Direito Civil

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Aula 1 - O CDIGO CIVIL BRASILEIRO Trs princpios fundamentais do novo Cdigo Civil: a) ETICIDADE visa imprimir eficcia e efetividade aos princpios constitucionais da valorizao da dignidade humana, da cidadania, da personalidade, da confiana, da probidade, da lealdade, da boa-f, da honestidade nas relaes jurdicas de direito privado; b) A SOCIALIDADE Est presente em detrimento do carter individualista do antigo Diploma civilista. Da o predomnio do social sobre o individual. Um exemplo interessante neste sentido o da funo social da propriedade A Constituio Federal deu uma fisionomia funcional social ao direito de propriedade, que no seu art. 5, inciso XII, ao lado de garantir o direito de propriedade, logo em seguida no inciso XXIII. A funcionalizao do direito de propriedade importa em dar-lhe uma determinada finalidade, que na propriedade rural significa ser produtiva (art. 186) e na urbana quando atende s exigncias fundamentais de ordenao da cidade expressa no plano diretor (art. 182, 2) .Tal novidade acabou por refletir-se na elaborao do novo Cdigo Civil, em seu art. 1228, o que se mostra coerente com a inscrio de novos princpios norteadores, especialmente o da Socialidade, que vem tentar a superao do carter manifestamente individualista do Diploma revogado, reflexo mesmo da publicitao do Direito Civil, admitindo ainda a propriedade pblica dos bens cuja apreenso individual configuraria um risco para o bem comum. De lapidar redao, o 1. do art. 1228 estabelece que "O direito de propriedade deve ser exercido em consonncia com suas finalidades econmicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilbrio ecolgico e o patrimnio histrico e artstico, bem como evitada a poluio do ar e das guas." Tambm digno de transcrio o 2.: "So defesos os atos que no trazem ao proprietrio qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela inteno de prejudicar outrem."; c) OPERABILIDADE Diversas solues normativas foram tomadas no sentido de possibilitar uma compreenso maior e mais simplificada para sua interpretao e aplicao pelo operador do Direito. Exemplo disso foram as distines mais claras entre prescrio e decadncia e os casos em que so aplicadas; estabeleceu-se a diferena objetiva entre associao e sociedade, servindo a primeira para indicar as entidades de fins no econmicos, e a ltima para designar as de objetivos econmicos. A Constitucionalizao do Direito Civil: o Cdigo Civil sempre representou o centro normativo de direito privado, por se preocupar em regular com inteireza e completude as relaes entre particulares. Existia uma verdadeira ciso na estrutura jurdica liberal no sentido de que a Constituio apenas deveria se preocupar em regular a dinmica organizacional dos poderes do Estado, enquanto que ao Cdigo Civil era reservado o regime das relaes humanas, o espao sagrado e inviolvel da autonomia privada. exatamente nesta linha que surge a codificao de 1916, sendo fortemente influenciada pelo Cdigo Napolenico de 1804 e pelo BGB da Alemanha de 1896. Com aspiraes de um jusnaturalismo racionalista, o Cdigo Civil de 1916 defende os valores do patrimonialismo e de um excessivo individualismo inerente s codificaes liberais. Desta maneira, conferia-se ao Cdigo o papel de garantia e regulao das relaes privadas mediante a efetivao dos valores de um iluminismo liberalista. A codificao civil de 1916, ento, surgiu impelida pelas ideias libertrias da burguesia ascendente, que visava consolidao dos valores de um patrimonialismo e individualismo nas relaes privadas. Assim, pelo liberalismo econmico, a Constituio exerceria um papel meramente interpretativo, somente podendo ser aplicada diretamente em casos excepcionais de lacunas dos cdigos, a quem realmente caberia a misso de regular e equilibrar as relaes inter-pessoais. Neste sentido, o Cdigo Civil se transforma numa verdadeira constituio do direito privado, buscando proteger o indivduo contra as ingerncias do Estado. O Cdigo Civil de 1916 surgiu com um sculo de atraso das codificaes individualistas e voluntaristas da Alemanha e da Frana, onde j se iniciavam as demandas por um maior intervencionismo estatal e pelo controle dos desequilbrios das relaes econmicas. Mas, mesmo assim, o Cdigo de 1916 permaneceu ancorado neste modelo abstrato e totalmente inerte a realidade social e a crescente complexidade das relaes humanas. Esse excessivo individualismo e a liberdade sem limites ocasionaram grandes desigualdades sociais. Houve a necessidade de o Estado interferir nas relaes de direito privado para minimizar essas desigualdades e limitar a liberdade dos indivduos protegendo as classes menos favorecidas, em busca de uma igualdade substancial. Aos poucos o Cdigo Civil vai perdendo o seu papel de Constituio do direito privado. A ideia de cdigo concebido como um sistema fechado foi sendo destruda, surgindo diversas leis especiais e, ao poucos, o Direito Civil foi se fragmentando. Assim, a Constituio assume um novo papel de regncia das relaes privadas, conferindo uma nova unidade do sistema jurdico. A posio hierrquica da Constituio e sua ingerncia nas relaes econmicas e sociais possibilitam a formao de um novo centro unificador do sistema, definindo seus verdadeiros pilares e pressupostos de fundamentao. Desta forma, a constitucionalizao do Direito privado no importa em apenas conferir constituio a superioridade hierrquica conformadora do ordenamento jurdico, mas, acima disto, quer proporcionar uma releitura dos velhos institutos e conceitos do mbito privado, visando concretizao dos valores e preceitos constitucionais. A Constituio passa, assim, a definir os princpios e as regras relacionados a temas antes reservados exclusivamente ao Cdigo Civil e ao imprio da vontade, como a funo social da propriedade, organizao da famlia e outros. Assim, foi se derrubando o paradigma individualista do Estado Liberal e do cidado dotado de patrimnio, e passou-se a adotar um novo paradigma. As constituies comearam a trazer em seu bojo regras e princpios tpicos de direito civil e a valorizar a pessoa colocando-a acima do patrimnio. Passou-se a buscar a justia social ou distributiva e, aos poucos, a liberdade foi sendo limitada, com a finalidade de se alcanar uma igualdade substancial. importante distinguir, por fim, a Constitucionalizao do Direito Civil da publicizao do direito privado. Muitos doutrinadores confundem essas duas situaes, mas elas so distintas. A primeira a analise do direito privado com base nos fundamentos constitucionalmente estabelecidos. a aplicao dos mandamentos constitucionais no direito privado. J a segunda o processo de interveno estatal no direito privado, principalmente mediante a legislao infraconstitucional. A norma constitucional, apesar da resistncia de alguns setores da doutrina, passa a ser diretamente aplicvel s relaes privadas. Note-se que a Constituio, por ser um sistema de normas, dotada de coercibilidade e imperatividade

e, sendo assim, perfeitamente suscetvel de ser aplicada nas relaes de direito privado. E aqui importante exemplificar, utilizando, por exemplo o direito de famlia: A Constituio de 1988, refletindo as mudanas nas relaes familiares ocorridas ao longo do sculo XX deu um novo perfil aos institutos do direito de famlia. Assim o novo CC teve que adaptar-se aos novos ditames constitucionais aprofundando-os: Unio Estvel - reconhecida; Maioridade Civil aos 18 anos; Regime de bens pode ser alterado por acordo entre os cnjuges; Exames de DNA para comprovao de paternidade a recusa implica em reconhecimento da filiao; Filhos nascidos fora do casamento no h mais distino entre filhos; Guarda dos filhos em caso de separao - os filhos podem ficar com o pai ou a me; Testamento no mais precisa ser feito mo pelo testador; Sucesso - o cnjuge passa a ser herdeiro necessrio. Aula 2 Pessoa Natural O prprio homem o ser humano individualmente considerado como sujeito de direitos e obrigaes. As expresses pessoa fsica e pessoa natural so sinnimas, apenas com a ressalva que esta (pessoa natural) foi a locuo adotada pelo Cdigo Civil brasileiro, enquanto que aquela (pessoa fsica) foi adotada pelas legislaes tributrias. Personalidade civil ou Jurdica a capacidade que as pessoas tm de serem titulares de direitos e obrigaes. Personalidade no um atributo natural, isto , no est necessariamente vinculado ao ser humano. Se assim fosse, a pessoa jurdica no teria personalidade. Por isso se diz que a personalidade um atributo jurdico. O incio da personalidade civil ocorre a partir do momento em que a pessoa nasce com vida, encerrandose quando de sua morte. Portanto, enquanto a pessoa viver ter personalidade. o que o art. 2 do novo Cdigo Civil diz: A personalidade civil da pessoa comea do nascimento com vida; mas a lei pe a salvo, desde a concepo, os direitos do nascituro. Do prprio texto da lei temos ento que so dois os requisitos para a caracterizao da personalidade da pessoa natural: o nascimento e a vida. Aps, abordaremos a questo da natureza jurdica do nascituro e as diversas posies doutrinrias, sobre as quais, seguem algumas sugestes: O j mencionado art. 2, em sua parte final, salienta que a lei pe a salvo desde a concepo os direitos do NASCITURO - aquele j concebido, cujo nascimento j se espera como fato futuro. No se trata de uma exceo regra de que a personalidade s comea com o nascimento com vida. O objetivo do Cdigo , apenas, resguardar preventivamente os eventuais direitos que possam ser adquiridos, caso o nascituro nasa com vida. Entretanto, se no ocorrer o nascimento com vida, torna-se inoperante a ressalva contida no Cdigo Civil. Portanto, o NASCITURO no pessoa natural, tem apenas uma proteo jurdica. H duas teorias que buscam estabelecer qual o momento em que se inicia a personalidade jurdica: a concepcionista e a natalista. Pela primeira, a personalidade jurdica se iniciaria no momento da concepo, ou seja, quando o espermatozoide se funde ao vulo (h quem defenda que a aquisio da personalidade ocorra algum tempo depois, contudo). Pela teoria natalista, a personalidade comea com o nascimento com vida. A maior parte dos civilistas entende ser essa a teoria adotada pelo Cdigo Civil, que preconiza no art. 2, primeira parte: "a personalidade civil da pessoa comea do nascimento com vida". Ou seja, partir deste momento, comea a existncia da pessoa natural e esta pode ser titular de direitos e obrigaes. A parte final deste artigo diz que: "mas a lei pe a salvo, desde a concepo, os direitos do nascituro". Por essa disposio, alguns autores (como Maria Helena Diniz) diz que o Cdigo Civil adotou a teoria concepcionista. Porm, a doutrina majoritria entende que esta disposio no se refere ao inicio da personalidade jurdica. Esta s ocorre com o nascimento com vida. Neste caso, a Lei busca proteger um ser que pode vir a se tornar pessoa (se nascer com vida). Tem muita importncia no campo do direito sucessrio, por exemplo, se o pai da criana falecer enquanto sua esposa est grvida. Se a criana nascer com vida, esta ter direito sucesso. Caso contrrio (se no nascer com vida), opera-se a sucesso normalmente. Uma implicao importante: se o beb morrer pouco aps o nascimento? Neste caso, a criana far jus a sucesso e, logo em seguida, tambm ser autora de herana. Situao diferente da que ocorreria se a morte fosse intra-uterina. Capacidade jurdica, uma medida limitadora ou delineadora da possibilidade de adquirir direitos e de contrair obrigaes. Capacidade significa a aptido que a pessoa tem de adquirir e exercer direitos. A capacidade a regra, ou seja, pelo cdigo civil toda pessoa capaz de direitos e deveres na ordem civil; a incapacidade a exceo, ou seja, so incapazes aqueles discriminados pela legislao (menores de 16 anos, deficientes mentais, etc.). A capacidade divide-se em dois tipos: a) capacidade de direito: em que a pessoa adquire direitos, podendo ou no exerc-los, e b) capacidade de exerccio ou de fato: em que a pessoa exerce seu prprio direito. Com isso, podemos concluir que todas as pessoas possuem capacidade de direito, mas nem todas possuem a capacidade de exerccio do direito. Depois de fixados os conceitos sobre capacidade absoluta e relativa, vamos apresentar as seguintes distines: Obs.: A incapacidade relativa gera a anulabilidade do ato jurdico. O falido no incapaz, apenas lhe so impostas restries atividade mercantil. A condenao criminal no implica capacidade civil. Como pena acessria, pode sofrer o condenado a perda de funo pblica ou do direito investidura em funo pblica; a perda de o ptrio poder, da tutela ou da curatela. Assistncia: Os assistentes dos incapazes sero: a) os pais ou tutor assistem os maiores de 16 e menores de 18 anos. b) o curador assiste os prdigos e os que possuem o discernimento reduzido, se maiores de 18 anos. Incapacidade e Impedimento: A incapacidade no se confunde com o impedimento. Neste ocorre vedao realizao de certos negcios jurdicos, como por exemplo, fazer contratos, adquirir bens etc. Exemplo: a lei probe que o leiloeiro e seus prepostos adquiram, ainda que em hasta pblica, os bens de cuja venda estejam encarregados.

Capacidade negocial e Capacidade especial: A capacidade negocial aquela exigida como plus, alm da genrica, para a realizao de atos jurdicos especficos. Exemplo: exige-se que o outorgante da procurao particular a advogado seja alfabetizado. A capacidade especial a exigida para a realizao de determinados atos, normalmente fora da esfera do Direito Privado. Exemplo: para votar exige-se que a pessoa tenha 16 anos completos. Aula 3 Continuao de Pessoa Natural Nome Civil; Registro Civil: O registro civil do nascimento da pessoa natural dota de formalidade e publicidade aquele fato jurdico que o nascimento com vida, incio da personalidade civil; apresenta o indivduo sociedade, dando eficcia sua personalidade. Neste sentido, sua natureza declaratria, afinal, a pessoa humana dele no precisa para receber a sua qualidade de pessoa. Assim, a personalidade civil comea do nascimento com vida. Ao nascer, como ao longo da existncia, a pessoa possui determinadas caractersticas que a qualificam juridicamente. Ao complexo de atributos, com efeitos jurdicos, que determina a condio da pessoa perante a sociedade, chamamos estado. Diz-se estado civil a posio jurdica que algum ocupa, em determinado momento, dentro do ordenamento jurdico. Segundo o Prof. Francisco Amaral: O estado nasce de fatos jurdicos, como o nascimento, a idade, a filiao, a doena; de atos jurdicos, como o casamento, a emancipao; de decises judiciais, como a separao, o divorcio, a interdio. Tais circunstancias levam a caracterizao de trs estados: o familiar, o poltico e o pessoal ou individual. Para o Direito Civil, importa o estado do indivduo de filho, de solteiro, casado, vivo, separado ou divorciado tudo isso gera efeitos jurdicos no mbito do direito de famlia , como tambm importa o estado de maior idade, menor idade, emancipao, interdio, ausncia, sexo masculino ou feminino gerando efeitos no mbito dos direitos da personalidade. Destaca-se o estado individual, em que se enquadra o sexo (status sexual). Os estados individuais, em geral, so atributos da personalidade, ou seja, integram-na. E, por isso, so protegidos pelos direitos da personalidade. Alm disso, tambm objeto de um direito subjetivo, o direito de estado, que protege o interesse da pessoa no reconhecimento e no gozo desse estado . Amaral releva, ainda, o fato de constituir um direito absoluto, oponvel a toda a sociedade, que, portanto, todos devem respeitar; e pblico por ser reconhecido e protegido pelo Estado. O registro gera a presuno relativa do estado da pessoa, vez que ele que dota de oponibilidade erga omnes as situaes jurdicas da pessoa perante a sociedade. Contudo, nem sempre a realidade jurdica retrata a realidade ftica e, por isso, existem as aes de estado, afinal, muitas vezes necessrio defender seu estado contra eventuais atentados aos direitos dele decorrentes. Elas tm por objetivo criar, modificar ou extinguir um estado e a, a sentena ser constitutiva ; ou reconhecer um estado pr-existente o guarnecendo de eficcia jurdica quando a sentena ser declaratria. A QUESTO DO TRANSEXUAL: Ocorre que, o transexual, quando do seu nascimento, no registro civil, foi classificado segundo o seu aspecto sexual anatmico externo como pertencente a um dos sexos, ou feminino ou masculino. Este, assentado em registro pblico, o sexo civil. Porm, ressalvamos, neste momento, que a avaliao da fisionomia no a nica para a determinao do sexo de um indivduo. A averiguao do status sexual requer a conjugao dos aspectos biolgico, psquico e comportamentais. Somente o conjunto desses aspectos ser capaz de apontar com maior fidelidade e compromisso a qual dos dois sexos pertence a pessoa. A regra, contudo, que os trs aspectos correspondam revelando uma identidade sexual, mas esta convergncia harmnica pode no ocorrer. No caso do transexual operado, que possua, em primeiro plano aquela inadequao corporal com a psiqu, o sexo civil, determinando comportamento na vida civil, na esfera jurdica e social em geral, impor barreira para a realizao da identidade sexual da pessoa. Existe um interesse juridicamente relevante no gozo da identidade sexual. O contedo de tal interesse da pessoa representado, essencialmente, no reconhecimento, sob todos os aspectos da vida social, privada e pblica, como sendo a mesma pertencente ao prprio sexo. Com o transexual isso no acontece. Nesse segundo momento, ento, a principal inadequao a factual com a jurdico-formal. Se o registro tem publicidade, autenticidade, eficcia, no existe reconhecimento social da situao daquele indivduo, do seu estado. A identidade sexual transcende o aspecto morfolgico, encontra-se no campo da identificao psquica de se pertencer a determinado gnero sexual que se externa com o comportamento. A identidade sexual integra a identidade pessoal. O Professor Leoni, sobre o direito identidade, citando Lorenzetti, sinaliza que o indivduo possui identidade esttica e dinmica. A identidade esttica compreende o nome, a identificao fsica, a imagem. Isto est protegido pelas leis referentes ao nome, capacidade e ao estado civil. Essa , ento, a resguardada pelo direito identidade. O direito identidade sexual como direito identidade pessoal, constitui direito da personalidade. DOMICLIO CIVIL: O conceito de Domiclio Civil da pessoa natural determinado pela combinao dos artigos 70 e 71 do NCC. Apenas encontraremos o domiclio civil se preenchermos os dois requisitos determinados no artigo 70 do NCC que so: Residncia - o objeto do conceito, sendo este palpvel. o elemento externo e visvel. Ex: uma casa, um prdio, um apartamento. nimo definitivo - este o elemento interno do domiclio civil. Sendo evidenciado por reflexos do indivduo que demonstram seu interesse em permanecer em tal domiclio. Ex: receber correspondncia, receber as contas. Alguns autores determinam que o domiclio civil constitudo por um elemento objetivo e outro subjetivo. O elemento Objetivo o objeto do conceito de residncia. O elemento Subjetivo o elemento interno, o nimo definitivo. Toda pessoa, natural ou jurdica - de direito pblico interno ou de direito privado -, tem domiclio, que representa a fixao do lugar em que o sujeito, ativo ou passivo, da relao jurdica ser encontrado, a qual expressa o centro nevrlgico de onde se irradiam interesses juridicamente relevantes. O domiclio significa uma garantia jurdica, haja vista que funciona como cidadela em que se guarnecem os interesses scio-jurdicos das pessoas naturais ou das pessoas jurdicas. Com o domiclio, desenhase o permetro em que se fixa o espao jurdico dentro do qual se enclausura o titular, projetando feixes que se traduzem em direitos e obrigaes. Do enraizamento da residncia decorre o domiclio, como fenmeno material e psquico que se projeta no mbito em que prosperam as relaes jurdicas. Sem residncia, inexiste domiclio ;

sem domiclio, fragiliza-se o pleno exerccio dos direitos civis, do nascimento morte. De to importante, o domiclio da pessoa natural, mesmo que no tenha residncia habitual, ser o lugar onde for encontrada. Na configurao traada pelo Cdigo Civil, fala-se em: a) domiclio da pessoa natural; b) domiclio da pessoa jurdica, de direito pblico interno ou de direito privado; c) domiclio necessrio; d) domiclio legal; e) domiclio eleito. Admite-se a existncia de mais de um domiclio tanto para a pessoa natural quanto para a pessoa jurdica de direito privado, razo por que se diz que o legislador perfilhou a escola que cultiva a pluralidade de domiclio. Domiclio da pessoa natural (fsica) - Em conformidade com a definio legal, o domiclio da pessoa natural " o lugar onde ela estabelece a sua residncia com nimo definitivo". Dois elementos se exigem para a definio do domiclio da pessoa natural: a) a residncia; b) o nimo definitivo. A residncia mais do que um fenmeno material, mediante o qual se distingue da moradia, que se traduz na certeza de que episdica e transitria, sem o estaqueamento aprofundado, capaz de fixar a disposio perene ou definitiva. Ao residir, a pessoa mora com perenidade ou longevidade, fenmenos de cuja realidade se extrai a premissa de que h o nimo de estabelecer o lugar como seu domiclio. Releva lembrar que, na hiptese em que a pessoa natural, por vontade ou necessidade, tenha mais de uma residncia, onde, alternadamente, viva, reputar-se- domiclio qualquer uma delas. Considera-se, ainda, domiclio o local em que a pessoa natural desenvolva a sua profisso. Por conseguinte, pluralizam-se os domiclios da pessoa natural, quando exerce atividade profissional, haja vista que passam a ser, pelo menos, dois: a) O local em que estabelece a sua residncia com nimo definitivo; b) o local em que pratica a sua atividade profissional. Se a profisso for explorada e exercitada em lugares diversos, em que se lhe concentram os interesses, cada um deles constituir domiclio para as relaes que lhe corresponderem. Cabe advertir que no ser qualquer emprego ou relao jurdica, por cuja execuo se produza atividade laboral, que se capacitar a desenhar o local do trabalho como se domiclio fosse. Domiclio profissional no se confunde com o simples local de trabalho, categorias jurdicas que se diferenciam ideolgica, social e juridicamente. Na identidade do domiclio profissional, impe-se a presena de elementos em conformidade com os quais se caracteriza o exerccio da profisso, que granjeia a certeza de que se trata de um sinal eloquente capaz de diferenci-lo do trabalho ordinrio e dependente. preciso que se exera atividade profissional fim, com domnio sobre o comando tcnico, administrativo e econmico, e no atividade profissional meio, para que se possa caracterizar o local, tambm, como domiclio. Com efeito, no se estimula a assertiva de que o empregado comum, com vnculo jurdico subordinante e protagonista de uma relao jurdica, cujo desfazimento pode se consumar unilateralmente, pelo simples exerccio da vontade de seu empregador, transforme o local em que presta servio como extenso de seu domiclio, ainda que l consuma jornada diria. O domiclio profissional no abrange e no argola toda e qualquer relao da pessoa natural, mas somente aquela a que estiver conectado por fora de amarras que concernem profisso. A atrao do domiclio, no caso, depende da ligao entre o exerccio da profisso e o local. Destaquese que a pessoa natural pode ter: a) Mais de um domiclio domstico; b) mais de um domiclio profissional; c) domiclio domstico e domiclio profissional. FIM DA PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL: Morte: A existncia da pessoa natural termina com a morte, conforme preconiza o artigo 6 do Cdigo Civil: Art. 6 A existncia da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quando aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura da sucesso definitiva.. A morte marca o fim da personalidade fsica, faz cessar consequentemente a personalidade jurdica, sendo assim o homem compreendido em suas funes desaparece no momento de sua morte. Dessa forma, a morte ir cessar com a personalidade jurdica que o acompanhou durante a vida, enquanto ser autnomo de imputao de normas jurdicas. O de cujus no susceptvel de ser titular de direitos e obrigaes. Morte presumida: Art. 7 . Pode ser declarada a morte presumida, sem decretao de ausncia: I se for extremamente provvel a morte de quem estava em perigo de vida; II se algum, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, no for encontrado at 2 (dois) anos aps o trmino da guerra. Pargrafo nico. A declarao da morte presumida, nesses casos, somente poder ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguaes, devendo a sentena fixar a data provvel do lanamento. permitida a abertura da sucesso provisria ou definitiva do desaparecido, para proteo de seu patrimnio. Permite-se a justificao judicial de morte nos termos do artigo 88 da Lei de Registros Pblicos. No se trata de presuno de morte. Mesmo que acolhida uma justificao nesse sentido, nada impede que a pessoa surja posteriormente s e salva, o que anula todos os atos praticados com sua morte justificada, protegendo-se os terceiros de boa-f. O novo ordenamento foi mais alm, autorizando a declarao de morte presumida em outras situaes, independentemente da declarao de ausncia: A posio tomada pelo novo Cdigo foi outra: O instituto da ausncia tratado dentro da parte geral do diploma (artigos 22 ss.) e no mais no direito de famlia. Essa declarao de ausncia tradicionalmente tem por finalidade a proteo do patrimnio do desaparecido

levando sucesso provisria e sucesso definitiva. Os fins do instituto so exclusivamente patrimoniais. No CC/02, expressamente o legislador aponta que sejam consideradas mortes presumidas as situaes que autorizam a abertura da sucesso definitiva (artigos 37 ss.). Nesse sentido dispe o artigo 6 da nova lei civil: "A existncia da pessoa natural termina com a morte. Presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucesso definitiva.. Comorincia: Diz o art. 8. Se dois (dois) ou mais indivduos falecerem na mesma ocasio, no se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-o simultaneamente mortos. A regra da comorincia tem relevncia principalmente nas questes do direito de sucesso. Para que seja aplicada necessrio que tenham morrido juntos parentes que sejam sucessores recprocos, isto , a morte de um tio e um sobrinho numa exploso de um avio, no requer a aplicao da regra da comorincia se esse tio tiver filhos e o sobrinho no for herdeiro direto do tio. Um caso do uso da regra da comorincia seria o seguinte: A nico filho de B. "B" casado com C. Pois bem, sabemos que na ordem de vocao hereditria a sucesso legtima defere-se na seguinte ordem: primeiro herdam os descendentes, depois os ascendentes, depois o cnjuge sobrevivente e por ltimo os colaterais (o cnjuge concorre com os descendentes e com os ascendentes). Temos duas possibilidades para explicar essa regrinha: 1 - Se na morte conjunta de A e B (acidente de carro, por exemplo), for possvel determinar que A morreu aps B, haver a passagem da herana de B(pai) para A(filho), resultando que C(me) por ser a nica herdeira de A(filho) ficar com herana todinha para ela. 2 Se na morte conjunta de A e B (exploso de um avio, por exemplo) for impossvel a fixao do momento exato da morte de ambos, aplicar-se- a comorincia, isto , no haver transmisso da herana, um no herdar do outro. Conseqentemente, A no herdar do pai B. A herana de B passar para aos seus pais. Se o cnjuge atender determinadas condies concorrer na herana com os pais do falecido, isto , se vivos o pai e a me de B, C(esposa) restar um tero da herana de B (no ficar desamparada, portanto). Ausncia: Pelo novo estatuto legal considera-se ausente pessoa de que deixa o seu domiclio, sem deixar notcias suas e nem representante ou procurador que administre os seus bens. Nestes casos, a requerimento do MP ou de outro interessado, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministrio Pblico, declarar a ausncia e nomear curador provisrio. Ao se analisar o tempo que perdura a ausncia, trs momentos distintos podem ser destacados, a saber: Curadoria dos bens do ausente: quando o desaparecimento recente e a possibilidade de retorno do ausente , portanto, bem grande, o legislador tem a preocupao de preservar os bens por ele deixados, evitando a sua deteriorao. Nesta fase o juiz declara a ausncia da pessoa e nomeia-lhe curador. Ao nomear o curador o juiz deve fixar os limites de seus deveres e suas obrigaes (art. 24). Sua incumbncia zelar pela administrao e conservao dos bens do ausente. Esta nomeao dever respeitar a ordem previamente estabelecida pelo legislador no artigo 25 do CC. Neste inciso reside outra inovao trazida pelo novo diploma legal: a incluso, no caput do artigo 25, do cnjuge separado de fato h mais de dois anos antes da declarao da ausncia entre as excees queles que seriam curadores legtimos. O antigo texto legal impedia apenas o cnjuge separado judicialmente de ser curador. Tal incluso se explica pela entrada em vigor da Lei 6.515/77 (Lei de Divrcio), que prev a hiptese de divrcio direto nos casos em que os cnjuges estejam separados de fato pelo referido perodo. Assim, se h a possibilidade de requerimento de divrcio, seria um contra-senso permitir que uma parte cuidasse dos bens deixados pela outra. O mesmo dispositivo legal, adequado nova realidade do mundo contemporneo, foi modificado para conferir aos pais (e no mais ao pai, e em sua falta me) a curadoria dos bens do ausente. Excluiu-se, outrossim, a preferncia anteriormente conferida aos vares em relao s mulheres. Atualmente todos tm igualdade de direitos em relao curadoria dos bens do ausente. Sucesso Provisria: ainda nesta etapa o legislador se preocupa com a conservao dos bens do ausente, pois existe ainda a remota possibilidade de que este volte para retomar o que seu de direito. A preocupao daquele voltada mais para os herdeiros e credores e menos para o ausente. No que tange sucesso provisria o CC reduziu os prazos para o seu requerimento. Com a sua entrada em vigor basta que decorra um ano da data da arrecadao dos bens do ausente, ou trs anos no caso de haver sido deixado mandatrio constitudo, para que os interessados possam requerer a declarao de ausncia e abertura da sucesso provisria do ausente. A sucesso provisria requerida como se o ausente estivesse morto, estabelecendo o legislador um rol de pessoas que tm legitimidade para requerer a sua abertura. So legtimos interessados: IO cnjuge no separado judicialmente. Tem interesse em requerer a abertura da sucesso para que seu quinho seja delimitado; II- os herdeiros presumidos, legtimos ou testamentrios. Tm interesse, pois a deciso que declara a ausncia confere a eles o domnio dos bens deixados; Uma vez imitidos na posse dos bens, os seus herdeiros ficaro responsveis por representar o ausente em juzo, tanto em relao s aes em curso, quanto em relao quelas que eventualmente vierem a ser propostas contra ele (art. 32); III- aquele que tenha direito a algum bem do ausente subordinado sua morte, como no caso do donatrio que recebe uma doao subordinada condio suspensiva da morte do doador. Declarada a ausncia do doador o donatrio poder requerer a abertura da sucesso provisria daquele para receber a propriedade do bem doado; IV- os credores de obrigaes vencidas e no pagas. Com a morte do ausente as dvidas passam a ser devidas pelos seus herdeiros na proporo de seus quinhes. Neste caso os credores podero cobrar os seus crditos dos herdeiros do ausente. Mesmo com a abertura da sucesso provisria a probabilidade de volta do ausente, ainda que remota, existe. Por isso o legislador cercou-se de diversos cuidados para evitar que os bens por ele deixados desapaream. Podemos destacar algumas:

a) a deciso que declarar a ausncia s produzir efeitos aps 180 dias da sua publicao. Trata-se de um prazo suplementar conferido ao ausente, para que volte e reivindique os seus bens. Entretanto, to logo transite em julgado a sentena declaratria de ausncia proceder-se- a abertura de testamento, se houver, e ao inventrio e partilha dos bens, como se morto fosse o ausente; b) a partilha dos bens deixados ser feita, mas para que os herdeiros entrem na posse dos bens recebidos devero prestar garantias, atravs de penhor (bens mveis) ou hipoteca (bens imveis), correspondente ao valor dos quinhes que estejam recebendo (art. 30). Entretanto, o art. 30, 2 atenua esta exigncia permitindo que os ascendentes, descentes e o cnjuge entrem na posse dos referidos bens, desde que comprovem a qualidade de herdeiros. Aplicar-se- o caput deste artigo, por exemplo, em relao aos herdeiros colaterais, ao Estado, ao Municpio etc. Se o herdeiro no tiver condies de prestar a garantia no poder entrar na posse dos bens correspondentes ao seu quinho e estes ficaro sob a responsabilidade do curador ou de outro herdeiro designado pelo juiz, que preste a garantia (art. 30, 1). Poder, entretanto, justificando a falta de condies de prestar a garantia, requerer seja-lhe entregue metade dos frutos e rendimentos do quinho que caberia a ele (art. 34); c) os bens imveis do ausente no podero ser vendidos, salvo em caso de desapropriao pelo poder pblico ou para evitar que se deteriorem, e tambm no podero ser hipotecados, salvo por determinao judicial (art. 31). O seu artigo 31 suprimiu a possibilidade de alienao dos bens do ausente para convert-los em ttulos da dvida pblica. Com a entrada em vigor do novo diploma somente permitida a alienao dos bens do ausente em caso de desapropriao e para evitar a sua runa. Inovao a possibilidade de gravar-lhes com a hipoteca, hiptese que no era prevista anteriormente; d) a renda produzida pelos bens cabentes aos descendentes, ascendentes e ao cnjuge, pertencer a estes. Os demais herdeiros devero capitalizar metade destes frutos e rendimentos de acordo com o artigo 29, e prestar contas ao juzo anualmente (art. 33). Durante o perodo da sucesso provisria ainda possvel que o ausente retorne, quando em vigncia a posse provisria dos herdeirosMesmo procurando preservar ao mximo o patrimnio do ausente enquanto houver uma possibilidade, ainda que remota, de retorno, estabeleceu-se no Novo Cdigo Civil uma espcie de punio para o caso deste retornar e provar-se que a ausncia foi voluntria e injustificada. Dispe pargrafo nico do artigo 33 que neste caso o ausente perder o direito ao recebimento de sua parte nos frutos e rendimentos produzidos pelos bens por ele deixados e arrecadados por seus herdeiros. A preocupao do legislador clara: evitar que a pessoa desaparea sem motivo justo e retorne quando quiser, aproveitando-se da boa-f dos herdeiros que zelaram pela conservao de seus bens. Cumpre salientar, ainda, que durante o perodo da sucesso provisria ainda possvel que o ausente retorne, quando em vigncia a posse provisria dos herdeiros. Poder ser provado, outrossim, que o ausente se encontra vivo. Nestes casos, todas as vantagens que os herdeiros estiverem auferindo em relao aos bens do ausente cessam, e este tem o direito de recobrar a posse dos bens. Ocorre que, at a efetiva entrega destes bens ao ausente, ser de responsabilidade dos herdeiros a sua guarda e manuteno (art. 36). Sucesso Definitiva: seguindo a mesma linha do artigo 26, o legislador diminui, no artigo 37, o prazo para o requerimento da sucesso definitiva. Com a entrada em vigor do novo CC, permitido que os interessados requeiram a abertura da sucesso definitiva do ausente, bem como o levantamento das caues anteriormente prestadas. Tal faculdade ser ainda conferida a eles no caso de se provar que o ausente conta com oitenta anos e h mais de cinco anos so suas ltimas notcias. Nestes casos, o legislador, supondo certa a sua morte, seja pelo tempo decorrido, seja pela sua idade avanada, passa a se preocupar somente com o direito dos seus herdeiros e permite que estes requeiram a converso da sucesso provisria em definitiva, e o levantamento das caues prestadas (art. 38). As demais restries impostas em relao aos bens deixados pelo ausente tambm desaparecem. Trata-se em verdade de uma sucesso quase definitiva, pois, mesmo que a volta do ausente seja remotssima face enorme probabilidade de morte, ainda existe uma pequena possibilidade de retorno. Frente a esta possibilidade o legislador estabeleceu que, caso o ausente ou algum de seus ascendentes ou descendentes volte nos dez anos subsequentes ao trnsito em julgado da sentena que determinou a abertura da sucesso definitiva tero eles o direito de receber os seus bens no estado em que se encontrarem os sub-rogados em seu lugar ou o preo recebido pelos referidos bens alienados depois daquele tempo (abertura da sucesso definitiva) (art. 39). Voltando aps dez anos da abertura da sucesso definitiva perde o ausente o direito aos bens, pois a partilha torna-se irrevogvel. No havendo interessados em requerer a abertura da sucesso definitiva, a teor do artigo 39, nico, os bens arrecadados passaro para o domnio do Municpio ou do Distrito Federal, quando localizados nestas circunscries, ou para o domnio da Unio. Aula 4 Direitos da Personalidade So definidos como o direito irrenuncivel e intransmissvel de que todo indivduo tem de controlar o uso de seu corpo, nome, imagem, aparncia ou quaisquer outros aspectos constitutivos de sua identidade. Estariam, dessa forma, os direitos da personalidade vinculados de forma indissocivel ao reconhecimento da dignidade humana, qualidade necessria para o desenvolvimento das potencialidades fsicas, psquicas e morais de todo ser humano. Os direitos da personalidade pressupem, segundo Charles Taylor, trs condies essenciais: autonomia da vontade, alteridade e dignidade. A autonomia da vontade configura-se no respeito autonomia moral de que deve gozar toda pessoa humana. A alteridade representa o reconhecimento do ser humano como entidade nica e diferenciada de seus pares, que s ganha forma com a existncia do outro. A dignidade uma qualidade derivada, ou seja, pode existir somente se o ser humano for autnomo em suas vontades e se lhe for reconhecida alteridade perante a comunidade em que vive. A salvaguarda dessas trs condies essenciais tomam forma no direito positivo sob o ttulo de direitos da personalidade, que exigem o respeito incolumidade fsica (corpo fsico) e psquica (mente e conscincia), ao nome, imagem, honra, privacidade, entre outros. Em Portugal, os direitos da personalidade so enunciados no artigo 70 do Cdigo Civil e constituem tema central

dos artigos 71 a 81, bem como do artigo 484. Todos os direitos de personalidade, tem suas caractersticas fundamentais. - Inalienveis; - Inacessveis; - Imprenssintiveis; - Indisponveis; - Absolutos; - Possuem efeitos "Post Morten". No novo Cdigo Civil Brasileiro de 2002, o tema tratado em captulo prprio, do artigo 11 ao 21. Aula 5 Pessoa Jurdica Pessoa Jurdica: um sujeito de direito personalizado, assim como as pessoas fsicas, em contraposio aos sujeitos de direito despersonalizados, como o nascituro, a massa falida, o condomnio horizontal, etc. Desse modo, a pessoa jurdica tem a autorizao genrica para a prtica de atos jurdicos bem como de qualquer ato, exceto o expressamente proibido. Feitas tais consideraes, cabe conceituar pessoa jurdica como o sujeito de direito inanimado personalizado. Pessoa jurdica , assim, a entidade ou instituio que, por fora das normas jurdicas criadas, tem personalidade e capacidade jurdicas para adquirir direitos e contrair obrigaes. Ela nasce do instrumento formal e escrito que a constitui (art. 45 CC), ou diretamente da lei que a institui. Pessoa Jurdica, considerada como agrupamentos que se equiparam prpria pessoa, preenchendo determinados requisitos legais e com capacidade para ser sujeito das relaes jurdicas. Principal caracterstica: a pessoa jurdica, embora formada por pessoas naturais, tem vida prpria e autnoma no se confundindo com a vida de seus membros. Pessoa Jurdica de Direito Pblico: 1. P. J. D. EXTERNO: Regidas pelo Direito Internacional, abrangendo: ONU/OEA, UNESCO, FIFA, Naes Estrangeiras; entre outros: So criadas atravs de tratados internacionais, fatos histricos, criao constitucional. art. 42 novo CC Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional pblico; 2. P.J. D. INTERNO: (art. 41) Enumera o Cdigo as pessoas jurdicas desta classe: A) ADM. DIRETA - Unio, os Estados, os Territrios (retorno dos territrios pelo CC 2002), os Municpios e o Distrito Federal; B) ADM. INDIRETA : art. 41, IV autarquias, e V demais entidades de carter pblico criadas por lei; C) FUNDAES PBLICAS: Fim especfico, sem fins lucrativos. Surgem quando a lei individualiza um patrimnio a partir de bens pertencentes a uma pessoa jurdica de direito pblico, afetando-o realizao de um fim administrativo e dotando-o de organizao adequada. Fundao Nacional de Cultura instituda por lei. Pessoa Jurdica de Direito Privado: a. CORPORAES (associaes, sociedades civis simples e empresariais, partidos polticos, sindicatos); b. FUNDAES PARTICULARES OBS.: So ainda pessoas jurdicas de direito privado como EXCEES: a. EMPRESA PBLICA: Entidade com patrimnio prprio e capital exclusivo da Unio, criada por lei para a explorao de atividade econmica que tenha que ser exercida pelo governo; b. SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA: Entidade criada por lei para explorao de atividade econmica sob forma de sociedade annima, cujas aes com direito a voto pertenam, em sua maioria Unio ou Administrao Indireta; c. PARTIDOS POLTICOS: Associaes civis que tm por escopo assegurar dentro do regime democrtico, os direitos fundamentais estatudos pelo CF/88. Foram considerados como pessoa jurdica de direito privado pela Lei 9.096, de 19.09.1995, que dispe em seu art. 1. Entes Despersonalizados: So aqueles que, embora possam ser capazes de adquirir direitos e contrair obrigaes, no preenchem as condies legais e formais para serem enquadrados como pessoas jurdicas, por falta de alguns requisitos ou pela sua situao jurdica sui generis. Esto entre tais, a massa falida, esplio e a pessoa jurdica de fato (que so aqueles pequenos comerciantes que compram e vendem produtos sem terem sociedade comercial regularmente constituda (ambulantes camels etc.)). Comea a existncia legal das pessoas jurdicas de direito privado com a inscrio do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessrio, de autorizao ou aprovao do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alteraes por que passar o ato constitutivo. As pessoas jurdicas de direito pblico interno so civilmente responsveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. Em caso de abuso da personalidade jurdica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confuso patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministrio Pblico quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relaes de obrigaes sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou scios da pessoa jurdica. A pessoa jurdica tem o seu fim atravs da dissoluo, deliberada entre seus membros, ou quando cassada a autorizao para seu funcionamento, porm subsiste at a concluso da liquidao. Concluda a liquidao, ser cancelada a inscrio da pessoa jurdica. Ainda poder ter seu fim por determinao legal ou por ato do governo. Domiclio da pessoa jurdica: O CC fixou o domiclio das pessoas jurdicas, quer de direito pblico quer privado, de carter interno ou externo. Domiclio da pessoa jurdica de direito pblico interno - Em relao s pessoas jurdicas de direito pblico interno, limitou-se o Cdigo Civil a ativar a regra consagrada na legislao anterior, acrescentando, apenas, que o domiclio dos Territrios so as respectivas capitais, disposio inexistente anteriormente falta, ento, de sua personificao. Com efeito, diz o Cdigo que o domiclio: a) da Unio o Distrito Federal; b) dos Estados e Territrios, as respectivas capitais; c) dos Municpios, o lugar onde funcione a administrao municipal. Releva advertir que as autarquias e as demais entidades de carter pblico criadas por lei foram enquadradas na categoria genrica das chamadas demais pessoas jurdicas de que cuida o Cdigo Civil , a cujo regime jurdico equiparam-se para efeito de domiclio.

Domiclio das demais pessoas jurdicas - exceo da Unio, dos Estados, dos Territrios e dos Municpios, as pessoas jurdicas, de direito pblico interno ou de direito privado, tm como domiclio: a) o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administraes; b) o lugar designado no estatuto ou contrato social ou ato constitutivo. Pluralidade de Domiclios - O regime adotado pelo CC foi o de privilegiar a existncia de mais de um domiclio, seja pessoa natural ou pessoa jurdica de direito privado, razo por que se disse que o legislador perfilhou a escola que cultiva a pluralidade de domiclio. Plural ou singular, o que importa, porm, que haja pelo menos um domiclio, haja vista que no crvel a existncia de pessoa jurdica ou de pessoa natural , ainda que desprovida de toda sorte de bens materiais, sem domiclio, como representao do local em que possa a ser encontrada. Assim, tendo a pessoa natural multifrias residncias ou exercendo sua ocupao em variadas localidades, certo que cada uma delas constituir o seu domiclio ou, em ltima hiptese - homenageando a segurana das relaes jurdicas , o local onde for encontrada, com o que se afasta o risco da inexistncia de domiclio na ordem jurdica nacional. E no que tange s pessoas jurdicas, prevalece, tambm, a regra que autoriza a existncia da pluralidade de domiclio, bastando que se diversifiquem os estabelecimentos em lugares diferentes, reputando-se domiclio cada um deles, segundo os atos nele praticados. Preponderncia do domiclio - Ao contrrio de juzo precipitado, diz-se que o legislador optou pelo modelo liberal, ao consentir a pluralidade de domiclio, sem hierarquiz-lo ou prioriz-lo. Na pluralidade de domiclio, resolve-se o conflito pela prevalncia da atrao do fato ou ato sob cuja rea de influncia ou conexo foi editado, gerando obrigaes ou direitos. Aula 6 Os bens Os bens: Um bem pode preencher uma necessidade de ordem material ou imaterial, sem perder o predicativo que a ordem jurdica reconhece como relevante, a exigir tutela. importante diferenciar "coisa" e "bem". Segundo Teixeira de Freitas, coisa tem por definio tudo aquilo que possui existncia material, seja suscetvel de valorao e, consequentemente, possa ser objeto de apropriao. Conclui-se que a noo de coisa conecta-se, a priori, de substancia. Existem coisas que no so apropriveis embora sejam teis, sendo, portanto, denominadas res communes, dentre as quais podemos destacar o ar, a luz, as estrelas, o mar. Assim, as coisas comuns so de todo mundo ao mesmo tempo em que no so de ningum. H tambm as coisas que podem ser apropriadas, porm no pertencem a ningum, como o caso dos animais de caa, dos peixes e das coisas abandonadas (res derelictae). Tudo o que tem valor e, por esse motivo, adentra no universo jurdico como objeto de direito, um bem. Evidencia-se, portanto que a utilidade e a possibilidade de apropriao so o que do valor s coisas, transformando-as em bens. Bem tudo aquilo que protegido pelo Direito, tendo ou no contedo ou valorao econmica. Na terminologia jurdica, bens corresponde res dos romanos, porm, nem sempre bens e coisa podem ser tidos em sentido equivalente, porquanto h bens que no se entendem como coisas, e h coisas que no se entendem como bens. Na compreenso jurdica, somente como bens podem ser as coisas apropriadas. Escapam, pois, ao sentido de bens, as coisas se dono (res nulius). Desse modo, toda coisa, todo direito, toda obrigao, enfim, qualquer elemento material ou imaterial, representando uma utilidade ou uma riqueza, integrado no patrimnio de algum e passvel de apreciao monetria, pode ser designado como bens. Difere-se tambm de patrimnio, que o conjunto de bens de que algum titular, abrangendo todas as relaes jurdicas passveis de avaliao pecuniria e imputvel a mesma pessoa. Fazem parte do patrimnio tanto os direitos como os deveres, tanto ativo, como o passivo. Excluem-se: os direitos da personalidade, direito a sade, a liberdade, ao nome e os direitos de famlia puros, sem apreciao patrimonial (ptrio poder), incluindo-se os que tenham expresso pecuniria, como o direito aos alimentos. Bens Corpreos e Incorpreos: inquestionvel a possibilidade de as coisas fsicas serem objeto de relaes jurdicas. Assim, na propriedade de uma coisa qualquer (um carro, um relgio), o objeto ser a prpria coisa. Os incorpreos so os que no tm existncia tangvel e so relativos aos direitos que as pessoas fsicas ou jurdicas tm sobre as coisas, sobre os produtos de seu intelecto ou com outra pessoa, apresentando valor econmico, tais como os direitos reais, obrigacionais e autorais. Certas coisas incorpreas como objeto de relaes jurdicas: So aqueles que no tem existncia tangvel e so relativos aos direitos que as pessoas fsicas ou jurdicas tm sobre as coisas, sobre os produtos de seu intelecto ou contra outra pessoa, apresentando valor econmico, tais como: direitos reais, obrigacionais, autorais. Referimonos tambm aos chamados bens de personalidade e aos bens imateriais (Lei do Direito Autoral): Art. 5- Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes: VI inviolvel a liberdade de conscincia e de crena, sendo assegurado o livre exerccio dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteo aos locais de culto e a suas liturgias: IV - livre a manifestao do pensamento, sendo vedado o anonimato; IX - livre a expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica e de comunicao, independentemente de censura ou licena; X - so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao;

XIII - livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecer; Classificao dos Bens: O Cdigo Civil armou a estrutura normativa do instituto dos bens, com a arrumao que comporta o seguinte esquema de classificao, observando-se trs grupos: 1) os bens considerados em si mesmos (mveis e imveis; fungveis e infungveis; consumveis e inconsumveis; divisveis e indivisveis; singulares e coletivos); 2) os bens reciprocamente considerados (principais e acessrios); 3) os bens conforme a natureza das pessoas de seus titulares (pblicos e privados, disponveis ou indisponveis). Os Bens Considerados em si mesmo: - Bens Imveis: O Cdigo Civil encarregou-se de definir os bens imveis, com base em trs critrios: a) natural; b) artificial; e c) ficcional ou legal. Estabelece o Cdigo Civil que so bens imveis o solo e tudo quanto lhe incorporar natural ou artificialmente, numa combinao de dois critrios: o natural e o artificial. Sob o critrio legal ou ficcional , o Cdigo Civil considerou, ainda, bens imveis: a) os direitos reais sobre imveis e as aes que o asseguram; e b) o direito sucesso aberta. Ressalta o legislador que no perdem o carter de bens imveis: a) as edificaes que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local; e b) os materiais provisoriamente separados de um prdio, para nele se reempregarem. Permite-se a inferncia de que no pela propriedade ou caracterstica de transferibilidade ou removibilidade que se define um bem imvel, consoante se conclui da leitura das coisas elencadas pelo legislador. Tambm, no ser sua natureza corprea, porque possvel que o direito sucesso aberta, considerado para os efeitos legais, um bem imvel, no se apresente com os predicativos prprios das coisas que tm corpo. Certamente, estimula o erro a afirmao de que o legislador descreveu taxativamente os bens imveis, como se todos estivessem relacionados exausto nos dispositivos do Cdigo Civil, haja vista que a legislao complementar poder descrever outros. De acordo com o artigo 79 do CC, so bens imveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente (rvore, plantao, casa etc). No perdendo as caractersticas de imvel as edificaes que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local e os materiais provisoriamente separados de um prdio, para nele se reempregarem.So considerados imveis por fora de lei os direitos reais sobre imveis e as aes que os asseguram e o direito sucesso aberta (aquela que se realiza por causa mortis). Desta distino resultam os importantes efeitos jurdicos abaixo, entre outros: 1- a propriedade dos bens mveis se transfere com a tradio (1267 CC), enquanto que a transferncia da propriedade dos imveis se faz por escritura pblica (1245 CC); 2- os bens mveis podem ser alienados livremente, enquanto que os imveis, ressalvado o regime de separao absoluta de bens, nenhum dos cnjuges pode, sem autorizao do outro, alienar ou gravar de nus real os bens imveis (1647 CC). Bens Mveis: So as coisas mveis caracterizadas como aquelas que tm movimento prprio (semolventes), como animais; ou as removveis por fora alheia, tais como objetos, mercadorias, utenslios, moeda, ttulos da dvida pblica etc. (art 82 CC), sem alterao da substncia ou da destinao econmico-social, bem como as que so mveis por fora de lei, como a energia eltrica, os direitos pessoais de carter patrimonial e respectivas aes etc (art 83 do CC). Assim, de acordo com o Cdigo Civil, bens mveis so os "suscetveis de movimento prprio, ou de remoo por fora alheia, sem alterao da substncia ou da destinao econmico-social". Tambm so considerados, para os efeitos legais, bens mveis : a) as energias que tenham valor econmico; b) os direitos reais sobre objetos mveis e as aes correspondentes; e c) os direitos pessoais de carter patrimonial e respectivas aes. Percebe-se que o Cdigo Civil, na definio de bem mvel, calcou-se em dois critrios: a) natural; e b) ficcional ou legal. Na classe dos bens mveis, pelo critrio natural, existem os: a) os bens suscetveis de movimento prprio; b) os bens suscetveis de remoo por fora alheia. A nova disposio desenhada quase a reproduo legal da regra vigente no Cdigo anterior, que oferecia classificao dos bens mveis, pelo critrio natural, com base na definio de que se expurgava a expresso "sem alterao da substncia ou da destinao econmico-social". Para a lei, acomoda-se indiferente a natureza da fora fsica ou jurdica mediante a qual o bem se movimenta, situao que lhe confere o atributo de bem mvel. A fora que estimula a movimentao ou mobilidade do bem pode ser prpria ou alheia, posto que se lhe guarda o atributo de bem mvel, desde que a interferncia no lhe altere a substncia ou a destinao econmico-social. Mostra-se a regra indiferente, por conseguinte, causa que fomenta a movimentao ou a mobilidade do bem, haja vista que ela mais se preocupa com a conservao da substncia ou da destinao econmico-social. Mas se ressalte que a trao capaz de mover o bem decorre da interferncia direta ou indireta do homem, que maneja recursos fsicos ou jurdicos, em decorrncia dos quais

sucede a movimentao do bem. Nada obsta, contudo, a que a natureza oferea o seu concurso para viabilizar a mobilidade ou movimentao do bem, de que venha o homem a se apropriar. O importante, porm, que, para a movimentao prpria ou remoo por fora alheia, exige-se a disposio e a interveno do homem. Na classe dos bens mveis, pelo critrio ficcional ou legal, houve a inovao, com a introduo das energias que tenham valor econmico e os direitos pessoais de carter patrimonial e as respectivas aes, como bens mveis. A energia que se considera bem mvel aquela que o homem, aproveitando-se dos recursos naturais e cientficos, produz, transmite e distribui, com agregao de valor econmico, por fora de sua utilidade e necessidade. Os direitos reais sobre objetos mveis, com as aes correspondentes, foram considerados bens mveis, para os efeitos meramente legais. Em relao aos direitos pessoais de carter patrimonial, com as respectivas aes, diz-se que o conceito ampliativo ou extensivo, sob cujo alcance acham-se todos os direitos que dizem respeito aos atributos da pessoa, natural ou jurdica. Ressalte-se, ainda, que o Cdigo Civil conservou a regra segundo a qual "os materiais destinados a alguma construo, enquanto no forem empregados, conservam sua qualidade de mveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolio de algum prdio". Os Bens mveis dividem-se em: a) Bens fungveis - so aqueles que podem substituir-se por outros da mesma espcie, qualidade e quantidade. Fungvel = substituvel - art. 85 do CC. O dinheiro o bem fungvel por excelncia, dado que quando se empresta uma quantia a algum (por exemplo, R$100,00), no se est exigindo de volta aquelas mesmas cdulas, mas sim um valor, que pode ser pago com quaisquer notas de Real (moeda). Se a utilizao de um bem fungvel implica na sua destruio ou transformao em outra substncia (como uma xcara - ou chvena - de acar emprestada para se fazer um bolo), este bem denominado consumvel. Como os bens fungveis podem ser substitudos por outros da mesma espcie, quantidade e qualidade, esse predicativo da permuta, sem prejuzo da essncia ou natureza, favorece a faculdade que se confere ao devedor no cumprimento da obrigao. Decerto, pela propriedade da equivalncia, admite-se que o devedor entregue ao credor uma coisa em substituio outra, situao mediante a qual se tem como adimplida a obrigao, se observadas, evidentemente, as particularidades referentes ao gnero, qualidade e quantidade. b) Bens infungveis - no podem substitui-se por outros da mesma espcie e qualidade e quantidade. Infungibilidade o princpio que define os bens mveis que no podem ser substitudos por outros da mesma espcie, quantidade e qualidade. Logo, todo bem mvel nico infungvel, assim como todo bem imvel. So infungveis as obras de arte, bens produzidos em srie que foram personalizados, objetos raros dos quais restam um nico exemplar, etc. c) Bens consumveis - so bens mveis cujo uso importa destruio imediata da prpria substncia, sendo tambm considerados tais os destinados a alienao, ou seja, coisas que se excluem, num s ato, com o primeiro uso, podendo ser coisas fungveis ou infungveis. Na caracterizao do bem consumvel, deixa-se de investigar a natureza a causa ou a natureza do consumo, haja vista que importa constatar que, com o uso, lhe ocorreu a destruio imediata da prpria substncia. Consumir no significa, apenas, alimentar-se biologicamente, como caracterstica mpar que se agrega ao bem chamado consumvel, porquanto a expresso alarga-se na extenso necessria para alcanar todo processo natural ou artificial que gere ou provoque, com o uso, a destruio imediata da prpria substncia. No basta a descaracterizao formal do bem para se lhe atribuir o carter de consumvel, se cujo uso no lhe implicar a destruio imediata da prpria substncia. interessante observar que a lei tambm emprestou o carter de bem mvel consumvel a todo bem que se destina alienao, o que refora o entendimento segundo o qual o processo que lhe explica a natureza no apenas o consumo biolgico. No entanto, vale a ressalva de que consumibilidade no se confunde com deteriorabilidade, atributos que se impregnam nos bens, conforme a natureza. A deteriorabilidade , no geral, carter de coisa inconsumvel; a consumibilidade, de coisa consumvel, obviamente.

d) Bens inconsumveis - bens que proporcionam reiterada utilizao do homem, sem destruio da sua substncia. Assim, no consumvel a roupa, de uso de uma pessoa, j que lhe proporciona o uso reiterado. Todavia, a mesma roupa torna-se consumvel numa loja, onde se destina venda. e) Bens divisveis - so as que se podem fracionar sem alterao na sua substncia, diminuio considervel de valor, ou prejuzo do uso a que se destinam. Podem partir-se em pores reais distintas, formando cada qual um todo perfeito - art. 87 do CC.

f)

Bens indivisveis - so aquelas que no comportam fracionamento ou aquelas que, fracionadas, perdem a possibilidade de prestar servios e utilidades que o todo anteriormente oferecia. Um exemplo de bem indivisvel um carro ou um diamante lapidado (uma vez que sua diviso ir acarretar uma diminuio considervel de valor). Vale lembrar que um bem fisicamente divisvel pode ser transformado em indivisvel por vontade das partes ou por determinao legal. Tambm, ressalta-se que a diviso fsica em partes iguais de coisa indivisvel, quando possvel (um terreno, por exemplo) denominada pro indiviso. Analisa-se a divisibilidade com base em dois atributos de natureza: a) fsica; e b) jurdica. A caracterizao da divisibilidade sob o aspecto fsico prende-se natureza da possibilidade de fracionamento do bem.

Quando pode ser dividido fisicamente, diz-se que o bem divisvel; ao contrrio, fala-se em bem indivisvel. Em sendo assim, a prpria natureza do bem sugere ou aceita a diviso, seja um bem mvel ou imvel. Sublinhe-se que o conhecimento cientfico atrofiado sedimentou, no primeiro momento, a dimenso da divisibilidade fsica das coisas, a qual se intimidava, com repercusso, inclusive, no campo jurdico. A divisibilidade, sobre se revelar um entendimento fsico ou natural, incorpora o ideolgico, para permitir que os bens incorpreos tambm estejam inseridos na regra do fracionamento, desde que, seja fsica ou jurdica a natureza da diviso, no sobrevenha: a) a substncia; b) a diminuio considervel de valor; c) o uso a que se destinam. Recusa a lei que um bem seja dividido, se houver alterao ou perda da sua substncia, que significa a qualidade que lhe define e que lhe faz prprio, enquanto se conserva a utilidade a que se destina. Pouco importa a extenso da alterao, sendo suficiente, porm, que atinge a substncia do bem, que, a, j no se presta a alvejar a satisfao de um interesse ou necessidade, porquanto se lhe esvaiu a qualidade. Rejeita a lei que um bem seja dividido, se lhe sobrevier diminuio considervel de valor, que implica a desvalorizao de ordem econmica, financeira, histrica, cientfica, cultural, etc que se lhe agrega por fora de sua prpria natureza. Entenda-se como diminuio considervel de valor de que fala a regra o fenmeno que deprecia o bem a ponto de o tornar minguado, capaz de provocar substancial prejuzo, de ordem social ou econmico-financeira, ao titular em cujo patrimnio se encontra, com empobrecimento manifesto. O valor, por conseguinte, no se afere apenas pela expresso monetria, posto que qualidades outras podem influenciar mais na composio dos elementos que definem a relevncia do bem, com contedo que no se limite ao econmico-social. Nega a lei, por fim, que um bem seja dividido, se lhe ocorrer prejuzo do uso a que se destina, que representa a desfigurao formal ou material que fragiliza ou impede seja ele utilizado na plenitude para alcanar o resultado a que se presta, como meio ou instrumento. Destaque-se que a regra no exige que o prejuzo do uso seja parcial ou total, razo por que se impe a anlise em cada caso, segundo o bem, a natureza e a sua finalidade. Mas, como regra geral, sustente-se que, se houver prejuzo do uso, inviabiliza-se a diviso do bem, salvo se restar demonstrado que, ainda prejudicado, ele pode cumprir uma obrigao, promover uma necessidade ou suprir um interesse, malgrado o faa parcialmente. Sublinhe-se que bens divisveis, corpreos ou incorpreos - aqui se fala apenas em diviso jurdica, no fsica -, so aqueles que de possvel fracionamento, que comportam segmentao, que aceitam diviso, que se compatibilizam com fracionamento. No entanto, no fato que todo bem divisvel, embora enquanto coisa possa se submeter diviso, haja vista que o comando legal assimila a regra segundo a qual os bens naturalmente divisveis podem se tornar indivisveis: a) por determinao legal; ou b) por vontade das partes - diviso chamada convencional. Comporta-se obsequioso o Cdigo Civil regra de que uma lei possa determinar que um bem, naturalmente divisvel, trespasse sua realidade fsica e, pois, se transforme num bem indivisvel, se o interesse pblico assim justificar. Mais: vontade das partes - aqui se entenda pessoas fsicas ou jurdicas que protagonizem relao jurdica - tem autoridade, tambm, para alterar o regime natural do bem, objeto da nuclear do contrato, emprestando-lhe, circunstancialmente, a natureza de indivisibilidade. Ressalve-se, contudo, que os bens corpreos somente podem ser juridicamente divididos quando forem naturalmente - diga-se normalmente e no apenas por influncia de fenmeno natural - divisveis. Bens singulares e Bens coletivos: a) Bens singulares Embora reunidos, se consideram per si, independentemente dos demais, tm individualidade prpria, valor prprio. esta singularidade deve-se, tambm, emprestar o significado da titulao de um predicativo exclusivo que particulariza o bem, distinguindo-lhe extraordinariamente, como se fosse fora do comum ou excepcional. b) Bens coletivos (ou universais) - so as que, embora constitudas de duas ou mais coisas singulares, consideram-se agrupadas num todo. Os bens coletivos dividem-se em: a) universalidades de fato (universitas facti); e b) universalidades de direito (universitas juris). Na universalidade de fato, concorre a pluralidade de bens singulares, simples ou compostos pertinentes mesma pessoa, natural ou jurdica, os quais se prestam destinao unitria ou comum. Justifica-se a lembrana de que, na universalidade de fato - tome-se o exemplo de uma esquadrilha, biblioteca, pinacoteca, manada, esquadra, etc -, emerge a constatao da composio homognea dos bens, sob o mesmo domnio. Consente o Cdigo Civil que os bens que formam a universalidade de fato podem ser objeto de relao jurdicas prprias , razo por que se diz que eles, se assim desejar o titular, destacam-se do patrimnio agrupado para servir a negcios jurdicos autnomos. Na universalidade de direito, rene-se uma complexidade de bens corpreos e incorpreos, a qual se credencia a sedimentar o patrimnio, com ativo e passivo, de uma pessoa natural ou jurdica, categorizando-a economicamente. Identifica-se, na universalidade de direito, um conjunto que forma uma unidade jurdica, por agregao de bens subordinados a idntico tratamento jurdico, enquanto se apresentarem, porm, na projeo patrimonial da mesma pessoa. Aula 7 Os bens, continuao. 1. Bens reciprocamente considerados Bens principais e bens acessrios

A definio que o Cdigo Civil produziu para retratar bem principal e bem acessrio tem preciso suficiente, capaz de superar o tempo, conservando-lhe a atualidade, mesmo diante das profusas e profundas transformaes por que passa a humanidade, com incremento do fator criativo. Cumpre assinalar que o carter de principalidade ou acessoriedade se amadurece na compreenso que exige que os bens sejam reciprocamente considerados, em cotejo ou confronto da supremacia ou preponderncia que um exerce sobre o outro, na determinao do papel funcional, pelo prisma da finalidade. a) Bens principais - so aqueles que existem sobre si, abstrata e concretamente , independentemente de outra. art. 92 do CC. Considera-se bem principal o que existe sobre si, abstrata ou concretamente, segundo a definio do art. 92 do Cdigo Civil. O bem principal, corpreo ou incorpreo, tem existncia independente e prpria, sem subordinao de natureza jurdica que lhe exija vinculao a outro bem. Participa das relaes jurdicas com a categoria ou atributo de bem superior e imprescindvel existncia de outro. No depende nem segue outro bem; ao revs, tem o predicativo que o credencia a fazer com que outro bem se submeta relao de subordinao, pela qualidade ou quantidade. O carter da superioridade que se origina da natureza da principalidade identifica-se na importncia do bem no contexto da relao material ou jurdica de que faa parte, a qual se projeta em mltiplos sentidos. No ser pelo enfoque da importncia econmica ou financeira que se singulariza o bem, atribuindo-lhe o carter de principal em face ao outro bem considerado secundrio. A distino, por conseguinte, repousa no discernimento que define o papel orgnico-funcional de que cada um dispe na esfera das relaes jurdicas ou materiais. b) Bens acessrios - Diz-se bem acessrio aquele cuja existncia supe a do principal, de acordo com o que estabelece o art. 92 do Cdigo Civil. Assim, a rvore coisa acessria do solo e os rendimentos so acessrios do imvel. Os bens acessrios, pelas suas caractersticas, recebem a seguinte classificao: b.1) os frutos; b.2) os produtos; b.3) os rendimentos; b.4) as acesses; b.5) as benfeitorias; e b.6) as pertenas. b1. Dos Frutos - Definem-se os frutos como bens acessrios, que resultam de outros bens considerados principais, sem dizim-los, conservando-os com os mesmos caracteres e com as mesmas finalidades. Habituou-se a doutrina a dividir os frutos , segundo: a) a origem (natural, industrial e civil); b) a natureza (vegetal, animal e artificial); c) o estado (pendentes, percipiendos, percebidos - ou colhidos -, existentes e consumidos). Os frutos naturais ou animais derivam dos bens gerados pela prpria natureza , mesmo que com o induzimento do homem. J os frutos civis, tambm reputados artificiais, decorrem de uma relao jurdica, em decorrncia da qual se auferem resultados econmicos e/ou financeiros, traduzidos em renda ; os industriais, do trabalho ou engenhosidade do homem que, ao manejar recursos econmica e financeiramente mensurveis, produz rendimentos extrados do bem principal. Ganha expresso jurdica com projeo prtica, a diviso dos frutos quanto ao estado, eis que h tratamento especfico que o Cdigo Civil adota para disciplinar o direito percepo deles, como consectrio dos efeitos da posse. Em sendo assim, os frutos pendentes so aqueles ainda argolados ou presos ao bem principal, haja vista que se lhe desaconselha a colheita ou recolhimento precoce; os frutos percebidos, aqueles que foram colhidos, com resultado til; os frutos percipiendos, aptos a serem colhidos, no foram; os frutos existentes, os que, apartados do principal, aguardam sejam consumidos; e os frutos consumidos, os que desapareceram pelo uso ou consumo. Realce-se que os frutos e produtos, ainda quando no separados do bem principal, podem ser objeto de negcio jurdico , notadamente em se tratando de fruto pendente. No caso, o fruto j tem existncia presente, mas se encontra ainda conectado ao bem principal, de cuja separao no depende para ser objeto de negcio jurdico, porquanto a lei admite que o seja mesmo sob condio de no desligamento. A efetividade do negcio no se subordina ao fato de que o fruto ou produto venha a ser separado do bem principal, mas preciso que o implemento do contrato ocorra mediante a transformao do bem pendente em bem percebido. O bem pendente, por conseguinte, pode ser objeto de negcio jurdico, que se exaure com o bem percebido, pela transformao do bem pendente. b.2. Dos Produtos - Como os frutos, os produtos so bens acessrios, cuja existncia supe a do principal, numa relao de dependncia. O produto decorre do concurso da explorao pelo homem, que maneja os recursos naturais ou industriais, para a obteno de utilidade, extrada de um de bem principal, a qual satisfaa a uma necessidade. No geral, o produto, como bem acessrio, tem a caracterstica de provocar, medida que explorado e manejado, atrofia ou reduo do bem principal, de que resulta e se separa, capaz de lev-lo exausto, total ou parcial. Portanto, distinguem-se o produto e o fruto, haja vista que o primeiro afeta, temporria ou definitivamente, o bem principal, causando-lhe perdas; o segundo, no.

Sublinhe-se que a correta compreenso de produto e o exato entendimento de fruto repercutem no enquadramento do exerccio de direitos de gozo, com o alcance com que cada um se apresenta na ordem jurdica. b.3. Dos Rendimentos - Como bens acessrios, os rendimentos , apropriadamente chamados de frutos civis , consistem no resultado da apropriao das rendas ou receitas geradas pelos bens corpreos ou incorpreos, as quais se traduzem em valores aferveis monetariamente. O rendimento significa o resultado decorrente do capital empregado econmica ou financeiramente, capaz de gerar juros, rendas, aluguis e lucros, em propriedades mobilirias ou propriedade imobilirias. O bem principal que gera o rendimento, em decorrncia da explorao econmica ou financeira, na forma de concesso do uso ou gozo. b.4. Das Acesses - Considera-se acesso o fenmeno, natural ou artificial, em decorrncia do qual se processa um acrscimo sobre o bem principal, que, assim, o incorpora, com os atributos que lhe so prprios, formando um todo jurdico. Diz-se, pois, que a acesso decorre de fenmeno: a) natural; ou b) artificial, chamada, tambm, de industrial ou intelectual. Entre as acesses provocadas por fenmeno natural, destacam-se: a) aluvio - fenmeno causado pelas guas, mediante o qual, gradual e evolutivamente, se acresce ao terreno poro nova de terra, ampliando-se, em conseqncia, a propriedade imobiliria, que se desenha em novos permetros ; b) avulso - fenmeno por fora do qual se d deslocamento de uma certa poro de terra que se descola de um terreno juntando-se a outro. Na acesso provocada por fenmeno estimulado por artifcio do engenho humano, inserem-se as construes e as plantaes, que, tambm, geram a acesso, que se credencia aquisio da propriedade imobiliria. b.5. Das Pertenas - Na categoria de bem acessrio, pertenas significam os bens que se empregam num imvel ou mvel (bem principal), sem o objetivo de lhe alterar a substncia nem o de se lhe incorporar, situao em que ambos conservam as caractersticas que lhes particularizam, formal e funcionalmente. Caracterizam-se as pertenas como bens que no constituem parte integrante do bem principal, mas se lhe destinam, de modo duradouro: a) ao uso; b) ao servio; e c) ao aformoseamento. Na verdade, emprega-se a pertena num bem, com o intuito pejado de interesse utilitrio, capaz de gerar um resultado, com mltipla natureza, que se diversifica conforme o caso. As pertenas concorrem para oferecer ao bem principal o papel agregador de uma serventia, meramente utilitria ou esttica. Particularidade relevante a de que o negcio jurdico, ao envolver o bem principal, no abrange as pertenas, salvo se o contrrio resultar: a) da lei; b) da manifestao de vontade; ou c) das circunstncias do caso. Portanto, no geral, no seguem as pertenas a sorte do principal, no caso de alienao do bem em que fora empregado, salvo se houver ressalva expressa. Tanto a lei quanto a manifestao de vontade havero de derramar certeza objetiva e formal, no sentido de revelar que a disposio fora a de inserir as pertenas no negcio jurdico de que fez parte o bem principal. Descartam-se, assim, a implicitude e a subjetividade como elementos que gerariam a presuno de que, na lei ou na exposio da vontade, as pertenas foram envolvidas no negcio jurdico. Portanto, falta de manifestao expressa, colhida na lei ou no contrato em cujo instrumento se fixou o negcio jurdico, as pertenas, devido ao silncio, no passam a integrar o bem principal, insubordinando-se a seu destino. Consideram-se circunstncias as situaes de cuja consumao se pode extrair a premissa que, no caso, torna a pertena irrelevante econmica, financeira ou operacionalmente ao valor do bem principal, que, sem elas, no perder seus valores que justificaram o negcio jurdico. O exame das circunstncias que persegue o caso, as quais justificariam a deduo de que, no negcio jurdico combinado, se envolveram, tambm, as pertenas, exige a presena do silncio das partes, haja vista que se trata de uma exceo. Como ordinariamente no envolve a incluso das pertenas no negcio jurdico, o silncio das partes poder, porm, excepcionalmente, provocar a atrao das pertenas ao negcio jurdico, justificada se as circunstncia do caso recomendar a abrangncia. Deve-se pautar a anlise das circunstncias com reforo de elementos objetivos que se sobreponham aos subjetivos, os quais se credenciam melhor a avaliar e definir se a vontade silenciosa das partes capaz de desenhar a insero das pertenas no negcio jurdico. b.6. Das Benfeitorias - Considera-se benfeitoria tudo o que se emprega num bem imvel ou mvel, com a finalidade de salvaguard-lo ou de embelez-lo. Com a benfeitoria, independentemente da natureza, se lhe acresce uma utilidade, que se apresenta capaz de facilitar o uso do bem, conservar o bem ou gerar uma volpia no seu titular. Para o sistema jurdico, a benfeitoria dispensa o elemento ideolgico, mas a caracterizao ou a determinao de sua natureza se d justamente com a definio da causa finalstica, em decorrncia da qual se emprega um novo predicativo no bem, de ordem funcional, esttica ou conservativa. Portanto, com base na causa finalstica, caracterizam-se ou definem-se as benfeitorias: a) volupturias; b) teis; e

c) necessrias. Sublinhe-se, antes de se enfrentar a natureza em que cada uma das benfeitorias particularizada, que a lei no considera benfeitoria os melhoramentos ou acrscimos sobrevindos ao bem sem a interveno do proprietrio, possuidor ou detentor. Das Benfeitorias Volupturias - Diz o Cdigo Civil que a benfeitoria volupturia aquela que se realiza por mero deleite ou recreio, sem vocao ou predicativo capaz de aumentar o uso habitual do bem, ainda que o torne mais agradvel, ou seja, de elevado valor. Verifica-se, assim, que, com a benfeitoria volupturia, conserva-se a qualidade utilitria do bem, a que no se agrega elemento que potencialize a natureza de seu uso. H mera vontade ou vaidade do benfeitor, com o objetivo de deleitar-se ou recrear-se, haja vista que o bem principal a que se junta uma benfeitoria a dispensa, pelo aspecto utilitrio ou funcional, mas fica mais formoso ou recreador. O bem se torna mais belo, formoso, prazeroso, atraente, porque agua a sensibilidade esttica e seduz o esprito benfazejo que se deleita ou se recreia na cmoda necessidade do prazer. A rigor, o bem no necessita ou precisa da benfeitoria, mas o benfeitor a quer. Inexiste relao exata e precisa apta a oferecer proporo entre o bem principal e o bem acessrio (a benfeitoria). Ressalte-se que da tradio do direito brasileiro que as benfeitorias volupturias no so aquinhoadas com indenizaes e no comportam, por conseguinte, o exerccio do direito de reteno. b.6.2. Das Benfeitorias teis - Reputam-se teis as benfeitorias que aumentam ou facilitam o uso do bem principal , em que elas so realizadas, com o intuito de enriquecer ou simplificar os meios para us-lo. Na benfeitoria til, ocorre aumento - fsico ou funcional - do bem principal, por fora da qual se torna maior, melhor ou mais funcional. Malgrado a natureza, a benfeitoria til , alm de necessariamente produzir um aumento fsico ou funcional, pode gerar, secundariamente, uma vantagem esttica, sem lhe modificar a natureza jurdica e sem se confundir em benfeitoria volupturia. Constata-se o aumento do bem de que fala a regra pela simples metrificao, aferindo-se, pois, que ele sofreu acrscimo fsico, independentemente do tamanho, posto que basta a utilidade. Mais importa a utilidade do que a dimenso da benfeitoria. Verifica-se o aumento funcional do bem pela ordinria experincia que demonstra, por percepo ou utilizao, que se lhe facilitou e melhorou o uso. b.6.3. Das Benfeitorias Necessrias - Chama-se benfeitoria necessria aquela cuja realizao busca conservar ou evitar que o bem principal se deteriore, com risco de destruio, parcial ou total. Caracteriza-se a benfeitoria necessria pela exigncia reparadora que o bem revela, oculta ou ostensivamente, falta da qual ele resultar em runa, tornando-se imprestvel ou insatisfatrio para cumprir a finalidade a que se destina. A intensidade ou a extenso da interveno sobre o bem irrelevante para determinar a natureza da benfeitoria necessria, eis que basta que se reforce a confirmao de que era se apresentava indispensvel para promover a conservao ou para evitar a deteriorao da coisa. Na benfeitoria necessria, avulta a certeza da indispensabilidade ou da impostergabilidade de sua realizao, haja vista que o bem a reclama, pelo fato formal ou funcional. 2 - Bens considerados em relao ao sujeito Bens pblicos e bens particulares O Cdigo Civil fracionou os bens na dicotomia de: a) bens pblicos; e b) bens particulares. Consideraram-se pblicos os bens do domnio nacional pertencentes s pessoas jurdicas de direito pblico interno; particulares, todos os outros. Se pertencer pessoa jurdica de direito pblico interno - a Unio, os Estados, o Distrito Federal, os Municpios, os Territrios , as autarquias e as demais entidades de carter pblico criadas por lei - reputa-se o bem pblico; fora da, diz-se que o bem particular, seja qual for a pessoa a que pertencerem. Define-se, pois, a natureza jurdica do bem pela qualidade da personalizao do seu titular, opo legislativa que induz constatao de que os bens das pessoas jurdicas de direito pblico externo, localizados no territrio geogrfico do Brasil, so considerados bens particulares , haja vista que pertencem a pessoa jurdica que, por bvio, no se enquadra na categoria de direito pblico interno. Portanto, no h bens pblicos fora do domnio das pessoas jurdicas de direito pblico interno. a) Bens pblicos Pelo critrio da titularidade, os bens pblicos classificam-se em bens pertencentes Unio , aos Estados , ao Distrito Federal e aos Municpios. (art. 98, 1 parte, e art. 99, ambos do CC.) Da a denominao de bens pblicos federais, estaduais, distritais federais e municipais. Pelo critrio da utilizao, sublinhe-se que os bens pblicos esto divididos em: a) bens de uso comum do povo; b) bens de uso especial; e c) bens dominicais. Os bens de uso comum do povo so aqueles cujo uso, por caracterstica natural ou jurdica, franqueia-se ao pblico, sem qualquer discriminao, entre os quais se incluem: os rios, mares, estradas, ruas e praas. Os bens de uso especial so aqueles cujo uso ocorre com certas e determinadas restries legais e regulamentares, haja vista que se destinam a satisfazer uma utilidade ou necessidade pblica especial, nos quais se destacam: edifcios ou terrenos destinados a servio (teatros, universidades, museus ou estabelecimento da administrao pblica, inclusive de autarquia, navios e aeronaves de guerra, veculos oficiais. Os bens dominicais so aqueles que constituem o patrimnio das pessoas jurdicas de direito pblico, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma delas.

a.1. Afetao e desafetao - Consoante se abordou, os bens pblicos, considerando a destinao ou utilizao, classificam-se em bens de uso comum, bens de uso especial e bens dominicais. A utilizao do bem pblico, por conseguinte, modela a categoria jurdica a que pertence, situao em conformidade com a qual se extrai o conceito jurdico da afetao, como fenmeno jurdico que impe o fim a que ele se destina, definindo, ainda, os limites que se estabelecem para o seu uso. A afetao o ato jurdico mediante o qual se impe a um bem uma destinao, gravando-o com caracterstica diferente daquela que o identificava e determinando-lhe outra finalidade de acordo com a qual ser utilizado. Em decorrncia da afetao, transmudam-se a natureza e a destinao do bem, a qual pode alcanar bens particulares ou bens pblicos (bens de uso comum, bens de uso especial e bens dominicais ). A afetao - e a desafetao, tambm - processa-se verticalmente por grau, conforme a natureza e a extenso do uso do bem. Um bem particular, defectado, pode se transformar em bem pblico de uso especial, que, a seu turno, pode, tambm, ser transpassado para bem pblico de uso comum, a mais nobre afetao. A desafetao o fenmeno jurdico por fora do qual se processa a regresso ou eliminao da categoria do bem pblico, com mudana na sua destinao. Em situaes excepcionais, desde que inspiradas na vontade da lei, possvel um bem pblico de uso comum sofrer desafetao, com alterao de sua destinao. a.2. Regime jurdico - Existem critrios para a classificao dos bens pblicos, pelo enfoque da titularidade e da utilizao, conforme os mais tcnicos. Os bens pblicos sujeitam-se a regime jurdico especial, sob cujos princpios acomodam-se regras jurdicas que lhes impem rgida disciplina legal que os diferencia dos bens particulares. Desfrutam os bens pblicos de regime jurdico prprio e excepcional, privilgio que se justifica pela razo de que pertencem ao patrimnio do povo, para quem geram riquezas materiais e espirituais. Como pertencem Nao, diz-se que os bens pblicos compem o domnio pblico, tutorado pelo princpio da indisponibilidade, que se expressa nos predicativos da: a.2.1 inalienabilidade; a.2.2 imprescritibilidade; e a.2.3 impenhorabilidade. O princpio da indisponibilidade, primaz na questo da dominialidade pblica, afirma a natureza jurdica dos bens pblicos, fazendo borda com o princpio da disponibilidade dos bens privados ou particulares. Trata-se de qualidade jurdica que exprime a compreenso natural de que o bem pblico, no se vende, no se d, no se cede e no se adquire, a no ser em condies especiais, previstas em lei. Para o bem pblico e o bem do pblico, solenizam-se e substancializam-se as condies segundo as quais se lhe disponibiliza, sempre em condies e em situaes extraordinrias, que se agigantam em face realidade ordinria que envolve o poder particular sobre o bem que compreende o seu domnio. a.2.1 inalienabilidade - A inalienabilidade consiste no predicativo que persegue o bem, impedindo-lhe a alienao ou a transferncia de domnio, haja vista que, como se lhe veda o alheamento, no pode ser adquirido. Em regra, os bens privados ou particulares, salvo os bloqueios jurdicos que se lhes entranham em situaes especialssimas, granjeiam a liberdade da alienao, da transferncia de domnio, com ou contra a vontade de seu titular - como no caso da usucapio -; os bens pblicos, no. No entanto, a regra da inalienabilidade no se aplica, indiferentemente, a todos os bens pblicos, porquanto se fraciona em: a) vedao absoluta; e b) vedao relativa. H vedao absoluta alienao quanto aos: a) bens pblicos de uso comum ; e b) bens pblicos de uso especial. H vedao relativa alienao quanto aos bens dominicais, haja vista que podem ser alienados, observadas as exigncia da lei. Faz-se necessrio destacar que os bens de uso comum e os bens de uso especial, enquanto conservarem a sua natureza jurdica, so inalienveis. Em ocorrendo a desafetao - fenmeno por fora do qual se transmuda a natureza da destinao ou da categoria do bem pblico -, os bens de uso comum e de bens de uso especial, anilhados nova realidade, agora na condio de bens dominicais, podem ser alienados. No entanto, insta realar que a desafetao, por si s, no basta como justificativa que credencia a alienao dos bens, antes de uso comum do povo ou de uso especial, agora dominicais, porquanto se exige a confeco de um ato legal que a autorize. Em se tratando de bens dominicais, que compem o patrimnio de pessoa jurdica de direito pblico , mostra-se extravagante se exigir que a alienao subordine-se expressa autorizao da lei, razo por que basta a produo de ato legal com fora para alien-lo. Portanto, quando a norma fala que os bens dominicais podem ser alienados, observadas as exigncias da lei, no significa dizer que toda e qualquer alienao dessa categoria de bens pblicos somente ocorre em havendo expressa autorizao da lei. Cumpre ressaltar, contudo, que a alienao dos bens pblicos dominicais, bens desafetados, sujeitam-se a regime especial de alienao, haja vista que a transferncia de domnio depende de licitao. a.2.2 imprescritibilidade - Trata-se a imprescritibilidade de outro predicativo decorrente da indisponibilidade do bem pblico, por fora do qual se lhe blinda com o destaque jurdico, segundo o qual no se sujeita aos efeitos da usucapio.

A imprescritibilidade, como garantia, alcana os bens pblicos mveis e imveis, sem restrio, sejam de uso comum do povo, de uso especial ou dominicais, haja vista que o prprio Cdigo Civil no discrimina. a.2.3 impenhorabilidade - Em decorrncia do princpio da indisponibilidade, o bem pblico qualifica-se, ainda, pela natureza da impenhorabilidade. Compete realar que, de regra, um bem inalienvel um bem impenhorvel. Outorga-se ao bem pblico - de uso comum do povo, de uso especial ou dominical - a qualidade jurdica que o protege de penhora, razo por que no pode ser apreendido nem dado em garantia. Veda-se, tambm, sejam os bens pblicos gravados com nus, motivo pelo qual no podem ser penhorados nem hipotecados . a. 3 O uso comum dos bens pblicos Estabelece o Cdigo Civil que o uso comum dos bens pblicos pode ser gratuito ou retribudo, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administrao pertencerem. Verifica-se que, na regra geral, o uso comum dos bens pblico d-se de forma: a) gratuita; ou b) retribuda. No importa a natureza do bem pblico - de uso comum do povo, de uso especial ou dominical -, de tal sorte que a regra da gratuidade, em situao extraordinria ou excepcional, devidamente arrazoada, pode se transmudar, mediante a exigncia de retribuio da entidade a cuja administrao pertencer o bem. Evidencia-se que a retribuio de que fala a norma h de observar os princpios informativos de Direito Administrativo, especialmente os da legalidade, razoabilidade, economicidade, moralidade, proporcionalidade, finalidade e interesse pblico. b) Bens particulares - Todos os outros, seja qual for a pessoa a que pertencem - art. 98, in fine, do CC. c) Bem de famlia Para o Cdigo Civil revogado era o ato jurdico em que o casal, ou em que um cnjuge na falta do outro, atravs de ato formal reserva imvel urbano ou rstico de seu patrimnio para residncia da famlia, a se tornar assim imune apreenso por dvida pessoal, desde que no assumida anteriormente pelo instituidor, ou por dvida tributria cujo fato gerador no se pudesse vincular ao prprio imvel. Neste estgio, uma vez designado para uso familiar, o prdio ainda se tornava inalienvel. Mas o tempo modificou o conceito. Sob a roupag