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bnm,l.
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11.1. INTRODUÇÃO
O direito coletivo do trabalho abrange a organização sindical, tema estudado na aula anterior,
a negociação coletiva, a representação dos trabalhadores e a greve. Diferencia-se do direito
individual do trabalho porque este, basicamente, trata do contrato de trabalho. No direito
coletivo do trabalho, discutem-se as normas coletivas que serão aplicáveis aos contratos de
trabalho. Portanto, a finalidade precípua do direito coletivo do trabalho, ao englobar a
negociação coletiva, a representação dos trabalhadores e o tema da greve, é melhorar as
condições de trabalho dos empregados.
Por outro lado, a Constituição Federal, ao garantir papel importante aos sindicatos na
negociação coletiva com os agentes econômicos empregadores, proporcionou instrumentos
de flexibilização do direito do trabalho, como estudado na aula 9.
Dessa forma, a abordagem do direito coletivo do trabalho ganha relevância, a partir do
momento em que constitui uma importante ferramenta de integração entre capital e trabalho,
para a composição de interesses mútuos.
Por fim, o tema estudado na presente aula, ao englobar a negociação coletiva, os acordos e
convenções coletivas de trabalho, pode ser denominado de autocomposição na solução de
litígios existentes entre as partes. Neste caso de composição de litígios, os conflitos
trabalhistas são dirimidos pelas próprias partes, ou seus representantes. As partes chegam à
solução de controvérsias sem a intervenção de um terceiro (Estado – por meio do Poder
Judiciário, árbitro ou mediador). Quando há a intervenção de terceiros, a solução de litígios é
denominada de heterocomposição.
A autocomposição é considerada a melhor forma de solução de litígios, porque ninguém
melhor do que as próprias partes para solucionar suas reivindicações, uma vez que conhecem
na realidade seus próprios problemas.
A autocomposição pode ser classificada de unilateral (quando uma das partes renuncia à sua
pretensão em favor da outra) ou bilateral (quando ambas as partes fazem concessões
recíprocas). A autocomposição bilateral é a forma comum de solução de conflitos no direito
coletivo do trabalho.
11.2. NEGOCIAÇÃO COLECTIVA
O conceito de negociação coletiva surge com a Convenção 154 da OIT. A expressão já
esclarece por si só o conceito. Por negociação coletiva entende-se todo e qualquer processo
de negociação entre, de um lado, (a) um empregador, (b) um grupo de empregadores, (c) uma
organização de empregadores, ou (d) várias organizações de empregadores, e, de outro, uma
organização de trabalhadores.
A negociação coletiva visa fixar condições de trabalho e regular as relações entre capital e
trabalho, por meio de um ajuste de interesses, ajuste este que se dá conciliando posições
diferentes e encontrando um resultado, uma solução comum.
Devido ao fato de as partes buscarem a composição por meios próprios, é desnecessário dizer
que a negociação coletiva encontra espaço em mercados desregulamentados. Os sistemas
políticos nos quais os Estados são centralizadores não permitem a autonomia da vontade das
partes.
Conforme se verá adiante, a negociação coletiva não se confunde com o acordo ou convenção
coletiva. Pode-se dizer que a negociação coletiva é o meio para se atingir o resultado,
resultado este que se traduz na criação de normas jurídicas constantes dos acordos e
convenções coletivas de trabalho. Ou seja, em outras palavras, os acordos e convenções
coletivas constituem o resultado do procedimento de negociação entre capital e trabalho.
Sob o ponto de vista jurídico, como ocorre em toda forma de negociação, há pressupostos
para que haja a negociação coletiva no direito do trabalho. Sérgio Pinto Martins informa que
são condições da negociação coletiva (a) a segurança para que os negociadores possam
livremente expor seus interesses, (b) a disciplina (para se alcançar um resultado) e o respeito,
e (c) a lealdade e boa-fé. Informa, ainda, que, a partir do momento em que vantagens e
obrigações são criadas, a boa-fé é um dever, uma autêntica obrigação jurídica.
No Brasil, a negociação coletiva ganhou status obrigatório por meio da norma contida no
artigo 616 da CLT. Tal norma estipula que os sindicatos das categorias econômicas (ente
sindical representante dos empregadores) ou profissionais (ente sindical representante dos
empregados) e as empresas (empregadores individual ou coletivamente considerados, ainda
que sem representação sindical), quando provocados pela outra parte, não podem recusar-se à
negociação coletiva.
Apesar de obrigatória a negociação coletiva, não há a obrigatoriedade de se concluí-la. A
negociação pode se frustrar e gerar um dissídio coletivo, tema este que será abordado em
outro capítulo.
De uma forma geral, pode-se afirmar que a negociação coletiva é uma forma de
desenvolvimento do poder normativo dos grupos sociais, porque direitos e obrigações são
criados, com fundamento no pluralismo, porque encontra alicerces em um sistema que não
reduz a formação do direito positivo à elaboração do Estado.
11.2.1. Procedimentos da negociação coletiva
Por meio de diversos atos são fixadas as regras da negociação coletiva, para que seja possível
chegar a um entendimento entre as partes. Esses atos, previstos na CLT, são os seguintes:
– Assembléia realizada pelo sindicato de trabalhadores para autorizar a diretoria a iniciar as
negociações com o empregador, empregadores ou sindicato dos empregadores (art. 612);
– Mesas de negociações sobre a pauta de reivindicações (artigo 616), ocasião na qual
representante de ambos os lados analisam as condições propostas;
– Mediação do Delegado Regional do Trabalho, caso as partes não conseguirem sucesso nas
negociações realizadas diretamente entre si. Este ato é denominado como mesa-redonda na
DRT (art. 616, § 1º);
– Havendo o ajuste de vontades, passa-se à redação das cláusulas normativas através dos
respectivos advogados (art. 613);
– Aprovação do acordo ou convenção coletiva pelas assembléias dos dois sujeitos da relação;
– Depósito do acordo ou convenção coletiva na Delegacia Regional do Trabalho (DRT), no
prazo de 08 dias da sua assinatura (art. 614, § 1º);
– Publicidade da convenção ou acordo coletivo com afixação, de modo visível, nas sedes dos
sindicatos ou empresas, dentro de 05 dias da data do depósito;
– Início de vigência da convenção ou acordo coletivo será após 3 dias do depósito na DRT.
Conclui-se, pela leitura das etapas acima, que a negociação coletiva resulta na criação do
acordo ou convenção coletiva de trabalho.
11.2.2. Representação sindical
É importante notar, no que tange à categoria profissional (empregados), que os sindicatos
detêm a exclusividade, o monopólio da negociação coletiva. As entidades superiores
(Federação e Confederação) só poderão negociar assinando em conjunto com os sindicatos.
As entidades superiores só têm legitimidade para negociar caso inexista sindicato organizado
na respectiva categoria. O modelo da organização sindical é descentralizado.
Além disso, não pode o sindicato negociar fora da sua base territorial e, para cada base
territorial, deve haver apenas um sindicato representativo da categoria profissional ou
econômica (unicidade sindical).
A unicidade sindical, no que tange à representação da categoria profissional (empregados), é
tema relevante e controverso nos dias de hoje. Antes da Constituição Federal de 1988, os
sindicatos eram fortemente regulados pelo Estado e a unicidade sindical, pela regulação então
existente, não gerava problemas: para cada base territorial e categoria profissional definidas,
apenas um sindicato.
A Constituição Federal de 1988, ao mesmo tempo em retirou do Estado o poder de intervir na
organização dos sindicatos (Art. 8º, I, da CF), manteve a unicidade sindical (Art. 8º, II, da
CF), embora por argumento diverso.
A unicidade sindical existente antes da Constituição Federal de 1988 baseava-se num regime
corporativo importado do Estado de Mussolini, remontava à era Vargas, sob o pressuposto de
que, existindo apenas um sindicato, mais fácil seria o controle pelo Estado.
Para justificar a manutenção da unicidade sindical nos dias de hoje, argumentou-se que, caso
houvesse mais de um sindicato, para a mesma categoria profissional (empregados), atuando
sobre a mesma área geográfica, o poder de barganha dos sindicatos diminuiria muito perante
os representantes do capital – o que, de certa forma, faz sentido. Em eventual negociação
coletiva, não há dúvida de que os agentes econômicos empregadores negociariam com o
sindicato que melhor atendesse às suas reivindicações.
O dilema sobre unicidade sindical, nos dias de hoje, pode ser resumido da seguinte forma:
a) o Ministério do Trabalho, por meio da Portaria GM/Mtb 3301/88, entendeu que não era
competente para registrar os sindicatos;
b) os sindicatos, por sua vez, constituem-se por meio de registro no cartório de títulos e
documentos e ganham personalidade jurídica;
c) inúmeros sindicatos foram criados, pois não há óbice para registro no cartório de títulos de
sindicatos teoricamente afins, ou seja, aqueles em cujo objeto social consta promover a
defesa de determinada categoria profissional; e
d) embora o Supremo Tribunal Federal tenha decidido que os atos constitutivos do sindicato
têm que ser registrados no Ministério do Trabalho, assim como disposto na Instrução
Normativa SRF 251/02, este, na prática, não mais possui órgão ou departamento para
organizar uma devida unicidade sindical.
E havendo mais de um sindicato alegando possuir a representação da categoria profissional
dos empregados de determinada empresa, na mesma base territorial, com quem esta negocia?
Seria com o primeiro sindicato criado? Ou seria com o sindicato cujo objeto social mais se
aproxima da categoria profissional de seus empregados? Ou, de outra forma, outro que
apresente um registro no Ministério do Trabalho?
Não é de se admirar o nome muito extenso de diversos sindicatos, na tentativa de abranger o
maior número de categorias profissionais. Teria isso relação com a contribuição sindical
obrigatória, descontada do salário dos empregados e repassada ao sindicato?
Resultado prático: há inúmeras ações entre sindicatos e, não raro, dois sindicatos chamam a
mesma empresa para negociação e a notificam para o repasse da contribuição sindical
obrigatória. Os empregadores, por sua vez, utilizam ação de consignação em pagamento,
fundamentada em dúvida de credor, para que a justiça decida qual sindicato representa seus
empregados, de forma a evitar ter que pagar a contribuição sindical, porque o desconto no
salário do empregado só pode ocorrer uma vez.
Todavia, as ações propostas na justiça, até que sejam decididas, podem servir para adiar as
respostas para as perguntas acima, ou seja, com quem se daria a negociação coletiva com dois
sindicatos que se dizem representantes da categoria profissional dos empregados na mesma
base territorial.
Todavia, não evita questões internas dentro do ambiente empresarial, como a decorrente de
reclamações dos empregados sobre reajuste de salários e piso salarial. Como a empresa deve
proceder perante às reclamações internas de seus empregados, até que a justiça decida qual o
sindicato representativo da categoria profissional da empresa?
11.2.3. Enquadramento sindical
O principal tema sobre o enquadramento sindical diz respeito e guarda correspondência com
a representatividade da categoria profissional dos empregados, isto é, em qual sindicato os
empregados de determinada empresa se enquadram.
Conforme se der o enquadramento sindical dos empregados de determinada empresa, a
negociação coletiva dar-se-á com o sindicato respectivo.
O enquadramento sindical dos empregados, de uma forma geral, é feito com base na
atividade preponderante da empresa. Isto quer dizer que um auxiliar administrativo de uma
empresa metalúrgica é metalúrgico (Art. 511, § 2º, da CLT).
A exceção diz respeito à categoria profissional diferenciada, entendida como aquela que se
forma dos empregados que exerçam profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto
profissional especial ou em conseqüência de condições de vida singulares (Art. 511, § 3º, da
CLT). Isto quer dizer que um advogado de uma empresa metalúrgica é advogado.
Questão polêmica refere-se à possibilidade de atividades ou profissões se desdobrarem, de
forma a dissociar-se do sindicato original, surgindo, assim, um sindicato mais específico. As
intensas mudanças dos agentes no desenvolvimento da atividade econômica podem refletir a
formação de nova categoria profissional de empregados. Isto se torna mais verdadeiro a cada
dia que passa. Méritos à parte, a CLT, em parte, previu o fato econômico desde a sua criação
em 1943 (Art. 571 da CLT).
Exemplo de desdobramento do enquadramento sindical, ou dissociação do sindicato original:
determinada companhia aérea detêm a empresa que produz e embala as refeições servidas no
avião. Os empregados dessa empresa de refeições são aeroviários. A companhia aérea se
desfaz da empresa que produz refeições, vendendo-a para um grupo de empresários. Os
novos donos decidem negociar com o sindicato dos empregados no setor de refeições
coletivas. Os empregados dessa empresa de refeições deixam de ser aeroviários. Logo, não há
direito adquirido ao enquadramento sindical.
É natural, senão desejável, que novas categorias profissionais sejam formadas, na esteira do
desenvolvimento de novas atividades econômicas.
11.3. ACORDRDOS E CONVEVENÇÕEÇÕEÇÕES
COLETIVALETIVALETIVALETIVALETIVALETIVAS DEDE
TRABALHTRABALHTRABALHTRABALHTRABALHTRABALHTRABALHO
11.3.1. Acordos coletivos de trabalho
O Acordo Coletivo de Trabalho (“ACT”) é resultado da negociação coletiva e um ato jurídico
celebrado entre uma entidade sindical de trabalhadores e um empregador.
O ACT possui em um dos seus pólos subjetivos empregadores (categoria econômica) não
representados pelo respectivo sindicato. Os empregadores, individualmente ou em grupo,
podem subscrever acordos coletivos com o correspondente sindicato representativo da
categoria profissional de seus empregados. A presença sindical é obrigatória quanto ao
sindicato representativo dos trabalhadores.
Este documento que formaliza os termos das negociações trabalhistas firmadas entre uma ou
mais empresas e o sindicato representativo dos seus empregados. Vincula apenas as partes
envolvidas e não toda a categoria, como é o caso da Convenção Coletiva, firmada entre
sindicatos.
Os acordos coletivos constituem âmbito mais limitado do que as convenções, com efeitos
somente aplicáveis à(s) empresa(s) e trabalhadores envolvidos. Do ponto de vista formal,
traduzem acordo de vontades (contrato lato sensu) – à semelhança das convenções – embora
com especificidade no tocante aos sujeitos pactuantes e âmbito de abrangência.
Comumente, as empresas optam por celebrar um ACT ao invés de seguirem convenções
coletivas de trabalho quando buscam normas específicas à sua atividade e que necessitam ser
negociadas em separado.
Um exemplo é o da empresa que trabalha em turnos ininterruptos de revezamento e que
precisa de um acordo específico que a autorize a extrapolar a jornada máxima diária de 6
(seis) horas. Em alguns acordos dessa natureza, é comum que se estipule mais de um sistema
de turnos, podendo a empresa que firma o ACT migrar de um sistema para outro dependendo
da sua demanda de produção. Nesses casos, o ACT se mostra muito adequado como
ferramenta de negociação e criação de normas coletivas.
Os ACTs devem ser firmados nas data-base anual ou fora delas e devem, também, ser
registrados junto às Delegacias Regionais do Trabalho para que tenham plena vigência.
11.3.2. Convenções coletivas de trabalho
A Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) é o resultado das negociações entre sindicatos de
empregadores e sindicato de empregados. Usualmente, uma vez por ano, na data-base da
categoria, é convocada assembléia geral dos sindicatos dos empregados para instalar o
processo de negociações coletivas. Isto significa que, nesta data, reajustes, pisos salariais,
benefícios, direitos e deveres de empregadores e empregados serão objeto de negociações
entre os sindicatos.
Se os sindicatos, autorizados pelas respectivas assembléias gerais, estiverem de acordo com
as condições estipuladas na negociação, assinam a CCT, documento que deverá ser registrado
e homologado no órgão regional do Ministério do Trabalho, qual seja, a Delegacia Regional
do Trabalho. As determinações da CCT atingem a todos os integrantes da categoria
econômica (empregadores), ainda que a empresa, em alguns casos, não saiba da existência de
um CCT que lhe é aplicável.
Conforme o artigo 611 da CLT, a convenção coletiva é acordo de caráter normativo, entre um
ou mais sindicatos, definindo as condições de trabalho que vão atuar sobre todos os
trabalhadores dessa categoria, sendo que sua aplicação independe do trabalhador ser sócio do
sindicato, ou de cada empresa ter participado ou não da negociação ou da própria CCT.
No caso da CCT, as empresas da categoria econômica, representadas por seu sindicato
patronal, simplesmente aderem aos termos e condições da CCT, obrigando se a observar as
normas nela contidas, independentemente de terem participado da negociação coletiva.
11.3.3. Aspectos relevantes do ACT e da CCT
Quanto as Convenções Coletivas de Trabalho e os Acordos Coletivos cabe enfatizar os
seguintes aspectos:
a) Legitimação: Os sujeitos legitimados pela ordem jurídica a representar os empregados são
os sindicatos de categorias profissionais. Quanto à legitimação dos empregadores, esta é
direta no caso de ACT. (Art. 8º, VI da Constituição Federal). Não havendo sindicato de
determinada categoria em determinada base territorial, os trabalhadores de certa empresa
podem pleitear à respectiva federação, ou em sua falta, à confederação, que assuma a
discussão e a celebração do acordo coletivo do trabalho. No caso de CCT, ocorre legitimação
para os sindicatos representativos das categorias profissionais e econômicas.
b) Forma: Tanto a CCT como o ACT são instrumentos formais solenes. Não se pode validar
negociação coletiva que não cumpra requisitos e formalidades consistentes fixadas no
estatuto sindical, tal como, por exemplo, convocação ampla, pauta, quorum razoável para
instalação e deliberação de assembléia, formalismo esse tipificado no art. 613 CLT. A
Assembléia Geral deverá ser feita de acordo com o artigo 612 da CLT. Dentro do prazo de 8
dias contado da data da assinatura do documento coletivo, a CLT determina o seu depósito no
órgão correspondente do Ministério do Trabalho (regional ou nacional conforme o caso).
c) Vigência: A vigência dos diplomas autônomos trabalhistas iniciar-se-á três dias após o
depósito administrativo (artigo 614, § 1º, CLT). Parte importante da doutrina entende que tal
requisito não foi recepcionado pela Carta Magna. A lei trabalhista brasileira fixa não ser
permitido estipular convenção ou acordo coletivo com duração superior a dois anos (art.614,
§ 3º, CLT). A questão do prazo máximo de 2 anos para a CCT e o ACT é de extrema
relevância, pois pressupõe que todos os termos desses instrumentos devem ser ratificados
pelas assembléias de empregados se houver o interesse de que esses termos vigorem por mais
do que 2 anos. Assim sendo, não são válidas cláusulas de renovação automática desses
instrumentos.
11.4. GREVEREVEREVEREVE
A greve, além de ser considerada um fato social e político, foi considerada, em nosso
ordenamento jurídico, como o direito do trabalhador à suspensão coletiva, temporária e
pacífica, total ou parcial, da prestação de serviços a empregador (Art. 2º da Lei 7783/89).
A suspensão coletiva implica no ato de greve ser uma movimentação coletiva de
trabalhadores (empregados ou avulsos). O grupo de trabalhadores é o titular do direito
subjetivo de greve. Por suspensão também se entende que não deve haver a contra-prestação
trabalho por parte do grupo. Havendo trabalho, não há que se falar em greve, como ocorrem
com as chamadas “operações tartarugas”, nas quais os empregados trabalham, teoricamente,
de uma forma correta, mas tendo o nítido propósito de atrasar a produção dos empregadores.
Como o empregador reagiria diante da chamada “operação tartaruga”?
A suspensão do trabalho deve ser temporária, nunca definitiva, pois, do contrário, pode
acarretar na cessação do contrato por abandono de emprego, modalidade de justa causa por
parte do empregado (Art. 482, i, da CLT). A lei de greve refere-se à suspensão pacífica, pois
é vedado qualquer caráter de violência da greve, como destruição do patrimônio do
empregador e coação a demais empregados para participar do movimento grevista. Por fim,
nada impede que a greve atinja determinados setores da empresa (parcial), ou todos os setores
(total).
Ensina-nos Sergio Pinto Martins que a greve, sendo considerado um direito, por si só já
encontra limitações. Há limitações parciais e totais ao direito de greve. As limitações parciais
estão contidas, tanto na Constituição Federal, quanto nos requisitos constantes da Lei 7783/89
(exemplo: necessidade prévia de avisar sobre a greve ao empregador). As limitações totais,
previstas na Constituição Federal, ocorrem com relação aos militares (proibição do direito de
greve) e servidores públicos (greve nos termos e limites a serem definidos em lei específica).
Por fim, entende-se que a titularidade do direito de greve é dos empregados, porém a
legitimação para instaurá-la é dos sindicatos, uma vez que se trata de direitos coletivos do
trabalho. A Constituição Federal, ao estabelecer que na negociação coletiva é obrigatória a
participação dos sindicatos das categorias profissionais (Art. 8º, VI, da CF), concluiu que a
legitimação para instauração do movimento grevista é dos sindicatos, ainda que a
oportunidade do exercício do direito de greve seja dos trabalhadores (Art. 1º da Lei 7783/89).
Em outras palavras, os trabalhadores decidem quando deflagrar a greve, porém necessitam do
sindicato para instaurá-la.