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DIREITO ADMINISTRATIVO RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO Em termos de evolução histórica, a responsabilidade civil da Administração, no mundo ocidental, surgiu a partir da Idade Média. Inicialmente, o Estado não era responsável por qualquer dano. Essa idéia da irresponsabilidade do Estado adveio de diversas teorias que justificavam o poder do Estado na figura do Rei. Essas teorias são denominadas de TEORIAS DA DIVINDIDADE. O senhor absoluto – rei – recebia o poder de Deus, por isso não poderiam ser atribuídos erros a ele e ao Estado, muito menos quaisquer responsabilidades deles decorrentes. O rei era o representante de Deus e, por isso, não errava. Contudo, essa idéia passou a evoluir para reconhecer que, na realidade, o rei atuava através de agentes que não recebiam o poder divino e por isso poderiam ser responsabilizados pessoalmente. Sustenta-se que o Estado e o funcionário eram sujeitos diferentes, pelo que este último não obrigava a Administração. Com a difusão de novas idéias, a teoria que justificava o poder absoluto nas mãos do réu foi ultrapassada. Com o iluminismo, firmou-se a idéia liberal, de igualdade. O 1

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D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V OR E S P O N S A B I L I D A D E C I V I L D O E S T A D O

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

Em termos de evolução histórica, a responsabilidade civil da Administração, no mundo ocidental, surgiu a partir da Idade Média.

Inicialmente, o Estado não era responsável por qualquer dano. Essa idéia da irresponsabilidade do Estado adveio de diversas teorias que justificavam o poder do Estado na figura do Rei. Essas teorias são denominadas de TEORIAS DA DIVINDIDADE. O senhor absoluto – rei – recebia o poder de Deus, por isso não poderiam ser atribuídos erros a ele e ao Estado, muito menos quaisquer responsabilidades deles decorrentes.

O rei era o representante de Deus e, por isso, não errava. Contudo, essa idéia passou a evoluir para reconhecer que, na realidade, o rei atuava através de agentes que não recebiam o poder divino e por isso poderiam ser responsabilizados pessoalmente.

Sustenta-se que o Estado e o funcionário eram sujeitos diferentes, pelo que este último não obrigava a Administração.

Com a difusão de novas idéias, a teoria que justificava o poder absoluto nas mãos do réu foi ultrapassada. Com o iluminismo, firmou-se a idéia liberal, de igualdade. O particular respondia por suas atividades, por isso a Administração deveria também responder tal qual o particular.

Essa perspectiva de responsabilidade da Administração surgiu dentro da idéia de culpa, sendo que daí nasceram algumas correntes mencionando que se a responsabilidade do Estado surgia a partir de uma concepção de igualdade, ele só poderia ser responsabilizado quando atuasse como particular e não quando atuava como Estado.

Para alguns, a responsabilidade culposa do Estado só poderia decorrer da atuação deste como particular, ou seja, pelos atos de

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gestão por ele praticados. Já quanto aos atos de império, o Estado não poderia ser responsabilizado.

Outros doutrinadores já defendiam que a responsabilidade culposa da Administração deveria se dar sem distinção do tipo de atuação do Estado. Ela estaria presente seja quando o Estado atuasse como Estado, seja quando atuasse como particular. Essa concepção passou a prevalecer, sendo que, para que Administração pudesse ser responsabilizada era necessário que o agente fosse identificado e que ficasse comprovada a sua culpa.1

Essa teoria predominou até meados do século XIX. Nessa época, aconteceu o caso de um cidadão francês, que sofreu uma lesão quando saía de uma agência de postagem. Não foi possível, ao cidadão, determinar o agente que havia sido responsável pelo dano, mas ele conseguiu demonstrar que os danos por ele sofridos haviam decorrido da atuação de agentes da Administração.

O Conselho Administrativo Francês reconheceu, nessa hipótese, a culpa da Administração, firmando a tese da CULPA ANÔNIMA, surgindo daí a idéia da culpa da Administração desprendida da identificação do agente.

A partir de tal caso, surgiu a Teoria da Responsabilidade Culposa da Administração por Falta ou Falha do Serviço. Alguns autores identificam a expressão CULPA ANÔNIMA com falta ou falha do serviço.

A falta ou falha da Administração é uma idéia de culpa própria da Administração, que é diversa da culpa do particular. A responsabilidade própria da Administração por falta ou falha de seu serviço está presente quando éa possível identificar que a Administração não havia obrado com a devida cautela, deixando de observar o aparato de que poderia dispor para evitar o evento danoso.1 Teoria do Órgão – o órgão não é um quid distinto do ente, senão que se identifica com este. O órgão supõe a existência de uma só pessoa do Estado, razão pela qual o dano causado ao particular imputa-se diretamente à pessoa jurídica de cuja organização faz parte o funcionário causador do dano (Yussef Said Cahali - Responsabilidade Civil do Estado)

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D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V OR E S P O N S A B I L I D A D E C I V I L D O E S T A D O

Ex. Doente que se dirige ao hospital público para recebimento de tratamento médico e que morre porque não estava disponível o remédio apropriado. A responsabilidade da Administração decorre da falta e falha do serviço, porque o hospital deveria estar adequadamente aparelhado para conferir todos os tratamentos possíveis.

A culpa da Administração, então, a partir de meados do século XIX, começou a ser orientada por essa idéia de falta ou falha do serviço. A culpa anônima ou a falta de serviço, geradora de responsabilidade do Estado, não está necessariamente ligada à idéia de falta de algum agente determinado, sendo dispensável a prova de que funcionários nominalmente especificados tenha incorrido em culpa.

Segundo Sergio Cavalieri Filho, a responsabilidade por falta de serviço, falha do serviço ou culpa do serviço, seja qual for a tradução que se dê à fórmula francês faute du service, não é, de modo algum, modalidade de responsabilidade objetiva, mas subjetiva, porque baseada na culpa do serviço diluído na sua organização, assumindo feição anônima ou impessoal.2

Com o advento de novas concepções teóricas, trazendo a idéia de fraternidade, ou seja, de uma dimensão social da atuação da Administração, passou a ser reconhecida a responsabilidade objetiva do Estado. Isto porque se o Estado atua em benefício de todos nós, todos têm que assumir e repartir os ônus dessa responsabilidade. Essa é a idéia da responsabilidade desprendida da culpa e até mesmo da falta ou falha da Administração, importando na responsabilidade objetiva.

Essa posição foi alcançada com base nos princípios da eqüidade e igualdade de ônus e encargos sociais. Se a atividade administrativa do Estado é exercida em prol da coletividade, se traz

2 Sergio Cavalieri Filho – Programa de Responsabilidade Civil – pág. 160

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benefícios para todos, justo é, também, que todos respondam pelos seus ônus, a serem custeados pelos impostos.3

Há duas teorias justificando a responsabilidade objetiva: Teoria do Risco Administrativo e Teoria do Risco Integral.

Pela Teoria do Risco Administrativo, não há necessidade de demonstração da culpa da Administração para exigir sua responsabilidade. O prejudicado deve, apenas, comprovar a ocorrência do dano e o nexo causal entre este e a atuação da Administração.

Responde o Estado porque causou dano ao seu administrado, simplesmente porque há relação de causalidade entre a atividade administrativa e o dano sofrido pelo particular. Toda lesão sofrida pelo particular deve ser ressarcida, independentemente de culpa do agente público que a causou. O que se tem que verificar é, apenas, a relação de causalidade entre a ação administrativa e o dano sofrido pelo administrado.

A Administração se eximirá da sua responsabilização se comprovar a inexistência do nexo causal, ou que os danos decorreram por culpa exclusiva da vítima, por caso fortuito ou força maior ou, ainda, por fato de terceiro absolutamente independente. Se o Estado, por seus agentes, não deu causa a esse dano, se inexiste relação de causa e efeito entre a atividade administrativa e a lesão, não terá lugar a aplicação da teoria do risco administrativo e, por via de conseqüência, o Poder Público não poderá ser responsabilizado.

Já a Teoria do Risco Integral não admite as excludentes de responsabilidade da Administração. Para ela, o prejudicado deve demonstrar o dano e o nexo causal com a atuação da Administração, sendo vedada a esta a possibilidade de se eximir de sua responsabilidade por conta da culpa exclusiva da vítima, de caso fortuito ou força maior, ou por fato independente de terceiro.

3 Sergio Cavalieri Filho – Programa de Responsabilidade Civil – pág. 161

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D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V OR E S P O N S A B I L I D A D E C I V I L D O E S T A D O

No Brasil, o primeiro texto constitucional (1824), não previa a responsabilização da Administração, mas tão somente a dos agentes. Ainda no Brasil Império, foi reconhecida a responsabilidade culposa da Administração e não apenas de seus agentes, responsabilidade essa que refletiu no art. 15 do Código Civil de 1916. A Constituição de 1891 não tratou da responsabilidade objetiva, apenas da subjetiva.

O primeiro dispositivo legal que tratou especificamente da responsabilidade civil do Estado foi o artigo 15 do Código Civil:

Art. 15 (CCV). As pessoas jurídicas de direito público são civilmente responsáveis por atos dos seus representantes que nessa qualidade causarem danos a terceiros, procedendo de modo contrário ao Direito ou faltando a dever prescrito por lei, salvo o direito regressivo contra os causadores do dano.

A responsabilidade objetiva da Administração foi reconhecida, pela primeira vez, na Constituição de 1946 (art. 194), idéia essa que foi repetida nas Constituições de 1967 (art. 107), 1969 e finalmente na de 1988, que positivou o tema no art. 37, §6º:

Art. 37, §6º (CR’88). As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadores de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Houve uma modificação da redação da constituição atual para a redação anterior, positivada nas Constituições de 1969; 1967 e 1946. Nestes textos constitucionais, estava expresso que a

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Administração Pública era responsável pelos danos que seus funcionários causassem a terceiros.

Havia divergência na doutrina quanto a responsabilidade dos delegatários. Alguns sustentavam que estes respondiam por culpa, enquanto outros defendiam, de forma minoritária, que os delegatários atuavam como Administração e, portanto, sua responsabilidade era objetiva.

Atualmente não há mais essa divergência, porque o texto constitucional estabelece de forma expressa a responsabilidade objetiva dos delegatários.

O texto atual não menciona mais a expressão funcionário, substituindo-a por agente. O termo funcionário é utilizado para identificar o agente que tem um vínculo estatutário com a Administração, daí porque, na realidade, é uma expressão estrita.

Já o termo agente abrange toda e qualquer pessoa que venha a prestar uma atividade pública em nome da Administração, seja estatutário ou celetista, remunerado ou não. A responsabilidade do Estado subsistirá ainda que se trate de ato praticado por servidor contratado, funcionário de fato ou temporário, qualquer que seja a forma de escolha ou investidura.

A primeira discussão acerca do tema é saber se o termo correto é Responsabilidade Civil da Administração ou se é a expressão Responsabilidade Civil do Estado.

Alguns defendem que é mais correta a expressão Responsabilidade Civil do Estado, mas são combatidos porque que outros autores sustentam que a responsabilidade civil objetiva pode ser atribuída a pessoas distintas do Estado, como os delegatários, sendo melhor a utilização do termo Responsabilidade Civil da Administração. Quanto a essa expressão, a primeira corrente sustenta que a Administração não personifica ninguém, sendo uma expressão genérica, vaga, porque a

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Administração não tem personalidade jurídica, sendo denotativa de órgãos, figuras. Contudo, essa discussão é irrelevante e não tem qualquer conteúdo prático.

As pessoas abrangidas pela expressão “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadores de serviços públicos” são:

União, Estados, Municípios, Distrito Federal, autarquias, que são as pessoas jurídicas de direito público;

sociedades de economia mista e empresas públicas, sendo que, nesse ponto, alguns acham que somente devem ser incluídas as que prestam serviços públicos, por conta da segunda parte do texto – pessoas jurídicas de direito privado, prestadoras de serviços públicos. Uma segunda corrente sustenta que as empresas públicas e sociedades de economia mista interventoras no domínio econômico também estão abrangidas nessa disposição, porque deve ser feita uma interpretação racional, lógica da vontade do dispositivo constitucional, porque essa disposição quanto às pessoas jurídicas de direito privado foi incluída não para afastar a responsabilidade das empresas públicas e sociedades de economia mista interventoras no domínio econômico, mas sim para deixar evidente a responsabilidade objetiva dos delegatários. Há uma tendência de se seguir a primeira corrente, mas isso não quer dizer que ela seja majoritária.

pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público. As pessoas delegatárias respondem objetivamente, contudo, essa responsabilidade objetiva se prende à atividade delegada – isso já foi objeto de pergunta na Magistratura Estadual. Elas responderão objetivamente apenas no âmbito das atividades recebidas por delegação. Se tais empresas vierem a causar um dano a alguém por força de atividades que não guardam relação com as delegadas, sua responsabilidade será subjetiva, nos termos da legislação civil.

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O texto constitucional apresenta uma expressão de grande relevância: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadores de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade , causarem a terceiros”. Essa expressão indica que a Administração será responsabilizada pela atuação de seus agentes em razão da TEORIA DA IMPUTAÇÃO. Quem está atuando é a Administração e não o agente.

Agir na qualidade de agente não representa, necessariamente, estar no legítimo exercício.

Exemplos:

(1) Policial federal, durante seu trabalho, causa um dano a alguém por conta de sua conduta. Nessa hipótese, a União será chamada a responder, porque o policial é um agente e estará atuando na qualidade de agente.

(2) Policial federal, em dia de folga, trabalha como segurança em um clube. Há um tumulto e o policial, porque é segurança, causa um dano a alguém. A União não será responsabilizada pelo dano porque não há um agente atuando na qualidade de agente.

(3) Policial federal, em dia de folga, trabalha como segurança em um clube. Há um tumulto e o policial, identificando-se como policial, puxa uma arma da corporação e causa um dano a alguém. A União será responsabilizada pelo dano porque o agente estará atuando na qualidade de agente. A partir da identificação, o policial passou a se valer da qualidade de agente público para impor a sua autoridade. Não se pode confundir atuar na qualidade com agir no exercício. São coisas

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distintas. O texto constitucional exige a conduta na qualidade de agente. Ou seja, há um aproveitamento da condição de ser agente, aproveitando-se dos meios conferidos pela Administração à pessoa.

(4) Policial federal aposenta-se. Contudo, mesmo aposentado sai em diligência para ajudar seus colegas e causa danos a alguém. A posição majoritária, quase unânime, é no sentido de responsabilizar a Administração nessa hipótese. São duas linhas de raciocínio distintas: a primeira linha é no sentido de que, apesar de o policial estar desligado da Administração, se sua atuação foi aceita porque havia necessidade, ele deve ser visto como agente de fato necessário e a responsabilidade da Administração decorreria dessa condição. Sua atuação se deu com a aceitação da Administração, por isso deve ser responsabilizada porque houve uma atuação de um agente de fato. A segunda linha de raciocínio se dirige à conclusão de que a Administração deu causa imediata ao dano ao permitir que uma pessoa externa a seus quadros viesse a atuar e a praticar a conduta danosa. Para aqueles que admitem apenas essa segunda colocação, a responsabilidade da Administração não decorre da atuação de um agente de fato, mas sim da sua conduta de aceitar que uma pessoa estranha atuasse naquelas condições.

Há, ainda, uma segunda corrente, minoritária, que sustenta que o policial não é um agente, e por isso

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não estaria atuando nessa qualidade, daí porque a Administração não poderia ser responsabilizada.

(5) Traficantes furtam material da polícia civil (carteiras, coletes e armas) e fingem fazer uma blitz, acabando por causar danos a terceiros. A Administração não pode ser responsabilizada nesse caso, porque não há conduta de qualquer agente, como exige o art. 37, §6º, da CR’88. Não se pode sequer falar de agente de fato nessa hipótese.

Assim, para que a Administração seja responsabilizada, é necessário que o agente, ao causar o dano, atue na qualidade de agente, não sendo exigido, entretanto, que esteja no exercício da função.

Pólo passivo da ação

Pelo teor do §6º, do art. 37, da CR’88, as pessoas jurídicas responderão pelos danos. A questão é: pode o lesado optar entre ajuizar a ação em face da Administração ou em face do agente, ou em face de ambos?

Essa questão não é pacífica. Alguns como Hely Lopes Meirelles, Maria Sylvia Di Pietro e Yussef Said Cahali entendem que a ação deve ser proposta em face da Administração, tão somente. O lesado não pode ajuizar a ação em face do agente, porque o dispositivo constitucional estabelece que a responsabilidade é da Administração e não do agente.

OBSERVAÇÃO: Art. 122, da Lei 8112/91 – Estatuto do Servidor Público da União.

A posição acima não é a mais seguida no âmbito da jurisprudência. Na doutrina, Celso Antônio Bandeira de Mello, seguindo seu pai, Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, são contrários a essa tese. A jurisprudência, especialmente no STF, tem vários julgados no sentido de

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que o lesado pode optar entre ajuizar a ação em face da Administração, ou do Agente ou até mesmo em face de ambos.

Isto porque a disposição constitucional não estabelece de forma clara que a ação só poderia ser proposta em face da Administração. Além disso, esse dispositivo constitucional traz a responsabilidade objetiva de forma a impor uma maior garantia ao cidadão. Seu objetivo é estabelecer uma maior perspectiva de recebimento da reparação e não causar um entrave a isto. O texto constitucional não retira a responsabilidade do agente, apenas a coloca no plano da subjetividade. Essa segunda orientação observa que se aquele que se viu lesado pretender ajuizar a ação em face do agente, ele terá que demonstrar o dolo ou culpa deste último. Já, se a ação for proposta em face da Administração, a responsabilidade será objetiva, sem necessidade de demonstração do dolo ou culpa.

Aparentemente, seria mais adequado, então, ajuizar a ação somente em face da Administração, posto que desnecessária a comprovação do dolo ou culpa. Entretanto, o recebimento da reparação mediante o sistema de precatório acarreta um entrave à celeridade do processo, daí porque, para a vítima, às vezes é mais adequada a propositura da ação em face do agente, pois receberá a indenização à vista.

Recentemente, apesar de o STF já ter proferido decisões no sentido de ser possível o ajuizamento de ação em face da Administração ou do agente, foi proferido um voto em ação de reparação movida contra Magistrado, inadmitindo a possibilidade de ajuizamento da ação em face do agente e declarando ser necessário que a Administração seja demandada (RE 228.977 – ementa ao final).

O prazo prescricional para que se possa mover uma ação de responsabilidade em face da Administração é estabelecido pelo Dec. 20910/32 – prazo qüinqüenal.

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Mas se a vítima quiser ajuizar a ação em face do funcionário, o prazo prescricional se regulará pelo artigo 177 do Código Civil, ou seja, de 20 anos.

Com o Novo Código Civil, o prazo passará de três anos, conforme disposto no artigo 206, §6º, V. Carlos Gonçalves de Oliveira sustenta que, com a entrada em vigor do Novo Código Civil, esse prazo de 03 anos deverá se estender à Administração.

Concorrência de Causas

O art. 37, §6º, adotou a Teoria do Risco Administrativo, podendo a Administração se defender alegando ausência do nexo em virtude de culpa exclusiva da vítima, de terceiro ou caso fortuito e força maior. Nessa linha, surge o questionamento quanto à possibilidade de a Administração, sem excluir sua responsabilidade, tentar atenua-la com o argumento de concorrência de culpa.

Alguns autores sustentam que não é possível esse tipo de alegação por parte da Administração porque a responsabilidade desta é objetiva. Assim, ou a Administração responderá pelos danos, ou não responderá por culpa exclusiva da vítima.

Essa posição não é seguida pelo STF e nem pela maioria da doutrina. Sergio Cavalieri Filho e Yussef Said Cahali observam que a Administração pode minorar sua responsabilidade, mas não seria tecnicamente correto se falar em concorrência de culpas, mas sim concorrência de causas. O enfoque seria dado na causa, no nexo causal. Para tais autores, se a conduta da Administração concorresse com a conduta da vítima para ensejar a ocorrência do nexo causal, é evidente que, nessa hipótese, deve haver uma “repartição” desses ônus, de forma a diminuir a imposição da responsabilidade à Administração4.

4 Segundo Sergio Cavalieri, “havendo concorrência de causas, a responsabilidade do Poder Público deverá ser atenuada ou circunscrita ao dano efetivamente causado pela atividade administrativa” – Programa de Responsabilidade Civil – pág. 167

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Inegavelmente, não há nada que obste esse entendimento. A lei não estabelece a impossibilidade de se apurar, também, a conduta da vítima para tentar diminuir a responsabilidade da Administração.

Ação Regressiva contra o Agente

O art. 37, §6º, da CR’88, em sua parte final, estabelece que a Administração poderá ajuizar uma ação de regresso em face do agente, na hipótese de este ter obrado com culpa ou dolo.

O regresso é uma faculdade ou é uma obrigação da Administração? Está a Administração obrigada a ajuizar a ação contra o agente?

Essa questão é muito importante, pois se está diante da aplicação do princípio da indisponibilidade do interesse público, daí porque a Administração não tem a disponibilidade de optar pelo ajuizamento ou não da ação. Assim, a Administração está obrigada a ajuizar a ação regressiva, não podendo deixar de faze-lo, pois, ao contrário, estaria violando o princípio em questão.

Contudo, isso não impossibilita que a Procuradoria aconselhe o não ajuizamento da ação em face da situação econômica do agente, o que inviabilizaria o recebimento da indenização, pela Administração. O custo para o ajuizamento da demanda pode, às vezes, superar o benefício que poderia se obter. Assim, o não ajuizamento da ação, nesses casos, atenderia ao interesse público.

A fixação do prazo prescricional para que a Administração possa ajuizar a ação regressiva é questão controvertida na doutrina.

Alguns autores sustentam que o prazo para o ajuizamento da ação guarda direta relação com o prazo prescricional para

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a obtenção de indenização da Administração, daí porque haveria uma subrogação dos direitos a importar a impossibilidade de ampliação do prazo, sendo, portanto, de 05 anos, nos termos do Dec. 20910. Essa posição é MINORITÁRIA.

O posicionamento que prevalece sustenta que a relação é diversa, não sendo possível a aplicação do Dec. 20910 porque tal norma é específica para as ações ajuizadas em face da Administração. O prazo para o ajuizamento seria o previsto no art. 177 do CCV, ou seja, de 20 anos.

Há um questionamento na doutrina quanto à possibilidade ou não de a Administração se valer da denunciação da lide, sendo controvertida tal questão.

A maioria dos processualistas, inclusive José Carlos Barbosa Moreira defende que não pode ser afastada a possibilidade de denunciação da lide, na medida em que o art. 70, III, do CPC é claro ao mencionar as hipóteses de cabimento de tal instituto, sendo expressamente previsto que se a lei fizer menção ao direito de regresso deve, obrigatoriamente, haver a denunciação da lide.

No caso em exame, o próprio texto constitucional prevê o direito de regresso, daí porque a denunciação da lide seria obrigatória por força da conjugação do art. 37, §6º, da CR’88 com o artigo 70, III, do CPC.

Os administrativistas, contudo, tendem a não aceitar a denunciação da lide (Hely Lopes Meirelles), como também alguns processualistas, utilizando-se de dois fundamentos:

1) a denunciação da lide se faz dentro da teoria da substanciação (que traz a necessidade de ser feita uma adequação da causa de pedir da ação principal – autor e réu - com a causa de pedir da ação secundária – denunciante e denunciado). Nesta hipótese, não haveria correlação lógica porque na ação principal a causa de pedir

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está baseada na responsabilidade objetiva, enquanto na ação secundária a causa de pedir está baseada na responsabilidade subjetiva.

2) a administração não poderia contestar o pleito indenizatório na ação principal e, ao mesmo tempo, argumentar que o seu agente havia obrado com culpa para obter o ressarcimento na ação secundária. Haveria uma contradição na atuação da Administração.

Barbosa Moreira, em acórdão de sua lavra, critica essa parte da doutrina porque, no que toca ao primeiro fundamento, a transmudação da causa de pedir seria inexata, além do que o simples debate acerca da culpa não justificaria essa restrição. Quanto ao segundo argumento, Barbosa Moreira sustenta que o réu deve se utilizar de todos os mecanismos de defesa e, muitas vezes até pelo princípio da eventualidade, é possível hipoteticamente que venha a sustentar teses aparentemente contraditórias.

Esse tema ainda é bastante controvertido, sendo que o TJRJ inadmite a denunciação da lide. No âmbito federal, o STJ vem aceitando a denunciação da lide, sendo possível também sustenta-la em concursos.

QUESTÃO IMPORTANTE!!

Questão: O agente, dolosamente, causa um dano a alguém. A vítima providencia a notícia crime das lesões sofridas e é instaurado um inquérito, sendo proposta a ação penal. A vítima aguarda a solução da ação penal para ajuizar a ação reparatória, sendo que, nesse intervalo, decorrem 05 anos até que finalmente vem a ser proferida a sentença na esfera criminal, condenando o agente. A vítima ajuíza posteriormente a ação de reparação em face da Administração. A pergunta é: prescreveu ou não a ação?

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Resposta: Essa questão guarda uma certa polêmica. Em 1998, o STJ julgou hipótese idêntica, tendo sido relator o Min. Ari Pargendler. O STJ entendeu que a ação penal ajuizada suspendia o curso do prazo prescricional, apesar de as partes serem distintas, porque o agente representava a figura da Administração.

O Novo Código Civil (Lei 10406), no art. 200, é claro ao afirmar que o curso do prazo prescricional fica suspenso enquanto não finalizado o processo crime que gera o direito a obter a reparação.

Mas será possível, com base na sentença criminal, que a vítima proceda diretamente à liquidação por arbitramento em face da Administração? Nessa hipótese, a doutrina e jurisprudência vêm entendendo não ser possível a liquidação direta porque a Administração não participou na lide condenatória.

RESPONSABILIDADE DAS DELEGATÁRIAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS

A Lei 8.987/95 estabelece uma responsabilidade direta das empresas prestadoras de serviços públicos (art. 25).

Quanto à Administração, a maioria da doutrina e da jurisprudência sustenta que sua responsabilidade é subsidiária, sendo essa a idéia mais adequada para o concurso da magistratura, porque quem dá causa direta e imediata é a concessionária e não a Administração, que tem o dever, somente, de fiscalizar, sendo responsável subsidiariamente.

O prof. Gustavo Tepedino entende que a responsabilidade é solidária porque se estiver presente uma relação de consumo a Administração Pública se coloca no ciclo de produção, sendo,

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portanto, responsável solidariamente pela reparação na hipótese de causação de dano ao consumidor.

Quanto às empresas públicas e sociedades de economia mista, há divergência no que se refere à existência ou não de responsabilidade objetiva das sociedades interventoras no domínio econômico. Alguns autores sustentam que sim, outros não. Para Sergio Cavalieri, as empresas prestadoras de serviços públicos estão sujeitas à responsabilidade objetiva prevista no art.37, §6º, da Constituição Federal. As demais – empresas que executam atividade econômica – respondem subjetivamente; podem responder objetivamente, não com base na Constituição, mas sim no Código de Defesa do Consumidor (arts. 12 ou 14) se forem fornecedoras de produtos ou serviços e estiver em jogo relação de consumo.

A responsabilidade da sociedade de economia mista é direta. Mas, se seu patrimônio não for suficiente à reparação do dano, haverá a responsabilização subsidiária da Administração que criou a pessoa jurídica devedora, de acordo com a maioria da doutrina.

Contudo, em razão da recente alteração promovida pela Lei 10303/01 na Lei 6404/76, que trata das sociedades anônimas, foi revogado, expressamente, o artigo 242 que previa a impossibilidade de decretação da falência da sociedade de economia mista. Em razão disso, alguns autores, como Bulhões Pedreira e Cantidiano, sustentam que a Administração, na sociedade de economia mista, é apenas uma acionista controladora, logo só poderia responder por débitos da empresa nessa qualidade, ou seja, nos termos do art. 117 da lei 6404, sendo equivocada essa expressão responsabilidade subsidiária.

CONDUTA DA ADMINISTRAÇÃO

O artigo 37, §6º, da CR’88 traz, ainda, uma última divergência, que se refere ao momento de incidência desse dispositivo.

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Ou seja, que tipo de conduta da Administração estaria sujeita a esse dispositivo.

Hely Lopes Meirelles defende que esse dispositivo se projeta a qualquer tipo de conduta da Administração, seja omissiva, seja comissiva, porque não há qualquer distinção na Constituição.

Para Celso Antônio Bandeira de Mello, o texto constitucional apenas se refere à conduta comissiva, ou seja, a uma ação. O §6º não se aplicaria à conduta omissiva da Administração porque o dispositivo constitucional se refere ao termo “causar” o que pressupõe uma ação. Para ele, se a Administração for omissa, ela não estará causando um dano, pois o fato danoso decorrerá ou da própria natureza, ou por culpa da vítima, ou por um fato de terceiro, mas nunca da própria Administração.

Para se responsabilizar a Administração pelo dano, deve-se comprovar que ele decorreu da omissão, daí porque se trata de responsabilidade subjetiva e não objetiva. Deve-se perquirir se a Administração tinha a obrigação de agir e podia agir para evitar o dano. Se ela tinha essa obrigação, estará configurada falta de serviço, daí decorrente a responsabilidade subjetiva porque envolve a culpa.

Há uma terceira orientação, defendida por Sergio Cavalieri Filho, que adverte sobre a necessidade de se distinguir a omissão genérica e omissão específica. Para o Des. Cavalieri, quando a conduta for ativa, não há dúvida quanto à responsabilização da Administração.

Contudo, quando se está diante de uma conduta omissiva e esta omissão for específica, ou seja, pode ser constatado que a Administração chamou para si e tinha meios para evitar o evento danoso, estará presente a responsabilidade objetiva, porque a Administração sabendo que tinha que agir e não o fez deu causa ao dano.

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Já se a Administração apenas tem o dever de agir, não chamando para si nem cogitou da possibilidade da ocorrência do evento, há a chamada omissão genérica, não sendo caso de responsabilidade objetiva.

Ex. Um aluno fere o outro em uma escola pública, porque a Administração deixou de cumprir o seu dever de guarda, sendo omissa. Para Hely, a responsabilidade da Administração seria objetiva, para Celso Antônio, subjetiva e, para Sérgio Cavalieri, seria uma omissão específica porque a Administração chamou para si e tinha meios de evitar o evento danoso, sendo aí caso de responsabilidade objetiva.

Um sujeito está andando pela rua e é roubado. Há uma omissão da Administração quanto ao dever de guarda. Para Hely, a responsabilidade objetiva da Administração está fundada na idéia de risco administrativo, que autoriza a exclusão da responsabilidade se o dano decorrer de fato de terceiro, culpa exclusiva da vítima ou caso fortuito ou força maior, daí porque a Administração não pode ser responsabilizada porque a hipótese é de fato de terceiro. Celso Antônio Bandeira de Mello também sustenta, nessa hipótese, a inexistência de responsabilidade da Administração. Para Sérgio Cavalieri, a hipótese seria de omissão genérica, e por isso eventual responsabilidade da Administração deveria estar efetivamente comprovada.

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DANOS CAUSADOS A TERCEIROS

Por força dessa expressão “terceiros” boa parte da doutrina defende que a responsabilidade é “aquiliana”. Os “terceiros” devem ser vistos de forma técnica, ou seja, devem ser aqueles que não têm uma relação para com a Administração, conforme Sérgio Cavalieri Filho.

Há uma outra corrente que entende de forma diversa, sustentando que essa expressão não deve ser vista no seu aspecto puramente técnico, sob pena de serem estabelecidas situações inusitadas.

Segundo essa parte da doutrina, o texto constitucional quis foi ampliar a segurança, a garantia. A Administração deve responder objetivamente de forma a repartir o ônus com toda a sociedade porque, hipoteticamente, a atividade voltada para o interesse público se coloca em favor de toda a coletividade. Seria, assim, inusitado dar uma responsabilidade objetiva a um terceiro e não garanti-la aquele que contrata diretamente com a Administração, conferindo o cunho de responsabilidade garantida constitucionalmente.

Segundo essa corrente, o termo “terceiro” deve ser interpretado como todo aquele que não faz parte da Administração, incluindo aquele que com ela contrata.

Questão: Se um agente administrativo, no exercício de sua atividade, sofre um dano. Pode esse agente pleitear indenização com base no §6º, do art. 37?

Resposta: Não, ele não pode. Essa orientação é pacífica na doutrina e jurisprudência. Isto porque o agente faz para da Administração. Se ele está atuando e sofre um dano, tal fato deve ser encarado dentro da perspectiva de acidente de

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trabalho, devendo a Administração ser responsabilizada caso demonstrada sua culpa.

RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PELA ATIVIDADE EXTRAJUDICIAL ATIVIDADE NOTARIAL E REGISTRAL – ART. 236 DA CR’88

Quando se fala na delegação das atividades notariais e registrais, deve-se indagar se o notário ou registrador é um mero delegatário ou se ele deve ser visto como um agente “lato sensu”.

Há uma importância nessa distinção, pois se se entender que eles são meros delegatários, como a Lei 8935/94, que cuida das delegações, não estabelece um prazo para o exercício dessa delegação, eles exercerão essas atividades até morrerem. Se se entender, contudo, que tais pessoas são agentes “lato sensu”, eles deverão se aposentar compulsoriamente aos 70 anos, nos termos do art. 40, II, da CR’88.

O STF já pacificou o tema para reconhecer que tais pessoas devem ser vista como agentes “lato sensu”, ao fundamento de que os notários e registradores são investidos na função por concurso público e podem sofrer punição administrativa através do devido procedimento disciplinar pelo Estado, mais precisamente pela Corregedoria Geral de Justiça, e, ainda, que cabe à Administração regulamentar e fiscalizar essas atividades, inclusive quanto ao horário de trabalho.

O STF entende que, sendo tais pessoas agentes em sentido lato e porque o §6º, do art. 37, não faz distinção quanto ao tipo de agente, deve a Administração ser responsabilizada objetivamente pelos danos por eles causados a terceiros.

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O oficial, titular das atividades, tem responsabilidade pessoal, podendo responder diretamente pelos danos causados – art. 22 da Lei 8935/94, sendo que a lei estabelece expressamente que tal responsabilidade é objetiva.

Art. 22 da Lei 8935/94. Os notár ios e oficia is de registro responderão pelos danos que e les e seus prepostos causem a terce iros , na prát ica de atos própr ios da servent ia , assegurado aos pr imeiros d i rei to de regresso no caso de do lo ou culpa dos prepostos .

Tal dispositivo é constitucional porque a própria CR’88, em seu artigo 236, §1º, estabeleceu que a lei deveria regular a responsabilidade civil dos notários e registradores, sem impor qualquer restrição a tanto, por isso não é inconstitucional o reconhecimento da responsabilidade objetiva dessas pessoas.

Art. 236 (CR’88). Os serv iços notar ia is e de registro são exerc idos em caráter pr ivado, por delegação do Poder Púb l ico .

§1º Le i regulará as at iv idades, d isc ip l inará a responsabi l idade c iv i l e cr iminal dos notár ios , dos oficia is de registro e de seus prepostos , e definirá a fiscal ização de seus atos pelo Poder Judic iár io .

A atividade do notário e registrador é exercida dentro do regime privado, podendo ser contratados funcionários sob o regime celetista. Se um desses funcionários vier a causar um dano a terceiros (ex. lavrar uma escritura falsa), o titular do cartório será responsabilizado objetivamente porque ele responde por toda a atividade do seu cartório. Além disso, a Administração também será objetivamente responsabilizada

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por conta da natureza de agente “lato sensu” do titular do cartório. Contudo, o escrevente contratado será responsabilizado por culpa.

Yussef Cahali defende, inclusive, que o lesado pode propor a ação em face do titular e da Administração.

O Estado, sendo responsabilizado, terá direito regressivo contra o titular do cartório, sendo que a responsabilidade deste será objetiva, não havendo necessidade de que o Estado comprove a culpa deste último.

RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO POR ATIVIDADE DO LEGISLATIVO

O Poder Legislativo, tal qual o Judiciário, tem uma atuação administrativa, e por conta desse tipo de atividade há a responsabilidade com base no art. 37, §6º, da CR’88.

Com relação à atividade precípua desse poder, ou seja, atividade legisferante, há divergência quanto ao seu cabimento e natureza.

Há uma corrente que entende que não há essa responsabilidade. Segundo essa parte da doutrina, não há a responsabilidade desse poder porque:

os membros do legislativo que elaboram a lei são agentes políticos;

os membros do poder legislativo são mandatários, por isso não seria correto afirmar que eles responderiam perante os seus mandantes por força de uma conduta praticada com base no mandato, ou seja, pelo exercício do mandato outorgado;

a lei é um comando genérico e abstrato, incapaz, por si só, de causar um dano. Uma simples lei não poderia projetar um dano a quem quer que seja.

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Mas há os que defendem a possibilidade de responsabilização da Administração pela atividade legisferante, sendo os seguintes os seus argumentos:

O fato de ser um agente político não exclui a incidência do §6º, do art. 37, da CR’88, pois tal dispositivo se refere a agente em seu sentido “lato”;

Apesar de os membros do Poder Legislativo serem mandatários do povo, seus mandatos têm limites. Assim, os membros do Poder Legislativo têm como limite de sua atuação o texto constitucional, por isso quando eles produzem uma norma inconstitucional, causando danos a terceiros, deve-ser reconhecer que extrapolaram o mandato e por isso devem ser responsabilizados;

A atividade legisferante não gera, apenas, normas genéricas e abstratas. Por vezes, o legislativo é capaz de editar uma lei apenas no aspecto formal, não o sendo no aspecto material, ou seja, essa lei produzirá efeitos concretos e específicos (ex. art. 8º do Dec Lei 3165/41 autoriza a edição de lei para declarar de utilidade pública algum bem). Mas mesmo se tratando de uma norma genérica e abstrata, é possível que ela venha a causar danos, como no caso de uma norma inconstitucional que retire um direito consagrado pelo texto constitucional.

O STF já teve oportunidade de reconhecer a possibilidade de o legislativo, através de conduta legisferante, causar um dano, sendo assim possível a responsabilização desse poder.

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RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO POR ATIVIDADE DO JUDICIÁRIO

Primeiramente, deve-se fazer uma distinção entre a atividade inerente do Poder Judiciário – que é a atividade jurisdicional – da atividade administrativa desse poder.

Para alguns autores, o art. 37, §6º, da CR’88 é uma norma de incidência geral e, portanto, inclui as atividades do Poder Judiciário. Mas quando o Judiciário estiver no exercício de sua atividade precípua – função jurisdicional – deve-se aplicar a regra específica existente para tanto, prevista no texto constitucional, que é a do art. 5º, LXXV.

Prevalece, no âmbito da jurisprudência, o entendimento no sentido de que, quando o Poder Judiciário estiver atuando administrativamente incidirá o §6º, do art. 37, da CR’88, o que pode ser estendido, também, à atividade cartorária. Contudo, a atuação do Poder Judiciários tiver natureza jurisdicional, ou seja, prestação pelo Poder Judiciário de sua atividade fim, a regra que incide é a do inciso LXXV, do art. 5º, da CR’88.

A jurisprudência não entende que o art. 37, §6º, teria natureza geral subsidiária quanto ao Poder Judiciário. Ao contrário, a jurisprudência sustenta que tal dispositivo somente se aplica à atividade administrativa do Poder Judiciário e, quanto à atividade jurisdicional, deve ser aplicada a regra específica e especial disposta no art. 5º, LXXV, do texto constitucional – esse entendimento deve ser adotado em provas para a magistratura.

Art. 5º, LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença.

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Deve-se checar, primeiramente, o âmbito de incidência da regra acima. O dispositivo se refere ao “condenado por erro”, havendo controvérsia quanto à extensão dessa expressão.

Alguns autores entendem que a interpretação do inciso LXXV, do art. 5º, deve levar em conta todo o conteúdo do dispositivo, referindo-se, tão somente, à esfera criminal, na medida em que expressamente menciona a figura do “preso”. Essa posição não é a que prevalece atualmente.

Hoje, reconhece-se de forma predominante que a expressão abrange todas as esferas da Justiça, cível, família, sucessão, ou seja, onde for constatado o erro. Contudo, tal regra deve se projetar dentro da concepção do erro, ou seja, condenação errônea, decisão inadequada, “contra legem”.

Também há divergência quanto à forma de identificação do erro judiciário. Quando é que se poderá constatar que a decisão foi errônea?

Maria Sylvia Di Pietro e Yussef Cahali entendem que não há a necessidade de se desconstituir a decisão errônea, porque o texto constitucional não exigiu tal providência. Para se reconhecer a responsabilidade da Administração, bastaria que fosse comprovado o erro e que fosse proposta a ação objetivando a indenização. Segundo esses autores, a parte, nessa demanda, poderia demonstrar o erro judiciário. Essa posição não é a que prevalece atualmente.

A doutrina e jurisprudência, em grande parte, exigem que, para que haja a propositura da ação condenatória, o erro deve estar caracterizado através da desconstituição da decisão, sob pena de ser afrontada a idéia da coisa julgada, sendo inviável que um juiz de 1º grau possa reconhecer o erro de uma decisão judicial transitada em julgado, funcionando como órgão revisor, sem que tenha sido desconstituída através do procedimento próprio que é a ação rescisória.

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Além disso, se não for desconstituída a decisão errônea, a execução desta será absolutamente incompatível com a execução da sentença que reconheceu o erro. Assim, por exemplo, no âmbito criminal, o Estado indenizaria a vítima pelo erro, mas, mesmo assim, ela continuaria presa porque a sentença que a condenou não foi desconstituída.

Por força de tais argumentos é que se entende necessária a desconstituição da decisão. A decisão criminal deve ser desconstituída pela Revisão Criminal e a civil pela Ação Rescisória.

Questão: A decisão condenatória equivocada deve ou não ter a característica de sentença ou acórdão ou pode abranger, também, as decisões interlocutórias?

Resposta: Sim, estão abrangidas as decisões interlocutórias, pois algumas decisões de caráter cautelar podem causar conseqüências danosas. Na esfera criminal, as prisões de caráter cautelar (preventiva, temporária) podem causar danos. Na esfera cível, o juiz pode antecipar a tutela. Aliás, o próprio CPC estabelece a obrigatoriedade de ressarcimento de danos, a ser promovido pela parte que obteve a seu favor a decisão cautelar, quando esta causar danos a outra parte.

Assim, doutrina e jurisprudência têm reconhecido que a responsabilidade de indenizar também pode decorrer de decisões interlocutórias que imponham uma restrição ou constrição ao direito da parte no curso do processo.

Questão: Cabe o pedido de indenização em razão decisão proferida no curso do processo criminal que decreta a prisão preventiva ou temporária, observando corretamente seus pressupostos, mas

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que posteriormente é revogada por força da absolvição do réu?

Resposta: Se a decisão que decretou a prisão foi proferida dentro de seus pressupostos legais, entende a maioria da doutrina e jurisprudência que não cabe o pedido indenizatório.

O prof. Ricardo Couto não concorda com tal corrente porque entende que sempre que o Estado intervém na liberdade de alguém deve haver indenização, se comprovada a inocência do réu. Fazendo um paralelo com o direito de propriedade, o Estado sempre indenizará o particular se, mesmo de forma lícita, intervir na propriedade ainda que de forma temporária. Igual raciocínio deveria ser feito quando da prisão, pois nessa hipótese o Estado intervém mesmo que licitamente na liberdade do indivíduo, devendo indenizá-lo se se constatar sua inocência. Contudo, tal posição não prevalece no âmbito jurisprudencial.

A jurisprudência do STJ aponta pelo não cabimento de indenização na hipótese de prisão cautelar decretada com a observância de todos os requisitos legais, porque, nessa hipótese, faltaria um dos pressupostos constitucionais para o cabimento da indenização, qual seja, o ERRO.

Questão: E quanto à decisão cautelar proferida na esfera cível, cabe indenização?

Resposta: Quanto ao processo civil, a decisão cautelar se faz sobre o risco da outra parte. A outra parte que é a beneficiada pela decisão. Na esfera criminal, quem tem a persecução criminal é

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o Estado, ou seja, todos nós, enquanto na esfera cível nem sempre estarão presentes a União, Estados, Municípios em um dos pólos da lide, objetivando a tutela preventiva. Nesses casos, o CPC projeta à outra parte a responsabilidade pela indenização, por isso que não se deve imputar ao Juiz e ao Estado essa responsabilidade.

Deve-se atentar, por fim, que a desconstituição de uma decisão condenatória por ação rescisória nem sempre acarreta a responsabilidade do Estado de indenizar a parte.

Na esfera criminal, a revisão criminal é acolhida para absolver o cidadão, e, inegavelmente, nessa hipótese, é cabível a indenização.

Contudo, no âmbito civil, invariavelmente, os particulares é que estarão presentes em um dos pólos da relação processual. A decisão condenatória por erro é aquela considerada como sendo a que se faz contra a lei. O juiz decide “contra legem”. Apenas nesse caso é que a atividade jurisdicional estará, efetivamente, projetando a perspectiva de uma lesão.

Quando o juiz é induzido por uma das partes que traz provas falsas, quem deve eventualmente responder é aquela parte e não o Estado. Quando se está comprovado, na ação rescisória, fato novo que, ao tempo da sentença condenatória não poderia ser trazido, seja por inexistência ou desconhecimento, também não estará evidente o erro preconizado pelo texto constitucional, apesar de cabível a rescisão do julgado.

Por isso é que na esfera cível deve ser analisado o art. 485 do CPC, que trata da ação rescisória, para se identificar os casos em que, realmente, pode estar presente o erro judiciário.

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Quanto à prisão além do prazo, esta é vista de forma objetiva. O preso só deve permanecer nessa condição pelo período fixado na sentença/decisão. Extrapolado tal limite, presente automaticamente o dever de indenizar. O Estado assume a responsabilidade de, findo o prazo da prisão, restabelecer a liberdade do cidadão, logo, se o Estado não adotar automaticamente tal providência, deve ser obrigado a indenizar o preso que assim permaneceu indevidamente, mesmo que só por um dia.

RESPONSABILIDADE CIVIL POR OBRAS PÚBLICAS

Quando a obra estiver sendo realizada pela própria Administração, não há dúvidas quanto à responsabilidade desta por danos causados a terceiros, devendo ser aplicado o §6º, do art. 37, da CR’88.

Contudo, quando a Administração contrata uma empresa, após o devido procedimento licitatório, para a realização da obra, alguns doutrinadores, como Cretella Jr. e Hely Lopes, observam que a Administração deve ser responsabilizada objetivamente, devendo indenizar os lesados, quando o dano advier da obra em si, ou seja, por força da própria obra. Segundo eles, a responsabilidade objetiva está configurada porque a obra decorreu de um ato da própria administração, que foi o que deu causa ao prejuízo.

Ex. a Administração faz uma obra, inviabilizando o comércio daquela área durante um certo período. A obra estará causando um dano aos comerciantes, devendo a Administração responder objetivamente pelos prejuízos, o que está dentro da idéia de “risco da atividade”, que se faz em prol de toda a coletividade.

Se o dano não for causado pela obra em si, mas sim pela imperícia, imprudência, negligência da empresa que está realizando a

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obra, segundo Cretella Jr. e Hely Lopes, a responsabilidade seria da empresa por culpa dela. Deve ser aplicada a regra do art. 70 da Lei 8666/93 que prevê que o empreiteiro responde por culpa.

Art. 70 (Lei 8666/93). O contratado é responsável pelos danos causados diretamente à Administração ou a terceiros, decorrentes de sua culpa ou dolo na execução do contrato, não excluindo ou reduzindo essa responsabil idade a fiscalização ou o acompanhamento pelo órgão interessado.

O Supremo Tribunal Federal – sendo essa a posição própria para concurso – já tem posicionamento sobre o tema. O STF sustenta que mesmo na hipótese de o dano advir de uma atuação culposa da empreiteira, poderá a Administração contratante ser responsabilizada, com fundamento no seu poder-dever de fiscalização, o qual não estaria sendo cumprido, gerando sua responsabilidade objetiva.

O interessado poderia propor a ação em face da Administração (responsabilidade objetiva) ou da empreiteira (responsabilidade culposa) por conta da má realização da obra. O Min. Moreira Alves sustenta, inclusive, que a ação poderia ser proposta em face de ambos, não obstante a diversidade da natureza da responsabilidade, porque não estaria afastada a idéia da solidariedade entre a Administração e a Empreiteira, por força da necessidade de sua atuação conjunta. Observa, ainda, o Min. Moreira Alves que o artigo 1518 do CC estabelece a responsabilidade solidária quando a conduta causadora do dano decorrer de mais de uma pessoa.

Orientação do Supremo Tribunal Federal, quanto ao art. 70 da Lei 8666/93 (mais adequada para concurso público):

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Se o dano advém da obra em si – responsabilidade objetiva da Administração.

Se o dano advém da má realização da obra – a Administração responde objetivamente e se tiver contratado uma empresa para a realização da obra, ela responderá objetivamente, enquanto a empresa subjetivamente.

Orientação de Cretella Jr.: Se o dano advém da má realização da obra, a responsabilidade é subjetiva da empreiteira.

RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO POR DESCUMPRIMENTO DO SEU DEVER DE GUARDA

A Administração, em suas atividades, chama para si uma gama de obrigações, vários deveres. Na sua atividade, ela pode trazer o dever de guarda.

Na escola pública, ela chama para si o dever de guarda de seus alunos. Se algo acontecer aos alunos, a Administração será responsabilizada objetivamente.

No presídio, a Administração chama para si o dever de guarda e garantia dos detentos. Assim, se houver uma insurreição no presídio, causando o falecimento de um dos detentos, a família do preso poderá requerer em face da Administração a reparação dos danos causados, que será responsabilizada objetivamente mesmo que a morte tenha sido causada por outro detento.

Mas, se um detento fugir da prisão e causar um dano a terceiros, será responsabilizada a Administração?

Há dois julgados do STF sobre o assunto. O primeiro, do ano de 1995, do Min. Moreira Alves, afirmando a irresponsabilidade da

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Administração na hipótese de dano causado por detento fugitivo, ocorrido, entretanto, mais 2 anos após a fuga do preso.

Para o Min. Moreira Alves, a responsabilidade civil da Administração pressupõe a idéia de causalidade – nexo causal – que deve ser visto dentro da concepção da causa imediata ou causa direta, conforme estabelece o artigo 1056 do CC, que é a regra principiológica do nexo causal no direito brasileiro, apesar de se referir à responsabilidade contratual.

No caso submetido ao STF acima citado, o Ministro Moreira Alves reconheceu não ter havido uma relação direta, imediata do dano com uma omissão do Estado, porque já havia decorrido muito tempo entre a fuga e o dano causado pelo detento ao terceiro. Ocorreu, assim, a quebra do nexo causal, tendo o dano sido causado por fato de terceiro, não ligado à figura do Estado.

Em um outro julgado do STF mais recente (2001), sendo relator o Ministro Maurício Corrêa, houve o reconhecimento da responsabilidade da Administração, entendendo que estava presente o nexo causal, na hipótese em que o preso, durante sua fuga, causar dano a terceiro. Nessa hipótese, o STF reconheceu que o preso ainda estaria dentro da esfera de vigilância do Estado uma vez que o dano havia ocorrido momentos após a fuga do preso do presídio, por isso o Estado deveria ser condenado a recompor os prejuízos causados.

Assim, nesse julgado, foi reconhecida a responsabilidade da Administração por força de não se ter realizado a adequada guarda do preso, que se evadiu e causou o dano.

OUTRAS QUESTÕES SOBRE RESPONSABILIDADE

Em princípio, a Administração não responde diante de fatos da natureza porque presente a quebra do nexo causal. Entretanto,

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se houver uma chuva forte que causa uma inundação gerando danos a terceiros, mas essa inundação decorreu por conta de uma falta ou falha do serviço, a Administração poderá ser responsabilizada Ex. se a Administração deixa de fiscalizar os canais de água, deixando que fiquem entupidos, causando a inundação, a Administração poderá ser responsabilizada pelos danos.

Muitas vezes, são ajuizadas ações na esfera federal, objetivando reparação civil do Banco Central pela má fiscalização de instituições financeiras. Na história recente do Brasil, houve várias quebras de instituições financeiras onde os particulares acabaram sendo lesados. Há divergência na jurisprudência quanto à responsabilidade ou não do BACEN nessas hipóteses.

O Superior Tribunal de Justiça possui julgados afirmando que a Administração não pode ser responsabilizada pela má aplicação de recursos financeiros pelo particular. Isto porque o risco é inerente ao mercado financeiro, sendo que se fosse reconhecida a responsabilidade do Bacen nesses casos, estar-se-ia reconhecendo que o aplicador nunca poderia perder em suas operações.

Contudo, vários Tribunais Regionais Federais têm o seguinte posicionamento, que se mostra mais adequado: em princípio, o Banco Central do Brasil não responde pelas aplicações de risco porque a idéia de perda econômica é inerente ao risco da aplicação. O Banco Central não pode ser garante de lançamento de produtos no mercado. Entretanto, o Banco Central do Brasil poderá ser responsabilizado caso haja evidência de que era conhecedor da situação precária da instituição financeira e, mesmo assim, permitiu que a mesma continuasse a captar clientes. Ou seja, se estiver evidenciada uma falta ou falha na atividade de fiscalização do Bacen, este poderá ser levado a responder pelos prejuízos causados.

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Se a instituição financeira, através de um funcionário seu, induz seu cliente em erro, a responsabilidade será só dela, com base no Código de Defesa do Consumidor.

Se o Banco Central intervém causando uma modificação, deve-se verificar os termos do contrato firmando entre a instituição financeira e o cliente para constatar se estava previsto que as condições da aplicação deveriam obedecer as regras estipuladas pelo Bacen. Em caso positivo, nem o BACEN e nem a instituição financeira terão qualquer responsabilidade por eventuais danos causados ao investidor pela alteração das regras. Se, ao contrário, o contrato prever sua desvinculação a eventuais modificações introduzidas, eventual alteração das regras pelo BACEN não poderá atingir o cliente por força da garantia ao ato jurídico perfeito, conforme o art. 5º, XXXVI, da CR’88, podendo ser proposta a ação em face da instituição financeira caso esta tente impor a alteração das regras do contrato.

JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA

Informativo 270 (RE-283989)Responsabilidade Civil do Estado

Por entender não caracterizada a alegada ofensa ao art. 37, § 6º, da CF, a Turma, concluindo o julgamento de recurso extraordinário, manteve acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná que assegurara o

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direito de particular à indenização por danos causados em sua propriedade em face de invasão por membros do movimento dos sem-terra por haver reconhecido, na espécie, a omissão do Estado, ante o descumprimento, pela polícia militar estadual, das ordens judiciais de reforço policial na área invadida (art. 37, § 6º: "As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa."). Esclarecemos que está incorreta a notícia da conclusão deste julgamento, veiculada no Informativo 241. RE 283.989-PR, rel. Min. Ilmar Galvão, 28.5.2002. (RE-283989)

Informativo 268 (RE-258726)Responsabilidade Civil do Estado

Por entender não caracterizada a alegada ofensa ao art. 37, § 6º, da CF, a Turma manteve acórdão do TRF da 5ª Região que condenara a União ao pagamento de indenização por danos morais e materiais aos recorridos, em face da morte dos seus pais em decorrência de acidente aéreo. O acórdão recorrido, na espécie, entendera manifesto o nexo de causalidade entre o dano sofrido e a omissão do agente estatal responsável pela fiscalização das atividades de aviação civil, no caso o Departamento de Aviação Civil - DAC, comprovada pela situação irregular em que se encontrava a aeronave, sem o cumprimento de requisitos mínimos de segurança, bem como pela confirmação, segundo laudo do próprio Ministério da Aeronáutica, de que o checador, oficial da aeronáutica, que operava a aeronave - em situação também irregular, pois o comandante, que nessa hipótese, deveria assumir a posição do co-piloto, estava fora da cabine de comando - não possuía treinamento adequado para a situação de emergência ocorrida (Art. 37, § 6º: "As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa."). RE 258.726-AL, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 14.5.2002.(RE-258726)

Informativo 263 (RE-228977)Dano Moral e Atos Judiciais (Transcrições)

Dano Moral e Atos Judiciais (Transcrições) RE 228.977-SP* (v. Informativo 259) Relator: Min. Néri da Silveira

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EMENTA: - Recurso extraordinário. Responsabilidade objetiva. Ação reparatória de dano por ato ilícito. Ilegitimidade de parte passiva. 2. Responsabilidade exclusiva do Estado. A autoridade judiciária não tem responsabilidade civil pelos atos jurisdicionais praticados. Os magistrados enquadram-se na espécie agente político, investidos para o exercício de atribuições constitucionais, sendo dotados de plena liberdade funcional no desempenho de suas funções, com prerrogativas próprias e legislação específica. 3. Ação que deveria ter sido ajuizada contra a Fazenda Estadual - responsável eventual pelos alegados danos causados pela autoridade judicial, ao exercer suas atribuições -, a qual, posteriormente, terá assegurado o direito de regresso contra o magistrado responsável, nas hipóteses de dolo ou culpa. 4. Legitimidade passiva reservada ao Estado. Ausência de responsabilidade concorrente em face dos eventuais prejuízos causados a terceiros pela autoridade julgadora no exercício de suas funções, a teor do art. 37, § 6º, da CF/88. 5. Recurso extraordinário conhecido e provido.

Relatório: Em apelação cível interposta visando reformar sentença que julgou extinto o processo, sem conhecimento do mérito, reconhecendo a ilegitimidade de parte passiva, nos autos de ação reparatória de dano por ato ilícito proposta pelo Prefeito Municipal, contra Juiz de Direito da Comarca de Serra Negra, em vista de termos usados em decisão prolatada em ação popular e em manifestação pública, a Quinta Câmara do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo proferiu acórdão dando-lhe provimento parcial, de onde destaco o seguinte (fls. 356): "Com essa orientação, pelos atos imputados ao juiz demandado - quer pelas expressões consideradas ofensivas à honra do autor, usadas em decisão prolatada em diplomação, quer em discurso proferido, quando da diplomação dos candidatos eleitos, no pleito realizado em 1992 - a responsabilidade direta não pode ser obliterada. Se essa responsabilidade se cinge à primeira hipótese, ou se abarca a segunda, é perquirição própria do merecimento, inadmissível neste estágio, sob pena de se suprimir um grau de jurisdição. A solução se resume em afastar a ilegitimidade passiva nos limites em que decretada. A Turma julgadora provê, em parte, a apelação para desconstituir a sentença de extinção do processo, sem apreciação do mérito, para que o feito tenha regular processamento." José Antônio Lavouras Haicki, visando aclarar pontos do aresto que entendeu obscuros, interpôs os embargos de declaração de fls. 359/361, solicitando fossem esclarecidas a referência ao art. 133, do CPC, e a exclusão da incidência da regra contida no art. 37, § 6º, da Constituição Federal. A Câmara julgadora, entendendo inexistente a obscuridade alegada, por unanimidade, rejeitou os embargos interpostos. O recorrente, com fundamento no art. 102, III, "a", da Carta Magna e, alegando que o acórdão prolatado ofendeu flagrantemente o art. 37, § 6º, da mesma Carta Constitucional, interpôs o recurso extraordinário de fls. 371/386 e, alegando necessidade de apreciação, incidenter tantum, pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça, interpôs recurso especial concomitantemente, às fls. 388/402. Não foram apresentadas as contra-razões, conforme certificado às fls. 419. Em despacho de fls. 421/423 os recursos foram deferidos pelo ilustre 3º Vice-Presidente do Tribunal a quo. No Superior Tribunal de Justiça, em despacho do ilustre Ministro relator, o

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recurso especial foi sobrestado até exame do recurso extraordinário por esta Corte. Vindo-me conclusos, abri vista dos autos à douta Procuradoria-Geral da República, que opinou pelo provimento do recurso, em parecer de fls. 439/445, do qual destaco o seguinte, verbis: "A irresignação do recorrente merece acolhimento, já que a autoridade judiciária não tem responsabilidade civil pelos atos jurisdicionais praticados. É que, embora seja considerada um agente público - que são todas as físicas que exercem alguma função estatal, em caráter definitivo ou transitório -, os magistrados se enquadram na espécie agente político. Estes, são investidos para o exercício de atribuições constitucionais, sendo dotados de plena liberdade funcional no desempenho de suas funções, com prerrogativas próprias e legislação específica, requisitos, aliás, indispensáveis ao exercício de suas funções decisórias. (...) Tais agentes, portanto, não agem em nome próprio, mas em nome do Estado, exercendo função eminentemente pública, de modo que não há como lhes atribuir responsabilidade direta por eventuais danos causados a terceiros no desempenho de suas funções. Com efeito, o magistrado, ao outorgar a prestação jurisdicional, atuou em nome do Estado-Juiz, exercendo a atribuição que lhe fora imposta constitucionalmente.". É o relatório. Voto: A Procuradoria-Geral da República, às fls. 440/445, opinou no sentido do conhecimento e provimento do recurso, cabendo, do parecer, destacar (fls. 440/445), verbis: "1.4 A autoridade monocrática julgou extinto o processo sem julgamento do mérito, acolhendo a preliminar de ilegitimidade passiva do demandado, considerando, para tanto, que os atos supostamente ofensivos teriam sido praticados pela autoridade judiciária no exercício de suas funções. Logo, a ação deveria ter sido proposta em face do Estado, a teor do disposto no art. 37, § 6º da CF (fls. 319/323). 1.5 O d. Colegiado local, por sua vez, ao dar provimento parcial à apelação, destacou a responsabilidade concorrente do demandado, nos seguintes termos: "Em síntese, a doutrina e jurisprudência analisadas, resulta descartada a posição de negativa da responsabilidade direta do juiz, pois confronta com o texto expresso no art. 133 do CPC. Prevalecem, portanto, as diretrizes que admitem essa responsabilidade, de modo concorrente, quer do Estado e do juiz, quer, exclusivamente, do último, autorizando que a tutela para recomposição do dano, com relação a ele, possa ser pleiteada por quem teve direito subjetivo atingido. Com essa orientação, pelos atos imputados ao juiz demandado quer pelas expressões consideradas ofensivas à honra do autor, usadas em decisão prolatada em ação popular, quer em discurso proferido, quando da diplomação dos candidatos eleitos, no pleito de 1992 - a responsabilidade direta não pode ser obliterada. Se essa responsabilidade se cinge à primeira hipótese, ou se abarca a segunda, é perquirição própria de merecimento, inadmissível neste estágio, sob pena de se suprimir um grau de jurisdição. A solução se resume em afastar a ilegitimidade passiva nos limites em que decretada." Assim, desconstituiu a r. sentença que extinguiu o processo, determinando o regular prosseguimento da ação. 1.6 No apelo extremo, o recorrente alega afronta ao art. 37, § 6º da Constituição Federal, sob o fundamento de que seria exclusiva a responsabilidade do Estado. 2. A irresignação do recorrente merece acolhimento, já que a autoridade judiciária não tem responsabilidade civil

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pelos atos jurisdicionais praticados. É que, embora seja considerada um agente público - que são todas as pessoas físicas que exercem alguma função estatal, em caráter definitivo ou transitório -, os magistrados se enquadram na espécie agente político. Estes são investidos para o exercício de atribuições constitucionais, sendo dotados de plena liberdade funcional no desempenho de suas funções, com prerrogativas próprias e legislação específica, requisitos, aliás, indispensáveis ao exercício de suas funções decisórias. É o que elucida o saudoso HELY LOPES MEIRELLES, em sua obra "Direito Administrativo Brasileiro" (18ª ed., pág. 72): "Os agentes políticos exercem funções governamentais, judiciais e quase-judiciais, elaborando normas legais, conduzindo os negócios públicos, decidindo e atuando com independência nos assuntos de sua competência. São as autoridades públicas supremas do Governo e da Administração na área de sua atuação, pois não estão hierarquizadas, sujeitando-se apenas aos graus e limites constitucionais e legais de jurisdição. Em doutrina, os agentes políticos têm plena liberdade funcional, equiparável à independência dos juizes nos seus julgamentos, e, para tanto, ficam a salvo de responsabilidade civil por seus eventuais erros de atuação, a menos que tenham agido com culpa grosseira, má-fé ou abuso de poder. Nesta categoria encontram-se os Chefes de Executivo (Presidente da República, Governadores e Prefeitos) e seus auxiliares imediatos (Ministros e Secretários de Estado e de Município); os membros das Corporações Legislativas (Senadores, Deputados e Vereadores); os membros do Poder Judiciário (Magistrados em geral); os membros do Ministério Público (Procuradores da República e da Justiça, Promotores e Curadores Públicos)..." (Negritos não-originais, assim como os futuros.) 2.1 Tais agentes, portanto, não agem em nome próprio, mas em nome do Estado, exercendo função eminentemente pública, de modo que não há como lhes atribuir responsabilidade direta por eventuais danos causados a terceiros no desempenho de suas funções. Com efeito, o magistrado, ao outorgar a prestação jurisdicional, atuou em nome do Estado-Juiz, exercendo a atribuição que lhe fora imposta constitucionalmente. Do mesmo modo, ao presidir a solenidade de diplomação dos candidatos eleitos em 1992, o MM. Juiz de Direito se manifestou como autoridade pública (agente político), razão pela qual não poderia ter sido diretamente acionado pelo postulante. 2.2 Ora, o § 6º do art. 37 é expresso ao estabelecer que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. O texto constitucional não restringiu a responsabilidade do Estado aos atos praticados pelos funcionários públicos como na Carta anterior, mas consignou o termo agente - gênero do qual é espécie o agente político, abarcando, assim, os atos praticados por todos os agentes públicos. Desse modo, em consonância com o comando constitucional, o postulante deveria ter ajuizado a ação em face da Fazenda Estadual - responsável pelos eventuais danos causados pela autoridade ao exercer as suas atribuições -, a qual, posteriormente, teria assegurado o direito de regresso contra o responsável nas hipóteses de dolo ou culpa. 2.3 Vale transcrever, quanto ao tema, a lição de JOSÉ AFONSO DA SILVA, em sua

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obra "Curso de Direito Constitucional Positivo", 14ª ed., pág. 620: "Responsabilidade civil significa a obrigação de reparar os danos ou prejuízos de natureza patrimonial (e, às vezes, moral) que uma pessoa cause a outrem. ... A obrigação de indenizar é da pessoa jurídica a que pertencer o agente. O prejudicado há que mover a ação de indenização contra a Fazenda Pública respectiva ou contra a pessoa jurídica privada prestadora de serviço público, não contra o agente causador do dano. O princípio da impessoalidade vale aqui também, O terceiro prejudicado não tem que provar que o agente procedeu com culpa ou dolo, para lhe correr o direito ao ressarcimento dos danos sofridos. A doutrina do risco administrativo isenta-o do ônus de tal prova, basta comprove o dano e que este tenha sido causado por agente da entidade imputada. A culpa ou dolo do agente, caso haja, é problema das relações funcionais que escapa à indagação do prejudicado. Cabe à pessoa jurídica acionada verificar se seu agente operou culposa ou dolosamente para o fim de mover-lhe ação regressiva assegurada no dispositivo constitucional, visando a cobrar as importâncias despendidas com o pagamento da indenização. Se o agente não se houve com culpa ou dolo, não comportará ação regressiva contra ele, pois nada tem de pagar." 2.4 Ao analisar a discussão ora travada, JOSÉ CRETELLA JÚNIOR ("Manual de Direito Administrativo", 2ª ed., págs. 348/347) distingue as funções jurisdicional e administrativa praticadas pelo magistrado no exercício de suas atribuições, concluindo que em ambas o Estado responde objetivamente pelos eventuais prejuízos por ele causados. É o que se depreende do trecho abaixo transcrito, sobre o qual se fundou, inclusive, a r. sentença que julgou extinto o processo (aliás, corretamente): "No campo do Poder Judiciário, editam-se atos judiciais jurisdicionais e atos judiciais não-jurisdicionais ou atos administrativos materiais. Os primeiros são atos típicos, atos, por excelência, do Poder Judiciário; os segundos são atos administrativos editados pelo Judiciário, agora nas vestes de administrador. Sempre que estes atos produzem dano ao particular, vai-se indagar se o Estado é responsável. A responsabilidade do Estado por atos judiciais é assunto relevante no campo do direito e tem sido bem tratado pelos tribunais brasileiros. É uma espécie do gênero responsabilidade do Estado por atos decorrentes do serviço público, porque o ato judicial é, antes de tudo, ato público, ato de pessoa que exerce o serviço público judiciário. O magistrado é equiparado, para esses efeitos, ao funcionário público. Pelos prejuízos que os atos judiciais, quer jurisdicionais, quer não-jurisdicionais, causem ao administrado, responderá o Estado, quer se prove a culpa ou o dolo do magistrado, quer os danos sejam ocasionados pelo serviço da administração da Justiça, que é, primordialmente, um serviço Público do Estado. Se há uma culpa ou dolo do julgador, o Estado responde pelos prejuízos causados, exercendo depois o direito de regresso contra o causador do dano." 3. Portanto, considerando que a legitimidade passiva, em tais hipóteses, é reservada ao Estado, e tendo em vista a ausência de responsabilidade concorrente em face dos eventuais prejuízos causados a terceiros pela autoridade julgadora no exercício de suas funções, a teor do art. 37, § 6º da Lei Maior, o parecer é pelo provimento do recurso." Acolhendo os fundamentos desse bem lançado pronunciamento da Procuradoria-Geral da República,

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conheço do recurso extraordinário e lhe dou provimento. * acórdão publicado no DJU de 12.4.2002

Informativo 262 (RE-217389)Responsabilidade do Estado e Dano Cirúrgico

Por ofensa ao art. 37, § 6º, da CF/88, a Turma deu provimento a recurso extraordinário para reformar acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que, entendendo não ter havido erro médico, ou seja, a culpa subjetiva do agente, mantivera a improcedência de ação de indenização por danos causados em razão de cirurgia realizada em hospital público por equipe médica composta de funcionários do Estado. Tratava-se, na espécie, de recorrente que, em razão de seqüela permanente decorrente de procedimento cirúrgico - perda da visão do olho esquerdo em razão de cirurgia para correção de desvio do septo nasal -, ingressara com ação de indenização dos danos causados, em face do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, sob o fundamento da responsabilidade civil objetiva do Estado (CF, art. 37, § 6º). Considerou-se que, sendo caso de responsabilidade objetiva, basta a comprovação do nexo de causalidade entre o dano e a intervenção cirúrgica, não havendo, na espécie, qualquer elemento que indique ter a vítima concorrido para o evento danoso. Entendeu-se, ainda, que o risco cirúrgico não exime o Estado, no âmbito da responsabilidade civil objetiva, do ressarcimento à vítima. Precedente citado: RE 178.806-RJ (DJU de 30.6.95). RE 217.389-SP, rel. Min. Néri da Silveira, 2.4.2002.(RE-217389)

RESP 392240 / DFDJ DATA:19/08/2002Relator Min. ELIANA CALMON SEGUNDA TURMA

Ementa PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO - INDENIZAÇÃO POR ATO ILÍCITO - PENSÃO À COMPANHEIRA E AO FILHO DA VÍTIMA: LIMITE TEMPORAL - DENUNCIAÇÃO DA LIDE.1. A denunciação da lide, em ação de responsabilidade civil do servidor público causador do dano, não é obrigatória senão para o litisdenunciado que, quando chamado, não pode recusar-se.2. Harmoniza-se com a celeridade processual, e não impede o exercício do direito de regresso a não-aceitação dalitisdenunciação.

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3. Mulher e filho mantidos pela vítima têm direito à indenização sob a forma de alimentos, como estabeleceu o acórdão, em quantitativo que esta Corte não pode dimensionar por óbice da Súmula 07/STJ.4. A pensão fixada para a companheira da vítima não pode ser condicionada à manutenção da sua situação de mulher sozinha, dado o seu caráter indenizatório (precedentes do STJ).5. A pensão fixada para o filho tem como termo final a sua idade de 24 (vinte e quatro) anos e não a vida provável da vítima, fixada em 65 (sessenta e cinco) anos.6. Recurso especial conhecido pela alínea "c" e parcialmente provido.

RESP 167132 / RJDJ DATA:05/08/2002Relator: Min. MILTON LUIZ PEREIRAPRIMEIRA TURMA

Civil. Administrativo. Processual. Responsabilidade Civil do Estado (art. 37, § 6º, C.F.). Pedido. Denunciação da Lide. Pretensão de Nulidade. CPC, artigos 70, 267, I, 286 e 295, I.1. Admite-se que o Estado promova a denunciação da lide em ações de responsabilidade civil. No entanto, processada a ação, por si, o indeferimento não leva à nulidade. Se assim sempre ocorresse, com o retrocesso ou retardamento do processo, ficaria afrontada a finalidade do instituto da denúncia que visa a celeridade e economia preconizadas. Por isso, a jurisprudência tem resguardado o processo do impacto anulatório, homenageando o caráter instrumental do processo. Demais, a doutrina atual sustenta ser relativa a obrigatoriedade da denunciação da lide, distinguindo garantias próprias (formais) e impróprias, estas vinculadas à responsabilidade civil. Nulidade recusada.2. Desnecessária, na ação por danos, o pedido certo na inicial, uma vez que, mormente do dano moral, o valor é abstrato.3. Multifários precedentes jurisprudenciais.4. Recurso sem provimento.

Informativo 143 (RE-187753)Serviços Notariais e Responsabilidade

Os titulares das serventias de notas e registros são servidores públicos em sentido amplo, pois são ocupantes de cargo público criado por lei, submetido à fiscalização do Estado e diretamente remunerado à conta da receita pública, bem como provido por concurso público. Com esse entendimento, a Turma confirmou acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná que condenou o Estado, ora recorrente, baseado na sua responsabilidade civil por dano causado por serventuário de cartório de registro a adquirente de imóvel. Afastou-se a alegação do recorrente no sentido de que os oficiais de registro não detêm a condição de servidores públicos para efeito da responsabilidade objetiva do Estado por serem os

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serviços notariais exercidos em caráter privado por delegação do Poder Público (CF, art. 236). Precedente citado: RE 178.236-RJ (DJU de 11.4.97).RE 187.753-PR, rel. Min. Ilmar Galvão, 26.3.99.(RE-187753)

RESP 156284 / SPDJ DATA:08/10/2001Relator: Min. FRANCISCO PEÇANHA MARTINSSEGUNDA TURMA

PROCESSUAL CIVIL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO – ACIDENTE DE TRÂNSITO – DIREITO DE REGRESSO – INDEFERIMENTO DA DENUNCIAÇÃO DA LIDE – AUSÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA – DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL SUPERADA – SÚMULA 83/STJ – VIOLAÇÃO AO ART. 333, I, CPC NÃO CARACTERIZADA – PREQUESTIONAMENTO AUSENTE – SÚMULAS 356 E 282 DO STF – PRECEDENTES.- A denunciação da lide torna-se obrigatória na hipótese de perda do direito de regresso prevista nos incisos I e II do art. 70 do CPC, não se fazendo presente essa obrigatoriedade no caso do inciso III do mesmo dispositivo, onde tal direito permanece íntegro.- Fundando-se a ação em responsabilidade objetiva, o juiz pode rejeitar a denunciação da lide sem acarretar nulidade do processo, pois o preponente, podendo acionar regressivamente o seu preposto, não sofre qualquer prejuízo.- Considerando o rito sumaríssimo do processo, o acolhimento da arguição de nulidade atentaria contra os princípios da economia e da celeridade processuais.- Dissídio interpretativo superado (Súmula 83/STJ).- Se o Tribunal "a quo", mesmo após a oposição dos aclaratórios, deixa de apreciar questão suscitada no recurso de apelação, deve o recorrente, ao manifestar este apelo especial, alegar violação ao art. 535 do CPC, a fim de atender ao requisito do prequestionamento.- Recurso especial não conhecido.

Informativo 194 (RE-136247)Responsabilidade Civil do Estado

Não ofende o § 6º, do art. 37 da CF ("As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.") acórdão que reconhece o direito de indenização a herdeiros de vítima de homicídio praticado por detento logo após sua fuga. Com base nesse entendimento e afirmando a responsabilidade objetiva do Estado, tendo em vista a existência de nexo de causalidade

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entre a falha do sistema de vigilância do Estado e o dano sofrido, a Turma manteve acórdão que responsabilizara o Estado do Rio de Janeiro pela morte da vítima. RE 136.247-RJ, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 20.6.2000. (RE-136247)

Informativo 144 Responsabilidade Civil do Estado

O princípio da responsabilidade objetiva previsto no art. 37, § 6º da CF ("as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros...") aplica-se, também, aos agentes públicos delegados. Com esse entendimento, a Turma, admitindo a responsabilidade civil do Estado por ato praticado por cartório de registro de imóveis, reformou acórdão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, reconhecendo que a possibilidade constitucional e a execução dos serviços notariais e de registro ser efetivada "em caráter privado, por delegação do poder público" (CF art. 236), não descaracteriza a natureza essencialmente estatal dessas atividades. RE 212.724-MG, rel. Min. Maurício Corrêa, 30.3.99.

Informativo 146Responsabilidade Civil do Estado

O art. 37, § 6º, da CF ("As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.") não exige que o agente público tenha agido no exercício de suas funções, mas na qualidade de agente público. Com base nesse entendimento, a Turma confirmou acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que reconhecera a incidência da responsabilidade objetiva do Estado em ação de indenização, movida por vítima de agressão praticada por policial militar com a utilização de arma de fogo da corporação, em que se busca o ressarcimento pelo dano físico sofrido. Afastou-se a alegação do recorrente no sentido de que, por ter sido o crime cometido por policial militar que não se encontrava fardado, não houve a vinculação do ato delituoso à função pública. RE 160.401-SP, rel. Min. Carlos Velloso, 20.4.99.

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Page 45: DIREITO ADMINISTRATIVO€¦  · Web viewNo caso submetido ao STF acima citado, o Ministro Moreira Alves reconheceu não ter havido uma relação direta, imediata do dano com uma

D I R E I T O A D M I N I S T R A T I V OR E S P O N S A B I L I D A D E C I V I L D O E S T A D O

Informativo 156Responsabilidade Civil do Estado e Ato Judicial

A responsabilidade objetiva do Estado não se aplica aos atos do Poder Judiciário em sua função jurisdicional, a não ser nos casos expressamente declarados em lei. Com esse entendimento, a Turma, por ofensa ao art. 37, § 6º, da CF, conheceu de recurso extraordinário do Estado do Paraná e lhe deu provimento para reformar acórdão do Tribunal de Justiça estadual, que reconhecera o direito de indenização a adquirente de imóvel com base no presumido error in judicando do juiz que anulara a venda do bem por fraude à execução - já que o mesmo era objeto de penhora -, cuja penhora não havia sido arquivada no cartório de registro de imóveis, sem prova da má-fé do adquirente. Precedentes citados: RE 32.519-RS (RTJ 39/190); RE 69.568-SP (RTJ 56/273). RE 219.117-PR, rel. Min. Ilmar Galvão, 3.8.99.

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