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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES – Prof. Me. Larissa G. Castro Professora Larissa Gonzaga UNIDADE I - DIREITO DAS OBRIGAÇÕES “Toda nossa vida se desenvolve numa atmosfera em que o direito das obrigações está presente.” Orlando Gomes A obrigação no sentido que vamos estudar, é uma relação de natureza pessoal na qual uma pessoa se compromete a uma prestação, positiva ou negativa, em favor de outra, visando à satisfação de interesses e respondendo com o seu patrimônio, inclusive com execução forçada pelo Poder Judiciário. 1.1 Conceito de Direito das Obrigações É o ramo do direito que regula o complexo das relações de direito patrimonial e que têm por objetivo fatos ou prestações de uma pessoa em relação à outra (credor e devedor). 1.2 Esboço Histórico A noção de obrigação surgiu com o caráter coletivo, quando todo grupo empreendeu negociações e estabeleceu o comércio. O desenvolvimento de tal prática passou da obrigação coletiva para a individual, mas sempre tendo um caráter punitivo na hipótese de descumprimento do avençado. No Direito Romano, em razão da vinculação das pessoas, o devedor respondia com o próprio corpo pelo cumprimento da obrigação. Com o surgimento da Lex Poetelia Papiria, de 428 a.C., foi abolida a execução sobre a pessoa do devedor, deslocando-a para os seus bens. Idade Média: imperava o Direito Canônico e a obrigação tinha a mesma estrutura que no direito romano. Sacramentalização da obrigação. Pacta sunt servanta. Nessa evolução, o Direito Obrigacional passou por diversas transformações, acompanhando a expansão da economia, o desenvolvimento do comércio, a Revolução Industrial, a mais recente evolução tecnológica a aplicação de direitos fundamentais as relações cíveis. 1.3 Distinção entre Direito Obrigacional (Pessoal) e Direito Real. Direitos reais: definem-se como o poder jurídico, direto e imediato do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos. O sujeito passivo do direito real é toda a coletividade que deve abster-se de violá-lo, sendo de caráter erga omnes. Direitos obrigacionais (pessoais): Relação jurídica pela qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação. No direito das obrigações somente se vinculam aqueles que fizeram parte do que contrataram e anuíram para comprometer-se a prestar ou exigir algo. Relação Jurídica Obrigacional: Sujeito Ativo (credor) ----- relação jurídica obrigacional ----- Sujeito Passivo (devedor) Relação Jurídica Real: Titular do Direito Real ------------relação jurídica real------------ Bem/Coisa Direito Pessoal ou Obrigacional Direito Real Vincula somente pessoas Estabelece relação entre o titular e a coisa É direito relativo É direito absoluto (erga omnes) Tem dois sujeitos (ativo e passivo) e a prestação (objeto de relação) Um só titular, que exerce seu poder sobre a coisa objeto de seu direito de forma direta e imediata Concede direito a uma ou mais prestações efetuadas por uma pessoa Concede o gozo e a fruição de bens Caráter transitório Tem um sentido de inconsumibilidade, de permanência

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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES – Prof. Me. Larissa G. Castro

Professora Larissa Gonzaga

UNIDADE I - DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

“Toda nossa vida se desenvolve numa atmosfera em que o direito das obrigações está presente.” Orlando Gomes

A obrigação no sentido que vamos estudar, é uma relação de natureza pessoal na qual uma pessoa se

compromete a uma prestação, positiva ou negativa, em favor de outra, visando à satisfação de interesses e respondendo com o seu patrimônio, inclusive com execução forçada pelo Poder Judiciário.

1.1 Conceito de Direito das Obrigações

É o ramo do direito que regula o complexo das relações de direito patrimonial e que têm por objetivo fatos ou prestações de uma pessoa em relação à outra (credor e devedor).

1.2 Esboço Histórico

A noção de obrigação surgiu com o caráter coletivo, quando todo grupo empreendeu negociações e estabeleceu o comércio. O desenvolvimento de tal prática passou da obrigação coletiva para a individual, mas sempre tendo um caráter punitivo na hipótese de descumprimento do avençado.

No Direito Romano, em razão da vinculação das pessoas, o devedor respondia com o próprio corpo pelo cumprimento da obrigação.

Com o surgimento da Lex Poetelia Papiria, de 428 a.C., foi abolida a execução sobre a pessoa do devedor, deslocando-a para os seus bens.

Idade Média: imperava o Direito Canônico e a obrigação tinha a mesma estrutura que no direito romano. Sacramentalização da obrigação. Pacta sunt servanta.

Nessa evolução, o Direito Obrigacional passou por diversas transformações, acompanhando a expansão da economia, o desenvolvimento do comércio, a Revolução Industrial, a mais recente evolução tecnológica a aplicação de direitos fundamentais as relações cíveis.

1.3 Distinção entre Direito Obrigacional (Pessoal) e Direito Real.

Direitos reais: definem-se como o poder jurídico, direto e imediato do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos. O sujeito passivo do direito real é toda a coletividade que deve abster-se de violá-lo, sendo de caráter erga omnes.

Direitos obrigacionais (pessoais): Relação jurídica pela qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação. No direito das obrigações somente se vinculam aqueles que fizeram parte do que contrataram e anuíram para comprometer-se a prestar ou exigir algo.

Relação Jurídica Obrigacional: Sujeito Ativo (credor) ----- relação jurídica obrigacional ----- Sujeito Passivo (devedor) Relação Jurídica Real: Titular do Direito Real ------------relação jurídica real------------ Bem/Coisa

Direito Pessoal ou Obrigacional Direito Real

Vincula somente pessoas Estabelece relação entre o titular e a coisa

É direito relativo É direito absoluto (erga omnes)

Tem dois sujeitos (ativo e passivo) e a prestação (objeto de relação)

Um só titular, que exerce seu poder sobre a coisa objeto de seu direito de forma direta e imediata

Concede direito a uma ou mais prestações efetuadas por uma pessoa Concede o gozo e a fruição de bens

Caráter transitório Tem um sentido de inconsumibilidade, de permanência

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Tem apenas garantia geral do patrimônio do devedor (execução), não podendo escolher em quais bens recairão a satisfação de seu crédito.

Possui direito de sequela

São ilimitadas, se apresentam com um número indeterminado São numerus clausus, só os considerados na lei.

1.4 Direitos da Personalidade

Os direitos obrigacionais e os da personalidade são espécies do gênero direitos pessoais. Porém, os da personalidade possuem características jurídicas próprias, são oponíveis erga omnes, vitalícios, relativamente indisponíveis, enquanto os obrigacionais são inter partes, transmissíveis, patrimonializados e temporários, já que se resolvem pelo próprio adimplemento da prestação, em regra.

1.5 Conceito de Obrigação

“A obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio.” (Washington de Barros Monteiro).

“Obrigação é a relação transitória de direito, que nos constrange a dar, a fazer ou não fazer alguma coisa economicamente apreciável em proveito de alguém, que, por ato nosso ou de alguém conosco juridicamente relacionado, ou em virtude de lei, adquiriu o direito de exigir de nós essa ação ou omissão.” (Clóvis Beviláqua)

“Obrigação caracteriza-se como o vínculo jurídico transitório entre credor e devedor cujo objeto consiste numa prestação patrimônial de dar, fazer ou não fazer.” (Wikipédia)

UNIDADE II – FONTE DAS OBRIGAÇÕES

São fatos jurídicos que dão margem à criação, ao surgimento das obrigações. Diferentemente das fontes do

direito, de onde nascem os preceitos e as normas gerais e abstratas que regem a vida de todos na sociedade, as fontes das obrigações surgem de relações concretas que dizem respeito ao sujeito ativo e passivo dessas relações, constituindo o fato que dá origem à obrigação e podem ser divididas em fontes mediatas (condição determinante do nascimento das obrigações) e imediatas (lei como causa eficiente das obrigações).

São fontes de obrigações: • Contrato • Atos unilaterais (Promessa de Recompensa, Gestão de Negócios, Pagamento Indevido, Testamento) • Ato ilícito (Responsabilidade Civil) • Lei

UNIDADE III - ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL

• As partes na relação obrigatória (sujeitos - elemento pessoal ou subjetivo) • A prestação (objeto - elemento material) • O vínculo jurídico

CC, Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

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3.1 As Partes

Elemento subjetivo da obrigação. Sujeito ativo – credor ou accipiens – pode exigir o cumprimento da obrigação ou a execução – art. 331 CC.

Sujeito passivo – devedor ou solvens – tem um dever perante o credor.

Características do elemento subjetivo:

• Duplicidade ou dualidade • Transmissibilidade ou Mudança subjetiva (ou seja, os sujeitos originais da obrigação podem mudar). • Determinabilidade (partes determinadas ou determináveis) • Sinalagma: direitos e deveres para ambas as partes – equilíbrio.

Exceções: - Obrigações personalíssimas - O sujeito (ativo ou passivo) pode ser indeterminado quando da constituição da obrigação ou no momento do pagamento – art. 335 CC Auxiliares: não tem a condição de sujeitos, mas cooperam ajudando-os. São eles: I - Os representantes II - Os mensageiros III - Os auxiliares executivos 3.2 Objeto * Imediato ou direito – a prestação * Mediato ou remoto – é o bem material que se insere dentro da prestação (Venosa) Características do elemento objetivo (prestação):

• Licitude (104 e 166, II, CC). • Possibilidade física ou material (166, II, CC). • Possibilidade jurídica (CC, art. 426). • Determinado ou Determinável • Patrimonialidade - a obrigação tem que ter valor econômico.

3.3 Vínculo jurídico Consiste no dever do sujeito passivo de satisfazer a prestação e o correlato direito do credor de exigir

judicialmente o seu cumprimento, investindo contra o patrimônio do devedor, visto que o mesmo fato gerador do débito produz a responsabilidade.

• Teoria monista – o vínculo era um elo simples, um exigia o cumprimento e o outro devia pagamento. • Teoria dualista da obrigação – o vínculo se subdivide em dois elementos (em duas fases).

Elementos que compõem seu conceito: 1. Dívida (debitum - shuld) 2. Responsabilidade (obligatio – haftung)

3.3.1 Obrigação X Responsabilidade

Existem dois elementos que compõem a obrigação: o débito (schuld) e a responsabilidade (haftung). Aquele é a prestação que deve ser espontaneamente cumprida pelo devedor. Esta é a obrigação que surge ao devedor pelo inadimplemento daquele e recai sobre o patrimônio do devedor, não sobre sua pessoa. A RESPONSABILIDADE É SEMPRE UMA OBRIGAÇÃO DERIVADA, já que surge apenas quando a obrigação não for adimplida no prazo. O devedor responderá, havendo a responsabilidade, com todo o seu patrimônio para o cumprimento da obrigação, ressalvadas as restrições legais dos bens de família, bens absolutamente impenhoráveis e inalienáveis etc.

Logo, como a execução não recai sobre a pessoa e sim sobre o patrimônio do próprio devedor, há que se dizer que ela é real. Somente existe execução pessoal no caso de recusa de alimentos e no direito penal. Responsabilidade patrimonial: CC, Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor. * O Supremo Tribunal Federal (STF) editou, em 16 de dezembro de 2009, a Súmula Vinculante nº 25, que traduz: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”.

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CPC, Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei. “Embora os dois conceitos – obrigação e responsabilidade – estejam normalmente ligados, nada impede que haja uma obrigação sem responsabilidade ou uma responsabilidade sem obrigação”. (Arnoldo Wald)

Débito sem responsabilidade: dívida prescrita e dívida de jogo – Ob. Natural Responsabilidade sem débito: fiança, aval, direitos reais de garantia prestados por terceiros. “Schuld” e “Haftung”: Em alemão, “Schuld” pode significar culpa ou débito. “Haftung”, por sua vez

traduzem responsabilidade. 3.4 Novos paradigmas aplicáveis às Obrigações

3.4.1 A Teoria dos Interesses: Na clássica acepção de obrigação, mesmo após a superação da filosofia positivista oitocentista, ainda prevalece hodiernamente a ideia de que esse instituto civilista tem lastro no poder do credor perante o devedor, numa relação de subordinação.

Ainda que as cláusulas gerais da boa fé objetiva e da função social tenham mitigado um pouco essa concepção, tal não ocorreu de forma suficientemente ampla para arraigar na sociedade uma visão mais humana do significado de obrigação.

SEGUNDO A TEORIA DOS INTERESSES, A OBRIGAÇÃO NÃO TERIA LASTRO NO PODER, MAS NO INTERESSE, QUE É UM VALOR PRIVADO TUTELADO PELO ORDENAMENTO JURÍDICO. Sendo o interesse o norte das obrigações, não se pode admitir que um conjunto de valores privados de certa pessoa seja tido como superior ao da outra, visto que são elas iguais no plano civil.

O interesse tutelado pelo direito é aquele que promove o ser humano, que aprofunda os laços sociais e a solidariedade. Nessa linha de pensamento, o homem não se tornaria satisfeito em detrimento do outro, mas cresceria culturalmente com o concurso positivo de seu semelhante (síntese axiológica). Os interesses diferenciados, quando justapostos, se completam mutuamente, promovendo a conquista de outros valores em projeção infinita.

3.4.2 Princípio da Socialidade: A socialidade serve para harmonizar os princípios da autonomia da

vontade e da solidariedade social, já que, por ser ela o fim do direito subjetivo obrigacional, deverá ser mantida uma relação de cooperação entre os partícipes da relação obrigacional – e entre eles e a sociedade – a fim de que seja possível a consecução do fim comum.

A finalidade do princípio da socialidade é afastar a mera aplicação do Direito Civil às relações dos particulares, eis que esses vínculos, em diversas oportunidades, podem interessar à sociedade como um todo, autorizando, por conseguinte, a intervenção estatal. Em suma: o princípio da socialidade objetiva afastar a visão individualista, egoística e privatística do Código Civil de 1916, influenciado pela visão oitocentista de primeira dimensão civilista. 3.4.3 Princípio da Eticidade: Hoje, as obrigações devem ser pautadas por um comportamento ético, de mútua cooperação, observando-se as cláusulas gerais de boa fé, função social, abuso de direito, equidade e bons costumes. O princípio da eticidade tem por escopo valorizar o ser humano na sociedade, o que se dá mediante a efetivação dos princípios constitucionais, mormente o da dignidade da pessoa humana.

Carlyle Popp enfatiza que a dignidade da pessoa humana "significa a superioridade do homem sobre todas as demais coisas que o cercam; é o homem como protagonista da vida social. Representa, então, a subordinação do objeto ao sujeito de direito". 3.4.5 Tu Quoque, Supressio, Surrectio, Venire Contra Factum Proprium, Stoppel: tipos de atos cujas presenças são repudiadas pelo Direito, sendo práticas abusivas.

Tu quoque: proibição de que o torpe se aproveite de sua própria torpeza. Venire contra factum proprium ou Teoria dos Atos Próprios, que proíbe o comportamento contraditório. Isso

porque ninguém pode voltar atrás, unilateralmente, numa postura que tenha criado uma legítima expectativa na outra parte. São pressupostos para a aplicação do venire:

a) Conduta inicial (factum proprium); b) Legítima confiança da outra parte na conservação do sentido objetivo desta primeira conduta; c) Um comportamento contraditório e violador da confiança; d) Um dano efetivo ou potencial daí resultante.

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Supressio1 e surrectio: Pela primeira, constata-se que o não exercício de um direito durante longo tempo poderá significar a extinção desse direito, ou ao menos o impedimento de seu exercício, quando contrariar o princípio da boa fé por se demonstrar abusiva a inatividade de seu titular, gerando uma expectativa legítima na outra parte. Logo, são seus elementos:

a) Omissão no exercício do direito; b) Transcurso de determinado período, geralmente variável; c) Indícios objetivos de que esse direito não mais seria exercido2. Como diferenciar o venire da supressio? O principal diferencial está no fator temporal. No venire, importam as

condutas contraditórias em si mesmas consideradas, ainda que pouco tempo tenha se passado. Na supressio, imperioso decorrer determinado lapso temporal para configurar a hipótese de perda do direito. Ambos são, no entanto, decorrentes da violação da cláusula geral da boa fé objetiva3.

Já a surrectio seria o nascimento de um direito, a contraface da supressio.

UNIDADE IV – CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 4.1. QUANTO À ÁREA JURÍDICA

• Obrigações civis e obrigações comerciais O atual Código Civil unificou as obrigações civis com as obrigações comerciais, passando ambas a integrar em seu texto assuntos pertinentes as duas matérias. 4.2. OBRIGAÇÕES CONSIDERADAS EM SI MESMAS

4.2.1 Em relação ao seu vínculo: Obrigação moral, obrigação civil e obrigação natural 4.2.2 De natureza mista Propter rem 4.2.3 Quanto à natureza de seu objeto: - Positivas: obrigação de dar e obrigação de fazer - Negativas: obrigação de não fazer 4.2.4 Em atenção à sua liquidez: Obrigação líquida e obrigação ilíquida 4.2.5 Quanto ao modo de execução: Obrigação simples, cumulativa ou conjuntiva; obrigação alternativa e obrigação facultativa 4.2.6 Quanto ao tempo de adimplemento: Obrigação momentânea, instantânea, transitória ou transeunte e obrigação de execução continuada, contínua,

periódica, duradoura ou de trato sucessivo. 4.2.7 Quanto aos elementos acidentais: Pura e simples, condicional, modal e a termo 4.2.8 Em relação à pluralidade ou não de sujeitos: Fracionárias, conjuntas, disjuntivas, divisíveis, indivisíveis e solidárias 4.2.9 Quanto ao fim ou conteúdo: Obrigações de meio; de resultado e de garantia

1 Mencionado no STJ, REsp 207.509/SP. 2 Muitas decisões de Cortes nacionais colocaram como requisito, também, a necessidade de que a supressio promova o equilíbrio contratual, ou seja, de que o seu não reconhecimento cause desequilíbrios entre o benefício e o prejuízo suportado pelas partes. 3 Há, no entanto, quem considere a supressio como uma específica modalidade de venire.

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4.3. OBRIGAÇÕES RECIPROCAMENTE CONSIDERADAS Obrigação principal e acessória

4.2. OBRIGAÇÕES CONSIDERADAS EM SI MESMAS 4.2.1 Em relação ao seu vínculo:

- OBRIGAÇÃO MORAL É mero dever de consciência. O Direito não lhe reconhece qualquer prerrogativa. O cumprimento de uma

obrigação moral constitui, sob o prisma jurídico, uma simples questão de princípios, sem qualquer juridicidade. - OBRIGAÇÃO CIVIL São as obrigações, que possuem todos os seus elementos constitutivos (vínculo, partes, objeto). Elas

apresentam os dois elementos do vínculo jurídico: débito e responsabilidade. - OBRIGAÇÃO NATURAL As obrigações naturais são obrigações INCOMPLETAS ou IMPERFEITAS (não possuem todos os elementos

constitutivos da obrigação), que apresentam como características essenciais as particularidades de não serem judicialmente exigíveis, mas se forem cumpridas EXPONTANEAMENTE, ter-se-á por válido o pagamento, que não poderá ser repetido.

• CC. art. 882, 1ª parte • Art. 814/815 CC

- Características

• Não é obrigação moral • Não há ação que garanta o direito • Se for cumprida espontaneamente por pessoa capaz, ter-se-á a validade do pagamento • O credor natural pode reter o pagamento

- Natureza Jurídica As obrigações naturais são DEVERES MORAIS ou SOCIAIS JURIDICAMENTE RELEVANTES.

4.2.2 De natureza mista ou híbrida - OBRIGAÇÕES “PROPTER REM”

Também chamada de “ob rem” ou simplesmente “in rem”.

Conceito: trata-se de uma obrigação acessória, de natureza mista, originária e unida a um direito real, acompanhando-o e transmitindo-se com este.

OBS: não se confunde obrigação propter rem com obrigação de eficácia real. Esta última traduz uma prestação com oponibilidade erga omnes (ex: locação registrada no cartório de imóveis - art. 8º da Lei nº 8.245/91).

- Natureza Jurídica

Acessória mista de direito real e direito pessoal, de fisionomia autônoma.

- Exposição dos pontos pacíficos pelos doutrinadores:

Maria Helena Diniz Sílvio Rodrigues Sílvio Venosa

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" vinculação a um direito real, ou seja, a determinada coisa de que o devedor é proprietário ou possuidor";

- "ela prende o titular de um direito real, seja ele quem for, em virtude de sua condição de proprietário ou possuidor";

- "trata-se de relação obrigacional que se caracteriza por sua vinculação à coisa";

- "possibilidade de exoneração do devedor pelo abandono do direito real, renunciando o direito sobre a coisa";

- "o devedor se livra da obrigação pelo abandono do direito real";

- "o nascimento, a transmissão e a extinção da obrigação propter rem seguem o direito real, com uma vinculação de acessoriedade";

- "transmissibilidade por meio de negócios jurídicos, caso em que a obrigação recairá sobre o adquirente".

- "a obrigação se transmite aos sucessores a título singular do devedor".

- "sua eficácia perante os sucessores singulares do devedor confere estabilidade ao conteúdo do direito".

- Aplicação

• Art. 1315 do Código Civil • Art. 1297, § 1º do Código Civil • Art. 1383 do Código Civil • Art. 1280 do Código Civil • Arts. 1277 e 1313 do Código Civil (D. De Vizinhança)

Jurisprudência 4.2.3 Quanto à natureza de seu objeto:

• Positivas:

- OBRIGAÇÃO DE DAR Consiste na obrigação de entregar alguma coisa. Divide-se em obrigação de dar coisa certa (caracteriza-se por se referir a um objeto perfeitamente determinado, que se considera em sua individualidade) e obrigação de dar coisa incerta (caracteriza-se por ter objeto indeterminado, mas determinável, que deve, ao menos, ser indicado pelo gênero e quantidade). A distinção entre obrigação de dar coisa certa ou incerta, entretanto, é de duração limitada. A obrigação de dar ainda se divide, em obrigação de dar propriamente dita (a entrega da coisa visa à transferência do domínio ou de outros direitos reais sobre a coisa) e obrigação de restituir (envolve uma devolução, eis que o devedor, tendo recebido coisa alheia, encontra-se obrigado a restituí-la, pois o credor é o proprietário do bem).

I - Regras pertinentes à obrigação de dar coisa certa: a) O credor de coisa certa não está obrigado a receber outra, ainda que mais valiosa. (Art. 313) b) Abrangência dos acessórios (Art. 233 do CC) c) Perda da coisa (Art. 234 do CC) d) Deterioração da coisa (Arts. 235 e 236 do CC) e) Melhoramentos e acrescidos sobrevindos à coisa antes da tradição (Art. 237 do CC) f) Perda da coisa, na obrigação de restituir coisa certa (Art. 238 e 239 do CC) g) Deterioração da coisa, na obrigação de restituir coisa certa (Art. 240 do CC) Obs.: A atribuição dos riscos, pela perda ou deterioração da coisa, nas obrigações de dar coisa certa, resolve-se

pela aplicação da regra res perit domino, ou seja, o dono é quem sofre os prejuízos pela perda ou deterioração da coisa. Isto, quando não for o devedor o culpado pela deterioração ou perda.

h) Melhoramentos e acréscimos sobrevindos à coisa restituível (Art. 241 do CC) i) Melhoramentos e acrescidos (cômodos) sobrevindos à coisa restituível (Art. 242 do CC) j) Frutos, no caso de obrigação de restituir coisa certa (Art. 242 do CC)

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II - Regras pertinentes à obrigação de dar coisa incerta: a) Riscos pelo perecimento ou deterioração (Arts. 246 do CC) b) Individualização da coisa c) A quem compete fazer a escolha (Arts. 244, 342 do CC) d) Como se deve fazer a escolha (Arts. 244, do CC)

- OBRIGAÇÃO DE FAZER

“É a que vincula o devedor a prestação de um serviço ou ato positivo, material ou imaterial, seu ou de terceiro, em beneficio do credor ou de terceira pessoa" (MHD).

Divide-se em obrigação de fazer fungível (a prestação pode ser realizada indiferentemente pelo devedor ou por terceira pessoa) e obrigação de fazer infungível (a prestação somente pode ser realizada pelo devedor, eis que é intuitu personae).

Conseqüências do inadimplemento:

I - Impossibilidade da prestação II - Inadimplemento voluntário (CC art. 249, parágrafo único). III - Da obrigação de emitir declaração de vontade (CPC art. 501)

• Negativas:

- OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER

“É aquela em que o devedor assume o compromisso de se abster de um fato, que poderia praticar, não fosse o vinculo que o prende" (Silvio Rodrigues).

- Inadimplemento da obrigação de não fazer

- Art. 251, parágrafo único do CC Tutela específica: CPC Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido,

concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.

Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo.

Art. 498. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação.

Parágrafo único. Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, o autor individualizá-la-á na petição inicial, se lhe couber a escolha, ou, se a escolha couber ao réu, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz.

Art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.

Art. 500. A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa fixada periodicamente para compelir o réu ao cumprimento específico da obrigação.

Art. 501. Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida.

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4.2.4 Em atenção à sua liquidez: - OBRIGAÇÃO LÍQUIDA

Considera-se líquida a obrigação certa, quanto a sua existência, e determinada, quanto ao seu objeto. - OBRIGAÇÃO ILÍQUIDA Considera-se ilíquida aquela obrigação incerta quanto a sua quantidade e que se torna certa pela liquidação.

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4.2.5 Quanto ao modo de execução: - SIMPLES - Obrigações simples são as coexistentes numa só prestação, recaem somente sobre uma coisa. Libera-se o devedor entregando o objeto devido

• art. 313 CC • art. 356 CC

Silvio de Sávio Venosa afirma que quanto ao objeto a obrigação é simples quando a prestação importar em um único ato ou numa só coisa.

- CUMULATIVA OU CONJUNTIVA A obrigação é cumulativa ou conjuntiva quando mais de uma prestação é devida conjuntamente. Nessas obrigações, há duas ou mais prestações que deverão ser realizadas totalmente. - OBRIGAÇÃO ALTERNATIVA (DISJUNTIVA) a) Conceito: Obrigação alternativa é aquela que fica cumprida com a execução de qualquer das prestações que formam seu

objeto. O objeto é ligado pela partícula “ou”. Ex. Art. 534. Pelo contrato estimatório, o consignante entrega bens móveis ao consignatário, que fica

autorizado a vendê-los, pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-lhe a coisa consignada.

b) Características

• Seu objeto é plural ou composto, pluralidade de prestações • As prestações são independentes entre si • Concedem um direito de opção, pode estar a cargo do devedor, do credor ou de um 3º • Feita a escolha, a obrigação se concentra na prestação escolhida • Exoneração do devedor mediante realização de uma única prestação.

c) Concentração O ato da escolha não se reveste de forma especial (art. 107 CC).

• Concentração normal • Concentração extraordinária

d) Efeito da escolha O princípio dominante nas obrigações alternativas é que a escolha é irrevogável e indivisível.

• Art. 252, § 1º CC • Art. 314 CC

- OBRIGAÇÃO FACULTATIVA É aquela que tem por objeto uma única prestação (ob. principal), mas confere somente ao devedor a faculdade

de substituir essa prestação por outra, prevista na avença com caráter subsidiário. • Art. 1234 do CC • Regem-se pelos mesmos dispositivos concernentes as obrigações simples.

DIFERENÇA COM OUTROS INSTITUTOS

DAÇÃO EM PAGAMENTO (datio insolutum)

OBRIGAÇÃO FACULTATIVA

É imprescindível a concordância do credor A faculdade é do devedor

a substituição do objeto do pagamento ocorre posteriormente ao nascimento da obrigação

Possibilidade de substituição participada na raiz do contrato

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Obrigação facultativa Obrigação alternativa Há uma prestação principal e outra acessória. Se a obrigação principal é nula, fica Sem efeito a obrigação acessória.

As duas ou mais prestações estão no mesmo nível. Desaparecendo uma prestação, não extingue a obrigação.

Há exercício de uma opção. Há concentração. Unidade de objetos ao contrair a obrigação Pluralidade de objetos ao contrair a obrigação.

A escolha é sempre do Devedor. Ex: obrigo-me a entregar açúcar, sendo que se me convier, poderei substituí-la por café

A Escolha é do devedor, do credor, ou de Terceiro. EX: Devo milho Ou Feijão, o Devedor Realiza A Obrigação elegendo uma das duas Obrigações.

É a prestação principal que determina a natureza do contrato.

4.2.6 Quanto ao tempo de adimplemento:

Classificam-se estas obrigações em: a) Instantânea: a obrigação se aperfeiçoa num único momento do tempo, como é comum na compra e

venda.

b) Diferida: prestação se aperfeiçoa num único momento do tempo, mas a ser realizada futuramente.

c) De forma continuada: prestação se protrai no tempo, como ocorre no contrato de prestação de serviço de transporte, em geral.

d) De trato sucessivo: aquelas que renascem continuamente, a cada prestação vencida, não se extinguindo com o pagamento, o qual apenas tem o efeito de solver o débito referente a cada período. Exemplo seria o contrato de fornecimento de bens entre um produtor de carne e um supermercado. Aquele se obriga a entregar, todo mês, duas toneladas de carne ao supermercado. A prestação de cada mês é adimplida no próprio mês, nascendo e findando uma nova obrigação em cada período. Outro exemplo é a prestação previdenciária.

e) De cumprimento diferido no tempo: a prestação é feita em várias parcelas4 que se sucedem continuamente no tempo e fazem o objeto prestacional ser continuamente exaurido, até a extinção da obrigação. Exemplo é a compra e venda de um imóvel de forma parcelada. A prestação do comprador é única, apenas pagar o preço; o parcelamento não cria prestações autônomas.

4.2.7 Quanto aos elementos acidentais: - PURA E SIMPLES Aquela que não se encontra sujeita a condição, termo ou encargo.

4 Em direito das obrigações, prestação e parcela não se confundem. A primeira é o objeto da obrigação; a segunda, forma de pagamento de uma mesma obrigação.

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- CONDICIONAL Se sua eficácia estiver sujeita a condição.

• Arts. 121 a 130 do CC

- A TERMO Se seus efeitos estiverem sujeitos a termo.

• Arts. 131 a 135 do CC

- MODAL Se estiver sujeita a encargo.

• Arts. 136 e 137 do CC

4.2.8 Em relação à pluralidade ou não de sujeitos: - DIVISÍVEIS (Fracionárias ou Parciais) "Obrigação divisível é aquela cuja prestação é suscetível de cumprimento parcial, sem prejuízo de sua

substância e de seu valor" (Maria Helena Diniz). • Art. 257 do CC • Art. 87 e 88 do CC

- INDIVISÍVEIS (Conjuntas ou Unitárias ou de Mão Comum) "Obrigação indivisível é aquela cuja prestação só pode ser cumprida por inteiro, não comportando sua cisão

em várias obrigações parceladas distintas, pois, uma vez cumprida parcialmente a prestação, o credor não obtém nenhuma utilidade ou obtém a que não representa a parte exata da que resultaria do adimplemento integral" (Maria Helena Diniz).

• Arts. 258 a 263 do CC - SOLIDÁRIAS5 "Obrigações solidárias são aquelas com pluralidade de credores ou devedores, cada um com direito ou

obrigado ao total, como se houvesse um só credor ou devedor" (ArnoldoWald). • Art. 264 do CC • Solidariedade ativa, passiva e mista ou recíproca.

- Características: a) pluralidade de sujeitos ativos e/ou passivos; b) multiplicidade de vínculos; c) unidade de prestação; d) co-responsabilidade dos interessados. - Regras gerais: a) Não presunção da solidariedade (art. 265 do CC) b) Variabilidade do modo de ser da obrigação na solidariedade (art. 266 do CC)

Obs: alguns autores, como Silvio Venosa e Guilhermo Borda, diferenciam obrigação solidaria de obrigações in solidum. Esta última é aquela em que os devedores encontram-se vinculados pelo mesmo fato, não havendo necessária solidariedade entre eles. Ex: Incendiário e a seguradora.

- Solidariedade ativa

• Arts. 267 a 274 do CC • Ex: de solidariedade ativa convencional é a que se estabelece entre os correntistas em conta corrente

conjunta (REsp. 708. 612/RO).

5 Não se deve confundir as obrigações solidárias com as obrigações in solidum. Nestas últimas, posto concorram vários devedores, os liames que os unem ao credor são totalmente distintos, embora decorram de um único fato (ex: suponhamos um caso de incêndio de uma propriedade segurada, causada por culpa de terceiro. Tanto a seguradora como o autor do incêndio devem à vítima indenização pelo prejuízo, porém não existe uma origem comum na obrigação. A obrigação daquela decorre de contrato; deste, da responsabilidade civil).

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- Solidariedade passiva

• Arts. 275 a 285 do CC • existe entendimento no STJ (REsp 577.902/DF) no sentido de que há solidariedade entre o

proprietário e o condutor do veículo pelo fato da coisa. • não se pode confundir remissão com renúncia à solidariedade (art. 277 e 282 do CCB). Enunciado 349

da IV JDC 349 – “Art. 282. Com a renúncia da solidariedade quanto a apenas um dos devedores solidários, o credor só poderá cobrar do beneficiado a sua quota na dívida; permanecendo a solidariedade quanto aos demais devedores, abatida do débito a parte correspondente aos beneficiados pela renúncia.”

Diferenças Existentes entre Obrigações Solidárias e as Obrigações Indivisíveis

a) A causa da solidariedade é o título (decorrente da lei ou vontade das partes), e a da indivisibilidade é, normalmente, a natureza da obrigação;

b) Na solidariedade, cada devedor paga por inteiro, porque deve integralmente (motivação subjetiva), enquanto na indivisibilidade ele solve a totalidade em razão da impossibilidade jurídica de se repartir em quotas a coisa devida (motivação objetiva);

c) A solidariedade é uma relação subjetiva, e a indivisibilidade objetiva; d) Enquanto a indivisibilidade assegura a unidade da prestação, a solidariedade visa a facilitar a satisfação do

crédito/aumentar a garantia do credor; e) A indivisibilidade justifica-se com a própria natureza da prestação, quando o objeto é em si mesmo

insuscetível de fracionamento, enquanto a solidariedade é sempre de origem técnica, resultando da lei ou da vontade das partes, nunca se presumindo;

f) A solidariedade cessa com a morte dos devedores, enquanto a indivisibilidade subsiste enquanto a prestação suportar;

g) A indivisibilidade termina quando a obrigação se converte em perdas e danos, enquanto a solidariedade conserva este atributo mesmo com a conversão. 4.2.9 Quanto ao fim ou conteúdo: - DE MEIO

Aquela em que o devedor se compromete apenas em atuar com diligência e zelo normais na prestação de serviço, a fim de alcançar determinado resultado, sem se vincular a obtê-lo.

RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - DANOS MORAIS - ERRO MÉDICO - MORTE DE PACIENTE DECORRENTE DE COMPLICAÇÃO CIRÚRGICA - OBRIGAÇÃO DE MEIO - RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO MÉDICO - ACÓRDÃO RECORRIDO CONCLUSIVO NO SENTIDO DA AUSÊNCIA DE CULPA E DE NEXO DE CAUSALIDADE - FUNDAMENTO SUFICIENTE PARA AFASTAR A CONDENAÇÃO DO PROFISSIONAL DA SAÚDE - TEORIA DA PERDA DA CHANCE - APLICAÇÃO NOS CASOS DE PROBABILIDADE DE DANO REAL, ATUAL E CERTO, INOCORRENTE NO CASO DOS AUTOS, PAUTADO EM MERO JUÍZO DE POSSIBILIDADE - RECURSO ESPECIAL PROVIDO. I - A relação entre médico e paciente é contratual e encerra, de modo geral (salvo cirurgias plásticas embelezadoras), obrigação de meio, sendo imprescindível para a responsabilização do referido profissional a demonstração de culpa e de nexo de causalidade entre a sua conduta e o dano causado, tratando-se de responsabilidade subjetiva; II - O Tribunal de origem reconheceu a inexistência de culpa e de nexo de causalidade entre a conduta do médico e a morte da paciente, o que constitui fundamento suficiente para o afastamento da condenação do profissional da saúde; III - A chamada "teoria da perda da chance", de inspiração francesa e citada em matéria de responsabilidade civil, aplica-se aos casos em que o dano seja real, atual e certo, dentro de um juízo de probabilidade, e não de mera possibilidade, porquanto o dano potencial ou incerto, no âmbito da responsabilidade civil, em regra, não é indenizável; IV - In casu, o v. acórdão recorrido concluiu haver mera possibilidade de o resultado morte ter sido evitado caso a paciente tivesse acompanhamento prévio e contínuo do médico no período pós-operatório, sendo inadmissível, pois, a responsabilização do médico com base na aplicação da "teoria da perda da chance"; V - Recurso especial provido. (STJ, REsp 1104665/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/06/2009, DJe 04/08/2009)

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- DE RESULTADO Aquela em que o credor tem a faculdade de exigir determinado resultado do devedor, sem o que ocorrerá o

inadimplemento da obrigação.

OBS: - O cirurgião plástico reparador assume obrigação de meio; ao passo que o estético de resultado. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. ART. 14 DO CDC. CIRURGIA PLÁSTICA. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. CASO FORTUITO. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. 1. Os procedimentos cirúrgicos de fins meramente estéticos caracterizam verdadeira obrigação de resultado, pois neles o cirurgião assume verdadeiro compromisso pelo efeito embelezador prometido. 2. Nas obrigações de resultado, A RESPONSABILIDADE DO PROFISSIONAL DA MEDICINA PERMANECE SUBJETIVA. Cumpre ao médico, contudo, demonstrar que os eventos danosos decorreram de fatores externos e alheios à sua atuação durante a cirurgia. 3. Apesar de não prevista expressamente no CDC, a eximente de caso fortuito possui força liberatória e exclui a responsabilidade do cirurgião plástico, pois rompe o nexo de causalidade entre o dano apontado pelo paciente e o serviço prestado pelo profissional. 4. Age com cautela e conforme os ditames da boa fé objetiva o médico que colhe a assinatura do paciente em “termo de consentimento informado”, de maneira a alertá-lo acerca de eventuais problemas que possam surgir durante o pós-operatório. RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (STJ, REsp 1180815/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/08/2010, DJe 26/08/2010)

- A maioria da jurisprudência entende que a cirurgia de miopia a laser é obrigação de meio, e não de resultado (TJMG AP. Civil, 1070701044481-8/001)

- DE GARANTIA Visa à eliminação de risco, que pesa sobre o credor. 4.3. OBRIGAÇÕES RECIPROCAMENTE CONSIDERADAS - PRINCIPAL É a obrigação que tem vida própria e independente de qualquer outra.

• Art. 92 do CC • Art. 184 do CC • Art. 233 do CC.

- ACESSÓRIA

É aquela cuja existência supõe a da principal – P. Da Gravitação Jurídica.

UNIDADE V – TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES 1- Cessão de crédito (arts. 286 a 298 C.C.)

1.1. Conceito – conforme Sílvio Rodrigues “a cessão de crédito é o negócio jurídico, em geral de caráter

oneroso, pelo qual o sujeito ativo (cedente) de uma obrigação a transfere à terceiro (cessionário), estranho ao negócio original, independentemente da anuência do devedor”.

É um negócio jurídico em que o credor transfere a um terceiro seu direito. É apenas uma substituição de credor. A obrigação é a mesma e continua com os acessórios. A cessão pode ser total ou parcial. Pode ocorrer a título gratuito ou oneroso.

OBS: o crédito não poderá ser cedido em três situações:

a) quando a natureza do direito o impedir (alimentos);

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b) se houver proibição de lei (ex: art. 1749, III, CC - Ainda com a autorização judicial, não pode o tutor, sob pena de nulidade: III - constituir-se cessionário de crédito ou de direito, contra o menor.)

c) quando houver cláusula proibitiva (pacto de non cedendo) - a cláusula proibitiva somente terá eficácia, em respeito ao princípio da eticidade, se constar do título da obrigação.

1.2 - A posição do devedor

Não faz parte do negócio jurídico – é alheio ao negócio jurídico, mas deve tomar conhecimento do ato para efetuar o pagamento (pode ser notificado pelo cedente ou cessionário – art. 290, 1ª parte C.C.). No instante em que for notificado, o devedor deve opor tanto ao cedente como ao cessionário, as exceções que lhe competirem.

1.3- Natureza jurídica

É de natureza jurídica contratual; contrato consensual que poderá ser por instrumento público ou particular. Pode ser gratuita, assemelhando-se a uma doação, ou onerosa, assemelhando-se à compra e venda.

1.4- Requisitos Objeto lícito (art.286 C.C.), capacidade e legitimação 1.5 - Modalidades: -Convencional -Judicial e legal -Total ou parcial -A titulo gratuito ou oneroso. -Pro soluto - quando o cedente, após a transferência, deixa de ter qualquer responsabilidade pelo crédito, afora

a sua existência (regra geral) -Pro solvendo - quando o cedente continua responsável pelo pagamento do crédito, caso o cedido não o faça. Natureza pro solvendo

Cedente garante existência E solvência Cedente responde subsidiariamente

Natureza pro soluto Cedente garante existência do crédito, se houver má fé, caso gratuita Cedente garante existência do crédito se nulo ou anulável à época da cessão, se onerosa Cedente somente garante solvência se cedido já era inadimplente à época da cessão, se onerosa

1.6 – Forma: A forma é livre, bastando a manifestação da vontade, visto que o contrato de cessão de crédito é

consensual e não solene. Contudo, para produzir efeitos quanto a terceiros, o contrato só prevalecerá se for solene (art. 288)

2 - Assunção de dívida - cessão de débito – 299 a 303 C.C. 2.1 - Conceito - é um negócio jurídico aonde aconteceu a substituição do devedor com expresso

consentimento do credor e dos garantes do débito. (art. 299 do CC) - Peculiaridade: O novo devedor assume uma obrigação que não foi contraída por ele. * A assunção pode liberar o devedor primitivo ou mantê-lo preso à obrigação. Caso o devedor primitivo mantenha-se preso à obrigação, denominamos de Assunção Imperfeita, e caso haja

a sua liberação teremos a Assunção Perfeita. Para que o devedor primitivo seja solidário deve ser convencionado entre as partes (expressamente) – a

solidariedade não se presume. * As garantias especiais não acompanham a assunção – art. 300 do CC. Ex.: a fiança não admite a interpretação extensiva, bem como a hipoteca. 2.2 - Características - Negócio Jurídico de natureza contratual; - Bilateral ou plurilateral; - De forma livre; - Objeto – dívidas presentes ou futuras. 2.3 - Efeitos

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- Pressupõe a pré-existência de uma obrigação, que subsiste. - Substituição da figura do devedor com ou sem seu consentimento - Extinção das garantias especiais 2.4 - Espécies

• Delegação: Por acordo entre um terceiro (novo devedor) e o devedor primitivo, com expresso consentimento do credor.

• Expromissão: Por acordo entre o terceiro (novo devedor) e o credor, com ou sem o consentimento do devedor.

• Liberatória • Cumulativa

3 - Cessão de Contrato ou Cessão de Posição Contratual 3.1 - Conceito- é um negócio jurídico em que uma das partes, o cedente, com consentimento do outro

contratante, ou seja, o cedido, transfere sua posição para um terceiro (cessionário).

A Cessão de Contrato realiza a forma mais completa de substituição na relação obrigacional. * Em regra geral, é necessário o consentimento do cedido.

3.2 - Teorias explicativas da cessão de contrato:

1) teoria da decomposição (ou atomística – doutrina da decomposição): para esta corrente a cessão de contrato não seria global, única, mas sim, várias cessões de crédito e débito reunidas.

2) teoria unitária: defendida por Pontes de Miranda e Antunes Varela. Esta teoria diferentemente afirma que a cessão de contrato se dá globalmente, de forma unitária em um único ato. Na cessão de contrato a anuência da outra parte é condição de eficácia para o ato.

3.3 - Natureza jurídica Contratual: é um conjunto de cessão de créditos e assunção de dívidas. A cessão em si constitui um contrato

típico, quem tem por finalidade transferir outro contrato. O contrato transferido, que constitui o objeto da cessão, chama-se contrato-base.

3.4 - Categorias - cessão de contrato com liberação do cedente - cessão de contrato sem liberação do cedente 3.5 - Efeitos -Entre o cedente e cessionário - o cedente é responsável pela existência do contrato, por sua validade e pela

posição que está cedendo. -Entre cedente e cedido – Com a transferência de sua posição contratual, sai o cedente da relação jurídica, mas

as partes podem manifestar em sentido contrário. -Entre cessionário e cedido – ambos passam a ser partes no contrato-base. O cessionário toma o lugar do

cedente nos direito e obrigações. O cedido só liberará de suas obrigações contratuais com o pagamento ao cessionário, após tomar conhecimento e anuir na cessão. O contrato pode ser cedido parcialmente cumprido. Todos os acessórios dos direitos conferidos pelo contrato também se transmitem ao cessionário. As garantias para o contrato, fiança, hipoteca, penhor, prestadas por terceiro necessitam do consentimento destes.

UNIDADE VI – EXECUÇÃO VOLUNTÁRIA E EXECUÇÃO FORÇADA DA OBRIGAÇÃO

Ø O Pagamento – Solutio

1. Conceito: ato do devedor ao credor que dá cumprimento ao acordo de vontades que originou a obrigação, nada mais é então do que a execução do crédito. A execução da obrigação é o pagamento (toda vez que houver um cumprimento da prestação).

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- Teoria do adimplemento substancial (D. Inglês) - esta doutrina sustenta que não se deve considerar resolvida a obrigação quando a atividade do devedor, embora não tenha atingido plenamente o fim proposto, aproxima-se consideravelmente do seu resultado final.

2. Natureza jurídica do pagamento É um fato jurídico, sendo que respeitável parcela da doutrina (Caio Mário, Roberto de Ruggiero) afirmam que

o pagamento é um fato jurídico de natureza negocial. Assim, aplicam-se ao pagamento os defeitos do negócio jurídico. 3. Quem pode pagar (Solvens) – devedor, fiador, terceiro interessado (art. 304) e não interessado (art. 304,

parágrafo único), avalista e herdeiro. *O terceiro não interessado pode pagar em nome e por conta do devedor ou pagar em seu próprio nome (neste

caso tem o direito de reeembolsar-se do que pagou). *O pagamento pelo devedor não é apenas uma obrigação, mas um direito seu. *Se a obrigação for personalíssima não terá a sua transmissão – o que interessa é que o próprio devedor

execute a obrigação – infungível. (obrigação de fazer ou não fazer). Sum. 581/STJ: A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e

execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória.

4. A quem se deve pagar (Accipiens) O pagamento deve ser feito ao credor ou seu representante. * Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias

contrariarem a presunção daí resultante (art. 311). * Pode se fazer o pagamento ao representante do credor 5. Credor putativo ou aparente (art. 309) Supõe-se ser uma pessoa legítima para receber o crédito (acredita-se estar fazendo o pagamento ao único

herdeiro, por exemplo). Neste caso, se o devedor a ele efetuar o pagamento, este será válido se o devedor estiver de boa-fé e ignorar por completo a situação.

*A lei condiciona a validade do pagamento ao fato de o accipiens ter a aparência de credor e estar o solvens de boa-fé.

6. Quando o pagamento feito a terceiro desqualificado será válido a) Art. 308 – ratificação de recebimento pelo credor b) Art. 308 - 310 – prova de que o pagamento se reverteu em benefício do credor c) Credor putativo 7. Pagamento feito ao inibido de receber

• Art. 310 - Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu.

• Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor.

• Também estará inibido de receber e quitar o devedor falido desde o momento de abertura da falência

8. Objeto do pagamento – arts. 313 a 318 • O pagamento deve compreender, como objeto, o que foi acordado (art. 313 e 314).

* A estipulação de pagamento em moeda estrangeira não é possível, salvo se houver permissão legal – art. 318. A moeda representa um elemento da soberania nacional.

- Teoria da imprevisão do contrato – art. 317 - Clausula da escala móvel – art. 316 9. Prova do pagamento (quitação – arts. 319 a 324): prova é a demonstração material de um fato, ato ou

negócio jurídico. - observar a regra do art. 320 – documento que libera o devedor do vínculo obrigacional. - Prova do pagamento pela entrega do título (art. 321 e 324) - Perda ou extravio do titulo representativo da obrigação (art. 321).

* Observar as normas dos arts. 322, 323 e 324 C.C.

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10. Pagamento em cotas sucessivas, periódicas (art. 322) 11. Dos Juros ante a quitação do capital - art. 323 - São acessórios do principal. *Presunção iuris tantum – presunção relativa – admite prova em contrário (uma corrente) – se recebeu o

principal não quer dizer que tenha recebido o juro. *Presunção iuris et de jure – presunção absoluta – se recebeu o principal, não pode reclamar o juro (outra

corrente) não admite prova em contrário. 12. Despesas com o pagamento e quitação Art. 325 – devedor. 13. Pagamento por medida, ou peso Art. 326 – Silêncio das partes - os do lugar da execução. 14. Do lugar do pagamento -Em princípio o pagamento deve ser feito no domicílio do devedor (dívida quesível- quérable) – Art. 327 - Pode constar expressamente no contrato, a obrigação do devedor levar o débito no domicílio do credor ou

onde esse indicar (dívida portável- portable) Local alternativo – se ficar designado dois ou mais lugares, o credor elege o que lhe for mais favorável. Art.

327, par. Único. - Ver arts. 328, 329 330 15. Do tempo do pagamento Regra geral - não pode o credor exigir o pagamento antes do vencimento do prazo. Exceções: art. 333. 16. Obrigações Puras e Simples Se não houver nenhuma condição e nenhum vencimento, deverá ser satisfeita imediatamente. – Princípio da

satisfação imediata (art. 331 c/c 134) 17. Obrigações com prazo e condicionais Execuções – por conveniência do devedor quando o prazo houver sido estabelecido em seu favor (art. 332 c/c

125, 127 e 128, CC). No caso do mútuo de dinheiro, não tendo sido estipulado o vencimento, o prazo legal para pagamento é de 30

dias (art. 592, II, CC). ATENÇÂO - Antecipação do vencimento por disposição legal (art. 333).

FORMAS ESPECIAIS DE PAGAMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

Do Pagamento em Consignação (art. 334 a 345 CC, 539 a 549, CPC)

Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais – art. 334.

Pela sistemática do CPC, art. 539, § 1º,tratando-se de obrigação em dinheiro, o devedor ou terceiro podem optar pelo depósito em estabelecimento bancário.

*A consignação é uma faculdade às mãos do devedor Natureza jurídica Mista ou híbrida – porque está regulamentada tanto no CC quanto no CPC. A decisão judicial é que vai dizer

se o pagamento feito desse modo em juízo terá o condão de extinguir a obrigação. Objeto Objeto que envolva uma obrigação de dar ou uma obrigação de fazer c/c obrigação de dar. No caso de imóveis

o depósito judicial é simbolizado pela chave. As obrigações de fazer e não fazer, devido sua própria natureza, não permitem consignação.

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Obrigações ilíquidas não podem ser objeto de consignação, enquanto não se tornarem líquidas. Se a coisa for consumível não é possível o depósito judicial. (desde que se deteriore em pouco tempo). Hipóteses - Art. 335 Procedimento Arts. 539 a 549 do CPC. A pretensão de consignar nasce no momento de vencimento da obrigação. A lei não estabelece até quando

após o vencimento pode ser utilizada a consignação. Se o depósito for insuficiente, permite-se ao autor que o complemente. Requisitos de validade - Art. 336 Levantamento do depósito -A arts. 338 a 340 Consignação de coisa certa e incerta - Arts 341 e 342 Despesa da consignação - Art. 343 Possibilidade de o credor ajuizar a consignatória - Art. 345.

DO PAGAMENTO POR SUB-ROGAÇÃO – arts. 346 a 351

Conforme esclarece Washington de Barros Monteiro, em sentido amplo, sub-rogar é colocar uma coisa no lugar da outra (sub-rogação real – art. 1911 e 1.659, II do CC), ou uma pessoa no lugar da outra (sub-rogação pessoal). É desta última espécie que ora trataremos.

Assim, “sub-rogação é a transferência dos direitos do credor para aquele que solveu a obrigação, ou emprestou o necessário para solvê-la” (Clóvis Beviláqua, citado por Washington de Barros Monteiro).

I - Modalidades: a) Sub-rogação legal (346 do CC) - é a imposta por lei, nos seguintes casos: - do credor que paga a dívida do devedor comum; - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o

pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte. b) Sub-rogação convencional (347 do CC) - é a que decorre de acordo de vontades entre o credor e terceiro

ou entre o devedor e terceiro, desde que tal convenção seja contemporânea do pagamento, e expressamente declarada, pois, se o pagamento é um ato liberatório, a sub-rogação não se presume (MHD). Ocorre nos seguintes casos:

- quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos. Nesta hipótese, vigoram as disposições pertinentes à cessão de crédito;

- quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.

II - Efeitos: 1º) efeito translativo - transferência ao novo credor de todos os direitos, ações, privilégios e garantias do

primitivo em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores. Na sub-rogação convencional, entretanto, as partes poderão estabelecer restrições a alguns desses direitos;

2º) efeito liberatório - exoneração do devedor ante o credor originário; 3º) na sub-rogação legal, o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma,

que tiver desembolsado para desobrigar o devedor (a convencional pode ter natureza expeculativa); 4º) o credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida, se os

bens do devedor não chegarem, para saldar inteiramente o que a um e outro dever.

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DA IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO (art.352 a 355 C.C.)

Álvaro Villaça: trata-se da determinação feita entre dois ou mais débitos da mesma natureza líquidos e vencidos devidos a um só credor.

I - Requisitos: a) existência de dualidade ou pluralidade de dívidas; b) identidade de credor e de devedor; c) igual natureza dos débitos; d) suficiência do pagamento para resgatar qualquer das dívidas. II - Espécies: a) imputação do pagamento feita pelo devedor ou terceiro, nos casos em que tiver direito de fazê-la. É

possível apenas se referir-se a débitos líquidos e vencidos, salvo consentimento do credor. O devedor encontra duas limitações ao proceder a tal imputação: 1ª) havendo capital e juros, o pagamento se imputará primeiro nos juros vencidos e, depois, no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital; 2ª) se a dívida for de montante superior ao pagamento oferecido, não pode o devedor nela imputar o pagamento.

b) imputação do pagamento feita pelo credor - quando o devedor não declara em qual das dívidas pretende

imputar o pagamento. Aceita a quitação de uma delas pelo devedor, este não poderá reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo se provar haver ele cometido violência, ou dolo.

c) imputação do pagamento feita pela lei - quando nenhuma das partes procede à imputação do pagamento.

Assim, se o devedor não fizer a imputação, e se a quitação for omissa quanto a ela, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa.

III - Efeitos: extinção do débito a que se refere, com todas as garantias reais e pessoais. OBS: As regras do CC não se aplicam nem mesmo subsidiariamente no Direito Tributário, já que o instituto

da imputação ao pagamento foi disciplinado de forma exaustiva art. 163 do CTN.

DAÇÃO EM PAGAMENTO- datio in solutum (arts. 356 a 359)

1. CONCEITO - consiste na entrega pelo deve 2. dor, a título de pagamento, de um objeto que não é devido (estipulado) no vínculo obrigacional, mediante a

aceitação do credor. Pode consistir na substituição de dinheiro por coisa (rem pro pecuni), também de uma coisa por outra (rem pro re), assim como a substituição de uma coisa por uma obrigação de fazer. 2 - REGRAS DA DAÇÃO:arts. 356 a 359. 3 - REQUISITOS

- Animus solvendi - A coisa dada em pagamento deve ser diferente do objeto da prestação original. - O credor deve concordar com a substituição. - Não há necessidade de equivalência de valor na substituição.

*A dação em pagamento com títulos de crédito – aplicação das regras de cessão de crédito (art. 358). *O representante necessita de poderes especiais para dar esse tipo de quitação, que foge ao exato cumprimento

da obrigação. O mandatário com poderes gerais não poderá aceitá-la.

SFH. SUBSTITUIÇÃO DA GARANTIA HIPOTECÁRIA POR TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA. DAÇÃO EM PAGAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Não é possível utilização de Títulos da Dívida Pública para quitação de débito relativo a contrato de mútuo com garantia hipotecária. Inexistência de requisitos dos institutos da dação em pagamento e da compensação.

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2. A dação em pagamento, como meio indireto de satisfazer obrigação, não pode ser coativa, pois demanda o consentimento do credor, sem o qual será irrealizável (arts. 313 e 356, do CC). Precedentes desta Corte. [...] (TRF1, AC 2000.34.00.018612-0/DF, Rel. Desembargadora Federal Selene Maria De Almeida, Conv. Juíza Federal Mônica Neves Aguiar Da Silva (conv.), Quinta Turma,e-DJF1 p.553 de 22/09/2009)

- NATUREZA JURÍDICA Trata-se de um negócio jurídico bilateral, oneroso e real. - RESPONDE O ALIENANTE PELA EVICÇÃO – art. 359. - EQUIPARAÇÃO À COMPRA E VENDA - aplicam-se todas as regras atinentes ao negócio, suas questões

de nulidade e anulabilidade (art. 357) *O art. 357 incide tanto se o bem objeto da dação for móvel quanto se for imóvel. *Se o objeto não for pecuniário e houver substituição por outra coisa, a analogia é com a troca ou permuta.

UNIDADE VII – NOVAÇÃO, COMPENSAÇÃO, CONFUSÃO, REMISSÃO 1 - DA NOVAÇÃO (art.360 a 367 do C.C.) “Ato que cria uma nova obrigação, destinada a extinguir a precedente, substituindo-a” (Maria Helena Diniz). I - Requisitos: a) existência de uma obrigação anterior, que se extingue com a constituição de uma nova, que a substitui. Não

podem ser objeto de novação obrigações nulas, extintas ou inexistentes, admitindo-se, entretanto, que tal modalidade extintiva se refira a obrigações simplesmente anuláveis, caso em que se terá a confirmação destas (art. 172 do CCB);

b) criação de uma obrigação nova, em substituição à anterior, que se extinguiu; c) elemento novo, que pode se referir ao objeto ou aos sujeitos; d) animus novandi, expresso ou tácito, mas inequívoco - não havendo ânimo de novar, a segunda obrigação

confirma simplesmente a primeira; e) capacidade e legitimação das partes. II - Espécies: a) objetiva ou real Quando há alteração no objeto da relação obrigacional; b) subjetiva ou pessoal Quando há alteração no que tange aos sujeitos da relação obrigacional. Pode ser passiva (quando a pessoa do

devedor se altera) ou ativa (quando a pessoa do credor se altera). A novação subjetiva passiva pode se dar por expromissão (ocorre quando um terceiro assume a dívida do devedor originário, substituindo-o sem o consentimento deste, desde que o credor concorde com tal mudança) ou delegação (a substituição do devedor é feita com o consentimento do devedor originário). c) mista

III - Efeitos: 1º) extinção da dívida anterior; 2º) extinção dos acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário; 3º) ineficácia da ressalva da hipoteca, anticrese ou penhor, se os bens dados em garantia pertencerem a

terceiro, que não foi parte na novação; 4º) exoneração do fiador, se for feita sem o seu consenso com o devedor principal; 5º) operada entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova

obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários ficam por esse fato exonerados;

6º) se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve de má-fé a substituição.

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Novação na jurisprudência6:

a) Não se considera novação a simples renegociação contratual, dilação de prazo ou parcelamento do débito; b) Logo, com a simples renegociação, os fiadores não se exoneram; c) Considera-se novação a renegociação e consolidação da dívida quando houver agregação de elementos novos

ao contrato, revelando uma descontinuidade do contrato anterior;

6 AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. SÚMULA 7/STJ. ÓBICE INEXISTENTE. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA. CONTRATO BANCÁRIO NOVADO. REVISÃO. POSSIBILIDADE. SÚMULA 286/STJ. [...] 2. Nos termos da Súmula 286/STJ: "OS CONTRATOS BANCÁRIOS SÃO PASSÍVEIS DE REVISÃO JUDICIAL, AINDA QUE TENHAM SIDO OBJETO DE NOVAÇÃO, POIS NÃO SE PODE VALIDAR OBRIGAÇÕES NULAS". [...] (STJ, AgRg no Ag 518.822/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/09/2010, DJe 29/09/2010) AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CONTRATO BANCÁRIO. REVISÃO DE CONTRATOS EXTINTOS PELA NOVAÇÃO. POSSIBILIDADE. SÚMULA N. 286/STJ. 1. A revisão de contratos extintos pela novação é cabível até mesmo em sede de embargos à execução. [...] (STJ, AgRg no REsp 908.879/PE, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 06/04/2010, DJe 19/04/2010) LOCAÇÃO E PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL CONTRA DECISÃO QUE NEGOU SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE LOCAÇÃO. PARCELAMENTO DO DÉBITO. NOVAÇÃO NÃO CONFIGURADA. EXONERAÇÃO DO FIADOR. IMPOSSIBILIDADE. AGR AVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça firmou o entendimento de que o simples parcelamento do débito entre locador e locatário NÃO CONSTITUI NOVAÇÃO CONTRATUAL, capaz de exonerar os fiadores da garantia prestada. Precedentes. [...] (STJ, AgRg no AgRg no REsp 966.339/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 23/03/2010, DJe 03/05/2010) CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. SASSE. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. DESNECESSIDADE. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO. INVALIDEZ PERMANENTE NA VIGÊNCIA DO CONTRATO ORIGINÁRIO. INOBSERVÂNCIA. RENEGOCIAÇÃO. NOVAÇÃO NÃO CONFIGURADA. [...] 5. "A RENEGOCIAÇÃO DA DÍVIDA NÃO CARACTERIZA NOVAÇÃO SE O NOVO CONTRATO NÃO AGREGA ELEMENTOS NOVOS, suficientes à caracterização do animus novandi, REVELANDO, ASSIM, A DESCONTINUIDADE DA RELAÇÃO ANTERIOR (...)". (AC 0010570-40.2001.4.01.3300/BA, Rel. Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro, Sexta Turma,e-DJF1 p.22 de 11/10/2010). [...] (TRF1, AC 0006449-46.2000.4.01.3803/MG, Rel. Desembargadora Federal Selene Maria De Almeida, Quinta Turma,e-DJF1 p.468 de 21/01/2011) CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. SFH. CONTRATO DE COMPRA E VENDA. SÉRIE EM GRADIENTE. PES. RENEGOCIAÇÃO. MODIFICAÇÃO . SISTEMA SACRE. 1. A pretensão da Apelante é a observância do comprometimento inicial da renda no reajuste das prestações do financiamento habitacional, após este ter passado a ser regido pelo Sistema de Amortização Crescente - SACRE, tendo ocorrido a novação da referida obrigação assumida pela ré, nos termos do aditamento contratual de fls. 16/21, efetuado com base na MP n. 1768-29/99. posteriormente reeditada e convertida em Lei n. 10.150, de 21.12.2000. 2. De acordo com julgados desta Corte, tendo em vista a novação contratual, é indevida a aplicação do PES. [...] (TRF1, AC 0006119-69.2001.4.01.3300/BA, Rel. Desembargador Federal Jirair Aram Meguerian, Conv. Juiz Federal Ricardo Gonçalves Da Rocha Castro (conv.), Sexta Turma,e-DJF1 p.257 de 22/11/2010) CIVIL. PROCESSO CIVIL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO (SFH). AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL. RENEGOCIAÇÃO DA DÍVIDA COM ADOÇÃO DO SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO CRESCENTE (SACRE). NOVAÇÃO. MUDANÇA DA FORMA DE AMORTIZAÇÃO E JUROS REMUNERATÓRIOS. IMPROCEDÊNCIA. 1. A renegociação e consolidação de nova dívida caracterizam a novação QUANDO O NOVO CONTRATO, ALÉM DE ESTABELECER NOVOS PRAZOS, AGREGA ELEMENTOS NOVOS, suficientes à caracterização do animus novandi, revelando uma descontinuidade da relação anterior. 2. Assim, correta a sentença ao analisar o pedido dos autores, considerando esse segundo ajuste de vontades. [...] (TRF1, AC 2006.38.00.008974-9/MG, Rel. Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro, Sexta Turma,e-DJF1 p.33 de 23/08/2010)

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d) Os contratos viciados extintos pela novação são passíveis de revisão, já que as nulidades não se convalidam com o tempo. A novação, assim como a renegociação da mesma dívida, a luz do princípio da função social, não impedem a rediscussão da validade do contrato (Súmula 286, STJ e Ag. Reg. No Ag. 801.930/SC).

Novação em obrigação natural – a doutrina majoritária entende quem pode ocorrer (art. 814, par.1º) 2 - DA COMPENSAÇÃO (art.368 a 380 do C.C.) Conceito: “Um modo de extinção especial das obrigações recíprocas, pelo qual duas obrigações existentes,

em sentido inverso entre as mesmas pessoas, extinguem-se até o montante da menor” (Planiol e Ripert, citados por Sílvio Rodrigues). Aliás, neste sentido, dispõe o Código Civil que “se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem”.

I - Espécies: a) legal - prevista no Código Civil, cujos efeitos operam de pleno direito, independente de convenção das

partes. Entretanto, não pode ser declarada de ofício pelo juiz, cabendo ao interessado alegá-la. O fato de a compensação processar-se por força de lei, implica nas seguintes conseqüências: é irrelevante o problema da capacidade das partes; a compensação retroage à data em que a situação de fato se configurou, inclusive quanto aos acessórios do débito;

b) convencional ou voluntária - decorrente de acordo das partes, que podem dispensar qualquer de seus requisitos.

c) judicial II - Requisitos (da compensação legal): 1º) reciprocidade de débitos - é indispensável que duas pessoas sejam, ao mesmo tempo, credoras e

devedoras uma da outra. Impõe-se observar as seguintes regras: - terceiro não interessado poderá pagar, se o fizer em nome e por conta do devedor, porém não poderá

compensar; - pessoa que se obriga por terceiro não poderá compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever; - Exceção - o devedor só pode compensar com o credor o que este lhe dever, mas o fiador pode compensar

sua dívida com a de seu credor ao afiançado; - o devedor que, notificado, nada opõe à cessão, que o credor faz a terceiros, dos seus direitos, não pode opor

ao cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido opor ao cedente. Se, porém, a cessão lhe não tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário compensação do crédito que antes tinha contra o cedente;

2º) liquidez das dívidas; 3º) exigibilidade atual das prestações; 4º) fungibilidade dos débitos; entretanto, embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das

duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no contrato; 5º) a diferença da causa nas dívidas não impede a compensação, exceto: se uma provier de furto ou roubo;

se uma se originar de comodato, depósito, ou alimentos; se uma for de coisa não suscetível de penhora; 6º) não haver renúncia prévia de um dos devedores; 7º) não haver estipulação entre as partes excluindo a possibilidade de compensação; 8º) dedução das despesas necessárias à operação, quando as duas dívidas não forem pagáveis no mesmo

lugar; 9º) observância das regras pertinentes à imputação do pagamento, havendo vários débitos compensáveis; 10º) ausência de prejuízo a terceiros. Assim, o devedor que se torne credor do seu credor, depois de

penhorado o crédito deste por terceiro, não pode opor ao exeqüente a compensação, de que contra o próprio credor disporia.

Obs: - o STJ tem flexibilizado a proibição de compensação de débito alimentar, como podemos observar no

REsp 982.857/RJ, julgado em 18/09/08. - o STJ no Agr. Reg. No Agr. 353.291/RS apontou a impossibilidade de retenção de salário para efeito de

compensação. Todavia, note-se que o empréstimo consignado é uma exceção admitida pelo próprio ordenamento jurídico.

- Súmula 306, STJ: “Os honorários advocatícios devem ser compensados quando houver sucumbência recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado à execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria parte”.

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3 - DA CONFUSÃO7 (art.381 a 383 do C.C.) Conceito: “É a reunião, em uma única pessoa e na mesma relação jurídica, da qualidade de credor e

devedor” (Silvio Rodrigues). I - Espécies a) total ou própria - se diz respeito ao total da dívida; b) parcial ou imprópria - se diz respeito a apenas parte da dívida. II - Requisitos: a) unidade da relação obrigacional; b) união, na mesma pessoa, das qualidades de credor e devedor; c) ausência de separação dos patrimônios. III - Efeitos: a) extinção da obrigação; b) cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior. 4 - DA REMISSÃO DAS DÍVIDAS (art.385 a 388 do C.C.) Conceito: “É a liberalidade do credor, consistente em dispensar o devedor de pagar a dívida” (Silvio

Rodrigues). É o perdão da dívida. I - Modalidades: a) expressa (firmada por ato escrito) e tácita (nos casos previstos em lei); b) total (se tiver por objeto a completa extinção da obrigação) e parcial (se tiver por objeto apenas parte da

dívida). II – Regras:

- a remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro; - a devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova a desoneração do devedor e seus coobrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir. - a restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, mas não a extinção da dívida. - a remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida.

UNIDADE VIII – INADIMPLEMENTO RELATIVO

- DA MORA (Arts. 394 a 401)

I – Conceito: “Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento, e o credor que o não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer” (art. 394, CC). A mora (inadimplemento relativo) distingue-se do inadimplemento absoluto. Neste, há o descumprimento da obrigação e a impossibilidade de sê-lo, proveitosamente, para o credor. Naquela, a obrigação não é cumprida em tempo, lugar e forma devidos, mas poderá sê-lo, proveitosamente, para o credor.

- Enunciado 162 da III JDC, a luz do princípio da boa-fé, se a prestação objetivamente considerada tornar-se inútil, não haverá simples mora, mas sim inadimplemento absoluto e responsabilidade civil.

II - Espécies: - mora solvendi ou debitoris - mora do devedor, quando este não cumprir, por culpa sua, a prestação devida

na forma, tempo e lugar devidos. Manifesta-se como mora ex re (decorre da lei, resultando do simples descumprimento da obrigação quando existe termo certo e independendo de provocação do credor) e como mora ex persona (se não houver estipulação de termo certo para a execução da relação obrigacional, sendo indispensável a 7 PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. CANCELAMENTO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. IMPOSSIBILIDADE. SUCESSÃO. CONFUSÃO ENTRE CREDOR E DEVEDOR. ART. 267, X, CPC. 1. Com a extinção do Banco Nacional de Crédito Cooperativo S/A - BNCC em 23/05/1994, a União o sucedeu na presente execução, e, após a edição da Lei 11.457/2007, a União passou a representar judicialmente o INSS. No presente caso, credor e devedor se confundem. 2. Ocorrendo confusão entre credor e devedor, incabível a condenação aos honorários advocatícios. 3. Apelação a que se dá provimento. (TRF1, AC 2008.01.00.064802-7/DF, Rel. Desembargadora Federal Maria Do Carmo Cardoso, Oitava Turma,e-DJF1 p.899 de 15/05/2009)

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adoção de certas providências do credor para constituir o devedor em mora). Para se configurar, exige culpa do devedor, eis que não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora.

- mora credendi ou accipiendi - mora do credor, quando este se recusa injustamente a aceitar o

adimplemento da obrigação no tempo, lugar e forma devidos ou não vai recebê-la. - mora de ambos - compensação

III - Conseqüências jurídicas: 1º) Da mora do devedor: - responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários

segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado; - se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir satisfação de perdas e

danos (inadimplemento absoluto); - o devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso

fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa (na mora), ou que o dano sobreviria, ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.

2º) Da mora do credor: - subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa; - obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas na conservação da coisa; - sujeita o credor a receber a coisa pela estimação mais favorável ao devedor, se o valor oscilar entre o dia

estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação. IV - Termo inicial: - mora ex re - o inadimplemento de obrigação, positiva e líquida, no seu termo constitui de pleno direito em

mora o devedor. Regra dies interpellat pro homine. Obs: - no caso das obrigações decorrentes de alienação fiduciária, o STJ tem entendido de forma pacífica que se

trata de mora ex re, de maneira que a notificação do devedor é apenas comprobatória da mora (Ag. Reg. No REsp 1.041.543/RS).

CONTRATO BANCÁRIO. MORA. DESCARACTERIZAÇÃO. A Seção, reiterando jurisprudência consolidada deste Superior Tribunal, reafirmou que a cobrança de encargos ilegais, durante o período da normalidade contratual, descaracteriza a configuração da mora. Precedente citado: EREsp 785.720-RS, DJe 11/6/2010. EREsp 775.765-RS, 2S, Rel. Min. Massami Uyeda, julgados em 8/8/2012.

- mora ex persona - não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial. - mora solvendi na obrigação negativa - nas obrigações negativas, o devedor fica constituído em mora, desde o

dia em que executar o ato de que se devia abster. - mora em caso de ato ilícito (responsabilidade extracontratual ou aquiliana) - nas obrigações provenientes de

ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou. V - Purgação ou emenda da mora: É o ato espontâneo do contratante moroso, que visa remediar a situação a

que deu causa, evitando os efeitos dela decorrentes, reconduzindo a obrigação à normalidade. - Purgação da mora debitoris - ocorre quando o devedor oferece a prestação devida (desde que esta não tenha

se tornado inútil ao credor), mais a importância dos prejuízos decorrentes até o dia da oferta. - Purgação da mora do credor - ocorre quando credor se oferece a receber o pagamento e a se sujeitar aos

efeitos da mora até a mesma data.

- DAS PERDAS E DANOS (Arts. 402 a 405) I – Regra geral: Salvo as exceções expressamente previstas em lei, abrangem os danos emergentes e os

lucros cessantes. Visam restabelecer o status quo ante. II – Requisitos:

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- Culpa - Existência de dano - Nexo causal (não se indeniza o dano indireto)

III - Perdas e danos nas obrigações de pagamento em dinheiro: serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional. Pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar.

IV - Regras pertinentes à fixação dos prejuízos efetivos e dos lucros cessantes: as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito direto e imediato da inexecução.

- DOS JUROS MORATÓRIOS (Arts. 405 a 407) I – Noções: Juros são o preço do uso do capital (Silvio Rodriges). Podem ser compensatórios, remuneratórios

ou juros-frutos (compensação pelo uso de capital alheio) ou moratórios (indenização pelos prejuízos resultantes do retardamento ou descumprimento de obrigação). Os juros ainda podem ser divididos em convencionais (decorrentes da manifestação de vontade das partes) e legais (decorrentes da lei).

II – Regra: Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros de mora que se contarão assim

às dívidas em dinheiro, com às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes.

Independem de pedido na inicial – art. 322 do CPC e SUM 254 do STF III - Taxa: Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou

quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional8.

IV - Momento em que começam a correr os juros de mora: a) regra geral – art. 405: contam-se os juros de mora desde a citação inicial (aplica-se em geral nas obrigações

ilíquidas); b) regras especiais: b.1) inadimplemento de obrigação, positiva e líquida, com termo fixado: a mora se constitui pelo mero

advento do termo, contando-se os juros moratórios a partir desse momento; b.2) inadimplemento de obrigação sem termo fixado: a mora se constitui pela interpelação judicial ou

extrajudicial, bem como pela citação, contando-se os juros moratórios a partir de então; b.3) obrigações provenientes de ato ilícito: considera-se o devedor em mora desde que praticou o ato ilícito,

razão por que, nos termos da Súmula 54 do STJ, “os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual”;

8 Art. 406: a taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a do art. 161, §1º, do Código Tributário Nacional, ou seja, 1% (um por cento) ao mês. Segundo Rosenvald utilização da taxa Selic como índice de apuração dos juros legais não é juridicamente segura, porque impede o prévio conhecimento dos juros; não é operacional, porque seu uso será inviável sempre que se calcularem somente juros ou somente correção monetária; é incompatível com a regra do art. 591 do novo Código Civil, que permite apenas a capitalização anual dos juros. Todavia outro é o entendimento atual do STJ RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. PARTO. SEQUELAS IRREVERSÍVEIS. PARAPLEGIA. INDENIZAÇÃO. [...] 7. Os juros moratórios, em caso de indenização por danos morais, são devidos à taxa de 6% (seis por cento) ao ano, a partir da citação, observando-se o limite prescrito nos arts. 1.062 e 1.063 do Código Civil/1916 até a entrada em vigor do Código Civil de 2002. 8. A partir da vigência do CC/2002, os juros moratórios submetem-se à regra contida no seu art. 406, segundo a qual, de acordo com precedente da Corte Especial (EREsp 727.842 / SP), corresponde à Taxa Selic, RESSALVANDO-SE A NÃO-INCIDÊNCIA DE CORREÇÃO MONETÁRIA DESDE ENTÃO, POIS JÁ COMPÕE A REFERIDA TAXA. 8. A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento (Súmula 362/STJ). [...] (STJ, REsp 933.067/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/12/2010, DJe 17/12/2010)

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b.4) obrigações de natureza diversa de dinheiro: os juros começam a correr desde a citação, mas é necessário que lhes seja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento ou acordo entre as partes.

Súmula 54, STJ: “Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual”.

Súmula 43, STJ: “Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo”.

UNIDADE IX – RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL

Se origina da inexecução contratual - ilícito contratual, ou seja, de falta de adimplemento ou da mora no

cumprimento de qualquer obrigação. - infração a um dever especial estabelecido pela vontade dos contratantes, por isso decorre de relação

obrigacional preexistente e pressupõe capacidade para contratar. - na responsabilidade contratual, não precisa o contratante provar a culpa do inadimplente, para obter

reparação das perdas e danos, basta provar o inadimplemento. - ônus da prova na responsabilidade contratual: competirá ao devedor, que deverá provar, ante o

inadimplemento, a inexistência de sua culpa ou presença de qualquer excludente do dever de indenizar (art. 389). - para que o devedor não seja obrigado a indenizar, o mesmo deverá provar que o fato ocorreu devido a caso

fortuito ou força maior. (art. 393)

a - Regra geral (389): Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor, salvo os considerados impenhoráveis.

b – Inadimplementos nas obrigações negativas (390): Nas obrigações negativas (não fazer) o devedor é

havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster. c - Responsabilidade nos contratos benéficos (392): Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o

contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Súmula 145 do STJ: “No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave”.

d - Responsabilidade nos contratos onerosos (392): Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes

por culpa, salvo as exceções previstas em lei. e - Caso fortuito e força maior (393): O caso fortuito e a força maior exigem, para sua caracterização, dois

requisitos: um objetivo, que consiste na inevitabilidade do acontecimento (fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir), e um subjetivo, que consiste na ausência de culpa na produção do evento.

UNIDADE X - DA CLÁUSULA PENAL (Arts. 408 a 416) I – Noção: “É um pacto secundário e acessório, em que se estipula pena ou multa para a parte que se subtrair

ao cumprimento da obrigação, a que se obrigara, ou que apenas retardá-la” (Washington de Barros Monteiro). É também denominada de multa contratual ou pena convencional.

II - Funções: - função compulsória, pois constitui um meio de forçar o cumprimento do estipulado, - função indenizatória, por estimar previamente as perdas e danos, caracterizando uma liquidação antecipada e

convencional dos prejuízos a serem ressarcidos, no caso de inadimplemento da avença. II - Caracteres: a) acessoriedade b) condicionalidade; c) compulsoriedade; d) subsidiariedade, na hipótese de pena compensatória; ou cumulatividade, na pena moratória;

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e) ressarcibilidade, por constituir liquidação prévia e convencional das perdas e danos, no caso de inadimplemento futuro do convencionado;

f) imutabilidade relativa, eis que poderá ser modificada pelo magistrado nos casos previstos em lei. III - Modalidades: a) compensatória (art. 410) - É a que é estipulada para as hipóteses de total inadimplemento da obrigação. b) moratória (art. 411) - É a convencionada para o caso de mora ou relacionada à inexecução de alguma

cláusula especial. IV - Estipulação: pode ocorrer conjuntamente com a obrigação principal ou em ato posterior. V - Regras: a) Cláusula penal estipulada para o caso de total inadimplemento da obrigação - O credor pode exigir o

cumprimento da obrigação, ou a satisfação da cláusula penal, não podendo cumular ambas as pretensões. Não pode, entretanto, exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado, ainda que o prejuízo exceda o previsto na cláusula penal; entretanto, se tiver havido convenção admitindo a aludida suplementação, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente.

b) Cláusula penal estipulada para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada - O credor tem o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.

c) Desnecessidade de comprovação do prejuízo - Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo.

- Valor - Não pode ser superior ao da obrigação principal.

RECURSO ESPECIAL - CONTRATO BILATERAL, ONEROSO E COMUTATIVO - CLÁUSULA PENAL - EFEITOS PERANTE TODOS OS CONTRATANTES - REDIMENSIONAMENTO DO QUANTUM DEBEATOR -NECESSIDADE - RECURSO PROVIDO. 1. A cláusula penal inserta em contratos bilaterais, onerosos e comutativos DEVE VOLTAR-SE AOS CONTRATANTES INDISTINTAMENTE, AINDA QUE REDIGIDA APENAS EM FAVOR DE UMA DAS PARTES. 2. A cláusula penal não pode ultrapassar o conteúdo econômico da obrigação principal, cabendo ao magistrado, quando ela se tornar exorbitante, adequar o quantum debeatur. 3. Recurso provido. (REsp 1119740/RJ, Rel. MIN. MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/09/2011, DJe 13/10/2011)

È lícita a cláusula que prevê a perda de todas as prestações pagas a título de cláusula penal? O STJ tem o entendimento (REsp 399.123/SC, REsp 435608/PR) no sentido de que os contratos celebrados após a entrada em vigor do CDC, por conta do princípio constitucional de defesa do consumidor, pode em tese ter esta cláusula impugnada.

e) Redução do valor (art. 413) – proporcionalidade e vedação do excesso f) Momento em que se torna devida - desde que o devedor, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou

se constitua em mora. g) Pluralidade de devedores na obrigação com cláusula penal: 1º) Se a obrigação for indivisível, todos os

devedores, caindo em falta um deles, incorrerão na pena; mas esta só se poderá demandar integralmente do culpado, respondendo cada um dos outros somente pela sua cota. Aos não culpados assiste o direito de regresso contra o culpado. 2º) Se a obrigação for divisível, só incorrerá na pena o devedor ou o herdeiro do devedor que a infringir, e proporcionalmente à sua parte na obrigação.

UNIDADE XI - DAS ARRAS OU SINAL I – Conceito: “As arras, ou sinal, constituem a importância em dinheiro ou a coisa dada por um contratante ao

outro, por ocasião da conclusão do contrato, com escopo de firmar a presunção de acordo final e tornar obrigatório o ajuste; ou ainda, excepcionalmente, com o propósito de assegurar, para cada um dos contratantes, o direito de arrependimento” (SR).

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II - Natureza jurídica: pacto acessório ao contrato principal e de caráter real. III – Objeto: dinheiro ou bem móvel. IV - Espécies: a) arras confirmatórias - de acordo com o Código Civil, as arras têm, ordinariamente, função confirmatória,

ou seja, têm por finalidade firmar a presunção de acordo final e tornar obrigatório o ajuste; b) arras penitenciais – têm função unicamente indenizatória, destinando-se a assegurar às partes o direito de

arrependimento, quanto este for estipulado no contrato para qualquer das partes. V – Regras: a) Execução do contrato: No caso de execução do contrato, as arras devem ser restituídas ou, se do mesmo

gênero da prestação principal devida, compensadas nesta (como se fossem início de pagamento). b) Inexecução do contrato em que haja a fixação de arras confirmatórias: Se a parte que deu as arras não

executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado. A parte inocente pode, ainda, pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização.

c) Inexecução do contrato em que haja a fixação de arras penitenciais – Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- BRASIL, LEI NO 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO - DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigações. 28 ed. São Paulo: Saraiva,

2015. v. 2. - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil: obrigações. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. v 2. - GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: teoria geral das obrigações. 13 ed. São Paulo: Saraiva,

2016. V. 2. - GONÇALVES, Carlos Roberto; LENZA, Pedro (Coord.). Direito civil esquematizado: parte geral: obrigações:

contratos. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2016. - MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações. 35 ed. São Paulo: Saraiva,

2009. v. 5. - NADER, Paulo. Curso de direito civil. Curso de Direito Civil – obrigações. 19 ed. Rio de Janeiro: Forense,

2015. v 2. - TARTUCE, Flavio. Manual de direito civil. 6. ed. São Paulo: Método, 2016. - VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 14 ed. São

Paulo: Atlas, 2014. v. 2.

P A R T E E S P E C I A L LIVRO I DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

TÍTULO I DAS MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES CAPÍTULO I DAS OBRIGAÇÕES DE DAR

Seção I Das Obrigações de Dar Coisa Certa Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso. Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos. Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu. Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos. Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação.

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Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes. Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos. Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239. Art. 241. Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização. Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé. Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé. Seção II Das Obrigações de Dar Coisa Incerta Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade. Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor. Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente. Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito. CAPÍTULO II Das Obrigações de Fazer Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível. Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos. Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível. Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido. CAPÍTULO III Das Obrigações de Não Fazer Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar. Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos. Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido. CAPÍTULO IV Das Obrigações Alternativas Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou. § 1o Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra. § 2o Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período. § 3o No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação. § 4o Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes. Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra. Art. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar. Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos. Art. 256. Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação. CAPÍTULO V Das Obrigações Divisíveis e Indivisíveis Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores. Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.

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Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda. Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados. Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I - a todos conjuntamente; II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores. Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total. Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente. Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão. Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos. § 1o Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais. § 2o Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos. CAPÍTULO VI Das Obrigações Solidárias Seção I Disposições Gerais Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. Art. 266. A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co-devedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro. Seção II Da Solidariedade Ativa Art. 267. Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro. Art. 268. Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar. Art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago. Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. Art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade. Art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba. Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros. Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve. (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência) Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência) Seção III Da Solidariedade Passiva Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores. Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores. Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada. Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes. Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado. Art. 280. Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida.

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Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro co-devedor. Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais. Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores. Art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente. Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar. TÍTULO II Da Transmissão das Obrigações CAPÍTULO I Da Cessão de Crédito Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação. Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios. Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1o do art. 654. Art. 289. O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão no registro do imóvel. Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita. Art. 291. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com a tradição do título do crédito cedido. Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação. Art. 293. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer os atos conservatórios do direito cedido. Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé. Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor. Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança. Art. 298. O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro. CAPÍTULO II Da Assunção de Dívida Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa. Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor. Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação. Art. 302. O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo. Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento. TÍTULO III Do Adimplemento e Extinção das Obrigações CAPÍTULO I Do Pagamento Seção I De Quem Deve Pagar Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.

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Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste. Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor. Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento. Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação. Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu. Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la. Seção II Daqueles a Quem se Deve Pagar Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito. Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor. Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu. Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante. Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor. Seção III Do Objeto do Pagamento e Sua Prova Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou. Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes. Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas. Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial. Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada. Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida. Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido. Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores. Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos. Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento. Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento. Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida. Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução. Seção IV Do Lugar do Pagamento Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.

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Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem. Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor. Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. Seção V Do Tempo do Pagamento Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente. Art. 332. As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor. Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código: I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las. Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes. CAPÍTULO II Do Pagamento em Consignação Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais. Art. 335. A consignação tem lugar: I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento. Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento. Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente. Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as conseqüências de direito. Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores. Art. 340. O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, aquiescer no levantamento, perderá a preferência e a garantia que lhe competiam com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados os co-devedores e fiadores que não tenham anuído. Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada. Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente. Art. 343. As despesas com o depósito, quando julgado procedente, correrão à conta do credor, e, no caso contrário, à conta do devedor. Art. 344. O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento. Art. 345. Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação. CAPÍTULO III Do Pagamento com Sub-Rogação Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: I - do credor que paga a dívida do devedor comum; II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte. Art. 347. A sub-rogação é convencional:

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I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos; II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito. Art. 348. Na hipótese do inciso I do artigo antecedente, vigorará o disposto quanto à cessão do crédito. Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores. Art. 350. Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor. Art. 351. O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever. CAPÍTULO IV Da Imputação do Pagamento Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos. Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo. Art. 354. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital. Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa. CAPÍTULO V Da Dação em Pagamento Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida. Art. 357. Determinado o preço da coisa dada em pagamento, as relações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda. Art. 358. Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em cessão. Art. 359. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros. CAPÍTULO VI DA NOVAÇÃO Art. 360. Dá-se a novação: I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior; II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor; III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este. Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação confirma simplesmente a primeira. Art. 362. A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste. Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição. Art. 364. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação. Art. 365. Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários ficam por esse fato exonerados. Art. 366. Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal. Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas. CAPÍTULO VII Da Compensação Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem. Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. Art. 370. Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no contrato. Art. 371. O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado. Art. 372. Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação. Art. 373. A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto: I - se provier de esbulho, furto ou roubo;

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II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; III - se uma for de coisa não suscetível de penhora. Art. 374. A matéria da compensação, no que concerne às dívidas fiscais e parafiscais, é regida pelo disposto neste capítulo. (Vide Medida Provisória nº 75, de 24.10.2002) (Revogado pela Lei nº 10.677, de 22.5.2003) Art. 375. Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia prévia de uma delas. Art. 376. Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever. Art. 377. O devedor que, notificado, nada opõe à cessão que o credor faz a terceiros dos seus direitos, não pode opor ao cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido opor ao cedente. Se, porém, a cessão lhe não tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário compensação do crédito que antes tinha contra o cedente. Art. 378. Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução das despesas necessárias à operação. Art. 379. Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento. Art. 380. Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exeqüente a compensação, de que contra o próprio credor disporia. CAPÍTULO VIII Da Confusão Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor. Art. 382. A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela. Art. 383. A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade. Art. 384. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior. CAPÍTULO IX Da Remissão das Dívidas Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro. Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir. Art. 387. A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida. Art. 388. A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida. TÍTULO IV Do Inadimplemento das Obrigações CAPÍTULO I Disposições Gerais Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Art. 390. Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster. Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor. Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei. Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. CAPÍTULO II Da Mora Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer. Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos. Art. 396. Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora. Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor. Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

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Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou. Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada. Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação. Art. 401. Purga-se a mora: I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta; II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data. CAPÍTULO III Das Perdas e Danos Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual. Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional. Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar. Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial. CAPÍTULO IV Dos Juros Legais Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes. CAPÍTULO V Da Cláusula Penal Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em mora. Art. 409. A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora. Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor. Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal. Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal. Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio. Art. 414. Sendo indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em falta um deles, incorrerão na pena; mas esta só se poderá demandar integralmente do culpado, respondendo cada um dos outros somente pela sua quota. Parágrafo único. Aos não culpados fica reservada a ação regressiva contra aquele que deu causa à aplicação da pena. Art. 415. Quando a obrigação for divisível, só incorre na pena o devedor ou o herdeiro do devedor que a infringir, e proporcionalmente à sua parte na obrigação. Art. 416. Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo. Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente. CAPÍTULO VI Das Arras ou Sinal Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal.

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Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado. Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização. Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar. Estudo dirigido a ser entregue manuscrito: 1) Conceitue obrigação: 2) Quais as fontes das obrigações: cite um exemplo de cada. 3) Quais as características do elemento objetivo? 4) O que é uma obrigação PROPTER REM? Como ele se transmite? 5) Quais as consequências da perda e da deterioração nas obrigações de dar coisa certa? 6) Quais as consequências do inadimplemento na obrigação não de fazer? 7) Nas obrigações alternativas, como se da a concentração? E quais os seus efeitos? 8) Cite três diferenças entre obrigações alternativas e obrigações facultativas. 9) Discorra sobre as formas de cumprimento da obrigação indivisível? 10) Conceitue obrigações solidarias e cite suas principais características. 11) Cite quatro características da solidariedade passiva. 12) Discorra sobre a solidariedade ativa. 13) Conceitue cessão de crédito e discorra sobre a notificação do devedor. 14) Conceitue assunção de dívida e explane sobre a participação do devedor no negócio. 15) Conceitue pagamento e discorra sobre quem deve ou pode pagar. 16) O que é credor putativo? Crie um exemplo prático. 17) É possível a fixação do preço, em um contrato pactuado no Brasil, em moeda estrangeira? 18) Quando o pagamento feito a terceiro desqualificado será válido? 19) Faça um recibo (quitação) fictício, segundo as regras do art. 320 do C.C. 20) Explique as principais características em relação ao tempo do pagamento. 21) Qual a diferença entre obrigações quesíveis e portáveis? 22) O que é o pagamento por consignação? Quais seus requisitos? Quais seus efeitos? 23) Conceitue pagamento por sub-rogação e cite três hipóteses em que este ocorre. 24) Se houver uma sub-rogação com fiador, cujo valor da dívida for de 10.000 reais, o fiador negocia com o

credor e paga 9.000 reais e se sub-roga nos direitos do credor. Assim, no pagamento com sub-rogação o novo credor terá o direito de cobrar o crédito originário ou o valor que desembolsou? Fundamente.

25) O avalista que satisfez o crédito do devedor principal (avalizado) em promissória não prescrita pode executá-la judicialmente? Fundamente.

26) O que é imputação do pagamento? Quais as principais características deste instituto? 27) Conceitue dação em pagamento e explique o que ocorrerá em caso de evicção. 28) Quando ocorre a confusão? Quais os efeitos deste instituto. 29) Diferencie juros moratórios de juros compensatórios, citando suas principais características dos juros

moratórios. 30) Quais os requisitos para a validade da novação? 31) Diferencie novação real ou objetiva de pessoal ou subjetiva. 32) Discorra sobre Compensação 33) Se o credor remitir um dos devedores em obrigação indivisível, pode exigir dos demais o adimplemento

completo da obrigação? Explique. 34) Discorra sobre Responsabilidade civil contratual 35) Explique a mora do devedor, do credor e mora de ambos. 36) Discorra sobre a cláusula penal. 37) Quais as duas espécies de Arras? Cite as principais características de cada espécie.