelecimento de áreas de uso misto ou de moradias de

diferentes faixas de renda e também com o barateamento do custo de moradias.

Como será observado mais adiante, o Plano Diretor da cidade de Campos

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dos Goytacazes, também apresenta falhas na sua aplicação, além de se ausentar

na interação de populações mais carentes, moradoras de locais que estão

recebendo novos empreendimentos, como é o caso da área de entorno da Favela

Margem da Linha.

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CAPÍTULO 2. METODOLOGIA

A partir do que foi apresentado na introdução e no referencial teórico,

percebeu-se que a Favela Margem da Linha seria um importante objeto de estudo

para explorar e contribuir com a discussão sobre favelas no Brasil e, principalmente,

em Campos dos Goytacazes.

A escolha da Favela Margem da Linha como objeto deste estudo partiu,

primeiramente, de pesquisas de campo que foram realizadas neste local para

realização de pesquisa coordenada pelo IPPUR e pela UENF6. Com as pesquisas

de campo e a leitura de dissertações e monografia vinculadas ao tema, foi surgindo

o interesse ainda maior de estudar esta área.

Quando foram anunciados os novos empreendimentos que seriam instalados

na área de entorno da favela (Figura 01), percebeu-se a possibilidade de estar

surgindo uma nova problemática que tornaria ainda mais instigante a discussão do

tema favela, como segregação, políticas sociais e o Plano Diretor entre outros

temas.

6 Pesquisa “REDE INFORIO: acesso dos pobres a cidade informal e mobilidade residencial nas

favelas: características da mobilidade residencial dos pobres e do mercado informal urbano no Estado do Rio de Janeiro”, coordenada pelo Doutor Pedro Abramo IPPUR/UFRJ em parceria com a UENF, sob a responsabilidade professora Teresa Peixoto Faria.

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Figura 01. Delimitação da área de estudo. Observe-se a área antes da inserção dos novos empreendimentos, em 1995, a qual só apresentava o Terminal Rodoviário Shopping Estrada. Fonte: FUNDENOR, 1995. Adaptado pelo autor.

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Com o propósito de responder às questões levantadas na introdução, foram

traçados procedimentos com o intuito de auxiliarem o desenvolvimento do Estudo:

O primeiro passo foi a realização de leituras de obras e artigos relacionados à

questão urbana em geral e em particular relativas ao processo de favelização,

segregação, “emuralhamento” da vida social, ilhas utópicas e fragmentação.

No ano de 2010 foram realizadas novas pesquisas de campo para a aplicação

de questionários com o intuito de fazer um pré-teste na Favela Margem da Linha.

Realizado no dia 01/11/2010, o pré-teste teve como intuito observar qual a realidade

existente na favela, suas características principais e como a população iria encarar a

presença de uma pessoa “estranha” na favela.

A partir daí, o questionário sofreu alterações para captar a opinião da

população quanto a questões vistas como importante para o estudo.

Como foi observado no pré-teste, as respostas da população que respondia o

questionário não eram muito diferentes. Sendo assim, foi estipulado que seriam

aplicados 25 questionários em todo trajeto da favela reconhecido pelos moradores

como Favela Margem da Linha, ou seja, da Avenida Sílvio Bastos Tavares (Estrada

do Contorno) até a entrada da Estrada de Lagoa de Cima (uma distância de 4,5 km).

No período em que foram aplicados os questionários, houve observações

diretas do local e conversas com os moradores para entender melhor como ocorre a

sua dinâmica.

Para fazer um melhor apanhado de dados, buscou-se aplicar igualmente os

questionários na Favela Margem da Linha: 8 no início da favela (próximo a Avenida

Silvio Bastos Tavares, da casa 01 até a casa 129, conforme Figura 02), 8 na metade

(da casa 130 até próxima a casa 259, conforme Figura 03) e 9 no final (próximo a

Estrada de Lagoa de Cima, da casa 260 ate a casa 389, conforme Figura 04), e os

questionários utilizados foram aplicados durante os anos de 2010 e 20117.

7 A aplicação dos questionários foi realizada durante as seguintes datas: 01/11/2010, 23/11/2010,

23/02/2011, 26/02/2011 e 05/04/2011.

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Figura 02. Primeira área de aplicação dos questionários. A figura apresenta a Avenida Antônio Alves Poubel em frente ao Centro Juvenil São Pedro filiado a rede Salesiano de Ensino. Fonte: Fotografada pelo autor em 01/11/2010.

Figura 03. Segunda área em que foram aplicados os questionários, próxima a casa nº 190. Fonte: Fotografada pelo autor em 26/02/2011.

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Figura 04. Terceira área de aplicação dos questionários. A figura apresenta as residências próximas a casa nº 360 é mais marcante a diferença entre o tipo das construções e a sua forma de distribuição espacial em relação as Figura 02 e 03. Fonte: Fotografada pelo autor em 26/02/2011.

Observando as três figuras a cima, é possível notar a presença dos postes de

iluminação pública da concessionária Ampla, fato que será comentado também no

Capítulo 5 quando os moradores apresentam suas contas de luz durante o campo.

Também através das figuras, observa-se que à medida que se avança a Avenida

Antônio Alves Poubel em direção à Tapera, surgem características físicas diferentes.

Na Figura 02, se visualiza a Avenida Antônio Alves Poubel mais larga, organizada,

limpa, com menor número de moradores circulando nas ruas; já nas Figuras 03 e 04,

a composição da imagem é mais carregada de informações como casas, árvores,

pessoas e entulho. Estas imagens mostram uma diferenciação dos espaços no

interior da favela, denunciando que sua configuração espacial não é homogênea.

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CAPÍTULO 3. O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO ESPACIAL EM CAMPOS DOS GOYTACAZES: O SURGIMENTO DA FAVELIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO VERSUS ATUAÇÃO DO PLANO DIRETOR 3.1. O Processo de Transformação Espacial de Campos dos Goytacazes

O espaço urbano da cidade de Campos dos Goytacazes sofre desde a sua

gênese, uma série de mudanças espaciais. Além da atividade açucareira, da igreja,

do comércio e do poder local – seus principais atores (FARIA, 2001) –, a cidade

também sofreu mudanças espaciais em decorrência de outros dois processos

histórico-sociais, que foram as Reformas Urbanísticas (entre a segunda metade do

século XIX e início do século XX) e o Fim do Colonato (a partir de 1943).

Vale frisar que esses processos possuem características peculiares, mas

todos foram importantes para o surgimento, possivelmente, do processo de

favelização e do fenômeno segregação na cidade de Campos dos Goytacazes.

3.1.1. Reformas Urbanísticas

O primeiro processo a ser tratado se refere às Reformas Urbanísticas; com

foco nas que ocorreram na cidade de Campos dos Goytacazes entre a segunda

metade do século XIX até a primeira década do século XX. Essas reformas visaram

a modernização do espaço urbano através de intervenções urbanísticas, assim

como mudanças na conduta social de sua população periférica (POHLMANN, 2003;

FARIA, 2005b).

A cidade de Campos dos Goytacazes, ainda uma vila, se caracterizava em

possuir uma população predominantemente rural. Lamego Filho (1974) apud Faria

(2001) cita a vila de Campos, no período colonial (século XVIII), como

“exclusivamente rural”.

Consequentemente, a imagem da cidade é vista como desqualificada (FARIA,

2001), em virtude da preferência da elite em viver na área rural ao invés do espaço

urbano. Porém, com o passar do tempo, pode-se dizer que "[...] a cidade criava sua

própria estrutura e sua própria dinâmica, a partir de atividades e de práticas sociais

propriamente urbanas, se impondo diante do mundo rural que a cercava. (FARIA,

2001:5)”.

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No entanto, as condições sanitárias das residências e das ruas da cidade

ainda deixavam a desejar, e somente no século XIX surgem intervenções

significativas por parte do Poder Público; que buscavam drenar determinadas lagoas

e brejos e criar novas ruas, instalando novas redes de água e esgoto sanitário,

trazendo melhorias nas condições de higiene, principalmente na área central da

cidade (FARIA, 1992 apud PÓVOA, 2002:35).

Mesmo com as intervenções criadas pelo poder público, o espaço urbano da

cidade campista continuou a se expandir de maneira desordenada; testemunhando

a inserção de classes populares em áreas periféricas, onde estas eram afastadas e

com condições sanitárias precárias, o que mostrava os desequilíbrios e

discrepâncias entre a periferia e o núcleo central:

A expansão da cidade em direção às novas áreas sem uma planificação, sem infra-estrutura vai desencadear vários problemas no espaço urbano e evidenciar as contradições, os desequilíbrios existentes entre os diferentes bairros e a articulação e integração com o núcleo central (FARIA, 2000:7). Por sua vez, a população pobre ocupou a periferia da cidade enquanto local de moradia, o que contribuiu para o seu processo de expansão, ainda que as melhorias urbanas, datadas no final do século XIX, não tivessem chegado a essas áreas, sendo precárias as condições de vida próximas às lagoas e brejos que não tinham sido saneados (PÓVOA, 2002:35-36).

O período das Reformas Urbanísticas foi marcado por transformações

espaciais em outras cidades além de Campos, como foi o caso da cidade do Rio de

Janeiro. Além de neste mesmo período, a cidade campista ter desempenhado um

importante papel na economia nacional através da produção de açúcar. Com isso, a

Câmara Municipal campista se deteve ao quadro citadino que se desenhava de

maneira desordenada e insalubre com maior atenção:

O velho tecido urbano é transformado progressivamente, graças às reformas que visam, além do embelezamento da cidade, dar-lhe uma melhor funcionalidade, adaptando-a aos interesses da economia capitalista e da burguesia em plena ascensão. Finalmente, neste começo do século XX, é necessário dotar a cidade dos símbolos do progresso e de uma imagem de modernidade (FARIA, 2000:6).

Este período também ficou marcado pela constante presença de médicos e

sanitaristas no comando de diversas cidades brasileiras, o que se aplicou ao caso

de Campos, favorecendo ainda mais nas obras de embelezamento e higienização

na cidade:

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[...] os médicos através do trato com as questões ligadas à higiene e à saúde pública, e os engenheiros na construção de redes de infra-estrutura urbana e de transporte, contribuíram para a implementação de reformas na estrutura urbana de Campos (PÓVOA, 2002:35).

Assim, os principais projetos urbanísticos que foram implantados em Campos

dos Goytacazes foram: I. Saneamento de Campos, elaborado em 1902 por

Saturnino de Brito; II. Plano Urbanístico de 1944, elaborado pela empresa Coimbra

Bueno; III. Plano de Desenvolvimento Físico Territorial de Campos de 1979 (PDUC),

elaborado e dirigido pelo arquiteto Raul David Linhares (prefeito na época).

O primeiro deles, o projeto Saneamento de Campos, baseado nas visões de

“Ordem e Progresso”, buscava não somente a higienização física da cidade, como

também a higiene moral da população, buscando mudar a sua conduta social.

Para tanto, o plano inclui a desapropriação e demolição de prédios distribuídos por toda a área central que, coabitados e de servidão promíscua, dificultam o controle social. Brito propõe então que, através de iniciativas públicas e particulares, sejam construídas na área periférica da cidade “Habitações populares – salubres e econômicas” para onde a população pobre, herdeira da conduta imoral e viciosa do passado colonial imperial, deve ser conduzida a fim de que, nestas moradias sejam reguladas suas reações enquanto elementos sociais oprimidos cujas manifestações assumem formas variadas (AMARAL & FARIA, 2005:103).

Brito tinha como ideal que o subúrbio deveria se tornar local de moradia para

a população operária. Assim, ele propõe que esta população venha a se instalar em

áreas periféricas da cidade.

Embora o Plano Saneamento de Campos de Saturnino de Brito tenha trazido

contribuições nas modificações tanto na parte central, quanto na periférica da

cidade, eram mais evidentes os problemas de crescimento urbano desordenado:

É assim, que se vê Benedito Pereira Nunes, idealizador do projeto "da cidade saneada", neste momento, representante do Senado Federal, retomar o seu discurso quatro anos depois do projeto de Saturnino de Brito. Este constatando que a cidade não mudou. Desde então, solicita em discurso, publicado em setembro de 1906 na Gazeta do Povo, a intervenção do governo federal: "Em 1901 quando eu presidia a Câmara Municipal de Campos, eu disse que - realmente, Campos, dotada de uma natureza e de uma situação topográfica excepcionais e que poderia ser chamada a Sultana da Paraíba, se transformou, por negligências da engenharia indígena e da edificação colonial, numa cidade de ruas tortuosas, de becos e de ruelas escuras, cheio de casebres obscuros e insalubres, criando,

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assim, um ambiente de condições idênticas às das cidades asiáticas, onde a peste é endêmica. Os velhos casebres que existem ainda hoje e onde vive a classe operária pagando baixos aluguéis, confirmam este estado de coisas. Atentados flagrantes às regras de higiene, legitimando de maneira criminosa o direito dos proprietários pouco escrupulosos, exploradores conscientes dos pobres moradores de casebres úmidos, verdadeiros pardieiros pagos com o suor das vítimas” (FARIA, 2000:3-4).

Mesmo com os avanços na criação de novas formas de circulação pelo

espaço urbano (como ônibus e bondes elétricos), com a função de ligar o Centro da

cidade a bairros mais distantes (FARIA, 2000), ainda presenciava-se fatores

agravantes que dificultavam a implantação dos Planos Urbanísticos. A partir da

década de 1930, o setor cafeeiro inicia um processo de declínio, levando ao

desemprego trabalhadores ligados à atividade cafeeira. Ao mesmo tempo,

continuavam a ser denunciadas, com o passar dos anos, por novos jornais de

oposição, mais discrepâncias entre as obras de embelezamento que ocorriam no

Centro citadino e a situação encontrada nos bairros mais afastados já durante a

década de 1940:

Porém, os efeitos de um crescimento urbano complexo e mal controlado se torna cada vez mais evidente. Na imprensa, as reclamações denunciam a existência de uma cidade que até então era desconhecida do poder público local, mais preocupados com o embelezamento da parte central e com a estruturação do “quadrilátero”. Com a aparição de novos jornais representativos de outros grupos e de outros interesses, revelam-se os jogos de forças nas intervenções, contribuindo para a expansão da cidade em diferentes direções. Vejamos como exemplos, as notas publicadas da Folha do Comércio: 09/01/1940: “Um Mercado para o povoado bairro do Turf: constatamos a necessidade de um mercado no povoado bairro do Turf devido a distância que separa esta zona da cidade do mercado da rua Formosa; falta meios de transporte para o desenvolvimento deste bairro que diariamente vê aumentar o número de residências e de comércios”. 21/01/40: “O novo bairro do Saco”: A companhia de Estradas de Ferro Leopoldina Hailways constrói 12 casas para seus funcionários. Nos bairros da Lapa e Matadouro, a necessidade se impõe de se prolongar a rua 7 de Setembro para unir estes bairros ao centro, as chuvas destroem os caminhos. (FARIA, 2000:9).

Vistos os avanços deste quadro de desigualdade urbana, principalmente nas

áreas periféricas, o então prefeito da época, Salo Brand, contrata a empresa

Coimbra Bueno Engenheiros, Urbanistas e Arquitetos Cia Ltda, para elaborar um

projeto urbanístico abrangente para a cidade de Campos dos Goytacazes, sendo

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intitulado Plano de Urbanização, Remodelação, Extensão e Embelezamento ou

Plano Urbanístico de 1944.

O Plano Urbanístico de 1944 buscava executar intervenções em áreas

periféricas da cidade, assim como “corrigir” as ações dos planos aplicados

anteriormente. Um ponto importante do plano foi privilegiar uma organização da

cidade com foco em direcionar e ordenar sua expansão para áreas periféricas:

Assim, a pedido de Salo Brand, a Empresa Coimbra Bueno elabora o Plano Urbanístico de 1944. Este foi concedido para, primeiramente, "corrigir" os erros das intervenções anteriores que tenderam apenas à valorização e embelezamento das áreas centrais e, segundo, orientar a expansão da cidade, integrando, por exemplo, inúmeros bairros que não foram considerados pelos planos anteriores (FARIA, 2005a:12).

Embora o Plano de 1944 buscasse direcionar e ordenar a expansão urbana

para áreas periféricas, com a inserção de uma nova lei trabalhista em 1º de maio

1943 (a Consolidação das Leis do Trabalho), a desaceleração do parque industrial

sucroalcooleiro, a perda de dinamismo da produção açucareira na região Norte

Fluminense e a aquisição de muitas usinas campistas por usineiros do Nordeste na

década de 1950 (SILVA & CARVALHO, 2004), acentuou-se a baixa produtividade da

lavoura de cana; com isso, aumentou-se o desemprego na região e as migrações

para a cidade, o que elevou a demanda por habitações e o encarecimento da terra

urbana, contribuindo para o adensamento de bairros populares. A partir daí, Campos

passa a apresentar marcantes problemas sócioespaciais se em vista aos do

passado, representado pelo forte desequilíbrio entre seus bairros:

Pinto (1987) nos informa, ainda, que já no período compreendido entre 1950-1960, devido ao declínio nas lavouras de café e o advento das novas leis trabalhistas no campo, a cidade já experimentava as consequências do êxodo rural como, por exemplo, uma intensa ocupação da zona urbana, promovendo na mídia e aos grupos próximos ao centro, receios e insegurança em ralação às ocupações irregulares e os grupos que começam a demarcar, de forma mais visível, o processo de favelização campista. (FARIA, 2005a:13).

Com o evidente contraste entre o centro e a periferia e as irregularidades do

tecido urbano cada vez mais evidentes, em 1979, o então prefeito, Raul David

Linhares, elabora, com base no Plano Urbanístico de 1944, o Plano Urbanístico e

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Territorial de Campos-PDUC. O plano dava maior atenção às áreas menos

privilegiadas e carentes de infra-estrutura. Além de ser definido na tentativa de

[...] promoção do desenvolvimento físico e territorial urbano do Município de Campos, de acordo com as relações sócio-econômicas, antropológicas e culturais do momento. Tanto as entidades públicas como as privadas deveriam obedecer às leis consideradas como de efetivação do PDUC: 1) Lei dos Perímetros Urbanos; 2) Lei de Zoneamento e Uso do Solo; 3) Lei de Parcelamento do Solo e 4) Código de Obras (VIEIRA, 2003 apud FARIA, 2005a:13).

Como nos Planos anteriores, novos problemas surgem agravando o contexto

socioespacial campista, dificultando a implementação do PDUC na cidade. Nos anos

1980 e 1990, a produção do setor sucroalcooleiro, cuja crise havia se agravado já no

final dos anos 1970, entra em colapso (MACIEL, 2008), agravando ainda mais o

quadro de segregação da cidade.

Com o fechamento de grande parte das usinas da região, gerou-se um

elevado grau de desemprego. Grandes massas de desempregados formaram

bolsões de pobreza no entorno de Campos e cidades vizinhas; tornando o modelo

urbano de cidade cada vez mais segregado.

A população mais carente não encontrando acesso a determinados espaços

urbanizados partiu em busca de terrenos irregulares ou rejeitados; espaços

utilizados para a construção de suas moradias. Da mesma forma que em outras

cidades do país, viu-se que Campos dos Goytacazes também sofreu conseqüências

da crise econômica dada a partir dos anos 1980. O processo de favelização se

acentuou, assim como o de segregação socioespacial. Com isso, é possível afirmar

que os projetos urbanísticos implantados em Campos no período entre o século XIX

e XX não concretizaram totalmente o que lhes era proposto em decorrência de “[...]

não terem sido implantados na sua integridade e por falta de intervenções concretas

nas áreas periféricas, voltadas para as necessidades das camadas populares

(FARIA, 2005a:13)”, o que contribuiu para que o “[...] espaço urbano apresentasse

uma dupla configuração, a partir deste período [...] (PÓVOA, 2002:37)”, ou seja,

ressaltasse na dualidade centro-periferia.

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39

3.1.2. Fim do Colonato

Além da evidenciada a crise nos principais setores agrícolas do estado do Rio

de Janeiro – o café, com sua produção em um declínio vertiginoso a partir de 1933

no Noroeste Fluminense (SILVA & CARVALHO, 2004), e a cana-de-açúcar,

apresentando sinais mais evidentes na década de 1950 na cidade de Campos dos

Goytacazes –, outro fator que acarretou em um acentuado número de migrações

para diversas cidades da região, incluindo a campista, foi o fim das relações entre

patrão e empregado8; sendo esta questão interferida pelo Estado na década de

1940, com a implementação de leis trabalhistas como a CLT (Consolidação das Leis

do Trabalho de 1943).

O Estado passa a assumir alguns itens do custo de reprodução da força de trabalho (aposentadoria, abonos-doença, etc.) enquanto outros são repassados ao próprio trabalhador. Dentre estes, a moradia é, sem dúvida, um dos principais (PIQUET, 1986:71).

Com a regulamentação das leis trabalhistas, o Estado formaliza a relação

patrão-empregado descrevendo seus direitos e o que compete a cada um. Além

disso, é estipulado um valor mínimo (salário mínimo) como forma de pagamento ao

trabalho executado pelo empregado. Este salário deveria abranger as necessidades

mínimas de alimentação, vestuário, locomoção, etc.:

Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.

Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.

[...] Art. 6º - Não se distingue entre o trabalho realizado no

estabelecimento do empregador e o executado no domicílio do empregado, desde que esteja caracterizada a relação de emprego.

[...] Art. 76 - Salário mínimo é a contraprestação mínima devida e

paga diretamente pelo empregador a todo trabalhador, inclusive ao trabalhador rural, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada época e região do País, as suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte.

[...]

8 Comumente nesse período eram observadas moradias oferecidas aos empregados pelos patrões

em suas fazendas. Sendo possível, em alguns casos, o acesso do empregado à um pedaço de terra para cultivo próprio ou a uma ou duas cabeças de gado para criação (NEVES, 1986).

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Art. 78 - Quando o salário for ajustado por empreitada, ou convencionado por tarefa ou peça, será garantida ao trabalhador uma remuneração diária nunca inferior à do salário mínimo por dia normal da região, zona ou subzona.

[...] Art. 81 - O salário mínimo será determinado pela fórmula Sm

= a + b + c + d + e, em que "a", "b", "c", "d" e "e" representam, respectivamente, o valor das despesas diárias com alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte necessários à vida de um trabalhador adulto (DECRETO-LEI N.º 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943).

Com as mudanças realizadas pelo Estado nas relações de trabalho, os

patrões, com receio de sofrerem "ameaça de cobrança dos valores financeiros

correspondentes aos direitos adquiridos (NEVES, 1986:91)", iniciaram um processo

de desligamento com os trabalhadores. Como a grande maioria dos empregados

habitava casas pertencentes ao patrão em sua propriedade, quando desvencilhados

do local de trabalho conseqüentemente perdiam a moradia:

Assim, para o industrial, estas vilas ao mesmo tempo que pouco significavam em termos de custos econômicos, permitiam uma forma a mais de dominação; o trabalhador a ele se subordinava duplamente: pelo emprego e pela moradia. A perda do emprego automaticamente significava a perda da moradia (PIQUET, 1986:76).

Com o desvencilhamento entre patrão e empregados, conseqüentemente os

trabalhadores não puderem satisfazer parte de suas necessidades (principalmente o

de uma moradia própria) através de um salário ou por meio de um financiamento

público. Com isso, muitos viram como solução a sua inserção em áreas da chamada

"periferia urbana":

A grande maioria dos trabalhadores se vê assim obrigada a buscar sua inserção no espaço urbano de forma quase clandestina; nas franjas da cidade, enfim, na chamada "periferia urbana" onde, além da casa, cabe ao trabalhador construir este pedaço da cidade (PIQUET, 1986:83-84).

Dessa forma, a partir das Reformas Urbanísticas, crises no setor agrícola nas

regiões Norte e Noroeste Fluminense e da extensão das leis trabalhistas ao campo,

observou-se em maior potencial, um adensamento nas áreas periféricas,

notadamente na cidade de Campos dos Goytacazes, o que provocou possivelmente

no surgimento do processo de favelização nessa cidade.

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3.2. O Processo de Favelização em Campos dos Goytacazes

A maior parte dos migrantes rurais que se dirigiram para a cidade foram

atraídos a trabalhar em usinas de açúcar ainda ativas, localizadas em áreas urbanas

como a Queimado, Cupim, São José e Santo Antônio, o que contribuiu para o

surgimento do processo de favelização em Campos dos Goytacazes.

Com o processo de migração surgem os problemas habitacionais da cidade, relacionados à falta de moradia, uma vez que os problemas até então existentes dizem respeito à falta de saneamento básico e de infra-estrutura urbana (PÓVOA, 2002:39).

De acordo com POHMANN (2008) (Tabela 01), pelo menos cinco favelas

surgem nos anos 1940 na cidade de Campos dos Goytacazes: Aldeia (1940),

Parque Bela Vista (1940), Rio Ururaí (1940), Ilha de Ururaí (1947), Baleeira (1948).

Além dessas, Guimarães e Póvoa (2005) ainda acrescentam, nesse período, o

surgimento da Favela Tamarindo (1948)9.

Entre as décadas de 1950 e 1960, o processo de parcelamento da terra se

intensifica tendo uma grande ocupação além dos leitos das ferrovias (GUIMARÃES;

PÓVOA, 2005).

Data dos anos 40, o surgimento das primeiras favelas em Campos - a Tamarindo, a Aldeia, o Parque Bela Vista e a Rio Ururaí. Mas é nos anos 60 que se verifica o seu maior crescimento, quando surgem 15 novas áreas de ocupação, em decorrência da aceleração do processo de migração campo-cidade, provocado pela decadência da agroindústria açucareira. Outro fator que contribui para o aumento e proliferação da favelas em Campos, nesse período, foi a enchente do Rio Paraíba nos anos 60, quando muitas famílias ficaram no desabrigo passando a ter como moradia a favela (PÓVOA, 2002:39-40).

Segundo o estudo Projeto Especial Cidades de Porte Médio - Perfil de

Campos (1983), nesse período surgem novas favelas, o que pode ser confirmado

através da Tabela 01, onde surgem entre as décadas de 1950 e 1960 mais

dezenove favelas: Estrada do Carvão (1950), Fundão (1950), Inferno Verde (1950),

Presidente Vargas (1950), Oriente (década de 1950), Lagoa do Vigário (1957),

Matadouro (1958), Aeroporto/Bonsucesso (1960), Tira-Gosto (1960), Ilha do Cunha

9 A partir do ano de 1991 a Tamarindo não é mais considerada uma Favela, pois apresenta um número inferior a 50 residências conforme o IBGE (Pessanha, 2004).

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(1962), Bariri (1963), São Matheus (1964), Prazeres (1965), Farofa (1966), Margem

da Linha (1968), Avenida Central (1969), Patronato (final da década de 1960), Risca

Faca (final da década de 1960) e Siqueira e Silva (final da década de 1960); o que

coincide com a época da erradicação dos cafezais e do esvaziamento econômico do

Norte Fluminense.

Entre as décadas de 1970 e 1990 ainda é observado um aumento no número

de favelas na cidade de Campos: Escova Urubu – Rodovia Campos/Vitória (1970)10,

Palestra (1970), Chatuba (1976), Fofoca (1980) e Terra Prometida (1992). O

surgimento dessas novas favelas foi influenciado, principalmente, pela crise no setor

sucroalcooleiro da região a partir da década de 1970, que nas décadas seguintes

entra em colapso.

Segundo dados do IBGE (Censos de 1991, 1996 e 2000), extraídos por

Pessanha (2004), o número de favelas na cidade de Campos dos Goytacazes

aumentou neste período, totalizando 32. Foram incluídas, além das já citadas, as

favelas Santa Luzia e Goytacazes/Canema11.

Observa-se que a partir da década de 1990 diminui o número de favelas que

surgem na cidade de Campos dos Goytacazes. Através dos estudos de Pessanha, o

que se observa atualmente é um fluxo migratório de moradores entre as favelas.

Isso se deve a determinados fatores como a violência e proximidade com o local de

trabalho que pesam na escolha do melhor local para a moradia.

Durantes as leituras realizadas sobre a origem das favelas em Campos dos

Goytacazes, percebe-se que pouco ainda foi estudado sobre o tema. Além de

alguns dados encontrados sobre as mesmas estarem em desencontro,

principalmente quando se trata de um número total de favelas atualmente instaladas

na cidade.

10 Pessanha (2004) apresenta duas favelas Escova – Urubu: a primeira está localizada no bairro

Aeroporto, enquanto a segunda se localiza no bairro Travessão, totalizando em seu estudo (a partir de dados extraídos dos Censos de 1991, 1996 e 2000) um total de 32 favelas instaladas na cidade de Campos dos Goytacazes atualmente.

11 Os anos de surgimento das duas favelas não foram informados no estudo de Pessanha (2004).

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3.3. Atuação do Plano Diretor de Campos dos Goytacazes

O Plano Diretor, datado de 31 de Março de 2008, possui como norteador o

Plano de Desenvolvimento Urbano de Campos (PDUC), o que favorece e dá

continuidade a algumas melhorias sócioespaciais na cidade de Campos dos

Goytacazes:

[...] é o Plano de Desenvolvimento Urbano de Campos (PDUC) que, desde 1980, revisto em 1998, quem conduz o que o Plano Diretor deveria conduzir: as políticas públicas deste município (RODRIGUES, 2005:120).

Após a leitura do Plano Diretor observa-se que o mesmo possui muitos

pontos interessantes em sua redação, e esses, sendo aplicados da maneira que é

proposta, iriam beneficiar sua população de diversas formas.

Com isso, serão a seguir enumerados os seus principais pontos para que

após seja realizada uma análise dos mesmos.

O Plano Diretor apresenta no Artigo 131, um macrozoneamento municipal,

com a finalidade de dividir o município campista em quatro macroáreas em

decorrência de suas características peculiares (morfologia, feições ambientais, etc.),

apresentadas nos seguintes incisos: I. Áreas Urbanas; II. Áreas de Preservação

Natural e Cultural e de Valorização Turística; III. Áreas de Desenvolvimento Rural

Sustentável; IV. Áreas de Potencial para Atividades Produtivas.

Neste estudo, será dada maior atenção ao primeiro inciso do Artigo 131 –

Áreas Urbanas –, que abrangem as áreas urbanizadas consolidadas e as áreas de

expansão urbana; ambas compreendidas pelo perímetro urbano.

As áreas urbanas consolidadas “abrangem a sede municipal, sedes distritais

e os núcleos urbanos, cujas terras estejam parceladas (integral ou parcialmente

ocupadas) e sejam dotadas de infra-estrutura e de serviços urbanos básicos” (Artigo

134, inciso I). Já as “áreas de expansão urbana abrangem as parcelas do território

ainda não parceladas para fins urbanos, localizadas entre a área urbana consolidada

e o limite do perímetro urbano” (Artigo 134, inciso II).

A Macroárea Áreas Urbanas é subdividida em sete Macrozonas: I. De

Proteção Ambiental; II. Central; III. De Adensamento Controlado; IV. Consolidação

Urbana; V. Ocupação Controlada; VI. Atividades Produtivas de Serviços e VII.

Expansão Urbana. Neste estudo, será dada atenção às macrozonas que se

encontram sobrepostas a área em estudo: IV, V e VII.

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Segundo o Artigo 163, a “Macrozona de Consolidação Urbana abrange áreas

ocupadas de forma ilegal ou parcial, nas quais serão admitidas densidades baixas e

médias e para as quais torna-se indispensável a complementação da infra-estrutura

e serviços urbanos onde necessários (LEI NÚMERO 7.972, 2008: p. 65)”.

Vale ressaltar que as principais diretrizes territoriais previstas para esta

macrozona são a ocupação dos espaços vazios e o reforço das centralidades

existentes e a criação de novas centralidades.

A Macrozona de Ocupação Controlada acompanha “as áreas destinadas

prioritariamente ao uso residencial, ainda não dotadas plenamente de infra-estrutura

para as quais o parcelamento do solo e sua ocupação estarão subordinadas ao

provimento de infra-estrutura e serviços urbanos necessários” (LEI NÚMERO 7.972,

Artigo 166, 2008:66). Suas principais diretrizes são o incentivo à ocupação

residencial de baixa densidade e a ocupação prioritária de áreas já infraestruturadas.

Quanto a Macrozona de Expansão Urbana, o Artigo 172 esclarece que tal

expansão “abrange áreas ainda não parceladas ou ocupadas para fins urbanos, para

quais será obrigatoriamente exigidas a execução de Planos de Ordenamento do

Território”. A principal diretriz territorial prevista para a Macrozona de Expansão

Urbana é o parcelamento e ocupação, condicionados a integração à malha da

cidade.

Vale destacar que o Plano Diretor se baseia na “Inclusão social, mediante

ampliação da oferta de terra urbana, moradia digna, infra-estrutura urbana, serviços

e equipamentos públicos, trabalho e lazer para população de Campos dos

Goytacazes, segundo os princípios da acessibilidade urbana, do desenvolvimento

sustentável, da universalização da política urbana e da função social da

propriedade” (LEI NÚMERO 7.972, 2008:01); além disso, o Plano Diretor visa à

estruturação da cidade e a distribuição de atividades urbanas através de um

ordenamento de sua malha12.

Para auxiliar na solução dos problemas sócioespaciais urbanos, observa-se

algumas medidas no Plano Diretor. Uma delas é vista no Artigo 84, inciso V, que

trata de rever o parcelamento do solo, de forma que se ofereçam lotes menores para

a população carente, além de levar para estas áreas, equipamentos urbanos e infra-

estrutura digna. Além disso, busca-se fiscalizar o efetivo cumprimento da legislação

12 Isso pode ser conferido no Artigo 80 (incisos I, II e III), que trata de melhorias na expansão urbana

citadina e para que estas ocorram de forma equilibrada (com a criação de novas formas de ocupação e adensamento do solo urbano). Além disso, o presente artigo trata de melhorias na mobilidade intraurbana.

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de: uso do solo urbano, parcelamento e código de posturas, conforme o Artigo 93,

inciso I.

Ainda no Plano Diretor encontra-se uma importante medida: promover o

acesso a terra e a moradia digna, reduzindo o déficit habitacional e coibindo a

prática de loteamentos clandestinos e irregulares (Artigos 99, 102 e 104).

Porém, após a leitura do que foi proposto pelo Plano Diretor à cima,

comparando com o que foi observado durante as saídas de campo deste estudo,

percebeu-se que alguns pontos ainda não foram postos em prática na íntegra; e se

levarmos em conta a área estudada nesta dissertação (que envolve a Favela

Margem da Linha e sua região de entorno), nota-se atualmente, a ausência das

políticas públicas tratadas no Plano Diretor.

Se compararmos o quadro apresentado durante o período das Reformas

Urbanísticas (no passado) e o que se desenha na atualidade, é possível estabelecer

uma semelhança. Em ambos os momentos da história campista, seus planos não

foram/estão sendo aplicados na íntegra13.

Quando o Plano Diretor afirma buscar como principal diretriz territorial da

Macrozona de Expansão Urbana o parcelamento e ocupação, condicionados a

integração à malha da cidade (Artigo 172), observa-se que o mesmo tem sido

aplicado nessa Macrozona, mas não em sua integridade.

Se compararmos o que é afirmado no Plano Diretor com o que foi observado

nas saídas de campo na Favela Margem da Linha e em seu entorno (áreas

pertencentes à Macrozona de Expansão Urbana), percebe-se que o entorno recebeu

mais atenção que favela, tendo a inserção de novos empreendimentos

característicos de áreas centralizadas, voltados para uma classe de maior poder

aquisitivo; enquanto que na favela não foi visualizado, até o momento, nenhum

esforço do Poder Público quanto ao seu parcelamento ou integração à malha urbana

da cidade.

Outro ponto citado no Plano Diretor que apresenta soluções mas que mostra

lacunas quanto à sua aplicação real se refere aos problemas sócioespaciais

urbanos; tendo como referência de solução o Artigo 84, inciso V, que busca “[...]

levar para estas áreas [de expansão urbana], equipamentos urbanos e infra-

estrutura digna”. É fato que a área de entorno da Favela Margem da Linha vem

13 Segundo Faria (2005) os Planos Urbanísticos entre o século XIX e XX não foram “implantados em

sua integridade e por falta de intervenções concretas nas áreas periféricas, voltadas para as necessidades das camadas populares”, o que pode ter contribuído com as discrepâncias sócioespaciais entre bairros na cidade de Campos dos Goytacazes.

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recebendo infra-estrutura (sabendo que a sua grande maioria é privada como

supermercados, shopping, condomínios, academias, etc.), no entanto, não foi notada

até o momento, uma extensão desse esforço por parte do Poder Público em levar

infra-estrutura digna ao interior da favela; nem ao menos em proporcionar-lhe formas

de acessibilidade à infra-estrutura que se encontra na área de entorno.

Mesmo sabendo que as residências da Favela Margem da Linha se

encontrem instaladas de maneira irregular (como será visto com maiores detalhes no

Capítulo 5), não nota-se, até o presente momento, a preocupação do Poder Público

em por em prática na favela as ações sustentadas no Plano Diretor, mais

precisamente os Artigos 99, 102 e 104 que se referem a “promover o acesso a terra

e a moradia digna, reduzindo o déficit habitacional e coibindo a prática de

loteamentos clandestinos e irregulares” (Artigos 99, 102 e 104); o que dificulta a

Inclusão Social dessa população marginalizada ao restante do contexto

sócioespacial citadino.

Observa-se desse modo que em algumas ações relatadas pelo Plano Diretor

(principalmente nas voltadas à Macrozona de Expansão Urbana) existe uma falta de

integridade por parte do mesmo; principalmente naquelas que se norteiam às

camadas populares, haja vista que a Favela Margem da Linha continua desprovida

em seu interior de serviços básicos, enquanto se nota mudanças espaciais em seu

entorno, voltadas à novas classes com maior poder aquisitivo que atualmente vêm

se instalando no local.

Isso mostra que em alguns momentos, o Plano Diretor ainda não está sendo

implantado pelo Poder Público de maneira íntegra como deveria, favorecendo de

forma mais intensa o setor privado e as classes mais elevadas; se esquecendo

novamente, como nos Planos Urbanísticos do passado, das necessidades das

camadas populares.

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CAPÍTULO 4. O CONTRASTE ENTRE A INSERÇÃO DE NOVOS EMPREENDIMENTOS NA ÁREA DE ENTORNO DA AVENIDA SILVIO BASTOS TAVARES E A FAVELA MARGEM DA LINHA No passado, a área de entorno da Avenida Silvio Bastos Tavares era vista

como espacialmente distante do centro da cidade, periférica, e com a ausência de

instalações urbanas básicas. No entanto, esses problemas não impediram que

durante a década de 1960 (POHLMANN, 2008), ocorresse a instalação de pessoas

nas proximidades da linha ferroviária da RFFSA – Campos-RJ, devido a proximidade

com os locais de trabalho: a Usina do Queimado e Usina Cupim14.

Atualmente, essa área vem recebendo constantemente a instalação de

empreendimentos e serviços, sobretudo privados; sendo voltados para diferentes

grupos sociais nos quais não foi observada a inclusão, nesse interesse, da

população da Favela Margem da Linha. Os novos empreendimentos recentemente

construídos são: I. Rodoviária/Shopping Estrada (1995); II. Condomínio Vertical

Recanto das Palmeiras (1995); III. Academia de Ginástica Nova Estação (1999); IV.

Condomínio Horizontal Sonho Dourado (2000); V. Condomínio horizontal Nashville

(2007); VI. Hipermercado Super Bom (2007); VII. Condomínio horizontal Athenas

Residence Park (2008); VIII. Walmart (2008); IX. Loja de venda ao atacado

Atacadão Saara (2008); X. Makro (2008); XI. Condomínio Horizontal Fechado da

Torre (2009); XII. INTER TV Planície (2009); XIII. Concessionárias Honda (2005) e

Fiat (2010); XIV. Futuras instalações do empreendimento Fit VIVAI (Condomínio

Vertical); XV. Boulevard Shopping Campos (O GLOBO, 2010)15 (Figura 05).

14

Além dos dados de Pohlmann, durante as saídas de campo, vários moradores relataram o mesmo motivo que levou ao surgimento da Favela Margem da Linha. 15 Desde abril de 2010, o Jornal O Globo fazia menção ao novo empreendimento que seria instalado na cidade de Campos dos Goytacazes (Shopping Boulevard Campos - pertencente ao grupo Alliansce, uma das maiores redes de shoppings centers e empreendimentos do Brasil). Sua inauguração foi realizada no dia 26 de abril de 2011.

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Figura 05. Área de Estudo. Fonte: Google Maps. 04/03/2010; 06/06/2011; Plano Diretor, 2007. Adaptado pelo autor.

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Definida predominantemente como uma Zona de Expansão Urbana (Figura

06) no atual Plano Diretor (2008), buscou-se delimitar a área a ser estudada, com

base na linha imaginária que demarca o Limite do Perímetro Urbano da Cidade de

Campos dos Goytacazes16, através da Lei nº 7.973, de 10 de dezembro de 2007,

que delimita os Perímetros Urbanos da cidade campista.

16 Esta delimitação se inicia no encontro do Canal Campos – Macaé com o Canal de Tócos. Segue

uma linha reta até encontrar a BR-101 num ponto que dista 1600m Sudoeste do ponto de encontro desta Rodovia com o eixo da Avenida Sílvio Bastos Tavares (estrada do contorno). Segue uma linha reta até o encontro com a paralela do traçado alternativo projetado da BR 101. Deflexiona a direita, seguindo uma linha reta até o encontro com a paralela da Linha Férrea que acompanha no mesmo sentido a BR 101 e, deflexiona em sentido sudoeste em direção ao ponto inicial.

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Figura 06. Recorte da Região de Estudo e Parte da Favela Margem da Linha Inseridas na Zona de Expansão Urbana e Residencial 2 em Campos dos Goytacazes. Fonte: IBAM - Lei de Uso e Ocupação do Solo de Campos dos Goytacazes – RJ. Março 2007. Adaptado pelo autor.

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É importante notar que inicialmente os empreendimentos construídos nesse

local abrangiam classes mais diversificadas, como o condomínio vertical Recanto

das Palmeiras e o loteamento Parque Ferroviário, proporcionando a

heterogeneidade dos espaços e a possibilidade de troca de experiências entre

diferentes grupos sociais. No entanto, nos últimos cinco anos, este ambiente, que

ainda era multifacetado, tem se transformado. Percebe-se que os novos

empreendimentos que estão sendo instalados no local, buscam um público mais

segmentado, com características homogêneas e que tenham um status social mais

elevado.

Exemplos concretos desta segmentação social e de mercado no local é a

instalação de dois empreendimentos ligados a grandes corporações do país que

são: o Fit Vivai e o Boulevard Shopping Campos. O primeiro foi incorporado pela

construtora TENDA S/A, em outubro de 200817, e o segundo, pertencente ao grupo

Aliansce Shopping Center.

No folder do Fit Vivai são observadas mensagens com ilustrações que

buscam vender um produto perfeito, com todas as opções de lazer; prometendo ao

futuro morador a vivência em um local adequado para toda a sua família (Figuras 07

e 08). Além disso, a frase “No Fit Vivai, você tem muito mais. Mais lazer, mais

segurança, mais conforto e mais facilidade de pagamento”, nos remete que as

prioridades no empreendimento são o lazer e a segurança.

Com isso, nota-se que este condomínio é voltado para um grupo social

diferente do que já está instalado no local; um público que dificilmente circula pelas

áreas externas do Fit Vivai, se limitando aos empreendimentos que possuem

características semelhantes ao mesmo.

Além disso, é perceptível em sua propaganda que são exaltadas apenas as

qualidades e características do interior do empreendimento, deixando à margem

todo o seu redor.

A propaganda chama à atenção também em relação ao apelo dado à questão

da segurança. Percebe-se que a problemática da violência vivida nos grandes

centros já atinge as cidades de porte médio, e influencia, da mesma forma, o

comportamento de seus moradores, que buscam nesses condomínios obter refúgio

e se abster dos problemas sociais da cidade “tradicional”.

17 Dados retirados de propagandas impressas do empreendimento.

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53

Figura 07. Face e verso do Folder de Fit VIVAI.

Figura 08. Interior do Folder do Fit VIVAI

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54

Ao mesmo tempo, o recente empreendimento inaugurado em 26 de abril

deste ano, o Boulevard Shopping Campos (com investimento geral de R$ 100

milhões, e tendo uma área de 39,4 mil metros quadrados, com mais de 100 lojas

distribuídas18) (Figuras 09, 10, 11 e 12), apresenta, em outubro de 2010, em seu

site, os benefícios de se ter o “primeiro grande shopping de Campos”:

Com áreas novas de expansão urbana19 e fortalecimento crescente da sua identidade como cidade, proporciona boa qualidade de vida. O Comércio ocupa uma posição de destaque na cidade, tanto na formação de renda como na oferta de postos de trabalho [...]. O Boulevard Shopping Campos será integrado a um renomado hotel de rede nacional com 120 quartos. [...] Pela primeira vez o morador e o visitante de Campos terão acesso a tudo com conforto e praticidade20 (BOULEVARDCAMPOS, 2010).

Como é possível notar no site do shopping21, a área em que o

empreendimento está instalado é apresentada como de expansão urbana. Nota-se

também, que será integrado ao shopping um renomado hotel (o Tulip Inn). Esses

dados comprovam ainda mais a segmentação de mercado em que está sujeito o

local. Além disso, na última frase da citação acima, são informados os ideais de

conforto e qualidade de vida, também notados nas propagandas do Fit Vivai;

mostrando o contraste que haverá com a população já inserida no local (no caso, a

população da Favela Margem da Linha).

18 Dados retirados do site: www.mundodomarketing.com.br, acesso em 08 de Julho de 2010. 19 Grifo do autor. 20 Idem. 21 Página do site impressa em Anexos.

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Figura 09. Placa anunciando, na época, as futuras instalações do novo Boulevard Shopping Campos, localizado na Avenida Silvio Bastos Tavares. Fonte: Fotografada pelo autor em 26/02/2011.

Figura 10. Estrutura do Boulevard Shopping Campos ainda em fase de construção. Fonte: Fotografada pelo autor em 26/02/2011.

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56

Figura 11. Boulevard Shopping Campos em plena atividade. Fonte: Fotografada pelo autor em 16/09/2011.

Figura 12. Outra imagem mostrando o Boulevard Shopping Campos em plena atividade. Fonte: Fotografada pelo autor em 16/09/2011.

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O hotel Tulip Inn, pertence a rede internacional Golden Tulip. Sua rede esta

presente em mais de 40 países, com mais de 200 hotéis. Sua previsão é de

construção em 18 meses, mas sem data definida de entrega (FOLHA DA MANHÃ,

2011).

Além do Tulip Inn, outro hotel que merece destaque, pois também será

instalado na área de estudo é o Supreme Campos (Figuras 13, 14 e 15). Este

hotel/apart-hotel possui bandeira internacional, e será construído na Avenida Silvio

Bastos Tavares, ao lado do condomínio vertical Recanto das Palmeiras (FOLHA DA

MANHÃ, 2011).

Figura 13. Placa localizada ao lado do Condomínio Horizontal Recanto das Palmeiras (ao fundo), fazendo uma chamada das futuras instalações do hotel Supreme Campos. Fonte: Fotografada pelo autor em 26/02/2011.

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Figura 14. Placa instalada no local da anterior (mostrada na figura 13), já se remetendo ao Supreme Campos. Fonte: Fotografada pelo autor em 16/09/2011.

Figura 15. Close da mesma placa fazendo referência à exploração do petróleo na Bacia de Campos. Fonte: Fotografada pelo autor em 16/09/2011.

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59

Como pode ser observado, os dois empreendimentos acima citados

representam mais uma ação de grandes firmas na área em estudo. Esta, que era

vista no passado como apenas periférica, agora se encontra com a instalação dos

empreendimentos privados mais importantes para a cidade de Campos dos

Goytacazes. Vale ressaltar, que os dois hotéis irão localizar-se bem próximos a

Favela Margem da Linha (se tornando praticamente vizinhos); no entanto, não se

nota nenhuma referência a alguma obra que venha favorecer a Margem da Linha.

Com isso, vale analisar nesse momento todo cenário que se desenha na região em

estudo, envolvendo principalmente dois grupos distintos: os novos integrantes da

área e Favela Margem da Linha.

A partir dessa nova configuração espacial nota-se que a Favela Margem da

Linha ficará mais escondida da vista das pessoas que circulam na Avenida Silvio

Bastos Tavares, pois parte dela já não era visível em decorrência do Shopping

Estrada e do Condomínio horizontal fechado Sonho Dourado. Com a inserção dos

novos empreendimentos (novo shopping, hotéis e condomínios), apenas a entrada

da favela será vista por quem trafega a Avenida Silvio Bastos Tavares.

Sabendo que os moradores de favelas no Brasil em geral são estigmatizados

como “favelados”, ou seja, pobres, sujos, violentos, traficantes, sendo possível

estender essa visão para os moradores da Favela Margem da Linha; pode se dizer

que o seu “mascaramento” visual seria de bom grado; fato um tanto desnecessário,

pois durante as pesquisas de campo, comerciantes afirmaram que a população da

Favela Margem da Linha não oferece “risco” aos moradores recentemente

instalados no local, até porque o tráfico de drogas não é representativo nessa área.

Assim, a confrontação de duas visões aparentemente controversas sobre os

moradores da Favela Margem da Linha – uma que sabemos ser universal, a de que

os habitantes de favelas sofrem discriminação e que são carregados de estigmas e

preconceitos – e a dos proprietários dos empreendimentos citados acima, de que os

moradores da Favela Margem da Linha não oferecem “risco” – nos instiga ainda

mais a investigar quais os impactos da instalação de novos empreendimentos na

favela e a captar a visão de seus moradores sobre os mesmos.

Notemos que os moradores da Favela Margem da Linha não oferecem

“perigo” por que não circulam e muito menos freqüentam os empreendimentos já

citados.

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60

4.1. Caracterização da Favela Margem da Linha A Favela Margem da Linha se origina em 1968 (GUIMARÃES & PÓVOA,

2005; POHLMANN, 2008), com a inserção de trabalhadores cortadores de cana-de-

açúcar, oriundos de outras cidades e das usinas do Cupim e Queimado; que para

ficarem próximos ao local de trabalho, começaram a se alojar nas proximidades da

Linha Férrea. Nos anos 1980, ocorre uma explosão demográfica no local, atrelada à

Usina Cupim e a Usina Santa Cruz, onde surgem mais trabalhadores para habitar

essa área em busca de melhores condições de vida. Além desses, desempregados

e pobres da periferia de Campos e de outras cidades passaram a habitar a

respectiva favela (GUIMARÃES & PÓVOA, 2005).

Caracterizada pelo Projeto Especial Cidades de Porte Médio - Perfil de

Campos como associação linear, com moradias ocupantes lado a lado da faixa de

domínio da RFFSA, a Favela Margem da Linha possui uma extensão de mais de

sete quilômetros, além da maior quantidade de moradores de uma favela em

Campos - no total, 2.732 moradores - (PESSANHA, 2004; PIRES, 2005) (Figura 16).

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Figura 16. Localização espacial da Favela Margem da Linha na cidade de Campos dos Goytacazes. Fonte: LEEA/CCH/UENF, 2008.

FAVELAS CENTRO HISTÓRICO

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Além disso, segundo Pires (2005), a Favela Margem da Linha é dividida

internamente em três áreas, cada uma com características específicas: Área A (que

vai dos limites do Parque São Caetano à BR 101 – Avenida Silvio Bastos Tavares),

Área B (que vai da Avenida Silvio Bastos Tavares até a Tapera) e a Área C (que

margeia a BR 101, indo até os limites da Usina Cupim) (Figura 17).

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63

Figura 17. Favela Margem da Linha por Setor. Fonte: Google Maps. 04/03/2010. Adaptado pelo autor.

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A partir do que foi apontado nesse capítulo, percebeu-se que a realidade que

vem se desenhando na região formal do entorno da Avenida Silvio Bastos Tavares

contrasta com a evidente situação de abandono da Favela Margem da Linha. Com o

adensamento populacional que tem se presenciado na favela ao longo dos anos e,

sem a aparente atenção do poder público, tem se perpetuado a condição de local

marginalizado e segregado.

A partir da leitura de Pires percebeu-se que a população existente na favela

possuía uma carência muito grande quanto à instalação de infra-estrutura e

equipamentos urbanos, além de condições dignas de moradia e inserção social.

Com isso, no próximo capítulo, serão apresentadas as atuais características da

Favela Margem da Linha, além dos seus principais problemas e como a população

te lidado com eles.

Também será mostrada a opinião dos moradores em relação à nova realidade

espacial que tem se configurado ao redor da Favela Margem da Linha e se sua

população tem se beneficiado com os novos empreendimentos instalados na área.

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CAPÍTULO 5. RESULTADOS DOS DADOS COLETADOS SOBRE A FAVELA MARGEM DA LINHA

Neste capítulo são apresentados e analisados os resultados da pesquisa de

campo. O objetivo é relatar as condições espaciais da favela e o perfil de seus

moradores. Também buscamos identificar os impactos dos novos empreendimentos.

Assim, relatamos as expectativas dos mesmos com relação às mudanças no

entorno da favela, como estas os afetam e se os moradores se vêem inseridos no

novo contexto socioespacial que se conforma na área de estudo.

5.1. Dados dos Moradores

Gráfico 01. Tempo de Moradia

Tempo de MoradiaF avela Marg em da L inha

24%

12%

4%

20%

16%

24%

0%até 5 anos

6 a 10 anos

11 a 20 anos

21 a 30 anos

31 a 40 anos

41 a 50 anos

mais de 50 anos

Fonte: Elaborado pelo autor

Como é possível observar no Gráfico 01, 60% da população da Favela

Margem da Linha se caracteriza por ser antiga, pouco flutuante (com média de 20

anos ou mais de moradia no local22). Ao observar o gráfico, existe uma tendência de

comprovação das observações de Guimarães e Povoa (2005), quanto ao tempo de

moradia, e de Pohlmann (2008), quanto ao seu ano de surgimento.

22 Durante o campo foi possível conhecer moradores que vivem na favela há mais de 40 anos.

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Moradores de maior faixa etária afirmaram que seus pais (e em alguns casos,

eles mesmos), foram morar nessa área devido a proximidade com as usinas Cupim

e Queimado, local de trabalho de muitos. Quando lhes foi questionado a quem

pertencia às terras em que suas habitações estavam instaladas, a maioria citou a

ferrovia RFFSA como proprietária.

Gráfico 02. Situação do Imóvel

Situação do ImóvelFavela Margem da Linha

80%

4%

16%0%

Próprio

Alugado

Cedido

Outro

Fonte: Elaborado pelo autor

Por se tratar de famílias antigas instaladas no local, quando foram

questionadas sobre as residências – se eram alugadas, cedidas ou próprias –, 80%

dos respondentes do total de 25 entrevistados (Gráfico 02), afirmaram que suas

residências eram próprias, em muitos casos, eles mesmos as construíram.

No entanto, 16% dos respondentes, declararam que suas residências são

cedidas, o que é justificável, pois na maioria dos casos, seus avós ou pais

construíram as residências em “grandes terrenos”23 e, à medida que os

descendentes cresciam e constituíam família, construíam suas casas ao lado dos

parentes mais velhos; o que foi enfatizado no questionário, quando afirmaram (em

sua maioria) que uma das coisas que mais valorizam em suas residências são os

terrenos de grande extensão, além da existência do bom relacionamento entre

vizinhos.

23 Podemos observar no campo que os terrenos medem em geral, 12 x 30m, porém, estão ocupados,

atualmente por mais de uma moradia, às vezes por duas ou três.

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Quanto à quantidade de pessoas que habitam os domicílios, se obteve uma

média de quatro moradores em cada residência, (somando crianças e adultos).

As residências da Favela Margem da Linha não mudaram muito desde que

foram realizados os estudos de Pires. Continuam degradadas e, no geral em

péssimas condições. Apresentam rachaduras em sua estrutura e, em grande parte,

por não possuir laje ou telhas, quando chove, ficam com goteiras e úmidas no

interior.

As casas que foram construídas com materiais próprios para construção se

apresentam inacabadas. Além disso, algumas residências ainda são mais

rudimentares: construídas com placas de madeira, aglomerados, ou até entulho,

provenientes de resto de materiais de construção como portas, janelas, portões, etc.

(Figura 18).

Figura 18. Uma das residências da Favela Margem da Linha. É possível perceber a residência ao fundo construída com a utilização de materiais precários. Fonte: Fotografada pelo autor em 01/11/2010.

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Com relação aos serviços de água, esgoto e energia elétrica, a grande

maioria dos pesquisados afirmou receber em sua residência água encanada da

empresa “Águas do Paraíba” e energia elétrica da concessionária “Ampla”. No

entanto, a maior parte admitiu pagar apenas a conta de luz24.

Em relação ao saneamento básico, foi possível observar durante o campo

que grande parte das residências possuía fossa séptica, até porque na favela, ainda

não existe coleta de esgoto. No entanto, dependendo da precariedade da residência,

foi possível também presenciar moradias sem nenhuma forma higiênica de coleta de

detritos, sendo escoados para a rua de forma direta, como é mostrado na imagem a

seguir (Figura 19):

Figura 19. Esgoto a céu aberto em uma das residências da Favela Margem da Linha. Fonte: Fotografada pelo autor em 01/11/2010.

24 Durante o campo foi possível perceber que alguns moradores utilizam a água dos vizinhos; e em

alguns casos, fazem ligações diretas para obter água. Muitos apresentaram a conta de luz da Ampla com o nome do morador e endereço.

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Tabela 02. Renda Familiar (Favela Margem da Linha)

Renda Quantidade de Entrevistados até R$ 100 6

R$ 100 a R$ 200 3

R$ 200 a R$ 300 0

R$ 300 a R$ 400 0

R$ 400 a R$ 500 4

R$ 500 a R$ 600 6

R$ 600 a R$ 700 0

R$ 700 a R$ 800 2

R$ 800 a R$ 900 1

R$ 900 a R$ 1000 1

acima de R$ 1000 2

Não opinaram 0

Total: 25 Fonte: Elaborado pelo autor

Gráfico 03. Renda Familiar

Renda FamiliarFavela Margem da Linha

0

1

2

3

4

5

6

até R

$ 100

R$ 100 a

R$ 200

R$ 200 a

R$ 300

R$ 300 a

R$ 400

R$ 400 a

R$ 500

R$ 500 a

R$ 600

R$ 600 a

R$ 700

R$ 700 a

R$ 800

R$ 800 a

R$ 900

R$ 900 a

R$ 1000

acim

a de R

$ 1000

Não o

pinar

am

Quantidade deEntrevistados

Fonte: Elaborado pelo autor

Quanto à renda, 76% das 25 pessoas questionadas afirmaram receber uma

quantia igual ou menor a um salário mínimo (Tabela 02 e Gráfico 03). O que mostra

que o poder aquisitivo da população da favela é baixo. O que pode ser comprovado

pelo estado deteriorado das residências e as condições de vida dos moradores que

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foram observados durante o campo. Em conseqüência, grande parte dos

questionados, durante conversas, afirmaram receber algum tipo de auxílio financeiro

da Prefeitura de Campos dos Goytacazes.

Gráfico 04. Documentação das Moradias

DocumentaçãoFavela Margem da Linha

80%

0%

16%

4%0%

0%

0%Não Possui

Escritura

Doc. Reg. Cartório

Contrato Verbal

Contrato Escrito

Título dePropriedadeOutro

Fonte: Elaborado pelo autor

Como foi observado, grande parte dos moradores da Margem da Linha já

vivem no local há muitos anos, sendo que uma grande parcela veio a construir sua

própria moradia. Com isso, quando lhes foi questionado se possuíam algum tipo de

documentação que comprovasse a posse do terreno ou da residência, 80% dos

moradores afirmaram não possuir nenhum tipo de documentação (Gráfico 04).

Apenas 16% afirmaram possuir recibo de compra e venda registrado/elaborado em

cartório; sendo que este não comprova a posse do terreno e sim apenas da casa.

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5.2. Dados sobre a Favela

Gráfico 05. Bairro

BairroFavela Margem da Linha

60%

40%

0% 0%

Tapera

São Caetano

Rodoviário

Outro

Fonte: Elaborado pelo autor

Em relação ao bairro ao qual faz parte a Favela Margem da Linha, 60% da

população pesquisada acredita que seja a Tapera (Gráfico 05). No entanto, vale a

pena ressaltar algumas peculiaridades observadas quanto aos dados apresentados

no gráfico.

Em decorrência da proximidade espacial com a Tapera, a maior parte dos

moradores (60%), consideram a favela integrante a este bairro. No entanto, os

moradores que possuem residências mais próximas a Avenida Silvio Bastos Tavares

se declararam habitantes do Parque São Caetano (bairro situado do outro lado da

estrada).

Outro fator que leva a população da Favela Margem da Linha se declarar

pertencente à Tapera se deve ao fato de atualmente este bairro estar recebendo

casas populares construídas pela Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes,

pelo programa “Morar Feliz” (Figuras 20 e 21), realizando o desalojamento dos

moradores que vivem à beira da BR 101. Como a população da Margem da Linha

ainda não foi assistida por nenhum programa da prefeitura desse porte; ao seu ver, a

população da BR 101 (ou “Vila”, como é denominada pelos moradores de Ururaí e

Margem da Linha) foi agraciada com novas moradias em um local que é

considerado mais valorizado e com maior acesso a determinados serviços os quais

a Favela Margem da Linha ainda não possui.

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Figura 20. Outdoor localizado à margem da BR 101, na antiga área da “Vila”, informando o lançamento do Programa “Morar Feliz” pela Prefeitura de Campos dos Goytacazes no bairro Tapera. Fonte: Fotografada pelo autor em 16/09/2011.

Figura 21. Imagem das casas populares construídas pelo programa “Morar Feliz” da Prefeitura de Campos dos Goytacazes no bairro Tapera para a população remanejada da BR 101 (ou Vila, como é chamada população da Margem da Linha). Fonte: Fotografada pelo autor em 26/02/2011.

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Foi possível perceber, durante a pesquisa de campo, que a população da

Favela Margem da Linha se sente cada vez mais esquecida, deslocada e menos

favorecida em relação ao restante dos grupos que habitam a área e que já foram

agraciados com casas populares, como a população da Vila. O que se via e ouvia

dos moradores nos momentos de aplicação dos questionários era, na maior parte do

tempo, pessoas desanimadas e sem perspectivas, muitas vezes comentando que a

“Margem da Linha é horrível!”, “Não tem nada aqui!” ou “Se tem alguma coisa aqui?

Ah! Fomos esquecidos! A Tapera é que tá boa agora...tem um monte de gente lá,

com lugares pra comprar as coisas que precisam...”.

Gráfico 06. Consideração Sobre o Local

Consideração Sobre o LocalFavela Margem da Linha

16%

0%

84%

0%

Bairro

Favela

Comunidade

Outro

Fonte: Elaborado pelo autor

Embora insatisfeitos com o local e toda a sua problemática, quando

questionados em que termo a favela se enquadrava (bairro, favela, comunidade ou

outro - Gráfico 06), os moradores faziam comentários: “se a Margem da Linha é uma

favela, então eu sou um favelado, o que é que tem?”. No entanto, no momento em

que eram escritas as respostas no questionário, muitos mudavam de opinião e

diziam que a Margem da Linha se enquadraria melhor no termo “comunidade”, haja

vista que, na visão de muitos, o termo favela era muito “feio”.

Nota-se, através dos comentários dos próprios moradores, que há um

"estigma" em relação à palavra favela. Lembramos que essa associação da palavra

favela com "pobreza", "violência", "depredação", "ilegalidade", "esquecimento", etc.,

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já existia desde o inicio do século XX:

A expressão "favela é igual a pobreza" logo se tornou consenso, compartilhado pelo meio acadêmico e político, e difundido pela mídia (PRETECEILLE & VALLADARES, 2000:377).

Percebe-se que a população da Favela Margem da Linha também sofre um

conflito interno em relação a sua posição social e espacial. Como para eles, a

palavra favela também é carregada de estigmas, quando lhes questionado sua

classificação espacial, a maior parte não admite (oficialmente) que mora em uma

favela; até por que, assumir tal posição – a de favelado – requer assumir também

uma série de estigmas como morador de tal local. Por isso, a resposta "comunidade"

quando lhes foi questionado como se classificaria o lugar em que vivem.

Ponto importante que vale destacar são os limites da Margem da Linha para

os moradores. Quando lhes foi questionado onde se inicia e onde termina a favela,

88% das pessoas que responderam o questionário, disseram que a mesma se inicia

na Avenida Silvio Bastos Tavares seguindo até o início da Tapera (início da estrada

que leva à Lagoa de Cima) (Figura 22).

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Figura 22. Extensão da Favela Margem da Linha considerada por seus moradores. Fonte: Google Maps, 04/03/2011. Adaptado pelo autor.

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Através do que foi afirmado acima pela população da favela Margem da Linha

é possível dizer que os estudos do IBGE desconsideraram a visão espacial dessa

população em relação aos limites do local em que vivem. Segundo as observações

realizadas durante a pesquisa de campo e de acordo com as delimitações dos seus

moradores, a última residência da Favela Margem da Linha é a casa com

numeração 390. Seguindo a mesma linha, a pesquisa LEEA/CCH/UENF/IPPUR

(2009) apresenta em seu Censo, 389 questionários aplicados em todas as

residências da favela; enquanto que, os dados do Censo 2000 do IBGE, utilizados

em outros estudos (PESSANHA, 2004; PIRES, 2005), apresentam, na favela, o

quantitativo de 746 domicílios ocupados.

Pelos estudos do IBGE, a população total da Favela Margem da Linha em

2000, abrangia o número de 2.732 pessoas. Mas, se considerarmos as delimitações

da favela (orientadas pelos moradores), o número de moradias (considerando a

pesquisa realizada pelo IPPUR com parceria da UENF em 200925 - Tabela 03) e o

número médio de habitantes por residência (média ponderada de 4 moradores -

Tabela 04), é totalizado o quantitativo de 1.556 pessoas (entre crianças e adultos)

morando na Favela Margem da Linha, número inferior apresentado pelo Censo do

IBGE em 2000.

A nova informação dada acima também tende a ser sustentada pelos dados

coletados nas pesquisas de campo deste estudo. Fornecido pelos questionários

aplicados, o número médio de moradores por habitação na Favela Margem da Linha

também apresenta-se em torno de 04 moradores. Desta forma, o seu total de

moradores gira em torno de 1.600 habitantes, número que condiz com o levantado

no Minicenso realizado em 2009 pelo IPPUR/UENF.

25 Como é possível observar, alguns dados deste estudo foram cruzados com dados fornecidos pelo

projeto “REDE INFORIO: acesso dos pobres a cidade informal e mobilidade residencial nas favelas: características da mobilidade residencial dos pobres e do mercado informal urbano no Estado do Rio de Janeiro”; organizado pelo professor Doutor Pedro Abramo – IPPUR/Universidade Federal do Rio de Janeiro. Este projeto propõe a coleta de informações e sistematização de dados sobre a informalidade urbana no Estado do Rio de Janeiro, que envolve oito instituições de Pesquisa e Ensino localizadas no mesmo, sendo uma delas, a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF). O projeto em nível municipal é coordenado pela Professora Doutora Teresa de Jesus Peixoto Faria – LEEA/UENF.

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77

Tabela 03. Composição Familiar (Favela Margem da Linha)

N° de Pessoas na Família Quantidade de Famílias 1 pessoa 21 2 pessoa 50 3 pessoa 98

4 pessoa 79 5 pessoa 65 6 pessoa 35 7 pessoa 21 8 pessoa 11 9 pessoa 5 10 pessoa 4

Total: 389 Fonte: LEEA/CCH/UENF/IPPUR, 2009.

Tabela 04. População Total

Favela Margem da Linha – Tapera26

Média Familiar Ponderada (pessoas): 4

População Total (pessoas): 1556 Fonte: LEEA/CCH/UENF/IPPUR, 2009.

Esses dados mostram que a opinião tanto da população da Favela Margem

da Linha, Vila e Ururaí, em relação aos seus limites territoriais, não foi ouvida.

Apenas sendo realizado um estudo de acordo com os referenciais do próprio

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Outro ponto que mostra distorções socioespaciais nos dados da favela é a

própria dimensão física da favela. Segundo os estudos de Pires (2005), a favela

Margem da Linha “é considerada linear, estendendo-se ao longo de mais de 7 km,

que vai do limite do Parque São Caetano, passando pela Tapera, até os limites da

Usina Cupim, próximo ao subdistrito de Ururaí” (PIRES, 2005: p. 34). No entanto, a

partir do que foi delimitado pela população da Margem da Linha, e após a contagem

da distância de um ponto ao outro pela mestranda através de pontos localizados no

Google Maps, constatou-se que a favela possui apenas 4.5 km.

Se considerarmos a Vila como parte integrante da Favela Margem da Linha, 26 O termo “Tapera” foi também utilizado no estudo do LEEA/CCH/UENF/IPPUR para separar as

áreas existentes no interior da Favela Margem da Linha de acordo com a classificação de Pires (2005). Esta área é tratada neste estudo e do LEEA/CCH/UENF/IPPUR correspondente à “Área B” nos estudos de Pires.

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como é visto pelo IBGE e reafirmado por Pessanha (2004) e Pires (2005), a mesma

possui realmente essas delimitações (7 km). No entanto, os critérios e metodologias

de identificação de áreas faveladas e semelhantes devem ser revistas e incluir a

opinião dos moradores. Por isso, é tão difícil precisar o número exato de favelas e

mesmo a sua população, não só em Campos dos Goytacazes como em outras

cidades.

Gráfico 07. Distância do Local

Distância do LocalFavela Margem da Linha

64%

36%

0%

0%

0%

Central

Próximo ao Centro

Afastado do Centro

Periferia

Não sabe / nãorespondeu

Fonte: Elaborado pelo autor

Questão que também possuiu suas peculiaridades quando realizada foi a

distância da favela em relação ao Centro (municipal) da Cidade de Campos dos

Goytacazes (Gráfico 07). Para alguns moradores a facilidade em ir ao Centro da

cidade é grande, principalmente para os que residem próximos à Avenida Silvio

Bastos Tavares, pois podem caminhar alguns metros e ir até ao ponto de ônibus e

pagar uma passagem pela quantia de R$ 1,00; ou, como foi relatado em alguns

casos, ir a pé: “Ah! Anda pouco! É só seguir pelo Santo Amaro, pegar a Pelinca que

você tá no Centro! Leva só uns 20 a 30 minutos...”. Já para os moradores que

residem da metade da favela até a Tapera, as dificuldades são bem maiores. Para

conseguir um ônibus, os moradores têm que andar mais de dois quilômetros dentro

da favela; ou, para poupar tempo, se arriscam cortando caminho por toscas

passagens feitas pelos mesmos em terrenos vazios que ligam a favela até a BR 101.

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Mesmo com todas as dificuldades, 64% dos moradores acreditam que a

favela fica próxima ao Centro. Grande parte alegou que a mesma, embora próxima

ao Centro, possui circunstâncias que dificultam a locomoção, não permitindo o seu

fácil acesso.

Desse modo podemos aferir que o problema não é a distância física com

relação ao centro, e sim o seu acesso. Essa é uma questão importante, pois como é

possível perceber no caso de Campos dos Goytacazes, a maioria dos serviços, se

não todos, se concentram no centro principal ou antigo.

Gráfico 08. Mudanças Espaciais no Interior da Favela Margem da Linha

Favela Margem da Linha

24%

76%

Sim Não

Fonte: Elaborado pelo autor

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80

Gráfico 9. Mudanças Espaciais no Entorno da Favela Margem da Linha

Favela Margem da Linha

72%

28%

Sim Não

Fonte: Elaborado pelo autor

Segundo 76% da população da Favela Margem da Linha que foi questionada

durante as saídas de campo (Gráfico 08), a mesma não tem recebido nenhum tipo

de atenção ou mudança física em seu interior, nem por órgãos públicos ou privados.

Os moradores acreditam que não há o interesse do setor privado em investir em seu

interior em decorrência da população possuir um baixo poder aquisitivo, além da

área de entorno da favela já possuir serviços consolidados. Isso pode ser visto no

Gráfico 09, onde 72% dos questionados afirmam observar mudanças espaciais no

entorno da Favela Margem da Linha.

Dentre as diversas melhorias espaciais presentes, foram citadas as

instalações de novos empreendimentos como o condomínio vertical Recanto das

Palmeiras, grandes redes de Hipermercados como Walmart e Super Bom, as

próprias obras de construção de casas populares na Tapera e o novo Shopping.

Vale ressaltar que mesmo com todas as transformações no entorno da favela,

a mesma não sofreu praticamente nenhuma interferência física (nem pública, nem

privada), o que colabora para o sentimento de abandono e falta de integração

sócioespacial por parte de seus moradores.

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5.3. Sobre os Serviços Ofertados

Gráfico 10. Serviços na Favela Margem da Linha

Serviços na Margem da LinhaFavela Margem da Linha

4%

96%

Satisfaz

Não Satisfaz

Fonte: Elaborado pelo autor

Da mesma forma que a população da Margem da Linha tem se sentido

deslocada quanto as mudanças que têm ocorrido em sua área de entorno, ela

percebe que além de seu interior não receber nenhum tipo de mudança física, os

serviços (poucos, como uma quitanda e um mercadinho nas proximidades da

Tapera) não satisfazem as suas necessidades (96% dos moradores questionados

afirmaram tal fato, conforme gráfico 10).

Para quem mora na metade da Favela Margem da Linha até o sentido Tapera,

a situação ainda é pior. Os moradores reclamam (e muito) dos serviços, pois a

dificuldade de acesso para realizar uma compra é enorme, tendo apenas a Tapera

como opção local para compras. Outra alternativa para os moradores, é se deslocar

mais de dois quilômetros para comprar pequenas mercadorias27. Os que moram

mais próximos da Avenida Silvio Bastos Tavares já possuem maiores possibilidades

de serviços para consumo, principalmente pela proximidade com o Hiper Super Bom

e as Lojas de conveniência existentes no Nashville (comércio localizado em frente

ao condomínio Recanto das Palmeiras).

27 Até a compra de um pão é uma dificuldade. Segundo os moradores, para tomar café com pão na

parte da manhã é necessário comprá-lo no dia anterior; ou ter a sorte de achar um padeiro que ande de bicicleta pela favela e venda o alimento já “dormido”.

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Gráfico 11. O Que Mais Falta na Favela Margem da Linha

0

5

10

15

20

25

Creche

Ambulância

Posto de Saúde

EscolaÔnibus

Farmácia

Padaria

Total de Entrevista

dos

Quantidade deEntrevistados

Fonte: Elaborado pelo autor

Ao mesmo tempo em que os moradores sofrem com a falta de serviços

privados para realizar suas compras, ainda existe outra (e mais grave) dificuldade no

local: a ausência de serviços prestados pelo poder público. Como é possível

observar no gráfico acima (Gráfico 11), a primeira necessidade que deveria ser

mitigada emergencialmente seria a construção de uma creche para os moradores da

favela.

A dificuldade das mães para apanharem seus filhos na creche é notável.

Quando se está na margem da Linha por volta das 17:00 horas, a quantidade de

mulheres que seguem em direção à Avenida Silvio Bastos Tavares de bicicleta, a pé

ou com carrinhos de bebê chama a atenção. Todas vão buscar seus filhos, sobrinhos

e vizinhos (crianças de zero até os sete anos de idade) na creche localizada no

Parque São Caetano (a mais próxima da favela) tendo, no horário de pico, o desafio

de atravessarem a pista entre o tráfego de caminhões e carros; para depois, já com

as crianças, enfrentar novamente o trânsito para voltar às suas residências. O perigo

é visível e constante. Apenas em poucos momentos se observa algum motorista

sensibilizado que, pára o veículo e permite que essas mulheres e crianças

atravessem com mais calma a pista.

O segundo serviço mais necessitado na favela é uma ambulância. Os

moradores afirmam que já houve uma que ficava à disposição da favela para

qualquer emergência, mas com desentendimentos entre o motorista e determinados

moradores, a ambulância foi suspensa. Desde então, a população não possui

assistência nenhuma no local; tendo que se deslocar a pé (ou pagar um táxi) para

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ser assistida no posto existente próximo à Tapera ou no Parque São Caetano.

Como é possível perceber em reportagem no site da Folha da Manhã em

10/05/2011, os moradores da Favela Margem da Linha tiveram espaço na mídia

para que suas reivindicações fossem ouvidas:

- Precisamos que as autoridades abracem o nosso bairro e traga melhorias pra cá. Já avançamos bastante, mas ainda temos muitas carências, que atrapalham a vida de quem mora aqui. Necessitamos com urgência de alguém que olhe para as nossa crianças. Sem ter um local adequado para brincar, elas vão para os trilhos do trem. Tem ainda a rodovia BR 101, que teve o movimento duplicado com o novo shopping e, por isso, temos de redobrar a atenção com elas, já que o risco de atropelamento é grande. Até para atravessar a rodovia está complicado -, disse o desempregado Luiz Carlos da Silva (FOLHA DA MANHÃ, 2011). Os moradores reclamam também da falta de uma creche na comunidade. "Temos que sair daqui pra levar as crianças para estudar em outro bairro. Quando o tempo está bom, tudo bem, mas quando chove e muito transtorno. Se eles são de colo é ainda pior. Já passou da hora de termos uma creche aqui no bairro", disse Ana Maria de Oliveira (FOLHA DA MANHÃ, 2011).

Durante as pesquisas de campo foi observado que a Prefeitura de Campos

dos Goytacazes não se sensibilizou com todas as dificuldades apresentadas pelos

moradores da favela, não disponibilizando uma nova ambulância e nem construindo

uma creche. É claro perceber a falta que faz um veículo para esta população (muitos

são idosos, doentes, mulheres e crianças, com uma renda menor que um salário

mínimo, não podendo se deslocar o tempo todo de táxi). São mais de trezentas

famílias carentes com, praticamente, nenhum tipo de assistência. Os moradores (é

visível em seus rostos) já estão conformados. Quando é comentado sobre a

ambulância ou a creche, o que se percebe são expressões apáticas. Não

demonstram mais revolta, apenas apatia. Vivem da solidariedade que existe entre

eles.

Na mesma reportagem do dia 05 de outubro de 2011, em resposta às

reivindicações dos moradores, o Secretário de Obras e Urbanismo, César Romero

informou que a Prefeitura de Campos dos Goytacazes está realizando um

levantamento de bairros que ainda não possuem áreas de lazer e avaliando-os para

saber se possuem locais compatíveis para tais obras. Além disso, a Secretaria de

Educação informou que a partir de 2012 será construída uma creche modelo no

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Parque Rodoviário que atendera a clientela da Favela Margem da Linha.28

No entanto, até o presente momento, não foi realizada nenhuma intervenção

publica em relação a área de lazer solicitada pelos moradores na Favela Margem da

Linha. E, quanto à creche modelo, para os habitantes da favela, basta apenas

esperar.

Continuando a análise dos dados, o Gráfico 11 apresenta que a maior

carência segue com relação aos serviços públicos. Mais de 70% dos entrevistados

citaram creche e ambulância como maiores necessidades, sendo apenas os três

últimos tópicos do gráfico voltados a serviços privados.

Gráfico 12. Compras Diárias

Compras Diárias Favela Margem da Linha

76%

20%

4%

GrandesSupermercados

Mercados deMenor Porte

Outros

Fonte: Elaborado pelo autor

Ainda em relação aos serviços, 76% dos entrevistados declararam realizar

compras pequenas (como pão, leite, verduras) em grandes supermercados próximos

da Margem da Linha, como Hiper Super Bom, Walmart e Makro (Gráfico 12). Mas,

vale ressaltar que a maior parte dos entrevistados afirmou realizar suas compras no

Hiper Super Bom. Este fato é interessante relatar. Pois, com as alternativas de

serviços para compra nas proximidades, os moradores se identificam mais com o

Hiper Super Bom, até por se tratar de um supermercado mais popular, que recebe

determinadas formas de pagamento (como Cheque Cidadão), o que facilita o acesso

da população à compra.

28 Esta reportagem se encontra na íntegra em Anexos.

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Importante observar que os moradores da Margem da Linha estão tendo que

se adaptar às novas condições instaladas no local, buscando novas alternativas de

acesso aos locais de compra. Novamente, o descaso com a população da favela é

perceptível. Enquanto todo o espaço é preparado para dar melhor conforto aos

novos empreendimentos e seus moradores, a população mais carente não encontra

facilidade de circulação, sendo esta, a mais prejudicada com a inserção do shopping

(principalmente) e dos outros empreendimentos.

Gráfico 13. Compras Mensais

Compras MensaisFavela Margem da Linha

92%

8% 0%

GrandesSupermercados

Mercados deMenor Porte

Outros

Fonte: Elaborado pelo autor

Em relação às compras do mês esta realidade é distante para a população da

Favela Margem da Linha, pois, para isso, é necessária grande disponibilidade de

dinheiro, o que a maior parte dos moradores não possui como já foi comprovado

anteriormente.

Da mesma forma que no gráfico anterior, o Gráfico 13 apresenta uma parcela

menor de consumidores da população da Favela Margem da Linha em mercados de

menor porte (isso se deve por estes mercados se localizarem nas proximidades da

Tapera, sendo difícil o acesso dos moradores que moram mais distantes).

Quando há possibilidade de efetuar compras de mês, os moradores as

realizam principalmente nos grandes supermercados nas proximidades da favela;

principalmente no Hiper Super Bom, novamente pelas suas vantagens e facilidades

de pagamento.

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Gráfico 14. Locais de Compras

Roupas e UDFavela Margem da Linha

88%

0%

0% 12%

Lojas no Centro

Lojas na Pelinca

Lojas no Bairro

Outros

Fonte: Elaborado pelo autor

Ainda em relação aos locais onde se realizam compras, 88% dos moradores

da Favela Margem da Linha que foram questionados, afirmaram que compras de

Roupas e Utilidades Domésticas são efetuadas no Centro da cidade (Gráfico 14).

Como já foi mostrado, os moradores da favela acreditam que o Centro da cidade se

localiza próximo a favela, além da passagem de ônibus estar mais barata, sendo

para eles uma facilidade de acesso. Além de, na visão dos mesmos, no Centro ser

possível encontrar toda sorte de produtos mais baratos que em outras regiões da

cidade como a Pelinca ou no próprio bairro em que vivem.

Através deste gráfico, é possível perceber a relação espacial que os

moradores da Margem da Linha possuem com o Centro da cidade. Haja vista que o

Centro tem recebido uma ligação maior com as classes populares nestes últimos

anos. Enquanto que outras áreas como a Pelinca e o Parque São Caetano são

vistas como áreas mais nobres.

Isso demonstra que determinados espaços de uma cidade podem possuir

vertentes diferentes e se tornarem segmentados para determinados públicos; o que

pode ser observado nos shoppings de Campos dos Goytacazes: atualmente, o

Campos Shopping (Shopping localizado no centro da cidade), tem recebido um

público-alvo com menor poder aquisitivo por estar localizado na área central da

cidade. Ao mesmo tempo, o Shopping Avenida 28 (localizado na Avenida 28 de

Março, bem próximo à Pelinca), possui um público-alvo com poder de compra muito

mais elevado que os dos clientes do primeiro shopping. Estas observações possuem

relação com as de Gomes (2006), quando este autor se refere às diferentes

mudanças espaciais existentes no ambiente urbano da cidade.

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Gráfico 15. Locais de Compras

EletrodomésticosFavela Margem da Linha

88%

0%

4%8%

Lojas no Centro

Lojas na Pelinca

Lojas no Bairro

Outros

Fonte: Elaborado pelo autor

Gráfico 16. Locais de Compras

Móveis Favela Margem da Linha

92%

0%

0%8%

Lojas no Centro

Lojas na Pelinca

Lojas no Bairro

Outros

Fonte: Elaborado pelo autor

Em relação aos Gráficos 15 e 16 (os dois tratam de locais de compras,

respectivamente eletrodomésticos e móveis), a resposta quanto ao local de compra

é o mesmo do Gráfico 14: o Centro da cidade. Vale ressaltar que os motivos para tal

escolha são os mesmos do último gráfico. Nota-se que em todos os três Gráficos

(14, 15 e 16), o percentual de pessoas que compram determinados produtos de

outra forma é significativo. Isso ocorre, devido alguns moradores comprarem os

produtos necessários em lojas próximas ao bairro; ou (o que é mais interessante),

por vendedores que batem de porta em porta esporadicamente vendendo roupas,

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utilidades domésticas, eletrodomésticos e móveis. Alguns moradores gostam de

comprar com esses mercadores, pois não precisam se deslocar até o Centro da

cidade, sendo o serviço mais cômodo; no entanto, mais caro, como foi afirmado por

muitos.

Gráfico 17. Opções de Lazer e Compras

Novo Shopping - Opções de Lazer e ComprasFavela Margem da Linha

40%

60%

Sim Não

Fonte: Elaborado pelo autor

Gráfico 18. Opções de Emprego

Novo Shopping - Opções de EmpregoFavela Margem da Linha

60%

40%

Sim Não

Fonte: Elaborado pelo autor

Encerrando a análise dos dados coletados, é possível perceber através dos

Gráficos 17 e 18, duas vertentes que envolvem a opinião da população da Favela

Margem da Linha.

O Gráfico 17 apresenta a opinião dos moradores quanto à possibilidade de

irem ao novo Shopping (Shopping Boulevard Campos) com a intenção de passear

ou fazer compras. 60% da população pesquisada afirmou que não iria ao novo

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shopping, pois este local não se enquadraria a sua realidade; ao mesmo tempo,

afirmaram que a maioria dos moradores não possui poder aquisitivo para consumir

nesse local. Enquanto isso, 40% dos entrevistados enxergam o shopping como uma

possível opção para passear e fazer compras. Percebeu-se que os moradores da

favela, à medida que habitam mais distantes do shopping (próximos à Tapera), têm

menor ligação com o mesmo. Isso apresenta uma relação espacial dos moradores

de acordo com a distância do local; como se encontram mais distantes, não há maior

representatividade do empreendimento para esses moradores.

Quanto ao Gráfico 18, que representa a expectativa dos moradores quanto à

possibilidade de emprego em relação ao novo shopping, 60% dos pesquisados

(Gráfico 18) acredita que o mesmo poderá fornecer novas opções de emprego para

a população da favela.

É interessante notar que a maior parte dos pesquisados não apresentou

interesse de circular no shopping apenas por prazer. A maioria passou uma idéia de

apatia quando questionada sobre o assunto. Os próprios moradores acreditam que

não se encaixam aos padrões econômicos e sociais do Shopping, enxergando-o

apenas como uma nova oportunidade de emprego.

Além disso, notou-se que os próprios moradores da favela se distanciam do

restante do universo estabelecido ao seu redor.

A partir dos dados e informações coletadas nas pesquisas de campo, pode-se

levantar a presença de sintomas de uma segregação socioespacial nessa região,

onde os grupos estudados (Favela Margem da Linha e empreendimentos privados)

não se relacionam.

Ainda é muito cedo para se falar em uma Fragmentação Socioespacial, porém

existe a possibilidade de, futuramente, esses dois grupos se fecharem restritamente

em núcleos homogêneos, contribuindo para o surgimento de fenômenos como o

Emuralhamento da Vida Social e a criação de Ilhas Utópicas.

Fator que contribui para a presença desses sintomas se deve ao desinteresse

do Poder Público em auxiliar a população da Margem da Linha nos serviços mais

básicos, o que reforça a idéia de que o Estado intervém no espaço de acordo com

interesses próprios. Exemplo disso será as intervenções na BR 101, tendo nos

“discursos das empresas privadas e de órgãos governamentais, o intuito [de]

melhorar o tráfego na região e impulsionar o desenvolvimento dos municípios, após

a implantação de grandes empreendimentos, como o Porto do Açu e o Complexo da

Barra do Furado” (FOLHA DA MANHÃ, 19/04/2011).

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Como foi frisado na matéria da Folha da Manhã, as modificações na BR 101

serão realizadas pela parceria de empresas privadas e órgãos governamentais.

Mesmo com a alegação que as obras trarão melhorias no tráfego e economia da

região, o que fica mais claro é uma atuação estatal em virtude de melhor acesso e

circulação aos empreendimentos do Porto do Açu e Complexo da Barra do Furado,

haja vista que as futuras instalações do Porto do Açu e o Complexo da Barra do

Furado são empreendimentos privados. O que nos leva a concluir que a

preocupação com o tráfego na região e toda a problemática gerada aos moradores

que vivem ali perto, ficou em segundo plano.

Mesmo com todos os olhares voltados para esta área (Avenida Silvio Bastos

Tavares), e com a existência do Plano Diretor de 2008 (que deveria ser o maior

mobilizador para mudanças integradoras da Favela), os benefícios das

transformações sócio-espaciais que ocorrem na área em estudo são levados apenas

a grupos específicos.

A seguir, traremos as conclusões com análises em relação ao que foi

apresentado em toda a dissertação considerando as ações (ou falta de ações) do

Poder Público em relação à Favela Margem da Linha.

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CONCLUSÕES

Embora a Favela Margem da Linha já tenha sido tema em outros estudos, foi

possível coletar interessantes e inéditos dados a partir da construção desta

dissertação, apresentando as particularidades e complexidades que envolvem tal

favela.

A partir da possibilidade de ir ao local, conversar e conhecer seus moradores

da favela, foi possível notar que estes percebem as mudanças espaciais no entorno

da favela.

Com os dados apresentados em relação às questões espaciais, a Favela

Margem da Linha apresenta diferenças internas. A área mais próxima à Avenida

Silvio Bastos Tavares realmente se encontra mais acessível ao centro quanto a

outras áreas da favela. Mas o que a torna ao mesmo tempo inacessível é a falta de

recursos; o que não permite aos seus moradores de se tornarem mais participativos

e integrantes do cotidiano citadino.

Além disso, a Favela Margem da Linha delimita-se de uma maneira diferente

da apresentada pelo IBGE. Segundo dados coletados através dos questionários, e

com a marcação de pontos no Google Maps, foi possível observar que a favela

possui apenas 4.5 km de extensão e um menor quantitativo populacional. Também

foi visto que a população carece de serviços privados mais próximos (como

supermercados, farmácias, padarias, etc.).

É importante destacar que a Favela Margem da Linha, embora Linear,

apresenta em determinados pontos, características distintas. Os próprios moradores,

dependendo da localização, possuem opiniões diferentes em relação às questões

espaciais, além de terem vantagens ou desvantagens por suas moradias estarem

próximas ou não da Avenida Silvio Bastos Tavares:

Pesquisas e trabalho de campo ao longo de muitos anos em uma mesma favela (Medina e Valladares, 1968; Valladares, 1968, 1977, 1978, 1991), sugerem, ainda, que nas grandes favelas as diferenças internas são muito importantes (haveria praticamente bairros e favelas dentro de uma mesma favela). [...] Tudo faz crer que a representação tradicional e a imagem consagrada da favela devem ser revistas e atualizadas (PRETECEILLE & VALLADARES, 2000:376).

Uma característica que deve ser levada em conta sobre a Favela Margem da

Linha é o sentimento de abandono por parte se seus moradores em relação ao setor

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público. O desalojamento da população que vive à margem da BR 101, pelo

Programa “Morar Feliz” da Prefeitura de Campos do Goytacazes29, para o bairro

Tapera, tem sido visto pela população da Favela Margem da Linha como um

favorecimento do poder público para os moradores da Vila. Estes, abrigados na

Tapera, terão melhores moradias e oferta de serviços (com acesso mais fácil e

próximos às habitações).

Como a população da Favela Margem da Linha se encontra desamparada até

o momento pelo Poder Público, o remanejamento dos moradores da Vila comprova,

para eles, o seu abandono.

Sabendo que existe uma série de políticas urbanas voltadas para a integração

e participação dos grupos marginalizados a nova realidade que se insere no local,

questiona-se onde estão sendo empregadas estas políticas? Pelo que parece, aos

nossos olhos, a dedicação maior das atuações públicas estão mais voltadas para as

necessidades do universo privado do que para o público. Sendo assim,

[aos] olhos da população de baixo nível de renda, o Estado representa uma instituição que não cumpre seus deveres, não atende às crescentes necessidades coletivas de certas áreas da cidade, visto até como um adversário que procura romper modos de vida enraizados em certos locais (CORRÊA, 2007:83).

Portanto, o Estado gera uma situação de descrença por parte da população

mais carente em relação as suas ações. Como já foi comentado no Capítulo 5, o que

se percebeu na população na favela foi exatamente o que Corrêa descreve. Quando

questionada sobre a possibilidade de melhorias na favela, a população se tornava

apática e sem esperança. O que comprova, no comentário acima do autor que para

a população mais carente, o "Estado representa uma instituição que não cumpre os

seus deveres". Com isso, a população não possui perspectivas melhores quanto ao

seu futuro, tornando-se apática quanto a situação que vive.

Sobre o Shopping Boulevard e a sua relação com os moradores da Favela

Margem da Linha, podemos analisa-la através de Souza (2005). Os shoppings

centers são locais dados como espaços "público"-privados, ou seja, embora busca-

se um público "homogêneo" e "seleto", qualquer pessoa tem o direito de ir-e-vir

29

Em detrimento da duplicação da BR 101 (que irá abranger do Distrito de Ururaí até o Jardim Aeroporto no interior da cidade), a população da “Vila” (formada por moradores que vivem à margem da BR 101) está sendo remanejada para o Bairro Tapera (FOLHA DA MANHÃ, p. 08, 30 de abril de 2010; FOLHA DA MANHÃ, p. 07, 04 de maio de 2010; FOLHA DA MANHÃ, 19/04/2011).

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quando quiser nestes espaços pois, trata-se de uma área aberta ao publico. A

alternativa então dos proprietários é combater os "indesejáveis" através de medidas

intimidadoras:

Um passo a diante na direção do espaço "publico" e tem-se algo que poder-se-ia denominar de espaço "publico"-privado: é, justamente, o caso dos shopping centers. Enquanto no caso dos condomínios exclusivos os consumidores habitam naquele espaço, no caso dos shopping centers a clientela tem neles, obviamente, apenas lugares onde buscam mercadorias oferecidas por outros. Os proprietários visam a uma clientela "homogênea" e "seleta" (a qual, por sua vez, deseja consumir "entre iguais", como no condomínio, e não na presença de pobres, de visão pouco agradável e tidos como ameaçadores), mas, do ponto de vista estritamente do direito espacial, as possibilidades de interditar abertamente a entrada de indesejáveis são muito mais restritas. Assim, o que normalmente se faz é laçar mão de estratagemas como o controle e a intimidação de indivíduos "suspeitos", malvestidos, etc. (SOUZA, 2005:204).

Isso nos mostra que a população da Favela Margem da Linha já possui

intrinsecamente este pensamento, tanto que, a maioria, quando questionada, não

demonstrou o interesse de ir ao local a passeio. Este só é visto pela população

como uma possibilidade trabalho; ou seja, os próprios moradores se consideram

"impróprios", "inadequados", "visados" para freqüentar tal área, até por que, como foi

afirmado por muitos, não teriam poder aquisitivo para consumir no interior do

Shopping.

O que se observa é que a população da Favela Margem da Linha não

demonstra o interesse de freqüentar áreas que não acompanham o seu perfil social

e, ao mesmo tempo, fica claro que os novos empreendimentos ao seu redor não

demonstram o interesse de receber um público com baixo poder aquisitivo; o que

nos faz refletir sobre a possível presença de uma Segregação Socioespacial. Pois,

em alguns casos, há a possibilidade dos diferentes grupos sociais circularem na

área do outro, mas não o fazem; apenas se fecham em seus universos

homogêneos.

Como ainda é muito recente a instalação dos novos empreendimentos ao

redor da Favela Margem da Linha, seria interessante o acompanhamento desse

processo em trabalhos futuros, retratando a possibilidade do surgimento (ou não)

dos fenômenos Emuralhamento da Vida Social e criação de Ilhas Utópicas.

Pelo o que é proposto no Anteprojeto de Lei e no Plano Diretor, é possível

dizer que o poder público tem sido relapso em suas ações propostas. Se

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observarmos bem, nas diretrizes de ambas as leis, em relação às áreas de

consolidação urbana, ocupação controlada e expansão urbana, em sua maioria,

buscam-se, a sua ocupação, provimento de infra-estrutura, integração à malha

urbana da cidade e busca universal da política urbana. Mas, quanto à Favela

Margem da Linha, o que percebe é o seu continuo isolamento e abandono por parte

do poder público.

Ressaltamos novamente que, se o Plano Diretor da cidade de Campos dos

Goytacazes se baseia na “Inclusão social, mediante ampliação da oferta de terra

urbana, moradia digna, infra-estrutura urbana, serviços e equipamentos públicos,

trabalho e lazer para população de Campos dos Goytacazes, segundo os princípios

da acessibilidade urbana, do desenvolvimento sustentável, da universalização da

política urbana e da função social da propriedade” (PREFEITURA DE CAMPOS

DOS GOYTACAZES, 2008:01), vemos a sua ausência no cumprimento da tal

legislação, o que comprova novamente, o porquê da população da Favela Margem

da Linha se encontrar tão descrente no Poder Público. Com isso, através das

palavras de Rodrigues (2005) fechamos este trabalho:

É preciso integrar, mais do que nunca, aquele que vive na favela ao seio da sociedade, através de políticas de desenvolvimento a sua regularização fundiária e urbanística e devolvendo aos mesmos segregados a experiência de viver sua cidadania com toda a aparelhagem necessária para que não cesse tão cedo esta prerrogativa que, diga-se de passagem, é direito fundamental de todos (RODRIGUES, 2005:122).

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ANEXOS

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iv

SUMÁRIO

Página

Lista de Nomenclaturas ............................................................................................ VI

Lista de Gráficos ...................................................................................................... VII

Lista de Tabelas ...................................................................................................... VIII

Lista de Figuras ......................................................................................................... IX

Resumo ..................................................................................................................... XI

Abstract .................................................................................................................... XII

INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 01 CAPÍTULO 1. REFERENCIAL TEÓRICO................................................................. 06

1.1. O Padrão Centro Versus Periferia ...................................................... 07

1.2. Segregação Socioespacial ................................................................. 10

1.3. Fragmentação Socioespacial .............................................................. 13

1.4. Emuralhamento da Vida Social e Criação de Ilhas Utópicas .............. 14

1.5. O Processo de Favelização ................................................................ 16

1.6. A Cidade Como um Grande Empreendimento ................................... 22

1.7. Alternativas dos Planos Urbanísticos ................................................. 25

CAPÍTULO 2. METODOLOGIA ................................................................................ 28 CAPÍTULO 3. O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO ESPACIAL EM CAMPOS DOS GOYTACAZES: O SURGIMENTO DA FAVELIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO VERSUS ATUAÇÃO DO PLANO DIRETOR ............................................................ 33 3.1. O Processo de Transformação Espacial de Campos dos Goytacazes ...33 3.1.1. Reformas Urbanísticas .............................................................. 33

3.1.2. Fim do Colonato ........................................................................ 39

3.2. O Processo de Favelização em Campos dos Goytacazes ................. 41

3.3. Atuação do Plano Diretor de Campos dos Goytacazes ...................... 44

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v

CAPÍTULO 4. O CONTRASTE ENTRE A INSERÇÃO DE NOVOS EMPREENDIMENTOS NA ÁREA DE ENTORNO DA AVENIDA SILVIO BASTOS TAVARES E A FAVELA MARGEM DA LINHA ........................................................ 48

4.1. Caracterização da Favela Margem da Linha .......................................... 60

CAPÍTULO 5. RESULTADOS DOS DADOS COLETADOS SOBRE A FAVELA MARGEM DA LINHA ................................................................................................ 65

5.1. Dados dos Moradores ............................................................................ 65

5.2. Dados sobre a Favela ............................................................................. 71

5.3. Sobre os Serviços Ofertados .................................................................. 81

CONCLUSÕES ........................................................................................................ 91 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 95 ANEXOS ................................................................................................................. 101

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vi

LISTA DE NOMENCLATURAS

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

FML – Favela Margem da Linha

IPPUR – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro

LEEA – Laboratório De Estudos Do Espaço Antrópico PD – Plano Diretor PDUC – Plano De Desenvolvimento Físico Territorial De Campos RFFSA – Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima UD – Utilidades Domésticas UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense UFRJ – Universidade Federal do Rio De Janeiro

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vii

LISTA DE GRÁFICOS Página

Gráfico 01. Tempo de Moradia ................................................................................. 65 Gráfico 02. Situação do Imóvel ................................................................................ 66 Gráfico 03. Renda Familiar ....................................................................................... 69 Gráfico 04. Documentação das Moradias ................................................................ 70 Gráfico 05. Bairro ..................................................................................................... 71 Gráfico 06. Consideração Sobre o Local ................................................................. 73 Gráfico 07. Distância do Local .................................................................................. 78 Gráfico 08. Mudanças Espaciais na Favela Margem da Linha ................................ 79 Gráfico 09. Mudanças Espaciais no Entorno da Favela Margem da Linha ............. 80 Gráfico 10. Serviços na Favela Margem da Linha ................................................... 81 Gráfico 11. O Que Mais Falta na Favela Margem da Linha ..................................... 82 Gráfico 12. Compras Diárias .................................................................................... 84 Gráfico 13. Compras Mensais .................................................................................. 85 Gráfico 14. Locais de Compras – Roupas e UD ...................................................... 86 Gráfico 15. Locais de Compras – Eletrodomésticos ................................................ 87 Gráfico 16. Locais de Compras – Móveis ................................................................. 87 Gráfico 17. Opções de Lazer e Compras ................................................................. 88 Gráfico 18. Opções de Emprego .............................................................................. 88

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viii

LISTA DE TABELAS

Página Tabela 01. Localização, Ano de Fundação e Total de Domicílios

Ocupados nas Favelas de Campos dos Goytacazes ............

43

Tabela 02. Renda Familiar ....................................................................... 69

Tabela 03. Composição Familiar ............................................................. 77

Tabela 04. População Total ..................................................................... 77

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ix

LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 01. Delimitação da área de estudo ................................................. 29

Figura 02. Primeira Área de Aplicação dos Questionários ......................... 31

Figura 03. Segunda Área em que Foram Aplicados os Questionários ...... 31

Figura 04. Terceira Área de Aplicação dos Questionários ......................... 32

Figura 05. Área de Estudo ......................................................................... 49

Figura 06. Recorte da Região de Estudo e Parte da Favela Margem da Linha Inseridas na Zona de Expansão Urbana e Residencial 2 em Campos dos Goytacazes ....................................................

51

Figura 07. Face e Verso do Folder do Fit VIVAI ........................................ 53

Figura 08. Interior do Folder do Fit VIVAI ................................................... 53

Figura 09. Placa Anunciando, na Época, as Futuras Instalações do Novo Boulevard Shopping Campos, Localizado na Avenida Silvio Bastos Tavares .........................................................................

55

Figura 10. Estrutura do Boulevard Shopping Campos Ainda em Fase de Construção ................................................................................ 55

Figura 11. Boulevard Shopping Campos em Plena Atividade ................... 56

Figura 12. Outra Imagem Mostrando o Boulevard Shopping Campos em Plena Atividade ......................................................................... 56

Figura 13. Placa Localizada ao Lado do Condomínio Horizontal Recanto das Palmeiras, Fazendo uma Chamada das Futuras Instalações do Hotel Supreme Campos .................................... 57

Figura 14. Placa Instalada no Local da Anterior, já se Remetendo ao Supreme Campos ..................................................................... 58

Figura 15. Close da Mesma Placa Fazendo Referência à Exploração de Petróleo na Bacia de Campos .................................................. 58

Figura 16. Localização Espacial da Favela Margem da Linha na Cidade de Campos dos Goytacazes ..................................................... 61

Figura 17. Favela Margem da Linha por Setor ........................................... 63

Figura 18. Uma das Residências da Favela Margem da Linha ................. 67

Figura 19. Esgoto a Céu Aberto em uma das Residências da Favela Margem da Linha ...................................................................... 68

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Figura 20. Outdoor Localizado à Margem da BR 101, na Antiga Área da “Vila”, Informando o Lançamento do Programa “Morar Feliz” pela Prefeitura de Campos dos Goytacazes no Bairro Tapera 72

Figura 21. Imagem das Casas Populares Construídas pelo Programa “Morar Feliz” da Prefeitura de Campos dos Goytacazes no Bairro Tapera para a População Remanejada da BR 101 ........ 72

Figura 22. Extensão da Favela Margem da Linha Considerada por seus Moradores ................................................................................. 75

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RESUMO Atualmente a configuração dos espaços das cidades tem apresentado diferenças quanto à clássica dualidade centro-periferia. Se antes, o centro citadino era visto como a região de moradia de classes com maior poder aquisitivo, e a periferia como refúgio dos pobres, hoje, este padrão tem se mostrado obsoleto. Atualmente, em conseqüência do estabelecimento ou expansão de empreendimentos em acordo com os interesses do capital, determinadas áreas podem ganhar novas configurações espaciais, sociais e novos significados. O Estado, por sua vez, age de maneira diferenciada no espaço urbano, levando as classes populares a sofrerem com a insuficiência de equipamentos urbanos como saneamento básico, saúde, mobilidade, educação, fato que pode ser observado, quando se trata das favelas. Diversos fenômenos Socioespaciais (como a segregação e a fragmentação) tem-se manifestado no ambiente urbano (incluindo o brasileiro); o que tem acarretado ainda mais no fortalecimento de empreendimentos privados como os condomínios fechados e os shopping centers. Esses tem se tornado típicos no padrão de vida das elites urbanas, colaborando para o surgimento de fenômenos urbanos específicos como o “Emuralhamento da Vida Social” e as “Ilhas Utópicas”. Ao mesmo tempo, outra face da população, os “excluídos”, têm sido cada vez mais esquecida, deixada às margens da sociedade, criando mecanismos próprios de sobrevivência. Tais fatos podem ser observados no entorno da Avenida Silvio Bastos Tavares (popularmente conhecida como Estrada do Contorno), na cidade de Campos dos Goytacazes. Essa área no passado era vista como periférica e atualmente é definida no Plano Diretor como Zona de Expansão Urbana. Marcada pela presença da Favela Margem da Linha, ela tem atualmente apresentado um crescente processo de ocupação, através da inserção de diversos empreendimentos como condomínios fechados, estabelecimentos comerciais (hipermercados, concessionárias) e shopping centers. Em decorrência desse processo de expansão uma nova configuração urbana se desenha e a população da Favela Margem da Linha pode se tornar cada vez mais segregada, ficando à margem da nova realidade espacial em formação. Desse modo, o objetivo desta dissertação é analisar as transformações socioespaciais que vem ocorrendo no entorno da Avenida Sílvio Bastos Tavares e suas conseqüências para a Favela Margem da Linha. Palavras-Chave: Favela; Plano Diretor; Segregação Socioespacial.

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ABSTRACT Currently the configuration spaces of cities have shown differences in the classic center-periphery duality. If before, the center city was seen as the place of residence of classes with greater purchasing power, and the periphery as a refuge for the poor, today, this pattern has been shown to be obsolete. Currently, as a result of the establishment or expansion of projects in accordance with the interests of capital, certain areas may gain new spatial configurations, social and new meanings. The state, in turn, acts differently in the urban space, taking the classes to suffer due to the lack of urban facilities such as sanitation, health, mobility, education, which can be observed, especially when it comes to the favelas. Several socio-spatial phenomena (such as Segregação and Fragmentação) has been manifested in the urban environment (including Brazilian), which has led to the further strengthening of private enterprise as condominiums and shopping malls. This has become typical in standard of living of urban elites, contributing to the emergence of specific urban phenomena as the "Emuralhamento da Vida Social" and "Ilha Utópicas". At the same time, another face of the population, the "outsiders" have been increasingly forgotten, left to the margins of society, creating their own mechanisms for survival. These facts can be observed in the vicinity of Av. Silvio Bastos Tavares (popularly known as Estrada do Contorno) in the city of Campos dos Goytacazes. This area was once seen as peripheral and is currently defined in the Plano Diretor as Urban Expansion Zone. Marked by the presence of Favela Margem da Linha, she currently has presented a growing process of occupation, through the insertion of several new developments like condominiums, shops (supermarkets, utilities) and shopping centers. Due to this expansion process a new urban configuration is designed and the population of Favela Margem da Linha can become increasingly isolated, staying on the sidelines of the new spatial reality in training. Thus, the goal of this dissertation is to analyze the socio-spatial transformations that have occurred in the vicinity of Av. Silvio Bastos Tavares and its consequences for the Favela Margem da Linha. Keywords: Favela; Plano Diretor; Segregação Socioespacial.

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Formulário Nº: _____

Localidade: ___________________________

Data: ___ /___ /___

UENF/CCH/LEEA

ENDEREÇO: __________________________________________________________________________________________________ 1. SEXO: ( ) Masculino ( ) Feminino 2. RELAÇÃO COM A PESSOA RESPONSÁVEL PELO DOMICÍLIO: ( ) Pessoa Responsável ( ) Cônjuge, Companheiro (a) ( ) Filho (a), Enteado (a) ( ) Pai, Mãe ( ) Sogro (a) ( ) Neto (a) ( ) Irmão, Irmã ( ) Agregado, Pensionista, Inquilino ( ) Outros ___________________ 3. BAIRRO QUE RESIDE: ( ) Tapera ( ) Parque São Caetano ( ) Rodoviário ( ) Outro ________________________ 4. TEMPO DE MORADIA: ( ) Até 5 anos ( ) De 6 a 10 anos ( ) 11 a 20 anos ( ) 21 a 30 anos ( ) 31 a 40 anos ( ) 41 a 50 anos ( ) mais de 50 anos 5. QUANTAS PESSOAS MORAM NO DOMICÍLIO ? ____________________________________________________ 6. BAIRRO/LOCAL DE TRABALHO _______________________________________________________________________

7. RENDA FAMILIAR __________________________________________________________________________ 8. POSSUI ALGUM COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA? ( ) Conta de Luz ( ) Conta de Água ( ) Conta de Telefone Fixo ( ) Conta de Celular Pós-Pago ( ) Outro_________________________ 9. O SENHOR (A) CONSIDERA O LOCAL QUE RESIDE: ( ) Bairro ( ) Favela ( ) Comunidade ( ) Outro ________________________ 10. EM SUA OPINIÃO, QUAIS SÃO OS LIMITES DE SEU BAIRRO/COMUNIDADE/FAVELA? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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11. O SEU BAIRRO/COMUNIDADE/FAVELA SE SITUA EM UMA ÁREA: ( ) central ( ) próxima ao centro ( ) afastada do centro ( ) na periferia ( ) não sabe/não respondeu 12. TIPO DE MORADIA ( ) Alugada (ignorar questões 17, 18 e 19) ( ) Própria (ir direto para a pergunta 17) ( ) Cedida (ir direto para a pergunta 18)

( ) Outro ______________________________

PERGUNTAS PARA ALUGUEL 13. O SENHOR (A) ALUGOU O IMÓVEL EM IMOBILIÁRIA OU COM O PRÓPRIO PROPRIETÁRIO? ( ) Imobiliária ( ) Proprietário ( ) Outro __________________________________ 14. O TIPO DE CONTRATO COM O LOCATÁRIO FOI: ( ) Contrato de Aluguel Escrito ( ) Contrato de Aluguel Verbal ( ) Outro ____________________________________ 15. O SENHOR (A) SE RECORDA DO VALOR PAGO NO INÍCIO DO ALUGUEL? __________________________________________________________________________________________________ 16. ATUALMENTE O VALOR SE MANTÉM O MESMO OU JÁ SOFREU ALGUM AUMENTO? PODERIA FORNECER O VALOR ATUAL? __________________________________________________________________________________________________

PERGUNTAS PARA COMPRA 17. O SENHOR (A) SE RECORDA DO VALOR PAGO NA COMPRA DO IMÓVEL? __________________________________________________________________________________________________ 18. POSSUI ALGUM TIPO DE DOCUMENTO COMPROBATÓRIO OU DE COMPRA E VENDA DO IMÓVEL? ( ) Não Possui ( ) Escritura ( ) Documento Registrado em Cartório ( ) Contrato Verbal ( ) Contrato Escrito ( ) Título de Propriedade ( ) Outro ______________________________________ 19. EM ALGUM MOMENTO O SENHOR (A) JÁ PENSOU EM VENDER SUA RESIDÊNCIA? SE FOSSE O CASO, POR QUANTO SERIA O VALOR DE VENDA DO IMÓVEL? __________________________________________________________________________________________________

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20. QUAL ATRIBUTO O SENHOR (A) ACHA QUE MAIS VALORIZA A SUA RESIDÊNCIA? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

21. E O QUE MAIS DESVALORIZA A SUA RESIDÊNCIA? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 22. O (A) SENHOR (A) OBSERVA ALGUMA MUDANÇA FÍSICA NA FAVELA MARGEM DA LINHA? ( ) Instalação de Redes de Esgoto ( ) Instalação de Galerias Pluviais ( ) Instalação de Fornecimento de Água ( ) Para Melhor ( ) Instalação de Iluminação Pública ( ) Pavimentação ( ) Novas Construções. Quais? _______________________________________________ ( ) Sim ( ) Expansão, desenvolvimento, crescimento do local ( ) Outras Mudanças. Quais? ________________________________________________ ( ) Perda da Propriedade ( ) Para Pior ( ) Remanejamento ( ) Degradação dos espaços ( ) Outro _______________________________________________________________ ( ) Não

23. O SENHOR (A) OBSERVA ALGUMA MUDANÇA FÍSICA NO ENTORNO DA FAVELA MARGEM DA LINHA? ( ) Instalação de Redes de Esgoto ( ) Instalação de Galerias Pluviais ( ) Para Melhor ( ) Instalação de Fornecimento de Água ( ) Instalação de Iluminação Pública ( ) Pavimentação ( ) Sim ( ) Novas Construções na Área de Entorno. Quais? ______________________________ ( ) Expansão, desenvolvimento, crescimento do Entorno ( ) Outras Mudanças. Quais? ________________________________________________ ( ) Perda da Propriedade ( ) Para Pior ( ) Remanejamento ( ) Degradação dos espaços ( ) Outro _______________________________________________________________ ( ) Não 24. QUANTO AO SETOR DE SERVIÇOS DO BAIRRO/COMUNIDADE/FAVELA (Farmácias, Supermercados, Dentistas, Padarias, etc.): ( ) Não satisfaz as suas necessidades ( ) Satisfaz as suas necessidades

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25. EM SUA OPINIÃO A OFERTA DE SERVIÇOS DO BAIRRO/COMUNIDADE/FAVELA TEM AUMENTADO? ( ) Sim ( ) Não Por quê? __________________________________________________________________________________________

26. AINDA EM RELAÇÃO AOS SERVIÇOS EM SEU BAIRRO/COMUNIDADE/FAVELA, QUANTOS EXISTEM: ( ) Padarias ( ) Farmácias ( ) Açougues ( ) Armarinhos ( ) Quitandas ( ) Mercados ( ) Escolas ( ) Postos de Saúde ( ) Praças/Parques 27. O QUE O SENHOR (A) ACHA QUE FALTA EM SEU BAIRRO/COMUNIDADE/FAVELA? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 28. ONDE FAZ AS COMPRAS DIÁRIAS (pão, leite, verduras...)? ( ) Grandes Supermercados como Makro, Hiper Super Bom ou Walmart. Especificar __________________________ ( ) Mercados de menor porte próximos ou no interior da comunidade. Especificar ___________________________ ( ) Outros. Especificar _________________________________________________________________________ 29. EM QUAL LOCAL O SENHOR COSTUMA FAZER COMPRAS MAIORES (de mês)? ( ) Grandes Supermercados como Makro, Hiper Super Bom ou Walmart. Especificar __________________________ ( ) Mercados de menor porte próximos ou no interior da comunidade. Especificar ___________________________ ( ) Outros. Especificar _________________________________________________________________________ 30. EM QUAL LOCAL DA CIDADE O SENHOR (A) COSTUMA COMPRAR: ( ) Lojas no Centro da Cidade - ROUPAS E ( ) Lojas e Shoppings na Pelinca UTILIDADES ( ) Lojas no Próprio Bairro DOMÉSTICAS ( ) Outros __________________________________ ( ) Lojas no Centro da Cidade - ELETRODOMÉSTICOS ( ) Lojas e Shoppings na Pelinca ( ) Lojas no Próprio Bairro ( ) Outros ___________________________________ ( ) Lojas no Centro da Cidade - MÓVEIS ( ) Lojas e Shoppings na Pelinca ( ) Lojas no Próprio Bairro ( ) Outros ___________________________________

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31. QUAL O ATRIBUTO O SENHOR (A) ACHA QUE MAIS VALORIZA A REGIÃO EM QUE MORA? __________________________________________________________________________________________________ 32. QUAL O ATRIBUTO O SENHOR (A) ACHA QUE MAIS DESVALORIZA A REGIÃO EM QUE MORA? __________________________________________________________________________________________________ 33. O SENHOR (A) ACHA QUE COM A PRESENÇA DO NOVO SHOPPING OS IMÓVEIS DA REGIÃO SERÃO MAIS VALORIZADOS? POR QUÊ? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 34. E OS IMÓVEIS DA FAVELA MARGEM DA LINHA, TAMBÉM SERÃO? POR QUÊ? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 35. O SENHOR (A) ACHA QUE COM A VINDA DO NOVO SHOPPING PARA A REGIÃO A POPULAÇÃO QUE VIVE NA MARGEM DA LINHA TERÁ NOVAS OPÇÕES DE LAZER E COMPRAS? ( ) Sim ( ) Não Por Quê? __________________________________________________________________________________________

36. O SENHOR (A) ACHA QUE COM A VINDA DO NOVO SHOPPING PARA A REGIÃO A POPULAÇÃO QUE VIVE NA MARGEM DA LINHA TERÁ NOVAS OPÇÕES DE EMPREGO? ( ) Sim ( ) Não Por Quê? __________________________________________________________________________________________ 37. EM SUA OPINIÃO QUAL É A ÁREA MAIS VALORIZADA DA CIDADE? _________________________________________________________________________________________________ 38. EM SUA OPINIÃO QUAL É A ÁREA MAIS DESVALORIZADA DA CIDADE? _________________________________________________________________________________________________ 39. EM SUA OPINIÃO QUAL É A ÁREA MAIS IMPORTANTE DA CIDADE? _________________________________________________________________________________________________ 40. DESEJA FAZER ALGUM COMENTÁRIO NO QUESTIONÁRIO? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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