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PROFESSOR MARIO BUZZULINI www.professormario.net 1 DIREITO CONSTITUCIONAL 2 I - ORGANIZAÇÃO DOS PODERES (Livro Primeiro e Décimo Primeiro, “Do Espírito das Leis” – Montesquieu). 1 - INTRODUÇÃO Antes de apresentar a Teoria da Separação dos Poderes, convém lembrar que a sua nomenclatura visa teorizar a Separação das Funções, pois o poder do Estado é uno e indivisível. 2 - TEORIA DE MONTESQUIEU – TEORIA DA SEPARAÇÃO DOS PODERES ou DOUTRINA DOS TRÊS PODERES A Teoria da Separação dos Poderes de Montesquieu (séc. XVIII) que se incorporou ao constitucionalismo, foi concebida para assegurar a liberdade dos indivíduos. Como diz o próprio Montesquieu, quando na mesma pessoa, ou no mesmo corpo de magistratura o poder legislativo está reunido ao poder executivo, não há liberdade. Pretendia-se, também, com a separação de poderes, aumentar a eficiência do Estado, pela distribuição de suas atribuições em órgãos especializados, que só apareceu no final do Séc. XIX. Os EUA foi o primeiro Estado a adotar a doutrina. Ressalta-se que esta teoria teve franca acolhida numa época em que se buscava enfraquecer o Estado, não admitindo sua interferência na vida social dos indivíduos, como um dos dogmas do Estado Moderno, chegando-se a afirmar que não haveria democracia sem a separação dos poderes. A exigência da separação dos poderes, em documentos constitucionais, apareceu na Declaração de Direitos da Virginia, em 1776, e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, França/1789, em seu artigo XVI: “Toda sociedade na qual a garantia dos direitos não está assegurada, nem a separação dos poderes determinada, não tem Constituição”. A teoria da separação dos poderes afirma que qualquer que seja a atividade do Estado, estas deverão ser precedidas e norteadas por normas abstratas e gerais – leis. Os atos concretos só serão válidos se praticados conforme as normas gerais. Portanto, a cobrança de um tributo de determinado contribuinte é legal, desde que, calculada em

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DIREITO CONSTITUCIONAL 2

I - ORGANIZAÇÃO DOS PODERES (Livro Primeiro e Décimo Primeiro, “Do Espírito das Leis” – Montesquieu).

1 - INTRODUÇÃO

Antes de apresentar a Teoria da Separação dos Poderes, convém lembrar que a sua nomenclatura visa teorizar a Separação das Funções, pois o poder do Estado é uno e indivisível. 2 - TEORIA DE MONTESQUIEU – TEORIA DA SEPARAÇÃO DOS PODERES ou DOUTRINA DOS TRÊS PODERES

A Teoria da Separação dos Poderes de Montesquieu (séc. XVIII) que se incorporou ao constitucionalismo, foi concebida para assegurar a liberdade dos indivíduos. Como diz o próprio Montesquieu, quando na mesma pessoa, ou no mesmo corpo de magistratura o poder legislativo está reunido ao poder executivo, não há liberdade. Pretendia-se, também, com a separação de poderes, aumentar a eficiência do Estado, pela distribuição de suas atribuições em órgãos especializados, que só apareceu no final do Séc. XIX. Os EUA foi o primeiro Estado a adotar a doutrina. Ressalta-se que esta teoria teve franca acolhida numa época em que se buscava enfraquecer o Estado, não admitindo sua interferência na vida social dos indivíduos, como um dos dogmas do Estado Moderno, chegando-se a afirmar que não haveria democracia sem a separação dos poderes. A exigência da separação dos poderes, em documentos constitucionais, apareceu na Declaração de Direitos da Virginia, em 1776, e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, França/1789, em seu artigo XVI: “Toda sociedade na qual a garantia dos direitos não está assegurada, nem a separação dos poderes determinada, não tem Constituição”. A teoria da separação dos poderes afirma que qualquer que seja a atividade do Estado, estas deverão ser precedidas e norteadas por normas abstratas e gerais – leis. Os atos concretos só serão válidos se praticados conforme as normas gerais. Portanto, a cobrança de um tributo de determinado contribuinte é legal, desde que, calculada em

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norma genérica e abstrata que diz que alguém que, venha a encontrar-se sem situação X, deverá pagar Y a título de imposto. Aí estão as funções legislativa e executiva. A terceira função é a judiciária, que é aquela que dirime, em caso concreto, as divergências surgidas por ocasião da aplicação das leis. A grande pertinência da teoria de Montesquieu é a afirmação que tais funções devem corresponder a órgãos distintos e autônomos – ou seja – a divisão funcional deve corresponder a uma divisão orgânica. O objetivo real e problemático da Doutrina dos Três Poderes não se refere a questões administrativas, à organização jurídico-administrativa, mas sim, a uma problematização política que diz respeito à correlação de forças políticas entre as classes e frações de classe. A Doutrina/Teoria formula um meio de evitar o despotismo e o absolutismo, onde os poderes serão exercidos por diferentes classes e frações de classes. 3 - SISTEMA (MECANISMOS) DE FREIOS E CONTRAPESOS: Ensina o ilustre prof. Dalmo de Abreu Dallari (Elementos de Teoria Geral do Estado, Ed. Saraiva): “O Sistema de separação dos poderes, consagrado nas Constituições de quase todo o mundo, foi associado à idéia de Estado Democrático e deu origem a uma engenhosa construção doutrinária, conhecida como sistema de freios e contrapesos. Segundo essa teoria os atos que o Estado pratica podem ser de duas espécies: ou são atos gerais ou são especiais. Os atos gerais, que só podem ser praticados pelo poder legislativo, constituem-se a emissão de regras gerais e abstratas, não se sabendo, no momento de serem emitidas, a quem elas irão atingir. Dessa forma, o poder legislativo, que só pratica atos gerais, não atua concretamente na vida social, não tendo meios para cometer abusos de poder nem para beneficiar nem para prejudicar a uma pessoa ou a um grupo em particular. Só depois de emitida a norma geral é que se abre a possibilidade de atuação do poder executivo, por atos especiais. O executivo dispõe de meios concretos para agir, mas está igualmente impossibilitado de atuar discricionariamente, porque todos os seus atos estão limitados pelos atos gerais praticados pelo legislativo. E se houver exorbitância de qualquer dos poderes surge a ação fiscalizadora do poder judiciário, obrigando cada um a permanecer nos limites de sua respectiva esfera de competência”. Mário Lúcio Quintão Soares: “Montesquieu não foi original quando sugeriu o governo moderador ou forma mista de governo, caracterizada pela separação de poderes, como afirmação da liberdade política contraposta aos perigos do absolutismo ou da anarquia que nasce da concentração ou confusão dos poderes. A sua criatividade está na inserção do sistema de freios e contrapesos às funções legislativas, executivas e judiciais, ensejando que estas sejam distribuídas a instâncias organicamente distintas e aptas a exercer

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legitimamente o poder, no sentido de cooperação e controle mútuo entre as funções desempenhadas, buscando-se o equilíbrio das instâncias governamentais e a concretização dos princípios da liberdade política”. Paulo Márcio Cruz (Fundamentos do Direito Constitucional, Ed. Juruá): “A evolução do constitucionalismo deu lugar, pois, a uma alteração dos pressupostos originais do princípio da separação dos poderes. [...] Mesmo assim, a doutrina da separação dos poderes continua sendo relevante ao menos por dois motivos: 1. Em primeiro lugar, ao garantir a diferenciação entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo, mantém também a peculiaridade do processo legislativo, baseado na discussão e publicidade que permite a participação das minorias e a atividade de controle do governo por estas mesmas minorias e a atividade de controle do governo por estas mesmas minorias. O Poder Legislativo se mantém como foco de controle e crítica, assim como de discussão pública, entre as diversas alternativas políticas; 2. Além disso, o princípio da separação dos podres supõe, sobretudo, a manutenção da garantia da independência do Poder Judiciário, expresso pela independência de cada juiz em relação aos outros poderes do Estado. Estas características estão mantidas em praticamente todos os sistemas constitucionais contemporâneos, o que não obsta que as técnicas concretas de desenho de cada um dos poderes, assim como das funções que desempenham e as relações entre eles, variem de modo muito sensível.”

TRIPARTIÇÃO DAS FUNÇÕES DO ESTADO NA CF do BRASIL de 1988

REPÚBLICA FEDERATIVA ESTADO = PODER PRESIDENCIALISTA LEGISLATIVO EXECUTIVO JUDICIÁRIO LEGISLA ADMINISTRA ou JULGA EXECUTA AS LEI John Locke, 1690 INDEPENDÊNCIA HARMÔNICA Montesquieu, 1748

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“Segundo tratado sobre o Governo” “Do Espírito das Leis”

TÍPICAS FUNÇÕES INDELEGÁVEIS ATÍPICAS

INACUMULABILIDADE O Sistema de freios e contrapesos, no nosso constitucionalismo pátrio, está consagrado no art. 2º e 60, §4º, III da CF/88, onde há uma fiscalização recíproca entre os poderes. Diante da teoria da separação dos poderes, conclui-se que ninguém pode ocupar cargos ou funções nos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Contudo, essa regra não é absoluta, mas as exceções devem vir expressas no texto constitucional, como por exemplo, a permissão constante no art. 56, CF, permitindo aos Senadores e Deputados o exercício de cargo de Ministro de Estado, Governador de Território ou Secretário de Estado, de Território, de Prefeitura de Capital ou do Distrito Federal. A base de sustento da divisão orgânica do poder é a seguinte:

independência e harmonia entre os Poderes;

indelegabilidade de funções;

inacumulabilidade de cargos e funções provenientes de Poderes distintos.

Deve-se observar que é necessário “certa flexibilização” das funções entre os poderes, pois do contrário, o Poder Legislativo para contratar servidores, deveria se reportar ao Poder Executivo, visto que sua função seria preponderantemente a edição de atos normativos de caráter geral e abstrato. É dessa flexibilização que surgem as funções típicas e atípicas.

Funções típicas: aquelas que guardam identidade com o Poder por que são desempenhadas. Funções atípicas: aquelas que são desincumbidas por outros órgãos de poder . Ex.: Executivo julga processos administrativos e legisla através de leis delegadas e medidas provisórias.

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ÓRGÃO FUNÇÃO TÍPICA FUNÇÃO ATÍPICA

LEGISLATIVO a) legislar; b) fiscalização contábil, financeira, orçamentária e patrimonial do Executivo.

a) natureza executiva: ao dispor sobre a organização, provendo cargos, concedendo férias, licenças a servidores, etc.; b) natureza jurisdicional: o Senado julga o Presidente da República nos crimes de responsabilidade (art. 52, I).

EXECUTIVO Prática de atos de chefia de Estado, chefia de Governo e atos de administração

a) natureza legislativa: o Presidente da República, p. ex., adota medida provisória com força de lei (art. 62); b) natureza jurisdicional: o Executivo julga, apreciando defesas e recursos administra-tivos; julga os processo no CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

JUDICIÁRIO Julgar (função jurisdicional), dizendo o direito no caso concreto e dirimindo os conflitos que lhe são levados, quando da aplicação da lei.

a) natureza legislativa: elaborando o regimento interno de seus tribunais (art. 96, I, a); b) natureza executiva: administra, p. ex., ao conceder férias, licenças aos magistrados e serventuários (art. 96, I, f).

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II - PODER LEGISLATIVO Arts. 44 – 75, CF/88 1 - ORGANIZAÇÃO / ESTRUTURA: O Poder Legislativo pode estruturar-se sob duas formas: unicameral e bicameral. O Brasil adota o sistema bicameral do tipo federativo (art. 44, CF). 2 - ATRIBUIÇÕES: A atividade principal do Poder Legislativo é fazer leis, contanto nessa sua função, com a participação do Executivo na iniciativa, no veto ou na sanção. Tem ainda outras atribuições, como: deliberações; fiscalização e controle (art. 70, par. ún.); julgamento de crimes de responsabilidade (art. 52, I); e reforma constitucional (art. 48 et seq. da CF). O funcionamento das Casas (Câmara e Senado) ocorre, via de regra, separadamente. Entretanto, há casos de funcionamento comum, v.g., quando da inauguração da sessão legislativa; quando da elaboração do regimento interno comum e regulamentação da criação de serviços das Casas; por ocasião do recebimento do compromisso do Presidente da República e de seu vice; e quando conhecem e deliberam sobre o veto (art. 57, §3º). As reuniões do Congresso Nacional são reguladas pelo art. 57, CF; que são, na verdade, sessões legislativas que podem ser ordinária ou extraordinária. O tempo da sessão ordinária compreende as datas de 02 de fevereiro a 17 de julho e 01 de agosto a 22 de dezembro, sendo dividida em dois períodos legislativos. O tempo da extraordinária, com regras descritas no art. 57, §6º, I (convocação reservada) e II (convocação concorrente) e §7º da CF, coincide com o recesso do Congresso Nacional. Existe ainda a sessão preparatória (art. 57, §4º). Não há que se confundir entre sessão legislativa e legislatura. Sessões legislativas são as reuniões do CN. Legislatura é o tempo correspondente ao mandato parlamentar (quatro anos), de forma que um Senador fica eleito para duas legislaturas. Necessário também diferenciar sessão ordinária de sessão legislativa ordinária. A primeira é o dia útil de trabalho no CN. A segunda é a soma dos períodos legislativos. Uma legislatura compõe-se de 04 sessões legislativas ordinárias, que correspondem a 01 ano cada.

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3 – CONGRESSO NACIONAL: É atribuído ao CN deliberar, com sanção do Presidente da República, sobre todas das matérias de competência da União, especialmente aquelas dispostas no art. 48 e incisos da CF/88. São veiculadas através de LEI. Além destas, tem o CN competências exclusivas – não dependem de sanção presidencial – que são aquelas previstas no art. 49 e incisos, veiculadas através de decretos legislativos ou resoluções. As principais instâncias decisórias da CD e do SF, indispensáveis ao pleno cumprimento de duas atribuições e competências, são: a Mesa Diretora, o Colégio de Líderes, as Comissões e o Plenário. Os vencimentos dos parlamentares estão regulados no art. 49, VII, CF. Atribui-se, ainda, à CD e ao SF, como a qualquer uma de suas Comissões, o poder de convocar Ministros de Estado ou quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para, pessoalmente, prestarem esclarecimentos sobre assuntos previamente determinado, importando crime determinado, importando crime de responsabilidade a ausência sem justificação adequada (art. 50, §§1º e 2º). 4- COMISSÕES PARLAMENTARES: São grupos menores de trabalho, com composição mista – ou seja – das duas Casas, sendo suas tarefas previstas no art. 58, CF. José Afonso da Silva assim as conceitua: “São organismos constituídos em cada Câmara, compostos de número geralmente restrito de membros, encarregados de estuda e examinar as proposições legislativas e apresentar pareceres”. As Comissões Parlamentares podem ser: 4.1 - COMISSÕES PERMANENTES: São aquelas que subsistem através das legislaturas (tempo do mandato parlamentar), organizadas conforme a matéria e, geralmente, coincidem com a funcionalidade dos Ministérios. 4.2 - COMISSÕES TEMPORÁRIAS OU ESPECIAIS: São aquelas que se extinguem com o final da legislatura, ou mesmo antes dela, quanto tiverem preenchido o fim para o qual foram criadas (ex. opinar sobre determinada matéria).

4.3 - COMISSÕES MISTAS: São aquelas que se formam com membros das duas Casas, com finalidade específica de estudar assuntos previamente fixados, especialmente aqueles

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que devam ser aprovados pelo CN. Podem ser permanentes ou temporárias (ex. Comissão Mista do Orçamento).

4.4 - COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO: art. 58, §3º

São aquelas instituídas para apurar ato específico por prazo determinado, tendo poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, sendo as conclusões encaminhadas ao Ministério Público para que se apure a responsabilidade a responsabilidade civil de criminal dos infratores. Esta é uma das mais expressantes formas de atuação do Poder Legislativo no seu exercício de fiscalização sobre os demais Poderes (“mecanismo de freios e contrapesos”).

Possuem os mesmos poderes instrutórios que os magistrados possuem para instrução processual penal.

Poderes da CPI - jurisprudência do STF: colher depoimentos, ouvir indiciados, inquirir testemunhas, notificando-as a comparecer perante elas e depor; requisitar documentos e buscar todos os meios de prova legalmente admitidos e, quanto aos dados, informações e documentos, mesmo que resguardados por sigilo legal, desde que observadas as cautelas legais, podem as CPIs requisita-los. Isso significa que podem quebrar o sigilo fiscal, bancário, telefônico e ainda determinar buscas e apreensões. Limites da CPI – jurisprudência STF: não podem formular acusações e punir delitos; não podem desrespeitar privilégios contra a auto-incriminação que assiste a qualquer indiciado ou testemunha; não podem decretar a prisão de qualquer pessoa, exceto em flagrante; não podem realizar atos exclusivos ao Poder Judiciário, como também transpor o limite da reserva jurisdicional constitucional (ações exclusivas dos juízes). As CPI’s não possuem o poder de (re) examinar o conteúdo das decisões judiciais. Não podem, ainda, determinar aplicação de medidas cautelares, como indisponibilidade de bens, arresto, seqüestro, hipoteca judiciária, proibição de ausentar-se Comarca ou do País; proibir ou restringir assistência jurídica aos investigados. Os excessos praticados pelas CPI’s deverão ser contidos pelo Poder Judiciário, através do STF, em sede de MS e HC, conforme o art. 102, I, “i”, CF. 5- FUNCIONAMENTO: Arts. 57, §3º e 47 (regra: maioria absoluta) CF; art. 3º, ADCT. Expressões utilizadas: “Quorum” – número mínimo de membros da Casa Legislativa, cuja presença é exigível para deliberações;

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“Maioria Simples” – número inteiro imediatamente superior à metade dos membros presentes à reunião, comparecendo, no mínimo, o quorum exigido para deliberação (Ex. casa de 50 parlamentares, exige-se um quorum mínimo de 26 parlamentares para a abertura. A aprovação por maioria simples exigirá que, dos 26 presentes, haja um mínimo de 14 votos). “Maioria absoluta” – número inteiro imediatamente superior à metade do total de membros de uma Casa Legislativa, independente do número presente àquela reunião. Exemplo acima: aprovação com 26 votos. “Maioria qualificada” – determinada porção de três quintos ou de dois terços. Aquela para aprovação de emenda constitucional (3/5). Esta para a decretação do impeachment (2/3).

aprovação de lei complementar: maioria absoluta. 6 - PRERROGATIVAS OU GARANTIAS OU IMUNIDADES PARLAMENTARES: Representam a autonomia e independência que o Poder Legislativo necessita ter para atuar. Estes privilégios são concedidos aos parlamentares para que possam ter um bom desempenho de suas funções. Essas garantias se apresentam em duas espécies de imunidades, sendo elas: 6.1 - IMUNIDADE MATERIAL – “Cláusula de Irresponsabilidade Material”: Vem explícita no caput do art. 53 da CF.

Designa aos parlamentares a prerrogativa da inviolabilidade por suas opiniões, palavras e votos. Ou seja, esta imunidade isenta o parlamentar daquilo que seria crime para o cidadão comum (não haverá perdas e danos). O alcance da imunidade material acompanha o congressista fora do recinto parlamentar, desde que ocorrido em decorrência do mandato parlamentar.

Exclui a ilicitude do fato nos casos de delitos de opinião. É prerrogativa extensiva

aos Vereadores (art. 29, VIII, CF), desde que no exercício do mandato e dentro de sua circunscrição (Município). 6.2 - IMUNIDADE PROCESSUAL OU FORMAL: Vem prevista no art. 53 e seus parágrafos.

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O parlamentar (deputado ou senador) não poderá ser preso salvo em situação de flagrância de crime inafiançável (art. 323, CPP); nem poderá ser processado criminalmente sem prévia autorização da Casa a que pertence (só o processo penal, pois o processo cível, administrativo ou disciplinar não exige licença – só quando houver a necessidade de prisão). Não havendo autorização (ou licença), a prescrição ficará suspensa até o fim do mandato (§ 2º, art. 53, CF). A imunidade processual ou material dos parlamentares, quando em casos praticados fora do recinto do Congresso, pode ser suspensa no estado de sítio (art. 53, § 8º), desde que aprovada por 2/3 dos membros da respectiva Casa. O parlamentar licenciado para o exercício de cargo executivo (Ministro de Estado, Secretário de Estado, etc.) não perderá o mandato, contudo perderá as prerrogativas conferidas ao Poder Legislativo. Se o congressista cometer crime comum, na vigência do seu mandato – a partir da expedição do diploma e antes do início da próxima legislatura – , relacionado ou não com o exercício das funções congressuais, será julgado perante o STF (CF, art. 53, § 4º e 102, I, b). Se praticar infração penal antes do mandato, mas advindo sua eleição, haverá também deslocamento de competência para o STF, preservando-se os atos antecedentes. Entretanto, se o processo não for concluído durante o mandato do parlamentar pelo STF, seus autos retornam ao juízo de origem para encerramento (vide Súmula 394, STF). Os Vereadores não gozam dessa imunidade processual. 7 - PROCESSO LEGISLATIVO - Arts. 59 - 69 1 - INTRODUÇÃO: Processo Legislativo é o conjunto de atos predestinados à criação de normas de Direito. Quem direciona os caminhos do Processo Legislativo é o Legislador Constituinte, visto só a Constituição se subordinarem; por isso são designados atos primários. 2 - ESPÉCIES DE PROCESSO LEGISLATIVO (Kildare Gonçalves Carvalho, 2007, p. 963-85): Existem seis tipos de procedimentos legislativos identificados no Regimento Interno da CD e do SF: 1. Ordinário, normal ou comum: destinado à elaboração de leis ordinárias e complementares.

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2. Abreviado: ocorre quando há dispensa do Plenário, onde a deliberação terminativa

ocorre nas comissões permanentes. Ex.: projeto de lei (pl) de Comissões; pl oriundos de outra Casa do CN, onde já tenham ido à plenário; pl com pareceres divergentes; pl em regime de urgência.

3. Sumário: aplica-se aos pl de iniciativa do Presidente da República (exceto os Códigos),

cuja mensagem de encaminhamento traga solicitação presidencial no sentido de urgência (art. 64, §§ 1º ao 4º, CF).

4. Sumaríssimo: quando tratar de matéria de relevante e inadiável interesse nacional. Neste

procedimento, todas as formalidades regimentais, inclusive prazos, pareceres e publicações, exceto o quorum, são dispensáveis (art. 155 do Regimento Interno (RI) da CD, e art. 336, “a” e “b” do RI-SF).

5. Concentrado: é o que envolve a apreciação de matérias sujeitas à reunião conjunta da CF

e SF (leis financeiras e leis delegadas). 6. Especial: destinado à elaboração de outras normas, com ritos distintos, tais como

Emendas à Constituição (art. 60, CF), à de Códigos (art. 374, XVI, RI-SF; art. 212, parágrafo único, RI-CD).

3 - FASES DO PROCESSO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: 3.1 - INICIATIVA: Art. 61 - É a apresentação do projeto. Contudo, deve-se observar quem tem legitimidade para apresentar o projeto. A iniciativa, dependendo da matéria a que se refira, pode ser:

a) Concorrente, geral ou comum: art. 61, caput. Pertence, simultaneamente, a

vários órgãos e pessoas do Poder Legislativo, ao Presidente da República, ao STF, aos Tribunais Superiores, ao Procurador Geral da República e aos cidadãos. Os Tribunais e o PGR têm competência para propor assuntos de seus interesses.

b) Reservada, exclusiva ou privativa: Quando a Constituição designa uma ou mais pessoas capacitadas para a provocação do processo legislativo. As hipóteses constitucionais são: a) art. 61, § 1º; b) art. 93; c) art. 96, II.

c) Popular: A iniciativa popular é um dos instrumentos democráticos previstos na CF/88, onde a população pode propor projetos de leis ordinárias e complementares, de acordo com o § 2º do art. 61. Vide arts. 14, III e 29, XIII.

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d) Conjunta: É aquela atribuída simultaneamente a várias pessoas, devendo ser

exercida com a anuência dos envolvidos. A determinação dos subsídios dos Ministros do STF depende de lei de iniciativa conjunta dos Presidentes da República, Câmara dos Deputados, Senado Federal e STF (art. 48, XV).

e) Vinculada: pertence a uma ou mais pessoas indicadas pela CF, contudo o titular

não pode avaliar o momento de oferecer o projeto, ao contrário, deverá fazê-lo em determinado prazo ou oportunidade, conforme os arts. 165, 84, XXIII CF c/c 35, §2º, III ADCT. Vide art. 8º, § 2º do ADCT. Prazo certo para propor.

f) Atribuída: Quando a CF atribui iniciativa exclusivamente aos componentes do

Poder Legislativo, sendo que, estes poderão exercê-la concorrentemente. É a possibilidade prevista nos arts. 52, XII e 51, IV.

3.2 – DISCUSSÃO / EMENDAS AO PROJETO DE LEI: Esta terceira fase ocorre nas duas Casas, a Iniciadora e a Revisora. Quando a iniciativa partir do Presidente da República, dos Tribunais Superiores e STF, de Deputado Federal, do PGR ou povo, o projeto deverá ser apresentado na Câmara dos Deputados, de acordo com o art. 64 da CF. No Senado (ou Câmara Alta) só iniciarão projetos de lei propostos pelos Senadores.

A Casa onde o projeto é apresentado é chamada de Casa Iniciadora. A outra Casa é

chamada de Casa Revisora (arts. 61, §2º, e 64, CF). As discussões ocorrem, a rigor, em duas sedes: Casa Iniciadora - O projeto passará primeiro pela aprovação das Comissões Permanentes, como p. ex. a CCJ, que tanto na CD como no SF tem no seu parecer força terminativa; para depois ser levado à discussão e votação no plenário, se a matéria for assim determinada pelo Regimento Interno. Poderá, o projeto, ser discutido e votado nas comissões permanentes, sem, necessariamente, ser levado a plenário, desde que respeitado o regimento interno e não havendo recurso de um décimo dos membros da Casa (art. 58, §2º, I, CF). De acordo com Celso Ribeiro Bastos, “as casas examinam o projeto no seu aspecto material e formal. Aspecto material - conteúdo, interesse público. Aspecto formal - observância da forma prevista na Constituição. Passado pelas comissões, o projeto de lei é

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discutido e votado em plenário, sendo aprovado se obtiver maioria dos votos, estando presente a maioria dos membros da Casa”. Casa Revisora – art. 65 da CF.

São atribuições da Casa Revisora, conforme Celso Ribeiro Bastos:

“a) Aprovar o projeto. Neste caso, será enviado para sanção e promulgação do Presidente da República. b) Emendar o projeto. Neste caso, deverá devolvê-lo à Câmara Iniciadora para que se aprecie a emenda. c) Rejeitar o projeto. Será arquivado. Como se vê, a aprovação de um projeto de lei se dá pela conjugação da vontade das duas Casas Legislativas”.

As emendas ao projeto de lei, que são apresentadas nas comissões, podem ser: a) modificativas: são aquelas que modificam sem retirar ou acrescer conteúdo, ou seja,

não há alteração substancial;

b) supressivas: são aquelas que suprimem (excluem) alguma parte ou disposição do texto;

c) aditivas: são aquelas que acrescem ao texto original, ou seja, são emendas

ampliativas;

d) substitutivas: são aquelas apresentadas em substituição de outra preposição. Receberão a expressão “substitutivo” quando alterarem substancial ou formalmente o seu conjunto, sendo que a alteração formal pretende, exclusivamente, o aperfeiçoamento do legislativo;

e) emendas de redação: são aquelas apresentadas para sanar vícios de linguagem,

incorreções de técnica legislativas ou lapsas manifesto.

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3.3 – DELIBERAÇÃO: Somente podem apresentar emendas os titulares da iniciativa parlamentar, pois essa tarefa é função precípua do Poder Legislativo. Se os titulares da iniciativa extraparlamentar quiserem modificar o projeto apresentado, terão que apresentar um novo projeto, retirando o antigo.

Quando a emenda for proposta na Casa Revisora, o projeto é retornado à Casa de origem (art. 65, par. ún., CF), onde se discutirão as alterações, sendo proibida qualquer subemenda (nova alteração). Portanto, nem sempre o projeto chegará ao Presidente da República aprovado uniformemente pelas duas Casas do Poder Legislativo.

Uma vez rejeitado o projeto na Casa Revisora, será ele arquivado (art. 65). Art. 67: se o projeto de lei for rejeitado, para que possa ser reapresentado na mesma

sessão legislativa, é necessária a assinatura da maioria absoluta de qualquer das Casas Legislativas (iniciativa reservada à maioria absoluta de qualquer das casas).

Antes de chegar ao Plenário (art. 58, 212 167, I), o projeto pode passar pelas

comissões Temáticas e Permanentes (art. 32 do Regimento Interno da Câmara e art. 72 do Regimento Interno do Senado).

E VOTAÇÃO:

Para abrir os trabalhos da Casa, usa-se o quórum da maioria absoluta. Em relação ao quórum de votação, é utilizado o simples ou relativo (art. 47, CF – maioria simples) e o absoluto (art. 69, CF – maioria absoluta). É utilizado o quórum simples para aprovação de lei ordinária; para lei complementar, é exigido o quórum da maioria absoluta.

Comentário de Luiz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Jr.: como conseqüência do sistema bicameral, a INICIATIVA deve ser apresentada na Casa Iniciadora (em regra, a Câmara dos Deputados, salvo quando o projeto for iniciado por um Senador ou por comissão do Senado), que, após a sua DISCUSSÃO, leva a efeito da DELIBERAÇÃO, a qual, respeitada a maioria exigível para aquela espécie normativa, pode aprovar ou rejeitar o projeto. Caso aprovado, deve ser encaminhado para à Casa Revisora (em regra o Senado Federal), onde, após nova discussão, é submetido à votação, ensejo em que, pode ser definitivamente aprovado, rejeitado (caso em que é imediatamente arquivado) ou emendado, situação que implica que seja o projeto novamente submetido à avaliação da Casa Iniciadora.

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3.4- SANÇÃO OU VETO: De acordo com o art. 66 da CF, sanção é a anuência (aquiescência) do Presidente da República ao projeto de lei. Ela poderá ser expressa (quando lançada no projeto) ou tácita (manifestada pelo silêncio) - §3º do art. 66. Veto é, ao contrário, a negatória de aquiescência ao projeto de lei, sendo motivado por inconstitucionalidade ou contrário ao interesse público. Salienta-se que o que se veta é o projeto de lei, e não a lei. Conforme o §1º do art. 66, o veto pode ser total ou parcial e deve sempre ser motivado. O veto parcial deve obedecer ao §2º, onde abrangerá texto integral de artigo, parágrafo, inciso ou alínea. O §4º traz a possibilidade de suprimento do legislativo ao veto presidencial, pelo voto da maioria absoluta de cada uma das Casas reunidas em sessão conjunta, em 30 dias, contados do recebimento pelo Presidente do Senado. É por isso que se afirma que no Brasil o veto é relativo e não absoluto. Se o veto não for apreciado neste prazo de 30 dias, ele será incluído na ordem do dia, com votação preferencial às demais matérias, salvo as medidas provisórias (§6º). 3.5 – PROMULGAÇÃO: É a autenticação da lei. É através da promulgação que a lei passa a existir no mundo jurídico. A competência para promulgação da lei é do Presidente da República, tendo para tal um prazo de 48 horas a partir da sanção (tácita ou expressa) ou da superação do veto. Se o Presidente da República não realizar a promulgação, a competência para tal é repassada, sucessivamente, ao Presidente e Vice-Presidente do Senado Federal (§7º). Para José Afonso da Silva, da promulgação decorrem dois efeitos: tornar conhecidos os atos e atos geradores da lei e indicar que esta é validam executável e obrigatória. 3.6 – PUBLICAÇÃO: É o ato que visa levar ao conhecimento público a existência da lei, através de jornal oficial. A partir da publicação ou com o transcurso da vacatio legis, a lei produz eficácia

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(LICC, art. 1º) e finaliza o processo legislativo, ou seja, salvo exceção prevista expressamente em lei, o período de vacância é de quarenta e cinco (45) dias.

Tanto a promulgação como a publicação são atos de integração de eficácia do ato normativo. 8 - ESPÉCIES NORMATIVAS Art. 59, CF. 1 – EMENDAS À CONSTITUIÇÃO – art. 60, CF: São as alterações no texto constitucional, sendo manifestação do poder constituinte derivado de reforma, sendo, no Brasil, determinado o poder constituinte originário ao Poder Legislativo.

Possuem a mesma natureza e força hierárquicas das normas constitucionais, porém, por serem produto do Congresso Nacional e não do Poder Constituinte originário, sofrem limitações de natureza material, formal e temporal, previstas na CF/88: Limitações materiais ou substanciais: arts. 60, §4º, I ao IV; Limitações formais: 60, I a III e §§ 2º, 3º e 5º; Limitações circunstanciais ou temporais: 60, §1º - As limitações expressas no art. 60, §4º são as chamadas cláusulas pétreas. A iniciativa para proposta de emendas é concorrente, sendo legítimas as pessoas previstas nos incisos I, II e III do art. 60. Acerca do procedimento para criação de emendas, ressalta-se que elas não necessitam de sanção presidencial, e a ela não se submetem (§3º). O texto da emenda deve ser aprovado nas duas Casas (§2º), com três quintos dos votos. Qualquer alteração promovida por uma Casa ao texto aprovado pela outra, é como se fosse nova proposta, de maneira que o projeto deve ser totalmente votado pela Casa que recebe a nova redação. As Emendas de Revisão, que já não mais vigoram em nosso ordenamento atual - por terem ocorrido e produzido todos os seus efeitos - , foram previstas no art. 3º do ADCT, onde se exigia que o texto constitucional existisse ao menos há 05 anos, e as deliberações eram realizadas por maioria absoluta, em votação única e unicameral (Senado Federal e Câmara dos Deputados entendidos como um só corpo). As Emendas de Revisão eram promulgadas pela mesa do Congresso Nacional. Foram aprovadas seis (06) Emendas de Revisão.

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2 - LEIS COMPLEMENTARES – arts. 59, II e 69: Toda lei complementa a Constituição. Contudo, a lei complementar é aquela com características formais,consistindo sobre matéria diferente do campo de atuação das demais espécies normativas – não podendo ser introduzida por medida provisória nem lei delegada. O procedimento para aprovação das leis complementares segue o mesmo das ordinárias, inclusive com a fase de sanção ou veto do Presidente da República, mas a diferença se estabelece no quórum especial exigido na sua aprovação (arts. 69, 93 e 146, CF) – maioria absoluta. Por isso, a lei complementar tem maior dificuldade em ser alterada, em relação à ordinária, embora não possua a rigidez exigida para uma norma constitucional. Elas só serão admitidas nas situações especialmente exigidas pela Constituição, em razão de sua relevância. 3 – LEIS ORDINÁRIAS São aquelas que não possuem campo de abrangência específico, podendo regular qualquer matéria que não seja limitada pelos adjetivos “complementar” ou “delegada”, e os casos previstos nos arts. 49, 51 e 52. O processo legislativo é regular. Necessita de sanção. 4 – MEDIDAS PROVISÓRIAS – Art. 62 No sistema parlamentarista, a responsabilidade política implica em arcar, até, com a dissolução do governo pela rejeição à medida provisória proposta, ou quando esta não alcançar os fins que justificaram sua criação. Já no nosso sistema, presidencialista, o Presidente da República, ao baixar medidas provisórias, não tem que considerar ou se preocupar com o acerto das medidas provisórias. Portanto, a crítica que se faz é, a medida provisória é um ato normativo sério, com aplicação imediata e força de lei (durante 60 dias) e, para sua edição, deveria se exigir do Chefe do Executivo uma responsabilidade política diretamente direcionada aos fins que se pretendem atingir. Na Constituição anterior a de 1988, existia a figura do Decreto-lei, que permitia ao Chefe do Executivo uma atribuição legislativa extremamente ampla. A atual Constituição

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extinguiu esse ato normativo, mas não deixou o Presidente da República de mãos atadas, criando a possibilidade de atuar na atividade normativa, através das medidas provisórias. Para tanto, estabeleceu critérios rígidos para o seu exercício: só se poderá editar uma medida provisória diante de urgência e relevância, submetidas, de imediato, ao Congresso Nacional – se estiver em recesso, deverá se reunir extraordinariamente – no prazo de 05 dias. O exame da urgência fica a cargo do Poder Executivo, ficando o STF com a função de apreciar a matéria. Se o STF verificar a inexistência da alegada urgência, declarará a inconstitucionalidade desta medida provisória, por faltar o quesito constitucional da urgência (vide §5º, art. 62). Uma vez baixada a MP, ela entrará em vigor imediatamente, passando a produzir efeitos jurídicos. A apreciação do Congresso Nacional se dá a posteriori , com a discussão promovida nos procedimentos do art. 62, alterado pela EC 32/01. As medidas provisórias podem versar sobre todas as matérias que possam ser objeto de lei, salvo as exceções previstas no §1º do art. 62. “A medida provisória que não for convertida em lei no período de 60 dias (mesmo depois de prorrogada uma vez) ou rejeitada perde os seus efeitos desde a sua edição (efeitos ex tunc). O Congresso Nacional, nesse caso, tem o prazo de sessenta dias para, por decreto legislativo, disciplinar as relações decorrentes da incidência da medida provisória que perdeu a sua eficácia (que por não apreciação, quer por rejeição). Caso o Congresso Nacional não se manifeste no prazo de sessenta dias, ficarão valendo para as relações naquele intervalo de tempo, os dizeres da medida provisória. Trata-se de triste restauração do instituto do decurso de prazo, banido com a Constituição de 1988” (Luiz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Nunes Júnior, p. 312, 313). É possível o emprego de medidas provisórias pelos Estados-membros e Municípios, desde que haja previsão nas respectivas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios. Deve-se adotar o modelo adotado pela Constituição Federal. Contudo, a CE/GO não prevê a edição de MP. 5 – LEIS DELEGADAS São leis editadas pelo Presidente da República, através de delegação recebida pelo Congresso Nacional (através de resolução, §2º do art. 68), que o qualifica para editar a norma em conformidade com o art. 68 da CF. No §1º, são elencadas as matérias que não poderão ser delegadas, que são: as de competência exclusiva do Congresso Nacional (art. 49); as de competência exclusiva da

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Câmara dos Deputados (art. 51); as de competência exclusiva do Senado (art. 52); as reservadas à lei complementar e as leis de organização do Poder Judiciário, e do Ministério Público; legislação sobre nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos, eleitoral, planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamento. Conforme o §3º do art. 68, haverá fase de sanção. Não sofrerá veto. 6 – DECRETOS LEGISLATIVOS São aquelas normas em que a competência é exclusiva do Congresso Nacional, não se sujeitando a sanção ou veto presidencial. O seu conteúdo é basicamente as matérias previstas no art. 49 da CF. A promulgação é realizada pelo Presidente do Senado Federal. 7 – RESOLUÇÕES São atos de competência exclusiva tanto do Congresso Nacional, como do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Têm como conteúdo matérias como a delegação (art. 68); a suspensão de lei declarada inconstitucional (art. 52, X); a fixação de alíquota (art. 155, §2º, IV), onde se percebe a predominância do caráter concreto, em oposição ao decreto legislativo, que veicula preferencialmente assuntos de caráter genérico. Não estão sujeitas à sanção presidencial. A promulgação é realizada pela Mesa da Casa Legislativa que as expedir. Em se tratando de resolução do Congresso Nacional, é promulgada pelo Senado Federal. 8 – TRATADOS INTERNACIONAIS No Brasil, compete privativamente ao Presidente da República celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do CN (art. 84, VIII). Após a celebração pelo Presidente da República, a competência para aprovação desses atos internacionais é exclusiva do CN (art. 49, I), que o fará por meio de decreto legislativo. Para que o ato tenha eficácia no direito interno brasileiro, é necessário, ainda, que lhe seja dado publicidade, o que é feito mediante decreto presidencial. Após a ratificação pelo Presidente da República, os tratados internacionais adquirem o status, ou melhor, natureza jurídica de lei ordinária, porém, quando forem

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aprovados conforme o §3º, do art. 5º (EC 45/04), passam a ter natureza jurídica de norma constitucional. 9 – LEIS FEDERAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS: Entre a CF, as CE’s, Lei Orgânica do DF e L.O. dos Municípios há a seguinte hierarquia: CF CE / LO-DF LO Municípios Contudo, quanto às leis: Uma lei federal só será válida se estiver no seu âmbito de atuação, traçado na CF; uma lei estadual vale enquanto esteja de acordo com a esfera de competência do Estado para regular determinada matéria, nos termos da mesma CF; da mesma forma, uma lei municipal retira seus fundamentos de validade no rol de competência que foi conferido ao Município pela CF. Assim, se uma lei federal invade a competência estadual ou municipal, torna-se inválida e inconstitucional. Porém, nessa situação, não se trata de hierarquia, mas de conflito de competências, a ser resolvido sempre com base na CF. Não há, portanto, que se falar em hierarquia das normas oriundas de entes estatais distintos, autônomos, como na nossa Federação. Em caso de conflito entre lei federal, estadual e municipal, prevalecerá sempre aquela competente para o trato da matéria. Por exemplo: caso uma lei federal esteja invadindo a competência do município, a lei municipal prevalecerá. FUNÇÃO FISCALIZADORA – TRIBUNAL DE CONTAS:

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO – TCU: O Tribunal de Contas é o órgão auxiliar , não subordinado, do Congresso Nacional para controle externo do Poder Executivo. É composto por 09 ministros que preencham os requisitos do §1º do art. 73. Tem sede no DF, possuindo quadro próprio de pessoal e jurisdição (sem conotação jurisdicional) em todo território nacional (art. 73 e Súmula 347

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do STF). O TC não julga (atribuição própria do Poder Judiciário), apenas aprecia as contas de determinado órgão, sempre seguindo as orientações do Legislativo, emitindo pareceres técnicos. Como auxiliar do Poder Legislativo, o TC tem a função do controle externo da Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária, conforme o art. 71 da CF. Os Ministros do TC não são magistrados, contudo, possuem as mesmas garantias, prerrogativas, vencimentos, impedimentos e vantagens dos Ministros do STJ (§3º, art. 73). A composição do quadro de Ministros do TC obedece ao §2º do art. 73. Existem Tribunais de Contas nos Estados (art. 75, par. ún.) e nos Municípios (ar. 31, §§ 1º, 2º e 4º).

“Registre-se ainda que ao Tribunal de Contas da União cabem, no que for possível, as mesmas competências deferidas pelo art. 96 da Constituição ao Poder Judiciário, como se vê no art. 73. Portanto, tem iniciativa para propor projetos de lei sobre matéria de seu interesse (art. 96, II).” (Luiz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Nunes Júnior – p. 318)

TRIBUNAL DE CONTAS DOS ESTADOS – TCE: Art. 75, parágrafo único, CF CONTAS MUNICIPAIS: art. 75 c/c 31, CF/88: Desde a CF/88 é vedada a criação – via federal – de tribunais, conselhos e órgãos de contas municipais (§4º, art. 31, CF). Aqueles já existentes, forma mantidos (§1º), como por exemplo o Tribunal de Contas do Município de São Paulo. O que é possível é a criação de um Tribunal de Contas para auxiliar na fiscalização das contas de todos os municípios de um Estado. Não se veda a criação por um Estado-membro de Tribunal de Contas destinado à fiscalização contábil, financeira e orçamentária dos Municípios que o integram, como já decidiu o STF (ADIN nº 154-0). Assim, há Estados que possuem um TCE e também um TC dos Municípios. Nos Municípios em que não haja TC, o controle externo é feito pelas Câmaras Municipais de Vereadores com o auxílio do TCE.

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III - PODER EXECUTIVO (CF: arts. 76 – 91) Para a doutrina clássica, possui dupla missão: a defesa externa e a manutenção da ordem interna. O Poder Executivo compreende o governo, que é sua cabeça, e a administração, que é o seu tronco e membros. O Governo é o órgão ou conjunto de órgãos, a que pertence a representação do todo e a tomada das decisões fundamentais, no que é de sua competência. A Administração é o conjunto de órgãos que propriamente acompanham a execução das leis e decisões em geral, ou que a preparam. Ou, ainda, que as executam por si. Compreende tanto o serviço civil, ou burocracia, como as Forças Armadas, que é o seu braço militarizado. (Manoel Gonçalves Ferreira Filho – pgs. 218,219). NO BRASIL: Poder Executivo é o órgão constitucional que tem como função principal o exercício dos atos de chefia de Estado (art. 84, VII, VIII, XIX, XX, XXI e XXII), de Governo (84, I, IV, VI, X, XII e XXV) e de administração. O Executivo também legisla (CF, art. 62 Medidas Provisórias) e julga (contencioso administrativo), exercendo as chamadas funções atípicas. **FIXAÇÃO DE SUBSÍDIO: Cabe ao CN, conforme art. 49, VIII, CF. ELEIÇÃO:As regras vêm determinadas no art. 77 e parágrafos da CF. As condições de elegibilidade são previstas no §3º do art. 14. O Presidente da República é eleito por sufrágio universal e voto direito e secreto, optando o constituinte por manter o princípio da maioria absoluta, o que importa a exclusão do cômputo total dos votos brancos e nulos. REELEIÇÃO: Com a EC 16/97, criou-se a possibilidade de reeleição do Chefe do Poder Executivo para um único período subseqüente (CF, art. 14, § 5º). Portanto, não há a possibilidade da ocorrência de três mandatos sucessivos, ou mesmo uso de qualquer expediente que burle a norma em análise (como, p.ex., a renúncia do chefe do Executivo antes do término de seu segundo mandato, para pleitear nova recondução para o período subseqüente, ou disputa para Vice-Presidente). CALENDÁRIO DA REELEIÇÃO: Após a emenda 16/97, ficou determinado que o último domingo de outubro seria destinado para a eleição presidencial em segundo turno (CF, art. 77, caput), contudo, o § 3º do art. 77, da CF; que não foi alterado, por um equívoco da Emenda 16/97, continua prevendo que esse segundo turno será feito em até 20 dias depois da proclamação do resultado do primeiro turno. Surge assim uma contradição. Nesse conflito, prevalece a redação do caput do art. 77, pois quando duas normas estão regulamentando o mesmo assunto, prevalecerá, no impasse, a posterior

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MANDATO: Art. 82 da CF, o mandato presidencial será de quatro anos, com início a partir de primeiro de janeiro do ano seguinte ao da sua eleição. Perda do Mandato Eletivo (Presidente e Vice):

a) Cassação (em virtude de decisão do Senado por crime de responsabilidade ou de decisão judicial);

b) Extinção (morte, renúncia, perda ou suspensão dos direitos políticos e perda de nacionalidade);

c) Declaração de vacância do cargo feita pelo CN (em virtude do não comparecimento para tomar posse até 11/JAN – art. 78, parágrafo único); e

d) Ausência do país por mais de 15 dias sem licença do CN (art. 83), caso em que o próprio CN decreta a perda.

Por isso, a perda do mandato pode ser: a) Natural (extinção); b) Punitiva (cassação); c) Voluntária (não tomar posse ou ausentar-se injustificadamente).

SUBSTITUIÇÃO PRESIDENCIAL: Arts. 79 e 80 dispõem quanto às pessoas legitimadas para substituírem o Presidente da República. Essa substituição surge por impedimento, algo transitório, ocasional, que significa simples afastamento temporário da Presidência (caso de doença, licença, férias) ou por vacância, que significa circunstância permanente, vaga definitiva, que desvincula o Presidente do seu cargo. VACÂNCIA DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (Arts. 79 a 81): Em situação de vacância definitiva do cargo de Presidente da República, antes do final do mandato, existirão normas diferenciadas para a sucessão:

a) somente o Vice-Presidente da República sucederá o Presidente de modo definitivo, não haverá eleição;

b) os Presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal somente o substituirão de forma temporária;

c) haverá, portanto, eleição de forma direta se a vacância ocorrer nos dois primeiros anos do mandato, e indireta (pelo Congresso Nacional), se nos últimos dois anos do período presidencial. Conforme CF, arts. 79, 80, 81.

Note que o § 1º do art. 81 é hipótese excepcional ao art. 14, caput, CF.

ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA :O sistema brasileiro é presidencialista, portanto, as funções do Chefe de Estado e de Governo acumulam-se na figura presidencial, vindo elencadas no art. 84 da CF. São privativas ao Presidente da República, que as exercerá pessoalmente ou com o auxílio de Ministros de Estado, que referendam os atos e decretos assinados pelo Presidente (CF, art. 87, par. ún., I). Entre as suas funções, consta o poder regulamentar, que não pode exceder os limites legais, sob pena de imediata ilegalidade e inconstitucionalidade (arts. 49, V e 84, IV, CF).

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Faculdade Regulamentar:

Regulamentos

Conceito: É ato normativo

secundário, pois depende de lei. Tem a

função de regulamentar

a lei, não criando

obrigações e direitos, que é

matéria exclusiva de

lei.

Quanto à eficácia

internos regulamentos que só possuem eficácia na órbita interna da Administração Pública

externos regulamentos que possuem eficácia também em relação aos administrados

Quanto ao objeto

autônomos regulamentos que existem independentemente de lei anterior

interpretativos Regulamentos que visam aclarar a lei

Execução (regulamentos que visam, exclusiva-mente, regular lei anterior)

de organização regulamentos que finalizam distribuir competência

de complementação

regulamentos que objetivam a fixação de valores

ATRIBUIÇÕES DO VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA :0 Vice-Presidente é substituto e sucessor do Presidente. Lei complementar delimita a sua atuação. Na Constituição Federal, o seu agir vem demarcado nos arts. 79 e par. ún., 80, 89, I e 91, I.

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OS MINISTROS DE ESTADO : São de livre nomeação e destituição do Presidente da República (art. 84, I), além de seus auxiliares. São requisitos para ocupar a função de Ministro (art. 87, caput):

a) brasileiros natos ou naturalizados e, ainda, os portugueses equiparados que possuam todos os direitos e obrigações do brasileiro naturalizado (CF, art. 12, § 1.0);

b) maiores de 21 anos; c) pleno exercício dos direitos políticos. Suas atribuições estão elencadas nos incisos art. 87 da CF. O art. 50, caput e § 2º

(CD)apontam casos da prática de crimes de responsabilidade. Os arts. 52, I,(SF) e 102, I, c, (STF) dispõem sobre a competência de julgamento dos Ministros nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade. A RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE A REPÚBLICA: Quando o Presidente e o Vice tomam posse, prestam o compromisso de fazer cumprir a Constituição assim como, também, de defendê-la (CF, art. 78); sob pena de, em caso de descumprimento do dispositivo constitucional, praticarem crime de responsabilidade (art. 85, CF). O Presidente e o Vice também podem praticar crime comum, ou seja, praticar infração penal diferente da definição de crime de responsabilidade (delitos eleitorais, crimes contra a vida, contravenções).

Contudo, tanto numa situaçãO como na outra, só poderão ser processados se houver autorização do voto de dois terços dos membros da Câmara dos Deputados (arts. 51, I e 86, CF).

Nos casos dos crimes de responsabilidade (IMPEACHMENT), o julgamento do Presidente e do Vice será feito pelo Senado (arts. 52, I e 86, CF), que fica obrigado a instaurar o processo no caso de viabilização da autorização da Câmara – tendo a presidência do STF, que, contudo, não vota (52, par. único). A condenação será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, decorrendo dela a perda do cargo das autoridades referidas e a inabilitação por oito anos para o exercício de qualquer função pública, sem prejuízo das outras sanções cabíveis (art. 52, par. ún., CF).

Nos crimes comuns, o julgamento será realizado no STF (art. 102, I, b, CF), que, ao contrário do Senado Federal nas situações de crimes de responsabilidade, não fica sujeito a receber a denúncia ou queixa oferecida contra o Presidente, mesmo havendo autorização para início do processo proferida pela Câmara (art. 86, CF). É o respeito à Separação dos Poderes definida no art. 2º da CF. Exemplo de crimes comuns: crimes eleitorais, contravenções penais, delitos contra a vita, entre outros.

0 Presidente, igualmente aos os parlamentares (arts. 51, I e 86, CF), goza de imunidade formal em relação a processo e da prerrogativa do foro (arts. 52, 1 e 102, 1, b, C). Poderá ser preso por infrações penais comuns, sobrevindo sentença condenatória (art. 86, § 3º, CF). Não responderá, durante o exercício de seu mandato, por atos estranhos ao exercício de suas funções

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(art. 86, § 4º, CF), fenômeno este que se denomina imunidade temporária à persecução penal e não imunidade penal. Ressalta-se que não se configura imunidade penal, visto que o Presidente da República não se torna irresponsável por crimes não funcionais. A situação que se apresenta é que o Presidente, enquanto estiver investido em sua função, deixará de responder por infrações exercidas durante este tempo e que não tenham relação com o mandato, não respondendo, outrossim, por atos infracionais realizados anteriormente à sua gestão. A prescrição do crime, nessas situações, ficará suspensa. Faz-se necessário salientar que essa imunidade é apenas penal, ou seja, não inibe uma ação judicial que envolva responsabilidade civil, administrativa, fiscal ou tributária. “A cláusula de imunidade penal temporária, instituída, em caráter extraordinário, pelo art. 86, §4º, da CF, impede que o Presidente da República, durante a vigência de seu mandato, sofra persecução penal, por atos que se revelaram estranhos ao exercício das funções inerentes ao ofício presidencial. Doutrina. Precentes.

Tratando-se, no entanto, de atos praticados ‘in offício’ ou ‘propter officium’, e desde que possuam qualificação penal, tornar-se-á constitucionalmente lícito instaurar, contra o Presidente da República, mesmo na vigência de seu mandato, a pertinente persecução penal, uma vez exercido, positivamente, pela Câmara dos Deputados, o controle prévio da Adminissiblidade da acusação penal (CF, art. 86, caput, c/c o art. 51, I)”. Inq. 1.418-RS, Informativo STF, nº 248, Misn. Celso Mello, relator.

Os crimes de responsabilidade são definidos na legislação federal como as infrações político-administrativas, realizadas no desempenho da função, que perpetrem contra a existência da União, o livre exercício dos Poderes do Estado, a segurança interna do País, a probidade da Administração, contra a lei orçamentária, o exercício dos direitos políticos, individuais, sociais e o cumprimento das leis e das decisôes da justiça (art. 85, CF). VIDE: art. 86, §1º, I e II, e §2º.

Relativamente ao crime comum e em motivação de crime de responsabilidade, é possível que caiba o impeachment (impedimento) do Presidente da República. Quando a situação for de crime comum, o impedimento ocorrerá a partir do recebimento da denúncia ou queixa-crime pelo STF (art. 86, §1º, I, CF). Quando se tratar de crime de responsabilidade, será a partir do momento em que o Senado instaurar o processo (art. 86, § 1º,II, CF). 0 prazo do impedimento é de 180 dias, de forma que, se durante esse prazo o julgamento não for encerrado, o Presidente voltará às suas funções, ressalvada a possibilidade de prosseguimento do processo (art. 86, § 2º,CF).

Se ocorrrer a condenação do Presidente por crime de responsabilidade, conseqüência imediata será a perda do cargo, sem prejuízo das outras sanções cabíveis, além da inabilitação, por oito anos, para o exercício de qualquer função pública (art. 52, par. ún., CF). Se a condenação for por crime comum, ele perderá o cargo se a alcançar a hipótese prevista no art. 92, I, CP:

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“Art. 92 – São também efeitos da condenação: I – a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo, no0s crimes praticos com abuso de poder

ou violação de dever para com a Administração Pública quando a pena aplicada for superior a quatro anos;(...)”.

Havendo previsão na Constituição Estadual ou na Lei Orgânica do DF da

imunidade formal em relação ao processo, estas serão estendidas aos Governadores de Estado e Distrito Federal. Contudo, não poderão gozar da imunidade em relação à prisão ou da cláusula da irresponsabilidade relativa (art. 86, §§ 3º e 4º, CF).

Governadores crimes comuns: STJ, art. 105, I; crimes de responsabilidade: Tribunal Especial – Lei 1079/1950

CE/GO arts. 38 e 39 – da responsabilidade do Governador. CONSELHO DA REPÚBLICA E DE DEFESA NACIONAL: Os arts. 89 e 91 trazem dois órgãos de consulta, não vinculativos, do Presidente da República: o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, sendo que ambos serão presididos pelo Presidente da República, sendo que o Presidente poderá não acatar seus pronunciamentos.

As funções do Conselho da República vêm estabelecidas no art. 90 da CF, competindo-lhe pronunciar sobre intervenção federal, estado de defesa, estado de sítio e questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas. 0 Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta em assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático, encontrando-se sua organização e funcionamento na Lei 8.133/91 e os seus integrantes estão relacionados no art. 91 da CF, tendo suas funções definidas no § 1º desse artigo.

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IV - PODER JUDICIÁRIO

A ESTRUTURA DO JUDICIÁRIO Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo Tribunal Federal; I-A o Conselho Nacional de Justiça; II - o Superior Tribunal de Justiça; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. Parágrafo único. O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional. § 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal. § 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional.

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Estrutura do Poder Judiciário Brasileiro STF: 11 Ministros CNJ: 15 Membros STJ: mínimo de 33 Ministros TST: 27 Ministros TSE: mínimo de 7 Ministros STM: 15 Ministros

1. INTRODUÇÃO

"Judiciário independente, homens livres", é o que afirmou Celso de Mello. No mundo moderno, não conseguiremos conceituar um verdadeiro Estado Democrático de Direito, sem a existência de um Poder Judiciário independente; onde possa exercer sua função de guardião das leis, reconhecendo os direitos do indivíduo. “Poder Judiciário independente é assim sinônimo de vida em sociedade, sem os riscos do retomo da barbárie, da lei do mais forte” – Ramóm Tácio de Oliveira.

Sobre o tema, pronunciou Antônio Marques Cavalcante Filho:

"um Judiciário acreditado e forte é sugestivo da tranqüilidade social, enquanto respaldo à segurança das relações jurídicas, inclusive entre administrados e administradores, e garantia do exercício dos direitos e liberdades individuais, sendo assim o mais conspícuo instrumento de preservação das instituições democráticas, e, por isso, se confortante aos homens de boa vontade, é também urn percalço aos que conspiram, na consonância das conveniências neoliberais, contra a Ordem Instítucional vigorante" (cf., Por um Judiciário forte e sem peia, Revista In Verbis 7, ano 2, abr/maio de 1997, p. 12-13).

0 Poder Judiciário é a maior conquista da sociedade civilizada, visto ser o

instrumento de distribuição de Justiça – a necessidade mais básica de qualquer ser humano.

A base de um Estado de Direito se configura nas garantias da magistratura, visto

elas serém a garantia da cidadania, pois são os instrumentos que conferem à instituição a necessária independência para o exercício da jurisdição, resguardando-a das pressões do Legislativo e do Executivo.

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No Direito Brasileiro, a independência do Judiciário, em nível constitucional é assegurada no art. 2º, art.5º, XXXV e art. 99. No art. 92, de modo exemplificativo, estabelece os órgãos que o compõem. PRINCÍPIOS BALIZADORES O Poder Judiciário é incumbido da função jurisdicional, ou seja, da função de fazer justiça. A independência do Judiciário é uma necessidade da liberdade individual, pois devem existir no Estado órgãos independentes que possam aplicar a lei, inclusive contra o governo e contra a administração. No Estado democrático de direito, cabe ao Judiciário o papel de defender os cidadãos em face das leis inválidas e de garantir a legalidade e a transparência dos poderes públicos contra seus próprios atos ilícitos. Princípios fundamentais do Poder Judiciário: a) Inércia: o Judiciário somente se manifesta quando provocado (garantir sua atuação imparcial). b) Devido Processo Legal: a prestação jurisdicional é mister que deve observar as formalidades legais c) Efeito Inter Partes: a decisão judicial produz efeito entre as partes que participam do processo. Exceção: prestação jurisdicional com efeitos erga omnes, em relação a todos.(sindicalizados ou não) Competência Originária - É o mister conferido aos componentes do Poder Judiciário de julgar, originalmente ou em 1ª instância, as causas que lhe são submetidas. Competência Recursal É o mister conferido aos Tribunais de julgar, em grau de recurso ou 2ª instância, as causas já decididas por Juízes inferiores. É a consagração do Princípio do Duplo Grau de Jurisdição.

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O PODER JUDICIÁRIO E SUAS GARANTIAS O Poder Judiciário é um dos três poderes clássicos previstos pela doutrina e consagrado como poder autônomo e independente de importância crescente no Estado de Direito. Sua função não consiste somente em administrar a Justiça, sendo mais, é ser o verdadeiro guardião da constituição, com a finalidade de preservar, basicamente, os princípios da legalidade e igualdade, sem os quais os demais tornar-se-iam vazios. A chave do poder do judiciário se acha no conceito de independência. Daí as garantias de que goza, algumas das quais asseguradas pela própria Constituição Federal, sendo as principais a vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos dos juízes. Funções típicas e atípicas Ao lado da função de legislar e administrar, o Estado exerce a função de julgar, ou seja, a função jurisdicional, consistente na imposição da validade do ordenamento jurídico, de forma coativa, toda vez que houver necessidade. Podemos, assim, afirmar que função jurisdicional é aquela realizada pelo Poder Judiciário, tendo em vista aplicar a lei a uma hipótese controvertida mediante processo regular, produzindo, afinal, coisa julgada, com o que substitui, definitivamente, a atividade e vontade das partes. ESSA É A FUNÇÃO TÍPICA O Judiciário, porém, como os demais Poderes do Estado, possui outras funções, denominadas atípicas, de natureza administrativa e legislativa. São de natureza administrativa, por exemplo, concessão de férias aos seus membros e serventuários(art. 96, I, f); prover, os cargos de juiz de carreira na respectiva jurisdição (art. 96, I, c ). São de natureza legislativa a edição de normas regimentais (art. 96, I, a.), pois compete ao Poder Judiciário elaborar seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos.

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INDEPENDÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO As garantias conferidas aos membros do Poder Judiciário têm assim como condão conferir à instituição a necessária independência para o exercício da Jurisdição, resguardando-a das pressões do Legislativo e do Executivo, não se caracterizando, pois, os predicamentos da magistratura como privilégio dos magistrados, mas sim como meio de assegurar o seu livre desempenho, de molde a revelar a independência e autonomia do Judiciário. Independência do Poder Judiciário e controle externo Há necessidade de imparcialidade e independência, mas muitos vêm a possibilidade da criação de um controle externo sobre suas atividades. O estudo deve analisar, primeiramente, o teor de dois artigos da Constituição Federal, o art. 2.° (São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário) e o art. 60, § 4.°, inc. III (Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir a separação dos Poderes); isso significa que os poderes da República, independentes e harmônicos entre si, cada qual com sua função soberana, buscou uma finalidade maior, que é evitar o arbítrio e a garantia de liberdade individual do cidadão. Ambas as previsões vieram acompanhadas pelo manto da imutabilidade, pretendendo o legislador constituinte evitar o futuro desequilíbrio entre os detentores das funções estatais. A harmonia prevista entre os Poderes de Estado vem acompanhada de um detalhado sistema de freios e contrapesos (checks and balances), consistente em controles recíprocos. Assim, é necessário lembrar, dentro dessa idéia de reciprocidade de controles, que a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial das unidades administrativas do Poder Judiciário deverá ser realizada pelo Poder Legislativo, através do próprio Congresso Nacional, com o auxílio do Tribunal de Contas da União, no âmbito nacional. Além disto, o modo de escolha e investidura da cúpula do Poder Judiciário – os Ministros do STF - sofre rigoroso controle por parte tanto do Poder Executivo, quanto do Poder Legislativo. A Constituição Federal prevê em seu art. 101 que o “STF compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada", sendo que o parágrafo único do citado artigo, determina que "Os Ministros do STF serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado

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Federal“. Esses mesmos Ministros poderão ser processados e julgados pelo Senado Federal nos crimes de responsabilidade. Apesar de todas essas influências e interferências dos outros poderes em relação ao judiciário, este, não pode ser vítima de qualquer tipo de controle. Os institutos comentados estão na própria constituição e lembrando, servem ao princípio da separação dos poderes e seu sistema de freios e contrapesos. Supremo Tribunal Federal e controle externo do Poder Judiciário O Supremo Tribunal Federal não admite a criação de mecanismos de controle externo do Poder Judiciário que não foram previstos originariamente pelo legislador constituinte, entendendo que tais hipóteses afrontam o princípio da separação dos poderes. Assim, analisando a possibilidade de criação de controles externos às magistraturas estaduais, o Tribunal já declarou a inconstitucionalidade das constituições dos Estados da Paraíba, Pará, Bahia e Mato Grosso. O STF declarou a inconstitucionalidade da Constituição do Estado da Paraíba, que instituía o Conselho Estadual de Justiça, composto por dois desembargadores, um representante da Assembléia Legislativa do Estado, o Procurador-Geral do Estado e o Presidente da Seccional da OAB. Este conselho tinha a atribuição de fiscalização da atividade administrativa e do desempenho dos deveres funcionais do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Advocacia Geral do Estado e da Defensoria Pública. O STF entendeu que essa previsão ofendia, flagrantemente, o princípio da Separação dos Poderes. Assim, se não é possível constitucionalmente a criação de um órgão externo controlador do Poder Judiciário, a própria Constituição Federal já prevê a possibilidade de criação de um Conselho da Justiça, que funcionará junto ao Superior Tribunal de Justiça, cabendo-lhe, na forma da lei, exercer a supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e segundo graus. Ressalte-se que as funções desse Conselho de Justiça devem assemelhar-se às funções dos Conselhos Superiores da Magistratura portuguesa que, como salientado por Canotilho, não podem perturbar a independência interna dos magistrados, isto é, o livre exercício da sua atividade, garantindo-se constitucionalmente, a inexistência de quaisquer vínculos perante os órgãos dirigentes do próprio Judiciário e dos tribunais superiores.

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2. AS GARANTIAS DO PODER JUDICIÁRIO 2.1 - Vitaliciedade (CF, art. 95, I) - A característica definidora da vitaliciedade é a de que o servidor fica investido em caráter perpétuo no cargo. Diante dessa prerrogativa, o juiz não pode perder o cargo salvo por sentença judicial. No primeiro grau, será adquirida após dois anos de exercício (estágio probatório), dependendo, durante esse período, para a perda, de deliberação do Tribunal a que o juiz estiver vinculado e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado.

Os juízes dos Tribunais Superiores, mesmo os advogados e membros do Ministério Público que se ingressarem pelo quinto constitucional, adquirem vitaliciedade no momento da posse. Sumulou o STF: "11. A vitaliciedade não impede a extinção do cargo, ficando o funcionário em disponibilidade, com todos os vencimentos". 2.2 - Inamovibilidade (CF, art. 95, II) - Por essa garantia, entende-se que o juiz somente poderá ser transferido ou promovido por iniciativa própria, jamais ex officio de qualquer outra autoridade, salvo em uma única exceção constitucional, por motivo de interesse público (arts. 93, VIII, e 95, II, CF) e pelo voto de 2/3 do órgão competente. 2.3 - Irredutibilidade de subsídio (CF, art. 95) - Observa-se quanto à remuneração o que dispõem os arts. 37, X e Xl; 39, § 4º; 150, II; 153,III , e 153, § 2º, I. 0 STF entende que a irredutibílidade é jurídica e não real (cf., JSTF, 49/ 94: 57/52). 0 que não pode acontecer, portanto, é a diminuição nominal do salário. 0 seu valor real pode ser reduzido, o que acontece com a corrosão oriunda da inflação. 2.4 Garantias do Poder Judiciário (EXERCÍCIO) Para o exercício de tão importantes missões constitucionais, faz-se necessária a existência de certas garantias, que possibilitem a aplicação dos princípios basilares do Direito Constitucional: a) a regra da proteção dos direitos individuais; b) a regra do processo jurídico regular; c) a regra do razoável ou do equilíbrio de interesses; d) a regra da igualdade de direito à proteção legal.

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2.5 Garantias institucionais Dizem respeito à Instituição como um todo, ou seja, garantem a independência do Poder Judiciário no relacionamento com os demais poderes. Tão importante são as garantias do Poder Judiciário, que a própria constituição considera crime de responsabilidade do Presidente da República atentar contra seu livre exercício, conforme o art. 85.

3. IMPEDIMENTOS DA MAGISTRATURA (ART. 95, PAR. ÚN., Incisos, CF) Objetivam garantir a imparcialidade do juiz. 4. INGRESSO NA CARREIRA E PROMOÇÕES - Artigo 93, I E II CF - LOMAN – Lei Orgânica da Magistratura Nacional – LC 35/79, ARTS. 78 E 79) - Para ingressar na carreira como juiz substituto, necessário passar em concurso público de provas e títulos. Art. 37. - A EC Nº 45/04 alterou o inciso I, do art. 93, acrescendo a regra para ingresso de 03 anos de atividade jurídica. - A OAB tem participação obrigatória no ingresso na carreira de magistrado. 5 - APOSENTADORIA (ART. 93,VI, CF) A aposentadoria, para aqueles que ingressarem no serviço público a partir da EC 20, publicada no DJU, em 16.12.1998 - é compulsória aos 70 anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição (CF, art. 40, II). 5.1 Aposentadoria voluntária e proventos integrais: art. 40, §1º, III, “a”, CF 5.2 Aposentadoria voluntária por idade e proventos proporcionais: art. 40, §1º, III, “b”, CF 5.3 Aposentadoria compulsória por interesse público: art. 40, §1º, III, “b”, CF. 6 - PROMOÇÃO (art. 39) Há benefício de promoção obrigatória. Promoção de instância para instância. Requisitos para promoção é a antiguidade e o merecimento.

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MERECIMENTO 1. Ser indicado a lista de merecimento por 3 x consecutivas ou 5 x alternadas 2. Para isso, tem que ter 2 anos na mesmas instância. Ainda tem que estar na razão de 20% da lista de antiguidade. Salvo se não houver ninguém – lugar vago. 3. Forma de avaliação: - Será o trabalho prestado com presteza e segurança. - Será o trabalho freqüente. - Aproveitamento em cursos de aperfeiçoamento. ANTIGUIDADE Por antiguidade, o tribunal só pode deixar de promover se houver o mais velho da lista, com o voto de 2/3 do respectivo tribunal. A forma de promoção é idêntica nas duas instâncias. Há obrigação em fornecimento de cursos de aperfeiçoamento. 7 - REMUNERAÇÃO DO JUDICIÁRIO Os membros dos tribunais superiores TST, TSE, STM, STJ tem 95% do subsídios dos ministros do STF. Outros magistrados a lei escalonada define, de cada competência. Não pode passar dos 95%. Entre a justiça federal e estadual tem que haver uma diferença de 10 a 5%. 8 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DO JUDICIÁRIO O juiz deve residir na comarca. A remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado só pode acontecer com votos de 2/3. Todo julgamento é público, sob pena de nulidade, podendo a lei restringir. Existência do tribunal pleno. Deve o tribunal ter no mínimo 25 membros, variando o número de 11 a 25.

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9 - FORMA DE ESCOLHA DE MEMBROS DOS TRIBUNAIS Matéria tratada pelo art. 93 da CF. A Escolha de membros é específica para cada tribunal superior. TST, TSE , STM, STJ. Nos outros, tribunal do Estado ou Federal, são escolhidos pela promoção, juntando com 1/5 constitucional, formados por membros do MP e e advogados, de notório saber jurídico e ambos com mais de 10 anos na função. COMPETÊNCIA DOS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO NO BRASIL 10 - SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

É o guardião da Constituição Federal, com função precípua de Corte de Constitucionalidade.

Competência originária (art. 102, I, alíneas, §§ 1º e 2º) Nesses casos, o Supremo analisa a questão em única instância, não havendo possibilidade de ampliação dessa competência por lei inftaconstitucional. A título de exemplo, a ação popular, por não integrar jurisdição originária da Suprema Corte, mesmo que impetrada contra o Congresso Nacional, Ministros de Estado ou Presidente da República, foge da alçada de julgamento dessa instância. Competência derivada: art. 102, II (recurso ordinário), e III, § 3º (recurso extraordinário) Nesses casos, o Supremo é acionado via recursal. Para o recurso extraordinário, é imperativo que haja o pré-questionamento " , repercussão geral das questões constitucionais e também a ofensa direta e frontal à Constituição Federal, não se admitindo o recurso nas hipóteses de ofensas reflexas. COMPOSIÇÃO O Supremo Tribunal Federal é o tribunal de cúpula do Poder Judiciário brasileiro. Tem 11 membros. Há 2 turmas sem hierarquia, cada uma com 5 membros e mais o presidente. REQUISITOS PARA A ENTRADA Nomeação é feita pelo presidente da república. Brasileiro nato com 35 a 65 anos, art. 12, § 3º IV da CF. Aprovação por maioria absoluta dos membros do senado federal, art. 52, III , a, art. 101 parag. Único da CF. Cidadão em pleno gozo de seus direitos políticos de notório saber jurídico e reputação ilibada.

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Não exige formalmente o bacharelado de Direito. Não necessita ser magistrado. O que precisa é ter notório saber jurídico. O Brasil tem o costume de não exigir o bacharelado, diferente do trib. Constitucional Alemão e Português. Quem recebe o novo ministro é o presidente do STF. Em 1893 um médico foi nomeado e ficou 1 ano. ATRIBUIÇÃO A principal atribuição é a guarda da Constituição. NÃO É UMA CORTE CONSTITUCIONAL como Europa e USA. Tem outras atribuições além de guarda da CF, por ex. COMPETÊNCIA DO STF

Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; d) o "habeas-corpus", sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o "habeas-data" contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do

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Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território; f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro; h) (Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados; l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais; n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados; o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal; p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade; q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal; r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

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II - julgar, em recurso ordinário: a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; b) o crime político; III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 1.º A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei. (Transformado do parágrafo único em § 1º pela Emenda Constitucional nº 3, de 17/03/93) § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

11 - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (art. 104 da CF) É o guardião do ordenamento jurídico federal. Existem regras escolha de seus Ministros, aplicando-se a regra do que poderíamos chamar de 1/3 constitucional.

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O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, 33 ministros escolhidos pelo Chefe do Poder Executivo, porém não livremente, pois, obrigatoriamente, deverão ser: • 1/3 de juízes dos TRFs (Tribunais Regionais Federais); • 1/3 de desembargadores dos Tribunais de Justiça Estaduais; • 1/3 divididos da seguinte maneira: • 1/6 de advogados; • 1/6 de membros do Ministério Público Federal, Estaduais e Distrital. Juízes dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça Estaduais, o próprio Superior Tribunal de Justiça elaborará lista tríplice, livremente, e a enviará para o Presidente da República. Ressalte-se a investidura de Ministro do STJ em vaga destinada aos juízes dos Tribunais Regionais Federais ou aos Desembargadores dos Tribunais de Justiça, não se exige que o nomeado pertença originariamente à classe da magistratura, permitindo-se, portanto, que tenha ingressado nesses tribunais pela regra do quinto constitucional prevista no art. 94 da Constituição Federal. No caso, porém, dos advogados e membros do Ministério Público, serão preparadas listas sêxtuplas por cada instituição, que as encaminhará ao Superior Tribunal de Justiça, que elaborará lista tríplice a ser encaminhada ao Chefe do Poder Executivo, São requisitos para o cargo de Ministro do Superior Tribunal de Justiça: a. idade: 35 a 65 anos; b. serem brasileiros natos ou naturalizados; c. notável saber jurídico e reputação ilibada. O Presidente da República escolhe o candidato, dentro das listas tríplices a ele apresentadas. Este será sabatinado pelo Senado Federal,. Somente se aprovado pela maioria simples (art. 104, parágrafo único cc. art. 47, ambos da CF) do Senado Federal é que poderá ser nomeado pelo Presidente da República.

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COMPETÊNCIA DO STJ

Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e três Ministros. Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal, sendo: Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal; II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente, indicados na forma do art. 94. Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais; b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal; c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea a, ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

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d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, o, bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos; e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados; f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da União; h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal; i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias; II - julgar, em recurso ordinário: a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória; b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão; c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País; III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. Parágrafo único. Funcionarão junto ao Superior Tribunal de Justiça:

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I - a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados, cabendo-lhe, dentre outras funções, regulamentar os cursos oficiais para o ingresso e promoção na carreira; II - o Conselho da Justiça Federal, cabendo-lhe exercer, na forma da lei, a supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema e com poderes correicionais, cujas decisões terão caráter vinculante.

Competência originária: Questão analisada em única instância. Vide art. 105, I. Competência derivada: Artigo 105, II (recurso ordinário) e artigo 105, III (recurso especial). 12 - TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS: arts. 106 ao 108. CF. Competência originária: art. 108,I. Competência derivada: art. 108, II. 13 - JUÍZES FEDERAIS: Competência: art. 109. A EC nº 45/2004 trouxe o inciso V-A, onde cabe aos juízes federais processar e julgar as causas relativas a direitos humanos, remetendo ao §5º do mesmo artigo. 14 - TRIBUNAIS E JUÍZES DO TRABALHO (art. 111 da CF) Trata-se de uma Justiça especializada em razão da matéria. A sua competência vem firmada no art. 114 da CF, tendo sido profundamente alterada pela EC nº 45/04. A composição do TST foi incluída no texto constitucional pela EC 45/04, criando o art. 111-A, assim como a competência dos TRT’s também foi alterada pela emenda retro citada, na redação do art. 115.

Artigo 111, § 1.°, CF para a composição do TST , sendo que à partir da EC n.° 24, não mais há participação classista Observe-se que o art. 2.° da EC n.° 24, assegurou o cumprimento dos mandatos dos atuais ministros classistas.

O TST compõe-se de 17 Ministros togados e vitalícios, com mais de 35 anos e menos 65 anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pelo Senado Federal, dos quais:

• onze escolhidos dentre juízes dos TRT, • três dentre advogados; • três dentre membros do Ministério Público do Trabalho.

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No caso dos Ministros escolhidos dentre os juízes dos TRT,, o próprio TST elaborará lista tríplice e encaminhará ao Presidente da República. No caso dos advogados e membros do Ministério Público, cada uma das carreiras encaminhará lista sêxtupla ao TST, observados os requisitos do art. 94 da Constituição Federal, que elaborará lista tríplice, encaminhando-se ao Presidente da República, que procederá a escolha.

São requisitos para pertencer ao TST:

a. idade: 35 a 65 anos; b. ser brasileiro nato ou naturalizado.

O Presidente da República, escolherá o candidato a Ministro do TST, que será sabatinado pelo Senado Federal. Somente se aprovado pela maioria simples (art. 111, § 1.° cc. art. 47, ambos da Constituição Federal) do Senado Federal (art. 52, III, da CF) é que poderá ser nomeado pelo Presidente da República. 15 - TRIBUNAIS E JUÍZES ELEITORAIS CF, arts, 118 a 121 e arts. 12 a 41 do Código Eleitoral Inaplicabilidade da regra do 1/5 constitucional, existem regras predeterminadas sobre a Composição do TSE. O TSE é composto por 7 Juízes, sendo: a. 3 juízes entre os Ministros do S T F; b. 2 juízes entre os Ministros do S T J c. 2 juízes entre advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral. A Constituição Federal somente exige requisitos especiais para os 2 juízes p à advocacia, : notável saber jurídico e idoneidade moral. A nomeação, em relação aos Ministros do STF e do STJ, decorrerá de eleição mediante voto secreto, nos próprios Tribunais, para escolha dos juízes eleitorais. Em relação aos dois juízes/advogados, o STF elaborará lista sêxtupla e a encaminhará ao Presidente da República, que nomeará dois, não havendo necessidade de aprovação do Senado Federai. Obrigatoriamente o Presidente e Vice-presidente do TSE serão ministros do Supremo Tribunal Federal, eleitos pelos sete juízes eleitorais e o Corregedor Eleitoral será Ministro do STJ, igualmente eleito (art. 119, parágrafo único, da CF).

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16 - TRIBUNAIS E JUÍZES MILITARES (CF, art. 123 e seguintes) Compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Os civis, desde que considerados autores de crime militar (assemelhados), poderão se submeter ao foro militar. Não consagram a regra genérica do 1/5 (quinto) constitucional. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de 15 Ministros, sendo 10 militares e cinco civis, da seguinte maneira: a. três entre oficiais-generais da Marinha, da ativa e do posto mais elevado da carreira; b. quatro entre oficiais-generais do Exército, da ativa e do posto mais elevado da carreira; c. três entre oficiais-generais da Aeronáutica, da ativa e do posto mais elevado da carreira; d. cinco civis, sendo três advogados, um juiz auditor e um membro do Ministério Público Militar. A Constituição Federal somente prevê requisitos especiais para os ministros civis, quais sejam: a. idade: maior de 35 anos; b. ser brasileiro nato ou naturalizado; c. notório saber jurídico e conduta ilibada, no caso das vagas para três advogados; d. dez anos de efetiva atividade profissional, igualmente, no caso das vagas para os três advogados. Para os 10 militares, há requisito de ser brasileiros natos (art. 12, § 3.°, VI, da Constituição Federal). O Presidente da República, livremente, ou seja, não há necessidade de lista tríplice ou sêxtupla,, que será sabatinado pelo Senado Federal. Após a aprovação, por maioria simples, o Presidente da República o nomeará. 17 - TRIBUNAIS E JUÍZES DOS ESTADOS (CF, arts. 125 e 126)

Pelo texto do art. 96, III, da CF, observa-se que é da competência do Tribunal de Justiça julgar os crimes comuns e de responsabilidade praticados pelos juízes e membros do Ministério Público dos Estados, do Distrito Federal e Territórios (crime de responsabilidade praticado pelo Procurador-Geral de Justiça é julgado pelo Poder Legislativo). No caso de crime eleitoral, a competência de julgamento é do Tribunal Regional Eleitoral.

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Mesmo sendo hipótese de crimes políticos ou infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral, situações em que o art. 109, IV, da CF, determina ser da competência da Justiça Federal, o juiz será julgado pelo Tribunal de Justiça, pois a norma inserida no art. 109, IV, CF, é regra geral, que cede passo à disposição especial estabelecendo foro diverso por prerrogativa de função (CF, art. 96,III). Nesse sentido: JSTJ, 46/532.

Os Governadores de Estado são julgados pelo STJ nos casos de crimes comuns e

eleitoral" (CF, art. 105, I, a). Nos casos de crimes de responsabilidade, serão julgados pelo órgão definido na Constituição Estadual.

O Vice-Governador, tanto nos casos de crimes comuns como nos de

responsabilidade, será julgado pelo órgão previsto na Constituição Estadual. Normalmente a previsão é de competência do Tribunal de Justiça. Em regra, os parlamentares estaduais respondem pelos crimes comuns perante os Tribunais de Justiça (normalmente é a previsão da Constituição Estadual). Nos casos de crimes de responsabilidade, são julgados pela Assembléia Legislativa.

Os Prefeitos, nos crimes comuns (CF, art. 29, X), são julgados pelo Tribunal de

Justiça. Nos casos das infrações político-administrativas (crimes de responsabilidade)," são julgados pela Câmara de Vereadores. Se praticarem infração penal em detrimento de bens, serviços ou interesse da União Federal, empresas, públicas e autarquias federais, o julgamento será feito pelo TRF (vide CF, 109, IV e 108, I). 18 - PODER JUDICIÁRIO NO DISTRITO FEDERAL

É organizado e mantido pela União, não integrando, no dizer de Kildare Gonçalves de Carvalho, a Justiça Federal. 0 referido Professor afirma o mesmo em relação ao Ministério Público e à Defensoria Pública. Mas o Prof. José Afonso da Silva diz que tanto o Poder Judiciário como o Ministério Público e a Defensoria Pública pertencem à União e não ao Distrito Federal. De qualquer modo, quando a União organiza e mantém tais órgãos, a autonomia do Distrito Federal fica parcialmente afetada.

Para melhor entendimento do tema, vide: CF, arts. 21, XIII; 22, XVII; 48, IX e 92, VII; 128, I, d e § 3º e 134, par. ún.

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FUNÇÕES ESSENCIAIS À ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA 1. O MINISTÉRIO PÚBLICO 1.1- Introdução – Posição Constitucional:

Não é o Ministério Público um quarto poder do Estado, mas um órgão do Poder Executivo, que faz executar as leis através do Judiciário. Está situado em capítulo especial da Constituição Federal (Capítulo IV do Título lV), possuindo os seus membros independência no exercício de suas funções. Sua função é de natureza administrativa, por isso aparece, ora compondo o Poder Judiciário, ora compondo o Poder Executivo. É instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais indisponíveis (art. 127, C). Sua obrigação é realizar os interesses da sociedade e não, dos governantes. NATUREZA DO MP – Walber de Moura Agra: O MP não pode ser classificado como um quarto poder, desvinculado dos Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo, apesar do extenso rol de garantias que a CF lhe outorgou. Ele está adstrito ao Executivo, e não apenas pelo fato de o Procurador-Geral da República (PGR) ser escolhido pelo Presidente. O principal empecilho a que o MP seja considerado um 4º poder é que a CF, no art. 2º não o elencou como um poder independente. Outro obstáculo é a determinação de que a organização do MP é de iniciativa concorrente do Presidente da República e do PGR (art. 61, §1º, II, “d”, c/c art. 128, §5º, da CF), enquanto que a iniciativa para organização do Poder Legislativo (arts. 51, IV e 52, XIII) e do Poder Judiciário (art. 93) pertence exclusivamente a cada um desses poderes. É claro que a idéia de considerá-lo como um 4º poder propicia melhores condições para o desempenho de suas atividades. Inclusive esta é a tendência do constitucionalismo moderno criando um 4º poder, formado pelo MP e Tribunal de Contas, com a finalidade de fiscalizar a coisa pública e zelar pela aplicação da lei (EX: Constituição da Venezuela, de 1999). JOSÉ AFONSO DA SILVA não aceita a tese que postula que o MP forma um 4º poder, por entender que, mesmo com a ampliação das competências estabelecidas pela CF/88, a essência de suas atividades ainda é executiva, sendo uma instituição vinculada ao Poder Executivo. Explica, ainda, que seus membros são agentes políticos, com ampla liberdade funcional, desempenhando suas atribuições com prerrogativas e responsabilidades estabelecidas na

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CF e em leis especiais. Em suma, seria um órgão vinculado ao Poder Executivo, mas dotado de autonomia administrativa para o fiel cumprimento de duas obrigações. A CF/88 enquadrou o MP como órgão do Poder Executivo, dotando-o de significativa autonomia para a realização das tarefas. Os que classificam o MP como um 4º poder partem de uma construção teórica, baseando-se no que deveria ter sido estipulado, sem respaldo na CF. Organização do Ministério Público – art. 128, CF:

MINISTÉRIO PÚBLICO

Ministério Público Federal MPU

Chefe: art. 128, §1º

(Destituição: §2º)

Ministério Público da Justiça Comum Federal (Procurador da República)

PGR: nomeado pelo PR

Ministério Público do Trabalho (Procurador do Trabalho)

PGT: nomeado pelo PGR

Ministério Público Militar (Promotor de Justiça Militar)

PGM: nomeado pelo PGR

Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (128, § 3º) [Promotor de Justiça]

PGJ: nomeado pelo PR

Ministério Público Local MPE Chefe: art. 128, §3º (Destituição: §4º)

Ministério Público dos Estados- Membros (Promotor de Justiça)

PGJ: nomeado pelo Governador do Estado

1.2- Princípios – Art. 127, §1º

Unidade, indivisibilidade e independência funcional, assegurada a autonomia funcional e administrativa. Unidade: quer dizer que dentro de cada Ministério Público, seus membros compõem um só órgão, sob a direção de um só chefe; Indivisibilidade: significa que seus membros podem ser substituídos uns pelos outros, nos termos da lei; Independência funcional: preceitua que o Ministério Público é independente no exercício de suas funções, não se sujeitando a ordens de quem quer que seja, de forma que só deve obediência à Constituição, às leis e à sua consciência. 0 art. 85, II, da CF, revela um traço muito forte dessa independência.

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Só existe unidade dentro de cada Ministério Público, de forma que não existe unida-de entre o Ministério Público Federal e os dos Estados, ou entre o de um Estado e o de outro, ou entre os diversos ramos do Ministério Público da União. Ressaltamos que o chefe do Ministério Público Federal, o do Trabalho e o Militar é o Procurador-Geral da República.

As funções do Ministério Público vêm elencadas claramente no art. 129,

destacando, aí, casos de atuação como órgão agente ou interveniente. A ação penal pública é da alçada privativa do Ministério Público. 0 inc. LIV, art. 5º,

da CF, não afeta essa privacidade, pois a ação do dispositivo é privada subsidiária, ou seja, só será exercitada no caso de inércia do Ministério Público, é dizer, quando, no prazo do art. 46, do CPP, o Promotor não oferecer denúncia, não requerer o arquivamento do inquérito policial ou não requisitar diligências. 1.3- Autonomia e garantias do Ministério Público:

A Constituição, defendendo a autonomia do MP, preceitua que o ele elaborará sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na leis de diretrizes orçamentárias - art. 127, § 3º. Na Lei 8.625/93 (LOMP) também é assegurado a autonomia financeira e administrativa do Ministério Público (cf. art. 3º). Contudo, sua proposta orçamentária, deve ser submetida ao Chefe do Executivo, para, se aceita, ser encaminhada ao Poder Legislativo (cf. art 4º da LOMP).

0 Ministério Público dispõe da iniciativa para propor ao Poder Legislativo projeto de

lei sobre a criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares (art. 127, § 2º, CF), bem como sobre a organização, atribuições e o estatuto de cada Ministério Público (art 128, § 5º,CF), sendo esta última matéria, no âmbito da União, de iniciativa concorrente com o Presidente da República (art. 61, § 1º, II, d, CF), conforme já entendeu o STF. 0 provimento dos cargos e serviços auxiliares da instituição é de competência privativa do Chefe do respectivo Ministério Público (art. 127, § 2º, CF).

As garantias dos seus membros são: a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de vencimentos (que são as mesmas dos juízes).

As vedações estão discriminadas no art. 128, § 5º, II, da CF.

O Procurador-Geral da República é nomeado pelo Presidente da República e é escolhido dentro da carreira do Ministério Público da União (Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, ou Ministério Público da Justiça Militar). Observe os artigos 128, § 1º, CF; LC 75/93 (LOMPU), art. 25. A destituição vem regulamentada no § 2ª do art. 128 da CF e parágrafo único da LC 75/93.

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O Procurador-Geral de Justiça dos Estados, do Distrito Federal e Territórios é escolhido pelo Chefe do Poder Executivo (Governador) dentro da lista tríplice, formada por integrantes da carreira, para mandato de dois anos, permitida uma recondução. Vide art. 128, § 3º, da CF e art. 9º da Lei 8.625/93.

A destituição do Procurador-Geral de Justiça vem regulamentada no § 4º, do art. 128

da CF e § 2.ºdo art. 9º, e art. 12, IV, da Lei 8.625/93 (LOMP). No caso de crimes de responsabilidade, o Procurador-Geral responde junto ao Poder Legislativo Estadual ou Distrital. Se o crime de responsabilidade for praficado em companhia do Governador, a competência de julgamento vai depender da previsão na Constituição Estadual.

“Cabe esclarecer que, embora o Procurador-Geral da República seja o Chefe do Ministério Público da União, ele não chefia todos os ramos desse Ministério Público, pois três deles dispõem de chefia própria. Com efeito, dentre os quatro ramos do Ministério Público da União, somente o Ministério Público Federal – MPF é também chefiado pelo Procurador-Geral da República. Assim, o Ministério Público do Trabalho e o Ministério Público Militar têm Procurador-Geral próprio, nomeados pelo Procurador-Geral da República, na forma estabelecida em lei complementar (Procurador-Geral do Trabalho e Procurador-Geral de Justiça Militar, respectivamente). Por sua vez, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios é chefiado pelo Procurador-Geral de Justiça, nomeado pelo Presidente da República, a partir de lista tríplice elaborada pelo respectivo Ministério Público, dentre integrantes da carreira, para mandato de dois anos, permitida uma recondução. Observe-se que o Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios não é nomeado pelo Procurador-Geral da República (como acontece com os Procuradores-Gerais do Trabalho e da Justiça Militar), tampouco pelo Governador do Distrito Federal (como acontece com os Procuradores-Gerais de Justiça nos estados, que são nomeados pelos respectivos Governadores). A sua nomeação é feita pelo Presidente da República, tendo em vista que, no Distrito Federal, compete à União organizar e manter o Ministério Público (CF, art. 21, XIII). Da mesma forma, sua destituição, se for o caso, não será por deliberação da maioria absoluta da Câmara Legislativa do Distrito Federal, mas sim por deliberação da maioria absoluta do Senado Federal” (PAULO; ALEXANDRINO, 2007, p. 670). CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO: Foi criado pela EC 45/04, tendo suas competências definidas no §2º do art. 130-A.

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2. ADVOCACIA-GERAL DA UNIÂO (Art. 131,CF):

A representação judicial e extrajudicial da União é feita pela AdvocaciaGeral da União (que exerce a consultoria jurídica do Executivo Federal), cuja função está regulamentada na LC 73/93 (LOAGN), sendo vedada ao Ministério Público essa função. O chefe da AGU é o Advogado Geral da União, que é nomeado pelo Presidente da República (§1º do art. 131, CF). A forma de ingresso nesta carreira vem determinada no §2º do art. 131. A estabilidade na carreira só se dá após 03 anos de efetivo exercício.

Nos Estados e Distrito Federal, o encargo de Advogado-Geral é exercido pelo

Procurador do Estado (art. 132, CF, com a nova redação dada pela emenda constitucional nº 19/98). O art. 132, CF conferiu aos Procuradores dos Estados e DF a função de assessoramento jurídico no âmbito da Administração Direta do Poder Executivo Estadual ou Distrital. O art. 69 do ADCT permitiu que os Estados mantivessem consultorias jurídicas separadas das Procuradorias Gerais ou Advocacias Gerais, desde que, antes de promulgação da CF/88, tivessem órgãos distintos para as respectivas funções. 3. ADVOCACIA

O artigo 133, CF, trouxe a indispensabilidade do advogado à administração da Justiça e erigiu sua imunidade dentro de lei, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, pautado pelos limites da lei. Pela primeira vez, em nossa história constitucional, temos dedicado disposição especial ao advogado. Cada vez mais, o advogado se torna imprescindível não só para a vida judiciária, como também na vida política, sendo-lhe exigido a defesa tanto da ordem jurídica, assim como das instituições do Estado Democrático de Direito.

Contudo, mesmo diante da norma prevista no art. 133, vê-se que a intervenção do

advogado em juízo não é absoluta, pois em alguns casos o direito de postular é dado a qualquer pessoa (v. g., habeas corpus, revisão criminal, nos juizados especiais, reclamações trabalhistas, alguns recursos eleitorais interpostos pelos delegados de partido).

A polêmica que se suscita é a seguinte: como ficariam essas exceções diante do princípio constitucional da indispensabilidade do advogado na administração da justiça? Ressaltamos que a Lei 8906/94 (Estatuto da Advocacia e da OAB) esclarece que é atividade privativa da Advocacia a postulação em qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais, sendo excepcionado apenas a impetração de hábeas corpus (art. 1º, I, §1º). Entretanto, o STF ao apreciar a ADIN 1.127-8-DF, concedeu medida cautelar suspendendo a eficácia, no inciso I do art. 1º do Estatuto, da palavra “qualquer”,

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pautando que não é necessária a presença do advogado nos Juizados de Pequenas Causas, na Justiça de Paz e na Justiça do Trabalho (DJU, 14.10.94, Sec. I, p. 27.596).

De acordo com a Lei 9.099/95, em seu artigo 9º, ficou disposto que, no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, a assistência do advogado só é exigida nas causas de valor superior a 20 salários mínimos, sendo até este limite sua assistência facultativa. E, de acordo com a Lei 10.259/01 (Lei dos Juizados Especiais Federais), as partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou não. 4. DEFENSORIA PÚBLICA

A Defensoria Pública se caracteriza como sendo um dos princípios da igualdade jurisdicional , viabilizando o acesso ao Judiciário pelos ricos e pelos pobres. A Defensoria Pública é órgão essencial à função jurisdicional do Estado, com a responsabilidade da orientação jurídica e defesa, em todos os graus, dos necessitados. Decorre do art. 5º, LXXIV, da CF, que diz que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.

No âmbito da União, do Distrito Federal e dos Territórios, é organizada por lei

complementar (LC nº 80, de 12.1.1994), que também fixará normas gerais para sua organização nos Estados (art. 134, par. ún., CF). O benefício da justiça gratuita, como direito à dispensa de despesas processuais, vem regulado pela Lei 1.060/50, cujos artigos 1º e 4º foram alterados pela Lei 7.510/86.

A assistência jurídica prestada pelo Estado aos necessitados é integral: todo aquele

que se encontre em situação de miserabilidade será dispensando das despesas processuais (custas judiciais), cabendo ainda ao Estado lhe providenciar um defensor em juízo. A CF/88 garantiu à Defensoria Pública isonomia de vencimentos, conforme os artigos 135 c/c 39, §4º. 5 - CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA Criado pela EC Nº 45/2004, funcionando como Controle Externo do Judiciário, tendo sua composição disposta no art. 103-B, incisos (tendo participação de outros membros que não do Judiciário), e definida sua competência no §4º do mesmo artigo. “O CNJ é um apêndice do STF, no sentido de parte acessória, mas distinta pela sua forma ou posição, de importância menor se comparada a ele, submetida a sua magnitude” (BULOS, 2007, p. 1090). “Órgão interno de controle administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura. Constitucionalidade reconhecida” (ADI 3.367/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, 13.4.2005).

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Art. 103 B: O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de quinze membros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e seis anos de idade, com mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo: I - um Ministro do Supremo Tribunal Federal, indicado pelo respectivo tribunal; II- um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo tribunal; III- um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal; IV- um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; V- um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; VI- um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura: I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências; II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União; III- receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correcional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos

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proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa; IV- representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso de autoridade; V- rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano; VI- elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário; VII -elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa.