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luis-olavo
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TUTELA CULTURAL DO MEIO AMBIENTECONCEITO DE MEIO AMBIENTE CULTURAL:
- A tutela do meio ambiente cultural diz respeito ao patrimônio cultural, o qual é o objeto de proteção do Estado.
- O primeiro conceito foi estipulado pelo Decreto-Lei nº 25/1937:- “Art. 1º Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto
dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.”
- Todavia, a CF/88 também conceitua o patrimônio cultural brasileiro de forma mais ampla:
- Art. 215 e 216, CF/88.
“Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:I - as formas de expressão;II - os modos de criar, fazer e viver;III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.”
OBS.: O patrimônio cultural pode ser algo criado pelo homem ou não, como os sítios arqueológicos.
OBS.: Patrimônio cultural criado pelo homem X meio ambiente artificial (criado pelo homem):
- A diferença está aspecto axiológico, apresentando nexo vinculante com a ação, identidade e memória do povo brasileiro.
OBS.: O rol do art. 216 é exemplificativo – qualquer outro bem pode ser considerado patrimônio cultural desde que apresente o nexo vinculante.
PLANO NACIONAL DE CULTURA:
- Previsto no §3º do art. 215, CF/88.
- Lei nº 12.343/2010 criou o Plano Nacional de Cultura.
- Objetivo: viabilizar a defesa do patrimônio cultural, a promoção e difusão dos bens culturais, formação de pessoal qualificado, democratização do acesso à cultura e valorização da diversidade étnica e regional.
- Os Estados e Municípios e entidades privadas podem aderir ao PNC, ocasião em que receberão assistência técnica e financeira.
SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES E INDICADORES CULTURAIS:
- Criado pela Lei 12.343/2010.
- Visa coletar, interpretar dados, disponibilizar estatísticas, facilitar o monitoramento de políticas públicas culturais.
SISTEMA NACIONAL DE CULTURA:
- Previsto no art. 216-A, CF/88.
- Deve ser criado por lei federal.
NATUREZA JURÍDICA:
- Natureza jurídica de Direito Difuso, dado que sua tutela e uso ocorre tanto pela coletividade como pelos indivíduos em particular, sendo inviável a identificação de seus destinatários.
- Confirmação da natureza difusa, nos art. 215 e 216, §1º da CF/88:- “Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos
culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.”
- “Art. 216 (...) § 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.”
COMPETÊNCIA SOBRE O PATRIMÔNIO CULTURAL:
a) Competência legislativa:- É concorrente para a União, Estados, DF e Municípios (legislam de
forma suplementar)- Art. 24, VII e art. 30, I e II, ambos da CF/88.
b) Competência administrativa:
- É comum para a União, Estados, DF e Municípios.
- Art. 23, III, IV e V da CF/88.
OBS.: ADIN 3.525
A Constituição Estadual e uma Lei Estadual do Mato-Grosso definiu que os sítios arqueológicos localizados nos municípios mato-grossenses seriam patrimônio do Estado do Mato-Grosso.
- STF julgou inconstitucional: a atribuição de cuidado é comum, mas a propriedade do patrimônio cultural é exclusiva da UNIÃO, conforme o art. 20, X da CF/88.
FORMAS DE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL:
- Previsto no art. 216, §1º, CF/88:
a) Inventário
b) Registros
c) Vigilância
d) Tombamento
e) Desapropriação
INVENTÁRIO:
- Instrumento de proteção que consiste em uma lista de bens culturais, materiais e imateriais, com identificação pormenorizada para posterior registro, tombamento ou desapropriação.
- Ainda não foi regulado por lei, mas já é utilizado pelo IPHAN.
REGISTRO:
- Forma de proteção aplicada aos bens imateriais, regulado a nível federal pelo Decreto 3.551/2000.
- O bem deve ter referência a continuidade história e relevância nacional para a memória, a identidade e formação da sociedade brasileira.
- Formas de registro:a) Legalb) Judicialc) Administrativa- Livros de Registro (Dec. 3.551/2000)
Art. 1o Fica instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro.§ 1o Esse registro se fará em um dos seguintes livros:I - Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades;II - Livro de Registro das Celebrações, onde serão inscritos rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social;III - Livro de Registro das Formas de Expressão, onde serão inscritas manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas;IV - Livro de Registro dos Lugares, onde serão inscritos mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas.
Procedimento para registro:
- O IPHAN emite um parecer prévio e ao final o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural decide sobre o registro.
- O bem imaterial recebe o título de Patrimônio Cultural Brasileiro.
- Revalidação do título a cada 10 anos, caso não seja revalidado o bem recebe apenas uma referência cultural de seu tempo, mas perde a proteção específica.
- Crítica ao aspecto temporal: o bem imaterial pode desaparecer em razão da não atuação estatal.
- Exemplos de bens imateriais registrados:
a) Capoeira
b) Círio de Nossa Senhora de Nazaré
c) Samba de Roda do Recôncavo Baiano
d) Feira de Caruaru
e) Ritual indígena Yaokwa
OBS.: Não há proibição geral de uso não licenciado (crítica ao Decreto)
TOMBAMENTO:
- É o ato de inscrição, no registro do bem no Livro de Tombo, pormenorizando determinado bem, com o objetivo de preservá-lo através do Poder Público.
- Com o tombamento, o bem de natureza cultural passa a ser protegido em razão de sua elevada importância para a sociedade.
- Previsão Legal: Decreto-Lei nº 25/1937.
- Há 4 Livros de Tombo, conforme a natureza do bem a ser preservado:- Art. 1º (...) § 1º Os bens a que se refere o presente artigo só serão
considerados parte integrante do patrimônio histórico ou artístico nacional, depois de inscritos separada ou agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo, de que trata o art. 4º desta lei.
OBS.: O tombamento também pode ocorrer a nível Estadual ou Municipal. - Estado do Ceará – Lei 13.465/2004- Irá depender da relevância do bem tombado a nível nacional, estadual
ou municipal.
Art. 4º O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatro Livros do Tombo, nos quais serão inscritas as obras a que se refere o art. 1º desta lei, a saber: 1) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, as coisas pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia (ARTE INDÍGENA) e popular, e bem assim as mencionadas no § 2º do citado art. 1º. 2) no Livro do Tombo Histórico, as coisas de interesse histórico e as obras de arte histórica; 3) no Livro do Tombo das Belas Artes, as coisas de arte erudita, nacional ou estrangeira; 4) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas, as obras que se incluírem na categoria das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras.
NATUREZA JURÍDICA:- Há 3 correntes:a) Limitação administrativa – REsp. 33.599 – STJ - 1994b) Servidão Administrativa – Resp. 220.983 – STJ – 2000.c) Intervenção estatal autônoma
OBJETIVO DO TOMBAMENTO:
- Oferecer ao bem uma proteção especial do Poder Público, preservando e restaurando esses bens de forma a mantê-los conservados para esta e futuras gerações, permitindo o acesso de todos à cultura.
- Quais os efeitos provocados pelo tombamento?
Efeitos:
1 – Inalienáveis:
- Os bens tombados podem pertencer a União, aos Estado e Municípios e estes só podem transferir os bem entre si, devendo comunicar ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – art. 11.
- O bem tombado pode ser de propriedade de pessoa física ou jurídica – neste caso o bem pode ser alienado, observando as restrições estabelecidas no decreto – art. 12.
2 - Deslocamento:
- Se o bem tombado for deslocado, o proprietário deve inscrevê-lo no registro do lugar para que tiverem sido deslocados – art. 13.
3 - Sair do país:
- A coisa tombada não pode sair do país, salvo para intercâmbio cultural, por curto prazo, sob autorização do IPHAN – art. 14.
4 - Perda ou furto:
- Se a coisa tombada for furtada ou extraviada, o proprietário deve comunicar ao IPHAN, sob pena de multa – art. 16.
5 - Destruir, demolir ou mutilar:
- As coisas tombadas não poderão, EM NENHUM CASO, ser demolidas destruídas ou mutiladas – art. 17.
- Se for bem da União, Estado ou Município, o gestor público responsável incorrerá pessoalmente no pagamento da multa.
- Constitui crime ambiental: art. 65 (pichação) e art. 62 (destruir, inutilizar ou deteriorar), ambos da Lei 9.605/98.
6 - Restauração, pintura ou reparos:
- Só podem ser realizados mediante autorização do IPHAN – art. 17.
7 - Obras na vizinhança do bem tombado:
- A construção, anúncio, faixa, cartaz que impeça ou reduza a visibilidade do bem tombado, sob pena de destruição da obra e multa – art. 18.
8 – Conservação do bem pelo proprietário:
- Se o proprietário não dispuser de recursos para a conservação do bem, deve comunicar ao IPHAN, sob pena de multa.
- O IPHAN mandará executar a obra de conservação, por conta da União ou pode requerer a desapropriação da coisa.
9 – Inspeção e vigilância:
- O IPHAN poderá realizar vigilância e inspeção sempre que julgar necessário, não podendo os responsáveis criar obstáculos, sob pena de multa.
10 – Direito de preferência:
- A União, Estados e Municípios (nesta ordem) terão direito de preferência quando o particular realizar a venda de bem tombado de sua propriedade – art. 22.
- O proprietário pode gravar a coisa tombada de penhor ou hipoteca, sendo que na execução os titulares do direito de preferência poderão fazer a remissão do bem, caso os legitimados no CPC não façam uso da remissão ou adjudicação do bem.
OBS.: O bem pode ser tombado individualmente ou de forma coletiva.
Exemplo: Cidade de Tiradentes (tombamento coletivo – todos os imóveis da cidade são tombadas).
PROCEDIMENTO PARA O TOMBAMENTO:
- Pode ser:
1 – Via Administrativa
2 – Via Judicial
3 – Via Legal
VIA ADMINISTRATIVA:
- Ocorre por meio de um processo administrativo que possibilitará a inscrição do bem no Livro de Tombo.
VIA LEGISLATIVA:
- Quando a própria Lei define que determinado bem deve ser considerado patrimônio cultural e, portanto, deve receber a proteção do tombamento. (STF ADI1.706/2008 – entende não ser possível – garantia da separação dos poderes)
VIA JUDICIAL:
- É possível que diante da inércia do Poder Público, a sociedade ou o MP por meio de ações coletivas busquem o reconhecimento de determinado bem como patrimônio cultural por meio do Poder Judiciário.
EFICÁCIA DO TOMBAMENTO:
- Pode ser:
1 – Provisória
2 – Definitiva
PROVISÓRIA:
- Ocorre quando antes de terminar o processo administrativo, a coisa a ser tombada pode sofrer danos irreversíveis ou ser destruída.
- Pode ser concedida como medida liminar no procedimento judicial para reconhecimento como patrimônio cultural.
DEFINITIVA:
- Trata-se da proteção do bem com a sua inscrição permanente no Livro de Tombo.
OBS.: É possível que determinado bem deixe de ser considerado patrimônio cultural.
- Art. 19, §2º do Decreto nº 25/1937.
FORMA DE TOMBAMENTO DO BEM:
- Pode ser:
1 – De ofício
2 – Voluntária
3 – Compulsória
DE OFÍCIO:
- Ocorre quando a administração do bem for de responsabilidade da Administração Pública.
- Em razão da bem já estar sob domínio do Estado, a responsabilidade para o cuidado do bem é maior e, por isso, o tombamento ocorre mediante ofício com a notificação do ente responsável.
- Exemplo: A União realiza o tombamento de um bem estadual.
- STJ – Município pode tombar bem da União, mesmo sem a concordância desta, posto que não há alteração da titularidade do bem.
VOLUNTARIAMENTE:
- O bem deve ser particular.
- Ocorre quando proprietário solicita o tombamento ou quando ele concorda com o tombamento proposto pelo órgão responsável.
COMPULSORIAMENTE:
- O bem deve ser particular.
- Ocorre quando o proprietário do bem não concorda com o tombamento, art. 8º.
OBS.: Etapas:
a) O órgão notifica o proprietário para anuir com o tombamento.
b) O proprietário tem 15 dias para impugnar
c) Se não houver impugnação, a inscrição no Livro de Tombo é realizada.
d) Se houver impugnação, esta será analisada e se for indeferida, o tombamento ocorrerá independentemente da anuência do proprietário. Desta decisão não cabe recurso (nada impede que seja discutido judicialmente).
OBS.: Os bens culturais de natureza imaterial é regulado pelo Decreto nº 3.551/2000, o qual possui outros 4 Livros de Tombos próprios.
INDENIZAÇÃO:
- É possível que o proprietário do bem tombado seja indenizado pelo Estado?
- Em regra, não. Todavia, o STJ tem admitido a possibilidade de indenização quando no caso concreto houver efetivo prejuízo ao proprietário.
DESTOMBAMENTO:
- O bem pode deixar de receber a proteção do Estado quando o proprietário não possuir recursos para cuidar do bem e o Estado não assumir com as despesas necessárias.
DESAPROPRIAÇÃO:
- O Estado atua realizando intervenção da propriedade privada ou mesmo na pública (Estado – município) para fins de proteção de bem de utilidade pública.
- Previsto no Decreto 3.365/1941 – art. 5º, alínea “K”:k) a preservação e conservação dos monumentos históricos e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos urbanos ou rurais, bem como as medidas necessárias a manter-lhes e realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e, ainda, a proteção de paisagens e locais particularmente dotados pela natureza;
PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS BENS CULTURAIS:
- Determinados bens possuem relevância mundial por conta da simbologia que representam para toda a humanidade e não apenas para um povo específico.
- Através de um tratado internacional da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
- Em 1972, após a Conferência de Estocolmo, houve a uma Conferência da UNESCO em novembro de 1972, a qual aprovou a Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, ratificada pelo Brasil em 1977.
- A UNESCO é a responsável pela inscrição do bem e sua preservação.
PROCEDIMENTO PARA INSCRIÇÃO:
1ª Fase: INDENTIFICAÇÃO DO BEM
- O Estado integrante da Convenção deve fazer o inventário dos bens e o seu respectivo tombamento, já que a administração do bem é encargo do respectivo país.
2ª Fase: PROPOSTA DE INSCRIÇÃO
- O bem deve ser pormenorizadamente descrito e demonstrado sua identidade e adequação ao patrimônio mundial cultural ou natural.
- O prazo inicia todo começo de ano e termina no dia 1º de julho, tendo a UNESCO até um ano e meio para decidir pela inscrição do bem.
3ª Fase: AVALIAÇÃO E DECISÃO:
- Será feita a análise dos requisitos formais e materiais estabelecidos pela UNESCO, no qual será verificado a importância e valor universal do bem.
- Ao final o Comitê da UNESCO emitirá a decisão final sobre a inscrição do bem no Patrimônio Cultural e Natural Mundial.
FUNDO PARA O PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL MUNDIAL:
- Os países signatário da Convenção realizam contribuições obrigatórias para que seja formado um Fundo Financeiro que custeia a restauração e conservação dos bens que estiverem danificados ou em perigo de danificação.
EXEMPLOS DE BENS BRASILEIROS INSCRITOS NA LISTA DE PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL MUNDIAL DA UNESCO:
A cidade histórica de Ouro Preto (1980)
O centro histórico de Olinda (1982)
As ruínas jesuítico-guaranis de São Miguel das Missões (1983)
O centro histórico de Salvador (1985)
O Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas (1985)
Brasília (Plano Piloto) (1987)
O Parque Nacional da Serra da Capivara (1991)
O centro histórico de São Luís (1997)
O centro histórico de Diamantina (1999)
O centro histórico da Cidade de Goiás (2001)