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DIREITO PROCESSUAL CIVIL ➔ Fontes do Direito Processual Civil. Fontes constitucionais do Processo Civil.

Princípios e Normas Fundamentais do Processo Civil. Teoria geral do processo. Das normas fundamentais e da aplicação das normas processuais. Das normas fundamentais do processo civil. Da aplicação das normas processuais. A Função Jurisdicional: jurisdição e ação. Competência: critérios de determinação, competência em razão do valor da causa, competência em razão da matéria; competência funcional, competência territorial, modificações de competência e foro de eleição.

➔ Sujeitos do Processo. Partes e Procuradores. Dos deveres das partes e de

seus procuradores. Pluralidade de partes: litisconsórcio, intervenção de terceiros, assistência, denunciação da lide, chamamento ao processo, incidente de desconsideração da personalidade jurídica e amicus curiae. Órgãos judiciários e auxiliares da Justiça.

Processo – Conceito/Características

• O que é o processo?

➔ Fredie Didier Junior ensina que o processo pode ser compreendido de três formas1:

a. Sob o enfoque da Teoria da Norma Jurídica, processo é o método de produção de normas jurídicas. O poder de criação de normas somente pode ser exercido processualmente, seja por meio do processo legislativo (produção de normas gerais pelo Poder Legislativo), do processo administrativo (produção de normas gerais e individualizadas pela Administração) e do processo jurisdicional (produção de normas pela jurisdição). Segundo esse autor, a jurisdição é exercida processualmente e o processo deve seguir o modelo traçado pela Constituição.

b. Sob a perspectiva da Teoria do Fato Jurídico, o processo é um ato jurídico complexo, que significa aquele cujo suporte fático é complexo e formado por vários atos jurídicos. Portanto, neste sentido, processo é sinônimo de procedimento. O procedimento é ato complexo de formação sucessiva, porquanto seja um conjunto de atos jurídicos, relacionados entre si, cujo objetivo comum, no caso do processo judicial, é a prestação jurisdicional. O processo seria espécie do gênero procedimento: o procedimento estruturado em contraditório.

1 Didier Jr., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 17. ed. – Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015, p. 30.

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c. Ainda de acordo com a Teoria do Fato Jurídico, o processo pode ser entendido como o conjunto de relações jurídica que se estabelecem entre os diversos sujeitos processuais. Essas relações jurídicas formam uma única relação jurídica, que também se chamaria processo, a qual é composta por um conjunto de situações jurídicas (direitos, deveres, competências, ônus etc.) de que são titulares todos os sujeitos do processo. Por isso se afirma que o processo é uma relação jurídica complexa ou um feixe de relações jurídicas.

• Qual o conceito de processo civil?

➔ Didier o conceitua como o conjunto de normas que disciplinam o processo jurisdicional civil – visto como ato jurídico complexo ou como feixe de relações jurídicas. Compõe-se das normas que determinam o modo como o processo deve estruturar-se e as situações jurídicas decorrentes dos fatos jurídicos processuais.

➔ Por sua vez, Marcus Vinícius Rios Gonçalves conceitua o processo civil como o ramo do direito que contém regras e princípios que tratam da jurisdição civil, isto é, da aplicação da lei aos casos concretos, para solução dos conflitos de interesse pelo Estado-juiz.2

• Qual o marco temporal apontado como o nascimento do processo civil como ciência jurídica autônoma?

➔ Embora o nascimento do processo como ciência seja fruto de extensa evolução, adota-se como marco do surgimento do processo como ciência o ano de 1868 (o que o torna um dos ramos autônomos mais recentes do direito), quando Oskar von Bülow publicou, na Alemanha, a sua Teoria dos pressupostos processuais e das exceções dilatórias. Nessa obra, fixou-se a premissa de que o processo não podia mais ser confundido com o simples exercício do direito privado e que a ação não era o direito material em movimento. Foi o momento em que o processo ganhou autonomia, em que se deu início à superação do pensamento imanentista, que não distinguia a ação e o direito material.

• Quais as etapas de evolução histórica do direito processual? Explique cada uma.

➔ Nas lições de Fredie Didier Jr., a evolução histórica do direito processual costuma ser dividida em quatro fases:

2 Direito processual civil / Pedro Lenza; Marcus Vinicius Rios Gonçalves. – Esquematizado - 11.

ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p.88.

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a. Praxismo ou sincretismo processual: não havia distinção entre o processo e o direito material. Aquele era estudado apenas em ser aspectos práticos, sem qualquer distinção científica.

b. Processualismo: demarcou-se a fronteira entre o direito processual e o direito material, com o desenvolvimento científico da categoria processual.

c. Instrumentalismo: não obstante se reconheçam as diferenças entre o direito material e o direito processual, é estabelecida entre eles uma relação circular de interdependência: o direito processual concretiza e efetiva o direito material, que confere ao primeiro o seu sentido.

d. Neoprocessualismo/neopositivismo/neoconstitucionalismo: trata-se da fase atual. Pode-se afirmar que as mais importantes características do pensamento jurídico processual atual são o reconhecimento da força normativa da Constituição; o desenvolvimento da teoria dos princípios, reconhecendo-lhes eficácia normativa; a transformação da hermenêutica jurídica, com reconhecimento do papel criativo e normativo da atividade jurisdicional (estipulação de norma jurídica ao caso concreto); e a expansão e consagração dos direitos fundamentais.

• O que significa o instrumentalismo processual?

➔ O processo civil deve ser estruturado tendo em vista a situação jurídica material para a qual serve de instrumento de tutela. A essa abordagem metodológica é que se dá o nome de instrumentalismo, cuja principal virtude é estabelecer a ponte entre o direito processual e o direito material.

• Qual a relação que se estabelece entre o direito processual e o direito material que ele tutela?

➔ A relação que se estabelece entre o direito material e o processual é circular, pois, na lição de Carnelutti, “o processo serve ao direito material, mas para que lhe sirva é necessário que seja servido por ele”. ➔ Em valiosa lição, Didier afirma que “a instrumentalidade do processo pauta-se na premissa de que o direito material coloca-se como o valor que deve presidir a criação, a interpretação e a aplicação das regras processuais”.

• Dentro da dicotomia direito público-privado, em qual deles se encaixa o processo civil?

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➔ Pode-se afirmar a predominância do direito público, em se tratando de processo civil. Contudo, especialmente por meio do CPC/15, o rigor das normas deu espaço ao autorregramento da vontade, materializado por meio dos negócios jurídicos processuais. Utilizando-se deles, as partes podem aplicar regras diferentes das dispostas no CPC/15 ao seu caso concreto.

• Qual a distinção entre Direito Constitucional Processual e Direito Processual Constitucional?

➔ “Direito Constitucional Processual” se refere ao conjunto de princípios e normas de natureza processual civil que se encontra na Constituição, tais como a garantia geral do acesso à justiça (art. 5º, XXXV), a da isonomia (art. 5º, caput e inc. I) e a do contraditório (art. 5º, LV). São diretrizes constitucionais que norteiam o processo civil como um todo, inclusive quando da elaboração do atual código. “Direito Processual Constitucional”, por sua vez, concerne o conjunto de normas que regulam a aplicação da jurisdição constitucional, ou seja, as que tratam do mandado de segurança, do habeas corpus, dos recursos extraordinário e especial e da ação direta de inconstitucionalidade, entre outras. ➔ Essa distinção entre “Direito Processual Constitucional” e “Direito Constitucional Processual” foi formulada por Nelson Nery Junior, em Princípios do processo civil na Constituição Federal. Contudo, essa dupla denominação não tem sido usada de modo uniforme pela doutrina, havendo quem que a utilize de forma inversa àquela usada pelo processualista mencionado. Essa divergência no uso das expressões não é relevante, basta, para a compreensão do tema, que se apreenda a existência, na Constituição Federal, de princípios ou normas que regem o processo civil infraconstitucional; e normas que regulamentam o processo, relacionado a institutos de jurisdição propriamente constitucional. Os primeiros se relacionam à influência da Constituição sobre o processo civil; os segundos, aos mecanismos processuais de efetivação dos institutos constitucionais3.

• Quantos códigos de processo já tivemos no Brasil?

➔ Com a Constituição Federal de 1934 a competência para legislar sobre processo passou a ser exclusiva da União, do que resultou a edição dos três Códigos de Processo Civil: o de 1939, o de 1973 e o atual, de 2015.

▪ Código de 1939. Vigorou de 1º de janeiro de 1940 a 31 de dezembro de 1973.

3 Direito processual civil / Pedro Lenza; Marcus Vinicius Rios Gonçalves. – Esquematizado - 11. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 1.514.

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▪ Código de 1973. Entrou em vigor em janeiro de 1974. Foi elaborado a partir

do projeto do Min. Alfredo Buzaid, representante da Escola Paulista do Processo Civil, que se desenvolveu a partir dos estudos realizados por Enrico Tullio Liebman e seus discípulos.

▪ Código de 2015. Em dezembro de 2014, o Congresso Nacional aprovou o Projeto de Lei n. 166/2010 (Projeto n. 8.046/2010 da Câmara dos Deputados), encaminhando-o à Presidente da República para sanção. Sancionado, o projeto converteu-se na Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015, com uma vacatio legis de um ano. Vencido o prazo, entrou em vigor um novo Código de Processo Civil, em substituição ao anterior, o CPC de 1973 (Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973). O projeto teve origem em anteprojeto elaborado por comissão de juristas de renome, presidida pelo Ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, e tendo por relatora a Professora Tereza Alvim Wambier.

• Quantos livros formam a parte geral do CPC? E a parte especial? Existe mais algum além deles?

➔ Nas lições de Marcos Vinicius Rios Gonçalves, o atual CPC se destaca pela busca de sistematização e organicidade, com a adoção inédita de uma Parte Geral e de uma Parte Especial. A primeira, dedicada à formulação de regras sobre as Normas Processuais Civis, está dividida em seis livros: o Livro I, que trata das Normas Fundamentais do Processo Civil; o Livro II, que trata da Função Jurisdicional; o Livro III, que trata dos sujeitos do Processo; o Livro IV, que trata dos atos processuais; o Livro V, que trata da Tutela Provisória; e o Livro VI, que trata da formação, suspensão e extinção do processo. São livros que contêm os princípios e as regras gerais, aplicáveis a todos os tipos de processo. ➔ A Parte Especial contém três Livros: o Livro I é dedicado ao Processo de Conhecimento (tanto de procedimento comum como de procedimento especial, tanto de jurisdição contenciosa como de jurisdição voluntária) e ao Cumprimento de Sentença; o Livro II trata do Processo de Execução; e o Livro III, dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais. ➔ Há um Livro Complementar, que trata das Disposições Finais e Transitórias.

Fontes do Direito Processual Civil. Fontes constitucionais do Processo Civil.

• Quais as fontes do direito processual civil?

➔ Humberto Theodoro Jr. classifica as fontes do direito processual civil em:

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1. Fontes imediatas: as fontes imediatas são a Constituição, os tratados internacionais e a lei infraconstitucional. Os costumes também são enumerados por ele como fonte imediata, em razão das lacunas legais, que forçam o aplicador da norma a se socorrer em costumes, doutrina e jurisprudência.

2. Fontes mediatas: doutrina e jurisprudência.

➔ Marcos Vinicius Rios, as divide em: 1. Fontes formais:

a. lei (fonte formal primária); b. analogia, costumes e princípios gerais do direito; c. súmulas com efeitos vinculantes; d. decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF em controle

concentrado de constitucionalidade (ADI e ADC – fontes acessórias ou indiretas);

e. demais hipóteses de precedentes vinculantes e enumeradas no art. 927 do CPC.

2. Fontes não formais: a. Doutrina; b. Precedentes jurisprudenciais não vinculantes.

• É possível ao Poder Executivo editar medidas provisórias sobre direito processual civil?

➔ A Constituição da República impõe restrição a essa edição no art. 62, § 1º, inciso I, alínea "b", dispondo que não é possível ao Poder Executivo editar medida provisória para certos assuntos, dentre eles Direito Processual Civil:

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) I – relativa a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) [...] b) direito penal, processual penal e processual civil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

• Indique uma fonte constitucional de norma processual.

➔ Art. 109, que trata da competência da Justiça Federal.

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Princípios e Normas Fundamentais do Processo Civil. Teoria geral do processo. Das normas fundamentais e da aplicação das normas processuais. Das normas fundamentais do processo civil. Da aplicação das normas processuais.

• Logo no início do CPC estão enumeradas as normas fundamentais do processo civil. Por qual motivo o CPC repetiu princípios previstos na CF?

➔ Essa repetição tem duas funções: o reforço de subordinação do CPC à CF e a finalidade didática, de lembrança e advertência aos valores constitucionalmente estabelecidos. Assim ensina Marcos Vinicius Rios:

“O art. 1º do CPC estabelece a subordinação do Processo Civil à Constituição Federal. Determina que o processo civil seja ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República, observando-se as disposições do Código. Esse dispositivo, colocado no limiar inicial do CPC, orienta aqueles que devem ordená-lo e interpretá-lo a, primeiro, conhecer os valores e as normas fundamentais da Constituição Federal, sem o que não se poderá aplicá-lo adequadamente. Deve haver subordinação não apenas aos princípios fundamentais, mas aos valores e às normas constitucionais. Depois de explicitar, nesse primeiro artigo, a submissão à Constituição, o legislador, como que para melhor se assegurar do que havia determinado, repete, nos seus dispositivos subsequentes, alguns dos princípios fundamentais do processo civil estabelecidos pela Constituição Federal, como o da demanda, da duração razoável do processo, da isonomia, do contraditório e da ampla defesa. A razão disso é dar mais organicidade à nova legislação, estampando já no início da parte geral os princípios fundamentais do processo, para explicitar a filiação da lei ao texto constitucional. A repetição dos dispositivos não deixa de ter certa finalidade didática, funcionando como lembrança e advertência de que, na aplicação e na interpretação do código, tais princípios devem ser observados”.

• O rol de normas fundamentais previsto no primeiro capítulo do CPC é taxativo ou exemplificativo?

➔ Esse primeiro capítulo do CPC tem doze artigos, os quais não exaurem as normas fundamentais processuais. Há normas que estão na CR/88 e não estão no CPC, mas são normas fundamentais processuais, tais como proibição de prova ilícita e devido processo legal. Há também normas fundamentais espalhadas ao longo do CPC.

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• Cite ao menos cinco princípios processuais expressamente previstos na Constituição.

➔ São princípios expressos na CF:

• Princípio do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV); • Princípio do acesso à Justiça (CF, art. 5º, XXXV);

• Princípio da garantia do juiz natural (CF, art. 5º, XXXVII e LIII);

• Princípio da ampla defesa e contraditório (CF, art. 5º, LV); • Princípio da razoável duração do processo (CF, art. 5º, inc. LXXVIII,

acrescentado pela EC 45/04);

• Princípio da publicidade dos atos processuais (CF, art. 5º, LX)

• Princípio da motivação das decisões judiciais (art. 93, IX).

• O princípio do duplo grau de jurisdição está previsto na CF?

➔ Uma leitura atenta do texto constitucional mostra que não há nenhum dispositivo que consagre, de maneira expressa, o duplo grau de jurisdição em todos os processos. A Constituição Federal, ao criar juízos e Tribunais, aos quais compete, entre outras coisas, julgar recursos contra decisões de primeiro grau, estabeleceu um sistema em que, normalmente, há o duplo grau, que serve para promover o controle dos atos judiciais quando houver inconformismo das partes, submetendo-os à apreciação de um órgão de superior instância, composto, em regra, por juízes mais experientes.

• Cite ao menos uma hipótese em que não há garantia do duplo grau de jurisdição.

• As causas de competência originária do Supremo Tribunal Federal;

• Os embargos infringentes, previstos na lei de execução fiscal, que cabem contra a sentença proferida nos embargos de valor pequeno, e que são julgados pelo mesmo juízo que prolatou a sentença;

• A hipótese do art. 1.013, § 3º, do CPC, em que, havendo apelação contra a sentença que julgou o processo extinto sem resolução de mérito, o tribunal, encontrando nos autos todos os elementos necessários à sua convicção, poderá promover o julgamento de mérito.

• Em que consiste o princípio do juiz natural?

➔ São três os requisitos para caracterização o juiz natural, conforme ensina Marcus Vinicius Gonçalves:

■ o julgamento deve ser proferido por alguém investido de jurisdição;

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■ o órgão julgador deve ser preexistente, vedada a criação de juízos ou tribunais de exceção, instituídos após o fato, com o intuito específico de julgá-lo; ■ a causa deve ser submetida a julgamento pelo juiz competente, de acordo com regras postas pela Constituição Federal e por lei.

• Existe o princípio do promotor natural? Ele é expresso?

➔ Prevalecia no Supremo Tribunal Federal entendimento contrário. Com efeito, no HC 90.277/DF, relacionado à chamada “operação anaconda” e que teve por relatora a Min. Ellen Gracie, ficou decidido que tal princípio não foi acolhido no ordenamento. Nesse acórdão, faz-se alusão a precedentes do próprio STF, no HC 67.759/RJ e no HC 84.468/DF. Em 2011, porém, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a adoção do princípio do Promotor Natural pelo nosso ordenamento jurídico: “O postulado do promotor natural, que se revela imanente ao sistema constitucional brasileiro, repele, a partir da vedação de designações casuísticas efetuadas pela chefia da instituição, a figura do acusador de exceção. Esse princípio consagra uma garantia de ordem pública, destinada tanto a proteger o membro do Ministério Público quanto a própria coletividade, a quem se reconhece o direito de ver atuando, em quaisquer causas, apenas o promotor cuja intervenção se justifique a partir de critérios abstratos e predeterminados, estabelecidos em lei. A matriz constitucional desse princípio assenta-se nas cláusulas da independência funcional e da inamovibilidade dos membros da instituição. O postulado do promotor natural limita, por isso mesmo, o poder do procurador-geral que, embora expressão visível da unidade institucional, não deve exercer a chefia do Ministério Público de modo hegemônico e incontrastável. Posição dos Min. Celso de Mello (relator), Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio e Carlos Velloso. Divergência, apenas, quanto a aplicabilidade imediata do princípio do promotor natural: necessidade da interpositio legislatoris para efeito de atuação do princípio (Min. Celso de Mello); incidência do postulado, independentemente de intermediação legislativa (Min. Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio e Carlos Velloso)” (HC 67.759, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 06/08/1992, Plenário, DJ de 1º/07/1993). No mesmo sentido: HC 103.038, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 11/10/2011, Segunda Turma, DJE de 27/10/2011; HC 102.147, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 16/12/2010, DJE de 03/02/2011. ➔ Promotor natural seria aquele com atribuições previamente conhecidas e fixadas para acompanhar determinado caso e indicadas em regras anteriormente estabelecidas. Não está expresso, mas decorre da análise do sistema como um todo.

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• Cite ao menos três princípios de processo civil que são unicamente infraconstitucionais.

a) Princípio da oralidade: resta muito pouco da ideia originária de Chiovenda

a respeito da oralidade, porque, mesmos os atos praticados oralmente, como os relacionados à ouvida de perito, partes e testemunhas em audiência, são imediatamente reduzidos à escrita. A pertinência da oralidade hoje reside no Juizado Especial Cível, em que efetivamente há uma maior quantidade de atos orais. Mas mesmo lá há necessidade de documentação do principal que acontece no processo. Assim, o que resta da oralidade é a necessidade de o julgador aproximar-se o quanto possível da instrução e das provas realizadas ao longo do processo.

b) Princípio da concentração: audiência de instrução é uma e contínua, devendo, preferencialmente, ser finalizada no mesmo dia – art. 365 do CPC.

c) Princípio da boa-fé: O CPC de 1973 já continha, não propriamente um princípio geral de boa-fé, mas a determinação, incluída entre os deveres de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo, de que procedessem com lealdade e boa-fé (art. 14, III, do CPC anterior). A novidade do CPC atual, portanto, é elevar a exigência da boa-fé à categoria principiológica, de norma fundamental do processo civil. Isso mostra a preocupação ainda maior do legislador com a observância da boa-fé, por parte de todos que participam do processo. A boa-fé a que se refere a lei é a objetiva, que deve ser verificada pelo comportamento daqueles que atuam no processo.

d) Princípio da cooperação: Vem expressamente consagrado no art. 6º do CPC: “Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”. Constitui desdobramento do princípio da boa-fé e da lealdade processual. Mas vai além, ao exigir, não propriamente que as partes concordem ou ajudem uma à outra – já que não se pode esquecer que há um litígio entre elas –, mas que colaborem para que o processo evolua adequadamente.

e) Princípio da persuasão racional ou livre convencimento: O sistema adotado no Brasil foi o da persuasão racional ou livre convencimento motivado. Cumpre ao juiz formar o seu convencimento livremente, examinando as provas produzidas. Mas essa convicção tem de estar embasada e fundamentada nos elementos que constam dos autos. Dispõe o art. 371 do CPC: “O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento”. É preciso que o juiz indique os motivos que formaram o seu convencimento e que eles resultem das provas colhidas, que o juiz poderá valorar livremente.

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• Explique o princípio da primazia da decisão de mérito.

➔ Do artigo 4º se extrai várias normas: Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.

“(...) a solução integral do mérito (...)”: as partes têm o direito à solução de mérito. Esse direito decorre de um princípio novo: princípio da primazia da decisão de mérito. Esse princípio tem como objetivo deixar claro que a solução de mérito prefere a que não é de mérito. Isso é muito claro ao longo de todo o CPC. Exemplo disso é o artigo 139, que cuida dos poderes do juiz: Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais; Ou seja, é dever do juiz determinar a correção dos vícios processuais, pois com isso prioriza a decisão de mérito. Evita que o processo seja extinto sem resolução do mérito.

• Em que consiste a teoria do isolamento dos atos processuais?

➔ Trata-se de instituto aplicável ao direito processual intertemporal. Quando a lei processual nova atinge um processo em andamento, nenhum efeito tem sobre os fatos ou atos ocorridos sob o império da lei revogada. Respeita-se, portanto, a eficácia dos atos processuais já realizados. A lei nova alcança o processo no estado em que se achava no momento de sua entrada em vigor, mas respeita os efeitos dos atos já praticados, que continuam regulados pela lei do tempo em que foram consumados. Em suma: as leis processuais são de efeito imediato perante os feitos pendentes, mas não são retroativas, pois só os atos posteriores à sua entrada em vigor é que se regularão por seus preceitos.

• Existe alguma exceção a essa regra do isolamento dos atos processuais?

➔Sim, as normas novas que modificam a competência – regra da perpetuatio jurisdictionis. Há dispositivo específico no CPC que trata delas e assim dispõe: Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.

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Ou seja, lei nova processual que altere a competência não será aplicada àquele processo em andamento.

• Existe alguma exceção a essa exceção?

➔ Sim, o próprio art. 43 enumera as exceções, em que a lei nova de competência irá alcançar os processos em curso: quando suprimir órgão judiciário ou alterar a competência absoluta.

Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.

Esse entendimento ficou consolidado na Súmula vinculante 22, após a EC 45/2004, que modificou a competência absoluta para as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho, propostas pelo empregado contra o empregador.

A Função Jurisdicional: jurisdição e ação.

• Conceitue jurisdição.

➔ Humberto Theodoro Júnior ensina que “Para desempenho da prestação estatal de justiça, estabeleceu-se a jurisdição, como uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça”.

• Diferencie processo, jurisdição e ação;

➔ Na lição de Humberto Theodoro Júnior, “O direito processual civil apoia-se em um tripé institucional formado pelas noções básicas de jurisdição, ação e processo: (i) a jurisdição é a função (poder-dever) desenvolvida pelo Estado, por meio dos órgãos do Poder Judiciário, para dar solução aos conflitos jurídicos; (ii) a ação é o direito subjetivo público reconhecido a todos de acesso à Justiça estatal para dela obter a tutela aos direitos subjetivos lesados ou ameaçados de lesão (CF, art.5º, XXXV); e (iii) o processo é o método a se observar para que a

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função jurisdicional seja desempenhada, in concreto, na composição dos conflitos levados a exame e na solução do Poder Judiciário”4.

• Quais as características da jurisdição?

➔ A jurisdição se apresenta como atividade estatal secundária, instrumental, declarativa ou executiva, desinteressada e provocada.

a) Secundária: o Estado realiza coativamente uma atividade que deveria ter sido primariamente exercida, de maneira pacífica e espontânea, pelos próprios sujeitos da relação jurídica submetida à decisão. Nisso consiste, em outros termos, o caráter substitutivo que se reconhece à jurisdição.

b) Instrumental: não tendo outro objetivo principal, senão o de dar atuação prática às regras do direito, nada mais é a jurisdição do que um instrumento de que o próprio direito dispõe para impor-se à obediência dos cidadãos.

c) Declarativa ou executiva: O órgão jurisdicional é, na verdade, convocado para remover a incerteza ou para reparar a transgressão, mediante um juízo que se preste a reafirmar e restabelecer o império do direito, quer declarando qual seja a regra do caso concreto, quer aplicando as ulteriores medidas de reparação ou de sanção previstas pelo direito.

d) Desinteressada: reforça a ideia de imparcialidade do Estado-juiz, convocado para resolver, de forma imparcial, o litígio entre as partes. O juiz mantém-se equidistante dos interessados e sua atividade é subordinada exclusivamente à lei, a cujo império se submete como penhor de imparcialidade na solução do conflito de interesses.

e) Provocada: o Estado é acionado pelas partes para resolução do conflito entre elas. Nesse sentido, nosso Código é expresso em determinar que “o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei” (art. 2º).37 Entre as raríssimas hipóteses de instauração de processo por iniciativa judicial, podem ser lembrados a decretação de falência (Lei 11.101/2005, art. 56, § 4º) e a arrecadação da herança jacente (NCPC, art. 738).

• Diferencie jurisdição voluntária de jurisdição contenciosa. Dê exemplos.

➔ Ensina o mestre Humberto Theodoro Júnior que jurisdição contenciosa é a jurisdição propriamente dita, isto é, aquela função que o Estado desempenha na pacificação ou composição dos litígios. Pressupõe controvérsia entre as partes (lide), a ser solucionada pelo juiz. Na ordem constitucional, a justiça foi

4 Curso de Direito Processual Civil – vol. I: teoria geral do direito processual civil, processo de

conhecimento, procedimento comum / Humberto Theodoro Júnior. – 60. ed. – [2. Reimpr.]. – Rio de Janeiro: Forense, 2019, p.126.

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expressamente concebida como a prestadora da função jurisdicional necessária para tutelar os direitos lesados ou ameaçados de lesão (CF, art. 5º, XXXV). Assim, na base do processo, por meio do qual atua a jurisdição, nos moldes constitucionais, está sempre “um conflito de interesses”, do qual decorre a pretensão deduzida em juízo, que, por sua vez revelará o litígio a ser composto pelo provimento jurisdicional. Mas ao Poder Judiciário são, também, atribuídas certas funções em que predomina o caráter administrativo e que são desempenhadas sem o pressuposto do litígio. Trata-se da chamada jurisdição voluntária, em que o juiz apenas realiza gestão pública em torno de interesses privados, como se dá nas nomeações de tutores, nas alienações de bens de incapazes, divórcio e separação consensuais etc. Aqui não há lide nem partes, mas apenas um negócio jurídico-processual envolvendo o juiz e os interessados.

• Enumere as hipóteses previstas no CPC de competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira.

➔ Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:

I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;

II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;

III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.

• Explique e diferencie interesse de pretensão.

➔ Explica Carnelutti que interesse é a “posição favorável para a satisfação de uma necessidade” assumida por uma das partes; e pretensão, a exigência de uma parte de subordinação de um interesse alheio a um interesse próprio. Exemplificando, o proprietário tem interesse na posse do bem que lhe pertence, pois é por meio dela que consegue satisfazer necessidades como a de abrigo ou de renda para sua sobrevivência. Também o inquilino tem interesse na posse do imóvel locado, pois com ela satisfaz, por meio de bem de terceiro, a necessidade de habitação. Vencido o contrato, portanto, o locador manifestará a pretensão de

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receber de volta o bem locado, isto é, procurará a posição mais favorável à usufruição da coisa – interesse próprio –, à custa da cessação do gozo que até então era do inquilino – interesse alheio. Tudo se comporá, sem lide, se o inquilino voluntariamente devolver a coisa ao senhorio. É que, de fato, terá prevalecido o interesse manifestado por uma das partes perante a outra. Mas, se não obstante a manifestação de vontade do locador, o locatário se recusar a restituir o bem reclamado, ter-se-á configurado o litígio ou a lide, porque os interesses conflitantes não se compuseram: à pretensão do primeiro opôs-se a resistência do segundo.

• Quais os requisitos exigidos pelo CPC para postular em juízo?

➔ Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.

• Qual a diferença entre jurisdição e competência?

➔ A jurisdição é um dos institutos fundamentais do processo civil e se caracteriza por ser uma, mas o exercício da jurisdição é distribuído entre numerosos órgãos judiciários. Cada um desses órgãos exerce jurisdição sobre determinados assuntos, ou sobre determinados territórios. Há órgãos judiciários que têm jurisdição sobre todo o território nacional, como o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça. Há outros que exercem a sua jurisdição dentro de certos limites. A competência é, conforme definição clássica, a medida da jurisdição. Ela quantificará a parcela de exercício de jurisdição atribuída a determinado órgão, em relação às pessoas, à matéria ou ao território.

• Acerca da jurisdição internacional, a propositura de ação perante tribunal estrangeiro induz litispendência em relação à mesma causa proposta perante a autoridade brasileira?

➔ Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.

Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil.

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Competência: critérios de determinação, competência em razão do valor da causa, competência em razão da matéria; competência funcional, competência territorial, modificações de competência e foro de eleição.

• Quais os critérios de determinação da competência? Explique cada um deles.

Giuseppe Chiovenda, ao formular os critérios que deveriam ser utilizados pelo legislador para apuração de competência, agrupou-os dessa forma: 1º Critério objetivo; 2º Critério funcional; 3º Critério territorial. Extrai-se o critério objetivo ou do valor da causa (competência por valor) ou da natureza da causa (competência por matéria). O critério funcional extrai-se da natureza especial e das exigências especiais das funções que se chama o magistrado a exercer num processo. O critério territorial relaciona-se com a circunscrição territorial designada à atividade de cada órgão jurisdicional O critério objetivo é adotado quando a competência for determinada pelo valor atribuído à causa, ou ela matéria que será discutida no processo. O Código de Processo Civil não contém regras de competência fundadas no critério objetivo. Com efeito, não há nenhum exemplo, no CPC, em que a competência de foro seja fixada com base na matéria ou no valor da causa. Apenas as Leis de Organização Judiciária se valem do critério objetivo para, dentro das Comarcas, indicar qual o juízo competente. O critério funcional abrange a competência hierárquica, que identifica a competência dos tribunais, seja para o julgamento dos recursos, seja para o julgamento de causas de sua competência originária; e os casos em que a demanda deve ser distribuída a determinado juízo, em razão de manter ligação com outro processo, anteriormente distribuí do a esse mesmo juízo. Competência territorial é utilizada pelo CPC, para a indicação do foro; e pelas Leis de Organização Judiciária, para a indicação do juízo competente. Leva em conta a localização territorial, seja do domicílio dos litigantes, seja da situação do imóvel que é disputado por eles.

• Em que momento a competência é determinada?

➔ Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.

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• Conceitue e diferencie competência absoluta de competência relativa.

➔ A competência absoluta trata de normas de ordem pública; e a competência relativa dispõe de regras instituídas tão somente no interesse das partes. Somente as de competência relativa estão sujeitas à modificação pelas partes. As de competência absoluta não podem ser modificadas. Somente a incompetência absoluta pode ser reconhecida pelo juiz de ofício. Conquanto o art. 337, II, do CPC determine que deva ser alegada pelo réu como preliminar em contestação, nada impede que o seja por qualquer das partes, a qualquer tempo, já que não sujeita a preclusão. Reconhecida a incompetência absoluta, o juiz deve remeter os autos ao juízo competente, mas, salvo decisão judicial em contrário, serão conservados os efeitos da decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente (art. 64, § 4º, do CPC). Mesmo que a sentença transite em julgado, a incompetência absoluta ensejará o ajuizamento de ação rescisória. A relativa não pode ser reconhecida de ofício (Súmula 33 do STJ), ressalvada a hipótese do art. 63, § 3º, do CPC. A incompetência relativa também deve ser arguida como preliminar em contestação (art. 337, II), mas sob pena de preclusão. Ou o réu alega (o CPC ainda reconhece ao Ministério Público, nas causas em que atuar, a possibilidade de arguir a incompetência relativa, conforme art. 65, parágrafo único) e o juiz a reconhece, determinando a remessa dos autos para o juízo competente, ou não, e a matéria preclui. A incompetência relativa jamais gerará nulidade da sentença, nem ação rescisória, já que, não invocada no momento oportuno, haverá a prorrogação de competência.

• Qual o foro para as ações imobiliárias? Qual é essa espécie de competência? Há exceção?

➔ Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. ➔ A competência do foro de situação da coisa para as ações reais imobiliárias é absoluta. Mas a competência será relativa, e o autor poderá optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição, se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova. A regra, portanto, é que a competência nas ações reais imobiliárias é do foro de situação da coisa e é absoluta, uma vez que a imensa maioria das ações reais versa sobre aqueles temas, indicados no art. 47, § 1º. Se porventura a ação não versar sobre esses temas, admitir-se-ão a eleição e a propositura no domicílio do réu. Se versar – o que ocorre em quase todas as ações reais –, a competência será absoluta, sendo inadmissível a eleição.

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Sujeitos do Processo. Partes e Procuradores. Dos deveres das partes e de seus procuradores. Pluralidade de partes: litisconsórcio, intervenção de terceiros, assistência, denunciação da lide, chamamento ao processo, incidente de desconsideração da personalidade jurídica e amicus curiae. Órgãos judiciários e auxiliares da Justiça.

• Quais as formas de intervenção de terceiros previstas no CPC?

➔ O art. 119 e seguintes tratam das modalidades de intervenção de terceiros. São elas: a assistência, a denunciação da lide, o chamamento ao processo, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e do amicus curiae.

• O que é a denunciação da lide?

➔ Nos ensinamentos de Marcus Vinicius Rios, são três as características fundamentais da denunciação da lide:]

a) É forma de intervenção de terceiros, que pode ser provocada tanto pelo autor quanto pelo réu, diversamente do chamamento ao processo, que só pode ser requerido pelo réu. b) Tem natureza jurídica de ação, mas não implica a formação de um processo autônomo. Haverá um processo único para a ação e a denunciação. Esta amplia o objeto do processo. O juiz, na sentença, terá de decidir não apenas a lide principal, mas a secundária. Por exemplo: em ação de acidente de trânsito, em que há denunciação à seguradora, o juiz decidirá sobre a responsabilidade pelo acidente, e a da seguradora em reembolsar o segurado. c) Todas as hipóteses de denunciação são associadas ao direito de regresso. Ela permite que o titular desse direito já o exerça nos mesmos autos em que tem a possibilidade de ser condenado, o que favorece a economia processual.

• A denunciação da lide é obrigatória?

➔ NÃO. O atual Código suprimiu a obrigatoriedade da denunciação da lide. A redação do caput do art. 125, que regula a matéria, assevera que e admissível a denunciação da lide (e não obrigatória, como dispunha o art. 70 do CPC/1973). O § 1° do art. 125 do CPC15 foi ainda mais claro, ao dispor que "o direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida''. Enunciado 120 FPPC: A ausência de denunciação da lide gera apenas a preclusão do direito de a parte promovê-la, sendo possível ação autônoma de regresso.

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• O que é o chamamento ao processo?

➔ O chamamento ao processo é modalidade de intervenção de terceiro provocada pelo réu, acarretando ampliação subjetiva do processo. Sua consequência é a formação de um litisconsórcio ulterior, pois o réu traz ao processo outro legitimado para junto com ele responder a demanda ajuizada. O momento para ser arguido é na contestação, sob pena de preclusão temporal. Sendo indeferido o chamamento, será cabível agravo de instrumento (art. 1.015, inciso IX).

• Quais as hipóteses de chamamento ao processo?

➔ NCPC, Art. 130. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu:

I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu; II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles; III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum.

• Quem pode suscitar o incidente de desconsideração da personalidade jurídica?

➔ Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo. ATENÇÃO! Juiz não pode, de ofício, instaurar o incidente de desconsideração da pessoa jurídica.

• É cabível incidente de desconsideração da personalidade jurídica em processo falimentar?

➔ SIM. Vide o recente enunciado 101 da III Jornada de Direito Comercial, aprovado em 07/06/2019: ENUNCIADO 101 – O incidente de desconsideração da personalidade jurídica deve ser observado no processo falimentar, sem a suspensão do processo.

• O juiz pode se autodeclarar suspeito por motivos de foro íntimo?

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➔ SIM. Dispõe o art. 145, §1º que poderá o JUIZ DECLARAR-SE SUSPEITO POR MOTIVO DE FORO ÍNTIMO, sem necessidade de declarar suas razões. O STJ já decidiu, inclusive, que a autodeclaração de suspeição realizada por magistrado em virtude de motivo superveniente não importa nulidade dos atos processuais praticados em momento anterior ao fato ensejador da suspeição. Isso porque, essa declaração não gera efeitos retroativos. Info 587 – STJ: A declaração pelo magistrado ("autodeclaração") de suspeição por motivo superveniente não tem efeitos retroativos, não importando em nulidade dos atos processuais praticados em momento anterior ao fato ensejador da suspeição.

• Em quais hipóteses o juiz responderá civil e regressivamente por perdas e danos?

➔ Art. 143. O juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos quando:

I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude;

II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício ou a requerimento da parte.

Parágrafo único. As hipóteses previstas no inciso II somente serão verificadas depois que a parte requerer ao juiz que determine a providência e o requerimento não for apreciado no prazo de 10 (dez) dias.

• Cite ao menos duas hipóteses de impedimentos do juiz.

➔ As hipóteses estão previstas no art. 144 do CPC.

• Cite ao menos duas hipóteses de suspeição do juiz.

➔ As hipóteses estão previstas no art. 145 do CPC.

• Quais as diferenças entre o mediador e o conciliador?

➔ Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e

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mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição.

§ 1º A composição e a organização dos centros serão definidas pelo respectivo tribunal, observadas as normas do Conselho Nacional de Justiça.

§ 2º O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem.

§ 3º O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.

• O MP intervirá como fiscal da ordem jurídica em quais hipóteses?

➔ Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam:

I - interesse público ou social;

II - interesse de incapaz;

III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana.

Parágrafo único. A participação da Fazenda Pública não configura, por si só, hipótese de intervenção do Ministério Público.

• Como é feita a contagem de prazo para o Ministério Público?

➔ Art. 180. O Ministério Público gozará de prazo em dobro para manifestar-se nos autos, que terá início a partir de sua intimação pessoal, nos termos do art. 183, § 1º .

§ 1º Findo o prazo para manifestação do Ministério Público sem o oferecimento de parecer, o juiz requisitará os autos e dará andamento ao processo.

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§ 2º Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o Ministério Público.

• O membro do MP será responsabilizado por sua atuação no processo em quais casos?

➔ Art. 181. O membro do Ministério Público será civil e regressivamente responsável quando agir com dolo ou fraude no exercício de suas funções.

REFERÊNCIAS

Bueno, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil: inteiramente à luz do novo CPC, de acordo com a Lei n. 13.256, de 4-2-2016 / Cassio Scarpinella Bueno. 2 ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo, 2016. Didier Jr., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 19. ed. – Salvador: Ed. Jus Podivm, 2017. Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil / Pedro Lenza; Marcus Vinicius Rios Gonçalves. – Esquematizado - 11. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020. Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Teoria geral / Marcus Vinicius Rios Gonçalves. - Curso de direito processual civil vol. 1 – 17. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020. Neves, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil – Volume único / Daniel Amorim Assumpção Neves – 8. ed. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2016. Theodoro Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – vol. I: teoria geral do direito processual civil, processo de conhecimento, procedimento comum / Humberto Theodoro Júnior. – 60. ed. – [2. Reimpr.]. – Rio de Janeiro: Forense, 2019.