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1 Costa Brito e Aragão – Advogados Associados A Humanização do Direito Tributário na Questão da Saúde Pública do Brasil *Carla Núbia Nery Oliveira Apesar de melhorias e investimentos na área de saúde pública , são recorrentes as reclamações da população perante a crescente cobrança de tributos no Brasil e a falta de retorno em serviços públicos básicos, principalmente, quando se deparam com a necessidade de utilizar os serviços de saúde pública, e uma vez não atendidos, lembra-se de que pagam direita e indiretamente pelo serviço público não prestado ou prestado precariamente. Dessa forma podemos dizer que o que é prestado em hospitais e posto de saúde pública não é um assistencialismo genuíno, mas um retorno esperado pelos cidadãos que também são contribuintes. Como o Sistema não é perfeito, pois não consegue atender a demanda crescente, garantindo a saúde de todos, fica o Estado responsável por tributar menos ou não tributar em alguns casos específicos, quando, por exemplo, o indivíduo está com uma doença muito grave. Esta possível renúncia do Estado em seu direito de tributar está embasado no inciso VI, do Art. 194, da CF/88, que dispõe sobre a diversidade da base de financiamento do sistema da seguridade social, que se constitui basicamente em, arrecadar fundos para o financiamento da seguridade social, na medida do poder contributivo do individuo, ou seja, no caso do portador de enfermidade grave, o Estado entende que, em virtude de tratamentos médicos e medicamentosos, o poder contributivo fora reduzido, assim, é dever do Estado, dispensar a arrecadação de alguns tributos do doente, devendo ser solidário nos momentos difíceis de seu contribuinte, com respeito a sua condição momentânea ou permanente, não podendo o Estado ser indiferente diante da condição social de seus cidadãos. A partir disso e do § 1º, do Art. 145, da CF/88, a legislação infraconstitucional da União, dos Estados-membros, dos Municípios e do DF tem assegurado ao contribuinte portador de necessidades especiais, de moléstia grave ou de idade avançada (idosos), benefícios tributários variáveis conforme a esfera do poder administrativo do Estado. Assim, FORTALEZA/CE, 02 de Outubro de 2014.

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Um aspecto do Direito Tributário.

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A Humanização do Direito Tributário na Questão da Saúde Pública do Brasil

*Carla Núbia Nery Oliveira 

Apesar de melhorias e investimentos na área de saúde pública, são recorrentes as reclamações da população perante a crescente cobrança de tributos no Brasil e a falta de retorno em serviços públicos básicos, principalmente, quando se deparam com a necessidade de utilizar os serviços de saúde pública, e uma vez não atendidos, lembra-se de que pagam direita e indiretamente pelo serviço público não prestado ou prestado precariamente. Dessa forma podemos dizer que o que é prestado em hospitais e posto de saúde pública não é um assistencialismo genuíno, mas um retorno esperado pelos cidadãos que também são contribuintes. Como o Sistema não é perfeito, pois não consegue atender a demanda crescente, garantindo a saúde de todos, fica o Estado responsável por tributar menos ou não tributar em alguns casos específicos, quando, por exemplo, o indivíduo está com uma doença muito grave. Esta possível renúncia do Estado em seu direito de tributar está embasado no inciso VI, do Art. 194, da CF/88, que dispõe sobre a diversidade da base de financiamento do sistema da seguridade social, que se constitui basicamente em, arrecadar fundos para o financiamento da seguridade social, na medida do poder contributivo do individuo, ou seja, no caso do portador de enfermidade grave, o Estado entende que, em virtude de tratamentos médicos e medicamentosos, o poder contributivo fora reduzido, assim, é dever do Estado, dispensar a arrecadação de alguns tributos do doente, devendo ser solidário nos momentos difíceis de seu contribuinte, com respeito a sua condição momentânea ou permanente, não podendo o Estado ser indiferente diante da condição social de seus cidadãos. A partir disso e do § 1º, do Art. 145, da CF/88, a legislação infraconstitucional da União, dos Estados-membros, dos Municípios e do DF tem assegurado ao contribuinte portador de necessidades especiais, de moléstia grave ou de idade avançada (idosos), benefícios tributários variáveis conforme a esfera do poder administrativo do Estado. Assim, Pensar o Direito Tributário como um instrumento de justiça social demonstra seu lado humanitário, tornando-o um legítimo modificador das desigualdades sociais e das injustiças. Exemplo disso é o inciso XIV, do Art. 6º, da Lei nº. 7.713/88, que institui o conceito de moléstia grave para fins de isenção do pagamento do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF), ou seja, a lei concedeu, para estes indivíduos em especial, a ISENÇÃO do pagamento do Imposto de Renda, seja qual for o montante de renda tributável que o indivíduo detenha. O legislador procurou não tributá-los, entendendo que seus gastos para tratamento e sobrevivência, já os oneram muito, sendo este ato, um meio de prestar assistência indireta ao indivíduo, evitando gerar novas despesas. Outro exemplo é a possibilidade de reestruturação das Santas Casas de Misericórdia com a anistia (perdão de dívida) de débitos tributários, previdenciários e a participação do Fundo Nacional de Saúde. Portanto, o Direito Tributário funciona também como disciplinador das cobranças, a questão aqui não é tributar mais ainda quem não tem condições ou prejudicar instituições filantrópicas e assistencialistas que por isso mesmo têm um papel

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muito importante na sociedade, mas aderir um lado humanista para este direito conhecido pela sua indiferença social, tornando-o condizente com as condições socioeconômicas de seus contribuintes, fazendo com que a máxima seja respeitada: "A verdadeira igualdade consiste em se tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida de suas desigualdades”. A questão é mais do que cobrar de seus cidadãos, é de gerir com qualidade para onde vão os investimentos e cobrar, aí sim, dos responsáveis resultados de uma boa administração na saúde pública brasileira, porque trabalhar nessa área requer amor integral à vida humana.

*Advogada, especialização em Direito Constitucional e Direito Tributário.

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