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DIREITO CIVIL

OBRIGAÇÕES E RESPONSABILIDADE CIVIL EDITAL UNIFICADO: Das obrigações: Conceito, elementos, modalidades e efeitos das obrigações. Adimplemento. Extinção. Inadimplemento das obrigações. Cláusula Penal e arras. Transferência das obrigações. Da responsabilidade civil. Das preferências e privilégios creditorios. Das obrigações extracontratuais. Este material foi construído com base nas obras / aulas dos seguintes autores: Manual de Direito Civil, Flávio Tartuce, 10ª Edição, 2020; Aulas do professor Vitor Kumpel, VFK;

Das obrigações: Conceito, elementos, modalidades e efeitos das obrigações

1. Conceitue obrigação.

Washington de Barros Monteiro – a obrigação é “a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio”.

Rubens Limongi França – “é o vínculo jurídico ou de equidade, pelo qual alguém está adstrito a, em benefício de outrem, realizar uma prestação”.

Álvaro Villaça Azevedo – “a obrigação é a relação jurídica transitória, de natureza econômica, pela qual o devedor fica vinculado ao credor, devendo cumprir determinada prestação positiva ou negativa, cujo inadimplemento enseja a este executar o patrimônio daquele para a satisfação de seu interesse”.

Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho – obrigação é a “relação jurídica pessoal por meio da qual uma parte (devedora) fica obrigada a cumprir, espontânea ou coativamente, uma prestação patrimonial em proveito da outra (credor)”.

Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald – “relação jurídica transitória, estabelecendo vínculos jurídicos entre duas diferentes partes (denominadas credor e devedor, respectivamente), cujo objeto é uma prestação pessoal, positiva ou negativa, garantido o cumprimento, sob pena de coerção judicial”.

Flávio Tartuce – “conceitua-se a obrigação como a relação jurídica transitória, existente entre um sujeito ativo, denominado credor, e outro sujeito passivo, o devedor, e cujo objeto consiste em uma prestação situada no âmbito dos direitos pessoais, positiva ou negativa. Havendo o descumprimento ou

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inadimplemento obrigacional, poderá o credor satisfazer-se no patrimônio do devedor.”

2. A partir da definição apresentada, quais são os elementos constitutivos da obrigação? Diferencie o objeto mediato e objeto imediato da obrigação. Quais os elementos básicos do vínculo obrigacional?

De acordo com os conceitos construídos acima, podemos apontar três espécies de elementos constitutivos fundamentais das obrigações:

o a) Elementos subjetivos: o credor (sujeito ativo) e o devedor (sujeito passivo). Vale destacar que, na atualidade, dificilmente alguém assume a posição isolada de credor ou devedor em uma relação jurídica. Na maioria das vezes, as partes são, ao mesmo tempo, credoras e devedoras entre si, presente a proporcionalidade de prestações denominada sinalagma, como ocorre no contrato de compra e venda.

o b) Elemento objetivo: a prestação, que é apreciável economicamente e pode se expressar em um “dar”, um “fazer” ou um “não fazer”; A doutrina distingue ainda o objeto imediato e o objeto mediato da obrigação. O objeto imediato seria a prestação, ou seja, o ato que deve praticar o devedor, enquanto o objeto mediato seria o bem jurídico objeto da prestação, ou seja, a coisa, tarefa ou abstenção que interessam ao credor. O professor Flávio Tartuce destaca ainda que o objeto jurídico mediato da obrigação (bem jurídico) é também o objeto jurídico imediato da prestação.

o c) Elemento imaterial, virtual ou espiritual: o vínculo existente entre as partes, que representa um direito para o sujeito ativo e uma obrigação para o sujeito passivo. Hoje, prevalece a Teoria Dualista o Binária, segundo a qual o vínculo jurídico obrigacional pode ser decomposto em dois elementos básicos: o débito (schuld) e a responsabilidade (haftung). Enquanto o schuld é o dever legal de cumprir a obrigação, o haftung é a consequência do inadimplemento, ou seja, a responsabilidade do devedor, que, nos termos do art. 391 do Código Civil, recai sobre todos os seus bens. Outras normas legais – como as atinentes ao bem de família – atenuam esta disposição, mas a regra é que todo o patrimônio do devedor responda por suas dívidas.

3. Diferencie obrigação, dever jurídico, ônus jurídico, e o direito potestativo. A que prazo extintivo se sujeita a obrigação? E o direito potestativo?

Obrigação é o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir de outra uma prestação economicamente apreciável.

Por outro lado, dever jurídico é a situação passiva que obriga o devedor a observar determinado comportamento compatível com o interesse do titular do direito subjetivo. Engloba não só as relações obrigacionais, mas também

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as oriundas do Direito das Coisas, do Direito de Família, do Direito das Sucessões, do Direito de Empresa e dos direitos da personalidade.

Já ônus jurídico é a necessidade de observação de determinada conduta para a satisfação de interesse próprio (Orlando Gomes). Diferentemente do que ocorre com a obrigação ou o dever, a lei não obriga o titular de um ônus a cumpri-lo, mas apenas atribui consequências à sua conduta. Por exemplo, aquele que detém o ônus da prova não pode ser compelido a produzi-la, mas sofrerá a consequência de ter suas alegações não provadas presumidas falsas.

Por último, direito potestativo é o poder conferido a determinada pessoa de influir na esfera jurídica de outrem, que tem o dever de sujeitar-se a essa interferência. Representa, portanto, um poder do sujeito ativo e um dever de sujeição do sujeito passivo.

Segundo Agnelo Amorim Filho, os direitos potestativos, quando pleiteados judicialmente, o são por meio de ações constitutivas e, quando não são imprescritíveis, se extinguem pela decadência. Por outro lado, os direitos obrigacionais são direitos a uma prestação e, como tais, são alvo de ações condenatórias e se extinguem pela prescrição.

4. Quais são as fontes de obrigações no direito brasileiro?

Lei – para uma corrente, é a “fonte primária ou imediata de todas as obrigações, pois, como pudemos apontar em páginas anteriores, os vínculos obrigacionais são relações jurídicas” (Flávio Tartuce, Maria Helena Diniz e Washington de Barros Monteiro). Alguns autores, entretanto, não concordam com o entendimento pelo qual a lei é fonte obrigacional. Entre os contemporâneos, Fernando Noronha opina que a lei sozinha não é fonte obrigacional, sendo necessária a presença da autonomia privada, antigamente denominada como autonomia da vontade. No Direito Civil Contemporâneo, a autonomia privada pode ser conceituada como o direito que a pessoa tem de regulamentar os próprios interesses, o que decorre dos princípios constitucionais da liberdade e da dignidade humana.

Contratos – são tidos como fonte principal do direito obrigacional. Como exemplo, podem ser citadas as figuras tipificadas no Código Civil de 2002, tais como a compra e venda, o contrato estimatório, a doação, a locação, o comodato, o mútuo, a prestação de serviços, a empreitada, o depósito, o mandato, entre outros tipos. A concepção de contrato não se confunde com a de obrigação. Pode-se conceituar o primeiro, em uma visão clássica ou moderna, como o negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa à criação, modificação e extinção de direitos e deveres com conteúdo patrimonial. Esse conceito, seguido amplamente na doutrina brasileira, está inspirado no art. 1.321 do Código Civil italiano.

Os atos ilícitos e o abuso de direito – são fontes importantíssimas do direito obrigacional, com enorme aplicação prática. Gerando o dever de indenizar, é forçoso entender que o abuso de direito (art. 187 do CC) também constitui fonte de obrigações.

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Os atos unilaterais – são as declarações unilaterais de vontade, fontes do direito obrigacional que estão previstas na legislação. O Código Civil em vigor consagra expressamente os seguintes atos unilaterais como fontes obrigacionais: promessa de recompensa (arts. 854 a 860 do CC); gestão de negócios (arts. 861 a 875 do CC); pagamento indevido (arts. 876 a 883 do CC); enriquecimento sem causa (arts. 884 a 886 do CC).

Os títulos de crédito – são os documentos que trazem em seu bojo, com caráter autônomo, a existência de uma relação obrigacional de natureza. privada. Têm tratamento no Código Civil, a partir do seu art. 887. A codificação privada somente se aplica aos títulos de crédito atípicos, aqueles sem previsão legal específica (art. 903 do CC). Apesar de serem tratados por alguns doutrinadores como fonte autônoma de obrigações (por exemplo, o professor Flávio Tartuce), a regra é que os títulos de créditos tenham como origem um negócio jurídico anterior, seja ele um contrato ou um ato unilateral, apesar de não permanecerem vinculados a esse negócio em razão do princípio da abstração.

5. Classifique as obrigações quanto ao conteúdo de prestação. Diferencie a obrigação de dar coisa certa da de dar coisa incerta em relação ao seu conteúdo e aos seus efeitos.

Quanto ao conteúdo da prestação, a obrigação pode ser classificada em:

o I) Obrigação de dar, que se subdivide em “dar coisa certa” (ou obrigação específica) e “dar coisa incerta” (ou obrigação genérica).

o II) Obrigação de fazer, que pode ser conceituada como uma obrigação positiva cuja prestação consiste no cumprimento de uma tarefa ou atribuição por parte do devedor.

o III) Obrigação de não fazer é a única obrigação negativa admitida no Direito Privado Brasileiro, tendo como objeto a abstenção de uma conduta. Por tal razão, havendo inadimplemento, a regra do art. 390 deve ser aplicada, in verbis, “nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster”.

Na obrigação de dar coisa certa, o objeto da prestação é determinado e individualizado já no nascimento da obrigação. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios da coisa, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.

Por outro lado, a obrigação de dar coisa incerta tem por objeto coisa inicialmente indeterminada, somente indicada pelo gênero e pela quantidade. Salvo convenção em contrário, a escolha dos bens cabe ao devedor, que não está obrigado a escolher os melhores, mas também não pode escolher os piores (art. 244 do Código Civil). Após essa escolha, devidamente cientificada ao credor, a obrigação genérica converte-se em obrigação específica, vigendo as regras da obrigação de dar coisa certa (art. 245 do Código Civil). Por último, em razão do princípio jurídico que determina que o “gênero não perece”, o art. 246 do Código Civil determina que, antes da escolha, não

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poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que em razão de caso fortuito ou força maior.

6. Dadas as situações abaixo, aponte o que pode ser pleiteado pelo credor da obrigação não adimplida em relação ao devedor:

- A se obriga a entregar a B um quadro específico de sua coleção. Antes do

vencimento, uma enchente atinge sua casa e o quadro é destruído.

- A se obriga a entregar a B o seu carro. Antes do vencimento, A, dirigindo

alcoolizado, bate o carro, deixando marcas significativas no para-choque.

- A dá em comodato seu carro a B. Durante a vigência do empréstimo

gratuito, o carro é roubado.

- A, agricultor, se obriga a vender 5 sacas de soja a B. Antes do vencimento

da obrigação, uma terrível praga devasta sua plantação, não lhe restando

nenhum pé de soja.

B nada pode pleitear além do reembolso do equivalente, caso tenha sido

pago. Como a perda do objeto se deu sem culpa do devedor, a obrigação resta resolvida para ambas as partes (art. 234 do Código Civil).

B pode, a seu critério, resolver a obrigação ou aceitar a coisa com abatimento proporcional do preço. Como houve culpa do devedor no evento, o credor pode ainda pleitear perdas e danos (art. 236 do Código Civil).

Aqui, aplica-se o brocardo “res perit domino”, ou “a coisa perece para o dono”. Assim, como se tratava de obrigação de restituir tornada impossível sem culpa do comodatário, a obrigação se resolve para ambas as partes, sem que A possa pleitear qualquer indenização (art. 238 do Código Civil).

Aqui aplica-se o outro brocardo, “genus non perit”, ou “o gênero não perece”. Se o contrato que originou a obrigação não era aleatório, o devedor não pode alegar a perda ou deterioração do objeto, ainda que decorrente de caso fortuito ou força maior (art. 246 do Código Civil). Assim, A pode pleitear o cumprimento da obrigação como avençada.

7. Classifique as obrigações quanto à complexidade do seu objeto. E em quais espécies podem as obrigações compostas serem subdivididas? E o que são as obrigações facultativas?

Quanto à complexidade do objeto, a obrigação pode ser classificada em

OBRIGAÇÃO SIMPLES, que é aquela composta por apenas uma prestação, e OBRIGAÇÃO COMPOSTA, que é aquela em que há uma pluralidade de objetos ou prestações.

Por sua vez, as obrigações compostas podem ser subclassificadas em: o A) Obrigações compostas objetivas cumulativas ou conjuntivas (ou

somente obrigações cumulativas): aqui, o sujeito passivo deve cumprir todas as prestações previstas, sob pena de inadimplemento total ou

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parcial. Geralmente, obrigações dessa natureza são identificadas pela conjunção aditiva “e”.

o B) Obrigações compostas objetivas alternativas ou disjuntivas (ou somente obrigações alternativas): tratam-se de obrigações que se apresentam com mais de uma prestação, mas o cumprimento de apenas uma delas exonera o devedor. Nos termos do art. 252 do Código Civil, a escolha cabe ao devedor, salvo convenção em contrário. Aqui também ocorre o fenômeno da concentração, ato pelo qual, após a imputação do objeto a ser cumprido, a obrigação composta se torna simples. Como exemplo, a doutrina costuma citar o contrato estimatório (art. 534 do Código Civil), no qual o consignatário, ao final do prazo de consignação, possui duas opções: i) pagar o preço da estima; ii) devolver os bens ao consignante. O cumprimento de qualquer dessas obrigações exonera o devedor1.

Já as obrigações facultativas são obrigações de natureza simples, com uma única prestação, mas em que o devedor tem a faculdade de substituir a prestação devida por outra de natureza diversa, prevista subsidiariamente. Segundo Orlando Gomes, na obrigação facultativa o credor não pode exigir o cumprimento da prestação subsidiária, e, na mesma linha, caso haja impossibilidade de cumprimento da prestação devida, a obrigação é extinta, resolvendo-se em perdas e danos. Como exemplo, o art. 1.234 do CC diz que aquele que restitui ao dono coisa achada possui direito a uma recompensa não inferior a 5% (cinco por cento) do valor da coisa. No entanto, a lei cria uma opção para o dono da coisa, que pode abandonar a coisa em favor do descobridor. Trata-se de uma obrigação facultativa, em que apenas o devedor pode optar por cumprir a prestação alternativa.

8. O que é uma obrigação solidária? Como se estabelece uma obrigação solidária? Cite um caso em que a lei estabelece a solidariedade em uma obrigação.

Nos termos do art. 264 do Código Civil, uma obrigação é solidária quando

na mesma obrigação concorre mais de um credor ou mais de um devedor, cada qual com direito ou obrigado à dívida toda. No caso de pluralidade de credores, temos solidariedade ativa. No caso de pluralidade de devedores, temos solidariedade passiva.

Nos termos do art. 265 do Código Civil, a solidariedade não se presume, devendo decorrer da lei ou da vontade das partes. Os exemplos de solidariedade legal são inúmeros. Citamos aqui:

o A) O art. 942 do Código Civil estabelece a solidariedade dos coautores do dano pela indenização dele decorrente. Seu

1 Observação: não confundir a obrigação alternativa e a obrigação de dar coisa incerta. De início, porque a primeira é uma obrigação composta (com duas ou mais prestações), enquanto a segunda é uma obrigação simples, com apenas uma prestação e objeto determinável. Na obrigação alternativa, muitas vezes, há prestações de naturezas diversas, de dar, fazer e não fazer, devendo ser feita uma opção entre essas. Isso não ocorre na obrigação de dar coisa incerta em que o conteúdo é uma coisa determinável.

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parágrafo único ainda cria a solidariedade entre o autor do dano e as pessoas elencadas no art. 932 do Código Civil.

o B) O art. 7º, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor determina que “tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação de danos previstos nas normas de consumo”. Segundo a doutrina especializada, esse comando traz uma presunção de solidariedade contratual dos fornecedores e prestadores nas relações jurídicas de consumo.

o C) O art. 2º da Lei de Locações determina que “havendo mais de um locador ou mais de um locatário, entende-se que são solidários se o contrário não se estipulou.”

9. No caso de uma obrigação solidária ativa, a quem deve o devedor pagar para se exonerar da obrigação? E no caso de morte de um credor solidário, seus herdeiros também se tornam credores solidários? Pode o credor solidário perdoar a dívida por inteiro? A, B e C são credores solidários de D. A demanda judicialmente a dívida, e D alega a compensação de um crédito seu com C para opor-se à cobrança. A demanda deverá ser julgada procedente ou improcedente? Esse julgamento afetará os credores B e C?

Em uma obrigação solidária ativa, cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro (art. 267 do CC). Em complemento, enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar (art. 268 do Código Civil). No entanto, caso um dos credores demande o devedor, por meio de ação de cobrança ou similar, o pagamento somente poderá ser efetuado para aquele que demandou. Nesse sentido, leciona Maria Helena Diniz: “como qualquer credor solidário pode demandar, ou seja, acionar o devedor pela totalidade do débito, uma vez iniciada a demanda, ter-se-á a prevenção judicial; o devedor, então, apenas se libertará pagando a dívida por inteiro ao credor que o acionou, não lhe sendo mais lícito escolher o credor solidário para a realização da prestação”.

Não. De acordo com o art. 270 do Código Civil, se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.

Sim, é possível que o credor solidário perdoe a dívida por inteiro. No entanto, nos termos do art. 272 do Código Civil, o credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba.

Por força do art. 273 do Código Civil, o devedor não pode opor a um dos credores solidários exceções pessoais que tenha contra outro. Assim, a compensação do crédito com C não pode ser oposta a A, de forma que a ação deve ser julgada PROCEDENTE. Esse julgamento poderá aproveitar a B, por força do art. 274 do Código Civil, cuja redação atual foi dada pelo art. 1.068 do Novo Código de Processo Civil. Porém, este mesmo artigo garante

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a D a possibilidade de opor a C a exceção pessoal que lhe cabe, de forma que, se D o fizer, o julgamento favorável não aproveitará a D.

10. A é credor de uma obrigação no valor de R$300,00, que tem como devedores solidários B, C e D. Sobre essa situação hipotética, responda o que se segue:

A) B pagou R$ 100,00 a A, que aceitou o pagamento parcial. Pode A

demandar judicialmente todos os devedores pelo restante, inclusive B?

B) Se D falece, seus herdeiros, E e F, podem ser demandados pela dívida

toda?

C) A perdoa D da dívida. Pode A então cobrar os R$300,00 de B e C?

D) B, C e D se juntam para pagar a dívida. B e C entregam a D R$100,00

cada, para que este se dirija a A e pague a dívida. D, no entanto, pega o

dinheiro e gasta, sem pagar A. Em razão do inadimplemento, A sofre danos

de natureza patrimonial. Um mês depois, ele ajuíza ação cobrando o

principal, os juros de mora e indenização pelos danos materiais sofridos,

tendo no polo passivo os três devedores. Quem deve ser condenado a

pagar o que?

E) A renuncia à solidariedade em favor de B. Após essa renúncia, D se torna

insolvente. C, demandado por A, paga a dívida por completo. Quanto C

pode cobrar de B?

A) Sim, pois o pagamento parcial não implica, por si só, renúncia à solidariedade (art. 275 do Código Civil). B) De forma semelhante ao que ocorre no caso da solidariedade ativa, aqui também o falecimento do devedor faz cessar a solidariedade com relação aos herdeiros, que somente poderão ser demandados até o limite da herança e de seus quinhões hereditários, nos termos do art. 276 do Código Civil. Porém, este mesmo artigo prevê que os herdeiros, em conjunto, serão considerados um devedor solidário. Assim, A poderia cobrar a dívida inteira de E e F conjuntamente, mas não individualmente. C) Não. Nos termos do art. 277 do Código Civil, o perdão obtido por um dos devedores solidários aproveita aos demais até a concorrência da quantia perdoada. Dessa forma, perdoado um dos devedores, o montante da dívida que lhe cabia deve ser deduzido da dívida total. Assim, A só pode cobrar de B e C R$200,00. D) Subsiste a solidariedade passiva quanto ao principal, de forma que todos os três serão condenados ao pagamento dos R$ 300,00. Por força do art. 280 do Código Civil, também os juros de mora serão cobrados dos três devedores. Porém, B e C terão direito de regresso contra D, que deu causa ao inadimplemento. Já pelas perdas e danos só responderá D, que foi o culpado pelo inadimplemento, nos termos do artigo 279 do Código Civil.

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E) Nos termos do art. 284, também os devedores exonerados da solidariedade contribuem no rateio da obrigação que incumbia ao insolvente. Dessa forma, C pode cobrar de B R$150,00, relativos à parte que originalmente cabia a B na obrigação mais metade do valor devido por D.

11. O que é uma obrigação indivisível? Quais as diferenças entre uma obrigação indivisível de uma obrigação solidária? No caso de uma obrigação indivisível com pluralidade de credores, a quem deve o devedor pagar para se desobrigar?

Nos termos do art. 258 do Código Civil, a obrigação é indivisível quando a prestação tem por natureza uma coisa ou fato não suscetíveis de divisão, seja por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico. A obrigação solidária tem origem pessoal/subjetiva e decorre da lei ou da vontade das partes; por outro lado, a obrigação indivisível tem natureza objetiva, decorrendo da natureza do objeto da prestação. A obrigação solidária, se convertida em perdas e danos, mantém-se solidária; a obrigação indivisível, quando convertida em perdas em danos, torna-se divisível (art. 263 do Código Civil). Com essa conversão, no caso da obrigação solidária todos os devedores continuam responsáveis solidariamente pela dívida, mas apenas o devedor culpado responde pelas perdas e danos; na obrigação indivisível, apenas o culpado responde pelas perdas e danos, restando completamente exonerados os demais (art. 263, §2° do Código Civil).2 Segundo o art. 260 do Código Civil, o devedor só se desobriga se pagar a todos os credores conjuntamente ou se pagar a um deles, dando esta caução de ratificação dos outros credores. Assim, neste segundo caso, o devedor só se desobriga se receber do credor a quem pagar uma garantia de que este irá repassar as quotas dos demais. Esta garantia deve ser celebrada por escrito, datada e assinada pelas partes, com firmas reconhecidas. Após o repasse aos demais credores, a garantia poderá ser levantada. Para Flávio Tartuce, o bem dado em garantia, também visando maior certeza e segurança, deverá ter valor próximo ao valor da obrigação.

12. O que é uma obrigação natural? Quais suas principais características?

2 Observação: quanto à exoneração dos demais devedores prevista no art. 263, §2° do Código Civil, existe forte divergência. Parcela da doutrina (Álvaro Villaça Azevedo, José Fernando Simão, Maria Helena Diniz, Sílvio Salvo Venora, Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias, Enunciado n. 540 do CJF/STJ) entende que a exoneração não alcança a obrigação em si, mas apenas a indenização suplementar. Assim, os devedores não culpados responderiam pelo valor da obrigação. Outra parcela (Gustavo Tepedino, Anderson Schreiber e Flávio Tartuce) defendem que a exoneração dos demais devedores é total, abrangendo a obrigação principal. Eles fundamentam essa posição no art. 402 do Código Civil, que inclui no conceito de perdas e danos aquilo que o credor “efetivamente perdeu”. Assim, para eles, o perecimento da coisa transforma em perdas e danos o valor do equivalente, que deve então ser cobrado apenas do devedor culpado.

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A obrigação natural é uma obrigação atípica e imperfeita. Nela, há um defeito no vínculo jurídico, pois temos uma dívida sem responsabilidade, inexequível. Dos elementos do vínculo obrigacional, temos o schuld, mas não o haftung. Podemos citar como exemplos a dívida de jogo (art. 814 do Código Civil), a dívida prescrita. Dentre as características da obrigação natural, temos que seu pagamento é válido e irrepetível (art. 882 do Código Civil); não subsistem as garantias acessórias (uma dívida inexequível não tem garantias); é possível a novação de dívida decorrente de obrigação natural (art. 367 do Código Civil), SALVO a dívida de jogo (art. 814, §1º do Código Civil); não pode ser compensada com obrigação civil.

Adimplemento e Extinção

13. Diferencie, quanto ao conceito e aos efeitos, o terceiro interessado e o terceiro não interessado que pagam dívida do devedor.

O terceiro interessado é aquele que tem interesse patrimonial na extinção da dívida, como o fiador, o avalista ou o herdeiro. Os demais terceiros são não interessados. Assim, percebe-se que deve haver um interesse econômico envolvido, não mero interesse afetivo, como o de um pai que paga a dívida de um filho. O terceiro interessado que paga a dívida sub-roga-se imediatamente nos direitos do credor (art. 346, III, do Código Civil). Assim, nos termos do art. 349 do Código Civil, lhe são transferidos todos os direitos, ações, privilégios e garantias do credor primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores. Já o terceiro não interessado, se fizer o pagamento em seu próprio nome, tem direito ao reembolso, mas não se sub-roga nos direitos do credor (art. 305 do Código Civil). Assim, não lhe são transferidas as ações, exceções e garantias que cabiam ao credor originário. Ademais, o art. 306 do Código Civil determina ainda que se ocorrer o pagamento por terceiro não interessado e em seu próprio nome, sem o conhecimento ou havendo oposição do devedor, não haverá obrigação de reembolso do devedor em relação a esse terceiro, se o primeiro provar que tinha meios para ilidir a ação, ou seja, para solver a obrigação.

Se o terceiro não interessado fizer o pagamento em nome e em conta do devedor, sem oposição deste, não terá direito a nada, pois é como se fizesse uma doação, um ato de liberalidade (interpretação do art. 304, parágrafo único, do Código Civil). Em casos de dúvidas, prevalece a premissa segundo a qual o terceiro pagou em seu próprio nome, eis que os atos de liberalidade não admitem interpretação extensiva (art. 114 do Código Civil).

14. Diferencie dívida em dinheiro e dívida de valor. O que são os princípios do curso forçado e do curso legal da moeda?

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A dívida em dinheiro é aquela à qual se aplica o Princípio do Nominalismo, insculpido no artigo 315 do Código Civil. Assim, seu pagamento deve ser feito pelo valor nominal pactuado. Por outro lado, a dívida de valor é aquela que, embora paga em dinheiro, procura atender ao verdadeiro valor do objeto da prestação, incorporando as variações que este possa sofrer para mais ou para menos. É o caso das prestações sujeitas a correção monetária, a chamada cláusula de escala móvel ou cláusula de escalonamento (art. 316 do Código Civil). Vale ressaltar que o art. 2°, §1° da Lei n. 10.192/2001reputa NULAS de pleno direito as estipulações que prevejam reajuste em periodicidade inferior a um ano. Essa disposição busca evitar que a indexação dos preços cause um descontrole inflacionário, como ocorreu no Brasil nas décadas de 1980 e 1990. O princípio do curso forçado determina que os agentes econômicos, no Brasil, não podem receber pagamentos em outra moeda que não a brasileira, salvo as exceções previstas em lei (art. 318 do Código Civil e art. 1°, parágrafo único da Lei n. 10.192/01). O princípio do curso legal, por outro lado, determina que os agentes não podem recusar o recebimento da moeda nacional para o pagamento das obrigações pecuniárias (art. 315 do Código Civil e art. 1° da Lei n. 10.192/01). Esses princípios se complementam e, no Brasil, ambos são aplicados. Há países que adotam apenas o princípio do curso legal. No Brasil, por exemplo, essa foi a opção do Código Civil de 1916, em sua redação original, que no art. 947, §1°, reputava lícitas as obrigações em moeda estrangeira.

15. Diferencie a obrigação quesível da obrigação portável. Qual a regra geral no direito civil brasileiro?

A obrigação quesível é aquela em que o pagamento deve ocorrer no domicílio do devedor. Assim, o accipiens (aquele que recebe o pagamento) deve se dirigir ao solvens (aquele que paga) para receber a prestação. De acordo com a lei, há uma presunção relativa de que o pagamento é quesível, uma vez que o sujeito passivo deve ser procurado pelo credor em seu domicílio para efetuar o pagamento, salvo se o instrumento negocial, a natureza da obrigação ou a lei impuserem regra em contrário (art. 327, caput, do CC).

Ao contrário, obrigação portável é aquela na qual, por força do instrumento negocial ou pela natureza da obrigação, cabe ao devedor dirigir-se até o domicílio do credor para realizar o pagamento. Eventualmente, também recebe essa denominação a obrigação cujo pagamento deva ocorrer no domicílio de terceiro.

16. O que é o pagamento em consignação e quando pode ser realizado?

O pagamento em consignação, regra especial de pagamento, pode ser conceituado como o depósito feito pelo devedor, da coisa devida, para liberar-se de uma obrigação assumida em face de um credor determinado. Tal depósito pode ocorrer, conforme estabelece o art. 334 do CC/2002, na esfera

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judicial ou extrajudicial (em estabelecimento bancário oficial, conforme já constava no art. 890 do CPC/1973, repetido pelo art. 539 do CPC/2015). A consignação pode ter por objeto bens móveis e imóveis. Apenas a consignação de dinheiro pode ser feita de forma extrajudicial.

O art. 335 do Código Civil traz um rol de situações em que a consignação poderá ocorrer: i) se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar a receber o pagamento, ou dar quitação (mora accipiendi, mora no recebimento – causa subjetiva, pessoal); ii) se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condições devidas (hipótese de mora accipiendi – causa subjetiva); ii) se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, for declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil (outra causa subjetiva, relacionada com o sujeito ativo da obrigação); iii) se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento (também causa subjetiva, denominada dúvida subjetiva ativa, uma vez que o devedor não sabe a quem pagar); iv) se pender litígio sobre o objeto do pagamento (única causa objetiva para a consignação).

Para a maioria da doutrina e da jurisprudência, no entanto, esse rol é EXEMPLIFICATIVO. Por exemplo, o Superior Tribunal de Justiça entende ser possível a consignação para a revisão de conteúdo de contrato.

17. O que é o pagamento com sub-rogação? Quais seus principais efeitos? O que ocorre com a prescrição no caso de um pagamento com sub-rogação? Cite um caso de sub-rogação legal.

A sub-rogação pessoal ativa, que é aquela tratada pelo Direito Obrigacional, é transferência da posição de credor da obrigação operada em favor daquele que adimpliu obrigação alheia. Nos termos do art. 349 do Código Civil, a sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores. Deve-se destacar ainda que, nos termos do art. 351 do Código Civil, o credor originário que apenas em parte foi reembolsado possui preferência no recebimento em relação ao sub-rogado, se os bens do devedor não forem suficientes para pagar ambos.

Quanto à prescrição, o Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de que a sub-rogação também alcança o prazo prescricional. Assim, continua correndo contra o sub-rogado o mesmo prazo que corria contra o devedor originário, sem interrupção nem suspensão.

Nos termos do art. 349 do Código Civil, a sub-rogação legal, ou de pleno direito, opera em favor: i) do credor que paga a dívida do devedor comum; ii) do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; iii) do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.

18. Conceitue a dação em pagamento. O que ocorre se o credor for evicto da coisa recebida por dação?

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A dação em pagamento pode ser conceituada como uma forma de pagamento indireto em que há um acordo privado entre os sujeitos da relação obrigacional, pactuando-se a substituição do objeto obrigacional por outro. Para tanto, é necessário o consentimento expresso do credor, o que caracteriza o instituto como um negócio jurídico bilateral.

Se o credor for evicto da coisa recebida, a obrigação primitiva será restabelecida, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros de boa-fé (art. 359 do CC).

19. Conceitue a novação, definindo seus elementos essenciais. Podem ser novadas obrigações inválidas? E as obrigações prescritas? Tendo em vista os efeitos da novação nas obrigações anuláveis, é possível a rediscussão de contratos bancários novados ou objeto de confissão de dívida? Diferencie a novação objetiva ou real da dação em pagamento. Diferencie a novação subjetiva passiva por expromissão da novação subjetiva passiva por delegação.

A novação pode ser definida como uma forma de pagamento indireto em que ocorre a substituição de uma obrigação anterior por uma obrigação nova, diversa da primeira criada pelas partes. Seu principal efeito é a extinção da dívida primitiva, com todos os acessórios e garantias, sempre que não houver estipulação em contrário (art. 364 do CC). Havendo a referida previsão em contrário, ocorrerá a novação parcial.

São seus elementos essenciais: i) existência de uma obrigação anterior (obrigação antiga ou dívida novada); ii) existência de uma nova obrigação (dívida novadora); iii) intenção de novar (animus novandi), que pode ser expresso ou tácio (art. 361 do Código Civil).

Dentro do gênero das invalidades, devemos distinguir as nulidades e as anulabilidades. Nos termos do art. 367 do Código Civil, temos que as obrigações anuláveis PODEM ser novadas, situação em que ocorre a CONVALIDAÇÃO do negócio anulável, enquanto as obrigações nulas e as extintas não podem. As obrigações prescritas também podem ser novadas, uma vez que não são obrigações extintas, mas somente inexequíveis. Ademais, o artigo 191 do Código Civil autoriza a renúncia à prescrição, que pode se dar pela novação.

A despeito do discutido acima, o Superior Tribunal de Justiça, nos termos do Súmula 286, entende que: “a renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores”. Aqui, rompe-se a regra segundo a qual a novação convalida os vícios da obrigação anterior. O Tribunal Superior entende que, em razão do princípio da função social dos contratos e da proteção ao consumidor, parte hipossuficiente, sendo flagrante o abuso de direito cometido pela parte negocial e estando presente a onerosidade excessiva por cobrança de juros abusivos nas obrigações anteriores, é possível a discussão judicial dos contratos novados.

Na novação objetiva, o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir a primeira (art. 360, I, do Código Civil). No caso da dação em

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pagamento, o devedor adimple a obrigação original com prestação diversa da pactuada originalmente. No primeiro caso, tem-se o surgimento de nova obrigação para extinguir a primeira. No segundo, há o adimplemento da primeira obrigação por uma prestação diversa. É em razão dessa diferença que não existe a “promessa de dação em pagamento”. Esta seria, na verdade, uma novação objetiva.

A expromissão ocorre quanto terceiro assume a dívida do devedor originário sem a sua concordância, em acordo com o credor (art. 362 do Código Civil). Por outro lado, ocorre a novação por delegação quando a substituição é feita com a participação do devedor originário, que indica o novo devedor, com a concordância do credor.

20. Conceitue a compensação. Quais são os requisitos da compensação legal? Cite dois casos em que a diferença de causa nas dívidas impede a compensação.

Ocorre a compensação quando duas ou mais pessoas forem ao mesmo tempo credoras e devedoras umas das outras, extinguindo-se as obrigações até o ponto em que se encontrarem, onde se equivalerem (art. 368 do CC). Trata-se de forma de pagamento indireto. Deve-se entender que a compensação constitui um aspecto material do princípio da economia, fundado na ordem pública.

Seus requisitos são: i) reciprocidade de débitos; liquidez das dívidas, que devem ser certas quanto à existência e determinadas quanto ao objeto e valor; ii) exigibilidade atual das prestações, estando estas vencidas; e iii) fungibilidade dos débitos, havendo identidade entre a natureza das obrigações. Ressalte-se que o STJ já decidiu que não é possível a compensação de dívidas cuja liquidez penda de confirmação em juízo.

Nos termos do art. 373 do Código Civil, a diferença de causas nas dívidas impede a compensação quando: i) uma delas provier de esbulho, furto ou roubo; ii) se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; iii) uma for de coisa não suscetível de penhora.

21. Conceitue a confusão.

Para o Direito das Obrigações, a confusão está presente quando na mesma pessoa confundem-se as qualidades de credor e devedor, em decorrência de um ato inter vivos ou causa mortis (art. 381 do Código Civil). A origem da confusão obrigacional, na maioria das vezes, decorre de ato bilateral ou negócio jurídico, razão pela qual deve ela ser incluída como forma de pagamento indireto. Um exemplo prático: A é credor de B em uma dívida de R$1.000,00. A falece e B é seu sucessor universal. Logo, a dívida extingue-se pela confusão, já que B ocupa, ao mesmo tempo, os dois polos da obrigação.

22. Conceitue a remissão de dívida. Qual a sua natureza jurídica?

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A remissão é o perdão de uma dívida, constituindo um direito exclusivo do credor de exonerar o devedor. A remissão constitui um negócio jurídico bilateral, o que ressalta o seu caráter de forma de pagamento indireto, uma vez que deve ser aceita pelo sujeito passivo obrigacional.

Inadimplemento das obrigações

23. Diferencie o inadimplemento relativo do absoluto. E o que é violação positiva do contrato?

Inadimplemento relativo, também conhecido como “mora”, é a hipótese em

que há apenas um descumprimento parcial da obrigação, ou um cumprimento inexato, seja quanto ao tempo, ao lugar ou à forma de cumprimento. Por sua vez, o inadimplemento total ou absoluto se dá quando a obrigação não pode mais ser cumprida, tornando-se inútil para o credor. Percebe-se que o critério de diferenciação entre as duas figuras é a utilidade da prestação para o credor, o que se extrai do art. 395 do Código Civil.

Por sua vez, a violação positiva do contrato, para a maioria da doutrina e da jurisprudência brasileira, refere-se à quebra dos deveres anexos ou laterais de conduta no contrato, decorrentes da boa-fé objetiva. Esses deveres podem ser examinados durante o curso ou o desenvolvimento da relação jurídica, e, em certos casos, posteriormente ao adimplemento da obrigação principal. Entre os deveres ínsitos à boa-fé, temos: i) dever de esclarecimento; ii) dever de proteção; iii) dever de conservação; e iv) dever de cooperação. O Enunciado n. 24 do CJF conclui: “em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa”.

24. Aponte os principais efeitos, características e requisitos da mora do devedor.

A mora do devedor, também denominada mora solvendi, debitoris ou debendi, estará presente nas situações em que o devedor não cumpre, por culpa sua, a prestação referente à obrigação, de acordo com o que foi pactuado. Prevê o art. 396 do CC que não havendo fato ou omissão imputado ao devedor, não incorre este em mora. Assim, a doutrina tradicional sempre apontou que a culpa genérica (incluindo o dolo e a culpa estrita) é fator necessário para a sua caracterização. No entanto, como vem apontando parte da doutrina recentemente, a mora independerá de culpa em alguns casos, como o das obrigações de resultado e da responsabilidade objetiva.

O principal efeito da mora do devedor é a responsabilização do sujeito passivo da obrigação por todos os prejuízos causados ao credor, mais juros, atualização monetária – segundo índices oficiais – e honorários do advogado, no caso de propositura de uma ação específica (art. 395, caput, do CC). Em complemento, se em decorrência da mora a prestação tornar-se

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inútil ao credor, este poderá rejeitá-la, cabendo a resolução da obrigação com a correspondente reparação por perdas e danos. No último caso, a mora é convertida em inadimplemento absoluto (parágrafo único do art. 395 do CC)3.

Além disso, conforme o art. 399 do Código Civil, o devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso. Entretanto, tal responsabilidade é afastada se o devedor provar isenção total de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.

25. O que é a Teoria do Adimplemento Substancial? Ela se aplica à alienação fiduciária de veículos?

A Teoria do Adimplemento Substancial4 tem como fundamento os princípios da função social dos contratos e da boa-fé objetiva. Segundo essa teoria, em hipóteses em que a obrigação tiver sido quase toda cumprida, não caberá a extinção do contrato, mas apenas os outros efeitos jurídicos decorrentes da mora, visando sempre à manutenção da avença. A jurisprudência superior tem aplicado a teoria em casos de mora de pouca relevância em contratos de financiamento.

A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento de pacificação da matéria e com força vinculativa para outros Tribunais, afastou a possibilidade de aplicação do adimplemento substancial aos casos envolvendo a alienação fiduciária em garantia de bens móveis, diante das mudanças que foram feitas no Decreto-lei 911/1969, pela Lei 13.043/2014 (STJ, REsp 1.622.555/MG, 2.ª Seção, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. p/ Acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 22.02.2017, DJe 16.03.2017).

26. O que é mora do credor? Quais os seus efeitos?

A mora do credor, também denominada mora accipiendi, creditoris ou credendi, apesar de rara, se faz presente nas situações em que o credor se recusa a aceitar o adimplemento da obrigação no tempo, lugar e forma pactuados, sem ter justo motivo para tanto. Para a sua configuração basta o mero atraso ou inadimplemento relativo do credor, não se discutindo a culpa deste.

3 Em relação a este último comando, foi aprovado, na III Jornada de Direito Civil, o Enunciado n. 162, com o seguinte teor: “a inutilidade da prestação que autoriza a recusa da prestação por parte do credor deve ser aferida objetivamente, consoante o princípio da boa-fé e a manutenção do sinalagma, e não de acordo com o mero interesse subjetivo do credor”. 4 Como têm pontuado doutrina e jurisprudência italianas, a análise do adimplemento substancial passa por dois filtros. O primeiro deles é objetivo, a partir da medida econômica do descumprimento, dentro da relação jurídica existente entre os envolvidos. O segundo é subjetivo, sob o foco dos comportamentos das partes no processo contratual.

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Segundo o artigo 400 do Código Civil, a mora do credor gera três efeitos: i) afasta do devedor isento de dolo a responsabilidade pela conservação da coisa, não respondendo ele por conduta culposa (imprudência, negligência ou imperícia) que gerar a perda do objeto obrigacional; ii) obriga o credor a ressarcir o devedor pelas despesas empregadas na conservação da coisa; iii) sujeita o credor a receber a coisa pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o tempo do contrato e o do cumprimento da obrigação. Há de se lembrar ainda que a mora do credor autoriza a consignação em pagamento.

27. Quais os efeitos do inadimplemento absoluto? É necessária a demonstração de culpa ou dolo para a responsabilização do devedor pelo inadimplemento?

Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado (art. 393 do Código Civil). Complementando, o art. 391 do Código Civil esclarece que todos os bens do devedor respondem pelo inadimplemento. Sabemos, no entanto, que existem diversas exceções legais, como o caso do bem de família.

Nos termos do art. 392 do Código Civil, nos contratos onerosos, ambas as partes respondem por culpa. Nos contratos gratuitos (ou benéficos), o beneficiado responde por culpa e o beneficente apenas por dolo. Há ainda contratos em que a lei prevê a responsabilidade objetiva de uma das partes, dispensando a análise da culpa ou do dolo. É o caso dos contratos regulados pelo Código de Defesa do Consumidor e do contrato de transporte, por exemplo.

No entanto, deve-se destacar que a doutrina já há muito sustenta que há uma presunção de culpa no inadimplemento, cabendo ao DEVEDOR fazer prova em contrário. Há, portanto, uma inversão do ônus da prova em favor do credor que prova o inadimplemento.

28. Quanto ao termo a quo da incidência dos juros de mora, diferencie a mora ex re, a mora ex personae e a responsabilidade extracontratual.

A mora ex re é aquela na qual a inexecução da obrigação implica na mora do devedor de forma automática, sem a necessidade de qualquer providência por parte do credor. Ocorre quando a obrigação for líquida e com data fixada para o adimplemento. Nesse caso, segundo a melhor doutrina e o entendimento jurisprudencial predominante, os juros de mora correm desde o inadimplemento (art. 397 do Código Civil).

A Mora ex personae é aquela na qual não há prazo estipulado para a execução da obrigação assumida. Desse modo, a caracterização do atraso dependerá de uma providência do credor, por meio de interpelação, notificação ou protesto, judicial ou extrajudicial. Nesse caso, se o ato do credor for uma ação judicial, os juros de mora correrão a partir da citação (art. 405 do Código Civil).

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Na responsabilidade extracontratual, o devedor é considerado em mora desde que cometeu o ato ilícito, nos termos da Súmula 54 do STJ. Dessa forma, a data do evento danoso é o marco inicial da fluência dos juros de mora.

Cláusula Penal e Arras

29. Conceitue cláusula penal. Diferencie, no tocante aos efeitos, a cláusula penal moratória da cláusula penal compensatória.

A cláusula penal pode ser conceituada como a penalidade, de natureza civil, imposta pela inexecução parcial ou total de um dever patrimonial assumido. Essa cláusula é pactuada pelas partes para o caso de violação da obrigação e, por isso, é também conhecida como multa contratual ou pena convencional. Trata-se de obrigação acessória que busca incentivar o cumprimento da obrigação principal e fixar, antecipadamente, o valor das perdas e danos em caso de descumprimento.

A cláusula penal moratória, como determina o art. 411 do Código Civil, dá ao seu credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal. Assim, é possível cumular a cobrança da cláusula penal com o pedido de cumprimento da obrigação principal, ou a cobrança de indenização.

Por outro lado, a cláusula penal compensatória, nos termos do art. 410 do Código Civil, converte a obrigação original em alternativa, a benefício do credor. Assim, o credor poderá optar por executar a obrigação original ou a cláusula penal, sem que seja possível a cobrança de ambas.

Como já entendeu o Superior Tribunal de Justiça, “enquanto a cláusula penal compensatória funciona como prefixação das perdas e danos, a cláusula penal moratória, cominação contratual de uma multa para o caso de mora, serve apenas como punição pelo retardamento no cumprimento da obrigação.” (STJ, REsp 1.355.554/RJ).

30. Conceitue as arras ou sinal. Diferencie as arras confirmatórias das arras penitenciais.

Arras (ou sinal) é uma quantia em dinheiro (ou um bem) entregue por um contratante a outro a fim de confirmar a vontade resultante do contrato. Trata-se de um princípio de pagamento. Possuem natureza acessória e caráter real, uma vez que se aperfeiçoam com a tradição (entrega).

As arras confirmatórias estão presentes na hipótese em que no contrato não constar a possibilidade de arrependimento. Essa é a regra geral. Nesse caso, aplica-se o art. 418 do CC: “Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado”.

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Nessa hipótese, a parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima de indenização. Pode a parte inocente, ainda, exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras, mais uma vez, como taxa mínima dos prejuízos suportados (art. 419 do CC).

Por outro lado, as arras penitenciais estão previstas no art. 420, referindo-se ao sinal em contrato em que seja estipulado o direito de arrependimento. Aqui, as arras têm função exclusivamente indenizatória, não subsistindo direito a indenização complementar. Cabe ressaltar a ainda válida Súmula 412 do STF: “No compromisso de compra e venda com cláusula de arrependimento, a devolução do sinal, por quem o deu, ou a sua restituição em dobro, por quem o recebeu, exclui indenização maior a título de perdas e danos, salvo os juros moratórios e os encargos do processo.”

Transferência das obrigações

31. Conceitue a cessão de crédito. O que acontece com os acessórios da dívida cedida? A cessão de crédito é negócio consensual ou formal? O devedor não notificado nos termos do art. 290 do Código Civil está obrigado a pagar o débito? Quais os efeitos dessa ausência de notificação? Que exceções pessoais o devedor pode opor ao cessionário? A cessão de crédito é, em regra, pro soluto ou pro solvendo?

A cessão de crédito pode ser conceituada como um negócio jurídico bilateral ou sinalagmático, gratuito ou oneroso, pelo qual o credor, sujeito ativo de uma obrigação, transfere a outrem, no todo ou em parte, a sua posição na relação obrigacional.

Com a cessão são transferidos todos os elementos da obrigação, como os acessórios e as garantias da dívida, salvo disposição em contrário (art. 287 do Código Civil).

Em regra, a cessão tem eficácia inter partes, não se exigindo sequer forma escrita para que tenha validade entre os negociantes (art. 107 do Código Civil). É, portanto, negócio consensual. Porém, para ter eficácia perante terceiros, é necessária a celebração de um acordo escrito, por meio de instrumento público ou de instrumento particular, revestido das solenidades do § 1.º do art. 654 do Código Civil (requisitos do instrumento particular de mandato). Essa é a regra que consta do art. 288 do atual Código Civil. A forma é, portanto, requisito de eficácia perante terceiros, não de validade. Vale explicar que, conforme entendimento doutrinário consolidado no Enunciado n. 618 do CJF, o devedor não é considerado “terceiro” para fins do art. 288 do Código Civil, bastando a notificação prevista no art. 290 do Código Civil para que a cessão tenha eficácia perante ele.

Não, como já decidiu o STJ, a ausência de notificação da cessão de crédito ao devedor não o isenta de cumprir a obrigação. Em verdade, a citação é ato que faz as vezes da notificação, dando-lhe ciência sobre quem é o credor a quem deve pagar.

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“A ausência da notificação traz essencialmente duas consequências. Em primeiro lugar, dispensa o devedor que tenha prestado a obrigação diretamente ao cedente de pagá-la novamente ao cessionário. Em segundo lugar, permite que devedor oponha ao cessionário as exceções de caráter pessoal que teria em relação ao cedente, anteriores à transferência do crédito e também posteriores, até o momento da cobrança (inteligência do artigo 294 do CC/02)” (STJ, REsp 936.589/SP, 3.ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti, DJe 22.02.2011).

O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente (art. 294 do CC).

Na cessão, salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor, mas apenas pela existência do crédito (artigos 295 e 296 do Código Civil). Assim, a cessão é, em regra, pro soluto.

32. Conceitue a cessão de débito ou assunção de dívida. O que acontece com as garantias no caso de uma assunção de dívida? E o que acontece se a assunção de dívida for anulada?

A cessão de débito ou assunção de dívida é um negócio jurídico bilateral, pelo qual o devedor, com a anuência do credor e de forma expressa ou tácita, transfere a um terceiro a posição de sujeito passivo da relação obrigacional (art. 299 do Código Civil).

Nos termos do art. 300 do Código Civil, salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor5.

De acordo com o art. 301 do Código Civil, se anulada a assunção de dívida, restaura-se o débito com relação ao devedor primitivo, com todas as suas garantias, salvo aquelas prestadas por terceiros, exceto se o terceiro conhecia o vício da obrigação (art. 301 do Código Civil). Vejamos um exemplo para explicar tão complicada norma: A cede o débito a B, que é garantido por uma fiança prestada por C. O credor é D. A cessão é anulada por ação judicial, pela presença de dolo de A. Em regra, a dívida original é restabelecida, estando exonerado o fiador. Porém, se o fiador tiver conhecimento do vício, continuará responsável. O Código Civil, portanto, responsabiliza aquele que age de má-fé, em sintonia com a eticidade6.

5 Explicando o disposto no art. 300 do Código Civil, o Enunciado n. 352 do CJF diz: “Salvo expressa concordância dos terceiros, as garantias por eles prestadas se extinguem com a assunção de dívida; já as garantias prestadas pelo devedor primitivo somente são mantidas no caso em que este concorde com a assunção”. Completando a questão, o Enunciado n. 422 do CJF explica que: “a expressão ‘garantias especiais’ constantes do artigo 300 do CC/2002 refere-se a todas as garantias, quaisquer delas, reais ou fidejussórias, que tenham sido prestadas voluntária e originariamente pelo devedor primitivo ou por terceiro, vale dizer, aquelas que dependeram da vontade do garantidor, devedor ou terceiro, para se constituírem”. 6 O Enunciado n. 423 do CJF entende que o disposto no art. 301 do Código Civil deve também aplicar-se às assunções de dívida NULAS.

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Da responsabilidade civil

33. Quais são os requisitos estruturais da responsabilidade civil?

Apesar das diferentes posições doutrinárias, pode-se apontar como pressupostos da responsabilização civil: i) conduta humana; ii) culpa genérica ou lato sensu; iii) nexo de causalidade entre a conduta e o dano; iv) dano ou prejuízo. A conduta humana e a culpa genérica, unidas, formam o ato ilícito do art. 186 do Código Civil.

Merece menção a posição de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona, que defendem a culpa como elemento ACIDENTAL do dever de indenizar, já que não estará presente em muitas situações, quando a responsabilidade é objetiva. Esse entendimento, porém, ainda é minoritário, pois a maioria da doutrina ainda defende a responsabilidade civil subjetiva como modelo padrão de responsabilidade.

34. Qual a teoria adotada para a análise do nexo de causalidade no Direito Civil brasileiro?

No Brasil, a doutrina e a jurisprudência dividem-se na aplicação de duas teorias para explicar o nexo de causalidade no Direito Civil: a Teoria da Causalidade Adequada e a Teoria do Dano Direto e Imediato (ou Teoria da Interrupção do Nexo Causal).

Segundo a primeira teoria, se deve identificar, na presença de uma possível causa, aquela que, de forma potencial, gerou o evento dano. Por esta teoria, somente o fato relevante ao evento danoso gera a responsabilidade civil, devendo a indenização ser adequada aos fatos que a envolvem, mormente nas hipóteses de concorrência de causas.

Já a segunda teoria defende que, havendo violação do direito por parte do credor ou do terceiro, haverá interrupção do nexo causal com a consequente irresponsabilidade do suposto agente. Desse modo, somente devem ser reparados os danos que decorrem como efeitos necessários da conduta do agente.

Há uma sutil diferença entre elas, pois a Teoria da Causalidade Adequada dá mais espaço à concausalidade e à análise do grau de culpa dos envolvidos. Pela Teoria do Dano Direto Imediato, apenas a última conduta causadora do dano poderá gerar responsabilidade, de forma que ganham relevo as excludentes de responsabilidade.

A jurisprudência oscila entre as duas teorias, e por vezes mesmo as considera sinônimos. Para Flávio Tartuce, ambas encontram correspondência no Código Civil Brasileiro. A Teoria da Causalidade Adequada, para ele, está presente nos artigos 944 e 945 do Código Civil, enquanto a Teoria do Dano Direto e Imediato está presente no art. 403 do Código Civil.

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35. Diferencie o fortuito interno e o fortuito externo. Dê um exemplo abalizado pela jurisprudência do STJ de fortuito interno e um de fortuito externo.

O fortuito interno é o acontecimento imprevisível ou inevitável que guarda relação com a pessoa do devedor ou com a atividade por ele exercida. É, portanto, um fato que, apesar de não decorrer diretamente de uma ação do agente, enquadra-se no risco de seu empreendimento.

Por outro lado, o fortuito externo é aquele acontecimento alheio à atividade do agente, pelo qual este não deve ser responsabilizado, mesmo que com base na Teoria do Risco7.

Assim, no caso da responsabilidade subjetiva, basta o fortuito interno para afastar a responsabilidade. No caso da responsabilidade objetiva, com aplicação da Teoria do Risco, deve estar presente o fortuito externo, fato alheio à atividade desempenhada pelo agente e pelo qual não se pode responsabilizá-lo.

Exemplos de FORTUITO INTERNO: assalto ocorrido dentro de uma agência dos correios que oferece o serviço de banco postal; assaltos ocorridos em estabelecimentos bancários ou em seus estacionamentos; assaltos ocorridos em shoppings centers; furtos, roubos e latrocínios ocorridos em estacionamento rotativo; queda de parte do teto de um shopping center; fraudes e delitos praticados por terceiros (estelionatários, por exemplo) em instituições financeiras.

Exemplos de FORTUITO EXTERNO: o transportador rodoviário ou municipal não responde pelo assalto ao passageiro; o roubo no caso do serviço de entrega prestado pelos correios constitui um evento externo; o assalto ocorrido em via pública, na famosa “saidinha de banco”, configura fortuito externo em relação à atividade bancária; psicopata que metralha pessoas no cinema configura fortuito externo (STJ, REsp 1.164.889/SP); assalto em lanchonete fast food.

36. O que é o dano moral in re ipsa? Cite um exemplo jurisprudencialmente reconhecido.

O dano moral in re ipsa, objetivo ou presumido, é aquele dano que é intrínseco à própria conduta, dispensando, no caso concreto, prova de sua ocorrência.

Podem ser citados como casos de dano moral presumido: i) morte de pessoa da família; ii) lesão estética; iii) lesão a direito fundamental protegido pela Constituição; iv) uso indevido da imagem para fins lucrativos (Súmula 403 do STJ); v) inscrição indevida do consumidor nos órgãos de proteção ao crédito.

7 Enunciado n. 443 do CJF/STJ: “o caso fortuito e a força maior somente serão considerados como excludentes da responsabilidade civil quando o fato gerador do dano não for conexo à atividade desenvolvida”

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37. O que é o dano moral em ricochete?

Dano moral em ricochete, também chamado de dano moral indireto, é aquele que atinge a pessoa de forma reflexa, como nos casos de morte de uma pessoa da família (art. 948 do Código Civil) e lesão à personalidade do morto (art. 12, parágrafo único, do Código Civil). Em resumo, o dano atinge diretamente uma pessoa ou coisa, mas repercute na esfera pessoal de outra pessoa, causando danos.

38. A pessoa jurídica pode sofrer danos morais? Em que eles se diferenciam dos danos morais à pessoa física? A pessoa jurídica de direito público pode ser indenizada por danos morais?

Sim. Conforme interpretação do art. 52 do Código Civil e a literalidade da Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral, que é passível de reparação.

No entanto, o dano moral da pessoa jurídica só pode atingir sua HONRA OBJETIVA, ou seja, sua reputação perante a sociedade, uma vez que esse ente jurídico não pode passar por sofrimentos psicológicos. Além disso, a jurisprudência entende excepcional a configuração do dano moral presumido (in re ipsa) à pessoa jurídica. Em regra, o dano deve ser provado. Como exceção, no entanto, podemos citar os casos da inscrição indevida da pessoa jurídica em órgãos de proteção ao crédito e do protesto indevido.

Conforme tese publicada na Edição n. 125 do Jurisprudência em Teses, do Superior Tribunal de Justiça, “a pessoa jurídica de direito público não é titular de direito à indenização por dano moral relacionado à ofensa de sua honra ou imagem, porquanto, tratando-se de direito fundamental, seu titular imediato é o particular e o reconhecimento desse direito ao Estado acarreta a subversão da ordem natural dos direitos fundamentais”.

39. O que é o caráter punitivo ou pedagógico do dano moral? Como a jurisprudência trabalha o tema?

Tradicionalmente, a responsabilidade civil, aí incluída a indenização por danos morais, sempre foi entendida como meio de reparação de um dano. Assim, seu intuito sempre foi meramente reparatório ou compensatório. Nessa esteira, o art. 944 do Código Civil prevê que a indenização se mede pela extensão do dano.

No entanto, sob a influência do direito norte-americano, e principalmente diante do crescimento das demandas consumeristas, onde ficam constatadas reiteradas práticas abusivas por parte dos fornecedores, a jurisprudência brasileira passou a reconhecer também o caráter punitivo ou pedagógico do dano moral, como forma de coibir as práticas abusivas reiteradas.

Atualmente, predomina na jurisprudência brasileira o entendimento de que a indenização por danos morais possui caráter principal reparatório e caráter disciplinador acessório. Assim, segue essencial a ocorrência do dano

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passível de reparação, mas a indenização devida pode ser majorada a fim de atender a sua finalidade disciplinadora, desincentivando condutas semelhantes.

40. Segundo a jurisprudência dominante, quais são os parâmetros a serem levados em consideração na fixação da indenização por danos morais? Podem ser aplicados os artigos 944 e 945 do Código Civil à responsabilidade objetiva?

Nos termos da jurisprudência predominante do Superior Tribunal de Justiça, os seguintes critérios devem ser considerados: i) o nível cultural do causador do dano; ii) a condição socioeconômica do ofensor e do ofendido8; iii) intensidade do dolo ou grau da culpa do autor da ofensa; iv) efeitos do dano no psicológico do ofendido e as repercussões do fato na comunidade em que vive a vítima; v) o fim pedagógico da indenização por danos morais; vi) não se permitir que a condenação gere enriquecimentos injustificáveis da vítima.

Os artigos 944 e 945 do Código Civil pregam a redução equitativa da indenização, a depender do grau de culpa do ofensor e da culpa concorrente da vítima. Inicialmente, a doutrina rechaçava sua aplicação aos casos de responsabilidade objetiva, pois nestes a análise da culpa era prescindível9. No entanto, este entendimento vem sendo superado, tanto na doutrina10 quanto na jurisprudência, especialmente pela adoção da teoria do risco concorrente, segundo a qual os fatos imputáveis à vítima podem sim atenuar a responsabilidade civil decorrente da teoria do risco. Esse entendimento já prevaleceu em algumas situações no STJ, como na situação do agente que viaja pendurado do lado de fora de um vagão de trem, ou no caso de atropelamento de pedestre que atravessava de forma imprudente uma via férrea pouco sinalizada.

41. O que são os danos estéticos?

8 Enunciado 588 do CJF/STJ: “O patrimônio do ofendido não pode funcionar como parâmetro preponderante para o arbitramento de compensação por dano extrapatrimonial” 9 Enunciado 46 do CJF/STJ: “A possibilidade de redução do montante da indenização em face do grau de culpa do agente, estabelecida no parágrafo único do art. 944 do novo Código Civil, deve ser interpretada restritivamente, por representar uma exceção ao princípio da reparação integral do dano, não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva”. 10 Enunciado n380 do CJF/STJ: “atribui-se nova redação ao Enunciado n. 46 da I Jornada de Direito Civil, com a supressão da parte final: não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva”). Enunciado 459 do CJF/STJ: “a conduta da vítima pode ser fator atenuante do nexo de causalidade na responsabilidade civil objetiva” Enunciado 630 do CJF/STJ: “Culpas não se compensam. Para os efeitos do art. 945, do Código Civil, cabe observar os seguintes critérios: (i) há diminuição do ‘quantum’ da reparação do dano causado quando, ao lado da conduta do lesante, verifica-se ação ou omissão do próprio lesado da qual resulta o dano, ou o seu agravamento, desde que, (ii) reportadas ambas as condutas a um mesmo fato, ou ao mesmo fundamento de imputação, conquanto possam ser simultâneas ou sucessivas, devendo-se considerar o percentual causal do agir de cada um”.

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Como já entendeu o Superior Tribunal de Justiça, os danos estéticos estão presentes quando há uma “alteração morfológica de formação corporal que agride a visão, causando desagrado e repulsa”. Tais danos estão presentes, em regra, quando a pessoa sofre feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou profundos na pele, lesão ou perda de órgãos internos ou externos do corpo, aleijões, amputações, entre outras anomalias que atingem a própria dignidade humana. Esse dano, nos casos em questão, será também presumido (in re ipsa), como ocorre com o dano moral objetivo.

A Súmula 387 do STJ determina que “é lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”.

Segundo Enéas de Oliveira Matos, cinco critérios devem ser levados em consideração para fixar a extensão do dano estético: dano: 1) se há modificação do aspecto exterior da pessoa; 2) se há uma redução na eficiência psicofísica; 3) se há redução da capacidade social; 4) se há redução na capacidade laborativa; e 5) se há perda de oportunidade de trabalho ou diminuição na liberdade de escolha da profissão.

42. O que é o dano moral coletivo? E o que são danos sociais ou difusos? Qual a diferença entre essas duas espécies?

O seu conceito é controvertido, mas ele pode ser denominado como o dano que atinge, ao mesmo tempo, vários direitos da personalidade, de pessoas determinadas ou determináveis (danos morais somados ou acrescidos). Os danos morais coletivos atingem direitos individuais homogêneos e coletivos em sentido estrito, em que as vítimas são determinadas ou determináveis. Por isso, a indenização deve ser destinada para elas, as vítimas.

O Código de Defesa do Consumidor admite expressamente a reparação dos danos morais coletivos, mencionando-os no seu art. 6.º, VI. Na Edição n. 125 do Jurisprudência em Teses, publicada no ano de 2019, a tese de número 2 afirma: “o dano moral coletivo, aferível in re ipsa, é categoria autônoma de dano relacionado à violação injusta e intolerável de valores fundamentais da coletividade”.

Por sua vez, os danos sociais ou difusos são, nas palavras de Antônio Junqueira de Azevedo, “lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida”. Protegem interesses difusos, em que as vítimas são indeterminadas ou indetermináveis. A sua reparação também consta expressamente do art. 6º, VI, do Código de Defesa do Consumidor e vem ganhando cada vez mais força na jurisprudência nacional. Os Tribunais, ao reconhecer essa espécie de dano, têm destinado os recursos provenientes da indenização a fundos sociais de proteção dos direitos difusos lesados.

A jurisprudência, por vezes, tem confundido os danos morais coletivos e os danos sociais. Porém, as expressões não são sinônimas. No primeiro caso, temos lesão a direitos individuais homogêneos e coletivos em sentido estrito, onde as vítimas são determinadas ou determináveis. Por isso, a indenização se destina às vítimas. No segundo caso, temos a lesão a um interesse difuso,

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em que as vítimas são indeterminadas ou indetermináveis. Por isso a destinação dos recursos a um fundo de defesa de interesses dessa natureza ou a uma instituição de caridade.

43. O que é responsabilidade civil por defenestramento?

É a responsabilidade prevista no artigo 938 do Código Civil, que tem natureza objetiva: “aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido11.

44. Cite três casos de responsabilidade civil objetiva por atos de terceiro previstas no Código Civil.

A pergunta faz menção às hipóteses do art. 932 do Código Civil, a saber:

o os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

o o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;

o o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

o os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;

o os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

Vale ressaltar que, apesar de não ser necessária a demonstração de culpa por parte dos responsáveis, faz-se necessária a prova da culpa daqueles pelos quais se responsabilizam. Por isso, a doutrina chama a hipótese de responsabilidade objetiva indireta ou objetiva impura. Por exemplo, o empregador responde objetivamente, mas somente se seu empregado tiver agido com culpa.

Das preferências e privilégios creditorios

45. Qual a ordem estabelecida pelo Código Civil para o concurso de credores?

Nos termos do art. 961 do Código Civil, “o crédito real prefere ao pessoal de qualquer espécie; o crédito pessoal privilegiado, ao simples; e o privilégio especial, ao geral”.

11 Enunciado 557 do CFJ: "Nos termos do art. 938 do CC, se a coisa cair ou for lançada de condomínio edilício, não sendo possível identificar de qual unidade, responderá o condomínio, assegurado o direito de regresso."

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46. Qual a diferença entre o privilégio especial e o privilégio geral? Esses privilégios se aplicam na falência?

Nos termos do art. 963 do Código Civil, “o privilégio especial só compreende os bens sujeitos, por expressa disposição de lei, ao pagamento do crédito que ele favorece; e o geral, todos os bens não sujeitos a crédito real nem a privilégio especial”.

Nos termos do art. 83 da Lei n. 11.101/05, esses privilégios se aplicam sim na falência, sendo pagos após os créditos tributários e preferindo aos quirografários.

47. Cite duas situações previstas em lei de privilégio especial. E de privilégio geral.

Art. 964. Têm privilégio especial:

o I - sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e despesas judiciais feitas com a arrecadação e liquidação;

o II - sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento; o III - sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias

ou úteis; o IV - sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas, ou

quaisquer outras construções, o credor de materiais, dinheiro, ou serviços para a sua edificação, reconstrução, ou melhoramento;

o V - sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos e serviços à cultura, ou à colheita;

o VI - sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios rústicos ou urbanos, o credor de aluguéis, quanto às prestações do ano corrente e do anterior;

o VII - sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor dela, ou seus legítimos representantes, pelo crédito fundado contra aquele no contrato da edição;

o VIII - sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o seu trabalho, e precipuamente a quaisquer outros créditos, ainda que reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários.

o IX - sobre os produtos do abate, o credor por animais. (Incluído pela Lei nº 13.176, de 2015)

Art. 965. Goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os bens do devedor:

o I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do morto e o costume do lugar;

o II - o crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arrecadação e liquidação da massa;

o III - o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos do devedor falecido, se foram moderadas;

o IV - o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior à sua morte;

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o V - o crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor falecido e sua família, no trimestre anterior ao falecimento;

o VI - o crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano corrente e no anterior;

o VII - o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do devedor, nos seus derradeiros seis meses de vida;

o VIII - os demais créditos de privilégio geral.

Das obrigações extracontratuais

48. Quais são os pressupostos da ação que configura um enriquecimento sem causa?

São pressupostos da ação que visa afastar o enriquecimento sem causa, pela doutrina clássica:

o i) o enriquecimento do accipiens (de quem recebe); o ii) o empobrecimento do solvens (de quem paga); o iii) a relação de causalidade entre o enriquecimento e o

empobrecimento; o iv) a inexistência de causa jurídica prevista por convenção das partes

ou pela lei; o v) e a inexistência de ação específica para reparar o dano

(subsidiariedade da ação de enriquecimento sem causa)12. No entanto, a doutrina atual vem afastando o requisito do empobrecimento do solvens13. Como exemplo disso, temos o crescimento da doutrina e da jurisprudência que defendem a indenização decorrente do “lucro da intervenção”. Nos termos do Enunciado 620 do CJF/STJ: “a obrigação de restituir o lucro da intervenção, entendido como a vantagem patrimonial auferida a partir da exploração não autorizada de bem ou direito alheio, fundamenta-se na vedação do enriquecimento sem causa”. Essa tese também já foi reconhecida jurisprudencialmente (STJ, REsp 1.698.701/RJ, 3.ª Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 02.10.2018, DJe 08.10.2018).

12 Enunciado 36do CJF/STJ: “o art. 886 do novo CC não exclui o direito à restituição do que foi objeto de enriquecimento sem causa nos casos em que os meios alternativos conferidos ao lesado encontram obstáculos de fato”. 13 Enunciado 35 do CJF/STJ: Federal, “a expressão se enriquecer à custa de outrem do art. 884 do novo Código Civil não significa, necessariamente, que deverá haver empobrecimento”.