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DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................4

2 CONCEITO E CONSIDERAÇÕES SOBRE NAÇÃO......................................................5

3 CONCEITO DE NACIONALIDADE..................................................................................6

3.1 A diferença entre Nacionalidade e Cidadania .................................................................7

4 FONTE CONSTITUCIONAL DO DIREITO DE NACIONALIDADE..........................8

5 ESPÉCIES DE NACIONALIDADE ..................................................................................9

5.1 Nacionalidade primária ( originária)................................................................................9

5.2 Nacionalidade secundária ( adquirida).............................................................................9

6 POLIPÁTRIDA E HEIMATLOS ......................................................................................10

6.1 O polipátrida ....................................................................................................................10

6.2 O heimatlos ( sem pátria) ................................................................................................11

7 OS BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS.......................................................12

7.1 Brasileiros natos................................................................................................................12

7.2 Brasileiros naturalizados..................................................................................................14

8 EXCEÇÕES À IGUALDADE ENTRE BRASILEIROS NATOS E

NATURALIZADOS................................................................................................................17

9 CASOS DE PERDA DA NACIONALIDADE BRASILEIRA ........................................18

10 REAQUISIÇÃO DE NACIONALIDADE ......................................................................19

10.1 Do procedimento sobre a reaquisição de nacionalidade..............................................20

11 CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO ........................................................... 22

11.1 Legislação concernente aos estrangeiros .................................................................... 22

11.2 O português equiparado................................................................................................23

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11.3 Direitos civis, sociais e políticos.....................................................................................24

11.4 Saída compulsória do estrangeiro ................................................................................25

11.5 Asilo político....................................................................................................................28

12 VISTOS...............................................................................................................................29

12.1 Vistos de entrada.............................................................................................................29

12.2 Tipos de vistos..................................................................................................................29

13 CONCLUSÃO ...................................................................................................................32

14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................33

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa fornecer uma idéia geral sobre nacionalidade, procurando

principalmente focar a nacionalidade brasileira e explanar as formas de aquisição, perda e os

meios para conseguir a sua reaquisição, tendo como base a Constituição de 1988 e as leis

ordinárias que complementam o tema, como a lei 8615/80 e a lei 6964/81 que versam sobre a

condição jurídica do estrangeiro e a situação deste no Brasil, respectivamente.

A nacionalidade é um tema de ampla importância, por isso é tratado tanto pelo direito

interno, no que tange às prerrogativas e deveres resultantes da relação política-jurídica

estabelecida com o Estado, como pelo direito internacional, o qual procura garantir a proteção

dos Direitos dos Homens, permitindo que todos os indivíduos tenham direito a uma

nacionalidade e assim seus direitos sejam assegurados em diferentes Estados.

Também procura desfazer alguns equívocos, esclarecendo conceitos normalmente

confundidos e que são de fundamental relevância para aprofundar o tema , como por exemplo,

a diferença entre os binômios povo e população e nação e povo.

Busca ainda conceituar quem são os nacionais e os estrangeiros, expondo as

diferenças entre cada um e os deveres assumidos por estes perante o Estado, conforme a

situação em que se encontra.

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2 CONCEITO E CONSIDERAÇÕES SOBRE NAÇÃO

“A nação não é só um pedaço de terra povoada, que se defende contra o inimigo; é, sobretudo, a organização da nossa liberdade, o corpo sagrado das tradições da nação, das suas instituições constitucionais, dos seus direitos populares. E a honra do soldado, que preside aos destinos da República, carece do complemento desta glória imaculada, para que possam vingar na história os louros conquistados nos campos da batalha em defesa da honra nacional.”

Senado Federal, DF – RJ.

Nação é um conceito complexo e impreciso, pois abrange diversos elementos, ligados

por um nexo, mas que não se definem por si só. A palavra derivada do latim natio, de natus

(nascido), remete a uma definição que toma como princípio a idéia de que nação é uma

composição étnico-cultural formada por indivíduos que compartilham de um passado

histórico comum (fatos históricos, ritos de criação, heróis nacionais e outros elementos),

falam a mesma língua e possuem os mesmos costumes, religião, hábitos, tradições, valores e

ideais. Também podemos considerar como elementos de uma nação a origem e os interesses

comuns. Devemos lembrar que esta não é uma composição que exprime apenas a atualidade,

mas sim as gerações passadas com suas heranças e também as gerações futuras. Esses

elementos fazem com que essa composição étnico-cultural se torne coesa e quase homogênea,

pois suas delimitações étnicas e políticas coincidem.

Esses requisitos como a língua, território, religião, costume e tradição não exprimem o

caráter de nação por si só, pois devemos considerar como elemento dominante o vínculo

adquirido por estes indivíduos e um “querer viver coletivo”.

Vale ressaltar que apesar desta definição de nação remeter ao conceito de povo, estes

conceitos não devem ser confundidos, tampouco este deve se misturar com o conceito de

população, pois povo é o conjunto de pessoas vinculadas a um país, a um regime político e a

um Estado, portadores de titularidade para exercer os direitos políticos, podendo ser formado

por diferentes etnias, enquanto a população é uma expressão demográfica que engloba todos

os residentes no país. Já a nação preexiste sem qualquer espécie de organização legal e

corresponde a uma soma de fatores que servem de base para a formação desta unidade

nacional.

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3 CONCEITO DE NACIONALIDADE

A partir do conceito de nação podemos aferir a essência do termo nacionalidade, pois

esta se originou dos traços da nação e expressa os vínculos de seus elementos.

O conceito de nacionalidade está no pertinente vínculo jurídico estabelecido entre o

individuo e o Estado. Esse vínculo pressupõe que a pessoa goze de determinados direitos

frente ao Estado (resultantes da emanação da soberania deste) bem como acarreta em uma

relação de obrigações e prerrogativas.

Os nacionais são todos que se ligam em um certo ambiente cultural e se integram a

suas tradições, costumes, língua, aspirações e estabelecem um vínculo jurídico-político com o

Estado , sendo tanto o nato como o naturalizado, enquanto a nacionalidade de uma pessoa

jurídica costuma ser a do Estado sob cujas leis foi constituída e registrada.

Em suma, nas palavras de José Afonso Filho, “nacionalidade é o vínculo jurídico-

político de Direito Público interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da

dimensão pessoal do Estado”.

A nacionalidade configura-se como um direito fundamental, pois qualifica o nacional

para que este desfrute de certos privilégios concedidos pelo Estado. Bem por isso, ela foi

abordada pela Convenção Americana de Direitos Humanos, também conhecida como Pacto

de São José da Costa Rica que ocorreu em 22 de novembro de 1969 e foi ratificada pelo

Brasil em 25 de setembro de 1992 que dispõe:

“ARTIGO 20

Direito à Nacionalidade

1. Toda pessoas tem direito a uma nacionalidade.

2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território houver nascido, se

não tiver direito a outra.

3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua nacionalidade nem do direito de muda-

la.”

A importância da verificação da nacionalidade de uma pessoa está no fato de que é a

partir desta observância que se pode haver a distinção entre nacionais e estrangeiros e seus

diferentes direitos, bem como o critério de nacionalidade implica na aplicação da proteção

diplomática à pessoa no exterior.

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É importante lembrar que o conceito de povo refere-se ao conjunto de nacionais (natos

ou naturalizados) e o conceito de população é atribuído ao conjunto de residentes em um

território abrangendo aos nacionais e estrangeiros.

Os critérios para a aquisição de nacionalidade são os jus sanguinis e jus solis e a

escolha deste provém do exercício da soberania de cada Estado de acordo com o que melhor

lhe convier. Assim, aos Estados cabe dizer quem são seus nacionais e as implicações

decorrentes desta atribuição.

3.1 A diferença entre Nacionalidade e Cidadania

O conceito de cidadania tem sua origem na Grécia clássica. A palavra deriva do latim

civitas,"cidade", sendo apontada então para remeter aos direitos de quem vivia na cidade, ou

seja, o cidadão. A cidadania implica todas as designações decorrentes da vida em sociedade e

a participação ativa nas decisões políticas.

Esse conceito foi sendo ampliado no decorrer da história , assinalando a um complexo

de valores sociais que determinam o “conjunto de direitos, e deveres ao qual um indivíduo

está sujeito em relação à sociedade em que vive” 1

Podemos perceber assim, que conceito de cidadania sempre esteve fortemente ligado a

noção de direitos políticos e a participação direita ou indireta na formação e administração do

governo, bem como na intervenção dos negócios públicos . Talvez por isso, as definições de

cidadania e nacionalidade foram muitas vezes unificadas, a exemplo da Constituição de 1824

que as igualou no seu artigo 6°, pois no aspecto que diz respeito ao vínculo adquirido entre o

indivíduo e o Estado esses conceitos são muito semelhantes, porém divergentes.

O conceito de nacionalidade é diverso ao de cidadania, pois esta implica no gozo e

participação nos negócios políticos e na vida do Estado, ela é um “status jurídico e político

mediante o qual o cidadão adquire direitos civis, políticos e sociais” 2. Ou seja, a

nacionalidade é um requisito para a cidadania, uma vez que todos os cidadãos são nacionais

de um Estado. Porém a recíproca não é verdadeira, pois nem todo nacional é cidadão,

havendo os indivíduos que não estão acometidos de direitos políticos e podem ser nacionais

de um Estado sem serem cidadãos.

1

? Luiz Flávio Borges D´urso. A Construção da Cidadania.

2 Idem.

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4 FONTE CONSTITUCIONAL DO DIREITO DE NACIONALIDADE

A nacionalidade é um direito material e formalmente constitucional, pois cada Estado

diz quais são seus nacionais, os modos de aquisição de nacionalidade e as situações jurídicas

que os envolvem.

Assim como a maioria dos países latino-americanos, o Brasil estabelece os parâmetros

reguladores da nacionalidade e os modos de aquisição desta em sua sua própria Constituição,

já em outros países ( por exemplo o Japão) a matéria é disciplinada em leis ordinárias.

No Brasil, essas coordenadas orientadoras dos modos de aquisição de nacionalidade,

estão previstas nos dispositivos do artigo 12 da Constituição Federal. Esses dispositivos

delimitam quais serão os casos em que será atribuída a nacionalidade brasileira e para tanto,

distingue os brasileiros em dois grupos: os natos e os naturalizados.Essa dintinção permite

consequências juridicas relevantes e admite exceções a igualdade entre eles.

Há dois diplomas de leis ordinárias que incorporam-se a esse dispositivo . São a Lei

818 ( revogada no que desrespeita a condição jurídica do estrangeiro, pelo Decreto- Lei

941/69, já revogado pelo Estatuto do Estrangeiro e a Lei 6.815 de 10.08.80, com alterações da

Lei 6.964 de 9.12.81, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil ).

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5 ESPÉCIES DE NACIONALIDADE

5.1 Nacionalidade primária (originária)

A nacionalidade originária é aquela que é adquirida pelo fator nascimento. Não

depende, pois, da vontade do indivíduo. Esta dá origem ao nacional nato.

Segundo Luiz Alberto David Araújo a nacionalidade primária pode assim ser definida:

Nacionalidade primária, ou originária, é aquela que o indivíduo adquire por força do nascimento. Portanto o vínculo jurídico estabelecido emana de uma atribuição unilateral do Estado, fazendo com que o indivíduo adquira a qualidade de nacional junto àquele Estado, independentemente de sua vontade.

Há dois critérios para se determinar as normas da nacionalidade primária e cada país escolhe

qual quer adotar: o jus solis, também conhecido como o critério da territorialidade, que é

condicionado pelo nascimento do indivíduo no território do respectivo Estado, não sendo

levado em consideração o local de nascimento de seus pais. E o jus sanguinis que condiciona

a aquisição da nacionalidade levando-se em conta a nacionalidade dos pais, ou seja, filhos de

pais nacionais também são considerados como tais.

Normalmente os países em que ocorreram grandes emigrações optam pelo jus

sanguinis, como é o caso da maioria dos países europeus, com o objetivo de manter laços com

seus nacionais e seus descendentes e não diminuir o número de seus nacionais. Já os países

em que receberam grande quantidade de imigrantes optam pelo jus solis como ocorre no

Brasil e em vários países da América, que foram colonizados, com a fim de nacionalizar

aqueles que vivem em seu território.

5.2 Nacionalidade secundária (ou adquirida)

A nacionalidade secundária é aquela em que o indivíduo adquire a nacionalidade por

meio de um procedimento jurídico. A aquisição desta se manifesta por uma relação bilateral,

de um lado o indivíduo, que pode ser apátrida ou nacional de outro Estado, solicita pela nova

nacionalidade e o Estado, desde que sejam cumpridos todos os requisitos previstos em lei,

assente nessa decisão.

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6 POLIPÁTRIDA E HEIMATLOS

6.1 O polipátrida

É possível que uma pessoa seja reconhecida como nacional de mais de um país,

independente da sua vontade. O indivíduo é denominado polipátrida quando o nascimento é

ligado aos dois critérios de determinação da nacionalidade primária, jus sanguinis e jus solis..

Por exemplo, quando indivíduos oriundos de um Estado que adota o critério jus sanguinis,

nascem em um Estado cujo critério é o jus solis.

Os filhos de italianos nascidos no Brasil ilustram bem tal situação, uma vez que, a

Itália adota o critério jus sanguinis e o Brasil por sua vez, como a maioria dos países

americanos, adota o critério jus solis. Dessa forma, os filhos de italianos nascidos em

território brasileiro, desde que seus pais não estejam a serviço de seu país, serão considerados

portadores tanto da nacionalidade brasileira como da nacionalidade italiana, de forma

necessária e involuntária.

Art. 12. São brasileiros:

I – natos:

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que

estes não estejam a serviço de seu país.

...

Assim, os filhos de italianos nascidos no Brasil possuem dupla nacionalidade

(polipátridas). Da mesma forma que os filhos de italianos não perdem sua nacionalidade ao

adquirirem a nacionalidade brasileira, um nacional brasileiro também não perderá sua

nacionalidade por ser considerado nacional de um Estado estrangeiro.

Não há perda da nacionalidade brasileira com o reconhecimento de nacionalidade originária

por lei estrangeira, tal situação fica explicita no art.12, §4°, II, a, adicionado pela ECR-3/94.

Outra hipótese da ocorrência da dupla nacionalidade é quando a lei de outro Estado

impõe a naturalização ao brasileiro, residente no país estrangeiro, para o exercício dos direitos

civis.

O acréscimo da alínea b ao art. 12, §4°, II, evita o constrangimento de nacionais

brasileiros que antes tinham que exercer, muitas vezes, sua atividade profissional em países

que exigiam a naturalização como pré-requisito para o trabalho em seu território. A

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diversidade de critérios para a aquisição da nacionalidade pode originar, no caso dos

polipátridas, um conflito positivo, visto que cria uma multinacionalidade, uma vez que mais

de um Estado admite um indivíduo como seu nacional. Esse conflito não cria dificuldade

alguma; em geral, até beneficia.3

6.2 - O heimatlos (sem pátria)

A expressão alemã heimatlos é desiginada ao indivído apátrida, ou seja, sem pátria.

Essa situação é atribuída aos casos em que o indivíduo não se vincula a nenhum país e assim

não é possível determinar sua nacionalidade. Isso é efeito da diversidade de critérios adotados

pelos países para apontar quais são seus nacionais, e mostra a situação da ocorrência de

nascimento na qual devido a circunstâncias peculiares a pessoa não adquire nacionalidade

nenhuma.

Uma hipótese ilustrativa para tal situação seria o inverso do caso dos polipátridas. Um

filho de brasileiro, em que os pais não estivessem a serviço do Brasil, nascido na Itália. Neste

caso não seria atribuída à criança nem a nacionalidade italiana, tampouco a brasileira. Isso se

deve ao fato de a Itália adotar como critério de aquisição de nacionalidade o jus sanguinis e

(assim ninguém será italiano só porque nasceu na Itália) e o Brasil adotar o critério de jus

solis ( em que só serão brasileiros os nascidos em território brasileiro) . Outra hipótese seria o

nascimento em alto mar, pois também não seria possivel designar a nacionalidade deste

indivíduo.

O direito a nacionalidade é um direito fundamental, e assim é inaceitável esta

situação. Para tal, o sistema constitucional brasileiro ofecere mecanimos normativos a fim de

tentar solucionar tal situação, em que estejam envolvidos porventura filhos de brasileiros.

3 Afonso da Silva, José; Curso de Direito Constitucional Positivo.

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7 OS BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS

7.1 Brasileiros natos

A Constituição dispõe sobre esse tema no seu art.12, I, em que considera como

brasileiro nato aquele que adquire a nacionalidade pelo fator nascimento. Todas as

Constituições brasileiras adotaram o critério do jus solis para regulamentar as normas da

aquisição da nacionalidade primária havendo, no entanto, casos em que se leva em

consideração o critério do jus sanguinis junto com outros fatores. É importante salientar que o

nacional nato não é só aquele que nasce em território brasileiro, pois há nesse dispositivo

algumas exceções.

De acordo com a Constituição atual são considerados brasileiros natos:

Os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde

que estes não estejam a serviço de seu país (art. 12, I, a);

Os nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja

a serviço da República Federativa do Brasil (art. 12, I, b);

Os nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, desde que sejam registrados em

repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do

Brasil e optem, em qualquer tempo, depois atingida a maioridade, pela nacionalidade

brasileira (art. 12, I, c).

Segundo este dispositivo acima, há quatro hipóteses para ser considerado brasileiro

nato, ou seja, ser portador da nacionalidade primária no Brasil:

1) A alínea a, deste dispositivo considera como nacional nato aquele que nasce em seu

território, utilizando-se exclusivamente do critério do jus solis, ou seja, do critério da

territorialidade, “os nascidos na República Federativa do Brasil”.

De acordo com Hidelbrando Accioly território é:

Constituído pela porção da superfície do globo terráqueo sobre o qual o Estado exerce habitualmente uma dominação exclusiva, isto é, os direitos de soberania. Esta porção abrange a superfície do sol (terras e águas), o subsolo e a coluna de ar sobre a dita superfície.”(apud Araújo, Luiz, 2007, p.231)

É importante ressaltar que nesse caso, mesmo os pais sendo estrangeiros, ou seja,

nacionais de outro Estado, seu filho será considerado brasileiro nato.

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Há, no entanto, uma exceção aos filhos de estrangeiros quando estes estiverem a

serviço de seu país, vale destacar que se estiverem a serviço de outro país seus filhos serão

considerados brasileiros. Nesse caso, utilizou-se o critério do jus sanguinis, ao invés do

critério normalmente utilizado (jus solis), mas somente ao caso específico citado

anteriormente.

Cabe aqui mencionar a crítica feita por José Afonso da Silva a essa alínea. Para ele,

deveria ter sido mantida a terminologia da constituição anterior, em que considerava como

nacional nato os nascidos no território brasileiro, uma vez, que considera a República

Federativa do Brasil, como uma expressão muito mais ampla, nas palavras do autor: “é a

expressão que envolve o nome do Estado, sua organização territorial, a organização de seus

poderes e o nome do país”.

2) Na alínea b, do mesmo art., abre-se uma concessão ao critério do jus sanguinis,

reconhecendo a nacionalidade originária em função da nacionalidade do pai ou mãe, e não em

fator do local de nascimento como de costume. Mas, faz uma ressalva, pois concede a

nacionalidade se pelo menos um deles estiver a serviço da República Federativa do Brasil.

Estar a serviço desta, nas palavras de José Francisco Rezek:

“não é apenas o serviço diplomático ordinário, afeto ao Executivo Federal. Compreende todo encargo derivado dos poderes da União, dos estados e municípios. Compreende, mais, nesses três planos, as autarquias. Constitui serviço do Brasil, ainda, o serviço de organização internacional de que a República faça parte” (apud Araújo, Luiz, 2007, p. 232)

Neste dispositivo não vem especificado a natureza da nacionalidade dos pais,

independe, pois, que estes tenham a nacionalidade primária ou adquirida. O que se considera é

que os pais estejam servindo o país e que possuam a nacionalidade brasileira no momento do

nascimento do filho, para que este possa ser considerado como brasileiro nato. A

nacionalidade também é concedida aos filhos nascidos fora do matrimônio e também aos

adotivos como garante o art. 227 §6° Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou

por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações

discriminatórias relativas à filiação.

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3) A alínea c, explica os casos dos nascidos no estrangeiro, pode ser dividida em duas

partes:

A primeira parte concede a nacionalidade primária aos nascidos no estrangeiro, de pai

ou mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente, ou seja,

adotou como critério o jus sanguinis, levando-se em consideração a nacionalidade dos pais,

porém este deve ser registrado em repartição competente que são os consulados e embaixadas

brasileiros, para ser considerado como nato.

Esta exceção impede que filhos de pai ou mãe brasileira sejam considerados como

heimatlos, ou seja, sem pátria, caso venham a nascer em um país que tenha como critério o jus

sanguinis, como a França, respeitando assim a Declaração dos Direitos Humanos, a qual

impede que uma pessoa não tenha uma nacionalidade.

Outra situação decorrente deste inciso I, alínea c, é que a pessoa pode vir a ter uma

dupla nacionalidade, se:

a) Nascer em um país que adote como critério o jus solis:

b) Ou, se o pai ou a mãe for nacional de um país que adote com critério o jus sanguinis,

assim o filho será registrado no país do estrangeiro e também na repartição brasileira.

É valido observar que esse filho considerado como nato talvez não venha sequer a

conhecer o Brasil.

A segunda parte, que concede nacionalidade originária aos nascidos no exterior que

venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois

atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira, trata da nacionalidade potestativa, pois

a nacionalidade depende exclusivamente do interesse do indivíduo em requerê-la. Se assim

ele não o fizer, talvez nunca venha a ser considerado como nacional brasileiro. Na

Constituição anterior havia o prazo de quatro anos para declarar interesse na nacionalidade, na

atual não há mais este prazo.

7.2 Brasileiros naturalizados

A Constituição dispõe sobre a aquisição da nacionalidade secundária, que resulta de

um processo de naturalização, em seu art. 12, II.

O processo de naturalização, de acordo com o Ministério da Justiça, na parte que trata

a respeito dos estrangeiros, pode ser assim definido: “A naturalização ocorre quando um país

concede a qualidade de nacional a um estrangeiro que a requeira. É uma forma de adquirir uma

nacionalidade diversa da nacionalidade de origem”.

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A lei que trata sobre a naturalização, é a lei n° 6.815, de 19 de agosto de 1980, também

conhecida como Estatuto dos Estrangeiros, e que sofreu modificações com a Lei 6.964 de 9 de

dezembro de 1981, que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil.

A aquisição da nacionalidade secundária pode ser tácita ou expressa:

Tácita: concedida a todos que residiam no Brasil à época da Proclamação da

República e que não declararam interesse em manter a nacionalidade de origem após

a entrada em vigor da Constituição Federal de 1891.

Expressa: atualmente a única opção de naturalização prevista na Constituição Federal

de 1988, decorre do pedido de naturalização e compreende duas classes:

a) ordinária: é aquela concedida aos estrangeiros e seus requisitos estão previstos na lei

de naturalização, Lei 8615/80 art. 112: I - capacidade civil, segundo a lei brasileira; II - ser

registrado como permanente no Brasil; III - residência contínua no território nacional, pelo prazo

mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pedido de naturalização;IV - ler e escrever a

língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; V - exercício de profissão ou posse

de bens suficientes à manutenção própria e da família; VI - bom procedimento;   VII - inexistência de

denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada

pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior a 1 (um) ano;

Já ao estrangeiro que tenha como país de origem um país cuja língua oficial seja o

português (ex: Portugal, Angola, Açores), basta que este possua idoneidade penal e que venha

a residir no país durante um ano ininterrupto (art. 12, I, a). Isso não quer dizer que ele não

possa se ausentar do país.

A seguinte ementa de acórdão do Supremo Tribunal Federal, versa sobre o prazo de

residência ininterrupta: “Naturalização. A ausência temporária não significa que a residência

não foi contínua, pois há que distinguir entre residência contínua e permanência contínua”

(apud Araújo, Luiz.,2007, p.235).

Há também mais duas situações que garantem a nacionalidade adquirida ordinária e

que constam na Lei 6964/81 no art. 115 §2º

Fundada na Radicação Precoce: art. 115, § 2º, I estrangeiro admitido no Brasil até a idade de 5 (cinco) anos, radicado definitivamente no território nacional, desde que requeira a naturalização até 2 (dois) anos após atingir a maioridade.

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Fundada na Conclusão de Curso Superior: art. 115, §2º, II estrangeiro que tenha vindo residir no Brasil antes de atingida a maioridade e haja feito curso superior em estabelecimento nacional de ensino, se requerida a naturalização até 1(um) ano depois da formatura.

b) extraordinária: é aquela explicitamente prevista pela Constituição, concedida aos

estrangeiros que vivem no Brasil há mais de quinze anos, e que tenham interesse em adquirir

a nacionalidade brasileira, desde que cumpram os requisitos dispostos na Carta Maior em seu

art. 12, alínea b.

De acordo com a Constituição atual são considerados naturalizados:

Os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos

originários de países de língua portuguesa apenas residência ininterrupta por um

ano e idoneidade moral (art.12, II, a);

Os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do

Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que

requeiram a nacionalidade brasileira (art. 12, II, b).

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Page 17: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

8 EXCEÇÕES Á IGUALDADE ENTRE BRASILEIROS NATOS E

NATURALIZADOS

O art. 12 da Constituição Federal Brasileira prevê a existência de duas classes de

nacionais: os natos e os naturalizados. A Constituição revogada trazia grandes exceções entre

tais classes.

A Constituição atual rompe com a tradição discriminatória, anterior, entre brasileiros

natos e naturalizados, visto que esta veda a criação de um tratamento específico (diferenciado)

tanto para um quanto para outro (Art.12, §2°).

As únicas diferenciações possíveis entre tais nacionais são as estipuladas na

Constituição. Tal norma reforça o princípio da não distinção e não preferência entre os

brasileiros (Arts. 3 °, IV e 19, III) e da igualdade entre tais sujeitos, que se sustenta no caput

do Art. 5 ° que, por sua vez, prevê um tratamento igual perante situações iguais, ou seja, adota

o princípio da isonomia. Dessa forma, toda vez que a Constituição usa o termo brasileiro se

dirige tanto ao sujeito de nacionalidade primária quanto ao portador da nacionalidade

secundária.

Os brasileiros naturalizados, entretanto, são portadores de algumas limitações

explícitas pela Constituição, ou seja, existem direitos privados que estes não desfrutam,

pertencendo apenas aos nacionais natos. As restrições enunciadas de forma explícita na

Constituição são as seguintes:

Os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, Presidente da Câmara dos

Deputados, Presidente do Senado Federal, Ministro do Supremo Tribunal Federal,

carreira diplomática, oficial das Forças Armadas e de Ministro da Defesa são de

direito privativo aos brasileiros natos (Art. 12, §3°);

A função de membro do Conselho da República é privativa ao cidadão brasileiro nato

(Art. 89, VII);

O brasileiro nato não pode ser extraditado, enquanto o naturalizado pode sofrer

extradição uma vez que tenha cometido um crime comum antes da sua naturalização,

ou que este se envolva, comprovadamente, com o tráfico ilícito de entorpecentes e

drogas afins, na forma da lei (Art. 5°, LI);

O brasileiro naturalizado a um período inferior a dez anos não poderá ser proprietário

de empresa jornalística, de radiodifusão sonora e de sons e imagens. (Art. 222).

9 CASOS DE PERDA DE NACIONALIDADE BRASILEIRA

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Os casos sobre a perda da nacionalidade estão enumerados em grande parte na lei

especial 818/49,porém isso não exclui a visualização do que diz a Constituição Federal em

seu Art. 12, §4º, inciso I e II:

Será declarada a perda de nacionalidade do brasileiro que:

I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade

nociva ao interesse nacional (Art. 12, §4°,I);

Assim, a perda da nacionalidade brasileira ocorre quando, surge da aplicação de uma

pena principal ou acessória, proferida no processo judicial, em que o portador de interesse

teve o direito de ampla defesa 4. Não se trata de anulação , mas sim do cancelamento da

naturalização, pressupondo que esta é válida e eficaz. O cancelamento da naturalização possui

efeito “ex nunc”. Só pode ocorrer por sentença judicial, acessória ou principal, comprovada a

atividade nociva ao interesse do Estado.

II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:

(a) reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira,

(b) imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente no

Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o

exercício dos direitos civis (Redação da ECR- 3/94)

A aquisição da nacionalidade secundária é voluntária, uma vez que depende da

vontade e do interesse do individuo. E tal voluntariedade está relacionada tanto ao desejo

manifestado, quanto a aceitação da naturalização por parte de outro Estado.

As exceções à perda da nacionalidade brasileira, expressa nas alíneas, estão

relacionadas a atos involuntários (nacionalidade originária e nacionalidade imposta) que

descaracterizam a perda da nacionalidade atribuída pelo Estado brasileiro.

As Constituições anteriores traziam um maior número de possibilidades de perda da

nacionalidade, que hoje já não constam mais no texto jurídico brasileiro, como a aceitação

de pensão, emprego ou comissão de um Estado estrangeiro sem a permissão do Presidente

da República.

10 REAQUISIÇÃO DE NACIONALIDADE

4 Afonso da Silva, José; Curso de Direito Constitucional Positivo

18

Page 19: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

Há no ordenamento jurídico brasileiro normas que regulamentam, em específico, a

nacionalidade, tal como a Lei 818/49 que regula a aquisição, a perda e a reaquisição da

nacionalidade, bem como a perda dos direitos políticos.

Para efeito de regra geral, aquele que teve a naturalização cancelada nunca poderá

recuperar a nacionalidade brasileira perdida, exceto se o cancelamento for desfeito em ação

rescisória5. Ou seja, a sua perda tem caráter reversível.

Contudo, como muitas outras discussões doutrinárias, o seu entendimento não é

pacífico no tocante aos efeitos da reaquisição da nacionalidade pelo brasileiro nato. Com

efeito, pode-se elencar duas correntes:

A primeira considera efeitos “ex nunc”, isto é, o brasileiro nato, após adquirir uma

nacionalidade diversa da sua de origem, ao pretender sua nacionalidade brasileira, voltará

como naturalizado.

Enquanto que a segunda corrente entende que os efeitos serão “ex tunc”, isto é, voltará

à condição de nato, logo os efeitos da reaquisição retroagirão à época anterior de sua

naturalização.

Aquele que perdeu a nacionalidade brasileira de forma voluntária, ou melhor, pela

simples escolha de outra por vontade própria, passa a ser estrangeiro. Em conseqüência disso,

se a reaquisição de naturalidade for procedente o ex-brasileiro (agora estrangeiro) reingressará

ao Brasil sob regime de naturalização, terá efeitos “ex nunc”, tal como expõe a primeira

corrente.

De outro modo, aquele que prosperar na reaquisição de nacionalidade recuperará a

condição perdida; voltará a ser o que antes era; caso nato voltará a ser nato; caso naturalizado

voltará ser naturalizado. Terá efeitos “ex tunc”, tal como expõe a segunda corrente.

A lei que dispõe sobre reaquisição de nacionalidade, Lei 818/49 e modificações, em

seu artigo 36 versa:

Art. 36. O brasileiro que, por qualquer das causas do art. 22, números I e II, desta lei,

houver perdido a nacionalidade, poderá readquiri-la por decreto, se estiver domiciliado no

Brasil.

Os casos sobre perda da nacionalidade estão enumerados na lei especial 818/49 e

também na Constituição Federal em seu Art. 12, §4º, inciso II. A primeira está submetida ao

controle de constitucionalidade, já a segunda a própria Constituição. De tal sorte, a Lei 818/49

5 Ação por meio da qual se pede a desconstituição de sentença transitada em julgado.

19

Page 20: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

é hierarquicamente inferior a Constituição que é a lei máxima da República Federativa do

Brasil.

Pormenorizando, aquele que, voluntariamente, adquirir nacionalidade diversa que a

brasileira perderá a nacionalidade brasileira. Neste caso será concedido, mediante decreto, a

re-nacionalização, desde que atenda a exigência de estar domiciliado no Brasil.

Outro caso que carece de atenção é aquele em que a pessoa tenha perdido a

nacionalidade, baseado em disposições de constituições anteriores como, por exemplo, ter

aceitado comissão, emprego ou pensão de governo estrangeiro, sem licença do Presidente da

República. De acordo com a atual Constituição, esta pessoa poderá recuperar a nacionalidade

sem mesmo renunciá-los, uma vez que não mais constitui causa de perda de nacionalidade, tal

qual se exigia anteriormente.

10.1 Do procedimento sobre a reaquisição de nacionalidade

O procedimento para a reaquisição da nacionalidade perdida inclui a observância de

alguns dispositivos legais e burocráticos, para ao final ser processado no Ministério da Justiça.

Em 10 de maio do ano de 2000 entrou em vigor o Decreto nº 3.453/2000 que delegou

competência ao Ministro de Estado da Justiça para declarar a perda e a reaquisição da

nacionalidade brasileira e fixou o método para readquirir a nacionalidade consoante o art. 36

do mesmo texto-lei 818/49.

Nota-se, de início, que compete ao Ministro de Estado da Justiça. Porém o pedido de

reaquisição deverá ser encaminhado ao Presidente da República ou para os Governadores,

caso o solicitante residir nos estados ou territórios, para depois, em segundo passo, ser

processado no Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Esse procedimento está explicito

no Art. 36, §1º da lei supra.

O mesmo pedido poderá também ser apresentado diretamente junto ao Ministério da

Justiça ou outros órgãos regionais do Departamento de Polícia Federal, conforme expõe o

endereço eletrônico do Ministério da Justiça.

Para a realização da reaquisição de nacionalidade não é necessário que o ex-nacional

seja portador de visto permanente, porém é de extrema importância que o mesmo comprove,

através de documentos como, por exemplo, escritura de compra de imóvel, contrato de

aluguel entre outros, que se encontra domiciliado no Brasil, sendo assim, em situação regular

no País para readquirir a nacionalidade.

Um entrave da reaquisição, exposto art. 36, §2 diz:

20

Page 21: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

§ 2º A reaquisição, no caso do art. 22, nº I, não será concedida, se apurar que o brasileiro,

ao eleger outra nacionalidade, o fez para se eximir de deveres a cujo cumprimento estaria

obrigado, se se conservasse brasileiro.

O procedimento não obterá êxito caso seja apurado que o brasileiro naturalizou-se

voluntariamente em outro País, para não cumprir deveres e obrigações que a ele correspondia

anteriormente quando era brasileiro. Para este caso, embora a reaquisição de nacionalidade

seja solicitada, se for constatado a ilicitude dos fatos, a mesma não será concedida.

A lei ainda deixa claro o órgão que efetuará as diligências necessárias para apurar,

quando for necessária, a situação do §2º, sendo eleito o Ministério das Relações Exteriores

para intermediar e apurar os fatos, conforme dita a norma fixada no Art. 37.

Art 37. A verificação do disposto nos § 2º do artigo anterior, quando necessária, será

efetuada por intermédio do Ministério das Relações Exteriores.

11 CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO

Nenhum Estado é obrigado a admitir estrangeiros em seu território, seja em caráter

definitivo ou temporário.

21

Page 22: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

Os países em geral possuem institutos jurídicos que tem como objeto o trato ao

estrangeiro, regulamentando interna e externamente os direitos concernentes a estes

indivíduos. A maioria dos países, portanto, aceita os estrangeiros em sua jurisdição, fato que

gera deveres e obrigações para ambos: estrangeiros e Estado.

Há muito, esses direitos são enunciados em declarações de direitos. Em 1948, a

Declaração Universal dos Direitos do Homem afirma que "todo homem tem o direito de

deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar", declarada pela Organização das

Nações Unidas (ONU), tomou como objeto a livre circulação e a livre escolha de domicílio

pelo indivíduo. O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, de 1976, utilizou-se

também do tema para embasar seu conteúdo.

Para analisar a condição jurídica do estrangeiro no Brasil é imperioso que se faça uma

conceituação do que vem a ser estrangeiro.

Sábias são as palavras de José Afonso da Silva, ao dizer que “reputa-se estrangeiro no Brasil,

quem tenha nascido fora do território nacional que, por qualquer forma prevista na

Constituição, não adquira a nacionalidade brasileira”.6

Sendo conceituado duas categorias de estrangeiros, os residentes e os não-residentes.

A primeira categoria são aqueles que residem em território nacional e são componentes da

população. Ao passo que a segunda, os não-residentes, não compõem tal elemento, são

meramente passageiros e estão assegurados pelos vistos que são emitidos pelo Brasil.

11.1 Legislação concernente aos estrangeiros

Analisando-se dessa maneira, a Constituição Federal de 1988 em seus direitos e

garantias fundamentais individuais e coletivos amparou o estrangeiro. Convém citar:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do

direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...” (grifos nossos)

Nota-se determinadas condições para que o amparo legal dos estrangeiros seja

garantido igualitariamente a dos brasileiros, qual seja o estrangeiro residir no País. O

fundamento é de que os estrangeiros desfrutem dos mesmos direitos e tenham os mesmos

deveres que os brasileiros, principalmente no tocante aos direitos civis.

Ademais, no inciso XV ficou determinado que é livre a locomoção, em tempo de paz,

sobre o território nacional, podendo qualquer pessoa (estrangeiros ou nacionais), nos termos

6 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 28ª ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 335

22

Page 23: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. Vale ressaltar que os interesses

nacionais sempre serão colocados em discussão para que se proceda ou não determinada

situação concreta.

A Carta Política vigente em seu artigo 22, XV, definiu que compete privativamente à

União legislar sobre questões relativas a estrangeiros, editando leis sobre emigração,

imigração, entrada, extradição e expulsão. Esta competência já estava fixada na CF de 1967

no artigo 8º, XVII, p.

A lei que trata das questões relacionadas aos estrangeiros estabelece diversos

procedimentos para imigração, extradição, vistos, situações de asilo, naturalização e

regulamentos em matéria de deportação e expulsão. Deixou estabelecido também o Conselho

Nacional Brasileiro de Imigração, que será o encarregado de fornecer orientação e coordenar

a política nacional no que tange a imigração.7

Há três aspectos decorrentes do Estatuto do Estrangeiro que merecem atenção. Diz

respeito à entrada, permanência e saída do território nacional.

Em que pese haver uma lei especial para assegurar o direito dos estrangeiros, quando

couber sua aplicação, atentar-se-á essencialmente e anteriormente à segurança nacional, à

organização institucional, aos interesses políticos, sócio-econômicos e culturais do Brasil,

bem assim à defesa do trabalhador nacional. Condicionando a concessão de vistos aos

interesses da nação.

11.2 O português equiparado

A Lex Major expõe claramente que o português tem uma condição peculiar no

ordenamento jurídico brasileiro. Não se trata de hipótese de naturalização, pois o português

continuará português, ou seja, estrangeiro.

O artigo 12, §1º da CF diz desta maneira:

“Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em

favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos

previstos nesta Constituição”.

Pertinente ao assunto são os comentários de José Afonso da Silva sobre a ressalva

final do dispositivo “salvo os casos previstos nesta Constituição” afirmando que “o que a

Constituição concede aos portugueses aqui residentes é a condição de brasileiro

7 Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/80, com alterações da Lei 6.964/81 e posteriores).

23

Page 24: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

naturalizado. Quer dizer que não podem exercer nenhum cargo, função ou atividade que a

Constituição confere expressamente aos brasileiros natos”.8

No entanto há divergência de opiniões na doutrina, sendo que outros encaram o texto

legal de forma estrita, alegando que o português não tem o mesmo regime jurídico que o

brasileiro naturalizado. Fundamentando que o português não pode prestar o serviço militar no

Brasil e está sujeito à expulsão ou extradição, caso seja requerido por Portugal.

A Convenção sobre Igualdade de Direitos e Deveres entre Brasileiros e Portugueses,

assinada em 1971 e ratificada no Brasil pelo Decreto Legislativo nº 82/71 diz respeito à

reciprocidade anunciada na lei. Sendo reciprocidade um tratamento recíproco no que diz

respeito aos direitos, ou seja, um país confere um direito em seu ordenamento que é também

conferido no ordenamento de outro país. Logo, em uma relação jurídica entre ambos haverá

reciprocidade. Ou seja, se em Portugal for conferido um direito aos brasileiros, o português

poderá pleitear o mesmo direito aqui no Brasil.

Portanto, para auferir os direitos inerentes aos brasileiros, como exposto na

Constituição, os portugueses necessitam ter residência permanente no Brasil e outros direitos

diversos lhes serão conferidos, desde que haja reciprocidade no ordenamento jurídico

português e brasileiro.

11.3 Direitos civis, sociais e políticos

A Carta Magna não estabelece distinção entre nacionais e estrangeiros, mas, pelo

contrário, assegura a igualdade de ambos em seu artigo 5º. O Estado deve garantir aos

estrangeiros determinados direitos básicos da pessoa humana como, por exemplo, a vida, a

integridade física, a prerrogativa peticionar em juízo. Ou seja, um tratamento isonômico em

relação a estrangeiros e nacionais.

Importante lembrar que há limitações para os estrangeiros que a própria lei determina.

A lei infraconstitucional 6.815/80 traz um rol de vedações ao estrangeiro no art.105. Ainda

assim, também a Constituição veda, por exemplo, em seu art. 176, §1º, a autorização ou

concessão a estrangeiros, mesmo residentes, a pesquisa e a lavra de recursos minerais ou o

aproveitamento de potencial de energia hidráulica. Também monopoliza aos brasileiros a

propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens, bem como

os responsáveis pela administração e orientação intelectual dessas, conforme artigo 222 da

CF. No ramo das sucessões, a Lei Magna determina, em seu artigo 5º, XXXI, que a sucessão

8 Curso de direito constitucional positivo, cit., p. 336

24

Page 25: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

de bens estrangeiros situados no Brasil rege-se pela lei brasileira, sempre que lhe não seja

mais favorável a lei pessoal do de cujus. Entre outros direitos civis que são privativos de

brasileiros.

O forasteiro não tem direitos políticos, ainda que instalado definitivamente no

território e entregue à totalidade de suas potencialidades civis, no trabalho e no comércio. O

Estatuto do Estrangeiro determina, em seu artigo 106, que o estrangeiro admitido no território

brasileiro não pode exercer atividade de natureza política, nem se imiscuir, direta ou

indiretamente, nos negócios públicos do Brasil. Os estrangeiros não são competentes para

propor ação popular, pois os mesmos não gozam da qualidade de cidadão.

No tocante aos direitos sociais a CF não diz claramente que assegura, no artigo 5º,

caput, aos estrangeiros, mas, como reporta José Afonso, “em verdade ela não restringe o gozo

destes apenas aos brasileiros”.9 A Lei 6.815/80, consoante a Constituição, assegura aos

estrangeiros o direito de associarem-se para fins culturais, religiosos, recreativos,

beneficentes, entre outros conforme o artigo 107.

11.4 Saída compulsória do estrangeiro

Os estrangeiros em território nacional devem cumprir as disposições da legislação

vigente e as que o Governo brasileiro lhes fixar, além dos deveres impostos pelo Direito

Internacional.

Em matéria de remoção forçada da pessoa física do território de um país cabe

distinguir os diversos institutos existentes: extradição, expulsão e deportação.

A extradição é o ato pelo qual um Estado (requerido) entrega um indivíduo a outro

Estado (requerente), em virtude de crime neste praticado, para que ali seja julgado ou apenas

executada a pena.

Nas palavras de Francisco Rezek:

“extradição é a entrega por um país a outro, e a pedido deste, de indivíduo que em território do pedinte deve responder por processo penal ou cumprir pena. Para que haja esse instituto deve haver algumas condições: o governo requerente da extradição só toma essa iniciativa em virtude de um processo penal lá existente corrente ou terminado e o Estado requerido só tem uma resposta depois do pronunciamento da justiça local”10.

Com essa definição torna-se claro o conceito, resta anunciar que o fundamento desse

instituto jurídico deve ser um tratado sobre a matéria entre os países envolvidos na relação.

Caso não haja convenção entre ambos, o pedido somente será cabível se o Estado onde o 9 Curso de direito constitucional positivo, cit., p. 33910 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva. 2005. p. 189

25

Page 26: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

refugiado se encontra for passível de uma promessa de reciprocidade, pode-se dizer que é uma

relação de cooperação internacional visando reprimir criminalidade comum.

O artigo 76 do Estatuto do Estrangeiro elenca alguns casos em que a extradição não

será concedida como, por exemplo, se o fato que motivar o pedido não for considerado crime

no Brasil ou no Estado requerente; caso o Brasil seja competente para julgar o crime

imputado; a lei brasileira impuser ao crime a pena de prisão igual ou inferior a um ano; o

extraditando houver de responder, no Estado requerente, perante Tribunal ou Juízo de

exceção, entre outros.

Para a concessão da extradição, conforme artigo 77 do mesmo diploma legal é

necessário que se preencham os requisitos legais que são: ter sido o crime cometido no

território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis penais desse

Estado; e a existência de sentença final de privação de liberdade, ou estar a prisão do

extraditando autorizada por juiz, tribunal ou autoridade competente do Estado requerente.

Nenhuma extradição será concedida sem o prévio pronunciamento do plenário do STF

sobre sua legalidade e procedência, não cabendo recurso da decisão, conforme o artigo 82 do

Estatuto do Estrangeiro. Caso a extradição seja negada não será admitido outro pedido com o

mesmo fundamento do anteriormente negado.

A extradição não se aplica aos brasileiros natos, sendo somente possível aplicá-la aos

brasileiros naturalizados no caso de duas hipóteses: por crime cometido antes da

naturalização; e em caso de envolvimento com tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,

antes ou após a naturalização. É desta maneira o conteúdo do artigo 5º, inciso LI.

O inciso LII do mesmo artigo deixa claro que não será concedida extradição de

estrangeiro por crime político ou de opinião, sendo facultado ao STF considerar como crimes

políticos atentados contra Chefe de Estado ou autoridades, atos de anarquismo, terrorismo,

sabotagem, propaganda de guerra ou processos violentos para subverter a ordem política e

social.

A expulsão, à luz das letras de José Afonso da Silva, “é um modo coativo de retirar o

estrangeiro do território nacional por delito ou infração ou atos que o tornem

inconveniente”.11 No Brasil, o estrangeiro que atentar contra a segurança nacional, a ordem

política ou social, a tranqüilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo

procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais é passível de expulsão,

cabendo ao Presidente da República, mediante decreto, resolver a questão. Só a edição de um

11 Curso de direito constitucional positivo, op cit., p. 342

26

Page 27: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

decreto futuro, revogando o primeiro, faculta ao expulso o retorno ao Brasil. Pode-se privar o

estrangeiro da liberdade a fim de concluir o inquérito ou assegurar a execução da medida.

A expulsão não se procederá, conforme dita a Norma do Estrangeiro em seu artigo 75,

caso se implicar extradição inadmitida pela lei brasileira ou quando o estrangeiro tiver

cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de fato ou de direito, e desde

que o casamento tenha sido celebrado há mais de cinco anos; ou que o estrangeiro tenha filho

brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa economicamente.

Sendo o reingresso de estrangeiro no Brasil tipificado como crime, previsto no artigo 338 do

Código Penal.

Por último, a deportação constitui-se em “uma forma de exclusão, do território

nacional, daquele estrangeiro que aqui se encontre após uma entrada irregular – geralmente

clandestina –, ou cuja estada tenha-se tornado irregular – quase sempre por excesso de

prazo, ou por exercício de trabalho remunerado, no caso do turista”.12

A deportação será realizada para o país de origem do estrangeiro ou para outro que

consinta em recebê-lo. Esse instituto não se confunde com o impedimento à entrada de

estrangeiro, que ocorre quando lhe falta justo título para ingressar no Brasil.

Para a deportação não é necessário envolvimento da cúpula do governo brasileiro,

podendo o estrangeiro ser deportado por autoridades locais como, por exemplo, por agentes

policiais federais. Nota-se que não se constitui em uma medida punitiva, mas meramente

administrativa e visa à legalidade do estrangeiro em território nacional, podendo retornar ao

país assim que estiver provido da documentação regular para o ingresso.

11.5 Asilo político

O asilo consiste no acolhimento de estrangeiro por parte de um Estado que não o seu,

em virtude de perseguição por ele sofrida e praticada por seu próprio país ou por terceiro.13

Não há necessidade dos requisitos necessários à entrada regular no país.

Nos crimes que são praticados em diversos países e neles possuem a mesma

tipicidade, os Estados se ajudam mutuamente, e a extradição é um dos instrumentos desse

esforço cooperativo. Isto não vale em casos de crimes políticos, onde a afronta não é um bem

jurídico universalmente reconhecido, mas uma forma de autoridade assentada sobre ideologia

capaz de atrair confronto.14

12 REZEK, Francisco. op cit., p. 19513 MORAES, Alexandre de. op cit., p. 5214 REZEK, Francisco. op cit., p. 206

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Page 28: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

E como ensina a doutrina de Francisco Rezek, “conceder asilo político não é

obrigatório para Estado algum, e as contingências da própria política – exterior e doméstica

– determinam, caso a caso, as decisões do governo”.15

Porém o asilo político constitui um princípio de relações internacionais do Brasil,

elencado na Constituição Federal em seu artigo 4º, inciso X.

Compete ao Presidente da República conceder ou não o asilo, e, uma vez concedido, o

Ministério da Justiça lavrará termo no qual serão fixados o prazo de estada do asilado no

Brasil. O asilado não poderá deixar o território pátrio sem a devida autorização do Governo

brasileiro, sob pena de renúncia ao asilo e impossibilidade de reingressar como asilado em

território brasileiro.

A concessão de asilo político a estrangeiro é um ato de soberania do Estado, isto é,

será concedido ao estrangeiro que tenha ingressado nas fronteiras do novo Estado, colocando-

se no âmbito especial de sua soberania, solicitando aí o benefício. A legitimidade do asilo

político territorial é internacionalmente aceita, visto que até a Declaração Universal dos

Direitos do Homem da ONU lhe faz referência.

12 VISTOS

12. 1 Vistos de entrada

O visto de entrada é a autorização legal para a entrada e permanência, mesmo que

limitada, do estrangeiro no país, uma vez que este cumpra as exigências legais estabelecidas

pelo Estado. O visto é uma autorização, concessão, individual salvo exceções em que a

permissão é estendida aos seus dependentes legais, desde que esses possam receber o visto.

O requerimento do visto deverá ser destinado a uma autoridade consular que terá a

função de examiná-lo e estabelecer a sua autenticidade. Os vistos poderão ser emitidos no

exterior através das Missões Diplomáticas, das Repartições Consulares, dos Vice-consulados

e pelos Consulados Honorários, uma vez que estejam autorizados pela Secretária de Estado

15 Ib idem. p. 219

28

Page 29: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

das Relações Exteriores. Em casos especiais o visto poderá ser concedido no Brasil, mas o

critério para tal concessão ficará sob critério das Relações Exteriores.

No Brasil não há um visto de saída, tanto para os nacionais quanto para os

estrangeiros, porém a legislação brasileira (lei n° 6.815, art. 4°) estabelece uma gama de

vistos de entrada que esclareceremos, individualmente, mais a frente.

12.2 Tipos de vistos

Visto de trânsito:

É necessário quando o estrangeiro está de passagem pelo território nacional (art. 8°), e

deve ser apresentado logo após seu desembarque, salvo os casos que esse esteja em uma

viagem contínua e pare em território brasileiro apenas por motivo de escala obrigatória do

meio de transporte utilizado (art. 8°, §2). Tal visto possui validade máxima e improrrogável

de 10 dias.

Turista:

Destinado à viagens de caráter recreativo sem objetivo imigratório, sendo proibida

atividades remuneradas. Tem validade máxima de 90 dias, entretanto, dependendo da

reciprocidade este pode ser de até cinco anos. Tal visto, é intransformável e só pode ser

prorrogado uma vez junto ao Departamento de Polícia Federal.

Temporário:

I - viagem cultural ou missão de estudos: possui validade de no máximo 2 anos e é

destinado a pesquisadores, conferencistas de determinado assunto ,entre outros. A

prorrogação é possível, caso as condições que motivaram o pedido do visto permaneçam, por

um período igual.

II – viagem de negócio: é destinado àqueles que venham ao Brasil sem fins

imigratórios, mas sim de negócios. Permite a estada de no máximo 90 dias por ano no país,

entretanto, dependendo da reciprocidade pode durar até cinco anos. Há permissão para sua

prorrogação, desde que tal pedido seja feito antes do seu vencimento, junto o Departamento

de Polícia Federal.

III – artistas e desportistas: é destinado a esses profissionais que vem ao país para

participar de eventos afins, sem o estabelecimento de vínculos empregatícios com o Brasil.

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Page 30: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

Tem duração máxima de 90 dias, porém, pode ser prorrogado junto ao Departamento de

Polícia Federal. Deve – se lembrar que as instituições que receberão o estrangeiro deverão ter

uma autorização prévia do Ministério do Trabalho e Emprego.

IV – estudantes: destinado a estudantes de cursos regulares (ensino fundamental,

médio, superior, pós-graduação e outros) e possui a validade de um ano. É proibida a

atividade remunerada a tais estrangeiros, sob pena de multa, notificação ou ainda deportação.

Tal visto pode ser prorrogado pelo mesmo período até o fim do curso, desde que o pedido de

prorrogação seja feito 30 dias antes do prazo expirar junto ao Departamento de Polícia

Federal ou no Protocolo Geral do Ministério da Justiça. Deve – se lembrar que o estudante

não deve mudar de instituição a qual seu visto foi destinado, caso contrário, deverá entrar com

o pedido de um novo visto junto às autoridades consulares brasileiras no exterior.

V – Trabalho: destinado a estrangeiros que venham ao Brasil para desenvolver sua

atividade profissional junto a empresas brasileiras. O visto tem validade de 2 anos, podendo

ser prorrogado pelo mesmo período e transformar – se em permanente.

VI - Jornalista: para correspondentes de jornais, revistas, rádio, televisão ou agência

noticiosa estrangeira, cuja remuneração provém do exterior e não de empresa brasileira. O

visto tem a validade de no máximo 4 (quatro) anos, prorrogável por igual período.

VII - missão religiosa: aplica-se àqueles que viajam com atribuições de ministro de

confissão religiosa ou membro de instituto de vida consagrada e de congregação ou ordem

religiosa. O visto é concedido por até 1 (um) ano prorrogável por igual período, findo este

prazo poderá pleitear a  transformação em permanente.

VIII -permanente - destinado ao estrangeiro que pretenda fixar-se definitivamente no

Brasil. Ressalta-se que determinados vistos necessitam de autorização prévia do Ministério do

Trabalho e Emprego, de acordo com as regulamentações do Conselho Nacional de Imigração.

(vide legislação - resoluções). A carteira de permanente (RNE – Registro Nacional de

Estrangeiros) deve ser renovada junto ao Departamento de Polícia Federal.

IX- cortesia - concedido aos empregados domésticos estrangeiros dos chefes de

missão e de funcionários diplomáticos e consulares acreditados junto ao governo brasileiro;

também à autoridades estrangeiras em viagem não-oficial ao Brasil;  e aos dependentes de

portadores de visto oficial ou diplomático, maiores de 21 (vinte e um) anos ou até 24 (vinte e

quatro) anos  na condição de estudantes. Válido por 90 (noventa) dias, prorrogável por igual

período junto ao Ministério das Relações Exteriores.

Permanente:

30

Page 31: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

Destinado aos funcionários de organismos internacionais em missão oficial e funcionários de

embaixadas e consulados que não possuam status de diplomata, bem como aos seus cônjuges

e filhos menores de 21 anos. Possui validade de até 2 (dois) ou o período da missão,

atendendo o princípio da reciprocidade.

Diplomático

Destina-se aos diplomatas e funcionários com status diplomático e aos chefes de escritórios de

organismos internacionais, bem como aos seus cônjuges e filhos menores de 21 anos.

13 CONCLUSÃO

A nacionalidade caracteriza-se por sua grande relevância não só no meio jurídico, em

que garante igualdade de tratamento tanto aos nacionais natos como aos naturalizados e entre

estes e os estrangeiros, permitindo que sejam exercidos prerrogativas e obrigações; como

também nas relações políticas entre os Estados.

Analisamos também, que no Brasil o tema é fundamentalmente tratado dentro da

Carta Maior em seu artigo 12 em que define quem são considerados natos e naturalizados.

Neste dispositivo, evita distinções entre as duas espécies de nacionalidade demonstrando que

é respeitada a democracia em nosso país.

É por meio da nacionalidade que os nossos direitos podem ser exercidos, não só em

solo pátrio como também em qualquer local em que vivamos, garantindo assim, o respeito às

31

Page 32: DIREITO CONSTITUCIONAL ( nacionalidade)

normas propostas pela Convenção Americana dos Direitos dos Homens. Estas são respeitadas,

desde que os direitos de um país não firam as normas do outro.

A nacionalidade não só garante direitos, como também impõe deveres que devem ser

cumpridos pelos seus nacionais, independente da natureza de sua nacionalidade, a fim de

manter a ordem do Estado ao qual estão subordinados.

Não temos pretensão de encerrar o tema, até porque este vem sendo constantemente

ampliado. O que procuramos foi apenas dar uma base geral, mas de maneira alguma este visa

substituir a leitura de um conceituado autor como José Afonso da Silva, Luiz Alberto David

Araújo entre outros os quis foram de suma importância para que pudéssemos desenvolver o

trabalho.

13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGRA, Walber de Moura. Manual de Direito Constitucional.São Paulo:Ed. Revista dos

Tribunais, 2002

ARAÚJO, Luiz Alberto David. Curso de Direito Constitucional. 11° ed. rev.e atual – São

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Malheiros, 2006.

 

Vou forçar a memória e colocar o máximo de conteúdo a respeito do que foi perguntado pela Wilma no nosso seminário. Primeiramente, é preciso deixar claro que os princípios da democracia são:- soberania popular- participação popular no poder Para Ferreira Filho, a democracia admite pressupostos para que seja efetivada. Esse autor defende que o povo precisa ter um grau de instrução, que tenha condições básicas de sustento, e aí sim é possível se pensar numa democracia. Afinal, um povo carente de recursos mínimos sequer cuidará de si próprio, que dirá da administração da coisa pública. É a idéia do "povo preparado", botando pressupostos para que exista a democracia, e tendo por consequencia a concentração do poder nas mãos de uma elite tida como "instruída".Trata-se de uma teoria elitista, que sustentou o golpe militar de 64. José Afonso da Silva se posiciona de maneira completamente oposta ao pensamento de

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Ferreira Filho. Ele defende que a democracia não precisa de pressuposto algum. Ele acredita que aqueles pressupostos pregados por F.F. são na verdade OBJETIVOS da democracia, que é INSTRUIR o povo, educar o povo, dar uma vida digna para todos. Há portanto esse embate sobre a questão dos pressupostos e o conflito entre a visão elitista e a visão mais, coincidentemente, DEMOCRÁTICA de fato. Os VALORES em que se baseiam a democracia são: LIBERDADE e IGUALDADE.O Brasil preza igualmente ambos esses valores (de acordo com a constituição). Em tese, trata-se de uma democracia providencialista, que tenta não superestimar um valor em detrimento de outro, adotando pontos defendidos pelas idéias socialistas e capitalistas ao mesmo tempo. Na prática, é claro, sabemos que não é bem assim... Como faz o POVO para PARTICIPAR no poder? Existem dispositivos constitucionais que garantem a participação popular, ou seja, o EXERCÍCIO democrático.

O artigo 14 da Constituição Federal determina que "a soberania popular será exercida pelo voto direto e secreto, e também, nos termos da lei, pelo plebiscito, referendo e pela iniciativa popular".

(Isso aí certeza que vai cair!) Vamos lá: -Iniciativa popular-Plebiscito-Referendo Para que um projeto de iniciativa popular seja apresentado no Congresso Nacional são necessárias assinaturas de pelo menos 1% do eleitorado (algo em torno de 1,3 milhão de pessoas acima de 16 anos), com participação de no mínimo cinco Estados. O plebiscito é um mecanismo democrático de consulta popular, ANTES da lei ser promulgada. No Brasil, o último plebiscito ocorreu em 21 de abril de 1993. Nesta ocasião, o povo foi consultado sobre a forma e o sistema de governo (Monarquia, República, Presidencialismo, Parlamentarismo). Através da consulta popular, o povo brasileiro decidiu manter a República Presidencialista.O referendo é a consulta ao povo feita DEPOIS da aprovação de uma lei, seja ela complementar, ordinária ou emenda à Constituição.No dia 23 de outubro de 2005, o eleitorado brasileiro respondeu se o comércio de armas e munições devia continuar existindo no País ou, ao contrário, se esse comércio devia acabar.

Este foi o segundo referendo realizado no Brasil e o primeiro do mundo em que a população foi consultada sobre o desarmamento.

 

Sobre os TIPOS de democracia:

 

São três, basicamente. Democracia direta, indireta (ou representativa), semi-direta (ou

participativa).

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A direta é aquela que existiu em Atenas, onde todos votavam em tudo (lembrando que o

conceito de POVO era extremamente restrito no mundo antigo).

A representativa ou indireta é aquela na qual, devido a dificuldades de extensão territorial,

demografia e complexidade da vida social o povo elege representantes para que cuidem da

coisa púbica em seu nome.

A semi-direta mescla esses dois pontos. Abrange tanto a delegação de poder que caracteriza a

democracia representativa, quanto decisões que podem ser tomadas diretamente pelo povo,

caracterizada pela democracia direta (o plebiscito, referendo e  iniciativa popular que já

citei!).

 

Bom, galera. Espero que o email colabore !

 

Um abraço e boa prova!

 

Zulaiê

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